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IET – INSTITUTO DE ENSINO TEOLÓGICO PÓLO: SANTA CRUZ CABRÁLIA - BA ROSEMERE PEREIRA SILVA OS CONTRASTES DOS EXÉRCITOS DA GUERRA DA INDEPENDÊNCIA DA BAHIA: Mercenários e Portugueses

CONTRASTES DOS EXÉRCITOS DA GUERRA DA INDEPENDÊNCIA DA BAHIA: Mercenários e Portugueses

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IET – INSTITUTO DE ENSINO TEOLÓGICOPÓLO: SANTA CRUZ CABRÁLIA - BA

ROSEMERE PEREIRA SILVA

OS CONTRASTES DOS EXÉRCITOS DA GUERRA DA

INDEPENDÊNCIA DA BAHIA: Mercenários e Portugueses

SANTA CRUZ CABRÁLIA – BA Dezembro 2012

ROSEMERE PEREIRA SILVA

ALUNA DO CURSO DE HABILITAÇÃO EM HISTÓRIA –INSTITUTO DE ENSINO TEOLÓGICO - IET

OS CONTRASTES DOS EXÉRCITOS DA GUERRA DA

INDEPENDÊNCIA DA BAHIA: Mercenários e Portugueses

Monografia apresentada ao IET –Instituto de Ensino Teológico comorequisito parcial para obtenção daHabilitação em História.

Orientação: Prof. MSC Stéfano CoutoMonteiro

SANTA CRUZ CABRÁLIA – BADezembro 2012

IET – INSTITUTO DE ENSINO TEOLÓGICOPÓLO: SANTA CRUZ CABRÁLIA - BA

DECLARAÇÃO DE AUTORIA

OS CONTRASTES DOS EXÉRCITOS DA GUERRA DA

INDEPENDÊNCIA DA BAHIA: Mercenários e Portugueses

“Declaro ser o único autor da

presente monografia, requisito

parcial para a obtenção da

Habilitação em História e ressalto

que não recorri a qualquer forma

de colaboração ou auxílio de

terceiros para realizá-lo a não

ser nos casos e para os fins

autorizados pelo professor

orientador”.

__________________________

______

(Rosemere Pereira Silva)

Orientador: Prof. MSC Stéfano Couto

Monteiro

SANTA CRUZ CABRÁLIA - BA2012

ROSEMERE PEREIRA SILVA

ALUNA DO CURSO DE HABILITAÇÃO EM HISTÓRIA –INSTITUTO DE ENSINO TEOLÓGICO - IET

FOLHA DE APROVAÇÃO

OS CONTRASTES DOS EXÉRCITOS DA GUERRA DA

INDEPENDÊNCIA DA BAHIA: Mercenários e Portugueses

Aprovada em ____ de _______________ de ______________.

Grau atribuído à Monografia:_________________________

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________Prof. MSC Stéfano Couto Monteiro - Orientador

Professor Examinador

_________________________________________________Prof. Raimundo MorenoProfessor Examinador

_________________________________________________Prof.

Professor Examinador

SANTA CRUZ CABRÁLIA - BA2012

“As opiniões emitidas

neste trabalho são de inteira

responsabilidade do Autor e não

exprimem, necessariamente, o ponto

de vista o Instituto de Ensino

Teológico – IET.”

AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a

Deus.

A toda a minha família,

especialmente ao meu esposo.

Aos professores do IET,

por sua paciência, por seu

carinho, atenção e delicadeza

dedicados a nós alunos durante

o período de aulas.

E a todos os meus colegas

e amigos pelos muitos

incentivos.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à

minha família.

" Povos livres, lembrai-vos desta máxima: A liberdade pode ser conquistada,mas nunca recuperada.”

Jean Jacques Rousseau.

RESUMO

O presente trabalho monográfico que ora se expõe trata doprocesso de independência da Bahia. Refletiremos a respeitodas relações entre Portugal e Brasil e as mudanças advindasda transferência da corte ao Brasil na Capitania,sugerindo-se que não haveria o acúmulo de expectativas quevisavam ao rompimento com o império português durante operíodo, a despeito do que se encontra assentado em certahistoriografia. Falaremos sobre os fatores motivacionais ea consequência da guerra para a Bahia e Brasil, sobre aspessoas que mais influenciaram a independência e sobre ascidade que participaram desse processo. Para a realizaçãodeste trabalho foi feita uma pesquisa bibliográfica decunho analítico e interpretativo.

Palavras-chave: Independência; Bahia; Brasil.

INTRODUÇÃO

O dia 2 de julho é celebrado como o Dia da

Independência da Bahia. A data nasceu em 1823, dez meses

após a independência do Brasil, quando o país se livrou dos

laços que o prendiam a Portugal. O curioso dessa história é

que, fora da Bahia, tanto a data quanto os acontecimentos

que ela celebra são praticamente desconhecidos. Segundo o

historiador baiano Luís Henrique Dias Tavares, isso se deve

ao fato de que São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais

ganharam uma posição de destaque por causa da proclamação

da República e pelo desdobramento da chamada Revolução de

1930.

O processo de independência da Bahia foi marcado por

vários episódios importantes. Uma guerra teve início no

estado e, de fevereiro de 1822 a julho de 1823, foi

pontuada por muita violência desenfreada, uma legião de

feridos, mortes, destruição de edificações, colapso dos

serviços urbanos etc. Heróis surgiram, em sua maioria,

originários das camadas mais pobres da população. Maria

Quitéria, João das Botas e o Corneteiro Lopes são exemplos

destes nomes que, curiosamente, não são lembrados nos

livros didáticos de História do Brasil.

Quando Portugal nomeou Ignácio Luiz Madeira de Mello

como novo governador de Armas do Brasil, surgiu um

movimento de resistência que envolveu civis e militares.

Tropas portuguesas começaram a invadir os quartéis. Em

Salvador, tomaram o Forte de São Pedro e o Convento da

Lapa, onde havia alguns soldados brasileiros. Neste

episódio, a abadessa Sóror Joana Angélica tentou impedir a

invasão e acabou sendo morta.

Concluída a ocupação militar em Salvador, a cidade

recebeu novas tropas portuguesas e muitas famílias baianas

fugiram para as cidades do recôncavo. Na resistência, o

coronel Joaquim Pires de Carvalho reuniu todo seu armamento

e tropas e entregou o comando ao general Pedro Labatut.

Pouco a pouco os territórios baianos foram sendo retomados.

Sob o comando do coronel José Joaquim de Lima e Silva

o exército realizou uma grande ofensiva contra os

portugueses, resultando na rendição das forças portuguesas.

Com a vitória, o Exército Brasileiro entrou em Salvador no

dia dois de julho de 1823, consolidando a retomada da

cidade e fim da ocupação portuguesa no Brasil.

A Bahia foi o último foco de todo o processo da

Independência do Brasil. O Dois de Julho deve ser entendido

como a verdadeira independência do país. A data merece ser

resgatada e valorizada como um importante marco na

história, não só da Bahia, mas do Brasil.

Esse trabalho pretende analisar mais a fundo sobre

todo esse processo de Independência: a guerra, os fatores

motivacionais e os principais incentivadores.

CAPÍTULO I – COMO SE DEU O PROCESSO DE INDEPENDÊNCIA

DO BRASIL E DA BAHIA

A história da independência da Bahia esta vinculada a

independência do Brasil. Para compreender essa situação,

precisamos vislumbrar a História no período em que nosso

país passava por uma transição, assim a independência do

Brasil é no dia 07 de setembro de 1822 e nós comemoramos a

independência aqui na Bahia, em 02 de julho de 1823,

simplesmente porque de acordo o professor Cid Teixeira: o foco político vinculado a Lisboa, era umfoco político ligado à metrópoleportuguesa, era um foco político que tinhamuito pouco a ver com o Brasil do nordesteque era o Brasil produtor, o Brasil que

interessava ao fisco, o Brasil queinteressava ao negociante de açúcar, oBrasil que interessava à produção e não oBrasil que interessava à política.

Portanto, uma coisa era o grito do Ipiranga e outra

coisa era garantir o domínio sobre o território nacional e

foi isso que aconteceu na Bahia. A guerra da Bahia, onde

brilhou o heroísmo popular, além de lideranças como

Labatut, Lima e Silva, João das Botas, Maria Quitéria,

entre tantos outros.

Em carta a José Bonifácio, Labatut registra: "Nenhum

filho de dono de engenho se alistou para lutar". A

consciência da possibilidade de uma nação surgiu de baixo.

Foram meses de luta, batalhas em diversos pontos do

Recôncavo Baiano, sendo a mais famosa a de Pirajá, onde

segundo consta, o corneteiro Lopes decidiu a vitória

tocando 'avançar' quando havia sido instruído para fazer o

contrário. Vitória brasileira.

