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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
CURSO DE PSICOPEDAGOGIA
MARIA JOSÉ LOPES MATTURO
O PAPEL DA APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
NO PROCESSO ENSINO- APRENDIZAGEM
Rio de Janeiro
Fevereiro/2010
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Maria José Lopes Matturo
O papel da aprendizagem significativa no processo ensino- aprendizagem
Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes,
no curso de psicopedagogia,
como requisito para obtenção do título de especialista
Professor orientador: Carly
Rio de Janeiro
Janeiro/2010
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Dedicatória:
Dedico esta pesquisa aos meus filhos, que são a inspiração de querer aperfeiçoar
meus conhecimentos, para que possam futuramente ter a quem se espelhar;
A minha mãe:
Que apesar de não ter praticamente frequentado à escola, aprendeu com a vida e
lutou pra proporcionar aos filhos o que ela não teve;
Por me ensinar a lutar para aprender cada dia mais e ter determinação pra
realizar da melhor maneira meus desejos;
Por ficar com o Vinícius pra que eu freqüentasse as aulas de pós-graduação.
Ao Marco, por compreender meus motivos de querer buscar me aperfeiçoar na
área que escolhi, por permitir financeiramente, para que eu colocasse meus objetivos em
prática, mesmo que tardiamente.
A Deus, que deveria ter sido o primeiro citado, mas que segundo suas próprias
palavras, parte de nossos sonhos, dependem de nós mesmos.
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Resumo
O papel da aprendizagem significativa na construção do conhecimento tem sido uma
preocupação e tema de estudo, para vários pesquisadores, nestes últimos anos. Embora,
alguns autores não tão contemporâneos assim já buscavam enfocar quais poderiam ser
as contribuições da mesma, no ambiente escolar. O conceito de aprendizagem e como
ela acontece merece atenção e discussão por parte do corpo docente hoje. Atualmente
com o número excessivo de informações, trazidos pela internet, tornou-se fundamental
rever a prática pedagógica dos profissionais da educação, reconhecendo que o professor
(educador) deve buscar mediar da melhor maneira possível este contexto. O presente
trabalho tem por finalidade estudar e discutir de que forma o processo ensino-
aprendizagem pode ser resignificado, facilitando a aquisição de novos conhecimentos,
incluindo os conteúdos disciplinares, que fazem parte do currículo no Ensino
fundamental. Sobretudo problematizar o papel do psicopedagogo no desenvolvimento
de uma prática mais dialógica e atual, voltada também para as questões de cidadania.
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Metodologia
Como metodologia, foi feita uma pesquisa bibliográfica de autores que abordam a relevância de ensinar aprendendo, de reconhecer o papel de mediador do processo ensino- aprendizagem. Processo este, que deve ser dinâmico, dialético e constante. Autores como Ausubel, David (apud Moreira, 1998), Antunes, Celso (2009), Saltinni (1999), Gardner (2009), Moran (2000) trazem sua contribuição em abordar e teorizar sobre a aprendizagem, em especial de forma significativa.
Nesta pesquisa também foi apresentado um estudo de caso, publicado como artigo, numa revista de Curitiba (2002) onde demonstra as reais possibilidades de aproveitar os conhecimentos prévios dos alunos no processo ensino- aprendizagem. Reforçando a relevância em preocupar-se com uma aprendizagem que tenha de fato significado para os envolvidos.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.................................................................................................................7
CAPÍTULO I
Aprendizagem: Breve histórico sobre as teorias e conceitos...........................................9
CAPÍTULO II
1.1 Teorias da Aprendizagem significativa – David Ausubel........................................13
1.2 - Aprendizagem significativa: sua contribuição prática no ensino de conteúdos
escolares..........................................................................................................................16
1.3 – Moran – Como favorecer a aprendizagem significativa dentro da sala de aula.....22
Capítulo III
1.1 O papel do psicopedagogo na resignificação do processo ensino- aprendizagem:
educação e contextualizada e substantiva................................................................25
1.2 Gardner e LDB: Educação para o futuro.................................................................27
CONCLUSÃO................................................................................................................30
BIBLIOGRAFIA............................................................................................................32
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Introdução:
O desenvolvimento cognitivo da criança, como ele se processa é tema de
pesquisa desde o século passado. Vários estudiosos vêm se debruçando neste sentido,
buscando compreender as dimensões da construção do conhecimento. Piaget, com a
teoria da Psicogênese, Vigotsky, com pensamento e linguagem, Ausubel, com a teoria
da aprendizagem significativa (1960) entre outros. Com o advento da globalização e da
velocidade de informações este assunto vem se tornando cada vez mais discutido e
pesquisado. De acordo com Antunes (2009), com o bombardeio de informações e as
novas tecnologias, o professor não deve mais considerar-se o detentor do saber,
ignorando a existência do advento da internet, que segundo o autor, “agem, ao vivo num
mundo onde há múltiplos canais de televisão”.
O presente trabalho focará mais os conceitos e estudos relacionados à
aprendizagem significativa, muito bem desenvolvida por David Ausubel, relacionando-
o com autores mais contemporâneos, que propõem considerar os conhecimentos prévios
dos alunos. Saberes estes, que devem ser valorizados, para que possam construir
estruturas mentais utilizando, como meio, mapas conceituais que permitem descobrir e
redescobrir outros conhecimentos, caracterizando, assim, uma aprendizagem prazerosa
e eficaz.
A pesquisa também pretende trazer a relação da afetividade com a
aprendizagem, pois de acordo com Saltini, (1999) a escola não deve esperar que os
alunos façam tudo o que querem, mas que queiram tudo o que fazem e não sejam
forçados a ação.
São, portanto objetivos deste estudo, analisar o papel do psicopedagogo na formação para uma educação contextualizada e substantiva, também será foco do mesmo problematizar de que forma a equipe escolar pode voltar-se para uma educação, que traga resignificação na aprendizagem de seus alunos. Sendo assim possivelmente
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estarão formando “sujeitos históricos” em seu processo ensino-aprendizagem, aptos a exercer de fato seu papel de cidadão.
O Capítulo I traz um breve histórico sobre as teorias da aprendizagem, desde a década de 1960, onde o conceito de aprendizagem correspondia, para a maioria como um aumento quantitativo de informações, através da memorização até um enfoque mais contemporâneo (humanista), que vê o aprendiz em sua totalidade.
O Capítulo II foi dividido em três etapas. A primeira parte aborda a teoria da
Aprendizagem significativa, desenvolvida por Ausubel , 1963 ( apud Moreira, 1998) , onde
afirma que uma informação é aprendida de forma significativa, quando se relaciona a
outras idéias, conceitos ou proposições relevantes e inclusivos que estejam claros e
disponíveis na mente do indivíduo e funcionem como âncoras. Que a mesma pode
ocorrer por recepção ou por descoberta. Na aprendizagem receptiva, a informação é
apresentada ao aluno em sua forma final, já na aprendizagem por descoberta, o
conteúdo a ser aprendido necessita ser descoberto pelo aluno.
