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Um Comentário Da Confissão de Fé Batista de 1689 Por Gary Marble - Sobre Capítulo 2 - Deus e a Santíssima Trindade
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UM COMENTRIO DA CONFISSO DE F
BATISTA DE 1689, POR GARY MARBLE
CAPTULO 2, SOBRE DEUS
E A SANTSSIMA TRINDADE
Issuu.com/oEstandarteDeCristo
Traduzido do original em Ingls
A Laymans Commentary of the 1689/1677 Second London Baptist Confession of Faith
By Gary Marble
Este volume composto do Captulo 2,
Sobre Deus e a Santssima Trindade, da obra supracitada
Traduo por Camila Almeida
Reviso e Capa por William Teixeira
1 Edio: Junho de 2015
Salvo indicao em contrrio, as citaes bblicas usadas nesta traduo so da verso Almeida
Corrigida Fiel | ACF Copyright 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bblica Trinitariana do Brasil.
Traduzido e publicado em Portugus pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a graciosa
permisso do autor, Gary Marble (1689Commentary.org), sob a licena Creative Commons
Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.
Voc est autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,
desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que tambm no altere o seu contedo
nem o utilize para quaisquer fins comerciais.
Issuu.com/oEstandarteDeCristo
Um Comentrio Da Confisso De F Batista De 1689
Por Gary Marble
Captulo 2*, Sobre Deus e a Santssima Trindade
Este captulo da Confisso muito importante porque uma compreenso adequada de
Deus o fundamento da nossa prpria existncia. O conhecimento exato de Deus neces-
srio se quisermos entender o mundo ao nosso redor, a ns mesmos, a Escritura1 e o mais
importante, se estamos adorando a Deus em Esprito e em verdade. Mas, como algum
adquire esse conhecimento crtico? Louis Berkhof afirma em sua Teologia Sistemtica: o
homem pode conhecer a Deus apenas na medida em que este ltimo ativamente se faz
conhecido2. Felizmente, Deus de fato Se revelou. Ele fez isso por meio das Escrituras3. O
__________
* Para ler o Primeiro Capitulo e a Introduo deste Comentrio acesse oEstandarteDeCristo.com.
[1] Uma compreenso acurada de Deus necessariamente o ponto de partida para a interpretao da
Escritura. A Escritura deve ser interpretada luz da sua prpria teologia (ou seja, o princpio da analogia da
Escritura).
[2] Louis Berkhof, Teologia Sistemtica, contendo o texto integral da teologia sistemtica (1932) e o volume
introdutrio original para a teologia sistemtica (1938), e um novo prefcio por Richard A. Muller (Grand
Rapids e Cambridge: Eerdmans, 1996), 34.
[3] Isto no deve negar o papel da revelao geral por meio da luz da natureza, criao e providncia.
1. O Senhor, nosso Deus, somente um Deus vivo e verdadeiro1; cuja subsistncia
em e de Si mesmo2, infinito em Seu ser e perfeio; cuja essncia no pode ser compre-
endida por qualquer outro, seno por Ele mesmo3; um esprito purssimo4, invisvel, sem
corpo, partes ou paixes, a Quem somente pertence a imortalidade, que habita em luz
que nenhum homem pode acessar5; imutvel6, imenso7, eterno8, incompreensvel, oni-
potente9, em tudo infinito, santssimo, sapientssimo10, completamente livre e absoluto,
operando todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade imutvel e justssima11,
para a Sua prpria glria12. cheio de amor, gracioso, misericordioso, longnimo,
abundante em bondade e verdade, que perdoa a iniquidade, a transgresso e o pecado;
o galardoador dos que O buscam13 e, contudo, justssimo e terrvel em Seus julga-
mentos14; odiando todo pecado15; e que no tem o culpado por inocente16 (1 1 Corntios
8:4, 6; Deuteronmio 6:4 2 Jeremias 10:10; Isaas 48:12 3 xodo 3:14 4 Joo 4:24
5 1 Timteo 1:17; Deuteronmio 4:15-16 6 Malaquias 3:6 7 1 Reis 8:27; Jeremias
23:23 8 Salmos 90:2 9 Gnesis 17:1 10 Isaas 6:3 11 Salmos 115:3; Isaas 46:10
12 Provrbios 16:4; Romanos 11:36 13 xodo 34:6-7; Hebreus 11:6 14 Neemias 9:32-
33 15 Salmos 5:5-6 16 xodo 34:7; Naum 1:2-3).
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estudo de Deus no um campo de especulao, mas de revelao. A. W. Tozer afirma,
com razo: A essncia da idolatria o entretenimento de pensamentos a respeito de Deus
que so indignos dEle4. Assim, podemos contar apenas com a Palavra de Deus para en-
tender quem Deus . Se confiarmos em nossas prprias ideias, inevitavelmente acabare-
mos com uma viso deficiente de Deus, que Tozer claramente chama de idolatria.
O captulo 1 da Confisso apresentou a doutrina da suficiente, correta e infalvel regra da
Santa Escritura. Baseado no carter da Palavra de Deus, podemos chegar com confiana
e com expectativa a ver o que o nosso glorioso Deus disse sobre Si mesmo! No entanto,
uma palavra de cautela deve ser dita. R. C. Sproul afirma: A Teologia distingue entre um
conhecimento abrangente (exaustivo) de Deus, o que no podemos ter, e um conhecimento
apreensivo, que limitado, finito, humano, o conhecimento das criaturas, o qual podemos
ter5. Portanto, temos que compreender que existem limites para o que podemos apreender
de Deus, mas mesmo tendo em conta esta realidade, uma pessoa nunca poderia em uma
vida plenamente sondar as profundezas da Escritura a respeito de Deus.
Enquanto comeamos nossa jornada atravs deste captulo, pode ser til ter um roteiro
bsico. Eu encontrei teis os ttulos dados aos pargrafos por Robert Letham para este
captulo: Pargrafo 1. O nico Deus Vivo e Verdadeiro, Pargrafo 2. A Toda-Suficiente So-
berania de Deus, e Pargrafo 3. A Trindade6.
A Confisso de 1689 comea com esta afirmao fundamental: O Senhor nosso Deus
somente um Deus vivo e verdadeiro. A Escritura afirma: Ouve, Israel, o Senhor nosso
Deus o nico Senhor (Deuteronmio 6:4). A Confisso comea essencialmente com uma
citao direta da Escritura. Pense nisso! O Senhor nosso Deus. De todos os chamados
deuses deste mundo, o soberano Senhor o nosso Deus. Bem, esse Deus somente um,
Ele no muitos deuses, Deus o nico Deus vivo. A Escritura afirma em Jeremias: Mas
o Senhor Deus a verdade; ele mesmo o Deus vivo (Jeremias 10:10a). Todos os outros
chamados deuses no so vivos, ou eles jamais viveram. Jeremias prossegue no verscu-
lo 14, afirmando: Todo o homem embrutecido no seu conhecimento; envergonha-se todo
o fundidor da sua imagem de escultura; porque sua imagem fundida mentira, e nelas no
__________
[4] Aiden Wilson Tozer, Conhecimento do Santo, Os Atributos de Deus: O Seu Significado na Vida Crist (San
Francisco: Harper & Row Publishers, 1961), 3. Tozer tambm escreveu: Se insistirmos em tentar imagin-
lO, acabamos com um dolo, no feito por mos, mas com pensamentos; e um dolo da mente to ofensivo
a Deus quanto um dolo da mo. Ibid. pg.
[5] R. C. Sproul, Verdades Que Ns Confessamos: Guia De Um Leigo Para a Confisso de F de Westminster,
vol. I, O Deus Triuno (Phillipsburg, Ni.: P&R Publishing, 2006), 42.
[6] Robert Letham, A Assembleia de Westminster: Lendo Sua Teologia no Contexto Histrico (Phillipsburg,
Nj.: P&R Publishing, 2009), 159-73.
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h esprito. Os deuses no so vivos ou reais; esses dolos so surdos, eles no podem
ouvir as oraes; eles so mudos, eles no podem falar; e eles no existem, eles no podem
agir. Eles so impessoais, objetos inanimados feitos de mera matria, no mais7. O cenrio
histrico destas passagens em Jeremias a de um mundo politesta; dolos eram conside-
rados vivos e capazes de agir em nome de seus adoradores. Para leitores ocidentais, que
no esto envolvidos no mesmo tipo adorao grosseira de dolos (os dolos ocidentais so
apenas de um tipo diferente), o contraste entre Deus e os dolos de madeira e pedra podem
no parecer to grande, ou no mnimo no parecer to relevante. Para os leitores do Oriente
essas passagens provavelmente parecem muito mais relevantes.
Deus tambm o nico Deus verdadeiro. Em outras palavras, os dolos ou deuses adora-
dos no so verdadeiramente deuses e no possuem qualquer Divindade, ao passo que
Deus o nico que Divino. Em contraste com os dolos que so falsos, porque eles no
existem e falsos porque ador-los uma iluso, Deus verdadeiro; Ele existe. Jeremias
afirma sobre esses dolos: Vaidade so, obra de enganos: no tempo da sua visitao viro
a perecer (Jeremias 10:15a). Eles no so verdadeiros deuses, pois eles no existem,
seno na imaginao do enganado. Deus o nico que legitimamente chamado de
Deus, porque Ele o nico. Eu sou o Senhor, e no h outro; fora de mim no h Deus
(Isaas 45:5a). No Novo Testamento, Paulo afirma: Assim que, quanto ao comer das coisas
sacrificadas aos dolos, sabemos que o dolo nada no mundo, e que no h outro Deus,
seno um s (1 Corntios 8:4)8. Se toda a humanidade e, particularmente, o antigo povo
de Deus, reconhecesse que a Divindade pertence somente a Deus, ento estas passagens
bblicas, e muitas outras semelhantes seriam desnecessrias. Mas o fato que a humani-
dade por sua supresso da verdade atribui caractersticas Divinas a outras coisas, como o
sol, rios, animais, ou meros objetos materiais, at mesmo a algo que eles prprios fizeram...
Ao longo da histria, Deus tem persistentemente lembrado a Seu povo que Ele o nico
Deus (ou seja, no h mais ningum ou nada que tenha qualquer Divindade), o verdadeiro
Deus (ou seja, real e todo-poderoso, ningum mais elevado ou maior).
Imediatamente aps abordar a unidade e existncia de Deus, vemos essa frase na Confis-
so: cuja subsistncia em e de Si mesmo9. O Dicionrio de Ingls Oxford define subsis-
tncia como: Existncia como uma substncia ou entidade; substancial, real, ou existncia
__________
[7] Estou considerando uma abordagem generalizada e ajuntando deuses e dolos em uma categoria. Estou
ciente de que pode haver uma distino em alguns casos, e em outros no, dependendo do sistema religioso.
[8] Paulo parece estar citando um ditado familiar do Corntios, porm mesmo assim Paulo afirma o ditado
como correto um dolo no tem existncia real; Paulo contesta a maneira insensvel como eles aplicaram
esta verdade.
[9] A Confisso de Westminster no inclui cuja subsistncia em e de Si mesmo. A Confisso de 1689 o
adiciona a partir da Primeira Confisso Batista de Londres de 1646.
