104
Realização: Apoio: Parceiros:

Anais do 2° Simpósio Paranaense de Design Sustentável SPDS 2010

Embed Size (px)

Citation preview

Realização: Apoio: Parceiros:

Local:

Data:

Comissão Organizadora:

Site:

Contato:

Organização e Edição:

Projeto Gráfico:

2ª Edição: 07 de novembro de 2010

Centro Politécnico - Universidade Federal do Paraná Anfiteatro Cesec -Setor de Tecnologia - Bloco Lame/Cesec Jardim das Américas - Curitiba -Paraná

07/10/2010, das 8h00 às 19h00

Coordenador - Prof. Dr. Aguinaldo dos Santos | UFPRVice-Coordenadora - Prof. Dra. Suzana Barreto Martins | UELColaborador Organizador - Prof. Jucelia S. Giacomini da Silva | UTFPRTécnico/Administrativo - Geisy Anny Venáncio | UFPRTécnico/Administrativo - Ivana Marques da Rosa | UPTécnico/Administrativo - Jairo da Costa Júnior | UFPR

(41) 3360-5313

Núcleo de Design e Sustentabilidade da Universidade Federal do Paraná

Jairo da Costa Júnior | Anderson R. Lee Ng

www.design.ufpr.br/spds2010/

[email protected]

ISSN: 2176-4093*CONTEÚDO DOS ARTIGOS É DE INTEIRA E EXCLUSIVA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES.

Introdução a Ecologia Industrial: explorando um novo cenário para a área do Design

Perspectivas filosóficas da prática do design para a sustentabilidade

Soluções Inovadoras em Coletores-Concentradores de Luz Solar: A Tecnologia RINSC

Avaliação do Ciclo de Vida para o Design Sustentável

Design XXI – atemporal – localmente globalizado

Estratégias para o gerenciamento da obsolescência de artefatos

A gestão ambiental do produto na indústria portuguesa de mobiliário

O design de sistema produto-serviço voltado ao trabalho remoto

A EdaDe (Educação Através do Design) e a abordagem do consumo sustentável no EnsinoFundamental

Design e artesanato: práticas de colaboração

Design voltado à Sustentabilidade, no contexto das Metamorfoses em Sociedades Complexas

Uma proposta de diretrizes de sustentabilidade para aplicação em disciplinas projetuais de cursos dedesign gráfico

Oportunidades de Negócios para o Design através da Sustentabilidade na Região de Londrina:projetos de pesquisa da Universidade Estadual de Londrina

Adriano Heemann

Aguinaldo dos Santos

Alexandre V. Pelegrini

Cássia Maria Lie Ugaya

Christian UllmannTania Cristina de Paula

Cláudia Regina Hasegawa ZacarMaristela Mitsuko Ono

João Victor Inacio Pereira

Jucelia S. Giacomini SilvaAguinaldo dos Santos

Liziane Regina Gomes

Marco Abbonizio

Mariuze Dunajski MendesMaristela Mitsuko OnoCarmen Rial

Nelson Luis Smythe Jr.

Suzana Barreto MartinsCláudio Pereira de Sampaio

SumárioPalestrantes

05

09

13

17

21

25

29

34

40

45

49

53

59

A sociedade e as Formas de Consumo

O design sustentável na formação do designer de interiores: relato da experiênciaalagoana

Restauração e Transformação: Ampliando a Vida Útil do Mobiliário

Sistemas Produto-Serviço: um estudo introdutório sobre a modelagem do sistema

Método de Pesquisa para o Desenvolvimento de uma Proposição de Método deDesign de Serviços Ecoeficientes

A cultura de objetos nas sociedades indígena e industrial

Contexto Histórico da Dimensão Social do Design Sustentável

Design de Moda Ético e Sustentável para Veganos

Aline Rodrigues Botelho

Áurea Rapôso

Elize Cooper Moreira GreberEliane Betazzi Bizerril Seleme

Fernanda Hansch BeurenMarcelo Gitirana Gomes Ferreira

Jairo da Costa JuniorAguinaldo dos Santos

Monique G. Bastos

Naotake FukushimaAguinaldo dos Santos

Neide Kohler SchulteIlma Godoy

67

71

76

80

85

90

94

98

SumárioArticulistas

Introdução a Ecologia Industrial: explorando um novo

cenário para a área do Design

Resumo

Introduction to Industrial Ecology: exploring a new scenario for designarea

Heemann,Adriano; Dr.; Universidade Federal do Paraná[email protected]

O propósito do presente artigo é identificar possíveis contribuições da chamadaEcologia Industrial para o aprimoramento da indústria de bens de consumo e,mais especificamente, a ampliação das possibilidades na área do Design. O temaé apresentado a partir da constante demanda por melhorias do setor industrial.Isso porque, após uma era de mudanças industriais orientadas a reação aproblemas, aumento do controle e aumento da eficiência industrial, o próximopasso da indústria parece ser ainda mais desafiador: o de sustentação. Diantedessa perspectiva, o texto resgata uma especulação a cerca da reconfiguração dofluxo de materiais e de energia no sistema industrial e comenta possíveisdesdobramentos. Argumenta, finalmente, sobre novas possibilidades criativasque tal cenário suscita para a área do Design.

design; cenário; sistema industrial.Palavras Chave:

05

IntroduçãoHistoricamente, a indústria de bens de consumo é marcada por

aprimoramentos seqüenciados como o de reação a problemas, o aumento docontrole e o aumento da eficiência (HAWKEN et al. 1999). Já, a partir dos anos1970, a indústria passou também a ser alvo de uma crescente pressão mundialpara a adoção de práticas mais responsáveis e orientadas não apenas ao âmbitoeconomicamente viável, mas também ao ambientalmente integrado esocialmente aceito (MEADOWS, 1972). Desde então, embora os esforços para oestabelecimento do desenvolvimento sustentável tenham se proliferadomundialmente, até hoje ainda pouco se conhece sobre caminhos industriaisefetivamente sustentáveis em uma escala mundial. Com essa reflexão preliminar,pode-se indagar sobre uma próxima evolução concreta do sistema industrial.Seria esse o cenário industrial que promoveria novas possibilidades para a áreado Design?

Essa questão parece apontar para um caminho notadamente tecnológico,que reconfigure profundamente o uso de materiais e de energia. Embora aqui nãose tenha a intenção de esgotar o assunto, é possível apresentar a reflexão geral deum caminho hipotético de desenvolvimento industrial análogo ao observado nossistemas naturais. Nesse sentido, o intuito aqui é estabelecer uma análiseprimeira, sobretudo introdutória, da idéia de Ecologia Industrial e identificar aspossíveis repercussões para o Design.

Cabe observar que muitas pesquisas e propostas de Design orientadas asustentabilidade ainda não consideram suficientemente fundamentos industriaisdiferentes do atual, em que o enfoque no consumidor é visto como um fatorfavorável.

Contudo, o texto não trata da apresentação de resultados e aplicações, afinalele está restrito à reflexão sobre uma analogia criativa entre os sistemasindustriais e os sistemas naturais. Para tanto, são apresentadas algumasexplicações originais de Graedel e Alleby (1995) com ênfase num possívelcenário da indústria futura, procurando sempre que possível destacardesdobramentos para o Design. Este texto, portanto, tem uma motivaçãoexploratória e visa trazer à discussão uma perspectiva não comum na área. Elevisa, sobretudo, o enriquecimento da teoria sem menosprezar uma possívelaplicação em projetos.

Desenhando um novo fluxo de materiais e energia

O Fluxo nos Sistemas Naturais

A produção e o consumo mundial de bens aumentam a cada ano. Já foicomprovado que a mais sutil perspectiva de desaceleração desse crescimentoocasiona problemas relevantes na economia global(1). Entretanto, diversosestudos internacionais concluem que esse crescimento não se sustentará a longoprazo, e apontam para a necessidade de mudanças nas bases do sistema industrial(KAZAZIAN, 2005).Por outro lado, com o aprimoramento das abordagens de projeto e suas inter-relações com as diversas áreas do conhecimento, novos entendimentos estãosendo alcançados no Design. Assim, hoje o designer é levado a considerar umagama ampliada de requisitos de projeto como, por exemplo, a origem e o destinodas matérias primas e da energia que serão empregadas no produto. Portanto, ofluxo de material e energia é hoje tema pertinente ao Design. Nesse sentido,regata-se a seguir proposições originais de Graedel eAllenby (1995) sobre a idéiade uma reconfiguração do fluxo desses elementos.

De um modo geral, é possível observar nos sistemas naturais um fluxoconstante de material e de energia percorrendo três categorias básicas de atores(Figura 1).

No modelo ilustrado, a categoria dos produtores é formada pelos vegetais ealgumas bactérias. Os consumidores são representados pelos animais de ummodo geral. Já, os recicladores, englobam fungos e microrganismosdecompositores. Nesse sistema, a maior parcela de material e energia flui entreprodutores e recicladores. As árvores, por exemplo, perdem frutos, folhas e

Figura 1: Fluxo de material e energia nos sistemas naturaisFonte: Modificado de Graedel e Alleby (1995)

06

galhos que, em grande parte, são decompostos por fungos e microorganismos nosolo.Apenas uma pequena parte dessa biomassa é efetivamente consumida pelosanimais. Os resíduos dos animais, por sua vez, também são digeridos no solopelos microorganismos decompositores, que realimentam os produtores.

Assim, no sistema natural aqui simplificado para fins de exemplificação, ofluxo é cíclico. A distância entre os diferentes atores é geralmente pequena,demandando pouca energia para que se mantenha. Fecha-se, assim, o ciclo dosistema indefinidamente, permanecendo sustentado enquanto houver energiapara isso(2).

Por analogia aos sistema naturais, nos sistemas industriais de bens deconsumo também podem ser observadas as mesmas categorias básicas de atores(Figura 2).

Nesse caso, os produtores são representados pelo sistema de extração dematéria-prima e de seu processamento. De acordo com o modelo, a categoria deconsumidores engloba tanto a indústria fabricante de bens quanto os seususuários.Acategoria de recicladores finalmente é formada pelos atores de coleta,tratamento e reciclagem de resíduos.Diferentemente dos sistemas naturais, aqui a maior parte da energia e do materialflui entre produtores e consumidores. Nesse contexto, os consumidores ocupamposição central do sistema e não estão suficientemente comprometidos com aretroalimentação do fluxo. Do produtor e do consumidor são liberados maisresíduos do que produtos úteis e apenas uma pequena parcela do fluxo passa

O Fluxo nos Sistemas Industriais

Figura 1: Fluxo de material e energia nos sistemas industriaisFonte: Modificado de Graedel e Alleby (1995)

pelos recicladores. Esse modelo, portanto, é linear e aberto. Outrossim, nossistemas industriais a distância física entre os diferentes atores é expressiva, oque demanda uma parcela extra de energia e material para manutenção do fluxo.

É de se considerar que a transformação de um sistema industrial em outrosistema, análogo ao natural, demandaria profundas mudanças políticas,econômicas, tecnológicas e sociais. Se essa possibilidade fosse aceita ao menosno âmbito da reflexão, o Design teria diante de si um novo cenário.

É possível imaginar que, nesse novo contexto, os produtos e serviços teriamque ser concebidos com uma finalidade diferente daqueles criados atualmente.No novo cenário, e de acordo com a idéia da Ecologia Industrial, os envolvidoscom o consumo perderiam a posição central do processo. Materiais e energiadeveriam descrever um fluxo mais intenso entre produtores e recicladores, demodo análogo aos sistemas naturais.

Ora, parece ilógica a fabricação de bens que, na sua maioria, seriamdiretamente encaminhados a reciclagem. Parece inaceitável, portanto, queapenas uma pequena parcela do fluxo de materiais e energia seja direcionada aosconsumidores. Mas se é aceito que o sistema industrial deve continuar sendoaprimorado, também pode ser aceito que a sociedade de consumo um dia se torneuma sociedade de reciclagem.

A visão, ainda que meramente especulatória, de uma ecologia industrialonde a sociedade desempenha a função predominantemente recicladora, abrenovas possibilidades e desafios para o Design. Assim, após uma era dedesenvolvimento industrial marcada por reações a problemas, pelo aumento docontrole e da eficiência nos processos (HAWKEN et al., 1999), o próximo passotalvez seja ainda mais desafiador se estiver orientado ao estabelecimento de umdesenvolvimento sustentável. No cenário aqui descrito, designers seriamimpelidos a lidar com materiais hoje inusitados, com novos processos deprodução, de uso e de reciclagem e a tecnologia reafirmaria seu papel no âmbitodas inovações. Essas seriam apenas algumas proposições das várias que talreconfiguração pode provocar.

Reconfigurando o Fluxo de Materiais e Energia

07

Considerações Finais

Notas

Referências

Mesmo em uma comparação introdutória entre indústria e ecologia, é possívelperceber que ambos os assuntos constituem amplo acervo teórico, que não pode sercontemplado em um único trabalho. Ainda assim, o caminho mais próximo para oentendimento de algo amplo e complexo é a exploração.

Cabe observar que o conceito de Ecologia Industrial deainda não compõe os fundamentos normalmente utilizados em pesquisas de Designno Brasil. Contudo, o conceito não é novo. Sua principal utilidade provavelmenteseja o caráter provocador, que pode impelir o designer a alcançar reflexões sobrenovos contextos, exercitar o pensamento crítico e a tentar transformar as coisas domundo.

Graedel e Allenby

Por fim, para o Design, esse poderia ser um caminho para a concepção debens e de serviços ainda não imaginados. Esse cenário é aqui meramentehipotético, mas talvez seja esse o princípio de uma nova realidade.

1) A exemplo da crise econômica mundial desencadeada entre os anos 2008 e2009.2) E enquanto não houver outro fator de influência significante.

GRAEDEL, T. E.; ALLEBY, B. R. New Jersey: PrenticeHall, 1995.

HAWKEN et al. São Paulo: Cultrix -Amana Key, 1999.

KAZAZIAN, T.São Paulo: SENAC, 2005.

MEADOWS, D. Limits to Growth. NewYork: Signet, 1972.

Industrial Ecology.

Capitalismo Natural.

Haverá a Idade das Coisas Leves: design e desenvolvimentosustentável.

08

Perspectivas filosóficas da prática do design

para a sustentabilidadePhilosophical perspectives on the practice of design for sustainability

Santos,Aguinaldo dos; UFPR, Núcleo de Design & [email protected]

O presente artigo revê as principais correntes filosóficas associadas aodesenvolvimento sustentável, bem como as implicações destas na atividade deDesign. Inicialmente é debatido alguns dos paradigmas e pressupostos domodelo convencional de desenvolvimento. Subsequentemente é revisto osignificado do cornucopianismo, adaptivismo, comunalismo e a ecologiaprofunda. Conclui-se que todas estas posturas filosóficas são válidas, nãohavendo a mais correta ou mais eficaz, pois dependem da postura ideológica doDesigner. Apesar desta conclusão, entende-e que a consciência da própriafilosofia de trabalho e das alternativas existentes permite ao Designer acompreensão dos limites e pontos falhos de seu conceito de desenvolvimentosustentável e, desta forma, contribui para prover direção e aumentar a efetividadede sua práxis voltada à sustentabilidade.

: filosofia, design sustentável, práxis

Resumo

Palavras Chave

09

IntroduçãoO modelo de consumo e produção atual necessita urgente revisão de seus

fundamentos para que efetivamente iniciarmos a reversão do quadro ambiental esocial que nos cerca. Da mesma forma, o designer que por muito tempo foi partedo problema agora tem a oportunidade de direcionar sua capacidade criativa paraapoiar este processo de mudança.

Felizmente, muitos conceitos e princípios para um novo modelo deconsumo e produção que eram outrora eram vistos como característicos dehippies ou de pessoas excêntricas agora começam a permear toda a sociedade,desde governos até empresas e comunidades. Um dos questionamentos centraisdeste novo paradigma é sobre os meios de se obter a felicidade e a satisfação.

No modelo convencional esta felicidade é associada com a aquisição esubstituição constante de bens materiais. O afeto entre pais e filhos nesteparadigma necessita ser demonstrado através de presentes; o sucessoprofissional necessita ser demonstrado através do perfil do meio e transporte queusamos; nossas ansiedades e medos necessitam ser distraídos com uma tarde decompras. Este modelo de consumo tem ditado a agenda em todas as esferas dasociedade atual, desde políticas de governo até estratégias corporativas; doconteúdo do ensino de uma escola primária até o roteiro da maioria dos filmesque vemos. Sob vários pontos de vista o modo como consumimos na sociedadeatual dita o que de fato somos.

Brands promovem a “venda” de novos estilos de vida e, com o reforço daspressões da própria sociedade, as pessoas buscam a aquisição de uma diversidadecada vez maior de produtos com vista a integrar-se em grupos de consumo quecompartilham a mesma visão deste novo estilo de vida “comprado”.

Já há dados e fatos comprovando que este consumismo não tem aumentadoa felicidade das pessoas. Ao contrário, tem repercutido em aumento de stress e,paradoxalmente, tem resultado no que os psicólogos chamam de “consumocompensatório”. Este é o fenômeno onde se consome mais para sentir-se melhor,de forma análoga a um alcoólatra que ingere bebida alcoólica para aliviar o stress.

O aumento no consumo aumenta a pressão econômica no indivíduo e naprópria família. Para suprir a demanda por mais recursos para manter o padrão deconsumo as pessoas acabam por reduzir a qualidade do tempo desprendido entreamigos e a família ou realizando atividades de interesse individual. O stressresultante desta situação gera ainda mais “consumo compensatório” que porconseqüência aumenta ainda mais a pressão econômica no indivíduo. OBrasileiro médio hoje trabalha mais do que as décadas passadas e os indicadoresde felicidade não apontam para um correspondente aumento. Um ciclo vicioso

bastante comum em praticamente todas as camadas da sociedade atual.Um dos fenômenos associados com o modelo de consumo vigente

atualmente é “miopia cognitiva”, ou seja, a dificuldade do consumidor emvisualizar ou perceber o impacto de suas decisões seja a montante ou a jusante dacadeia de consumo. Esta miopia é ainda mais exacerbada se o impacto de nossasdecisões vai ser somente observado daqui há vários anos. Mesmo quando osimpactos são imediatos, a dissipação destes impactos em regiões geográficas dolocal onde moramos resultam em pouca atenção com nossas opções no ato decompra. A utilização do critério de compra meramente econômico não nos fazperceber sobre as razões que levaram aquele dado produto chegar a nossas mãoscom valores tão inferiores. Muito frequentemente o custo inferior foi obtido como desrespeito total ao meio ambiente e aos direitos humanos.

Mesmo a nível governamental é possível observar todos os dias nosnoticiários este modelo de consumo prevalecendo. As abordagens para se tratarcom o desafio de crises econômicas incluem, via-de-regra, medidas para“estimular o consumo” com o argumento de que é necessário o consumo para queocorra a manutenção de empregos e manutenção da ordem social. Não sequestiona em momento algum se tais medidas, ao invés de resolverem a causa doproblema, na verdade estão reforçando a origem de parte significativa das criseseconômicas, ambientais e sociais em que vivemos.

Design tem se alimentado deste modelo de consumo, sendo o própriovolume de consumo a métrica de sucesso para muitos profissionais na área. Aeventual venda de milhões de peças de um determinado produto é ainda pormuitos visto como um sinal de qualidade do design, sem que ocorra oquestionamento sobre a real contribuição deste novo produto para o bem estar dasociedade. Novos modelos de um mesmo produto são lançados regularmente,muitas vezes com o mero propósito de induzir a substituição do produto em usoatravés da obsolescência estética induzida. Ambientes de lojas e shopping-centers são realizados de tal forma a estimular o consumo, criando atmosferasque reforçam a necessidade de aquisição de um novo bem, independente daexistência de uma real necessidade ou não.

Até recentemente este comportamento era perfeitamente normal eaceitável. Contudo, a qualidade de vida das gerações futuras vem sendocomprometida e mesmo nosso presente modo de vida vem sendo cabalmentequestionado pelos sintomas sociais, econômicos e ambientais que afloram ànossa volta. Neste contexto debate-se neste artigo as posições filosóficas maisusuais que um Designer pode tomar frente ao desafio nos colocado pelasustentabilidade.

10

Correntes Filosóficas

Cornucopianismo

Adaptativismo ou ambientalismo

A descrença nos argumentos ecológicos sobre os limites do planeta emsuportar a pressão das atividades humanas e a defesa do crescimento econômicoe do livre mercado são as bases da postura cornucopiana, suportada de formateórica por economistas tradicionais e financeiramente por vários gruposindustriais antiambientalistas (GALLARD, 2006, p. 33). Com base nestapostura, o seria uma ferramenta voltada a agregar valor a produtos eserviços, sem que necessariamente se considere a dimensão sustentável da suaatuação.

Como o cornucopianismo valoriza os direitos e interesses dos indivíduoscontemporâneos, dentre eles o de consumir indefinidamente, em detrimento danatureza, vista aqui como fonte ilimitada de recursos e com valor apenasinstrumental, é compreensível que o esteja presente como umaferramenta voltada a estimular esse consumo sem grandes preocupaçõesecológicas. Afinal, segundo esta postura, o livre mercado e a tecnologia podemresolver qualquer problema ambiental que venha a ocorrer.

Esse é o tipo de pensamento ainda preponderante no sistema capitalistaatual, e que, segundo os adeptos da ecologia comunalista, tem levado às grandesdesigualdades sociais e desequilíbrios ambientais. O nível de sustentabilidade é,portanto, quase nulo, segundo Pearce (1993) apud Van Bellen (2005).

Esta é uma postura que considera a possibilidade da sustentabilidade dentrodo sistema capitalista, e que inclusive abrangem boa parte da população e dasempresas. Estes, embora se preocupem com os problemas ambientais, não estãodecididos a abrir mão do modo de vida predominante atualmente, no qual oconforto e o bem estar gerados pelo consumo têm papel central. São os chamadosambientalistas ou adaptativos.

Esta abordagem apresenta maior proximidade com a visão maisconvencional de para o qual é possível ocrescimento econômico de forma equilibrada, e o bem-estar social baseado emmaiores níveis de emprego e renda. Para tanto se defende, conforme Sachs(2004), a adoção de estratégias diferenciadas para países desenvolvidos (commudança nos padrões de consumo e estilos de vida) e em desenvolvimento (com

Design

Design

desenvolvimento sustentável,

estratégias de desenvolvimento endógenas e inclusivas).Conforme Pearce (1993) apud Van Bellen (2005), a postura

adaptativa/ambientalista baseia-se em quatro premissas: a) Defesa doconservacionismo dos recursos, embora estes tenham valor principalmenteinstrumental; b) Economia e mercado verdes, controlados por incentivoseconômicos; c) Modificação do crescimento econômico com alguma mudançade escala; d) Eqüidade intra e intergeracional (pobres contemporâneos e geraçõesfuturas).

Neste caso, o tem como papel principal idealizar produtos e serviçosque utilizem os recursos de forma mais eficiente, mas também novos sistemas deserviços que reflitam mudanças no comportamento das pessoas. Osustentável é uma proposta de atuação compatível com esta postura, no qualobjetiva-se atender as necessidades dos consumidores de forma menosimpactante. No entanto, não se busca, na postura adaptativa, abrir mão do sistemaeconômico capitalista, mas apenas uma intervenção reguladora em sua forma deliberalismo econômico, bem como novas formas de industrialização,comercialização e consumo.

Embora Pearce (1993) apud Van Bellen (2005) considere a posturaadaptativa/ambientalista como tendo um fraco potencial de sustentabilidade pornão abrir mão do sistema capitalista de acumulação de riqueza, outros autoresconsideram que é possível haver um elevado nível de sustentabilidade ambiental,social e econômica neste sistema econômico. Manzini e Vezzoli (2002, p. 61),por exemplo, ressaltam a possibilidade de uma sociedade sustentável baseada naconvivência de diferentes formas econômicas, desde a produção em grandeescala até a de escala local, além da autoprodução e do escambo.

Também alinhado com este pensamento, Hawken e Lovins (1999) defendea idéia do , baseado em quatro premissas principais: a)aumento da produtividade e do desempenho da organização; b) alinhamento comos sistemas naturais, utilizando modelos biológicos com zero de desperdício; c)mudança de uma economia baseada na posse de bens para outra com base emserviços, desmaterializando o consumo; d) grandes investimentos em capitalnatural (água, solo, energia), base da prosperidade futura.

A constatação da impossibilidade de uma sustentabilidade real no sistemacapitalista e globalizante só se faz presente a partir da postura comunalista, que

Design

Design

capitalismo natural

Comunalistas: ecomarxistas, ecofeministas e

ecologistas sociais

11

abrange pelo menos três grandes correntes: os ecomarxistas, politicamenteorientados pela luta contra a diferença de classes, os ecologistas sociais,defendendo estilos de vida exemplares e democráticos, e os ecofeministas, comsua postura anti-androcêntrica e libertária das minorias. Para todos eles, ointeresse coletivo está acima do individual, o que implica na valorização deprodutos e serviços que considerem esta postura.

O conceito de economia ecológica com base nos fluxos energéticos doplaneta, também está associado a esta postura, com a defesa do crescimento zero(FOLADORI, 2001), uma idéia conceitualmente incompatível com o sistemacapitalista, que tem no crescimento econômico sua bandeira principal.Comparada às posturas anteriores, esta postura apresenta um nível desustentabilidade forte, segundo Pearce (1993) apud Van Bellen (2005).

Na postura filosófica da ecologia profunda há uma ênfase no valorintrínseco da natureza, baseada numa ética que vai além do humano (bioética).Defende-se, neste caso, uma economia fortemente ecológica e reduzida emescala, altamente regulada quanto à exploração de recursos naturais, e queconsidera a redução populacional um imperativo. Para Pearce (1993) apud VanBellen (2005), o potencial sustentável é muito forte nesta proposta. No entanto, aaplicabilidade das idéias da ecologia profunda é difícil, por implicar emmudanças profundas no modo de vida das sociedades atuais. São conceitos queafetam a noção de bem-estar material, status, individualismo, conforto, dentreoutras.

Tanto a postura comunalista quanto a ecologia profunda são amparadas pordiversos dados estatísticos sobre o impacto humano no planeta. Um dos estudosmais relevantes atualmente é o relativo à pegada ecológica ( ),segundo o qual seriam necessários cerca de quatro planetas, se todas aspopulações pobres do mundo passassem a consumir como as dos paísesdesenvolvidos.

O artigo mostra que mesmo a postura cornucopiana, centrada nocomportamento do mercado, apresenta contribuições potenciais para a reduçãodo impacto ambiental do consumo. Da mesma forma, o Designer que adota apostura comunalista tem criado oportunidades para a sociedade, seja através do

ecological footprint

Ecologia profunda

Conclusão

desenvolvimento de soluções para gerar renda em comunidades, cooperativas ouassociações, seja para criar sistemas de serviços baseados no uso comum,compartilhado. No caso da postura da ecologia profunda, o assume umapostura ética radical de poupança dos recursos naturais, valorizando a criaçãoapenas de produtos úteis em detrimento daqueles considerados supérfluos.

Conclui-se, portanto, que a atuação do para a sustentabilidade nãotem uma filosofia mais correta. Existem múltiplas perspectivas no problema eainda não é possível estabelecer uma verdade absoluta acerca do problema e,talvez, nem venha a ser possível no futuro. Por outro lado, a consciência daprópria filosofia de trabalho e das alternativas existentes permite ao Designer acompreensão dos limites e pontos falhos de seu conceito de desenvolvimentosustentável e, desta forma, contribui para prover direção e aumentar a efetividadeda práxis do Designer.

FOLADORI, Guillermo. Trad.Marise Manoel. Campinas, São Paulo: Editora da Unicamp, 2001.

GARRARD, Greg. Trad. Vera Ribeiro. Brasília: Editora daUniversidade de Brasília, 2006.

HAWKEN, Paul.NewYork: Little, Brown and Company, 1999.

MANZINI, E., VEZZOLI, C.São Paulo: Edusp – Editora

da Universidade de São Paulo, 2002.

PEARCE, D. et. al. Baltimore: The Johns HopkinsUniversity Press, 1993.

SACHS, Ignacy. Riode Janeiro: Garamond, 2004.

SANTOS, Milton. Trad. MariaIrene de Q. F. Szmrecsanyi. 2ª. ed. São Paulo: Edusp - Editora da Universidade deSão Paulo, 2003.

VAN BELLEN, H. M. Uma AnáliseComparativa. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2005.

Design

Design

Referências

Limites do desenvolvimento sustentável.

Ecocrítica.

Natural capitalism: creating the next industrial revolution.

O Desenvolvimento de Produtos Sustentáveis:os requisitos ambientais dos produtos industriais.

Environmental Economics.

Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado.

Economia Espacial: Críticas e Alternativas.

Indicadores de Sustentabilidade.

12

Soluções Inovadoras em Coletores-

Concentradores de Luz Solar: A Tecnologia

RINSC

Innovative Solutions in Solar Collectors-Concentrators: The RINSCTechnology

Pelegrini,Alexandre V.; PhD; Brunel University (alumni)[email protected]

O presente artigo apresenta uma breve introdução ao tema de coletores-concentradores de energia solar e iluminação natural e, mais especificamente, atecnologia (RINSC),inicialmente desenvolvida durante a pesquisa de doutorado deste autor na

, em Londres. Os sistemas RINSC podem ser utilizados para captar luzsolar direta e direcioná-la para aplicações em edifícios, como por exemplo,iluminação natural e geração de energia elétrica através de células fotovoltaicas.

energia solar; coletores-concentradores de luz solar;iluminação natural.

Resumo

Refractive Integrated Nonimaging Solar CollectorsBrunel

University

Palavras Chave:

13

IntroduçãoO emprego da energia solar e da iluminação natural em edifícios vem sendo

demonstrado como uma alternativa viável e cada vez mais necessária para asustentabilidade (Omer, 2008). Estima-se que o uso de energia elétrica emedificações corresponde a cerca de 20% a 40% do consumo global de energia(Pérez-Lombard et al, 2008; EIA, 2009). Este consumo é também responsávelindiretamente por cerca de 40% das emissões mundiais de CO2, decorrente doemprego de combustíveis fósseis na produção de eletricidade (Jenkins eNewborough, 2007). Estudos indicam que a aplicação estratégica da iluminaçãonatural pode contribuir para reduções de 20% a 70% no consumo de luz elétricaem edifícios comerciais (EIA, 2009; Jenkins e Newborough, 2007). Isto podegerar uma redução total significativa, pois se calcula que a iluminação artificialconsome cerca de 10% a 30% da energia utilizada nos edifícios (Pérez-Lombardet al, 2008). Pesquisas também evidenciam o papel positivo do incremento dailuminação natural na redução do pico do consumo de eletricidade durante overão, quando a disponibilidade da luz solar extende-se por até algumas horasdurante período de pico de consumo (Rosemann et al, 2008). Somam-se a estasvantagens, a superioridade da eficácia luminosa espectral da luz solar em relaçãoà luz artificial, e os benefícios da iluminação natural para a saúde e o bem-estar(Earp et al, 2004; Rosemann et al, 2008; Pelegrini, 2009).

As tecnologias para a captação e a distribuição da luz natural em edifíciossão conhecidas na literatura técnica pelo termo em inglês daylighting systems(sistemas de iluminação natural) – (Pelegrini, 2009). Em certos mercadosinternacionais existe uma grande variedade de sistemas de iluminação natural(Kandilli e Ulgen, 2009; Rosemann et al, 2008). Porém, apesar das reconhecidasvantagens da iluminação natural em edifícios, a maioria das tecnologiasexistentes possuem um custo elevado e ainda são muito pouco utilizadas(Rosemann et al, 2008). Outras desvantagens das atuais tecnologias incluem: obaixo desempenho em dias nublados e a relativa ociosidade do sistema quandonão houver ninguém no ambiente iluminado pela luz natural coletada (Rosemannet al, 2008).

De modo geral, os atuais coletores-concentradores de luz solar podem seragrupadas em pelo menos três categorias distintas:

(1) Coletores-concentradores solar baseados na “óptica de imagem” (dotermo inglês, imaging optics), caracterizados por empregarem lentes do tipoFresnel ou espelhos côncavos para concentrar a luz solar incidente para o pontofocal do sistema (Smith, 2000; Eicker, 2003; Kandilli e Ulgen, 2009);

(2) Coletores-concentradores solar baseados na “óptica não formadora deimagem” (do termo em inglês, nonimaging optics), como o Compound ParabolicConcentrator (CPC) e o Dielectric Totally Internally Reflective Concentrator(DTIRC) – (Winston et al, 2005; Rosemann et al, 2008; Pelegrini, 2009); e

(3) Coletores-concentradores solar baseados em processos físico-químicos, como os Luminescent Solar Concentrators (LSC) e Quantum DotSolar Concentrators (QDSC) que empregam partículas luminescentes imersasem placas de material sólido-dielétrico, geralmente vidro, policarbonato ouacrílico (Earp et al, 2004).

Dentre as categorias descritas acima, os atuais sistemas de coletores-concentradores solar baseados na “óptica não formadora de imagem”(nonimaging optics) apresentam uma série de vantagens sobre as demaisalternativas, incluindo baixo custo relativo, maior facilidade de fabricação eimplementação em escala (Winston et al, 2005; Rosemann et al, 2008).

Resumidamente, a geometria óptica dos coletores-concentradoresbaseados na “óptica não formadora de imagem” (nonimaging optics) considerauma área de entradaA , ou área de incidência solar, sempre maior do que a área desaídaA (Winston et al, 2005; Pelegrini, 2009).Arazão entre as áreas de entrada esaída do sistema determina o seu “grau de concentração geométrica” C descritopela Equação 1:

C = A / A (Eq.1)

onde C é a concentração geométrica do sistema,A é a área de entrada eA éa área de saída. Entretanto, é importante ressaltar que a concentração geométricaC nem sempre resulta diretamente em uma “concentração óptica efetiva”.Fatores como o ângulo de incidência da luz solar, o ângulo máximo de captação, ageometria e as qualidades ópticas dos materiais e superfícies do coletor-concentrador, também irão influir na eficiência do sistema. A eficiência detransmissão T da luz coletada é descrita pela Equação 2, proposta por Earp et al(2004):

T = E / E x 100% (Eq. 2)

Materiais e Métodos

1

2

R

R 1 2

R 1 2

R

E

E out in

14

onde T é a eficiência de transmissão do sistema, E é a iluminância (em lux)medida na saída do sistema e E é a iluminância (em lux) medida na entrada dosistema.

Um protótipo de demonstração, feito de acrílico transparente (PMMA), foifabricado através do emprego da técnica de prototipagem rápida por corte a laser.O objetivo do protótipo era provar o princípio de funcionamento do coletor-concentrador e verificar a eficiência de transmissão T das geometrias ópticasdesenhadas. O procedimento de fabricação dos protótipos é relativamentesimples. Os sistemas foram inicialmente projetados utilizando o programa deCAD SolidWorks . Cada sistema foi caracterizado por um “perfil óptico”, o qualcontém os principais elementos e superfícies ópticas do coletor-concentrador. Operfil óptico é representado de forma bi-dimensional (2D), possibilitando queuma máquina de corte a laser execute sua exata forma sobre a superfície de umachapa de acrílico. Dessa forma, o protótipo de demonstração constitui uma “fatiavertical” do sistema real, na qual encontram-se contidos os elementos ópticos dosistema – o conceito de “perfil óptico”. A espessura dessa fatia varia conforme acapacidade de corte do laser. No caso do protótipo fabricado, utilizou-se umachapa de acrílico transparente de apenas 5mm de espessura (Pelegrini, 2009).

Para as medições foram utilizados fotômetros portáteis (também chamadosde luxímetros), fabricados pela empresa norte-americana Extech Instruments .Os fotômetros apresentam resposta espectral semelhante a do olho humano,conforme recomendado por normas técnicas internacionais (CIE, 1990). Comoreferência técnica para os experimentos, forma utilizados os trabalhos de Ohno(1998) e Smith (2000). Também foi empregado o programa OptiCAD pararealizar analises e simulações computacionais ópticas.

O termo RINSC deriva do inglês(em tradução livre: Coletores Solar Refrativos Integrados de Não-

Imagem). A tecnologia RINSC baseia-se na área de óptica denominada “ópticada não-imagem” (do termo em inglês ), também conhecidacomo óptica anidólica (Winston et al, 2005; Pelegrini, 2009). O princípio defuncionamento é baseado nos fenômenos ópticos da refração e da reflexão totalinterna (Smith, 2000). Os sistemas desenvolvidos foram inicialmenteconcebidos como coletores-concentradores de luz solar de baixo custo e com altopotencial de integração nas fachadas de edifícios e residências (Pelegrini, 2009).

A inovação conceitual introduzida pelos sistemas RINSC pode ser

E out

in

E

®

®

®

A Tecnologia de Coletores-Concentradores RINSCRefractive Integrated Nonimaging Solar

Collectors

nonimaging optics

visualizada na Figura 1. Nota-se na Figura 1A o perfil óptico vertical do sistemadenominado RINSC-IMPSC. O perfil óptico vertical contém os elementosópticos do sistema e projeta-se ao longo do eixo horizontal da estrutura. A Figura1B demonstra o funcionamento do sistema através do emprego da técnica desimulação , executada com auxílio do programa .A Figura 2 apresenta uma seqüência de experimentos conduzidos em laboratóriocom o protótipo de demonstração do sistema RINSC-IMPSC. Observa-se que asfiguras que seguem foram adaptadas da tese de doutorado de Pelegrini (2009).

Nos testes experimentais, conduzidos com o protótipo em um laboratórioóptico, foram medidas eficiências de transmissão T de até 8% para ângulos deincidência da luz entre i = 55° e i = 65° (no plano meridional do sistema óptico).Entretanto é importante notar que as superfícies ópticas do protótipo dedemonstração sofreram graves deformações em certas partes devido àstemperaturas elevadas geradas pelo corte a laser. Isto limitou a eficiência dosistema e prejudicou os resultados experimentais. Simulações desenvolvidascom o auxílio do programa OptiCAD resultaram em eficiência de transmissãoT de até 35% para alguns dos sistemas RINSC desenvolvidos. Acredita-se quepossíveis modificações na geometria óptica do sistema poderão resultar emeficiências ainda maiores (Pelegrini, 2009).

ray-tracing analysis OptiCAD®

®

Testes e Resultados

E

E

θ θ

Figura 1: Modelo CAD (A) do sistema RINSC-IMPSC e simulação ray-tracing (B) demonstrandoo funcionamento do sistema RINSC-IMPSC (adaptado de Pelegrini, 2009, págs.123 e 131).

15

Conclusão

Notas

Referências

Os resultados obtidos indicam o potencial de aplicação dos sistemasRINSC de coletor-concentrador solar para incrementar a iluminação natural emedifícios e residências. Também é sugerida a aplicação destes sistemas comocoletor-concentradores solar para células fotovoltaicas. Entretanto, é importanteressaltar que o desenvolvimento desta tecnologia ainda encontra-se em faseexperimental.

O autor deste trabalho foi bolsista de doutorado pelo CNPq na, , em Londres, entre 2005 e 2009.

Os sistemas apresentados neste artigo derivam de parte de sua pesquisadesenvolvida na mesma instituição.

CIE. , Vienna,Commission Internationale de l'Eclairage, 1990.

BrunelUniversity School of Engineering and Design

2° Spectral luminous efficiency function for photopic vision

EARP, A.A.; SMITH, G.B.; SWIFT, P.D.; FRANKLIN, J. Maximising the light

output of a luminescent solar concentrator. , nº 76, p. 655-667,2004.EIAInternational Energy Outlook 2009. EIA/DOE. Disponível em:<http://www.eia.doe.gov/oiaf/ieo/pdf/0484(2009).pdf> . Acesso em: 30 ago.2009.EICKER, U. John Wiley & Sons, Chichester,2003.EXTECH INSTRUMENTS . Disponível em: <http://www.extech.com/>.Acesso em: 15 jun. 2007.JENKINS, D.; NEWBOROUGH, M. An approach for estimating the carbonemissions associated with office lighting with a daylight contribution.

, nº 84, p.608-622, 2007.KANDILLI, C.; ULGEN, K. Review and modeling the systems of transmissionconcentrated solar energy via optical fibres.

, nº 13, p. 67-84, 2009.OHNO, Y. Measurement Procedures. In: DeCusatis, C:

.AIP Press, Optical Society ofAmerica (OSA) and Springer-Verlag,NewYork, 1998.OMER, A.M. Focus on low carbon technologies: The positive solution.

