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Jéssica Patrícia Campelo Pinto
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
Universidade Fernando Pessoa
Faculdade Ciências da Saúde
Porto, 2016
Jéssica Patrícia Campelo Pinto
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
Universidade Fernando Pessoa
Faculdade Ciências da Saúde
Porto, 2016
Jéssica Patrícia Campelo Pinto
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
Trabalho apresentado à Universidade Fernando Pessoa como
parte dos requisitos para obtenção do grau de Mestre em
Medicina Dentária.
_____________________________________________________
(Jéssica Patrícia Campelo Pinto)
V
Resumo
Uma lesão traumática é, a seguir à cárie dentária, um dos problemas mais comuns
da saúde oral.
O traumatismo dentário consiste numa agressão que afeta os dentes ou os tecidos
de suporte, podendo levar ao rompimento do ligamento periodontal, fratura dentária,
fratura óssea ou alterações pulpares. Este problema causa desconforto físico, emocional
e comprometimento estético.
Quando os traumatismos afetam os tecidos duros ou polpa denominam-se de
fraturas dentárias. Estas podem ser divididas em fraturas coronárias de esmalte; fraturas
coronárias de esmalte e dentina sem exposição pulpar; fraturas coronárias de esmalte e
dentina com exposição pulpar; fraturas corono-radiculares de esmalte, dentina e cemento
sem exposição pulpar; fraturas corono-radiculares com exposição pulpar e fratura
radicular envolvendo cemento, dentina e polpa.
O objetivo deste trabalho monográfico foi fazer uma revisão bibliográfica de
estudos científicos sobre fraturas dentárias. Assim, serão abordados os diversos tipos de
fraturas dentárias, as suas etiologias, prevalências e fatores associados, também definir
planos de tratamento, técnicas de restauração direta de fraturas coronárias e possíveis
medidas de prevenção.
A pesquisa bibliográfica para esta revisão foi realizada em bases eletrónicas de
referência como Pubmed, Scielo, selecionando artigos entre os anos 2006 e 2016. Foram
também utilizados como elementos de pesquisa o site Dental Trauma Guide (DTG), o
site International Association of Dental Traumatology (IADT), livros da especialidade
existentes na Biblioteca da Universidade Fernando Pessoa que embora com datas de
publicação mais antigas (2001) foram imprescindíveis para o desenvolvimento da
monografia. A pesquisa foi realizada em duas línguas, português e inglês.
Como conclusão pode-se dizer que nos dias de hoje, o médico dentista tem muitas
opções de tratamento de dentes fraturados. Para restaurar a fratura o médico pode optar
VI
por colar o fragmento, restaurar usando uma matriz guia ou restaurar à mão livre. A
escolha da técnica deve ser estudada de acordo com cada paciente e suas expectativas.
Palavras-chave: “dental trauma”, “tooth injuries”, “prevalence”, “extreme sports”,
“treatment”, “fraturas dentárias”, “traumatismos dentários”, “etiologia”, “tratamento”.
VII
Abstract
A traumatic injury is, then to tooth decay, the most common problems of oral
health.
The trauma consists of an injury to the teeth and supporting tissues, that may lead
to disruption of the periodontal ligament, tooth fracture, bone fracture and pulp changes.
This problem causes physical discomfort, emotional and aesthetic commitment.
When trauma affects hard tissue and pulp is called tooth fracture. These can be
divided into coronary enamel fractures; coronary fracture of enamel and dentine without
pulp exposition; coronary fracture of enamel and dentin with pulp exposition; crown-root
fractures of enamel, dentin and cementum without pulp exposition; crown-root fractures
with pulp exposition and root fracture involving cementum, dentin and pulp.
The aim of this monograph was to make a literature review of scientific studies
on tooth fractures. So, divers types of tooth fractures will be exposed, its causes,
prevalence and associated factors also define treatment plans and techniques of direct
restoration of coronary fractures and possible preventive measures.
The literature search for this review was conducted in electronic databases of
reference as Pubmed , Scielo selecting articles between 2006 and 2016. I also used the
site Dental Trauma Guide ( DTG ) , the site International Association of Dental
Traumatology ( IADT ) and books in the library of the University Fernando person that
although with older publication dates (2001 ) were essential to the development of the
monograph . The survey was conducted in two languages, Portuguese and English.
In conclusion it can be said that nowaday, the dentist has many treatment
options to fractured teeth . To restore the fracture the doctor may choose to bond the
fragment, restore using a matrix guide or restore freehand. The choice of technique should
be studied according to each patient and their expectations.
VIII
Key-words: “dental trauma”, “tooth injuries”, “prevalence”, “extreme sports”,
“treatment”, “fraturas dentárias”, “traumatismos dentários”, “etiologia”, “tratamento”.
IX
Dedicatória
Dedico este trabalho e a conclusão desta etapa aos meus pais, por todo o carinho,
força e compreensão que me deram ao longo da minha vida e percurso académico.
Agradeço por me transmitirem todos os valores e fazerem de mim a mulher que sou hoje.
Tudo o que sou devo-lhes a eles.
X
Agradecimentos
Agradeço em primeiro lugar à Professora Joana Domingues, a minha orientadora,
pela paciência e por toda a ajuda que me deu ao longo deste trabalho.
Agradeço em especial, aos meus dois pilares, pela amizade, dedicação e por
estarem sempre comigo, nos momentos bons e maus ao longo de todos estes anos. À
Joana Ferreira, que para além de binómia, foi e sempre será uma grande amiga que sempre
me apoiou em tudo, e, à Márcia Ventura que, para além de ser de um curso diferente,
sempre me ajudou com toda a paciência e amizade. Um grande obrigada às duas, por
tudo, estarão sempre no meu coração.
Obrigada também ao meu namorado pela força que me deu, durante este trabalho.
Não podia deixar de agradecer a toda a minha família, que sempre me apoiou e
me deu alento neste anos de curso, têm todos um lugar especial no meu coração.
Deixo também um agradecimento geral a todos os professores que participaram
no meu percurso académico e que, pouco ou muito, contribuíram para a conclusão deste
curso.
Agradeço ainda ao Saloon, que contribui muito nos momentos de descontração,
de estudo e de trabalho. Obrigada pela amizade e por tudo o que fazem pelos estudantes
desta Universidade, ensinando que a vida é para ser vivida intensamente.
XI
Índice Geral
Resumo………………………………………………………….………………………V
Abstract………………………………………………………………………………..VII
Dedicatória……………………………………………..………………………………IX
Agradecimentos…………………………………………………………………………X
Índice de figuras………………………………………………..…………………….XIV
Índice de tabelas……………………………………………………………………….XV
Índice de abreviaturas………………………………………………………………...XVI
I. Introdução………………………………………………………………………1
II. Desenvolvimento……………...………………………………………………...3
1. Materiais e Métodos…………………………………………………………….3
2. Definição de Fraturas Dentárias....………………………………………………4
3. Classificação das fraturas………………………………………………………..4
i. Fratura coronária de esmalte………………………………………………..4
ii. Fratura coronária esmalte-dentina………………………………………….5
iii. Fratura coronária esmalte-dentina-polpa…………………………………...6
iv. Fratura Corono-radicular…………………………………………………...6
v. Fratura radicular……………………………………………………………8
4. Considerações Gerais: Etiologia, Incidência e Prevalência……………………..8
XII
5. Fatores predisponentes á fratura dentária………………………………………11
6. Avaliação Inicial da Fratura Dentária…………………………………………..13
i. Anamnese……….………………………………………………………...13
ii. Exame clínico…………………………..…………………………………14
a) Exame extra-oral…………………………………………………….14
b) Exame intra-oral……………………………………………………..15
iii. Exames auxiliares de diagnóstico…………………………………………16
iv. Oclusão……………………………………………………………………17
7. Diagnóstico…………………………………………………………………….17
8. Tratamento……………………………………………………………………..19
i. Tratamento de fraturas incompletas de esmalte…………………………...20
ii. Tratamento de fraturas coronárias de esmalte……………………………..20
iii. Tratamento de fraturas coronárias de esmalte e dentina…………………...20
iv. Tratamento de fraturas coronárias de esmalte dentina e polpa…………….21
v. Tratamento de fraturas corono-radiculares………………………………..22
vi. Tratamento de fraturas radiculares………………………………………...24
9. Restaurações diretas das fraturas……………………………………………….24
i. Técnica da colagem do fragmento………………………………………...25
ii. Técnica da matriz de silicone……………………………………………...28
iii. Técnica restauradora à mão livre………………………………………….31
10. Recomendações ao paciente/responsável………………………………….....33
XIII
11. Medidas de prevenção…………………………………………………………35
12. Impacto das fraturas na qualidade de vida……………………………………..36
III. Conclusão……………………...………………………………………………39
IV. Referências Bibliográficas ……………………………………………………42
XIV
Índice de Figuras
Figura 1: Fratura coronária de esmalte (DTG, 2014) ....................................................... 5
Figura 2: Fratura incompleta de esmalte (DTG, 2014) ..................................................... 5
Figura 3: Fratura coronária de esmalte e dentina (DTG,2014) ......................................... 6
Figura 4: Fratura coronária de esmalte, dentina e polpa (DTG, 2014) ............................. 6
Figura 5: Fratura corono-radicular sem envolvimento pulpar (DTG, 2014) .................... 7
Figura 6: Fratura corono-radicular com envolvimento pulpar (DTG, 2014) .................... 7
Figura 7: Fratura radicular (DTG, 2014) .......................................................................... 8
Figura 8: Uso da transiluminação (Moule e Cohenca, 2016). ........................................ 15
Figura 9: Técnica de colagem do fragmento (Liddelow e Carmichael, 2016) ............... 25
Figura 10: Avaliação clinica (A) e radiográfica (B) da fratura (Silva et alii., 2012) ...... 30
Figura 11: Enceramento de diagnóstico (C) e confeço da matriz de silicone (D) (Silva et alii., 2012) ....................................................................................................................... 30
Figura 12: Preparo do bisel (E) e aplicação da resina composta na matriz de silicone (F) (Silva et alii., 2012) ........................................................................................................ 30
Figura 13: Aplicação da resina composta no dente remanescente (G) e acomodação da resina composta com o pincel (H) (Silva et alii., 2012) ................................................. 30
Figura 14: Aspeto final (I) e uso de goteira (J) (Silva et alii., 2012) .............................. 31
XV
Índice de tabelas
Tabela 1: Prevalência a nível mundial dos traumatismos dentários (Cardoso, 2014)….11
Tabela 2: Diagnóstico das fraturas dentárias (adaptado de Bandeira et alii., 2009; Bitencourt et alii., 2015)………………………………………………………………..18
Tabela 3: Recomendações em caso de fratura (adaptado de Emerich e Wyszkowski, 2010)……………………………………………………………………………………19
XVI
Índice de abreviaturas
BDH: Banco de Dentes Humanos
DTG: Dental Trauma Guide
IADT: International Association of Dental Traumatology
mm: milímetros
MTA: Mineral Trioxide Agregate
º : graus
ºC: graus Celcius
%: percentagem
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
1
I. Introdução
Os traumatismos dentários são qualquer tipo de agressão física, térmica ou
química que afetem os dentes (Traebert et alii., 2006). A classificação destes baseia-se
em aspetos anatómicos, dividindo-se em dois grandes grupos: aqueles que atingem os
tecidos duros do dente e a polpa e aqueles que atingem os tecidos de sustentação
(Andreasen e Andreasen, 2001).
