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Vozes da Classe média no Brasil - estudo de novembro de 2012 - A renda da população negra n Brasil cresceu em um ritmo 5 vezes maior q da não negra em 10 anos. http://ow.ly/fr5V1 #DiaDaConscienciaNegra
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02Empoderando vidas.Fortalecendo nações.
Caderno 2Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
novembro de 2012
Empoderando vidas.Fortalecendo nações.
Empoderando vidas.Fortalecendo nações.
Governo Federal
Presidência da República
Secretaria de Assuntos Estratégicos
Esplanada dos Ministérios
Bloco O, 7º, 8º e 9º andares
Brasília – DF / CEP 70052-900
http://www.sae.gov.br
Ministro Moreira Franco
Parceiros
Caixa Econômica Federal
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)
Apoio
Confederação Nacional da Indústria (CNI)
Instituto Data Popular
Editores
Diana Grosner (SAE/PR)
Daniela Gomes (PNUD)
Renato Meirelles (Data Popular)
Coordenação e Produção
Alessandra Bortoni Ninis
Redação
Ricardo Paes de Barros (SAE/PR)
Diana Grosner (SAE/PR)
Adriana Mascarenhas (SAE/PR)
Produção estatística
Samuel Franco (IETS)
Andrezza Rosalém (IETS)
José Jorge Gabriel Júnior (SAE/PR)
Karina Bugarin (SAE/PR)
Projeto gráfico / diagramação
Rafael Willadino Braga (SAE/PR)
Empresa Ellite Gráfica
Divulgação
Assessoria de Comunicação (SAE/PR)
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 5
Apresentação ........................................................................7
1. Limites ........................................................................................ 11
2. Desigualdade .......................................................................15
3. Heterogeneidade ............................................................23
4. Diversidade ...........................................................................47
5. Colaborador permanente: ...........................................53 Tudo Junto e Misturado A Classe Média e a Diversidade do Povo Brasileiro
Renato Meirelles
6. Colaborador desta edição: ........................................57 “Quando novos personagens entram em cena” Jailson de Souza e Silva
Sumário
6 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade6 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 7Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 7
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Como ressaltado no primeiro número da série Vozes da Classe Média, ao longo da última
década a classe média brasileira passou de menos de 70 milhões para mais de 100 milhões
de brasileiros. Como resultado dessa incorporação massiva de quase 40 milhões de
pessoas, hoje, se a classe média brasileira fosse um país, ela seria o 12º país mais populoso
do mundo, logo atrás do México (ver Gráfico 1).
10 100 1000
China Índia
Estados Unidos Indonésia
Brasil Paquistão
Nigéria Bangladesh
Russia Japão
Mexico Classe Média Brasileira
Filipinas Vietnã Etiópia
Egito Alemanha
Irã Turquia
Tailândia
(Milhões de pessoas)
Gráfico1: População por país, 2012
Fonte: Banco Mundial - World Development Indicators.
5º
12º
Esse aumento da classe média brasileira é uma das principais consequências do crescimento
com redução no grau de desigualdade que caracterizou o desenvolvimento do país nos
últimos 10 anos. A queda no grau de desigualdade foi particularmente importante, sendo
responsável por cerca de 2/3 da expansão da classe média.
A expansão da classe média foi também caracterizada pela entrada prioritária dos grupos
sociais menos privilegiados que antes estavam nela sub-representados. Como resultado dessa
entrada diferenciada, a classe média brasileira se tornou muito mais heterogênea (por exemplo,
Apresentação
Gráfico1: População por país, 2012
8 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
abrigando uma parcela significativa tanto de analfabetos funcionais, como de trabalhadores
com ensino médio completo), como muito mais diversa, com ¾ dos entrantes sendo negros.
O resultado final é uma classe média muito mais representativa dos mais diversos
segmentos da população brasileira. Cada vez mais, a classe média vem se tornando um
retrato do Brasil e, dessa forma, um ambiente ideal tanto para o aprimoramento do
respeito à diversidade, como para o aproveitamento dessa diversidade como um ativo
cultural, social e também econômico.
Por esses motivos, neste segundo número da série Vozes da Classe Média centramos
nossa atenção no trinômio: desigualdade, heterogeneidade e diversidade. Procuramos
documentar, por um lado, a relação desse trinômio com a expansão da classe média
e, por outro, como a própria classe média o percebe, com particular atenção à forma
como a classe média considera e trata a sua própria e crescente diversidade.
Entre o lançamento do primeiro número da série e este segundo número, ocorreu a
divulgação pelo IBGE dos resultados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
– PNAD referentes a 2011. Como eles são as informações base para todo o cálculo do
tamanho e características da classe média brasileira, provocaram pequenas revisões em
nossas estimativas para o tamanho e a composição da classe média em 2012. Esse é o
motivo pelo qual, neste número, estimamos que a classe média em 2012 deva representar
52% da população brasileira, contra os 53% estimados no número anterior desta série.
Essa defasagem natural entre o momento de referência e o momento da divulgação das
estatísticas nacionais (decorrente do tempo necessário para coleta e processamento
dessas informações) nos obriga a sempre basear as estimativas para o último ano em
projeções, que vão sendo atualizadas a cada nova divulgação. Assim, enquanto no
número anterior o tamanho da classe média para 2012 foi estimado projetando-o a
partir das últimas informações existentes naquele momento (PNAD-2009), neste
número reestimamos o tamanho e as características da classe média para 2012 a partir
da PNAD-2011. Para isso, extrapolamos a tendência de melhoria na distribuição de
renda brasileira ocorrida ao longo da década 2001-2011.
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 9
10 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 11
Limites de renda definidores da classe média brasileira
Para qualquer distribuição de renda, a definição do que vem a ser a classe média exige
estabelecer limites inferior e superior de renda, de forma que todas as pessoas com renda
familiar per capita dentro de tal intervalo sejam consideradas membros de tal classe. Da
mesma maneira, quem estiver abaixo do corte inferior pertence à classe baixa e acima do
superior pertence à classe alta.
No Brasil, esses limites de renda em valores monetários atuais são R$291 e R$1.019 por
cada pessoa da família ao mês. Isso significa que são considerados membros da classe
baixa aqueles com renda familiar per capita inferior a R$291 ao mês; pertencem à classe
média os que apresentam renda familiar per capita entre R$291 e R$1.019; e acima
de R$1.019, à classe alta. De acordo com essa classificação, hoje, 28% da população
brasileira pertence à classe baixa; 52%, à classe média e 20%, à classe alta.
Mesmo reconhecendo o valor e a utilidade desses limites para avaliar as transformações
históricas pelas quais tem passado a distribuição de renda brasileira, é possível questionar
se esses níveis de renda são mesmo adequados. Isso equivale a indagar se o tamanho da
classe média brasileira deveria ser esse. De forma mais específica, tal raciocínio nos levaria
a questionar se o limite inferior está demasiadamente baixo, incluindo equivocadamente na
classe média pessoas que, na realidade, pertencem à classe baixa (a classe baixa brasileira
deveria ser maior do que é?). Igualmente, podemos questionar se o limite superior não
se encontra artificialmente baixo, jogando para classe alta pessoas que deveriam ser
consideradas membros da classe média (a classe alta brasileira não deveria ser menor?).
Atualmente, o limite inferior, tal como definido, nos dá um contingente de 50 milhões
de brasileiros (28% da população) que pertencem à classe baixa, o que já parece alto,
considerando estimativas clássicas de pobreza no país. Aumentar o limite inferior
implicaria aumentar ainda mais esse contingente. Embora essa seja uma evidência em prol
da adequação do limite inferior atual, alguma evidência internacional pode nos ajudar a
corroborar a argumentação.
1. Limites
12 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
O Gráfico 2 mostra a distribuição de pessoas em todo o mundo de acordo com a renda
per capita de sua família. Observamos que mais da metade da população mundial (54%)
vive em famílias com renda per capita inferior a R$291 por mês (critério brasileiro para
definir classe baixa). Aumentar esse limite significa incrementar o número de pessoas no
mundo que vivem no padrão brasileiro de classe baixa, o que parece inverossímil.
As comparações internacionais também trazem luz à avaliação do quão adequado está
o limite superior. Apenas 18% da população mundial vivem em famílias com renda per
capita acima de R$1.019 por mês. Subir esse corte reduziria ainda mais o número de
pessoas no mundo que se enquadram na definição brasileira de classe alta, o que também
parece questionável.
0
100
200
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2000
0% 5% 10% 15% 20% 25% 30% 35% 40% 45% 50% 55% 60% 65% 70% 75% 80% 85% 90% 95% 1
Rend
a fa
mili
ar p
er c
apit
a (R
$/m
ês -
2012
)
Gráfico 2: Distribuição de renda no mundo por renda familiar per capita
R$1019 18%
54% R$291
Fonte: Banco Mundial, estimativas produzidas com base em Milanovic, 2011 (The Have and the Have Nots). Valores em R$ de 2012.
Gráfico 2: Distribuição de renda no mundo por renda familiar per capita
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 13
14 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 15
A importância da queda na desigualdade de renda para a expan-são da classe média brasileira
Ao longo da última década, o crescimento na renda das famílias1 brasileiras não foi
neutro. Isso significa que alguns grupos experimentaram maior incremento de renda do
que outros. Os mais favorecidos foram justamente os pobres. O Gráfico 3 mostra que,
no período 2001-2011, enquanto o crescimento na renda dos 10% mais pobres foi de
6,3% ao ano, para os 10% mais ricos não passou de 1,4% ao ano.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
5,5
6
6,5
7
Primeiro Segundo Terceiro Quarto Quinto Sexto Sétimo Oitavo Nono Décimo
Taxa
méd
ia a
nual
(%)
Gráfico 3: Taxa de crescimento por décimo da distribuição de renda mensal familiar per capita: Brasil, 2001-2011
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD.