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independente. Muller define como: indicando um ser ou existncia particular, uma instn-
cia individual de uma determinada essncia10. Em certo sentido, podemos dizer que subsis-
tncia refere-se existncia de Deus como uma pessoa, mas enquanto Deus uma pessoa
(ou seja, Deus tem personalidade), contudo, Deus muito diferente de uma pessoa huma-
na, de modo que hesita-se at mesmo em usar a palavra 'pessoa'. A Confisso nos diz que
quem Deus , Ele em... Si mesmo. Em outras palavras, Deus no precisa de nada nem
de ningum fora de Si mesmo para ser quem Ele . Deus no depende de nada nem de
ningum para nada. Deus autossuficiente. Bem como, Deus quem Ele de Si mesmo.
Se uma coisa de algo, isso significa que de ou originria de alguma coisa. Toda a frase
aqui comunica que o ser de Deus provm de e a partir dEle mesmo. Nenhuma coisa nem
ningum acrescenta a quem Deus . A no-provenincia de Deus autossuficiente, auto-
contida e autoexistente. Dizer que Deus autossuficiente e auto-contido referido na teo-
logia como a asseidade de Deus, a Sua independncia absoluta. J. I. Packer indica que os
antigos telogos reformados referenciavam a autoexistncia e autossuficincia, chamando-
a da independncia de Deus11. O prprio Senhor disse: EU SOU O QUE SOU (xodo 3:14).
Ao estudar os atributos de Deus, h duas categorias bem utilizadas que sero teis para
ns: os atributos incomunicveis e os atributos comunicveis de Deus. Os atributos incomu-
nicveis so os atributos de Deus que Ele no concede s Suas criaturas, como a Sua eter-
nidade, imutabilidade, oniscincia ou onipotncia. Estes pertencem somente a Deus. Os
atributos comunicveis de Deus se referem aos Seus atributos que Ele tem dado, de uma
forma finita, s Suas criaturas humanas, tais como: amor, inteligncia, ou outros atributos
semelhantes. Conforme continuamos atravs da Confisso, voc pode reconhecer estas
duas categorias.
A Confisso afirma que Deus infinito em Seu ser e perfeio. Dizer que Deus infinito
em Seu ser afirmar que Ele no tem nenhuma limitao, porm mais do que isso. Berk-
hof indica que no devemos apenas pensar no ser infinito de Deus como uma extenso
sem limites, como se Deus estivesse espalhado por todo o universo, uma parte estando
aqui e outra ali, pois Deus no tem corpo e, portanto, nenhuma extenso12. Estes so as-
suntos difceis com os quais lidar. Como se infinito em Seu ser no fosse forte o suficiente
para abranger, a Confisso acrescenta que Deus infinito... em perfeio13. Deus sem
__________
[10] Richard A. Muller, Dicionrio de Termos Teolgicos em Latim e Grego: Retiradas Principalmente da Teo-
logia Escolstica Protestante (1985; reimpresso, Grand Rapids: Baker Academic, 1995). 290.
[11] J. I. Packer, Conhecendo a Deus (Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1973), 89.
[12] Louis Berkhof, Teologia Sistemtica, contendo o texto integral de Teologia Sistemtica (1932) e o volume
introdutrio original para a teologia sistemtica (1938), e um novo prefcio de Richard A. Muller (Grand Rapids
e Cambridge: Eerdmans, 1996), 59-60. Em termos de espacialidade, veja abaixo sobre a imensido de Deus.
[13] A ausncia de infinito antes de perfeio explicada pelo uso de reticncias. A Confisso indica infinito
em ser e [infinito em] perfeio.
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defeito em toda a Sua infinitude. No h uma sombra ou mesmo indcio de imperfeio em
Deus. A palavra perfeio uma palavra difcil para ns entendermos em nosso mundo a-
doecido pelo pecado, mas quando acrescentamos a isso infinito algo muito maior do
que qualquer coisa que ns conhecemos. Talvez todos ns j ouvimos a frase: ningum
perfeito. Isso descreve toda a humanidade aps a Queda. Mas Deus, em contraste, per-
feito. Berkhof novamente til para ns aqui: Ela [a perfeio de Deus] no deve ser enten-
dida em sentido quantitativo, mas em um sentido qualitativo; isso qualifica todos os atributos
comunicveis de Deus. Poder infinito no um quantum absoluto, mas uma potncia ines-
gotvel de poder; e santidade infinita no quantum sem limites de santidade, mas a santi-
dade, que , qualitativamente livre de qualquer limitao ou defeito14. Estas so coisas so-
bre Deus nas quais quedamos em reverncia, coisas que nos levam a adorao.
A Confisso continua: cuja essncia no pode ser compreendida por qualquer outro,
seno por Ele mesmo. Muller afirma que essncia significa a natureza ou quidade de um
ser, o que torna o ser precisamente o que ; por exemplo, a essncia de Pedro, Paulo e
Joo a sua humanidade; a essncia de Deus a Deidade ou Divindade15. O Dicionrio
de Ingls Oxford define essncia como o que uma coisa . A essncia de Deus quem
Ele , ou o que Ele , a natureza de Deus. Quando fazemos a pergunta sobre alguma coi-
sa, O que isso?, estamos perguntando qual a sua qualidade essencial, ou qual a
sua propriedade mais fundamental. Lembro-me de ser convidado em uma aula de filosofia
da faculdade a escrever sobre a essncia de um lpis. No to fcil quanto parece. A sua
essncia o seu material, ou seja, madeira? A sua essncia a sua funo? Ser que o
seu propsito? O que ele ? Quando se trata de essncia de Deus , assim, incompreen-
svel. Ou seja, incompreensvel para qualquer outro, seno Ele mesmo. A essncia de
Deus no pode ser compreendida. Como Sproul disse: ns, como criaturas s podemos ter
conhecimento apreensivo de Deus. O que as Escrituras dizem? A quem, pois, me fareis
semelhante, para que eu lhe seja igual? diz o Santo (Isaas 40:25). Estas palavras de Deus,
em Isaas, implicam que Ele diferente de qualquer outro, e isso nos coloca, como meras
criaturas, em uma posio em que no podemos compreender a essncia de Deus. Se isto
assim, ento no deveramos simplesmente desistir da busca o conhecimento de Deus?
No, mas til conhecermos os nossos limites; o fato de sermos limitados no significa
que no podemos conhecer nada; isso implica que no podemos conhecer tudo sobre Deus
de forma abrangente. Samuel Waldron afirma: Os credos da igreja so incompletos sobre
este mistrio [da Divindade]. Eles no o explicam. A incompreensibilidade de Deus significa
__________
[14] Louis Berkhof, Teologia Sistemtica, contendo o texto integral de Teologia Sistemtica (1932) e o volume
introdutrio original para a teologia sistemtica (1938), e um novo prefcio de Richard A. Muller (Grand Rapids
e Cambridge: Eerdmans, 1996), 60, colchetes meus.
[15] Richard A. Muller, Dicionrio de Termos Teolgicos em Latim e Grego: Retiradas Principalmente da
Teologia Escolstica Protestante (1985; reimpresso, Grand Rapids: Baker Academic, 1995), 105-6.
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que as doutrinas da f envolvero santos mistrios que transcendem a razo humana e
contradizem a sabedoria natural. Tais mistrios devem ser acolhidos com humildade e reve-
rncia por um intelecto desprovido da noo arrogante e tola do racionalismo; do tipo de
racionalismo que acha que deve ou pode compreender plenamente o ser Divino16.
Tendo estabelecido nossos limites, comeamos agora a abordar a essncia de Deus. A
Confisso diz que Deus um esprito purssimo. Esta palavra, um superlativo na gramti-
ca17, no se limita a dizer que Deus o esprito mais puro, mas que Deus esprito diferente
de qualquer outro esprito criado. Dizer que Deus esprito puro, dizer que Ele total-
mente esprito; Ele no mormente esprito e em parte alguma outra coisa. Ele puro ou
completamente esprito. Jesus disse: Deus esprito (Joo 4:24a). Isto essencial para
a nossa compreenso de Deus. No podemos entreter ideias de Deus como um homem
velho, com um manto branco, com uma longa barba. Uma vez que Deus um esprito, no
podemos imaginar qualquer coisa; voc no pode ver o esprito. E quanto a responder s
nossas perguntas ao longo destas linhas, a Confisso continua com dois aspectos que es-
to diretamente ligados e confirmam que Deus um esprito puro. A Confisso afirma que
Deus invisvel e sem corpo. S um esprito puro invisvel. E s um esprito puro sem
corpo. Deus no tem um corpo.
A Bblia se refere a dedo, mo, brao, rosto, orelhas, olhos de Deus e assim por diante, mas
no tomamos essas palavras para dizer que Deus tem, literalmente, essas partes do corpo.
Estas so metforas que nos ensinam algo sobre o desconhecido por primeiro relacion-lo
com algo que conhecido. Por exemplo, quando a Bblia diz que os olhos do Senhor esto
em todo lugar (Provrbios 15:3), isso no implica em Deus literalmente ter olhos fsicos,
mas aponta para o sentido elevado que transcende isso; no h nada escondido do conhe-
cimento de Deus. Se insistirmos que tal metfora (dispositivos literrios figurativos) so des-
cries literais de Deus, como se Ele tivesse um corpo, o que devemos fazer com passa-
gens que descrevem Deus como algum que nos cobrir com Suas asas (Salmos 91:4)?
Ser que Deus tambm tem penas? Isso ilustra o disparate de tratar a metfora como se
fosse uma linguagem no-figurativa ou linguagem literal.
Existem dois tipos de metfora que so especialmente importantes no estudo sobre Deus.
__________
[16] Samuel Waldron, A Confisso de F Batista de 1689: Uma Exposio Moderna, 3 ed. (Webster, Ny.:
Evangelical Press, 1999), 56.
[17] Um superlativo uma palavra que modifica outra e expressa graus de comparao. Por exemplo: grau
1) Joo ativo em sua comunidade; grau 2) Joo mais ativo em sua comunidade do que outros; grau 3)
Joo o mais ativo em sua comunidade. No h maior grau de comparao em relao atividade de Joo
na comunidade do que o mais. Assim, Deus ser o mais Ele ser do mais alto grau de comparao.
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Antropomorfismo designa a perspectiva que concebe Deus como tendo forma humana18.
Normalmente, isso se refere a recursos humanos fsicos. O Dicionrio de Teologia de Baker
afirma prestativamente: O antropomorfismo dos israelitas foi uma tentativa de expressar
os aspectos no-racionais da experincia (o mysterium tremdum, majestade terrvel, dis-
cutido por Rudolf Otto) em termos racionais, e expresses primitivas disso no eram to
imperfeitas, como os assim chamados homens iluminados pensariam. As caractersticas
humanas do Deus de Israel eram sistematicamente exaltadas, enquanto os deuses de seus
vizinhos do oriente prximo partilhavam os vcios dos homens19. Um antropopatismo difere
do antropomorfismo em que um antropopatismo descreve Deus como tendo emoes hu-
manas ou paixes20. Isso tambm funciona como um dispositivo literrio figurativo de analo-
gia ou comparao. Ambos os tipos de metfora funcionam como linguagem de acomoda-
o para nos auxiliar a compreender aquilo que difcil.
