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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto de Matemática - PEMAT
Doutorado em
Ensino e História da Matemática e da Física
A Ação de Ledores Diante de Questões de Matemática em
Avaliações Públicas
Doutorando: Ledo Vaccaro Machado
Orientadora: Claudia Coelho de Segadas Vianna
iii
LEDO VACCARO MACHADO
A AÇÃO DE LEDORES DIANTE DE QUESTÕES DE MATEMÁTICA
EM AVALIAÇÕES PÚBLICAS
DOUTORADO EM ENSINO E HISTÓRIA DA MATEMÁTICA E DA
FÍSICA
UFRJ
RIO DE JANEIRO
2020
v
LEDO VACCARO MACHADO
A AÇÃO DE LEDORES DIANTE DE QUESTÕES DE MATEMÁTICA
EM AVALIAÇÕES PÚBLICAS
Tese de Doutorado apresentada à banca examinadora como exigência para obtenção do título de Doutor em Ensino e História da Matemática e da Física, sob orientação da Profª. Dra. Claudia Coelho de Segadas Vianna
UFRJ RIO DE JANEIRO
2020
vii
CIP – Catalogação de Publicação
Elaborado pelo sistema de Geração Automática da UFRJ com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)
ix
LEDO VACCARO MACHADO
A AÇÃO DE LEDORES DIANTE DE QUESTÕES DE MATEMÁTICA
EM AVALIAÇÕES PÚBLICAS
Tese de Doutorado apresentada à banca examinadora como exigência para obtenção do título de Doutor em Ensino e História da Matemática e da Física, sob orientação da Profª. Dra. Claudia Coelho de Segadas Vianna
Aprovado em 04 de fevereiro de 2020.
Claudia Coelho de Segadas Vianna, Doutora, IM-UFRJ
João Ricardo Melo Figueiredo, Doutor, IBC
Rodrigo Pereira da Rocha Rosistolato, Doutor, FE-UFRJ
Victor Augusto Giraldo, Doutor, IM-UFRJ
Marta Feijó Barroso, Doutora, IF - UFRJ
xi
DEDICATÓRIA
Aos Ledores, Transcritores e Adaptadores das provas. A todos
cujo trabalho e empenho são trincheiras na luta por uma sociedade
mais justa, com o reconhecimento das diferenças. A eles que
tornaram essa tese possível.
xiii
AGRADECIMENTOS
Uma tese como essa mão se consubstancia sem a participação de muitos que, em sua maioria, não são laureados ao término do trabalho. É a eles que direciono meus agradecimentos. A Cláudia Segadas, que foi colega no curso de graduação e hoje me orienta na consecução dessa tese. Aos componentes da banca de avaliação cujas observações foram tão prestimosas. À Fundação Cesgranrio, sobretudo na pessoa de Ana Letichevsky, que me liberou as tardes das quartas-feiras no primeiro ano de Doutorado para que eu cursasse as disciplinas e que viabilizou tempo para elaboração da tese. À organização da OBMEP, nas pessoas de Tavene Almeida, Erika Sholl e Cláudia Vasconcelos, que disponibilizaram com a maior presteza as provas adaptadas para Ledor. Ao professor Jean Renato Lira que resolveu e confrontou todas as questões de Matemática das provas do ENEM analisadas. À professora de Português Marlene de Araujo que leu e comentou os textos desse trabalho. Ao professor Rodrigo Pereira da Rocha Rosistolato que encaminhou a pesquisa em um momento no qual as dúvidas estavam dificultando os passos. Ao professor Dário Aguirre cuja entrevista em muito enriqueceu as análises presentes nesse trabalho. À professora Flávia Landim cujas observações sobre gráficos e tabelas orientaram a elaboração dos textos. Ao professor Vinícius de Castro cujas observações foram importantes nas análises presentes nesse trabalho. Às professoras Glória Elena Pereira Nunes e Carmen Branco pelo apoio na revisão de textos em inglês. A Carla Dawidman pelas sugestões concernentes à formatação das referências bibliográficas.
xv
RESUMO
MACHADO, L. V. Ação de Ledores Diante de Questões de Matemática em Avaliações Públicas.2020. 683p. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-graduação em Ensino e História da Matemática e da Física, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020. Palavras-chave: Ledor. Inclusão. Avaliação Pública. Adaptação de Provas.
O Ledor é um profissional que atua em avaliações públicas para viabilizar a participação de pessoas que estão impedidas, permanentemente ou temporariamente, de ler ou manipular a prova. Sua função é quebrar a barreira entre a prova e a pessoa que está sendo atendida. Quando quem está sendo atendido é uma pessoa com deficiência visual, sua função precípua é transformar o mundo visível em som. Com o advento da inclusão, aumentou a participação de pessoas com deficiência visual em avaliações públicas e, com o desenvolvimento da tecnologia, aumentaram os apelos visuais nas provas. Como consequência, tornou-se necessário um maior número de Ledores e uma maior qualificação desses Ledores. Por outro lado, um dos princípios básicos das avaliações públicas é o princípio da isonomia; é a pressuposição da equidade entre os participantes. Sem a assistência de um Ledor, a resolução das questões de uma prova ocorre através da relação direta entre a prova e o participante. Com um Ledor, um mediador aparece, e a interferência desse mediador no processo de isonomia deve ser investigada, o que se constitui como proposta desse trabalho. Com o objetivo de minimizar a interferência das idiossincrasias dos Ledores nas descrições de imagens e leituras de símbolos, algumas organizações responsáveis por avaliações passaram a usar uma prova adaptada para Ledor, uma prova na qual as imagens e os símbolos são descritos por um adaptador, que acaba sendo mais um mediador entre a prova e o participante. A equivalência entre a prova convencional e a prova adaptada é mais um elemento investigado nesse trabalho. O objetivo desse trabalho é verificar a satisfação do princípio da isonomia (equidade) diante das ações dos Ledores e das provas adaptadas. Para desenvolver essas investigações, foram analisadas as questões de Matemática das provas do ENEM de 2016, de 2017 e de 2018, e as questões do nível 3 da OBMEP dos mesmos anos. Além disso, foram realizadas entrevistas com um Ledor e com um coordenador/tutor de um curso de qualificação de Ledores. Concluiu-se, ao final das investigações, que a garantia da isonomia (equidade) não se faz possível diante da complexidade que envolve as ações dos Ledores e a adaptação das provas.
Palavras-chave: Ledor. Inclusão. Avaliação Pública. Adaptação de Provas.
xvii
ABSTRACT
MACHADO, L. V. Action of Readers Facing Mathematics in Public Assessiments.2020. 683p. Thesis (doctorate) - Postgraduate Program in Teaching and History of Mathematics and Physics, Federal University of Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2020.
Keywords: Ledor. Inclusion. Public Evaluation. Test Adaptation.
Ledor is a professional who works in public assessments enabling the participation of students who are permanently or temporarily unable to read or manipulate the tests. His/Her function is to break the barrier between the test and the person who is being attended. When the person that is attended is visually impaired, hisprimary function is to turn the visible world into sound. With the advent of inclusion, the participation of visually impaired person in public assessments has increased, and with the development of technology, the visual appeal in the tests has increased too. As a result, a greater number of Ledores and a higher qualification of these Ledores became necessary. On the other hand, one of the basic principles of public evaluations is the principle of isonomy; it is the assumption of equity among the participants. Without the assistance of a Ledor, the resolution of the questions of a test occurs through the direct relationship between the exam and the participant. With a Ledor, a mediator appears, and the interference of this mediator in the process of isonomy must be investigated, which constitutes the proposal of this work. In order to minimize the interference of Ledor idiosyncrasies in image descriptions and symbol readings, some evaluating organizations have used an adapted test to the Ledor, a test in which an adapter, which turns out to be another mediator between the test the participant, describes images and symbols. The equivalence between the conventional test and the adapted test is one more element investigated in this work. The objective of this work is to verify the satisfaction of the principle of isonomy (equity) facing the actions of Ledores and the adapted tests. In order to develop these investigations, the mathematics questions of the 2016, 2017 and 2018 ENEM tests and the OBMEP level 3 questions of the same years were analyzed. In addition, interviews were conducted with a Ledor and a coordinator/tutor of a Ledor qualification course. It was concluded, at the end of the investigations, that the guarantee of isonomy (equity) is not possible due to the complexity that involves the actions of Ledores and the adaptation of tests.
Keywords: Ledor. Inclusion. Public Evaluation. Test Adaptation.
xix
ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 - Congruência entre imagem e descrição 18
Figura 2 - Percentual de sucesso em tradução para linguagem simbólica 22
Figura 3 – Mapa de percepção visual 27
Figura 4 - Charge de prova de Língua Portuguesa 35
Figura 5 - Redes de computadores 37
Figura 6 – Gráfico: teoria 3D de gestão 38
Figura 7 - Esfera submersa em um líquido 40
Figura 8 - Mapa de curas de complexa descrição 41
Figura 9 - Retas em um sistema cartesiano 42
Figura 10 - Três cenários de investimento 43
Figura 11 - Tabela de vazão de afluente 44
Figura 12 - Descrição de tabela elemento a elemento 46
Figura 13 - Tabela presente nas opções 47
Figura 14 - Cargas elétricas puntiformes 52
Figura 15 - Charge de prova de Língua Portuguesa 56
Figura 16 - Mapa com navio e marca do tesouro 61
Figura 17 - Roda gigante e senoide 63
Figura 18 - Cartão resposta 64
Figura 19 - Pilhas e lâmpadas conectadas 19
Figura 20 - Guernica de Picasso 72
Figura 21 - Guernica de Picasso dividida em setores 73
Figura 22 - Charge JK e Jeca 74
Figura 23 - Primeira questão da entrevista 89
Figura 24 - Segunda questão da entrevista 90
Figura 25 – Terceira questão da entrevista 90
Figura 26 - Quarta questão da entrevista 91
Figura 27 - Gráfico com duas senoides 118
Figura 28 - Tabela de população por Grandes Regiões 119
Figura 29 - Reservatório dividido em três compartimentos 120
Figura 30 - Medidor de nível de combustível 121
Figura 31 - Gráfico pluviosidade, temperatura máxima e temperatura mínima 121
xx
Figura 32 - Gráfico de setores e gráfico de linha 125
Figura 33 - Mapa das quadras de um bairro 126
Figura 34 - Coroa e catraca de bicicleta 127
Figura 35 - Dois mirantes unidos por teleférico 128
Figura 36 - Igreja de São Francisco de Assis, Pampulha 129
Figura 37 – Taça 1 129
Figura 38 - Disposição de quatro taças em uma bandeja 130
Figura 39 – Taça 2 130
Figura 40 - Compasso traçando um círculo 131
Figura 41 – Gráfico de volume de água armazenada 132
Figura 42 – Taça Fifa 134
Figura 43 – Prisma triangular reto 134
Figura 44 – Termômetro 135
Figura 45 - Diagrama de conjunto: solução 1 138
Figura 46 - Diagrama de conjunto: solução 2 139
Figura 47 - Diagrama de conjunto: solução 3 139
Figura 48 - Gráfico com dois segmentos 140
Figura 49 - Logotipo ECO 142
Figura 50 - Malha formada por circunferências 143
Figura 51 - Pontos sobre um triângulo no sistema cartesiano 144
Figura 52 - Garagem, rampa e portão 145
Figura 53 - Figura geométrica: retângulo e triângulo 155
Figura 54 – Pilha de quadradinhos 156
Figura 55 – Quadriculado 3 por 3 156
Figura 56 – Dado que se desloca 157
Figura 57 – Anéis concêntricos 157
Figura 58 – Quadrados concêntricos 158
Figura 59 – Três quadriculados 2 por 3 162
Figura 60 – Triângulo equilátero com pontos sobre os lados 163
Figura 61 – Triângulos e pontos médios de seus lados 1 164
Figura 62 – Triângulos e pontos médios de seus lados 2 164
Figura 63 – Região limitada por segmento e arcos de circunferência 165
Figura 64 – Ponto P que se desloca sobre poligonal 1 165
Figura 65 – Ponto P que se desloca sobre poligonal 2 166
xxi
Figura 66 – Tabela com soma dos números de cada linha 169
Figura 67 – Gráfico radar 170
Figura 68 – Tabela descritiva do gráfico radar 171
Figura 69 – Jarras com água 169
Figura 70 – Área de região sombreada sobre um triângulo retângulo 1 172
Figura 71 – Área de região sombreada sobre um triângulo retângulo 2 173
xxii
ÍNDICE DOS QUADROS
Quadro 1 - Classificação das questões de Matemática das provas do ENEM de 2016, 2017 e 2018 149
Quadro 2 - Respostas ao crivo de análise das provas do ENEM de 2016, 2017 e 2018 151
Quadro 3 - Classificação das questões da fase1 do nível 3das provas da OBMEP de 2016, 2017 e 2018 176
Quadro 4 - Classificação das questões da fase2 do nível 3 das provas da OBMEP de 2016, 2017 e 2018 176
Quadro 5 - Classificação das questões das duas fases do nível 3 das provas da OBMEP de 2016, 2017 e 2018 177
Quadro 6 - Respostas ao crivo de análise das provas da fase 1 do nível 3 da OBMEP de 2016, 2017 e 2018 180
Quadro 7 - Respostas ao crivo de análise das provas da fase 2 do nível 3 da OBMEP de 2016, 2017 e 2018 180
Quadro 8 - Respostas ao crivo de análise das provas das duas fases do nível 3 da OBMEP de 2016, 2017 e 2018 180
xxiii
SUMÁRIO
1 – APRESENTAÇÃO 1
2 – A INCLUSÃO 6
2.1 – Introdução 6
2.2 – A pessoa com deficiência visual 6
2.3 – A percepção social das diferenças 8
3 – LER 11
3.1 – Introdução 11
3.2 – Ler (verbo bitransitivo) 11
3.3 – Lendo imagens 15
3.4 – Lendo Matemática 20
4 – ADAPTAÇÕES DE AVALIAÇÕES PÚBLICAS
PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL 25
4.1 – Introdução 25
4.2 – Prova Ampliada 26
4.3 – Prova em Braille 29
4.3.1 – Sobre a forma da prova 29
4.3.2 – Texto 30
4.3.3 – Imagem 35
4.3.3.1 – Charges, quadrinhos, desenhos e esquemas 35
4.3.4 – Tabelas 43
4.4 - Prova a Ser Lida por um Programa de Computador 48
4.4.1 – O NVDA e o DOSVOX 49
4.4.2 – Sobre a forma da prova 50
4.4.3 – Texto 51
4.4.4– Imagem e Tabelas 55
4.4.4.1 - Charges, quadrinhos, desenhos e esquemas 56
4.4.4.2 – Símbolos 57
4.5 – Prova a Ser Lida por um Ledor 60
4.6 – Produção de Respostas 64
4.6.1 – Registro das respostas às questões de múltipla escolha 64
4.6.2 – Redação e questão discursiva 65
xxiv
5 – O LEDOR 67
5.1 – Introdução 67
5.2 – O curso de Ledor 67
5.3 – As ações do Ledor 69
6 – METODOLOGIA 79
6.1 – Introdução 79
6.2– Seleção de dados e escolha metodológica 79
6.3 – Entrevistas 88
7 – ENTREVISTAS COM OS ATORES 94
7.1 – Introdução 94
7.2 – Entrevista com coordenador/tutor de um curso de formação de Ledores 94
7.3 – Entrevista com Ledor 108
8 – ANÁLISE DE QUESTÕES 114
8.1 – Introdução 114
8.2 – ENEM 2016 115
8.3 – ENEM 2017 123
8.4 – ENEM 2018 137
8.5 – As três provas analisadas do ENEM 148
8.6 – OBMEP 2016 153
8.7 – OBMEP 2017 160
8.8 – OBMEP 2018 168
8.9 – As três provas analisadas da OBMEP 175
9 – CONCLUSÃO 182
REFERÊNCIAS 188
APÊNDICES 194
1 – Quadro resumo da classificação e da análise das questões
selecionadas do ENEM 2016 194
2 – Quadro resumo da classificação e da análise das questões
selecionadas do ENEM 2017 195
xxv
3 – Quadro resumo da classificação e da análise das questões
selecionadas do ENEM 2018 196
4 – Quadro resumo da classificação e da análise com todas as
questões do ENEM 2016. 197
5 – Quadro resumo da classificação e da análise com todas as
questões do ENEM 2017 198
6 – Quadro resumo da classificação e da análise com todas as
questões do ENEM 2018 199
7 – Quadro resumo da classificação e da análise das questões
selecionadas da fase1 e da fase 2 do nível 3 da OBMEP 2016 200
8 – Quadro resumo da classificação e da análise das questões
selecionadas da fase1 e da fase 2 do nível 3 da OBMEP 2017 201
9 – Quadro resumo da classificação e da análise das questões
selecionadas da fase1 e da fase 2 do nível 3 da OBMEP 2018 202
10 – Quadro resumo da classificação e da análise de todas as
questões da fase1 e da fase 2 do nível3 da OBMEP 2016 203
11 – Quadro resumo da classificação e da análise de todas as
questões da fase1 e da fase 2 do nível 3 da OBMEP 2017 204
12 – Quadro resumo da classificação e da análise de todas as
questões da fase1 e da fase 2 do nível 3 da OBMEP 2018 205
13 – Questões analisadas do ENEM 2016 206
14 – Questões analisadas do ENEM 2017 296
15 – Questões analisadas do ENEM 2018 375
16 – Questões analisadas do OBMEP 2016 449
17 – Questões analisadas do OBMEP 2017 509
18 – Questões analisadas do OBMEP 2018 561
19 – Íntegra da entrevista com coordenador/tutor de um curso de
formação de Ledores 607
20 – Íntegra da entrevista com Ledor 640
xxvi
ANEXOS 654
1 – Parecer do Portal Brasil 654
2 – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Dário Aguirre) 655
3 – Termo de Autorização de Uso de Nome, Imagem e Voz (Dário Aguirre) 657
1
1 - APRESENTAÇÃO
Há alguns anos que minha principal tarefa profissional é a análise e a elaboração
de avaliações públicas (vestibulares, concursos, ENEM, ENADE). A demanda exige que
me envolva com outras atividades, e uma delas é a adaptação de provas a pessoas com
deficiência visual, o que acabou permitindo a elaboração da proposta de trabalho que me
levou ao Doutorado no PEMAT, UFRJ.
A adaptação de provas não se resume em elaborar uma avaliação para pessoas
com deficiência visual. O que se apresenta é a conversão de uma prova escrita em texto
corrido e cheia de apelos visuais para outros instrumentos: o registro em Braille e a
adaptação para a leitura do texto através de um computador ou através de Ledores. Um
dos princípios que norteiam as adaptações é que as versões da prova para pessoas com
deficiência visual e para videntes não se distingam quanto aos conteúdos focalizados ou
aos critérios de correção, visto que um dos alicerces de uma avaliação pública é a
isonomia, princípio que reconhece condições iguais de participação para todos os
candidatos. Exatamente na isonomia encontra-se o foco das dificuldades: como garantir
a isonomia entre pessoas que acessam as informações através de instrumentos diferentes?
Como garantir a equivalência de um mesmo instrumento de avaliação apresentado em
modalidades de registros diferentes (texto convencional, Braille, áudio, Ledor)?
Avolumam-se as pesquisas e as ações na direção de uma sociedade inclusiva.
Avolumam-se os trabalhos objetivando a construção de uma escola inclusiva. Foi
cunhado o termo “matemática inclusiva” para abarcar ações e estudos concernentes às
Matemáticas que buscam a inclusão. Entretanto, não basta criar uma escola inclusiva.
Aquele que termina os estudos da escola básica, por certo, quer entrar no mercado de
trabalho ou dar continuidade aos estudos em um centro de pesquisa ou em uma
universidade. O acesso aos centros de pesquisa e às universidades e aos melhores postos
no mercado de trabalho quase sempre se torna possível através de um concurso, de uma
avaliação pública. Não viabilizar a participação das pessoas com deficiência visual a tais
avaliações é não dar terminalidade, ou continuidade, ao seu ensino básico. O acesso às
avaliações públicas torna-se fundamental na construção de uma sociedade inclusiva.
A questão inicial de pesquisa era “Até que ponto e sobre quais condições é
possível adaptar questões elaboradas para videntes (pessoas com visão normal) para
pessoas com deficiência visual, garantindo a equivalência entre as duas versões?”.
Inscrevi-me em um curso de Ledor, que são pessoas que têm por função ler provas para
2
aqueles com deficiência visual. Até então, das possibilidades de adaptação de provas para
pessoas com deficiência visual, a que menos me chamava a atenção era a ação do Ledor.
O curso mudou minha percepção: os desafios encontrados por um Ledor fizeram-se
presentes. Com anuência de minha orientadora, mudei a questão de pesquisa:
Quais as ações dos Ledores nas avaliações públicas? Tais ações, em conjunto
com as adaptações, garantem a isonomia (equidade) com as provas convencionais?
A demanda pela ação de Ledores vem se acentuando. De 2009 a 2017, o Exame
Nacional do Ensino Médio registrou um aumento de 1800% na solicitação de
Ledores/Transcritores (AGUIRRE, 2019). Em 2018, houve solicitação de 6320 auxílios
para leitura, dos quais 5652 foram confirmadas (INEP, 2017A).
Nos últimos anos, algumas provas, entre as quais as do ENEM (Exame Nacional
do Ensino Médio) e as provas da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das
Escolas Públicas), vêm sendo adaptadas para os Ledores, ou seja, nessas provas, as figuras
e boa parte das fórmulas (de Matemática, de Química e de Física) são transformadas em
textos corridos e os Ledores recebem uma prova (a prova do Ledor) sem figuras e com
um número menor de apelos visuais. Por certo, a prova do Ledor aumenta a isonomia
entre as pessoas com deficiência visual, reduzindo as peculiaridades das leituras de cada
Ledor, mas não necessariamente entre essas pessoas e os videntes, já que alguém teve de
converter as figuras em texto e, mesmo que em menor escala, o problema da isonomia
persiste. Além disso, nem todas as avaliações públicas possuem uma prova de Ledor: há
avaliações nas quais os Ledores recebem uma prova idêntica a dos videntes, com figuras,
gráficos, tabelas e fórmulas que devem ser transformadas em texto na hora da aplicação
da prova pelo Ledor.
Para dar prosseguimento à pesquisa, perscrutaram-se questões de provas aplicadas
por Ledores. As questões adaptadas foram comparadas com as não adaptadas, analisando-
se a equivalência entre elas. Cabe esclarecer que, em avaliações públicas, os Ledores têm
acesso às questões no mesmo instante que os candidatos, ou seja, ele só sabe da questão
na hora de lê-la. Portanto, a estratégia de leitura de um gráfico, de uma tabela, figura ou
fórmula é decisão tomada no momento da leitura, ou em poucos instantes antes da leitura,
em sala na qual atuam dois Ledores (enquanto um lê, o outro pensa nas questões que lhe
cabem). Complementando o quadro que permita refletir mais fidedignamente sobre a
questão de pesquisa, fizeram-se entrevistas com atores desse universo: o Ledor e o
3
coordenador de um curso de capacitação de Ledores. Dessa forma, acumularam-se dados
suficientemente relevantes para consecução de respostas à questão de pesquisa.
Uma dificuldade com a qual nos deparamos é o parco material sobre Ledor
encontrado. Especificamente sobre Ledor, encontraram-se três pesquisas bastante
recentes, duas ligadas à Linguística: uma delas é a dissertação de mestrado O
Desempenho do/a Ledor/a em Situações de Prova em Tinta Junto a Pessoas Cegas (PC),
de Zuleide Maria Santiago Guimarães, defendida na Universidade Federal de Campina
Grande, Paraíba (GUIMARÃES, 2009); a outra é a tese de doutorado Ouvir Ler o
(In)Visível, de Rita de Cássia Rodrigues Oliveira, defendida na Universidade Federal do
Rio de Janeiro, (OLIVEIRA, 2016). A terceira pesquisa é a dissertação de mestrado
apresentada em fevereiro de 2019, na Universidade Católica de Brasília, por Dário de
Ávila Aguirre, essa diretamente ligada à formação de Ledores: As Capacitações de
Ledores e Transcritores para Inclusão e Acesso em Processos Seletivos à Educação
Superior: a Percepção dos Egressos, (AGUIRRE, 2019). Parece que as ações dos Ledores
começaram a despertar a atenção dos centros de pesquisa há pouco tempo.
Diante dessa dificuldade, a opção foi buscar bibliografias que fundamentassem a
pesquisa, mas que não tratassem diretamente do Ledor. Bibliografias que tratassem do
significado do ato de ler; da interferência de quem lê no significado dado à leitura; das
características da leitura de imagem; dos limites da oralidade de textos matemáticos.
Além disso, lançou-se mão de textos oficiais, encontrados no sítio do INEP e do MEC,
de manuais de boas práticas e de cadernos de preparação de Ledores.
Esse material foi produzido com o objetivo de cumprir as exigências do Doutorado
em Ensino e História da Matemática e da Física, do PEMAT, e divide-se em nove partes:
1. Apresentação;
2. A Inclusão;
3. Ler
4. Adaptações de Avaliações Públicas para Pessoas com Deficiência Visual;
5. O Ledor;
6. Metodologia;
7. Entrevistas com os Atores;
8. Análise de Questões;
9. Conclusão.
4
Diversas são as publicações, dentre as quais se incluem dissertações de mestrado
e teses de doutorado, que relatam a evolução do processo de inclusão nas escolas e na
sociedade como um todo. Para não ser repetitivo, e entendendo fazer-se necessário um
capítulo que apresentasse um posicionamento diante da inclusão, produziu-se
A Inclusão. Nesse capítulo, apresenta-se a pessoa com deficiência visual e defende-se
que a inclusão escolar só se concretiza com a construção de uma sociedade inclusiva.
Ler é o capítulo no qual a fundamentação teórica do trabalho é apresentada. Desde
a apresentação do projeto de pesquisa à Banca de seleção ao doutorado, havia sido
chamada a atenção para dificuldade de obter bibliografia sobre o assunto — adaptação de
provas para pessoas com deficiência visual e, mais especificamente, as ações dos Ledores
nas avaliações públicas. Durante todo o processo de pesquisa e de revisão bibliográfica,
a dificuldade não se dirimiu. Entretanto, se por um lado essa escassez de material é um
problema, por outro, ela aumenta a relevância da pesquisa, dado que participa da abertura
de um novo campo de pesquisa.
Esse capítulo divide-se em três partes:
Ler (verbo bitransitivo) — discute o que é “texto”, com atenção no
formato das avaliações públicas, defende e define qual a concepção do ato de ler tais
textos e discute a subjetividade da leitura.
Lendo Imagens — discute especificamente o ato de ler imagens, a escolha
do sentido dado à imagem por quem escolhe o caminho através do qual a leitura será feita.
Defende-se que a descrição é um ato de significação da imagem, eliminando a isenção
daquele que descreve.
Lendo Matemática — trata da leitura de simbologia Matemática e
justifica-se por serem as provas de Matemática o foco desse trabalho. Chama-se a atenção
para a ausência da oralidade endógena da Matemática e para o fato de ser exatamente na
oralidade que se concretiza a ação do Ledor.
Em Adaptações de Avaliações Públicas para Pessoas com Deficiência Visual,
descrevem-se três adaptações usadas em avaliações públicas: a prova ampliada, a prova
em Braille e a prova lida por programas de computadores. Esse capítulo, além da
relevância para a pesquisa por contextualizar o universo das provas para pessoas com
deficiência visual, é particularmente importante por publicitar um material que só existe
em entidades que têm por função providenciar tais adaptações. A bem da verdade, uma
quarta adaptação é abordada nesse capítulo, a prova a ser lida por um Ledor, mas essa
5
abordagem é feita de maneira bem sucinta, haja vista que o capítulo seguinte abordará
pormenorizadamente o Ledor, foco dessa pesquisa.
No capítulo O Ledor são apresentadas as exigências e os limites impostos a um
Ledor quando atua em uma avaliação pública. Esse capítulo traz à tona a complexidade
das ações do Ledor e das adaptações de provas para Ledores, justificando a escolha do
tema de pesquisa.
O capítulo Metodologia fundamenta-se na Análise de Conteúdo, de Roque
Moraes (MORAES, 1999). Nele estão pormenorizados a forma de seleção do material a
ser analisado e os critérios usados na análise do material selecionado. Descreve-se,
também, uma proposta de entrevista com os atores dessas avaliações.
Em Entrevistas com os Atores, discutem-se os pontos relevantes e são tecidas
considerações sobre as posições defendidas por dois entrevistados: Dário Aguirre,
responsável por um curso de certificação de Ledores, e Marcos Cavalcante, um professor
da área humana que atua como Ledor. A íntegra das entrevistas encontra-se nos
apêndices.
Foram consideradas as provas do ENEM de 2016, de 2017 e de 2018 para terem
suas questões de Matemática analisadas. Também foram consideradas as provas do nível
3 da OBMEP de 2016, de 2017 e de 2018. No capítulo Análise de Questões, analisam-
se separadamente as provas desses três anos, levando em consideração somente as
questões selecionadas. Ao final das considerações feitas sobre as três provas do ENEM,
comparam-se os três anos observados, considerando-se todas as questões de cada uma
das provas e não somente as selecionadas. O mesmo procedimento é seguido com relação
às provas da OBMEP.A íntegra das análises de cada uma das questões pode ser
encontrada nos apêndices desse trabalho.
Na parte final do trabalho, Conclusão, a partir da observação do que foi
apresentado em todo o trabalho, elabora-se uma proposta de ação e discute-se possíveis
desdobramentos de estudos.
Esse trabalho, assim se espera, trará contribuições para a elaboração de provas que
respeitem o princípio da isonomia e que permitam a participação efetiva de pessoas com
deficiência visual nas avaliações públicas. Além disso, tem-se a expectativa de contribuir
para o aperfeiçoamento dos cursos de preparação de Ledores.
É na participação de todos que se constrói a identidade de cada um: faça-se uma
sociedade inclusiva.
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2–A INCLUSÃO
2.1 – Introdução
O objetivo maior desse trabalho é caminhar na direção da construção de uma
sociedade inclusiva. Em especial, é fomentar a inclusão da pessoa com deficiência visual.
Nesse capítulo, aborda-se o conceito de “deficiente visual” a partir da forma através da
qual a pessoa com deficiência visual se relaciona com o meio que o cerca. Além disso,
discute-se a construção social do conceito de inclusão.
2.2 – A pessoa com deficiência visual
Imagine-se uma pessoa cega congênita que reconhece a esfera e o cubo através do
tato. Essa pessoa é submetida, na idade adulta, a uma cirurgia que lhe propicia o sentido
da visão. Posta diante de um cubo e de uma esfera, sem tocá-los, essa pessoa identifica
esses objetos? Essa questão foi proposta por William Molyneuxno século XVII em uma
carta a John Loocke.
Sem aventar uma resposta à pergunta precedente, o ato de ver não está restrito aos
órgãos da visão. Ver relaciona-se com uma construção diária de significados, com um
acervo de experiências e imagens que trazem significado ao que é visto (FIGUEIREDO,
2014, p.51). Em outras palavras, não nascemos sabendo ver, aprendemos a ver. E para
que vemos? Vemos para sobrevivermos; vemos para nos adaptarmos ao meio físico e
social no qual estamos imersos. A visão, junto com os demais sentidos, nos dá informação
sobre ambiente que nos cerca. O que é o medo do escuro senão a vulnerabilidade gerada
pela restrição de informações? Entretanto, informações não nos são acessíveis apenas pela
visão. No escuro, tendemos a aguçar os outros sentidos buscando reduzir a
vulnerabilidade. Desprovidos de visão, ou com visão reduzida, esse aguçar os outros
sentidos tende a gerar um acervo de experiências que dão significados a sensações que
passariam despercebidas por aquele com visão “normal”, até porque o vidente utilizaria
a visão para reduzir a vulnerabilidade. Em O Olhar da Mente, Oliver Sacks apresenta o
relato do filósofo Martin Milligan, que perdeu a visão com dois anos de idade:
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Cegos congênitos com audição normal não ouvem apenas sons: eles podem ouvir objetos (isto é, têm consciência deles principalmente através dos ouvidos) quando estes se encontram razoavelmente próximos, contanto que não estejam baixos demais; e do mesmo modo podem “ouvir” parte da forma de seu ambiente imediato. [...] posso ouvir objetos silenciosos, como postes de iluminação e carros estacionados com o motor desligado, conforme me aproximo deles e os deixo para trás, pois, sendo ocupantes de espaço, eles adensam a atmosfera, quase certamente por causa do modo como absorvem e/ou ecoam os sons dos meus passos [...] Em geral não é necessário que eu mesmo produza som para obter essa percepção, embora ajude. Objetos na altura da cabeça provavelmente afetam um pouco as correntes de ar que chegam ao meu rosto, o que contribui para que eu me aperceba deles — razão porque alguns cegos se referem a esse tipo de percepção como “sentido facial”.(SACKS, 2010, p.234)
Isso não significa que o cego tem um sexto sentido. Ele aguça os sentidos que
possui e dá significado a sensações e experiências que passam despercebidas ao vidente:
o vidente vê o poste e o carro desligado e sabe de sua presença sem precisar atentar para
os ecos dos passos ou para as variações de correntes de ar. Cegos e videntes criam acervos
distintos de experiências e imagens mentais para lidar com o ambiente próximo. Também
não significa que todos as pessoas com deficiência visual percebem as variações das
correntes de ar. A expressão “deficiente visual” engloba uma grande gama de pessoas,
abrangendo desde a cegueira total, ou a completa ausência de luz, até pessoas com dificuldade visual que não conseguem atingir os padrões visuais de um indivíduo de visão normal, definido tecnicamente como vidente. (FIGUEIREDO, 2014, p.43).
Cada pessoa com deficiência visual procurará a adequação ao ambiente que mais
lhe for propícia. Como falar em experiências e construção de imagens mentais que dão
significado ao percebido é tratar de educação, pode-se usar como critério de classificação
de pessoas com deficiência visual o modo através do qual o sujeito apreende o mundo em
que vive, agrupando-os em: educacionalmente cegos (percepção de imagens, mas
impossibilitados de leitura de texto convencional); com baixa visão (visão prejudicada na
leitura de texto convencional); com cegueira total (ausência total de visão)
(FIGUEIREDO, 2014, p.45).
Separar as pessoas com deficiência visual em três grupos pode auxiliar na
abordagem educacional a cada uma delas, mas, por certo, cada um desses grupos não é
homogêneo: há aqueles que distinguem luz e sombra; que não possuem visão periférica;
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que enxergam manchas ou possuem uma visão embaçada; e muitas outras características.
Cada um desses casos significa as percepções através de construções distintas de
experiências e imagens mentais.
O relacionamento da pessoa com deficiência visual com o mundo não é inferior
ou superior ao do vidente: é diferente.
2.3 – A percepção social das diferenças
Pode-se pensar a evolução da percepção social das “diferenças”, das pessoas com
necessidades especiais, a partir da evolução das práticas educacionais às quais essas
pessoas estão sujeitas. As instituições educacionais são reflexos da sociedade na qual
estão inseridas. Sejam essas instituições entendidas como ratificadoras do status quo,
sejam como fomentadoras de transformações sociais, elas refletem as concepções e
valores daqueles que possibilitam as práticas nelas desenvolvidas. Assim, olhar essas
práticas nessas instituições é olhar a percepção social das “diferenças”.
Há três abordagens que se destacam na educação das pessoas com necessidades
especiais. A primeira delas, que se estende por séculos, é a da segregação, na qual as
pessoas consideradas “desviantes” são afastadas daquelas tidas como “normais”.
Entretanto, apesar de algumas escassas experiências inovadoras desde o século XVI, o cuidado foi meramente custodial, e a institucionalização em asilos e manicômios foi a principal resposta social para tratamento dos considerados desviantes. Foi uma fase de segregação, justificada pela crença de que a pessoa diferente seria mais bem cuidada e protegida se confinada em ambiente separado, também para proteger a sociedade dos “anormais”.(MENDES, 2006, p.387)
No século XIX, surgem classes e escolas especiais para onde as pessoas com
deficiência eram encaminhadas. Na segregação, um sistema educacional à parte foi sendo
constituído para as pessoas não consideradas “normais”. O predomínio da segregação
estende-se até a segunda metade do século XX, após a Segunda Grande Guerra.
Os movimentos sociais pelos direitos humanos, intensificados basicamente na década de 1960, conscientizaram e sensibilizaram a sociedade sobre os prejuízos da segregação e da marginalização de indivíduos de grupos com status minoritários, tornando a segregação sistemática de qualquer grupo ou criança uma prática intolerável. Tal
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contexto alicerçou uma espécie de base moral para a proposta de integração escolar, sob o argumento irrefutável de que todas as crianças com deficiências teriam o direito inalienável de participar de todos os programas e atividades cotidianas que eram acessíveis para as demais crianças. (MENDES, 2006, p. 388)
Surge a segunda abordagem na educação de pessoas com necessidades especiais:
a abordagem denominada integração. A integração é uma proposta de unificação do
sistema educacional que vinha sendo criado para as pessoas com necessidades especiais
com o sistema desenvolvido para as demais pessoas e fundamenta-se no princípio da
normalização. A normalização pressupõe que os ambientes compartilhados pelas pessoas
normais são os apropriados para o desenvolvimento das pessoas com necessidades
especiais. No texto The principle of normalization in human services, Wolf
Wolfensberger (WOLFENBERGER,1972) discute as definições de normalização e abre
um capítulo sobre integração social como consequência da normalização. Esse princípio
apresentado por Wolfensberger propõe critérios de organização e avaliação de serviços
destinados às pessoas com necessidades especiais, mas, por vezes, foi entendido como
normalização de pessoas. De qualquer forma, a integração pressupõe que existe uma
condição normal e uma condição anormal, e que quanto mais aqueles que se enquadram
na condição anormal vivenciarem as experiências dos espaços normais, tanto melhor para
o seu desenvolvimento. O problema transfere-se para a definição de normalidade.
Em meados da década de 1980, surge a proposta de inserção de todas as pessoas
com necessidades especiais nas salas comuns, com o artigo de Madeleine C. Will (WILL,
1986).
Com a alegação de que a educação de crianças e jovens com necessidades educacionais especiais deveria ser responsabilidade da educação comum, Will (1986) defendia que todos os alunos deveriam ser inseridos nas classes comuns das escolas comuns, sem descartar a necessidade de manutenção dos serviços de ensino especial separados. (MENDES, 2006. p.393)
Estava lançada a semente da constituição da terceira abordagem da educação das
pessoas com necessidades especiais: a proposta da inclusão. Essa proposta, como aparece
no final da citação, não descartava a manutenção do ensino especial separado, mas não
tardou a surgir uma proposta que se fundamentava na “ética da participação e do
desenvolvimento social sem a preocupação com ganhos acadêmicos” (MENDES, 2006.
p.393), a proposta da inclusão total, que defendia que todos, independentemente da
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severidade de suas limitações, deveriam ser atendidos em salas de aula comuns de escolas
comuns.
Nesse momento inicial, essas ideias circulam no âmbito norte-americano, mas
logo ganharam espaço mundial: em 1990 foi realizada, em Jomtien, Tailândia, a
Conferência Mundial de Educação para Todos, e em 1994, em Salamanca, Espanha, a
Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais, que gerou a
Declaração de Salamanca, da qual o Brasil é signatário. A partir de então, em âmbito
mundial, constitui-se o movimento de inclusão social, que defende o respeito à
diversidade, o reconhecimento político e a aceitação das diferenças; a inclusão torna-se
um norte a ser alcançado.
Na inclusão, o normal passa a ser a existência das diferenças. Se na integração
buscava-se levar o diferente a experienciar o ambiente considerado normal, na inclusão,
o diferente é constituinte do ambiente considerado normal.
A mudança de uma abordagem para outra não se dá de forma estanque,
coexistindo, pelo menos durante algum tempo, mais do que uma abordagem. Não se sai
da segregação para a integração, ou da integração para inclusão, repentinamente. Em cada
mudança, organiza-se um novo entendimento do espaço social, um novo entendimento
das relações entre os homens, exigem-se novas práticas sociais, que vão gerar novos
significados às relações sociais.
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3 – LER
3.1 – Introdução
Este capítulo divide-se em três partes: Ler (verbo bitransitivo) — na qual são
apresentados os significados assumidos pelos termos texto e ler, e o Ledor é apresentado
como alguém que atribui significado ao que é lido na relação Ledor/leitor cego, tendo
como consequência a construção do sentido do texto através da relação autor-texto-
Ledor-leitor; Lendo imagens — na qual é apresentada a imbricação entre conteúdo e as
formas de expressão desse conteúdo, a descrição de uma imagem é apresentada como
uma construção de sentido que depende de escolhas feitas por aquele que descreve, e é
discutida se a eliminação de figuras nas provas de Ledor garante a isonomia entre os
participantes de um avaliação pública; e, por fim, Lendo Matemática — que identifica
qualquer objeto matemático como sendo acessível somente através de suas
representações, e que representações distintas destacam características distintas do objeto,
e além disso, são apresentados os limites de conversão dos registros feitos em simbologia
matemática para a linguagem natural (língua falada ou escrita).
3.2 – Ler (verbo bitransitivo)
Certamente, uma das maiores invenções da humanidade foi a escrita, a ponto de
dividir-se o relato da evolução das sociedades humanas em pré-história (antes da escrita)
e história. Por certo, a possibilidade de registros mais permanentes das experiências
humanas e a comunicação desses relatos para gerações subsequentes deram forma a
civilizações inteiras. O texto escrito expandiu a memória e o pensamento humano a
limites imponderáveis. Entretanto, nem a memória nem os conhecimentos das
civilizações são dádivas do texto escrito: as civilizações, antes do advento da escrita,
transmitiam seus conhecimentos e costumes oralmente ou através de imagens, ritos e
outras tantas formas de comunicação. Mesmo depois da escrita, a diversidade das
modalidades de comunicação manteve-se. Ainda nos dias de hoje, uma humanidade
totalmente alfabetizada é um norte desejado e, quanto mais o tempo passa, tanto maior é
a quantidade de formas de comunicação disponíveis. Diante desta diversidade, a palavra
“texto” (aquilo que se dispõe à leitura) não pode ater-se ao texto escrito. No que tange às
avaliações públicas, as mais diversas modalidades de textos são utilizadas: história em
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quadrinhos, tirinha, charge, fórmula matemática, gráfico, crônica, miniconto, poesia,
anúncio, bula, reprodução de quadros e o que mais se permitir no meio físico que constitui
a avaliação. Discorrendo sobre discurso, Ingedore G. Villaça Koch ensina que:
O termo texto, como também ocorre com o termo discurso, tem sido conceituado de maneiras bastante diversas. Basicamente, pode-se tomá-lo em duas acepções: em sentido lato, para designar toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano, quer se trate de um romance ou de um poema, quer de uma música, uma pintura, um filme, uma escultura, etc., isto é, de qualquer tipo de comunicação realizada através de um sistema de signos. Em se tratando da linguagem verbal, tem-se o discurso, atividade comunicativa de um locutor, numa situação de comunicação determinada, englobando não só o conjunto de enunciados por ele produzidos em tal situação — ou os seus e os do seu interlocutor, no caso do diálogo — como também o evento de sua enunciação. O discurso manifesta-se linguisticamente por meio de texto — em sentido estrito — que consiste em qualquer passagem falada ou escrita, capaz de formar um todo significativo, independente de sua extensão. (KOCH, 1993,p.21-22)
Essas duas acepções de texto também são encontradas em Ubirajara Inácio de
Araújo. Uma primeira acepção, mais genérica, na qual ele considera “texto” como o
produto de qualquer sistema semiótico que possa ser “lido”. Nessa acepção, um livro, um
filme, uma obra de arte, um olhar são textos. Em uma segunda acepção, mais restrita,
ligada à linguagem verbal, o termo “texto” reserva-se às sequências escritas/faladas
(ARAÚJO, U, 2000, p.29).
Para o propósito deste trabalho, o sentido genérico do termo texto se faz adequado,
haja vista que as ações do Ledor não se restringem apenas à linguagem verbal, suas ações
estendem-se para além da palavra escrita e falada.
Definido o termo texto, cabe perscrutar o sentido de ler. KOCH e ELIAS (2008)
apresentam três concepções de leitura: a leitura com foco no autor; a com foco no texto e
aquela cujo foco encontra-se na interação autor-texto-leitor. Na primeira, com foco no
autor, a atenção é “o autor e suas intenções, e o sentido está centrado no autor, bastando
tão somente ao leitor captar essas intenções” (KOCH, 2008, p.10). Na segunda, com foco
no texto, ao leitor cabe o “reconhecimento das palavras e estruturas do texto” no qual
“tudo está dito no dito” (KOCH, 2008, p.10). Nessas duas concepções, o leitor tem por
função reconhecer o que está escrito, é um reprodutor.
Se essas acepções do ato de ler puderem ser concretizadas, o Ledor, aquele que lê
para outra pessoa, pode ser identificado como um mero decodificador do texto, sem
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interferir no sentido do texto dado por aquele que ouve. Entretanto, a acepção defendida
por KOCH é a com foco na interação autor-texto-leitor.
Nessa perspectiva, o sentido de um texto é construído na interação texto-sujeito e não algo que preexista a essa interação. A leitura é, pois, uma atividade interativa altamente complexa de produção de sentidos, que se realiza evidentemente com base nos elementos linguísticos presentes na superfície textual e na sua forma de organização, mas requer a mobilização de um vasto conjunto de saberes no interior do evento comunicativo. (KOCH, 2008, p.11)
Tal posição diante do ato de ler é compartilhada por Paulo Freire quando nos diz
que “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a
continuidade da leitura daquele” (FREIRE, 1983, p.11), e também é consonante com os
Parâmetros Curriculares Nacionais:
A leitura é o processo no qual o leitor realiza um trabalho ativo de compreensão e interpretação do texto, a partir de seus objetivos, de seu conhecimento sobre o assunto, sobre o autor, de tudo que sabe sobre a linguagem etc. Não se trata de extrair informação, decodificando letra por letra, palavra por palavra. Trata-se de uma atividade que implica estratégias de seleção, antecipação, inferência e verificação, sem as quais não é possível proficiência. É o uso desses procedimentos que possibilita controlar o que vai sendo lido, permitindo tomar decisões diante de dificuldades de compreensão, avançar na busca de esclarecimento, validar no texto suposições feitas. (BRASIL, 1998, p.69-70)
Pode-se argumentar que o Ledor não estabelece o sentido do texto. Que esse
sentido só se concretiza naquele que ouve as palavras do Ledor. Que o Ledor não é um
leitor. Que a carga de conhecimento do mundo comportada pelo Ledor não interfere no
sentido do texto estabelecido por quem o ouve. Esse argumento desconsidera que
entonações e pausas decididas pelo Ledor na leitura de um texto são reflexos de sua
experiência de mundo e que tais destaques interferem no sentido do texto estabelecido
por quem o ouve. Decidir os momentos e a duração das pausas afeta o sentido do texto.
Em As Formas do Silêncio, Eni Puccinelli Orlandi explicita o silêncio não como um
interlúdio das palavras, mas com função significativa no discurso, declarando que “o
silêncio faz parte da construção do sujeito e do sentido” (ORLANDI, 2007, p.87). Muito
mais defensável é a proposição de que os conhecimentos e as experiências do Ledor,
mesmo não definindo o sentido dado ao texto, interagem com o saber do ouvinte,
interferindo na compreensão do texto construída por ele. Não é possível a isenção do
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Ledor no ato de ler. Um Ledor que domine Química, não conseguirá isentar-se na hora
de ler uma fórmula química. Um Ledor que domine Matemática leria a fórmula
∑ 𝑓(𝑛)10𝑛=1
como “somatório de f de n, com n variando de 1 até 10”, enquanto um Ledor sem grande
convívio com a Matemática poderia lê-la “somatório, com n igual a 1 embaixo e 10 em
cima, de f, abre parênteses, n, fecha parênteses”. O treinamento dos Ledores reduz as
diferenças de leitura entre eles de expressões como essa, mas a variabilidade e
complexidade de expressões e fórmulas na Matemática e na Química são barreiras na
padronização da leitura.
Não é apenas em exemplos de Matemática e de Química, áreas que possuam uma
simbologia endógena, que se faz percebida a interferência dos conhecimentos e
experiências do Ledor na construção do sentido do texto. A própria experiência com as
modalidades da língua mátria interfere no significado dado ao texto pela atuação dos
Ledores. Imaginem-se dois Ledores, um deles com vasta leitura de poesia, diante do
seguinte soneto, de Gregório de Matos Guerra:
Desenganos da vida humana, metaforicamente
É a vaidade, Fábio, nesta vida, Rosa, que da manhã lisonjeada,
Púrpuras mil, com ambição dourada, Airosa rompe, arrasta presumida.
É planta, que de abril favorecida, Por mares de soberba desatada,
Florida galeota empavesada, Sulca ufana, navega destemida.
É nau enfim, que em breve ligeireza Com presunção de Fênix generosa, Galhardias apresta, alentos preza:
Mas ser planta, ser rosa, nau vistosa
De que importa, se aguarda sem defesa Penha a nau, ferro a planta, tarde a rosa?
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A experiência com a língua portuguesa define a fluidez e a entonação na leitura,
e essas, o sentido dado ao texto por quem escuta.
Ao encontro dessa interferência do Ledor no sentido dado ao texto, vem Luciene
Maria da Silva, ao declarar que as características e as histórias pessoais dos Ledores e dos
leitores cegos geram uma prática de leitura que comporta várias nuances e que depende
da relação entre os sujeitos envolvidos. Para Silva,
O ledor passa a ser um mediador essencial entre o autor e o leitor, ou seja, a apreensão do texto escrito numa relação direta entre leitor e texto é bem diferente da leitura intermediada, pois que, as falas, as vozes dão um outro “tom” que predispõe a recepção dos que ouvem uma leitura. Nessa relação ledor/leitor cego cabem adaptações dos sujeitos nas suas preferências por compreensão: a leitura pode ser mais acelerada em determinadas passagens, mais delicada, com pausas etc. Neste caso, é preciso considerar a interpretação do ledor como uma entre tantas quantas podem ser a tradução do texto, ou seja, a fidelidade ao autor é algo não garantido pela recepção de uma leitura mediada. (SILVA, 2008, p.14)
Em suma, o Ledor não é mero decodificador do código linguístico. Sua
experiência de mundo, seus conhecimentos e a subjetividade da relação com aquele que
o ouve participam da construção do sentido dado ao texto pelo ouvinte. Na leitura
mediada por um Ledor, no texto presente na relação Ledor/leitor cego, o sentido é
construído na relação autor-texto-Ledor-leitor, na qual o Ledor é sujeito ativo nessa
construção. Ler, para um Ledor, é sempre um verbo bitransitivo: alguma coisa é lida para
alguém. O sentido da coisa é construído pelo alguém com a ingerência do Ledor.
3.3 – Lendo imagens
Temos aqui um paradoxo — delicioso — que eu não consigo resolver: se de fato existe uma diferença fundamental entre a vivência e a descrição, entre o conhecimento direto e o conhecimento mediado do mundo, porque então a linguagem é tão poderosa? A linguagem, a mais humana das invenções, pode possibilitar o que, em princípio, não seria possível. Pode permitir a todos nós, inclusive os cegos congênitos, ver com os olhos de outra pessoa. (Sacks, 2010, p.240)
O parágrafo precedente finaliza o livro O Olhar da Mente, de Oliver Sacks. Ele é
uma reflexão sobre as declarações de Arlene Gordon, uma cega que adora viajar e que
declarou “Eu vi Veneza quando estive lá”, explicando que “seus companheiros de viagem
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descreviam os lugares, e ela então construía uma imagem mental baseada nos detalhes
que eles lhe forneciam, em suas leituras e em suas próprias memórias” (Sacks, 2010,
p.240). Metaforicamente, o parágrafo em epígrafe chega a ser comovente, mas qualquer
pessoa há de convir que construir uma imagem a partir de sua descrição não é,
materialmente, o mesmo que a imagem descrita. Por mais que seja detalhada uma
descrição, o texto da descrição e a imagem descrita não se confundem: são entidades com
materialidades distintas. Além disso, considerando-se que a descrição é uma apresentação
da imagem através de palavras, tal descrição poderá ser feita por escrito ou oralmente e,
dessa forma, tem-se três materialidades distintas: a imagem, o texto escrito e o texto
falado.
Apesar da intrínseca relação entre a forma oral e a escrita de uma língua, são
formas distintas de registros, cada um deles com especificidades próprias. Nilson José
Machado ensina que, apesar da forma oral da língua ser o suporte para o aprendizado da
língua escrita em todo o mundo, a língua escrita não se restringe a codificar e perpetuar a
fala, ela instaura novas possibilidades, construindo novos níveis de significados e novos
objetos que não são acessíveis à fala (MACHADO, 2001, p.63-64).
A não correlação termo a termo entre a linguagem oral e a escrita é pululante a
qualquer pessoa que se disponha a transcrever uma entrevista. Em suma, cada forma de
expressão humana, a língua oral ou escrita, a pintura, a música, a dança ou qual mais se
deseje enumerar apresenta especificidades fundadas em suas materialidades, e a
apresentação de uma através da materialidade de outra é limitada. Entretanto, quando se
escuta, diante de um objeto qualquer, a pergunta “o que isso significa?”, é praticamente
imediato fazê-la equivaler à “qual o texto (falado ou escrito) que dá sentido a esse
objeto?”. Repare-se que, de início, dar sentido não é o mesmo que descrever, apesar de
ser cabível perguntar se é possível descrever um objeto sem dar-lhe sentido.
Orlandi, no texto Efeito do Verbal Sobre o Não-Verbal, declara que “diante de
qualquer objeto simbólico, o homem, enquanto ser histórico, é impelido a interpretar, ou
em outras palavras, a produzir sentidos” (ORLANDI, 1995,p.44). Dar sentido a uma
imagem é interpretá-la. Criar um texto que dê sentido a uma imagem não é transpor a
materialidade da imagem para a materialidade do texto; é uma espécie de tradução de um
registro em outro.
Orlandi reconhece a primazia do verbal na construção dos sentidos ao dizer que
“o verbal tem função crucial na construção da legitimidade, da interpretabilidade das
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outras linguagens” (ORLANDI, 1995, p.46). Se essa primazia não é inerente à natureza
da linguagem verbal, não é possível desconsiderar que ela se constitui de fato. Entretanto,
reconhecer essa primazia não significa se embalar na ilusão de que todo significado pode
ser dado pela linguagem verbal. Cada meio de expressão, a música, a pintura, a escultura
a literatura etc., possui uma possibilidade de significação atrelada à sua materialidade,
possui um sentido que lhe é peculiar.
Existe a ilusão de que em qualquer meio de expressão todo o conteúdo pode ser
dissociado da forma e, assim, seria possível transpor esse conteúdo de um meio de
expressão a outro e, em particular, para a linguagem verbal. É, novamente, Orlandi que
aponta limites a essa primazia do verbal:
Também esse mecanismo ideológico repousa no que tenho chamado de conteudismo. Com efeito, na ilusão de que se pode separar forma e conteúdo, toma-se, nesse caso, o conteúdo das diferentes linguagens como equivalentes. Na realidade, se somos críticos ao conteudismo [...], sabemos que o modo de significar e a matéria significante são constitutivos do sentido produzido de tal forma que não há equivalência sígnica do ponto de vista só dos conteúdos. Não separamos formas e conteúdos. (ORLANDI, 1995, p.45)
Forma e conteúdo não se separam, e formas distintas de linguagem são capazes
de produzir significados distintos. Linguagens não verbais carregam significados que não
dependem do verbal para se constituírem. Há um sentido na música e na dança, por
exemplo, que não depende do verbal para existir. Há um sentido na imagem que não se
permite ao verbal.
A língua realiza-se em uma estrutura unidimensional (MACHADO, 2001, p.94).
Na língua portuguesa, lê-se da esquerda para a direita. Essa unidimensionalidade pode ser
estendida tanto à língua escrita quanto à falada. Por sua vez, representações planas são
bidimensionais. Descrever ou dar significado a uma imagem através da língua demanda
escolher um “caminho” a percorrer sobre a imagem. Um caminho que determinará a
construção do texto unidimensional que se propõe a descrever ou significar o
bidimensional. Caminhos distintos podem produzir descrições ou significações distintas.
Raymond Duval, em Semiósis e pensamento humano (DURVAL, 2009, p.66),
busca uma análise da congruência entre uma imagem e sua descrição. Para tanto, partindo
de uma figura semelhante a que se segue, relata a construção de quatro descrições. Duas
delas são:
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1) O sol está acima da árvore;
2) A árvore está abaixo do sol.
Figura 1: Congruência entre imagem e descrição
Fonte: Figura adaptada de Duval 2009, p.66
Pessoas foram convidadas a comparar a imagem a cada uma das frases que a
descreve e declarar se a frase é uma descrição justa da imagem. A resposta foi afirmativa
para as duas frases, mas é interessante observar que o tempo demandado para apresentar
a resposta diante da segunda frase foi maior do que diante da primeira, revelando que as
duas descrições não são processadas da mesma forma, não são congruentes. O caminho
escolhido sobre a figura para realizar a descrição afeta a percepção da descrição.
Em sua tese de doutorado, Rita de Cássia Rodrigues Oliveira, defende que o
recorte necessário à leitura de uma imagem impossibilita a percepção do todo, é sempre
reducionista. O recorte é o caminho escolhido para fazer a leitura da imagem e está
sempre entrelaçado com a interpretação, com o sentido dado pelo sujeito que lê. Para
Oliveira, a necessidade do recorte revela a impossibilidade de o ser humano ver o todo:
tem-se a ilusão de que o recorte é o todo. Cada recorte é um fragmento e, como fragmento,
não pode ser o todo. Cada recorte é o “todo” daquele que fez o recorte — eis a ilusão.
Se toda descrição demanda um recorte e todo recorte está atrelado à produção de
sentido, uma descrição é uma produção de sentido e dependerá do sujeito que a realiza.
Quem vê a imagem e se propõe a descrevê-la, escolhe um caminho a percorrê-la, e esse
caminho dá um sentido à imagem descrita. Pessoas distintas podem produzir descrições
distintas e modificar a percepção daquele que recebe a descrição.
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Um Ledor que descreve uma imagem escolhe um caminho sobre a imagem. A
escolha desse caminho terá interferência de suas experiências de vida, de sua historicidade
e da intenção ao ler a imagem. Quem escuta, constrói uma imagem a partir da descrição
impregnada pela escolha do Ledor. A imagem construída é amalgamada pelas
experiências do Ledor e do receptor. O Ledor é sujeito na construção do sentido. Revendo
as declarações do texto em epígrafe: não se vê com os olhos de outra pessoa, se constrói
um entendimento, um sentido, a partir do caminho escolhido, da percepção, da
historicidade e da intenção de outra pessoa.
Diante do exposto, quando se fala da ação de um Ledor em avaliações, Ledores
distintos levam (ou, no mínimo, podem levar), a construções distintas do sentido de uma
imagem por aqueles que os ouvem. Ledores distintos, diante da mesma imagem, fazem
(ou podem fazer) descrições distintas.
Um dos princípios que fundamentam as avaliações que ranqueiam, como o
ENEM, as provas da OBMEP, os vestibulares e as avaliações públicas para seleção de
trabalhadores, é o Princípio da Isonomia. Ele estabelece que todos os participantes
possuem iguais oportunidades diante do processo seletivo. Torna-se questionável a
manutenção da Isonomia se leitores distintos apresentam descrições distintas.
Há uma tendência, confirmada pela ocorrência cada vez maior, de substituir a
prova convencional por uma “prova de Ledor”, na qual as imagens são substituídas por
suas descrições, ou seja, quem for atuar como Ledor não recebe a prova convencional,
recebe a prova de Ledor. Dessa forma, todos os Ledores leem a descrição da figura e não
decidem como farão a descrição. Por certo, isso minimiza o problema da descrição, mas
não o elimina, porque alguém fez a descrição, e quem a fez, escolheu o recorte que definiu
a descrição. Além disso, como já foi discutido, o texto da descrição e a imagem descrita
são objetos distintos e nem todo sentido permitido pela imagem se permite no texto
escrito. Assim sendo, não há garantias de preservação da Isonomia entre a prova
convencional e a prova de Ledor.
O artigo 37 da Constituição de 1988 (BRASIL, 1988) estabelece que um
percentual dos cargos e empregos públicos deve ser reservado para as pessoas portadoras
de deficiência. Com essa reserva de vagas, pode-se argumentar que as pessoas cegas
disputam as vagas que lhes foram reservadas, gerando Isonomia. Primeiramente, a reserva
de vagas gera uma diferença entre as relações candidatos/vagas dos dois grupos:
20
portadoras de deficiência e não portadoras, o que é suficiente para quebrar a Isonomia,
que prevê que todos participem em igualdade de condições. Além disso, a reserva de
vagas não se restringe aqueles desprovidos do sentido da visão, a reserva estende-se a
todos os portadores de deficiências: um cadeirante disputa as mesmas vagas que os cegos
e pode realizar a prova sem o auxílio de um Ledor. A reserva de vagas não é garantia de
Isonomia mesmo entre aqueles que disputam as vagas reservadas a deficientes.
Apesar da possibilidade de as ações dos Ledores não garantirem a manutenção do
Princípio da Isonomia, são indiscutíveis o direito e a justeza da participação das pessoas
com deficiência visual nas avaliações públicas, até porque a participação deles é
imperiosa na construção de uma sociedade democrática.
3.4 – Lendo Matemática
Qual a natureza do objeto matemático? No livro Matéria e Pensamento
(CHANGEUX, CONNES, 1996), Jean-Pierre Changeux, um biólogo, e Alain Connes,
um matemático, discutem a natureza do objeto matemático. Changeux é adepto de uma
posição construtivista, defendendo que os objetos matemáticos são seres fictícios, que só
existem no pensamento do matemático, e não em um mundo platônico independente da
matéria. Connes assume uma postura realista, inspirada em Platão, na qual o mundo é
povoado de ideias, que possuem uma realidade distinta da realidade sensível. Na esteira
desses autores, encontra-se o artigo de Arthur Araújo, Objetos matemáticos, mente,
cérebro, natureza (ARAUJO, A., 2012), publicado na revista Ágora Filosófica, que
desenvolve a discussão sobre a natureza dos objetos matemáticos.
Não importando a assunção de qual natureza os caracteriza, há de ser distinta da
natureza dos objetos físicos. O objeto matemático não se permite acessar diretamente
pelos sentidos humanos: para os construtivistas, eles só existem no pensamento dos
matemáticos; para os realistas, eles são ideias, com realidade distinta da realidade
material. Todos os objetos matemáticos só se permitem acessar através de suas
representações, eles são objetos do conhecimento. Ninguém jamais viu o número dois.
Dois abacaxis, dois olhos, dois meninos não são o número dois. Ele é algo que emana de
(ou se constrói a partir de) todas as dualidades, e pode ser representado por 2, ii, dois,
dentre outras possíveis representações.
Duval, em Semiosis e pensamento humano, deixa claro, para que se possa ter
compreensão em Matemática, a importância da distinção do objeto e de sua
21
representação, mas estabelece uma intrínseca relação entre as representações e a
construção dos conceitos matemáticos (DUVAL, 2009). Ele define semíosis como a
apreensão ou a produção de uma representação semiótica, e noésis como os atos
cognitivos, como a apreensão conceitual de um objeto, a discriminação de uma diferença
ou a compreensão de uma inferência. A tese central de seu trabalho é: não há noésis sem
semíosis, é a semíosis que determina as condições de possibilidade e exercício da noésis
(DUVAL, 2009, p.17).
Cada representação de um objeto matemático destaca uma característica desse
objeto, cada representação lança luz sobre um aspecto do objeto, e a percepção de que
todas as representações, com seus destaques, referem-se a um mesmo objeto permite a
construção mental do objeto. Uma função matemática apresenta diversas representações
possíveis: tabelas que estabelecem conjuntos de pares ordenados, diagramas de setas,
máquinas que recebem números e que os devolvem transformados, expressões analíticas,
gráficos. Cada uma dessas representações apresenta limitações e destaca algumas
características do objeto função. O conceito nasce na percepção de que todas são
representações de um mesmo objeto e na capacidade de conversão de uma representação
em outra. Não só para a construção do conceito servem os diversos registros, uma escolha
de registro normalmente está ligada à simplicidade e à economia de tratamento.
[...] Assim a significação operatória não é a mesma para 0,25, para 1/4 e para 2510–2. Porque não são os mesmos procedimentos de tratamento que permitem efetuar as três adições seguintes:
0,25 + 0,25 = 0,5
1/4 + 1/4 = 1/2
2510 – 2 + 2510 – 2 = 5010 – 2
Cada um destes três significantes “0,25”, “1/4” e “2510–2” tem uma significação operatória diferente, mas representa o mesmo número. (DUVAL, 2009, p.60)
A língua natural é mais uma possibilidade de registro dos entes matemáticos e,
como tal, apresenta suas limitações e suas especificidades. Duval afirma que “a
linguagem natural e as línguas simbólicas não podem ser consideradas como formadoras
de um só e único registro” (DUVAL, 2009, p.38). Para ele, cada sistema de representação
(linguagem natural, linguagem simbólica, esquemas, figuras geométricas, gráficos
cartesianos, tabelas, etc.) apresenta questões de aprendizagem diferente.
22
[...] O interesse de uma mudança de registro é que justamente podemos efetuar tratamento totalmente diferente num outro registro que naquele em que são dadas as representações iniciais. Assim o poder heurístico das figuras em geometria se explica pelo fato que os tratamentos figurais que elas permitem efetuar não são computacionalmente equivalentes aos raciocínios dedutivos que estabelecem um teorema no registro de uma estrutura simbólica ou em língua natural. (DUVAL, 2009, p.72)
Para destacar o estudo dos limites de conversão de um registro em outro, Duval
propõe a um grupo de alunos a tarefa na qual frases deveriam ser convertidas em
operações sobre inteiros e sobre os conjuntos, numa linguagem simbólica, e vice-versa.
O quadro abaixo apresenta o percentual de sucesso nessas traduções.
Figura 2 - Percentual de sucesso em tradução para linguagem simbólica.
Fonte: DUVAL (2009, p.74)
O que cabe destacar nesses resultados são as diferenças de sucesso entre as
traduções em cada linha, I II e II I, e as diferenças I II na terceira coluna:
traduzir expressões em língua natural para linguagem simbólica não necessariamente
apresenta sucesso equivalente à tradução inversa; o sucesso da tradução da língua natural
para o simbolismo depende da expressão apresentada em língua natural. É claro que há
outras formas de ler cada uma das expressões algébrica apresentadas. Poder-se-ia ler
símbolo a símbolo cada expressão. Nesse caso, a leitura da expressão ab + cd ficaria: a
multiplicado por b somado com c multiplicado por d. Essa leitura apresenta um
inconveniente: não se sabe se a expressão lida foi ab + cd, ou a(b + c)d ou a(b + cd).
Esse problema poderia ser eliminado se, previamente, fosse combinado que todos os
I II I II II I
1. A soma dos dois produtos de dois inteiros, todos os inteiros sendo diferentes.
ab + cd 90% 90%
2. O produto de um inteiro pela soma de dois outros.
a(b + c) 71% 74%
3. A soma dos produtos de um inteiro com dois outros inteiros.
ab + ac 48% 87%
4. A interseção dos complementares de dois conjuntos.
CA CB 91% 81%
5. A reunião das interseções de um conjunto com dois outros conjuntos.
(A B) (A C) 41% 81%
23
símbolos seriam lidos. Assim, a(b + cd) seria lida: a multiplicado por, abre parênteses,
b somado com c multiplicado por d, fecha parênteses. Outro problema na leitura símbolo
a símbolo é a extensão e complexidade que a leitura pode assumir.
Todas as expressões algébricas envolvidas no exemplo são unidimensionais,
assim como em língua portuguesa, são lidas da esquerda para direita, mas boa parte dos
registros matemáticos apresenta estrutura bidimensional: as traduções para a língua
natural das expressões a + 𝑏𝑐 e
𝑎 + 𝑏𝑐 , lidas símbolo a símbolo, seriam, para ambas,
a somado com b sobre c. Expressões com índices e expoentes, somatórios, integrais,
tabelas de dupla entrada, matrizes são registros bidimensionais. Por sua vez, gráficos e
figuras geométricas são imagens, cujas leituras envolvem descrições que apresentam
limitações discutidas anteriormente.
Pondo-se o foco da leitura matemática nas ações de um Ledor, acresça-se que a
tradução para a língua natural se faz no registro oral e, citando Nilson José Machado,
“enquanto concebida como uma linguagem formal, a Matemática não comporta a
oralidade, caracterizando-se como um sistema simbólico exclusivamente escrito”
(MACHADO, 2001, p.105). Também é em Machado que se encontra:
[...] As línguas naturais faladas podem quando muito descrever objetos e propriedades de objetos estruturais. Dir-se-á: “A soma dos quadrados dos lados de um triângulo retângulo é igual ...” para descrever o que a estrutura figurada do simbolismo mostra diretamente: a2 = b2 + c2. Mas, desde que as propriedades estruturais ultrapassem um certo grau de complexidade, sua descrição torna-se tão difícil de ser compreendida que toda manipulação, toda análise, toda demonstração acham-se paralisadas (...) A bem da verdade, não é que a Matemática não possa ser totalmente transcrita numa linguagem linear como o é a cadeia falada. (...) Mas uma Matemática assim transcrita “em fita” torna-se, sem dúvida alguma, inexplorável para um receptor humano. (GRANGER, 1974, apud MACHADO, 2001, p.107)1
Podem-se identificar as dificuldades e as barreiras encontradas por um Ledor ao
deparar-se com registros matemáticos e ter que transcrevê-los em linguagem oral para
alguém sem o sentido da visão:
O simbolismo matemático e a língua natural (em especial a língua na modalidade
oral) são sistemas distintos de registros que carregam características específicas,
destacando aspectos diferentes dos entes matemáticos.
1 GRANGER, G. G. A filosofia do estilo, São Paulo, 1974
24
Há uma pluralidade de traduções possíveis do simbolismo matemático para a
linguagem natural que não necessariamente são equivalentes: traduções distintas
podem carregar níveis de dificuldades distintos na identificação dos objetos
matemáticos correspondentes.
Muitos dos registros matemáticos não são unidimensionais, como é o caso da
língua natural, o que pode fazer com que a tradução dificulte, ou impeça, a
percepção das relações entre as partes do registro matemático.
O registro oral da Matemática pode tornar-se tão longo e tão complexo que
elimine a operacionalidade dos entes matemáticos.
Muitas representações matemáticas são figuras (gráficos, diagramas, figuras
geométricas) cuja tradução para a língua natural está ligada às dificuldades das
descrições.
Essas dificuldades de leitura não são exclusivas da Matemática: qualquer sistema
de registro simbólico que não possua oralidade intrínseca apresentará dificuldades
semelhantes. Esse é o caso da Química, por exemplo, que aparece em muitas avaliações
públicas nas quais os Ledores se fazem presentes.
25
4 - ADAPTAÇÕES DE AVALIAÇÕES PÚBLICAS PARA PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA VISUAL
4.1 – Introdução
Uma das minhas funções profissionais é a adaptação de provas para pessoas com
deficiência visual, em especial, a adaptação para a versão em Braille e para versão a ser
lida por um programa de computador. Na versão em Braille, após analisar cada questão,
decidir sobre as possibilidades de adaptação, elaborar o texto a ser adaptado, um técnico
digita a prova em Braille e ela é impressa. Em seguida, um cego proficiente em Braille,
lê a prova e comenta questão por questão, identificando possíveis ajustes que devam ser
feitos, o que leva à forma final da prova em Braille. Na versão em áudio (leitura por um
computador), as questões são analisadas, adaptadas e digitadas, transformando-se em um
arquivo PDF, ou de outro formato que possa ser lido pelo programa. Um cego habituado
com os programas de leitura de texto escuta a leitura feita e comenta cada questão,
indicando ajustes que se façam necessários.
A seguir, são descritas quatro adaptações de provas convencionais para uso por
pessoas com deficiência visual: a adaptação de provas para pessoas com baixa visão, a
adaptação para o Braille, para um programa de leitura em tela de computador e para um
Ledor. São apresentadas as peculiaridades e dificuldades encontradas em cada adaptação
e a complexidade presente nos processos de adaptação. As descrições feitas são o
resultado de minhas práticas profissionais que sofrem o crivo, como apresentado acima,
de técnicos, pessoas com deficiência visual proficientes em Braille e no uso de leitores de
tela. Os exemplos usados na descrição são questões de provas públicas que já foram
aplicadas e, portanto, podem ser publicitadas, ou são questões criadas especificamente
para servirem de exemplos. Os comentários sobre cada questão elucidam as escolhas
feitas no processo de adaptação e podem servir de subsídio para elaboração de manuais
de adaptações. Além das quatro adaptações abordadas, comentam-se as formas possíveis
de respostas apresentadas por uma pessoa com deficiência visual em uma avaliação
pública.
26
4.2 - Prova Ampliada
A prova ampliada, em uma primeira vista, parece a solução apropriada para todos
que possuem baixa visão, pelo menos para aqueles cuja baixa visão não seja severa. Essa
parecença não se confirma. As pessoas que compõem o grupo daqueles que são
classificados como pessoas com baixa visão possuem características diferentes que
exigem abordagens distintas no momento de sua participação em uma avaliação. No
portal do MEC, encontra-se:
Chama-se visão subnormal (ou baixa visão, como preferem alguns especialistas) à alteração da capacidade funcional decorrente de fatores como rebaixamento significativo da acuidade visual, redução importante do campo visual e da sensibilidade aos contrastes e limitação de outras capacidades. (GIL, 2000, p.6)
Essa definição, por si só, já se presta à percepção da variedade de casos que se
enquadram na categoria baixa visão. A acuidade visual de uma pessoa com baixa visão
varia muito. Entende-se como baixa visão as limitações que não podem ser corrigidas,
satisfatoriamente, por lentes ou qualquer outro equipamento e podem ser geradas por
diversos fatores: acidentes, degeneração macular, glaucoma, diabetes ou cataratas. A
percepção visual e a abordagem a ser considerada quando se trata de participação em
avaliações varia de caso a caso. Para expor as dificuldades inerentes às abordagens
necessárias nas adaptações das avaliações, apresentem-se alguns exemplos retirados do
WebAim web accessibility in mind (VISUAL DISABILITIES, 2013). Nesses exemplos,
há um “mapa” da percepção visual de cada caso exemplificado, o que ajuda a entender a
necessidade de abordagens variadas.