, nº 12, p. 2331-2357, 2008.OPTICAD . Disponível em: <http:// />. Acesso em: 20 jun.2007.PÉREZ-LOMBARD, L.; ORTIZ, J.; POUT, C. A review on buildings energyconsumption information. , nº 40, p.394–398, 2008.ROSEMANN, A.; COX, C.; FRIEDEL, P.; MOSSMAN, M.; WHITEHEAD, L.Cost-effective controlled illumination using daylighting and electric lighting in adual-function prism light guide. , nº 40, p. 77-88, 2008.PELEGRINI, A.V. .Doctoral Thesis, Brunel University: London, 2009.SMITH, W.J. . SPIE Press & McGraw-Hill, NewYork, 2000.SOLIDWORKS . Disponível em: <http://www.solidworks.com/> Acesso em:14 jun. 2006.WINSTON, R.; MINANO, J.C.; BENITEZ, P. . ElsevierAcademic Press, London, 2005.

Solar Energy

Solar Technologies for Buildings,

AppliedEnergy

Renewable and SustainableEnergy Reviews

Handbook of AppliedPhotometry

Renewable and Sustainable Energy Reviews

Energy and Buildings

Lighting Research Technology

Refractive Integrated Nonimaging Solar Collectors

Modern Optical Engineering

Nonimaging Optics

®

®

®

www.opticad.com

Figura 2: Seqüência de experimentos conduzidos em laboratório com incidência de feixe de luz direta sobreos protótipos de demonstração do sistema RINSC-IMPSC (adaptado de Pelegrini, 2009, pág. 146).

16

Avaliação do Ciclo de Vida para o Design

SustentávelLife CycleAssessment for Sustainable Design

Ugaya, Cássia Maria Lie; Doutora; [email protected]

Qualquer produto resulta em diversos impactos, sejam de caráter econômico,como também social e ambiental tanto na produção quanto no uso ou ainda porser mantido no mercado durante um longo período. Isto torna o desenvolvedor deprodutos responsável pelos impactos decorrentes dos produtos. Desta maneira,incluir estes critérios desde os primeiros momentos do design torna-se cada vezmais necessário para contribuir para a sustentabilidade. O Design Sustentávelconsiste em incluir os aspectos ambientais, sociais e econômicos nodesenvolvimento de produtos, considerando o ciclo de vida. Comoconseqüência, o objetivo deste estudo é o de avaliar o potencial e as necessidadespara a incorporação da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV) no Design. Para tanto,será apresentada as características daACV e os desafios a serem enfrentados paraa inclusão no Design, a fim de poder ser classificado como Design Sustentável.Este estudo mostra que ainda há muito a se fazer para que isto se torne realidade,mas que os primeiros passos já foram dados.

avaliação do ciclo de vida; design sustentável;sustentabilidade.

Resumo

Palavras Chave:

17

Design SustentávelQualquer produto resulta em diversos impactos, sejam de caráter

econômico, como também social e ambiental tanto na produção quanto no uso ouainda por ser mantido no mercado durante um longo período, o que torna odesenvolvedor de produtos responsável pelos impactos. Desta maneira, incluirestes critérios desde os primeiros momentos do design torna-se cada vez maisnecessário a fim de contribuir para a sustentabilidade.

O Design Sustentável pode ser definido como aquele que inclui os aspectosambientais e sociais como elementos centrais na estratégia de inovação deproduto, considerando o ciclo de vida (UNEP, 2007).

Por outro lado, a complexidade inerente a estas questões, especialmente noque tange à avaliação ambiental e social, tem resultado na adoção de práticasrestritas a características específicas, como a consideração de apenas umacategoria de impacto (p.ex., as mudanças climáticas) ou ainda, qualitativas (p.ex., o estabelecimento de que a reciclagem ou o uso de recursos renováveis temsempre um valor positivo do ponto de vista ambiental).

Apesar do fato de aumentar a reciclagem implicar em reduzir a pressãosobre os recursos naturais, a logística reversa e o processo de reciclagem tambémresultam em impactos ambientais. Ugaya (2001), por exemplo, mostrou quemuito embora o alumínio secundário apresente menor consumo de eletricidadeao ser comparado com o alumínio primário, gera maior quantidade de resíduossólidos salinos.

Uma análise similar pode ser realizada em relação aos recursos renováveis.Enquanto os combustíveis fósseis são os principais responsáveis pelas mudançasclimáticas, as fontes renováveis podem resultar na perda de biodiversidade ouentão, competir no uso do solo na produção de alimentos.

A utilização de soluções qualitativas, como a do método de Design paraSustentabilidade (UNEP, 2007) certamente facilita ao tomador de decisão,entretanto, a pesquisa realizada por Wood et al. (201-?) comparou os resultadosprovindos do uso deste método e da técnica quantitativa deAvaliação do Ciclo deVida (ACV), ainda que de forma simplificada, para mochilas fabricadas nas ilhasFiji, mostrando diferenças significativas na tomada de decisão do material a serselecionado como de menor impacto ambiental.

Tudo isto mostra a necessidade de incluir os impactos do ciclo de vida deprodutos no Design. Como conseqüência, o objetivo deste estudo é o de avaliar opotencial e as necessidades para a incorporação daACV no Design Sustentável.

Avaliação do Ciclo de VidaAAvaliação do Ciclo de Vida (ACV) consiste em uma técnica para avaliar

os impactos ambientais desde a extração dos recursos ao descarte final doproduto (SETAC, 1993). Uma ACV é realizada em quatro fases: a definição doobjetivo e do escopo, a análise de inventário, a avaliação de impacto do ciclo devida e a interpretação, sendo que os requisitos estão publicados na série NBR ISO14040 (ABNT, 2009ª eABNT, 2009 ).

Dentre as características daACV, destacam-se:a consideração de todos os estágios do ciclo de vida do produto;a possibilidade de avaliar os impactos, sem transferi-los de um estágio

do ciclo de vida para outro (por exemplo, da etapa de manufatura para ade extração);a quantificação dos impactos ambientais correlacionada à unidade

funcional (quantidade de função, por exemplo, fornecer 500 lm durante 8anos);a demanda elevada de dados dos diversos processos ao longo do ciclo de

vida do produto;a inclusão das categorias de impacto relevantes (não se restringe a

apenas uma, como é o caso da pegada de carbono);a necessidade de validação científica.

Conseqüentemente, aACV destaca-se como técnica de avaliação ambientalde produtos, podendo ser utilizada no planejamento estratégico, políticaspúblicas e também, no desenvolvimento de produtos.

Em virtude da importância da técnica para o desenvolvimento sustentável,o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e a Sociedadede Química Ambiental e Toxicológica (SETAC) lançaram, em 2002, a Iniciativado Ciclo de Vida (InCV) que vem contribuindo para o desenvolvimento demétodos e a disseminação do uso da ACV ao redor do mundo (UGAYA, 2007).Somada a outras iniciativas, como a de desenvolvimento de bases de dados,métodos de Avaliação de Impacto do Ciclo de Vida (AICV), softwares, normas,entre outros, aACV já está presente:

na regulamentação, por exemplo, no artigo 17 da Diretiva de EnergiasRenováveis (RED 2009/28/EC), em que deve ser comprovado que oszbiocombustíveis reduzem em pelo menos 35% de emissões de CO ao seconsiderar o ciclo de vida do produto, quando comparado aocombustível fóssil de referência,em rotulagens ambientais, como a declaração de produtos ambientais,z

b

?

?

?

?

?

?

?

?

2

18

da Suécia e o escopo 3 da pegada de carbono (WRI e WBCSD, 2009),em compras verdes, tendo como exemplo a política estabelecidaconjuntamente por duas redes suíças de supermercado, apesar de seremconcorrentes.

A conseqüência destas ações é a crescente disseminação do pensamento dociclo de vida em nível mundial, tendo sido implementada em diversas empresascomo: Dupont, Rio Tinto, Boeing, Johnson Diversey, Dow Corning, DaimlerChrysler, Basf, GM, Black & Decker, Walmart, inclusive no Brasil, por exemplo,na Natura, Boticário, Volkswagen, entre outros, e presente em organizações,como: a ONU (Organizações das Nações Unidas), a OECD (Organização paraCooperação e Desenvolvimento Econômico) e o WBCSD (Conselho MundialEmpresarial para o Desenvolvimento Sustentável), entre outros (REMMEN,JENSEN e FRYDENDAL, 2007).

No Brasil, a ACV também tem tomado espaço, tendo sido incluída naPolítica Nacional de Resíduos Sólidos e com a publicação da Resolução doConmetro do Programa Brasileiro deAvaliação de Ciclo de Vida (PBACV).

Apesar do grande avanço daACV, ainda há muito que se caminhar, uma vezque a busca pela sustentabilidade não implica apenas a questão ambiental, comotambém a econômica e social. No caso da econômica, existe desde a década de 60a técnica de Custos do Ciclo de Vida (CCV), entretanto, a ACV Social sódespontou na década de 90. De fato, os consumidores sustentáveis não desejamque os produtos adquiridos tenham alguma relação com impactos sociaisnegativos, como é demonstrado pelo boicote realizado a algumas empresas face àconstatação de haver trabalho infantil na cadeia de fornecedores.

Devido à importância deste tema, em 2004, foi criada a Força Tarefa (FT)para Inclusão de Aspectos Sociais em ACV da InCV, que constatou afactibilidade de execução da ACV Social (ACV-S), entretanto apontando quealterações metodológicas eram necessárias (GRIEbHAMMER et al., 2006).

Desde o lançamento da FT, algumas propostas e alguns estudos de casoforam apresentados, dentre os quais pode-se citar:Labuschagne et al. (2005), na África do Sul, verificaram o impactocausado sobre recursos humanos internos, população externa, partesinteressadas e desempenho macro-social;Dreyer et al. (2006) propuseram algumas categorias de dano e deimpacto voltado ao ser humano em um método que envolve 2 (duas)camadas sociais; a primeira das condições obrigatórias, em que sãoestabelecidas condições mínimas para a condução de responsabilidadesocial da companhia e outra, opcional.

?

?

?

?

?

?

Ugaya et al. (2005) realizaram dois estudos de caso quantitativos com ouso de indicadores sociais relacionados ao trabalho em uma indústriagráfica e uma indústria de aglomerados.Norris et al. (2005) apresentaram e demonstraram um modelo que tempor objetivo estimar os impactos de desenvolvimento de políticas deconsumo sustentável, assim como as conseqüências na saúde.

Mais recentemente, um importante marco na ACV-S consistiu napublicação do livro contendo as diretrizes para aACV-S (UNEP, 2009).

Similarmente às perspectivas da ACV Ambiental, que tem crescido aoredor do mundo, sendo inserida em legislações ou como critério para aquisiçãode mercadorias, a perspectiva é de que a ACV Social tenha um futuro similar. Oselo social da Bélgica, por exemplo, considera as questões trabalhistas no ciclode vida de produtos.

A perspectiva é de que a ACV avance ainda para uma metodologia quepossibilite a avaliação da sustentabilidade, incluindo as questões ambientais,econômicas e sociais.

O uso da ACV certamente contribuirá para o design sustentável, contudomuito ainda há que ser feito no Brasil: o desenvolvimento de bases de dados deICVs, métodos de AICV, tanto para a questão ambiental quanto para a social sãoos primeiros passos para facilitar a execução de estudos deACV.

ACVs simplificadas podem ser obtidas após a realização de ACVscompletas, caso a variabilidade de materiais e fornecedores não seja tão elevada.Apesar de não ser uma solução tão imediata por demandarACVs completas, estaé uma excelente alternativa para o design no longo prazo.

Por fim, o designer deveria ser acompanhado de pessoal capacitado emACV, evitando que a ACV seja mal utilizada e possibilitando a realização deadaptações e cenários nos estudos deACV.

Considerações finais

19

Referências

ABNT (2009) : Sistema de Gestão Ambiental – Avaliação doCiclo de Vida – Requisitos e Orientações.

BENOIT, C, NORRIS, G., VALDIVIA, S., CIROTH, A., MOBERG, A., BOS,U., PRAKASH, S., UGAYA, C. e BECK, T. (2010) The guidelines for social lifecycle assessment of products: just in time!

15(2) 156-163.

DREYER LC, HAUSCHILD MZ, SHIERBECK J (2006) A Framework forSocial Life Cycle ImpactAssessment.

11(2) 88-97.

RED, Renewable Energy Directive (2009). DIRECTIVE 2009/28/EC OF THEEUROPEAN PARLIAMENTAND OF THE COUNCIL. Official Journal of theEuropean Union. Disponível em:

. Acesso em2/5/2010.

SETAC (Society of Environmental Toxicology and Chemistry).Sesimbra, Portugal. Ed.

Consoli, F. Et al., Pub. Setac. Workshop 31/3 - 3/4/1993.

UGAYA, C. M. L. ; MACHADO, Marlon Alessandro ; CRITCHI, André Jr .Avaliação Social do Ciclo de Vida: estudos de caso. In: ConferenciaInternacional sobre Avaliação de Ciclo de Vida - CILCA 2005, 2005, San José.

, 2005. v. 1.

UGAYA, C. M. L. A Iniciativa do Ciclo de Vida e as Conseqüências para aIndústria Nacional. . 2007.

UGAYA, C.M.L. . Tese de doutorado. Campinas. 2001.

UNEPDesign for Sustainability a practical approach for Developing Economies.França. 2007. 128p.

NBR ISO 14044

The International Journal of LifeCycleAssessment

The International Journal of Life CycleAssessment

Guidelines forLife-Cycle Assessment: a code of “practice”.

Anais do CILCA2005

MeioAmbiente Industrial

Análise de Ciclo de Vida

BARRETO, R.J., UGAYA, C.M.L. Incorporação da Avaliação do Ciclo de Vida aoProcesso de Desenvolvimento de Produtos. Anais do I Simpósio Brasileiro de DesignSustentável. 2007.

http://www.r-e-a.net/document-l i b r a r y / t h i r d p a r t y / r e a - a n d - f q d -documents/REDDoc_090605_Directive_200928EC_OJ.pdf/view

WOOD . Michael D.K. Lobendahn, Fabrice Mathieux, , Daniel Brissaud, andDamien Evrard Results of the first adapted design for sustainability project in aSouth Pacific small island developing state: Fiji. 201-?.

. In Press.

WRI e WBCSD (2009).. Draft. 112p.

Journal of CleanerProduction

Product Life Cycle Accounting and ReportingStandard

20

Design XXI – atemporal – localmente

globalizadoXXI design - timeless - locally global

Ullmann, Christian, desenhista industrial, UBA/FADU – Buenos Aires,[email protected]

Paula, Tania Cristina de, mestranda do curso Educação, Arte e História daCultura da Universidade Presbiteriana Mackenzie – São Paulo – [email protected]

Hoje, projetamos sendo conscientes das nossas co-responsabilidades sociais,ambientais culturais e éticas. Nossas escolhas de projeto e sugestões podemcolaborar de forma significativa com a melhoria de qualidade da sociedade. Onovo universo do design é desafiador e faz do cotidiano o extraordinário, umanova fase de transformação esta acontecendo novos produtos, novos valores,novos scenarios, onde o conceito do projeto, abrange a interação entre sociedade,produção, demandas reais e desenvolvimento local, o habitat inteiro, tornado-omenos in-sustentável. Este é o verdadeiro desafio desta segunda década doséculo XXI.

design XXI; design para o desenvolvimento local; design co-responsável e design participativo.

Resumo

Palavras Chave:

21

IntroduçãoExperiências em design social para geração de renda no BrasilPodemos considerar o design com preocupações sociais e ambientais como

um novo campo de atuação para os designers de produto e gráfico. O design temhoje um importante papel no planejamento de um futuro responsável ecomprometido com o meio ambiente e com a sociedade.

Identificamos importantes iniciativas de aproximação do design àprodução artesanal no Brasil através de ações que tiveram papel fundamental navalorização da cultura brasileira, como por exemplo: a atuação no nordeste daarquiteta Lina Bo Bardi nos anos de 1960 onde foi pioneira em debater o desenhoindustrial em contraposição a produtos provenientes da cultura popular brasileirae o designerAloísio Magalhães, entre 1975 e 1982, que desenvolveu uma políticacultural em busca de indicadores para um desenvolvimento autenticamentebrasileiro e para um design nacional. (PAULA, 2008)

Somente a partir dos anos de 1990 observamos a atuação de designers juntoa grupos de produção artesanal com o objetivo de reduzir desigualdades sociais.Um exemplo pioneiro foi o projeto Tradição & Renovação | Programa Global deAssistência e Valorização da Produção Artesanal do Distrito Federal realizadopelo SEBRAE DF em 1996, onde Christian Ullmann teve a oportunidade departicipar das oficinas que promoveram o encontro de designers e artesãos.Apósesta experiência surgiram os Programas de Artesanato do SEBRAE em todos osestados brasileiros que estão ativos até hoje. Outro exemplo importante foi oprograma social Artesanato Solidário fundado por Ruth Cardoso no ano 1998,hojeArtesanato Solidário: programas de apoio ao artesanato e à geração de renda–ArteSol.

Hoje podemos observar várias iniciativas de instituições governamentais,ongs nacionais e internacionais, empresas, instituições de ensino e voluntáriosatuando e desenvolvendo projetos.

Criamos o projeto oficina nômade em 2001, na Amazônia, com o objetivode identificar, apoiar, divulgar e fortalecer o mercado de produtos comunitários ede produção artesanal que utilizam de forma sustentável os recursos naturais,visando resultados positivos para a comunidade e para a natureza.

A atuação do projeto se dá basicamente através da valorização dos recursosnaturais renováveis, da cultura e das técnicas artesanais. Procura melhorar osprocessos de produção, resgatar técnicas tradicionais, otimizar e reduzir a

Projeto Oficina Nômade

utilização dos recursos naturais, fortalecer a identidade dos grupos comunitáriose definir a estratégia de comercialização e divulgação dos produtos; semprerespeitando o ritmo das comunidades e de forma responsável e solidária com asquestões ambientais e sociais.

O artesanato oferecem um imenso repertório material e iconográfico, capazde ser elemento estratégico e diferencial para artesãos e comunidades menosfavorecidas. Estimulando núcleos produtivos associados ao mercado local e aoturismo regional, atividade econômica que apresenta forte potencial decrescimento no país, valorizamos os saberes locais, promovemos a preservaçãoda natureza, o desenvolvimento da cidadania e a inclusão social.

A atuação dos designers estimula a produção artesanal e semi-artesanal,promove a qualificação de artesãos e empreendedores locais, contribui para que aprodução artesanal brasileira se torne meio de auto-sustentação para ascomunidades e gera alternativas para o uso racional de matéria prima.

O projeto se divide, basicamente, em duas ações bem diferenciadas: asatividades de campo, junto aos grupos de produção artesanal e as açõescomplementares para a promoção e a divulgação dos produtos e da produçãoartesanal. Em oito anos de atuação, as ações complementares foramfundamentais para a divulgação deste novo campo de atuação do design e paraobservar o seu crescimento.

A nossa atuação se dá principalmente através do desenvolvimento deprodutos, da capacitação técnica e da inserção dos produtos no mercadoobservando e avaliando durante o processo a capacidade de gestão, de produção,de formação de multiplicadores e da autonomia do grupo e de mestres artesãos.

O desenvolvimento das ações é dinâmica e variável pois é muito importanteconsiderar as diferentes características e peculiaridades de cada grupo.Procuramos trabalhar com mínima complexidade tecnológica, valorizando acriatividade e as técnicas mais utilizadas de cada região, e utilizando o designcomo elemento fundamental para agregar valor e identidade aos produtos eenvolvendo diferentes profissionais segundo as necessidades especificas de cadaprojeto.

Nossos projetos incorporam critérios e princípios que definem alguns selose instituições, por exemplo: ISA, Greenpeace, Amigos da Terra, WWF, SOSMataAtlântica, FSC, IMAFLORA, FACE, UNESCO, FairTrade e FLO.

22

Propomos como modelo de atuação:

Experiências recentes

?

?

?

?

?

?

?

?

Diagnóstico e identificação de matéria-prima, técnicas produtivas,tradição artesanal, produtos, perfil dos artesãos, cultura local, históricoda comunidade e herança étnica.

Desenvolvimento de parcerias com instituições, ongs., universidadese profissionais locais para promover a continuidades das ações iniciadas.

Oficinas de criação, desenvolvimento e adequação de produtos.Acompanhamento da produção e contato com o mercado.Projeto de identidade visual, identificação dos produtos e sistemas de

embalagens.Estratégia de certificação, divulgação e comercialização.Apoio à comercialização.Apresentação dos projetos em eventos, palestras, seminários e

workshops nacionais e internacionais.O mais importante a se considerar é que não devemos utilizar um modelo

rígido de atuação e analisar cuidadosamente cada caso. É fundamental respeitar acultura, o ritmo da comunidade e o meio ambiente. As comunidades tem muitascoisas para ensinar para os designers e são modelos de referência para umaprodução mais sustentável.

Os designers podem colaborar com a melhoria de alguns processos, masprincipalmente promover processos de transformação de baixo impactoambiental e de positivo impacto social.

Em 2010 desenvolvemos uma nova experiência, envolvendo diferentesgrupos de produção artesanal, uma fabrica tradicional e uma loja quecomercializa moveis.Aproposta desta experiência é melhorar a comercializaçãodos produtos, participando de um modelo convencional e aceito.

O desafio foi juntar todas as partes envolvidas e desenvolver a gestão parater continuidade no processo. A experiência esta em fase de desenvolvimento eevoluciona de um modo diferente ao planejado.

Produto Poltrona Homeless do Projeto CollezioneARTESANIAComunidades envolvidas. Serralheiro Antonio Garcia (SP); Grupo de

Produção Artesanal Costurando com Arte, da cidade de Serrana (SP); FabricaRonconi (PR) e LojaALOTOF (SP)

O projeto se inicio desenvolvendo um novo produto “poltrona Homeless”para ser apresentada no espaço Alotof Design Group, no Salone Satellite da

Semana de Design da cidade de Milão 2010.A Proposta foi envolver comunidades artesanais como integrantes do

processo de fornecimento de componentes para a produção e comercialização demobiliário contemporâneo. O projeto da poltrona foi desenvolvido pelosdesigners Pedro Paulo Franco e Christian Ullmann, os materiais escolhidosmalha de construção civil e tecido. A escolha dos materiais foi em função dapossibilidade de transformar e processar estes materiais a partir de técnicasartesanais e semi-artesanais (figura 1).

A experiência de desenvolvimento de projeto nos possibilitou pensardiferentes estratégias para o desenvolvimento e comercialização do produto. Oproduto pode ser comprado completo na loja, pode ser comprado porcomponentes: a estrutura ou o estofamento ou também o próprio cliente podeentrar em contato com alguma comunidade artesanal e solicitar o parte doproduto ou componente.

Aidéia de um projeto de aberto funciona muito bem no papel, porem na vidareal os clientes, ainda, não tem todo esse envolvimento com o produto ou comalguma comunidade querendo o produto pronto entregue em casa. A poltrona

Figure 1: Poltrona Homeless – projeto original

23

Homeless, se transformou em um projeto de pesquisa passando por modificaçõespara entender até onde podemos inovar como designers, como criar alternativasem processos de produção envolvendo comunidades artesanais e como abrirespaço comercial para esta nova tipologia de produtos no mercado.

Para aproximar o projeto do gosto do público da loja, realizamos umsegundo projeto modificando o processo de produção e utilizando tecidos detapeçaria comerciais (figura 2). Este projeto modificado, com claros interessescomerciais, esta em fase de teste e o desafio maior é conseguir a qualidade dacomponente de tecido costurada pelo grupo de produção artesanal com aqualidade esperada pelo público e manter a motivação do grupo a pesar de não teruma venda significativa.

Referências

PAULA,T.C.de. Aproximação entre design e artesanato no Brasil. Conceitos eações de Lina Bo Bardi e Aloísio Magalhães. In: P&D DESIGN, 8º, 2008, SãoPaulo.

ULLMANN, Christian. Design Participativo, Coluna Design para aSustentabilidade. In: Nº 32 Jun/Jul/Ago 2010. p. 38, 39, 40e 41.

ULLMANN, Christian. Para um Design Solidario, capitulo da publicação. In:Organização Cássio Luiz de França - São

Paulo: Fundação Friedrich Ebert / ILDES, 2003. p. 119 - 123

Tradição e Renovação –/ Serviço de Apoio as Micro e Pequenas Empresas do Distrito Federal

– Brasília: SEBRAE/DF, 1996.

Anais do Oitavo Congresso Brasileiro de Pesquisa &Desenvolvimento em Design. São Paulo, SP: 2008.

RevistaABCDesign.

Comércio Ético e Solidário no Brasil.

Programa Global de Assistência de ProduçãoArtesanal

Figure 2: Poltrona Homeless – projeto modificado (comercial)

24

Estratégias para o gerenciamento da

obsolescência de artefatosStrategies for managing the obsolescence of artifacts

Zacar, Cláudia Regina Hasegawa; Mestre; Universidade Federal do Paraná[email protected]

Ono, Maristela Mitsuko; Doutora; Universidade Tecnológica Federal do Paraná[email protected]

Neste artigo são apresentadas dez estratégias possíveis para o gerenciamento daobsolescência de artefatos por meio do design.As estratégias foram identificadascom base em revisão bibliográfica, e foram delineadas a partir do conceito deflexibilidade. Esse foi aplicado aos três níveis básicos de funcionalidade dosartefatos, considerando suas funções de uso, técnicas e simbólicas.

design; obsolescência; sustentabilidade.

Resumo

Palavras Chave:

25

Introdução

Design, obsolescência e sustentabilidade

O design, enquanto atividade diretamente envolvida no planejamento edesenvolvimento de boa parte da cultura material, tem muitas vezes contribuídopara a aceleração do processo de obsolescência dos produtos. Por outro lado, odesign também pode atuar no sentido contrário, participando do gerenciamentoda obsolescência e estimulando padrões de produção e consumo maisresponsáveis. Considera-se que, ao gerenciar a obsolescência de um artefato,tornando-o mais durável, posterga-se o descarte e a necessidade de manufaturade um novo produto para reposição, atenuando, assim, os impactos decorrentesdesses processos.

Neste contexto, buscou-se identificar estratégias para o gerenciamento daobsolescência de artefatos por meio do design. As dez estratégias foramdelineadas a partir de revisão bibliográfica, que compreendeu coleta dadosprincipalmente de livros e periódicos.

A despeito da preocupação de alguns grupos, no cenário atual percebe-seque a obsolescência planejada ainda é uma estratégia amplamente aplicada pelasindústrias, e que os ciclos de desenvolvimento e utilização dos produtos tornam-se cada vez mais curtos.

Posto isso, discute-se de que maneiras é possível desacelerar este processo,configurando cadeias de produção e consumo mais próximas ao conceito desustentabilidade. Um dos caminhos apontados por Manzini e Vezzoli (2002) parao desenvolvimento de produtos sustentáveis é buscar a otimização de sua vidaútil.

A otimização pode envolver duas estratégias: o aumento da durabilidadedos produtos e a intensificação de seu uso. A intensificação do uso, por meio deuso coletivo e compartilhado, permite uma redução na quantidade de produtosusados em um determinado momento e local, acarretando uma diminuição dosimpactos ambientais (MANZINI; VEZZOLI, 2002).

Já o aumento da durabilidade posterga a necessidade de substituição erenovação, adiando assim a manufatura de um novo produto para reposição e osimpactos decorrentes dos processos produtivos. Além disso, adia também odescarte do produto, conseqüentemente limitando a geração de resíduos e seusimpactos ambientais (KAZAZIAN, 2005).

Segundo Kazazian (2005), diferentes abordagens são possíveis paraaumentar a durabilidade de um produto, conforme as etapas de seu ciclo de vida.

Para o autor, o ponto central é que a durabilidade sempre supõe uma gestão daobsolescência, tanto em seus aspectos objetivos quanto subjetivos.

Para van Nes e Cramer (2003) o essencial para tornar um produto maisdurável é a antecipação da insatisfação do usuário, visando adaptar previamenteo produto para os aspectos relevantes. As autoras indicam que o que as pessoasem geral desejam, basicamente, são produtos atualizados e que funcionem bem,adaptando-se às suas necessidades cambiantes. Para as autoras, a naturezadinâmica desse contexto requer uma abordagem similar, ou seja, odesenvolvimento de produtos igualmente dinâmicos e flexíveis. O conceito deflexibilidade torna-se, portanto, fundamental para a reflexão sobre produtosduráveis.

A flexibilidade pode ser entendida como a facilidade com que um sistemaou componente pode ser modificado para o uso em aplicações ou ambientesdiferentes daqueles para os quais foi especificamente projetado (MOURAGUEDES apud MANZINI, 2008). Manzini (2008) apresenta duas interpretaçõespossíveis para o termo: flexibilidade enquanto abertura, ou seja, a capacidade depermitir uma variedade de usos; e flexibilidade enquanto potencial evolutivo,isto é, a capacidade de mudar ao longo do tempo, em relação às mudanças docontexto.

Na busca por produtos mais flexíveis, seria possível pensar a aplicaçãodesse conceito em diversos níveis, nas funções de uso, técnicas e simbólicas dosartefatos. De acordo com Ono (2006), as funções de uso são aquelas ligadasàquilo que o usuário espera do produto, em relação aos serviços prestados. Estãorelacionadas à ação e execução de tarefas, bem como aos aspectos ergonômicos.As funções técnicas, por sua vez, estão relacionadas às características eespecificações necessárias para satisfazer tecnicamente as demandas dosusuários. Compreendem os elementos de estruturação do artefato, comomateriais, componentes e recursos tecnológicos, bem como os sistemas defuncionamento. Por fim, as funções simbólicas são aquelas relacionadas aocomportamento humano, motivações psicológicas, sistemas de valores ereferências socioculturais. Dizem respeito às necessidades subjetivas, tais comostatus e aparência. Tais funções não se manifestam isoladamente, nem de modohomogêneo e totalmente previsível, mas se inter-relacionam nos contextoscomplexos, dinâmicos e diversos vivenciados pelas pessoas.

Posto isto, na próxima seção serão apresentadas estratégias de design para ogerenciamento da obsolescência, relacionadas à flexibilização dos três níveisfuncionais acima mencionados.

26

Estratégias para o gerenciamento da obsolescência

de artefatosCom relação à flexibilização das funções de uso, são sugeridas duas

estratégias correlacionadas: multifuncionalidade indefinida e simplicidade.Para van Hinte (2004), uma das formas de projetar um produto durável é

reduzir a precisão de sua definição prático-funcional, facilitando o surgimento deusos alternativos. Essa propriedade é denominada pelo autor de“multifuncionalidade indefinida”, por meio da qual o usuário poderia ter umpapel mais ativo na definição ou redefinição das funções de uso dos artefatos.

Produtos com estruturas simples podem facilitar a multiplicidade de usos.De acordo com Zafarmand, Sugiyama and Watanabe (2003), a simplicidade podeainda contribuir para a redução do número de componentes e materiaisutilizados, facilitando, assim, a desmontagem, o reparo e a atualização dosartefatos.

No que tange à flexibilização das funções técnicas, também foramidentificadas duas estratégias correlacionadas, sendo elas: atualizaçãotecnológica e modularização.

A atualização tecnológica permite a extensão da vida útil do produtoparalelamente à inovação tecnológica (MUIS, 2006), contribuindo assim paraque os usuários mantenham o interesse por seus produtos por um tempoprolongado. A atualização pode ser facilitada pelo desenvolvimento modular doconteúdo tecnológico dos produtos. Cada módulo deve ser projetado para fácilsubstituição e com materiais e estruturas adequadas ao seu tempo de vida.Assim,se torna possível manter a atualização tecnológica por meio da substituiçãoapenas dos elementos necessários, sem a necessidade de descarte do produtointeiro (MONT, 2008).

Discorrer sobre a flexibilização da função simbólica dos artefatos podeparecer um contra-senso, uma vez que nenhum artefato possui um significadoúnico e fixo. Os produtos estão sujeitos à apropriação, dispersão e transformaçãopor meio do uso e da posse e, ao mudarem de contexto, vão perdendo eadquirindo novos sentidos (DENIS, 1998).

Porém, segundo Denis (1998), por mais que os significados dos produtossejam subvertidos, dificilmente eles são totalmente esvaziados dos significadosprimordiais que lhe foram investidos em sua fase de produção. Assim, ainda quehaja um direcionamento parcial e de controle limitado, os designers têm sim umpoder de influência importante no significado de produtos. E, para Chapman(2005), essa instabilidade do significado das coisas pode ser utilizada pelos

designers como um agente de possibilidades, permitindo que os objetosapresentem múltiplas personalidades que estimulem o usuário a conhecê-las.

Foram identificadas seis estratégias visando à flexibilização das funçõessimbólicas dos artefatos, sendo elas: atualização estética, aplicação de materiaisque “envelheçam bem”, aplicação de materiais que sofram alterações estéticas aolongo do tempo, customização, personalização e dependência/ alteridade.

Como salienta Muis (2006), se os produtos têm que ter uma vida longa, suasqualidades estéticas também têm que perdurar. Uma forma de promover adurabilidade estética é dotar os produtos de aparências extensíveis, adaptáveis,atualizáveis e abertas (WOOLLEY, 2003).

No desenvolvimento de produtos duráveis os materiais têm claramente umpapel crucial, tanto em termos de durabilidade física quanto em termos deaceitação social. Alguns materiais, como a madeira, o couro e o jeans, parecemser mais adaptados ao envelhecimento do que outros, apresentandocaracterísticas estéticas interessantes com o passar do tempo (WOOLLEY, 2003;CHAPMAN, 2005).

Outra abordagem possível para explorar o potencial evolutivo dos materiaisé utilizar aqueles que sofrem alterações em suas características estéticas ao longodo tempo, por meio da exposição contínua à luz, calor ou pigmentos.

Acustomização também é sugerida como estratégia para a flexibilização dafunção simbólica dos artefatos. Ela envolve a escolha, pelo consumidor, deprodutos e serviços variados (PRAHALAD; RAMASWAMY, 2000). Mont(2008) defende a aplicação da customização como forma de diferenciar ediversificar os produtos, melhor adequando-os às necessidades e demandas dosconsumidores. Segundo a autora, por meio da customização seria possívelfacilitar o desenvolvimento de ligações mais significativas entre usuários eprodutos, conseqüentemente tornando mais difícil seu descarte prematuro.

A personalização, por sua vez, implica ter no consumidor um parceiro nacriação do conteúdo da experiência (PRAHALAD; RAMASWAMY, 2000), epode ser definida como um processo de transformação da funcionalidade,interface, conteúdo informacional ou da distinção de um sistema para aumentarsua relevância pessoal para um indivíduo (BLOM, 2000). Argumenta-se que apersonalização também estimula o desenvolvimento de laços afetivos maissignificativos entre usuário e produto. Mugge, Schifferstein e Schoormans(2004) sugerem que os designers podem encorajar as pessoas a personalizaremseus artefatos ao desenvolver produtos que não estejam completamentefinalizados no momento da compra, demandando uma interferência criativa parapoderem ser efetivamente utilizados.

27

Segundo Chapman (2005), uma das causas da baixa durabilidade dosartefatos é o fato de que boa parte deles não foi projetada para proporcionarexperiências variadas e significativas. Neste contexto, o autor sugere o projeto deprodutos que sejam de alguma forma dependentes, que tenham a capacidade decriar um relacionamento entre sujeito e objeto, fundado na troca simbiótica deconfiança e necessidade. Desta forma, seria possível mediar experiênciasautênticas, devido ao grau de alteridade do artefato, ou seja, sua capacidade de semostrar ao usuário como um ser autônomo, com vontade própria.

Neste artigo, argumenta-se que o design pode contribuir para a extensão davida útil dos artefatos, por meio do gerenciamento de sua obsolescência.Acredita-se que as estratégias propostas têm potencial para contornar ouminimizar as principais motivações para o descarte prematuro de artefatos. Emgeral, sugere-se a aplicação conjunta de diferentes estratégias, visando àobtenção de resultados mais significativos. Algumas estratégias dão suporte aoutras, sendo altamente recomendada sua aplicação simultânea. Amodularização, por exemplo, facilita a implementação das estratégias deatualização tecnológica e estética, e também de customização, por exemplo.

É importante ressaltar que o processo de obsolescência de artefatos écomplexo, e pode ser influenciado por diversos fatores, referentes ao sistemaeconômico vigente, aos processos produtivos, ao produto em si, às característicasdo usuário, entre outras. Por este motivo, para que seja possível efetivamentecontornar ou postergar este processo, se torna necessário que haja não somenteações por parte dos designers, mas também, e fundamentalmente, umareorganização sistêmica.

BLOM, J. Personalization: a taxonomy. In: CONFERENCE ON HUMANFACTORS AND COMPUTING SYSTEMS, 2000, The Hague, TheNetherlands. NewYork:ACM, 2000. p. 393-401.CHAPMAN, J. objects, experiences & empathy.London: Earthscan, 2005.DENIS, R. C. Design, cultura material e o fetichismo dos objetos.Design, cultura material e visualidade, Rio de Janeiro, v. I, número único, p. 14-

Conclusão

Referências

Proceedings...Emotionally durable design:

RevistaArcos.

39, out. 1998.KAZAZIAN, T. (Org.). design edesenvolvimento sustentável. São Paulo: Senac São Paulo, 2005.MANZINI, E. Systems capable of evolving: flexibility in the era of networks andsustainability. 22 maio 2008. Disponível em:<http://sustainable-everyday.net/manzini/?p=18#comments>. Acesso em: 12nov. 2008.MANZINI, E.; VEZZOLI, C. osrequisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: EDUSP, 2002.MONT, O. Innovative approaches to optimizing design and use of durableconsumer goods. , v. 6, n. 3/4,2008.MUGGE, R., SCHIFFERSTEIN, H. N. J., SCHOORMANS, J. P. L.Personalizing product appearance: the effect on product attachment. In:INTERNATIONAL CONFERENCE ON DESIGN AND EMOTION, Ankara,2004. Ankara: METU, 2004.MUIS, H. Eternally yours: some theory and practice on cultural sustainableproduct development. In: VERBEEK, P.P.; SLOB, A (ed.).

shaping sustainable relations between consumers andtechnology. Berlin: Springer, 2006.ONO, M. M. sintonia essencial. Curitiba: Edição da Autora,2006.PRAHALAD, C.K.; RAMASWAMY, V. Como incorporar as competências docliente. , ano 4, n. 20, maio-jun. 2000.VAN HINTE, E. Time in design: product, value, sustenance.Rotterdam: 010 Publishers, 2004.VAN NES, N.; CRAMER, J. Design strategies for the lifetime optimization ofproducts. , v. 3, n. 3-4, p. 101-107,dec. 2003.WOOLLEY, M. Choreographing obsolescence – Ecodesign: the pleasure/dissatisfaction cycle. In: INTERNATIONALCONFERENCE ON DESIGNINGPLEASURABLE PRODUCTS AND INTERFACES, jun. 23-26, 2003,Pittsburgh, PA, USA. Pittsburgh:ACM, 2003. p. 77 – 81.ZAFARMAND, S. J.; SUGIYAMA, K.; WATANABE, M. Aesthetic andsustainability: the aesthetic attributes promoting product sustainability.

, v. 3, n. 3-4, p. 101-107, dec. 2003

Haverá a idade das coisas leves:

Sustainable Everyday Project,

O desenvolvimento de produtos sustentáveis:

International Journal of Product Development

Proceedings…

User behavior andtechnology development:

Design e cultura:

HSM ManagementEternally yours.

The Journal of Sustainable Product Design

Proceedings…

TheJournal of Sustainable Product Design

28

A gestão ambiental do produto na indústria

portuguesa de mobiliárioProduct environmental management in the Portuguese furniture industry

Pereira, João Victor Inacio; Ms; Núcleo de Design e SustentabilidadeUniversidade Federal do Paraná[email protected]

O setor industrial é um dos principais responsáveis pela contínua degradação domeio ambiente. Através dos seus processos e dos seus produtos as empresascontribuem, por exemplo, para o esgotamento dos recursos naturais, a redução dabiodiversidade e o aquecimento global. O presente artigo tem como objetivoavaliar o nível de envolvimento da indústria portuguesa de mobiliário com aGestão Ambiental, o Design de Produto e a Gestão Ambiental do Produto. Aavaliação realizada permitiu concluir que as empresas inquiridas estão maisfamiliarizadas com o Design de Produto do que com a Gestão Ambiental e aGestão Ambiental do Produto, revelando a escassez de práticas ambientais porparte destas.

gestão ambiental do produto; indústria de mobiliário; Portugal.