Este trabalho debruça-se apenas nos traumatismos que afetam os tecidos duros ou
a polpa dentária e a esses traumatismos dá-se o nome de fraturas dentárias. Essas lesões
podem ser: fraturas coronárias de esmalte; fraturas coronárias de esmalte e dentina sem
exposição pulpar; fraturas coronárias de esmalte e dentina com exposição pulpar; fraturas
corono-radiculares de esmalte, dentina e cemento sem exposição pulpar; fraturas corono-
radiculares com exposição pulpar e fratura radicular envolvendo cemento, dentina e polpa
(Andreasen e Andreasen, 2001).
As fraturas dentárias têm vindo a ser um problema que afeta cada vez mais
pessoas. Este tipo de problemas são considerados situações de emergência médico-
dentária, exigindo portanto o atendimento rápido e cuidadoso por parte do médico
dentista (Carvalho et alii., 2008).
Estes problemas sucedem devido a vários fatores: acidentes de carro, acidentes
envolvendo quedas, prática de desporto, maus tratos, lutas e traumatismos com objetos
(Sanabe et alii., 2009).
Existem alguns fatores anatómicos que tornam o indivíduo mais suscetível a
fraturas, nomeadamente oclusão classe II de Angle, overjet aumentado (maior que 4mm),
mordida aberta, lábio superior hipotónico e a respiração bucal. A presença de cárie ou de
tratamento endodôntico também tornam a estrutura dentária mais frágil, levando mais
facilmente à fratura (Bitencourt et alii., 2015).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
2
Cada vez mais a estética do sorriso tem um papel importante na sociedade e na
medicina dentária (Abreu et alii., 2011). As fraturas dentárias, principalmente a nível dos
dentes anteriores, têm uma grande influência estética. Mas não é apenas na estética que
este traumatismo interfere, as fraturas comprometem a fonética, levam à perda de função
mastigatória, alterações oclusais, deslocação dentária e até danos nos tecidos
circundantes. Todas estas consequências acabam por criar ao individuo um certo
desconforto psicológico/social (Avelar et alii., 2009).
As fraturas ocorrem tanto em dentição decídua como em dentição permanente. Na
dentição decídua é mais comum ocorrer entre os 2 e 3 anos de idade, devido à falta de
coordenação motora típica em crianças dessa idade. Na dentição permanente, é mais
frequente ocorrer entre os 8 e os 10 anos, sendo mais frequente no género masculino que
no feminino (Bandeira et alii., 2009).
Este tema foi escolhido por ser um assunto com impacto na atualidade. Um
tratamento adequado tem uma grande importância na autoestima dos indivíduos bem
como na interação interpessoal. Assim foi pretendido dar resposta às seguintes questões:
• “Quais os tipos de fraturas existente e como se podem distinguir?”
• “Quais os fatores de risco?”
• “Quais os exames que devem ser realizados?”
• “Como se deve proceder perante uma fratura dentária?”
• “Existe alguma maneira de prevenir as fraturas dentárias?”
O objetivo deste trabalho monográfico foi fazer uma revisão bibliográfica de
estudos científicos sobre os diversos tipos de fraturas dentárias e os possíveis tratamentos
restauradores diretos.
Assim, consiste numa revisão bibliográfica, abordando os diversos tipos de
fraturas dentárias, as suas etiologias, prevalências, relação com o género e com a idade e
fatores associados, também definir planos de tratamento e técnicas de restauração direta
de fraturas coronárias e possíveis medidas de prevenção.
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
3
II. Desenvolvimento
1. Materiais e Métodos
A pesquisa bibiográfica para esta revisão foi realizada tendo em conta as palavras-
chave “dental trauma”, “tooth injuries”, “prevalence”, “extreme sports”, “treatment”,
“fraturas dentárias”, “traumatismos dentários”, “etiologia”, “tratamento”, em bases
electrónicas de referência como Pubmed e Scielo.
Desta pesquisa foram selecionados artigos recentes, entre os anos 2006 e 2016,
nos idiomas Português e Inglês. Foram também utilizados como elementos de pesquisa o
site Dental Trauma Guide (DTG), o site International Association of Dental
Traumatology (IADT), livros da especialidade existentes na Biblioteca da Universidade
Fernando Pessoa que embora com datas de publicação mais antigas (2001) foram
imprescindíveis para o desenvolvimento da monografia. Na pesquisa foram encontrados
107 artigos, dos quais foram selecionados 65 artigos após a aplicação dos critérios de
inclusão.
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
4
2. Definição de Fraturas Dentárias
Fraturas dentárias são todos os traumatismos que afetam os tecidos duros ou a
polpa dentária. (Andersson e Andreasen, 2011). Segundo o site Dental Trauma Guide
(DTG) as fraturas podem ser casificadas como fraturas de esmalte; fraturas de esmalte e
dentina; fraturas de esmalte, dentina e polpa; fraturas corono-radiculares (com e sem
exposição pulpar) e fraturas radiculares (DTG, 2014).
Os traumatismos dentários não são uma doença mas sim uma lesão de impacto
nos dentes que pode ocorrer em qualquer atividade diária (Lam, 2016).
Os dentes mais propensos a fraturas dentárias são os incisivos superiores e as
fraturas mais comuns são as coronárias (Marinho et alii., 2013).
3. Classificação das Fraturas dentárias
Segundo o Dental Trauma Guide as fraturas podem ser (DTG, 2014):
• Fratura coronária de esmalte;
• Fratura coronária de esmalte e dentina (fratura não complicada);
• Fratura coronária de esmalte, dentina e polpa (fratura complicada);
• Fratura corono-radicular;
• Fratura radicular.
i. Fratura coronária de esmalte
Neste tipo de fratura o dano limita-se ao esmalte, podendo haver perda de estrutura
dentária (Figura 1). Quando não há perda de estrutura, é chamada de fratura incompleta
de esmalte, havendo apenas micro-fraturas no esmalte (Figura 2) (Bitencourt et alii.,
2015; Sanabe et alii., 2009).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
5
As fraturas de esmalte são as mais comuns, tendo uma maior prevalência no
género masculino, em indivíduos com o overjet incisal aumentado ou com mau selamento
labial (Silva et alii., 2012).
Figura 1: Fratura coronária de esmalte (DTG, 2014)
Figura 2: Fratura incompleta de esmalte (DTG, 2014)
ii. Fratura coronária de esmalte e dentina (fratura não complicada)
A fratura de esmalte e dentina refere-se a um tipo de fratura em que a polpa se
mantem preservada, porém existe uma perda de estrutura dentária envolvendo esmalte e
dentina (Figura 3) (Bitencourt et alii., 2015).
Este tipo de fratura, em que não há envolvimento pulpar, está associado
essencialmente ao impacto frontal em que a força exercida no dente é superior à força
suportada pelo esmalte e dentina. Ao atingir a dentina a fratura deixa expostos milhares
de túbulos dentinários, deixando que sejam transmitidos à polpa diversos estímulos
térmicos e químicos, aumentando também o risco de uma infeção bacteriana (Abad et
alii., 2010).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
6
Figura 3: Fratura coronária de esmalte e dentina (DTG,2014)
iii. Fratura coronária de esmalte, dentina e polpa (fratura complicada)
A fratura complicada diz respeito a uma fratura em que há envolvimento pulpar
(Figura 4), existindo perda de estrutura de esmalte e dentina. Neste tipo de fratura, como
existe exposição pulpar, verifica-se a presença de uma área hemorrágica (Bitencourt et
alii., 2015).
Sendo esta uma fratura complicada é considerada uma situação de urgência
médica exigindo um tratamento mais complexo. O tratamento deve assim ser realizado
até 3 horas após o trauma, realizando intervenções pouco invasivas tendo assim melhor
prognóstico (Sanabe et alii., 2009).
