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PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE FEIJÃO GUANDU (Cajanus cajan) POR
AGRICULTORES FAMILIARES NO SERTÃO DE PERNAMBUCO
PRODUCTION AND COMMERCIALIZATION OF PIGEONPEA (Cajanus cajan) BY
FAMILY FARMERS IN THE PERNAMBUCO OF SERTÃO
Apresentação: Comunicação Oral
Marileide de Souza Sá1; Wanessa Antas de Morais2; Nadjaneide dos Santos Guerra3; Keyla
Laura Lira dos Santos4
DOI: https://doi.org/10.31692/2526-7701.IIICOINTERPDVAGRO.2018.00198
Resumo A agricultura familiar vem desempenhando um papel essencial na melhoria da qualidade
de vida da população oferecendo ao consumidor um produto livre do uso de agrotóxicos, com
boa qualidade, no qual se podem obter todas as informações de produção diretamente do
produtor. Com isso, o objetivo deste trabalho foi identificar a produção e principais canais de
comercialização do feijão guandu produzido por agricultores familiares em municípios do
sertão pernambucano. Foram aplicados 18 questionários a agricultores familiares
agroecológicos/orgânicos nos municípios de Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo-PE, no
período de 11 a 19 de novembro de 2017, abordando questões que eles vivem no dia a dia,
como as principais cidades de comercialização, preço do feijão (Kg), dificuldades e destino dos
produtos, quem comercializa, área de plantio, tempo na atividade, quando iniciou o cultivo e
quantidade produzida. Os dados foram categorizados e submetidos à análise fatorial por
componentes principais utilizando a rotação ortogonal Varimax, com recursos do software
SPSS® 22.0. Para explicar a produção e comercialização do feijão guandu foram extraídos
quatro fatores, representando 81,4% da variância total dos dados. Verificou-se a partir dos
fatores extraídos que os principais locais de comercialização da produção são as cidades de
Santa Cruz da Baixa Verde e Serra Talhada, sendo a cidade de Triunfo a principal produtora.
A venda é feita pelo próprio produtor, sendo o quilo do feijão vendido entre R$ 6,00 a 10,00
reais. Os principais locais de venda da produção são em feiras, restaurantes, armazéns e banco
de sementes/cooperativas. No entanto, 40% dos entrevistados ainda relataram encontrar
dificuldades na comercialização, devido ao sabor/gosto, preço e preconceito pela população
que desconhece os benefícios nutricionais do feijão. O tamanho médio da área de plantio variou
1Licenciatura em Geografia, discente de Bacharelado em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada. e-mail: marileidezootecnista@hotmail.com 2Discente de Bacharelado em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada.e-mail: wanessa.antas@gmail.com 3Discente de Bacharelado em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada.e-mail:nadjaneide_santos@hotmail.comn 4 Doutora em Zootecnia, Universidade Federal Rural de Pernambuco - Unidade Acadêmica de Serra Talhada. e-mail: keylasantos@gmail.com
de 0,5 a 1,0 hectare (61,1%), a maioria iniciou na atividade há 30 anos (44,4%) por incentivo
dos pais, tradição ou gostarem do feijão (77,8%), sendo as variedades Ligeiro e Custoso (POJ)
as mais comuns na região. Com relação à escolaridade 71,4% das mulheres possuem ensino
médio e apenas 28,6% dos homens, enquanto que 49,9% não completaram o ensino
fundamental. Desta forma, é importante desenvolver trabalhos junto aos agricultores familiares
ampliando o cultivo do feijão, a comercialização de seus produtos e esclarecendo a população
dos benefícios de seu consumo para saúde, para que possam gerar mais renda familiar pela
disponibilidade de um produto de qualidade nutricional no mercado.
Palavras-Chave: Alimento orgânico, geração de renda, qualidade de vida.