Resumo

Palavras-chave:

29

IntroduçãoDo ponto de vista industrial, as primeiras medidas adotadas para reduzir os

impactos ambientais foram de carácter curativo e restritas aos processosprodutivos, denominadas de soluções de “fim-de-linha” ( ). A partirdestas evoluíram as medidas preventivas, focadas ainda no processo produtivo,denominadas Produção mais Limpa ( ) e Eco-eficiência (

). As medidas curativas geralmente são mais dispendiosas e menoseficientes, pois uma vez recolhida a contaminação, esta deve ser armazenadanum local seguro e em recipientes adequados, o que requer investimento e comoconsequência o aumento dos custos de produção. Já as medidas preventivasatuam sobre as origens dos problemas e tentam reduzir a contaminação ao longodo processo produtivo através do uso mais eficiente da energia e dos recursosnaturais. Porém, somente o melhoramento do processo de manufactura não ésuficiente para amenizar os impactos ambientais. É preciso atuar na fonte doproblema, ou seja, considerar os aspectos ambientais dos produtos. A GestãoAmbiental do Produto (GAP) vem sendo utilizada para mitigar este problema.Esta tem como base a Gestão Ambiental porém, como o próprio nome refere, oseu foco está no produto. Trata-se de uma disciplina que envolve as competênciasda Gestão Ambiental e do Design de Produto. De acordo com Brezet e Rocha(2001, p.244) o desenvolvimento de produtos com foco ambiental provou sermais efectivo em termos de resultados ambientais porque consegue prevenir apoluição ao longo do ciclo de vida do produto e identificar oportunidades demelhoria logo na primeira fase, na concepção do produto. Segundo Charter eTischner (2001a, p.120) esta fase determina mais de 80% dos custos económicose dos impactos ambientais e sociais que ocorrem durante todo o ciclo de vida doproduto.

É importante destacar o impacto ambiental das indústrias de mobiliário.Um objecto de mobiliário provoca vários problemas ambientais durante o seuciclo de vida. Na sua fase de extração, por exemplo, o uso não racional dasflorestas contribui para o aquecimento global e causa o empobrecimento do soloe da biodiversidade. Durante o processo de fabricação, substâncias tóxicas comopinturas e vernizes poluem o ar, prejudicam a saúde humana e quandodescartados sem o tratamento adequado contaminam a água. Durante autilização, observou-se que alguns móveis de madeira tratada provocamemissões tóxicas nas habitações em forma de gases denominados de compostosorgânicos voláteis (COV) causando alergias e enxaquecas. No seu fim de vida, osobjectos de mobiliário descartados nos aterros sanitários, para além dos resíduos

end-of-pipe

Clean Production Eco-efficiency

sólidos, podem provocar a poluição dos lençóis freáticos através das substânciastóxicas presentes na sua superfície que se infiltram no solo com a ajuda da chuva.

Segundo a Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de Portugal -AIMMP (2007) a indústria de mobiliário, dentre os setores tradicionais daindústria portuguesa, foi o que mais cresceu nos mercados internacionais nosúltimos anos e apresentou uma evolução considerável no desenvolvimento deprodutos, estratégias de marketing e evolução na cadeia de valor.

Portanto, a escolha do setor de mobiliário para este estudo justifica-se pelassuas características, tais como:

: reunião de diversos processos de produção, envolvendodiferentes matérias-primas e uma diversidade de produtos finais.

: o setor movimenta uma extensa rede defornecedores, apresenta um grande volume de vendas e um crescentenúmero de exportações.

: o grande número de empregos gerados.: relevância do impacto ambiental produzido

pelas empresas de mobiliário ao longo do ciclo de vida dos seus produtos.: a relevância do Design como ferramenta

propulsora de inovação e competitividade no setor de mobiliário.Além disso, a Associação das Indústrias de Madeira e Mobiliário de

Portugal (2007, p.36) destaca a falta de informações estatísticas fiáveis do setorde mobiliário português, o que também motivou a escolha deste setor.

O presente estudo tem como objetivo avaliar o estado atual da indústriaportuguesa de mobiliário quanto à Gestão Ambiental, ao Design de Produto e àGestão Ambiental do Produto. Foi definido como instrumento de recolha dedados um questionário. Utilizou-se o método de amostragem não-probabilísticadevido à inacessibilidade aos elementos da população e à disponibilidade detempo e de recursos financeiros e humanos.

As questões foram compostas por perguntas fechadas. Cada questãoapresentou quatro alternativas de resposta ordenadas de forma crescente, com osvalores distribuídos da seguinte forma 0, 1, 3 e 5. A primeira opção de respostacorresponde a uma atitude mais reactiva e a última a uma atitude mais proactiva.As empresas foram convidadas a seleccionar, para cada questão, a resposta quemelhor correspondesse à sua realidade. O questionário foi composto por 20perguntas, logo a pontuação máxima possível é de 100 valores (100%).

?

?

?

?

?

?

Diversidade

Representatividade econômica

Relevância socialImportância ambiental

Inovação e competitividade

Objetivos e metodologia

30

As questões estão distribuídas em três grupos:: 4 perguntas que correspondem a 20 pontos (5 pontos

por questão).: 4 perguntas que correspondem a 20 pontos (5 pontos

por questão).: 12 perguntas que correspondem a 60

pontos (5 pontos por questão).O questionário foi colocado numa base de dados virtual com a ajuda da

Unidade Operacional para o e-Learning (Uoe-L) da Universidade de Aveiro edisponibilizado num endereço eletrónico. Foi garantido o sigilo das empresas aoquestionário com o compromisso de não divulgar os dados recolhidosindividualmente.

Esta pesquisa contou com o apoio da AIMMP que auxiliou na realizaçãode um piloto junto a 3 empresas. Além disso, a AIMMP enviou o questionáriosemanalmente durante os meses de Abril e Maio, através da sua , paraaproximadamente 200 empresas associadas. Após o preenchimento via internetas respostas foram enviadas diretamente para a base de dados junto à Uoe-L. Oquestionário foi aplicado pessoalmente em 3 visitas de prospecção da AIMMP eem duas feiras de mobiliário: a Larmóvel em Braga no dia 17/05/2008 e aExpocasa em Batalha no dia 24/05/2008.

A amostra total foi de 30 indústrias do universo em análise (cerca de2400).

A Gestão Ambiental nas indústrias de mobiliário apresenta sériaslimitações já que a pontuação média foi de 1,8 em 5 pontos. A maioria dasempresas (57%) afirmam ter uma atitude proativa no que se refere à legislaçãoambiental e 60% dizem aplicar conceitos como a Eco-Eficiência ou Produçãomais Limpa nas suas atividades. Porém, destaca-se a falta de comunicação einteração entre as empresas e os seus colaboradores e também a falta decomunicação entre as empresas e as partes interessadas sobre o seu desempenhoem relação à sua responsabilidade ambiental.

A análise dos impactos ambientais juntamente com os fornecedores éextremamente importante. Mesmo que uma empresa tenha uma atitude proativaem relação à legislação ambiental os seus produtos podem causar sérios danosambientais se os seus fornecedores e distribuidores não tiverem a mesmapreocupação na extração das matérias-primas e na distribuição dos produtos.

?

?

?

Gestão Ambiental

Design de Produto

Gestão Ambiental do Produto

Newsletter

Resultados e Discussão

Segundo Donaire (1995, p.102) a empresa que pretende implementar práticasambientais na sua estrutura organizacional deve estar ciente que os seuscolaboradores se podem transformar na maior ameaça ou no maior potencial paraobtenção de resultados. Por outro lado, a empresa que não informa as partesinteressadas sobre o seu desempenho em relação à sua responsabilidadeambiental perde a oportunidade de expor positivamente a marca da empresa e doseu produto.

Os melhores resultados foram obtidos pelo Design de Produto.Apontuaçãomédia das questões foi de 2,5 pontos. As empresas afirmam investir em Design epossuir um profissional interno com formação nesta área. Além disso, estasmantêm-se atualizadas participando em feiras e concursos do setor. A questãoreferente à patente obteve a menor pontuação média. São apresentadas trêshipóteses para explicar a baixa pontuação desta questão: as empresas inquiridasnão têm produtos inovadores que mereçam ser patenteados, elas não acreditamnas patentes ou desconhecem o seu papel.

No que se refere à GestãoAmbiental do Produto os resultados mostram queas indústrias inquiridas não possuem uma atitude proativa, uma vez que apontuação média das questões foi de 1,8 pontos. As indústrias foramquestionadas se os aspectos ambientais são considerados quando desenvolvemum novo produto e a pontuação média foi 1,9 em 5 o que representa 38% dospontos. Apesar da pontuação média das indústrias inquiridas quanto à GestãoAmbiental do Produto ter sido baixa, algumas ações merecem destaque, comopor exemplo:

O uso de materiais tóxicos ou perigosos são evitados;As empresas tentam reduzir o consumo de matérias-primas e

embalagens;No projeto de novos produtos aspectos que facilitam o transporte e o

armazenamento dos mesmos são considerados.Os resultados médios apresentados no Gráfico 1 correspondem à

porcentagem que se obtém comparando a pontuação média das empresas porgrupo de perguntas com a pontuação máxima possível para o respectivo grupo.Aavaliação referente ao Design de Produto obteve o melhor resultado (50%)comparando com os resultados da Gestão Ambiental (37%) e com a GestãoAmbiental do Produto (36%).Aavaliação geral das empresas obteve apenas 39%da pontuação total.

?

?

?

31

ConclusãoO Design de Produto é fundamental para a competitividade das indústrias

de mobiliário o que explica a sua maior pontuação. Por outro lado a GestãoAmbiental e a Gestão Ambiental do Produto aparecem como novaspreocupações e por enquanto não apresentam grande influência neste setor. Podedizer-se que a falta de interesse por parte das empresas inquiridas pelas questõesambientais se dá fundamentalmente pelos seguintes fatores:

. De acordo com Garcia (2008, p.5) em 2008 oEurobarómetro sobre ambiente constatou que “86% dos portuguesesacreditam que cada um pode individualmente fazer algo em prol doplaneta”. Porém as suas ações não correspondem aos fatos pois “apenas18% dos portugueses preocupam em reduzir o consumo de bensdescartáveis e um em cada nove (11%) afirma ter comprado produtoslocais no último mês” (Garcia, 2008, p.5). Portanto, não adianta umaempresa utilizar os recursos naturais de forma eficiente e oferecer umproduto com características ambientais se as pessoas (que detêm o poderde compra) não mudarem o seu comportamento e adotarem um novopadrão de consumo.

Das empresas

§

§

A falta de interesse dos consumidores por produtos ambientalmenteresponsáveis

A falta de informação disponibilizada pelas indústrias de mobiliáriosobre os aspectos ambientais dos seus produtos.

Gráfico 1: Pontuação média por grupo

inquiridas 47% consideram pouco aplicável a comunicação às partesinteressadas sobre o seu desempenho em relação à sua responsabilidadeambiental. O consumidor não pode valorizar um produto que nãoconhece.

Ao considerar aspectos ambientais nodesenvolvimento dos produtos os custos do produto e do seu processoprodutivo podem aumentar. A adoção de aspectos ambientais só sejustifica quando torna ao fabricante mais barato o desenvolvimento deprodutos de menor impacto ambiental do que o pagamento de sançõesreguladoras.

De momento a certificação ambientalpara a indústria de mobiliário é optativa. Apenas os painéis de madeiradevem respeitar a Marcação CE, principalmente no que concerne àsemissões de formaldeído, base das resinas usadas na indústria de painéis.Outra exceção é o mobiliário de crianças que tem a obrigação daMarcação CE. A Marcação CE visa preservar interesses públicos como asaúde e a segurança dos usuários. Medidas legislativas, como porexemplo, a Responsabilidade Estendida do Produtor na indústria domobiliário possibilitaria um comprometimento de recolha e de GestãoAmbiental do Produto por parte dos fabricantes. Segundo o Princípio daResponsabilidade Estendida do Produtor (

– EPR) o produtor é o responsável pelos impactosambientais dos seus produtos durante todo o seu ciclo de vida, incluindoos impactos originados da extração da matéria-prima, do processoprodutivo, da fase de utilização e do descarte do produto. Apesar de nãoexistir nenhuma ação reguladora que garanta a eliminação segura domobiliário no final da sua vida útil, 40% das indústrias inquiridas dizemfazê-lo.

Medidas como a redução ou isenção deimpostos como forma de promoção do investimento no desenvolvimentode produtos de menor impacto ambiental só têm a contribuir para o setordo mobiliário.

A influência deONGs em alguns setores é muito forte, porém no setor do mobiliário nãoexiste grandes pressões que motivem as empresas a adotar uma posturamais responsável a nível

§

§

§

§

O aumento do custo do produto.

A ausência de leis reguladoras.

A falta de incentivos fiscais.

A baixa influência de ONGs no setor de mobiliário.

Extended ProducerResponsibility

32

Notas

Referências

ASSOCIAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DE MADEIRA E MOBILIÁRIO DEPORTUGAL. . Porto:AIMMP, 2007.

BREZET, H. E ROCHA, C. Towards a model for product-orientedenvironmental management systems. In:

M. Charter e U. Tischner.Eastbourne: Greenleaf Publishing, 2001.

CHARTER, M. E TISCHNER, U. Sustainable product design. In:M.

Charter e U. Tischner. Eastbourne: Greenleaf Publishing, 2001.

DONAIRE, D. . São Paulo:Atlas, 1995.

GARCIA, R. Pegada ecológica. , Portugal, p. 4-5, 22 abr. 2008.

Estudo estratégico das indústrias de madeira e mobiliário

Sustainable solutions:

Sustainablesolutions:

GestãoAmbiental na empresa

Público

developingproducts and services for the future. Editado por:

developing products and services for the future. Editado por:

33

O design de sistema produto-serviço voltado

ao trabalho remotoProduct service system design oriented to remote work

Silva, Jucelia S. Giacomini; Doutoranda; Pontifícia Universidade Católica doRio de [email protected]

Santos,Aguinaldo; PhD; Universidade Federal do Paraná[email protected]

O presente artigo busca integrar os temas trabalho e design sustentável naaplicação da metodologia MEPSS ( )para o desenvolvimento do design de Sistema Produto-Serviço (PSS) voltado aotrabalho remoto. A análise estratégica dos sistemas existentes é efetuada a partirda realização de um Estudo de caso Múltiplo (ECM). Os resultados atingidosidentificaram os pontos positivos e negativos para o desenvolvimento doconceito do sistema, utilizando como base a análise de três empresas que atuamnesse setor e se localizam na região de Curitiba.

Sistema Produto-Serviço; Trabalho; Design; Sustentabilidade.

Resumo

Methodology for Product-Service Systems

Palavras Chave:

34

Introdução

Visão geral do método de pesquisa

A integração das condições de trabalho como parte complementar dodirecionamento para novos estilos de vida baseado nos requisitos sustentáveis,tem pautado as discussões internacionais de forma cada vez mais contundente,visto que os trabalhadores são agentes sociais diretamente associados às cadeiasde produção e utilização de bens e serviços. Neste sentido, as “condições e oambiente de trabalho” tornam-se áreas de interesse comum para odesenvolvimento de iniciativas que objetivem a integração do desenvolvimentoe da sustentabilidade (UNEP, 2007a).

Desta forma, a presente investigação propõe uma oportunidade deintensificar as características ecoeficientes das atividades profissionaisrealizadas fora da sede da empresa e/ou centro de produção, utilizandotecnologias que facilitam a informação e a comunicação, a partir da ótica dodesign de sistemas produto-serviço.

Neste sentido, o conceito de PSS que direciona esta pesquisa consiste em“um sistema de inovação que transfere o foco da aquisição de 'produtos' para autilização de 'produtos e serviços' combinados em um sistema”, o qual segundoBaines (2007: 1545) possui o objetivo de fornecer as funcionalidades e geraro bem-estar requerido pelo usuário de tal forma que o impacto sobre o meioambiente seja reduzido.

Deste modo, considera-se que o trabalho remoto é uma contribuiçãopossível para a redução dos impactos ambientais e esta contribuição pode serintensificada se, a partir das abordagens do PSS, o mesmo possuir uma infra-estrutura segura, confiável e compartilhada, projetada especificamente paraatender às necessidades dos usuários e aos requisitos da sustentabilidade(MORELLI; LOI, 2000),

Portanto, neste artigo é abordado o desafio colocado hoje com a difusão dotrabalho remoto; o qual segundo Tishner e Verkuijl (2006) diz respeito aoaproveitamento criativo das oportunidades de trabalho que preservem acompetitividade das empresas e ao mesmo tempo promovam novas e potenciaisdimensões para a ecoeficiência e apontem para a melhoria da qualidade de vidados trabalhadores.

A primeira etapa da pesquisa foi composta pela revisão bibliográficasistemática, analítica e interpretativa e fundamentou-se no levantamento dosconceitos referenciais sobre trabalho remoto e PPS, bem como nas metodologias

et al

aplicáveis a estes conceitos. Esta etapa teve como objetivo levantar o estado daarte e traçar um mapeamento teórico da estruturação conceitual, a qual forneceusustentação ao desenvolvimento da pesquisa.

A pesquisa de campo foi realizada a partir de um Estudo de Caso Múltiplo(ECM), efetuado em três empresas que oferecem serviços para trabalho remoto ese encontram localizadas em Curitiba. Para esta etapa, denominada de AnáliseEstratégica, foi utilizada a primeira fase do

– MEPSS (2009), que auxiliou no diagnóstico dos sistemas de produto eserviço existentes. Também foram utilizadas ferramentas do compêndio

– D4S (UNEP, 2007b), bem como o(SDO-MEPSS, 2009).

Todas as análises foram submetidas à exploração, reflexão e avaliação dosintegrantes da pesquisa, para que surgissem proposições participativas,cooperativas e coerentes com o contexto real. A partir desses resultados foramlevantados os principais aspectos positivos e negativos existentes nos sistemasanalisados e que pudessem contribuir para o design de um sistema produto-serviço voltado ao trabalho remoto.

Além da disseminação das tecnologias da informação, diversos fatores têmcontribuído para o incremento e para a expansão do trabalho remoto. Gomes(2003) e Lima, Fusco e Riça (2003) afirmam que entre esses fatores se encontra oaumento da flexibilização das normas que regem a rotina do trabalhador,incluindo a carga horária e a localização do espaço de trabalho. Conjuntamentecom estas determinantes, a crescente dificuldade da locomoção e o aumento daemissão de CO2 nas grandes cidades também têm propiciado uma maiorjustificativa econômica e ambiental para a disseminação do trabalho remoto.Segundo Gomes (2003) estas condições refletem-se no atual aumento do númerode pessoas que trabalham à distância e na quantidade de atividades que já podemser efetuadas desta forma.

Outro importante aspecto a ser considerado são as possíveis melhorias queo trabalho remoto pode representar para o aumento do bem-estar do trabalhador epara a manutenção ou ampliação da competitividade empresarial. Jardim (2003)e Igbaria e Tan (1998) apresentam vantagens e desvantagens relacionadas aotrabalho remoto para os trabalhadores, para as empresas e para a sociedade.Dentre as principais vantagens para o trabalhador pode-se destacar aflexibilização na organização do tempo dedicado à realização de atividades

Methodology for Product-ServiceSystems

Designfor Sustainability checklist SustainableDesign-Orienting Toolkit

A descentralização do trabalho

35

profissionais, melhor qualidade de vida e satisfação no trabalho. Para asempresas, os autores apresentam como vantagens: a diminuição de custos cominfra-estrutura, mobiliários, transporte e mão-de-obra, mais motivação eprodutividade dos empregados e a possibilidade de melhoria dos serviços aocliente ampliando a capacidade de resposta.

Durante a implantação do trabalho remoto é importante observar algunsaspectos fundamentais como, por exemplo, a capacitação da empresa emfornecer suporte ao trabalhador e o perfil do trabalhador e do trabalho a serrealizado. Falhas no planejamento podem acarretar em desvantagens para otrabalhador, dentre as quais se destacam: o isolamento, a falta de motivação e afalta de estrutura adequada para a realização do trabalho. Dentre as desvantagensque podem advir para a empresa pode-se citar como exemplo, a necessidade deampliação de investimentos em tecnologia de informação e comunicação, oaumento da insegurança laboral e uma menor identificação do trabalhador com aempresa (IGBARIA; TAN, 1998).

Verifica-se que esta modalidade de trabalho começa a se tornar popular noBrasil, pois segundo dados levantados pelo Instituto de Opinião Pública

e divulgados pela Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades- SOBRATT (2009) cerca 23,2% da população adulta em atividade (o quecorresponde a um em cada quatro brasileiros) adotam este tipo de trabalho aolongo do mês de alguma forma. Um terço desses trabalhadores exerce atividadesà distância quase diariamente e trabalhar em casa é a forma mais popular damodalidade, com 52% de adesão dos entrevistados.

Apesar de apresentar diversas vantagens, Lenuzza (2007) afirma que otrabalho remoto é uma atividade em transformação, portanto ainda não possuicaracterísticas consolidadas e a legislação trabalhista ainda não abrange todas asquestões legais que envolvem essa prática, deste modo, embora essa categoria detrabalho possua um grande potencial de melhoria, sua disseminação ainda seencontra restrita a alguns setores da sociedade.

De forma geral pode-se definir um sistema produto-serviço (PSS) pelaassociação sistêmica de produtos + serviços, tendo como objetivo ampliar atradicional funcionalidade de um produto por meio da integração de serviçosadicionais. O PSS permite diversos níveis de integração entre produtos eserviços, desde a oferta de produtos de forma tradicional com um ou maisserviços associados (por exemplo: manutenção, , descarte em fim de

MarketAnalysis

upgrade

Sistema Produto-Serviço (PSS)

vida, etc.) até ofertas em que a ênfase é focada na utilização do serviço em vez daaquisição do produto e, neste caso, os produtos desempenham um papelsecundário.

Este nível de integração é comumente citado na literatura como a categoriamais elaborada do PSS, na qual o cliente paga a utilização de um produto e não asua compra e o fornecedor/fabricante passa a oferecer “soluções” claramentediferenciadas do produto tradicional (BAINES , 2007). Mesmo que,tradicionalmente os produtos tenham sido considerados separadamente dosserviços, os sistemas produto-serviço apresentam-se como uma convergência naevolução destes fatores, pois apresentam os produtos e os serviços como itenscorrelacionados (vide Figura 1 a seguir) (MORELLI, 2002).

Similarmente para Halen, Vezzoli e Wimmer (2005) produtos e serviçossempre estiveram interconectados, pois o fornecimento de serviços sempreenvolve um número tangível de elementos e o fornecimento de produtoscompreende uma rede de produção e distribuição, incluindo muitos serviços.Neste sentido, segundo os autores, a principal característica do PSS envolve amudança do foco baseado unicamente na venda do produto para o oferecimentode um de produtos e serviços, movendo-se de um recurso básico de produção

et al

mix

FIGURA 1: Evolução do conceito de sistema produto serviçoFONTE: Baines . (2007)et al

36

para um sistema de conhecimento, em que toda atividade comercial procuraatingir a necessidade do usuário.Desde então muitas contribuições tem sido agregadas a este conceito, embora namaioria das definições o PSS seja interpretado como uma estratégia de inovaçãoque agrega produtos e serviços compartilhados em um sistema, incluindo umarede de infra-estrutura e de suporte. Associados a esses aspectos também seencontram o inter-relacionamento com os , a satisfação do usuárioagregando valor de uso, o desenvolvimento da auto-aprendizagem, dacompetitividade e do desempenho empresarial e a redução do impacto ambientalquando comparado aos modelos tradicionais de negócio (UNEP, 2004).

Um dos principais pontos negativos observado durante a realização doECM diz respeito ao contexto cultural que envolve os usuários do sistema, poisnão foram observadas exigências por parte dos usuários relativas aos requisitosambientais. Também não se verificou a existência de normatizações ouregulamentações que exijam um comportamento socioambiental responsávelpor parte das empresas.

Outra questão sociocultural que se apresenta como um ponto negativo paraa ampliação da ecoeficiência do sistema inclui os efeitos combinados do prazerda posse, da utilização e do descarte efêmero de produtos dentro da sociedadecontemporânea, associados a fatores relativos ao estilo de vida e a modelos deconsumo. Tais fatores funcionam como barreiras para a aceitação de sistemascompartilhados que buscam promover o uso coletivo de produtos/serviços, osquais em contrapartida propiciam uma redução dos custos, de energia e demanutenção.

A integração dos usuários e na gestão do ciclo de vida dosprodutos/serviços também se apresenta como uma lacuna e merece especial

stakeholders

stakeholders

Principais resultados do Estudo de Caso Múltiplo

(ECM)O ECM foi efetuado em três empresas que oferecem serviços para trabalho remoto e a

realização da Etapa de Análise Estratégica contou com as seguintes fases: A) Caracterização daempresa, B) Diagnóstico do sistema atual e C)Análise cruzada dos dados obtidos.As etapasAe Bforam realizadas individualmente e a etapa C consistiu na comparação e análise dos resultadosfinais de cada estudo de caso particular.

Os resultados contribuíram para identificar os aspectos positivos e negativos existentesnos sistemas investigados e fundamentam os principais aspectos que devem ser enfatizados nodesign do sistema produto-serviço voltado ao caso analisado.

Aspectos negativos identificados nos sistemas atuais sob a ótica do PSS

atenção, pois mesmo que o compartilhamento e otimização do uso dos produtosseja um padrão nos sistemas analisados, a aquisição e o descarte ainda ocorremde forma tradicional.

Por outro lado verifica-se também a inexistência de fornecedores eprodutores que efetuem a gestão do ciclo de vida de produtos ou serviços ou queminimizem os impactos da fase de extração e produção de forma apropriada.Esse ponto negativo pode ser minimizado com a ampliação e reestruturação dasredes de fornecimento e produção, pois desse modo torna-se possível estabelecerfluxos circulares de produção e descarte dos produtos e matérias-primas.

As interrupções que ocorrem esporadicamente no sistema (por exemplo:falha no fornecimento de energia, problemas de conexão à Internet, etc.) podemser minimizadas pelo fortalecimento e pela cooperatividade da cadeia de atoresenvolvidos no sistema e também com a administração contínua por meio deferramentas de verificação de falhas, gestão da informação, monitoramento davida do produto/serviço, etc.

Outra lacuna identificada é a falta de um relacionamento sistêmico com osusuários ou realização de pesquisas de mercado e de opinião, visto que essasferramentas possibilitam a definição das expectativas e necessidades existentes econseqüentemente, a ampliação dos serviços oferecidos pelas empresas ou aindicação de novos mercados e oportunidades de negócio.

Sob a ótica da ecoeficiência, são observados diversos aspectos negativos,apesar do sistema se caracterizar como um modelo inovador que pode serorientado para a realização de ações bem sucedidas nessa área. O principalaspecto se caracteriza pela ausência de estratégias ambientais na política dasempresas analisadas e, devido à falha desse fator-chave, os demais pontosnegativos observados tornam-se conseqüência desse primeiro. Como porexemplo: falta de planejamento para a redução do consumo de materiais eenergia, ausência de gestão do ciclo de vida dos produtos/serviços e ausência deplano diretor para a redução do transporte.

Um dos pontos positivos observados nos sistemas analisados durante arealização do ECM se caracteriza pela disseminação de um novo modelo deutilização baseado no uso compartilhado de produtos e serviços. Esse aspecto seapresenta como um ponto-chave para a inserção dos conceitos basilares dodesign para a sustentabilidade e, conseqüentemente para o início da mudança dosmodelos de consumo vigentes em nossa sociedade.

A possibilidade de personalização do PSS para atender as necessidades decada cliente em particular, priorizando o uso em detrimento à posse de produtos

Aspectos positivos identificados nos sistemas atuais sob a ótica do PSS

37

também se caracteriza como um ponto positivo do sistema.Para o cliente o custo de utilização é mais baixo do que o custo de aquisição

dos produtos, visto que nesse caso os custos com serviços de secretária, Internet,energia elétrica e condomínio bem como a utilização de mobiliário,eletroeletrônicos, insumos e materiais de escritório já se encontram inclusos namensalidade paga pelo cliente. Outro aspecto favorável a ser observado é aisenção da responsabilidade do cliente pela manutenção, atualização ou descartedos produtos disponibilizados no PSS.

Observou-se que duas das empresas analisadas já efetuam açõesoperacionais para economizar energia e materiais, bem como reciclar os resíduose ampliar ao máximo a durabilidade dos produtos. Assim, as empresasconsideram a minimização dos custos e também a preservação dos recursosambientais.

Sob a temática da ecoeficiência, o sistema também possibilita a redução dotransporte de pessoas, embora não tenha sido projetado especificamente comessa finalidade. Entretanto, profissionais que trabalham remotamente podemoptar por um telecentro próximo de sua residência efetuando o deslocamento apé, de bicicleta ou simplesmente reduzindo a distância a ser percorrida com o usode automóvel.

Verificou-se que por meio dessa estratégia de negócio inovadora também setorna possível agregar resultados econômicos positivos e reorientar as ações paracontribuir com o desenvolvimento e a disseminação dos requisitos sustentáveis.

A realização desta investigação contribuiu para uma melhor compreensãodo sistema existente e, conseqüentemente, os resultados obtidos possibilitaramque o design do sistema fosse efetuado de modo a enfatizar os aspectos positivose minimizar ou eliminar os aspectos negativos, no que tange à ampliação do bem-estar humano e da ecoeficiência do sistema.

Na etapa do ECM, verificou-se que as empresas já possuíam um sistemaproduto-serviço com diversas características intrínsecas a esse modelo denegócio, entretanto não foram identificadas ações projetadas especificamentepara a ampliação da satisfação dos usuários, da ecoeficiência do sistema oumesmo voltadas ao ecodesign de produtos. Assim, mesmo que o modelo já secaracterizasse como um PSS, os critérios que basearam a aquisição, o uso e odescarte de produtos e o oferecimento de serviços para os usuários foramfundamentados principalmente no custo/benefício apresentado.

Considerações finais

A partir dessas verificações, nota-se a importância da realização de umestudo de caso voltado ao diagnóstico do sistema, pois o ECM possibilitouidentificar as ações necessárias para a ampliação de aspectos consideradosprimordiais em um PSS, permitindo a proposição de conceitos voltados para aminimização dos pontos negativos e para a ênfase dos aspectos positivosexistentes.

A partir da realização do ECM observou-se que o PSS apresenta-se comouma modalidade que incorpora diversas estratégias da gestão do design; poismesmo após a implementação faz-se necessário efetuar a gestão dos atoresenvolvidos e gerenciar uma estrutura organizacional coesa e integrada com osprincípios da sustentabilidade, visando ampliar a competitividade da empresa deforma consistente e estabelecendo valores essenciais para manter e disseminarseu diferencial competitivo.

38

Referências

BAINES; . State-of-the-art in product-service systems. In: Proceedings ofthe Institution of Mechanical Engineers, Part B:

. . Pag. 1543-52. ProfessionalEngineering Publishing. London, UK: 2007.

GOMES, H. T. S. Maria. um novo modo de Trabalhar. XXIIIEncontro Nacional de Engenharia de Produção. ENEGEP 2003 – ABEPRO 1.M i n a s G e r a i s : 2 0 0 3 . D i s p o n í v e l e m

>Acesso em: 13/01/09.

HALEN, C. Van; VEZZOLI, C.; WIMMER, R.How to implement clean, clever and competitive

strategies in European industries. Royal Van Gorcum.Assen: 2005

IGBARIA, M.; TAN, M. Idea Group Publishing.London. 1998.

JARDIM, Carla C. da Silva. SãoPaulo: LTR, 2003.

LENUZZA, L. M. . 93p.Dissertação (Mestrado em Direito), Universidade de Caxias do Sul. Rio Grandedo Sul, 2007.

LIMA, F.; FUSCO, J.; RIÇA, R.XXIII Encontro Nac. de Eng. de

Produção. MG. 2003.

MEPSS. Disponível em: <http://www.mepss.nl>Acesso em: 6/03/2009.

MORELLI, N.; LOI, D.A case study on urban telecentres. RMIT. Melbourne,

Austrália, 2000.

et al

.

Journal of EngineeringManufacture Volume 221, Number 10/2007

Teletrabalho:

Methodology for productservice system innovation.

The Virtual Workplace.

A tecnologia gerando uma nova forma de trabalho

A tecnologia transforma o teletrabalhodomiciliar em diferencial de competitividade.

Methodology for products service system.

Designing product service systems, a socialconstruction activity.

MORELLI, N. Designing Product/Service Systems: a MethodologicalExploration. Design Issues: Vol.18, Number 3 (Summer 2002), pp. 3-17,2002.

http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP2003_TR0401_1359.pdf

O teletrabalho e suas atuais modalidades

SDO-MEPSS. . Disponível em: <website/mepss.html>Acesso em: 06/03/ 2009.

SOBRATT. Disponível em <http://www.sobratt.org.br/>Acesso em 25/04/2009.

TISCHNER, Ursula; VERKUIJL, Martijn.. Score!

123-139. TNO Built Environment andGeosciences, Delft, the Netherlands, 2006.

UNEP – United Nations Environment Programme.. INDACO Department, Politecnico di Milano. Milão: 2004.

UNEP – United Nations Environment Programme.ANatural Synergy. Publishing Services Section (UNON). 2007a.

Disponível em <http://www.unep.org/labour_environment/pdfs/unep-labour-env-synergy.pdf>Acesso em: 30/09/2009.

UNEP – United Nations Environment Programme. . DelftUniversity, Delft: 2007b. Disponível em << > Acesso em:30/09/2008.

Design-Orienting Toolkit

Design for (Social) Sustainabilityand Radical Change Perspectives on Radical Changes to SustainableConsumption and Production: p.

Product Service Systemsand Sustainability

Labour and theEnvironment:

D4S Methodology

http://www.mepss-sdo.polimi.it/mepss/

http://www.d4s-de.org

39

A EdaDe (Educação Através do Design) e a

abordagem do consumo sustentável no Ensino

FundamentalEducation through Design and the approach of sustainable consumptionin Elementary School

Gomes, Liziane Regina; Mestre em Design; Universidade Federal do Paraná[email protected]

O envolvimento das crianças com o consumo, conseqüência dacentralidade deste nas sociedades contemporâneas, torna relevante suaabordagem pela educação formal. A EdaDe (Educação Através do Design) semostra oportuna para tratar o tema no Ensino Fundamental, de modo a suscitarsituações de análise, discussão e reflexão entre os alunos. Este artigo apresentaresultados de um estudo exploratório sobre EdaDe e consumo sustentável,realizado através de pesquisa bibliográfica e análise documental, na qual foramtomadas por base práticas educativas desenvolvidas em 2007, por professores deescolas públicas de Curitiba, através do Projeto Escola & Universidade (mantidopela Secretaria Municipal da Educação).

Educação através do Design, consumo sustentável, EnsinoFundamental

Resumo

Palavras Chave:

40

Consumo e contemporaneidadeUm dos fenômenos característicos das sociedades contemporâneas – leia-

se: capitalistas pós-modernas – é a hiperdimensão assumida pelo consumo emdetrimento de outras esferas da dinâmica social De tal forma que o termo

vem sendo cada vez mais utilizado (também em suasvariações) para fazer referência a essas sociedades atuais, marcadas pelapreponderância das lógicas de mercado. (LIPOVETSKY, 2007)

Canclini (2006, p.60) define o consumo como “o conjunto de processossocioculturais em que se realizam a apropriação e o uso de produtos [e serviços]”.Essa definição deixa evidente que os atos de consumo, mais do que transaçõescomerciais, são que se interrelacionam com a e a .Este mesmo autor considera o consumo como uma forma de exercer a cidadania,já que atualmente nos organizamos mais através de redes sociais, do que atravésde instituições políticas. Dessa forma, “quando selecionamos os bens e nosapropriamos deles, definimos o que consideramos publicamente valioso, bemcomo os modos de nos integrarmos e nos distinguirmos na sociedade, decombinarmos o pragmático e o aprazível” (CANCLINI, 2006, p.35)

De acordo com Baudrillard, “chegamos ao ponto em que o 'consumo'invade toda a vida, (...) em que o 'envolvimento' é total, inteiramente climatizado,organizado, culturalizado”. (BAUDRILLARD, 1995, p.19)

Ruptura, fragmentação e mobilidade são noções abrigadas pela pós-modernidade - o que pode ser visto como uma volubilidade perturbadora oucomo possibilidade para a produção de novos sujeitos e novas articulações. Deacordo com Canclini (2006), do ponto de vista do consumo, uma reorganizaçãopode ocorrer, legitimando-o como um exercício refletido de cidadania. Paratanto, é necessário que pelo menos três requisitos sejam atendidos:

Além das dimensões social e política, novas exigências, de caráterambiental, aumentam a relevância e o impacto das decisões de consumo,

.sociedade de consumo

processos sociedade cultura

(...) a) oferta vasta e diversificada de bens e mensagens, querepresentem a variedade internacional dos mercados e sejam deacesso fácil e equitativo para as maiorias; b) informaçãomultidirecional e confiável a respeito da qualidade dos produtos,cujo controle seja efetivamente exercido por parte dosconsumidores, capazes de refutar as pretensões e seduções dapropaganda; c) participação democrática dos principais setores dasociedade civil nas decisões de ordem material, simbólica, jurídica epolítica em que se organizam os consumos (...) (id., P.70)

tornando-as muito mais do que simples escolhas individuais entre produtos,serviços e marcas. O surgimento da idéia de é decorrênciadessa nova percepção. Consumo sustentável pode ser entendido como:

O comprometimento dos consumidores, no sentido de avaliar suaspreferências pessoais e adotar normas, regras e comportamentos coerentes com asustentabilidade, bem como associar seus próprios hábitos aos problemassocioambientais, é essencial para a mudança de modelo necessária frente aosdesafios que se interpõem. Nesta perspectiva, informação e comunicação sãoinstrumentos importantes.

Há pelo menos duas diferenças na relação atual das crianças com oconsumo: no passado, consumir era uma atividade modesta em comparação aoutras atividades como brincar, estudar ou praticar uma religião. Hoje, asatividades infantis estão rodeadas de produtos e serviços, de personagens emarcas. A segunda diferença é que as crianças têm sido expostas e envolvidas nomundo adulto mais cedo, tendo mais responsabilidades e poder de decisão nafamília (SCHOR, 2004).

O termo é utilizado por Lipovetsky (2007) parase referir à criança atual, tão envolvida no mundo do consumo quanto os adultos.Uma das características desse novo sujeito é que “se tornou um comprador-decididor por seu dinheiro para pequenas despesas, ao mesmo tempo que umprescritor de compras pelo novo papel que desempenha em relação aos pais” (id.,p.120). Esse papel é resultado da desqualificação do modelo autoritarista e danoção de que, ao se tornar consumidora, a criança desperta e desenvolve suaautonomia. Também está relacionado ao sentimento dos pais de proporcionarmomentos de alegria e compensação aos filhos por meio de atividades de

consumo sustentável

criança hiperconsumidora

Uso de produtos e serviços que respondam às necessidadesbásicas e qualidade de vida enquanto minimizam o uso de recursosnaturais e de materiais tóxicos, bem como as emissões de detritos epoluentes sobre o ciclo de vida, de forma a não por em risco asnecessidades das gerações futuras. (UNCSD, 1995 apud. LUSKIN eDELMATTO, 2006, p.489)

Relação das crianças com o mundo do consumo:

consumidores em formação ou formação de

consumidores?

41

consumo.A inserção crescente das crianças no mercado leva ao questionamento de

sua competência como consumidoras. Elas podem ser consideradas sob duasperspectivas antagônicas, que constituem dois discursos dominantes sobre otema (OLESEN apud BRUSDAL, 2005): de um lado, pais e agências públicas asentendem como vulneráveis e manipuladas pela comercialização, alertando quedevem ser protegidas contra a exposição a mensagens comerciais; de outro,produtores e profissionais de marketing se referem às crianças na sociedadecomercializada como atores e consumidores aptos, que sabem o querem eprecisam, sendo ativas tanto durante as compras quanto nos debates sobre asaquisições familiares. (BRUSDAL, 2006)

Em modelo proposto por Martens (2005), com base em pesquisas no campoda sociologia, é possível perceber que a influência do mercado sobre as criançasmuitas vezes é direta (sem intermediação dos pais, por exemplo) e sua própriarede social e a escola são importantes agentes em sua formação de hábitos deconsumo. É preciso dizer ainda que, dentro e fora da escola, o atuacomo educador. E talvez o faça melhor do que os instrutores tradicionais, já quepossui ferramentas para conhecer o que as crianças gostam, captar sua atenção ese comunicar com elas através de uma linguagem fácil e sedutora (MARTENS,2005). Denominadas como “professoras do novo milênio”, as instituiçõescomerciais desempenham seu papel através de uma pedagogia cultural que seimpõe à vida privada de adultos e crianças. Seu currículo é orientado a fazerpensar que “as coisas mais excitantes que a vida pode proporcionar” podem serproduzidas e compradas. Padrões de beleza e de vida ideais são estabelecidosatravés de reinos mágicos, realidades virtuais e de uma diversidade de outrosprodutos culturais que chegam às crianças, sendo ou não direcionados a elas(STEINBERG e KINCHELOE, 2004). Para garantir acesso à informaçãomultidirecional sobre o consumo, e até mesmo, como uma reação aosinvestimentos massivos na comercialização infantil, é necessário que a educaçãosobre o consumo seja abordada também por outras instituições, em especial, asfamílias e as escolas.