Em Santo Amaro e Cachoeira, as duas principais cidades

do Recôncavo, aconteceram importantes episódios históricos

vinculados ao processo da Independência da Bahia. Coube ao

Senado da Câmara de Santo Amaro, em 14 de junho de 1822,

reunir-se e decidir que o Brasil deveria ter um centro

único de Poder Executivo, segundo regras de uma

constituição liberal e ter direito a exército e marinha sob

a autoridade do Príncipe Regente. Também a Câmara de

Cachoeira, em 25 de junho 1822, proclamou o Príncipe

Regente “defensor e protetor deste Reino do Brasil”. Esses

atos e manifestações marcaram a adesão da Bahia ao

movimento pela independência, que tomaram impulso no sul do

país.

No dia 18 de fevereiro, marinheiros portugueses

cercaram e tomaram o Forte de São Pedro e o quartel da

Mouraria, onde se concentravam os militares brasileiros.

Sendo superiores em número e armamento, eles logo dominaram

a cidade e cometeram absurdos, culminando com o assassinato

de Soror Joana Angélica, no Convento da Lapa, onde também

feriram o Padre Daniel da Silva Lisboa, capelão do

Convento.

Os baianos não aceitaram a perda da cidade. Militares

brasileiros saíram do Forte de São Pedro e armaram

guerrilhas nas matas, desde Brotas até a Fazenda Garcia.

Militares, civis e famílias inteiras refugiaram-se no

Recôncavo.

A Guerra da Independência da Bahia tornou-se uma oposição

entre Salvador, com os comerciantes portugueses ligados às

cortes de Lisboa, e o Recôncavo, centro de articulação das

forças nacionais, com os senhores de engenho radicados na

terra e lutando por ela.

No Recôncavo baiano surgiram milícias e grupos de

voluntários, armados e mantidos pelos senhores de engenho.

No dia dois de julho, o Exército Libertador entrou

triunfante na cidade do Salvador, sob o comando do General

Lima e Silva.

A libertação de Salvador do domínio de tropas

portuguesas foi longa e difícil. Na realidade, as lutas

contra as forças portuguesas do brigadeiro Madeira de Melo,

a mais alta autoridade militar da província, começaram a

crescer desde 1820. Com a independência proclamada por dom

Pedro, os conflitos aumentaram.

Portugal desejava fazer de Salvador um foco de

resistência à independência da Colônia. No início de 1823,

tropas portuguesas chegaram a Salvador para reforçar os

contingentes da Metrópole. As tropas brasileiras de Manuel

Pedro, que havia sido nomeado por dom Pedro para a mesma

função de Madeira de Melo, foram derrotadas. Diante da

derrota, recuaram para o Recôncavo Baiano, pois os

habitantes dessa região eram os maiores defensores da

independência.

Nos primeiros meses de 1823, a situação de Salvador

deteriorou muito. Sem alimentos, as doenças matavam cada

vez mais pessoas. Diante dessa situação, o chefe português

permite a saída dos moradores de Salvador e cerca de 10 mil

pessoas deixam a capital da província. Em fins de maio, uma

nova frota brasileira comandada pelo inglês lord Cochrane

chega a Salvador. Vendo que era inútil a resistência, as

tropas portuguesas se rendem.

O mês de julho começa com o embarque dos portugueses. No

dia 2, o Exército brasileiro entra vitorioso em Salvador.

As guerras de independência, em especial a que se

travou na Bahia, revelam um aspecto importante no processo

da emancipação política do Brasil, muitas vezes pouco

valorizado em nossos estudos históricos: a independência

enfrentou uma questão militar. E como o Brasil não tinha

uma estrutura militar adequada às necessidades de seu

imenso território, precisou lançar mão de tropas

mercenárias, comandadas por oficiais estrangeiros.

1. 1 – Fatores que motivaram a luta pela independência

da Bahia

A declaração de independência feita por Dom Pedro I,

em sete de setembro de 1822, deu início a uma série de

conflitos entre governos e tropas locais ainda fiéis ao

governo português e as forças que apoiavam nosso novo

imperador. Na Bahia, o fim do domínio lusitano já se fez

presente no ano de 1798, ano em que aconteceram as lutas da

Conjuração Baiana.

No ano de 1821, as notícias da Revolução do Porto

reavivaram as esperanças autonomistas em Salvador. Os

grupos favoráveis ao fim da colonização enxergavam na

transformação liberal lusitana um importante passo para que

o Brasil atingisse sua independência. No entanto, os

liberais de Portugal restringiam a onda mudancista ao

Estado português, defendendo a reafirmação dos laços

coloniais.

As relações entre portugueses e brasileiros começaram

a se acirrar, promovendo uma verdadeira cisão entre esses

dois grupos presentes em Salvador. Meses antes da

independência, grupos políticos se articulavam pró e contra

essa mesma questão. No dia 11 de fevereiro de 1822, uma

nova junta de governo administrada pelo Brigadeiro Inácio

Luís Madeira de Melo deu vazão às disputas, já que o novo

governador da cidade se declarava fiel a Portugal.

Utilizando autoritariamente as tropas a seu dispor,

Madeira de Melo resolveu inspecionar as infantarias, de

maioria brasileira, no intituito de reafirmar sua

autoridade. A atitude tomada deu início aos primeiros

conflitos, que se iniciaram no dia 19 de fevereiro de 1822,

nas proximidades do Forte de São Pedro. Em pouco tempo, as

lutas se alastraram para as imediações da cidade de

Salvador. Mercês, Praça da Piedade e Campo da Pólvora se

tornaram os principais palcos da guerra.

Nessa primeira onda de confrontos, as tropas

lusitanas não só enfrentaram militares nativos, bem como

invadiram casas e atacaram civis. O mais marcante episódio

de desmando ocorreu quando um grupo português invadiu o

Convento da Lapa e assassinou a abadessa Sóror Joana

Angélica, considerada a primeira mártir do levante baiano.

Mesmo com a derrota nativista, a oposição ao governo de

Madeira de Melo aumentava.

Durante as festividades ocorridas na procissão de São

José, de 21 de março de 1822, grupos nativistas atiraram

pedras contra os representantes do poderio português. Além

disso, um jornal chamado "Constitucional" pregava oposição

sistemática ao pacto colonial e defendia a total soberania

política local. Em contrapartida, novas forças subordinadas

a Madeira de Melo chegavam a Salvador, instigando a

debandada de parte da população local.

Tomando outros centros urbanos do interior, o

movimento separatista ganhou força nas vilas de São

Francisco e Cachoeira. Ciente destes outros focos de

resistência, Madeiro de Melo enviou tropas para Cachoeira.

A chegada das tropas incentivou os líderes políticos locais

a mobilizarem a população a favor do reconhecimento do

príncipe regente Dom Pedro I. Tal medida verificaria qual a

postura dos populares em relação às autoridades lusitanas

recém-chegadas.

O apoio popular a Dom Pedro I significou uma afronta

à autoridade de Madeira de Melo, que mais uma vez respondeu

com armas ao desejo da população local. Os brasileiros,

inconformados com a violência do governador, proclamaram a

formação de uma Junta Conciliatória e de Defesa instituída

com o objetivo de lutar contra o poderio lusitano. Os

conflitos se iniciaram em Cachoeira, tomaram outras cidades

do Recôncavo Baiano e também atingiram a capital Salvador.

As ações dos revoltosos ganharam maior articulação

com a criação de um novo governo comandado por Miguel

Calmon do Pin e Almeida. Enquanto as forças pró-

independência se organizavam pelo interior e na cidade de

Salvador, a Corte Portuguesa enviou cerca de 750 soldados

sob a lideranaça do general francês Pedro Labatut. As

principais lutas se engendraram na região de Pirajá, onde

independentes e metropolitanos abriram fogo uns contra os

outros.

Devido à eficaz resitência organizada pelos

defensores da independência e o apoio das tropas lideradas

pelo militar britânico Thomas Cochrane, as tropas fiéis a

Portugal acabaram sendo derrotadas em 2 de julho de 1823. O

episódio, além de marcar as lutas de independência do

Brasil, motivou a criação de um feriado onde se comemora a

chamada Independência da Bahia.

1. 2 - Movimento pela Independência do Recôncavo

Concluída a ocupação militar da cidade de Salvador. O

Brigadeiro Português Inácio Luiz Madeira de Mello e seus

comandantes adotaram uma linha de providências que visava

duplamente justificar as decisões que tomaram para posse do

governo das armar e obter apoio político local para manter

a Bahia unida a Portugal. Madeira de Mello divulgou uma

proclamação na qual afirmava desejar “que a harmonia torne

a estabelecer-se entre tantos milhares de cidadãos de uma

mesma nação súbditas de um mesmo rei, que só deve

considerar-se entre se como irmão”. Mas estava preparado

para uma luta demorada; e para as suas tropas portuguesas

comandados pelo brigadeiro Francisco Joaquim Caneti e que

tinha sido expulsos do Rio de Janeiro por ordem do

Principio D.Pedro. Um número apreciável de famílias

abandonaram a cidade. Iam para o Recôncavo: Santo Amaro,

São Francisco do Conde, Cachoeira, Maragogipe,...

