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! Compartilhe! Compartilhe " Compartilhe" Compartilhe + Compartilhe+ Compartilhe PERFIL Sujo e mal lavado Pouco conhecido do público, o doleiro Carlos Habib Chater, preso no Paraná, é personagem chave para entender as origens da Operação Lava-Jato e a força do câmbio negro em Brasília Por: Lilian Tahan | [email protected] $ 19/02/2015 às 17:59 - Atualizado em 21/02/2015 às 08:10 (Foto montagem: João Pedro Coppola) (Foto: João Pedro Coppola) Fim de tarde do dia 21 de novembro de 2013. Um caminhão que passa pelo quilômetro 265 da Rodovia Washington Luís, na altura do município de Araraquara (SP), é abordado por policiais militares. Questionado sobre o carregamento, o motorista Ocari Moreira diz que transporta palmitos. Os PMs decidem conferir a história. Nervoso, Moreira muda sua versão e confessa levar uma carga com 698 quilos de cocaína, que saíra de Cuiabá e tinha São Paulo como destino. Acuado, ele ainda revela que um veículo batedor o acompanhava. Fingindo ser o condutor do caminhão, um dos policiais entra em contato com a escolta e consegue prender outros dois envolvidos, um deles o boliviano Ricardo Rodriguez. Essa bem-sucedida apreensão de drogas se mostrou apenas a camada mais rasa de um mar de ilegalidades. Ela se tornou o ponto de partida para uma série de ações Voos para todos os destinos ¡Clique para melhor preço! ESPECIAL Cinco casas para comemorar o Dia dos Pais às 17:35 RESTAURANTES Prato na mesa, contenção no bolso às 19:43 EXPOSIÇÕES Nordeste germânico às 16:22 PROJEÇÃO Cuba libre às 15:40 ÚLTIMAS NOTÍCIAS 06 DE AGOSTO DE 2015 03 DE AGOSTO DE 2015 04 DE MAIO DE 2015 Ver mais notícias » SIGA VEJA BRASÍLIA ! " % Entre Restaurantes Bares Comidinhas Passeios Blogs

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PERFIL

Sujo e mal lavadoPouco conhecido do público, o doleiro Carlos Habib Chater, preso noParaná, é personagem chave para entender as origens da Operação

Lava-Jato e a força do câmbio negro em Brasília

Por: Lilian Tahan | [email protected] $ 19/02/2015 às 17:59 - Atualizado em 21/02/2015 às 08:10

(Foto montagem: João Pedro Coppola) (Foto: João Pedro Coppola)

Fim de tarde do dia 21 de novembro de 2013. Um caminhão que passa peloquilômetro 265 da Rodovia Washington Luís, na altura do município de Araraquara(SP), é abordado por policiais militares. Questionado sobre o carregamento, omotorista Ocari Moreira diz que transporta palmitos. Os PMs decidem conferir ahistória. Nervoso, Moreira muda sua versão e confessa levar uma carga com 698quilos de cocaína, que saíra de Cuiabá e tinha São Paulo como destino. Acuado, eleainda revela que um veículo batedor o acompanhava. Fingindo ser o condutor docaminhão, um dos policiais entra em contato com a escolta e consegue prenderoutros dois envolvidos, um deles o boliviano Ricardo Rodriguez.

Essa bem-sucedida apreensão de drogas se mostrou apenas a camada mais rasade um mar de ilegalidades. Ela se tornou o ponto de partida para uma série de ações

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que desaguaram na identificação de um esquema internacional de narcotráfico. Masnão é só isso. A partir daquele flagrante, descobriu-se o personagem-chave queexpôs uma máfia instalada no seio da comunidade libanesa de Brasília, chegou aodoleiro Alberto Youssef - o principal delator do maior episódio de corrupção do país -e inspirou o nome da Operação Lava-Jato. Preso no Paraná por sua ligação com otráfico de drogas e prestes a ter a condenação ampliada por liderar crimes contra osistema financeiro, o doleiro libanês Carlos Habib Chater, de 45 anos, ainda não teveseu papel devidamente explicado no escândalo que abala a nação desde março doano passado. Para entender melhor esse protagonismo é necessário voltar no tempoe retomar os acontecimentos daquele 21 de novembro de 2013.

