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Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
Os Lusíadas são uma “epopeia de imitação”, pois
não fazem parte do grupo daquelas “epopeias
primitivas”, como a Ilíada e a Odisseia de Homero, que
foram escritas quando ainda não estava bem definida a
noção de Estado e que cantam as tradições de um
grupo étnico, sobressaindo um ou mais heróis.
Os Lusíadas, à semelhança da Eneida de Virgílio,
são “epopeias de imitação”, pois seguiram o modelo
das “epopeias homéricas”.
I – O QUE É UMA EPOPEIA?
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
É um dos géneros do modo narrativo, pois nela
encontramos as chamadas categorias da narrativa, acção,
personagens, espaço e tempo. No entanto, distingue-se de
outros géneros narrativos:
1. pela existência de um herói, individual ou colectivo, real
ou imaginário, e exaltação das acções narradas;
2. é uma narrativa em verso.
Assim, Os Lusíadas são uma composição épica, pois
glorificam/exaltam um herói (colectivo = o Povo Português)
cujos feitos alcançaram valor universal.
II – QUAIS FORAM AS FONTES DE OS LUSÍADAS?
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
Camões, homem renascentista, imitou a Odisseia de Homero
e a Eneida de Virgílio – fontes literárias.
Camões inspirou-se também em fontes históricas: crónicas
de Fernão Lopes, Rui de Pina e João de Barros, entre outros.
No entanto, Os Lusíadas não são uma obra de história.
Embora os factos narrados tenham fundamentação histórica,
Camões acrescenta-lhes a sua imaginação e super valoriza os
feitos dos Portugueses.
Inspirados na Antiguidade greco-romana, Os Lusíadas
seguem, rigorosamente, as regras estabelecidas para o
Género Épico. Vejamos:
III – QUAL É A ESTRUTURA EXTERNA DE OS LUSÍADAS?
(aspecto/análise formal – o “exterior”)
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
São constituídos por 10 cantos.
A análise formal de cada estrofe leva-nos a concluir o
seguinte:
Cada canto tem um número variável de estrofes
(um total de 1102 estrofes), estrofes de 8 versos,
oitavas.
Cada verso contém 10 sílabas métricas e, por
isso, é chamado decassílabo, com acentuação
rítmica na sexta e décima sílabas (versos
heróicos):
EX. : As/ ar/mas/ e os/ ba/rões/ a/ssi/na/la/dos
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
III – QUAL É A ESTRUTURA EXTERNA DE OS LUSÍADAS?
(continuação)
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
O esquema rimático de cada estrofe é abababcc
As armas e os barões assinalados a
Que, da Ocidental praia Lusitana, b
Por mares nunca dantes navegados a
Passaram ainda além da Taprobana, b
Em perigos e guerras esforçados a
Mais do que prometia a força humana, b
E entre gente remota edificaram c
Novo Reino, que tanto sublimaram; " c
Verificamos, pois, que a rima é cruzada nos seis primeiros
versos e emparelhada nos dois últimos.
IV – ESTRUTURA INTERNA DE OS LUSÍADAS (conteúdo)
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
É através da análise do conteúdo que nos apercebemos
das mensagens, das intenções, das interpretações possíveis.
A “estrutura interna” é, pois, o “interior” do texto.
A – Em quantas partes se dividem Os
Lusíadas?
Seguindo a estrutura interna fixada pela antiguidade
clássica, Camões dividiu o poema épico em quatro partes:
PROPOSIÇÃO, INVOCAÇÃO, DEDICATÓRIA e
NARRAÇÃO.
Assunto específico de cada uma destas partes:
IV – ESTRUTURA INTERNA DE OS LUSÍADAS (continuação)Assunto específico de cada uma destas partes:
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
PROPOSIÇÃO – Camões apresenta uma síntese do assunto
fundamental da sua obra (a viagem marítima à Índia) e quais
os grandes objectivos que pretende atingir através ao
escrever Os Lusíadas:
Cantar o Povo Português, os homens ilustres, os seus actos
heróicos, a sua valentia e vitórias;
Engrandecer, de tal forma, o nosso Povo, que toda a memória
dos antigos heróis seja apagada (os heróis gregos e romanos);
Fazer com que, através da sua escrita, a História de Portugal
seja conhecida por todo o Mundo.
