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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS DO MAR
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS MARINHAS TROPICAIS
FRANCISCO CARLOS ALBERTO FONTELES HOLANDA
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO, POR MÉTODOS DE ARRASTO DE
FUNDO, NA CAPTURA DE RECURSOS DEMERSAIS DE PROFUNDIDADE DA
ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA (ZEE) NORTE DO BRASIL
FORTALEZA
2012
2
FRANCISCO CARLOS ALBERTO FONTELES HOLANDA
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO, POR MÉTODOS DE ARRASTO DE
FUNDO, NA CAPTURA DE RECURSOS DEMERSAIS DE PROFUNDIDADE DA
ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA (ZEE) NORTE DO BRASIL
Tese apresentada ao Curso de Doutorado em Ciências Marinhas Tropicais do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências Marinhas Tropicais. Área de concentração: Tecnologia Pesqueira. Orientador: Prof. Dr. Antonio Adauto Fonteles Filho.
FORTALEZA
2012
3
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Federal do Ceará
Biblioteca Rui Simões de Menezes
N613b Holanda, Francisco Carlos Alberto Fonteles Desenvolvimento tecnológico, por méritos de arrasto de fundo, na captura de recursos demersais
de profundidade da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) Norte do Brasil / Francisco Carlos Alberto
Fonteles Holanda. – 2012.
134 f. : il. color., enc. ; 30 cm.
Tese (doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Instituto de Ciências do Mar, Programa de
Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais, Fortaleza, 2012.
Área de Concentração: Engenharia de Pesca e Zootecnia
Orientação: Drº Antonio Adauto Fonteles Filho.
1. Pesca. 2. Decápode (Crustáceo). 3. Camarão. 4. Pesca de arrasto – Região Norte. I. Título.
CDD 577.627
4
FRANCISCO CARLOS ALBERTO FONTELES HOLANDA
DESENVOLVIMENTO TECNOLÓGICO NA CAPTURA DE RECURSOS
DEMERSAIS DE PROFUNDIDADE DA ZONA ECONÔMICA EXCLUSIVA (ZEE)
NORTE DO BRASIL
Tese apresentada ao Doutorado em Ciências Marinhas Tropicais do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Ciências Marinhas Tropicais. Área de concentração: Tecnologia Pesqueira.
Aprovada em: _____/_____/_____
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________ Prof. Dr. Antonio Adauto Fonteles Filho (Orientador)
Universidade Federal do Ceará (UFC)
_____________________________________________ Prof. Dr. Raimundo Nonato de Lima Conceição
Universidade Federal do Ceará (UFC)
____________________________________________ Prof. Dr. Jorge Iván Sánchez Botero
Universidade Federal do Ceará (UFC)
____________________________________________ Profa. Dra. Flávia Lucena Frédou
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
____________________________________________ Prof. Dr. Rodrigo de Salles
Instituto Federal de Educação Tecnológica do Ceará (IFETCE)
5
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, José Moacir Cavalcante
Holanda (In Memoriam) e Vera Maria Fonteles
Holanda, por todo o sacrifício, amor, educação e
incentivo a mim dedicados.
A minha irmã, Cibele Fonteles Holanda, por
todo o amor e amizade durante todas as horas de
minha vida.
A minha grande companheira Zulmira Costa
por seu amor puro e verdadeiro.
Aos meus verdadeiros e sinceros amigos.
DEDICO
6
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida, paz e tranqüilidade em todos os momentos de minha vida.
Ao Professor Antonio Adauto Fonteles Filho, que não mediu esforços para mostrar-
me como são valiosos o conhecimento e a pesquisa. Meu eterno muito obrigado.
Ao meu irmão/amigo Mutsuo Asano Filho, pela amizade e incentivo demonstrados
durante toda a minha vida acadêmica e profissional. Essa Tese também é sua meu
irmão !!!
Ao Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos Pesqueiros do Litoral Norte –
CEPNOR, pela fonte importante de informações científicas que possibilitaram a
elaboração desta Tese.
As amigas Oscarina Viana de Sousa, Francisca Gleire Rodrigues de Menezes,
Fátima Cristiane Teles de Carvalho e Edirsana Maria Ribeiro de Carvalho que
tiveram um papel muito importante durante esses anos de estudo e aprendizado.
Aos Professores Doutores Jorge Iván Sánchez Botero, Raimundo Nonato de Lima
Conceição, Flávia Lucena Frédou e Rodrigo de Salles, pelas críticas oportunas e
enriquecimento apresentado quando do julgamento desta Tese.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pela
concessão de bolsa de estudo durante o período de desenvolvimento das atividades
de pesquisa.
Aos pescadores das embarcações “Mar Maria” e “Noé”, pela grande transmissão de
conhecimentos práticos durante os dias embarcados.
Enfim, a todos que me auxiliaram de forma direta ou indireta para conseguir passar
por mais uma fase importante da minha vida.
7
RESUMO
A costa norte do Brasil apresenta-se como uma área rica em recursos pesqueiros
demersais, demonstrando uma grande diversidade distribuída na área entre o Cabo
Orange (AP), e a foz do Rio Parnaíba (MA/PI). A família Aristeidae é composta por
vinte e seis espécies em nove gêneros, dentre os quais pelo menos cinco espécies
de três gêneros (Aristeus, Aristaeopsis e Aristaeomorpha) apresentam importância
econômica e sustentam atualmente pescarias comerciais direcionadas. As pescarias
foram realizadas na plataforma e talude continental da região Norte do Brasil, com
arrastos realizados em profundidades entre 236 e 1.246 metros, na faixa latitudinal
01º 23’N - 05º 09’N. Na prospecção dos camarões de profundidade, principal fonte
de dados para esta Tese, as informações se referem a duas variáveis principais,
profundidade dos arrastos e índice de abundância, medida por uma estimativa da
captura por unidade de esforço, em “hora de arrasto”, resultando num índice de
rendimento em “kg de camarão/hora”. Estas foram geradas por diversos tipos de
rede de arrasto (gêmeas, polivalente e única), às quais foram acopladas dois tipos
de porta (oval e retangular). A estimação da biomassa virgem (B) foi determinada
pelo Método da Área Varrida, especialmente destinado a espécies demersais e
bentônicas. Durante as expedições prospectivas foram capturadas 71 diferentes
espécies, que constituíram uma biomassa de 106.974 kg, com as seguintes
participações por grupo de pescado: peixes ósseos (67,1%), peixes cartilaginosos
(4,3%), crustáceos (25,2%) e moluscos (3,9%). As redes, independente do tipo,
operaram em faixas de profundidade bastante semelhantes para as três espécies,
com valores médios em torno de 740 m. Não se verifica tendência de variação do
rendimento de camarões em função da profundidade, conforme os resultados do
teste de e correlação não-paramétrico de Spearman, mas para o conjunto das redes,
ocorre uma aglomeração dos valores do rendimento numa faixa bastante estreita
(700-800 m). A comparação entre as nove combinações “rede/porta” através do
Teste de Kruskal-Wallis, gerou um valor de H = 182,07 (P <0,01). O teste
discriminatório de Dunn confirma a elevada significância de H e mostra que, dentre
36 comparações, apenas três foram não-significante POLOV/UN2RET (Q = 0,224),
UNIOV/UN3OV (Q = 1,803) e UNIOV/UN3RET (Q = 2,591). Do ponto de vista
tecnológico, deve-se usar os conjuntos rede/porta na seguinte ordem das três
espécies de camarão - Carabineiro: GEM, UN13-0V, UNI-OV, UNI3-RET, UNI-RET,
8
UNI2-OV, POL-OV, UNI2-RET, POL-RET; Alistado: GEM, UNI-OV, UNI2-OV, POL-
RET, UNI3-RET, UNI-RET, UNI3-OV, POL-OV, UNI2-RET; Chatim: UNI3-RET,
UNI3-OV, UNI2-0V, UNI-OV, GEM, UNI-RET, UNI2-RET, POL-OV, POL-RET. Os
valores da biomassa, sustentável, estimados para um coeficiente de eficiência da
rede, p = 0,7 foram os seguintes: Camarão-carabineiro = 674 t; Camarão-alistado =
363 t ; Camarão-chatim = 157 t; todas as espécies = 1.194 t. Mesmo sendo
promissora a exploração comercial de espécies como: camarão-carabineiro,
camarão-alistado, camurim-olho-verde, camarão-chatim e lula-gigante, os
investimentos para estes novos recursos, sejam privados ou governamentais,
deverão ser minuciosamente avaliados e planejados, e seus projetos tecnicamente
embasados.
Palavras-chave: Prospecção pesqueira. Família Aristeidae. Camarões-de-
profundidade. Rede de arrasto. Biomassa virgem. Produção sustentável. Estatística
não-paramétrica. Região Norte.
9
A B S T R A C T
The Brazilian northern coast presents itself as a demersal resource-rich area,
underscored by high abundance and species diversity in the area between Orange
Cape (Amapá State) and the Parnaíba river’s mouth on the Maranhão/Piauí states
border. The family Aristeidae is comprised of twenty-six species in nine genera,
among which at least five species of three genera (Aristeus, Aristaeopsis and
Aristaeomorpha) hold economic importance and presently sustain targeted
commercial fisheries. The fishing trips were carried out on the continental upper
slope and shelf off northern Brazil, by trawling hauls in the 236 – 1,246 meters depth
range, between latitudinal positions 01º 23’N - 05º 09’N. As concerns the surveying of
deep-water shrimps, the primary source of data for this Thesis, information was
obtained for two main variables, namely trawling depth and yield index as measured
by the catch per unit effort, resulting in an abundance index as kg per trawling hour”.
Such data were produced by a number of otter trawlnets, namely twin nets (GEM),
all-purpose (POL) and unique (UNI), to which oval (OV)- and rectangular (RET)-
shaped otter doors were attached. The virgin biomass (B) was estimated by the
Swept Area Method, specially meant for demersal/benthonic species. Throughout the
prospective voyages 71 different species were caught and made up a 106,974 kg
biomass, with the following shares per species group: bony fish (67.1%),
cartilaginous fish (4.3%), crustaceans (25.2%) and mollusks (3.9%). The trawlnets,.
Irrespective of the type, operated in very similar depth ranges over the three species,
averaging about 740 m. No variation trend was identified between yield index and
depth, as shown by the Spearman’s non-parametric correlation test, but for the whole
set of nets a pattern emerges as to the clustering of values in the 700 – 800 meter. A
comparison among nine “net/otter door” groups through the Kruskal-Wallis test,
yielded a value of H = 182.07 (P <0.01). The discriminatory Dunn’s test bears out this
high significance of H and shows that, among 36 comparisons, only three proved to
be non-significant, namely POLOV-UN2RET (Q = 0.224), UNIOV-UN3OV (Q =
1.803) e UNIOV-UN3RET (Q = 2.591). From a technological viewpoint, one must use
those trawlnet/otter door sets in the following decreasing order, by species -
“Carabineiro”: GEM, UN13-0V, UNI-OV, UNI3-RET, UNI-RET, UNI2-OV, POL-OV,
UNI2-RET, POL-RET; “Alistado”: GEM, UNI-OV, UNI2-OV, POL-RET, UNI3-RET,
UNI-RET, UNI3-OV, POL-OV, UNI2-RET; “Chatim”: UNI3-RET, UNI3-OV, UNI2-0V,
UNI-OV, GEM, UNI-RET, UNI2-RET, POL-OV, POL-RET. The biomass sustainable
10
values, estimated for a coefficient of trawling efficiency, p = 0.7, were: “Carabineiro” =
674 t; “Alistado” = 363 t ; “Chatim” = 157 t; Overall = 1.194 t. Even whether the
exploitation of deep-water shrimp, snook and giant squid is found to be a promising
commercial entreprise, public and private investments over those new fishing
resources must be closely evaluated and planed for, and their projects soundly
based on reliable data.
Key words: Fishing survey. Famíly Aristeidae. Deep-water shrimps. Otter trawlnet. Virgin biomass. Sustainable yield. Non-parametric statistics. Northern Brazil.
11
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Concentração de Clorofila a (μg/L) na superfície do mar da
região Norte...................................................................................
29
Figura 2 Mapa com a demarcação da área arrastável e pesquisada na
costa norte do Brasil, para os recursos de profundidade..............
33
Figura 3 Vista externa do B.p. “Mar Maria”, embarcação utilizada nas
pescarias exploratórias da pesquisa, nas áreas da plataforma e
talude continentais.........................................................................
34
Figura 4 Vista interna parcial do comando e dos equipamentos
eletrônicos disponíveis no B.p. “Mar Maria”, utilizado nas
pescarias da pesquisa...................................................................
35
Figura 5 Vista frontal dos tambores do guincho elétrico do B.p. “Mar
Maria” que foi utilizado nas pescarias realizadas durante a
pesquisa........................................................................................
36
Figura 6 Salão de processamento do B.p. “Mar Maria”, utilizado nas
pescarias exploratórias da costa norte..........................................
37
Figura 7 Embarcação (B.p. “Noé”) utilizada nas pescarias exploratórias
nas áreas da plataforma e talude continentais..............................
38
Figura 8 Vista frontal dos tambores do guincho hidráulico do B.p. “Noé”
que foi utilizado nas pescarias exploratórias.................................
39
Figura 9 Planta da rede polivalente, utilizada para a realização das
pescarias exploratórias, na costa norte do
Brasil..............................................................................................
41
Figura 10 Detalhe dos discos de borracha na tralha inferior da rede de
arrasto utilizada na pesquisa para a captura de recursos
demersais de grande profundidade...............................................
42
Figura 11 Rede de arrasto utilizada nas prospecções pesqueiras durante
sua montagem no convés do B.p. “Mar Maria”, na costa norte do
Brasil..............................................................................................
43
Figura 12 Planta da rede Única utilizada para a realização das pescarias
exploratórias na costa norte do Brasil...........................................
44
12
Figura 13 Rede de arrasto Única utilizada nas prospecções da pesquisa,
na costa norte do Brasil, durante as atividades de
recolhimento..................................................................................
45
Figura 14 Planta da rede gêmea, utilizada para a realização das pescarias
exploratórias na costa norte do Brasil...........................................
47
Figura 15 Redes gêmeas, portas e “cavalo” no convés do B.p. “Noé” antes
do lançamento para as pescarias na costa norte do
Brasil..............................................................................................
47
Figura 16 Estrutura (cavalo) utilizada para proporcionar a estabilidade e
assentamento adequado das redes gêmeas no fundo.................
48
Figura 17 Planta da rede Única 2 utilizada para a realização das pescarias
exploratórias na costa norte do Brasil...........................................
49
Figura 18 Planta da rede Única 3 utilizada para a realização das pescarias
na costa norte do Brasil.................................................................
50
Figura 19 Portas ovais utilizadas em pescarias exploratórias na costa
norte do Brasil...............................................................................
51
Figura 20 Portas retangulares de aço utilizadas em pescarias
exploratórias na costa norte do Brasil...........................................
52
Figura 21 Portas retangulares de madeira utilizadas em pescarias
exploratórias na costa norte do Brasil...........................................
52
Figura 22 Sistema de arrasto com a embarcação utilizando a rede de
popa com portas para as pescarias exploratórias na costa norte
do Brasil.........................................................................................
53
Figura 23 Sistema de arrasto com a embarcação utilizando as redes
gêmeas para as pescarias exploratórias na costa norte do
Brasil..............................................................................................
54
Figura 24 Ecossonda colorida apresentando uma área com um fundo de
936 m, de lama e liso, que era analisado através do registro
numérico, coloração dos ecos e regularidade do substrato
apresentado na tela.......................................................................
55
Figura 25 Início dos lançamentos através da liberação do saco da rede
para a água nas pescarias na costa norte do Brasil utilizando o
sistema de arrasto de popa com rede única.................................
56
13
Figura 26 Rede de arrasto durante a operação de lançamento
apresentando os cabos da manga de boreste trançados.............
57
Figura 27 Início do embarque da rede através da subida dos calões
durante a operação de recolhimento.............................................
58
Figura 28 Grua utilizada para o auxílio no lançamento e no recolhimentos
da redes de arrasto durante os cruzeiros de pesquisa.................
58
Figura 29 Tripulação realizando os preparativos para o primeiro
lançamento das redes gêmeas.....................................................
59
Figura 30 Chegada das portas e “cavalo” à popa da embarcação e
preparativos para o embarque do saco por meio do
recolhimento do cabo do corta- saco............................................
60
Figura 31 Vista superior do compartimento de recepção do pescado após
a abertura do saco e despejo da captura......................................
62
Figura 32 Tripulação iniciando os preparativos no compartimento de
recepção para a seleção do pescado, com os cestos plásticos
próximos à canaleta (inferior) utilizada para o descarte de
resíduos e fauna acompanhante...................................................
63
Figura 33 Camarões alistados, Aristeus antillensis, após a lavagem e a
espera para imersão nos tanques com solução de
metabissulfito.................................................................................
63
Figura 34 Tripulação na mesa realizando a classificação dos camarões
carabineiros Aristaeopsis edwardsiana antes da
embalagem....................................................................................
64
Figura 35 Caixas de camarões carabineiros Aristaeopsis edwardsiana e
camarões alistados Aristeus antillensis após a classificação e
embalagem preparadas para congelamento nos
túneis.............................................................................................
64
Figura 36 Exemplares de camarões não aproveitados para a
comercialização, sem preço de mercado ou danificados pelos
arrastos..........................................................................................
65
Figura 37 Exemplares de camarões carabineiros Aristaeopsis
edwardsiana sem preço de mercado devido à rejeição visual,
danos causados pelos arrastos.....................................................
65
14
Figura 38 Apresentação dos filés dos camarões após os processos de
tratamento, retirada a cabeça e a casca.......................................
66
Figura 39 Registros fotográficos de um dos exemplares capturados
durante as pescarias executadas na costa norte do Brasil em
arrasto do B.p. “Mar Maria”...........................................................
77
Figura 40 Registro fotográfico de dois exemplares capturados durante as
pescarias executadas na costa norte do Brasil em um dos
arrastos do B.p. “Noé”...................................................................
77
Figura 41 Mapa com os locais das ocorrências do tubarão duende na
costa norte do Brasil capturado pelas embarcações durante as
pescarias exploratórias..................................................................
77
Figura 42 Exemplar do peixe-sapo-pintado capturado em arrastos
realizados na costa norte do Brasil durante pescarias
exploratórias..................................................................................
78
Figura 43 Mapa com os locais das ocorrências do peixe-sapo-pintado na
costa norte do Brasil capturado pelo B.p. “Mar Maria” durante as
pescarias exploratórias..................................................................
78
Figura 44 Exemplar do camarão carabineiro Aristaeopsis edwardsiana
obtido durante as pescarias na costa norte do
Brasil..............................................................................................
79
Figura 45 Exemplar do camarão alistado Aristeus antillensis obtido
durante as pescarias na costa norte do
Brasil..............................................................................................
80
Figura 46 Exemplar do caranguejo real obtido durante as pescarias na
costa norte do Brasil......................................................................
80
Figura 47 Representação gráfica dos percentuais dos grupos de pescado
obtidos durante as prospecções pesqueiras na costa norte do
Brasil..............................................................................................
81
Figura 48 Mapa com os locais das ocorrências dos camarões na costa
norte do Brasil capturados pelo B.p Mar Maria durante as
pescarias exploratórias..................................................................
82
15
Figura 49 Representação gráfica com as diferentes CPUEs obtidas
durante os experimentos realizados na costa norte, para análise
do poder de captura das redes utilizadas......................................
83
Figura 50 Exemplar do camarão chatim Gnothophausia ingens capturado
nas pescarias realizadas na costa norte do Brasil........................
84
Figura 51 Lula gigante capturada como fauna acompanhante durante as
pescarias exploratórias na costa norte do Brasil...........................
85
Figura 52 Lula gigante retirada do conteúdo estomacal de um meka
capturado durante as pescarias exploratórias do projeto
PROTUNA na costa norte do Brasil..............................................
85
Figura 53 Filés dos camarões arrumados na bandeja de alumínio (1ª
camada) preparados para entrada nos túneis para
congelamento................................................................................
87
Figura 54 Apresentação da caixa de filé de camarão após a utilização do
sistema de congelamento em bloco..............................................
