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GESTOS, EXPERIÊNCIAS E INTERAÇÕES NO CÍRIO DE NAZARÉ1
Uma visada pragmatista e relacional da comunicação
GESTURES, EXPERIENCES AND INTERACTIONS IN CÍRIO DE NAZARÉ
A pragmatist and relational perspective of the communication
Suzana Cunha Lopes2
RESUMO
Com base nos princípios do pragmatismo (antifundacionalismo, consequencialismo e contextualismo), neste trabalho exercitamos uma aproximação teórico-empírica de nosso objeto empírico, o Círio de Nazaré, maior manifestação católica do mundo, que acontece em Belém do Pará. Analisamos algumas situações protagonizadas pelos chamados promesseiros do Círio, pessoas com diferentes perfis e histórias de vida que pagam promessas feitas a Nossa Senhora de Nazaré a partir de manifestações corporais e/ou materiais durante a procissão principal, que ocorre no segundo domingo do mês de outubro nas ruas de bairros centrais da cidade. A partir dos conceitos de gesto, experiência e interação, busca-se extrair o que há de propriamente comunicacional, a partir de um modelo relacional/praxiológico da Comunicação.
PALAVRAS-CHAVE: Comunicação; Interação; Experiência; Pragmatismo; Círio de Nazaré
ABSTRACT
Based on the principles of pragmatism (anti-foundationalism, consequentialism and contextualism), this paper exercise a theoretical and empirical approach to our object, the Cirio de Nazaré, the largest Catholic event in the world, held in Belém-Pará. We have analyzed some situations protagonized by called “promesseiros do Cirio”, people with different profiles and life stories that pay promises to Nossa Senhora de Nazaré from bodily and / or materials manifestations during the main procession, which takes place on the second Sunday of October in the central districts streets of the city. From the concepts of gesture, experience and interaction, we try to extract what is proper communicational, based on a relational / praxiological Communication model.
KEYWORDS: Communication; Interaction; Experience; Pragmatism; Círio de Nazaré
1 Trabalho apresentado no GT Processos sociais e práticas comunicativas. Inicialmente, foi elaborado no âmbito da disciplina Teorias da Comunicação, ofertada no 1o semestre de 2015 para o curso de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGCOM-UFMG). A disciplina foi ministrada pela Profa. Dra. Paula Guimarães Simões.2 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGCOM-UFMG). E-mail: suzanaclopes@yahoo.com.br.
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Introdução
O pragmatismo como corrente filosófica apropriada por diferentes escolas
sociológicas tem sido revisitado por pesquisadores da Comunicação com o objetivo de
estudar alguns conceitos e teorias que podem contribuir para a compreensão de processos
comunicacionais. No cerne dessas apropriações estão os princípios de antifundacionalismo,
consequencialismo e contextualismo, que Pogrebinschi (2005) identifica como elementos
comuns às obras de vários autores pragmatistas, em diferentes dimensões e proporções.
Com base nesses princípios, como seria desenvolver uma visada comunicacional
pragmatista acerca de um fenômeno cultural tão diverso e de grandes proporções como o
Círio de Nazaré, maior manifestação católica do mundo, que acontece em Belém do Pará?
Para responder a essa pergunta central, nosso ponto de partida é a compreensão de que a
comunicação é uma prática constitutiva do social (DEWEY, 2010; GOFFMAN, 1999;
MEAD, 1982), o que apenas inicia nossa empreitada de pesquisa de um fenômeno em que o
cultural, o político, o artístico, o religioso e o econômico estão imbricados. Onde está o
comunicacional senão tecendo a relação entre todas essas esferas do social?
Partindo desse pressuposto, como um exercício de aproximação ao nosso objeto
empírico, analisaremos algumas situações protagonizadas pelos chamados promesseiros do
Círio, pessoas com diferentes perfis e histórias de vida que pagam promessas feitas a Nossa
Senhora de Nazaré a partir de manifestações corporais e/ou materiais durante a procissão
principal, que ocorre no segundo domingo do mês de outubro nas ruas de bairros centrais da
cidade. São milhares de situações diferentes, mas coletaremos algumas que são recorrentes, a
partir de registros fotográficos e de bibliografia acerca do Círio (ALVES, 19805; IPHAN,
2006; MAUÉS, 2010) e da participação observante3 da pesquisadora em procissões
anteriores.
