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Vitaminas e Suplementos Vitamínicos:
Impacto em doenças crónicas e/ou saúde mental
(revisão da literatura)
Hugo M. Jorge
Universidade Autónoma de Lisboa
Nota do autor
Hugo Marques Pereira Jorge, Departamento de Psicologia e Sociologia, Mestrado em
Psicologia, Universidade Autónoma de Lisboa.
A Correspondência referente a este artigo deve ser dirigida via correio electrónico para Hugo
Jorge, e-mail: [email protected]
Vitaminas e suplementos vitamínicos: impacto em doenças crónicas e/ou saúde mental
(revisão da Literatura) .
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Resumo
No âmbito da Unidade Curricular de Psicofarmacologia, o presente trabalho constitui um
artigo teórico de revisão da literatura sobre o papel das vitaminas e suplementos vitamínicos
não só ao nível das funções nutricionais, inquestionavelmente reconhecidas, mas também na
prevenção de doenças crónicas e do foro mental – apresentadas como novas abordagens. Para
atender ao objectivo proposto, foi utilizada uma metodologia qualitativa através da revisão
bibliográfica e documental, tendo como base obras de referência e artigos científicos e
dissertações publicados nas últimas duas décadas, em reconhecidas base de dados. Para além
de breve contextualização histórica e definição de conceitos e funções base das vitaminas, são
abordados os eventuais impactos positivos mas também os riscos da utilização de doses
elevadas, nomeadamente no tratamento de cancro, sintomas depressivos e Alzheimer.
Palavras-chave: Vitaminas e suplementos, antioxidantes, cancro, depressão, Alzheimer
Abstract
Within the course of Psychopharmacology, this work is a theoretical article reviewing the
literature on the role of vitamins and supplements not only in terms of nutritional functions,
unquestionably recognized, but also in the prevention of chronic diseases and mental
disorders – presented as new approaches. To meet the proposed objective, we used a
qualitative methodology through literature and document review, based on reference books
and scientific articles, published in recognized database, in the last two decades. Apart from
brief historical background and basic concepts definition, it is also addressed beneficial
effects but also the risks of using high doses of vitamins, particularly in the treatment of
cancer, depressive symptoms and Alzheimer.
Keywords: Vitamins and Supplements, antioxidants, cancer, depression, Alzheimer
Vitaminas e suplementos vitamínicos: impacto em doenças crónicas e/ou saúde mental
(revisão da Literatura) .
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Introdução
O actual ritmo de vida acelerado e a má alimentação das pessoas bem como uma
publicidade cada vez mais agressiva tem levado ao uso cada vez mais frequente e, por vezes,
pouco ponderado de suplementos vitamínicos. (Pinto et al, 2011). O uso de vitaminas e
suplementos vitamínicos tem aumentado exponencialmente na última década (IMS Health
Institute, 2014). Segundo a Organização Mundial da Saúde, em 2010, pelo menos um terço da
população global tomava esses complexos diariamente. (WHO, 2010)
Seguindo o padrão internacional, em Portugal, segundo estudos recentes, cerca de 2
milhões de Portugueses, consomem suplementos vitamínicos, com maior incidência nos
jovens e mulheres, nas zonas de Lisboa e Porto (Pinto et al., 2011)
Em geral, pessoas saudáveis não necessitam de suplementos vitamínicos, exceptuando
as situações específicas de deficiência resultante de uma dieta inadequada, de uma situação
física concreta que requeira um suplemento (gravidez e aleitamento, esforço físico excessivo
e idosos), de deficiência ou de uma deficiência patológica ou induzida por fármacos
(Infarmed, 2011; Raffa et al., 2006).
Sem necessidade de receita médica, são facilmente adquiridos sem haverem sido
prescritos pelo médico e, consequentemente, tomados sem a sua supervisão, podendo
provocar um desequilíbrio entre as necessidades do organismo e a quantidade ingerida,
colocando em risco a saúde de quem os toma (Infarmed, 2011; Raffa, 2006; Moyer, 2004).
De facto, tal como o Prontuário Terapêutico especifica (Infarmed, 2011), doses
excessivas de suplementos vitamínicos do grupo hidrossolúvel (complexo B e C) implica
poucos riscos visto serem rapidamente eliminadas pelo organismo, mas, em contrapartida, as
vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K), quando em excesso, são potencialmente perigosas, por
acumulação no organismo.
Por outro lado, as vitaminas são essenciais, assegurando o funcionamento do
organismo. Pela sua estrutura e composição, podem assumir várias funções, algumas das
quais já sobejamente verificadas e outras em estudo, abrindo novas propostas de tratamento.
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(Nutribrinca, n.d.; Olson,1994, citado por Silva & Naves, 2001). De facto, pesquisas
realizadas nas últimas décadas têm vindo a levantar a questão da eficácia da ingestão
vitaminas para prevenção de doenças crónicas tais como as doenças cardiovasculares e o
cancro e/ou o seu papel nas doenças mentais (Penckofer et al., 2010; Gariballa & Foster,
2007; Wilkins et al, 2006; Tangney et al., 2011).
