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Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Escola Politécnica
Disciplina: PHD3521 – Projeto de Formatura II
RESÍDUOS ORGÂNICOS E A APLICAÇÃO DOMÉSTICA
DO BIOGÁS GERADO
Orientador: Prof. Dr. Ildo Luis Sauer
Coorientadora: Prof. Camila Agner D'Aquino
ALUNOS:
Guilherme Guanaes Sotello Perrucci
Guilherme Oliveira Rodrigues
Escola Politécnica da USP – 26 de julho de 2018
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Escola Politécnica
Disciplina: PHD3521 – Projeto de Formatura II
RESÍDUOS ORGÂNICOS E A APLICAÇÃO DOMÉSTICA
DO BIOGÁS GERADO
Orientador: Prof. Dr. Ildo Luis Sauer
Coorientadora: Prof. Camila Agner D'Aquino
ALUNOS:
Guilherme Guanaes Sotello Perrucci
Guilherme Oliveira Rodrigues
Trabalho final a ser entregue na disciplina PHD3521 (Projeto
de Formatura II) como critério parcial para graduação no curso
de Engenharia Ambiental da Escola Politécnica da
Universidade de São Paulo.
Escola Politécnica da USP – 26 de julho de 2018
3
Catalogação-na-publicação
Perrucci, Guilherme
RESÍDUOS ORGÂNICOS E A APLICAÇÃO DOMÉSTICA DO BIOGÁS GERADO / G. Perrucci, G. Rodrigues -- São Paulo, 2018.
109 p.
Trabalho de Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Hidráulica e Ambiental.
1.Biodigestores 2.Aproveitamento energético em residências
I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Hidráulica e Ambiental II.t. III.Rodrigues, Guilherme
4
AGRADECIMENTOS
Gostaríamos de agradecer ao nosso orientador Prof. Dr. Ildo Luis Sauer e à nossa
coorientadora Prof. Camila Agner D'Aquino pelo auxílio com o direcionamento de um tema
específico dentro das possibilidades de estudo que os biodigestores abrangem,
encaminhamento do trabalho, ressaltando temas importantes a serem cobertos, bem como
validação dos resultados que vinham sendo obtidos a partir de literaturas técnicas e estudos
publicados em artigos ao longo da execução do projeto.
Estendemos nossos agradecimentos ao Prof. Dr. Roque Passos Piveli que aceitou
participar da nossa banca examinadora, bem como ministrou disciplinas para o curso de
Engenharia Ambiental da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo ao longo da nossa
graduação.
6
RESUMO EXECUTIVO
O presente trabalho versa sobre a produção de biogás, e sua subsequente purificação,
para emprego de uma fonte renovável de energia em residências, visando avaliar o cenário com
menor custo de oportunidade para o consumidor final: produzir energia elétrica a partir do gás,
ou aproveitar o mesmo para substituir, parcial ou integralmente, o consumo de GLP/GN
empregado na cocção e aquecimento.
O biogás é formado a partir da fermentação de matéria orgânica em meio anaeróbico,
processo esse que ocorre normalmente no meio ambiente, tendo sua produção transcorrida em
quatro fases principais: hidrólise, acidogênese, acetogênese e metanogênese. Ainda pode-se
adicionar o processo de sulfetogênese que ocorre ao mesmo tempo que a acidogênese e
metanogênese. Após sua produção, o biogás é purificado para o aproveitamento energético em
uma residência, com o auxílio de lascas de madeira, recobertas por óxido de ferro, que garantam
concentrações dentro de uma faixa de valores prevista em norma.
Os reatores cobertos no levantamento bibliográfico e análise das soluções comerciais
abrangem, principalmente, os biodigestores de modelo canadense, chinês, indiano, UASB,
CSTR, Recolast Ambiental Biodigestor Tubular – 3000, e o HomeBiogas 2.0, sendo esse
último a principal fonte de análise por se tratar de uma solução adequada ao uso residencial em
meio urbano, segundo critérios de avaliação previstos em uma matriz de decisão. Os critérios
abrangem tópicos de caráter ambiental, econômico e técnico.