A proposta é extrair o que há de propriamente comunicacional (BRAGA, 2008)
nessas cenas, a partir de um modelo relacional/praxiológico (FRANÇA, 2003; QUÉRÉ,
1991) da comunicação. Nesse sentido, são centrais em nossa análise os conceitos de gesto
(MEAD, 1982), como unidade básica do ato social a partir do qual o individuo se dá a ver
(expressão) e se coloca à ex/disposição do outro para trocas e construções de significados
(interação); experiência singular (DEWEY, 2010), como episódio que possui começo, meio e
fim e é significativo para os indivíduos que o vivenciam; e interação (MEAD, 1982;
3 Utilizamos propositadamente o termo participação observante em contraposição à observação participante para explicitar que o que acionaremos neste momento é nossa experiência empírica de participante do evento e não aspectos de uma observação sistemática que ainda vamos fazer no decurso do doutorado.
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GOFFMAN, 1999), como unidade constituidora do comunicacional a partir das trocas
presenciais de dois ou mais indivíduos em situações cotidianas, sem deixar de estar integrada
a um âmbito mais amplo do social.
Uma visada pragmatista
Não é objetivo deste trabalho traçar um amplo panorama da corrente pragmatista e
sua apropriação em estudos comunicacionais. Para fins de um exercício de aproximação de
nosso objeto empírico de pesquisa, o Círio de Nazaré, destacaremos os três princípios de base
do método pragmatista que, de acordo com Pogrebinschi (2005), são: o antifundacionalismo,
o consequencialismo e o contextualismo. Apesar de terem sido separados analiticamente pela
autora, é importante ressaltar que “Os três elementos constitutivos da matriz filosófica do
pragmatismo, cada qual com suas características peculiares, por conseguinte, apresentam-se
como inter-dependentes e inter-relacionados” (POGREBINSCHI, 2005, p. 62). A proposta,
assim, é perceber de que forma eles nos iluminam para estudar os processos comunicativos
no Círio de Nazaré e subsidiam os conceitos de gesto, experiência e interação que
posteriormente discutiremos. Em primeiro lugar, o antifundacionalismo consiste em
uma permanente rejeição de quaisquer espécies de entidades metafísicas, conceitos abstratos, categorias apriorísticas, princípios perpétuos, instâncias últimas, entes transcendentais, dogmas, entre outros tipos de fundações possíveis ao pensamento. Trata-se, afinal, de negar que o pensamento seja passível de uma fundação estática, perpétua, imutável (POGREBINSCHI, 2005, p. 26).
Em sua base significa que o conhecimento construído a partir da pesquisa científica é
falível e precisa ser constantemente crítico e renovado. Com o antifundacionalismo, percebe-
se que as ideias são componentes da experiência, não sua abstração: “o significado de um
conceito apenas pode ser conhecido através de suas consequências práticas”
(POGREBINSCHI, 2005, p. 31). Dessa forma, o pragmatismo se opõe ao idealismo e vai
além do empirismo: “é a prática, a ação prática dos homens que deve servir de fundamento
para a filosofia, fundamento este que nem pode ser denominado como tal, assentado que está
nas idéias de variação, de mutação e de incerteza” (POGREBINSCHI, 2005, p. 37).
O consequencialismo, por sua vez, tem a ver com uma visão voltada para as
consequências de determinado fato social, em contraposição a uma busca imanentista de suas
causas e essências. “Trata-se da insistência de olhar para o futuro, e não para o passado”
(POGREBINSCHI, 2005, p. 38), sem contudo desconsiderar o papel da história quando esta é
demandada pelo próprio fato no presente. Esse princípio também está associado ao VIII Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Minas Gerais
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permanente processo de teste de hipóteses para verificação das consequências, tendo como
horizonte que os resultados são sempre não finais, estando passíveis de novas verificações.
Já o contextualismo propõe sempre à análise um olhar abrangente e articulado do fato
a ser estudado: “Trata-se de reivindicar consideração às crenças políticas, religiosas,
científicas, enfim, à cultura da sociedade e às relações que mantém com as instituições e
práticas sociais. A este corpo de crenças, o pragmatismo chama de experiência”
(POGREBINSCHI, 2005, p. 49). É na experiência onde reside o substrato para a análise
pragmatista, pois é nela onde se encontram as práticas sociais que serão sua unidade de
estudo.
Nesse sentido, essa corrente filosófica dá valor especial à dimensão social das
práticas, evidenciando seus contextos de ocorrência e desenvolvimento: “O contexto está tão
arraigado às nossas vidas, especialmente às nossas práticas comunicativas, que o tomamos
como dado, ignorando-o de certa forma” (POGREBINSCHI, 2005, p. 57). Ao olhar para o
âmbito da experiência, o pragmatismo também se desafia metodologicamente a dar conta de
construir conhecimentos falíveis pela própria mutabilidade do social que analisa.