Face ao exposto, o presente trabalho constitui um artigo teórico de revisão da literatura,
dos estudos realizados nas duas últimas décadas, centrados nas novas possibilidades da
utilização das vitaminas, para além das suas funções nutricionais, nomeadamente nas doenças
crónicas e nas do foro psíquico.
Breve contextualização Histórica
As vitaminas foram descobertas no início do século XX. Mas, muito antes, a sua
importância já havia sido reconhecida de maneira indirecta: A Vitamina A, também chamada
"a vitamina da vista“, foi descoberta pelos gregos, há mais de 2000 anos; observaram que,
comendo fígado de frango e óleos, curavam uma deficiência da visão ao escurecer (cegueira
nocturna). Também, os gregos foram os primeiros a perceberem os efeitos colaterais
decorrentes de dosagens muito elevadas dessa vitamina - hiper-vitaminose A (Almeida,
2012).
As grandes viagens marítimas evidenciaram problemas decorrentes da carência de
frutas frescas e legumes, parte da tripulação morria de escorbuto. (Almeida, 2012). Em 1747,
o cirurgião James Lind conduziu uma experiência, a bordo do navio HMS Salisbury. Dividiu
doze marinheiros afectados pelo escorbuto em diferentes grupos, que receberam diferentes
formas de alimentos. O grupo com acesso a laranjas e limões - alimentos contendo grande
quantidade de vitamina C - recuperou da doença (Lindt, J., 1753).
No entanto, só na primeira metade do século XX seriam as vitaminas identificadas
enquanto grupo específico. Em 1911, o bioquímico Casimir Funk utilizou, pela primeira vez,
o termo vitamina. Ele descobriu a niacinamida – factor antiberibéri – e criou a expressão vital
amin (amina vital) que deu origem à palavra vitamina (animas são compostos formados pela
substituição de um ou mais átomos de hidrogénio na molécula da amónia (NH³) por radicais
orgânicos). Apesar de se descobrir posteriormente que a maior parte das vitaminas não são
aminas (Zimmer, C., 2013).
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O isolamento e o reconhecimento da estrutura química das vitaminas datam entre 1925
a 1950. A utilização de letras para as vitaminas surgiu antes do nome "vitamina" e foi criada
pelo cientista americano Elmer McCollum, que utilizou “A“ para as solúveis em gordura e
“B” para as solúveis em água (Semba, R.D.,2012).
Será importante clarificar alguns conceitos-chave, antes de apresentar os resultados da
nossa pesquisa.
Radicais e Antioxidantes
Os radicais livres, formados a partir do metabolismo das células, em grande
quantidade tornam-se um problema para a manutenção de funções metabólicas normais,
causando envelhecimento precoce, certo tipo de cancro, artrite, cardiopatias. (Ferreira,
A.L.A., & Matsubara, L.S.,1997).
Os antioxidantes são substâncias que eliminam os radicais livres, exercendo um efeito
protector das células cerebrais. Reagem e neutralizam as formas reduzidas de oxigénio como
o superóxido e peróxido de hidrogénio. Existem dois tipos de antioxidantes: As defesas do
organismo actuam através de enzimas, contendo ferro, manganês, zinco ou cobre, que contêm
um ião de metal nas suas estruturas, dando-se uma transferência de um electrão de ião de
metal para o radical livre, diminuindo a sua capacidade de reacção. Um outro tipo de oxidante
é constituído por nutrientes. Por exemplo a vitamina E deixa-se atacar pelos radicais livres,
actuando como uma barreira química, converte-se, também, num radical livre, até que a
Vitamina C a devolva ao seu estado normal. (Barreiros et al., 2006)
Segundo os mesmos autores, a vitamina C reage com os radicais livres, como
bloqueadora. Os Betacarotenos, os Bioflavonóides protegem as membranas celulares da
lipoperoxidação, Podem, também, inibir a acção do ciclo oxigenase ao reduzir a formação de
hidroperóxidos. (Barreiros et al., 2006)
Vitaminas – definição e tipos
As vitaminas são substâncias orgânicas de origem natural que, em quantidades
reduzidas (geralmente alguns miligramas), intervêm em muitos processos metabólicos
essenciais no nosso organismo; não são sintetizadas no organismo ou são-no em quantidade
insuficiente. (Infarmed,2011; Nutribrinca, n.d.). Para além disso, sendo compostos orgânicos
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que variam amplamente quanto à estrutura química e actividade biológica, podem funcionar
tanto como co-factores de enzimas em diferentes reacções bioquímicas, quer como
antioxidantes quer, ainda, como pro-hormona - caso da vitamina D (Nutribrinca, n.d.; Olson,
1994, citado por Silva & Naves, 2001; Halmi, K. A. (1989).
As quantidades que o nosso organismo necessita variam não só com o tipo de
vitamina mas também com a idade, o género, a actividade física e o estado físico e psíquico
(Infarmed, 2011; Nutribrinca, n.d.; WHO, 2010)
As vitaminas, conforme a solubilidade, podem ser classificadas em dois grupos,
Hidrossolúveis e Lipossolúveis (Infarmed, 2011). As Hidrossolúveis são absorvidas pelo
intestino e transportadas pelo sistema circulatório até aos tecidos onde serão utilizadas –
durante a digestão dos alimentos, são directamente lançadas para a corrente sanguínea;
excretadas pela urina, não são armazenadas pelo organismo, pelo que necessitam de reposição
diária. Têm várias funções, sendo de salientar o seu papel na libertação e produção de energia
assim como no metabolismo dos aminoácidos; A Vitamina C participa na síntese do
Colagénio. Pertencem a este grupo as vitaminas do complexo B e a vitamina C (Infarmed,
2011; Nutribrinca, n.d., WHO. 2010; Gariballa & Foster , 2007, Morri set al, 1998).