87
Figura 55 Apresentação da caixa de filé de camarão após a utilização do
sistema de congelamento em bandeja..........................................
87
Figura 56 Distribuição de frequências relativa (%) e acumulada do
rendimento dos camarões carabineiro, Aristaeopsis
edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim,
Gnothophausia ingens, em relação à profundidade......................
90
Figura 57 Rendimento (kg/arrasto) dos camarões carabineiro, Aristaeopsis
edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim,
Gnothophausia ingens, em relação à profundidade, sendo
utilizados todos os tipos de redes.................................................
90
Figura 58 Médias móveis do rendimento (kg/arrasto) dos camarões
carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus
antillensis e chatim, Gnothophausia ingens, em relação à
profundidade..................................................................................
91
16
Figura 59 Rendimento (kg/hora) em relação à profundidade, sendo
utilizadas as redes gêmeas para as três espécies de camarão
(a) carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, (b) alistado, Aristeus
antillensis e (c) chatim, Gnothophausia
ingens............................................................................................
92
Figura 60 Rendimento (kg/hora) em relação à profundidade, sendo
utilizada a rede polivalente para as três espécies de camarão
(a) carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, (b) alistado, Aristeus
antillensis e (c) chatim, Gnothophausia ingens.............................
93
Figura 61 Rendimento (kg/hora) em relação à profundidade, sendo
utilizada a rede única para as três espécies de camarão (a)
carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, (b) alistado, Aristeus
antillensis e (c) chatim, Gnothophausia ingens.............................
94
Figura 62 Frequência relativa (%) em relação ao rendimento (kg/hora)
para os três conjuntos de redes utilizadas (Gêmeas, Polivalente
e Única), para as três espécies de camarão, carabineiro,
Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim,
Gnothophausia ingens...................................................................
98
Figura 63 Frequência acumulada (%), com as respectivas medianas, em
relação ao rendimento (kg/hora) para os três conjuntos de redes
utilizadas (Gêmeas, Polivalente e Única), para as três espécies
de camarão, carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado,
Aristeus antillensis e chatim, Gnothophausia
ingens............................................................................................
98
Figura 64 Variação relativa entre as médias da CPUE e da profundidade,
para o conjunto das espécies de camarão capturadas por
diversas combinações rede/porta..................................................
100
Figura 65 Equação de regressão entre as CPUEs do carabineiro,
Aristaeopsis edwardsiana, e do alistado, Aristeus antillensis, na
região Norte do Brasil....................................................................
105
17
Figura 66 Equação de regressão entre as CPUEs do camarão carabineiro
Aristaeopsis edwardsiana, e do camarão chatim Gnothophausia
ingens, na região Norte do Brasil..................................................
106
Figura 67 Equação de regressão entre as CPUEs do camarão alistado,
Aristeus antillensis e do camarão chatim Gnothophausia ingens,
na região Norte do Brasil...............................................................
107
Figura 68 Mapa ilustrativo com a representação da área das 200 milhas
na ZEE norte
111
18
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Informações gerais sobre as campanhas de prospecção de
camarões de profundidade na região Norte...............................
33
Tabela 2 Resultados dos experimentos realizados com diferentes tipos
de rede na costa norte do Brasil na área de distribuição do
camarão carabineiro Aristaeopsis edwardsiana e camarão
alistado Aristeus antillensis em pescarias
exploratórias...............................................................................
82
Tabela 3 Resultados dos experimentos realizados em diferentes
condições de arrasto na costa norte do Brasil na área de
distribuição do camarão carabineiro Aristaeopsis edwardsiana
e camarão alistado Aristeus antillensis em pescarias
exploratórias...............................................................................
84
Tabela 4 Dados do camarão chatim Gnothophausia ingens e lula-
gigante capturados durante as pescarias exploratórias na
costa norte do Brasil...................................................................
85
Tabela 5 Distribuição de freqüências absoluta, relativa (%) e acumulada
e CPUE’s médias em relação à profundidade de captura dos
camarões carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado,
Aristeus antillensis e chatim, Gnothophausia ingens, em
relação à profundidade...............................................................
89
Tabela 6 Coeficiente de correlação de Spearman (rs), entre CPUE e
profundidade, por espécies (carabineiro, Aristaeopsis
edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim,
Gnothophausia ingens), para os três conjuntos de redes
(Gêrmeas, Polivalente e Única)..................................................
95
Tabela 7 Frequências absoluta, relativa (%), absoluta acumulada e
acumulada, e mediana por intervalos de classe, para os três
conjuntos de redes, em relação às três espécies, carabineiro,
Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e
chatim, Gnothophausia ingens...................................................
97
19
Tabela 8 Profundidade e CPUE médias das três espécies de camarão
carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus
antillensis e chatim, Gnothophausia ingens, por tipo de
conjunto de rede (Gêmeas, Polivalente e
Única)..........................................................................................
99
Tabela 9 Testes de rendimento de Rede/Porta, Porta e Rede, para as
três espécies de camarão carabineiro, Aristaeopsis
edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim,
Gnothophausia ingens................................................................
102
Tabela 10 Valores de D (teste de Dunn) para comparação do rendimento
entre pares de conjuntos “rede/porta” utilizados na prospecção
de camarões de profundidade na região Norte do
Brasil...........................................................................................
103
Tabela 11 Estimativa da biomassa virgem do camarão carabineiro,
Aristaeopsis edwardsiana, camarão alistado, Aristeus
antillensis e camarão chatim, Gnothophausia ingens, para a
faixa de p = 0,5 – 1,0..................................................................
109
20
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Lista de espécies capturadas durante as pescarias da pesquisa
ao longo da costa norte do Brasil....................................................
74
Quadro 2 Dados de registro da captura do tubarão duende na costa norte
do Brasil por meio de pescarias exploratórias.................................
76
Quadro 3 Dados de registro da captura do peixe-sapo-pintado na costa
norte do Brasil durante as pescarias exploratórias..........................
79
Quadro 4 Dados da captura do camarão carabineiro Aristaeopsis
edwardsiana e camarão alistado Aristeus antillensis na costa
norte do Brasil por meio de pescarias
exploratórias.....................................................................................
82
21
SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO........................................................................................... 21
2 – REVISÃO DA LITERATURA...................................................................... 26
2.1 – Área de Estudo........................................................................................ 26
2.2 – Prospecção de Recursos Demersais e Bentônicos................................ 30
3 – METODOLOGIA DAS ATIVIDADES DE PROSPECÇÃO.......................... 32
3.1 – Área de Estudo....................................................................................... 32
3.2 - Características dos Meios Flutuantes...................................................... 34
3.3 - Redes de Arrasto..................................................................................... 39
3.4 - Portas de Arrasto..................................................................................... 50
3.5 - Sistemas de Pescaria............................................................................... 53
3.6 - Coleta de Dados....................................................................................... 60
4 – MÉTODOS DE ANÁLISE ESTATÍSTICA................................................... 67
4.1 – Comparação de atributos e variáveis..................................................... 67
4.2 – Correlação entre atributos e variáveis.................................................... 70
4.3 – Estimação da biomassa virgem............................................................... 71
5 – RESULTADOS........................................................................................... 74
5.1 – Captura.................................................................................................... 74
5.2 - Resultados da Análise Estatística............................................................ 88
6 – DISCUSSÃO.............................................................................................. 111
7 – CONCLUSÕES.......................................................................................... 116
8 – RECOMENDAÇÕES…………………………………………………………... 118
REFERÊNCIAS…….……………………………………………………………….. 120
ANEXOS........................................................................................................... 128
22
1 – INTRODUÇÃO
Segundo a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar
(CNUDM), a Zona Econômica Exclusiva (ZEE) constituiu um conceito de espaço
marítimo definida como uma área que se estende desde o limite exterior do Mar
Territorial, de 12 milhas de largura, até 200 milhas náuticas da costa (MMA/SQA,
2006).
Com esta nova definição política do espaço marítimo e a necessidade de
aumento da produção pesqueira, busca de alimento, melhor aproveitamento e
gestão dos recursos pesqueiros marinhos, o Brasil assumiu na CNUDM de 1988,
aberta para assinatura em 10 de dezembro de 1982 em Montego Bay (Jamaica),
uma série de direitos e deveres frente às comunidades nacional e internacional.
Dentre tais compromissos, destacam-se aqueles relacionados à avaliação,
aproveitamento, conservação e gestão dos recursos vivos na ZEE, dentro da ótica
de uso sustentável do mar (MMA/SQA, 2006).
Neste particular, foram estabelecidas na Convenção (Art. 61 e 62) as
seguintes regras:
a) o Estado costeiro fixará as capturas permissíveis dos recursos vivos na
ZEE;
b) o Estado costeiro, tendo em conta os melhores dados científicos de
que dispõe, assegurará, por meio de medidas apropriadas de gestão e
conservação, que a preservação dos recursos vivos na ZEE não seja
ameaçada por um excesso de captura;
c) tais medidas devem ter, também, a finalidade de restabelecer os
estoques de espécies ameaçadas por sobreexplotação e promover a
otimização do esforço de captura. O objetivo é determinar o máximo de
rendimento sustentável dos recursos vivos marinhos na ZEE, a partir de
fatores ecológicos e econômicos, incluindo as comunidades costeiras que
vivem da pesca, assim como os segmentos empresariais responsáveis
pela exportação de produtos de elevado valor comercial.
O Programa "Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos na
Zona Econômica Exclusiva" - Programa REVIZEE, aprovado em 1994 no âmbito da
Comissão Interministerial para os Recursos do Mar (CIRM), teve como objetivo
central proceder ao levantamento dos potenciais sustentáveis de captura dos
23
recursos vivos na ZEE. O resultado mais importante do Programa consiste na
ampliação do conhecimento da ZEE, no que se refere à distribuição de seus
recursos vivos, potenciais de capturas sustentáveis e condições ambientais além da
faixa costeira (CIRM, 1994).
Suas atividades tiveram início em 1996 e incluíram amostragens
biológicas das principais espécies capturadas, além da prospecção de estoques
potencialmente explotáveis, utilizando-se várias embarcações e artes de pesca,
abrangendo a plataforma continental e o talude. Os Projetos PROTUNA
(Desenvolvimento Tecnológicos para a captura de Grandes Pelágicos Oceânicos na
Costa Norte do Brasil, 2000 a 2002) e PRODEMERSAL (Desenvolvimento
Tecnológico para a Captura de Recursos Demersais com Arrasto na região Norte do
Brasil, 2002 a 2004), atuantes na costa norte do Brasil, contribuíram também para
aumentar o conhecimento acerca dos grandes pelágicos e dos demersais de
profundidade, respectivamente.
A costa norte do Brasil apresenta-se como uma área rica em recursos
pesqueiros demersais, demonstrando uma grande diversidade distribuída na
plataforma continental desde o Cabo Orange, no Estado do Amapá, até a foz do Rio
Parnaíba, divisa dos estados do Maranhão e Piauí (YESAKI, 1974).
Entre os principais recursos capturados podem ser citados: camarão-rosa,
Farfantepenaeus subtilis (Pérez Farfante, 1967); piramutaba Brachyplatystoma
vaillantii (Valenciennes, 1840); pargo, Lutjanus purpureus Poey, 1876; lagostas do
gênero Panulirus White, 1847; pescada-amarela, Cynoscion acoupa (Lacepède,
1801); e diversas espécies de tubarões, cuja área de distribuição não ultrapassa as
zonas com profundidade de 100 m. Apesar dessa restrição espacial, a região Norte
é detentora de uma perspectiva de captura superior ao potencial atualmente
apresentado, principalmente pelo fato da inexistência de uma frota operante nas
zonas mais profundas. Já em 1974, Yesaki estimou que a região Norte fosse
detentora de 45% dos recursos demersais disponíveis para a captura com petrechos
de pesca de arrasto na zona entre 0 e 200 m de profundidade, com um estoque
efetivo de 500.000 - 700.000 t (ASANO-FILHO, 1999). Em 1994, para a mesma faixa
de profundidade, o IBAMA estimou que o potencial para peixes demersais fosse de
491.000 a 795.000 t, enquanto a pesca extrativa marinha da região Norte, resultante
das capturas dos estados do Pará e Amapá chegou apenas a 97.273 t em 2003
(MMA/IBAMA, 2003).
24
Apesar do baixo rendimento pesqueiro, quando comparado como o
potencial de produção estimado para esta região, sabe-se que em grande parte isto
se deve à concentração da frota comercial sobre as atividades de captura das
espécies anteriormente citadas, o que resulta na sobrepesca desses recursos e
consequente queda de produção.
A fauna de camarões de águas profundas do litoral brasileiro é
relativamente pouco conhecida, à exceção de alguns registros como, por exemplo,
os relatados por Bate (1888), a partir dos estudos dos crustáceos coletados durante
e Expedição “Challenger”; por Moreira (1901) que cita espécies mencionadas por
Bate (op. cit.); e por Holthuis (1971), que estudou os Glyphocrangonidae do Atlântico
Ocidental. Mais recentemente, D’Incao (1995), relaciona algumas espécies
coletadas em águas profundas do Atlântico Sul Ocidental.
Além destes, existem os trabalhos de Ramos-Porto et al., (1997a; 1997b);
Ramos-Porto et al. (1998a ,1998b,1998c); Silva et al. (1997a; 1997b), que
publicaram, de forma preliminar, informações sobre algumas espécies coletadas na
região Norte do Brasil. Por outro lado, oportunidades de pesquisas sobre esta fauna
são muito raras, pois implicam na realização de expedições oceanográficas em
águas além da plataforma continental, de alto custo e exigências tecnológicas de
coleta, motivo por que têm ocorrido em caráter limitado.
O funcionamento dos métodos de captura usados na pesca comercial é
baseado na manobra de estruturas físicas, as artes de pesca, imersas no meio
marinho, operando sobre os fundos ou na coluna de água (HENRIQUES, 2006).
Estas estruturas são sempre operadas a partir dos barcos através de cabos, em
particular durante as fases de calagem (lançamento) e a alagem (recolhimento),
sendo a correta utilização destes componentes uma das condições necessárias para
a efetuação da pesca.
A importância que os cabos, em geral, desempenham nas operações de
pesca e a necessidade de promover a segurança de trabalho a bordo, exigem que a
sua utilização resulte de uma correta seleção prévia dos parâmetros técnicos que os
caracterizam. No caso particular da pesca de arrasto, o comportamento dos cabos
reais assume elevada importância pela influência que exercem no posicionamento
das portas de arrasto e na profundidade admissível de operação (HENRIQUES,
2006).
25
Segundo o mesmo autor, no arrasto praticado a profundidades reduzidas,
as forças geradas pelos cabos reais são de baixo valor quando comparados com
aqueles gerados pelas redes e portas de arrasto. Neste caso, torna-se possível, até
certo ponto, sobredimensionar tanto o diâmetro dos cabos usados como o
comprimento armazenado nos guinchos, sem implicar alterações operacionais
significativas a bordo. Porém, na operação a grandes profundidades, a exigência de
elevados comprimentos de cabo real tem como consequências não só um aumento
muito significativo das forças hidrodinâmicas, mas também a introdução de
dificuldades no manuseio das redes de arrasto durante sua ação sobre o substrato e
em seu içamento para bordo da embarcação.
Estas dificuldades implicam na operação de arrasto utilizando uma
relação entre profundidade envolvida e comprimento de cabo, com valores
estabelecidos em função dos parâmetros que regulam o seu funcionamento:
velocidade de arrasto, profundidade de operação e forças transmitidas pelas artes.
Todo esse contexto torna menos confiável à prática de arrasto quando baseado,
apenas, no conhecimento empírico, sendo importante o uso de métodos analíticos
no apoio ao funcionamento dos cabos reais (HENRIQUES, 2006).
Com trabalhos de prospecção se objetiva obter informações sobre dois
aspectos básicos: avaliação da abundância dos recursos prospectados e tecnologia
pesqueira de sua captura. O grande problema é realizar a análise estatística dessas
informações, pois o tamanho da amostra varia de modo imprevisível em função dos
diversos atributos envolvidos (distribuição espacial, abundância, migração, época do
ano, ciclo vital) de modo que deve-se procurar uma alternativa ao uso da Estatística
Paramétrica, que se baseia análise de variáveis cuja distribuição deve ser normal e
com variâncias independentes. Esse arcabouço se presta a duas de suas técnicas
básicas, a Análise de Variância e a Correlação/Regressão, criados respectivamente
pelos cientistas ingleses Sir Ronald Fisher e Karl Pearson, que divergiam
fundamentalmente sobre sua pertinência para avaliar a significância das
informações e, portanto, atribuir-lhes caráter de prognóstico. Enquanto Pearson
achava que a ANOVA lidava com um número muito pequeno de informações e com
tamanho constante da amostra, por sua vez Fisher achava que a Correlação não
considerava a influência da variação dos dados sobre as relações de causa e efeito
entre diferentes variáveis. Na realidade ambos tinham razão, tanto que atualmente
trabalha-se muito mais frequentemente com a análise multivariada das informações,
26
através de modelos que acomodem ambas as demandas por variabilidade e rigor
estatístico, dentre os quais se destaca a Análise de Covariância.
Desse modo, as seguintes perguntas devem ser respondidas pela análise
estatística: a ação das redes de arrasto e, portanto, seu rendimento, é influenciada
pela profundidade ? Existe interação rede/profundidade que pode viciar a estimação
da abundância ? O rendimento reflete a verdadeira abundância das espécies ?
Essa Tese tem como objetivo principal identificar qual a combinação mais
eficiente dos conjuntos rede/porta e os tipos de rede e de porta mais eficientes, para
que essas informações sirvam de contribuição para o setor industrial na região norte
do Brasil.
27
2 - REVISÃO DA LITERATURA
2.1 – Área de Estudo
A Zona Econômica Exclusiva da região Norte tem como limites, a oeste, a
foz do rio Oiapoque, na fronteira com a Guiana Francesa, e a leste, a foz do rio
Parnaíba; estende-se por 1.400 km e apresenta área total de cerca de 488.000 km2,
como mostra o mapa diagramático abaixo:
Fonte: MMA/SQA, 2006.
A linha de costa apresenta-se bastante diversa, em geral com uma
topografia baixa, alcançando alturas máximas de 30 m. O litoral do Amapá é
retilíneo, mas os do nordeste do Pará e noroeste do Maranhão são profundamente
recortados, com estuários bastante ativos (EL-ROBRINI et al., 1992). A leste da Baía
do Tubarão-MA, a linha de costa é retilínea e ocupada por importantes campos de
dunas eólicas (EL-ROBRINI, 1992), representados pelos Lençóis Maranhenses. Os
Golfões Marajoara e Maranhense são complexos estuarinos bastante dinâmicos. A
costa adjacente à ZEE Norte é caracterizada, ainda, pela presença de manguezais.
28
Na plataforma continental externa do Maranhão destaca-se o Parque Estadual
Marinho do Parcel Manuel Luís, complexo recifal, com alta diversidade de peixes,
algas e corais (COURA, 1994; FUNDAÇÃO BIO-RIO et al., 2002).
2.1.1 – Morfologia
A Plataforma Continental do Amazonas apresenta sua quebra externa
entre 90 e 100 m de profundidade e se subdivide em: (i) interna – a isóbata de 20 m
marca uma série de reentrâncias, ao largo de quase todos os sistemas estuarinos,
incluindo os rios Amazonas e Pará; (ii) média – com um gradiente de 1:3.000,
representa sua porção mais inclinada, estando marcada por feições erosivas, ao
longo da isóbata de 40 m; o comprimento dessas feições atinge 130 km e largura
máxima de 20 km; (iii) externa – com gradiente de 1:2.000 onde a isóbata de 80 m
se comporta como uma linha sinuosa, marcando importantes indentações
longitudinais e paralelas (NITTROUER et al., 1986).
Em relação a Plataforma Continental do Pará-Maranhão, esta apresenta
declividade praticamente constante, ficando em torno de 1:2.250. Seu gradiente,
porém, aumenta em direção a noroeste: (i) a parte interna limitada pela isóbata de
20 m, possui um relevo suave, em continuidade com o litoral de “falsas rias” da
região. No trecho situado entre a foz dos rios Gurupi e Pará, o relevo das partes
interna e média é irregular (fundos carbonáticos); (ii) na parte média, a isóbata de 40
m, afastada 80 km da atual foz do estuário do rio Gurupi, indica um golfo submerso,
cuja largura é da ordem de 120 km (EL-ROBRINI, 1992).