Degeneração Macular A mácula é perto do centro da retina, que é a região do fundo dos olhos. O processo de envelhecimento e o desgaste dos tecidos da mácula causam a forma mais comum de dege-neração macular, a degeneração macular “seca”. O resultado é a gradual perda de visão. A degeneração macular pode ocorrer, também, quando os vasos sanguíneos anormais no fundo dos olhos começam a vazar fluido ou sangue, gerando um borrão no centro da visão, com frequência levando a uma rápida perda da visão. Em
27
ambos os casos, a área central da visão é a mais afetada, criando dificuldades de perceber objetos para os quais a pessoa esteja olhando diretamente. As imagens acima são simulações do efeito da degeneração macular. Textos podem aparecer quebrados e sem clareza. Glaucoma Glaucoma é causado por um aumento da pressão dentro do olho, o que gera danos no nervo ótico. O resultado final é, com frequência, o oposto do efeito observado na degeneração macular: a perda da visão periférica e o embaçamento da área central da visão. O glaucoma provoca, parti-cularmente, dificuldade na leitura de textos porque eles aparecem desfocados e borrados. Algumas pessoas comparam o efeito do glaucoma com o olhar através de um canudo.
Retinopatia Diabética A longo prazo, um dos efeitos da diabetes é o vazamento nos vasos sanguíneos da retina, causando manchas escuras do campo de visão onde ocorrem os vazamentos. Textos podem aparecer borrados ou distor-cidos nessas regiões. Catarata Indivíduos com catarata têm áreas de opacidade na lente de seus olhos, o que resulta em um efeito desfocado ou nebuloso, especialmente quando na presença de luz brilhante. O texto pode parecer desvanecido no fundo. O alto contraste é especialmente importante para pessoas com catarata avançada.
Figura 3 – Mapa de percepção visual
(VISUAL DISABILITIES, 2013, tradução nossa)
Imagine alguém que tenha a visão semelhante a apresentada pela figura associada
ao glaucoma. Alguém que não possua a visão periférica e enxerga a centro das páginas
28
de uma prova, como uma espécie de visão através de um canudo. Uma prova ampliada
para essa pessoa vai fazer com que ela tenha acesso a uma porção mais restrita do texto,
chegando ao extremo de enxergar uma letra de cada vez. Para essa pessoa, talvez, fosse
melhor uma redução da prova. A prova ampliada não é, de forma alguma, adequada a
todas as pessoas com baixa visão. Cada tipo de baixa visão impõe as adaptações que lhe
são próprias. Essas adaptações podem ser obtidas através de recursos ópticos ou de
recursos não ópticos.
No portal do MEC, encontramos uma definição de recursos ópticos:
Recursos ou auxílios ópticos são lentes de uso especial ou dispositivo formado por um conjunto de lentes, geralmente de alto poder, com o objetivo de magnificar a imagem da retina. Esses recursos são utilizados mediante prescrição e orientação oftalmológica. (SÁ, 2007, p.19-20)
O mesmo texto deste portal lembra que apesar das lentes, lupas óculos e
telescópios representarem um grande ganho de desempenho visual, conforto e qualidade,
eles não descartam a necessidade de adaptações e de outros cuidados.
Há recursos ópticos para longe, como telessistemas, telelupas e telescópios, que
podem ser usados para leituras de quadro de lousa em salas de aulas, e há recursos óticos
para perto, óculos especiais, lupas manuais ou de mesas, usadas para ampliar o tamanho
das fontes e das figuras nos textos.
São recursos não ópticos os textos ampliados, o acetato amarelo, que diminui a
incidência de luz sobre o papel, o plano inclinado, que aumenta o conforto daquele que
está lendo, caneta de ponta porosa, lápis 6B, cadernos com pautas espaçadas, suporte para
livros, gravadores, tiposcópios (guia de leitura) e bonés, que reduzem o reflexo da luz no
ambiente de leitura. Além desses, o desenvolvimento tecnológico vem propiciando novos
e muito úteis recursos, como os softwares de ampliação de tela, controle de luminosidade
e de contrastes, e os programas com síntese de voz.
Quem define o recurso que será necessário (dentro de uma gama de recursos
oferecidos pela entidade elaboradora da avaliação) é a pessoa com a deficiência visual.
Quando se trata de avaliações públicas (como é o caso de vestibulares e concursos para
vagas de emprego), no mais das vezes, o avaliado, chamado de candidato, deve solicitar
os recursos necessários no ato da inscrição e se prontificar a apresentar laudo médico que
justifique o uso do recurso, para ver sua solicitação atendida. Uma das solicitações
possíveis é a prova ampliada que, como visto nos parágrafos precedentes, não é a solução
para todos os casos de baixa visão.
29
De forma geral, essas são as características das provas ampliadas: provas com
fonte de tamanho 24 e com figuras ampliadas. As salas nas quais estão presentes provas
ampliadas devem ter os participantes com afastamento entre eles (distância das cadeiras
nas quais estão sentados) maior do que o encontrado nas salas convencionais.
Outra possibilidade, normalmente escolhida por aqueles cuja perda de visão é
severa, é a prova em Braille.
4.3 - Prova em Braille
Nas avaliações nas quais não se objetiva o ranqueamento dos avaliados, as
questões, e até mesmo os conteúdos, que aparecem na versão convencional e na versão
adaptada para pessoas com deficiência visual podem distinguir-se. Nas avaliações
ranqueadoras, o trabalho de adaptação de um instrumento no outro tem por princípio que
as versões de prova para pessoas com deficiência visual e a prova para os que não
apresentam essa deficiência não se distingam quanto aos conteúdos focalizados ou aos
critérios de correção. Assim sendo, na versão em Braille, as questões da versão
convencional devem ser transcritas para o Braille respeitando o máximo possível o texto
presente na prova convencional. Entretanto, os textos de uma prova possuem apelos
visuais, gráficos, tabelas e imagens que não se prestam simplesmente a uma transcrição.
Tais dificuldades estão presentes na forma física da prova em Braille.
4.3.1 - Sobre a forma da prova
Cada linha de uma folha em Braille possui cerca de 30 caracteres, enquanto nas
páginas convencionais encontram-se mais de 60 caracteres (por vezes, chegam a mais de
90 caracteres por linha). Isso significa que em cada linha produzida em Braille registra-
se menos da metade do que é feito na linha de uma página convencional. No Sistema
Braille há sinais exclusivos que não possuem correspondentes no sistema comum de
escrita e funcionam, geralmente, como sinais de símbolos principais (sinal de letra
maiúscula, sinal de número, sinal de índice superior, sinal de índice inferior, parênteses
auxiliares). Essas características alteram a configuração das páginas, e palavras ou
símbolos que aparecem na mesma linha em uma prova convencional podem aparecer em
30
linhas distintas ao serem convertidas ao Braille. Além disso, por vezes, questões se
iniciam em uma página e têm continuação na página seguinte.
Deve-se ter cuidado com palavras ou informações que precisam aparecer na
mesma linha, o que pode acontecer em tabelas ou quadros. A quebra de questões (parte
da questão em uma página e parte na página seguinte) também pode trazer dificuldades
se a escolha da opção correta depender de retornar às informações presentes no
enunciado: o candidato pode ter de ficar virando a página para rever as informações do
enunciado. É desejável que, nesses tipos de questões, a quebra seja de uma página par
para uma ímpar, e não de uma página para a página detrás da folha.
O papel usado na transcrição em Braille tem gramatura maior do que o usado na
prova convencional. Utiliza-se, geralmente, a gramatura 120 gramas. Com isso, e com a
menor quantidade de registros feitos em cada folha do Braille, o volume da prova
produzida em Braille é consideravelmente maior do que o da prova convencional (uma
prova convencional com 20 páginas atinge, facilmente, 50 páginas em Braille).
As alterações de tamanho da fonte presentes em um texto convencional não podem
ser reproduzidas no texto em Braille, que tem um tamanho padrão para que a leitura seja
feita com mais eficiência, ou seja, não há como aumentar ou diminuir a “fonte” de um
registro em Braille. O alinhamento do texto em Braille deve ser feito à esquerda, pois
textos centralizados podem trazer dificuldades ao avaliado que, ao perceber que não há
texto no início da linha, pode entender que a linha está em branco.
4.3.2 - Texto
O termo “texto”, por ora usado, refere-se à produção escrita, excluindo imagens,
desenhos, quadrinhos, ou qualquer outra forma de comunicação também tratada, em
outros espaços, como texto.
Os textos não devem ser “centralizados” ou “alinhados à direita”. Todos os textos
(cabeçalho, título, rodapé, número das questões, referências bibliográficas, etc.) devem
ser alinhados à esquerda. Mesmo os textos que apareçam destacados em uma prova
convencional, na adaptação para o Braille, devem ser dispostos alinhados à esquerda.
Veja-se o exemplo abaixo:
31
Prova Convencional
43
...
Fonte: FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS (2006A. p.4)
No texto em Braille concernente a essa questão, os dados que aparecem
deslocados para direita na versão convencional devem aparecer logo após o enunciado
alinhado à esquerda.
Em uma questão que faça uso de números para identificar posição (ordem) das
linhas em um texto, deve-se ter cuidado para não criar dificuldades à leitura em Braille.
Esses identificadores são comuns em textos que fundamentam questões de Língua
Portuguesa e de Línguas Estrangeiras e servem de referência na localização de termos,
expressões ou períodos inteiros. Na transcrição em Braille, a localização do trecho
desejado pode ser feita através do parágrafo. Entretanto, por vezes, apenas uma palavra é
o foco da questão e ela pode aparecer mais de uma vez no parágrafo indicado. Seguem-
se dois exemplos de como o texto deve ficar para ser transcrito em Braille.
Prova convencional
3 Compreende-se corretamente que o autor, (A) (linha 7 e seguintes) ao apontar o que há no sebo, respeita rigorosamente a sequência das prateleiras para informar os assuntos e abstém-se de comentários que possam sugerir algum juízo de valor sobre as obras à venda.
(B) (linha 7) ao usar a palavra sim, admite o conhecimento de um aspecto negativo do sebo, mas, reconhecendo a possibilidade de isso produzir efeito contrário ao que pretende em seu texto, menciona, em
32
seguida, um dado bastante positivo para aquele que busca adquirir um livro usado.
(C) (linhas 10 e 11) ao mencionar a questão da sorte (com um pouco de sorte), já mencionada no parágrafo 1 (com muita sorte), repete a ideia de que, em sebos, a dificuldade de achar o livro desejado é devida à pouca variedade dos livros expostos.
(D) (linha 13) ao fazer referência a um cantinho entre as estantes, cita que nele há objetos igualmente envelhecidos e os elenca, evidenciando que todos têm íntima relação com o hábito da leitura, característico de qualquer frequentador de sebo.
(E) (linha 15) ao tratar daquilo que o corredor destinado a literatura pode propiciar, mostra que alunos de Letras é que têm sensibilidade para entender a precisa ordenação adotada pelo livreiro no que se refere especificamente à Literatura Brasileira.
(UCC, 2019, p.3)
Texto a ser convertido para Braille
3 Compreende-se corretamente que o autor,
(A) (segundo parágrafo) ao apontar o que há no sebo, respeita rigorosamente a sequência
das prateleiras para informar os assuntos e abstém-se de comentários que possam sugerir
algum juízo de valor sobre as obras à venda.
(B) (segundo parágrafo) ao usar a palavra sim, admite o conhecimento de um aspecto
negativo do sebo, mas, reconhecendo a possibilidade de isso produzir efeito contrário ao
que pretende em seu texto, menciona, em seguida, um dado bastante positivo para aquele
que busca adquirir um livro usado.
(C) (segundo parágrafo) ao mencionar a questão da sorte (com um pouco de sorte), já
mencionada no parágrafo 1 (com muita sorte), repete a ideia de que, em sebos, a
dificuldade de achar o livro desejado é devida à pouca variedade dos livros expostos.
(D) (terceiro parágrafo) ao fazer referência a um cantinho entre as estantes, cita que nele
há objetos igualmente envelhecidos e os elenca, evidenciando que todos têm íntima
relação com o hábito da leitura, característico de qualquer frequentador de sebo.
(E) (terceiro parágrafo) ao tratar daquilo que o corredor destinado a literatura pode
propiciar, mostra que alunos de Letras é que têm sensibilidade para entender a precisa
ordenação adotada pelo livreiro no que se refere especificamente à Literatura Brasileira.
33
Note-se que tanto no texto da prova convencional quanto no destinado à conversão
para Braille, os trechos que são o foco de atenção são transcritos. O que distingue um
texto do outro é a substituição do indicativo (linha x) por (parágrafo y). Por vezes é
possível identificar o termo desejado sem precisar transcrever o trecho no qual esse termo
se encontra, mas, na versão em Braille, cuidados adicionais devem ser tomados. O
exemplo a seguir faz referência à palavra “seria”, usada duas vezes no parágrafo:
Em uma prova convencional, uma questão que faça referência a segunda forma
verbal seria presente no texto poderia fazê-lo citando a linha na qual se encontra a palavra
desejada: a forma verbal seria presente na linha 68. No texto para ser convertido em
Braille, deve-se transcrever um trecho do texto de forma a identificar qual das duas
palavras está sendo considerada: a forma verbal seria presente em “...mudassem a cada
dia seria caótica...”. A identificação não pode ser feita com referência exclusivamente ao
parágrafo, haja vista que a palavra seria aparece duas vezes no parágrafo: a transcrição
do trecho faz-se necessária.
O Sistema Braille registra destaques no texto, tais como negrito, itálico,
sublinhado, através de asteriscos (*) imediatamente colocados antes e após o elemento a
ser destacado. Por exemplo, as palavras coser ou cozer, nas quais o s e o z aparecem em
itálico, em Braille seriam registradas: co*s*er ou co*z*er. No entanto, as três formas de
destaque de texto (negrito, itálico e sublinhado) apresentam o mesmo registro em Braille,
as três formas são destacadas pelos asteriscos, o que gera a dificuldade em um texto no
qual essas formas de destaque apresentam funções distintas. Por outro lado, o registro em
Braille é capaz de destacar um trecho em CAIXA ALTA ou entre “aspas” de forma
distinta, sem a necessidade do uso de asterisco. Portanto, há três formas de destacar
elementos de um texto no registro em Braille: o uso dos asteriscos (que corresponde ao
negrito, itálico ou sublinhado), a caixa alta e as aspas.
Mas também pode estar errado quem defende os valores consagrados e aceitos. Só que, em muitos casos, não há alternativa senão defendê-los. E sabem por quê? Pela simples razão de que toda sociedade é, por definição, conservadora, uma vez que, sem princípios e valores estabelecidos, seria impossível o convívio social. Uma comunidade cujos princípios e normas mudassem a cada dia seria caótica e, por isso mesmo, inviável.
Dialética da mudança - FERREIRA GULLAR FOLHA DE SP - 06/05/12
Fonte: Gullar (2012, grifo nosso)
65
34
Cuidado especial deve ser tomado em questões nas quais as aspas, ou os
asteriscos, assumem significado próprio, como é o caso de questões de programação de
computadores. Observe a questão retirada de uma Prova de Desenvolvimento de
Sistemas:
43
O croné um serviço que executa tarefas agendadas no sistema
operacional Linux.
Analise a configuração do crona seguir.
20 06 * * 0 root /usr/local/bin/script
Essa configuração indica que o script deve ser executado
(A) de seis em seis minutos, todos os dias.
(B) de segunda a sexta-feira, às 20 horas e 6 minutos.
(C) todos os dias, às 6 horas e 20 minutos.
(D) somente uma vez, aos domingos.
(E) nos primeiros vinte dias do mês, às 6 horas da manhã.
(FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2018A, p.10)
Nessa questão, os asteriscos aparecem no enunciado com significado próprio.
Deve-se ter cuidado ao usá-lo para identificação de negrito, itálico ou sublinhado. Por
exemplo, a linha na qual aparecem os asteriscos está em negrito. Em Braille, ela
começaria e terminaria com asteriscos, o que pode trazer dificuldades na leitura. Melhor
seria escrever tal linha sem o destaque em negrito, mas, para assumir essa opção, é
necessária a orientação de um especialista determinando se a ausência do negrito altera o
significado do que está escrito.
Não só as formas de destacar um texto merecem atenção nas questões que
envolvem linguagem de programação; outros sinais podem ter significado próprio nessa
linguagem.
Problema bem maior do que a conversão de textos é o tratamento que deve ser
dado às imagens nas provas na versão braille.
35
4.3.3 - Imagem
Imagens, de forma geral, são convertidas em textos, ou seja, são descritas de tal
forma que as questões a elas vinculadas possam ser respondidas. Dois princípios devem
ser observados:
a descrição não pode conduzir (ou revelar) a resposta da questão vinculada à
imagem;
a descrição não pode ser tão longa e complexa que dificulte, ou até inviabilize,
a construção da resposta à questão.
Diante desses princípios, por vezes, uma imagem não permite a descrição para
que seja adaptada ao código braille.
4.3.3.1 - Charges, quadrinhos, desenhos e esquemas
O desenho a seguir está vinculado a três questões de uma prova de Língua
Portuguesa.
Prova convencional
Chargeonline.com.br – © copyright do autor
Figura 4 – Charge de prova de Língua Portuguesa
Fonte: Fundação Getúlio Vargas(2018B. p.4)
36
Texto a ser convertido para o Braille:
Considere o diálogo abaixo, mantido por uma pessoa vestida de Papai Noel e uma mulher
sentada atrás de uma mesa, aparentemente uma funcionária de uma repartição pública ou
de um departamento de pessoal, transcrito de uma charge de Jorge Braga, disponível em
Chargeonline, copyright do autor.
Papai Noel em frente a mesa:
É sobre o meu seguro desemprego...
Mulher, com uma expressão cansada, sentada em uma cadeira atrás da mesa:
Já era, velhinho.
Cabe uma observação: a descrição de uma figura sempre fica sujeita à
subjetividade de quem faz a descrição. Repare que na descrição observou-se uma
“expressão cansada” estampada na mulher. Mas não se mencionou que o Papai Noel está
curvado para frente, que a mulher está com a mão aberta e vazia, ou que a mesa e a cadeira
assemelham-se a móveis de um escritório.
O exemplo seguinte foi retirado de uma prova de administrador de redes:
37
Prova Convencional
50
A empresa CONNECT possui seus setores distribuídos em duas áreas geograficamente distintas, as quais são conectadas por um roteador. As estações de trabalho da rede local da empresa CONNECT recebem as configurações de rede, como endereço IP e gateway, por meio de um servidor DHCP, conforme ilustrado a seguir.
Sobre a rede da empresa CONNECT, assinale a afirmativa correta.
(A) Apenas os clientes 1 e 2 receberão a configuração IP do servidor DHCP.
. . .
Fugura 5 – Redes de computadores
Fonte: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS (2018C. p.11)
Texto para ser convertido para Braille 50A empresa CONNECT possui seus setores distribuídos em duas áreas geograficamente
distintas, as quais são conectadas por um roteador. As estações de trabalho da rede local
da empresa CONNECT recebem as configurações de rede, como endereço IP e gateway,
por meio de um servidor DHCP, conforme ilustrado a seguir.
A figura apresenta as duas regiões distintas através de duas barras horizontais e separadas.
As imagens de dois computadores estão ligadas à barra mais à esquerda, um dos
computadores identificados como Classe 1, e o outro, como Classe 2. Dois outros
computadores, um deles identificados como Classe 3 e o outro como Classe 4, estão
ligados à barra mais à direita. Nessa barra mais à direita, também está conectada a imagem
de uma torre, identificada como Servidor DHCP. As duas barras horizontais estão ligadas
a um roteador.
Sobre a rede da empresa CONNECT, assinale a afirmativa correta.
(A) ...
38
A descrição de uma figura em uma questão técnica como essa deve passar pelo
crivo de um especialista. A conexão das duas barras horizontais com o roteador é feita
através de uma linha contínua que passa sobre a imagem do roteador, e isso não foi
mencionado na descrição. Saber se isso afeta ou não o entendimento da questão é função
de um especialista.
Segue um exemplo extraído de uma prova de analista administrativo.
Prova Convencional
8.
Analise o gráfico abaixo.
(Adaptado de Lacombe, Francisco José Masset. Gilberto Luiz José Heilborn. Administração: princípios e tendências. São Paulo. Saraiva, 2003.)
Sob a ótica da Teoria 3D de gestão, é válido concluir que os quadrantes assinalados representam o estilo pessoal de um gerente
(A)) dedicado e integrado.
(B) integrado e relacionado.
(C) integrado e separado.
(D) dedicado e relacionado.
(E) dedicado e separado
Figura 6 – Gráfico: teoria 3D de gestão
(FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS, 2006A. p.4)
39
Texto para ser convertido para Braille
8Analise o gráfico abaixo.
O gráfico é um quadrado subdividido em quatro quadrados menores idênticos. Um eixo,
orientado de baixo para cima, está construído sobre o lado esquerdo do quadrado grande
e, justaposto a esse eixo, encontra-se a legenda “orientação ao relacionamento”. Um eixo,
orientado da esquerda para a direita, está construído sobre o lado de baixo do quadrado
grande, com a legenda “orientação às tarefas”. Os dois quadrados pequenos à direita, que
participam da composição do quadrado grande, possuem a região central sombreada.
Esse gráfico foi adaptado de Lacombe, Francisco José Masset. Gilberto Luiz José
Heilborn. Administração: princípios e tendências. São Paulo. Saraiva, 2003.
Sob a ótica da Teoria 3D de gestão, é válido concluir que os quadrantes assinalados
representam o estilo pessoal de um gerente
(A) ...
Algumas figuras aparecem com a função de síntese do texto escrito, ou seja, o
texto escrito apresenta todas as informações necessárias à construção da resposta, e a
figura aparece sintetizando essas informações. Na maioria das vezes, em tais questões, na
adaptação para o Braille, basta retirar a referência à figura e eliminá-la. Veja-se o exemplo
a seguir:
40
Prova convencional
Figura 7 – Esfera submersa em um líquido
Fonte: FUNDAÇÃO CESGRANRIO, (2015, p.15)
Texto para ser convertido para oBraille
35 Uma esfera metálica maciça, cujo diâmetro mede 4 cm, tem densidade igual a 8 g/cm3.
Essa esfera encontra-se suspensa por um fio inextensível, de massa e volume
desprezíveis, preso a um suporte. A esfera está em equilíbrio hidrostático e totalmente
imersa em um líquido, sem contato com qualquer superfície.
Qual a intensidade da tração no fio, em newtons?
Dados
pi = 3
aceleração da gravidade (g) = 10 m/s2
densidade do líquido (ro) = 2 g/cm3
(A) 0,64
. . .
No texto a ser convertido para Braille, a alteração é a exclusão da referência à
figura.
41
Focando a isonomia das provas, como a figura cumpre a função de síntese do
texto, pode-se pensar na retirada da figura tanto da prova adaptada quanto da prova
convencional.
Algumas figuras não permitem a descrição para a adaptação ao Braille: seja
porque a descrição revelaria a resposta, seja porque a complexidade da descrição
inviabilizaria a construção da solução. Vejam-se os exemplos a seguir:
Figura 8 - Mapa de curas de complexa descrição
Fonte: FUNDAÇÃO CESGRANRIO (2013, p13)
Esse tipo de questão deve ser substituída tanto na prova convencional quanto na
adaptação para o Braille, ao se buscar a preservação da isonomia. Uma substituição
possível é a adaptação da questão de modo a prescindir da figura (ou usar uma figura mais
42
simples). Uma questão como a que segue deve ser adaptada e substituída tanto na prova
convencional quanto na adaptada para Braille.
A figura a mostra as variações de M,
N e P de acordo com os valores de
x.
Seja f(x) uma função que assume o
maior valor entre os valores de M,
N e P.
O menor valor que f(x) pode
assumir é:
(A) – 3 (B) 0 (C) 0,5 (D) 1 (E) 2
Figura 9 – Retas em um sistema cartesiano
Uma adaptação possível dessa questão é substituí-la, tanto na prova convencional
quanto na adaptação em Braille, pelo texto:
Seja f(x) uma função que assume, para cada valor de x, o menor valor escolhido
entre
M = 2x – 3, N = 3 – x e P = 4 – 2x.
O menor valor assumido por f(x) é:
(A) – 3 (B) 0 (C) 0,5 (D) 1 (E) 2
Vale observar que a adaptação, apesar de abordar o mesmo conteúdo, não avalia
as mesmas habilidades. A solução da questão inicial exigia eminentemente uma análise
gráfica, enquanto a questão adaptada encaminha uma solução algébrica. As duas questões
apresentam a mesma resposta, mas encaminhamentos de soluções diferentes.
M = 2x – 3
N = 3 – x
x
y
P = 4 – 2x
43
4.3.4 - Tabelas
Já foi dito que uma linha de registro em Braille tem cerca de 30 caracteres. Tabelas
simples que não ultrapassem os trinta caracteres na entrada horizontal podem ser
registradas em Braille sem adaptações, como no exemplo a seguir.
Prova convencional
34 Um investimento espera conseguir, com uma determinada aplicação no mercado financeiro, as seguintes taxas reais de juros em função dos cenários “Bom”, “Médio” e “Ruim”.
A expectância e a variância da respectiva taxa real de juros são, respectivamente, (A) 8% e 0,67% . . .
Figura 10 – Três cenários de investimento (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS, 2006B, p.6)
Mesmo sendo possível manter a estrutura de dupla entrada em pequenas tabelas,
é aconselhável linearizar as informações (ler e dispor as informações da tabela em texto
com uma única entrada, texto “corrido”, texto com leitura na “horizontal”). A questão do
exemplo, com a linearização da tabela, pode ser apresentada como segue:
44
Texto para ser convertido para o Braille
34 Um investimento espera conseguir, com uma determinada aplicação no mercado
financeiro, as seguintes taxas reais de juros em função dos cenários “Bom”, “Médio” e
“Ruim”.
Cenário Bom: taxa real de juros de +10% e distribuição de probabilidades do cenário 0,30.
Cenário Médio: taxa real de juros de +8% e distribuição de probabilidades do cenário 0,50.
Cenário ruim: taxa real de juros de +5% e distribuição de probabilidades do cenário 0,20.
A expectância e a variância da respectiva taxa real de juros são, respectivamente,
(A) 8% e 0,67%
. . .
Tabelas pouco maiores que a do exemplo anterior não cabem numa folha
codificada em Braille, e necessariamente devem ser linearizadas. Observe-se a questão a
seguir.
Prova convencional
70 As vazões afluentes a uma seção transversal de um curso de água, onde será construído um reservatório de controle de cheias, para regularizar pela vazão média, são apresentadas na tabela abaixo.
O voluma mínimo do reservatório de regularização é de (A) 4600 m3 . . .
Figura 11 – Tabela de vazão de afluente (FUNDAÇÃO GETÍLIO VARGAS, 2018D, p.15)
45
Texto para ser convertido para o Braille
70 As vazões afluentes a uma seção transversal de um curso de água, onde será construído
um reservatório de controle de cheias, para regularizar pela vazão média, são apresentadas
na tabela abaixo.
A tabela consta de quatro linhas e treze colunas. Na primeira e segunda linhas da primeira
coluna, aparecem os dizeres: mês e m3/mês. Na terceira e quarta linhas da primeira coluna,
esses dizeres se repetem. Da segunda coluna em diante, na primeira e na terceira linhas,
aparecem as letras iniciais dos meses do ano. Dessa forma, na segunda coluna tem-se: J;
6000; J; 5800, ou seja, mês de janeiro com vazão média de 6000 m3/mês e mês de janeiro
com vazão média de 5800 m3/mês. A partir da terceira coluna, tem-se, sucessivamente:
F 7400, F 8400; M 8300, M 6800; A 5600, A 488; M 3500, M 2200; J 2100, J 1600;
J 1700; J 900; A 3200, A 3600; S 6500, S 6500; O 12100, O 10600; N 6100, N 5600;
D 7200, D 5500.
O volume mínimo do reservatório de regulação é de
(A) 4600 m3
...
Neste último exemplo, como a tabela possui apenas quatro linhas, no lugar de
linearizar a tabela, poder-se-ia trocar as linhas pelas colunas, escrevendo uma tabela com
treze linhas e quatro colunas e, dessa forma, registrá-la em Braille.
Uma tabela é um registro de dupla entrada — linhas e colunas. Linearizar uma
tabela é, em última instância, lê-la. Essa leitura pode ser feita através das linhas, ou através
das colunas. No primeiro exemplo dessa seção, questão 34, o objetivo da tabela era
apresentar a taxa real de juros e a distribuição de probabilidade de cada cenário: Bom,
Médio e Ruim. A escolha foi a leitura de linha por linha da tabela. Por sua vez, no exemplo
anterior, o interesse era a vazão média de cada mês. A escolha foi a leitura de coluna por
coluna da tabela. Repare-se que, no último exemplo, a segunda coluna foi descrita
indicando o significado do terno presente em cada célula: na segunda coluna tem-se: J;
6000; J; 5800, ou seja, mês de janeiro com vazão média de 6000 m3/mês e mês de janeiro
com vazão média de 5800 m3/mês. Essa leitura ajuda a perceber a organização da tabela.
Se uma tabela objetiva comparar a evolução dos valores presentes nela — se os
valores crescem, se decrescem, se estacionam, se têm comportamento cíclico —, termos
46
como “crescem”, “aumentam”, “oscilam”, “retornam ao valor” não podem ser usados na
linearização.
A bem da verdade, há uma terceira possibilidade de leitura de uma tabela, distinta
de ler linha por linha ou de ler coluna por coluna: ler cada elemento identificando a linha
e a coluna à qual pertence. A título de exemplo, vamos linearizar a tabela apresentada a
seguir.
Prova convencional
Considere um jogo com seis peças, X, Y, Z, N, P e T, que se distinguem por suas formas
e tamanhos, conforme apresentado na tabela abaixo
Figura 12 - Descrição de tabela elemento a elemento
Texto para ser adaptado para o Braille
Considere um jogo com seis peças, X, Y, Z, N, P e T, que se distinguem por suas formas
e tamanhos, e são tais que:
X é um triângulo pequeno;
Y é um quadrado pequeno;
Z é um círculo pequeno;
N é um triângulo grande;
P é um quadrado grande;
T é um círculo grande.
Linearizar uma tabela lendo elemento a elemento pode apresentar um problema:
a descrição da tabela pode ficar grande demais. Se considerarmos que a apresentação das
características de cada elemento da tabela (apresentação da linha e apresentação da coluna
às quais o elemento pertence) ocupa uma linha na descrição, o número de linhas na
descrição de uma tabela com 10 linhas e 8 colunas seria 80 (10 8).
Triângulo Quadrado Círculo
Pequeno X Y Z
Grande N P T
47
Linearizar uma tabela é decidir como a tabela vai ser lida. Um vidente decide
como lerá a tabela. Essa decisão faz parte do entendimento da questão e da construção da
solução: aquele que lê decide qual a melhor forma de fazê-lo. Ao linearizar uma tabela
para a adaptação às provas destinadas a pessoas com deficiência visual, decide-se pelo
candidato qual a melhor forma de fazer a leitura.
As opções de resposta de uma questão também podem aparecer com a forma de
uma tabela. Nesse caso, ou se altera o comando da questão (instrução que especifica o
que se deseja e como se deseja a resposta) e a forma das opções, ou se lineariza a tabela
das opções. A questão que segue é um exemplo dessas adaptações.
Prova convencional
41
Para ser um servlet, uma classe deve estender a classe
...... e exceder ações “doGet” ou “doPost” (ou ambas), dependendo se os dados estão sendo enviados por uma
ação GET ou por uma ação POST. Estes métodos
tomam dois argumentos: um ...... e um ...... em sua
execução.
Preenchem correta e respectivamente as lacunas,e:
Figura 13 – Tabela presente nas opções (FUNDAÇÃO CARLOS CHAGAS, 2006C, p.11)
Versão para ser convertida para o Braille
41Para ser um servlet, uma classe deve estender a classe ...... e exceder ações “doGet”
ou “doPost” (ou ambas), dependendo se os dados estão sendo enviados por uma ação
GET ou por uma ação POST. Estes métodos tomam dois argumentos: um ...... e um
...... em sua execução.
As lacunas , e são correta e respectivamente preenchidas por:
48
(A) HttpJspServlet, XmlHttpServlet e XmlHttpServletResponse
(B) JspServlet, HttpServletResponse e HttpServletRequest
(C) HttpServletRequest, XmlHttpServletRquest e XmlHttpServletResponse
(D) HttpServlet, HttpServletRequest e HttpServletResponse
(E) HttpServlet, HttpServletRequest e HttpServletResponse.write
4.4 - Prova a Ser Lida por um Programa de Computador (provas adaptadas para áudio)
As adaptações das provas convencionais apresentadas, tanto para a versão em
Braille quanto para a versão em áudio, buscam a obtenção de provas mais fidedignas
possíveis às convencionais e que cumpram a função de avaliar o candidato com
deficiência visual garantindo a isonomia no certame.
Duas etapas do processo de adaptação de uma prova convencional ao áudio são:
Preparação da prova para o programa de um computador. Nessa etapa, os
textos são adaptados, as figuras, gráficos e tabelas são descritos, e questões
que, por ventura, não se prestam à adaptação são substituídas.
Digitação e criação do documento PDF (ou outro formato suportado) que
será lido pelo programa.
Para entender o esforço demandado, é fundamental ter em mente o princípio que
já foi declarado ao apresentar a adaptação para o modelo Braille: nas adaptações de
instrumento convencional de avaliação às necessidades de pessoas com deficiência
visual, as versões de provas não se distinguem quanto aos conteúdos focalizados ou aos
critérios de correção.
Através das questões que servem de exemplo nesta descrição das adaptações ao
modelo áudio, é possível comparar as diferenças entre as adaptações nos dois modelos: o
braille e o áudio.
49
4.4.1 - O NVDA e o DOSVOX
Estão sendo considerados apenas NVDA e o DOSVOX (desenvolvido no NCE da
UFRJ) por serem de livre utilização (grátis) e amplamente usados no Brasil2.
O NVDA (Non Visual Desktop Access) é um leitor de tela para o sistema
operacional Microsoft Windows. Ele é livre e de código aberto. Leitores de tela são
programas que capturam informações apresentadas na forma de texto e as devolvem na
forma falada através de um sintetizador de voz. Os leitores de tela permitem a utilização
de comandos do sistema operacional e de seus aplicativos acionando-os através do
teclado, propiciando a interação da pessoa com deficiência visual com o ambiente do
sistema operacional.
O NVDA foi uma iniciativa do australiano Michel Curran em 2006 e, em seguida,
foi desenvolvido pela NV Access.Curran. Michel Curran, um jovem cego que cursava
bacharelado em Ciência da Computação, diante das dificuldades que os cegos tinham em
ter acesso aos leitores de tela, decidiu
sededicar à criação de um leitor de tela para Windows, que fosse gratuito, que qualquer pessoa pudesse contribuir para sua melhoria e adaptabilidade, que fosse aberto a novas ideias e que seguisse um ‘design’ de fácil entendimento. (PORTAL NACIONAL DE TECNOLOGIA ASSISTIVA, 2016)
O DOSVOX é uma interface especializada, um sistema completo que inclui editor
de textos, vários utilitários e que se comunica com o usuário através de um sintetizador
de voz em português. Possui tecnologia totalmente nacional.
Nas palavras de Antônio Borges, um de seus criadores:
Ocorre uma surpresa quando nós, que vivenciamos o dia-a-dia do DOSVOX ao longo de tantos anos, olhamos para trás. É espantosamente simples o seu surgimento, um trabalho de um professor e um aluno durante um semestre acadêmico. Mas é espantosamente complexa a cadeia de relações múltiplas que surgiram a partir de um pequeno programa, gerando hoje um sistema imenso de computação, com milhares de usuários, e suportando múltiplos relacionamentos com tantos setores da sociedade.(BORGES, 2017)
2 Maiores informações sobre esses e outros leitores de tela podem ser obtidas em https://www.governoeletronico.gov.br/documentos-e-arquivos/eMAG-Descricao-dos-Leitores-de-Tela.pdf
50
Marcelo Pimentel perdeu a visão aos 14 anos de idade e ingressou no curso de
Informática da Universidade Federal do Rio de Janeiro em 1992. O professor Mário de
Oliveira, que ministrava a disciplina de Cálculo Vetorial e Geometria Analítica, propôs
que Marcelo desenvolvesse um sistema que fizesse o computador "falar", algo na linha
do que ela sabia ter sido feito em inglês. A centelha inicial do DOSVOX acabara de ser
lançada.
No segundo período do curso de Informática, Marcelo tinha que fazer a cadeira
de Computação Gráfica, ministrada pelo professor José Antônio dos Santos Borges.
Antônio Borges viu-se diante de um dilema, como gerar a participação de um cego em
um curso fundamentado em informações visuais? Diante disso, o professor perguntou a
Marcelo se ele não gostaria de ser isento desta disciplina. A resposta foi enfática: Marcelo
queria fazer o curso. O contato de Marcelo com o Professor Antônio Borges foi decisivo:
em abril de 1994, ficou pronta a primeira versão do DOSVOX. A partir desse trabalho
inicial, o DOSVOX desenvolveu-se, e hoje ele é um sistema operacional completo, com
vários aplicativos, e é amplamente usado.
4.4.2 - Sobre a forma da prova
A prova é um documento digitalizado que não apresenta materialidade física
(papel). A leitura é feita com o documento aberto na tela do computador. O programa é
capaz de ler textos e uma grande gama de símbolos, como números, sinais operatórios,
sinais de ordem (maior, menor e igual), sinais de pontuação, aspas, asteriscos, barras,
cifrão e, basicamente, todos os registros presentes em um teclado. Por vezes, para o
entendimento do que está escrito, o usuário é obrigado a valer-se do programa lendo
símbolo por símbolo, recurso que é disponibilizado.
O programa não distingue o tamanho e o tipo da fonte. Também não há distinção
entre textos justificados ou não; entre textos centralizados ou não; entre textos formatados
em duas colunas ou em uma coluna. A disposição estética do texto na página perde a
prioridade e entra em foco a qualidade da leitura feita pelo programa.
Não se deve reduzir o espaçamento entre os caracteres nem tampouco entre as
linhas: espaçamento normal entre os caracteres e simples entre as linhas é recomendado.
O programa não identifica parágrafo e nem mudança de colunas. Dessa forma, uma
questão pode começar numa coluna e terminar na outra sem prejuízo da leitura. Uma
questão pode começar numa página e terminar na seguinte. Nesse caso, o número da
51
página, um cabeçalho ou um rodapé poderão ser lidos no meio da questão. É
recomendável deixar um espaço em branco em uma das páginas e apresentar toda a
questão na página seguinte.
O programa não lê desenhos, gráficos ou tabelas, mas pode ler os textos que
estiverem presentes nestas ilustrações, e, quase que na totalidade das vezes, tais textos
são lidos de forma desconexa, sem qualquer possibilidade de entendimento. Por exemplo,
dependendo de como esteja formatada uma história em quadrinhos, o programa pode ler
os balões sem que qualquer referência aos desenhos seja feita. As imagens devem ser
retiradas, substituídas por suas descrições. Figuras e textos que cumpram
fundamentalmente função estética, ou cuja repetição possa ser evitada, como logotipos,
rodapés e cabeçalhos, devem ser evitados.
Deve-se ter em mente, na formatação da prova para leitura pelo programa, que o
texto não será visto, será ouvido: a estética e a funcionalidade do texto encontram-se no
som produzido por um programa de computador.
4.4.3 - Texto
Da mesma forma que foi feito na seção correlata da descrição do modelo braille,
o termo “texto”, nesse momento, refere-se à produção escrita, excluindo imagens,
desenhos, quadrinhos, ou qualquer outra forma de comunicação também tratada, em
outros espaços, como texto.
Textos destacados, como os dados necessários à solução da questão e que
apareçam fora do corpo principal do enunciado de uma questão, como em uma caixa de
texto, na adaptação para o áudio, devem ser dispostos alinhados à esquerda, antes das
opções e fora da caixa de texto. De forma geral, não devem ser usadas caixas de textos
nas adaptações para o áudio. Veja o exemplo a seguir:
52
Prova Convencional
33
A Figura a seguir Ilustra três cargas elétricas puntiformes
fixas em vértices de um hexágono regular cuja área é 92 √3
m2. Se as cargas estão no vácuo, e Q vale 12 C, a intensidade do campo elétrico resultante no vértice P, devido à ação dessas três cargas, em N/C, é (A) 9.000 (B) 12.000 (C) 15.000 (D) 18.000 (E) 21.000
Figura 14 – Cargas elétricas puntiformes
(FUNDAÇÃO CESGRANRIO, 2015. p.14)
Na adaptação para o áudio, o que se encontra dentro da caixa de texto deve ser
posto sem a caixa e alinhado à esquerda antes das opções.
Em questões com textos nos quais aparecem números que identificam posição
(ordem) das linhas, tais números não podem ser usados na versão para áudio. Esses
identificadores são lidos pelo programa como se fizessem parte das linhas que eles
identificam. A saída é, semelhante ao que foi adotado na adaptação ao Braille, localizar
o trecho desejado através do parágrafo e da transcrição de parte do parágrafo no qual o
trecho desejado encontra-se, mas o programa não é capaz de identificar parágrafo. Isso
posto, de nada adianta dizer em qual parágrafo encontra-se um trecho do texto. A solução
é identificar expressamente cada parágrafo de um texto com a expressão “Parágrafo x”
imediatamente antes de iniciar o parágrafo. Veja-se como ficaria o texto de Rubens Alves
a seguir:
Dado k0 = 9109 Nm2/C2
53
Aprendo porque amo Parágrafo 1 Recordo a Adélia Prado: “Não quero faca nem queijo; quero é fome”. Se estou com fome e gosto de queijo, eu como queijo... Mas e se eu não gostar de queijo? Procuro outra coisa de que goste: banana, pão com manteiga, chocolate... Mas as coisas mudam de figura se minha namorada for mineira, gostar de queijo e for da opinião que gostar de queijo é uma questão de caráter. Aí, por amor à minha namorada, eu trato de aprender a gostar de queijo. Parágrafo 2 Lembro-me do filme “Assédio”, de Bernardo Bertolucci. A história se passa numa cidade do norte da Itália ou da Suíça. Um pianista vivia sozinho numa casa imensa que havia recebido como herança. Ele não conseguia cuidar da casa sozinho nem tinha dinheiro para pagar uma faxineira. Aí ele propôs uma troca: ofereceu moradia para quem se dispusesse a fazer os serviços de limpeza. Parágrafo 3 Apresentou-se uma jovem negra, recém-vinda da África, estudante de medicina. Linda! A jovem fazia medicina ocidental com a cabeça, mas o seu coração estava na música da sua terra, os atabaques, o ritmo, a dança. Enquanto varria e limpava, sofria ouvindo o pianista tocando uma música horrível: Bach, Brahms, Debussy... Aconteceu que o pianista se apaixonou por ela. Mas ela não quis saber de namoro. Achou que se tratava de assédio sexual e despachou o pianista falando sobre o horror da música que ele tocava. [...] (ALVES, 2002)
É indiferente se o texto está formatado em duas colunas ou em uma. Também é
indiferente se o texto está em caixa alta ou não. O texto será convertido em som e o
programa não fará distinção desses apelos visuais.
O programa não registra destaques no texto, tais como negrito, itálico,
sublinhado. Destaques devem ser explicitados. Por exemplo, nas palavras, coser ou cozer,
nas quais o s e o z aparecem em itálico, quando convertidas para o áudio deve-se declarar
o itálico: nas palavras coser (o s está em itálico) ou cozer (o z está em itálico). Qualquer
destaque relevante, mesmo com o uso de caixa alta ou aspas, deve ser declarado. O que é
preciso ter em mente é que o texto não será “lido” no sentido convencional do termo: será
convertido em som. Estruturas textuais de apelo eminentemente, ou exclusivamente,
visual não são convertidas em som, não são decodificadas pelo programa de leitura.
54
Prova convencional
3 No Texto II, em “acabamos desvirando o sapato” (l.12), a função sintática da expressão em negrito é a mesma da expressão destacada em (A) “muitos de nós sentimos um leve incômodo”. (l.1) (B) “É muito comum pensarmos na possibilidade”. (l.3) (C) “algo ruim pode acontecer”. (l.4) (D) “a devida importância de tal pessoa merece”. (l.8) (E) “isso não passa de ‘desencargo de consciência’”. (l.14)
(FUNDAÇÃO CESGRANRIO, 2012, p.4)
Texto convertido para áudio
3 No Texto II, em, abre aspas, acabamos desvirando o sapato, fecha aspas (a palavra
sapato está em negrito), a função sintática da expressão em negrito é a mesma da
expressão destacada em
(A) muitos de nós sentimos um leve incômodo. (um leve incômodo está em negrito)
(B) É muito comum pensarmos na possibilidade.(muito comum está em negrito)
(C) algo ruim pode acontecer. (algo ruim está em negrito)
(D) a devida importância de tal pessoa merece. (tal pessoa está em negrito)
(E) isso não passa de, abre aspas, desencargo de consciência, fecha aspas. (desencargo de
consciência está em negrito)
No texto convertido para o áudio, as referências às linhas foram retiradas e não
foram substituídas por referências aos parágrafos porque o texto possui apenas um
parágrafo.
Questões nas quais as aspas, os asteriscos e parênteses assumem significado
próprio, como é o caso de questões de programação de computadores, requerem cuidados
especiais. O programa de leitura é capaz de ler elemento por elemento do código escrito
(ler letra por letra), mas não é capaz de identificar itálico, negrito, caixa alta ou
sublinhado.
55
Prova Convencional
58 Analise o trecho de um script JQuery exibido a seguir. $(document).ready(function(){ $(button).click(function(){ $.get(test.asp, function(data,status){ $(#texto).text(data); }); }); }); Assinale a função desempenhada pelo método get no script. (A) Executar um HTTP request. (B) Executar upload de um arquivo. (C) Ler um arquivo do cliente. (D) Testar o status de uma página. (E) Verificar a existência de um arquivo.
(FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2018A. p.12)
Nessa questão, as aspas os parênteses e as chaves aparecem com significado
próprio. A questão deve ser substituída na prova convencional, ou, na versão para áudio,
deve haver uma instrução para que se proceda a leitura elemento por elemento do código
escrito e, caso existam termos destacados com sublinhado ou negrito, esses destaques
devem ser explicitados à parte, e a adaptação deve ser submetida à aprovação de um
profissional da área (computação).
4.4.4 - Imagem e Tabelas
O programa não lê imagens. Portanto, imagens devem ser descritas, devem ser
transformadas em textos. Os dois princípios usados na conversão da versão em Braille
aqui também devem ser observados:
a descrição não pode conduzir (ou revelar) a resposta da questão vinculada à
imagem;
a descrição não pode ser tão longa e complexa que dificulte, ou até inviabilize, a
construção da resposta à questão.
56
4.4.4.1 - Charges, quadrinhos, desenhos e esquemas
O desenho a seguir está vinculado a três questões de uma prova de língua
portuguesa.
Prova convencional
Chargeonline.com.br – © copyright do autor
Figura 15 – Charge de prova de Língua Portuguesa Fonte: FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS(2018B. p.4)
Texto a ser convertido para o áudio:
Considere o diálogo abaixo, mantido por uma pessoa vestida de Papai Noel e uma mulher
sentada atrás de uma mesa, aparentemente uma funcionária de uma repartição pública ou
de um departamento de pessoal, transcrito de uma charge de Jorge Braga, disponível em
Chargeonline, copyright do autor.
Papai Noel em frente a mesa:
É sobre o meu seguro desemprego...
Mulher, com uma expressão cansada, sentada em uma cadeira atrás da mesa:
Já era, velhinho.
A adaptação não difere da feita para o Braille e as observações lá presentes
também são cabíveis aqui. De forma geral, as conversões de imagens e de tabelas da prova
convencional para a versão em Braille e para aquela a ser lida por um computador são
57
idênticas. Os cuidados apresentados e as observações feitas na discussão sobre a
conversão para o Braille também cabem, quando não específicos do código braille, aqui.
Assim, para não tornar enfadonho o texto com a repetição das mesmas abordagens, pular-
se-ão exemplos já apresentados e ir-se-á à discussão sobre símbolos, ponto no qual há
distinção significativa entre o Braille e o áudio.
4.4.4.2 - Símbolos
Muitos símbolos, como os sinais de operações (+, –, e ), o símbolo de
porcentagem, %, o R$ e outros não apresentam problemas se usados em posições no texto
que os identifiquem. Note que o sinal pode ser lido como sinal de multiplicação ou
como x (incógnita ou variável) em uma expressão matemática. Há, de fato, uma distinção
entre o registro do sinal de multiplicação e a letra x, distinção que não obrigatoriamente
é percebida pelo programa. O sinal de menos também apresenta problema semelhante. O
melhor a se fazer é evitar expressões com símbolos que não façam parte do registro da
escrita comum (texto corrido da língua portuguesa), transcrevendo-os, ou seja,
registrando a leitura desses símbolos. Observem-se os exemplos:
Prova convencional
23
No tratamento de águas e efluentes, a limpeza de uma piscina, por meio de ajuste do pH da água, é realizada através da adição de sulfato de alumínio por apresentar baixa toxidade. Sua adição faz com que as partículas mais densas que a água, por ação da gravidade, sofram decantação. O sulfato de alumínio, por ser muito solúvel em água, possui constante do produto de solubilidade (Kps) igual a 1 10-30 M5, a 25oC.
Levando em conta a sua reação de dissociação apresentada acima, ao adicionarmos sulfato de sódio a uma solução saturada de sulfato de alumínio, o equilíbrio da reação (A) é deslocada para esquerda, diminuindo, assim, a solubilidade do sal, resultando na precipitação. . . .
(FUNDAÇÃO CESGRANRIO, 2015. p.12)
Al2(SO4)3 2 Al+ 3 + 3 SO4-2
58
Adaptação para o áudio
23No tratamento de águas e efluentes, a limpeza de uma piscina, por meio de ajuste do
pH da água, é realizada através da adição de sulfato de alumínio por apresentar baixa
toxidade. Sua adição faz com que as partículas mais densas que a água, por ação da
gravidade, sofram decantação. O sulfato de alumínio, por ser muito solúvel em água,
possui constante do produto de solubilidade, Kps, igual a, abre parênteses, 1 vezes 10
elevado a menos 30, fecha parênteses, M elevado a quinta, a 25 graus Celcius.
Al2, abre parênteses, SO4, fecha parênteses, 3, seta dupla, 2Al, com mais 3 sobrescrito,
mais 3SO4, com menos dois sobrescrito.
Levando em conta a sua reação de dissociação apresentada acima, ao adicionarmos
sulfato de sódio a uma solução saturada de sulfato de alumínio, o equilíbrio da reação
(A) ...
Os textos subscritos na reação apresentada não foram usados, mas os sobrescritos
foram. A seta da reação química foi substituída pela expressão “seta dupla”. Essas
transcrições para registro da escrita comum devem ser submetidas à aprovação de um
especialista na área.
Prova convencional
50 Ana e Bia são vendedoras de uma mesma loja. Em certo dia, Ana fez 4 vendas nos valores a1, a2, a3 e a4, e Bia fez 5 vendas nos valores b1, b2, b3, b4 e b5. Considere x e y números reais tais que (x, a1, a2, a3, a4, y) e (x, b1, b2, b3, b4, b5, y) formam progressões aritméticas.
Nessas condições, a fração 𝑎4−𝑎1𝑏5−𝑏1 é igual a
(A) 0,1 . . .
(FUNDAÇÃO CESGRANRIO, 2014A. p.14)
59
Adaptação para o áudio
50 Ana e Bia são vendedoras de uma mesma loja. Em certo dia, Ana fez 4 vendas nos
valores a1, a2, a3 e a4, e Bia fez 5 vendas nos valores b1, b2, b3, b4 e b5. Considere x e
y números reais tais que (x, a1, a2, a3, a4, y) forma uma progressão aritmética e (x, b1,
b2, b3, b4, b5, y) também forma uma progressão aritmética.
Nessas condições, a fração cujo numerador é a4 menos a1 e que tem como denominador
b5 menos b1 é igual a
(A) 0,1
. . .
Novamente, os subscritos não foram utilizados, a fração foi lida, destacando as
expressões presentes no numerador e no denominador.
Prova convencional
11 Seja P = {x N | x <9}. Dentre os conjuntos abaixo, o único que é subconjunto de P é (A) {x N | 2 x 9} (B) {x N | x > 4} (C) {x Z | – 1 < x <4} (D) {x Z | x 5} (E) {x R | 1 < x <8}
(FUNDAÇÃO CESGRANRIO, 2014B. p.14)
Adaptação para o áudio
11 Seja P o conjunto dos x pertencentes ao conjunto dos números naturais tais que x
menor do que 9. Dentre os conjuntos abaixo, o único que é subconjunto de P é o
(A) conjunto dos x pertencentes ao conjunto dos números naturais tais que 2 seja
menor ou igual a x, e x seja menor ou igual a 9
60
(B) conjunto dos x pertencentes ao conjunto dos números naturais tais que x seja
maior do que 4
(C) conjunto dos x pertencentes ao conjunto dos números inteiros tais que menos 1
seja menor do que x, e x seja menor do que 4
(D) conjunto dos x pertencentes ao conjunto dos números inteiros tais que x seja
menor ou igual a 5
(E) conjunto dos x pertencentes ao conjunto dos números reais tais que um seja menor
do que x, e x seja menor do que 8
Neste último exemplo, os símbolos matemáticos que identificavam os elementos
dos conjuntos foram substituídos por textos em língua corrente.
4.5 – Prova a Ser Lida por um Ledor
Um Ledor é uma pessoa que lê a prova para outra que esteja temporariamente ou
permanentemente impedida de fazê-lo. O Ledor pode auxiliar, além de pessoas com
deficiência visual, autistas, pessoas com déficit de atenção, com dislexia ou com
deficiência intelectual. Quando o auxílio é dado aqueles capazes de ver, as figuras, tabelas
e símbolos são problemas menores: cabe ao Ledor ler os textos e mostrar as figuras e
todos os apelos visuais que forem relevantes a quem estiver sendo atendido. O maior
problema aparece quando o Ledor tem que transformar figuras, fórmulas e tabelas em
som. Em uma avaliação pública, em uma avaliação ranqueadora, Ledores que atuem de
formas diferentes podem gerar resultados diferentes no que concerne à posição que será
assumida por aqueles que estão sendo por eles atendidos. Na busca de uniformização das
ações dos Ledores, foram criados cursos de preparação, e as provas passaram a ser
adaptadas, com as imagens sendo substituídas por textos, descrições destas imagens
foram previamente feitas e igualmente apresentadas a todos os Ledores.
A discussão sobre as ações do Ledor e a análise das provas adaptadas para Ledores
fazem parte de capítulo próprio neste trabalho. A vista disto, por ora, posterga-se a
discussão sobre o Ledor e sobre as adaptações de provas a ele destinadas, limitando-se a
declarar que tais adaptações também têm suas peculiaridades e apresentando, a título de
exemplos, as questões a seguir.
61
Prova do Ledor
QUESTÃO 141
Um mapa é a representação reduzida e simplificada de uma localidade. Essa redução, que é feita com o uso de uma escala, mantém a proporção do espaço representado em relação ao espaço real. Certo mapa tem escala de 1 para 58 000 000. Considere que, nesse mapa, o segmento de reta que liga o navio à marca do tesouro meça 7,6 centímetros. A medida real, em quilômetros, desse segmento é (A) 4 408. (B) 7 632. (C) 44 080. (D) 76 316. (E) 440 800.
(INEP, 2018B. p.17)
Prova convencional
QUESTÃO 141 Um mapa é a representação reduzida e simplificada de uma localidade. Essa redução, que é feita com o uso de uma escala, mantém a proporção do espaço representado em relação ao espaço real. Certo mapa tem escala de 1 : 58 000 000.
Considere que, nesse mapa, o segmento de reta que liga o navio à marca do tesouro meça 7,6 cm. A medida real, em quilômetros desse segmento é (A) 4 408. (B) 7 632. (C) 44 080. (D) 76 316. (E) 440 800.
Figura 16 – Mapa com navio e marca do tesouro
(INEP, 2018B. p.17)
Disponível em: http://oblogdedaynabrigth.blogspot.com.br Acesso em 9 ago 2012
62
Prova do Ledor
QUESTÃO 145 Em 2014 foi inaugurada a maior roda-gigante do mundo, a High Roller, situada em Las Vegas. A figura representa um esboço dessa roda-gigante, no qual o ponto A representa uma de suas cadeiras: Descrição da figura:
A figura representa um círculo dividido em doze raios. O centro está marcado com a letra O e a extremidade de um raio horizontal à direita está com a letra A, que representa uma cadeira. Um segmento perpendicular vai do centro do círculo até o solo. Uma seta indica que o movimento é anti-horário. A partir da posição indicada, em que o segmento AO se encontra paralelo ao plano do solo, rotaciona-se a High Roller no sentido anti-horário, em torno do ponto O. Sejam t o ângulo determinado pelo segmento AO em relação à sua posição inicial, e f a função que descreve a altura do ponto A, em relação ao solo, em função de t. Após duas voltas completas, f tem o seguinte gráfico: Descrição do gráfico:
No eixo horizontal, que representa tempo em radianos, estão marcados os pontos zero, pi sobre dois, dois pi e quatro pi. No eixo vertical, que representa f em metros, estão marcados os pontos 0, 88 e 168. Uma curva começa no ponto (0 ; 88) e sobe até o ponto (pisobre 2 ; 168); a partir desse ponto, desce até perto do eixo horizontal e sobe passando pelo ponto (2pi ; 88), sobe até o ponto de ordenada 168, desce até perto do eixo horizontal e sobe até o ponto (4pi ; 88). A expressão da função altura é dada por (A)fde t é igual a 80 vezes seno de t mais 88. (B)fde t é igual a 80 vezes cosseno de t mais 88. (C)fde t é igual a 88 vezes cosseno de t mais 168. (D)fde t é igual a 168 vezes seno de t mais 88 vezes cosseno de t. (E)fde t é igual a 88 vezes seno de t mais 168 vezes cosseno de t.
(INEP, 2018B. p.18)
63
Prova Convencional
QUESTÃO 145 Em 2014 foi inaugurada a maior roda-gigante do mundo, a High Roller, situada em Las Vegas. A figura representa um esboço dessa roda-gigante, no qual o ponto A representa uma de suas cadeiras: A partir da posição indicada, em que o segmento AO se encontra paralelo ao plano do solo, rotaciona-se a High Roller no sentido anti-horário, em torno do ponto O. Sejam t o ângulo determinado pelo segmento AO em relação à sua posição inicial, e f a função que descreve a altura do ponto A, em relação ao solo, em função de t. Após duas voltas completas, f tem o seguinte gráfico:
A expressão da função altura é dada por (A) f(t) = 80 sen(t) + 88 (B) f(t) = 80 cos(t) + 88 (C) f(t) = 88 cos(t) + 168 (D) f(t) = 168 sen(t) + 88 cos(t) (E) f(t) = 88 sen(t) + 168 cos(t)
Figura 17 – Roda gigante e senoide
(INEP, 2018B. p.18)
Os dois exemplos apresentados fazem parte da prova do ENEM 2018.
64
4.6 – Produção de Respostas
4.6.1 – Registro das respostas às questões de múltipla escolha
Há quatro possibilidades de a pessoa com deficiência visual registrar as respostas
que ela apresentou para as questões de múltipla escolha:
1. declarar oralmente qual a opção escolhida para que um Transcritor/Ledor possa
registrá-la em um cartão convencional;
2. registrar em Braille o número e a resposta de cada questão para que,
posteriormente, sejam transcritos para um cartão convencional;
3. digitar, fazendo uso de um programa de leitura de textos, os números das questões
e a alternativa escolhida em cada uma delas;
4. usar um cartão adaptado para o Braille para que o candidato possa marcar a
alternativa identificada como certa em cada questão.
A primeira opção tem o inconveniente de não documentar a transcrição, ou seja,
não há registro de que a opção transcrita corresponda, de fato, à escolha do candidato, a
menos que a declaração oral seja gravada. A segunda opção depende de um Transcritor
que domine o código braille. A terceira demanda a presença de um computador no local
de prova. A quarta faz uso de um cartão como o ilustrado abaixo, no qual o candidato
marca no Braille a opção escolhida e, posteriormente, esse cartão é transcrito para um
cartão convencional.
Figura 18 – Cartão resposta
65
4.6.2 – Redação e questão discursiva
Na apresentação da resposta à questão discursiva e na elaboração da redação, o
candidato com deficiência visual dispõe de três possibilidades:
1. auxílio para transcrição (Transcritor/Ledor);
2. escrita em relevo (máquina de escrever em Braille e reglete/punção);
3. digitação em computador.
1. Auxílio para transcrição (Transcritor/Ledor)
As questões discursivas e a redação são ditadas ao Transcritor/Ledor.
Essa opção apresenta um sério problema: como distinguir os erros e acertos na
redação do candidato dos erros e acertos do Transcritor? Em vista disso, para viabilizar
essa opção, algumas decisões devem ser tomadas:
Quais são os critérios de correção das redações?
Acentuação gráfica, pontuação, crase: o Transcritor/Ledor deve perguntar ao
candidato como se escreve determinada palavra sempre ou apenas quando ele tiver
dúvida? As dúvidas do transcritor em relação ao que ele deve escrever devem ser sanadas
durante a resposta ditada pelo candidato, ou devem ser anotadas e relatadas após a
resposta completa ser apresentada?
2. Prova Escrita em relevo (máquina de escrever em Braille ou reglete/punção)
As questões discursivas e a redação são respondidas com auxílio de equipamento
próprio para escrita em Braille.
A prova será corrigida pela mesma equipe que corrige as provas convencionais.
Dessa forma, essa opção exige uma posterior transcrição para o sistema comum por uma
pessoa credenciada. Além disso, faz-se necessária a disponibilização de uma máquina de
escrever em Braille ou de reglete/punção e papel apropriado, que devem ser
providenciados.
Cada linha escrita em Braille registra (aproximadamente) a metade do que se
registra no sistema comum. Dessa forma, se uma redação apresenta a instrução, aos
candidatos videntes, de produzir uma redação de 20 a 30 linhas, para a produção em
66
Braille, essa instrução deve ser de 40 a 60 linhas, ou seja, os limites das quantidades de
linhas devem ser dobrados. Procedimento semelhante deve ser efetuado no que se refere
aos espaços destinados às respostas das questões discursivas.
Nessa opção, também pode haver erros cometidos pelo Transcritor. Em especial
a hifenização. Como já foi dito, uma linha no registro braille tem próximo da metade dos
caracteres do registro no sistema comum. Uma consequência é a separação de sílabas que,
na transcrição, não coincide com o registro em Braille. As separações de sílabas no texto
transcrito, muito provavelmente, foram realizadas pelo transcritor. Havendo incorreções,
essas não podem ser imputadas ao candidato. O melhor é que a transcrição seja feita sem
o uso de separação silábica, e que “separação de sílabas” não seja considerada na correção
das questões e da redação.
3. Digitação em computador
As redações e as respostas às questões discursivas são digitadas pelo candidato
diretamente em um computador.
Deve ser disponibilizado ao candidato um terminal de computador com os
corretores ortográfico e gramatical desabilitados. Além disso, no software, o tipo e
tamanho da fonte, assim como o espaçamento entre as linhas e as margens, devem ser
configurados previamente.
O espaço destinado às respostas e à redação (número de linhas) não precisa ser
alterado no caso de ser escolhida a digitação como meio de apresentação da resposta.
Além da adaptação das provas e dos meios de apresentação das respostas, outras
providências devem ser tomadas para garantir a participação de pessoas com deficiência
visual em avaliações públicas, como a questão da acessibilidade ao local de prova, mas
isso foge dos limites desse trabalho.
67
5 – O LEDOR
5.1 - Introdução
O primeiro contato que tive com as ações de um Ledor foi através de uma conversa
com um jovem que havia atuado como Ledor em provas do ENEM e que comentou a
complexidade do trabalho. Curioso com o que ouvi, procurei informações na internet e
observei comentários de algumas pessoas que haviam exercido a função de Ledor. Os
comentários e as abordagens nas conversas por internet são parcos, até porque os Ledores
assumem compromisso de sigilo ao se disporem a participar de algumas avaliações.
Como estava estudando as ações dos Ledores com vista à organização desse material,
procurei trabalhos científicos que tratassem do assunto. Minha busca foi infrutífera.
Entrei em contato com o responsável por um curso de preparação de Ledores e perguntei
onde eu poderia encontrar artigos sobre os Ledores. A resposta que obtive foi: “não
conheço qualquer artigo sobre o assunto, o que existe são manuais de conduta e boas
práticas”. Restou-me fazer um curso de Ledor para poder entendê-los — fiz dois cursos
a distância e um curso presencial com o Grupo Incluir3.
Nesse capítulo são apresentadas as características de um curso de Ledor, o
universo de atuação de um Ledor e as dificuldades que um Ledor enfrenta ao atender uma
pessoa com deficiência visual em uma avaliação pública. As descrições e comentários
que se seguem são notas pessoais e transcrições dos materiais disponibilizados nos cursos
de formação de Ledores. Esperamos que, de alguma forma, essa produção contribua para
o entendimento do que é um Ledor e fomente estudos de aprimoramento de suas ações.
5.2 –O curso de Ledor
O início do curso busca sensibilizar o participante para a questão da
responsabilidade inerente à função de Ledor. Vídeos e textos são apresentados mostrando
a interferência de preconceitos no julgamento das potencialidades das pessoas, e como
esses julgamentos podem prejudicar a atuação do Ledor.Dois vídeos chamaram a atenção.
Em um deles, um jovem, trajando tênis, uma calça bufante e camisa colorida, apresenta-
se em um programa de calouros como dançarino de street dance e se propõe a dançar o
3http://grupoincluir.nucleoead.net/moodle/
68
balé “a morte do cisne”. O desdém toma conta dos jurados, que criticam sua indumentária
e menosprezam a apresentação que está por vir ao saberem que a coreografia foi criada
pelo rapaz. Os comentários beiram ao desrespeito quando o jovem declara o seu nome:
John Lennon da Silva. O rapaz dança e é aplaudido de pé. Um dos jurados declara, com
a voz embargada – Você é um artista! – e retira-se da frente das câmeras chorando. John
Lennon da Silva entra no programa com o fracasso previsto pelos olhares preconceituosos
e sai com os louros inquestionáveis por sua maestria.
Em outro vídeo, um anão e uma moça com uma perna mecânica entram em uma
academia de ginástica. O anão dirige-se ao setor de levantamento de pesos e começa a
levantar pesos cada vez maiores. Os homens grandes e musculosos começam a rir da
ousadia do anão, mas os risos gradativamente diminuem quando os pesos que o anão
começa a levantar superam os suportados por aqueles que riam. Quando o anão pede para
que coloquem um peso extremamente grande em seu haltere, um homem muito alto e
musculoso declara que nem ele consegue levantar aquele peso todo. Os presentes param
e aplaudem o anão ao vê-lo levantar o haltere. Enquanto o anão levanta os pesos, a moça
com a perna mecânica dirige-se para as esteiras de corrida. Ao chegar, uma das pessoas
presentes pergunta se ela precisa de ajuda. Ela agradece e declara não ser necessário. O
olhar dos presentes parece um misto de preocupação e pena. Gradativamente a dona da
perna mecânica eleva a velocidade da esteira, e as pessoas vão parando suas esteiras o
observando a velocidade atingida por aquela “deficiente”. Todos param, e o olhar que
antes era de preocupação e pena transformou-se em espanto. Tanto o anão quanto a moça
com a perna mecânica eram atletas paraolímpicos e, por conseguinte, tinham um
desempenho muito acima das pessoas “normais”. Boa parte do curso objetiva a
sensibilização dos futuros Ledores para que concepções fundamentadas em preconceitos
não interfiram em suas atuações.
O curso continua descrevendo as características de um Ledor, das pessoas que são
atendidas pelo Ledor e do ambiente no qual o Ledor trabalha. Em seguida, começam a
ser apresentadas as técnicas usadas pelos Ledores no atendimento de pessoas do grupo
visual (pessoas com dislexia, deficiência física dos membros superiores, autismo, idosos,
baixa visão e outros aos quais é permitida a solicitação do auxílio de Ledor) e de pessoas
do grupo não visual (cegueira, baixa visão e surdocegueira). Durante todo o curso,
diversos exercícios eram propostos. Um desses exercícios afogueou minha curiosidade
sobre as ações dos Ledores: foi proposta a descrição do quadro Guernica, de Pablo
Picasso. Entrei em contato com o tutor do curso questionando a viabilidade de descrever
69
uma obra com tamanha complexidade. Recebi como resposta que uma questão com
Guernica havia sido usada no ENEM e que os Ledores tiveram que descrevê-la. Uma
reprodução de Guernica foi-me dada de presente e fica pendurada na sala de minha casa.
Pessoalmente, considero Guernica o quadro mais representativo do Século XX e vejo a
reprodução diariamente. Fiz a descrição de Guernica e tive retorno do tutor dizendo que
eu estava usando conhecimentos pessoais para descrever a obra. Como descrevê-la
livrando-me do tempo que passei a observá-la na parede de minha casa? Os cursos
acabaram definindo o que seria o foco de minha pesquisa.
Infelizmente não tive a oportunidade de atuar como Ledor. De fato, disponibilizei-
me para atuar no ENEM de 2017 e fui selecionado. Poucos dias antes da reunião que
haveria com a coordenação do ENEM, recebi um documento de sigilo que eu deveria
assinar. Nele, comprometia-me a não escrever, dar entrevistas ou comentar publicamente
sobre qualquer fato relacionado com a minha atuação como Ledor no ENEM. Não me era
possível assinar esse documento e produzir uma tese de doutorado sobre o assunto. Fiquei
impedido de participar.
5.3 – As ações do Ledor
O documento “O atendimento diferenciado no ENEM” (INEP, 2012), no que se
refere à relação entre deficiências, serviços profissionais e recursos oferecidos,
disponibiliza a solicitação de Ledores às pessoas com baixa visão, cegueira, deficiência
intelectual, surdocegueira, autismo, déficit de atenção e dislexia. Esta lista pode ser
acrescida de idosos, pessoas com os membros superiores comprometidos de forma a não
poder manusear as provas, pessoas acidentadas ou hospitalizadas e outros casos. De fato,
as pessoas atendidas por um Ledor podem ser dispostas em dois grupos: os visuais — que
são aqueles capazes de visualizar os registros impressos e que se valem do Ledor por
dificuldades de manusear as provas, cansaço gerado por longos períodos de leitura ou
dificuldade de concentração — e os não visuais — que são aqueles que apresentam baixa
visão, cegueira ou surdocegueira. A abordagem deste material foca o atendimento ao
grupo dos não visuais.
Os editais dos concursos estabelecem regras que são excetuadas quando se trata
de pessoas com deficiência visual, como, por exemplo, a proibição de uso de bonés ou
itens de chapelaria, de óculos escuros ou o tempo de prova (tais pessoas com necessidades
especiais dispõem de tempo adicional para realização da prova). Os atendidos por Ledores
70
fazem a prova em sala separada, com um candidato por sala de atendimento, o que não
poderia ocorrer de forma diferente, haja vista que, além da leitura em voz alta, as respostas
também são dadas, na maioria das vezes, em voz alta pelo candidato. Não é incomum que
dois Ledores atuem em uma mesma sala atendendo a um mesmo candidato. Isso ocorre
para que, enquanto um dos Ledores estiver fazendo a leitura em voz alta de algumas
questões, o outro esteja lendo as questões seguintes para decidir de que forma procederá.
O Ledor não tem acesso prévio à prova. Ele recebe a prova na hora de iniciar a leitura e
deve tomar a decisão, sobretudo quando a prova não for adaptada para Ledor, de como
lerá uma tabela ou os dados de um gráfico, por exemplo, de forma a apresentar as
informações necessárias à resolução da questão sem respondê-la com sua leitura. Uma
das técnicas aprendidas no curso para Ledor é a possibilidade de inverter a ordem de
apresentação da figura motivadora e do texto da questão. Observe-se o exemplo de uma
questão retirada do ENEM 2011
Um curioso estudante, empolgado com a aula de circuito elétrico que assistiu na escola, resolve desmontar sua lanterna. Utilizando-se da lâmpada e da pilha, retirada do equipamento, e de um fio com as extremidades descascadas, faz as seguintes ligações com a intenção de acender a lâmpada: Tendo por base os esquemas mostrados, em quais casos a lâmpada acendeu? A (1), (3), (6) B (3), (4), (5) C (1), (3), (5) D (1), (3), (7) E (1), (2), (5)
Figura 19 – Pilhas e lâmpadas conectadas (INEP, 2011A, p.24)
Note-se que, se o comando (a pergunta que antecede às opções) for lido antes da
descrição da figura (os sete esquemas) o candidato prestará atenção na descrição
procurando qual dos esquemas permite que a lâmpada acenda; se as opções forem lidas
antes da descrição da figura, o candidato saberá que apenas três dos sete esquemas
71
propiciam o acender da lâmpada. Assim, uma boa opção para a ordem de leitura desta
questão é: ler o enunciado da questão; dizer que há sete esquemas que ilustram a conexão
da lâmpada com a pilha; ler o comando da questão; ler as opções; descrever a figura.
Cabe destaque a capacidade de o Ledor descrever a figura. No exemplo anterior,
se o Ledor não tiver qualquer noção de como a conexão da pilha com a lâmpada deve dar-
se para que a lâmpada acenda, talvez tenha dificuldade para descrever os esquemas de
modo a comunicar as conexões relevantes que propiciam o acender das lâmpadas. Mesmo
que o Ledor seja conhecedor do assunto, tal descrição não é trivial. No ENEM de 2011,
aparece uma figura cuja descrição dificilmente pode ser considerada exequível, ainda
mais diante da proposta da questão a ela vinculada:
PICASSO, P. Guernica. Óleo sobre tela. 349x777 cm. Museu Reina Sofia, Espanha, 1937.