Logo, o país passou por um processo de crescimento inclusivo, que ocorre quando renda
média das famílias aumenta e a desigualdade cai. É possível ocorrer crescimento inclusivo
mesmo quando grupos não pobres perdem renda ao longo do tempo. Basta que os
ganhos dos pobres compensem mais do que as perdas dos ricos. Nesse caso, ainda haverá
1 Em toda a análise aqui apresentada, foi sempre considerada a distribuição da população brasileira de acordo com sua renda familiar per capita mensal.
2. Desigualdade
Gráfico 3: Taxa de crescimento por décimo da distribuição de renda mensal familiar per capita: Brasil, 2001-2011
16 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
aumento na renda média da sociedade com ganhos maiores para os mais pobres. Não foi
o que aconteceu no Brasil. No período considerado, todos os grupos ganharam.
Nesse ganha-ganha recente, a classe média foi afetada. Antigas famílias pobres melhoraram
tanto sua renda que deixaram a pobreza e ingressaram na classe média. Da mesma forma,
famílias ora pertencentes à classe média passaram à classe alta. Houve um movimento de
entrada e saída. Qual foi a importância do crescimento geral da renda vis a vis a redução
da desigualdade na definição do tamanho da nova classe média brasileira?
Para responder a essa pergunta será preciso decompor o aumento da classe média em dois
efeitos provenientes de movimentos da distribuição de renda que, embora na prática ocorram
misturados, sua separação possui grande valor analítico. O primeiro deles é o crescimento
uniforme ou balanceado, situação em que todos os grupos de renda melhoram a uma
mesma taxa. Se somarmos a isso as mudanças na desigualdade – definidas como desvios de
crescimento (em relação ao crescimento médio) efetivamente experimentados por cada
grupo – conseguimos recuperar exatamente o que aconteceu nos últimos dez anos.
O exercício aqui consiste, portanto, em simular o que teria acontecido com a classe média
caso a sociedade brasileira tivesse vivido apenas o crescimento balanceado, sem mudanças na
desigualdade. Também se investiga o oposto: o que passaria se apenas a desigualdade tivesse
se alterado.
Note que, com as simulações propostas, o crescimento balanceado por si só é capaz
de aumentar e diminuir o tamanho da classe média, pois inclui segmentos antes
pertencentes ao grupo mais pobre, porém exclui um contingente que passa aos mais
ricos (o que também é bom, evidentemente). Já as reduções na desigualdade (quando
isolada do crescimento, isto é, quando a taxa de crescimento média é igual a zero)
somente aumentam o tamanho da classe média. Basta imaginar que as reduções na
desigualdade são como transferências de grupos mais ricos para os mais pobres,
mantendo-se inalterada a média da distribuição. Nesse caso, os mais pobres podem
se beneficiar e ascender, e os mais ricos podem descer. Na sequência, tais exercícios
são postos em prática, permitindo estimar os impactos desses movimentos sobre o
aumento real no tamanho da classe média brasileira.
Os impactos do crescimento inclusivo sobre o tamanho da classe média
Por ser um grupo intermediário, mudanças no tamanho da classe média são determinadas
por dois fluxos: entrada e saída. A Tabela 1 indica que houve expansão de 14 pontos
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 17
percentuais no tamanho dessa classe, que deixou de representar 38% da população,
em 2002, e passou a 52%, em 20122. Tal expansão ocorreu porque a entrada de novos
contingentes provenientes da classe baixa foi muito superior à saída para a classe alta. De
fato, o fluxo de entrada foi responsável por 21 pontos percentuais de expansão da classe
média, mas a saída reduziu o grupo em 7 pontos.
Por trás dessa expansão estão os movimentos de crescimento balanceado e redução na
desigualdade de renda. As simulações indicam que, caso apenas reduções no grau de
desigualdade tivessem ocorrido, a classe média se expandiria em 9 pontos percentuais.
Contando com o crescimento balanceado, a classe média se expandiria em apenas 5
pontos percentuais. Portanto, 2/3 do aumento da classe média deve-se à redução no grau
de desigualdade e 1/3 ao crescimento.
Tabela 1: Os impactos do crescimento inclusivo sobre o tamanho da classe média
2 Os resultados para 2012 foram obtidos a partir de uma projeção de informações da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) acerca de evolução 2001-2011, projetadas a partir de 2011.
2002 2012
12 -1
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Apenas redução da desigualdade
Média 38 47 9
Alta 13
Baixa 48 40 -8
Crescimento com redução de
desigualdade Média 38 52 14
-21Baixa 48 28
Alta 13 20 7
Crescimento balanceado
Média 38 43 5
Alta 6
Baixa 48 38 -11
1913
Tabela 1: Os impactos do crescimento inclusivo sobre o tamanho da classe média
Simulações ClasseTamanho (participação na
população - %)
Entrada/Saída(em pontos percentuais)
18 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Então isso significa que a queda na desigualdade foi mais importante que o crescimento?
A resposta é não. Afinal, o crescimento gerou outro efeito não computado na
simulação anterior: a saída de pessoas da classe média para a classe alta (que reduz o
tamanho da classe média, mas deve ser contabilizada como um resultado positivo). Se
apenas o crescimento tivesse acontecido (sem reduções no grau de desigualdade), a
classe alta teria se expandido (e a classe média encolhido) em 6 pontos percentuais. Já
se apenas o grau de desigualdade tivesse sido reduzido (sem crescimento na renda), a
classe alta não teria aumentado. Na verdade, teria diminuído ligeiramente em 1 ponto
percentual.
A importância do crescimento para outras características da clas-se média
Outras características da classe média
O tamanho da classe média não é a única característica merecedora de atenção. É relevante
acompanhar o que aconteceu com a participação dessa classe na renda total das famílias,
bem como avaliar a taxa de crescimento na renda média do grupo.
Contudo, para trabalhar com esse último indicador (a renda média do grupo) há de se
ter alguns cuidados. Dado que mudanças na classe média são marcadas por um fluxo
de entrada e saída, constatar que, de um momento para outro a renda média do grupo
se reduziu, não é necessariamente um problema. Por exemplo, se muitos membros da
classe média experimentarem ganhos suficientes para levá-los à classe alta, mesmo que
a renda dos demais membros permaneça inalterada, é bem possível que a média do
grupo caia. Para escapar dessa armadilha, recomenda-se adotar uma definição “relativa”
de classe média3. Isto é, fixar o grupo que pertencia à classe média em 2002 e olhar
para o que aconteceu com esse grupo em 2012. Tal estratégia permite medir de maneira
mais adequada se um dado grupo enriqueceu. Para fazer isso, é necessário conhecer os
valores correspondentes ao pontos de corte mínimo e máximo que delimitam quem fazia
parte da classe média em 2002 e identificar os centésimos de corte (ou, simplesmente,
a posição na distribuição de renda) correspondentes. Em seguida, basta buscar esses
mesmos centésimos na distribuição de 2012. Nesse caso, os pontos de corte em valores
monetários absolutos em 2012 não serão os mesmos de 2002.
3 A análise da evolução do tamanho da classe média foi construída a partir de uma noção absoluta de classe média, em que são fixados os mesmos pontos de corte em valores monetários absolutos para 2002 e 2012. No caso, R$291 e R$1.019.
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 19
De acordo com a definição relativa de classe média (que considera a posição na distribuição
de renda e não os pontos de corte em valores monetários absolutos), a renda do grupo
cresceu acima da média nacional (veja Tabela 2). Enquanto a taxa média de crescimento
da renda do país foi de 2,9% ao ano, a renda da classe média cresceu a 3,7% ao ano.
Consequentemente, a participação da classe média na renda total das famílias brasileiras
passou de 35% para 37%.
Mas se considerarmos a noção absoluta de classe média (mesmos pontos de corte em
valores monetários absolutos em 2002 e em 2012), veremos que a renda do grupo cresce
muito lentamente, pois incorpora novos membros com renda mais baixa (oriundos da
classe baixa) e perde antigos membros com renda mais alta. O resultado é um cresci-
mento na renda do grupo de apenas a 0,6% ao ano. Consequentemente, embora essa
Tabela 2: Os impactos do crescimento inclusivo sobre outras características da classe média
Brasil (renda em R$/mês) 590 789 2,9%
Classe média absoluta (renda em R$/mês) 532 566 0,6%
Classe média absoluta (participação na renda total) 35% 38% ........
Classe média relativa (renda em R$/mês) 532 767 3,7%
Classe média relativa (participação na renda total) 35% 37% ........
Brasil (renda em R$/mês) 590 789 2,9%
Classe média absoluta (renda em R$/mês) 532 555 0,4%
Classe média absoluta (participação na renda total) 35% 30% ........
Classe média relativa (renda em R$/mês) 532 711 2,9%
Classe média relativa (participação na renda total) 35% 35% ........
Brasil (renda em R$/mês) 590 590 0,0%
Classe média absoluta (renda em R$/mês) 532 536 0,1%
Classe média absoluta (participação na renda total) 35% 43% ........
Classe média relativa (renda em R$/mês) 532 571 0,7%
Classe média relativa (participação na renda total) 35% 37% ........
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Crescimento balanceado
Apenas redução da desigualdade
Crescimento com redução de desigualdade
Tabela 2: Os impactos do crescimento inclusivo sobre outras características da classe média
Simulações Taxa anual de crescimento
2002 2012Classes de renda
20 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
população tenha aumentado em 15 pontos percentuais, sua participação na renda total
das famílias cresceu apenas 3 pontos percentuais (passou de 35% para 38%).
