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'I
o PAPEL DA MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA NAS
ORGANIZAÇÕES DE ARTE
Banca examinadoraProf'. Orientadora Cecília W. BergaminiProf. Izidoro BliksteinProf. Roberto Coda
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGASESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS DE SÃO PAULO
ADRIANA MIGUEL
o PAPEL DA MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA NAS
ORGANIZAÇÕES DE ARTE.
Dissertação apresentada ao Curso de Pós-Graduação da FGVIEAESPÁrea de Concentração: Organização,Planejamento e Recursos Humanos comorequisito para obtenção de título de mestre emadministração.Orientadora: Prof'. Cecília W. Bergamini
SÃO PAULO1998
-- - - -<::.- . Fund;JiçãO Getulio Varg~~Esco&a de ,Administraçaode EmpreSA!' de São Paulo
Biblioteca
-io \11\\\\\\\\\1\1\1\111\\\\\1199900151
6?A. \~,EscOla de Administração de
I~Empresas de São Paulo
Data N° de Chamada
D3·a~ ~~'l.qLf2.53
TomboV\(o~r
15).Jqq \)tS·e, .i,
M1GUEL, Adriana. O papel da motivação intrínseca nas organizações de arte. SãoPaulo: EAESPIFGV, 1998. 119p. (Dissertação de Mestrado apresentada ao Cursode Pós-Graduação da EAESPIFGV; Área de Concentração: Organização,Planejamento e Recursos Humanos).
Resumo: O trabalho aborda os conceitos de motivação extrínseca e intrínseca.Discorre sobre o importância e o papel das organizações de arte na sociedade.Apresenta os resultados de pesquisa sobre a motivação intrínseca desenvolvidajunto a grupos de dança brasileiros.
Palavras-Chaves: Motivação Intrínseca - Automotivação - Motivação Extrínseca- Recompensas - Arte - Organizações de Arte - Dança - Grupos de Dança.
AGRADECIMENTOS~ ", .:-..'·-.:,t:~~,I':'~,-;
, \ ;' '. > • .~ , ~'. .' \,
Ao Clau, meu amado companheiro de todas as horas, pela
compreensão e ajuda incansável para a concretização deste trabalho.~..",.:;
..; ...
Aos meus pais, pelo apoio e incentivo em todos os momentos de
minha vida.
À Prof". Cecília W. Bergamini, CUjas criticas e sugestões foram
sempre objetivas e construtivas.
Às minhas queridas amigas, Carly, pelos momentos de ansiedade
compartilhados, e Lelê,
questionários.
pela enorme ajuda na distribuição dos
Ao Prof.. Reynaldo Canevari, meu solícito mestre, pela revisão da
versão final.
À CAPES pelo apoio financeiro, tomando viável a realização desta
pesquisa.
A todos que direta ou indiretamente contribuíram para o alcance
deste objetivo.
v
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO 1---------------------------------1.1. JUSTIFICATIVA E IMPORTÂNCIA DO TEMA 1.------------------1.2. OBJETIVOS DO TRABALHO 8
1.3. METODOLOGIA 9-------------------------------------1.4. HIPÓTESE DA PESQUISA 12-------------------------------1.5. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO 14
CAPÍTULO 2. MOTIVAÇÃO ..,--- 16
2.1. MOTIVAÇÃO EXTRÍNSECA, CONDICIONAMENTO E RECOMPENSAS 19
2.2 MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA 29-----------------------------2.2.1. A TEORIA DOS INSTINTOS DE KONRAD LORENZ 36
2.2.2. A TEORIA DA MOTIVAÇÃO E HIGIENE DE HERZBERG 41
CAPÍTULO 3. A ARTE 47-------------------------------------3.1. A IMPORTÂNCIA DA ARTE NA SOCIEDADE 47----------3.2. O PAPEL DO ARTISTA NA SOCIEDADE 53
3.3. A DANÇA ENQUANTO ARTE 56
3.4. A ADMINISTRAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES DE ARTE 60
3.4.1. AS ORGANIZAÇÕES DE DANÇA 62
CAPÍTULO 4. A PESQUISA 66
4.1. METODOLOGIA DA PESQUISA E DA COLETA DE DADOS 66
~.1.l. LIMITAÇÕES DESTE ESTUDO 66
~.1.2. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO E COMPOSIÇÃO DA AMOSTRA __ 68
~.1.3. A ELABORAÇÃO E A APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRlO 69
~.1.4. A ELABORAÇÃO E A APLICAÇÃO DAS ENTREVISTAS 72
4.2. RESULTADOS OBTIDOS NOS QUESTIONÁRIOS. 76
4.3. RESULTADOS OBTIDOS NAS ENTREVISTAS 85
III
CAPÍTULO 5. CONCLUSÕES 87
5.1. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS. 87
5.1.1. QUESTIONÁRIOS 87
5.1.1.1. VALIDAÇÃO DA HIPÓTESE PROPOSTA 89
5.1.2. ENTREVISTAS 91
5.2 CONCLUSÕES FINAIS 93
5.3. CONTRIBUIÇÕES DESTE ESTUDO E RECOMENDAÇÕES PRÁTICAS _96
BIBLIOGRAFIA 98
ANEXO I - ROTEIRO DE ENTREVISTAS 103
ANEXO 11- MODELO DE QUESTIONÁRIO 104
ANEXO UI - RESUMOS DAS ENTREVISTAS 105
ANEXO IV - RELAÇÃO DE GRUPOS DE DANÇA ENTREVISTADOS 110
ANEXO V- RESULTADOS OBTIDOS NOS QUESTIONÁRIOS 115
IV
CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO
1.1. JUSTIFICATIVA E IMPORTÂNCIA DO TEMA
Muito se tem falado sobre a importância da motivação em todos os
tipos de organizações, mas poucos têm se preocupado ein explorar este
conceito à luz das organizações de arte.
É dificil encontrar uma caracterização mais nítida das organizações
de arte. No seu sentido mais amplo, uma organização pode ser vista como
a detentora de elementos produtivos tais como dinheiro, materiais, pessoas
e muitos outros, de maneira a fazer com que estes elementos se ajustem .
visando a atingir os seus objetivos. Assim, é possível dizer que qualquer
empresa ou grupo seja uma organização social em miniatura,
freqüentemente vivenciando as tensões e conflitos da sociedade na qual
está inserida. O importante é que haja a consciência de um interesse
compartilhado.
"O homem da organização é o homem que pensa em grupo, que
toma decisões em grupo, que trabalha e se diverte em grupo, é o homem
cujos valores e crenças são os valores e crenças da organização que
participa, é o homem cujo comportamento é condicionado pela
organização. "1 Com isto, o autor ressalta a identidade que deve existir
entre uma organização e seus membros.
Partindo dos conceitos anteriores, é possível definir organizações
de arte como sendo grupos sociais que possuem metas e objetivos comuns
no tocante ao desenvolvimento de qualquer atividade artística, tendo em
vista criar condições e sistemas de operações nos quais as pessoas possam
melhor atingir as suas expectativas, orientando os seus esforços em
direção aos objetivos da organização. Elas devem ser um meio, um
recurso para que as pessoas atinjam os seus próprios objetivos, no
desempenho como atores.
As organizações de arte fogem completamente do conceito de
organização econômica tradicional, na medida em que, na maioria das
vezes, o seu objetivo principal não é a obtenção de lucro. A maioria dos
integrantes destas organizações busca a sua realização pessoal acima de
tudo.
Existem inúmeras organizações de arte, isto é, entidades que visam
a difundir a arte e criar um ambiente propício à realização. Assim,
algumas delas desenvolvem a sua atividade no setor de pintura, música,
artes plásticas, teatro, ópera, dança. É um campo muito amplo, e , assim
I MOTTA F.C.P., PEREIRA, LC.B. Introdução à Organização Burocrática. São Paulo:Brasiliense. 1986. p.16-17.
2
sendo, é possível estender tal conceito às organizações de dança vistas no
presente trabalho.
Quando se observa a história do desenvolvimento das organizações
de dança vê-se que a sua evolução se deu em diferentes etapas. Ao
contrário das organizações capitalistas, a importância e a valorização do
dinheiro não constituiu fator relevante ao seu desenvolvimento. É possível
perceber que existe alguma força interna, mais profunda e quase
inexplicável que levou tais organizações para frente. Esta força interna
nada mais é do que a motivação, que foi defmida por YOUNG como "um
processo que suscita ou inicia uma conduta, que sustenta uma atividade
em progresso e que regula a sua direção[ ...]. Em um sentido mais amplo, a
análise da motivação deve levar em conta todos os fatores que suscitam,
sustentam e dirigem o comportamento humano e animal. "2
Quando se fala em motivação, o que se procura na verdade é o
porquê das pessoas agirem de uma determinada maneira e não de outra.
Tenta-se identificar e definir as razões que as levaram a exibir um
determinado comportamento, isto é, descobrir os motivos existentes por
trás de qualquer ação humana.
2 citado por MADSEN,K.B. Teorias de la Motivacion: UI1 estudio comparativo de las teoriasmodernas de la motivacion. 2.ed.Buenos Aires: Paidos, 1972,p.49.
3
"O ser consciente, o homem, pode valorizar os seus desejos, que,
por sua vez, se tomam os determinantes íntimos das reações, os
motivos. "3
O motivo, então, nada mais é do que um fator interno, uma
necessidade ou um desejo, que faz as pessoas agirem, orientando o
comportamento. Isto explica as diferenças existentes entre as motivações
das pessoas, pois cada um possui motivos individuais que são diferentes
uns dos outros.
Assim, é possível dizer que o estudo da motivação é uma tentativa
de especificar os sentimentos, motivos e desejos que sejam relevantes às
ações e também os objetivos e propósitos nelas contidos.'
A motivação, segundo KOONTZ e 0'DONNELL5, é um processo
onde as necessidades dão origem a desejos, que causam tensões, que por
sua vez dão origem a ações que resultam em satisfação.
A motivação então assume um papel muito importante na
energização do comportamento, sendo que a sua direção será atribuída aos
3 DIEL. P. Psychologie de la motivation. 7ed. Paris: Payot, 1991, p.6.
4 HOYENG~ K.B.: HOYENGA, K.T. Motivationai Explanations of Behavior. California: Brooks/Cole Publishing Company, 1984, p.6.
5 KOONTZ, H.; O'DONNELL. C.:WEIHRICH, H. Administração: Recursos Humanos. 14 ed, SãoPaulo: Pioneira, 1987, p.137
4
estímulos externos e à aprendizagem.v Assim, não se pode confundir
quando o comportamento das pessoas é impulsionado por agentes
externos a elas, e quando ele deriva das suas forças internas e individuais.
Com isto, pode-se diferenciar dois tipos de motivação: a intrínseca
e a extrínseca. A motivação ..extrínseca é conceituada como aquela que
controla os comportamentos dos seres vivos por meio de reforços
externos, como é o caso de pagamento por produtividade. Por outro lado,
a motivação intrínseca é aquela que prescinde de reforçadores, não
havendo nenhum controle feito por variáveis extrínsecas do ambiente.
o presente trabalho explora o conceito de motivação intrínseca e
automotivação, apoiando o exemplo oferecido nas organizações de arte,
identificando os elementos que servirão de base para que seja possível
perceber a importância desse tipo de motivação especificamente nas
organizações de dança.
Com isto, toma-se necessário tentar esclarecer aquilo que leva um
bailarino a ensaiar cinco ou seis horas por dia, além de sábados, domingos
e feriados, sem retomo financeiro algum, na maioria das vezes até
pagando para dançar.
6 NUTfIN, 1. Origine et Développements des Motifs. In: ANCONA, L.ct alli. La Motivation. Paris:Presses U~tailfes de France, 1959. p.lll.
5
Todos aqueles que não foram contaminados por este vírus acham
esta atitude um pouco sem sentido, pois, como ressalta OSCAR WILDE:
"A experiência é uma vela que ilumina apenas a quem a conduz". 7
Realmente, há alguma força que impulsiona o bailarino para frente.
Este trabalho visa a pesquisar esta força que é tão difícil de ser
compreendida, que nada mais é senão um exemplo típico de motivação
intrínseca, um componente sempre presente na maioria das organizações
de arte.
Tendo em vista o objetivo proposto neste trabalho, toma-se
necessário analisar o papel que a arte desempenha na sociedade, para que
seja possível compreender melhor a importância e a contribuição da
presente pesquisa. Assim, este estudo oferecerá um panorama geral da
arte, sua evolução e sua importância, até que se chegue na dança, que
representa o nosso grande ponto de interesse. Será abordado, então, o
papel da motivação intrínseca, principal personagem neste cenário. Serão
utilizados como base os conceitos dos atos instintivos da teoria de Konrad
Lorenz, ganhador do prêmio Nobel de Medicina em 1973, e a teoria dos
fatores higiênicos e motivacionais de Herzberg. Este último, por
conseguinte, dará o embasamento necessário à pesquisa de campo
realizada, pois os questionários aplicados foram montados e analisados,
tendo, principalmente, como base a teoria da higiene de Herzberg.
7 citado por MATT AR, F. N. Pesquisa de Marketing. São Paulo: Atlas, 1993. vol.l p.51
6
Sob um aspecto prático, este trabalho visa a demonstrar a estreita
relação que existe entre a motivação intrínseca e a arte, contribuindo para
que se possa compreender qual é o papel desempenhado pela motivação
intrínseca neste tipo de organizações, e a sua magnitude, pois só assim
poderemos mensurar a sua importância.
7
1.2. OBJETIVOS DO TRABALHO
o objetivo principal desta dissertação é investigar a relação e
dependência da motivação intrínseca nas organizações de arte, fornecendo
subsídios para pesquisas futuras. Assim, a principal intenção é demonstrar
que a grande maioria dos profissionais de dança são levados somente por
fatores intrínsecos a desenvolver a sua arte. Para tanto foi realizado um
estudo exploratório, que teve como ponto de partida uma revisão
bibliográfica elaborada que pudesse apoiar a pesquisa de campo.
Partindo deste objetivo principal, este estudo tem como objetivos
secundários:
• caracterizar como as organizações de dança são estruturadas,
identificando os elementos que as compõem, bem como as suas
particularidades, como, por exemplo, a seleção, remuneração e
hierarquia;
• explorar os conceitos de motivação intrínseca e extrínseca;
• analisar como as teorias de K. Lorenz e F. Herzberg explicam a
motivação intrínseca.
8
1.3. METODOLOGIA
A metodologia adotada consiste em um amplo levantamento
bibliográfico complementado por pesquisa de campo. Como são
raríssimos os trabalhos existentes que tratam, especificamente, da
motivação na arte, a pesquisa exploratória foi adotada tendo em vista que:
"...no caso de problemas em que o conhecimento é muito reduzido,
geralmente o estudo exploratório é o mais recomendado. "8
MATTAR9 enriquece este conceito, enumerando vários objetivos
. da pesquisa exploratória, dentre os quais cita-se:
• esclarecer conceitos;
• auxiliar na determinação de variáveis relevantes a serem consideradas
num problema de pesquisa;
• familiarizar e elevar o conhecimento e compreensão de um problema
de pesquisa em perspectiva;
• auxiliar a desenvolver a formulação mais precisa do problema.
No tocante à revisão bibliográfica, foi feita pesquisa em artigos de
,periódicos especializados, livros e materiais, em bibliotecas e associações
8 SELLTIZ, c. WR1GHTSMAN, L. S., COOK. S. W. Métodos de Pesquisa nas Relações Sociais.São Paulo: E.P.U.! EDUSP. 1975. p.59.
9 MATTAR, F. N. Op. Cito p.19
9
vinculadas à área que ,tratem do assunto, que permitam selecionar,
analisar, articular e sintetizar estas contribuições existentes sobre o tema.
Há que se ressaltar a existência de limitações de bibliografia no tocante às
organizações de dança. É um tema pouco pesquisado na literatura, sendo
raras as revistas especializadas, e, ainda assim, não é dada a devida
importância. A exemplo disto, não foram encontradas pesquisas formais
sobre o assunto.
o tema motivação, entretanto, possui uma vasta e rica bibliografia,
não se pretendendo assim exaurir este assunto e, sim, focalizar os
aspectos relevantes à pesquisa em questão.
A pesquisa de campo foi realizada com grupos de dança, através de
questionários auto-preenchidos e entrevistas com diretores destas
organizações de arte, bem como com profissionais de renome nesta área
que já dirigiram ou, ainda, dirigem um grupo de dança. *
A entrevista continha perguntas abertas previamente definidas, mas
ao mesmo tempo deixou liberdade para o entrevistado responder e
expressar suas opiniões, crenças e valores de uma maneira mais flexível.
Os questionários foram distribuídos entre bailarinos participantes de
festivais nacionais de dança, nas cidades de Santos, Jundiaí, Piracicaba,
* Roteiro das entrevistas e Modelo dos questionários estão disponíveis nos anexos I e Il,respectivamente.
10
Joinvile e Florianópolis, bem como entre outros bailarinos em escolas de
dança visitadas durante a realização desta pesquisa.
11
1.4. HIPÓTESE DA PESQUISANeste trabalho procurou-se demonstrar que todos os profissionais
.de dança são levados principalmente por fatores intrinsecos a desenvolver
a sua arte. Ao longo da sua carreira, os bailarinos não se lançam de
maneira exclusiva na busca de fatores extrinsecos. Eles procuram
extravasar todo o sentimento que possuem, compartilhando com o público
que os assiste as suas descobertas e angústias, realizando-se, devido a
isto, como ser humano.
