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Manejo Integrado da Mosca-Branca
(Bemisia tabaci bitipo B)
em Sistema de Produo Integrada
de Tomate Indstria (PITI)
ISSN 1415-3033
70
Cir
cula
rT
cn
ica
Braslia, DFNovembro, 2009
Autores
Geni Litvin Villas BasPesquisadora, DSc.,
EntomologiaEmbrapa Hortalias
Braslia-DFgeni@cnph.embrapa.br
Marina Castelo BrancoPesquisadora, PhD.,
EntomologiaEmbrapa Sede
Braslia-DFmarina.castelo@embrapa.br
O primeiro registro de mosca-branca (Homoptera: Aleyrodidae) da espcie
Bemisia tabaci (Gennadius) ocorreu na Grcia, em 1889, em plantas de fumo.
Nos Estados Unidos, na dcada de 80, surgiu um novo bitipo dessa esp-
cie, denominado Bemisia tabaci bitipo B, tambm conhecida como Bemisia
argentifolii. Esse novo bitipo rapidamente adaptou-se a um grande nmero
de plantas hospedeiras e passou a causar grandes danos.
No Brasil, o gnero Bemisia conhecido desde 1923 (BONDAR, 1928). No
final de 1990, a importao por comerciantes paulistas da planta ornamental
poinstia (Euphorbia pulcherrima), provavelmente infestada com ninfas de
mosca-branca (B. tabaci bitipo B), introduziu esse novo bitipo no pas. A
partir de So Paulo (MELO, 1992; LOURENO; NAGAI, 1994) o inseto se
Foto: Geni Litvin V
illas Bas
RosaneImagem colocada
2 Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI)
disseminou rapidamente por quase todos os esta-
dos (Tabela 1). Resultados de pesquisa, utilizando
a tcnica de RAPD, confirmaram que a espcie B.
argentifolii, alm de se encontrar completamente
disseminada no Brasil, est associada a diversas
plantas hospedeiras (VILLAS BAS, 2000). O
Amazonas o nico estado brasileiro onde o inseto
ainda no foi encontrado.
Vale salientar que, alm da espcie B. tabaci
bitipo B existem muitas outras espcies e bitipos
de mosca-branca e a sua classificao vem des-
pertando muita discusso entre os taxonomistas.
Todavia, pesquisas mais recentes demonstraram
que existe um complexo de bitipos, denomina-
do complexo B. tabaci. Mundialmente, estima-se
que existam mais de 20 bitipos, cada um com
um comportamento diferenciado (BROWN et al.,
1995). importante comentar que dentre esses
bitipos, existe um, o bitipo Q, que ainda extico
no Brasil e deve ser motivo de preocupao para
todos os envolvidos com a cultura do tomateiro.
Isso porque esse bitipo, alm de ser resistente
maioria dos inseticidas hoje eficientes para o
controle da mosca-branca, vetor do geminiv-
rus Tomato yellow leaf curl vrus (TYLCV), que
tambm extico no Pas e que, se introduzido
no Brasil, pode causar danos severos tomaticul-
tura nacional. Assim sendo, a disperso mundial
desse bitipo deve ser bem monitorada, para
evitar sua entrada no pas. As suas provveis vias
de ingresso no Brasil so mudas de hortalias e
plantas ornamentais, principalmente as do gnero
Euphorbia.
Com relao ao tomate para processamento indus-
trial, o primeiro relato do aparecimento de mosca-
branca foi feito em 1995, na regio do Submdio
So Francisco (HAJI et al., 1996a;1996b), na poca
a mais importante regio produtora de tomate
indstria no Brasil. Nessa ocasio, perdas genera-
lizadas causadas por geminivrus, transmitido pelo
inseto, foram observadas (LIMA et al., 1998; LIMA;
HAJI, 1998). Conforme relatado por HAJI et al.
Tabela 1. Disperso da mosca-branca (Bemisia tabaci bitipo B) no Brasil.
