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A DEMOCRACIA MEDIADA POR IMAGENSApontamentos sobre Política Pós Moderna
Resumo: O presente texto discute a ideia de uma democracia mediada porimagens remotas. Para tanto, problematiza a relação entre cidadaniamoderna e posição ideológica, ancorado na filosofia político deNoberto Bobbio e na proposta de uma ‘política de terceira via’defendida por Anthony Giddens. Em seguida, apresenta as noções deEleitor-consumidor (proposta por Flavio Silveira), de DemocraciaDeliberativa e de Imagem Pública (elaboradas por John Thompson).Também são abordados vários temas conexos: a teoria dos escândalos; osurgimento das Redes Sociais e Digitais; e os novos movimentos sociaisrizomáticos, descritos por Manuel Castells. Palavras-chave: Ciências Sociais Aplicadas1; Comunicação Midiática2; Governo de imagens3;Abstract: This paper discusses the idea of a mediated remote imagesdemocracy. For both, discusses the relationship between moderncitizenship and ideological position, anchored in the politicalphilosophy of Norberto Bobbio and the proposal of a 'third waypolitics' advocated by Anthony Giddens. Then presents the notions ofvoter-consumer (proposed by Flavio Silveira), Deliberative Democracyand Public Image (prepared by John Thompson). Are also addressedseveral related themes: the theory of scandals; the emergence ofSocial and Digital Networks; rhizomatic and new social movements,described by Manuel Castells. Keywords: Social Sciences1; Media Communication2; Government ofimagens3;Resumen: Este artículo discute la idea de una imágenes a distanciamediada por la democracia. Por tanto, se analiza la relación entre laciudadanía moderna y la posición ideológica, anclada en la filosofíapolítica de Norberto Bobbio y la propuesta de una "forma de hacerpolítica de los terceros defendidas por Anthony Giddens. Acontinuación se presentan las nociones de los votantes-consumidores(propuesto por Flavio Silveira), La democracia deliberativa y PublicImage (preparado por John Thompson). También se abordan varios temasrelacionados: la teoría de los escándalos; la aparición de las redessociales y digitales; rizomática y nuevos movimientos sociales,descrito por Manuel Castells. Palabras clave: Ciencias Sociales Aplicadas1; Midiática2 Comunicación;Gobierno imagens3;
1. Introdução: cidadania moderna e posição ideológica.
Na revolução francesa, os girondinos sentaram à
direita; e os jacobinos, à esquerda. Para Noberto Bobbio
(2001), tal fato caracterizou ideologicamente toda história
política que se seguiu. A direita representa os que
defendem a liberdade individual acima da igualdade social
entre indivíduos; a esquerda corresponde aos que advogam a
primazia da igualdade de todos sobre a liberdade de cada
um. Os dois lados políticos seriam assim polos da
contradição moderna entre liberdade e igualdade.
Assim, por exemplo, pode-se dizer que Nietzsche é um
filósofo existencialista 'de direita' quando afirma que os
homens são diferentes perante Deus e Estado; que a
igualdade jurídica entre indivíduos é uma mentira (1998).
Por outro lado, também se pode dizer que Sartre é um
existencialista 'de esquerda' porque acredita que cada
homem é um 'universal singular', uma miniatura diferenciada
do universo, ao lado de outros universos singulares (2014).
Porém, a contradição política entre direita e esquerda
não é apenas discursiva (e filosófica); ela é ideológica e
está encravada na prática política, nas formas de
representação da sociedade moderna. Na verdade, pode-se
dizer que toda política moderna se baseia na luta entre
essas duas práticas políticas contrárias.
Para Bobbio, que era liberal e socialista, quando uma
sociedade pendia demais para esquerda, tornava-se
totalitária em nome da igualdade; e, quando se fixava na
direita, se tornava injusta e desigual em nome da
liberdade. O ideal, então, seria o equilíbrio complementar
entre as duas práticas, o centro, a fraternidade, a única
capaz de observar qual a melhor posição no momento para
cada situação (movimento pendular) e de negociar
pragmaticamente soluções e compensações caso a caso. O
centro seria assim menos ideológico e mais político, ou
mais responsável e orientado por objetivos e estratégias do
que por convicções e valores, para citar as éticas
políticas de Weber (2004, 112-116).
O sociólogo contemporâneo Anthony Giddens (1996)
retoma a reflexão de Bobbio, mas, socialdemocrata, discorda
no movimento pendular do centro, apontando a simetria
paradigmática insustentável da polaridade atualmente: ou
temos a regulamentação econômica com anarquia moral – como
quer a esquerda; ou a anarquia econômica com fortes
controles morais – como deseja a direita.
ESQUERDA DIREITA
Defende intervenção econômica doEstado Liberdade de Mercado
Liberdade total para vida sexuale familiar
Moralismo tradicional, regulamentaçãoda vida civil
O crime é produto dadesigualdade social
O crime resulta da desagregaçãofamiliar resultante da entrada dasmulheres no mercado de trabalho.
