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Webconferencia de psicologia
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A Memória e o Patrimônio no Espaço Urbano: A Avenida Goiás em Goiânia
Danielle do CarmoMestre em Memória Social e patrimônio Cultural pela Universidade Federal de Pelotas (2014), é graduada em História (Licenciatura) pela Universidade Federal de Goiás (2008). Participou do projeto de pesquisa Sistematização da Documentação Referente ao Patrimônio Cultural Imaterial do estado de Goiás (IPHAN-FUNAPE-MUSEU ANTROPÓLOGICO/UFG). Recentemente foi agraciada com o Prêmio Mario Rosa de Mérito Acadêmico em Geografia, Laboratório de Estudos Urbanos e Regionais- Universidade Federal de Pelotas.
Gostaria de agradecer primeiro à Marisa por ter me
convidado e as pessoas que estão assistindo.
Eu vou falar um pouco do meu trabalho e eu vou falar um
pouco da parte subjetiva, que geralmente é algo que não aparece
na dissertação no produto final. Como eu cheguei nesse tema,
porque que eu cheguei nele e como que eu desenvolvi essa
pesquisa. O título da minha pesquisa é A Memória e o Patrimônio
no Espaço Urbano: A Avenida Goiás em Goiânia. A avenida
Goiás é uma das principais avenidas que a gente tem na cidade
e ela foi uma das primeiras da cidade, quando Pedro Ludovico
resolveu construir Goiânia, ela constava no traçado original e eu
sempre vivi no centro da cidade, onde se localiza essa avenida e
quando pequena eu sempre passava por ela. Na minha época,
quando eu tinha uns 10 anos, eu ia para a escola eu passava por
ela e sentia muito medo, porque ela era toda suja, tinha o
comércio ambulante e eu fui crescendo e vendo as
transformações da paisagem dessa avenida e também quando
eu tinha uns 16 anos, eu vi uma grande transformação que teve
nessa avenida, que foi a requalificação do espaço. Quando eles
tiraram o comércio informal da avenida e restituíram os seus
jardins, aí depois disso eu acabei seguindo, fui para a
Universidade de História, e isso tudo veio de novo a me afetar de
uma forma mais objetiva, quando eu entrei para o mestrado.
Quando eu escolhi o meu tema de pesquisa, eu tinha uma ideia,
eu tinha escutado várias histórias da avenida Goiás, então
quando eu olhava a avenida Goiás eu não via só aquela
paisagem atual, eu via uma série de coisas. Eu tinha uma tia-avó
que ela me contava muito sobre o furtim da avenida Goiás na
época dela, isso era a década de 40 e a partir disso eu vi a
necessidade de coletar as narrativas memoriais desse espaço e
a partir disso também eu estava estudando muito a questão do
patrimônio, e eu fui estudar o processo de patrimonialização que
aconteceu em Goiânia em 2002, que alguns prédios e
monumentos em arte déco e algum traçado urbanístico da cidade
foram reconhecidos pelo IPHAN como patrimônio cultural
nacional. E estudando isso eu fui perceber que aquela
requalificação que eu tinha visto aos meus 16 anos, ela foi
consequência dessa valorização patrimonial de Goiânia, porque a
avenida como via ela tinha um entrado ela foi tombada, só a via
dela foi tombada, foram várias vias que era o traçado original do
centro e entre elas era a avenida Goiás e no espaço físico da
avenida Goiás, tinha alguns elementos, era o grande hotel, a
torre do relógio e o coreto que fica localizado nas ilhas centrais
da Avenida Goiás. Eles também tinham sido tombados pelo
IPHAN e nisso o poder público viu a necessidade de revitalizar
essa área, então eu notei que a transformação da paisagem da
avenida estava diretamente ligada ao processo patrimonial em
âmbito nacional. Bom e aí como é que eu fiz eu juntando todas
essas informações, eu no primeiro momento parti para a
pesquisa, então eu fui para o IPHAN, fui para a Secretaria de
planejamento procurar documentos sobre a avenida, então eu fiz
toda a parte documental e histórico e depois eu fui fazer
entrevistas sobre a avenida. Qual era o meu objetivo em fazer
entrevistas? Era ver o que fica na memória da paisagem do lugar,
porque no presente a gente vê, se a gente sai na rua, a gente vai
ver a avenida revitalizada, o comércio, os bares, mas se a gente
conversa com alguém mais velho que viveu aquele espaço em
outros tempos, eles vão contar uma série de coisas para gente
de comércios que existiam e não existem mais, de práticas
socioespaciais que existiam naquela época, como o futim
(footing) como eu tinha falado. O futim (footing) era conhecido
como o vai e vem, na década de 40 e 50 na frente do grande
hotel, os meninos andavam para um lado e as meninas andam
para o outro e piscavam, era o flerte da época. E isso tudo me
interessou muito, ver que havia todo um passado invisível e não
registrado também de certa forma e esparso, porque eu até
encontrei em algumas dissertações em alguns livros, mas era
muito esparso e eu achei muito interessante essa possibilidade.
E eu estava até conversando com a Marisa sobre a minha
escolha do grupo de amostra, sobre essa questão de quem
entrevistar e eu acabei entrevistando a minha família, entrei em
um discurso muito grande sobre ética, sobre se isso era ético ou
não, mas conversando muito com o meu orientador, que essa
pesquisa foi feita sob orientação do professor doutor Sidney
Vieira da Universidade Federal de Pelotas, a gente chegou na
conclusão de que não teria nenhum problema, porque a gente ia
trabalhar com a categoria a paisagem, aquilo que era visto, então
a gente não ia entrar em questões subjetivas, nem em histórias
de vida, porque isso não poderia ter algum problema. E a gente
optou por esse grupo, então foram entrevistados oito indivíduos
da minha família voluntariamente, eu perguntei quem queria, os
mais velhos e os filhos, a faixa etária era de 70 a 80 anos dos
mais velhos e os mais novos de 40 a 50 anos. Então o que
aconteceu nessas entrevistas, em um primeiro momento eu tentei
entrevistar um por um, e o que eu escutei muito? Eu escutei
muito: Ahh não fala para sua tia, que ela vai saber te explicar
mais, eu lembro que era assim, mas eu não tenho certeza.
E aí o que eu notei, que as pessoas acabavam não
conseguindo desenvolver, conseguiam não falar muito, e eu notei
que se eu colocasse essas pessoas em grupo, foi o que fiz na
verdade, uma se apoiava na memória das outras e isso foi
incrível, porque aí além de se apoiar, uma lembrava de uma coisa
que lembrava outra e isso era fantástico, foi uma experiência
fantástica. E dessa forma, escutando as narrativas eu fui
podendo perceber nas lembranças narradas, as diversas
paisagens da avenida, as diversas coisas que se faziam lá, e eu
também percebi e fui notar a questão do patrimônio, como é que
o patrimônio se apresentava nessas narrativas e isso tudo para
mim foi muito interessante. Enfim, eu vou apresentar agora
impress para vocês, o que é mais ou menos um roteiro da minha
pesquisa que eu acho que assim a gente consegue visualizar
bem como é que ela foi construída e narrada depois.