O reator empregado para a produção residencial de biogás é uma unidade pré-fabricada,
de dimensões reduzidas e baixo tempo de retenção hidráulico, que, aliado à possibilidade de
auto instalação por parte do consumidor final e preço acessível, confere praticidade de
instalação e horizonte de recuperação do investimento inicial atrativo. Aliado ao reator o uso
de um motor à combustão pode ser uma alternativa àquelas residências que ensejem por gerar
energia elétrica a partir do biogás produzido na unidade de anaerobiose a partir do substrato
que envolve resíduos orgânicos e esgoto doméstico.
No que tange a mensuração teórica da vazão de biogás diária, e sua parcela de interesse
econômico, o gás metano, alguns modelos matemáticos podem ser empregados, sendo os mais
relevantes o modelo de produção de metano através da demanda química de oxigênio, a análise
da concentração de sólidos voláteis, a análise da concentração de proteínas, gordura e
carboidratos digestíveis, e, por fim, o método de Buswell. Esses modelos podem superestimar
a produção de biogás caso haja fatores inibitórios no substrato que causem a diminuição da
atividade dos microrganismos anaeróbios, fatores esses que também serão explorados no
presente trabalho.
A solução ótima foi apresentada para uma residência urbana de 4 pessoas, utilizando o
reator HomeBiogas 2.0 que tem um potencial de geração de 0,64 m³/dia e 0,74 kWh/dia. Com
um investimento inicial de R$ 12.075,38 e payback de 9,78 anos para substituição de GN/GLP.
Palavras chave: biogás, gás metano, Recolast Ambiental Biodigestor Tubular – 3000,
HomeBiogas
7
Sumário
RESUMO EXECUTIVO ........................................................................................................... 6
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 18
1.1. ESPECIFICAÇÃO DO PROBLEMA ...................................................................... 19
2. OBJETIVOS .................................................................................................................... 22
2.1. OBJETIVO GERAL ................................................................................................. 22
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS .................................................................................... 22
3. LEVANTAMENTO DE DADOS ................................................................................... 23
3.1. TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS .............................. 23
3.1.1. Reciclagem ......................................................................................................... 23
3.1.2. Aterros Sanitários............................................................................................... 24
3.1.3. Compostagem .................................................................................................... 25
3.1.4. Aproveitamento Energético a partir de biogás................................................... 25
3.2. FUNDAMENTOS DA FERMENTAÇÃO ANAERÓBIA ...................................... 26
3.3. CARACTERIZAÇÃO DO BIOGÁS ........................................................................ 27
3.4. FATORES INIBITÓRIOS NO PROCESSO ANAERÓBIO ................................... 29
3.4.1. Condições Ambiente .......................................................................................... 29
3.4.2. Condições do Reator .......................................................................................... 30
3.4.3. Características do Resíduo ................................................................................. 30
3.4.4. Substâncias em Concentrações Potencialmente Inibitórias ............................... 32
3.5. PARÂMETROS OPERACIONAIS .......................................................................... 35
3.5.1. Carga Orgânica Volumétrica ............................................................................. 35
3.5.2. Tempo de retenção hidráulico (TRH) ................................................................ 36
3.5.3. Avaliação da Eficiência da Degradação do Substrato ....................................... 36
3.6. POTENCIAL DE GERAÇÃO DE BIOGÁS TEÓRICO ......................................... 37
3.6.1. Geração Teórica de Biogás por Demanda Química de Oxigênio ...................... 37
3.6.2. Geração Teórica de Biogás por Concentração de Sólidos Voláteis ................... 39
3.6.3. Geração Teórica de Biogás por Concentração de Proteínas, Gorduras e
Carboidratos Digestíveis .................................................................................................. 40
3.6.4. Teste Bioquímico de Metano ............................................................................. 41
3.6.5. Geração Teórica de Biogás pelo Método de Buswell ........................................ 43
3.7. TIPOS DE REATORES ............................................................................................ 44
3.7.1. Biodigestor Modelo Canadense ......................................................................... 45
8
3.7.1.1. Caixa de Passagem ..................................................................................... 47
3.7.1.2. Câmara de Fermentação ............................................................................. 47