Existiriam em abril várias conspirações contra o

governo militar que Madeira de Mello estabeleceria na

cidade de Salvador; algumas tendiam para o reconhecimento

da autoridade do Príncipe Regente D.Pedro. Mas só se

definiram entre maio/junho. E nesse sentido influiu a

carta-consulta de 22 de março dos deputados baianos às

Cortes, um documento preparado com o espírito conciliador

do parecer da Comissão Especial dos Negócios do Brasil, mas

que, ainda assim, uniu proprietários, oficiais militares e

intelectuais liberais nas mesmas posições de reconhecimento

da regência no Rio de Janeiro e da aceitação da autoridade

do Príncipe D.Pedro. O jornal O Constitucional esclarece:

“Defendemos e havemos de defender a posição de ter o

Brazil, hum Centro de Poder Executivo”.

Tentou-se um primeiro pronunciamento na Câmara da

cidade de Salvador. Marcado para 12 de junho, nesse dia as

tropas portuguesas bloquearam as ruas da Misericórdia e a

Direita do Palácio, a Praça da Câmara e todas as vias de

acesso; a reunião estava proibida. Dois dias depois (14 de

junho) reuniu-se a Câmara de Santo Amaro. E, com a

participação do Ouvidor da Comarca, Desembargador Antônio

José Duarte d’Araújo Gordin, dos vereadoras João Lourenço

de Atayde Seixas, Antônio de Araújo Gomes Junior; Raymundo

Gonçalves Martins, do juiz-de-fora e presidente da Câmara

Joaquim José Pinheiro de Vasconcelos, do procurador da vila

Joaquim José Ribeiro Juimones; de oficiais da milícia,

religiosos, advogados, políticos e professore; decidiu: “

Que haja no Brazil, hum Centro único de Poder Executivo,

que este poder seja exercido por sua Alteza rela, o

Príncipe Real” (D.Pedro). A partir da aprovação dessa

resposta a carta-consulta dos deputados baianos ás Cortes é

possível encontra uma seqüência de preparativos para a

união da Bahia ao Príncipe D.Pedro, já então aclamado no

Rio de Janeiro Defensor Perpetuo e Constitucional do

Brasil.

A 21 de junho há uma reunião, proprietários,

lavradores, militares, na final inventariam armas e

munição; em 24 de junho concentram-se soldados e oficiais

militares sob o comando dos grandes proprietários e

coronéis da milícia José Garcia de Moura Pinetu e Aragão e

Rodrigo Antônio Falcão Brandão. No sitio de Belém, povoado

pouco acima da Vila de Cachoeira. a) O 25 de junho. Foram

esses que oficiaram convocando uma reunião da Câmara. E

reunida às 9 horas da manhã de 25 de junho de 1822, essa

câmara indaga “do povo, e tropa” (...) “se erão contentes

que se aclamasse a S.A.R. o sr. D.Pedro de Alcântara, por

Regente Perpétuo Defensor e Protector do Reino Brazil.” Com

a resposta afirmativa, o procurador da vila, Manuel

Teixeira de Freitas jogou o estandarte da Câmara para o

povo e a tropa reunida na praça aparentemente significando

que lhes entregava o símbolo do poder. Lavrou-se uma ata. E

estava celebrando Ti Deum na igreja de Nossa Senhora do

Rosário quando a escuna canhoneira pilotada por Madeira de

Mello disparou o primeiro tiro contra a vila; quase ao

mesmo tempo, de suas casas alguns portugueses atiraram nos

que passavam. Mas foi somente no dia seguinte que se formou

a Junta Interina, Conciliadora e de Defesa, que se instalou

no Hospital São João de Deus e adotou as suas primeiras

decisões de governo: enviar mensageiros às vilas e povoados

para informar-lhes a aclamação do príncipe e as

hostilidades portuguesas já declaradas para a escuna

canhoneira; e organizar forças para deter os tiros da

canhoneira e dos portugueses isolados em suas residências.

Aproveitavam uma “velha peça de ferro” para improvisar a

arma com que responderam aos disparos da canhoneira. Também

utilizaram vaívens mandados. E embora fossem precárias,

essas armas, serviram e no entardecer de 28 apareceu uma

bandeira branca na canhoneira, que foi tomada e de onde

vieram presos o capitão e 26 soldados.

Nesse junho de 1822, Francisco Carneiro de Campos e

José Cardoso Pereira de Mello abandonaram a Junta

Provisória da Bahia, já então virtualmente prisioneira das

tropas portuguesa; foram para o Rio. Pouco antes deles,

Francisco Elesbão Pires de Carvalho e Albuquerque deixa a

residência dessa Junta e seguiria para Santo Amaro. b)

Adesão das Vilas: A 26 de junho ocorreu a reunião na Câmara

da vila de Maragogipe que decidiu: “no Reino Brazil deve

residir hum único centro de poder executivo na pessoa do

príncipe real”.. No dia 29 chegou a Cachoeira, uma

delegação das vilas de São Francisco do Conde e de Santo

Amaro, composta do tenente coronel Felisberto Gomes

Carneiro, do major-de-engenharia Antônio Mario da Silva

Torres (um e outro, conspiradores do 03 de novembro) e de

Miguel Calmon Du Pim e Albuquerque. Propuseram que a Junta

ampliasse suas atribuições para transformar em governo

militar e civil legitimo em todas as vilas do Recôncavo.

Em 29 de junho, as vilas de São Francisco do Conde e

de Santo Amaro aclamaram o Príncipe D.Pedro, Regente

Constitucional do Brasil. Por esses dias, Joaquim Pires de

Carvalho e Albuquerque de Ávila Pereira, chamado Santinho,

empolou o comando geral das tropas milicianas. Sucintas,

mas incisiva representação de São Francisco e Santo Amaro

pediu em agosto “o estabelecimento de um governo geral, não

só para o recôncavo e comarca da Bahia, mas também para

toda a província”. Queriam um conselho, ao qual “todas as

autoridades civis e militares sem excepção alguma ficarão

subordinados”. Interino teve a seguinte composição:

Santo Amaro: Francisco Elisbão Pires de Carvalho e

Albuquerque que seria eleito Presidente do Conselho em 6 de

setembro; Cachoeira: Francisco Gomes Bedão Montizuma, que

seria eleito secretario em 6 de setembro; São Francisco do

Conde: Desembargador Antônio José Duarte D’Araújo Gondin;

Jaguaribe: Capitão Manuel Gonçalves Maria Bittencourt;

Maragogipe: Capitão-mor Manuel Silva Souza Coimbra;

Inhampube: Coronel Simão Gomes Ferreira Vellozo; Pedra

Branca: Cônega Manuel Dênde Bus; Abrantes: Miguel Calmon du

Pim e Almeida; Itapicuru: João Dantas dos Reis Portátil;

Valença: Reverendo Theodozio Rios de Castro; Água Fria:

Vigário Francisco José de Miranda Jacobina: Comendador

Francisco Ayres de Almeida; Maraú: Manuel dos Santos Silva;

Rio de Contas: Capitão José Valentim de Souza; Camanu:

Reverendo Izidoro Manuel Mendes; Santarém: Capitão Pedro

Jorge Vilimo; Cairu: Pedro José de Melo Varjão. Esse

conselho exerceu enérgica e constante ação política,

militar e administrativa desde a sua instalação e procurou

manter-se no governo ao longo da campanha militar. Nos seus

primeiros dias, dirigiu-se às Câmaras e exigiu votos de

fidelidade e obediência; organizou batalhões; reuniu e

distribuiu armas e munição; e até que o coronel Santinho

entregasse o camando dessas forças ao general Pedro

Labatut; o Conselho interino suscitou as proposições de

defesa estabelecidas na Ilha de Itaparica e nos pontos do

Funil, São Roque, Encarnação, Iguape, Saubara e Ponta de

Nossa Senhora.

1. 3 - Guerra pela Independência

Era a Guerra pela Independência do Brasil na Bahia. Ao

longo do decurso, há uma primeira fase, na qual as

operações de guerra seguiram iniciativas locais, embora

sofra controle geral do Conselho Interino e comando do

Coronel miliciano Santinho, Joaquim pires de Carvalho e

Albuquerque de Ávila Pereira, que seria depois Visconde de

Pirajá. E lha numa segunda fase, essa sob o comando

unificado do General Pedro Labatut. Na fase que vai de

junho a outubro de 1822, sugiram diversos Batalhões

Patrióticos, alguns dos quais se tornaram conhecidos:

Campanha dos “Caçadores de Santo Amaro”, que obedeceu ao

comando do proprietário Capitão Antônio Bittencourt

Berenguer César; “Voluntários da Vila de Argolo; e os

voluntários do Príncipe D.Pedro”, denominado dos Periquitos

(por causa da farda), sob comando do Major Miliciano

Castro. Esse batalhão foi posteriormente adestrado ao

Exercito e tornou-se Batalhão dos Caçadores, a ele

pertenceu Maria Quitéria.

