Jiddu Krishnamurti - ReflexSes

Reflexes

O crebro deve permanecer sensvel, em silncio, alerta, livre de toda a presso oriunda da preferncia e da averso. Tal coisa, porm, depende da profundidade, da abundncia, da riqueza e da completude do auto-conhecimento. Alm disso, o nosso corpo deve achar-se em profundo silncio, de modo natural. No entanto, no devemos comear por silenciar o corpo, porquanto isso no tem qualquer significado.

Temos que ser capazes de perceber por ns mesmos o falso - e por mais ningum. Mas, para o descobrirmos, temos de escutar, temos de sentir zelo, afecto, ateno - o que significa que temos de ser suficientemente srios. A vida exige que o sejamos, pois s o esprito que comportar seriedade poder saber o que a vida - vida em abundncia. E isso no ocorre com o intelectual, com o curioso, com o emotivo nem com o sentimentalista.

Devemos tornar-nos livres, no para fazermos aquilo que nos agrada mas justamente para podermos compreender de forma suficientemente profunda os prprios instintos e impulsos pessoais.

A liberdade no se destina a fazermos o que nos d na gana antes consiste muito mais em tornar-nos livres de todo o tormento da vida, dos nossos problemas, das nossas ansiedades, medos, mgoas psicolgicas, bem como de todo o conflito que toleramos tanto em ns mesmos como no mundo ao nosso redor.

Tornar-se livre, interiormente, com relao ao eu, sem se deixar absorver por coisa alguma seja uma paisagem, uma ideia, etc., tal coisa constitui a essncia da beleza.

A felicidade sobrevem quando fazemos algo imbudos dum sentimento autntico de amor, e no devido a que o que estamos a fazer nos traga riqueza ou destaque social.

A angstia representa um imenso temor sem sabermos com relao ao qu, a que altura, ou sequer que provenincia, mas que, todavia, nos faz sofrer sem descanso, como se fossemos atacados por um inimigo invisvel qualquer, oculto dentro de ns prprios. As pessoas sentem angstia por viverem com um corao impuro.

O amor no coisa da mente; somente quando a mente permanece quieta, sem esperar coisa alguma, sem exigir buscar, possuir o que quer que seja, quando j no sente cime, temor nem ansiedade mas permanece verdadeiramente em silncio, s ento o amor se torna possvel.

A razo de no possuirmos amor deve-se ao facto das coisas da mente (o cime, a inveja, o desejo de nos tornarmos algum, a ambio, o xito) nos encherem o corao.

O amor s pode passar a existir quando o pensamento eu est ausente; a liberdade com relao a esse eu reside no auto-conhecimento. Dessa forma chega a suceder a compreenso.

O amor nada tem que ver com a sensao, que no constitui um meio de realizao pessoal. O amor existe por si mesmo, sem esperar qualquer resultado.

Temos que pr termo a todo o conhecimento acumulado a cada dia, s feridas psicolgicas, comparao que estabelecemos com os demais, auto-compaixo... temos que pr um trmino a tudo isso de forma que, no dia seguinte a mente se ache fresca e rejuvenescida. Uma mente assim jamais poder tornar-se alvo de lstima, e isso inocncia.

Uma das coisas mais estranhas de compreender, com relao ao amor, que se amarmos, qualquer coisa que faamos ser correcta. Quando somos movidos pelo amor, a aco resultante sempre correcta, seja em que circunstncia for.. Alm disso, quando comportamos essa qualidade do amor, temos compaixo. A compaixo implica paixo por todas as coisas.

As ideias actuam como um refgio; as ideias que se converteram em crena impedem naturalmente um viver completo, a aco completa o pensar correcto. S podemos pensar de forma correcta e viver de modo inteligente e livre quando possumos um conhecimento pessoal cada vez mais amplo e profundo.

Somente quando a mente deixa de buscar estmulos sob qualquer forma que seja - sejam externos ou internos - pode permanecer completamente quieta e livre; s nessa liberdade poder a criao existir.

A no-aco consiste em observarmos sem actuarmos sobre o observador. Ento, essa mesma observao produz uma transformao radical daquilo que observamos; o que no requer o menor esforo.

O processo de combater determinada coisa s fortalece aquilo contra o que lutamos.

As ideias no transformam radicalmente o ser humano. Podero ocasionar revolues superficiais mas to s... Devemos observar as coisas tais quais so, j que com o facto de compreender as coisas tais quais so ocorre uma transformao. Ter conscincia de ser invejoso sem buscar desculpas nem condenar e sem idealizar o oposto dizendo que no o devemos ser - ter unicamente conscincia disso j o comeo da transformao.

Vivam sem autoridade e sem comparao e descubram como isso extraordinrio. Quando no estamos a competir com ningum, a comparar-nos nem a reprimir-nos possumos uma energia tremenda e estamos verdadeiramente vivos, sos, completos, e, portanto, sagrados. A mente possui uma qualidade de ser desperta e de contnua observao, ainda que nada tenha a aprender.

No poderemos viver neste mundo totalmente desprovidos de ambio, sem nos compararmos jamais com coisa alguma? Porque, assim que comeamos a comparar tambm sucede o conflito, a inveja, o desejo de obter coisas e de superar o outro.

Quando nos encontramos em desordem errado procurar a ordem, porque ao buscar a ordem, a mente confusa - que possui pouca clareza - tambm permanecer confusa. Ao passo que, se investigarmos a desordem - se procurarmos compreender a desordem em que vivemos bem como as causas do movimento dessa desordem - por meio dessa prpria compreenso surge naturalmente a ordem, de modo fcil, ditoso e destitudo de controle.

Se realmente pretender conhecer-se, tratar de procurar conhecer o contedo completo do seu corao e da sua mente; quando reunir a inteno de conhecer esse contedo, ento conhecer. Ento ser capaz de seguir todos os movimentos do pensamento e do sentimento medida que surgem, sem a menor condenao ou justificao; isso produz uma tranquilidade que no compelida nem arregimentada, mas que resulta de no abrigar qualquer problema ou contradio. idntico gua da piscina que se acalma e imobiliza numa noite sem vento; quando a mente acalma, ento aquilo que imensurvel passa a existir.

Viver significa morrer - morrer a cada dia para todas as coisas que pensamos e juntamos; a importncia pessoal, a auto-compaixo, a tristeza, os prazeres e as agonias desta coisa a que chamamos vida.

A exploso da meditao acontece no confronto do pensamento contra o vazio que comporta.

Ao invs de fugir, controlar ou suprimir - ou qualquer outra forma de resistncia - aquilo de que precisamos da compreenso do temor; isso significa que temos que olh-lo, aprender acerca dele, tomar contacto directamente com ele. Temos que aprender acerca do temor e no fugir-lhe.

Quando escutamos completamente algum, de modo completo, com ateno, nesse caso escutamos no s as palavras como tambm o sentimento do que nos expressado, no seu todo e no pela parte.

Quando falamos de compreenso, seguramente isso ocorre somente quando a mente atende de modo completo; por mente, refiro-me ao corao, aos nervos, aos ouvidos; quando prestamos uma ateno completa coisa.

Para podermos transformar o mundo, precisamos comear por ns prprios; mas, nesse terreno, aquilo que efectivamente possui importncia centra-se na inteno. Porque a inteno deve centrar-se na compreenso pessoal e no esperar que os outros se transformem ou que produzam uma mudana diferenciada por meio de qualquer revoluo, quer da esquerda ou da direita. Importa compreendermos que isso nossa responsabilidade - tanto vossa como minha - porque, ainda que o mundo em que vivemos possa ser pequeno, se nos pudermos transformar e produzir um ponto de vista radicalmente diferente na nossa existncia diria, ento talvez possamos afectar o mundo escala das nossas relaes com os outros.

Quem se interessar em atender aos problemas dos outros? Ns j possumos tantos problemas que no nos sobra mais tempo para os dos outros. Para podermos ser ouvidos, temos de pagar algo em troca, seja dinheiro, oraes ou crena. O tcnico prestar-nos- ateno porquanto isso faz parte da sua funo, porm, isso no nos trs um alvio duradouro. Precisamos de um alvio livre, espontneo, e isento de arrependimento posterior. A purificao da confisso no depende daquele que escuta mas do que deseja abrir o seu corao. Expor o nosso corao assim importante, e para o efeito podemos faz-lo junto de qualquer um, qualquer simples pedinte, junto de quem podemos confessar-nos em torrente. O dilogo introspectivo jamais poder abrir-nos assim o corao, por ser enclausurante, deprimente e completamente destitudo de utilidade. Abrir-se significa escutar, no s a ns mesmos como a toda a influncia como a todo o movimento ao nosso redor, do mesmo modo. Pode ser que possamos ou no fazer alguma coisa com relao ao que se escuta, mas o simples facto de permanecermos abertos produz a sua prpria aco. Uma ateno como essa purifica-nos o ntimo, purificando-o das coisas da mente. Escutar com o uso da mente no passa de bisbilhotice; isso no produz qualquer alvio, quer para ns quer para o outro, porquanto no passa da continuao da dor, o que estupidez.