3.7.1.3. Tubulações .................................................................................................. 49
3.7.1.4. Bombas Centrífugas ................................................................................... 49
3.7.1.5. Campânula em Manta ................................................................................. 49
3.7.1.6. Custos da Implantação do Biodigestor ....................................................... 49
3.7.2. Biodigestor Modelo Chinês ............................................................................... 50
3.7.3. Biodigestor Modelo Indiano .............................................................................. 52
3.7.4. Biodigestor Modelo CSTR ................................................................................ 54
3.7.5. Biodigestor Modelo UASB ................................................................................ 55
3.7.6. HomeBiogas ....................................................................................................... 58
3.7.7. Recolast Ambiental Biodigestor Tubular - 3000 ............................................... 59
3.7.8. Mailhem Ikos Environment Portable Biogas Plant ............................................ 60
3.7.9. EUCOlino .......................................................................................................... 62
3.8. PURIFICAÇÃO DO BIOGÁS.................................................................................. 63
3.8.1. Absorção com Líquidos ..................................................................................... 64
3.8.2. Lavador de Gases (Water Scrubbing) – Absorção Física ..................................... 64
3.8.3. Solução de Hidróxido de Sódio ............................................................................ 66
3.8.4. Sistema de Tratamento de Biogás com Solução de Ca (OH)2 .............................. 66
3.8.5. Remoção de H2S com Óxido de Ferro ............................................................... 68
3.9. GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DA CONVERSÃO DO
BIOGÁS ............................................................................................................................... 68
3.9.1. Conversão Energética do Biogás ....................................................................... 68
3.9.1.1. Turbinas a Gás ............................................................................................ 69
3.9.1.2. Turbina à Vapor .......................................................................................... 71
3.9.1.3. Motor de Combustão Interna ...................................................................... 72
3.9.2. Capacidade de Geração de Energia Elétrica a Partir do Biogás ........................ 73
4. MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................ 74
4.1. DETERMINAÇÃO DOS MÉRITOS PARA OS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO . 77
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES ................................................................................... 79
5.1. CÁLCULO DA PRODUÇÃO DE LIXO ORGÂNICO E ESGOTO POR
HABITANTE NO BRASIL ................................................................................................. 79
5.2. DIMENSIONAMENTO PRELIMINAR DE UM REATOR GENÉRICO,
EMPREGANDO UM SUBSTRATO DE LIXO ORGÂNICO E ESGOTO DOMÉSTICO
81
9
5.3. DIMENSIONAMENTO PRELIMINAR DE UM REATOR GENÉRICO,
EMPREGANDO UM SUBSTRATO APENAS DE LIXO ORGÂNICO .......................... 82
6. ALTERNATIVAS PARA SOLUÇÃO DO PROBLEMA .............................................. 84
7. ESCOLHA DA SOLUÇÃO ............................................................................................ 86
8. ESPECIFICAÇÃO DA SOLUÇÃO ................................................................................ 91
8.2. PRODUÇÃO DE BIOGÁS NO HOMEBIOGAS E POTENCIAL DE CONVERSÃO
EM ENERGIA ELÉTRICA ................................................................................................. 97
8.3. MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA ................................................................. 98
8.4. CUSTO DE OPORTUNIDADE COM O APROVEITAMENTO ENERGÉTICO DO
BIOGÁS ............................................................................................................................... 98
9. CONCLUSÃO ............................................................................................................... 102
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................... 104
10
Índice de Figuras
Figura 1-1 - Hierarquia da recuperação do alimento (1) .......................................................... 18
Figura 1-2 - Disposição final de RSU no Brasil por tipo de destinação (t/dia) (6) .................. 20
Figura 3-1 -Disposição final dos resíduos sólidos urbanos coletados no Brasil) (6) ............... 24
Figura 3-2 - Esquema da decomposição anaeróbia (16) .......................................................... 27
Figura 3-3 - Medição da pressão interna utilizando o manômetro (26) ................................... 42
Figura 3-4 - Coleta do biogás no reator anaeróbio com injeção no comatógrafo gasoso (26) 43