Abstract Family farming has been playing a key role in improving the quality of life of the
population by providing the consumer with a product free of the use of pesticides with good
quality and that the consumer can obtain all the production information directly from the
producer. Therefore, the objective of this work was to identify the production and main
commercialization channels of the Pigeonpea produced by family farmers in the municipalities
in the sertão of Pernambuco. Eighteen questionnaires were applied to agroecological / organic
family farmers in the municipalities of Santa Cruz da Baixa Verde and Triunfo-PE, during the
period from November 11 to 19, 2017, addressing issues that they live in daily life, such as the
main commercialization cities , price of beans (kg), difficulties and destination of the products,
who markets, area of planting, time, when the cultivation began, quantity produced. The data
were categorized and submitted to factorial analysis by main components using Varimax
orthogonal rotation, using the SPSS® 22.0 software features. To explain the production and
commercialization of the pigeonpea were extracted four factors representing 81.44% of the total
variances of the data. It was verified from the extracted factors that the main production sites
are the cities of Santa Cruz da Baixa Verde and Serra Talhada, the city of Triunfo being the
main producer. The sale is made by the producer himself, and the kilo of the beans sold between
R $ 6.00 and R $ 10.00. The main production outlets are at fairs, restaurants, warehouses and
seed bank / cooperatives. However, 40% of the interviewees still reported difficulty in
marketing due to the taste / taste, price and prejudice by the population that does not know the
nutritional benefits of the beans. The average size of farms ranged from 0.5 to 1.0 hectare
(61.1%), most of them started planting more than 30 years (44.4%), by parenting, tradition or
liking beans ( 77.8%), being the Light and Costly (POJ) varieties the most common in the
region. With regard to schooling, 71.4% of women have high school and only 28.6% of men,
while 49.9% did not complete elementary school. In this way, it is important to develop work
with family farmers, increasing the cultivation of beans, marketing their products and clarifying
the population of the benefits of their consumption for health, so that they can generate more
family income through the availability of a product of nutritional quality in the Marketplace.
Keywords: Organic food, income generation, quality of life.
Introdução
Ao longo dos anos a população já se organizava em comunidades para a produção dos
produtos para subsistência familiar, pois o alimento é um recurso necessário para sustento
humano, onde a sua falta desencadeia problemas de distúrbios nutricionais, daí a importância
da organização de comunidades sociais para se evitar um colapso alimentar mundial. A
produção do próprio alimento é uma técnica ancestral disseminada pela agricultura humana,
sendo difundida por diversos lugares e culturas. Os primitivos sistemas agrícolas ocorreram
para assegurar a alimentação familiar e coletiva, fundamentando nas grandes áreas de coleta,
caça em pequenos roçados cultivados, utilizando de animais domésticos e consorciação de
produção vegetal (DUVAL et al., 2009).
A procura da população por uma alimentação equilibrada e saudável para obtenção de
uma saúde melhor, fez com que houvesse uma mudança na forma de produção desses alimentos,
mudando a produção de agricultura convencional para uma agricultura orgânica, livre de
produtos tóxicos a saúde humana, preservando assim os recursos naturais, motivando a inclusão
social e um produto diferenciado no final (QUEIROGA et al., 2011).
A agricultura orgânica é um exemplo de agricultura na qual não se utiliza de produtos
químicos sintéticos para a produção de alimentos. Onde nesse sistema estão incluídas as
agriculturas orgânica, biodinâmica, biológica e permacultura, incluindo ainda a agroecologia
que se relaciona com as reflexões a acerca das questões sociais da comunidade agrícola
(OLIVEIRA et al., 2018).
A produção harmoniosa existente na agricultura orgânica através da reciclagem de
nutrientes, e maior aproveitamento dos insumos orgânicos gerados reduzindo dessa forma os
impactos ambientais, poluição e o uso de mecanização pesada. Em determinadas ocasiões se
faz uso de tratores leves, aração e plantio direto para aumento da produtividade, minimizando
o uso de matéria prima externa, produzindo alimentos baratos e de alta qualidade, que podem
prover as necessidades internas e exportar os excedentes (PREISS & MARQUES, 2017).