Novos impactos
Já vimos que o crescimento inclusivo fez também com que a renda da classe média
definida em termos relativos crescesse mais aceleradamente que a média nacional: 3,7%
ao ano contra 2,9%. Se a expansão do tamanho da classe média se deu primordialmente
pela redução no grau de desigualdade, o contrário ocorre com o crescimento da renda
da classe média definida em termos relativos. Caso o crescimento tivesse ocorrido sem
redução na desigualdade (crescimento balanceado), a renda da classe média “relativa”
teria crescido igual à média nacional (veja Tabela 2). Se a única transformação tivesse
sido a redução no grau de desigualdade, a renda da classe média “relativa” teria crescido
somente 0,7%.
Para explicar o aumento da participação da classe média (definida em termos relativos)
na renda total das famílias (que passou de 35% para 37%), todo o destaque recai sobre
a queda no grau de desigualdade. Note que, na presença do crescimento balanceado, a
participação em 2002 (35%) teria se mantido em 2012.
Considerações finais
Em suma, a redução na desigualdade e o crescimento foram igualmente importantes para
explicar a ascensão da classe média no Brasil entre 2002 e 2012. Essa conclusão exige que
se avaliem, em conjunto, os resultados das simulações que tratam dos impactos sobre
o tamanho das classes média e alta. Se a redução na desigualdade demonstrou ser o
principal fator por trás do aumento da classe média, o crescimento, por sua vez, levou
muita gente da classe média para a classe alta.
Para além do tamanho da classe média, se investigou o papel desses dois fatores no
crescimento da renda média do grupo e na participação do grupo na renda total das
famílias. A importância relativa dos fatores varia. Para explicar o crescimento na renda
média, o crescimento se mostrou mais importante. Para o aumento na participação na
renda total das famílias, a redução na desigualdade foi decisiva.
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 21
22 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 23
As novas faces da classe média: quando uma classe se torna qua-se tão heterogênea quanto o Brasil
Nesta seção, apresentamos o perfil daqueles que entraram na classe média nos últimos
10 anos (coluna “Contribuição à expansão” das Tabelas 3, 7 e 8), contrastando também o
retrato para os anos de 2002 e 2012 dos diversos grupos socioeconômicos no Brasil e na
classe média brasileira (Tabelas 3, 7 e 8). Além disso, demonstramos qual a proporção de
pessoas dentro de cada grupo socioeconômico que está na classe média em 2012 e que
estava na classe média em 2002, bem como a expansão líquida da classe média, isto é, o
quanto ela cresceu, dentro de cada grupo (Tabelas 4 e 9)4. Para se ter ideia mais geral do
que aconteceu no Brasil, apresentamos também o tamanho das classes baixa e alta para
os anos de 2002 (Tabelas 5 e 10) e 2012 (Tabelas 6 e 11). Optamos, contudo, por focar a
atenção aos movimentos da classe média.
Igualdade racial na classe média
Na Tabela 3, coluna “Contribuição à expansão“, podemos ver a proporção de negros
e brancos entre os novos entrantes, de 75% e 25%, respectivamente. Isso quer dizer
que, de cada 100 pessoas que entraram na classe média, 75 eram negras e 25, brancas.
A entrada maciça de negros na classe média fez com que a participação desse grupo na
classe média brasileira subisse de 38%, em 2002, para 51%, em 2012.
4 Nos casos em que houve retração da classe média, o valor da expansão aparecerá com sinal negativo.
3. Heterogeneidade
24 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
(%)
Brasil Classe Média Brasil Classe Média
Cor
Brancos e amarelos 54 62 25 48 49
Negros 46 38 75 52 51
Região
Norte 6 5 8 7 6
Nordeste 29 17 34 29 23
Sudeste 43 52 36 42 46
Sul 15 19 12 15 16
Centro-Oeste 7 7 11 8 9
Área
Urbana 84 91 86 86 89
Rural 16 9 14 14 11
Nível educacional do chefe
Fundamental incompleto ou sem escolaridade 66 59 64 49 51
Fundamental completo 9 11 8 11 13
Ensino médio completo ou incompleto 17 23 23 28 30
Alguma educação superior 8 6 5 12 7
População em idade ativa
Ocupados 55 59 56 56 58
Desempregados 6 5 1 4 3
Inativos 39 36 43 40 39
População ocupada
Formalização
Formal 44 52 69 56 58
Informal 56 48 31 44 42
Setor de atividaddes
Agrícola 21 12 11 15 12
Outras atividades industriais 1 1 1 1 1
Indústria de transformação 14 17 10 13 14
Construção 7 7 14 9 10
Comércio e reparação 17 20 19 18 19
Alojamento e alimentação 4 4 8 5 6
Transporte, armazenagem e comunicação 5 6 6 6 6
Administração pública 5 5 3 6 5
Educação, saúde e serviços sociais 9 10 4 9 8
Serviços domésticos 7 7 11 7 8
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 4 4 3 4 4
Outras atividades 7 7 9 9 8
Atividades maldefinidas 0 0 0 0 0
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Tabela 3: Contribuição dos grupos socioeconômicos no Brasil e para a formação e expansão da classe média
2002 Contribuição à expansão da classe média (2002-2012)
2012
Grupo
Tabela 3: Contribuição dos grupos socioeconômicos no Brasil e para a formação e expansão da classe média
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 25
Já a Tabela 4 revela a proporção de negros pertencentes à classe média. Em 2002, apenas
31% dos negros pertenciam a essa classe, enquanto que no Brasil como um todo – somando
negros e brancos – a proporção de pessoas que pertenciam à classe média era de 38%. Em
2012, a proporção de negros pertencentes à classe média subiu para 52%, valor igual à
proporção total de pessoas (negras e brancas) que pertencem a essa classe no Brasil.
(%) (p.p.) (%)
2002 2012
Classe Média Classe Média
Brasil 38 14 52
Cor
Brancos e amarelos 44 8 53
Negros 31 21 52
Região
Norte 31 17 48
Nordeste 22 20 42
Sudeste 46 11 57
Sul 49 9 58
Centro-Oeste 40 17 57
Área
Urbana 42 12 54
Rural 21 21 42
Nível educacional do chefe
Fundamental incompleto ou sem escolaridade 34 19 54
Fundamental completo 49 10 59
Ensino médio completo ou incompleto 53 4 57
Alguma educação superior 27 2 30
População em idade ativa 41 12 53
Ocupados 44 11 55
Desempregados 33 12 44
Inativos 38 13 51
Formalização
Formal 51 6 57
Informal 38 15 52
Setor de atividaddes
Agrícola 25 20 45
Outras atividades industriais 41 7 49
Indústria de transformação 54 9 62
Construção 45 17 62
Comércio e reparação 50 9 59
Alojamento e alimentação 50 13 63
Transporte, armazenagem e comunicação 53 6 58
Administração pública 47 -2 45
Educação, saúde e serviços sociais 47 -1 46
Serviços domésticos 42 23 65
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 48 5 53
Outras atividades 44 4 48
Atividades maldefinidas 31 24 55
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Expansão líquida da classe média
(2002-2012)Grupo
Tabela 4: Tamanho e expansão da classe média nos diferentes grupos socieconômicos
População ocupada
Tabela 4: Tamanho e expansão da classe média nos diferentes grupos socieconômicos
26 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Diminuem as desigualdades regionais
Como se pode ver pela Tabela 3, a região que mais colocou novas pessoas na classe média foi
a Sudeste (36% dos entrantes), seguida da Nordeste (34%) e Sul (12%). No entanto, isso
não significa que o crescimento da classe média nessas regiões tenha sido mais expressivo.
Muito do peso entre os entrantes deve-se simplesmente ao fato de que essas regiões são as
que abrigam um maior contingente da população brasileira como um todo (o que pode ser
visto tanto na coluna “2002-Brasil”, como na coluna “2012-Brasil”), naturalmente abrigando
também boa parte dos entrantes à classe média. A participação de um dado grupo entre os
entrantes só pode ser considerada especialmente expressiva, se for superior à proporção
que esse grupo representa no Brasil como um todo.
No caso do Sudeste, a sua participação no Brasil em 2002 era de 43% da população (isto
é, 43% dos brasileiros viviam nessa região naquele ano). Assim sendo, era de se esperar
que um movimento de expansão da classe média no Brasil incluísse uma grande parte de
brasileiros que vivem na região Sudeste.
Já no caso no Nordeste, a proporção de brasileiros que viviam nessa região em 2002 era
de 29%, enquanto que, entre os que entraram na classe média entre 2002 e 2012, 34%
viviam na região. Aqui, sim, a participação do Nordeste entre os novos membros da classe
média pode ser considerada expressiva.
O mesmo contraste ocorre em relação ao Sul e ao Centro-Oeste. No caso do Sul, que
abrigava 15% dos brasileiros em 2012, a participação entre os entrantes se restringiu
a 12%. Ao passo que no Centro-Oeste, que abrigava 7% dos brasileiros em 2002, a
participação de 11% entre os entrantes deve ser considerada muito mais expressiva.
A participação da região Norte entre os entrantes, mesmo sendo a menor das cinco
regiões (8%), deve ser também considerada expressiva, dada a proporção de brasileiros
que viviam na região em 2002, de apenas 6% do total.
Uma outra forma, mais fácil, de ver a importância da expansão da classe média nas
diferentes regiões é olhar para o quanto a classe média cresceu dentro de cada região. Esse
crescimento pode ser visto na coluna “Expansão líquida” da Tabela 4, que corresponde
à diferença entre a proporção de pessoas dentro de cada região que pertencem à classe
média em 2012 e a proporção de pessoas dentro de cada região que pertenciam a essa
classe em 2002.