Primeiramente, é necessário esclarecer a opção pelo termo “Educaçãoconsumo sustentável”, ao invés de o consumo sustentável. Essa

escolha se deu pela intenção de conceber a educação, não como um instrumento

marketing

sobre para

Educação sobre consumo sustentável e as

contribuições da EdaDe no Ensino Fundamental

de conformação de indivíduos – “consumidores sustentáveis” – mas sim comoum recurso para ampliar as fontes de informação disponíveis aos educandos emsua formação. Até porque “em um mundo de mudanças rápidas, devemoshabilitar os estudantes a debater, avaliar e julgar por eles mesmos os relativosméritos de posições concorrentes” (JICKLING, 1994, p.7)

As opções de consumo devem ser escolhas pensadas, e não fórmulasprontas. É preciso, antes de tudo, que a educação capacite os consumidores aatuar com maior liberdade e independência frente aos condicionamentosexternos (que pretendem determinar escolhas e preferências) e que demonstreque o consumo individual é indissociável do consumo global e do meioambiente. (VILALLONGA, 2007)

É evidente que a complexidade da transição para a sustentabilidadedemanda uma formação que estimule a cooperação, a capacidade crítica, aautonomia e a criatividade, ao mesmo tempo que, para ser efetiva, seja próximada realidade dos educandos e aplicável ao momento da vida em que estão.Ambientes abertos ao aprendizado, projetos integrativos e uma maior conexãoentre as disciplinas podem ajudar a relacionar a educação com experiências davida real, incentivando a aplicação dos conhecimentos adquiridos na escola.(AHAVAe PALOJOKI, 2004)

A EdaDe – Educação Através do Design – constitui-se uma alternativapromissora. Propõe utilizar as atividades de design – práticas, como construções;intelectuais, como análises; e criativas, como projetar novos produtos e resolverproblemas – como maneira de ensinar e promover o aprendizado. Tanto suaforma de se conceber o ato educativo quanto as competências que buscadesenvolver nos educandossão coerentes com o que se espera da nova educação(FONTOURA, 2002). As atividades de design são complexas e requerem altograu de raciocício, envolvendo diversos fatores na busca de solução para umproblema. Possibilitam a exploração de questões ligadas a valores e estãoassociadas a compreensão de “como as coisas poderiam ser”, incentivando ojulgamento crítico e a criatividade.

A adoção de uma abordagem educativa traz implícita uma concepção dedesenvolvimento sustentável. Se for tomada por base a classificação feita porSauvé (1997), pode-se inferir que a EdaDe deve se associar ao chamadoparadigma inventivo, que “requer uma nova prática educativa, como permitir aescola mais aberta ao 'mundo real', aprendizado cooperativo, resolução deproblemas concretos.” (SAUVÉ, 1997, p.78) As convergências entre EdaDe eeste modelo denotam proximidade entre a proposta pedagógica e a concepção deuma sustentabilidade realizada cooperativamente.

42

Porém, deve sempre ser lembrado que introduzir atividades de design naeducação, , não contribui para a formação necessária. Algumasexperiências em países onde o design já está presente nas atividades educativasmuitas vezes acabam por reproduzir a educação mecanicista. De acordo comPetrina (2000), o essencial não é prover os estudantes de mais informações antesdo processo de design, nem aplicar princípios de ou nosmétodos, mas sim questionar os excessos da cultura ocidental e problematizar arelação entre consumo e degradação ecológica, plantando as 'sementes' para aredução e para a alfabetização ecopolítica. A partir das críticas levantadas peloautor, é possível fazer afirmações sobre os requisitos das atividades de designquanto à sustentabilidade: devem ser próximas à realidade dos alunos e de seuambiente; abranger seu contexto sociocultural – mas também demonstrar queexistem outras culturas e outras formas de pensar; e, fomentar o trabalho emequipe e a discussão sobre os valores que geram os problemas sociais eambientais de nosso tempo.

Na análise de práticas educacionais realizadas em escolas públicas deEnsino Fundamental de Curitiba foram identificados esforços autônomos porparte de professores para se abordar o consumo sustentável. O desenvolvimentode atividades práticas, em sala de aula ou fora dela, bem como sua diversidade,merecem destaque. Em muitos momentos ainda foram perceptíveisaproximações das atividades realizadas com o design, de modo espontâneo, jáque provavelmente os professores têm pouco ou nenhum contato com a área. Noentanto, verificou-se a concentração de temas (notadamente água e lixo) e adesconexão entre as atividades. Para o enriquecimento das propostas, no sentidode torná-las mais abrangentes, dinâmicas e integradas, a EdaDe oferecesubsídios. Apontamentos e sugestões foram feitos, embora não tenham sidoavaliados os resultados dessas alterações, o que pode ser tema de futuros estudos.(GOMES, 2009)

Otimizar as potencialidades do design para a educação, através daelaboração de atividades coerentes e da capacitação dos professores, é fazer comque as duas áreas – design e educação – atuem juntas para a constituição de umdesenvolvimento sustentável baseado na solidariedade, na redução dos excessose na participação. Algumas aproximações entre educação, design esustentabilidade já estão em prática. E muitas outras são possíveis. Inserção deprojetos de produtos que promovam a reflexão sobre processos, materiais e

per se

design verde ecodesign

Considerações finais

formas de distribuição, utilização e descarte; planejamento e construção pelospróprios alunos de cenários sustentáveis; identificação e análise de açõespositivas dentro da comunidade onde se vive são propostas a desenvolver eavaliar. (GOMES, 2009)

43

Referências

AHAVA, A-M e PALOJOKI, P. Adolescent consumers: reaching them, bordercrossings and pedagogical challenges.

, v.28, n.4,p.371-378, 2004.

BAUDRILLARD, Jean.Asociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1985.

CANCLINI, Nestor Garcia. Consumidores e cidadãos: Conflitos multiculturaisda globalização. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006.

BRUSDAL, R. Children as consumers – competent or not? An Empirical Studyof Parents in the Nordic Countries. In: INTERNATIONAL CHILD AND TEENCONSUMPTION CONFERENCE. 2. 2006, Copenhagen. Disponível em:http://www.cbs.dk/forskning_viden/konferencer/ctc2006. Acesso em 10 abr.2007.

FONTOURA,A. M. EDADE: a educação de crianças e jovens através do design.2002. 334f. Tese (Doutorado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção. Universidade Federal de Santa Catarina.Florianópolis.

GOMES, Liziane Regina. Educação Através do Design e as práticaseducacionais sobre consumo sustentável no Ensino Fundamental público deCuritiba: panorama e possibilidades. Dissertação (Mestrado em Design) –Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.

JICKLING, B. Why I don't want my children to be educated for sustainabledevelopment. , vol. 23, n. 4, p. 5-8,1994.

LIPOVETSKY, Gilles. A felicidade paradoxal. Ensaio sobre a sociedade dehiperconsumo. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

LUSKIN, J. e DEL MATTO, T. Introduction to the special issue on sustainableproduction and consumption: making the connection.

, v. 15, n. 6, 2007, p. 489-491.

MARTENS, L. children at theinterface between consumption and education.

v.26, n.3, 2005, p.343-357.

International Journal of ConsumerStudies

The Journal of Environmental Education

Journal of CleanerProduction

Journal of Sociology ofEducation,

Learning to consume - consuming to learn:

PETRINA, S. The political ecology of design and technology education: aninquiry into methods.

, vol. 10, 207-237, 2000.

SAUVÉ, L. A Educação ambiental e desenvolvimento sustentável: uma análisecomplexa. , Mato Grosso: UFMT, v. 06, n. 10, p.72-103, jul-dez, 1997.

SCHOR, Juliet. Born to buy: commercialized child and new consumer culture.NewYork: Scriber, 2004.

STEINBERG S. R. e KINCHELOE, J. L. Cultura infantil: a construçãocorporativa da infância. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2004.

VILALLONGA, Rosa M. P. Consumo, medio ambiente y educación. In:Perspectivas da educação ambiental na região ibero-americana: Conferência doV Congresso Ibero-americano de educação ambiental. Rio de Janeiro:Associação Projeto Roda Viva, 2007, p. 239-248.

International Journal of Technology and DesignEducation

Revista de Educação Pública

44

Design e artesanato: práticas de colaboraçãoDesign and craftsmanship: collaboration practices

Abbonizio, Marco; Mestre; Universidade Tuiuti do Paraná[email protected]

O artigo é parte de uma dissertação de mestrado, apresentando seu percursometodológico e abordando seus resultados. Apresenta-se neste trabalho aproposta de um modelo lógico para as intervenções de design no artesanato,especialmente nos aspectos das relações sociais entre designers e artesãos.Denominado de práticas de colaboração, a proposta busca referenciais nosprincípios pedagógicos de Paulo Freire para uma prática emancipatória.

: design; artesanato; prática educativa;

Resumo

Palavras Chave

45

IntroduçãoEste trabalho é parte de uma dissertação de mestrado, abordando

especialmente quanto aos seus resultados. O objeto de estudo foram asintervenções de design no artesanato, a partir das percepções de seus principaisagentes: designers e artesãos. A proposta de um modelo teórico tomou comoreferência principal a resignificação dos Círculos de Cultura do educador PauloFreire e o estudo de caso da DIA - Design Inovação e Arte, em duas experiênciasde intervenção em grupos artesanais no Paraná.

As intervenções de design em grupos de produção artesanal têm comopropósito, a “reconfiguração” ou “revitalização” do artesanato produzido. Sãoestratégias, geralmente, fomentadas por instituições governamentais e não-governamentais para a geração de trabalho e renda. Elas se justificam por meio daadaptação do artesanato às exigências de mercado (estética, produtiva,qualidade, custos), e de novas atitudes do artesão frente ao trabalho, de modo aampliar a possibilidade de inserção dos produtos em novos mercados.

No entanto, alguns estudos apontam, entre outras coisas, quanto anecessidade de se convergirem os objetivos destas ações com os objetivos dosgrupos artesanais (CORRÊA, 2003), como também, a necessidade de ampliar osreferenciais teóricos e práticos do design para que dialogue com os diferentesprocessos de criação dos grupos artesanais (CABRAL, 2007).

O percurso metodológico da pesquisa pode ser dividido em 4 etapas. Naprimeira, abordou-se o tema artesanato analisando algumas instituições quefomentam e promovem as intervenções em grupos artesanais. Destaca-se asconceituações utilizadas pelo Sebrae – Serviço Brasileiro de Apoio à Micro ePequena Empresa, como também o PAB – Programa doArtesanato Brasileiro, doMinistério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. As visões queessas instituições possuem do artesanato, direcionam seus parâmetros deintervenção e de como entendem o papel do designer nessa relação. Junto aosdiscursos destas instituições, abordou-se a questão das culturas populares e asociedade capitalista industrial.

O campo do design é abordado na segunda etapa com uma reflexão arespeito da pluralidade atual das suas manifestações (FONTOURA, 1997).Assim, analisando isoladamente as suas partes não seria suficiente paracompreender o todo (HESKETT, 2008). O design, não sendo apenas uminstrumento determinado pelos fenômenos sociais, depende também doposicionamento, influência e prática dos agentes-designers. Nesse aspecto, asintervenções de design no artesanato foram analisadas a partir das instituições

que as promovem (e definem parâmetros) como também de que forma osdesigners interventores direcionaram suas práticas e tomaram suas decisões.

Na terceira etapa da pesquisa buscou se aproximar de novos referenciaispara a atuação de designers em projetos de intervenção. A partir da identificaçãode algumas convergências teóricas daquilo que se vinha observando em diversosrelatos de intervenção e enunciados de programas de fomento, se buscoufundamentos no campo da educação.

A observação crítica de alguns enunciados de designers e instituiçõesindicou a necessidade de uma maior explicitação e fundamentação. Entendendoque “quando se apregoa a valorização cultural, os acordos coletivos, a elevaçãoda autoestima dos artesãos, o respeito aos ritmos sociais, necessita-secompreender o que está além disso. Pois se corre o risco de produzir discursosvazios” (ABBONIZIO, FONTOURA, 2008)

Nessa dissertação, se considerou que a efetividade de uma intervenção seriaaquela que se configurasse como um espaço de produção de novosconhecimentos e aprendizados. Tem-se, portanto, a educação como umfenômeno social manifestada a partir das relações entre os indivíduos.

Para contextualizar as intervenções de design, na quarta etapa realizou-se oestudo de caso de dois projetos da DIA: organização não-governamental que atuaem intervenções de design no artesanato paranaense desde 2003. Para tanto,selecionou-se ações realizadas com 2 grupos artesanais, um da cidade deJacarezinho, norte do estado e o segundo de Campina Grande do Sul, na regiãometropolitana de Curitiba. Caracterizadas como “oficinas de criação”, foramrealizadas nos anos de 2004 e 2005, respectivamente. Partindo da análisedocumental destas intervenções, realizou-se em 2008 entrevistas com osdesigners e artesãs participantes daquelas atividades de oficinas. Entre outroaspectos, buscou-se conhecer a partir do relato dos seus agentes, as suaspercepções tanto das oficinas quantos desdobramentos futuros que provocaram.

Apartir dos princípios pedagógicos de Paulo Freire e da análise dos estudosde caso da DIA, se propôs uma nova abordagem para as relações de designerscom artesãos, denominada de . Fundamentada numarelação dialogada entre indivíduos participantes de uma prática. Nesse cenário, opapel do designer é de atuar com os artesãos e não sobre eles. Logo, um design decolaboração, é aquele que realiza um trabalho “em comum com outrem namesma obra”, que coopera para a realização de algo. (MICHAELIS, 2009)

Design e artesanato – Práticas de Colaboração

práticas de colaboração

46

Buscou-se alterar uma visão de um designer solucionador de problemas,para um que participa de um processo de transformação social, por meio de umaprática educativa. Por isso, os princípios dos Círculos de Cultura foi pertinentepara este trabalho para compreender uma dinâmica social de ensino eaprendizagem, crítica, democrática e conscientizadora. Realizada a partir dareunião voluntária de pessoas nos tempos e espaços da própria comunidade, nãodepende das estruturas escolares convencionais para as trocas de conhecimentose experiências culturais.

A proposta de faz uma correlação às fases doCírculo de Cultura, no entanto, o mais relevante não é o método em si, mais sim,os fundamentos e pressupostos que o definem. Sendo o designer, nesse caso, umagente que atuará com os artesãos num processo ativo e participativo deconstrução de conhecimentos, os temas e conteúdos devem partir dosreferenciais significativos dos próprios artesãos.

Denominada de , é omomento inicial onde os diferentes atores (designers, artesãos e agentes defomento) analisam as suas percepções, objetivos e parâmetros para a atuação.Isso é importante para que as soluções (métodos, processos e produtos) sejam omais adequados à cada contexto artesanal. O modelo de capacitações pré-formatadas com conteúdos definidos, e portanto, distantes das diferentesrealidades, impede de se promover mudanças que de fato respeitem asdiversidades culturais e os momentos históricos desses sujeitos. A fase 1 é omomento onde se conhece as motivações de cada ator, e especialmente as dosartesãos, para uma ação que tem como objetivo, mudar processos, produtos ecomportamentos. A aproximação com essa realidade e entender que ela deve serconsiderada integralmente é fundamental. Sendo o processo conscientizador,compreende-se que cada realidade não é um “mundo dado”, mas dinamicamente“dando-se” (FREIRE, 1976, p.94). Por isso, as interpretações e conceituações doartesanato que desconsideram seus sujeitos e que não dialogam criticamente comcada realidade, apenas perpetuam uma situação alienada e exotificante de outrosistema cultural. (LARAIA, 1996)

A tomada marca a . Acaracterística principal desse momento é o de construir com os artesãos auto-diagnósticos da atividade artesanal da qual participam e suas relações com outrasrealidades. Esta proposta difere das experiências observadas no estudo de casoonde coube ao designer e aos agentes de fomento, analisar e oferecer as soluçõesadequadas para o grupo.

A partir de Freire, as transformações sociais seriam possíveis somente

práticas de colaboração

fase 1 – percepção de uma situação problema

consciência crítica sobre a sua realidade fase 2

atuando no e com o contexto presente, o que propiciaria também, ocomprometimento dos envolvidos no próprio processo de mudança. A adesãodos artesãos ao processo de mudança seria um dos principais fatores a atribuir defato à efetividade das intervenções.

Se para agentes de fomento e designers, é importante que as transformaçõesocorram e continuem a ocorrer, mesmo sem o estimulo deles, o primeiro passo é aadesão voluntária e consciente dos sujeitos nesse processo. Contudo, o

– é um processo contínuo deapropriação dos objetivos e das ações a serem desenvolvidas. Propõe-se assim, arealização de acordos coletivos entre os participantes, e a explicitação destes emum plano de ação. “Aconstrução do plano de ação coletivo e o comprometimentodos envolvidos transferem aos artesãos a responsabilidade do seu própriodesenvolvimento. O plano estabelece a conexão entre a reflexão da realidade e ospropósitos das oficinas que irão se desenvolver” (ABBONIZIO, 2009, p101).

Tomada de modo amplo, a análise da realidade permite, também aodesigner, identificar necessidades e problemas que possivelmente não sejam dasua competência para poder atuar sobre elas. Logo, uma abordagemmultidisplinar reforça um comprometimento ético-profissional de se atuar noslimites de suas competências.

As demandam que a partir dos temassignificativos, dos objetivos dos participantes e da aproximação com ascaracterísticas da cada realidade, a possibilidade de desenvolver os conteúdosprogramáticos que serão abordados na sequência.

A é denominada de , como já habitualmente é chamada nosatuais projetos de intervenção. É o tempo e o espaço onde designers e artesãosrealizarão trocas de saberes. Para isso, o diálogo problematizador é fundamentalpara a “produção e a apropriação de conhecimentos, por meio de atividadespráticas, experimentais e analíticas. Envolve os indivíduos nos seus aspectoscognitivos e afetivos. É o aprender-fazendo a partir das próprias referências e ocontato com novas possibilidades” (ABBONIZIO, 2009, p102).

A oficina como troca de saberes, não se define por uma duração específica.Pode ser uma ação curta, de algumas horas, por exemplo, quanto durar um longoperíodo de dias e meses. O que a caracteriza é o diálogo como instrumento demediação entre os diferentes saberes e culturas. No entanto, numa perspectiva daeducação popular, a escolha do espaço de realização deve favorecer esse diálogo.Logo, o próprio ambiente dos artesãos seria o local apropriado para a realizaçãodas atividades.

Apresentando uma abordagem cíclica, a é uma ,

engajamento no processo de mudança - fase 3

fase 4 oficina

fase 5 reflexão da prática

práticas de colaboração

47

na qual os participantes (designers e artesãos) analisam e avaliam a experiência.O processo é avaliado quanto aos “seus resultados, procedimentos e objetivos.[Assim] o processo se atualiza, demandando novos conteúdos programáticos,mudanças no plano de ação ou a finalização da intervenção”. (ABBONIZIO,2009, p102)

A reflexão da prática, num processo dialogado e crítico junto com osartesãos é importante no sentido de explicitar os outros impactos que a ação dedesign e do designer promovem no meio.

A proposta de se buscar fora do campo do design referenciais para aspráticas de intervenção no artesanato contribuíram para aprofundar e analisarconceitos a partir de outras bases teóricas. Não se caracteriza em justapor um aooutro sem desconsiderar as diferenças entre seus fins e os momentos históricos.

Observa-se também, que o foco de atuação com grupos de jovens e adultosnão se define apenas por uma questão de idade. No contexto em questão, essessujeitos não se apresentam em situação histórico-cultural como o mesmo jovem-adulto que busca um curso de graduação, pós-graduação, línguas estrangeiras ouartes, por exemplo. Apresentam características próprias e diversas para osprocessos de ensino e aprendizagem e se definem especialmente, pelaespecificidade cultural (OLIVEIRA, 1999). Assim, uma prática educativa nessecontexto demanda métodos e comportamentos diferentes daqueles quetradicionalmente se encontra nos ambientes formais de educação.

Os conteúdos, partindo dos referenciais e temas dos participantes econstruídos numa relação dialógica, demandas novas atitudes do designer-educador.

Arelação estabelecida entre intervenção de e prática educativa sejustificou por meio da necessidade de refletir sobre a efetividade dasintervenções. Isto é, o que provoca de mudanças em uma determinada realidade,

Considerações

As ações do não se fundamentam exclusivamente por suacapacidade técnica. Ela é indispensável e qualifica a sua ação,entretanto, outras habilidades são necessárias para as ações emcontextos sociais diferentes. A prática educativa com grupos deadultos, por si só, demanda atitudes comunicativas, metodológicas ecomportamentais que precisam complementar a formação doprofissional que atuará em contextos artesanais (e não somente).”(ABBONIZIO, 2009, p.106)

designer

designers

a intervenção de agentes externos? Assim, vinculou-se a possibilidade dastransformações sociais, a partir de um processo de apropriação deconhecimentos, valores e práticas. Por apropriar-se, criam-se as condições deresignificar e aplicar o apreendido em sua própria prática social, fundamentando-se assim, num processo de aprendizagem.

ABBONIZIO, Marco Aurélio de Oliveira.

136 f. Dissertação(Mestrado em Design) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009.

ABBONIZIO, Marco; FONTOURA, Antônio. Reflexões sobre as intervençõesde design no artesanato sob a ótica dos Círculos de Cultura de Paulo Freire. In:CONGRESSO BRASILEIRO DE PESQUISA E DESENVOLVIMENTO EMDESIGN, São Paulo. Sâo Paulo:AEnD-BR, 2008.

CABRAL, Fabrícia Guimarães Sobral.146 f. Dissertação (Mestrado em

Design) - Pontifícia Universidade Católica, Rio de Janeiro, 2007. Disponível em:<http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br>.Acesso em: 25/07/2007.

CORRÊA, Ronaldo de Oliveira. uma reflexão sobre asintervenções realizadas na costa do descobrimento – BA. 129 f. Dissertação(Mestrado em Tecnologia) – Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná,Curitiba, 2003.

FONTOURA, Antônio Martiniano.196

f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica doParaná, Curitiba, 1997.

HESKETT, John. Tradução: Márcia Leme. São Paulo: Ática, 2008.

LARAIA, Roque de Barros. um conceito antropológico. 12. ed. Rio deJaneiro: Zahar, 1996. 116 p

Aproximações teóricas entre asintervenções de design no artesanato com os princípios pedagógicos dePaulo Freire: caminhos para uma prática emancipatória.

Anais...

Saberes Sobrepostos: design eartesanato na produção de objetos culturais.

Design e artesanato:

As manifestações pós-modernas nodesenho industrial e suas repercussões no ensino do projeto de produto.

Design.

Cultura:

Referências

48

Design voltado à Sustentabilidade, no

contexto das Metamorfoses em Sociedades

ComplexasDesign for Sustainability, in the Context of Metamorphoses within theComplex Societies

Mendes, Mariuze Dunajski; Doutoranda Interdisciplinar em Ciências Humanas -S o c i e d a d e e M e i o A m b i e n t e ( U F S C ) ; P r o f e s s o r a U T F P R [email protected]

Ono, Maristela Mitsuko. Doutora em Arquitetura e Urbanismo (FAU/USP).Professora UTFPR/UFPR. [email protected]

Rial, Carmen. Doutora em Antropologia (Université de Paris V). Professora [email protected]

ResumoEste artigo objetiva contribuir em estudos e pesquisas sobre narrativas,significações sociais e processos de design voltado à sustentabilidade nocontexto de sociedades complexas, sugerindo o termo “metamorfose” comopossível superação de uma dicotomia entre os termos tradição/inovação, quepermeia circuitos de criação/produção/circulação/consumo de artefatos. Aoarticular e interagir dialeticamente em processos de significação, que envolvemrelações de poder e conhecimento, designers acabam traçando códigos e mapasde sentido, relacionando práticas e usos de artefatos, que podem mediarmovimentos e metamorfoses do social, promovendo a sustentabilidade, oureforçando padrões insustentáveis de consumo. Portanto, é necessário discutirsobre limites que foram extrapolados pelo crescimento desordenado, desigual einjusto que a onda desenvolvimentista e processos de industrializaçãointensamente promoveram, impondo-se, não raro, por meio de políticaseconômicas que relegando cuidados com o meio ambiente, incluindo-se suasdimensões socioculturais.

design e metamorfose; tradição/inovação; design voltado àsustentabilidade.Palavras Chave:

49

Design voltado à Sustentabilidade, no contexto das

Metamorfoses em Sociedades Complexas

No contexto atual, transformações profundas e expressivas são necessáriaspara promover certas mudanças e rupturas em comportamentos, culturas deconsumo e estilos de vida presumivelmente “insustentáveis”, da forma como seapresentam.

A crise da insustentabilidade, como cita Leff (2008), é uma crise deconhecimento com raízes na racionalidade moderna, com base na qual o sistemaeconômico mecanicista relegou condições de equilíbrio da vida no planeta, bemcomo negligenciou importantes relações humanas envolvidas em processos deprodução, circulação e consumo de bens materiais e imateriais, a exemplo derequisitos, anseios e acesso ao mercado de consumo.

Ao articular e interagir em processos de significação e materialização deartefatos, designers acabam traçando códigos e mapas de sentido, relacionandopráticas e usos de artefatos, que “povoam” o mundo. Como mediadores entresignificados e materialidades, designers podem agir, como se refere Slater(2002), apenas como “etiquetadores” que conferem “status e exclusividade” àscoisas, fortalecendo movimentos “desenvolvimentistas” e “consumistas”,descolados de contextos locais de significação, ou, por outro lado, atuar comointerface entre as diversas esferas, promovendo nexos entre produção econsumo, aproximando sentidos e valorizando práticas responsáveis esustentáveis.

Na sua origem, a insustentabilidade é uma crise civilizatória queestabeleceu uma racionalidade econômica de apropriação da natureza, saberes epráticas, descolando-as da trajetória histórica e dos contextos locais, mediantecertas propostas globalizadoras de e .

Assim, neste artigo, busca-se promover uma reflexão sobre os conceitos dee recorrentemente incorporados no repertório de designers

para definir sustentabilidade e que, ao serem acionados, podem produzirmovimentos sociais, culturais, econômicos, que tanto possibilitam manter comotransformar relações desumanizantes e condições insustentáveis do planeta. Parao design, é fundamental refletir sobre o significado da palavra “inovação”, quemuitas vezes é citada como ruptura com o que antecede, algo completamentenovo. No entanto, as permanências e ressignificações, nas trajetórias de pessoas eartefatos, apontam mais para “metamorfoses”, termo que julgamos maisadequado e que iremos contextualizar no correr do artigo.

inovação desenvolvimento

tradição inovação,

Apesar de sucintamente, buscamos tratar da temática com profundidadesuficiente ao refletirmos sobre o campo de design para a sustentabilidade,relacionado-o a outras áreas e fomentando um debate acadêmico interdisciplinar.

Partimos do entendimento de que artefatos são indissociáveis da cultura, eque os significados e códigos relacionados a estes são traduzidos e traduzemrelações sociais, construindo, assim, um universo inteligível mediado pela suamaterialidade, bem como por aspectos simbólicos e imaginários sociais.

Os artefatos, ao serem analisados relacionados às esferas da criação,produção, circulação e consumo (aonde são negociadas as formas sociais deapropriação e uso), assumem características de mediadores culturais entresujeitos, grupos e sociedades, articulando significados e práticas, com potencialde manter ou transformar cenários sociais. A fim de que ocorra a comunicaçãodentro de comunidades interpretativas, que se agrupam de acordo comcomuns, as pessoas codificam, de algum modo, artefatos que representam emediam inseridas em temporalidades, espaços e contextos,definindo .

Como mencionam Douglas e Isherwood, artefatos são portadores decódigos que “traduzem relações sociais e permitem classificar coisas e pessoas,produtos e serviços, indivíduos e grupos”, fazendo parte de um modo de vidamarcado por uma série de rituais, nos quais os sujeitos buscam “construir umuniverso inteligível com os bens que escolhe[m]” (2006, p.16 e p.113). Há umaestruturação de sentidos e identidades no cotidiano, mediante a posse e uso deartefatos, que podem sustentar, transformar ou serem transformados em práticassociais.

O designer, como um dos intérpretes e articuladores do circuitosignificativo, transpõe para a prática significados expressos em discursos e usosda cultura material, produzindo leituras, interpretações e respostas que permeiamcircuitos de significação sobre a sustentabilidade. Estas narrativas desembocamem estruturas de práticas sociais, mediadas pelo uso de artefatos, que asrealimentam com . Deste modo, é necessário buscar-se umentendimento mais aprofundado ao articularem-se conceitos sobre

, ao relacioná-las ao design voltado à sustentabilidade.A tradição usualmente é considerada como um patrimônio de valores, tanto

Artefatos e representações

Tradição, Inovação ou Metamorfose?

1

projetos

identidadesestilos de vida

feedbacks

tradição/inovação

50

imateriais como materiais, acumulados historicamente, devendo ser preservada,podendo ser definida como a memória social de um povo. Nesta perspectiva,geralmente, quando falamos de tradição, referimo-nos a coisas passadas,preservadas ao longo da memória e manifestadas em valores e práticas daspessoas. E, não raro nos vem ao pensamento palavras como folclore, patrimônio,como se essas expressões conservassem marcos de um tempo antigo que seestende até o presente. Tradição e passado se identificam, neste viés, e parecemexcluir o novo. Como coloca Ortiz (1994), poucas vezes pensamos comotradicional um conjunto de instituições e de valores que, mesmo de uma históriarecente, se mostra a nós como uma moderna tradição, um modo de ser. Chauí(2004) também nos apresenta a tradição como um “Mito Fundador”, querepresenta uma repetição, às vezes com novas roupagens, de um “passado comoorigem”, para solucionar pelo imaginário o que não é resolvido na realidadepresente.

Na realidade, a tradição, intrinsicamente vinculada a memórias e aoconhecimento que se estende ao longo dos tempos, constitui-se de repertóriosdinâmicos de significados, sempre em relação dialógica de 'uns' com 'outros'.Não é algo estático, pois, há inter-relações e negociações de “rotas”, originando,pela história, cultura, política, dentre outros fatores, a construção daquilo que nostornamos, com um sentimento de ter algo em comum (Silva, 2000).

Já o termo inovação é apontado como: “Ação ou efeito de inovar.Introdução de alguma novidade na legislação, nos costumes, na ciência, nas artesetc” (Aurélio on-line, 2010). Em termos de mercado, e como usualmentedifundido no campo de design, inovação significa novidade ou renovação. Apalavra deriva do termo latino , e “se refere a uma idéia, método ouobjeto que é criado e que pouco se parece com padrões anteriores”. Órgãosoficiais difundem a ideia de inovação como “processo de criar idéias de valor eimplantá-las com sucesso. Ela é sinônimo de mudança em todos os aspectos donegócio: no modelo de gestão, estratégia, processos, produtos, serviços,tecnologia e comportamento” (Senai, 2010). Já o Sebrae, em suas cartilhas,coloca que a inovação “deve ser incorporada como uma nova cultura, um novotipo de comportamento” e “fazer diferente para alcançar melhores resultados”(Sebrae, 2010). A maioria das definições de inovação aponta para uma mudançaradical, para a novidade e criação de algo que até então não existiu. Quandofalamos em modernidade e inovação, devemos considerar estes conceitossempre contextualizados, pois não há um tempo, espaço, desenvolvimentosocial, cultural, econômico, político, dentre outras dimensões da vida, lineares ehomogêneos. O que é inovação em um determinado contexto, pode não ser em

innovatio

outro.Pretende-se relativizar essas abordagens conceituais deterministas e

reducionistas, pois, da forma como são reproduzidos, os sentidos e discursos dainovação provocam certo desenraizamento, esquecimento de tradições, saberes,relações e predisposição ao rompimento com o passado, sendo essas as principaiscausas da insustentabilidade atual. A constituição do projeto de modernidadecarrega em si uma tendência a construir uma “oposição maniqueísta” entre:moderno e tradicional; culto e popular; hegemônico e subalterno. Estesconfrontos são, segundo Canclini (1997), uma separação artificial, que devemosrefutar, já que servem para legitimar as posições dos excluídos do processo,naturalizando-as.

Buscando inter-relacionar tradição/inovação, defende-se o uso do termo“metamorfose” como referência para pensar produtos, sistemas e serviçossustentáveis. Empresta-se este termo de Velho (2003), que o usa a partir do poetaOvídio, que, em seu livro - “As metamorfoses” - narra histórias de seres quemudam de gênero, natureza, forma,..., mas, sempre guardando características deestados anteriores, trazendo sinais das experiências passadas. Sobre esta obra,Velho (2003) ainda cita o comentário de Ítalo Calvino: “uma lei de máximaeconomia domina esse poema aparentemente voltado para o dispêndiodesenfreado. É a economia própria das metamorfoses, que pretende que as novasformas recuperem tanto quanto possível os materiais das velhas”. E é nestadinâmica de criações contextualizadas em tempos e espaços, permanências emudanças, que se define a .

Nesta perspectiva, ao relevar-se no planejamento de produtos e sistemas, ainovação conjuga metamorfoses do existente. Essas possibilitam, mediante oacionamento de códigos, valores e associações a contextos específicos, criar semcomprometer sistemas materiais e imateriais existentes, além de que, sendovinculados a grupos sociais e a projetos coletivos, os artefatos guardam e/oureferenciam trajetórias sociais e históricas com aderência cultural, propiciando,assim, práticas sustentáveis.

A cultura material, em suas permanências e metamorfoses, tem um papelfundamental no desenrolar de práticas socializantes e humanizantes,considerando-se que o valor das coisas se concentra, além do material, tecnologia

metamorfose

sustentar

ConsideraçõesCultura material e processos de (re)significação social para asustentabilidade

51

e economia, na memória, significados sociais e culturais. Há condições dedesalienação na relação com artefatos, em seus usos e simbolização, emprocessos de (re)significação e apropriação criativa, por meio de táticas deresistência e transformação articuladas em práticas cotidianas. Trajetóriassociais são atravessadas por processos de “objetificação” e vice-versa.

A atividade de design, como mediadora da “materialização” do mundo,necessita se desenvolver com base em abordagens sistêmicas, de modo a auxiliarno encadeamento de ações voltadas ao agir sustentável, cuidando e restaurandoritmos e processos do meio ambiente, não raro afetado por ações desarmônicas,individualistas, egoístas, que, em muitos aspectos, compõem retratos da“sociedade de consumo” capitalista.

Circuitos de produção/circulação/consumo podem ser dispositivos de(re)ordenamento e (re)elaboração do mundo a partir de organizações sociaisparticipativas que compartilhem códigos e práticas culturais em contextos locais.Ao se considerarem ações voltadas à a sustentabilidade também em suadimensão cultural, pode-se prever a construção da democracia ambientalfundada em comunidades, em contextos específicos, que transformam modos deconhecimento, em movimentos e metamorfoses que contribuam para aemancipação e o tecido de sentimentos do “ser no mundo” com harmonia,sentimento de pertencimento e corresponsabilidade.

O designer, como um dos mediadores deste circuito significativo do “ser nomundo” , pode estabelecer pontes entre artefatos e sujeitos, projetando tantomaterialidades quanto subjetividades, visões de mundo, desejos, e, também,pensando na condição sistêmica e de interdependência do meio ambiente. É dacorresponsabilidade do designer, como mediador, projetar de forma ética edialógica, valorizando práticas, projetos e ações em torno de valorescomunitários, como a sustentabilidade.

Notas1. No artigo, optamos por utilizar, preferencialmente, o termo para definir, demodo geral, objetos que são produtos da humanidade e atendem a necessidades,materiais e/ou simbólicas. Estes são codificados (significados) e decodificados emprocessos culturais dialéticos nas esferas de produção, circulação e consumo. O termoartefato foi preferido, devido a uma tênue diferenciação apresentada na conceituação,utilizada principalmente no campo da antropologia, que prevê que o objeto é fabricadopelo homem e fornece informações sobre culturas, época, quem o produziu e osusuários.

artefato

Referências

APPADURAI, A. e KOPYTOFF, I., 1991.

CANCLINI, Néstor Garcia. : estratégias para entrar e sair damodernidade. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1997.

CHAUÍ, Marilena. mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo:Editora PerseuAbramo, 2004.

D I C I O N Á R I O A U R É L I O . D i s p o n í v e l e m :.Acesso em: 20 ago. 2010.

DOUGLAS, Mary; ISHERWOOD, Baron.. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2006.

HALL, Stuart. : identidades e mediações culturais. Belo Horizonte:Editora UFMG, 2003.

LEFF, Enrique. . México: Siglo XXI Editores, 2008

MILLER, Daniel. . Oxford:Blackwell, 1987.

ORTIZ, Renato. . São Paulo:Brasiliense, 1994.

SEBRAE. Fonte: . Acesso em:20 ago. 2010.

SILVA, Tomas Tadeu da. A produção social da identidade e da diferença. In:SILVA, Tomas Tadeu da (Org.). . A perspectiva dosEstudos Culturais.

SLATER, Don. . São Paulo: Nobel, 2002.

VELHO, Gilberto (2003). : antropologia das sociedadescomplexas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 1 . ed. 1994.

La vida social de las cosas: perspectivasculturales de las mercancias. Mexico: Editorial Grijalbo

Culturas híbridas

Brasil:

O mundo dos bens: para umaantropologia do consumo

Da diápora

Discursos sustentables

Material culture and mass consumption

Cultura brasileira e identidade nacional

Identidade e diferença

Cultura do consumo e modernidade

Projeto e metamorfose

http://www.dicionariodoaurelio.com/Inovacao

http://www.sebraesp.com.br/noticias/node/7630

ONO, Maristela M. : sintonia essencial. Curitiba: Edição da autora,2006.

Design e cultura

SENAI. Fonte: . Acesso em: 20 ago. 2010.http://www.sp.senai.br/spdesign/infopaper

Petrópolis: Vozes, 2000.

a

52

Uma proposta de diretrizes de sustentabilidade para aplicação emdisciplinas projetuais de cursos de design gráficoA proposal for sustainability guidelines for the application in graphicdesign projectual disciplines

Smythe Jr., Nelson Luis; MSc; Universidade do [email protected]

Resumo

Este artigo trata de um levantamento de diversos grupos de diretrizes de sustentabilidadeaplicáveis ao design gráfico e sua análise e classificação, resultando em uma proposta dediretrizes para aplicação em disciplinas projetuais de design gráfico.

design sustentável; design para a sustentabilidade; diretrizes de projeto.Palavras Chave:

53

IntroduçãoO objetivo deste trabalho foi identificar, selecionar, classificar e propor

diretrizes de sustentabilidade passíveis de aplicação nos cursos de design gráfico.As diretrizes propostas contemplam o design gráfico impresso, isto é,

produtos que necessitam de suportes físicos. Isso, devido ao fato de que osimpactos ambientais negativos decorrentes de seus processos de produção,distribuição e descarte são grandes, conforme se observa na pesquisa de Souza eSilva (2008).

Há vários ganhos para o design gráfico que considera requisitos dasustentabilidade. Podem-se citar 2 principais: primeiro, o aumento do valoragregado nos seus produtos e serviços, na medida em que clientes econsumidores estão cada vez mais conscientes do impacto ambiental da nossasociedade de consumo e começam a valorizar as ações, produtos e empresasalinhadas com a questão ambiental e a responsabilidade social; e segundo, odecorrente aumento da vantagem competitiva, com a diminuição de custosatravés da economia de materiais e energia, beneficiando clientes e o própriodesigner.

Apesar do design para a sustentabilidade ser uma abordagem em uso pelodesign de produto há mais de uma década, existem alguns estudos sobre suaaplicação em projetos direcionados à indústria gráfica, como os de Enroth (2006)e Tischner e Nickel (2003), que podem ser estudados e são do interesse do designgráfico. Paralelamente há trabalhos sobre a aplicação do ecodesign na indústriagráfica, como em Rothenberg e Becker (2003), Rothenberg, Toribio e Becker(2002), Rothenberg e Zyglidopoulos (2003), Bjurstedt (2005) e Enroth (2007),que tangenciam, mas não são voltados à área projetual do design gráfico,abordando o tema sob a perspectiva da produção gráfica. A maioria destestrabalhos trata do projeto gráfico em sua fase de produção, não se preocupandoigualmente com todas as fases do processo de design.