Com a proposta de uma Política de Terceira Via (2001a, 2001b),
Giddens elabora uma resposta ao impasse entre a
socialdemocracia tradicional (o keynisianismo e o estado do
bem-estar social) e o neoliberalismo (ou o estado mínimo e
aberto às trocas externas) com a ampliação do papel
desempenhado pela Sociedade Civil. Nem a auto regulação
selvagem dos mercados, nem o Estado inoperante e falido;
apenas democratização da democracia pode mediar o conflito
entre os interesses econômicos e políticos. A política de
terceira via seria essa despolarização pragmática do modelo
esquerda x direita, em que planejamento e a liberdade se
combinem criativamente.
Este realinhamento dos extremos desemboca na ideia de
uma política sem inimigos. Para esquerda, os maus são os
capitalistas, o mercado, as grandes corporações, os EUA,
etc; para direita, os maus são: o estado inchado, o
relativismo cultural, os imigrantes e os criminosos. “Mas
não há uma fonte concentrada dos males do mundo: temos que
deixar para trás a política de redenção” (GIDDENS, 2001a,
p.45). E essa 'política sem inimigos', acima da direita e
da esquerda, é também um forte argumento eleitoral.
Muitos são os que minimizam a importância das ideias de
Giddens, mas a verdade é que ela é enorme tanto diretamente
- no Partido Trabalhista britânico, no Partido Democrata
dos EUA e em todos os partidos socialdemocratas ocidentais
que seguem explicitamente sua orientação; como
indiretamente, através de imitadores inconfessos de
diferentes tipos.
A política de terceira via ajudou a terceirizar o
estado (diminuir seus custos sem prejuízo do setor social),
através de organizações não governamentais, políticas
público-privadas e redes de agentes temporários. Por outro
lado, também inspirou reformas previdenciárias e
flexibilizações nas legislações trabalhistas, sequestrando
direitos de trabalhadores e aposentados em todo mundo.
Mas, a principal deficiência da política de terceira
via é a ausência de qualquer análise sobre o papel dos
meios de comunicação no comportamento político e na
transformação do cidadão moderno em um consumidor de
informação.
2. O eleitor-consumidor e a cidadania midiática
Flávio Silveira (1998) subdivide os comportamentos
políticos em três grupos: comportamento não racional
tradicional (baseado na lealdade, na tradição e em relações
de dependência duráveis); comportamento racional
(ideologicamente orientado, com ênfase em objetivos e
estratégias); e novo comportamento não racional (baseado na
sensibilidade individual de caráter instável e volúvel).
Segundo o autor, este terceiro tipo de comportamento
político desenvolvido a partir da linguagem da mídia, está
se generalizando e tende a se tornar dominante.
A diferença entre os antigos e os novos tipos de
comportamentos não racionais é que, enquanto o
comportamento tradicional é uma relação durável, repetida,
contínua, com laços de lealdade; o novo comportamento
midiático é instável, mutável, descontínuo, volátil. O
primeiro se baseia em uma interação social que envolve
dependência, subordinação e até coerção; o segundo implica
em uma autonomia individual relativa e em uma liberdade de
decisão limitada. O antigo comportamento não racional
implicava em uma perda da identidade, no qual se tinha uma
confiança incondicional; enquanto o novo comportamento
eleitoral não racional é uma afirmação da própria
identidade, uma consulta à sensibilidade, que pode levar ao
apoio ou à reprovação circunstancial dos atores políticos.
Outra distinção sustentada por Silveira é a diferença
entre o comportamento racional e o novo comportamento não
racional. O comportamento de tipo racional é aquele que
defende seus interesses de forma lógica, geral, tomando
decisões calculadas a partir de conteúdos políticos;
enquanto, “a nova escolha não racional” é formada por
decisões imediatas e volúveis, motivada a partir de imagens
e símbolos, uma compulsão ao apelo emocional travestido de
uma consulta à sensibilidade e ao bom gosto do eleitor.
Silveira afirma que o comportamento racional é
resultante de critérios objetivos universais, enquanto o
comportamento midiático é fruto de critérios subjetivos,
singulares; que, enquanto um crê na representação
conceitual da realidade e na veracidade dos fatos de forma
abstrata, geral e homogênea, o outro constrói uma
representação simbólica do mundo com base na autenticidade
de várias referências concretas e heterogêneas.
Na verdade, Silveira faz uma interpretação das ideias
de Max Weber, traçando uma correspondência entre as “formas
de dominação legítima – tradicional, legal e carismática”
(WEBER, 1992, p. 349-359) - com seus tipos de comportamento
político eleitoral. Max Weber acreditava na crescente
burocratização das sociedades modernas e no predomínio da
racionalidade por objetivos, em detrimento das formas de
dominação legítimas tradicionais, enquanto Silveira observa
um crescente predomínio do comportamento midiático ou de
uma dominação legítima do tipo carismática – o que, segundo
o autor, ameaça à democracia representativa, ou seu modelo
parlamentar baseado na racionalidade política. (SILVEIRA,
1998, 230)
O eleitor-consumidor não vende seu voto por favores ou
dinheiro; nem tampouco acredita em partidos políticos e nos
seus programas eleitorais. Ele vota na imagem do candidato,
vota na pessoa humana em que mais confia, vota no que vê na
mídia e no que conversa com os amigos. O novo comportamento
não racional proposto por Silveira é apoiado em pesquisas
de opinião quantitativa e de volatilidade eleitoral, que
apontam para uma crescente imprevisibilidade (que não havia
nos comportamentos clientelistas e de identificação
partidária).