Figura 3-5 - Representação genérica de um biodigestor (29) .................................................. 44
Figura 3-6 - Representação gráfica do biodigestor modelo canadense (32) ............................ 46
Figura 3-7 - Esquema do feixe hídrico de um biodigestor (33) ............................................... 46
Figura 3-8 - Planta de topo da escavação e dimensionamento da manta (34) ......................... 48
Figura 3-9 - Vista frontal, em corte, do biodigestor modelo Chinês (35) ................................ 51
Figura 3-10 - Representação do funcionamento de um regulador de pressão (35) ................. 51
Figura 3-11 - Biodigestor contínuo modelo indiano (37) ........................................................ 52
Figura 3-12 - Biodigestor modelo indiano representação gráfica (38) .................................... 53
Figura 3-13 - Representação esquemática de um biodigestor CSTR (41) .............................. 55
Figura 3-14 - Representação do funcionamento de um reator UASB (44) .............................. 57
Figura 3-15 - Reator UASB da marca Rotosis (44) ................................................................. 57
Figura 3-16 - Visão geral do processo produtivo do HomeBiogas (45) .................................. 58
Figura 3-17 -Vista do HomeBiogas, com ênfase para o tubo de condução do biogás produzido,
bem como do tubo de PVC de destino do biofertilizante ........................................................ 58
Figura 3-18 - Imagem explicativa funcionamento HomeBiogas (47) ..................................... 59
Figura 3-19 - Imagem do Biodigestor Tubular 3000 da Recolast ........................................... 60
Figura 3-20 - Mailhem Ikos Environment Portable Biogas Plant (48) .................................... 61
Figura 3-21 - Representação gráfica das unidades do sistema de biodigestão e geração de
energia elétrica EUCOlino (49) ............................................................................................... 62
Figura 3-22 - Diagrama básico do funcionamento de sistemas Water Scrubbing (51) ........... 65
Figura 3-23 - Sistema experimental para tratamento de biogás em escala de bancada ........... 67
Figura 3-24 - Turbina a gás em corte (43) ............................................................................... 70
Figura 3-25 - Ciclo de Brayton para uma turbina a gás (43) ................................................... 71
Figura 3-26 - Esquema de uma turbina a vapor (53) ............................................................... 72
Figura 3-27 - Gerador elétrico com combustão interna (56) .................................................. 73
Figura 4-1- Critérios de avaliação das alternativas para a solução do problema ..................... 75
Figura 8-1 - Capa do modelo teórico de previsão da produção de biogás ............................... 91
Figura 8-2 - Entradas promovidas pelo usuário no momento de uma nova consulta .............. 91
Figura 8-3 - Entradas preenchidas pelo usuário ....................................................................... 92
Figura 8-4 - Resultados da nova consulta preenchida pelo usuário ......................................... 92
Figura 8-5 - Código em VBA para execução do modelo - parte 1 .......................................... 93
Figura 8-6 - Código em VBA para execução do modelo - parte 2 .......................................... 93
Figura 8-7 - Código em VBA para execução do modelo - parte 3 .......................................... 94
Figura 8-8 - Código em VBA para execução do modelo - parte 4 .......................................... 94
Figura 8-9 - Código em VBA para execução do modelo - parte 5 .......................................... 95
12
Índice de Equações
Equação 3-1 - Idade do lodo (𝜃𝑐) (21) ..................................................................................... 30
Equação 3-2 - Tempo de retenção hidráulico (𝜃ℎ) (21) .......................................................... 30
Equação 3-3 - Formulação estequiométrica para inferir concentrações do gás final (21) ....... 31
Equação 3-4 - Parâmetro K, referente ao grau de toxicidade de metais pesados (21) ............. 33
Equação 3-5 - Carga orgânica volumétrica (COV) (14) .......................................................... 36
Equação 3-9 - Produtividade de gás metano (14) .................................................................... 37
Equação 3-10 - Rendimento de gás metano (14) ..................................................................... 37
Equação 3-11 - Taxa de degradação da biomassa (14) ............................................................ 37
Equação 3-12 - Geração teórica de gás metano pela demanda química de oxigênio (15)....... 38
Equação 3-13 - Produção volumétrica de metano (15) ............................................................ 38
Equação 3-14 - Fator de correção para a temperatura operacional do reator (15) ................... 38
Equação 3-15 - Produção volumétrica diária de gás metano (15) ........................................... 38
Equação 3-16 - Produção de metano (23) ................................................................................ 39
Equação 3-17 - Coeficiente cinético adimensional (23) .......................................................... 39