Enquanto seres humanos isolados e separados, no temos sido capazes de resolver os nossos problemas; conquanto sejamos altamente educados, astutos, egocntricos, capazes de enormes feitos exteriormente, interiormente permanecemos mais ou menos aquilo que temos vindo a ser h milhares de aos; a competir, a odiar, a destruir-nos mutuamente; o que de facto o que est a acontecer na actualidade. Ouviram os especialistas comentar alguma guerra recente; a forma como falam - no de seres humanos a serem mortos mas da destruio de pistas areas, da exploso de uma ou outra coisa. Reina uma completa confuso no mundo; estou certo de que todos tm conscincia disso. Assim, que havemos de fazer? Como h algum tempo certo amigo me disse: No h nada que se possa fazer, apenas damos com a cabea na parede. As coisas prosseguiro do mesmo modo, indefinidamente; os combates, a destruio mtua, a competio, tornar-se presa de vrios tipos de iluso. Tudo isso dever prosseguir. No desperdice o seu tempo nem a sua vida. Se tomarmos conscincia da tragdia que assola o mundo, dos eventos terrficos que podem suceder no caso de algum doido carregar no boto; do modo como o computador est a substituir as nossas capacidades humanas, por poder pensar de forma mais rpida e eficiente - que ocorrer com o ser humano? este o mais amplo problema que enfrentamos.

Seguramente, a vida no somente obter um trabalho, uma ocupao; a vida algo extraordinariamente vasto e profundo, que constitui um imenso mistrio, um vasto reino no qual funcionamos como seres humanos.

Que significado ter a vida? No ser a vida uma coisa extraordinria? Os pssaros, as flores, as rvores a florescer, os cus, as estrelas, os rios e os peixes que eles contm tudo isto vida. A vida o pobre e o rico; a constante luta entre grupos, raas e naes; vida meditao; vida aquilo a que chamamos religio, bem como as coisas subtis e ocultas da mente - a inveja, as ambies, as paixes, os medos, realizaes e ansiedades. A vida tudo isso e muito mais.

Voc sabe em que consiste a inteligncia ? Na capacidade, seguramente, de pensar livremente, sem medo, sem uma frmula, de forma que voc comece a descobrir por si o que real, o que a verdade; mas se voc viver assustado voc jamais ser inteligente.

Agora, ser somente a funo de educao ajudar-nos a conformar-nos ao padro desta ordem social podre, ou conferir liberdade - completa liberdade - para crescermos e criarmos uma sociedade diferente, um mundo novo?

Voc sabe o que significa aprender? Voc realmente est a aprender quando aprende ao longo da sua vida, mas no de qualquer professor especial. Ento tudo o pode ensinar - uma folha morta, um pssaro em pleno vo, um odor, uma lgrima, o rico e o pobre, aqueles que choram, o sorriso de uma mulher, a altivez de um homem. Voc aprende com tudo por isso no h guia nenhum, nenhum filsofo, nem guru. A prpria vida sua mestra, e voc est num estado de constante aprendizagem.

Senhor, s uns poucos so capazes de criar qualquer coisa de verdadeiramente revolucionrio, uns quantos que vem o que a verdade e esto dispostos a viver de acordo com essa verdade; mas descobrir em que consiste o real exige que sejamos livres da tradio, o que significa liberdade com relao a todos os medos.

Por favor, procure compreender o seguinte: isto pode representar uma pista real para a compreenso do problema de liberdade. Que, neste mundo de polticos, de poder a, posio e autoridade, ou no denominado mundo espiritual, onde voc aspira a tornar-se virtuoso, nobre, santo, no momento que voc quer ser algum deixa de ser livre. Mas o homem ou a mulher que percebem o absurdo de todas estas coisas, cujo corao inocente, e no se deixa mover pelo desejo para ser algum - tal pessoa livre. Se voc entender a simplicidade disto ento tambm perceber a sua extraordinria beleza e profundidade.

No momento em que voc chega a uma concluso sobre o que a inteligncia seja, voc deixa de ser inteligente.

Inteligncia algo bastante subtil que no possui nenhum ancoradouro. Mas s chega a ser quando voc entende o processo total da mente - no de acordo com algum filsofo ou professor, mas a sua prpria mente. A sua mente o resultado de toda a humanidade, e quando voc entende isto voc no tem que estudar um nico livro, porque a mente contm o conhecimento inteiro do passado. Assim, a inteligncia chega a efectivar-se com a compreenso de si prprio; e voc s se pode entender em relao ao mundo das pessoas, das coisas e das ideias.

Voc sabe o que significa depender de algum para a sua felicidade? No se trata da mera dependncia fsica de outro, que bastante restritiva, mas a dependncia interior, psicolgica, da qual voc procura colher a denominada felicidade; porque quando voc depende de algum desse modo, voc torna-se um escravo.

A maioria de ns no ama desse modo, ns no sabemos nada sobre o que isso significa porque o nosso amor sempre envolto pela ansiedade, cime, medo o que implica que interiormente dependemos de outro, e que queremos ser amados. Ns no amamos simplesmente e deixamos a coisa nesse ponto mas esperamos algo em retorno; e nesse mesmo esperar ns tornamo-nos dependentes.

Amar no esperar coisa alguma em retorno, nem mesmo sentir que voc est a dar algo - somente um amor assim poder conhecer a liberdade.

Assim, a verdadeira funo da educao no consiste somente em ajud-lo a tornar-se descondicionado, mas tambm em lev-lo a entender todo este processo da vida de cada dia, de forma que voc possa crescer em liberdade e possa criar um mundo novo - um mundo que seja completamente diferente do presente.

A maioria comporta um certo elemento de violncia que jamais foi solucionado ou removido, de forma a podermos viver completamente livres da violncia. Incapazes de nos vermos livres dela, criamos a ideia do seu oposto, a no-violncia. Mas a no-violncia constitui um no-facto, ao passo que a violncia permanece factual. A no-violncia no existe, excepto como ideia. Aquilo que existe, o que , a violncia. como aquelas pessoas na ndia que dizem adorar a ideia da no-violncia, e a pregam, falam dela, imitam-na, mas que esto a lidar com a negao de um facto, a negao da realidade, uma iluso. Aquilo que facto a violncia, em maior ou menor escala mas ainda assim violncia.

Quando perseguimos a no-violncia, que no passa de uma iluso, uma coisa desatualisada, estamos a cultivar o tempo. Ou seja, somos violentos, porm, viremos a tornar-nos no-violentos. Esse vir a tornar-se constitui tempo, o futuro, um futuro destitudo de realidade mas foi inventado pelo pensamento como o oposto da violncia. O adiamento da violncia o factor criador do tempo. Se usarmos da compreenso e desse modo pusermos termo violncia, deixar de existir tempo psicolgico.

Se durante o dia permanecermos em alerta para com todos os movimentos do pensamento, para com aquilo que dizemos, os nossos gestos aquilo que sentimos, a forma como caminhamos, como falamos se estivermos alerta para com as nossas respostas, ento todas as coisas que permanecem ocultas sobreviro facilmente luz do dia. Nesse estado de clareza de ateno poderemos despertar e tudo ser posto a nu.

A maioria permanece desatenta. Tomar conscincia dessa desateno constitui um acto de ateno.

A meditao no consiste na fragmentao da vida; nem consiste em retirar-se para um mosteiro nem confinar-se num quarto tranquilamente sentados durante dez minutos ou uma hora numa tentativa de nos concentrarmos a fim de aprendermos a meditar, enquanto no tempo restante continuamos a ser seres humanos horrendos e desagradveis.