Assim a política passou a se reorganizar parcialmente
pela gramática específica da linguagem dos meios de
comunicação de massa (com ênfase na novidade, no inusitado
e em padrões estéticos), produzindo uma cultura política
centrada no consumo de imagens políticas, gerando novas
competências políticas, como marketing político (que adapta
o discurso político às preferências do público através de
pesquisas) e se baseia na similitude aparente entre
audiência e eleitorado (ou entre a opinião pública e o
mercado consumidor). A mídia promoveu uma des-ideologização
do discurso político, do paradigma direita-esquerda e os
programas partidários se tornaram muito semelhantes em suas
propostas práticas (organizados a partir de pesquisas de
opinião sobre as preferências do eleitor).
O critério principal do voto passa então a ser ‘quem’
e não ‘o que’ – uma vez que todos dizem praticamente a
mesma coisa. Houve uma personalização da política; a
confiabilidade e a honestidade se tornaram pré-requisitos
decisivos nas escolhas eleitorais – e não a posição
política, se de direita ou esquerda, do candidato. Há ainda
vários outros aspectos negativos dessa des-ideologização
carismática do discurso político: a redução das diferenças
a gostos, a imagem como inimiga do pensamento abstrato, a
linguagem da TV como empecilho à polêmica argumentativa.
O resultado? O crescente desinteresse do público mais
informado; o caráter artificial da opinião pública; a perda
de autenticidade dos agentes e das instituições de
representação política; e, principalmente, a substituição
parcial dos partidos e das instituições políticas
representativas pelos meios de comunicação no debate e na
defesa dos interesses da população. A mídia, na
modernidade, sequestrou o 'lugar da fala' da autoridade
pública e religiosa. Nas culturas pré-modernas, a
informação era distribuída unicamente a partir dos estados
e das igrejas.
Ao se estabelecerem instituições de mediação com
autonomia relativa, o 'monopólio da fala' foi terceirizado.
Assim, a mídia é, ao mesmo tempo, um campo aberto para o
diálogo direto entre os atores políticos e o público; e
também mais um ator político com interesses próprios em um
contexto social mais amplo. Ela é simultaneamente um campo
para os agentes políticos e um agente social invisível que
seleciona, hierarquiza e dá visibilidade aos
acontecimentos. Os campos da Política e da Comunicação se
interpenetram numa relação recíproca, mais ambos preservam
suas especificidades; nem a política se submete
completamente à visibilidade da mídia, nem os meios de
comunicação são meros instrumentos ideológicos do poder. Os
domínios da comunicação e da política são insuficientes
para explicar o fenômeno da cidadania midiática, é preciso
conhecer seu contexto social e as motivações estruturais
dos atores e instituições. Esta ampliação econômica e
sociológica extrapola o âmbito discursivo da perspectiva do
“duplo domínio”, permitindo abordar a questão de um ângulo
mais abrangente e sociológico.
E a equivalência ideológica entre o consumidor e o
cidadão, ou melhor, entre o mercado consumidor e a opinião
pública é a grande intercessão entre os campos da política,
da comunicação e da economia. Na cidadania midiática, todos
são iguais perante o mercado, embora alguns tenham
liberdade de consumir mais que os outros. Por um lado, a
política vira um negócio: o candidato torna-se um produto;
o voto, uma venda; a eleição, uma liquidação. Mas, por
outro lado, a própria noção de cidadania se amplia em seus
direitos básicos (educação, saúde, etc) e na capacidade de
fazê-los valer, com o direito do consumidor. O consumo nos
tornou cidadãos mais fortes!
3. A utopia democrática
Noberto Bobbio (2000) também considera que a
democracia faz parte de um mesmo processo histórico de
secularização das tradições, que ela é meia-irmã da
burocracia weberiana. Ele elabora um eufemismo interessante
para analisar democracias representativas atuais: suas
“promessas não cumpridas”, isto é, aquilo que as
democracias representativas gostariam de ser idealmente,
mas que efetivamente não são. As “promessas não cumpridas”
são: a democracia promete defender o interesse público (mas
apenas negocia acordos dos interesses privados); a
democracia promete acabar com os privilégios das elites,
tratando todos os indivíduos de forma igual (mas há uma
persistência das oligarquias e do tratamento desigual); a
democracia promete ainda educar o povo para cidadania,
transformando súditos em cidadãos, aumentando a
participação ativa de todos sobre tudo (mas, o que se
constata é a crescente apatia política dos jovens de melhor
instrução e renda); a democracia promete, através da
imprensa livre, acabar com o poder invisível (mas a
transparência não venceu a privacidade dos acordos
particulares); para citar apenas as promessas principais.