Então aí está a apresentação da dissertação, para ter uma
melhor visualização eu coloquei um mapa para a gente pode ver,
quem não conhece ou quem não veio à Goiânia, a avenida Goiás
ela é essa avenida aqui, ela liga a praça cívica à antiga estação
ferroviária. Então a avenida Goiás ela foi projetada para ser o
norte-sul da composição urbana de Goiânia, então a história
dessa avenida, como eu disse foi uma das primeiras, ela se
confunde um pouco com a história da cidade, até porque ela foi a
avenida que era para ser o centro comercial da cidade. Então
aqui a gente vê imagens do satélite, ela corta o centro da cidade
que é essa região e numa ponta dela a gente tem o Palácio das
Esmeraldas que é o centro do nosso governo do estado e na
outra gente tem a praça do trabalhador e a antiga estação
ferroviária e a rodoviária ela fica por aqui, fica na mesma região,
ou seja para chegar na cidade a gente tinha que cortar a avenida
Goiás. Em outubro de 2003, acontece a obra de requalificação
paisagística que eu disse que eu vi acontecer e isso gerou um
grande impacto na paisagem da avenida e portanto, na região
central da cidade, porque a avenida Goiás, assim como a região
central era um lugar de marginalidade, era um local degradado e
era feio e ninguém gostava de ir no centro da cidade e o que eu
percebi como moradora foi que foi mudando, a avenida começou
a ser mais frequentada, os comércios mais valorizados e
comprovei isso estudando e com a pesquisa que realmente isso
aconteceu e essa obra ocorre depois que o acervo Art Déco foi
reconhecido como um patrimônio da nação. Então depois de
mais de 20 anos de abandono, porque a avenida ela passou por
vários processos de requalificação do espaço, só que desde o
último faziam uns vinte anos , então a gente vê que o processo
patrimonial ele fez com que o poder público quisesse chamasse
atenção para o espaço e requalifica-se, então ele fez essa obra
paisagística que da autoria do arquiteto Jesus Cheregati que ele
diz no projeto que tem como inspiração a avenida nos primeiros
tempo da cidade e aí gente foi atrás para ver tem até umas fotos,
que eu vou mostrar e essas constantes metamorfoses da
paisagens dessa avenida, somadas a essas histórias que eu
escutava, foram justamente os pontos de partida das reflexões
que eu vi nessa pesquisa. E aí disso tudo eu construi meu
problema, como o patrimônio cultural edificado dialoga com as
narrativas memoriais que apresentam como pano de fundo
paisagens de diversas temporalidade da Avenida Goiás?
Aí eu tive que como eu queria saber a relação da narrativa
memorial e o patrimônio, eu fui estudar o patrimônio, o que esses
bens me dizem e aí eu me foquei no Grande Hotel, na Torre do
Relógio e no Coreto que são os elementos que se encontram na
Avenida Goiás. Esse é o Grande Hotel (foto), essa é a Torre do
Relógio (foto), e esse é o Coreto (foto) ele fica perto da praça
cívica, inclusive no processo patrimonial ele é considerado
conjunto da praça cívica, mas eu tomei a liberdade e destaquei
ele e selecionei porque ele fica exatamente no fim da Avenida
Goiás.
A Paisagem Atual
A paisagem atual é essa tem os bancos, tem as pérgulas,
tem a vegetação, a gente tem alguns prédios que passaram por
um processo de restauro, mas eles já estão todos pichados que é
um problema que a gente tem no centro e a gente pode observar
uma forte presença do comércio ambulante, mas não como era
antes mais nos canteiros lindeiros, tinha a Praça do Bandeirante
que deu lugar para o eixo Anhanguera e ele subiu, e eu percebi
também estudando a história da Avenida que ela é muito forte em
relação às manifestações políticas, que é o caso, eu tenho aí nas
últimas duas fotos que é a parada LGBT, quando UEG estava em
crise teve as manifestações, inclusive a grande manifestação de
2013 que foi marcada em Goiânia, foi na Avenida Goiás. E
estudando mais e escutando as narrativas, a Praça dos
Bandeirantes também era um local de discussões intensas de
política durante a década de 50. E aqui a vem a citação do
Santos que eu gosto muito que é a paisagem é líquida, ela não é
dada para todo o sempre?? É um objeto de mudanças é o
resultado e adições e subtrações sucessivas, que é o que a
gente pode observar , a gente tem aí uma vista aérea da Avenida
Goiás da década de 30, que a gente encontra só o Grande Hotel
ao fundo que foi a primeira construção, ao lado tem os canteiros
da Avenida Goiás da década de 40 e na década de 50 na baixo,
e hoje está muito semelhante a essa foto da década de 50, foi aí
a inspiração dessa época que trouxeram para os dias atuais.
Nessa outra fotinha onde tem um ônibus e as lonas azuis, era da
minha infância quando eu tinha medo do lugar. Que era bem
isso, você não conseguia passar, você não aproveitava esses
canteiros centrais e era só comércio e ônibus, era bem agitado.
E aí nesse trabalho a gente entende patrimônio como uma
forma da abordagem da memória, mas a gente tem consciência
também que o discurso patrimonial ele reproduz a narrativa da
história oficial, privilegiando alguns elementos de tempo em
detrimentos de outros. No caso do processo ocorrido em Goiânia,
o quê que o acervo arquitetônico urbanístico Art Déco privilegia?
Privilegia a época da construção dos primeiros tempos da cidade,
quando a gente fala do acervo arquitetônico urbanístico Art Déco
não leva em conta as outras temporalidades, tem várias
construções da década de 60, 70 extremamente relevantes
arquitetonicamente e isso não foi levado em conta, justamente
pela característica, porque quando você se propõe um
tombamento nacional, tem que ter um significado para a nação
além de um significados regionais fazendo um estudo do dossiê,
eu percebi que o significado nacional e o valor se relacionam com
a época da volta das construções das cidades da marca Proeste
e da política do Getúlio Vargas, então Goiânia representa uma
forma de criar um novo momento de criação de cidades no país.