Disponível em: http://www.fddreis.files.wordpress.com. Acesso em 26 de jul. 2010
O pintor espanhol Pablo Picasso (1881-1973), um dos mais
valorizados no mundo artístico, tanto em termos financeiros quanto histórico, criou a obra Guernica em protesto ao ataque aéreo à pequena cidade basca de mesmo nome. A obra, feita para integrar o Salão Internacional de Artes Plásticas de Paris, percorreu toda a Europa, chegando aos EUA e instalando-se no MoMA, de onde sairia apenas em 1981. Essa obra cubista apresenta elementos plásticos identificados pelo
(A) painel ideográfico, monocromático, que evoca várias dimensões
de um evento, renunciando à realidade, colocando-se em plano frontal ao espectador.
(B) horror da guerra de forma fotográfica, com o uso da perspectiva
clássica, envolvendo o espectador nesse exemplo brutal de crueldade do ser humano.
72
(C) uso das formas geométricas no mesmo plano, sem emoção e expressão, despreocupado com o volume, a perspectiva e a sensação escultória.
(D) esfacelamento dos objetos abordados na mesma narrativa,
minimizando a dor humana a serviço da objetividade, observada pelo uso do claro-escuro.
(E) uso de vários ícones que representam personagens fragmentados
bidimensionalmente, de forma fotográfica livre de sentimentos.
Figura 20 – Guernica de Picasso (INEP, 2011B. p.11)
A tarefa do Ledor é descrever a monumental pintura Guernica, e descrevê-la sem
entregar a resposta ao candidato na descrição. Repare-se que, para dificultar mais ainda a
tarefa, as opções, e em especial a opção A que é a resposta, são descrições do quadro.
Talvez seja possível alegar que o conhecimento prévio das características do quadro
(dificilmente compartilhado por alguém sem memória visual) permita responder à
questão mesmo com uma descrição empobrecida da figura. Veja-se, então, a mesma
figura presente no ENEM 2002:
A leitura do poema Descrição da guerra em Guernica traz à lembrança o famoso quadro de Picasso.
Entra pela janela o anjo camponês; com a terceira luz na mão; minucioso, habituado aos interiores de cereal, aos utensílios que dormem na fuligem; os seus olhos rurais não compreendem bem os símbolos desta colheita: hélices, motores furiosos; e estende mais o braço; planta no ar, como uma árvore a chama do candeeiro. (...)
Carlos de Oliveira in ANDRADE, Eugénio. Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa.
Porto: Campo das Letras, 1999. Uma análise cuidadosa do quadro permite que se identifiquem as cenas referidas nos trechos do poema.
73
Podem ser relacionadas ao texto lido as partes:
(A) a1, a2, a3 (B) f1, e1, d1 (C) e1, d1, c1 (D) c1, c2, c3 (E) e1, e2, e3
Figura 21 – Guernica de Picasso dividida em setores (INEP, 2002. p.18)
É um desafio conseguir descrever a figura em uma questão como essa, e garantir
a isonomia dos candidatos. Mais restritamente, é impossível imaginar que Ledores
atuando em diversas salas realizem descrições equivalentes, guardando a isonomia entre
os que foram atendidos por Ledores distintos. A minimização desse problema foi feita
criando-se uma prova específica para o Ledor. Nessa prova, não há a presença de figuras,
que são previamente descritas, uniformizando a leitura dos Ledores. Tais provas, no que
concerne às questões de Matemática, serão objetos de análise neste trabalho.
Não só as figuras exigem cuidados especiais pelo Ledor. Nos textos, além de uma
fluência de leitura, com boa dicção e respeito às modulações exigidas pela pontuação dos
textos, sinais gráficos com apelos eminentemente visuais podem apresentar problemas e
exigir técnica na leitura.
Observe o texto extraído do ENEM 2013.
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Meta de Faminto JK — Você agora tem automóvel brasileiro, para correr em estradas pavimentadas com asfalto brasileiro, com gasolina brasileira. Que mais quer? JECA — Um prato de feijão brasileiro, seu doutô! THÉO. In: LEMOS, R. (Org.). Uma história do Brasil através da caricatura (1840-2001).Rio de Janeiro: Bom Texto; Letras & Expressões, 2001
Figura 22 – Charge JK e Jeca (INEP, 2013B. p.12)
As técnicas de leitura de um Ledor exigem que o travessão seja declarado. A Ledor
deve dizer:
JK diz, você agora tem um automóvel brasileiro [...] ou
JK, travessão, você agora tem um automóvel brasileiro [...].
Se o travessão não for declarado (JK, você agora tem um automóvel brasileiro
[...]) pode-se entender que JK é um vocativo, que JK não é quem profere o que vem a
seguir, mas quem escuta, mudando o sentido do texto.
Destaques gerados por aspas negritos e itálicos, como regra, também devem ser
declarados, e de tal forma que fique claro qual o termo que está sendo destacado. Observe
o comando do tema de redação do ENEM 2013.
A partir da leitura dos textos motivadores seguintes e com base nos conhecimentos construídos ao longo de sua formação, redija texto dissertativo-argumentativo na modalidade escrita formal da língua portuguesa sobre o tema “Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil”, apresentando proposta de intervenção, que respeite os direitos humanos. (INEP, 2013A, p.2)
75
Se a leitura for feita
[...] sobre o tema “Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil”, entre aspas,
apresentando proposta [...]
Não se sabe o que está entre aspas: se é “Brasil”, se é “Lei Seca no Brasil” ou “efeitos da
implantação da Lei Seca no Brasil”. A leitura deve deixar claro quais os termos que estão
entre aspas:
[...] sobre o tema, abre aspas, Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil, fecha
aspas, apresentando proposta [...]
Se tais cuidados devem ser tomados com a leitura de textos em Língua Portuguesa
que, por princípio, tem oralidade, redobram-se os cuidados com expressões matemáticas.
Nilson José Machado nos ensina que a linguagem matemática caracteriza-se como escrita
(MACHADO, 2001). A oralidade, ao proferirmos uma expressão matemática, é um
empréstimo (necessário no processo de ensino/aprendizagem) da Língua Portuguesa. Ao
referir-se à relação existente entre a Língua Portuguesa e a Matemática, Machado declara:
[...] A ênfase no paralelismo nas funções bem como a indicação da forma natural segundo a qual a impregnação entre os dois sistemas tem lugar no dia-a-dia, na fala ordinária, conduziu a discussão à questão das relações entre oralidade e a escrita [...]. Aqui dois fatos merecem especial destaque:
A importância da oralidade como suporte de significação para o aprendizado da escrita e
A ausência de uma oralidade endógena nas linguagens formais.
Em consequência, o inevitável empréstimo da oralidade que a Matemática deve fazer à Língua Materna, sob pena de reduzir-se a um discurso sem enunciador, ao mesmo tempo que destaca uma relação de complementaridade entre os dois sistemas, por essa via põe em evidência a essencialidade da impregnação entre ambos. (MACHADO, 2001, p.127)
Não existe quem tenha aprendido Matemática sem o uso da língua materna, mas
a língua materna é uma metalinguagem no processo de construção do conhecimento
matemático. A oralidade usada na construção desse conhecimento é um empréstimo feito
da língua materna, a Matemática não possui uma oralidade endógena. É possível que
alguém na China produza algumas páginas de Matemática sem usar uma única palavra
em chinês, e que essas páginas sejam enviadas para o Brasil e, aqui, elas serão lidas com
a mesma “naturalidade” com que foram lidas por um chinês, sem precisar de qualquer
76
tradução. A ausência de oralidade endógena é uma característica dos sistemas tratados
como universais, dos sistemas que atravessam fronteiras sem precisar de qualquer
tradução ou adaptação. São tratados como universais a Matemática, o registro musical, a
simbologia química e o desenho técnico. Nenhum desses sistemas possui oralidade
endógena, e todos fazem uso da língua materna como metalinguagem.
Dar oralidade à Matemática é buscar semelhanças entre os significados dos
símbolos matemáticos e os termos existentes em português. Por vezes, essas semelhanças
afastam-se do significado dos símbolos, mas acabam consagradas pelo uso e aceitas sem
maiores problemas. Esse é o caso do sinal “=”, usado em Matemática, lido em língua
portuguesa como “igual”. Quando se vê “a = b” (lido com “a é igual a b”), ninguém
identifica que a vogal a é a mesma coisa que a consoante b. O que se identifica é que tanto
o a quanto o b representam a mesma coisa, ou seja, o sinal “=” estabelece uma identidade
de significados e não de significantes. Uma leitura “mais fidedigna” para “a = b” seria “a
representa a mesma coisa que b”. Quando se deseja estabelecer a identidade de
significantes, deve-se usar ””, lido em Língua Portuguesa como idêntico. Ao se ver
“ax2 5x2 ” (lido como “a vezes x elevado ao quadrado é idêntico a cinco vezes x elevado
ao quadrado”), sabe-se que essa identidade só se estabelece se o a for substituído por 5,
os dois membros da identidade devem ter o mesmo registro. Entretanto, por vezes, se
aceita sem críticas a substituição do sinal “” por “=”, na condição de não gerar dubiedade
no entendimento do que se está produzindo.
Um ponto delicado na busca de oralizar a Matemática é o fato de a Língua
Portuguesa ter um registro unidimensional (um texto é lido da esquerda para a direita)
enquanto a Matemática tem um registro bidimensional (simbologia Matemática tem
registro na horizontal e na vertical). Observe-se a expressão abaixo:
𝑆𝑛 = ∑ (𝑛3)25𝑛=0
Os registros verticais são lidos precedidos de expressões como “índice”,
“expoente”, “elevado a”, “dividido por”, “sobre”, “variando de” e outras que busquem
linearizar o registro bidimensional. A expressão acima poderia ser lida:
S índice n é igual ao somatório de n sobre três elevado ao quadrado, com n
variando de zero até cinco.
77
Na maioria das vezes em que se oraliza uma expressão matemática, a expressão
oralizada está sendo vista por quem escuta, como em uma sala de aula, quando a
expressão escrita no quadro é oralizada pelo professor. Isso é suficiente para eliminar
possíveis dubiedades presentes na oralização (o que significa “ene sobre três elevado ao
quadrado”: (𝑛3)2 ou
𝑛32 ?). Qual é o valor de dois mais dois dividido por dois? Dois ou
três? ( 2+22 ou 2 + 22 ). Essas preocupações são de suma importância nas ações de um
Ledor: para o não vidente, tudo o que ele tem é o som, e não pode haver dubiedade quando
uma expressão é oralizada. Um Ledor, para não deixar dúvidas, poderia ler:
2+22 dois mais dois, tudo isso sobre dois;
2 + 22 dois mais a fração dois sobre dois.
Mais uma vez, a trivialidade não faz parte da tarefa do Ledor. Mesmo para um
professor, um especialista que está acostumado a usar a Língua Portuguesa em suas aulas,
que está acostumado a oralizar a Matemática que está presente na lousa, a oralização para
alguém desprovido de visão não é trivial. Como deve ser lida, para que não haja dúvidas,
a expressão abaixo? 2𝑥 + 3𝑦
“Dois elevado a x somado com três elevado a y” não é uma boa leitura. Pode-se
entender: 2𝑥 + 3𝑦 ou 2𝑥+3𝑦 ou (2𝑥 + 3)𝑦 ou (2𝑥+3)𝑦
Essa expressão poderia ser lida “dois elevado a x, tudo isso somado com três elevado
a y”.
Como deve ser lida a expressão 2𝑥 + 3𝑦 ∙ 5𝑧 ?
“Dois elevado a x, tudo isso somado com 3 elevado a y que multiplica cinco
elevado a z” não é uma boa leitura. Essa leitura pode ser entendida como 2𝑥 + 3𝑦∙5𝑧 . “Dois elevado a x, tudo isso somado com 3 elevado a y, tudo isso multiplicado
por cinco elevado a z” também não é uma boa leitura. Ela pode ser entendida como (2𝑥 +3𝑦) ∙ 5𝑧.
Uma leitura possível é “soma de duas parcelas: uma delas sendo dois elevado a
x, e a outra sendo o produto cujos fatores são três elevado a y e cinco elevado a z”.
Se há dificuldades na oralização de expressões matemáticas, maiores ainda podem
ser as dificuldades na descrição de tabelas, gráficos e figuras geométricas. Tais
dificuldades assemelham-se às que foram apresentadas na abordagem da adaptação de
78
provas para serem lidas por programas de computador. Há vezes nas quais a descrição de
uma figura ou de um gráfico pode ter o auxílio de um “desenho”, feito com o dedo, pelo
Ledor na palma da mão de quem está sendo atendido, mas isso só é possível com imagens
simples.
Como já foi dito, o Ledor só terá acesso à prova na hora de realizar a leitura, e o
tempo que ele tem para decidir de qual forma ele deve oralizar as expressões e descrever
gráficos, tabelas e figuras geométricas é exíguo. Diante disso, o melhor é que o Ledor
receba uma prova previamente preparada para ele. Uma prova na qual esses elementos
visuais sejam previamente convertidos em textos sobre os cuidados de especialistas na
área. A conversão desses elementos visuais em textos deve obedecer aos critérios:
1) o texto correspondente a uma expressão matemática não pode apresentar
dubiedade, ou seja, ao texto deve corresponder uma única expressão
matemática: aquela que lhe deu origem;
2) a descrição não pode ter erro conceitual ou gráfico;
3) a descrição de uma tabela, um gráfico ou uma figura geométrica não pode ser
tão longa ou complexa que inviabilize a construção da solução da questão;
4) a descrição não pode dificultar sobremaneira a construção da solução;
5) a descrição de uma tabela, um gráfico ou uma figura geométrica não pode
apresentar a solução da questão;
6) a descrição não pode alterar a questão, ou seja, não pode modificar o que está
sendo cobrado na prova convencional;
7) a descrição não pode permitir leituras distintas entre aqueles que conhecem o
conteúdo da questão e aqueles que são leigos.
Com esses princípios em foco, foram analisadas as provas de Matemática
adaptadas para Ledor nos anos de 2016, 2917 e 2018, na OBMEP e no ENEM.
79
6 – METODOLOGIA
6.1 — Introdução
Nesse capítulo descrevem-se a origem dos dados coletados, os critérios de
classificação dos dados que fizeram parte das unidades temáticas e os crivos aos quais
foram submetidas essas unidades temáticas. Descreve-se, também, como ocorreram as
entrevistas feitas com o Ledor e com o formador de Ledores.
6.2 — Seleção de dados e escolha metodológica
Uma escola inclusiva pressupõe a construção de uma sociedade inclusiva,
pressupõe que, ao saírem da escola, os incluídos no sistema educacional poderão
continuar seus estudos ou ingressar no mercado de trabalho. A continuidade dos estudos
e assunção dos melhores postos de trabalho são, frequentemente, consequência de
submissão a avaliações que ranqueiam, a vestibulares e a avaliações públicas. Tais
avaliações são realizadas através de provas escritas, o que, caso não haja as devidas
adaptações, impossibilitam a participação de pessoas com deficiência visual. Uma das
adaptações possíveis é a atuação de Ledores. Entretanto, o Princípio da Isonomia
estabelece condições iguais para todos os participantes. Diante do Princípio da Isonomia
e das atuações dos Ledores, surge a questão que norteia esse trabalho:
Quais as ações dos Ledores nas avaliações públicas? Tais ações, em conjunto
com as adaptações, garantem a isonomia (equidade) com as provas convencionais?
Devido à complexidade e subjetividade na descrição de símbolos e imagens, as
provas entregues aos Ledores em algumas avaliações públicas, como o ENEM e a
OBMEP, passaram a substituir os símbolos e as imagens por suas descrições. Assim, em
um mesmo evento de avaliação, coexistem duas provas: uma prova convencional, com
imagens e apelos visuais, e uma prova adaptada para o Ledor, com as imagens da prova
convencional descritas. De acordo com o Princípio da Isonomia, essas provas precisam
ser “equivalentes”. Surge aí o material propício para a análise na busca à resposta da
questão de pesquisa.
80
A metodologia escolhida para a análise dos dados que os instrumentos de pesquisa
propiciaram inspira-se no texto Análise de Conteúdo, de Roque Moraes (MORAES,
1999). Nele, Moraes estabelece cinco etapas para o processo de análise de conteúdos:
1 – Preparação das informações;
2 – Unitarização ou transformação do conteúdo em unidades;
3 – Caracterização ou classificação das unidades em categorias;
4 – Descrição;
5 – Interpretação.
O método consiste na seleção dos pontos relevantes do material coletado,
constituindo as temáticas de análise, identificação de cada temática de análise,
estabelecimento de critérios para classificação (categorização) das temáticas de análise,
descrição do material categorizado e interpretação dos resultados que emergem da
descrição. Gisela Pinto (PINTO, 2018) refere-se à proposta de análise de conteúdo de
Moraes através de um esquema com quatro focos: (1) a desmontagem do texto, que
corresponde às etapas 1 e 2; (2) o estabelecimento de relações, correspondente à etapa 3;
(3) a elaboração de metatexto, presente na etapa 4; e (4) resultados finais, correspondente
à etapa 5. Em suma, a análise de conteúdo é um processo de desmontagem dos textos em
unidades significativas à luz da proposta de pesquisa, agrupamento adequado dessas
unidades e construção de um texto síntese com nova significação.
O material escolhido como base para a consecução dessa pesquisa são as provas
do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e da OBMEP (Olimpíada Brasileira de
Matemática do Ensino Público). Essas duas avaliações possuem âmbito nacional, fazem
uso de Ledores e possuem provas adaptadas para Ledores.
O ENEM tem como principal finalidade a avaliação do desempenho escolar e
acadêmico ao final do Ensino Médio. Seus resultados podem “ser usados como
mecanismo único, alternativo ou complementar para acesso do participante à Educação
Superior, especialmente, a ofertada pelas instituições federais de educação superior” e
“ser utilizados como instrumento de seleção para ingresso nos diferentes setores do
mundo do trabalho” (INEP, 2018A)
Diante da amplitude dos objetivos do ENEM, praticamente todos os estudantes
que terminam o Ensino Médio participam do ENEM. Assim, aqueles que fizerem uso das
ações dos Ledores podem ter, ou não, afinidade com a Matemática.
81
A OBMEP tem como objetivos, dentre outros: “estimular e promover o estudo da
Matemática” e “Identificar jovens talentos e incentivar seu ingresso em universidades,
nas áreas científicas e tecnológicas” (OBMEP, 2018B).
A OBMEP ocorre em duas fases. Cerca de 5% dos participantes da primeira fase
são selecionados para a fase seguinte. As provas da OBMEP são aplicadas em três níveis:
nível 1, para alunos do 6º e 7º anos do Ensino Fundamental; nível 2, para alunos do 8º e
9º anos do Ensino Fundamental; e nível 3, para alunos do Ensino Médio. Para efeito de
análise, neste trabalho foram selecionadas apenas questões das duas fases do nível 3.
Destaque-se que os participantes classificados para a segunda etapa possuem afinidades
com a Matemática, dado que constituem cerca de 5% dos melhores desempenhos na
primeira etapa.
Essa diferença dos participantes do ENEM e da OBMEP justifica a análise de
questões das duas avaliações. Cabe, agora, a descrição dos critérios de seleção da amostra
a ser analisada e da identificação das temáticas de análise, ações ligadas as duas primeiras
etapas arroladas por Moraes.
O primeiro objeto observado foram as provas. Elas foram separadas em dois
grupos: provas do ENEM e provas da OBMEP, identificados como E e O. Essa separação
justifica-se pelas diferenças de objetivos e de públicos que participam de cada uma dessas
avaliações. Cada prova teve o ano de sua aplicação identificado. Por exemplo, uma prova
do ENEM que tenha sido aplicada em 2016 foi identificada como E16, e uma da OBMEP
aplicada em 2017 identifica-se como O17. Só foram consideradas provas que possuíam
uma versão para Ledor. Selecionaram-se, então, as questões de Matemática que possuíam
registros semióticos distintos do verbal, ou seja, questões que possuíam simbologia
matemática, gráficos, figuras geométricas, imagens etc. Até esse ponto, as questões foram
identificadas pela prova de origem, pelo ano de aplicação da prova e pelo número de
ordem da questão na prova. Assim, a questão 05 da prova do OBMEP de 2017 foi
identificada por O1705. A questão E1632 é a questão 32 da prova de Matemática da
ENEM de 2016. Como todas as questões selecionadas fizeram parte de provas com
versões para Ledor e apresentaram registro semiótico distinto do verbal, esses fatos não
foram registrados nas identificações.
Foi apresentada a resolução de cada questão selecionada. A resolução pode ter
sido oficial ou não. A OBMEP disponibiliza as soluções de todas as questões e essas
soluções oficiais foram apresentadas. Por sua vez, o ENEM disponibiliza apenas o
gabarito das questões, a opção correspondente à resposta nas questões de múltipla
82
escolha. As soluções das questões do ENEM, por conseguinte, não são oficiais: foram
produzidas por professores de Matemática e referendadas pelo autor. Dessa forma, para
cada questão, tem-se a versão convencional, a versão para Ledor e a resolução. Cada trio
convencional-Ledor-resolução constitui uma temática de análise, e cada temática de
análise foi submetida a sete perguntas que constituem o crivo na análise:
1) O texto da prova do Ledor correspondente ao registro matemático da prova
convencional apresenta dubiedade?
2) Há erro conceitual ou gráfico no texto da prova do Ledor?
3) As descrições são longas ou complexas de tal modo que inviabilizem a construção
da solução?
4) As descrições dificultam sobremaneira a construção da solução da questão?
5) As descrições apresentam a solução da questão?
6) O texto da prova do Ledor altera a questão convencional, ou seja, modifica o que
está sendo cobrado na prova convencional?
7) As descrições permitem leituras distintas entre aqueles que possuem treinamento
matemático e aqueles que são leigos?
As perguntas do crivo de análise direcionam-se às adaptações feitas para o Ledor,
ao texto do Ledor. De forma geral, não são tecidas observações concernentes ao texto
convencional das questões em análise. O foco do trabalho são as adaptações feitas para o
Ledor.
Inicialmente eram cinco as questões do crivo de análise: as questões 1, 3, 5, 6 e 7.
Com o desenrolar do trabalho, observou-se que dois pontos relevantes estavam se fazendo
presentes e não eram cobertos pelas questões do crivo. Impôs-se a inclusão de duas novas
questões, a 2 e a 4.
Para criar precisão e aumentar a objetividade das perguntas, segue um
esclarecimento da abordagem de cada uma delas.
83
Pergunta 1
O texto da prova do Ledor correspondente ao registro matemático da prova
convencional apresenta dubiedade?
O que se perscruta aqui é se o texto adaptado para o Ledor corresponde
exclusivamente ao registro que lhe deu origem. Por exemplo, ao declarar-se que um
quadrado foi dividido em oito partes iguais, não se sabe se tais partes são triângulos ou
retângulos. Se a única preocupação da questão for a área de cada uma dessas partes, não
havendo relevância na forma de cada parte, a questão não apresenta dubiedade.
Entretanto, se a forma de cada parte interferir na construção da resposta, a dubiedade
estará presente. É dúbia a adaptação que gerar interpretações distintas que produzam
caminhos significativamente distintos na construção da resposta, mesmo que esses
caminhos levem a mesma resposta. O advérbio “significativamente” demanda uma
subjetividade na identificação desses caminhos distintos, mas, por vezes, caminhos
distintos não produzem construções distintas relevantes. Uma descrição pode, por
exemplo, permitir a construção de triângulos retângulos simétricos em relação a um eixo,
e a escolha de um deles pode não alterar, significativamente, a construção da resposta.
Pergunta 2
Há erro conceitual ou gráfico no texto da prova do Ledor?
O uso de um mesmo símbolo com mais de um significado na adaptação (abuso de
notação) e o uso de termo técnico com significado indevido são considerados erros. É
claro que, em Matemática, a linguagem não é monossêmica, mas a escolha das notações
e dos termos não pode gerar dúvidas. Em uma questão que trate de matrizes, não se pode
descuidar do uso dos termos linhas e colunas. Também são erros trocas da ordem de
dígitos, trocas de figuras ou de parte delas, erros tipográficos ou qualquer outro erro que
ultrapasse um equívoco de descrição. São registros que seriam considerados erros se
estivessem presentes na prova convencional. Há erros que são gritantes, que podem ser
imediatamente identificados pelo Ledor ou pela pessoa com deficiência visual. Se o Ledor
identifica e corrige o erro, terá feito uma intervenção para além da adaptação proposta.
Se a pessoa com deficiência visual identifica, ele terá uma dificuldade a mais na
construção da resposta: corrigir o erro.
84
Pergunta 3
As descrições são longas ou complexas de tal modo que inviabilizem a construção
da solução?
A natureza de um objeto ou o modo escolhido para descrevê-lo pode ser tão longo
ou complexo que, por exiguidade de tempo ou dificuldade de correlacionar as partes
descritas, seja impossível a construção da solução. Uma tabela, por exemplo, pode ser tão
grande que sua descrição inviabilize a questão para a pessoa com deficiência visual. Uma
questão pode envolver não só uma imagem, mas também movimentos dessa imagem, e a
descrição pode tornar-se tão complexa que não seja possível construir a resposta.
Pergunta 4
As descrições dificultam sobremaneira a construção da solução da questão?
Durante a análise das questões, primeiro foi lido o texto convencional e, em
seguida, a adaptação feita para o Ledor. Dessa forma, a leitura da adaptação é feita com
o objeto que está sendo descrito em mente. Poucas vezes, a ordem de leitura foi invertida:
primeiro lia-se a adaptação e depois o texto convencional. De forma geral, quando essa
inversão era feita, o nível de dificuldade na construção do objeto era imenso. Entretanto,
não é possível, para um vidente, avaliar o nível de dificuldade que um cego tem, na
construção do objeto, diante da descrição. Contudo, é possível perceber que uma
descrição não inviabiliza a construção da resposta, mas aumenta, sobremaneira, a
dificuldade na construção.
Pergunta 5
As descrições apresentam a solução da questão?
Com o objetivo de viabilizar, ou facilitar, a construção do objeto que está sendo
descrito, pode-se encaminhar a solução da questão. Por exemplo, se uma tabela é muito
longa de tal sorte que não seja aconselhável sua descrição na íntegra, pode-se decidir
descrever apenas parte da tabela, mas, com isso, corre-se o risco de apontar o caminho a
seguir para construir a solução. Em uma descrição, deve-se evitar incluir qualquer
elemento que não esteja presente no enunciado convencional, a menos que tais elementos
se apresentem como necessários à descrição, como a indicação dos vértices de um
85
polígono por letras, mas nessas inclusões necessárias redobram-se os cuidados com a
orientação à solução.
Pergunta 6
O texto da prova do Ledor altera a questão convencional, ou seja, modifica o que
está sendo cobrado na prova convencional?
Esse é um erro grave na descrição. Ele pode ser gerado por um equívoco no
processo de descrição ou por um erro presente no objeto descrito. Seja o texto
convencional de uma questão que apresenta um quadrado com um segmento pontilhada
unindo dois pontos de lados consecutivos, e que o texto convencional declare que a linha
pontilhada foi obtida dobrando-se uma folha de papel quadrada de tal forma que um dos
vértices coincidisse com o centro do quadrado. Suponha-se que, na descrição da figura
para o Ledor, declare-se que a figura é um quadrado com um segmento de reta pontilhado
unindo os pontos médios de dois lados consecutivos. A informação dada não constava no
enunciado convencional. A identificação dos extremos do segmento pontilhado como
ponto médio dos lados do quadrado seria uma consequência da forma através da qual o
pontilhado foi construído. É possível que a descrição feita para o Ledor altere o caminho
a ser seguido para se chegar à resposta e, portanto, altere o que está sendo cobrado na
prova convencional.
Pergunta 7
As descrições permitem leituras distintas entre aqueles que possuem treinamento
matemático e aqueles que são leigos?
Na maioria das vezes, a resposta a essa pergunta é afirmativa quando parte do
registro matemático, na questão convencional, não é convertido em texto corrido, em
texto de linguagem comum, na versão do Ledor. Uma expressão como f(x) = 2x + 3 seria
lida por alguém com treinamento matemático como “f de x é igual a dois x mais três”, e
uma pessoa sem treinamento poderia ler “f, abre parênteses, x, fecha parênteses, igual a
dois x mais três”. Em especial, esse exemplo possivelmente não traria maiores problemas
na distinção de leituras, mas notações de intervalos, expressões com somatórios e outras
tantas expressões mais complexas podem gerar dificuldades extras para a pessoa com
deficiência visual que não esteja sendo atendida por alguém com treinamento matemático.
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Uma questão que não apresente qualquer problema na adaptação para o Ledor
deve ter todas as respostas ao crivo negativas. Espera-se que quanto maior a quantidade
de “Sim” atribuídos a uma questão, tanto maior sejam os problemas que ela apresente,
mas único “Sim” pode ser suficiente para inviabilizar a solução da questão. Um erro de
impressão pode fazer com que uma questão não tenha resposta. Essa questão receberá um
“Sim” na pergunta 2, mas não, necessariamente, em todas as demais perguntas.
Para refinar as conclusões construídas a partir desta perscrutação, as temáticas de
análise foram classificadas segundo os critérios:
1) conversão do conteúdo semiótico da prova convencional em texto verbal na
prova de Ledor — se todo o conteúdo foi convertido, a temática será
identificada com um “S”, em caso contrário, com um “N”;
2) presença de linguagem simbólica na versão convencional — expressões
algébricas, fórmulas e equações— se possuir, a temática será identificada com
um “s”, em caso contrário, com um “n”;
3) presença de tabela na prova convencional — tabelas de dupla entrada e
matrizes — se sim, a temática será identificada com um “T”, em caso
contrário, com um “A”.
4) presença de imagem na prova convencional — gráficos cartesianos, esquemas,
figuras geométricas e figuras auxiliares — se sim, usa-se um “g”, se não, um
“a”.
5) conteúdo matemático abordado pela questão — foi feita de acordo com o rol
abaixo, fundamentado nos objetos de conhecimento associados à matriz de
referência do ENEM —
1. conhecimentos numéricos
operações em conjuntos numéricos (naturais, inteiros, racionais e reais),
desigualdades, divisibilidade, fatoração, razões e proporções, porcentagem e
juros, relações de dependência entre grandezas, sequências e progressões,
princípios de contagem;
2. conhecimentos geométricos
características das figuras geométricas planas e espaciais; grandezas, unidades
de medida e escalas; comprimentos, áreas e volumes; ângulos; posições de
retas; simetrias de figuras planas ou espaciais; congruência e semelhança de
87
triângulos; teorema de Tales; relações métricas nos triângulos;
circunferências; trigonometria do ângulo agudo;
3. conhecimentos de estatística e probabilidade
representação e análise de dados; medidas de tendência central (médias, moda
e mediana); desvios e variância; noções de probabilidade;
4. conhecimentos algébricos
gráficos e funções; funções algébricas do 1.º e do 2.º graus, polinomiais,
racionais, exponenciais e logarítmicas; equações e inequações; relações no
ciclo trigonométrico e funções trigonométricas;
5. conhecimentos algébricos/geométricos
plano cartesiano; retas; circunferências; paralelismo e perpendicularidade,
sistemas de equações.
No critério 1, registros semióticos são todos os registros matemáticos distintos da
Língua Portuguesa — fórmulas, expressões algébricas, equações, frações, números
decimais e o que mais tivesse relevância na construção da solução. Contudo, os números
inteiros não foram considerados, entendendo que a leitura deles é inequívoca e
praticamente pertencente ao registro da língua corrente. Também foram desconsideradas
frações simples, como 1/2, 1/3, 1/5 e 2/3, e valores inteiros associados ao símbolo de
porcentagem, 10%, 125%, – 32%.
No critério 2, entende-se como linguagem simbólica as expressões algébricas e
notações com símbolos relacionais. Estão excluídas, para efeito desse critério de
classificação, imagens geométricas, tabelas e gráficos.
No critério 3, entende-se como tabela qualquer registro de dupla entrada, em
linhas e colunas — um quadrado mágico é uma tabela; uma matriz é uma tabela.
No critério 4, imagem são os registros imagéticos excluídos no critério 2 e no 3,
ou seja, gráficos, figuras geométricas, diagramas e esquemas. Figuras meramente
ilustrativas, sem função na construção da solução da questão, não são consideradas como
imagens nesse critério.
No critério 5, a identificação do conteúdo foi feita através dos objetos de
conhecimento associados à matriz de referência do ENEM. Para a identificação do
88
conteúdo, haja vista que dificilmente uma questão envolve um único conteúdo, foi
considerado aquele que se sobressai na questão.
Dessa forma, a temática de análise identificada com E1632SnTa3, é a questão 32
do ENEM de 2016, que apresenta, na versão do Ledor, todo o registro semiótico
convertido em texto verbal e, na versão convencional, não tem linguagem simbólica, tem
tabela, não tem imagem e é uma questão de conhecimento de estatística e probabilidade.
Todas as temáticas de análise foram postas em um quadro com dois registros, um
dos registros sendo o código de identificação da unidade e o outro, as respostas às sete
perguntas do crivo ao qual foram submetidas as unidades: “Sim”, em caso afirmativo, e
“Não”, em caso negativo. Cada resposta aos crivos foi justificada com um texto, que se
coaduna com a etapa de descrição do material estabelecida por Roque Moraes.
Em seguida, construiu-se um texto síntese: a conclusão gerada pela interpretação
dos resultados.
6.3 — Entrevistas
Além da análise apresentada acima, entrevistas semiestruturadas foram feitas com
os atores envolvidos nas ações do Ledor: o Ledor e o coordenador/tutor de curso de Ledor.
As perguntas constantes nas entrevistas tiveram por objetivo capturar as impressões dos
participantes relativas às ações do Ledor nas avaliações públicas e identificar
possibilidades de aprimoramento dessas ações.
Perguntas orientadoras da entrevista com Ledor:
1) Há quanto tempo você atua como Ledor?
2) O que o levou a atuar como Ledor?
3) Você já possuía contato com pessoas com deficiência visual antes de atuar
como Ledor?
4) As descrições feitas na prova adaptada para Ledor correspondem às
questões da prova não adaptada?
4.1) Você se lembra de alguma questão que você tenha entendido diferente
ao lê-la na prova não adaptada?
5) Você julga que o participante consegue responder todas as questões a partir
da leitura da prova adaptada?
89
6) Há algum tipo de questão que você sente maior dificuldade em ler a
descrição?
6.1) Você identifica o motivo dessa dificuldade?
7) Qual a maior dificuldade em sua atuação?
8) A pessoa com deficiência visual participa dos concursos em iguais
condições relativamente aos videntes?
9) Você gostaria de fazer alguma observação a mais?
Foram entregues quatro questões ao entrevistado para que ele fizesse a leitura
como se estivesse em uma situação de avaliação, duas questões sem adaptação para Ledor
e duas questões adaptadas.
Sem versão para o Ledor
Figura 23 – Primeira questão da entrevista Fonte: INEP(2013)
90
Figura 24 – Segunda questão da entrevista
Fonte: OBMEP(2014)
Com versão para Ledor
Figura 25 – Terceira questão da entrevista Fonte: INEP (2013)
91
Figura 26 - Quarta questão da entrevista
Fonte: OBMEP (2014)
Na OBMEP, o Ledor recebe a prova convencional e a prova adaptada para Ledor.
No ENEM, ele recebe somente a prova adaptada. Foi escolhida uma questão de cada
avaliação (ENEM e OBMEP) sem adaptação para Ledor, e uma de cada avaliação com
adaptação para Ledor.
Após a leitura das questões selecionadas, prosseguiram-se mais perguntas ao
Ledor.
92
10) Você sentiu dificuldade na leitura de alguma dessas questões?
11) Sua leitura de cada uma dessas questões foi imediata ou você teve que
fazer alguma escolha, decidindo qual a melhor forma de fazer a leitura, em
alguma das questões?
Perguntas orientadoras da entrevista com coordenador/tutor de cursos de
formação de Ledores:
1) Como você se envolveu com a preparação de Ledores? Você atua nesse
campo há muito tempo?
2) Você sabe dizer como as pessoas com deficiência visual participavam das
avaliações (vestibulares, avaliações públicas) antes da ação dos Ledores?
3) Qual a maior dificuldade encontrada na preparação de Ledores?
4) Qual a maior dificuldade encontrada pelos Ledores nas suas ações?
5) Quem elabora as provas específicas para Ledores?
6) A elaboração da prova para Ledor é feita com base em algum manual ou
norma de adaptação?
7) Qualquer prova pode ser adaptada para Ledores?
7.1) Qualquer questão pode ser adaptada para Ledores?
8) Qual é a vantagem de lançar-se mão do Ledor ao invés de utilizar-se um
programa leitor de texto, como o DOSVOX, quando a prova não apresenta
figuras?
9) As diferenças pessoais entre os Ledores podem interferir no resultado de
uma avaliação?
10) No que se refere à leitura de questões de Matemática, qual é a maior
dificuldade que o Ledor encontra?
11) Existe alguma diferenciação na correção das provas para pessoas com
deficiência visual?
12) A pessoa com deficiência visual participa dos concursos em iguais
condições relativamente aos videntes?
13) Você gostaria de fazer alguma observação a mais?
93
Com a análise das questões do ENEM e da OBMEP e com as observações das
entrevistas, obteve-se um volume de informações relevantes que permitiu uma
observação cuidadosa da questão de pesquisa.
94
7 –ENTREVISTAS COM OS ATORES
7.1 - Introdução
Foram feitas duas entrevistas: uma delas com Dário Aguirre, coordenador/tutor
de curso de formação de Ledor/Transcritor, o curso do Grupo Incluir, e a outra com
Marcos Cavalcante, Ledor que atuou no ENEM e em outras avaliações.
O nome Marcos Cavalcante é fictício, escolhido aleatoriamente para identificar o
Ledor entrevistado. O nome de Dário Aguirre foi preservado por entender-se que as
respostas dadas por Dário identificam o entrevistado. Após a transcrição das duas
entrevistas, o texto foi enviado por e-mail aos dois entrevistados que fizeram pequenas
alterações e devolveram, concordando com o uso do texto em sua forma final.
Nas duas entrevistas foi entregue uma guia com perguntas para orientar a
entrevista. Entretanto, o desdobramento das duas foi bem distinto: Dário, diante das
perguntas, deslanchou as respostas sem que eu praticamente o interrompesse; Marcos
transformou a entrevista em uma conversa. Essa diferença de formato aparece nos textos
que se seguem. Esses textos são resumos, são recortes das entrevistas e comentários sobre
elas. É interessante observar que as opiniões dos dois, em muitos pontos, coincidem.
A íntegra dessas entrevistas pode ser encontrada em anexo desse trabalho.
7.2– Entrevista com coordenador/tutor de um curso de formação de Ledores.
Já havia conhecido Dário Aguirre por intermédio de cursos de formação de
Ledores dos quais participara. Entrei em contato e marcamos a entrevista para o dia 27
de julho, um sábado. Ele se prontificou a pegar-me no aeroporto, o que ocorreu por volta
das 9h 30min, e fomos a uma simpática lanchonete na Asa Sul de Brasília. Sentamos em
uma mesa do lado de fora da lanchonete e começamos a conversar, inicialmente sem
registro. Para orientar a entrevista, eu havia preparado um roteiro com perguntas. A ideia
inicial era que essas perguntas servissem de orientação a uma conversa, a uma
interlocução que se estabeleceria entre Dário e eu. Liguei o gravador e entreguei o roteiro
ao Dário. Ele leu a primeira pergunta e começou a desarrolhar um cabedal de informações
e reflexões referentes à pergunta. Comportamento semelhante se estabeleceu em relação
a todas as perguntas do roteiro. Eu pouco interferi na sua narrativa e, quando o fiz, foi
para esclarecer uma dúvida sobre algo que não me tenha parecido claro. Devido a minha
95
parca participação, decidi não explicitar minha presença na hora de transcrever a
entrevista.
A transcrição não foi feita tentando converter em texto o discurso oralizado, ou
seja, não se tentou passar ao papel ipsis litteris o que foi dito. A preocupação foi manter,
ao máximo, o conteúdo do discurso, mas respeitando as normas de um texto escrito. Dessa
forma, as permissividades características do discurso oral, como falhas em concordância
devido a regionalismos, frases truncadas provocadas por alterações no fluxo de
pensamento, ou apostos muito longos que separam uma sequência da narrativa, foram
reorganizadas ou corrigidas. Após a transcrição, o texto foi enviado para apreciação do
Dário, que fez pequenas alterações e devolveu o texto por e-mail com a declaração: Fiz
pouquíssimas marcações, é a expressão da verdade de nossa conversa. A íntegra desse
texto devolvido por Dário encontra-se em anexo nesse trabalho.
Vamos reproduzir as perguntas feitas e apresentar e comentar a resposta dada por
Dário a cada uma delas.
1) Como você se envolveu com a preparação de Ledores? Você atua nesse campo há
muito tempo?
Originalmente, Dário era interprete de Libras e vinha atuando como intérprete há
cinco anos quando, possivelmente por um equívoco, foi chamado para atuar como Ledor,
por volta do ano 2000 ou 2001. Já nessa primeira atuação, ele percebeu a complexidade
da ação do Ledor, que não era, como diziam, “só chegar lá e ler”.
Inicialmente, o atendimento era feito somente a pessoas com deficiência visual,
mas em 2004 ou 2005, o cenário começou a mudar e o atendimento começou a incluir
pessoas com síndrome de Down, autismo e deficiências físicas.
Devido à crença de que, para ser Ledor, bastava “chegar ao local de prova e ler”,
a seleção de Ledores não era feita por critérios técnicos. Acrescendo a isso o aumento do
número de Ledores que passou a ser exigido nos concursos, entende-se a necessidade da
qualificação de Ledores.
Em 2005 e 2006 surgiu o documento “Boas práticas de Leitura”, elaborado por
Dário e pelo grupo de Ledores que discutiam com ele sobre as ações dos Ledores. Esse
documento foi trabalhado no Cespe (Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da
Universidade de Brasília). Fundamentado nesse documento e nas práticas dos Ledores,
surge em 2008, em Brasília, o primeiro curso de qualificação de Ledores. A qualificação
96
desses Ledores foi tão bem-sucedida que o Cespe encomendou a criação de cursos de
Ledores para o ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). O Inep (Instituto Nacional
de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira) gostou tanto do que foi feito que
passou a incluir na contratação das operadoras o fornecimento de cursos de Ledor. A
Cesgranrio (Centro de Seleção de Candidatos ao Ensino Superior do Grande Rio)
viabilizou a organização desses cursos em todos os estados do Brasil. Naquele ano, 2010,
foram formadas mais de dez mil pessoas, começando a se estruturar a forma que o curso
tem hoje. De 2010 até agora, foram formados mais de 70 000 Ledores espalhados por
todo o Brasil.
Dário se envolve, quase que por acaso, por um acidente, com a prática dos
Ledores. A complexidade dessa prática e o aumento da demanda por Ledores nas
avaliações públicas, especialmente em Brasília, criam as condições necessárias para a
organização e disseminação dos cursos de Ledores.
2) Você sabe dizer como as pessoas com deficiência visual participavam das
avaliações (vestibulares, avaliações públicas) antes da ação dos Ledores?
Sempre que houve a participação de cegos em avaliações públicas houve a
presença de Ledor. O que mudou foi a característica das provas, a quantidade e o nível de
preparação das pessoas com deficiência visual, e a quantidade e a característica dos
Ledores.
Acreditava-se (e ainda há muita gente que acredita) que uma pessoa com alguma
deficiência é uma pessoa incapaz. Não se entendia que uma pessoa cega pudesse cursar o
que hoje é o Ensino Superior. Edson Lemos concluiu a Educação Básica e em 1958 e foi
impedido de ingressar no Ensino Médio por ser cego. Então, ele entrou com um processo
junto ao Ministério da Educação, ao Conselho Nacional de Educação, formulando um
pedido de ingresso. No parecer do Conselho Nacional de Educação consta “não levando
em consideração fatores acadêmicos...”, ou seja, mesmo dando parecer favorável a que
ele frequentasse o Ensino Médio, o próprio Conselho não concebia que um cego fosse
capaz de ser bem-sucedido em seu desempenho acadêmico; o parecer despreza a
competência acadêmica. Não se partiu do princípio de que se tratava de uma pessoa que
cumpriu todas as metas necessárias para estar ali.
Na época do pedido de ingresso de Edson Lemos, o número de cegos que
participavam de uma prova de vestibular ou de uma avaliação pública era muito pequeno.
97
Os Ledores que então atuavam eram os professores dos cegos, pessoas habituadas com o
universo das pessoas com deficiência visual. Além disso, os cegos que conseguiam atingir
o grau de instrução necessário para participar de uma avaliação pública eram muito bem
preparados por terem de vencer os preconceitos que os rotulavam como incapazes. Com
o advento da inclusão, o número de cegos que passou a participar de avaliações públicas
aumentou, e esse aumento não manteve o nível de preparação que os participantes cegos
apresentavam. Com o aumento de participantes, já não eram suficientes os professores
dos cegos para cobrir a demanda por Ledores. Passou-se a convocar pessoas que não
estavam habituadas com o universo das pessoas com deficiência visual. Aumentou o
número de participantes, aumentou o número de Ledores, diminuiu o nível médio de
preparação dos participantes e diminuiu a qualidade dos Ledores, no que tange ao
reconhecimento do universo das pessoas com deficiência visual.
Um ponto que dificultou a ação dos Ledores foi a mudança no perfil das provas.
O avanço da tecnologia permitiu a elaboração de provas ricas em recursos imagéticos,
ricas em figuras, esquemas, mapas e apelos visuais em geral. Até meados dos anos
noventa, as provas tinham poucas imagens, eram constituídas fundamentalmente de
textos. Desde então, os Ledores tiveram que oralizar não somente textos escritos, mas as
mais diversas imagens.
Aumentou a demanda por Ledores e a dificuldade nas ações desses Ledores. Fez-
se necessária a preparação, a qualificação de pessoas para atuarem como Ledores, mas a
figura do Ledor sempre existiu nas avaliações públicas com a participação de pessoas
com deficiência visual.
3) O Inep está usando dois Ledores em sala de atendimento?
É recomendado que se use dois Ledores, cada um deles com uma prova de Ledor,
para que, enquanto um dos Ledores estiver lendo algumas questões, o outro esteja
preparando a leitura das questões que estarão sobre sua responsabilidade. São necessários
dois Ledores para que se passe com maior velocidade o conteúdo da prova para a pessoa
com deficiência. É óbvio que a presença de dois Ledores beneficia os Ledores, mas o
objetivo de dois Ledores não está centrado no cansaço dos Ledores, e sim na maior
velocidade na passagem de informação. Com dois Ledores, gera-se a possibilidade de o
Ledor dar uma lida na questão antes de fazer a leitura para a pessoa com deficiência, uma
vez que a prova é inédita também para o Ledor.
98
Para que a função da presença de dois Ledores se efetive, é necessária a existência
de duas provas de Ledores, uma para cada um dos Ledores presentes. Por um equívoco,
no Enem de 2017, foi entregue uma única prova de Ledor em cada sala. Havia dois
Ledores, mas a função que justificava a presença dos dois foi eliminada: enquanto um lia
algumas questões, o outro não teve como preparar a leitura das questões que seriam de
sua competência.
4) Qual a maior dificuldade encontrada na preparação de Ledores?
A maior dificuldade é a falta de capacidade de alguns Ledores em dominar as
nomenclaturas exigidas na hora de ler uma prova. As pessoas que procuram o curso de
qualificação de Ledor, muitas vezes, não têm o conhecimento geral necessário para
trabalhar como Ledor. Para um Ledor ter competência, ele precisa ter um conhecimento
geral mais amplo possível. Por outro lado, as técnicas de Ledores não demandam esse
conhecimento geral. Assim, dependendo do nível da prova, um Ledor de formação de
nível médio consegue atuar. Não é possível descartar um Ledor de nível médio devido à
provável ausência de conhecimento geral amplo. Se a formação do Ledor começar a ser
muito exigente, existirão municípios nos quais não haverá quem indicar.
5) Qual a maior dificuldade encontrada pelos Ledores nas suas ações?
Basicamente são duas. A primeira é não saber lidar com a pessoa com deficiência.
Muitas pessoas que se propõem a fazer o curso de qualificação nunca estiveram diante de
uma pessoa com deficiência. Desconhecem o universo das pessoas com deficiência
visual. A pessoa com deficiência é uma coisa muito irreal para elas, o que acaba fazendo
que se procure proteger excessivamente a pessoas com deficiência visual. Essa
superproteção é perigosa porque pode gerar ações que não pertencem à rotina do Ledor,
em geral com um benefício que não deve existir. Se a pessoa que está sendo atendida
quiser dormir, se ela quiser anular a prova, se ela quiser responder errado é direito dela,
não cabe ao Ledor alterar a decisão que ela tomar.
O nível de interferência do Ledor é limitado na sua atuação. A função do Ledor é
romper a barreira entre a pessoa atendida e a prova. A partir daí, as demais ações são
pertinentes à pessoa atendida. E isso é um problema sério nas ações direcionadas a
pessoas com deficiências, porque todo mundo quer protegê-las, proteção que é reflexo do
99
mito de que ela é incapaz de tomar uma decisão. Portanto, um dos grandes problemas que
o Ledor apresenta é esse: o desconhecimento do universo das pessoas com deficiência
visual.
O segundo problema é não dominar as nomenclaturas. O nosso Ensino Médio não
traz lembrança para um bom número de pessoas. As pessoas não dominam os conceitos
do Ensino Médio, porque eles não tiveram significado quando foram estudados, ou não
marcaram a pessoa, ou, efetivamente, os conceitos foram aprendidos para a prova, mas
não foram aprendidos para a vida. Quando chega a hora de fazer a leitura de uma prova,
isso aparece no Ledor. Uma pessoa que não reconhece os símbolos que representam os
elementos de um circuito elétrico terá dificuldade de descrever um circuito presente em
uma prova. O aprimoramento das adaptações, das provas de Ledor, tem por objetivo
retirar do Ledor a responsabilidade de descrever, de adaptar uma prova na hora em que a
recebe, adaptação que ele não tem qualquer condição de fazer: adaptação de uma prova
técnica sobre um assunto que ele não domina. Entretanto, são poucas as provas que
apresentam uma versão para o Ledor.
Nas adaptações para Ledor, parte-se da premissa de que o texto adaptado é claro,
mas o texto não é claro porque os esquemas de percepção das pessoas são diferentes e,
por vezes, o texto não faz sentido. Até a escuta de uma mesma frase é diferente. Dessa
forma, faz-se necessário constante aprimoramento das adaptações. Um pré-teste das
questões adaptadas seria uma mudança significativa no processo de adaptação, ouvir as
partes envolvidas, também: ouvir o Ledor que leu, ouvir a pessoa que resolveu escutando
a prova. Esses são pontos importantes para o aprimoramento da adaptação. Entender-se
que o adaptador é o suprassumo da inteligência e, por isso, vai trabalhar sozinho é, no
mínimo, perigoso.
6) Quem elabora as provas específicas para Ledores?
No ENEM, eram escolhidas as questões e uma comissão recebia um chamado para
fazer adaptação. Essa comissão entrava em uma sala chamada de “sala segura”, e lá, tinha-
se acesso às questões e eram feitas as descrições, as adaptações necessárias. No caso de
uma questão apresentar um grau de complexidade muito alto no que se referia à
adaptação, havia a possibilidade do item ser trocado. Trocava-se esse item por outro com
o mesmo nível de dificuldade definido pela TRI (Teoria da Resposta ao Item). Trocava-
100
se a questão por outra com um coeficiente “b” idêntico (na TRI, o “b” é o coeficiente de
dificuldade).
O que definia a troca era o nível de dificuldade. Entretanto, a determinação do
índice de dificuldade é feita em um pré-teste aplicado a pessoas visuais e em uma prova
visual. Quando se adapta a prova, criam-se elementos diferenciados de interpretação. Um
gráfico se transforma em uma tabela, e a habilidade de interpretação de um gráfico se
transforma na habilidade de interpretar uma tabela. Isso, provavelmente, afeta a TRI.
Entretanto, para todos os efeitos da avaliação, a pontuação é a da questão original e não
a da questão adaptada. Se, devido à adaptação, o desempenho do candidato é maior ou é
menor, é uma pesquisa que alguém deve fazer.
Há outro ponto relativo à TRI que merece pesquisa: a aplicação autônoma da
prova demanda a prova e o candidato. A aplicação mediada da prova não é mensurada.
Com a presença de um mediador, os resultados da TRI podem ser afetados. Com o
mediador, não é mais uma relação pessoa-prova, é uma relação pessoa-mediador-prova,
e esse mediador tem uma influência muito forte, podendo afetar substancialmente os
resultados da TRI.
7) A elaboração da prova para Ledor é feita com base em algum manual ou norma
de adaptação?
Um manual para elaboração de provas não existe. O que existe é um manual
interno no Inep, um manual de boas práticas, escrito em 2012, e, no governo Dilma, a
Secretaria de Direitos Humanos foi convencida a constituir uma comissão para criar um
manual de boas práticas em provas. São esses dois únicos documentos que existem.
Com o apoio do deputado Denis Bezerra, está em fase de produção um manual de
elaboração de provas, e ele quer transformá-lo em Projeto de Lei. Esse manual não foca
muito na técnica, centra-se no que se faz necessário à prova. Um manual que seja
orientado para a técnica não existe. Qualquer pessoa que entre por esse caminho estará
fazendo um trabalho pioneiro.
Atualmente há alguns trabalhos na Universidade Federal do Rio Grande do Norte
sobre transposição da imagem para texto na área de semiótica e comunicação, sem relação
com avaliação. As regras colocadas nessas pesquisas geram textos excessivamente
descritivos. Esses textos estão quase na linha de descrever o cenário a partir do primeiro
pixel da esquerda. E isso, em uma prova, é inviável. Em uma prova, deve-se centrar nos
101
elementos da imagem que vão fornecer a resposta, se não o tempo de prova fica muito
longo.
Há mais um problema que merece ser comentado. Tem-se um grupo de pessoas
não verbais fazendo a prova, e é um Ledor que está lendo para ele: entre 2015 e 2019,
houve 53% de aumento de paralisados cerebrais não verbais fazendo o Enem. São pessoas
que estão amarradas em uma cadeira de rodas. Elas conseguem responder de alguma
forma, mas não falam. O Ledor deve adquirir a capacidade de uma comunicação binária,
responder as questões através de “sim” ou “não”. O tempo que se faz necessário para
construir a solução de uma questão através de “sim” ou “não” inviabiliza o atendimento.
Enquanto for tentado fazer que uma avaliação tenha uma mesma prova adequada a todo
mundo, existirão grupos que estarão fora dessa avaliação.
8) Qualquer prova pode ser adaptada para Ledores?
Segundo Dário, um adaptador não deve levar em consideração o que será feito
com o resultado da prova. Sua função é adaptar e a isso se limita. Se a prova vai ser
aplicada para um cego que vai ser design de interior, não há relevância para o adaptador.
Ele tem um desafio pela frente que é como fazer a prova chegar ao cego. Nesse sentido,
qualquer prova pode, em princípio, ser adaptada. Da mesma forma, para o Ledor não há
relevância a função a qual a pessoa com deficiência visual está se candidatando a exercer.
O Ledor não deve pensar nisso. Se assim fizer, a qualidade de seu trabalho pode sofrer
influências. O Ledor tem que se ater ao fato de ter uma prova, ter uma barreira de
comunicação e uma pessoa. A função dele é destruir essa barreira de comunicação. O que
será feito após a prova, se a pessoa atendida vai se formar ou não vai se formar, não é um
problema que deve ser abordado pelo Ledor. Comportamento semelhante deve pautar as
ações do adaptador.
9) Qual é a vantagem de lançar-se mão do Ledor em vez de utilizar-se um programa
leitor de texto, como o DOSVOX, quando a prova não apresenta figuras?
Para Dário, os leitores de tela não atingiram o aprimoramento que justifique a
substituição da presença humana, e ele receia que os leitores não cheguem a esse estágio
em um curto espaço de tempo. A adaptação para um leitor de tela exige cuidados
especiais, haja vista que os leitores não são capazes de corrigir falhas que possam ser
102
percebidas durante a leitura. A grande diferença entre um leitor de tela e uma pessoa é
que o leitor de tela vai trabalhar exclusivamente sobre um roteiro, e não há qualquer
possibilidade de fazer consertos ou ajustes durante a prova. O trabalho que se está fazendo
hoje na adaptação de uma prova para um humano ler deve ser desenvolvido objetivando
o leitor de tela. Por enquanto, é importante avançar nos estudos das adaptações e não
substituir a ação humana pelas de um soft.
É preciso desenvolver um novo ramo da adaptação envolvido com a compreensão
desses leitores de tela, e a transposição de imagem para texto exigirá cuidados especiais.
A solução imediata é ter, na sala de atendimento, tanto a descrição da imagem quanto a
imagem, mas, para um leitor de tela, a imagem não tem sentido. Quando se retira a
imagem e deixa-se só a descrição, o Ledor é impedido de fazer a imagem chegar por outra
via que não seja a voz. O tato é um sentido poderoso para se perceber a forma de um
gráfico, de uma molécula ou um símbolo matemático. No estágio atual, a melhor
possibilidade adaptativa é ter a questão com a imagem e a transposição da imagem para
texto. O Ledor teria uma sistemática de leitura da transposição e, caso a transposição
efetivamente não funcionasse, o Ledor poderia lançar mão de outros recursos para levar
ao entendimento da questão, e o tato é um recurso plausível: pode-se desenhar, na mão
de quem está sendo atendido, um símbolo matemático ou fazer com que ele passe o dedo
sobre as linhas de um gráfico desenhado em uma folha de papel.
Dário usa uma alegoria para justificar a defesa da não substituição da presença
humana por um soft, que reproduzimos a seguir.
Falamos muito de procurar um tesouro. Entregamos a você uma pá e dizemos:
— Vamos procurar um tesouro?
E você responde:
— Vamos!
Começamos a cavar em um lugar escolhido e depois de dois metros de buraco,
declaramos:
— Pois é, eu acho que não está aqui.
Aí você retruca:
— Poxa, nosso buraco está tão bonito! Cara, a gente cavou tanto esse buraco! Ele
é tão bonito, todo retinho, todo arquitetado.
E você se apaixona pelo buraco. Você sabe que o tesouro não está ali. Mas você
não quer abandonar o buraco, porque você está apaixonado pelo buraco. Esse é um
103
problema: há muita gente que se apaixona pelo buraco que cavou e não quer abandoná-
lo, mesmo percebendo que o tesouro não está ali.
Dário defende que, enquanto não for reconhecida qual é a melhor técnica, todas
devem estar presentes no atendimento.
10) As diferenças pessoais entre os Ledores podem interferir no resultado de uma
avaliação?
A resposta dada é categórica: a interferência ocorre. Tanto na atuação da dupla de
Ledores que partilham uma mesma sala quanto entre Ledores presentes em salas
diferentes, as idiossincrasias interferem no resultado das avaliações.
Dário apresenta, como exemplo, dois perfis extremos de Ledores: um deles que
ele chama de sindicalista, apaixonado pela causa, e o outro, o descomprometido, que
acredita que não tem nada a ver com os problemas dos outros. O primeiro propõe-se a
fazer tudo para facilitar a participação de quem está sendo atendido, inclusive assumindo
prerrogativas que são do atendido; o segundo repete exclusivamente o que está escrito,
sem dar atenção às solicitações do atendido, como se estivesse tentando provar ao
atendido que ele não deveria estar ali.
Os descomprometidos acreditam ser a pessoa com deficiência que deve se adaptar.
Essa é uma visão muito totalitária ao não compreender a participação das minorias como
um direito, como se a participação das minorias fosse um privilégio que pode ser cortado.
Por outro lado, o Ledor não deve explicar nada. Ele tem que funcionar como os olhos da
pessoa atendida, procurando na prova as informações que ela está solicitando. Essa é a
função do Ledor.
O treinamento de Ledores é fundamental, dentre outros motivos, para levá-los a
entender que eles são os olhos e as mãos da pessoa atendida. Entretanto, o treinamento
não é suficiente para certificar que houve esse entendimento. No Projeto de Lei apoiado
pelo deputado Denis Bezerra, há um sistema de acompanhamento das ações do Ledor.
Um sistema que permitirá que as operadoras certifiquem as ações dos Ledores,
revalidando o título de Ledor entregue na capacitação. Esse Projeto de Lei é uma busca
de regulamentação, e não é cabível críticas dizendo que o Estado está assumindo funções
que não são dele. Quando se deseja que a justiça seja feita, o Estado tem que entrar.
104
11) No que se refere à leitura de questões de Matemática, qual é a maior dificuldade
que o Ledor encontra?
Nomenclatura, sobretudo, e, de forma geral, o Ledor não tem ideia do conteúdo
que está apresentando. Se mandar o Ledor resolver alguma das questões presentes no
ENEM, a esmagadora maioria não saberá como começar. A proficiência em Matemática
de 9º ano no Brasil é 14%. Em termos de Ensino Médio, as notas de Matemática são as
mais baixas. Os Ledores não constituem um grupo a parte. Os Ledores não são um
universo de especialistas. São pessoas do cotidiano, são pessoas comuns. A dificuldade
deles é a dificuldade de qualquer um que não seja afeito à Matemática para ler textos da
área.
Sem o conhecimento da área, o Ledor limita-se a ler o que está escrito, fica sem o
recurso de dar um exemplo, de consertar um texto. A ação morre no que foi lido.
Dependendo da qualidade de adaptação da prova do Ledor, ele tem dificuldade até mesmo
nas unidades: megajoule (MJ) e milijoule (mJ) é “eme jota”. Em um deles, o registro é
feito com eme maiúsculo e, no outro, com minúsculo, mas a diferença dos valores é
imensa. O Ledor pode ler “20 milijoules”, quando deveria ter lido “20 megajoules”, a
diferença entre as duas leituras afeta o resultado. Ele poderia ler “eme jota”, mas a técnica
manda que ele informe se o eme é maiúsculo ou minúsculo. Entretanto, não se tem
nenhuma garantia de que a técnica será aplicada.
12) Existe alguma diferenciação na correção das provas para pessoas com deficiência
visual?
No Enem há uma matriz de correção para as pessoas surdas. Existe uma
diferenciação de critérios para correção dos surdos. Aquele que usa Transcritor, não
dispõe dessa matriz diferenciada. Na quase totalidade das vezes, o Ledor é o Transcritor,
e a redação da pessoa com deficiência visual é escrita pelo Transcritor. Se uma redação
passou por um Transcritor, deveria ter uma avaliação diferenciada no que concerne à
ortografia, mas essa diferenciação não existe. Na prática, um corretor de redação do
ENEM corrige 50 a 80 redações por dia. Dificilmente esse corretor vai corrigir 60
redações usando um determinado critério e 10 redações usando outro critério. Ele monta
um padrão e retém esse padrão na memória. Para Dário, não há, na prática, diferenciação
105
na correção de provas para pessoas com deficiência visual, o que aumenta,
consideravelmente, a responsabilidade do Transcritor.
Dário defende que a possibilidade de responder questões discursivas e elaborar a
redação em Braille é uma das melhores soluções para acabar com esse problema da
correção diferenciada. O participante escreveria a própria redação. Se estiver escrito
errado, foi a mão dele que fez. Com esse procedimento, a correção seria, sem problemas,
avaliada na dureza da lei, sem diferenciação.
13) A pessoa com deficiência visual participa dos concursos em iguais condições
relativamente aos videntes?
A isonomia é nómos, é Lei, é a garantia do direito à participação, e isso é
razoavelmente satisfeito. No sentido da Lei, o que é garantido a um, é garantido ao outro.
A equidade é a equiparação de esforços — esforços equivalentes despendidos pelos
participantes — e essa efetivamente não existe. Dependendo do nível de adaptação, se ela
for feita de uma maneira mais descuidada, os esforços de resolução entre a prova normal
e a adaptada vão ser muito diferentes. Há questões que são de um nível de complexidade
razoável na prova normal e, quando adaptadas para a prova do Ledor, se transformam em
um monstro, não só no que se refere ao tamanho, mas também quanto à dificuldade de
resolução.
Embora os Ledores tenham evoluído bastante, as adaptações tenham evoluído
bastante, a participação não é equânime. Temos um fator que é a operadora, a empresa.
Cada operadora tem o seu produto, e, dependendo da operadora, a influência é muito forte
sobre o que está sendo feito. Enquanto há operadoras que não possuem qualquer
preocupação com as adaptações, temos, por outro lado, operadoras que tentam reduzir
essa distância, que é uma preocupação do Inep.
O ENEM, por exemplo, gosta muito de apresentar questões cujas opções de
respostas são gráficos, a alternativa (A) é um gráfico, a alternativa (B) é outro gráfico, a
(C) é outro ... O participante deve determinar qual dos gráficos é a resposta. Ele lê, analisa
e identifica o gráfico, não é necessário sequer fazer contas. Quando uma questão como
essa é convertida em texto na prova do Ledor, tem-se que descrever esses gráficos, e essas
descrições apresentam uma série de limitações que dificultam severamente a construção
da resposta. O esforço que uma pessoa com deficiência visual faz para resolver essa
questão destrói a equidade.
106
Dário propõe soluções para que a construção dessa equidade. Segundo ele, a nossa
complexidade foi gerada a partir de um princípio errado. No Brasil, a história é que nós
temos de adaptar para dar condições para o outro, quando o correto seria criar um sistema
de avaliação adaptado ao outro, e não adaptar um sistema de avaliação para o outro. Se
ele não pode ler gráfico, então eu não posso criar para ele uma questão cuja competência
seja ler gráfico. Impor a questão com gráfico, nessa situação, é insano. Temos que criar
questões em cima do que ele consegue fazer, e não ficar criando mecanismos para
adaptação de questões que estão fora das habilidades possíveis dele. No momento em que
começarmos a pensar que temos de criar modelos de avaliação adequados a cada grupo
de pessoa, vamos parar de adaptar provas. Esses novos modelos não eliminam a figura
do adaptador nem do Ledor. O adaptador não deixará de existir, vai mudar a sua
competência. Em vez de ele partir de uma prova inadaptável, uma prova ruim, e tentar
transformá-la em uma prova boa, ele vai ler e criar outra prova. Preserva-se o Ledor, e
preserva-se a pessoa que hoje adapta a prova, só que não mais como adaptador, mas como
alguém que cria uma prova adequada às habilidades de quem vai fazê-la.
Nas palavras de Dário, aqui no Brasil cria-se uma sensação, uma falsa ideia, de
que está todo mundo andando junto, mas o funil vai eliminando todo mundo e no final
sai um produto que é exatamente o padrão que se queria lá no início. Aqui faz-se um
projeto de mentira, faz-se uma adaptação de mentira. Epistemologicamente falando, nós
temos um processo de educação e avaliação que está preocupado em ratificar uma noção
cultural de que alguém é superior. O que é adaptação de prova hoje? Como é que os
organismos entendem adaptação? Eles têm que criar um processo que aparente ser legal
para dizer que todos têm os mesmos direitos, mas que não ameace os privilegiados. Isso
não tem a ver somente com as pessoas com deficiência, tem a ver com todos os níveis de
inclusão social também. É necessário perceber que, para que essa máquina funcione, é
necessária a exceção. Deseja-se a exceção. É interessante que um negro chegue às
posições elevadas, é interessante que uma mulher chegue às posições elevadas, é
interessante que um favelado chegue às posições elevadas, é interessante que uma pessoa
com deficiência chegue às posições elevadas, para que se possa certificar o processo
dizendo “veja, quem quer consegue”, mas, de fato, é criada uma série de barreiras no
meio do caminho desse “quem quer”.
Para fechar a entrevista, Dário faz um elogio ao compromisso. Defende que
nenhum trabalho pode ser bem-feito se não houver o comprometimento daqueles que
participam. O adaptador deve ser comprometido, o Ledor deve ser comprometido. Esse
107
comprometimento passa por um mergulho no universo das pessoas com deficiência visual
e pelo reconhecimento de que é fundamental perguntar a quem está sendo atendido qual
a melhor forma de atendê-lo. Quem melhor conhece as peculiaridades de suas
necessidades é quem está sendo atendido. Defendendo esse ponto, Dário apresenta a
seguinte parábola:
Meu avô morreu quando eu tinha quatro anos, eu tenho o mesmo nome do meu
avô. Minha avó passou a vida inteira contando que o casamento dela durou por causa dos
biquinhos do pão. Antigamente os pães eram maiores, eram bisnagas, e ela adorava os
biquinhos do pão, eram mais sequinhos e mais durinhos e ela gostava muito. Todo dia
pela manhã ela pegava os biquinhos, partia ao meio, passava manteiga e botava para o
meu avô comer. Meu avô comia com toda satisfação e ela ficava felicíssima porque meu
avô comia com satisfação. Em um dia no qual eles estavam conversando, ela disse:
— Ah, meu velho, eu gosto de ti tanto que todo dia eu te dou os biquinhos do pão
que eu adoro.
— Como é que é? Eu odeio biquinho de pão! Eu só como o biquinho do pão
porque tu fazes com tanto carinho que eu não tenho coragem de não comer. Por mim eu
comia o miolo.
Conversar com quem está sendo atendido é dar a ele o direito de escolher o miolo.
108
7.3 – Entrevista com Ledor
Marquei minha entrevista com Marcos Cavalcante para uma manhã de sábado, 31
de agosto de 2019, na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Estávamos sós
e eu entreguei-lhe um roteiro de perguntas que serviu para orientar nossa conversa. Nesse
roteiro, havia quatro questões, duas do ENEM e duas da OBMEP, duas delas com
adaptação para Ledor e duas sem adaptação. A entrevista foi gravada e transcrita. Na
transcrição, não se tentou converter ipsis litteris o discurso oral em texto escrito. Buscou-
se manter ao máximo o conteúdo do discurso, mas respeitando as normas de um texto
escrito. Dessa forma, as permissividades características do discurso oral, como falhas em
concordância devido a regionalismos, frases truncadas provocadas por alterações no fluxo
de pensamento, ou apostos muito longos que separam uma sequência da narrativa, foram
reorganizados ou corrigidos. O único momento da transcrição no qual se tentou manter
ao máximo as estruturas do discurso oral foi quando as quatro questões foram lidas. Após
a transcrição, o texto foi enviado para apreciação do Marcos, que fez algumas alterações
e devolveu o texto por e-mail. A íntegra desse texto devolvido encontra-se em anexo neste
trabalho.
As questões escolhidas foram retiradas de provas aplicadas antes de 2015 para
evitar que Marcos já as tivesse visto em algum momento de atuação como Ledor. De fato,
foi o primeiro contato que ele teve com essas questões. Além disso, o conjunto das quatro
questões apresentava simbologia matemática, tabela, figura geométrica e sistema
cartesiano.
Marcos faz doutorado na área humana e atua como Ledor há três anos. Logo no
início da entrevista, ele fez questão de destacar que todas as considerações que ele faria
não seriam na condição de especialista no assunto: o Ledor não é tema de estudo e
pesquisa dele. Suas declarações fundamentam-se na sua prática como Ledor e em
reflexões que não passam por um estudo acadêmico.
Ele classifica o início de seu contato com a profissão de Ledor como prosaica.
Marcos dá aulas em cursinho pré-vestibular há muito tempo e não sabia que existia prova
assistida por Ledor no ENEM. Sua ex-namorada trabalhava com Dário (responsável pelo
Grupo Incluir, um curso de capacitação de Ledores) oferecendo curso de capacitação.
Certa vez, quando Marcos chegava de Miguel Pereira onde havia ministrado aulas, passou
109
no hotel no qual ocorreria o curso para falar com sua namorada. Encontrou o Dário que o
convidou para fazer o curso de capacitação de Ledores para o ENEM. Fez o curso para
saber como era esse tipo de atuação, mas não esperava ser chamado. Ledo engano: os
convites se sucederam, desde então.
Ele julga que a frequência com que é chamado para atuar como Ledor é reflexo
da carência de profissionais para atuar. Corroboram esse julgamento a frequente pergunta
que acompanha os convites, querendo saber se ele não tem algum amigo, alguma
indicação de alguém que possa atuar com ele como Ledor, e o fato de ele já ter atuado em
concurso no qual o único Ledor com capacitação no local de atuação era ele.
Nesse concurso, no qual Marcos era o único Ledor com capacitação, os candidatos
ficavam em uma sala com computadores, fazendo uso de leitores de tela. Havia mais de
um candidato em cada sala com computadores e os Ledores não ficavam nestas salas,
ficavam do lado de fora, aguardando que algum candidato solicitasse a presença de Ledor,
o que ocorria, normalmente, na hora de fazer a redação. Quando havia a solicitação, o
candidato era deslocado para outra sala, junto com o Ledor. Marcos critica ter que subir
dois andares, sem elevador, junto com o candidato, perdendo tempo precioso na hora do
concurso.
Esse concurso foi realizado em uma escola especializada no atendimento de
pessoas com deficiência visual e, nessa escola, foram atendidos somente candidatos com
esta condição. Nenhum professor da escola atuou como Ledor, e Marcos identificou
apenas um rapaz, que atuava como chefe de sala e não como Ledor, que era funcionário
da escola, destacando que a atuação desse chefe de sala foi bastante antiprofissional,
incentivando os candidatos a terminarem a prova mais cedo dizendo que ocorria tiroteio
na região todo dia às cinco horas da tarde.
Nas palavras de Marcos, “esse concurso foi uma experiência muito ruim. Eu
esperava que fosse uma experiência muito melhor que o ENEM, e foi muito pior”.
Marcos só havia tido contato com o universo das pessoas com deficiência através
de disciplina de educação inclusiva na graduação. O contato prático com esse grupo de
pessoas deu-se em sua atuação como Ledor, e ele destaca que esse contato fez com que
percebesse a complexidade do processo de ensino e aprendizagem dessas pessoas.
Durante o curso de capacitação para Ledor, Marcos concluiu que nem toda
questão é passível de adaptação, que não há uma correspondência de 100% entre a prova
110
original e a prova adaptada para Ledor. Um exemplo que o marcou muito se deu em uma
poesia concreta, que tem um apelo imagético muito forte e a oralização não transpõe essa
barreira.