Nessa perspectiva, o pluralismo dos grupos acabou com a
democracia dos indivíduos. Bobbio acredita que a democracia
moderna nasceu de uma concepção individualista de
sociedade, em que a vontade coletiva é produzida pela regra
de maioria e acatada por todos formando uma unidade de ação
“de forma centrípeta ou monocrática”, porém, na verdade,
sempre vivemos em uma policracia, em que os grupos (e não
os indivíduos) lutam para preservar seus interesses de
forma centrifuga. Assim há uma flagrante contradição entre
a representação do interesse público (da vontade da
maioria) com a representação dos interesses privados em
vários níveis: regionais, corporativos e pessoais.
Mas apesar dessas críticas, em nenhum momento Bobbio
desiste da democracia em si como sendo a melhor (ou, por
baixo, “a menos pior” – como disse De Gaulle) forma de
governo. Sua crítica visa antes levantar as deficiências
institucionais da democracia para aperfeiçoa-la, através de
uma passagem gradativa da democratização do Estado à
democratização da sociedade e das instituições (da escola,
da fábrica, dos bairros). Giddens chama este processo
histórico-institucional de “democratização da democracia”,
miniaturizando ainda mais a ideia de democracia, entendida
agora não como uma 'forma de governo', mas como um método
de relacionamento entre pais e filhos, entre grupos de
amigos, entre marido e mulher (GIDDENS, 2003: p.61). A
democracia como método não consiste simplesmente na regra
de maioria (pois assim seria impossível existir democracia
entre duas pessoas com interesses diferentes, como
professor e aluno, por exemplo) ou o direito ao dissenso,
mas sim no 'novo contractualismo', isto é, na negociação
dos interesses divergentes e das próprias regras de
negociação. A democracia vista desse modo não é o
predomínio formal da maioria, mas a tomada de decisões
através das regras negociadas entre os diferentes pontos de
vista que formam uma unidade de ação.
Giddens, no entanto, não acredita na secularização
absoluta das tradições e sim que a modernidade e a
democracia (como um regime de regras negociadas) convivem
com o poder simbólico de modo diferente. Para Giddens, não
existe uma estrutura social fixa e permanente como pensava
o estruturalismo e o funcionalismo, ela é processual e
histórica. Não há uma única estrutura social, mas sim um
processo de estruturação em que as relações sociais não são
rígidas, mas sim dinâmicas e relativas no tempo e no
espaço, práticas recursivas.
Em seus primeiros trabalhos (GIDDENS, 1991) a noção de
‘reflexibilidade’ seria uma propriedade estrutural, mas
depois – principalmente após seu encontro intelectual com
Ulrich Beck e a noção de sociedade de risco (BECK, 1997) –
ela passou a desempenhar um papel central nas ideias de
Giddens. ‘Reflexibilidade’ é a capacidade de
retroalimentação realidade cultural e a vida social, ‘uma
recursividade indireta’. Para pensar o conceito de
reflexividade, Giddens realiza um contraponto entre as
sociedades tradicionais e as sociedades modernas. A vida
social tradicional era voltada para o passado, para
repetição de ciclos históricos; a modernidade inicia uma
nova concepção de tempo-espaço em que a reflexividade é
voltada para o presente e para o futuro. Apesar de a
modernidade ser mais aberta ao conhecimento, ela também
gera inseguranças pela pluralidade de opções que detém.
Essa falta de certeza e de segurança, por sua vez, aumenta
ainda mais a reflexibilidade da simulação de situações de
risco. A democracia, assim vista, é 'a' utopia (o projeto
de uma sociedade perfeita sempre inacabada) por excelência.
Os mitos estão sempre ancorados no passado imemorial, na
tradição, na origem anterior à história; a utopia, ao
contrário, está projetada no futuro, em um tempo que ainda
não chegou no 'fim da história'. E, no presente, na
reflexibilidade moderna, a democracia real é sempre
imperfeita e imprevisível, arriscada e manipulada pelo
poder simbólico.
A “reflexividade cultural exacerbada pelo risco”
produz comportamentos individualistas. A única saída para
democracia é se democratizar ainda mais, fazendo com que
todos sejam responsáveis e tenham o máximo de autonomia
individual. Ou seja: a globalização gera o individualismo e
a necessidade de aprofundá-lo ainda mais, através de
políticas públicas contra a dependência, seja química,
social, familiar, emocional, econômica ou cultural.
E, em outro oposto, Giddens também acredita que “o
mundo precisa de mais governo”, isto é, que o público
governe mais o privado – considera inclusive que isso o
define como sendo ‘de esquerda’. Na verdade, a terceira via
leva apenas à exacerbação dos dois extremos ideológicos
clássicos em uma mesma proposta voltada para a globalização
– o hiper-individualismo e o governo social em parceria com
o terceiro setor; e não a superação prática e teórica da
polaridade entre as perspectivas da direita e da esquerda,
como promete.