Para podermos perceber a verdade, temos que possuir clareza, agudeza e escrupulosidade mental no meramente uma mente astuta, uma mente torturada uma mente capaz de olhar sem distores, uma mente inocente e vulnervel. Uma mente repleta de conhecimentos no ter possibilidade de perceber a verdade; capaz disso ser unicamente a mente que possua plena capacidade para aprender. Alm disso necessrio que a mente e o corpo sejam altamente sensveis, uma vez que se tivermos um corpo desajeitado e pesado, cheio de vinho e comida, no nos ser possvel tentar meditar. Assim, a mente deve permanecer suficientemente desperta, sensvel e inteligente.

So trs as necessidades bsicas indispensveis descoberta do que reside alm de toda a medida do pensamento, algo que o prprio pensamento no pode produzir: a primeira deve-se ecloso de elevada sensibilidade e inteligncia mental; a segunda indica que o seu portador deva ser capaz de perceber com base na lgica e na ordem; por fim, a mente deve ser disciplinada at ao extremo.

Uma mente capaz de perceber as coisas com total clareza e sem distoro alguma, sem quaisquer preconceitos, ter compreendido a desordem e poder ter-se tornado livre dela; uma mente assim conhecer a virtude e a ordem. E s uma mente bastante ordenada poder tornar-se sensvel e inteligente.

Torna-se necessrio que nos tornemos atentos para com a desordem existente em ns, atentos para as contradies, as beligerantes disputas dualistas, os desejos contraditrios, atentos para com as actividades ideolgicas e a sua falta de realidade. Temos de observar o que sem condenao, sem formulao de juzo nem avaliao absolutamente nenhuma.

Na maior parte do tempo somos desatentos. Mas se tivermos noo de estarmos desatentos e nesse exacto momento de obter tal noo prestarmos ateno, ento nesse caso estaremos j atentos.

A percepo alerta, ou compreenso, um estado mental de total silncio, silncio isento de opinio, juzo nem tampouco qualquer avaliao. Equivale justamente a escutar a partir do silncio; somente ento seremos capazes de compreender alguma coisa, em que, o pensamento no se inclui absolutamente. Tal ateno, esse silncio constitui uma estado meditativo.

A compreenso do agora constitui um imenso problema para a meditao - na verdade isso mesmo constitui a meditao; compreender completamente o passado, perceber no que reside a sua importncia, perceber a natureza do tempo, tudo isso faz parte da meditao.

Da ecloso da meditao sobrevem uma imensa beleza; trata-se de uma coisa extraordinria a meditao e no como meditar.

A meditao a compreenso de ns prprios; desse modo isso significa estabelecer as fundaes da ordem as quais constituem a virtude no que existe essa qualidade de disciplina que nada tem que ver com a represso, imitao nem controle. Uma mente assim, ento, acha-se num estado de meditao.

Meditar implica perceber com toda a clareza, facto que no se tornar possvel, nem permitir que nos envolvamos completamente com o que percebido, quando subsistir qualquer espao entre o observador e a coisa observada. Se no subsistir pensamento nenhum, nem informao nenhuma com relao ao objecto, tampouco qualquer afabilidade ou desgosto mas to s ateno total, ento nesse caso a noo de espao desaparece e, portanto, ficamos em estado de total relao com a flor, com aquele pssaro que esvoaa, com a nuvem ou com o rosto.

Somente a mente desatenta ter conhecimento do que prestar ateno, a mente que refere querer permanecer sempre atenta. E aquilo a que quereremos estar atentos, nesse caso, constituir a desateno. Mas quando a mente toma conscincia da desateno, a j se encontra atenta e no mais se faz necessrio fazer o que quer que seja.

A meditao algo que requer uma formidvel base de franqueza simplicidade, virtude e ordem. No se trata de nenhum estado mstico nem visionario induzidos por aco do pensamento, mas de algo que sobrevem com bastante facilidade e naturalidade quando tivermos estabelecido as bases de uma conduta franca. Sem tais bases, a meditao tornar-se- meramente um escape, uma simples fantasia. Assim, precisamos definir essas bases; na verdade, o prprio acto de estabelecer essas bases, constitui a prpria meditao.

Os profissionais da meditao dizem-nos ser necessrio exercer controle. Sempre que prestamos ateno actividade mental aprecebemo-nos de que o pensamento vagueia sem rumo, razo porque tentamos ir no seu encalo numa tentativa de o agarrar; nessa altura o pensamento volta a vaguear e uma vez mais nos vemos a tentar det-lo, num processo interminvel. E se chegarmos a controlar a mente de modo a que deixe completamente de vaguear ento pensamos poder alcanar o mais extraordinrio dos estados. Mas, na verdade, passa-se exactamente o oposto, e no teremos atingido absolutamente nada. Todo o controlo implica resistncia. A concentrao constitui uma forma de resistncia que consiste na tentativa de reduzir o pensamento a determinado aspecto individual. Quando a mente treinada para se concentrar de modo completo numa determinada coisa, a ela perde a sua elasticidade natural, a sua sensibilidade, e torna-se incapaz de captar o campo total da vida.

O princpio subjacente meditao consiste no conhecimento de ns prprios, o que equivale realizao de todo o movimento do sentir e pensar, ao conhecimento de todas as camadas da conscincia, no somente superficial como tambm ocultas, as actividades mais profundas. Para tal, a mente consciente deve permanecer calma e com clareza, a fim de poder receber a projeco do inconsciente. A mente superficial s pode obter tranquilidade, paz e serenidade, atravs da compreenso das suas prprias actividades, por meio da sua observao e realizao; quando ela toma conscincia de toda a sua actividade atravs de uma compreenso assim, torna-se capaz de permanecer mergulhada no silncio de forma espontnea; uma vez isso alcanado, o inconsciente pode despertar e projectar-se. Uma vez libertada a totalidade da conscincia, podemos ento receber o eterno.

No espao que permeia dois pensamentos sobrevem um perodo de silncio que no possui qualquer relao com o processo do pensamento. Se observarmos, veremos que tal perodo de silncio, esse intervalo, no pertence ao tempo, e que a descoberta de tal intervalo, que equivale a uma experincia total, nos liberta de toda a limitao.

A meditao no constitui um meio para coisa nenhuma. Descobrir, a cada momento da vida de todos os dias aquilo que verdadeiro e o que falso, a isso equivale a meditao. A meditao no uma coisa a cujos meios escapemos, algo atravs do que obtenhamos vises e toda a sorte de nobres emoes, mas a observao de cada momento do dia, a percepo da operao do nosso pensamento, a observao do funcionamento do nosso mecanismo de defesa, dos medos, das ambies, do cobia e da inveja; a observao de tudo isso, a investigao contnua disso equivale meditao, ou parte da meditao. No tendes de ir junto de ningum a fim de serdes instrudo acerca da meditao ou obter qualquer mtodo. Eu posso descobri-lo de modo bastante simples se me observar a mim prprio, sem que ningum tenha que me falar a respeito; eu conheo-a. Mas ns queremos chegar muito longe sem empreender um primeiro passo. Se dermos esse primeiro passo, descobriremos que teremos dado o ltimo. No existir mais passo nenhum.

Entender o que somos algo imensamente difcil, porque requer liberdade completa de todo o desejo de mudarmos aquilo que somos para qualquer outra coisa. O desejo para nos mudarmos gera inveja e cime; enquanto que essa transformao pode dar-se por intermdio da compreenso daquilo que somos.

Seguramente, a satisfao algo completamente diferente. Porm, s chega a ser quando nos vemos tal como somos, sem qualquer desejo de mudar, sem qualquer condenao nem comparao coisa que no significa que aceitemos aquilo que percebemos e nos ponhamos a dormir. Mas quando a mente j no est a comparar, a julgar, a avaliar, e se ento capaz de ver o que momento a momento sem o querer mudar - essa mesma percepo o eterno.

Por que razo tem que ler? Escute tranquilamente. Nunca nos interrogamos sobre a razo por que temos que agir, por que temos de comer, por que temos de observar o rio, por que razo somos cruis no ser? Rebelamo-nos e depois questionamo-nos sobre a razo por que temos que fazer algo quando no gostamos de o fazer. Mas ler, agir, rir, ser cruel, ser bom, observar o rio, o nuvem - tudo isso faz parte da vida; mas se no formos capazes de ler, se no soubermos caminhar, se nos acharmos impossibilitados de apreciar a beleza de uma folha, no estaremos vivendo. Temos que entender o todo da vida, e no s uma pequena parte dela. por isso que temos que ler, por isso que temos que olhar os cus, por isso que temos de cantar e danar, e escrever poemas, e sofrer, e compreender; porque a vida tudo isso.