Figura 4: Fratura coronária de esmalte, dentina e polpa (DTG, 2014)
iv. Fratura corono-radicular
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
7
São fraturas quem envolvem a coroa e a raiz do dente (Figuras 5 e 6). Há perda de
estrutura de esmalte, dentina e cemento, podendo ser ou não complicada dependendo do
envolvimento pulpar (Bitencourt et alii., 2015).
Estas fraturas podem ocorrer tanto no sentido axial como no horizontal (Sanabe et
alii., 2009). Normalmente observa-se apenas uma linha de fratura, podendo ocorrer, no
entanto, também fraturas múltiplas. Estas lesões surgem normalmente de impactos
horizontais (Carvalho et alii., 2008).
A maioria destas lesões ocorre nos incisivos permanentes antes da completa
formação radicular e normalmente causam inflamação pulpar ou até necrose (Fidel et
alii., 2011).
As fraturas corono-radiculares complicadas têm um prognóstico mais reservado
em relação ao tratamento devido à sua natureza complexa, ou seja o facto de atingirem
quer a câmara pulpar quer a raiz tornam o tratamento mais difícil (Carvalho et alii., 2008).
Figura 5: Fratura corono-radicular sem envolvimento pulpar (DTG, 2014)
Figura 6: Fratura corono-radicular com envolvimento pulpar (DTG, 2014)
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
8
v. Fratura radicular
Fraturas radiculares são fraturas que envolvem dentina, cemento e polpa havendo
ou não presença de mobilidade dentária (Figura 7) (Sanabe et alii., 2009). Estas podem
ser de orientação transversal ou longitudinal e com ou sem deslocamento. Se ocorrer no
terço cervical, normalmente apresenta mobilidade, quando ocorre no terço medio ou
apical, pode não haver presença de mobilidade. No exame clinico é também comum
encontrar-se a coroa um pouco extruída (Bitencourt et alii., 2015).
As fraturas radiculares horizontais normalmente são diagnosticadas apenas por
imagens radiográficas. Mesmo assim no exame clínico das fraturas radiculares deve-se
avaliar a cor do dente, sensibilidade à percussão, mobilidade e sensibilidade à estimulação
térmica. Na maioria dos casos de fraturas radiculares quando se testa a polpa obtém-se
uma resposta positiva, porém pode não responder (Fagundes et alii., 2014).
As fraturas radiculares cervicais apresentam ter um prognóstico pior em
comparação com as fraturas das outras áreas da raiz (Fagundes et alii., 2014).
Figura 7: Fratura radicular (DTG, 2014)
4. Considerações gerais: Etiologia, Incidência e Prevalência
Os traumatismos dentários apresentam uma grande importância epidemiológica,
visto que é muito frequente na infância e na adolescência dos indivíduos, ocorrendo em
2 a cada 3 crianças antes da idade adulta (Rodrigues et alii., 2015).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
9
Os principais fatores etiológicos responsáveis pelos traumatismos que atingem
tecidos duros e polpa são as quedas, lutas, desporto, acidentes de automóvel, maus tratos
e acidentes com objetos (Sanabe et alli, 2009). A utilização inadequada dos dentes, como
por exemplo para abrir, cortar ou segurar objetos, entubações e laringoscopias são
também causas frequentes de fraturas dentárias (Glendor, 2008).
A faixa etária onde ocorrem mais traumatismos em dentes permanentes é a
adolescência, porém é estatisticamente significante em pré-adolescentes e na faixa de 20
a 30 anos (Mota et alii., 2010).
Crianças e adolescentes estão geralmente mais suscetíveis a este problema que os
adultos (Soriano et alii., 2007). Em crianças a maioria das fraturas são devidas a quedas,
principalmente devido á falta de coordenação motora e a falta de avaliação do perigo e da
velocidade (Jokic et alii., 2008). Os locais mais comuns em idades pré-escolares e
escolares são a própria casa e a vizinhança (Glendor, 2008).
Quanto ao género, vários estudos indicam que os rapazes são os que sofrem mais
fraturas dentária, tanto na dentição decídua como na permanente (Rodrigues et alii.,
2015).
Relativamente à idade da adolescência as possíveis causas das lesões traumáticas
poderão ser o temperamento do individuo, os diferentes estilos de vida e até o contexto
sociocultural (Jokic et alii., 2008).
O comportamento pode ser muito importante para a ocorrência de traumas
dentários, isto é, comportamentos agressivos ou violentos são considerados de risco
(Soriano et alii., 2007). Assim, crianças que estejam a ser intimidadas por outras crianças
tendem também a ter maior incidência de traumatismos dentários (Glendor, 2008).
O estado emocional também tem influência na incidência dos traumatismos.
Crianças e jovens que estão sujeitos a ambientes psicossociais stressantes estão mais
sujeitos a traumatismos do que os que experimentam ambientes favoráveis (Glendor,
2008). Estudos indicam que existe menor ocorrência de traumatismos em ambientes
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
10
sociais em que existe um melhor nível de supervisão por parte de funcionários, com mais
segurança, maior participação dos pais nas reuniões e atividades escolares (Bendo et alii.,
2009).
Existe também uma maior incidência de trauma dentário em indivíduos que
praticam desporto (Goettems et alii., 2014). Desportos como o futebol, basquetebol,
hóquei e boxe são considerados arriscados no que diz respeito à integridade oral
(Tulunoglu e Özbek, 2006).
Relativamente às lesões mais frequentes, um estudo realizado em Portugal com
adolescentes do distrito do Porto mostrou que a fratura incompleta de esmalte e a fratura
de esmalte e dentina sem exposição pulpar são as mais comuns. Segundo este mesmo
estudo, o género masculino é o mais afetado. Como justificação tem-se o facto de que os
rapazes são mais ativos, participam mais em desportos, têm comportamentos mais
violentos e brincadeiras mais agressivas (Marinho et alii., 2013).
No que diz respeito aos dentes mais afetados, os incisivos centrais e laterais
superiores encontram-se em primeiro lugar, devido ao facto de erupcionarem mais cedo,
logo, têm maior tempo de exposição, mas também pela sua posição anatómica e
morfologia. Normalmente apenas um dente é afetado (Lam, 2016; Marinho et alii., 2013).
Wright et alli. (2007) indicam que as fraturas têm uma variação sazonal, havendo
uma maior incidência de traumatismos dentários nos meses de Julho a Setembro, ou seja,
nos meses de verão do hemisfério norte.
Atualmente as fraturas dentárias têm uma grande prevalência e o seu impacto
em certas populações é até maior do que o da cárie e doença periodontal.
Aproximadamente um terço das crianças e um quarto dos adolescentes e adultos já
sofreram de um trauma dentário (Lam, 2016).
Quanto ao tratamento das fraturas dentárias, estudos indicam que a maioria dos
indivíduos que sofreram fratura não realizaram tratamento. Contudo, o género feminino
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
11
tem demonstrado uma maior tendência para a realização dos tratamentos de fraturas
dentárias (Pedroni et alii., 2009).
De seguida apresenta-se uma tabela com as prevalências mundiais de
traumatismos dentários que têm vindo a ser estudadas nos últimos anos (Tabela 1).
5. Fatores predisponentes à fratura dentária
Existem alguns fatores anatómicos que tornam o indivíduo mais suscetível a
fraturas, nomeadamente oclusão classe II de Angle, overjet aumentado (maior que 4mm),
mordida aberta, lábio superior hipotónico e a respiração bucal. A presença de cárie ou de
Tabela 4: Prevalência a nível mundial dos traumatismos dentários (Cardoso, 2014).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
12
tratamento endodôntico também tornam a estrutura dentária mais frágil, levando mais
facilmente à fratura (Bitencourt et alii., 2015).
Crianças que apresentam história de traumatismos na dentição decídua tem uma
grande probabilidade de apresentar traumatismos na dentição permanente,
aproximadamente, cinco vezes maior (Mota et alii., 2010).
O excesso de peso também mostrou estar associado aos traumatismos. Crianças e
adultos obesos estão significativamente mais propensos às fraturas dentárias isto por
mostrarem menos agilidade, logo, mais quedas e consequentemente maior risco de
fraturas (Soriano et alii., 2007).
Doenças e limitações físicas são, do mesmo modo, fatores associados á fratura
dentária. As crises de epilepsia são um incidente médico bastante responsável por estas
lesões pois mais de metade dos pacientes epilético já sofreram traumas dentários
(Glendor, 2008). Também crianças hiperativas ou com défice de atenção demonstram
sofrer mais incidentes deste género do que crianças sem hiperatividade (Reinhardt e
Reinhardt, 2013).
Pacientes com paralisia cerebral ou atrasos mentais demonstram igualmente uma
grande suscetibilidade para traumatismos dentários, uma vez que apresentam movimentos
descontrolados da cabeça (Firoozmand et alii., 2007).
O consumo exagerado de álcool pode ser causa de lesões traumáticas, pelo que
este reduz o autocontrolo do individuo. Assim sendo, estudos indicam que há maior risco
de traumatismo dentário em estudantes que consumem bebidas alcoólicas em comparação
com os que não consomem (Rodrigues et alii., 2015; Jorge et alii., 2012).
Crianças com dificuldades auditivas e visuais também apresentam maior presença
de traumas dentários. Pelo facto de se movimentarem mais livremente que as invisuais,
as crianças com dificuldades auditivas apresentam maior nível de traumas (Firoozmand
et alii., 2007).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
13
Vários autores consideram ainda que o uso de piercing na língua é um dos fatores
predisponentes à fratura dentária. O dente pode ser fraturado quando o individuo interpõe
o piercing entre os dentes anteriores ou então pelo ato de bater com o mesmo nos dentes
(Almeida et alii., 2008)
6. Avaliação inicial da fratura
Para que seja possível realizar um correto diagnóstico o médico dentista tem a
função de executar um bom exame clinico, documentar o caso por escrito, radiografar e
se necessário fotografar para que seja possível chegar a um adequado plano de tratamento
(Carvalho et alii., 2008).
