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Descoloração Biológica de Efluentes Têxteis: Um processo ecologicamente correto para a remoção
de corantes azóicos
Autores: Marcel Jefferson Gonçalves,, Jörg Henri Saar, Antônio Augusto Ulson de Souza1 e Selene M. A. Guelli U. de Souza1.
Tradução: Agostinho S. Pacheco ABQCT Revisão Técnica: Humberto Sabino
INTRODUÇÃO (WALLACE, 2001). Outra forma de despejo deve-se
também aos processos de estamparia onde se utilizam
corantes, pigmentos, polímeros e solventes. Neste
processo, além do rejeito na lavação do corante não fixado,
ocorre a lavação de quadros e tubulações que contém
residuais de corantes.
Corantes sintéticos apresentam estruturas diversas,
entretanto, as classes químicas mais freqüentemente
utilizadas são os reativos, ácidos, básicos, diretos,
antraquinonas, sulfurosos, índigos, trifenil metil e
derivados de ftalocianinas. (Kunz et al., 2002). Entretanto,
deve-se enfatizar que a grande maioria dos corantes
sintéticos usados atualmente na indústria é derivada de azo-
composto (SANTOS et al., 2005).
Os processos de tratamentos de efluentes conven-
cionais são incapazes de remover os corantes de maneira
ambientalmente correta. Na figura 3 é apresentada uma
ilustração de um processo convencional das estações de
tratamento de efluente, que tem como princípios básicos a
remoção da carga orgânica através de processos biológicos
aerados, seguidos de tratamentos físico-químicos para
polimento e remoção final da cor. Em alguns casos, estes
dois processos funcionam também na seqüência in-
vertida.
Atualmente, existem diversos métodos que podem ser
aplicados para a remoção de corantes do efluente: físicos,
químicos ou biológicos. Cada um desses métodos possui
suas limitações tanto técnicas quanto econômicas. A
Atualmente a poluição ambiental já possui caráter
mundial, fato este que teve um marco importante na
revolução industrial, onde desde então o consumo de
produtos beneficiados cresceu de maneira exponencial,
gerando maior conforto à população, mas também,
gerando demandas de consumo superior à capacidade do
planeta de supri-las. Por sua vez as indústrias são as
principais responsáveis pela geração de rejeitos tóxicos,
através da eliminação de subprodutos gerados durantes
os processos (FORMIGARI, 2005).
Embora a água exista em abundância no planeta, a sua
disponibilidade e qualidade faz com que a mesma seja
escassa em muitas regiões e, em um futuro próximo, sua
disponibilidade será ainda menor e seu custo se tornará
tão elevado que tornará a água disponível somente para
poucos. Diante desta realidade, torna-se cada vez mais
importante o desenvolvimento de tecnologias que
permitam a racionalização do uso da água e a redução da
carga poluidora (SANTOS et al., 1998).
A presença de poluição visual nos efluentes têxteis é
devida à presença dos corantes que, no momento do
tingimento não são fixados. Além de ocasionar uma
poluição estética visual, este efluente colorido promove a
inibição da penetração da luz ao longo da profundidade
dos corpos d´água e com isto prejudicam alguns ciclos
biológicos, principalmente, os processos de fotossíntese
�� Revista Química Têxtil n 90/Março 2008.
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maioria dos métodos físicos ou químicos possui a
desvantagem de serem muito caros, além de sofrerem
interferências na sua eficiência pela presença de outros
compostos contidos no efluente, além dos corantes.
Outra desvantagem destes produtos é a falta de
versatilidade e, na maioria dos casos, os processos
químicos geram maiores quantidades de lodo, pelo fato
que qualquer produto químico orgânico (fonte de
carbono) adicionado ao tratamento de efluente terá a sua
massa transformada em equivalentemente em lodo.
Tratamentos biológicos constituem numa alternativa
de baixo custo para a remoção da cor dos efluentes. De
um modo geral, o processo de biodegradação por
bactérias de corantes azo ocorre em dois estágios. O
primeiro estágio envolve a clivagem redutiva das
ligações azo (N=N) dos corantes, resultando na
formação de compostos geralmente isentos de cor,
porém ainda potencialmente perigosos, que são as
aminas aromáticas. Num segundo estágio ocorre a
degradação dessas aminas aromáticas. Usualmente a
degradação de corantes azo acontece em condições
anaeróbias, enquanto biodegradação de aminas
aromáticas por bactérias é quase que exclusivamente um
Conseqüentemente, o conceito mais lógico de
tratamento de efluentes para remoção de corantes é a
combinação dos processos anaeróbios e aeróbios (VAN
DER ZEE e VILLAVERDE, 2005).
