7
REVISTA PELLEGRINO 22 MATÉRIA DE CAPA

Revista Pellegrino Nº 132, ano 21, dezembro 2014 - Perdas sob controle, mais competitividade - Participação do Sr. Anderson Ozawa

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Revista Pellegrino Nº 132, ano 21, dezembro 2014 - Perdas sob controle, mais competitividade - Participação do Sr. Anderson Ozawa

revista pellegrino22

MATÉRIA DE CAPA

Page 2: Revista Pellegrino Nº 132, ano 21, dezembro 2014 - Perdas sob controle, mais competitividade - Participação do Sr. Anderson Ozawa

23dezembro 2014

Investir em prevenção de perdas pode significar a diferença entre o lucro e o prejuízo. Afinal, cada real perdido é um real que se deixa de

ganhar (e que pode melhorar o desempenho e até o preço final)

Por Sandra Godoy

Loja mais competitiva(com menos perdas)

Page 3: Revista Pellegrino Nº 132, ano 21, dezembro 2014 - Perdas sob controle, mais competitividade - Participação do Sr. Anderson Ozawa

revista pellegrino24

a seus olhos, mas que, como aquelas gotinhas de água que vão pelo ralo, podem impactar os resultados da empresa: as perdas.

Pesquisa realizada pelo Provar – Programa de Administração de Varejo da Fundação Instituto de Administração (FIA), em parceria com a Abras (Associação Brasilei-ra de Supermercados), a Nielsen e Ibevar (Instituto Brasileiro de Executivos do Varejo), revela que as perdas no varejo brasileiro so-maram em 2013 R$ 5,3 bilhões, ou 2,52% do faturamento líquido das empresas consultadas. Para se ter uma ideia do tamanho do prejuízo, o orçamento deste ano de uma das maiores capitais do país –Porto Alegre (RS)– é um pouco acima deste valor, aproximadamente R$ 6 bilhões. E o número aumentou em relação à última pesquisa, de 2012 –quando as empresas do vare-jo contabilizaram 1,96% em perdas identificadas e não identificadas.

O professor Nuno M. Martins Dias Fouto, coordenador de estudos e pesquisas do Provar e da pesquisa Abras 2014, afirma que os números servem de alerta aos empresários. “Num setor que trabalha com margens pequenas, 2% de perdas é muito”, analisa. Embora mostre uma parte do varejo brasileiro –os supermercados–, ela reflete o que acontece em vários segmentos, inclusive autopeças.

Normalmente associadas a furtos, na verdade as perdas vão muito além. Podem começar na compra errada de mercadoria, recebimento, esto-que sem controle, venda perdida por atendimento deficiente, precificação incorreta, concessão equivocada de crédito, processos inadequados,

A loja tem um bom desempe-nho em vendas, preço com-petitivo, estoque bem sortido,

os clientes sempre voltam, mas, ao usar a clássica fórmula vendas - cus-to de mercadoria vendida = lucro

MATÉRIA DE CAPA

bruto - despesas = lucro líquido, nem sempre o resultado é o esperado. Além das despesas visíveis (água, energia, telefone, internet, máquinas e equipamentos, aluguel), pode es-tar havendo um vazamento invisível

Olho no estoqueNa Du Diesel, com matriz em Viradouro e filial em Monte Apra-

zível (SP), não há espaço para perdas. Segundo o diretor administra-tivo Antônio Ginack Júnior, a equipe liderada por ele e seu irmão, o proprietário Eduardo José Rodrigues Ginack, é comprometida com a prevenção de perdas, principalmente na administração do estoque. Para isso, eles dispõem de sistemas de controle e gestão que verificam o que está girando mais e o que está parado. O inventário é também uma importante ferramenta, e é feito de uma a duas vezes por ano. “Compramos somente o que está faltando, mas sempre mantendo um estoque mínimo para atender a nossa necessidade diária, pois o software que utilizamos nos dá esta condição imediata e online e também entre matriz e filial. Quando há alguma peça parada no esto-que, optamos por oferecer a nossos clientes a preços promocionais, girando assim o estoque dormente”, afirma. Eles também dividem as compras por uma planilha de estoque e outra de ordens de serviço (já negociadas). “Temos que estar atentos em todas as gestões, pois o resultado final é muito mais importante do que o faturamento bruto.”

Antonio, da Du DieselANDRÉ MANHANI

Page 4: Revista Pellegrino Nº 132, ano 21, dezembro 2014 - Perdas sob controle, mais competitividade - Participação do Sr. Anderson Ozawa

25dezembro 2014

Page 5: Revista Pellegrino Nº 132, ano 21, dezembro 2014 - Perdas sob controle, mais competitividade - Participação do Sr. Anderson Ozawa

revista pellegrino26

MATÉRIA DE CAPA

gestão do negócio, entre outros fatores. Para o Provar, a razão deste vilão invisível agir tão livremente no varejo é falta de planejamento e de investimento na prevenção.