Equação 3-18 - Taxa de crescimento máximo específico (23) ................................................ 39
Equação 3-19 - Teor de massa orgânica sólida (14) ................................................................ 40
Equação 3-20 - Proteína digestível por massa seca (14).......................................................... 40
Equação 3-21 - Gordura digestível por massa seca (14).......................................................... 41
Equação 3-22 - Carboidratos digestíveis por massa seca (14) ................................................. 41
Equação 3-23 - Cálculo do volume de biogás gerado para o Teste Bioquímico de Metano (26)
.................................................................................................................................................. 43
Equação 3-24 - Volume de biogás acumulado CNTP para o Teste Bioquímico de Metano (26)
.................................................................................................................................................. 43
Equação 3-25 - Volume acumulado de biogás em NL/kgMS para o Teste Bioquímico de
Metano (26) .............................................................................................................................. 43
Equação 3-26 - Fórmula de Buswell (27) ................................................................................ 44
Equação 3-27 - Carga volumétrica (31) ................................................................................... 47
Equação 3-28 - Eficiência do reator tipo canadense (31) ........................................................ 47
Equação 3-29 – Dessulfurização do biogás ............................................................................. 68
Equação 3-30 - Potência disponível no gás biogás para geração de energia (13) ................... 73
Equação 3-31 - Cálculo da energia disponível no biogás em MWh/dia (43) .......................... 73
Equação 5-1 - Aproximação da quantidade produzida em média de lixo diariamente por uma
família residente em meio urbano (56) (57) ............................................................................ 80
Equação 5-2 - Produção de esgoto no Brasil ........................................................................... 81
Equação 5-3 - Produção de esgoto no Brasil em massa........................................................... 81
Equação 5-4 - Concentração de DQO afluente (62) ................................................................ 82
Equação 5-5 - Carga de sólidos totais adicionada diariamente ao biodigestor (9) .................. 83
Equação 5-6 - Massa total de alimentação diária do biodigestor (9) ....................................... 83
Equação 5-7 - Volume de água necessário para operação do reator (9) .................................. 83
Equação 8-1 - Cálculo da vazão afluente no reator de biodigestão ......................................... 97
Equação 8-2 - Geração de gás metano no HomeBiogas (15) .................................................. 97
Equação 8-3 - Fator de correção para a temperatura operacional no HomeBiogas (15) ......... 97
Equação 8-4 - Produção volumétrica de metano diário no HomeBiogas ................................ 97
13
Equação 8-5 - Vazão de biogás produzida diariamente no HomeBiogas (15) ........................ 97
Equação 8-6 - Potência disponível no biogás admitindo um reator genérico (13) .................. 97
Equação 8-7 - Energia disponível no biogás em um reator genérico (13) ............................... 98
Equação 8-8 - Consumo médio de uma família brasileira de eletricidade em um ano (66) (67)
.................................................................................................................................................. 99
Equação 8-9 - Produção de energia elétrica anual à partir da biomassa em um reator
HomeBiogas 2.0 (13) ............................................................................................................... 99
14
Índice de Tabelas
Tabela 1-1 - Os principais gases de efeito estufa e seus respectivos potenciais de aquecimento
global (2) .................................................................................................................................. 19
Tabela 3-1 -Composição média do biogás proveniente de diferentes resíduos orgânicos (17)
.................................................................................................................................................. 28
Tabela 3-2 - Equivalência energética entre 1m³ de biogás e outras fontes energéticas (17) ... 28
Tabela 3-3 - Efeitos estimulantes e inibitórios do Sódio, Cálcio e Magnésio na Digestão
Anaeróbia (21) ......................................................................................................................... 33
Tabela 3-4 - Elementos inibitórios e suas concentrações (14) (15) ......................................... 35
Tabela 3-5 - Teor de sólidos totais, sólidos voláteis e relação Carbono:Nitrogênio (C:N) de
resíduos orgânicos residenciais e comerciais (9) ..................................................................... 40
Tabela 3-6 - Produção de biogás específica e teor de metano dos respectivos extratos de