Alguma vez se sentaram muito silenciosamente, sem fixar a vossa ateno em coisa nenhuma e sem fazer qualquer esforo para se concentrarem, mas com a mente bastante quieta, realmente imvel? Ento, ouvem tudo ao vosso redor, no ? Tanto ouvem os rudos distantes como tambm aqueles mais prximos, bem como aqueles que so mais imediatos, o que realmente implica que escutam tudo. A vossa mente deixa de estar confinada a um pequeno canal estreito. Se forem capazes de escutar deste modo, escutar com facilidade, sem tenso, descobriro que acontece uma mudana extraordinria dentro de vs, uma mudana que sucede sem a volio do querer, sem que a peam; e nessa mudana existe enorme beleza e profundidade de perspiccia (insight).

Enquanto sentirmos medo de algum ou de alguma coisa, no poderemos sentir felicidade nenhuma. No pode haver felicidade nenhuma enquanto tiverem medo dos vossos pais, dos vossos professores, se atemorizarem por no passar nos exames, enquanto temerem no fazerem progresso nenhum, no se aproximarem mais do Mestre, no se aproximarem mais da verdade, ou de no serem aprovados, com uma leve pancadinha nas costas. Mas se na verdade no nos sentirmos amedrontados com coisa nenhuma, ento descobriremos que, ao despertarmos uma bela manh, ou quando damos uma caminhada a ss, como de repente e de forma inesperada sucede certa coisa estranha: de repente essa coisa a que se pode chamar amor, verdade, felicidade, faz-se presente sem ter sido convidada nem solicitada.

A maioria de ns sobrevive somente, de algum modo ns vamo-nos arrastando, e assim a vida torna-se uma coisa terrvel. Na realidade viver requer sentir amor suficiente, uma enorme inclinao para o silncio e uma enorme simplicidade caracterizada por uma abundncia de experincias; requer uma mente capaz de bastante clareza de pensamento, que no seja delimitada pelo preconceito nem pela superstio, pela esperana nem pelo medo. A vida tudo isso, e se no estiverem a ser educados para viver, ento a educao no ter significado nenhum.

Ento em que consistir a religio? Se limparmos os vidros da janela o que significa que de fato deixamos de respeitar cerimonias, desistimos das nossas convices, deixamos de seguir qualquer lder ou guru - ento a nossa mente, semelhana da janela, permanecer limpa, polida, e poderemos ver para o exterior com toda a clareza. Quando a mente varre com todas as imagens, rituais, crenas, smbolos, e permanece limpa de todas as palavras, mantras e repetio, e de todo o medo, ento aquilo que perspectivarmos ser a realidade, o infinito, aquilo que perptuo, e que pode ser chamado Deus...

Alguma vez se sentaram muito silenciosos sem movimento nenhum? Procurem consegui-lo, sentem-se verdadeiramente sossegados e imveis, com as costas bem erguidas, e observem o que a vossa mente faz. No tentem controlar isso, nem digam que ela no deve saltar continuamente de um pensado para outro, de um interesse para outro, mas permaneam atentos para o modo como ela o faz. No faam nada a respeito, mas observem isso como que a partir da margem de um rio, enquanto assistem ao fluxo de gua a correr. H tantas coisas no rio que corre - peixes, folhas, animais mortos no entanto sempre segue vivendo e movendo-se, e a vossa mente assemelha-se a ele; permanentemente inquieto a correr de uma coisa para outra, como uma borboleta.

Seguramente, s podemos pensar com clareza quando a nossa mente no se amarra a uma convico, exactamente como um macaco pode ser amarrado a uma estaca; s podemos pensar com clareza quando no estamos em busca de um resultado; s podemos pensar com clareza quando no temos nenhum preconceito - tudo o que realmente significa que podemos pensar com clareza, com simplicidade e de forma objectiva s quando a nossa mente j no est procura de qualquer forma de segurana e esse encontra, portanto, livre do medo.

Agora, se forem capazes de se verem ao espelho das relaes exactamente como vocs se vm num espelho comum, ento no haver qualquer termo para o auto-conhecimento. como penetrar num oceano insondvel, sem margens. A maioria de quer alcanar um fim, queremos ser capazes de dizer, " eu atingi o auto-conhecimento e estou contente "; mas no se trata de nada disso. Se puderem olhar-se sem condenar aquilo que virem, sem se compararem com quem quer que seja, sem desejar ser mais bonito ou mais virtuoso; se puderem simplesmente observar aquilo que so e mover-se nisso, ento acharo possvel avanar infinitamente para diante. Ento no haver qualquer fim para a jornada, e nisso reside o mistrio e a beleza da coisa.

A maioria agarra-se a alguma pequena parcela da vida, e pensa que por essa parcela podemos descobrir o todo. Sem deixarmos o aposento em que nos encontramos esperamos poder explorar a extenso e a largura inteira do rio e perceber a riqueza dos verdes pastos ao longo das suas margens. Vivemos num aposento minsculo, pintamos uma pequena tela, e pensamos que pegamos a vida pela mo ou compreendemos o significado da morte; mas no o fizemos.

A vida um mistrio extraordinrio - no o mistrio dos livros, nem o mistrio sobre que as pessoas falam, mas aquele mistrio que temos que descobrir por ns mesmos; e por isso que se torna to srio que entendamos o pequeno, o estreito, o insignificante, e passemos alm disso.

Importar muito quem determinado mestre ou guru seja ? Aquilo que importa a vida e no o vosso guru, no o Mestre, o lder ou o professor que interpreta a vida para vs. Sois vs quem tem que entender a vida; sois vs quem est a sofrer, que se sente infeliz; so vocs quem quer conhecer o significado da morte, do nascimento, da meditao, do sofrimento, e ningum vos poder revelar. Outros podero dar explicaes sobre isso, mas as suas explicaes podem ser completamente falsas, completamente erradas.

O que importante serem uma luz para vs prprios, ser o vosso prprio Mestre e discpulo, ser o professor e o aluno. Contanto que vocs estejam a aprender, no haver mais nenhum professor.

No se sentem orgulhosos quando tm uma boa caligrafia, ou quando ganham um jogo ou passam em algum exame? Alguma vez escreveram um poema ou pintaram um quadro, e o mostraram depois a um amigo? Se o vosso amigo disse ser um poema adorvel ou um quadro maravilhoso, vocs no se sentem contentes? Quando fizeram algo que algum disse ser excelente, sentiu uma sensao de prazer, e isso est muito certo, agradvel; mas o que acontecer da prxima vez que pintam um quadro, escrevem um poema ou limpam um quarto? Vocs esperam que algum venha dizer que sois um jovem maravilhoso; mas, se ningum vier, vocs j no sentem mais vontade de pintar, de escrever, e de limpar. Assim, vocs tornam-se dependentes do prazer que os outros lhe conferem por meio da aprovao. to simples quanto isso. E nesse caso que acontece? medida que vocs se tornam mais velhos vocs procuram que o aquilo que fazem seja reconhecido por muitas pessoas. Podem dizer: " eu farei isso por causa do meu guru, por causa do meu pas, pelo Homem, por Deus, " mas vocs realmente fazem isso para ganhar reconhecimento, do qual nasce o orgulho; mas quando fazem alguma coisa desse modo, isso no merece ser feito. Eu desejaria saber se vocs entendem isso?

Alm disso o cultivo de beleza traz insensibilidade. como um homem que desenvolve o brao direito, tornando-o muito forte, enquanto deixa que o esquerdo murche. Assim, devem permanecer despertos tanto ante a feira como tambm da beleza. Tm que ver as folhas a danar, a gua a fluir por debaixo da ponte, a beleza do entardecer, assim como tambm permanecer atentos ao mendigo na rua; vocs tm que ver a mulher pobre que luta com uma carga pesada e devem estar prontos a ajuda-la, a dar-lhe uma ajuda. Tudo isso necessrio; s quando tiverem uma sensibilidade assim para com tudo que podero comear a trabalhar, comear a ajudar em vez de rejeitar ou condenar.

Penso que esta a verdadeira chave: amar aquilo que fazem.

Sabem, uma coisa extraordinria na vida permanecer annimo - no ser famoso nem ilustre, no ser muito instrudo, nem ser um grande reformador ou revolucionrio, no ser ningum, somente...

Vocs pensam que a verdade seja uma coisa, e a vossa vida diria uma coisa distinta, e a despeito disso ainda querem perceber aquilo que chamam de verdade, na vossa vida diria. Mas, estar a verdade apartada da vida diria?