Tem, mas acabouToda e qualquer interferência

negativa no resultado da empresa, gerando como consequência final a redução do lucro, é considerado perda. “Em pequenos negócios, pode chegar até 9% sobre o resulta-do final, naqueles que conseguem monitorar. Em época de retração, pode ser a diferença entre lucro e prejuízo”, alerta Rodrigo Palermo, consultor do Sebrae de São Paulo, responsável por projetos de planeja-mento de varejo da entidade.

Francisco de La Tôrre, presiden-te do Sincopeças de São Paulo, opi-na que o controle do estoque é um ponto crucial para as lojas de auto-peças. “É o coração do negócio. As

perdas são variáveis, dependendo de como o empresário administra o seu negócio. Muitas vezes, há falha humana, pois o serviço tem de ser muito bem organizado. Precisa ser monitorado por software, mas nem todas as lojas estão com os estoques informatizados”, afirma.

Ele diz também que muitas ve-zes a forma de armazenagem pode danificar a peça, que deve ser esto-cada de acordo com a orientação do fabricante. “Uma simples falta de atenção na forma de armazena-gem pode levar à perda. As peças também precisam ficar guardadas nas embalagens. O estoquista precisa estar treinado para saber quais são os procedimentos cor-retos, o local também deve estar em boas condições. Umidade, por exemplo, pode provocar perdas”, orienta de La Tôrre.

As perdas comerciais mais co-muns são chamadas de ruptura

ou quebra, quando o produto não está disponível para a venda. “É o que conhecemos como ‘tem, mas acabou’”, explica Rodrigo Palermo. “Não é preciso ter 100% das peças, mas é preciso conhecer o giro do estoque, o que se compra e o que se vende, assim como a correta esto-cagem e registro da peça. Acontece muito de o cliente pedir a peça, ela está no estoque –e o sistema mos-tra– só que em lugar errado”, afirma o consultor do Sebrae.

Ele alerta para outro tipo de perda, causada quando não se ouve o cliente. “Se o cliente pede uma peça específica e ela não existe no estoque, outro cliente vem, pede a mesma peça –o lojista está perden-do venda”, diz. “Os funcionários são uma valiosa fonte de informação, pois estão com o cliente todos os dias.” Ele afirma ainda que existem detalhes simples de atendimento que podem fazer a diferença. “Por exemplo: a loja abre às 8h da ma-nhã, o mesmo horário que o me-cânico começa o expediente. Ela deveria abrir às 7h, porque se ele precisa de uma peça com urgência, vai encontrá-la logo cedo, antes de abrir a oficina”, sugere.

Anderson Ozawa, sócio da AO-zawa Consultoria e autor do blog Prevenção de Perdas Brasil, com experiênca de mais de vinte anos no assunto, diz que o inventário, mais do que uma obrigação contábil, é uma das ferramentas mais valiosas para mapear e evitar perdas. “É uma forma de medir o estoque, identifi-car, planejar, extrair relatórios. Por exemplo, se um tipo de lâmpada ou rolamento tem mais perda, qual o motivo? Manuseio incorreto, erro no cadastro, furto?”, indaga.

THINKSTOCK

Page 6: Revista Pellegrino Nº 132, ano 21, dezembro 2014 - Perdas sob controle, mais competitividade - Participação do Sr. Anderson Ozawa

27dezembro 2014

Conferência rigorosaNa Faíska Auto Peças, de Gurupi (TO), a prevenção de perdas

faz parte das atividades diárias de Elizeu Araújo de Lima, sua sócia e esposa, Reny, e de sua equipe. O controle começa no recebimento, com a conferência rigorosa das peças, para evitar que haja quebra ou armazenamento em local errado. Mas o pulo do gato de Elizeu está no inventário, que é feito todos os dias. Ele explica: “Separamos por grupos –velas, cabos de vela, pastilhas, por exemplo– e comparamos as notas de saída com o estoque. Assim, temos um controle mais rígi-do e não precisamos esperar até o final do ano para fazer o inventário. Da mesma forma, se tiver de corrigir alguma coisa, fazemos na hora”. Ele conta que este procedimento trouxe mais atenção e cuidado dos funcionários tanto na compra quanto na venda e que, se não zera, diminui ao mínimo o índice de perdas.

Elizeu, da Faíska AutopeçasCLAUDIO FRASCARI

As perdas não-identificadas, aquelas que ocorrem por furto (interno ou externo), erros admi-nistrativos ou operacionais, como erro no cadastro, no recebimento, acabam aparecendo quando é feito o inventário, afirma Ozawa. “O con-trole começa na entrada, com o re-cebimento devidamente conferido e documentado. Depois é só compa-rar as notas fiscais com quantidade física.” Já as perdas identificadas aparecem muito antes. São as peças que não são vendidas por terem ficado paradas no estoque –mudou o modelo, ou então compradas em excesso, aproveitando um preço vantajoso–, provocando giro baixo e, consequentemente, perda. Em algum momento elas terão que ser vendidas por um preço abaixo do que foram compradas, o que vai ca-racterizar perda comercial”, explica.