E, portanto, a também a Oste??? dizem algumas pesquisas que
eles dizem que Brasília foi possível , porque existia Goiânia,
porque para construir Goiânia o pessoal tinha que vir tudo de São
Paulo era a maior dificuldade e depois deu um suporte para a
construção de Brasília. Então a gente vê que a história que
evoca, é a história oficial dos primeiros tempos da cidade em um
nível regional. E o quê que significa a Art Déco? O Art Déco foi
um movimento artístico derivado da arte decorativa tem como
objetivo traços retos, a questão monumental sem grandes gastos
e o Déco foi uma das orientações arquitetônicas preferidas dos
estados totalitários , e aí a gente vê o governo do Getúlio Vargas
também, ou seja ele representa fortemente uma época, se a
gente for olhar em relação a nação e regional significa a vontade
de quebra com o passado, quando Pedro Ludovico resolveu
transferir a capital da cidade de Goiás para Goiânia, ele queria
que Goiânia representasse a modernidade e naquele momento a
modernidade era o Art Déco. Aqui a gente pode ver algumas
representações do Art Déco em filmes alemães como Metrópoles
que aquilo era o futuro, tanto que os prédios Déco em Goiânia
são poucos os que não são do poder público, que foram
construídos pelos governantes, a gente tem várias outras
orientações estilísticas que não entraram no tombamento até
porque nacionalmente, só o Art Déco não faz sentido.Aí a gente
vê a citação do Llorenç Prats que ele diz que a construção do
patrimônio cultural é um processo de legitimação simbólica das
ideologias que consiste na seleção de determinados bens a partir
de fontes de autoridade. Portanto nesse trabalho eu propus um
deslocamento de foco que pra além da memória oficial que
representa nesse tombamento ???? artístico urbanístico a gente
vai em busca de uma memória cotidiana da avenida, para isso eu
selecionei um grupo específico que é duas gerações de uma
mesma família. Aqui eu falo um pouco da metodologia, da
questão do levantamento bibliográfico, documental e das
entrevistas semi estruturadas, aqui tem uma outra citação de Bosi
que diz que cada geração tem de se sua cidade a memória de
acontecimentos que são pontos de amarração de sua história.
Então a geração representada por Lidoneta, Maricota, Helena,
Joaquim e Cacilda vive a avenida Goiás mais intensamente nas
décadas de 50 e 60 que é a época da juventude, que são a
maioria das narrativas dessas pessoas tem a ver com a época de
juventude delas. Já a geração de Eliane, Luciana e Cristiana nos
apresentou narrativas memoriais que se iniciam na década de 70
até os dias atuais que também é a época de infância e juventude
delas. Então nessa primeira etapa a gente tentou realizar a
entrevistas individuais, só que depois a gente viu que sempre
falavam Fulano tem melhor memória do que eu, então a gente
partiu para essas entrevistas dialógicas que eu chama, que foi
fantástico e aí a gente conseguiu muito material. Todos esses
dados, toda a documentação e como eu construi a minha
dissertação. Foi analisada sob o método progressivo regressivo
do Henri Lefebvre .O quê que é esse método? Se você para o
objeto no presente e descreveu o que você vê, vai ter uma parte
na minha dissertação que eu só descrevo a avenida Goiás como
ela é hoje, o que é realizado, o que as pessoas fazem nela , pra
quê que ela serve, o que ela representa hoje para a cidade e
como é a paisagem atual dela. Num segundo momento eu vou
para o passado, eu fiz toda pesquisa para entender como ela se
construiu, como as relações hoje que existem nela, as
contradições, como elas foram criadas, então eu só estudo o
passado, depois eu volto ao presente e relaciono o presente ao
passado, eu tento descobrir aonde de surgiram as coisas que
tem hoje e meu orientador me deu um exercício que foi na
verdade um desafio, que foi fazer uma projeção para o futuro.
Essa projeção para o futuro eu fiz com base em projetos que
estão em andamento, como o BRT que vai afetar a paisagem da
avenida, eu não consegui achar como porque no projeto ,disse
que a faixa da avenida Goiás está em estudo, o BRT é um
corredor de ônibus que passa direito específico para a avenida,
mas depende de estudo dessa parte, porque justamente eu
acredito que com o processo de tombamento eles não podem
modificar a largura dela, então eles estão em estudo nessa parte.
Outro projeto que eu coloco como algo que pode impactar a
avenida Goiás, é o processo de requalificação da praça Cívica
que já começou as obras e também vão requalificar a praça do
trabalhador que são as duas pontas dela, então eu acredito que
aí a gente pode ter impacto na paisagem da avenida. E aí nas
narrativas a gente vê coisas interessantes, a Luciana que hoje
tem 50 anos, ela disse: A nossa vida se resumiu aonde ? A
Avenida Goiás e Araguaia não é? Isso conversando comigo, com
a mãe e com as irmãs. Aí a Eliane ela vem e fala: A Avenida
Goiás representou muito na minha vida, em termos de emoção,
de sentimento, nossa vida girava em torno dela duas vezes por
semana, o tempo que eu passava lá na minha vó que a gente ia
passear o trajeto de chagar ao teatro Goiânia e nos cinemas tudo
era trajeto, tinha que obrigatoriamente passar pela Avenida Goiás
então era marcante. A Eliane é filha de Maricota, tem uma
senhora na foto, mais gordinha e de cabelo branquinho aí no
meio ela avó Clementina, ela era matriarca da família. Então até
mesmo os filho que moravam no interior iam para casa dela
todos os finais de semana. A Eliane é a neta da Clementina, aí
eu não vou ler tudo porque são muito grandes as narrativas, mas
algumas coisas se repetiram em várias entrevistas que a primeira
geração falou muito do futim (footing) que era esse vai e vem que
as mulheres iam flertar, que era a sorveteria da época e na
entrevista do homem surgiu o bar Royal, que era onde os
rapazes da época ficavam tomando cerveja. Também outra coisa
que apareceu de uma forma muito forte foi os desfiles e as
paradas cívicas, a segunda geração mais assistiu do que
participou, só que a primeira participou ativamente, porque
estudavam em escolas e os desfiles e as paradas cívicas eram ali
na região da Avenida Goiás. A feira Hippie que existe até hoje,
mas com uma característica mais industrializada vamos dizer
assim, na praça do trabalhador, ela começou na praça cívica e
passou grande parte do tempo na avenida Goiás, e aí a segunda
geração que viveu muito isso fala que lá tinha artesanato e era
hippie de verdade. E uma coisa fantástica que eu encontrei nas
narrativas foi a questão da rodovia quando se olhava para
Goiânia, via o que a Eliane chama de um bolo de noiva, que
eram os primeiros prédios da avenida Goiás, da cidade aliás, os
grandes prédios de quase de 3 , 4 metros subiram na avenida
Goiás. Ela disse que de longe ela via um bolinho de noiva, então
a gente pode notar a verticalização da paisagem da avenida
Goiás nas narrativas e a metamorfose da paisagem, que aí elas
falam da época que tinham um canteiro, depois tiraram o
canteiro, porque o canteiro central ele foi diminuindo de tamanho
várias vezes para as passagens de ônibus, e aí a gente vê isso
em várias narrativas cada uma falando de uma época específica,
e aí o que eu que conclui com isso, com essas narrativas que a
memória compartilhada da avenida está presente nas vozes do
escopo familiar, que por meio das memórias individuais nos
permitiram conhecer as paisagens, os espaços e as práticas dos
espaços que foram elaborados na avenida Goiás entre os anos
de 1950 e 1990, essas pessoas acompanharam tanto as
mudanças das paisagens, do espaço físico, quanto das
apropriações das práticas sócio culturais que ocorreram nos
espaços da avenida Goiás. E agora antes de falar um pouco do
desdobramento do processo patrimonial, eu vou falar um pouco
sobre como o patrimônio aparece nessas narrativas memoriais. E
é interessante que ele aparece, o Grande Hotel aparece, A Torre
do relógio aparece, mas nunca por um festa, porque quando eu
fui ler a memória dos fundadores da cidade e das pessoas
importantes da cidade que foram selecionadas assim, falavam
das grandes festa no Grande Hotel que foi só uma elite que
participou. Já não o que se falou no Grande Hotel que o futim
(footing) que era em frente ao Grande Hotel, o que se falou da
Torre do relógio , que se marcava o horário para se encontrar na
Torre do Relógio, então nada especificamente ligada à
arquitetura ou à forma de edificação, mas o que se fazia em
relação a edificação. O coreto tocava bandinhas de música ou
até era usada até mesmo para discursos políticos. Então dessa
forma como eu vi o patrimônio se relacionar com essas
narrativas.