Autores defendem que para que o tratamento tenha sucesso devem ser efetuados
alguns procedimentos passo a passo, pela seguinte ordem: histórico médico e de saúde,
avaliação neurológica, exame da cabeça e pescoço, exame oral, exame radiográfico e
registo fotográfico (Bitencourt et alii., 2015).
i. Anamnese
Uma boa anamnese é imprescindível nestes acontecimentos, para isso devem ser
feitas perguntas para realizar um correto diagnóstico. “Quando?”, “como?” e “onde?”,
são perguntas que não devem ser esquecidas (Bitencourt et alii., 2015).
A pergunta de quando aconteceu ajuda a entender quanto tempo passou desde o
sucedido até ao momento em que o paciente foi a uma consulta. Perguntar ao paciente
onde aconteceu o trauma indica-nos a necessidade da prescrição ou não de antibióticos
ou de observar se a vacinação está em dia, de acordo com o nível de exposição e
contaminação. Questionar como ocorreu a lesão ajuda a entender qual o tipo de lesão que
se originou (Bitencourt et alii., 2015).
Existem ainda algumas outras perguntas que devem ser feitas. Deve-se questionar
se hove algum período de inconsciência, se sim, quanto tempo durou e se houve algum
episódio de cefaleia, amnesia, náuseas ou vómitos. Estas questões são muito importantes
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
14
pois ajudam a despistar a hipótese de uma concussão cerebral. Se a respostas a estas
perguntas for positiva deve-se reencaminhar o paciente para um hospital para que seja
avaliado, se for negativa segue-se o tratamento (Andreasen e Andreasen, 2011).
Estas informações devem ainda ser complementadas pela história médica do
paciente, no que diz respeito a alergias, patologias sanguíneas, vacinação (tétano) ou
outras que possam interferir no tratamento. Deve-se também recolher informações para o
despiste da evidência de violência doméstica (Brullmann et alii., 2011; Andreasen e
Andreasen, 2011).
ii. Exame Clínico
Para realizar um bom exame clinico é essencial começar pelos tecidos moles e
depois os tecidos duros e osso, observando toda a região da cabeça e pescoço. Esta
inspeção deve ser dividida em examinação extra-oral e intra-oral (Wright et alii., 2007).
a. Exame Extra-oral
Este é um passo importante para se ter uma ideia geral das condições crânio-
maxilo-faciais de modo a fazer o despiste de qualquer problema geral e/ou neurológico
(Carvalho et alii., 2008). Deve ser avaliado o esqueleto facial para determinar
descontinuidades dos ossos faciais, feridas extra orais ou contusões. Qualquer rigidez ou
dor no pescoço da criança requer encaminhamento imediato para um médico para
descartar lesão na coluna cervical (McTigue, 2013).
Depois, todos os movimentos mandibulares devem ser avaliados,
principalmente para verificara a existência de dor e a presença de desvios. Se forem
encontrados, deve-se realizar um exame radiográfico para confirmar se existe presença
de fratura mandibular (Wright et alii., 2007).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
15
b. Exame Intra-oral
Nesta fase deve-se pesquisar/avaliar ferimentos dos tecidos moles, presença de
corpos estranhos, examinação das peças dentárias e osso alveolar (Bandeira et al., 2009).
É importante a procura de cortes, hematomas, edemas, abrasões, contusões, perdas de
tecido e fraturas (Carvalho et alii., 2008).
Em primeiro lugar deve-se averiguar o estado dos ferimentos do tecido mole, se
presentes. Depois disso, os tecidos duros são examinados para detetar a presença de
fraturas. Neste exame devem ser incluídos o teste da mobilidade, percussão e de
sensibilidade (Carvalho et alii., 2008). O teste de mobilidade é importante para verificar
se há presença de deslocações dentárias devendo anotar-se o grau de movimentação,
principalmente no sentido axial. O teste da percussão deve ser realizado com o cabo do
instrumento indicando a presença de anquilose quando é realizado por vestibular e produz
um som metálico e alto. Se existir sensibilidade quando se percute no sentido axial, é
sinal de dano no ligamento periodontal. Os testes de sensibilidade servem para verificar
o estado pulpar e devem ser realizados principalmente estímulos elétricos (Andreasen e
Andreasen, 2011).
O uso de um dispositivo de transiluminação permite uma melhor visualização
da cor do dente e translucidez, bem como identificar micro-fraturas de esmalte (Figura 8)
(Moule e Cohenca, 2016).
Figura 8: Uso da transiluminação (Moule e Cohenca, 2016).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
16
iii. Exames auxiliares de diagnóstico
Depois do exame extra-oral e intra-oral, a tomada radiográfica da área lesada deve
ser efetuada (Carvalho et alii., 2008). O exame radiográfico é extremamente importante
no diagnóstico das fraturas, devendo ser realizadas radiografias periapicais com um
ângulo horizontal de 90º, também com angulações mesiais e distais do dente em questão
e oclusais (Tolentino et alii., 2008, DiAngelis et alii., 2012). Avaliação radiográfica deve
ser feita durante a primeira consulta, não só para se obter um diagnóstico preciso, mas
também para estabelecer uma posterior base de comparação (Moule e Cohenca, 2016).
Em casos de suspeita de uma fratura simples ou complicada da coroa é
recomendada pelo menos uma radiografia intra-oral, no caso de uma fratura radicular são
necessárias mais radiografias e usando angulações diferentes para fazer um correto
diagnostico (Kullman e All Sane, 2012). Sempre que o exame clínico sugerir fratura de
mandíbula e/ou maxila, as radiografias extrabucais devem ser solicitadas (Tolentino et
alii., 2008).
A ortopantomografia é uma boa hipótese para o despiste de fraturas condilares,
devendo realizar-se se houver queixa de dor ou rigidez no movimento da mandíbula, ou
quando um paciente caiu de frente (Moule e Cohenca, 2016).
O Raio-X é um exame complementar essencial no controlo periódico de dentes
traumatizados. É importante para visualizar alterações que possam não ser notadas no
exame clínico, como extensão das fraturas coronárias e a sua proximidade da polpa.
Auxilia também no diagnóstico de fraturas radicular e do osso alveolar, além disso pode-
se verificar o estágio de formação radicular e o estado do ligamento periodontal (Diniz et
alii., 2008).
A tomografia computorizada é um meio auxiliar no diagnóstico perante a suspeita
de fraturas radiculares, permitindo a visualização, localização e determinação da extensão
da fratura, tendo apresentado resultados superiores quando comparada com as
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
17
radiografias periapicais convencionais para diagnóstico de fraturas radiculares dentárias
(Mansini et alii., 2010, Correia e Salgado, 2012).
iv. Oclusão
As articulações temporomandibulares no exame clínico devem ser palpadas, e
qualquer inchaço, clic ou crepitação deve ser analisado. Devem ser observados também
todos os movimentos mandibulares e se houve mudança na mordida ou oclusão depois
da fratura (McTigue, 2013).
A análise oclusal é importante também para entender as possíveis causas da
fratura, uma vez que a oclusão em classe II de Angle, o overjet acentuado e a mordida
aberta são fatores que aumentam a suscetibilidade das fraturas (Bitencourt et alii., 2015).
É imprescindível a realização de uma prévia análise da oclusão para a seleção do
plano de tratamento, pois pacientes que apresentem um overbite aumentado não estão
indicados para serem tratados com restaurações diretas em dentes fraturados. Caso se opte
por este tipo de restauração, será necessário a utilização de técnicas que permitam reforçar
a união ao dente, como a realização de um amplo bisel ou a utilização de uma goteira
oclusal durante a noite (Baratieri et alli. sit in Ferreira, 2013).
A oclusão tem um papel importante na permanência da restauração que será
realizada, assim, a avaliação da oclusão e dos movimentos excursivos da mandíbula são
procedimentos fundamentais para verificar a existência de contatos prematuros que
possam levar à fratura da restauração (Forcelli e Nunes, 2014).
7. Diagnóstico
A correta escolha do tratamento é, logicamente, dependente da capacidade do
clínico para fazer o diagnóstico correto (Andreasen et alii., 2012). No entanto, este
diagnóstico é um diagnóstico dificil para o clínico, devido à perda temporária de
sensibilidade pulpar após trauma e às limitações de testes pulpares convencionais (Bastos
et alii., 2013).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
18
Na seguinte tabela mostra-se os achados clínicos e radiográficos que permitem
fazer a distinção dos diferentes tipos de fraturas (Tabela 2).
Tabela 5: Diagnóstico das fraturas dentárias (adaptado de Bandeira et alii., 2009; Bitencourt et alii., 2015)
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
19
8. Tratamento
Nos dias de hoje, o médico dentista tem muitas opções de tratamento de dentes
fraturados. A avaliação das expectativas do paciente e dos possíveis tipos de tratamento
é imprescindível antes de começar qualquer procedimento. A escolha da técnica deve ser
estudada de acordo com cada paciente e das suas necessidades (Silva et alii., 2012).
Apesar de normalmente os médicos dentistas não estarem presentes no local em
que acontece o acidente, existem algumas recomendações para que seja mantida o
máximo possível de integridade do dente (Castilho et alii., 2009).