Especialmente no que concerne ao estudo dos processos comunicativos, o
pragmatismo oferece algumas pistas interessantes a partir desses três princípios que foram
adotados de diferentes formas, com diversas ênfases, pelas gerações de filósofos e sociólogos
norte-americanos. Autores como Mead, Dewey e Park, da Escola de Chicago, a partir de uma
visada pragmatista, desenvolveram vários estudos em que destacavam a comunicação como
constituidora do social (JOAS, 1999).
Para Mead (1982), por exemplo, a comunicação é o princípio básico da organização
social. Sendo fundante do ato social, envolve o engajamento de dois ou mais indivíduos:
“Mead quebra a dicotomia entre indivíduo e sociedade, enfatizando a dinâmica interacional
que marca esta mútua constituição. Tal processo se realiza por meio da comunicação e da
produção simbólica que a constitui (a linguagem)” (FRANÇA & SIMÕES, 2014, p. 102).
Goffman (1999), que é de uma outra geração e local de atuação mas assimila muitas
noções sobretudo de Mead, propõe uma mudança de foco no estudo sociológico de uma
ordem social macro para uma ordem da interação de nível micro. Com isso, não contrapõe as
esferas micro e macro, mas dá ênfase ao micro para a compreensão do macro, e nesse
movimento, acentua o papel da comunicação no âmbito de uma interação face a face, com
um detalhamento inviável em uma esfera social mais ampla.
Como esses elementos e orientações nos conduzem para uma análise comunicacional
do Círio de Nazaré? Em primeiro lugar dirigem nosso olhar para a esfera da experiência e das VIII Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Minas Gerais
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práticas sociais, iluminando um fenômeno passível de análise pela sua dimensão manifesta e
experiencial. Segundo, oferecem-nos um enfoque sobre as interações (e nelas os gestos) e
suas nuances como unidades básicas para estudo do social, relacionadas sempre aos seus
contextos de ocorrência.
Além disso, apontam-nos para a necessidade de compreender o comunicacional no
Círio a partir de suas consequências, vendo articulados no presente um passado manifesto e
um futuro devir. Com isso, exige-nos também sempre um olhar que foca no particular sem
desconsiderar seu contexto mais amplo: “Assim, na perspectiva indicada por Mead, uma
análise da comunicação é antes de tudo uma análise situacionista: a situação como um todo
[...] deve ser nosso ponto de partida e nossa referência ao recortar um objeto específico”
(FRANÇA, 2008, p. 85). Dessa forma, desenvolvemos um exercício analítico em que tais
conceitos nortearam nossa aproximação do Círio de Nazaré.
Gestos, experiências e interações no Círio
O Círio de Nossa Senhora de Nazaré é hoje conhecido no Brasil e no exterior,
registrado como patrimônio cultural de natureza imaterial pelo Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), em 2004. Trata-se de uma festividade católica que
perpassa todo o calendário anual de Belém do Pará, mas se destaca no mês de outubro,
quando ocorrem mais de dez grandes procissões nas ruas e rios do estado.
A devoção a Nossa Senhora de Nazaré nasce da lenda do achado da imagem de uma
santa às margens do igarapé Murutucu, em Belém do Pará, por um caboclo chamado Plácido
de Souza, no início do século XVIII4. Toda vez que era retirada das margens do igarapé para
as sedes do governo ou da Igreja, a santa voltava para o local de origem. Após várias
tentativas de mudá-la de lugar, não restou outra opção senão construir uma capela simples no
local em que foi encontrada e onde hoje está localizada a Basílica Santuário de Nossa
Senhora de Nazaré. Depois que a história da santa se popularizou e a Igreja institucionalizou
a devoção, foi realizada a primeira grande procissão, chamada Círio, nas ruas de Belém, em
1793 (IPHAN, 2006).
Atualmente, a procissão principal acontece no segundo domingo do mês de outubro,
quando milhares de pessoas amanhecem nas ruas do centro da cidade na maior procissão
religiosa do mundo, reunindo paraenses de várias localidades do estado e cada vez mais
4 A devoção a Nossa Senhora de Nazaré teve origem em Portugal no século XII. Veio inicialmente para o Brasil pelo interior do Pará, em uma cidade chamada Vigia (século XVII), e só depois chegou em Belém (século XVIII) ganhando a repercussão que hoje tem (MAUÉS, 2010).
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pessoas de fora do Pará e do Brasil. O percurso possui cerca de 3,5 Km, saindo da Catedral
Metropolitana da Sé em direção à Basílica Santuário de Nossa Senhora de Nazaré (ver
Imagem 1).