E o desdobramento desse processo foi a requalificação
paisagístico que eu falei e o projeto cara limpa que tinha como
objetivo ressaltar os prédios que tivessem orientação Art Déco da
Avenida , ele acabou não sendo concluído, mas ele está ainda na
prefeitura. E o futuro que eu acho que são as coisas que vão
afetar de alguma forma, tem a requalificação da praça Cívica, a
restauração da antiga ferroviária, a VLT que é o veículo leve
sobre trilhos e o BRT que é o ônibus de transporte rápido. Enfim,
aqui tem a conclusão da dissertação que a memória patrimonial
ela revela nuances dos primeiros tempos da cidade, a ideologia
dos seus idealizadores e de seus construtores, já as narrativas
memoriais cotidianas nos permitiram acessar cicatrizes da
Avenida Goiás, sua historicidade e suas contradições, essas
testemunhas nos indicam que para além das formas físicas, o
espaço que foi praticado e apropriado de acordo com os arranjos
socioculturais de cada época, tentamos nesse trabalho
demonstrar as dimensões temporais de Goiás, a norma e
cotidianos por aqui abordados, projetos do passado e do
presente mudaram a morfologia e a dinâmica urbana, o futuro da
paisagem da avenida Goiás será determinado pela escolha
determinada no presente. Essas modificações serão realizadas
pelo poder público, conforme os seus interesses com base nos
seus próprios interesses e interesses do mercado, cabe à
sociedade civil se organizar para reivindicar e promover a
execução de projetos que sejam de seu interesse para melhorar
as condições de vida e garantir o acesso aos espaços da cidade,
principalmente aqueles que fazem parte da memória coletiva.
Então nesse dá pra ver muito claro a questão da rua, e do
espaço urbano, como parte da vida e da vida cotidiana e se a
sociedade civil não se organizar para dizer: Esse espaço pra mim
é importante afetivamente ou funcionalmente, o poder público ele
vai fazer. O patrimônio é extremamente importante,
principalmente nesse momento de reconstrução da cidade que a
gente está vivendo que dia e noite a gente vê prédios históricos
em Goiânia modernos ou modernistas sendo destruídos, porque
que os Déco que a gente tem hoje eles não foram ao chão?
Porque o tombamento dessa forma ele serviu, para poder
conservá-los ali e a questão que é muito importante a gente ver
que os valores que estão agregados aos objetos patrimoniais e
os valores que esses objetos tem para a população. E o alerta
que ficou muito grande na minha dissertação foi a questão de os
idosos serem os guardiões da nossa memória e de uma memória
que as vezes não foi registrada, e um memória que é uma outra
abordagem que é um outro ponto de vista sobre a história oficial.
Goiânia tem 81 anos, os nossos idosos que viram essa cidade,
as práticas da cidade, o que acontecia na cidade nos primeiros
tempos hoje estão falecendo e na minha própria pesquisa três
dos meus entrevistados da primeira geração faleceram antes de
eu conseguir concluir, ou seja se eu não tivesse feito essa
entrevista antes eu não teria esses dados aqui hoje. Então os
estudantes da história da cidade, fica esse alerta de vai fazer a
entrevista ? Faça logo e isso é extremamente importante porque
uma vez que essas vozes fiquem caladas a gente não vai
conseguir recuperar essa parte.
Questionamentos
Quais foram os desafios e as vantagens da pesquisa com
fontes orais?
Então, as vantagens é que as fontes você pode navegar
nesse passado conversando com a pessoas, você pode
perguntar o que você quiser para elas, que elas vão te falar e
isso não acontece com as outras fontes. As outras fontes você
vai saber aquilo que foi registrado, você tem muitas vantagens,
mas a questão é que sempre é complicado todo o processo da
entrevista, sempre você tem que aprender a conduzir, são várias
vezes que tem que ser feitas caso você não consiga fazer o
registro, talvez você não tenha uma segunda chance. E também
exige de você fazer uma análise posterior, eu optei por fazer uma
análise de conteúdo temático, eu separei a hora que todos
falavam sobre verticalização do espaço, quando falavam sobre
os estabelecimentos comerciais, eu separei em categorias mas
não foi tão difícil, foi bem prazeroso lidar com esses dados.
Qual foi a parte mais difícil do seu projeto?
A parte mais difícil foi a delimitação de fato do problema e a
escolha do método, foram as partes mais difíceis, porque eu fui
levantando e levantando material e depois eu não sabia muito
bem como organizar isso, mas aí eu conversei muito com meu
orientador e a gente chegou a um método Henri Lefebvre que foi
assim fantástico e eu consegui organizar meu trabalho, só que o
método sempre é complicado e a delimitação do tema, a
definição do objeto, então sempre antes de começar é muito bom
pesquisar bastante e tentar estruturar essa parte do trabalho,
porque depois você chegar lá na frente e ter pesquisado um
monte de coisa, e de repente você ter que voltar atrás, porque o
que você delimitou, você não explorou.
Com a revitalização da Av. Goiás o conceito de patrimônio
se perdeu para a população. Muitas pessoas veem o Coreto, o
Grande Hotel e a Torre do relógio apenas como elemento
decorativo. Como reverter esta situação?
