View
220
Download
0
Category
Preview:
Citation preview
Práticas em Textos: relatórios de estágios em psicologia XIV Seminário de Práticas Supervisionadas
v. 2, n. 1 ago./dez. 2011. ISSN 1984-8544
2
INSTITUTO PRESBITERIANO MACKENZIE
Diretor-Presidente Hesio Cesar de Souza Maciel
Diretor de Planejamento e Finanças Solano Portela
Diretor de Ensino e Desenvolvimento José Paulo Fernandes Júnior
Diretor Administrativo e Gestão de Pessoas Wallace Tesch Sabaini
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
Chanceler Dr. Augustus Nicodemus Gomes Lopes
Reitor Dr. Benedito Guimarães Aguiar Neto
Vice-Reitor Dr. Marcel Mendes Secretário Geral Eng. Nelson Callegari
DECANATO ACADÊMICO
Drª.Esmeralda Rizzo
DECANATO DE EXTENSÃO
Dr. Cleverson Pereira de Almeida
DECANATO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
Dr.Moises Ari Zilber
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
Dr. Roberto Rodrigues Ribeiro – Diretor do CCBS
Drª. Berenice Carpigiani – Coordenadora do Curso de Psicologia
3
Práticas em Textos: relatórios de estágios em psicologia XIV Seminário de Práticas Supervisionadas
v. 2, n.1 . ago./dez. 2011. ISSN 1984-8544
4
Conselho Científico Externo: Profª Drª Anete de Souza Farina - IPUSP Profª Drª Elisa Medici Pizão Yoshida – PUCC Profª Drª Eliana Herzberg – IPUSP Profª Drª Leila Cury Tardivo – IPUSP Prof. Dr. Marcelo Afonso Ribeiro – IPUSP Profª DrªMaria da Conceição Coropus Uvaldo – IPUSP Profª Drª Maria Salete Lopes Legname Paulo – UMESP Profª Drª Tania Maria Aielo Vaisberg – PUCC
Comissão Científica Interna: Profª. Drª. Angela Biazi Freire Profª. Drª. Glaucia Mitsuko Ataka da Rocha Profª. Ms. Lourdes Santina Tomazella Prof. Dr. Lucas de Francisco Carvalho Prof. Dr. Luiz Renato Rodrigues Carreiro Prof. Dr. Nicolau Kuckartz Pergher Profª. Ms. Sonia Maria da Silva Profª Ms. Susete Figueiredo Bacchereti Editores Acadêmicos: Drª.Maria Leonor Espinosa Enéas Ms. José Estevam Salgueiro
Endereço para correspondência
Universidade Presbiteriana Mackenzie Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Rua Consolação, 930 – Edifício 38 – Térreo São Paulo – SP – 01239-902 Telefone: (11) 2114-8142 e-mail: ccbs.secretaria@mackenzie.com.br
Práticas em texto: relatórios de estágios em psicologia. - vol. 2, n. 1 ago./dez. 2011
São Paulo: Curso de Psicologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2011
Semestral
ISSN 1984-8544
1. Psicologia. I. Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Curso de Psicologia
5
SUMÁRIO
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA A JUVENTUDE E O VAZIO: UMA PRODUÇÃO DA VISIBILIDADE SOCIAL, 06
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DE ADULTO MOMENTOS DE DESPEDIDAS: REFLEXÕES SOBRE O MANEJO COM O PACIENTE IDOSO, 11
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA JURÍDICA PENAS ALTERNATIVAS À PRISÃO: CUIDANDO DA RELAÇÃO ENTRE O PRESTADOR DE
SERVIÇOS (PSC), SEU TRABALHO E A INSTITUIÇÃO PARCEIRA, 15
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA JUNGUIANA O PESO ESCURO SOBRE OS OMBROS: LIDANDO COM A SOMBRA NUM PROCESSO
PSICOTERAPÊUTICO, 20
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE
A VIVÊNCIA DO CÂNCER COMO OPORTUNIDADE DE REVER A VIDA, 25
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DO ADOLESCENTE
A ELABORAÇÃO DO LUTO PELA PERDA DO PAI REAL COMO CONDIÇÃO DE ENTRADA NOS LUTOS DA ADOLESCÊNCIA, 30
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL E COGNITIVA
PASSIVIDADE: ANÁLISE E INTERVENÇÃO NA CLÍNICA ANALITICO-COMPORTAMENTAL, 35
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ESCOLAR RESSIGNIFICANDO A ESCOLA: (DES)CONSTRUINDO CONCEPÇÕES E SENTIDOS, 40
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO
INSERÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO, 45
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL
A DOR DO CRESCIMENTO, 50
6
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA COMUNITÁRIA1
A JUVENTUDE E O VAZIO: UMA PRODUÇÃO DA VISIBILIDADE SOCIAL
Profª Dra Adriana Rodrigues Domingues
Helga Helena Batista Martins
Juliana Siqueira Korodi
APRESENTAÇÃO
A Psicologia Comunitária é uma das áreas de estágio voltada à inserção do aluno em
espaços institucionais. A atuação dos estagiários visa, em um primeiro momento,
compreender as relações entre os diferentes sujeitos que compõem o cenário institucional:
profissionais, funcionários, usuários e a comunidade em torno dele. Após a identificação das
demandas presentes neste contexto, busca-se promover intervenções que possam auxiliar o
fortalecimento destas relações e o desenvolvimento de reflexões acerca das dificuldades
encontradas neste cenário. A prática da Psicologia Comunitária está voltada para o
desenvolvimento de uma atividade social consciente, que reflita sobre o estilo de vida da
comunidade (suas relações e significações construídas coletivamente); portanto, possibilita a
transformação do pensar, sentir e agir, promovendo a conscientização dos fatores
psicossociais que impedem a autonomia e liberdade dos sujeitos (GÓIS, 2004). Por meio de
ações de diversas naturezas, busca-se promover as potencialidades humanas e a
transformação social, sendo necessário, para que isto ocorra, que os sujeitos reconheçam
suas capacidades, além de se responsabilizem pela participação na construção de suas
histórias e da história da comunidade.
Introdução
Quando pensamos em comunidade e nos sujeitos que a compõe, podemos observar
que a imagem do jovem é socialmente percebida por meio de representações que
interferem diretamente na forma de compreendê-los. É importante entendermos essas
imagens como constituídas socialmente, o que torna necessário perceber como cada jovem
tem construído sua história, suas singularidades e suas experiências.
1 Supervisores da área: Profª Drª Adriana Rodrigues Domingues, Profª. Drª. Cláudia Stella, Prof. Ms. Pablo de Carvalho
Godoy Castanho, Prof. Dr. Robson Jesus Rusche.
7
Uma imagem fortemente associada à juventude é a ideia de que há “jovens em
situação de vulnerabilidade social”. Entendemos que esta vulnerabilidade não é devida
apenas a condição socioeconômica, mas, sobretudo, à própria condição de ser jovem.
Segundo Nicácio (2007), a vulnerabilidade é algo inerente a essa fase da vida porque todos
jovens são susceptíveis aos efeitos da contemporaneidade, independente de sua classe
social, etnia, cultura ou nível econômico. Um dos fenômenos vividos por eles é a
preocupação com a construção de sentidos para suas vidas, a fim de que possam assumir
suas próprias experiências.
Segundo Aquino et al (2011), essa ausência de sentido tem sido entendida como um
vazio existencial. Para Frankl (2005 apud AQUINO et al., 2011), a juventude atual vive o vazio
por causa da impossibilidade de encontrar sentido naquilo que fazem, gerando um mal-estar
expresso pelo tédio. Como consequência, os jovens buscam na drogadição, na violência e
agressividade, nos relacionamentos fluídos e fugidios, algo que possa preenchê-los. Diante
de uma vida na qual ele não sabe o que realmente quer e o que fazer da sua existência, o
jovem abandona sua autenticidade e adere à vontade dos outros. Assim, não consegue
atribuir valor e significado a sua vida, e não consegue, por isso, perceber as próprias
potencialidades.
Objetivos
O projeto buscou criar um espaço que proporcionasse visibilidade social a dois
grupos de jovens que frequentam a instituição onde se desenvolveu o estágio.
Consideramos que eles desejam ser vistos e percebidos em suas necessidades e interesses,
por isso, procuramos fornecer um instrumento em que, por meio da livre expressão, os
jovens pudessem utilizar seus recursos pessoais e grupais, reconhecer e desenvolver seus
potenciais, e serem protagonistas na construção de uma atitude mais ativa, autônoma e
responsável diante da vida.
O projeto também foi um instrumento utilizado para fortalecer a dinâmica e o
vínculo grupal, favorecendo o estabelecimento de um contexto seguro para que os jovens se
sentissem acolhidos e respeitados em suas diferenças. A ferramenta utilizada foi pensada,
considerando os interesses que possuíam em comum, no caso, a internet.
8
Método
O projeto foi realizado com dois grupos de jovens de 14 a 22 anos, de ambos os
sexos, inscritos em um Centro para Juventude, e consistiu na criação de um blog por cada
um dos grupos. A estrutura do blog foi sugerida pelos próprios jovens, que utilizaram o
espaço da sala de informática para construí-lo e administrá-lo. O blog foi alimentado por
atividades semanais sugeridas por nós e pelos próprios jovens, os quais puderam trazer suas
ideias, temas de interesse e relatos de experiências. As atividades foram estruturadas a
partir da definição de temas mensais, sendo eles: identidade, expressão e conscientização.
Discussão
No desenvolvimento dos encontros, percebemos que os jovens não possuíam um
autoconceito desenvolvido, pois pouco se olhavam e pensavam sobre si mesmos. O
autoconceito refere-se à representação social que o jovem tem de si e de suas
características individuais, sendo desenvolvido nas relações sociais desde a infância.
Também são aspectos que desempenham uma grande influência no modo de perceber os
acontecimentos e as pessoas, influenciando o comportamento e as experiências do
indivíduo (SÁNCHEZ; ESCRIBANO, 1999; 1969 apud ASSIS et al., 2003).
Quando eram questionados a respeito de quem eram, não conseguiam responder,
apresentavam dificuldade de se olhar e dificilmente enxergavam suas qualidades. Desta
forma, procuramos proporcionar momentos de reflexão, nos quais eram incentivados a se
olhar sem o medo de sofrerem censuras ou críticas, e expressar suas percepções a respeito
de si mesmo, do outro e de seus interesses.
Ao incentivarmos a participação mais efetiva dos jovens, buscamos desenvolver neles
uma postura mais ativa frente à vida. É comum falarmos em autonomia e defendermos a
postura de que eles precisam se sentir autônomos, mas, o que percebemos foi uma situação
de conformidade e passividade frente a qualquer desafio que surge em seus cotidianos.
Ainda podemos pensar essa passividade, como resultante do vazio existencial vivenciado por
eles, no qual não conseguem construir sentido e direção em suas vidas. Segundo Zibas,
Ferretti e Tartuce (2006), é importante valorizar as iniciativas dos jovens e traduzi-las em
direção a construção do protagonismo social. Entendemos que o incentivo a reflexão e a
valorização das ideias que os jovens possuem, é uma forma de preencher esse vazio e
9
ressignificá-lo, demonstrando o potencial que os jovens possuem para buscar novas formas
e meios de viver.
Por meio da construção do blog, os jovens puderam expressar seus interesses e
opiniões, escrevendo textos sobre esporte, música, moda, novelas e programas de TV. A
atividade era dirigida de forma que eles tivessem liberdade para escolher os temas e, ao
refletirmos juntos sobre o que escreveriam no blog, puderam ressignificar a visão que
possuíam acerca de si mesmos, do que gostavam e do que faziam.
Considerações Finais
A elaboração e o desenvolvimento do projeto nos proporcionou um intenso
desenvolvimento profissional e pessoal. A prática profissional nos ensinou que para se
relacionar com seres humanos, antes de tudo, é preciso lembrar que também somos seres
humanos e portamos características e valores pessoais. No cotidiano com os jovens,
aprendemos a lidar com a transitoriedade da sua participação. A cada encontro, um novo
desafio nos esperava e uma nova postura era solicitada, por isso, foi necessário
compreender suas necessidades para juntos buscarmos entender o que vivíamos como
grupo.
Nos momentos de reflexão, quando os jovens contavam suas histórias de vidas,
ensinavam-nos as formas que encontram para sobreviver frente a uma realidade repleta de
dificuldades. Aprendemos e crescemos como seres humanos e como profissionais da
Psicologia, pois, na convivência com estes jovens, foi importante respeitarmos os diferentes
valores, mesmo que estes se confrontassem com os nossos próprios valores. Aprendemos a
nos desapegar de nossos ideais e valores moralistas, para que fosse possível enxergar a
realidade que estes jovens vivem e auxiliá-los na descoberta de suas potencialidades.
Palavras-chave: Juventude; visibilidade social; potencialidade.
Referências
AQUINO, et al. Avaliação de uma Proposta de Prevenção do Vazio Existencial com
Adolescentes. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 31, n.1, p.146-159, 2011.
ASSIS, S. G. et al. A representação social do ser adolescente: um passo decisivo na promoção
da saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v. 8, n. 3, p. 669-680, 2003.
10
GÓIS, C.W.L. - Psicologia Comunitária. In SILVA, M.F.S.; AQUINO, C.A.B. (orgs.) – Psicologia
Social: Desdobramentos e Aplicações. São Paulo: Escritura Editora, 2004. (Coleção Ensaios
Transversais).
NICÁCIO, C. S. Violência na televisão: a juventude colonizada. Revista Outro Olhar, 19 – 23,
2007.
ZIBAS, D. M. L.; FERRETTI, C. J.; TARTUCE, G. L. B. P. Micropolítica escolar e estratégias para o
desenvolvimento do Protagonismo juvenil. Cadernos de Pesquisa, v. 36, n. 127, jan./abr,
2006.