Apesar de existirem técnicas a serem seguidas pelo Ledor, as adaptações, por
vezes, exigem que o Ledor tenha flexibilidade no uso dessas técnicas para não dificultar
o entendimento do que está sendo lido. Para Marcos, a maior dificuldade encontra-se nas
Ciências Exatas. As adaptações aí carecem de um pouco mais de cuidado. Ele defende
que, talvez, seria melhor pensar em questões diferentes em vez de adaptações. Além da
substituição das questões, defende duas outras propostas para minimizar as dificuldades
encontradas na área técnica. Uma delas seria, como os Ledores trabalham em dupla, que
um dos Ledores em cada sala de atendimento fosse da área técnica. Outra seria, assim
como já é feito com Ledores de língua estrangeira, manter o Ledor da área técnica como
Ledor volante. Esse Ledor seria acionado quando a pessoa atendida solicitasse.
Não se restringindo à leitura das provas, os dois principais problemas que Marcos
identifica na atuação de um Ledor são: a falta de capacitação dos coordenadores (chefe
de local de prova) no que se refere ao atendimento de pessoas com necessidades especiais,
e a falta de comprometimento, profissionalismo, dos fiscais e coordenadores que estão
aplicando a prova. Dá como exemplo o chefe de sala que ficava apressando os candidatos
dizendo que ocorria tiroteio na região e uma dupla de chefe e fiscal de sala, em uma sala
na qual ele trabalhou, que ficavam dormindo o tempo todo. Esse descomprometimento
foi uma tônica nos concursos nos quais ele trabalhou. Outro ponto que ele critica é a
retirada das duas provas de Ledor em cada sala de atendimento do ENEM: cada Ledor
tinha uma prova e, enquanto um ia lendo um bloco de dez questões, por exemplo, o outro
ia preparando a leitura de suas questões, ia circulando, mexendo na ordem de leitura,
tentando modular a voz para tornar a compreensão mais fácil para o candidato. Ele julga
importante que volte a ter dois exemplares da versão do Ledor nas salas de atendimento.
Perguntado se as pessoas com deficiência visual participavam dos concursos em
iguais condições relativamente aos videntes, declarou que “as condições não são tão
idênticas assim, por mais que haja um esforço para isso”. Marcos levanta o
questionamento sobre até que ponto a adaptação de provas é um processo inclusivo. Em
suas palavras: “Talvez pudéssemos pensar para além da adaptação: pensar em algo mais
inclusivo ainda, acabando com essa ideia de padronização. Até quando a gente fala em
inclusão, está tentando incluir dentro de um padrão. Seria mais interessante abolir o
111
padrão e pensar que há várias formas de aprendizagem, de vivência, e que todas elas têm
as suas potencialidades”.
Nesse momento, Marcos leu as questões presente no roteiro, primeiramente em
silencio e, em seguida, em voz alta e sendo gravado. A primeira questão a ser lida foi uma
questão do ENEM, e a segunda, da OBMEP, todas as duas sem versão para Ledor.
A questão 146 (uma questão do ENEM sem adaptação) é perfeitamente entendível
através da leitura de Marcos. Ele retoma a leitura, se desculpando por um eventual erro,
em dois momentos. No primeiro, ele lê a palavra “permitindo” como “partindo”, retoma
e leitura e corrige o equívoco. No segundo ele relê uma frase inteira: “Uma forma de
avaliar uma alteração no sistema de senhas é a verificação do coeficiente de melhora, que
é a razão do novo número de possibilidades de senha em relação ao antigo”. De fato, ele
repete a frase que lera anteriormente, ou seja, ele relê sem fazer qualquer alteração. Essa
frase apresenta uma relação matemática, uma razão. É possível que a repetição tenha
ocorrido devido ao fato do Ledor não ter entendido, em uma primeira leitura, o conteúdo
matemático presente nessa frase.
Marcos toma o cuidado de destacar a expressão presente no numerador e no
denominador de uma fração. Na opção C (letra C, na leitura de Marcos), ele profere:
sessenta e dois fatorial, quatro fatorial, tudo isso sobre dez fatorial, cinquenta e seis
fatorial. A expressão “tudo isso” garante que sessenta e dois fatorial encontra-se no
numerador. Entretanto, ele não identifica a multiplicação (sessenta e dois fatorial vezes
quatro fatorial), mas isso não chega a prejudicar o entendimento do que está sendo lido.
A questão sete (uma questão da OBMEP sem adaptação para Ledor) apresentava
uma figura geométrica, um retângulo de papel que, ao ser dobrado, formava um
pentágono. Marcos não descreveu essa figura em sua leitura. Disse que perguntaria à
pessoa que estivesse sendo atendida de que forma ela gostaria que a figura fosse
apresentada: por uma descrição oral ou através do tato, desenhando as figuras na mão do
atendido.
Ao ler a questão sete, possivelmente por falta de treinamento matemático, Marcos
comete um equívoco: os vértices do retângulo são identificados pelas letras A, B, C, D e
E, mas os vértices do pentágono, por B, C, D’, E e F. Ele não lê “D linha”. A letra “D”
acaba identificando dois pontos distintos.
112
Em seguida foram lidas duas questões adaptadas para Ledor. A questão 176 é uma
questão do ENEM. No ENEM, o Ledor recebe somente a versão adaptada, e Marcos
recebeu somente a versão adaptada da questão 176.
Durante a leitura, Marcos não lê os parênteses presentes em “(em dias)”, “(em
meses)” e “(em kg)”, mas ele lê os parênteses em “(alimentação, vacinação e outros)”.
Não ter lido os parênteses não prejudicou em nada o entendimento do enunciado, ao
contrário, facilitou, evitando o desgaste das repetições excessivas. É possível que ele
tenha deixado de ler os parênteses por decisão própria, até porque ele havia comentado,
em um trecho da entrevista, sobre a maleabilidade nas técnicas de leituras de um texto, e
citou especificamente a questão da repetição. Por outro lado, ele lê “kg” como “quilo” e
não como “quilograma”, que é a leitura correta e adequada dessa unidade. Destaque-se
que, tanto na versão original quanto na adaptada para o Ledor, a palavra “quilograma” é
usada no lugar do símbolo da unidade quando se declara o índice mínimo para que uma
vaca seja considerada eficiente: “281 quilogramas por mês”.
A questão nove é uma questão da OBMEP adaptada para Ledor. Na OBMEP, o
Ledor recebe a versão original e a adaptação indicando como a leitura deve ser feita.
Marcos recebeu as duas versões.
Na hora da descrição da figura do enunciado, Marcos faz a opção de declarar “Há
pontos A e B de coordenadas: o ponto A nove vírgula oito e o ponto B três vírgula dois”,
quando no texto da prova adaptada encontrava-se “Há pontos A e B de coordenadas (9,8)
e (3,2), respectivamente”. Quando perguntado sobre as dificuldades na leitura dessa
questão, ele declara que ficou inseguro com relação à leitura dos pares ordenados, não
sabia se deveria ser “zero virgula seis ou zero seis” e diz crer que essa dúvida se deve à
ausência de conhecimentos matemáticos.
Marcos declara que sempre pergunta ao candidato como deve proceder. Como não
havia candidato escutando sua leitura, procedeu da forma que julgou ser a leitura mais
adequada para o maior número de pessoas. Entretanto, “o Ledor sempre precisa tomar
uma decisão junto com o participante, junto com o candidato, sobre qual é a melhor forma
de ler e qual é a melhor forma de ouvir essa leitura”.
Perguntado se ele sentiu dificuldade em algumas das questões que leu, Marcos
disse que sentiu dificuldade em todas, mas sobretudo nas não adaptadas: “A questão do
ENEM, 176, que descreve a tabela foi a que menos dificuldade eu tive. Agora, nas que
113
não foram adaptadas eu tive dificuldades, não só pelos símbolos matemáticos, mas,
também, como produzir a leitura das frações, por exemplo, ou como produzir a percepção
imagética das figuras da questão sete”. Nessa questão sete da OBMEP, que não tinha
versão para Ledor, ele não descreveu a imagem e leu “D” em vez de “D linha”. Por certo,
aumentam as dificuldades do Ledor numa questão não adaptada, mas falhas na adaptação
provocam equívocos de leitura: a símbolo “kg” deveria ter sido convertido em
“quilograma”, e os pares ordenados deveriam ter a forma de ler explicitada.
Quando se cotejam as respostas dadas nas duas entrevistas presentes nesse
trabalho, a entrevista com Dário e a entrevista com Marcos, alguns pontos comuns podem
ser notados, e dois deles merecem destaque. Os dois entrevistados abordam que deveriam
ser elaboradas provas distintas para grupos com habilidades distintas, e os dois terminam
a entrevista declarando que a ação do Ledor se efetiva com o diálogo entre o Ledor e
aquele que está sendo atendido.
Essas posições são consonantes com o que aparece neste trabalho e com as nossas
convicções. Perceber as peculiaridades de cada pessoa atendida é reconhecer que não há
uniformidade nas diferenças. Perguntar à pessoa atendida qual a melhor forma de se
efetivar o atendimento é buscar essa percepção. Quanto à aplicação de provas distintas a
grupos com habilidades distintas, essa posição é defendida como consequência da
conclusão desse trabalho.
114
8 – ANÁLISE DE QUESTÕES
8.1 - Introdução
Nessa seção são estudadas as unidades de análise. Cada unidade de análise é
composta pela versão convencional de uma questão, a versão utilizada na prova do Ledor
e a solução da questão. Cada unidade foi submetida a um crivo que é composto por sete
perguntas que devem ser respondidas com “Sim” ou com “Não”. Após a submissão ao
crivo, foram feitas observações, a maior parte delas justificando a presença de respostas
afirmativas ao crivo. A íntegra das unidades de análise encontra-se em anexo.
Foram selecionadas questões de Matemática de três provas do ENEM, as provas
dos anos de 2016, 2017 e 2018. Também foram selecionadas questões das provas do nível
3 da OBMEP dos mesmos três anos. Quase todas as questões selecionadas possuíam uma
versão na prova do Ledor. As poucas que não possuíam essa versão apresentavam alguma
dificuldade que justificasse a sua seleção. Essas questões sem versão para o Ledor estão
identificadas.
Nessa seção, cada uma das provas do ENEM e da OBMEP está analisada
separadamente. Após essas análises, as provas do ENEM são comparadas e as da OBMEP
também. Inicialmente, foram consideradas somente as questões selecionadas para análise
de cada uma das provas. Ao final, foram observadas as provas com todas as questões, as
selecionadas e as não selecionadas, de forma a estabelecer uma visão geral da prova.
Quadros com as questões selecionadas de cada prova e com a íntegra das provas
encontram-se em anexo.
Todas as provas do ENEM observadas, tanto a versão convencional quanto a do
Ledor, estão disponibilizadas em http://inep.gov.br/web/guest/provas-e-gabaritos.
Entretanto, não estão disponibilizadas as soluções das questões. As soluções das questões
foram feitas por professores de Matemática e ratificadas pelo autor. As provas
convencionais da OBMEP, assim como as soluções das questões, estão disponíveis em
http://www.obmep.org.br/provas.htm. Entretanto, as adaptações para Ledor não estão
disponíveis nesse site. Elas foram obtidas a partir de solicitação aos organizadores da
OBMEP.
115
8.2 – ENEM 2016
Ao todo, foram selecionadas 39 questões. Em três dessas 39 questões houve
substituição na prova do Ledor, ou seja, a questão aplicada à pessoas com deficiência
visual não é a mesma que foi aplicada ao vidente (são as questões E16136, E16139 e
E16145). Como não houve adaptação do texto convencional para o texto do Ledor, torna-
se impossível analisar a consonância entre os dois textos. Para essas questões, a
classificação foi aplicada ao texto convencional e o crivo de análise ao texto do Ledor.
O ENEM faz uso da Teoria da Resposta ao Item (TRI). De acordo com os
parâmetros da TRI, as questões são classificadas segundo níveis de dificuldade. É
possível substituir uma questão por outra que esteja no mesmo nível de dificuldade, mas
duas questões que estejam no mesmo nível não medem, obrigatoriamente, as mesmas
habilidades. Nas três questões substituídas, o conteúdo abordado na prova convencional
não é o mesmo da prova do Ledor, o que altera o que está sendo cobrado.
Seis questões não foram selecionadas para análise por não apresentarem alterações
entre a prova convencional e a prova do Ledor, ou por simplicidade excessiva nas
adaptações para o Ledor. Tais questões foram: E16137, E16148, E16149, E16162,
E16167 e E16171. Em anexo consta um quadro resumo com as classificações de cada
questão e com as respostas ao crivo de análise. Nesse quadro, as questões que não foram
selecionadas não estão presentes. Abaixo do quadro, aparece o total de questões segundo
as classificações e o total de respostas aos crivos de análise.
A primeira questão da prova que não recebeu resposta afirmativa em qualquer das
questões do crivo de análise foi a questão E16138 (questão 138 da prova do ENEM de
2016). Essa questão foi classificada com o código SnTa3. É uma questão que teve todo o
seu conteúdo semiótico, na versão do Ledor, convertido para texto verbal (S); não
apresentou linguagem simbólica na versão convencional (n); tinha uma tabela na prova
convencional (T); não possuía imagem — gráfico cartesiano, esquemas, figuras
geométricas ou figuras auxiliares — na prova convencional (a); e o conteúdo matemático
abordado era de conhecimento de estatística e probabilidade.
Das 39 questões selecionadas, 12 eram de conhecimentos numéricos. Dessas doze
questões cinco apresentavam figuras, mas apenas em três delas as figuras eram
efetivamente importantes na construção da solução, tanto assim o é que as adaptações
116
para o Ledor das questões E16144 e E16176 não fazem referência às figuras presentes no
texto convencional. Dez questões abordavam conhecimento de estatística e
probabilidade. Seis dessas dez questões tratavam de análise de dados apresentados através
de tabelas ou de gráficos, três eram de variáveis de tendência central, todas as três usando
tabelas, e uma era de probabilidade. Nota-se, bem destacada, a preocupação com a
capacidade de leitura e análise de dados apresentados através de tabelas e de gráficos
estatísticos.
A questão de probabilidade foi a E16139, uma das questões substituídas. A
substituição deveu-se a presença de um mapa de um parque de diversão. Essa questão de
probabilidade foi substituída por outra que aborda proporcionalidade entre medidas
lineares e medidas quadráticas.
Dez também foram as questões de conhecimentos algébricos. Seis dessas dez
questões apresentavam funções e seus gráficos para serem analisados. Uma delas, a
questão E16154, apesar de não apresentar figura, envolve a determinação de pontos
pertencentes à parábola y = 9 – x2. As outras três questões tratavam de manipulação de
expressões, duas delas envolvendo logaritmo e exponencial. De uma forma ou de outra,
todas as dez questões acabavam tratando de funções, ou seja, pouco mais de um quarto
das questões analisadas eram sobre funções.
Seis questões foram identificadas como pertencentes à área de conhecimento
geométrico. Todas as seis questões apresentavam figura, apesar de na questão E16152 a
figura não ter sido considerada na versão do Ledor. Nessa questão, a figura sintetizava as
informações presentes no enunciado, mas não acrescentava qualquer informação nova.
Duas das questões de conhecimento geométrico sofreram substituição na versão do
Ledor, a questão E16136, que pedia a vista lateral de uma cadeira, e a questão E16145,
que pedia a projeção, de linhas traçadas em um globo, sobre um plano. A primeira delas
foi substituída por uma questão de conhecimentos numéricos, princípio multiplicativo, e
a segunda, por uma questão sobre média e variância. Uma única questão foi alocada na
classe dos conhecimentos algébricos/geométricos, a questão E16163.
O número de questões com figuras totalizou 21 e as sem figuras, 18. Levando em
conta que nem todas as figuras foram consideradas na versão do Ledor, além de três
questões com figuras terem sido substituídas por outras sem figura, o número de questões
com e sem figuras ficaram muito bem equilibrados. Destaca-se que 16 questões
117
apresentaram algum tipo de problema (pelo menos uma resposta afirmativa no crivo de
análise) e 11 delas (69%) tinham figura. Já o número de questões com tabela foi 7, seis
delas na área de conhecimento de estatística e probabilidade. Nove questões
apresentavam linguagem simbólica (expressões algébricas, fórmulas e equações), quatro
delas na área de conhecimento numérico e cinco na área de conhecimentos algébricos.
Cinco questões receberam resposta afirmativa na pergunta 1 do crivo (se há dubiedade na
adaptação para o Ledor), três delas foram identificadas como tendo linguagem simbólica.
Apenas cinco questões não tiveram todo o conteúdo semiótico convertido, três delas são
as questões que foram substituídas, as outras duas, E16152 e E16176, não tiveram as
figuras descritas por essas figuras não serem relevantes na construção da solução (as
figuras não continham informações novas, informações que não tivessem sido
apresentadas no texto do enunciado, para a construção da solução).
As respostas afirmativas aos crivos de análise perfizeram 8% do total de resposta.
Valor consideravelmente alto diante da qualidade dos textos convencionais. Se
considerarmos o número de temáticas que apresentaram pelo menos uma resposta
afirmativa, a situação fica agravada: 16 das 39 temáticas apresentaram pelo menos uma
pergunta do crivo com resposta afirmativa, ou seja, 41% das temáticas apresentam algum
problema, mesmo que de pequena relevância, na adaptação para o Ledor.
Apresentaram dubiedade, resposta afirmativa à pergunta 1 do crivo, cinco
questões. Três delas, como já foi salientado, sendo questões com expressões simbólicas.
Há um cuidado, em toda a prova, de introduzir parênteses em expressões algébricas,
mesmo que eles não estejam presentes na versão convencional, de modo a eliminar
possíveis dubiedades, prática bastante louvável por parte dos responsáveis pelas
adaptações, mas quando os parênteses são esquecidos, a dubiedade pode aparecer. Isso
foi o que se deu, por exemplo, na questão E16179. Na opção a da prova convencional
encontra-se 500×81𝐴×𝐷2 , e na versão do Ledor lê-se:
Fração com numerador 500 vezes 81 e denominador A vezes D elevado ao
quadrado.
A ausência de parênteses, permite que se entenda a expressão de mais de uma
maneira: 500×81𝐴×𝐷2 ou
500×81𝐴 × 𝐷2 . Para essa questão, em particular, erro é minimizado
por não ser essa opção o gabarito da questão.
118
Uma resposta afirmativa à pergunta 2 do crivo inviabiliza a solução da questão,
impõe ao Ledor uma atuação que ultrapassa a leitura do texto adaptado ou impõe à pessoa
com deficiência visual dificuldades que não são inerentes à questão. Quatro questões
apresentaram erros. Um desses erros foi devido ao uso impróprio de termo técnico. A
questão E16163 é uma questão de geometria analítica na qual aparece a imagem de uma
semicircunferência e de um segmento de reta. A expressão “segmento decrescente” é
usada para apresentar um segmento com extremidades em (–1, 1) e (1, –1). Um segmento
não é crescente nem decrescente e, como a questão não trata de funções, não é possível
alegar que se esteja fazendo uso de uma metonímia, há um erro conceitual. Esse erro não
traz maiores problemas, nem mesmo dificulta o entendimento da descrição, mas não se
justifica. Já na questão E16153, o erro dificulta o entendimento da descrição. Descreve-
se um gráfico com a presença de duas senoides que se cruzam em dois pontos acima de
uma linha pontilhada.
Figura 27 – Gráfico com duas senoides
A descrição do gráfico da substância A está bem-feita e é possível construir a
senoide, de 0h a 24h, com facilidade. O problema encontra-se na descrição do gráfico da
substância B. A descrição é feita de modo que se vá construindo a senoide da esquerda
para a direita: começa à 0h na linha pontilhada, sobe e cruza a senoide da substância A,
desce um pouco abaixo da linha pontilhada, “passa pela linha que indica o nível mínimo
da substância A e cruza com a senoide da substância A”. O que está destacado com aspas
não acontece no momento depois que o gráfico desce um pouco abaixo da linha
pontilhada, acontece exatamente no momento em que o gráfico cruza a linha pontilhada
119
para descer um pouco abaixo dela. A descrição acontece como se o leitor estivesse
caminhando sobre a senoide da esquerda para a direita. A descrição demanda uma ordem
temporal que é subvertida. É facilmente entendível que os gráficos se cruzam quatro vezes
acima da horizontal pontilhada.
Na questão E16178, há um erro na apresentação dos pontos da parábola que tem
equação y = – x2 + 8x: o ponto (9; –9,5) não pertence à parábola. Ao ponto de abscissa 9
corresponde a ordenada – 9, e não – 9,5. Como não é necessário encontrar a equação da
parábola para obter o seu ponto de máximo, relevante para resolver o problema,
dificilmente esse erro chegou a prejudicar quem sabe resolver o problema.
É notável que todas as quatro questões que tiveram resposta afirmativa na
pergunta 2 do crivo apresentavam figura e, em especial, figura em um sistema de
coordenadas.
Não houve resposta afirmativa à pergunta 3. Nenhum texto do Ledor foi
considerado longo ou complexo a ponto de inviabilizar a construção da resposta.
Entretanto, 5 respostas afirmativas foram dadas à pergunta 4. Essas cinco descrições não
inviabilizaram a resposta, mas geraram dificuldades. É o caso das questões E16153 e
E16156, as duas envolvendo a descrição de gráficos. Uma delas, a E16153, é a descrição
das senoides comentada anteriormente. As questões E16165 e E16175 envolvem tabelas.
Quando uma tabela apresenta um número grande de informações, com frequência, um
vidente lê apenas as informações necessárias à resolução da questão. Na questão E16165,
aparece a tabela:
Figura 28 – Tabela de população por Grandes Regiões
A opção de descrição da tabela no texto do Ledor foi descrevê-la por linha, por
região, apresentando o ano e a categoria (total, capital ou interior) de cada dado. Dessa
forma, os dados de cada região são apresentados através de 15 informações (separadas
120
por hífen ou ponto e vírgula). Como são cinco grandes regiões, a descrição completa da
tabela envolve 75 informações lidas pelo Ledor, boa parte delas sendo números na ordem
dos milhões. Nessa questão, interessam apenas os números de habitantes na região
Nordeste nos anos de 1940 e 2000. Apenas dois números são realmente lidos por um
vidente que sabe resolver a questão. Selecionar os dados relevantes faz parte da solução
da questão. Na versão do Ledor, o comando deveria preceder a descrição da tabela para
que a pessoa com deficiência visual pudesse orientar, se desejasse, quais os dados que
deveriam ser lidos.
Na questão E16175, a descrição da tabela também foi feita pelas linhas. As
informações necessárias para a construção da solução encontram-se na última coluna.
Dessa forma, é relevante a última informação de cada linha lida.
O texto convencional da questão E16169 apresenta um equívoco na descrição do
reservatório ao declarar que ele é “subdividido em três compartimentos, A, B e C, de
mesmo volume”. De acordo com essa descrição, cada subdivisão deveria ter um terço do
volume do reservatório. Esse equívoco é corrigido com a presença da figura.
Figura 29 – Reservatório dividido em três compartimentos
No texto do Ledor, não há figura e, portanto, o equívoco deve ser eliminado na
descrição da figura. A descrição da figura presente no texto do Ledor não acrescenta
nenhuma informação nova ao texto que a precede, gerando dubiedade na construção da
figura e aumentando a dificuldade na solução.
Apenas uma questão teve “Sim” na pergunta 5, foi a E16161. Essa questão
apresenta a figura de um marcador de combustível e se deve determinar quantos litros de
combustível há no tanque.
121
Figura 30 – Medidor de nível de combustível
No texto do Ledor, declara-se que a marcação na qual se encontra o ponteiro
medidor é “ponto médio entre as marcações referentes às frações um meio e um sobre
um”. Isso orienta que se tire a média entre as duas frações, ação que deveria ser uma
conclusão da leitura.
Essa questão também recebe um “Sim” na pergunta 6 do crivo (se há mudança no
que está sendo cobrado na questão convencional). A figura é um medidor de nível de
combustível que apresenta uma escala com nove marcações das quais três se destacam:
vazio (zero), meio e um. A descrição do texto do Ledor fala em cinco marcações
principais. Na questão original, deve-se fazer a leitura de que 6/8 do tanque estão cheios.
Na descrição do Ledor, 3/4 do tanque estão cheios, isso muda o texto original.
Além da E16161, mais cinco questões recebem resposta afirmativa na questão 6
do crivo. Três delas foram as questões substituídas e, com isso, mudou-se o que estava
sendo pedido na questão original. As outras duas foram a E16177 e a E16180. A questão
Figura 31 – Gráfico pluviosidade, temperatura máxima e temperatura mínima
122
E16177 possui um gráfico que é lido como se fosse uma tabela, que não corresponde ao
gráfico.
Alguns valores presentes na descrição não podem ser lidos no gráfico. Quem fez
a adaptação, possivelmente, teve acesso à tabela que gerou o gráfico. Na descrição
encontra-se que no mês de setembro de 2012, a temperatura mínima é de 17,5oC. Em
novembro de 2012, a pluviosidade é de 199 mm, a temperatura mínima é de 16,5oC e a
máxima é de 27,5oC. Em março de 2013, a pluviosidade é de 150,5 mm. Esses valores
estão acima do limite de precisão da escala do gráfico. A questão original envolvia uma
análise gráfica, a adaptada para o Ledor, uma análise de dados tabelados.
A questão E16180 apresenta problema semelhante: um gráfico é transformado na
leitura de uma tabela.
Nenhum item apresentou, na adaptação, possibilidade de leitura distinta por quem
domina o conteúdo e por quem é leigo. Assim sendo, nenhum item obteve resposta
afirmativa na pergunta 7 do crivo.
Nota-se a busca por padrão na descrição das questões. A folha de papel serve como
orientação nas descrições. A parte de baixo da folha de papel, o lado menor de uma folha
padrão como a da prova convencional, constituía a horizontal e o lado da folha, a vertical.
Todas as unidades de medida, cm, L, m, m2, h, mg e o que mais foi usado, foram
convertidas em texto. Todos os algarismos romanos foram convertidos em textos. Todos
os símbolos de porcentagem foram convertidos em texto. Sempre que necessário, foram
usados parênteses extras nas descrições de expressões para evitar dubiedade (o que não
significa que sempre houve êxito nesse uso). Alguns registros próprios da Matemática,
mas que estão disseminados no uso linguístico comum, não foram convertidos: números
inteiros e números decimais, por exemplo. Causa estranheza a porcentagem ser
convertida para texto e o par ordenado não. As questões com pares ordenados no texto do
Ledor não foram identificadas como passíveis de leituras distintas por especialistas e
leigos em Matemática e, portanto, esse não foi um motivo para resposta afirmativa na
questão 7 do crivo de análise. A maioria dos erros encontrados não é de percepção
imediata e eles demandam um olhar mais atento por parte de alguém treinado em
Matemática e em análise de questões.
123
8.3 – ENEM 2017
Ao todo, foram selecionadas 37 questões. Em uma dessas 37 questões houve
substituição na prova do Ledor, ou seja, a questão aplicada a pessoa com deficiência
visual não é a mesma que foi aplicada ao vidente, a questão E17161. Como não houve
adaptação do texto convencional para o texto do Ledor, torna-se impossível analisar a
consonância entre os dois textos. Para essa questão, a classificação foi aplicada ao texto
convencional e o crivo de análise, à questão do texto do Ledor. O ENEM faz uso da Teoria
da Resposta ao Item (TRI). De acordo com os parâmetros da TRI, as questões são
classificadas segundo níveis de dificuldade. É possível substituir uma questão por outra
que esteja no mesmo nível de dificuldade. No entanto, duas questões que estejam no
mesmo nível não medem, obrigatoriamente, as mesmas habilidades. Na questão
substituída, o conteúdo abordado na prova convencional envolvia conhecimentos
geométricos, enquanto a questão do texto do Ledor era de conhecimentos numéricos. Essa
diferença altera o que está sendo cobrado. Na prova do ENEM de 2016, que também foi
analisada nesse trabalho, três questões foram substituídas, ou seja, reduziu-se o número
de questões substituídas de 2016 para 2017. Oito questões não foram selecionadas para
análise. Isso ocorreu por não haver alterações na versão convencional ao ser construída à
versão do Ledor, ou devido a versão do Ledor apresentar adaptações irrisórias. As
questões E17138, E17139, E17142, E17147, E17149, E17158, E17177 e E17180 foram
as não selecionadas. Em anexo, há um quadro resumo com a classificação de cada questão
e com todas as respostas às questões do crivo de análise. A primeira questão presente
nesse quadro é a E17136 (questão 136 do ENEM de 2017). Essa questão foi classificada
com o código SsTa1. Ela é uma questão na qual todo o conteúdo semiótico foi
transformado em texto verbal (S); possui linguagem simbólica na versão convencional
(s); apresenta tabela (T); apresenta imagem — gráfico cartesiano, esquema, figura
geométrica ou figura auxiliar — na prova convencional (a); e é uma questão de
conhecimentos numéricos (1). Essa questão recebeu resposta negativa a todas as
perguntas do crivo de análise. No quadro resumo, em anexo, as questões que não foram
selecionadas não estão presentes. Abaixo do quadro resumo, aparece o total de questões
segundo as classificações e segundo as respostas às questões do crivo de análise.
As 37 questões selecionadas concentraram-se em três áreas de conhecimento: dez
eram de conhecimentos numéricos, dez de geometria e dez de conhecimento de estatística
124
e probabilidade. Cinco questões eram de conhecimentos algébricos, envolvendo funções,
e apenas duas eram de álgebra/geometria, questões que envolviam geometria analítica.
As duas questões de álgebra/geometria foram as questões E17172, que propunha o
cálculo da altura de um arco de parábola e cuja descrição foi muito bem-feita, recebendo
“Não” como resposta em todas as perguntas do crivo de análise, e a questão E17156, que
recebeu “Sim” em duas perguntas do crivo, as perguntas 1 (presença de dubiedade) e a
pergunta 4 (aumento considerável de dificuldades na construção da solução). Essas
respostas afirmativas devem-se à descrição inadequada de uma expressão com parênteses.
A questão pedia a identificação da curva caracterizada pela equação (p + a)(v + b) = K,
com a, b e K constantes. No texto do Ledor aparecia a seguinte descrição:
De forma geral, a expressão “entre parênteses” deixa dúvidas. Deve-se informar
o ponto no qual se abrem os parênteses e o ponto no qual se fecham. Da forma
apresentada, pode-se entender
(p + a)(v + b) = k ou (p + a(v + b)) = k
Cada um desses entendimentos tinha uma resposta diferente presente nas opções.
A pessoa com deficiência visual deveria perceber isso e perguntar ao Ledor qual das duas
interpretações possíveis estava presente no texto convencional. A pessoa atendida deveria
resolver uma questão que se apresentava mais difícil do que a questão original. Poder-se-
ia argumentar que logo após a expressão “entre parênteses” o termo a ser posto entre
parênteses encontrava-se, no texto do Ledor, entre vírgulas. Essa argumentação é
incabível. A função do texto do Ledor é eliminar os apelos visuais transformando-os em
estruturas audíveis. Com esse objetivo, não há sentido em substituir parênteses por
vírgulas.
Das dez questões de conhecimentos de estatística e probabilidade, sete eram de
análise de dados, uma de probabilidade, uma pedia o cálculo de média aritmética e uma
envolvia a determinação de mediana. Dessas dez questões, cinco apresentavam tabelas e
cinco apresentavam gráficos. Ressalte-se que duas das questões que apresentavam
O fisiologista inglês Archibald Vivian Hill propôs, em seus estudos,
que a velocidade v de contração de um músculo ao ser submetido a um peso
p é dada pela equação entre parênteses, p mais a, entre parênteses, v mais b,
igual a K, com a, b e K constantes
125
gráficos não envolviam leitura de gráficos porque os dados numéricos eram apresentados
no gráfico, transformando o gráfico em uma tabela, as questões E17173 e E17178.
E17173
E17178
Figura 32 – Gráfico de setores e gráfico de linha
Nas duas questões, a opção, na prova do Ledor, foi, inequivocamente, apresentar
os dados dos gráficos tabulados, ou seja, tratar os gráficos como se fossem tabelas.
Se houve distribuição das questões nos três primeiros tipos de conhecimentos (dez
questões de conhecimentos numéricos, dez de geometria e dez de conhecimento de
estatística e probabilidade), houve concentração das questões nos outros critérios de
classificação, com pelo menos 70% das questões concentradas em um dos valores de cada
critério: 31 questões tiveram todo o conteúdo semiótico convertido na prova do Ledor
(31S); 28 questões apresentaram linguagem simbólica na versão convencional (28n);
126
29 questões não apresentaram tabela (29A); e 26 questões fizeram uso de figuras (26g).
Com essas concentrações, é possível perceber um perfil das questões analisadas.
A questão substituída, E17161, envolvia a localização e movimentação em um
plano. O mapa das quadras de um bairro era apresentado e a indicação de como chegar a
uma padaria também.
Figura 33 – Mapa das quadras de um bairro
O objetivo era identificar quais dos números, de 1 a 5, corresponde à localização
da padaria, no caso, o número 1. O responsável pela elaboração da prova do Ledor julgou
que a descrição seria longa e complexa demais. Além disso, uma adaptação dessa questão
para o texto do Ledor exigiria cuidados redobrados para não entregar a resposta na
descrição. A opção foi trocá-la, e a questão escolhida, apesar de citar formas geométricas
no enunciado, é uma questão de contagem, cujas habilidades necessárias para a
construção da solução são bem distintas das exigidas pela questão convencional.
A partir do ponto em que você se encontra, representado pela letra X, ande para oeste, vire à direita na primeira rua que encontrar, siga em frente e vire à esquerda na próxima rua. A padaria estará logo a seguir.
127
As duas questões abordam conteúdos bastante distintos.
Das 37 questões selecionadas, 26 apresentavam figuras. Há três tipos de figuras
presentes na prova: aquelas que são somente ilustrativas, que se forem deletadas não
interferem em nada na construção da solução; as que são sínteses das informações dadas
no enunciado, que auxiliam a compreensão do que foi dito, mas que a supressão não
impede a construção da solução; e as que trazem informações novas relevantes para a
construção da solução. Uma figura do terceiro tipo tem que ser, obrigatoriamente, descrita
na adaptação para o Ledor, e os pontos relevantes para construção da solução devem estar
presentes na descrição. As figuras ilustrativas, de forma geral, não são descritas no texto
do Ledor, e figuras que têm função de síntese podem ser descritas, mas com o cuidado da
descrição cumprir, também, a função de síntese.
Na figura ilustrativa aparece na questão E17163. Nessa questão é declarado que a
quantidade de voltas efetuadas pela roda traseira a cada pedalada em uma bicicleta é
calculada dividindo-se a quantidade de dente da coroa pela quantidade de dentes da
catraca. É apresentada a quantidade de dente de cada roda dentada da coroa (numerando-
as de 1 a 3) e de cada roda dentada da catraca (numerando-as de 1 a 6). Depois, há um
quadro com cinco combinações de coroa e catraca e deseja-se saber em qual das
combinações a bicicleta é mais lenta. Saber o que significa uma coroa e uma catraca de
bicicleta é irrelevante nesse problema. O enunciado instrui a divisão dos números de
dentes da coroa pelo da catraca (que aparecem tabelados) e a identificação do menor
quociente. Na questão, aparece a figura:
Figura 34 – Coroa e catraca de bicicleta
Numa loja há 50 piscinas à venda, algumas de base quadrada e outras de base redonda. Há duas opções de profundidade: rasas e fundas. Sabe-se que 15 delas possuem base quadrada e profundidade rasa, 18 têm base redonda e 28 são fundas.
O número de piscinas que são, ao mesmo tempo, fundas e de base redonda é
128
A justificativa dessa figura é a ratificação da contextualização da questão, mas não
oferece qualquer insumo à construção da solução. No texto do Ledor, a opção foi suprimir
a figura.
O segundo tipo de figura, a que sintetiza o que foi dito no enunciado, é encontrado
na questão E17157. O enunciado descreve como podem ser acessados os topos de dois
mirantes.
Figura 35 – Dois mirantes unidos por teleférico
A figura não acrescenta qualquer informação à descrição feita no enunciado, ela
sintetiza o enunciado. No texto do Ledor, a opção para essa questão foi não descrever a
figura.
O terceiro tipo de figura, o mais presente na prova, constitui-se de figuras que
trazem informações novas e relevantes para a construção da solução. Pode-se encontrar
um exemplo na questão E17172.
Em um parque há dois mirantes de alturas distintas que são acessados por elevador panorâmico. O topo do mirante 1 é acessado pelo elevador 1, enquanto que o topo do mirante 2 é acessado pelo elevador 2. Eles encontram-se a uma distância possível de ser percorrida a pé, e entre os mirantes há um teleférico que os liga que pode ou não ser utilizado pelo visitante.
129
Figura 36 – Igreja de São Francisco de Assis, Pampulha
A única informação relevante para a construção da solução presente no enunciado
é que a curva é uma parábola. Todas as demais informações estão indicadas na figura,
inclusive o que deve ser calculado, a altura H. Essa figura tem que ser descrita no texto
do Ledor.
Na questão E17141, o enunciado não faz qualquer referência
à figura da taça presente na questão. Com isso, possivelmente
entendendo que a figura era meramente ilustrativa, ela não foi
descrita no texto do Ledor. A questão pedia a área mínima de uma
bandeja retangular necessária para transportar uma fileira com
quatro taças de espumante cuja base era um círculo de raio 4 cm, e
a borda superior, um círculo de raio 5 cm. A figura da taça,
apresentada ao lado, aparecia sem nenhuma referência no enunciado
convencional.
A igreja de São Francisco de Assis, obra arquitetônica modernista de Oscar Niemeyer, localizada na Lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, possui abóbodas parabólicas. A seta da Figura 1 ilustra uma das abóbodas na entrada principal da capela, A Figura 2 fornece uma vista frontal desta abóboda, com medidas hipotéticas para simplificar os cálculos.
Qual a medida da altura H, em metros, indicada na Figura 2?
Figura 37 – Taça 1
130
As dimensões de tal bandeja podem ser definidas a partir da figura a seguir, que
representa a bandeja vista por baixo.
Figura 38 – Disposição de quatro taças em uma bandeja
A menor dimensão da bandeja é o diâmetro da base da taça (8 cm), e a dimensão
maior da bandeja é quatro vezes o diâmetro da borda superior (4 x 10 cm) menos duas
vezes a diferença entre os raios da borda superior e da base (2 x (5 – 4) = 2), ou seja, a
maior dimensão da bandeja é 38 cm.
Tudo estaria perfeito se não houvesse um problema: esse não é o único tipo de taça
existente na qual se servem espumantes. Outra taça bastante
utilizada é a que tem o formato apresentada ao lado. Nesse tipo
de taça, a maior dimensão da bandeja não seria definida pelo raio
da borda superior, haja vista que a maior seção paralela à base da
taça não ocorre na borda superior. A solução da questão torna-se
possível pela ausência de outras informações que seriam
necessárias se as taças tivessem outro formato, mas a ausência da
descrição gera dúvidas. Por esse motivo, essa questão recebeu resposta afirmativa na
pergunta 1 do crivo de análise.
As respostas afirmativas aos crivos de análise perfizeram 10% do total de resposta,
valor pouca coisa maior do que o encontrado nas questões do ENEM de 2016, que foi de
8%. Se for considerado o número de questões que apresentaram pelo menos uma resposta
afirmativa, a situação se repete. 2017 apresentou um percentual um pouco maior do que
2016: das 37 questões selecionadas, 17 questões apresentaram algum tipo de problema
(pelo menos uma resposta afirmativa no crivo de análise) em 2017 (46% das questões),
Figura 39 – Taça 2
131
enquanto que em 2016, das 39 questões, 16 apresentaram pelo menos uma pergunta do
crivo com resposta afirmativa (41% das questões).
Apresentaram dubiedade, resposta afirmativa à pergunta 1 do crivo, oito questões,
três delas identificadas como apresentando linguagem simbólica. Houve o cuidado de
introduzir parênteses em expressões algébricas, mesmo que eles não estejam presentes na
versão convencional, de modo a eliminar possíveis dubiedades, mas quando esses
parênteses foram esquecidos, a dubiedade apareceu. Isso foi o que se deu, por exemplo,
na questão E17179. A dubiedade ocorreu na expressão da opção B (que não é o gabarito).
O numerador “10 vezes 2 elevado a 9” pode ser entendido como 10 x 29 ou como
(10 x 2)9.
Cinco questões apresentaram erro na versão do Ledor. Na questão E17169, o texto
do Ledor é tão confuso que caracterizou erro. Deseja-se descrever a figura de um
compasso traçando uma circunferência em uma folha de papel na qual se encontra um
sistema cartesiano. A figura e a descrição estão abaixo:
Figura 40 – Compasso traçando um círculo
Primeiro é dada a informação de que o compasso tem haste de 10 cm, o que não
consta na figura. Segundo, não há referência ao ponto B. Possivelmente, onde está escrito
“...uma circunferência de centro C no ponto (3; 1), a ponta seca do compasso, o ponto C,
a ponta do grafite do compasso é um ponto da circunferência e o ponto A, a cabeça do
compasso.” deveria estar escrito “...uma circunferência de centro C no ponto (3; 1), a
ponta seca do compasso. O ponto B, a ponta do grafite do compasso, é um ponto da
circunferência, e o ponto A, a cabeça do compasso.”.
132
Na questão E17168, há um erro na descrição do gráfico, um dos segmentos do
gráfico não foi descrito.
Figura 41 – Gráfico de volume de água armazenada
O gráfico é constituído de duas poligonais, uma representando a quantidade de
água em um reservatório A, e a outra representando a quantidade de água em um
reservatório B. Cada uma delas está referenciada pela mesma escala horizontal e por
escalas verticais distintas. Há um erro na descrição do gráfico do reservatório A. Ele não
é formado por cinco segmentos, mas por seis segmentos. O segmento com extremidades
em (4; 60 000) e (6; 50 000) e o segmento de extremidades em (6; 50 000) e (8; 30 000)
são descritos como se fossem um único segmento com extremidades (4; 60 000) e
(8; 30 000). Esse erro não afeta a construção da solução porque o segmento relevante no
gráfico do reservatório A para a solução é o que se encontra entre as abscissas 8 e 9.
Existe um segundo erro na descrição da figura, que também não impede a construção da
solução, mas traz dificuldades. É dito que há dois eixos verticais (o verbo “haver” é
esquecido no texto do Ledor), um deles com uma escala que vai de 0 a 180 000 e o outro
com uma escala que vai de 0 a 90 000. Isso não significa dizer que um ponto que tenha
ordenada 180 000 em uma das escalas está na mesma altura de um ponto que tenha
ordenada 90 000 na outra escala. Essa é uma das chaves na construção da solução: as
poligonais dos reservatórios foram traçadas com a mesma escala horizontal, mas cada um
ponto na vertical de uma das escalas corresponde a dois pontos na vertical da outra escala.
Da forma que foram descritas as escalas, nada impede, e é o mais natural, que a posição
133
90 000 na escala da direita corresponda a 90 000 na escala da esquerda. Isso muda o que
está sendo cobrado na questão. Os erros identificados podem ter dificultado a construção
das soluções, mas não chegaram a inviabilizar essa construção.
A uma única questão foi dada resposta positiva à pergunta 3 do crivo,
caracterizando inviabilidade de construção da solução, foi a E17164. O texto do Ledor
dessa questão está descrito abaixo com algumas supressões que visam fortalecer o
argumento que justifica a resposta afirmativa à pergunta 3.
A figura não pode ser construída a partir da descrição. Não é possível entender o
que está sendo descrito. Não é possível conceber a disposição das seis regiões que devem
ser pintadas. O que foi suprimido no texto acima tinha por intenção impedir a
identificação do objeto descrito a partir da memória visual. Só consegue entender o que
está sendo descrito quem conhece o objeto, a descrição remete a uma memória visual,
para quem a tem. Acresça-se que a descrição trata de uma logomarca composta de “uma
figura plana”, e a descrição declara que as “mãos seguram uma superfície esférica”, uma
contradição. Em suma, a solução não pode ser construída porque a figura que fundamenta
a solução não pode ser concebida. A figura e o texto do Ledor, na íntegra, estão
reproduzidos a seguir.
Um comitê criou uma logomarca composta de uma figura plana com mãos que se unem formando uma taça. Considere que o comitê resolvesse utilizar todas as cores da bandeira nacional (verde, amarelo, azul e branco) para pintar a logomarca de forma que regiões vizinhas tenham cores diferentes.
Descrição da imagem: A figura é formada por três mãos, com os pulsos unidos, partindo da base. As mãos seguram uma superfície esférica sem interceptação, formando seis áreas distintas.
De quantas maneiras diferentes o comitê poderia pintar a logomarca com as cores citadas?
134
Sem a memória visual da taça Fifa, a descrição não permite a percepção do objeto
descrito.
Em quatro questões considerou-se que a adaptação para o Ledor aumentou
sobremaneira a dificuldade na construção da solução, resposta afirmativa à pergunta 4.
Nenhuma delas apresentou “Sim” somente na pergunta quatro, todas as quatro obtiveram
“Sim” em pelo menos mais de uma pergunta do crivo.
A pergunta 5 perscruta se a adaptação para o Ledor apresentou a solução da
questão. Ela é uma espécie de antítese da questão quatro. Portanto, dificilmente, serão
observa respostas afirmativas às duas perguntas simultaneamente. Das 37 questões
analisadas, duas aparecem com “Sim” na pergunta 5, as questões E17151 e E17166.
Basicamente, a questão E17151 apresenta a figura ao
lado e pergunta se ela é um tetraedro, uma pirâmide regular,
um tronco de pirâmide regular, um prisma quadrangular reto
ou um prisma triangular reto. A descrição da figura, no texto
do Ledor, aparece assim:
Há informações na descrição que são conclusões, e não descrições. O fato de que
as faces triangulares são iguais e se encontram em planos paralelos é exatamente o que se
precisa concluir para se identificar a figura como um prisma triangular reto.
Descrição da figura: Poliedro com duas faces paralelas triangulares iguais, unidas por três retângulos iguais, um em cada lado dos triângulos.
Figura 42 – Taça Fifa
Figura 43 – Prisma triangular reto
135
A questão E17166 envolve a leitura da escala do
termômetro representado ao lado. O primeiro ponto a observar
é que entre números seguidos registrados na escala do
termômetro (entre 0 e 10, por exemplo), há 12 intervalos nas
subdivisões e não 10, como seria esperado. Assim, o menor
valor lido na escala é de (10/12)oC e não de 1oC. O que salva
a questão é a expressão “temperatura máxima mais
aproximada”. Se a palavra “aproximada” não estivesse
presente no comando (pergunta a ser respondida), a questão
não apresentaria solução entre as opções.
Deseja-se saber qual a temperatura máxima mais
aproximada registrada no termômetro. Há a indicação, no texto
convencional, de que a temperatura máxima é dada pelo nível
inferior do filete preto da coluna da direita, ou seja, na questão
original deve-se ler o que está registrado através do filete preto
da coluna da direita (19oC). Na descrição da figura no texto do Ledor, lê-se “Na coluna
da direita: O filete preto encontra-se no intervalo de 19 até 50...”. O texto do Ledor
apresenta a leitura do termômetro. Essa questão também recebe um “Sim” na pergunta 6
do crivo (se há mudança no que está sendo cobrado na questão convencional).
Outras três questões receberam resposta afirmativa na pergunta 6: a questão
E17151, a que pede para identificar o prisma triangular reto; a E17161, que foi
substituída; e a E17168, que apresenta o gráfico com as poligonais que representam a
quantidade de água nos reservatórios A e B. As três questões foram abordadas em
parágrafos anteriores.
Em duas questões foram identificadas possibilidades de leituras distintas por
pessoas com formações distintas: a questão E17154, na qual o símbolo “log” (logaritmo)
não é convertido em texto; e a questão E17167, na qual, na descrição, os subscritos em
T1, T2 e T3 são registrados T1, T2 e T3, respectivamente, mas são mantidos os subscritos
no texto posterior à descrição da figura, o que pode gerar leituras diferentes por pessoas
com e sem formação Matemática.
Assim como nas demais provas analisadas, nota-se a busca por um padrão na
descrição das questões. A folha de papel serve como orientação nas descrições. A parte
Figura 44 – Termômetro
136
de baixo da folha de papel, o lado menor de uma folha padrão como a da prova
convencional, constituía a horizontal e o lado da folha, a vertical. Todas as unidades de
medida, cm, L, m, m2, h, mg e o que mais foi usado, salvo algum descuido, foram
convertidos em texto. Alguns registros próprios da Matemática, mas que estão
disseminados no uso comum da língua, como os algarismos romanos, números inteiros e
números decimais, não foram convertidos. Os pares ordenados também não foram
convertidos em texto. As questões com pares ordenados no texto do Ledor não foram
identificadas como passíveis de leituras distintas por especialistas e leigos em Matemática
e, portanto, esse não foi um motivo para resposta afirmativa na pergunta 7 do crivo de
análise. A maioria dos erros encontrados não é de percepção imediata e demandam um
olhar mais atento por parte de alguém treinado em Matemática e em análise de questões.
Na análise feita, chamam a atenção os problemas encontrados e, são eles que
foram apresentados nos parágrafos precedentes. É importante destacar que 20 das 37
questões analisadas (54% das questões analisadas) não apresentaram resposta afirmativa
ao crivo de análise, não foi identificado qualquer problema nestas questões. Além disso,
nem todos os problemas encontrados eram de grande relevância. Ressalte-se que apenas
em uma questão identificou-se a impossibilidade de construção da solução. No conjunto
de objetivos desse trabalho encontra-se a busca pelo aprimoramento das adaptações de
textos para Ledor, jamais a desconsideração do empenho e do esforço daqueles que
fizeram a adaptação dos textos que foram analisados.
137
8.4 – ENEM 2018
Das 45 questões que compunham a prova do ENEM 2018, 33 foram selecionadas
para análise. A questão E18136 (questão 136 da prova do ENEM de 2018) foi a primeira
a ser selecionada. Ela foi classificada como SsAa1: uma questão na qual todo o conteúdo
semiótico foi convertido em texto verbal (S); que apresentava linguagem simbólica —
expressões algébricas, fórmulas ou equações — na versão convencional (s); que não
apresentava tabela na prova convencional (A); na qual não havia imagem — gráfico
cartesiano, esquemas, figuras geométricas ou figuras auxiliares (a) — na prova
convencional; e que abordava conhecimentos numéricos (1). Essa questão não recebeu
resposta afirmativa em qualquer uma das perguntas do crivo de análise. Um quadro
resumo com a classificação e as respostas ao crivo de todas as 33 questões selecionadas
encontra-se em anexo. Abaixo do quadro, aparece o total de questões segundo as
classificações e as respostas ao crivo de análise. Por não apresentarem alterações entre a
prova convencional e a prova do Ledor, ou por simplicidade excessiva nas adaptações
para o Ledor, doze questões não foram selecionadas para análise: E18142, E18148,
E18149, E18150, E18152, E18159, E18160, E18162, E18163, E18168, E18172 e
E18176.
Em uma das 33 questões selecionadas, houve substituição na prova do Ledor, ou
seja, a questão aplicada à pessoa com deficiência visual não foi a mesma que foi aplicada
ao vidente: a questão E18146. Nessa questão, como não houve adaptação do texto
convencional para o texto do Ledor, torna-se impossível analisar a consonância entre os
dois textos. Para essa questão, a classificação foi aplicada ao texto convencional e o crivo
de análise à questão do texto do Ledor. Duas questões podem ter o mesmo nível de
dificuldade (proficiência) segundo a TRI (Teoria da Resposta ao Item), que é utilizada no
ENEM, sem que meçam as mesmas habilidades. Na questão substituída, o conteúdo
abordado na prova convencional envolvia conhecimentos geométricos. Era dado um
bloco cúbico no qual faltava uma parte. A ideia era a identificação, dentre as opções
apresentadas, da parte que completava o bloco. Era uma questão que envolvia percepção
espacial. Essa questão foi substituída por uma questão de conjuntos. Essa diferença é
suficiente para caracterizar alteração nas habilidades envolvidas. Entretanto há um
agravante: a questão substituída não apresenta solução. O enunciado da questão presente
na prova do Ledor era:
138
Os compositores Pedro, Ricardo e Carlos gravaram um disco com 18 músicas inéditas. Pedro participou da composição de seis músicas, Ricardo participou da composição de oito músicas e Carlos compôs sozinho o restante das músicas. Além disso, Carlos foi parceiro em um terço das músicas compostas por Pedro e em metade das músicas compostas por Ricardo.
O número racional que expressa a participação de Carlos na composição das músicas desse disco é
(A) fração de numerador 5 e denominador 9.
(B) fração de numerador 5 e denominador 7.
(C) fração de numerador 1 e denominador 3.
(D) fração de numerador 2 e denominador 7.
(E) fração de numerador 2 e denominador 9.
Para construir a solução, é necessário saber se alguma música foi feita em parceria
pelos três, Pedro, Ricardo e Carlos, e se alguma música foi feita em parceria por Pedro e
Ricardo. Suponha-se, inicialmente, que duas músicas tenham sido feitas pelos três e que
duas, somente por Pedro e Ricardo. Tem-se a seguinte distribuição e resposta:
Figura 45 – Diagrama de conjunto: solução 1
Carlos
Pedro Ricardo
2
2
2
2 2
8 1218 = 23
139
Suponha-se, agora, que nenhuma música tenha sido feita pelos três, e que quatro,
por Pedro e Ricardo:
Figura 46 – Diagrama de conjunto: solução 2
É possível que se tenha pensado, erradamente, que o texto permitiria supor que
nenhuma música foi composta pelos três nem por Pedro e Ricardo. Nesse caso, tem-se:
Figura 47 – Diagrama de conjunto: solução 3
Testar todas as opções possíveis para procurar se apenas uma delas aparece nas
opções é inviável em uma prova com 45 questões de Matemática e tempo limitado. Por
isso, considera-se que a questão não permite a construção da solução.
Carlos
Pedro Ricardo
4
4
8 1418 = 79 2
Carlos
Pedro Ricardo
4
2 4
4 1018 = 59 2
140
As 33 questões selecionadas distribuíram-se entre as cinco áreas de conhecimento:
nove questões de estatística e probabilidade, oito de geometria, sete de conhecimentos
numéricos, seis de conhecimentos algébricos e três de conhecimentos
algébricos/geométricos. Dez questões apresentaram pelo menos um “Sim” no crivo de
análise. Dessas dez, nove apresentavam figuras. A única que não apresentava figura foi a
questão E18138, uma questão de conhecimentos numéricos, e o “Sim” apareceu devido
a dubiedade nas expressões presentes nas opções. Todas as opções tinham a mesma
forma: soma de duas frações. O mesmo equívoco foi cometido em todas. Na opção A do
texto do Ledor, lia-se:
(A) fração de numerador 50 vezes X e denominador 4, mais fração de numerador
50 vezes Y e denominador 9.
Esse texto pode ser entendido como 50X4 + 50Y9 ou
50X4+50y9 . O mesmo padrão de
conversão se repete em todas as opções.
Seis das questões selecionadas eram de conhecimentos algébricos, todas
envolvendo funções e três delas apresentaram resposta afirmativa a pelo menos uma
pergunta do crivo de análise. Na questão E18143, o texto do Ledor consiste na descrição
de um gráfico bastante simples:
Figura 48 – Gráfico com dois segmentos
O que se deseja saber é qual é a porcentagem correspondente a 2014. Na descrição
propõe-se construir o gráfico da esquerda para a direita, passando, sucessivamente, pelos
anos 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017. Inicia-se dizendo que a 2013 corresponde 67 por
cento e que um segmento de reta inclinado para baixo (expressão que não é clara) sai de
67 por cento e chega a 59 por cento. A confusão se estabelece porque o segmento chega
a 59 por cento em 2015 e, dessa forma, antes de apresentar o gráfico em 2014, apresenta-
141
se 2015. A descrição vai a 2015 e volta a 2014. A descrição do gráfico é confusa, e quem
não tenha visto o gráfico dificilmente conseguirá reproduzi-lo observando só a descrição.
O mais provável é que a pessoa com deficiência visual considere os valores de 2013 e de
2015 sem pensar no gráfico, atendo-se apenas na linearidade da passagem de 2013 para
2015.
Na questão E18145, em todas as opções, a ausência de parênteses gera dúvidas
sobre as expressões. Na opção A da prova do Ledor encontra-se:
f de t é igual a 80 vezes seno de t mais 88.
que pode ser entendida como
f(t) = 80sen(t) + 88 ou como f(t) = 80sen(t + 88).
Destaque-se que no texto original os parênteses estão presentes.
Na questão E18174, os registros t = 0 e tf, presentes no texto convencional, são
identificações de abscissas, de pontos sobre o eixo do sistema cartesiano, não são para
serem lidos como “tempo”. No texto convencional aparecem “... no tempo t = 0...” e “...
no tempo tf ...”, que são convertidos em “... no tempo tempo igual a zero...” e “... no tempo
tempo índice f...”. Se interpretados os significados dos símbolos na leitura, tf deveria ser
lido como “tempo final” e t = 0 como “tempo inicial”.
Três das oito questões de conhecimentos algébricos selecionadas apresentaram
pelo menos um “Sim” no crivo de análise. Uma delas já foi comentada: é a questão
substituída na prova do Ledor. De fato, a questão original era de conhecimentos
algébricos, mas a questão da prova do Ledor era de conhecimento numérico (conjuntos).
As outras duas são as questões E18169 e E18177.
Na questão E18169, só é possível identificar a figura descrita na prova do Ledor
por quem já a conhece. A descrição não propicia a construção imediata da figura.
Acompanhando passo a passo a descrição, é possível chegar à figura fazendo tentativas,
mas a construção não é imediata. É necessário montar o quebra-cabeça proposto na
questão para chegar à figura descrita. A questão ficou muito mais difícil. Na questão
E18177, a descrição da letra “O” tem um equívoco: a letra “O” é formada por cinco
quadrados na vertical do lado esquerdo, um ao lado do primeiro quadrado do lado direito,
142
e não do lado esquerdo, como está descrito; um ao lado do quinto quadrado do lado
direito, e não do esquerdo; e cinco na vertical do lado direito.
Figura 49 – Logotipo ECO
Além disso, a palavra “ecofont” não foi mencionada na descrição. Entretanto, no original,
as indicações dos elementos presente na figura são irrelevantes para a construção da
solução. O que se deseja é o reconhecimento de que, para reduzir a área de uma figura a
1/16 da área original, é necessário reduzir as medidas lineares a 1/4. A descrição da
imagem poderia ser descartada no texto do Ledor e, mesmo assim, seria possível
solucionar a questão. Entretanto, os dados irrelevantes estão presentes na questão original
e na adaptação para o Ledor. Destaque-se que, afora a questão que foi substituída, essa
foi a única questão, dentre as que receberam “Sim” em alguma das perguntas do crivo de
análise, que foi identificada como não apresentando todo o conteúdo do texto original
convertido em texto verbal na versão do Ledor.
Três questões envolviam conhecimento algébrico/geométrico, e duas delas
apresentavam “Sim” no crivo de análise, as questões E18157 e E18178. A primeira delas
começava descrevendo, no texto original, uma malha formada por semirretas e círculos,
mas a descrição se apoiava na imagem da malha.
143
Figura 50 – Malha formada por circunferências
A proposta da questão é determinar qual o menor caminho a ser percorrido para ir
do ponto B ao ponto A caminhando sobre a malha. O texto do Ledor não descreve a figura,
localiza a posição dos pontos A e B para quem conhece a figura.
O texto convencional inicia descrevendo a figura, mas não apresenta todas as informações
necessárias para construí-la. As informações que faltam no texto são apresentadas na
figura: onde se encontra o centro das circunferências e que os raios formam a sequência
dos números naturais. Uma circunferência fica determinada conhecendo-se seu centro e
seu raio. Nem uma coisa nem outra são dadas no texto do Ledor. Portanto, para quem não
for vidente, é impossível resolver essa questão por não saber onde se encontram as
144
circunferências que formam a malha. Para construir uma solução é necessário fazer
suposições que deveriam constar na descrição.
Na questão E18178, é apresentada a figura a seguir:
Figura 51 – Pontos sobre um triângulo no sistema cartesiano
A proposta é identificar os pontos destacados por meio de restrições feitas às
coordenadas de tais pontos. No texto do Ledor, na descrição da figura, aparece “... estão
marcados todos os pontos de coordenadas inteiras que estão sobre o triângulo de
vértices...”. A palavra “triângulo” pode ser entendida como uma linha poligonal fechada
ou como a superfície delimitada por essa linha. Cada entendimento considera um
conjunto diferente de pontos. Essa imprecisão gera dúvidas.
Sete questões foram identificadas como abordando conhecimentos numéricos e
duas delas apresentaram “Sim” em alguma questão do crivo. A questão E18138 já foi
comentada anteriormente, e na questão E18175, a dubiedade aparece por ausência de
precisão no uso da linguagem na descrição para o Ledor. No enunciado do texto original,
aparece a figura a seguir:
145
Figura 52 – Garagem, rampa e portão O texto de descrição dessa figura, na prova do Ledor é:
Na descrição da figura usa-se a expressão “segmento com dois metros de altura”.
Um segmento possui uma única dimensão e, normalmente, essa dimensão é tratada como
comprimento. Parece que o uso do termo “altura” pressupõe que esse segmento está na
vertical. Além disso, esse segmento é a indicação da distância entre o nível da rua e o
nível da base da garagem, não é a representação de um objeto físico. Nessa mesma
descrição, usa-se a expressão “base da garagem” que só é perfeitamente entendida a partir
da observação da figura. Essas imprecisões dificultam a percepção da figura e geram
dúvidas.
Nenhuma das nove questões de conhecimento de estatística e probabilidade
apresentou “Sim” no crivo de análise. Cabe destacar que sete dessas questões
apresentavam tabela. Outras duas questões, uma de conhecimento geométrico e outra de
conhecimentos numéricos, também apresentavam tabela e não foram marcadas com um
“Sim”.
Das 33 questões analisadas, 30 tiveram todo o conteúdo semiótico da prova
convencional convertidos em texto verbal; 20 apresentavam linguagem simbólica na
prova convencional; 24 não apresentavam tabela; e 18 apresentavam figura. Além disso,
a área de conhecimentos algébricos/geométricos foi a que participou com o menor
número de questões, apenas três, sendo que duas delas (66%) apresentaram resposta
Descrição da figura: A figura mostra do lado esquerdo um portão no nível da
rua e abaixo do portão um segmento com 2 metros de altura. A distância desse segmento até a base da garagem mede 8 metros. A rampa que sai do portão e vai até a garagem é inclinada.
146
afirmativa ao crivo de análise. A segunda menor participação foi a da área de
conhecimentos algébricos, com seis questões, três delas (50%) com resposta afirmativa
ao crivo. Segue-se a área de conhecimentos numéricos, que participou com sete questões
e teve duas questões (29%) com “sim” em pelo menos uma pergunta do crivo de análise.
A área conhecimentos de estatística e probabilidade foi representada pelo o maior número
de questões, nove, das quais nenhuma teve resposta afirmativa a qualquer questão do
crivo.
No cômputo geral, dez (30%) das 33 questões receberam “Sim”, e foram dadas 15
respostas afirmativas ao crivo (6%) no total de 231 respostas. Das 15 respostas
afirmativas, oito delas foram respostas a primeira pergunta do crivo (se há
correspondência entre o texto convencional e o da prova do Ledor). Dessas oito questões,
em duas (E18138 e E18145) o “Sim” foi gerado por dubiedade no registro de expressões
matemáticas, em uma delas (E18178), pelo uso da palavra triângulo que pode ser
entendida como uma superfície ou uma linha poligonal, e nas outras cinco (E18143,
E18157, E18169, E18175 e E18177), por imprecisões na descrição de figuras. A bem da
verdade, a questão E18177 não pode ser caracterizada com imprecisão de descrição de
figura. Nela, parte da figura não foi descrita e a descrição era irrelevante na construção
da solução. As questões E18143 e E18169, além de receberem resposta positiva na
primeira pergunta do crivo, também receberam resposta positiva na pergunta quatro (se a
descrição dificultou sobremaneira a construção da solução), respostas positivas geradas
pelos mesmos fatores — imprecisão na descrição de figuras. Nenhuma outra questão
recebeu “Sim” na pergunta quatro do crivo. Por sua vez, a questão E18157 apresentava
tal nível de imprecisão na descrição da figura que o “Sim” foi atribuído à pergunta três
do crivo (se a descrição inviabilizou a construção da solução). Apenas essa questão e a
E18146, que foi substituída, tiveram “Sim” na pergunta três. Por ter sido substituída, a
E18146 alterou o que estava sendo cobrado na questão convencional e, portanto, recebeu
um “Sim” na pergunta seis do crivo (única resposta afirmativa à pergunta seis), e por
apresentar erro conceitual, discutido em parágrafos anteriores, recebeu resposta
afirmativa na pergunta dois do crivo. Também recebeu resposta afirmativa na pergunta
dois a questão E181174, apresentada em parágrafo anterior, mas o erro conceitual
presente nessa questão deveu-se a inadequação na leitura de notações, não chegando a
inviabilizar a solução da questão, como ocorreu com a E18146. Nenhuma resposta
147
afirmativa aparece na pergunta cinco (se a descrição apresenta a solução da questão) e
sete (se a descrição permite leituras distintas feitas por matemáticos e leigos) do crivo.
Duas questões da prova do Ledor apresentaram adaptações que inviabilizaram a
construção da solução (resposta positiva à pergunta três do crivo). Em outras duas
questões as adaptações dificultaram sobremaneira a construção da solução (resposta
positiva à pergunta quatro do crivo). Por certo, essas quatro questões, dentre outras,
prejudicaram a participação da pessoa com deficiência visual que fez uso dos serviços de
um Ledor. Entretanto, reiteramos que, se não fossem as adaptações e as ações dos
Ledores, os prejuízos seriam imensamente maiores.
148
8.5 – As três provas analisadas do ENEM
As provas do ENEM dos três anos observados não são formadas apenas pelas
questões selecionadas para análise. Para uma comparação e uma observação mais
fidedigna das provas, organizaram-se três quadros resumo nos quais também estão
presentes as questões que não foram consideradas para análise. A todas elas foi atribuído
o código SnAa quando sujeitas aos critérios de classificação, ou seja, foram questões tais
que:
1) todo o conteúdo semiótico foi apresentado na forma de texto verbal na prova
do Ledor (S);
2) não apresentavam linguagem simbólica — expressões algébricas, fórmulas
ou equações — na versão convencional (n);
3) não apresentavam tabela na prova convencional (A);
4) não apresentavam imagem — gráficos cartesianos, esquemas, figuras
geométricas ou figuras auxiliares — na versão convencional (a).
No tocante ao critério de classificação usado, o que distinguia uma questão não
selecionada de outra era o conteúdo matemático abordado. Entretanto, a maioria delas era
de conhecimentos numéricos. Os quadros resumos com todas as questões das provas do
ENEM encontram-se em anexo.
Fixando o olhar na classificação das 45 questões de cada uma das provas, observa-
se que elas têm perfis bem próximos, como pode ser observado no quadro abaixo.
149
Classificação das questões de Matemática das provas do ENEM de 2016, 2017 e 2018
2016 2017 2018
SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO
Todo conteúdo foi convertido em texto verbal 40 5 39 6 42 3
Apresenta linguagem simbólica 36 9 36 9 32 13
Apresenta tabela 7 38 8 37 9 36
Apresenta figura 21 24 34 11 30 15
Conteúdo matemático
Numérico 16 17 13
Geométrico 7 10 9
Estatística e Probabilidade 11 11 12
Algébrico 10 5 8
Algébrico/Geométrico 1 2 3
Quadro 1 - Classificação das questões de Matemática das provas do ENEM de 2016, 2017 e 2018
Em todas as três provas, algo em torno de 90% das questões teve todo o conteúdo
semiótico convertido em texto verbal na versão do Ledor; 80% das questões das provas
de 2016 e de 2017 apresentavam linguagem simbólica na versão convencional, e 70% das
questões de 2018 também apresentavam linguagem simbólica; 84%, 82% e 80% das
questões dos anos de, respectivamente, 2016, 2017 e 2018 não apresentavam tabelas.
Esses valores são bem próximos e caracterizam um mesmo perfil para as três provas. No
que concerne à presença de figuras, essa homogeneidade não se conserva: 21, 34 e 30
questões (47%, 76% e 67%) apresentavam figura nas provas de 2016, 2017 e 2018,
respectivamente.
No conjunto das três provas, o conteúdo menos representado é conhecimentos
algébricos/geométricos, que envolve geometria analítica e sistemas de equações, e o de
maior presença é conhecimentos numéricos. Em todas as três provas, mais do que um
terço das questões eram de conhecimentos numéricos. Como já foi ressaltada, a maioria
das questões que não foram selecionadas para análise era de conhecimentos numéricos.
Esse conteúdo é propício à elaboração de questões nas quais não ocorre figura, tabela ou
linguagem simbólica. Dessa forma, muitas questões ligadas a esse conteúdo praticamente
não sofrem alterações quando convertidas para a versão do Ledor. Isso justifica o baixo
número de respostas positivas às perguntas do crivo de análise, relativamente às questões
150
dos outros conteúdos matemáticos: das 46 questões presentes nas três provas, apenas sete
receberam “Sim” como resposta a alguma pergunta do crivo de análise — duas em 2016,
três em 2017 e duas em 2018 —, uma proporção de 15% das questões do conteúdo e de
5% do total de questões das três provas. Por outro lado, quatro das seis questões de
conhecimentos algébricos/geométricos apresentavam resposta afirmativa ao crivo: 67%
das questões do conteúdo e 3% do total de questões das provas. O conteúdo de menor
representação foi, proporcionalmente, o de maior quantidade de respostas afirmativas ao
crivo, possivelmente pela presença de representações no sistema cartesiano.
As questões de conhecimentos geométricos correspondem a 16% da prova de
2016 (7 questões), 22% da prova de 2017 (10 questões) e 20% da prova de 2018 (9
questões). Atentando para o fato de que a maioria das questões que possuem figura
receberam “Sim” em pelo menos uma pergunta do crivo (11 de 16 questões de 2016, 13
das 17 questões de 2017, e 9 das 10 de 2018), tem-se a expectativa de que as questões de
conhecimentos geométricos, que são propícias à utilização de figuras, apresentem um
grande número de respostas afirmativas ao crivo. Essa expectativa se confirma na prova
de 2017: oito das dez questões de conhecimentos geométricos receberam resposta
positiva em pelo menos uma questão do crivo. Entretanto, a satisfação dessa expectativa
não é tão evidente em 2016 e 2018: três das sete questões com figura receberam resposta
afirmativa em 2016 (sendo que duas delas foram questões substituídas), e três das nove
em 2018 (uma delas sendo a questão substituída). Em 2016 e 2018, a resposta afirmativa
ao crivo em questões com figura teve presença relevante em questões de conhecimentos
algébricos e de conhecimentos algébricos/geométricos. Os conhecimentos algébricos
abarcam funções, que têm representações no sistema cartesiano de coordenadas, e os
conhecimentos algébricos/geométricos envolvem geometria analítica, que também
abordam representações no sistema cartesiano. Tais representações justificam as
respostas afirmativas ao crivo.
O número de questões com tabelas em cada uma das provas chega a um terço do
número das questões com figura na prova de 2016, e nem alcança esta proporção nos
outros dois anos considerados. Apenas três questões com tabela, das 24 presentes nas três
provas consideradas, apresentaram “Sim” como resposta a alguma questão da prova. Isso
ajuda a explicar o motivo das questões de conhecimentos de estatística e probabilidade
apresentarem baixo nível de respostas afirmativas ao crivo. Em 2017, duas das onze
questões de conhecimentos de estatística e probabilidade apresentavam resposta
afirmativa ao crivo, e em 2018, nenhuma das doze questões. Foge um pouco desse padrão
151
a prova de 2016, que apresentou cinco questões de conhecimento de estatística e
probabilidade com resposta positiva ao crivo, mas três delas não tinham tabela e tinham
figura. Diga-se, de passagem, que as duas questões com resposta afirmativa de 2017
também não tinham tabela e tinham figura.
No tocante à quantidade de respostas afirmativas ao crivo, as três provas
apresentam grande parecença, como pode ser observado no quadro abaixo.
Respostas ao crivo de análise das provas do ENEM de 2016, 2017 e 2018 1 2 3 4 5 6 7
Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim
2016 40 5 41 4 45 0 40 5 44 1 39 6 45 0
2017 37 8 40 5 44 1 41 4 43 2 41 4 43 2
2018 37 8 43 2 43 2 43 2 45 0 44 1 45 0
Totais 114 21 124 11 132 3 124 11 132 3 124 11 133 2
Quadro 2 - Respostas ao crivo de análise das provas do ENEM de 2016, 2017 e 2018
As sete perguntas do crivo de análise são:
1) O texto da prova do Ledor correspondente ao registro matemático da prova
convencional apresenta dubiedade?
2) Há erro conceitual ou gráfico no texto da prova do Ledor?
3) As descrições são longas ou complexas de tal modo que inviabilizem a construção
da solução?
4) As descrições dificultam sobremaneira a construção da solução da questão?
5) As descrições apresentam a solução da questão?
6) O texto da prova do Ledor altera a questão convencional, ou seja, modifica o que
está sendo cobrado na prova convencional?
7) As descrições permitem leituras distintas entre aqueles que possuem treinamento
matemático e aqueles que são leigos?
Das 945 respostas dadas no conjunto das três provas, 62 foram afirmativas, ou
seja, 7% do total de respostas foram afirmativas. O percentual de respostas “Sim” em
152
cada uma das provas foi: 7% em 2016 (21 respostas “Sim” em 315 respostas); 8% em
2017 (26 respostas “Sim” em 315 respostas); e 5% em 2018 (15 respostas “Sim” em 315
respostas). A pergunta com maior quantidade de respostas afirmativas em 2017 e 2018
foi a primeira, com oito respostas em cada um desses anos. Em 2016, a maior quantidade
de “Sim” foi dada à sexta pergunta (seis respostas positivas), seguida da primeira (cinco
respostas positivas). A pergunta sete não gerou resposta afirmativa nas provas de 2016 e
2018, e apenas duas em 2017.
Seria desejável que o número de respostas afirmativas apresentasse uma tendência
de decrescimento com a sucessão das provas. Isso poderia indicar um aperfeiçoamento
das adaptações quando submetidas ao crivo de análise estabelecido nesse trabalho.