Segundo Fornazier (2014), essa forma de agricultura resgata conhecimentos seculares das
populações rurais, com a utilização de técnicas atuais, que não venham a agredir o meio
ambiente, mas melhorar a qualidade de vida do produtor e da sua família, como também da
população urbana que procura produtos livres de contaminantes e que não degradem o ambiente
de cultivo. Os produtores antigamente se preocupavam apenas em colocar o produto no
mercado e hoje com a demanda de um consumidor cada vez mais exigente, que se preocupam
com outras características como cor, tamanho, onde é produzido, se respeitam as normas
ambientais e acordos sociais entre outros.
De acordo com Daros et al. (2007), a realização de mudanças na produção requer alguns
custos para regularização da comercialização de seus produtos, o que torna um procedimento
inacessível para pequenos produtores. Com isso, a alternativa são eles se organizarem em
associações e cooperativas a fim de adquirir isenções e minimizar custos com aquisição de
produtos e documentações em maior escala de produção. Por meio dessas organizações os
produtores podem melhorar a renda, gerar empregos, desenvolvimento regional e
consequentemente contribuir para a fixação do homem no campo.
Desta forma, é importante conhecer os aspectos da produção e comercialização do feijão
guandu (Cajanus cajan), por grupos de agricultores familiares em municípios do sertão
pernambucano.
Fundamentação Teórica
As relações de mercado entre os agricultores familiares com os mercados tradicionais são
bem mais complicadas do que são estabelecidas para os chamados ramos do agronegócio. Os
produtores rurais seguem um processo de comercialização advindo de costumes culturais, por
isso, o mercado para a agricultura familiar deve ser ajustado a uma dinâmica própria, as
diversidades produtivas e as características culturais, para que esses produtores garantam a
quantidade e qualidade da produção (OLIVEIRA et al., 2018).
A falta de apoio de alguns municípios para com os agricultores no sentido de melhoria
das condições de infraestrutura, serviços para o progresso do escoamento da produção,
contribuem para a queda na produtividade agropecuária local. Para alguns produtores é preciso
que haja uma conscientização da população sobre o hábito de consumir produtos orgânicos, que
pode está relacionada ao alto preço, baixa oferta e divulgação da qualidade dos produtos
(ROEL, 2002).
De acordo com Fischer et al. (2016), um dos grandes gargalos enfrentados pelos
agricultores é a comercialização de seus produtos, onde muitas vezes são obrigados a expor o
produto a preços baixos para revenda, levando a grandes perdas na comercialização de produtos
fundamentais como feijão, milho e animais de pequeno porte. Dessa forma, não adianta
políticas para melhoria da infraestrutura local, alternativas tecnológicas de convivência com o
semiárido, sem pensar em capacitações, assistência técnica de qualidade, créditos e
comercialização.
Silva et al. (2015) acreditam que através da agricultura familiar podemos melhorar a
eficiência e o desenvolvimento agrícola rural, porém ainda é preciso que sejam sanadas algumas
dificuldades de características sociais. O agricultor é um ser que sabe se desvencilhar das
grandes limitações que lhe afligem, o que o torna potencialmente capaz de elevar a agricultura
familiar pelos sistemas de produção adotados, apesar do enfrentamento de grandes problemas
de contexto ambiental, políticas públicas e recursos voltados para a melhoria do setor.
Dentre os produtos produzidos pela agricultura familiar o feijão representa o de maior
importância para a melhoria da segurança alimentar brasileira, buscando sempre um auto
consumo do produto pela implantação de sistemas de produção cada vez mais livre do uso de
produtos externos para melhoria da produção (SILVA et al., 2015).
Entre as variedades de feijão cultivadas no Brasil temos o guandu, uma cultura de ciclo
anual ou perene, produzindo sementes que são ricas em proteínas, e conseguem suportar solos
de baixa fertilidade, suportando altas temperaturas e condições de seca como a região semiárida
brasileira. Com uma raiz pivotante que penetra em mais de metro do solo, ajudando na
descompactação de solos, as raízes secundárias apresentam nódulos com bactérias do gênero
Rhizobium, que fazem fixação biológica de nitrogênio atmosférico que é cedido a planta para a
formação de aminoácidos e proteínas. O guandu é uma cultivar que pode ser utilizada de
diversas maneiras como interesse forrageiro, fornecedora de grãos para consumo humano, aves,
suínos e melhoradora de solos (SEIFFERT & LOPES, 1983).