Assim, se pretendem descobrir a verdade nesse processo vital que vossa prpria vida, vocs tero que investigar profundamente todas estas coisas; vocs tero que empenhar a vossa mente e corao a tal coisa. Vocs tero que pensar de forma independente, com clareza e sem preconceitos porquanto a verdade no est afastada da vida, mas reside no prprio movimento do vosso viver dirio.

Ser estudante aprender o tempo todo; e enquanto estamos a aprender, no h nenhum professor, haver? No momento que somos o estudante no existe ningum em particular para nos ensinar, porque estamos a aprender com todas as coisas; com a folha que soprada pelo vento, com o murmrio das guas nos bancos do rio, o vo do pssaro bem alto no ar, com o homem pobre que passa por ns a carregar uma pesada carga, cm as pessoas que pensam saber tudo sobre a vida estamos a aprender com tudo isso, e por isso no h nenhum professor nem seguidor.

Mas a aprendizagem que passa pelo auto-conhecimento no tem qualquer limite, porque aprender por intermdio do prprio auto-conhecimento significa saber escutar, como observar, e ento podemos aprender com tudo: com a msica, com o que as pessoas dizem e com o modo que elas o dizem, com a raiva, a cobia, a ambio.

A felicidade no algo que possamos buscar; um resultado, um subproduto. Se procurarmos a felicidade por si mesma, isso no ter qualquer significado. A felicidade vem sem ser convidada; quando estivermos conscientes de nos sentirmos felizes, deixamos de ser felizes.

Por que somos contra o conflito? Todos vs pareceis pensar que o conflito uma coisa terrvel. Na verdade, tanto vs quanto eu estamos em conflito, ns estamos? Eu tento dar-lhes parte de algo, que vocs no entendem; assim, resulta uma sensao de frico, de conflito. Mas, que haver de errado com a frico, com o conflito, a perturbao? Ser que no podem sentir-se perturbados? A integrao no sucede quando a buscamos e evitamos o conflito. S por meio do conflito e da compreenso do conflito, que resulta a integrao.

Aquilo sobre o que estou a falar pode ser difcil de entender, mas realmente bastante importante. Vocs vm, os tcnicos no so criadores; e cada vez h mais tcnicos no mundo, pessoas que sabem o que fazer e como faze-lo, mas que, todavia, no so criadores e os seres humanos esto a tornar-se cada vez mais semelhantes a mquinas. At mesmo quando eles se tornam rebeldes, a sua rebeldia situa-se dentro dos limites da mquina, e no se trata de rebelio nenhuma.

Em que consiste o templo? um lugar de adorao no qual existe um smbolo de Deus, smbolo que no passa duma imagem concebida pela mente e esculpida a partir da pedra, pela mo. Aquela pedra, aquela imagem, no Deus, ser? s um smbolo, e um smbolo como a nossa sombra projectada quando caminhamos ao sol. A sombra no somos ns; e estas imagens, estes smbolos que se localizam no templo, no so Deus, nem so a verdade. Assim o que importar quem entra ou quem deixa de entrar no templo? Por que fazer tal espalhafato por causa disso? A verdade pode estar debaixo de uma simples folha morta, pode estar numa pedra pelo beira do caminho, nas guas que reflectem a ternura de uma noite, nas nuvens, no sorriso da mulher que carrega o fardo. A realidade existe em todo o mundo e no necessariamente no templo; e geralmente no est no templo, porque aquele templo erguido a partir do medo do homem, e est baseado no seu desejo de segurana, nas suas divises de credo e casta.

Uma grande parte de nossa vida disciplinada: faam isto; no faam aquilo. Quando nos levantamos nos dito, o que devemos e no devemos comer, o que devemos e no devemos saber; nos dito o que devemos ler, para irmos para as aulas, passar nos exames, e assim por diante. Os vossos pais, os vossos professores, a sociedade, a vossa tradio, os vossos livros sagrados, tudo isso lhes diz o que fazer. Assim, a nossa vida regulamentada, restringida, por meio da disciplina, no ser? Tornamo-nos prisioneiros do dever; ele torna-se o gradeamento da nossa gaiola.

Alguma vez se sentaram muito quietos, com os olhos fechados e assistiram ao movimento de vosso prprio pensar? Vocs j assistiram ao funcionamento da vossa mente - ou melhor, a sua mente alguma vez assistiu sua prpria operao, perceber, to s, que pensamentos vos passa pela mente, prescrutar os vossos sentimentos, a forma como vocs olham as rvores, as flores, os pssaros, as pessoas, como vocs respondem a uma sugesto ou reagem a uma ideia nova? Vocs alguma vez fizeram isso? Porque, a vossa mente um resduo do mundo inteiro e contm tudo aquilo que os seres humanos experimentaram. Entendem? A vossa mente a humanidade, e quando vocs percebem isto, vocs alcanam uma imensa compaixo. Desta compreenso brota um grande amor; e ento vocs sabero, quando virem algumas coisas adorveis, em que consiste a beleza.

Assim, uma vez voc que tenhamos empreendido a jornada do auto-conhecimento, os livros tornam-se destitudos de importncia. como penetrar numa terra estranha onde logo comeamos a descobrir coisas novas e a fazer descobertas surpreendentes; mas, vocs vm, tudo isso destrudo se vocs derem importncia a vs prprios. No momento em que vocs dizem: " eu descobri, eu sei, eu sou um grande homem porque eu descobri isto vocs esto perdidos. Se tiverem que encetar uma longa jornada, vocs tm que levar muito poucas coisas; se quiserem escalar a um grande promontrio, tm que viajar leves.

Assim, esta questo torna-se verdadeiramente importante, porque toda a descoberta e entendimento passam pelo auto-conhecimento, pela observao dos modos da mente. Os comentrios que fazem dos seus vizinhos, o modo como falam, como caminham, como olham os cus, os pssaros, como tratam as pessoas, como cortam um ranco de uma rvore todas essas coisas so importantes, pois agem como espelhos que vos mostram como so e, se permanecerem alerta, vocs descobriro tudo de modo renovado, momento a momento.

O desejo de descobrir em que consiste a verdade , o que seja Deus, o nico desejo real; todos os outros desejos so subsidirios. Quando lanamos uma pedra na gua imvel ela provoca crculos em expanso. Os crculos que se expandem representam os movimentos subsidirios, as reaces sociais, mas o movimento real est no centro, que o movimento em busca da felicidade, Deus, a verdade; mas no podemos encontr-la enquanto formos presa do medo ou duma ameaa. No momento em que a ameaa ou o temor surgem, comea o declnio da cultura.

Quando a confiana brota da aco implcita estrutura social, surge sempre simultaneamente uma certa arrogncia estranha, no mesmo? A confiana do homem que consegue elaborar coisas, que capaz de alcanar resultados, essa confiana sempre se deixa colorir por esta arrogncia do ego, o sentimento, de: " fui eu que fiz ". Assim, no prprio acto de alcanar um resultado, ou de produzir uma reforma social dentro desta priso, surge a arrogncia do ego, o sentimento de termos feito qualquer coisa, de o meu ideal ser importante, do meu grupo ter tido sucesso. Esta sensao do " eu " e do " meu " acompanha sempre a confiana que se expressa no contexto da priso social.

Requer-se enorme inteligncia para se ficar s; e voc deve ficar s a fim de poder achar Deus, a verdade. agradvel ter um companheiro, um marido ou uma esposa, e ter bebs tambm; mas vocs vm, ns perdemo-nos em meio a tudo isso, ns perdemo-nos na famlia, no trabalho, na rotina estpida e montona de uma existncia que se est a deteriorar.

Vocs sabem o que amar? dar a vossa mente completamente, o vosso corao, todo o vosso ser completo sem pedir uma nica coisa em retorno, sem estender a tigela de mendicante a fim de receber amor,.

Para poder ir alm dos prprios impedimentos, primeiro a mente deve ter ateno para com eles, no ser? Temos que conhecer as limitaes, os impedimentos, as fronteiras da nossa prpria mente; todavia, muito poucos de ns conhecemos tal coisa. Ns dizemos conhecer, mas tal coisa no passa de uma afirmao verbal somente. Jamais dizemos: "Aqui est uma barreira, uma forma de escravido em mim, que eu tenho de entender; vou tornar-me ciente dela, ver como ocorreu, ver a natureza inteira disso ".