Portanto, a hipótese a ser testada é : "Os profissionais das
organizações de arte devem privilegiar sobretudo a motivação
intrínseca ."
Talvez seja possível explicar o porquê deste ser motivado pela arte
na grande maioria das vezes tenha que "pagar" para dançar, passe por
enormes dificuldades financeiras e não ganhe o suficiente para viver
decentemente.
Como é ilustrado por BASTIDE: "a dificuldade cada vez maior de
viver à custa da arte, obriga o artista a possuir um segundo oficio."JO
Muitos bailarinos se sujeitam a trabalhar nos mais diversos ramos e
horários para que possam continuar a desenvolver a sua arte. Assim, a sua
10 BASTIDE, R. Arte e Sociedade. 2.ed. São Paulo:USP, 1971, p.81.
12
tolerância para com fatores de motivação extrínseca, irrisórios, mostra
claramente o quanto ele privilegia a motivação intrínseca.
13
1.5. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
A dissertação é composta de cinco capítulos, sendo que o primeiro
traz uma introdução, a justificativa e importância do tema, os objetivos a
serem almejados e a metodologia utilizada, bem como a organização do
trabalho e a hipótese a ser testada.
Os dois capítulos subseqüentes constam de uma revisão teórica,
com todos os sub-itens pertinentes ao tema. O segundo capítulo discorre
sobre a motivação, intrínseca e extrínseca, sendo que as teorias de Konrad
Lorenz e de Herzberg são estudadas mais profundamente. Mostram as
suas diversas características e o seu papel fundamental na vida de
qualquer pessoa, mas, principalmente, na do artista, objetivando analisar
como a interação artista-motivação se processa.
No terceiro capítulo é abordado o tema arte, tentando identificar a
sua importância na sociedade e, conseqüentemente, a função do artista.
Para que ele possa transmitir sua mensagem a todos, três elementos são
essenciais: a emoção, a espontaneidade e a criatividade, que estão
diretamente ligadas à vida de um artista, sendo, portanto, inerentes a ele.
Na seqüência é estudado um modelo de grupo de dança, mostrando assim
a sua estrutura e o seu funcionamento.
O quarto capítulo corresponde à pesquisa de campo e à tabulação
de seus resultados.
No quinto capítulo são encontradas a análise e a interpretação dos
14
resultados obtidos na pesquisa, as conclusões e contribuições deste
estudo, recomendações práticas, bibliografia utilizada e anexos.
15
CAPÍTULO 2. MOTIVAÇÃO
Sou motivado quando sinto desejo, ou carência, ou anseio,ou desejo, ou falta. Ainda não foi descoberto qualquerestado objetivamente observável que se relacionedecentemente com estas informações subjetivas, isto é,ainda não foi encontrada uma boa definiçãocomportamental de motivação. MASLOW 11
Para tentar entender o complexo significado desta palavra, é
necessário tecer algumas considerações mais precisas sobre o tema.
Primeiramente, sabemos que os indivíduos são diferentes uns dos outros.
Cada indivíduo possui experiências individuais únicas, diferentes
expectativas e, conseqüentemente, se comporta de maneira diferente dos
outros.
o estudo da motivação diz respeito à pesquisa de quais os fatores
que os indivíduos perseguem para atender as suas necessidades
intrínsecas. É necessário conhecer as razões que levam as pessoas a
agirem de uma determinada maneira e não de outra. Cada pessoa está
voltada para a busca de fatores individuais que lhe tragam satisfação, e
que diminuam a tensão das suas necessidades mais prementes e menos
atendidas no momento.
As necessidades vanam de pessoa para pessoa, não existindo,
assim, espaço para generalizações. Da mesma forma, as maneiras através
11 MASLOW. A. H. Introdução à psicologia do ser. 2ed. Rio de Janeiro: Eldorado. s.d.,p.48
16
das quais os indivíduos buscam satisfazer suas necessidades também são
particulares e únicas. Quando se observa com atenção o comportamento
das pessoas ao realizarem um mesmo trabalho, nota-se que elas
apresentam diferentes desempenhos. Isto reflete as diferenças nas suas
motivações individuais. Exemplificando, um trabalhador A pode estar
satisfeito com o seu emprego. Ele é pontual, correto em suas ações, um
profissional habilidoso. Já o trabalhador B, além de possuir as
características do trabalhador A, se envolve completamente no seu
trabalho, não medindo esforços para a sua perfeita realização.
o desempenho, segundo VROOM e DECI12 , representa o produto
da capacidade individual de realizar um trabalho e da motivação de
utilizar esta capacidade. Contudo, os autores frisam que há a necessidade
de uma distinção clara entre a satisfação da pessoa com o seu trabalho e a
sua motivação para realizá-lo eficientemente. Portanto, fica nítido que
motivação e satisfação são elementos diferentes. O trabalhador A está
satisfeito com o seu trabalho, enquanto o trabalhador B, motivado.
Todas as ações das pessoas advêm dos seus desejos, ainda que
estes não estejam muito claros para elas. LEBOYER13 propõe que a
motivação seja um processo que implica vontade de efetuar um trabalho,
ou de atingir um objetivo, o que exige fazer um esforço, manter este
12VROOM, V. H., DECL E. L. Management and Motivation, Great Britain: Richard Clay Ltd.,1970, p.9-12
13LEBOYER, C. L. A crise das motivações. São Paulo: Atlas, 1994, p.40-42.
17
esforço até que o objetivo seja atingido, e consagrar a ele a energia
necessária. As pessoas consagram mais tempo às atividades para as quais
estão motivadas. Como completa a autora: "A motivação é, em última
análise, uma questão de repartição do tempo disponível."
Esta repartição do tempo disponível nada mais é do que a
disponibilidade interna de qualquer pessoa para atingir o seu objetivo, isto
é, a maneira através da qual ela disponibilizará seus esforços e a sua
energia. Corroborando com o exposto acima, MURRA yl4 propõe que os
usos que uma pessoa dá às suas capacidades humanas dependem da sua
motivação - seus desejos, anelos, carências, necessidades, ambições,
apetites, amores, ódios e medos. Assim, todas as capacidades dos seres
humanos podem ser usadas para uma grande variedade de fins distintos:
para planejar uma guerra, para confortar os enfermos, para gerar amizade
e ódio.
Cada pessoa é um ser único. Não se pode generalizar razões e
motivos pejos quais as pessoas fazem as coisas. "...as fontes de
motivação, assim como as razões de trabalhar e fazer esforços variam de
pessoa para pessoa. "15
14 MURRA Y, E. 1.Motivação e Emoção. 4. ed.Rio de Janeiro: Zahar, 1978, p.1I
15 LEBOYER L. C. Op. Cit. p.62.
18
2.1. MOTIVAÇÃO EXTRÍNSEC4, CONDICIONAMENTO ERECOMPENSAS
A falsa crença segundo a qual, através de umcondicionamento adequado, se pode exigir tudo do homeme se pode fazer dele o que se quiser está na base dosmuitos pecados mortais que a humanidade comete não sócontra a natureza em geral, como também contra anatureza do homem e sua mais profunda humanidade.LORENZl6
Em "Motivação", BERGAMINI17 mostra que existem dois tipos
distintos de comportamento: aquele que tipifica reação a estímulos
exteriores, isto é, as ações que são decorrentes de condicionantes externos
aos indivíduos, e o comportamento que tem suas origens nas forças
interiores de cada pessoa, sendo gerado de maneira espontânea como o
resultado de forças impulsoras internas. O primeiro tipo de
comportamento é chamado de condicionamento e o segundo de ato
motivacional.
É vital que se saiba diferenciar estes dois tipos de comportamentos.
Para que ocorra um condicionamento é necessário que exista um fator
externo, isto é, um fator extrínseco que recompense e leve os indivíduos a
agirem de determinada maneira. Na ausência ou eliminação deste fator
externo este comportamento tenderá a desaparecer. Portanto, na falta de
16 LORENZ, K. Os oito pecados mortais do homem civilizado. São Paulo: Brasiliense, 1988, p.97.
17BERGAMINI, C. Motivação. 3.ed. São Paulo: Atlas, 1993, p. 24-30.
19
um estímulo externo, isto é, fatores extrínsecos, não haverá a resposta
correspondente, que se traduz no comportamento desejado.
o ponto de partida das teorias do condicionamento foi a publicação
do experimento de Pavlov com cães em 1904, que foi chamado de
"Reflexo Condicionado". A comida foi aliada ao som de uma campainha,
que representa o estímulo externo e, após algum tempo, o cão salivava ao
ouvir a campainha, e não mais ao ver a comida. Esta condição externa,
campainha, fez com que o animal se comportasse da maneira prevista, que
era salivar. Na medida em que estes condicionantes externos eram
retirados, os comportamentos deles decorrentes diminuíam sua freqüência
de aparecimento, chegando até à extinção. Sem o som da campainha, o
cão não se movimentaria.
Seguindo a mesma linha de pensamento de Pavlov, Skinner
publicou ·em 1971 os resultados das suas pesquisas, que foram chamadas
de "Teoria do Condicionamento Operante ", onde foram trabalhados os
conceitos de reforços positivo e negativo. Os ratos e os pombos de seu
experimento eram recompensados com alimentos, considerados como
reforço positivo, caso bicassem, ou acionassem um certo dispositivo. Até
que se sentissem saciados, os animais aumentavam a freqüência da sua
repetição. Posteriormente, estes mesmos animais passaram a ser punidos
por um choque elétrico, reforço negativo, cada vez que acionassem o
mesmo dispositivo, fazendo com que esse comportamento desaparecesse.
Assim, o reforço positivo, vindo imediatamente após uma
determinada ação, tem o poder de aumentar a freqüência da sua repetição.
20
Inversamente, o reforço negativo, quando aplicado após um
comportamento específico, diminui a freqüência do mesmo, até à sua
extinção.
Os experimentos de Skinner foram importantes na medida em que,
a partir deles, deduziu-se que assim como ratos e pombos, as pessoas
também são levadas a se comportarem de maneira previamente planejada,
bastando para tanto que se controlem os reforçadores positivos e
negativos que receberão. Para os behavioristas, através da manipulação
das variáveis do meio ambiente, todos os homens podem ser controlados.
É o (que vem acontecendo hoje em dia com a maioria das
organizações. Assumindo a mesma postura dos behavioristas, elas cada
vez mais~se utilizam de fatores extrínsecos na tentativa de "motivar" os
empregados. 'São apresentados diversos "pacotes" de recompensas:
maiores salários, carros, viagens, prêmios de todos os tipos, é o famoso
"toma fá" dá cá!",que em nada ajuda a realmente motivar os firncionários,
só fazendo com que eles tenham o comportamento esperado enquanto
estes beneficios perdurarem.
Em um artigo de 1993 da Harvard Business Review, KOHN18
discorre sobre um tema essencial para este trabalho: a questão das
recompensas comomotivadores extrínsecos. Segundo ele, as recompensas
18 KOHN,. A . .!RorQue os Planos de Incentivo Não Funcionam. Revista de Administração deEmpresas: Sâo>~o: EAESPIFGV, \'.35, n. 6, nov-dez 95, p. 12 - 19..
21
não funcionam, só servindo para produzir uma submissão temporária, não
levando assim a nenhuma mudança significativa de atitude e
comportamento. Assim que as recompensas desaparecem, as pessoas
voltam a exibir os seus antigos comportamentos, pois elas não criam um
comprometimento duradouro a nenhum valor ou ação, apenas modificam
temporariamente aquilo que fazem. O autor vai mais longe, dizendo que
ficou comprovado em pesquisas que aqueles que esperam receber uma
recompensa por completar uma tarefa não se desempenham tão bem como
, aqueles que não esperam por nenhuma recompensa, havendo correlações
fracas e até mesmo negativas entre pagamento e desempenho. Enumera os
pontos segundo os quais as recompensas falham:
• "As recompensas punem- assim como as punições, as recompensas
também destroem a motivação, pois ambas são manipuladoras. Tanto a
sensação de ser controlado como o não recebimento da recompensa
esperada é a mesma coisa que ser punido.
• As recompensas rompem os relacionamentos- a luta e a competição
pelas recompensas, bem como a "classificação" de alguns funcionários
em detrimentos dos outros destroem a cooperação entre as pessoas,
onde cada um se toma um obstáculo ao sucesso do outro.
• As recompensas ignoram as razões- o sistema de recompensas se
tomou um substituto de mTI bom gerenciamento. Assim, o papel do
gerente está resumido a dar o incentivo, não havendo mais a
necessidade de oferecer aos funcionários apoio, feedback e
possibilidade de crescimento pessoal.
22
• As recompensas desestimulam o risco- as pessoas deixam de se
arriscar, de dar palpites, sacrificando assim a sua criatividade e
fazendo exatamente aquilo que são solicitadas a fazer, com o único
intuito de ganharem a recompensa: elas passam a buscar tarefas mais
fáceis e a tentar minimizar seus desafios, para que a recompensa
aumente. "Recompensas são os inimigos das descobertas'"?
• As recompensas corroem o interesse- os motivadores extrínsecos são
um pobre substituto do interesse genuíno pelo trabalho. Quanto mais
focado estiver o empregado na recompensa, menos interessado estará
no trabalho em si, pois é a recompensa que impulsiona o
comportamento e não o trabalho".
É neste costumeiro: "Faça isto e você receberá aquilo", que vemos
toda a energia do funcionário se canalizar "naquilo" representado pela
recompensa, ao invés de se concentrar "nisto", que é o seu próprio
trabalho. " O controle extrínseco, freqüentemente, faz com que as pessoas
focalizem somente os resultados, e isso as leva a caminhos mais curtos
que podem ser antiéticos, ou simplesmente Iamentáveis; fazendo assim,
estão extremamente distantes das experiências revigorantes que a
motivação intrínseca pode trazer. "20
19 CONDRY, 1., Citado em KOHN, A. Op. cu., p.I8
20 DECL E. Por que fazemos o que jazemos: entendendo a automotivação. São Paulo: NegócioEditora. 1998, p.54.
23
Este controle exercido externamente faz com que o homem perca o
seu referencial, anulando-se diante desta situação, perdendo assim toda a
sua autonomia e autenticidade.
o pior de tudo isso é que, sendo manipulado, o homem cada vez
mais passa a ser dependente e condicionado aos fatores externos. Ele
passa a agir levando em conta somente as recompensas que poderá
ganhar, não se sentindo uma pessoa realizada, com alta estima e amor
próprio elevados.
o resultado final de um sistema de recompensas raramente tem um
término feliz. O recompensado continua insatisfeito após um certo '
período, e o recompensador fica decepcionado pelo fato de ter dispendido
tempo, dinheiro e esforços em vão e frustrado por perceber que ele
absolutamente não possui o "poder" de motivar as pessoas.
LEBO VER mostra-nos que pensa desta mesma maneira:" É
necessário dizer que os sistemas de pagamento por peça e os prêmios por
produção, mesmo que sejam amplamente utilizados, têm suscitado
hostilidade do pessoal e a decepção dos executivos."21
KOHN conclui seu artigo frisando que as recompensas não
motivam as pessoas, elas apenas motivam as pessoas a conseguir
21LEBOYER. L. C. Op. Cit. p.132-133.
24
recompensas; que nenhum incentivo artificial está à altura do poder da
motivação intrínseca.
Neste ponto seria interessante citar a experiência de HARLOW. As
reações de um grupo de macacos manuseando jogos de quebra-cabeças,
sem oferecimento de qualquer recompensa extrínseca, foram observadas
por um certo período. Posteriormente, foi verificado que o fato de fornecer
aos animais recompensa alimentar para a solução do problema não
tomava a aprendizagem mais eficiente, mas fazia com que o
comportamento mudasse: "Os animais recompensados com alimentos só
usaram o quebra-cabeça para obter comida e mostraram pouco interesse
pela manipulação em si. Isto pode ser o que acontece quando uma
atividade intrinsicamente compensadora converte-se numa reação para
obter uma recompensa extrínseca. "22
Pelo exposto anteriormente, é possível dizer que as recompensas
produzem o efeito inverso daquele esperado. As pessoas começam a ver
sua atividade de maneira negativa, fazendo com que elas se desmotivem
paulatinamente, perdendo o interesse naquilo que fazem.
É incômodo admitir que o comportamento humano possa ser
direcionado através da manipulação de fatores ambientais, sendo,
portanto, dirigido por pessoas que controlam as variáveis do meio
ambiente, como se ele não tivesse vontade e liberdade.
25
SKINNER pondera acerca desta questão:
A dignidade e o valor de uma pessoa parecem ameaçados ao surgiremindícios de que seu comportamento pode ser atribuído a circunstânciasexternas. Realmente, temos tendência a elogiar alguém quando seus feitosse devem a forças sobre as quais ele não tem controle. Confrontamo-nosparcialmente com esses indícios, por admítirmos que o homem não élivre.23
A colocação acima leva a perplexidade. Ela sugere que é como se o
homem caísse todos os dias nas suas próprias armadilhas, deixando de ter
. vontade própria e passando a agir de acordo com os estímulos externos,
indo para onde o vento o leva, ou, como se diz popularmente, "dançando
conforme a música".
Cabe ressaltar que o livro deste autor tem como título original
Beyond Freedom and Dignity (Além da Liberdade e da Dignidade).