Embora o processo anaeróbio seja o principal
responsável pela degradação e remoção da cor do efluente, a
eficiência da descoloração deve ser avaliada após o
processo aeróbio, pois em alguns casos no processo
anaeróbio não ocorre à clivagem da molécula do corante,
mas sim modificações estruturais que facilitam a oxidação
no processo aerado. (WALLACE, 2001).
Os processos convencionais de tratamento biológico de
efluente são muito eficientes para remoção da carga
orgânica, porém, ineficientes na remoção da cor. Devido a
este fato, algum residual de cor permanece no efluente
tratado, após o decantador secundário, devendo de alguma
forma ser eliminado. A rota convencionalmente utilizada
pelas empresas tem sido o tratamento químico, eficiente na
remoção de cor, porém, resulta na adição de produtos
químicos descolorantes que gera mais carga orgânica, com
conseqüente aumento na geração de lodo e aumento da
toxicidade do efluente final tratado.
Conforme pesquisas recentes citadas pela literatura,
direcionadas para técnicas de descoloração biológica por
processos seqüenciais anaeróbio + aeróbio, (FRIJTERS et
al, 2006; ISIK e SPONZA, 2006; ÇETIN e DÖNMEZ,
2006; ONG et al, 2005), existe um grande campo de
pesquisa a ser ainda explorado visando o desenvolvimento
de processos para a aplicação industrial.
A motivação do presente trabalho é o desenvolvimento
de um processo de biodescoloração para uso industrial,
visando reduzir ou eliminar o uso de descolorantes,
minimizando a geração do lodo e a toxicidade do efluente
final tratado e também o reduzindo o custo de tratamento.
Apesar do uso de sistemas piloto de tratamento
microaerado de efluentes não ser uma novidade, pois como
processo aeróbio, cujo modelo de degradação
apresentado na Figura 1.
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��Revista Química Têxtil n 90/Março 2008.
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já foi relatado existem alguns exemplos destes usos
na literatura (VAN DER ZEE, F.P.; VILLAVERDE, S.,
2005), ainda existe uma lacuna em estudos em escala
piloto que permitem uma maior proximidade de
aplicação real destes processos. Uma solução eficaz
neste contexto é a criação de um reator piloto para o
estudo da viabilidade técnica e econômica.
O presente trabalho objetiva a investigação e a
comprovação da eficácia de um processo contínuo de
descoloração e acidificação biológica, em escala piloto
(0,1 m3 /h), utilizando um efluente bruto real em
contínuo na indústria têxtil.
Palavras-chave: descoloração biológica; processo
microaerado; biodescoloração; efluente têxtil;
corantes azóicos, reuso de água.
detenção hidráulica de aproximadamente 12 horas, é
iniciada uma etapa de equalização e biodescoloração
microaerada. No tanque 2, com capacidade de 1,2 m 3 e
tempo de detenção hidráulica de aproximadamente
29 horas é realizada a depuração biológica através de
lodos ativados.
A idade do lodo foi mantida entre 10 a 12 dias com o
controle da quantidade de lodo retornado do tanque 3 para o
tanque 2. Os sólidos suspensos totais na lagoa aerada foram
controlados da mesma forma, oscilando entre valores de
1.800 a 2.400 g/SS/m3.
Por último, no tanque 3, o efluente tratado é separado
apenas pela decantação e o lodo é descartado pelo fundo.
A aeração nos tanques 1 e 2, foi realizada através de
difusores de ar instalados no fundo dos mesmos. O
oxigênio dissolvido (OD) foi mantido entre valores de
0,3 a 0,6 mg/l para o tanque 1 e 1,8 a 2,8 mg/l para o
tanque 2. O oxigênio dissolvido foi medido, através de
oxímetro e o controle da quantidade de OD foi ajustado
manualmente.
A operação em regime contínuo da planta piloto foi
iniciada com a sua inoculação, e os dados foram coletados
a partir de Janeiro de 2006, permanecendo sob constante
acompanhamento durante três meses. As amostras foram
coletadas nos pontos (Figura 3): PC-4 efluente bruto
aditivado; PC-5 tanque microaerado; PC-7 tanque aerado.
Após a coleta das amostras foram realizados os
seguintes ensaios: potencial hidrogenionico (pH),
demanda química de oxigênio (DQO) e leitura de cor nos
comprimentos de onda 436, 525 e 620 nm.
Durante o acompanhamento analítico do processo foi
analisado um total de 33 amostras, distribuídas em
11 semanas de coleta. A determinação dos valores de pH
foram realizadas objetivando verificar a capacidade da
biota microaerada de acidificar o efluente bruto, que é feito
no processo convencional pela adição de gás carbônico.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi desenvolvido em uma estação de
tratamento de efluentes Piloto (Figura 2) operando com
uma vazão contínua de 0,1 m3/h do efluente bruto real,
provindo da empresa Karsten S.A.