Se formos capazes de assistir aos impedimentos da mente, no s os impedimentos superficiais mas tambm os impedimentos mais profundos do inconsciente de assistir sem condenao - ento a mente poder ir alm deles; e esse mesmo acto de ir alm forma um movimento rumo verdade.

Viver no essa coisa espalhafatosa, medocre, disciplinada que ns chamamos nossa existncia. Viver algo completamente diferente; algo abundantemente rico, em eterna mudana; contanto que ns no entendamos esse movimento eterno, as nossas vidas esto destinadas a ter muito pequeno significado.

Agora, por que deveremos ser disciplinados? O que significa a disciplina? Significa ajustamento a algo, no ser? Ajustar o nosso pensamento ao que as outras pessoas dizem, resistir a certas formas de desejo e aceitar outros, cumprir com a obedincia a determinada prtica ao contrrio doutra, conformar, suprimir, seguir, no s superfcie da mente, mas tambm profundamente abaixo - tudo isto est implcito na disciplina.

Agora, a disciplina tornar-nos- livres, ou far com que nos conformemos a um padro ideolgico, seja o padro utpico do comunismo, ou algum tipo de padro moral ou religioso? Poder alguma vez a disciplina tornar-nos livres? Tendo-nos limitado, tornado prisioneiros, como todas as formas de disciplina fazem, poder ela libertar-nos ento? Como o poder?

Ser ntegro implica uma sensao de liberdade, e quando essa integrao ocorre no h, seguramente, qualquer necessidade de disciplina. Essa integrao significa ser determinada coisa totalmente, e em todos os nveis ao mesmo tempo.

Ser ntegro no exige nenhuma forma de disciplina. Quer dizer, se fizermos o que for bom, o que for intrinsecamente verdadeiro, o que for realmente bonito e fizer isso com o meu ser inteiro, ento serei exempto de toda contradio e no estarei somente a conformar-me a determinada coisa. Se aquilo que estiver a fazer for totalmente bom - bom em si mesmo - no correcto de acordo com alguma tradio hindu ou teoria comunista, mas eternamente e sob qualquer circunstncia - ento serei um ser humano ntegro e no terei qualquer necessidade de disciplina.

S o amor conduz aco correcta. O que traz ordem ao mundo amar e deixar amar, acontea o que acontecer.

Mas se disser: " Tudo que eu for, eu quero entender, " ento a inveje esvai-se; ento no haver nenhuma necessidade de disciplina, e dessa compreenso do que eu sou sucede a integrao.

Ns queremos ser famosos como um escritores, como poetas, como um pintores, como polticos, como cantores, ou o que quer que seja. Por qu? Porque ns realmente no amamos aquilo que fazemos. Se voc amasse cantar, ou pintar, ou escrever poemas - se voc realmente amasse isso - voc no se importaria em ser famoso ou no.

Voc sabe, bom esconder o nosso brilho debaixo de um alqueire, permanecer annimo, amar o que fazemos e no nos exibirmos. bom ser amvel sem ser chamado coisa nenhuma. Isso no nos torna famosos, nem origina que a nossa fotografia aparea nos jornais. Os polticos no viro nossa porta. Somos apenas um ser humano criativo que vive anonimamente, e nisso existe riqueza e uma grande beleza.

Agora, se tiverem que ter um guru, algum para os inspirar, os encorajar, para lhes dizer que esto a proceder bem, isso significa que vocs confiam nassa pessoa, mas, de modo inevitvel vocs devero ficar perdidos quando ele partir, algum dia. No momento em que vocs dependerem de uma pessoa ou duma ideia para se inspirarem sujeitam-se a que o medo surja, por isso no se trata de uma verdadeira inspirao. Ao passo que, se assistirem a um corpo morto a ser carregado, ou observarem duas pessoas a questionar, isso no os far pensar? Quando vm algum comportar-se de modo ambicioso, ou notam como todos vocs se prostam aos ps de seu governador quando ele entra, isso no os far reflectir? Assim, tudo pode dar lugar inspirao, desde a queda de uma folha, a morte dum pssaro at ao prprio comportamento do homem. Se assistirem a todas essas coisas estaro a aprender o tempo todo; mas se considerarem unicamente uma pessoa como o vosso professor, ento vocs estaro perdidos e essa pessoa tornar-se- o vosso pesadelo. por isso que muito importante no seguir qualquer pessoa, no ter um professor particular, mas aprender com o rio, com as flores, as rvores, a mulher que carrega um fardo, dos membros de vossa famlia e a partir dos vossos prprios pensamentos.

Quando vocs tm suficientemente clareza sobre o que querem fazer, as coisas acontecem.

No sei se, durante os vossos passeios notaram uma piscina longa e estreita, ao lado do rio. Deve ter sido cavada por alguns pescadores, e no est ligada ao rio. O rio flui continuamente, vasto e profundo, mas esta piscina est cheia de escria por no se achar ligada vida do rio, e no assim no tem peixe nenhum. Trata-se duma piscina estagnada, e ao lado dela flui com rapidez o rio profundo, cheio de vida e vitalidade.

Agora, no lhes parece que os seres humanos so iguais? Eles cavam uma pequena piscina para si prprios, distanciada da corrente veloz da vida, e nessa pequena piscina estagnam, e morrem; e a essa estagnao, a essa decadncia chamamos existncia. Quer dizer, todos ns queremos um estado de permanncia; queremos que certos desejos perdurem para sempre, queremos que os prazeres no tenham fim. Cavamos um pequeno buraco e barricamo-nos nele com as nossas famlias, com as nossas ambies, as nossas culturas, os nossos medos, os nossos deuses, as vrias formas de adorao, e l morremos, deixando passar a vida esta vida impermanente, constantemente em mudana, e que to passageira, que possui enorme profundidade, extraordinria vitalidade e beleza.

No notaram que se se sentarem em silncio nas margens do rio que vocs podem ouvir a sua cano - o enrolar da gua, o som da gua a correr? Sempre ocorre uma sensao de movimento; um movimento extraordinrio para o mais vasto e o mais fundo. Mas na pequena poa (que para ns criamos) no existe movimento nenhum, porque a sua gua est estagnada. Mas, se observarem vero que isso justamente o que a maioria de ns deseja: pequenas poas de guas estagnadas de uma existncia apartada da vida. Dizemos que a nossa existncia nessa poa ajustada, e inventamos uma filosofia para justificar tal assero; desenvolvemos teorias sociais, polticas, econmicas e religiosas em defesa disso, e no queremos ser perturbados porque aquilo que buscamos apenas uma sensao de permanncia.

Mas vocs vm, a vida no assim; a vida no permanente. Exactamente do mesmo modo que as folhas que caem da rvore, todas as coisas so impermanentes, no h nada que resista; a mudana e a morte so omnipresentes. Alguma vez notaram uma rvore desnuda erguida contra o cu, como isso bonito? Todas os seus ramos se salientam, e a sua nudez encerra um poema, uma cano. Todas as folhas se esvaram e ela queda-se aguardando pela primavera. Quando a primavera sucede novamente, enche a rvore com a melodia das muitas folhas, que na devida estao cairo e sero levadas pelo vento; a vida assim.

O facto que a vida como o rio: em constante mudana, sempre em busca, a explorar, a empurrar, a alagar as suas margens, a penetrar todas as fendas com a sua gua,. Mas, vocs vm, a mente no permite que isso acontea em si mesma. A mente percebe isso como um perigo, percebe ser arriscado viver num estado de impermanncia e insegurana, e por isso constri para uma parede ao seu prprio redor; a parede da tradio, da religio organizada, das teorias polticas e sociais: a famlia, nome, propriedade, as pequenas virtudes que ns cultivamos - tudo isso se situa dentro das suas paredes, distanciado da vida. A vida est sempre a mover-se, impermanente, e a tentar constantemente penetrar, demolir estas paredes por trs das quais existe todo um estado de confuso e misria. Os deuses que existem dentro dessas paredes so todos deuses falsos, e as escrituras e filosofias que neles se baseiam no tm nenhum significado, porque a vida situa-se para alm deles.

A mente que busca a permanncia logo acaba por estagnar; semelhana daquela piscina ao longo do rio, logo se enche de corrupo e de decadncia. S a mente que no tem barreira nenhuma, posio nenhuma de segura, vedao, nenhum lugar de repouso, que se move inteiramente com a vida, eternamente a forar, a explorar, a explodir s uma mente assim pode sentir felicidade, sentir-se eternamente renovada, por ser criativa em si mesma.

