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2020 by Editora e-Publicar Copyright © Editora e-Publicar
Copyright do Texto © 2020 Os autores Copyright da Edição © 2020 Editora e-Publicar Editora Chefe: Patrícia Gonçalves de Freitas
Editor: Roger Goulart Mello Diagramação: Roger Goulart Mello
Edição de Arte: Patrícia Gonçalves de Freitas Revisão: Os autores
Todo o conteúdo dos artigos, dados, informações e correções são de responsabilidade exclusiva dos autores. O download e compartilhamento da obra são permitidos desde que os créditos sejam devidamente atribuídos aos autores. É vedada a realização de alterações na obra, assim como sua utilização para fins comerciais.
Conselho Editorial Drª Cristiana Barcelos da Silva – Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
Drª Elis Regina Barbosa Angelo – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Dr. Rafael Leal da Silva – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Dr. Fábio Pereira Cerdera – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro
Drª Danyelle Andrade Mota – Universidade Tiradentes
Me. Doutorando Mateus Dias Antunes – Universidade de São Paulo
Me. Doutorando Diogo Luiz Lima Augusto – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Me. Doutorando Francisco Oricelio da Silva Brindeiro – Universidade Estadual do Ceará
Mª Doutoranda Bianca Gabriely Ferreira Silva – Universidade Federal de Pernambuco
Mª Doutoranda Andréa Cristina Marques de Araújo – Universidade Fernando Pessoa
Me. Doutorando Milson dos Santos Barbosa – Universidade Tiradentes
Mª Doutoranda Jucilene Oliveira de Sousa – Universidade Estadual de Campinas
Mª Doutoranda Luana Lima Guimarães – Universidade Federal do Ceará
Mª Cristiane Elisa Ribas Batista – Universidade Federal de Santa Catarina
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Me.Daniel Ordane da Costa Vale – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Me.Glaucio Martins da Silva Bandeira – Universidade Federal Fluminense
Me. Jose Henrique de Lacerda Furtado – Instituto Federal do Rio de Janeiro
Mª Luma Mirely de Souza Brandão – Universidade Tiradentes
Editora e-Publicar Rio de Janeiro – RJ – Brasil
contato@editorapublicar.com.br www.editorapublicar.com.br
Apresentação
Este volume que está prestes a ler é fruto do movimento, da inquietação e da
curiosidade. Não a curiosidade que pode ser pesquisada em um site de busca, mas uma
curiosidade sobre como é o mundo lá fora. Daqueles que não aceitam somente a informação
como verdade dogmática. Evitam fazer como muitos com o advento do computador,
do smartphone e da internet em confundir a informação com o conhecimento. Daqueles que
sabem que há muito mais lá fora do que informam nos livros didáticos, jornais, seriados do
Netflix ou nas aulas da escola.
Nesta pandemia do Covid-19 essa busca do "lá fora" está ainda mais forte com o
isolamento social e as medidas de contenção de contaminação. No início do século XXI,
passamos pela pior crise de saúde pública mundial, e isso nos mostra que apesar de todos os
recursos e confortos da vida moderna, nada substitui o lá fora.
Mais o que é esse "lá fora". É muito mais do que posso sintetizar aqui. Mas podemos
indicar que tem haver com a experiência do contato do corpo com ambiente, senti-lo e
experimentá-lo, em volto do contato acompanhado do nosso semelhante, outro ser humano,
em que podemos dialogar, responder e ser respondido sobre aquilo que experimentamos
juntos, ou pelo menos acompanhado, e assim aprender com o outro nas várias facetas que a
experiência do "lá fora" pode proporcionar: físico-químico, biológico, analítico, sensível,
simbólico, social, histórico, estético, econômico, jurídico, moral e confiança esperançosa.
Assim, a educação é muito mais que um quadro conceitual cognitivo que se sustenta
em teorias cognitivistas, e também maior que comportamentos condicionados em teorias
comportamentalistas. É um fenômeno complexo, multifacetado, multimodal e profundamente
humano.
Com isso em mente, as coordenadoras desse volume, Alexandra Andrade e Priscila
Morhy, buscaram nas suas experiências educativas apresentar uma alternativa ao "isolamento
escolar", o que chamaram de "educação em espaços não formais", junto ao Grupo de Estudo e
Pesquisa Educação em Ciências em Espaços Não Formais (GEPENCEF) presente na Escola
Normal Superior da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em Manaus/AM. Esse
grupo pesquisa com o que é denominado como espaços não formais há mais de 15 anos,
promovendo um diálogo com elementos da floresta amazônica e outros elementos do contexto
local com seu líder de estudo e pesquisa – Dr. Augusto Fachín Téran.
Como uma "amostra" da Amazônia e de seus elementos, um microcosmo amazônico,
para educação é sempre necessário na condução de práticas educativas multifacetadas um
espaço não formal que apresenta essas condições. Desta forma, esse ambiente de
popularização da ciência é o parque temático "Bosque da Ciência" do Instituto Nacional de
Pesquisa da Amazônia (INPA) em Manaus/AM. Local com mais de 25 anos de divulgação
cultural-científico-ambiental das pesquisas do próprio INPA e da parceria educativa com
professores escolares e de outros níveis de educação, bem como outras organizações da
sociedade civil. Nesse espaço há locais abertos com flora e fauna para lazer ambiental, como
o Lago Amazônico, e locais cobertos e/ou fechados, como o criadouro científico administrado
por laboratório de pesquisa sobre quelônios, por exemplo, ambientes de divulgação científica
(Casa da Ciência), entre outros locais de visita com objetivo de proporcionar a população
local e visitante algumas impressões amazônicas sobre a cultura científica e suas riquezas
naturais.
Está presente aqui neste volume uma coletânea de textos publicados em eventos e
periódicos científicos, e um texto original. Podemos compreendê-los didaticamente como
textos de relatos de experiências acadêmicas e outros textos sobre pesquisas empíricas. Os
primeiros tratam do relato sobre disciplinas vivenciadas no mestrado acadêmico de Ensino de
Ciências em visita ao Bosque da Ciência, no caso são o segundo e o terceiro texto deste
volume. O segundo tipo de textos são investigações junto aos visitantes em algum aspecto
educativo; você encontrará no primeiro, quarto e quinto texto. Todos buscam apresentar o
parque temático Bosque da Ciência como local com potencialidade educacional e suas
impressões pedagógicas em visitantes.
No primeiro texto da bióloga Sabrina Menezes e em coautoria com os ecólogos
Augusto Fachín-Téran e Richard Carl Vogt apresentam o Centro de Pesquisa de Quelônios da
Amazônia (CEQUA) dentro do Bosque da Ciência, e realizam sondagens com estudantes do
ensino fundamental antes e depois da visita, sobre tópicos de biologia e ecologia, desses seres
reptilianos impressionantes. Percebem os impactos importantes e formativos dessas visitas
juntos a esses estudantes.
Os próximos textos, o segundo e o terceiro, são relatos de experiências sobre as
impressões pedagógicas do Bosque da Ciência nos pesquisadores em formação do curso de
Mestrado Acadêmico em Ensino de Ciências desenvolvidas na disciplina Fundamentos da
Educação em Ciências. Esse segundo texto é de autoria da licenciada em Biologia Karoline
Lopes com os professores Elzineide Mello, Mateus Duarte e do ecólogo Augusto Fachín
Terán; há um foco em descrever as atividades ocorridas na vi
visitantes/mestrandos com os elementos naturais florestais, e a percepção da possibilidade
educativas desse contexto não formal. No texto seguinte de autoria das licenciadas em
Pedagogia Francinete Carvalho, Glenda Beltrão e Josiane Fe
Fachín Terán tratam sobre a problemática da alfabetização científica enquanto uma
possibilidade de uma visão aberta de leitura a partir da ciência em que os espaços não formais
científicos possibilitam a relação ao quadro conce
realiza uma apresentação de outras pesquisas com o Bosque da Ciência e também com os
elementos e seres vivos presentes no
O quarto texto é uma republicação da pedagoga Jorgete Mululo e Augusto Fachín
Terán do seu trabalho apresentado no Simpósio de Educação em Ciências na Amazônia na
edição de 2015 (MULULO; FACHÍN
organização nossa, Prof. Augusto e eu, em 2016 (FACHÍN
2016). Novamente apresen
concepções de escolares (estudantes e professores) sobre algumas exposições do parque.
O último texto é um original dos professores Felipe Negrão, Priscila Morhy e
Alexandra Andrade na disci
do curso de Pedagogia da Universidade Nilton Lins. Os autores levantam a problemática do a
"matemafobia". Nos seus resultados junto aos sujeitos veem o enriquecimento do olhar
matemático nos elementos amazônicos do Bosque da Ciência como estratégia motivadora de
um ensino potencial.
Espero que você tenha uma excelente leitura e tenha no "lá fora"
vida e não de medo. A esperança na educação é contagiante em meio a pandemia contagiosa.
Vejamos como viram esses pesquisadores e professores modos de sair de si mesmo e
formarem diálogos criativos, desenvolvimento cidadão e a formação
a realidade.
(Instituto de Ciências Biológicas/Universidade Federal do Amazonas)
Educação em Ciências. Esse segundo texto é de autoria da licenciada em Biologia Karoline
Lopes com os professores Elzineide Mello, Mateus Duarte e do ecólogo Augusto Fachín
Terán; há um foco em descrever as atividades ocorridas na visita e o impacto dos
visitantes/mestrandos com os elementos naturais florestais, e a percepção da possibilidade
educativas desse contexto não formal. No texto seguinte de autoria das licenciadas em
Pedagogia Francinete Carvalho, Glenda Beltrão e Josiane Feio, junto ao ecólogo Augusto
Fachín Terán tratam sobre a problemática da alfabetização científica enquanto uma
possibilidade de uma visão aberta de leitura a partir da ciência em que os espaços não formais
científicos possibilitam a relação ao quadro conceitual e prática de matérias escolares, e
realiza uma apresentação de outras pesquisas com o Bosque da Ciência e também com os
elementos e seres vivos presentes no parque.
O quarto texto é uma republicação da pedagoga Jorgete Mululo e Augusto Fachín
o seu trabalho apresentado no Simpósio de Educação em Ciências na Amazônia na
edição de 2015 (MULULO; FACHÍN-TERÁN, 2015) e depois publicado no livro de
organização nossa, Prof. Augusto e eu, em 2016 (FACHÍN-TERÁN; SEIFFERT
tado neste volume em parte por apresentar resultados empíricos de
concepções de escolares (estudantes e professores) sobre algumas exposições do parque.
O último texto é um original dos professores Felipe Negrão, Priscila Morhy e
Alexandra Andrade na disciplina de Fundamentos e Metodologias do Ensino de Matemática
do curso de Pedagogia da Universidade Nilton Lins. Os autores levantam a problemática do a
". Nos seus resultados junto aos sujeitos veem o enriquecimento do olhar
lementos amazônicos do Bosque da Ciência como estratégia motivadora de
Espero que você tenha uma excelente leitura e tenha no "lá fora"
vida e não de medo. A esperança na educação é contagiante em meio a pandemia contagiosa.
Vejamos como viram esses pesquisadores e professores modos de sair de si mesmo e
formarem diálogos criativos, desenvolvimento cidadão e a formação de uma visão crítica para
Saulo Cezar Seiffert Santos
(Instituto de Ciências Biológicas/Universidade Federal do Amazonas)
Educação em Ciências. Esse segundo texto é de autoria da licenciada em Biologia Karoline
Lopes com os professores Elzineide Mello, Mateus Duarte e do ecólogo Augusto Fachín
sita e o impacto dos
visitantes/mestrandos com os elementos naturais florestais, e a percepção da possibilidade
educativas desse contexto não formal. No texto seguinte de autoria das licenciadas em
io, junto ao ecólogo Augusto
Fachín Terán tratam sobre a problemática da alfabetização científica enquanto uma
possibilidade de uma visão aberta de leitura a partir da ciência em que os espaços não formais
itual e prática de matérias escolares, e
realiza uma apresentação de outras pesquisas com o Bosque da Ciência e também com os
O quarto texto é uma republicação da pedagoga Jorgete Mululo e Augusto Fachín
o seu trabalho apresentado no Simpósio de Educação em Ciências na Amazônia na
TERÁN, 2015) e depois publicado no livro de
TERÁN; SEIFFERT-SANTOS,
tado neste volume em parte por apresentar resultados empíricos de
concepções de escolares (estudantes e professores) sobre algumas exposições do parque.
O último texto é um original dos professores Felipe Negrão, Priscila Morhy e
plina de Fundamentos e Metodologias do Ensino de Matemática
do curso de Pedagogia da Universidade Nilton Lins. Os autores levantam a problemática do a
". Nos seus resultados junto aos sujeitos veem o enriquecimento do olhar
lementos amazônicos do Bosque da Ciência como estratégia motivadora de
Espero que você tenha uma excelente leitura e tenha no "lá fora" uma expectativa de
vida e não de medo. A esperança na educação é contagiante em meio a pandemia contagiosa.
Vejamos como viram esses pesquisadores e professores modos de sair de si mesmo e
de uma visão crítica para
Saulo Cezar Seiffert Santos
(Instituto de Ciências Biológicas/Universidade Federal do Amazonas)
SUMÁRIO
CAPÍTULO I - ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA COM O TEMA DOS QUELÔNIOS
AMAZÔNICOS NO BOSQUE DA CIÊNCIA .......................................................................8
Sabrina Barroso Menezes
Augusto FachínTerán
Richard Carl Vogt
CAPÍTULO II – BOSQUE DA CIÊNCIA: AMBIENTE PROPÍCIO PARA ENSINAR
CIÊNCIAS................................................................................................................................34
Karoline Duarte Lopes
Elzineide Ramos de Melo
Mateus de Souza Duarte
Augusto FachínTerán
CAPÍTULO III – POSSIBILIDADES DE ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NO BOSQUE
DA CIÊNCIA, MANAUS, AM, BRASIL................................................................................40
Francinete Bandeira Carvalho
Glenda Gabriele Bezerra Beltrão
Joisiane da Silva Feio
Augusto FachínTerán
CAPÍTULO IV – INDAGAÇÕES DOS ESTUDANTES DURANTE AS AULAS PASSEIO
NO BOSQUE DA CIÊNCIA, MANAUS, AM......................................................................55
Jorgete Comel Palmieri Mululo
FachínTerán
CAPÍTULO V - ESTRATÉGIAS DE ENSINO DE MATEMÁTICA NO BOSQUE DA
CIÊNCIA (INPA).....................................................................................................................68
Felipe da Costa Negrão
Priscila Eduarda Dessimoni Morhy
Alexandra Nascimento de Andrade
SOBRE AS ORGANIZADORAS..........................................................................................78
8
CAPÍTULO I
ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA COM O TEMA DOS QUELÔNIOS
AMAZÔNICOS NO BOSQUE DA CIÊNCIA1
Sabrina Barroso Menezes2
Augusto Fachín Terán3
Richard Carl Vogt4
A alfabetização cientifica é uma possibilidade da atuação de uma educação comprometida com o
desenvolvimento humano. É um processo educativo que permite as pessoas quando alfabetizadas
cientificamente, fazerem uma leitura do mundo. Vários autores da área de ensino de ciências sugerem que este
deve ser implementado desde a educação infantil. O objetivo deste trabalho foi compreender como acontece o
processo de Alfabetização Científica em estudantes do 7° ano do ensino fundamental II usando o tema dos
quelônios Amazônicos. A pesquisa foi do tipo qualitativa, participativa e foi realizado no Bosque da Ciência no
INPA. Foram aplicados questionários a quatro turmas de escolas públicas e privadas de Manaus. O Bosque conta
com cinco espaços onde podem ser trabalhados diferentes assuntos e obter conhecimentos sobre aspectos da
biologia e ecologia destes repteis. Através da análise das respostas dos estudantes no questionário pré aplicado a
visita do Boque da ciência pudemos extrair seus conhecimentos prévios quanto ao tema abordado e após a visita
ao Bosque da Ciência constatamos que de fato ocorreu a Alfabetização Científica, na análise dos pós-
questionários. Percebemos que os estudantes incorporaram conceitos como carapaça, diversidade de espécies,
diferenças morfologias e dimorfismo sexual. O espaço que se mostrou mais eficiente para se trabalhar a temática
foi o Centro de Estudos de Quelônios da Amazônia – CEQUA, sendo resultado também das análises da
pesquisa. Partindo do pressuposto de que só ocorre mudança diante do conhecimento, destacamos a influência
do trabalho realizado, não só na formação de estudantes cientificamente alfabetizados, mais também na
preparação de cidadãos preocupados com o meio ambiente.
Palavras Chave: Alfabetização Científica. Educação Não Formal. Quelônios amazônicos.