A Confisso continua afirmando que a essncia de Deus sem... partes. Isto refere-se
simplicidade de Deus. R.C. Sproul diz: Esta uma maneira de afirmar a simplicidade de
Deus. Deus um ser simples, em vez de um ser complexo, que pode ser dividido em par-
tes21. J. I. Packer afirma sobre a simplicidade de Deus que o fato de que no h nEle
elementos que podem entrar em conflito, de modo que, ao contrrio do homem, no pode
ser dividido em maneiras diferentes por pensamentos e desejos divergentes22. Por exem-
plo, Deus no em parte amor e em parte justia, Ele completamente amor e completa-
mente justo, ao mesmo tempo, sem conflito. Novamente Sproul afirma: Cada atributo que
atribumos a Ele se aplica totalidade de Deus. Todos os seus atributos existem mutuamen-
te em uma espcie de reciprocidade de atributos23. Berkhof afirma: Quando falamos sobre
__________
[18] Dicionrio de Baker de Teologia (Grand Rapids: Baker Book House, 1983), pg. 45-46. Muller define
antropomorfismo como: tendo uma forma humana. Richard Muller, Dicionrio de Termos Teolgicos em
Latim e Grego: Retiradas Principalmente da Teologia Escolstica Protestante (1985; reimpresso, Grand
Rapids: Baker Academic, 1995), 38.
[19] O Dicionrio de Teologia de Baker afirma prestativamente: O antropomorfismo dos israelitas foi uma
tentativa de expressar os aspectos no-racionais da experincia (o mysterium tremdum, majestade terrvel,
discutido por Rudolf Otto) em termos racionais, e expresses primitivas disso no eram to imperfeitas,
como os assim chamados homens iluminados pensariam. As caractersticas humanas do Deus de Israel eram
sistematicamente exaltadas, enquanto os deuses de seus vizinhos do oriente prximo partilhavam os vcios
dos homens. Dicionrio de Baker de Teologia. (Grand Rapids: Baker Book House, 1983), 45-6.
[20] Muller define antropopatismo como ter sentimentos, afetos e paixes humanos. Richard A. Muller,
Dicionrio de Termos Teolgicos em Latim e Grego: Retiradas Principalmente da Teologia Escolstica
Protestante (1985; reimpresso, Grand Rapids, Baker Academic, 1995), 38.
[21] R. C. Sproul, Verdades Que Ns Confessamos: Guia De Um Leigo Para a Confisso de F de
Westminster, vol. I, O Deus Triuno (Phillipsburg, Ni.: P&R Publishing, 2006), 36-7.
[22] J. I. Packer, Conhecendo Deus (Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1973), 89.
[23] R. C. Sproul, Verdades Que Ns Confessamos: Guia De Um Leigo Para a Confisso de F de
Westminster, vol. Eu, o Deus trino (Phillipsburg, Ni.: P&R Publishing, 2006) 36-7.
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a simplicidade de Deus, usamos o termo para descrever o estado ou qualidade de ser sim-
ples, a condio de ser livre de diviso em partes, e, portanto, de composio. Isso significa
que Deus no composto e no suscetvel de diviso, em qualquer sentido da palavra24.
A Confisso continua: sem... paixes. Aqui est seu contexto imediato: um esprito purs-
simo, invisvel, sem corpo, partes ou paixes, a Quem somente pertence a imortalidade,
que habita em luz que nenhum homem pode acessar. Apenas no caso de que no estives-
se claro no comentrio anterior desta seo, esta poro contrasta sobre o que Deus e
em oposio ao que o homem : somente Deus esprito puro, e embora o homem tambm
tenha um esprito, ainda assim este esprito est ligado para sempre a um corpo visvel25.
Deus no dividido em partes; o homem . Deus no tem paixo; o homem tem. Somente
Deus tem a imortalidade; o homem no a tem. Apenas Deus habita em luz inacessvel; o
homem no pode aproximar-se disso. Este contraste especialmente relevante para a for-
mulao de que Deus sem... paixes, porque no meio de uma seo que fornece uma
srie de distines Criador versus criatura; assim, o homem tem paixes; mas Deus no
tem paixes.
importante que entendamos o que se entende por paixes. Em nossa era moderna, a
palavra paixo frequentemente usada em um sentido positivo para se referir a algum
que energtico (ou seja, apaixonado) em relao a algo. Mas aqui a palavra carrega um
sentido diferente. A doutrina de que Deus sem paixes comumente referida como a im-
passibilidade de Deus (ou seja, a impossibilidade de Deus ter paixo). O que isso significa?
Aqui est uma definio formal: Impassibilidade aquele atributo Divino pelo que Deus
dito no experimentar mudanas emocionais internas em Seu estado, sejam promulgadas
livremente a partir do interior ou efetuadas por Sua relao e interao com os seres huma-
nos e ordem criada26. Uma vez que Deus imutvel, no possvel que Deus mude, e,
portanto, no possvel que Ele experimente mudanas emocionais, ou seja, paixes. Uma
vez que Deus totalmente verdadeiro ou totalmente ativo, Ele no assume algo novo ou
diferente; pois, o que Deus, Ele j . No h nada em Deus, que seja meramente poten-
cial; Ele j completamente verdadeiro. Se Deus fosse capaz de experimentar paixes isso
significaria que Deus no seria totalmente tudo o que Ele poderia ser, pois, ento, Ele Se
tornaria algo que Ele no era anteriormente; Deus estaria em movimento, em tal caso, de
__________
[24] Louis Berkhof, Teologia Sistemtica, contendo o texto integral de Teologia Sistemtica (1932) e o volume
introdutrio original para a teologia sistemtica (1938), e um novo prefcio de Richard A. Muller (Grand Rapids
e Cambridge: Eerdmans, 1996), 62.
[25] Para sempre o corpo e esprito esto conectados, embora na morte, o corpo seja separado do esprito
por um tempo at a ltima ressurreio. Veja o Captulo 31, seo 2, da Confisso de 1689.
[26] Nova Enciclopdia Catlica, editada por Thomas Carson, 2 ed., Vol. 7 (Farmington Hills, Mi.: Gale
Publishing, 2002), 357.
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menos verdadeiro para mais verdadeiro, ao invs de j ser totalmente verdadeiro.
Mas, algum pode perguntar: E sobre Jesus? Ser que no O vemos nos Evangelhos rea-
gindo emotivamente a diversas situaes? Ser que no O vemos com fome, irritado, rea-
tivo, e sofrendo como resultado de Suas criaturas?. Na verdade, ns vemos. Mas Jesus,
o Filho Divino, acrescentou Sua natureza Divina a natureza humana. Ele tem duas natu-
rezas em uma s Pessoa. A Confisso, no captulo 8, pargrafo 2 afirma sobre Cristo que
as ...duas naturezas inteiras, perfeitas e distintas, so inseparavelmente unidas em uma
s Pessoa, sem converso, composio ou confuso. Esta Pessoa verdadeiro Deus e
verdadeiro homem, mas um s Cristo, o nico Mediador entre Deus e o homem. Quando
o Filho assumiu a natureza humana, essa foi adicionada natureza Divina; a natureza
Divina no foi diminuda de modo algum. Estas duas naturezas inteiras, perfeitas e distintas
foram inseparavelmente unidas em uma s Pessoa. Mas, enquanto isso verdade, tambm
verdade que essas duas naturezas so, sem converso, composio ou confuso. Assim,
as mudanas emotivas e sofrimento que Cristo experimentou estavam ocorreram em Sua
natureza humana, no em Sua natureza Divina. Entendo que esta uma explicao resu-
mida. Voc pode querer olhar adiante, para o captulo 8, e ler o comentrio sobre os par-
grafos 2 e 7 para obter mais detalhes sobre as duas naturezas de Cristo em uma s Pessoa.
H muito mais que poderia ser dito sobre o tema da impassibilidade de Deus27. Eu apenas
abordei brevemente um tema sobre o qual livros j foram escritos.
A Confisso continua: a Quem somente pertence a imortalidade, que habita em luz que
nenhum homem pode acessar. Esta citao diretamente a partir da Escritura, 1 Timteo
6:16: Aquele que tem, ele s, a imortalidade, e habita na luz inacessvel; a quem nenhum
dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno. Amm. Assim, ob-
serva-se que ningum tem a imortalidade, seno Deus; o homem no pode ser imortal, pois
ele deveria ter sempre existido. A Confisso afirma no captulo 4, pargrafo 2, que o homem
foi criado com uma alma imortal, mas isso significa que uma vez que a alma do homem
criada por Deus, a partir desse ponto em diante, ela no deixar de existir. Esta no a i-
mortalidade no possui o mesmo que est aqui empregada em referncia a Deus. Deus
eterno e incriado. A Escritura, e a Confisso, seguindo o exemplo, afirmam que Deus habita
em luz inacessvel. Que imagem isto para ns, meros mortais, considerarmos. uma luz
que to intensa que o homem no pode acess-la Sua glria, Sua santidade, Sua
essncia to pura e to poderosa.
A Confisso continua: imutvel, imenso, eterno, incompreensvel, onipotente, em tu-
__________
[27] H passagens que falam de Deus como se Ele mudasse emotivamente, mas essas passagens devem
ser entendidas como antropopatismo. Elas falam de Deus de uma forma que possamos entender, mas elas
esto apenas expressando uma analogia.
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do infinito. O fato de Deus ser imutvel significa que Ele inaltervel. Esta uma verdade
fundamental sobre Deus; Deus nunca mudar. J. I. Packer descreve a imutabilidade de
Deus como total imunidade mudana, levando completa consistncia ao agir28. Se Deus
fosse mutvel, as ramificaes seriam devastadoras. Tudo o que Deus revelou de Si mesmo
seria pouco confivel, pois poderia mudar; no haveria nenhuma possibilidade de sustentar
uma Confisso, pois ela poderia se tornar obsoleta a qualquer momento; o estudo da teolo-
gia seria um exerccio intil, porque no momento em que fosse colocada no papel ela pode-
ria mudar. Mas o fato que Deus imutvel. Isso traz uma grande estabilidade e conforto
para as nossas vidas, porque tudo o que Deus revelou sobre Si mesmo nunca ser falso
ou alterado. Toda a Sua bondade e graa e misericrdia nunca mudaro; Sua santidade e
justia so constantes; Seu amor firme. Charles Spurgeon disse certa vez: Descanse
tambm em Sua imutabilidade, esta ncora segura em meio ao mar agitado da vida. Voc
passa por mudanas a cada dia; Ele nunca muda. Volumes poderiam ser escritos sobre o
significado desse atributo pois ele sustenta todos os outros atributos; no que Deus mais
imutvel do que qualquer outro atributo, mas um Deus mutvel prejudicaria todos os Seus
outros atributos. A essncia de Deus sempre foi o que agora, e isso continuar assim por
toda a eternidade pois Deus imutvel.
Deus imenso. Isso se refere onipresena de Deus; Deus est em toda parte, mas tam-
bm compreende mais do que isso. Louis Berkhof afirma prestativamente: Em certo senti-
do, os termos imensido e onipresena, quando aplicados a Deus, denotam a mesma co-
isa, e podem, portanto, ser considerados como sinnimos. No entanto, h um ponto de dife-
rena que deve ser cuidadosamente observado: imensido aponta para o fato de que Deus
transcende todo o espao e no est sujeito s suas limitaes, enquanto onipresena
denota que Ele, no obstante, preenche todas as partes do espao com todo o Seu ser. A
primeira enfatiza a transcendncia, e este ltimo, a imanncia de Deus29. A imensido de
Deus, nesse sentido transcendente, ainda mais difcil de compreender do que a onipre-
sena de Deus. 1 Reis 8:27 diz: Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os cus, e
at o cu dos cus, no te poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado.