Depois da apreensão de quase 700 quilos de cocaína, as investigações policiaisalcançaram o traficante Rene Luiz Pereira. Até ser preso, no Paraná, Rene moravaem um condomínio em Águas Claras, no Distrito Federal. Ele era o dono da cargailícita. A associação só foi possível porque Rene lamentou por telefone com umcomparsa a interceptação da droga. Nessa trama, surge pela primeira vez o nome deHabib Chater. O homem que somava três décadas de operação no câmbio negro emendereços centrais do DF era o responsável por levantar parte do dinheiro que haviaviabilizado o carregamento de entorpecentes.

Batizada de Bidone, referência ao filme Il Bidone, de Federico Fellini - cuja traduçãono Brasil é A Trapaça -, a operação do Ministério Público, em parceria com a PolíciaFederal, desarticulou uma organização criminosa dedicada à distribuição de cocaínaproduzida na Bolívia e no Peru. Concentrados em elucidar a atividade dostraficantes, os investigadores chegaram aos detalhes da participação de HabibChater. Especializado em fazer dólar-cabo, negociação de câmbio que envolvetransferências financeiras internacionais sem registro no Banco Central, oproprietário do Posto da Torre, no Setor Hoteleiro Sul, acionou sua rede de parceirosem favor de Rene. O traficante precisava enviar 124  000 dólares ao exterior paracomprar a cocaína. É a partir desse networking que Habib Chater, um doleiro dovarejo de Brasília, vira isca para a captura de um tubarão do mercado clandestino demoedas no país. Em conversas e mensagens telefônicas interceptadas comautorização judicial, agentes da Justiça descobriram que entre os contatos fortes deHabib Chater - quase todos tratados por codinomes burlescos, como "Omeprazol","Matusalém", "Black", "Michelin", "Salomão" e "Chavo" - havia um "Primo".

Primo, na verdade, era o apelido do doleiro Alberto Youssef, o elemento quecontribuiu para aumentar as implicações políticas do petrolão. Foi no escritório dele,em São Paulo, que se deu parte da operação financeira com os traficantes. A pedidode Rene, Habib Chater - o "Zezé" nas conversas telefônicas - tratou com Salomão(Sleiman Nassin El Kobrossy, outro operador dentro da comunidade libanesa deBrasília) que uma parcela do dinheiro (36  000 dólares) seria entregue no 2º andar doimóvel de número 778 na Rua Dr. Renato Paes de Barros. Nas desprevenidasconversas entre os doleiros, esse nobre endereço na capital paulista, situado nobairro do Itaim Bibi, foi apontado como sede de uma empresa de Youssef. A partir doepisódio, ele passou a ser monitorado e se tornou alvo da Operação Lava-Jato, umareferência ao Posto da Torre, de Habib Chater. Embora o local não abrigue um lava-jato de carros, é sede de uma das sete lavanderias (de roupas) vinculadas a laranjasdo doleiro (veja o quadro no final da matéria).

Um divisor de águas, contudo, jogou Habib Chater do centro para a margem dasinvestigações. Youssef negociou com o Ministério Público uma delação premiada.Tornou-se réu confesso, entregou empresas, agentes públicos e desvendou o modusoperandi do sistema da corrupção na Petrobras. As revelações de Youssefamenizaram suas punições e atraíram para ele os holofotes da operação. HabibChater, ao contrário, optou pelo silêncio e, desde o dia 17 de março do ano passado,está preso no Paraná. Na data em que perdeu sua liberdade, policiais federaisentraram na residência dele em Brasília com um mandado de busca e apreensão.Até então, o doleiro candango parceiro de Alberto Youssef, a quem tratava por Beto,levava uma vida confortável, sustentada pelo lucro das operações cambiais domercado paralelo. Sua mansão tem uma quadra de tênis, outra de futebol e umjardim apinhado de coqueiros, que, flagrantemente, se estende para dentro daporção norte do Lago Paranoá. A propriedade invade as águas públicas a partir de