Há autores que interpretam a colocação de Skinner:
"A impressão geral é a de que haja sempre uma necessidade de se
estar constantemente precisando empurrar ou puxar as pessoas para que
elas se ponham em movimento. Caso esses agentes externos desapareçam,
as pessoas param, pois sua energia pessoal está fora delas. "24
22 MUiRRAY, E. Op. Cit. p.126.
23 SKINNER. B.F. () mito da liberdade. Rio de Janeiro: Bloch, 1971. p.39.
24 BERGAMINI. C. Op. cu. p. 32.
26
Dessa forma, é possível verificar que, através do controle adequado
das variáveis extrínsecas, toma-se viável levar os indivíduos a exibir ou
não um determinado comportamento. Entretanto, isto nada mais é do que
uma reação aos fatores externos, e, sendo assim, não é motivação, pois a
energia empregada na respectiva ação não vem dentro da pessoa.
Conclui-se, então, que os fatores extrínsecos, tais como salários,
segurança, condições de trabalho, políticas organizacionais, estabilidade
no emprego e outros agem apenas como fatores de condicionamento e
movimento, isto é, como reforçadores do comportamento, não
aumentando assim a satisfação motivacional.
Há grande diferença entre o Movimento causado pelas reações aos agentescondicionantes extrínsecos ao indivíduo e a Motivação que nasce dasnecessidades intrínsecas e que encontra sua fonte de energia nasnecessidades e emoções. Sob esse aspecto só se pode falarem verdadeiramotivação quando ela for compreendida como algo interíor a cadapessoa.ê>
LEBOYER ilustra estas colocações de uma maneira bem peculiar.
Diz a autora: "Assim como não se muda a sociedade por decreto, não se
motiva os indivíduos com regulamentos e punições, com cenouras e
bastões.(. ..). A prova disso é que existem tarefas que se está pronto a
25 Ibidem, p. 39.
27
cumprir de maneira totalmente desinteressada e outras que não se levará a
cabo nem por todo o ouro deste mundo. "26
Caso se analise com atenção o parágrafo anterior, descobre-se que
a autora faz uma distinção clara e lógica entre a motivação extrinseca e a
motivação intrínseca. Em outras palavras, não há nada oriundo do meio
ambiente que possa motivar uma pessoa a fazer alguma coisa que ela não
queira. Embora talvez até a faça, isto não quer dizer que ela está
motivada. Conclui-se daí que somente uma genuína motivação intrínseca
leva uma pessoa a lutar pelo seu próprio objetivo sem se preocupar com
os fatores extrínsecos, pois estes não são essenciais para a sua realização.
O profissional das organizações de dança, pelo fato de não possuir,
na maioria das vezes, remuneração ou recompensas, é um exemplo típico
de um trabalhador intrinsicamente motivado. Nada mais importa para ele,
desde 'que possa desenvolver o seu trabalho com empenho e dedicação.
26 LEBOYER, L. C. Op. Cito p.13.
28
2.2 MOTIVAÇÃO INTRÍNSECA
As atividades intrinsicamente motivadas são aquelas para as quais nãoexiste recompensa aparente, exceto a atividade em si mesma. As pessoasdemonstram engajar-se a essas atividades em seu próprio beneficio e nãoporque elas levem a recompensas extrínsecas(. ..). Pode-se observar quenão existe recompensa aparente e que a pessoa está conseguindosatisfação na atividade em si. DECI27
Segundo ARCHER28, a motivação pode ser conceituada como uma
inclinação para a ação que tem origem em um motivo, que é a
necessidade. Esta necessidade é chamada de motivador. A antítese da
motivação é a satisfação, isto é, quando a necessidade é satisfeita o
motivo desaparece, fazendo com que outro surja em seu lugar, passando a
ser o centro de organização do comportamento.
Portanto é possível definir satisfação como sendo o atendimento de
uma necessidade ou a sua eliminação. Exemplificando, a água é o fator de
satisfação de uma necessidade denominada sede: o motivador é a sede,
sendo esta a necessidade que está motivando o comportamento de busca
do fator de satisfação, e não aquilo que satisfaz a necessidade, que no
caso, é a água. Dando um outro exemplo, a necessidade de afeto motiva
lUTIapessoa a buscar o seu respectivo fator de satisfação representado
pelo reconhecimento.
27DECI. E.L. lntrinsic motivation. New York: Plenum Press, 1975, p.19
28 ARCHER. Ernest R. o Mito da Motivação. In: BERGAMINL Cecília. CODA. Roberto.Psicodinámica da Vida Organizacional: Motivação e Liderança. 2.ed. São Paulo: Atlas.1997, p.23-'+6.
29
o autor em seu trabalho " O mito da motivação", expõe algumas
interpretações enganosas a respeito do assunto. Dentre elas, a crença de
\ que uma pessoa pode motivar a outra.
~ Ele propõe que a motivação nasça somente das necessidades
humanas e não daquelas coisas que satisfazem estas necessidades. Sendo
assim, as necessidades humanas são conseqüência da natureza intrínseca
da pessoa. Ela é (mica, pessoal e intransferível. Portanto, ninguém pode
criar uma necessidade dentro de outra pessoa, como também não pode
criar a fome, a sede ou o impulso sexual, que são os motivadores. Só é
possível oferecer fatores de satisfação como comida e água, ou fatores de
contra-satisfação como areia e vinagre.
Assim, a única coisa que se pode oferecer à pessoa motivada são os
fatores de satisfação e de contra-satisfação, urna vez que as necessidades
humanas não são conseqüência direta nem da satisfação e nem da contra-
satisfação. O fator de satisfação diminui a tensão da necessidade através
da elevação do nível de satisfação. Já o fator de contra-satisfação aumenta
a tensão da necessidade através da diminuição do nível de satisfação.
Conclui-se, então, que as necessidades existem porque a pessoa
existe. Não é possível fazer com que uma necessidade ou que uma
motivação passe a existir.
Ora, se a motivação nasce das necessidades humanas, depreende-se
que nào é possível criar necessidades dentro de uma pessoa. Assim sendo,
não é possível motivá-la.
30
A motivação tem como principal função a energização do
comportamento, mas são os fatores de satisfação e de contra-satisfação os
determinantes do comportamento dos indivíduos, tanto positiva quanto
negativamente. Ele será positivo se o intelecto assegurar satisfação para a
necessidade, e será negativo se o intelecto se confrontar com fatores de
contra-satisfação no atendimento desta necessidade.
É aqui que se encontra a chave da principal discussão sobre o tema.
Ao ver as pessoas se comportarem positivamente devido ao oferecimento
de fatores de satisfação extrínsecos tais como prêmios ou recompensas,
conclui-se, prepotentemente, que elas estão motivadas, ou pior, que
alguém as motivou.
BERGAMINJ29 sugere que a motivação é um impulso que vem de
dentro e que tem suas fontes de energia no interior de cada pessoa. Para
isso, ela precisa estar envolvida espontaneamente neste processo:
Parece mais cientificamente justo considerar que a motivação do serhumano seja uma função tipicamente interior a cada pessoa, como umaforça propulsora que tem suas fontes freqüentemente escondidas nointerior de cada pessoa e cuja satisfação ou insatisfação fazem parteintegrante de sentimentos experimentados tão-somente dentro de cadauma.
Com isso, se pretende evidenciar que as pessoas não fazem as
mesmas coisas pelas mesmas razões, tendo em vista que são diferentes
29BERGAMINI. C. Op. Ciro p.38
e
31
umas das outras desde o momento da sua fecundação, o que lhes confere
personalidades distintas. Assim, cada indivíduo possui expectativas
particulares e está empenhado na busca dos seus próprios fatores de
satisfação motivacional que são ímpares.
É muito fácil perceber no dia-a-dia das pessoas que há uma
incessante corrida para a realização de seus desejos, o que faz com que
muitas atitudes, vistas de fora, pareçam sem sentido. Assim, cada um
busca dentro de si aquilo que necessita para alcançar o que tanto deseja.
GOOCH e MCDOWELL30 têm opiniões que seguem esta mesma linha:
"A motivação é uma força que se encontra no interior de cada pessoa e
que pode estar ligada a um desejo. Uma pessoa não pode jamais motivar
outra, o que ela pode fazer é estimular a outra. "
NUTTIN, com o intuito de exemplificar a motivação intrínseca,
transcreve uma frase do místico Bernard de Clairvaux, que escreveu no
século XII: "O amor não precisa nem de causa nem de uma recompensa
externa; sua recompensa está em amar. Eu amo porque amo. Eu amo para
amar":"
Assim, toda atividade intrinsicamente motivada é espontânea e
gratuita, isto é, não necessita de reforços para se manter. É baseada,
,.)
\'../
30GOOCH, B.G.; McDOWELL, P.l Use anxiety to motivate. Personnel JournaI. USA, Apr.1988,p.51
31NUTTIN,l Teoria da A/ativação Humana: da necessidade ao projeto de ação. São Paulo: Loyola,1983, p.99.
32
fundamentalmente, nas necessidades do organismo de ser competente e
autodeterminado.v Toda pessoa precisa se sentir eficaz naquilo que faz, e
a ação é autônoma, isto é, não ocorre devido a controles e recompensas.
DECI propõe que uma pessoa motivada é um ser autônomo, isto é,
age de acordo com o próprio ser, sentindo-se livre e volitivo em suas
ações. "Quando autônomas, as pessoas estão inteiramente dispostas a fazer
o que estão fazendo e elas abraçam a atividade com um senso de
interesse e comprometimento. Suas ações emanam do verdadeiro senso de
si mesmas, portanto elas estão sendo autênticas. "33 O autor frisa a
importância da autonomia e da autenticidade, pois somente através delas o
ser humano se torna o autor de suas próprias ações, agindo de acordo com
o seu eu verdadeiro. A automotivação, que advém da criatividade,
responsabilidade, comportamento saudável e mudança duradoura, tem
como base a escolha feita por cada um, representando assim a chave da
autodeterminação e autenticidade. 34
É possível afirmar que os profissionais das organizações de arte são
automotivados, pois, em sua grande maioria, se entregam por completo às
suas atividades, deixando-se envolver completamente. Eles assumem a sua
32 DECL E. L., RYAN, R. M. intrinsic Motivaüon and Self- Determination in HUl11anBehavior.New York: Plenum Press, 1985, p.5-~O.
33 DECI, E. Por que fazemos (} que fazemos: entendendo a automotivação. São Paulo: NegócioEditora, 1998, p.14.
34 Ibidem, p.2I.
33
arte como opção de vida, fazendo com que todo o restante não tenha
importância.
Quando se fala de motivação, também não se pode deixar de
analisar o importante papel que as emoções e os sentimentos
desempenham em um comportamento intrinsicamente motivado. Assim, os
processos emocionais - interesse, excitação, alegria, e outros, constituem a
base de um comportamento intrinsicamente motivado. Não existe, por esta
razão, motivação sem emoção. Ela vem de dentro de cada um, e faz
sentido quando a pessoa se dedica a atividades de que gosta
"simplesmente pelas sensações de emoção, realização e satisfação pessoal
que as acompanham. "35
Também pode-se citar as teorias hedonistas de motivação, onde
esta seria entendida como uma constante busca do prazer ou uma
constante fuga da dor. Segundo COFER 36, os trabalhos de Young. e
McClelland procuraram buscar esta associação mostrando que fatos
desagradáveis tendem a ser evitados a qualquer preço. Young defende que
este prazer é um importante fator na organização, direção e energização
do comportamento. McClelland, utilizando-se dos mesmos conceitos, diz
que a maneira de uma pessoa se comportar associada com as experiências
35 Ibidem. p.31.
36 COFER. C.N. Motivation & Emotion. USA: Scott, Foresman and Company, 1972, p.94.
34
de prazer, ou de dor, pode provocar antecipações dos mesmos,e, portanto,
faz com que o seu significado a aproxime ou a faça evitar aquela situação.
VERNON propõe que a motivação parece variar, quanto à
obtenção de um objetivo, desde a que move os indivíduos mais altamente
dotados até a do trabalhador eventual que passa sem objetivo de um
trabalho para outro. "Estas marcantes diferenças individuais são em parte
uma função da inteligência e da habilidade, mas também em parte uma
função de variadas formas de motivação e do grau de energia ou ativação
destas formas. "37 O autor afirma que a atividade orientada para um fim é
controlada por uma intenção consciente de se alcançar certos objetivos
por meio de ações especificamente escolhidas.
Assim, a motivação persistente voltada para um objetivo opera mais
fortemente na escolha e busca de carreiras profissionais que envolvam,
além de um grande interesse, motivação criativa e exploratória: "...as
pessoas que desejavam fazer carreira na arquitetura, no teatro e nas artes
possuíam ardentes desejos de auto-expressão e criatividade. "38 Neste
contexto, a necessidade de realização com a necessidade de
autodesenvolvimento dá lugar a uma forma específica de comportamento
intrinsicamente motivado.
37 VERNON, M. Motivação Humana: aforça interna que emerge, regula e sustenta todas as nossasações. Petrópolis: Vozes. 1992. p.199-224
38 Ibidem, p.22~\-,
35
É justamente aqui que as organizações de dança se encaixam, pois
os seus integrantes buscam a sua realização e o seu autodesenvolvimento
acima de tudo, o que faz com que seus comportamentos sejam
intrinsicamente motivados. As pessoas buscam no ambiente aquilo que é
necessário para o atendimento de suas necessidades ou carências pessoais.
Isto é o que diferencia uma pessoa da outra, fazendo que cada um seja um
ser completo e diferente do outro.
É possível reforçar a afirmação anterior com esta frase de Lorenz:
" O amor próprio do homem normal exige, com todo o direito, a
afirmação de sua individualidade. "39
Somente através desta individualidade inerente ao homem é que ele
conseguirá descobrir, no seu interior, aquilo que ele deseja atingir, bem
como os caminhos que deverá percorrer.
2.2.1. A TEORIA DOS INSTINTOS DE KONRAD LORENZ
Não é possível falar que a motivação seja lUTI fenômeno interno
caso se deixe de citar a enorme contribuição de Konrad Lorenz.
Assim como outros etologistas, ele observou detalhadamente o
comportamento de animais, procurando descobrir e sistematizar as causas
de seus comportamentos em seus hábitats naturais. Daí surgiu o conceito
39 LORENZ, K. Op. cu.. p.30.
36, ,l
I 'I
de. instinto:" um comportamento inato, específico e estereotipado(...),
que tem a sua própria energia que é liberada,( ...), por um estímulo
específico vindo do meio ambiente."40. Segundo ele, os sistemas de
instintos amnentam a habilidade do homem em adaptar-se ao ambiente.
Contudo, diferencia instintos de outras formas de reações inatas, como
reflexos e movimentos endógenos involuntários, como salivar ou respirar,
que representam mecamsmos de respostas espontâneas para a
sobrevivência do indivíduo e da espécie, e preservação do equilíbrio
homeostático.
É necessário entender que o instinto, como sendo um padrão de
comportamento que é inerente a uma espécie específica, possui uma
energia própria a ser liberada de dentro para fora. Ele passa, assim, a
governar e orientar a motivação. Assim, existe um tipo de energia interna
em cada indivíduo que gera uma tensão e o leva a adotar um
comportamento que visa a atender e rebaixar esta tensão interior.
". a cada uma dessas designações para estados de alma e/ou disposiçõespara certas ações corresponde um sistema real de estímulos no qual, a umprimeiro contato, não é necessário estabelecer a proporção do que égeneticamente determinado ou culturalmente adquirido. Podemos admitirque cada um destes impulsos é membro de um sistema que trabalhaordenada e harmoniosamente e, como tal, é indispensável+
40 COFER. C.N.: APPLEY. M.H: Motivation: Theory and Rechearch. USA: 101m Wiley & Sons Inc,1964. p.60.
41 LORENZ. K. Op.Cit. p.16.
\ ../
i •
37
o estímulo, como se pode notar, faz o caminho inverso do instinto:
ele parte do meio ambiente para dentro do indivíduo, fazendo-o dirigir-se
na busca da satisfação deste estímulo específico.
A teoria etológica afirma que os atos instintivos são governados,
principalmente, pelo sistema nervoso central, e não pelos periféricos. É
como se existisse uma energia controlada e acumulada, sendo ela
descarregada à medida em que as necessidades mais latentes fossem
surgindo.s-
Pode-se notar aqui uma certa semelhança entre os estudos dos
etologistas, e os estudos de Maslow e Archer, onde, embora não falassem
de instintos, desenvolveram também uma hierarquia de necessidades, onde
a necessidade de uma pessoa com nível mais alto de energia é aquela que
apresenta o menor grau de satisfação e então será tomada como o centro
ou organizador do comportamento. Após a sua satisfação, deixa de ser
uma prioridade, e outra necessidade surge em seu lugar, e assim por
diante.
Entretanto, ARCHER43 propõe que a necessidade, não podendo
cnar satisfação por si mesma, e nem dirigir o comportamento, vai
depender diretamente do intelecto. Assim, a energia da necessidade é
transmitida ao intelecto, que terá todos os seus processos e funções
42 COFER. C.N.: APPLEY. M.H. Op. Cit. p.86.
43 ARCHER. E. R. Op. Cit. p.31-33.
38
dirigidos no sentido da satisfação das necessidades mais prementes não
satisfeitas. A função do intelecto é detectar as necessidades das pessoas,
priorizar estas necessidades e encontrar satisfação para elas.