Ao pensar sobre a onipresena de Deus, em termos da imanncia de Deus30, Stephen
Charnock argumenta: Aqueles que querem limitar a essncia de Deus apenas ao Cu, e
a excluem da terra incorrem em grandes inconvenientes. Pode ser questionado se Ele est
em uma parte dos Cus ou em todo a vasta extenso deles. Se em uma parte deles, a Sua
__________
[28] J. I. Packer, Conhecendo Deus (Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1973), 89.
[29] Louis Berkhof, Teologia Sistemtica, contendo o texto integral de Teologia Sistemtica (1932) e o volume
introdutrio original para a teologia sistemtica (1938), e um novo prefcio de Richard A. Muller (Grand Rapids
e Cambridge: Eerdmans, 1996), 61.
[30] A imanncia de Deus refere-se proximidade de Deus criao e s Suas criaturas (veja Atos 17:27b).
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essncia limitada; se Ele se move desta parte, Ele mutvel, pois Ele muda de um lugar
em que Ele estava, para outro onde Ele no estava. Se Ele estiver sempre fixado em uma
parte do Cu, tal noo seria torn-lO um pouco melhor do que uma esttua viva. Se Ele
est em todo o Cu, por que no pode a Sua essncia possuir um espao maior do que
todo o Cu, que to vasto? Como ocorre dEle ser confinado dentro do compasso destes,
desde que os Cus inteiros envolvem a terra?31. A imanncia de Deus a deduo neces-
sria de Sua imensido. Charnock prossegue em discutir a influente presena de Deus32.
Como tudo no mundo foi criado por Deus, assim tudo no mundo preservado por Deus, e
uma vez que a preservao no totalmente distinta da criao, necessrio que Deus
esteja presente com tudo, posto que Ele o preserva, bem como presente com ele enquanto
Ele o criou33. E assim, a imanncia de Deus necessria tanto para a nossa criao quanto
para a nossa existncia permanente. Pensamos em Hebreus 1:3b: sustentando todas as
coisas pela palavra do seu poder. E depois em Atos 17:28: Porque nele vivemos, e nos
movemos, e existimos.
A gravidade dessa doutrina no Antigo Testamento vista pelo contraste do Deus imenso,
e os deuses que as naes criam habitar apenas em determinados lugares. Eles no eram
imensos, onipresentes, e, portanto, no eram imanentes. Eu ainda estou me utilizando de
Charnock aqui34, quando ele cita 1 Reis 20:23: Porque os servos do rei da Sria lhe disse-
ram: Seus deuses so deuses dos montes, por isso foram mais fortes do que ns; mas pe-
lejemos com eles em campo raso, e por certo veremos, se no somos mais fortes do que
eles!. Em contraste com os deuses de limitada e especial ocupao, o Senhor Deus
transcendente alm do espao e imanente em cada espao. Bem como, ns pensamos
sobre os profetas de Baal em 1 Reis 18: E tomaram o bezerro que lhes dera, e o prepara-
ram; e invocaram o nome de Baal, desde a manh at ao meio-dia, dizendo: Ah! Baal, res-
ponde-nos! Porm nem havia voz, nem quem respondesse; e saltavam sobre o altar que ti-
nham feito. E sucedeu que ao meio-dia Elias zombava deles e dizia: Clamai em altas vozes,
porque ele um deus; pode ser que esteja falando, ou que tenha alguma coisa que fazer,
ou que intente alguma viagem; talvez esteja dormindo, e despertar [vv. 26-27]. Elias en-
tendeu que nas mentes dos profetas de Baal, o deus deles no era imenso; ele no era oni-
presente, e, portanto, no estava em todos os lugares ao mesmo tempo. Se Baal tivesse
empreendido uma viagem, isso explicaria o porqu de Baal no estava respondendo aos
seus profetas; Elias zomba deles; em contraste ao deus deles, o Senhor Deus est em toda
parte ao mesmo tempo. Se Baal fosse imanente, ele teria ouvido as oraes dos profetas
__________
[31] Stephen Charnock, A Existncia e os Atributos de Deus (1853; reimpresso, Grand Rapids: Baker Book
House, 1986), 372.
[32] Ibid., 369.
[33] Ibid.
[34] Ibid., 368.
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que prosseguiam desde a manh at o meio-dia. O contraste entre Baal ausente e o ima-
nente Senhor Deus era dolorosamente bvio. Elias orou e, instantaneamente, o imenso e
imanente Deus respondeu!
difcil no pensar no Salmo 139:5-12: Tu me cercaste por detrs e por diante, e puseste
sobre mim a tua mo. Tal cincia para mim maravilhosssima; to alta que no a posso
atingir. Para onde me irei do teu esprito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao cu,
l tu ests; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali ests tambm. Se tomar as asas
da alva, se habitar nas extremidades do mar, at ali a tua mo me guiar e a tua destra me
suster. Se disser: Decerto que as trevas me encobriro; ento a noite ser luz roda de
mim. Nem ainda as trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as tre-
vas e a luz so para ti a mesma coisa. O ponto do salmista , naturalmente, no que ele
ainda no havia encontrado um lugar em que Deus no estava, mas em qualquer lugar que
ele pudesse ir ou imaginar ir, Deus estaria presente! Assim como isso prov muito conforto
ao salmista, assim oferece conforto para ns. Talvez, esta doutrina pode tambm encorajar-
nos a resistir tentao, j que Deus est sempre presente em todos os lugares, o Deus
imenso e imanente.
Deus eterno. A eternidade um conceito difcil, pois um conceito que infinito; o finito
no pode compreender o infinito. E quase impossvel explicar a eternidade sem referncia
s concepes de tempo. Stephen Charnock afirma: Devemos conceber sobre a eternida-
de contrrio noo de tempo; como a natureza do tempo consiste na sucesso de partes,
assim a natureza da eternidade em uma infinita durao imutvel35. Esta uma definio
por meio de negao. pensar sobre a eternidade como no tempo. Isso dificilmente defi-
ne o que , mas muitas vezes isso o melhor que os mortais finitos podem fazer. Podemos
usar analogia, mas seja qual for a forma que a analogia tome, ainda assim ser uma mera
ilustrao que utiliza o finito para tentar descrever o infinito. O que a eternidade e o que
o infinito no pode ser alcanado por meio de analogia temporal e finita; estas somente
nos ajudam a fazer comparaes, e no a defini-los ou compreend-los.
Uma coisa discutir o que a eternidade, mas isso no exatamente o mesmo que dizer
que Deus eterno. Deus descrito nas Escrituras como o Ancio de Dias. Eu estava o-
lhando nas minhas vises da noite, e eis que vinha nas nuvens do cu um como o filho do
homem; e dirigiu-se ao ancio de dias, e o fizeram chegar at ele (Daniel 7:13, veja tam-
bm 7:22). Entendemos que o termo Ancio de Dias uma metfora que faz referncia a
algo que j existe h muito tempo, mas a metfora aponta para algo mais elevado: a eterni-
__________
[35] Stephen Charnock, A Existncia e os Atributos de Deus (1853; reimpresso, Grand Rapids: Baker Book
House, 1986), 280.
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dade de Deus. Pensamos em passagens como Salmo 90:2: Antes que os montes nasces-
sem, ou que tu formasses a terra e o mundo, mesmo de eternidade a eternidade, tu s
Deus (Salmos 90:2). De eternidade refere-se eternidade passada, a eternidade se refere
eternidade futura. Essas passagens explicam que Deus eterno. A eternidade a ausn-
cia do tempo, e falar de tais coisas falar de coisas alm de nossa experincia. Falar de
Deus como eterno, em essncia, nos pressiona alm da nossa compreenso. Isso nos leva
muito bem para o prximo atributo.
Deus incompreensvel. Isto segue a prvia declarao na Confisso: Cuja essncia
no pode ser compreendida por qualquer outro, seno por Ele mesmo. H coisas sobre
Deus que ns podemos apreender de forma limitada e com uma perspectiva finita, mas tal
compreenso finita no abrangente. Em todo o nosso estudo sobre os atributos de Deus,
devemos entender que o nosso entendimento finito. Ns podemos, de fato, ter compreen-
dido o que Deus intencionou que ns compreendssemos, ou seja, podemos ter entendido
a Sua revelao, mas Deus ainda maior do que esta revelao. Enquanto Deus , em l-
tima anlise, incompreensvel, isso no significa que no podemos conhecer nada sobre
Ele. Sproul afirma: Quando dizemos que Deus incompreensvel, no queremos dizer que
Ele to obscuro que no podemos saber nada de significativo sobre Ele. Lutero disse que
Deus no apenas Deus absconditus. Deus oculto, mas tambm Deus revelatus, Deus
revelado, o qual Se agradou em desvelar para ns coisas sobre Si mesmo. Na proporo
em que possvel para as Suas criaturas apreend-lO, Deus Se fez conhecido36. Portanto,
temos que ter em mente que a apreenso possvel, mas no a compreenso37.
Deus onipotente. Este atributo refere-se onipotncia de Deus, o que significa que Deus
todo-poderoso. Deus onipotente e no h nada que Ele no possa fazer. Vemos este
ttulo de Deus por toda a Escritura; por exemplo: Disse-lhe [a Jac] mais Deus: Eu sou o
Deus Todo-Poderoso (Gnesis 35:11a, colchetes meus). Lembro-me da pergunta de um
corao insensato quando eu era jovem: Uma vez que Deus todo-poderoso, Ele pode
criar algo to pesado que Ele no possa ergu-lo?. Esta pergunta est cheia de pressupos-
tos errados, e raramente uma pergunta sincera. Ao longo destas linhas, a definio de A.
A. Hodge sobre a onipotncia til: A onipotncia de Deus a infinita eficcia inerente ,
e inseparvel da essncia Divina, para efetuar tudo o que Ele quer, sem qualquer limitao,
seja qual for, exceto aquelas que so inerentes s perfeies absolutas e imutveis de Sua
prpria natureza38. O atributo da onipotncia no deve ser separado de qualquer outro dos
__________
[36] R. C. Sproul, Verdades Que Ns Confessamos: Guia De Um Leigo Para a Confisso de F de
Westminster, vol. Eu, o Deus trino (Phillipsburg, Nj.: P & R Publishing, 2006) 41.
[37] Veja nota 4 para a explicao de Sproul sobre estes dois termos.
[38] A. A. Hodge, A Confisso de Westminster: Um Comentrio (1869; reeditado, Carlisle, Pa.: Banner of Truth
Trust, 2002), 52; os colchetes so meus.
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atributos de Deus. Fazer a tola pergunta acima ignorar que o poder de Deus consistente
com a Sua vontade.