Introdução
A educação prepara o ser humano para o desenvolvimento de suas atividades no
percurso de sua existência. Nesse sentido, faz-se necessário uma educação, ao longo da vida,
a fim de dar suporte aos vários aspectos, sejam eles, econômicos, sociais, científicos e
tecnológicos, impostos por um mundo globalizado (CASCAIS & FACHÍN-TERÁN, 2014).
A educação pode ser do tipo formal, que se dá por meio de instituições, com regras,
seguindo leis e normas (CASCAIS & FACHÍN-TERÁN, 2014); informal, que é descrita
1 Publicado na Revista Brasileira de Educação em Ciência e Educação Matemática. ReBECEM, Cascavel, (PR),
v.2, n.1, p. 92-105, abr. 2018. 2 Coordenadora do Centro de Estudos de Quelônios da Amazônia CEQUEA/INPA..Manaus, Amazonas, Brasil.
E-mail: sabrina.cequas@outlook.com 3 Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia - Universidade do
Estado do Amazonas-UEA. Líder do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação em Ciências em Espaços Não
Formais (GEPENCEF/UEA). Manaus, Amazonas, Brasil. E-mail: fachinteran@yahoo.com.br 4Coordenação de Pesquisas em Biologia Aquática, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, Manaus,
Amazonas, Brasil. E-mail: dickturtlevogt@gmail.com
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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como aquela que ocorre “durante o seu processo de socialização gerada nas relações e
relacionamentos intra e extrafamiliares (GOHN,2006, p.28), sendo então relações que
ocorrem com os membros da família, amigos, vizinhos; e a não formal (aquela que não utiliza
o formalismo escolar) e é uma fonte de motivação de deleite, pois os alunos e visitantes
espontâneos têm a oportunidade de vivenciar experiências únicas (MACIEL & FACHÍN-
TERÁN, 2014).
A educação, portanto, pode ocorrer em diversos espaços, iniciando no primeiro grupo
social que é a família, e estendendo-se para outros espaços como na comunidade, na escola,
em parques, zoológicos entre outros, na interação dos indivíduos com o meio. Jacobucci
(2008) diferencia os espaços educativos em institucionalizados (museus, zoológicos,
planetários, entre outros) e não institucionalizados (rios, praias, lagos, florestas, ruas, entre
outros). É importante utilizar outros espaços para a complementação dos conteúdos abordados
em sala de aula, visto que “a grande quantidade de informações que surge no mundo moderno
nos faz perceber que a escola, por si só, não consegue dar conta ou resolver todos os
problemas oriundos do conhecimento” (MACIEL & FACHÍN-TERÁN, 2014, p.23)”.
Diante disso percebe-se a necessidade de estabelecer parcerias e utilizar outros
espaços educativos, presentes na comunidade, para que os estudantes tenham uma educação
mais contextualizada (CASCAIS & FACHÍN-TERÁN, 2014). Se faz necessário que as
escolas integrem visitas aos Espaços Não Formais, com objetivo científico, e não somente
como passeio ou atividade complementar, sendo essa interação parte do processo do ensino e
da aprendizagem (CASCAIS & FACHÍN-TERÁN, 2015).
Considera-se que a maioria das pessoas passa um período relativamente pequeno da
vida frequentando a escola (ROCHA, 2008). Sendo a escola não somente um lugar de
transmissão de conhecimento, mas de sua (re)construção, ou seja, é preciso respeitar os
diferentes ritmos e necessidades dos estudantes no processo ensino-aprendizagem, situação
que demanda ainda
mais tempo, até que sejam capazes de apreender o conhecimento científico (ROCHA
& FACHÍN-TERÁN, 2013). Portanto, é preciso desenvolver outras formas de elas
continuarem aprendendo depois que deixam essa instituição. Considerando as limitações da
escola e a necessidade da educação em ciência, profissionais de diferentes contextos se
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
10
dedicam em oferecer uma educação científica que possibilite aos indivíduos qualidade de vida
e exercício pleno da cidadania (ROCHA, 2008).
Objetiva-se que por meio do conhecimento científico e tecnológico as pessoas possam
contribuir para o auto-desenvolvimento e o desenvolvimento do país (ROCHA, 2008). Para
que isto ocorra, uma das estratégias pode ser a promoção do ensino em espaços educativos
não formais tendo como norte a Alfabetização Cientifica. Nesse sentido, os Espaços Não
Formais se tornam fundamentais no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, visto que
as aulas ministradas nesses espaços favorecem a observação e a problematização dos
fenômenos físicos e biológicos de uma forma mais concreta (CUNHA, 2009). Na busca da
formação de indivíduos comprometidos, críticos e participativos surge um elemento
primordial neste processo, a Alfabetização Científica (ALMEIDA & FACHIN-
TERAN,2013).
A Alfabetização Científica é um meio utilizado para que os indivíduos sejam
alfabetizados para ler a linguagem das ciências, tendo aporte para compreender as questões
que ocorrem em sua volta, ajustando-as para a melhoria de sua realidade (CHASSOT, 2010,
p.41). Para Lorenzetti e Delizoicov (2001) a Alfabetização Científica proporciona aos
indivíduos uma melhor visão sobre o mundo, devido a isto, seria de total relevância o contato
da AC desde a primeira idade escolar.
Para Chassot (2010, p.74), “a cidadania só pode ser exercida plenamente se o cidadão
tiver acesso ao conhecimento”, por isso, mais do que nunca, é necessário fomentar e difundir
a Alfabetização Científica em todas as culturas e em todos os setores da sociedade, a fim de
melhorar a participação dos cidadãos na tomada de decisões relativas à aplicação dos novos
conhecimentos (CONFERENCIA MUNDIAL SOBRE LA CIENCIA, BUDAPESTE, 1999).
A Alfabetização Cientifica sobre o tema “Quelônios amazônicos” se torna necessário
devido à importância ecológica que estes repteis tem para o ecossistema amazônico. Segundo
Andrade et al.(2007) devido à caça de adultos e à coleta de ovos, as populações de quelônios
vêm desaparecendo. Adultos e ovos são coletados pelas comunidades locais para consumo e
venda em Manaus. Eis aí a importância da utilização da Alfabetização Científica com o tema
quelônios amazônicos.
Refletir a práxis em muitas situações pode não ser tão confortável, mas é importante
ter consciência que qualquer mudança por menor que seja na rotina educativa já resultará em
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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um diferencial no processo de aprendizagem. Esse diferencial para a construção de saberes
científicos pode ser o BC, na perspectiva de reflexão do ser humano acerca do meio em que
vive. Este ambiente é um laboratório a céu aberto que permite aos visitantes o contato direto
com a natureza (OLIVEIRA et al., 2010). O BC é um espaço que desperta nos visitantes,
sejam eles estudantes ou não, a curiosidade e a indagação, pois, estes trazem uma bagagem de
informações e experiências que podem ser contextualizadas nesse local, além disso, apresenta
ambientes próximos da realidade dos estudantes amazonenses.
O BC mostra-se utilitário para a associação e configurações mais autônomas entre os
diversos tipos de frequentadores. Embora se configure num espaço que dá liberdade de ir e vir
para quem a visita, não deixa de ser favorável para a construção do conhecimento cientifico
ou escolar, sobrepujando qualquer expectativa de quem se propõe a usá-lo como espaço de
aprendizagem (OLIVEIRA et al., 2010).
Nesta pesquisa descrevemos o processo de Alfabetização Científica nos ambientes do
BC. Para tal fim nos traçamos os seguintes objetivos específicos: 1) Descrever os espaços do
Bosque da Ciência que podem ser usados no processo de Alfabetização Científica, usando o
tema dos quelônios Amazônicos; 2) Averiguar que conhecimentos prévios possuem os
estudantes de 7° ano do Ensino Fundamental sobre os quelônios Amazônicos; 3) Analisar de
que forma o conhecimento adquirido no BC contribuiu para o processo de Alfabetização
Científica.
Material e Métodos
A pesquisa teve a abordagem qualitativa, associada à coleta, análise dos textos e das
informações dos questionários. A pesquisa qualitativa é definida como aquela que trabalha
com um foco na interpretação, não diretamente ligados ao trato matemático dos dados, mas
sim ao trabalho oral, escrito, com imagem, som, símbolos, etc. (MOREIRA, 2004, p.17).
Contudo, também foram considerados dados quantitativos para análise interpretativa,
principalmente referente ao questionário dos estudantes.
Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos da pesquisa foram 100 alunos do 7° ano de Ensino Fundamental II de três
escolas públicas e uma particular da cidade de Manaus. O número de participantes por escola
foi: 22 da Esc. Municipal Padre Puga, 30 da Esc. Est. Djalma Batista, 23 da Esc. Adventista
de Manaus, 25 da Esc. Est. Tiradentes.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Local de Pesquisa
A pesquisa foi realizada no Bosque da Ciência, localizado no Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia – INPA, e em escolas públicas e privadas.
Bosque da Ciência
Inaugurado em 1º de abril de 1995, como parte das comemorações do 40º aniversário
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia - INPA. Concretizou-se, assim, um antigo
sonho de abrir as portas do Instituto ao público. O local já foi descrito por Rocha &Fachín-
Terán (2010) e Maciel &Fachín-Terán (2014).
O Bosque da Ciência tem aproximadamente 13 (treze) hectares, e esta localizado no
perímetro urbano da cidade de Manaus na Zona Central - Leste. Projetado e estruturado para
fomentar e promover o desenvolvimento do programa de Difusão Científica e de Educação
Ambiental do INPA, ao mesmo tempo preservando os aspectos da biodiversidade existente no
local (Figura 1).
Entre os seus objetivos pretende oferecer à população uma nova opção de lazer com
caráter sócio-científico e cultural, propiciando aos visitantes interesse pelo meio ambiente,
além de oferecer atrativos turísticos e entretenimento.
Figura 1. Entrada do Bosque da Ciência. Fonte: Augusto F. Terán.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
13
Localização das escolas
Escola Municipal Padre Puga:
Rua José Monteiro, S/N - Japiim, Manaus - AM, 69078-400 (Figura 2).
Figura 1- Esc. Municipal Padre Puga
Escola Estadual Bilíngüe Djalma Batista:
Av. Gen. Rodrigo Otávio, 1600 - Japiim, Manaus - AM, 69077-000 (Figura 3)
Figura 2- Esc. Estadual Djalma Batista
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Escola Adventista de Manaus:
Av. Sete de Setembro, 1887 – Centro (Figura 4).
Figura 3- Esc. Adventista de Manaus
Escola estadual Tiradentes:
Av. Codajás, 1521 – Petrópolis (Figura 5)
Figura 4 - Esc. estadual Tiradentes
2Percurso Metodológico
O percurso metodológico está ancorado na abordagem qualitativa descritiva e na
utilização das técnicas de observação e aplicação de questionário. O conteúdo sobre os
“Quelônios amazônicos” do 7° ano do Ensino Fundamental, esta embasado nos Parâmetros
Curriculares Nacionais: Ciências Naturais e Meio Ambiente (BRASIL, 1997).
O tempo médio para usado para as visitas foi de 1h e 30 min a 2h de duração, tempo
suficiente para os estudantes percorrerem os espaços selecionados:
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Casa da Ciência + Ilha da Tanimbuca: onde foi trabalhado o contexto histórico dos
ribeirinhos e as tradições do consumo de carne dos quelônios na região Amazônica. Foi
realizada uma explicação sobre os táxons, diversidade de espécies, morfologia, alimentação,
habitat, modo de reprodução e importância ecológica dos quelônios.
Ilha da Tanimbuca + Recanto dos Inajás: onde foi trabalhada a diversidade de espécies
contidas nesses espaços, características morfológicas, diferenciação entre espécies, habitat,
alimentação, reprodução e interação com outras espécies de peixes, além de ressaltar a sua
importância ecológica.
Lago Amazônico + CEQUA: onde foi apresentada a diversidade de espécies,
características morfológicas, diferencias entre as espécies, habitat, alimentação, interação com
outras espécies, reprodução, dimorfismo sexual e sua importância ecológica.
Entrevista com os alunos
Para conhecer o conhecimento prévio dos estudantes sobre os quelônios Amazônicos,
foi aplicado um questionário nas escolas (Apêndice 1). Para verificar indícios de
Alfabetização Científica, o mesmo instrumento foi aplicado nas escolas após uma semana da
visita ao Bosque da ciência.
Resultados e Discussões
Espaços no Bosque da Ciência que possuem material sobre os quelônios Casa da Ciência
A Casa da Ciência foi inaugurada em 20 de maio de 1993, dois anos antes de se
iniciarem as atividades no Bosque da Ciência. É um espaço que permite uma visão de forma
interativa, transmite aos visitantes os projetos e programas realizados pelo INPA, e como os
resultados dessas pesquisas podem interferir diretamente no dia a dia das pessoas. É um local
que mostra a Amazônia de maneira histórica podendo transmitir atividades costumeiras de
ribeirinhos e as fases pelas que a região passou.
É composto por painéis informativos, animais empalhados, incluindo tartarugas da
Amazônia, com informações impressas interagindo com material da fauna e da flora
amazônicas, maquetes, aquários, amostras de produtos tecnológicos, implantação de um
ambiente interativo com conteúdos digitais diversificados, uso de tecnologia de comunicação
e informática e recursos multimídia, além de exposições digitalizadas (Figura 6).
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Figura 6: Casa da Ciência. Fonte: Augusto F. Terán
A Ilha Tanimbuca
A Ilha da Tanimbuca, retrata a conservação ambiental e seus componentes
harmoniosos, onde compreende uma calha e espelho d'água que compõem vários peixes e
quelônios da região. Tem uma arvore emergente de mais de 600 anos chamado de Tanimbuca
(Buchenaveahuberii - Combretaceae), que retrata sua existência o tempo em que o Brasil foi
descoberto (Figura 7).
Figura 7. Ilha Tanimbuca apresenta diversas espécies de quelônios.
Fonte: Augusto F. Terán (2017).
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Recanto dos inajás
Ambiente composto por vegetação de palmeiras conhecidas como “inajás”
(Maximilianamaripa). Possui um lago artificial com diversas espécies de peixes, entre eles o
tambaqui, os acaras e poraquês, plantas aquáticas e tartarugas como o tracaja, P. unifilis e P
erytherocephala (Figura 8).
Figura 8. Recanto do Inajás. Fonte: Augusto F. Terán.
Lago Amazônico
É um ambiente artificial que retrata a flora e a fauna da região. Este local estahabitado
diversas espécies de quelônios, como a Tartaruga-da-Amazônia (Podocnemisexpansa),
Tracajas (Podocnemisunifilis), Irapuca (Podocnemiserythrocephala) e peixescomo o
tambaqui, tucunaré e pirarucu) (figura 9).
Figura 9. Lago Amazônico. Fonte: Augusto F. Terán
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia – CEQUA
O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) com o intuito de desenvolver
pesquisas e educação ambiental na conservação de quelônios, inaugurou nas dependências do
Bosque da Ciência, no dia 12 de fevereiro de 2015 o Centro de Estudos de Quelônios da
Amazônia (CEQUA). Este é o primeiro centro do mundo habilitado para estudos e exibição
de quelônios amazônicos (figura 10).
Figura 10. Prédio do Centro de Estudos dos Quelônios da Amazônia (CEQUA).
Fonte: Sabrina Menezes
Conhecimentos prévios dos estudantes sobre o tema “quelônios amazônicos”
O levantamento sobre os conhecimentos prévios dos estudantes aconteceu na escola.
Conceitos padrões para análise das respostas do conhecimento dos estudantes a respeito
dos quelônios amazônicos:
Sobre os temas abordados nos questionários foi listado os conceitos padrões com base
em pesquisa já realizadas por Vogt (2008), no Livro Tartarugas da Amazônia (Apêndice 2).
Explicação do professor sobre as tartarugas
Em todas as turmas pesquisadas, em nenhuma o professor havia falado sobre tartarugas,
apesar de que o estudo de vertebrados, que inclui as tartarugas são assuntos de 7° ano segundo
o PCN (BRASIL,1997).
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
19
Definindo o que são as tartarugas
Dos 100 alunos entrevistados, 85 falaram que sabiam sobre tartarugas e 15
desconheciam sobre este assunto. Percebemos que apesar de o nome “tartaruga” ser
conhecido, ainda há estudantes que não conhecem este animal.
Na Amazônia existem 17 espécies de tartarugas, nesta pesquisa abordaremos o
conceito de 14 delas (Apêndice 2).
Conhecimento dos estudantes sobre as diferentes temáticas abordadas
Análises dos questionários com abordagem nas temáticas apresentadas na tabela 2.
As respostas foram avaliadas mediantes a comparação dos conceitos padrões,
aceitando as respostas como satisfatória (RS) quando se é citado pelo menos duas das
características, sendo interpretada da forma como os estudante definem o conceito.