A esquadra que trouxe Labatut partiu do Rio a 1 de

junho; transportava 38 oficiais e 260 soldados. Purigiu-se,

porém para Alagoas e de Alagoas para Pernambuco, onde

Labatut incorporou 250 homens da tropa de linha, soldados

armados e “pagos por trez meses” e oficiais brasileiros,

dos quais é o maior exemplo, o coronel José de Barros

Lacerda. Labatut alcançou a “Fera do Capuame” em 28 de

outubro. Nesse mesmo dia o coronel Santinho reuniu todo o

armamento e tropa para o Engenho Novo de Pirajá e entregou

o comando. Em seguida Labatut dedicou-se à organização e a

disciplina do Exercito. E, em tom sereno, apresentando-se

como pacificador, intimou Madeira de Mello. Todavia

descrente de qualquer solução pacifica organizou o Exercito

em duas “Brigadas” colocando a primeira brigada na área de

Cabrito – Campinas – Pirajá e a segunda em Armação

“avançando duas léguas de Itapoan”; o Tenente Coronel José

Falcão de Gomes Caldera. Tornou outras providências,

principalmente para municias a tropa e suprir o Tesouro

geral do Exercito. Era severo o distante, e inaugurou seu

comando com a disciplina de guerra em que fora educado na

Europa. É nessa fase que a guerra pela Independência do

Brasil na Bahia vive alguns dos seus principais choques

bólicos, o mais importante dos quais foi a Batalha de

Pirajá. a) A Batalha de Pirajá: Travou-se na área de

Cabrito – Campinas – Pirajá. Teria durado oito chovas. E

movimentou 4000 homens constituindo-se desde então na mais

alta demonstração da resistência Brasileira ao longo da

cansativa, ingrata e merosa campanha militar pela

Independência. Contudo, que sabemos dessas batalhas? Em

verdade, muito pouco: o comunicado de Labatut para o

Conselho Interino, data de 9 de novembro, no qual informe

que as forças de Madeira de Mello foram “obrigadas a ceder

pelo valor, o de novo das bravas Tropas Pernambucanas e do

Rio de Janeiro, como também pelos soldados da Legião da

Bahia”; a corta ao Ministro José Bonifácio de Andrade e

Silva; e as noticias publicadas nos jornais “Seminário

Cívico e Idade d’Ouro” . Pela escassez e imprecisão dos

informes, passou a dar grande credito à versão de Ladislau

dos Santos Titaro, o autor do poema “Paraguaçu” e a quem se

respeita como testemunha ocular da campanha militar pela

Independência, pois exerceu o encargo de registrar em

linhas todas as correspondências do General Labatut.

Nas informações de Labatut, mas noticias dos jornais

portugueses aparecem à tenacidade dos oficiais e soldados

brasileiros, regulares, milicianos e voluntários, e o erro

tático do Coronel Português Francisco José Pereira, que

atacou pela esquerda e abriu para Armação e Boca do Rio,

assim enfraquecendo o centro do ataque a Campinas – Pirajá,

o que concedeu ao Tenente Coronel Barros Falcão (Labatut

nau participou da Batalha de Pirajá) uma brecha para a

ofensiva.

CAPÍTULO II – PESSOAS QUE SE ENGAJARAM NA LUTA PELA

INDEPENDÊNCIA DA BAHIA

A guerra de Independência da Bahia envolveu,

principalmente, as cidades do Recôncavo Baiano - região

assim chamada porque arrodeia a "Baía de Todos os Santos" -

caracterizada pelo solo de massapé, propício ao cultivo da

cana-de-açúcar, para o qual os negros foram importados da

África. Isso justifica a predominância do crioulo na

capital e adjacências, o que não é tão frequente no

interior baiano. Treze mil brasileiros se alistaram nas

linhas baianas, incluindo tropas vindas do Rio. A Legião de

Caçadores, a Artilharia e o 1º Batalhão de Infantaria

estavam sob o comando do General Pedro Labatut, mercenário,

que serviu o exército de Napoleão. Além do Brigadeiro José

Joaquim de Lima e Silva. Para a refrega, financiada por

senhores de engenho, foi recrutado um batalhão de negros

forros.

Além disso, prometeu-se alforria aos escravos que

participassem dos embates. Do lado dos portugueses, lutaram

os comerciantes lusitanos, o 12º Batalhão de Infantaria, a

Cavalaria e alguns marinheiros, todos liderados por Madeira

de Mello, general português.

Assim, no sítio da capital, aconteceram escaramuças

nos bairros das Mercês, Lapinha, Piedade e Liberdade, além

das localidades de Cabrito e Pirajá (fora da capital) e nas

cidades de Cachoeira, São Félix, Santo Amaro e Itaparica,

além de outros locais. Como exemplo de fatos que vieram a

desencadear a insatisfação popular, pode-se citar a

conspiração que ocorreu em fevereiro de 1821. De cunho

constitucionalista, o entrevero foi obra dos portugueses,

que queriam limitar o poder real e exigiram até o retorno

de D. Pedro a Portugal, pois incomodava a metrópole o

status que tínhamos de "reino unido". Diversas revoltas,

principalmente de escravos, espocavam nos primeiros anos do

século 19. O aumento da população escrava, aliado a

diversas crises de abastecimento, foi um dos fatores

contribuintes para a eclosão da revolta.

2.1 – Um Processo Libertário

A luta pela libertação do jugo português - um processo

que veio se desenvolvendo havia muito tempo - caracterizou-

se intrinsecamente como movimentos libertários em que o

elemento racial brasílico se rebelou contra o domínio

colonialista. Nesse sentido, pode-se considerar a luta como

uma oposição entre o branco português e os mestiços

baianos, ainda que predominasse a raça branca entre os

senhores de engenho, que foram os patrocinadores

financeiros da revolta. Isso porque o grosso do efetivo, a

massa que se rebelou naqueles dias nas ruas da capital,

localidades adjacentes e outras cidades do Recôncavo, era

de predominância étnica mestiça. A participação negra nos

conflitos foi muito significativa, embora houvesse

resistência a ela entre as elites libertárias.

O professor Dilton Oliveira de Araújo, docente da

cadeira de História do Brasil do departamento de História

da Universidade Federal da Bahia explica:

"Aparticipação de escravos foi posta,sobretudo, pelo comandante doExército Libertador, o generalPierre Labatut, que convocou eincorporou escravos. Isso crioumuita polêmica, porque osproprietários não aceitavam essetipo de prática. Vários escravoschegaram a tentar a incorporação àsforças baianas, mas não houve novaslevas de recrutamento, o alvoroço,porém, foi significativo entreeles".

Uma evidência da participação popular,

predominantemente mestiça (reflexo da insatisfação que

levou a anteriores revoltas), aconteceu a partir de

fevereiro de 1822, com a substituição do comandante das

armas da província, Manoel Pedro de Freitas Guimarães, pelo

brigadeiro português Madeira de Melo, nomeado pelas cortes

portuguesas.

Ao chegar a Salvador, sofreu uma reação popular

enorme, o que gerou pelo menos cinco dias de conflitos na

cidade. Foram dias em que a população pobre e livre saiu às

ruas para protestar contra o fato exposto, o que se somava

a outras insatisfações, a exemplo da ira contra o domínio

português no comércio da cidade. Dilton Oliveira explica:

"Nesse momento de descontrolesocial e político, grupos saíram àsruas, provocando medo na populaçãoabastada e branca, e nasautoridades. Esses eventos não selimitaram aos dias de fevereiro,estendendo-se pelos meses seguintes

e foram importantes para a tomadade posição das elites agráriasbaianas em apoio ao PríncipeRegente D. Pedro".

E ainda acrescenta: "Também índios foram recrutados,

Era habitual o uso de índios como elemento militar. O

português fez isso desde o século 16 e continuou a fazer ao

longo do tempo." Assim, o índio foi, naturalmente,

incorporado aos efetivos que lutavam pela independência.

"No momento da guerra de independência -afirma o professor

- essa prática foi mais uma vez reiterada e arregimentaram-

se grupos indígenas como soldados de regiões próximas como

o Recôncavo, mas também de regiões sertanejas, como o

sertão da Ressaca, onde hoje fica o município de Vitória da

Conquista."

Entre as lideranças militares libertárias,

predominava, porém, a raça branca. Sempre houve, desde os

tempos coloniais, enormes diferenças de tratamento entre

brancos e negros e isso ocorria também no âmbito militar,

em cuja estrutura havia um número considerável e crescente

de negros e mestiços. Mas a participação efetiva popular

mestiça reivindicatória foi inconteste e já se desenhava

havia muito tempo. Diz Dilton Oliveira:

"Aliás, essas questões já sefizeram presentes na Revolta dosAlfaiates de 1798, momento em queos pasquins sediciosos que foramafixados em vias públicasreivindicavam igualdade entre osgrupos, independente da cor dapele",

2.2 – O recrutamento de escravos na época da guerra

Em meados de 1822, alguns meses depois da derrota das

unidades do exército brasileiro pelas forças portuguesas em

Salvador, ocorrida em fevereiro, senhores-de-engenho

patriotas juraram fidelidade a Dom Pedro I, que na época

aos poucos construía um governo autônomo no Rio de Janeiro

e se preparava para a ruptura definitiva com Lisboa. Eles

organizaram o assédio a Salvador com um exército

improvisado composto de milícias rurais, soldados e

oficiais da primeira linha de Salvador refugiados no

Recôncavo, a milícia não-branca da cidade, e uma grande

quantidade de unidades patriotas organizadas por

voluntários. Em fins de outubro, chegou Pierre Labatut para

comandar as forças patriotas em nome de Pedro, além de um

pequeno contingente de tropas e milicianos do Rio de

Janeiro, uma força maior de Pernambuco, e uma grande

quantidade de armas. Em Janeiro de 1823, o Batalhão do

Imperador, com 800 efetivos, chegou do Rio de Janeiro e

juntou-se ao número crescente das forças patriotas locais.