Infelizmente, diante dos três anos analisados, essa tendência não é observada. A
quantidade de respostas afirmativas aumenta de 2016 para 2017 e diminui de 2017 para
2018 (21, 26 e 15, respectivamente). Deve-se salientar que, observando apenas três anos,
não é possível ter qualquer garantia na identificação de tendências. Entretanto, o número
de respostas afirmativas ao Crivo no ano de 2018 é substancialmente inferior ao
encontrado nas provas dos dois anos anteriores. A expectativa é que essa redução se
mantenha, mas a verificação dessa manutenção só se fará com a análise das provas dos
anos subsequentes, o que se espera que seja um desdobramento desse trabalho.
153
8.6 - OBMEP 2016
Ao todo, foram selecionadas 21 questões do nível 3 da OBMEP 2016, 15 da
primeira fase, que são questões de múltipla escolha, e seis da segunda fase, questões
discursivas. As provas da OBMEP são aplicadas em três níveis: nível 1, para alunos do
6º e 7º anos do Ensino Fundamental; nível 2, para alunos do 8º e 9º anos do Ensino
Fundamental; e nível 3, para alunos do Ensino Médio.
Em cada nível, são aplicadas duas provas, em datas diferentes: a primeira
composta de 20 questões de múltipla escolha, e a segunda composta de seis questões
discursivas. Para efeito de análise, neste trabalho foram selecionas apenas questões das
duas provas do nível 3. Nem todas as questões apresentavam textos adaptado para o
Ledor, mas por identificar-se a presença de elementos passíveis de adaptação para a prova
do Ledor, a seleção de algumas questões sem adaptação para Ledor foi feita. Tais questões
são as O1613(n3f1) e O1617(n3f1). As questões não selecionadas não apresentavam
adaptação para Ledor nem elemento relevante que justificasse a seleção. Não foram
selecionadas as questões O1602, O1605, O1607, O1616 e O1620 da primeira fase. Todas
as questões da segunda fase foram selecionadas. Há, em anexo, um quadro resumo com
as questões selecionadas, as classificações dessas questões e as respostas às perguntas do
crivo de análise. Os registros n3f1 e n3f2, presente no quadro resumo, significam,
respectivamente, nível 3 fase 1 e nível 3 fase 2.
A primeira questão registrada nesse quadro é a O1601(n3f1), que teve a
classificação identificada pelo código SnAg2. É a questão 01 da OBMEP de 2016
(O1601), aplicada na fase 1 do nível 3 (n3f1), que teve todo o seu conteúdo semiótico
convertido em texto verbal na versão do Ledor (S); não apresentava linguagem simbólica
— expressões algébricas, fórmulas e equações — na versão convencional (n); não
apresentava tabela (A); apresentava imagem — gráfico cartesiano, esquemas, figuras
geométricas ou figuras auxiliares— na versão convencional (g); e cujo conteúdo
matemático abordado era conhecimentos geométricos (2). No quadro resumo, abaixo de
cada prova, fase 1 e fase 2, aparecem os totais de questões segundo as classificações e os
totais de respostas “Sim” e “Não” ao crivo de análise. No final do quadro das provas de
2016, encontram-se os totais das provas das duas fases. Também em anexo encontra-se a
154
íntegra de todas as questões analisadas, nas versões convencional e de Ledor, e a resposta
oficial de cada uma delas. Cabe destacar que, na OBMEP, o Ledor recebe uma cópia da
prova convencional e uma da prova adaptada, na qual consta o que foi adaptado em cada
questão, como essas adaptações devem ser lidas e, por vezes, como o texto da prova
convencional deve ser lido. Na OBMEP, na versão do Ledor não consta todo o texto da
prova convencional.
Das 21 questões selecionadas, 17 eram de conhecimentos numéricos ou de
conhecimentos geométricos (8 numéricos e 9 geométricos), e boa parte das questões
identificadas como de conhecimentos numéricos fizeram uso de figuras, haja vista que 17
das 21 questões selecionadas apresentavam figuras. O número de questões com figuras
foi expressivo: 81% das questões das provas apresentavam figura. É esperado que
questões com figuras sejam selecionas para análise das adaptações para o Ledor.
Em qualquer um dos critérios usados para classificação das questões, houve uma
concentração de valores em uma das classes (ou em duas, no caso do conteúdo abordado).
Observando essas concentrações, pode-se identificar que nessas provas predominaram as
questões nas quais todo o conteúdo semiótico da prova convencional foi convertido em
texto na prova do Ledor (17S); não havia linguagem simbólica — expressões algébricas,
fórmulas ou equações — na prova convencional (16n); não havia tabelas (19A); existiam
figuras — gráficos cartesianos, esquemas, figuras geométricas ou figuras auxiliares — na
prova convencional (17g); e as questões abordavam conhecimentos numéricos ou
geométricos (8/1 e 9/2).
O número de questões com tabelas foi pouco expressivo, apenas duas, e uma
dessas questões envolvia conhecimento de estatística e probabilidade, área de
conhecimento na qual se espera a ocorrência de tabelas, a questão O1601(n3f2). Cinco
das 21 questões apresentavam linguagem simbólica, duas delas abordando funções. A
questão O1604(n3f2) apresentou a expressão (p + 2)2 = 36A, para a qual não houve
descrição na prova do Ledor. Essa questão teve resposta afirmativa na pergunta 7 do
crivo, identificando que a questão é passível de leituras diferentes por especialistas em
Matemática e por leigos.
Quatro das 21 questões selecionadas não apresentavam todos os registros
matemáticos convertidos em textos verbais. Duas delas são as questões que não
apresentavam adaptação para o Ledor, e todas as quatro apresentavam expressões
155
algébricas ou notação de funções no enunciado ou nas opções. Parece não ter sido
considerada com a devida relevância a possibilidade de leituras distintas de tais registros,
o que gerou a não conversão desses registros em textos verbais. Causa estranheza essa
não conversão, haja vista que outras questões com registros matemáticos bem mais
simples apresentavam indicações de como eles deveriam ser lidos. Na questão
O1603(n3f2), por exemplo, orientou-se o Ledor na leitura de 0 < x 3 e 3 < x 5,e na
questão O1605(n3f2), 30o foi registrado como 30 graus. A leitura de uma notação de
função ou de uma fração algébrica é bem mais complexa do que as apresentadas nesses
exemplos e não possuem texto para o Ledor nas quatro questões consideradas no início
do parágrafo.
As respostas afirmativas aos crivos de análise perfizeram 12% do total de resposta.
Valor consideravelmente alto diante da qualidade dos textos convencionais. Se for
considerado o número de questões que apresentaram pelo menos uma resposta afirmativa,
a situação fica agravada: nove das 21 questões analisadas apresentaram pelo menos uma
pergunta do crivo com resposta afirmativa, ou seja, 43% das questões apresentaram algum
problema, mesmo que de pequena relevância, na adaptação para o Ledor. Sete dessas
nove questões apresentavam figura. Destaque-se que quatro das seis questões da fase 2
apresentaram pelo menos uma resposta afirmativa aos crivos de análise, ou seja, 67% das
questões discursivas avaliadas apresentaram algum tipo de problema na adaptação para o
Ledor. Todas essas quatro questões apresentavam figuras e obtiveram “Sim” na pergunta
do crivo que identifica erro conceitual ou gráfico. Uma resposta afirmativa à pergunta 2
do crivo inviabiliza a solução da questão, impõe ao Ledor uma atuação que ultrapassa a
leitura do texto adaptado ou impõe à pessoa com deficiência visual dificuldades que não
são inerentes à questão. Cinco questões apresentaram erros. Há erro devido ao uso
impróprio de termo técnico, como o ocorrido na questão O1603(n3f2). Ela é uma questão
de geometria e a palavra “diagonal” é usada para indicar um segmento inclinado em
relação a outro.
Figura 53 – Figura geométrica: retângulo e triângulo
“O lado AE forma uma diagonal subindo da esquerda para a direita do ponto A até o ponto E.”
156
Em geometria, a palavra “diagonal” tem sentido próprio. Esse erro não traz
maiores problemas. Pode dificultar o entendimento da descrição, mas não vai muito além
disso. Entretanto, há erros graves, como o da questão O1604(n3f2). Nessa questão, a
descrição fala em sete linhas horizontais, quando na verdade são seis linhas horizontais.
Figura 54 – Pilha de quadradinhos
Ou o da questão O1601(n3f2), na qual há um erro na descrição do quadriculado do
enunciado: a 2ª linha é 7, 10, 13 e não 2, 13, 10, e a 3ª linha é 2, 5, 8 e não 7, 5, 8.
Figura 55 – Quadriculado 3 por 3
A maior parte dos erros seria evitável com uma revisão atenta, não se fazendo
necessário um revisor com treinamento matemático para identificar boa parte dos erros.
Apresentaram dubiedade, resposta afirmativa à pergunta 1 do crivo, três questões.
Uma dessas questões envolvia descrição de movimento de um cubo sobre um caminho
quadriculado, a questão O1601(n3f1). No texto do Ledor, a descrição do caminho
restringe-se à declaração de que é “um caminho formado por sete quadrados”, o que não
permite o entendimento da disposição desses quadrados.
“A figura mostra uma pilha de quadradinhos formada por sete linhas horizontais de quadradinhos colocados lado a lado com lados comuns.”
157
Também é de difícil compreensão a expressão “face que aponta para o segundo
quadrado”. Essa expressão, possivelmente, teve origem na seta que aparece na figura e
que não é mencionada na descrição. Também não é claro o que significa “girar para a
frente” e ”girar para a esquerda”. A presença da segunda figura orienta o significado
dessas últimas expressões.
Nas outras duas questões, a dubiedade está relacionada com erros de descrição.
Essas duas questões, E1604(n3f2) e E1611(n3f1), também apresentaram resposta
afirmativa à pergunta 2 do crivo.
Não houve resposta afirmativa à pergunta 3 nem à pergunta 5. Nenhum texto do
Ledor foi considerado longo ou complexo a ponto de inviabilizar a construção da resposta
e nenhum texto do Ledor apresentou a solução da questão. Entretanto, quatro foram as
respostas afirmativas à pergunta 4 do crivo, houve descrições que geraram dificuldades
para a construção da resposta. Duas delas já foram discutidas em parágrafos precedentes:
a do dado que se move sobre o caminho formado por quadrados (E1601(n3f1)) e a das
seis fileiras de quadradinhos (E1604(n3f2)). As outras duas questões geraram
dificuldades devido a descrições inadequadas das figuras.
Na questão 1602(n3f2), declara-se, no texto do Ledor, que
“cada anel está dividido em seis partes iguais e cada parte
tem contato com exatamente duas partes dos anéis”.
Faltou a palavra “vizinhos”, ou seja, deveria estar escrito
“duas partes dos anéis vizinhos”. Sem isso, o texto fica
confuso. Na questão O1611(n3f1), declara-se que o
polígono de cor cinza tem vértice ”no lado inferir direito
Figura 56 – Dado que se desloca
Figura 57 – Anéis concêntricos
158
do quadrado interno”, quando deveria estar declarado que ele tem vértice “no vértice
inferior do lado direito do quadrado interno”.
Apenas a questão O1601(n3f2) teve “Sim” na pergunta 6 do crivo, resposta
afirmativa gerada pelo erro na descrição da figura.
Todas as quatro questões que tiveram “Sim” na pergunta 7 do crivo apresentavam
expressões algébricas ou notações de funções, no enunciado ou nas opções, que não foram
descritas.
Nota-se um padrão na descrição das questões. A folha de papel serve como
orientação nas descrições. A parte de baixo da folha de papel, o lado menor de uma folha
padrão como a da prova convencional, constituía a horizontal, e o lado maior da folha, a
vertical. Essas marcas, horizontal e vertical, eram usadas na orientação das figuras sempre
que necessário. As indicações de localizações relativas de partes de figuras ou de
elementos nas figuras eram feitas através das expressões “à direita de” e “à esquerda de”
(posicionamentos relativos na horizontal), e “acima de” e “abaixo de” (posicionamentos
relativos na vertical). Os vértices de polígonos eram identificados através de letras e,
sempre que necessário, a ordem da disposição dos vértices identificados era apresentada.
O padrão seguido e as soluções apresentadas nas descrições levam a crer que aquele que
fez as adaptações para o Ledor estava acostumado com textos montados para pessoas com
deficiência visual. Acredita-se que 12% de respostas afirmativas ao crivo de análise e
43% de questões com algum problema tenham sido consequência de uma ausência de
revisão ou de uma revisão inadequada. Os problemas apresentados, com a revisão, teriam
sido facilmente detectados e eliminados em sua maior parte.
Figura 58 – Quadrados concêntricos
159
É importante destacar que em 12 das 21 questões selecionadas não houve
identificação de qualquer tipo de problema na adaptação para Ledor, e que nenhum
problema identificado foi reputado como inviabilizando a construção da solução (não há
resposta afirmativa à pergunta 3 do crivo). O texto do Ledor não é a íntegra da prova
convencional. Ele restringe-se à parte que se julgou necessária à adaptação. Parte do que
o Ledor lê está presente no texto convencional e parte no texto adaptado. O conjunto
inteiro, por vezes, permitia a percepção do erro no texto do Ledor e a construção da
solução da questão. Se os equívocos cometidos não inviabilizaram a participação da
pessoa atendida pelo Ledor, acrescentaram dificuldades que, pelo menos na maioria dos
casos, poderiam ter sido evitadas.
160
8.7 - OBMEP 2017
Foram selecionadas 18 questões da OBMEP 2017 para serem analisadas, todas
elas do nível 3, 13 questões da fase 1 e cinco questões da fase 2. Na OBMEP, as provas
do nível 3 são aplicadas a alunos do Ensino Médio. A prova da primeira fase consta de
20 questões de múltipla escolha, e a prova da segunda fase, de seis questões discursivas.
Todas as questões selecionadas apresentavam textos adaptados para o Ledor ou instruções
de como o Ledor deveria proceder. Uma das questões da prova da primeira fase que
apresentava texto adaptado para o Ledor não foi selecionada. É a questão O1719(n3f1),
cuja única adaptação era a indicação de como ler as frações que constituíam as opções:
A) 29 , B)
13 , C) 23 , D)
69 e E) 79 , cujas indicações de leitura eram dois nonos, um terço, dois
terços, seis nonos e sete nonos, respectivamente. A simplicidade da adaptação justificou
a não seleção. Duas questões não tiveram os textos da prova convencional adaptados, as
questões O1703(n3f1) e O1720(n3f1). Nessas questões, no lugar dos textos adaptados
apareciam as instruções:
Esse artifício de recorrer a apresentação em relevo de uma figura em uma prova
em Braille não havia sido usado na prova da OBMEP de 2016. Nesse trabalho, não foi
feita a análise da adaptação das figuras em relevo. Essa análise demandaria uma
metodologia distinta daquela que está sendo usada e foge da proposta elaborada para esse
desenvolvimento.
Em anexo, há um quadro resumo com todas as questões selecionadas, suas
classificações e as respostas ao crivo de análise de cada uma delas. Nesse quadro, os
registros n3f1 e n3f2 significam, respectivamente, nível 3 fase 1 e nível 3 fase 2. A
primeira questão presente nesse quadro é a O1701(n3f1), questão classificada com o
código SnAg2. É a questão 01 da OBMEP de 2017 (O1701), que foi plicada na prova da
fase 1 do nível 3 (n2f1); que teve todo o seu conteúdo semiótico convertido em texto
verbal (S); não apresentava linguagem simbólica — expressões algébricas, fórmulas e
equações — na versão convencional (n); não apresentava tabela (A); apresentava imagem
— gráfico cartesiano, esquemas, figuras geométricas ou figuras auxiliares — na versão
Ledor: As figuras do enunciado necessitam de descrições longas, o que dificultaria a interpretação do aluno cego. Por favor, oriente para que o aluno observe com o tato, na prova em Braile, cada figura separadamente.
161
convencional; e cujo conteúdo matemático abordado era conhecimentos geométricos (2).
No quadro resumo, abaixo de cada prova, fase 1 e fase 2, aparecem os totais de questões
segundo as classificações e os totais de respostas “Sim” e “Não” às perguntas do crivo de
análise. Ao final dos quadros das provas de 2017 encontram-se os totais das duas fases.
Em anexo também é possível encontrar todas as questões analisadas, nas versões
convencional e na de Ledor, e a resposta oficial de cada uma delas. Na OBMEP, o Ledor
recebe uma cópia da prova convencional e uma da prova do Ledor, na qual consta o que
foi adaptado em cada questão, como essas adaptações devem ser lidas e, por vezes, como
o texto da prova convencional deve ser lido. Na OBMEP, na versão do Ledor não consta
todo o texto da prova convencional.
Das 18 questões selecionadas, 14 eram de conhecimentos numéricos ou de
conhecimentos geométricos (5 numéricos e 9 geométricos),ou seja, 78% das provas
abordavam um desses dois grupos de conhecimento, e 50% das questões eram de
geometria. Apenas três questões não apresentavam figuras: a O1702(n3f1), que aborda
valor numérico de expressão algébrica, a O1707(n3f1), que envolve cálculo de
coeficientes de uma função quadrática, e a O1718(n3f1), de análise combinatória. Todas
as questões selecionadas da segunda fase possuem figura.
Em qualquer um dos critérios usados para classificação das questões, houve uma
concentração de valores em uma das classes. Com isso, pode-se traçar o perfil das
questões dessas provas: predominaram as questões nas quais todo o conteúdo semiótico
da prova convencional foi convertido em texto na prova do Ledor (15S); não havia
linguagem simbólica — expressões algébricas, fórmulas ou equações — na maioria das
questões na prova convencional (14n); não havia tabelas (17A); existiam figuras —
gráficos cartesianos, esquemas, figuras geométricas ou figuras auxiliares — na prova
convencional (15g); e metade das questões abordava conhecimentos geométricos (9/2).
Quatro questões apresentaram linguagem simbólica na versão convencional —
expressões algébricas, fórmulas e equações. Duas delas têm resposta afirmativa na
pergunta 1 do crivo de análise (que pergunta sobre dubiedade no texto do Ledor). São
essas as únicas duas questões com resposta afirmativa nessa pergunta do crivo: a questão
O1703(n3f2) gera dubiedade devido à inadequação na descrição da figura; a questão
O1707(n3f1) apresenta a função quadrática f(x) = 5x2 + ax + be, no texto do Ledor, essa
função é descrita como “f de x é igual a cinco vezes x elevado ao quadrado mais a vezes
162
x mais b”, e esse texto não é claro, pode-se entender “cinco vezes x elevado ao quadrado”
como 5x2 ou (5x)2, e também pode-se entender “a vezes x mais b” como ax + b ou a(x +
b). Certamente o entendimento mais imediato é o da expressão presente no texto
convencional, mas a dúvida aparece.
Apenas a questão O1702(n3f2) apresentou tabela. Se for observada
exclusivamente a versão convencional dessa questão, surge dúvida concernente à
identificação da presença de tabela. Entretanto, a dúvida se dirime ao ser observada a
abordagem dada no texto do Ledor, no qual a dupla entrada(posição identificada por linha
e coluna) é usada para localizar as casas do tabuleiro.
Ledor
Figura 59 – Três quadriculados 2 por 3
Três das 18 questões selecionadas não apresentavam todos os registros
matemáticos convertidos em textos verbais. Duas delas são as questões que não
apresentavam conversão para o Ledor, as questões que orientavam o Ledor a direcionar
o aluno cego para a prova em Braille. A terceira, a O1709(n3f1), descrevia como o Ledor
deveria ler um produto com diversos fatores
Entretanto, não indicava como deve ser lida potências com expoentes na ordem dos
milhares (22018, 24034, 24041,26051 e28068). Pessoas com formações diferentes podem ler
essas potências de forma diferentes, o que gerou resposta afirmativa à pergunta 7 do crivo.
Cabe observar que essa foi a única resposta afirmativa à pergunta 7, considerando-se
todas as 18 questões selecionadas.
Ledor: ler
1 x 2 x . . . x 2023 x 2024 como “um vezes dois vezes pontinhos vezes dois mil
e vinte e três vezes dois mil e vinte e quatro”.
163
As respostas afirmativas ao crivo de análise perfizeram 6% do total de resposta.
Valor inferior ao observado nas questões da OBMEP de 2016, cujo percentual de
respostas afirmativas era de 12%. Se for considerado o número de questões que
apresentaram pelo menos uma resposta afirmativa, o percentual é de 33%: seis das 18
questões analisadas apresentaram pelo menos uma pergunta do crivo com resposta
afirmativa. Esse valor também é menor do que o observado nas questões analisadas de
2016, que teve 43% das questões com algum problema. Outra diferença entre o conjunto
de questões de 2016 analisadas e as de 2017 da OBMEP é que, nas de 2016, quatro das
seis questões selecionadas da segunda fase apresentavam pelo menos uma resposta
afirmativa ao crivo de análise, e dentre as cinco questões selecionadas de 2017, uma
apresenta resposta afirmativa, uma redução de 67% para 20%. Essa questão de 2017 que
apresentava resposta afirmativa à pergunta 1 do crivo de análise (dubiedade de
entendimento) era a questão O1703(n3f1). Nela, há um equívoco na descrição da figura
do item A. Nessa descrição, por três vezes a palavra “triângulo” é usada referindo-se ao
triângulo grande, aquele no qual estão as setas sobre seus lados. A última oração começa
com o pronome demonstrativo “esse” sem nenhuma referência de que esse pronome se
refere ao triângulo ABC. Desse modo, facilmente entende-se que o triângulo que está
sombreado é o grande, e não o ABC.
Ledor
Figura 60 – Triângulo equilátero com pontos sobre os lados
Não houve adaptação que fosse considerada longa ou complexa a ponto de
inviabilizar a construção da solução. Tampouco houve adaptação que apresentasse a
solução da questão. Por conseguinte, não houve resposta afirmativa às perguntas 3 e 5 do
crivo de análise.
Erros conceituais ou gráficos, que justificam resposta afirmativa à pergunta 2 do
crivo, foram identificados nas questões O1701(n3f1) e O1708(n3f1). A prova
convencional é apresentada em cores, e na O1701(n3f1) convencional pede para que seja
calculada a área da região destacada em amarelo.
164
Figura 61 – Triângulos e pontos médios de seus lados 1
O Ledor lê o texto convencional, apresenta o comando (Qual é a área da região destacada
em amarelo?) e, em seguida, lê a adaptação feita para o texto do Ledor, que descreve a
figura:
Ledor
Figura 62 – Triângulose pontos médios de seus lados 2
O texto do Ledor não trata de área em amarelo, e sim de área na cor cinza. É claro
que isso pode ser corrigido pelo Ledor ou pela pessoa que está sendo atendida, mas é um
erro, um erro na primeira questão da prova. Inicia-se a prova com sensação de insegurança
em relação aos textos que vêm pela frente.
Observada exclusivamente a descrição da figura da questão O1708(n3f1) feita no
texto do Ledor, dificilmente a construção da figura será factível.
Não há a informação de que D é o centro da circunferência do arco AC, e nem de
que C é o centro da circunferência do arco AB. A descrição é feita apresentando os
165
elementos da figura e suas posições relativas. A construção da figura só se faz viável com
as informações presentes no enunciado convencional.
Figura 63 – Região limitada por segmento e arcos de circunferência
Acresça-se que, no texto do Ledor, menciona-se uma “região R” que no enunciado
original é apresentada como “região verde”.
Erros desse tipo na adaptação impõem ao Ledor uma atuação que ultrapassa a
leitura do texto adaptado ou impõe a pessoa que está sendo atendida dificuldades que não
são inerentes à questão.
A questão O1708(n3f1), além de receber resposta afirmativa à pergunta 2 do crivo,
aumentou consideravelmente a dificuldade na construção da solução da questão,
recebendo, por isso, “Sim” na pergunta 4 do crivo. Outra questão também recebeu “Sim”
como resposta à pergunta 4, que identifica que a descrição dificultou sobremaneira a
construção da solução. É a questão O1715(n3f1). Nela, a descrição na prova do Ledor
não corresponde à figura apresentada na versão convencional.
Convencional
Figura 64 – Ponto P que se desloca sobre poligonal 1
166
Ledor
Figura 65 – Ponto P que se desloca sobre poligonal 2
No texto do Ledor, não é dito que o ponto P encontra-se sobre o seguimento CD
e descreve-se uma linha poligonal que passa por A, B, C, P, D, E e F, o que leva a entender
que se está diante de uma poligonal formada por seis segmentos. Além disso, não é essa
poligonal que se destaca na figura. É a poligonal ABCP com um trajeto orientado de A
para P. Pode-se construir a solução observando a descrição presente no texto original e
eliminando-se os equívocos presentes no texto do Ledor, mas, para tanto, o atendido
cumprirá tarefas que não estavam previstas na questão convencional. Dificultou-se,
sobremaneira, a construção da solução.
Nota-se um padrão na descrição das questões. Padrões semelhantes ao
encontrados na análise das questões da OBMEP de 2016. O padrão seguido e as soluções
apresentadas nas descrições levam a crer que aquele que fez as adaptações para o Ledor
estava acostumado com textos montados para pessoas com deficiência visual. Apesar de
6% de respostas afirmativas ao crivo de análise e 33% de questões com algum problema,
valores que podem ser considerados altos, como já foi observado anteriormente, houve
um declínio acentuado desses valores em relação aos encontrados nas questões analisadas
de 2016. Além de bem menor o número de erros, não foram erros crassos, erros que
pudessem ser detectados por alguém sem treinamento matemático. Na busca da redução
dessas falhas, impõe-se uma revisão pormenorizada, feita por um especialista na área.
É importante destacar que em 12 das 18 questões selecionadas não houve
identificação de qualquer tipo de problema na adaptação para Ledor, e que nenhum
problema identificado foi reputado como inviabilizando a construção da solução (não há
resposta afirmativa à pergunta 3 do crivo). O texto do Ledor não é a íntegra da prova
convencional. Ele restringe-se à parte que se julgou necessária à adaptação. Parte do que
o Ledor lê está presente no texto convencional e parte no texto adaptado. O conjunto
inteiro, por vezes, permitia a percepção do erro no texto do Ledor e a construção da
167
solução da questão. Se os equívocos cometidos não inviabilizaram a participação da
pessoa atendida pelo Ledor, acrescentaram dificuldades, que poderiam ter sido evitadas,
à participação do aluno com deficiência visual.
168
8.8 - OBMEP 2018
Foram selecionadas 20 questões da OBMEP 2018 para serem analisadas, todas
elas do nível 3, 15 questões da fase 1 e cinco questões da fase 2. Na OBMEP, as provas
do nível 3 são aplicadas a alunos do Ensino Médio. Quase todas as questões selecionadas
apresentavam textos adaptados para o Ledor ou instruções de como o Ledor deveria
proceder. Apenas uma das questões selecionadas não apresentava o texto do Ledor, a
questão O1806(n3f2). Essa questão apresentava uma figura e entendeu-se que sua
presença na lista de selecionadas se justificava, no mínimo, para verificação do motivo
da ausência de texto do Ledor. Todas as questões que apresentavam texto para Ledor
foram selecionadas, mesmo aquelas com instruções bem elementares, como é o caso da
questão O1813(n3f1), cuja única instrução é como deve ser lida a igualdade
360 = 90 + 120 + 150.
A OBMEP não substitui questões, ou seja, não há questão na prova do Ledor que
não corresponda à questão da prova convencional. Entretanto, houve um recurso usado
na OBMEP de 2017 que não foi usado nesse ano. Em duas questões de 2017, no lugar da
adaptação para o Ledor, encontrava-se a instrução:
Nas três provas da OBMEP analisadas, 2016, 2017 e 2018, o artifício de recorrer
a apresentação em relevo de uma figura em uma prova em Braille só foi utilizado na prova
de 2017.
Em anexo, há um quadro resumo no qual as 20 questões selecionadas aparecem
classificadas e com as respostas às questões do crivo de análise. Nesse quadro, os registros
n3f1 e n3f2 significam, respectivamente, nível 3 fase 1 e nível 3 fase 2. A primeira questão
listada nesse quadro é a O1801(n3f1), cuja classificação foi identificada com o código
SnTa1. Ela é a questão 01 da OBMEP 2018 (O1801) aplicada na fase 1 do nível 3 (n3f1).
Ela apresentou todo o conteúdo semiótico convertido em texto verbal na prova do Ledor
(S); não apresentava linguagem simbólica — expressões algébricas, fórmulas e equações
— na versão convencional (n); tinha tabela (T); não tinha imagem — gráficos cartesianos,
Ledor: As figuras do enunciado necessitam de descrições longas, o que dificultaria a interpretação do aluno cego. Por favor, oriente para que o aluno observe com o tato, na prova em Braile, cada figura separadamente.
169
esquemas, figuras geométricas e figuras auxiliares — na versão convencional (a); e
abordava conteúdo de conhecimentos numéricos (1). Abaixo de cada prova, fase 1 e fase
2, aparecem os totais de questões segundo as classificações e os totais de respostas “Sim”
e “Não” às perguntas do crivo de análise. No final do quadro das provas de 2018,
encontram-se os totais das questões selecionadas nas provas das duas fases.
Na OBMEP, o Ledor recebe uma cópia da prova convencional e uma da prova do
Ledor, na qual consta o que foi adaptado em cada questão, como essas adaptações devem
ser lidas e, por vezes, como o texto da prova convencional deve ser lido; não consta, na
versão do Ledor, todo o texto da prova convencional. Também é possível encontrar em
anexo todas as questões analisadas, nas versões convencional e na de Ledor, e a resposta
oficial de cada uma delas.
Das 20 questões selecionadas, 10 eram de conhecimentos numéricos, ou seja, 50%
das provas abordavam esse grupo de conhecimento. Os outros 50% foram preenchidos
com quatro questões de conhecimentos geométricos, três de conhecimento de estatística
e probabilidade e três de conhecimentos algébricos.
Diferentemente dos anos anteriores, 2016 e 2017, nos quais o número de questões
com figuras era acentuado, em 2018, apenas metade das questões apresentava figura, o
que se reflete no número reduzido de questões de conhecimento geométrico. No que
concerne à presença de linguagem simbólica — expressões algébricas, fórmulas e
equações —, a OBMEP 2018 também se distingue dos dois anos anteriores: nove das 20
questões analisadas apresentavam linguagem simbólica, 45% das questões. Com essas
diferenças, o perfil da prova de 2018 é distinto do perfil das provas de 2016 e 2017.
Apenas uma questão apresentou tabela, a O1801(n3f1). A bem da verdade, nem
essa questão apresentou tabela. A tabulação dos números tem a forma de tabela, inclusive
o enunciado chama de tabela, mas as colunas não têm significado.
Figura 66 – Tabela com soma dos números de cada linha
Na tabela abaixo, a soma dos números da primeira linha é igual à soma dos números da segunda linha. Qual é o valor de x?
170
Permutando-se os elementos de uma linha, não há alteração nas informações
relevantes para a construção da solução. Há uma aparência de tabela, de informações de
dupla entrada, mas as colunas não são identificadas. Isso observado, a adaptação para o
texto do Ledor fez-se retirando a forma de tabela. Registre-se que, no texto do Ledor, as
etiquetas presentes na primeira coluna foram, declaradamente, desconsideradas:
O que se fez foi ler as duas linhas desconsiderando a forma de tabela.
Uma também foi a questão classificada como não tendo convertido todo o
conteúdo semiótico em texto verbal, a O1803(n3f1). Essa questão foi montada a partir de
um gráfico radar. A complexidade na descrição do gráfico levou à opção de transformá-
lo em tabela, o que é perfeitamente factível dado ao fato de as informações relevantes
para a construção da solução serem valores numéricos inteiros associados a pontos do
gráfico.
Figura 67 – Gráfico radar
Ledor: na descrição da tabela omite-se a primeira coluna à esquerda em relação à tabela da prova oficial.
A tabela consiste de duas linhas e sete colunas. Da esquerda para a direita, as casas de cada linha são
1ª linha: 35, 36, 37, 38, 39, 40, 2018. 2ª linha: 31, 33, 35, 37, 39, 41, letra x.
Gráfico da prova convencional.
171
Figura 68 – Tabela descritiva do gráfico radar
Entretanto, a opção de substituir o gráfico por uma tabela modificou a questão, o que
gerou uma resposta afirmativa na questão 6 do crivo de análise.
É perceptível, na observação dos três anos analisados, uma evolução na qualidade
da adaptação para Ledor. Das 140 respostas ao crivo de análise (20 questões vezes 7
perguntas por questão), cinco foram afirmativas, o que corresponde a 3,6%. Das 20
questões analisadas, cinco apresentaram resposta afirmativa ao crivo, ou seja, 25%. Não
houve questão com duas respostas afirmativas ao crivo e três das respostas afirmativas
foram dadas à pergunta 1, que verifica se há dubiedade no texto do Ledor, essas três
questões foram O1804(n3f1), O1807(n3f1) e O1809(n3f1).
A solução do problema presente na questão O1804(n3f1) fundamenta-se na
proporcionalidade da altura da coluna de água e do volume contido em uma jarra. Essa
proporcionalidade existe porque a jarra é um cilindro, e essa informação não aparece no
texto do Ledor. Se a jarra fosse um tronco de cone, formato
comum em jarras, a proporcionalidade não existiria. O
formato da jarra deve ser pressuposto pela pessoa com
deficiência visual através dos limites dos dados presentes
no enunciado e na descrição, mas a dúvida aparece.
Na questão O1807(n3f1), a dúvida aparece na conversão de uma expressão
algébrica. O texto da conversão descreve “fração de numerador x e denominador y mais
fração de numerador y e denominador x”, que pode ser entendida como 𝑥𝑦 + 𝑦𝑥 ou 𝑥𝑦+𝑦𝑥 ,
o que gera uma dúvida no texto do Ledor.
Tabela da prova do Ledor
Figura 69 – Jarras com água
172
Na questão O1809(n3f1), a dúvida aparece na apresentação de expressões
algébricas presentes nas opções, onde encontram-se:
C. c igual a duas vezes a mais b,
que pode ser entendido como c = 2a + b ou c = 2(a + b), e
E. c igual a duas vezes a menos b,
que pode ser entendido como c = 2a – b ou c = 2(a – b).
O problema não é grave porque o gabarito é a opção A.
As outras duas respostas afirmativas ocorreram nas questões O1803(n3f1), a
questão do gráfico radar que foi trocado por uma tabela, comentada anteriormente, e a
questão O1804(n3f2). Nesta última, a descrição presente no texto do Ledor dificulta a
identificação das figuras descritas.
Convencional
Figura 70 – Área de região sombreada sobre triângulo retângulo 1
173
Ledor
A descrição da figura no texto convencional é mais clara do que a feita no texto
do Ledor. No item a do texto do Ledor é apresentada a interseção dos paralelogramos
BPQR e CSPQ gerando o triângulo PQT que não cumpre função na construção da
solução; a ordem dos vértices dos paralelogramos (BPQR e CSPQ) é trocada em relação
ao texto convencional (PBRQ e PSCQ). No item b do Ledor, em vez de apresentar o
quadrilátero PBCQ como sombreado, destacam-se, sem justificativa, os paralelogramos
BPQR e CQPS e a interseção desses paralelogramos. A ordem dos vértices desses
paralelogramos (BPQR e CQPS) é distinta da ordem apresentada no texto convencional
(PBRQ e PSCQ) e da ordem do item a (BPQR e CSPQ). Tais ordens devem ser
preservadas porque a pessoas com deficiência visual escuta o texto convencional e o texto
do Ledor. A descrição dificulta a construção da figura.
As perguntas 2, 3, 5 e 7 do crivo não apresentaram respostas afirmativas: nenhuma
questão foi considerada com erro conceitual ou gráfico; em nenhuma questão tornou-se
inviável a construção da solução; em nenhuma questão a descrição apresentou a solução;
e nenhuma questão permitia leituras distintas entre os que conhecem o conteúdo e os que
não conhecem.
Em cinco das vinte questões analisadas, considerou-se que, devido à simplicidade
do que foi adaptado, o texto do Ledor não apresentou função, ou seja, poderia não existir
Figura 71 – Área de região sombreada sobre triângulo retângulo 2
174
o texto do Ledor que não haveria prejuízo algum para o entendimento da questão e
construção da solução.
Das cinco respostas afirmativas a perguntas do crivo, três delas eram relativas à
dubiedade de entendimento, que não podem ser imputadas como severas, e uma deveu-
se à troca de um gráfico por uma tabela. Torna-se notória a melhoria de qualidade na
adaptação para Ledor da prova de 2018 em relação a de 2016 e de 2017.
Nota-se um padrão na descrição das questões. Padrões semelhantes ao
encontrados na análise das questões da OBMEP de 2016 e de 2017. O padrão seguido e
as soluções apresentadas nas descrições levam a crer que aquele que fez as adaptações
para o Ledor estava acostumado com textos montados para pessoas com deficiência
visual. Houve 3,6% de respostas afirmativas ao crivo de análise e 25% de questões com
algum problema. Apesar da melhora já comentada, esses valores ainda podem ser
considerados altos.
É importante destacar que em 15 das 20 questões selecionadas não houve
identificação de qualquer tipo de problema na adaptação para Ledor, e que nenhum
problema identificado foi reputado como inviabilizando a construção da solução (não há
resposta afirmativa na pergunta 3 do crivo), mas se os equívocos cometidos não
inviabilizaram a participação da pessoas com deficiência visual, acrescentaram
dificuldades desnecessárias, distinguindo a participação do aluno com deficiência visual
da participação do vidente.
175
8.9 – As três provas analisadas da OBMEP
As provas observadas da OBMEP possuem mais questões do que as que foram
selecionadas para análise. Para uma comparação e uma observação da íntegra das provas,
organizaram-se quadros resumo nos quais, além das questões analisadas, também estão
presentes as que não foram consideradas para análise. A todas as questões não
selecionadas inicialmente e presentes no quadro foi atribuído o código SnAa referente aos
critérios de classificação, ou seja, foram questões tais que:
todo o conteúdo semiótico foi apresentado na forma de texto verbal na
prova do Ledor (S);
não apresentavam linguagem simbólica — expressões algébricas,
fórmulas ou equações — na versão convencional (n);
não apresentavam tabela na prova convencional (A);
não apresentavam imagem — gráficos cartesianos, esquemas, figuras
geométricas ou figuras auxiliares — na versão convencional (a).
No tocante ao critério de classificação usado, o que distinguia uma questão não
selecionada de outra era o conteúdo matemático abordado. A maioria das que não foram
selecionadas era de conhecimentos numéricos. Cabe destacar que a classificação das
questões quanto ao conteúdo matemático abordado foi feita de acordo com os objetos de
conhecimento associados à matriz de referência do ENEM. Dificilmente uma questão
aborda exclusivamente um conteúdo. A classificação observou o conteúdo que mais se
destacava na questão. Além disso, se o conteúdo de maior destaque de uma questão não
se encontrasse explicitado no rol dos objetivos de conhecimento associado à matriz de
referência do ENEM, a classificação era feita por proximidade de algum conteúdo
presente em tal rol. Isso aconteceu nas questões nas 14 e 16 da primeira fase de 2018, que
eram questões de lógica proposicional e foram classificadas no grupo dos conteúdos
identificados como conhecimento numéricos, devido a esse grupo aproximar-se dos
conceitos de conjuntos. Os quadros resumos com todas as questões das provas da OBMEP
encontram-se em anexo.
Foram analisadas as duas provas do nível 3 dos anos de 2016, 2017 e 2018. Na
OBMEP, este nível destina-se a estudantes do Ensino Médio. A primeira prova, fase 1, é
176
formada por 20 questões de múltipla escolha, e a segunda, fase 2, por seis questões
discursivas. As provas das duas fases são aplicadas em datas diferentes.
Fixando o olhar na classificação das 20 questões da primeira fase e nas seis da
segunda fase das provas dos três anos analisados, observa-se que elas têm perfis bem
próximos, como pode ser constatado nos quadros abaixo.
Classificação das questões da fase1 do nível 3 das provas da OBMEP de 2016, 2017 e 2018
2016 2017 2018
SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO
Todo conteúdo foi convertido em texto verbal 17 3 17 3 19 1
Apresenta linguagem simbólica 3 17 3 17 7 13
Apresenta tabela 1 19 0 20 1 19
Apresenta figura 12 8 10 10 7 13
Conteúdo matemático
Numérico 8 9 11
Geométrico 8 7 4
Estatística e Probabilidade 2 1 3
Algébrico 1 3 2
Algébrico/Geométrico 1 0 0
Quadro 3 - Classificação das questões da fase1 do nível 3 das provas da OBMEP de 2016, 2017 e 2018 Classificação das questões da fase2 do nível 3 das provas da OBMEP de 2016, 2017 e 2018
2016 2017 2018
SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO
Todo conteúdo foi convertido em texto verbal 5 1 6 0 6 0
Apresenta linguagem simbólica 2 4 1 5 2 4
Apresenta tabela 1 5 1 5 0 6
Apresenta figura 5 1 5 1 3 3
Conteúdo matemático
Numérico 3 3 4
Geométrico 1 2 0
Estatística e Probabilidade 1 0 1
Algébrico 1 1 1
Algébrico/Geométrico 0 0 0
Quadro 4 - Classificação das questões da fase2 do nível 3das provas da OBMEP de 2016, 2017 e 2018
177
Classificação das questões das duas fases do nível 3 das provas da OBMEP de 2016, 2017 e 2018
2016 2017 2018
SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO
Todo conteúdo foi convertido em texto verbal 22 4 23 3 25 1
Apresenta linguagem simbólica 5 21 4 22 9 17
Apresenta tabela 2 24 1 25 1 25
Apresenta figura 17 9 15 11 10 16
Conteúdo matemático
Numérico 11 12 15
Geométrico 9 9 4
Estatística e Probabilidade 3 1 4
Algébrico 2 4 3
Algébrico/Geométrico 1 0 0
Quadro 5 - Classificação das questões das duas fases do nível 3 das provas da OBMEP de 2016, 2017 e 2018
Considerando-se as questões das duas fases, as provas de 2016, 2017 e 2018
apresentaram 22, 23 e 25 das 26 questões com todo o conteúdo semiótico convertido em
texto verbal na versão do Ledor, 85%, 88% e 96% do total de questões de cada ano,
respectivamente. Na OBMEP, são entregues ao Ledor a versão convencional da prova e
a versão do Ledor. Isso significa que, para que uma questão seja classificada como tendo
todo o conteúdo semiótico convertido em texto, basta que os registros que não sejam
textos na versão original sejam convertidos na versão para o Ledor.
O número de questões que não apresentavam linguagem simbólica na versão
convencional foi menor do que o número de questões que apresentavam tal registro nos
três anos: 5 questões em 2016 (19% do total das duas fases); 4 em 2017 (15% do total); e
9 questões em 2018 (35% do total das duas fases). Foi reduzido, nos três anos, o número
de questões que apresentavam tabelas na prova convencional: duas questões em 2016;
uma em 2017; e uma em 2018. Considerando, em cada ano, as fases separadamente, as
provas apresentaram, no máximo, uma questão com tabela. Por outro lado, as questões
com figuras fizeram-se presentes, correspondendo a mais de 50% do total de questões das
provas em 2016 e, em 2017, 17 questões das 26 que constituíam as provas das duas fases
de 2016 apresentavam figuras e 15 questões de 2017 apresentavam figuras. Em 2018, o
número de questões com figuras, apesar de expressivo, foi menor: dez das 26 questões
178
apresentavam figura. Nas provas da OBMEP que foram analisadas, é comum encontrar
figuras ilustrativas, figuras que não sintetizam as informações dadas no texto e que não
apresentam informações novas. Essas figuras “decoram” a questão e não exercem
qualquer função na construção da solução. Questões com esse tipo de figura foram
classificadas como não apresentando figura. Esse é o caso de todas as questões que não
foram selecionadas para análise e que apresentavam alguma figura. Uma das questões
que não foram selecionadas para análise, a questão 19 da primeira fase de 2017,
apresentava instruções de como deveriam ser lidas as frações presentes nas opções: (A)
dois nonos; (B) um terço; (C) dois terços; (D) seis nonos; (E) sete nonos. Nesse ano, as
questões sete e dez da primeira fase também apresentavam frações e instruções de como
as frações deveriam ser lidas. Essas instruções aparecem na questão 19 de 2018.
Entretanto, as questões 14 e 16 da fase 1 de 2016 apresentam frações e não apresentam
instruções de como elas devem ser lidas.
No conjunto das três provas, o conteúdo menos representado é conhecimentos
algébricos/geométricos, que envolve geometria analítica e sistemas de equações, apenas
uma questão na fase 1 de 2016, a questão 20, que envolvia sistemas de equações na
resolução. O conteúdo de maior presença é conhecimentos numéricos. Em todas as três
provas, mais do que 40% do total das questões eram de conhecimentos numéricos: 11 em
2016 (42% do total das questões das duas fases); 12 em 2017 (46% do total); e 15 questões
em 2018 (57% do total). A maioria das questões que não foram selecionadas para análise
era de conhecimentos numéricos: de todas as provas dos três anos, 19 questões não foram
selecionadas, das quais 15 eram de conhecimentos numéricos. Esse conteúdo é propício
à elaboração de questões nas quais não ocorre figura, tabela ou linguagem simbólica.
Dessa forma, muitas questões ligadas a esse conteúdo praticamente não sofrem
alterações quando convertidas para a versão do Ledor. Isso justifica o baixo número de
respostas positivas às perguntas do crivo de análise, relativamente às questões dos outros
conteúdos matemáticos: das 38 questões de conhecimentos numéricos presentes nas três
provas, apenas quatro receberam “Sim” como resposta a alguma pergunta do crivo de
análise — três em 2016, uma em 2017 e nenhuma em 2018 —, uma proporção de 11%
das questões do conteúdo e de 5% do total de questões das provas dos três anos.
Por outro lado, a área com maior número de respostas afirmativas ao crivo de
análise foi conhecimentos geométricos, com oito das 22 questões apresentando “Sim”
como resposta a alguma das questões do crivo (36% das questões dessa área de
conhecimento). A segunda área com maior número de questões com resposta afirmativa
179
ao crivo de análise foi conhecimentos algébricos — sete das nove questões de álgebra
apresentaram “Sim” como resposta a pelo menos uma questão do crivo (78% das questões
de conhecimentos algébricos).
De fato, percentualmente, a maior ocorrência de “Sim” se deu em álgebra. Essas
duas áreas, geometria e álgebra, concentraram 70% das questões que obtiveram “Sim”
em alguma questão do crivo: das 78 questões presentes nas três provas, 20 receberam
“Sim”, e 14 delas (70%) eram de geometria ou de álgebra. A área de conhecimentos
algébricos abarca as questões de funções que, com frequência, envolveram figuras e
gráficos cartesianos (figuras e gráficos que estavam presentes em quatro das nove
questões desse conteúdo que apresentaram “Sim”). Outras apresentavam expressões
algébricas (cinco das nove questões). A presença de figuras e de expressões algébricas
justificam a frequência de “Sim” como resposta ao crivo de análise na área de geometria
e de álgebra. Tem-se a expectativa de que as questões com figuras ou com expressões
matemáticas sejam propícias à respostas afirmativas ao crivo de análise, e essa
expectativa foi confirmada na área de geometria e de álgebra.
Apenas quatro questões continham tabela no conjunto de todas as provas
consideradas, e uma única apresentou “Sim” como resposta ao crivo, a questão 01 da fase
2 de 2016, essa questão apresenta um erro na ordem dos números que devem ser lidos na
adaptação para o Ledor.
As questões que envolvem o conhecimento de estatística e probabilidade totalizam
oito no conjunto das três provas. Duas apresentam “Sim” como resposta ao crivo. Quatro
delas são de probabilidade, e três dessas quatro não foram selecionadas para análise.
Apenas a questão 20 da fase1 de 2016 foi identificada como pertencente à área de
conhecimentos algébrico/geométrico. Essa questão não foi selecionada para análise.
O número de respostas afirmativas ao crivo obtido nas provas dos três anos
considerados pode ser observado nos quadros apresentados a seguir.
180
Respostas ao crivo de análise das provas da fase 1 do nível 3 da OBMEP de 2016, 2017 e 2018 1 2 3 4 5 6 7
Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim
2016 18 2 19 1 20 0 18 2 20 0 20 0 17 3
2017 19 1 18 2 20 0 18 2 20 0 19 1 19 1
2018 17 3 20 0 20 0 20 0 20 0 19 1 20 0
Totais 54 6 57 3 60 0 56 4 60 0 58 2 56 4
Quadro 6 - Respostas ao crivo de análise das provas da fase 1 do nível 3 da OBMEP de 2016, 2017 e 2018
Respostas ao crivo de análise das provas da fase 2 do nível 3 da OBMEP de 2016, 2017 e 2018 1 2 3 4 5 6 7
Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim
2016 5 1 4 2 6 0 4 2 6 0 5 1 5 1
2017 5 1 6 0 6 0 6 0 6 0 6 0 6 0
2018 6 0 6 0 6 0 5 1 6 0 6 0 6 0
Totais 16 2 16 2 18 0 15 3 18 0 17 1 17 1
Quadro 7 - Respostas ao crivo de análise das provas da fase 2 do nível 3 da OBMEP de 2016, 2017 e 2018
Respostas ao crivo de análise das provas das duas fases do nível 3 da OBMEP de 2016, 2017 e 2018 1 2 3 4 5 6 7
Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim Não Sim
2016 23 3 23 3 26 0 22 4 26 0 25 1 22 4
2017 24 2 24 2 26 0 24 2 26 0 25 1 25 1
2018 23 3 26 0 26 0 25 1 26 0 25 1 26 0
Totais 70 8 73 5 78 0 71 7 78 0 75 3 73 5
Quadro 8 - Respostas ao crivo de análise das provas das duas fases do nível 3 da OBMEP de 2016, 2017 e 2018
181
As sete perguntas do crivo de análise são:
1) O texto da prova do Ledor correspondente ao registro matemático da prova
convencional apresenta dubiedade?
2) Há erro conceitual ou gráfico no texto da prova do Ledor?
3) As descrições são longas ou complexas de tal modo que inviabilizem a construção
da solução?
4) As descrições dificultam sobremaneira a construção da solução da questão?
5) As descrições apresentam a solução da questão?
6) O texto da prova do Ledor altera a questão convencional, ou seja, modifica o que
está sendo cobrado na prova convencional?
7) As descrições permitem leituras distintas entre aqueles que possuem treinamento
matemático e aqueles que são leigos?
Das 546 respostas dadas no conjunto das provas dos três anos, 28 foram
afirmativas, ou seja, 5% do total de respostas foram afirmativas. O percentual de respostas
“Sim” nas provas de cada ano foi: 8% em 2016 (15 respostas “Sim” em 182 respostas);
4% em 2017 (8 respostas “Sim” em 182 respostas); e 3% em 2018 (5 respostas “Sim” em
182 respostas). A pergunta com maior quantidade de respostas afirmativas foi a primeira,
com um total de oito respostas afirmativas, e a quarta, com sete respostas afirmativas. Em
2016, ano com o maior número de respostas afirmativas ao crivo, a maior quantidade de
“Sim” foi dada a quarta e a sétima pergunta (quatro respostas afirmativas a cada uma
dessas perguntas). As perguntas três e cinco não geraram respostas afirmativas nas provas
de nenhum dos anos considerados.
Visivelmente, o número de respostas “Sim” decai com o decorrer dos três anos. É
desejável que o número de respostas afirmativas apresente uma tendência de
decrescimento com a sucessão das provas. Isso poderia indicar um aperfeiçoamento das
adaptações quando submetidas ao crivo de análise estabelecido nesse trabalho.
Entretanto, diante da observação de apenas três anos, essa tendência não pode ser
garantida, não é possível observar qualquer tendência atentando para o número de
respostas afirmativas dadas a cada uma das perguntas na sucessão de apenas três anos.
Contudo, o número de respostas afirmativas no ano de 2018 é substancialmente inferior
ao encontrado nas provas dos dois anos anteriores. A expectativa é que essa redução se
mantenha, mas a verificação dessa manutenção só será possível através da análise das
provas dos próximos anos.
182
9 – CONCLUSÃO
Ler não é, simplesmente, decodificar símbolos expostos em uma folha de papel.
Ler é um ato complexo, uma ação de significação do texto que se apresenta. Essa
significação é carregada pela experiência de vida de quem lê. Um texto não termina no
ponto final do autor: o leitor continua a obra, dando sentido à existência do texto através
da construção de um significado. Quando alguém lê um texto para si, quando alguém lê
no silêncio, estabelece uma relação autor-texto-leitor, e é nessa relação que o texto se
consuma. Entretanto, ler pode ser um verbo bitransitivo, e é nessa bitransitividade que
atua o Ledor. O Ledor lê fora do silêncio, lê algo para alguém. Em avaliações públicas, o
Ledor mediatiza o mundo, rompendo a barreira entre o texto e a pessoa com deficiência
visual. Na presença do Ledor, a consumação do texto se estabelece na relação autor-texto-
Ledor-leitor. Nessa relação, o Ledor é sujeito ativo da construção do significado do texto;
ele interfere na significação do texto estabelecida por quem o ouve. Essa posição foi
apresentada na seção Ler (verbo bitransitivo).
Quando se fala em avaliações públicas, o termo texto se estende para além da
noção restrita do texto escrito em linguagem comum. Texto assume a acepção de tudo
aquilo que pode ser decodificado e que possa ser apresentado em uma folha de papel. Os
mais diversos apelos visuais possíveis são partícipes na constituição de uma prova. Em
especial, o Ledor deve descrever imagens. O verbo descrever pode ser substituído, sem
grande alteração de sentido, por ler. Quem descreve uma imagem, escolhe um caminho a
percorrer sobre a imagem, uma seleção das informações presentes na imagem que serão
convertidas em palavras. Converter uma imagem em palavras é transpor a materialidade
associada ao conteúdo presente na imagem para a materialidade da palavra. Um conteúdo
não se dissocia da forma através da qual se viabiliza, conteúdo e forma constituem uma
unidade de significação. Descrever uma imagem é sempre uma ação reducionista afetada
pelas escolhas de quem fez a descrição. Nas ações de um Ledor, seja’ numa prova
convencional, que preserva as imagens que serão descritas, ou em uma prova adaptada
para Ledor, na qual as imagens são substituídas por suas descrições, o texto descritivo
não conserva a íntegra das informações presentes nas imagens. Isso foi discutido em
Lendo imagens.
183
No que se refere a questões de Matemática em avaliações públicas, uma nova
dificuldade aparece: a simbologia utilizada. As duas pessoas entrevistadas, Dário, o
coordenador/tutor do Curso de Formação de Ledores, e Marcos Cavalcante, o Ledor,
declararam que as simbologias matemáticas constituem uma das dificuldades nas
atuações dos Ledores. Marcos, inclusive, declarou ter dificuldades na leitura de
simbologias nas questões lidas durante a entrevista. Dário disse que o desconhecimento
da simbologia é uma das grandes dificuldades dos Ledores, desconhecimento gerado pela
parca afinidade com a Matemática por parte dos Ledores. Acresça-se a isso uma
característica dos registros matemáticos: são bidimensionais, são feitos na horizontal e na
vertical, enquanto a língua tem uma estrutura unidimensional. Há ainda mais um ponto
de dificuldade: a Matemática não possui oralidade endógena, toda oralidade feita na
Matemática é um empréstimo feito à língua natural. A escolha dos registros em um texto
de Matemática, por vezes, ocorre de modo a propiciar ou simplificar a manipulação e
operacionalidade desses registros. Ao ser convertido em texto corrido, esse objetivo pode
se perder, dificultando ou impedindo a construção da solução de uma questão. Esses
limites do tratamento matemático através de textos escritos ou orais encontram-se em
Lendo Matemática.
A assistência de um Ledor é uma das possibilidades de participação de pessoas
com deficiência visual em avaliações públicas, mas não é a única. Outras formas de
participação existem, cada uma delas com suas dificuldades e peculiaridades. Em
nenhuma delas resolvem-se os problemas encontrados na transposição dos conteúdos da
prova convencional para outras formas de apresentação. Todas devem ser preservadas e
estudadas, e isso inclui a assistência do Ledor.
Com o objetivo de aprimorar as ações dos Ledores, duas decisões foram tomadas:
a criação de cursos de qualificação de Ledores e a elaboração de provas adaptadas para
Ledores. Com o advento da inclusão, aumentou o número de pessoas com deficiência
visual nas avaliações públicas. Consequentemente aumentou a demanda por Ledores.
Com o desenvolvimento das tecnologias ligadas à reprodução gráfica das provas, mudou
o perfil das provas das avaliações públicas, gerando um considerável aumento dos apelos
visuais presentes nessas provas. Aumentaram as exigências relativas às habilidades de
um Ledor. Fez-se necessária a qualificação das pessoas que atuam como Ledores.
Criaram-se cursos de qualificação e Ledores foram formados em todo o Brasil.
Entretanto, a qualificação e o estabelecimento de normas de atuação não são suficientes
184
para garantir uma uniformidade das atuações dos Ledores. Dário, que é coordenador/tutor
de curso de qualificação de Ledores, declara que as idiossincrasias dos Ledores interferem
significativamente em suas ações profissionais. Um dos objetivos do curso que ele
coordena é minimizar a interferência dessas idiossincrasias.
Buscando a uniformização das ações dos Ledores, além dos cursos de
qualificação, surgem as provas adaptadas. Nessas provas, as imagens são substituídas por
suas descrições e há a indicação de como devem ser lidos os símbolos matemáticos. Por
certo, as provas adaptadas aumentam a uniformização das ações dos Ledores, haja vista
que esses não precisam fazer descrições de figuras, as descrições são feitas por um
adaptador. Entretanto, se antes a construção dos sentidos dos textos era feita na relação
autor-texto-Ledor-leitor, agora, um novo ator entra em cena, e a relação passa a ser autor-
texto-adaptador-Ledor-leitor. Se, por um lado, a presença desse novo ator, o adaptador,
aumenta a uniformidade das ações dos Ledores, aumentando a equivalência da
participação das pessoas atendidas pelos Ledores, por outro, não há garantias de que as
adaptações geram provas equivalentes às respectivas provas convencionais. Para verificar
essa equivalência, foram analisadas provas do ENEM e da OBMEP.
As questões das provas do ENEM e da OBMEP analisadas passaram por um crivo
formado por sete perguntas. Uma questão que não apresentasse problema em sua
conversão para a versão do Ledor teve todas as respostas às perguntas do crivo negativas.
Dessa forma, uma resposta positiva a alguma pergunta do crivo caracterizava um
problema de adaptação na questão. Isso não significa que possuir uma resposta afirmativa
inviabilizasse a construção da solução da questão, mas algum problema, mesmo que de
pequena monta, estava presente. Nos ENEM de 2016, de 2017 e de 2018 tivemos,
respectivamente, 36%, 38% e 22% do total de questões com pelo menos uma resposta
afirmativa ao crivo. Nas provas da OBMEP de 2016, de 2017 e de 2018, os percentuais
de questões com respostas afirmativas foram, respectivamente, 35%, 23% e 19%. Ou seja,
no conjunto das três provas analisadas do ENEM, um terço das questões apresentava
algum problema de adaptação na prova do Ledor, e nas provas da OBMEP, algo em torno
de um quarto. Esses percentuais são altos demais para provas nas quais um erro pode
significar um deslocamento de centenas de posições em uma escala de classificação. No
ENEM, um erro pode significar a exclusão da matrícula em uma universidade.
A maioria dos erros de adaptação das questões analisadas não impedia a
construção da solução da questão, mas aumentava, mesmo que em pequeno grau, a
185
complexidade na construção dessa solução. Por outro lado, alguns desses erros
inviabilizavam a construção da solução. Quem participou dessas avaliações com
assistência de um Ledor e com as provas adaptadas despendeu esforço maior do que
aqueles que utilizaram a prova convencional.
As perguntas que nortearam esse trabalho foram: quais as ações dos Ledores nas
avaliações públicas? Tais ações, em conjunto com as adaptações, garantem a isonomia
(equidade) com as provas convencionais?
Perscrutamos as ações dos Ledores, mas, diante do que foi exposto nos parágrafos
precedentes, conclui-se que tais ações em conjunto com as adaptações das provas de
avaliações públicas não garantem a isonomia (equidade) com as provas convencionais.
Ou seja, a participação em avaliações públicas de pessoas com deficiência visual
atendidas por Ledores e com provas adaptadas demanda maior esforço por parte do
participante do que o esforço requerido daqueles que fazem uso da prova convencional.
O Ledor e a prova adaptada não geram equivalência com a prova convencional.
Cabe uma justificativa de porque foi posta, com frequência, a palavra equidade
junto da palavra isonomia nesse trabalho. Segundo o dicionário Houaiss, isonomia é o
“estado dos que são governados pelas mesmas leis”, é o “princípio geral do direito
segundo o qual todos são iguais perante a lei”. Nessa acepção, é possível argumentar que,
como a pessoa com deficiência visual tem o direito de participar da avaliação pública e
lhe são dadas condições de participação através da assistência de um Ledor e da prova
adaptada, o princípio da isonomia é satisfeito. No mesmo dicionário, equidade significa
“respeito à igualdade de direito de cada um, que independe da lei positiva, mas de um
sentimento do que se considera justo, tendo em vista as causas e as intenções”. Justa é a
participação de qualquer pessoa em condições de obter os mesmos resultados diante dos
mesmos esforços. É esse o significado de isonomia nesse trabalho. Não é suficiente o
direito de participar. Cumpre-se o princípio da isonomia se for garantida a equidade dos
participantes.
Na seção A percepção social da diferença, dissemos que, numa sociedade que
defenda o princípio da integração, busca-se levar a pessoa diferente a experienciar o
ambiente considerado normal, e na sociedade inclusiva o diferente é constituinte do
ambiente considerado normal: na inclusão, o normal passa a ser a existência das
186
diferenças. É espantoso observar que, em nome da inclusão, busca-se adaptar uma prova
que foi criada para videntes; parte-se de um padrão, de algo que é considerado normal, e
busca-se adaptar esse padrão para aqueles que se desviam da normalidade. Defendendo-
se o princípio da inclusão, age-se de acordo com o princípio da integração.
No ENEM, usa-se a TRI (Teoria da Resposta ao Item), que permite dispor todos
os participantes em uma escala de proficiência. Algumas questões do ENEM, que foram
julgadas como de difícil adaptação, foram substituídas na prova adaptada para Ledor.
Essas questões substituídas não mediam as mesmas habilidades das questões presentes na
prova convencional, mas possuíam o mesmo nível de dificuldade. A TRI permite que
pessoas que tenham participado de provas distintas (devidamente planejadas e com
questões calibradas) sejam dispostas em uma mesma escala de proficiência. Visando à
disposição das pessoas nessa escala, porque não aplicar provas distintas a grupos que
apresentem habilidades distintas?
As duas pessoas entrevistadas, Dário e Marcos Cavalcante, levantaram essa
mesma questão, e, nesse ponto, defendemos a mesma posição: grupos sociais que
apresentem habilidades distintas devem ser avaliados de acordo com as habilidades que
lhes são próprias. A proposta não é eliminar questões do ENEM que exijam a visão para
o grupo daqueles com deficiência visual, por exemplo. A proposta é substituir essas
questões, é criar questões que sejam concernentes às características de cada grupo de
diferentes. A proposta não é criar uma prova mais fácil, é criar uma prova adequada à
forma através da qual cada grupo de diferentes se relaciona com o mundo. Provas
diferentes para grupos diferentes é o reconhecimento da diferença como constituinte da
normalidade.
Por outro lado, um concurso como o da OBMEP não faz uso da TRI. Nenhuma
questão da OBMEP foi substituída nas provas analisadas. Quando se julgou
excessivamente difícil a adaptação de uma questão para a versão do Ledor, encaminhou-
se o participante para a identificação da figura através de pontos do Braille. Talvez fosse
possível usar a TRI na OBMEP e, então, criar provas diferentes, mas não há sentido em
radicalizar propondo que todas as provas tenham versões diferentes. Entretanto, o fato de
existirem avaliações públicas que não são propícias a aplicação de provas diferentes, não
é argumento contrário à aplicação, sempre que possível, de provas distintas. Precedem a
organização e a elaboração de qualquer avaliação pública os compromissos assumidos
187
pela sociedade que permitirá essa avaliação, e nós estamos comprometidos com a
construção de uma sociedade inclusiva.
Algumas possibilidades de pesquisa surgem como consequência desse trabalho.
Duas delas são imediatas: a continuidade da análise das questões do ENEM e da OBMEP
dos anos posteriores aos analisados, para identificar o desenvolvimento das adaptações;
e a análise das provas apresentadas nas outras formas de adaptações — Braille e leitor de
tela. Outro estudo pode ratificar a ausência de equidade entre a versão convencional e a
do Ledor. A calibragem das questões do ENEM pela TRI é feita em questões criadas para
videntes (prova convencional) e aplicadas a videntes. Cabe calibrar as provas adaptadas
para Ledor aplicando-as em pessoas com deficiência visual para verificar se os
parâmetros da TRI se mantêm, ou seja, até que ponto o Ledor e as adaptações interferem
nos parâmetros da TRI. Se for confirmada essa interferência, a posição daqueles que estão
sendo assistidos por Ledores com provas adaptadas na escala de proficiência estabelecida
estará equivocada, a não ser que uma calibragem a parte das questões adaptadas seja
providenciada.
Uma vez meu filho me perguntou se eu me sentia realizado com a minha carreira
de professor. Eu respondi que tinha orgulho dela porque fiz diferença na vida de muitas
pessoas. Lutar pelo direito de participação de todos, lutar pela inclusão, é buscar fazer
diferença na vida de muitas pessoas. Como luta, esse trabalho é mais um motivo de
orgulho.
Faça-se uma sociedade inclusiva.
188
REFERÊNCIAS
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APÊNDICES
1 – Quadro resumo da classificação e da análise das questões selecionadas do ENEM 2016
Quadro resumo da classificação e da análise das
questões selecionadas do ENEM 2016.
195
2 – Quadro resumo da classificação e da análise das questões selecionadas do ENEM 2017
Quadro resumo da classificação e da análise das
questões selecionadas do ENEM 2017.
196
3 – Quadro resumo da classificação e da análise das questões selecionadas do ENEM 2018
Quadro resumo da classificação e da análise das
questões selecionadas do ENEM 2018.
197
4 – Quadro resumo da classificação e da análise com todas as questões do ENEM 2016
Quadro resumo da classificação e da análise com todas as
questões de Matemática do ENEM 2016.
198
5 – Quadro resumo da classificação e da análise com todas as questões do ENEM 2017
Quadro resumo da classificação e da análise com todas as
questões de Matemática do ENEM 2017.
199
6 – Quadro resumo da classificação e da análise com todas as questões do ENEM 2018
Quadro resumo da classificação e da análise com todas as
questões de Matemática do ENEM 2018.
200
7 – Quadro resumo da classificação e da análise das questões selecionadas da fase1 e da fase 2 do nível 3 da OBMEP 2016
Quadro resumo da classificação e da análise das questões
selecionadas da fase1 do nível 3 da OBMEP 2016.
Quadro resumo da classificação e da análise das questões
selecionadas da fase2 do nível 3 da OBMEP 2016.
201
8 – Quadro resumo da classificação e da análise das questões selecionadas da fase1 e da fase 2 do nível 3 da OBMEP 2017
Quadro resumo da classificação e da análise das questões
selecionadas da fase1 do nível 3 da OBMEP 2017.
Quadro resumo da classificação e da análise das questões
selecionadas da fase2 do nível 3 da OBMEP 2017.
202
9 – Quadro resumo da classificação e da análise das questões selecionadas da fase1 e da fase 2 do nível 3 da OBMEP 2018
Quadro resumo da classificação e da análise das questões
selecionadas da fase1 do nível 3 da OBMEP 2018.
Quadro resumo da classificação e da análise das questões
selecionadas da fase2 do nível 3 da OBMEP 2018.
203
10 – Quadro resumo da classificação e da análise de todas as questões da fase 1 e da fase 2 do nível3 da OBMEP 2016
Quadro resumo da classificação e da análise de todas as
questões da fase1 do nível 3 da OBMEP 2016.
Quadro resumo da classificação e da análise de todas as
questões da fase2 do nível 3 da OBMEP 2016.
204
11 – Quadro resumo da classificação e da análise de todas as questões da fase1 e da fase 2 do nível 3 da OBMEP 2017
Quadro resumo da classificação e da análise de todas as
questões da fase1 do nível 3 da OBMEP 2017.
Quadro resumo da classificação e da análise de todas as
questões da fase2 do nível 3 da OBMEP 2017.
205
12 – Quadro resumo da classificação e da análise de todas as questões da fase1 e da fase 2 do nível 3 da OBMEP 2018
Quadro resumo da classificação e da análise de todas as
questões da fase1 do nível 3 da OBMEP 2018.
Quadro resumo da classificação e da análise de todas as
questões da fase2 do nível 3 da OBMEP 2018.
209
Ledor
Resolução
Gabarito: C
Observando que as pernas da cadeira irão assumir a posição vertical, e que há uma travessa
horizontal unindo cada par de pernas, podemos concluir que a alternativa [C] é a que melhor
representa a vista lateral de uma cadeira fechada.
210
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Sim
7) Não
A questão envolve a identificação da vista lateral de uma cadeira. Pode-se duvidar que
seja factível a descrição desta questão para um cego. Se for tentada uma descrição, é imenso o
risco de apresentar a solução no desenrolar da descrição. A opção foi a troca da questão. A questão
que o Ledor deve ler para a pessoas com deficiência visual não é a questão presente no texto
convencional.
O ENEM utiliza a TRI (Teoria da Resposta ao Item), o que permite que a questão
substituída tenha o mesmo nível de dificuldade na escala de proficiência estabelecida, mas ter o
mesmo nível de proficiência não significa medir as mesmas habilidades. A questão convencional
está ligada à geometria, afere a percepção geométrica, a capacidade de representar em um plano
um objeto tridimensional. A questão substituta envolve contagem, o uso do princípio
multiplicativo. São questões bastante distintas, mas os malefícios da substituição, provavelmente
inevitáveis, podem ser minimizados graças à TRI.
212
Resolução
Gabarito E
Para que em seis meses se tenha uma média mínima de 30 mil reais, a soma dos lucros mensais
dos seis meses deve ser, no mínimo, de 6 x 30 mil = 180 mil. Chamando de x o valor do lucro de
junho:
21 + 35 + 21 + 30 + 38 + x 180
145 + x 180
x 35
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O único objeto a ser descrito na questão é uma tabela, e a descrição é feita de forma
clara e precisa.
214
Ledor
Resolução
Gabarito: C.
Existem apenas duas opções favoráveis de percurso, quais sejam: uma no sentido horário e outra
no sentido anti-horário. Logo, segue que a resposta é dada por
1 1 1 1 1 1 5.
2 2 3 2 2 2 24
215
Crivo de análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Sim
7) Não
A questão trata de probabilidade calculada sobre um caminho definido em uma figura.
Optou-se pela substituição da questão, evitando a descrição da figura. A questão substituta não
aborda probabilidade, aborda proporcionalidade entre medidas lineares e quadráticas. São
questões que podem ter o mesmo nível de dificuldade na escala de proficiência, mas medem
habilidades distintas.
Destaque-se que a questão do Ledor apresenta, em todas as opções, três casas decimais.
A opção C, resposta à questão, é 315,000, em cm2, ou seja, uma precisão inferior a 1 mm2.
217
Ledor
Resolução
Gabarito D
A média é (237 + 262 + 158 + 159 + 160 + 278 + 300 + 278)/8 = 241,5
Em cinco regiões o número de casos é maior do que a média e em três, é menor. Assim:
5x10 + 3x7 = 71
218
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da tabela é clara e precisa. Note-se que os algarismos romanos I e II foram
convertidos em textos.
220
Resolução
Gabarito: B.
Calculando as concentrações de fibras em cada uma das marcas, temos
2 5 5 60,040; 0,125; 0,050; 0,067
50 40 100 90 e
70,100.
70
Por conseguinte, deverá ser escolhida a marca B.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A única conversão feita foi escrever por extenso a unidade g (grama).
222
Ledor
Resolução
Gabarito: D.
O volume do silo é dado por
2 2 313 12 3 3 324 27 351m .
3π π
Portanto, sené o número de viagens que o caminhão precisará fazer para transportar todo o volume
de grãos armazenados no silo, então
351n 17,55.
20
223
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da imagem que representa os silos é sucinta e bem-feita. A indicação de que
a parte superior está “acoplada ao cilindro” é vaga, mas não traz dificuldades na construção da
figura.
Note-se que a unidade m3 e a constante estão transformados em texto.
225
Resolução
Gabarito: A.
Sejam a, e p, respectivamente, a altura, a largura e a profundidade no desenho. Tem-se que
220a 27,5 cm;
8
12015 cm
8 e
50p 6,25 cm.
8 Por conseguinte, após a redução de
20%, tais medidas passaram a ser 0,8 27,5 22 cm; 0,8 15 12 cm e 0,8 6,25 5 cm.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
As conversões feitas foram a notação de escala (1 para oito) e a unidade cm (centímetro).
227
Resolução
Gabarito: D.
Tem-se que a resposta é dada por 443 12 2,54
135 m.100
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O texto do Ledor não apresenta referência à figura. A figura, no texto convencional, só
serve para ilustrar o que é um diâmetro, o que não apresenta qualquer função na construção da
solução da questão.
A grandeza cm não foi convertida em texto.
229
Resolução
Gabarito: E.
Desde que o arco AB pertence a um plano paralelo a , sua projeção ortogonal sobretambém é
um arco. Ademais, como B e C não são simétricos em relação ao plano que contém o equador e
o arco BC pertence a um plano perpendicular a, sua projeção ortogonal sobreé um segmento
de reta. Em consequência, a melhor representação é a da alternativa E.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Sim
7) Não
A questão original aborda projeção de um objeto tridimensional sobre uma folha de papel.
Uma questão eminentemente de percepção espacial. A opção foi trocar a questão na versão para
o Ledor. A questão do Ledor trata de variáveis de concentração e de dispersão de um conjunto de
dados — média e variância. As duas questões podem ter o mesmo nível na escala de proficiência
da TRI, mas avaliam habilidades diferentes.
É interessante observar que, na versão do Ledor, há a declaração de descrição de uma
imagem que nunca foi apresentada porque não há a versão convencional da questão do Ledor.
231
Resolução
Gabarito: B.
Tem-se que 15 18 6
5; 4,5; 23 4 3
e 3
1,5.2
Portanto, é fácil ver que o filtro descartado é o F2.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A única conversão é o símbolo mg (miligrama).
233
Resolução
Gabarito: C.