Houve um aumento significativo em todas as respostas sobre todos os assuntos
pesquisados. O que significa que ocorreu uma alfabetização cientifica significativa (Tabela 1).
Tabela 1. Respostas sobre os diferentes temas pesquisados
TEMÁTICAS ENTREVISTA (N=100)
PRÉ PÓS
RS RNS RS RNS
Morfológicas 58 42 89 11
Habitat 50 50 75 25
Alimentação 31 69 62 38
Reprodução 23 77 46 54
Dimorfismo sexual 10 90 54 46
RS= Respostas satisfatórias, RNS = não satisfatórias
Nas respostas dadas pelos estudantes (Quadro 1), é notório o conhecimento cientifico
de alguns estudantes, tal como o A6, que ao se referir ao casco chama-se por carapaça,
mostrando também que existe diferentes espécie, se referindo a diversidade. O A56 já se
refere a sua Classe, que são répteis. O A82 já é mais específico, citando a existência das 17
espécies da Amazônia, além de categorizá-los como quelônios (ordem das tartarugas). Já o
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
20
A90 além de citar a classe (répteis) a ordem (quelônios), que elas utilizam o casco para se
defender e se refere a parte ventral do animal como “plasto”, referente ao plastrão, que é a
parte ventral destes animais.
Quadro 1: Respostas dos alunos sobre a Morfologia dos Quelônios
Aluno O que são tartarugas? Você já viu uma? Fale como elas são.
Pré Pós
A6 Eu acho que elas são mamíferos.
Não.
Sim, ela era bem grande e sua carapaça
também. Existe vários tipos de
tartarugas, algumas grandes e outras
pequenas.
A56
Eu já vi na TV. Elas eram do tipo
que vivem na água. Elas tem casca
grande e anda lentamente.
São repteis, Com casco grande e duro.
Conheci vários tipos de tartarugas.
A82
São repteis. Sim, possuem uma pele
enrrugada, um casco duro, são
repteis que botam ovos.
Na Amazônia existem 17 espécies com
suas características. São répteis, que
são chamadas de quelônios. Vi no Inpa
e antes. Existem várias espécies, uma
com manchas amarelas na cabeça,
outras vermelhas, pequenas e grandes,
etc.
A 90 Sim, é um animal. Tinha uma casca
para se proteger. São vegetarianas.
São quelônios, répteis. Vi adultas,
jovens e filhote e tinha uma carapaça e
também o plasto. Em cima dela tinha
um casco uma proteção chamada
carapaça.
Sobre o habitat dos quelônios somente 50 dos estudantes participantes conseguiram
definir antes da visita. Após a vista 75 deram uma resposta satisfatória (Quadro 2).
Nas pré respostas predomina o conhecimento de que estes animais vivem em meu
aquático, já nas pós respostas constatamos que os estudantes possuem uma visão mais ampla,
reconhecendo que existe espécies tanto aquáticas quanto terrestres, e em diversos ambientes,
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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como os rios, mar (se referindo a tartarugas marinhas), lagos e igarapés, mostra-se então a
assimilação do conhecimento por parte destes estudantes (Quadro 2).
Quadro 2: Respostas dos alunos sobre o habitat dos Quelônios
Aluno Onde as tartarugas vivem?
Pré Pós
A17 Nas águas Depende, umas vivem na terra e outras na água.
A51 Em lagoas Em rio, mar ou lagos.
A69 Não sei Tanto na terra quanto no água
A86 Na água e na terra Nos rios, lagos e igarapés.
No tema da alimentação o conhecimento dos estudantes mudo 100% com respeito ao
conhecimento prévio.
Os estudantes puderam distinguir que “algumas” referente a “certas espécies” se
alimentam de peixes, quanto outras de plantas. O A90 pode até caracterizar e diferenciar os
carnívoros dos herbívoros (Quadro 3).
Quadro 3 - Respostas dos alunos sobre alimentação dos Quelônios
Aluno Do que elas se alimentam?
Pré Pós
A22 Elas se alimentam de
plantas
Algumas de peixes e outras de plantas.
A53 De algas Algumas se alimentam de peixes e outras de
semente
A82 Não sei Se alimentam de peixe e algumas de plantas
A90 De algas e plantas Carnívoro: de peixes e restos de carne
Herbívoro: plantas r e pequenas frutas
Houve uma mudança de respostas de 100% com respeito ao conhecimento prévio.
Apesar de termos observado uma dificuldade para os estudantes descreverem sobre a
reprodução tanto antes quanto depois da visita, notamos na quadro 7 que os alunos se
referiram aos locais de desova, descrevendo na praia ou em matos, diferenciando perfis
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biológicos de espécie para espécie. No caso da Tartaruga-da-Amazônia que desovam nas
praias, já o tracajá além de desovar nas praias pode escolher locais com sombras na bordas
das florestas, diferente da Perema, que pode fazer seus ninhos na base de troncos e raízes
onde cobrem com folhagens. É interessante ressaltar que as Tartarugas-da-Amazônia tomam
sol em grupo e desovam, como o A10 descreveu. Os estudantes também descreveram que as
tartarugas depositam seus ovos em ninhos e se referiram a cópula (palavra científica) utilizada
pelo A100, entre o macho e a fêmea (Quadro 4).
Quadro 4- Respostas dos alunos sobre reprodução dos Quelônios
Aluno Como eles se reproduzem (nascem)?
Pré Pós
A10 Não sei Na praia, quando uma vai todas vai
A51 Não sei As mães elas cavam um buraco e coloca
o ovo ai eles nascem.
A81 De ovos que as fêmeas chocam em
praia
Alguns botam ovos nas praias outros em
mato
A100 Não sei O macho e a fêmea eles copulam e a
fêmea bota os ovos
É interessante ver que somente 10% dos estudantes questionados conseguiram
responder satisfatoriamente as diferenças entre os machos e a fêmeas. É animador observar
que 54% dos alunos puderam descrever essas diferenças após a visita.
O quadro 5 nos revela as diferentes características citadas pelos estudantes. É
importante sabermos que o dimorfismo sexual “são as características diferentes e marcantes
que existe entre os machos e fêmeas de uma determinada espécie. Essas diferenças não refere-
se aos órgãos sexuais, relaciona-se apenas com outras características físicas e
comportamentais que diferem um sexo do outro, como o tamanho do corpo, coloração das
penas e pelos e a emissão de sons”, segundo Vanessa Santos. Sabendo que existe essas
diferenças nas espécies de quelônios amazônicos, pudemos analisar respostas nos
questionários, como do A55 que recorda que a “barriga” (plastrão) dos machos são para
dentro, o que ocorre normalmente nas espécies de jabutis. O A17 lembra do comprimento da
cauda, que na maioria da espécies os machos possuem caudas mais compridas. Já o A6 e o
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
23
A98 se referem a espécie de Tracajá, que se distingui o macho da fêmea por que predomina
nos machos as manhas amarelas na cabeça, diferente da fêmea que perdem os sinais de
manchas amarelas quando atingem a maturidade possuindo uma coloração marrom ferrugem.
Quadro 5 - Respostas dos alunos sobre dimorfismo sexual dos Quelônios
Aluno Você sabe qual a diferença do macho e da femea?
Pré – questionário Pós – questionário
A17 Não O macho que o rabo maior e a fêmea
menor
A55 Não sei O macho tem a barriga para dentro e a
fêmea não
A6 Não O macho tem pinta amarela e a fêmea
não
A 98 O macho e grande e a fêmea é menor
O macho tem pintinhas amarelas e a
fêmea pescoço marrom isso só com os
tracajás
Na tabela 2 abaixo podemos visualizar a porcentagem que os alunos atingiram nas resposta do
pré e pós questionário.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Tabela 2 – Quantidade de espécies citadas por estudantes no pré e pós questionário
Número de
spp citadas
PRÉ PÓS
Nenhuma 41 -
No mínimo 1 59 100
No mínimo 2 21 83
No mínimo 3 4 53
No mínimo 4 1 28
No mínimo 5 - 14
No mínimo 6 - 7
No mínimo 7 - 1
É satisfatório notar a quantidade de espécies assimiladas por parte dos estudantes.
Enquanto que na pesquisa prévia com os alunos 41% não sabiam citar nenhuma espécie, no
pós 100% acertou no mínimo uma, ou seja, nenhum dos alunos não souberam responder
satisfatoriamente esta questão. Podemos dizer que 83% dos estudantes acertaram mais de uma
espécie. É intrigante observar a clareza aos descrever os nomes corretos das espécies, apesar
de popular não são comuns. O que mais chamou atenção foi a citação do A99, que descreveu
“cagado de possas de florestas” foi uma das espécies menos questionadas e pouco conhecida
na Amazônia, porém ele a descreveu com propriedade, apesar dos erros ortográficos, foi o
único que citou esta espécie (Quadro 6).
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Quadro 6 – Respostas dos alunos sobre as diversas espécies de Quelônios
Aluno Que tipos de tartaruga você conhece?
Pré – questionário Pós – questionário
A40 Não conheço Jabutis, tracajás, mata-matá, cabeçudo
e tartaruga da Amazônia
A24 Bom, eu já vi, só não sei o tipo Tracajá, tartaruga da Amâzonia,
cabeçudo, mata-matá, jabuti e etc.
A91 Nenhuma Tracaja, tartaruga da Amazônia, mata-
mata, irapuca, cabeçudo, pitiú.
A99 Tartaruga marinha Mata-mata, tracajá, irapuca, cagado de
possas de florestas, cabeçudo, perema e
tartaruga da Amazônia.
Longevidade das tartarugas
“O tempo de vida de um quelônio é muito controverso. E vai depender da espécie e do
ambiente onde ela ocorre", segundo explica Clóvis Bujes, Coordenador do Projeto Chelonia-
RS, do Departamento de Zoologia do Instituto de Biociências da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul (UFRGS). Entre o pré e o pós questionários percebe-se uma variação nas
respostas sobre a idade das tartarugas. As pesquisas científica ainda são escassas quanto a esse
tema. A assimilação do conhecimento na visita sobre as diferentesidades de vida entre as
espécies não foram satisfeitas devido o pouco conhecimento que se tem e que foi passados
para os estudantes. Refletiu nessa perspectiva que necessita-se de pesquisas mais
aprofundadas nessa temática. O resultado dos questionários foi de 4% de estudantes que não
sabia, 19% das respostas variaram entre 20 a 80 anos, o maior percentual foi a faixa etária de
90 a 130 anos que ficou com 60%, enquanto que 10% dos estudantes citaram a idade entre
140 a 150 anos e 7% disseram que a idade varia de espécie.
Consumo de tartarugas como alimento
Dos questionários respondido cerca de 23% dos alunos já se alimentaram da carne de
tartaruga. Sobre sua origem não foi questionada. Mas entendemos que apesar da porcentagem
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revelada na pesquisa ser referente a quase ¼ dos entrevistados, ainda se é usado a proteína da
carne de tartaruga na cidade para alimento.
O Bosque da Ciência e a mudança de conceitos sobre o tema dos quelônios amazônicos
Através da análise entre o senso comum dos estudantes e suas respostas após a visita
ao Boque da Ciência sobre o que são tartarugas, percebemos a influência deste espaço no
conhecimento destes repteis. Os estudantes antes da visita já possuíam conceitos prévios
porem não formados ou equivalentes aos conceitos padrões. Muitos conceitos extraídos de
filmes e outros errôneos repassados através das mídias populares. Foi percebido que os
estudantes tinha uma visão aguçada das tartarugas marinhas sempre citando o mar e algas.
Mas o pós – questionário nos revela a riqueza de conhecimento adquiridos por estes alunos
após a visita ao Bosque (Quadro 7).
Quadro 7: Definições do conceito de tartaruga no senso comum dos estudantes participantes
PRÉ – QUESTIONÁRIO PÓS-Questionário
A1 –É um animal verde cascudo A2 – Elas são de agua doce ou terrestre
A6 – Eu acho que elas são mamíferos A23 – Tem uma que são grandes e pequenas
A19 – Tartarugas são animais marinhos A27 - Elas podem ser pequenas ou grande e
podem viver tanto na água quanto na terra
A26 - Elas tem um casco que cobre seu
corpo, tem rabo, tem uma cor meio
esverdeada.
A35 – Eu vi várias, elas tem um casco nas
costas. Elas são de várias espécies bem
diferentes.
A33 – São lentas e não são grandes A40 –Algumas são aquáticas outras
terrestres
A43 – Ela tinha um casco e era gosmenta A45- São répteis
A49 – São meio verde e tem algumas que são
feias
A47 – Tem casco de cores verdes e marrons e
raramente brancos e são herbívoras mas tem
tartarugas carnívoras.
A61 – Tem casco e se escondem dentro dele
A57 – Ela era pequena e tinha a cabeça
vermelha e tinha outra com a cabecinha
amarela e tinha umas grande.
A65 – Elas são grandes e tem uma coisa
enorme nas costas
A68- Grande, cascuda, marrons e algumas
vermelhas.
A72 – Cinzas, pequenas, casco duro e
pescoço curto
A74 - Elas verdes (algumas) e elas tem um
casco nas costas. Vivem na terra se forem
semi-aquáticas, na água se forem aquáticas.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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A81 – Medrosas pois quando chega perto
dela se esconde no casco resistente
A79 – São um animal répitos, plastrão mole,
ela tem uma carapasa. Eu vi e toquei.
A86 – As tartarugas são grandes e vivem na
agua e elas se alimentam dentro e fora da
água
A82 – São répteis (quelônios)
A91 – Pequena e com o casco grosso
A86 - São quelônios. Elas são bem diferentes
uma da outra, o que eu achei mais
interessante foi o mata-matá.
A115 – Tem umas grandes, umas pequenas e
bem bonitinhas.
A97 – Elas são quelônios tem várias espécies
diferentes, elas são meio grande tem um
casco duro.
A118 – Elas são muito lenta e grande A99 – São quelônios. Algumas são grandes.
outras pequenas.
Registros das atividades das escolas no Bosque da Ciência
Figura 11. Escola Municipal Padre Puga no fim da visita no Bosque Fonte: Sandra Botelho
Figura 12. Escola Estadual Bilíngue Djalma Batista no final da visita Fonte: Sabrina Menezes
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Figura 13. Escola Estadual Bilíngue Djalma Batista conhecendo o Mata-matá (C. fimbriata)
Fonte: Stefany Paiva
Figura 14. Escola Adventista de Manaus após o percurso realizado no bosque. Fonte: Elcinéia Passos
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Figura 15. Momento de interação dos alunos com um dos filhotes de Cágado-de-Barbicha
(P. geoffroanus) no bosque.
Fonte: Elcinéia Passos
Figura 16. Escola Estadual Tiradentes em frente a Casa da Ciência
Fonte: Alexandre Silva
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Figura 17.Escola Estadual Tiradentes no percurso no Recanto dos Inajás
Fonte: Alexandre Silva
Figura 18. Escola Estadual Tiradentes no percurso no Recanto dos Inajás Fonte: Alexandre Silva
Conclusão
Se os espaços formais institucionalizados como a escola não conseguem suprir as
necessidades científicas necessárias ao estudante, deve esta procurar outros espaços visando
contribuir para o seu crescimento cientifico. O Bosque da Ciência como Espaço Não Formal
se inclui também na categoria de espaço científico, podendo qualquer instituição, sendo ela
pública ou privada, ter acesso aos ambientes adequados para se trabalhar a Alfabetização
Cientifica com quelônios amazônicos.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Atividades realizadas fora da sala de aula são de grande deleite para os estudantes,
saindo da monotonia das atividades de dentro da escola e entrando em uma variedade de
novos espaços de conhecimento que aguçam o interesse dos aprendizes.
O Bosque da Ciência pode ser utilizado como meio de ensino da Alfabetização
Científica usando os Quelônios amazônicos. Nele encontramos cinco espaços onde podemos
visualizar as características, classificação, habitat, alimentação, diversidade de espécies e o
dimorfismo sexual destes animais.
Através das análises das respostas dos estudantes participantes obtivemos resultados
satisfatório da pesquisa. As atividades preparadas, desenvolvidas e executadas não serviram
apenas para alfabetizar cientificamente os estudantes da cidade de Manaus mas também para
prepará-los como cidadãos participantes do meio científico onde a ciência se tornou parte de
sua realidade.
O espaço que melhor se apresentou como um meio de educação sobre quelônios
amazônicos foi o CEQUA devido sua riqueza de espécies e possiblidade de manejo e contato
dos animais com os estudantes. Nele é possível utilizar recursos de multimídia como vídeos
das Tartarugas-da-Amazônia que atraíram bem a atenção dos participantes.