E algumas perguntas cruciais permanecem sem resposta:
Qual papel dos meios de comunicação no contexto da
modernidade? Como é a relação entre a tradição (ou poder
simbólico) e a democracia, entendida como método de
decisões negociadas?
4. A democracia mediada.
Quem pretende responder essas perguntas é John B.
Thompson (1995, 1998, 2002), que foi aluno de Giddens e
tenta aprofundar alguns pontos de suas ideias,
principalmente, sobre a relação cultural entre tradição e
modernidade; e sobre o papel da mídia na democratização
social da democracia representativa.
Em Ideologia e Cultura Moderna, Thompson retoma a questão da
teoria liberal sobre a imprensa livre – o “quarto poder”,
situando estruturalmente a mídia entre o Estado e o Mercado e
postulando, por um lado, a separação do poder estatal e o
princípio do pluralismo regulado dos meios de comunicação
para que eles, e por outro lado, que eles não atendam aos
interesses do mercado (1995: p. 337).
No último capítulo de Mídia e Modernidade (1998),
Thompson aprofunda mais a questão, abordando-a agora de um
ponto de vista mais normativo e menos analítico, com seu
aperfeiçoamento da proposta de uma “democracia
deliberativa” feita por Habermas e desenvolvida por
Giddens. A proposta de democracia deliberativa aperfeiçoada
por Thompson consite no fortalecimento da mídia (e da
Sociedade Civil politicamente organizada) em relação ao
mercado e em relação ao Estado. Seria uma reforma
institucional do atual modelo de democracia representativa,
em que os interesses comerciais das empresas de comunicação
são limitados pela concessão pública do serviço pelo
Estado; e o caráter múltiplo e aberto dos meios de
comunicação dá transparência ao poder, impedindo a
manipulação política.
SOCIEDADE CIVIL / COMUNIDADEMEIOS DE COMUNICAÇÃO
ESTADO / PÚBLICO MERCADO / PRIVADO
Thompson também considera equivocada tanto a tese de
que a cultura moderna e a ciência superaram definitivamente
as tradições como a ideia de que a modernidade e a ciência
são apenas tradições contemporâneas que não se reconhecem
enquanto tal. Há um terceiro ponto de vista, em que o saber
tradicional se modificou com a comunicação mediada, mas que
ainda sobrevive na vida moderna através de várias formas
simbólicas. Para demonstrar seu ponto de vista, Thompson
faz uma distinção operacional em quatro aspectos da
tradição: hermenêutico, normativo do cotidiano, legitimador
do poder e identificador cultural.
No aspecto normativo, a tradição é um sistema de normas queorienta a Ação Social segundo o passado. De forma que asrotinas reproduzem a memória e a memória produz as rotinascotidianas.
No aspecto legitimador, a tradição é também ideologia queautoriza o exercício do poder. Thompson, nesse ponto, segueWeber, que crê no declínio da legitimidade tradicional e opredomínio da legitimidade legal (através de leis e regras) eda nova legitimidade carismática (através da personalidade edo magnetismo pessoal) gerada pela mídia.
No aspecto hermenêutico, a tradição é uma estrutura deinterpretação. Assim, pode-se dizer que a ciência é umatradição de interpretar os acontecimentos como fatosobjetivos.
E no aspecto de identificador, a tradição é ainda um fatorde auto-formação cultural de identidade coletiva eindividual, do ‘Self’ de um determinado grupo ou população. E aidentidade de pertencimento territorial, profissional e/oureligioso.
Segundo Thompson, a globalização acabou com os
aspectos Normativo e Legitimador das tradições, mas os
aspectos Hermenêutico e Identificador Cultural permanecem
vivos na cultura moderna. (THOMPSON: 1998; p. 165) O poder
simbólico tradicional não normatiza mais o cotidiano nem
legitima autoridades impostas pela força, mas continua vivo
como sistema de interpretação e formação cultural.
Thompson dá destaque, principalmente, à mudança do
aspecto identificador e ao fato de que a nova experiência
do Eu (Self) em um mundo mediado apontar para uma nova
ancoragem das tradições: a cidadania global. A comunicação
mediada globalizada torna o processo de auto formação dos
indivíduos muito mais aberto e reflexivo que na relação
face a face.
Por outro lado, ela não somente enriquece e transforma
o processo de formação do Self, mas também troca da
experiência vivida pela experiência mediada, gerando uma
situação antes inexistente, um novo tipo de relação
carismática, a “intimidade não recíproca à distância” ou
Imagem Pública.
5. Imagens, escândalos e redes
O surgimento das imagens públicas passou a ter mais
relevância do ponto de vista artístico, desportivo e
político do que do ponto de vista religioso, embora o
comportamento do fã da cultura de massas seja
essencialmente o mesmo do fanático religioso em um ambiente
mediado.