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 27
Como se pode ver, a região Nordeste foi aquela que apresentou maior expansão de sua
classe média (20 pontos percentuais), seguida das regiões Norte, Centro-Oeste (ambas
com 17 pontos percentuais), Sudeste e Sul (com expansão de 11 e 9 pontos percentuais
respectivamente).
O aumento da classe média no Nordeste fez com que a proporção de pessoas nessa
classe, nessa região, passasse de 22%, em 2002, para 42%, em 2012. No entanto,
apesar da expressiva expansão da classe média no Nordeste, essa região é a que tem a
menor proporção da população na classe média: apenas 42% dos nordestinos brasileiros
pertencem à classe média, enquanto que, no Brasil como um todo, 52% pertencem a essa
classe. A expansão de 17 pontos percentuais da classe média na região Norte fez com que
a proporção de pessoas nessa classe subisse de 31%, em 2002, para 48%, em 2012. Ainda
aquém da proporção total de brasileiros na classe média, mas já bem mais próxima desse
número. Se em 2002 a distância em relação à proporção de brasileiros vivendo na classe
média era na região Nordeste de 16 pontos percentuais (38% - 22% = 16 p.p.) e na região
Norte de 7 pontos percentuais (38% - 31% = 7 p.p.), em 2002, a distância em relação ao
Brasil cai para 10 pontos percentuais no Nordeste (52% - 42% = 10 p.p.) e para 4 pontos
percentuais no Norte (52% - 48% = 4 p.p.).
Nas demais regiões, a proporção de pessoas que pertencem à classe média é superior à
proporção da população brasileira como um todo pertencente à classe média. Destaque
para a região Centro-Oeste que, com uma expansão líquida de 17 pontos percentuais, viu
sua classe média crescer de 40%, em 2002, para 57%, em 2012, igualando-se à região
Sudeste (que também possui 57% de sua população na classe média), e aproximando-se
da região Sul (que possui 58% de seus habitantes nessa classe). O desempenho da região
Centro-Oeste é ainda mais impressionante quando se considera a distância que ela estava
das regiões Sudeste e Sul em 2002.
Diminuição das desigualdades urbano/rural
Dado o elevado contingente de brasileiros vivendo em área urbana (84% da população em
2002 e 86% em 2012), é natural que a maior parte da classe média também se concentre
nessa área. No entanto, é possível saber se a desigualdade urbano/rural está diminuindo ou
não, olhando para a expansão da classe média dentro de cada uma dessas áreas.
A Tabela 4 indica um expressivo aumento da classe média no meio rural: em 2002, apenas
21% das pessoas que aí viviam pertenciam à classe média; em 2012, já são 42% dos brasileiros
28 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
vivendo na área rural que pertencem a essa classe. Esses dados são bastante animadores,
sinalizando uma ruptura da relação histórica entre área rural e pobreza. Os bons resultados
da área rural podem também ser vistos nas Tabelas 5 e 6: a proporção de pessoas na área
rural que pertenciam à classe baixa, média e alta em 2002 eram, respectivamente, de 77%,
21% e 2%, e, em 2012, correspondem a 52%, 42% e 6%.
Classe média e nível educacional
Sem dúvida, a melhora de renda no Brasil atingiu pessoas de todos os níveis educacionais.
Como se pode ver na Tabela 4, o contingente de pessoas com ensino fundamental
incompleto ou sem escolaridade que pertenciam à classe média era, em 2002, inferior
ao contingente de brasileiros que pertenciam à classe média naquele ano (34% contra
38%). Já em 2012, após uma expansão líquida de 19 pontos percentuais, o contingente
de pessoas com esse nível educacional que pertencem à classe média chega a 54%,
acima da proporção de brasileiros que pertencem a essa classe (52% do total)5.
Os grupos de nível educacional que tiveram menor expansão líquida de suas classes
médias referem-se ao do ensino médio e do ensino superior. Isso se deve, contudo, a
fatores distintos. No caso do ensino médio completo ou incompleto, grande parte dessa
população já pertencia à classe média em 2002 (53%). No caso do ensino superior, a
maior parte das pessoas pertence à classe alta e não à classe média.
A classe média e o mercado de trabalho
De cada 100 trabalhadores que entraram na classe média, 69% ocupavam postos formais, o
que elevou a contribuição dos trabalhadores formais para a classe média de 52%, em 2002,
para 58%, em 2012 (Tabela 3). Já a proporção dos trabalhadores formais que pertencem
à classe média passou de 51%, em 2002, para 57%, em 2012, enquanto que, dentre a
população em idade ativa no Brasil, o contingente que pertencia à classe média representava
apenas 41%, em 2002 e, em 2012, representava 53% (Tabela 4). Isso revela uma forte
representação da classe média entre os trabalhadores formais.
Há que se ressaltar, também, que não foram apenas os trabalhadores formais que se
beneficiaram do crescimento recente do país. Em 2002, 38% dos trabalhadores informais
pertenciam à classe média e, após uma expansão líquida de 15 pontos percentuais, 52%
dos trabalhadores informais já pertencem a essa classe.
5 As diferenças entre 2002 e 2012 não são exatas em função de arredondamentos.
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 29
A classe média e os setores de atividade econômica
Como se pode ver na Tabela 3, os setores que mais contribuíram para a expansão da
classe média foram o de comércio e o de serviços que, somados, chegam a 36% do
total dos entrantes da classe média, seguidos do setor industrial (incluindo a indústria da
construção), que abrangeu 25% dos entrantes. Em sequência, vêm os setores agrícolas e
de serviços domésticos, ambos representando 11% dos novos entrantes.
Já na Tabela 4, é possível verificar em que setores a proporção de pessoas que pertencem
à classe média cresceu. Embora o setor de serviços domésticos tenha contribuído
menos para a composição da classe média como um todo (11%, como afirmado no
parágrafo anterior), foi nesse setor que o número de pessoas que pertencem à classe
média mais cresceu: após uma expansão líquida de 23 pontos percentuais, a proporção
de trabalhadores domésticos que pertencem a essa classe subiu de 42%, em 2002, para
65%, em 2012.
Dentre as diversas atividades que compõem o segmento industrial, o que mais viu sua
parcela correspondente à classe média crescer foi o da construção que, após expansão
líquida de 17 pontos percentuais, elevou a proporção desses trabalhadores pertencentes
à classe média de 45%, em 2002, para 62%, em 2012.
Destaque também há de ser feito para o setor agrícola, que demonstrou seu dinamismo ao
conseguir elevar o contingente de trabalhadores do setor pertencentes à classe média de
25%, em 2002, para 45%, em 2002: uma expansão líquida de 20 pontos percentuais, uma
das maiores dentre os diversos setores de atividades econômicas. Esse resultado se mostra
coerente com a expansão da classe média dentre os habitantes da área rural.
30 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
(%)
Baixa Média Alta
Brasil 48 38 13
Cor
Brancos e amarelos 35 44 20
Negros 63 31 6
Região
Norte 61 31 8
Nordeste 73 22 5
Sudeste 36 46 18
Sul 35 49 16
Centro-Oeste 45 40 16
Área
Urbana 43 42 15
Rural 77 21 2
Nível educacional do chefe
Fundamental incompleto ou sem escolaridade 61 34 4
Fundamental completo 39 49 12
Ensino médio completo ou incompleto 24 53 23
Alguma educação superior 3 27 70
População em idade ativa 44 41 15
Ocupados 39 44 17
Desempregados 60 33 7
Inativos 49 38 13
39 44 17
Formalização
Formal 23 51 26
Informal 52 38 10
Setor de atividaddes
Agrícola 71 25 3
Outras atividades industriais 33 41 26
Indústria de transformação 29 54 17
Construção 47 45 8
Comércio e reparação 31 50 19
Alojamento e alimentação 36 50 14
Transporte, armazenagem e comunicação 26 53 21
Administração pública 20 47 33
Educação, saúde e serviços sociais 17 47 35
Serviços domésticos 55 42 3
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 31 48 21
Outras atividades 16 44 39
Atividades maldefinidas 61 31 8
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
GrupoClasse
População ocupada
Tabela 5: Distribuição por classes segundo os diferentes grupos socioeconômicos, 2002
Tabela 5: Distribuição por classes segundo os diferentes grupos socioeconômicos, 2002
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 31
(%)
Baixa Média Alta
Brasil 28 52 20
Cor
Brancos e amarelos 19 53 29
Negros 36 52 12
Região
Norte 39 48 13
Nordeste 49 42 9
Sudeste 18 57 25
Sul 15 58 28
Centro-Oeste 19 57 24
Área
Urbana 24 54 22
Rural 52 42 6
Nível educacional do chefe
Fundamental incompleto ou sem escolaridade 38 54 8
Fundamental completo 26 59 15
Ensino médio completo ou incompleto 20 57 23
Alguma educação superior 5 30 65
População em idade ativa 25 53 22
Ocupados 18 55 27
Desempregados 47 44 9
Inativos 33 51 17
18 55 27
Formalização
Formal 9 57 34
Informal 29 52 19
Setor de atividaddes
Agrícola 46 45 9
Outras atividades industriais 10 49 41
Indústria de transformação 11 62 27
Construção 22 62 16
Comércio e reparação 13 59 27
Alojamento e alimentação 16 63 21
Transporte, armazenagem e comunicação 12 58 30
Administração pública 9 45 46
Educação, saúde e serviços sociais 6 46 48
Serviços domésticos 26 65 9
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais 12 53 35
Outras atividades 7 48 46
Atividades maldefinidas 30 55 15
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
População ocupada
GrupoClasse
Tabela 6: Distribuição por classes segundo os diferentes grupos socioeconômicos, 2012
Tabela 6: Distribuição por classes segundo os diferentes grupos socioeconômicos, 2012
32 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
A classe média nos estados brasileiros
Apresentamos, nas Tabelas 7 a 11, um resumo da evolução da classe média nas diferentes
regiões e estados do Brasil. A Tabela 7 apresenta o peso de cada estado na composição
total do Brasil, na composição da classe média, para os anos de 2002 e 2012, bem como
a contribuição de cada estado para os entrantes da classe média brasileira. A Tabela 8
apresenta os mesmos números, mas com relação a cada região. Dessa maneira, é possível
observar o peso de cada estado para a composição da sua região, para a classe média da
sua região, bem como a sua contribuição para o total de entrantes na classe média da sua
região. A Tabela 9 apresenta o tamanho da classe média em 2002 e 2012, bem como a
expansão dessa classe em cada um dos estados brasileiros.