Pelo fim do assédio, o Exército Pacificador, nome dado às

suas forças pelos patriotas, aproximava-se de um efetivo de

15.000 homens.

O recrutamento em larga escala empreendido em 1822 e

1823 inevitavelmente provocou mudanças na composição social

da fileira, da qual pretos e pardos eram oficialmente

excluídos no final da época colonial (apesar de que estes

fossem às vezes admitidos se tivessem a pele clara).

Algumas fontes dispersas sugerem que a fileira patriota era

notavelmente mais escura do que a da época colonial. Uma

testemunha ocular viu "brancos, pretos e pardos" na

guarnição de um forte no litoral, enquanto numa companhia

de tropas irregulares serviam trinta e um pardos, quatro

brancos e dois cabras, contudo sob comando de três oficiais

brancos. O recrutamento penetrou mais fundo na população

anteriormente isenta em meados de novembro de 1822, quando

Labatut solicitou que o Conselho fornecesse o maior número

de "pardos e pretos forros" que fosse possível para

preencher o projetado Batalhão de Libertos Constitucionais

e Independentes do Imperador (que não deve ser confundido

com o Batalhão do Imperador do Rio de Janeiro). O Conselho

replicou que procuraria recrutar tais homens, mas sem

coação, pois qualquer recurso ao recrutamento forçado era

"o rebate mais eficaz para afugentar e dispersar pelos

matos famílias inteiras em dano da Causa e da agricultura".

A essa altura, Labatut não tencionava recrutar escravos;

apenas solicitava que autoridades civis abandonassem sua

relutância em recrutar libertos, e especialmente libertos

negros.

A questão dos escravos era bem diversa. Há indícios de

que, já em setembro de 1822 (antes da chegada de Labatut),

patriotas pretendiam usá-los. Maria Quitéria de Jesus

contou depois a Maria Dundas Graham que patriotas então

queriam obrigar seu pai, um português, a contribuir com um

escravo, pois não tinha filhos para dar ao exército. A

resposta dele "que interesse tem um escravo para lutar pela

independência do Brasil?" sem dúvida refletia atitudes bem

difundidas, e a julgar pela reação posterior às propostas

para recrutar escravos, é improvável que os patriotas

intentassem alistar esse escravo; é mais provável que ele

fosse destinado a trabalho braçal em apoio à mobilização.

Seja como for, Graham não deixa claro se o pai de Maria

Quitéria se desfez de um escravo por essa época (ele acabou

perdendo sua filha, o que causou outros problemas para os

comandantes patriotas quando foi descoberto que ela se

alistara).

Labatut era menos escrupuloso no que tocava ao

recrutamento de escravos, e em dezembro de 1822 o Conselho

Interino queixou-se de que o general francês empreendera a

"horrorosa" medida de criar um "Batalhão de negros cativos,

crioulos e africanos," cujos soldados já estavam sendo

treinados. Aparentemente, o general confiscara e recrutara

à força os escravos de alguns senhores portugueses que

estavam ausentes, principalmente a família Teixeira

Barbosa, e em decorrência disso corriam boatos que qualquer

escravo que se oferecesse voluntariamente seria liberto.

Sem fim previsível para a guerra e em face da falta de

recrutas livres, Labatut propôs em abril de 1823 que o

Conselho organizasse uma contribuição voluntária de

escravos pelos senhores baianos. Aparentemente, ele

discutira a proposta privadamente com o juiz de fora de São

Francisco e Santo Amaro em fins de fevereiro, e apresentou-

a como uma "patriótica proposição" do juiz. O general

todavia considerava-a mais do que uma sugestão, pois mandou

dois oficiais do seu quartel-general para Cachoeira afim de

administrar essa leva. O Conselho esquivou-se, apelando a

Labatut para que ele agisse de forma mais prudente, e

sugerindo que as câmaras municipais fossem consultadas

antes de qualquer recrutamento. Uma semana mais tarde, os

vereadores de Jaguaripe julgaram, como era de esperar, que

a proposta de Labatut era um grande erro. Além de não haver

muitos escravos disponíveis na vila, faltavam-lhes a honra

e o desinteresse de "um digno filho de Marte"; apenas a

oportunidade de saquear a propriedade alheia os motivaria a

lutar. Mais importante, concluiu o Conselho, a seleção de

escravos para o serviço militar teria resultados funestos

quando os que não fossem libertos se juntariam aos

escravos-soldados para se levantarem. Essa proposta não foi

adiante e a queda de Labatut em maio de 1823 pôs fim ao

esforços para recrutar escravos.

Para o Conselho Interino, a iniciativa de Labatut era

profundamente preocupante, não só por causa da ameaça do

recrutamento de escravos ao direito de propriedade, mas

também porque tocou a questão racial. "É verdade já

incontestável," escreveu o Conselho em meados de abril de

1823, "que as classes de cor têm no Brasil o maior ciúme

por não entrarem promiscuamente nos empregos públicos".

Enquanto os portugueses esperavam que um conflito racial

entre os brasileiros concorresse para a preservação do seu

domínio sobre o Brasil, não era "fácil, nem de modo algum

político conceder já aquela igualdade para aparecerem

homens de cor nos primeiros empregos". Portanto, "muito

convém ter a maior política com a situação destas classes,

desarmando-as delicada e prudentemente". Labatut agira de

forma imprudente, insistiu o Conselho, resumindo os

esforços do general para recrutar escravos e a sua recusa

em prestar atenção às advertências dele. Mais ominosamente,

ele colocara publicamente a questão do recrutamento

escravo; em decorrência, "já pelas ruas em outra coisa não

falavam os pardos, cabras e crioulos". Ademais, o capitão

de milícias encarregado por Labatut do recrutamento era um

liberto e, conseqüentemente, interessado demais no êxito da

medida: ele "não cessava de conversar com escravos, sendo

até pelas ruas [da Cachoeira] cercado por eles".

Essa exposição do debate sobre o alistamento de

escravos em 1822 e 1823 sugere diversos pontos importantes.

Em primeiro lugar, o recrutamento de escravos foi um

recurso improvisado: aparentemente, Labatut nunca emitiu um

decreto convidando escravos a se juntarem aos patriotas em

troca de liberdade. Que nenhum dos muitos inimigos dele o

acusaram disso posteriormente é um forte indício de que ele

também não o fez informalmente. Deveras, os escravos

confiscados e recrutados foram alistados no Batalhão de

Libertos Constitucionais e Independentes do Imperador, mas

esse alistamento em si significava, no máximo, apenas uma

promessa implícita de liberdade. Em segundo lugar, Labatut

respeitava sempre o direito de propriedade dos senhores

brasileiros. Ele consultava repetidamente o conselho; os

escravos alistados em fins de 1822 pertenciam a senhores

portugueses ausentes que aparentemente não tinham herdeiros

brasileiros (quando havia tais herdeiros, os bens eram

administrados para eles). Dessa forma, o conflito entre

Labatut e o Conselho tratava da disposição de butim de

guerra de grande valor. Em terceiro lugar, por mais que

Labatut e o Conselho discordassem sobre a prudência do

recrutamento de escravos, concordaram num ponto

fundamental, mas sempre implícito: soldado e escravo eram

categorias distintas (e, portanto, o alistamento deste

implicava uma mudança da sua condição). Que o debate sobre

o recrutamento de escravos causou tanta agitação na

Cachoeira demonstra que os escravos também sabiam disso.

Finalmente, a preocupação do Conselho com o apoio de

Labatut ao recrutamento de escravos passou facilmente à

ansiedade sobre as "classes de cor," aquele medo geral da

parte de uma elite branca numa sociedade com maioria

esmagadora de não brancos, tão comum na época posterior à

revolução haitiana.