Tem-se que
0 0
3M
2
0
3M
20
2 E E 3MM log log
3 E E 2
E10
E
E E 10 .
Daí, como 1M 9 e 2M 7, vem 27
21 0E E 10 e
21
22 0E E 10 .
Portanto, segue que
27
21 0
21 6
2 20
32
E E 10
E 10 10
10 E .
234
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A conversão para o texto do Ledor é bastante cuidadosa, inclusive com a introdução de
parênteses que não estavam presentes no texto convencional. A introdução de tais parênteses, que
ocorre nas opções, não altera os significados das expressões da versão convencional e evita
qualquer dubiedade na oralização da expressão.
O “índice” é tratado com “subscrito”, ou seja, em vez de indicar E0 como “E índice zero”,
indica-se “E subscrito zero”, mas o tempo todo é dado esse tratamento, o que mantém a coerência
e a clareza do texto.
236
Resolução
Gabarito: B.
Para que o reservatório tenha uma vazão constante de enchimento é necessário que as vazões de
entrada e de saída sejam constantes. Tal fato ocorre no intervalo de 5 a 10 minutos.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição dos gráficos inicia-se com a descrição dos eixos, que são iguais nos dois
gráficos. Toma-se o cuidado de declarar que o eixo horizontal está graduado de 5 em 5, mas não
se declara o mesmo sobre o eixo vertical, dizendo que a variação do eixo vertical é de 0 a 20.
Os gráficos são formados só por segmentos de retas, e a escolha para descrevê-los é a
apresentação através de seus pontos extremos acrescida dos adjetivos ascendente, descendente e
horizontal, uma escolha bastante feliz que facilita a construção do gráfico. As coordenadas dos
extremos desses segmentos mantiveram seus registros matemáticos, (x; y). Pessoas sem
treinamento matemático podem ler (20; 5) de formas diferentes daquelas feitas por quem tem
treinamento, mas dificilmente qualquer leitura trará dificuldades extras para aquele que escuta.
238
Resolução
Gabarito: A.
Como 14
0,035;400
13
0,025;500
9
0,025360
e 15
0,030,500
segue que ações de controle
iniciarão pelo bairro I.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Os únicos pontos convertidos no texto do Ledor são os números romanos que indicam
os bairros. De resto, os textos são iguais.
240
Resolução
Gabarito: B.
Usando as aproximações fornecidas, concluímos que os diâmetros dos círculos inscrito e
circunscrito a T medem, respectivamente, 4 cm e 8 cm. Em consequência, os exemplares I e V
não satisfazem as condições, pois T cabe em V e I cabe em T.
Por outro lado, pelo Teorema de Pitágoras concluímos facilmente que a diagonal de R mede
5 cm. Em que os diâmetros dos círculos inscrito e circunscrito a R medem, respectivamente,
3 cm e 5 cm. Portanto, os exemplares III e IV também não satisfazem as condições restando
apenas o exemplar II.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
É possível entender e resolver a questão retirando a imagem e as referências a ela. Essa é
a opção feita na montagem da prova do Ledor. Isso não significa que a figura seja meramente
ilustrativa. Ela faz uma síntese de parte do que foi apresentado no texto, mas não acrescenta
nenhuma informação nova.
No texto do Ledor, a apresentação da unidade cm, do símbolo de raiz quadrada e dos
números romanos são convertidos em textos.
242
Resolução
Gabarito: E.
A cada 24 horas tem-se 2 pontos de interseção dos gráficos, conforme as condições
estabelecidas. Portanto, em uma semana o valor do parâmetro será igual a 2 7 14.
Crivo de Análise
1) Sim
2) Sim
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
Na descrição, o gráfico é chamado de “gráfico de linhas”, nome indevido porque “gráfico
de linhas” é utilizado para nomear um tipo de gráfico comum em estatística — declarar que os
gráficos são duas senoides é suficiente.
A descrição do gráfico da substância A está bem-feita e é possível construir a senoide, de
0 h a 24 h, com facilidade. O problema encontra-se na descrição do gráfico da substância B. A
descrição é feita de modo que se vá construindo a senoide da esquerda para a direita: começa à 0
h na linha pontilhada, sobe e cruza a senoide da substância A, desce um pouco abaixo da linha
pontilhada, “passa pela linha que indica o nível mínimo da substância A e cruza com a senoide
da substância A”. O que está destacado com aspas não acontece no momento depois que o gráfico
desce um pouco abaixo da linha pontilhada, acontece exatamente no momento em que o gráfico
cruza a linha pontilhada para descer um pouco abaixo dela. A descrição acontece como se o leitor
estivesse caminhando sobre a senoide da esquerda para a direita. A descrição demanda uma ordem
temporal que é subvertida. É facilmente entendível que os gráficos se cruzam quatro vezes acima
da horizontal pontilhada.
244
Resolução
Gabarito: C.
Tem-se que y (x 3)(x 3), em que as raízes são 3 e 3. Ademais, a parábola intersecta o
eixo das ordenadas no ponto (0, 9).
A resposta é dada por
22(3 ( 3)) 9 36 m .
3
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A conversão da expressão y = 9 – x2 como “y é igual a 9 menos x ao quadrado” deixa
dúvidas se é y = 9 – x2 ou y = (9 – x)2. Apesar de outras informações do enunciado permitirem
identificar a expressão correta, o vidente não precisa recorrer a tais informações.
246
Resolução
Gabarito: E.
Existem 210 10 10 maneiras de escolher os dois algarismos e 252 52 52 maneiras de
escolher as letras. Definidos os caracteres da senha, podemos dispô-los de (2, 2)4
4!P
2! 2!
modos.
Portanto, pelo Princípio Multiplicativo, segue que a resposta é 2 2 4!10 52 .
2! 2!
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Há a inclusão de parênteses na descrição de expressões numéricas presentes nas opções.
Tais parênteses não alteram os valores das expressões e evitam dubiedades na oralização.
248
Resolução
Gabarito: A.
Seja py a ordenada do ponto P, de tal forma que
p p
p
90 y y 100B 10 50 y 500.
2 2
Assim, temos
p
100 100A B 4.500 50 y .
2
Desse modo, se a meta é 0,3, então
p
p
A0,3 A 1.500
A B
4.500 50 y 1.500
y 60.
Portanto, a resposta é (100 60)% 40%.
249
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
O enunciado convencional declara que o gráfico é “formado por dois segmentos de reta,
unidos em um ponto P”. A adaptação para o Ledor fala que o “gráfico forma um quadrado”, uma
declaração equivocada. O segmento de reta que tem extremidades em (0; 100) e (100; 100) não
faz parte do gráfico, ele é uma linha de chamada, uma indicação do ponto (100; 100).
Apenas quatro pontos são vértices dos polígonos cujas áreas se deseja calcular: (0; 0),
(100; 0), (100, 100) e P, cuja abscissa é 90, informação dada no enunciado do problema. Bastaria
dizer que A é a área do triângulo de vértices (0; 0), (100; 100) e P, com P sendo um ponto de
abscissa 90, e que B é a área do quadrilátero de vértices (0; 0), (100; 0), (100; 100) e P. Quando
muito, desejando-se deixar mais clara a forma da figura, poder-se-ia dizer que P é um ponto
interno ao triângulo de vértices (0; 0), (100; 0) e (100, 100), informação irrelevante para efeito da
construção da solução. A descrição feita declara a área B dividida em duas partes, informa os
lados comuns entre as partes, traz informações desnecessárias, introduz informações que não
fazem parte do enunciado convencional e cria dificuldades.
A expressão algébrica 𝐴𝐴+𝐵 é descrita como “A dividido por abre parênteses A + B fecha
parênteses”, sem vírgulas. A descrição deveria ser “A dividido por, abre parênteses, A + B, fecha
parênteses”. Não é preciosismo o uso dessas vírgulas, é clareza na leitura.
251
Resolução
Gabarito: C.
Por simetria, o imóvel deverá estar sobre a mediatriz do segmento de reta que une o local de
trabalho da mãe e o consultório do pai. Tal mediatriz corresponde à rua 4. Ademais, por inspeção,
concluímos que a rua horizontal que cumpre a condição é a D.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição é sucinta e bem-feita, não deixando margem para dúvidas na construção da
figura.
253
Resolução
Gabarito: B.
Sabendo que as áreas são iguais, temos
215 15 21 3x (x 7) x 7x 144 0
2 2
x 9 m.
Portanto, o comprimento e a largura devem medir, respectivamente, 16 m e 9 m.
Obs.: Aparentemente houve um engano na ordem das medidas da alternativa B.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da figura B poderia ser feita a partir dos vértices do quadrilátero ou como um
corte feito em um triângulo retângulo. A escolha foi indicar a natureza dos ângulos formados entre
lados consecutivos do quadrilátero. A descrição não ficou complexa nem longa.
255
Resolução
Gabarito: D.
Sendo a média igual a 37 33 35 22 30 35 25
31,7
tem-se que a resposta é o mês [V].
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição é simples e precisa.
257
Resolução
Gabarito: A.
Tem-se que A B3
m m2
e B C3
m m ,4
implicam em A C9
m m .8
Ademais, sabemos que
A BV V e A C6
V V .5
Em consequência, vem C
AA C
AC
9m
m 158d d6V 16
V5
e C
BB C
BC
3mm 154d d .
6V 24V
5
Portanto, é imediato que B A Cd d d .
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Todos os registros não numéricos foram convertidos para texto. É interessante observar
que os índices são identificados como subscritos. Por exemplo, da é indicado como “d subscrito
a”, mas poderia ser indicado como “d índice a”.
259
Resolução
Gabarito: B.
No momento da saída, o tanque continha 3
50 37,54 litros de combustível. Daí, como a
distância que o veículo pode percorrer com esse combustível é 15 37,5 562,5 km, segue que a
resposta é 500 km.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Sim
6) Sim
7) Não
A figura original é um medidor de nível de combustível que apresenta uma escala com
nove marcações das quais três se destacam: vazio (zero), meio e um. A descrição do texto do
Ledor fala em cinco marcações principais. Na questão original, deve-se fazer a leitura de que 6/8
do tanque estão cheios. Na descrição do Ledor, 3/4 do tanque estão cheios, isso muda o texto
original.
No texto do Ledor, declara-se que a marcação na qual se encontra o ponteiro medidor é
“ponto médio entre as marcações referentes às frações um meio e um sobre um”. Isso orienta que
se tire a média entre as duas frações, ação que deveria ser uma conclusão da leitura.
261
Resolução
Gabarito: B.
O raio da circunferência que passa pelos pontos B e F, com centro em O, é dado por
2 21 ( 1) 2 km 1.400 m.
Em consequência, o tempo via segmento de reta é igual a 2 1.400 1 2.800 h, e o tempo via
semicircunferência é 1.400 0,6 2.520 h.π
A resposta é, portanto, 2.520 horas.
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
É factível a construção da imagem e da solução a partir da descrição apresentada.
Entretanto, aparecem dois erros: um segmento de reta não pode ser decrescente, uma função pode
ser decrescente e seu gráfico pode ser uma reta; “raiz de dois” não é uma notação precisa, deveria
ter sido usada “raiz quadrada de dois”.
263
Resolução
Gabarito: D.
Considerando as entradas e saídas de pessoas do elevador, tem-se os seguintes resultados:
4, 5, 5, 5, 7 e 3. Portanto, a moda é 5.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A opção de leitura da tabela foi ler coluna por coluna, o que é coerente com a construção
da solução. Essa coerência, entretanto, não é fator facilitador nem encaminha à solução.
266
Resolução
Gabarito: D.
Tem-se que a resposta é dada por
10.200.000 1.300.000100% 700%.
1.300.000
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
A opção de descrição da tabela foi por linha, por região, apresentando o ano e a categoria
(total, capital ou interior) de cada dado. Dessa forma, os dados de cada região são apresentados
através de 15 informações (separadas por hífen ou ponto e vírgula). Como são cinco grandes
regiões, a descrição completa da tabela envolve 75 informações lidas pelo Ledor, boa parte delas
sendo números na ordem dos milhões. Um vidente, ao deparar-se com essa tabela, verifica sobre
o que ela trata, lê o comando da questão e, em seguida, seleciona os dados relevantes à solução.
Nessa questão, interessam apenas os números de habitantes na região Nordeste nos anos de 1940
e 2000. Apenas dois números são realmente lidos pelo vidente que sabe resolver a questão.
Selecionar os dados relevantes faz parte da solução da questão. Na versão do Ledor, o comando
deveria preceder a descrição da tabela para que a pessoas com deficiência visual possa orientar,
se desejar, quais os dados que devem ser lidos.
268
Resolução
Gabarito: A.
Seja p: R+ R a função dada por p(t) at b, em que p(t) é a porcentagem relativa à capacidade
máxima do reservatório após t meses. Logo, tomando os pontos (6,10) e (1, 30), segue que a
taxa de variação é dada por
10 30a 4.
6 1
Em consequência, vem
p(1) 30 4 1 b 30 b 34.
Portanto, temos 4t 34 0, implicando em t 8,5.
A resposta é 8,5 6 2,5 meses, ou seja, 2 meses e meio.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição apresenta os eixos e suas escalas; o segmento de reta, que é o gráfico, é
apresentado através de seus extremos e ainda apresenta a posição aproximada dos pontos
destacados na figura. Essa descrição é mais do que se precisa para construir a solução. O problema
é a qualificação de um segmento de reta como decrescente. Um segmento não é crescente ou
decrescente, mas, como a questão está tratando de função, que pode ser decrescente, pode-se
entender a qualificação do segmento como uma metonímia.
270
Resolução
Gabarito: D.
A temperatura, T, da liga após t horas é dada por 2tT 3.000 (0,99) . Por conseguinte, o tempo
necessário para que a temperatura da liga atinja 30 C é tal que
2t2
2t
2
2t2
2
2
3 11 13.000 (0,99) 30
10010
3 11log log10
10
2t (2 log3 log11 2 log10) 2
t (2 0,477 1,041 2) 1
1t
0,005
t 200.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A conversão para o Ledor é precisa e simples.
272
Resolução
Gabarito D.
O volume total de petróleo contido no reservatório é igual a
3 360 10 10 6,0 10 m .
Desse volume, após o vazamento, restarão apenas
3 3260 10 7 2,8 10 m .
3
Em consequência, a resposta é
3 3 3 36,0 10 2,8 10 3,2 10 m .
273
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
O texto convencional apresenta um equívoco na descrição ao declarar que o reservatório
é “subdividido em três compartimentos, A, B e C, de mesmo volume”. De acordo com essa
descrição, cada subdivisão deveria ter um terço do volume do reservatório. Esse equívoco é
corrigido com a presença da figura. No texto do Ledor, não há figura e, portanto, o equívoco deve
ser eliminado na descrição da figura. A descrição poderia conter: são criados três compartimentos,
de mesmo volume, com placas de 7 metros de altura e 10 metros de base, que se apoiam na base
do reservatório e são perpendiculares a ela e que são paralelas aos lados de 10 metros por 10
metros do reservatório.
A descrição da figura presente no texto do Ledor não acrescenta nenhuma informação nova
ao texto que a precede, gerando dubiedade na construção da figura e aumentando a dificuldade
na solução.
275
Resolução
Gabarito: E.
Seja n o número de empregados reabilitados ou com deficiência, habilitados, que será contratado.
Logo, deve-se ter
n 10 0,05 (n 1.200) 0,95 n 50 n 52,6.
Portanto, a resposta é 53.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Só foram transformados em textos o símbolo de porcentagem e os algarismos romanos,
o que faz da versão do Ledor praticamente o texto da versão convencional.
277
Resolução
Desde que o número de maneiras de escolher dois tenistas quaisquer é 10 10!
,2 2! 8!
e o número
de modos de escolher dois tenistas canhotos é 4 4!
,2 2! 2!
tem-se que o resultado é dado por
10! 4!.
2! 8! 2! 2!
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A adaptação se deve a presença de expressões numéricas nas opções. Há um equívoco
justamente no gabarito, na opção A. Essa opção deveria começar com parênteses:
Abre parênteses, 10 fatorial sobre, abre parênteses, 2 fatorial vezes 8 fatorial, fecha parênteses,
fecha parênteses, menos 4 fatorial sobre, abre parênteses, 2 fatorial vezes 2 fatorial, fecha
parênteses.
Da forma que está, há dúvidas sobre a expressão.
279
Resolução
Gabarito: D.
Podemos ver que a resposta é 460.171. Pois,
CM DM M C D U
4 6 0 1 7 1
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição ateve-se às informações da figura que são relevantes à construção da solução.
A descrição declara que “há um adesivo que indica cada casa decimal”. O termo técnico é
“ordens” e não “casas”, e o qualificativo “decimal” deveria ser evitado, pois a expressão “casas
decimais” é comumente usada para referir-se a ordens depois da vírgula, ordens inferiores à
unidade. Contudo, essa imprecisão não é suficiente par gerar dúvidas.
281
Resolução
Gabarito: C.
A vazão total entre 1h e 3 h é dada por 0 5.000
2.500 L h,3 1
enquanto que a vazão na primeira
hora é 5.000 6.000
1.000 L h.1 0
Portanto, a vazão da segunda bomba é igual a
2.500 1.000 1.500 L h.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição apresenta os eixos e, em seguida, os segmentos a partir de suas extremidades.
O único senão é a presença dos pares ordenados que podem ser lidos de maneiras diferentes por
pessoas diferentes.
283
Resolução
Gabarito: C.
O menos regular é o que apresenta maior desvio-padrão e o mais regular é o que apresenta menor
desvio-padrão. Portanto, a luta será entre os atletas II e III.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
A opção de descrição da tabela é feita pelas linhas, ou seja, é lida linha por linha da tabela.
As informações necessárias para a construção da solução encontram-se na última coluna. Dessa
forma, o que é relevante encontra-se na última informação lida em cada linha. A minimização
desse problema poderia ocorrer apresentando o comando da questão, aquilo que deve ser obtido
através das informações, antes da descrição da tabela.
285
Resolução
Gabarito: E.
Tem-se que a altura de cada pneu é dada por abc de
.100
Assim, é fácil ver que o pneu de menor
altura é o que possui menor produto abc de. Portanto, como 175 65 11.375, 185 60 11.100
e 205 55 11275, segue que o proprietário do veículo deverá comprar o pneu com a marcação
185 60R15.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Só é possível entender, com precisão, os termos “diâmetro interno”, “largura” e “altura”,
em especial esse último, observando a figura. Contudo, a compreensão desses termos é irrelevante
na construção da solução da questão. A opção feita foi não fazer referência à existência de figura
na prova do Ledor.
288
Resolução
Gabarito A
O único mês que satisfaz todas as condições é janeiro. Com efeito, tem-se que:
I. de fevereiro para março e de novembro para dezembro houve redução na temperatura máxima;
II. a variação da pluviosidade de agosto para setembro e de dezembro para janeiro foi maior do
que 50 mm.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Sim
7) Não
O gráfico é transformado em uma tabela a partir da leitura da pluviosidade, temperatura
mínima e temperatura máxima de cada mês. Alguns valores, inclusive, não podem ser lidos no
gráfico. Quem fez a adaptação, possivelmente, teve acesso à tabela que gerou o gráfico. No mês
de setembro de 2012, a temperatura mínima é de 17,5oC. Em novembro de 2012, a pluviosidade
é de 199 mm, a temperatura mínima é de 16,5oC e a máxima é de 27,5oC. Em março de 2013, a
pluviosidade é de 150,5 mm. Esses valores estão acima do limite de precisão da escala do gráfico.
A questão original envolvia uma análise gráfica, a adaptada para o Ledor, uma análise de dados
tabelados.
290
Resolução
Gabarito C.
O coeficiente angular da reta que passa pelos pontos (0, 0) e (6,12) é 12
2.6
Portanto, sendo 16
44 o
coeficiente angular da reta que passa pelos pontos (0, 0) e (4,16), podemos concluir que o coeficiente
angular deverá aumentar em 4 2 2 unidades.
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Na descrição dos gráficos, da parábola e da reta, apenas alguns pontos destacados na
figura são apresentados, os mais relevantes. Há um erro na apresentação desses pontos: o ponto
(9; –9,5) não pertence à parábola que tem equação y = – x2 + 8x. Ao ponto de abscissa 9
corresponde a ordenada – 9, e não – 9,5. Como não é necessário encontrar a equação da parábola
para obter o seu ponto de máximo, dificilmente esse erro chegou a prejudicar quem sabe resolver
o problema.
292
Resolução
Gabarito: B.
Seja 0D 3 m e 0e , respectivamente, a distância inicial da fonte até a parede e a espessura da
mesma. Logo, temos
0 0 0 020
1e k k 9 e ,
D
com 0k sendo a constante de proporcionalidade.
Ademais, sendo 20A 9 m e 0V , respectivamente, a área e o volume da parede inicial, temos
0 0V 9 e . Sabendo ainda que 0C R$ 500,00 é o custo dessa parede, vem
0 0 00
500C k V 500 k 9 e k ,
9 e
com k sendo a constante de proporcionalidade.
Portanto, se e é a espessura da parede de área A, então 02
9 ee
D
e, assim, temos
02
0
2
C k A e
9 e500A
9 e D
500 A.
D
293
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A conversão para o texto do Ledor consiste em conversões de expressões algébricas
presentes nas opções. A ausência de parênteses na descrição da opção A permite duas
interpretações:
500×81𝐴×𝐷2 ou 500×81𝐴 × 𝐷2
O mal reduz-se por não ser a opção A o gabarito da questão.
295
Resolução
Gabarito: A.
Tomando a curva p50, sabemos que aos 4 anos e 4 meses a altura da menina chegou a 105 cm.
Por conseguinte, a resposta é dada por
105 85100% 23,5%.
85
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Sim
7) Não
A descrição transforma o gráfico em uma tabela, apresentando os valores correspondentes
a 4 anos e 4 meses lidos nas cinco curvas. Isso altera a natureza da questão, altera o que está sendo
avaliado.
299
Solução
Gabarito: E.
Calculando:
5
6
2 4
5
3 2
Opção I 26 10 2.600.000 opções
Opção II 10 1.000.000 opções
Opção III 26 10 6.760.000 opções
Opção IV 10 100.000 opções
Opção V 26 10 1.757.600 opções
Sendo o número esperado de clientes igual a 1 milhão, o formato que resulta num número de
senhas distintas possíveis superior a 1 milhão mas não superior a 2 milhões é o formato dado na
opção V.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Praticamente não houve adaptação. Foi feita uma leitura de linha por linha da tabela,
incluindo a palavra “opção” na frente da cada algarismo romano e “formato” na frente de cada
formato.
Os algarismos romanos não foram convertidos.
301
Resolução
Gabarito: E.
O número de partidas pode ser calculado pelo número de combinações de jogadores, 2 a 2.
Assim:
8,28! 8 7 6!
C 28 partidas2! 6! 2 6!
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A tabela, elemento que deve ser convertido na adaptação, é descrita coluna por coluna,
acrescentando, a frente de cada número, as expressões “quantidade de jogadores” e “número de
partidas”.
Cabe destacar que, no texto convencional, o número de jogadores é apresentado com os
registros 2, 3, 4, 5, 6 e 7. No texto do Ledor, esses registros são 02, 03, 04, 05, 06, e 07, e na
pergunta do texto do Ledor aparece 8. Não há justificativa para o uso do zero na frente dos
números. Chega a ser estranho o uso desse zero, haja vista que ninguém diz — há 04 jogadores
participando.
303
Resolução
Gabarito: C.
Analisando o gráfico, percebe-se que a velocidade atinge valor igual a zero entre os minutos 6 e
8, portanto o carro permaneceu imóvel por 2 minutos.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Apesar da descrição do gráfico ser compreensível, permitindo construir o gráfico e a
resposta à questão, há descuido com o uso da linguagem:
O eixo horizontal não é definido pelo tempo. O tempo é marcado no eixo horizontal.
Da mesma forma, o eixo vertical não é definido pela velocidade.
No intervalo de quatro a cinco, deveria constar “atingindo um ponto abaixo do ponto
mais alto”.
No intervalo de oito a dez, deveria constar “... mantendo-se abaixo do ponto mais
alto”.
Esses descuidos, apesar de reduzir a clareza do texto, não impedem que se entenda o
objeto descrito.
305
Resolução
Gabarito: C.
As taças devem ficar alinhadas, portanto, seus diâmetros também ficarão. O desenho a seguir
monstra a disposição das taças, sendo os círculos menores suas bases (raio de 4 cm) e os círculos
maiores pontilhados suas bordas superiores (raio de 5 cm). Em vermelho está delimitada a área
mínima da bandeja.
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O texto convencional não faz menção à figura da taça, mas a taça não é ilustrativa nem
tampouco uma síntese do enunciado, ela traz informações novas. Ela indica que o contato entre
as taças na bandeja se estabelece pelas bordas superiores. Existem taças de espumantes nas quais
a maior seção paralela à base não é a da borda, nas quais o contato entre elas não seria pelas
bordas superiores. A forma das taças é essencial na construção da solução.
O texto do Ledor opta pela não descrição da figura. A solução da questão torna-se possível
pela ausência de outras informações que seriam necessárias se as taças tivessem outro formato,
mas a ausência da descrição gera dúvidas.
A unidade “cm” foi convertida em texto.
307
Resolução
Gabarito: C.
A caixa escolhida deve ser a número 3, pois se somarmos as diferenças de cada uma das
dimensões tem-se:
Caixa 1 86 80 86 80 86 80 18
Caixa 2 não cabe 75 80
Caixa 3 85 80 82 80 90 80 17
Caixa 4 82 80 95 80 82 80 19
Caixa 5 80 80 95 80 85 80 20
Ou ainda pode-se calcular por volume:
Caixa 1 86 86 86 636056
Caixa 2 não cabe 75 80
Caixa 3 85 82 90 627300 menor volume
Caixa 4 82 95 82 638780
Caixa 5 80 95 85 646000
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O único elemento convertido no texto do Ledor é a unidade “cm”, que passa a ser
registrada “centímetros”. De resto, o texto do Ledor é igual ao convencional.
309
Resolução
Gabarito: B.
A figura a seguir ilustra a movimentação do quadro:
Assim, para retorná-lo à posição original, este deve ser girado 135 (90 45 ) no sentido
horário.
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Pela posição do desenho, entende-se que os lados da tela quadrada estão dispostos na
horizontal e na vertical, mas isso não é dito na descrição para o Ledor. Nada impede que os lados
do quadrado estejam inclinados e, dessa forma, a resposta não seja 135o. Essa falta de informação
introduz uma dúvida na descrição.
A unidade graus é apresentada por extenso (90 graus).
311
Resolução
Gabarito: D.
Calculando:
mínBom ou Excelente 7 M 10 M 7
12x 8 4 6 8 5 8 7,5 10 12x 1957 7 x 8,25
12 4 8 8 10 42
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Duas tabelas são descritas na prova do Ledor. As duas são descritas através das linhas, de
forma clara e precisa.
Não são convertidos os números romanos.
313
Resolução
Gabarito: B.
Sabendo-se que cada caminhão cegonha possui 10 carros e que é preciso ao menos um carrinho
de cada cor, então restam 6 carrinhos nos quais as cores podem ser permutadas.
Sendo a, b, c e d a quantidade de carrinhos brancos, laranjas, amarelos e verdes, além dos 4 já
pintados (um de cada cor), tem-se:
a b c d 6
A quantidade de soluções inteiras não negativas dessa equação de quatro variáveis será:
9,3
6 4 1 9C
4 1 3
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A figura no texto convencional é, apesar de referendada no enunciado, ilustrativa. Não há
relevância em saber que há quatro carrinhos na parte superior, três na intermediária e três na
inferior. A descrição da figura poderia ter sido suprimida.
As descrições das expressões presentes nas opções estão claras e precisas.
315
Resolução
Gabarito: D.
Calculando:
e 1,96N
0,5P1 e 1,96 e 0,02333 0,02
42
0,4P2 e 1,96 e 0,028 0,02
28
0,3P3 e 1,96 e 0,0245 0,02
24
0,2P4 e 1,96 e 0,0186666 e 0,02
21
0,1P5 e 1,96 e 0,0245 0,02
8
σ
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da tabela é feita a partir das linhas, apresentando o que corresponde aos dados
de cada pesquisa. A equação que identifica a forma de calcular o erro é apresentada de forma
inequívoca.
317
Resolução
Gabarito: A.
Entre 15 h e 16 h a profundidade diminuiu 2 metros, que representa 10% da profundidade às
15 h. Assim, se pode inferir que a profundidade às 15 h era de 20 metros ( 20 10% 2 ) e às
16 h era de 18 metros.
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A palavra “linha” é usada no enunciado e na descrição para declarar que se está diante de
um “gráfico de linhas”. Depois, na descrição, a palavra “linha” é usada para indicar posição de
pontos, mas essas linhas não são as linhas do gráfico, são linhas de chamada horizontais. Acresça-
se que não é declarado que cada linha (horizontal) corresponde a uma unidade, a pessoas com
deficiência visual deve chegar a essa conclusão.
O símbolo “%” é escrito por extenso.
319
Resolução
Gabarito: E.
A forma possui faces duas faces triangulares paralelas, portanto trata-se de um prisma triangular
reto.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Sim
6) Sim
7) Não
A figura 1 é esquecida na descrição, o que é razoável, haja vista que ela não é fundamental
na descrição da solução.
Há informações na descrição da figura 2 que são conclusões, e não descrições. O fato de
que as faces triangulares são iguais e se encontram em planos paralelos é exatamente o que se
precisa concluir para se identificar a figura como um prisma triangular reto.
321
Resolução
Gabarito: B.
2
2P P(X) 0,258
1Q P(X) 0,1258
3030R P(X) 0,136422016 9 4
4S P(X) 0,508
3T P(X) 0,3758
Assim, o jogador deverá abrir o quadrado Q.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A identificação da posição das letras a partir das linhas e colunas nas quais se encontra
está clara e precisa.
A notação “16 X 16” foi expressa como “16 por 16”.
323
Resolução
Gabarito: A.
Parcela P
No ato da 6ª parcela:
2 2
P P 1 1P P 1
i ii i1 11 1100 100100 100
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição consiste da apresentação por extenso das fórmulas presentes nas opções.
Logo na primeira opção, pode-se entender que a fórmula é
𝑃 ∙ [1 + 1(1+ 𝑖100) + 1(1+ 𝑖100)2] ou 𝑃 ∙ [1 + 1(1+ 𝑖100)+(1+ 𝑖100)2]
Essa possibilidade de leitura dúbia continua nas demais opções.
A bem da verdade, cada parcela dentro dos colchetes é identificada, no texto da descrição,
por um ponto e vírgula, mas isso é um recurso visual que não tem expressão significativa na
oralidade.
A notação de ordem (5ª e 6ª parcela) é apresentada por extenso, assim como o símbolo de
porcentagem.
325
Resolução
Gabarito: D.
máx
nn n n n
n
n n n
P 400
5000 1,013 0,013400 400 1,013 1 65 1,013 400 1,013 400 65 1,013
1,013 1
400 400335 1,013 400 1,013 log 1,013 log n log 1,013 log 400 log 335
335 335
n 0,005 2,602 2,525 n 15,4 16 parcela
s
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Sim
Na descrição da expressão usada para calcular P são usados parênteses que não constam
no texto convencional, para que não haja dúvidas sobre a expressão. O intento é conseguido e a
expressão é inequívoca.
O símbolo “log” (logaritmo) não é convertido para texto, o que pode levar a leituras
distintas por parte de pessoas com formações diferentes.
327
Resolução
Gabarito: B.
O seno de 30 é igual a 0,5, portanto:
l(x) k sen(x) k sen(30 ) 0,5 k
Logo, a intensidade luminosa se reduz a 50%.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A figura não é essencial para a construção da solução. Ela é uma síntese do que está no
enunciado. Desse modo, a descrição da figura não é fundamental e, por isso, o fato da descrição
feita não ser fiel à figura não afeta a solução.
A descrição da função intensidade luminosa é precisa e não deixa dúvidas.
Os símbolos de grau e de porcentagem são descritos por extenso.
329
Resolução
Gabarito: E.
Sendo a, b e K constantes, v 0 e p 0, tem-se:
K K(p a) (v b) K v b v b
p a p a
O gráfico de v em função de p é um ramo de hipérbole.
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
De forma geral, a expressão “entre parênteses” deixa dúvidas. O melhor é informar o
ponto no qual se abrem os parênteses e o ponto no qual se fecham. Da forma apresentada, pode-
se entender
(p + a)(v + b) = k ou (p + a(v + b)) = k
Cada um desses entendimentos tem uma resposta diferente presente nas opções.
O quadro apresentado não é uma tabela. É uma estrutura linear posta na vertical. Portanto,
descrevê-lo é pô-lo na horizontal.
O par ordenado (p; v) não foi descrito.
331
Resolução
Gabarito: C.
As opções de trajetos seriam:
Subir pelo elevador 1, pegar e bondinho e descer pelo elevador 2 0,15 2 2,3 4,45
Subir pelo elevador 2, pegar e bondinho e descer pelo elevador 1 1,8 2,5 0,10 4,40
Subir pelo elevador 1, descer, subir pelo elevador 2 e descer 0,15 1,8 0,10 2,3 4,35
Portanto, o menor custo seria de R$ 4,35.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O enunciado convencional sequer faz referência à figura. Ela não traz qualquer
informação nova, é uma síntese do que foi dito no enunciado acima dela. Na adaptação, a escolha
foi desconsiderar a figura. Ademais, o texto adaptado e o convencional são iguais.
334
Resolução
Gabarito: D.
O reservatório 1 se encherá de água numa vazão constante até atingir o nível do cano de ligação.
A partir daí, terá seu nível estabilizado até que o reservatório 2 atinja o mesmo nível e, após isso,
se encherá a uma vazão constante, porém menor que a inicial. O gráfico que melhor exemplifica
essa situação é o apresentado na alternativa [D].
Crivo de Análise
1) Sim
2) Sim
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da figura destaca as informações que nela estão presentes, como a diferença
de altura entre os canos de entrada e de ligação dos reservatórios. A frase “localizado no centro
do reservatório”, presente no final da descrição da figura do enunciado, deveria ter sido evitada,
pois dá a impressão de tratar-se do cano de entrada, e não do cano de ligação.
A descrição dos gráficos das opções apresenta problemas. Primeiramente um gráfico não
representa um segmento, ele apresenta um segmento ou é constituído por um segmento. Segundo,
um segmento não é crescente ou decrescente, funções são crescentes ou decrescentes, mas
podemos entender segmento crescente como uma metonímia. Terceiro, e mais sério, é o que
ocorre nas opções C e D. Fala-se em um terceiro segmento muito acentuado ou pouco acentuado,
para cima e para direita. Essas expressões não são claras e dificultam a construção da imagem dos
gráficos, com o agravante de ser a opção D, o gabarito.
336
Resolução
Gabarito: D.
Unindo-se os centros dos círculos, tem-se um triângulo equilátero (com altura h destacada em
vermelho) de lado igual a 2r, conforme a figura a seguir:
A altura total dos canos será igual a:
canos
canos
viaduto
H h 2r
r 0,6
3 3h L 0,6 2 h 1,02
2 2
H 1,02 1,2 2,22 m
H 1,3 0,5 2,22 4,02 m
337
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição declara que duas circunferências estão sobre o segmento de reta e a terceira
acomodada sobre as outras duas de forma centralizada. Pode-se entender que a terceira
circunferência tem contato com as outras duas, mas nada permite entender que as duas
circunferências que estão sobre o segmento são tangentes exteriores. A informação de que as três
circunferências são tangentes exteriores duas a duas é fundamental para a construção da solução.
O símbolo “m” é registrado “metro”.
339
Resolução
Gabarito: A.
Seguindo as instruções do amigo, tem-se:
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Sim
7) Não
A questão convencional, que era de geometria (localização no espaço), foi substituída por
uma questão de conteúdo numérico. As duas questões não medem a mesma habilidade.
341
Resolução
Gabarito: B.
5 5 5 10 6X 6,2
5
4 9 3 9 5Y 6
5
5 5 8 5 6Z 5,8 reprovado
5
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da tabela é feita através das linhas e informa precisamente o significado de
cada número. Assim, as notas de cada aluno são enunciadas uma atrás da outra, facilitando o
cálculo das médias.
343
Resolução
Gabarito: D.
46I 1,92
24
46II 3,29
14
36III 2
18
26IV 1,08
24
26V 1,86
14
A combinação IV deve ser a escolhida pois nessa combinação a roda traseira percorrerá a menor
distância por pedalada.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A imagem presente no enunciado serve apenas para ilustrar o que é uma coroa e o que é
uma catraca, mas essa informação não é relevante na construção da solução. A opção foi
desconsiderar a figura no texto do Ledor.
As duas tabelas foram descritas a partir das colunas. A bem da verdade, a segunda tabela
apresenta uma única linha de dados, o que faz com que a descrição seja apenas uma transposição,
conversão de colunas em linhas.
O símbolo “x” de “coroa x catraca” não foi convertido.
345
Resolução
Gabarito: E.
Considerando as regiões a serem pintadas:
Considerando que as cores podem se repetir e que não há obrigatoriedade de se usar as 4 cores,
pode-se calcular:
D E F C B A
4 3 3 3 3 3 972 opções
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Sim
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Só consegue entender o que está sendo descrito quem conhece a Taça Fifa, ou seja, a
descrição não permite a construção do objeto, a descrição remete a uma memória visual, para
quem a tem. Acrescente-se que a descrição fala em “uma figura plana”, e a descrição declara que
as “mãos seguram uma superfície esférica”, uma contradição. Em suma, a figura não podes ser
construída a partir da descrição.
347
Resolução
Gabarito: D.
máx máx
2x 2y 100 x y 50x 50 x S x y 25
x y S x y S
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A única informação nova relevante presente na figura é a nomeação das medidas da base
do prisma, X e Y. Essa informação é dada na descrição. A descrição cumpre perfeitamente seu
objetivo.
349
Resolução
Gabarito: E.
Na coluna da direita, partindo-se do zero até o início da fita preta, se lê 19 C.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Sim
6) Sim
7) Não
O primeiro ponto a observar é que, entre números seguidos registrados na escala do
termômetro (entre 0 e 10, por exemplo), há 12 intervalos nas subdivisões e não 10, como seria
esperado. Assim, o menor valor lido na escala é de (10/12)oC e não de 1oC. O que salva a questão
é a expressão “temperatura máxima mais aproximada”. Se a palavra “aproximada” não estivesse
presente no comando, a questão não teria solução. Por outro lado, se essas escalas forem
observadas com rigor, estão errados os limites dos filetes de cor preta e de cor cinza apresentados
na descrição.
No texto convencional, logo após a figura, é descrita a ordem da montagem das escalas,
e como se deve proceder na leitura do termômetro. Para um vidente, essa descrição é lida
acompanhando-se o que está na figura. Para uma pessoa com deficiência visual, essa descrição
faz parte da construção da imagem do termômetro. Assim, a descrição, por si só, não permite a
construção da imagem do termômetro. Teria sido aconselhável a descrição após o comando da
questão (pergunta que deve ser respondida) ou imediatamente antes dele.
A questão original resolve-se com a leitura do registro no termômetro. A questão adaptada
resolve-se identificando o menor valor dos extremos da barra preta da coluna da direita. O texto
do Ledor apresenta a leitura do termômetro. Isso modifica o que está sendo pedido.
351
Resolução
Gabarito: A.
T1
T2
T3
20,24 m h
25
v r
v 0,24 50 12
v 0,24 100 24
v 0,24 150 36
πω ω
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Sim
O enunciado convencional descreve o que é esse pivô central. A primeira figura é um
exemplo do que foi descrito, não acrescentando qualquer informação nova. Na descrição para o
Ledor, a única coisa que se faz é dizer que a primeira figura é a fotografia de um pivô central.
Essa informação poderia não ter sido dada sem prejuízo para a construção da solução. Além disso,
declara-se que o pivô atua sobre uma plantação de soja, o que não é informação presente no
enunciado original.
A segunda figura sintetiza o que está sendo descrito no parágrafo seguinte e ajuda na
construção da solução. Nessa descrição não são usados subscritos: T1, T2 e T3 são registrados T1,
T2 e T3, respectivamente. Entretanto, mantém-se o subscrito no texto posterior à descrição da
figura, o que pode gerar leituras diferentes por pessoas com e sem formação Matemática.
Os símbolos “m” e “” são registrados por extenso.
353
Ledor
Resolução
Gabarito: A.
Redesenhando o gráfico B de acordo com os volumes da coluna da esquerda, percebe-se que
ambos têm a exata mesma quantidade de água no mesmo instante, apenas entre 8h e 9h.
354
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Sim
7) Não
Inicialmente cabe destacar que há um erro na descrição do gráfico do reservatório A. Ele
não é formado por cinco segmentos, mas por seis segmentos. O segmento com extremidades em
(4; 60 000) e (6; 50 000) e o segmento de extremidades em (6; 50 000) e (8; 30 000) são descritos
como se fossem um único segmento com extremidades (4; 60 000) e (8; 30 000). Em segundo
lugar, dizer que há dois eixos verticais (o verbo “haver” é esquecido no texto do Ledor), um deles
com uma escala que vai de 0 a 180 000 e o outro com uma escala que vai de 0 a 90 000, não
significa dizer que um ponto que tenha ordenada 180 000 em uma das escalas está na mesma
altura de um ponto que tenha ordenada 90 000 na outra escala. Essa é uma das chaves na
construção da solução: as poligonais dos reservatórios foram traçadas com a mesma escala
horizontal, mas cada um ponto na vertical de uma das escalas corresponde a dois pontos na
vertical da outra escala. Da forma que foram descritas as escalas, nada impede, e é o mais natural,
que a posição 90 000 na escala da direita corresponda a 90 000 na escala da esquerda. Isso muda
o que está sendo cobrado na questão. Em terceiro lugar, a construção da solução é feita através da
leitura simultânea dos registros nas duas poligonais que dão o volume dos reservatórios: verifica-
se o volume em cada reservatório (eixos verticais) em cada instante (eixo horizontal). A
apresentação das poligonais através das extremidades dos segmentos que as formam dificulta
consideravelmente a comparação dos registros em cada uma delas e, consequentemente, a
construção da solução.
Os pares ordenados dos extremos dos segmentos não foram apresentados por extenso.
Como em outras questões analisadas, não consideramos afirmativa a resposta do sétimo crivo de
análise devido a essa opção de registro.
356
Resolução
Gabarito: D.
O compasso forma, com a superfície do papel, um triângulo isóscele de lados 10,10 e R (raio),
e ângulos 120, 30 e 30 graus. Sabendo-se disto, pode-se calcular o raio R :
R 10 1 3R 10 R 10 3 17cm 15 R 21
sen 120 sen 30 2 2
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O texto convencional apresenta informações que não são usadas na construção da
solução: o sistema cartesiano e o centro da circunferência em (3, 1). Essas informações
desnecessárias são preservadas na versão do Ledor.
Dois elementos devem ser descritos: uma figura e uma tabela. Na descrição da figura, o
texto é confuso a ponto de caracterizar erro. Primeiro é dada a informação de que o compasso tem
haste de 10 cm, o que não consta na figura. Segundo, não há referência ao ponto B. Possivelmente,
onde está escrito ”...uma circunferência de centro C no ponto (3; 1), a ponta seca do compasso, o
ponto C, a ponta do grafite do compasso é um ponto da circunferência e o ponto A, a cabeça do
compasso ”deveria estar escrito ”...uma circunferência de centro C no ponto (3; 1), a ponta seca
do compasso. O ponto B, a ponta do grafite do compasso, é um ponto da circunferência, e o ponto
A, a cabeça do compasso.”.
A descrição da tabela é feita através das linhas e não deixa dúvidas do que está presente
em cada linha.
São convertidos em textos “centímetros”, “graus” e “raiz quadrada de 3”. Os registros
dos números romanos não são convertidos, assim como os pares ordenados.
358
Resolução
Gabarito: C.
A menor diferença é entre a peça de 4,025 mm (apenas 0,025 mm de diferença).
I 4,025 4 0,025
II 4,100 4 0,100
III 4 3,970 0,030
IV 4,080 4 0,080
V 4 3,099 0,901
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A figura presente no texto convencional tem função meramente ilustrativa. A opção foi
desconsiderar a figura na descrição. De resto, menos do símbolo “mm” que foi apresentado por
extenso, o texto convencional e o do Ledor são iguais.
360
Resolução
Gabarito: C.
Supondo as dimensões da miniatura como sendo 1,1 e 25 centímetros, pode-se calcular:
2 3 3monumento
Miniatura dimensões 1, 1 e 25
Convertendo usando a escala 400, 400 e 25 400
V 400 (25 400) 1.600.000.000 cm 1.600 m
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
As únicas alterações presentes no texto do Ledor são “1:400”, que é registrado “1 para
400”, e “25 cm3”, que é registrado “25 centímetros cúbicos”. Portanto, os textos são praticamente
idênticos.
362
Gabarito: D.
2
2
2
Parábola Pontos 5, 0 e 4, 3
f(x) ax bx c
b 0 parábola simétrica ao eixo y
f(0) c H
0 a (5) H 0 25a H 1 253 9a a H
3 16a H 3 33 a (4) H
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da figura limita-se ao que há de relevante para a construção da solução,
evitando falar em região sombreada ou linhas paralelas ao eixo de simetria da parábola. A
descrição é adequada.
364
Resolução
Gabarito: A
maior taxa de aumen
56 40Site U 0,4
40
21 12Site X 0,75
12
51 30Site Y 0,7
30
11 10Site Z 0,1
10
57 38Site W 0,
t
538
o
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição limita-se a apresentar a quantidade de minutos correspondente a cada setor
de cada gráfico, o que está de acordo com o que é apresentado no texto convencional.
366
Resolução
Gabarito: E.
3 1 15 7 8
7 5 35 35
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição do gráfico 2 toma o cuidado de repetir cada palavra da descrição do gráfico 1,
alterando, exclusivamente, as alturas das colunas e a escala vertical. A conversão para o Ledor é
precisa e clara.
As frações das opções são apresentadas por extenso.
368
Resolução
Gabarito: A.
máx
P(t) A Bcos(kt)
A B cos(kt) 1202A 198 A 99
A B cos(kt) 78
P cos(kt) 1
99 B 120 B 21
90 batimentos 1 6 2T s s
60 segundos T 9 3
2 3k 2 3
T 2
Assim :
P(t) 99 21 cos(3 t)
π π ππ
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A única falha é a ausência de uma preposição no texto do Ledor: onde está escrito “p de
t é igual A mais B...” deveria estar escrito “p de t é igual a A mais B...”. O quadro presente não
constitui uma tabela, não possui dupla entrada, é uma disposição linear apresentada verticalmente.
Assim sendo, a opção feita foi não o descrever.
370
Resolução
Gabarito: C.
O triângulo OAB é um triângulo pitagórico do tipo 3-4-5, portanto:
OA 4
AB r 3
R 5
h R OA 5 4 h 1
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Ao afirmar que a figura é composta por uma circunferência que representa um melão,
entende-se que essa circunferência representa uma esfera. Portanto, a figura está em perspectiva
e, nessa figura, não há um círculo hachurado que representa a parte apoiada na mesa. Há uma
região hachurada (uma elipse) que representa um círculo que se apoia na mesa.
Uma diferença não se estabelece de um termo pelo outro. Uma diferença ocorre entre um
termo e outro. Assim, no final da descrição da figura, deveria constar “é a diferença entre o raio
da circunferência e o cateto AO do triângulo retângulo OAB”.
A unidade “cm” foi registrada por extenso, assim como √91 / 2 e 10√91 .
372
Resolução
Gabarito: B.
6,8 7,5 7,6 7,6 7,7 7,9 7,9 8,1 8,2 8,5 8,5 8,6 8,9 9,0
7,9 7,9 8,18
8,1 2
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O gráfico foi transformado em uma tabela, mas ele, realmente, não é muito mais do que
uma tabela: no gráfico, é apresentado o valor do percentual de cada ano, e são esses valores que
são usados na construção da solução.
374
Resolução
Gabarito: A.
9
10,1 9 10
2 1 2 1 10 2P(x) C 10
3 3 3 3 3
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O que deve ser convertido na versão do Ledor são as expressões numéricas presentes nas
opções. A dubiedade ocorre na expressão da opção B (que não é o gabarito). O numerador
“10 vezes 2 elevado a 9” pode ser entendido como 10 x 29 ou como (10 x 2)9.
As frações 2/3 e 1/3 são apresentadas por extenso.
378
Resolução
Gabarito: A
dAlpha = 1,5 h x 6 km/h = 9 km
dBeta = 1,5 h x 5 km/h = 7,5 km
dGama = 1 h x 6,5 km/h = 6,5 km
Resposta:
(A) dGama<dBeta<dAlpha
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
As conversões consistem em transformar em textos unidades de velocidades (km/h),
subscritos (dBeta ,dAlpha e dGama) e sinais de relação (= e <). Conversões simples e bem-feitas.
380
Resolução
Gabarito: D
Desde que a taxa de LDL passou a ser de 0,75 0,8 280 168mg dL, podemos afirmar que a
classificação é alta.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Na primeira coluna da tabela aparece o nome das classes. Os dados ocupam uma única
coluna. A linearização das informações é imediata e foi feita da forma devida.
Destaque-se que, além da unidade mg/ml, o símbolo % foi transformado em texto.
382
Resolução
Gabarito: A
Se o número de anúncios na rádio é igual a X
,120
e o número, em milhares, de panfletos produzidos
e distribuídos é Y
,180
então a resposta é
.X Y
1500 100
00120 18
50X 5 Y
4 90
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O enunciado não apresenta elemento a ser convertido em texto. A conversão é feita com
os elementos das opções que são frações com X e Y.
Todas as opções têm a mesma forma: soma de duas frações. O mesmo equívoco é
cometido em todas. Na opção A do texto do Ledor, tem-se:
A fração de numerador 50 vezes X e denominador 4, mais fração de numerador 50 vezes
Y e denominador 9.
Esse texto pode ser entendido como 50X4 + 50Y9 ou
50X4+50y9 .
O mesmo padrão de conversão se repete em todas as opções.
384
Resolução
Gabarito: E
Sendo AB AC e 90 BAC 180 , podemos afirmar que ABC é obtusângulo isósceles.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não0
5) Não
6) Não
7) Não
A figura sintetiza boa parte do que é apresentado no texto. O texto completa a descrição
da figura presente na versão do Ledor.
A notação de graus (170o) é convertida (170 graus)
386
Resolução
Gabarito: D
Sendo 21 os dias letivos e 6 h 22 min a mediana, podemos concluir que o rapaz chegou antes de
6 h 22 min exatamente 21 1
102
vezes. Logo, se a moda é 6 h 21min e n é o número de dias
em que o rapaz chegou às 6 h 21min, então a probabilidade pedida é igual a 10 n
.21
Essa probabilidade é máxima quando n é mínimo. Ademais, como existem 6 observações
menores do que 6 h 21min, deve-se ter n 3, caso contrário, haveria pelo menos outra moda
menor do que 6 h 21min.
Portanto, a resposta é 10 3 7
.21 21
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
As conversões foram registros de horas (6h 15mim) e as frações das opções, que foram
feitas com precisão.
388
Resolução
Gabarito: A
Se é a medida real do segmento, então
1 7,6440800000cm 4408km.
58000000
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O mapa presente na questão é quase que ilustrativo, tem por função apresentar dois pontos
que servem de extremo a um segmento, o navio e a marca do tesouro. A opção foi desconsiderá-
lo. Dessa forma, os únicos elementos convertidos em texto foram o símbolo de proporcionalidade,
:, e de comprimento, cm.
390
Resolução
Gabarito: B
Sendo 2014 o ponto médio do intervalo [2013, 2015], e sabendo que a cobertura da campanha
variou de forma linear, podemos concluir que a resposta é
67% 59%63%.
2
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
O gráfico é extremamente simples, formado por dois segmentos de retas com
extremidades nos pontos (2013, 67%) e (2015, 59%) e nos pontos (2015, 59%) e (2017, 61%). A
descrição do gráfico é confusa, e quem não tenha visto o gráfico dificilmente conseguirá
reproduzi-lo observando só a descrição.
Na descrição propõe-se construir o gráfico da esquerda para a direita, passando,
sucessivamente, pelos anos 2013, 2014, 2015, 2016 e 2017. Inicia-se dizendo que 2013
corresponde a 67 por cento e que um segmento de reta inclinado para baixo (expressão que não é
clara) sai de 67 por cento e chega a 59 por cento. A confusão se estabelece porque o segmento
chega a 59 por cento em 2015 e, dessa forma, antes de apresentar o gráfico em 2014, apresenta-
se 2015. A descrição vai a 2015 e volta a 2014. O mais provável é que a pessoa com deficiência
visual considere os valores de 2013 e de 2015 sem pensar no gráfico.
392
Resolução
Gabarito: C
Sendo 15 m 1500cm e 90 m 9000cm, temos
19000 4 X 2250.
X
e
1 11500 1 1500 X 3000.
2 X
Portanto, das duas condições, segue que 1500 X 2250.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
As conversões foram passar para texto unidades de medida e sinais de relações,
conversões que foram bem-feitas.
394
Gabarito: A
A função f é do tipo f(t) a bsen(mt). Logo, sendo f(0) 88, temos a 88. Ademais, pelo
gráfico, sabemos que o período de f é 2π e, portanto, vem m 1.
Finalmente, como f 168,2
π
obtemos
168 88 b b 80.
A resposta é f(t) 88 80sent.
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Há descuido com a linguagem na descrição da figura que representa a roda-gigante.
Primeiramente, um círculo não é dividido em doze raios. Um círculo é dividido por doze raios.
Em segundo lugar, não se trata de um raio horizontal à direita porque só há um raio horizontal à
direita. Trata-se do raio horizontal à direita. Cuidados com a linguagem na descrição para uma
pessoa com deficiência visual não é preciosismo. O uso adequado das preposições permite o
entendimento adequado do texto. Em terceiro lugar, os termos “horizontal” e “vertical” são usados
nos textos de Ledores comumente como posições relativas aos lados da folha de papel, mas o
termo “perpendicular” não. Da forma como está usado, subentende-se que se trata de um
segmento perpendicular ao plano do solo, mas deveria estar mais claro.
Na descrição do gráfico, apresentam-se as informações necessárias à construção da
solução, se for considerado que se sabe tratar-se de uma senoide, o que é razoável supor, já que
tal informação também não é dada no texto convencional.
395
Em todas as opções, a ausência de parênteses gera dúvidas sobre as expressões. Na opção
A, encontra-se:
f de t é igual a 80 vezes seno de t mais 88.
que pode ser entendida como
f(t) = 80sen(t) + 88 ou como f(t) = 80sen(t + 88).
Destaque-se que no texto original os parênteses estão presentes.
O par ordenado na descrição do gráfico não é transformado em texto, mas esse fato não
gerou resposta afirmativa à pergunta 7 do crivo, padrão usado em todo esse trabalho.
397
Ledor
Resposta
Gabarito: A
O número de cubinhos ausentes é igual a 9 2 11. Logo, as únicas alternativas possíveis seriam
[A] e [E]. Contudo, a face lateral direita apresenta seis cubinhos ausentes e, assim, só pode ser a
alternativa [A].
398
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Sim
4) Não
5) Não
6) Sim
7) Não
A questão convencional tratava da identificação de uma peça tridimensional que
completava a estrutura presente. A descrição seria muito complexa ou apresentaria a solução. A
opção foi substituir a questão. Substituiu-se uma questão de geometria por outra de conjunto.
Infelizmente, a questão do texto do Ledor não tem solução.
Para construir a solução, é necessário saber se alguma música foi feita em parceria pelos
três, Pedro, Ricardo e Carlos, e se alguma música foi feita em parceria por Pedro e Ricardo.
Suponha-se, inicialmente, que duas músicas tenham sido feitas pelos três e que duas, somente por
Pedro e Ricardo. Tem-se a seguinte distribuição e resposta:
Carlos
Pedro Ricardo
2
2
2
2 2
8 1218 = 23
399
Suponha-se, agora, que nenhuma música tenha sido feita pelos três, e que quatro, por
Pedro e Ricardo:
É possível que se tenha pensado, erradamente, que o texto permitiria supor que nenhuma
música foi composta pelos três nem por Pedro e Ricardo. Nesse caso, tem-se:
Testar todas as opções possíveis para procurar se apenas uma delas aparece nas opções é
inviável em uma prova com 45 questões de Matemática. Por isso, considera-se que a questão não
permite a construção da solução.
Carlos
Pedro Ricardo
4
4
8 1418 = 79 2
Carlos
Pedro Ricardo
4
2 4
4 1018 = 59 2
401
Resposta
Gabarito: D
Se cada carro no pictograma corresponde a n carros elétricos vendidos, então
5n 2n 360 n 120.
A resposta é dada por 8n 8 120
320.3 3
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A questão envolve leitura de gráfico, mas o gráfico apresenta variável discreta (as barras
são representadas através de carrinhos), o que facilitou a descrição.
403
Resolução
Gabarito: E
Sejam A A B BA (m , r ), B (m , r ) e C CC (m , r ). Logo, sendo A C Bm m m e A B Cr r r ,
temos
C A BC A B2 2 2
C A B
km km kmF F F .
r r r
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição do gráfico apresenta todas as informações relevantes à construção da
solução, e a apresentação da equação no enunciado e as relações nas opções não deixam dúvidas
sobre elas. A adaptação para o Ledor é clara e bem-feita.
405
Resolução
Gabarito: B
O tempo de espera nas máquinas 1, 2, 3, 4 e 5 são, respectivamente, iguais a
35 5 175 s, 25 6 150 s, 22 7 154 s, 40 4 160 s e 20 8 160 s.
Portanto, o passageiro deverá se dirigir à máquina 2.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Apesar de ser tratada com o termo “painel”, a figura presente no enunciado é uma tabela
de duas linhas e cinco colunas: a primeira linha representa o tempo de atendimento de cada pessoa,
a segunda linha, o número de pessoas, e as colunas, as máquinas.
A descrição foi feita por coluna, é clara e precisa.
407
Resolução
Gabarito: D
Considere a tabela.
ix if i ix f
0 50 0
1 17 17
2 15 30
3 10 30
4 6 24
5 2 10
if 100 i ix f 111
A resposta é dada por
i i
i
x f 111x 1,11.
f 100
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A tabela, que é o elemento a ser convertido em texto na versão do Ledor, foi apresentada
através das linhas. Esta escolha de apresentação foi conveniente, dado que a solução é obtida
somando o produto dos elementos de cada linha e dividindo esse produto por cinco.
E18155 SsAg2
409
Gabarito: E
Considerando NO a origem e o sentido anti-horário o dos arcos positivos, tem-se que inicialmente
a posição da câmera é 45 . Desse modo, após as três mudanças, a câmera estará na posição
45 135 60 45 165 . Em consequência, a resposta é 165 no sentido horário.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
No início do enunciado é dito que o círculo é dividido em oito partes iguais, o que permite
identificar que as perpendiculares no círculo menor e no círculo maior possuem uma defasagem
de 45o. Isso orienta o significado do termo “inclinado” usado na descrição.
Destaque-se a identificação do significado dos símbolos dos pontos cardiais (N, S. L, O,
NE, SE, NO e SO), o que não é feito no texto convencional.
Os ordinais (1ª, 2ª e 3ª) e o símbolo de grau (75o) são convertidos em textos.
411
Resolução
Gabarito: E
As pontuações dos alunos foram as seguintes:
1. Edu: 1 4 3 9 2 7 5 5 70;
2. Dani: 2 4 5 9 1 7 3 5 75;
3. Caio: 3 4 4 9 3 7 1 5 74;
4. Bia: 4 4 1 9 5 7 2 5 70;
5. Ana: 5 4 2 9 4 7 4 5 86.
Portanto, como Ana teve a maior pontuação, segue que a sua poesia foi a vencedora.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A primeira tabela foi descrita através das colunas, ou seja, foram apresentadas as
sequências de cada ranking. Em seguida, foram apresentadas as frequências de cada ranking. Tais
descrições são perfeitamente compatíveis com a construção da solução.
413
Resolução
Gabarito: A.
O menor caminho, por inspeção, corresponde ao comprimento de 8 segmentos de reta de medida
igual a 1, somado ao comprimento do arco definido pelo ângulo central de 4 2
1 rad6 3
e raio
1, ou seja, 2
8.3
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Sim
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O texto do Ledor não descreve a figura, localiza a posição dos pontos A e B para quem
conhece a figura. O texto convencional inicia descrevendo a figura, mas não apresenta todas as
informações necessárias para construí-la. As informações que faltam no texto são apresentadas
na figura: onde se encontra o centro das circunferências e que os raios formam a sequência dos
números naturais.
Uma circunferência fica determinada conhecendo-se seu centro e seu raio. Nem uma coisa
nem outra são dadas no texto do Ledor. Portanto, para quem não for vidente, é impossível resolver
essa questão por não saber onde se encontram as circunferências que formam a malha.
O texto convencional fala que a malha é formada por 12 semirretas separadas por ângulos
de /6 radianos. Para localizar essas semirretas, todas com extremidades na origem do sistema
cartesiano, é preciso identificar uma delas, o que pode ser feito supondo-se que os pontos A e B
encontram-se sobre duas dessas semirretas que formam a malha, mas a descrição não especifica
a posição de nenhuma dessas semirretas.
A descrição das opções não deixa dúvidas, usando parênteses não existentes no texto
convencional para eliminar dubiedade.
415
Resolução
Gabarito: D.
O número máximo de potes em cada caixa é dado por
8 8 402 2 6 24,
4 4 6
8 20 142 5 2 20,
4 4 6
18 5 354 1 5 20,
4 4 6
20 12 125 3 2 30
4 4 6
e
24 8 146 2 2 24.
4 4 6
Portanto, ele deve adquirir o modelo IV.
Observação: [x] denota o maior inteiro menor do que ou igual a x.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A leitura da tabela, no texto do Ledor, é feita através das linhas (é lida linha por linha), o
que facilita a construção da solução, que exige a identificação do número de potes em cada
dimensão de casa caixa.
417
Resolução
Gabarito: C
Em relação aos carros que ficarão na entrada, existem 4 maneiras de escolher o compacto e 6
modos de escolher a caminhonete. Já para o estande da região central, tem-se 3 escolhas para o
compacto e 5 para a caminhonete. Portanto, pelo Princípio Multiplicativo, segue que o número
de possibilidades para compor os estandes é igual a
6 44 6 3 5 2 2
2 2
4 62 2.
2 2
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O que há para ser convertido em texto são as expressões presentes nas opções, e a
conversão é feita de forma clara e precisa.
419
Resolução
Gabarito: A
Tem-se que os totais transferidos, em milhões, por cada um dos bancos foram
5
1j
j 1
5
2j
j 1
5
3j
j 1
5
4j
j 1
a 0 2 0 2 2 6,
a 0 0 2 1 0 3,
a 1 2 0 1 1 5,
a 0 2 2 0 0 4
e
5
5jj 1
a 3 0 1 1 0 5.
Portanto, é fácil ver que a resposta é o banco 1.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A matriz é apresentada linha por linha, o que é interessante, dado que a solução é obtida
através da soma dos elementos de cada linha. As conversões das relações são bem-feitas e as
variáveis indexadas são lidas com a palavra “índice”: aij é lida como “a índice ij”.
421
Resolução
Gabarito: C
Sendo i 0,0132 ao mês, temos
n
n
n
P 0,75 V P 0,75 P(1 i)
4(1,0132)
3
4n (1,0132) n
3
n 0,0131 0,2877
2877n
131
126n 21 .
131
Por conseguinte, como o menor inteiro maior do que 126
21131
é 22, segue que a primeira parcela
que poderá ser antecipada junto com a 30ª é a (30 22)ª 52ª.
Crivo de análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
As conversões da fórmula básica de Matemática Financeira e a leitura dos logaritmos e
dos ordinais são bem-feitas e não deixam qualquer dúvida.
423
Resolução
Gabarito: E
Desde que ABCO é um quadrado, e como uma reta passando por A pode atingir no máximo os
pontos C e D, podemos concluir que a maior pontuação é obtida com a circunferência de centro
em D (2, 2) e raio 2 2, ou seja,
2 2 2 2 2(x 2) (y 2) (2 2) (x 2) (y 2) 8.
Tal circunferência passa pelos pontos A,B e C.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da figura é clara e precisa, e a descrição das equações presentes nas opções
não deixa dúvidas.
Os pares ordenados não são convertidos em texto.
425
Resolução
Gabarito: D
A resposta é dada por
0,9 1 1,5 0,4 8,2 12100% 100%
4,5 2 2,5 0,5 20,5 30
40%.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A solução é obtida dividindo-se a soma dos números presentes na coluna “população já
vacinada (milhões)” pela soma dos números presentes na coluna “População (milhões)”. Dessa
forma, a apresentação da tabela através das colunas, apesar de dificultar a percepção do que
acontece em cada grupo, facilita a construção da solução.
427
Resolução
Gabarito: A
É fácil ver que as hipotenusas dos triângulos retângulos crescem segundo uma progressão
geométrica de primeiro termo 2 2cm e razão 2.
Portanto, de acordo com a figura, a resposta é 12 2 14cm.
Crivo de análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
Só é possível identificar a figura descrita se a figura já for conhecida, ou seja, a descrição
permite reconhecer a figura, mas não permite construir a figura acompanhando passo a passo a
descrição. É possível chegar à figura fazendo tentativas, mas a construção não é imediata.
Acompanhando passo a passo a descrição, pode-se parar em uma das figuras a seguir:
428
Nos dois exemplos, a sexta peça não satisfaz as condições dadas na descrição. Dispor as
peças de forma a satisfazer todas as condições da descrição é montar o quebra-cabeça. Ou seja, é
necessário montar o quebra-cabeça para entender a descrição. A questão ficou muito mais
complexa.
430
Resolução
Gabarito: B.
Seja h a altura do cilindro.
Na figura é possível perceber que foram dadas seis voltas em torno do cilindro. Logo o cateto
adjacente ao ângulo de 30 mede 6
6 2 72cm
e, portanto, temos
htg30 h 24 3 cm.
72
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Na descrição da figura, é dito que a faixa dá seis voltas em torno do cilindro, mas isso,
que não é dito no texto convencional, não chega a conduzir à solução. A descrição cumpre a sua
função.
432
Resolução
Gabarito: C
Em 1986, o número de transistores por centímetro quadrado era igual a
100000400000.
0,25
Desse modo, o número de transistores ao longo do tempo constitui uma progressão geométrica
de primeiro termo 54 10 e razão 2. Ademais, se n é o número de períodos de 2 anos após 1986,
então
5 n 11 n 2 6
n 2 6
4 10 2 10 2 10
log2 log10
(n 2) 0,3 6
n 18.
A resposta é 1986 2 18 2022.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Apenas dois pontos foram convertidos em texto na prova do Ledor: cm2 e log102. As duas
conversões foram feitas de forma inequívoca.
434
Resolução
Gabarito: C
A nota do atleta 10 no último salto deve ser maior do que ou igual a 829 687,5 141,5. Logo,
como ele pode superar essa pontuação apenas em T3 (2,6 55 143) e T5 (3 53 159), conclui-
se que ele deverá escolher o de tipo T3, uma vez que é o mais provável.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
As duas tabelas foram convertidas pelas linhas. O maior trabalho na construção da
solução é o produto de dois elementos de cada linha da segunda tabela. Dessa forma, a escolha
da conversão foi adequada.
437
Resolução
Gabarito: A
Entre os estágios 1 e 3, em qualquer instante, o segmento de reta MO corresponde à mediana
do triângulo retângulo cuja hipotenusa tem comprimento igual ao comprimento da viga. Desse
modo, como a mediana mede metade da hipotenusa, e esta é constante, segue que a resposta é o
gráfico da alternativa [A].
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A questão envolve o movimento de uma viga. Já no texto convencional, encontra-se a
descrição desse movimento. Dessa forma, o texto convencional complementa a descrição da
figura feita no texto do Ledor.
Há descuido com o texto na adaptação para o Ledor. Na descrição da figura (os três
guindastes), “... movimento de uma viga de aço por um guindaste...” faltou o verbo,
“... movimento de uma viga de aço içada por um guindaste...”. No texto convencional aparecem
“... no tempo t = 0...” e “... no tempo tf ...”, que são convertidos em “... no tempo tempo igual a
zero...” e “... no tempo tempo índice f...”. Os registros t = 0 e tf são identificações de abscissas, de
pontos sobre o eixo do sistema cartesiano, não são para serem lidos como “tempo”. Se
interpretados o significado dos símbolos na leitura, tf deveria ser lido como “tempo final” e t = 0
como “tempo inicial”.
O mesmo equívoco na leitura de tf é repetido em todas as opções.
440
Resolução
Gabarito: A
A inclinação atual é 200
25%.8
Porém, de acordo com as normas técnicas, a distância entre os
níveis da garagem e da rua deveria ser 8 20 160cm.
Em consequência, o nível da garagem deverá ser elevado em 200 160 40cm.
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A ausência de precisão no uso da linguagem na descrição para o Ledor dificulta a
percepção do objeto descrito. Na descrição do triângulo retângulo, que identifica o que é
inclinação de uma rampa, fala-se em “um triângulo retângulo com o lado horizontal medindo 1
metro, o lado vertical medindo 20 centímetros”. O uso do artigo definido indica que a posição do
triângulo é conhecida, o que não se realiza com a descrição. O artigo indefinido (um) permitiria
identificar a posição do triângulo ao saber que um de seus lados está na horizontal e outro na
vertical.
Na descrição da figura com a garagem, usa-se a expressão “segmento com dois metros de
altura”. Um segmento possui uma única dimensão e, normalmente, essa dimensão é tratada como
comprimento. Parece que o uso do termo “altura” pressupõe que esse segmento está na vertical.
Além disso, esse segmento é a indicação da distância entre o nível da rua e o nível da base da
garagem, não é a representação de um objeto físico. Nessa mesma descrição, usa-se a expressão
“base da garagem” que só é perfeitamente entendida a partir da observação da figura.
Essas imprecisões trazem dúvidas sobre o objeto descrito.
Foram convertidos em textos os símbolos “%” e “cm”.
442
Resolução
Gabarito: B
Desde que a razão entre as áreas corresponde ao quadrado da razão de semelhança linear, k,
temos
2 1 1k k .
16 4
Portanto, segue que a fonte deve ser reduzida para o tamanho 1
192 48.4
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da letra “O” tem um equívoco: a letra “O” é formada por cinco quadrados na
vertical do lado esquerdo, um ao lado do primeiro quadrado do lado direito (e não esquerdo), um
ao lado do quinto quadrado do lado direito (e não esquerdo), e cinco na vertical do lado direito.
De resto, não há problema com a descrição, apesar das palavras “ecofont” não terem sido
mencionadas. Entretanto, no original, as indicações do furo nas fontes, da fonte ser formada por
quadrados de lado x e dos furos terem raios x/3 são informações irrelevantes para a construção da
solução. A descrição da imagem poderia ser descartada nessa questão.
444
Resolução
Gabarito: B
Os pares ordenados satisfazem as condições 0 x 10, y 0 e y x, ou seja,
0 y x 10.
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
No texto do Ledor, na descrição da figura, “... estão marcados todos os pontos de
coordenadas inteiras que estão sobre o triângulo de vértices...”. A palavra “triângulo” pode ser
entendida como uma linha poligonal fechada ou como a superfície delimitada por essa linha. Cada
entendimento considera um conjunto diferente de pontos. Essa imprecisão gera dúvidas.
O par ordenado (x, y) é convertido em texto.
446
Gabarito: D
Sejam O e M, respectivamente, o centro do chafariz e o ponto médio do segmento de reta AB.
Logo, se R OB é o raio da praça e r OM é o raio do chafariz, então, pelo Teorema de
Pitágoras, vem
22 2 2 216
R r R r 64.2
A área do passeio é 2 2 2(R r ) 64 m .π π
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
As descrições das duas figuras são claras e precisas, permitindo a construção do objeto
de forma inequívoca.
448
Resolução
Gabarito: D.
Após a colocação da primeira peça, existem 2 (n 1) casas vazias na zona de combate. Ademais,
temos 2n 1 casas quaisquer vazias e, assim, vem
2
2 (n 1) 1 2 1
5 n 1 5n 1
n 9.
A resposta é 10 10.
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A adaptação não gera qualquer dificuldade na construção da solução. Entretanto, cabem
dois destaques: as linhas de um tabuleiro de xadrez são contadas de baixo para cima e, na
descrição, foram contadas de cima para baixo; A fração um quinto (1/5) foi lida “fração de
numerador 1 e denominador 5”.
454
Resolução
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição desta questão não se restringe à figura, é necessária a descrição de
movimentos. No texto do Ledor, a descrição do caminho restringe-se à declaração de que é “um
caminho formado por sete quadrados”, o que não permite o entendimento da disposição desses
quadrados. Também é de difícil compreensão a expressão “face que aponta para o segundo
quadrado”. Essa expressão, possivelmente, teve origem na seta que aparece na figura e que não é
mencionada na descrição. Também não é claro o que significa “girar para a frente” e ”girar para
a esquerda”. A presença da segunda figura orienta o significado dessas últimas expressões.
456
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O texto do Ledor é preciso, orientando a disposição das letras que identificam os vértices
dos quadrados da esquerda para a direita. E a montagem dos quadrados também é orientada da
esquerda para a direita.
458
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição é clara e simples, não apresentando qualquer
ponto que mereça destaque.
460
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição dos cartões apresenta a opção marcada por cada uma das meninas em seus
cartões. Isso não é explicitamente declarado, mas é de fácil percepção pela natureza da descrição,
e essas informações são suficientes e necessárias para resolver o problema.
462
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição não garante a construção exata da figura do enunciado original, mas apresenta
todos os elementos suficientes e necessários para a obtenção da resposta a partir da figura
construída.
464
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição apresenta apenas um equívoco: no texto do primeiro marcador, onde está
escrito “casa” e “casas” deveria estar escrito “caixa” e “caixas”. Possivelmente foi um erro de
digitação que acabou passando na revisão.
466
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A Descrição da figura está clara. O único ponto a chamar a atenção é o privilégio dado a
um dos lados do quadrado chamando-o de base. Bastaria dizer “o quadrado tem dois vértices no
diâmetro da circunferência”.
468
Resolução
Crivo de Análise
1) Sim
2) Sim
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da figura está errada. Declara-se que o polígono de cor cinza tem vértice ”no
lado inferior direito do quadrado interno”, quando deveria estar declarado que ele tem vértice “no
vértice inferior do lado direito do quadrado”.