2.1.2 – Hidrologia
O rio Amazonas tem uma descarga de 100.000 – 280.000 m3/s, a qual
contribui para a fertilização das águas oceânicas (KINEKE & STERNBERG, 1995) e
cuja descarga sólida é avaliada entre 1,1 - 1,3x106 t/ano (MEADE et al., 1985). A
pluma estuarina do Amazonas é transportada a noroeste, ao longo da costa, por
cerca de 20 a 40 km, com uma velocidade na superfície variando de 40 a 80 cm/s.
Na Plataforma Continental do Amazonas, a água doce estende-se até 100-120 km,
caracterizada por salinidade próxima de zero e temperatura entre 27,5° e 29,5°C
(GEYER et al., 1996).
A região norte é altamente influenciada pela Corrente Norte do Brasil, que
transporta as águas da plataforma continental externa e do talude na direção
29
noroeste (RICHARDSON et al., 1994). Sua velocidade varia entre 25 e 200 cm/s. O
limite mais interno da Corrente Norte do Brasil situa-se numa faixa distante de 20 a
40 km da linha da costa, enquanto que as velocidades máximas desenvolvem-se
numa faixa, que dista entre 150 a 200 km da costa. Sua velocidade média
combinada é de cerca de 110 cm/s entre março e abril. A corrente forma dois ou três
vórtices por ano (RICHARDSON et al.,1994) e transporta 3 - 4 milhões de m3/s para
o Atlântico Norte. O diâmetro típico dos vórtices oscila em torno de 400 a 600 km e
sua profundidade atinge até 1.500 m, migrando a uma taxa de 10 a 15 cm/s ao longo
da costa.
O comportamento da maré registra médias das preamares e das
baixamares de sizígia variando entre 563 cm, em Alcântara e 202 cm, no Parcel de
Manuel Luís; e 53 cm e 17cm em Santo Antônio do Oiapoque (FEMAR, 1997). As
correntes de maré atingem 2 m/s, durante as marés de sizígia, e menos de 80 cm/s,
nas marés de quadratura (BEARDSLEY et al., 1995).
2.1.3 – Plâncton
O ambiente pelágico na ZEE da região Norte é, em sua maior parte, do
tipo oligotrófico, e fisicamente estratificado, sem ressurgências costeiras. As únicas
fontes de nutrientes para a zona eufótica são a regeneração bêntica dos setores
rasos costeiros da plataforma e a drenagem continental do rio Amazonas, do Golfão
Maranhense e do rio Parnaíba (BRANDINI et al., 1997). Nesse cenário, a Plataforma
Continental do Amazonas se diferencia por suas características de mistura e
concentração de nutrientes. Os maiores valores de clorofila-a (Figura 1) foram
registrados em frente à ilha do Marajó (2,25 μg/litro), enquanto que teores inferiores
a 0,1 μg/litro caracterizam as regiões sob influência oceânica em frente ao Estado do
Amapá. Embora haja uma nítida elevação da biomassa primária e da eficiência
fotossintética (de 0,3 para 13,0 mg Carbono/mg Clorofila-a/hora) em frente à região
de descarga dos rios Amazonas e Pará, em função da elevada carga em silicatos,
esses valores não são tão altos quanto o esperado, provavelmente em razão dos
reduzidos teores em nitrato e fosfato das águas continentais (RYTHER et al., 1967).
Em todos os casos, a influência continental está limitada à porção interna da
plataforma.
30
Além desses eventos pode ocorrer penetração superficial, ao longo da
Plataforma Continental Sudeste, de águas frias provenientes do sul, relacionada
com os eventos El Niño/Oscilação Sul (ENSO) (CAMPOS et al.,1999).
Figura 1 - Concentração de Clorofila a (μg/L) na superfície do mar da região Norte. Fonte: MMA/SQA, 2006.
2.1.4 – Bentos
Na região Norte, constatou-se distribuição heterogênea do sedimento,
com predomínio de material argiloso na plataforma interna e arenoso na plataforma
externa. Os principais grupos bentônicos foram moluscos gastrópodes e bivalves
(Gastropoda, Bivalvia), escafópodes (Scaphopoda), briozoários (Bryozoa),
crustáceos (Crustacea), ofiuróides (Ophiuroidea), poliquetas, cnidários (Scyphozoa)
e crinóides (Crinoidea). Entre os poliquetas, as famílias mais representativas foram
Syllidae, Amphinomidae e Eunicidae. Entre os moluscos houve dominância dos
gastrópodes e secundariamente, dos bivalves (CORREIA & CASTRO, 2005).
A macrofauna regional caracteriza-se pelo pequeno tamanho, elevada
mobilidade e baixa diversidade, com uma nítida predominância de formas carnívoras
ou detritívoras (LANA et al.,1996). Formas epifaunais (animais que vivem na
31
superfície do substrato) só se revelaram importantes em fundos mais estabilizados,
com lamas misturadas com areia; tais padrões foram atribuídos à perturbação física
dos fundos da plataforma interna (ALLER & ALLER, 1986; KEMPF, 1970).
Cruzeiros de prospecção pesqueira com arrasto de fundo, realizados pelo
REVIZEE, possibilitaram 40 novos registros de crustáceos para a região, sendo seis
deles novas ocorrências para o Brasil (SILVA el at. 2002).
2.2 – Prospecção de Recursos Demersais e Bentônicos
A família Aristeidae (Ordem Decapoda, Subordem Dendrobranchiata,
Superfamília Penaeoidea) possui vinte e seis espécies em nove gêneros, dentre os
quais pelo menos cinco espécies de três gêneros (Aristeus, Aristaeopsis e
Aristaeomorpha) demonstram relevância econômica e apresentam atualmente
pescarias comerciais (DALLAGNOLO, 2008). “Gambero rosso” Aristaeomorpha
foliacea, e Aristeus antennatus, conhecido como “gamba rosada”, sustentam
historicamente pescarias de profundidade, sendo uma atividade de grande
importância comercial e socioeconômica no Mar Mediterrâneo (BELCARI et al.,
2003; SARDÀ et al., 2003a).
No Brasil a distribuição e taxonomia da família Aristeidae foram estudadas
por D’Incao (1995, 1998), Tavares e Serejo (2007) e Serejo et al. (2007). Ao total
nove espécies da família foram descritas incluindo as de maior potencial pesqueiro
em outras regiões do mundo como A. edwardsiana, A.antillensis, A. foliacea e A.
antennatus. Essa última, tradicionalmente explorada no Mar Mediterrâneo, foi
coletada em águas muito profundas no Brasil, entre 1.400 e 1.800 m, e até o
momento não foi identificada em capturas comerciais.
O potencial pesqueiro dos camarões aristeídeos foi avaliado na costa
norte do Brasil, entre os estados do Pará e Amapá a partir de prospecções
sistematizadas com embarcações arrasteiras comerciais, e na costa central, entre os
estados da Bahia, Espírito Santo e norte do Rio de Janeiro, através de prospecções
científicas executadas no âmbito do Programa REVIZEE (COSTA et al., 2005). Para
o primeiro caso grandes concentrações de A. edwardsiana e A. antillensis foram
identificadas entre 573 m e 1.246 m de profundidade. No total de 592 lances
realizados os rendimentos conjuntos dessas duas espécies variaram entre 3,21 e
15,99 kg/h culminando em uma captura total que representou 12% dos 106.973 kg
de pescados capturados. Para o segundo caso, na costa central, as prospecções
32
científicas realizadas com um navio oceanográfico resultaram em rendimentos
baixos de cerca de 1,3 kg/h para A. foliacea e 0,1 kg/h para A. edwardsiana, entre
500 e 1000 m de profundidade.
Poucas informações estão disponíveis sobre o camarão carabineiro e o
camarão alistado, exceto algumas descrições gerais das capturas na Guiana
Francesa, Austrália e Portugal (RAINER, 1992; GUÉGUEN, 1997; GUÉGUEN, 1998;
GUÉGUEN, 2000; GUÉGUEN, 2001; FIGUEIREDO et al., 2001; MONTEIRO et al.,
2001).
33
3 – METODOLOGIA DAS ATIVIDADES DE PROSPECÇÃO
Neste trabalho diferentes abordagens para a avaliação da biomassa
serão utilizadas, comparadas e combinadas no sentido de prover as informações
necessárias à atualização e complementação das recomendações de medidas de
manejo, buscando traçar os melhores caminhos para a sustentabilidade dessa
valiosa pescaria e a manutenção do ecossistema em que esses estoques estão
inseridos.
3.1 – Área de Estudo
As pescarias foram realizadas na plataforma e no talude continental da
região Norte do Brasil, com arrastos realizados em profundidades entre 236 e 1.246
m. As estações distribuídas nesta região estão entre as latitudes 01º 22,814´N e 05º
09,201´N (Figura 2).
Para a definição da área de estudo, foi realizado preliminarmente um
levantamento dos recursos e da área arrastável durante o primeiro cruzeiro, levando
em consideração resultados das prospecções realizadas pelo N.Pq. “Almte. Paulo
Moreira” (CEPNOR/IBAMA) durante o Programa REVIZEE na região norte. Após a
determinação das estações de prospecção que apresentassem a ocorrência de
espécies com valor comercial ou novos recursos para uma exploração econômica
viável, as pescarias foram intensificadas nestas áreas para a realização de estudos
de identificação do sistema e dos apetrechos mais adequados às respectivas
pescarias (Tabela 1).
34
Figura 2 – Mapa com a demarcação da área arrastável e pesquisada na costa norte do Brasil, para os recursos de profundidade.
Tabela 1 – Informações gerais sobre as campanhas de prospecção de camarões de profundidade na região Norte.
Período do Cruzeiro
1ª Fase – 27/08/02 a 24/09/2002
2ª Fase – 17/06/03 a 01/08/2003
3ª Fase – 21/08/03 a 24/09/2003
4ª Fase – 24/05/04 a 28/07/2004
Quantidade de Lances Realizados
1ª Fase – 094
2ª Fase – 185
3ª Fase – 127
4ª Fase – 186
Total................................ 592 lances
Dias de Mar
1ª Fase – 029
2ª Fase – 046
3ª Fase – 035
4ª Fase – 066
Total................................ 176 dias
Dias de Pesca Efetiva
1ª Fase – 025
2ª Fase – 037
3ª Fase – 031
4ª Fase – 059
Total................................ 152 dias
35
3.2 - Características dos Meios Flutuantes
Fase 1 – B.p. “Mar Maria”
O B.p. “Mar Maria” é uma embarcação projetada para a execução de
arrastos de popa com portas e rede única. Apresenta capacidade para acomodar 19
pessoas entre tripulantes e pesquisadores (Figura 3) e está equipado com modernos
equipamentos eletrônicos (Figura 4):
I) Para pesca e navegação: uma agulha giroscópica, uma agulha
magnética, dois radares, duas ecossondas coloridas, três navegadores -
GPS, um piloto automático, um computador, além de um rastreador via
satélite para o monitoramento em terra da localização da embarcação 24
horas por dia;
II) Para comunicação: dois rádios SSB, dois rádios VHF e um telefone via
satélite.
Figura 3 – Vista externa do B.p. “Mar Maria”, embarcação utilizada nas pescarias exploratórias da pesquisa, nas áreas da plataforma e talude continentais. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
36
Figura 4 – Vista interna parcial do comando e dos equipamentos eletrônicos disponíveis no B.p. “Mar Maria”, utilizado nas pescarias da pesquisa. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
A embarcação também possui um guincho com sistema elétrico utilizado
para lançamento e recolhimento das portas e rede de arrasto, sendo o mesmo
acoplado a dois tambores com capacidade para a estocagem de cabos de aço de 1”,
suficiente para a realização de arrastos até 1.500 m de profundidade (Figura 5) e
detém autonomia para até 100 dias de mar, apresentando as seguintes
características estruturais:
Nome:................................................................... Mar Maria Comprimento total................................................ 38,44 m Boca Moldada...................................................... 8,70 m Pontal................................................................... 3,90 m Potência............................................................... 1.360 HP Capacidade de Porão........................................... 338 m3 Ano de Fabricação................................................ 1998
37
Figura 5 – Vista frontal dos tambores do guincho elétrico do B.p. “Mar Maria” que foi utilizado nas pescarias realizadas durante a pesquisa. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Para o beneficiamento do pescado, a embarcação tinha disponível um
salão de processamento (Figura 6) com estrutura, equipamentos e maquinários;
entre eles, cita-se abaixo:
I) uma área para o recebimento da produção;
II) uma canaleta para a seleção do pescado aproveitado e descarte
(resíduos e fauna acompanhante);
III) uma esteira para o transporte do pescado aproveitado para o
processamento;
IV) uma máquina para retirada de pele de pescado;
V) uma serra elétrica de corte para pescado;
VI) uma máquina para lavagem do pescado;
VII) uma mesa em aço inox para classificação de camarão e/ou
filetagem de peixes;
VIII) dois tanques de aço inox para a imersão dos crustáceos em
solução de metabissulfito;
IX) uma área para embalagem do pescado;
X) três túneis de congelamento; e
XI) duas balanças para pesagens do pescado depois de embalado.
38
Figura 6 – Salão de processamento do B.p. “Mar Maria”, utilizado nas pescarias exploratórias da costa norte. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Fase 2 – B.p. “Noé”
O B.p. “Noé”, embora com menor porte, possui as mesmas características
estruturais que o B.p. “Maria”, incluindo o formato do casco e com capacidade para
acomodar 18 pessoas entre tripulantes/pesquisadores (Figura 7). A embarcação,
também é planejada para a execução de arrastos de popa com portas e rede única,
está equipada com modernos equipamentos eletrônicos:
I) Para pesca e navegação: uma agulha giroscópica, uma agulha
magnética, dois radares, duas ecossondas coloridas, uma ecossonda
gráfica, dois navegadores - GPS, um piloto automático, um computador,
além de um rastreador via satélite para o monitoramento em terra da
localização da embarcação 24 horas por dia;
II) Para comunicação: dois rádios SSB, dois rádios VHF e um telefone via
satélite.
A embarcação é dotada de um guincho com sistema hidráulico para
lançamento e recolhimento das portas e rede de arrasto, sendo o mesmo acoplado a
dois tambores com capacidade para a estocagem de cabos de aço de 1”, suficiente
para a realização de arrastos até 1.500 m de profundidade (Figura 8).
39
Figura 7 – Embarcação (B.p. “Noé”) utilizada nas pescarias exploratórias nas áreas da plataforma e talude continentais. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
O B.p. “Noé” possui autonomia de mar para 80 dias e apresenta
características estruturais conforme o quadro a seguir:
Nome:................................................................... Noé Comprimento total................................................ 31,06 m Boca Moldada...................................................... 8,20 m Pontal................................................................... 5,80 m Potência............................................................... 870 HP Capacidade de Porão........................................... 200 m3 Ano de Fabricação................................................ 1988
Para o beneficiamento do pescado, a embarcação também foi reformada
com a finalidade de se retirar os maquinários dispensáveis, direcionando-se o salão
de beneficiamento para o processamento de camarões de profundidade, tendo como
resultado a instalação da seguinte estrutura:
I) uma área para o recebimento da produção;
II) uma canaleta para a seleção do pescado aproveitado e descarte
(resíduos e fauna acompanhante);
III) uma mesa de fibra para classificação de camarão;
IV) dois tanques de fibra para a imersão dos camarões em solução de
metabissulfito e;
V) dois túneis de congelamento.
40
Figura 8 – Vista frontal dos tambores do guincho hidráulico do B.p. Noé que foi utilizado nas pescarias exploratórias. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Para a realização das pescarias, foram utilizados cinco tipos de redes e
três tipos de portas, definidas a seguir:
3.3 - Redes de Arrasto
Segundo Studart-Gomes (1988), os petrechos de arrasto de camarões
evoluem do simples picaré (rebocadas por dois homens), passando pelo “beam
trawl” (abertura horizontal através de vara fixa), redes simples de arrasto de popa
com portas, até as redes múltiplas (2, 3 ou 4 redes gêmeas) de arrasto com portas
e/ou esquis (cavalos) e emprego de tangones. A idéia do uso de redes múltiplas é
sempre a de aumentar a abertura horizontal varrida do petrecho, mantendo-se a
mesma resistência à tração e quantidade de panos de rede.
Acessórios
Tesoura – É a extensão dos cabos de arrasto, duplicados, para permitir o
reboque de cada extremidade da rede.
Tek – São cabos de nylon, por volta de 1” de diâmetro, que armam o
barco onde houverem roldanas auxiliares para carga. Servem para embarcar portas
e sacos de redes no recolhimento do petrecho.
Batedeira ou espantador – É uma corrente que vai livremente de uma
ponta a outra da rede. Sua finalidade é desenterrar o camarão, trabalhando alguns
centímetros a frente da tralha inferior da rede e, portanto, com comprimento
proporcional a esta.
41
Pé de galinha – São as correntes de ½” utilizadas para formar o triângulo
das portas.
Pesos – São fixados na tralha inferior da rede e são chamados de
“brincos” ou de “seios”. Os primeiros são pedaços de correntes presos, em apenas
uma extremidade, à tralha. Na outra modalidade, ambas as extremidades da
corrente são fixadas na tralha, formando “seios”.
Manilhas e Sapatilhas – São as conexões dos cabos e correntes.
Try-net – É a miniatura do petrecho grande. A rede tem um tamanho de
10% da grande, e as portas cerca de 20%.
Porta – É o acessório que mais influência o desempenho do petrecho,
pois é o responsável pela abertura da rede. Apesar da sua simplicidade, os efeitos
de sua armação são de difícil compreensão para alguns mestres. Esta armação dá-
se através do comprimento das correntes do pé de galinha, sabendo-se que: a) se o
ponto de engate (PE) estiver muito para ré (dependendo do tamanho das correntes
traseiras), a porta terá muita vibração, com possibilidade de danos e dificuldades no
lançamento/recolhimento; b) se o PE estiver acima da linha mediana (sentido
longitudinal) a porta tende a deitar-se para dentro, tornando-se menos eficaz na
abertura horizontal e dificultando seu retorno à posição normal no momento das
curvas; c) já o ângulo de ataque, que afeta diretamente a eficiência da porta, é
regulado pela distância entre o PE e o plano da porta. O dimensionamento do
comprimento x altura da porta está estritamente relacionado com o tamanho da
rede, principalmente sua “boca”. A porta bem armada tem que abrir a rede em 70%
do tamanho da tralha superior. Menos que isto, ela está sub dimensionada. A
relação deve ficar em 0,15 – 0,17 m2 de porta para cada metro de tralha superior
(sem os chicotes) para obter-se o percentual de abertura proposta. Já seu peso está
mais ligado às condições topográficas e oceanográficas da área de pesca.
3.3.1 - Rede Polivalente (B.p. “Mar Maria”) – Rede 1
A rede polivalente (Figura 9) foi utilizada na primeira fase da prospecção
(primeiro cruzeiro), estando preparada para trabalhar na maioria dos tipos de fundo
e possibilitar a captura de uma maior diversidade dentro dos limites da área
arrastável, até a identificação, localização e definição dos prováveis pesqueiros.
42
Figura 9 – Planta da rede polivalente, utilizada para a realização das pescarias exploratórias, na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Basicamente, esta se diferencia das outras redes de arrasto por possuir
uma tralha inferior com discos de borracha (groundrope of rubber bobbins), que
permite atividade de pesca demersal em fundos irregulares (Figuras 10 e 11).
43
Figura 10 – Detalhe dos discos de borracha na tralha inferior da rede de arrasto utilizada na pesquisa para a captura de recursos demersais de grande profundidade. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
44
Figura 11 – Rede de arrasto utilizada nas prospecções pesqueiras durante sua montagem no convés do B.p. “Mar Maria”, na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
3.3.2 - Rede Única (B.p. “Noé”) – Rede 2
Esta rede foi planejada para a captura de recursos demersais,
especialmente para camarões de profundidade, possuindo as mesmas
características e dimensões das redes utilizadas pela frota espanhola em pescarias
realizadas na costa européia e africana com barcos das mesmas dimensões
(Figuras 12 e 13).