Apesar das vantagens do design para a sustentabilidade, como nadiminuição do impacto ao planeta com o uso consciente de recursos e no aumentoda vantagem competitiva, poucas são as instituições de ensino superior queoferecem em seus cursos de design conteúdo referente à sustentabilidade de umaforma integrada, ampla o suficiente a ponto de tratar das suas 3 principaisdimensões. De acordo comAlcântara (2003) e Lucca (2006) a maioria dos cursosque ofecere este conteúdo foca no ecodesign, abordando apenas os aspectosambientais da sustentabilidade.

A partir dos resultados de uma pesquisa documental e bibliográfica, foram

identificados e selecionados grupos de diretrizes de sustentabilidade aplicáveisao design gráfico, principalmente para projetos ligados à indústria gráfica.Posteriormente as diretrizes foram classificadas de acordo com a possibilidadede aplicação no ensino, em disciplinas projetuais de cursos superiores de designgráfico.

Foram identificados diversos grupos de diretrizes relacionados àsustentabilidade e aplicáveis ao design gráfico. Estes grupos foram encontradosem fontes como livros, documentos em formato pdf (

) e sítios internet.Aseleção dos grupos foi através dos critérios:

Relação com o design gráfico e a sustentabilidade;Serem passíveis de aplicação no ensino;Apresentarem representatividade – os grupos selecionados devem ser

oriundos de fontes diversas como: estúdios de design gráfico, pesquisas depós-graduação, iniciativas governamentais, instituições representativas dodesign gráfico, organizações não-governamentais ligadas àsustentabilidade, ou iniciativas mistas.Considerando esses critérios foram selecionados treze grupos de diretrizes.

Foram consideradas diretrizes que fossem compatíveis com os diversostipos de projetos de design gráfico (e.g. editoriais, de embalagem, de design deinformação). O tratamento para a escolha das diretrizes foi através daidentificação e redução e posterior classificação: identificar em todo materialselecionado as diretrizes e recomendações aplicáveis ao design gráfico edescartar o restante; eliminar as diretrizes semelhantes, permanecendo as dedefinição mais simples.

Durante a classificação os grupos de diretrizes selecionados foramarranjados de acordo a distribuição interna existente, a fim de se obter um novoconjunto que reunisse todos os grupos selecionados, facilitando a seleção dasdiretrizes para a proposição final.

A proposta, portanto, foi desenvolvida a partir da síntese de um grandenúmero de diretrizes, grande parte dirigidas a aspectos da produção gráfica. Estasnovas diretrizes poderão possibilitar a inclusão da sustentabilidade em cursossuperiores de design gráfico que ainda não ofertam este tipo de conteúdo e

Identificação e seleção dos grupos de diretrizes

Classificação e proposta de diretrizes

Portable DocumentFormat

?

?

?

54

também propiciarão uma revisão da forma como a mesma é tratada nos cursosque as utilizam.

As diretrizes foram divididas em diretrizes de projeto e diretrizes deprodução, a fim de facilitar a utilização. Ao todo são 29 diretrizes e 2recomendações.

: aplicáveis no ensino, em disciplinas projetuaisde design gráfico.

: especificações voltadas à prática profissional,nem sempre passíveis de aplicação durante a prática projetual do aluno, masque poderiam ser consideradas nas especificações de produção nomemorial descritivo do projeto.A seguir a distribuição geral dos conjuntos de diretrizes, na linha superior

do quadro, divididas de acordo com a coluna da esquerda em diretrizes de projetoou de produção.

Aseguir os 5 conjuntos propostos de diretrizes:

?

?

?

Diretrizes de Projeto

Diretrizes de Produção

Tabela 1 – Distribuição das diretrizes de produção e de projetode acordo com os 5 conjuntos de diretrizes.

Fonte: O autor (2010).

DiretrizesRecomendações

Planejamento Recursos Divulgação Fornecedores

Pro

jeto

OpçõesCiclo de vidaReciclagem

RecursosVida útilFunção

Planej. SistêmicoChecklist

MateriaisFormato

PapelTinta

EtiquetasEnvelopes

Embalagem

SelosConsumo Estratégia Ecoética

Pro

du

çã

o

ChecklistProcessos

Papel virgemPapel reciclado

TintasRevestimentos

Colas e grampos

ProximidadeCertificaçõesDistribuição

Tiragem

Acompanhamento

Pro

jeto

Pro

du

çã

oPlanejamento

Projeto

Opções

Considerar opções sem papel, de menor tamanho, mais leve ou usando menos materiais.Repensar se a solução proposta é a melhor maneira de transmitir as informações e atingir opúblico-alvo, se existem alternativas com menos impactos.

Ciclo de VidaConsiderar o ciclo de vida do produto a ser projetado e minimizar o impacto ambiental em todo ocaminho, começar planejando o fim de vida de seu produto. Projetar de maneira que o usuáriofinal complete o ciclo, recuperando os recursos depois de sua utilização.

Vida útil Projetar de maneira a facilitar a manutenção e a atualização, estendendo a vida útil do produto.

Consumo Conceber formas de desenvolver no usuário o desejo de cuidar do produto em longo prazo.

RecursosProjetar considerando a otimização dos recursos materiais e de energia e a minimização dosresíduos.

ReciclagemProjetar para a facilidade de separação dos componentes, assegurando a reciclagem.Considerar a modularidade, facilitando a troca de componentes gastos e quebrados.

Função

Planejar características e funções que utilizem menos materiais e energia.

Considerar um produto multifuncional (e.g. folheto que serve como calendário, embalagemque serve como caixa para guardar objetos ou se transforma em brinquedo, material dedivulgação que serve como cartão postal etc.).

Planej.Sistêmico

Verificar se o produto será de fácil manutenção e capacidade de reparação, ou permitirá umasegunda vida com uma diferente função (e.g. embalagens, envelopes, pastas, agendas etc.).

ChecklistCriar uma lista, considerando as diretrizes de sustentabilidade utilizadas no projeto, checandose todas estão sendo especificadas adequadamente, a fim de que sejam corretamenteaplicadas.

Produção

ChecklistCriar uma lista de especificações e instruções de projeto antes de enviar os arquivos finais paraserem produzidos. Isto dá a chance de checar tudo novamente e oferece ao fornecedor clarasinstruções a seguir.

Processos

Especificar o processo de pré-impressão CTP (Computer To Plate). Se usar fotolito, especificarfilmes sem prata e fotoquímicos que sejam livres de metais pesados. Se os fotolitos contêmprata, verificar se são usados agentes para recuperação da prata.

Especificar impressão offset waterless. Se não for possível procurar processos offset que façamuso de solução umidificadora com baixo ou nenhum conteúdo de solvente.

Priorizar, para pequenas tiragens, a impressão digital (sem chapa e fotolito), menos impactante.

Tabela 2 – Conjunto de diretrizes de Planejamento. Fonte: O autor (2010).

55

RecursosProjeto

Materiais

Especificar materiais (suportes de impressão, revestimentos, embalagens) que contenham omáximo de conteúdo reciclado pós-consumo; se a opção for por material virgem, usar recursosrenováveis (e.g. plásticos orgânicos e vernizes a base d’água). Procurar por materiaisreutilizáveis.

FormatoPensar em formatos menores e com menos páginas. Fazer um cálculo de projetopara minimizar o resíduo de papel durante o processo de impressão.

Papel

Especificar papel sem revestimento (uncoated) e de menor gramatura (mais leve e fino)possível. Considerar o tipo de papel desde a fase inicial do processo, de acordo com o sistemade impressão e com as tintas que serão utilizadas.

TintaMinimizar a cobertura de tinta e usar o mínimo necessário de cores. Usar tintas pré-existentes:verificar com a gráfica sobre tintas em estoque e tentar projetar com elas, economizando nacompra de tintas especiais.

EtiquetasProjetar etiquetas sem cola, através de encaixe. Se tiver que usá-las, optar por colas à based'água (em alguns casos o adesivo funciona como um lacre). Reduzir a superfície sobre a qualserá aplicado o adesivo e o tamanho da etiqueta ao mínimo possível.

Envelopes

Projetar envelopes reutilizáveis, que possam ser fechados novamente e, se possível,com papel reciclado. Não utilizar janelas. Se forem imprescindíveis, deixá-las abertasou fechá-las com papéis translúcidos.

Embalagem

Utilizar o mínimo possível de materiais diferentes, se a embalagem inclui mais de um tipo,projetar de forma a facilitar a separação para a reciclagem.Projetar embalagens que possam ser reabastecidas – uso de refis.

Imprimir diretamente na embalagem ou utilizar formas em relevo dispensa o uso de rótulos eetiquetas. Prescindir de embalagens secundárias ou terciárias. Em embalagens plásticas evitaro PVC e utilizar materiais reciclados e plásticos biodegradáveis.Considerar as embalagens sob o ponto de vista do armazenamento e transporte.

Produção

Papelvirgem

Não utilizar papéis branqueados com cloro. Se o papel tiver que ser branco, especificar papéiscom processos TFC(Totally Chlorine Free) ou ECF(Elemental Chlorine Free).Se tiver que usar papel virgem, considerar um que tenha certificação FSC(Forest StewardshipCouncil).

Papelreciclado

Escolher papéis reciclados que contenham o máximo de conteúdo reciclado pós-consumo –PCW(Pos Consume Waste) –, o ideal é que seja 100% PCW. Procurar saber sobre aporcentagem de fibras que sofreram o processo deinking. Buscar papéis reciclados PCF(Processed Chlorine Free), produzidos com PCW.

Tintas

Especificar tintas a base de óleos vegetais. Se não conseguir usar tintas livres de óleosminerais (derivados do petróleo), escolher as que possuem base vegetal maior.

Não usar tintas que contêm substâncias tóxicas. Consultar a lista das cores Pantone®a evitar e, sempre que possível, não utilizar tintas fluorescentes e metálicas.

Revesti-mentos

Ao especificar revestimentos, evitar o uso de PVC (Polyvinyl chloride) e outros materiais nãorecicláveis nas capas e em embalagens, como revestimentos UV, laminações, termografia ehotstamping, que emitem substâncias tóxicas na produção.

Especificar vernizes e coberturas à base d’água (com baixa emissão de VOC’s),os relevos ou cortes especiais ao invés de coberturas UV e laminações.

Colas egrampos

Especificar colas solúveis em água ao invés de colas solúveis em solventes (emitem VOC’s)ou grampos. Os grampos podem ser utilizados em vez de lombada quadrada (cadernoscosturados). Considere o mínimo de grampos, que tem que ser removidospara a reciclagem.

Tabela 3 – Conjunto de diretrizes de Recursos.Fonte: O autor (2010).

DivulgaçãoProjeto

Selos

Divulgar os procedimentos que visam à sustentabilidade de maneira clara (se faz referênciaao produto, à embalagem ou a um serviço).

Divulgar as características de sustentabilidade no produto a ser impresso: reciclado, reciclável,reutilizável, conteúdo PCW, certificação ISO ou FSC, designações ECF, TCF ou PCF, uso detinta a base de óleos vegetais (e, se possível, a porcentagem de conteúdo vegetal).

Quando utilizar plásticos identificar claramente o código específico para cada polímero.

ConsumoIncentivar os usuários a separar e reciclar os produtos, através dos selos apropriados.

Incentivar os usuários a compartilhar os produtos.

Tabela 4 – Conjunto de diretrizes de Divulgação.Fonte: O autor (2010).

FornecedoresProjeto

Estratégia Considerar os fornecedores no início do projeto.Produção

ProximidadeEspecificar recursos – materiais e serviços –, locais, mais próximos o possível do usuário final,facilitando a distribuição, reduzindo os impactos de transporte e valorizando a mão de obralocal.

CertificaçõesProcurar fornecedores com certificações FSC e ISO 14001. Se não tiver ISO, verifique sepossui um SGA (Sistema de Gestão Ambiental).

Distribuição

Procurar um sistema eficiente de transporte e considerar formas diversas de distribuir seumaterial impresso. Escolher embalagens de transporte e sistemas de distribuição de baixoimpacto. Garantir que a publicação chegue somente aos interessados.

Tiragem Não imprimir mais que o necessário apenas porque não vai custar muito mais.

Tabela 5 – Conjunto de diretrizes de Fornecedores.Fonte: O autor (2010).

RecomendaçõesProjeto

Ecoética

Evitar fazer alegações que exagerem ou impliquem vantagens ambientais quando elas são, narealidade, insignificantes.

Ao apresentar comparações, fazer a pergunta: “Comparado com o quê?”, com a oferta anterior,com uma empresa concorrente ou de uma tecnologia alternativa?

Não usar declarações que selecionam um componente ou processo utilizado para fazer umproduto preferível ambientalmente, desconsiderando componentes prejudiciais ou de processosque são inerentes ao produto.

Comprovar sob a forma de dados precisos, mensuráveis e prováveis a declaração em seuproduto.

Produção

Acompa-nhamento

Procurar acompanhar o produto durante todo o seu ciclo de vida: desde a produção até adistribuição, uso e descarte.

Verificar com usuários sobre o destino final do produto.

Solicitar retorno dos clientes, fornecedores etc., sobre o que deu certo e o que poderia sermelhorado no próximo trabalho.

Tabela 6 – Conjunto de Recomendações.Fonte: O autor (2010).

56

As diretrizes, em sua versão final, são acompanhadas por um glossário queapresenta uma descrição breve dos termos técnicos mais utilizados, facilitando oentendimento pelos professores e alunos que não estão familiarizados com alinguagem técnica de sustentabilidade e produção gráfica. Na dissertação(SMYTHE JR., 2010) há também 27 notas que exemplificam e/oucomplementam as explicações das diretrizes.

As diretrizes propostas enfatizam a necessidade de considerar escolhasantes restritas à fase de produção, como materiais, acabamentos, processos efornecedores, já na fase projetual de design. A inclusão de especificações antesrestritas à produção gráfica acrescenta ao escopo profissional do designer gráficomais funções, como decisões de escolha de fornecedores, processos,acabamentos, e ainda considerar questões ambientais e sociais implicadas. Aprodução gráfica tem, com a inclusão dos requisitos da sustentabilidade, umaligação íntima e indissociável do projeto gráfico executado pelo designer.

Devido à sustentabilidade ser um processo sistêmico e cíclico, a suaaplicação não deveria restringir-se à fase projetual. A sustentabilidade no designgráfico cumpre uma função estratégica no ciclo de vida do produto, pois propiciaa conexão dos aspectos sócio-ambientais em todo o ciclo do projeto a serelaborado.

Foram levantados diversos grupos de diretrizes, que posteriormente foramselecionados e dispostos em um arranjo de acordo com a distribuição interna decada grupo, resultando em novos conjuntos englobando as diretrizes de todos osgrupos. Aplicando procedimentos para identificação e redução das diretrizes,chegou-se a uma proposta final que oferecesse diretrizes simples decompreender e aplicar em projetos de design gráfico.

As diretrizes são uma fonte de recursos, mas não significa que seja umgrupo definitivo, ideal, pois a própria sustentabilidade é um longo caminho emque se está apenas iniciando. Convém lembrar que estas diretrizes são o resultadode uma necessidade inicial de requisitos de sustentabilidade nos projetos dedesign gráfico, e funcionarão durante um período que não pode ser determinadocom precisão, pois depende da demanda de mercado, de políticas públicas queexijam das indústrias uma postura responsável quanto aos aspectos sócio-ambientais, entre outras implicações. Portanto deve-se levar em conta que setrata de um grupo de diretrizes planejado para aplicação no contexto atual, quepara permanecer sendo usado deve sofrer periódicas revisões para adequações à

Conclusão

novas exigências de consumo, de legislação e novas tecnologias.Espera-se que as diretrizes, resultantes desta pesquisa, sejam aplicáveis na

solução de problemas reais, e colaborem para suprir a necessidade de umaferramenta comum para auxiliar a inserção da sustentabilidade no design gráfico.Mais especificamente, a expectativa é que as diretrizes propostas sirvam comouma orientação, um passo a caminho de um modelo mais profundo e maisabrangente de ferramentas para inclusão da sustentabilidade no ensino do designgráfico no Brasil.

57

Referências

ALCÂNTARA, F.F.. 157f.

Dissertação (Mestrado em Design) – Departamento de Artes & Design,PUC–Rio, Rio de Janeiro, 2003.

BJURSTEDT, A.. Tese (Doutorado) – Media Technology and Graphic Art,

Royal Institute of Technology – KTH, Suécia, 2005.

ENROTH, M.. 2006. Tese (Doutorado em Tecnologia) – Royal Institute of

Technology in Stockholm – KTH, Suécia, 2006.

_____. Tools for Design for Environment (DfE) – Applications in the PrintingIndustry. Swansea (UK): , 2007.

LUCCA, A.S.

. Dissertação (Mestrado em Educação nas Ciências) – Departamentode Pedagogia, Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande doSul, Ijuí, 2006.

ROTHENBERG, S.; BECKER, M.. Monografia – Printing

Industry Center – RIT, NewYork, 2003.

____; TORIBIO, R.; BECKER, M.. Monografia – Printing Industry Center – RIT, New

York, 2002.

____; ZYGLIDOPOULOS, S.C.. Monografia – Printing

Industry Center – RIT, New York, 2003.

SMYTHE-JR., N.L.. 145f.

Dissertação (Mestrado em Design) – Programa de Pós-Gradução em Design,Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2010.

O discurso sobre o ensino de design levando emconsideração aspectos ambientais: por um design ecológico

The European Publication Printing Industry, An Industryin Profound Changes

Developing tools for sustainability management in the graphicarts industry

TAGAJournal of Graphic Technology

A Produção Científica da Associação de Ensino de Design doBrasil: Possibilidades de um Referencial Teórico para o Ensino deEcodesign

The Evolution of ExperimentalEnvironmental Programs in the Printing Industry

Environmental Management inLithographic Printing

Determinants of EnvironmentalInnovation Adoption in the Printing Industry

Uma Proposta de Diretrizes para Inserção daSustentabilidade em Cursos Superiores de Design Gráfico

SOUZA, I.P.; SILVA, M.C. Um manual de gestão ambiental para as indústriasgráficas: conhecimento socialmente produzido. In:

, Ponta Grossa, v.4, n.1, p.116-130, 2008.

TISCHNER, U.; NICKEL, R. Eco-design in the printing industry, Lifecyclethinking: Implementation of Eco-design concepts and tools into the routineprocedures of companies. , v.3,p.19-27, 2003.

Revista GestãoIndustrial

The Journal of Sustainable Product Design

58

Oportunidades de Negócios para o Design

através da Sustentabilidade na Região de

Londrina: projetos de pesquisa da

Universidade Estadual de LondrinaBusiness opportunities in design through sustainability in the Londrinaregion

Martins, Suzana Barreto, Dra. Universidade Estadual de Londrina, Brasil,[email protected], Cláudio Pereira de, M.Sc. Universidade Estadual de Londrina,Brasil,[email protected]

Resumo

Este artigo tem por objetivo apresentar alguns dos projetos desenvolvidos pelo grupo depesquisa em design e sustentabilidade da Universidade Estadual de Londrina - UEL, osquais demonstram algumas das possibilidades de aplicação do design para asustentabilidade na geração de novas oportunidades de negócios. São descritos trêsprojetos, sendo dois deles voltados à área do artesanato, reaproveitamento de resíduosindustriais e geração de trabalho e renda, e um com ênfase em embalagens voltadas aoconsumidor final ( , ou B2C). Para cada um deles, são descritos osobjetivos, desafios e resultados esperados, bem como a abordagem metodológicautilizada e os resultados obtidos até o momento. Discute-se também o aspectoestratégico destes projetos na consolidação do núcleo de pesquisa em design esustentabilidade da UEL, um espaço interdisciplinar de pesquisa em processo deimplantação nesta instituição.

Business to consumer

Palavras Chave: Sustentabilidade, Design sustentável, negócios sustentáveis, projetos de pesquisa

59

Introdução

Contexto das pesquisas e projetos relacionados

Caso 1: A indústria do vestuário

A pesquisa em design e sustentabilidade no país tem avançado demodo significativo no país, e isso pode ser verificado pela crescente produçãocientífica na área, tanto em quantidade quanto em qualidade. No 7º CongressoInternacional de Pesquisa em Design – P&D, realizado em Curitiba/PR em 2006,essa foi uma das três áreas com maior quantidade de artigos apresentados, e desdeentão esse crescimento tem sido constante. Algo similar ocorreu no VI Colóquiode Moda, recentemente realizado em São Paulo, em setembro desde ano. Issoreflete também a ampliação na quantidade de cursos de design que abordam otema em seus currículos, seja sob a forma de disciplinas, seja de formatransversal ou interdisciplinar. Algumas instituições já consolidaram espaçosdestinados principalmente à pesquisa em design e sustentabilidade, muitas vezesvinculados a programas de pós-graduação, como é o caso da UniversidadeFederal do Paraná - UFPR. Além disso, os projetos de pesquisa desenvolvidospor estes núcleos normalmente refletem as vocações das regiões onde estãoinseridos, como é o caso do projeto Imaginário Pernambucano, com fortevocação artesanal, ou do Núcleo de Design e Sustentabilidade da UFPR, que atuafortemente em soluções voltadas à habitação popular e à população de baixarenda. Neste contexto, a Universidade Estadual de Londrina, localizada no nortedo Estado do Paraná, também inicia, no ano de 2010, um processo de afirmaçãono cenário da pesquisa em design e sustentabilidade, a partir da elaboração de umplano de integração dos projetos de pesquisa com esta temática, e que deveráculminar com a criação do Núcleo de Estudos e Projetos em Sustentabilidade -NEPS. Este espaço deverá integrar, entre outras iniciativas em sustentabilidade,os projetos de pesquisa em design que tenham esta abordagem, sendo três delesdescritos e analisados a seguir. Estes projetos refletem ainda algumas dasvocações econômicas encontradas na região de Londrina, como o setor dovestuário no âmbito industrial, o artesanato, no âmbito dos empreendimentossociais, e as grandes redes varejistas, no âmbito do comércio.

A indústria do vestuário é responsável por elevado índice de empregodevido à velocidade de crescimento do Setor no Brasil. O país compõeatualmente a lista dos 10 principais mercados mundiais da indústria têxtil e figuraentre os maiores parques fabris do planeta, segundo a ABIT (2010); é o segundo

principal fornecedor de índigo e o terceiro de malha, está entre os cinco principaispaíses produtores de confecção, sendo hoje um dos oito grandes mercados defios, filamentos e tecidos. O setor têxtil e de confecção nacional, gera em torno de1,65 milhão de empregos em toda a sua extensa cadeia, da fiação, tecelagem, àsconfecções.

São milhares de confecções instaladas e faturamento anual da ordem debilhões de reais, somado a velocidade das mudanças e inovações tecnológicas naárea têxtil, o aumento do número de consumidores, a diminuição do ciclo de vidados produtos e a grande participação de pequenas e médias empresas no setor.

A indústria do vestuário no Brasil possui significativa participação nocrescimento econômico e desenvolvimento do país, com 9,03% do total deempregados da Indústria de Transformação e ostenta um dos primeiros lugares naeconomia mundial com 14% dos empregos.

Nesse cenário, o Estado do Paraná, participa com 11,38% do total deempregados na Indústria de Transformação, compondo mais de 80% dosempregados no gênero Vestuário Industrial, no setor de confecção de peças dovestuário. (FIEP, 2010)

Por sua vez, as regiões norte e sudoeste do Paraná têm expressiva produçãono setor do vestuário e confecção contribuindo na geração de emprego e rendatanto no cenário local como no cenário nacional. Em toda a região são mais de400 micro, pequenas, médias e grandes empresas instaladas que produzem emtorno de 1.1 milhão/peças/mês, sendo o segundo setor que mais gera empregoconforme Sinvespar (2005) e primeiro setor, segundo o IBGE. Devido ao grandevolume de produção e a expansão do setor, fez-se necessário agrupar micro,pequenas, médias e grandes empresas produtoras em Arranjos Produtivos,denominadosArranjos Produtivos Locais-APL.

Já a região norte do Paraná, conta com articulação setorizada e constituídadesde 2005 com o composto porrepresentantes das entidades: Sebrae; Senai; UEL; Fiep; Sindicato; UTFPR ;Caixa Econômica entre outros e por micro, pequenas, médias e grandes empresasdo setor. Com base no planejamento estratégico, o objetivo do Setor de Vestuárioé ter o APL estruturado e reconhecido como referência em moda e gestão deprodução. A visão do Setor de Vestuário caracteriza-se pela união, articulação erepresentatividade política, com meta de ser reconhecido como referencial demoda com o apoio de empresas com marcas sólidas, profissionais qualificados,tecnologia de ponta e responsabilidade sócio-ambiental O

- SIVEPAR tem premente necessidade de integrar os

APL de Vestuário de Londrina e Região,

. APL de Vestuário de

Londrina e Região

60

conceitos de sustentabilidade em seus produtos e processos, particularmente nadimensão ambiental.

Em agosto de 2005 o Ministério Público Estadual, prefeitos da região, oInstituto Ambiental do Paraná - IAP -, realizaram encontro na cidade de DoisVizinhos para discutirem a problemática da coleta e destinação dos resíduosindustriais dos municípios que até então eram coletados pelos municípios eenviados aos chamados "lixões". A partir de novembro do mesmo ano, asmunicipalidades interromperam os serviços de coleta e destinação dos resíduossólidos, transferindo essa responsabilidade às empresas. Demonstrando assim apreocupação regional com a questão de minimização de resíduos têxteis eimpactos ambientais, seja por parte dos empresários como do setor público.(SINVESPAR, 2005)

A grande diversidade das atividades industriais deste setor ocasiona,durante os processes produtivos diferentes tipos de resíduos, sendo que o setorconfeccionista da região não gera resíduos sólidos de grande toxidade, porém,apresenta volume elevadíssimo afetando outras variáveis ambientais como asemissões de CO2 e a exaustão de recursos naturais não renováveis.

A maioria das empresas do setor do vestuário adota como prática a doaçãode sobras de tecidos para entidades filantrópicas como APAE's, Secretarias deAção Social, escolas e outras afins. Em contrapartida, o volume das doaçõesaumentou acima da capacidade destas entidades em absorver o volume deresíduos gerados pelo setor do vestuário. Como medida paliativa, resíduostêxteis passaram a ser comercializados ou doados para empresas de outrasregiões, porém, da mesma forma como na doação, tais empresas pararam derealizar a coleta, seja para compra ou doação porque ocorreu o fenômeno deexcesso de oferta de resíduos no mercado.

Portanto, neste contexto é premente o desenvolvimento de soluções quecontemplem todo o ciclo de vida dos produtos do setor do vestuário. No presenteprojeto, o foco é justamente a concepção dos produtos do setor considerando ociclo de vida e, também, os subprodutos passíveis de produção a partir dosresíduos do processo de manufatura. Com tal ênfase cria-se a oportunidade nãosomente de reduzir custos, mas também de aumentar a competitividade dasindústrias por meio da diferenciação em relação aos concorrentes nacionais einternacionais justamente na dimensão ambiental, um dos aspectos decompetitividade que tem atraído de forma crescente a atenção de todo o públicoconsumidor. ( Martins e Santos, 2008)

O projeto: Inovação e sustentabilidade no aproveitamento deresíduos têxteis do APL de vestuário de Londrina e região (2009-2011)

Considerando o contexto descrito anteriormente, este projeto (um dosdesdobramentos da pesquisa realizada pela profa. Suzana Barreto Martinsdurante o pós-doutorado em Design Sustentável na UFPR), busca conferirdiferenciação às empresas do APL por meio de produtos/processos com maioreficiência no consumo de matéria-prima e energia e facilitar a reciclagem e reusode seus componentes. Além da sensibilização do consumidor quanto a critériosde escolha de produtos mais sustentáveis, são realizados também estudos-pilotobuscando investigar possibilidades de promoção de mudanças reais nos estilosde vida e consumo, o que implicará na concepção de novos produtos e serviçospara o APL que substituam os atuais ou o projeto de novos produtos-serviçosintrinsecamente sustentáveis.

Finalmente, com o objetivo de prover informações para alimentar oprocesso de planejamento estratégico nas empresas o projeto deverá culminarcom a proposição de cenários de longo prazo que correspondam ao estilo de vidasustentável no setor de confecção. A proposição de novos cenários sustentáveis,por sua vez, implica na promoção de novos critérios de qualidade no planocultural, buscando modificar o modo como são buscados os resultados tanto porparte das empresas como por parte dos consumidores. Portanto, pretende-seinserir inovações tanto no produto como também no processo de produção nesteAPL de Confecção, contendo traços tanto de inovação incremental como deinovação radical. Todos estes objetivos estão alinhados com um grande objetivoestratégico: a criação do Núcleo de Design e Sustentabilidade no departamentode design da UEL para fundamentar pesquisa e projetos na área de design comfoco no design para a sustentabilidade.

Neste contexto, a oficina descrita a seguir representa uma das váriasatividades previstas neste projeto, e teve como objetivo o desenvolvimento deprodutos a partir da reutilização de retraços (resíduos) têxteis.

Subprojeto: Oficina "Moda, sustentabilidade e inclusão: retraços que tecemhistórias”

A partir da doação de retraços têxteis por empresas da região, foramorganizados grupos de trabalho nas instalações do Depto de Design da UEL,envolvendo professores, alunos do curso de graduação e pós graduação emDesign de Moda da UEL, alunos bolsistas, ex-alunos e alunos da Universidade daTerceira Idade – UNATI da UEL, além da comunidade Teares da Alegria,

61

comunidades organizadas e pessoas com interesse e habilidade em atividadesartesanais. Contou também com o apoio de empresas da cidade de Londrina,como a Overloque e Lucca Sportswear além da parceria com professores e alunosdo curso de Design de Moda da UTFPR da cidade de Apucarana. Estes gruposdesenvolveram uma série de produtos a partir dos retraços (Figuras 1 e 2), osquais foram posteriormente expostos em um desfile organizado pelos própriosparticipantes e coordenação da Oficina, aberto a comunidade em geral erealizado no espaço disponibilizado na empresa Overloque. Posteriormente, viaconvênio celebrado entre a UEL e a Universidade Tecnológica da Península doCabo- CPUT, na Cidade do Cabo, na África do Sul, por meio do Projeto Pró-África do CNPq, os resultados dessa Oficina foram apresentados em novembrode 2009, pela coordenadora da Oficina e também autora deste artigo.

A Oficina teve como propósito a inclusão social e geração de trabalho erenda ao promover o surgimento de novas possibilidades de negóciosenvolvendo produtos, bem como disseminar a concepção e desenvolvimentode produtos de moda intrinsecamente sustentáveis.

O registro das atividades desenvolvidas, bem como os resultadosobtidos, estão disponíveis em:http://modasustentabilidade.blogspot.com/2009/10/moda-sustentabilidade-e-inclusao.html.

Caso 2: os empreendimentos sociais voltados ao

artesanatoMuitos dos micro-empreendimentos de produção manual da região de

Londrina desenvolvem artefatos a partir de insumos sustentáveis (materiaisnaturais e/ou reaproveitáveis), que podem ter origens variadas, como:

provenientes da coleta seletiva;coletados no meio urbano ou rural;recolhidos em indústrias e empresas de serviços.

Normalmente, são refugos que perderam o valor econômico, mas quepodem ser úteis para outros processos produtivos. Como exemplo, são coletadasdiariamente na região de Londrina cerca de 90 toneladas de resíduos recicláveis.A atuação dos catadores de lixo (“carrinheiros”) na cidade contribuienormemente para essa coleta, pois deixam de ser despejados no ambiente cercade três mil toneladas de lixo por mês, o equivalente a 25% do total de lixo mensalproduzido em Londrina, cerca de 12 mil toneladas. Parte deste material podealimentar novos processos produtivos, entre eles empreendimentos sociaisvoltados ao artesanato.

Este projeto está relacionado à pesquisa desenvolvida pela professora AnaLuisa Boavista Cavalcante, para a sua tese de doutorado na Universidade Federalde Santa Catarina – UFSC, e tem como objetivo principal o mapeamento daprodução artesanal na região de Londrina. Este mapeamento deverá contribuircom o Desenvolvimento Sustentável na região, conhecendo micro-empreendimentos sociais em comunidades locais para possibilitar inclusãoeconômica e social e melhoria da qualidade de vida nas mesmas. O projeto buscatambém potencializar na produção artesanal o uso de insumos sustentáveis. Esteprojeto contempla várias atividades junto a diferentes grupos artesanais einstituições parceiras, sendo uma delas descrita a seguir.

?

?

?

O projeto: Mapeamento de grupos de produção artesanal:indicadores de design para a sustentabilidade

Figura 1: alguns dos vários produtos criados na oficina Figura 2: grupo de trabalho com artesãs ealunas da UNATIdiscutindo os produtos criados

62

Sub-projeto: Instituto Milênia (set/2010 a fev/2011) - Capacitação edesenvolvimento de produtos artesanais com reaproveitamento deresíduos têxteis

O Instituto Milênia é uma entidade vinculada à empresa MilêniaAgrociências, e que desenvolve diversas atividades ligadas à responsabilidadesócio-ambiental. Entre estas atividades está o Projeto Empreender, cujo objetivoé identificar e formar na comunidade próxima à empresa pessoas com perfilempreendedor, dando-lhes treinamento e condições para desenvolverem suasatividades, especialmente no âmbito do artesanato. Para isso, é oferecida umaestrutura física que inclui oficinas para produção de peças, uma oficina demáquinas de costura, um laboratório de informática, uma pequena loja, entreoutros benefícios (Figuras 3 e 4).

O Instituto Milênia recebe doações de diversos tipos de resíduos sólidosindustriais, os quais servem de matéria-prima para as artesãs criarem produtos eos comercializarem através do Instituto.

Neste contexto, o subprojeto tem por objetivo capacitar um grupo de artesãssobre o potencial do design para agregar valor aos produtos, e sobre aspectos desustentabilidade no artesanato feito com resíduos têxteis industriais, e apoiar estegrupo na criação de uma nova linha de produtos com apelo de mercadodiferenciado.

Para isso, estão previstas duas atividades principais: a primeira inclui arealização de workshops de capacitação junto ao grupo de artesãs, cominformações sobre design, artesanato, público-alvo e mercado; a segundaabrange o desenvolvimento de uma linha de produtos utilizando resíduos têxteis,

mas com valor agregado maior do que os produtos atualmente produzidos pelogrupo. Este desenvolvimento será feito de forma conjunta entre a equipe depesquisadores, formada por professores e alunos do curso de Design Gráfico eDesign de Moda da UEL, e as artesãs do Instituto Milênia. Para odesenvolvimento dos novos produtos, será adotada uma abordagem baseada emmetodologia típica de design, a qual inclui a criação de painéis semânticos depúblico-alvo, com foco em um novo nicho de mercado, ainda não atendido pelasartesãs com os produtos atuais. Este subprojeto deverá ser concluído no mês dedezembro de 2010, quando as artesãs realizarão um teste de mercado dosprodutos criados.

A cidade de Londrina apresentou nos últimos vinte anos um grandecrescimento econômico, e em especial nos últimos cinco anos, fruto da relativaestabilidade econômica do país. O crescimento das grandes redes varejistas,inclusive com a chegada de grandes grupos estrangeiros, acompanhou essatendência. Entre essas grandes redes, alguns grupos nacionais também têmobtido desempenho significativo, como o grupo Super Muffato, que atualmenteestá posicionado entre as dez maiores corporações varejistas do país. Trata-se deum grupo com origem na cidade de Cascavel, Paraná, e que conta hoje com trintalojas nos Estados do Paraná e São Paulo.

O Super Muffato, assim como outras redes varejistas, tem investidofortemente na busca por fornecedores estrangeiros, principalmente oriundos daChina, devido à competitividade dos produtos fabricados neste país. Muitos dosprodutos importados da China apresentam boa qualidade e preço atrativo, mas ogrupo tem esbarrado em uma dificuldade que muitas vezes afeta negativamente odesempenho dos produtos chineses no ponto de venda: a inadequação dasembalagens.

Caso 3: As grandes redes varejistas: o caso Hipermuffato

Figura 3: máquinas de costura usadas naprodução de peças com resíduos têxteis.

Figura 4: espaço para confecção de peçascom resíduos têxteis.

Figura 5: exemplo de embalagem vinda da China

63

Entre as principais dificuldades encontradas em relação às embalagenschinesas, estão:

Falta de identidade cultural adequada ao consumidor brasileiro;Falta de informações relevantes, e muitas vezes essenciais;Qualidade gráfica e estrutural frequentemente duvidosa (Figura 5);Baixo controle dos aspectos ambientais;Produção da embalagem feita por fabricantes chineses, dificultando oacompanhamento;Necessidade de pagamento adiantado, junto com o produto a serembalado.

Este projeto tem como objetivo, além de atender às necessidades acima,desenvolver e aplicar conhecimentos sobre design sustentável em embalagensvoltadas ao consumidor final ( ), tendo como objetode estudo embalagens para produtos importados vindos do mercado chinês. Apartir disso, o grupo de pesquisa procurará desenvolver know-how científicosobre design sustentável em embalagens, a partir da criação de uma parceria delongo prazo com a empresa, visando à criação do LES - Laboratório deEmbalagens Sustentáveis, vinculado ao NEPS - Núcleo de Pesquisa em Design eSustentabilidade da UEL.A primeira fase do projeto deverá ser finalizada em abril de 2011, sendo que osprimeiros resultados já deverão estar disponíveis em dezembro de 2010. Asetapas do projeto prevêem, num primeiro momento, um nivelamento dospesquisadores (alunos e professores) sobre conceitos, princípios, metodologias eferramentas de design para a sustentabilidade, para em seguida seremdesenvolvidas as soluções de embalagens. Com isso, será oferecida à empresaparceira (Super Muffato) uma nova possibilidade de abordagem de design ecomunicação nas embalagens, tendo o aspecto sócio-ambiental como diferencialmercadológico. Com isso, busca-se também fortalecer tanto as ações sócio-ambientais da empresa quanto a sua imagem junto ao consumidor.

Os três projetos apresentados apontam diferentes possibilidades de inserção dasustentabilidade em negócios na região de Londrina, seja possibilitando àsindústrias do vestuário ter processos e produtos mais limpos, seja criando novas

•••••

O projeto: Eco-embalagens Muffato (2010-2012) - Desenvolvimentode embalagens sustentáveis para produtos importados

business to consumer, ou B2C

Discussão

oportunidades de empreendimentos sociais baseados no artesanato, ou mesmoagregando às embalagens de varejo um maior valor sócio-ambiental. Percebe-se,por meio destes exemplos, a amplitude de ações possíveis no âmbito do designpara a sustentabilidade, e, portanto, a variedade de abordagens possíveis tendo odesign como agente fundamental de mudanças. No entanto, todas essas açõesconvergem para um objetivo maior, que é a produção e disseminação doconhecimento em design para a sustentabilidade não apenas no âmbitoacadêmico, mas junto às empresas e à sociedade. No caso da UEL, esse objetivodeverá ser materializado com a criação do NEPS – Núcleo de Estudos ePesquisas em Design e Sustentabilidade, que deverá integrar os projetos atuais efuturos com esta temática. Ao consolidar a pesquisa em design para asustentabilidade na região de Londrina e no Estado do Paraná, o NEPS deverá terum papel fundamental também para o fortalecimento dos programas de pós-graduação em design na UEL, enfatizando a sustentabilidade como uma dasprincipais áreas de estudo no design nos próximos anos.

64

Referências

ABIT. Associação Brasileira da Industria têxtil e de Confecção (ABIT).São Paulo, 2010. Disponível em

<http://www.abit.org.br/site/texbrasil/default.asp?id_menu=2&Idioma=PT&id_sub_tex=1> .Acesso em 30 ago. 2010.

FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO PARANÁ (FIEP).. Curitiba, setembro, 2008. Disponível em

<http://www.fiepr.org.br/fiepr/analise/panorama/vestu%C3%A1rio.pdf>.Acesso em 3 set. 2010.

MANZINI, Ezio e JEGOU, François.Milão: EdizioneAmbiente, 2003.

MANZINI, Ezio, VEZZOLI, Carlo.: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo:

Edusp – Editora da Universidade de São Paulo, 2002

MARTINS, Suzana Barreto. SANTOS,Aguinaldo.