Ano Estado Referncias
1990 So Paulo MELO, 1992
1993 Bahia
Distrito Federal
Gois, Minas Gerais
EBDA, 1994
FRANA et al., 1996
VILLAS BAS, 2000
1995 Pernambuco, Bahia HAJI et al., 1996a
1996 Paran
Cear, Rio Grande do Norte, Paraba
SOSA-GMEZ et al., 1997
VILLAS BAS et al., 1997
1997 Tocantins, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul VILLAS BAS et al., 1997
3Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI)
(2004a), a rea de cultivo de tomate industrial em
1996, no polo agrcola Petrolina-PE/Juazeiro-BA,
foi reduzida de 9.855 ha para 1.044 ha, com pro-
dutividade mdia de 30t/ha. Deste modo, a deses-
tabilizao da tomaticultura para processamento
industrial, neste polo agrcola, pode ser atribuda,
em grande parte, ocorrncia de B. tabaci bitipo
B na regio (HAJI et al., 2004a).
Atualmente, a mosca-branca B. tabaci bitipo B
uma das principais pragas do tomate industrial.
O maior dano causado por esta praga um dano
indireto: a transmisso de geminivrus (Figura 1),
que ocorre quando o inseto suga a planta. As ge-
miniviroses podem retardar o desenvolvimento das
plantas reduzindo significativamente a produo.
Quanto mais cedo ocorrer a infeco, maiores se-
ro as perdas. Como exemplo, em 2007, em uma
lavoura de tomate industrial no municpio de Itabe-
ra (GO), foram encontrados mais de 50 adultos por
folha em uma rea recm-transplantada. Ainda que
o produtor tenha pulverizado a sua plantao logo
aps verificar a presena desses adultos, 50% da
lavoura foi perdida devido a ocorrncia da virose,
o que indicou que apenas o uso de inseticidas no
foi suficiente para reduzir os problemas causados
pela praga.
Alm da transmisso de vrus, a infestao das
lavouras de tomate industrial por mosca-branca
ocasiona outros danos diretos e indiretos que tam-
bm contribuem para reduzir a produo. Como
dano direto podemos citar o amadurecimento
irregular dos frutos, que dificulta o reconhecimento
do ponto de colheita e torna a parte interna dos
frutos esbranquiada, com aspecto esponjoso ou
isoporizado (Figura 2). Esse dano causado pelo
Fotos: Leonardo d
e B. G
iordano
Fig. 1. Plantas de tomate com sintomas de geminivrus.
4 Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI)
adulto da mosca-branca, que injeta uma toxina na
planta de tomate ao se alimentar.
Como dano indireto da mosca-branca podemos
citar a excreo de substncias aucaradas pelo
inseto. Essas substncias cobrem as folhas e
servem de substrato para fungos, o que resulta
no crescimento de um fungo preto, denominado
fumagina (Figura 3). Como consequncia da ocor-
rncia da fumagina, o processo de fotossntese
afetado, podendo ocorrer reduo na produo e
qualidade dos frutos.
Atualmente, para reduzir as perdas ocasionadas
pela mosca-branca, os produtores utilizam ex-
clusivamente inseticidas que, como comentado
anteriormente, podem no ser eficientes. Desse
modo, outras alternativas de controle, como o
Manejo Integrado, devem ser buscadas. O Manejo
Integrado envolve, alm do controle qumico, que
deve ser utilizado quando necessrio, o emprego
de medidas de controle legislativo e cultural, a fim
de que a cultura seja protegida e os danos minimi-
zados. Nesse sentido, a adoo de medidas que
reduzam a populao da praga e protejam a cul-
tura reduziro o uso de agrotxicos nas lavouras,
que hoje excessivo e muitas vezes ineficiente, e
os impactos sociais e ambientais negativos cau-
sados por esses produtos. Consequentemente,
os tomates colhidos nas lavouras que adotarem o
Manejo Integrado devero ser produtos seguros
e sem resduos de agrotxicos.
Produtos seguros e sem resduos de agrotxicos
so parte das exigncias do Programa de Produ-
o Integrada para diferentes culturas, que vem
sendo implementado pelo Ministrio da Agricul-
tura, Pecuria e Abastecimento (MAPA). Dentre
esses Programas, existe um Projeto de Produo
Foto: Carlos S
olano
Fig. 3. Dano indireto da mosca-branca: fumagina.
Foto
s: C
arlo
s S
olan
o
Fig. 2. Amadurecimento irregular e frutos isoporizados.
5Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI)
recm-transplantadas, em reas adjacentes.