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34
CAPÍTULO II
BOSQUE DA CIÊNCIA: AMBIENTE PROPÍCIO PARA ENSINAR
CIÊNCIAS5
Karoline Duarte Lopes6
Elzineide Ramos de Melo7
Mateus de Souza Duarte8
Augusto FachínTerán9
Introdução
O currículo escolar não deve ser proposto apenas para dentro do espaço escolar, mas
pensado e realizado com o objetivo de abranger locais onde os alunos possam ter uma
reflexão mais ampla do conhecimento acerca da natureza, dos ambientes ecológicos e do
ensino de ciências.
O ensino de ciências deve ir além do âmbito escolar. Os espaços não formais podem
fornecer recursos didáticos valiosos para o aprendizado, contribuindo de forma significativa
para o ensino, já que no ambiente escolar quase sempre se baseiam no conteúdo curricular do
livro didático.
É muito importante que o ensino de ciências se dê com atividades de visita a diferentes
locais com a finalidade de ampliar as experiências educativas dos alunos e complementar
aspectos dos conteúdos trabalhados em sala de aula, pois, são inúmeros os locais que
disponibilizam informações sobre temáticas científicas e convidam o público a interagir,
conhecer e aprender (ROCHA; FACHÍN-TERÁN, 2013)
O Bosque da Ciência é uma área de aproximadamente 13 hectares, localizado no
perímetro urbano da cidade de Manaus/AM, na zona central – leste.. Este local foi projetado e
estruturado para fomentar e promover o desenvolvimento do programa de Difusão Científica
5 Trabalho apresentado e publicado nos Anais do 7º Simpósio de Educação em Ciências na Amazônia.VIII
Seminário de Ensino de Ciências/SECAM. 6 Mestre em Educação em Ciências na Amazônia, Universidade do Estado do Amazonas, Brasil. Email:
karolduartelopes@gmail.com 7Mestre em Educação em Ciências na Amazônia, Universidade do Estado do Amazonas, Brasil. Email:
neidemelo@hotmail.com 8 Mestre em Educação em Ciências na Amazônia, Universidade do Estado do Amazonas, Brasil. Email:
mateus_duarte22@hotmail.com 9 Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. Universidade do
Estado do Amazonas. E-mail: fachinteran@yahoo.com.br
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
35
e de Educação Ambiental do INPA, ao mesmo tempo preservando os aspectos da
biodiversidade existente na localidade10.
O objetivo deste relato é mostrar o potencial pedagógico do Bosque da Ciência como
ambiente para o ensino de ciências.
Importância do ensino de ciências
Atualmente vivemos em um mundo cuja temática ambiental e tecnológica está em
constante evidência. É vital que as pessoas estejam a par dessas questões como cidadãos
conscientes, engajados e embasados para tomarem boas decisões concernentes a estes temas.
Neste sentido, o ensino de ciências pode exercer um papel importante, na construção
do conhecimento dos alunos como cidadãos preparados cientificamente. Um dos objetivos do
ensino de ciências é formar alunos com educação crítica, consciente e que sejam embasados
com a capacidade de assimilar a conduta da sociedade em que vivem. Auxiliando também no
aprendizado do movimento e andamento dos acontecimentos que ocorrem no mundo
(DELIZOICOV; ANGOTTI, PERNAMBUCO, 2011).
O progresso do conhecimento científico determina à disciplina de ciências um
permanente desafio e uma enorme incumbência que é o de oferecer um ensino efetivo,
diligente e que assegure a compreensão de conteúdos que auxiliem no entendimento do
mundo atual (BONZANINI; BASTOS, 2011).
Para Melo e Carmo (2009), o entendimento dos conceitos estudados no ensino de
ciências se torna indiscutível entre professores e alunos a dificuldade dos conceitos no
processo de ensino-aprendizagem. Entre os docentes do ensino de ciências é inquestionável a
importância de utilizar métodos de aprendizagem que sejam ativos e interativos para facilitar
o ensino dessa área.
Concernente a uma proposta que seja facilitadora para o ensino de ciências Jacobucci
(2008) fala que os espaços não formais de educação podem ser excelentes meios para
aproximar a sociedade do conhecimento científico e de outros assuntos de relevância para a
formação cultural e científica do cidadão.
Para isso é necessário que os profissionais da educação utilizem esses espaços não
formais, explorando juntamente com os alunos as riquezas naturais do lugar (QUEIROZ, et
10 Informações retiradas do site do INPA <http://bosque.inpa.gov.br/bosque/>
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
36
al. 2011), articulando assim, aula prática com a cultura científica e o saber popular,
objetivando o surgimento de novos conhecimentos importantes na formação dos alunos
(JACOBUCCI, 2008).
No próximo tópico, faremos uma breve descrição sobre a importância do Bosque da
Ciência, um espaço não formal, na divulgação do conhecimento científico. De como esse
espaço educativo pode ser utilizado para que o aluno tenha a compreensão do que é ciência.
Bosque da Ciência: ambiente propício para ensinar ciências
O Bosque da Ciência abriu suas portas ao público no dia 1º de abril de 1995, fazendo
parte das comemorações do 40º aniversário do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia –
INPA. Tendo como objetivos: Desenvolver e promover o programa do INPA para difusão
tecnológica, científica e de inovação; Oferecer à população local, uma opção de lazer que
possa contribuir para sua educação cultural e ambiental11.
Adiante faremos a descrição das experiências possibilitadas pelas atividades realizadas
durante a aula prática da disciplina Fundamentos da Educação em Ciências que ocorreu no
Bosque da Ciência – INPA.
A aula prática deu início às 09h00min com as orientações do professor acerca dos
objetivos da visita ao Bosque. Nossa primeira parada foi em frente a uma árvore de grande
porte onde fomos indagados a respeito de sua espécie. Foi nos dado um tempo para que
observássemos em volta da mesma para nos ajudar a identificar de que fruto se tratava. Isso
apenas foi possível quando observamos vários frutos ao seu redor. Identificamos que se
tratava de um Taperebazeiro (Spondiasmombin). Este momento foi importante para aguçar a
nossa percepção do ambiente em volta, nossos sentidos (tato, olfato e visão) quando
cheiramos o fruto, tateamos o tronco e sentimos seu aspecto áspero. Esta atividade nos
mostrou uma possibilidade de se trabalhar o conteúdo de ciências sobre “Órgãos dos
Sentidos” com alunos nas primeiras séries iniciais, aproveitando o que a natureza oferece.
Após isso, seguimos em direção aos tanques do Peixe-boi (Trichechusinunguis), que
consideramos como um dos ambientes mais atrativos do Bosque (Figura 1). Em torno
estavam vários visitantes (alunos e famílias) tirando fotos e observando os animais no
aquário.
11 Informações retiradas do site do INPA < http://bosque.inpa.gov.br/bosque/>
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
37
Figura 1: Tanque do Peixe-boi. Fonte: LOPES, 2017
Nessa oportunidade, o professor falou sobre o projeto desenvolvido há mais de 30
anos em prol da preservação da espécie que é ameaçada de extinção (Figura 2);
Figura 2: Projeto Peixe-boi da Amazônia. Fonte: LOPES, 2017.
O professor abordou acerca das características do animal, bem como a vulnerabilidade
da espécie por ter uma natureza dócil o que facilita a sua captura nos rios por pescadores
(Figura 3). Esta visita, ao tanque do peixe-boi, proporciona ao educador a oportunidade de
trabalhar com seus alunos a questão dos conhecimentos desses mamíferos aquáticos,
despertando uma consciência ambiental.
Figura 3: Peixe-boi (Trichechusinunguis). Fonte: LOPES, 2017.
Saindo do tanque do peixe-boi, seguimos em direção a uma trilha cercada de árvores,
onde tivemos a oportunidade de vermos macacos de várias espécies, o que foi um excelente
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
38
momento de observarmos esses animais em seu ambiente natural. Oportunizando ao docente
trabalhar com os educandos acerca das espécies da Fauna Amazônica.
Em outro momento, o professor fez uma atividade usando alimentos (farelo de pão
torrado, castanha, açúcar e ração de cachorro) distribuindo em lugares distintos para que
observássemos o comportamento das formigas. A primeira pergunta que o professor fez, foi:
Qual dos alimentos atrairia mais as formigas? Demos nossas opiniões a respeito. Depois de
algum tempo, retornamos ao local e verificamos que a castanha continha mais formigas. Daí
foi sugerido que levantássemos hipóteses do por que dessa constatação. Várias suposições
foram expostas, dentre elas, a de que a castanha se trata de um alimento natural mais
facilmente encontrado em seu hábitat natural. Essa atividade trabalhada pelo educador, com
seus alunos, possibilita o levantamento de hipóteses permitindo ao aluno discutir e construir
concepções acerca de assuntos relacionados às ciências naturais.
Outra atividade que os educadores podem aplicar com seus alunos é a atividade
“Ouvir o som da natureza”. Foi-nos solicitado que sentássemos ao chão e de olhos fechados,
por alguns minutos, ouvíssemos o som da natureza. O intuito desse momento foi fazer com
que sentíssemos a tranquilidade e o relaxamento que o ambiente pode nos proporcionar. Logo
após esse momento, o professor aplicou uma atividade (Imitando uma “cutia”,
Dasyproctaspp). O objetivo desse momento foi retratar o importante papel desse roedor para a
natureza, pois a cutia é um dispersor da semente da castanha, promovendo a regeneração da
floresta. O educador poderá aproveitar esta oportunidade para trabalhar de maneira lúdica
como os seres vivos se relacionam na natureza. Por fim, o professor mandou que cada aluno
escolhesse uma árvore para abraçá-la e descrevêssemos a sensação daquele momento.
A vivência oportunizada no Bosque da Ciência foi determinante para a compreensão
da importância de utilizar ambientes não formais como ferramenta para se alcançar um ensino
mais significativo, capaz de modificar comportamentos que prejudicam a natureza por meio
da conscientização ambiental e possibilitar ao indivíduo estar em contato com direto com a
natureza e a ciência.
Considerações Finais
Os espaços não formais são, sem dúvida nenhuma, uma alternativa importante para
auxiliar o professor em sua prática pedagógica. Devido ao grande acúmulo de conhecimentos
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
39
gerados pelo homem, a escola, por si só, não tem condições de educar cientificamente seus
alunos.
Dessa maneira, a utilização de espaços não formais, como o Bosque da Ciência, pode
proporcionar a oportunidade aos alunos de vivenciarem situações que normalmente não
ocorreriam em sala de aula, de ampliar o seu conhecimento acerca da preservação da natureza
e do meio ambiente. Não somente aos alunos, mas aos professores também, ampliando assim
as possibilidades de aperfeiçoar as aulas de Ciências.
Assim, torna-se imprescindível aos professores que forem trabalhar com aulas em
espaços não formais em suas escolas, conhecerem as características desses espaços para que
possam, de maneira responsável e comprometida, explorar e vivenciar, juntamente com os
alunos, de um ambiente rico e convidativo às novas experiências educacionais.
REFERÊNCIAS
BONZANINI, TaitiânyKárita; BASTOS, Fernando. Temas de Genética contemporânea e o
Ensino de Ciências: que materiais são produzidos pelas pesquisas e que materiais os
professores utilizam? Anais do VIII Encontro nacional de pesquisa em ensino de ciências,
2011.
DELIZOICOV, Demétrio; ANGOTTI, José André; PERNAMBUCO, Marta Maria. Ensino de
ciências: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2011.
JACOBUCCI, Daniela Franco Carvalho. Contribuições dos espaços não formais de educação
para a formação da cultura científica. Em extensão, Uberlândia, V.7, 2008.
MELO, José Romário de; CARMO, Edinaldo Medeiros. Investigações sobre o Ensino de
Genética e Biologia Molecular no Ensino Médio Brasileiro: Reflexões sobre as publicações
científicas. Ciência e Educação, v. 15, n. 3, p. 593-611, 2009.
QUEIROZ, Ricardo Moreira. et al .A caracterização dos espaços não formais de educação
científica para o ensino de ciências. Revista Areté, v. 4, n. 7, p.12-23, 2011.
ROCHA, Sônia Claúdia Barroso da. FACHÍN TERÁN, Augusto. A construção dos espaços
não formais para o ensino de ciências.IN: FACHÍN TERÁN, A. SANTOS, S. C. S. (org).
Novas perspectivas de ensino de ciências em espaços não formais amazônicos. Manaus/AM:
UEA Edições, 2013.
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CAPÍTULO III
POSSIBILIDADES DE ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA NO BOSQUE DA
CIÊNCIA, MANAUS, AM, BRASIL12 Francinete Bandeira Carvalho13
Glenda Gabriele Bezerra Beltrão14
Joisiane da Silva Feio15
Augusto FachínTerán16
RESUMO
A educação como processo de ensino-aprendizagem é adquirida ao longo da vida dos cidadãos em diferentes
espaços e momentos. Nesse processo, a alfabetização científica tem total relevância, uma vez que influencia na
formação de sujeitos críticos e reflexivos. Neste relato de experiência, analisamos as possibilidades de trabalhar
a alfabetização científica num espaço educativo administrado por uma instituição de Pesquisa. O trabalho
fundamentou-se em autores como: Rocha e Fachín-Terán (2010), Gonzaga e Fachín-Terán (2011), Cascais
(2012), dentre outros. As observações e registros foram realizados durante atividades práticas de ensino de uma
turma de mestrado, no Bosque da Ciência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Os ambientes
utilizados neste local abrem a possibilidade para a realização de um trabalho interdisciplinar, pois os educadores
têm a oportunidade de aproveitar a biodiversidade, os diferentes ecossistemas, além da infraestrutura presente no
local, para a construção do conhecimento científico. A valorização e usodos espaços não formais permitem ao
estudante contato com o objeto de estudo para que a aquisição do conhecimento ocorra de forma natural.
Palavras chave: Alfabetização Científica; Ensino de Ciências; Espaço Não Formal.
INTRODUÇÃO
Aeducação enquanto processo de ensino-aprendizagem é adquirida ao longo da vida
dos cidadãos em diferentes espaços e momentos. Nesse processo, o Ensino de Ciências tem
total relevância, uma vez que influencia a Alfabetização Científica dos sujeitos mediante a
formação destes enquanto cidadãos críticos e reflexivos, de modo a atuarem no mundo em
que vivem. Brasil (2000, p. 23), destaca que:
Mostrar a Ciência como um conhecimento que colabora para a compreensão do
mundo e suas transformações, para reconhecer o homem como parte do universo e
como individuo, é a meta que se propõe para o ensino da área na escola
fundamental.
12 Publicado na Revista REAMEC, Cuiabá - MT, v. 6, n. 2, jul/dez 2018. 13 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia da Universidade
do Estado do Amazonas (UEA). Licenciada em Pedagogia pela UEA. E-mail: fran.carvalho15@hotmail.com 14 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. Da Universidade
do Estado do Amazonas (UEA). Licenciada em Pedagogia pela UEA. E-mail: glendagabrielebb@gmail.com 15 Mestrado em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. Da Universidade do Estado do Amazonas (UEA).
Licenciada em Pedagogia pela UFAM. E-mail: joyce.ane7@gmail.com 16 Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia da
Universidade do Estado do Amazonas. Manaus, Amazonas, Brasil. E-mail: fachinteran@yahoo.com.br
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
41
Nessa perspectiva, é importante criar estratégias de ensino que sejam capazes de
aproximar o aluno com o mundo da Ciência, e os espaços não formais tornam-se um
mecanismo de ensino para que os professores consigam maior resultado e profundidade na
vida dos alunos fora do espaço físico da escola.
Os espaços não formais apresentam ambientes que estimulam a curiosidade dos
alunos, por oferecem a oportunidade de suprir, ao menos em parte, algumas das carências da
escola, como a falta de laboratórios, recursos audiovisuais, entre outros conhecidos por
contribuir com o aprendizado. É um motivador para os alunos, algo novo e cheio de
expectativas, deixando de lado um pouco os livros, que muitas das vezes, são
descontextualizados da realidade do estudante, visto que “podem contribuir para a formação
de valores e atitudes, que possibilite colocar em prática os conhecimentos construídos nessas
aulas” (ROCHA; FACHÍN-TERÁN, 2010, p. 53).
Gonzaga e Fachín-Terán (2011) ressaltam que a Educação em Ciência tem buscado
ressignificar o processo de ensino e aprendizagem do aluno, apontando algumas propostas
acerca da prática e dos recursos pedagógicos que podem ser utilizados no Ensino de Ciências,
promovendo a participação do discente na construção do conhecimento, e não apenas como
um mero receptor de informações. Dessa maneira, os espaços educativos não formais abrem a
possibilidade de construir esse conhecimento, proporcionando ao estudante vivenciar
experiências onde se relacionem teórica e prática.