A segunda parte do capítulo (1.2) traz um relato de experiência (artigo
publicado, revista PEC. Curitiba, 2002), baseada na aplicação do conceito de
“subsunçor” de David Ausubel (mapas conceituais), no ensino dos conteúdos escolares
de Ciências, por uma escola de ensino fundamental e médio, que demonstra como pode
ser enriquecedor o processo de resignificação do conhecimento.
A terceira parte traz uma entrevista de Moran (2008), onde o autor afirma que a
educação precisa re-aprender a ser uma organização efetivamente significativa,
inovadora, empreendedora. Que a escola está envelhecida nos seus métodos,
procedimentos, currículos.
O Capítulo III aborda o papel do psicopedagogo na resignificação do processo
ensino- aprendizagem, sobretudo na contribuição de uma educação contextualizada e
substantiva. Traz autores como Saltinni (1999 )Beclair, (2008),Gardner (2009)), que
convidam os educadores para o compromisso com a formação de sujeitos históricos de
seu conhecimento.
Gardner traz uma análise da LDB ( leis de Diretrizes e Bases), que enfoca a
importância de formar cidadãos éticos, preocupados com as questões morais e
ambientais, sobretudo com a salvação do planeta onde vivem.
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Capítulo I
Aprendizagem: Breve histórico sobre as teorias e conceitos.
De acordo com Saljo (1969) ,na década de 1960 e 1970, pode-se encontrar a
definição de aprendizagem, como uma mudança de comportamento. O autor baseou-se
numa pesquisa realizada com alunos adultos para definir o que entendiam por
aprendizagem e as respostas corresponderam a cinco categorias principais:
• Aumento quantitativo dos conhecimentos, ou seja, a aprendizagem sendo vista como aquisição de informações ou "saber muito";
• Aprendizagem como memorização, armazenando informações que podem ser reproduzidas;
• Como aquisição de fatos, habilidades e métodos que podem ser acumulados e utilizados quando necessário.
• Aprender como fazer sentido ou abstrair significado, que envolve matéria: partes do assunto para si e para o mundo real.
• Aprender como interpretar e compreender a realidade de uma maneira diferente. Aprender envolve compreender o mundo, reinterpretando o conhecimento. (citado em Ramsden 1992: 26)
Segundo a pesquisa, desenvolvida por Saljo (idem) nem toda mudança de
comportamento significa necessariamente aprendizagem, uma vez que pode
corresponder a um condicionamento, produto de uma experiência vivida, sem ganhos de
conhecimentos e/ ou aptidões.
Analisando as respostas, o autor percebeu a semelhança do ponto de vista entre
as três primeiras (algo que acontece de forma externa ao indivíduo, como se fosse um
“produto vendido”, no caso o conhecimento) e as duas últimas concepções entendem
que aprender é olhar para o "interno" ou aspecto pessoal de aprendizagem, que é vista
como algo que você faz para entender o mundo real.
A Psicologia da Aprendizagem se vale de teorias que procuram explicar, através de diferentes enfoques, como os indivíduos aprendem, como se expressa o desenvolvimento mental de uma pessoa e como se estruturam os modelos institucionais.
De acordo com Stenberg (2000) apud Raposo e Ferreira (2009) é importante que o professor obtenha o conhecimento sobre essas abordagens teóricas para a melhoria da
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qualidade de ensino, bem como a utilização de métodos, técnicas e recursos de instrução. Cada uma dessas abordagens apresenta uma visão do processo ensino-aprendizagem.
As teorias behavioristas (comportamentais) entendem o aprendiz como um ser que responde a estímulos do meio exterior, não levando em consideração o que ocorre dentro de sua mente durante o processo. A aprendizagem é interpretada somente como mudança de comportamento, através do reforço, defendida principalmente por Skinner.
Esta teoria apóia-se na idéia de que o aprendizado tem a função de mudança no comportamento manifesto. O condicionamento operante, ainda segundo o autor é baseado na lei do efeito, onde o comportamento que produz bons efeitos tende a se tornar mais frequente, enquanto que o comportamento que produz maus efeitos tende a se tornar menos frequente. As mudanças no comportamento são o resultado de uma resposta individual a estímulos que ocorrem no meio e, portanto reforçar tais estímulos significa fortalecer o comportamento.
Os reforçadores são designados como positivos e negativos. Os positivos dependem dos chamados estímulos reforçadores e os negativos ocorrem com o término de um estímulo aversivo. Um reforçador é um elogio verbal, uma boa nota, ou um sentimento de realização ou satisfação crescente. Um reforçador negativo é qualquer estímulo que resulta no aumento da freqüência de uma resposta, quando ele é retirado.
Para Gagné (1985apud Smith 1999) a aprendizagem é considerada como uma mudança interior. Seu estudo tenta integrar os conceitos básicos das teorias cognitivas e comportamentais.
A linha cognitivista, segundo o estudo, enfatiza o processo da cognição, compreensão, transformação, armazenamento e uso da informação. Ocupa-se dos processos mentais.
Esta teoria convenciona que existem diferentes tipos ou níveis de aprendizado. A importância destas classificações é que cada tipo requer diferentes tipos de instrução. Gagné (idem) identifica cinco categorias de aprendizado: informação verbal, habilidades intelectuais, estratégias cognitivas, habilidades motoras e atitudes. Condições internas e externas diferentes são necessárias para cada tipo de aprendizado. Por exemplo: para que estratégias cognitivas sejam aprendidas é preciso que exista uma chance para se praticar o desenvolvimento de novas soluções para os problemas. Para aprender atitudes, a pessoa precisa ser exposta a um modelo verossímil de papel, ou a argumentos persuasivos.
O autor acima citado sugere que tarefas de aprendizado para habilidades intelectuais podem ser organizadas em hierarquia, de acordo com a complexidade: reconhecimento de estímulo, geração de resposta, seguir procedimentos, uso da terminologia, discriminações, formação de conceito, aplicação de regras e resolução de problemas. A hierarquia é importante para identificar os pré-requisitos que devem ser completados para facilitar o aprendizado em cada um dos níveis. As hierarquias de aprendizado fornecem uma base para a seqüência de instrução.
O enfoque humanista vê o aprendiz em sua totalidade. Nesta abordagem, o importante é a auto-realização, o crescimento pessoal.
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Para Rogers, principal representante desta abordagem, as experiências de vida, o clima psicológico da sala de aula, a integração professor (facilitador)-aluno são fatores importantes para a aprendizagem. Enfatiza os aspectos dinâmicos e ativos do ensino que reforçam o processo de interação na aprendizagem e considera o aluno capaz de auto- direção, desde que em ambiente propício e interessante.
Roger classifica o aprendizado da seguinte forma:
Cognitivo - É sem sentido para o aprendiz. Ele apenas é obrigado a aprender alguma coisa, pois faz parte do currículo, mas não consegue enxergar nenhuma utilidade prática. Ex: Crianças decorando tabuada ou aprendendo a calcular MMC e MDC.
Experimental - tem um sentido bem definido. O estudante aprende com o objetivo de executar uma tarefa específica, o conhecimento pode ser diretamente aplicado. Ex: consertar um carro.