Finalmente, as Tabelas 10 e 11 apresentam o tamanho das três classes em cada estado e
região brasileira, para os anos de 2002 e 2012 respectivamente.
Como se pode ver na coluna “Expansão líquida” da Tabela 9, as regiões Norte, Nordeste
e Centro-Oeste tiveram expansão líquida da classe média superior à média brasileira.
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 33
(%)
Brasil Classe Média Brasil Classe Média
Norte 6 5 8 7 6
Acre 0,2 0,2 0,5 0,3 0,3
Amapá 0,3 0,2 0,3 0,3 0,3
Amazonas 1,4 1,1 1,5 1,4 1,3
Pará 2,6 2,1 3,6 2,9 2,6
Rondônia 0,6 0,6 0,8 0,6 0,7
Roraima 0,2 0,1 0,4 0,2 0,2
Tocantins 0,7 0,5 1,2 0,8 0,7
Nordeste 29 17 34 29 23
Alagoas 1,7 0,8 1,9 1,7 1,2
Bahia 7,8 4,6 9,0 7,3 6,2
Ceará 4,5 2,5 6,4 4,7 3,9
Maranhão 3,5 1,7 3,7 3,6 2,4
Paraíba 2,1 1,2 2,7 2,1 1,7
Pernambuco 4,6 2,7 5,9 4,5 3,8
Piauí 1,7 1,0 2,3 1,7 1,4
Rio Grande do Norte 1,7 1,2 2,0 1,8 1,4
Sergipe 1,1 0,8 1,3 1,2 1,0
Sudeste 43 52 36 42 46
Espírito Santo 1,9 1,8 2,4 1,9 2,0
Minas Gerais 10,7 11,0 12,8 10,5 11,6
Rio de Janeiro 8,5 10,8 3,3 7,9 8,2
São Paulo 22,0 28,2 16,0 21,6 24,0
Sul 15 19 12 15 16
Paraná 5,7 6,9 5,5 5,7 6,4
Rio Grande do Sul 6,0 7,5 3,9 5,7 6,3
Santa Catarina 3,3 4,9 1,5 3,4 3,7
Centro-Oeste 7 7 11 8 9
Distrito Federal 1,3 1,2 1,4 1,4 1,3
Goiás 3,1 3,3 4,9 3,4 3,9
Mato Grosso 1,6 1,6 2,7 1,7 1,9
Mato Grosso do Sul 1,3 1,4 1,9 1,4 1,6
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Tabela 7: Contribuição dos estados e regiões para o Brasil e para a formação e expansão da classe média no Brasil
2002 Contribuição à expansão da classe média (2002-2012)
2012
Localidade
Tabela 7: Contribuição dos estados e regiões para o Brasil e para a formação e expansão da classe média no Brasil
34 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Tabela 8: Contribuição dos estados para as suas regiões e para a formação e expansão da classe média em sua respectiva região
(%)
Região Classe Média Região Classe Média
Norte
Acre 4 4 6 5 5
Amapá 5 5 4 5 4
Amazonas 23 23 18 21 21
Pará 44 43 43 44 43
Rondônia 10 13 9 9 11
Roraima 3 2 5 3 3
Tocantins 12 10 15 12 12
Nordeste
Alagoas 6 5 5 6 5
Bahia 27 28 26 26 27
Ceará 16 15 18 17 17
Maranhão 12 10 11 13 11
Paraíba 7 7 8 7 8
Pernambuco 16 16 17 16 17
Piauí 6 6 7 6 6
Rio Grande do Norte 6 7 6 6 6
Sergipe 4 5 4 4 4
Sudeste
Espírito Santo 4 4 7 4 4
Minas Gerais 25 21 37 25 25
Rio de Janeiro 20 21 10 19 18
São Paulo 51 54 46 52 52
Sul
Paraná 38 36 50 38 39
Rio Grande do Sul 40 39 36 39 38
Santa Catarina 22 25 14 23 23
Centro-Oeste
Distrito Federal 18 16 13 18 15
Goiás 43 45 45 43 45
Mato Grosso 22 21 25 22 22
Mato Grosso do Sul 18 18 18 18 18
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Tabela 8: Contribuição dos estados para as suas regiões e para a formação e expansão da classe média em sua respectiva região
Localidade
2002 Contribuição à expansão da classe média (2002-2012)
2012
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 35
Tabela 9: Tamanho e expansão da classe média nos diferentes estados e regiões do Brasil
(%) (p.p.) (%)
2002 2012
Classe Média Classe Média
Brasil 38 14 52
Norte 31 17 48
Acre 32 15 48
Amapá 31 11 42
Amazonas 32 15 47
Pará 31 16 47
Rondônia 42 15 56
Roraima 28 22 50
Tocantins 25 24 49
Nordeste 22 20 42
Alagoas 18 20 37
Bahia 23 21 44
Ceará 22 21 43
Maranhão 19 16 35
Paraíba 23 21 44
Pernambuco 23 22 44
Piauí 21 21 43
Rio Grande do Norte 26 16 42
Sergipe 28 16 44
Sudeste 46 11 57
Espírito Santo 37 20 57
Minas Gerais 39 18 58
Rio de Janeiro 49 6 55
São Paulo 49 9 58
Sul 49 9 58
Paraná 46 13 59
Rio Grande do Sul 48 9 57
Santa Catarina 56 0 57
Centro-Oeste 40 17 57
Distrito Federal 36 11 47
Goiás 41 18 60
Mato Grosso 38 21 59
Mato Grosso do Sul 41 18 58
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Tabela 9: Tamanho e expansão da classe média nos diferentes estados e regiões do Brasil
LocalidadeExpansão líquida da classe média
(2002-2012)
36 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Dos estados que compõem a região Norte, apenas o Amapá apresentou expansão
líquida da classe média (11 pontos percentuais) abaixo da média brasileira (14 pontos
percentuais). Os maiores destaques ficaram para os estados de Roraima (22 pontos
percentuais) e Tocantins (24 pontos percentuais), que eram justamente aqueles que
possuíam as menores classes médias da região em 2002: em Roraima, apenas 28 % da
população pertenciam à classe média; no Tocantins, a proporção de pessoas vivendo nessa
classe era de 25 %. Após a expansão, esses dois estados passaram a ter uma classe média
de, respectivamente, 50 % e 49 % da população estadual, ultrapassando todos os demais
estados da região, com exceção de Rondônia.
Como já mencionado, a região Nordeste foi a que apresentou a maior expansão líquida da
classe média no país (20 pontos percentuais). Além disso, todos os seus estados apresentaram
expansão acima da média brasileira. Como os estados dessa região eram os que tinham os
menores tamanhos de classe média no ano de 2002, a expressiva expansão dessa classe
contribuiu para a diminuição das disparidades regionais no Brasil.
Na região Sudeste, os estados que mais viram suas classes médias crescerem foram os do Espírito
Santo (20 pontos percentuais) e Minas Gerais (18 pontos percentuais), que eram aqueles que
tinham a menor proporção de pessoas vivendo nessa classe em 2002. A classe média nesses
estados cresceu acima da média do Brasil, mas como a expansão nos estados do Rio de Janeiro
e de São Paulo cresceram bem abaixo da média para o Brasil, a expansão média da região ficou
bem abaixo da média brasileira. Mas atenção, isso não quer dizer que esses estados apresentaram
piora na sua situação econômica. Ocorre que ambos já detinham uma classe média muito
expressiva em 2002, além de terem apresentado expansão de sua classe alta.
Movimento semelhante ocorre na região Sul, em que o estado que mais viu sua classe média
crescer (Paraná, com expansão líquida de 13 pontos percentuais) foi o que tinha a menor
classe média em 2002. Agora, é o estado que apresenta a maior classe média da região.
Mas, novamente, isso não quer dizer que esteja em melhor situação que os demais estados.
Em Santa Catarina, por exemplo, o contingente de pessoas que saíram da classe baixa e
entraram na classe média foi semelhante ao das que saíram da classe média para a classe alta,
fazendo com que esse estado não apresentasse expansão líquida da classe média, mas que as
suas classes baixa e alta passassem de 27 % e 16 %, em 2002, para 11 % e 32 %, em 2012,
respectivamente (Tabelas 10 e 11).
Na região Centro-Oeste, com exceção do DF, todos os estados apresentaram expansão
líquida da classe média acima do Brasil. O maior destaque ficou para o estado do Mato
Grosso, que com expansão de 21 pontos percentuais viu sua classe média crescer de 38 %, em
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 37
2002, para 59%, em 2012. Os estados de Goiás e Mato Grosso do Sul tiveram desempenho
bastante semelhantes.6 De novo, esses resultados não indicam piora do Distrito Federal, que
viu sua classe baixa cair de 34%, em 2002, para 16%, em 2012, e sua classe alta subir de
30% para 37% entre os mesmos anos (Tabelas 10 e 11).
6 Na Tabela 9, os estados de Goiás e Mato Grosso do Sul partem de classe média de mesmo tamanho, apresen-tam a mesma expansão líquida, mas têm resultados finais, em 2012, diferentes. Isso ocorre tão somente em função dos arredondamentos para cima e para baixo.