Segundo EICHELKRAUT e CARDONA (1989), o
adulto se alimenta minutos aps a emergncia. O
acasalamento comea duas a quatro horas aps
a emergncia e copulam vrias vezes durante a
sua vida. O perodo de pr-oviposio varivel
com as diferentes pocas do ano, podendo durar
de 8 horas a 5 dias. A fmea coloca de 100 a
300 ovos durante toda a sua vida, sendo que a
taxa de oviposio depende da temperatura e da
planta hospedeira. Quando ocorre escassez de
alimento, as fmeas interrompem a postura (VAN
LENTEREN; NOLDUS, 1990). Posturas elevadas
foram relacionadas com populao exposta a
doses elevadas de inseticidas, uma vez que em
condies de alto estresse as fmeas produzem
mais ovos e mais fmeas em sua prole (DITTRICH
et al., 1990). A longevidade do inseto depende da
alimentao e da temperatura. O macho tem vida
mais curta, de 9 a 17 dias. As fmeas vivem 62
dias, em mdia, podendo variar de 38 a 74 dias.
Integrada especfico para tomate industrial, deno-
minado Produo Integrada de Tomate Indstria
(PITI). Esse Programa coordenado pela Embrapa
Hortalias desde 2005, e tem como parceiros al-
gumas indstrias de processamento, produtores,
universidades, instituies estaduais (GO), MAPA
e CNPq.
Para que o PITI possa ser viabilizado, a adoo do
Manejo Integrado da mosca-branca uma ferra-
menta fundamental. Porm, para que isso ocorra,
importante que os envolvidos na cadeia de pro-
duo de tomate indstria tenham conhecimento
da biologia e do comportamento da mosca-branca,
bem como das medidas de controle disponveis,
assuntos que sero abordados a seguir. Para
exemplificar as medidas de controle da mosca-
branca que podem ser adotadas, ser usado o
exemplo do Estado de Gois, atualmente o maior
produtor de tomate industrial no Brasil.
A Mosca-Branca
Biologia e comportamento
Os adultos apresentam cor amarelo claro e asas
brancas (Figura 4). Medem de 1 a 2 mm, sendo a
fmea maior que o macho. Quando em repouso,
as asas so mantidas levemente separadas, com
os lados paralelos, deixando o abdmen visvel.
Os adultos so muito geis e voam quando per-
turbados. Auxiliados pelo vento, podem voar a
longas distncias. Realizam tambm um voo baixo,
quando migram de culturas velhas para culturas
Foto: Geni Litvin V
illas Bas
Fig. 4. Adulto de Bemisia tabaci bitipo B.
6 Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI)
A mosca-branca apresenta metamorfose incom-
pleta (GILL, 1990), passando pelas fases de ovo,
quatro estdios ninfais, sendo o ltimo tambm
chamado de pupa ou pseudo-pupa, e adulto
(Figura 5). Apenas o adulto capaz de migrar at
novas plantas; os estdios imaturos permanecem
o tempo todo numa mesma planta (SALGUERO,
1993). A reproduo pode ser sexual ou parteno-
gentica. Na reproduo sexual, a prole ser de
macho e fmea. Quando partenogentica (sem
fecundao), a prole ser composta apenas de
machos (o que denominado arrenotoquia).
O ovo apresenta colorao amarela e formato de
pra, medindo de 0,2 a 0,3 mm. preso por uma
pequena haste ao tecido da planta. So deposita-
dos pelas fmeas, na parte inferior da folha, onde
formam colnias.
As ninfas so translcidas e de colorao ama-
relada. No final do quarto estdio (tambm cha-
mado de pupa), quando o adulto est prestes a
eclodir, os olhos vermelhos tornam-se bem visveis
(Figura 6).
Em estudos de laboratrio, realizados com tem-
peratura controlada (28 2C), verificou-se que
o ciclo de ovo a adulto foi mais curto em repolho
(20,5 dias), feijo (21,9 dias) e tomate (22,4 dias).
Para poinstia (26,6 dias), mandioca (25,0 dias)
e milho (23,8 dias), o perodo de desenvolvimento
foi mais longo (VILLAS BAS et al., 2002).
Hospedeiros
A mosca-branca apresenta um grande nmero
de plantas hospedeiras de interesse econmico,
como hortalias (tomate, pimento, batata; repo-
lho e outras brssicas; melo, abbora e outras
cucurbitceas), feijo, algodo, soja, uva, plantas
ornamentais, como poinstia (HAJI et al., 2004b;
VILLAS BAS et al., 1997). Dentre as plantas
Foto: Geni Litvin V
illas Bas
Fig. 6. Ninfa de 4 estdio (pupa) de Bemisia tabaci bitipo B.