Imagem 1. Percurso do Círio de Nazaré em 2008, que permanece até hoje (Fonte: www.g1.globo.com)
Imagem 2. Nossa Senhora de Nazaré sendo conduzida na berlinda durante a procissão
(Foto: Pascom Arquidiocese de Belém. Fonte: www.ciriodenazare.com.br)
A imagem de Nossa Senhora é abrigada por uma berlinda que é conduzida pelos
chamados Guardas de Nossa Senhora de Nazaré (Imagem 2). À frente da berlinda,
acompanham a procissão alguns grupos escolares, além de carros que carregam objetos de
pagamento de promessas deixados pelos fieis e carros com crianças vestidas de anjo. Junto à
berlinda, vão grupos de sacerdotes e da diretoria que organiza a Festividade. Logo atrás da
Santa, seguem os devotos que acompanham o Círio segurando na corda, um dos principais
símbolos do Círio. Medindo cerca de 800 metros de comprimento e 50 milímetros de
diâmetro, ela é segurada por centenas de pessoas durante toda a procissão, como forma de
pagamento de alguma promessa feita à Nossa Senhora.
Após a corda, misturam-se milhares de devotos e outros interessados que
acompanham a procissão de diferentes formas. Dentre os milhões de pessoas que participam
do Círio, destacamos um tipo de devotos chamados de promesseiros, pessoas com diferentes
perfis e histórias de vida que pagam promessas feitas a Nossa Senhora de Nazaré a partir de
manifestações corporais e/ou materiais durante a procissão principal.
“A devoção implica em níveis diversos que se manifestam na promessa. Sendo Nossa Senhora de Nazaré o santo padroeiro, o santo-patrão-maior, poderíamos dizer que as promessas feitas a ela são as relacionadas com as grandes crises da vida, ou com os momentos cruciais para os indivíduos” (ALVES, 1980, p. 57).
O pagamento de promessas geralmente acontece de forma manifesta e altamente
expressiva, de maneira a ampliar o escopo da interação entre o devoto e a Santa para um VIII Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Minas Gerais
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âmbito mais coletivo que envolve outras pessoas que auxiliam o devoto para conseguir
cumprir o objetivo da promessa ou assistem à cena: “As súplicas acompanhadas de objetos,
na forma de promessas, ofertas e sacrifícios, são naturalmente mais fortes que um simples
pedido verbal, pois que elas implicam um ato de cometimento muito mais denso e dramático
(DAMATTA, 1986, p. 111 apud PAES, 2013, p. 157). É nesse sentido de afetar outras
pessoas e provocar diferentes atitudes que a dimensão expressiva do pagamento de promessas
alcança uma potência comunicacional: “Trata-se de estabelecer conexões simbólicas para que
as mensagens em jogo no ritual assumam um amplo poder comunicativo” (ALVES, 1980, p.
58).
Aqui a noção de gesto, de Mead (1982), se torna bastante rica para perceber os
processos comunicativos, entendendo o gesto como um ponto de partida, unidade inicial dos
atos sociais, estímulo para a reação dos indivíduos. “Os gestos fazem parte do ato social; eles
estabelecem o início do ato e constituem um estímulo para os outros organismos que dele
participam” (FRANÇA, 2008, p. 75). Assim, como um convite à interação, todo gesto
demanda uma reação, que por sua vez é um novo gesto.
Dentre as formas de pagamento de promessas em que podemos perceber a potência do
gesto está o acompanhamento do percurso do Círio caminhando de joelhos (ver Imagem 3 e
4). Geralmente, este é um tipo de gesto que sempre vemos acompanhado por outros gestos,
como o de auxílio ao promesseiro. Alguns devotos fazem o percurso do Círio antes de a
procissão começar, evitando assim de ficar no meio da multidão que caminha em direção à
Basílica Santuário de Nazaré (ver Imagem 3). Outros, porém, preferem ir junto à multidão,
demandando uma espécie de isolamento para que consiga caminhar (ver Imagem 4).
Imagem 3. Promesseiro se antecipa à procissão e chega ao destino antes da Santa (Foto: Camila Lima/O
Liberal. Fonte: www.g1.globo.com)
Imagem 4. Promesseira acompanha a procissão no meio da multidão (Foto: Natália Melo/G1. Fonte:
www.g1.globo.com)
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Como é possível identificar nas imagens, esses promesseiros não estão sozinhos no
pagamento de suas promessas, não somente no sentido da presença de outras pessoas na
mesma situação de devoção (procissão), mas sobretudo pelo engajamento de outras pessoas
no cumprimento da promessa. Sejam parentes previamente convocados a auxiliar nessa tarefa
ou pessoas afetadas durante a procissão, essa mobilização se dá por um gesto inicial que é do
promesseiro. O gesto, portanto, não se esgota em si, mas demanda novos gestos: “Este jogo
recíproco é levado a cabo de modo que os gestos executam suas funções, provocam as
reações nos outros, e estas reações se convertem por sua vez em estímulo para a readaptação”
(MEAD, 1982, p. 87, tradução nossa).