471
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Sim
A descrição da figura está bem-feita. O destaque é a não descrição das opções, que são
expressões algébricas e podem ser lidas de modos diferentes.
472
O1613(n3f1) NsAa4
Convencional
Ledor
Não há adaptação de Ledor para essa questão.
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Sim
O texto convencional apresenta notações de funções que podem ser lidas de formas
distintas por pessoas diferentes. Entretanto, não há descrição para o Ledor.
474
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição permite a construção da figura de forma inequívoca.
476
Resolução
Crivos de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição está clara e precisa. O uso das palavras horizontais e verticais, apesar de
não aparecerem no enunciado original e, de fato, não serem relevantes, servem para orientar a
descrição.
478
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Sim
O texto convencional apresenta uma expressão algébrica que pode ser lida de forma
diferente por pessoas distintas. Entretanto, não há descrição para o Ledor.
480
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da figura está simples e precisa.
483
Crivo de análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
As informações relevantes na imagem encontram-se no texto que apresenta o que o
menino está pensando. Esse texto foi transcrito ipsis litteris para o Ledor.
486
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Não
5) Não
6) Sim
7) Não
As instruções de como o Ledor deve proceder a leitura estão
adequadas, indicando que as figuras são formadas por nove
quadradinhos dispostos em três linhas e três colunas e como o aluno
deve indicar o preenchimento dos quadradinhos. Entretanto, há um
erro na descrição do quadriculado do enunciado: a 2ª linha é 7, 10, 13
e não 2, 13, 10, e a 3ª linha é 2, 5, 8 e não 7, 5, 8.
493
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
Declara-se, no texto do Ledor, que “cada anel está dividido em seis partes iguais e cada
parte tem contato com exatamente duas partes dos anéis”. Faltou a palavra “vizinhos”, ou seja,
deveria estar escrito “duas partes dos anéis vizinhos”. Sem isso, o texto fica confuso.
É usada a expressão “em ordem circular” que, pelo contexto, entende-se que não importa
por qual parte do anel dar-se-á início. Cabe a observação de que isso pode alterar os anéis pintados
no item a como resposta certa.
Na última linha da descrição da figura da direita, está escrito “dos anéis 2”, quando
deveria estar escrito “do anel 2”.
497
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Na descrição da figura há um descuido no uso de termos técnicos. “Diagonal” tem sentido
específico em geometria e é usado, na descrição, com a acepção de inclinado. Isso dificulta o
entendimento da descrição.
Há o cuidado de indicar como deve ser lido F(3), F(5) e F(x) (no texto do Ledor, usa-se
“F” maiúscula, e no original, “f” minúscula) e como deve ser lido 0 < x 3 e 3 < x 5. Além
disso, há instruções de como deve ser marcado um ponto no sistema cartesiano. Essas instruções
levam a crer que uma pessoa sem treinamento matemático possa atuar como Ledor.
502
Crivo de Análise
1) Sim
2) Sim
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Sim
O texto convencional fala de “fileiras horizontais de quadradinhos”, e o texto do Ledor
trata de “linhas horizontais de quadradinhos” — a palavra “fileira é substituída pela palavra
“linha”. Há um agravante nessa troca: o texto do Ledor fala em sete linhas, enquanto a figura
apresenta seis fileiras, mas para formar seis fileiras de quadradinhos é necessário desenhar sete
linhas horizontais, o que confunde a percepção da figura. Ao final da descrição, é relatada a
quantidade de quadradinhos em cada uma das seis linhas.
No item c, há a expressão (p + 2)2 = 36A que não apresenta descrição para o Ledor.
504
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
É perfeitamente factível a construção da figura através da descrição apresentada. De fato,
é de fácil construção tal figura a partir da descrição. Entretanto, no enunciado convencional,
abordam-se os ângulos BAD, DAC, ABD e DBC, enquanto no texto do Ledor esses ângulos são
denotados, respectivamente, por BAD, CAD, ABD e DBE. São os mesmos ângulos, mas dois
deles, indicados por notações distintas.
508
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A figura não tem qualquer relevância para a construção da solução. É meramente
ilustrativa.
514
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O texto adaptado para o Ledor estaria conforme com o convencional se não fosse um
erro: a questão convencional pede para que seja calculada a área da região destacada em amarelo;
o texto do Ledor não trata de área em amarelo, e sim de área na cor cinza. É claro que isso pode
ser corrigido pelo Ledor ou pela pessoa com deficiência visual, mas é um erro, um erro na primeira
questão da prova. Inicia-se a prova com sensação de insegurança em relação aos textos que vêm
pela frente.
Destaque-se que, no texto do Ledor, há instrução de como deve ser lido o símbolo “cm2”.
515
O1702(n3f1) SsAa4
Convencional
Ledor
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A adaptação para o Ledor consiste em leitura de
expressões algébricas, que é feita de forma clara e precisa.
517
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Sob a alegação, bastante plausível, de que a descrição para o Ledor seria demasiadamente
longa, não houve conversão para o Ledor. Propõe-se que o aluno acompanhe com o tato as figuras
em um registro em Braille.
Na impossibilidade de decidir sobre cada crivo de análise, respondeu-se negativamente a
todos eles.
519
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da figura é simples e apresenta todos os elementos necessários à construção
da solução.
521
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
É indicada a forma de leitura de todas as expressões da questão, inclusive a de frações e
números negativos, mas uma das indicações é dúbia: “cinco vezes x elevado ao quadrado” pode
ser entendido como 5x2 ou (5x)2, mas a resposta encontrada no segundo entendimento não está
em qualquer das opções.
523
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Sim
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
Na descrição não há a informação de que D é o centro da circunferência do arco AC, e
nem de que C é o centro da circunferência do arco AB. A descrição da figura só se completa com
as informações presentes no enunciado convencional. A descrição é feita apresentando os
elementos da figura e suas posições relativas. Talvez a figura ficasse mais perceptível se fosse
apresentada a construção dos arcos.
Na última linha, menciona-se uma “região R” que no enunciado original é apresentada
como “região verde”.
Indica-se como deve ser lido “cm”, mas não “cm2”.
525
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Sim
A descrição para o Ledor indica como ler um produto com diversos fatores, mas não
indica como deve ser lida uma potência com expoente na ordem dos milhares. Pessoas sem
treinamento matemático leem essa potência de forma diferente, mas essas leituras diferentes não
chegam a trazer dificuldades.
527
Resolução
Crivo de análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição está bem-feita, permitindo a construção da figura com facilidade. A leitura
das frações presentes nas opções é indicada ao Ledor.
529
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Na descrição para o Ledor, a palavra “cubo” está usada no lugar de “dado”. Cubos não
têm faces numeradas, dados, sim. O ideal seria ter registrado “três dados com a forma de cubos”.
Na descrição do segundo dado, declara-se que sua face lateral direita é colocada na face
oposta a de número quatro, sem especificar que essa face de número quatro pertence ao primeiro
dado. Contudo, as imprecisões presentes na descrição não chegam a comprometer
substancialmente o entendimento do enunciado.
531
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição é feita de forma construtiva, ou seja, como se o quadrilátero estivesse sendo
desenhado do ponto A ao ponto D. Cabe destacar que ao declarar que o lado AB encontra-se na
horizontal, deveria ser dito que A está à esquerda de B. Trocando a ordem desses pontos, só se
percebe a troca por inconsistências geradas pela descrição. Outro ponto que merece destaque é a
instrução de que o registro AB̂C deve ser lido como “ângulo entre AB e BC”. Pouco mais a frente
na descrição aparece “ângulo ABC medindo 120o”.
Não é indicada a leitura dos símbolos “cm” e “cm2” nem a de 120o.
535
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Sim
7) Não
A descrição não corresponde à figura apresentada na versão convencional. Não é dito que
o ponto P encontra-se sobre o seguimento CD e descreve-se uma linha poligonal que passa por
A, B, C, P, D, E e F, o que leva a entender que se está diante de uma poligonal formada por seis
segmentos. Além disso, não é essa poligonal que se destaca na figura. É a poligonal ABCP com
um trajeto orientado de A para P. A descrição dos gráficos está bem-feita, permitindo identificar
a diferença entre eles. Valeria a pena, no gráfico da alternativa E, ter posto, na descrição da 2ª
parte, “linha” no lugar de “continua”, para manter a homogeneidade das alternativas.
537
Resolução
Crivo de análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
As descrições são simples e não deixam qualquer dúvida com relação ao objeto descrito.
539
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Apesar da presença de figura na questão, não há texto adaptado para Ledor. Alegando-se
complexidade na descrição, orienta-se o aluno cego a observar a figura com o tato em uma versão
em Braille.
Na ausência de descrição para o Ledor, optou-se por responder todas as questões do crivo
de análise negativamente.
541
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
De fato, não há uma figura que tenha referência com o enunciado. A
ilustração seve apenas para apresentar um exemplo numérico que poderia
ser apresentado perfeitamente sem a ilustração. A leitura do exemplo,
“dois elevado ao cubo menos dois” poderia deixar dúvidas se a expressão
é 23 – 2 ou 23 – 2, mas a continuação do texto, “igual a oito menos 2”,
dirime qualquer dúvida.
546
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição das figuras poderia ser feita sem a numeração das linhas e colunas, e, de fato,
em alguns momentos esse recurso é utilizado. Uma das funções da numeração apresentada é a
orientação do aluno na hora de comunicar a resposta obtida ao Ledor. A descrição apresentada
está condizente com a figura do enunciado convencional.
551
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da figura presente no enunciado está precisa, mas há um equívoco na
descrição da figura do item A. Nessa descrição, por três vezes a palavra “triângulo” é usada
referindo-se ao triângulo grande, aquele no qual estão as setas sobre seus lados. A última oração
começa com o pronome demonstrativo “esse” sem nenhuma referência de que esse pronome se
refere ao triângulo ABC. Desse modo, facilmente entende-se que o triângulo que está sombreado
é o grande, e não o ABC.
Por questão de homogeneidade, no item C, poderia ter sido usada duas vezes a expressão
“cinco raiz de três”, ficando “espaçadas de cinco raiz de três em cinco raiz de três”.
É indicado como um ponto deve ser marcado no sistema cartesiano, revelando a
possibilidade de o Ledor ser alguém sem treinamento matemático.
555
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A solução apresentada de indicar as bolas brancas com letras
maiúsculas e as azuis com letras minúsculas, conectando cada branca
com três letras em ordem alfabética, é magistral. A posição inicial da
azul correspondente à “a minúsculo” não foi dada, mas isso é
indiferente para a construção da solução.
560
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Na descrição da figura 1 do enunciado, tubo circular reto não é nome de sólido
geométrico. Deveria ter sido usado tubo com a forma de um cilindro circular reto, mas essa
imprecisão não gera dificuldades.
Uma informação desnecessária, e que leva a questionar se há outra possibilidade,
encontra-se na descrição da figura 2 e no item B. Uma circunferência tangente aos quatro lados
de um trapézio tem que ser interna ao trapézio.
566
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O que deve ser descrito é uma tabela de duas linhas. A bem da verdade, não há uma tabela
na questão, são dados dispostos em duas linhas com aparência de tabela. Se forem permutados os
elementos de qualquer linha, o problema não se altera, as colunas não têm significado. Dessa
forma, o que se fez foi tirar a aparência de tabela, aparência que é um apelo visual.
No texto do Ledor há uma justificativa (para o Ledor) da adaptação feita. Justifica-se a
não consideração da primeira coluna, na qual constam etiquetas, como dados tabelados.
568
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A fração contínua presente na questão foi descrita sem o uso de parênteses, mas com
apresentação de quem são os numeradores e os denominadores. A descrição é bem-feita e precisa.
570
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Sim
7) Não
A complexidade na descrição do gráfico levou à opção de transformá-lo em tabela, o que
é perfeitamente factível, dado que as informações relevantes para a construção da solução são
valores numéricos inteiros associados a pontos do gráfico. Entretanto, essa opção modificou a
questão.
572
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A solução do problema fundamenta-se na proporcionalidade da altura da coluna de água
e do volume contido na jarra. Essa proporcionalidade existe porque a jarra é um cilindro, e essa
informação não aparece no texto do Ledor. Se a jarra fosse um tronco de cone, formato comum,
a proporcionalidade não existiria. O formato da jarra deve ser pressuposto pela pessoa com
deficiência visual através dos limites dos dados presentes no enunciado e na descrição, mas a
dúvida aparece.
574
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O texto do Ledor consiste da orientação de como devem ser lidos “(EU)2 = MEU” e de
como deve ser lido “M + E + U”, descrições feitas de forma precisa e clara.
576
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Duas expressões algébricas foram convertidas em textos. A conversão da primeira não
apresenta qualquer problema. O texto da conversão da segunda é “fração de numerador x e
denominador y mais fração de numerador y e denominador x”, que pode ser entendida como
𝑥𝑦 + 𝑦𝑥 ou 𝑥𝑦+𝑦𝑥 ,
o que gera uma dúvida no texto do Ledor.
578
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Há um par ordenado, (0, p), que não é transformado em texto na prova do Ledor. No
entanto, não se classificou a questão como não tendo convertido todo o texto da prova original,
orientação seguida nesse trabalho.
A conversão da figura, a parábola y = x2, apresenta todos os elementos relevantes à
construção da solução. A conversão nomeia os pontos de abscissas –2 e 3 de B e C,
respectivamente. Esses pontos não são nomeados no texto convencional, mas essa identificação
facilitou a apresentação do ponto A como interseção do segmento BC com o eixo y. O uso do
pleonasmo “abscissa no eixo x” elimina dificuldades que possam ser geradas pelo termo
“abscissas” que não se encontra no texto convencional.
580
Resolução
Crivo de Análise
1) Sim
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição feita não identifica as posições relativas das regiões, mas identifica três
regiões idênticas às presentes na figura. Além disso, a não identificação das posições relativas
facilitou a descrição da figura.
Nas opções, encontram-se:
C. c igual a duas vezes a mais b,
que pode ser entendido como c = 2a + b ou c = 2(a + b), e
E. c igual a duas vezes a menos b,
que pode ser entendido como c = 2a – b ou c = 2(a – b).
O problema não é grave porque o gabarito é a opção A.
582
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A figura sintetiza as informações presentes no enunciado. A única informação nova é que
a primeira e a última vagas só possuem lado comum com uma das outras vagas e as demais com
duas das outras vagas. Apesar de a informação não deixar essa informação explícita, declara que
“cada retângulo tem um lado comum com o anterior”. Assim, o primeiro retângulo não tem
anterior, e o último não é anterior a nenhum outro.
584
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O enunciado convencional descreve a figura, faltando apenas indicar que os pontos P, Q,
R e S encontram-se sobre os lados AB, BC, CD e DA. Essa falta é suprida no texto do Ledor.
As frações e outras notações presentes no texto convencional são simples e convertidas
em texto de forma precisa no texto do Ledor.
586
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Não se justifica uma orientação ao Ledor de como ler 360 = 90 + 120 + 150. O texto do
Ledor poderia não existir sem qualquer prejuízo.
588
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A figura é uma síntese do enunciado, não traz informação nova alguma. A bem da
verdade, ela pode orientar a construção da solução através da apresentação de lados do polígono
que cortam o quadrado em dois pontos, em um ponto e em nenhum ponto. No texto do Ledor
essas informações não aparecem. Dessa forma, no texto do Ledor, a descrição da figura poderia
ter sido suprimida sem perda alguma.
590
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O único elemento a ser convertido na prova do Ledor é a representação
2018 218 38 11 2
que é um exemplo de uma sequência possível. A conversão dessa representação é precisa e clara.
O1820(n3f1) SnAa2
592
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Não há motivo para existência do texto do Ledor. As únicas conversões foram números
decimais com uma casa decimal.
594
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
O texto do Ledor orienta leituras bastante simples e poderia, sem prejuízo algum, não
existir.
597
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da figura foi magistral, estabelecendo os centros das circunferências a partir
de um triângulo retângulo e segmentos paralelos aos seus lados.
599
Resolução
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
Não se identifica por qual motivo a substituição de # (cerquilha) por (asterisco) e de
@ (arroba) por (bola) facilitou a leitura das expressões. De fato, introduziu um cuidado a mais
na leitura dos textos por parte do Ledor.
A leitura das expressões não deixa dúvidas sobre cada uma delas, inclusive, com a escolha
do texto “a elevado ao quadrado mais b elevado ao quadrado”, não há dúvidas de que se trata de
a2 + b2. Se o texto fosse “a elevado a dois mais b elevado a dois”, seria possível entender a2+b2
ou a2+b2.
Vale destacar que no item c das instruções ao Ledor há a instrução de como deve ser feita
leitura do par ordenado (a, b). Em outra questão dessa mesma prova (O1808(n3f1)) essa
orientação não existiu.
603
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Sim
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição da figura no texto convencional é mais clara do que a feita no texto do Ledor.
No item a do texto do Ledor é apresentada a interseção dos paralelogramos BPQR e CSPQ
gerando o triângulo PQT que não cumpre função na construção da solução; a ordem dos vértices
dos paralelogramos (BPQR e CSPQ) é trocada em relação ao texto convencional (PBRQ e PSCQ).
No item b do Ledor, em vez de apresentar o quadrilátero PBCQ como sombreado, destacam-se,
sem justificativa, os paralelogramos BPQR e CQPS e a interseção desses paralelogramos. A
ordem dos vértices desses paralelogramos (BPQR e CQPS) é distinta da ordem apresentada no
texto convencional (PBRQ e PSCQ) e da ordem do item a (BPQR e CSPQ). A descrição dificulta
a construção da figura.
606
Crivo de Análise
1) Não
2) Não
3) Não
4) Não
5) Não
6) Não
7) Não
A descrição seria “a figura é um tabuleiro retangular 9x2018”, o que está presente no
enunciado convencional. Justifica-se a ausência de texto do Ledor.
607
19 – Íntegra da entrevista com coordenador/tutor de um curso de formação de Ledores
Era grande minha expectativa com respeito à entrevista que seria feita com Dário Aguirre,
responsável pelo curso Grupo Incluir de capacitação de Ledores e Transcritores. Por e-mail,
combinamos a data da entrevista que se realizaria em Brasília. Eu pedi que ele me enviasse o local
e a hora do encontro que eu estaria lá. Dário pediu a hora de chegada de meu voo, foi buscar-me
no aeroporto e levou-me de carro até um restaurante muito agradável no extremo da Asa Sul em
Brasília. Sentamos e eu mostrei-lhe um roteiro de entrevista com algumas perguntas que foram
elaboradas para servir de norte par a conversa que deveríamos ter. Com fluência, precisão e
propriedade, ele começou a responder cada uma das perguntas. Minhas interferências foram
poucas, limitando-se a esclarecer um ou outro ponto que me pareceram pouco claros. Diante da
irrelevância das interrupções que fiz no discurso do Dário, decidi retirá-las no momento da
transcrição da gravação feita.
A entrevista e a generosidade de Dário superam todas as minhas expectativas, e o
resultado é o texto que segue.
1) Como você se envolveu com a preparação de Ledores? Você atua nesse campo há muito
tempo?
Minha história com Ledores começou em 2000 ou 2001, quando, efetivamente, eu era
intérprete de libras e um dia fui convidado a trabalhar em um concurso como Ledor. Na época,
era muito comum, aliás, ainda é muito comum erros das operadoras e organizadoras em destinar
o recurso para a pessoa certa. Naquele dia, há praticamente 18 anos atrás, houve um desses erros:
embora eu fosse intérprete de Libras fiquei sabendo na hora de atuar que minha atuação seria
junto a uma pessoa com cegueira
Não tenho uma explicação para isso a não ser pura e simplesmente um erro da operadora.
Diante disso, eu consultei o coordenador e ele disse que era para eu atuar assim mesmo. Naquele
dia, pela primeira vez, eu atuei com Ledor, especificamente um Ledor de provas. Isso foi em
2001. Até então, eu tinha bastante experiência como intérprete de Libras em concursos. Fui
intérprete de Libras em concurso desde 96. Foram cinco anos atuando como intérprete de Libras,
quando pela primeira vez explodiu essa ideia de trabalhar como Ledor. Isso me deixou meio
chocado, porque, de início, eu não sabia o que fazer e o pessoal falava “é só chegar lá e ler”.
Movido por esse sentimento de que era só chegar lá e ler, eu fui. E o que eu vi nesse
atendimento não foi isso. Naquele dia, eu vi a complexidade que é você ler uma prova, não é uma
coisa tão simples assim. Daquele momento em diante, eu comecei a atuar como Ledor e vi
praticamente todas as transformações. Brasília, que é a cidade na qual eu comecei, sempre foi
608
considerada uma cidade muito amiga das pessoas com deficiências no que tange à educação. A
estrutura da educação pública de Brasília estabelece que cada bairro tenha uma escola especial,
isso quando ainda era Educação Especial. Brasília foi a primeira cidade do Brasil a transformar
todas as 642 escolas públicas em escolas inclusivas. Hoje Brasília sozinha detém mais salas de
recursos do que, por exemplo, o estado do Maranhão. A cidade de Brasília tem mais salas de
recursos instaladas nas escolas públicas do que salas de recursos instaladas em um estado da
Federação. Aqui há uma preocupação com as pessoas que tenham necessidades especiais muito
grande.
Diante disso, eu comecei a atuar como Ledor e nessa atuação, em um primeiro momento,
eu atuava somente com pessoas com deficiência visual. Éramos convidados a trabalhar com cegos
ou pessoas de baixa visão. Por volta de 2004 ou 2005, esse cenário começou a mudar. De repente,
começamos a ser chamados para trabalhar com pessoas com síndrome de Down, autismo, e com
outras deficiências, até mesmo deficiências físicas, e algumas delas bem complexas, como
pessoas não verbais. Essas atuações ocorriam principalmente nas provas do ENEM4.
O processo de concurso é muito demorado. Chega-se cedo e fica-se um bom tempo sem
fazer nada até a hora do candidato ou participante efetivamente chegar. Nesse tempo, em que
ficávamos parados esperando a pessoa chegar, sem ter muito o que fazer, começamos a conversar
com as outras pessoas que iam trabalhar como Ledor. Era sempre a mesma história: ninguém
sabia direito o que deveria fazer e a forma de convocação das pessoas era meio nebulosa. Por
algum motivo que eu não sei explicar, o Ledor sempre ganhou mais do que as outras pessoas que
atendiam os candidatos.
Em algum momento, alguém julgou que as ações do Ledor eram mais complexas e, por
conseguinte, a remuneração teria que ser melhor. Isso gerou um problema sério na convocação
de quem ia ser Ledor. Ao invés de incentivar que pessoas com mais qualificação trabalhassem,
incentivou que pessoas com maior relação com os coordenadores trabalhassem. O fator qualidade
começou a perder força, e isso gerou um grupo de Ledores que não só não sabiam o que fazer,
mas também não tinham conhecimento da área a qual a prova se referia. O Ledor chegava para
ler uma prova, por exemplo, de Direito e errava na leitura simples de termos jurídicos. Com isso,
a qualidade dos Ledores caiu vertiginosamente.
Eu atribuo essa queda de qualidade a dois fatores. O primeiro foi o aumento do número
de atendimentos. Se todos os que trabalhavam como Ledores atuassem, não seria possível o
atendimento de todas as solicitações. Assim, começaram a chamar mais pessoas para atuar como
Ledores. E o critério de chamadas dessas pessoas, pelo fato de ter uma remuneração um pouco
melhor, não era um critério técnico, era um critério de relacionamento pessoal, era o filho, o
amigo, era o sobrinho, era a namorada. Esse tipo de critério era muito comum na chamada dos
4Exame Nacional do Ensino Médio
609
Ledores, até porque ninguém acreditava que fosse necessário grande conhecimento técnico para
atuar como Ledor. Uma coisa importante de ser dita é que muita gente desistiu de ser Ledor na
primeira participação. A pessoa, quando via o nível de complexidade da atuação, concluía: isso
não é para mim. De fato, isso acontece ainda hoje. Há gente que investiu no curso de formação
de Ledor, pagou o curso, se encanta pelo curso, faz o curso, vai bem no curso, ou seja, devolve
um produto interessante, vai para a sua primeira atuação, vê o nível de complexidade e fala: “isso
não é para mim; não eu não vou assumir essa responsabilidade”. Isso já acontecia no início,
mesmo com a ideia de que é só chegar lá e ler.
Na época, havia um grupo de pessoas que atuavam sem qualidade técnica, porque não
sabiam o que fazer e não tinham qualidade de conhecimento geral para atuar na prova, que são as
duas coisas que formam, no meu ponto de vista, o Ledor. Não basta ele ter o conhecimento geral
e não ter a técnica, mas também não adianta ele dominar completamente a técnica e não ter um
conhecimento geral. Se ele não sabe o nome de uma fórmula, não sabe ler parágrafo, se não sabe
o símbolo do parágrafo, ele não vai ler uma prova jurídica. Ele vai dizer “aquela coisinha, aqueles
dois ss”, e isso não funciona. Tem-se que saber o nome, a nomenclatura, os símbolos. O Ledor
soma essas habilidades.
Na época inicial não se tinha nenhuma das noções: não se tinha a qualidade técnica nem
o conhecimento geral. Foi quando começamos, por volta de 2007, eu e a professora Carla, a
montar um grupo de Ledores. Era um grupo de amigos que se comunicavam através de celular.
Não havia nada parecido com um CNPJ. De tanto trabalhar nas provas, essas pessoas acabaram
se conhecendo. A partir de então, as operadoras começaram a entrar em contato com o grupo. Isso
ocorreu aqui em Brasília. Não sei se houve ocorrência semelhante em outro lugar, mas, se houve,
não temos notícias. Acabamos assumindo a liderança desse grupo de professores, aqui em
Brasília, e as operadoras ligavam direto para mim perguntando se eu indicava um Ledor para a
prova A, para a prova B.
De tanto eles ligarem, não havia mais gente para indicar. Chegamos a trabalhar com 140
Ledores, 150 Ledores em uma prova. Nos primeiros anos do governo Lula, por exemplo, eram
concursos grandes e não tínhamos esse cadastro todo. Foi quando sentimos a necessidade de fazer
um roteiro de atendimento, foi a primeira coisa que surgiu. Fizemos um documento, na época,
que era “Boas Práticas de Leitura”, isso em 2005 e 2006. Esse documento foi trabalhado junto ao
Cespe5, na época uma das maiores operadoras de concurso do Brasil, e que é sediada aqui em
Brasília. Nós mostramos esse documento para o Cespe, e ele gostou do documento. Havia um
professor chamado Marcos Paulo, que de posse dessas orientações, acabou publicando-as como
um artigo científico sobre como se deve ler uma prova.
5Centro de Seleção e de Promoção de Eventos da Universidade de Brasília
610
Logo após a publicação desse trabalho, começamos um segundo ponto. Observando que
a simples leitura do documento “Boa Práticas de Leitura” não estava surtindo o efeito desejado,
decidimos pela constituição da primeira turma de um curso de formação de Ledores, no início de
2008. Sistematizamos aquelas boas práticas, tomamos por base nosso empirismo, nossas ações
em sala de aula, e transformamos isso em um curso. Demos a primeira formação de Ledores em
março de 2008, aqui em Brasília. Esses primeiros Ledores que passaram pelo curso começaram a
atuar. O público e as operadoras daqui tiveram uma surpresa muito grata, porque além de não
terem reclamações, o que ocorria antes, passaram a ter elogios sobre os Ledores que estavam
atuando. Isso não se deu pelo fato dos Ledores serem bons. Preparar uma pessoa, explicar o que
é um cego, apresentar dicas muito simples, era suficiente para criar um diferencial. O curso
daquela época era muito simples perto do que se faz hoje, mas aquele primeiro passo foi
importante para que o Ledor entendesse o que era o universo da leitura. Dessa forma, esse
primeiro curso teve uma repercussão boa e logo em seguida tivemos uma segunda turma, uma
terceira turma.
O Cespe encomendou a criação de quatro turmas de Ledores para o Enem de 2008. Essa
iniciativa partiu do Cespe porque, na época, ele fazia parte do consórcio organizador do Enem e
a cidade de Brasília era responsabilidade deles. As condições para criação do curso de Ledores
faziam-se presente: a sede do Cespe era em Brasília, a sede do Inep6era em Brasília, a fiscalização
do Inep era em Brasília, e nosso trabalho era em Brasília. O Cespe disse: eu quero que vocês
peguem essa tecnologia de concurso e façam um trabalho para o Enem. Assim, montamos o
primeiro curso de Ledores do Enem paro o Cespe. Era um curso fechado. O Cespe indicou quem
eram as pessoas que participariam do curso. Basicamente os participantes eram estudantes da
UnB (Universidade de Brasília), e foi um dos melhores cursos que até hoje nós fizemos. Isso
porque reuniu um público que estava a fim de fazer: universitário de uma universidade federal,
normalmente estudantes do primeiro semestre, que tinham interesse em participar.
O dinheiro que eles iriam ganhar era significativo e envolvia uma área na qual eles
queriam trabalhar. Eles estavam completamente motivados, o que propiciou um curso muito bom.
Em 2008 foi feita a aplicação da prova com esses Ledores. Eu cheguei a ser chamado para ser
coordenador de aplicações especiais aqui em Brasília, pelo Cespe. Esse curso deu muito certo, e
o Inep gostou do trabalho. O pessoal que foi formado em 2008 atuou em 2009, e o Inep fez uma
fiscalização da aplicação nesse ano. Um dos técnicos que tratavam da fiscalização gostou do que
viu, gostou do trabalho sério que foi feito e convidou, eu e a professora Carla, a ministrar um
curso para o Inep. Nós montamos um curso de Ledor para o Inep. Explicamos ao Inep o que um
Ledor fazia, sob a nossa perspectiva daquela época (isso em 2009). O Inep gostou tanto do que
foi feito, que no ano seguinte eles incluíram na contratação das operadoras que elas teriam que
6Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Legislação e Documentos
611
fornecer curso de Ledor. O que era, até então, uma ação pontual do Cespe, passou a ser uma
obrigatoriedade não só do Cespe, mas dos dois lados do consórcio. O Cespe, em um primeiro
momento, não gostou do que estava acontecendo, achou que não era interessante, porque uma
coisa é aplicar aqui em uma cidade, e outra coisa é espalhar isso nacionalmente, 27 Estados e
1632 municípios, uma logística impensada para 2010. Entretanto, a outra parte do consórcio, a
Fundação Cesgranrio7, abraçou essa ideia.
A Cesgranrio conversou conosco e disse que aplicaria esse curso de Ledor em todos os
Estados. Eu mesmo não tinha dimensão do que era isso. Quando me foi dito que o curso seria
ministrado em todos os Estados eu pensei “legal, nós vamos visitar todos os Estados”. Jamais
imaginamos que naquele ano iríamos formar mais de dez mil pessoas. Aí começou a se estruturar
a forma que o curso tem hoje. Eram dez mil treinamentos e nós não sabíamos direito as regras
que deveriam ser usadas. Fomos fazendo os cursos e, na medida em que fomos aplicando e
reaplicando os cursos, ele foi se aperfeiçoando, até chegar ao formato que tem hoje, que, no meu
entender, é um dos formatos mais próximo do que é efetivamente o atendimento feito por um
Ledor, as ações que efetivamente vão resolver os problemas que aparecem, e atendimentos não
apenas a pessoas com deficiência visual, mas a outros tipos de atendimentos que foram sendo
agregados com o tempo. Assim, o curso explodiu nacionalmente. De 2010 até hoje já formamos
mais de 70 000 Ledores espalhados por todo o Brasil.
Há casos interessantes de se observar. Tomemos, por exemplo, a cidadezinha de Breves,
no interior do Amazonas. Breves é um município de quatro mil habitantes. Na região na qual ele
está, é o maior município. Portanto, é um polo do Enem. O Ledor de Breves só trabalha no Enem.
São dois Ledores na cidade que trabalham uma vez por ano no Enem. Eles foram formados, eles
têm uma expertise e atuam somente no Enem. Isso é diferente de um Ledor em Brasília, que é a
capital dos concursos. Agora nem tanto, devido a temporalidade, mas nós tínhamos aqui
concursos todos os fins de semana. Aqui há pessoas que desde 2010 viveram como Ledores, a
profissão dele era ser Ledor. No final de semana trabalhava-se duas ou três vezes, atuando em
eventos aos sábados de manhã e à tarde, ou em eventos no domingo. Chegava a trabalhar em três
eventos em um final de semana, e às vezes tendo que dispensar outros. Durante muito tempo isso
aconteceu aqui em Brasília. Com essa efervescência, Brasília fomentou a pesquisa sobre Ledores.
Não desmerecendo outros Estados e outras cidades, mas Brasília ficou como ponta de lança,
propiciando estudo e construção do processo de formação de Ledores.
2) Você sabe dizer como as pessoas com deficiência visual participavam das avaliações
(vestibulares, avaliações públicas) antes da ação dos Ledores?
7Centro de Seleção de Candidatos ao Ensino Superior do Grande Rio
612
Sei. Na verdade, não existe a participação antes dos Ledores: sempre que houve uma
avaliação, fez-se necessária a presença do Ledor. Uma pesquisa que eu fiz revela a primeira ação
oficial de um Ledor atuando junto a um cego que prestou provas para o ensino superior em 1958.
Essa pessoa tem um livro falando sobre a sua experiência. Até 1958 não se entendia que uma
pessoa cega pudesse cursar o que hoje é o Ensino Médio. Essa pessoa, Edson Lemos, concluiu a
Educação Básica na época e foi impedido de ingressar no Ensino Médio por ser cego. Então, ele
entrou com um processo junto ao Ministério da Educação, ao Conselho Nacional de Educação,
formulando um pedido de ingresso no Ensino Superior. O parecer do Conselho Nacional de
Educação é interessante e está disponível na internet e no livro do Edson Lemos. No parecer
consta “não levando em consideração fatores acadêmicos...”, ou seja, mesmo dando parecer
favorável a que ele frequentasse o Ensino Médio, o próprio Conselho não concebia que um cego
fosse capaz de ser bem-sucedido em seu desempenho acadêmico; o parecer despreza a
competência acadêmica. É mais ou menos assim: pensando socialmente, no direito da pessoa, eu
até vou deixar esse “cara” entrar. Não se parte do princípio de que ele era uma pessoa que cumpriu
todas as metas necessárias para estar ali.
É essa, ainda, a falta de entendimento muito frequente quando se aborda os direitos das
pessoas com deficiência. Se uma pessoa com deficiência vai fazer uma prova de concurso, vai
fazer um vestibular, é ponto pacífico que essa pessoa preenche os requisitos que o edital está
colocando. Não é cabível se colocar em dúvida se essa pessoa tem ou não tem competência para
estar ali. Ela já está comprovando a competência por estar se inscrevendo para fazer a prova. Ao
se colocar para fazer a prova, ela já tem a competência. Esse é um entendimento que até hoje
persiste: olhar para pessoa com deficiência com o mito da incapacidade. É como se a parte do
corpo que apresenta a deficiência refletisse a incapacidade completa daquela pessoa.
Seja uma deficiência visual, auditiva ou uma amputação, aquilo que falta não resume o
que aquela pessoa é. Uma pessoa é mais do que sua deficiência, e devemos olhar menos para o
que nela está ausente. Se uma pessoa não tem um braço, o que isso impede que ela tenha um bom
desenvolvimento de leitura, de estudos? Nada! O cego também sofre com esse mito da
incapacidade. Nossa relação com os olhos é muito forte. Nossa cultura é muito ligada à visão, e,
hoje em dia, essa ligação é mais asseverada ainda. Eu costumo brincar muito com relação ao meu
pai. Meu pai era um homem da época dele. Quero dizer com isso que ele era machista, uma
concepção que, graças a Deus, algumas pessoas já deram um passo à frente, mas ele era um
homem da época dele. Ele tinha uma frase que me marcou e marca até hoje: “ô, meu filho, isso
parece revista de mulher”. Revista de mulher era uma revista que só tinha foto, não tinha texto.
Na cabeça de meu pai, alguma coisa que só tivesse fotos, não tinha profundidade. Imagina meu
pai vivendo na época de hoje, na qual, por vezes, o texto ilustra a foto, não é a foto que ilustra o
texto. Houve uma transformação social sim, e essa transformação passa pelo visual. Isso dá a
impressão de que a pessoa sem a competência visual, hoje em dia, está mais deslocada ainda na
613
sociedade. Essas transformações sociais ligadas ao visual justificam todos os trabalhos de
formação de Ledores.
Voltando à pergunta sobre a participação de pessoas com deficiência visual em provas de
concursos, sempre houve alguém que lesse a prova. Em um primeiro momento, usava-se o Braille,
mas o Braille apresentava um problema que era o cansaço do dedo. O tato da pessoa se reduz.
Conforme vai lendo, ela vai perdendo a sensibilidade nas pontas dos dedos, e essa perda de
sensibilidade vai dificultando a leitura. Dessa forma, dependendo do tamanho da prova, a pessoa
não conseguia terminá-la e alguém tinha que ser convocado, na correria, para terminar de ler a
prova para o participante. Nesse primeiro momento não havia qualquer tipo de adaptação.
Só que há um ponto chave a destacar: as provas não tinham imagens. Eram raríssimas as
provas com imagens, e esse é um ponto importante. Se analisarmos alguma prova dos anos 80 ou
dos anos 90, até 94 ou 95, encontraremos imagens, talvez, em Matemática, algum poliedro,
alguma coisa simples, ou uma fórmula química, mas as provas de Humanas eram textos do início
ao fim. A imagem era algo raro, a imagem era exceção. Isso sofreu uma subversão hoje em dia,
agora a imagem é a regra. Lá naquela época, o Ledor tinha uma maior facilidade no transporte do
texto escrito para o oral porque a exigência de percepção visual dentro da prova era menor, haja
vista que, teoricamente, bastava ler as informações escritas. Ele não tinha nenhuma ação com
apelo semiótico tendo que converter uma imagem em um texto oral.
A ausência de imagem era reflexo das limitações gráficas. Na época ainda havia provas
que eram impressas em tipos. Digamos que o processo de confecção física da prova era mais
artesanal. Não havia computadores que editassem imagens gráficas. Era uma coisa que dependia
de réguas e desenhos feitos manualmente, e muitas vezes as próprias organizadoras não adotavam
esses trabalhos. Diante disso, para o Ledor, o trabalho era mais fácil, e vários fatores confluíam
para isso.
As pessoas com deficiência sofriam o mito da incapacidade, raríssimas chegavam ao
ponto de participar de um vestibular ou de um concurso. As poucas que conseguiam chegar eram
altamente treinadas, porque tinham que vencer o descrédito e estudavam para chegar ao ponto
que tinham que chegar. Era um processo que produzia um sujeito mais preparado para aquele
momento. Havia, também, um Ledor mais preparado, porque o número de pessoas que fazia a
prova era pequeno e, normalmente, os Ledores eram buscados entre os professores dessas pessoas,
ou seja, eram Ledores que tinham uma intimidade maior com as pessoas com deficiência. A
pessoa com deficiência que chegava a esse patamar tinha uma qualidade técnica muito maior
porque venceram um processo mais rígido, não havia inclusão.
Com a implantação da inclusão, geraram-se novas dimensões. Uma dessas dimensões é
dada por um número maior de pessoas chegando ao final do processo, mas isso não significa que
elas estavam mais bem preparadas. Democratizou-se o acesso, mas não se qualificou o acesso.
Hoje há um maior número de pessoas que chega à condição das provas, mas isso não é compatível
614
com a qualidade do que elas estão fazendo nessas provas. Com esse aumento do número de
participante, aqueles que eram os professores e que atuavam como Ledores não eram suficientes
para atender a todos. Tornou-se necessário agregar a essa equipe pessoas que não eram
professores daqueles com deficiências e que não conheciam a rotina do lidar com eles.
O cenário diferenciou-se. Há pessoas não tão preparadas, atendidas por Ledores não tão
preparados diante de uma prova mais complexa. O participante sabe menos, o Ledor sabe menos
e a prova exige mais, porque agora a prova exige uma leitura entre artes: deve-se pegar uma arte
gráfica e transformar em uma arte de texto; deve-se pegar uma fórmula química e trabalhar com
isso.
Hoje em dia, provas temáticas são muito mais tranquilas para se trabalhar, para se atuar
como Ledor. Em uma prova temática, provas específicas de uma área, como Direito, Eletricista
ou Contabilidade, o Ledor tem condições de estudar e se preparar para atuar. Ele tem como
aprofundar o conhecimento da nomenclatura usada na área. Além disso, em uma prova que tenha
muito apelo à Matemática, pode-se até selecionar os Ledores que vão para aquele campo. Não se
vai selecionar uma pessoa de Humanas para ler uma prova de Engenharia. Por outro lado, pense
no Enem ou em um vestibular. Em provas amplas como essas, não se tem muito o que fazer.
Prova do Ledor institucionalizada só há duas: a do Inep e a do Cespe. A Fundação
Cesgranrio depende do contrato, se a contratante quiser, ela faz, ou seja, é um serviço disponível.
O Cespe, por sua vez, não abre mão de ter a prova do Ledor. A Fundação Getúlio Vargas começou
a adotar a prova do Ledor desde que começou a trabalhar no Enem, mas também está adotando
enquanto produto vendável, não como regra geral.
As aplicações de provas de vinte anos atrás só guardam relações com as aplicações atuais
pelo fato de existir uma prova. Não há mais como encontrar quase relação alguma entre essas
aplicações. As tecnologias das provas mudaram, o formato da prova mudou, o tipo de Ledor
mudou, tudo mudou. Temos outros desafios daqui para frente.
3) O Inep está usando dois Ledores em sala de atendimento?
A recomendação é para que se use, mas há uma diferença entre o que é recomendado e o
que é executado. Contratualmente são dois Ledores. Não só tecnicamente é mais interessante,
mas em termos de cansaço é aconselhável. Quando se pergunta o porquê de dois Ledores na prova,
e alguém declara que é para o Ledor descansar, retrucamos que não há preocupação, nesse sentido,
com o Ledor. São necessários dois Ledores para que se passe com maior velocidade o conteúdo
da prova para a pessoa com deficiência. É óbvio que a presença de dois Ledores beneficia os
Ledores, mas o objetivo de dois Ledores não está centrado no cansaço dos Ledores, e sim maior
velocidade na passagem de informação. É gerar a possibilidade de o Ledor dar uma lida na questão
antes de fazer a leitura para a pessoa com deficiência, uma vez que a prova é inédita. O processo
615
é: abre-se o lacre da prova, pega-se a prova e se começa a ler. Se houver a chance de dar uma lida
na questão antes de lê-la em voz alta, têm-se condições de preparar uma estratégia de leitura e
apresentação da questão.
Em 2017, no Enem, houve uma asneira significativa. Estou usando o termo “asneira”
porque há tanta coisa que pode ser economizada e se buscou economia no lugar em que não se
deveria. Por uma determinação de economia da administração do Inep, eles passaram a
disponibilizar uma única prova em cada sala com presença de Ledor. Isso matou a ação dos dois
Ledores. Acabou que ficou sem função ter os dois Ledores. Agora, o pacote de prova vem com a
prova do candidato no formato que ele pediu e uma prova para o Ledor.
Sendo irônico no que vou dizer: deve ter sido isso que salvou os gastos do Enem naquele
ano. Foi uma economia sem sentido, visto haver outras formas de buscar essa economia. Sabe-se,
por exemplo, que o número de provas excede o número de candidatos. Para os seis milhões de
candidatos que vão participar esse ano, serão impressas nove milhões de provas. Em vez de cortar
a prova do Ledor, que se corte 500 mil provas da reserva, e a economia seria mais eficiente,
porque 500 mil provas serão descartadas, literalmente descartadas. Essas provas extras são
produzidas para suprir possíveis eventualidades: caso algum carro vire, caso algo excepcional
aconteça... Uma redução, pequena que fosse, dessa reserva geraria a economia desejada, e a
manutenção da segunda prova do Ledor não precisaria ser cortada. Julgo que olharam para uma
planilha e cortaram gastos sem efetivamente entenderem sobre o que estão fazendo: isso aqui não
... não precisa de duas, uma é suficiente.
Só que quem cortou não sabia qual o motivo que levou a ter duas provas. Mesmo tendo
dois Ledores, após abrir o pacote de provas, para a primeira questão não há solução, vai ter que
ser lida de supetão. Entretanto, enquanto um Ledor está lendo a primeira, o segundo Ledor pode
estar preparando a leitura da segunda, mas, para isso, são necessárias duas provas. Com uma única
prova, só seria possível se o segundo Ledor ficasse olhando por cima do ombro do primeiro
enquanto ele lê.
4) Qual a maior dificuldade encontrada na preparação de Ledores?
Separar o público. A esmagadora maioria daqueles que aportam no nosso curso não tem
ideia do que é o Ledor. Normalmente eles se encaminham ao curso para trabalhar como Ledores.
O pensamento de quem procura o curso deveria ser: eu sei o que um Ledor faz e quero me tornar
um Ledor. No entanto, a regra é: eu fui convidado para trabalhar como Ledor e vou fazer o curso.
Gera-se um problema sério: as pessoas que vão até o curso, muitas vezes, não têm o
conhecimento geral necessário para trabalhar como Ledor. Nós acreditamos que, para um Ledor
ter competência, ele precisa ter um conhecimento geral mais amplo. Quanto mais amplo for o
conhecimento geral de um Ledor, mais ferramentas ele vai ter para sua atuação. Por outro lado,
616
as técnicas de Ledores não demandam esse conhecimento geral. Assim, dependendo do nível da
prova, um Ledor de formação de nível médio consegue atuar. Não é possível descartar um Ledor
de nível médio devido à provável ausência de conhecimento geral amplo, porque ele tem
competência para ler uma prova de nível médio.
Para formação de Ledores, torna-se um problema conciliar esse público que não tem essa
formação acadêmica necessária para atuar em provas. É como se o curso formasse excelentes
marceneiros que não sabem os nomes das madeiras. Ele é, ou não, um excelente marceneiro? Na
técnica de marcenaria, na parte dos entalhes, ele é perfeito, mas ele não sabe o nome das madeiras,
que é a parte da cultura geral, entretanto, essa seleção não deveria ser feita pelo curso de Ledor,
entendo que a seleção deve ser feita por quem chama.
A operadora, a organizadora, é quem tem de ver se a pessoa convocada tem nível médio
e se tem condições de atuar na leitura da prova para a qual foi convidado, não é o curso que tem
de cortar essa pessoa. De fato, na pesquisa que fizemos sobre os Ledores do Enem, verificou-se
que mais de 50% são pós-graduados, vão além de graduados. O número de Ledores com nível
médio é pequeno, mas existem. Quando você vai pensar em política nacional, há de se tomar
alguns cuidados. Se a formação do Ledor começar a ser muito restringida, existirão municípios
nos quais não haverá quem indicar. A maior dificuldade é a falta de capacidade de alguns Ledores
de dominar as nomenclaturas exigidas, mas, se ele apresentar as técnicas necessárias, abrimos
mão da nomenclatura. Não há muito o que fazer.
5) Qual a maior dificuldade encontrada pelos Ledores nas suas ações?
Basicamente são duas. A primeira é não saber lidar com a pessoa com deficiência. A
sociedade brasileira não treina ninguém para isso. É interessante notar que muitas pessoas entram
no curso, querem ser Ledores, mas nunca estiveram diante de uma pessoa com deficiência, nem
sequer para conversar. Quando são perguntados sobre pessoas com deficiências, escuta-se: “o
meu vizinho tinha um filho que tinha deficiência ...”
A pessoa com deficiência é uma coisa muito irreal para eles, não houve o contato mais
próximo com pessoa com deficiência e eles não sabem direito como atuar. Assim, acaba-se
tomando um supercuidado com a pessoa com deficiência. Esse supercuidado é perigoso porque
pode gerar ações que não pertencem à rotina do Ledor, em geral com um beneficiamento que não
deveria existir.
Nos cursos antigos, os que não eram encomendados pelas organizadoras, nós falávamos
muito da necessidade de treinar a cabeça do Ledor para que ele tivesse bom senso, e treinar alguém
para ter bom senso é difícil. O que é o bom senso? Imagine que se está numa prova e a pessoa
que está sendo atendida diz que quer dormir meia hora e pede para o Ledor acordá-la após essa
meia hora. Alguns Ledores diriam que não pode dormir. Eu sempre perguntei por que não pode
617
dormir. O trabalho do Ledor está associado ao trabalho do grupo de participantes do concurso. O
objetivo do Ledor, afinal, é suprir a necessidade que a pessoa atendida tem de executar a mesma
coisa que os outros. Em resumo, é esse o trabalho do Ledor: ele está diante de uma pessoa que
não enxerga e essa pessoa precisa ler. O outro tem o direito de ler a prova e a pessoa que não
enxerga deve ter o mesmo direito, mas ela não enxerga. Destaca-se uma pessoa para ler para ela.
Entretanto, com relação as outras coisas que são concernentes aos demais, ela possui as
habilidades para realizá-las.
Imagine que em uma sala na qual estão trinta pessoas, alguém resolve baixar a cabeça e
dormir. O fiscal vai acordar aquele que está dormindo? Não vai. Se o participante resolver dormir
o problema é dele. Por que seria diferente com uma pessoa com deficiência? Se a pessoa atendida
resolver anular a prova, o problema é dela. O Ledor precisa ter esse discernimento. Ele tem que
entender que aquela pessoa que está na frente dele tem capacidade de tomar decisões, inclusive
decisões que podem prejudicá-la. Por vezes o Ledor quer proteger essa pessoa de tomar uma
decisão errada, invadindo prerrogativas que são de quem está sendo atendida. Se ela quiser
dormir, se ela quiser anular a prova, se ela quiser responder errado é direito dela. Se ela disser —
sei que a alternativa correta é a B, mas marca aí a letra D — não há outra coisa a fazer senão
marcar a alternativa D. É um direito da pessoa que está sendo atendida pelo Ledor.
Uma das coisas que se fala no curso é isso. Tem-se um nível de interferência limitado na
atuação do Ledor, que é romper a barreira entre a pessoa atendida e a prova. A partir daí, as demais
ações são pertinentes a ela. E isso é um problema sério nas ações direcionadas a pessoas com
deficiências, porque todo mundo quer protegê-las, proteção que é reflexo daquele mito de que ela
é incapaz de tomar uma decisão. Portanto, um dos grandes problemas que o Ledor apresenta é
esse.
O segundo problema é não dominar as nomenclaturas. É bastante comum Ledores que
não dominam nomenclaturas. O nosso Ensino Médio não traz lembrança para as pessoas, para um
bom número de pessoas. O que eu estou chamando de lembranças? Eu costumo brincar com
energia potencial. Quando minha namorada reclama que eu deixo a tampa do vaso sanitário
levantada, eu digo “para de reclamar, a energia potencial está a seu favor”. Na primeira vez que
eu falei isso, ela ficou olhando-me com ar de “o que é energia potencial?”. As pessoas não
dominam os conceitos do Ensino Médio, porque eles não tiveram significado quando foram
estudados, ou não marcaram a pessoa, ou, efetivamente, os conceitos foram aprendidos para a
prova, mas não foram aprendidos para a vida. Aqui há toda uma discussão de currículo na qual
não vamos entrar. Quando chega a hora de fazer a leitura de uma prova, isso aparece no Ledor.
Quando se vai ler para um deficiente, há dois casos. Tanto para o Ledor como para aquele
que será atendido pelo Ledor: há gente que se preparou para a prova e há gente que não se
preparou para a prova. Se uma pessoa despreparada está lendo para uma pessoa despreparada,
tudo bem, são dois despreparados. Entretanto, se o outro está preparado e o Ledor não está
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despreparado, o Ledor começa a ter problemas. Eu vou dar um exemplo da prova do Metrô, na
qual eu atuei como Ledor (eu atuo como Ledor, nas salas de atendimento, até hoje). Na prova
havia o símbolo de resistência elétrica, circuitos elétricos e outras tantas imagens. Na hora de
apresentar as questões na sala de atendimento, havia uma série de símbolos que não tinham sido
transformados em textos, por uma falha de adaptação da prova. E o Ledor está ali, tendo que ler
esses símbolos, e é isso que se espera do Ledor.
Trabalha-se para que as provas adaptadas melhorem justamente para retirar essa
responsabilidade do Ledor, mas isso não acontece ainda, são poucas as provas adaptadas. Se
observarmos, o Enem e, talvez, uma ou duas empresas efetivamente trabalham em adaptação. As
demais trabalham com a linha antiga de entregar uma prova comum e o Ledor que se vire para
adaptar, o Ledor se transforma no agente de adaptação da prova. Isso impõe ao Ledor uma
responsabilidade que ele não tem qualquer condição de cumprir, que é fazer a adaptação de uma
prova técnica e de um assunto que ele não domina. O Ledor acaba por ter que se virar e diz: olha,
aqui tem um risco e uma minhoquinha. Tomara que aquele que esteja na frente do Ledor entenda
que aquela minhoquinha é uma resistência.
Pensemos nas adaptações. Vamos discutir o exemplo do Enem. Nele, faz-se a
transposição da imagem para texto e suprimem-se as imagens. O objetivo da supressão da imagem
é para que o Ledor tenha o mínimo de interpretação possível. O Ledor deveria se ater ao texto. O
Enem parte da premissa de que o texto é claro. Será que essa premissa é válida? Não, o texto não
é claro porque os esquemas de percepção das pessoas são diferentes e, por vezes, o texto não faz
sentido. Até a escuta de uma mesma frase é diferente. Eu faço muito a brincadeira de desenhar
um seis no chão e colocar uma pessoa de cada lado e pedir para que elas decidam se é seis ou
nove. Elas vão morrer batendo boca enquanto um não sair da posição em que está e for até a
posição da outra. Ao fazer uma adaptação de prova sem, efetivamente, fazer um pré-teste, não se
tem uma adaptação. Aí começa um dos grandes problemas do Enem.
Até 2016, as questões adaptadas não eram pré-avaliadas, e eu não tenho nenhuma
dificuldade em dizer isso, porque até então eu participei das adaptações do Enem. Pode ser que
alguma coisa tenha mudado desde então, porque eu estou fora dos processos adaptativos do Enem
de 2016 para cá. O processo de adaptação funcionava assim: entrava-se em uma sala, recebia-se
a prova (olha que responsabilidade, o adaptador tinha todas as questões do Enem no mês de maio,
e a prova é em novembro), fazia-se a adaptação e entregava-se a adaptação. Não havia qualquer
tipo de pré-teste. O único teste que era possível seria o adaptador perguntar a alguém que fez a
prova — e aí, gostou daquela questão? —, e nem isso era possível fazer por causa do sigilo, da
confidencialidade.
O pré-teste seria uma mudança significativa no processo de adaptação, ouvir as partes
envolvidas. Ouvir o Ledor que leu, ouvir a pessoa que resolveu escutando a prova. Esses são
pontos importantes para o aprimoramento da adaptação. Eu não sei se, depois de 2016, o Enem
619
aprendeu essa lição. Entender-se que o adaptador é o suprassumo da inteligência e, por isso, vai
trabalhar sozinho é, no mínimo, perigoso.
6) Quem elabora as provas específicas para Ledores?
Já começamos a responder antes de ler a pergunta. No Enem, e sobre ele podemos falar
com clareza porque fizemos parte da comissão, eram escolhidas as questões e recebia-se um
chamado para fazer adaptação. Entrava-se em uma sala chamada de “sala segura”, e lá, tinha-se
acesso às questões e eram feitas as descrições, as adaptações necessárias. No caso de uma questão
apresentar um grau de complexidade muito alto no que se referia à adaptação, havia a
possibilidade do item ser trocado. Trocava-se por outra com o mesmo nível de dificuldade
definido pela TRI8. Trocava-se a questão por outra com um coeficiente “b” idêntico (na TRI, o
“b” é o coeficiente de dificuldade). Pensava-se no nível de dificuldade. Entretanto, creio que é
pertinente fazer um destaque. A determinação do índice de dificuldade é feita em um pré-teste
aplicado a pessoas visuais e em uma prova visual.
Quando se adapta essa prova, arrebenta-se com a TRI. Criam-se elementos diferenciados
de interpretação de outras habilidades. A interpretação de um gráfico morre. A habilidade H10 já
era, um gráfico se transformou em uma tabela, então a habilidade é outra. Entretanto, para todos
os efeitos da avaliação, a pontuação é a da questão original e não a da questão adaptada. Não
podemos afirmar que isso traz prejuízo. O que estamos fazendo é reconhecendo esse fato. Se no
final das contas o desempenho é maior ou é menor, não temos ideia. Essa é uma pesquisa que
alguém deve fazer.
Além disso, há um outro ponto que fere a TRI. A aplicação autônoma da prova demanda
a pessoa e a prova. A aplicação mediada da prova não é mensurada. Com a presença de um
mediador, a TRI pode ir embora. Não é mais uma relação 1-2, pessoa-prova, é uma relação 1-2-
3, pessoa-mediador-prova, e esse mediador tem uma influência muito forte, até mesmo na forma
como ele pode enunciar a prova. Se ele tiver uma leitura trôpega de uma questão bem adaptada,
fornece-se uma má interpretação para quem está ouvindo. Imagine que se tenha uma
interpretação, na adaptação, perfeita — todos os termos, tudo convertido em texto, tudo bonitinho.
Se a ponta final ler de maneira trôpega, não respeitando vírgulas, acabou. Pode-se mudar a
interpretação de uma boa adaptação através de uma má leitura.
Nesses últimos anos de minha vida estamos tentando insistentemente regulamentar essa
ideia do Ledor, quase que em uma luta isolada e auto patrocinada, e, finalmente, alguém nos
ouviu. Conversando com o deputado chamado Denis Bezerra, do Ceará (grande Ceará!),
contamos para ele essa luta, e ele se mostrou interessado e disse para aparecermos em Brasília (a
8Teoria da Resposta ao Item
620
conversa foi no Ceará). Ao dizer-lhe que morávamos em Brasília, marcamos um encontro no
gabinete dele. Fui ao gabinete, conversamos, e produziu-se um Projeto de Lei para
regulamentação da ação do Ledor (isso você está sabendo em primeira mão).
Esse Projeto de Lei vai estabelecer que a formação do Ledor é de sessenta horas, e não
de catorze, como está marcado hoje em dia. A formação do Ledor é de catorze horas porque na
época da constituição dos treinamentos foi o que o Inep achou que podia pagar. Isso não significa
que esse tempo de formação tenha surgido de uma reflexão acadêmica. A decisão foi
mercadológica. A primeira formação de Ledor, lá de 2008, era de trinta horas presenciais e com
exercícios. Essa formação sofreu toda uma transformação para que coubesse em catorze horas,
porque era o que podia ser feito à época.
A decisão foi adaptar a formação para catorze horas, que é melhor do que não fazer nada.
O ganho que se teve com as catorze horas foi muito bom: consolidou que tem que ter Ledor, que
o Ledor tem que ter curso, abriu a cabeça das pessoas para entender o que era um Ledor, avançou
sobremaneira a adaptação das provas e ampliou os instrumentos usados. Antes tinha-se uma única
prova e agora não: há uma prova do Ledor, uma prova no computador, uma prova em matriz
inversa. Tudo isso surgiu quando se aceitou reduzir o treinamento para catorze horas. Deu-se um
passo para trás, mas, em compensação, a mola ficou tensionada, e, agora, vamos tentar lançar
para frente. Começou-se a elaboração das provas com a ideia de que se tinha que fazer um
instrumento de prova que diminuísse a ação do Ledor. Só que não há como fazer isso, pelo menos
não com a precisão que nós gostaríamos, a menos que a organizadora da prova fosse criteriosa na
contratação.
Nessas condições teríamos um cenário legal que seria uma prova bem adaptada, pelo
menos com preocupação de ter uma boa adaptação, um participante que conhece as adaptações,
ou seja, ele entende como é o processo da prova, e um Ledor escolhido a dedo para estar ali. Esse
Ledor, por exemplo, em uma prova de Direito, tem conhecimento suficiente para abrir um
vademecum e fazer uma consulta. A maioria das provas de Direito permitem consultas. O cabedal
de Leis é gigantesco e ninguém vai memorizar isso tudo. Já participei de provas que o Ledor
olhava para o vademecum e dizia “meu deus, como é que eu acho isso aqui!”, pensando que se
tratava de um dicionário.
7) A elaboração da prova para Ledor é feita com base em algum manual ou norma de
adaptação?
A elaboração da prova do Ledor, não. Existe um manual interno no Inep, um manual de
boas práticas, escrito em 2012, mas não sabemos se ele ainda é usado ou se foi revisado. No
governo Dilma, a Secretaria de Direitos Humanos foi convencida a constituir uma comissão para
criar um manual de boas práticas em prova. São esses dois únicos documentos que existem.
621
Com o deputado Denis Bezerra, estamos em fase de produção de um manual de
elaboração de provas, e ele quer transformá-lo em Projeto de Lei. Esse manual não foca muito na
técnica, centra-se no que se faz necessário à prova. Um manual que seja orientado para a técnica
não existe. Qualquer pessoa que entre por esse caminho estará fazendo um trabalho pioneiro.
As pessoas possuem uma visão equivocada da adaptação. Ter uma linguagem técnica não
significa que se tenha precisão. Por exemplo, entre as possibilidades que estão no rol de
adaptações da prova do Enem, encontra-se a criação de gráficos, ou até mesmo imagens, a partir
de impressão braille, para que sejam tateadas. Dependendo da imagem, faz-se uma redução da
complexidade de linhas, e a pessoas conseguem, através do tato, ter uma leitura de gráfico. O que
inviabiliza essa possibilidade? Primeiro, para ser lida pelo tato, ela vai ter de ser um pouco maior.
Será necessário trabalhar com outro formato de folha que não o formato padrão, A4 ou A3, e, na
hora de produzir, isso fica bem caro. Deve-se ter uma impressora braille com capacidade de
produção suficiente para um número enorme de provas. A OBMEP9 faz isso, mas o número de
provas da OBMEP é um terço do número de prova do Enem. Isso leva a crer que é possível fazer:
se um conseguiu, por que o outro não consegue? Muitas das adaptações estão mais amparadas no
pensamento político do que na capacidade técnica. A capacidade técnica existe. O que não existe
é a vontade política de fazer.
O manual é fundamentado em pensar a prova como um todo. Os textos precisam de
adaptação. Hoje é comum se ter questões com comunicações não verbais vindas de um cartaz, e
a adaptação transforma somente os dizeres do cartaz, o que leva a uma série de perda de
informações presentes no cartaz. Uma coisa é falar-se “não fume”. Outra coisa é estar diante de
um cartaz com cores gritantes e fontes massivas, uma coisa impositiva, com os dizeres “NÃO
FUME”. Na hora que o Ledor vai ler aquele não fume, não se sabe com qual entonação ele vai
fazer a leitura. A pessoa que estiver recebendo essa leitura terá o seu direito de perceber o que
está no cartaz limitado. Adiantaria o Ledor dizer “é um cartaz impositivo com os dizeres não
fume”. Será que a palavra impositivo, nesse momento, é adequada?
Atualmente há alguns trabalhos na Universidade Federal do Rio Grande do Norte sobre
transposição da imagem para texto na área de semiótica e comunicação, sem relação com
avaliação. As regras colocadas nessas pesquisas geram textos excessivamente descritivos. Eles
estão quase na linha de descrever o cenário a partir do primeiro pixel da esquerda. E isso, em uma
prova, é loucura. Em uma prova, deve-se centrar nos elementos da imagem que vão fornecer a
resposta, se não o tempo de prova ficará muito longo.
Há mais um problema que merece ser comentado. Há um grupo de pessoa não verbais
fazendo a prova, e é um Ledor que está lendo para ele. Entre todas as características que fazem
do Ledor um ser especial, torna-se necessário adquirir mais uma para atender essa nova demanda.
9 Olimpíadas Brasileiras de Matemática das Escolas Públicas
622
Dados puros e simples: entre 2015 e 2019, houve 53% de aumento de paralisados cerebrais não
verbais fazendo o Enem. Estamos falando de uma pessoa que está amarrado em uma cadeira de
rodas e que fica olhando fixamente para quem o está atendendo, com os olhos arregalados. Ele
consegue responder de alguma forma, mas ele não fala. O Ledor vai ter que adquirir uma cultura
de uma comunicação binária. Imagine o que é responder uma questão de Matemática do Enem
através de uma comunicação binária!
— E agora, aqui é mais? Sim ou não.
— Sim.
— Mais esse número? Sim ou não.
...
Olha o tempo que será necessário com “sim ou não” para fazer os cálculos intermediários de uma
questão! Se alguém, em sã consciência, acreditar que isso á algo possível de ser executado, eu
rasgo o meu diploma, me dê uma função na vida que eu não vou querer continuar trabalhando
com isso.
Surge novamente o mito da incapacidade. Nós vamos falar novamente em avaliação.
Enquanto for tentado fazer que uma avaliação seja adequada a todo mundo, teremos metagrupos
que estarão fora dessa avaliação. É uma discussão muito complexa que envolve vários campos.
Um exemplo muito simples: esse não verbal, paraplégico, paralisado cerebral, não escreve. Como
é que ele vai fazer a redação se ele não fala? O Ledor vai perguntar “letra A, sim ou não?, Letra
B, sim ou não?”. Existe uma solução que as escolas programaram para isso. As escolas os levam
a organizarem textos para fazer a redação. A escola apresenta vária frases soltas, numeradas, e
eles indicam qual é o número. Eles montam a redação a partir de um rol de frases. Nesse rol,
inclusive, há frases que eles não usam, que são descartadas. A escola apresenta quarenta freses,
eles usam vinte e montam uma redação. Existe toda uma discussão se isso é ou não é autoral.
8) Qualquer prova pode ser adaptada para Ledores?
No meu ponto de vista, toda prova pode ser adaptada. Não existe uma prova que não
possa ser adaptada. A discussão é a qualidade da adaptação, e o problema é se existe sentido na
participação de um deficiente visual em um concurso para exercer determinados cargos. Vamos
dar um exemplo aqui de Brasília. Há algum tempo houve um concurso para piloto do metrô, e o
edital não proibia a participação de pessoas cegas. O edital permitia que pessoas com deficiências
participassem, mas quem elaborou o edital estava entendendo pessoas com deficiências físicas.
Imaginou-se uma pessoa em cadeira de rodas, e uma pessoa em cadeiras de rodas consegue pilotar
o metrô. Entretanto, pessoas com deficiências pode ser alguém com síndrome de Dawn, alguém
com paralisia cerebral, ou um cego.
623
Com isso, um cego, não sei se malandramente ou por qual motivo, se inscreveu no
concurso para ser piloto do metrô. Como consequência, a operadora veio desesperada procurar a
nossa empresa para fazer a adaptação da prova. Aceitamos fazer a adaptação apesar de não ter
sentido tal adaptação. Explicar o que são as placas de pare do metrô, de velocidade do metrô ou
como é que são os entroncamentos de sinal não tem sentido prático para um cego. Por mais que
ele entenda esses objetos estudando, ele jamais vai executar a função de piloto do metrô.
Apesar de realmente existir essa falta de sentido, um adaptador não deve levar isso em
consideração, segundo o meu ponto de vista. Para o adaptador, pouco deve importar o que será
feito com o resultado das provas, a função dele é adaptar. Se a prova vai ser aplicada para um
cego que vai ser design de interior não há relevância para o adaptador. Ele tem um desafio pela
frente que é como fazer a prova chegar ao cego. É nesse sentido que eu falo que toda prova pode
ser adaptada. Para o Ledor, a interferência da função que o portador de deficiência visual está se
candidatando a exercer é mais grave. O Ledor não deve pensar mesmo nisso. Se o Ledor começar
a pensar “meu deus, o que esse cara vai fazer no futuro”, isso pode influenciar na qualidade do
trabalho dele. O ideal é que o Ledor sequer soubesse para que é o concurso, a fim de que ele não
tivesse a possibilidade de pensar “meu deus, esse cara vai ser neurocirurgião e ele é cego”. O
Ledor tem que se ater ao fato de ter uma prova, ter uma barreira de comunicação e uma pessoa.
A função dele é destruir essa barreira de comunicação. O que será feito após a prova, se a pessoa
atendida vai se formar ou não vai se formar, não é um problema que deve ser abordado pelo Ledor.
O desafio de adaptar qualquer prova vale a pena, no mínimo como um exercício. Se
alguém for capaz de transpor para texto uma prova de design de interiores, imagine o que essa
pessoa não será capaz de fazer com a adaptação de uma prova de Matemática!
9) Qual é a vantagem de lançar-se mão do Ledor em vez de utilizar-se um programa leitor
de texto, como o DOSVOX, quando a prova não apresenta figuras?
A grande diferença entre um leitor de tela e uma pessoa é que o leitor de tela vai trabalhar
exclusivamente sobre um roteiro, e não há qualquer possibilidade de fazer consertos ou ajustes
durante a prova.
Existe quem defenda o leitor de tela como uma possível solução, e nós argumentamos
que ele é importante, mas apresenta os mesmos problemas que um Ledor tem. Com os softs de
leitura, a mediação não é mais do Ledor, é via informática, mas a complexidade da adaptação é a
mesma, ou talvez até superior. Com os softs, o adaptador que está lá na prancheta vai ter de
imaginar todas as possibilidades, porque se alguma coisa estiver errada não haverá possibilidade
de conserto. Se tivermos um Ledor e um computador na sala de atendimento, teremos um cenário
interessante, mas se deve atentar para a questão do custo.
624
Poderíamos pensar em manter um Ledor na sala de atendimento, que tenha um
computador, caso haja alguma coisa errada. Dessa forma, teríamos menos Ledores atuando. Isso
é uma construção exequível, mas não muda muito o momento de adaptação da prova. Por
exemplo, o leitor de tela lê “chorome”, ele não lê “chrome”, “Google chorme”. O leitor de tela
não lê siglas. Por exemplo, Organização Nacional dos Cegos do Brasil, ONCB, o leitor de tela lê
“onquibe”. Mesmo que sejam postos pontos, O.N.C.B, a leitura não fica adequada. No melhor
dos casos, ele leria O, ENE, CE, BE. Ele não lê siglas, e algumas siglas deixaram de ser siglas,
viraram nome: Inep, MEC ... o soft não lê isso.
Se, por um lado, com o leitor de tela há ganhos com a padronização, por outro lado, é
necessário investir muito na adaptação.
É preciso desenvolver um novo ramo da adaptação envolvido com a compreensão desses
leitores de tela, e a transposição de imagem para texto exigirá cuidados especiais. O que eu vejo
como solução imediata é ter, na sala de atendimento, tanto a descrição da imagem quanto a
imagem, mas, para um leitor de tela, a imagem não tem sentido. Quando se retira a imagem e
deixa-se só a descrição, o Ledor é impedido de fazer a imagem chegar por outra via que não seja
a voz.
Nós temos cinco sentidos. O paladar e o olfato não são de grande utilidade em uma prova,
mas o tato funciona, e o tato é um sentido poderoso, por exemplo, para se perceber a forma de um
gráfico, de uma molécula. Se o texto gerado na descrição de uma imagem não faz sentido nem
para o Ledor, como é que ele teria possibilidade de levar a pessoa atendida a perceber a imagem
descrita através do tato? No estágio atual, a melhor possibilidade adaptativa é ter a questão com
a imagem e a transposição da imagem para texto. O Ledor teria uma sistemática de leitura da
transposição e, caso a transposição efetivamente não funcionasse, ele poderia lançar mão de
outros recursos para levar ao entendimento da questão, e o tato é um recurso plausível.
Esse recurso não é tão difícil de ser utilizado. Um exemplo é o que fazíamos nos cursos
de Ledor iniciais. Nós pegávamos folhas de papel comum, papel sulfite 75 gramas, colocávamos
a prova em cima, fazíamos riscos fortes no desenho e criávamos modelos em baixo-relevo. A
pessoa portadora de deficiência conseguia tatear e perceber os traços da figura. Os Ledores tinham
essa competência. É uma competência delicada porque, se o Ledor cometer algum erro, ele var
atrapalhar o entendimento. Em cima do medo do erro do Ledor, isso foi retirado, o Inep pediu
para que parássemos de fazer isso. Essa técnica parou de ser usada devido à ideia de que se pode
errar e prejudicar alguém, mas, e as pessoas que seriam ajudadas com isso?
Afirmamos que, assim como não podemos dizer se a TRI ajuda ou atrapalha quando há a
troca de questões, não podemos dizer se essa técnica que utiliza o tato ajuda ou atrapalha sem
fazer um estudo sobre ela. Julgamos que foi um erro a decisão de impedir o uso dessa técnica. De
qualquer forma, com a técnica exemplificada ou com outra, a possibilidade de transpor a imagem
para o tato é importante.
625
Um dos problemas para as adaptações é que, no Brasil, não se tem uma padronização da
educação das pessoas com deficiência. Existe uma série de soluções caseiras aplicadas em cada
escola. Essas soluções caseiras são ótimas porque aquela criança especificamente aprende, mas
na hora em que se sistematiza isso para fazer uma única prova a ser aplicada a muitos
participantes, tem-se um número infindável de possibilidades.
E como escolher qual das possibilidades utilizar? Se forem adotados gráficos em relevo,
como ficam aqueles que nunca trabalharam com gráficos em relevos? Por outro lado, para aquele
que só trabalhou com gráficos em relevo, vai-se falar em abscissas e ordenadas, campo negativo
e campo positivo? Para quem trabalhou a vida escolar com as estruturas químicas em relevos, vai-
se falar em carbono 1, carbono 2, uma hidroxila ligada ao carbono 3? Essa pessoa sabe qual é o
carbono 3? Ele passou a vida toda tateando o anel de benzeno. Essas são dificuldades de adaptação
que precisam ser vencidas através dos currículos das escolas. Não é uma ação do adaptador, o
polo de adaptação é vítima dessa falta de padronização. O que será do adaptador se ele tiver que
decidir se ele vai adaptar para a pessoa do relevo ou para a pessoa da nomenclatura? Ou ele vai
abrir dois campos de adaptação? Se ele começar a fazer isso, logo ele terá tantos desdobramentos
que acabará não sendo possível adaptar uma prova.
O que se precisa é normatizar o sistema de avaliação escolar para que, a partir daí, se
possa normatizar os demais sistemas avaliativos que dão, ou não, capacidade de direito. É um
processo longo, é um processo demorado, mas que precisa ser feito. E, para o adaptador, se isso
não for resolvido, ele estará vivendo um dilema.