As Lipossolúveis são absorvidas pelo intestino e transportadas pelo sistema linfático
para diversas partes do corpo. Estão acumuladas maioritariamente nos tecidos adiposos e no
fígado; não são facilmente eliminadas pelo organismo e tendem a acumular. Pertencem a este
grupo as vitaminas A, D, E e k (Infarmed,2011; Champe, P. C. & Harvey, R. A. , 1996;
EBSCO CAM Review, 2012; Penckofer et al., 2010).
Em conjunto, as lipossolúveis interferem no bom funcionamento dos olhos, pele,
pulmões, sistemas gastro-intestinal e nervoso (Nutribrinca, n.d.; Infarmed, 2011); As
vitaminas A, D e K são essenciais para formação dos ossos. A vitamina E também tem um
papel fundamental como antioxidante (Champe, P. C. & Harvey, R. A. , 1996; EBSCO CAM
Review, 2012; Penckofer et al., 2010; Mizouie et al.,2015).
Doenças crónicas
A Organização Mundial de Saúde define doenças crónicas como “doenças de longa
duração e de progressão, geralmente, lenta”. Na Europa as doenças crónicas de maior
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prevalência são a doença cardíaca, o cancro, a doença respiratória, a diabetes e os problemas
de saúde mental (WHO, 2005)
Impacto das vitaminas nas doenças crónicas e/ou de saúde mental
A vitamina A
A vitamina A é, frequentemente, usada como um termo colectivo para várias
moléculas biologicamente activas. O termo “retinóides” - inclui as formas naturais e sintéticas
da vitamina que podem ou não mostrar actividade de vitamina – Retinol, Retinal, Ácido
retinóico e Beta-caroteno (Champe, P. C. & Harvey, R. A. , 1996). Possui função oxidante, é
essencial ao nível do crescimento, à manutenção da visão, pele e ossos e funcionamento do
sistema imunitário (Infarmed, 2011). Ao nível da alimentação, está presente em alimentos de
origem animal, lacticínios gordos, gema de ovo, peixes gordos. O beta-caroteno pode ser
encontrado nos produtos hortícolas de cor verde escura ou alaranjada.
Segundo uma revisão da literatura (EBSCO CAM Review, 2012), sobre estudos que
relacionaram o uso de doses muito elevadas de vitamina A e a prevenção do cancro da pele –
os níveis de doses consideravelmente superiores normalmente considerados seguros –
identificaram resultados ambivalentes: apenas alguns estudos encontraram possíveis
benefícios em matéria de prevenção de algumas formas de cancro de pele, enquanto outros
não têm.
Em relação ao beta-caroteno e cancro também envolve várias contradições. No início
de 1980, os resultados cumulativos de muitos estudos sugerem que uma alta ingestão de
caroteno dietético pode reduzir, significativamente, o risco de cancro de pulmão, bexiga,
mama, esófago e estômago.
Estes benefícios têm vindo a ser, no entanto, postos em causa desde 1994 por estudos
que evidenciaram que suplementos de beta-caroteno aumentam o risco de adquirir cancro do
pulmão – 18% num estudo realizado na Finlândia com 29.133 homens fumadores. Um grupo:
tomou suplementos de cerca de 50 unidades internacionais (IU) de vitamina E (alfa-
tocoferol); Um outro grupo, tomou 20 mg de beta-caroteno, mais de dez vezes a quantidade
necessária para fornecer as necessidades diárias de vitamina A; Outro tomou ambos; E um
quarto grupo placebo diariamente durante cinco a oito anos. Em 1996, o grupo beta-caroteno
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tivera 46 % mais casos de mortes por cancro de pulmão. (JJiang Q et al.,2001; EBSCO CAM
Review, B., 2012).
A vitamina D
Sintetizada com ajuda de raios solares, ingerida através de alimentos como fígado,
gema de ovo, óleos de peixe, atum, sardinha e salmão, a vitamina D é essencial para a
produção de insulina, maturação celular, manutenção do sistema imunológico,
desenvolvimento dos ossos e prevenção do raquitismo e osteoporose.
Fortalecendo a importância desta vitamina, recentemente, The American Academy of
Pediatrics recomendou um aumento da toma diária de vitamina D para 400 IU/dia para
crianças e adolescentes (Wagner, Green, & the Section on Breast Feeding and Committee on
Nutrition, 2008, citado por Penckofer et al, 2010). O Instituto de Medicina dos EUA (IOM)
recomenda a toma diária de vitamina D (600 IU/dia) aos adultos com idades até aos 70 anos
que tenham exposições ao sol limitadas (Hartley, M., et al., 2015).