A procura de Deus, da verdade, o sentimento de ser completamente bom - no o cultivo da bondade, da humildade, mas a procura de algo alm das invenes e truques da mente, o que significa possuir um sentimento por esse algo, e viver nele, sendo isto - isso verdadeira religio. Mas s podemos viver assim quando deixarmos a poa que cavamos para ns prprios e penetrarmos o rio da vida. Ento a vida ter um modo surpreendente de tomar cuidado de ns prprios, porque ento no haver qualquer cuidado a tomar da nossa parte. A vida levar-nos- para onde quer que seja por sermos parte de si mesma; e ento se por nenhum problema de segurana, do que pessoas digam ou deixem de dizer, e nisso consiste a beleza da vida.

Agora, se puderem viver de momento a momento sem se preocuparem acerca do futuro, se puderem viver sem o pensamento do amanh o que no significa a superficialidade de se ocupar somente com o dia de hoje; se, tomando ateno pelo inteiro processo do conhecido, puderem renunciar a esse conhecido, ento deixem-no ir completamente, pois ento descobriro que sucede uma coisa surpreendente. Tentem isso apenas por um dia - ponham de lado tudo aquilo que vocs conhecem, esqueam, e vejam apenas o que acontece. No carreguem de um dia para o outro as vossas preocupaes, hora a hora, a todo o instante; deixe que tudo se v, e vero que a partir desta liberdade sucede uma vida extraordinria que inclui tanto o viver como o morrer. A morte somente o trmino de algo, e nesse mesmo acto de morrer h renovao.

Vocs vm, ns fizemos da verdade algo permanente. Mas ser a verdade permanente? Se for, ento dever situar-se dentro do campo do tempo. Dizer que algo permanente implica que seja contnuo; e o que contnuo no verdade nenhuma. Nisso reside a beleza da verdade: a de que deve ser descoberta a cada instante, e no se recordada. Uma verdade recordada uma coisa morta. A verdade deve ser descoberta a cada instante por ser uma coisa vivente, e jamais nunca o mesmo; e ainda assim, a cada momento que o descobrimos, o mesmo.

O que importante no fazer da verdade uma teoria, nem dizer que a verdade permanente em ns e tudo o mais isso no passa duma inveno dos velhos que vivem assustados tanto com a morte como com a vida. Essas teorias maravilhosas a de que a verdade seja permanente, a de que no precisamos ter medo nenhum porque somos uma alma imortal, e assim, foram inventadas por pessoas assustadas cujas mentes se deterioram e cujas filosofias no tm qualquer validade. O facto que a verdade vida, e a vida no tem qualquer permanncia. A vida tem que ser descoberta de momento a momento, a cada dia; tem que ser descoberta, no pode ser levada como coisa certa.

O homem que diz saber, j est morto. Mas o homem que pensa: " eu no sei, " e que vai descobrindo, descobrindo, que no busca um fim, nem pensa em termos de chegar ou de se tornar - tal homem vive, e essa sua vida a verdade.

Mas penso haver um tipo diferente de ateno, um estado de mente que no exclusivo que no barra nada; e por no haver nenhuma resistncia, a mente capaz de muita maior ateno. Mas ateno destituda de resistncia no significa a ateno da absoro.

Para simplificar a coisa, sem dar azo a complicaes, vocs tm medo de ser aquilo que so o que significa que no tm confiana nenhuma em vs mesmos. por isso que procuram tornar-se naquilo que a sociedade, os vossos pais, o que e vossa religio lhes dizem que vocs devem ser.

No vm como verdadeiramente extraordinrio que tenham tanto medo com relao a serem aquilo que so? Porque a beleza reside ser o que vocs so. Se virem que so preguiosos, que so estpidos, e se entenderem a preguia e confrontarem, cara a cara com a estupidez, sem tentar mud-la em qualquer outra coisa, ento nesse estado encontraro um enorme alvio, uma grande beleza, uma grande inteligncia.

Eu declarei que qualquer forma de resistncia consiste em desateno, distraco. No aceitem, reflictam nisso. No aceitem nada, no importa quem o diga, mas investiguem o assunto por vs mesmos. Se vocs aceitarem apenas, vocs tornam-se mecnicos, entorpecidos, e j estaro mortos; mas se investigarem, se pensarem as coisas por vs prprios, ento vocs tm de estar vivos, cheios de vitalidade, e serem seres humanos criativos.

Assim, e por todo o decurso da vossa vida, jamais aceitem coisa alguma, mas inquiram, investiguem. Ento vocs descobriro que a mente algo realmente extraordinrio, sem fim, e para uma mente assim no h qualquer morte.

Se no se convencem profundamente, se no se sentem livres e felizes a fazer o que pensam ser certo, certamente o vosso interesse nisso h de ser falso, irreal; por isso que se torna ngreme e dizem ser difcil de colocar tal coisa em aco.

Somente a uma mente calma acontecem grandes coisas, sabem? Mas uma mente tranquila no sucede pela aco do esforo, do controle ou da disciplina.

Todos ns temos a nossa peculiar arrogncia que revelamos de diferentes modos. O homem rico, o pobre, o homem instrudo, o homem de capacidade, o santo, o lder - cada um a seu modo abriga o sentimento de ter alcanado, de ser um sucesso, de ser algum ou saber fazer algo. Mas o homem que no ningum, que no quer ser algum, que somente aquilo que , e se entende - tal indivduo est livre de arrogncia e do orgulho.

O desejo de obter uma felicidade duradoura, o medo de morrer ou de perder a propriedade, o prazer de ser lisonjeado, o ressentimento causado pelo insulto, o querela sobre o meu Deus e o vosso Deus, o vosso mtodo e o meu - a mente incessantemente ocupada somente com tudo isso e nada mais.

Vejam bem, o lrio, a rosa, jamais ostentam qualquer pretenso, e sua beleza est em serem o que so.

Assim, a experincia no liberta a mente, e a aprendizagem atravs da experincia somente um processo de formao de novos padres baseado no velho condicionamento da pessoa. Penso que muito importante entender isto, porque medida que crescemos e nos tornamos mais velhos ns tornamo-nos cada vez mais entrincheirados na nossa experincia, esperando assim aprender; mas o que ns aprendemos ditado pelo fundo de formao, o que significa que pela experincia pela qual aprendemos jamais alcanamos liberdade mas somente a modificao do condicionamento.

Quando o aprender se torna somente um meio para chegarmos a algum lugar, no momento em que atingimos aquilo a que queremos chegar, esquecemos o meio - e seguramente isso no aprendizagem nenhuma. Assim, s poder haver um estado de aprendizagem quando no temos nenhum motivo, nenhum incentivo, quando fazemos a coisa por amor de si prpria.

Como a maioria das pessoas, vocs tm ideais, no tm? Mas o ideal no real, no efectivo; o que deveria ser, algo situado no futuro. Agora, o que eu digo o seguinte: esqueam o ideal, e fiquem atentos ao que vocs so. No procurem o que deveria ser, mas antes entender o que .

Progresso implica tempo, no ser? Afinal de contas, levamos sculos para passarmos do carro de bois ao avio a jacto. Agora, ns pensamos que podemos descobrir a realidade ou Deus, pelo mesmo processo, atravs do tempo. Ns estamos aqui, e pensamos em Deus como estando alm, ou em algum lugar longe, e para cobrirmos essa distncia, esse espao interveniente, dizemos precisar de tempo. Mas Deus ou a realidade no so algo fixo, e tampouco ns o somos; no h nenhum ponto fixo a partir do qual possamos comear e nenhum ponto fixo para o qual possamos dirigir-nos.

Ns aceitamos a tristeza como uma parte inevitvel da vida e erguemos filosofias ao seu redor; justificamos a tristeza, e dizemos que necessria para acharmos Deus ...Para sermos livres da tristeza uma pessoa deve estar livre do desejo de provocar dano assim como tambm do desejo para fazer o bem, o denominado " bem" que igualmente o resultado do nosso condicionamento.

O ficar s algo completamente diferente; trata-se dum estado de liberdade que chega a existir quando passamos pela solido e a entendemos. Nesse estado de ficar s no nos sustentamos em ningum psicologicamente, por j no mais estarmos em busca de prazer, conforto, satisfao. somente ento que a mente permanece completamente s, e somente uma mente assim criativa.

Quanto mais fundo a mente penetra nos seus prprios processos de pensamento, mais claramente entende como todas as formas de pensamento so condicionadas; ento a mente torna-se espontaneamente muito serena - o que no significa que esteja adormecida.