Fig. 5. Ciclo biolgico (adulto, ovo, ninfas e pupa) da mosca-branca Bemisia tabaci bitipo B.
Fonte: arneson.cornell.edu/ZamoPlagas/moskblank.htm
e ipmwww.ncsu.edu/INSECT_ID/AG136/whitfly5.html
(modificado).
7Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI)
hospedeiras da mosca-branca, destacam-se
tambm vrias espcies de plantas daninhas, o
que significa que, na entressafra, esses insetos
sobrevivem muitas vezes em alta populao nas
reas de cultivo. Desta forma, no h interrupo
no ciclo de vida da praga e, em um prximo cultivo,
a presso de mosca-branca sobre as plantas pode
ser ainda maior que no cultivo anterior.
Manejo integrado
Controle legislativo
A primeira medida para reduzir a populao da
mosca-branca em lavouras de tomate indstria
definir um calendrio de plantio anual, respeitando
um perodo mnimo entre 60 a 120 dias conse-
cutivos livres de cultivo de tomate, conforme as
peculiaridades de cada microrregio (Instruo
Normativa do Ministrio da Agricultura, Pecuria
e Abastecimento n. 24, de 15/04/03).
No Estado de Gois, esta limitao do perodo de
plantio adotada, mantendo-se o perodo livre
de plantio de tomate por trs meses: novembro a
janeiro. Nesse estado, o transplantio de tomate ras-
teiro, seja para fins industriais ou mesa, s poder
ocorrer de 1 de fevereiro a 30 de junho de cada
ano (Instruo Normativa n 05, de 13/11/2007 -
GO). Essa Instruo Normativa estabelece ainda
que o transplantio do tomate tutorado nos muni-
cpios de Morrinhos, Itabera, Turvnia, Cristalina,
Orizona, Vianpolis e Goiansia est sujeito ao
mesmo perodo de plantio de tomate rasteiro, ou
seja, 1 de fevereiro a 30 de junho.
Controle cultural
O controle cultural deve ser implementado de
maneira preventiva, visando reduzir a infestao
da praga. Para isso, os produtores devem utili-
zar mudas sadias e vigorosas, e que tenham o
certificado de sanidade, conforme exigncia das
Normas Tcnicas do PITI. Isto evita o plantio de
mudas com viroses e, consequentemente, redu-
o da produo. Estudos realizados na Embrapa
Hortalias indicam que a infeco precoce do vrus
em mudas de tomateiro reduz em 60% a produ-
tividade de cultivares suscetveis ao vrus. Deste
modo, as mudas devem ser transplantadas com
no mnimo 21 dias de idade e protegidas com in-
seticidas registrados para a cultura na sementeira
e nos primeiros 30 dias aps o transplante, sendo
que antes do transplante deve ser realizada uma
aplicao de inseticida pelo produtor.
A produo de mudas deve ser efetuada em
viveiros com pedilvio (caixa com cal virgem)
na porta de entrada, antecmaras de no mnimo
1,5 m x 1,5 m e telados com malha mxima
de 0,239 mm (Instruo Normativa n. 05, de
13/11/2007 - GO). Os viveiros devem ser instala-
dos longe de campos infectados pelo geminivrus
e infestados pela mosca-branca. As sobras das
mudas no devem retornar aos viveiros.
Para atender demanda das indstrias por
matria-prima, comum o escalonamento do
8 Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI)
plantio em pivs centrais de uma propriedade,
bem como o escalonamento de plantio em uma
microrregio. Esta prtica favorece o crescimento
da populao da praga no local e quanto mais
tardio o plantio, maiores os riscos de perda da
produo. Desse modo, para reduzir os riscos
de perda, o escalonamento de plantio de tomate,
tutorado ou rasteiro, no deve ultrapassar 60 dias
para cada microrregio (Instruo Normativa n
05, de 13/11/2007 - GO).
Outra prtica importante a ser adotada a ma-
nuteno da lavoura no limpo, eliminando-se as
plantas daninhas hospedeiras de mosca-branca
e viroses antes do plantio e nos primeiros dias do
estabelecimento da lavoura. As plantas daninhas
hospedeiras de mosca-branca j identificadas
at o momento so amendoim bravo (Euphorbia
heterophylla), erva-de-Santa-Maria (Chenopodium
ambrosioides), fedegoso (Senna obtusifolia),
guanxuma-rasteira (Sida urens), maria-pretinha
(Solanum americanum), mentruz (Lepidium virgi-
nicum), perptua-brava (Gomphrena celosioides)
e poaia-do-cerrado (Richardia scabra) (HAJI et al.,
2004b; VILLAS BAS et al., 2003).