‘Imagem Pública’ (ou imagem de marca) é o conceito
utilizado para definir uma representação social comum aos
seus agentes e à sua audiência. Diferencia-se tanto da
‘imagem semiótica’ (uma foto, por exemplo) quanto da
‘imagem cognitiva’ (a imaginação simbólica), embora guarde
uma proximidade estreita com ambas. Ela tem um lado
conceitual, proposto pelos agentes; e um lado simbólico em
sua recepção.
No livro A mídia e a modernidade – uma teoria social da mídia
(1998), John Thompson para definir Imagem Pública ou
‘intimidade à distância não recíproca’ dá um exemplo
curioso: uma senhora que tem fantasias sexuais com um astro
do cinema enquanto faz amor com seu marido. Ela se sente
culpada, mas depois, entra um fã clube, onde encontra
mulheres com imaginações semelhantes.
Para o autor, trata-se de uma curiosidade (se
apaixonar unilateralmente por alguém que na verdade não se
conhece), mas, para nós, o curioso é que esse tipo de
relação imaginária (hoje em dia muito comum, para não dizer
‘normal’) não existia há cento e cinquenta anos. Há cento e
cinquenta anos também era bastante raro que individuo
conhece cerca de cem pessoas. As pessoas viviam suas vidas
isoladas, conhecendo outras pessoas apenas presencialmente.1
Em outro livro, O escândalo político: poder e visibilidade na era da
mídia (2002), Thompson advoga a tese de que as Imagens
Públicas transitam sempre entre o público e o privado.
Apesar de classificar os tipos de escândalos pela
transgressão-gatilho (de abuso de poder, sexuais,
financeiros), Thompson chama a atenção para o fato de que o
que realmente alimenta em longo prazo o escândalo midiático
não é a gravidade da transgressão principal que o gerou,
mas sim “transgressões de segunda ordem”: mentiras,
desmentidos, ocultamentos. O que fomenta os escândalos
durante mais tempo é a tentativa dos agentes de manter
invisível algo que se tornou público.
O escândalo é esse ‘desmascaramento’ dos agentes e de
sua confiabilidade. Enquanto se diz algo publicamente; dos
fundos de sua vida privada emergem fatos, pessoas,
situações, que contradizem o que está sendo dito. O
escândalo é uma contradição entre o que é dito e o que é
1 Atualmente, qualquer um tenha cem amigos no Facebook édecididamente um deslocado. As gerações mais jovens não fazemdistinção entre amizades virtuais e presenciais. Thompson, no entanto,não considera a experiência mediada como sendo uma interação (pois nãotem reciprocidade) e estuda a Imagem Pública apenas na ótica dacomunicação de massas.
visto. A verdade aparece nas costas dos agentes,
desmentindo-os por de trás, no fundo que os enquadra. O
efeito das transgressões secundárias – as discrepâncias
entre significado e significante da imagem – tanto pode
reforçar (por complementariedade entre figura e fundo) ou
destruir (por se contradição entre o dito e o visto). Nesse
contexto, os escândalos têm se tornado um elemento central
na forma de se fazer política nas democracias modernas. É
claro que sempre existiram escândalos; mas, na
contemporaneidade, eles se tornaram constantes e até mesmo
periódicos.
Mais do que eventos esporádicos e excepcionais, os
escândalos se tornaram uma constante da prática política em
muitos países democráticos em que a mídia goza de liberdade
investigativa, a ponto de vários autores falarem da
“cultura do escândalo” ou da “política de escândalos”
permanentes. 2
Uma das características marcantes do regime de
visibilidade da mídia é a necessidade constante de produção
de conteúdo. ‘Ficar e se manter em evidência’. E os
escândalos além de desmascarar a imagem dos poderosos,
também criam e ampliam Imagens Públicas. Modelos e atrizes
que tem fotos comprometedoras roubadas por hackers,
bandidos que conquistam celebridade pelos seus crimes,
2 SILVA (2013) apresenta um panorama da pesquisa sobre escândalopolítico no Brasil e no exterior entre os anos de 1998 e 2008. Nolevantamento junto a bases internacionais, revistas e congressosnacionais de área, a pesquisadora identifica o crescente interesse queo tema desperta entre pesquisadores, especialmente da área dacomunicação.