IV – ESTRUTURA INTERNA DE OS LUSÍADAS (continuação)
Assunto específico de cada uma destas partes:
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INVOCAÇÃO (Canto I, estrofes 1-3) – O poeta apela aos seres
sobrenaturais, conforme mandavam as regras clássica, para que lhe dêem
força, inspiração, capacidade, grandiosidade e facilidade nas
palavras. São quatro as invocações:
as ninfas do Tejo, as Tágides ou Musas do Tejo (filhas do
rio - Canto I);
Calíope (deusa da poesia e da eloquência – Canto III);
ninfas do Tejo e do Mondego (Canto VII);
e novamente Calíope (Canto X).
DEDICATÓRIA (Canto I, estrofes 6-18) – dedica a sua epopeia a D.
Sebastião, rei de Portugal.
IV – ESTRUTURA INTERNA DE OS LUSÍADAS (continuação)
Assunto específico de cada uma destas partes:
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
NARRAÇÃO – A partir da estrofe 19, Canto I, Camões começa a narrar os
factos da História de Portugal, a narração da acção central - viagem de
Vasco da Gama à Índia - intervalada por outros episódios. Esta é a parte
mais longa e também a mais importante do poema, começando no Canto I
até ao final, canto X.
A narração da viagem de Vasco da Gama não é uma sucessão cronológica
de factos, não começando quando a armada parte de Belém, em Lisboa. A
narração da acção central, pormenores da viagem, inicia-se quando esta já
vai a meio, Oceano Índico. A este processo narrativo de iniciar a narração
“a meio” chamamos in medias res e constitui uma regra das antigas
epopeias greco-romanas.
Todavia, Camões vai, mais tarde, voltar atrás e contar como foram as
Despedidas em Belém. Chama-se a esse “recuo” na narrativa Analepse
(anterior). O autor faz estes recuos frequentemente ao longo da obra,
avançando, depois, na acção através de Prolepses (profecia/futuro) (o
sonho profético do rei D. Manuel e a narração feita por Tétis a Vasco
da Gama).
IV – ESTRUTURA INTERNA DE OS LUSÍADAS (continuação)
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
B – Em quantos planos se desenvolve o conteúdo/narração de
Os Lusíadas?A narração de Os Lusíadas é constituída por 3 planos que se articulam
entre si:
O Plano da Viagem - narração da viagem de Vasco da Gama;
O Plano da História de Portugal – este encaixa no da viagem. A
História de Portugal é contada por Vasco da Gama ao Rei de Melinde, por
Paulo da Gama ao Catual e profetizada por Tétis;
O Plano Mitológico /maravilhoso - intervenção dos deuses ao longo
de toda a obra. Considera-se este o mais importante, pois são os deuses
que originam a intriga. A intriga dos deuses que começa no “consílio”, logo
no início da acção do poema, e acaba na ilha de Vénus, já na parte final.
Acrescenta-se a estes planos as intervenções do Poeta, sobretudo na parte
final dos cantos (reflexões, crítica, desabafos e exortações).
IV – ESTRUTURA INTERNA DE OS LUSÍADAS (continuação)
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
C - Que tipo de episódios têm Os Lusíadas?Episódios mitológicos (Consílio dos deuses no Olimpo; Consílio dos
deuses marinhos);
Episódios bélicos (Batalha de Aljubarrota);
Episódios líricos (morte de Inês de Castro, despedida do Restelo);
Episódios naturalistas ou pictóricos (Fogo de Santelmo, Escorbuto,
Tempestade);
Episódios simbólicos (Sonho profético de D. Manuel; Velho do
Restelo, Adamastor, Ilha dos Amores).
Estes episódios são narrativas menores (“micro narrativas”) que
Camões introduz no poema para que a leitura se torne mais interessante,
mais dinâmica.
Não esquecer:
(1)
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
O herói de Os Lusíadas é o Povo Português, herói colectivo, por
representar todos os portugueses. Na Eneida o herói é individual, Eneias.
Vejamos:
Arma virumque cano (Virgílio) = Eu canto as armas e o varão ilustre.
As armas e os barões assinalados…
Cantando espalharei por toda a parte… (Camões)
A História principal aqui narrada é a Viagem Marítima de Vasco da
Gama à Índia. Diz-se, por isso, que esta é a acção principal.