Desta forma, o produtor de feijão e produtos orgânicos/agroecológicos apresenta ao
mercado produtos mais atrativos, dispondo de novos mercados, podendo expandir para
territórios mais próximos, valorizando o seu produto com preço diferenciado e competitivo no
mercado, priorizando a sustentabilidade da atividade e melhoria socioeconômica da
comunidade (AOKI et al., 2015)
Metodologia
A obtenção de informações referente à produção e comercialização de feijão guandu
(Cajanus cajan), se deu pela aplicação de 18 questionários a agricultores familiares
agroecológicos/orgânicos nos municípios de Santa Cruz da Baixa Verde e Triunfo-PE.
Foram elaborados questionários semi estruturado, com perguntas abertas e fechadas,
sobre principais cidades de comercialização, preço do feijão (Kg), dificuldades e destino dos
produtos, quem comercializa, qual a área de plantio, o tempo na atividade, início do cultivo e a
quantidade produzida. As entrevistas foram realizadas por uma única pessoa, no período de 11
a 19 de novembro de 2017.
As variáveis respondidas foram categorizadas, sendo atribuídas para as respostas
objetivas: 1 (sim), 2 (não) e 0 (não sabe ou não respondeu). Para as perguntas subjetivas foram
criadas escalas variando de 1 até 7.
Os dados foram submetidos à análise exploratória como frequência e fatorial por
componentes principais utilizando a rotação ortogonal Varimax, com recursos do software
SPSS® 22.0 (2018). Para avaliar a adequação da análise fatorial foi utilizado o teste de Kaiser-
Meyer-Olkin (KMO) e o teste de esferacidade de Bartlett, cujos valores obtidos foram 0,439,
respectivamente, com significância de 0,001.
O critério para escolha do número de fatores foi a raiz latente ou de Kaiser, que retém
os fatores com autovalores superiores a 1.
Resultados e Discussão
Utilizando-se a análise fatorial por componentes principais, 81,4% do total da variância
dos dados podem ser explicadas por quarto fatores (Tabela 1). Podemos perceber que os
autovalores dos primeiros quatro fatores são todos maiores que um, sendo que os fatores
restantes correspondem uma proporção muito pequena da variabilidade e sem muita
importância para influência nos dados.
Tabela 1- Autovalores e percentual das variâncias total explicada.
Autovalores % Total
Variância
% Total
Var. acumulada
1 4,5 37,3 37,3 2 2,4 19,9 57,2 3 1,5 12,3 69,5 4 1,4 11,9 81,4
Observa-se que das 12 varáveis estudadas a proporção da variância explicada pelos
autovalores foi reduzindo para fatores acima de seis, e a curva foi ficando mais próxima do eixo
das abcissas (Figura 1). O número de fatores, sua composição e suas respectivas cargas indicam
quanto cada variável está associada a cada fator e os autovalores associados a cada um dos
fatores envolvidos (ARTES, 1998, citado por SANTOS, 2012).
Figura 1- Autovalores por número de fatores.
A Tabela 2 mostra as cargas fatoriais rotacionadas e as comunalidades para os fatores
considerados. Para explicar os quatro fatores, apenas as cargas das variáveis associadas aos
fatores mais significativos, com correlação acima de 0,500 foram consideradas. Os valores das
comunalidades representam a proporção de variância explicada pelas variáveis comum a cada
fator.
Tabela 2 - Coeficiente de correlação das variáveis com suas respectivas cargas fatoriais e comunalidade.