Em decorrência dos esforços de Labatut no sentido de

alistar escravos e da desarticulação social provocada pela

guerra de 1822 e 1823, os escravos baianos enfrentavam

novas oportunidades. Havia poucos levantes nesses anos;

como João José Reis tem sustentado, a repressão brutal de

duas revoltas demonstrou a futilidade de rebeliões numa

época em que a classe senhorial, apesar de dividida, estava

bem armada. Oportunidades para outras formas de

resistência, porém, multiplicavam-se: "Alexandre, pardinho,

fugiu no tempo da guerra para o Recôncavo, e foi para

Pernambuco com a tropa dali, de onde o mandei vender,"

comentou posteriormente uma mulher. Outros simplesmente

desapareceram, como Maria Rita, uma crioula, que "fugiu

quando as tropas de Portugal se retiravam," e a Idade de

Ouro do Brasil atribuiu esse fenômeno preocupante ao mau

exemplo dos senhores patriotas. "Muitos escravos" se

aglomeravam no acampamento principal brasileiro, recordou o

futuro visconde de Pirajá, onde foram empregados nos

trabalhos de fortificação, enquanto os oficiais escolheram

alguns para servirem de criados. Estes eram tantos que o

sucessor de Labatut, José Joaquim de Lima e Silva, emitiu

ordens no sentido de restringir o número deles com direito

à etapa. Procurando minimizar o número de escravos

alistados no exército, Pirajá sustentou que a maioria deles

foi mandada para trabalhar como sapadores ou camaradas,

empregos tradicionais para escravos de trabalho braçal e

serviço pessoal. Outros escravos encontravam-se a serviço

da causa patriota sob ordens dos seus senhores. O dono de

duas armações de baleia mandou seus sessenta escravos para

a construção de fortificações e o carregamento de víveres

às linhas patriotas. Tanto a fuga de escravos do

acampamento patriota quanto a proximidade de escravos e

soldados, sem falar dos boatos provocados pelas iniciativas

de Labatut no sentido de recrutar escravos, aumentaram a

probabilidade de que escravos foragidos fossem

inadvertidamente recrutados pelos patriotas. Nos últimos

meses do assédio, comandantes a cujas unidades faltavam

soldados podiam ter fechado seus olhos à condição escrava

dos foragidos que se ofereciam voluntariamente para servir,

mas não há nenhuma evidência concludente de que isso

acontecesse.

Dada a natureza irregular e com freqüência desordeira

do recrutamento para as forças patriotas, é impossível

estabelecer o número de escravos alistados. Em julho de

1823, o Batalhão de Libertos tinha um efetivo de 327,

incluindo oficiais e soldados, mas alguns e talvez muitos

deles já eram libertos antes da guerra, recrutados como

livres mas segregados nessa unidade por causa de sua

anterior condição escrava. Essa cifra, é claro, não incluía

os escravos que, como dois pertencentes a Ana Joaquina do

Livramento, "pereceram na guerra". Além disso, como os

processos de compensação analisados abaixo deixam claro,

alguns escravos serviam em outras unidades. Onde fosse que

servissem, tais homens ainda eram, de jure, escravos, pois

nem Labatut nem o Conselho Interino lhes ofereceram a

liberdade em troca de serviço militar. Nem se haviam tomado

medidas para liquidar o direito de propriedade dos seu

donos.

2.2.1 – As consequências do recrutamento de escravos

Depois da guerra, os vitoriosos senhores-de-engenho

baianos enfrentavam a difícil tarefa de restaurar sua

autoridade sobre uma população escrava que vira e ouvira

muitas novidades, sobre um exército cuja fileira continha

um número apreciável de escravos (cuja condição ainda não

fora resolvida), e sobre "classes de cor" que ganharam nova

consciência de sua importância em conseqüência dos seus

serviços na guerra. Restaurar a linha divisora entre

escravo e soldado foi um passo fundamental, efetuado pela

libertação dos escravos que serviram oficialmente como

soldados, e pela devolução do restante à condição de

escravo. Posteriormente, as autoridades removeram os ex-

escravos (e também a maioria dos soldados negros) da Bahia,

dessa forma traçando mais explicitamente a linha divisora

entre escravos e soldados. O levante do Batalhão dos

Periquitos (outubro a novembro de 1824), percebido como uma

revolta de soldados negros e ex-escravos, urgiu essas

medidas.

Uma vez de posse de Salvador, o governo baiano emitiu

ordens às autoridades locais para que escravos vadios

fossem capturados e devolvidos aos seus donos. O "grande

número de cativos" alistados no Exército Pacificador

constituía um problema mais complicado, como explicou Lima

e Silva: "Conservei-os" na fileira "e sempre lhes observei

provas de valor e intrepidez, e um decidido entusiasmo pela

causa da independência do Brasil." Além disso, esses

"irmãos de armas" ficaram sob disciplina durante a ocupação

de Salvador; portanto, "nada me parece mais duro" do que

devolvê-los à escravidão. O governo imperial aceitou essa

lembrança e encarregou-se de regularizar a nova condição

deles, ordenando que o governo baiano agenciasse a sua

manumissão. Os interesses fiscais motivaram a esperança de

que senhores libertassem voluntariamente seus escravos;

senão, o governo ofereceria compensação, protegendo assim o

direito de propriedade e (logo que possível) o princípio de

que a alforria era privilégio exclusivo dos senhores.

A decisão do governo imperial de ratificar o

alistamento de escravos e a conclusão de que tais escravos

eram oficialmente homens livres era provavelmente no

interesse dos senhores baianos. Afinal de contas, devolvê-

los à escravidão teria sido ainda mais imprudente do que

recrutá-los. Muitos senhores acabaram aceitando a

compensação e abriram mão do seu direito de propriedade, e

"soldados libertos" às vezes aparecem em documentação

posterior, entre eles um nagô que depôs no processo contra

os escravos rebeldes de 1835. Outros senhores negaram-se a

libertar seus escravos-soldados, o que motivou

requerimentos em que estes solicitaram liberdade ao

governo. Em pelo menos dois casos, ministros ordenaram que

as autoridades provinciais tentassem convencer os donos

relutantes a aceitarem justa recompensa e a libertarem seus

escravos; um desses, Manoel Rufino Gomes, era sargento em

1825.

Nem sempre era fácil obter compensação, ainda mais

depois da remoção da maioria dos escravos-soldados da Bahia

em fins de 1824 (vide abaixo). José Lino Coutinho

aproveitou-se de uma visita ao Rio de Janeiro no início de

1825 para provar seu domínio sobre os soldados Francisco

Anastácio e João Gualberto, irmãos que se declaravam

alfabetizados, para os quais aceitou 600$000, 160$000 menos

do que o valor em que foram avaliados. José Feliciano dos

Santos gozava de menos sorte e ainda reivindicava a posse

de um certo Jacinto, em 1826. Dois casos arrastaram-se até

1829. Logo depois da reocupação de Salvador, Geminiano

Lázaro voltou à sua senhora, infelizmente antes que

chegasse a Salvador a notícia da libertação dos escravos-

soldados. De alguma maneira, acabou servindo no batalhão

miliciano de negros em 1829, quando autoridades militares

resolveram que ela fosse compensada. Um companheiro

miliciano de Geminiano, Antônio Ribeiro, tinha rabo-de-

palha. Tendo desertado do exército antes que sua condição

escrava fosse liquidada, voltou a Salvador onde foi

alistado na milícia negra. Ali foi encontrado por seu dono,

e autoridades militares julgaram que perdera seu direito à

liberdade por causa da deserção, e o devolveram ao senhor.

Nem sempre era fácil resolver as reivindicações dos

senhores, dos escravos-soldados e do Estado. Um angolano

foragido, Caetano Pereira, alistou-se voluntariamente no

dia 9 de junho de 1823 (mas não no Batalhão de Libertos).

Deu baixa no dia 7 de agosto e logo enfrentou um dono

enfurecido que tentava vendê-lo para fora da província.

Caetano, provavelmente sabendo da decisão do governo

imperial no sentido de libertar escravos-soldados, procurou

seu antigo comandante, que aceitou alistá-lo novamente no

dia 6 de outubro. O dono era cidadão português, o que

provavelmente facilitou a decisão do oficial de dar abrigo

a Caetano. Todavia, e com muita razão, o dono acusou o

oficial de intencionalmente alistar um escravo foragido e

repetidamente exigia satisfação dele, talvez porque

julgasse a burocracia imperial insensível à sua reclamação.

Inevitavelmente, alguns soldados e civis descobriram jeitos

de tirar vantagem do programa de compensação. "Geralmente

constava," segundo um oficial, que soldados e civis

colaboravam na feitura de requerimentos falsos, através dos

quais os "escravos" e seus "donos" repartiam o valor do

"escravo". A preocupação com tais fraudes estava por trás

da exigência de comprovação de domínio e de identidade de

escravos-soldados, os quais, por seu lado, frustravam donos

que nem sempre tinham tal documentação à mão.

Nem todos os escravos que serviram à causa patriota

conquistaram sua liberdade, como já vimos no caso de

Antônio Ribeiro. Da ilha de Itaparica, o comerciante,

senhor de engenho e governador militar da localidade,

tenente-coronel Antônio de Souza Lima, explicou em 1825:

Nenhum escravo prestou aqui serviçodurante a campanha, com direito àliberdade, por que nunca para taltive ordem, e nem entendi que esseindulto se estendia além do corpo,que com a denominação de 'Libertos'foi criado pelo General do ExércitoPacificador (...). Alguns fizeramserviços; mas foram os que fugindoda cidade, ou os que aqui ficaramabandonados de seus senhores,andavam vagando pelos campos,fazendo roubos e desordens (...)foram entregues aos seus senhores,logo que requisitaram.