Deus em tudo infinito. Ns j meditamos sobre o tema do infinito por vrias vezes, mas
aqui isso cobre toda a gama; Deus, em todos os sentidos e em todos os Seus atributos,
infinito. Talvez possamos dizer isso desta forma: Tudo o que Deus , infinito. A Confisso
de 1689 continua: Deus ... santssimo, sapientssimo, completamente livre e absoluto,
operando todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade imutvel e justssima,
para a Sua prpria glria. Aqui entramos em uma srie de atributos que tm se apresen-
tam no grau superlativo; superlativo um termo gramatical que se refere ao mais alto grau
possvel de comparao (por exemplo, bom, timo, melhor). O superlativo presente em ca-
da palavra nesta srie indica aqueles que so atributos comunicveis de Deus. Deus comu-
nicou ou deu esses atributos aos homens; esses atributos so de um grau mui elevado de
tal qualidade em Deus que a palavra elevada ao grau superlativo apropriadamente em-
pregada. Que no haja dvida de que uma vez que Deus infinito em todos os sentidos,
cada um destes so de uma qualidade infinita acima dos atributos da humanidade.
Deus ... santssimo. Edward Leigh fala de santidade como a beleza de todos os atributos
de Deus, sem a qual a Sua sabedoria seria apenas astcia; Sua justia, crueldade; Sua so-
berania, tirania; Sua misericrdia, piedade tola39. A santidade de Deus talvez o atributo
de Deus mais proclamado. Quando olhamos para os textos bblicos, podemos concluir que
parece haver dois aspectos da santidade de Deus. Um deles est relacionado transcen-
dncia de Deus a Sua alteridade em relao criao. Ele to diferente de Sua cria-
o que Ele santssimo. Deus muitas vezes referido como o Santo de Israel por toda
a Escritura; este uso especialmente proeminente no livro de Isaas. Pensamos tambm
sobre a viso de Isaas no templo, onde os serafins clamavam: Santo, Santo, Santo o
Senhor dos Exrcitos (Isaas 6). Charles Hodge declara sobre esses serafins: Eles so os
representantes de todo o universo, ao oferecer esta homenagem perptua santidade
Divina40. O segundo aspecto da santidade de Deus relaciona-se com a dimenso tica ou
moral. Deus nos disse para sermos santos porque Ele santo (Levtico 11:44; 20:26). Deus
a perfeio moral perfeitas justia e santidade. Nos dois sentidos, Deus santssimo.
Deus sapientssimo. A sabedoria de Deus infinita; ela no conhece limites. Vemos nas
Escrituras vrias referncias ao Deus mui sbio. Por exemplo: Ao nico Deus, sbio, seja
__________
[39] Edward Leigh, Tratado Sobre a Divindade, 2:104. Como citado por Joel R. Beeke e Mark Jones, Uma
Teologia Puritana: Doutrina para a Vida (Grand Rapids: Reformation Heritage Books, 2012), localizao do
Kindle 2685.
[40] Charles Hodge, Teologia Sistemtica, vol. I, Teologia (1873; reimpresso, Peabody, Ms.: Hendrickson
Publishers, 2008), 413.
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dada glria por Jesus Cristo para todo o sempre. Amm (Romanos 16:27). A sabedoria de
Deus mais do que a oniscincia; isso sucede qualidade do conhecimento. Vemos pas-
sagens como esta: Mas falamos a sabedoria de Deus, oculta em mistrio, a qual Deus or-
denou antes dos sculos para nossa glria (1 Corntios 2:7). A sabedoria de Deus evi-
dente em toda a criao na esfera tica, e na execuo e preservao da criao. A sabe-
doria de Deus vista na efetivao de Seus decretos na providncia Divina. Que sabedoria
isso deve envolver! No estudo das obras de criao (ou seja, as cincias), vemos evidncias
dessa infinita sabedoria de Deus. Mas, enquanto a sabedoria de Deus evidente para ns
na criao, ainda assim a criao apenas a manifestao de que Deus sapientssimo;
Deus sabedoria em Sua essncia.
Deus completamente livre. Isso se aplica a todos os aspectos de Deus e Suas aes,
seja nos Seus decretos em geral, em Seu decreto na eleio, na execuo de Seus decre-
tos, ou em qualquer outro aspecto de Deus; ele completamente livre para fazer o que qui-
ser. Deus mui livre em Sua essncia. O Salmo 115:3 diz: Mas o nosso Deus est nos
cus; fez tudo o que lhe agradou. E, Deus completamente livre em relao Sua criao;
o Salmo 135:6 estabelece: Tudo o que o Senhor quis, fez, nos cus e na terra, nos mares
e em todos os abismos. Em todos os atributos que estudamos, evidente que o que Deus
, Ele em e de Si mesmo; Ele mui livre; Ele no depende de Suas criaturas para deter-
minar a Sua vontade; Ele no determina o que fazer com base em algo que primeiro deve
ocorrer, seja na natureza ou em um ser com livre agncia. Ele a causa primeira de todas
as coisas, e Ele completamente livre para determinar aquelas causas decretadas livre-
mente.
Deus completamente... absoluto. A ideia do Absoluto na filosofia nem sempre corres-
ponde ao da teologia, mas em alguns aspectos elas coincidem. Louis Berkhof afirma: Mas
quando o Absoluto definido como a causa primeira de todas as coisas existentes, ou como
o fundamento ltimo de toda a realidade, ou como o Ser autoexistente, este pode ser con-
siderado como idntico ao Deus da teologia. Ele o Infinito, que no existe em nenhumas
relaes necessrias, porque Ele autossuficiente, contudo, ao mesmo tempo pode entrar
livremente em vrias relaes com a Sua criao, como um todo, e com as Suas criatu-
ras41.
A Confisso continua: operando todas as coisas segundo o conselho da Sua vontade
imutvel e justssima, para a Sua prpria glria. Deus faz todas as coisas somente como
resultado do Seu conselho. Uma vez que Deus quem Ele , e em Sua essncia todas
__________
[41] Louis Berkhof, Teologia Sistemtica, contendo o texto integral de Teologia Sistemtica (1932) e o volume
introdutrio original para a teologia sistemtica (1938), e um novo prefcio de Richard A. Muller (Grand Rapids
e Cambridge: Eerdmans, 1996), 56.
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aquelas coisas listadas acima, logo, tudo o que Deus faz ou opera resulta do Seu prprio
conselho. Antes que Deus opere (aja ou entre em ao), Ele, na eternidade, tomou conse-
lho consigo mesmo e determinou o que Ele faria. Esse conselho a vontade de Deus, e a
vontade de Deus inaltervel (imutvel). A vontade de Deus no algo que Deus mudar,
ceder ou desfar. Como eu j referi, Packer estabelece que a imutabilidade de Deus a
total imunidade mudana, conduzindo completa consistncia em ao42. A vontade de
Deus tambm justssima moral e judicialmente. Tudo na vontade de Deus para a
Sua prpria glria. Deus age de acordo com os Seus prprios interesses, e, embora o inte-
resse prprio do homem seja egosta, no assim com Deus; os Seus prprios interesses
esto de acordo com os Seus atributos e somente podem redundar em Sua prpria glria.
Vemos na Confisso um reflexo das prprias palavras da Escritura, aqui: Descobrindo-nos
o mistrio da sua vontade, segundo o seu beneplcito, que propusera em si mesmo, de
tornar a congregar em Cristo todas as coisas, na dispensao da plenitude dos tempos,
tanto as que esto nos cus como as que esto na terra; nele, digo, em quem tambm fo-
mos feitos herana, havendo sido predestinados, conforme o propsito daquele que faz
todas as coisas, segundo o conselho da sua vontade (Efsios 1:9-11). Abordaremos este
assunto com mais detalhes no Captulo 3, Sobre os Decretos de Deus.
Deus ... cheio de amor, gracioso, misericordioso, longnimo, abundante em bonda-
de e verdade, que perdoa a iniquidade, a transgresso e o pecado; o galardoador dos
que O buscam. Seria fcil anexar o superlativo a cada um desses atributos. Eu no vou
inseri-lo em cada um dos meus comentrios abaixo, mas ele est implcito. Mais uma vez,
a maioria destes so atributos comunicveis de Deus. Eu abordarei cada um deles de forma
mui breve, mas eles so dignos de longa meditao.
Deus cheio de amor. O amor de Deus elevadssimo, e de uma altura que transcende
o nosso assim chamado amor, de modo que qualquer outro amor apenas um plido refle-
xo do amor de Deus. Vemos em 1 Joo 4:8: Aquele que no ama no conhece a Deus;
porque Deus amor. Deus amor em Sua simplicidade; Deus todo-amor, ao lado de to-
dos os Seus outros atributos. O amor de Deus a fonte de todo o amor verdadeiro, e Deus
define o que amor e o que no . Portanto, Deus define como os seres humanos devem
amar uns aos outros. Por exemplo, o adltero no pode definir o amor como o que eles
sentem por algum que no seu marido ou esposa; a comunidade gay no tem autoridade
para definir o amor como o que inclui as relaes homossexuais; aqueles que promovem a
poligamia no conseguem definir o amor como o que pode ser compartilhado por mais de
uma esposa; uma pessoa solteira no consegue definir a atividade sexual extramarital co-
mo uma expresso de amor. A lista de amor mpio praticamente interminvel, mas uma
__________
[42] J. I. Packer, Conhecendo Deus (Downers Grove, Ill.: InterVarsity Press, 1973), 89.
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vez que Deus o nosso Criador e cheio de amor, Ele define o que amor; qualquer outro
que seja chamado amor e que no seja conforme o que Ele definiu, na verdade no amor,
mas uma perverso egosta do deste.
Os atributos de Deus que se seguem nesta prxima seo vm de xodo 34:6-7: Passan-
do, pois, o Senhor perante ele, clamou: O Senhor, o Senhor Deus, misericordioso e piedoso,
tardio em irar-se e grande em beneficncia e verdade; que guarda a beneficncia em milha-
res; que perdoa a iniquidade, e a transgresso e o pecado; que ao culpado no tem por
inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos at a
terceira e quarta gerao43.
Deus gracioso. Deus no restringe a concesso de Seus dons com base no que as Suas
criaturas merecem; ao contrrio, Ele d a elas as coisas boas que elas no merecem. Ve-
mos este atributo quando Deus revela a Si mesmo na passagem das Escrituras supra-
citada. difcil superestimar a gravidade deste anncio; o prprio Deus proclama o Seu no-
me a Moiss, e inerente ao nome de Deus est a revelao de Sua essncia graciosa. O
prprio Deus inequivocamente declarou-Se gracioso, no apenas pela ao graciosa, mas
esta a Sua prpria essncia. A essncia de Deus a graa. quase demasiado para as-
similar. Claramente, enquanto Deus misericordioso em Sua essncia, isso no tudo o
que Ele , em essncia. Toda a revelao do nome de Deus enumera outros atributos que
so tanto a Sua essncia quanto outros.
Deus misericordioso. Deus no somente nos d coisas que no merecemos, porm
muitas vezes Ele no nos d o juzo que ns merecemos. como se a graa e a misericr-
dia fossem uma moeda com dois lados. A misericrdia retm o juzo de Deus, e a graa
__________
[43] Quando estudamos a Confisso til observar as verses em Ingls da Bblia que eles tinham acesso.