11
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DE ADULTO2
MOMENTOS DE DESPEDIDAS: REFLEXÕES SOBRE O MANEJO COM O PACIENTE IDOSO
Profª. Ms. Martha Serôdio Dantas
Roberta Silveira Bueno Pelosini
APRESENTAÇÃO
Este estágio tem como objetivo proporcionar ao aluno-estagiário a prática do
atendimento psicoterápico de abordagem psicodinâmica com adultos. Pretende-se que o
aluno desenvolva e apure o raciocínio clínico por meio da prática clínica e discussões grupais.
Para atingir tais objetivos, o estagiário presta atendimento clínico adequado às demandas da
comunidade, de acordo com preceitos éticos e legais, no serviço-escola do CCBS da
Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Introdução
A atual demanda por atendimento psicológico em instituições é enorme e a maioria
das pessoas não possui disponibilidade emocional e financeira para atendimentos de longa
duração. Em vista disso, a Psicoterapia Breve (PB) surgiu como forma de diminuir o
sofrimento das pessoas e oferecer bom atendimento. Freud, no início, acreditava que a
psicanálise com idosos não era possível, pela reduzida plasticidade mental (MARTINS, 1998).
Não se pensa mais assim, e encontramos excelentes trabalhos com idosos e aumento da
procura de atendimento por esta população. Os idosos representam hoje 8,6% da população
brasileira (BRASIL, 2003) e o percentual tende a aumentar. A ampliação dos conhecimentos
na área de Psicoterapia Breve com Idosos, portanto, se torna necessária. Entretanto, muitos
relutam em procurar atendimento psicológico entendendo as questões que aparecem na
velhice como “coisas da idade”, dispensando cuidado específico (MARTINS, 1998). O
tratamento de idosos exige que o terapeuta despenda grande esforço, pois as questões
humanas mais difíceis de lidar estão presentes: “medos e ansiedades pessoais sobre
dependência, desamparo, envelhecimento e morte” (MARTINS, 1998, p.12). Como, ao
2 Supervisores da área: Dinorah Fernandes Gioia Martins, Fernando Genaro Junior, Gláucia Mitsuko Ataka da Rocha, Maria
Alice Barbosa Lapastini, Maria Leonor Espinosa Enéas, Maria Lucia Souza Campos Paiva, Maria Olinda G. Sementille,
Martha Serôdio Dantas, Monica Maria de Angelis Mota, Rosa Maria Lopes Affonso, Sonia Maria da Silva.
12
procurar atendimento, os idosos em geral buscam alívio para suas dificuldades imediatas ou
auxilio para lidar com determinado problema (MARTINS, 1998), a Psicoterapia Breve é bem
eficiente. Vamos destacar agora a paciente que foi atendida em Psicoterapia Breve de
Adulto. Trata-se de X, senhora com 84 anos, aposentada há 25 anos (trabalhava no setor
público), e que após a aposentadoria foi secretária em consultório de um médico, até o seu
falecimento, há dez anos. X tinha duas irmãs e dois irmãos, todos falecidos. A primeira irmã,
que faleceu de câncer aos 30 anos de idade, deixou um filho de quatro anos de idade que foi
“adotado” pela paciente e pela outra irmã (falecida em 2002). X sempre considerou o
sobrinho um filho, estando presente durante toda sua educação. O sobrinho, com 62 anos,
reside com ela. X foi sempre pessoa ativa e disposta, gostava de atividades variadas, ia ao
cinema, ao teatro, saía para jantar, ia a casa dos amigos. A última amiga, porém, faleceu no
ano passado, e desde então, X não tem mais vontade de sair de casa. X vive momento
bastante complicado, pois enfrenta séria crise financeira, com dívidas e tendo por única
fonte de renda a aposentadoria. O sobrinho não tem renda.
O motivo que levou X a buscar ajuda foi o medo de morrer. Ela sente-se impotente
frente às questões da velhice, não viveu o processo de envelhecimento, tendo se percebido
de repente uma pessoa idosa. Segundo ela, até os oitenta anos, nunca tinha pensado na
velhice, nunca havia tido empecilhos para as atividades diárias. X sempre evitou pensar
sobre a velhice, demonstrando dificuldade em vivenciá-la e em elaborar o luto da perda da
juventude. X apresenta quadro com diferentes doenças físicas: diabetes, disfunção da
tireoide, pressão e colesterol elevados, o que produz nela sofrimento e desorganização, em
parte pela dificuldade em tomar os medicamentos de forma correta e com regularidade.
Estas circunstâncias contribuem para o quadro de depressão severa. Segundo
Zimmerman (1999), podemos ver aí caso de depressão por perdas do ego, já que a paciente,
além das perdas materiais, sofreu também, perdas de atributos do ego: diminuição da
mobilidade e dos reflexos, perda da audição etc.. O principal sentimento deste quadro é o de
que a pessoa não se sente mais a mesma, e X não se sente a mesma de quatro anos atrás.
Objetivos
Buscaremos enfatizar aspectos técnicos no manejo clínico de atendimento ao
paciente idoso, destacando as peculiaridades relativas ao momento de vida. No caso clínico
apresentado, considerando a queixa inicial e o momento de vida da paciente, o objetivo
13
terapêutico foi o de fornecer suporte emocional para X aceitar e elaborar o envelhecimento
e lidar com a angústia da morte.
Método
Foram utilizadas intervenções suportivas, a estratégia mais recomendada no
tratamento com idosos (MARTINS, 1998) por proporcionar alívio dos sintomas por meio de
vínculos de aceitação e compreensão do terapeuta. Seguindo os preceitos da Psicoterapia
Breve, evitamos a neurose de transferência ou a regressão. Ao atender idosos, é
interessante permitir certa flexibilidade na estratégia, como a inclusão de familiares
(MARTINS, 1998). A possibilidade da participação do sobrinho foi considerada. X, entretanto,
mostrou resistência a isto alegando: (1) não querer “preocupá-lo” e (2) manter a privacidade
do espaço terapêutico, que ela valoriza bastante sendo o momento no qual pode falar e
compartilhar seus medos. No planejamento, consideramos a possibilidade de uma sessão
com o sobrinho quando do encerramento, com objetivo de transmitir orientações de
cuidados.
Discussão
Percebemos que foi importante a criação da aliança terapêutica entre a estagiária e a
paciente. Quando do início dos atendimentos, no primeiro semestre, para conseguir mostrar
o quanto é desesperador viver pensando que é possível morrer a qualquer momento, e
mostrar a intensidade do sofrimento, X atuou na sessão, simulando estar morrendo. O
vínculo de confiança entre a estagiária e a paciente criado após este dia foi importante para
o bom andamento do tratamento. Percebemos logo que X possui frágil estrutura egoica e
não consegue lidar com as questões do envelhecimento, sentindo-se impotente frente aos
problemas vividos. O medo de morrer a impede de perceber o que pode agora na vida. X
demonstrava inconformismo, comparando sua vida à de outros idosos. X queria entender
porque, apesar de ter se esforçado tanto ao longo da vida, tem a velhice que jamais
imaginara. A resistência em aceitar a velhice e a negação foram cedendo aos poucos ao
longo do atendimento e ela pôde elaborar o envelhecimento, percebendo-o como
inevitável, possível de ser vivido e que a velhice não precisa ser paralisante. Novos
sentimentos foram surgindo, e X relatou sentir revolta por sua velhice difícil: tal revolta a
ajudou a enfrentar os problemas e a pensar em soluções. Se antes X não conversava com o
sobrinho acerca dos problemas financeiros, deixando-o resolver sozinho, apesar da angústia
14
que isto provocava, agora lhe foi possível enfrentar a situação e pensar em mudança. Sem a
mínima vontade de sair de casa, nos últimos meses X só dormia e comparecia aos
atendimentos de psicoterapia. Dormir era a forma de não pensar nos problemas e de
encontrar nos sonhos os parentes queridos falecidos. Em um dos sonhos, X ouviu a noite
toda uma música do Roberto Carlos, da qual lembrava apenas a frase “se chorei ou se sorri,
o importante é que emoções eu vivi”. O sonho foi útil para começar a elaborar e aceitar a
velhice, aprendendo a resgatar momentos bons vividos naqueles anos. Tomada pelos
problemas agora vividos, ela só conseguia lembrar momentos difíceis e ruins que
justificassem a situação atual. A aliança terapêutica foi essencial, pois a relação de suporte
com a estagiária, X não encontrava em seu meio. Criou-se o espaço no qual X podia falar e
elaborar questões difíceis e também podia chorar (ali era o único lugar em que ela podia
chorar). O final da terapia foi difícil, pois intensificou tanto as experiências de perdas que X
vivenciou durante a vida quanto seu sentimento de finitude. As mudanças por ela
experimentadas foram valorizadas e ela pôde ver no término algo inevitável e não
necessariamente ruim, pois aprendeu (com o auxilio do terapeuta) a “olhar para trás”,
compreender a importância do processo tendo ele lhe possibilitado sentir-se diferente.
Considerações Finais
O trabalho atingiu o objetivo. X conseguiu pensar sobre o que pode ou não fazer na
velhice, entendendo sua inevitabilidade. Foi importante a compreensão e elaboração por
parte da estagiária de particularidades da fase do ciclo vital da paciente para que pudesse
haver um planejamento e manejo terapêutico adequados, o que possibilitou o devido
acolhimento e possibilidade de elaboração por parte da paciente.
Palavras-chave: psicoterapia breve; idosos; manejo clínico.
Referências
BRASIL, Estatuto do Idoso, Lei nº 10.741, 2003.
MARTINS, R, C. Psicoterapia breve de idosos: avaliação de resultados. Dissertação de
Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas, 1998, 95 p.
SEGRE, C. D. Psicoterapia breve. São Paulo: Lemos Editorial, 1997.
ZIMERMAN, D. E. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica: uma abordagem
didática. Porto Alegre: Artmed, 1999.
15
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA JURÍDICA3
PENAS ALTERNATIVAS À PRISÃO: CUIDANDO DA RELAÇÃO ENTRE O PRESTADOR DE
SERVIÇOS (PSC), SEU TRABALHO E A INSTITUIÇÃO PARCEIRA.
Profª Dra. Vânia Conselheiro Sequeira
Mariana Zanzini
Thaylla Carvalho Cavalcante Gomes
APRESENTAÇÃO
A Psicologia Jurídica envolve ações da psicologia na área jurídica, atuando em
abrigos, medidas socioeducativas, Conselhos Tutelares, Vara de Infância e Juventude,
sistema penal, ONGs e Instituições de defesa de direitos humanos. Nesse estágio, em Penas
e Medidas Alternativas, foi realizado um diagnóstico institucional, um projeto de intervenção
cujo foco foi cuidar da dimensão do trabalho na pena de prestação de serviços à
comunidade.
Introdução
As penas alternativas à prisão surgiram a partir de uma reforma penal em 1984 que
incorporou novas modalidades de penas para indivíduos que cometeram crimes de pouca
gravidade ou os cometeram pela primeira vez. O objetivo principal é a não colocação do
sentenciado em uma penitenciária, entendo o encarceramento como prejudicial, em que
este é separado do convívio da própria sociedade em que vive, (SEQUEIRA, 2000). Nesse
projeto, só trabalhamos com a prestação de serviços à comunidade, pois esta pena tem um
caráter educativo, fazendo com que o sentenciado desenvolva um trabalho a serviço da
comunidade; além de garantir a convivência com indivíduos que não estão envolvidos com
atos criminais. Este trabalho que o PSC desenvolverá em uma instituição parceira deve estar
de acordo com suas aptidões, habilidades e interesses, (SEQUEIRA, 2002), havendo assim,
uma identificação com o trabalho a ser desenvolvido, facilitando o cumprimento da pena,
sendo também, reconhecido não como alguém que cometeu um crime, mas alguém que
pode contribuir para sociedade com seu trabalho, e valorizado por isso. Segundo Dejours
(apud Sequeira 2002), o trabalho ajuda o homem a se disciplinar, fazendo com que existam
condições de consentimento e banalização do mal, além de ser um elemento de
3 Supervisores da área: Profª. Drª. Anna Christina da M. P. Cardoso de Mello; Prof. Ms. Fernando da Silveira; Profª. Ms. Leila
Sueli Dutra de Paiva; Prof. Dr. Marcelo Moreira Neumann; Profª. Ms. Tânia Aldrighi e Profa Dr. Vânia Conselheiro Sequeira.
16
transformação social, pois, através dele, o homem consegue experimentar muitos tipos de
vivências subjetivas.
O objetivo geral do projeto foi melhorar a relação entre os prestadores de serviço à
comunidade e o trabalho que executam nas instituições parceiras, colaborando para uma
humanização da prestação de serviços à comunidade; trazendo benefícios tanto para os
PSCs como para as instituições parceiras.
Diagnóstico: Na pena alternativa de PSC, os sentenciados cumprem penas
trabalhando, por isso é importante que o trabalho não seja aviltante, nem humilhante para o
sujeito, pois assim os apenados podem refazer laços de cidadania por meio da atividade
realizada nas instituições parceiras. Porém, na prática, isso é bem difícil de ocorrer, pois os
PSCs são encaminhados para locais perto de suas residências, sem um levantamento
detalhado sobre seu perfil, habilidades e potenciais. No que diz respeito à captação de
vagas, ela também é bem geral, sem se ater a atividades que possam fazer diferença na
realidade institucional. Atualmente a instituição conta com 1.026 instituições parceiras para
onde os PSCs podem ser encaminhados, e muitas instituições estabelecem parceria sem uma
proposta clara para o PSC. Isso tudo faz com que a maioria dos PCSs viva apenas a dimensão
punitiva da pena, tendo dificuldades em lidar com o trabalho a ser realizado, com as
instituições, abandonando a pena ou sendo devolvidos para a instituição para outro
reencaminhamento.