um píer arrematado por uma bucólica choupana. Ao lado do atracadouro ilegalrepousa uma lancha. Habib Chater, a mulher, Dinorah, e os três filhos do casal,curiosamente, são vizinhos de muro da Casa da Dinda, do ex-presidente daRepública Fernando Collor de Mello. No dia da prisão, os agentes levaram doisiPhones, um BlackBerry, dois relógios - um Rolex e o outro Gucci -, oito pares debrincos cravados de ametistas, esmeraldas e brilhantes, sete braceletes de ouro,dezoito anéis, cópias de contratos, planilhas de pagamentos e o Volvo 2014 queestava na garagem.

Onze meses depois da ação, o doleiro candango continua encarcerado na Casa deCustódia de São José dos Pinhais, a 17 quilômetros do centro de Curitiba. Nesseperíodo, aventurou-se a uma fuga frustrada, emagreceu 13 quilos, arrumou quemlavasse suas roupas e limpasse sua cela, leu thrillers de Ken Follett e acaboucondenado a cinco anos de cadeia pela participação no narcotráfico. Mas permanececalado quanto às acusações da Lava-Jato. Um episódio ocorrido em outubro do anopassado alimentou o burburinho de que Habib Chater poderia quebrar o silêncio. Porintermédio de sua esposa, Dinorah, que o visitou na cadeia, Kátia Chater Nasr, irmãdo presidiário, enviou a ele uma pergunta escrita em árabe. A empresária procuravasaber se Habib Chater queria que ela cuidasse da papelada para a delação. Elemandou dizer que sim. No mesmo dia, um dos quatro escritórios que passaram peladefesa do doleiro deixou a causa. "Nunca concordei com esse expediente", dizTiciano Figueiredo, que substituiu o escritório de Safe Carneiro e precedeu oscolegas curitibanos Pedro Xavier e Roberto Brzezinski. Os dois últimos estariamnegociando os termos para que Habib Chater conte o que sabe às autoridades. Nodia 15 deste mês, no entanto, Januário Paludo, um dos procuradores que atuam nocaso, recebeu a reportagem de VEJA BRASÍLIA em Curitiba e negou que oMinistério Público Federal tenha chegado a um acordo de delação com o doleirobrasiliense.

Kátia, a irmã mais velha de Habib Chater e importante personagem desse enredo,resolveu dar sua versão numa entrevista exclusiva (leia mais na pág. 26). Sócia daValortur, firma enrolada nos trambiques financeiros do Posto da Torre, ela sustentaque o irmão não tem o que dizer. "Ele é um achado fortuito do juiz Sergio Moro evirou bode expiatório", alega Kátia, também denunciada no processo de lavagem eevasão ilegal de dinheiro. Embora com olhar benevolente para a atividade criminosaque levou a família a enriquecer, a empresária ajuda a contar a história dos Chaterdesde que eles pisaram em solo brasileiro.

Nascido no Líbano, o patriarca Habib Salim El Chater veio para o Brasil com 16anos, em 1951. Um irmão dele o aguardava em Goiânia, onde trabalharam comomascates. Algum tempo depois, Salim El Chater voltou à terra natal para casar-secom a prima Maha Fahd Chater, que aqui adotou Margot como primeiro nome. Aindano Líbano, na aldeia de Karm Asfour, distrito de Akkar, no norte do país, eles tiveramtrês dos cinco filhos: Kátia, Habib Chater e Micheline. Eliane e Habib Filho nasceramem solo brasileiro.

A capital federal tinha menos de uma década quando Salim El Chater montou seuprimeiro negócio no DF. Com o dinheiro das vendas em Goiás, ele comprou uma lojana 106 Sul e abriu, no Setor Comercial, um pequeno restaurante, o Frank's, queservia PF no almoço. "Eu tinha 10 anos e o Carlos (Habib Chater), 8. Nessa época játrabalhávamos no restaurante. Meu pai nunca ligou para estudo. Achava que seriamais rentável se ajudássemos no caixa", lembra Kátia. Resultado da influênciapaterna, nem Kátia nem Habib Chater completaram o nível superior, embora elatenha cursado economia no Ceub e ele, odontologia na Foplac. Naquele momento, afamília já estava seduzida pelo lucro fácil. Incentivado por um conhecido cearenseque lhe propôs sociedade, Salim El Chater resolveu vender suas lojas brasiliensespara montar um restaurante de comida típica nordestina em Goiânia, o Boiadeiro.Além da carne de sol e da macaxeira, o estabelecimento oferecia no cardápio umavariedade de jogos de azar.