Na tabela a seguir estão algumas dessas recomendações que são essências para o
tratamento (Tabela 3):
Tabela 6: Recomendações em caso de fratura (adaptado de Emerich e Wyszkowski, 2010)
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
20
O armazenamento do fragmento em ambiente húmido é, sem dúvida, importante,
pois evita desarmonia de cor entre o dente e o fragmento dentário, bem como diminuição
das propriedades mecânicas da restauração (Silva et alii., 2012). Para guardar o
fragmento, pode-se usar solução salina equilibrada de Hanks, solução salina, leite ou
saliva (Liddelow e Carmichael, 2016; Silva et alii., 2012).
i. Tratamento de fraturas incompletas de esmalte
Normalmente não necessita de tratamento, no entanto deve-se optar por analisar
a possibilidade de haver lesão nos tecidos dentários de suporte (Bandeira et alii., 2009).
Alguns autores defendem que se deve optar por realizar terapia de flúor, devendo ser
acompanhado clinica e radiograficamente (Bitencourt et alii., 2015).
ii. Tratamento de fraturas coronária de esmalte
A terapêutica mais adequada a este tipo de fratura é a remoção dos bordos
cortantes com discos ou brocas diamantadas com baixa rotação e aplicação de verniz de
flúor. Se o paciente ou o seu responsável assim entender, deve-se restaurar com resina
composta (Bitencourt et alii., 2015, Andreasen e Andreasen, 2001).
No exame radiográfico devem ser tiradas radiografias periapicais, oclusais e
exposições excêntricas para descartar a hipótese de lesões luxação ou fratura da raiz.
Deve-se realizar um controlo clínico e radiográfico após 6-8 semanas e 1 ano (DTG,
2014).
iii. Tratamento de fraturas coronária de esmalte e dentina
O tratamento indicado neste tipo de fratura depende do exame visual e clínico
da lesão (com a superfície limpa, seca e iluminada) com o intuito de verificar a extensão
da perda de estrutura. Neste caso o exame radiográfico também tem um papel
fundamental para observar a proximidade da câmara pulpar, decidindo assim se há ou não
necessidade de aplicar uma proteção pulpar de hidróxido de cálcio (Bitencourt et alii.,
2015).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
21
Neste caso pode-se optar por colar o fragmento, caso este exista, realizar uma
restauração provisória de urgência com cimento ionómero de vidro na dentina exposta ou
então realizar uma restauração definitiva resina composta (Bandeira et alii., 2009).
Para verificar se existe deslocamento ou fratura da raiz devem ser tirados raio-
x, periapicais, oclusais e de exposições excêntricas, deve ser realizada também radiografia
das lacerações do lábio ou da bochecha para verificar a existência de fragmentos de dentes
ou materiais estranhos. O controlo clínico e radiográfico deve ser feito após 6-8 semanas
e 1 ano (DTG, 2014).
iv. Tratamento de fraturas coronária de esmalte, dentina e polpa
Para o tratamento de fraturas coronárias de esmalte, dentina e polpa deve-se
realizar uma correto exame clinico para avaliação da perda de estrutura dentária e da área
de hemorragia ou áreas vermelhas puntiformes que indicam o comprometimento do
tecido pulpar. Deve-se realizar também um exame radiográfico para analisar a câmara
pulpar e o estado de formação da raiz (Bitencourt et alii., 2015).
A escolha do tratamento adequado é influenciada pelo estado de
desenvolvimento da raiz, extensão da fratura, momento em que ocorreu a lesão e grau de
colaboração do paciente (Bitencourt et alii., 2015).
Se o dente em questão se tratar de um dente permanente com raiz em
desenvolvimento, deve-se realizar proteção pulpar ou pulpotomia parcial usando
preferencialmente MTA (Mineral Trioxide Agregate) ou hidróxido de cálcio. Se a raiz já
estiver completamente formada deve-se realizar pulpectomia no caso de existir necrose
pulpar. No caso de não existir necrose deve-se realizar proteção pulpar ou pulpotomia. Se
se tratar de dentição decídua em desenvolvimento, o melhor é optar por proteção pulpar
ou pulpotomia parcial usando hidróxido de cálcio. Se a reabsorção já estiver demasiado
avançada deve-se recorrer à extração do dente (Bandeira et alii., 2009).
A proteção pulpar realiza-se da seguinte forma: em primeiro lugar administra-
se anestesia local, seguidamente, se possível realiza-se o isolamento do dente com dique
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
22
de borracha e limpa-se a área com água e clorohexidina. Posteriormente desinfeta-se com
hipoclorito de sódio e aplica-se o material (cimento hidróxido de cálcio ou MTA). Depois
sela-se a dentina exposta com cimento de ionómero de vidro. No final realiza-se a
restauração com resina composta (DTG, 2014).
Para a realização de uma pulpotomia deve-se seguir o seguinte protocolo:
anestesiar o dente, isolar com dique de borracha, limpar a área com água e clorohexidina,
desinfetar a cavidade com hipoclorito de sódio, depois remover a polpa até 2mm de
profundidade com broca diamantada cilíndrica. Seguidamente colocar uma bola de
algodão embebida em solução salina sobre a polpa até o sangramento parar.
Posteriormente aplica-se o material (cimento hidróxido de cálcio ou MTA), selando a
dentina exposta com ionómero de vidro. No final de todos os procedimentos deve-se
restaurar com resina composta (DTG, 2014).
O controlo clínico e radiográfico desta lesão deve ser realizado após 6.8
semanas e 1 ano (DTG, 2014).
v. Tratamento de fraturas corono-radiculares
Um dente com uma fratura corono-radicular apresenta muitos problemas
relacionados com a reabilitação coronal, especialmente quando a linha de fratura estende-
se abaixo do nível do osso marginal (Poi et alii., 2007).
O tratamento neste tipo de fratura depende do envolvimento pulpar (Bandeira
et alli., 2009), do sentido da lesão, vertical ou horizontal (Sanabe et alii., 2009), ou da
proximidade da margem gengival (Bitencourt et alii., 2015).
Quando a lesão se localiza próximo da margem gengival deve-se optar por
tratamento endodôntico e gengivectomia ou extrusão ortodôntica, de modo a expor a
margem de fratura a um nível supragengival, facilitando os procedimentos de restauração
clínicos evitando contaminação com sangue e de saliva. O tratamento restaurador pode
ser colagem do fragmento, restauração com resina composta ou usando uma coroa de
acetato (Bitencourt et alii., 2015; Fidel et alii., 2011; Bandeira et alii., 2009).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
23
Se a fratura ocorrer a baixo da margem gengival (4 a 5mm) deve-se optar por
realizar extração pois o prognóstico é demasiado duvidoso (Bitencourt et alii., 2015).
Relativamente á exposição pulpar, se a fratura atinge a polpa, o tratamento a
realizar acaba por ser igual ao das fratura coronárias complicadas, se não apenas se realiza
extrusão do dente ou gengivectomia para realizar a restauração (Bandeira et alii., 2009).
A extrusão cirúrgica do dente é um procedimento simples e pouco demorado
para expor a linha de fratura em que se adquire uma boa estética demorando menos tempo
que a extrusão ortodôntica (Das e Muthu, 2013).
Quanto ao sentido da lesão, se a lesão ocorrer no sentido horizontal, deve-se
realizar o reposicionamento dentário, realizando tratamento endodôntico. Se a lesão for
no sentido vertical o único tratamento passa pela exodontia do dente (Sanabe et alii.,
2009).
Neste tipo de traumatismos, após o acidente é importante a realização de um
tratamento o mais rápido possível de modo a evitar a ocorrência de sequelas como necrose
pulpar, alteração da cor da coroa, reabsorção óssea ou radicular ou até perda da peça
dentária (Carvalho et alii., 2008).
Perante este tipo de fratura, os pacientes devem ingerir alimentos moles durante
1 semana, manter uma boa higiene oral para que possa ocorrer uma boa cicatrização,
escovar os dentes com uma escova macia e lavar com clorexidina 0,1%, o que demonstrou
ser benéfico para evitar o acúmulo de placa bacteriana e de detritos (DTG, 2014).
O controlo radiográfico e clinico deve ser realizado após 6-8 semanas e 1 ano
(DTG, 2014).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
24
vi. Tratamento de fraturas radiculares
O tratamento destas fraturas depende da sua orientação. Se a lesão for no sentido
longitudinal é recomendada a extração. No sentido transversal localizada no terço medio
ou apical, desde que não haja mobilidade pode-se apenas realizar acompanhamento
clínico e radiográfico. No caso de existir deslocamento ou mobilidade, o tratamento passa
por aproximar os fragmentos, aplicar contenção por 21 dias, aconselhar uma boa higiene
e repouso do dente e prescrever um analgésico no caso de haver dor (Guedes-Pinto sit in
Bitencourt et alii., 2009).
Caso a fratura ocorra num dente decíduo deve-se extrair o fragmento coronal se
este sofrer deslocamento. O fragmento aplical não é necessário extrair pois irá sofrer
reabsorção (Bandeira et alii., 2009).
Tal como nas fratura corono-radiculares, os pacientes devem ingerir alimentos
moles durante 1 semana, manter uma boa higiene oral para que possa ocorrer uma boa
cicatrização, escovar os dentes com uma escova macia e lavar com clorexidina 0,1%, o
que demonstrou ser benéfico para evitar o acúmulo de placa bacteriana e de detritos
(DTG, 2014).
O controlo clínico e radiográfico é realizado após 6-8 semanas, 6 meses, 1 ano
e anualmente durante 5 anos (DTG, 2014).
9. Restaurações diretas das fraturas
Existem diversas abordagens restauradoras diretas para dentes traumatizados.
Quando se trata de restaurações estéticas, o sorriso têm um papel fundamental. Deve-se
ter em conta a espessura labial, a largura intercomissural, a gengiva e o tamanho e posição
dos dentes para que haja uma harmonia no sorriso (Silva et alii., 2012).