45
Figura 12 – Planta da rede Única utilizada para a realização das pescarias exploratórias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
46
Figura 13 – Rede de arrasto Única utilizada nas prospecções da pesquisa, na costa norte do Brasil, durante as atividades de recolhimento. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
3.3.3. – Redes Gêmeas (B.p. “Noé”) – Rede 3
Esta rede foi copiada com as mesmas características das redes utilizadas
para a captura do camarão carabineiro em pescarias na costa da Guiana Francesa e
Suriname (Figuras 14 e 15). Porém, devido ao fato da embarcação estar inicialmente
projetada para a execução de arrastos de popa com rede única, foram apresentadas
diversas dificuldades com relação à sistemática de lançamento e recolhimento das
redes gêmeas, que são mais adequadas para pescarias em embarcações com
tangones. Para os arrastos com este tipo de rede também é necessária a utilização
de uma estrutura de ferro comumente denominada de “cavalo” (Figura 16), que tem
a finalidade de estabilizar e permitir o assentamento adequado das redes no fundo
durante os arrastos. Apesar das dificuldades nas manobras no lançamento e
recolhimento, para as atividades de arrasto, esta foi a rede que exigiu menor esforço
para a embarcação, mas, devido .a erros de cálculos em sua armação,
provavelmente não desenvolveu seu real poder de captura.
O princípio das redes gêmeas é aumentar a área varrida. O segredo disso
está na utilização da tesoura com uma perna extra, que se bem dimensionada,
suporta parte da resistência das redes deixando as portas mais liberadas para se
expandirem.
O dimensionamento desse petrecho inicia-se com a determinação da
envergadura do barco, isto é, distância entre a extremidade de um tangone e a do
47
outro. Este valor tem que ser superior, em pelo menos 3-5 m, a 70% da somatória
das tralhas superiores das redes, e ¾ de duas portas (distância entre o ponto de
engate para ré).
O tamanho dos chicotes adicionais, colocados nas extremidades externas
do petrecho ou opcionalmente no comprimento a ser reduzido na perna do meio da
tesoura, tem o objetivo de compensar o avanço que as extremidades externas dos
petrechos terão quando as redes abrirem. Isto é fundamental, pois, caso contrário,
toda a resistência das redes ficará nas pernas das tesouras das portas. Graças a
esta sustentação, a relação porta x comprimento das duas tralhas superiores, que
ficam entre as duas portas, cai para 0,10 m2/m.
Obviamente, como é usado apenas um par de portas para duas redes,
tem que ser adicionado um acessório para sustentação das extremidades internas
das mesmas. Este acessório, conhecido entre os pescadores como “cavalos” nada
mais é do que um esqui triangular que sustenta as extremidades das tralhas superior
e inferior e batedeiras de duas redes, rebocado pela perna extra da tesoura.
Embora mantendo o mesmo formato, pelo menos dois modelos de
“cavalos” estão sendo adotados no Brasil, variando-se a estrutura: tabulada com
cimento ou com cantoneira e chapas. O mais simples é aquele em que aproveita a
estrutura da porta (mesmo esqui inferior, e cantoneiras de sustentação),
adicionando-se uma chapa em diagonal que se apóia nas cantoneiras, cujas
extremidades são isoladas no “bico” de vante do esqui e no canto superior da última
cantoneira. Suas medidas são as mesmas das portas utilizadas.
Com exceção da primeira viagem, cuja tripulação era 60% composta de
espanhóis, por falta de uma mão-de-obra brasileira adequada e preparada para a
execução da faina neste tipo de pescaria e utilização de equipamentos, pôde-se
verificar que, a partir da segunda viagem, houve uma nacionalização e assimilação
da mão-de-obra por parte de pescadores brasileiros, os quais assumiram a
execução das atividades no convés, o processamento do pescado a bordo e
algumas funções na sala de máquinas, chegando à última viagem, a representar
80% da tripulação total embarcada, ocasião em que já detinham conhecimentos
básicos e preparo para a execução de trabalhos para este tipo de pescaria.
48
Figura 14 – Planta da rede gêmea, utilizada para a realização das pescarias exploratórias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Figura 15 – Redes gêmeas, portas e “cavalo” no convés do B.p. “Noé” antes do lançamento para as pescarias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
49
Figura 16 – Estrutura (cavalo) utilizada para proporcionar a estabilidade e assentamento adequado das redes gêmeas no fundo. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
3.3.4 - Rede Única 2 (B.p. “Noé”) – Rede 4
Esta rede foi planejada com características e dimensões diferentes da
rede polivalente utilizada pela frota espanhola, proporcionalmente em torno de 25 %
menor e com a forma (corte) e semelhante às da frota nacional em pescarias do
camarão-rosa (Figura 17). Este aparelho de pesca apresentou problemas para a
realização dos arrastos em função de falhas nos ajustes necessários em seu corpo
de nas portas, para as adequadas operações de pesca.
3.3.5 – Rede Única 3 (B.p. “Noé”) – Rede 5
Esta rede (Figura 18) foi planejada com as mesmas características da
rede polivalente, porém proporcionalmente 25 % menor, mas apresentou um
rendimento normal com relação ao desgaste do motor propulsor nas atividades de
arrasto e recolhimento.
50
Figura 17 – Planta da rede Única 2 utilizada para a realização das pescarias exploratórias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
51
Figura 18 – Planta da rede Única 3 utilizada para a realização das pescarias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
3.4 - Portas de Arrasto
3.4.1 - Portas Ovais (B.p. “Mar Maria” e “Noé”)
São portas de aço com formato oval e peso de 840 kg cada uma (Figura
19). Possuem dois pontos de ajustes na parte interna central e três pontos na parte
posterior externa, que são utilizados para a regulagem do ângulo de ataque e uma
maior ou menor abertura da rede e respectivamente aumento ou redução do esforço
da embarcação durante os arrastos através da redução da pressão das portas.
Com exceção das redes gêmeas, estas portas foram utilizadas para a
realização de arrasto com todos os outros tipos de redes. Quando utilizadas em
52
operações de arrastos pelo B.p. “Mar Maria”, que apresenta maior potência de
motor, apresentou para a embarcação esforços normais durante as atividades; no
entanto, no caso de arrastos utilizados pelo B.p. “Noé”, exigiram esforços excessivos
para a embarcação em alguns casos, principalmente quando utilizada em arrastos
com a rede 1.
Figura 19 – Portas ovais utilizadas em pescarias exploratórias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
3.4.2 - Portas de Aço Retangulares (B.p. “Mar Maria” e “Noé”)
São portas de aço com formato retangular e peso de 780 kg cada uma
(Figura 20). Semelhantes às portas ovais, possuem dois pontos de ajustes na parte
interna central e três na parte posterior externa, que são utilizadas para a regulagem
do ângulo de ataque que resultam em uma maior ou menor abertura da rede e/ou
redução do esforço da embarcação durante os arrastos através da redução da
pressão das portas. Esse tipo de porta foi parte integrante de todas as redes da
pesquisa, tendo apresentado um desempenho inferior em operações de pesca com
a rede Polivalente, pelo B.p. “Noé”.
53
Figura 20 – Portas retangulares de aço utilizadas em pescarias exploratórias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
3.4.3 - Portas de Madeira Retangulares (B.p. “Noé”)
São portas de madeira com formato retangular e peso de
aproximadamente 250 kg cada uma (Figura 21). Diferentemente das outras portas
acima citadas, o ajuste deste tipo de apetrecho é efetuado através dos “cabrestos”,
ou seja, por correntes de aço (5/8”) que são utilizadas para a armação. As portas de
madeira foram utilizadas apenas nas pescarias realizadas pelo B.p. “Noé” com as
redes gêmeas e foram as que exigiram menores esforços da embarcação.
Figura 21 – Portas retangulares de madeira utilizadas em pescarias exploratórias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
54
3.5 - Sistemas de Pescaria
Conforme anteriormente descrito, as embarcações utilizadas para as
atividades eram do tipo de arrasto de popa, que permitiu a execução de arrastos
com redes para este sistema de pescaria (Figura 22). Apenas no caso da utilização
das redes gêmeas foi usada uma diferente metodologia de trabalho para a execução
das atividades de pesca (Figura 23).
Figura 22 – Sistema de arrasto com a embarcação utilizando a rede de popa com portas para as pescarias exploratórias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
55
Figura 23 – Sistema de arrasto com a embarcação utilizando as redes gêmeas para as pescarias exploratórias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
56
Arrasto de Popa com Rede Única
Para a pescaria com este tipo de apetrecho, primeiramente foram
realizados nos locais previstos para os arrastos: a) levantamentos batimétricos e b)
análise da topografia de fundo para verificação da viabilidade de atividades
pesqueiras dos recursos demersais através de arrastos. Estes parâmetros eram
analisados por meio dos registros das ecossondas coloridas existentes a bordo
(Figura 24).
Figura 24 – Ecossonda colorida apresentando uma área com um fundo de 936 m, de lama e liso, que era analisado através do registro numérico, coloração dos ecos e regularidade do substrato apresentado na tela. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Após a identificação dos locais propícios para os arrastos, a tripulação
executava os seguintes procedimentos para lançamento e recolhimento da rede:
Lançamento
Logo depois do posicionamento da embarcação e tripulação para a
realização dos lançamentos, um dos tripulantes acionando um guincho elétrico
puxava e suspendia o saco da rede através de um cabo com um gancho na
57
extremidade, até um suporte localizado na popa da embarcação (Figura 25). Após a
sinalização do comando para o início do lançamento, outro tripulante puxava o
“disparador”; simultaneamente, o operador do guincho afrouxava o cabo para a
liberação do saco, que logo após, dentro da água, deslocava o restante da rede
devido à força de tração causada pelo deslocamento da embarcação.
Figura 25 – Início dos lançamentos através da liberação do saco da rede para a água nas pescarias na costa norte do Brasil utilizando o sistema de arrasto de popa com rede única. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Após o desembarque total da rede e a observação de que ela se
encontrava totalmente livre sem nenhuma bóia presa na tralha inferior e/ou mangas
torcidas, para correção quando necessário (Figura 26), era iniciado o lançamento
das “malhetas” (cabo de arrasto) até o ponto de conexão das portas (limite entre
cabo de arrasto e cabo real). Depois de fixadas aos cabos, as portas eram baixadas
até o nível do mar e iniciado o lançamento dos cabos reais com a embarcação se
deslocando com sua velocidade máxima permitida até a medida definida pelo
comando. A finalização da operação de lançamento era definida logo após os
tambores dos guinchos serem travados através dos freios e fornecida força para o
navio até atingir a velocidade de arrasto. Quanto ao deslocamento durante a
operação, o barco poderia se encontrar em marcha lenta, à deriva ou em marcha
máxima permitida, ou seja, ao executar as seguintes atividades, respectivamente:
desembarcando a rede, fixando as portas aos cabos ou lançando os cabos reais. A
saída dos cabos reais do tambor era realizada com a velocidade controlada apenas
pelos freios, regulada por dois pescadores um em cada tambor.
58
Figura 26 – Rede de arrasto durante a operação de lançamento apresentando os cabos da manga de boreste trançados. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Recolhimento
A finalização do arrasto era normalmente definida de acordo com
observação do término da área arrastável. O guincho era acionado e logo após a
redução do motor, os cabos reais eram recolhidos nos tambores. No momento da
aproximação das portas à popa da embarcação, o barco era desengatado, ficando
nesta situação até a completa liberação das portas dos cabos reais e de arrasto. A
partir deste momento era iniciado o recolhimento do cabo de arrasto (malheta), com
a embarcação em marcha lenta até a chegada do calão da rede. O “gato” (gancho)
era fixado no calão para o embarque da rede que era realizado parcialmente (Figura
27), ficando a critério do comandante a tomada de decisão de quando era
necessário desengatar o barco ou retomar a marcha lenta, até o embarque completo
da rede, com o auxílio de uma grua (Figura 28) e finalização da operação.
59
Figura 27 – Início do embarque da rede através da subida dos calões durante a operação de recolhimento. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Figura 28 – Grua utilizada para o auxílio no lançamento e no recolhimentos da redes de araasto durante os cruzeiros de pesquisa. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Arrasto com Redes Gêmeas
Para a realização das operações de lançamento e recolhimento da rede
neste sistema de pescaria, foi utilizado o cabo real de apenas um dos tambores
(boreste ou bombordo). Este tipo de rede e sistema foi experimentado no sentido de
60
verificar a possibilidade de adaptação e introdução de embarcações de menor porte
para este tipo de pescaria.
Lançamento
Semelhante à operação com rede de popa única, primeiramente eram
lançados os sacos, para que eles, por meio da força de tração do deslocamento da
embarcação, puxassem para dentro do mar as duas redes e o “cavalo” (Figura 29).
Após este procedimento, era seguida a mesma sistemática utilizada para o
lançamento da rede de popa única, levando em consideração que era utilizado
apenas um tambor.
Figura 29 – Tripulação realizando os preparativos para o primeiro lançamento das redes gêmeas. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Recolhimento
Para o recolhimento, até a chegada das portas foi utilizada a mesma
forma de operação da rede única. Para o embarque da produção (captura), os sacos
eram recolhidos para o convés, embarcados com auxílio de um cabo (corta-saco)
fixado na parte posterior dos túneis das redes. Diferente do sistema de pescaria com
rede única, para as redes gêmeas, apenas os sacos eram embarcados para a
retirada da captura. As portas, cavalo e parte da rede permaneciam na água
preparadas para um novo lançamento. Os apetrechos de pesca (redes, portas e
cavalo), só eram embarcados em duas situações: quando apresentavam problemas
com o material (rupturas na rede, material quebrado) para conserto ou para
deslocamento da embarcação, quando era finalizada a pescaria na área (Figura 30).
61
Figura 30 – Chegada das portas e “cavalo” à popa da embarcação e preparativos para o embarque do saco por meio do recolhimento do cabo do corta- saco. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
3.6 - Coleta de Dados
Após o recolhimento da rede e abertura do saco, toda a produção era
despejada dentro do compartimento de recepção na sala de processamento, onde
era iniciada a triagem dos organismos, seleção da produção aproveitada e das
espécies descartadas. No caso da amostragem de pesquisa, os indivíduos
selecionados eram embalados em sacos plásticos, etiquetados com lacres
numerados e estocados em câmaras frigoríficas. As numerações dos lacres foram
registradas nos formulários onde também constavam os dados de posicionamento,
data, hora e observações gerais dos lançamentos e recolhimentos de cada arrasto.
Para a obtenção da biomassa das espécies capturadas, foram utilizados
dois métodos: a) direto e b) indireto. Para as espécies-alvo (valor comercial), foi
utilizado o método direto, com os pesos obtidos a bordo logo depois da triagem,
classificação, processamento e embalagem (quando necessário). Para as espécies
descartadas, após a triagem e separação, foram realizadas anotações nos
formulários da representação percentual observada para cada grupo ou espécie
isolada, dados estes que foram utilizados para a estimativa de suas respectivas
biomassas obtidas nos arrastos, através do percentual e do peso real das espécies-
alvo obtidas no mesmo lance, conforme os seguintes cálculos:
62
BED = (% PED x PEA) / % PEA
BED = biomassa da espécie desejada no lance, em kg;
% BED = percentual da espécie desejada no lance (estimado a bordo);
BEA = biomassa da espécie-alvo no lance (obtido a bordo), em kg;
% BEA = percentual da espécie-alvo no lance (estimado a bordo);
Para as espécies capturadas durante este experimento e consideradas
como espécies-alvo ou como novos potenciais para uma exploração econômica
(camarão carabineiro, camarão alistado e caranguejo real), realizaram-se análises
com os cálculos de CPUE para obtenção do rendimento de pesca e estimativa da
biomassa, em quilogramas, capturada por hora de arrasto.
A utilização do parâmetro CPUE (Captura por Unidade de Esforço) em
lugar do CPUA (Captura por Unidade de Área) foi realizada devido a algumas
observações e considerações durante as atividades de campo/arrastos. Foi
verificado que durante os arrastos, devido ao peso/comprimento dos cabos reais
lançados e força da correnteza, havia uma distorção dos dados, o que promovia
erros nos cálculos da abundância devido a abertura da rede, que é obtida pela
medida de abertura inicial dos cabos reais.
Para o cálculo da CPUE, foi utilizada a razão entre a biomassa capturada
(kg) e o tempo de arrasto em horas (h).
CPUE = (kg/h)
Para o estudo das espécies, principalmente para o camarão carabineiro e
o camarão alistado, foram realizadas análises para a obtenção da CPUE,
considerando os diferentes tipos de redes, já apresentadas anteriormente. No caso
do caranguejo-real, a CPUE foi calculada apenas a título ilustrativo, tendo em vista
que a captura para este tipo de crustáceo por meio do arrasto é ineficiente apesar da
ocorrência. Contudo, os resultados são importantes para a definição do registro de
ocorrência e área de distribuição desta espécie, o que pode fornecer futuramente
suporte e subsídios para estudos a serem realizados com o apetrecho mais
adequado.
63
Após a abertura do saco da rede e despejo da captura no compartimento
de recepção localizado dentro da sala de processamento (Figura 31), o pescado de
interesse comercial (camarões, principalmente) era submetido ao seguinte
tratamento:
a) separação e acondicionamento do produto em cestos plásticos
para lavagem (Figura 32);
b) imersão em solução de metabissulfito (Figura 33);
c) classificação e embalagem em caixetas (Figura 34);
d) congelamento (Figura 35); e
e) acondicionamento em caixas “master” e estocagem na câmara
frigorífica.
Figura 31 – Vista superior do compartimento de recepção do pescado após a abertura do saco e despejo da captura. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
64
Figura 32 – Tripulação iniciando os preparativos no compartimento de recepção para a seleção do pescado, com os cestos plásticos próximos à canaleta (inferior) utilizada para o descarte de resíduos e fauna acompanhante. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Figura 33 – Camarões alistados, Aristeus antillensis, após a lavagem e a espera para imersão nos tanques com solução de metabissulfito. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
65
Figura 34 – Tripulação na mesa realizando a classificação dos camarões carabineiros Aristaeopsis edwardsiana antes da embalagem. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Figura 35 – Caixas de camarões carabineiros Aristaeopsis edwardsiana e camarões alistados Aristeus antillensis após a classificação e embalagem preparadas para congelamento nos túneis. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Além das espécies aproveitadas comercialmente, foram realizados
trabalhos no sentido de aproveitar o pescado geralmente rejeitado pelos seguintes
motivos: 1) por falta de mercado / baixo preço ou 2) rejeição visual. Em ambos os
casos (motivos 1 e 2) os pescados apesar da rejeição, possuíam uma alta qualidade
em relação ao frescor e sabor.
Para este trabalho foram aproveitadas espécies de camarões sem valor
comercial ou espécies-alvo danificadas devido ao tempo de arrasto (Figuras 36 e 37)
conforme citado anteriormente. Os camarões foram processados no sentido de
elaborar filés congelados com a máxima qualidade possível, passando pela mesma
66
sistemática de tratamento dos camarões comerciais. Após a seleção, lavagem,
imersão em solução de metabissulfito, os camarões foram descabeçados e
descascados (Figura 38). Para o congelamento foram utilizadas duas metodologias:
a) em bloco e b) em bandejas.
Figuras 36 – Exemplares de camarões não aproveitados para a comercialização, sem preço de mercado ou danificados pelos arrastos. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Figura 37 – Exemplares de camarões carabineiros Aristaeopsis edwardsiana sem preço de mercado devido à rejeição visual, danos causados pelos arrastos. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
67
Figura 38 – Apresentação dos filés dos camarões após os processos de tratamento, retirada a cabeça e a casca. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Para o congelamento em bloco, depois de descabeçados e descascados,
os camarões eram colocados nas caixas antes do congelamento. No caso do
sistema em bandeja, antes da embalagem os camarões foram congelados, e
arrumados em camadas separadas por lâminas de plástico.