De volta ao solo candango, no início dos anos 80, os Chater fincaram de vez suasraízes no universo da contravenção. O comércio de alimentos já não os satisfazia e,a exemplo de alguns patrícios, Salim El Chater passou a mexer com câmbio de

dinheiro. Mais tarde, investiria também no jogo de bingo. A fartura de capital quesubsidiaria a diversificação dos negócios começou em 1º de março de 1991, dia emque ele e o filho Habib Chater montaram a empresa Habib Câmbio e Turismo Ltda. Oescritório funcionava numa sala do 3º andar do Venâncio 2000. No mesmo ano, elesconstituíram outras quatro empresas - a Copa, a MH Assessoria, a Joper Materiaispara Escritórios e, por fim, a Fly Turismo. Todas elas amparadas em contratos falsose em nome de laranjas, como demonstrado numa ação penal que denunciou os doispor falsidade ideológica e compra e venda ilegal de moeda estrangeira.

Sem nenhuma preocupação em disfarçar a atividade ilícita, pai e filho acabarampresos em flagrante em 19 de novembro de 1991. Na batida policial, os agenteslevaram, além de uma grande quantia em dólares e cruzeiros, uma arma calibre 38.Àquela altura, no entanto, os Chater já estavam escoltados por amizades poderosase passaram apenas dois dias no xilindró. Salim era compadre do então chefe daPolícia Federal, o também descendente de árabes Romeu Tuma (1931-2010).

Um ano antes da prisão em flagrante, o delegado havia sido padrinho do nababescocasamento de Kátia com outro membro da comunidade libanesa em Brasília, KhaledYoussef Nasr. A família do cunhado de Habib Chater também tem tradição no câmbionegro praticado na capital. Chake, um dos irmãos de Khaled, operou dólarclandestino durante muitos anos na sobreloja de seu bar na 109 Sul, o extintoArabeske. Ele, no entanto, acabaria morto, em 1995, durante um misterioso assalto àsua outra loja de câmbio, no hotel Kubitschek Plaza.

Os incidentes familiares associados às ações furtivas nunca desencorajaram esseslibaneses, que alicerçaram sua trajetória de prosperidade na capital entre quibes,esfihas e dólares furados. Recentemente, Khaled negociava honorários com umescritório de advocacia e testou o bom humor de seus interlocutores: "Vamos baixar100  000 reais deste valor (de 1 milhão de reais). Estamos sem dinheiro e vocês terãodesconto para sempre no melhor quibe de Brasília". Nada feito.

Depois de construírem um império de mansões, carros de luxo, relógios caros sobrea areia movediça do crime organizado, os Chater têm de tirar o escorpião do bolsopara bancar uma defesa capaz de dar nó em pingo d'água. As evidências da políciasão fartas. Escutas telefônicas, depoimentos de laranjas e extratos bancáriosrecontam como a rede de doleiros de Brasília praticava seus crimes e chegou amovimentar nada menos que 124 milhões de reais. "Nas ações da Lava-Jato agimosfeito um trator que sai atropelando tudo sem olhar para trás. Mas há muitos nomesque ficaram de lado e que vamos recolher oportunamente", afirma o procuradorregional da República Januário Paludo. Entre os achados da polícia, consta o vínculode uma empresa de fachada de Habib Chater com os negócios comandados porlaranjas do falecido deputado, também de origem árabe, José Mohamed Janene(1955-2010). Esse último, vale lembrar, foi um destacado provedor do mensalão doPT.