Estas directrizes fundem-se com as conclusões de um outro estudos realizado por
Greene-Finestone, Langlois & Whiting (2013) que confirmaram que os canadianos que
usavam suplementos contendo vitamina D apresentavam níveis de 25-hydroxyvitamin D
(25(OH)D) mais consistentes com os recomendados oficialmente no país. Sugeriram a
recomendação da utilização destes suplementos nomeadamente durante o Inverno, devido à
baixa exposição de UVB.
No que respeita à vitamina D, Penckofer et al. (2010), salientam a importância desta
vitamina enquanto factor com impacto positivo no bem-estar, na prevenção e tratamento de
doenças crónicas: perturbações mentais, depressões, SAD (seasonable affective disorder) e
esquizofrenia. Citam alguns estudos com que fundamentam estas conclusões:
Gloth, Alam & Hollis (1999), num estudo com 15 sujeitos com SAD, verificaram que
melhoram da depressão os que receberam Vitamina D comparado com os que receberam
fototerapia. Kenny et al (2003) estabeleceram uma relação positiva entre a vitamina D e a
saúde mental em idosos. Vieth at al. (2004), examinaram o efeito do uso de Vitamina D e o
bem estar: com 66 sujeitos divididos por 2 grupos (um recebeu 600 IU* por dia; outro 4000)
concluíram que em ambos houve melhoria e o 2º grupo apresentava ainda melhor resposta.
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Estudos de outros autores apontam no mesmo sentido:
Józefowicz et al. (2014), num estudo com noventa e um pacientes entre os 18 e os 65
anos de idade com depressão recorrente, segundo os critérios de CID-10, observaram uma
diminuição significativa do nível de soro de 25 (OH) D no grupo de pacientes com depressão
recorrente em comparação com indivíduos saudáveis, sugerindo que estes pacientes são um
grupo de risco importante para a deficiência de vitamina D. Também Milaneschi, Y. et al.
(2014), Black, L. J., et al. (2014) e Anglin, R. et al. (2013), estes últimos numa amostra total
de 31 424 participantes (um estudo de caso, dez estudos transversais e três estudos de coorte),
associaram baixas concentrações de vitamina D com depressão.
No mesmo sentido, Mizouie et al. (2015), num estudo com trabalhadores japoneses,
defendem que baixas concentrações de serum 25-Hidroxitamina D - 25 (OH) D - estão
associadas com crescente probabilidade de aparecerem sintomas depressivos, sugerindo um
papel protector face a mudanças de humor. Knippenberg et al. (2014) também associaram
este efeito protector mas concluíram que esse efeito era maior face a altos níveis de exposição
ao sol, mais do que os níveis de 25 (OH) D.
Jorde et al. (2008), num estudo com sujeitos obesos ou com peso excessivo, dividiu-os
em 3 grupos: a um foi aplicado um suplemento de vitamina D duas vezes por semana, outro
apenas uma vez e outro sem qualquer suplemento. Verificaram nos dois grupos com
suplemento uma melhoria dos sintomas da depressão (aplicaram Beck Depression inventory).
Elizabeth Bertone-Johnson (2009) afirma que estudos recentes sugerem a ligação
entre níveis baixos de serum Vitamina D e sintomas depressivos (particularmente nos meses
de Inverno, sugerindo que a suplementos podem minimizar os sintomas depressivos); defende
que altas doses de suplementos de vitamina D podem minimizar esses sintomas, embora a
autora considere ser prematuro concluir que a depressão esteja relacionada com a vitamina.
Outros estudos encontraram uma ligação entre a insuficiência de vitamina D e a
Demência, o Alzheimer: Lehman et al. (2011), cientistas de Oxford, compararam o gene do
receptor da vitamina D de 260 pessoas idosas com Alzheimer com 260 saudáveis.
Descobriram que duas ligeiras mudanças no código genético do receptor da Vitamina D
estavam associadas ao risco de Alzheimer.
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No que diz respeito à relação com a esquizofrenia e depressão maior, Jamilian (2013
comparou os níveis de serum de vitamina D, cálcio, fósforo e hormona paratiróide em 100
pacientes com esquizofrenia e 100 com depressão maior e 100 no grupo de controlo.
Concluiu que os níveis de vitamina D em participantes saudáveis era maior do que nos outros
2 grupos, não havendo diferenças entre os esquizofrénicos e os depressivos.
Wilkins et al. (2006). Associaram a deficiência em vitamina D com baixas no humor
(low mood) e piores performances cognitivas em idosos. Cassidy-Bushrow et al. (2012)
defendem, face aos resultados num estudo com mulheres afro-americanas, que baixos níveis
de Vitamina D aumentam os sintomas depressivos pré-natais, que pode colocar em risco o
nascimento.
Alguns estudos, no entanto, não confirmam estes benefícios.
Harris & Dawson-Hughes (1993), num estudo realizado com uma amostra com 250
mulheres, divididas em 2 grupos (um que recebeu suplemento de vitamina D e outro placebo,
durante um ano), refere que os resultados não confirmaram o efeito positivo sobre as
diferenças de humor (os autores puseram como hipótese tal se ter ficado a dever a doses
insuficientes da vitamina).