“O esforço individual, no pagamento de uma promessa na verdade, é um aspecto de um grande esforço coletivo para uma perfeita conjunção com a santa. E mais, a festa propicia que o devoto se aproxime mais da Santa na medida em que ela desce de seu altar e vem ao nível dos homens. O sacrifício se torna mais visível e por isso mesmo ele deve ser redobrado” (ALVES, 1980, p. 58).
Mas o poder comunicativo dos gestos reside também na sua expressividade de ideias,
significados e emoções: “quando esse gesto representa a ideia que há por trás dele e provoca
essa ideia no outro indivíduo, então temos um símbolo significante” (MEAD, 1982, p. 88,
tradução nossa). Ao destacar essa dimensão simbólica, Mead dá a ver um tipo especial de
interações, que são as interações comunicativas, que a partir do uso da linguagem gera gestos
significantes (FRANÇA & SIMÕES, 2014).
Na procissão, o ato de pagamento de promessa se dirige quase que diretamente à Santa e não passa pelas intermediações do sacerdote, das súplicas e orações da liturgia católica. Também observamos a intensidade do gesto de sacrifício relacionado diretamente ao fato que dá origem à promessa. A promessa ocupa um lugar fundamental na ‘performance ritual’ (ALVES, 1980, p. 58).
Assim, o gesto de um promesseiro que acompanha o Círio de joelhos, por mais que
não se expresse em palavras, comunica uma história de vida, uma dificuldade enfrentada,
uma conquista possibilitada pela ação divina e uma gratidão à Nossa Senhora pelo
atendimento do pedido do devoto. Ao expor este conteúdo, o gesto do promesseiro não busca
uma interação apenas com a Santa, mas com outras pessoas que se encontram no seu mesmo
contexto, estimulando diferentes reações, dentre elas: a comoção pelo sofrimento do outro,
comparando sua vida à do devoto que é capaz de tamanho sacrifício; o desejo de ajudar o
outro a cumprir sua promessa, como se ao ajudá-lo também fosse possível retribuir, como ele,
alguma conquista possibilitada pela Santa; a motivação para um dia também ser forte para
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demonstrar a fé de uma forma tão sacrificante; a emoção por saber que algum pedido muito
especial foi atendido por Nossa Senhora, o que significa, por sua vez, uma “razão” para
acreditar em sua bondade e poder, dentre outras possibilidades.
A partir desses gestos dotados de significados, um indivíduo afeta o outro na interação que estabelecem, ao mesmo tempo que se vê afetado nesse processo, coloca-se no lugar do outro, tenta antecipar a conduta dele e pode transformar a sua própria atuação. Essa dinâmica de mútua afetação e de reflexividade é configuradora da noção de comunicação proposta por Mead (FRANÇA & SIMÕES, 2014, p. 102).
Assim, a partir de um gesto significante, são provocadas diferentes reações, que, por
sua vez, também constituem-se como estímulos para o autor do primeiro gesto. Por isso, as
reações de ajuda ou de emoção tornam-se para o promesseiro um novo estímulo para
continuar caminhando, mesmo que a dor física seja um fator que o seduza a parar. Ao longo
da procissão, é essa troca mútua que permite que o objetivo da promessa seja alcançado e ao
longo dele novos gestos se irradiem.
Os gestos, como princípio do ato social, sempre estão em um contexto e, como vimos,
para os pragmatistas, “A experiência é o mais abrangente dos contextos” (POGREBINSCHI,
2005, p. 49). Para Dewey, diferentes experiências perpassam o cotidiano de cada indivíduo,
porém, devido à ampla dispersão em que se vive, apenas algumas experiências configuram-se
como singulares e significativas por terem um início, um meio e um fim: “Em uma
experiência, o fluxo vai de algo para algo” (DEWEY, 2010, p. 111). Assim, “[...] temos uma
experiência singular quando o material vivenciado faz o percurso até sua consecução”
(DEWEY, 2010, p. 109).