Claro, eles tambm tiveram acesso ao Hebraico e Grego, mas provvel que se basearam fortemente nas
verses em Ingls. A seguir, uma lista de verses relevantes em ingls: Tyndale - 1526; Coverdale - 1535;
Thomas Matthew 1537; The Great Bible (A Grande Bblia) - 1539; The Geneva Bible (A Bblia de Genebra) -
1560; The Bishops Bible (A Bblia do Bispo) 1560; e The King James Version (A Verso King James) -
1611. No houve grandes tradues inglesas da Bblia aps estas at a Verso Inglesa Revisada de 1885. A
verso King James fez uso de todas essas tradues anteriores, e embora a Bblia de Genebra houvesse
sido muito popular em 1611, eventualmente, a verso King James a ultrapassou em popularidade. Ns
podemos seguramente assumir que a Bblia inglesa mais utilizada na poca da Assembleia de Westminster
de 1646 era a VKJ de 1611. O mesmo se aplica Confisso de 1677/1689. Assim, til observar que texto
bblico na Confisso era mais do que semelhante fraseologia da Verso King James. Isso relevante para
a interpretao do texto confessional, por exemplo abundante em bondade e verdade, a expresso literal
da VKJ. A English Standard Version (ESV Verso Padro Inglesa), que eu uso muitas vezes neste comen-
trio, diz, cheio de amor e fidelidade. Todas as aluses bblicas na Confisso nos ajudam a entender o sig-
nificado da Confisso da Confisso, mas tais aluses podem ser facilmente perdidas por aqueles que no
esto familia-rizados com a fraseologia da VKJ.
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nos fornece as bnos de Deus. Podemos subestimar a glria deste atributo Divino da mi-
sericrdia, e sua maravilhosa irm gmea, a graa?
Deus longnimo. Isso significa que Deus paciente, ou tardio em irar-Se. Nem sempre
Deus julga instantaneamente o pecado como Ele tem o direito de fazer. Ele paciente com
todos os homens; muitas vezes Ele concede aos pecadores tempo antes do julgamento
para que possamos se arrepender do pecado. Vemos novamente que este atributo foi reve-
lado diretamente por Deus em seu prprio nome na citao acima de xodo 34:5-6. A ex-
presso tardio em irar-se que aparece nas verses modernas da Bblia correspondem
palavra longanimidade na verso King James. Jonas ecoa esta revelao de xodo, quan-
do explica por que ele no foi a Nnive: E [Jonas] orou ao Senhor, e disse: Ah! Senhor!
No foi esta minha palavra, estando ainda na minha terra? Por isso que me preveni, fu-
gindo para Trsis, pois sabia que s Deus compassivo e misericordioso, longnimo e gran-
de em benignidade, e que te arrependes do mal. Vemos no Novo Testamento Deus ser
tardio em irar-Se (juzo): O Senhor no retarda a sua promessa, ainda que alguns a tm
por tardia; mas longnimo para conosco, no querendo que alguns se percam, seno que
todos venham a arrepender-se (2 Pedro 3:9)44.
Deus abundante em bondade e verdade. Deus grande em misericrdia. Deus bom,
e isso, abundantemente. A grande bondade de Deus transborda em Sua criao. No Salmo
145:8-9, ns vemos tambm uma aluso a xodo 34: Piedoso e benigno o Senhor, sofre-
dor e de grande misericrdia. O Senhor bom para todos, e as suas misericrdias so so-
bre todas as suas obras. Ser que estamos vendo aqui exatamente como a revelao do
nome de Deus em xodo 34 foi significativa para o povo de Deus no Antigo Testamento, e
posteriormente? Jesus reflete sobre a bondade do Pai: Porque faz que o seu sol se levante
sobre maus e bons, e a chuva desa sobre justos e injustos (Mateus 5:45). Deus abun-
dante em verdade. Deus a verdade, e Ele abundante na mesma. Deus trata em ver-
dade, e Ele age em verdade. No h nada em Deus que seja inverdade, hipcrita ou falso.
Na verso King James a palavra verdade traduzido como fidelidade. Isso pode nos ajudar
a evitar pensar sobre a verdade apenas como algo que no falso. Deus a verdade, e
como tal, Ele fiel em tudo o que Ele diz de Si mesmo e Suas aes. Se Deus diz que far
alguma coisa, Ele fiel para cumpri-lo. Ele no ser verdadeiro ou fiel em uma rea, e infiel
em outra. Ambos estes atributos so a essncia de Deus, e como tal eles fluem dEle em
para a Sua criao.
A Confisso continua a partir de xodo 34: que perdoa a iniquidade, a transgresso e o
__________
[44] No contexto, todos se limita ao arrependimento dos eleitos.
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pecado. A lista anterior foi sobre os atributos de Deus, mas aqui vemos os anteriores atribu-
tos de Deus (ou seja, gracioso, misericordioso, longnimo, abundante em bondade, e ver-
dade) que se manifestam nas aes e obras que Deus realiza. Deus perdoa. Que coisa es-
pantosa! Se Deus no perdoasse, qualquer esperana em relao humanidade estaria
perdida, porque cada pessoa que j viveu, com exceo de Cristo, tem necessitado, ainda
necessita, ou necessitar do perdo de Deus. O que necessita ser perdoado? O pecador
necessita de perdo da iniquidade, da transgresso e do pecado.
Deus tambm o galardoador dos que O buscam. Aqui ns nos afastamos de xodo 34.
Aqui, a Confisso faz referncia a Hebreus 11:6: Ora, sem f impossvel agradar-lhe;
porque necessrio que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que ga-
lardoador dos que o buscam. Neste texto bblico, vemos como a f est relacionada bus-
ca de Deus, e assim, no apenas que o homem faz bem ao buscar a Deus e Deus recom-
pensa-o; antes, a recompensa est indissoluvelmente ligada com a f que opera a busca.
Mas desde que o nosso tema aqui propriamente a teologia (o estudo de Deus), e no
soteriologia (o estudo da salvao), vamos tratar disso agora somente em relao a Deus.
Deus no somente perdoa os pecados, mas recompensa aqueles que O buscam pela f.
Podemos ver aqui o ato duplo de Deus na justificao: 1) perdoa o pecado e 2) imputa a
justia de Cristo? Eu certamente penso que sim. Deus perdoa e Deus recompensa, pela f.
A Confisso afirma: e, contudo, justssimo. A Confisso est dizendo que juntamente com
(ou seja, contudo)45 Seu perdo e recompensa, Ele continua a ser justssimo. Esta pode
ser uma referncia especfica ao significado da poro de xodo 34:7, que diz: que ao cul-
pado no tem por inocente. Enquanto todos os atributos que temos discutido, especialmen-
te a partir de xodo 34, so a essncia de Deus, ainda assim, em todos esses atributos
Deus ainda permanece justo. De fato, enquanto Deus misericordioso e perdoa os peca-
dos, contudo, Ele continua a ser plenamente mui justo, porque essa misericrdia e perdo
que Ele demonstra para com a humanidade s se encontra em Cristo, sobre quem a justia
de Deus foi derramada como um substituto por aqueles a quem o Pai elege e justifica. Mas
agora se manifestou sem a lei a justia de Deus, tendo o testemunho da lei e dos profetas;
isto , a justia de Deus pela f em Jesus Cristo para todos e sobre todos os que creem;
porque no h diferena. Porque todos pecaram e destitudos esto da glria de Deus;
sendo justificados gratuitamente pela sua graa, pela redeno que h em Cristo Jesus. Ao
qual Deus props para propiciao pela f no seu sangue, para demonstrar a sua justia
__________
[45] O uso de alm disso visto na VKJ de 1611: Atos 25:27 (VKJ) Porque me parece contra a razo enviar
um preso, e alm disso no notificar contra ele as acusaes (traduo literal). Em outras palavras, parecia
irrazovel enviar um preso e no tambm ou juntamente notificar as acusaes que eram contra Paulo. Este
uso corresponde Confisso; enquanto Deus misericordioso e compassivo, ele tambm (juntamente)
com os atributos justssimo. Veja o Dicionrio de Ingls Oxford que tambm apoia este uso.
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pela remisso dos pecados dantes cometidos, sob a pacincia de Deus; para demonstrao
da sua justia neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem
f em Jesus (Romanos 3:21-26). Enquanto a humanidade tem um sentido de justia que
lhe foi dada por Deus, a humanidade a exerce muito mal e a discerne imperfeitamente. Mas
Deus justssimo muito alm, infinitamente em todos os sentidos a alm do atributo de
justia da criatura. E, contudo, justssimo e terrvel em Seus julgamentos; odiando todo
pecado; e que no tem o culpado por inocente
Deus terrvel em Seus julgamentos. Isso decorre logicamente de Deus ser justo. Isso
significa que o julgamento de Deus sobre o pecado terribilssimo. Hebreus 10:31 diz: Hor-
renda coisa cair nas mos do Deus vivo. Terrvel refere-se severidade do julgamento
de Deus, que uma coisa terrvel de se contemplar. Apesar do fato de que Deus perdoa o
pecado, contudo, Ele tambm o julga. Por que Deus o julga? Porque Deus odeia todo o
pecado. Deus santo e Ele criou o mundo bom; qualquer pecado uma afronta e um ato
de traio e rebelio contra o governo do Santo. Como tal, Deus no tem por inocente o
culpado. Aqui, voltamos s palavras de xodo 34. A essncia de Deus, a Sua natureza,
exige perfeita justia e, como tal, Deus no ser indiferente ou ignorar o culpado. Deus
no ser tolerante para com o pecador impenitente. Esta uma verdade que Deus fez
questo de asseverar.
Como foi dito no incio deste captulo, Robert Letham intitulou o pargrafo segundo de A
Toda-Suficiente Soberania de Deus. A Confisso de 1689 afirma: Deus possui toda a vida,
glria, bondade, bem-aventurana, em e de Si mesmo; Ele todo suficiente para Si,
e no possui necessidade de quaisquer criaturas que Ele fez, nem delas deriva glria
2. Deus possui toda a vida17, glria18, bondade19, bem-aventurana, em e de Si mesmo;
Ele todo suficiente para Si, e no possui necessidade de quaisquer criaturas que Ele
fez, nem delas deriva glria alguma20, mas apenas manifesta Sua prpria glria em, por,
para e sobre elas; Ele a nica origem de todo ser, de quem, por quem e para quem
so todas as coi-sas21; e exerce soberano domnio sobre todas as criaturas, para fazer
por elas, para elas ou sobre elas tudo que Lhe apraz22. Todas as coisas esto manifestas
e patentes diante dEle23; Seu conhecimento infinito, infalvel e independente da
criatura; assim como nada para Ele contingente ou incerto24. Ele santssimo em todos
os Seus conselhos, em todas as Suas obras25 e em todos os Seus comandos. Para Ele,
devido da parte de anjos e homens todo o culto26, servio ou obedincia que, como
criaturas, eles devem em relao ao seu Criador, e tudo quanto mais Ele se agrada em
requerer deles (17 Joo 5:26 18 Salmos 148:13 19 Salmos 119:68 20 J 22:2-3 21
Romanos 11:34-36 22 Daniel 4:25, 34, 35 23 Hebreus 4:13 24 Ezequiel 11:5; Atos
15:18 25 Salmos 145:17 26 Apocalipse 5:12-14).