De acordo com sua teoria, deve-se buscar sempre o aprendizado experimental, pois as pessoas aprendem melhor aquilo que é necessário. O interesse e a motivação são essenciais para o aprendizado bem sucedido e eles se apresentam mais claramente quando o aluno consegue visualizar uma aplicação prática do que está sendo aprendido.
O aprendizado experimental tem o desenvolvimento pessoal do aprendiz, fazendo parte assim de uma abordagem humanista. Segundo Azevedo, as idéias de Rogers também estão ligadas à questão da fenomenologia, que considera a percepção peculiar de cada indivíduo e à educação democrática, que aceita a pluralidade de idéias. Essa teoria enfatiza também a importância do aspecto internacional do aprendizado (relações interpessoais e intergrupais). O professor e o aluno aparecem como os co-responsáveis pela aprendizagem.
O conceito de estrutura cognitiva é central para a teoria de Piaget. Estruturas
cognitivas, segundo seu estudo, são padrões de ação física e mental subjacentes a atos
específicos de inteligência e correspondem a estágios do desenvolvimento infantil. Para
ele existem quatro estruturas cognitivas primárias - estágios de desenvolvimento -
sensorial-motor, pré-operações, operações concretas e operações formais. No estágio
sensorial-motor (0-2 anos), a inteligência assume a forma de ações motoras. A
inteligência no período pré-operação (3-7 anos) é de natureza intuitiva. A estrutura
cognitiva durante o estágio de operações concretas (8-11 anos) é lógica, mas depende de
referências concretas. No estágio final de operações formais (12-15 anos), pensar
envolve abstrações.
As estruturas cognitivas mudam através dos processos de adaptação: assimilação e
acomodação. A assimilação envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas
cognitivas existentes, enquanto que a acomodação se refere à mudança da estrutura
cognitiva para compreender o meio. O desenvolvimento cognitivo consiste de um
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esforço constante para se adaptar ao meio em termos de assimilação e acomodação.
Nesse sentido, a teoria de Piaget é similar a outras teorias de aprendizagem
construtivistas como as Brunner e Vygotsky, IBID Vaz e Raposo (2000).
Apesar dos estágios de desenvolvimento cognitivo identificados por Piaget
estarem associados a faixas de idade, eles podem variar para cada indivíduo. Além
disso, cada estágio tem diversas formas estruturais detalhadas. Ainda segundo a
abordagem citada, o período operacional concreto tem mais de quarenta estruturas
distintas, cobrindo classificação e relações espaciais, tempo, movimento, oportunidade,
número, conservação e medida. Piaget explorou as implicações de sua teoria em todos
os aspectos do desenvolvimento da cognição, inteligência e moral. Muitos dos
experimentos dele foram focalizados no desenvolvimento de conceitos matemáticos e
lógicos. Segundo seu estudo, Os materiais de aprendizado e atividades devem envolver
um nível apropriado de operações motoras ou mentais para uma criança de uma dada
idade. É preciso evitar o pedido para que os aprendizes realizem tarefas que estejam
além de suas capacidades cognitivas atuais.
Para Brunner (idem) a aprendizagem é um processo ativo, no qual o aprendiz
constrói novas idéias ou conceitos, baseado em seus conhecimentos prévios e os que
estão sendo estudados, baseado em sua estrutura mental inata. O aprendiz filtra e
transforma a nova informação, infere hipóteses e toma decisões, utilizando uma
estrutura cognitiva. Essa estrutura cognitiva - esquemas e modelos mentais - fornece
significado e organização para as novas experiências, permitindo ao aprendiz enriquecer
seu conhecimento além do conceito estudado, através do relacionamento das novas
informações com seus conhecimentos prévios.
O papel do instrutor é o de incentivador dos alunos no sentido de descobrirem por
si mesmos os princípios do conteúdo a ser aprendido. O instrutor e o aluno devem
manter um diálogo ativo, através do qual o instrutor traduz a informação a ser aprendida
em um formato adequado à compreensão do aluno. O currículo deve ser organizado em
espiral, para que o aluno construa continuamente sobre o que já aprendeu. O aluno vai
descobrir aquilo que já existe em sua estrutura cognitiva. O professor não é apenas um
passador de informação. Suas idéias da aquisição de novos conhecimentos a partir dos
conhecimentos prévios dos alunos dialogam com a teoria de Ausubel
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Capítulo II
1.1 Teorias da Aprendizagem significativa – David Ausubel
O foco principal desta pesquisa está em reconhecer a relevância do aspecto
consciente da aprendizagem. Segundo Alsubel (1980, apud Moreira, 1999) se houvesse
a possibilidade de reduzir a psicologia educacional a um único princípio, diria que o
fator singular mais importante para influenciar a aprendizagem é aquilo que o aprendiz
já conhece e o papel do educador é de descobrir estes saberes, para basear seus
ensinamentos. Este é o princípio norteador de sua teoria, onde os conhecimentos prévios
seriam os suportes em que o novo conhecimento se apoiaria.
Em sua teoria, (1963, 1968, 1978, 1980), investiga e descreve o processo de
cognição segundo uma perspectiva construtivista. Esta teoria ficou conhecida como
teoria da aprendizagem verbal significativa, a qual privilegia o papel da linguagem
verbal. Foi o próprio psicólogo que optou por renomeá-la Teoria da Aprendizagem
Significativa - TAS.
A idéia fundamental desta tese é a de que a aprendizagem significativa é um
processo em que as novas informações ou conhecimentos estejam relacionados com um
aspecto relevante, existente na estrutura de conhecimentos de cada indivíduo (Moreira
apud NOVAK, 2000, p. 51).
Cabe ressaltar que Ausubel desenvolveu sua teoria antes deste bombardeio
de informações que fazem parte da atual realidade educacional, infantil, sobretudo do
advento das novas tecnologias e mesmo assim, enfatizava a relevâncias de partir daquilo
que a criança conhece para que ela adquira novos conhecimentos, que estes possam
fazer parte de sua realidade de vida. O que torna seu estudo muito pertinente e atual
para a abordagem desta pesquisa.
Coube a Novak (1978 a 1998) desenvolver, refinar e divulgar os
pressupostos da TAS e acrescentar os aspectos que são de domínio afetivo, dando um
caráter mais humanista à teoria Ausubel, ao considerar que “a aprendizagem
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significativa subjaz à integração construtiva entre, pensamento, sentimento e ação que
conduz ao engrandecimento humano”. (ibid., 1998, p. 15)
Neste aspecto os autores em questão podem contribuir de forma bastante
significativa, pois esta pesquisa também busca demonstrar o papel da afetividade na
construção e reformulação dos conteúdos escolares.
Para ele, as atitudes e sentimentos positivos em relação à experiência
educativa têm suas raízes na aprendizagem significativa e, por sua vez, podem facilitá-
la. Uma informação é aprendida de forma significativa, quando se relaciona a outras
idéias, conceitos ou proposições relevantes e inclusivos que estejam claros e disponíveis
na mente do indivíduo e funcionem como âncoras.