Bom, primeiro é a questão da educação, porque as pessoas
não vão notar os objetos cotidianos se não houver alguém para
dizê-las. É interessante que o meu noivo morava em um setor
afastado do centro, quando ele começou a conviver comigo, eu
comecei a apontar para ele e ele começou a me falar: - Eu não
tinha percebido isso.
Então é essa mesma questão com a população é você
ensinar a enxergar, porque se não tiver ninguém para mostrar.
Ninguém vai ver, porque todo mundo toma a paisagem atual com
uma certa naturalidade, como se todos os elementos que
estavam lá sempre existiram não necessariamente como uma
história. Então é importante essa educação nesse caso, para
poder ter um valor patrimonial a de se educar para isso.
Achei interessante a questão da requalificação. Trabalho
com população em situação de rua e fiquei curiosa sobre a
retirada delas do espaço durante as requalificações no decorrer
do tempo. A pesquisa abarcou isso?
Não, aí já fugia muito do meu recorte. Mas uma coisa que
eu falo bastante, principalmente sobre a paisagem atual é que
por mais que agora requalificaram a paisagem, porque tem uma
parte dela da Paranaíba para cima, que ela é mais tranquila, da
Paranaíba para baixo até a estação ferroviária, a gente vê uma
situação de ambiente doméstico mesmo que os moradores de
rua continuam lá e as pontes de água servem inclusive para eles
tomarem banho. Então tem isso, mas eu não me aprofundei na
forma como foi retirado o comércio informal e tudo, eu sei que o
comércio informal passou para a avenida Paranaíba, eles
requalificaram também o espaço da avenida Paranaíba que corta
a avenida Goiás, mas eu não me aprofundei nessa questão.
Olá, em meu município estamos com um problema
parecido, pois a prefeitura está "modernizando" o centro da
cidade e assim mudando corredores arborizados e prédios
antigos. Neste ponto questiono como a comunidade goianiense
busca preservar os prédios e espaços históricos mesmo não
sendo Art Déco? Sua pesquisa flui sobre estes aspectos?
Bom na verdade não flui, mas de acordo com os meus
estudos a conclusão é essa a de se organizar a sociedade civil e
propor projetos e contestar projetos também por parte do poder
público. Porque a cidade ela não se faz, se for deixar na mão do
poder público, vai fazer o que está acontecendo, é importante
que a sociedade se organize e diga : - Olha isso é importante pra
gente.
É importante que a cidade se modernize, vamos dizer
assim, é importante porque a gente precisa adequar as formas
antigas às novas funções, faz parte do viver na cidade, essa
reconstrução da cidade, mas há determinados elementos que
cabe a sociedade virar e falar: - Olha, a gente prefere que o
trânsito seja mais lento, mas a gente quer conservar essa casa,
então eu não entro muito nisso na dissertação só que eu vi o
quanto é importante a questão da organização da cidade civil,
para reivindicar a permanência de certos espaços da cidade.
As etapas da pesquisa foram programadas ou foi surgindo
conforme o trabalho?
Bom, elas foram surgindo na verdade.Eu tinha um
cronograma, mas esse cronograma acabou virando outra coisa,
então elas foram surgindo, que não é a forma adequada, mas foi
assim que ela foi construída.
Ao apresentar sua dissertação, há uma aparência de
tranquilidade no processo de pesquisa. Quanto tempo foi preciso
para fazer toda a pesquisa? Quando você começou essa
pesquisa?
Eu comecei a pesquisa em 2010. Então eu tive bastante
tempo para amadurecer as questões, eu me perdi bastante, foi
uma pesquisa muito difícil de ser concluída , mas no final das
contas o tempo que eu ganhei, que eu perdi na verdade, mas que
eu ganhei foi muito importante, porque eu tinha um bom tempo
para ler, para refletir, para rever várias vezes a questão do
método e tudo isso. Então eu tive uns 3 anos para poder fazer
essa pesquisa.
Parece-me que a Avenida Goiás e sua história retrataram o
baixo nível de participação da sociedade nos processos
decisórios das políticas públicas. Certamente, em razão do
autoritarismo e da aristocracia nacional conhecidos. Algum
entrevistado reclamou essa situação em que os mesmos ficaram
alheios às mudanças?
Na verdade os mais idosos sempre tem uma resistência
muito grande, quanto às modificações, então a maioria das
pessoas não sabia que houve o processo de patrimonialização,
sendo que já faziam quase 10 anos. Os idosos sempre reclamam
mas em nenhum momento tocou nessa parte, eu acho que agora
que está despertando a consciência de que o coletivo pode
contribuir nas decisões em relações as formas da cidade. Acho
que até então os meus entrevistados não demonstraram um
descontentamento em relação das contrariedades e das
contradições.
Daniele, você ressaltou a necessidade da memória,
principalmente dos idosos, a oralidade, você considera que falta
a memória em outros documentos, como escritos, por exemplo?
Não, de certa forma documentos escritos eles também são
a memória, a questão é onde você busca esses documentos,
porque que eles foram escritos, então a gente tem um tipo de
memória, no caso se você for procurar nos documentos oficiais
você vai encontrar a memória oficial. Então a gente tem que
pensar que a nós temos uma abundância de pontos de vista dos
mesmos tempos, então aí a gente tem diversidade de memórias.
No meu caso,eu quis procurar a memória cotidiana, então eu
pesquisei moradores comuns, mas eu sinto que tem poucas
pesquisas que trabalham com esse tipo de público, que são os
moradores comuns, eu vi muito sobre relato de memória dos
fundadores e das pessoas importantes da cidade, mas eu sobre
os moradores comuns que viveram em outros lugares ou até em
outras regiões sem ser o centro da cidade, eu quase não
encontrei. Então eu acho que a gente precisa muito disso, de
pesquisas que explorem as memórias desses moradores
comuns.
Concordo quanto a Educação ser fundamental para reverter
uma situação. Mas ainda assim continuo a questionar como
trabalhar esta educação em forma de ação educativa, ou não
seria um projeto educacional direcionada as escolas públicas?
Pois infelizmente, o centro urbano de Goiânia é utilizado como
meio de locomoção e as pessoas não tem tempo para apreciar e
"ser educada". Como transformar esta realidade?
Então, é através de projetos mesmo. Eu vejo assim,
projetos voltados para a educação pública mesmo e um incentivo
a esses alunos buscarem os pais, os avós, os mais velhos para
poder fazer esse tipo de trabalho que é a integração da escola e
da comunidade, porque se a gente coloca o passado em uma
posição de valor, agente vai colocar os idosos também nessa
posição de valor, porque eles veem perdendo o espaço na
sociedade. Porque todo mundo quer saber o que está
acontecendo hoje das inovações tecnológicas e tudo e se você
deixa de querer saber do passado aquela lembrança do seu avô,
não vai fazer o mínimo de sentido para você. Então é uma forma
de até mesmo devolver o espaço do idoso, porque o idoso ele
era a fonte da sabedoria, a fonte do conhecimento, antes do
conhecimento ser tão fácil como é agora clica o mouse e está no
Google, eles eram os guardiões do passado, então eu acho que
é um processo que envolva a família e a comunidade e que
ensinem os alunos a conversarem com os avós. É assim que eu
enxergo uma possibilidade.