A dificuldade com a maioria dos adultos que eles no resolveram as questes do seu prprio viver, e ainda assim eles dizem-vos : " eu vou dizer-te o que prtico e o que no .

A menos que cada um de vocs seja de tal forma educado que, quando deixar a escola e for l para fora para o mundo, esteja cheio de vitalidade e inteligncia a fim de poder descobrir em que consiste a verdade, vocs sero meramente absorvidos pela sociedade; vocs sufocaro, sero destrudos, e tornar-se-o miseravelmente infelizes para o resto da vossa vida. Exactamente como o rio cria as margens que o sustm, assim tambm a energia da busca da verdade cria a sua prpria disciplina isenta de toda forma de imposio; e assim como o rio encontra o mar, tambm essa energia descobre a sua prpria liberdade.

Meditao o processo de compreenso da vossa prpria mente. Se no entenderem o vosso prprio pensar o que representa o auto-conhecimento - tudo que vocs pensarem ter muito pouco significado. Sem a fundao do auto-conhecimento, o pensamento conduz ao dano. Todo o pensamento tem um significado; mas se a mente for capaz de perceber o significado, no s de um ou dois pensamentos, mas de cada pensamento medida que surge, ento a mera concentrao numa ideia particular, imagem, ou conjunto de palavras ao que geralmente chamamos meditao no passa duma forma de auto-hipnose.

O processo de reduzirmos a velocidade do pensamento e examinarmos todo e qualquer pensamento representam o processo da meditao; e se entrarmos por a descobriremos que, ao permanecermos atentos para com todo o pensamento, a mente - que agora no passa dum vasto armazm repleto de pensamentos inquietos todos a lutar uns contra os outros - se torna muito serena, completamente tranquila.

No existe nenhum " eu " que experimente a verdade; se a mente permanecer tranquila, a verdade anunciar-se-. No momento em que existe um " eu " existe aquele que experimenta, mas esse que experimente no passa do mero resultado do pensamento, e no tem nenhuma base para existir sem o pensar.

Penso que o esforo nos destri, esta luta na qual ns despendemos quase todos os momentos das nossas vidas. Se observarem os mais velhos ao vosso redor, vero que para a maioria deles a vida uma srie de batalhas consigo prprios, com as suas esposas ou maridos, os seus vizinhos, a sociedade; e essa discusso incessante dissipa-nos as energias. O indivduo jovial, verdadeiramente feliz, no se deixa apanhar pelo esforo. Levar uma existncia destituda de esforo no significa que estagnemos, que sejamos estpidos; pelo contrrio, s o sbio, o indivduo extraordinariamente inteligente que realmente se acha livre do esforo, e da luta.

semelhana daquele barco que se movia ao sabor do vento, no poder a mente ser livre de toda luta? Seguramente, essa a verdadeira questo, e no como alcanar um estado no qual no haja luta. O prprio esforo para alcanar um tal estado, em si mesmo um processo de luta, pelo que, nesse caso aquele estado jamais chega a ser alcanado. Mas se observarmos momento a momento como a mente se deixa cair na luta perptua - se observarem o facto sem o tentar alterar, sem tentar forar a mente a um certo estado que chamam de paz - ento descobriro que a mente deixa espontaneamente de lutar; e nesse estado pode aprender enormemente. Aprender no ento somente o processo de ajuntamento de informao, mas a descoberta das extraordinrias riquezas que se situam para alm do mbito da mente; e, para a mente que faz esta descoberta, h alegria.

Agora, existir coisa alguma como sucesso, ou isso no passa duma ideia que o homem persegue? Porque no momento em que alcanamos, sempre existe um ponto situado mais frente a qual ainda temos que alcanar. Enquanto procurarmos o sucesso, em qualquer direco que seja, estamos destinados a viver em discusso, em conflito, no ser? At mesmo quando atingimos o desejado, no temos qualquer descanso, porque ainda queremos ir mais alto, obter mais. Entendem? A perseguio do sucesso constitui o desejo de "mais" e uma mente que est constantemente a exigir o "mais" no uma mente inteligente; pelo contrrio, uma mente medocre, estpida, porque a sua demanda de "mais" implica uma constante luta em termos do padro que a sociedade fixou para tal objectivo.

Com a maioria passa-se o mesmo na vida quotidiana. Ns estamos sempre a lutar por algo, e nunca fazemos uma pausa para inquirir se aquilo por que lutamos vale o esforo. Nunca pomos a questo a ns prprios de saber se o esforo nos valer de alguma coisa, e assim no descobrimos que no vale nada, e opomo-nos opinio dos nossos pais, da sociedade, de todos os Mestres e gurus. S quando entendemos o completo significado do "mais" que deixamos de pensar em termos de fracasso e sucesso.

Assim estamos sempre a pensar em termos de sucesso, em termos de "mais"; o "mais" que avaliado pela respeitvel sociedade. Por outras palavras, a sociedade estabeleceu muito cuidadosamente determinado padro de acordo com o qual pronuncia o sucesso ou o fracasso. Mas se adorarem fazer algo com todo o vosso ser, ento vocs no se preocuparo com o sucesso nem com o fracasso. Nenhuma pessoa inteligente se preocupa. Mas infelizmente h muito poucas pessoas inteligentes, e ningum lhes fala sobre tudo isto. Toda a preocupao da pessoa inteligente preocupa-se em perceber os factos e entender o problema - o que no significa pensar em termos de sucesso ou fracasso. S quando realmente no amamos o que fazemos que pensamos nesses termos.

Assim no mudem de religio, o que somente significa revoltar-se dentro da priso mas rompam com as muralhas dessa priso e descubram por vs prprios o que Deus , o que verdade . Isso possui significado, e dar-lhes- enorme vitalidade e energia. Mas passar meramente de uma priso para outra e disputar sobre qual das prises boa isso uma infantilidade.

Mas, vocs vm, no nos encorajam nessa direco; nem o pedagogo nem o estudante tm a vitalidade, a energia para reflectir e perceber o que a verdade seja, e firmar-se nisso, deixando o falso desvanecer-se. Mas se puderem fazer isso ento no seguiro nenhum lder poltico nem religioso, porque sero uma luz para si prprios; a descoberta e o cultivo dessa luz, no somente enquanto so jovens mas ao longo de toda a vossa vida, representa a educao.

Vocs vm, a maioria no tem qualquer amor no corao. Jamais olhamos as estrelas ou nos encantamos com os sussurros das guas; nunca observamos a dana do luar em meio ao fluxo apressado do rio ou assistimos ao voo do pssaro. No levamos qualquer cano no corao; estamos sempre ocupados; as nossas mentes esto cheias de esquemas e ideais para salvar o gnero humano; professamos fraternidade, mas o nosso prprio aspecto uma negao disso.

Se alguma vez descobrirem aquilo que adoram fazer com o vosso ser inteiro, ento sero indivduos livres; ento tero capacidade, confiana, iniciativa.

Vocs vm, contanto que vocs queiram sentir-se seguros devero sentir medo sentir-se seguros no vosso matrimnio, no vosso trabalho, nas vossas posies, nas vossas responsabilidades, ideias, convices, na vossa relao com o mundo ou com Deus. No momento em que a mente busca segurana ou satisfao sob qualquer forma, a qualquer nvel, torna-se ligada ao temor; e o que importante estar atento a este processo e entend-lo. No uma questo de pureza, tal como denominada. A mente que permanece vigilante, alerta, e assim se acha livre do medo uma mente inocente; e s a mente inocente poder entender a realidade, a verdade ou Deus.

Os ideais assumiram extraordinria importncia, o ser ideal, o que deveria ser: Eu deveria ser no violento, eu deveria ser bom, e assim por diante. O ideal, o que deveria ser, sempre se situa em algum lugar distante, e assim jamais actual. Os ideais constituem uma maldio porque impedem-nos de pensar directamente, de modo simples e verdadeiro, quando estamos diante dos factos. O ideal, o que deveria ser, uma fuga do que . O que , o facto de sentirem medo do que seus pais diro, de que as pessoas pensaro, medo da sociedade, medo da doena, da morte; mas se vocs enfrentarem o que , o olharem, o investigarem a despeito de poder trazer-lhes misria, e o entenderem, ento descobriro que a vossa mente tornar-se- extraordinariamente simples e clara; e nessa mesma claridade dar-se- a cessao do medo.Reflexes

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