Projeto dividido em 4 eixos:
1º-Atualização de dados das instituições parceiras
Objetivo: Na pasta consultada pelos técnicos e estagiários, cada instituição deve ter uma
pequena parte descritiva, contendo a população que atende, sua finalidade e perfil do
prestador que espera receber e de potencialidades de vagas.
Justificativa: Com os dados da instituição mais detalhados, o entrevistador, juntamente com
o PSC, poderá fazer uma escolha compatível com o perfil do prestador e com as atividades
que deseja executar, cruzando suas habilidades, aptidões e interesses com os da instituição.
Procedimento: Contato telefônico e visita para descrição da instituição em relação à
população que atende, finalidade, vagas e o perfil do prestador.
2º-Treinamento de estagiários e técnicos com foco no trabalho do PSC
17
Objetivo: Na entrevista psicossocial, o entrevistador deverá fazer o levantamento do perfil
de habilidades, interesses e aptidões dos PSCs de acordo com as atividades que poderão
executar nas instituições. Também deverá conhecer as instituições, de forma mais
particularizada para poder fazer um melhor encaminhamento.
Justificativa: Com um encaminhamento adequado, consequentemente haverá uma
diminuição no índice de abandono e reencaminhamento.
Procedimento: Durante a entrevista psicossocial, o entrevistador deve definir o perfil do
PSC, questionando-o sobre suas habilidades, aptidões e interesses, população que gostaria
de atuar, tipo de instituição que gostaria de cumprir sua pena e atividades que gostaria de
realizar, para encaminhá-lo a uma instituição compatível com suas características.
3º - Acompanhamento das instituições
Objetivo: Atualizar constantemente as vagas das instituições. Transmitindo posteriormente
esses dados para os profissionais que executam as entrevistas psicossociais.
Justificativa: A atualização de vagas mostra-se como um instrumento de grande
importância, pois assim a instituição fica mais próxima das instituições parceiras.
Demonstrando preocupação tanto com as instituições, quanto com os prestadores,
orientando e dando suporte para ambos. Deve-se investir na capacitação de estagiários que
façam contato com a periodicidade a ser estabelecida.
Procedimento: Acompanhar as instituições por meio de visitas ou telefonemas se
aproximando do responsável dos prestadores na instituição, para saber de ocorrências.
4º - Inclusão do PSC na instituição parceira
Objetivo: Proporcionar ao prestador uma recepção humanizada na instituição que cumprirá
pena.
Justificativa: A humanização é um fator essencial para o prestador desenvolver bem suas
atividades e sentir-se valorizado pelo trabalho pela sociedade. Isso provavelmente terá
como consequência um menor índice de abandono e reencaminhamento. Também haveria
mais comprometimento das instituições ou seja da comunidade com a ressocialização dos
apenados.
Procedimento:
1. Captação de vagas: No momento em que ocorre a parceria entre a instituição e a Central,
os representantes da Central que realizam a captação deverão sensibilizar as instituições
18
sobre a importância do trabalho a ser realizado pelo PSC, e o cuidado que devem ter nesse
sentido da valorização da atividade e da pessoa que cumpre pena.
2. Orientação: Sensibilizar as instituições que a humanização no recebimento dos
prestadores é essencial para que o mesmo possa desenvolver seu serviço de forma
adequada, tendo consciência que seu serviço é importante tanto para si quanto para a
comunidade.
Desenvolvimento da ação 2º-Treinamento de estagiários e técnicos com foco no trabalho
do PSC
Foram realizados seis encontros com a equipe de atendimento psicossocial. O
primeiro encontro visava o fortalecimento da equipe. O segundo encontro abordou o tema
trabalho pois ele é central na pena de PSC. O terceiro encontro abordou o tema da função
simbólica da pena, pois a pena tem como função ofertar ao sujeito um novo lugar social,
tecer sua cidadania. O quarto encontro abordou o tema trabalho comunitário, focado na
utilidade pública da PSC. O quinto encontro tinha como tema o preconceito, pelas
dificuldades que o PSC vive em sua pena. Por fim, o sexto encontro teve como eixo central, a
entrevista psicossocial para o cruzamento das habilidades e interesses dos PSC’s com as
atividades que realizarão na instituição.
Considerações Finais
Conseguimos notar que a equipe trabalha de forma mais colaborativa. Estão mais
atentos para a importância do trabalho que eles realizam para os PSC’s e para a sociedade
em geral, levando em conta a necessidade de se realizar um encaminhamento adequado ao
PSC para que a função simbólica da pena seja atingida, para que, através do trabalho, o PSC
possa ressignificar-se e reinserir-se na sociedade pautando sua identidade em algo que seja
valorizado dentro da lei e mais do que isso, realizando um trabalho que goste e que seja
voltado para ajudar o próximo, conseguindo assim, reordenar sua cidadania.
Palavras-chave: psicologia jurídica; penas e medidas alternativas; prestação de
serviços à comunidade.
Referências Bibliográficas
SEQUEIRA, V. C. O trabalho vale a pena? Considerações sobre o trabalho na pena alternativa
à prisão. Pulsional Revista de Psicanálise, ano XV, n. 157, p. 41-56, Maio, 2002.
19
SEQUEIRA, V. C. Capítulo VI- Reflexões psicanalíticas sobre a pena de prisão e sobre a
prestação de serviços à comunidade. In: Penas Alternativas à Prisão: Um estudo sobre os
efeitos subjetivos da Prestação de Serviços à Comunidade. Dissertação (Mestrado em
Psicologia Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. São Paulo, 2000, p. 105-
110.
20
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA JUNGUIANA4
O PESO ESCURO SOBRE OS OMBROS: LIDANDO COM A SOMBRA EM UM PROCESSO
PSICOTERAPÊUTICO
Prof. Ms. Guilherme Scandiucci
Mariana Martinez Mesa Campos
APRESENTAÇÃO
O estágio proporciona o desenvolvimento de habilidades e competências para a
aplicação dos conhecimentos teóricos e técnicos na condução de processo psicoterápico
individual dentro da abordagem da psicologia analítica, inaugurada por Carl G. Jung (1875-
1961). Tem como objetivos desenvolver e apurar o raciocínio clínico através da prática
clínica e de discussões grupais; desenvolver a capacidade de elaboração de documentos
técnicos; prestar atendimentos adequados às demandas da comunidade; e desenvolver
atendimento clínico de acordo com preceitos éticos e legais.
Introdução
No trabalho com esta paciente exploraram-se alguns conceitos desenvolvidos por
Jung. Dentre eles: complexo materno, sombra e persona. Jung (1984) descreve a estrutura
dos complexos como sendo formada por imagens associadas e memórias congeladas de
momentos traumáticos cravadas no inconsciente e não são acessadas facilmente para
recuperação do ego (centro da consciência). Os complexos são fragmentos ou “estilhaços”
que compõem a psique.
“O elemento central é a imagem nuclear e a experiência em que o complexo está
baseado é a memória congelada.” (Stein, 2006, p. 55). Tal núcleo é composto por duas
partes: uma é a imagem psíquica do trauma originador do complexo e a outra é a “peça
inata (arquetípica) que lhe está intimamente associada”. (Stein, 2006, p. 55). Os complexos
se formam por meio de trauma, que cria uma imagem fortemente carregada que se associa
a uma imagem arquetípica. Juntas se congelam numa estrutura razoavelmente permanente.
Essa estrutura tem uma quantidade específica de energia e pode ligar-se a outras imagens
4 Supervisores da área: Profª. Ms. Ana Lúcia Ramos Pandini e Prof. Ms. Guilherme Scandiucci
21
associadas para criar uma rede. Assim, o complexo é ampliado e enriquecido por
experiências semelhantes com aquela que o originou. Os complexos podem irromper de
forma brusca e espontânea na consciência, podendo se apossar das funções do ego ao ser
constelado. (STEIN, 2006).
No caso da paciente, o complexo materno, que está associado ao arquétipo materno,
é constelado com frequência. De acordo com Jung (2000, p.92), “(...) seus atributos são o
‘maternal’: simplesmente a mágica autoridade do feminino; a sabedoria e a elevação
espiritual além da razão; o bondoso, o que cuida, o que sustenta, o que proporciona as
condições de crescimento, fertilidade e alimento; o lugar da transformação mágica, do
renascimento; o instinto e o impulso favoráveis; o secreto, o oculto, o obscuro, o abissal, o
mundo dos mortos, o devorador, sedutor e venenoso, o apavorante e fatal”.
Em relação ao arquétipo da persona, é possível dizer que é tudo aquilo que a
consciência aceita, sendo identificada e absorvida em si tornando-se parte da persona,
associada a uma “máscara” e representa o papel que a pessoa desempenha no mundo.
Whitmont (1990, p. 140) coloca que a persona está associada a um “impulso arquetípico
para uma adaptação à realidade exterior e a coletividade”. Já na sombra, estão as
características negativas, negadas pelo ego.
É interessante notar que, frequentemente, o ego pode se identificar com a persona.
Quando isso acontece, sente-se idêntico a ela, de modo que a sombra fica no inconsciente.
“A sombra é caracterizada pelos traços e qualidades que são incompatíveis com o ego
consciente e a persona”. (Stein, 2006, p.100). A sombra possui características essenciais de
uma pessoa, porém contrárias aos costumes e convenções sociais. Assim, a sombra é “o lado
inconsciente das operações intencionais, voluntárias e defensivas do ego” (Stein, 2006,
p.101). Um fato interessante é que a sombra pode ser tão forte e tão ignorada que, para se
fazer conhecer e “chamar a atenção” da consciência, pode ser somatizada em forma de
doença – entendida, portanto, como comunicação simbólica da psique.
Objetivos
A paciente queixa-se do seu ambiente de trabalho e sobre algumas dores no corpo –
que veio a se concentrar especificamente em seu ombro. Por isso o foco estabelecido visou
uma compreensão de seu sofrimento frente às mudanças ao seu redor, a fim de que ela
pudesse rever a maneira como se coloca no mundo. Conforme o avanço do processo ocorria,
22
o objetivo passou a mirar a necessidade de ela cuidar de si mesma, atentando para que o
complexo dominante não impusesse constantes obrigações ao ego.
Método
O sujeito deste processo é A., uma senhora de 58 anos fortemente identificada com a
persona de trabalhadora (trabalha desde os oito anos de idade). Seu sofrimento está ligado
tanto à saída da Madre, diretora da escola em que trabalha e com quem mantinha uma forte
relação, quanto à exploração que viveu durante toda sua vida. No princípio estava alienada
disso. Os instrumentos utilizados foram: interpretação de sonhos e fantasia, e análise
imagética trazidos por meio da fala não-dirigida (entrevista clínica). O procedimento
consistiu em encontros semanais de 50 minutos (total de 24 sessões).
Discussão
Por meio da queixa principal de A., foi possível trabalhar diversos outros conflitos. A.
sofreu e sentiu a saída da Madre da escola como uma morte e não tinha bom
relacionamento com os novos funcionários. Em 2010 passou pelo processo psicoterápico de
mesma orientação na clínica e foi encaminhada. No início de 2011 ela foi despedida da
escola; contudo foi readmitida devido à ilegalidade desta medida. Tal fato provocou
sentimento de humilhação, fazendo com que seu sofrimento fosse agravado.
Toda vez que falava da Madre, A. chorava. Levantou-se a hipótese de que a Madre
era o estímulo que constelava o complexo materno fortemente carregado em A. A Madre é
um símbolo ligado ao complexo e ao arquétipo materno. Em função disso, A. só conseguia
enxergar hostilidade por parte dos funcionários. Seu ambiente de trabalho era muito
aversivo e A. relata que não sentia motivação nenhuma no trabalho, algo diverso do que
ocorria nos tempos da Madre. É possível inferir que, com a saída da diretora, o complexo
materno ficou na linha de frente. De acordo com Stein (2006), quando um complexo é
constelado, “é como se a pessoa estivesse em poder de (...) uma força muito superior à sua
vontade. Isso gera um sentimento de impotência.”. Jung diz que a constelação exprime “o
fato de que a situação exterior desencadeia um processo psíquico que consiste na
aglutinação e atualização de determinados conteúdos” (Jung, 2001, p.31).
Ao longo do processo, observou-se que o complexo materno perdia força, e assim A.
ia se relacionando melhor com seus colegas de trabalho e este ambiente passou a ser mais
tolerável. A. passou a identificar a necessidade de não realizar tarefas que não eram suas, ao
23
passo que percebia que outrora deixava de fazer muita coisa, como, por exemplo, se impor
perante a nova diretoria – algo que passou a fazer. Como resultado, se sentiu mais
respeitada e menos injustiçada. Ao final da primeira parte do processo, A. começou a
perceber grande necessidade de cuidar de si mesma e deixar de cuidar dos outros, à medida
que o complexo materno perdia força. Apesar disso, ao longo desta etapa, permaneceu
apenas refletindo e acumulando energia para as mudanças necessárias. As ações foram
escassas, embora significativas. A. começava a caminhar.
Na segunda parte do processo, A. passou a se queixar de dores no ombro e obteve
diagnóstico de bursite. Por meio de uma imagem trazida por ela em relação a essa dor (“algo
preto grudado nela, que some do nada”), foi possível trazer à luz a seguinte hipótese: o forte
complexo materno, possuidor de um núcleo arquetípico e que rege seu comportamento
(ainda que menos carregado), está ligado à persona de A. Esta é de uma mulher provedora e
trabalhadora, que não pode parar. Sua sombra, psicossomatizada e projetada em seu ombro
(a sombra de A. aparece simbolicamente por meio da dor no ombro), é de alguém
preguiçoso e ocioso – algo que nunca havia se permitido. Sendo assim, tal dor (sombra) vem
para desacelerar A. e fazer com que ela olhe para si. “De fato, o ego, usualmente, não possui
sequer consciência de que projeta uma sombra.” (Stein, 2006, p. 98).