A relevância e escolha desta pesquisa estão no fato de trazer novas perspectivas
vivenciadas no Bosque da Ciência como um espaço de construção de conhecimento,
fortalecendo as pesquisas acerca dessa temática, uma vez que é notória a necessidade de aulas
mais atrativas e significativas para os alunos construírem, formularem e enriquecerem seu
aporte teórico acerca da Ciência. E assim, ser um agente transformador, crítico e reflexivo na
sociedade onde está inserido, já que o aluno é o sujeito de sua aprendizagem e é dele o
movimento de ressignificar o mundo, isto é, de construir explicações norteadas pelo
conhecimento científico (BRASIL, 2000).
Para tanto, este trabalho está fundamentado nos autores que trabalham essa temática,
como Gonzaga e Terán (2011), Rocha e Terán (2010), Cascais (2012), dentre outros e
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apresenta alguns trabalhos já realizados no Bosque da Ciência dos autores: Castelo Branco et
al (2014); Oliveira et al (2013) e Mota et al (2014).
Neste trabalho, analisamos possibilidades de se trabalhar a Alfabetização Científica
utilizando os recursos presentes no Bosque da Ciência como espaço não formal de ensino
aprendizagem.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Considerações acerca da Alfabetização Científica
A expressão Alfabetização Científica surgiu na década de 50 do século XX. Porém, foi
na última década desse mesmo século, que o termo passou a ser usado como “slogan” por
cientistas e professores de Ciência conduzida por um grande movimento para tornar a Ciência
compreensível e acessível a todas as pessoas (CACHAPUZ, 2005). A partir desse objetivo,
vários autores colaboraram com o conceito de Alfabetização Científica. Krasilchik e
Marandino (2007, p. 30), afirmam que:
O significado da expressão alfabetização cientifica engloba a ideia de letramento
científico, entendida como a capacidade de ler, compreender e expressar opiniões
sobre ciência e tecnologia, mas também participar da cultura cientifica de maneira
[...] individual ou coletivamente [...].
Por meio dessa definição, o sujeito é considerado apto a atuar na sociedade e a
construir sua cultura. Ele possui o conhecimento sobre o mundo da ciência e da tecnologia
que são o fundamento e o combustível do desenvolvimento social.
Seguindo essa linha de pensamento, Rocha (2012) declara que a Alfabetização
Científica é o mecanismo instrumental do indivíduo contemporâneo, que permite a este,
primeiramente, perceber-se como ser individual, por consequência, compreender-se dentro de
uma coletividade. E desta forma, agir a partir dos princípios que regem a sociedade, tomando
como preceito principal aquilo que possibilita o bem-estar do todo (do qual faz parte). Para
Chassot (2003, p. 94), “seria desejável que os alfabetizados cientificamente não apenas
tivessem facilitada a leitura do mundo em que vivem, mas entendessem as necessidades de
transformá-lo – e, preferencialmente, transformá-lo em algo melhor”.
O autor esclarece que a Alfabetização Científica possibilita ao indivíduo fazer uma
leitura científica do mundo. Em vista disso, “a natureza essencial da Alfabetização Científica
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é aquela que influencia as decisões dos alunos sobre os problemas pessoais e sociais”
(LEDERMAN et al., 2013, p. 138).
Nesse sentido, Rocha (2012) ao citar Tenreio e Vieira (2005), aponta que um
indivíduo alfabetizado cientificamente pode ser capaz de atitudes diversas, a saber: adquirir e
compreender conceitos científicos e tecnológicos, desenvolver capacidade de pensamentos
sistematizados, estabelecer relação dessas capacidades com a utilização do conhecimento em
questões pessoais e sociais e usar essas capacidades na construção da cidadania.
Lorenzetti e Delizoicov (2001) defendem a ideia de que é possível desenvolver a
Alfabetização Científica antes mesmo de o indivíduo ser alfabetizado no código escrito.
Considerando o caminho entre a proposta de Alfabetização Científica e sua concretização, é
que se tem certa urgência em trabalhá-la, pois facilita a compreensão das relações entre
ciência e sociedade e a apropriação dos conhecimentos científicos e tecnológicos
(ALMEIDA; FACHÍN-TERÁN, 2013). Desta forma, percebe-se a importância dos espaços
não formais no processo de educação em ciências, pois há uma parceria entre escola e
sociedade, na medida em que colaboram no aspecto de fomentar a Alfabetização Científica
por meio também, desses espaços não formais.
Pesquisas sobre ensino de ciências realizadas no Bosque da Ciência
Os espaços amazônicos são locais privilegiados por possuírem múltiplos recursos
naturais, socioculturais e físicos que são essenciais para trabalhar de forma contextualizada os
conteúdos de diversas disciplinas e promover a Alfabetização Cientifica. Diante disso, são
várias as pesquisas científicas realizadas no Bosque da Ciência, dentre elas destacamos a
pesquisa intitulada: “O Bosque da Ciência: ambiente de aprendizagem para o ensino de
ciências”, que discute acerca do bosque da ciência como ambiente capaz de possibilitar uma
aprendizagem mais prazerosa, pelo seu viés pedagógico e por aproximar os alunos com a
fauna e flora presente nesse local. Os autores chamam atenção para a necessidade de explorar
o ensino de ciências de forma atrativa, despertando o desejo, a curiosidade e principalmente a
formação de hipóteses que estimulem a busca por novos aprendizados (CASTELO BRANCO
et al., 2014).
Também merece destaque a pesquisa intitulada: “O Bosque da Ciência mediando o
diálogo na prática educativa ambiental”, que considera este espaço como ambiente para
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valorizar o processo de preservação e conservação dos recursos naturais (OLIVEIRA et al.,
2013).
A pesquisa “Possibilidades de ensino de matemática e química no espaço não formal:
bosque da ciência” se mostra relevante, porque a partir dela é possível entender como explorar
diversos espaços e objetos presentes no local. Os autores mostram a viabilidade de dar uma
aula de matemática através da folha de uma árvore, trabalhando os conceitos da Geometria
Plana e Unidades de Medidas, também sinalizam que é possível ensinar química utilizando os
ambientes aquáticos presentes no Bosque da Ciência, concluindo que este é um ambiente
favorável à realização de práticas que visam enriquecer as atividades pedagógicas dos
professores de Matemática e Química (MOTA et al., 2014).
O uso do Bosque da Ciência na Alfabetização Científica
O Bosque da Ciência foi Inaugurado em 1º de abril de 1995, e foi projetado e
estruturado para fomentar e promover o desenvolvimento do programa de Difusão Científica
e de Educação Ambiental do INPA, assim como preservar os aspectos da biodiversidade
existente no local (ROCHA; FACHÍN-TERAN, 2010). O local já foi descrito por Rocha
&Fachín-Terán (2010) e Maciel &Fachín-Terán (2014).
O Bosque da Ciência é um local que recebe pessoas de vários lugares. Esse espaço
dispõe de trilhas educativas com placas contendo informações de cada espécie presente,
sinalização quanto à localização, viveiros, espaços para beber água, como também, banheiros.
De acordo com Rocha e Fachín-Terán (2010, p. 71), o principal objetivo do Bosque da
Ciência “[...] é oferecer à população uma opção de lazer com caráter sócio científico e
cultural, levando os visitantes a se interessar pelo meio ambiente, além de oferecer atrativos
turísticos e entretenimento”.
Esse local é propício para levar a família, alunos, turistas, enfim, para um público que
goste do contato com a natureza e com os animais. Dito isto, uma das relevâncias desse local
é por possuir uma estrutura que permite uma prática com fim pedagógico. A este respeito,
Rocha e Fachín-Terán (2010, p. 78) afirmam que, “essa estrutura possibilita o
desenvolvimento de aulas de ciências mais estimulantes que podem motivar a aprendizagem
dos conteúdos de Ciências Naturais, com certa segurança e conforto, para estudantes e
professores”.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
45
Com isso, cabe ao educador conduzir a visita nesse local, assim como, planejar com
antecedência as atividades e os assuntos que serão ali abordados. Devendo até mesmo fazer
uma visita prévia, para que tenha conhecimento dos espaços a serem utilizados pela turma. O
professor estará assegurando que a aula não seja apenas uma atividade passeio, mas sim, uma
atividade de pesquisa, conhecimento e aprendizagem.
O Bosque da Ciência apresenta inúmeras possibilidades para a Alfabetização
Cientifica, uma vez que possui estrutura e recursos que podem ser utilizados para promover a
construção de conhecimentos científicos. Quando os alunos estão nesses espaços não formais,
é perceptível o quanto se sentem instigados a aprender, conhecer e descobrir coisas novas.
As aulas nos espaços não formais são essenciais para que a aprendizagem dos alunos
possa ocorrer de forma significativa, haja vista que nesses ambientes, os alunos vivenciam
experiências que fazem com que eles tenham um contato com o objeto de estudo, o que
facilita o seu aprendizado, pois eles têm a possibilidade de ver e sentir, e até mesmo de
colocar em prática o aprender por meio de experiências.
Os espaços não formais como o Bosque da Ciência, quando utilizados na prática
educativa, são de fundamental importância para que os alunos desde muito cedo possam
enxergar melhor o mundo a sua volta. É preciso que eles comecem a construir uma
compreensão dos conceitos básicos e como eles se ligam e se aplicam ao mundo em que
vivem (WORTH, 2010) desde o seu início da escolarização. Gonzaga e Fachín-Terán (2013,
p. 47) afirmam que:
Os espaços não formais de aprendizagem apresentam-se como uma oportunidade de
aproximação da criança com a natureza, como caminho para um aprendizado em
ciências significativo, uma vez que eles oportunizam a observação, instigam a
investigação, possibilitam o desenvolvimento da curiosidade, tanto de alunos,
quanto de professores.
Em vista do exposto, é necessário uma nova visão frente aos espaços não formais
amazônicos, um olhar que considere ímpar a prática pedagógica nesses lugares, levando em
consideração que o aluno necessita aprender por meio de novas experiências e de forma mais
integral.
METODOLOGIA
As informações foram coletadas em atividades práticas realizadas em março de 2018,
no Bosque da Ciência, durante o desenvolvimento da disciplina Fundamentos em Ensino de
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Ciências com 20 estudantes de uma turma de mestrado do Programa de Pós-Graduação em
Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. Durante a permanência neste local, registramos
e fotografamos cada etapa que o professor realizava. Para essa finalidade, utilizamos máquina
fotográfica e caderno de campo.
Foi realizada pesquisa bibliográfica, para tanto, este trabalho está fundamentado nos
autores que trabalham essa temática, como Gonzaga e Fachín-Terán (2011), Rocha e Fachín-
Terán (2010), Cascais (2012), dentre outros.
Como houve a necessidade de registrar os dados coletados no que tange à visita ao
Bosque da Ciência como espaço não formal, optamos pela pesquisa descritiva. Para Gil
(2002, p. 42) esse tipo de pesquisa tem como objetivo fazer “a descrição das características de
determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre
variáveis”, uma vez que, inclui ao estudo, a análise, o registro e a interpretação dos fatos.
Quanto aos meios, ela foi uma pesquisa de campo, que segundo Cervo e Brevian
(2002), é uma investigação empírica, a qual se realiza pela observação que o pesquisador faz
diretamente dos fatos ou pela indagação concreta das pessoas envolvidas e interessadas no
tema objeto de estudo, no caso desse trabalho, a Alfabetização Cientifica em espaços não
formais.
A prática no Bosque iniciou com um diálogo, onde o professor nos orientou a respeito
do lugar, como devíamos nos comportar, sempre atentos aos fenômenos da natureza. Logo
após adentramos no Bosque, foi fazendo paradas e explicando cada detalhe por onde
passávamos. Nesse percurso foram realizadas atividades lúdicas, como: “usando as nossas
mãos”, “escutando a natureza”, “olhando a floresta como os animais”, “simulando o
comportamento de uma cutia”, “sentindo o chão da floresta” e “caminhando na floresta”.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A atividade foi iniciada com a observação e o reconhecimento do local, dirigido pelas
explicações do professor que teceu comentários sobre uma árvore referência da região
Amazônica, a “seringueira” (Hevea brasiliensis), localizada na entrada do Bosque da Ciência.
Foi explicado sobre a importância de usar os espaços não formais para promover o Ensino de
Ciências, como também trabalhar de forma interdisciplinar, uma vez que a partir da árvore da
seringueira é possível envolver a história, geografia, biologia, dentre outras disciplinas.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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As atividades pedagógicas desenvolvidas que se apoiam nesses espaços, tais como
aulas práticas, saídas a campo, feiras de ciências, por exemplo, podem propiciar uma
aprendizagem significativa contribuindo para um ganho cognitivo (LORENZETTI;
DELIZOICOV, 2001). E, além disso, colaboram no processo da Alfabetização Científica dos
alunos, pois, instigam o conhecimento do ambiente e dos elementos ali presentes, tanto
quanto o conhecimento dos problemas existentes e as indagações de suas soluções e
importância para o mundo.
Seguidamente nos deslocamos até a árvore do “taperebá” (Spondiasmombin), muito
comum na Amazônia e nas demais regiões do Norte do Brasil. O “taperebazeiro” como é
conhecido na região amazônica, é uma árvore importante na recuperação de áreas de
vegetação degradada e tem capacidade de atração da fauna. Seus frutos são de coloração
amarela quando maduro e oval com casca fina e lisa, muito usados em sucos e sorvetes;
também serve como alimento a animais silvestres como o “jabuti” (Chelonoidesdenticulata).
Nesta mesma árvore, avistamos uma “iguana verde” (Iguana iguana), réptil herbívoro que se
deslocava nos galhos do taperebá.
Por meio das informações sobre as duas árvores, propomos que em uma prática no
Bosque da Ciência, o docente desenvolva a Alfabetização Científica de seus alunos
conduzindo-os a uma reflexão sobre a importância dessas espécies no que tange ao meio
ambiente, a alimentação tanto de animais quanto de pessoas, assim, como o estudo sobre o
ciclo de vida delas e sua função na natureza. O que permitirá aos alunos terem uma visão mais
científica e consciente sobre a flora.
Após esse momento, caminhamos em direção ao tanque onde os peixes-boi
(Trichechusinunguis) ficam localizados no bosque (Figura 1). O professor destacou nesse
episódio o “Projeto peixe-boi da Amazônia”. Mostrou a importância dos professores
pesquisarem com antecedência informações sobre a estrutura do espaço e os tipos de animais
presentes, assim como, planejar a atividade para que saibam responder as indagações dos
alunos, e tenham maior controle da prática a ser desenvolvida, podendo para isso, fazer uso da
internet, realizar visita prévia e montar roteiro.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Figura 1: Tanque do Peixe-boi-da-Amazônia.
Fonte:Figura selecionada pelos pesquisadores a partir da coleta de dados.
Nesse ambiente, o professor explorou o “jogo dos sete erros” relacionado ao habitat do
peixe-boi. Onde estimulou dois acadêmicos à disputa de quem identificava primeiro os sete
erros. No final, todos estavam participando e opinando sobre os equívocos presentes no
painel. O jogo e a visita a este local pode ser uma maneira de se trabalhar a educação
ambiental considerando a poluição dos rios e a extinção desses animais a partir da ludicidade,
visto que incentiva, atrai e convida o aluno para a atividade de pesquisar e conhecer mais
sobre o Peixe-boi-da-Amazônia.
O ensino realizado nesse ambiente do “peixe-boi” promove o processo de
Alfabetização Científica dos alunos, uma vez que conduz os estudantes a pesquisar fatos,
indagar e constatar situações problemas, motivando-os a pensar sobre as questões estudadas e
a se posicionarem diante delas, adquirindo assim um conhecimento e visão do ambiente que
os cerca. Para Santos et al. (2017), a Alfabetização Científica deve ser pensada como
elemento imprescindível no campo educacional, seja em seu aspecto formal ou não formal,
estabelecendo ligação direta ao Ensino de Ciências e aos fatores sociais, históricos, políticos,
culturais e tecnológicos da sociedade.
Na sequência, chegamos a uma trilha dentro da floresta onde por alguns minutos,
ficamos em silêncio ouvindo o canto dos pássaros, o barulho dos sons dos insetos e o som da
floresta. Após isso, o professor colocou um áudio de cinco espécies de aves: “japim xexéu”
(Cacicus cela), “tucano” (Ramphastostucanus), “arara” (Ara mação), “uirapuru”
(Cyphorhinus arada) e “capitão da mata” (Lipaugusvociferans), para que tentássemos
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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identificá-las. Foi nesse momento, percebemos a movimentação de algumas aves que ao
ouvirem aqueles sons, passaram a responder aos cantos dos pássaros que eram emitidos pela
caixa de som, revelando o aspecto comunicativo da natureza.