Lorenz fez um experimento com periquitos, onde um macho exibia
uma conduta de cio quando era pendurada dentro de sua gaiola uma bola
de plástico verde, no lugar da fêmea. Daí, concluiu que o periquito possuía
um estado interno de carência, representado pelo cio, que depois de
atribuído o seu valor, gerou uma conduta de busca visando encontrar no
meio-ambiente o esquema produtor representado pela bola verde
pendurada.
No momento em que o esquema produtor atende à carência interna
específica dá-se o ato instintivo e aquela conduta de busca desaparece . É
interessante notar que se busca no meio ambiente um objetivo que é
específico e único, por ter um conjunto de características particulares. No
exemplo do periquito, possuir cor verde, ser uma esfera, e estar suspensa.
Se alguma destas características não existir, o ato instintivo não ocorre.
É importante ressaltar que não foi o esquema produtor, isto é, a bola verde.e pendurada que despertou a conduta de busca, mas o estado interno decarência que fez com que o animal valorizasse esse esquema produtorespecífico externo a ele. Se a carência interna fosse outra, certamente oesquema produtor perseguido também seria outro.v'
44 BERGAMINl C. Op. Cit. p. 40-41.
39
Assim como o periquito da experiência anterior, os profissionais
das organizações de arte buscam um esquema produtor específico para as
suas carências internas.
As atividades passam, assun, a ser independentes de estímulos
externos, pois existe uma fonte excitante e ativa que influencia todo o
organismo, o qual podemos chamar de motivo ou propósito. O
comportamento tenta, então, por diferentes movimentos, atingir um
objetivo específico. O que irá determinar o seu término será o atendimento
do objetivo, ou a completa exaustão do animal."
Fazendo uma ponte entre os atos instintivos e os atos motivacionais,
o ser humano também possui um estado de carência que só será suprido
através da busca do seu esquema produtor, que nada mais é do que o seu
fator de satisfação. Quando há o encontro da necessidade com o fator de
satisfação, dá-se o .ato motivacional. A direção da busca é determinada
por um fator interno e individual, isto é, dentro de situações idênticas, os
indivíduos possuem atitudes diferentes. Outro fator importante a ser
considerado é que caso haja a ausência de algum destes dois elementos,
ou seja" necessidade interna e fator de satisfação, o ato motivacional não
ocorrerá, e, conseqüentemente, a necessidade continuará a existir.
45 LORENZ, K An Energy Model of Instinctive Actions. In: BINDRA D.: STEWART, JMotivation. 2ed. Great Britain: Hazell Watson&Viney Ltd, 197Lp24-26
(
40
Convém novamente acrescentar que não se cria a necessidade pelo
oferecimento do fator de satisfação, tendo em vista que ela surge de
dentro para fora, como resultado das carências internas.
2.2.2. A TEORIA DA MOTIVAÇÃO E HIGIENE DE HERZBERG
... posso carregar a bateria de um funcionário, depoisrecarregá-la e tomar a carregá-la cada vez mais. Massomente quando ele tiver o seu próprio gerador é quepoderemos falar em motivação. Não precisará, então, deestímulo externo. Ele terá vontade de executar as tarefas.HERZBERG46
Herzberg realizou um estudo no qual ele testou o conceito de que o
homem tem dois tipos de necessidades: suas necessidades como um
animal para evitar o sofrimento, e suas necessidades como um humano
para crescer psicologicamente.t? Neste estudo foram entrevistados 200
engenheiros e contadores de um determinado setor industrial, onde eles
relataram fatos que lhes trouxeram um aumento na sua satisfação no
trabalho, e outros que por sua vez a reduziram. Os resultados desta
pesquisa foram demonstrados no quadro da Figura 1.
Através deste estudo, Herzberg notou que alguns fatores
demonstraram ser fortes determinantes de satisfação no trabalho. Foram
eles o reconhecimento, a realização, o trabalho em si, a responsabilidade, \) ;
46 HERZBERG, F. Novamente: como se faz para motivar funcionários? Biblioteca Harvard deAdministração de Empresas. \'.1. n.l3. USA 1975. p.4.
47 HERZBERG, F. The Motivation-Hygiene Theory. In: VROOM, Y.H. ; DECI. E.L. Managementand motivation. Inglaterra: Richard Clay Ltd.. 1970.p.86-90
,~"
41 .~.. i
o desenvolvimento e o progresso, sendo que os três últimos foram de
grande importância para uma mudança de atitude duradoura. Já os fatores
que causaram insatisfação, tais como políticas e administração da
companhia, supervisão, salários, relações interpessoais e situação,
segurança e condições de trabalho, produziam mudanças efêmeras nas
atitudes no trabalho.
Fatores que provocaram extrema insatisfação Fatores que provocaram extrema satisfação
40% 30 20 10 O 10 20 30 40%Realizaçãb
I JReconh tcim ento
l JTraball1.o em si
I IRespon abilidade
I JPrQNedo
, I_I olítica e adr i in istracão da emnreaar J
SuoervisãJ técnicaI
.SalárloI
R.e ações intern lessoaisI I
Coddições de II balhoI I
oMotivadores
OHigiênicos
Figura 1 - Comparação entre fatores higiênicos e motivadores. Adaptado deMcGregor, Douglas, Motivação e Liderança. São Paulo: Brasiliense, 1973,. p. 221.
É possível notar que os fatores que causam satisfação descrevem a
relação do homem com aquilo que ele faz, como,por exemplo, o conteúdo
do seu trabalho, a realização de uma tarefa, o reconhecimento por esta
42
realização, a natureza e a responsabilidade envolvidas, e o progresso e o
crescimento de suas capacitações.
Por sua vez, os fatores de insatisfação descrevem a relação do
homem com o ambiente e o contexto no qual ele o realiza. Estes fatores,
tendo pouco efeito sobre atitudes positivas, servem basicamente para
prevenir a insatisfação no trabalho, e, por isso, foram chamados de fatores
de higiene. Eles, basicamente, satisfazem os anseios do homem de evitar
aborrecimentos, tomando as suas vidas higienicamente limpas."
Os fatores de satisfação tomam as pessoas realizadas com seus
serviços, porque atendem à necessidade básica e humana de crescimento
psicológico, uma necessidade de se tomar mais competente-v. Assim,
foram chamados de motivadores, pois eles são eficazes em motivar as
atitudes e esforços no trabalho.
ti Por sua própria natureza, os motivadores, em oposição aos fatores
de higiene, exercem um efeito muito mais duradouro nas atitudes dos
empregados.v".
O estudo conclui, então, que são os fatores de higiene que afetam a
insatisfação no trabalho, e os fatores de motivação que afetam a
48 HERZBERG. F. o conceito da higiene como motivação e os problemas do potencial humano detrabalho. In: HAMPTON. D. Conceitos de comportamento na administração. São Paulo: EPU. 1973.p.S8.
49 Ibidem. p.S8.
"':
43
satisfação. Assim, Herzberg tentou mostrar que os fatores capazes de
produzir satisfação e motivação no trabalho são independentes e distintos
dos fatores que conduzem à insatisfação no trabalho. Estes dois
sentimentos não são opostos um ao outro, pois "o oposto de satisfação
profissional não seria a insatisfação, mas, sim, nenhuma satisfação
profissional, e da mesma maneira,o oposto da insatisfação profissional não
seria a satisfação, e, sim, nenhuma insatisfação no trabalho>'. Isto significa
que "aquilo que deixa as pessoas insatisfeitas quando está ausente, não as
satisfaz quando presente. E aquilo que deixa as pessoas satisfeitas quando
presente, não as deixa insatisfeitas quando ausente."52
Os fatores higiênicos, assim, neutralizam os efeitos da insatisfação,
garantindo que as pessoas se sintam bem e motivadas para atingir seus
verdadeiros objetivos.
Segundo Herzberg, não há nada de errado em oferecer o máximo de
vantagens higiênicas ao empregado. O que está errado é a soma de
necessidades humanas em termos higiênicos. O que realmente poderia
motivar os empregados a trabalharem de uma maneira eficaz, seria dar-
lhes condições propícias para que seu serviço permita um sentimento de
50 Idem. Novamente: como se faz para motivar funcionários? Op. Ci t. p.13.
51 Idem.. O conceito da higiene como motivação e os problemas do potencial humano de trabalho.Op. Cit. p.54.
52BERGAMINI. C. A dificil administração das motivações. Revista de Administração de Empresas,São Paulo: EAESPIFGV \'.38. n. I, p.13, jan./mar. 1998.
44
realização, responsabilidade, crescimento, promoção, prazer com o
próprio trabalho e reconhecimento merecido».
Há autores que analisam a questão dos fatores de higiene de
Herzberg, dizendo que fatores extrínsecos como salários, segurança,
políticas organizacionais, relacionamentos interpessoais e condições
ambientais de trabalho não motivam ninguém, eles apenas fazem com que
as pessoas se movimentem ao buscá-los, ou a lutar por eles quando os
perderem. Assim, eles não trazem satisfação, mas a sua inexistência causa
grande insatisfação. As condições extrínsecas favorecem simplesmente um
bom tratamento às pessoas, neutralizando e mantendo suas insatisfações
em níveis baixos, mas não oferecem oportunidade de satisfação das
verdadeiras necessidades psicológicas. 54
É possível concluir, então, que fatores higiênicos e motivacionais
são diferentes e opostos por natureza. A insatisfação no trabalho advém
dos fatores higiênicos ou extrínsecos, que não motivam, pois vêm do meio
ambiente. Sua presença não garante a satisfação, e, sim, nenhuma
insatisfação. Os fatores motivacionais, por sua vez, garantem a satisfação
no trabalho. Correspondem aos fatores intrínsecos, tendo sua origem no
interior de cada indivíduo, sendo que somente eles são capazes de
conduzir à verdadeira motivação.
53 MYERS. M.S. Quem são os seus trabalhadores motivados? In: HAMPTON. D. Conceitos decomportamento na administração. São Paulo: EPU, 1973, p.63.
45
Na arte, e, especificamente, nas organizações de dança, os fatores
de higiene postulados por Herzberg tais como salário, segurança,
condições de trabalho, entre outros, não assumem um papel de destaque
na consecução dos objetivos destas organizações. Os fatores
motivacionais, por sua vez, aparecem como primordiais e indispensáveis.
Estes profissionais buscam a auto-realização, o reconhecimento, e
consideram a sua atividade insubstituível.
54 BERGAMINJ, C. Motivação. Op. Cit. p. 33-34.
46
CAPÍTULO 3. A ARTE
3.1. A IMPORTÂNCIA DA ARTE NA SOCIEDADE
o objetivo de pintar um quadro não é fazer uma pinturapor mais estranho que isso possa parecer. O quadro, se foresse o resultado, é um subproduto que pode ser útil,valioso e interessante como um sinal do que se passou. Oobjetivo, que está por trás de toda verdadeira obra de arte,é a realização de um estado de ser, um alto estado defuncionamento, um momento de existência mais do que oordinário. HENRI55
Talvez um dois maiores desafios deste trabalho seja fornecer uma
definição de arte. Mesmo partindo do pressuposto que todos saibam, ou
presumam saber o que é arte, nota-se que há muitas divergências nesta
definição, que esta palavra vem sendo utilizada de modo errôneo e
divergente. A razão disto se deve ao uso desta palavra ao longo da história
ocidental.
Segundo GALEFFJ56, os antigos clássicos faziam uma distinção
entre arte e não-arte. Assim, todo produto advindo do homem consciente
era considerado como arte. A não-arte se resumia, então, a todo produto
decorrente da natureza ou do acaso. Nota-se aqui que não havia uma
distinção entre arte e técnica, isto é, não se reconhecia diferença alguma
entre o artista criador e o artesão habilidoso. Também não existia o
55 In: DECL E. Op. cu. p.31.
56 GALEFFL R. Fundamentos da criação artística. São Paulo: Melhoramcntos.1977. p.152-153.
47 , ~}
J '
conceito de belas artes; todas as artes eram artes de USO.57 As artes eram
produtos com propósitos específicos como quaisquer outros produtos,
sendo julgadas pela eficácia na consecução dos objetivos para os quais
tinham sido feitas.
A partir do século XIX, adotou-se uma distinção entre as belas-
artes e todas as outras artes. Somente as belas-artes foram rotuladas com
o nome de arte em contraposição aos oficios, que não foram considerados
dignos desta nomenclatura. Este divórcio dos artistas e dos artesões não
perdurou muito tempo, já que no fim deste mesmo século, a reabilitação
dos oficios invalidou novamente a distinção entre artes e oficios, fazendo
com que o conceito clássico de arte, com toda a sua ambigüidade, voltasse
a ressuscitar.
Ora, toma-se dificil traçar lllna definição objetiva se é levado em
conta, isoladamente, a habilidade técnica, ou o sentimento estético que
advém de um impulso criador. "Mas a arte e o valor artístico não são
garantidos apenas em função de definições extrínsecas, como se, em
virtude de suas respectivas fmalidades, as artes belas fornecessem
suficiente prova de autenticidade estética e como se - pelo contrário - as
chamadas artes menores determinassem uma radical impossibilidade de
realização do valor artístico".58O que realmente importa é a qualidade do
57OSBORNE. H. Estética e Teoria da Arte: lima introdução histórica. 2.ed. São Paulo: Cultrix,1974. p.31.
58GALEFFI. R Op. Cit. p.I53.
48
ato criador artístico, onde o artista ou artífice expresse e exteriorize para
os outros um autêntico sentimento estético, que se liberte de toda
limitação preliminar. O autor termina por definir a arte como toda a
produção de beleza pela mão do homem, que implica um ato de expressão
e se completando numa subseqüente comunicação. O valor intrínseco de
uma obra de arte não deve ser medido exclusivamente pelo resultado, mas
também pelo grau de consciência que dirigiu o processo criativo .
... não existe, a rigor, nenhuma obra de arte que não tenha tido origem deum pessoal e singular ato de escolha; o qual não poderá nunca confundir-se com a pura mecanicidade, nem com o simples automatismo do instinto,nem com o simples acaso. 59
Paralelamente, o conceito de sociedade é igualmente vago e
ambíguo. Alguns filósofos, entre os quais Platão, "consideram a arte e a
sociedade como conceitos inseparáveis - que a sociedade, como entidade
orgânica viável, é decerto modo dependente da arte como uma força
aglutinadora eenergizante.rw. De acordo com o autor, tanto a arte como a
sociedade têm sua origem nas relações do homem com o seu ambiente
natural" :e, ao longo da história, é impossível conceber uma sociedade sem
arte, ou \l!l11laarte sem significação social. Entretanto, existem
características de nossa civilização que são claramente contrárias às artes,
como a alienação, a atrofia da sensibilidade, e o fato dos valores da arte
59 Ibidem. ,p.lI.
49
serem essencialmente aristocráticose', pOIS não são determinados pelo
nível geral de sensibilidade estética, mas pela "melhor sensibilidade
estética existente em um determinado momento", que é determinado por
um grupo relativamente pequeno de pessoas.
"Sem a arte, não saberíamos que a verdade existe, pois ela só se
toma visível, apreensível e aceitável, nas obras de arte".62 A arte, assim,
assume um caráter eminentemente revolucionário e perturbador, sendo
acima de tudo, um produto social.
Existem, basicamente, duas correntes acerca da finalidade da arte.
Uma afirma que a arte deve contribuir para o desenvolvimento da
consciência humana, para a melhoria do regime social. A outra, por sua
vez, diz que a arte é um objetivo em si , e que convertê-la em um meio de
alcançar outros objetivos que lhe são estranhos, mesmo que sejam os mais
nobres, equivale a rebaixar o seu mérito'». Mas esta última visão tira da
arte uma significação que lhe é essencial, que é a de difundir
conhecimentos na sociedade, reproduzindo a vida e ajuizando os seus
fenômenos.
') ,
60 READ. H. Arte e Alienação: ()papel do artista na sociedade. 2.ed. Rio de Janeiro: Zahar, 1983, )'p.19
61 Ibidem. p.25
62 Ibidem. p.25
63 PLEKHANOV, G.A Arte e a lida Social. 2.ed.São Paulo: Brasiliense. 1969. p.II-l2.
50
o homem tem a necessidade de se desenvolver, ele anseia absorver
o mundo que o circunda para que se sinta mais completo. "A arte é o meio
indispensável para essa união do indivíduo com o todo; reflete a infinita
capacidade humana para a associação, para a circulação de experiências e
idéias. "64. Esta visão da arte é um pouco romântica, pois, segundo o autor,
a obra de arte deve apoderar-se da platéia não através da identificação
passiva, mas através de um apelo à razão que requeira ação e decisão. Ela
é um instrumento de apelo que chama os homens à reflexão, ela é
. necessária para que o homem se tome capaz de mudar o mundo, sem ser,
, contudo, uma mera descrição clínica do real.
Toda obra de arte reflete as idéias, necessidades e aspirações da
humanidade de uma situação histórica particular. Embora a razão de ser
da arte nunca permaneça inteiramente a mesma, há alguma coisa que
expressa uma verdade permanente. É por isso que ainda hoje as pessoas
se comovem com pinturas pré-históricas e as consideram, em certos
aspectos, como norma e modelo insuperável. 65
"A arte é a tranqüilidade que nos faz perceber as coisas. Ela toma o
invisível visível'w.