Também, em 2009, um relatório da Agency for a Healthcare Research and Quality,
que incluía a revisão de mais de 165 artigos, considerava inconsistentes as conclusões quanto
ao efeito benéfico para a depressão da vitamina D, do cálcio ou de ambos.
Huang, J. Y., et al. (2014) encontraram evidência modesta para as associações
transversais entre concentrações de vitamina D materna com sintomas da depressão pré-
parto, observando que estas associações podem ser alteradas pela actividade física. Também
Nielsen et al. (2013), para além de não confirmarem que baixos níveis de vitamina D durante
a gravidez poderiam aumentar o risco de depressão pós-parto, detectaram que, pelo contrário,
os resultados apontam para alto risco de depressão pós-parto em mulheres com altas
concentrações de vitamina D.
Jisheng et al. (2014), num estudo com 484 sujeitos entre os 18-60 anos, no SE da China,
com o objectivo de verificar a associação entre a diálise, a vitamina D e sintomas depressivos,
chegaram às seguintes conclusões: Após um ano, não houve alteração significativa nos
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sintomas depressivos; no entanto confirmaram que os níveis mais baixos de Vitamina D
coincidiam com os pacientes mais deprimidos. O mesmo defenderam Zhang, J., et al. (2014),
num estudo com doentes crónicos em diálise sofrendo de depressão.
A vitamina E
Esta vitamina existe na natureza como tocoferóis, em quatro formas diferentes (α, β, γ e
δ), sendo o alfa-tocoferol a forma antioxidante mais activa e amplamente distribuída nos
tecidos e no plasma (Niki,1996, citado Silva & Navais, 2011) e o usado em terapêutica
(Infarmed, 2011). Protege as células dos radicais livres, é importante factor de protecção
contra a peroxidação lipídica nas membranas celulares e na circulação sanguínea (JJiang Q et
al.,2001); Rock et al.,1996; Stahl & Sies, 1997, citados por Silva & Navais, 2011).
Tem sido referida para o tratamento da doença de Alzheimer por causa das suas
propriedades antioxidantes. Tem sido proposto que o stress oxidativo está subjacente ao
declínio cognitivo. Dado que a vitamina E é um antioxidante solúvel em lípidos
particularmente eficaz na protecção das membranas e tecidos celulares, torna-se relevante
confirmar a sua utilização nesta doença (Joshi & Praticò, 2012; Silva & Navais, 2011).
Para além destes dados, vários autores têm sugerido novas funções celulares da
vitamina E, o que, juntamente com a introdução da teoria dos radicais livres do
envelhecimento do cérebro, tem impulsionado um interesse renovado nesta vitamina e
equacionada a sua utilidade como abordagem terapêutica no envelhecimento do cérebro,
cognição e demência de Alzheimer (Joshi & Praticò, 2012).
Dysken et al., num estudo duplo-cego com 613 veteranos, equacionaram, também, a
eficácia da vitamina E (alpha tocopherol) e Memantine no tratamento do Alzheimer. Os
participantes foram divididos em quatro grupos para receberem ou alfa-tocoferol (2000 IU /
d), ou memantine (20 mg / d), ou alfa-tocoferol e memantine, ou, ainda,outro placebo.
O declínio mais lento da função mental foi observado no grupo atribuído a alfa-
tocoferol isoladamente. Os resultados observados neste grupo traduziram-se num atraso na
progressão clínica de 19% por ano em comparação com o placebo. O tratamento com
memantine, isoladamente ou em combinação com vitamina E não evidenciou vantagem
estatisticamente significativa.
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Fava, M. (2014), num estudo semelhante que envolveu 700 pacientes com Alzheimer
(médio a moderado) e, depois de um pouco mais de dois anos, os participantes que tomaram
grandes doses de vitamina E também apresentaram uma redução na taxa anual de declínio em
comparação com o placebo, sem efeitos colaterais indesejados - o equivalente a um atraso
demais de seis meses de progressão da doença. Os resultados sugerem que a vitamina E pode
ser um tratamento útil para pessoas com Alzheimer.
Um estudo publicado em Janeiro 2014 (n.d.), na edição do Journal of American
Medical Association (JAMA), refere, também, resultados clinicamente relevantes da vitamina
E para a doença do Alzheimer. Foram prescritos 2.000 IU / dia de alfa-tocoferol para todos os
pacientes com comprometimento cognitivo. Os primeiros resultados (Inventário ADCS-ADL)
diferiram por 3,15 unidades entre o grupo alfa-tocoferol e placebo.
Os autores explicam que uma diferença de apenas 2 unidades pode significar que uma
pessoa com Alzheimer passe a ter a capacidade de realizar actividades de auto cuidado
básicas, como vestir ou tomar banho, evitando a dependência de um cuidador para executar
essas tarefas. Os resultados positivos do tratamento com vitamina E persistiram durante os 4
anos de estudo.
Em dois estudos de design similar, em 2002, (n.d.), publicados no Journal of Clinical
Nutrition, uma maior ingestão de vitamina E na dieta foi associada com um menor risco de
doença de Alzheimer. O mesmo resultado foi encontrado num estudo, publicado em 2005, no
Journal of Clinical Nutrition, em que os autores concluíram que outras formas de tocoferol
em vez de alfa-tocoferol isolado podem ser importantes enquanto associação protectora para
com a doença de Alzheimer. Este estudo concluiu que o comprometimento cognitivo leve e
doença de Alzheimer foram associados com baixos níveis plasmáticos de todas as formas de
E-total de tocoferóis, e total de vitamina E.