A proposição de uma hierarquia na organização cognitiva do indivíduo,
ainda segundo Moreira, é de suma importância, pois corresponde a aprendizagem de
conceitos científicos. Uma vez que o conhecimento científico é constituído por uma
rede de conceitos e proposições, formando uma verdadeira teia de relações.
Quando uma informação não é aprendida de forma significativa, é aprendida
de forma mecânica. Ao contrário da aprendizagem significativa, na aprendizagem
mecânica as informações são aprendidas praticamente sem interagir com informações
relevantes presentes na estrutura cognitiva. A nova informação é armazenada de
maneira arbitrária e literal.
No entanto, Ausubel (1982), não vê oposição entre a aprendizagem
mecânica e a significativa, mas as vê como um continuum. Segundo o autor, a
aprendizagem mecânica é inevitável no caso de conceitos inteiramente novos para o
aluno, mas posteriormente ela passará a se transformar em significativa.
Por exemplo, ao se apresentar ao aluno o conceito de célula “unidade
morfológica e fisiológica de todos os seres vivos” este só terá sentido, à medida que ele
for relacionado com alguma idéia relevante, que esteja clara e organizada na sua
estrutura cognitiva, caso contrário, a princípio será armazenada de forma mecânica.
O conhecimento anterior sobre a morfologia básica e a fisiologia da célula,
facilitará a construção do conceito “célula”. Uma vez que pode funcionar como
ancoradouro aos novos conceitos.
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Somente no decorrer do tempo, com a aquisição das “idéias âncoras” é que
o conceito passará a ter significado para o aluno. Objetivando acelerar este processo,
Ausubel sugere a manipulação da estrutura cognitiva do aluno através do uso de
organizadores prévios.
Para Moreira (idem) o “subsunçor” constitui um conceito, uma idéia ou
uma proposição, já existente na estrutura cognitiva, capaz de servir de “ancoradouro” a
uma nova informação de modo que esta adquira, assim, significado para o sujeito.
Ainda segundo a abordagem do autor, a aprendizagem significativa pode
ocorrer por recepção ou por descoberta. Na aprendizagem receptiva, a informação é
apresentada ao aluno em sua forma final, já na aprendizagem por descoberta, o
conteúdo a ser aprendido necessita ser descoberto pelo aluno.
A aprendizagem por descoberta pressupõe que o próprio indivíduo descubra
o conhecimento dependendo de seus próprios recursos, Ausubel considera que a relação
custo benefício desse tipo de empreendimento é pouco considerável.
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1.2 - Aprendizagem significativa: sua contribuição prática no ensino de
conteúdos escolares
Os mapas conceituais, de acordo com o estudo de Ausubel, apud Moreira (1998)
são representações gráficas semelhantes a diagramas, que indicam relações entre
conceitos ligados por palavras. Representam uma estrutura que vai desde os conceitos
mais abrangentes até os menos inclusivos.
A aprendizagem significativa pressupõe que as informações a serem
apresentadas ao aprendiz devem ser potencialmente significativas, isto é, relacionáveis
aos conceitos subsunçores já existentes na sua estrutura cognitiva e o aprendiz, por seu
lado, deve manifestar disposição de relacionar essas novas informações aos conceitos já
existentes. Neste contexto aprendizagem pode ser facilitada através dos princípios da
diferenciação progressiva e da reconciliação integrativa.
Os mapas conceituais são, portanto, excelentes recursos que auxiliam na
aquisição de novos conhecimentos e podem ser usados por professores e alunos de
maneira tradicional, isto é, no quadro e giz e no caderno. Para os professores, podem
constituir-se em poderosos auxiliares em suas tarefas rotineiras.
Para esta pesquisa, foi trazido um * relato de uma experiência, numa escola de
ensino fundamental e médio, que resolveu “testar” um programa, cuja metodologia
baseou-se na teoria de Ausubel, sobre aprendizagem significativa.
Neste trabalho, segundo BARON, DOROCINSKI, FINCK (2002), o professor
foi convidado a perceber a importância de valorizar os conhecimentos prévios dos
alunos e relacioná-los com novos conteúdos para a deflagração de uma aprendizagem
significativa e, ainda, possibilita o planejamento de situações de aprendizagem
diversificadas. Foi pressuposta que, no processo de ensino e aprendizagem em Ciências,
a assimilação de conceitos sistematizados é uma das principais finalidades.
Assim, na etapa inicial, foram identificados os conceitos fundamentais do
conteúdo previsto para a série escolhida, através da análise da proposta curricular do
ensino de Ciências de São Paulo, SE/CENP, priorizando-se o planejamento do
professor, com vistas a selecionar o conteúdo para realização da pesquisa,
replanejamento da unidade e aplicação da teoria de aprendizagem de Ausubel, com
ênfase no conhecimento anterior dos alunos. Estes freqüentavam a 5a- série de uma
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escola da Rede Pública do Estado de São Paulo, sendo 24 do sexo feminino e 11 do
sexo masculino, com idade variando de 11 a 13 anos, aproximadamente. Utilizando-se o
princípio da diferenciação progressiva, o conteúdo foi planejado de forma que os
conceitos mais gerais da unidade de Ciências fossem apresentados em primeiro lugar e,
então, pouco a pouco, introduzido os conceitos mais específicos. Já, por meio da
reconciliação integrativa foram explicitadas semelhanças e diferenças entre os conceitos
afins. Uma técnica de fundamental importância para a investigação foi à utilização de
mapas conceituais. Os conceitos foram introduzidos sempre a partir daquilo que o aluno
já sabia. Como resultado, verificou-se, segundo afirmam os autores desta experiência,
que houve aprendizagem significativa dos conceitos básicos sobre o conteúdo estudado,
Reprodução Humana, pela maioria dos participantes, através da verificação e
comparação entre os resultados dos Pré e Pós-Testes e da evolução conceitual do grupo.
Descrição do público-alvo A efetivação da pesquisa ocorreu em uma sala de aula composta por 24 alunos
do sexo feminino e 11 alunos do sexo masculino, com idades que variaram entre 11 e 13
anos. A maioria dos alunos pertencia a famílias de baixa renda, com mães que não
trabalhavam fora e pais que trabalhavam como autônomos, ou possuíam empregos de
nível técnico, recebendo entre um e três salários mínimos mensais.
Para a caracterização do nível sócio-econômico, foi aplicado um questionário,
respondido pelos próprios alunos, que foram orientados pela professora da sala nas
questões referentes a dados escolares. Comprovou-se, ainda, que as famílias dos alunos
envolvidos na investigação apresentavam uma média de quatro filhos.
Os materiais utilizados
Utilizou-se, como material auxiliar, uma apostila de orientação para a
professora, entregue a cada encontro, como medida facilitadora, bem como textos e
atividades pré-elaborados que eram entregues individualmente aos alunos. Tais
materiais foram discutidos previamente, propiciando a interação entre pesquisadora,
professor e alunos, o que, ainda segundo o estudo, facilitou a evolução do processo de
pesquisa para todos os segmentos envolvidos. Na aplicação do pré e pós-testes bem
como na avaliação da evolução de conceitos, foram utilizados materiais também
preparados com antecedência.