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O funcionamento deste sistema de tratamento de
efluentes, Figura 2, é baseado somente em vias
microbiológicas.
No tanque 1, com capacidade de 1,2 m3 e tempo de
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Co mN
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No período de acompanhamento analítico a planta
piloto foi alimentada com uma fração próxima de 0,06%
do efluente bruto (0,1/180) proveniente da empresa.
Conforme ilustrado na Figura 3, adicionou-se
continuamente no tanque microaerado os micro-
nutrientes compostos especificamente por amônia,
ferro, magnésio, manganês, potássio e sódio, conforme
SANTOS et al. (2005) e SARIOGLU e BISGIN (2006),
e ainda misturas concentradas de corantes azóicos
usadas no processo de tingimento de fios e de tecidos
da empresa.
Os nutrientes e corantes foram acrescentados, juntos
a vertente de efluente bruto, na caixa de mistura (PC-4),
antes de sua adição para o tanque microaerado, e
denominando-se de efluente bruto aditivado.
microaerado (3) e aerado do sistema piloto (4).
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Na Tabela 01 são apresentados os resultados dos ensaios
realizados no período de acompanhamento do sistema
piloto de tratamento de efluentes, entre 26/01/2006 à
06/04/2006. Logo a seguir estes valores são apresentados
na forma gráfica para uma melhor visualização.
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
Na Figura 4 é apresentado uma ilustração visual dos
resultados do efeito da remoção de cor, a partir do
efluente bruto (1), ao longo dos tanques de equalização
da estação de tratamento de efluentes (2), tanque
��Revista Química Têxtil n 90/Março 2008.
Ano: 2006
Cor Cor Cor pH DQO 436 525 620
Eficiência
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Na Figura 5 é demonstrada a eficiência na remoção
de cor e da DQO, calculado conforme equação 01.
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No efluente bruto que entra no tanque microaerado do
sistema piloto não houve neutralização por via de adição
química de dióxido de carbono, o processo demonstrou ser
capaz de promover a acidificação pelo processo biológico
microaerado. Na Figura 6 são apresentados os valores do
pH do efluente bruto e do tanque microaerado. Observa-se
que houve uma redução significativa do valor de pH no
tanque microaerado. Estima-se que a economia gerada
seja de aproximadamente 5% de dióxido de carbono
consumido.
O processo foi avaliado em escala industrial (180 m3/h),
na própria estação de tratamento de efluentes da empresa
KARSTEN S.A., resultando em taxas de remoção similares
às obtidas na estação piloto. A publicação dos dados
obtidos na estação não foram autorizados pela empresa.
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A eficiência média da biodes coloração alcançada
foi de 50,1% e da remoção da carga orgânica de 81,1%.
Com objetivo de comprovar que a descoloração não
ocorre por oxidação química ou adsorção no floco
biológico, foi provocado no dia 02/03/06 um impacto
com a adição de uma quantidade elevada de hidróxido
de sódio no tanque de mistura PC1, objetivando
promover um choque de pH e conseqüentemente a
inativação da biota (bactérias), que ocorre em pHs
elevados (acima de 10,5). Com base aos valores de
medição obtidos logo após o impacto da mudança do pH,
é possível afirmar que o processo de remoção de cor não
ocorre com a mesma eficiência somente com o sistema
aerado, ou ainda através da adsorção ao floco do lodo
ativado.
Também ficou comprovado que não existe
dependência da remoção da carga orgânica (DQO) com
o processo microaerado, visto que o responsável por esta
remoção é o processo aerado.
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CONCLUSÕES
Através dos resultados obtidos neste trabalho foi
possível comprovar a eficácia de um processo contínuo de
descoloração e acidificação biológica em escala piloto
(0,1 m 3/h), utilizando um efluente bruto do processo indus-
trial, podendo-se comprovar algumas vantagens deste
processo:
- A diminuição do consumo de produtos auxiliares de
descoloração físico-química no sistema de tratamento de
efluentes;
- A estabilização do processo de acidificação na
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Onde: MOentrada = cor ou DQO
microaerado (efluente bruto aditivado);
entrada no
MOsaída = cor ou DQO no tanque aerado.
�� Revista Química Têxtil n 90/Março 2008.
��Revista Química Têxtil n 89/Dezembro 2007.
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equalização da ETE, eliminando a eventual necessi-
dade de acidificação química;
- A redução de contaminantes químicos no efluente
tratado, aumentando a viabilidade do reuso de água.
Os resultados deste trabalho demonstraram que é
possível obter ganhos ambientais com processos
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