*Estão em negrito os valores com correlação igual ou superior 50%
O primeiro fator está relacionado com as características da comercialização e explica
37,5% da variância total dos dados. Reúne cinco variáveis com alto grau de correlação: cidade
que comercializa a produção, preço do quilo de feijão, dificuldades na comercialização, quem
Variáveis Coeficiente de correlação Comunalidade
(%) F1 F2 F3 F4
Cidade que comercializa a produção 0,959* 0,071 0,032 -0,098 0,935
Preço do quilo de feijão 0,955 0,200 -0,029 0,001 0,952
Dificuldades na comercialização 0,936 0,112 -0,034 0,024 0,891
Quem comercializa a produção 0,894 -0,307 0,124 0,155 0,933
Destino da produção 0,784 -0,490 0,190 0,042 0,893
Área de plantio de feijão guandu 0,144 0,789 0,113 -0,082 0,662
Tempo que planta feijão guandu -0,139 0,741 -0,271 0,005 0,642
Uso de rotação de cultura 0,149 -0,709 -0,500 -0,016 0,775
Como iniciou a plantação de guandu 0,441 0,552 -0,461 0,267 0,783
Variedade de feijão comercializada 0,152 -0,005 0,904 0,080 0,847
Nível educacional 0,107 0,089 0,139 -0,824 0,718
Quantidade de feijão produzido 0,149 0,066 0,222 0,811 0,733
comercializa a produção e destino da produção.
A cidade de maior comercialização dos feijões são as que possuem feiras agroecológicas
nas cidades, como Santa Cruz da Baixa Verde (50,0%) e Serra Talhada (50,0%). Quem
comercializa nestas cidades também vendem para cidades de Triunfo (66,3%), que se destaca
também como principal produtor e Flores (33,6%). Com relação ao preço do feijão (Tabela 3)
houve uma variação de R$ 6,00 a 10,00, sendo a cidade Serra Talhada onde o preço do feijão é
o mais caro, isso pode ser atribuído ao fato do feijão guandu não ser produzido na cidade, vindo
principalmente das cidades de Triunfo e Santa Cruz da baixa Verde, além do maior poder
aquisitivo da população.
Tabela 3- Preço do feijão guandu comercializado em feiras agroecológicas do sertão pernambucano, no período
de 11 a 19 de novembro de 2017.
Em relação à comercialização 60,0% disseram não ter problema na comercialização do
produto. Porém, 40% dos comerciantes, principalmente em Serra Talhada, relacionaram as
dificuldades da comercialização a sua aceitação pelo consumidor que acha o produto com
sabor/gosto amargo (50%), preço (25%) e preconceito (25%) por considerar um feijão fraco
que não sacia a fome, além disso, está associado com a falta de recursos por parte de quem
consome. Conforme trabalho realizado por Abreu et al., (2016), um dos maiores problemas é
justamente com a comercialização do produto, por não conhecerem ou acharem o grão de feijão
pequeno.
Uma particularidade da produção do feijão guandu é o seu autoconsumo, com 55,5%
da produção destinada a consumo e venda pelo produtor. A comercialização do produto é feita
direto do produtor (100%), sendo os locais de comercialização muito variável: feiras (43,7%),
restaurantes (18,7%), armazéns (18,2%), cooperativas/banco de semente (12%) e
supermercados (6,2%).
O segundo fator, com 19,9% da variância total, está relacionado com as características
do produtor e a adoção de tecnologia. Sendo correlacionadas positivamente as variáveis: área
Cidades Preço médio do feijão guandu verde (R$/Kg)
Triunfo 8,00
Serra Talhada 10,00
Santa Cruz da Baixa Verde 6,00
Flores 7,00
de plantio de feijão guandu, tempo na atividade e como iniciou a plantação de guandu, e
negativamente, com o uso de rotação de cultura.
O tamanho médio das propriedades com área de plantio de feijão guandu variou de 0,5
a 1,0 hectare (61,1%) na maior parte das propriedades analisadas (Figura 2). Corroborando com
o trabalho de Silva et al. (2015), onde as áreas de cultivo dos pequenos produtores ficam em
pequenas áreas em torno de 1,0 ha. Em relação ao plantio, a rotação de cultura é uma técnica
realizada por 88,9% dos produtores, que também não fazem uso de defensivos e fertilizantes
químicos. A rotação de culturas faz com os produtores possam produzir diversas culturas em
sucessivos cultivos, aumentar a biodiversidade, diminuindo o surgimento de pragas e doenças,
favorecendo a produtividade das culturas (SANTOS et al., 2018).
