História da América independente I - ensaio

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Histria da Amrica independente I -1o semestre de 2014Professora: Stella Maris Scatena FrancoAluno: Milan Puh, n. USP 7294015Tipo de avaliao: Ensaio

O mundo a ser reinventado anlise da relao entre identidade e nao e questes poltico-culturais na Amrica Latina no sculo XIX

Neste trabalho analisaremos, inspirados na questo da prova, o pensamento de algumas figuras histrica do sculo XIX para que possamos responder a questo principal que nos guiar e que segue: Qual foi o entendimento dos latino-americanos a respeito da descontinuidade poltica, administrativa e filosfica causada pelas independncias dos pases da Amrica Latina da Espanha e quais foram as respostas que esses os latino-americanos deram a essa situao?Entendemos que, por ser um tema bastante amplo e abrangente, devemos nos restringir a alguns textos/figuras cruciais para a histria da Amrica Latina no sculo XIX, sendo que a nossa anlise ter como objetivo principal entender de que modo eles trataram o vazio que encontraram aps o fim da colonizao oficial espanhola. Certamente, no podemos deixar de salientar o fato que a questo da nacionalidade e/ou da identidade dos pases latino-americanos foi simultaneamente o resultado e o motivo da efervescncia poltica e social que aconteceu aps o fim do perodo colonial na Amrica do Sul. Como afirma Franois- Xavier Guerra (1999), a identidade de um pas pode ser entendido basicamente em dois registros: o poltico e o cultural, este abordando o um conjunto de representaes coletivas sobre as relaes do grupo com o solo, a histria, a provncia, seus vizinhos... e aquele a coletividade de condio poltica reconhecida e possuindo um territrio, instituies e governo prprio. Embora concordemos com a observao de Guerra, pensamos que impossvel analisar qualquer elemento identitrio de uma nao, separando as duas categorias (mesmo para fins didticos) ou afirmando que ambas esto esclarecendo em parte as origens da nao moderna (idem, p.13), pois as concepes culturais so inerentes a qualquer pensamento ou deciso poltica e vice-versa, as mudanas polticas o fim do perodo colonial, forou os pases americanos a se redefinirem culturalmente, procurando outras identidades ou reelaborando as antigas. Lembramos das exposies mundiais que aconteceram no sculo XIX, analisadas por Ricardo Salvatore no texto Exhibiciones em que o autor discute a interlocuo que existia entre Estados Unidos e pases da Amrica Latina, questionando a viso simplicista que via nos latino-americanos uma dependncia total na elaborao dos pavilhes e elementos culturais a serem expostos, argumentando que as elites polticas tinham projetos polticos que estavam sendo articulados nessas exposies (por exemplo, a apresentao de produtos que poderiam ser exportados em grande escala).O que nos intriga foi ver como as ideias do iluminismo europeu circulavam nos textos e nas discusses feitas naquele momento (perodo ps-1820), como por exemplo as do Jos Artigas, citadas na questo que tomamos como mote, antes ou depois de serem reelaboradas de acordo com o momento poltico, histrico e social dos pases em questo. As mudanas que estavam acontecendo, ou seja, a no-manuteno do Reino, segundo Artigas vista como um esforo racional de seus cidados que no se apegaro terra, provncia ou diocese (pois o discurso foi proferido inteiramente na primeira pessoa do plural incluindo todos os ex-colonizados, mesmo sem explicitar quais so), que devero se unir, atravs de elementos que possuem maior uniformidade, como por exemplo, a tradio, religio, lngua, capazes de superar as diferenas regionais particulares., o que certamente ecoou no pensamento de principais polticos e idelogos da Amrica Latina do sculo XIX, Simn Bolivar e Domingo Faustino Sarmiento. interessante ver como os dois polticos, principalmente o Sarmiento operam com os conceitos como civilizao, barbrie, desenvolvimento, progresso etc., ligando os conceitos de raa para explicar a situao econmica e cultural do pas, assim Sarmiento diz: As raas americanas vivem na ociosidade e mostram-se incapazes, mesmo quando obrigadas, de se dedicarem a um trabalho duro e contnuo (1845, p.80). Porm, no podemos afirmar que essas ideias iluministas foram completamente endossadas pelos homens letrados da Amrica Latina, porque o prprio Sarmiento em seu texto citar caractersticas positivas concluindo, por exemplo, que o povo argentino poeta por seu prprio carter, por natureza, entrando novamente em questes biolgicas para explicar a identidade argentina. Ou seja, eles raramente davam respostas fechadas e unilaterais para dvidas e dificuldades que a questo nacional e o pensamento filosfico da poca lhes proporcionavam. Dessa maneira podemos dizer que diante o vazio da identidade nacional que estava sendo criada, os primeiros americanos apresentavam uma grande quantidade de ideias bastante originais (como foi a tentativa de Sarmiento de definir tipos de homem argentino). Ademais, as crticas desses homens da primeira gerao de polticos (os trs mais importantes j mencionamos nesse trabalho) aos compatriotas desinteressados em estreitar os laos de fraternidade , por no quiserem aceitar a constituio e suas liberdades muito