Apesar deste dado encorajador, todos os participantes deste estudo continuaram a
experimentar declínio mental ao longo da sua aplicação. A vitamina E não conseguiu deter ou
reverter a progressão da doença, mas abrandou a sua progressão. Os autores consideram
essencial avaliar os riscos associados com altas doses de vitamina E e considerar a melhor
forma de suplementação dessa vitamina.
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De facto, o uso de Suplementos de vitamina E envolve risco e têm ocorrido casos de
mortalidade.
Fava (2014), apesar dos dados encorajadores de estudos, refere que suplementos de
altas doses de vitamina E podem interagir com outros medicamentos, incluindo diluentes de
sangue e medicamentos para o colesterol. No mesmo sentido, uma meta-análise realizada em
2012, por Bjelakovic et al., constatou que a vitamina E usada isoladamente ou em
combinação com outros antioxidantes aumentou significativamente a mortalidade em 46
ensaios realizados.
Isto foi consistente com uma meta-análise anterior de 19 ensaios clínicos que
concluíram vitamina E (≥400 IU / dia) aumenta o risco de mortalidade. Os autores desta
última revisão sugerem que a forma isolada de vitamina E (alfa-tocoferol) pode deslocar
outros antioxidantes lipossolúveis e perturbar o equilíbrio natural de sistemas antioxidantes,
aumentando a vulnerabilidade a danos oxidativos (Bjelakovic et al., 2012)
Parch, L. A. (2005) refere dois estudos que, segundo ele, desafiaram a reputação do
efeito positivo da vitamina E, enquanto antioxidante para os problemas cardíacos. Os
investigadores, no Women's Health Study, concluiram que as mulheres que consumiram 600
IU de vitamina E em dias alternados não ficaram protegidas da doença cardíaca, enquanto
um estudo publicado no Journal of the American Medical Association descobriu que os
suplementos podem aumentar ligeiramente o risco de falha cardíaca. (No entanto,
investigadores do mesmo organismo descobriram que tinha um efeito benéfico em mulheres
com idade superior a 65 anos - Maret G. Traber, citada por Parch, L. A., 2005).
Estudos têm mostrado benefícios da ingestão de vitamina E na redução de doenças
cardiovasculares e morte por ataque cardíaco, enquanto outros não demonstraram resultados
semelhantes. Essa discrepância pode ser devido ao facto de que apenas alfa-tocoferol ter sido
estudado de forma isolada. Isso também pode explicar por que a vitamina E, encontrada em
alimentos, é mais eficaz do que suplementos de alfa-tocoferol na redução da mortalidade por
doença cardiovascular. O alimento fornece um espectro mais amplo da família da vitamina do
que os suplementos convencionais (Bjelakovic et al., 2007; Jiang Q et al., 2001)
Nos Estados Unidos, The US preventive Services Task Force (citada por Moyer,
2014), no que respeita à utilização de suplementos vitamínicos para a prevenção de doenças
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cardio-vasculares e cancro em adultos (idade superior a 50 anos), apresentou as seguintes
conclusões: As evidências actuais são insuficientes para avaliar os benefícios e riscos dos
multivitamínicos nas doenças cardiovasculares e cancro. Por outro lado, faz recomendações
expressas contra a utilização do Beta-caroteno e do suplemento de vitamina E para a
prevenção de doenças cardiovasculares.
A vitamina B
Uma outra vitamina, aliás um complexo vitamínico – Complexo B – tem suscitado a
atenção de cientistas e a realização de várias pesquisas, nomeadamente em relação à vitamina
B6 e B12 e suas potencialidades.
Barnabé, A., et al. (2015) postulam que a deficiência vitamina B12 constitui problema
de saúde pública, afectando todos os grupos etários. Os baixos níveis desta vitamina, ainda
segundo o autor, têm sido associados com concentrações elevadas de homocisteína, que
podem conduzir a complicações de saúde. A Homocisteína, produzida quando o corpo
metaboliza a meteonina, um aminoácido essencial, decompõe-se em cisteína, ou transforma-
se novamente em meteonina. Ambas as substâncias são benignas e essenciais à vida. Mas,
para estes processos acontecerem, é necessário um consumo regular de ácido fólico e
vitaminas B12 e B6. Deficiência destes compostos produz um desequilíbrio, um disparo nos
valores de homocisteína.
A deficiência de vitamina B12 é um problema comum, mas subvalorizado em adultos
mais velhos. Historicamente, foi diagnosticada como anemia perniciosa grave mas
actualmente há uma nova compreensão de um espectro mais amplo e identificação de formas
mais leves associada a alimentos e / ou má absorção de vitamina B12. (Cadogan, 2010)
Este autor, citando um estudo de Healton et al. (1991), com 143 pacientes, identificou
a relação entre a deficiência de vitamina B12 e problemas neurológicos, sendo os mais
frequentes parestesias e a diminuição da sensibilidade vibratória e reflexos do tornozelo.