Durante toda a vida A. foi explorada pelos outros, e principalmente por si mesma. É
separada e criou sozinha a filha e, por isso, não podia experimentar o ócio. Ela viveu a vida
inteira num ritmo acelerado. Isso, de certa forma, gerou uma onipotência, pois A. sempre diz
que antigamente “dava conta de tudo”. Conforme se trabalhou o diálogo entre sombra e
persona, A. passou a se perceber de forma mais integral. Deixou de ser alienada em relação
à exploração que viveu e passou a investir mais cuidados em si mesma. Como resultado, já
não se martiriza quando não consegue fazer algumas coisas. Em consequência, tem se
permitido o lazer. Foi interessante notar que, ao entrar em contato com sua sombra, a dor
no ombro diminuiu.
A. atravessa o processo de individuação; uma de suas características mais fortes é o
fato de que o sujeito passa a rever personas, de modo a abandonar algumas, dando espaço
para que novas “nasçam”. A. passa a refletir sobre seus valores, crenças e atitudes,
corrigindo atitudes que considera prejudiciais. Passou-se a trabalhar questões ligadas ao
envelhecimento. Wenth (2008) afirma que, na doença, abandonamos velhos hábitos, o que
24
ocorre com A., pois deve abandonar hábitos que agravam a dor no ombro. De acordo com
Monteiro (2008, p. 55) “(...) à medida que envelhecemos, devemos cada vez mais ter a
capacidade de RE-SIGNIFICAR nossas vivências, de nos RE-ENCANTAR com a vida em seu
renovar dia a dia”.
Considerações finais
A. passou a demonstrar grande preocupação com sua qualidade de vida e busca
melhorá-la, investindo em mudanças. Por muitas vezes, o complexo materno já tomou a
frente de seu comportamento, mas percebe-se que perde boa parte de sua força
progressivamente. Pode-se dizer que isso ocorre em função do diálogo entre sombra,
persona e ego. Conforme A. “abandona” a persona de trabalhadora, começa a adotar outra
persona, que, parece, vem menos carregada de obrigações e tarefas, e mais consciente da
necessidade de potencializar sua vida de maneira mais múltipla e diversificada. A sombra
ajuda nesse processo na medida em que parte dela passa a ser integrada por essa nova
persona – processo mediado pelo ego agora menos “heroico” e mais flexível frente aos
complexos.
Palavras-chaves: psicoterapia junguiana; sombra; complexo.
Referências:
JUNG, C. G. A natureza da psique. Petrópolis: Vozes, 1984.
_______. A Vida Simbólica: escritos diversos. Petrópolis: Vozes, 2001.
_______. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. Petrópolis: Vozes, 2000.
MONTEIRO, D. M. R. No envelhecer. In: MONTEIRO, D. M. R. (Org.) Puer-Senex: dinâmicas
relacionais. Petrópolis: Vozes, 2008.
STEIN, M. Jung o mapa da alma: uma introdução. São Paulo: Cultrix, 2006.
WENTH, R. C. No processo de adoecer. In: MONTEIRO, D. M. R. (Org.) Puer-Senex: dinâmicas
relacionais. Petrópolis: Vozes, 2008.
WHITMONT, E. C. A busca do símbolo: conceitos básicos de psicologia analítica. São Paulo:
Cultrix, 1990.
25
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE5
A VIVÊNCIA DO CÂNCER COMO OPORTUNIDADE DE REVER A VIDA
Profª Drª Sandra Ribeiro de Almeida Lopes
Flávia Cristina Da Silva Araújo Hodroj
APRESENTAÇÃO
A área de estágio específico em Psicologia da Saúde possibilita que o aluno
desenvolva habilidades técnicas e teóricas na condução do trabalho clínico realizado em
instituições de saúde. Propicia ainda a inserção no cotidiano institucional através do contato
direto com indivíduos em situação de adoecimento e seus familiares, em sintonia com a
equipe multiprofissional. O estágio pode ser desenvolvido em diferentes equipamentos de
saúde, públicos ou privados, por meio de um trabalho de avaliação e intervenção psicológica
individual e/ou grupal.
Introdução
O trabalho que será descrito ocorreu em um Ambulatório de Neuro-oncologia de um
hospital público da Cidade de São Paulo. Neste hospital, o estagiário de Psicologia é inserido
na equipe interdisciplinar e participa ativamente de decisões que visem o bem-estar dos
pacientes atendidos. A clientela do ambulatório é, em sua grande maioria, adultos, de baixo
nível socioeconômico, de ambos os sexos. O ambulatório oferece atendimento para
pacientes com tumor cerebral em qualquer fase do tratamento.
Um Ambulatório é destinado à pacientes para a realização de diagnóstico e
tratamento de alguma patologia específica (PROAHSA, 1978 apud ROMANO, 1999). O
trabalho do psicólogo em um ambulatório deve priorizar o atendimento a pacientes que
tenham problemas emocionais estritamente ligados à patologia orgânica (ROMANO, 1999),
visando trabalhar a forma como o indivíduo lida com os desafios impostos pela doença e
pelos tratamentos.
Neste caso específico, os pacientes chegam ao ambulatório de Neuro-oncologia já
diagnosticados sendo, portanto, acompanhados no processo de tratamento, que pode ser
quimioterápico, radioterápico e/ou cirúrgico. Todos os pacientes são atendidos por uma
equipe de médicos oncologistas, residentes e neuropsicóloga.
5 Supervisores da área: Profª Drª Angela Biazi Freire; Profª Drª Dinorah Fernandes Gióia Martins; Profª Drª
Sandra Ribeiro de Almeida Lopes e Profª Ms. Sandra Fernandes de Amorim
26
O atendimento psicológico é oferecido por estagiários vinculados à Universidade
àqueles pacientes que manifestam demanda emocional frente à situação de adoecimento e
tratamento.
Objetivos
Este trabalho tem como objetivo apontar a relevância do
atendimento/acompanhamento psicológico a pacientes com câncer e seus familiares, em
qualquer momento do tratamento, a partir do estudo de um caso.
Método
João, 59 anos, casado há 37 anos, dois filhos (31 e 29 anos) atualmente aposentado.
Foi atendido no Ambulatório de Neuro-oncologia, após submeter-se a uma ressecção parcial
de um tumor alocado no lobo frontal esquerdo de cérebro. Foi diagnosticado com
glioblastoma, um tumor cerebral maligno, com grau de malignidade IV, necessitando de
radioterapia e quimioterapia via oral após a cirurgia. Descobriu o tumor após uma queda em
sua casa, enquanto colocava uma calha no telhado. Foi assistido pela psicologia desde sua
entrada no ambulatório, totalizando onze atendimentos psicológicos individuais, um
atendimento de casal e quatro acompanhamentos de consulta médica.
Em um primeiro momento, João respondeu de forma tranquila ao diagnóstico,
demonstrando certa indiferença frente ao tratamento proposto. Diante desse quadro,
considerou-se necessário acompanhar o paciente em atendimento psicológico, uma vez que
o mesmo poderia estar em processo de negação da gravidade de sua doença.
Logo no primeiro atendimento, revelou ter trabalhado como militar por mais de 20
anos, em um primeiro momento policial militar, depois bombeiro, e, pouco antes da
aposentadoria, trabalhou em uma divisão administrativa. Demonstrou ter muito orgulho de
ter sido bombeiro, trazendo diversas cenas em que precisava enfrentar as adversidades com
coragem, para salvar a vida de outras pessoas.
Em seus relacionamentos afetivos, demonstrou ser bastante rígido, alegando não
tolerar mentiras e traições. Recriminou o filho mais novo por ter se envolvido com outra
mulher durante o casamento, e por conta desse envolvimento, ter se separado. Sempre
falou da nova namorada do filho utilizando palavras que depreciavam a sua imagem. João
apresentava dificuldade de aceitar mudanças, estando muito ligado às regras e leis.
Nome fictício
27
No sexto atendimento, João relatou que acreditava que seu tumor era um castigo
enviado por Deus, pois há 34 anos havia cometido um erro que considerava imperdoável.
Por conta desse erro, que não chegou a revelar, sentiu que merecia o castigo de ter câncer.
Concomitantemente ao término da radioterapia e ao início de uma nova fase do
tratamento quimioterápico, quando não precisaria comparecer diariamente ao hospital,
João começou a desaminar frente ao tratamento, chegando a negar o atendimento
psicológico uma vez.
Durante essa fase trouxe a história de uma hamster da qual cuidou com muito
carinho e que morreu de câncer algum tempo antes de descobrir seu tumor. Começou a
associar o seu tumor à morte da hamster, alegando que a morte foi um evento muito
significativo e mal elaborado. Afirmava que, para se esquecer da perda do animal, ocupava
sua mente realizando trabalhos em casa, e que, no dia em que caiu, pensava muito em seu
bicho de estimação que havia falecido.
No décimo primeiro atendimento, relatou que a nova namorada de seu filho
começou a frequentar sua casa, e que se sentia mais à vontade com a sua presença. No
décimo segundo atendimento relatou que sentia “a cabeça vazia, faltando uma parte” (sic).
Associou o seu desânimo a essa parte que lhe faltava, afirmando que lhe arrancaram algo do
qual não conseguia nomear.
Disse que sempre gostou de reciclar, e que encontrava coisas jogadas no lixo que
acreditava que poderiam ser transformadas em outros objetos que tivessem utilidade em
sua casa. Guardava os objetos em um quarto apelidado de “Mocó” (entre os policiais, este é
o apelido dado aos cativeiros utilizados pelos sequestradores). Contou que tudo que
encontrava ficava nesse quarto até que ele conseguisse arranjar uma nova utilidade para o
objeto.
Durante o tratamento, João foi delegando suas atividades para as pessoas de sua
família, primeiramente por debilidade física (teve trombose nas duas pernas) e também por
querer que sua família soubesse o que fazer caso ele morresse. Dentre as atividades que
deixou de exercer, estava a visita ao “Mocó”, justificando que estava muito “desorganizado”
(sic) e que ainda não estava preparado para arrumá-lo. Diante da queixa de desânimo e falta
de apetite, foi necessária à incorporação de Fluoxetina em seu tratamento clínico.
28
No último atendimento realizado, João reconheceu que estava mais flexível e que
sentia que ainda podia ser menos rígido, porém reconheceu que estas mudanças ocorreriam
de maneira lenta, já que durante toda a sua vida sempre pensou de uma mesma maneira.
Discussão
João passou grande parte de sua vida trabalhando como bombeiro. Uma das
principais características do trabalho prático desse profissional é a de que se deve primeiro
“apagar o fogo” e depois observar quais foram às consequências do incêndio. A relação de
João com a sua doença pode ter tido o mesmo significado, em que a primeira parte do
tratamento (cirurgia+quimioterapia e radioterapia) tinha sido vivenciada com naturalidade.
Quando o “incêndio” do tratamento inicial se apagou, João pôde ver as consequências que o
tumor havia lhe proporcionado, como a perda de autonomia.
O “Mocó”, local da casa onde João guardava tudo aquilo para que pretendia
encontrar outra utilidade, foi visto pelo mesmo como “desorganizado” (sic) justamente em
um dos momentos quando sua vida estava igualmente desorganizada. Além disso, o local
guardava objetos que deveriam ser reciclados, objetos que deveriam ganhar uma nova
função. O “Mocó” acabou sendo uma representação de seu inconsciente. Assim como o
“Mocó”, a vida de João precisava ser reorganizada; valores, lembranças e afetos guardados
em seu inconsciente necessitavam ser ressignificados. Simultaneamente a melhora de seu
estado emocional, o paciente conseguiu ir ao “Mocó” para tentar reorganizá-lo. Admitiu que
estivesse se percebendo mais flexível, afirmando que “é muito difícil reaprender a viver, mas
agora vejo algumas coisas com outros olhos” (sic). Essa fala mostra que João assumiu sua
dificuldade de mudança, que entendia ser necessário empenhar-se neste processo de
transformação. O medicamento contribuiu para melhora de seu estado de humor, como
também o sono e o apetite, porém, com os atendimentos psicológicos, começou a perceber
melhoras que haviam ocorrido durante todo o seu processo de adoecimento, apesar de
ainda não aceitar que tais mudanças tenham sido desencadeadas a partir do câncer.
Considerações finais
Segundo LeShan (1994), “a terapia de um paciente terminal deve concentrar-se na
expansão, crescimento e libertação do eu e não na recuperação física” (p.78-9). O
atendimento de João visou exatamente à reorganização de sua vida.
29
O caso apresentado comprova a importância do processo psicoterapêutico atrelado
ao tratamento do paciente com câncer no sentido de promover uma melhor qualidade de
vida na vigência da doença e do tratamento.
O atendimento de João possibilitou que ele reavaliasse sua forma de olhar a vida e as
relações afetivas. Passou a assumir uma postura menos rígida e mais tolerante. Atualmente
é capaz de aceitar e respeitar as suas limitações, não exigindo de si uma postura correta a
todo o momento.
Palavras-chave: psicologia da Saúde; câncer; transformação.
Referências Bibliográficas
LESHAN, L.; Brigando pela vida: Aspectos emocionais do câncer. São Paulo: Summus
Editorial, 1994.
ROMANO; B. W.; Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. São Paulo:
Casa do Psicólogo, 1999.
30
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE DO ADOLESCENTE6
A ELABORAÇÃO DO LUTO PELA PERDA DO PAI REAL COMO CONDIÇÃO DE ENTRADA
NOS LUTOS DA ADOLESCÊNCIA
Prof. Ms. Lourdes SantinaTomazella
Rodrigo Mattieli de Cavalho Guilhem
APRESENTAÇÃO
O estágio supervisionado em psicoterapia breve psicodinâmica do adolescente
pretende, por um lado, oferecer ao estagiário do último ano do curso de Psicologia uma
primeira oportunidade de prática clínica dirigida ao adolescente; e, por outro lado, oferecer
tratamentos psicoterápicos à população de jovens de 12 a 18 anos de idade, assim como
acompanhamento psicológico a seus pais, quando necessário.