Podemos considerar que o gesto de um promesseiro no Círio é uma forma de viver
esse momento como uma experiência singular. Buscam diferenciar-se dentre as milhões de
pessoas que acompanham o Círio e assim o experienciam de maneira ímpar. Um exemplo são
os promesseiros que carregam uma cruz durante todo o percurso da procissão, como que
atualizando a caminhada de Jesus rumo à crucificação, que, para os católicos, significa a
salvação.
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Imagens 5 e 6. Promesseiros carregam a cruz durante o percurso do Círio (Foto 5: Cezar Magalhães/DOL. Fonte: www.diarioonline.com.br | Foto 6/Fonte: http://eebaestetica.blogspot.com.br/)
Trata-se de uma experiência duplamente singular: revivendo o sacrifício do próprio
Cristo e agradecendo pelo pedido atendido a partir da oferta de um sacrifício físico. A
gratidão, nesse sentido, ganha proporções tais que não se bastam em quaisquer gestos. A
experiência precisa ser proporcional ao sentimento de gratidão do devoto.
“Falar aqui em gratidão é muito adequado, na medida em que, no Círio, as dádivas recebidas pelos romeiros e devotos, bem como por todos os que vivem o Círio, precisam ser lembradas e retribuídas, mesmo numa sociedade onde o valor do dinheiro e das relações impessoais tende a se impor. E, por isso, a gratidão para com a Virgem de Nazaré, a Santa dos paraenses, precisa expressar-se num ritual de tanta relevância. Como também nos diz o mesmo sociólogo alemão: ‘[...] Ela estabelece o laço de interação, da reciprocidade do serviço e do retorno do serviço, mesmo onde não são garantidos pela coerção externa [...] (Simmel, 1950, p. 387)’” (MAUÉS, 2010, p. 178-9).
A gratidão como conteúdo principal do pagamento de uma promessa pode ser
manifesta de diferentes formas, tornando a experiência singular também por uma dimensão
estética, que tem a ver com sua potência de manifestação mas também de afetação. A
emoção, nesse sentido, confere a unidade e a qualidade estética que faz uma experiência ser
singular:
A emoção é a força motriz e consolidante. Seleciona o que é congruente e pinta com suas cores o que é escolhido, com isso conferindo uma unidade qualitativa a materiais externamente díspares e dessemelhantes. Com isso, proporciona unidade nas e entre as partes variadas de uma experiência. Quando a unidade é do tipo já descrito, a experiência tem um caráter estético, mesmo que não seja, predominantemente, uma experiência estética (DEWEY, 2010, p. 120).
Apesar de singular e individual, a experiência do pagamento de promessas no Círio
torna-se coletiva no momento em que não apenas o promesseiro se engaja nesse gesto de VIII Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Minas Gerais
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agradecimento à Santa. A experiência individual ganha proporções sociais a partir do
envolvimento, direta ou indiretamente, de toda uma coletividade no contexto da promessa.
“O sentido de cada devoto (e ex-voto5) é, ao mesmo tempo, único e coletivo, tanto expressa o
conjunto dos problemas e das aflições que marcam a trajetória do devoto, quanto às questões
comuns à experiência e sentidos referidos à coletividade dos paraenses e brasileiros” (PAES,
2013, p. 157).
Nesse sentido, apesar de cada devoto, em especial o promesseiro, vivenciar uma
experiência singular, não é possível negar que um dos fatores que a torna singular é o fato de
ocorrer em um contexto composto por pessoas que comungam alguns referenciais, apesar de
suas motivações particulares: “experiência implica um duplo movimento: padecer e agir. O
que nos afeta não depende apenas de nós, de modo que não podemos controlar o que se passa
e o que acontece; entretanto, não somos indiferentes àquilo que nos atravessa e se coloca à
nossa frente” (LANA ET. AL, 2014, p. 88).
Por isso, a experiência do promesseiro, ao mesmo tempo, é emotiva (para ele) e
emociona (o outro); é dolorosa (nele) e provoca comoção (no outro); é recompensadora (para
ele) e motivadora (para o outro). A experiência singular, assim, sempre aponta para um além
e um mais profundo: “Ao manipularmos, tocamos e sentimos; ao olharmos, vemos; ao
escutarmos, ouvimos” (DEWEY, 2010, p. 130).