(%)
Baixa Média Alta
Brasil 48 38 13
Norte 61 31 8
Acre 55 32 13
Amapá 60 31 9
Amazonas 61 32 7
Pará 61 31 8
Rondônia 47 42 12
Roraima 64 28 8
Tocantins 69 25 6
Nordeste 73 22 5
Alagoas 79 18 4
Bahia 72 23 5
Ceará 73 22 6
Maranhão 78 19 3
Paraíba 72 23 6
Pernambuco 71 23 7
Piauí 74 21 4
Rio Grande do Norte 67 26 7
Sergipe 65 28 7
Sudeste 36 46 18
Espírito Santo 49 37 14
Minas Gerais 49 39 11
Rio de Janeiro 32 49 19
São Paulo 30 49 21
Sul 35 49 16
Paraná 39 46 15
Rio Grande do Sul 35 48 17
Santa Catarina 27 56 16
Centro-Oeste 45 40 16
Distrito Federal 34 36 30
Goiás 47 41 12
Mato Grosso 48 38 13
Mato Grosso do Sul 46 41 14
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Classe
Tabela 10: Tamanho das classes nos diferentes estados e regiões do Brasil, 2002
Localidade
Tabela 10: Tamanho das classes nos diferentes estados e regiões do Brasil, 2002
38 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
(%)
Baixa Média Alta
Brasil 28 52 20
Norte 39 48 13
Acre 38 48 14
Amapá 44 42 14
Amazonas 41 47 12
Pará 42 47 11
Rondônia 23 56 20
Roraima 29 50 22
Tocantins 38 49 14
Nordeste 49 42 9
Alagoas 57 37 6
Bahia 46 44 10
Ceará 48 43 9
Maranhão 59 35 6
Paraíba 45 44 11
Pernambuco 47 44 8
Piauí 50 43 7
Rio Grande do Norte 45 42 13
Sergipe 44 44 12
Sudeste 18 57 25
Espírito Santo 22 57 22
Minas Gerais 24 58 18
Rio de Janeiro 21 55 24
São Paulo 14 58 28
Sul 15 58 28
Paraná 15 59 26
Rio Grande do Sul 17 57 26
Santa Catarina 11 57 32
Centro-Oeste 19 57 24
Distrito Federal 16 47 37
Goiás 20 60 20
Mato Grosso 19 59 22
Mato Grosso do Sul 19 58 23
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Classe
Tabela 11: Tamanho das classes nos diferentes estados e regiões do Brasil, 2012
Localidade
Tabela 11: Tamanho das classes nos diferentes estados e regiões do Brasil, 2012
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 39
Balanço geral
A seguir, apresentamos uma série de gráficos que revelam a diminuição das desigualdades
no Brasil pela ótica dos movimentos de expansão da classe média. Nos Gráficos 4, 5 e 6
apresentamos o contraste do tamanho da classe média em 2002 com o seu tamanho em
2012. A reta de 45o que divide os gráficos ao meio indica os pontos em que o tamanho
da classe média em 2002 é igual ao tamanho dessa classe em 2012. Dessa forma, todos
os pontos que estão acima dessa reta indicam que o tamanho da classe média em 2012
é superior ao tamanho da classe média em 2002. E quanto mais distante da reta estiver o
ponto, maior foi o crescimento da classe média. A distância entre o ponto e a reta de 45o
corresponde exatamente à expansão líquida apresentada nas Tabelas 4 e 6.
Como se pode ver no Gráfico 4, os maiores destaques ficaram para os grupos que
representam a população negra, a área rural, as pessoas com nível fundamental incompleto ou
sem escolaridade e os ocupados informais. Pode-se ver, também, que esses eram os grupos
que tinham menor tamanho da classe média em 2002. A maior expansão da classe média
nesses grupos aproximou-os dos demais e da média brasileira, diminuindo as desigualdades
socioeconômicas no Brasil. Convém ressaltar a exceção do grupo de pessoas com nível
superior, que apresenta reduzida classe média em 2002 e também em 2012. Como referido
anteriormente, isso ocorre em função de uma maior concentração da classe alta nesse grupo.
Classe média brasileira
Brancos e amarelos Negros
Área urbana
Área rural
Fundamental incompleto ou sem escolaridade
Fundamental completo Ensino médio completo
ou incompleto
Alguma educação superior
Ocupados formais
Ocupados informais
20
25
30
35
40
45
50
55
60
65
20 25 30 35 40 45 50 55 60 65
Tamanho da classe média em 2002 (%)
Gráfico 4: Comparação entre o tamanho da classe média brasileira nos diferentes grupos socioeconômicos, 2002 e 2012
Tam
anho
da
clas
se m
édia
em 2
012
(%)
45°
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Gráfico 4: Comparação entre o tamanho da classe média brasileira nos diferentes grupos socioeconômicos, 2002 e 2012
40 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
O Gráfico 5 apresenta os resultados referentes aos diferentes setores de atividade
econômica. Os destaques ficaram para o setor agrícola e atividades mal definidas, que
também apresentavam em 2002 tamanho da classe média inferior às demais. As grandes
exceções ficam para os setores da administração pública e de educação, saúde e serviços
sociais, que em 2012 exibem classes médias de tamanho inferior ao de 2002. Essa retração
na classe média, porém, não significa uma piora no tempo: na administração pública o
tamanho da classe baixa caiu de 20 % para 9% enquanto que o da classe alta subiu de 33 %
para 46 %; no setor de educação, saúde e serviços sociais a classe baixa caiu de 17 % para
6 %, ao passo que a classe alta subiu de 35 % para 48% (Tabelas 5 e 6).
O Gráfico 6 apresenta os resultados dos estados e regiões brasileiras. Como mencionado,
as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste foram as que tiveram maior crescimento da
classe média, sendo, ainda, as que apresentavam, em 2002, os menores tamanhos dessa
classe.
Classe média brasileira
Agrícola
Outras atividades industriais
Indústria de transformação
Construção Comércio e reparação
Alojamento e alimentação
Transporte, armazenagem e comunicação
Administração pública
Educação, saúde e serviços sociais
Serviços domésticos
Outros serviços coletivos, sociais e pessoais
Outras atividades
Atividades maldefinidas
25
30
35
40
45
50
55
60
65
70
25 30 35 40 45 50 55 60 65 70
Tamanho da classe média em 2002 (%)
Gráfico 5: Comparação entre o tamanho da classe média brasileira por setor de atividade econômica, 2002 e 2012
Tam
anho
da
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édia
em
201
2 (%
)
45°
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Gráfico 5: Comparação entre o tamanho da classe média brasileira por setor de atividade econômica, 2002 e 2012
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 41
Brasil
Norte AC
AP
AM
PA
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Nordeste BA
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RN
SE
Sudeste ES MG
RJ
Sul
SP
PR
RS SC Centro-Oeste
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20
22
24
26
28
30
32
34
36
38
40
42
44
46
48
50
52
54
56
58
60
62
64
20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60 62 64
Tamanho da classe média em 2002 (%)
Gráfico 6: Comparação entre o tamanho da classe média por estado e região do Brasil, 2002 e 2012
Tam
anho
da
clas
sem
édia
em
201
2 (%
)
45°
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Para melhor visualização do que ocorreu nos estados brasileiros, que são muito numerosos, construímos o Gráfico 7, que demonstra a expansão líquida da classe média em contraste com o seu tamanho em 2002. Como se pode ver pela linha de tendência, quanto menor era o tamanho da classe média em 2002, maior foi a expansão dessa classe entre os anos de 2002 e 2012.
Brasil
Norte
AC
AP
AM
PA
RO
RR
TO
Nordeste
BA CE PB
PE PI
RN
SE
Sudeste
ES MG
RJ
Sul SP
PR
RS
SC
Centro-Oeste
DF
GO
MT
MS
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
24
20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60
Tamanho da classe média em 2002 (%)
Gráfico 7: Expansão líquida e tamanho da classe média dentro de cada estado e região do Brasil
Expa
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200
2 e
2012
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Gráfico 6: Comparação entre o tamanho da classe média por estado e região do Brasil, 2002 e 2012
Gráfico 7: Expansão líquida e tamanho da classe média dentro de cada estado e região do Brasil
42 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Em suma, de maneira geral os grupos socioeconômicos que mais cresceram na classe
média foram aqueles que tinham menor representação nesse segmento em 2002. Assim,
em 2012, temos uma classe média mais equilibrada, com maior representatividade de cada
um dos diferentes grupos socioeconômicos brasileiros e, portanto, quase tão heterogênea
quanto o Brasil.
Uma maneira mais direta de observar a crescente heterogeneidade na classe média e,
consequentemente, a crescente igualdade entre os diversos grupos socioeconômicos
que compõem o país, é por meio do chamado índice de dissimilaridade. Quanto mais
perto de zero o valor do índice, mais igualitário é aquele grupo. Apresentamos também
a sua variação percentual entre os anos de 2002 e 2012. O sinal negativo indica queda, o
positivo, aumento.
Nas Tabela 12 apresentamos a evolução do índice de dissimilaridade na classe média dos
diversos grupos entre os anos de 2002 e 2012. Como se pode ver, em todos eles o
índice diminui de valor, aproximando-se de zero. O grupo que mais conseguiu alcançar
igualdade interna na classe média foi aquele correspondente a cor, caso em que o índice
de dissimilaridade caiu 94% em 10 anos. Em seguida, as maiores evoluções se deram na
diminuição da dicotomia formal/informal e urbano/rural (com quedas respectivas de 71%
e 61% nos índices de dissimilaridade). As desigualdades na classe média entre as regiões
brasileiras também diminuíram bastante, com queda de 53% na dissimilaridade.