68
4 – MÉTODOS DE ANÁLISE ESTATÍSTICA
4.1 – Comparação de atributos e variáveis
Nesta Tese, a análise dos dados de prospecção presta-se para se chegar
a informações sobre a tecnologia da pesca dos camarões de profundidade, suas
abundâncias relativas e absolutas (biomassa) e a relação entre abundância e
profundidade do arrasto.
Na investigação experimental da eficiência da rede de arrasto na captura
de camarões de profundidade da família Aristidae, os seguintes aspectos foram
considerados:
Dimensão da rede e seu modus operandi
Combinação ideal “rede/porta” para maximizar a captura das espécies sob
prospecção
Profundidade de atuação dos diversos tipos de rede
Foi considerada como principal variável-resposta a “captura por unidade
de esforço (CPUE)”, que tem duas conotações: (1) biológica, como índice de
abundância das espécies carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus
antillensis e chatim, Gnothophausia ingens; (2) pesqueira, como índice de
rendimento das redes Gêmeas, Única, Única-1, Única-2 e Polivalente, operando
com os tipos de porta oval e retangular.
A profundidade foi investigada como o principal atributo das atividades de
prospecção, por causa de sua influência sobre a variável-resposta (CPUE) e, por
analogia, sobre sua variação na qualidade de índice de abundância biológica e
índice de rendimento pesqueiro.
Os dados obtidos através de prospecção apresentam características que
trazem dificuldades para a análise estatística devido às possibilidades de
pertencerem tanto a uma população estatística, no sentido de que se impõem
restrições à sua distribuição, como a uma população natural, cujos indivíduos
habitam um determinado território e estão sujeitos a um conjunto de fatores
biológicos e ambientais não diretamente controláveis por atividades antrópicas.
No caso da prospecção das espécies de camarões de profundidade,
principal fonte de dados para análise desta tese, as informações disponíveis se
referem a duas variáveis principais, a saber profundidade dos arrastos e índice de
69
abundância, medida por uma estimativa da captura por unidade de esforço, este
medido em termos de “hora de arrasto”, resultando num índice de rendimento em
“kg de camarão por hora de arrasto”. Estas foram geradas por diversos tipos de rede
de arrasto (gêmeas, polivalente e única), às quais foram acopladas dois tipos de
porta (oval e retangular).
Para se proceder à investigação sobre qual componente do aparelho de
arrasto é o principal vetor de diferenças no rendimento pesqueiro, essa conclusão
deve ser investigada sob dois aspectos: (1) qual a rede mais eficiente, independente
da porta; (2) qual a porta mais eficiente, independente da rede.
Quanto à variável-resposta, tendo em vista o grande número de arrastos
nulos (valor zero), para viabilizar o uso dos testes não-paramétricos foi necessário
proceder-se à transformação do valor de X = CPUE para X’ = X + 1. Inicialmente,
esta foi considerada como o somatório para as três espécies, já que sua análise
individual exigiria a concorrência do Teste de Friedman, que trabalha com um
número constante de observações, o que não ocorreu devido à irregularidade
numérica na quantidade de arrastos realizados (SIEGEL, 1977).
O teste de Kruskal-Wallis é extremamente útil para se trabalhar com
amostras de uma mesma variável quando estas têm tamanhos diferentes, condição
que inviabiliza a aplicação dos métodos paramétricos acima citados, como a Análise
de Variância (SIEGEL, 1977). Portanto, tem a vantagem de se poder lidar com k
amostras independentes para definir se estas provêm de diferentes populações, ou
se representam apenas variações casuais que podem ser esperadas entre amostras
aleatórias de uma mesma população. Ao contrário da ANOVA, cada uma das
observações é substituída por um posto numa escala ordinal de 1, 2,....N, sendo N
igual ao número total de observações independentes, isto é, os escores de todos os
k tratamentos sob teste são dispostos em uma única série de postos. Assim, monta-
se uma tabela que atribui um posto a todos os valores registrados da variável, o qual
passa a ser um “escore” ou freqüência e, em seguida, procede-se à montagem de
uma nova tabela, esta constituída dos escores (postos) correspondes aos valores
nos diversos tratamentos. Feito isto, determina-se a soma dos postos em cada
tratamento (coluna), de modo que o teste determina se essas somas são tão
diferentes a ponto de serem consideradas como não pertencentes a uma mesma
população.
70
A análise técnica de Kruskal-Wallis procura comprovar a hipótese de
nulidade, de que k amostras provenham da mesma população ou de populações
idênticas com relação a médias. A prova supõe que a variável em estudo tenha
distribuição inerente contínua, e exige mensuração no mínimo ao nível ordinal.
Tendo em vista que os valores da variável são transformados em escores
ou freqüências, a variável-padronizada (H) do Teste de Kruskal-Wallis apresenta
distribuição igual à do Teste-2 (não-paramétrico), que define sua significância e cuja
estimação é feita por meio da seguinte equação:
(1)
onde, k = número de tratamentos; nj = número de observações no tratamento j; N =
número total de observações; Rj = soma dos postos no tratamento j.
Quando ocorrem diversos conjuntos de valores empatados da variável ao
longo da distribuição, atribui-se a cada um deles a média dos respectivos escores, o
que pode causar modificações no valor de H, dependendo de sua quantidade.
Desse modo, deve-se introduzir um fator de correção na Equação 2, o qual
apresenta a seguinte fórmula de cálculo:
(2)
onde, T = t3 – t, sendo t o número de observações referentes a um conjunto de
escores empatados; e N = número total de observações.
Assim, a expressão geral de H, com a correção relativa a empates, torna-
se:
(3)
71
O efeito da introdução da correção para empates é aumentar o valor de H
e conferir-lhe maior chance de significância estatística, embora esta seja desprezível
se menos de 25% das observações estiverem envolvidas em empates.
A significância do valor observado da variável sob teste é definida por um
número de graus de liberdade, k – 1, sendo k o número de tratamentos e o nível de
probabilidade é escolhido em função do valor estimado de H, para comparação com
seu valor crítico fornecido pela tabela do 2 .
Quando a hipótese de nulidade, H0 de que não há diferença estatística
entre os tratamentos for rejeitada, a análise discriminatória da diferença entre os
diversos tratamentos é feita através do Teste de Dunn cuja variável-padronizada, Q
é estimada pela fórmula:
(4)
onde, na comparação dos tratamentos par a par: Rj = posto médio do tratamento j;
Ri = posto médio do tratamento i; SE = erro padrão da diferença entre postos
médios; nj = número de observações no tratamento j; ni = número de observações
no tratamento i; N = nj + ni.
O erro padrão da diferença entre postos médios (SE) é calculado através
da seguinte equação:
(5)
O cálculo do valor crítico de Q considera a ocorrência de GL = k – 1,
sendo k = número de tratamentos sob comparação, par a par; portanto GL = 1,
sendo seus valores para os níveis de 5% e 1%, respectivamente 2,772 e 3,643.
4.2 – Correlação entre atributos e variáveis
Por analogia, as comparações de causa e efeito que, na Estatística
Paramétrica são realizadas por meio dos coeficientes de correlação de Pearson (r) e
de determinação (R2), são na estatística não-paramétrica assumidas pelo Teste de
Spearman, através da variável-padronizada rs. A metodologia também faz uso da
conversão dos valores em postos ordenados,
72
A fórmula para estimação da variável padronizada, rs é a seguinte:
(6)
onde, di2 é o quadrado da diferença (di) entre valores dos postos atribuídos às
variáveis X e Y, e N é o número total de observações para cada variável
correlacionada, que deve ser o mesmo, já que a análise é feita com relação a pares
de valores das mesmas. Se houver dados empatados, o posto dos valores iguais é
calculado como a média dos postos que lhes corresponderiam se não fossem iguais.
Na suposição de que as observações são extraídas aleatoriamente de
uma população, podemos utilizar esses escores para determinar se as duas
variáveis estão associadas, a partir da rejeição da hipótese de nulidade de que o
valor observado de rs difira de zero somente por acaso. Para a tomada dessa
decisão, deve-se utilizar uma tabela de significância unilateral, pois as
probabilidades aplicam-se quando seus valores observados têm sentido positivo ou
negativo.
4.3 – Estimação da biomassa virgem
A estimação da biomassa virgem (B) de uma determinada espécie,
portanto ainda não sujeita a exploração pesqueira, pode ser feita através do Método
da Área Varrida (PAULY, 1982), termo que define o processo de “varredura’” do
substrato por redes-de-arrasto e, portanto, especialmente destinado a espécies
demersais e bentônicas. Este método se baseia na premissa de que um lance da
rede cobre uma trilha definida pela largura de sua boca, devidamente entralhada, e
pela distância percorrida, que é uma função das velocidades do arrasto e da
corrente.
Informações sobre estes aspectos do modus operandi das redes de
arrasto, juntamente com a estimativa da CPUE “virgem” [(C/f)max], ou seja, aquela
obtida quando a espécie começa a ser submetida a exploração pesqueira, permite
obter-se uma estimativa da densidade virgem (Dmax), ao se dividir a CPUE pelo valor
estimado para a área varrida (a), pela fórmula:
(C/f)max Dmax = --------------- (7)
a
73
A partir da Equação 7 e utilizando-se estimativas do coeficiente de
eficiência da rede (p) e do tamanho da área total de exploração (A), obtém-se a
fórmula do cálculo da biomassa virgem (B):
Dmax
B = (-----------) . A (8) p
Utilizando-se a prospecção para avaliar a abundância das diversas
espécies e, por extensão, sua biomassa sustentável, deve-se inicialmente obter
estimativas do rendimento na fase virgem da população das espécies de camarão,
no caso, por um conjunto “rede/porta” que sirva de estimador para um rendimento
médio não viciado que, gere por conseqüência, uma estimativa não viciada da
biomassa.
A CPUE no início da exploração pesqueira da espécie, em kg/hora foi
tomado teve como o valor estimado por meio da rede Única, para as três espécies
de camarão, a partir da premissa de que atua com maior abrangência na área de
exploração e reflete um poder de pesca médio em relação aos tipos de rede
“Gêmeas” e “Polivalente”. A área varrida (a), em km2/hora, foi estimada pela
seguinte equação:
a = (V.t) .h .X2 (9)
onde, V = velocidade de arrasto, considerado como 3,5 mn/h; t = hora de arrasto; h =
comprimento da tralha superior da rede, em metro; X2 = fator de entralhamento
(estimado em 0,7), utilizado para transformar o comprimento retilíneo da tralha na
abertura curvilínea da rede (quando arrastada) pela qual se mede o comprimento da
área varrida (Vt). Portanto, o valor de a foi cálculo por substituição dos seguintes
valores na Equação 9:
V = 3,5 mn/h x 1,852 = 6,5 km/h
t = 1 hora
Vt = 6,5 km
h = 13,65 m = 0,01365 km
a = 6,5 km x 0,01365 km x 0,7= 0,0621 km2
74
Devido à dificuldade de se estimar o coeficiente de eficiência, por
depender de observação subaquática das redes em ação, foi considerada uma faixa
de variação de p = 0,5 – 1,0, com dois objetivos: (1) abranger a maior amplitude
seletiva provável (em função da largura da malha) que determina uma variação
inversamente proporcional no coeficiente de eficiência da rede; (2) fazer com que o
aumento da eficiência produza estimativas da biomassa cada vez mais próximas do
próprio volume de captura.
O valor da área total de prospecção das espécies (A) foi calculado através
da medição do comprimento (L) e largura (W) da superfície ocupada pelo total de
arrastos experimentais realizados durante todo o programa de prospecção,
mostrados na Figura 2, com os seguintes resultados: L = 612 km, W = 12 km e A =
7.344 km2.
75
5 - RESULTADOS
5.1 – Captura
Riqueza da composição de espécies
Na costa norte do Brasil, durante as expedições pesqueiras realizadas
foram capturadas 71 diferentes espécies que, considerando-se a diversidade para
cada grande grupo, apresentaram numericamente a seguinte distribuição: 25
pertencentes ao grupo dos crustáceos; 40 do grupo dos peixes ósseos; 04 do grupo
dos peixes cartilaginosos; e 02 do grupo dos moluscos (Quadro 1). Os exemplares
foram, na sua maioria, classificados no CEPNOR/IBAMA pelos técnicos do setor de
sistemática de peixes e crustáceos.
Quadro 1 – Lista de espécies capturadas durante as pescarias da pesquisa ao longo da costa norte do Brasil.
Crustáceos
Nome Vulgar Nome Científico
1. Hepatus pudibundus (Herbst, 1785)
2. Acanthacaris caeca (A. Milne Edwards, 1881)
3. Heterocarpus oryx A. Milne Ewards, 1881
4. Acanthephyra eximia Smith, 1884
5. Glyphus marsupialis Filhol, 1884
6. Camarão carabineiro Aristaeopsis edwardsiana (Johnson, 1867)
7. Camarão chatim Gnothophausia ingens (Dohn, 1870)
8. Barata Bathynomus giganteus A. Milne Edwards, 1879
9. Bathyplax typhla (A. Milne Edwards, 1880)
10. Homolodromia paradoxa A. Milne Edwards, 1880
11. Munidopsis spinosa (A. Milne Edwards, 1880)
12. Stereomastis sculpta (Smith,1880)
13. Nephropsis aculeata Smith, 1881
14. Munida valida Smith, 1883
15. Calappa sulcata Rathbun, 1898
16. Camarão alistado Aristeus antillensis Bouvier, 1908
17. Pasiphaea merriami (Schimtt, 1931)
18. Glyphocrangon alispina Chace, 1939
19. Psalidopus barbouri (Chace, 1939)
20. Calappa nitida Holthuis, 1958
21. Bathysquilla microps (Manning, 1961)
22. Solenocera acuminata Pérez Farfante et Bullis, 1973
23. Chaceon sp.
24. Pasiphaeidae
25. Lithodes sp.
Peixes Ósseos
1. Nettastoma melanurum Rafinesque, 1810
2. Cynoponticus savanna (Bancroft, 1831)
76
3. Promethichthys prometheus (Cuvier, 1832)
4. Ruvettus pretiosus Cocco, 1833
5. Chaunax pictus Lowe, 1846
6. Polymixia lowei Günther, 1859
7. Nesiarchus nasutus Johnson, 1862
8. Setarches guentheri Johnson, 1862
9. Neoscopelus macrolepidotus Johnson, 1863
10. Nealotus tripes Johnson, 1865
11. Dibranchus atlanticus Peters, 1876
12. Peristedion truncatum (Günter, 1880)
13. Dicrolene introniger Goode & Bean, 1883
14. Laemonema barbatulum Goode & Bean, 1883
15. Caeloerinchus occa (Goode & Bean, 1885)
16. Gadomus arcuatus (Goode & Bean, 1886)
17. Diplacanthopoma brachysoma (Günther, 1887)
18. Stomias affinis (Günther, 1887)
19. Talismania homoptera (Vaillant, 1888)
20. Bathyuroconger vicinus (Vaillant, 1888)
21. Gadella imberbis (Vaillant, 1888)
22. Halosaurus guentheri Goode & Bean, 1896
23. Monomitopus agassizii (Goode & Bean, 1896)
24. Camurim-olho-verde Parasudis truculenta (Goode & Bean, 1896)
25. Peristedion altipinnis Regan, 1903
26. Hydrolagus mirabilis (Collett, 1904)
27. Epigonus macrops (Brauer, 1906)
28. Pseudocyttus maculatus Gilchrist, 1906
29. Bathypterois viridensis (Roule, 1916)
30. Bufoceratias wedli (Pietschmann, 1926)
31. Gibberichthys pumilus Parr, 1933
32. Nezumia atlantica (Parr, 1946)
33. Ariomma melanum (Ginsburg, 1954)
34. Bathytyphlops marionae Mead, 1958
35. Maulisia mauli Parr, 1960
36. Peristedion ecuadorensis Teague, 1961
37. Decapterus tabl (Berry, 1968)
38. Hoplostethus occidentalis Woods, 1973
39. Nezumia suilla Marshall & Iwamoto, 1973
40. Diretmidae Peixes Cartilaginosos
1. Scymnodon obscurus (Vaillant, 1888)
2. Cação-duende Mitsukurina owstoni Jordan, 1898
3. Breviraja spinosa Bigelow & Schroeder, 1950
4. Rajella purpuriventralis (Bigelow et Schroeder, 1962) Moluscos
1.Lula-comum sp.
2.Lula-gigante sp.
77
Entre as espécies de peixes cartilaginosos, em cinco lances realizados na
costa norte foi capturado seis exemplares do tubarão-duende, Mitsukurina owstoni
Jordan, 1898 (Lamniformes, Mitsukurinidae). No Brasil não existiam registros para a
espécie com material comprovativo analisado, havendo apenas relatos de dois
espécimes capturados no talude do Rio Grande do Sul (450 e 610 m de
profundidade). Os primeiros registros com material comprovativo foram obtidos por
esta pesquisa e cedidos para serem depositados no Museu Oceanográfico do Vale
do Itajaí, onde o material será analisado por especialistas, o que promoverá uma
certificação confiável dos registros de ocorrência desta espécie. Entre o material
coletado durante as pescarias e enviado para o museu, constam 14 registros
fotográficos com os respectivos dados da captura (Quadro 2 e Figuras 39, 40 e 41) e
um exemplar do tubarão (o único da América do Sul) (Anexo A).
Quadro 2 – Dados de registro da captura do tubarão-duende na costa norte do Brasil por meio de pescarias exploratórias.
Nome da embarcação
Posição geográfica (Lat./Long.)
Profundidade (m)
Peso da Amostra (kg)
Nº de exemplares
Mar Maria 04º15’09”N / 049º18’34’W
739,32 60,00 1
Noé
04º12’00”N / 049º10’30’W
730,17 40,00 1
04º13’36”N / 049º12’46’W
724,68 200,00 2
04º13’08”N / 049º11’09’W
750,30 80,00 1
04º13’14”N / 049º10’58’W
768,60 60,00 1
78
Figura 39 – Registros fotográficos de um dos exemplares capturados durante as pescarias executadas na costa norte do Brasil em arrasto do B.p. “Mar Maria”. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Figura 40 – Registro fotográfico de dois exemplares capturados durante as pescarias executadas na costa norte do Brasil em um dos arrastos do B.p. “Noé”. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Figura 41 – Mapa com os locais das ocorrências do tubarão duende na costa norte do Brasil capturado pelas embarcações durante as pescarias exploratórias.
79
O peixe-sapo-pintado, Sladenia shaefersi Caruso & Bullis, 1976, é uma
espécie com ocorrência em águas profundas e foi registrada para este experimento
em profundidades acima de 770 m (Figuras 42 e 43 e Quadro 3). Incluso no grupo
dos peixes ósseos, em sete lances foram capturados 14 exemplares desta espécie,
que é considerada rara pelos especialistas em sistemática. Até o momento a sua
identificação é baseada em apenas dois espécimes (comunicação pessoal).
Figura 42 – Exemplar do peixe-sapo-pintado capturado em arrastos realizados na costa norte do Brasil durante pescarias exploratórias. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Figura 43 – Mapa com os locais das ocorrências do peixe-sapo-pintado na costa norte do Brasil capturado pelo B.p. “Mar Maria” durante as pescarias exploratórias.
No grupo dos crustáceos, entre as espécies capturadas, foram
registradas três espécies de valor comercial: o camarão carabineiro, Aristaeopsis
edwardsiana (Johnson, 1867), o camarão alistado, Aristeus antillensis Bouvier, 1908
e o caraguejo real, Chaceon sp., espécies estas (Figuras 44, 45 e 46) que
80
apresentam comercialização no mercado internacional, principalmente no continente
europeu.
Quadro 3 – Dados de registro da captura do peixe-sapo-pintado na costa norte do Brasil durante as pescarias exploratórias.
Nome da embarcação
Posição geográfica (Lat./Long.)