__________; VASCOUTO, Vascouto.: a sustainable

proposition. In: International Symposium on Sustainable Design, ISSD, I, 2007,Curitiba. Disponível em

__________; CASTRO, Marina.. In: Simpósio Brasileiro em Design Sustentável,

SBDS, I, 2007, Curitiba. Disponível em

SINVESPAR. . Sudoeste do Paraná,n o v . 2 0 0 5 . d i s p o n í v e l e m<www.sinvespar.com.br%2Fconteudo%2Farquivos%2Fsinvespar_o_APL_moda_sudoeste.doc> .Acesso em 30 ago. 2010.

Panorama têxtil.

Indústria do Vestuário do Paraná

Sustainable everyday-scenarios ofurban life.

O Desenvolvimento de ProdutosSustentáveis

In:CONGRESSO BRASILEIRO DEPESQUISA EM DESIGN, P&D Design, 8, 2008. São Paulo, Anais... SãoPaulo, 2008.

Challenges to present fashionconsuming society and market possibilities of organic cotton

Moda sustentável: trajetória da criação,produção e comercialização

Arranjo Produtivo Local Moda Sudoeste

Estratégias genéricas para asustentabilidade no setor do vestuário.

http://www.design.ufpr.br/issd

http://www.design.ufpr.br/sbds

65

66

A sociedade e as Formas de ConsumoThe society and the consumption forms

Botelho, Aline Rodrigues; Mestranda em Design; Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio de [email protected]

Com o início da indústria, surgiram novos produtos e consequentemente novasformas de consumo, cuja finalidade era obter lucros para sustentar o sistemaeconômico vigente. Porém, este aumento de produção culminou, no passar dosanos, na atual crise ambiental. Novas alternativas de consumo, mais conscientesambientalmente, estão sendo propostas, mas tendo pouca aceitação social.Baseado em pesquisas bibliográficas, este artigo objetiva analisar porque asociedade, que tanto preza pela inovação, se mantém resistente a essas mudançastão necessárias para o meio ambiente.

embalagem; consumo; meio ambiente.

Resumo

Palavras-chave:

67

Introdução

Progresso e a sociedade

Com o avanço da industrialização, vemos no decorrer dos tempos umaalteração dos hábitos e estilo de vida; estilo esse que os países maisindustrializados se encarregam de repassar aos chamados países emdesenvolvimento.

O progresso proporcionou o surgimento cada vez mais freqüente denovidades. Este cenário faz uma compressão do tempo e espaço com a produçãode novos produtos, diferentes dos costumeiros e consequentemente o aumento doconsumo. Esta situação propicia o modelo atual de consumo desenfreado, queacelera mais a produção e comprime cada vez mais o tempo, para o surgimento denovidades. Além disso, favorece o descarte de materiais que não são reciclados,reaproveitados e que tampouco se decompõe com facilidade.

Baseado neste cenário, algumas empresas resolveram propor novas formasde consumo, como sistema produto-serviço, compartilhamento de objetos,dentre muitos outros. Tem-se assim, como objetivo deste trabalho, analisarporque, mesmo com alternativas que nos fazem evoluir diante da crise ambiental,a sociedade, que na maioria das vezes é uma facilitadora de novidades, mantémuma resistência a estas mudanças. Esta pesquisa foi feita através de uma revisãobibliográfica sobre autores que comentam o descarte, a sustentabilidade, oconsumo, o meio ambiente e comportamento de consumidores que dificultam amelhoria nos padrões atuais em que vivemos.

O progresso de uma maneira geral, permitiu inúmeras transformações nasociedade. Uma nova noção de bem-estar, resumida na variedade de produtos ebens, proporcionou o aumento de consumo. Desta forma, o conforto,proporcionado pelos artigos adquiridos, acabou se tornando um novo tipo devalor, e uma nova forma de relação dento da sociedade.

Mantendo-se este ideal de ostentação pessoal e evolução de classes atravésdo consumo, o design torna-se uma das principais ferramentas capazes deproporcionar tal sentimento, visto que ele tem como função, “materializar idéias,valores e conceitos, configurando-os através de objetos utilitários,

[...] como é grande a importância do conforto e do bem-estar para abase dos valores burgueses, enaltecendo o conceito de conforto eprivacidade, as famílias demonstram, valorizam e ostentam o estilode vida que o mundo moderno deve adotar. Machado (2008:20)

correspondentes às mais diversas necessidades, demandas, e anseios sociais”.

O designer utiliza de sua criatividade a fim de embutir conceitos nosprodutos, de modo que se tornem cada vez mais vendáveis. Desta forma, aquelesque pensam que a propaganda, a televisão e outros meios de comunicaçãoinfluenciam as pessoas sobre o modo como se devem comportar, esquecem-seque,

Os produtos resultantes no mercado, como comenta Forty (2007) são umelo entre os anseios dos fabricantes e as necessidades dos consumidores; essarelação que estipula o que será vendido. Porém, tem-se atualmente uma enormepreocupação em decorrência da crise ambiental iniciada através do consumo.Este necessita cada vez mais de recursos naturais para sua confecção e seu uso deforma acelerada, faz com que o descarte não tenha tempo de ser eliminadototalmente do ambiente.

Mas, embora haja uma preocupação mundial com o meio ambiente, vemosno progresso uma “experiência dolorosa e perturbadora”. Desta forma, qualqueralternativa que venha a surgir para modificar o modo como vemos e usufruímosdo mundo, aparece-nos como uma perda, o fim da idéia de consumo a tantoembutida através do capitalismo.

Vivemos num sistema que depende do aumento de consumo para se manter.No início da industrialização, o mercado estava livre para qualquer produto quesurgisse, não existia muita demanda por novos produtos nem tampoucoconcorrentes. Um bom exemplo para este período, como explica Forty (2007),

Cipiniuk, Portinari e Bomfim (2008:64

Forty (2007:12)

Forty (2007:19)

)

longe de ser uma atividade artística neutra e inofensiva, o design,por sua própria natureza, provoca efeitos muito mais duradouros doque os produtos efêmeros da mídia porque pode dar formastangíveis e permanentes às idéias sobre quem somos e comodevemos nos comportar.

Apesar de todos os seus benefícios, o progresso pode ser umaexperiência dolorosa e perturbadora. Nossas reações a ele sãofreqüentemente ambivalentes: queremos as melhorias e osconfortos que ele proporciona, mas, quando ele nos impõe a perdade coisas que valorizamos, compele-nos a mudar nossospressupostos básicos e nos obriga a ajustar-nos ao novo edesconhecido, nossa tendência é resistir.

Problemas ambientais e o sistema econômico

68

eram as indústrias que produziam sabão. Estes eram vendidos regionalmente eidentificados por seus tipos, não pelas marcas dos fabricantes.

A partir dos anos 30, numa tentativa de reerguer a economia em crise,floresce principalmente nos Estados Unidos, conforme comenta Lima e Dain(2008), uma nova lógica publicitária de que, o novo é superior ao antigo. Assimcomo Le Goff (1989:173) que explica que “os 'modernos' se pronunciam pelainovação”. Desta maneira inicia-se “a lógica capitalista de diversificaçãoprecipitada e superficial nos modelos dos produtos, e estabelecendo um valor de

passageiro”O surgimento de variações para um mesmo produto, fez crescer o

sentimento de individualidade nas pessoas, eles passaram a demonstrar ,identidade e estilo de vida. Além de tudo, aguçam desejo e fazem com que aspessoas sempre almejem mais do que tem, mantendo assim, o ritmo crescente docapitalismo na busca incessante para a obtenção de lucro.

Paralelamente à elevação do consumo, temos o aumento do descarte que,como cita Denis (2000:151), “quanto mais se joga fora, mais oportunidade segera para produzir de novo o mesmo artigo, o que ajuda a manter uma taxapositiva de crescimento”. Para manter esse ritmo em alta, de acordo com Forty(2007), a profissão do designer é imprescindível, pois promove essa variedade deobjetos, proporcionando os lucros em decorrência das vendas.

Com a necessidade de obter riquezas, o sistema atual desencadeou, atravésdo consumo, um agravamento dos problemas ambientais, mediante os descartes,tanto de produtos, quanto de embalagens e diversos outros materiais.

Em um determinado momento histórico, as pessoas sentiram a necessidadede obter lucro através da venda de seus produtos. Para isso, a diferenciação entreas mercadorias e outros fabricantes tornou-se algo fundamental.

moda

status

Lima e Dain (2008:57-58)

Cavalcanti e Chagas(2006:15)

.

Se a embalagem antiga remete ao artesanato, a de nossos dias nasceucomo irmã gêmea da indústria. Nessa transformação, mudou depersonalidade e serventia. Qualidades antigas, como a resistência aotransporte e à umidade, continuam essenciais, masobrigatoriamente suplementadas por outras também importantes,como a identificação do fabricante do produto embalado e o poderde sedução exercido sobre os compradores. [...] O que era umsimples envoltório anônimo se transformou em uma das maispoderosas armas de propaganda e marketing.

Embalagens e novas formas de consumo

Principalmente em virtude do surgimento dos supermercados, apareceuuma infinidade de produtos semelhantes, de modo a saturar o mercado. Destamaneira, a embalagem tornou-se, em um primeiro contato com o consumidor, aúnica forma de diferenciação dos produtos.

Diante desta infinidade de objetos disponíveis e da necessidade embutidanas pessoas de consumir cada vez mais, o descarte de materiais e o aumento dolixo produzido fez com que a preocupação com o meio ambiente e soluções paranão alastrar a situação atual criassem novas opções para venda de produtos.

Atualmente, reinventam-se maneiras de conseguir objetos mais duráveis eapós o seu fim, reciclá-los ou reaproveitá-los para uma nova utilidade. Alémdisso, novas soluções para substituir a aquisição de produtos e repensar novasalternativas de consumo que reduzam o desperdício estão sendo analisadas, e,aos poucos, colocadas em prática a fim de buscar uma nova forma de atender esatisfazer o mercado consumidor, como exemplifica Denis (2000:219):

Embora constantemente haja novas possibilidades de consumo, asociedade - apesar do anseio por inovação e modernidade - não aceita com tantafacilidade as novidades oriundas do mercado que influenciam sua maneira deconsumir. Essa resistência inicial acaba por enfraquecer as novas alternativas,que por sua vez não conseguem ocupar um lugar no sistema vigente. Isso as tornaincapazes também de substituir formas de consumo anteriores.

A relação social formada através dos anos de maneira a sustentar ocapitalismo valorizou exacerbadamente o consumo, de forma a criar valoressimbólicos na sociedade e novos referenciais de estilo de vida.

Assim, obtemos um cenário, “onde a produção industrial e o consumofrenético são a tônica, chegamos hoje a um mundo de total efemeridade,

O design de sistemas e a gestão da qualidade vêm sendo percebidoscrescentemente como um meio fundamental para projetar o usomais eficiente de recursos através do planejamento do consumo e daeliminação do desperdício. Se é verdade que as ameaças ambientaismais graves advêm do consumo indiscriminado de matérias-primase do acúmulo de materiais não degradáveis descartados como lixo,então o aperfeiçoamento de sistemas de reciclagem e dereaproveitamento deve se tornar uma prioridade para o design emnível industrial.

Considerações finais

69

velocidades alucinadas e individualismo extremo, gerando uma mudança radicalde valores. No consumismo, os bens materiais passam a ser a finalidade de todo oesforço, de todo o trabalho e a realização do indivíduo capitalista”.

Desta forma o designer propõe novas soluções a fim de repensar oconsumo, utilizar novos materiais, planejar a produção e prever o descarte, demodo a aperfeiçoar a confecção numa tentativa de melhorar a atual situaçãoambiental.

Com isso, alternativas inovadoras de consumo e de produção de objetosdevem de alguma forma assumir as novas lideranças e gerar um novo cenário deconsumo. Assim, a não-aceitação de novas formas de vendas que elimina odescarte e retrocede a compra e a produção de embalagens será apenas umaconotação histórica e cultural. O capitalismo, incentivador da desenfreadasituação atual, sofrerá interferências destas inovações de modo a assumi-la comoum progresso, um aperfeiçoamento e acima de tudo, como uma forma de semanter, e não como uma maneira de eliminação do sistema vigente.

Machado(2008:9)

Nosso ambiente atual é o resultado da soma de múltiplos fatores,que se estabeleceram por meio de processos de planejamento,configuração e produção independentes uns dos outros. Estas açõesnão coordenadas apresentam em certas ocasiões efeitos secundáriosnegativos, decorrentes da falta de uma solução global do problema.Estes aspectos negativos como a poluição ambiental, exploraçãosem limites das matérias-primas, sobrecarga do meio ambiente coma superprodução etc., não podem ser eliminados totalmente. Por issoé essencial compreender que, no futuro, as ações individuaisdeverão ser sintonizadas umas com as outras, a fim de evitar umcaos ainda maior. Em cada projeto devemos questionar em primeirolugar a importância que ele terá para a sociedade, se o resultado doprocesso de planejamento e de configuração é sensato, se háaspectos negativos a considerar. Não deverão ser consideradassomente as vantagens econômicas e sim os possíveis efeitos sobre acomunidade. Löbach (2001:21-22)

Referências bibliográficas

CAVALCANTI, Pedro; CHAGAS, Carmo.São Paulo: Grifo Projetos Históricos e Editoriais, 2006

CIPINIUK, Alberto; PORTINARI, Denise B., “Cultura Material” inRio de Janeiro: Ed. Puc-Rio. Novas Idéias, 2008 pp 63-64

COELHO, Luiz Antonio L. Rio de Janeiro: Ed.Puc-Rio. Novas Idéias, 2008

DENIS, Rafael C. São Paulo: EdgardBlücher, 2000

FORTY,Adrian. São Paulo:Cosac & Naify, 2007

HARVEY, David.São Paulo: Loyola, 1989

LE GOFF, Jacques (Org.) Lisboa: Presença, 1989

LIMA, Edna Lucia C.; DAIN, Sheila, “Consumo” inRio de Janeiro: Ed. Puc-Rio. Novas Idéias, 2008 pp 56-59

LÖBACH, Bernd,São Paulo: Edgard Blücher, 2001

MACHADO, Augusto S.,. 2008. Dissertação (Mestrado em Design) - Puc-Rio.

MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo.São Paulo:

Editora da Universidade de São Paulo, 2005

MORAES, Dijon de,São Paulo: Edgar Blücher, 2006

SENGE, Peter; SMITH, Bryan; KRUSCHWITZ, Nina; LAUR, Joe; SCHLEY,Sara, Rio de Janeiro: Elsevier, 2009

VILLAS-BOAS, André, Rio de Janeiro:2AB, 2007

História da embalagem no Brasil.

Conceitos-chave em design.

Conceitos-chave em design.

Uma introdução à história do design.

Objetos de desejo: design e sociedade desde 1750.

Condição Pós-Moderna. Uma pesquisa sobe as origens damudança cultural.

O homem medieval.

Conceitos-chave emdesign.

Design Industrial: bases para a configuração dosprodutos.

A questão das embalagens e sua relação com asustentabilidade

O desenvolvimento de produtossustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais.

Análise do design brasileiro: entre mímese emestiçagem.

ARevolução Decisiva.

O que é [e o que nunca foi] design.

70

O design sustentável na formação do designer

de interiores: relato da experiência alagoanaThe sustainable design in the interior designer´s training: theAlagoas's experience

Rapôso, Áurea; Doutoranda em Engenharia Industrial (UFBA); Instituto [email protected]

Este artigo relata a experiência de ensino do design sustentável no âmbito docurso tecnológico de design de interiores do Instituto Federal deAlagoas, atravésda aplicação do pensamento de ciclo de vida na concepção de projetos e/ouprodutos para os ambientes e/ou equipamentos dos espaços interiores. Trata-sede estudo reflexivo, na forma de relato de experiência, cujo procedimentometodológico utilizado foi observação direta participante. A análise encontra-seilustrada por projeto elaborado por designers concluintes do curso, futurosprofissionais do mercado de trabalho.

design; design de interiores; formação profissional esustentabilidade.

Resumo

Palavras Chave:

71

IntroduçãoA relação design e meio ambiente têm sido estudada, de forma mais

representativa, desde meados do século XX até a presente data. Cardoso (2008, p.245) destaca que o “assunto entrou cedo para a pauta de discussões dasorganizações profissionais de designers: já em 1969, o ICSID[1] aconselhou osdesigners a darem prioridade à qualidade de vida sobre a quantidade deprodução”. No Brasil, no final dos anos 60 e início dos anos 70 do século XX,segundo Moraes (2006), emerge no âmbito do sistema industrial o chamado“imperativo verde” ou, como é mais conhecido atualmente, “requisitoambiental”, em contraponto ao sistema e modelo ocidental de produção e aomodelo econômico capitalista de consumo de ontem e de hoje. Desse período emdiante, o design exerceu e vem exercendo um papel relativamente discreto face àsvárias fases do movimento ambientalista; mas, ao mesmo tempo, bastante pró-ativo ao longo do co-processo de desenvolvimento de produtos, a partir depráticas produtivas integradas a requisitos mais ecológicos (CARDOSO, 2008).

No contexto do design industrial, inserem-se as contribuições de VictorPapanek e seu design alternativo da década de 1970 para projetos de produtos eserviços de baixo custo, destinados à fabricação em série de pequeno porte, cujoimpacto ideológico projetual motivou na época alterações pouco efetivas nospadrões de consumo e no público consumidor; mas que, hoje, promovemsignificativos impactos no espaço educacional, como precursor de umametodologia projetual inovadora, que buscava redimensionar as relações deconsumo no sentido de uma opção individual por consumir menos e de modomais consciente.

Moraes (2006) afirma que as teorias de Papanek foram as que obtiveram ummaior espaço no Brasil nos anos 70, sobretudo para o design brasileiro, tornando-se referência. Adotava como princípio norteador e razão conceitual de sua teoriaanticonformista do modelo econômico vigente, a busca por uma tecnologiaalternativa que redefinisse a estratégia de desenvolvimento de países, como oBrasil. O que remete aqui a busca por uma nova metodologia de projeto e pornovos mecanismos de produção que conduzissem ao que hoje é entendido pordesign sustentável. Papanek evidenciou inclusive a responsabilidade social daindústria e a questão ética do designer: a primeira, por ser a produtora; e osegundo, por conceber o que era (e é) produzido industrialmente (PAPANEK,1995).

Na sequência das contribuições de Papanek emergem, no contextobrasileiro a partir dos anos 80, as contribuições de Ézio Manzini, com ênfase na

inserção da sustentabilidade ambiental no processo produtivo. As propostas deManzini direcionavam na época para uma relação eco-aceitável e eco-eficienteda indústria, da pesquisa e do desenvolvimento dos produtos, visando à reduçãodo uso de energia e da quantidade de matérias-primas não renováveis, semdesconsiderar a evolução tecnológica contínua da própria indústria (MORAES,2006).

Metodologia de projeto flexível, adaptada ao contexto sócio-ambiental daregião de projeto ou ao estilo de vida e à relação conceitual de uso-consumo dedeterminado perfil de usuários ou grupo social. É aqui que reside a reflexãopropiciada por este artigo a partir da experiência de ensino-aprendizagem eprática projetual da disciplina de Ecodesign do Curso Superior de Tecnologia emDesign de Interiores do Instituto Federal deAlagoas, em 2009. Não se trata de umsimples relato de experiência, mas de uma reflexão crítica à respeito de uma dasferramentas metodológicas de ensino utilizadas: o pensamento do ciclo de vida.

Pelo seu envolvimento estreito com o processo produtivo industrial,os designers têm demonstrado um nível elevado de consciência comrelação a questões ecológicas, e as soluções adotadas pela categoriarefletem uma boa disposição para acompanhar as rápidas mudançasde pensamento em uma área que exige constante abertura para onovo e muita flexibilidade em termos de metodologia de projeto(CARDOSO, 2008, p. 245).

Cabe ao designer pensar cada vez mais em termos de ciclo de vidado objeto projetado, gerando soluções que otimizem três fatores: I)uso de materiais não poluentes e de baixo consumo de energia; 2)eficiência de operação e facilidade de manutenção do produto; 3)potencial de reutilização e reciclagem após o descarte.(CARDOSO, 2008, p. 248).

Com o objetivo de abordar as vivências didático-pedagógicas e exercícioteórico-prático de aplicação do pensamento de ciclo de vida na disciplina deEcodesign, o artigo encontra-se estruturado em quatro seções. A primeira seçãoapresenta a proposta interdisciplinar de ensino do curso tecnológico em Designde Interiores do IFAL e os objetivos formativos do semestre em que a disciplinaencontra-se inserida. A segunda seção trata da disciplina Ecodesignpropriamente dita: da estruturação pedagógica aos recursos didáticos,perpassando pelas atividades integradas à Banca interdisciplinar. A terceiraseção relata um dos exercícios teórico-práticos da disciplina associado à

72

primeira Banca avaliativa. E por fim, a quarta e última seção do artigoapresenta e discute os resultados diretos e indiretos da experiência, contribuindocom uma breve reflexão da importância que essa disciplina ocupa na formaçãodo designer de interiores, desde o seu limiar projetual.

Sobre o curso e sua proposta de ensino

Sobre a disciplina Ecodesign

O curso de graduação tecnológica em Design de Interiores daCoordenadoria de Design do Instituto Federal de Alagoas foi criado em 2002 evisa a “formação profissional de um tecnólogo em design de interiores apto aprojetar ambientes internos residenciais e/ou comerciais; especificar materiaisde revestimento e acabamento, bem como mobiliário e demais objetoscomponentes do espaço projetado, conforme o tipo e especificidade do projeto”(RAPÔSO; MAIA, 2006, p. 59), dentre outras competências que podem serobservadas em Rapôso e Maia (2006). Sua organização curricular encontra-sebalizada na interdisciplinaridade e contextualização do processo de ensino-aprendizagem em design, de forma que cada um dos seus seis semestres priorizeum objetivo principal a ser alcançado.

No último semestre de curso, o objetivo do processo de ensino-aprendizagem do futuro designer de interiores é “particularizar o produto e suacomunicação visual no contexto do ambiente projetado, realizando suaconfecção com responsabilidade ambiental e sustentabilidade” (RAPÔSO;MAIA, 2006, p. 59).

Com foco nas demandas de mercado, o curso usa como ferramenta dearticulação interdisciplinar as disciplinas agregadoras que, capitaneadas peloAtelier de Projeto, conduzem ao objetivo proposto. No sexto semestre, asdisciplinas agregadoras são Ecodesign, Interiores e Comunicação visual eEmpreendedorismo, que são conduzidas peloAtelier de Projeto e Produto.

A disciplina de Ecodesign tem vida relativamente recente na organizaçãocurricular do curso. Foi inserida em sua matriz em 2005. A Tabela 1 a seguirsintetiza o plano de curso da referida disciplina.

As aulas ocorrem de forma participativa, através de exposição dialogada,além do desenvolvimento de atividades práticas individuais ou em grupos,associadas ou não às Bancas Interdisciplinares. Para as aulas dos conteúdos de 1-3, foram utilizados como recursos didáticos: documentário "A última hora",produzido pela Fundação Leonardo DiCaprio; e, vídeo na versão brasileira "Ahistória das Coisas", de Arnie Leonard, que trata sobre o fluxo dos materiais dosprodutos, disponível para uso didático em: <http://sununga.com.br/HDC/>. Paradiscussão coletiva em sala de aula e apoio a pré-construção conceitual discente,foram utilizados os textos "Design e meio ambiente", de Cardoso (2008), quehistoria o design sustentável; e, "Teorias alternativas", de Moraes (2006), quetrata das influências socioambientais no design brasileiro, com ênfase nascontribuições de Papanek e Manzini.

A atividade da disciplina de Ecodesign para construção discente depercepção ambiental preliminar para projeto e aplicação do pensamento do ciclode vida em produto aplicado ao design de interiores foi:

Os itens solicitados foram inseridos no memorial descritivo do projeto e naspranchas técnicas digitais. Essa atividade integrou de forma interdisciplinar aprimeira atividade projetual de Banca do período 2009.1, com temaDESCANSAR, baseado na 4ª edição de premiação nacional de design

Definir o ciclo de vida, descrever o processo de produção com basena P+L e justificar as especificações dos materiais de composição eacabamento da peça de mobiliário projetada, a partir das referênciasprojetuais do ecodesign trabalhadas na disciplina, visando àprodução de um produto de baixo impacto ambiental (Edital deBanca Interdisciplinar, 2009.1).

Item DescriçãoObjetivos Desenvolver projetos e/ou produtos voltados ao design de interiores ecologicamente

corretos, socialmente responsáveis e produtivamente sustentáveis, a partir de referênciasteóricas e práticas.

ConteúdoProgramático

1. Conceitos básicos: sustentabilidade e responsabilidade ambiental2. Princípios do Ecodesign (teorias e fundamentos)3. Ciclo de vida de um produto (dilemas de consumo)4. Redução de resíduos, do impacto ecológico e do consumo de energia (impacto ambiental

do produto)5. Reciclagem, reaproveitamento e reutilização de materiais (gestão dos materiais)6. Materiais sustentáveis e certificados (rotulagem ambiental)7. Responsabilidades do designer e do fabricante (empreendedorismo verde)8. Métodos de desenvolvimento de produtos e suas opções ecológicas, responsáveis e

sustentáveis (geração de inovação tecnológica)

Tabela 1: Plano de curso resumido da disciplina de Ecodesign

73

universitário de uma empresa brasileira de mobiliário. A peça projetada deveriaresponder a pergunta: Como o design de móveis pode facilitar essa atividade? Oobjetivo do projeto era de “um produto adequado à nossa realidade social [eambiental], cultural e tecnológica, sendo considerado viável industrialmente ecomercialmente” (Edital de Banca Interdisciplinar, 2009.1). Para tanto, oproduto deveria atender a dois pré-requisitos: 1) utilizar no máximo 3 matérias-primas; 2) apresentar em seu conceito filosofia adequada aos princípios atuais dodesign: contemporaneidade, jovialidade, minimalismo – entre outros aspectos,menos relevantes para o estudo em tela.

avaliar “relações estruturais, organizacionais, funcionais, expressivas eeconômicas”, com vistas a eforçar a sustentabilidade global e a proteçãoambiental (ética global); dar benefícios e liberdade para toda a comunidadehumana, individual e coletiva; usuários finais, produtores e atores do mercado(ética social); apoiar a diversidade cultural apesar da globalização do mundo(ética cultural); dar produtos, serviços e sistemas, formas que expressem(semiologia) e sejam coerentes com (estética) sua própria complexidade.

Exemplifica-se esse pensamento com a experiência projetual de uma peçaanfíbia, que pode ser utilizada para flutuar na água ou para ser fixada no solo,projetada por Aguiar e Véras (2009), para pessoas que buscam o descansoassociado ao lazer. Destina-se a homens e mulheres; crianças, jovens, adultos eidosos. A partir dessa interação descansar-lazer (que já possui em si aspecto derepouso e relaxamento), as designers definiram o partido da peça, associado-a aexpressão clássica “SOB SOMBRA E ÁGUA FRESCA (AGUIAR; VÉRAS,2009).

Projetada para ser transportada da água para o solo, a chaise-longue exigiuatenção especial em relação ao peso. Foi selecionado como material principal daestrutura a fibra de vidro resinada, a qual possui como característica relevante abaixa densidade (menor que a água). Já o colchão foi projetado com espuma àbase do óleo de soja e com tecido impermeável para área externa, na cor laranja,devido ao seu contraste em relação ao tom azulado da água. O móvel foi moldadopara atender a condições ergonômicas e estéticas, como pode ser visualizado naforma final do produto (Figura 1).

Ciclo de vida e projeto de produto: um exercício

formativoCorrobora-se com o ICSID (2010) de que o design se constitui em atividade criativa que objetiva estabelecer as

“qualidades multifacetadas” de produtos, processos, serviços e seus respectivos sistemas em ciclos de vida, sendo o “fatorcentral da humanização inovadora de tecnologias e o fator crucial de intercâmbio cultural e econômico”. Para tanto, deve-

se

: r

Aplicando-se o pensamento de ciclo de vida, inseriu-se na forma do produtoelemento para proporcionar maior conforto ao usuário e, ao mesmo tempo,flexibilidade de manuseio e desmontagem; a composição final do produto foi desuporte e colchão (Figura 2).

Segundo Aguiar e Véras (2009), a intenção plástica da peça foi obter formafluida, transparente e leve como a água no suporte. A fluidez foi estabelecida pormeio das linhas orgânicas inspiradas nas ondas da água; e a transparência, atravésdo material utilizado, que também apresenta translucidez e leveza. Observa-se autilização de apenas três materiais na sua composição: a fibra de vidro resinadada estrutura; a espuma a base de óleo de soja e o tecido impermeável do colchãoestofado (Figura 3).

Figura 1: Perspectiva da chaise-longue no solo e na água, respectivamenteFonte: AGUIAR; VÉRAS, 2009.

Colchão

Suporte

Produto

Figura 2: Suporte + colchão = produtoFonte: AGUIAR; VÉRAS, 2009

74

Para escolha de cada um desses componentes, foram pesquisados materiaisecologicamente corretos, que agredissem menos o meio ambiente e tivessemciclo de vida longo; podendo ser inclusive reciclados e, se não fosse possível, quefossem menos nocivos ao ambiente do que os similares.

Aexemplo da peça anfíbia “SOB SOMBRAE ÁGUAFRESCA” deAguiare Véras (2009), pode-se inferir que a disciplina de Ecodesign cumpriu seuobjetivo de fomentar nos futuros designers de interiores o desenvolvimento deprojetos e/ou produtos voltados ao design de interiores ecologicamente corretos,socialmente responsáveis e produtivamente sustentáveis, a partir de referênciasteóricas e práticas.

Considerando que é de significativa importância pensar o designsustentável desde as primeiras ações de projeto, verifica-se que seu estudodeveria está inserido desde o segundo semestre em que se inicia a atividadeprojetual no espaço interior propriamente dito e não somente às portas de saídapara o mercado de trabalho, como ocorre hoje, no último semestre. Convémdestacar que as disciplinas de fundamentos teóricos – História do Design (1º

Considerações finais

Figura 3: Esquema dos materiais empregadosFonte: AGUIAR; VÉRAS, 2009.

período), Fundamentos dos Estilos Decorativos (2º período) e EstilosDecorativos Brasileiros (3º período) – discutem preliminarmente os conceitos dedesign sustentável, design social, design alternativo. O estudo teórico-reflexivonesses semestres não se encontra integrado de forma efetiva à prática projetualinterdisciplinar, solicitando (re)visão da matriz curricular do curso em curtoprazo.

Além dos resultados diretos de aprendizagem derivados das vivências intrasala de aula ao longo da disciplina de Ecodesign, identifica-se como resultado(in)direto da supracitada disciplina, bem como da co-parceria na difusão darelação design, meio ambiente e sustentabilidade das disciplinas História doDesign, Estilos Decorativos e Estilos Brasileiros, o número expressivo dereflexões, relativas à temática “Design sustentável na formação do designer deinteriores”, nos Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) dos alunos.

[1] ICSID, ,

AGUIAR, S.; VÉRAS, A. C. : produto para descansar.Maceió: IFAL, 2009 (Projeto de Banca Interdisciplinar 6º período).

CARDOSO, R. . São Paulo: Blucher,2008.

ICSID IDA. The definition of design. In: , 2010.(http://www.icsid.org/)

KRUCKEN, L. : valorização de identidades e produtoslocais. São Paulo: Studio Nobel, 2009.

MORAES, D. de. : entre mimese e mestiçagem.São Paulo: Blucher, 2006.

PAPANEK, V. . Lisboa: Edições 70,1995.

Notas

Referências

International Council of Societies of Industrial Design ConselhoInternacional das Sociedades de Design Industrial, parceiro da Aliança Internacional deDesign, IDA. Disponível em: <http://www.icsid.org/>.

Memorial descritivo

Uma introdução à história do design

Design e território

Análise do design brasileiro

Arquitetura e Design. Ecologia e Ética

ICSID IDA

75

Restauração e Transformação: Ampliando a

Vida Útil do MobiliárioRestoration and Transformation: Extending the Life of Furniture

Greber, Elize Cooper Moreira; Graduanda; Universidade Tecnológica Federaldo Paraná[email protected]

Seleme, Eliane Betazzi Bizerril, Ms; Universidade Tecnológica Federal doParaná[email protected]

Este artigo trata da restauração e da transformação do móvel antigo de madeira,atendendo o conceito de sustentabilidade, reduzir, reutilizar e reciclar, onde apreocupação maior é com o descarte do produto prematuramente oudesnecessariamente. Descreve rapidamente as formas como podem serrealizados estes processos e os benefícios que podem trazer ao móvel e ao meioambiente, poupando-o de mais uma deposição em aterros sanitários, incineração,desmatamento para a extração da matéria-prima, energia gasta na produção eresíduos gerados durante a fabricação, problemas que com o consumismodesenfreado só faz aumentar a cada dia.

restauração, transformação e sustentabilidade.

Resumo

Palavras Chave:

76

Diferenciações entre restaurar e transformarO consumidor ao adquirir um móvel não tem a preocupação com o fim

da sua vida útil, que pode variar conforme o produto, material utilizado, formade uso, entre outros. O móvel é descartado por vários fatores: seja porque nãoatenderá mais as necessidades do consumidor, ou por não agradaresteticamente ou ainda pelo seu estado danificado. Esta despreocupaçãotambém atinge muitas vezes o designer, o projetista do móvel, que não planejae não propicia formas de reutilização do produto desenvolvido. MANZINIe VEZZOLI (2002, p. 63) comentam que:

Uma das formas para se colocar em prática a durabilidade e a otimização davida do produto pode ser a restauração ou a transformação. A distinção entre elasdeve ser feita com clareza, para que o dono do móvel ou o designer saibam aspossibilidades que cada prática envolve.

Amissão de restaurar é, de acordo com as idéias de RAMUZ (2002, p. 450):

Restauração envolve conservação, transformar em bom estado, não se podemodificar peças, cor ou formato do móvel, porém, deve existir a preocupação emtornar os materiais que formam o móvel, bons novamente e com ascaracterísticas originais.

As imagens a seguir ilustram as diferenciações, primeiro observa-se nafigura 1 a restauração de uma cristaleira.

Existem maneiras de se por em prática a durabilidade e otimizaçãoda vida dos produtos como: Projetar a duração adequada esegurança, facilitar a atualização e adaptabilidade, facilitar amanutenção, reparação e a reutilização; facilitar a remodelação;intensificar a utilização.

recuperar o aspecto original do mobiliário, tratar a madeira, corrigirimperfeições ocasionadas pelo tempo, choques, riscos, desgastes,perfurações ocasionadas por cupins, reutilizar os dispositivos,preservando o estilo de determinada época, o processo de feitura etodo um histórico que envolve o objeto

.

Já a transformação, conforme RAMUZ (2002, p.440) consiste em serestaurar, tratar os materiais, porém, modificando-se alguma característicaoriginal do móvel, podendo ser cor, puxadores, estrutura, entre outros. O quemais se vê em livros e revistas é a prática da transformação, em que um móvelnormalmente antigo, recebe acabamento de pátina ou é pintado de cor diferente.Móveis antigos quando corretamente transformados, ganham aspecto maismoderno, o acabamento é feito com cores vibrantes, puxadores com formatodiferenciado ou sofrem interferência cômica como revestimento em histórias emquadrinhos, tecidos com formas geométricas.

Aseguir, exemplos de transformação no mobiliário.

Figura 1: Cristaleira em processo de restauração.Fonte: Fotos tiradas por Elize Greber

Figura 2 – Móveis transformados.Fonte: www.polidecor.com.br

77

Abaixo, abordagem um pouco maior sobre o processo de restauração.

O restauro consiste no tratamento dado aos materiais formados do móvel,sem modificar as características originais como cor, entalhes, tipos de pés,puxadores, espelhos, vidros, respeita-se o que anteriormente foi criado.

O primeiro passo é a desmontagem do móvel, mantendo cuidado com aspeças ao serem retiradas da estrutura, pois terão que ser montadas novamente.

Depois, deve-se retirar o acabamento antigo com removedor de tinta,terminada a remoção, sequência de lixas nº 100; 150; 180 e a 220.

Após o lixamento, é necessário o tratamento da madeira para exterminaro cupim, o produto indicado é inseticida próprio para madeira, devendo serpassado em todas as partes do móvel, depois estas são ensacadas durante 24horas.

O procedimento seguinte é o preenchimento das perfurações feitas porcupim, através de uma pasta feita com pó de madeira – de cor semelhante aomóvel - e cola, aplicada com espátula. Em buracos maiores, não necessariamenteocasionados por cupins, deve-se fazer o enxerto – sobreposições de lâminas demadeiras e adesivo instantâneo ou corte de peça de madeira para encaixe noburaco -.

Sequência de lixas, indicadas anteriormente, para retirar o excesso dapasta.

Posteriormente a todos estes passos, o móvel pode receber o acabamento,com tinta da cor original e remontado. Na maioria das vezes o móvel éencontrado sem espelhos, vidros ou outras peças faltantes, para a remontagem,elas deverão ser compradas, adquiridas ou feitas, mantendo os aspectos originaisdo móvel.

Para compreender o que são medidas sustentáveis, é necessárioconceituar desenvolvimento sustentável. Foi na Comissão Brundtland (NossoFuturo Comum) ocorrida em 1987, que o conceito surgiu: “É um processo detransformação no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, aorientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional seharmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às

Processo de Restauração

Restauração e transformação como medidas

sustentáveis

necessidades e aspirações humanas”.Como a restauração e a transformação contribuiriam para o atendimento

às necessidades humanas e auxiliariam na redução da utilização dos recursosambientais?

Primeiramente torna-se interessante o enquadramento da restauração e datransformação na prática propagada por VILHENA, a dos 3R's – reduzir,reutilizar e reciclar – ao se descartar um móvel, destinando-o ao lixo, haverá odesperdício de materiais – madeira, dispositivos, vidros, espelhos – quepoderiam ser reaproveitados. Normalmente o descarte é feito para se comprar ummóvel novo, que venha atender a função do antigo, com isto, todo um ciclo deprodução é movimentado – transporte, embalagem, extração e beneficiamentoda madeira, produtos químicos para tratamento e acabamento, energia elétrica,entre outros – novamente utilizando-se recursos que causam impacto ambiental,não que os processos de restauração e o transformação não venham passar poralgumas destas etapas, mas isto ocorre com menor incidência.

A idéia proposta não é de reprovar a atitude de comprar móveis novos,porém, que haja maior responsabilidade e preocupação com o descarte de móveisusados, fazendo com que haja a verificação de outras opções para a reutilizaçãodestes, seja recuperando seus materiais ou modificando as característicasoriginais através de novas cores, outros tecidos, novo uso.

Dados da organização Greenpeace demonstram que a implantação demedidas sustentáveis não são desmotivadas, segundo a organização, o Brasil é oquarto maior emissor mundial de gases do efeito-estufa principalmente por causado desmatamento e das queimadas na Amazônia, a destruição das florestastropicais é responsável por cerca de 20% das emissões globais dos gases doefeito-estufa,Aexploração predatória e descontrolada do mogno levará em breveà sua extinção, sendo que este tipo de madeira já desapareceu de extensas áreasdo Pará, Mato Grosso e Rondônia.

Em dezembro de 2009 o site Science publicou que para cessarcompletamente com o desmatamento da Amazônia custaria de US$ 6,5 bilhões aUS$ 18 bilhões em investimentos além do que já é gasto atualmente pelo governona região.

KAZAZIAN (2009, p. 38) traz dados sobre as florestas: a cada 2segundos, desaparece parte de uma floresta primária, equivalente a um campo defutebol. A cada ano, 1% da superfície das florestas tropicais desaparece e 80%das florestas primárias do planeta já desapareceram.

No Brasil 80% da madeira de florestas é explorada ilegalmente, já na África90% da população depende da madeira de aquecimento para satisfazer suas

78

necessidades de energia.Com todos estes dados de impactos ambientais, chegou-se ao número de

florestas que ainda restam no mundo em percentual: 27% Europa, 25% AméricaLatina e Caribe, 19% Ásia e Pacífico, 17% África, 12%América do Norte.

Restaurar ou transformar um móvel usado, reutilizando-o, faz com que acultura do descarte, que tanto permeia o universo consumista contemporâneo,seja deixada de lado, dando-se espaço à mentalidade de o que estragou/quebroupode ser consertado e reutilizado novamente, assim haverá o reaproveitamentode materiais e redução do desperdício, optando-se por soluções que venham acontribuir com a sustentabilidade.