Essa interação com os cantos dos pássaros foi relevante, haja vista que remeteu a
compreensão de que o ato de olhar ao redor permite perceber as diversas possibilidades para
ensinar ciências, como o estudo da vocalização, relação de cores, formatos, tamanhos, nome
científico e popular, família das aves, etc. Embora tenha sido uma atividade contemplativa e
reflexiva, constatamos que naquele ambiente modificado o som dos carros se faz presente, o
que mostra a interferência humana no ambiente dos animais.
Diante disso, o professor pode trabalhar essa realidade desenvolvendo a sensibilização
dos alunos quanto ao comportamento do homem em relação à natureza. Visto que este exerce
a atitude de explorar aquela, ocasionando uma agressão e danos não só às espécies ali
presentes, mas também, a si próprio, pois faz parte dela.
Na mesma trilha, foi solicitado a um estudante para que imitasse um roedor chamado
“cutia” (Dasyproctaspp) comendo uma semente de castanha. O mestrando fez a demonstração
de como esse animal se alimenta e enterra a semente para uma futura refeição (onde muitas
vezes acaba germinando outra árvore, já que o animal não encontra a semente). Em seguida, o
professor distribuiu duas sementes para cada aluno, para que realizássemos a mesma tarefa.
Nessa atividade, o professor pode trabalhar com os alunos de forma dinâmica os
hábitos alimentares e comportamento de alguns animais, além de promover uma discussão
sobre o papel dos animais em relação à germinação de plantas por meio da dispersão de
sementes através das fezes, do deslocamento de um lugar para outro e do próprio ato de
enterrar como faz a cutia. Para Gomes et al. (2010, p. 7):
Os espaços naturais não formais de ensino apresentam-se como uma oportunidade
de aproximação do aluno com a natureza, como caminho para um aprendizado
significativo em ciências, uma vez que eles oportunizam a observação, instigam a
investigação, possibilitam o desenvolvimento da curiosidade, tanto de alunos quanto
de professores.
As atividades nesses espaços proporcionam aos alunos a oportunidade de
experimentar, ver, sentir, ouvir, pegar a natureza. E além de deixar a prática mais interessante,
também colabora para a aprendizagem real dos alunos.
Logo após essa atividade, o professor questionou quem de nós sentia medo de estar
naquele local em meio à natureza. Em resposta, alguns colegas levantaram a mão e foram
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desafiados pelo professor a seguir descalços em tempos alternados na trilha que nos levaria ao
próximo ponto de parada. Foi uma ocasião de encorajamento, de contato direto com o
ambiente, de ouvir a natureza e a si mesmo e também de reflexão.
Ao final da trilha, todos nos encontramos em um único ponto e seguimos uma estrada
até o Centro de Estudos de Quelônios da Amazônia (CEQUA), espaço de pesquisa e educação
ambiental sobre os quelônios da Amazônia. Esse momento merece destaque, pois foi onde
recebemos explicações de uma pesquisadora sobre o comportamento dessas espécies. Esta
informou a respeito da alimentação, nomes científicos, o modo de acasalar, diferença entre
macho e fêmea, além, de algumas características particulares.
É importante destacar que tivemos a oportunidade de interagir com os quelônios,
alimentando os jabutis, o que de início, gerou medo e estranhamento em alguns, mas que,
logo deu lugar ao entusiasmo e interesse (Figura 2), proporcionando-nos um momento de
grande aprendizado. Muitas foram as descobertas realizadas naquele espaço, como os dados
científicos, a atividades lúdicas e pedagógicas, por exemplo, onde pudemos identificar como
essas estratégias de ensino podem ser aplicadas nesse espaço não formal institucionalizado em
prol da Alfabetização Científica.
Figura 2: Momento de interação no ambiente dos jabutis.
Fonte:Figura selecionada pelos pesquisadores a partir da coleta de dados.
Outro ponto importante da prática no Bosque da Ciência foi a visualização de alguns
peixes e jacarés que estavam em cativeiro. E também animais que estavam livres pelo
Bosque, a saber: sauim-de-coleira (Saguinus bicolor), cutia (Dasyproctaspp), aves e insetos.
É importante destacar que a visualização desses animais instigou nossa curiosidade e por
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
51
vezes indagávamos ao professor com perguntas sobre os animais e plantas presentes naquele
espaço. Cada parada foi uma descoberta incrível, de como o Bosque da Ciência é rico para
promover o ensino e a aprendizagem com os alunos.
Segundo Rocha &Fachín-Terán (2010), os espaços não formais constituem uma
estratégia relevante para o Ensino de Ciências, principalmente porque pode promover uma
experiência motivadora de aprendizagem que proporciona prazer e desperta emoções nas
atividades realizadas, o que confirma a sua colaboração com o processo de Alfabetização
Cientifica, pois permite aos alunos o contato direto com os elementos pesquisados e causa
impacto na sua forma de entender e ver tais elementos, a sociedade e a si próprios.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Bosque da Ciência com suas peculiaridades e seu cuidado com a biodiversidade
amazônica, deixa claro a necessidade de preservação do meio ambiente Amazônico.
Atividades planejadas pelos professores nesse espaço propiciam a Alfabetização Científica e
abre possibilidades para o trabalho de forma interdisciplinar no que se refere ao ensino, pois
os educadores têm a oportunidade de aproveitar os ambientes terrestres e aquáticos, as
plantas, animais e micro-organismos para a construção do conhecimento científico.
O trabalho nos possibilitou vislumbrar meios de como mediar uma aula em espaços
não formais, permitindo contextualizar e (re)significar o conhecimento para os estudantes.
Uma aula que torne os alunos mais conscientes de seu papel na sociedade e no meio onde
vive, aprendendo a ter um sentimento de pertença naquele lugar de pesquisa.
O Bosque da Ciência é um ambiente rico em biodiversidade, com variadas
possibilidades de se trabalhar o Ensino de Ciências, oportunizando uma Alfabetização
Científica para as crianças de forma significativa, por meio de atividades planejadas de modo
interdisciplinar e lúdico.
Os alunos precisam refletir e ter um conhecimento de mundo, entender o ambiente que
o cercam, ter uma maior aproximação com a natureza, testar hipóteses, experimentar, ou seja,
ter um contato com o objeto de estudo para que o conhecimento ocorra de forma natural. E
isso tudo pode ser possível, quando a escola firma parceria com os espaços não formais como
o que mencionamos anteriormente.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
52
A aproximação com o Bosque da Ciência foi primordial para a ampliação e construção
de novos saberes, onde pudemos perceber o quanto os espaços não formais são essenciais para
que o aluno aprenda de forma contextualizada e chegue ao conhecimento científico.
Agradecimentos: À FAPEAM pelas bolsas concedidas à Francinete Bandeira
Carvalho; Glenda Gabriele Bezerra Beltrão e Joisiane da Silva Feio.
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Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
55
CAPÍTULO IV
INDAGAÇÕES DOS ESTUDANTES DURANTE AS AULAS PASSEIO
NO BOSQUE DA CIÊNCIA, MANAUS, AM.17
Jorgete Comel Palmieri Mululo18
FachínTerán19
RESUMO
Estudantes que visitam, junto aos seus professores, espaços educativos não formais para aprender determinados
conteúdos, exteriorizam sua curiosidade através de questionamentos, em função de diferentes tipos de
comportamentos. O objetivo deste estudo foi investigar quais os questionamentos feitos pelos estudantes durante
as aulas passeio e como os professores assimilaram essas perguntas. O estudo foi realizado no Bosque da Ciência
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. Para a coleta de dados foram realizadas observações
sistemáticas, durante 16 dias, tendo como sujeitos da pesquisa, estudantes da Educação Infantil e Ensino
Fundamental. Os dados foram analisados com base na análise descritivo-interpretativa. Os registros indicam que
a maioria das interações dos estudantes foi representada por reações específicas como gritos, risos, gargalhadas,
espanto e admiração. Durante a aula passeio, alguns saberes dos professores e a mediação reflexiva estiveram
ausentes. Em função disto, pode-se dizer que as perguntas são relevadas a um segundo plano.
Palavras-chave: Aulas passeio. Ensino de ciências. Bosque da Ciência. Espaços Não Formais.
Introdução
Quando pensamos nas crianças envolvidas com a ciência, lembramos que as ciências
eram vistas como um conteúdo tradicional e de grande complexidade. Somente os “ditos”
superdotados e esforçados poderiam receber uma educação com base científica com a ideia
que não estava ao alcance de todos. Mas, que nos últimos anos está posto para nós um desafio
do século XXI: fazer “ciência para todos” na qual a “alfabetização científica” está se
apresentando e fazendo-se necessária para se construir uma verdadeira sociedade do
conhecimento (DELORS, 2005; POZO, 2002).
Frente a este desafio, nos incluímos e dizemos que fazemos parte do grupo que
acredita que quanto mais cedo as crianças tiverem acesso à ciência, mais desenvolvimento e
possibilidades terão para compreender melhor o mundo e perceber como as coisas acontecem
17 Trabalho apresentado no 5º Simpósio de Educação em Ciências na Amazônia – SECAM. Manaus, 2015. 18Mestra em Educação em Ciências na Amazônia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Bolsista da
FAPEAM. Especialista em Gestão e Supervisão Escolar. Manaus, Brasil, e- mail: zetecopamu@hotmail.com. 19
Doutor, Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia (UEA),
Manaus, Brasil, e-mail: fachinteran@yahoo.com.br
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(FACHÍN-TERÁN, 2013; POZO, 2012). Pozo (2012, p.5), afirma que aprender ciências “[...]
é muito difícil porque somos excelentes cientistas intuitivos”.
O aluno traz uma riqueza de conhecimentos sobre o mundo e seu funcionamento, que
na maioria das vezes entram em conflito com o que é imposto pela escola (NÉBIAS, 1999, p.
138). As crianças em seus contextos particulares trazem suas bagagens culturais, sociais e
históricas que muitas vezes, não são considerados no processo de formação de conceitos
científicos em contextos escolares.
Na cidade de Manaus existe uma diversidade de espaços não formais para o ensino de
ciências, entre eles, o Bosque da Ciência do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
(INPA). Este espaço não formal de cultura científica traz “importante contribuição para
ampliação da divulgação científica e Educação em Ciências da população” (ROCHA &
FACHÍN-TERÁN, 2010, p. 63). Nesta mesma direção Cascais (2012, p. 24) afirma que os
espaços não formais institucionalizados são “[...] espaços de divulgação científica,
imprescindíveis para o desenvolvimento da educação científica [...]”.
A participação das crianças, por meio das suas falas, construindo sentido como agentes
sociais competentes para tomar parte nestes espaços, podem orientar as ações no campo da
pesquisa (ALDERSON, 2005). Essas perspectivas podem construir um percurso
metodológico que permita alcançar o objetivo proposto de valorização da participação das
crianças em suas indagações durante avisita.
De acordo com Bachelard, as indagações feitas pelas crianças é que as remetem a
buscar e a questionar os porquês. O autor reforça que “é justamente esse sentido do problema
que caracteriza o verdadeiro espírito científico”. Para o espírito científico, todo conhecimento
é resposta a uma pergunta. Se não há pergunta, não pode haver conhecimento científico. Nada
é evidente. Nada é gratuito. Tudo é construído (BACHELARD, 1996, p. 18).
Ao visitarem espaços educativos fora da sala de aula, os estudantes são atraídos pelo
que existe no local, porém há indagações e reflexões que nascem a partir da sua própria
curiosidade e observação. Enquanto realizam o percurso, indagam não somente sobre o que
lhes foi direcionado, mas, sobretudo ao que chama a atenção naquele momento. Nesta
pesquisa investigamos quais as perguntas feitas pelas crianças ao visitarem o Bosque da
Ciência, e como os professores trataram essas indagações e se eles estão preparados para
respondê-las.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Procedimentos metodológicos
O trabalho foi realizado no Bosque da Ciência do INPA, que é ambiente de divulgação
das pesquisas feitas pelo instituto e onde é realizado ações de educação ambiental para os
visitantes. O local já foi descrito por Rocha &Fachín-Terán (2010) e Maciel &Fachín-Terán
(2014). A identificação das escolas e dos sujeitos envolvidos obteve-se junto à administração
do Bosque, com base no cronograma de visitas agendadas pelas instituições que se
propuseram a visitar o espaço.
A pesquisa teve uma abordagem qualitativa e é de natureza descritiva. Foram
realizadas observações sistemáticas no período de 18 de abril a 28 de junho de 2014, 2
dias/semana previamente estabelecidos, totalizando 8 dias/mês, somando 16 dias de
observação.
As informações foram coletadas a partir do acompanhamento dos estudantes da
Educação Infantil e do Ensino fundamental, cujas escolas se apresentavam inscritas para
visitação nos dias estabelecidos para a realização da pesquisa.
Durante o trabalho registramos quais as indagações feitas pelas crianças e a relevância
dessas indagações. Também foi observado como os professores reagem aos questionamentos.
Os dados foram registrados no caderno de campo, também foram feitas gravações em áudio
das falas dos estudantes, professores ou líderes das visitas.
Para o tratamento dos dados, utilizou-se a análise do conteúdo de Bardin (2011), que
nos esclarece como pontuar criticamente e avaliar os conteúdos de uma pesquisa, qualitativa
ou quantitativa, para que o desvendar crítico da mesma como função primordial, se dê por
meio desta ferramenta de análise.
A permissão para a coleta de dados obteve-se junto aos responsáveis dos grupos
visitantes, onde verificou-se particularidades, como: idade, ano escolar, número de alunos e
professores, averiguando, se a visita destinava-se a objetivo específico que caracterizasse
como estudo extraclasse, respostas de questionários, pesquisas, ou outros.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Resultados e Discussão
Análises das falas dos estudantes
Quando analisamos as falas das crianças, podemos perceber que a maioria delas não
são propriamente perguntas elaboradas, mas interações representadas por reações
específicas como gritos, risos, gargalhadas, espanto e admiração ao que foi observado.
Dentre as indagações e reações das crianças contabilizamos 18 em relação a perguntas
elaboradas e 34 foram reações percebidas.
As falas das crianças foram organizadas em 5 categorias:
a) curiosidades;
b) reações;
c) desejo de conhecer outros espaços e/ ou animais; d) perguntas ou observação
desconectada com o espaço; e, e) conhecimento apresentado (Quadros 1, 2, 3, 4).
Na continuação analisamos cada uma das categorias:
Curiosidade - Em cada expressão de curiosidade percebida por parte das crianças
pudemos notar que as perguntas se desenvolveram a partir da observação da fauna ou da flora
do espaço visitado, ou de algum conhecimento prévio, aliado a imagem ou lembrança que se
desenvolveu por meio de questionamentos (Quadros 1, 2, 3, 4). Fuentes (2012) diz que a
curiosidade natural da criança a direciona a um verdadeiro interesse científico estimulando-a a
explorar seu entorno. Olha alí, olha alí! Lá na copa da árvore; Olha o tucano lá em cima!; A
cobra é um peixe?; Ela é uma nadadoraolímpica?
Reação - Esta categoria expressa as reações das crianças de forma espontânea e livre.
Percebe-se que os risos, gritos e gargalhadas fazem parte das interações e respostas atentas,
misturados as observações de quem está comprometido com o espaço pesquisado: Um cocô!.
Credo, tem cocô flutuando; Olha, ele faz exercício! Olha só a tartaruguinhas! Duas tartarugas,
duas tartarugas! É muita da tartaruga! Aquilo alí é a baleia? (Quadros 1, 3, 4).
Desejo de conhecer outros espaços e/ou animais - Aqui nos deparamos com um
misto de ansiedade por parte das crianças, em ir ao próximo ambiente de visita, querendo
saber o que viria a seguir ou ainda, que animais poderiam ver ou encontrar (Quadros 1, 3, 4).
Para Ferreira e Mello (2012, p. 18) os ambientes externos fazem melhor aos perguntadores, e
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
59
os “[...] estudos do meio sempre foram importantes para experiência e, consequentemente,
para a motivação de crianças e jovens.” Entendemos que os espaços devem ser provocativos,
e que confirma-se aqui, a relevância e o potencial do espaço não formal Bosque da Ciência
para o ensino e a pesquisa com crianças na educação infantil e ensino fundamental.
Perguntas ou observação desconectada com o espaço - Na fala das crianças
conseguimos relacionar sua perspicácia. Uma vez que havia um trajeto programado e
realizado, porém, foram capazes de relacionar outras perguntas com o que viram e estavam
interessados em pesquisar, fazendo sua descrição (Quadros 1, 3). Uma criança atentou para o
faixo de luz que estava passando por entre as árvores: Olha a luz, olha a luz!; Quase não
perguntaram. No entanto, notaram uma formiga no chão, exatamente no lago das tartarugas:
Formiga! Vamos anotar. Ferreira e Mello (2012, p. 18) enfatizam que: “Deve-se dar maior
visibilidade para as perguntas das crianças [...] e mostrar como os “pequenos pensadores”
estão pensando”.