Sendo uma interação entre um indivíduo e algum aspecto que lhe rodeia (DEWEY,
2010), a experiência no Círio também adquire uma dimensão interacional, não apenas no
âmbito da fé do devoto em Nossa Senhora, mas na própria interação entre os devotos que ao
mesmo tempo em que comungam de um mesmo contexto (a procissão), constroem a
experiência mesma de acreditar na bondade e no poder da Santa. A fé não é apenas individual
como coletiva, por se constituir em um jogo de ações, percepções e emoções que não
prescindem de interação. Como afirma Dewey (2010, 136), “A fase estética ou vivencial da
experiência é receptiva”, ou seja, para que no âmbito do Círio uma experiência de devoção e
de pagamento de promessa se complete, ela precisa provocar e ser percebida e sentida
também pelo conjunto de fieis como uma experiência de fé.
Em seu caráter interativo, a experiência adquire mais fortemente uma dimensão
social: “A interacção social pode ser definida, num sentido estrito, como aquilo que surge
5 Ex-votos são objetos de pagamento de promessas carregados pelos devotos durante a procissão em agradecimento pelo atendimento de algum pedido. Geralmente, são feitos de cera e tem o formato de partes do corpo humano remetendo à cura de alguma doença. No Círio, outros tipos de ex-votos são vistos: como miniaturas de casas e barcos, que representam a conquista da casa própria e de uma fonte de renda (no caso de pescadores); cadernos e livros, carregados por quem deseja passar em concurso ou vestibular, ou já alcançou essa bênção; tijolos, por quem quer construir a sua casa ou já conseguiu fazê-lo, entre outros.
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unicamente em situações sociais, isto é, em ambientes nos quais dois indivíduos, ou mais,
estão fisicamente em presença da resposta de um e do outro” (GOFFMAN, 1999, p. 195,
grifo nosso). Com isso, enfatizamos nossa compreensão de que o pagamento de promessas é
um gesto que não prescinde do outro, pelo contrário, constitui-se na relação mesma com o
outro: “Em situações sociais, o agente é, ele próprio, uma fonte de estímulo para seu parceiro.
Ele deve então estar atento a seus modos de ação, uma vez que estes suscitam reações do
parceiro e, por isso, tornam-se condições para a continuidade de suas próprias ações” (JOAS,
1999, p. 139).
Podemos citar ainda o contexto do pagamento de promessas na corda. Um dos
principais símbolos do Círio, podemos dizer que a corda é um espaço de compartilhamento
de experiência de devoção pelos promesseiros, posto que não apenas reúne pessoas de
diferentes origens geográficas e socioculturais, com diferentes motivações, como também os
une, prática e simbolicamente, com o objetivo de cumprir uma promessa de sacrifício durante
todo o percurso da procissão.
Imagens 7 e 8. Promesseiros da corda (Foto 7: Rafaela Costa/Portal ORM. Fonte: www.ormnews.com.br. | Foto 8/Fonte: www.fundacaonazare.com.br)
Os promesseiros da corda, apesar de disputarem espaço, formam uma unidade em que
um ajuda o outro a seguir o caminho até o destino final. Nessa interação, permanecer na
corda é um estímulo ao outro a permanecer também, entendendo a interação como essa
mútua afetação, uma ação sempre direcionada ao outro, que por sua vez age em
recriprocidade, estabelendo ambos o quadro e os sentidos dessa interação (MEAD, 1982;
GOFFMAN, 2010; FRANÇA & SIMÕES, 2014).
Essa interação de estímulos não se dá apenas entre promesseiros como também estre
esses e outros participantes do Círio. Como vemos na Imagem 7, pessoas acompanham a
procissão ao lado dos promesseiros da corda oferendo água ou abanando-os para amenizar o
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calor. Alguns grupos de jovens organizam-se para atuar junto à corda incentivando orações e
canções como forma de manter o promesseiro focado em seu objetivo de cumprir a promessa.
Na imagem 8, vemos também que grupos acompanham a corda com a finalidade de garantir
uma ordem e evitar confusões, como é o caso de integrantes do exército, mas não somente
eles como Guardas de Nossa Senhora de Nazaré e outros fieis que se colocam a serviço dessa
organização.
A interação, nesse sentido, não sendo apenas do fiel com a Santa, aproxima também
as esferas divina e social: “A promessa estabelece conjunção entre domínios, seja aqueles que
separam a divindade do participante do ritual, seja os que se referem aos diferentes domínios
de poder e saber na vida cotidiana. Ela ‘condensa’ a experiência sensitiva e social” (ALVES,
1980, p. 59). Mas gostaríamos de destacar ainda que tais interações se constituem por sua
qualidade comunicativa que reside na linguagem. Por isso, não se trata de uma relação de
troca qualquer, mas uma troca cuja forma e conteúdo é da ordem do simbólico. Como já
mencionamos anteriormente:
Nem toda interação é comunicativa: as interações comunicativas são marcadas por gestos significantes. É essa a distinção que marca o terreno da comunicação: a dimensão de significação que constrói as interações. As interações comunicativas constituem, assim, um tipo particular de interação social, marcado por ações e relações interdependentes, realizadas por indivíduos que se afetam e se interinfluenciam reciprocamente por meio da linguagem (FRANÇA & SIMÕES, 2014, p. 102-3).