Introdução
De acordo com Aberastury e Knobel (1976), para que o jovem insira-se na
maturidade, deve elaborar perdas pelo abandono do mundo infantil. Relacionam quatro
tipos de lutos: pela perda do corpo infantil, pela perda do papel e identidade infantil, pela
perda da bissexualidade infantil e pela perda dos pais da infância. Entende-se que tais lutos
inevitáveis são decorrentes das modificações físicas e psíquicas determinadas pela passagem
da infância para a adolescência, envolvendo especificamente quanto aos pais da infância,
introjeções e idealizações. A morte real do genitor poderá desencadear um processo de luto
similar, em muitos aspectos, aos lutos pelas perdas fantasmáticas da infância. Segundo
Fukumitsu e Oddone (2008), o processo de luto é importante como fechamento da situação
inacabada que é a morte de um ente querido, tornando necessário trabalhar a consciência
da finitude como caminho para a re-significação da vida, tendo o terapeuta a tarefa de
confirmar e acolher os sentimentos oriundos da perda.
Objetivos
Apresentação do processo de psicoterapia breve de um adolescente, realizado na
Serviço-escola Mackenzie por terapeutas-estagiários, em três momentos.
6 Supervisores da área: Prof. Ms. Aurélio Fabrício Torres de Mello, Prof. Dra. Berenice Carpegiani, Prof. Ms
Cristine Lacet, Prof. Ms. Lourdes Santina Tomazella, Prof. Dra. Monica M. de Angelis Mota, Prof. Dra. Sandra R. de Almeida Lopes.
31
Através do relato do atendimento, refletir sobre a necessidade de trabalhar, até sua
elaboração, o luto de um menino pela morte do pai como condição de possibilitar-lhe a
entrada na adolescência.
O adolescente e sua história de vida
Atualmente, novembro de 2011, o menino está com treze anos e onze meses de
idade. Quando estava com nove anos, seu pai foi assassinado durante uma "corrida" por um
passageiro que levava em seu táxi. A partir daí, o garoto passou a viver só com a mãe, que,
envolvida nas dificuldades de seu próprio luto, colocou-o "no lugar" do falecido marido. Esta
mãe casou-se tardiamente, o marido foi seu único relacionamento afetivo e sempre esteve
ao seu lado, inclusive tomando todas as providências da criação do filho. Assim, em seus
temores de um novo abandono, esta mãe, quando enviuvou, tentou impedir o crescimento
do menino, como que evitando que ele também "fosse embora". Depois de dois anos do
trágico acontecimento, o garoto até então saudável em todos os aspectos de seu
desenvolvimento, passou a apresentar sintomas. E foi neste momento que a mãe procurou
uma ajuda psicológica para o filho.
O adolescente e seus atendimentos na clínica psicológica Mackenzie
1) Psicodiagnóstico: segundo semestre de 2009
O paciente estava com onze anos e seis meses de idade quando sua mãe procurou o
Serviço-escola referindo que o filho estava mais fechado, triste, com medo de dormir
sozinho em seu quarto e com medo de escuro. O menino confirmou estas queixas,
acrescentando que não se considerava mais uma criança, mas a mãe o tratava como tal.
Neste aspecto, dizia ter uma "dúvida" (sic): agir como queria sua mãe ou agir como os
amigos de sua idade e se arriscar a perder o amor materno. Após a realização de uma
avaliação psicológica, o menino foi encaminhado para Psicoterapia Breve de Adolescente.
2) Psicoterapia breve de adolescente: primeiro e segundo semestre de 2010
Durante dois semestres letivos, o adolescente e sua mãe foram atendidos
individualmente por duas estagiárias-terapeutas, já sob a supervisão da primeira autora
deste trabalho. Ao longo do ano, foram realizadas 25 sessões com a mãe e 26 com o
adolescente. A inclusão da mãe no processo tornou-se imprescindível, pois, impedida por
seus próprios conflitos de elaborar seu luto pela morte do marido, esperava do filho o papel
de um companheiro que a amparasse. Mas, se por um lado, exigia do menino uma conduta
32
inadequadamente madura para sua idade, por outro lado, tentava a todo custo impedir sua
saída da infância para poder controlá-lo e tê-lo sempre a seu lado. O garoto, para não correr
o risco de perder também a mãe, correspondia às suas exigências, ficando impedido de
elaborar seu próprio luto. Enfocando estes conflitos na "área de mutualidade psíquica" mãe-
filho (CRAMER, 1974), objetivou-se: com a mãe, auxiliá-la na elaboração do luto para que
"permitisse" ao menino um desenvolvimento coerente com sua idade; e com o adolescente,
auxiliá-lo na elaboração do seu próprio luto, preparando-o para elaborar os lutos da
adolescência. Ao final do processo, concluiu-se que a mãe conseguira atingir parcialmente os
objetivos propostos, mas necessitava um tratamento que atingisse seus núcleos depressivos,
optando-se por encaminhá-la para Psicoterapia Breve de Adulto. O adolescente já não
apresentava seus sintomas iniciais e dava mostras de ter elaborado o luto pela morte do pai.
Porém, assim que a possibilidade de encerramento do processo foi colocada para o menino,
voltaram seus temores de "perdas". E durante a fase de termino do processo, ele "provou"
para a terapeuta que não estava preparado para uma alta: tinha medo de crescer e perder o
amor materno, assim como tinha "dúvidas de adolescente" de (sic) que não conseguira
conversar com a terapeuta por ela ser mulher.
3) Psicoterapia breve de adolescente: primeiro e segundo semestre de 2011
Este último processo foi realizado em 25 sessões, não coincidentemente por um
terapeuta do sexo masculino (o segundo autor desse artigo), sem a inserção sistemática da
mãe. Na primeira sessão a mãe foi atendida e manifestou preocupação pelo filho estar
mudando muito rápido, tanto física quanto emocionalmente. O adolescente trouxe como
queixa, nesta nova fase, uma dificuldade em se reconhecer, com pensamentos, desejos e
aspirações diferentes de outros momentos de sua vida. Como no ano anterior, também
manifestou dúvidas sobre seguir os conselhos da mãe ou de seus amigos, alegando que
"antes, tudo era mais fácil, eu podia apenas seguir o que minha mãe falava, mas hoje nem
sempre ela está certa" (sic). O paciente ainda demonstrava vergonha do próprio corpo,
chegando a fazer a barba com cera quente, por sugestão da mãe, que não lhe permitia usar
lâmina de barbear. Todas suas queixas estavam ligadas aos lutos da adolescência,
especialmente no caso da perda abstrata dos pais da infância, que se somavam ao seu luto
pelo falecimento do pai, tornando essas elaborações particularmente difíceis. Objetivou-se,
então, criar um espaço para que o paciente se apropriasse de suas questões, para que o
33
processo de passagem da infância para adolescência não lhe fosse ainda mais complicado do
que já é naturalmente. Ao longo do primeiro semestre, o adolescente foi levado a perceber
que muitas de suas preocupações com garotas, mudanças corporais ou dúvidas sobre a vida
adulta também eram compartilhadas por seus amigos da mesma idade. Durante este mesmo
período, ele também passou a depender menos da mãe como confidente e conselheira,
começando a se individualizar. No segundo semestre, o adolescente retornou com novas
queixas: sua mãe estava manifestando interesse em se mudarem para o Nordeste. Ele
terminaria o ensino fundamental no final do ano e sua vizinha, com a qual estava tendo um
relacionamento afetivo, iria mudar-se de casa. A própria terapia se aproximava de sua
conclusão e, como no ano anterior, o paciente parecia temer a ideia de receber alta. Tantas
alterações nas mais diversas áreas de sua vida criaram uma sobreposição de lutos,
obrigando-o confrontar o fim da sua identidade infantil com seu medo de perdas, fruto do
trauma pela morte do pai. Ao longo de todo o processo, foram feitas intervenções acerca de
lutos, levando o paciente a diferenciar o que vivenciou no passado com a morte do pai de
seus lutos atuais, decorrentes de sua atual fase de vida. Próximo ao fim do processo, o
paciente verbalizou: "Eu consegui passar pela morte do meu pai. Acho que consigo passar
por essas coisas também, pois agora eu sou menos criança e mais adolescente". Essas
elaborações e mudanças de auto-imagem, decorrentes da grande capacidade do paciente
para insights, assim como sua menor dependência em relação à mãe, lhe permitiram
individualizar-se e atingir os objetivos propostos pelo processo. E dessa vez, ele não
conseguiu "provar" para o terapeuta e nem para si mesmo a necessidade da continuidade do
processo...
Discussão
No primeiro ano de psicoterapia breve, tanto a mãe quanto o filho partilhavam
angústias decorrentes da morte do pai do paciente. O adolescente conseguiu elaborar esse
luto com maior sucesso que a mãe, que foi então encaminhada para uma psicoterapia
individual. A partir deste momento, o paciente passou a trabalhar sua entrada na
adolescência, além de conseguir diferenciar-se cada vez mais da mãe. Graças à elaboração
do luto pelo falecimento do pai, alcançada anteriormente, o paciente pode apropriar-se de
sua adolescência, desligando-se das idealizações dos pais da infância, alcançando maior
autonomia e confiança. Ao entrar em contato com os lutos característicos da adolescência, o
34
paciente atualizou angústias ainda não elaboradas advindas da morte do genitor em sua
infância. Essa sobreposição de lutos reais e imaginários acabou trazendo-lhe temores
relativos ao seu crescimento. Conforme foram ocorrendo, durante a psicoterapia,
elaborações sobre as diferenças entre o luto vivenciado no passado e os atuais, o temor a
mudanças do adolescente pôde ser superado, diminuindo sua ansiedade quanto ao futuro,
permitindo-lhe até mesmo uma postura otimista para enfrentar mudanças que, com certeza,
ainda acontecerão em sua vida.
Conclusão
Finalmente pode-se concluir que a elaboração do luto pela perda do pai real foi,
neste caso, uma condição obrigatória de entrada nos lutos da adolescência. Além disso,
constatou-se que a psicoterapia breve, por suas características de duração que obrigam um
aprofundado trabalho na fase de término do processo, é uma importante modalidade de
atendimento quando objetiva-se mostrar ao paciente a diferença entre uma separação
determinada pelo absolutismo da morte e as relativas separações da vida.
Palavras-chave: Psicoterapia breve; adolescente; lutos.
Referências
ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência. Buenos Aires: Kargieman, 1976.
CRAMER, B. Interventions thèrapeutiques brèves avec parents et enfants. Psyquiatrie de
l'Enfant, v. 17, n. 1, p.53-117, 1974
FUKUMITSU, K. O.; ODDONE, H. R. B. (Orgs.). Morte, suicídio e luto: estudos gestálticos.
Campinas: Livro Pleno, 2008.
35
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA COMPORTAMENTAL E COGNITIVA7
PASSIVIDADE: ANÁLISE E INTERVENÇÃO NA CLÍNICA ANALITICO-COMPORTAMENTAL8
Prof. Dr. Nicolau Kuckartz Pergher
Livia Fracchetta Negrão
APRESENTAÇÃO
A terapia analítico-comportamental pretende investigar as relações entre variáveis
ambientais e comportamentais, incluindo os sentimentos dos indivíduos. O terapeuta
analítico-comportamental, por meio de intervenções verbais e não verbais, propicia
autoconhecimento e auxilia os clientes a produzirem reforçamento positivo, especialmente
aqueles oriundos de interações sociais.
Introdução
Em análise do comportamento, muito se discute a respeito da estimulação aversiva e
de seus efeitos sobre o comportamento humano. A punição é uma prática de controle
comumente utilizada nas relações humanas e possui uma série de consequências poderosas.
A mais reforçadora das conseqüências, do ponto de vista do agente punidor, é a supressão
imediata da estimulação aversiva do ambiente. Os efeitos da punição para o indivíduo que é
punido envolvem: a ocorrência de respostas de fuga e esquiva, a eliciação de subprodutos
emocionais desagradáveis, o contra-controle e a não aprendizagem de respostas
alternativas.
Sidman (1995) descreve que “não aprendemos a pressionar barra de esquivas antes
de experienciar choques. A primeira causa da esquiva está em nosso passado, nos choques
que já tomamos” (p. 138). Sabe-se que a esquiva tem a função de “prevenir” algum tipo de
estimulação aversiva. Contudo, a topografia da resposta de esquiva pode dar-se de inúmeras
maneiras. Alguns autores fazem a diferenciação entre esquiva ativa e esquiva passiva.
Nesses termos, a esquiva ativa é comportamento expresso, ou seja, a pessoa age e evita,
com sua ação, eventos aversivos. Na esquiva passiva, diz-se que a pessoa não age e, com
essa passividade, evita conseqüências danosas ou desagradáveis (VANDERBERGHE, 2007).
7 Supervisores da área: Profª Ms. Ana Cristina Kuhn Pletsch; Profª Drª Cássia Roberta da Cunha Thomaz; Profª Drª Cristina
Moreira Fonseca; Prof. Dr. Nicolau Kuckartz Pergher; Prof. Thiago Pacheco de Almeida Sampaio. 8 Demais componentes do grupo: Barbara Nogueira, Felipe Bruno, Mayara Lazarini, Mayra Seraceni, Tamala Resende,
Vanessa Pereira, Yuri Busin.
36
O termo “passividade” é facilmente designado e entendido por meio da oposição
com seu antônimo - “atividade”. Esta contraposição pode passar a errônea ideia de que o
comportamento passivo é um “não comportar-se”. De acordo com os princípios da análise
do comportamento, até mesmo o comportamento de permanecer parado ou inerte deve ser
entendido como uma resposta selecionada por seus aspectos adaptativos e funcionais.
Desse modo, deve ficar claro que os comportamentos chamados, neste trabalho, de
“passivos” estão sendo analisados como subprodutos de históricos de punição e que são
passíveis de mudança por meio da identificação e manipulação das variáveis mantenedoras
desses comportamentos.