Outros tipos de perda, que difi-cilmente podem ser mensuradas, são as ocasionadas por falhas admi-nistrativas, de gestão, de processos demorados ou mal-conduzidos, funcionários mal-treinados. Afinal, o que não é ganho é perdido.

Amigos do alheioPraticamente sinônimo de per-

da, o furto é um dos maiores mo-tivos de preocupação do varejista. Ele pode acontecer de duas formas: internamente ou externamente. O furto interno é aquele provocado por funcionários, seja por oportu-nismo (“a ocasião faz o ladrão”), ou, pior, aquele que já entra na empresa mal-intencionado. Para o professor Nuno Fouto, do Provar, a prevenção começa na seleção de pessoal e deve se estender no dia a dia. “A empresa tem que criar o

conceito de trabalhar com ética, com todos fazendo a coisa certa. É importante desenvolver o pessoal com base nestes valores”, afirma.

Além disso, é fundamental que o funcionário saiba que existe um controle rígido na empresa. “O furto maior acontece dentro de casa, como o caixa que não registra a venda, ou o recebedor

que registra nove de dez caixas e fica com uma, ou ainda aquele que leva embora a peça na mochila. Isso acontece em lojas que não têm controle, não fazem inventário, então não há como saber o que foi levado”, afirma Anderson Ozawa. Ele sugere que itens de maior valor sejam guardados em um estoque especial, com acesso limitado. “O

Page 7: Revista Pellegrino Nº 132, ano 21, dezembro 2014 - Perdas sob controle, mais competitividade - Participação do Sr. Anderson Ozawa

revista pellegrino28

MATÉRIA DE CAPA

funcionário deve saber que o dono está de olho no trabalho dele. Por isso, é importante conferir espo-radicamente, auditar, mostrar os números de perdas e deixar claro que todos ganham quando a perda diminui.” Fouto complementa: “O dono tem que dar o exemplo”.

Mais comum em lojas de autos-serviço, o chamado furto externo também acontece em lojas com balcão. “Um dos casos mais co-muns é quando indivíduo pede uma peça e, quando o atendente a traz do estoque, ele pede outra, nor-malmente mais difícil de encontrar. Neste intervalo, ele aproveita e leva a peça embora”, relata Anderson Ozawa. Para evitar este tipo de fur-to, a orientação é simples: “Nunca deixe a peça no balcão. Use uma cestinha, vá colocando as peças até fechar o pedido, só depois de pago entregue ao cliente”.

Outro tipo de furto externo ocorre na entrega das peças. “Tem

entregador que sabe que a loja não tem controle de recebimento, então aproveita para desviar, entregar caixas vazias ou a menos.” É impor-tante atentar que este tipo de furto conta às vezes com a participação de funcionários.

Para ajudar a evitar o furto, seja ele interno ou externo, existem tecnologias que podem ser utili-zadas em lojas de qualquer porte, como câmeras e alarmes (estes, principalmente, para evitar assaltos depois do expediente), mas, como sempre, o ladrão em potencial, seja ele “de casa” ou de fora, deve saber que está sendo vigiado. “É importante acompanhar o cliente, não deixá-lo solto pela loja. Assim que ele chega, o vendedor deve se aproximar e oferecer ajuda. É uma forma de inibir um possível furto”, ensina Nuno Fouto, do Provar.

Reduzir a zero o índice de perdas no varejo é tarefa quase impossível. Mas os especialistas

P

consultados concordam que não há necessidade de grande inves-timento para reduzi-las. O impor-tante é ficar atento e identificar a perda no ato, registrá-la e tomar as decisões para evitá-la no futuro, seja qual for sua procedência. Criar uma cultura de prevenção de perdas entre os funcionários também é fundamental, qualquer que seja o porte da empresa. “Tem que encontrar formas de melhorar a gestão. Quem começa a trabalhar com prevenção de perdas logo sen-te os resultados no bolso”, afirma Rodrigo Palermo, do Sebrae.

Para Anderson Ozawa, há um argumento imbatível para investir em prevenção de perdas. “A perda deve compor o preço do produto. Se deixar de perder, pode melhorar o preço final.” Ou seja, a cada real economizado, é um real que o lojis-ta pode usar para tornar seu preço mais competitivo, o que, na maioria das vezes, ainda decide a venda.

SAIBA MAISNUNO M. MARTINS DIAS FOUTO (PROVAR)(11) [email protected] PALERMO (SEBRAE-SP)0800 5700800www.sebraesp.com.brFRANCISCO WAGNER DE LA TÔRRE (SINCOPEÇAS-SP)(11) [email protected] OZAWA (AOZAWA CONSULTORIA)(11) 99965-7595anderson@aozawaconsultoria.comwww.aozawaconsultoria.comhttp://prevencaodeperdasbrasil.com.br

THINKSTOCK