No Círio, e especialmente nas situações de pagamento de promessas, a linguagem tece
as interações não apenas pelas palavras expressas em orações ou mensagens de incentivo,
mas também em uma dimensão não verbal altamente significativa e, portanto, potencialmente
comunicativa.
Nesse percurso analítico, percebemos até aqui uma circularidade dos conceitos com
que trabalhamos e o quanto são complementares para uma compreensão comunicacional do
Círio e, em particular, das relações estabelecidas entre alguns devotos, os promesseiros. O
gesto inserido em um experiência, uma experiência como interação e uma interação que se
inicia pelo gesto revelam um caminho conceitual que empiricamente está bastante imbricado.
Os princípios pragmatistas do antifundacionalismo, consequencialismo e contextualismo
atuam como orientadores dessa perspectiva de análise.
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Um modelo relacional para a comunicação
Apesar de pouco difundido no Brasil, o estudo dos processos comunicativos a partir
de uma visada pragmatista tem fornecido conceitos e pressupostos metodológicos bastante
interessantes por darem a ver um modelo de comunicação que se contrapõe ao modelo
informacional, ainda hegemônico. Tal modelo alternativo é indicado por Queré (1991) e
França (2003) como relacional ou praxiológico, que considera a comunicação como um
processo complexo de trocas, que não prescinde de reciprocidade e mútua afetação, em um
contexto de compartilhamento de referenciais, em que a linguagem tem papel de destaque.
Os conceitos com que trabalhamos inserem-se nessa proposta de um olhar relacional
sobre a comunicação. Segundo França (2003, p. 43), “Estudar a comunicação não equivale a
separar fatos particulares da sociedade (objetos comunicativos), mas apreender o social pelo
viés das dinâmicas comunicativas que o constituem”.
Assim, para Mead (1982), tanto o gesto quanto a reação são estímulos e exigem
adaptação dos sujeitos, portanto é um processo permanentemente circular de trocas. Ao
promoverem essa mútua afetação, os gestos são a base da interação. Quando se constituem no
âmbito da linguagem, tornam essa interação, em seu conteúdo e forma, comunicativa:
“Assim, a comunicação não compreende apenas um processo de estímulo-resposta através
dos gestos, mas decorre da natureza desses gestos, ou da potencialidade de certos organismos
para produzir gestos dotados de significação (os gestos simbólicos)” (FRANÇA, 2008, p. 76).
Para Dewey, por sua vez, a experiência “possui um ritmo – ‘uma iniciação e uma
consumação’ – está ancorada em formulações sobre circularidade e reflexividade, que
apresentam uma crítica ao modelo mecânico de estímulo-resposta” (LANA ET. AL, 2014, p.
89). Goffman (1999), ao propor o estudo dos fenômenos na ordem da interação sem dissociá-
los da ordem social maior em que estão inseridos, também contribui para essa perspectiva
relacional da comunicação.
Essa possibilidade de olhar para o comunicacional no Círio de Nazaré a partir de uma
visada relacional nos parece estimulante para compreensão dos diferentes formatos de
processos comunicativos que são passíveis de análise dentro do amplo quadro desse
fenômeno. No exercício deste trabalho, sem dar conta de um aprofundamento teórico-
empírico, tentamos nos aproximar de uma análise comunicacional a partir das noções de
gesto (MEAD, 1982), experiência (DEWEY, 2010) e interação (MEAD, 1982; GOFFMAN,
1999).
Apesar de conceitos potentes, eles ainda nos colocam desafios metodológicos muito
grandes pelo refinamento de observação e detalhamento descritivo que exigem para dar a ver VIII Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação de Minas Gerais
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o propriamente comunicacional (BRAGA, 2008), as minúcias comunicacionais que estão na
base de toda relação social. Além disso, sendo a comunicação da ordem do movimento, “O
desafio é desenvolver os instrumentos adequados para captar esse movimento” (FRANÇA,
2008, p. 90), e o Círio é um fenômeno que movimenta diversas esferas sociais, aciona
diferentes temporalidades, proporciona várias interações. O desafio, então, está apenas posto.
Referências
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BRAGA, José Luiz. Comunicação, disciplina indiciária. Matrizes, São Paulo, n. 2, p. 73-88, 2008.
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