Por fim, outra prtica importante a eliminao dos
restos culturais, a fim de eliminar a populao rema-
nescente na rea. A Instruo Normativa do Estado
de Gois, n. 05, de 13/11/2007, torna obrigatria a
eliminao de restos culturais (restos de colheita e
frutos podres) at 10 dias aps a colheita de cada
talho. Entende-se por talho a rea de tomate
plantada contgua e colhida ao mesmo tempo. As
lavouras abandonadas ou com ciclo interrompido
e as plantas voluntrias devero ser destrudas
imediatamente. de responsabilidade do produtor,
arrendatrio ou ocupante da rea a eliminao dos
restos culturais.
Controle qumico
Para monitorar a presena de mosca-branca na
lavoura de tomate industrial recomenda-se a uti-
lizao de armadilhas amarelas (Figura 7), que
atraem os adultos. Estas armadilhas devem ser
dispostas ao redor da rea de plantio e podem ser
utilizadas cartolinas, lonas, plsticos ou etiquetas
de colorao amarela, untadas com leo (vegetal
ou mineral). Se essas armadilhas coletarem adultos
antes do transplante, o produtor deve realizar a pri-
meira pulverizao de inseticidas para o controle
da praga, to logo vena o perodo de proteo
do produto aplicado antes do transplantio.
A utilizao do controle qumico em programas de
Produo Integrada deve levar em considerao
o nvel de dano recomendado para a praga em
uma determinada cultura. Nesse sentido, o nvel
de dano econmico adotado para a mosca-branca
Foto: Carlos S
olano
Fig. 7. Armadilha amarela.
9Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI)
em tomate indstria a simples presena de um
adulto por planta, uma vez que este inseto trans-
missor de viroses (BROWN; BIRD, 1992; HILJE,
1997), embora CUBILLO et al. (1999) mencionem
que apenas 0,3 adulto do inseto/planta seja sufi-
ciente para disseminar a virose.
O controle qumico da mosca-branca, quando
necessrio, deve ser baseado em inseticidas re-
gistrados no MAPA para a cultura e iniciado com
um inseticida do grupo qumico dos neonicotini-
des, que age sobre os adultos do inseto, inibindo
a alimentao, voo e movimento, reduzindo a
oviposio (Tabela 2). Havendo necessidade, as
aplicaes seguintes devem ser realizadas com
intervalo de uma semana, a fim de evitar a rpida
seleo de populaes resistentes aos produtos
empregados.
A seleo de populaes de mosca-branca re-
sistentes a inseticidas um problema que no
interessa aos produtores (a vida til do produto
reduzida) nem s indstrias que comercializam
estes produtos (o custo de obteno de um novo
produto muito alto e muito demorado). Por isso,
importante que os produtores empreguem me-
didas que retardem essa seleo.
A primeira medida consiste em utilizar um insetici-
da somente quando este for realmente necessrio,
ou seja, apenas quando o inseto alcanar o nvel
de dano no monitoramento ou em amostragens.
Por exemplo, alguns produtores aplicam insetici-
das antes do transplante e logo aps o transplan-
te, prtica esta no recomendada, j que essa
pulverizao desnecessria. Alm disso, esta
prtica no est de acordo com as Normas Tc-
nicas da Produo Integrada, aumenta os custos
de produo e a poluio ambiental causada por
estes produtos.
A segunda medida a realizao da rotao de
inseticidas. A prtica mais recomendada o em-
prego de um produto por trs semanas, seguido
da aplicao de outro produto pelas trs semanas
seguintes. Nessa rotao devem ser escolhidos
para uso produtos de grupos qumicos diferen-
tes (Tabela 2). Essa recomendao atende o que
preconizado pelo Comit Brasileiro de Ao a
Resistncia a Inseticidas (IRAC-BR), que indica
que qualquer produto para controle de inseto da
mesma classe ou modo de ao no deve ser
utilizado em geraes consecutivas da mesma
praga. Alm disso, o produtor deve utilizar so-
mente as doses recomendadas no rtulo/bula do
produto. O produtor no deve realizar a mistura
de inseticidas, pois esta prtica poder levar
seleo de populaes resistentes a dois ou mais
produtos ao mesmo tempo.