interesse (14) ............................................................................................................................ 41
Tabela 3-8 - Dimensionamento do biodigestor de acordo com o volume (34) ....................... 48
Tabela 3-9 - Área total e preço da manta de laminado de PVC flexível (31) ......................... 50
Tabela 3-10 - Biodigestores construídos em baixas profundidades (39) ................................. 53
Tabela 3-11 - Custo para construção de um reator modelo indiano (40)................................. 54
Tabela 3-14 - Especificações para o Biometano (50) .............................................................. 63
Tabela 3-15 - Características do lavador utilizado no experimento (51) ................................. 67
Tabela 3-16 - Condições experimentais para os ensaios com Ca(OH)2 (51) ........................... 67
Tabela 5-1 - Estimativa da composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos coletados no
Brasil (56) ................................................................................................................................ 79
Tabela 5-2 - Informações gerais sobre o abastecimento de água, coleta de esgoto e tratamento
de esgoto no Brasil (60) ........................................................................................................... 80
Tabela 8-1 – Modais energéticos distribuídos por produção anual (66) .................................. 99
Tabela 8-2 - Fatores de conversão para energia, segundo as medidas utilizadas de energia
elétrica da ANEEL (67) ........................................................................................................... 99
Tabela 8-3 - Consumo de energia elétrica mensal e anual (68) ............................................. 100
Tabela 8-4 - Resumo do custo de oportunidade de emprego do biogás purificado para a
produção exclusiva de energia elétrica e substituição da demanda de GLP/GN ................... 101
15
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS
ABRELPE Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais ............ 19, 22
ANOVA Análise de Variância ............................................................................................................ 38
ANP Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis .......................................... 62
ATP Adenosina trifosfato ............................................................................................................. 30
B0 Taxa máxima de produção de metano ................................................................................. 38
BMELV Ministério da Nutrição, Agricultura e Defesa do Consumidor da Alemanha ...................... 33
CAPEX Capital expenditure ............................................................................................................ 100
CH4 Gás metano..................................................................................................................... 30, 42
CO2 Gás dióxido de carbono ....................................................................................................... 42
CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente .......................................................................... 27, 28
CST Carga de sólidos totais ......................................................................................................... 82
CSTR Continuous stirred-tank reactor .......................................................................... 53, 54, 87, 88
CV Carga volumétrica ................................................................................................................ 46
DQO Demanda química de oxigênio..................................................................... 36, 54, 55, 81, 87
E Eficiência do tratamento ...................................................................................................... 47
EPA United States Environmental Protection Agency ................................................................ 17
f (T) Fator de correção para a temperatura operacional ............................................................... 37
FNR Instituto Fachagentur Nachwachsende Rohstoffe e. V. . 25, 28, 29, 30, 33, 35, 36, 38, 39, 40
GLP Gás liquefeito de petróleo ................................................................ 5, 19, 20, 27, 97, 99, 100
GN Gás natural ............................................................................................. 19, 20, 21, 62, 97, 99
GNV Gás natural veicular ............................................................................................................. 62
GWP Global Warming Potential ................................................................................................... 18
H2S
16
Sulfeto de hidrogênio ..................................................................................................... 27, 42
k Coeficiente cinético admensional ........................................................................................ 38
MDL Mecanismo de Desenvolvimento Limpo ............................................................................. 18
MOS Massa orgânica seca ....................................................................................................... 34, 39