No entanto, e uma vez que esta viagem não representava o único feito
digno de admiração deste povo, Camões dá-nos a conhecer outros
factos verídicos da História de Portugal contados pela boca de Vasco
da Gama ao rei de Melinde e Paulo da Gama ao Catual de Calecut (Ex.:
a Batalha de Aljubarrota, Formosíssima Maria, Inês de Castro, entre
outros).
Não esquecer:
(2)
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
Como humanista que era, Camões junta à verdadeira História
de Portugal uma História de deuses pagãos (não cristãos),
fazendo com que estes dinamizem a acção durante toda a
viagem de Vasco da Gama e a tornem mais interessante (é o
Maravilhoso Pagão).
Todavia, o Deus Cristão, nos momentos mais críticos,
também aparece, pois Camões pertencia a um país católico
e, na altura, dominado pela Inquisição (é o chamado
Maravilhoso Cristão).
Não esquecer:
(3)
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Nesta narrativa, a viagem, a História e os deuses
funcionam como se fossem “três filmes” que se vão
articulando, e desenrolando, umas vezes paralelamente e
outras em interacção. É o que em narrativa designamos por
sequências narrativas.
Geralmente, Os Lusíadas têm a sua acção organizada de
uma forma alternada (organização por alternância), isto é,
interrompe-se a acção principal para se introduzir uma acção
secundária, no final desta retoma-se a acção principal.
Algumas vezes, encontramos acções encaixadas, é o caso
do episódio do Adamastor:
Não esquecer:
(4)
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S1S2 S3S1 S4
S1
Alternância: quando o narrador deixa um assunto para introduzir outro,
sem pôr de parte o anterior.
viagem História viagem deuses encaixe
S = sequênciaViagem + Adamastor
Curiosidades sobre Os Lusíadas:
(1)
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
A origem da palavra Lusíadas – Reza a lenda que Luso, filho de
Baco, deus do vinho e da folia, fundou, na parte mais ocidental da Península
Ibérica, um reino, ao qual deu um nome derivado do seu: Lusitânia.
Historicamente, quando os Romanos conquistaram a Península Ibérica, por
uma questão administrativa, dividiram-na em três províncias, conservando o nome
Lusitânia para toda a região compreendida a sul do Rio Douro.
No século XVI, os escritores nacionais começaram a usar a palavra Lusitanos
como sinónimo de Portugueses, o que foi aproveitado por Camões. André de
Resende diz num texto latino: «A Luso, unde dicta est, Lusíadas appellavimus
Lusitanos…»
Foi com base nisso que o poeta criou uma palavra nova que iria dar nome à sua
obra épica: Os Lusíadas, ou seja, o Povo de Luso – os Portugueses.
Curiosidades sobre Os Lusíadas:
(2)
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
Os Lusíadas têm 55 433 palavras, em 8816 versos,
agrupados em 1102 estrofes, distribuídas por dez cantos.
O canto mais pequeno (7º) tem 87 estrofes e o mais longo
(10º) 156.
Na obra de Luís Vaz de Camões surgem 739 nomes
geográficos, 392 nomes históricos e 539 nomes mitológicos.
A 1ª publicação de Os Lusíadas foi em 1572, 8 anos antes
da morte de Luís Vaz de Camões.
Como desmontar as estrofes de Os Lusíadas?(Exemplo)
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Ao leres estas duas estrofes, as
primeiras de Os Lusíadas,
parece complicado. Mas não é!
Onde está a oração
principal/subordinante?
Como desmontar as estrofes de Os Lusíadas?(Exemplo)
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
As armas e os Barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana
Por mares nunca de antes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.
Temos de tentar descobrir a
ideia principal que, por
vezes, se estende por mais
do que uma estrofe. É o que
acontece nas duas
primeiras estrofes da
“Proposição”, onde a oração
subordinante está dividida
por ambas as estrofes.
Como desmontar as estrofes de Os Lusíadas?(Exemplo)
Colégio Vasco da Gama - José Manuel Martins Cobrado
As armas e os Barões assinalados
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis
E aqueles
Cantando espalharei por toda parte,
.
Afinal, não é assim
tão complicado!
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