64 FISCHER, E. A Necessidade da Arte. 3.ed. Rio de Janeiro: Zahar,197Lp.13.
65 Ibidem.p.16.
66 BRlLL. Alice. Da Arte e da Linguagem. São Paulo: Perspectiva, 1988, p.69. \. \. \
51
É também através da arte que ocorre uma interação entre a alma do
artista e a alma do receptor, bem expressa nesta frase de Rodin: "Não
existe talvez nenhuma obra de arte que extraia o seu encanto apenas do
equilíbrio das linhas e dos tons e se dirija unicamente à vista. Também ela
deve ser criada pela alma e para a alma - e exprimi-la, nutri-la, enriquecê-
la."61
67 In: HUYGHE, René. A arte e a Alma. Paris: Bertrand, 1960, p.7.
52
3.2. O PAPEL DO ARTISTA NA SOCIEDADE
Dar forma concreta àquilo que é interior, representá-lo detal modo que o vejamos como a imagem exteriorizada decoisas interiores - essa é a capacidade mais rara.BURCKHARDT68
Sendo a arte um meio através do qual o homem se toma capaz de
compreender a realidade, ajudando-o a transformá-la e a tomá-la mais
humana, o artista toma-se um elemento fundamental neste processo. Para
tanto, ele deve ser consciente de sua função social. Entretanto, um artista
só exprime a experiência daquilo que o seu tempo e as suas condições
sociais oferecem. "Por essa razão, a subjetividade de um artista não
consiste em que a sua experiência seja fundamentalmente diversa da dos
outros homens de seu tempo e de sua classe, mas consiste em que ela seja
mais forte, mais consciente e mais concentrada. "69 Assim, ele pode
expressar a sua individualidade, captando os traços essenciais de seu
tempo, e retratar os novos processos que ocorrem na sociedade. Ele deve
ser o porta-voz desta sociedade, expondo ao público a significação dos
acontecimentos.
Segundo READ70, o que se busca em uma obra de arte é um certo
elemento pessoal, onde o artista, através de sua sensibilidade distinta, ('\..
68 In: READ, H. Op. Cit. p.24
69 FISCHER, E. Op. Cito.p.56.
70READ, H. O Sentido da Arte. 2.ed. São Paulo: Ibrasa, 1972, p.28.
I\\
53
revele algo de original. O artista, então, dá forma concreta às sensações e
percepções através da imagem, pois sem imagens não há idéias e uma
civilização morre, lenta mas inevitavelmente. Ele é estimulado pelos
grandes acontecimentos, embora deles não participe e nem mesmo os
celebre diretamente em suas obras." O meio no qual todo artista está
inserido, assim, é de extrema importância para a consecução de suas
obras. Ele sempre está pensando no público, mesmo quando diz o
contrário. Não se pode esquecer que o artista deve viver de sua arte, daí
novamente a importância do público. Isto faz com que se desmistifique um
pouco a imagem de um artista, pois ele " ...não é somente herói ou mágico,, . d -"72e am a artesao... .
FISCHER 73, contrariamente a alguns autores, propõe que o trabalho
para um artista é um processo consciente e racional. A obra de arte
resultante, assim, advém de uma realidade dominada e, de modo algum,
de um estado de inspiração embriagante. Não basta somente ter emoção, é
preciso saber dominá-la e transmiti-la. A arte precisa ser trabalhada e
construída, tomando forma através da objetividade.
o artista como pária social, passando fome numa mansarda, persiste comouma idéia comum de um tipo social, e assim uma forma particular de umafigura histórica e transformada em definição universal. Não é dificil
\.....•,.
71 READ. H. Arte e Alienação: o papel do artista na sociedade. Op. Cit. p.30.
72 BASTIDE, R. Op. Cit. p.79
73 FISCHER, E. Op. Cit. p.l-l-.
-, /
54 r\
mostrar que essa ideologia que cerca a produção artística é, ela própria,produto de um período particular e de um certo conjunto de relaçõessociais. Mais especificamente, descende da noção romântica de artista doséculo XIX.74
o artista, assim, deixa de ser aquele ser marginalizado, excêntrico
e visto como uma pessoa incomum, que possui uma inspiração divina,
sendo, assim, superior aos outros. Passa a ser uma pessoa normal, que
precisa trabalhar e viver de sua arte, sendo que esta nada mais é do que
um produto, uma manufatura, feita com criatividade mas também com
muita transpiração.
74 WOLFF, Janet. A produção social da arte. Rio de Janeiro: Zahar, 1982. p.24-25.
55 , ,, ,
3.3. A DANÇA ENQUANTO ARTEDe todas as artes, a dança é a única que dispensamateriais e ferramentas, dependendo só do corpo. Por issodizem-na a mais antiga, aquela que o ser humano carregadentro de si desde tempos imemoriais. Antes de polir apedra, construir abrigo, produzir utensílios, instrumentos earmas, o homem batia os pés e as mãos ritmicamente parase aquecer e se comunicar. Trata-se de uma história queabrange todas as grandes civilizações, do Mediterrâneo aoPacífico. Dançava-se por alegria e luto, para homenageardeuses e chefes, para treinar guerreiros e educarcidadãos.75
LIFAR 76 propõe que o homem conheceu este modo de expressão,
não somente antes de fazer uso da palavra, e, sim, antes de conhecer
qualquer exteriorização melódica. Não é a música que se dança, e sim o
ritmo interior que está nela inserido. "Aos que querem saber quando
comecei a dançar, respondo: no ventre materno"."?
A dança é uma arte emotiva por excelência, ela somente pode
indicar através de seus passos, gestos, movimentos e expressões de
fisionomia, a situação e os sentimentos de cada personagem, deixando a
cada espectador a tarefa de lhe emprestar um diálogo que faça jus à
emoção por este recebida.
Numa cornposiçao musical, romance ou balé, o público participa daexploração e desdobramento de uma situação, da construção ou
75 PORTINARL M. .Historia da Dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989,p. 11.
76 LIFAR. S. La Danse. Pays Bays: Gonthier, 1965. p.12-21.
77 DUNCAN. I. Minha Vida. 10 ed. Rio de Janeiro: José Olympio, p.3.
56
eliminação de uma estrutura, da solução de um problema, e assim pordiante. Eles são, essencialmente, ação pura.78
Os hindus consideram que a dança está em toda a parte. Ela pode
ser vista refletida nos movimentos das ondas do mar, nas estações do ano,
nas nuvens, nos rios, na energia destruidora dos vulcões, no crescimento
das plantas; na vida humana, cada gesto comunica sentimentos e emoções,
traduz estados da alma. 79
Segundo SACHS, a música e a poesia existem no tempo, e a pintura
e arquitetura no espaço. A dança, por sua vez, vive no tempo e no espaço.
Ela quebra as barreiras existentes entre o corpo e a alma, tomando o
corpo um mero receptor do poder advindo desta alma em erupção. Não
existe, assim, uma arte tão completa. 80
Existem muitas maneiras de se ver a dança. Ela pode ser
considerada como uma forma de expressão artística, onde o artista
expressa em gestos o que ele sente ao deixar se envolver pela música;
como uma forma de comunicação não verbal, criando símbolos e desenhos
que serão interpretados diferentemente por quem a recebe.
Uma excelente definição de dança foi dada por KRAUS,
HILSENDAGER & DIXON. Dizem eles: "A dança é uma arte praticada
78 ARNHEIM, R.. Intuição e Intelecto na Arte. São Paulo: Martins Fontes, 1989, p.69.
79 ANDRÉS, M. H. Os Caminhos da arte. Petrópolis: Vozes, 1977, p.64.
80 SACHS, C .. Wor/d History ofthe Dance. New York: WW. Norton & Company Inc., 1973, p3-5.
57
por indivíduos ou grupos de seres humanos, envolvendo o tempo, espaço,
força e fluidez, e no qual o corpo humano é o instrumento e o movimento
é o meio. O movimento é estilizado e todo o trabalho da dança é
caracterizado por uma forma e estrutura. A dança normalmente é
acompanhada por música ou qualquer outro acompanhamento rítmico, e
tem um propósito primário de expressar os mais profundos sentimentos e
emoções, embora seja utilizada para eventos sociais, religiosos, populares,
educativos, e também para terapia."81
Não há povo sem dança, e neste final de século e milênio, todas as
suas formas são apreciadas. Basicamente, segundo ACHCAR82,é possível
classificar as formas de dança da seguinte maneira:
Clássica: é o produto da fusão de outras artes (música, pintura e
poesia) com a dança. É também a única forma de dança que não se limita
às dimensões da terra, pois seus movimentos e figuras no ar são muito
constantes.A dança clássica é composta de passos diferentes, de ligações,
de gestos e de figuras previamente elaborados para um ou mais
intérpretes;
Moderna: constitui-se numa autêntica revolução aberta contra o
sistema de regras rígidas da dança clássica, caracterizando-se, por isso
81KRAUS, R.; H1LSENDAGER. S.; DIXON, B. History ofthe Dance in Art and Education. 3.ed.New Jersey: Prentice Hall, 199 L p.24
82ACHCAR, D. Ballet: Arte. Técnica e Interpretação. 2.ed. Rio de Janeiro: Cia. Brasileira de ArtesGráficas, 1985, p.41-73.
58
mesmo, pela inteira liberdade de movimentos e de expressão, mas com o
necessário cuidado para não prejudicar a beleza de formas, de linhas e de
equilíbrio estético. Procura transmitir com mais ênfase os sentimentos, os
sonhos, as fantasias, as idéias e as emoções do homem;
Folclórica ou etnológica: é a expressão artística de um povo.
Nasceu de danças populares e cresceu para se transformar em formas de
arte. Embora essas danças estejam revestidas da vontade de um povo,
essa vontade é apresentada por artistas treinados, e através da influência
de professores que atuam como modeladores do talento e guardiões da
tradição;
Caráter: são passos e movimentos inspirados em danças folclóricas
e de época, adaptados para serem usados em balés e óperas. Tem como
exercícios quase os mesmos do balé clássico, apenas adaptados às
necessidades dessa dança (polka, minueto, mazurka, etc.);
Sapateado: é um tipo de dança caracterizada pela rápida batida no
chão com as pontas dos pés e calcanhares, dançado com sapatos
especiais, com pedaços de metal nas extremidades da sola para sonorizar
as batidas;
Pantomima: é composta para ser exclusivamente representada por
gestos e atitudes, sem o recurso da voz. Esta forma de representação é a
mímica sob a forma de movimentos cênicos, que visa a expressar as idéias
e os sentimentos traduzidos pelos movimentos da fisionomiae do corpo.
59
3.4. A ADMINISTRAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES DE ARTE
Como já foi visto anteriormente, a arte pode ser considerada como
uma "manufatura". Assim, toda atividade artística, sob o capitalismo,
perdeu aquela idéia de superioridade sobre todas as outras formas de
trabalho por ser uma atividade livre e criativa, pois segundo MARX, na
sua teoria da abelha e do arquiteto, todo o trabalho humano é
essencialmente criativo.
A semelhança entre a arte e o trabalho está, portanto, na sua relaçãocomum com a essência humana, isto é, são ambos atividades criativas pormeio das quais o homem produz objetos que o expressam, que falam porele e sobre ele. Não há, portanto, uma oposição radical entre arte etrabalho. 83
É possível verificar estes conceitos quando o artista passa a ceder
às exigências do mercado que absorve as suas obras de arte, afetando o
seu conteúdo e a sua forma. O artista passa a ficar mais limitado, a sua
individualidade é sufocada, e o seu trabalho artístico passa a ficar também
mais alienado.
CAPLIN84 diz que a arte não é feita por nenhuma outra razão senão
a expressão pessoal do artista. Negócios, por outro lado, são feitos
tradicionalmente com o intuito de ganhar dinheiro. E completa: "... o
83 Citado em WOLFF, J. Op. Cito p.28-29.
84CAPLIN, L. The Business of Art. 2.ed. New Jersey: Prentice Hall, 1989,p.7.\
\"
60
problema surge quando um artista começa a vender alguma coisa: a partir
daí ele se conecta com os negócios e sua vida não se livra mais deste
envolvimento."
Uma variante moderna dessa idéia, segundo WOLFF85, é a situação
comum de pintores que lecionam em escolas de arte para ganhar a vida,
fazendo o seu trabalho "real", isto é, a pintura, nas horas vagas. Segundo
a autora, tudo o que o homem faz é afetado pelas estruturas sociais nas
quais ele está inserido. Isto não quer dizer que para que o homem seja
livre, ele tenha que se liberar destas estruturas e agir fora delas, pois são
estas mesmas estruturas que lhe permitem toda e qualquer atividade.
A questão fundamental é encontrar uma organização democrática,
flexível e não burocrática que não tolha a motivação intrínseca e a
criatividade do artista. Não é possível afirmar se este tipo de organização
já existe ou não.
"Mas um ponto importante, é que ela evolua para uma consciência
total, comunitária. Não são os currículos nem a burocracia que a fazem
crescer, mas antes de tudo o entusiasmo e a força criadora de seus
líderes."86
85WOLFF, 1. Op. Cito p.3l.
86 'ANDRES, M. H. Op. Cito p.109.
61
3.4.1. AS ORGANIZAÇÕES DE DANÇA
A dança pode contar com dois tipos de estrutura organizacional:
escolas de dança ou grupos de dança. Em ambos os casos ela se encontra
hierarquizada, departamentalizada, com uma divisão de trabalho clara e
definida e com um objetivo a ser alcançado.
No que tange ao corpo administrativo, pode-se diferenciar as
escolas de dança dos grupos de dança da seguinte maneira:
Escolas de dança: possuem no mínimo um diretor que acumula as
funções administrativas e fmanceiras - que por se tratar de uma empresa
pequena, na maioria das vezes, é o próprio proprietário -, uma secretária,
uma faxineira e um corpo de professores especializados. Geralmente a
seleção, o treinamento e a remuneração são feitos de maneira informal
pelo proprietário e os demais departamentos de controle são absorvidos
por uma empresa de contabilidade.
Grupos profissionais de dança: Possuem um quadro bem mais
extenso do que uma escola. O exemplo a seguir mostra um modelo de um
organograma adotado por um grupo profissional. Naturalmente, esta
estrutura tem um caráter ilustrativo, que somente servirá de base para a
análise das entrevistas, e para que seja possível ter uma idéia do quão
complexa é esta estrutura.
62
Segundo ROBATT087, os grupos de dança no Brasil, com
exceções no eixo centro-sul do país, funcionam em condições precárias,
em geral nada favoráveis às atividades profissionais de dança, o que toma
quase impossível o exercício regular da profissão. As únicas companhias
particulares que conseguem manter-se regularmente estão vinculadas a
escolas de dança que fornecem toda a infra-estrutura necessária, tal como,
salas de ensaios, equipamentos de som, e um mercado de trabalho para os
bailarinos nas atividades didáticas da escola.
A seleção dos bailarinos de um grupo profissional é feita através de
uma audição, que é lUna aula de balé, onde uma banca examinadora
seleciona os melhores elementos. A remuneração de um grupo de dança
profissional difere muito, podendo ser variável, isto é, ajuda de custo mais
porcentagem da bilheteria, ou fixa, onde o salário é estipulado de acordo
com a função executada. No Brasil, são raros os grupos que percebem
uma remuneração fixa. São grupos que já atingiram um alto nível de
maturidade e contam com um patrocínio constante.
A estrutura de uma companhia de dança americana, como ilustrado
no organograma da Figura 2, possui duas ramificações paralelas, a
artística e a administrativa. Elas são interdependentes, isto é, uma não
consegue viver sem a outra. Um grupo de dança acima de tudo é um time,
87ROBATTO, Lia. Dança em Processo linguagem do indizível. Salvador: UFBA, 1994, p.333
63
onde cada pessoa tem um papel específico a cumprir. É interessante notar
o quão complexa e burocrática pode vir a ser uma organização de dança.
Staff Administrativo
Staff Artístico
Figura 2 - Adaptado de WhitehiIl, A; Noble W. The Young Professional's Book ofBaIlet. New Jersey: Princeton Book Company, 1990.
A relação do bailarino com a companhia é formalizada através de
um contrato. Nele, tudo fica pactuado: o número de espetáculos, o horário
de trabalho, a remuneração, aulas, ensaios, maquiagem, inclusive o tipo de
transporte e acomodação em caso de viagens.
A grande maioria dos grupos de dança no Brasil não
64
Corpo de Baile
\
possui uma estrutura tão complexa como a mostrada no organograma
anterior. Muitos nem sequer chegam a possuir dois níveis. É o caso de um
grupo em que o diretor é também professor e bailarino. Nonnalmente,
também não é pactuado um contrato com os integrantes. As relações são
informais, e os problemas vão sendo discutidos e administrados conforme
vão aparecendo.
.,
65
CAPÍTULO 4. A PESQUISA
4.1. METODOLOGIA DA PESQUISA E DA COLETA DE DADOS
A presente pesquisa de campo foi realizada com grupos de dança.
Ela foi dividida em duas etapas.
A primeira parte desta pesquisa foi feita através de questionários
preenchidos por integrantes destes grupos de dança. Na segunda foram
utilizadas entrevistas com profissionais que são, ou já foram diretores de
algum grupo de dança.
Para isso, buscou-se coletar dados que confirmassem ou não a
hipótese levantada, isto é, os profissionais das organizações de arte devem
privilegiar sobretudo a motivação intrínseca.