Você disse que em um certo momento da pesquisa,
percebeu que as entrevistas individuais eram mais difíceis do que
tentar trabalhar com os coletivos( memórias coletivas). Essa
mudança alterou algo no decorrer do seu trabalho?
Então, alterou para melhor porque alguns dos entrevistados
realmente não conseguiam individualmente só comigo, falar
alguma coisa, eles falavam: - Ahh mas eu não lembro isso.
- Fala com fulana que ela vai falar melhor.
Quando eu reuni todo mundo, lógico que eu tive que por quatro
pessoas ou três, porque até iria ficar difícil fazer a transcrição,
surgia assunto demais, porque não lembrava a mesma coisa que
o outro, um lembrava de uma forma, outro discutia falava que era
de outra forma, então aí um comentava, vamos dizer assim a
narrativa do outro, a memória era estimulada, o processo de
lembrar de estimular parece que era estimulado quando a gente
colocava um interlocutor que viveu a mesma época daquela
pessoa.
Tive dificuldades, mas gostaria de agradecer por
compartilhar conosco, professora. Na sua pesquisa sentiu uma
resistência a modernidade vindas das pessoas que vieram da
antiga capital?
Essa parte de qual foi a recepção das pessoas que vieram
da antiga para essa, isso não foi abordado e não apareceu.
Professora você considera Goiânia como símbolo do
Patrimônio goiano. Sendo que, o primeiro documento científico
refere-se a Igreja Nossa senhora do Rosário dos pretos em
Pirenópolis – IPAHN.
Não e aí está acontecendo uma confusão. No meu trabalho
eu utilizo o patrimônio edificado em Goiânia, porque o meu
recorte é Goiânia. Eu estudo especificamente esse acervo de
Goiânia por causa do recorte, não considero como sendo um
símbolo do patrimônio, o nosso patrimônio é muito diverso.
Na sua opinião, qual modelo de política pública que deu
certo e que poderia ser seguida por outros estados no que tange
a questão patrimonial de Goiás?
Bom eu não sei dizer. Porque cada região tem suas
especificidades, então o que deu certo em outras, talvez não
daria certo aqui. Eu acredito que tem que desenvolver uma
política pública com os moradores, eu acho que esse tipo de
política é que dá certo na verdade, que os moradores fazem
parte.
Daniele, no caso de modificação drástica da paisagem
original memorável, em desarmonia com os efeitos do
tombamento, como a população poderia interferir junto ao Poder
Público evitando que essa "revitalização" perca as referências,
em vez de preservá-las? A realidade da maioria dos municípios
brasileiros é que os programas de revitalização de sítios
históricos estão indo na contramão da preservação patrimonial,
justamente, dentre outros fatores, por causa da baixa
participação social na construção dessas políticas públicas.
Como reverter esse processo?
É bem complexo, mas eu acredito que tudo começa nas
associações de bairro, que é uma coisa bem difícil de ter nas
grandes cidades, onde as pessoas estão sempre ocupadas e
distantes umas das outras e conhecer também a questão
burocrática de projetos, conhecer como que é feita a gestão das
cidades e aí a gente entra na questão de participação política do
povo. Porque há um conselhos nas cidades e é só buscar essas
pessoas, por isso que é muito complexo de dizer qual política
pública, mas eu acho que aquela que começa no bairro, o que eu
encontrei pessoalmente foi estudar a questão de editais de
cultura, saber como faz para fazer projetos, saber como faz para
intervir, é entender a parte burocrática na verdade, e a partir
disso você consegue construir alguma coisa.
Olá Danielle, tendo em vista as suas pesquisas você
conseguiu identificar ou não se a população goiana consegue
identificar a importância e o valor dos patrimônios culturais do
centro da cidade de Goiânia ou como acham que são meros
enfeites para a paisagem de Goiânia?
Na verdade é engraçado, porque não há uma reflexão sobre
isso, há aquilo as pessoas sabiam que existia desde sempre,
algumas pessoas sabem que aquilo é de alguma forma valioso,
porque é história é antigo, porque a palavra é essa. Mas não
entendem muito bem por que. Aí que volta e eu vou bater na
mesma tecla, que é a questão da falta de memória no sentido da
memória dos mais antigos, que é a falta de você ter um diálogo
com o seu avô, para perguntar e ele te falar. Porque eu só
comecei a ter esse olhar em relação a avenida, uma olhar sobre
o passado o passado da avenida, porque eu tive quem me falar,
me contar essa história desde que eu era criança que era a
minha tia-avó. E eu andava com ela no centro e ela falava:
- Olha aqui antes eu usava para fazer o vai e vem, ali era a
única sorveteria que tinha.
Então porque eu tive alguém para me abrir esse olhar, que
eu consegui enxergar, então é isso que acontece com essas
outras pessoas, a gente não tem alguém para direcionar o olhar.
Então eu vejo que a maioria das pessoas realmente não sabem,
se bem que agora parece que a questão do Art Déco ela explodiu
tanto que qualquer jornal que eu abro, eles falam que a casa é
Art Déco, muitas vezes a casa nem é Art Déco, mas eles falam
que é Art Déco, porque eles tem como referência esse precesso
de tombamento ocorrido em 2002. Mas o que eu noto nisso? Eu
noto que agora a consciência patrimonial está chegando nos
jovens e é importante, eu acho que pelos meios de comunicação,
pelas redes sociais a gente consegue divulgar e dessa forma, os
nossos amigos também vão tomando consciência dessa
valorização.
Há Conselhos, Comissões, Comitês para que a sociedade
fiscalize, ajude a planejar e monitore políticas públicas. Ex.:
comitê gestor das políticas para a população em situação de rua,
saúde, assistência social, etc. Você conhece algo do gênero para
que a sociedade civil intervenha nas questões que você bem
apontou?
Não aqui em Goiânia não. Na verdade seria importante a
gente ter o órgão de patrimônio como Pernambuco tem que é um
órgão regional do Recife, por exemplo, forte. Aqui a gente tem as
divisões de patrimônio só que sempre elas são muito
abandonadas e muito deixadas de lado, era algo como esse
departamento tanto estadual quanto municipal, que a sociedade
poderia ter esse diálogo, mas aqui no estado ainda não é uma
realidade, os próprios departamentos eles existem mas não são
muito atuantes, por falta de pessoal qualificado e por falta de
verba, então eu não vejo um órgão assim aqui em Goiânia que a
gente possa dialogar.