2002 2012
Cor 8,6 0,5 -94%Região 13,2 6,1 -53%Área 7,2 2,8 -61%Nível educacional do chefe 9,0 5,1 -43%População em idade ativa (Ocupados/Desempregados/Inativ 3,9 2,3 -39%Formais/Informais 7,8 2,3 -71%Setor de atividaddes 9,1 6,5 -29%
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Tabela 12: Índice de dissimilaridade na classe média, por grupo socioeconômico no Brasil
GrupoVariação
percentual (2002-2012)
Índice de Dissimilaridade
Tabela 12: Índice de dissimilaridade na classe média, por grupo socioeconômico no Brasil
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 43
2002 2012
Norte 3,4 2,0 -42%Nordeste 3,5 2,8 -21%Sudeste 4,5 0,9 -80%Sul 3,4 0,7 -81%Centro-Oeste 2,3 3,2 42%
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Tabela 13: Índice de dissimilaridade na classe média, por região em relação aos seus respectivos estados
GrupoÍndice de Dissimilaridade Variação
percentual (2002-2012)
Na Tabela 13 apresentamos o índice de dissimilaridade na classe média para cada região.
Assim, podemos ver se a desigualdade no interior da classe média entre os estados dentro
de cada região diminuiu entre os anos de 2002 e 2012. Com exceção da região Centro-
Oeste, em todas as regiões o índice de dissimilaridade na classe média apresentou queda,
em especial, nas regiões Sudeste, Sul (80% e 81%). Dessa forma, se o crescimento médio
da classe média nessas regiões não foi muito expressivo (como se pôde ver na Tabela 4),
o crescimento substancialmente maior nos estados em que a classe média era menor em
2002 contribuiu para que a classe média dessas regiões se tornassem as mais igualitárias.
A desigualdade também diminuiu nas regiões Norte (42%) e Nordeste (21%), mas como
houve muita variação na expansão da classe média entre os estados dessas regiões (uns
expandiram consideravelmente mais do que outros), bem como estados que já tinham um
tamanho da classe média em 2002 relativamente maior também apresentaram expansão
expressiva dessa classe, a redução na dissimilaridade foi mais limitada.
Finalmente, não apenas a classe média se tornou mais igualitária – com maior
representatividade dos diversos grupos e estados – entre os anos de 2002 e 2012, ela
também é a classe de renda que apresenta maior igualdade dentre as três (baixa, média
e alta). Nas Tabelas 14 e 15 apresentamos o índice de dissimilaridade para as três classes.
Como se pode ver, tanto em relação a todos os diferentes grupos analisados (Tabela 14),
como em relação à igualdade entre os estados dentro de cada região (Tabela 15), a classe
média é a que apresenta sempre o menor valor do índice de dissimilaridade. Portanto, se
tivéssemos que escolher uma classe para representar a grande heterogeneidade brasileira,
a resposta seria, sem dúvida, a classe média.
Tabela 13: Índice de dissimilaridade na classe média, por região em relação aos seus respectivos estados
44 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Classe Baixa
Classe Média
Classe Alta
Cor 16,0 0,5 21,1Região 24,3 6,1 18,0Área 11,8 2,8 9,3Nível educacional do chefe 18,2 5,1 31,5População em idade ativa (Ocupados/Desempregados/Inativo 15,8 2,3 12,3Formais/Informais 27,5 2,3 13,5Setor de atividaddes 27,8 6,5 19,1
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Tabela 14: Índice de dissimilaridade nas 3 classes de renda, por grupo socioeconômico no Brasil, 2012
GrupoÍndice de Dissimilaridade
Classe Baixa
Classe Média
Classe Alta
Norte 5,0 2,0 7,8Nordeste 3,7 2,8 8,6Sudeste 12,5 0,9 7,4Sul 6,2 0,7 3,9Centro-Oeste 2,6 3,2 9,5
Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD).
Tabela 15: Índice de dissimilaridade nas 3 classes de renda, por região em relação aos seus respectivos
GrupoÍndice de Dissimilaridade
Tabela 14: Índice de dissimilaridade nas 3 classes de renda, por grupo socioeconômico no Brasil, 2012
Tabela 15: Índice de dissimilaridade nas 3 classes de renda, por região em relação aos seus respectivos estados, 2012
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 45
46 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 47
Sobre o grau de tolerância e respeito à diversidade
O quanto uma pessoa aceita valores e comportamentos diferentes dos seus é algo que
está no coração de um regime verdadeiramente democrático e de relações sociais mais
positivas e construtivas. Nessa parte, entenderemos que tal tipo de abertura denota grau
de tolerância ou respeito à diversidade.
O grau de tolerância é algo que pode ser ensinado a crianças e adultos. Portanto, é maleável,
além de fortemente relacionado ao ambiente socioeconômico e cultural. Por outro
lado, pode ser também determinante para o sucesso socioeconômico de um indivíduo,
no sentido de que é possível que pessoas mais abertas tenham melhores resultados no
trabalho, tenham mais amigos, mais facilidade no relacionamento amoroso etc. Embora
seja difícil estabelecer a direção dessa causalidade (se grau de tolerância afeta ou é afetado
pelo ambiente socioeconômico), nesse estudo são apresentadas estimativas da incidência
de tolerância por classe de renda.
Para tanto, utiliza-se a pesquisa Data Popular – Tendências, coletada pelo Instituto
Datapopular em 2012. Foram entrevistadas 5.182 pessoas, com 14 anos ou mais de idade,
em todo território nacional, exceto as zonas rurais.
São doze itens considerados, sendo que cada um é um questionamento ao entrevistado
sobre “se ele gosta de pessoas com determinada característica” que pode ser alvo de
preconceito ou discriminação. Para facilitar a análise, agrupamos tais características em
três categorias: (a) inatas e básicas (inclui raça, religião e estado conjugal); (b) sexualidade
(inclui orientação sexual, casamento entre pessoas com grande diferença de idade, vaidade
entre homens e sensualidade de mulheres) e (c) ilegalidade questionada por parte da
sociedade (uso de drogas e prática de aborto).
A Tabela 16 apresenta o percentual que declarou “não gostar de pessoas com determinada
característica” para cada uma das três classes de renda (alta, média e baixa). Considerou-
se que um percentual inferior a 5% denota alta tolerância; entre 5% e 15%, média
tolerância e superior a 15%, intolerância
4. Diversidade
48 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
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(p.p.
)p-
valor
Difer
ença
(p.p.
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valor
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1,60,9
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Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 49
Análises
Panorama geral: o que a sociedade não tolera?
Conforme revela a Tabela 16, de uma maneira geral, a intolerância maior no Brasil está
associada a comportamentos que são ilegais, embora tenham ilegalidade contestada por
parte da sociedade. 58% dos respondentes declararam não gostar de pessoas que utilizam
drogas e 37% não gostam de pessoas que fizeram aborto. Com relação a quem já usou
drogas no passado (porém não usa mais no presente), a intolerância é de 18%.
Para as demais características, apenas uma é também intolerável (superior a 15%): a falta
de crença em Deus. 36% não gostam de pessoas descrentes.
Há tolerância moderada no que tange à sexualidade. Os percentuais nesse grupo de
características variam de 8% de intolerância com relação a mulheres sensuais a 11%
contra homens que se dizem vaidosos (usam cremes, se depilam etc.).
A maior aceitação parece ser com relação às características inatas ou básicas, como raça,
ter religião diferente e mães solteiras (sempre abaixo de 3,5%).
Intolerância e classe de renda
Entre as doze características investigadas, dez têm aceitação crescente com a renda, isto
é, a classe média declara ser mais tolerante que a classe baixa (para dez características),
porém menos tolerante que a classe alta (para onze características). Em apenas um caso
o grau de intolerância é maior na classe média que nas duas outras: o homossexualismo.
Dependendo da característica, a classe média pode ter perfil mais próximo ao da classe baixa
ou alta. Para analisar esse perfil, utilizamos apenas as distâncias nos percentuais de cada classe.
No que é mais “intolerável” para a sociedade como um todo, que são os comportamentos
ilegais ou a falta de crença em Deus, a classe média está mais próxima da classe baixa: é mais
avessa! Contudo, para o que é moderadamente tolerado (sexualidade), o perfil da classe média
é mais semelhante ao da classe alta (que é mais aberta), exceto pelo homossexualismo.
Não só o grau de tolerância da classe média está mais próximo ao da classe baixa para o
que é ilegal ou a descrença em Deus, mas também o ranking que a classe média faz das
características mais toleradas desse bloco é idêntico ao da classe baixa e um pouco distinto
do que pensa a classe alta. Por exemplo, as classes baixa e média toleram mais pessoas
que fizeram aborto do que quem não acredita em Deus. Para a classe alta, é o contrário.
50 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Para o que é medianamente tolerado, a classe média se assemelha à classe alta por
proximidade dos percentuais e também ranking das características. As classes média e alta
aceitam menos a vaidade masculina e o homossexualismo do que a classe baixa. Por outro
lado, são mais abertas para casamentos de pessoas com muita diferença de idade.
É interessante dizer que para as características inatas e básicas, as quais são as mais
toleradas, o grau de concordância entre as classes é pleno. As diferenças percentuais
entre as classes são pequenas e a ordenação das características é exatamente a mesma.
Síntese
Raça, outra religião e ser mãe solteira são características amplamente aceitas e todos
parecem estar de acordo com isso. O que parece ser mais intolerável para a sociedade
brasileira é a prática do aborto, a descrença em Deus e, em primeiro lugar, o uso de
drogas. Os mais intolerantes são os membros da classe baixa, sendo que o padrão da
classe média quanto a essas características é similar. Nesse aspecto, uma diferença de
valores relevante entre as classes baixa e média, de um lado, e a alta de outro, é que as
duas primeiras colocam a descrença a Deus como mais intolerável do que a prática do
aborto e para a classe alta é o contrário.