Conhecimento apresentado - Nesta categoria, o conhecimento prévio das crianças
por meio de suas vivências e experiências trazem riquezas de pensamentos sobre o mundo e
seu funcionamento que precisam ser considerados no processo de formação de conceitos
científicos, como esclarece Nébias (1999).
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Quadro 1: Falas dos estudantes da Educação Infantil e Ensino Fundamental I (idades de 2 a 12 anos) no
ambiente do "peixe boi" (Trichechusinunguis, Trichechidae).
Categorias Falas no ambiente do "peixe boi"
Curiosidade Tem serpente?
Aquilo alí é a
baleia?
Por que eles
morreram? É o
peixe-boi?
Isso é cocô? Isso é peixe boi, né véio?!!
Reações Risos,
gritos....gargalhadas...; A
piscina!
Peixe –
boiiiiiii! Ele
tá dormindo..
Peixe, peixe-
boií. Gritos!!
Risos, gritos...cada vez que o Peixe boi se aproximava
do vidro. Olhaaaa!!!Risos, muitos risos, gritos...Le-
gal!!
Olha o cocô dele!! Risos....
Risos,gargalhadas. Olha, ele fazexercício!!
Vem cá peixe –boi.
Um cocô!. Credo, tem cocô
flutuando! Cocô peludo!!
Nãão!!! Não toque no vidro. Nossa, dois bebês!!”.
Desejo de conhecer
outros espaços e/ ou
animais
Eu quero ver a minhoca; Eu quero ver a aranha;
Perguntas ou
observação
desconectada com o
espaço
Não tem aranha aqui. Tem sim, né, tia?
Tem formiga. Ela é grandona. Ah, olha aqui, óh!! É
gigante!! Gigante e ela morde a pessoa. Cutia!!Cutia!!
Conhecimento apresentado Ele é um animal aquático!! Peixe-boi. não, é abaleia!!
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Quadro 2: Falas dos estudantes da Educação Infantil e Ensino Fundamental I (idades de 2 a
12 anos) no ambiente da "ariranha" (Pteronura brasiliensis, Mustelidae).
Categorias Falas no Ambiente da ariranha
Curiosidade Ela é uma nadadora olímpica?
Conhecimento apresentado
Ela é uma nadadora olímpica.
E ela nada de cabeça para baixo.
Ela vai de peito, e volta de costa, e por baixo
da água. Ela tá treinando o fôlego.
Ela quer cair fora! Ela é muito rápida. E quase que
não dá para ver ela.
Ela está treinando para as olimpíadas de 2016. Aposto
que ela ganha até do Cielooudo não deu
paraentender”. Ela tá lá!! Tinha duas lá e duas aqui. Ela é melhor do que eu...
Quadro 3: Falas dos estudantes da Educação Infantil e Ensino Fundamental I (idades de 2 a
12 anos) na Ilha da "Tanimbuca" (Buchenaviatetraphylla, Combretaceae).
Categorias Falas na Ilha da "Tanimbuca"
Curiosidades Aqui é uma Selva?
Aqui é uma Selba? (Escrito como foi
falado). Aqui é uma Folesta
Amazônica? Eu acho que é... O que é
aquilo? O quê? O quê?
É a folha, é a folha. Olha no galho, olha o galho!! Professora, a senhora já notou que para onde vamos tem mata?
Reações Duas tartarugas, duas tartarugas!! Tartarugas,
tartarugas… Eu vi, eu via a ....a tar-ta-rugaaaaaaaaá...
Laáaaa, eu
tartalaluga...Tartalugaaaá! Eu
toquei, ela ,eu toquei ela, tia!
Quero pegar o pexe, pegar o pexe!
Olha, só a tartaruguinhas!!Duas tartarugas, duas
tartarugas!!É muita da tartaruga!! Olha outraa!!Tataludaa...
Ih, uma tataluga!!Grito,
bemagudo! São tucanos. São
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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lindoos! Olha alí, olha alí! Lá na copa da árvore. Olha o tucano lá em cima!
Desejo de conhecer outros
espaços e/ ou animais Eu quero ver o
macaco! A gente
vai ver a onça? A gente vai por aqui? (querendo saber por qual caminhoiriam).
Perguntas ou
observação
desconectada com o
espaço.
Uma criança atentou para o faixo de luz que estava
passando por entre as árvores. Ölha a luz, olha a luz!
Aqui não tem macaco.
Eu tô ouvindo o macaco!! Eu tô ouvindo o macaco! E
tentou imitar o macaco: Ah!Ah!
Ai carapanã!
Formiga! Vamos anotar. Quase não perguntaram.
Atentaram para uma formiga que observaram no chão,
exatamente no lago das tartarugas.
Conhecimento apresentado
É um passarinho, não é um tucano não.
Quadro 4: Falas dos estudantes da Educação Infantil e Ensino Fundamental I (idades de 2 a
12 anos) no lago do "Poraquê" (Electrophoruselectricus, Gymnotidae).
Categorias Falas no lago do "Poraquê"
Curiosidades A cobra é um peixe?
O que é isso aí? É peixe, eu já vim
aqui. Como ele dá choque? Ele é uma cobra?
Reações Olha a cobraaa! Com expressão deespanto. Cobraaa, cobraaa!
Eu vi, eu vi uma cobra eu vi!
Cobraaa! Tartaruga, tartaruga, ela é
bem bonitinha.
Olha, alí, tem duas alí, E tem peixe...Olha é o peixe, olha
tem um alí. Olha aí óh, a tartaruga! Veeem... Alí tem um
peixe, tem um jacaré.
Tem cobra, tem um monte de cobra. Olha o tamanho
dessa, grandona! Exibido!
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Desejo de conhecer outros espaços e/ ou animais
Para onde a gente vai?
Conhecimento apresentado
Ao ver uma cotia uma criança falou: ih, olha alí, ó, um
ratinho... Papai, papai olha o tamanho! Tartarugão, né?
Olha essa, grandona!
Que peixe! É uma
lombriga! Ele tá
respirando.
Objetivos de aprendizagem e respostas dos professores frente às indagações dos
estudantes no Bosque da Ciência
Dos grupos acompanhados, três (3) tinham objetivos, e um não. Porém, o que não
apresentou objetivo acompanhou melhor ao seu grupo. Já o posicionamento dos professores
que possuíam objetivos diante das perguntas dos alunos, não apresentou eficácia nas respostas
(Quadro 5).
Os professores (P1) da educação infantil na faixa de 2 a 4 anos, não puderam alcançar
o seu objetivo, pela interdição da Casa da Ciência. Usaram um plano alternativo, e assim pode
cumpri-lo e levar as crianças a observar as partes das plantas e fazer registros (Quadro 5).
Notamos que a reação dos professores em relação às perguntas das crianças, é relevá-las a
segundo plano. Como se o que elas quisessem saber fosse irrelevante. E como o tempo
reservado à visita, estava chegando ao fim, parecia justificável deixá-las de lado, sem
respostas.
Notamos, que apesar do segundo grupo de professores (P2) da educação infantil na
faixa de 4 a 6 anos, não ter objetivo específico, foi o que mais deu atenção e explorou as
possibilidades das crianças conhecerem o ambiente e interagiu com elas (Quadro 5).
Os professores (P3) do ensino fundamental de 6 a 8 anos, ao se posicionar em suas
falas com as crianças mostraram uma atitude comportamentalista, se atendo na preocupação
da limpeza do local, e nos “pés sujos” de barro que poderiam sujar a Casa da Ciência(Quadro
5). Detalhe este, que quase os tirou da observação deste espaço. Porque, devido a este
fato, eles não poderiam visitá-lo. Pelo menos duas indagações das crianças, no percurso da
visita, não recebeu atenção para ser respondida.
Os professores (P4) do segundo grupo do ensino fundamental com as crianças na faixa
de 10 a 12 anos, possuía objetivo específico para a língua inglesa: que aprendessem o nome
dos animais em inglês e visualizassem os animais de perto (Quadro 5). Porém, delegou aos
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
64
guias presentes no espaço, a orientação, em todo o percurso proposto com o grupo de
crianças. Ressaltou que aqueles estavam bem mais preparados do que eles. Sem se dar conta
que o foco era visualizar os animais, mas o objetivo era fixar seus nomes em inglês. Logo,
deveria haver orientação em inglês.
De acordo com Silva e Fachín-Terán (2013), os professores precisam estar preparados
para falar sobre temas científicos, mesmo não sendo sua área específica, pois as crianças
fazem perguntas, em todas as faixas etárias. É importante que a atividade de campo não
aconteça apenas como uma mera excursão, mas as etapas do planejamento, execução e
exploração devem ser elaboradas previamente e com a organização devida (ROCHA;
FACHÍN-TERÁN, 2010, p. 20).
Quando o professor além de percorrer o caminho do planejamento, estimula a
produção de um conhecimento crítico, começa a demonstrar que tem compreensão do seu
fazer como docente. Porém, quando apenas existe a intenção de instruir, sem questionar,
argumentar, podemos pensar em algumas ideias colocadas por Demo (2010), que identifica a
existência de um problema na estrutura da formação docente. Se o professor concebe, que a
“pesquisa começa na infância, não no mestrado” como enfatiza este autor (p.58), sua forma de
abordar o contexto será diferenciada.
Quando as crianças fizeram as suas indagações, iniciaram o seu processo de inserção
na ciência que, segundo Bachelard (1996) e Fuentes (2012) começam com questionamento e a
dúvida, estão estabelecendo o processo de transição dos conhecimentos cotidianos em
conhecimento científico. Nesse momento entra o papel do professor que se colocará como
mediador das perguntas e curiosidades, para que juntos se estabeleça o aprendizado (SILVA
& FACHÍN-TERÁN, 2013, p.54):
Ser professor requer saberes e conhecimentos científicos, pedagógicos,
educacionais, sensibilidade, indagação teórica e criatividade para encarar situações
ambíguas, incertas, conflituosas e, por vezes, violentas, presentes nos contextos
escolares e não escolares. É da natureza da atividade docente proceder à mediação
reflexiva e crítica entre as transformações sociais concretas e a formação humana
dos alunos, questionando o modo de pensar, sentir, agir e de produzir e distribuir
conhecimento.
Diante do que enfatiza os autores supracitados, analisamos que no trato com seu grupo
de alunos, alguns destes saberes e a mediação reflexiva estiveram ausentes. Observamos que
as crianças menores falaram bastante, ficaram muito eufóricas e estabeleceram maior
comunicação por meio de constantes interações, chegando a fazer perguntas apesar de serem
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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bem pequenininhas, realizando associações daquilo que eles conhecem com aquilo que eles
viram.
Quadro 5: Planejamento da visita e reação do professor.
Professor 1 (P1) - Educação Infantil (2 a 4 anos)
Objetivo Específico: Tinha objetivo de realizar uma exposição, onde as crianças falariam sobre as partes das plantas.
Reação do professor:
As crianças falariam sobre as partes das plantas e seriam levadas a Casa da ciência, para visualizarem a maior
folha do mundo. Porém, como a Casa da Ciência estava interditada, a professora levou-os até ilha da Tanimbuca
onde esta presente a árvore da "Tanimbuca", levou-os a observar as suas partes e tirou fotos realizando o abraço
coletivo da árvore. Em alguns momentos diante das perguntas das crianças, os professores não respondiam
devido a falta de tempo para se debruçar nas perguntas das crianças, uma vez que a hora já estava avançada para
o término do passeio. A expressão foi: “Vão bora, vem, vem, vem...” enquanto iam dando as mãos e organizando as crianças para irem a outro local.
Professor 2 (P2) - Educação Infantil (4 a 6 anos)
Objetivo Específico: Não tinha objetivo específico, porém levou as crianças para conhecerem o espaço.
Reação do professor:
Independente do grupo saber ler ou não, a professora se posicionou diante das placas dizendo para onde iriam,
em primeiro lugar, e assim por diante;
Direcionou-os durante toda a visita dizendo que eles iriam descobrir quais são os outros animais que estavam no
local. Embora não houvesse um objetivo determinado o acompanhamento e atenção dispensada às perguntas e
interação com as crianças foi constante.
Professor 3 (P3) - Ensino Fundamental (6 a 8 anos)
Objetivo Específico: Tinha objetivo estabelecido de observação do ciclo das plantas e as crianças fizerem anotações em suas agendas.
Reação do professor:
A professora não pode perceber a observação sobre a “formiga”, e sobre a “mata” ela pareceu não ouvir.
O maior objetivo das professoras pareceu que as crianças entendessem que o espaço o qual visitaram não deveria
ser deixado sujo e que eles praticassem isto, pois as professoras faziam intervenções e chamavam a atenção para
a limpeza do local e do ambiente todo tempo e com insistência.
Uma das professoras observou que os pés deles estavam muito sujos e eles estavam muito agitados, por isso não
poderiam visitar a casa da ciência. Depois, a professora decidiu levá-los de dois em dois.
Professor 4 (P4) - Ensino Fundamental (10 a 12 anos)
Objetivo Específico: Tinha objetivo: eles estão estudando sobre os nomes dos animais em Inglês, então o
objetivo é que eles viessem no local para que visualizassem de perto estes animais e aprimorassem seus nomes em inglês.
Reação do professor:
O professor de Inglês disse ao grupo que nós (pesquisadores) poderíamos tirar qualquer dúvida ou responder as
suas perguntas, pois nós estávamos mais preparados.
Considerações Finais
A interação é claramente perceptível dentro do espaço frequentado. Visitantes e
monitores (quando estes últimos estiveram disponíveis) mostraram harmonioso envolvimento,
no momento em que estes, estavam munidos de conhecimento sobre o entorno com
instrumentos, utilizando-os com habilidades. Percebemos que os espaços não formais se
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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constituem em espaços de aprendizagem em ciências, e cada vez que são adequadamente
explorados, promovem a capacidade de fazer leituras e potencializar o desenvolvimento
integral do indivíduo com o ambiente que o cerca.
A fala das crianças traz uma forma peculiar de indagar. Esta indagação pode nortear o
trabalho do professor dentro de sala de aula e explorar melhor os conteúdos a partir do que
presenciaram. O aprendizado torna-se mais significativo e efetivo uma vez que surgiu in loco
sendo trabalhada de forma dinâmica.
Planejamento se faz imprescindível. O professor que adentra neste ambiente com os
objetivos estabelecidos, tende a facilitar o processo de ensino aprendizagem. Mas, estar
atendo ao que surgirá no percurso, pode trazer à tona uma nova possibilidade. Por isso, não
podemos ser rígidos, sem chance de adequação ao que vamosensinar.
O espaço não formal é consolidador de reflexões e possibilidades do “novo”, do
inusitado, do que é percebido por uns e não por outros. Um espaço capaz de gerar múltiplos
questionamentos despertando para a pesquisa. Se a ciência é o indagar, e o intuito da
Educação em Ciência é promover um cidadão crítico, reflexivo e participativo, logo, levar
estas crianças para este espaço propõe mais que um aprendizado específico. Propõe ampliar
indagações capazes de nos fazer livremente observar, questionar, pensar, refletir, trazendo a
essência da pesquisa para a nossa vivência cotidiana, nossas indagações espontâneas enquanto
leva-nos a descobrir novos caminhos do conhecimento.
Referências
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sobre a metodologia de pesquisa. Educação e Sociedade, Campinas, v.26, n.91, p. 419-442,
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Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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TERÁN, Augusto; SANTOS, Saulo César Seiffert (Orgs.). Novas perspectivas de ensino de
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Educação Infantil. Ano X, n.33, Out/ Dez. 2012.p.8-11
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POZO, J. I. Educação Científica na primeira infância. Revista Pátio – Educação Infantil.
Ano X, n. 33, Out/ Dez. 2012. p.4-7.
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SILVA, C. C.; FACHÍN-TERÁN, A. A utilização dos espaços não formais como contribuição
para a Educação Científica: uma prática pedagógica (que se faz) necessária. In: FACHÍN-
TERÁN, Augusto; SANTOS, Saulo César Seiffert (Orgs.). Novas perspectivas de ensino de
ciências em espaços não formais amazônicos. Manaus: UEA Edições, 2013. p.53-63.
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CAPÍTULO V
ESTRATÉGIAS DE ENSINO DE MATEMÁTICA NO BOSQUE DA CIÊNCIA (INPA)
Felipe da Costa Negrão20
Priscila Eduarda DessimoniMorhy21
Alexandra Nascimento de Andrade22
Introdução
Um ensino que transpasse as paredes da sala de aula não é mera utopia, pelo contrário,
é objeto de estudo de muitos pesquisadores que acreditam na eficácia da educação em espaços
não formais (SILVA, FÁCHIN-TERÁN, 2013; ALMEIDA, FÁCHIN-TERÁN, 2013). Essa
pauta vem sendo levantada por professores de diversas áreas do conhecimento e profissionais
que trabalham com divulgação científica, sobretudo, com o intuito de descrever lugares
diferentes para desenvolver atividades pedagógicas (JACOBUCCI, 2008).