E você conversou com muitos moradores para fazer esse
trabalho?
Não na verdade não. Eu conversei inevitavelmente com
amigos, com o resto da família, mas como a minha pesquisa era
qualitativa eu tive que fazer um recorte com poucas pessoas,
porque senão eu teria um trabalho de anos, então eu acabei que
conversei se for pensar nessa parte não formal do trabalho,
conversei até que razoavelmente.
Professora o que acha que seu trabalho mudou e mudará
em relação à cidade e história e vida das pessoas que convivem
neste local?
Bom o meu trabalho ele dá esse direcionamento de olhar
que eu acredito que é necessário, até pra você saber porque que
as coisas são como elas são, então para você poder andar na
cidade e entender porque a avenida tem aquele formato hoje.E
ela pode virar e eu já estou estudando a possibilidade dela virar
material didático, a partir desse trabalho e também a questão do
alerta para as memórias dos mais idosos, porque eu acho que
isso é a chave pra gente descobrir muita coisa que não descobriu
e a importância da ocupação do espaço urbano, que foi algo que
eu explorei menos nessa fala minha, mas é porque são várias
coisas na dissertação e ela é bem extensa e é um dos viés,
porque a rua é um espaço essencialmente democrático, ela é um
espaço de transição de um lugar entre o outro, então a rua é um
ambiente que gera lembranças, portanto ela é nossa e a gente
que tem que decidir como ocupar ela, que é essa a questão de
ocupação da rua que eu acho que é importante, porque eu vejo a
rua, a avenida Goiás totalmente abandonada e é um espaço para
realizações, é um espaço para a sociedade, é um espaço para as
reivindicações, é um espaço para as manifestações artísticas e
nem sempre isso é explorado e isso tem muito a ver com a
questão da segurança pública. Então aí da questão da ocupação
da rua a gente consegue levantar uma série de discussões
também.
Parabéns, Danielle, pela apresentação e pelo trabalho. Meu
questionamento remete a este embate entre Estado e Sociedade
em questões patrimoniais urbanistas. Parece que o Estado não
representa os interesses da Sociedade. Parece que a luta entre
ambos é constante e contínua e o Estado não tende em muitos
casos a servir os interesses sociais. Na sua opinião, como a
participação social pode enfrentar esta "representação negativa"
que não valoriza a educação patrimonial e cultutural como um
todo? Obrigado!
Então mais uma vez é a questão da união, eu achoq eu a
única forma é a gente começar a unir com os nossos amigos, as
nossas redes, o nosso bairro eu acho que o que falta é
exatamente isso. E uma força grande, se unir com forças políticas
também que isso é importante e a gente não pode esquecer que
gente vive em uma cidade política e a gente tem que se envolver
com a política. Eu vejo muitas iniciativas que são independentes,
mas iniciativas independentes se não tiver alguém que está
dentro do governo para poder ajudar, elas não vão elas param
onde começaram na verdade. Então tem que ter uma união das
pessoas em forma de associação, uma pessoa jurídica de fato e
incomodar os políticos eu acho que é a única forma.
Em algum momento de sua pesquisa ocorreram
divergencias significativas entre as narrativas cotidianas
pesquisadas por você em seu trabalho de pesquisa e os relatos
ditos como históricos obtidos dos fundadores de Goiânia e
documentos . Outro ponto. Ao estudarmos a história da
construção de Goiânia vemos a existência de uma primeira rua
onde ficavam os trabalhadores da construção, questiono nas
lembranças das memórias por você pesquisada se há algum
relato ou mesmo referente a estes trabalhadores e seus
destinos?
Sobre o bairro popular, enfim esse é outro recorte que eu
fiquei muito interessada em explorar mas eu não pude, porque já
estava bem extenso o meu trabalho, mas eu tomo a Avenida
Goiás como a primeira rua oficial, mas eu tenho consciência
dessas outras ruas formadas por esses trabalhadores, eu acabei
não explorando essa parte mas eu acho um trabalho super rico.
Eu acredito que são um bem eu vou dizer que isso é
extremamente necessário, houve até um processo de demolição
nessa região do bairro popular que foi para construir o
estacionamento do Mutirama, que é outra parte totalmente que
não está nos livros históricos da nossa cidade que é
extremamente importante e a gente tem construções
extremamente antigas. Já o grupo específico que eu pesquisei
ele vivia abaixo Paranaíba, porque no nosso mapa ele tem a
Goiás e a Paranaíba, acima que é a Paranaíba à Praça Cívica
era o local comercial onde vivia as pessoas mais ricas, que era
onde até as casas da rua 20 que eram as primeiras casas
residenciais construídas oficialmente e abaixo era o onde morava
o pessoal do bairro popular e a minha família, que é essa família
que eu pesquisei ela estava ali abaixo da Paranaíba, mas ela não
chegava ali tão próxima da estação ferroviária, que era o setor
industrial e eles eram de fora, eles vieram de Morrinhos para
Goiânia, eles tinham uma situação de classe média, então eu não
consegui pegar esse relato dos trabalhadores de fato de Goiânia,
não estava no meu recorte. Em relações às contradições o
engraçado é que não, eu não consegui encontrar, até porque eu
não encontrei nenhuma pesquisa ou nenhum documento que
fosse extenso sobre a modificação da paisagem, então as
pessoas não conseguiam localizar exatamente o que elas
estavam me relatando. Elas conseguiam lembrar: - Porque na
época de 70 era assim, assim, assim...
E isso me ajudou a pesquisar inclusive ir nos arquivos e
encontrar coisas e eu nunca encontrei muitas diferenças e
discrepâncias nos documentos oficiais com as narrativas não.
Daniele, você coloca que a Politica pública com os
moradores seria a resposta para a valorização do patrimônio.
Mas na realidade observamos um abandono público na Torre do
Relógio e até mesmo uma inexistência do Coreto(passam por ele
como se fosse uma placa de trânsito). Qual tem sido a postura do
mundo academico diante de tanto abandono? Já que a
Secretaria da Educação se tornou responsável também pela
Secretaria da Cultura. Como sermos copiados por outros
estados?