Profundidade (m)
Nº de exemplares
Mar Maria
04º18’29”N / 049º11’57”W
1076,04 4
04º17’16”N / 049º10’54”W
1083,36 2
04º15’08”N / 049º08,613’W
911,34 1
04º07,627’N / 048º44’37”W
944,28 1
04º13’48”N / 049º11’29”W
779,58 1
04º14’23”N / 049º07’17”W
900,36 4
04º12’39”N / 049º07’24”W
801,54 1
Figura 44 – Exemplar do camarão carabineiro Aristaeopsis edwardsiana obtido durante as pescarias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
81
Figura 45 – Exemplar do camarão alistado Aristeus antillensis obtido durante as pescarias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Figura 46 – Exemplar do caranguejo-real obtido durante as pescarias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Abundância e CPUE (kg/hora)
Durante todo o experimento realizado na costa norte do Brasil, foi
capturada uma biomassa em torno de 106.973,83 kg de pescado. A participação
relativa em cada grupo de pescado, considerando os peixes ósseos, peixes
cartilaginosos, crustáceos e moluscos foram respectivamente de: a) 67%, b) 4%, c)
25% e d) 4% (Figura 47).
82
Peixe ósseos
67%
Crustáceos
25%
Peixe
cartilaginosos
4%
Moluscos
4%
Figura 47 – Representação gráfica dos percentuais dos grupos de pescado obtidos durante as prospecções pesqueiras na costa norte do Brasil.
Camarão carabineiro, Camarão alistado e Caranguejo real
Espécies com registros de ocorrência em uma mesma área apresentaram
uma distribuição desde a costa do litoral do Amapá até a foz do rio Pará (Figura 48)
em profundidades sempre superiores a 572 m (Quadro 4).
Figura 48 – Mapa com os locais das ocorrências dos camarões na costa norte do Brasil capturados pelo B.p Mar Maria durante as pescarias exploratórias.
83
Quadro 4 – Dados da captura do camarão carabineiro Aristaeopsis edwardsiana e camarão alistado Aristeus antillensis na costa norte do Brasil por meio de pescarias exploratórias.
Nome da embarcação
Nº de lances
Variação da profundidade (m)
Produção (kg)
Mínima Máxima Carabineiro Alistado
Mar Maria 56 572,79 1.246,23 534,50 205,48
Noé 452 596,00 829,00 6.772,64 6.029,50
TOTAL 508 572,79 1.246,23 7.307,14 6.234,98
Para a captura do camarão carabineiro Aristaeopsis edwardsiana e
camarão alistado Aristeus antillensis, foram realizados cálculos de CPUE dos
arrastos efetivos para comparação entre os diferentes poderes de captura para cada
tipo de rede (Tabela 2 e Figura 49).
Tabela 2 – Resultados dos experimentos realizados com diferentes tipos de rede na costa norte do Brasil na área de distribuição do camarão carabineiro Aristaeopsis edwardsiana e camarão alistado Aristeus antillensis em pescarias exploratórias.
Rede Biomassa Capturada
(kg)
CPUE (kg/h)
Esforço (horas)
Quantidade de Arrastos
Tempo médio por
Arrasto (horas)
R1 602,90 3,21 187,77 56 3,35 R2 6.879,50 15,99 430,23 172 2,50 R3 153.50 4,33 35,47 12 2,96
R4 SM 289,00 8,26 34,98 13 2,69 R4 780,00 6,57 118,72 37 3,21 R5 2.496,00 5,85 426,75 93 4,59
Onde: R1 – Rede Polivalente; R2 – Rede Única; R3 – Redes Gêmeas; R4 – Rede Única 2; R5 –
Rede Única 3. Obs: SM significa que a rede foi utilizada também sem malheta para as pescarias
exploratórias.
A Tabela 2 e Figura 49 demonstram que a rede com melhor rendimento
(CPUE) foi a de número 2 (rede única), com uma captura quase duas vezes maior
que a segunda mais produtiva (rede 4 SM). Vale salientar que, com exceção das
redes R1 e R5, todos os outros apetrechos apresentaram problemas técnicos
durante as atividades pesqueiras.
84
3.21
15.99
4.33
8.26
6.575.85
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
R1 R2 R3 R4 SM R4 R5
Tipo de Apetrecho (rede)
CP
UE
(kg
/h)
Figura 49 – Representação gráfica com as diferentes CPUEs obtidas durante os experimentos realizados na costa norte, para análise do poder de captura das redes utilizadas.
Outro estudo realizado foi a utilização da rede 2 (mais produtiva) em duas
diferentes condições de arrasto com o objetivo de verificar o comportamento do
esforço e desgaste da embarcação durante as pescarias. Foram realizados arrastos
em duas condições: 1) com velocidades acima de 2,7 nós, considerada ideal para as
pescarias devido às condições oceanográficas e tipo de fundo e 2) com velocidade
igual ou abaixo de 2,7 nós.
Quando obtidos e comparados, os resultados apresentaram uma
produtividade 58,76% menor para a rede 2 utilizada com velocidade igual ou abaixo
de 2,7 nós (Tabela 3). Pode-se verificar também que, na prática, a condição de
arrasto 2 (citada acima) resultou em:
a) um maior acúmulo de lama na rede e como conseqüência um
maior percentual de camarões de baixa qualidade;
b) maior dificuldade durante o recolhimento devido ao acúmulo de
lama; e
c) para o mesmo tempo de arrasto velocidades mais baixas
resultam em menores áreas varridas e conseqüentemente menor
produção, ocasionada por uma menor distância percorrida e uma menor
abertura da rede.
85
Tabela 3 – Resultados dos experimentos realizados em diferentes condições de arrasto na costa norte do Brasil na área de distribuição do camarão carabineiro Aristaeopsis edwardsiana e camarão alistado Aristeus antillensis em pescarias exploratórias.
Condição Biomassa Capturada
(kg)
CPUE (kg/h)
Esforço (horas)
Quantidade de Arrastos
Tempo médio por
Arrasto (horas)
1 6.879,50 15,99 430,23 172 3,05 2 885,00 6,59 134,2 44 2,50
5.1.2 - Fauna Acompanhante
Entre a fauna acompanhante, duas espécies, apesar de não
apresentarem valor comercial elevado ou interesse comercial, foram avaliadas como
de possível aproveitamento, ambas de ocorrência dentro da área de captura dos
crustáceos, sendo estas o camarão chatim Gnothophausia ingens (Dohn, 1870) e a
lula-gigante (não identificada até o momento).
O camarão chatim Gnothophausia ingens (Figura 50), inicialmente
descartado para o aproveitamento e processamento, foi utilizado para a elaboração
de filés de camarão e apresentou no final um produto com alta qualidade em termos
de sabor, aparência e frescor (ver Processamento do Pescado e Coleta de Dados),
contudo ainda não se obteve o conhecimento do preço de mercado. Esta espécie
representa dentro da biomassa obtida, 1,52 % de toda a captura, o que resultou em
uma captura de 1.232,93 kg. Considerando a CPUE média dos lances efetivos dos
diferentes tipos de redes, foi obtido um valor de 0,77 kg/h (Tabela 4).
Figura 50 – Exemplar do camarão chatim Gnothophausia ingens capturado nas pescarias realizadas na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
86
Tabela 4 – Dados do camarão chatim Gnothophausia ingens e lula-gigante capturados durante as pescarias exploratórias na costa norte do Brasil.
Espécie Biomassa Capturada (kg) % CPUE (kg/h)
Camarão chatim 1.232,93 1,52 0,77 Lula gigante 3.686,25 4,54 2,24 Outros 76.243,41 93,94 X Total 81.162,59 100,00 X
No caso da lula gigante (Figura 51), imprópria para consumo em
conseqüência do sabor excessivamente salgado, poderá ser aproveitada como isca
na pescarias de grandes pelágicos, uma vez que foi observada (ou espécie similar)
no conteúdo estomacal do meka (Xiphias gladius) em estudos realizados pelo
projeto PROTUNA (Figura 52). Atualmente, pode-se citar que a isca utilizada nas
pescarias dos recursos pelágicos oceânicos é um dos itens que mais onera o custo
da pescaria.
Figura 51 – Lula gigante capturada como fauna acompanhante durante as pescarias exploratórias na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Figura 52 – Lula gigante retirada do conteúdo estomacal de um meka capturado durante as pescarias exploratórias do projeto PROTUNA na costa norte do Brasil. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Durante o experimento realizado na costa norte do Brasil, a lula gigante
apresentou uma biomassa estimada de 3.686,25 kg, o que representa 4,54% da
captura total e com uma CPUE média dos lances efetivos dos diferentes tipos de
redes, de 2,24 kg/h (Tabela 4).
87
Para estas duas espécies, o camarão chatim e a lula gigante, quando se
avalia a biomassa capturada em conjunto para os respectivos aproveitamentos, ou
seja, para a elaboração de filé de camarão e utilização como iscas em pescarias de
recursos pelágicos, é possível verificar que ambas representam cerca 6,06% de todo
o pescado capturado in natura.
5.1.3 – Processamento do Pescado
Comparando-se os dois tipos de sistema de congelamento, quando
congelado em bloco, uma mesma mão-de-obra (quantidade de tripulantes) realizou
em menos tempo a preparação do produto para o congelamento (estocagem em
caixetas) e depois de embalados, os filés ocuparam menos espaço dentro dos
túneis. Este processo foi avaliado considerando uma mesma quantidade do produto.
Apesar do menor esforço de mão-de-obra e menor ocupação de espaço utilizado
nos túneis, para o congelamento, os filés arrumados em blocos utilizaram mais
tempo.
O sistema de congelamento em bandejas, apesar de utilizar mais tempo e
esforço da mão-de-obra nos preparativos, necessita de um menor tempo para o
congelamento, resultou em um produto final de melhor aparência e praticidade para
o manuseio / preparação do alimento para o consumo, uma vez que os filés se
apresentam congelados individuais dentro das caixas (Figura 53, 54 e 55). Deve-se
considerar também que, quando utilizado o congelamento em bandejas, devido a
menor concentração de filés de camarão, uma caixa (com um mesmo volume)
apresentará um peso menor do que quando utilizado o sistema de congelamento em
bloco.
88
Figura 53 – Filés dos camarões arrumados na bandeja de alumínio (1ª camada) preparados para entrada nos túneis para congelamento. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Figura 54 – Apresentação da caixa de filé de camarão após a utilização do sistema de congelamento em bloco. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
Figura 55 – Apresentação da caixa de filé de camarão após a utilização do sistema de congelamento em bandeja. Fonte: Asano-Filho et al. (2005).
89
5.2 - Resultados da Análise Estatística
A metodologia da “Prospecção Pesqueira” é, de certo modo, um
“exercício de adivinhação”, pois seu objetivo é investigar sobre a presença e
abundância de espécies de importância econômica, mas com pouco conhecimento
prévio sobre sua distribuição. Assim, a principal exigência dessa técnica é que sua
cobertura seja a mais abrangente possível no tempo e no espaço, motivo por que se
deve usar uma ampla faixa de aparelhos de pesca, no caso deste trabalho, redes de
arrasto, tendo em vista que se trata de camarões de profundidade. Portanto, já que
se tem conhecimento prévio sobre quais espécies-alvos estarão sob prospecção,
essa atividade adquire características que são mais próprias do que se denomina
“pesca experimental”, ou seja, busca-se mais investigar as táticas de pesca
aplicáveis aos estoques de camarão do que propriamente sua abundância do ponto
de vista espaço-temporal.
As redes gêmeas operaram em faixas de profundidade bastante
semelhantes para as três espécies, com valores médios de 749,7 m (carabineiro),
745,8 m (alistado) e 745,0 m (chatim). As redes “Única” seguiram a mesma
tendência, com valores médios de 745,8 m, 744,2 m e 745 m, para as três espécies
acima mencionadas. Porém, para as condições de corrente e maré da região Norte
do Brasil, que se caracterizam por sua grande intensidade, este aparelho de pesca
mostrou ser demasiadamente pesado para as operações de arrasto e recolhimento
da rede, o que resultou em desgastes excessivos do motor. Apenas a rede
polivalente divergiu um pouco desse padrão, com valores médios decrescentes para
caribineiro (751,5 m), chatim (724,8 m) e alistado (707,6 m). Estas informações
provavelmente significam apenas que a grande maioria dos arrastos foi realizada
numa estreita faixa de profundidade, o que não teria nenhuma conotação biológica,
no sentido de alguma espécie estar mais adaptada a viver em determinadas
profundidades.
Não se verifica tendência de variação do rendimento de camarões em
função da profundidade, quando se considera as redes individualmente. No entanto,
para o conjunto destas, ocorre uma aglomeração dos valores do rendimento numa
faixa bastante estreita (700-800 m) dentro da amplitude de 236,1 – 1246,2 m (Tabela
5; Figura 56), assumindo uma distribuição semelhante à da curva normal (Figura 57)
visível através de ajuste por meio de médias móveis (Figura 58). Esta tendência não
é tão evidente quando se busca uma correlação de cada espécie com a
90
profundidade, talvez pelo fato de que cada uma delas, individualmente, tem
exigências bioecológicas próprias que se refletem na disponibilidade para os
diversos tipos de rede. Fazendo-se uma varredura por tipo de rede, verifica-se
dentre estes queas gêmeas fornecem uma distribuição CPUE/profundidade a mais
próxima da tendência geral, o que não se observou para as redes polivalente e única
(Figuras 59 a 61).
Tabela 5 - Distribuição de freqüências absoluta, relativa (%) e acumulada e CPUE’s médias em relação à profundidade de captura dos camarões carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim, Gnothophausia ingens, em relação à profundidade.
Profundidade (m) CPUE (kg/h)
Número de Arrastos
fabs frel (%) facum
225 3,0 2 0,35 -
275 3,0 1 0,18 0,53
325 3,0 1 0,18 0,70
375 3,0 1 0,18 0,88
425 4,6 4 0,70 1,58
475 3,6 2 0,35 1,94
525 3,0 4 0,70 2,64
575 5,3 7 1,23 3,87
625 5,1 10 1,76 5,63
675 10,7 29 5,11 10,74
725 11,6 235 41,37 52,11
775 12,8 244 42,96 95,07
825 6,2 13 2,29 97,36
875 5,2 5 0,88 98,24
925 4,3 3 0,53 98,77
975 4,5 1 0,18 98,94
1025 4,9 3 0,53 99,47
1075 3,0 1 0,18 99,65
1125 3,0 1 0,18 99,82
1175 - - - 99,82
1225 3,0 1 0,18 100,00
Total - 568 100,00 -
91
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
225 275 325 375 425 475 525 575 625 675 725 775 825 875 925 975 1025 1075 1125 1175 1225
PROFUNDIDADE (m)
FR
EQ
UÊ
NC
IA R
EL
AT
IVA
(%
)
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
FR
EQ
UÊ
NC
IA A
CU
MU
LA
DA
f rel facum
Figura 56 – Distribuição de frequências relativa (%) e acumulada do rendimento dos camarões carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim, Gnothophausia ingens, em relação à profundidade.
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300
PROFUNDIDADE (m)
CP
UE
(k
g/a
rra
sto
)
Figura 57 – Rendimento (kg/arrasto) dos camarões carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim, Gnothophausia ingens, em relação à profundidade, sendo utilizados todos os tipos de redes.
92
0
2
4
6
8
10
12
14
200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 1300
PROFUNDIDADE (m)
RE
ND
IME
NT
O (
kg
/arr
asto
)
Figura 58 – Médias móveis do rendimento (kg/arrasto) dos camarões carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim, Gnothophausia ingens, em relação à profundidade.
93
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
680 700 720 740 760 780 800 820 840
PROFUNDIDADE (m)
CP
UE
(kg
/ho
ra)
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
680 700 720 740 760 780 800 820 840PROFUNDIDADE (m)
CP
UE
(k
g/h
ora
)
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
680 700 720 740 760 780 800 820 840
PROFUNDIDADE (m)
CP
UE
(kg
/ho
ra)
Figura 59 – Rendimento (kg/hora) em relação à profundidade, sendo utilizadas as redes gêmeas para as três espécies de camarão (a) carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, (b) alistado, Aristeus antillensis e (c) chatim, Gnothophausia ingens.
(a)
(b)
(c)
94
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
PROFUNDIDADE (m)
CP
UE
(kg
/ho
ra)
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
PROFUNDIDADE (m)
CP
UE
(kg
/ho
ra)
0,0
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
0 200 400 600 800 1000 1200 1400
PROFUNDIDADE (m)
CP
UE
(kg
/ho
ra)
Figura 60 - Rendimento (kg/hora) em relação à profundidade, sendo utilizada a rede polivalente para as três espécies de camarão (a) carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, (b) alistado, Aristeus antillensis e (c) chatim, Gnothophausia ingens.
(c)
(b)
(a)
95
0,0
2,0
4,0
6,0
8,0
10,0
12,0
14,0
16,0
18,0
600 650 700 750 800 850
PROFUNDIDADE (m)
CP
UE
(kg
/ho
ra)
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
600 650 700 750 800 850
PROFUNDIDADE (m)
CP
UE
(kg
/ho
ra)
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
600 650 700 750 800 850
PROFUNDIDADE (m)
CP
UE
(kg
/hp
ora
)
Figura 61 - Rendimento (kg/hora) em relação à profundidade, sendo utilizada a rede única para as três espécies de camarão (a) carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, (b) alistado, Aristeus antillensis e (c) chatim, Gnothophausia ingens.
O uso da Estatística Paramétrica não identificou correlação entre CPUE e
profundidade, como mostra a tendência de distribuição normal dos dados. No
entanto, quanto se usa o teste de Spearman, obtêm-se resultados um tanto
(a)
(b)
(c)
96
diferentes, pois os valores do coeficiente de correlação (rs) por espécie indicam
níveis significantes de correlação para as três espécies, com variações causadas
pelo tipo de rede, como a seguir: (a) Carabineiro: significante para as redes gêmeas
(rs = 0,419; P < 0,05); polivalente (rs = 0,448; P < 0,05) e não significante para rede
Única (rs = 0,131; P > 0,05); (b) Alistado: significante para as redes gêmeas (rs =
0,295; P < 0,05); polivalente (rs = 0,288; P < 0,05) e não significante para rede Única
(rs = 0,073; P > 0,05); (c) Chatim: não significante para as redes gêmeas (rs = 0,335;
P > 0,05); única (rs = 0,123; P > 0,05) e significante para a rede polivalente (rs =
0,506; P < 0,01) (Tabela 6).
Tabela 6 – Coeficiente de correlação de Spearman (rs), entre CPUE e profundidade, por espécies (carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim, Gnothophausia ingens), para os três conjuntos de redes (Gêrmeas, Polivalente e Única).
Espécies Redes d2 N rs P Profundidade
Média (m)
Carabineiro
Gêmeas 360589 155 0,419 < 0,05 749,7
Polivalente 76473 94 0,448 < 0,05 751,5
Única 4703955 319 0,131 > 0,05 745,8
Alistado
Gêmeas 437824 155 0,295 < 0,05 745,8
Polivalente 98578 94 0,288 < 0,05 707,6
Única 5017461 319 0,073 > 0,05 744,2
Chatim
Gêmeas 400217 155 0,355 > 0,05 745,0
Polivalente 68406 94 0,506 < 0,01 724,8
Única 4742524 319 0,123 > 0,05 745,0
O coeficiente por postos de Spearman tem 91% da eficiência do
coeficiente de correlação, r de Pearson na rejeição de H0, quando a população tem
distribuição normal bivariada e a mensuração é feita no mínimo em escala de
intervalo (HOTELLING & PABST, 1936 apud SIEGEL, 1977). Portanto, para
comprovar a existência de uma associação entre duas variáveis da população, e
quando as exigências inerentes ao uso do coeficiente rs forem satisfeitas, seu valor
revelará a existência de tal correlação ao mesmo nível de significância que r atinge,
em 91% dos casos.
97
A Tabela 7, graficamente representada pela Figura 62, revela a grande
participação de valores transformados na faixa 3,0 – 4,0 kg/hora (que contém os
valores nulos) para as três espécies em conjunto, com destaque para a rede
Polivalente, que apresentou uma frequência relativa de 44,7%, seguida das redes
Única (7,8%) e Gêmeas (5,8%). Os valores das respectivas medianas, 4,4 kg/hora,
10,8 kg/hora e 18,8 kg/hora (Tabela 9) confirmam a maior eficiência das redes na
ordem GEM > UNI > POL (Figura 63).