Embora a quadrilha de doleiros com CEP na capital tenha dado a impressão deintegrar um sofisticado esquema criminoso, eles deixaram rastros que fizeramlembrar, por vezes, não A Trapaça, de Fellini, mas a versão do grupo Os Trapalhõespara Ali Babá e os Quarenta Ladrões. No dia em que a reportagem esteve namansão de Kátia e Khaled, enquanto a esposa falava, o marido, de fininho, retiravatrês carrões de sua garagem (dois Mercedes-Benz e um Range Rover). Ao mesmotempo em que Khaled estacionava os possantes em ruas vizinhas à sua, na QI 11 doLago Sul, Kátia dizia que não levava uma vida de rica e que, de uns meses para cá,a coisa estava ficando feia. Isso, realmente, é impossível de esconder.

Revelações da atual mandachuva

Perfil - 2414 (Foto: Roberto Castro)

(Foto: Roberto Castro)

Kátia Chater, que substituiu o irmão nos negócios desde a prisão dele, em marçodoano passado, fala com exclusividade sobre as acusações levantadas contra suafamília

Como foi a adaptação de sua família no Brasil?

Durante um tempo, meus pais vinham e voltavam para o Líbano com frequência. Sómudamos de vez para o Brasil em 1976, depois que nosso país entrou em guerra.Quando chegamos a Brasília, não falávamos português e foi difícil encontrar umaescola. Estudamos no Santa Rosa e, depois, no Marista. Naquele momento, meu paiabriu duas lanchonetes na cidade. Uma no Setor Comercial Sul e a outra no Conic.Eu tinha 10 anos e o Carlos (Habib Chater), 8. Nessa época, já trabalhávamos comele. Meu pai nunca ligou para estudo. Achava que seria mais rentável seajudássemos no caixa. Morávamos todos na 204 Sul, num apartamento de 60metros quadrados.

Em que momento trocaram a modesta residência pelas mansões no Lago?

Nos anos 70, meu pai pegou um financiamento no BNH e comprou um lote na QI 17.Foi uma casa financiada. Naquela época era mais fácil conseguir oportunidades noLago. Não era caro como hoje.

Desde quando a família Chater se tornou proprietária do Posto da Torre?

Quando meu tio Aziz Chater morreu, no início dos anos 2000, a mulher dele, Meire,quis vender o Posto da Torre, que pertencia a eles. Ela fez questão de que o negócioficasse em família, então ofereceu uma ótima condição de pagamento. E foi Carlosquem tocou o negócio, pois meu pai acabou se mudando para Palmas, no Tocantins,onde vive até hoje.

O Posto da Torre foi a galinha dos ovos de ouro de Habib Chater?

Carlos não é esse peixe grande que pensam. É um homem todo endividado. Umaconsulta ao Serasa vai mostrar que ele deve 20 milhões de reais. Quando o posto foicomprado, tinha apenas seis bombas. Ele quis aumentar a estrutura e fez trêsreformas no lugar, que deixaram muitos custos pendentes. Esse é o começo detodos os nossos problemas financeiros.

Nas investigações, Habib Chater é apontado como provedor de dinheiro, não

tomador de empréstimos.

Nosso posto fatura, graças a Deus, 4 milhões de reais por mês. É claro que hámovimento de dinheiro e que isso aparece nas conversas telefônicas. Mas, mesmolevantando essa quantia, estamos no sufoco. No fim do ano, passamos três diasfechados para dar conta de pagar os nossos 64 funcionários. Simplesmente, não tivecapital para comprar combustível.

Qual é a ligação de Habib Chater com as operações cambiais da Valortur?

Nenhuma. Ele só cedeu o espaço para eu trabalhar. Também me ajudava comprojetos, dando desde conselhos para eu resolver problemas na contabilidade atésugestões para campanhas de publicidade das lojas. Carlos tem sempre uma cartana manga, uma boa ideia para movimentar os negócios. No posto, ele já sorteou umMercedes-Benz e um BMW. Meu irmão é igual ao Silvio Santos, extremamentecriativo. Ele só não tem controle financeiro.

E quanto à acusação de que vocês integravam um esquema de lavagem dedinheiro que beneficiou até o tráfico de drogas internacional?

Espera aí, então eu sou traficante, mexo com drogas e ponho o meu CNPJ lá natransferência bancária? Não faz sentido.