Ao minimizar os serviços prestados por esses escravos

e ao negar sua condição de soldados, os senhores que se

opuseram ao recrutamento de escravos continuavam a lutar em

defesa da sua propriedade. Os escravos que serviram na

guerra, ao contrário, valeram-se dos seus serviços para

reivindicar respeito da parte das autoridades. Apesar de

não ter sido liberto depois da guerra, o africano Domingos

Sudré considerava-se veterano da independência. Alforriado

pelo seu dono em 1836, foi preso em 1862 por práticas de

candomblé em sua casa. Vestiu-se orgulhosamente com a farda

dos veteranos da independência na prisão, por muito

desgosto do subdelegado, que lembrou ao chefe de polícia

que Sudré era escravo durante a guerra e que fora visto

posteriormente a serviço do engenho do seu senhor.

No decorrer da década de 1820, a burocracia imperial

aos poucos resolveu as pretensões dos escravos e dos

senhores, demarcando o mais claramente possível a linha

divisória entre escravos e soldados, uma linha que, segundo

todos os envolvidos, devia existir e devia ser clara. De

fato, o governo imperial ressaltou esse princípio em 1824,

ao decretar que homens de cor provassem "sua condição

livre" antes de se alistarem voluntariamente. O pagamento

de compensação aos donos cujos escravos se alistaram e

lutaram na campanha da independência baseava-se no

princípio antigo do direito romano que escravos que

serviram ao Estado não deveriam continuar no cativeiro, e a

decisão de 1823 era, de vez em quando, citada como um

precedente para resolver casos de foragidos alistados há

muito tempo cujos donos pretendiam sua devolução, uma

política bem estabelecida no exército brasileiro já nos

anos de 1840.

Libertar os escravos alistados casualmente em 1822 e

1823 resolveu alguns problemas, mas deixou sem resolução a

questão maior de como administrar uma guarnição na qual,

depois da independência, servia um grupo significativo de

ex-escravos e muito mais soldados não-brancos do que

antigamente. Oriundos de uma mobilização popular, os

soldados da guarnição de Salvador pós-guerra eram

desordeiros. Em face dessa quebra de disciplina militar, o

governo brasileiro decretou em 1823 que soldados culpados

de primeira e segunda deserção simples recebessem

sumariamente 30 e 50 chibatadas, respectivamente (em vez de

passarem por complicados conselhos de guerra), castigo

dobrado em 1824 e aplicado em 1825 a qualquer forma de

desordem. A instituição de chibatadas como castigo para

desertores era o contraponto natural do recrutamento de

escravos na guerra da independência. Soldados libertos

podiam ser controlados somente pela chibata, ou pelo menos

assim pensavam autoridades militares. Na Bahia, contudo,

autoridades provinciais ainda não estavam satisfeitas. O

presidente exigiu "uma absoluta reforma" da tropa em maio

de 1824, destacando que "de nenhuma maneira podem convir os

pretos de que se compõem os batalhões, que quase não têm

brancos, ou pardos que cheguem à décima parte". De forma

mais pitoresca, Felisberto Caldeira Brant Pontes,

comandante da guarnição na década de 1810 (e futuro marquês

de Barbacena), declarou durante uma visita a Salvador em

fevereiro de 1824, que "a não ser os uniformes poderiam bem

considerar-se aos soldados como armação da Costa da Mina".

Para melhorar a guarnição, Brant recomendou uma volta à

prática colonial de recrutamento nenhum soldado preto,

inferiores somente brancos e, para "neutralizar a

influência dos pardos," 800 mercenários estrangeiros.

Apesar de concordar com a necessidade de mudanças, Pedro

resolveu, com prudência, não estacionar tropas estrangeiras

em Salvador, mas Brant, como ministro em Londres, foi

instrumental na contratação dos mercenários alemães e

irlandeses mandados enfim para o Rio de Janeiro.

No calor da hora, tanto Brant quanto o presidente

provavelmente exageraram na proporção de negros na fileira.

Outras fontes sugeriram que havia um grau de segregação na

guarnição de 1823 e 1824, quando muitos dos ex-escravos

acabaram servindo no Batalhão dos Periquitos, caraterizado

por um cronista como "composto pela maior parte de libertos

e outras pessoas de classes heterogêneas". O cônsul francês

distinguia entre os batalhões quando descreveu o levante

dos Periquitos como um conflito entre tropa branca e negra.

Talvez essa segregação refletisse uma política oficial do

governo; pode também indicar uma relutância da parte dos

livres de servirem ao lado de ex-escravos, atitude evidente

na Sabinada de 1837, quando soldados rebeldes recusaram-se

a servir com os escravos alistados pelo efêmero governo

republicano. Autoridades perceberam a grande inimizade

entre os Periquitos e os soldados dos outros batalhões.

Ordens para demitir o popular comandante do Batalhão

dos Periquitos em fins de 1824 e para transferir a unidade

para fora de Salvador foram o estopim do motim durante o

qual o comandante da guarnição foi morto. O levante perdeu

as qualidades primitivas e virou um confronto entre tropas

rebeldes durante algum tempo em controle do governo

provincial e os autoproclamados legalistas que abandonaram

a cidade. Depois de um mês tenso, cheio de confrontos e

negociações, a maioria dos Periquitos anuiu ao embarque

para Pernambuco e os legalistas reocuparam a cidade. Em

conseqüência dessa revolta, os governos baiano e brasileiro

expulsaram soldados desordeiros da guarnição de Salvador e

mostraram-se determinados a manter a ordem, "custe o que

custar". A repressão assumiu uma feição racial com a

remoção de soldados negros e ex-escravos da cidade. O

embarque do Batalhão dos Periquitos e a posterior dispersão

dos seus soldados por outras unidades desterrou os que eram

então vistos como os mais perigosos. Na hipótese de que

escravos negros seriam menos perigosos no mar do que em

terra, a marinha foi o destino final de muitos. Mesmo antes

do fim da revolta, o governo provincial tentou transferir à

marinha os soldados libertos que não estavam designados

para a expedição a Pernambuco, medida que o governador das

armas então julgou imprudente, porque serviria apenas para

provocar a deserção deles. Outros foram depois enviados a

uma das unidades negras do exército brasileiro, os

Batalhões 10 e 11, estacionados na seguramente remota e

quase sempre assediada cidade de Montevidéu. A legislação

imperial sobre o recrutamento repetiu a exclusão colonial

de pretos do exército, uma exclusão a que o governador das

armas deu atenção em meados de 1825, quando recusou um

recruta por causa de sua "cor preta", e como já vimos,

homens de cor (isto é, pardos) que queriam servir

voluntariamente foram obrigados em 1824 a comprovar "sua

condição livre" (ou liberta).

Tudo isso não foi nada menos do que uma purga racial

maciça dos remanescentes do Exército Pacificador. Foi

também muito bem-sucedido: numa lista de 366 desertores dos

batalhões baianos durante 27 meses, de 1825 até o início de

1827, há apenas 15 pretos entre 275 pardos, 8 cabras, 4

caboclos e 64 brancos, muito longe da fileira 90 por cento

negra de que reclamara o presidente em 182446. Esses dados

revelam o resultado de um esforço intencional de remover

negros e ex-escravos da guarnição. Negros livres ou

libertos podiam servir no exército, mas acabariam "gozando

do frio de Montevidéu," como ironizou um contemporâneo

sobre o destino dos Periquitos.

2.3 – Mulheres que lutaram pela independência

A participação de mulheres na luta pela Independência

do Brasil na Bahia, em 1823, deu destaque a três ícones

femininos nas lutas para vencer as tropas portuguesas.

"A gente destaca três, não esquecendo, obviamente, as

outras que de alguma forma lutaram. Mas essas três - Maria

Quitéria, Joana Angélica e Maria Felipa - se tornaram

ícones importantes nos dias de hoje", ressalta o

historiador João Gualberto.

Maria Quitéria

Conhecida por lutar vestida de homem para ajudar o

exército a expulsar as tropas portuguesas da Bahia, Maria

Quitéria é um dos destaques na história de lutas. Ela

conseguiu sair de casa escondida do pai viúvo e usando a

farda que pegou do cunhado. Por seu ato de bravura e

ousadia, ficou conhecida como “soldado Medeiros” e se

tornou um dos ícones da Independência do Brasil na Bahia.

Joana Angélica

Mártir na luta pela independência do Brasil na Bahia,

Joana Angélica se destacou pela bravura e coragem ao

enfrentar tropas portuguesas dispostas a invadir o Convento

da Lapa, localizado no centro da cidade de Salvador.

Soteropolitana, Joana Angélica de Jesus nasceu em Salvador

no ano de 1761.