De acordo com esta posição, as pessoas que trabalham neste tipo
de organização não buscam fatores externos de satisfação, e, sim,
internos.
Portanto, a pesquisa teve por objetivo verificar se existe uma
correlação estreita entre pessoas que trabalham em organizações de arte e
este tipo de motivação.
4.l.l. LIMITAÇÕES DESTE ESTUDO
Talvez a maior limitação deste estudo tenha sido a falta de dados
oficiais no que tange às organizações de dança. Não se sabe ao certo
66
quantos bailarinos existem no Brasil.
A Fundação Nacional de Arte - FUNARTE, órgão dedicado à
difusão de cultura no Brasil, interrompeu em 1990, devido ao corte de
recursos por ocasião do Plano Collor, o levantamento do número de
bailarinos que vinha sendo feito. Atualmente está desenvolvendo uma
pesquisa para quantificar os grupos de dança existentes no país, mas
infelizmente.não dispõe de um número, ainda que aproximado, dos
bailarinos em atividade.
Segundo Ivan Grandi, diretor do jornal Dança Brasil, veículo oficial
de divulgação de dança no Brasil, com uma tiragem gratuita mensal de dez
mil exemplares, calcula-se que existam em tomo de 350.000 bailarinos,
distribuídos em 12.000 escolas, sendo que 50% deste número está
localizado nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro. Mas para o
universo considerado nesta pesquisa, esta informação não é de grande
valia, pois o número em questão considerou como "bailarinos" todos os
alunos de dança a partir de 12 anos de idade, não levando em
consideração se levam a dança à sério, se a têm como uma profissão, se
participam de um grupo de dança ou não. Por isso, não é possível avaliar
se a amostra estudada é significativa ou não.
Há também uma questão relevante a ser abordada. Como não há,
ainda, no Brasil, uma cultura onde a dança possa ser considerada como
atividade profissional, a maioria dos grupos são considerados amadores,
não pela qualidade de seus trabalhos ou integrantes, mas, sim, pelo fato de
não possuir patrocínio, estabilidade, e precisar de outra fonte de renda
67
para sobreviver. "O profissional difere do amador por estar sobrevivendo
do seu trabalho artístico (salários ou cachês)."88
Grupos profissionais, isto é, aqueles que dão a seus integrantes
condições de sobrevivência, são raros no nosso país. Assim, quando os
questionários foram distribuídos, não houve mna preocupação em tentar
diferenciar os "profissionais" dos "amadores".
4.1.2. CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO E COMPOSIÇÃO DA
AMOSTRA
Embora não haja estatísticas precisas sobre o número de
profissionais de dança, pode-se considerar que a amostra de 669
bailarinos corresponde a mna parcela representativa da população em
questão.
No que tange à aplicação dos questionários, optou-se por buscar
profissionais de grupos de dança em diversos festivais no país e também
em escolas de balé.
As entrevistas assmniram um caráter mais formal. A metodologia
para a seleção dos entrevistados foi explicitada no primeiro capítulo deste
88ROBATTO, L. Op. Cito p.336
68
trabalho. Foram selecionados profissionais que dirigem ou dirigiram algum
grupo de dança.
o intuito destas entrevistas era avaliar, além da motivação
intrínseca de seus participantes, questões como seleção, remuneração,
horário de trabalho e estrutura deste tipo de organização.
4.1.3. A ELABORAÇÃO E A APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO
No período de março a setembro de 1998 foram pesquisados 669
bailarinos, que correspondem a 187 grupos de dança*. Os questionários
foram distribuídos em festivais nacionais de dança, e em outros eventos da
área. Os principais festivais onde os questionários foram distribuídos são:
• Festival R.V. Promoções em Santos- Teatro municipal- 21 a 24 de
maIO
• Dança Ribeirão Preto- Teatro Municipal- 01 a 07 de junho
• VI Mostra Nacional de Dança de Florianópolis- Centro de Cultura- 17
a 21 dejunho
• Festival de dança de Joinvile- Centreventos Cau Hansen- 17 a 29 de
julho
• II Encontro de Sapateado de Piracicaba- Shopping Center-14 e 15 de
agosto
* listagem dos grupos disponível no anexo IV.
69
o questionário* foi elaborado com um sistema de perguntas abertas,
visando a dar ao pesquisado espaço para que este pudesse ser espontâneo,
tendo a liberdade de escrever o que quisesse.
Foram elaboradas oito perguntas básicas, que tratavam
especificamente das seguintes-variáveis:
• Grupo de dança.
Esta variável teve por finalidade poder mensurar o número de
grupos envolvidos nesta pesquisa, para que se pudesse levar em conta a
diversidade de estilos e também de regiões do país.
• Tempo de dança.
Este fator dizia respeito ao número de anos de envolvimento com a
dança. É notório para a maioria das pessoas que a vida útil de um
bailarino é curta, não ultrapassando os 35 anos de idade. Obviamente, há
exceções, mas devido a inúmeros fatores pessoais e fisicos, esta carreira
não é muito longa. Para esta pesquisa, o tempo de dança mostrou em que
faixa se concentra a maioria dos pesquisados.
• Fontes de satisfação na dança.
Esta pergunta, sem dúvida, é a mais significativa do questionário.
Cada pesquisado forneceu três fontes. Através de uma classificação destas
• modelo do questionário disponível no anexo 11.
O
70
respostas, foi possível separá-las em fatores higiênicos e motivacionais, de
modo que a hipótese pudesse ser testada.
• Atividade fora da dança.
Esta pergunta tinha por objetivo verificar quantos pesquisados
possuíam uma atividade paralela à dança. Nos casos de existência de uma
segunda atividade, esta foi destacada, para que fosse possível agrupá-las
por ramo de atividade.
.• Abandono da segunda atividade.
O objetivo desta variável foi analisar se os respondentes
abandonariam esta segunda atividade se pudessem, passando a dedicar-se
apenas à dança.
• Fontes de insatisfação da segunda atividade.
Cada pesquisado forneceu· três fontes de insatisfação que
encontrava nesta segunda atividade. As respostas foram agrupadas para
possibilitar a comparação destes fatores de insatisfação na segunda
atividade com os fatores de satisfação na dança.
o Substituição da dança por alguma outra atividade.
Esta pergunta objetivou analisar o lugar que a dança ocupa na vida
dos pesquisados, se ela é substituível ou não. No caso da resposta ser
afirmativa, as atividades substitutas também foram agrupadas por ramo de
atividade.
o Caracterização em uma palavra do que faz com que uma pessoa dance.
71
As respostas a esta pergunta foram agrupadas segundo o sentido,
para posteriormente caracterizá-las como fatores intrínsecos e extrínsecos,
reforçando os fatores de satisfação na dança e, conseqüentemente,
reforçando a hipótese proposta.
Após a compilação dos resultados, a Teoria da Motivação e
Higiene de Herzberg foi testada com o intuito de se validar a hipótese.
4.1.4. A ELABORAÇÃO E A APLICAÇÃO DAS ENTREVISTAS
As entrevistas* foram realizadas em julho de 1998.
Foram entrevistados os seguintes profissionais:
• Ady Addor
• Victor Aukstin
• Mario Nascimento
• Eleusa Lourenzoni
• Luiz Ferron
Por se tratar de uma amostra relativamente pequena, estas
entrevistas tiveram um caráter ilustrativo, para que se pudesse levantar e
comparar as estruturas dos grupos de dança apresentadas nas entrevistas.
* roteiro da entrevista disponível no anexo I.
72
Não houve a intenção de se tirar conclusões gerais e estendê-la a todos os
outros grupos.
As questões abordadas nas entrevistas tiveram o objetivo não só de
abranger a teoria já estudada e explorada pelos questionários, mas
também explorar o conceito da organização de dança, para que se possa
tecer algumas considerações sobre o funcionamento das mesmas e
compará-las com o modelo apresentado no capítulo anterior.
As entrevistas visavam a abordar as questões referentes ao
funcionamento do grupo de dança com relação à:
• Estrutura do grupo:
Refere-se a quantos bailarinos o grupo possui, com a respectiva
faixa etária. O objetivo era verificar se há alguma semelhança entre os
grupos estudados;
• Quadro Funcional e Espaço Físico:
A intenção era de verificar se o grupo contava com um quadro
funcional regular, composto por professores, coreógrafos, secretárias e
faxineiras. Em caso negativo, tomou-se verificar se o grupo se utilizava do
quadro funcional da escola a qual pertencia. Da mesma forma, a questão
do espaço fisico utilizado pelo grupo foi verificado, isto é, se este era
próprio, alugado ou emprestado;
• Horário de trabalho:
O objetivo desta pergunta era verificar se os !,1fUpOSde dança
73
possuíam um horário fixo de trabalho, como outras organizações possuem;
• Seleção:
A questão da seleção dos integrantes de um grupo de dança foi
analisada com o intuito de se verificar o tipo de relacionamento existente
entre eles, isto é, se assmne um caráter mais formal, sendo feita através de
uma audição, ou informal, sendo feita entre alunos e amigos;
• Remuneração:
Esta variável teve por objetivo analisar se os membros destes
grupos de dança percebem algum tipo de remuneração fixa, ou ainda, uma
ajuda de custo, participação na bilheteria, etc. Estas respostas constituem
uma parte essencial desta pesquisa, pois o objetivo é provar que os
bailarinos são levados a desenvolver a sua profissão somente por fatores
intrínsecos;
• Patrocínio:
Esta pergunta teve a intenção de verificar se os grupos em questão
contam com algum tipo de patrocínio que lhes dê suporte para a
consecução de seus objetivos;
• Principais dificuldades encontradas:
Esta pergunta foi aberta, de maneira que o entrevistado pudesse,
através da sua experiência, transmitir aquilo que representa as maiores
dificuldades pelas quais os grupos de dança passam para sobreviver.
Para que seja mais fácil a visualização, as entrevistas foram
74
resumidas e inseridas em quadros, que se encontram disponíveis no anexo
IH.
75
4.2. RESULTADOS OBTIDOS NOS QUESTIONÁRIOS.A seguir, serão apresentados os resultados obtidos por pergunta
específica. A compilação completa de todas as respostas abertas está
disponível no anexo V.
• Há quanto tempo dança?
Menos de 01 ,De1.a5anos De6_a10 Oe11a15 Oe16a20 Mais de 21 Niloan e anos anos anos anos respondeu
Pode-se notar que a maioria dos respondentes se situa na faixa que
compreende os períodos de I a 5 e de 6 a 10 anos, representando 33% e
39,3% do total de entrevistados respectivamente.
Figura 3 - Gráfico da Distribuição dos pesquisados por tempo de atividade
É interessante observar que a partir de 10 anos de atividade o
número de entrevistados cai conforme o tempo de dança cresce. Aqueles
que possuem mais de 21 anos de atividade representam somente 2,5% dos
entrevistados. Fatores como idade, limitações fisicas e outros ligados às
suas vidas pessoais talvez possam explicar este decréscimo. Deve ser
76
considerado, também, o fator da vida útil de um bailarino, já discutido
anteriormente.
• Três fontes de satisfação pessoal na dança
Esta questão, muito relevante deste estudo, indica se os 1852
fatores de satisfação obtidos correspondem, segundo a teoria de Herzberg,
a fatores de higiene ou fatores motivacionais. Eles foram agrupados por
afinidades, respeitando-se a divisão entre os fatores.
Pelos dados apresentados, é possível perceber que os fatores
motivacionais corresponderam a 75% das respostas, em oposição aos
fatores higiênicos, que totalizaram 22%, aproximadamente.
Respostas75%
FATORES DE HIGIENE22%
2%Sem resposta
1%
Figura 4 - Fontes de satisfação pessoal na dança
Devido à enorme diversidade, as respostas foram interpretadas e
agrupadas pelo sentido, para facilitar o entendimento. Algumas questões
tiveram que ser desconsideradas, pois não representavam um fator de
77
satisfação. Respostas como "tudo" "magia" "é vital" etc foram, , ,.,
desconsideradas.
Os fatores motivacionais totalizaram 1391. Dentre os mais citados,
pode-se citar "sentir-se bem, satisfação, prazer, amor pela dança, emoção,
expressão." Nota-se que estes fatores são internos aos indivíduos,
representando os fatores intrínsecos.
Os fatores de higiene, por sua vez, obtiveram 402 respostas. Eles
correspondem a fatores extrínsecos, oriundos do meio ambiente. Os itens
mais destacados foram: "culto ao corpo, postura, companheirismo, união,
sociabilidade. "
• Tem outra atividade fora da dança ?
SIM61%
Nilo39%
Figura 5 - Existência de uma segunda atividade
Conforme o esperado, 61% dos respondentes afirmam possuir uma
78
atividade paralela à dança, em oposição aos 39% restantes.
Sabendo-se que a maioria dos bailarinos não consegue sobreviver
só com a dança, e levando em conta outros fatores, como a necessidade deestudo, questões familiares e a própria urgência em se manter para poder
continuar dançando, é natural que grande parte dos respondentes tenham
que possuir uma segunda atividade. Os 39% que afirmaram não possuir
uma atividade paralela provavelmente possuem um suporte familiar ou
alguma outra razão que viabilize só fazer o que gostam .
• Qual?
Figura 6 - Atividades paralelas à dança
Outro aspecto a ser analisado é com relação a qual atividade
paralela os bailarinos possuem. É interessante notar que 45% dos
respondentes possuem, como segunda atividade, outras profissões ligadas
ao esporte ou às artes, que podem ser consideradas atividades afins em
relação à dança.
79
'Observando o gráfico, as "atividades sem qualificação" receberam
esta nomenclatura por agrupar atividades diversas, como pintor, pedreiro,
balconista, garçonete, entre outros.
SEMRESP....
Figura 7 - Abandono da segunda atividade
• Se pudesse viver sem desempenhar essa 2a atividade você a deixaria?
Dentre as pessoas que possuem uma segunda atividade, 52%
aproximadamente não a deixariam, mesmo que pudessem viver sem
desempenhá-la. Embora cause uma certa surpresa, o resultado desta
pergunta esconde atrás de si alguns fatores, que não devem ser
desconsiderados. É necessário que se leve em conta o padrão
socioculturalsociocultural, o fato da dança não ser reconhecida neste país,
obrigando as pessoas a terem "um trabalho e não um hobby", a questão do
tempo de carreira curta de um bailarino, entre outros.
• Cite três fontes de insatisfação que você reconhece nessa 2a atividade.
80
Sem resposta17%
Permdetel!1>O9%
Fazer o que nSo gJsta.falia de prazer
9%
Figura 8 - Fontes de insatisfação encontradas na segunda atividade
Aqui também houve a necessidade de desconsiderar algumas
respostas. Neste caso, o pesquisado se confundiu e respondeu à questão
em relação à dança, e não em relação à segunda atividade. Assim,
respostas como "falta de incentivo", "maus professores ","não é
reconhecido", "pagar para dançar", etc., foram desconsideradas.
Embora 7,5% das respostas afirmem que a segunda atividade não
gera insatisfação, 17,3% não tenham sido respondidas e 14,1% das
respostas tenham sido desconsideradas pelas razões expostas no parágrafo
precedente, o que somadas totalizou quase 40%, os resultados obtidos
nesta pergunta foram muito significativos.
Com exceção dos itens "baixa remuneração" e "excesso de
competitividade", todas as outras respostas demonstraram que as fontes
de insatisfação da segunda atividade são exatamente o oposto das fontes
de satisfação citadas com relação à dança, como, por exemplo, "falta de
prazer, perda de tempo, obrigação, não gosta do que faz, falta de
81
liberdade e falta de emoção", em oposição a "prazer, dedicação, amor
pela dança, liberdade, emoção."
• Você substituiria a dança por alguma outra atividade?
NÃOBB%
Figura 9 - Substituição da dança por outra atividade
Os 87,7% de respostas negativas demonstraram o quanto os
respondentes possuem apreço pela dança e a impossibilidade de a
substituírem por outra atividade.
Os resultados obtidos nesta pergunta comprovam mais uma vez que
os bailarinos optaram livremente por ela e não se realizariam
completamente sem a sua existência.
• Em caso afirmativo, qual?
Entre os 10,5% de respondentes que afirmaram que substituiriam a
82
dança por outras atividades, é interessante notar mais uma vez que 58% o
fariam por outras atividades artísticas e esportivas, que, de certa forma,
estão relacionadas com a dança.
Outro aspecto relevante é que pela primeira vez apareceu um fator
extrínseco latente, representado por "atividade melhor remunerada",
embora seu resultado não tenha sido expressivo no conjunto, composto
por apenas três respondentes.
Outras AtividadesArtísticas
38%
Estudo17%
Atividade MelhorRemunerada
4%
Outras profissões17%
Figura 10- Atividades substitutas da dança
83
• Se você pudesse definir em uma palavra o que o faz dançar ...
Sem resposta5%
Figura 10 - Fatores que o faz dançar
Aqui também houve a necessidade de agrupamento, devido à
enorme diversidade de respostas. É possível notar que a maioria dos
fatores listados são intrínsecos, representando 93% do total das respostas.
As palavras "amor, prazer, satisfação, vida", representaram mais de 51%
do total das respostas. As respostas que representam fatores extrínsecos
foram agrupadas no item "Outros - Extrínsecos", correspondendo a 2,4%
das respostas.