É recomendado que as fraturas coronárias sejam restauradas o mais rápido
possível e que as fraturas incompletas de esmalte sejam seladas para diminuir a
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
25
probabilidade de acesso bacteriano à polpa, o que pode levar à necrose pulpar e
posteriormente reabsorção radicular (Silveira et alii., 2013).
As dificuldades das restaurações são essencialmente devidas à escolha do
material e à sua manipulação. As suas características óticas e mecânicas, bem como a sua
utilização nas espessuras corretas respetivas zonas do dente, acabam por se tornar numa
dificuldade. Então, o médico dentista deve tentar adequar o material e a técnica ao caso
em questão, visto que ao longo do tempo as técnicas e os materiais têm evoluído bastante
(Terry e Leinfelder, 2008).
i. Técnica da colagem do fragmento
Entre as várias alternativas de restaurações, a colagem do fragmento autógeno
(Figura 9) apresenta-se como uma técnica conservadora e de fácil realização. Esta técnica
é a opção restauradora com mais interesse para fraturas coronárias em dentes anteriores
(Silva et alii., 2012). Esta técnica associada aos modernos sistemas adesivos é capaz de
manter a função e a estética do dente por períodos superiores a 7 anos (Demogalski et
alii., 2006).
A técnica da colagem do fragmento é, normalmente a primeira opção de
restauração de um dente fraturado, independentemente da técnica utilizada associar ou
não resina composta (Diniz et alii., 2008).
Figura 9: Técnica de colagem do fragmento (Liddelow e Carmichael, 2016)
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
26
Com o intuito de se preservar as características fragmento, recomenda-se
conservá-lo em recipiente com solução fisiológica, leite, saliva ou na própria boca,
mantendo as condições favoráveis para a colagem do fragmento e recorrendo o mais
rápido possível para uma consulta dentária. Todavia, a desidratação tardia pode
comprometer também o resultado estético da restauração (Ferreira et alii.,2015).
Existem casos em que o fragmento foi mantido desidratado por 30 dias, mas o
facto de se ter acondicionado em solução fisiológica 7 dias antes do procedimento
restaurador restabeleceu a hidratação, devolvendo o resultado estético na colagem do
fragmento (Ferreira et alii.,2015).
O procedimento realiza-se da seguinte forma: após anestesiar o local, coloca-se
o isolamento absoluto, condiciona-se o dente e o fragmento com ácido fosfórico a 37%
durante 30 segundos no caso de ser esmalte ou 15 segundos se for dentina e de seguida
lava-se e seca-se. Segue-se a aplicação do adesivo tanto no fragmento como no dente
seguindo as instruções do fabricante e fotopolimerizando por 20 segundos, para
posteriormente reposicionar o fragmento com resina composta, fotopolimerizando por 40
segundos tanto por vestibular como por palatino/lingual. No final realizam-se os
acabamentos necessários e os ajustes oclusais (Ferreira et alii., 2015; Diniz et alii., 2008;
Demogalski et alii., 2006).
A realização de algum tipo de preparo no dente ou no fragmento é muito
controversa (Silva et alii., 2012). Uma das técnicas de preparo é a confeção do bisel, esta
tem como objetivo aumentar a retenção e disfarçar a linha de fratura. Assim, esta técnica
requer uma preparação do esmalte que, em alguns casos, pode levar a uma perda
adaptação entre o fragmento e o dente, tornando o correto reposicionamento difícil. Para
evitar esses problemas de adaptação do fragmento foi desenvolvida a técnica de chanfro.
Esta sugere a preparação do esmalte após o reposicionamento do fragmento (Papa et alii.,
2008).
Outra técnica de adaptação do fragmento é a confeção de um sulco no esmalte,
aumentando a retenção, porém, essa confeção apresenta uma grande dificuldade técnica
devido à reduzida espessura do esmalte nos dentes anteriores. A confeção desse sulco na
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
27
dentina também foi proposta de modo a aumentar a adesão do fragmento ao dente (Papa
et alii., 2008).
Este método de restauração tem inúmeras vantagens, nomeadamente a total e
imediata recuperação da estética, isto devido ao contorno, alinhamento, translucidez e a
textura superficial serem as do dente natural. Além disso, permite a manutenção do
contorno gengival, o tratamento numa só consulta e apresenta uma estética boa e
duradoura, pois apenas uma mínima quantidade de material restaurador ficará visível na
superfície vestibular. Também a função do dente fraturado é restabelecida, mantendo-se
os contactos oclusais muito idênticos aos originais. Por fim, é um procedimento seguro,
simples, rápido e de baixo custo (Papa et alii., 2008).
Uma correta avaliação do caso clínico é crucial para garantir sucesso a longo
prazo deste procedimento restaurador. Esta técnica está contra-indicada em situações
onde o dente ou o fragmento apresentam restaurações amplas em resina composta e há
comprometimento estético significativo destas. Se há presença de um hábito
parafuncional, este método também não está indicado pois pode levar ao deslocamento
do fragmento em relação ao dente remanescente. Ainda o fator oclusal pode ter influência
na colagem do fragmento, portanto, havendo alterações oclusais como o overbite ou
overjet acentuado, o tratamento ortodôntico poderá ajudar a manter esta restauração
íntegra (Demogalski et alii., 2006).
É possível também recorrer a um Banco de Dentes Humanos (BDH), que
armazena dentes doados, para encontrar um fragmento que seja possível adaptar ao dente
fraturado. Este tipo de colagem é denominada de colagem do fragmento homógena. Esta
consiste na seleção de um dente no BDH que possua forma, diâmetro mesio-distal e cor
idênticos ao dente fraturado. Depois de selecionado, o fragmento é preparado, ajustado
em articulador e adaptado em modelos de gesso do individuo. Quanto melhor for a
adaptação ao modelo, melhor será a adaptação ao dente remanescente (Avelar et alii.,
2009).
É importante assinalar que, neste tipo de colagens é imprescindível a
esterilização dos dentes através do calor húmido (autoclave a 121ºC por 40 minutos).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
28
Além disso, como em todos os outros tratamentos, é indispensável o consentimento
informado do paciente ou do responsável legal (Avelar et alii., 2009; Derossi et alii.,
2009).
As principais dificuldades da colagem homógena são a seleção de dentes ou
fragmentos, principalmente quando há destruição parcial da coroa, adaptação da cor e o
facto de alguns pacientes acharem estranha a colocação de um dente de outra pessoa na
sua boca e recusarem a realização do procedimento (Derossi et alii., 2009).
A capacidade de uma restauração se unir ao dente depende principalmente de
uma correta interação entre a adesão e os princípios químicos e mecânicos. De modo a
facilitar este processo é necessário que a superfície do dente esteja limpa, descontaminada
e com micro-poros, criando uma adequada penetração do adesivo (Liddelow e
Carmichael, 2016).
A evolução dos agentes adesivos ocorreu com a passagem de um adesivo de três
passos (etch-and-rinse) para um adesivo de um passo só (self-etch/autocondicionantes).
O princípio da adesão é o mesmo, uma solução acídica dissolve-se ou aumenta a
permeabilidade da smear layer, na qual o primer e adesivo atuam. No entanto, no que diz
respeito à eficácia da união e à durabilidade, um adesivo de três passos mostra-se melhor.
Os sistemas adesivos self-etch têm demonstrado que exibem uma taxa de falha mais
elevada em estudos in vitro, assim para restaurar dentes fraturados é recomendado o uso
de adesivos etch-and-rinse (Liddelow e Carmichael, 2016).
Em relação aos materiais, podem ser utilizadas resinas compostas microhibridas
ou nanoparticuladas, cimentos resinosos e resinas compostas fluídas (Silva el alli., 2012).
ii. Técnica da matriz de silicone
Outra possibilidade de restauração é a chamada técnica da matriz de silicone.
Esta técnica estabelece uma previsibilidade quanto ao tamanho e formato dos dentes,
realizando-se, portanto, o trabalho com maior rapidez. Possibilita ainda a estratificação
da restauração em camadas de compósitos com cores diferentes. A sua confeção
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
29
consistem numa moldagem com massa densa de um silicone de adição ou condensação,
que pode ser feita quer num modelo de gesso quer diretamente na boca do paciente (Netto
e Werneck, 2011).
Se se optar por esta técnica uma das opções será, depois do exame clínico e
radiográfico (Figura 10 (A e B)) realizar uma impressão em alginato da arcada em questão
para posteriormente confecionar um modelo de gesso. Posto isto, realiza-se um
enceramento de diagnóstico (Figura 11 (C)) sobre o modelo seguido da realização e prova
da matriz de silicone (Figura 11 (D)). De seguida deve-se realizar um procedimento
denominado de mock-up. Este é feito com resina acrílica, bis-acrílica ou resina composta
fotopolimerizável da cor dos dentes que é colocado junto aos restantes dentes para
comparação. Serve com o primeiro contato do paciente com o tratamento proposto. É um
procedimento muito útil, principalmente para aqueles pacientes que apresentam maior
dificuldade em visualizar o resultado final do tratamento (Farias-Neto et alii.; 2015; Silva
et alii.,2012; Netto e Werneck, 2011; Nahsan et alii., 2010).
Depois disto, deve-se colocar isolamento absoluto e realizar o bisel (com broca
cônica diamantada) (Figura 12 (E)). Antes de realizar a restauração faz-se o
condicionamento com ácido fosfórico a 37% por 30 segundos no esmalte e 15 segundos
na dentina, lava-se e seca-se e faz-se a aplicação do sistema adesivo, com fotoativação de
20 segundos. Para restaurar coloca-se a resina composta correspondente ao esmalte
palatino/lingual na matriz de silicone, seguidamente a matriz é posicionada por
palatino/lingual do dente envolvido (Figura 12 (F)), fotopolimerizando por 40 segundos.