O desafio de transpor os conteúdos para a realidade do educando é um exercício que
deve ser encorajado desde o processo de formação, de modo que os cursos de Pedagogia, por
exemplo, precisam dispor de disciplinas e práticas pedagógicas que estimulem o uso de
espaços não formais em prol de um ensino significativo, visto que estes espaços ensejam um
trabalho interdisciplinar e/ou transversal, conectando diferentes disciplinas e oportunizando
relações subjetivas, vivências e experiências de cada indivíduo nesses ambientes (NEGRÃO,
MORHY, 2019).
A ida a esses espaços permite que o estudante compreenda melhor os conteúdos da
disciplina, uma vez que estará em contato com saberes que outrora só acessava via livro
didático. A docência em espaços não formais está garantida nas leis educacionais, logo os
professores possuem respaldo legal e científico para propor aulas práticas, visitas técnicas
e/ou práticas de campo.
No ensino de matemática, tal método é muito bem-vindo, visto que muitos conteúdos
da Educação Básica, aqui especificamente, do Ensino Fundamental I, são de difícil
assimilação, principalmente, se a didática do professor estiver pautada apenas por meios
20 Mestre em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia (UEA). Professor da Universidade Federal do
Amazonas. E-mail: felipe.unl@hotmail.com 21 Mestre em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia (UEA). Professora do Centro Universitário do Norte.
E-mail: primorhy@hotmail.com 22Mestre em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia (UEA).
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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tradicionais (aula expositiva, exercícios e memorização). A disciplina de matemática merece
atenção especial, pois é campeã de reprovações e ocasiona aversões em boa parte de nossos
estudantes (NEGRÃO, 2019). Assim, a escola junto aos seus professores deve viabilizar
estratégias que contribuam na superação da matemafobia (SANTOS e CORDEIRO, 2016),
contemplando um olhar mais humanístico à matemática, respeitando seu rigor científico, mas
apropriando-se de estratégias e pedagogias que despertem aprendizagens significativas.
A matemática da e para a vida é a gênese desse capítulo, pois acreditamos que os
conteúdos e saberes advindos dessa ciência estão disponíveis ao nosso redor. O uso de
espaços não formais no ensino de matemática é uma excelente estratégia para a consolidação
de conteúdos previamente trabalhados em sala de aula, especialmente em defesa de um ensino
contextualizado.
Nesse capítulo, apresentamos o resultado de uma pesquisa com estudantes de
Pedagogia após participarem de aula prática no Bosque da Ciência (INPA) em Manaus
(Amazonas).
O Bosque da Ciência23 foi inaugurado no dia 01 de abril de 1995, com objetivo de
disseminar o conhecimento cientifico a partir das pesquisas realizadas no Instituto Nacional
de Pesquisas da Amazônia, neste espaço é possível se conectar a fauna e flora, pois há a
presença de algumas espécies da região como o peixe-boi, ariranha e cutia, além de plantas e
árvores nativas que promovem grande interação com o público.
Este ambiente proporciona experiências as quais contribuem para o desenvolvimento
integral do indivíduo, resgatando uma convivência harmônica a partir da integração entre
ecologia e civilização.
Materiais e Métodos
O estudo ancora-se nos preceitos da pesquisa descritiva (FONSECA, 2010), uma vez
que sugere reflexões a partir de ações vividas em espaço profissional, sendo relevante a
comunicação à comunidade científica. Nesse sentido, a coleta de dados deu-se através da
aplicação de um questionário com três perguntas abertas.
23 Maiores informações sobre o Bosque da Ciência (INPA) podem ser acessadas no site
https://bosque.inpa.gov.br/
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
70
O questionário foi aplicado com 12 alunos matriculados na disciplina “Fundamentos e
Metodologias do Ensino de Matemática” do curso de Pedagogia da Universidade Nilton Lins
(AM).
Os questionários aplicados após aula de campo foram lidos, analisados e tabulados a
partir do que prescreve a análise de conteúdo (BARDIN, 2016), uma vez que esta recomenda
uma “descrição objetiva e sistemática” nos aspectos de organização, transcrição e
levantamento de categorias.
Utilizamos da pré-análise, exploração do material e tratamento de dados junto a
literatura. Desta maneira, elencamos três categorias, a saber: a) ensino de matemática em
espaços não formais; b) vantagens e desvantagens de aulas de matemática em espaços não
formais; e c) possíveis temáticas para o ensino de matemática no Bosque da Ciência.
Resultados e Discussão
A primeira categoria refere-se ao ensino de matemática em espaços não formais, de
modo que as respostas reforçam a importância do docente experienciar aulas para além do
ambiente escolar, oportunizando que os educandos vislumbrem novos meio de aprender e
acessar conteúdos curriculares.
A1 - Os espaços não formais podem ser um recurso facilitador já que oferecem
subsídios ao professor para inovar sua prática.
A2 - Deixa o ensino de matemática mais atrativo, quebrando antigos paradigmas de
que o ensino e aprendizagem se dá somente em sala de aula, pois ao levar os alunos
para espaços não formais, o professor além da explicação de assuntos, poderá
proporcionar aos seus alunos a descoberta de novos saberes por eles mesmos,
aguçando a curiosidade e abrindo espaço para a pesquisa, dinamizando o ensino.
A5 - Inserir os alunos em outro contexto que não seja o ambiente escolar traz
consigo o quesito curiosidade, inerente a cada criança. Em cada comando do
professor, os alunos colocam-se na posição de pequenos exploradores agregando
valor ao conhecimento adquirido naquele ambiente.
A6 - O ensino de matemática fora do ambiente escolar é muito importante, pois irá
possibilitar que o aluno reconstrua um novo conceito sobre a matemática, adquirindo
novas experiências educacionais, contudo o professor ao optar por espaços não
formais deve dispor de planejamento, deve buscar rever suas práticas pedagógicas,
estimulando os alunos sempre na construção de novos conhecimentos.
A7 - A ideia de levar o ensino, em particular da matemática, para fora da sala de
aula quebra o paradigma do tradicionalismo, uma vez que a geração de hoje, em sua
grande parte, está presa a um ensino automático, mecanizado, que não traz conexão
entre a matemática e a utilidade para o cotidiano.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
71
O grupo de estudantes que participou desse estudo está vinculado a uma matriz
curricular renovada que apresenta a disciplina de “Educação em Espaços Não Formais”, logo,
já conheciam os impactos positivos de uma aula prática no Bosque da Ciência ou em qualquer
outro espaços não formal. A inserção da disciplina no curso de Pedagogia traz benefícios para
a educação básica, uma vez que o graduando adquire a percepção das possibilidades que estão
para além da sala de aula, reforçando o compromisso com uma didática diferenciada e
atrativa (NEGRÃO e MORHY, 2019).
É perceptível nas falas dos estudantes que o trabalho pedagógico em espaços não
formais requer do professor uma organização sistematizada e didática, assim como toda e
qualquer prática docente. Andrade et al. (2017) corroboram ao destacar que os espaços não
formais necessitam de planejamento e conhecimento do local que será utilizado para que o
educador possa trabalhar todo o seu potencial durante a execução das atividades.
Na esfera da disciplina de Matemática, os estudantes consideram viável o trabalho
com a disciplina no Bosque, pois este é um museu vivo de possibilidades e potencialidades,
inclusive listadas em trabalhos anteriores (NEGRÃO et al., 2016; NEGRÃO, 2018).
Sobre isso, Oliveira, Oliveira e Fachín-Terán (2013) afirmam que:
O espaço do Bosque mostra-se utilitário para a associação e configurações mais
autônomas entre os diversos tipos de frequentadores. Embora se configure como um
espaço que dá liberdade de ir e vir para quem o visita, não deixa de ser favorável
para a construção do conhecimento científico ou escolar, sobrepujando qualquer
expectativa de quem se propõe a usá-lo como espaço de aprendizagem.
A organização da aprendizagem no Bosque da Ciência requer que o docente organize
um roteiro de visitação, ou seja, é pré-requisito que o professor conheça o espaço
previamente, mapeie as paradas estratégicas e defina os conteúdos que serão abordados com
os estudantes. Esse processo de planejamento evita surpresas e permite que a aula seja
significativa, além de oportunizar que os estudantes construam relações com o conhecimento
científico e a cultura amazônica (OLIVEIRA, OLIVEIRA, FACHÍN-TERÁN, 2013).
A segunda categoria enfatiza as vantagens e desvantagens de aulas de matemática em
espaços não formais, sendo pertinente o levantamento da opinião dos participantes a respeito
do Bosque da Ciência enquanto cenário para a realização de atividades de matemática.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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Figura 1: Vantagens para aulas no Bosque da Ciência
Fonte: Autores
Figura 2: Desvantagens para aulas no Bosque da
Ciência
Fonte: Autores
A figura 1 expressa as vantagens destacadas pelos respondentes, de modo que a
inovação didática aparece em destaque, visto que ao sair da sala de aula, o professor é
convidado a buscar novos meios e práticas de ensino diferenciado, permitindo exercitar sua
curiosidade e dinamismo pedagógico, contribuindo para “tornar o ensino menos asséptico,
menos dogmático, menos abstrato, menos a histórico e menos ferreteador na avaliação”
(CHASSOT, 2006, p. 97).
Outro ponto apontado está na possibilidade de tecer discussões interdisciplinares no
Bosque, utilizando-se de outras ciências, tais como geografia, história e artes. Vale ressaltar
que um ensino interdisciplinar é um dos maiores desafios docentes, posto que permite o
entrelaçar de conteúdos, trazendo sentido para os assuntos trabalhadores, principalmente ao
relacionar-se com saberes diários e conhecimentos prévios dos estudantes.
O Bosque da Ciência é um local que abriga uma biodiversidade amazônica de
“encher” os olhos, uma vez que é um espaço de conservação e centro de pesquisas. Nesse
viés, para os acadêmicos de Pedagogia, o Bosque oferece a vantagem de ensinar valores
culturais e conteúdos escolares por meio dos recursos naturais disponíveis e da fauna livre que
vive no espaço, tais como as cutias e macacos.
Ainda sobre as vantagens, os estudantes atestam que a sinalização do Bosque é
pertinente ao trabalho pedagógico, pois como não há guias, as placas e QR codes espalhadas
pelo local promovem um ensino mais contextualizado, sendo grandes contribuintes para o
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
73
professor propor discussões e reflexões matemáticas por meio das trilhas e espaços do
ambiente.
Pais (2002, p. 27) afirma que:
A contextualização do saber é uma das mais importantes noções pedagógicas que
deve ocupar um lugar de maior destaque na análise da didática contemporânea.
Trata-se de um conceito didático fundamental para a expansão do significado da
educação escolar. O valor educacional de uma disciplina expande na medida em que
o aluno compreende os vínculos do conteúdo estudado com um contexto
compreensível por ele.
A figura 2 apresenta as desvantagens do espaço na visão dos acadêmicos, de modo que
a ausência de recursos humanos seria o “vilão” do uso do espaço em prol do ensino, pois
pensando no público da Educação Básica, é necessário que os professores se planejem e
contem com o auxílio de outros parceiros, ou até mesmo dos pais das crianças. Esse desafio
está vinculado as questões de logística, pois mesmo que o Bosque esteja localizado em um
local acessível na cidade de Manaus, o translado escola-bosque-escola requer custos e pessoas
disponíveis para tal.
Além disso, Queiroz et al (2013, p. 153) corroboram ao dizer que:
Ao utilizar um ambiente não formal, o professor no planejamento da prática
necessita estabelecer os objetivos e metas a serem alcançados com a visita. O
planejamento é um dos primeiros passos a ser dado. Ele deve ser criterioso e levar
em consideração as perspectivas da turma, aliada aos temas trabalhados na escola.
Ao professor cabe motivar seus estudantes à postura investigativa, conduzindo as
observações dos estudantes aos conteúdos escolares trabalhados na escola.
A taxa de entrada também figura enquanto desvantagem, contudo é importante
mencionar que o Bosque da Ciência dispõe de serviços de agendamento on-line para escolas e
universidades. A taxa de visitação para o público em geral é de cinco reais, porém quando é
feito o agendamento, essa taxa não é cobrada. A administração do Bosque apenas incentiva a
adesão de uma campanha de doação de produtos de limpeza a fim de subsidiar a manutenção
do espaço.
A última categoria apresenta sugestões de possíveis temáticas para o ensino de
matemática no Bosque da Ciência, exigindo que os estudantes refletissem a respeito dos
conteúdos da Educação Básica que poderiam ser trabalhados no espaço.
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
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A3 - As sementes das árvores poderiam ser úteis no ensino das quatro operações,
pois as crianças estariam pegando em sementes (objeto concreto) que é uma
ferramenta que facilitaria seu aprendizado.
A8 - Trabalharia a matemática de acordo com as árvores, já que cada árvore possui
um número de registro, trabalhando as quatro operações... As colmeias que também
são enumeradas, tamanho de grandeza com os quelônios, entre outros.
A9 - Os números através de placas informativas do local e das árvores que são
numeradas. Grandezas e medidas nos viveiros. Formas geométricas que estão em
todo Bosque, estimulando a visão e imaginação dos alunos. Contagem, seja de
animais, insetos, árvores ou folhas.
A12 - Atividades de estimativa, pois existem muitos animais no local, poderia pedir
que os alunos estimassem o tamanho e peso dos animais, depois faria o comparativo
de acertos a partir das placas informativas.
Observamos que as respostas estão bem próximas as atividades realizadas pelo
docente no ato da visita. Isso é um resultado instigante e que nos faz refletir sobre a nossa
própria prática enquanto formadores, uma vez que é notório a incapacidade dos alunos de
vislumbrarem atividades para além das realizadas no dia da prática de campo. O ensino de
matemática no Bosque da Ciência segue a premissa de que “a matemática é parte da atividade
de um sujeito que compra, que vende, que mede e encomenda peças de madeira, que constrói
paredes, que faz o jogo na esquina” (CARRAHER, CARRAHER, SCHLIEMANN, 2011, p.
35), ou seja, uma matemática para e da vida.
O contato com espaços não formais no processo de formação de professores é
fundamental, principalmente para despertar olhares para novas práticas de ensino, a fim de
que esses futuros docentes atinjam a maturidade e capacidade de planejarem ações
pedagógicas que permitam o desenvolvimento de aprendizagens significativa por meio de
aulas em espaços não formais.
Segundo Reis et al (2017, p. 116):
Os espaços não formais no ensino superior precisam ser mais trabalhados,
principalmente na formação de professores, tendo em vista que os hoje acadêmicos,
logo serão docentes, e poderão reverberar essas práticas com seus futuros alunos,
como um ciclo. Logo, oferecer possibilidades de saídas a campo com graduandos é
investir em conhecimento aplicado, que perpassa os artigos, livros, apostilas e
quadro branco.
As atividades pedagógicas realizadas em espaços não formais trazem contribuições
positivas não apenas aos alunos, mas também aos professores que tem a possibilidade de
inovação e interdisciplinaridade em seu trabalho, bem como contribuem na interação do meio
com o indivíduo propiciando ganhos sensoriais e cognitivos (FACHÍN-TERÁN, 2019).
Práticas educativas no bosque da ciência, Manaus - AM
75
Algumas Considerações
O ensino em espaços não formais é uma prática comumente associada ao ensino de
ciências, contudo é crescente o movimento de ampliar as discussões para outros componentes
curriculares. Nesse capítulo, evocamos o ensino de matemática para além da sala de aula,
evidenciando desafios e possibilidades de trabalho pedagógico no Bosque da Ciência (INPA).
Os resultados expressos pelos questionários respondidos por acadêmicos do curso de
Pedagogia evidenciam a riqueza de conhecimentos e saberes que emanam desse espaço não
formal institucionalizado.
O ensino de matemática carece de mudanças substanciais, conduzidas por docentes
humanísticos que rompam com os estigmas gerados pela matemafobia. É urgente que
reconsideremos as práticas tradicionais desse componente curricular, uma vez que não nos
interesse apenas o exercício mnemônico, o uso de fórmulas e teoremas. Nossa ambição é
constituir uma geração de alunos que compreendam a matemática para a vida, contextualizada
aos saberes diários, munidos de aspectos que nos (e)levem a vivenciar de fato a
interdisciplinaridade.
Para isso, uma das sugestões desse manuscrito é o investimento em aulas práticas no
Ensino Superior, pois essas, motivam acadêmicos a desenvolverem atividades e pesquisas
mais ousadas e embasadas em teorias que reforçam a necessidade de um trabalho docente que
contribua com a interação do meio com o indivíduo, ampliando as possibilidades de
aprendizagem.
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