98
Tabela 7 – Frequências absoluta, relativa (%), absoluta acumulada e acumulada, e mediana por intervalos de classe de CPUE (kg/h), para os três conjuntos de redes, em relação às três espécies, carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim, Gnothophausia ingens.
CPUE (kh/h)
Freqüência absoluta Frequência relativa (%) Freq Abs Acumulada Frequência acumulada (%)
POL GEM UNI POL GEM UNI POL GEM UNI POL GEM UNI
3 ─ 4 51 9 24 44,7 5,8 7,8 51 9 24 44,7 5,8 7,8
4 ─ 5 15 3 15 13,2 1,9 4,9 66 12 39 57,9 7,7 12,7
5 ─ 6 13 9 14 11,4 5,8 4,5 79 21 53 69,3 13,6 17,2
6 ─ 7 9 9 21 7,9 5,8 6,8 88 30 74 77,2 19,4 24,0
7 ─ 8 7 5 35 6,1 3,2 11,3 95 35 109 83,3 22,7 35,3
8 ─ 9 6 4 43 5,3 2,6 13,9 101 39 152 88,6 25,3 49,2
9 ─ 10 7 6 38 6,1 3,9 12,3 108 45 190 94,7 29,2 61,5
10 ─ 11 3 3 28 2,6 1,9 9,1 111 48 218 97,3 31,1 70,6
11 ─ 12 1 2 18 0,9 1,3 5,8 112 50 236 98,2 32,4 76,4
12 ─ 13 1 1 20 0,9 0,6 6,5 113 51 256 99,1 33,1 82,9
13 ─ 14 3 6 - 1,9 1,9 54 262 35,0 84,8
14 ─ 15 3 3 - 1,9 1,0 57 265 37,0 85,8
15 ─ 16 5 8 - 3,2 2,6 62 273 40,2 88,4
16 ─ 17 3 7 - 1,9 2,3 65 280 42,2 90,6
17 ─ 18 6 5 - 3,9 1,6 71 285 46,1 92,3
18 ─ 19 6 6 - 3,9 1,9 77 291 50,0 94,2
19 ─ 20 7 4 - 4,5 1,3 84 295 54,5 95,5
20 ─ 21 12 6 - 7,8 1,9 96 301 62,3 97,4
21 ─ 22 8 1 - 5,2 0,3 104 302 67,5 97,8
22 ─ 23 8 2 - 5,2 0,6 112 304 72,7 98,4
23 ─ 24 9 - 5,8 - 121 78,5
24 ─ 25 4 - 2,6 - 125 81,1
25 ─ 26 8 1 - 5,2 0,3 133 86,3 100,0
26 ─ 27 6 - 3,9 - 139 90,2
27 ─ 28 5 - 3,2 - 144 93,5
28 ─ 29 3 - 1,9 - 147 95,4
29 ─ 30 3 - 1,9 - 150 97,4
30 ─ 31 2 - 1,3 152 98,7
31 ─ 32 1 1 0,9 - 0,3 100,0 100,0
32 ─ 33 2 2 - 1,3 0,6
33 ─ 34 1 - - 0,3
TOTAL 114 154 309 100 100 100
MEDIANA 4,4 18,8 10,8
99
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
3,5
4,5
5,5
6,5
7,5
8,5
9,5
10
,5
11
,5
12
,5
13
,5
14
,5
15
,5
16
,5
17
,5
18
,5
19
,5
20
,5
21
,5
22
,5
23
,5
24
,5
25
,5
26
,5
27
,5
28
,5
29
,5
30
,5
31
,5
32
,5
33
,5
CPUE (kg/hora)
FR
EQ
UÊ
NC
IA R
EL
AT
I V
A (
%)
POL GEM UNI
Figura 62 - Frequência relativa (%) em relação ao rendimento (kg/hora) para os três conjuntos de redes utilizadas (Gêmeas, Polivalente e Única), para as três espécies de camarão, carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim, Gnothophausia ingens.
Figura 63 - Frequência acumulada (%), com as respectivas medianas, em relação ao rendimento (kg/hora) para os três conjuntos de redes utilizadas (Gêmeas, Polivalente e Única), para as três espécies de camarão, carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim, Gnothophausia ingens.
100
A estimação da abundância relativa obrigatoriamente se baseou em
dados da profundidade na faixa de 700 – 800 m, gerando médias com variação
muito pequena. As correspondentes estimativas da CPUE têm maior dispersão,
mas o fato de que não apresentam tendência de variação pode resultar
exatamente dessa concentração dos arrastos numa estreita faixa de
profundidade dentro da amplitude total de 236 - 1.245 m (Tabela 8; Figura 64).
Portanto, é provável que as estimativas do rendimento pesqueiro estejam
viciadas por esse aspecto da metodologia adotada na prospecção, pela falta de
representação adequada de valores da profundidade acima e abaixo da faixa
central. No entanto, deve-se destacar que as pescarias realizadas na área do
talude superior entre as latitudes de 18º S e 33º S, por meio de barcos
estrangeiros arrendados, também se concentraram na estreita faixa de
profundidade de 700-800 m (Dallagnolo, 2008).
Tabela 8 – Profundidade e CPUE médias das três espécies de camarão carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim, Gnothophausia ingens, por tipo de conjunto de rede (Gêmeas, Polivalente e Única).
Carabineiro Alistado Chatim
GÊMEAS
Profundidade Média
749,68 745,61 744,95
CPUE Média 5,26 4,34 1,79
ÚNICA
Profundidade Média
745,77 744,24 745,30
CPUE Média 4,99 3,15 1,93
POLIVALENTE
Profundidade Média
751,51 707,56 724,79
CPUE Média 2,76 1,69 1,34
101
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
GEMRET UNI0V UNIRET UNI2OV UNI2RET UNI3OV UNI3RET POLOV POLRET
REDE-PORTA
PR
OF
UN
DID
AD
E (
m)
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
CP
UE
(kg
/arr
asto
)
PROF CPUE
Figura 64 - Variação relativa entre as médias da CPUE e da profundidade, para o conjunto das espécies de camarão capturadas por diversas combinações rede/porta.
A comparação entre os k = 9 conjuntos “rede/porta” (tratamentos),
considerando-se as redes polivalente (POL), única (UNI), única-2 (UNI2),
única-3 (UNI-3) e gêmea (GEM), para os tipos de porta oval (OV) e retangular
(RET), através do Teste de Kruskal-Wallis, gerou um valor de H = 182,07 o
qual, por comparação com o valor crítico, H = 20,09 para 9 - 1 = 8 graus de
liberdade e = 0,01, indica que a chance de se encontrar um valor de H igual
ou maior que 20,09 menor do que 0,01, portanto, altamente improvável e,
assim, altamente significante. Daí, conclui-se que os tipos de combinação
rede/porta são responsáveis por variações significantes no valor do rendimento
pesqueiro das três espécies de camarão, em conjunto.
O teste de Kruskal-Wallis indica uma notável significância na
diferença entre os rendimentos dos cinco tipos de rede, conforme o valor de H
= 158,49 em relação ao valor crítico de H = 13,28, com 4 Gl (k -1 ) e = 0,01.
Tomando-se como parâmetro o valor médio dos postos (R), a ordem é a
seguinte: GEM (393,1), UNI (284,8), UNI3 (278,0), UNI2 (180,0) e POL (131,1).
Deve-se ressaltar que as redes gêmeas têm um modus operandi diferente dos
outros tipos, pois formam um conjunto que opera simultaneamente e são
mantidas abertas por meio de duas portas retangulares colocadas na manga
102
externa de cada rede. Este fato explica a significância da diferença do seu
rendimento em relação aos outros quatro tipos, provavelmente por apresentar
um poder de pesca bem superior, que explicaria a obtenção de valores do
rendimento maiores do que os dos outros tipos de rede. Independente da rede,
o tipo de porta apresentou também variação significante quanto ao rendimento,
como mostra o valor de H = 6,67, superior ao Hcrt. = 6,64 para 1 Gl (2 -1) e =
0,01. Usando-se também como parâmetro o valor médio dos postos (R),
verifica-se que a porta retangular atribui a todos os tipos de rede uma maior
eficiência (R = 303,1) do que a porta oval (R = 266,1).
As redes gêmeas, de certo modo, devem ter viciado esses
resultados, pois devido ao seu maior poder de pesca, evidenciado pelo maior
valor do rendimento obtido para as três espécies (Tabela 9) e ao fato de que
operam apenas com portas retangulares, portanto sem dados com portas
ovais, para comparação. Assim, para se avaliar a ocorrência desse vício, foi
feito um novo cálculo excluindo-se os dados relativos às redes gêmeas,
obtendo-se o valor de H = 511,99 (P <0,01). As médias de R = 266,1 (oval) e R
= 193,1 (retangular) agora apontam para a enorme predominância da porta
oval sobre a retangular na geração do rendimento das três espécies de
camarão. Isto parece muito lógico, pois seu deslocamento sobre o substrato
irregular da região Norte deve-se processar com maior rapidez, o que atribui às
redes que utilizam a porta oval maior eficiência na captura dos camarões.
O teste discriminatório de Dunn, cujos valores se encontram na
Tabela 10, confirma a elevada significância de H = 182,09 (P < 0,01) pelo fato
de que, dentre 36 comparações, apenas três foram não significantes, por terem
valor calculado inferior ao valor crítico, Q = 2,772, para k = 2 GL:
POLOV/UN2RET (Q = 0,224), UNIOV/ UN3OV (Q = 1,803) e UNIOV/UN3RET
(Q = 2,591), dos quais dois foram devido à porta e um, devido à rede.
103
Tabela 9 – Testes de rendimento de Rede/Porta, Porta e Rede, para as três espécies de camarão carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, alistado, Aristeus antillensis e chatim, Gnothophausia ingens.
TESTE REDE/PORTA
POL.OV POL.ARET UNI.OV UNI.ARET GEM.RET UN2.OV UN2.ARET UN3.OV UN3.ARET TOTAL
R 9801 2519 60343 14841 60932 2006 1955 3959 5215 161571
n 71 23 193 71 155 8 14 14 19 568
R2/n 1352952 275885 18866724 3102187 23952959 503005 273002 1119549 1431380 50877642
Média 6,067 5,171 11,318 7,696 17,345 8,607 5,967 9,466 10,204 9,093
R 138,0 109,5 312,7 209,0 393,1 250,8 139,6 282,8 274,5 284,5
H 182,07
TESTE REDE
POL UNI GEM UN2 UN3 TOTAL
R 12320 75184 60932 3961 9174 161571
N 94 264 155 22 33 568
R2/n 1614706 21411492 23952959 713160 2550372 50242689
R 131,1 284,8 393,1 180,0 278,0 284,5
H 158,49
TESTE PORTA (Sem GEM)
TESTE PORTA (Com GEM)
OV RET TOTAL OV RET TOTAL
R 76109 24530 100639 R 76109 85462 161571
N 286 127 413 N 286 282 568
R2/n 20253776 4737960 24991736 R2/n 20253775,81 25899834,91 46153610,72
R 266,1 193,1 243,7 R 266,1153846 303,0567376 284,4559859
H 511,99 H 6,67
104
Tabela 10 - Valores de D (teste de Dunn) para comparação do rendimento entre pares de conjuntos “rede/porta” utilizados na prospecção de camarões de profundidade na região Norte do Brasil.
POL.RET UNI.OV UNI.RET UN2.OV UN2.RET UN3.OV UN3.RET GEM
POL.OV 4,390 -16,482 -10,304 -14,351 -0,224 -20,259 -20,392 -27,236
POL.RET -14,744 -15,318 -47,580 -9,438 -54,290 -47,505 -24,657
UNI.OV 9,781 3,252 10,443 1,803 2,591 -7,416
UNI.RET -5,312 9,711 -10,323 9,782 -19,657
UN2.OV 116,041 -33,458 -10,146 -9,145
UN2.RET -69,575 -48,850 -18,586
UN3.OV 3,012 -8,090
UN3.RET -9,700
Onde: (POL.RET) Rede Polivalente com porta retangular; (UNI.OV) Rede Única com porta oval; (UNI.OV) Rede Única com porta retangular; (UN2.OV) Rede única 2 com porta oval; (UN2.RET) Rede única 2 com porta retangular; (UN3.OV) Rede única 3 com porta oval; (UN3.RET) Rede única 3 com porta retangular e (GEM) Redes gêmeas.
Análise por espécie
Uma vez determinada a ordem de eficiência dos conjuntos
rede/porta, e identificados os tipos de rede e de porta mais eficientes,
individualmente, foi realizada uma investigação sobre quais espécies são mais
vulneráveis a cada um desses elementos, numa escala ordenada. Os
resultados da análise estatística mostram que, do ponto de vista tecnológico,
deve-se usar os conjuntos rede/porta na seguinte ordem, para cada uma das
três espécies de camarão:
Carabineiro: GEM, UNI3.0V, UNI.OV, UNI3.RET, UNI.RET, UNI2.OV,
POL.OV, UNI2.RET, POL.RET.
Alistado: GEM, UNI.OV, UNI2.OV, POL.RET, UNI3.RET, UNI.RET, UNI3.OV,
POL.OV, UNI2.RET.
Chatim: UNI3.RET, UNI3.OV, UNI2.OV, UNI.OV, GEM, UNI.RET, UNI2.RET,
POL.OV, POL.RET.
Os resultados do Teste de Dunn mostram que, do ponto de vista
tecnológico, deve-se usar os tipos de rede na seguinte ordem, independente do
tipo de porta, para cada uma das três espécies de camarão:
105
Carabineiro: GEM, UNI3, UNI, UNI2, POL
Alistado: GEM, UNI, UNI2, UNI3, POL
Chatim: UNI3, UNI, UNI2, GEM, POL
Os resultados do Teste de Dunn mostram que, do ponto de vista
tecnológico, deve-se usar os tipos de porta na seguinte ordem, independente
do tipo de rede, para cada uma das três espécies de camarão:
Carabineiro: RET, OV
Alistado: RET, OV
Chatim: OV, RET
Biomassa das espécies de camarão
Tendo-se utilizado a prospecção para avaliar a abundância das diversas
espécies e, por extensão, sua biomassa sustentável, foi feita uma comparação
dessas variáveis para se chegar a uma estimativa do rendimento-padrão, a ser
obtido por um conjunto “rede/porta” que serviu de estimador para um
rendimento médio não viciado que, gerou por conseqüência, uma estimativa
não viciada da biomassa.
A correlação significante do rendimento entre espécies, por tipo de
rede, indicaria a chance da captura de uma espécie influenciar a captura de
outra, em proporções variáveis de acordo com o coeficiente de determinação
(R2). Os dados de prospecção mostram que apenas para as redes gêmeas
ocorreu significância estatística e uma razoável aderência entre os valores do
rendimento das espécies carabineiro (CAR), alistado (ALIS) e chatim (CHAT),
como mostram os resultados:
- CPUE CAR/CPUE ALIS: b = 1,180; r = 0,820; R2 = 0,6728 ou
67,3% de dependência entre as variáveis (Figura 65);
- CPUE CAR/CPUE CHAT: b = 0,359; r = 0,647; R2 = 0,4190 ou
41,9% de dependência entre as variáveis (Figura 66);
- CPUE ALIS/CPUE CHAT: b = 0,267; r = 0,693; R2 = 0,4808 ou
48,1% de dependência entre as variáveis (Figura 67).
106
Por esses dados, pode-se aventar as hipóteses de que, nas
pescarias com redes gêmeas (GEM), ao se capturar carabineiro tem-se a
chance de 67,3% de se capturar alistado e 41,9% de se capturar chatim, e ao
se capturar alistado, tem-se a chance de 48,1% de se capturar chatim. Para os
tipos de rede sob as categorias “Única” e “Polivalente”, as correlações não
foram significantes, ou por falta de um número adequado de observações ou
porque as redes têm poder de pesca insuficiente para abranger a distribuição
das três espécies com chances semelhantes de captura.
y = 0,6988x1,1798
R2 = 0,6728
0,0
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
40,0
45,0
50,0
0,0 6,0 12,0 18,0 24,0 30,0 36,0
CPUE - CAR (Kg/hora de arrasto)
CP
UE
- A
LIS
(kg
/ho
ra d
e a
rrasto
)
Figura 65 – Equação de regressão entre as CPUEs do camarão carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, e do camarão alistado, Aristeus antillensis, na região Norte do Brasil.
107
y = 0,8563x0,3588
R2 = 0,419
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 12,0 14,0 16,0 18,0
CPUE - CAR (kg/hora de arrasto)
CP
UE
- C
HA
T (
kg/h
ora
de a
rrasto
)
Figura 66 – Equação de regressão entre as CPUEs do camarão carabineiro Aristaeopsis edwardsiana, e do camarão chatim Gnothophausia ingens, na região Norte do Brasil.
y = 1,0202x0,2672
R2 = 0,4808
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
4,5
5,0
0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0
CPUE - ALIS (kg/hora de arrasto)
CP
UE
- C
HA
T (
kg
/ho
ra d
e a
rrasto
)
Figura 67 – Equação de regressão entre as CPUEs do camarão alistado, Aristeus antillensis e do camarão chatim Gnothophausia ingens, na região Norte do Brasil. O valor estimado da CPUE reflete a quantidade de indivíduos
efetivamente retida no interior da rede, mas não permite inferir quanto do
estoque que se concentra na trilha por onde a rede está sendo arrastada
realmente escapa. Esse aspecto é determinado por meio do “coeficiente de
108
eficiência da rede” (p), o qual introduz variações na estimativa da biomassa
virgem, numa relação inversa como seu valor, ou seja, quanto maior a
eficiência da rede, menor a estimativa da biomassa, pois está passa a se
aproximar do valor da captura; em outras palavras, a CPUE do estoque
capturável passa a ser igual à do estoque disponível, passando assim a
representar a parte da população realmente vulnerável às redes de arrasto.
A seletividade varia numa proporção inversa com o coeficiente de
eficiência das redes (p), ou seja, quanto maior a chance de os indivíduos serem
retidos em seu interior (pela incapacidade de evitá-las ou de escaparem pelas
malhas do saco) menor a seletividade e, portanto, maior a mortalidade por
pesca. Os dados da Tabela 11 mostram que, se o rendimento atual representar
uma probabilidade de captura de p = 0,5 (50%), a biomassa resultante
equivaleria, por isonomia, ao dobro da captura inicial dos estoques disponíveis.
Por outro lado, à medida que o valor de p fosse aumentando, o rendimento
atual se aproximaria do rendimento da população virgem, e o peso total da
captura equivaleria à sua biomassa. Assim, os resultados mostrados na Tabela
11 indicam que, a se considerar p = 0,5 como o valor de equilíbrio, as
estimativas da biomassa virgem das espécies seriam as seguintes, com
valores da produção sustentável entre parênteses: carabineiro = 943.722 kg
(471.861 kg); alistado = 508.522 kg (254.261 kg); chatim = 219.965 kg (109.983
kg). Por outro lado, com a eventual evolução da pescaria, a probabilidade de
captura pode tender, em caso extremo, para p = 1,0 o que significa ausência
total de seletividade e captura de todos os indivíduos encontrados na trilha
percorrida pelas redes-de-arrasto. Nesse caso, o estoque capturável seria
constituído por todo o estoque disponível o que, em última análise levaria à
depleção da espécie devido à enorme taxa de mortalidade por pesca.
Os resultados apresentados na Tabela 12 mostram, também, que as
estimativas da biomassa virgem diminuem à medida que o coeficiente de
eficiência da rede aumenta, significando que esta se aproxima da captura, uma
vez que deixa de haver seletividade quando p = 1,0. Portanto, fica claro que se
deve reduzir a eficiência da rede para que parte da população tenha chance de
escapar e gerar um contingente excedente que irá reconstituir o estoque
capturável das futuras coortes. Assim, considerando-se as características
seletividade da rede-de-arrasto, estima-se que o coeficiente de eficiência ideal
109
seja p = 0,7, ou seja, haveria uma sobrevivência de 30%, valor totalmente
compatível com o ciclo de vida rápido dos camarões e pelo fato de que o
recrutamento depende mais de fatores ambientais do que do estoque
reprodutor (FONTELES-FILHO, 2011).