84
4.3. RESULTADOS OBTIDOS NAS ENTREVISTASOs resultados das entrevistas foram resumidos e compilados em um
quadro único, mostrado a seguir. Para melhor visualização, as respostas
de caráter subjetivo que não dizem respeito à estrutura de um grupo de
dança foram suprimidas. As entrevistas completas individuais estão
disponíveis no anexo IH.
Grupo de Dança Ady Addor Grupo de Grupo de Grupo de Sgruvis Cia.Cia. de Dança Dança Mário Dança de Dança.Dança Maria Nascimento BaIlet
Olenewa EleusaLorenzoni
Diretor Ady Addor Victor Mário Eleusa Luiz FerronAukstin Nascimento Lorenzoni
Tempo de 5 anos 10 anos 5 anos 3 anos 9 anosDireçãoOrigem do Grupo Iniciativa Iniciativa Iniciativa Iniciativa Iniciativa
das alunas. das alunas. própria e dos própria e própria e dosalunos. dos alunos. alunos.
Quant. de 8 12 5 6 Sem corpoBailarinos (média) fixo. Varia
de acordocom otrabalho.
Equipe de Apoio Não Não Não Não NãoProcesso Seletivo Entre Entre Entre alunas. Entre Entre alunas.
alunas. alunas. alunas.Remuneração Não Não Não Não NãoBailarinos têm Sim Sim Sim Sim Simoutra atividade?Espaço Próprio Alugado Emprestado Alugado Próprio.Patrocínio Não Não Não Não Não tem.
Obteve umavez doGoverno daFrança.
Principais Financeiras Financeiras Financeiras Financeiras FinanceirasDificuldades
Tabela 1 - Resumo das entrevistas
É possível visualizar neste quadro que os grupos de dança em
85
questão possuem um número reduzido de bailarinos, podendo ser
considerados, na média, oito integrantes. O processo seletivo, em todos os
grupos, é feito entre alunos. Somente um grupo afirmou que,
eventualmente, faz uma audição para recrutar novos integrantes.
Nenhum dos grupos apresenta um quadro funcional regular, isto é,
eles não contam com equipe de apoio especificamente para este fim.
Os bailarinos não possuem remuneração fixa, havendo em alguns
casos, quando a situação assim o permite, uma ajuda de custo ou um
pequeno cachê. Neste caso, os homens têm prioridade sobre as mulheres,
pois acredita-se que estas possuam melhores condições financeiras e
melhor suporte familiar. Paralelamente, é possível notar que todos estes
integrantes desenvolvem uma segunda atividade, quer seja dando aulas, ou
dançando em boates.
Os problemas financeiros foram apontados como a maior
dificuldade de todos os grupos. Nenhum deles conta com patrocínio de
qualquer natureza, o que justifica esta dificuldade. Um grupo recebeu uma
vez um patrocínio restrito do governo francês, que consistiu em passagens
e hospedagem aos integrantes para que pudessem participar de um festival
de dança na França.
86
CAPÍTULO 5. CONCLUSÕES t
5.1. ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS.Tendo sido os resultados dos questionários e das entrevistas
tabulados, passa-se, agora, à análise dos mesmos. Os resultados
relevantes dos questionários foram examinados sobre a proposição da
hipótese. Os resultados das entrevistas foram comparados com a estrutura
de organização de arte apresentada.
5.1.1. QUESTIONÁRIOS
Os entrevistados destes 187 grupos, na sua maioria, participaram
dos festivais nacionais de dança explicitados no capítulo anterior. Não foi
julgado relevante, para os objetivos deste trabalho, dividi-los por estados,
ou regiões do país, e também classificá-los nas categorias clássica,
moderna, contemporânea, street dance, sapateado.
Estes grupos, na sua maioria, são atrelados a uma escola de dança,
onde eles a representam em festivais e encontros, ou são grupos
independentes, formados por pessoas que possuem um objetivo comum.
Em ambos os casos, nota-se que são grupos sem fins lucrativos,
lutando contra as adversidades para que possam se manter.
Apenas 8% dos entrevistados possuem mais de 15 anos de
profissão, o que prova que a vida útil de um bailarino geralmente é curta,
pois o desgaste físico é muito intenso, e a energia e a vitalidade são, ,
87
essencrais.
Outro aspecto verificado foi a existência de uma segunda atividade
para a maioria dos entrevistados, de modo a assegurar a sobrevivência, já
que somente o exercício da dança não os mantém. A segunda atividade
apresentou uma enorme diversidade, mas quase a metade mostrou estar
dirigida para outras atividades ligadas à dança, isto é, esportes e artes.
A maior parte dos entrevistados afirmou não abandonar esta
. segunda atividade, ainda que pudessem. Existe uma grande insegurança no
,meio artístico, pelas razões já expostas anteriormente. A dança não é
reconhecida no Brasil, e para que os bailarinos sejam respeitados como
cidadãos economicamente ativos, toma-se necessário que exista uma outra
profissão.
No mais, sendo curta a carreira de um bailarino, é natural que ele se
preocupe com o futuro, possuindo uma segunda profissão. Apesar disto,
os fatores de insatisfação declinados com relação a esta atividade
indicaram que, ainda que inconscientemente, ele a compara com a dança,
apontando a falta dos fatores de satisfação da dança como sendo as fontes
insatisfatórias da segunda atividade.
Esta preferência e apreço pela dança foi comprovado pelo fato de
que aproximadamente 90% dos entrevistados a consideram insubstituível,
não a trocando por nenhuma outra atividade
88
5.1.1.1. VALIDAÇÃO DA HIPÓTESE PROPOSTA
A hipótese testada, isto é, "Os profissionais das organizações de
arte devem privilegiar sobretudo a motivação intrínseca", teve como
embasamento a teoria da motivação e higiene de Herzberg vista no
capítulo 2. Os fatores de higiene correspondem aos fatores extrínsecos,
servindo apenas para neutralizar a insatisfação. Os fatores motivacionais,
por sua vez, correspondem aos fatores intrínsecos dos indivíduos,
conduzindo os indivíduos à verdadeira motivação.
Nesta pesquisa, notou-se que 75% dos fatores de satisfação
apontados correspondiam a fatores motivacionais, em oposição a 22%,
representados pelos fatores higiênicos.
Sendo os fatores motivacionais os responsáveis pela satisfação da
maioria dos respondentes, e sendo eles internos aos indivíduos, pode-se
concluir, concretamente, que os bailarinos entrevistados, em sua grande
maioria, estão intrinsicamente motivados.
Da mesma maneira, a caracterização em uma palavra do que faz
com que uma pessoa dance confirmou novamente a hipótese. De todas as
respostas dadas, somente 2,39% mencionaram fatores extrínsecos,
conforme é possível visualizar no gráfico seguinte:.•,.',
89
Figura 11 - O que o faz dançar
Foi possível verificar que o suporte teórico relativo à teoria da
higiene pôde ser constatado nesta amostragem.
Assim, de acordo com a teoria proposta por Herzberg, a análise dos
resultados obtidos nos questionários permitiu a verificação e a validação
da hipótese proposta.
90
5.1.2. ENTREVISTAS
Analisando os resultados obtidos nas entrevistas, é possível notar
que as respostas foram muito semelhantes em praticamente todos os itens
abordados.
Todos os grupos em questão foram originados pela vontade e
iniciativa dos bailarinos, ou dos professores de se unirem para realizar um
trabalho que lhes desse prazer. A quantidade de integrantes não é elevada
em nenhum dos grupos, e a seleção de seus integrantes na maioria das
vezes é feita de maneira informal entre as alunas da escola ou entre
colegas.
Outro aspecto a ser levado em conta é a inexistência de uma equipe
de apoio para o grupo de dança. Dois entrevistados afirmaram que,
felizmente, podiam contar com a estrutura da escola, no tocante ao
espaço, limpeza e secretária.
Nenhum dos grupos possuía um organograma, talvez pela
inexistência desta equipe de apoio. Os diretores destes grupos acumulam
grande parte das funções administrativas e artísticas.
Os grupos estudados apresentaram diferenças em relação ao espaço
fisico do trabalho. Dois eram próprios, dois alugados e um emprestado.
Os grupos apresentaram horários de trabalho regulares, como qualquer
outro tipo de organização.
Com relação aos quatro últimos itens, as respostas foram
91
absolutamente iguais.
Não há remuneração fixa em nenhum dos grupos estudados, e todos
os profissionais possuem outras atividades para que possam se manter.
Nenhum grupo tem algum tipo de patrocínio, embora um dos entrevistados
já tenha recebido um patrocínio do governo francês. Como era de se
esperar, a principal dificuldade apontada por todos é a precária situação
financeira na qual se encontram.
Apesar de não representarem um número expressivo da população
em questão, pode-se inferir, através destas entrevistas e dos questionários,
que a maioria dos grupos de dança particulares e independentes no Brasil
possua esta mesma estrutura.
Levando em consideração o exposto, e sem levar em conta o
aspecto motivacional já abordado anteriormente, pode-se concluir que as
organizações de dança estudadas apresentam características internas
semelhante a grupos informais, pois eles são suficientemente pequenos e a
comunicação é feita diretamente, face a face, entre os elementos do grupo.
Há que se considerar também a existência de uma estrutura não muito
definida e valores e crenças compartilhadas. As pessoas se reúnem para
produzir algo novo e valorizado. Também protege seus membros contra as
92
interferências externas, oferecendo caminhos alternativos para a aquisição
de status. 89
5.2 CONCLUSÕES FINAIS
Através dos resultados das fontes de satisfação dos entrevistados
foi possível constatar que eles desenvolvem a sua arte movidos somente
por fatores intrínsecos. Este fato é muito bem ilustrado na frase: "... parece
, que o tempo colapsa e desaparece, quando a intensidade no processo
domina e a emoção é tão grande que não se quer que termine e não se
pode esperar para voltar a ela. Jogadores de tênis podem senti-la, bem
como cirurgiões, escritores, pintores e dançarinos. "90
Foi também verificado que houve muita coincidência entre a teoria
levantada e o panorama geral apresentado. Os entrevistados, com
pequenas nuances, testemunharam basicamente os mesmos problemas, por
exemplo, dificuldades com relação à manutenção de um grupo e a falta de
uma cultura de dança no país, acarretando pequenos investimentos em
arte. Por outro lado, o prazer de fazer aquilo de que se gosta, a satisfação
de ver um objetivo realizado foram determinantes para que continuassem
e continuem lutando contra todas estas adversidades.
89 MOTTA, F.C.; PEREIRA F.C.P. Op. Cit. pp. 67-82.
90 DECI, E. Op. Cito p.54 , .\,
93
" Há um aspecto da motivação intrínseca que a põe um tanto quanto
distante do controle extrínseco.( ...).É um aspecto quase espiritual. Tem a
ver com a vida em si: sua vitalidade, dedicação e transcendência. "91
Sem dúvida nenhuma, não há nada mais prazeroso e que dê mais
prazer para a alma, do que possuirmos uma atividade que vá de encontro
às nossas necessidades mais profundas, realizando-nos por completo. Esta
experiência, que a maioria dos profissionais de dança vivenciam, faz com
que os efeitos dos agentes externos sejam neutralizados, e tenham pouca
importância na condução de sua vida profissional.
o bailarino, através de seu dom, tem o privilégio e a obrigação de setransmitir aos homens. Ele deve desenvolver sua intuição e sentimento,que são as essências da arte. Sua realização será plena quando eleconseguir transmitir àqueles que só enxergam com os órgãos da visão umpouco da luz misteriosa. Luz que para estes é imperceptível, mas é a únicaluz verdadeira, a luz que vem das profundezas e que apazigua a ansiedadee as buscas do espírito.92
Talvez, agora, seja mais fácil esclarecer a razão pela qual se dança.
Por amor, pela auto-realização, pela energia que emana desta arte e de seu
publico, ou, mais claramente, porque "a motivação intrínseca está por trás
de toda verdadeira obra de arte. "93
91 Ibidem, p.54
92 BÉJART, M. Uma viagem iniciatória. O Correio da Unesco. mar 1996, n.3
93 DECI, E. Op. Cit. p.55.
94
Todo homem tem necessidade da dança, isto é, ele está
naturalmente motivado para a dança. Entretanto ela não existe mais como
autêntico ritual, como não existe mais a comunhão nas praças das aldeias
nem nas igrejas, onde as pessoas se davam as mãos para entregar o
coração. Ela se encontra no dia-a-dia de cada pessoa, em cada atividade.
Privado da dança, o ser humano perde a dimensão de sua presença
no mundo, pois ela é um meio de liberar as forças naturais e é necessária
para o equilíbrio interior.
Assim, a celebração poética da dança pode dissipar a desgraça do homemmoderno. Esse milagre é possível porque o homem possui em si mesmotodos os componentes dessa luz, dessa metamorfose. Esta arte apenas osrevela."94
o que toma este tema tão interessante é o fato de que a dança é
uma arte em que todos os seus adeptos são levados por impulsos e
instintos, que são completamente intrínsecos aos indivíduos: é aquilo que
vem de dentro, que não se deixa influenciar por fatores externos, isto é,
extrínsecos: não se dança para ganhar dinheiro, para morar em uma bela
casa, para se vestir bem.
E este bailarino jamais abandonará a dança, mesmo que seu corpo
não acompanhe mais o ritmo, mesmo que ele tenha uma segunda atividade
,,'/ /~.'
94 'BEJART, M. Op. Cit
\1
95 '\i,
para que possa sobreviver: é a dança que o faz mover-se, é a dança que o
motiva, e é através dela que todo bailarino vive.
5.3. CONTRIBUIÇÕES DESTE ESTUDO E RECOMENDAÇÕESpRATICAS
Sendo a área da motivação intrínseca nas organizações de arte
pouco estudada, esta pesquisa é pioneira dentro deste campo, sendo base
de apoio para eventuais pesquisas futuras.
Trata-se de uma área muito ampla para o desenvolvimento de
estudos, quer seja no tocante à motivação intrínseca, quer seja no âmbito
das organizações de arte enquanto tal.
Com relação às organizações de arte, primeiramente, deve-se ter a
preocupação de levantar o maior número de dados possíveis sobre toda a
sua população, para que os estudos específicos deste tipo de organizações
possam ser validados.
Especificamente, com relação à dança, toma-se necessário saber
quantos bailarinos existem, e quantos possuem a dança como profissão,
ainda que possuam uma segunda atividade. É imperativo também um
levantamento de quantos grupos de dança existem, classificando-os
quanto à sua estrutura e tamanho, se recebem ou não patrocínio, se há uma
remuneração ou não, e a sua forma de seleção.
Outros estudos também podem ser feitos objetivando elucidar como
estes bailarinos se sentem em relação à sua arte, isto é, que lugar a dança
ocupa em suas vidas, o como e o porquê a fazem.
96
Com isto, espera-se que as entidades competentes se sensibilizem
com as organizações de arte, dando-lhes mais apoio, incentivo, investindo
em novos projetos, e estimulando a população, sobretudo os jovens, a se
enveredarem neste caminho.
Se este trabalho vier a alcançar algumas destas sugestões, ele já terá
cumprido o seu papel, e já estará naturalmente validado.
\
97
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ARNHEIM, Rudolf. Intuição e Intelecto na Arte. São Paulo: MartinsFontes, 1989.
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CAPLIN, Lee. The Business of Art. 2.ed. New Jersey: Prentice Hall,
98
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102
ANEXO I - ROTEIRO DE ENTREVISTAS
• Nome
• Breve Histórico
• Três fontes de satisfação pessoal na dança
• Qual a atividade que você trocaria pela dança? Por quê?
• Dirige ou dirigiu algum grupo de dança? Qual?
• Por quanto tempo ?
• Como surgiu ? Por iniciativa de alguém ?
• Quantos bailarinos ? Idade média ?
• Conta com equipe de apoio? (secretária- faxineira-professores-coreógrafos)
• Tem organograma definido?
• Qual o horário de trabalho deste grupo ?
• Como é feita a seleção destes bailarinos ?
• Como é feita a remuneração destes bailarinos? Recebem alguma ajudade custo? Participação na bilheteria?
• Possuem outras atividades remuneradas ? Quais ?
• Se tivessem que dançar sem receber por algum tempo eles o fariam?
• Espaço próprio- alugado- emprestado
• Principais dificuldades encontradas pelo grupo
• Recebe ou recebeu algum tipo de patrocínio?
103
ANEXO 11 - MODELO DE QUESTIONÁRIO
• Nome:-----------------------------------------• Grupo de Dança ao qual pertence: _
• Há quanto tempo dança ?~-------------------------• Três fontes de satisfação que você valoriza pessoalmente na dança:
a) _
b) ~----c) _
• Tem outra atividade fora da dança?
() sim Qual ?
() não
• Se pudesse viver sem desempenhar essa 23 atividade você a deixaria ?
() sim
() não
• Cite três fontes de insatisfação que você reconhece nessa 23 atividade:a) _
b) _
c) _
• Você substituiria a dança por alguma outra atividade?
() sim
() não
Em caso afirmativo, qual ? _
• Se você pudesse definir em UMA palavra o que o faz dançar:
104
ANEXO III - RESUMOS DAS ENTREVISTAS
Entrevista n" 1
Nome Ady AddorBreve Histórico Primeira Bailarina do Ballet do IV Centenário; Primeira
Bailarina do American Ballet Theater; PrimeiraBailarina do Ballet Nacional de Cuba.