significativo se pensarmos na construo de Estado moderno e na unificao de regies, territrios e populaes que tinham dificuldades em aceitar uma identidade nacional (ou aquela proposta por certos grupos ou atores polticos). Aqui podemos incluir as populaes indgenas que so um elemento crucial para entendermos a constituio e o que mais importante a consolidao do Estado Nacional na Amrica Latina. Tomaremos o exemplo dos indgenas no Chile e no Mexico, inspirados no texto da Florencia Mallon, uma vez que essas sociedades indgenas, nas palavras da autora, foram o ponto de discusso fundamental para o sculo das oportunidades frustradas. Poderamos nos deter somente na expresso citada, pois ela, de certa maneira, nos oferece uma viso historiogrfica sobre o sculo XIX, isto , uma resposta para a nossa questo. Dado o espao para a elaborao desse ensaio, a questo historiogrfica permanecer implcita nesse trabalho, nos nossos argumentos, comentrios e pontos tratados. Voltando questo indgena, nos Chile os indgenas presentes nas regies onde era possvel uma produo agrcola considervel e minerao, a interdependncia e certa tolerncia entre a populao criolla e os indgenas, mesmo com o impressionante poder militar dos grupos indgenas reche e mapuche, foi substituda por um forte conflito dentro do processo de formao nacional que propunha uma pacificao das populaes indgenas, procurando-se respostas em discusses filosficas e polticas sobre o direito do indgena de ser civilizado feitas principalmente entre os anos 1880 e 1883, segundo a autora. Como ela afirma a histria dos indgenas no Mxico foi outra. As comunidades dos ndios mexicanos tinham que contribuir oficialmente para o Estado espanhol em cambio da proteo legal, separados para a repblica dos ndios. Quando o acordo colonial entrou em declnio e os mexicanos, criollos e indgenas, tiveram que dar uma resposta para esse novo arranjo, assim foram surgindo novas culturas polticas populares e federalistas, enquanto existia tambm existiam homens de Estado liberais que viam nas comunidades indgenas um inimigo (perodo entre 1855 e 1876). O que podemos concluir que a necessidade de resolver questes pendentes da pauta poltica passava por questes culturais e sociais e que dependendo da situao que os latino-americanos encontravam, ao se deparar com a questo indgena como fundamental na constituio de uma identidade nacional. Contudo, cada pas tratava a populao indgena de maneira diferente, sendo que no Chile a dizimao dessa populao abriu espao para uma posterior mistificao e integrao dos ndios restantes na economia nacional, mundial, enquanto no Mxico a forte presena populacional e poltica dos indgenas fez com que as elites polticas tivessem que trabalhar com conceitos como mestiagem ou incorporao nas estruturas polticas do pas, como conclui Mallon ou em eventos culturais como foi o caso das exposies internacionais em que so includas elementos folclorizados da cultura indgena, como argumenta Salvatore. Todos esses fatos, ou melhor dizer, respostas dadas pelos latino-americanos aponta para caractersticas singulares da constituio e consolidao da identidade nacional ibrico. Trata-se de certa dependncia poltica e/ou cultural das metrpoles e suas elites em relao s suas populaes e a outros pases. Exemplificando e generalizando: Mxico depende da populao indgena, Cuba da populao negra e Argentina dos gachos que no s interferiro nos assuntos polticos, mas que tambm exigiro uma dedicao para assuntos culturais, tratados em ensaios ou exposies, museus. No acreditamos que isso s pode ser explicado pelo fato de de se tratar de pases em posio poltica perifrica, fazendo com que as ideias do iluminismo e do republicanismo tivessem que passar pelo filtro e pela tica da (no) decadncia desses pases em comparao aos pases considerados centrais (Frana, Inglaterra) ou (no) distncia dos povos novos centros sendo estabelecidos no continente (Estados Unidos), sendo essa uma dos principais aprendizados nessa disciplina. Concluindo esse breve ensaio, constatamos que, sem dvida, estudar Amrica - Latina mais do que procurar causas e explicaes pela decadncia ou falta de civilizao se comparada com Europa e Estados Unidos, mas tentar entender a multiplicidade de relaes centro-periferia que existem dentro e fora do pases e suas questes polticas e culturais. Alm disso, foi interessante perceber que as respostas dadas pelos homens letrados, que se consideravam liberais e/ou republicanos, estavam em um eterno conflito entre o uso da lgica de guerra e o uso da razo e integrao cultural/econmica o que proporcionaria o progresso civilizatrio almejado pela maioria.

Bibliografia:

MALLON, Florncia. Las sociedades indgenas frente al nuevo orden. In:VZQUEZ, Josefina Z. (Dir.); GRIJALVA, Manuel M. La construccin de las naciones latinoamericanas, 1820-1870, vol. 7. Paris: Ediciones Unesco; Madrid: Editorial Trotta, 2007. (pp. 251-271).GUERRA, Franois- Xavier. A nao na Amrica espanhola: a questo das origens. Revista Maracanan. Ano 1, n 1, 1999/2000.SALVATORE, Ricardo. Exhibiciones. IN: Imgenes de un imperio. Estados Unidos y las formas de representacin de Amrica Latina. Buenos Aires: Editorial Sudamericana, 2006. SARMIENTO, Domingo. Facundo, ou civilizao e barbrie. Petrpolis, RJ: Vozes, 1996.