Segundo a denúncia do MP, a transferência foi feita em contas de "passagem".

Isso é um exagero. O Carlos é um achado fortuito do juiz Sergio Moro e virou bodeexpiatório para um esquema muito maior do que o tamanho real dele.

A senhora se refere a empresários e políticos?

Conheço bem a cara dos políticos. Nunca recebi nenhum no meu escritório. Se elesfizeram algum negócio comigo ou com o Carlos, mandaram seus motoristas.

Sua cunhada Dinorah, mulher de Habib Chater, também se valeu do motoristanuma sociedade. Acha isso natural?

Para entrar no Simples, precisavam de um sócio. O Dalmo (o motorista de Dinorah eHabib Chater) era uma pessoa próxima. Nada de mais.

Em escuta telefônica, Habib Chater indica ter culpa no cartório ao se espantarcom o fato de não ter sido pego na Operação Miqueias, que prendeu o doleiroFayed Traboulsi. Como negar o óbvio?

Nessa fala, Carlos diz que anda meio afastado, estava se referindo a uma cirurgiapara a retirada de onze pedras nos rins, quando passou quase um mês de repouso.Apenas isso. Não existe uma história mirabolante por trás. Carlos só tem o posto, acasa dele e o flat no Brasil 21. Não somos como o Fayed, que tem até iate. Nãoostentamos.

Por que nas conversas telefônicas só se tratavam por codinomes? Isso não écoisa de bandido?

(Risos) Não. O pessoal só me chama de Kaká. É apelido.

Mas seu irmão usava Zezé. O que tem a ver com Carlos Habib Chater?

Não sei. É um nome da preferência dele.

Sua família lucrou muito com as casas de jogos?

Só deu prejuízo. Tivemos o Bingo da Torre e o Alvorada. Mas, em pouco tempo,precisamos fechar porque a atividade foi proibida. Você não imagina o que écontratar 120 funcionários e, da noite para o dia, ser obrigada a dispensar todo essepessoal. Nosso passivo trabalhista explodiu.

Qual é a relação da família com Alberto Youssef?

Quando a coisa apertava era o Beto que, de vez em quando, acudia a gente. Só queeu nunca soube algo sobre o trabalho dele. Nem sabia que o Beto era o AlbertoYoussef. Fui descobrir quando ele começou a aparecer na televisão.

Como definiria o seu irmão Habib Chater?

É uma pessoa dócil e de hábitos muito simples. Pacato, ele não gosta de festas enão frequenta a sociedade. Vive para a família e para o trabalho. Acordava com asgalinhas e costumava ficar naquele posto das 7 da manhã às 7 da noite. Nuncaviajou na classe executiva, acredita? Jamais se alterou com alguém. A simpatia deledesarma. Eu diria que ele é uma moça. O que estão fazendo com meu irmão é darum tiro de canhão numa formiga. Tratar a gente como família de mafiosos não tem omenor cabimento.

A senhora tem visitado o seu irmão na cadeia?

Muitas vezes. Somos como unha e carne. Eu sempre cuidei de vários assuntospessoais do Carlos, até do plano de saúde dele. Levei para ele toda a coleção doKen Follett e alguns livros daquele russo, o...

Dostoiévski (autor de Crime e Castigo)?

Isso. Dostoiévski. Ele está adorando.

Considera-se rica?

Rica de parar de trabalhar, não. A gente leva uma vida honesta, mas, ultimamente, onegócio está muito difícil. O dinheiro entra e os bancos já recolhem na fonte. Comodizem por aí, estamos vendendo o almoço para comprar o jantar.

Perfil - 2414 (Foto: VEJA BRASÍLIA)

Endereços suspeitos

Locais que abrigaram transações de câmbio e jogos de azar sob a administração dosChater

Perfil - 2414 (Foto: Wellington Nemeth)

(Foto: Wellington Nemeth)

Antes de pertencer a Habib Chater, o Posto da Torre, no Setor Hoteleiro Sul, foi deAziz, tio do doleiro. No início dos anos 2000, com a morte dele, o sobrinho assumiu eampliou esse estabelecimento, que se tornou um dos endereços mais movimentadosno universo do câmbio clandestino brasiliense.