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Com o propósito de gravar algumas aulas, utilizou-se um gravador de bolso, e, no dia a
dia, papel- sulfite para desenhos sobre o tema e a realização de atividades em grupos.
Para a exposição das aulas, além de cartazes, a professora utilizou giz colorido para dar
destaque aos principais conceitos e esquemas. Todo o processo foi acompanhado pela
pesquisadora. Os dados foram tabulados e constam dos resultados deste trabalho.
As cópias de algumas atividades foram entregues à professora, para que
observasse o nível de desenvolvimento da aprendizagem de cada aluno.
RESULTADOS E DISCUSSÃO Levantamento do conhecimento prévio
Foi feito um levantamento dos conhecimentos prévios dos alunos, adquiridos
entre a 1.ª e 4.ª séries do ensino fundamental, na área de Ciências, com ênfase em saúde
e reprodução humana. Procurou-se avaliar o número de respostas certas, extraídas de
um questionário com dez perguntas, abaixo transcrito. Consideraram-se como certas as
respostas bem elaboradas e que se relacionavam significativamente com o tema
abordado
Questionário 1. O que você entende por saúde? 2. Qual a diferença entre a medicina preventiva e a curativa? 3. Qual a importância da água tratada para a nossa saúde? 4. Por que um Posto de Saúde é importante? 5. Todos os brasileiros têm acesso ao tratamento da saúde? O que deve ser feito? 6. O que você sabe sobre o aparelho reprodutor masculino e feminino? 7. O que é fecundação? 8. Como você acha que nasce um bebê? 9. Qual a importância do leite materno? 10. Faça um desenho do corpo humano e dê o nome das partes que você lembra no
momento.
Além deste questionário, outras questões sobre gravidez precoce, orientação
sexual, doenças sexualmente transmissíveis, foram levantadas com os mesmos objetivos
acima citados e o relato sobre a evolução conceitual que o grupo adquiriu pode
demonstrar a possibilidades de êxito no processo ensino aprendizagem, que permite aos
envolvidos “aprender a aprender”, confirmando as hipóteses levantadas neste trabalho.
Isto poderá ser verificado no decorrer da leitura:
Na aplicação do pré-teste, em relação à resposta para o conceito de fecundação,
observou-se que o grupo, em sua maioria, tinha pouco conhecimento sobre o mesmo.
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Normalmente respondiam que não sabiam ou deixavam em branco. O mesmo foi
observado durante a entrevista sobre o assunto.
Acompanhando a evolução conceitual, o que se percebeu, ainda segundo os
autores acima citados, foi uma tentativa de elaborar o conceito a partir de orientações e
desenhos realizados pela professora no quadro negro.
Durante as aulas expositivas, foram construindo os desenhos em seus cadernos,
sempre acompanhando a orientação da professora.
Para a aprendizagem do conceito de fecundação, foi necessário ensinar o que são gametas; a professora utilizou-se de conceitos elucidativos que facilitaram a compreensão do assunto. Vide figura abaixo (óvulo x espermatozóide), como resultado da evolução do conhecimento:
Com a questão: “O que é fecundação? Represente através de desenho” foi dada
a seguinte resposta: “É apenas um espermatozóide que junta o seu núcleo com o núcleo
do óvulo”.
A partir da construção do desenho, os professores iam explicando a evolução
para a formação do conceito de gravidez, em resposta à segunda questão dos testes (pré
e pós). No pré-teste, quando solicitados a falar sobre gravidez e parto, limitavam-se a
dizer apenas: “A barriga cresce e depois de nove meses sai o bebê”.
O grupo não tinha noção sobre a ocorrência e a evolução da gravidez. Quando
solicitado ao grupo que conceituasse e desenhasse os órgãos que compõem os
respectivos aparelhos, foi verificado que quase a totalidade desconhecia a terminologia
correta, de acordo com a literatura especializada, dos dois únicos órgãos citados por
eles, ou seja, pênis e vagina. Inicialmente, no pré-teste, indicava a presença dos órgãos
de reprodução visíveis externamente e não tinha a compreensão de que existem outros
órgãos ligados a estes para que o organismo possa funcionar em harmonia. Sabe-se que
qualquer alteração em alguns destes componentes ocasiona problemas no
desenvolvimento dos demais órgãos ou pode gerar doenças. Foi trabalhado também o
conceito de hormônio, que é responsável por controlar o crescimento e o
funcionamento dos órgãos e responsável também pela reprodução, bem como pelas
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mudanças que ocorrem no corpo do menino e da menina. A priori só conseguiam dizer
das transformações que vão ocorrendo na puberdade, mas não se fazia ligação ou não se
tinha conhecimento da ação do hormônio para que ocorressem tais mudanças.Outros
fenômenos como a menstruação e a gravidez também . Somente após a exploração
desses conceitos é que os alunos conseguiram descrever como ocorre a gravidez e,
numa linguagem simples, foram construindo os conceitos de forma sistematizada.
Os resultados foram considerados positivos, segundo o estudo, pelo que se pôde
observar através da produção do grupo. Na investigação sobre as doenças sexualmente
transmissíveis, verificou-se que todos os elementos do grupo tinham algum
conhecimento sobre a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS), mas
desconheciam outras doenças desta natureza e que também precisam ser prevenidas,
bem como os cuidados higiênicos dos órgãos genitais externos.
Percebeu-se que foi ocorrendo um continuum no aprendizado sobre a saúde e
reprodução, à medida que o grupo respondia as questões sobre a evolução e as
mudanças que ocorrem no corpo da menina e do menino na puberdade. Para reforçar a
aprendizagem, a pesquisadora sugeriu a transmissão de uma fita de vídeo que traz os
conceitos básicos que envolviam o conteúdo bem como a visualização de todo o
processo de mudança que ocorre com o ser humano, desde o momento da fecundação
até a fase adulta. Infelizmente isto não foi possível, devido a problemas técnicos, o que,
de certa forma, prejudicou o grupo na compreensão geral deste processo de
aprendizagem.
Conforme esperado, alguns alunos não atingiram a construção dos conceitos
principais. Há na escola um número excessivo de faltas às aulas, problema ocasionado
pela constante ausência de transporte dos alunos que residem em área de assentamento
rural. Outro fator relevante, segundo a professora, é a ausência dos pais no
acompanhamento da vida escolar de seus filhos: quando é solicitada lição de casa aos
estudantes, a maioria destes não a realiza.
Pelos resultados obtidos, acredita-se que a memorização decorativa, falta de
relação entre o conteúdo, a estrutura cognitiva e a vida diária do aluno têm sido motivos
para a ausência de uma aprendizagem significativa.
A pesquisa revelou que um planejamento bem elaborado, com novas
informações e conceitos interagindo com outros relevantes e preexistentes, somados ao
21
material instrucional e à atuação do professor, podem favorecer a ocorrência da
aprendizagem significativa.
Segundo os autores deste trabalho, a comparação dos resultados do pré com o pós-teste
comprovaram que a maioria dos alunos aprendeu o conteúdo trabalhado.