Sugere que o reconhecimento precoce da deficiência de B12 e sua reposição podem ter um
grande impacto funcional: melhoria dos sintomas neurológicos, a manutenção da
independência e melhoria da qualidade de vida
Vitaminas e suplementos vitamínicos: impacto em doenças crónicas e/ou saúde mental
(revisão da Literatura) .
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A deficiência de vitamina B12 pode manifestar-se ao nível hematológico,
gastrointestinal e através de sinais neuropsiquiátricos. Os sintomas neuropsiquiátricos podem
ser simultâneos ou precederem os outros sintomas (Mavrommati, K., & Sentissi, O., 2013).
Estes autores relatam um caso de delírio, de difícil diagnóstico, num sujeito do sexo
feminino, vegetariana. Ao ser tratado com vitamina B12 os sintomas desapareceram. O
achado sublinha a importância da realização de um painel de teste de laboratório completo
para delírio, incluindo os níveis sanguíneos de vitamina B12.
Na mesma linha, Bar-Shai, M., et al. (2011), num estudo de caso com um sujeito de
64 anos que apresentava depressão psicótica grave, verificaram que a ingestão de vitamina
B12 facilitou a cura desta sintomatologia. Segundo os autores, este caso enfatiza a
importância de se considerar a deficiência de vitamina B₁₂ no diagnóstico diferencial de
pacientes cujas apresentações parecem indicar uma etiologia orgânica. Também demonstra as
consequências neuropsiquiátricas de deficiência de vitamina B₁₂, incluindo o quadro mais
incomum de sintomas psicóticos proeminentes.
Almeida, O. P., et al. (2015) realizaram uma revisão sistemática da literatura, em que
analisaram 269 manuscritos, a fim de verificarem a correlação entre a ingestão de vitamina
B12 e depressão. Os resultados desta meta-análise sugerem que o tratamento durante um
curto espaço de tempo, com vitamina B12 não diminua a severidade dos sintomas depressivos
contudo, pode ser útil na gestão a longo prazo. Sánchez-Villegas, A., et al. (2009)
evidenciaram que a baixa ingestão de vitamina B₁₂ estava associada com a depressão entre as
mulheres. Não foram encontradas associações significativas para a ingestão de vitamina B₆.
Murakami, K., et al. (2010) sugerem que a maior ingestão de vitaminas B na dieta,
especialmente folato e vitamina B-6, está associado a uma menor prevalência de sintomas
depressivos no início da adolescência.
Pan, W., et al. (2012) e Robinson, D. S. (2009) defendem que as Vitaminas B₉ (ácido
fólico) e B₁₂ podem ser determinantes na doença mental em adultos mais velhos. Os dados
transversais sugerem que baixos níveis de uma ou de ambas podem predispor à depressão
clínica pois estas vitaminas interferem com os neurotransmissores noradrenalina, serotonina e
dopamina.
Vitaminas e suplementos vitamínicos: impacto em doenças crónicas e/ou saúde mental
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Tangney et al. (2011), num estudo que envolveu 121 idosos, durante 4,6 anos,
concluíram que a deficiência de Vitamina B12 pode contribuir para acelerar a diminuição do
volume do cérebro com a idade e, ainda, para problemas de memória, o que, segundo os
autores, constitui grande apreensão pois a nossa capacidade para absorver este nutriente tende
a diminuir com a idade e medicação tomada por idosos pode interferir com a sua absorção.
Um estudo de Anna, V., et al. (2013), com 1935 participantes noruegueses, com
idades compreendidas entre os 71 e os 74 anos concluiu que baixo nível de vitamina B₁₂ está
associada com déficit cognitivo, particularmente naqueles com depressão.
Malhotra et al. (2012), num estudo com crianças com Perturbação Desintegrativa da
Infância encontraram uma correlação com a deficiência em vitamina B12. Segundo estes
autores, é essencial reconhecer a deficiência de início, quando o dano neurológico pode ser
invertido com reposição de B12. Os níveis de homocisteína total que se acumulam no sangue
quando os níveis necessários de B12 não estão disponíveis para o seu metabolismo, deverão
ser monotorizados (Hvass & Nexo, 2006).
A vitamina C
O termo vitamina C é uma denominação genérica para todos os compostos que
apresentam actividade biológica do ácido ascórbico. Dentre eles, o ácido ascórbico é o mais
largamente encontrado nos alimentos e possui maior poder antioxidante (Infarmed, 2011;
Silva & Naves, 2011). A vitamina C aumenta a resistência do organismo a infecções virais e
bacterianas, incluindo alergias e é eficaz no tratamento de doenças respiratórias (Marjanovic-
Balazan, Ž., et al., 2014; Audera et al., 2001).
A revisão da literatura realizada, aponta, ainda, a vitamina C com potencialidades para
novas finalidades como reduzir o risco de cancro (Audera et al. 2001). Segundo Silva &
Naves (2011), os possíveis efeitos anticarcinogénicos da vitamina C estão relacionados não só
com a actividade antioxidante mas também com a capacidade da vitamina C poder inibir a
formação de nitrosaminas in vivo a partir de nitratos e nitritos usados como conservantes,
nomeadamente na produção alimentar.