Perfil - 2414 (Foto: Michael Melo)

(Foto: Michael Melo)

Vizinho do Posto da Torre, o terreno que hoje abriga a churrascaria Fogo de Chão jáesteve ligado aos negócios dos Chater. Ali funcionava o Bingo da Torre, casa deapostas que tinha como ponto alto as máquinas caça-níqueis.

Perfil - 2414 (Foto: Michael Melo)

(Foto: Michael Melo)

André Luís Paula dos Santos, uma espécie de carregador de malas de Habib Chater,integra a sociedade da Árabe Mercearia Brasil 21. A loja foi beneficiária de depósitosvultosos efetuados pelo doleiro. Depois da Lava-Jato, o empório situado no Brasil 21mudou de nome.

Perfil - 2414 (Foto: Michael Melo)

(Foto: Michael Melo)

Entre as empresas ligadas aos Chater consta o Posto do Recanto das Emas, cujapropriedade foi repassada a Márcia Regina Traboulsi, mulher do doleiro FayedTraboulsi. Desde que Habib Chater saiu do negócio, porém, o posto continuou sob aadministração do laranja Ediel Viana.

Perfil - 2414 (Foto: Michael Melo)

(Foto: Michael Melo)

O Bingo Alvorada, hoje sede da boate Asiático, também pertenceu a Habib Chater.Esse extinto ponto de jogos, na frente do shopping Liberty Mall, não durou muito. Emfevereiro de 2004, o governo federal proibiu a operação de casas desse tipo.

Perfil - 2414 (Foto: VEJA BRASÍLIA)

(Ilustrações das fotos: Kácio Pacheco)

Laranjal carregado

Familiares e funcionários eram usados no esquema

1 - Dalmo Pitão

Foi caseiro e hoje trabalha como motorista da família de Habib Chater. Morador deSamambaia, ele figura como sócio da mulher do patrão na Torre Comércio deAlimentos, firma na qual tem participação de 91%.

2 - Dinorah Abrão

Mulher de Habib Chater, aparece como sócia dele em três empresas. Emdepoimento à polícia, no entanto, Dinorah disse que o marido é quem de fatogerencia os negócios da família.

3 - Ediel Viana

Ex-funcionário do Posto da Torre e considerado braço-direito do doleiro, tem em seunome uma padaria no Rio de Janeiro e sete lavanderias em Brasília, além de umaprestadora de serviços, a Angel. As firmas serviram como empresas de fachada paraoperações financeiras clandestinas lideradas por Habib Chater.

4 - Luciana Silva

Ex-mulher de Ediel, ela integra o quadro societário da Angel e, assim como o ex-marido, trabalhou no Posto da Torre. A Angel teve papel fundamental nasinvestigações. A partir dessa firma, os policiais descobriram o vínculo com umaempresa de fachada ligada a laranjas do ex-deputado falecido José Janene.

5 - Helton Rodrigo

Era um dos motoristas do Posto da Torre. Em nome dele, a polícia descobriu umdepósito da Dunel Indústria e Comércio Ltda., empresa que recebeu aportefinanceiro também por meio de laranjas de José Janene.

6 - Magna Gean

Trabalhou como gerente no Posto da Torre e, junto com o marido, Gilson Ferreira, ésócia da Angel, empresa de Ediel Viana.

Perfil - 2414 (Foto: Arquivo pessoal)

Clã em festa: o patriarca Salim El Chater (o primeiro à esq.), com a mulher,Maha (de cabelos vermelhos), as filhas, Eliane, Kátia e Micheline, e os filhos,Habib Filho (no centro) e Habib Chater (Foto: Arquivo pessoal)

Perfil - 2414 (Foto: VEJA BRASÍLIA)

A residência do motorista Dalmo Pitão, em Samambaia, e a mansão do casalDinorah e Habib Chater, no Lago Norte: o funcionário e Dinorah são sócios; elecom 91% das ações, ela com 9% (Fotos: Michael Melo e Roberto Castro)

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