Objetivos
Este trabalho tem por objetivo apresentar análises de variáveis ambientais que
selecionam e mantêm alguns comportamentos passivos no repertório comportamental de
diferentes clientes atendidos no serviço-escola, bem como apresentar algumas propostas de
intervenção em relação aos comportamentos passivos.
Método
Sujeitos
Para a elaboração deste trabalho, considerou-se o atendimento clínico de oito
clientes. Os atendimentos ocorreram ao longo do semestre letivo, no serviço-escola, em
sessões semanais.
Procedimentos
Foi observado que o tema “passividade” era recorrente entre os casos atendidos
pelos membros do grupo de supervisão. Assim, decidiu-se apresentar alguns recortes de
cada caso que ilustrassem comportamentos de “passividade”, juntamente com um breve
relato das intervenções colocadas em prática.
Discussão
Caso 1: “Antes só do que mal acompanhada”.
A., 30 anos, artista plástica. A cliente tem histórico de rejeição em relacionamentos
afetivos e afasta-se de novos relacionamentos, inclusive evitando falar no tema.
Inicialmente, a cliente preferia falar sobre aspectos de seu trabalho, mesmo quando esse
assunto não parecia envolver sofrimento clínico relevante. A cliente aceitou a análise de que
estava evitando falar no tema “relacionamentos” e, recentemente, envolveu-se
37
afetivamente com rapaz mais jovem, que a valoriza e que não sinaliza a ocorrência de
sofrimento, fazendo com que se sinta confortável e segura nesse relacionamento.
Caso 2: “Antes ‘só amigos’ do que só”.
B., 40 anos, vendedor. O cliente apresenta repertório de descrição das variáveis que
o fazem manter contato com seu ex-namorado, mas não consegue modificar a maneira de
se comportar em relação a ele, permanecendo exposto a condições aversivas. O terapeuta
auxiliou no processo de autoconhecimento e na identificação de novas oportunidades de
reforçamento, apoiando-o na variabilidade comportamental. O cliente parou com o uso de
drogas, diminuiu o contato com o ex-namorado e com a família dele e ampliou seu círculo de
relacionamentos sociais.
Caso 3: “Antes acompanhada do que só”.
C., 48 anos, fotógrafa. Conta que seus familiares sempre a acharam burra e fútil por
gostar de atividades relacionadas ao corpo, como a dança. A passividade é observada na
maneira como a cliente se porta nos relacionamentos familiares, eximindo-se de argumentar
contra os membros da família e vitimizando-se por meio de suas limitações físicas. A cliente,
em estado de privação afetiva, envolvia-se em quaisquer relacionamentos nos quais os
companheiros dessem um mínimo de acolhimento. Entretanto, esses contatos eram todos
perenes. A terapeuta auxiliou na descrição da relação entre as contingências aversivas
experienciadas na infância e a formação de seu autoconceito, além de incentivar posturas
assertivas na presença de familiares.
Caso 4: “Antes só do que acompanhada”.
D., 38 anos, historiadora. A cliente possui uma doença que afeta sua aparência física
e lhe foi dito, por sua mãe, que ela nunca conseguiria um companheiro. A passividade é
observada na dificuldade da cliente em estabelecer relacionamentos sociais, ficando limitada
ao ambiente de trabalho e não se expondo a situações descritas como aversivas por sua
mãe. A terapeuta passou a estabelecer pequenas metas de comportamentos a serem
emitidos em situações sociais, discutindo os efeitos subjetivos observados pela cliente no
cumprimento das metas.
Caso 5: “Antes calada do que só”.
E., 25 anos, projetista. A cliente esteve exposta a conseqüências aversivas verbais e
físicas por parte de seu pai. Atualmente, a cliente exime-se de dizer o que pensa em relação
38
ao noivo, aceitando passivamente o que ele propõe como correto para a vida futura do
casal. Durante o processo terapêutico, foram modelados, em sessão, comportamentos
verbais assertivos em relação ao noivo, fazendo com que ela passasse a expressar suas
vontades e discordâncias em relação às propostas feitas por ele.
Caso 6: “Antes a minha prima do que só”.
F., 83 anos, do lar. A cliente relatou, em diversas sessões, que a prima com quem
mora não a entende e a trata mal. Observou-se que a cliente queixa-se da prima, mas deixa
de descrever o seu papel na relação com ela, bem como deixa de variar seu comportamento.
Embora a cliente reclame da convivência com a prima, analisou-se que a prima provê
reforçadores diversos, inclusive para a classe de respostas de queixar-se. Incentivou-se a
busca por reforçadores em outras relações sociais e fora da casa onde moram.
Caso 7: “Antes mal acompanhado do que só”.
G., 30 anos, estudante de química. Apresentou queixas relacionadas à baixa estatura,
principalmente de baixa autoestima e insegurança nos relacionamentos amorosos e
profissionais. Apesar de relatar insatisfações relacionadas à namorada e à vida profissional,
não apresenta comportamentos efetivos para mudanças, evitando atitudes que possam
gerar consequências aversivas, tais como término do namoro ou não suprir as expectativas
no ambiente de trabalho. Evita emitir respostas que produzam rejeição. Durante o processo
terapêutico, as análises aqui descritas foram apresentadas ao cliente. Assim, espera-se que
possa expor-se assertivamente no relacionamento com a namorada e no trabalho.
Caso 8: “Antes mal-casada do que só”
H., 35 anos, dona de casa. Queixa-se de que o marido é controlador e de que não
consegue expor seus sentimentos e vontades a ele, permanecendo passiva às suas vontades.
Durante o processo terapêutico, a cliente descobriu traições do marido e decidiu terminar o
relacionamento, pedindo a separação. Enquanto a separação não ocorre, a cliente vem
conseguindo colocar limites na presença do marido dentro de casa e na ingerência que ele
tem sobre sua rotina diária.
Considerações Finais
Podemos observar que repertórios comportamentais considerados “passivos” estão
atrelados a históricos coercitivos, nos quais a resposta de esquiva foi uma solução adaptativa
e selecionada. Entretanto, mostra-se uma solução, em última análise, inócua, visto que
39
envolve sofrimento emocional e que as fontes de coerção permanecem inalteradas. O
trabalho do terapeuta analítico-comportamental segue no sentido de auxiliar os clientes na
descrição das fontes de controle e no autoconhecimento referente às reações emocionais e
ao repertório comportamental. A partir disso, o terapeuta exerce o papel de auxiliar os
clientes na produção de reforçamento positivo, especialmente aqueles produzidos nas
relações afetivas e sociais.
Palavras-chave: terapia analítico-comportamental; passividade; esquiva.
Referências
SIDMAN. Coerção e suas implicações. Campinas: Editorial Psy II, 1995.
VANDERBERGHE, L. Terapia comportamental construtiva: uma outra face da clínica
comportamental. Psicologia USP, v. 18, n. 4, p. 89-102, 2007.
40
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ESCOLAR9
RESSIGNIFICANDO A ESCOLA: (DES)CONSTRUINDO CONCEPÇÕES E SENTIDOS
Profa. Dra Roseli Fernandes Lins Caldas
Eduardo Freitas Prates
Malka Sherry Shnaider
APRESENTAÇÃO
Ao longo da história da psicologia escolar paulistana, o espaço do psicólogo foi
ganhando novas versões. Inicialmente participante direto das equipes escolares, depois, dos
espaços gestores e administrativos e, por fim, alijado formalmente da equipe escolar.
Entretanto, a psicologia encontra uma brecha e retorna à rede pública por meio dos estágios
supervisionados em psicologia escolar, como parte da formação no último ano do curso. O
processo de estágio na Universidade Presbiteriana Mackenzie se dá a partir de uma parceria
com algumas diretorias de Ensino em que são levantadas as demandas junto a diretores e
coordenadores e elabora-se uma listagem das escolas que indiquem adesão e desejem
intervenção em psicologia escolar. Os alunos são alocados de acordo com suas
disponibilidades e constroem, em duplas ou individualmente, um escopo das principais
possibilidades de intervenção, a partir de uma análise diagnóstica institucional. Elaboram,
então, em consonância com os educadores, projetos de intervenção, cujos objetivos
principais dizem respeito à atuação do profissional de psicologia diante de alunos,
educadores, gestores e pais, no sentido de promover o fortalecimento de potencialidades
para aprender e ensinar, buscando a desconstrução da naturalização ou individualização dos
processos educacionais. Os resultados têm indicado efeitos positivos em termos de
intervenções institucionais a partir das concepções teóricas que vêm sendo construídas pela
Psicologia Escolar.
Introdução
O estágio foi realizado em uma escola pública de Ensino Fundamental I, situada na
zona norte da Cidade de São Paulo. No primeiro semestre, os estagiários se dedicaram a
conhecer a escola e realizar uma análise institucional que deu origem ao projeto de
intervenção.
9Supervisores da área: Profa. Dra. Carla Biancha Angelucci; Profa. Dra. Roseli Fernandes Lins Caldas; Prof. Dr. Rinaldo
Molina; Profa. Dra. Solange Aparecida Emilio e Profa. Ms. Susete Fiqueiredo Bachereti.
41
As principais demandas da escola referiam-se à dispersão e desinteresse dos alunos,
além da indisciplina e problemas de aprendizagem, tais queixas perpassaram o discurso da
maioria das professoras da instituição que sustentavam a concepção de ‘aluno problema’,
entendendo as questões de escolarização de maneira individualizada e atribuindo a origem
das dificuldades aos próprios alunos ou às suas famílias, tidas como ‘desestruturadas’.
As professoras também indicavam preocupação com alguns alunos que não
acompanhavam as aulas, suspeitando que fossem portadores de problemas específicos
(hiperatividade, déficit de atenção, TDAH, etc.), o que gerou algumas solicitações aos
estagiários de encaminhamentos para atendimento individual, sugestões de trabalhos na
escola focados apenas nestas crianças ou até mesmo indicações de que fossem criadas
estratégias de avaliação para detectar tais problemas.
Entretanto, considerando que o papel do psicólogo escolar consiste em uma atuação
que leve em conta aspectos históricos, sociais e institucionais, de modo que “a escola
produzida precede e inclui a análise psicológica dos processos e relações institucionais
escolares que produzem o fracasso ou o sucesso escolares. Ou seja, a dimensão social e
histórica inclui a dimensão psicológica, e não o contrário” (SOUZA; CHECCIA 2003, p. 120), foi
preciso ressignificar as solicitações advindas dos educadores.
Partimos da hipótese de que não é possível atender às necessidades da escola,
adotando a concepção de aluno problema, já cristalizada na instituição e que por sua vez,
engessa as relações, de modo que “O efeito é a sensação de que não se pode fazer nada,
apenas esperar. Nela pergunta-se muito o porquê de certas coisas e de certos afetos
acontecerem. Como movimentar? Nosso convite é inicialmente problematizarmos as
perguntas que fazemos a respeito dos acontecimentos” (PROENÇA; MACHADO, 2008, p.42).
A proposta de ressignificar concepções e sentidos implicava não só em apontar para
a cristalização de algumas crianças ou das demandas escolares como fatores isolados, mas
reformular algumas perguntas e pensar em estratégias diferentes de atuação. Entendemos
que individualizar a queixa escolar é culpabilizar a criança, desconsiderando-se diversos
outros fatores que implicam a produção desta queixa, sendo o papel do psicólogo escolar
interceder nesta rede de relações.
42
Objetivos
O projeto de intervenção tinha como objetivo refletir e possibilitar novas concepções
e sentidos, atuando em duas frentes: a primeira, voltada aos alunos, e a segunda,
envolvendo as professoras. Ao propormos este trabalho tínhamos como finalidade
possibilitar espaços alternativos de reflexão em que aspectos cotidianos da escola, assim
como o próprio sentido da instituição, fossem problematizados e repensados, atendendo à
demanda da escola.
Método
O trabalho com as crianças foi direcionado para as seis turmas de 3ª e 4ª séries do
período matutino, de modo que as atividades foram organizadas em quatro encontros
semanais de 50 minutos, voltadas a cada uma das turmas.
Estas atividades aconteciam em uma sala vaga da escola e consistiram na confecção
de desenhos individuais e coletivos, jogos e discussões direcionadas aos objetivos do projeto
de intervenção, além da participação das crianças na elaboração das regras,
problematizando e se apropriando do espaço oferecido pelos estagiários. O planejamento
dos encontros e a condução das atividades consideravam o material que as próprias crianças
traziam, de modo que os desenhos, assim como os jogos propostos eram realizados com
base nas demandas, impulsionando reflexões singulares em cada turma.
As atividades com as professoras foram realizadas nas reuniões de HTPC,
contemplando Memórias da escola e a discussão de casos fictícios. A finalidade de resgatar o
passado das professoras como alunas favorecia a inversão de papéis e a valorização dos
professores marcantes, o que possibilitava repensar a demanda institucional, a concepção
de ‘aluno problema’, e, sobretudo, seu valor enquanto educadoras. Criar casos fictícios
permitiu pensar estratégias e possibilidades de atuação, considerando a necessidade de não
individualizar a criança, mas ponderar sobre outros fatores que podem produzir a queixa,
além de contextualizar o papel da Psicologia Escolar.
Discussão
O estágio elucidou algumas questões específicas que dizem respeito à dinâmica da
instituição. O fato de a escola ser tida como modelo na região, obtendo altos índices nas
avaliações do Estado, pode indicar, supostamente, que ela tem um funcionamento ideal.
43
Neste caso, deparar-se com alunos que não atendem às expectativas, pode criar condições
para a produção do ‘aluno problema’, ou seja, o que destoa daquele contexto educacional.
Se levarmos em conta a estrutura rígida das relações que é reforçada pelo
funcionamento “modelo”, as crianças que não se enquadram neste padrão são
sistematicamente excluídas à medida que a queixa escolar é compreendida como individual,
o que pode levar a escola a eximir-se de suas responsabilidades e indicar encaminhamentos
a especialistas.