Pelo índice de compreensão, acreditou-se que este conhecimento enriqueceu a estrutura
cognitiva, aumentando o grau de diferenciação dos subsunçores.:
“Considerou-se eficaz a teoria de Ausubel, a partir do momento em que, através dela, se obtém
um resultado satisfatório com relação à aprendizagem do aluno. Verificou-se, pelos resultados
alcançados, que a experiência foi coroada de êxito, não somente por se ter atingido os objetivos iniciais
propostos, mas por mostrar uma nova alternativa para se trabalhar com o aluno em sala de aula, pela
aprendizagem adquirida pelos mesmos, bem como fornecer instrumentos evocando a necessidade de uma
nova postura do professor, em relação ao ensino de Ciências . (Carvalho 2002p.53)
O estudo publicado na revista, desenvolvido por Carvalho (2002), concluiu que a
teoria desenvolvida por Ausubel apresenta meios que podem auxiliar o professor em
aula, analisados num estudo experimental, através de resultados relatados nesta
pesquisa, que confirmam a necessidade de considerar os conhecimentos prévios dos
indivíduos que surgem a partir de experiências vividas. Sobretudo convida o educador a
redirecionar seus objetivos as questões pedagógicas e ao psicopedagogo a buscar
legitimar seu papel, reconhecendo que este deve ser multidisciplinar.
Constata-se também que o material preparado previamente para ser usado na sala de
aula favorece a fixação dos novos conceitos sobre o tema.
*Artigo publicado revista Pec. Curitiba (jul.2001/jul.2002- p.37-42)
22
1.3 Moran: Como favorecer uma Aprendizagem significativa, dentro da sala de aula
Moran, em uma entrevista ao portal escola conectada do Instituto Ayrton
Senna (2008) Pôde enriquecer grandemente este estudo sobre de que forma os
conteúdos escolares podem ser ensinados, favorecendo uma aprendizagem
significativa, pois esta foi a pauta da discussão e complementa esta reflexão. O autor
afirmou que a escola precisa re-aprender a ser uma organização efetivamente
significativa, inovadora, empreendedora. Que a mesma é previsível demais,
burocrática demais, pouco estimulante para os bons professores e alunos. Ele admite
que não há receitas fáceis, nem medidas simples. Mas que a escola está envelhecida
nos seus métodos, procedimentos, currículos. Sua maioria, inclusive as universidades
se distanciam velozmente da sociedade, das demandas atuais. Segundo o autor elas
sobrevivem porque são os espaços obrigatórios e legitimados pelo Estado.
Ele nos lembra que, a maior parte do tempo frequentamos as aulas porque
somos obrigados, não por escolha real, interesse, motivação, por aproveitamento. As
escolas conservadoras e deficientes atrasam o desenvolvimento da sociedade,
retardam as mudanças.
Para Moran, a escola precisa partir de onde o aluno está de suas preocupações,
necessidades, curiosidades e buscar construir um currículo que dialogue
continuamente com a vida, com o cotidiano. A educação deve estar centrada
efetivamente no aluno e não no conteúdo. Este precisa despertar curiosidade e
interesse daqueles que estão diretamente envolvidos. Conforme afirmava Ausubel, já
nos anos 60, Saltini (1999) e os demais autores estudados nesta pesquisa.
Ele continua seu raciocínio, apontando para a necessidade de bons gestores e
educadores, bem remunerados e formados em conhecimentos teóricos, em novas
metodologias, no uso das tecnologias de comunicação mais modernas. Educadores
que organizem mais atividades significativas do que aulas expositivas, que sejam
efetivamente mediadores mais do que informadores. Para ele trata-se de uma
mudança cultural complicada, porque os cursos de formação de professores estão, em
23
geral, distantes tanto das novas metodologias como das tecnologias.
A escola precisa cada vez mais incorporar o humano, a afetividade, a ética, mas
também as tecnologias de pesquisa e comunicação em tempo real. Mesmo
compreendendo as dificuldades brasileiras, a escola que hoje não tem acesso à
Internet está deixando de oferecer oportunidades importantes na preparação do aluno
para o seu futuro e o do país.
Durante a entrevista perguntaram para ele, como a aprendizagem significativa
pode ser favorecida na escola e Moran respondeu que é necessário partir de situações
concretas, histórias, casos, vídeos, jogos, pesquisa, práticas e ir incorporando
informações, reflexões e teorias, a partir do concreto. Segundo ele, quanto menor o
aluno mais práticas precisam ser as situações para que ele as perceba como
importantes para ele. Não se pode dar tudo pronto no processo de ensino e
aprendizagem, Aprender exige envolver-se, pesquisar, ir atrás, produzir novas sínteses
fruto de descobertas. “O modelo de passar conteúdo e cobrar sua devolução é
ridículo” (idem) Com tanta informação disponível, o importante para o educador é
encontrar a ponte motivadora para que o aluno desperte e saia do estado passivo, de
espectador. Aprender hoje é buscar, comparar, pesquisar, produzir, comunicar. Neste
contexto, Só a aprendizagem viva e motivadora ajuda a progredir.
Hoje milhões de alunos, ainda segundo sua fala, passam de um ano para o outro sem
pesquisar, sem gostar de ler, sem situações significativas vividas. Não guardam nada de
interessante do que fizeram a maior parte do tempo. Há uma sensação de inutilidade em
muitos conteúdos aprendidos só para livrar-se de tarefas obrigatórias. E isso chega até a
universidade, tão atrasada ou mais ainda do que a educação básica.
É muito tênue o que fazemos em aula para facilitar a aceitação ou provocar a rejeição.
Neste contexto, conjunto de intenções, gestos, palavras, ações que são traduzidos
pelos alunos como positivos ou negativos, que facilitam a interação, o desejo de
participar de um processo grupal de aprendizagem, de uma aventura pedagógica
(desejo de aprender) ou, pelo contrário, levantam barreiras, desconfianças, que
desmobilizam.
O sucesso pedagógico depende também da capacidade de expressar competência
24
intelectual, de mostrar que conhecemos de forma pessoal determinadas áreas do
saber, que as relacionamos com os interesses dos alunos, que podemos aproximar a
teoria da prática e a vivência da reflexão teórica.
A coerência entre o que o professor fala e o que faz, na vida é um fator importante
para o sucesso pedagógico, afirma Moran. Se um professor une a competência
intelectual, a emocional e a ética causa um profundo impacto nos alunos. Estes estão
muito atentos à pessoa do professor, não somente ao que fala. A pessoa fala mais que
as palavras. A junção da fala competente com a pessoa coerente é poderosa
didaticamente.
As técnicas de comunicação também são importantes para o sucesso do professor. Um
professor que fala bem, que conta histórias interessantes, que tem feeling para sentir
o estado de ânimo da classe, que se adapta às circunstâncias, que sabe jogar com as
metáforas, o humor, que usa as tecnologias adequadamente, sem dúvida consegue
bons resultados com os alunos. Os alunos gostam de um professor que os surpreenda, que
traga novidades, que varie suas técnicas e métodos de organizar o processo de ensino-
aprendizagem.