Embora a resistncia de populaes de mosca-
branca a inseticidas no seja documentada no
Brasil, em outros locais do mundo essa documen-
tao foi feita (Tabela 3).
Uma alternativa aos inseticidas o uso de leos
e detergentes neutros em baixa concentrao
(0,5%). Esses produtos interferem no metabolismo e
10 Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI)
Tabela 2. Produtos registrados para o controle da mosca-branca (Bemisia tabaci bitipo B) na cultura do toma-teiro.
Grupo qumico Modo de Ao/Impacto no insetoIngrediente ativo
Nome comercial Dose CT CA IS3
BenzoiluriaInibidor de sntese de quitina. Interfere no processo de muda ou ecdise. Inibe o desenvolvimento de ninfas.
TeflubenzuromDart 150 (SC)Nomolt 150 (SC)
25ml/100 l de gua25ml/100 l de gua
IVIV
IIII
44
CetoenolDe contato e ingesto.Atua em ovos (deformao, infertilidade), ninfas e adultos.
Espiromesifeno Oberon (SC) 550ml/ha III II 3
ter piridiloxiproplico
De contato e com ao translaminar.Inseticida juvenide, regulador de crescimento de insetos. Impedem que as formas jovens se transformem em adultos. As fmeas colocam ovos inviveis e diminuem a postura.
PiriproxifemCordial 100 (EC)Tiger 100 EC
75ml/100 l de gua88ml/100 l de gua
II
IIII
77
FeniltiouriaDe contato e ingesto.Inibe o desenvolvimento de ninfas.
Diafentiurom Polo 500 WP 800g/ha I II 7
Neonicotinide Sistmico, de contato e ingesto. Ao translaminar.Inibe o voo e a alimentao. Reduz oviposio e movimentao de adultos.
AcetamipridoMospilan (SP)Saurus (SP)
325g/ha325g/ha
IIIIII
IIII
33
Clotianidina Focus WP 18g/100 l de gua III III 1
Imidacloprido
Confidor 700 WGKohinor 200 SCNuprid 700 WGProvado 200 SCRotaprid 350 SCWarrant (WG)
300g/ha1.000ml/ha300g/ha425ml/ha285 ml/ha300g/ha
IVIIIIIIIIIIIIIV
IIIIIIIIIIIIIIIII
777777
ThiaclopridoAlanto (SC)Calypso (SC)
200ml/ha200ml/ha
IIIII
IIIIII
77
Thiamethoxam Actara 250 WG 18g/100 l de gua III III3 foliar10 solo
Organofosforado De contato e ingesto.Mortalidade de adultos e ninfas.
Acefato Aquila (SP) 100g/100 l de gua II III 7
ClorpirifsCatcher 480 ECNufos 480 ECPitcher 480 EC
100ml/100 l de gua100ml/100 l de gua100ml/100 l de gua
III
IIIIII
212121
Piretride + neonicotinide
Sistmico.Amplo espectro de controle de pragas e boa penetrao nas folhas.
Beta-ciflutrina + Imidacloprido
Connect (SC) 875ml/ha II II 7
Piridina Azometina
Sistmico.Causa bloqueio na alimentao do inseto.
Pimetrozina Chess 500 WG 40g/100 l de gua III IV 3
Fonte: BRASIL (2009); AGROTIS, 2009. CT = Classe Toxicolgica: I Extremamente txico (faixa vermelha); II Altamente txico (faixa amarela); III Moderadamente txico (faixa azul); IV Pouco txico (faixa verde). CA = Classe Ambiental: I Produto Altamente Perigoso ao Meio Ambiente; II Produto Muito Perigoso ao Meio Ambiente; III Produto Perigoso ao Meio Ambiente; IV Produto Pouco Perigoso ao Meio Ambiente. IS = Intervalo de Segurana (Carncia): Intervalo, em dias, entre a ltima aplicao do agrotxico e a colheita.Formulao: EC = Concentrado Emulsionvel; SC = Suspenso Concentrada; SP = P Solvel; WG = Granulado Dispersvel; WP = P Molhvel.
11Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI)
realizadas entre 6:00 h e 10:00 h ou a partir das
16:00 h, para evitar a rpida evaporao da gua
e a degradao dos produtos. Deve ser usada a
dosagem indicada pelo fabricante no rtulo do
produto e a quantidade de gua adequada, em
geral 400-600 l/ha.
Outro aspecto importante a ser observado o pH
da gua, pois uma grande parte dos agrotxicos
so degradados ou decompostos em meio alcalino
(ALENCAR; BLEICHER, 2004). O pH entre 5,5 e
6,5 considerado ideal para a maior eficincia dos
inseticidas. Os produtores devem verificar o pH da
gua com frequncia e, se necessrio, corrigi-lo.
Esta correo feita utilizando-se redutores de
pH existentes no comrcio. Existem tabelas de
acordo com o redutor que ser utilizado, devendo
na respirao do inseto, alm de provocar mudan-
as na estrutura da folha e repelncia. Os efeitos
diretos sobre a mosca-branca so reduo na
oviposio e transtornos no desenvolvimento das
ninfas, especialmente no primeiro estdio, onde
as ninfas no se alimentam na superfcie tratada
com leo e morrem desidratadas.
A tecnologia de aplicao dos inseticidas tam-
bm importante para o aumento da eficincia
de controle. Como os adultos e ninfas de mosca-
branca se localizam na parte inferior das folhas, o
jato de aplicao deve ser direcionado de baixo
para cima, de modo que os inseticidas, detergen-
tes e leos, que normalmente so produtos de
contato, cubram de maneira homognea a parte
inferior da folhagem. As pulverizaes devem ser
Tabela 3. Resistncia de mosca-branca (Bemisia tabaci bitipo B) a diferentes inseticidas (ingrediente ativo/grupo qumico).
PasInseticidas
RefernciasIngrediente ativo Grupo Qumico
EUA (Hava)Acefato
Metomil
Permetrina
Organofosforado
Metilcarbamato de oxima
Piretride
OMER et al., 1993
Turquia
Buprofezina
Fenpropatrina
Triazofs
Tiadiazinona
Piretride
Organofosforado
ERDOGAN et al., 2008
China
Bifentrina
Cipermetrina
Imidacloprido
Tiametoxam
Piretride
Piretride
Neonicotinide
Neonicotinide
MA DEYING et al., 2007
Mxico Tiametoxam Neonicotinide GUTIRREZ-OLIVARES et al., 2007
Marrocos
Imidacloprido
Metomil
Tiametoxam
Neonicotinide
Metilcarbamato de oxima
Neonicotinide
BOUHARROUD et al., 2003
12 Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI)
ser adicionado o produto em funo do pH inicial
da gua (ALENCAR; BLEICHER, 2004).
Por fim, necessrio manter em bom estado os
equipamentos de aplicao, com boa presso
de asperso e bicos adequados para distribui-
o uniforme de gotas finas (menos de 0,05 mm
de dimetro) e bombas de alta presso, quando
necessrio. interessante, quando possvel, em-
pregar um atomizador, para diminuir o tamanho
das gotas e provocar uma melhor distribuio
das mesmas.
Controle biolgico
At o momento, no existem resultados de pes-
quisa no Brasil que comprovem a efetividade de
parasitides, predadores e patgenos no controle
da mosca-branca em campo. No entanto, vrias
espcies de inimigos naturais esto presentes
nas lavouras e exercem um controle auxiliar e
silencioso da praga. Por este motivo, a utilizao
de inseticidas que causem um menor impacto
ambiental (Tabela 2) dever permitir a conserva-
o da fauna existente, bem como a conservao
de outros recursos naturais, como, por exemplo,
a gua. Desse modo, a reduo dos impactos
ambientais causados pelos inseticidas certamente
contribuir para a reduo dos danos da mosca-
branca nas lavouras.
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Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI) 13
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16 Manejo Integrado da Mosca-Branca (Bemisia tabaci bitipo B) em Sistema de Produo Integrada de Tomate Indstria (PITI)
Circular Exemplares desta edio podem ser adquiridos na: Tcnica, 70 Embrapa Hortalias Endereo: BR 060 km 9 Rod. Braslia-Anpolis C. Postal 218, 70.531-970 Braslia-DF Fone: (61) 3385-9115 Fax: (61) 3385-9042 E-mail: sac@cnph.embrapa.br
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Tcnica, 47
Exemplares desta edio podem ser adquiridos na:
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