Para o que é medianamente tolerado, a classe média fica mais próxima da alta, e comparadas
com a classe baixa, mostram mais problemas em lidar com o homossexualismo e a vaidade
masculina.
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 51
52 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade | 53
TUDO JUNTO E MISTURADOA CLASSE MÉDIA E A DIVERSIDADE DO POVO BRASILEIRO
RENATO MEIRELLES - Sócio diretor do Data Popular, Instituto de
pesquisa pioneiro no estudo do brasileiro emergente. Comunicólogo e
escritor, já coordenou mais de 400 estudos sobre o consumidor da classe
média brasileira
Já virou senso comum falar sobre a miscigenação da população brasileira. Um povo que
mistura em sua cultura traços negros e indígenas com a herança dos colonizadores europeus.
Esse caldeirão étnico, que contribui para dar visibilidade ao Brasil, foi por ao menos dois
séculos apontado como um obstáculo para o desenvolvimento do país. Mas esse quadro
começa a criar novas nuances, impulsionado também por meio do crescimento de uma
classe média que leva consigo uma parcela cada vez menos homogênea da população.
Difícil definir uma típica família brasileira. Encontrar um rosto que identifique um todo
dentro desta diversidade então, é quase impossível. Somos pardos nipônicos, negros com
olhos de mel e loiros com vastas cabeleiras crespas, que contradizem qualquer estereótipo
pré-definido e tornam o nosso passaporte um dos mais desejáveis para falsificadores. No
entanto, muitas vezes essa mistura acaba por encobrir preconceitos e desigualdades que
sempre estiveram presentes em nossa história. Ainda hoje, temos muito mais negros entre
a população mais pobre e muito mais brancos na elite econômica do Brasil. A boa notícia é
que como a classe media é fruto direto da redução das desigualdades, tem na diversidade
étnica regional uma de suas maiores características. E isso faz toda a diferença. A ascensão
dessa camada social amplia as possibilidades de, enfim, reduzirmos um conjunto de
preconceitos que insistem em permanecer em nossa cultura.
Com o crescimento da classe média através da redução das desigualdades históricas de
gênero, cor da pele e desenvolvimento regional surgiu uma demanda econômica de inserir
no cenário de consumo novos protagonistas. As telenovelas, até então acostumadas a
colocar o negro numa posição servil aos brancos agora colocam-no em posição de destaque
5. Colaborador permanente
54 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade
em suas produções. São protagonistas que fogem do padrão desgastado e irreal do padrão
étnico europeu, fazendo um resgate às origens e criando identificação com o público das
classes emergentes. Até mesmo o padrão de beleza que fazia com que mulheres negras
muitas vezes fossem caracterizadas com signos comuns a mulheres brancas, alisando os
cabelos crespos e adotando tons neutros, que não contrastavam com seu tom de pele,
mudou.
Não preciso dizer aqui que racismo e preconceito ocorrem em todas as classes sociais
e portanto nunca serão resolvidos com a simples melhora do poder aquisitivo ou dos
níveis educacionais. Mas o fato é que se o país estava acostumado a somar ao preconceito
étnico a discriminação financeira, com o avanço da classe média, começamos a caminhar
num sentido de quebra de um paradigma, conservado por centenas de anos mesmo após
a abolição da escravatura. A valorização da etnia é conquistada através da melhora da
autoestima. São milhões de pessoas que viram sua vida melhorar com a estabilidade da
economia e o surgimento de uma gama de empregos formais que antes, ou eram privilégios
apenas de uma elite branca, ou até mesmo inexistiam. Pouco a pouco começamos a
encontrar negros brasileiros ocupando cargos de prestígio e frequentando lugares que
eram restritos apenas aos brancos detentores de uma renda que passava distante de suas
possibilidades. Para eles, sobravam os empregos de menor remuneração.
Negros que viviam marginalizados, agora aparecem com destaque num universo, onde
a cor e a tradição atravessam as fronteiras sociais, ressaltando a verdadeira beleza
nacional, antes vista somente com preconceito. São essas características, verde-amarelas
heterogêneas, que fazem do nosso povo tão especial, com aspectos tão peculiares. No
entanto, não devemos nos esquecer do mérito das lutas empreendidas pelos movimentos
sociais de afirmação da identidade negra, nem das políticas públicas de inclusão que
pouco a pouco se fortalecem desde a redemocratização. As mudanças que ocorrem
hoje ainda não são suficientes para colocar um ponto final no preconceito cotidiano de
muitos brasileiros. Em muitos estabelecimentos comerciais, apesar de não acontecerem
casos explícitos de discriminação racial, que seriam punidas pela lei, os negros ainda são
obrigados a lidar com situações desagradáveis, decorrentes de mau atendimento.
O acesso ao crédito e a descoberta de um universo de consumo possibilitou aos negros
e brancos da classe média, uma ascensão econômica que embora esbarre em alguns
valores arcaicos adquiridos pela elite, começa a ganhar fôlego e, finalmente, encontrar
o seu lugar. A educação foi um destes lugares, pois ele passou a ter acesso não apenas
aos bens de consumo, mas a universidade. Com isso, pode investir na educação do filho
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e percebe agora a oportunidade de fugir de um ciclo vicioso. Hoje, é possível ver nas
universidades, em cursos de diferentes áreas do conhecimento um corpo de alunos cada
vez mais heterogêneo. Com a ampliação da escolaridade, elevação da renda e melhor
acesso aos postos de trabalho, a população negra foi a que apresentou os maiores índices
de mobilidade socioeconômica dos últimos anos.
A classe média atual é a mistura brasileira que não se restringe apenas a cor da pele,
mas também se sustenta pelos valores. A tradição carnavalesca dos festejos populares
e a alegria das cores primárias fundem-se com a garra daquele que veio de baixo e
precisou juntar forças para não desistir e seguir em frente. Agora, com a oportunidade
de crescimento, este cidadão multicores, antes encolhido perante a desigualdade social,
encontra ferramentas e munições para lidar com as diferenças enraizadas. Prova que o
que antes era visto como fraqueza, hoje torna-se sinônimo de força. Sobram exemplos
de brasileiros que superaram as dificuldades educacionais, as barreiras étnicas e regionais
e acabam servindo de inspiração para outros brasileiros que estão vencendo na vida sem
ter que abrir mão de seus valores, de sua cultura e de sua origem.
Este avanço ainda está longe de ser uma conquista definitiva, pois não bastam apenas
mudanças na renda, é preciso mudar a ideologia que está enraizada na cabeça das pessoas.
No então é inegável a constatação que o crescimento da economia tem forçado diversos
setores da sociedade a serem mais tolerantes e menos preconceituosos. Viva a diversidade
da classe média brasileira
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“Quando novos personagens entram em cena”
Jailson de Souza e Silva, Professor da Faculdade de Educação da
Universidade Federal Fluminense – UFF-RJ e Diretor do Observatório de
Favelas do Rio de Janeiro.
O título acima é de um livro do pesquisador Eder Sader, lançado em 1988. À época,
o autor buscava identificar os novos grupos sociais que ocupavam a cena econômica e
política do Brasil a partir da década de 70. Sua grande expressão eram os trabalhadores da
indústria de transformação, com destaque para os metalúrgicos do ABC.
O grande mérito da Secretaria de Assuntos Estratégicos ao discutir a emergência de
uma “nova classe média” no Brasil é visibilizar e construir uma análise sistemática de um
processo socioeconômico e cultural mobilizado por um grupo que tem provocado um
forte impacto no país e deverá fazê-lo com maior intensidade nos próximos anos.
O que assistimos é, acima de tudo, à emergência dos trabalhadores, principalmente
negros, no cenário nacional. Eles ampliam o seu poder de consumo, fortalecem a sua
capacidade de influenciar as tendências políticas, os padrões culturais e educacionais. Os
recentes sucessos de produções televisivas, como as novelas baseadas no que seriam as
vivências cotidianas desse grupo, são um exemplo desse processo; a menor influência, no
caso do Rio de Janeiro, dos moradores das áreas nobres da cidade no processo eleitoral
é outra demonstração dessas transformações; a ampliação do acesso ao ensino superior
também revela essa dinâmica.
Interessa-me, de forma especial, o impacto que esse fenômeno de ampliação da renda
dos trabalhadores vem provocando na juventude e, em especial, nas periferias e favelas.
Com efeito, em vários centros metropolitanos brasileiros, uma parcela significativa dos
moradores desses territórios tem ingressado nas classes médias. Isso tem provocado um
forte impacto no processo de valorização imobiliária desses espaços, ampliado a oferta de
produtos de variadas ordens e fortalecido seu dinamismo econômico.
6. Colaborador desta edição
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Acima de tudo, o aumento da escolarização das populações dessas áreas, a maior
consciência sobre suas demandas e maior capacidade de verbalizá-las, a criação de novas
linguagens artísticas e a ampliação do repertório sociocultural geram a criação de um novo
ser social. Esse ser, que no caso do Rio de Janeiro chamamos de um “Novo Carioca”, amplia
sua mobilidade na cidade. Ela representa muito mais do que a capacidade de circulação
física. Essa mobilidade é social, econômica, educacional e, principalmente, simbólica.
Esse “novo” carioca, paulista, gaúcho, baiano (...) revela a capacidade de se apropriar dos
territórios urbanos de maneira autônoma, coletiva, com alto grau de criatividade e poder
de realização. E, nesse processo, consciente ou não, eles vão criando novas cidades, novos
cidadãos, de um novo país.
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60 | Desigualdade, Heterogeneidade e Diversidade02Empoderando vidas.
Fortalecendo nações.
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