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alguma, mas apenas manifesta Sua prpria glria em, por, para e sobre elas. A srie
aqui sobre a vida, glria, bondade e bem-aventurana so todos atributos de Deus que
mostram como Deus autossuficiente. Deus tem toda a vida, em e de Si mesmo. Esta
uma questo separada de e no relacionada com a vida da criao. Antes da criao e por
toda a eternidade Deus tinha toda a vida em e de Si mesmo. difcil para ns concebermos
a vida fora da criao, mas Deus sempre ter vida em Si mesmo e, como tal, nunca est
na necessidade da criao ou das criaturas. Deus tem toda a glria, em e de si mesmo.
A criao traz glria a Deus, mas isso no por que havia alguma glria que foi retirada de
Deus; a criao, por sua existncia, no adiciona glria essncia de Deus. Por qu? Por-
que Deus j tinha toda a glria em e de Si mesmo, no havia mais glria a ser adicionada;
Deus j tinha glria, totalmente. Deus tem toda a bondade, em e de Si mesmo. Tal como
acontece com a vida e glria, Deus j totalmente bom, e nada nem ningum pode retirar
ou acrescentar a essa bondade. Deus a bondade. A bondade da criao, antes da Queda,
to boa como era, no adicionava mais bondade a Deus. Deus tem toda a bem-aventu-
rana em e de Si mesmo. Deus bendito, mas esta bem-aventurana vem dEle; ns pode-
ramos dizer que Deus auto-bem-aventurado. Quando pensamos em passagens que nos
dizem para bendizer a Deus, isso no significa que podemos adicionar qualquer bem-aven-
turana a Deus; isso se d simplesmente porque devido a Deus e por isso temos que
bendiz-lO. Isso nos leva a lembrar da Escritura que diz: Porque dele e por ele, e para ele,
so todas as coisas; glria, pois, a ele eternamente. Amm (Romanos 11:36). Seja a vida,
glria, bondade, ou bem-aventurana, todas as coisas so dEle, por Ele e para Ele. Ao con-
trrio da teologia centrada no homem, Deus no possui necessidade de quaisquer cria-
turas que Ele fez. Na verdade, embora, como criaturas, Ele nos tenha feito para a Sua pr-
pria glria, ainda assim no deriva delas glria alguma, mas apenas manifesta Sua pr-
pria glria em, por, para e sobre elas. Isso se refere autoexistncia e autossuficincia
de Deus, ou como eu mencionei anteriormente, independncia de Deus. O que dizem as
Escrituras? Porventura ser o homem de algum proveito a Deus? Antes a si mesmo o pru-
dente ser proveitoso. Ou tem o Todo-Poderoso prazer em que tu sejas justo, ou algum lu-
cro em que tu faas perfeitos os teus caminhos? (J 22:2-3)46, ou, como j citamos em
parte: Por que quem compreendeu a mente do Senhor? ou quem foi seu conselheiro? Ou
__________
[46] Algum deve considerar antes de tomar uma declarao do [livro de] J como verdadeira; nem tudo o
que os consoladores de J dizem deve ser tomado como doutrina verdadeira. Algumas das coisas que os
consoladores de J dizem so falsas, e destinam-se a ser interpretadas como tal. Neste caso, sabemos a
partir de outras passagens nas Escrituras que esta uma afirmao veraz por Elifaz, e por isso apropriado
citar isso em apoio autossuficincia ou independncia de Deus. Curiosamente, o apstolo Paulo tambm
cita Elifaz a partir de J 5:13 em 1 Corntios 3:19: Porque a sabedoria deste mundo loucura diante de Deus;
pois est escrito: Ele apanha os sbios na sua prpria astcia. Ento, eu sinto que estou em boa companhia,
hermeneuticamente falando, mas, no entanto, nem toda a citao da Bblia deve ser tomada em apoio a uma
doutrina particular; afinal de contas, Satans citado na Bblia; geralmente desaconselhvel citar Satans
em apoio a uma questo moral ou doutrinria disse o bastante.
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quem lhe deu primeiro a ele, para que lhe seja recompensado? Porque dele e por ele, e pa-
ra ele, so todas as coisas; glria, pois, a ele eternamente. Amm (Romanos 11:34-36).
A Confisso continua: e exerce soberano domnio sobre todas as criaturas, para fazer
por elas, para elas ou sobre elas tudo que Lhe apraz. A Confisso estabeleceu que Deus
no precisa de nada proveniente de Suas criaturas, e Deus no deriva qualquer glria de-
las, mas, aqui pontua-se que Deus tem plenamente dentro de Seu domnio o fazer por
elas, para elas ou sobre elas (tudo) o que Lhe apraz. O que dizem as Escrituras sobre
este ponto? Nabucodonosor testemunha depois de ter tomado todo o crdito por seu dom-
nio e glria, foi julgado por Deus e levado a comer grama, e andar como mero animal qua-
drpede por um perodo de tempo. Depois deste julgamento, isso foi o que o rei da Babilnia
disse: Mas ao fim daqueles dias eu, Nabucodonosor, levantei os meus olhos ao cu, e
tornou-me a vir o entendimento, e eu bendisse o Altssimo, e louvei e glorifiquei ao que vive
para sempre, cujo domnio um domnio sempiterno, e cujo reino de gerao em gerao
(Daniel 4:34). Deus tinha controle sobre o grande e poderoso rei que governava grande
parte do mundo conhecido, e, por fim, o rei foi levado a reconhecer que o domnio pertence,
em ltima anlise, somente a Deus. Vemos em Salmos: Mas o nosso Deus est nos cus:
ele faz tudo o que lhe apraz (Salmo 115:3). Ou: Tudo o que o SENHOR quis, fez, nos c-
us e na terra, nos mares e em todos os abismos (Salmo 135:6). Ou, Como ribeiros de -
guas assim o corao do rei na mo do SENHOR, que o inclina a todo o seu querer (Pro-
vrbios 21:1). Que as Suas criaturas nunca pensem que Deus no mui soberano sobre
elas ou Ele lhes mostrar o seu erro.
Esta sentena rica em significados: Todas as coisas esto manifestas e patentes di-
ante dEle; Seu conhecimento infinito, infalvel e independente da criatura; assim
como nada para Ele contingente ou incerto. O domnio soberano de Deus significa que
Ele conhece todas as coisas (diante dEle todas as coisas esto manifestas) e nada est
oculto; tudo revelado (patente). A Confisso reflete as palavras escrita da Escritura aqui:
E no h criatura alguma encoberta diante dele; antes todas as coisas esto nuas e paten-
tes aos olhos daquele com quem temos de tratar (Hebreus 4:13). Vemos tambm esta pas-
sagem: Caiu, pois, sobre mim o Esprito do Senhor, e disse-me: Fala: Assim diz o Senhor:
Assim haveis falado, casa de Israel, porque, quanto s coisas que vos sobem ao esprito,
eu as conheo (Ezequiel 11:5). A Confisso afirma: o conhecimento de Deus infinito,
no h conhecimento de que Deus restrinja-Se. O conhecimento de Deus infalvel; Deus
no pode interpretar mal. O conhecimento de Deus independe da criatura; Deus no
dependente do que ns revelamos a Ele, e conhecimento de Deus a nosso respeito no se
restringe ao que ns sabemos sobre ns mesmos; Ele nos conhece completamente melhor
do que o nosso prprio conhecimento limitado de ns mesmos. Isso significa que para Deus,
nada contingente ou incerto. Nada dependente de Suas criaturas, a fim de que a vonta-
de de Deus seja realizada, e nada incerto. Este importante assunto ser abordado no
prximo Captulo, Sobre Os Decretos de Deus e no captulo 5, Sobre a Divina Providncia.
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Em termos de domnio soberano de Deus, Ele santssimo em todos os Seus conse-
lhos, em todas as Suas obras e em todos os Seus comandos. Deus santssimo em
relao aos Seus conselhos e moralmente perfeito nesses conselhos. O mesmo verdade
em tudo o que Deus faz (ou seja, Suas obras), e em todos os Seus mandamentos. O dom-
nio soberano de Deus uma regra que santssima em todos os sentidos. Deus lida com
Suas criaturas de acordo com Seu prprio interesse, mas Seu interesse santssimo. A
Escritura diz: Justo o Senhor em todos os seus caminhos, e santo em todas as suas
obras (Salmos 145:17). Deus tem domnio soberano sobre as Suas criaturas, a Ele, devi-
do da parte de anjos e homens todo o culto, servio ou obedincia que, como criatu-
ras, eles devem em relao ao seu Criador, e tudo quanto mais Ele se agrada em
requerer deles. Visto que os conselhos, obras e comandos de Deus so santssimos, no
pode haver nenhuma objeo a partir da criatura quanto ao mandamento de obedecer ao
seu Criador. Deus Criador e santssimo; Ele deve ser adorado, servido e obedecido por
Seus sditos, e que estes faam tudo quanto mais Ele se agrada em requerer deles.
No primeiro pargrafo a Confisso afirma que h somente um Deus. Ao lado desta verdade,
e em perfeita harmonia com ela, este ponto refere que Deus Triuno (ou seja, tri-unidade)47.
__________
[47] Pode ser til notar que grande parte do terceiro pargrafo no est contido na Confisso de Westminster
ou Declarao de Savoy. Citarei o pargrafo trs abaixo; em negrito est o texto que a Confisso de 1689
acrescentou Confisso de Westminster e Declarao Savoy. A fonte para este texto adicional a Primeira
Confisso de Londres de 1646, com a exceo do texto sublinhado que provem da Declarao de Savoy:
Em Seu ser Divino e infinito h trs subsistncias, o Pai, a Palavra ou o Filho, e o Esprito Santo, de
uma s substncia, poder e eternidade, cada um possuindo completa essncia Divina, e ainda a essncia
indivisvel: O Pai de ningum gerado nem procedente; o Filho eternamente gerado do Pai; o Esprito
Santo procedente do Pai e do Filho; todos infinitos e sem princpio de existncia. Portanto, um s
Deus; que no deve ser divido em Seu ser ou natureza, mas, sim, distinguido pelas diversas proprie-
dades peculiares e relativas, e relaes pessoais; esta doutrina da Trindade o fundamento de toda
a nossa comunho com Deus, e confortvel dependncia dEle.
3. Em Seu ser Divino e infinito h trs subsistncias, o Pai, a Palavra ou o Filho, e o
Esprito Santo27, de uma s substncia, poder e eternidade, cada um possuindo com-
pleta essncia Divina, e ainda assim, a essncia indivisvel28: O Pai de ningum ge-
rado nem procedente; o Filho eternamente gerado do Pai29; o Esprito Santo proce-
dente do Pai e do Filho30; todos infinitos e sem princpio de existncia. Portanto, um s
Deus; que no deve ser divido em Seu ser ou natureza, mas, sim, distinguido pelas di-
versas propriedades peculiares e relativas, e relaes pessoais; esta doutrina da Trinda-
de o fundamento de toda a nossa comunho com Deus, e confortvel dependncia
dEle (27 1 Joo 5:7; Mateus 28:19; 2 Corntios 13:14 28 xodo 3:14; Joo 14:11; 1
Corntios 8:6 29 Joo 1:14, 18 30 Joo 15:26; Glatas 4:6).