25
Capítulo III
1.1 O papel do psicopedagogo na resignificação do processo ensino-
aprendizagem: educação contextualizada e substantiva
“Eu tô aqui pra quê? Será que é pra aprender?
Ou será que é pra sentar, me acomodar e obedecer?
(...) A maioria das matérias que eles dão eu acho inútil
“Quase tudo que aprendi, amanhã, já esqueci”.
Gabriel Pensador (Estudo errado)
Para este trabalho, Considerou-se pertinente trazer um trecho da música de Gabriel Pensador (“Estudo errado”), pois vem ao encontro da abordagem do tema em questão (o papel da aprendizagem significativa no processo ensino - aprendizagem) sobre a importância de perceber, discutir e rever o papel do educador / psicopedagogos, na construção do conhecimento. A relevância de problematizar o conceito de aprendizagem, pesquisando de que forma ela pode ser resignificada, se torna fundamental para este contexto.
Segundo Beclair, a psicopedagogia é o campo do conhecimento que pretende propor uma integração, de modo coerente, dos conhecimentos e princípios das diferentes ciências humanas, visando compreender a complexidade do processo ensino- aprendizagem, que é transitório, permanente e inerente ao ser humano. Nossa atuação deve estar voltada também para o indivíduo, como ser único, sujeito “histórico” de sua trajetória.
De acordo com Saltini (1999), a criança precisa se sentir participante da sua
comunidade, interferindo nas decisões que lhes digam respeito, expressando seus
interesses e buscando atender suas necessidades. Ele complementa seu raciocínio,
afirmando que, a educação deve estar comprometida com a formação de pessoas livres,
íntegras, criativas e amorosas, que deve pauta-se em princípios de igualdade, justiça e
cooperação:
“O professor (educador) precisa conhecer a criança, não apenas na sua estrutura biofisiológica e psicossocial, mas também na sua interioridade afetiva, na sua necessidade de criatura que chora, ri , dorme, sofre e busca
26
constantemente compreender o mundo que a cerca, bem como o que ela faz ali na escola”. (p.70).
Ainda na mesma linha de pensamento, abordando a questão da necessidade de um olhar mais sensível e uma visão holística para aqueles que apresentam uma forma diferente de aprender, com o turbilhão de informações que são transmitidas a cada instante, os profissionais da educação precisam saber filtrar estas, e reconhecer seu papel de mediador e não detentor do conhecimento, conforme afirma Antunes (IBID)
Com a realidade do fracasso escolar, presente em grande número, nas escolas, a
busca do saber para aquele que querem atuar na área da psicopedagogia é fundamental.
Sobretudo se percebendo também como seres cognoscentes.
Não só a criança apresenta limitações, mas nas empresas, hospitais e nas demais
áreas profissionais, há um grande contingente de pessoas que necessitam de um
acompanhamento individualizado para desenvolver melhor suas “habilidades e
competências no seu dia a dia. É aí, também que cabe atuar, participar e lutar pra que
esta profissão atual e rica possa ser realizada com dignidade e competência.
A atuação do psicopedagogo ganha legitimidade na medida em que há um
reconhecimento da formação. Formação esta, que deve ser ampla e interdisciplinar,
buscando valorizar e reconhecer as contribuições dos demais profissionais da área.
Agregando suas descobertas, para que o ser cognoscente possa de fato, ser beneficiado e
formado para exercer sua cidadania. É uma questão mundial: pensar não só o futuro,
mas o presente da nossa humanidade, no sentido literal da palavra.
Fazendo uma ponte com o texto citado acima, Saltini (1999) pode contribuir
novamente, pois fala da relação da afetividade com a aprendizagem: segundo o autor, é
incontestável afirmar que o afeto desempenha um papel fundamental na aprendizagem-
sem ele não haveria interesse, nem necessidade, nem motivação e consequentemente
perguntas ou problemas nunca seriam colocados e não haveria aprendizagem. Os
primeiros interesses e impulsos da criança (ainda segundo o autor) se dirigem aos
corpos de seus pais e para seus próprios corpos; e são estes objetos e impulsos,
existindo no inconsciente, que fazem surgir todos os outros
27
1.2 Gardner e LDB: Educação para o futuro
Para a reflexão de repensar o papel da educação na construção de sujeitos
participantes de seu processo ensino- aprendizagem, sobretudo indivíduos
conscientes de seu papel de cidadão, faz-se necessário trazer uma entrevista de
Gardner (2009), na revista Nova escola.
Psicólogo norte- americano, dedicado a estudar a forma como o pensamento se
organiza, em 1984 afirmava que a inteligência não pode ser medida só pelo raciocínio
lógico-matemático, geralmente o mais valorizado na escola, pois havia outros tipos de
inteligência: musical, espacial, linguística, interpessoal, intrapessoal, corporal,
naturalista e existencial. A chamada Teoria das Inteligências Múltiplas, que atraiu a
atenção dos professores, o que fez com que ele se aproximasse mais do mundo
educacional.
Hoje, Gardner tem um novo foco de pensamento, organizado no que chama de cinco
mentes para o futuro, em que a ética se destaca:
Enquanto estiver na escola, pensará que é inteligente. Porém, se decidir dar um passeio pela cidade, rapidamente descobrirá que outras habilidades fazem falta, como a espacial e a intrapessoal - a capacidade que cada um tem de conhecer a si mesmo, fundamental hoje.
O psicólogo afirma que atualmente estamos passando por três grandes
revoluções: globalização (As pessoas trabalham em empresas multinacionais e mudam
de país), diferente de épocas passadas, onde as civilizações não tinham contato umas
com as outras; revolução biológica (O cérebro humano fotografado, permitindo detectar
onde estão os pontos fortes e os fracos e a melhor forma de aprender) e revolução
digital, que envolve realidade virtual, programas de mensagens instantâneas e redes
sociais. Tudo isso vai interferir na forma de pensar a Educação no futuro. Pensamento
que pode ser relacionado com Antunes (2008), quando problematiza o bombardeio de
informações e tecnologias hoje fazendo parte da realidade da criança e em contrapartida
o professor considerando-se o detentor do saber.
28
Gardner, em seu livro Multiple Intelligences Around the World,busca inovar os
conceitos e valores educacionais , defendendo a construção da mente disciplinada,
sintetizadora, criativa, respeitosa e ética.
"O planeta não vai ser salvo por quem tira notas altas nas provas, mas por aqueles que se importam com ele".
Horward Gardner
Sua linha de pensamento pode estar relacionada às questões que envolvem a
reconstrução dos valores éticos e morais, sobretudo aos cuidados com nosso planeta,
pois estamos à bem pouco tempo com uma realidade ameaçadora de destruição:
aquecimento global, desequilíbrio ecológico, desmatamento, diminuição da camada de
ozônio, produção excessiva de lixo. Vivendo num contexto que convida a todos a
refletir sobre a necessidade de refazer e repensar o currículo escolar, priorizando a
valorização da vida e de pequenas atitudes, que podem contribuir na transformação da
sociedade, como um todo.
A própria LDB (art.3 e 27) afirma que à formação de valores vinculados à
cidadania é a principal missão de uma escola verdadeiramente democrática e popular.