Figura 2 – Área de plantio de feijão guandu por agricultores agroecológicos no sertão pernambucano.
Quanto ao tempo na atividade este variou de um a 30 anos, sendo até 10 anos 16,6% e
acima de 30 anos 44,4% (Figura 3) verifica-se que apesar do feijão não ser produzido em grande
escala é uma cultura que vem sendo cultivada há vários anos. O início do plantio de guandu
ocorreu por incentivo dos pais, tradição ou gostarem do feijão (77,8%) e por sua adaptabilidade
e necessidade de uma fonte de alimentação (22,2%). Assim, é preciso que esta cultura continue
difundida entre os produtores e seus filhos para que o consumo do guandu não venha a se perder
na região.
38,9%
22,2%
5,5%
11,1%
22,2 %
0,5 ha
1,0 há
1,5 ha
Acima de 1 ha e menor 1,5 ha
Acima 0,5 ha e menor 1,0 há
Figura 3 – Tempo em anos que iniciou a produção de feijão guandu.
Com relação ao terceiro fator, ele explica 12,3% variância e 69,5% variância total
acumulada dos fatores 1 e 2, e está ligado com a qualidade ou tipo de feijão comercializado.
Entre as variedades de feijão guandu plantadas na região tem-se preferência tanto para o ligeiro,
quanto para o POJ (custoso), 44,4% respectivamente, e alguns cultivam as duas variedades
somam (11,1%). A escolha da variedade depende da localidade do produtor, das condições
climáticas e do solo no período de cultivo do feijão. Pois a depender da variedade cultivada esta
poderá produzir de 500 a 1.500 kg/há de grãos, com teor de proteína de ótima qualidade
variando de 18 a 32%. Já a sua forragem pode chegar de 18 a 22% de proteína bruta, tornando
uma boa alternativa para alimentação animal (SEIFFERT & LOPES, 1983).
O quarto fator representa 11,9% da variância total dos dados e está relacionado com a
importância social da produção de feijão guandu, sendo correlacionado negativamente com
nível de escolaridade e positivamente com quantidade produzida de feijão.
Verificou-se em relação à escolaridade, que estão sem estudo formal 11,1%, com ensino
fundamental completo 5,5%, fundamental incompleto 38,9%, ensino médio 38,9% e médio
incompleto 5,5%. Ou seja, 49,9% não têm o ensino fundamental completo. Em relação ao
ensino médio completo, destes 71,4% são mulheres e 28,6% são do sexo masculino. Podendo
está relacionada à questão que as mulheres são responsáveis pelos cuidados da casa e da
educação e os homens pelo trabalho, onde nos últimos anos pelas políticas públicas voltadas
para as mulheres, que agora estão se inserindo no trabalho da agricultura. Com relação à
quantidade de feijão produzido 50% produzem em média de 1 a 2 sacos de feijão ao ano.
5,5% 5,5% 5,5%
16,7%
11,10% 11,11%
44,4%
1 -9 meses 1- 5 anos 6-10 anos 11 -15 anos 16 - 20 anos 21 -30 anos Acima de 30anos
Conclusões
A partir dos fatores extraídos verificou-se a importância socioeconômica e cultural da
produção de feijão guandu para os pequenos agricultores do sertão pernambucano, por este ser
produzido em pequenas áreas, servindo tanto para seu autoconsumo quanto para ser
comercializado. No entanto, é preciso que sejam realizados mais trabalhos junto a esses
produtores no sentido de alavancar a sua produção, ampliando a cadeia produtiva e os canais
de comercialização dos seus produtos que ainda são muito restritos as feiras livres e mercados
locais e de cidades vizinhas.
Por outro lado, a falta de conhecimento do valor nutritivo do feijão ainda gera muito
preconceito pela população local. O consumidor precisa ser esclarecido dos benefícios do
consumo do feijão guandu para complementar a sua alimentação com níveis nutricionais
adequados, manter sua saúde e bem estar.
Essas medidas são importantes para ampliar o cultivo do feijão, para que possam gerar
mais renda familiar pela disponibilidade de um produto de qualidade nutricional no mercado e
permanência do homem no campo.
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