Nesta linha, vários estudos observacionais têm encontrado uma forte associação entre
a alta ingestão dietética de vitamina C e uma redução da incidência de cancro do estômago,
Vitaminas e suplementos vitamínicos: impacto em doenças crónicas e/ou saúde mental
(revisão da Literatura) .
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cólon, esófago, laringe, bexiga, colo do útero, recto, mama, pulmão. Tem sido proposto que a
vitamina C pode prevenir a formação de substâncias carcinogénicas conhecidas como
compostos N-nitrosos no estômago.
Tveden-Nyborg et al. (2009), pesquisadores dinamarqueses, realizaram um estudo
com animais – porcos da guiné que, como os humanos não conseguem sintetizar Vitamina C,
só a obtêm através da dieta – com deficiência de vitamina C nas primeiras semanas de vida.
Verificaram um desenvolvimento anormal dos neurónios no cérebro (menos 30%),
nomeadamente no hipocampo. Especulam que a falta de vitamina C em grávidas e recém-
nascidos pode interferir negativamente no desenvolvimento do cérebro e vir a gerar,
deficiências neurológicas.
Morris et al. (1998) defendem , num estudo com 633 idosos, que o uso de altas doses
de vitamin C , juntamente com vitamin E , pode baixar o risco de Alzheimer..
Contudo, contrariando estes achados, Sesso et al., (2008), num estudo, realizado de
1997 até 2007, forneceram suplementos individuais de 400 IU de vitamina E em dias
alternados e 500 mg de vitamina C por dia a 14.641 médicos americanos do sexo masculino.
Neste grande estudo, nem a vitamina E nem o suplemento de vitamina C reduziram o risco de
eventos cardiovasculares maiores. Estes dados não proporcionam apoio para a utilização
destes suplementos para a prevenção de doenças cardiovasculares em homens de meia-idade e
mais velhos.
Também Gray, S. E. (2008), num estudo que decorreu ao longo de 5 anos, enfatiza
que o uso de a vitamina E e C, sozinhas ou em combinação, não reduziram o risco de
depressão ou demência.
No que respeita ao cancro, Dawsey et al. (2014) não encontram evidência da
utilização quer da utilização da vitamina C no cancro gastrointestinal.
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Considerações Finais
A revisão da literatura, em relação ao primeiro objectivo da nossa pesquisa, demonstrou
claramente, a relevância das vitaminas para o normal funcionamento metabólico do nosso
organismo, e as várias funções que elas desempenham.
São nutrientes indispensáveis, cada uma com sua função específica e relevante, mas
globalmente assegurando o funcionamento adequado do organismo. Enquanto antioxidantes, a
intervenção nomeadamente das vitaminas E e C, neste processo, torna-se particularmente
essencial para combater os radicais livres que metabolicamente criamos e/ou do meio
ambiente que nos envolve. Essenciais para a transferência e, até, produção de energia, tornam-
se vitais.
Por outro lado, também, ficou bem documentado o risco que existe, nomeadamente, no
uso indiscriminado, sem supervisão médica, especialmente das vitaminas lipossolúveis, face
ao armazenamento que tomas desnecessárias podem provocar e as consequências que, daí,
podem ocorrer. O excesso de hidrossolúveis é excretado pela urina mas tal não acontece com
as lipossolúveis, cujo consumo excessivo, desnecessário, pode conduzir à acumulação nos
depósitos de gordura, podendo mesmo atingir a toxicidade. São de encarar, com particular
atenção, as recomendações de organismos internacionais.
Portanto a publicidade, muitas vezes enganadora, assim como a ideia que se generalizou
que é preciso tomar vitaminas podem ter consequências nefastas.
Simultaneamente ficou claro que há situações que justificam directamente a utilização
de vitaminas / suplementos vitamínicos: Incapacidade do organismo em absorver ou utilizar a
vitamina; dieta desequilibrada, inadequada; degradação ou excreção excessiva; deficiência
nutricional geral ou doença; interacção medicamentosa. Assim como grupos para os quais se
deve ter atenção, a saber os adolescentes, os atletas ou quem faça bastante exercício físico e
os de mais idade.
No que diz respeito ao segundo objectivo deste trabalho, em relação à eficácia da
utilização das vitaminas na prevenção e tratamento de doenças crónicas como o cancro ou
Vitaminas e suplementos vitamínicos: impacto em doenças crónicas e/ou saúde mental
(revisão da Literatura) .
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doenças do foro da saúde mental, a pesquisa traduziu-se num misto de resultados, alguns
contraditórios.
No entanto, as várias pesquisas documentadas neste trabalho e cujos resultados foram
considerados pelos seus autores positivos, podem vir a significar um abrir de uma porta muito
importante para novas abordagens e tratamentos de doenças como cancro, estados
depressivos, de alterações cognitivas como a perda de memória no idoso, de alteração do
humor, esquizofrenia e Alzheimer.
De referir, para finalizar, que este trabalho é apenas exploratório mas, face à riqueza e
variedade dos estudos encontrados, alguns deles com uma amostra muito significativa e de
acompanhamento de vários anos, consideramos a temática muito relevante e a merecer futura
investigação.
Vitaminas e suplementos vitamínicos: impacto em doenças crónicas e/ou saúde mental
(revisão da Literatura) .
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