Os valores da biomassa,.estimados para p = 0,7 são os seguintes:
Camarão carabineiro = 674.087 kg
Camarão alistado = 363.230 kg
Camarão chatim = 157.118 kg
Todas as espécies= 1.194. 435 kg
110
Tabela 11 – Estimativa da biomassa virgem do camarão carabineiro, Aristaeopsis edwardsiana, camarão alistado, Aristeus antillensis e camarão chatim, Gnothophausia ingens, para a faixa de p = 0,5 – 1,0.
Espécie CPUE
(estoque) Densidade (estoque)
p Densidade (população)
B
CAR
3,99 64,3 0,5 128,5 943722
3,99 64,3 0,6 107,1 786435
3,99 64,3 0,7 91,8 674087
3,99 64,3 0,8 80,3 589826
3,99 64,3 0,9 71,4 524290
3,99 64,3 1 64,3 471861
ALIS
2,15 34,6 0,5 69,2 508522
2,15 34,6 0,6 57,7 423768
2,15 34,6 0,7 49,5 363230
2,15 34,6 0,8 43,3 317826
2,15 34,6 0,9 38,5 282512
2,15 34,6 1 34,6 254261
CHAT
0,93 15,0 0,5 30,0 219965
0,93 15,0 0,6 25,0 183304
0,93 15,0 0,7 21,4 157118
0,93 15,0 0,8 18,7 137478
0,93 15,0 0,9 16,6 122203
0,93 15,0 1 15,0 109983
TOTAL
7,07 113,8 0,5 227,7 1672209
7,07 113,8 0,6 189,7 1393507
7,07 113,8 0,7 162,6 1194435
7,07 113,8 0,8 142,3 1045130
7,07 113,8 0,9 126,5 929005
7,07 113,8 1 113,8 836104 Observação: a = 0,0621 km
2; A = 7.344 km
2.
Convenção: CAR = camarão carabineiro; ALIS = camarão alistado; CHAT = camarão chatim.
Esta biomassa total (1.194.435 kg) é bastante semelhante àquela
estimada para as regiões Sudeste e Sul (1.083.633 kg, segundo Dalagnolo,
(2008), referente às espécies carabineiro, moruno e alistado, onde a produção
111
pesqueira do camarão carabineiro apresentou um decréscimo de 49% em
relação à biomassa virgem (855.033 kg), o que determinou a necessidade
urgente de um plano de controle por quotas que limitou a captura total dessas
espécies a 60.000 kg/ano e quota/barco/mês de 2.500 kg. Esses dados
sugerem uma anormal fragilidade dos estoques de camarões da família
Aristeidae, em comparação com os da família Penaeidae (camarões rosa,
branco e sete-barbas), fato que pode repetir-se para as populações da região
Norte devido à grande profundidade do seu habitat e consequente isolamento
das fontes alóctones de alimento fornecido pelo aporte continental do sistema
fluvial amazônico.
112
6 – DISCUSSÃO
A Zona Econômica Exclusiva apresentasse como uma faixa que se
estende de 12 a 200 milhas marítimas, a partir das linhas de base que servem
para medir a largura do mar territorial (Figura 68). O Programa REVIZEE
(Programa Nacional de Avaliação do Potencial Sustentável de Recursos Vivos
na Zona Econômica Exclusiva) torna-se de fundamental importância política,
econômica e estratégica para o Brasil, pois tem o objetivo de assegurar a
ocupação e uso da ZEE.
Nos termos estabelecidos no IV Plano Setorial para os Recursos do
Mar (PSRM), o Programa REVIZEE considera que a avaliação do potencial
sustentável de captura dos recursos vivos da ZEE requer que sejam
conhecidas as espécies que ocorrem, sua distribuição espacial e temporal, a
sua biomassa e a sua vulnerabilidade às artes de pesca, sendo também
necessário descrever o habitat biótico e abiótico de ocorrência das mesmas e
suas respostas às variações oceanográficas (CIRM, 1994).
Figura 68 – Mapa ilustrativo com a representação da área das 200 milhas na ZEE norte.
A exploração pesqueira dos potenciais marinhos na costa brasileira
tem sido considerada de vital importância para promover o desenvolvimento
integrado das regiões costeiras, uma vez que o pescado se constitui em um
recurso básico como matéria-prima para indústrias de pesca, meio de
subsistência e fonte de proteína para as populações.
113
A Zona Econômica Exclusiva norte brasileira estende-se do cabo
Orange /AP até a foz do rio Parnaíba /PI (Figura 38) e se enquadra na margem
continental equatorial, ajustada entre as coordenadas geográficas: 051º 00’
00”W - 04º 00’ 00”N / 049º 00’ 00”W - 07º 30’ 00”N, fronteira com a Guiana
Francesa e 041º 30’ 00”W - 03º 00’ 00”S / 040º 00’ 00’’W - 00° 00’ 00”, divisa
dos estados do Maranhão e Piauí. Esta região apresenta enorme
potencialidade pesqueira, possuindo 36% da área total da plataforma
continental brasileira, com 263.808 km2, onde se encontra um dos maiores
bancos camaroeiros do mundo (IBAMA, 1994).
Na região Norte o órgão executor do Programa REVIZEE é o
IBAMA, que conta com o Cepnor (Centro de Pesquisa e Gestão de Recursos
Pesqueiros do Litoral Norte), que tem a sua disposição o navio de Pesquisa
“Almirante Paulo Moreira” para realizar os trabalhos de prospecção pesqueira.
Durante os anos de 1996 a 1999, os trabalhos de prospecção pesqueira do
Cepnor foram direcionados para rede de arrasto de fundo para peixes e
crustáceos.
Durante o período do trabalho, foram realizadas 256 estações de
sondagens, com 101 arrastos efetivos (média de 1,5 hora por arrasto) com
rede de camarão, dos quais 28 foram em profundidades inferiores a 50 m, 37
entre 50 e 100 m e 36 acima de 100 m de profundidade. Verificou-se ainda que
55 destes arrastos foram realizados no período seco (maio a outubro) e 46 no
período chuvoso (novembro a abril).
A CPUA (captura por unidade de área) média para toda a área foi de
5,11 kg/ha, sendo a melhor produtividade alcançada em profundidades
superiores a 200 m (6,14 kg/ha), enquanto a menor (3,79 kg/ha), em
profundidades de 70 a 200 m. Os peixes ósseos contribuíram com 72,05% da
captura total, os peixes cartilaginosos com 12,90%, os crustáceos com 13,12%
e os moluscos com 1,41%, não tendo sido observada a captura de nenhuma
espécie de quelônio.
A biomassa total calculada para as prospecções com rede de arrasto
para camarão, na região compreendida entre a divisa do Brasil com a Guiana
Francesa até a linha perpendicular à costa que separa os estados do Pará e
Maranhão, foi estimada em 267.000 toneladas de pescado.
114
Estes resultados demonstram o considerável potencial passível de
explotação, sendo necessária porém, a realização de ensaios para avaliar a
viabilidade técnica e econômica da utilização destes recursos ainda não
explorados na região Norte do Brasil por meio de pescarias experimentais, no
sentido de promover o desenvolvimento tecnológico, social e econômico do
setor pesqueiro, gerando futuramente novos empregos e renda, aumentando a
produção de pescado, promovendo o aumento de divisas e obtenção de um
“know how” nacional para a pesca comercial com arrastos demersais em
profundidades de até 1.000 m, tecnologia esta dominada por poucos países.
Em relação a estudos sobre camarões de profundidade na costa
norte do Brasil foram identificadas 14 espécies, distribuídas em 11 gêneros e 7
famílias. Este estudo foi desenvolvido através de 12 cruzeiros de prospecções
pesqueiras para recursos demersais, ao longo da área definida para o
REVIZEE Norte, executados entre os estados do Amapá e do Maranhão, pelo
Navio de Pesquisa “Almirante Paulo Moreira”, utilizando-se, como petrecho de
pesca, uma rede de arrasto comercial para camarões; os espécimes foram
coletados durante o segundo semestre de 1996 e primeiro de 1997 e 1998
(RAMOS-PORTO et. al, 2000).
Dentre as espécies catalogadas podemos citar:
- Aristaeopsis edwardsiana (Johnson, 1867), que possui como distribuição e
habitat o Atlântico Ocidental: Canadá (Terra Nova), Flórida, Antilhas,
Venezuela, Guiana Inglesa, Suriname, Guiana Francesa, Brasil (Pará; Santa
Catarina) e Uruguai. Atlântico Oriental. Indo-Pacífico. Ocorre entre 200 e
1850m, porém é mais comum entre 400 e 900 m (D’Incao, 1995), sendo uma
espécie de grande porte, com comprimento total máximo, já registrado, de 19
cm (machos) e 33,4 cm (fêmeas).
- Aristeus antillensis A . Milne Edwards & Bouvier, 1909, apresentando
distribuição e habitat o Atlântico Ocidental: Delawere, Carolina do Norte,
Carolina do Sul, Flórida, Louisiana, Texas, Antilhas, Suriname, Guiana
Francesa, Brasil (Pará, Maranhão) (D’Incao, 1995; Ramos-Porto, Silva, Viana &
Cintra, 1998a). Apesar de seu grande porte (cerca de 15 cm de comprimento
total), não existem informações sobre o potencial pesqueiro de A . antillensis.
Holthuis (1980), embora não a registre em seu catálogo, refere outras espécies
deste gênero, mas ressaltandoque apenas uma é pescada comercialmente, ao
115
longo do noroeste da África, e nas costas mediterrâneas da Espanha, França,
Itália e Malta. Espécie de Aristeus ocorre, consoante Holthuis (op. cit.), entre
180 e 1.440m., o que dificulta a realização de pescarias comerciais, para a
maioria delas.
No mesmo estudo é relatado que entre 400 e 600 m houve um
acentuado decréscimo, assinalando-se apenas 3 espécies: Aristeus antillensis,
Aristaeopsis edwardsiana e Glyphocrangon spinicauda.
Em um estudo realizado por Gasalla et. al., 2007, no sul do Brasil,
operações de pesca na plataforma externa e talude foram efetuados com redes
de arrasto-de-fundo, sobre os estoques de peixe-sapo (Lophius gastrophysus),
abrótea-de-profundidade (Urophysis mystacea), merluza (Merluccius hubbsi),
chernes (Epinephelus niveatus e Polyprion americanus), namorados
(Pseudopercis spp.), batata (Lopholatilus villarii), galode-profundidade
(Zenopsis conchifera), camarão-listrado (Aristeus antillensis), camarão
carabineiro (Aristaeopsis edwardsiana), moruno (Aristaeomorpha foliacea) e
caranguejos-de-profundidade (Chaceon ramosae e C. noctialis). Essas
pescarias são recentes, tendo começado em 1998 (Pérez et al., 2003; Pérez et
al., 2005). Neste mesmo estudo foram incluídos os grupos de interesse
pesqueiro, reportados por Pezzuto et al. (2005), como sendo os camarões da
família Aristeidae: Aristaeopsis edwardsiana (camarão “carabineiro”),
Aristaemorpha foliacea (camarão “moruno”), e Aristeus antillensis (camarão
“listrado”). Para estimativa do P/B, foram utilizados valores de M da literatura
(em torno de 0,65) (Papaconstantnou & Kapiris, 2001) e um F de 0,3. Para
estimativa da Q/B, foi considerado que o grupo deva ter uma eficiência bruta
(P/Q) de 9%.
No estudo realizado por Costa, et al. (2005), foi observado que entre
os crustáceos, a ordem Decapoda correspondeu a aproximadamente 90% das
espécies amostradas e a aproximadamente 55% do material já identificado.
Dentre os grupos mais abundantes pertencem à infra-ordem Caridea,
Acanthephyra eximia Smith, 1884 (n=190), Glyphocrangon neglecta Faxon,
1895 (n=330) e Janicella spinicauda (A. Milne Edwards, 1883), com mais de
10.000 exemplares. Os decápodes mais abundantes estiveram representados
na família Aristeidae, incluindo Aristaeomorpha foliacea (Risso, 1827) com 110
espécimens, Aristaeopsis edwarsiana (Johnson, 1867), com cerca de 130
116
espécimens, Aristeus antillensis A. Milne Edwards & Bouvier, 1909 (n= 78
espécimens) e Aristeus antennatus (Risso, 1816), com 22 espécimens.
Segundo os mesmo autores, algumas espécies de crustáceos decápodes
encontradas na zona prospectada constituem-se em recursos relativamente
importantes em pescarias profundas conhecidas no Atlântico NE e no
Mediterrâneo, incluindo os camarões aristeídeos Aristeus antennatus,
Aristaeomorpha foliacea e Aristaeopsis edwarsiana. No sul e no sudoeste da
costa de Portugal, as pescarias sobre essas espécies em regiões profundas
(>400 m) são estimuladas como uma estratégia de redução do esforço de
pesca sobre os estoques gravemente explotados na plataforma e talude
superior, incluindo Parapenaeus longirostris, Nephrops norvegicus e Aristeus
antennatus (Figueiredo et al., 2001). Na costa portuguesa, os rendimentos
apresentam uma distribuição tipicamente agregada, com máximos de 9,6 kg/h
de A. foliacea e 1,7 kg/h de A. edwarsiana, concentrados em algumas áreas
específicas, entre 400 e 900 m (Figueiredo et al., 2001). A distribuição
agregada nos rendimentos de A. foliacea também foi observada no
Mediterrâneo (Ragonese et al., 1994) e na costa norte- africana, onde os
rendimentos aumentaram para 20 kg/h nos desembarques da frota da Tunísia
(Sardà, 2000). No Brasil, barcos espanhóis arrendados têm operado com
rendimentos médios de 11 kg/h, 2,3 kg/h e 1 kg/h para os camarões carabineiro
(Plesiopenaeus), moruno (Aristaeomorpha) e alistado (Aristeus),
respectivamente (Perez, com. pess). Embora esses rendimentos sejam
consideravelmente mais baixos que aqueles observados em outras regiões,
aparentemente são algo lucrativo, devido ao elevado preço que podem atingir
no mercado internacional (US$ 40,00/kg).
117
7 - CONCLUSÕES
A realização de prospecções pesqueiras para a avaliação do
potencial de espécies demersais consiste de um processo inovador, pois
permite identificar recursos habitantes de áreas até então inacessíveis à frota
pesqueira. A pesca em grandes profundidades na costa norte do Brasil, sob a
forma das campanhas exploratórias engloba as perspectivas para atividades
que certamente contribuirão para a geração de informações e gestão da pesca
pelo uso de novas alternativas redutoras do esforço atual sobre os recursos
sobrexplorados, e aumento da produção de pescado. Conseqüentemente,
abrir-se-á caminho para um impactos socioeconômicos positivos para os
estados, regiões e até mesmo o país. Contudo, os recursos pesqueiros são
extremamente sensíveis à exploração ou mortalidade por pesca, os quais
devem ser controlados para evitar suar ápida exaustão.
Outro fator, também assimilado durante a execução do projeto,
principalmente devido à interação direta entre os trabalhos de pesquisa e as
perspectivas de encontrar espécies com viabilidade de exploração econômica,
é considerar que para transferências (importação) de tecnologias, devem-se
respeitar diferentes parâmetros ambientais, oceanográficos e topográficos de
cada área, região e país, fatores que têm forte influência no sucesso ou
fracasso da atividade pesqueira, apesar da existência e abundância do recurso.
A concentração dos arrastos (87,3%) (87,3%) na faixa de 700 – 800
m, para avaliação do potencial produtivo dos camarões-de-profundidade,
mostra que esta seria a zona ideal para atuação das redes dos tipos Gêmeas,
Única e Polivalente, como já comprovado na pesca comercial nas regiões
Sudeste e Sul (Dalagnolo, 2008). Por outro lado, a pequena variabilidade na
profundidade dos arrastos de prospecção torna difícil averiguar se o
rendimento seria influenciado por esse atributo, pois não foi possível
determinar sua correlação significante com o rendimento, tanto pelas análises
da estatística paramétrica (coeficiente de correlação de Pearson, r) como não-
paramétrica (coeficiente de correlação de Spearman, rs).
A interação entre rede/porta e profundidade, anteriormente avaliada
com base na concentração dos arrastos numa estreita faixa desse atributo,
implica provavelmente na sobrestimação dos valores da CPUE/rendimento, sob
a seguinte premissa: existe um pré-conhecimento sobre a maior viabilidade da
118
realização de arrastos nessa faixa e/ou de que os indivíduos que nela habitam
se encontram numa fase do ciclo vital que favorece a concentração de
indivíduos de maior porte. A ausência de dados sobre a estrutura de
comprimento das espécies inviabiliza a confirmação de parte dessa premissa,
já que provavelmente os indivíduos preferem fundos com profundidade
intermediária no talude superior.
Ainda como conseqüência do raciocínio anteriormente desenvolvido,
pode-se aventar a hipótese de que o valor do rendimento seja um índice não-
viciado do índice de abundância, após terem sido considerados os efeitos
causais dos fatores rede, porta e profundidade. Assim, o resultado mais
importante é o de que o rendimento é um índice da eficiência da rede na
captura dos camarões aristeídeos, desde que se dê preferência aos tipos
“Gêmeas”, operando com porta retangular e “Única”, operando com porta oval.
119
8 – RECOMENDAÇÕES
Mesmo sendo consideradas promissoras as explorações de
espécies como: camarão carabineiro, camarão alistado, aproveitamento do
camurim-olho-verde entre outros pescados que podem ser aproveitados
(camarão chatim e lula gigante), os investimentos para estes novos recursos,
sejam privados ou governamentais, deverão ser minuciosamente avaliados,
planejados e os projetos tecnicamente embasados. Além disso, deve-se
engajar as experiências anteriores e utilização de embarcações e
equipamentos adequados, o que evitará o acometimento de erros ou falhas
técnicas que, na maioria das vezes, inviabilizam o investimento. A
consideração destes itens poderá contribuir e/ou garantir uma pescaria rentável
e ambientalmente saudável, para que se possa obter um retorno econômico
estável e evitar o desperdício de investimentos financeiros.
Apesar dos resultados obtidos, temos observado que existe uma
necessidade de continuidade deste trabalho, em virtude dos outros prováveis
recursos existentes que devem ser mais bem estudados quanto a sua
abundância e aproveitamento, além do desenvolvimento de tecnologias de
pesca e até mesmo a captura dos recursos por meio de outras artes de pesca
que possam apresentar-se como mais adequadas ou eficientes na captura dos
recursos.
No entanto, a avaliação do estoque dos camarões-de-profundidade,
em curto prazo, passa pelas mesmas limitações metodológicas que foram
enfrentadas pelas pescarias do peixe-sapo e dos caranguejos-de-profundidade,
considerando que não existe um histórico prévio dessa atividade e os dados
disponíveis, embora extensos, podem não representar homogeneamente toda
a área de distribuição da espécie, visto que são oriundos exclusivamente de
operações da pesca comercial. Sob essas circunstâncias, neste trabalho
diferentes abordagens para a avaliação da biomassa foram utilizadas,
comparadas e combinadas no sentido de prover as informações necessárias à
atualização e complementação das recomendações de medidas de manejo,
buscando traçar os melhores caminhos para a sustentabilidade dessa valiosa
pescaria e a manutenção do ecossistema em que esses estoques estão
inseridos.
120
Ao longo do trabalho notou-se a necessidade de complementação
das informações e algumas lacunas de áreas que devem ser investigadas. É
de suma importância a execução de um estudo do crescimento das três
espécies bem como a determinação das taxas de mortalidade para
comparação com os parâmetros estimados em outras regiões do mundo e,
principalmente, com as taxas utilizadas para a determinação do RMS no
presente trabalho.
Também é necessária a avaliação padronizada da dinâmica da
biomassa das outras duas espécies que confirmem os resultados apresentados
pelo método de área varrida deste trabalho. Modelos lineares generalizados do
tipo delta parecem adequados para esse tipo de prospecção, cujos resultados
contiveram uma grande quantidade de arrastos com rendimento nulo.
121
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Anexo B - Probabilidades associadas a valores tão grandes quanto os valores observados de H na Prova de Kruskal-Wallis.
134
Probabilidades associadas a valores tão grandes quanto os valores observados de H na Prova de Kruskal-Wallis (continuação).
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