As idéias apresentadas, restauração e transformação, devem servir comofonte de inspiração e criatividade tanto para donos de móveis como paraprofissionais da área do mobiliário, estes que devem pensar e criar maneirassustentáveis, para que não haja descarte de materiais que poderiam ser tratados ereutilizados.

Aprática dos 3 R's - reduzir, reutilizar e reciclar, já pode ser transformadaem 6 R's reduzir, reutilizar, reciclar, repensar, recusar e o restaurar, além dotransformar, escolhas, portanto, não faltam para o desenvolvimento de açõessustentáveis.

Considerações Finais

Referências

KAZAZIAN, Thierry (Org.).. 2. ed. São Paulo, SP: Ed. SENAC São Paulo,

2009.

MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo.São Paulo:

EDUSP, 2002.

RAMUZ, MarkSão Paulo: Livros e Livros, 2002

VILHENA, André.. São Paulo: SENAI, 2000.

Sites

acesso em 15/12/2009 às 14h22min

Haverá a idade das coisas leves: design edesenvolvimento sustentável

O desenvolvimento de produtossustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais.

.AEnciclopédia do Trabalho em Madeira: guia de referênciaessencial para trabalhos em madeira. .

Reduzindo, reutilizando e reciclando: A indústriaecoeficiente

às 23h10minwww. .org/greenpeace brasil acesso em 05/04/2010

http://www.sciencemag.org/

79

Sistemas Produto-Serviço: um estudo

introdutório sobre a modelagem do sistemaProduct-Service System: an introductory study on the modeling system

Hansch Beuren, Fernanda; Mestranda; Universidade Federal de Santa [email protected]

Gomes Ferreira, Marcelo Gitirana; Doutor; Universidade Federal de [email protected]

O conceito de Sistema Produto-Serviço (PSS) apresenta-se como umaalternativa para a concepção de novos modelos de negócio que buscam oequilíbrio entre os aspectos da sustentabilidade. A partir da verificação deferramentas existentes no MEPSS ( ),apresenta-se fundamentos teóricos que apontam a necessidade de técnicas demodelagem de processos de negócio para complementar o que já existe naliteratura. Desta forma, o presente trabalho faz parte de uma etapa inicial de umprojeto que busca requisitos que devem ser considerados em modelagens desistemas produto-serviço nas etapas de concepção, operação e gerenciamento.

sistema produto-serviço; modelagem de processos de negócio;sustentabilidade.

Resumo

Methodology for Product-Service System

Palavras Chave:

80

IntroduçãoPara que as empresas continuem sendo competitivas no mercado

globalizado, é importante considerar as tendências em direção àsustentabilidade. Vezzoli (2007) apresenta níveis referentes às novas dimensõesdo design para a sustentabilidade: melhoria ambiental dos fluxos de produção econsumo, re-design ambiental do produto, projeto de novo produtointrinsecamente mais sustentável, projeto de Sistemas Produto-Serviço (PSS) eimplementação de novos cenários de consumo “suficiente”. Os níveisapresentados anteriormente não seguem uma seqüência na busca por soluçõesmais sustentáveis, mas destacam-se por reduzir a cada nível o consumo de bensatravés da desmaterialização.

As empresas hoje estão se concentrando em desenvolver soluçõesinovadoras para atrair clientes. Com isso, estratégias de inovação sãodesenvolvidas como uma forma de inovar para novos modelos de negócio dedestaque para o mercado. Uma estratégia que visa soluções inovadoras e maissustentáveis é o sistema produto-serviço (PSS), o qual apresenta um novomodelo de negócio inovador e mais sustentável por desmaterializar o consumode bens. Este modelo de negócio transforma a venda de bens para a venda desistemas de produtos+serviços que juntos fornecem valor contínuo para o cliente.Cabe destacar que o PSS faz parte de um dos níveis do design para asustentabilidade e conforme Vezzoli (2007), busca-se neste níveldesmaterializar o consumo pela satisfação do usuário com serviços associados aoproduto.

O PSS apresenta-se como um nível importante na busca pelasustentabilidade, mas deve ser implantado respeitando o equilíbrio entre osaspectos ambientais, sociais e econômicos. Com isso, é importante representar osistema modelando-o de forma que todos os envolvidos no negócio tenhamacesso e possam contribuir com seus conhecimentos ao longo de todo o ciclo devida do PSS, para que juntos busquem otimizar o sistema (UNEP, 2004). A partirda modelagem, facilita-se a compreensão entre os envolvidos no negócio(fornecedores, produtores, varejistas, usuário e gerente fim de vida), assim comofluxos de informações e materiais (UNEP, 2004).

Este trabalho busca apresentar a importância em modelar o sistema PSS,onde seja possível representar as etapas de concepção, operação e gerenciamentodo sistema. Para isso, desenvolveu-se uma análise das ferramentas existentes nametodologia MEPSS (Methodology for Product-Service System - HALEN,VEZZOLI e WIMMER, 2005) a fim de identificar lacunas e então propor a

utilização de técnicas de modelagem de processos de negócio paracomplementar estas ferramentas.

O Sistema Produto-Serviço ou (PSS) apresenta apossibilidade de inovar redirecionando a venda de produtos tangíveis para avenda de sistemas de produtos e serviços, que em conjunto atendem asnecessidades dos clientes, minimizando os impactos ambientais (UNEP, 2004).

Apartir desta definição, nota-se que o aluguel de produtos acompanhado deserviços não apresenta um conceito novo, mas a solução PSS apresenta umatendência em ser direcionada ao uso racional e sustentável de recursos. Osconsumidores são influenciados por interesses econômicos, sociais eespecialmente por questões ambientais (UNEP, 2004).

Diante da busca por soluções mais sustentáveis, o PSS tem como objetivodesmaterializar o consumo de produtos, oferecendo para o usuário a satisfaçãodesejada (HALEN, VEZZOLI e WIMMER, 2005). Para isso, para implantar umPSS, Mont (2004) afirma que é necessário identificar quatro elementos: oproduto (bem), o serviço, a infra-estrutura e rede de atores, onde todos juntosoferecem um sistema PSS. Além dos elementos identificados para a concepçãode PSSs, Mont (2004) também salienta que deve-se buscar o equilibrio entre osaspectos ambientais, otimizando o uso de recursos em todas as etapas do ciclo devida do sistema, os aspectos sociais, buscando equidade entre os envolvidos nonegócio e aspectos econômicos, buscando equilibrio na lucratividade ecompetitividade entre os envolvidos. Mont (2004) afirma também a importânciaem relação aos fatores institucionais como regulamentação, normatização ecognição que devem ser implantadas para então desenvolver a concepção dePSSs, assim como a atenção sobre a mudança cultural referente às novas formasde oferecer produtos e serviços. Para identificar todas as dimensões expostas porMont (2004) é necessário modelar o sistema, onde todos os envolvidos nonegócio tenham acesso e possam juntos desenvolver, operar e gerenciar o sistemado início ao fim.

Diante dos elementos de PSS, dos aspectos da sustentabilidade, dos fatoresinstitucionais e do contexto cultural, busca-se identificar soluções já existentespara o desenvolvimento, operação e gerenciamento de modelos de negócio PSS.

As soluções existentes na literatura relacionadas ao sistema produto-serviço, podem ser encontrados em Suspronet (2010). Entre os maisdisseminados, encontra-se o MEPSS, pois de acordo com Halen, Vezzoli e

Sistema Produto-Serviço (PSS)Product-Service System

81

Wimmer (2005), a metodologia contempla aspectos da sustentabilidade,aspectos estes já identificados como importantes para direcionar o PSS aoconsumo suficiente.

O MEPSS foi desenvolvido no intuito de proporcionar à indústria aimplementação de novos modelos de negócio PSSs. A metodologia apresenta oprocesso de desenvolvimento dividido em cinco fases e 23 ferramentas (MEPSS,2010):

Fase 1 (Análise estratégica): busca-se compreender o sistema originalutilizado pela empresa para atender as necessidades dos clientes.

Fase 2 (Explorando oportunidades): procura-se explorar novos sistemasa partir do original buscando oportunidades para um sistema que atenda asnecessidades dos clientes.

Fase 3 (Desenvolvimento do conceito PSS): busca-se descobrir como asoportunidades detectadas na análise dos sistemas podem ser utilizadas comsucesso.

Fase 4 (Desenvolvimento do design PSS): desenvolve-se o design, asfuncionalidades e a sustentabilidade. Identifica-se a viabilidade em utilizar estesistema.

Fase 5 (Implementação): procura-se identificar os instrumentoscondutores do processo de implementação e como controlar o comportamento dosistema proposto.

Para cada fase foi estabelecido as ferramentas mais adequadas, as quaisencontram-se em MEPSS, 2010:

MEPSS (Methodology for Product-Service System)

?

?

?

?

?

FA

SES FERRAMENTAS

W01 W02 W03 W04 W05 W06 W07 W08 W09 W10 W11 W12

1 X X X X X X X X X X2 X X X X3 X X X X4 X X X X5

W13 W14 W15 W16 W17 W18 W19 W20 W21 W22 W2312 X X X X X X X X X3 X X X X X X X X X4 X X X X X5

FR

AS

ES

Tabela 1: Fases e ferramentas da metodologia MEPSS

A Tabelas 1 apresenta as ferramentas propostas para serem utilizadas nas 5fases da metodologia MEPSS.Ametodologia contempla ferramentas que podemser aplicadas em diferentes fases, diversas vezes, mas destaca-se que a fase 5(implementação) não possui nenhuma ferramenta (MEPSS, 2010). Caberessaltar que o MEPSS está em desenvolvimento, onde precisa submeter suasferramentas a testes e para verificação quanto a sua aplicação naprática (TUKKER;TISCHNER, 2004). Desta forma, a pesquisa busca identificarferramentas que representam o sistema PSS, as quais são destacadas na próximaseção.

workshops

82

Ferramentas do MEPSS que representam o sistema

PSS

Ferramenta system map e modelagem de processos

de neg cio

As ferramentas contidas no MEPSS são utilizadas para a concepção doPSS, cada uma com objetivos diferentes. Neste trabalho, destaca-se conformeMorelli (2006) a importância em representar todo o sistema PSS e para isso,algumas ferramentas são selecionadas para verificar se as mesmascontemplam as etapas de concepção, operação e gerenciamento do sistema.Destacam-se as seguintes ferramentas para a modelagem do sistema:

W21: Mapa do sistema (em diversas fases do MEPSS. Esta ferramenta é utilizada

normalmente na etapa de concepção do PSS;W22: não representa o sistema como

um todo mas sim as interações do usuário com o PSS. Utiliza-se estaferramenta na concepção do PSS;

W23: Diagrama de oferta ( representa todo osistema, mas as funcionalidades do PSS em torno da função principal.Utiliza-se na concepção do sistema.As ferramentas W22 e W23 tem como objetivo facilitar o entendimento

entre os envolvidos no negócio na fase de concepção do PSS (MEPSS, 2010). Aferramenta W21 destaca-se por representar o sistema do início ao fim dodesenvolvimento do PSS. Com isso, busca-se compreender melhor estaferramenta, no intuito de identificar se existem lacunas para sua utilização nasetapas de operação e gerenciamento do PSS.

O é uma ferramenta contida no MEPSS que possui uma notaçãográfica para auxiliar na representação do PSS nas fases estipuladas pelametodologia, a fim de que seja compreendido pelos envolvidos no negócio. Aferramenta descreve o sistema que será ou está sendo desenvolvido para odesenvolvimento de PSSs, onde são representados as interações entre os

, fluxos de informações, materiais, atividades, bem como demaisinformações que envolvem as fases de concepção de um PSS. Esta representaçãodo sistema ocorre por meio da estruturação de diagramas compostos por umconjunto de ícones que compõe a ferramenta. Morelli (2006) apresenta aimportância em utilizar ferramentas desta natureza para a concepção de PSSs.

?

?

?

System Map

Storyboard

Offering Diagram

), representação do sistema deatores

Tabela de interação ( ),

), não

ósystem map

stakeholders

Morelli (2006) salienta que não há até o momento metodologias eferramentas que possam representar todo o processo de um sistema PSS,principalmente a nível industrial. Dentre elas destaca-se as etapas da concepção,operação e gerenciamento do sistema. O é uma ferramenta que podeauxiliar na concepção do PSS, pois é de fácil utilização, visualização ecomunicação entre os envolvidos no processo. Entretanto, a nível industrial, o

não está comprovado ser a ferramenta mais apropriada. Para isso, sãonecessários estudos empíricos que comprovem sua aplicabilidade nas etapas deoperação e gerenciamento. O MEPSS vem refinando suas ferramentas a fim deobter uma metodologia apropriada para o desenvolvimento de PSS (TUKKER &TISCHNER, 2004). Morelli (2006) salienta que uma metodologia única éprovavelmente impossível, deve-se considerar além de metodologias para aconcepção de PSSs, a visão por processos, a qual utiliza-se de tecnologia deinformação (TI) e notações gráficas para representar o sistema. Para atender asetapas de operação e gerenciamento do sistema, destaca-se a modelagem deprocessos de negócio.

A visão por processos destaca-se através da modelagem de processos donegócio (BPM), de modo que os mesmos sejam entendidos por todos osenvolvidos no negócio (SOUZA et al, 2009). Os processos são visualizadosatravés da representação do sistema em uma notação gráfica, a qual é interligadaatravés de TI. Conforme Souza et al (2009), o BPM é uma referência comumentre todos os envolvidos no negócio, sejam pessoas, sistemas ou recursos. Asetapas de operação e gerenciamento do PSS devem ser complementadas portécnicas de modelagem de processos de negócio, para facilitar sua implantaçãoem uma organização.

Diante das diversas ferramentas contidas no MEPSS, o ,destaca-se por ser uma ferramenta de representação do sistema, a qual foielaborada com o propósito de proporcionar uma visão sobre os ,recursos e informações contidas em um PSS. Em relação a esta ferramenta,entende-se que a mesma seja utilizada na etapa de concepção do sistema. Paratanto, observa-se que para complementar as etapas de operação e gerenciamentodo sistema, o não apresenta dados que comprovem se a mesma é amais apropriada.

Em relação a isso, sugere-se a utilização de técnicas de modelagem deprocessos de negócio, as quais destacam-se por abranger ligação com TI e visão

system map

system map

system map

stakeholders

system map

Considerações finais

83

por processos. Cabe ressaltar que esta pesquisa está em desenvolvimento, a qualbusca verificar a complementaridade das técnicas de modelagem de processos denegócio nas etapas de operação e gerenciamento de PSSs. Para isso, busca-se umconjunto de requisitos que devem ser considerados em uma modelagem desistemas produto-serviço, para que ao implantar o PSS, tenha-se o conhecimentosobre o que é importante modelar em um sistema desta natureza, para que omesmo seja entendido entre os envolvidos no negócio.

HALEN, C. Van; VEZZOLI, C.; WIMMER, R.How to implement clean, clever and competitive

strategies in European industries. Royal Van Gorcum.Assen: 2005.

MEPSS.http://www.mepss.nl> .Acesso em: 09 de ago. 2010

MONT. O. Doctoral Dissertation,256 p. The International Institute for Industrial Environmental Economics.Sweden. 2004.

MORELLI, N.Journal of cleaner production,Vol.14, p.

1495-1501, 2006.

SOUZA, A. C. M.; MENDONÇA,F.M.; GARCIA,F.; PEREIRA,H.R.M.;BRACONI,J.; CHUM,J.C.B.; COSTA, M.M.; ALMEIDA NETO, M.A.;MENDES, O.F.; BALDAM, R.; CRUZ, T.; BIANCHINI, W. Org. Rogerio Vallee Saulo B. Oliveira.

Ed.Atlas. São Paulo, 2009.

SUSPRONET. Coordinationteam: TNO-STB (the Netherlands). Arnold Tukker project manager andChristiaan van den Berg. Disponível em:<http://www.suspronet.org>. Acessoem: 06 de jun. 2010.

TUKKER, A.; TISCHNER, U. product-servicedevelopment as a means to enhance competitiveness and eco-efficiency. Finalreport of Suspronet. 2004.

Referências

Methodology for productservice system innovation

Methodology for products service system.<

New business for old Europe:

.

Product-Service System: Panacea or Myth?

Developing new product service systems (PSS).Methodologies and operational tools.

Análise e modelagem de processos de negócio. Foco nanotação BPMN.

Sustainable Product-Service System 2004.

Diponível em

UNEP. United Nations Enviroment Programme.INDACO Department, Politecnico di Milano. Milão: 2004.

VEZZOLI, C.Maggioli Edtore. Milano, Italy,

2007.

Product Service Systems andSustainability.

-

System design for sustainability. Theory, methods and toolsfor a sustainable “satisfaction-system” design.

84

Método de Pesquisa para o Desenvolvimento

de uma Proposição de Método de Design de

Serviços EcoeficientesResearch Method for a development of a Proposition of Eco-efficientService Design Method

Costa Junior, Jairo; Mestrando; Universidade Federal do Paraná

Santos,Aguinaldo dos; PhD; Universidade Federal do Paraná[email protected]

Este artigo propõe um método de pesquisa para o desenvolvimento de umaproposição de método para a aplicação da dimensão ambiental dosustentável no processo de de serviços. O método a ser utilizado narealização deste trabalho será composto por três etapas: (1) pesquisabibliográfica, (2) aplicação do método Delphi e (3) estudo de casos múltiplos eestudo de caso com observação participante. O estudo poderá apontar caminhospara que os possam compreender claramente como incluir estratégiasda dimensão ambiental do sustentável no projeto de novos serviços.

sustentável; de serviço; método.

Resumo

designdesign

designersdesign

design designPalavras Chave:

[email protected]

85

Inovação em Serviços: Design de Serviços

EcoeficientesComo consequência da produção seriada em massa, cada vez mais os

produtos apresentam menor diferenciação em qualidade, desempenho ou aindaestética. Serviços orientados a produtos como consultoria, treinamento,customização, , entrega, garantias, e serviços diversos entre outrasiniciativas não materiais vêm crescentemente definindo o nível de qualidade deprodutos (MAGER, 2004, p. 9).

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2007, p. 34)destaca a atividade de serviços como de grande importância na geração deemprego, valor e renda na economia, contribuindo em grande medida nacomposição do Produto Interno Bruto - PIB. No Brasil, por exemplo, aparticipação do setor de serviços em relação a outras atividades econômicasmantém-se acima da média nos últimos anos (Tabela 1).

leasing

Novos desafios têm surgido uma vez que o setor de serviço tem crescidorapidamente (MAGER, 2007). Saco e Goncalves (2008, p. 13) destacam querecentemente, acadêmicos na área de design de serviço tem se encarregado depesquisar os desafios que este novo campo de pesquisa vem confrontando. Napesquisa dos autores, que envolveu entrevistas com acadêmicos e profissionais,foi identificado amplo consenso que “[...] ao passo que os serviços são centraispara a economia, eles nem sempre são tão produtivos e satisfatórios comodeveriam – e, dessa forma, devem ser melhor projetados”. Para ilustrar essasituação cabe destacar a pesquisa realizada pela empresa de consultoria Bain &Company (2005) que envolveu 362 empresas e constatou que 80% das empresasentrevistadas acreditam prestar serviços que satisfaçam seus clientes, enquantoapenas 8% desses consumidores consideram os serviços dessas empresassatisfatórios. Contudo, embora a economia dos países desenvolvidos tenham setornado crescentemente dependente do setor de serviços, a pesquisa nesse setornão tem acompanhado esse crescimento em termos de importância e volume(SACO; GONCALVES, 2008, p. 17).

Outro importante aspecto a considerar no projeto de novos serviços é opotencial atendimento a critérios ambientais. Diante da evidência da inter-relação das crises ambientais, econômicas e sócio-culturais, torna-se cada vezmais claro que o cenário de "redesign de produtos existente" não é suficiente parao desenvolvimento de soluções verdadeiramente sustentáveis. Manzini e Vezzoli(2008) propõem três cenários de mudança que devem ser considerados tanto pelodesigner quanto pela sociedade consumidora: (1) Os designers devemdesenvolver produtos mais duráveis, como artefatos tecnológicos e culturais; (2)É necessário oferecer a possibilidade de mudanças comportamentais, saindo damera aquisição de produtos para a utilização efetiva de serviços; e (3) Consumirmenos objetos.

Para Hawken, Lovins e Lovins (2000) a alteração fundamental na relaçãoentre o produtor e consumidor, de transformação da economia de bens eaquisições em uma economia de serviço e de fluxo é uma estratégia capaz dehabilitar os países, as empresas e as comunidades a operar comportando-se deforma a valorizar o capital natural (constituído de recursos, sistemas vivos e osserviços do ecossistema). Essencialmente, a economia baseada em um fluxo deserviços econômicos conduzirá uma nova percepção do valor, uma mudança naaquisição de bens, como medida de riqueza, para uma economia em que arecepção continua de qualidade, utilidade e desempenho promovem o bem-estar(HAWKEN; LOVINS; LOVINS, 2000, p. 10).

Bartolomeo et al. (2003, p. 829) argumentam ainda que existe um

TABELA 1 - PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL DAS CLASSES E RESPECTIVASATIVIDADES NO VALOR ADICIONADO E PREÇOS BÁSICOS – 2000/08

86

crescimento na literatura sobre o potencial benefício para o meio ambiente emmover-se de uma economia baseada na manufatura de bens para uma economia“funcional”, na qual há o extensivo uso de serviços para atender as necessidadesdos consumidores. Entretanto, os autores complementam destacando que muitosquestionamento ainda não foram respondidos por esses estudos.

Os autores (BARTOLOMEO, et al., 2003; HAWKEN; LOVINS; LOVINS,2000; MANZINI; VEZZOLI, 2002; 2008) destacam que a economia de serviçopossui um grande papel no caminho para a transformação da sociedade industrialem vista a cenários mais favoráveis ao desenvolvimento sustentável, porémevidencia-se a carência do trato profissional no projeto de serviços e ainexistência de metodologias de design de serviços que promovam aminimização do impacto ambiental dessa prática em comparação ao métodotradicional, resultando em serviços ecoeficientes.

Nesta pesquisa explora-se o potencial benefício ambiental do estudo deuma proposição de método de design de serviços ecoeficientes. Neste contexto,com base em seus objetivos a pesquisa se caracteriza como exploratória,propondo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas aconstruir hipóteses (GIL, 2002)

O método a ser utilizado na realização deste estudo será composto por trêsetapas (Figura 1).

Método de Pesquisa

Figura 1 – Visão geral do método de pesquisa.Fonte: do autor (2010).

A primeira etapa constituirá na revisão bibliográfica, fundamentada noconceito de sustentabilidade, design, com recorte teórico na dimensão ambientaldo design, e design de serviços, bem como das definições, metodologias,processos e ferramentas relacionadas a esses conceitos. A pesquisa bibliográficaserá desenvolvida com base em material já elaborado, constituídoprincipalmente por livros, periódicos científicos, pesquisas acadêmicas, meiosde comunicação oral e áudios visuais (GIL, 2002). Estas etapas buscam levantaro estado da arte e contextualizar o design de serviços dentro da estruturaconceitual da pesquisa.

Para validar essa etapa de pesquisa e alimentar os estudos casos aplicadosposteriormente, será aplicado na segunda etapa da pesquisa o Método Delphi.Segundo Linstone e Turoff (2002, p. 3) o método Delphi “pode ser caracterizadocom um método para estruturar um processo de comunicação em grupo, demaneira que o processo é efetivo em permitir a um grupo de indivíduos, como umtodo, a lidar com um problema complexo.” Kayo e Securato (1997, p. 52)esclarecem que o método Delphi envolve a aplicação sucessiva de questionáriosa um grupo de especialistas, ao longo de um determinado tempo, por váriasrodadas.

A pesquisa de campo, terceira etapa, será realizada a partir de estudo decasos múltiplos e/ou estudo de caso com observação participante.

Na etapa inicial do estudo de campo, será realizado a partir da aplicação deum estudo de casos múltiplos. Essa técnica de pesquisa "consiste no estudoprofundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seuamplo e detalhado conhecimento, tarefa praticamente impossível medianteoutros delineamentos já considerados" (GIL, 2002, p. 54). A pesquisa a serdesenvolvida propõe o desenvolvimento de um método para o design de serviçoecoeficientes. Para o atendimento de seus objetivos será utilizado o estudo decaso instrumental que não direciona o interesse específico no caso, mas emreconhecer o que pode ser útil para alcançar determinados objetivos e a soluçãodo problema.

Para o estudo de caso piloto será analisado um coletor de água pluvial parahabitações de interesse social. Será considerado com unidade caso o serviço deeficiência hídrica em habitações de interesse de social. No segundo estudo decaso serão analisados serviços prestados pela empresa Globusiness queapresenta como unidade caso, serviços de suporte e infra-estrutura para execuçãode trabalho em espaços de uso compartilhado e/ou à distância (escritóriosvirtuais).

87

Na etapa final do estudo de campo será realizado um estudo de caso comobservação participante. A realização deste estudo de caso ocorrerá na disciplinaoptativa de design de serviço, ofertada no curso de Design Industrial daUniversidade Federal do Paraná.

A pesquisa de campo a ser realizada permitirá a validação do estudo nomeio cientifico dessa área (por meio da consulta de especialista – métodoDelphi); no âmbito da pesquisa científica (por meio do estudo de caso piloto,vinculado ao projeto de pesquisa: Sistema produto+serviço para coletor de águade chuva voltado à habitação de interesse social); no âmbito empresarial (pormeio do estudo de caso na empresa Globusiness, localizada na cidade deCuritiba); e por fim, no meio do ensino acadêmico (por meio do estudo de casocom observação participante que será realizado no curso de graduação emDesign Industrial da Universidade Federal Paraná).

Objetiva-se, com a realização desta pesquisa contribuir para a ampliação doconhecimento científico e prático da dimensão ambiental do para asustentabilidade no processo de de serviços ecoeficientes. Propõe-seestudar qual método pode ser aplicado para o desenvolvimento de serviçosecoeficientes, apontando caminhos para que os possam compreenderclaramente como incluir estratégias da dimensão ambiental dosustentável no projeto de novos serviços.

Há consenso geral entre os pesquisadores que existem diferenças inerentesentre bens e serviços. Reconhecer estas diferenças significa considerar que o

de produtos e o de serviços têm desafios exclusivos, ou ao menosdiferentes, tornando-se necessário compreender tais diferenças e suasimplicações no projetos de novos produtos e serviços. A análise destascaracterísticas permitirá exploração de estratégias específicas para superar essesdesafios. Nesse contexto, espera-se também verificar neste estudo se osprincípios da dimensão ambiental do sustentável de produtos são osmesmos para o de serviços ecoeficientes.

Os parâmetros estudados nessa pesquisa contribuirão para melhor adequarserviços às necessidades sociais, econômicas e, principalmente ambientais,apontando soluções que possam promover a melhorias no atendimento dasatisfação das necessidades das populações com menor impacto ambiental nesseprocesso

Resultados esperados

designdesign

designersdesign

design design

designdesign

88

Referências

Bain & Company.New York: 2005. 12 p. Disponível em:

<http://www.bain.com/bainweb/PDFs/cms/Public/BB_Closing_delivery_gap.pdf>.Acesso em: 30 jun. 2010.

BARTOLOMEO, M., et al. Eco-efficient producer services—what arethey, how do they benefit customers and the environment and how likelyare they to develop and be extensively utilised?.

, v. 11, 2003. p . 829-837. Disponível em:<www.elsevier.com/locate/jclepro>.Acesso em: 03 mar. 2010.

GIL, C. A. 4. ed. São Paulo: Atlas,2002. 175 p.

HAWKEN, P.;LOVINS, A.; LOVINS, L. H.criando a próxima revolução industrial. São Paulo: Cultrix, 2000. 358 p.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.Rio de Janeiro: 2007. 203 p.

IBGE, - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA EESTATÍSTICA.2 0 0 9 . D i s p o n í v e l e m :<http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1330&id_pagina=1>.Acesso em: 14 set. 2010.

KAYO, E. K.; SECURATO, J. R. Método Delphi: Fundamento, Críticas eVieses. , v. 1, N. 4, 1997. p. 51-61. Disponível em: <http://www. ead.fea.usp.br/cad-pesq/index.htm>.Acesso em: 2 set. 2010.

LINSTONE, H. A.; TUROFF, M.London: Addison Wesley Publishing Company Inc., 2002.

Disponível em: <http://www. ead.fea.usp.br/cad-pesq/index.htm .Acesso em: 10 set. 2010.

How to achieve true customer-led growth: Closingthe delivery gap.

Journal of CleanerProduct ion

Como elaborar projetos de pesquisa.

Capitalismo Natural:

PesquisaAnual de Serviços.

Em 2008, PIB cresceu 5,1% e chegou a R$ 2,9 trilhões.

Cadernos de Pesquisa emAdministração

The Delphi Method: Techniques andApplications.

>

MAGER, B.Basel: Birkhäuser. 2007. Disponível em: <http://www.service-design-network.org/sites/default/files/Mager_Service Design_1.pdf>. Acessoem: 17 mar. 2010.

______. Köln: Köln International School ofDesign, 2004. 73 p.

MANZINI, E.; VEZZOLI, C. OSão

Paulo: Editora da Universidade de São Paulo - USP, 2002. 368 p.

______. London: Springer-Verlag London Limited, 2008. 308 p.

SACO, R. M.; GONCALVES, A. P. Service Design:An Appraisal., v. 19, n. 1, 2008. p. 10-19. Disponível em: <

www.dmi.org >.Acesso em: 03 mar. 2010.

Design Dictionary: Perspectives on Design Terminology.

Service Design – A Review.

Desenvolvimento de ProdutosSustentáveis: Os requisitos ambientais dos produtos industriais.

Design for Environmental Sustainability.

DesignManagement Review

89

A cultura de objetos nas sociedades indígena e

industrialThe culture of objects on indigenous and industrial societies

Bastos, Monique G.; MBA; Centro Universitário Nilton [email protected]

Tomando como referência a Amazônia e suas centenas de etnias, encontraremosmuitas nas mais diversas áreas de atuação e influência, cultural eeconomicamente. A agricultura, o extrativismo e o artesanato são as atividadespredominantes.No artesanato nota-se, devido ao crescimento da demanda de compra e daspossibilidades de uso destes objetos na moda, decoração e outros, pouca reflexãoquanto ao seu valor de registro utilitário de costumes e tradições indígenas.Este artigo tem por objetivo levantar as principais questões com respeito a culturamaterial nos contextos sociais indígena e industrial (tomando por industrial ocontexto de sociedades urbanas), propiciando base para busca de similaridadesque sirvam para o projeto de produto de forma socialmente consciente. Ametodologia de pesquisa utilizada foi linear e exploratória, com pesquisasbibliográficas a respeito de cultura material e comunidades indígenas existentesnaAmazônia.

cultura material, design sustentável, design consciente.

Resumo

Palavras-chave:

90

Introdução

A sociedade indígena e seus objetos

Do ponto de vista antropológico, os objetos produzidos nas sociedadesadquirem valores que vão muito além de apenas objetos de uso. Objetos e opróprio corpo humano transformam-se em receptáculos e vias de comunicaçãode idéias por meio de configurações e padrões estéticos que lhes conferemsentidos, próprios aos seus contextos sócio-culturais de origem. Assim, objetosconvertem-se em símbolos - "coisas que querem dizer outras coisas". Ao estudodestes significados dá-se o nome de antropologia material, justamente porestudar a cultura material. Bohannam (1973, in NEWTON, 1987) caracteriza talmanifestação como único fenômeno cultural codificado duas vezes: uma vez namente do artesão e a outra na forma física do objeto.

Através de aspectos da cultura material podemos também observar e refletirquanto ao padrão e a intensidade da interação entre os indivíduos de unidadesocial. Embora a cultura material não seja a única a manifestar essa característica,sua disponibilidade e onipresença são argumentos fortes a favor de suautilização.

Segundo Braga (1995), a cultura material, aqui ressalto das populaçõesindígenas, é acima de tudo uma cultura, pois representa o resultado da vontadecoletiva do homem exercido no conhecimento acumulado sobre matérias-primas, técnicas de manufatura e formas de apresentação dos objetos concretosque povoam a sua realidade material.

O aspecto característico da manipulação dos artefatos indígenas de tralhadoméstica é a notável inventividade que o cerca. Novos e velhos artefatos, antesou depois de desempenharem as funções para as quais foram criados, sãoutilizados de formas diversas como utilidades domésticas. Velthem (1987) cita ocaso dos abanos Wayana-Aparaí, feito para abanar fogo, virar beiju e transportara massa da mandioca ao torrador; quando novo é usado para servir beiju nasrefeições comunitárias e, ao se tornar gasto, presta-se para diversos fins, comosuporte para modelagem de argila, depósito de bolas de urucu ou para asmulheres sentarem.

A maioria dos artefatos de uso doméstico e de trabalho é objeto dedecoração. Entre todos, destaca-se a cerâmica, não só como o campo decorativopreferencial no âmbito dos equipamentos domésticos, mas também o principalveículo de expressão estética do grupo feminino, que são quem usualmente ficacom este ofício. Tânia Lima (1987) confirma tal afirmação a partir de um estudo

feito sobre a cerâmica indígena brasileira, onde verifica que entre os indígenas doBrasil, a fabricação de louça de barro está ligada a área domestica, constituindo-se em domínio quase que exclusivamente feminino. As únicas exceções queforam registradas foram entre os Yanomami (Chagnon, 1977), notadamente osWaharibo (Knobloch, 1967), e ainda entre os Yekuana (ou Mayongong) (Kock-Grunberg, 1982), onde os homens respondem pela sua confecção.

A cestaria é igualmente objeto de ornamentação e possui diversos usosdentro dos afazeres domésticos. Entre as tribos do noroeste do Amazonas,segundo levantamento de Lila O'Neale (1987), na maioria das tribos indígenas otrançado é masculino. Na maior parte das tribos em que se mencionaexplicitamente a atribuição masculina no trabalho de cestaria, alguns recipientespequenos são trançados por mulheres para a guarda de objetos pessoais.

Os indícios do grau de contato com a sociedade nacional podem serdetectados pelo exame dos apetrechos de tralha doméstica de trabalhoencontrados em uma aldeia indígena. A introdução indiscriminada de taismanufaturas acarreta grande dano aos grupos tribais que, rapidamente,interrompem a produção autônoma de seus utensílios, passando a dependereconômica e culturalmente deste fornecimento. Resistem por mais tempo a essasucessão os objetos ligados à tecnologia da mandioca, como peneiras, abanos,tipitis, cuias e cabaças.

O que podemos notar entre índios e caboclos da Amazônia é que oconhecimento tradicional adquirido sobre as manufaturas, que normalmenteserviram de resposta as necessidades cotidianas e em momentos especiais da vidacoletiva destas comunidades, hoje tem adquirido um novo sentido em função dainserção destas populações tradicionais à dinâmica da sociedade nacional.

Em muitos grupos indígenas, variados elementos que compõem a tralhadoméstica são na atualidade para a venda no mercado de artesanato.Modificações nos objetos podem ser detectadas, pois o aumento da produçãoprejudica a qualidade e o esmero da confecção. Assim encontramos peças feitascom materiais substitutos, peças incompletas, objetos sem serventia na cultura deorigem, gigantismo e miniaturização, estes últimos, em muitos casos, emdecorrência da ação direta dos compradores. No entanto muitos indígenas aindaestabelecem alguma distinção entre os artefatos feitos para venda e osconfeccionados para uso próprio. Esta diferenciação faz com que estes últimoscontinuem a ser produzidos segundo padrões tradicionais, muito embora peçasconsideradas muito trabalhosas estejam desaparecendo do seu repertório.

A substituição vários itens tradicionais por peças de uso comum ocidentalpoderia ser indício de que as comunidades tradicionais perderam a capacidade de

91

realização desta espécie de manufatura, no entanto ela pode ressurgir comvitalidade caso existam estímulos exteriores às comunidades para sua realização.

Segundo Braga (1995), “para as sociedades contemporâneas ocidentais osignificado social do objeto, o que o faz útil a uma certa categoria de pessoas, émenos visível por suas propriedades físicas que pelo valor que pode ter a troca.Aprodução é um momento funcional de uma estrutura funcional, pois o que defineculturalmente a orientação das culturas é o consumo”.

Em virtude da crescente demanda por produtos de origem artesanal, devidoseu caráter exclusivo e estética e processos rústicos mas atrativos, o design deproduto, principalmente, têm procurado se integrar e interagir com estesartesãos, otimizando a capacidade de produção e a qualidade dos processos, afim de abranger novos mercados.

Trabalhos como este tem sido desenvolvidos desde 1999, por LarsDiederichsen, como consultor do SEBRAE em Araguacema, no centro doTocantins, cujo nicho de atuação foram as pousadas dali, que precisavam demóveis e costumavam comprá-los no Sudeste. Decidiu-se, portanto, projetaruma linha para atendê-los. Em três consultorias – cada uma delas com cerca deduas semanas – produziu-se armário, mesa, cadeira, criado-mudo e cama emfibra com madeira, formando uma linha própria para pousadas.Antes os artesãosmal davam conta de se sustentar e tinham que trabalhar também na lavoura. Aotérmino de toda e qualquer oficina, Lars faz questão de montar uma exposição edivulgar os resultados do trabalho para comunidade, moradores, prefeitura,lojistas, argumentando que por mais simples que seja, a exposição muda a visãodos visitantes em relação aos artesãos e deles mesmos em relação a seu trabalho.Em Araguacema, por exemplo, a repercussão foi tão boa que o prefeito decidiudoar um terreno aos artesãos e montar um quiosque próprio para venda de seusprodutos.

Vale refletir na possibilidade que o artesão que está fazendo errado, oufazendo mal acabado, pode ser daquele jeito por algum motivo que o lugar, assuas tradições ou o seu cotidiano propiciou para que ele tivesse tal acabamento,que para eles é próprio, suficiente. No entanto para quem têm o hábito deconsumir produtos industrializados, com padrões globalizados de qualidade,parece ser mal feito. Por que não nos adaptamos àquele produto, sabendo da suaprocedência, se o queremos consumi-lo?

Tivemos acima alguns exemplos de como o design pode interagir com o

A sociedade industrial e seus objetos

artesanato de maneira a fomentar uma atividade local e melhorar o nível de vidada comunidade. No entanto sabemos também que, no que tange objetos deartesanato indígena, segundo Braga (1995), estes são entendidos como umproduto e ao mesmo tempo, meio interpretativo de acesso a determinada cultura,e estão relacionados ao local em que se acumulam, de estado da sociedade, dassuas técnicas e do modo de vida, da sua capacidade de produzir e acumular oexcedente, da importância que se atribui à comunicação entre o visível e oinvisível por intermédio dos objetos.

Trata-se de reconhecer que os “produtos étnicos” que circulam no mundotem uma história e adquirem valor porque são a expressão singular das etniasresponsáveis pela sua produção. A produção artesanal para o mercadoproporciona ao índio a oportunidade de exercer uma atividade a que estáhabituado e que faz parte de seu patrimônio cultural.

A questão não está realmente no produto, mas provavelmente no valor queas circunstâncias em que este esteve trará para ele. A partir do momento em queuma peça primordialmente artesanal se insere no mercado de nossa sociedadeindustrial, isto inevitavelmente implicará em eventuais adaptações desta peçapara o seu novo contexto. Os valores de uso e de cultura indígena que estãonaquela peça terão como acréscimo também valores de propriedade, de custo,que são os que farão a ponte para a inserção desse material no ambiente demercado. Mas será que para agregar estes novos valores é realmente necessáriointervir diretamente nos objetos, mudar a maneira de fazer, o material, somenteem função das nossas necessidades?

Com a globalização, muitos estudiosos profetizaram a crescente tendênciaà “unicidade cultural”, onde línguas, costumes, padrões estéticos e outrosaspectos culturais tenderiam por padronizarem-se. No entanto segundo Ortiz(2000), “uma cultura mundializada não implica o aniquilamento das outrasmanifestações culturais; ela cohabita e se alimenta delas”. Está aí então a

A produção do artesanato além de ser um instrumento desobrevivência econômica da organização, sempre foi e ainda é umaestratégia de resistência de muitos, ou seja, uma forma direta deligação com a tradição, uma referência comum de identidade; oumelhor, uma maneira de não esquecerem quem elas são. Com efeito,o que para nós o que poderia ser apenas um objeto esteticamentebonito e cuja função seria de decoração e adorno, para essas pessoasé um objeto cultural, cujo significado está arraigado a costumes ecrenças tradicionais de seu povo.” (BRAGA, 1995)

92

possibilidade de, a partir do conhecimento da realidade das etnias indígenas daAmazônia, desenvolver um projeto de fomento a produção de suas peças de usodoméstico como artesanato para fins comerciais, no entanto sem intervir noprocesso de produção. Tais peças, produzidas de maneira para muitos elementar,serão o “alimento” para o produto como um todo, com suas peças anexas,embalagem, marca e outros elementos a acrescentar. Mas será que as introduçõesdestes elementos à peça não irão descaracterizá-la?