Estamos diante de uma necessidade de planejamento. Falamos muito de procurar um
tesouro. Entregamos a você uma pá e dizemos:
— Vamos procurar um tesouro?
E você responde:
— Vamos!
Começamos a cavar em um lugar escolhido e depois de dois metros de buraco, declaramos:
— Pois é, eu acho que não está aqui.
Aí você retruca:
— Poxa, nosso buraco está tão bonito! Cara, a gente cavou tanto esse buraco! Ele é tão
bonito, todo retinho, todo arquitetado.
E você se apaixona pelo buraco. Você sabe que o tesouro não está ali. Mas você não quer
abandonar o buraco, porque você está apaixonado pelo buraco. Esse é um problema: há muita
gente que se apaixona pelo buraco que cavou e não quer abandoná-lo, mesmo percebendo que o
tesouro não está ali.
626
O nível de adaptação de provas hoje, no meu ponto de vista, está muito ligado a pessoas
apaixonadas pelo buraco. De fato, não são pessoas, se fossem pessoas seria fácil, nós as
convenceríamos a mudar. Os apaixonados pelos buracos são instituições.
Essa é uma alegoria que serve para os leitores de tela. No meu ponto de vista, os leitores
de tela não atingiram o aprimoramento que justifique a substituição da presença humana, e tenho
medo de que eles não cheguem a esse estágio em um curto espaço de tempo. O mesmo trabalho
que se está fazendo hoje na adaptação de uma prova para um humano ler será qualificado para
um leitor de tela. O que precisamos fazer, por enquanto, é avançar nos estudos das adaptações e
não substituir a ação humana pelas de um soft.
Até que descubramos qual é a melhor técnica, todas devem estar presentes. Nós estamos
em um momento de transição muito forte. Uma evidência dessa transição é que a maioria das
pessoas cegas, hoje em dia, está sofrendo com o problema de escrita apoiada na oralidade. Isso
significa que a pessoa escreve, por exemplo, “sou”, com “u”, em vez de “sol”. Elas escrevem
como ouvem porque elas não estão lendo. Hoje em dia, a leitura da pessoa com deficiência visual,
cega ou com baixa visão que não consegue ler efetivamente, se transformou no uso de um fone
de ouvido.
A tecnologia, nesse sentido, fez um gol contra, no que se refere a capacitação da pessoa.
Isso significa que a tecnologia é ruim? Não, pelo amor de Deus! Em uma escola, não se pode abrir
mão da tecnologia, assim como não se pode abrir mão da alfabetização. Há uma camiseta que
uma vez eu vi e achei genial. Nela, estava escrito “a tecnologia me traz problemas que até então
eu não tinha”. É isso! Eu nunca tive esse problema, eu nunca pensei nisso, isso não figurava na
minha lista de problemas, e isso chegou com um aparato tecnológico que me trouxe vantagens,
mas agregado a essas vantagens veio um problema.
Se, por um lado, os aplicativos e a tecnologia facilitam a comunicação das pessoas
portadoras de deficiência com os textos, por outro lado, eles roubaram a possibilidade de evolução
acadêmica no momento que essas pessoas escrevem mal e leem pior ainda, porque elas perderam
o hábito de ler. É provado, e relatado em artigos científicos da década de 80, que a leitura com a
ponta dos dedos acionava as mesmas áreas cerebrais acionadas através da leitura com os olhos.
Hoje em dia, não se lê mais com o dedo. O material braille tornou-se obsoletíssimo. Primeiro
porque ocupa muito espaço, segundo porque é caro, e terceiro porque ninguém converte livros
para Braille. Eu tenho certeza de que você nunca entrou na Livraria Cultura e viu um livro em
Braille. Nas bancas de revista, não tem uma apostila do concurso ampliada. Isso não existe. Para
que uma pessoa com deficiência visual tenha um material ampliado ou em Braille, tem que pagar.
Embora existam leis, as editoras resistem em mandar livros em PDF para os cegos.
Há lei que diz que se uma pessoa portadora de deficiência visual comprar um livro, na
Amazon, por exemplo, ela pode optar por receber o livro em PDF. As editoras têm medo que a
pessoa que comprou distribua, imprima e vá para a pirataria. Não vamos dizer que as editoras
627
estão erradas, sabemos que muita gente efetivamente faz isso, mas o nível de interação da pessoa
com deficiência reduz-se por uma questão mercadológica. O adaptador deve estar ciente disso
tudo.
Percebe-se que as adaptações do Inep vêm evoluindo muito porque os adaptadores
começaram a ter um pouco mais de cientificidade no processo de adaptação. Quando chegamos
no Inep em 2010, a adaptação de provas era feita pela gráfica. Mandava-se a prova para a gráfica
e alguém da gráfica fazia a adaptação. Quero crer que, pelo menos, a gráfica contratava um
profissional, mas, por não saber quem era, podia ser uma pessoa da tipografia, o “cara” do
computador, e essa pessoa escreveria o que quisesse na adaptação. Vamos ser otimista: a gráfica
contratava um professor, só que não havia controle algum sobre isso.
O Inep começou a adaptar as próprias provas em 2012. Foi quando se elaborou a primeira
prova adaptada dentro do Inep. Até então, as provas adaptadas eram todas da gráfica
(inacreditável!) Se você tiver um recorte de provas adaptadas anteriores a 2012, jogue fora, porque
não se tem ideia de quem fez aquela adaptação. Embora o Inep assinasse, não era ele que produzia.
Em 2012 foi instituída uma comissão de acessibilidade em provas no Inep, e essa
comissão começou a trabalhar a acessibilidade. Havia um problema, no primeiro momento: havia
tantas coisas a serem feitas, e a dificuldade de fazê-las era tão grande que, nesse primeiro
momento, por uma decisão política da comissão, tentamos ampliar as possibilidades de recursos,
o que impediu um foco mais acentuado na qualidade do que era feito. Não é que se tenha feito
qualquer coisa, mas a atenção com a qualidade ficou um pouco prejudicada. Em 2012 criou-se as
provas ampliadas, até então o Inep não tinha prova ampliada; em 2012 criou-se a prova em PDF,
não havia prova em PDF; foi em 2012 que se fez a separação das pessoas por deficiência na
inscrição. O primeiro pacote de solução foi criado em 2012.
Como já havia os cursos de Ledores, as adaptações de provas, as provas ampliadas e
outras ações direcionadas a pessoas com deficiência visual estavam consolidadas e as pessoas
com deficiência auditivas começaram a cobrar ações a elas direcionadas. Foi quando focamos os
esforços, em 2013 e 2014, para a melhoria das provas dos surdos. Foi criada uma matriz de
correção de redação separada para os surdos; foram criados os parâmetros de psicometria de testes
em libras, que não existiam; foi feito o primeiro teste, em 2014, de provas em vídeo libras em
amplitude nacional, para ver se funcionava; várias ações foram executadas.
O ano de 2016 foi um ano complexo. Foi um ano de transição de governo, e o governo
do então Presidente Michel Temer tomou uma série de decisões que trouxeram para dentro do
MEC e do Inep pessoas com perfil político e não com perfil técnico. Automaticamente, essas
pessoas barraram todos os projetos técnicos por algum motivo que nós não gostamos de explicar:
precisavam ter algum dinheiro para fazer a campanha eleitoral e outras coisas ligadas a eles.
Muitos projetos técnicos bons foram barrados em 2016. Foi quando nós dissemos “para
mim basta, sei que eu vou sair do filé dos processos, mas para ficar batendo carimbo em coisas
628
com as quais eu não concordo (o que era exatamente o que estava acontecendo) eu saio”. Em
2016 eles solicitaram que a comissão de acessibilidade ratificasse uma série de medidas com as
quais a comissão em peso disse que não concordava e que não ia fazer. Diante de tudo isso, já
próximo do vencimento do contrato, dissemos “eu vou tocar sozinho, vou fazer meu voo solo”.
Afastar-nos da comissão de acessibilidade não nos afastou da ideia das pesquisas, mas as
universidades, no momento, estão passando por um momento difícil. De 2016 para cá, as
universidades estão sendo acossadas. A pesquisa brasileira está em xeque, mas não há como
desistir.
10) As diferenças pessoais entre os Ledores podem interferir no resultado de uma avaliação?
Não só podem como interferem. Para dois Ledores que dividem a mesma sala de
atendimento, o ideal é que eles tenham uma mesma matriz de conhecimento. Para esclarecer o
que eu quero dizer com isso, apesar de não gostar, vou dar um exemplo político. Não adianta
colocar um “Lula livre” e um “bolsonímio” para atuarem na mesma sala, vai dar briga. Para dois
Ledores atuando em salas distintas, as diferenças pessoais vão interferir do mesmo jeito. Se
tivermos um Ledor sindicalista apaixonado pela causa, acreditando que tem de fazer tudo pela
pessoa com deficiência, se ela disser que vai espirrar, o Ledor crê que deve por a mão na frente
para amparar o espirro e limpar a mão na própria roupa porque ele é um abnegado defensor da
causa, esse Ledor vai atrapalhar.
E a pessoa com posicionamento contrário também vai atrapalhar. Alguém que não seja
comprometido, que acredita que não tem nada a ver com os problemas dos outros, também vai
atrapalhar. Vamos abordar um exemplo prático, algo que aconteceu de fato. Uma menina fez
prova para a Assembleia Legislativa, aqui no Distrito Federal. Ela tem baixa visão, lê com fonte
tamanho 24, e recebeu uma prova adaptada na primeira fase e na segunda fase, mas na terceira
fase, que envolvia uma prova prática, a prova não veio adaptada.
Além de receber uma prova regular, foi entregue um computador para ela (a prova
envolvia informática) sem estar com a fonte ampliada, e ela não consegue operar o computador
sem que o padrão do Windows esteja ampliado.
Para piorar a situação, o computador que ela recebeu tinha o Windows 10, e o que ela
usava em casa era o Windows 7. Com isso, ela não conseguia alterar a configuração do programa
porque o Windows 10 tem uma série de transformações que as versões anteriores não possuem,
ele é uma virada de página do padrão Windows. Como consequência, o concurso a eliminou
dizendo que ela não passou na prova. Ela entrou com recurso judicial porque o concurso não
oferecia recurso para essa fase. Essa é a visão que temos que combater.
Assim como falamos da visão sindical, temos o outro lado da moeda também. O grupo
de pessoas que acredita ser a pessoa com deficiência que deve se adaptar. Essa é uma visão muito
629
totalitária ao não compreender a participação das minorias como um direito, como se a
participação das minorias fosse um privilégio que se pode cortar.
Os direitos das minorias existem e se efetivam quando é dada, às minorias, a possibilidade
de participação que possui a maioria. A menina do exemplo relatado tinha o direito de ler a prova
como qualquer outro candidato, e é sobre isso que nós estamos falando. Não estamos falando
sobre uma prova ampliada, uma possibilidade de emprego ... Estamos falando de um direito que
um grupo teve de ler uma prova e que para ela foi negado.
A alegação da organizadora para negar-lhe esse direito foi de que ela não pediu adaptação
para a última fase, o que não passa de uma justificativa infundada. Onde e como ela deveria
formalizar esse pedido? Ela deveria enviar uma carta para a operadora? O edital não especificava
que havia uma data e um processo para formalizar o pedido de adaptação para a última fase. O
único momento possível de se comunicar com a operadora era o momento da inscrição, momento
no qual se declarava a necessidade de atendimento especial. Nitidamente, a operadora estava
tentando encontrar uma desculpa esfarrapada para um erro que ela cometeu. Esse tipo de
comportamento afeta, também, alguns Ledores. Há Ledores que entram nas salas de atendimento
como se estivessem tentando provar ao deficiente que ele não tem o direito de estar ali. É um
julgamento nocivo daquela pessoa. Esse grupo de Ledores não tem compromisso com o
atendimento que está prestando. Ele é mais ou menos assim, diante da imagem desse pacotinho
de açúcar que está sobre nossa mesa, ele lê :
— Native, produtos da natureza. Açúcar cristal orgânico.
E quem está sendo atendido pergunta:
— Porque que você leu isso?
— Aqui está escrito Native, produtos da natureza. Açúcar cristal orgânico.
— Sim, mas o que isto tem a ver com o texto?
— Vou ler novamente: Native, produtos da natureza. Açúcar cristal orgânico.
Não é isso que deve ser feito em um atendimento! A resposta à pergunta feita por quem
está sendo atendido não se restringe a repetir o que foi lido, deveria ir um pouco além. O Ledor
não pode ater-se exclusivamente a repetir o que está escrito. O Enem, por exemplo, tem textos
gigantescos, e o Ledor funciona como os olhos da pessoa. Imagine que o Ledor está lendo um
texto grande e, no final do texto, ele lê “então o Paraíba se arrependeu do que fez” (Paraíba é o
personagem da história). A pessoa que está sendo atendida pergunta “mas o que o Paraíba fez?”.
Nesse momento, o Ledor deve retornar ao texto e buscar a referência do que o Paraíba fez. Ele
não vai ler o texto todo novamente, ele vai dar um salto e buscar o que o Paraíba fez. Sobe no
texto, resgata a informação e volta para terminar o texto.
630
Se esse tipo de recurso é permitido para uma pessoa que enxerga, o mesmo recurso deve
estar disponível para a pessoa que não enxerga. O Ledor que se nega a responder uma pergunta
como essa (o que é que o Paraíba fez?), ou que lê o texto todo de novo, está perdendo sua função
fundamental. Isso não quer dizer que o Ledor deva responder lançando mão de sua memória. Ele
deve responder:
— Espera só um pouquinho que eu vou procurar no texto ... Olha, aqui está escrito assim:
então o Paraíba saiu de casa apressado.
O Ledor não deve explicar nada. Ele deve ler o trecho de texto desejado. O Ledor tem
que funcionar como os olhos da pessoa atendida, procurando na prova as informações que ela está
solicitando. Essa é a função do Ledor.
O treinamento de Ledores é fundamental, dentre outros motivos, para levá-los a entender
que eles são os olhos e as mãos da pessoa atendida. Entretanto, o treinamento não é suficiente
para certificar que houve esse entendimento. No Projeto de Lei ao qual já nos referimos, há um
sistema de acompanhamento e mentoria. Fazendo o curso, o Ledor receberia um título provisório
que só se concretiza depois de tantas atuações. Ele recebe um título provisório que permite que
ele atue como Ledor, mas um sistema permitirá que as operadoras certifiquem as ações dos
Ledores e o título de Ledor deverá ser revalidado. Está-se criando um cadastro nacional de
Ledores. É uma busca de regulamentação, e não é cabível críticas dizendo que o Estado está
assumindo funções que não são dele. Quando se deseja que a justiça seja feita, o Estado vai ter
que entrar.
Não há como o Mercado definir tal regulamentação porque o Mercado vai definir tendo
como parâmetro o que dá lucro, e o Ledor não dá lucro. Para o Mercado, uma pessoa com
deficiência não deve fazer a prova. Em uma sala comum cabem trinta participantes e duas pessoas
atendem, ou seja, em uma sala comum há trinta participantes, um chefe de sala e um fiscal. Em
uma sala com Ledor, há um participante e quatro pessoas atendendo: um participante, dois
Ledores, um chefe de sala e um fiscal. Em uma sala se trabalha com dois para atender trinta, e na
outra, com quatro para atender um. Além disso, será necessário providenciar outra sala para
colocar as outras 29 pessoas, dado que uma única pessoa ocupou as vagas de trinta. Sobre o prisma
dos custos relativos, o atendimento feito pelos Ledores é caríssimo, mas se nós formos reduzir
tudo a dinheiro, então vamos fazer outro debate.
631
11) No que se refere à leitura de questões de Matemática, qual é a maior dificuldade que o
Ledor encontra?
Nomenclatura, sobretudo, e ele não tem ideia do conteúdo que está apresentando. No
Enem, em particular, é uma festa. Se mandar o Ledor resolver alguma daquelas questões, a
esmagadora maioria não saberá como começar. A proficiência em Matemática de 9º ano no Brasil
é 14%. Em termos de Ensino Médio, as notas de Matemática são as mais baixas. Os Ledores não
constituem um grupo a parte. Os Ledores não são um universo de especialistas. São pessoas do
cotidiano, são pessoas comuns. A dificuldade deles é a dificuldade de qualquer um que não seja
afeito à Matemática para ler textos da área.
Várias causas surgem imiscuídas nessa dificuldade: a resistência à Matemática, que é
comum a boa parte dos brasileiros, e os Ledores não fogem disso; o desconhecimento do assunto
e da nomenclatura. Por não saberem como resolver uma questão, eles têm dificuldade com os
cálculos intermediários para ajudar aquele que está sendo atendido na obtenção da resposta.
Digamos que apareça uma figura inscrita, uma estrela inscrita em um círculo, e se deseja saber a
área de uma parte da estrela tendo-se o raio do círculo. A partir daí, é necessário fazer quinhentos
mil cálculos. Tem que se considerar setor circular e outras tantas coisas para se chegar à área da
parte da estrela que se deseja saber, percorrendo várias fases no cálculo. Se quem está sendo
atendido não tiver essas fases na cabeça para orientar como o Ledor deve proceder, o Ledor fica
com as mãos um tanto quanto amarradas.
Considere-se que o Enem, por vezes, traz cálculos complexos. O Ledor acaba não
ajudando muito, se não tem conhecimentos ligados a esses cálculos matemáticos. Ele está bem-
disposto, ele quer ajudar, mas ele não sabe. Ele vai acabar lendo o que está escrito, e parar nesse
ponto. O Ledor fica sem o recurso de dar um exemplo, de consertar um texto. A ação morre no
que foi lido. Dependendo da qualidade de adaptação da prova do Ledor, e o Enem tem melhorado
bastante nesse ponto, o Ledor tem dificuldade até mesmo nas unidades: megajoule (MJ) e
milijoule (mJ) é “eme jota”. Em um deles, o registro é feito com eme maiúsculo e, no outro, com
minúsculo, mas a diferença dos valores é abissal. Imagine que o Ledor leia “20 milijoules”, e era
megajoules. Ele poderia ler “eme jota”, mas a técnica manda que ele informe se o eme é maiúsculo
ou minúsculo. Entretanto, não se tem nenhuma garantia de que a técnica será aplicada.
Nesses anos de atuação, já respondemos alguns processos judiciais referentes a diferenças
de entendimento, devido ao uso inadequado das técnicas. Não poderia ser diferente. Toda vez que
isso ocorreu, declaramos ao Juiz que ninguém pune a autoescola pela imprudência do motorista.
Apresentam-se os documentos do curso — ementa, aulas, cópia dos slides — e a comprovação
da aprovação do Ledor cuja ação está sendo questionada — gravação, redação, as avaliações.
Anexam-se todos esses documentos e entrega-se para o Juiz. Demos uma carteira de motorista.
Se ele foi a um bar e encheu a cara de cachaça e atropelou uma pessoa, a culpa não é nossa.
632
Durante todo o curso foi dito “se for dirigir, não beba”. Ele assumiu a responsabilidade por não
fazer o que foi instruído a fazer. Então, a reclamação que o participante está fazendo, se legítima,
deve incidir sobre a operadora ou sobre o próprio Ledor, e jamais sobre quem formou o Ledor.
Se for identificado que na formação do Ledor não consta a instrução referente ao que o
participante está reclamando, então o responsável pela formação do Ledor deve responder
solidariamente pela parte que lhe cabe. Entretanto, se o Ledor não considera importante algum
procedimento que foi indicado no curso que o formou e resolver abandoná-lo, isso é uma decisão
dele. Não tem sentido o curso de formação responder solidariamente.
12) Existe alguma diferenciação na correção das provas para pessoas com deficiência visual?
De fato, não, apesar de teoricamente haver. Atendo-nos ao Enem, há uma matriz de
correção para as pessoas surdas. Existe uma diferenciação de critérios para correção dos surdos.
Aquele que usa Transcritor, não dispõe dessa matriz diferenciada. Contudo já foi dito, de maneira
extraoficial, que no curso de correção é indicado que, quando uma redação passou por um
Transcritor, tenha-se uma avaliação diferenciada no que concerne à ortografia.
Essa diferenciação existe? Pensemos na parte prática da correção. Um corretor de redação
do Enem corrige 50 a 80 redações dia. O corretor vai corrigir 60 redações no modo “A” e 10
redações no modo “B”? Desculpe-nos, mas não corrige 10 no modo “B” mesmo! Ele já montou
um padrão e o reteve na memória. Por mais que ele tente “atenuar”, é afetado pelo padrão
construído. Honestamente, não existe essa diferenciação. No curso falamos isso.
No curso falamos para que o Transcritor tenha muita responsabilidade ao transcrever. Se
ele escrever “trebelho” ao invés de “trabalho”, quem perde ponto é a pessoa atendida. O
Transcritor acaba de pôr uma pessoa fora da universidade. É literalmente isso, porque em um
universo de seis milhões de pessoas, um acerto, um erro, uma questão é capaz de jogar o
participante cinco, seis, sete mil posições para baixo e, dependendo da posição na qual ele esteja,
o participante está fora. Dez pontos na redação são suficientes para tirar alguém da universidade.
Se em termos de Enem não temos diferenciação nas correções, fora do Enem, nas avaliações
públicas, é que não existe mesmo. Não só não existe como não existe preocupação com essa
discussão.
Algumas soluções possíveis não são adotadas. Desde 2012 solicitamos que as pessoas
possam entregar as redações no formato em que elas escrevem. Isso significaria dupla pauta e
Braille. O Braille é uma das melhores soluções para acabar com esse problema. O participante
vai escrever a própria redação. Se estiver escrito errado, foi a mão dele que fez. Com esse
procedimento, a correção seria, sem problemas, avaliada na dureza da lei. As operadoras retrucam
que não há quem transcreva do Braille. E nós contra-argumentamos com ar de deboche “desculpe,
amigo, tenta outra”. É a mesma história da economia da prova do Ledor a qual nos referimos
633
anteriormente. A operadora não quer fazer, não quer transportar uma prova em Braille, não que
criar mais um adendo, ter que pagar mais um profissional para fazer essa transcrição. Ou seja,
essa solução não é usada porque a operadora não deseja, nada tem a ver com a impossibilidade
de contratação de alguém para transcrever do Braille.
13) A pessoa com deficiência visual participa dos concursos em iguais condições
relativamente aos videntes?
Nunca. A educação dela não é igual a das demais. Se a educação não é igual não há como
ela participar em igual condição. Apesar de ser relevante, vamos desprezar a educação, porque,
no tocante a isso, a diferença é para todos. Uma pessoa que se formou em determinada escola tem
diferença daquela que cursou outra escola com outra qualidade de trabalho, e isso é um problema
social que não se limita apenas àquelas com deficiências.
Embora os Ledores tenham evoluído bastante, as adaptações tenham evoluído bastante, a
participação não é equânime. Temos um fator que é a operadora, a empresa. Cada operadora tem
o seu produto, e, dependendo da operadora, a influência é muito forte sobre o que está sendo feito.
Enquanto há operadoras que não possuem qualquer preocupação com as adaptações, temos, por
outro lado, operadoras que tentam reduzir essa distância, que é uma preocupação do Inep.
Enquanto o Cespe, aqui em Brasília, busca aprimorar as adaptações, o Iades10 não faz qualquer
tipo de adaptação, eles pegam uma prova e mandam transcrevê-la ipsis litteris, e se existe alguma
transcrição de imagem em texto, ela é feita pelo Transcritor de Braille.
Perto do que foi, a participação das pessoas com deficiências teve uma evolução boa.
Entretanto, especificamente nesse ano de 2019, tem-se experimentado dar passos para trás, e isso
também é verificado nas adaptações do Inep. A decisão de não fazer treinamento de Ledores esse
ano, sob a alegação de que há Ledores suficientes, leva a crer que existe a possibilidade de serem
utilizados Ledores não treinados nas provas. Por mais que alguém queira argumentar que o
treinamento é pífio, o que não é, mas aceitamos argumentações, não ter o treinamento é pior ainda.
Antes um treinamento ruim, o que ele não é, do que não haver treinamento algum. É estranho que
não se tenha uma reposição de Ledores dado que se tem uma porta dos fundos bastante grande.
Todos os anos eram treinados quatro, cinco mil Ledores para dar conta da demanda do
ano. A porta dos fundos forma-se porque muitas pessoas vão trabalhar como Ledores e desistem.
Efetivamente porque não gostaram da função, ou não se sentiram adequadamente remuneradas,
ou acharam que não valia a pena perder 12 horas do dia para receber o que receberam, ou porque
não queriam perder as 12 horas do dia ou ... Há muitos motivos que leva essa máquina a girar. O
que nos preocupa é como se vai chegar ao final sem que haja uma reposição. Tudo nos leva a crer
10Instituto Americano de Desenvolvimento
634
que se pode voltar a usar Ledores sem formação. Já falamos uma coisa importante: ainda são dois
Ledores. Até a prática de dois Ledores começou a ser questionada. Pode ser que nesse ano todos
os Ledores sejam treinados, mas que seja um por sala. Se eles acharam importante reduzir uma
prova de Ledor, porque não podem achar importante reduzir um Ledor?
A isonomia é nómos, é Lei, é a garantia do direito à participação, e isso é razoavelmente
satisfeito. No sentido da Lei, o que é garantido a um, é garantido ao outro. A equidade é a
equiparação de esforços — esforços equivalentes despendidos pelos participantes — e essa é
efetivamente arrebentada. Dependendo do nível de adaptação, se ela for feita de uma maneira
mais descuidada, os esforços de resolução entre a prova normal e a adaptada vão ser muito
diferentes. Há questões que são de um nível de complexidade razoável na prova normal e, quando
adaptadas para a prova do Ledor, se transformam em um monstro, não só no que se refere ao
tamanho, mas também quanto à dificuldade de resolução.
O Enem, por exemplo, gosta muito de apresentar questões cujas opções de respostas são
gráficos, a alternativa (A) é um gráfico, a alternativa (B) é outro gráfico, a (C) é outro ... O
participante deve determinar qual dos gráficos é a resposta. Visualmente, essa questão é de
complexidade 1. Leio, analiso e identifico o gráfico, não é necessário sequer fazer contas. O
problema pode envolver a identificação se a inclinação do gráfico é para cima, se é para baixo,
ou se o gráfico é uma parábola, sem fazer uma única conta. Quando uma questão como essa é
convertida para texto na prova do Ledor, tem-se que descrever esses gráficos, e essas descrições
apresentam uma série de limitações que dificultam severamente a construção da resposta. O
esforço que uma pessoa faz para resolver essa questão arrebenta com a equidade. Qual seria a
solução para buscar essa equidade?
Eu estive na Espanha e estive na China. Na Espanha eu fui à Organização Nacional dos
Cegos da Espanha, que é uma organização poderosíssima, é ela que manda na Europa no que
tange a adaptações para cegos. Eu fui para administrar o curso de Ledores para eles, na
Universidade de Leon, em Madri. Lá eu fui convidado para fazer uma palestra na Real
Universidade de Madri. Ao ministrar o curso, eles acharam maravilhoso alguém ser treinado para
ler a prova. Eles têm um sistema de avaliação diferente do nosso. Eles têm um sistema de
avaliação focado nas competências do cego, não existe adaptação de questões. A estranheza que
eles apresentaram diante das adaptações fez com que entendêssemos a “ideia da gambiarra”. Aqui
no Brasil, a nossa complexidade foi gerada a partir de um princípio errado. Eu lembro-me de uma
música dos Engenheiros do Havaí que dizia “O início dessa história deixa a história mal contada”.
O início da nossa história é que nós temos de adaptar para dar condições para o outro, quando o
correto seria criar um sistema de avaliação adaptado ao outro, e não adaptar um sistema de
avaliação para o outro.
Não se tem que ficar fazendo gambiarra em questões para talvez o outro ler. Tem-se que
identificar o que o outro pode fazer. Se ele não pode ler gráfico, então eu não posso criar para ele
635
uma questão cuja competência seja ler gráfico. Impor a questão com gráfico, nessa situação, é
insano. O nosso trabalho acaba por perder o sentido se mudarmos a questão inicial. A pergunta
inicial deve ser: ele consegue fazer isso? Temos que criar questões em cima do que ele consegue
fazer, e não ficar criando mecanismos para adaptação de questões que estão fora das habilidades
possíveis dele.
Por mais que esses mecanismos sejam aprimorados e sofisticados, como, por exemplo,
poder trocar uma questão por outra de igual complexidade no Enem, tendo por base a TRI, isso
não traz a equidade. As pesquisas relacionadas com as adaptações podem ser inviabilizadas (e
nós esperamos que elas sejam) por uma mudança de paradigma (que eu acho que não vai
acontecer). No momento em que começarmos a pensar que temos de criar modelos de avaliação
adequados a cada grupo de pessoa, vamos parar de adaptar provas. Entretanto, não paramos de
ter que transpor imagem para texto. O adaptador não deixará de existir, vai mudar a sua
competência. Em vez de ele partir de uma prova inadaptável, uma prova ruim, e tentar transformá-
la em uma prova boa, ele vai ler e criar outra prova. Preserva-se o Ledor, e preserva-se a pessoa
que hoje adapta a prova, só que não mais como adaptador, mas como alguém que cria uma prova
adequada às habilidades de quem vai fazê-la.
Muda a ação desse profissional. Não é mais uma ação focada em reformar um modelo
que é dado. Ele vai pegar uma prova e verificar quais são as competências que ele consegue copiar
e colar. Para as competências que não são cabíveis, serão formuladas novas questões vinculadas
às competências concernentes àqueles que serão submetidos à avaliação. A adaptação que temos
hoje está vinculada à arte da gambiarra. Quando estávamos fora do Brasil e falamos da arte da
gambiarra, as pessoas acharam engraçada, mas eles acharam produtiva porque talvez fosse isso
que faltava para eles, ou seja, a capacidade de inovar a partir do que se tem. Só que há uma
diferença em relação a nós: eles não estão apaixonados pelo buraco. Quando falamos da arte da
gambiarra, eles pensaram “esse cara, talvez, trouxe um novo X para o nosso mapa do tesouro”.
Na China eu fui quebrado ao meio, fui triturado. Eu passei 45 dias em Pequim e em
Xangai. Lá, eles têm o Gaokao, o Enem deles. O Enem deles é meio brutal, meio faca na bota. O
Gaokao é uma prova ao final do Ensino Médio que define se o estudante vai ser técnico ou
universitário. Simples assim, uma vez e acabou. O nível de preparação para o Gaokao é sério, e
não há diferenças entre as classes sociais interferindo. Na verdade, acaba que tal interferência
existe porque quem tem mais dinheiro se prepara melhor, mas o ensino público chinês é muito
forte. Lá na China, vê-se uma subversão da ordem existente no Brasil. Lá na China, a escola
privada é vista como uma escola mais fraca. As pessoas que estudam na escola privada são vistas
com não tendo condições intelectuais de estar na escola pública. Se o filho vai mal na escola
pública, o pai tira o filho da escola pública e joga na escola privada para que ele consiga o seu
diploma. Em Xangai e em Pequim é assim que funciona. A educação de qualidade é uma
636
preocupação deles, tanto que eles estão entre os primeiros colocados no Pisa dos últimos 15 anos.
Primeiro, segundo, terceiro, os três primeiros colocados são sempre os mesmos, vão se alternando.
Eu fui visitar as escolas voltadas para as pessoas com deficiências, e eles possuem escolas
exclusivas. Eles não trabalham com princípio da inclusão. São escolas exclusivas organizadas por
capacidades. O disléxico está na escola do cego: o tipo de dificuldade do disléxico, que é a
organização da leitura, identifica-se com a do cego. Isso não significa que eles frequentam a
mesma turma, são turmas diferenciadas, mas a escola é a mesma. Não vamos discutir as perdas
sociais, nós sabemos que existem. Entretanto, em termos de preparação de conteúdo e de ensino
acadêmico, eles se saem bem, porque toda a educação é moldada para atender a necessidade de
um público específico. Eles fazem a prova do Gaokao com o mesmo nível de complexidade dos
demais, só que fazem uma prova específica para eles. Uma prova completamente diferente,
apresentando o mesmo nível de complexidade.
Eles pegaram a matriz de avaliação do Gaokao, saíram eliminando o que seriam as
competências visuais, ou análogas à visualização, e anexaram várias competências aliadas ao tato.
Dessa forma, eles não perderam competências, eles adequaram às características das pessoas que
iriam fazer a prova. Entenderam que são pessoas diferentes, são grupos diferentes, são
capacidades diferentes e criaram uma matriz de avaliação para essas capacidades e uma matriz de
avaliação para aquelas capacidades. Se, por um lado, eles têm a parte de separação que depõe
contra a inclusão, por outro, eles possuem um sistema de avaliação que considera as diferenças.
Isso fez com que voltássemos modificados dessa viagem à China. Defendíamos que a
única opção era a inclusão. Depois da China, passamos a considerar que a solução não é ser
inclusivo, é ter uma sequência coerente do que fazer. Não adianta começarmos de um jeito e
terminarmos de outro. Os chineses não são inclusivos, mas eles fazem todo o possível para
desaguar no mesmo rio. Eu vi outro caminho que chega no mesmo lugar, e isso é equidade. No
final das contas, as possibilidades desse ou daquele grupo atingir o objetivo são as mesmas, e
valorizando as potencialidades de cada grupo.
Aqui no Brasil não. Cria-se uma sensação, uma falsa ideia, de que está todo mundo
andando junto, mas o funil vai eliminando todo mundo e no final sai um produto que é exatamente
o padrão que se queria lá no início. Aqui se faz um projeto de mentira, faz-se uma adaptação de
mentira. Epistemologicamente falando, nós temos um processo de educação e avaliação que está
preocupado em ratificar uma noção cultural de que alguém é superior.
O que é adaptação de prova hoje? Como é que os organismos entendem adaptação? Eles
têm que criar um processo que aparente ser legal para dizer que todos têm os mesmos direitos,
mas que não ameace os privilegiados. Isso não tem a ver somente com as pessoas com deficiência,
tem a ver com todos os níveis de inclusão social também. É necessário perceber que, para que
essa máquina funcione, é necessária a exceção. Deseja-se a exceção. É interessante que um negro
chegue às posições elevadas, é interessante que uma mulher chegue às posições elevadas, é
637
interessante que um favelado chegue às posições elevadas, é interessante que uma pessoa com
deficiência chegue às posições elevadas, para que se possa certificar o processo dizendo “veja,
quem quer consegue”, mas, de fato, é criada uma série de barreiras no meio do caminho desse
“quem quer”.
Quando falamos de adaptação de provas, estamos falando disso. Ao final desse trabalho
que você, Ledo, está elaborando, teremos um trabalho bem-feito, um trabalho bem organizado.
Você vai entregar uma matriz, ou dicas, de como devem ser feitas as adaptações, vai editar, daqui
a algum tempo, um manual de boas práticas de adaptações de provas, e tudo isso constituirá um
excelente livro para ficar na prateleira de duas ou três pessoas comprometidas, até que se crie uma
cultura para realmente mudar a configuração do que temos.
Nesse ponto, há uma participação importante de empresas, como a Fundação Cesgranrio,
que apresentam uma seriedade muito grande ao fazer as coisas. Empresas que decidem fazer bem-
feito aquilo com que se envolvem: se vamos fazer adaptações, façamos bem-feita. No caso da
Fundação Cesgranrio, talvez o problema seja o tempo da decisão. O tempo para tomar as decisões
talvez seja mais longo do que gostaríamos, mas tomada a decisão, o trabalho a ser feito será sério.
Foi assim com o Ledor. Quando a Cesgranrio falou “eu vou fazer o Ledor, vai ser presencial e vai
ser no Brasil inteiro”, ela bancou e fez.
A força da Cesgranrio fez esse projeto de Ledor criar uma perspectiva em todo o Brasil.
Tanto é assim que, depois desses cursos, vários Estados e várias operadoras correram atrás disso,
e isso foi importante. Por outro lado, existem empresas que não possuem a seriedade de uma
Cesgranrio. Há empresas que são verdadeiras festas. Empresas que têm como objetivos ganhar
meia dúzia de trocados e fazer parecer que está tudo bem. Empresas desorganizadas que
prejudicam, não só as pessoas com deficiência, como todas as pessoas que fazem provas com
elas. Algumas dessas empresas chegam a ter um número absurdo de concursos anulados.
Para finalizar, vale a pena destacar uma das coisas mais importantes para que qualquer
projeto seja bem-sucedido. Aquilo cuja inexistência faz todos os projetos sociais naufragarem: o
compromisso. Você, Ledo, já fez o nosso curso e sabe que no início dele o objetivo é quebrar o
coração da pessoa, porque sem engajamento não há trabalho. Até o trabalho ruim, quando é feito
de maneira engajada, sai melhor. Antes de saber qualquer técnica, a primeira palavra que o Ledor
deve aprender é a palavra “compromisso”. Se ele tiver compromisso, se ele tiver engajado no que
está fazendo, o conhecimento virá da própria pesquisa dele. Se não for garantido o compromisso,
ele vai fazer um curso mais ou menos, vai ouvir mais ou menos, vai aplicar mais ou menos e vai
gerar uma isonomia ou uma equidade mais ou menos, ou talvez não gere nada.
O primeiro ponto é compromisso, e a falta desse compromisso é o que faz todas as
propostas sociais naufragarem. Sem que o Ledor esteja motivado para fazer o que deve ser feito,
não existe prova boa. Se a prova tiver a melhor adaptação do mundo e o Ledor a ler de qualquer
638
jeito, ou no dia anterior a prova ele resolver tomar uma cerveja e chegarem casa às quatro horas
da manhã, tendo que começar o atendimento às sete horas, do que adiantou todo o trabalho para
criar a melhor adaptação do mundo?
O cenário desejado é formado por um Ledor compromissado e treinado, uma boa
adaptação, uma operadora de concurso que não veja somente cifrões e um estudante que conheça
as possibilidades que ele tem para fazer aquela prova. O que de fato e com frequência se tem é
um Ledor treinado, mas não necessariamente compromissado, um adaptador no qual não se
reconhece a qualificação, uma operadora muito oscilante, e um participante que sequer sabe como
funciona uma prova. É uma equação muito complexa.
Quando nós estávamos trabalhando no Enem, queríamos muito que fossem feitos vídeos
explicando as adaptações. A ideia foi cancelada, e a declaração oficial para justificar esse
cancelamento foi a de que não havia verbas para a produção. Nunca foi dada outra justificativa,
mas, segundo a “teoria da conspiração de Dário”, cremos que as coisas não são explicadas porque
as pessoas vão acabar desejando, e se houver desejo, será gerada demanda, e se for gerada
demanda, vão ser obrigados a fazer, portanto, não é interessante explicar.
Hoje quando uma mãe inscreve o filho no Enem, ela não tem ideia do que faz um Ledor.
Ela pensa, talvez, que o Ledor seja igual aquela Tia que ajuda o filho dela a fazer prova na escola.
Na cabeça da mãe, o Ledor é como se fosse a professora que senta do lado do filho e faz a prova
junto com ele. Até mesmo a avaliação a qual o Ledor é submetido está intimamente ligada ao
nível de independência da pessoa que ele está atendendo.
O Ledor tem um conjunto de regras a seguir quando atua. A pessoa que está sendo
atendida não conhece essas regras. Se o Ledor sair desse conjunto de regras, ele erra. Se a pessoa
atendida tem outra ideia de qual é o conjunto de regras do Ledor, as expectativas não batem. A
pessoa que está sendo atendida pode ter a expectativa de que, quando ele babar, o Ledor irá limpar
a sua boca, porque, na escola, quando ela babava, a professora pegava o paninho que estava em
seu ombro e limpava a sua boca. O que o Ledor faz? Nada. Deixa que ele babe. Até onde o Ledor
vai ter que prestar esse atendimento? Limpar a baba de alguém é função do Ledor? O universo da
pessoa com deficiência será mais bem entendido se nós começarmos a viver esse universo.
Temos que deixar de ser um observador distante e mergulhar no meio dessas pessoas.
Temos que entrar, temos que conhecer, temos que perguntar para essas pessoas com devemos
agir. Temos que romper com a ideia de que sabemos com agir. É a pessoa que está sendo atendida
que sabe, até porque cada pessoa se desenvolve de um jeito.
Uma estória de intolerância, no ambiente do Ledor, não funciona. A pessoa que está sendo
atendida não fala o que quer, por vezes está entendendo que o Ledor está ali como o salvador da
pátria, um cara legal, o herói. Assim sendo, ela não pode reclamar do herói, e tolera ações, ou
falta de ações do Ledor, sem conversar. O silêncio não possibilita ao Ledor melhorar o seu
procedimento. Por vezes, há um sistema nefasto na relação entre o atendido e o Ledor que poderia
639
ser resolvido com duas ou três palavras. A pessoa, por vezes, tem a ideia equivocada de que o
atendimento é um benefício que o outro está dando, e não um direito dela. O Ledor perguntar
como deve proceder é dar liberdade a quem está sendo atendido de perceber esse direito.
Há uma história que minha avó contava que me marcou. Meu avô morreu quando eu tinha
quatro anos, eu tenho o mesmo nome do meu avô. Minha avó passou a vida inteira contando que
o casamento dela durou por causa dos biquinhos do pão. Antigamente os pães eram maiores, eram
bisnagas, e ela adorava os biquinhos do pão, eram mais sequinhos e mais durinhos e ela gostava
muito. Todo dia pela manhã ela pegava os biquinhos, partia ao meio, passava manteiga e botava
para o meu avô comer. Meu avô comia com toda satisfação e ela ficava felicíssima porque meu
avô comia com satisfação. Em um dia no qual eles estavam conversando, ela disse:
— Ah, meu velho, eu gosto de ti tanto que todo dia eu te dou os biquinhos do pão que eu
adoro.
— Como é que é? Eu odeio biquinho de pão! Eu só como o biquinho do pão porque tu
fazes com tanto carinho que eu não tenho coragem de não comer. Por mim eu comia o miolo.
Conversar com quem está sendo atendido é dar a ele o direito de escolher o miolo.
640
20 – Íntegra da entrevista com Ledor
A entrevista com Marcos Cavalcante teve vez em 31 de agosto de 2019, em uma sala da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Entreguei a Marcos um roteiro de perguntas que serviu
apenas para orientar a conversa que tivemos. Durante a entrevista, foi entregue quatro questões
que Marcos deveria ler, duas do Enem e duas da OBMEP. Duas das questões estavam adaptadas
com versão para Ledor, e duas delas estavam sem adaptação para Ledor. As questões foram
escolhidas em provas aplicadas antes de 2015, para evitar que o Marcos já houvesse lido essas
questões em algum momento que atuou com Ledor. Enquanto conversávamos, um gravador
permaneceu ligado e o que se segue é a transcrição do registro gravado, após algumas alterações
propostas por Marcos Cavalcante.
Ledo — Sua formação é na área humana, certo? Você faz Doutorado na área humana?
Marcos — Certo.
L — Qual o seu nível de contato com a Matemática? Você domina a simbologia
matemática?
M — Eu achei que dominava até o momento em que fui fazer o curso de Ledores. Quando
se vai fazer o curso, verifica-se que há muita coisa que a gente não sabe, ou não lembra. Essa é
uma das dificuldades na atuação: como a gente não tem muito contato com a área, quando se
depara com uma questão de Matemática, sente alguma dificuldade. Eu não posso garantir que
tenho 100% de domínio da nomenclatura. Há instrumentos para remediar esse desconhecimento,
mas permanece um desconforto.
L — Há quanto tempo você atua como Ledor?
M — Vou fazer um comentário inicial que julgo ser importante constar nas minhas
declarações. Todas as minhas considerações presentes nessa entrevista não vão ser na condição
de um especialista nesse tema. Não é o meu tema de pesquisa; não é o meu tema de estudo; eu
não trabalho academicamente com a questão dos Ledores. Eu vou prestar um depoimento apoiado
em um conhecimento muito prático, conhecimento de quem é um operário disso. Nunca foi um
objeto de reflexão mais apurada a questão dos Ledores. Isso é só um esclarecimento inicial para
dizer que tudo o que eu vou declarar é muito prático, e muito pouca coisa vai ter de teoria.
Voltando a pergunta que foi feita, esse é o terceiro ano que eu trabalho como Ledor. Eu
já apliquei cerca de quatro provas, envolvendo ENEM e outros concursos. Esse ano, estou indo
para o terceiro ano de atuação. Eu não tenho uma experiência muito vasta, mas eu tive uma
impressão, desde o curso de preparação, muito marcante em relação a esse ofício.
641
L — O que o levou a ser Ledor?
M — O que me levou a ser Ledor é uma coisa muito prosaica. Eu não sabia que existia esse
ofício, eu não conhecia esse tipo de atuação. Eu não sabia que o ENEM tinha prova assistida por
Ledor. Eu sou professor de cursinho, dou aula em pré-vestibular há muito tempo e não sabia que
havia esse tipo de aplicação de prova. Eu soube que existia um profissional especializado que
daria atendimento a um candidato que demandasse isso, em um concurso, de uma maneira muito
prosaica: minha ex-namorada trabalhava com o Dário oferecendo o curso de capacitação do grupo
dele pelo Brasil todo. Ela fez o curso, atuou como Ledora e ministrava esse curso. Certa vez, ela
veio ministrar esse curso aqui no Rio junto com o Dário e a equipe dele. Eu estava chegando de
Miguel Pereira, onde tinha ministrado aula, passei no hotel, onde ia ser o curso, para encontrá-la
rapidinho, e aí encontrei o Dário e ele me convidou para fazer o curso de capacitação de Ledores
para o ENEM. Nunca tinha passado pela minha cabeça fazer qualquer coisa nesse sentido. Fiz o
curso para saber como era esse tipo de atuação, por ser um curso na área de Educação, me
interessava como Professor, mas eu não esperava que fossem me chamar para ser Ledor. Desde
então, começaram a me chamar para trabalhar nos concursos.
Tudo isso mostra que há uma carência muito grande de profissionais com capacitação
para atuar, e uma ausência de divulgação desse tipo de trabalho. Eu tive contato com a existência
de Ledores nesse curso, até então eu não sabia da existência de Ledores, e o fato de, depois de ter
feito o curso, recorrentemente, me chamarem para trabalhar nessa função indica que não há gente
capacitada para isso. É um desespero! Posso falar com toda tranquilidade sobre o que percebo das
bancas de concurso, quando me ligam: é um desespero a procura de profissionais para trabalhar
como Ledor. Não há gente apta, não há gente capacitada para isso nos bancos das instituições
promotoras dos concursos para exercer essa função. Eu recebo ligações, às vezes, nas quais me
perguntam: “Você tem algum amigo para ir com você? Você tem alguém para indicar?” Sempre
há essas perguntas.
L — Nessas perguntas solicitam alguém qualificado? Alguém que tenha feito o curso de
preparação?
M — Eles preferem que sim, mas eu já participei de concurso público para um órgão
judiciário em que eu era o único Ledor com capacitação para fazer esse atendimento entre os que
estavam trabalhando. Nenhum outro colega tinha essa capacitação, eles não sabiam como
funcionava — “Ah! Você tem que ler uma prova. Está bom, então eu vou ler uma prova” —.
Entretanto, a gente sabe, depois que faz o curso, que a atuação do Ledor não é simplesmente saber
ler. Há uma série de técnicas que devem ser consideradas para levar a leitura adiante.
642
L — Nesse concurso que não era o ENEM, as provas eram adaptadas para Ledor?
M — Esse concurso teve uma peculiaridade porque, além do Ledor e do Transcritor, havia
a possibilidade de as pessoas que pediram atendimento especializado fazerem a prova em um
computador. Por sorte, senão teria sido um desastre, a maioria dos candidatos não solicitou nosso
serviço. Nossa presença foi importante somente na hora de fazer a redação. Não saberia dizer com
certeza se a prova tinha algum tipo de adaptação. O mais incrível é que nós só tínhamos acesso à
prova na hora em que éramos chamados para trabalhar. Era assim: o candidato precisou e me
acionou, aí é que eu ia para outra sala com ele e ganhava o caderno de provas. Até o momento em
que ele me acionasse, eu não tinha acesso à prova. Isso prejudica muito nosso trabalho porque é
fundamental que a gente faça uma leitura prévia das questões antes de ler efetivamente para o
candidato. Fazer a leitura à primeira vista é muito mais difícil e vai comprometer o entendimento
do candidato, sem dúvida alguma.
L — Você julga que seria viável entregar as questões ao Ledor antes da ocorrência do
concurso?
M — Não antes da ocorrência do concurso, mas durante a ocorrência. Nesse caso, por
exemplo, poderia ter ocorrido como no ENEM. A gente entra em sala com o candidato e quando
chega a prova dele, chega a nossa junto. Nesse concurso do Judiciário que eu apliquei, a gente
não tinha acesso à prova em nenhum momento, a não ser quando o candidato solicitasse, no
decorrer da prova. Nesse momento é que eu recebia a prova para ler para o candidato.
L — Enquanto o candidato ficava mexendo no computador, você não tinha acesso à prova?
M — Para você ter uma ideia, eu não ficava nem na sala. Eu ficava do lado de fora
aguardando. Na hora em que fosse chamado, a gente era transferido para uma outra sala. Foi
surreal: quando o rapaz me chamou para fazer a redação, eles me transferiram para uma outra
sala, que era longe, no segundo andar, e não tinha elevador. Tivemos que subir dois andares de
escada, durante o concurso, com o deficiente visual, para conseguir fazer a redação na sala
apropriada.
L — A sala com computador tinha mais de uma pessoa?
M — Sim, tinha mais de uma pessoa.
Esse concurso foi, para mim, a materialização da bagunça e da falta de organização no
atendimento especializado aos deficientes visuais.
L — Foi do Judiciário, esse concurso?
M — Foi. Aqui no Rio. Não me lembro se era federal ou estadual. Por incrível que pareça,
o local de aplicação dessa prova foi uma escola especializada na educação de deficientes visuais.
Eu fiquei até meio apreensivo, quando soube do local de prova. Eu achei que ia chegar lá e todo
mundo seria especialista no atendimento dos deficientes visuais. Fiquei pensando: gente, perto
643
deles eu não sei fazer nada! E eu vi que não, na verdade eu tinha até um pouco mais de prática e
capacitação para a função do que muita gente que estava lá aplicando prova comigo.
L — Nessa escola, nesse local de prova só tinha deficiente visual?
M — Sim, eles separaram essa escola para aplicar prova só para deficientes visuais.
L — Eles utilizaram os professores de lá para servir como Ledor?
M — Não. O pessoal que estava trabalhando comigo não era de lá. Só um rapaz, que era
chefe de sala — não era Ledor — era de lá. Diga-se de passagem, e eu digo isso com muita
tranquilidade porque eu fiz a reclamação lá na hora, o modo como esse rapaz conduziu a chefia
de sala foi muito descortês, muito antiprofissional. Para ter uma ideia, ele disse em tom de
brincadeira, que ali na região tinha tiroteio todo dia às cinco horas, para ver se os candidatos
acabavam a prova mais rápido.
Esse concurso foi uma experiência muito ruim. Eu esperava que fosse uma experiência
muito melhor que o ENEM, e foi muito pior.
L — Você já possuía contato com deficientes antes de atuar como Ledor?
M — Não. Não tinha contato. O contato que tive, não diretamente com deficientes visuais,
mas com uma modalidade de educação inclusiva, foi, durante a minha graduação na UERJ,
quando cursei a disciplina de educação inclusiva. Foi o mais próximo que eu cheguei dessa forma
de atuação. Eu comecei a ter contato a partir da aplicação de provas, mas a nossa atuação não se
restringe a deficientes visuais. Eu já trabalhei com TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção com
Hiperatividade), com deficiente físico e com deficiente visual também. O Ledor acaba ficando
identificado, me parece, com o atendimento ao deficiente visual, porque é o atendimento mais
complexo, mas a gente atua com outros tipos de atendimento também.
L — Esse contato com as pessoas com deficiência provocou mudança na percepção que
você possuía do universo dessas pessoas?
V — Não sei se mudou a percepção, mas é inegável que me aproximou desse universo,
com o qual eu não tinha nenhuma proximidade, a não ser através de estudos. Também, me fez
pensar sobre a complexidade que é o processo de ensino-aprendizagem para deficientes,
efetivamente inclusivo. Parece-me que é preciso uma série de considerações além da adaptação
das questões. Precisaria haver mais coisas envolvidas. É necessário pensar que há formas de
aprendizagem diferentes, e, por isso, há necessidade de formas de ensino diferentes. Isso, para
mim como professor, foi importantíssimo. Perceber o tipo de abordagem, perceber o modo como
fazem a prova, o modo como organizam o seu raciocínio, foi muito importante. Eu não diria que
houve uma mudança na minha percepção do universo do deficiente, mas foi um enriquecimento,
sem dúvida, para minha atuação como Professor.
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L — Você já atuou em provas com questões adaptadas para Ledor, certo?
M — Sim. Já atuei no ENEM.
L — Você já teve a oportunidade de comparar as questões adaptadas com as não adaptadas?
V — Eu não tive a oportunidade de fazer essa comparação. Quer dizer, a oportunidade,
talvez eu tenha tido ... Onde eu pude perceber bem esse tipo de coisa com calma foi no curso de
capacitação. Percebi que, em algumas situações, há problemas. No curso, eles apresentavam
questões para a gente ler e depois apresentavam a forma adaptada delas. Há coisas que não são
passíveis de correspondência. Um exemplo que foi, para mim, muito marcante deu-se em uma
poesia concreta. Ela tem uma questão visual, imagética, muito forte. Eu não teria como ler uma
prova com essa poesia para um deficiente visual e ele ter o mesmo entendimento que um vidente.
Ela tem uma dimensão imagética muito forte. Eu teria outras formas de superar essa dificuldade.
Eu poderia pensar em um elemento tátil para ele tentar observar e ter acesso a essa imagem.
Em suma, creio que não há uma correspondência 100% entre as versões e há questões em
que não há como ter adaptação. Essa reflexão não se estabeleceu na prática de Ledor. Foi no curso
de capacitação que eu comecei a pensar um pouco sobre isso, porque no ENEM a gente não tem
acesso ao caderno de provas normal, regular, a gente tem acesso, apenas, ao caderno de provas já
adaptado.
L — O único contato que você teve com questões adaptadas, na atuação como Ledor, foi
no Enem, certo?
M — Isso. Só no ENEM.
L — Você julga que as adaptações feitas pelo ENEM são adequadas para a construção das
soluções das questões?
M — Algumas vezes sim e outras não. Eu acho que isso varia muito de questão para questão
e de área para área. Em alguns casos, a adaptação complica mais do que ajuda. O Ledor dispõe
de um conjunto de técnicas para ler as questões. (Eu estou pensando para além das adaptações).
Se a gente não flexibiliza as técnicas em alguns casos, a leitura da adaptação inviabiliza o aluno
resolver a questão, porque a leitura fica uma coisa que ele não consegue entender. Quando você
tem uma questão, por exemplo, com muito negrito, com muito destaque, com muitos parênteses,
com muito travessão, é importante que o Ledor consiga indicar esses elementos na própria
entonação. Se o Ledor for falar “travessão”, e fala a frase, “negrito”, e fala a palavra... O candidato
se perde. O nível de dificuldades na leitura e adaptação varia muito entre as questões. A maior
dificuldade que eu vejo está nas Ciências Exatas. As adaptações aí carecem de um pouco mais de
cuidado ou de inclusão. De repente, seria melhor pensar em questões diferentes, talvez isso fosse
mais viável do que ficar pensando em adaptá-las.
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L — Há algum tipo de questão que você sente maior dificuldade em ler?
M — Ciências Exatas e Língua Estrangeira. Ciências exatas não tem jeito, você tem que
ler. Você ou o seu colega. Uma coisa legal seria ter sempre um colega de outra área. Em tese, nós
trabalhamos em dupla, pelo menos no ENEM. O certo é trabalhar em dupla, mas eu já apliquei o
ENEM sozinho. No concurso do Judiciário, do qual falamos, eu também trabalhei sozinho. Uma
das formas de driblar a dificuldade específica de determinadas áreas é conseguir formar equipes,
duplas, com pessoas de áreas diferentes. Como eu trabalho com Humanas, pode deixar que a parte
textual, de Literatura, de História, de Geografia eu dou conta. Por outro lado, há uma parte de
Química, de Biologia, de Física e de Matemática que eu não domino, mas eu teria um colega da
área para me ajudar.
L — Essa maior dificuldade na área das exatas é sua, devido a sua área de formação, ou é
consequência das adaptações?
M — São as duas coisas. Talvez a questão seja bem adaptada, mas ela não seja tão bem
adaptada a ponto de eu, que não sou da área, conseguir entender, e talvez para um colega da área
de exatas, de Matemática, a adaptação seja suficiente para que ele consiga prestar o melhor
atendimento.
Há uma outra dificuldade que são as línguas estrangeiras. Essa dificuldade é um pouco
atenuada porque no ENEM há Ledores específicos para Língua Estrangeira, que, normalmente,
são acionados quando o candidato quer fazer esse tipo de prova.
L — O que significa esse Ledor específico de Língua Estrangeira?
M — Nos lugares nos quais trabalhei, funcionava mais ou menos assim: se alguém fosse
Ledor de inglês, ele ficava meio como um Ledor volante. Quando um candidato precisava de
alguém para ler a prova de inglês, ele era acionado e substituía o Ledor que estava na sala. Nas
duas vezes em que eu trabalhei no ENEM, funcionou dessa forma. Eu não sei se isso é uma norma
ou se foi uma solução prática encontrada na hora, naquele lugar. Talvez pensar as outras
disciplinas da mesma forma, com suas especificidades, contribuísse com as adaptações. Poderia
ocorrer uma adaptação que não fosse tão maravilhosa, mas que o sujeito, por ser da área,
conseguisse um resultado melhor na hora de ler a questão.
L — De forma geral, não se restringindo apenas à leitura das provas, qual a maior
dificuldade que você tem na atuação como Ledor?
M — Nessa experiência que eu tenho como Ledor, eu vejo, primeiramente, uma questão de
organização do concurso, uma questão prática. Eu penso que, quando se tem atendimento
especializado, é fundamental que o chefe do local de prova tenha formação para isso. O que eu
observei nas vezes em que eu atuei: vamos supor que esse andar inteiro esteja destinado a
atendimento especializado e o chefe desse local não sabe nada sobre como proceder nesse tipo de
646
atendimento. As vezes em que trabalhei no ENEM, isso aconteceu e foi muito prejudicial ao
trabalho. Os coordenadores do local não dominam o vocabulário da área, não dominam os
conceitos da área, não dominam o modo como o trabalho deve ser realizado. No ano passado, no
ENEM, eu trabalhei em um lugar em que a pessoa não sabia que o Ledor trabalha em dupla. Na
hora de designar a sala de cada um, ele colocou um Ledor sozinho com um fiscal. Isso acaba com
o trabalho, porque você não tem condições de ler uma prova inteira sozinho. Teve uma senhora
que trabalhou comigo, no ano passado, nesse lugar, que ficou com calo na voz porque precisou
ler a prova toda. Isso é reflexo do despreparo do chefe do local. Então, é fundamental que as
pessoas que forem coordenar os locais de aplicação de provas em que houver atendimento
especializado também façam a capacitação para o atendimento especializado. De outra forma, os
Ledores acabam tendo de ensinar a elas como funciona: que o atendimento especializado,
normalmente tem uma hora a mais de prova; que Ledor trabalha em dupla; que em sala de
atendimento especializado não tem fiscal de sala, tem dois Ledores e um chefe de sala ... A pessoa,
na época, não sabia de nada disso, o que foi muito ruim. A primeira semana, então, foi horrível.
Eu fiquei sozinho com o candidato, uma fiscal e um chefe de sala.
Após narrar essa experiência, eu entro no segundo ponto de maior dificuldade. O primeiro
é a falta de capacitação dos chefes e dos coordenadores dos lugares com atendimento
especializado, e o segundo é a falta de comprometimento da equipe que está aplicando o concurso.
Falta de comprometimento e falta de profissionalismo.
L — A equipe a qual você está se referindo são os Ledores?
M — Alguns Ledores, mas não a maioria. Os Ledores são os mais comprometidos, pelo que
eu tenho visto nos atendimentos. Refiro-me à própria organização: os fiscais, os coordenadores...
Vou continuar narrando minha experiência e você vai ter uma noção. Eu estive, no ano passado,
sozinho como Ledor, com um chefe de sala e com um fiscal de sala, que ficaram dormindo o
tempo todo da prova. Eu também já te falei daquele outro caso que o sujeito ficou apressando os
candidatos para eles acabarem a prova para ir mais rápido para casa. Eu tenho visto que isso é
uma marca. É uma marca que caracteriza uma falta de profissionalismo mínimo, visto que a
pessoa se comprometeu quando aceitou o convite. Quando me chamam para trabalhar em um
concurso, me falam que eu tenho que ficar de tal hora a tal hora. Ninguém mentiu para mim
avisando, durante o concurso, que eu tinha uma hora a mais. Na proposta, você já sabe que vai
trabalhar até às oito horas. Se o candidato não for, você vai ter que ficar lá, você se comprometeu
com isso. Se o candidato vai usar o tempo adicional, você já foi informado que isso poderia
acontecer. Eu tenho visto um pouco desse descomprometimento. Como existe uma carência muito
grande na área, utilizam pessoas sem saberem que compromissos terão. Pegam-se as pessoas que
aparecerem.
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A meu ver, os dois principais problemas são a falta de capacitação dos coordenadores, o
que atrapalha demais o trabalho, e a falta de profissionalismo das pessoas que estão trabalhando
na aplicação das provas.
Só para apresentar uma outra dificuldade, que não é de responsabilidade do pessoal
envolvido na aplicação, mas é de organização do concurso: foi muito prejudicial, no ENEM,
quando se tirou as duas provas de Ledores. Cada Ledor, no ENEM, tinha uma prova, eu tinha
uma prova e você, que trabalha comigo, tinha outra. Isso acabou. Agora, só há uma prova para
nós dois. Com duas provas, você ia lendo uma questão e eu ia lendo para frente, me preparando
para quando chegasse o meu momento. A gente normalmente vai por bloco, você lê dez e eu leio
dez. Enquanto você estava lendo as suas dez questões, eu estava nas dez seguintes para que,
quando chegasse a minha vez, eu não fizesse uma leitura imediata, uma leitura de surpresa.
Enquanto eu me preparo, eu vou circulando, eu vou mexendo, vou tentando modular a minha voz
para tornar a compreensão mais fácil para o candidato. Tirou-se essas duas provas, e eu não sei
se esse ano vai ter. Nos dois anos anteriores não teve. Era uma prova para a dupla de Ledores e
isso gera uma dificuldade. Essa é uma outra questão, de organização, que não diz respeito aos
profissionais que estão aplicando as provas, e sim a quem está organizando o concurso. É
importante que volte a ter dois exemplares da prova.
L — A pessoa com deficiência visual participa dos concursos em iguais condições
relativamente aos videntes?
M — A atuação dos Ledores é uma forma de encaminhar essa participação, mas eu não sei
até que ponto ela é plena. Tomemos como exemplo o concurso do judiciário, no qual o deficiente
visual e, na hora de fazer a redação, teve que se deslocar para uma sala no segundo andar, sem
elevador. Quanto tempo ele perdeu nesse deslocamento? Por mais que ele tenha tempo adicional,
parte desse tempo adicional foi perdido nesse deslocamento. Se há uma tentativa teórica de
organizar, adaptar a prova e tornar isso um pouco mais isonômico, eu não sei até que ponto, nos
lugares de prova, se consegue levar isso adiante. Há uma busca por essa isonomia, mas eu não sei
até que ponto essa busca se concretiza. Até porque, me parece, que deveríamos entrar em uma
questão pedagógica mesmo, em que se busque responder se a adaptação de prova é a melhor saída.
Não seria melhor pensar em provas diferentes, em provas específicas? Porque eu acho que, ao
adaptar uma prova, se está exigindo e uniformizando a demanda por determinadas competências
e habilidades que não necessariamente serão as mesmas diante das potencialidades de cada uma
dessas pessoas. Eu não sei se a melhor saída é adaptar. Talvez devêssemos pensar que são
aprendizagens específicas que desenvolvem competências específicas, e que essas competências
podem ser desenvolvidas de formas muito diferentes e serem tão boas quanto qualquer outra.
Talvez pudéssemos pensar para além da adaptação: pensar em algo mais inclusivo ainda,
acabando com essa ideia de padronização. Até quando a gente fala em inclusão, está tentando
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incluir dentro de um padrão. Seria mais interessante abolir o padrão e pensar que há várias formas
de aprendizagem, de vivência, e que todas elas têm as suas potencialidades. Por isso, penso que
as condições não são tão idênticas assim, por mais que haja um esforço para isso.
L — Vamos parar aqui por uns instantes porque eu vou pegar as quatro questões para você
ler. Eu vou tomar a liberdade de filmar, ok?
M — Beleza! Sem problema.
(Após leitura silenciosa das quatro questões pelo Marcos, ele começou a ler as questões, e eu, a
filmar a leitura que ele fazia.)
L — Pode começar na hora que você quiser.
M — Estou pronto!
L — Você vai ler agora as questões sem adaptações, certo?
M — Isso.
Questões sem versão para Ledor
649
M — Questão cento e quarenta e seis. Um banco solicitou aos seus clientes a criação de
uma senha pessoal de seis dígitos formada somente por algarismos de zero a nove para acesso a
conta corrente pela internet. Entretanto, um especialista em sistemas de segurança eletrônica
recomendou à direção do banco recadastrar seus usuários solicitando para cada um deles a criação
de uma nova senha com seis dígitos partindo, agora, (perdão) permitindo, agora, o uso das vinte
e seis letras do alfabeto além dos algarismos de zero a nove. Nesse novo sistema, cada letra
maiúscula era considerada distinta de sua versão minúscula. Além disso, era proibido o uso de
outros tipos de caracteres. Uma forma de avaliar uma altera... alteração no sistema de senhas é a
verificação do coeficiente de melhora, que é a razão do número de possibilidades de senha em
relação ao antigo (perdão) ... Uma forma de avaliar uma alteração no sistema de senhas é a
verificação do coeficiente de melhora, que é a razão do novo número de possibilidades de senha
em relação ao antigo.
O coeficiente de melhora da alteração recomendada é: opção A, sessenta e dois elevado
a sexta potência, sobre dez elevado a sexta potência; letra B, sessenta e dois fatorial sobre dez
fatorial; letra C, sessenta e dois fatorial, quatro fatorial, tudo isso sobre dez fatorial cinquenta e
seis fatorial; letra D, sessenta e dois fatorial menos dez fatorial; e letra E, sessenta e dois elevado
a sexta potência menos dez elevado a sexta potência.
Podemos seguir a diante? ...
Questão sete. Um retângulo ABCD, de papel branco, com área de vinte centímetros
quadrados, é dobrado, como mostra a figura, formando o pentágono BCDEF, com área de catorze
centímetros. Se pintarmos de azul os dois lados do papel dobrado e desfizermos a dobra, o
retângulo (o retângulo) ficará com uma regi ... região não pintada.
Qual é a área... dessa região? Opção A, dez centímetros quadrados; opção B, 12
centímetros quadrados; opção C, catorze centímetros quadrados; opção D, dezesseis centímetros
quadrados; e opção E, dezoito centímetros quadrados.
650
Então ... essa questão ... eu posso comentar? Como ela tem imagem e não tem nenhum
tipo de adaptação, seria o caso, pelo menos na forma que eu atuaria, de perguntar ao candidato
como é que ele gostaria que eu descrevesse a imagem. Poderia utilizar algum elemento tátil: tentar
desenhar as figuras (tentar porque elas são bem complexas) no braço ou na mão, ou fazer uma
descrição oral. A questão não indica para o Ledor como a gente deveria ler esse tipo de imagem:
um retângulo ABCD que é dobrado, formando um pentágono, qual é a área, enfim ... Como não
há adaptação, teria de ser pelo tato, mas isso varia para cada candidato. Portanto, a minha saída
para esse tipo de problema é sempre perguntar ao candidato, a quem eu estou atendendo, qual é a
melhor forma para ler, como eu poderia ajudar melhor.
L — Vamos ler as outras, então?
M — Essas que tem adaptação.
Com versão para Ledor
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Questão cento e setenta e seis. O índice de eficiência utilizado por um produtor de leite
para qualificar suas vacas é dado pelo produto do tempo de lactação, em dias, pela produção
média diária de leite, em quilos, dividido pelo intervalo entre partos, em meses. Para esse
produtor, a vaca é qualificada como eficiente quando esse índice é, no mínimo, 281 quilogramas
652
por mês, mantendo sempre as mesmas condições de manejo, abre parênteses, alimentação,
vacinação e outros, fecha parênteses. Na comparação de duas ou mais vacas, a mais eficiente é a
que tem o maior índice. A tabela apresenta os dados coletivos de cinco vacas. Segue a descrição
da tabela. A tabela é intitulada dados relativos às produções das vacas e ... e que apresenta
informações referentes às vacas, tempo de lactação, em dias, produção média diária de leite, em
quilos, e intervalos entre partos, em meses. Registra os seguintes dados: a vaca Malhada, 360 dias
de lactação, doze quilos de produção média diária de leite, e quinze meses de intervalos entre os
partos; a vaca Mamona, trezentos e dez dias de lactação, onze quilos de produção média diária de
leite, e doze meses de intervalo entre os partos; vaca Maravilha, duzentos e sessenta dias de
lactação, catorze quilos de produção média diária de leite, e doze meses de intervalos entre os
partos; vaca Mateira, trezentos e dez dias de lactação, treze quilos de produção média diária de
leite, e treze meses de intervalo entre os partos; vaca Mimosa, duzentos e setenta dias de lactação,
doze quilos de produção média diária de leite, e onze meses de intervalo entre os partos.
Após a análise dos dados, o produtor avaliou que a vaca mais eficiente é a: opção A,
Malhada; opção B, Mamona; opção C, Maravilha; opção D, Mateira; e opção E, Mimosa.
Vamos a outra adaptada.
Questão número nove. O professor Michel aplicou duas provas a seus alunos e divulgou
as notas por meio do gráfico mostrado abaixo. Por exemplo, o aluno A obteve notas nove e oito
nas provas um e dois, respectivamente. Já o aluno B, obteve notas três e dois. Para um aluno ser
aprovado, a média aritmética de suas notas deve ser igual a seis ou maior que seis. Qual dos
gráficos apre... representa a região correspondente às notas de aprovação?
(A questão descreve os gráficos da seguinte forma:)
A figura do enunciado mostra um plano cartesiano com um eixo horizontal, rotulado
prova um, e o vertical, prova dois. Há pontos A e B de coordenadas: o ponto A nove vírgula oito
e o ponto B três vírgula dois. As alternativas apresentam esse mesmo plano cartesiano com regiões
sombreadas em cinza, como segue: opção A, o retângulo de vértices zero vírgula seis, dez vírgula
seis, dez vírgula dez, e zero vírgula dez; opção B, o retângulo de vértices ... vértices seis vírgula
zero, dez vírgula zero, dez vírgula dez e seis vírgula dez; opção C, o polígono de vértices seis
vírgula zero, dez virgula zero, dez vírgula dez, zero vírgula dez, e seis vírgula zero; opção ..., o
quadrado de vértices seis vírgula seis, dez virgula seis, dez vírgula dez, e seis vírgula dez; e o
triângulo ..., opção E, o triângulo de vértices dez virgula dois, dez virgula dez, e dois virgula dez.
653
L — Você sentiu dificuldade na leitura de alguma dessas questões?
M — Sim. Sobretudo nas que não são adaptadas, mas alguma dificuldade também nas
adaptadas. Essa questão do ENEM, 176, que descreve a tabela foi a que menos dificuldade eu
tive. Agora, nas que não foram adaptadas eu tive dificuldades, não só pelos símbolos matemáticos,
mas como produzir a leitura dessas frações, por exemplo, ou como produzir a percepção imagética
das figuras da questão sete. Já na questão nove, que é adaptada e é dada a forma que se deve ler,
conforme eu fui lendo as opções, eu fiquei na dúvida se eu deveria ler zero vírgula seis ou zero
seis. Creio que essa dúvida se deveu a ausência de conhecimento matemático. Às vezes você
imagina que seja de determinada forma, você pode até ter certeza de que é de determinada forma,
mas até que ponto se eu falar dessa maneira não estarei indicando um caminho de resposta, por
não ser da área e não saber qual é a competência que estão querendo desenvolver. Eu senti
dificuldade em todas. A com menos dificuldade foi a adaptada do ENEM, e as que eu tive maior
dificuldade foram as não adaptadas.
L — Sua leitura de cada uma dessas questões foi imediata ou você teve que fazer alguma
escolha, decidindo sobre a melhor forma de fazer a leitura?
M — Eu fiz uma leitura prévia. Particularmente penso que a leitura na prova nunca deve
ser imediata e ela nunca deve ser literal, da forma que está sendo pedido. Se o atendimento é
especializado, a gente deve estar em função do candidato. Não se pode ser muito rígido na hora
de aplicar a prova, no sentido de ter um padrão de comportamento, uma padronização da leitura
que se vai aplicar a todo mundo. A gente deve ouvir muito o candidato e perguntar como ele vai
se sentir mais confortável na leitura. Como nessa leitura que eu acabei de fazer não havia um
candidato, eu li da forma que penso ser a mais adequada para o maior número de pessoas, mas a
leitura não corresponde exatamente à questão, e você vai perceber isso com o cotejamento do que
eu li com o que está no texto. Em vários momentos eu optei por soluções para tornar aquilo mais
compreensível. A leitura do texto, tal como ele está aqui, quando ela vai para a oralidade, não fica
tão compreensível quanto a leitura silenciosa. O Ledor sempre precisa tomar uma decisão junto
com o participante, junto com o candidato, sobre qual é a melhor forma de ler e qual é a melhor
forma de ouvir essa leitura.
L — Há mais alguma coisa que você gostaria de declarar?
M — Não. Creio que conseguimos abordar bem o tema.
L — Marcos, muito obrigado!
M — Eu fico feliz pelo interesse pelo tema e parabenizo a escolha. É legal saber que o Ledor
está sendo tema de estudo, sobretudo essa questão da adaptação. Creio que há muita coisa a ser
melhorada e só as pesquisas vão viabilizar essas melhorias. Parabenizo e agradeço o interesse em
ouvir o que eu tinha a dizer sobre isso.