Fontes de Sensação; nervoso que dá por dentro; adrenalina;Satisfação reconhecimento; aplausos; vaidade gostosa; prazer de
sentir que o objetivo foi atingido, que o sacrificio foiválido.
Nome do Grupo Ady Addor Cia. de DançaTempo de 5 anosDireçãoOrigem do Iniciativa de um grupo de alunas que acreditaram eGrupo incentivaram.Quant. de 6 - 12 bailarinosBailarinosIdade Média 20 - 30 anosEquipe de Apoio Não contava com equipe de apoio. Alguma ajuda de
amigos coreógrafos.Organograma Não tem.Horário Seg a Sex - 14:00 às 19:00 hProcesso Seleção entre as alunas.SeletivoRemuneração Não. Divisão de sobras de bilheteria, quando havia.Bailarinos têm Sim.outra atividade?Dançariam sem Sim. Por amor.receber?Espaço Próprio.Patrocínio Não.Principais Dificuldades financeiras.Dificuldades
105
Entrevista n" 2
Nome Victor AukstinBreve Histórico Estudou com Maria Olenewa (1947); Solista do Ballet
do IV Centenário; Primeiro Bailarino do Ballet TeatroMunicipal do Rio de Janeiro; Dançou e lecionou emTóquio e Bogotá.
Fontes de "Allure" - dançar com alma; amar o que faz.SatisfaçãoNome do Grupo Grupo de Dança Maria OlenewaTempo de 10 anosDireçãoOrigem do Iniciativa dos alunosGrupoQuant. de 12Bailarinos(média)Idade Média 20 ~ 25 anosEquipe de Apoio Não tem equipe de apoio - utiliza estrutura da escola.Organograma Não possui.Horário 3 vezes por semana e aos finais de semana.Processo Alunos da escolaSeletivo
j Remuneração Não há. Eventualmente pequeno cachê para os homens.Bailarinos têm Sim. Dão aulas; dançam em boates.outra atividade?Dançariam sem Sim, com certeza.receber?Espaço Alugado.Patrocínio Sem patrocínio.Principais Falta de verba.Dificuldades
106
Entrevista n" 3
Nome Mario Nascimento.Breve Histórico Dançou na Europa; Ballet da Cidade de São Paulo;
coreógrafo.Coreógrafo residente de companhias como o CisneNegro.
Fontes de Usar a criatividade; entrar em cena.SatisfaçãoNome do Grupo Grupo de Dança Mario NascimentoTempo de 5 anosDireçãoOrigem do Vontade própria e dos bailarinos.GrupoQuant. de 5Bailarinos(média)Idade Média 20 ~ 25Equipe de Apoio Não possui.Organograma Não, ele era o administrador, professor, ensaiador e
coreógrafo.Horário Todos os dias - 14:00 às 19:00 h.Processo Alunas e colegas de trabalho.SeletivoRemuneração Não havia. Repartia igualmente quando recebia cachê.Bailarinos têm Sim. Davam aulas.outra atividade?Dançariam sem Sim. São fiéis companheiros movidos a sonhos. Têm areceber? dança como uma religião.Espaço Emprestado.Patrocínio Nunca recebeu.Principais Falta de verba. Dificuldade de participar de eventosDificuldades oficiais e conseguir teatros públicos.
107
Entrevista n" 4
Nome Eleusa LourenzoniBreve Histórico Escola Municipal de Bailados. Especialização em
Londres. Professora registrada da RoyaI Academy ofDancing.
Fontes de Prazer; nasci fazendo isso; está na alma.SatisfaçãoNome do Grupo Grupo de Dança BaIlet Eleusa LourenzoniTempo de 3 anosDireçãoOrigem do Iniciativa própria. Forma de motivar os alunos.GrupoQuant. de 6Bailarinos(média)Idade Média 14 ~ 20 anosEquipe de Apoio Não possui. Utiliza estrutura da escola.Organograma Não tem.Horário Segunda, Quarta e Sexta - 12:00 às 15:00 h.Processo Alunas da escola. Eventualmente audição.SeletivoRemuneração Não tem. Sistema de cooperativa. Obtenção de recursos
através de bingos, rifas e sorteios.Bailarinos têm Sim. Estudantes e professores.outra atividade?Dançariam sem Sim. Sem dúvida.receber? .Espaço Alugado.Patrocínio Não.Principais Falta de verbas. Instalações precárias.Dificuldades
108
Entrevista n" 5
Nome Luiz FerronBreve Histórico Coreógrafo. Fisioterapeuta. Professor.Fontes de Prazer. Busca do conhecimento do corpo. Pesquisa.SatisfaçãoNorne do Grupo Sgruvis Companhia de Dança.Tempo de 9 anos.DireçãoOrigem do Iniciativa própria e dos alunos.GrupoQuant. de Sem corpo fixo. Varia de acordo com o trabalho.Bailarinos(média)Idade Média 25 ~ 30 anosEquipe de Apoio Não. Conta com ajuda de amigos.Organograma Não tem.Horário Flexível.Processo Alunos.SeletivoRemuneração Não há. Eventualmente é dado uma ajuda de custo.Bailarinos têm Sim. Dão aula, dançam, se viram.outra atividade?Dançariam sem Sim. Com certeza.receber?Espaço Próprio.Patrocínio Não tem.Obteve uma vez do Governo da França.Principais Falta de cultura da dança no país. Falta de incentivo eDificuldades estímulo. Falta de investimento em artes.
109
ANEXO IV RELAÇÃO DE GRUPOS DE DANÇAENTREVISTADOS
1 A Consciência Corporal2 Academia Ballet e Cia.3 Academia Danflex4 Academia de Ginástica e Dança Tóra5 Academia Panteras6 Actus Cênicus7 Adágio8 Adriana Mazza9 Albertina Ganzo10 Alquimia11 Andança12 Andréa Maciel13 Aracy de Almeida14 Art Dance15 Art de Rua16 Azzo Dança17 B.G. Cia. de Dança18 Balé Cidade de Teresina19 Ballerine Escola de Dança20 Ballet Clássico de São Paulo21 Ballet da Ilha22 Ballet Elisa23 Ballet Halina Biemacka24 Ballet Ilara Lopes25 Ballet Nacional do Brasil26 Ballet Teatro Fred Astaire27 Beth Lissa28 Black Time29 Black-Out r,30 Bnmo Fitness j'
,31 Bueno e Volga32 Camila Ballet \\33 Carla Petroni \~)
34 Carmem SoIlo
110
35 Casa da Cultura36 CEFEC37 Centro de Dança Rio38 Centro Mineiro de Danças Clássicas39 Cia. Belintani de Dança40 Cia. da Dança41 Cia. Dançarumo42 Cia. Dance Rio43 Cia. das Danças44 Cia. Experimental de Dança - Galpão Academia45 Cia. H46 Cleusa de Araújo47 Colégio São José48 Compasso - SBS49 Compasso Cia. de Dança50 Conexão51 Conservatório Villa Lobos52 Corpo Total53 Cristina Cará54 Curso Permanente de Dança UFPR55 Cylene Penavel56 Dança de Rua do Brasil57 Dança de Rua Nova Era58 Danc'Art59 Dani La Dance60 Ebateca61 Edilton Gomes62 Edson Nunes63 EI Marrounei64 Eleusa Lourenzoni65 Eliane Fetzer66 Elmaranni67 Emoção68 Escola Cia. de Ballet i f'!
69 Escola de Bailados Dançar70 Escola Municipal de Bailado Ourinhos71 Especial Academia de Ballet72 Essência Cia. de Dança73 Faculdade de Dança - Unicamp
111
74 Firetti e Riva75 Flash Company76 Flavia Lopez77 Flávia Vargas78 Força e Expressão79 Fundação Cultural de Rio do Sul80 G.B.A. Gisele Bellot81 Galpão82 Gayia83 Ginga Cia. de Dança84 Gritinho85 Grito86 Grupo A.M.A.87 Grupo AME88 Grupo Bele Fusco89 Grupo Cel. Barbosa90 Grupo Cidade de Joinvile91 Grupo da Faculdade FMU92 Grupo Dançarte93 Grupo de Sapateado do SPFC94 Grupo Enigma95 Grupo Essencial96 Grupo Experimental de Dança de Rua97 Grupo Experimental do Recife98 Grupo Folclórico da FURB99 Grupo Ilusão e Vida100 Grupo Independente / BH101 Grupo Inovação102 Grupo Jovem do Teatro Municipal103 Grupo Rhytimus104 Grupo Vida105 Grupo Vivere106 In Dance107 Inês Amaral108 Interacdance109 Iris Ativa Dança110 Isabel Grisman111 Isadora Duncan112 Ivone Freire
112
113 Jazz Factory114 Kaiowas Grupo de Dança115 Khala Grupo de Dança116 KIanemos - Hortência Mello117 La Ballerina118 Lilith119 Lina Penteado120 Luciana Junqueira121 Mahabhutas Cia. de Dança122 Manuela Leite123 Marcia Bueno124 Maria Dolores125 Maria Helena Nepomuceno126 Master Class127 Matisse128 Meia-Ponta129 Millenium130 Mineco de Danzas Clássicas131 Misiones - Danza132 Mitti Warange133 Mônica Ballet134 Narcisa Coelho e Cia.135 Nova Forma - Arujá136 Nova Geração do Natura Essência137 Núcleo de Dança Marianne138 Oficina de Dança139 Oficina de Dança - Piracicaba140 Oficina Ginástica Dança Pe. Luiz141 Opus Ballet Studio142 Paiel143 Paineras do Morumbi "Emanawe"144 Palco Dance Works145 Patrícia Pessenda146 Patrícia Saran de Camargo147 Pavilhão "D"148 Performance149 Ponteio150 Power Fit151 Projeto Dançar - São Carlos
113
152 Quality Sport153 Quartier Latin154 Raça Cia. de Dança155 Real Ballet Diocisano156 Rhythons157 Ruslan158 Silvana Yara159 Sollo Cia. de Dançá160 Soma Cia. de Dança161 Spasso Corpo e Dança162 Spir163 Street Factory - CBS164 Street Heartbeat165 Street Power166· Street Santos Anjos167 Streeter's Tribe168 Studio Dançarte - Goiânia169 Studio Harlem Academia170 Studio Joaquim Ribeiro171 Studio Terezinha Goulart172 Tânia Ferreira173 Tap Studio174 Teatro Gestus175 Teatro Guaíra176 Tempo Grupo de Dança Neusa Martinotto177 Thalle178 The Boys Street Dance179 Top Physical180 Top Troup181 Transforma182 Tribo de Dança Street Jazz183 UNICSUL184 Versátil185 Vértice Cia. de Dança de Verve186 Vira Passos187 Voga Cia. de Dança
114
ANEXO V- RESULTADOS OBTIDOS NOS QUESTIONÁRIOS
.. ,.-,"·:<"";TEMPO DEDANÇA --.>, j':F~';'~"
-'".~-;FA1XA . ..-. n ..__> <%~.Menos de O1 ano 13 1,9%De 1 a 5 anos 221 33,0%
263 39,3%De 6 a 10 anosDe 11 a 15 anos 108 16,1%
37 5,5%De 16 a 20 anosMais de 21 anos 17 2,5%
10 1,5%Não respondeuTOTAL 669 100,0%
Tabela 2 - Distribuição do número de pesquisados por tempo de atividade.
115
" 'c - ---,c FONTESDESATISFACÃO ,.c'C:': ,'OC", :.~-".'-_,":',.:, ,~ ;·cc,.E
- '.RESPOSTA~:, :.->'~.~".~: ;~ '.::'~,.:'.~-' "" I~.%'i,;;;;c-- . ~-- -~n;c ,
MOTIVADORES - '1391 c 75;1%- ,.,,', c'' ' ,
Sentir bem, satisfação, prazer 195 10,5%Amor pela dança, dedicação, emoção, paixão 182 9,8%Expressão 106 5,7%Reconhecimento, aplausos, sucesso, subir ao palco 105 5,7%
Vontade de vencer, persistir, determinação, força, raça, energia 86! 4,6%Movimento 72 3,9%DisciPlina 65 3,5%Arte, cultura 48 2,6%Beleza, elegância do movimento I 46 2,5%Desempenhar, praticar, interpretar, criatividade, performance 43 2,3%Realização pessoal 39 2,1%Relaxamento, descontração 37 2,0%Liberdade 34 1,8%Aml'litude da alma, espiritual, harmonia 33 1,8%Leveza, suavidade, delicadeza I 31' 1,7%Autoconhecimento, equilíbrio 26 1,4%Alegria, alto astral 25 1,3%Música I 17 0,9%Al'_erfeiçoamento, busca da perfeição 16 0,9%Sensibilidade
I 15 0,8%II
Concentração I 11 0,6%paz I 10 0,5%Liberação de energia física e mental 9 0,5%Capacidade de ultrapassar limites 8 0,4%Intelectual 8 0,4%Terapia 8 0,4%Maturidade, responsabilidade 7 0,4%Aprender coisas novas 6 0,3%Consciência 6 0,3%Fascínio 5 0,3%Felicidade 5 0,3%Intercâmbio, troca de energia bailarino-platéia 5 0,3%Referencial de vida 5 0,3%Outros fatores 77 4,2%Tabela 3 - Fontes de satisfação que correspondem a fatores motivacionais.
116
,I·.····:,· ..;~.i·'··-,~·~:.~.:~~~~=~g'~'~~~,J~~:;~_FAl'OJ,ffiS:DEJIlGIENE:;,-. ..<~.-;;;~,'c -;:~:i" ~.;<.,;~;"::" ;-':iJ, :4Q2t'~~-7~Deixa em forma, condicionamento, coordenação, postura, culto 123 6,6%ao corpoCompanheirismo, amizade, união, apoio, sociabilidade 5,3%99Técnica, estilo i
1,1%Ritmo, sincronismo I
0,8%
45 2,4%20
SaúdeLazer, diversão
0,6%
20 1,1%14
0,7%Descoberta do corpoProfissionalismo, fonte de renda
1312/
Participar de concursos, competição i8
11 0,6%Carisma dos professores 0,4%Melhora na qualidade de vida 7 0,4%
0,3%Desenvolvimento de coordenação motora 6: 0,3%Ensaios 6
Poder viajarOutros fatores I
6 0,3%12 0,6%
Tabela 4 - Fontes de satisfação que correspondem a fatores higiênicos._.
QUADRO RESUMO· - -,-o.- __ o
. ,, ".<
MOTIVADORES i 1391 75,1%FATORES DE mGIENE 402 21,7%Respostas desconsideradas 33 1,8%Sem resposta 26 1,4%TOTAL 1852 100,0%
117
.RELAÇÃO DA SEGIJNDAATIYIDADE .:::"'.
..
--ATIVIDADE . ->,%,,-;. '-_,c".,_,. n::Atividades Esportivas 118 29%Outras Atividades Artísticas 65 16%Profissões Liberais 65 16%Atividades sem Qualificação 54 13%.
Estudo 49 12%._-Atividades de Ensino 27 70;óProfissões Nível Técnico 21 5%Sem resposta I 8 2%TOTAL 407 100%Tabela 5 - Relação de atividades paralelas.
FONTES DE INSATISFAÇÃO NA SEGUNDA ATIVI][)ADERESPOSTA N %
Cansativa, chata, stress 60 9,2%Perda de tempo, tempo gasto que poderia utilizar nal 58 8,9%dança I
Fazer o que não gosta, falta de prazer, fazer 57 8,7%forçado, obrigaçãoNão tem insatisfação 49 7,5%Baixa remuneração 24 3,7%Conviver com o sofiimento 14 2,1%Desunião, brigas, discórdia, deslealdade 12 1,8%Não satisfaz, não gosta do~ue faz 11 1,7%Preguiça de acordar cedo 11 1,7%Rotina 11 1,7%Excesso de competitividade 10 1,5%Discriminação 7 1,1%Sem liberdade 5 0,8%Não traz emoção 4 0,6%Outros 116 17,7%Respostas desconsideradas 92 14,1%Sem resposta I 113 17,3%TOTAL 654 100,0%
f.
Tabela 6 - Fontes de insatisfação encontradas na segunda atividade
118
POR~QUAL~ATIVIDADE SUB~1rITUIRIAA .. -,., ".: . .,,' D' 'AN' J'Ç.:A'.'. ' .'. ',-C':, . ' ,. r--~- ..:-~-E-,-: ---- __ :.." . ---
. "
Outras Atividades Artísticas 26 37,1 %Atividades Esportivas 14 20,0%Estudo 12 17,1%Outras profissões 12 17,1 %Atividade Melhor RemlU1erada 3 4,3%Sem resposta 3 4,3%)ror AL 70i 100,0%Tabela 7 - Atividade substituta da dança
O-QUE O "FAZ"DANÇAJR·RESPOSTA n %.
Amor , 158 23,60/0Prazer, satisfação I 119 17,8%Vida I 69 10,3%Paixão 52 7,8%Liberdade I 21 3,10/0!
Vontade,
211 3,10/0IEmoção I 20 3,00/0Alegria ! 12 1,80/0Alma I 91 1,3%I
Gostar I 9 1,30/0Felicidade I 91 1,3%Beleza do movimento I 8 1,2%Realização I 8 1,20/0Sentimento I 5 0,7%Outros - Intrínsecos I 102 15,20/0Outros - Extrínsecos I 16 2,4%Sem resposta i . 31 4,6%I
TOTAL 1 669 100,00/0Tabela 8 - O que o faz dançar
119
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