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A Trindade uma rea de doutrina essencial, pois a manuteno da ortodoxia neste ponto
inegocivel para a F Crist. O que se quer dizer com ortodoxia? O Dicionrio de Baker
de Teologia afirma: A palavra expressa a ideia de que certas declaraes expressam a
verdade com preciso, o contedo revelado do Cristianismo, e so, portanto, em sua pr-
pria natureza, normativas para a igreja universal48. A Confisso uma tremenda ajuda
para auxiliar-nos nesta questo, pois fornece parmetros doutrinrios adequados, que ser-
vem no somente para manter-nos livres de erros, mas tambm para nos mantermos dentro
da ortodoxia. A Confisso fornece articulaes precisas sobre a Trindade que so histrica-
mente ortodoxas. Tais declaraes so dignas de memorizao para a nossa prpria clare-
za e sermos capazes de dar uma clara explicao para outras pessoas.
A Confisso afirma que em Seu ser Divino e infinito h trs subsistncias. Vamos lidar
com esta declarao tratando de um ponto de cada vez. O primeiro passo, o Ser Divino e
infinito. James White explica:
Biblicamente falando, existem trs tipos de seres que so pessoais: Deus, homens e
anjos. Eu tenho existncia, eu existo. Todavia, eu sou pessoal. Meu ser limitado e fi-
nito. limitado a um lugar, geograficamente falando, e a um tempo, temporalmente fa-
lando. Apesar de todos os cenrios de Star Trek contrariem, eu estou limitado a um lu-
gar em um momento. Essa a essncia de ser uma criatura. Meu ser compartilhado
por uma pessoa: eu. Meu ser, uma vez que limitado, no pode ser distribudo entre
duas, trs ou mais quaisquer pessoas. Um ser, uma pessoa: isso o que ser humano.
O que estamos dizendo a respeito de Deus que o Seu ser no limitado e finito como o
de uma criatura. Seu ser infinito e ilimitado, e, portanto, pode, de uma maneira completa-
mente alm da nossa compreenso, ser partilhado totalmente por trs pessoas, Pai, Filho
e Esprito Santo. O Ser Divino um; as pessoas Divinas so trs. Enquanto o Pai no o
Filho, nem o Filho, o Esprito, cada um total e completamente Deus por Sua plena partici-
pao no Ser Divino. A menos que reconheamos a diferena entre os termos ser e pessoa,
nunca teremos uma compreenso acurada ou til da Trindade49.
Assim, uma vez que este Ser Divino e infinito, racional que neste Ser haja trs pessoas.
racional porque este Ser Divino; racional, porque este Ser infinito. Se tal coisa fosse
dita de um ser finito e no-Divino (ou seja, os homens ou anjos), ento seria de fato uma
__________
[48] Dicionrio de Baker de Teologia (Grand Rapids: Baker Book House, 1983), p. 389-90.
[49] James White, A Trindade Esquecida: Recuperando o Corao da F Crist (Minneapolis: Bethany House
Publishers, 1998), 171. No fim da declarao de White, ele tem uma til nota final, que afirma: O Credo de
Atansio h muito tempo, diz muito bem: ns adoramos um Deus na Trindade, e a Trindade na Unidade; no
confundindo as Pessoas, nem dividindo a Substncia.
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declarao irracional50.
Passamos agora para o segundo ponto: neste Ser Divino e infinito h trs subsistncias.
O que a palavra subsistncia significa?51 Muller define subsistncia, como voc pode recor-
dar a partir do primeiro pargrafo, como: o que indica um ser ou existncia particular, uma
instncia individual de uma determinada essncia52. Talvez seja mais fcil compreender a
palavra subsistncias como pessoas53, mas temos que ter cuidado para que ns correta-
mente identifiquemos quem so essas trs pessoas e como elas so, e, para esse sentido
a Confisso, agora, se volta. Mas, antes de seguirmos em frente, tenhamos a certeza de
que compreendemos os dois pontos importantes que a Confisso estabeleceu. Uma vez
que este Ser Divino e infinito, esse Ser pode ter trs subsistncias, pois no estamos fa-
lando apenas de qualquer ser. Portanto, neste Ser, h trs pessoas. Devemos manter firme-
mente o ponto um: h um Ser; enquanto adicionamos o passo dois: h neste nico Ser trs
subsistncias.
No que se segue, a Confisso pode ser descrita da seguinte maneira:
I. Os Nomes das Trs Subsistncias.
II. A Igualdade das Trs Subsistncias.
III. A Relao e Economia das Trs Subsistncias.
I. Os Nomes das Subsistncias
A Confisso nos d os nomes das trs subsistncias: o Pai, a Palavra ou Filho, e o Esprito
Santo. H muitas referncias aos nomes dos trs membros da Trindade nas Escrituras.
__________
[50] Eu certamente no quero dizer que no h mistrio, ou que Deus deve encaixar-Se na racionalidade do
homem antes que ns creiamos no que revelado. Estou afirmando, no entanto, que a revelao de Deus
para a humanidade de uma natureza racional apreensvel, embora no possua um carcter totalmente
compreensvel.
[51] A Confisso de Westminster e a Declarao de Savoy afirmam: Na unidade da Divindade h trs Pesso-
as. A Confisso de 1689, usando o texto da Primeira Confisso Batista de 1646, faz uma abordagem mais
detalhada. Nota: o texto de Westminster e Savoy mostra que no errado referir-se s subsistncias como
Pessoas. Porm subsistncia mais preciso, ou pelo menos tem a teologia mais histrica associada a si.
[52] Richard A. Muller, Dicionrio de Termos Teolgicos em Latim e Grego: Retiradas Principalmente da
Teologia Escolstica Protestante (1985; reimpresso, Grand Rapids: Baker Academic, 1995). 290.
[53] James White afirma: Ainda assim, podemos notar o fato de que um outro termo oferecido para ajudar
a definir a palavra pessoa, sendo este subsistncias. Por que sugerir este termo? Porque estamos acostu-
mados a ler no termo pessoa todos os tipos de limitaes fsicas que de modo algum devem ser cogitados
quando fala-se sobre a Trindade. A Trindade Esquecida: Recuperando o Corao da F Crist (Minneapolis:
Bethany House Publishers, 1998), 170.
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Por exemplo, em Mateus 28:19 Jesus nomeia as trs subsistncias: Portanto ide, fazei dis-
cpulos de todas as naes, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Esprito Santo.
E em 2 Corntios 13:14, Paulo mencionou os nomes das trs pessoas da Divindade: A
graa do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunho do Esprito Santo seja com
todos vs. Amm. Em outras passagens da Escritura o Pai menciona o Filho (por exemplo,
Mateus 3:17, 17:5), e Jesus menciona o Pai e o Esprito (por exemplo, Lucas 24:49), e as-
sim, esses nomes no so apenas criaes do homem, antes so utilizados pelos membros
reais da Divindade ao referirem-se Um ao Outro. H um outro ponto importante aqui. A. A.
Hodge afirma: Estes ttulos, Pai, Filho, Esprito Santo, no so nomes de uma mesma pes-
soa em diferentes relaes, mas de pessoas diferentes54. Este ponto exclui a viso hertica
de que h um Deus que se manifesta em trs diferentes formas; isso referido como mo-
dalismo. Os nomes das trs pessoas da Divindade no so descries de modos, mas os
nomes das trs pessoas da Santssima Trindade.
II. A Igualdade das Subsistncias
A Confisso afirma que esses trs so de uma s substncia, poder e eternidade. O ter-
mo de uma s significa que cada membro deste Ser o mesmo em ou igual em substncia,
poder e eternidade. Ns poderamos dizer que Eles so o mesmo em essncia (ou seja,
natureza)55. No h diferena nas trs pessoas da Divindade em termos da Sua subs-
tncia Sua essncia. No h nenhuma diferena em termos de Seu poder. Cada um
deles tm igual poder, ou seja, o mesmo poder. Eles so da mesma eternidade. Os trs
so eternos na medida em que Eles j existem pela mesma ausncia de tempo ou seja,
desde a eternidade. importante notar Sua eternidade mesmo em funo da Sua relao
de uns com os outros. Embora vejamos que o Filho gerado do Pai e o Esprito Santo pro-
cede do Pai e do Filho, no entanto, o Filho e o Esprito no so criados; Eles compartilham
a mesma eternidade com o Pai, Eles tm a mesma (ou seja, igual) 'eternidade'. No h de-
sigualdade nas trs subsistncias; todos Eles tm igualmente a mesma substncia, poder
e eternidade.
A Confisso continua a falar sobre a igualdade das trs subsistncias, indicando: cada um
possuindo completa essncia Divina, e ainda assim, a essncia indivisvel. Isso sig-
nifica que cada uma das trs subsistncias (ou seja, pessoas) so individual e totalmente
Divinas. Cada um tem a totalidade da essncia Divina, sem qualquer diviso. Se houvesse
__________
[54] A. A. Hodge, A Confisso de Westminster: Um Comentrio (1869; reeditado, Carlisle, Pa.: Banner of Truth
Trust, 2002), 58.
[55] O Catecismo Batista estabelece: Pergunta 10: Quantas pessoas h na Divindade? Resposta: H trs
pessoas na Divindade: o Pai, o Filho, e do Esprito Santo; e estes trs so um s Deus, iguais em poder e
glria.
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uma divisria ou uma diviso da uma essncia Divina entre os trs, isso exigiria uma subtra-
o de cada um; nesse caso, as trs subsistncias no poderiam ter, cada um, toda a es-
sncia Divina. Sem essas grades de proteo, se poderia naturalmente supor que h trs
possibilidades: 1) que h trs pessoas Divinas (trs Deuses), ou 2) que trs pessoas so
cada um, um tero de pessoas Divinas, que equivalem a um ser Divino, ou que talvez 3) h
um Deus que se manifesta de trs maneiras diferentes. Porm, todos esses trs pontos de
vista so heresias contra as quais a Igreja Primitiva teve que lutar, e a Igreja Moderna ainda
deve resistir. Mas a Confisso estabeleceu que Deus um s, que neste Ser Divino e infi-
nito h trs pessoas, e estas trs pessoas so iguais, cada um sendo plenamente partici-
pante da natureza Divina, individualmente, e que a essncia Divina no dividida entre
eles. Mais uma vez, estas so importantes, ortodoxas e histricas grades de proteo que
a igreja necessita.
Assim, tendo estabelecido estas necessrias cercas ortodoxas, a Confisso agora passa a
discutir a distino especfica das trs subsistncias. Pode ser til notar aqui que a palavra
distino no implica em diviso56. Ser importante manter isso em mente enquanto nos
movemos atravs da prxima poro, por enquanto, veremos como cada membro da Trin-
dade distinto, mas isso em nada compromete a Sua unidade; no h diviso, embora haja
distino.
A Relao e Economia das Trs Subsistncias
A Confisso avana para abordar as relaes ou a economia57 da Divindade. O Pai de nin-
gum gerado nem procedente. A Confisso comea com o primeiro membro da Trin-
dade. Esta formulao semelhante ao Credo de Atansio, que afirma: O Pai no de
ningum, no feito, nem criado. A declarao da Confisso deve ser entendida luz das
distines relacionais dentro da Divindade. primeira vista, pode-se entender que isso
significa que o Pai no nasceu, mas que sempre existiu. Mas, quando ns consideramos o
contexto, isso est realmente abordando a ordem relacional (ou seja, ordinal: primeiro, se-
gundo, terceiro) dentro da Divindade. A Escritura estabelece o Pai como o primeiro, o Filho
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