Essa é uma pergunta que eu não tenho a mínima ideia na
verdade, porque a gente não tem política pública formatada e aí a
gente confusões entre as secretarias, então eu não sei como
esse governo, qual é o programa desse novo governo e dessa
nova forma de secretaria para o patrimônio em si. Realmente a
gente tem uma situação de abandono por parte do poder público,
a gente tem uma situação de inconsciência da população quanto
a importância desses bens e vamos ver o que vai acontecer. E eu
estou esperando para ver quais são essas novas políticas,
porque a gente sempre passa pela Secretaria de Cultura e não
consegue por enquanto, esse é um grande problema que u vejo
nas políticas públicas de patrimônio, que eu acho que é o mesmo
problema de qualquer outra política pública de qualquer outro
setor que é a questão da descontinuidade do governo, vem um
governo e propõe uma série de projetos em uma área específica
e depois descontinuou. Por exemplo, o processo de
requalificação que foi feito na avenida, ele só foi feito a primeira
etapa, a primeira etapa era fazer um canteiro central, a segunda
etapa era fazer os canteiros lindeiros. Nos canteiros dos lados
iam colocar em áreas específicas que foram reservadas no
canteiro central e isso nunca aconteceu, porque trocou de
governo e de partido e a gente teve uma descontinuação dessa
política. Então a gente nunca sabe o que pode acontecer.
Como ficou a relação da cidade com sua proposta de
trabalho?
Esse trabalho ele não foi levado muito à público aqui em
Goiânia, porque ele foi todo desenvolvido na Universidade
Federal de Pelotas que foi uma vantagem, porque eu pude
explorar várias nuances da cidade sem ter uma delimitação, sem
ter ninguém para me parar, mas também foi um problema porque
eu não entrei em questões mais profundas, por não ter
interlocutores que conhecessem a história da cidade, mas eu
pretendo de agora para frente divulgar mais e vamos ver o que
os órgãos responsáveis dizem sobre isso.
Você falou que abordou apenas alguns aspectos aqui. No
trabalho você aborda também algo relacionado à arte urbana?
Existem manifestações de cultura visual nessa linha na Avenida?
Eu não abordo porque o recorte não permitiu, só que é uma
das coisas que andam acontecendo, inclusive depois que eu
havia terminado a minha dissertação, eles fizeram a galeria
aberta na Avenida Goiás, que foi pintando as portas do comércio.
Eu vejo isso como extremamente positivo, há alguns que acham
que isso atrapalha na paisagem do patrimônio que existe
edificado. Eu já acho que tem que ter vida e a arte de rua é vida,
é atual arte, a gente não pode querer conservar só uma
contemporalidade, tem um projeto que diz que apagar os prédios,
de outros templos de outras orientações com cores neutras, pata
poder ressaltar os prédio em Art Déco, eu não concordo porque
eu acho que as nossa memórias e os nossos patrimônios não
deve congelar um tempo e uma coisa específica.Então para mim
essa manifestação de arte urbana é extremamente importante
para a nossa cidade e é também um registro histórico.
Como você observou nos discursos dos entrevistados aquilo
que derivava da memória e o que respectivamente poderíamos
caracterizar como “imaginação criativa”, “ilusória” de um
passado? Você levou essa hipótese em consideração ao analisar
os áudios coletivos, como lidou com esse desafio? Parabéns
pela pesquisa.
Obrigada e sim é uma preocupação que a gente sempre
tem quando lida com arte dos memoriais é a questão da verdade,
não é todo mundo que se prende no que exatamente aconteceu,
só que como eu estava trabalhando com uma questão da
paisagem, de memória da paisagem eu não tive esse problema,
porque eu tinha ali era que as vezes as pessoas se confundiam
com datas, mas isso com outras pessoas se resolvia rápido,
porque a pessoa falava a outra já questionava e eles já entravam
em um acordo e quando eu ia comparar com o documento oficial
eu acabava realmente a referência de determinadas coisas,
então pela minha escolha e do meu recorte específico do que
analisar nessas narrativas eu não tive esses problemas, porque
se fosse talvez história de vida, podia vir algum fato ou outro que
na verdade veio da imaginação, mas no caso de trabalhar com
objetividade que é a paisagem, com o que era visto e com o que
acontecia eu não tive grandes problemas, até porque eu me
apoiei nos documentos e na fala das outras pessoas também,
então isso ajudou também no processo.
nas pesquisas que ja fiz em minha cidade percebi que a rua
tinha um valor diferente de hoje, seu simbolismo é diferente de
hoje " todos que moravam nas cidades queriam estar o mais
próximos da rua era um local de socialização" hoje as ruas de
antes tem um caráter mais comercial visando o comércio, em
seu trabalho percebeu esta mudança também?
Sim, porque a rua era o local de socialização, as pessoas
iam pra rua para conversar, para encontrar as pessoas, hoje as
ruas e principalmente as grandes avenidas elas são lugar de
trocas comerciais,eu acredito que isso seja herança grande da
ditadura militar que as pessoas não podiam se encontrar na rua.
Rua era lugar de circular e não de ficar conversando, então acho
que até por uma questão histórica a relação das pessoas com a
rua mudou, só que no nosso atual contexto de democracia a
gente pode assim dize, a gente pode recuperar um pouco desse
significa que era de encontro antes e não só de trajeto.
Obrigada Danielle pelo esclarecimento. Você fala sobre a
busca e o resgate da memória coletiva de pessoas mais idosas
que vivenciaram a historiedade dos nossos patrimônios, mas
observando que cada vez mais as pessoas não tem esse tipo de
diálogo, devido a inserção e das tecnologias e suas ferramentas
que intermediam as mais diversas relações sociais. Você acha
que as políticas públicas e os projetos realizados atualmente
estão caminhando de mãos dadas com essas novas tecnologias
ou elas se constituem como novas barreiras para a
conscientização do cidadão goiano?
Eu acho que na verdade elas são mais uma ferramenta para
a conscientização, eu acho que usadas da forma correta, não sei
se tem uma forma correta, as coisas influenciam nas questões a
partir da forma que você as usa. Então hoje eu acho que vendo
pela minha experiência , as redes sociais ela estão sendo até
úteis nessas questões de patrimônio, por exemplo, tem uma casa
moderna que foi demolida que minha amiga me avisou pelo
telefone a gente postou pelo facebook e já surgiu uma série de
pessoas reclamando, então a gente vê que como mais um
instrumento de união social. A gente tem que se adaptar as
novas tecnologias que usar elas para os fins que a gente acredite
serem corretos, então eu acho que não é uma barreira e usada
da forma certa é mais um meio de educação e conscientização.
Você acredita que antigamente as pessoas eram mais
unidas e por que hoje o corre corre da vida as pessoas se
afastam umas das outras e atrapalha na memória e na
construção de um mundo melhor?
Eu acho que isso é o que nós temos colocado, os tempos
são outros, antes a gente vê que as famílias elas passavam mais
tempo juntas e tudo isso, hoje a nossa realidade já é a realidade
do corre corre, do aceleramento do tempo, menos tempo para
estar com as pessoas e aí a gente tem as ferramentas
tecnológicas e a internet que nessa separação, também é uma
forma da gente estar em contato. Na verdade eu não posso dizer
que a gente está construindo mundo melhor e como isso afeta na
memória, eu acho que isso até seria um campo de estudo
interessante.
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