Levando isto em conta, entendemos a necessidade de antes da construção da
atuação propriamente dita compreendermos a instituição que é porta-voz da demanda e
consequentemente sua produtora, como explica Machado (2008) “(...) O que recebemos, na
maioria dos casos, são crianças portadoras de ‘queixa escolar’, com um pedido de avaliação
psicológica. Entender o que está acontecendo com elas exige o contato com quem
encaminha, pois é nessa relação que a queixa está sendo produzida. (...)” (p. 94).
A proposta de (des)construir e ressignificar as relações da escola e principalmente a
concepção de aluno problema que sustenta este olhar de culpabilização, por parte das
educadoras foi criar espaços para reflexões críticas que levassem em conta a criança imersa
na complexa rede de relações presentes no processo de ensino e aprendizagem.
A intervenção com as crianças seguiu a mesma direção, mas no sentido de
compreender como elas entendiam a escola, seus objetivos e seu lugar, enquanto sujeitos
do processo de escolarização. Os resultados apontaram indícios de alienação tanto da escola
em relação às crianças, como das crianças em relação à escola. A construção de regras com
os estagiários, assim como a participação ativa das crianças nos encontros tinham a
finalidade não só de criar espaços de reflexões, mas condições para que a ação-reflexão e a
perspectiva de mudanças fossem possíveis na escola.
Considerações finais
Embora com muitos desafios e obstáculos, os objetivos do estágio foram atingidos.
Entendemos que apesar de a escola ser modelo na região e assegurar altos índices nas
avaliações, a atuação com as crianças que não se enquadram neste “modelo” e, portanto,
são produzidas e compreendidas na escola como ‘alunos problemas’, constitue um
movimento de culpabilização velado, possível de ser vislumbrado pelas educadoras sob o
prisma da psicologia escolar, o que impulsionou discussões e reflexões na direção de
44
compreender a queixa escolar de modo mais amplo, comprometendo-se na procura de
alternativas para solução.
Não é possível afirmar que estas reflexões desencadearam mudanças imediatas na
instituição, mas o fato de emergirem no espaço com os estagiários indica a possibilidade de
mudança na atuação das professoras que demonstraram plenas condições de refletir sobre
suas práticas, produzir novos sentidos para as queixas e implicar-se na busca de repensar
posições à luz de uma compreensão institucional. Assim, entende-se que a continuidade do
trabalho desenvolvido com estagiários futuros é fundamental para a consolidação deste
processo de intervenção institucional.
Palavras-chave: psicologia escolar; alunos problema; medicalização.
Referências
MACHADO, A.M. Relato de uma intervenção na escola pública. In: SOUZA, M.P.R.; MACHADO,
A.M. (Orgs). Psicologia Escolar: em busca de novos rumos. São Paulo: Casa do Psicólogo,
2008. p. 93-106.
PROENÇA, M; MACHADO, A.M. As crianças excluídas da escola: um alerta para a psicologia.
In: SOUZA, M. P. R.; MACHADO, A. M. (Orgs). Psicologia Escolar: em busca de novos rumos.
São Paulo: Casa do Psicólogo, 2008. p.39-54.
SOUZA, M.P.R.; CHECCIA, A.K.K. Queixa escolar e atuação profissional: apontamentos para a
formação de psicólogos. In: MEIRA, M.E.M.; ANTUNES, M.A.M. (Orgs). Psicologia escolar:
teorias críticas. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. p.105-137.
45
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL E DO TRABALHO10
INSERÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NO MERCADO DE TRABALHO
Prof.ª Ms. Alzira Buse Fernandez
Anibal de Jesus Villares Neto
Nivea Engelender Ramos Evangelista
Rodrigo Mattieli de Carvalho Guilhem
APRESENTAÇÃO
Os estágios de Psicologia Organizacional e do Trabalho configuram-se como um
espaço de atuação e reflexão na área, a partir de parcerias com empresas públicas, privadas
e não governamentais que estabeleçam acordos de cooperação para as atividades
extensionistas e de pesquisa. Assim, buscamos aliar à formação do psicólogo, a elaboração
de propostas que contribuam para o desenvolvimento do potencial das
organizações/instituições e para o conhecimentos e práticas sociais que envolvam a atenção
ao trabalhador. Muitas atividades de estágio ocorrem em um laboratório do núcleo de
Psicologia Organizacional e do Trabalho, espaço destinado ao desenvolvimento de projetos
com as empresas parceiras e outras instituições que tenham como premissa a temática
trabalho e organizações. Dentre as atividades realizadas, encontra-se o Projeto de Inserção
de Pessoas com Deficiência (PCD´s) no Mercado de Trabalho. Este projeto iniciou em 2009,
visando a preparação de profissionais com deficiência e auxílio na inserção no mercado de
trabalho. A premissa desse projeto consiste em problematizar as queixas das empresas
sobre a seleção de pessoas com deficiência e as dificuldades trazidas pelos candidatos e
funcionários. Durante este trabalho, procuramos refletir sobre o papel do psicólogo
organizacional e do trabalho de uma forma ampla e abrangente que contemple as relações
sociais envolvidas.
Introdução
Ao longo da história, verificam-se os diferentes olhares sobre limitação física,
sensorial e intelectual que impactaram nas relações sociais com a pessoa com deficiência. Na
antiguidade, dois povos despontaram como referencial em relação às percepções físicas das
10
Supervisores da área: Prof.ª Ms. Alzira Buse Fernandez, Profª Ms. Andréia de Couto Garbin, Prof. Dr. Daniel Branchini da Silva, Prof. Ms. José Estevam Salgueiro, Profª Ms. Liliane de Paula Toledo.
46
pessoas. Foram Grécia e Roma. No que se refere à Grécia observa-se um culto aos corpos
fortes, sadios, responsáveis pela proteção da sociedade. Enquanto que, para as pessoas com
deficiência, era reservado um destino diferente, de abandono e eliminação (FERNANDEZ,
2009).
No período da Idade Média, a religião, fortemente presente na vida cotidiana, trouxe
a ideia de pecado e castigo para as pessoas que traziam alguma deficiência (PESSOTI, 1984).
Desta forma, fortaleceu-se o estigma de que essas pessoas eram incapazes e ineficientes
para produzir, então o resultado foi a mendicância para a sobrevivência (FERNANDEZ, 2009).
Por outro lado, havia um movimento, levado, sobretudo pela igreja, de assistencialismo, que
em princípio parecia contrário à exclusão. A igreja defendia que as pessoas eram cristãs e
traduziam isso pelo termo “Infant du bom Dieu”. Portanto, mereciam alimentação e abrigo
(PESSOTI, 2009). Segundo o autor, havia uma ambivalência e contradição, pois, na mesma
medida em que o teto acolhe o “infant du bon Dieu”, as paredes ocultam e aprisionam o
inútil. A segregação é mascarada pela caridade e o confinamento se oculta no acolhimento.
(FERNANDEZ, 2009).
No Renascimento, séculos XV e XVII, inicia-se uma ressignificação dos valores,
normas, estatutos, crenças e práticas sociais para a pessoa com deficiência. Com um
pensamento científico e humanista, o místico dá lugar à ciência. Nesse período, há também
registros de acolhimento e assistencialismo da pessoa com deficiência. Elas eram colocadas
em mosteiros, conventos e igrejas, em troca, faziam pequenas tarefas (PESSOTI, 1984). No
século XVIII, surgiram as primeiras descobertas significativas sobre o conhecimento
anátomo-fisiológico que permitiram avanços nos estudos sobre o funcionamento dos olhos e
do cérebro e suas estruturas (FERNANDEZ, 2009). No século XX, devido à grande demanda
de mutilados de guerra, surgiram programas de reintegração, com o objetivo de reinserção
social. Junto a isso, com a finalidade de inserção social, começou-se a organização dos
direitos humanos em prol da pessoa com deficiência. A partir de 1981, a Organização das
Nações Unidas (ONU) institui o Ano e a Década da Pessoa Portadora de Deficiência, o que
abre espaço nos meios de comunicação para uma maior conscientização da sociedade
(FERNANDEZ, 2009).
Embora os avanços tenham sido percebidos e ajudaram a criar um movimento
coletivo em prol das condições de cidadania e dignidade dessa população, ainda hoje, são
47
percebidos na sociedade contemporânea alguns equívocos de concepção acerca da
deficiência. Os lastros da história estão no cotidiano e no convívio social. Atitudes de
vitimização e sobrevalorização em relação a esse público são comumente observadas. Na
atualidade, em função das pressões sociais vivenciadas pelas novas políticas de inclusão no
âmbito nacional e internacional, os temas deficiência, trabalho e formação são relacionados
e convergidos para diferentes movimentos sociais em prol da pessoa com deficiência. Esses
movimentos alcançaram resultados, inclusive, nas políticas públicas e os resultados e
mudanças são verificados, principalmente com o advento da lei de cotas (LEI 8.213/91),
publicada em 24 de julho. Sua finalidade é garantir 2% a 5% de postos de trabalho para
pessoas com deficiência e reabilitados, em organizações com mais de 100 empregados. Esta
lei, amplamente regulamentada no Decreto 3.298/99, estabeleceu a forma de contratação
da pessoa com deficiência e os mecanismos de apoio. Também atribuiu fiscalização nas
empresas para o cumprimento da lei, acarretando em multa e denúncia caso fosse
necessário (FERNANDEZ, 2009). Embora sejam percebidos avanços em favor da melhoria das
condições de cidadania e dignidade das pessoas com deficiência, há ainda muito que se
trabalhar em prol dessa população em todo o país e todo o mundo, para que sejam aceitos
como indivíduos com direitos como qualquer outro.
Objetivos
O projeto “Inserção da Pessoa de deficiência no Mercado de Trabalho” se propõe a
refletir sobre as articulações entre a Psicologia Organizacional e do Trabalho e a temática da
Deficiência. A reflexão se volta a temas sobre trabalho, emprego e inclusão, legislação e
aspectos psicossociais que envolvam as relações laborais, de forma que faça a diferença nos
encaminhamentos profissionais e relacionais. Além da reflexão, existe também o objetivo de
auxiliar, de forma prática, na elaboração dos currículos dos participantes do projeto, para
que sejam entregues em empresas interessadas na contratação de pessoas com deficiência.
Método
As pessoas interessadas em participar do projeto são atendidas no Serviço-escola da
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Os estagiários realizam atividades grupais com 8
pessoas com deficiência, alfabetizadas, de ambos os sexos e idade entre 18 e 45 anos. Os
encontros ocorrem semanalmente, durante 2 horas, num total de 4 encontros. A meta é que
48
os participantes reflitam sobre seu potencial e autonomia, conseguindo estabelecer um
planejamento de vida ocupacional e pessoal.
Discussão
Diante dos grupos com os quais nos deparamos ao longo desse ano, percebemos que
há um desmerecimento por parte das empresas sobre o potencial da pessoa com
deficiência, como se as limitações físicas e sensoriais interferissem na capacidade intelectual.
Os espaços disponibilizados em empresas são de pouca visibilidade, com funções mecânicas,
repetitivas e com raras chances de ascensão profissional, resultados estes que compartilham
com as ideias de Fernandez, 2009. A Lei de Cotas, como instrumento de inclusão
profissional, causou variadas reflexões e percepções no grupo. Ao mesmo tempo em que
abre possibilidades profissionais para os PCD’s, denuncia a grande falha na preparação das
empresas para o recebimento dessas pessoas e na imagem que a sociedade tem sobre essa
questão. Entendemos que, no contexto atual, faz-se necessário uma sensibilização da cultura
organizacional para que se comece a desconstruir os estigmas e estereótipos de
“normalidade” e “anormalidade”, imagens e comportamentos que não cabem mais. Apesar
de percebermos avanços no movimento de inclusão, nossos resultados se aproximaram das
pesquisas (CARVALHO-FREITAS, 2008) que revelam o número inexpressivo de pessoas com
deficiência que estão inseridas com qualidade e dignidade. Neste sentido, o papel do
psicólogo junto a outros profissionais é de extrema importância para auxiliar na reflexão e
nos projetos de inclusão social, além de auxiliar na desconstrução da imagem
estigmatizante, preconceituosa e perversa que ainda presente em nossa sociedade.
Considerações finais
Com a conclusão dos encontros, os colaboradores desenvolveram habilidades
especificas, tornando-se preparados para o mercado de trabalho. Eles tiveram informações
quanto à gestão da diversidade, comportamento no ambiente de trabalho e inclusão. Com
essa reflexão acerca da própria autonomia e potencial, conseguiram estabelecer um bom
planejamento de sua vida profissional e pessoal. Ao terem contato com as perspectivas,
vivências e experiências de outras pessoas com deficiência, puderam aprender mais sobre si
mesmos, elaborando questões pessoais sobre auto-realização ou mesmo acerca da própria
deficiência. Por essa razão, a convivência com outras pessoas com deficiência dentro desse
ambiente rendeu aos colaboradores ganhos não apenas na área profissional, mas também
49
na subjetividade do individuo, ao perceber que muitas de suas questões são partilhadas por
outras pessoas. A realização desse projeto ainda foi enriquecedora para os próprios
estagiários, ajudando-os a repensar alguns entendimentos que porventura possuíam acerca
das pessoas com deficiência. O projeto atuou em uma via de duas mãos, possibilitando aos
colaboradores um ambiente acolhedor no sentido de preparar os indivíduos para que
possam expor suas limitações, livres de julgamento e, ao mesmo tempo, permitiu aos
estagiários envolvidos aprofundarem o contato com as pessoas com deficiência, com suas
histórias, não apenas as relacionadas ao âmbito profissional, mas também ao seu dia a dia. A
partir do desenvolvimento do projeto e das experiências relatadas pelas pessoas com
deficiência, percebeu-se que políticas públicas dedicadas à contratação desse público não
são o bastante para garantir oportunidades iguais. É preciso uma adaptação não apenas do
espaço físico da empresa, mas também de sua cultura organizacional e na forma de
perceber as pessoas com deficiência. É necessário que as políticas públicas e a sociedade
civil se debrucem sobre a inclusão social da pessoa com deficiência.