Ao completar 21 anos, a jovem entra para o Convento da

Lapa e em 1815 torna-se Abadessa, cargo religioso concedido

à superiora de um mosteiro de religiosas. Em 19 de

fevereiro de 1822, meses antes do grito do Ipiranga pela

independência do Brasil, a tensão entre portugueses e

baianos aumenta após o ataque ao Forte de São Pedro, onde

estavam alojados os combatentes soteropolitanos.

Nessa mesma data, tropas portuguesas seguem em direção

ao Convento da Lapa em busca de combatentes baianos e

encontram a resistência de Joana Angélica, que se coloca à

frente do Convento para tentar impedir a invasão. Apesar do

ato de bravura, a Abadessa é assassinada pelos portugueses,

que entram no templo religioso após o assassinato da

religiosa.

Maria Felipa

Baiana, negra, natural da Ilha de Itaparica, Maria

Felipa comandou cerca de 40 mulheres na luta pela

independência do Brasil na Bahia. Segundo relatos

históricos, o grupo liderado por ela foi responsável por

queimar 42 embarcações portuguesas.

Há também o episódio lendário da surra de cansanção

que Maria Felipa teria dado em homens portugueses. Pouco

conhecida e reconhecida na história oficial, Maria Felipa

também é destaque nas lutas pela independência do Brasil na

Bahia.

CAPÍTULO III – MOVIMENTO PELA INDEPENDÊNCIA

O Brasil do início do século XVIII ainda era dominado

por Portugal, enquanto o Rio de Janeiro, Pernambuco, Minas

Gerais e a Bahia continuavam lutando pela independência. As

províncias não suportavam mais a situação e, percebendo os

privilégios que o Rio de Janeiro estava recebendo por ser a

capital, Pernambuco e Bahia resolveram se rebelar.

Recife deu início a uma revolução anti-colonial em 6

de março de 1817. Esta revolução tinha uma ligação com a

Bahia, já que havia grupos conspiradores compostos por

militares, proprietários de engenhos, trabalhadores

liberais e comerciantes. Ao saber desta movimentação, o

então governador da Bahia, D. Marcos de Noronha e Brito

advertiu alguns deles pessoalmente.

O governo estava em cima dos conspiradores e, devido

à violenta série de assassinatos, muito baianos resolveram

desistir. Com toda esta repressão, a revolução de Recife

acabou sendo derrotada. Os presos pernambucanos foram

trazidos para a Bahia, sendo muitos fuzilados no Campo da

Pólvora ou presos na prisão de Aljube, onde grande

personagens baianos também estavam presos.

Diante das insatisfações, começaram as guerras pela

independência. Os oficiais militares e civis baianos

passaram a restringir a Junta Provisória do Governo da

Bahia, que ditava as ordens na época, e com esta atitude

foi formado um grupo conspirativo que realizou a

manifestação de 3 de Novembro de 1821.

Esta manifestação exigia o fim da Junta Provisória,

mas foi impedida pela “Legião Constitucional Lusitana”,

ordenada pelo coronel Francisco de Paula e Oliveira. Os

dias se passaram e os conflitos continuavam intensos.

Muitos brasileiros morreram em combate

3. 1 – Força portuguesa

No dia 31 de Janeiro de 1822 a Junta Provisória foi

modificada. E depois de alguns dias, chegou de Portugal um

decreto que nomeava o brigadeiro português, Ignácio Luiz

Madeira de Mello, o novo governador de Armas.

Quando Portugal nomeou Ignácio Luiz Madeira de Mello

como novo governador de Armas do Brasil, surgiu um

movimento de resistência que envolveu civis e militares.

Tropas portuguesas começaram a invadir os quartéis.

Os oficias brasileiros não aceitavam esta imposição,

pois este decreto teria que passar primeiro pela Câmara

Municipal. Houve, então, forte resistência que envolveu

muitos civis e militares. No dia 19 de fevereiro, os

portugueses começaram a invadir quartéis. Em Salvador, eles

tomaram o Forte de São Pedro e o Convento da Lapa, onde

havia alguns soldados brasileiros. Neste episódio, a

abadessa Sóror Joana Angélica tentou impedir a invasão e

acabou sendo morta.

Concluída a ocupação militar portuguesa em Salvador,

Madeira de Mello fortaleceu as ligações entre a Bahia e

Portugal. Assim a cidade recebeu novas tropas portuguesas e

muitas famílias baianas fugiram para as cidades do

recôncavo.

3. 2 – Contra-ataque brasileiro

No recôncavo, houve outras lutas para a independência

das cidades e o fortalecimento do exército brasileiro. O

coronel Joaquim Pires de Carvalho reuniu todo seu armamento

e tropas e entregou o comando ao general Pedro Labatut.

Este, assim que assumiu, intimidou Madeira de Mello.

Labatut organizou todo seu exército em duas brigadas

e iniciou uma série de providências. Aos poucos o exército

brasileiro veio conquistando novos territórios até chegar

próximo a cidade de Salvador.

Madeira de Mello recebeu novas tropas de Portugal e

pretendia fechar o cerco pela ilha de Itaparica e Barra do

Paraguaçu. Esta atitude preocupava os brasileiros, mas os

movimentos de defesa do território cresciam. E foi na

defesa da Barra do Paraguaçu que Maria Quitéria de Jesus

Medeiros se destacou, uma corajosa mulher que vestiu as

fardas de soldado do batalhão de “Voluntários do Príncipe”

e lutou em defesa do Brasil.

Em maio de 1823, Labatut, em uma demonstração de

autoridade, ordenou prisões de oficiais brasileiros, mesmo

sendo avisado do erro que estava cometendo, e acabou sendo

cassado do comando e preso. O coronel José Joaquim de Lima

e Silva assumiu o comando geral do Exército e no dia 3 de

Junho ordenou uma grande ofensiva contra os portugueses.

Com a força da Marinha Brasileira, o coronel apertou o

cerco contra a cidade de Salvador, que estava sob domínio

português, restringindo o abastecimento de materiais de

primeira necessidade. Diante destes fortes ataques e das

necessidades que estavam passando, Madeira de Mello enviou

apelos e acabou se rendendo. Com a vitória, o Exército

Brasileiro entrou em Salvador consolidando a retomada da

cidade e fim da ocupação portuguesa no Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Apesar da importância do 2 de julho, a data é

desconhecida pela maioria dos brasileiros, revelando uma

grande falha de informação de nossa história que precisa

ser resgatada. Não se trata apenas da independência da

Bahia como muitos acreditam, mas do processo que consolidou

a independência do Brasil. Mesmo com a declaração da

independência em 7 de setembro de 1822, as tropas

portuguesas ainda dominavam algumas províncias. Foram meses

de lutas e batalhas travadas em todo o Recôncavo Baiano que

culminaram com a expulsão das tropas portuguesas em 1823.

A guerra da Bahia contou com o heroísmo do seu povo

que lutou ao lado de lideranças como Maria Quitéria, Joana

Angélica, João das Botas entre outros, para assegurar o

pleno domínio sobre o território nacional.

O processo de independência do Brasil na Bahia se

realizou de maneira cruel depois de um ano de guerra civil

que resultou em ampla mobilização dos habitantes da

província.

No entanto, a Independência mesmo, com guerra e

sangue, a ferro e fogo, aconteceu nas cidades da região que

reuniam o grosso da economia no país. Foi uma guerra

vitoriosa.

Para o caso dos residentes na Bahia que vivenciaram

novas experiências de negociação e de acomodação, mas

também possibilidades de maturação política, os anos do

constitucionalismo revelaram-se de grande riqueza. Para as

classes dirigentes, significou a busca pelo aprimoramento

dos mecanismos de dominação mediado pelos instrumentos de

uma monarquia constitucional; para as classes subalternas,

o acúmulo de experiências no longo processo de construção

de um projeto político autônomo.

Resta acrescentar que se a busca pela compreensão do

passado é também uma tentativa de aprendermos a realidade

presente na perspectiva de construção de projetos de

futuro, as experiências vivenciadas pelos homens naqueles

anos certamente tem muito a nos revelar sobre a crise de

nossos tempos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livros

.TAVARES, Luís Henrique Dias. A independência do Brasil na

Bahia, Civilização Brasileira S.A, Rio de Janeiro, 1982

MARTINEZ, Socorro Targino. Dois de Julho - A festa e a

história, Fundação Gregório de Mattos, Salvador, 2000

AMARAL, Braz do. História da Independência na Bahia.

Salvador: Progresso, 1957.

TAVARES, Luís Henrique Dias. História da Bahia. 10. ed. São

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SOUSA, Maria Aparecida Silva de. Bahia: de capitania a

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Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,

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Sites

http://www.brasilescola.com/historiab/independencia-

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http://www.ondacultural.ufba.br/index.php?

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http://www.culturabaiana.com.br/a-independencia-da-bahia-a-

independencia-so-foi-pacifica-na-regiao-sudeste-aqui-na-

bahia-ela-foi-conquistada-com-sangue/, acessado em 26 de

novembro de 2012.

http://www.bahia-turismo.com/independencia.htm, acessado em

26 de novembro de 2012.

Dicionários

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Básico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988.