Seguidamente coloca-se resina opaca e resina de dentina sobre essa camada. As últimas
camadas colocam-se pela face vestibular do dente em questão (Figura 13 (G)),
fotopolimerizando sempre entre camadas. No final realizam-se os ajustes oclusais e os
acabamentos necessários. Para evitar a que volte a ocorrer fratura do dente aconselha-se
a utilização de uma goteira (Figura 14) (Silva et alii.,2012; Netto e Werneck, 2011;
Nahsan et alii., 2010).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
30
Figura 10: Avaliação clinica (A) e radiográfica (B) da fratura (Silva et alii., 2012)
Figura 11: Enceramento de diagnóstico (C) e confeço da matriz de silicone (D) (Silva et alii., 2012)
Figura 12: Preparo do bisel (E) e aplicação da resina composta na matriz de silicone (F) (Silva et alii., 2012)
Figura 13: Aplicação da resina composta no dente remanescente (G) e acomodação da resina composta com o pincel (H) (Silva et alii., 2012)
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
31
Figura 14: Aspeto final (I) e uso de goteira (J) (Silva et alii., 2012)
A vantagem de uma restauração da matriz guiada é a capacidade de restabelecer
uma forma de dente anatomicamente mais precisa do que o que é normalmente
conseguida com a técnica à mão livre (Liddelow e Carmichael, 2016). Possibilita,
portanto, reproduzir o ângulo cervico-incisal e mesio-distal com maior perfeição, permite
também controlar melhor a espessura de compósito e o tamanho a do dente (Nahsan et
alii., 2010).
O enceramento de diagnóstico é bom um meio auxiliar pois consiste numa
ferramenta que permite uma pré-visualização do tratamento, dando a oportunidade de
apresentar ao paciente o resultado do tratamento antes que sejam realizados
procedimentos (Kois et alii., 2008).
Para esta técnica é imprescindível o uso de uma resina composta nanohíbrida,
pois proporciona um ótimo acabamento e um brilho excecional. O menor escoamento das
resinas nanohíbridas contribui em grande parte para o sucesso desta técnica pois facilitam
a manipulação e a reposição da anatomia. Para melhorar a adesão, deve-se usar um
adesivo etch-and-rinse pois aumentam a durabilidade da restauração (Netto e Werneck,
2011; Liddelow e Carmichael, 2016).
iii. Técnica restauradora à mão livre
Para a reabilitação de fraturas coronárias em dentes anteriores, a restauração
direta em resina composta é o tratamento mais comum (Forcelli e Nunes, 2014).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
32
A restauração de um dente fraturado com uma restauração adesiva é muitas
vezes uma das opções de tratamento mais conservador considerados. Os agentes de
ligação do esmalte e dentina proporcionar uma adesão previsível da restauração ao dente,
possibilitando a substituição da estrutura perdida com resultados estéticos e funcionais
aceitáveis. Dependendo da extensão da perda de estrutura e do envolvimento pulpar, a
restauração do dente com resina composta pode ser um tratamento temporário ou
permanente (Liddelow e Carmichael, 2016).
Nesta técnica realiza-se, tal como na anterior, isolamento com dique de
borracha, de modo a evitar contaminações. Para melhorar a adaptação da restauração e
para disfarçar a junção dente/restauração realiza-se um bisel, por exemplo com uma broca
diamantada cônica. Faz-se também um condicionamento com ácido fosfórico a 37%
durante 30 segundos no esmalte e se houver dentina exposta, 15 segundos, sendo
removido com jato de água pelo mesmo tempo. Posto isto, coloca-se o adesivo, por duas
camadas, fotopolimerizando por 20 segundos cada uma delas. A colocação da resina
composta é feita à mão livre, ou seja, vão-se colocando camadas de resina dispostas
anatomicamente, fotoactivando entre cada uma delas por 20 segundos. Depois para
aperfeiçoar a restauração, executam-se os acabamentos com discos de polimento e pontas
abrasivas. No final, é de salientar que devem ser realizados os ajustes oclusais de modo a
dar a harmonia que o aparelho estomatognático necessita (Silva et alii., 2012; Silva et
alii., 2015).
É importante, quando se restauram dentes fraturados, que se use a técnica da
estratificação natural. Esta consiste na colocação de camadas de resina composta de
diferentes cores e propriedades. Isto permite que, esteticamente, a restauração seja o mais
próximo possível do dente, em cor, translucidez, opacidade e opalescência (Silva et alii.,
2012). A fim de obter as características naturais, resinas mais transparentes devem ser
usadas para reproduzir o esmalte artificial, ao passo que as resinas mais opacas devem ser
utilizadas para representar a dentina (Nahsan et alii., 2010).
A cor é um ponto essencial da restauração e representa uma grande dificuldade
para os profissionais. O uso das resinas compostas para esmalte e dentina nas distintas
fases da restauração e nas diferentes zonas do dente (cervical, média e incisal), deve ser
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
33
realizada de modo criterioso, uma vez que a espessura da camada de resina composta irá
ter influência no resultado final do procedimento. Porém, quando a técnica é efetuada
corretamente, o que depende da habilidade do profissional, a restauração tem um efeito
natural, tornando-se impercetível (Silva et alii., 2015).
Para a realização da restauração, é preferível usar uma resina composta
nanoparticulada (ou nanohíbridas), que quando comparadas com resinas
microparticuladas e híbridas, possuem mais vantagens, como melhores propriedades
mecânicas, estética, ótimo polimento superficial e são mais duradouras. Para reforçar esta
união, um adesivo de três passos mostra-se melhor apresentando menor taxa de falha
(Silva et alii., 2015; Liddelow e Carmichael, 2016).
Um aspeto muito importante na restauração é a seleção da cor. Para que a
restauração tenha um aspeto natural deve-se ter em conta vários fatores. É essencial que
a escolha da cor seja realizada antes da colocação do isolamento absoluto devido à
desidratação provocada por este, evitando assim que se escolha uma cor errada. Deve-se
ter o cudado também de escolher a cor num local com iluminação adequada e se possível
contrastando com paredes de cor neutra. É ainda recomendado que a seleção da cor seja
confirmada sob diferentes iluminações e se necessário, deve-se pedir uma segunda
opinião. A roupa do paciente ou o batom, se existir, também podem influenciar na
escolha, devendo ser alvo de atenção especial. A distância ideal para a escolha da cor é
de aproximadamente 25 centímetros (Wee, 2006).
10. Recomendações ao paciente/responsável
A contribuição do paciente tanto nas consultas como em casa é muito
importante para um bom prognóstico da lesão. Portanto, o paciente ou o responsável por
ele devem ser aconselhados (IADT, 2012).
Para um bom prognóstico do tratamento é essencial que o paciente siga algumas
instruções. No caso de fraturas corono-radiculares ou radiculares é importante que o
paciente ingira alimentos moles ou líquidos durante a primeira semana após o tratamento
(DTG,2014). Tanto nestes como nos restantes casos de fratura, é imprescindível que o
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
34
haja um cuidado na higiene oral, escovando os dentes com uma escova macia e realizando
bochecho com clorohexidina a 0,1% por 1-2 semanas, de modo a evitar a acumulação de
placa bacteriana (DTG, 2014; IADT, 2012; Bandeira et alii., 2009; Sanabe et alii., 2009).
É importante salientar que, após a realização da restauração, o paciente deve
usar uma goteira na prática de atividades desportivas, evitando assim novas fraturas ou a
fratura da restauração realizada (Silva et alii., 2012).
No caso do paciente se tratar de uma criança que use chupeta, este hábito deve
ser evitado (IADT, 2012).
O método de atuação no caso de ocorrer uma fratura é uma das principais
recomendações ao paciente ou ao seu responsável. O primeiro passo é encontrar o
fragmento do dente. Se este estiver contaminado deve ser lavado com água e depois deve
ser armazenado em soro fisiológico, leite ou então na boca, entre as bochechas e as
gengivas. É muito importante que seja consultado um médico dentista o mais rápido
possível, evitando assim complicações futuras, aumentando a probabilidade de conservar
a vitalidade do dente, havendo assim um melhor prognóstico (IADT, 2011).
Como a escola é um dos locais onde as fraturas mais ocorrem, as recomendações
devem também ser dadas aos professores. Assim, estes conseguem ajudar no melhor
prognóstico da lesão se souberem a maneira como devem atuar (Young et alii., 2013).
Estudos indicam que a maior parte dos prestadores de primeiros socorros
(médicos, enfermeiros e paramédicos) têm um nível baixo de conhecimentos acerca do
que deve ser realizado no caso de traumatismo dentário. Por isso recomendações deverão
ser-lhes dadas para que possam atuar com rapidez, melhorando o prognóstico da lesão
(Diaz et alii., 2009).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
35
11. Medidas de prevenção
É muito importante que sejam estabelecidas medidas que permitam instruir pais,
profissionais de saúde, professores e alunos que possibilitem prevenir as fraturas dentárias
bem como os restantes traumatismos (Marinho et alii., 2013).
Seria essencial que as entidades responsáveis incluíssem campanhas e
programas nacionais e locais para aumentar a consciência social sobre os traumatismos
dentários (Traebert et alii., 2006).
O médico dentista tem um papel fundamental, não só no tratamento das lesões
por trauma mas também na informação, educação e prevenção das mesmas. Como tal,
sendo os traumatismos dentários considerados um problema de saúde pública é
importante que sejam estabelecidas medidas de prevenção (Marinho et alii., 2013).
Os pais têm também um papel fundamental, pois devem instruir os filhos a não
bater nos dentes com objetos, não empurrar os colegas quando brincam, não saltar nos
baloiços, usar as escadas para sair de piscinas de modo a evitar que incidentes possam
acontecer (IADT, 2011).