atletas desleais, injustiças, etc. Por mais tristes,
desagradáveis ou cruéis sejam os acontecimentos, eles
celebram seus personagens; por mais reprováveis sejam as
ações e que desabonem política e moralmente seus agentes,
elas ainda assim os popularizam. 3
Gomes (2006) estudou a Imagem Pública de Luís Inácio
Lula da Silva no horário eleitoral nas eleições de 1989,
2004, 2008 e 2002. O trabalho ressalta que as três
primeiras três derrotas foram fundamentais para o candidato
alcançar visibilidade nacional e, modificando sua Imagem
através de técnicas de marketing de acordo com as
preferências do público, ganhar a quarta eleição. 4
Para Thompson, no entanto, a comunicação mediada é uma
'quase-interação'. Ele não desconhece a idéia de que a
Internet permite uma interação múltipla face-a-face, mas
não vê este modelo como um paradigma cultural estruturante
das relações sociais nas sociedades em rede e considera o
retorno à democracia direta participativa uma ilusão
3 A Imagem Pública pode inclusive ser reforçada pela sua própriasombra. Os ‘defeitos’, erros ou quaisquer pontos negativos de alguémpodem ser interpretados de modo favorável, dando ainda maisconfiabilidade ao agente da Imagem Pública. Assim, o ‘despreparado’ setorna ‘humilde em sua ignorância’; o ‘arrogante’ vira ‘verdadeiro’; eo ‘autoritário’ é vendido como alguém que chama para si todaresponsabilidade, solitariamente, ‘isolado e incompreendido’. 4 Aliás, a Imagem Pública de Lula mereceria um estudo aparte noque diz respeito à habilidade do agente, tanto em reverter propagandanegativa dos inimigos eleitorais, quanto a se manter ‘blindada’ emfunção dos escândalos, como o do ‘mensalão’, durante seus doismandatos. Talvez porque a Imagem Pública da Lula, vista como umamediação de intimidade não recíproca à distância, seja um pouco maisíntima e um pouco menos não recíproca do que a maioria, dialogandopublicamente com seus aspectos negativos, falando com diferentespúblicos segundo seus modos particulares.
'plesbicitária' e não uma ameaça real à democracia
representativa.
Hoje, porém, estamos vivendo a desfragmentação da
cultura de massas, promovida pela segmentação e pela
interatividade das Redes Digitais, e as questões em torno
da noção de Imagem Pública se tornaram ainda mais
complexas, se multiplicando e dividindo de diferentes
modos, democratizando e pulverizando a visibilidade em
universos culturais variados e simultâneos.
Com a segmentação, houve uma pulverização dos fluxos
sociais e o surgimento de ‘micro imagens públicas’:
celebridades setoriais, tribais, transnacionais e até
celebridades locais virtuais. Houve uma democratização
relativa da visibilidade. A Imagem Pública pessoal das
redes pode ser vista como uma miniatura da Imagem Pública
de massas. Há inclusive vários tipos de sobreposição entre
as duas: escândalos das grandes Imagens Públicas através
das redes digitais, celebridades virtuais que chegam à
grande mídia, etc.
Com a interatividade, a intimidade à distância deixou
de ser ‘não-reciproca’, aumentou o retorno da audiência na
construção da Imagem Pública e no comportamento dos
agentes. A visibilidade tornou-se uma relação pessoal de
micro poder. Em tempos de hipervisibilidade das redes,
todos tem uma Imagem Pública, quer queiram ou não, para
zelar como patrimônio pessoal.
A popularidade, o carisma e o personalismo sempre
existiram; porém no regime de hipervisibilidade promovido
pelas mídias esses elementos assumem um caráter decisivo na
vida social. A noção de Imagem Pública reúne, sintetiza e
globaliza várias categorias analógicas (reputação,
prestigio, honra, status quo, etc.) que antes existiam de
forma fragmentada em diferentes graus, variando segundo a
cultura de cada sociedade. E com as redes digitais, essas
imagens técnicas pessoais se miniaturizaram e se
multiplicaram em escala infinitesimal.
6. Movimentos sociais e Redes Digitais
Diferencie-se aqui a noção de ‘Rede Social’, referente
à ação comum, sincrônica e descentralizada de agentes
semelhantes não presenciais durante algum tempo (rede de
apoio ao Tibete e ao Dalai Lama – por exemplo); da noção de
‘Redes Digital’, que correspondem às redes intercomunicação
dentro e fora da internet (incluindo os sites de serviço de
compartilhamento de arquivos e mensagens, como o Facebook).
Muitas vezes, no entanto, essas definições se
confundem. Pois, se o acontecimento é realizado por uma
Rede Social, a representação do acontecimento pela Rede
Digital é quem o torna visível; e se foram as necessidades
sociais de comunicação dos grupos que geraram as Redes
Digitais, essas estão potencializando a organização da toda
sociedade em Redes Sociais.
Recentemente, o sociólogo Manuel Castells (2013)
estudou vários movimentos sociais organizados através da
internet a partir de 2010 (Tunísia, Islândia, a revolução
egípcia, os indignados da Espanha, o Occupy Wall Street em Nova
York e os protestos de junho de 2013 no Brasil) e
identificou várias aspectos em comum - o caráter
espontâneo, pluralista, apartidário e heterogêneo das
manifestações - formando ‘um padrão rizomático emergente’,
uma ‘cultura da autonomia’.