Segundo a mesma, a ética e a moral devem ser sistematicamente trabalhadas em sala
para que o aluno, “futuro cidadão”, possa então viver bem e em paz com o próximo.
Ainda segundo os preceitos das leis de diretrizes e bases (apud Martins, 2006), o
professor “do novo milênio” deve ter em mente que o profissional de ensino não é mais
pedestal, dono da verdade, representante de todos os saberes, capaz de dar respostas a
tudo confirmando a tese de Antunes, conforme foi citado anteriormente.
Vicente (idem) complementa sua abordagem convidando o educador a ter a
preocupação de se educar de forma contínua, uma vez que a nossa sociedade ainda traz,
no seu tecido social, as teorias da homogeneidade para as realizações humanas, que
segundo o autor, depois de quinhentos anos, conseguiu apenas reforçar as desigualdades
sociais. O respeito às diferentes formas de se aprender não tem sido praticado no nosso
cotidiano e “a pedagogia do amor” torna possível o desenvolvimento integral da
criança, em seu aspecto físico, psicológico, intelectual e social.
29
Neste contexto, Moran (idem) pode contribuir, pois aponta estratégias pra que
de fato haja uma re- significação de conhecimentos e nos lembra que estamos diante de
uma sociedade mais complexa, com mais informações disponíveis, onde o professor precisa
ser muito mais criativo nas suas propostas, atividades, mediação. Logo, segundo ele a melhor
estratégia é a da auto- motivação. Ou seja, Professor motivado motiva os alunos. Professor
que mostra entusiasmo pelo que fala, pelo conhecimento, contagia os alunos. Professor
desanimado desanima. Professor muito rico de vivências, leituras, práticas, recursos encontra
estratégias diferentes de orientar alunos e turmas diferentes.
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Conclusão
(...) 8a escola, a matemática é uma ciência, ensinada em um momento definido por
alguém de maior competência. 8a vida, a matemática é parte da atividade de um sujeito que
compra, que vende que mede e encomenda peças de madeira, que constrói paredes, que faz o
jogo na esquina. Que diferenças fazem essas circunstâncias para a atividade dos sujeitos?
(Carraher 2001 p.19)
Para conclusão deste estudo considerou-se pertinente fazer uma ponte com o
livro “Na vida dez, na escola zero”, cujos autores (CARRHER, Terezinha, David e
SCHLIEMANN, Analúcia, 2001) trazem indagações muito importantes sobre a questão
de valorizar os conhecimentos de vida dos sujeitos que os aplicam em sua prática
cotidiana, convidando o leitor a refletir de forma crítica, reconhecendo que a
aprendizagem não é produto exclusivo da escola e segundo a abordagem mencionada,
as crianças fazem contas para acertar, ganhar boas notas agradar o professor, para passar
de ano e na vida cotidiana, fazem as mesmas contas, para pagar, dar troco, convencer o
freguês de seu preço razoável. Daí surgem as questões: Estarão usando a mesma
matemática? O desempenho nas diferentes situações será o mesmo? Que papel exerce a
motivação da venda? Que explicação existe para que alguém seja capaz de resolver um
problema em uma situação e não em outra?
Há inúmeras questões que poderiam ser levantadas, pois lidamos com muitos
sistemas convencionais, mas torna-se extremamente importante para o educador,
consequentemente para o psicopedagogo, buscar discutir os contratos psicopedagógicos,
uma vez que as relações interpessoais influenciam até mesmo a utilização de estruturas
lógico-matemáticas, que segundo os autores mencionados, parecem tão imunes às
influencias sociais, por fazerem parte das ciências exatas.
Através do estudo sobre a teoria de Ausubel, a abordagem feita pela revista Pec.
de Curitiba também utilizada como fonte de pesquisa, torna-se evidente que, o próprio
educador, praticante da sua área de conhecimento, é uma ferramenta do saber do aluno.
Se for apaixonado pelo seu trabalho e capaz de encantar, o aluno poderá talvez perceber
31
que existe algo pelo qual alguém de fato se interessou e que talvez possa valer à pena
seguir o mesmo caminho. O estudo concorda com as fontes em questão, quando afirma
que se essa não for à realidade vivida pelo professor, ou seja, se ele apenas transmitir
aquilo que leu nos livros, por mais que fale de determinado assunto, todo corpo estará
dizendo o contrário e o aluno provavelmente terá aquele conhecimento como algo para
apenas ser cumprido, porque a mente humana é capaz de fazer leituras bastante
profundas dos detalhes aparentemente insignificantes, mas que certamente têm um
grande poder de semear profundos significados.
Verificou-se neste trabalho, através da relação dialógica feita através da obra dos
autores aqui mencionados, que a hipótese levantada sobre a contribuição da
aprendizagem significativa para o ensino dos conteúdos escolares, sobretudo da
resignificação dos saberes para a vida se confirma.
32
Bibliografia:
• AUSUBEL, D. P. A aprendizagem significativa: a teoria de David Ausubel. São
Paulo: Moraes, 1982.
• 1-BARON, Márcia Pirih, 2-DOROCINSKI, Solange Inês, 4 FINCK ,Nelcy
Teresinha Lubi 5 KRIEGL, Maria de Lurdes 6PELIZZARI, Adriana – Teoria
da aprendizagem significativa ,segundo Ausubel Rev. PEC, Curitiba, v.2,
n.1, p.37-42, jul. 2001-jul. 2002;
• CARRHER, Terezinha, David e SCHLIEMANN, Analúcia. -a vida dez, na
escola zero, 2001
• CARVALHO, de Laura. Aprendizagem significativa no Ensino
Fundamental- uma experiência no ensino de Ciências Revista Científica da
Universidade do Oeste Paulista – Unoeste (2002)
• GARDNER, Howard. Cinco mentes para o futuro. Entrevista disponível no site(novaescola@atleitor.com.br), de Curitiba, PR
•
• MARTINS, Vicente: Decálogo do bom professor- Construir notícias nº 30-
Ano5- setembro/outubro 2006
• MORAN, José Manoel Aprendizagem significativa. Texto disponível em
http://www.eca.usp.br/prof/moran/significativa.htm, no blog Educação
humanista inovadora e em
http://www.escola2000.org.br/comunique/entrevistas/ver_ent.aspx?id=47
• MOREIRA, Marco Antonio. Aprendizagem significativa. Brasília: Ed. da
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• NOVAK, Joseph David. Apreender, criar e utilizar o conhecimento: Mapas
conceptuais como ferramentas de facilitação nas escolas e empresas. Lisboa:
Plátano edições técnicas, 1998.
• PIAGET, Jean. O diálogo com a criança e o desenvolvimento do raciocínio.
São Paulo: Scipione, 1997.
33
• RAPOSO, Renato, FERREIRA Francine – Psicologia Cognitiva. Tese de
Mestrado aplicado à educação, disponível no site:
HTTP://planetaeducação.com.br/professoressuporteaoprof/pedagogia/teorias
00asp.
• VYGOTSKY, Lev Semmenovich. Pensamento e linguagem. São Paulo:
Martins Fontes, 1989.
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