A prevenção deste problema é complicada, não sendo possível acontecer a cem
por cento pois a maior parte das vezes são decorrentes de casos inesperados (Bitencourt
et alii., 2015).
Assim, uma das possíveis medidas seria criar um ambiente apropriado e seguro,
tanto em casa como nas escolas, aumentando a atenção ao perigo e reduzir as atividades
perigosas (Pedroni et alii., 2008).
De modo a evitar acidentes, medidas de proteção devem ser tomadas, como:
usar capacete ao andar de patins, bicicleta, skate ou outros desportos que possam envolver
trauma da cabeça/face; usar goteira de proteção ao praticar desportos como rugby, hóquei
karaté ou outro desporto de contacto (IADT, 2011).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
36
Em relação ao boxe, diversas associações recomendam o uso de capacetes,
goteiras protetoras e a proibição de golpes na cabeça por serem demasiado perigosos
(Potter et alii., 2011).
Para melhorar o conhecimento sobre os traumatismos dentários no ambiente
boxe é essencial criar uma campanha educativa e informativa para incentivar e
sensibilizar os pugilistas a usarem goteiras de proteção (Emerich e Nadolska-Gazda,
2013).
Seria importante criar locais públicos específicos e apropriados para as
atividades desportivas, com superfícies de absorção do impacto pois são locais onde as
crianças têm uma grande propensão a cair. Além disso, é necessário criar leis que regulem
a obrigatoriedade do uso de equipamentos de segurança necessários nos desportos
(Traebert et alii., 2006).
Como medida preventiva existe também a correção de problemas oclusais,
como a sobressaliência dos incisivos, pois também estão associados a este problema
(Traebert et alii., 2006).
12. Impacto das fraturas na qualidade de vida
Entre as causas de impacto negativo na qualidade de vida, os traumatismos
dentários têm uma relevância especial por estarem, juntamente com a cárie e o cancro
oral, entre os principais problemas de saúde pública mundial (Antunes et alii., 2012).
O traumatismo dentário é um problema que afeta grande parte da população
pediátrica, podendo levar a perdas irreparáveis em alguns casos. As suas repercussões
interferem não só fisicamente, mas também o âmbito psicológico e estético. Mais ainda,
mobiliza toda a estrutura familiar, com impactos produzidos inclusive sobre os pais das
crianças (Rodrigues et alii., 2015).
Visto que a aparência física se tornou muito importante nos dias de hoje, as
fraturas dentárias acabam por ter um grande impacto na autoestima do individuo. Uma
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
37
vez que interfere na harmonia do sorriso acaba por ser um entrave nas relações
interpessoais (Bitencourt et alii., 2015).
Como o traumatismo pode causar danos, tanto no momento do acidente, como
no decorrer do tratamento ou até mesmo depois deste, acaba por criar sérios danos
estéticos, psicológicos, sociais e até económicos à vítima (Antunes et alii., 2012).
O dente traumatizado representa um sério problema, afetando vários aspetos da
vida do paciente, desde a impossibilidade de partir os alimentos ou comer e falar
claramente (Mota et alii., 2010).
É durante a adolescência que as relações sociais são estabelecidas, assim, esta
fase é caracterizada pela inclusão de indivíduos em grupos. Uma das grandes
preocupações dos adolescentes é adotar um estilo que agrade a si mesmo e seu grupo de
amigos. O envolvimento dos dentes anteriores nos problemas orais, neste caso, lesões
traumáticas, pode exercer uma grande influência na inclusão dos adolescentes no contexto
do seu grupo social (Bendo et alii., 2014).
Estudos indicam que as fraturas envolvendo apenas o esmalte não parecem ter
um grande impacto nos adolescentes. Esta situação pode ser justificada pelo facto das
fraturas de esmalte serem mais leves, logo não provocam tanta dor ou qualquer outro
desconforto psicológico à vítima (Bendo et alii., 2014).
Tem sido também demonstrado que fraturas que não são tratadas têm um maior
impacto negativo na qualidade de vida dos indivíduos do que fraturas que receberam o
devido tratamento (Bendo et alii., 2014).
As consequências dos traumatismos incluem principalmente a sensação de
vergonha de sorrir, rir ou mostrar dentes; dificuldades nas relações sociais; irritabilidade
e uma incapacidade de manter um estado emocional saudável. O tratamento tende a
melhorar a qualidade de vida (Bendo et alii., 2010).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
38
O impacto dos problemas orais na qualidade de vida não passa apenas pela
estética. A dor, desconforto, aspetos funcionais têm também uma grande influência
negativa na qualidade de vida (Traebert et alii., 2012).
Algumas sequelas físicas dos traumatismos também têm influência na qualidade
de vida, como a mudança de cor da coroa; infeção pulpar ou infeção periapical; perda de
espaço na arcada dentária e desenvolvimento radicular anormal (Emerich & Wyszkowski,
2010).
Uma vez que as fraturas afetam diretamente a saúde, a função e a autoestima
dos pacientes, planos de prevenção devem ser executados, através da conscientização,
para que o número de traumatismos possa reduzir (Tolentino et alii. 2008).
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
39
III. Conclusão
As fraturas dentárias são traumatismos que afetam os tecidos duros ou a polpa
dentária. Essas lesões podem ser: fraturas coronárias de esmalte; fraturas coronárias de
esmalte e dentina sem exposição pulpar; fraturas coronárias de esmalte e dentina com
exposição pulpar; fraturas corono-radiculares de esmalte, dentina e cemento sem
exposição pulpar; fraturas corono-radiculares com exposição pulpar e fratura radicular
envolvendo cemento, dentina e polpa.
Este tipo de traumatismo ocorre tanto na dentição decídua como na permanente,
sendo os incisivos centrais os dentes mais afetados e ocorrendo no género masculino com
maior prevalência.
Os principais fatores etiológicos responsáveis pelas fraturas são as quedas,
lutas, desporto, acidentes de automóvel, maus tratos e acidentes com objetos. A utilização
inadequada dos dentes, como por exemplo para abrir, cortar ou segurar objetos,
entubações e laringoscopias são também causas comuns.
Existem também fatores anatómicos que podem aumentar o risco da ocorrência
de fraturas, como por exemplo, oclusão classe II de Angle, overjet aumentado (maior que
4mm), mordida aberta, lábio superior hipotónico e a respiração bucal.
Crianças que apresentam história de traumatismos na dentição decídua, excesso
de peso, limitações, crianças hiperativas ou com défice de atenção, crianças com
dificuldades auditivas ou visuais e pacientes com paralisia cerebral ou atrasos mentais
demonstraram apresentam uma maior suscetibilidade à ocorrência de fraturas dentárias,
assim como o consumo excessivo de álcool e uso de piercings.
Perante a avaliação inicial da fratura é importante realizar uma boa anamnese e
avaliação da história médica, bem como um correto exame extra e intra-oral, de modo a
estabelecer um ótimo diagnóstico.
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
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O raio-X tem um papel importante para visualizar alterações que possam não ser
notadas no exame clínico, bem como no controlo da lesão. Já a ortopantomografia é uma
boa hipótese para o despiste de fraturas condilares. Quando há suspeita de fraturas
mandibulares deve-se optar pela tomografia computorizada pois tem-se demonstrado
superior comparativamente com as radiografias periapicais.
Nos dias de hoje, o médico dentista tem muitas opções de tratamento de dentes
fraturados. A escolha da técnica deve ser estudada de acordo com cada paciente e das
suas expectativas. O armazenamento do fragmento em ambiente húmido é, sem dúvida,
importante para o sucesso do tratamento restaurador, podendo ser armazenado em solução
salina, leite ou saliva.
O médico dentista deve efetuar o tratamento mais adequado ao tipo de fratura e
ao paciente, mas também deve informar os pacientes de como agir nos diversos casos de
traumatismo dentário.
É recomendado que as fraturas coronárias sejam restauradas o mais rápido
possível e que as fraturas incompletas de esmalte sejam seladas para diminuir a
probabilidade de acesso bacteriano à polpa. Existem diversas abordagens restauradoras
diretas para dentes traumatizados. Pode-se optar pela técnica da colagem do fragmento,
quando este está presente, pela técnica da matriz guia ou então restaurar à mão livre.
A técnica da colagem do fragmento é a opção restauradora com mais interesse
sendo capaz de ser mantida por períodos superiores a 7 anos. Este método imensas
vantagens, nomeadamente recuperação imediata da estética. O fragmento pode ser
autógeno, se for do dente do individuo, ou homógeno se se recorrer ao Banco de Dentes
Humanos.
A técnica da matriz de silicone estabelece uma previsibilidade quanto ao
tamanho e formato dos dentes, realizando-se, portanto, o trabalho com maior rapidez do
que uma restauração à mão livre. A sua confeção consistem numa moldagem com massa
densa de um silicone de adição ou condensação, que pode ser feita quer num modelo de
gesso quer diretamente na boca do paciente.
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
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Para um bom prognóstico do tratamento é essencial que o paciente no caso de
fraturas corono-radiculares ou radiculares ingira alimentos moles ou líquidos durante a
primeira semana após o tratamento. Em todos os casos de fratura, é imprescindível que o
haja um cuidado na higiene oral, escovando os dentes com uma escova macia e realizando
bochecho com clorohexidina a 0,1% por 1-2 semanas.
É muito importante que sejam estabelecidas medidas que permitam instruir pais,
profissionais de saúde, professores e alunos que possibilitem prevenir as fraturas dentárias
bem como os restantes traumatismo pois estas podem levar a perdas irreparáveis, trazendo
repercussões físicas, psicológicas e estéticas.
Fraturas Dentárias: da etiologia à restauração direta
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