Os movimentos descritos por Castells foram populares,
dirigidos por si mesmos, organizados autonomamente pela
internet por ativistas sem militância, sem direção única ou
coordenação centralizada, sem o controle de organizações
políticas ou entidades civis, nem o apoio dos meios de
comunicação tradicionais. Foram movimentos pluralistas e
heterogêneos, com motivações, bandeiras e palavras de ordem
as mais variadas e até contraditórias. O sentido mais geral
das manifestações coloca em xeque a própria estrutura do
sistema de representação política. Algumas foram contra o
que o parlamento e os partidos representam, mas sem
intenção de substituí-los ou extinguí-los.
Castells se tornou internacionalmente conhecido devido
sua trilogia A Sociedade em Rede (1999), em que analisa as
mudanças contemporâneas em um tripé: a nova economia-
política (as relações sociais de produção se
desindustrializam e passam a se organizar em redes de
unidades autonomas); nova relação de tempo-espaço em função
da linguagem da mídia; e as novas 'relações de experiência'
nas relações pessoais. No primeiro livro da trilogia,
Castells faz uma homenagem a McLuhan como pioneiro no
entendimento das mudanças de percepção instituídas pela
televisão (e multiplicadas pelo computador), mas também o
relativiza, uma vez que ele leva em conta apenas um terço
dos fatores estruturais que estão modificando a sociedade,
sendo preciso ainda avaliar as transformações existentes no
mundo do trabalho e das relações de gênero.
Quinze anos depois (e não por acaso os quinze anos em
que a internet se desenvolveu e se estabeleceu) pode-se
dizer o modelo de organização em rede foi do mercado
corporativo à sociedade civil organizada, chegando agora à
esfera pública da política. Redes de indignação e esperança
(2013) aponta para falência da organização política
tradicional dos partidos e dos parlamentos atuais.
7. Conclusão
As redes sociais são formadas por unidades autônomas
interligadas em arranjos temporários (aqui chamados de
‘rizomas glocais’ – unidades globais e locais ao mesmo
tempo, dotados de inteligência coletiva, isto é, da
capacidade de agir simultaneamente em conjunto sem
hierarquia vertical).
E então a questão central desta democracia negociada
é: como criar o mínimo de regras que garantam, a cada um,
segundo seu esforço e capacidade, tanto do ponto de vista
quantitativo como no aspecto qualitativo. Para que as
instituições gozem do máximo de autonomia em relação ao
Estado e em que os indivíduos desfrutem do máximo de
autonomia pessoal em relação às instituições não basta que
se garantam direitos “iguais” a todos, é preciso também
tratar todos como “pessoas especiais”. Pois é na
diversidade e na autonomia das relações entre os grupos
sociais e os indivíduos que repousa hoje a possibilidade de
uma democracia cada vez mais múltipla, complexa e produtora
de singularidades.
Somos iguais por dentro e diferentes por fora? Os
homens são objetivamente diferentes uns dos outros, mas
todos são subjetivamente semelhantes. Ou seria o contrário:
os homens são iguais (ou biologicamente equivalentes)
enquanto seres e variados do ponto de vista psicológico.
Não importa. Em ambos os casos, somos todos especiais. Não
apenas iguais ou diferentes. Somos semelhantes e
diferenciados - tanto cultural como geneticamente.
Também é preciso lembrar que, como princípios
norteadores da ação política moderna a partir da revolução
francesa, a liberdade e a igualdade são mediadas pela
fraternidade. Entendida como princípio de reciprocidade
(não fazer aos outros, o que não se deseja para si
próprio), a fraternidade é um preceito universal, presente
em todas as religiões e filosofias éticas. Pode-se até
atribuir a versão normativa de sua inversão – a lei de
talião: “olho por olho, dente por dente” – à criação do
direito e à primeira regulamentação da vida social.
Em relação ao modelo de democracia deliberativa, pode-
se dizer: que a igualdade jurídica entre indivíduos é
representada pelo Estado; que a liberdade é um atributo e
uma exigência do Mercado; e que a Sociedade Civil (e a
mídia para Habermas e Thompson) encarnam o princípio da
solidariedade fraterna. O tripé da estrutura política
moderna oscila entre as tentativas do Mercado de corromper
a Sociedade Civil e do Estado de ampliar a esfera pública
através das comunidades. Mas a ideia de fraternidade
relativizar a igualdade e limitar a liberdade também vem
crescendo e se modificando com decorrer do tempo.
Inicialmente, discutiu-se aqui a relação entre
cidadania moderna e posição ideológica, ancorado na
filosofia político de Bobbio e na proposta de uma ‘política
de terceira via’ defendida por Giddens. Em seguida,
apresentamos as noções de Eleitor-consumidor (proposta por
Silveira), de Democracia Deliberativa Mediada e de Imagem
Pública (elaboradas por Thompson). Também se
problematizaram vários temas conexos: o governo das imagens
e seus escândalos; o surgimento das Redes Sociais e
Digitais; e os novos movimentos sociais rizomáticos,
descritos por Castells. E encerramos indagando sobre a
possível flexibilização do tripé moderno entre Estado,
Mercado e Sociedade Civil pelo modelo de organização em
redes fractais.
8. Bibliografia
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