Introduzir a peça na nossa sociedade industrial já acarretará em umamudança de uso, o que para muitos parecerá descaracterização. No entantopodemos entender que na verdade a peça pode também adquirir mais um uso,adaptando-se a seu novo contexto, porém no que propomos neste trabalho semdesmerecer suas características primordiais. A peça mantém valores, transformaoutros e incorpora mais alguns, inserindo-se no universo mundializado dacultura.

A este acréscimo, perda e mistura de valores podemos relacionar a umprocesso social que ocorre a todo tempo nas sociedades existentes, chamadotransculturação. Este se entende como o processo transitivo de uma culturaespecífica, que implica em perda ou desenraizamento de uma cultura procedentee também criação de novos fenômenos culturais, formando assim algo quecompreende ambos os processos, tornando-se em algo distinto. Segundo Ianni(1997), a transculturação pode ser o resultado da conquista e dominação, mastambém da interdependência e acomodação, sempre compreendendo tensões,mutilações e transfigurações. Tantas são as formas e possibilidades deintercâmbio sócio-cultural, que são muitas as suas denominações: difusão,assimilação, aculturação, hibridação, sincretismo, mestiçagem e outras, nasquais se buscam peculiaridades e mediações relativas ao que domina e subordina,impõe e submete, mutila e protesta, recria e transforma.

O que se quer expressar aqui é que sabemos da profunda importância decompreender de uma maneira mais ampla o resultado de nossas idéias, bem comosabermos em que espaço estamos inseridos dentro deste fenômeno mundial que é

A realidade, no entanto, é que sempre há mudança e transfiguração. Nada parece original,intocável, primordial. Tudo se modifica, afina e desafina, na travessia. Parece o mesmo, mas jánão é nem pode ser o que era, salvo como memória, fantasia ou nostalgia. Modos de ser, agir,sentir, pensar e imaginar, tudo como se altera, parcial ou amplamente. Tanto é assim, que muitasvezes permanece a impressão de duplicidade, heterogeneidade, montagem, colagem, bricolagemou simulacro. Uma impressão muito real e evidente, mas enganosa e aparente, já que o que resultaé sempre e também algo diferente. (IANNI, 1997)

a mundialização da cultura. Trabalhar com as comunidades indígenas,“alimentar-se” de seus conceitos, mas ao mesmo tempo trabalhar diretamentecom esses atores é um desafio, porém se temos a percepção da melhor maneira deintervir neste espaço haverá melhor interação e a possibilidade de atender asnecessidades de todos sem que haja perda para qualquer uma das partes.

IANNI, Octavio. . Coleção Primeira Versão –No. 69. Campinas, Ed. UNICAMP, 1997.

ORTIZ, Renato. São Paulo, Ed. Brasiliense, 2000.

WEIGEL, Valéria Augusta C. de M. .Manaus, Universidade doAmazonas, 2000. 375 p.

Van VELTHEM, Lúcia Hussak. . IN:RIBEIRO, Berta (org.). Suma Etnológica Brasileira – Vol 2: TecnologiaIndígena. Rio de Janeiro, Ed. Vozes-FINEP, 1987.

LIMA, Tânia Andrade. . IN: RIBEIRO, Berta(org.). Suma Etnológica Brasileira – Vol 2: Tecnologia Indígena. Rio de Janeiro,Ed. Vozes-FINEP, 1987.

O'NEALE, Lila. Cestaria. IN: RIBEIRO, Berta (org.).. Rio de Janeiro, Ed. Vozes-FINEP,

1987.

RIBEIRO, Berta. . São Paulo, Edusp, 1988.

VIDAL, Lux. SILVA, Aracy L. da.I N :

h t t p : / / w w w. b i b v i r t . f u t u r o . u s p . b r / t e x t o s / h u m a n a s / e d u c a c a o /tematica/cap15.html,Acessado em Maio 2003

BRAGA, Sergio Ivan Gil. .IN: Anais do I Simpósio dos Povos Indígenas do Rio Negro: Terra e Cultura.Manaus, 27 a 30 de agosto de 1995.

Van VELTHEM, Lúcia Hussak.. IN: Anais do I Simpósio dos Povos Indígenas do

Rio Negro: Terra e Cultura. Manaus, 27 a 30 de agosto de 1995.

Referências

Globalização e Transculturação

Mundialização e Cultura.

Escolas de Branco em malokas de índio

Equipamento doméstico e de trabalho

Cerâmica indígena brasileira

Suma EtnológicaBrasileira – Vol 2: Tecnologia Indígena

Dicionário doArtesanato Indígena

O sistema de objetos nas sociedadesi n d í g e n a s : a r t e e c u l t u r a m a t e r i a l .

A cultura Material Multiétnica do Alto Rio Negro

“Os muitos fios de tucum”: Artesanatofeminino no alto Rio Negro

93

Contexto Histórico da Dimensão Social do

Design SustentávelHistorical context for Social Dimension of Sustainable Design

Santos, Aguinaldo dos; PhD; Universidade Federal do Paraná[email protected]

Fukushima, Naotake; Msc; Universidade Federal do Paraná[email protected]

O presente estudo insere-se no âmbito da dimensão social da sustentabilidade.Embora seja considerada uma abordagem relativamente nova, existem conceitosque a antecedem, advindos de áreas de pesquisa relacionadas à responsabilidadeempresarial social bem como ao design social. Estudar a evolução dessesconceitos possibilita perceber que o modelo atual de consumo e de produção, oqual tem contribuído para uma maior visibilidade do campo do design,paradoxalmente, leva ao questionamento do papel social dessa profissão nasociedade. Nesse sentido, para que o design deixe de fazer parte do problema epasse a contribuir para as soluções requeridas pela sustentabilidade, é necessárioum reposicionamento acerca da sua função na sociedade.

Sustentabilidade, Responsabilidade empresarial social,Design Social

Resumo

Palavras Chaves:

94

As pesquisas e divulgação dos conhecimentos relacionados à dimensãosocial da sustentabilidade, segundo Vezzoli (2007), ainda é incipiente. Noentanto, essa temática vem de certa maneira da evolução das diversas abordagensdo que é conhecido como design social e dos estudos da administraçãorelacionadas à responsabilidade social. Assim, este artigo apresenta de formaresumida a evolução do pensamento da dimensão social por meio destes doisviés. A pesquisa foi realizada como parte da dissertação de mestrado de um dosautores, onde foi utilizado o método de revisão bibliográfica para a suaelaboração.

O pensamento que oferece a base para a dimensão social é a crença de quetodos, em virtude somente de sua humanidade, têm direitos universais.Conforme Flowers (2008) as sociedades sempre tiveram algum sistema dedecoro e de justiça, bem como formas para tratar da saúde e do bem-estar dos seusmembros, com repercussões nas características dos objetos e serviços.

Conforme McDonough & Braungart (2002) argumentam, já no início darevolução industrial acreditava-se que o progresso da industrialização resultariaem uma distribuição mais equitativa de conforto, entre todas as classes sociais,através da produção em massa. Efetivamente, produtos mais baratos,generalização do transporte público, ampla distribuição da água, implantação desistemas de saneamento, recolhimento de lixo, e outras conveniências deram àspessoas, tanto ricos como pobres, uma vida mais equitativa.

No entanto, o que motivou a sistematização da responsabilidade social foi apreocupação com a maior produtividade. Esta preocupação pode ser identificadaainda no início dos estudos da escola de pensamento chamada “administraçãocientífica”. Já em 1911 o trabalho de Lilian Gilberth, uma das pioneiras naPsicologia Industrial, mostrou exemplos de esforços para melhorar a nossacompreensão sobre as personalidades e necessidades do trabalhador(WEIHRISCH & KOONTZ, 1993). O próprio Taylor, outro pioneiro daadministração científica da produção, considerava também o respeito aosaspectos humanos como um importante fator para alcançar melhorias naprodução.

Assim, apesar desses esforços pioneiros, a percepção das desigualdades foiexacerbada com o aumento da educação dos trabalhadores. A desilusãoresultante dessa fase contribuiu para a ascensão de novas ideologias queimplicaram em crescente responsabilidade social sobre os Estados e empresas

Pensamento base para a dimensão social

(WBCSD, 2008).A virada no tipo de investigação veio com o estudo realizado pela Harvard

University Hawthorne, na década de 1920 e 1930. Inicialmente, esses estudospareciam confirmar que maior nível de iluminação no local de trabalho resultariaem maior produtividade. No entanto, a experiência mostrou que a produtividadecontinuou a aumentar mesmo com uma diminuição na iluminação. Este fato fezvoltar a atenção para a relação entre gestores e trabalhadores. Após uma série deexperimentos, eles concluíram que as melhorias na produtividade resultaram de,quase exclusivamente, fatores sociais como a moral e satisfação nas relaçõesentre equipes da produção (WREN, 1994).

Durante esse período, a ideia da responsabilidade social não estava naagenda política internacional e as discussões eram concentradas principalmentesobre os direitos dos trabalhadores e nas questões operacionais internas, como asegurança no trabalho e a melhoria contínua através de processos participativos.Isto continuou até depois da Segunda Guerra Mundial, quando o Estado começoua participar de forma mais ativa na busca pelo bem-estar social dos trabalhadores(WBCSD, 2008).

A Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 1948, desencadeouuma revolução no direito internacional, mudando o modo como os governostratavam seus cidadãos (FLOWER, 2008). Os Direitos Humanos passaram a seruma questão legítima para a atuação conjunta das nações, com efeitos em todosos níveis da sociedade. Somando-se a isso, o final dos anos 50 viu o início daascensão do poder do consumidor como uma força que influenciaria ocomportamento das empresas e que poderia ser apresentada como a gênese danossa atual compreensão sobre a Responsabilidade Social das Empresas.

Esta ideia começou a se tornar significava na década de 1960, direcionandoa atenção para os interesses da sociedade como um todo. Assim, este movimentofoi impulsionado em decorrência dos esforços dos movimentos pró meioambiente, tendo em vista a mútua influência. Principalmente a partir da décadade 1980, com as mudanças políticas e econômicas em todo o mundo, as questõessobre a responsabilidade social foram incorporadas nas principais estratégias dosnegócios.

A responsabilidade social está em evolução e não há soluções universaispara as empresas envolvidas, nem tão pouco para as atividades fins do designenvolvidas com empresas preocupadas com esta questão. O alvo dessas açõesestá sempre em movimento e não pode ser plenamente alcançado de uma só vez epor uma ação isolada. Na verdade, o efetivo alcance de níveis mais elevados deequidade e coesão social demanda atuações sistêmicas, envolvendo toda a

95

sociedade. Este é um processo contínuo, que exige revisão constante e reflexão(CANADÁ, 2006).

Um fato relevante para a consolidação do conhecimento nessa temáticadecorreu da Conferência Internacional de Estocolmo, em 2004, visando odesenvolvimento da Norma Internacional de Responsabilidade Social ISO26000. Segundo Ursini & Sekiguchi (2005) as discussões realizadas ofereceramas bases para o lançamento da norma NBR 16001, da Associação Brasileira deNormas Técnicas (ABNT): Responsabilidade Social e Sistema de Gestão eRequisitos.

AISO 26000, que tem previsão de ser concluída em 2010, será diferente dasséries 9000 e 14000 por não ser certificável e servirá como diretriz. Estaabordagem surge do reconhecimento da complexidade do tema. E muito emboraseja questionável, a capacidade de uma norma internacional de levar em conta asparticularidades culturais e éticas de países e povos (URSINI & SEKIGUCHI,2005), o fato de se elaborar uma norma é o reflexo do avanço e consolidaçãodessa área do conhecimento.

A origem do atual conhecimento da dimensão do design sustentável éconfusa e de difícil rastreabilidade. Percebe-se que esse conhecimento vem tantoda evolução da busca pela ética social, assim como das empresas. Algunspesquisadores têm tratado desse tema como “Design Social”, apesar dasdivergências quanto à definição do termo. Por exemplo, Dias & Cortes (2007)definem o Design Social como design que prioriza a lógica do usuário, ao invésda lógica da produção. Castro et al. (2006) definem o mesmo termo como sendoaquele que busca materializar ideias para solucionar problemas comodesigualdade, poluição, violência, entre outros aspectos característicos de umdesenvolvimento desordenado quanto às questões ambientais e humanas.

Uma das origens retoma a década de 1920, com a fundação da Bauhaus, quecontribuiu para promover o papel do design como promotor da equidade social,no sentido de aumentar o acesso de produtos à população. Assim, um dospropósitos desta escola era atender às necessidades sociais de uma camada maisampla da sociedade, por meio da orientação aos alunos, provenientes do adventoda produção de massa. Na Bauhaus defendia-se o engajamento social dos alunosque “eram convencidos que produtos de massa deveriam ser baratos, mas aomesmo tempo bem desenhados e produzidos” (BÜRDEK, 2006, p. 37).

O Design no Contexto do Desenvolvimento

Sustentável

Uma das repercussões da busca por equidade e coesão social no design,observada pela Bauhaus foi o Estilo Internacional, tendência que teve suasmanifestações principalmente entre as décadas de 1930 e 1960. Denis (2000)sintetiza o Estilo Internacional como fruto de uma ideia, que seria possívelalcançar uma sociedade mais justa ao se criar formas universais, reduzindo asdesigualdades. De modo simplificado, entende-se que os “funcionalistas”, comoeram chamados os seguidores deste movimento, raciocinavam que não teriasentido fabricar um produto melhor e outros piores se conseguissem chegar a umproduto mais bonito, eficiente e mais barato. Essa maneira de pensar estava emconcordância com as tendências coletivista e comunista, em voga na época(DENIS, 2000).

A busca por uma ética social originada nas ações políticas, principalmentepelos jovens nos anos 60, influenciou diretamente a arte e o design. Esse ideáriosocial do design teve no livro de Papanek “Design for the Real World”, nos anos70, um dos marcos no pensamento do design direcionado para o bem coletivo. Olivro refletia a crescente preocupação com respeito ao impacto que o design,voltado principalmente para o consumo, poderia causar no meio ambiente e nasociedade em geral. Papanek apresentava o pensamento emergente na época,onde o design não mais era visto como um instrumento passivo para a promoçãodo avanço econômico da sociedade, mas como um instrumento ativo detransformação social (WHITELY: 1993; MARGOLIN: 2006).

Nas décadas de 1980 e 1990 os conceitos de investimento e consumidorético influenciaram a aceleração do entendimento do papel do design no âmbitodas questões sociais. Foi um movimento relacionado com a responsabilidadesocial das empresas e questionava a origem do lucro das mesmas.Questionamento este que estava nos lucros obtidos à custa da sociedade(WHITELY, 1993).

Foi nesse período que ficou em evidência o “Design Ético”, que teve comomaior preocupação a consciência dos consumidores. Sua manifestação ativa é aprincipal característica da interpretação da dimensão social do designsustentável, observado em ações como boicotes às empresas, que apresentamcomportamentos considerados antiéticos. Esse movimento também écaracterizado por uma ampliação do escopo de ação do design, incluindo, porexemplo, ações voltadas à melhoria das condições de trabalho dos fornecedoresdas empresas.

Recentemente as pesquisas nessa área têm buscado instrumentalizar odesign às metodologias e ferramentas, que possibilitam um design que busca aigualdade e coesão social. Esta forma de pensar na sustentabilidade estende a

96

atuação do designer para a área de projeto de sistemas, em contraposição ao merodesign de produtos. Sendo assim, este novo paradigma é mais abrangente ecomplexo que a visão convencional do design. (MANZINI, 2008).

Para que a profissão de design deixe de fazer parte do problema e passe acontribuir para as soluções requeridas pela sustentabilidade, é necessário umreposicionamento acerca da sua função na sociedade. O design pode contribuirpara a indução, projeto ou ainda, implementação de estilo de vida maiscondizente com o conceito de sustentabilidade. Para tanto, é necessário migrar oentendimento da profissão orientada à geração de bens de consumo, para a deuma profissão orientada à satisfação das pessoas. (MANZINI, 1994).

Promover a redução do consumo da população mais ricas do planeta exigeprofunda reflexão (e redesign) dos negócios para as soluções inovadoras querequerem menos recursos (ex: sistemas de produto-serviço).Afim de tornar maisatraente a estratégia de promoção do consumo “suficiente”, em oposição aoconsumo “eficiente”.Além disso, as propostas de design não devem se direcionara um cenário de privação (MANZINI, 1994; ALCOTT, 2008). Essas devemcorresponder a um modo de viver com os mesmos valores e critérios de qualidadede vida do passado, porém com menos recursos. Nesse contexto, o papel dodesign mudará radicalmente, onde a função passará de criar um produto para“tangibilizar” as experiências com as pessoas.

Na trajetória para alcançar a sustentabilidade, Manzini (2008) acredita queé necessário o progresso, tanto do produto, como do processo, e esta mudançaabrangerá ao mesmo tempo, a dimensão técnica e a dimensão cultural. O autorargumenta que a transformação necessária deverá passar por uma longatransição, mesmo porque será necessário que nas próximas décadas ocorrammudanças em todos os sistemas: ambiental, físico, econômico, ético, estético ecultural. Nesse sentido, o design poderá atuar de modo a contribuir para alcançaruma sociedade mais sustentável.

ALCOTT, Blake. The sufficiency strategy: Would rich-world frugality lowerenvironmental impact? In: . Elsevier, Vol. 64, p.770 - 786,Fevereiro, 2008.BÜRDEK, B. E. : História, teoria e prática do design de produtos. SãoPaulo: E. Blücher, 2006. 496 p.

Apontamentos para atuação no design

Referências

Ecological Economics

Design

CANADA. : An Implementation Guide forCanadian Business. March, 2006.CASTRO, Ana Emília G. de et al. Design Social: uma ação e reflexão sobre aprática de ensino e a formação profissional. In: , 2004.AEND.DENIS, Rafael Cardoso. . São Paulo:Edgard Blücher, 2000.DIAS, Carla; CORTES, Carlos André. Design social ou design participativo:uma experiência de ensino. In:

, 2007, Rio de Janeiro.FLOWERS, N. : celebrating the universald e c l a r a t i o n o f h u m a n r i g h t s . D i s p o n í v e l e m <http://www1.umn.edu/humanrts/edumat/hreduseries/hereandnow/ Default.htm>.Acessado em 10 de outubro de 2008.MARGOLIN, Victor. A world history of design and a history of the world. In:

, vol. 18(3), p. 235-243, 2005.MANZINI, Ezio. Design, Environment and social quality: From“Existenzminimum” to “Quality Maximum”. In: , vol. 10, Nº 1, p.37-43, Spring, 1994.MANZINI, Ezio.Comunidades criativas, organizações colaborativas e novas redes projetuais. Riode Janeiro:E-papers, 2008. 104 p.McDONOUGH, W. & BRAUNGART, M. In:

, Vol. 9, Nº 3, 2002.URSINI, Tarcila Reis & SEKIGUCHI, Celso. Desenvolvimento sustentável eresponsabilidade social: Rumo à Terceira Geração de Normas ISO. In:

, vol. 4, Coleção Uniemp Inovação. São Paulo:Instituto Uniemp, 2005.VEZZOLI, Carlo. : Theory, methods and toolsfor a sustainable ” satisfaction-system” design. Milão: Maggioli, 2007.WBCSD - . Disponívelem: < http:// www.wbcsd.org>.Acesso em 15 de janeiro de 2008.WEIHRICH, Heinz & KOONTZ, Harold : a global perspective.McGraw-Hill International Editions. Management and Organization Series.Tenth Edition, 1993.WHITELEY, Nigel. . London: Reaktion Books, 1993.WREN, D. A. 4th edition. New York:Wiley, 1994.

Corporate Social Responsibility

6º P&D DesignUma introdução à historia do design

4º Congresso Internacional de Pesquisa emDesign

Human rights here and now

Journal of Design History

Design Issues

Design para a inovação social e sustentabilidade:

Corporate EnvironmentalStrategy

Legislação e Inserção Social

System Design for sustainability

World Business Council for Sustainable Development

. Management

Design for societyThe evolution of management thought.

97

Design de Moda Ético e Sustentável para

VeganosEthical and Sustainable Fashion Design for Vegans

Schulte, Neide Kohler; Mestre; Universidade Estadual de Santa [email protected], Ilma; Especilaista; Universidade Estadual de Santa [email protected]

Este trabalho é uma reflexão sobre o design para o futuro sustentável dahumanidade, a partir da filosofia de vida dos veganos, para projetar produtos devestuário adequados ao seu modo de vida. Os veganos buscam viver de modo quesuas ações causem o menor dano possível ao meio ambiente, bem como, evitam oconsumo de quaisquer produtos de origem animal, sejam eles alimentares ou não.Levantou-se no mercado produtos para o vestuário com uma proposta mais éticae sustentável que atendam o modo de consumo dos veganos.

Design de moda, ética, sustentabilidade, veganismo.

Resumo

Palavras Chave:

98

IntroduçãoI have a dream. “

Era como

Parece utópico imaginar e desenhar um mundo em que os humanosvivessem de acordo com uma ética biocêntrica, onde seu modo de vidarespeitasse o direito a uma vida digna dos demais seres sujeitos de uma vida. Estetipo de postura poderia implicar numa mudança radical no desenvolvimentohumano e contribuir para a tão “almejada” sustentabilidade ambiental.

Utopia? Pode ser, mas um mundo diferente é possível seos humanos realmente desejarem projetar uma humanidade melhor. Muitascoisas que no passado foram consideradas utopias, como voar, falar e ver pessoasà distância, relacionar-se em uma sociedade virtual, hoje são comuns.

A sociedade humana necessita da utopia, pois é difícil vislumbrar adiscussão de possibilidades melhores para o futuro e debater as questõesecológicas sem recorrer ao pensamento utópico. Não importa o quanto pareçadistante um modo de vida mais sustentável e mais ético, entre os humanos, com

Eu tenho um sonho de que homens de todas as etnias um diase sintam irmãos”. Martin Luther King se pronunciava em seus discursospara a grande multidão. Eu tenho um sonho de que um dia todos os humanos vivamas suas vidas e reconheçam o direito à vida dos demais seres sencientes.

O educador que não tem um sonho a realizar já há muito deixou deser educador. Conformou-se, quem sabe, a ser um fóssil de sala deaula - um profissional do desencanto, o que certamente o leva aarranjar muitas racionalizações, às vezes para esconder de simesmo, bem como do meio social, a sua falta de paixão. Nada maislastimável do que um formador que não tenha um sonho a realizarcom seus educandos e com sua sociedade, nem nada maisdesagradável do que um profissional que todo o tempo resmungaautopiedade em razão das condições adversas do ambiente.(MORAIS, 1993, p. 72)

A utopia nunca é congruente com o estado de coisas vigente, poisque ela é a exata negação de uma vida atual que não satisfaz, sendopor estar mais na constituição de fantasias; já o querer, que sealimenta dos desejos, tem uma dinâmica diferente por estarconectado com o Utopias têm suas raízes primeiras nodesejar, mas na realidade se constituem pelo mais avançadoelemento do querer; donde o elemento transformador que via deregra está no cerne das utopias ou, do pensamento utópico(MORAIS, 1993, p. 75).

querer fazer.

os seres sencientes e com a natureza. O que importa é buscar novaspossibilidades, apesar dos descaminhos e equívocos.

Esse trabalho é uma reflexão sobre o design para um futuro sustentável dahumanidade a partir da filosofia de vida dos veganos, para identificar e projetarprodutos de vestuário adequados ao seu modo de vida. Os veganos buscam viverde forma que suas ações causem o menor dano possível ao meio ambiente, bemcomo, procuram evitar o consumo de quaisquer produtos de origem animal,sejam eles alimentares ou não. Buscam também não utilizar produtos que tenhamsido testados em animais ou produzidos utilizando-se ingredientes ou processosprodutivos que envolvam animais, o que se estende ao vestuário (têm restrição aouso de couro, peles, lã, seda, etc.), ao entretenimento (têm restrição aos circoscom animais, rodeios, zoológicos, rinhas, farras-do-boi, vaquejadas, etc.) e aouso de animais em rituais religiosos (como os que incluem sacrifício de animais).

Além de conhecer a filosofia de vida dos veganos, levantou-se no mercadoos produtos oferecidos para o vestuário que atendem o seu modo de consumo, eas lacunas existentes para a projeção de novos produtos, com um design de modamais ético e sustentável.

O design de moda para o modo de vida dos veganos, buscando uma relaçãocom a ética biocêntrica e a sustentabilidade ambiental, é tema das pesquisas dasautoras deste artigo e de tese de doutorado de uma delas.

Veganos são vegetarianos, mas “têm uma , do grego, 'modo de vida',que escolhe a abstenção de todo e qualquer produto de origem animal, não apenasna hora de comer, mas também na hora da higiene pessoal, da limpeza da casa,dos acessórios de moda, dos cosméticos, dos medicamentos”.

O veganismo é uma filosofia, um estilo de vida baseado no respeito tambémaos animais não-humanos. Veganos entendem que animais sencientes têm seuspróprios interesses, entre os quais o principal e mais óbvio deles é continuaremvivos.

Portanto, viver um projeto de vida vegano, em meio a uma cultura deexploração da natureza e extermínio indiscriminado de animais, não é algo fácilde ser concretizado de forma completa. Felipe (2009) argumenta que “para servegano é preciso muita determinação e lucidez, para desfazer, uma a uma, aspregas, dobras, rugas e os vincos da moralidade tradicional traiçoeira, ardilosa,que nos enredou nessa forma de vida que representa puro tormento para osanimais”.

Veganismodíaita

99

Os fundamentos do veganismo são basicamente éticos: o reconhecimentode que animais possuem o direito à vida e ao bem-estar, e que humanos não têm odireito de explorá-los de forma alguma. Veganos também se preocupam com omeio ambiente e divulgam ativamente as consequências da pecuária para oprocesso de devastação de florestas, a poluição do solo, das águas, o efeito estufae outros impactos que atingem animais não-humanos e humanos. Eles tambémestão frequentemente envolvidos com a causa animal, são abolicionistas eacreditam que apenas se abster de lhes causar mal não é suficiente, que se faznecessário lutar por seus direitos. “Chegará o dia em que os homens conhecerão oíntimo dos animais, e, neste dia, um crime contra um animal será considerado umcrime contra a humanidade” (Leonardo da Vinci 1452-1519)

A criação de produtos e serviços que atendam o consumidor vegano, os, entre outros, é um grande desafio para os designers. São consumidores

que buscam viver de forma coerente, agindo de acordo com uma filosofiabiocêntrica, o que torna a criação de produtos adequados a eles, algo muitocomplexo. Pois não é comum os designers considerarem, durante o ciclo de vidados produtos que criam, os possíveis danos que podem causar aos seressencientes, além dos humanos.

Esta é uma pesquisa exploratória de caráter qualitativo, com análisedocumental.

A investigação teórica acerca dos princípios da ética ambiental biocêntrica,enfocou o estudo da proposta do teórico Paul Taylor no livro .O estudo do livro foi realizado durante o segundo semestre de 2009, na disciplinaÉtica Prática, ministrada pela professora Dra. Sônia T. Felipe, no Programa dePós-Graduação em Filosofia do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, naUniversidade Federal de Santa Catarina. Além da professora, participaram doestudo oito alunos de mestrado e doutorado. No final da disciplina, os alunosdesenvolvem artigos relacionando a teoria de Paul Taylor com sua área depesquisa e o presente artigo é o resultado das relações estabelecidas pelosautores.

O modo de vida tradicional, em que os animais e toda a natureza são usadosapenas como recursos para os humanos, está comprometendo a vida dos seresvivos no planeta Terra. A principal questão a ser abordada para uma mudança na

.

scuppies

Respect for Nature

Material e Método

Educação e Visão de Mundo

visão de mundo e, portanto, do modo de vida dos humanos é a educação.Pessoas educadas para uma visão de mundo biocêntrica compreendem os

humanos e a natureza interconectados, têm respeito pela vida das diferentesespécies, portanto, têm atitudes diferentes diante da natureza se comparadas compessoas que aprenderam que os animas não humanos e a natureza são apenasrecursos para atender as necessidades humanas.

Os humanos aprenderam a reproduzir um modelo hegemônico, capitalista,consumista e insaciável por mudanças. O que contribuiu para esse cenário é afragmentação dos saberes, colocados separadamente em gavetas, fazendo comque se perca a conexão entre as coisas.

Os humanos se separaram de humanos por discriminação de classes e raças,entre outros, e também se separam dos animais não-humanos e da natureza.Construíram um modo de vida onde não se tem considerado os danos causados ànatureza e aos próprios humanos. Há uma visão parcial sobre o mundo,identificando as partes, sem relacioná-las e, portanto, sem ter uma compreensãoreal do todo. Humanos têm dificuldade de relacionar a escolha do seu prato decomida com a sustentabilidade ambiental, por exemplo, pois a produção decarnes, leite e derivados pode ter um impacto ambiental maior do que a emissãodos gases poluentes dos combustíveis utilizados nos meios de transporte, masisto aparece desconectado do paradigma da sustentabilidade ambiental.

Além dos argumentos apresentados pelos veganos a favor de seu modo devida, primando por uma postura ética em suas ações, segundo o doprograma ambiental da ONU (UNEP), uma mudança global para uma dietavegana é vital para salvar o mundo da fome, pobreza de combustíveis e os pioresimpactos da mudança climática.Aprevisão é de que a população mundial cheguea 9.1 bilhões de pessoas em 2050 e o apetite por carne e laticínios é insustentável.

A agricultura, particularmente produtos de carne e laticínios, é apontada norelatório da ONU como responsável pelo consumo de cerca de 70% da água docedo mundo, 38% do uso de terra e 19% das emissões de gases estufa.

Diz o relatório da ONU (p.82),

Uma coletividade — família, empresa, nação — é sempre quea simples soma de suas partes. Um misterioso fator de interação, nãoredutível às propriedades dos diferentes indivíduos, está semprepresente nas coletividades humanas, mas nós sempre o repelimospara o inferno da subjetividade. E somos forçados a reconhecer queem nossa pequena Terra estamos longe, muito longe da nãoseparabilidade humana (NICOLESCU, 1999, p. 15).

mais

relatório

100

Espera-se que os impactos da agricultura cresçam substancialmentedevido ao crescimento da população e o crescimento do consumo deprodutos animais. Ao contrário dos combustíveis fósseis, é difícilolhar para alternativas: as pessoas têm que comer. Uma reduçãosubstancial de impactos somente seria possível com uma mudançade dieta, eliminando produtos animais.

Pesquisadores se debruçaram sobre o estudo do impacto na natureza domodo de vida humano.Adivulgação desse estudo e os decorrentes alertas sobre anecessidade de rever a forma como os humanos se relacionam com a naturezavem acontecendo há muitos anos. Mas só agora parece que a humanidade estácomeçando de fato a despertar para esta realidade. Relatório da ONU, cinema,televisão, revistas, internet, entre outros meios de comunicação, abordamdiariamente esta questão, “ .

A sustentabilidade está presente nas novas direções projetadas em diversoscadernos de tendências e eventos de moda. Se a princípio era apenas um discurso,agora parece que a sustentabilidade já perpassa as tendências e cria uma tensãopermanente no campo do consumo.

A moda sustentável brasileira já se destaca, pois participa na principal feirainternacional de moda, na Paris, que recebe empresas brasileiras demoda sustentável na edição Primavera Verão 2010, em setembro. Essas empresasse apresentam no salão , espaço da Paris dedicado àsmarcas que fazem gestão sustentável de seus negócios.

Inaugurado em setembro de 2006, o salão contava com aparticipação de apenas 20 expositores e tinha como finalidade apresentar apenasprodutos ambientalmente corretos e de empresas que tinham algumapreocupação social em sua gestão. Na edição Primavera Verão 2010 da feira,mais de 50 empresas participam do espaço, hoje um dos mais importantes da

Paris.Outra feira importante acontece no Japão em 2010, a “TheKey.to”, primeiro

evento mundial direcionado para a moda “verde”. Os estilistas ligados amovimentos ambientalistas apresentam suas coleções e também acontecemoficinas e palestras sobre ecologia. Frans Prins, organizador do evento, afirmaque em 2025 os tecidos sustentáveis, como o algodão orgânico, serão a principaltendência para a moda.

O , utilizado para fazer as roupas mais usadas no mundo, o “jeans”, é

is new black

Prêt à Porter

So Ethic Prêt à Porter

So Ethic

Prêtà Porter

Novas propostas do design de Moda

Denim

feito de , mas a maioria dos consumidores desconhece que para produzi-lo é necessário usar produtos que não são biodegradáveis. As plantações dealgodão e a produção do têm causado grandes prejuízos ao meioambiente, tanto em termos de consumo de água, quanto em termos de substânciasvenenosas liberadas na produção da matéria prima.As plantações de algodão sãoresponsáveis por aproximadamente um quarto de todos os inseticidas liberadosno mundo.

Ar, água e outros recursos naturais também são fundamentais para o futuroda indústria têxtil. Para se adequar com essas questões, os fabricantes de tecidoestão à frente do desenvolvimento de técnicas sustentáveis no que diz respeito àfiação, ao tingimento e ao acabamento. Junto aos estudos na área bioquímica paramelhorar a composição de corantes, estão também os de uso de materiaisorgânicos, como a fécula de batata, o índigo pré-reduzido e o algodão colorido,para tornar o processo de fabricação de 100% natural.

No nordeste brasileiro, num contexto de migração, evasão da riqueza,desorganização social e dependência de políticas assistencialistas, com ademanda internacional por “algodão orgânico”, nasceu a idéia de uma cadeiaprodutiva do algodão agroecológico, um produto que, do começo ao fim, fossedesenvolvido de forma solidária, valorizando tanto o trabalho como a qualidade ea sustentabilidade ambiental.

Atuam nessa cadeia produtiva cerca de 700 trabalhadores em cinco estadosdo Brasil, homens e mulheres, agricultores, coletores de sementes, fiadoras,tecedores e costureiras. Os empreendimentos destes trabalhadores cobrem todosos elos da indústria têxtil, do plantio do algodão à roupa, e especificamente, quemestá na produção da roupa Justa Trama, uma das marcas que trabalha com oalgodão orgânico, também é proprietário da marca.

Aprodução da Justa Trama se dá em cinco etapas.Aprimeira é a do algodãoagroecológico, em nove municípios do Estado do Ceará, onde agricultoresfamiliares associados plantam, beneficiam e comercializam o algodão em plumapara o resto da cadeia. As duas etapas seguintes acontecem em São Paulo. Oalgodão é enviado para a – , em NovaOdessa, que produz o fio de algodão e depois, na terceira etapa, o fio vai para omunicípio de SantoAndré, onde a transforma o fio em malha.

A quarta etapa, a confecção das roupas, é feitas por três cooperativas do Suldo país. A , de Porto Alegre/RS, a

, de Itajaí/SC e a Cooperstilus em Santo André/SP queconfecciona roupas infantis. E a quinta etapa, extração das sementes para seremaplicadas nas peças de vestuário em forma de bordados, botões e outros

Denim

Cooperativa Nova Esperança CONES

Stilus Coop

Cooperativa de Costureiras UNIVENSCooperativa Fio Nobre

algodão

jeans

101

acessórios, é realizada pela , que fica em Porto Velho,Rondônia.

Esse modelo produtivo em que não se prejudica a natureza e, portanto, nemos humanos e os animais não-humanos, e em que os maiores beneficiários sãoaqueles que atuam direta ou indiretamente com o algodão, contribui com afixação do homem no campo e com a geração de trabalho e renda digna e estávelno meio rural. Com o beneficiamento do caroço do algodão compõe-se ainda umconjunto de estratégias de sobrevivência de grande importância social eeconômica para a região. O algodão orgânico vem sendo denominado de “tecidoético”.

Além do algodão orgânico, existem tecidos que são produzidos com fiosreciclados fabricados a partir de retalhos de malha da indústria têxtil. Nenhumtipo de corante ou produto químico é utilizado, pois o tecido sai da máquina comas cores dos retalhos que lhe deram origem. Os resultados são tecidos queprocuram unir qualidade, beleza e sustentabilidade para diversas aplicações,desde o revestimento de móveis a peças de vestuário.

Os produtos reciclados da empresa , de Blumenau, oferecemimportantes benefícios ambientais e sociais. A reciclagem evita que toneladas deresíduos de malha, gerados na região do Vale do Itajaí, SC, aumentem a poluiçãodo solo e dos lençóis freáticos ou que se transformem em lixo que iria para aterrossanitários. A iniciativa também favorece dezenas de famílias de baixa renda. Aseparação dos retalhos de malha por cor é feita na casa dessas famílias, gerandotrabalho e renda.

A reciclagem de retalhos permite o aproveitamento de pequenos resíduostêxteis que se tornariam lixo. Assim, esta forma de produzir é uma contribuiçãomuito importante na busca por uma produção sustentável na moda. Este processotambém deverá ser aplicado, em pouco tempo, aos resíduos de algodão orgânico.

Observou-se durante a pesquisa para a tese de doutorado, que vemcrescendo o número de marcas e estilistas que utilizam o algodão orgânico, oalgodão reciclado e também o reaproveitamento dos tecidos de roupas após uso.Ou seja, já existem produtos de moda que atendem os consumidores veganos. Noentanto, algumas matérias-primas que se dizem sustentáveis como o couro depeixes, entre outros, não atendem este consumidor, pois são de origem animal. Osegmento de calçados também vem apresentando alternativas ao uso do couroanimal, como o couro vegetal feito de algodão e borracha e outros materiaisreciclados que possibilitam o desenvolvimento de um produto estéticoagregando o valor ético buscado pelo veganos. Contudo, os veganos reclamamda falta de produtos para o vestuário com um melhor design, mais estéticos.

Cooperativa Açaí

Eurofios

Considerações FinaisTalvez seja uma visão de mundo romântica e utópica projetar para um modo

de vida humano mais ético e ambientalmente mais sustentável, inspirado nosfundamentos da ética ambiental biocêntrica e na filosofia de vida dos veganos,principalmente porque essa forma de pensar o mundo ainda não é, ou é poucodisseminada nas instituições de ensino em todos os níveis de formação.

Os designers têm uma complexa questão para pesquisa e trabalho, a partirde uma perspectiva biocêntrica, aprender e ensinar a projetar para um mundomais ético e mais sustentável ambientalmente.

Será que as instituições de ensino estão preparando os designers para essaresponsabilidade? Este é o tema das próximas pesquisas e reflexões.

" ".I have a dream

102

Referências

CAPRA, Fritjof.. São Paulo: Coltrix, 1996.

40 anos de pesquisa em design.

Ética, dietas e conceitos.

Ecologia da mente

NICOLESCU, Basarab. Um novo tipo de conhecimento –Transdisciplinaridade

O que é especismo.

Estratégia do desperdício.

Relatório da ONU 2010

Responsabilidade Social Empresarial e Sustentabilidade.

Respect for Nature: a theory of environmental ethics.

Hoje é o Dia Mundial Vegano.

A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemasvivos

CROSS, Nigel. Design Studies Vol 28 n°1,janeiro de 2007.

FELIPE, Sônia T. Coluna Questão de ética/ANDA.Disponível em: Acesso: 05/07/2010.

MORAIS, Régis. . Editora Psy: Campinas, SP, 1993.

. 1º Encontro Catalisador do CETRANS - Escola doFuturo - USP, Itatiba, São Paulo - Brasil: abril de 1999. Disponível em:

. Acesso:30/11/2009.

OLIVER, David. Disponível em:

<>Acesso 12/06/2010

PACKARD, Vance. Editora IBRASA: SãoPaulo,1965.

. Disponível em:<

> Acesso 12/06/2010

Disponível em:

< >. Acesso em:20/04/ 2010.

Revista wwf Mag nº 20, 2010.

TAYLOR, Paul W. 2.impress with corrections. New Jersey, Princeton: Princeton University Press,1987.

VARALLO, Maurício. [olhar4] InfoSentiens.Disponível em: < > 01/11/2009.

< >

http://www.anda.jor.br/?p=25016

http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001275/127511por.pdf

http://www.vegetarianismo.com.br/sitio/index.php?option=com_content&task=view&id=529&Itemid=39

http://www.guardian.co.uk/environment/2010/jun/02/un-report-meat-free-diet

http://www.doit.co.mz/index_pt_valeapena_artigos_016.html

http://www.sentiens.net/

http://www.abit.org.br/site/

Acesso em:

Acesso em: 23/08/2009.

103