Palavras-chave: inclusão; Pessoas com Deficiência (PCD); Trabalho; Emprego;
Deficiência.
Referências
CARVALHO-FREITAS, M.N. e MARQUES, A.L., Trabalho e Pessoas com Deficiência, São Paulo,
Juruá, 2008.
FERNANDES, A.B. Temas contemporâneos em psicologia organizacional e do trabalho /
Grupo de estudos e pesquisas em Psicologia Organizacional e do Trabalho – CNPq, LabPOT
– Laboratório de Psicologia Organizacional e do Trabalho. – São Paulo: Expressão & Arte,
2009. Capítulo 2
PESSOTI, I. Deficiência mental, da superstição à ciência. São Paulo, EDUSP – TAQ, 1984.
50
ESTÁGIO ESPECÍFICO EM PSICOTERAPIA BREVE INFANTIL11 A DOR DO CRESCIMENTO
Profª. Ms. Carmen Silvia de S. Nogueira Gabriela dos S. Guarda
Helga Helena B. Martins
APRESENTAÇÃO
O estágio supervisionado em PBI realizado no serviço-escola de Psicologia do CCBS da
UPM oferece ao aluno do último ano de Psicologia a oportunidade de aplicar os
conhecimentos teóricos e técnicos para atuar em psicoterapia com pais e crianças na
abordagem psicodinâmica.
Introdução
A psicoterapia breve infantil considera o contexto familiar com especial atenção à
relação estabelecida entre pais e criança, avaliando que o sintoma da criança guarda relação
com as dificuldades não solucionadas dos pais. O atendimento clínico se volta para a da área
de mutualidade psíquica, da qual faz parte o conflito compartilhado pelos pais e a criança, o
que constitui o foco das intervenções terapêuticas na psicoterapia breve dentro de um
marco referencial de tempo e objetivos limitados. A psicoterapia infantil realiza-se por meio
do brincar, meio, por excelência, de comunicação da criança. Como afirma Winnicott (1979),
a criança quando brinca pode experimentar sua força, sua vitalidade e agressividade sem
precisar esconder-se. Avellar (2004) destaca que o brincar cria a oportunidade para que o
analista use sua capacidade lúdica para intervir e possibilitar à criança sua livre expressão.
Por meio da oportunidade oferecida à criança de brincar num ambiente especializado, ela
pode viver uma nova experiência que a auxilia a estabelecer uma comunicação entre a
realidade interna pessoal e a realidade externa rumo à integração da personalidade.
11
Supervisores da área: Profª. Ms. Carmen Silvia de S. Nogueira, Profª Ms. Cristine Lacet, Profª Dra.Elisa Villela, Profª Dra.
Irani Tomiatto de Oliveira, Profª Dra. Izabella Barros, Profª Ms. Lourdes Santina Tomazella, Profª Ms. Maria Regina B. Albertini, Profª Dra. Tereza Mito.
51
Objetivos
Apresentar um caso clínico de PBI cujo processo foi conduzido por duas estagiárias-
terapeutas e analisar, à luz da psicanálise, o desenvolvimento da criança por meio do
atendimento paralelo pais-criança.
Discutir a importância da expressão da agressividade pela criança nas sessões lúdicas
e a reflexão com os pais sobre as consequências restritivas do medo e do controle presente
nas relações familiares.
A criança, seus pais e sua história
L., garoto de seis anos e meio, e seus pais foram encaminhados para a psicoterapia
breve infantil a partir do processo psicodiagnóstico realizado na própria instituição.
Ao iniciar a psicoterapia, a mãe relatou que L. apresenta o diagnóstico médico de dor
nos membros, sem causa orgânica e de ordem emocional, conhecida como dor do
crescimento. Além disso, tem medo do escuro, de fantasma e irrita-se com facilidade.
Contou-nos que os medos começaram quando mudou da creche para a escola, aos 4 anos. L.
teve dificuldade em adaptar-se ao ambiente escolar por não lhe terem apresentado as
instalações físicas, como o local do banheiro e também, o bebedouro, colocado muito acima
de sua altura, dificultava que pudesse beber água. A mãe culpabiliza-se por tê-lo matriculado
em uma escola que tão pouca atenção dá aos novos e pequenos alunos. Nesta época,
surgiram os medos, e os pesadelos ao dormir. Por esses motivos, os pais mudaram L. de
escola. Nessa nova instituição escolar permaneceu até os dias de hoje, e não apresentou
dificuldade para se integrar. É ótimo aluno. Os pais, especialmente a mãe tinha um discurso
bem articulado e parecia já conhecer as razões que explicavam as dificuldades de seu filho,
não colocando dúvidas acerca do que pensava saber; ao contrário, mostrava controle da
situação. A família é composta dos pais e dois filhos, o paciente e uma filha cinco anos mais
velha. A gravidez de L. transcorreu num clima de preocupação e não foi desejada em função
da gestação de risco da primeira filha. O alívio da tensão deu-se na amamentação, período
descrito como prazeroso e agradável para a mãe. Em toda a família a doença e a dor se faz
presente. A mãe possui artrite reumatoide, está aposentada por invalidez, e foi operada
durante o processo terapêutico; o pai tem hérnia de disco, sentindo dores frequentemente,
e a filha mais velha tem TDAH. Relataram que L. se preocupa com eles e os auxilia nos
afazeres. Os pais mostraram-se muito atentos aos perigos externos, à violência urbana e
52
quando L. comentava sobre o que gostaria de ser quando crescer, a mãe alertava-o para os
riscos e perigos de sua escolha. Não podia considerar a fantasia e a imaginação da criança.
Os pais eram presentes e atentos às necessidades do filho, preocupavam-se com a saúde,
com a aprendizagem, com a produção e eram exigentes em relação ao desempenho dele e
do ambiente. Durante todo o período do atendimento, os dois semestres letivos,
compareceram semanalmente e mostraram-se parceiros e participativos no atendimento
clínico.
Método
O método utilizado foi a Psicoterapia Breve Infantil, criança e pais foram atendidos
individual e concomitantemente por duas estagiárias. Foram realizadas 20 sessões com a
criança e 22 sessões com os pais durante os dois semestres letivos. A idade da criança, o tipo
de problema, os recursos egoicos existentes e a capacidade para estabelecer bom vínculo,
tanto ele (a criança) quanto os pais, configuraram condições favoráveis para o tratamento
com disponibilidade para a mudança.
Discussão
As sessões de L. foram inicialmente marcadas por um comportamento silencioso,
sem estabelecer contato visual e utilizava os brinquedos de modo organizado, separava-os,
por exemplo, pela cor e o que retirava da caixa era devolvido do jeito que encontrava.
Havia ordem no uso dos brinquedos e o conteúdo das brincadeiras expressava
agressividade, destrutividade, fantasias de morte e ausência de reparação. Em seguida, na
mesma sessão, surgiam brincadeiras de temas ligados à aprendizagem escolar mostrando a
importância do saber e da produtividade. Parecia haver uma dissociação entre ser agressivo
e ter boa aprendizagem. Durante algumas sessões, ele brinca sozinho e, aos poucos, propõe
à estagiária-terapeuta um jogo competitivo em que todo o tempo, o comando era dele. Esta
temática permeou as sessões do primeiro semestre e no retorno das férias, a mãe reclamou
da piora do filho. Os medos voltaram, não queria dormir sozinho em seu quarto porque
temia os fantasmas. L. retomou as sessões de modo semelhante ao início do trabalho, mais
quieto e, gradativamente, restabeleceu o contato. Na continuidade do processo, mostrava-
se mais ativo e exibia sua destreza física para jogar. Em seu movimento de expansão, ele
passou a ter atitudes agressivas dirigidas à estagiária-terapeuta, experimentando o espaço
terapêutico como não havia feito ainda. À medida que sua agressividade era comentada, sua
53
intenção desvelada e não criticada, ele mantinha o vigor do jogo e sendo reconhecido em
sua força, ele sossegava.
L. começou a solicitar a ajuda da estagiária-terapeuta, o que não ocorria no início dos
atendimentos; ao contrário, não parecia precisar do outro. Passou a estabelecer um diálogo
por iniciativa própria. Os pais iam relatando as melhoras de L em relação aos medos. O
discurso organizado da mãe e os cuidados em relação à educação de L. indicavam a rigidez
dos pais que pareciam temer o crescimento e a perda de limites. A cobrança com o
desempenho nos estudos, mesmo diante da comprovação do bom rendimento escolar de L.
pode ser reavaliada pela mãe. A preocupação com a violência urbana restringindo os
passeios e atividades livres fora do ambiente doméstico foi um tema modificado pelos pais
que passaram a oferecer mais oportunidades para o lazer. A educação atenta dos pais às
necessidades de L. foi valorizada e, ao mesmo tempo, foi possível discutir a tensão no
cuidado que, com frequência, antecipava riscos e perigos. À medida que ofereciam espaço
para L. se expandir, os pais relatavam as mudanças que percebiam no filho, como por
exemplo, a diminuição da queixa de dores, motivo de satisfação para eles. Os pais
encontraram recursos para auxiliá-lo em relação aos medos e, ao mesmo tempo, eram mais
firmes na imposição de limites frente ao lado ‘mandão’ e autoritário da personalidade de L.,
sem se assustarem. Uma mudança podia ser observada no pai. No início do trabalho, a mãe
se colocava mais, era uma figura forte e dominante e o pai era menos participativo e ao final
do processo, ele mostrou-se mais ativo e quando a mãe sentiu-se mais fraca, o pai foi mais
presente e comentou acerca da dedicação que possuem como pais. A mãe valorizou a
colocação de limites impostos pelo pai ao filho, e ambos atuavam como parceiros na
educação de L.
L. era um garoto com potencial intelectual, defesas bem organizadas e capacidade de
criar vínculo, mostrava-se disponível para o atendimento, o que, e de acordo com Oliveira
(2002), constituem condições psíquicas necessárias para o trabalho terapêutico. Outro
aspecto significativo de L. referia-se a sua capacidade simbólica, o que possibilitou a
construção de um espaço lúdico para a estagiária-terapeuta intervir e ele se expressar. Os
pais foram interessados em conhecer o que se passava com o filho, o que os motivou a
participar ativamente do processo clínico. O controle obsessivo era um aspecto marcante do
funcionamento psíquico dos pais e especialmente da mãe, para quem era preciso estar
54
atenta e vigilante em relação a si, ao outro e ao ambiente. Simon (1986), ao discutir o papel
da obsessividade na vida psíquica, afirma que o mundo exterior fica como um representante
dos objetos internos perigosos e as defesas obsessivas neutralizam a ameaça do objeto
externo, representante do perigo interno. Os medos do paciente foram se atenuando e as
dores não ocorriam com a mesma frequência à medida que podia ser reconhecido em seu
anseio de afirmar seu modo de ser e de se expressar. A agressividade surgia como
movimento, espontaneidade e conforme nos ensina Winnicott (1979) a motilidade, uma das
raízes da agressividade, é fonte de energia e vitalidade. Outro aspecto significativo foi o
assinalamento do gesto transgressor experimentando e testando a sustentação do
ambiente. Ao encontrar na terapeuta alguém que percebia sua intenção agressiva sem
adoecer nem retaliar, mas sabia se defender, ele ficava menos poderoso. Safra (1995) ao
discorrer sobre a visão de Winnicott acerca do setting afirma que o analista ao “sobreviver”
em sua função interpretativa leva o paciente a avaliar a onipotência de suas fantasias uma
vez que o terapeuta não se modifica e nem é destruído por elas. Quando a criança encontra
o “ambiente indestrutível”, ela ousa experimentar a destrutividade, pois há garantia contra
de se rebelar contra algo indestrutível. A queixa de dor nos membros, a dor do crescimento,
foi diminuindo à medida que foi possível encontrar um ambiente que sustentava sua busca
de expansão sem necessitar temer a espontaneidade de seus impulsos.
Considerações Finais
A análise deste caso mostrou que a psicoterapia breve infantil pode proporcionar um
alinhamento entre as necessidades psíquicas da criança e a maior abertura dos pais para o
reconhecimento da diferenciação entre as necessidades deles e as de crescimento do filho.
Nesse percurso, foi possível ampliar o significado da doença a partir de nomeações que
possibilitaram a compreensão da dor do crescimento como expressão da impossibilidade de
inscrição de um estilo pessoal de ser da criança. As dificuldades vividas na primeira gravidez
da mãe pareciam ter contribuído para a superproteção em relação ao paciente, impedindo
sua expressão pessoal espontânea. Além disso, o atendimento clínico infantil destacou as
mudanças ocorridas no paciente por meio do brincar em um ambiente especializado
mostrando-nos, uma vez mais, a eficácia da psicoterapia breve infantil. Apesar de
considerarmos a importância de um maior tempo de trabalho terapêutico para a
55
consolidação das conquistas, concluímos que o trabalho foi bem sucedido por entendermos
que pais e criança puderam se beneficiar do processo terapêutico breve.
Palavras-chave: brincar; psicoterapia breve; mutualidade psíquica.
Referências
AVELLAR, L. Z. Jogando na análise de crianças: intervir-interpretar na abordagem
winnicottiana. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.
OLIVEIRA, I. T. Critérios de indicação para psicoterapia breve de crianças e pais. Psicologia:
Teoria e Prática, v. 4, n.1, p. 39-48, 2002.
SAFRA, G. Momentos mutativos em psicanálise – uma visão winnicottiana. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 1995.
SIMON, R. Introdução à psicanálise: Melanie Klein. São Paulo: E.P.U, 1986.
WINNICOTT, D.W. A criança e seu mundo. Rio de Janeiro: Imago, 1979.
Recommended