Mt Massa total ........................................................................................................................... 82
n Rendimento .......................................................................................................................... 36
NADP Nicrotinamida adenina dinucleotídeo fosfato ...................................................................... 30
NH3 Amônia ................................................................................................................................. 42
Payback Horizonte de tempo para retorno do capital investido ....................................................... 100
PCI Poder calorífico inferior ....................................................................................................... 72
Pd Produção diária .................................................................................................................... 82
PNRS Política Nacional de Resíduos Sólidos ................................................................................ 22
PSA Pressure Swing Adsorption .................................................................................................. 63
S Concentração de DQO efluente ..................................................................................... 37, 47
S0 Concentração de DQO afluente ..................................................................................... 37, 47
SAS Statistical Analysis System .................................................................................................. 38
SO2 Dióxido de Enxofre .............................................................................................................. 27
STf Fração sólida no substrato final ........................................................................................... 82
SV Sólidos voláteis .................................................................................................................... 46
TRC Tempo de retenção celular ................................................................................................... 54
TRH Tempo de renteção hidráulica .................................................................................. 35, 38, 54
UASB Upward-flow anaerobic sludge blanket ................................................. 30, 54, 55, 56, 87, 88
Va Volume de água ................................................................................................................... 82
VUF Volume útil do frasco........................................................................................................... 42
Yobs Coeficiente de produção de sólidos no sistema ................................................................... 37
17
γv Produção de metano ............................................................................................................. 38
θc Tempo de residência celular ................................................................................................ 29
θh Tempo de retenção hidráulica .............................................................................................. 29
μm Taxa de crescimento máximo específico ............................................................................. 38
18
1. INTRODUÇÃO
O grande desenvolvimento conseguido pela humanidade, notoriamente no último
século, e a consequente necessidade de atender a demandas por água, alimentos e energia tem
exigido a mudança de mentalidade em prol do desenvolvimento sustentável, bem como o
manejo adequado dos resíduos gerados, visando a manutenção de recursos para atender às
demandas das gerações futuras.
A prática de alternativas de destino final dos resíduos, com o intuito de aumentar a vida
útil dos aterros sanitários, também observada em outros países, principalmente nos
desenvolvidos, levou a agência de Proteção Ambiental dos EUA – United States Environmental
Protection Agency (EPA) (2017) – a hierarquizar a destinação do resíduo orgânico (1), com
isso pode-se observar na Figura 1-1 - Hierarquia da recuperação do alimento que os impróprios
para alimentação humana e animal devem ser incorporados pela indústria para que sejam
aproveitados energeticamente. Dessa maneira, a biomassa pode ter seu potencial energético
explorado, em detrimento de produzir gases do efeito estufa durante sua decomposição, como
é o caso do gás metano, sendo apenas aconselhável o destino dos rejeitos orgânicos para aterros
sanitários quando seu potencial energético não puder ser explorado.
Figura 1-1 - Hierarquia da recuperação do alimento (1)
Os impactos ambientais devido às emissões de gás metano, em termos do potencial de
contribuição para o aquecimento global são cerca de vinte e uma vezes superior ao notado no
potencial do dióxido de carbono, como se observa na Tabela 1-1 - Os principais gases de efeito
estufa e seus respectivos potenciais de aquecimento global, de acordo com dados do Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação em seu relatório de Estimativas Anuais de Emissões de
Gases do Efeito Estufa no Brasil (2014) (2):
19
Composto Fórmula Vida GWP1 (100
anos)
Contribuição
Dióxido de
Carbono
CO2 N.D. 1 55%
Metano CH4 12 21 15%
Óxido Nitroso N2O 120 310 6%
Ozônio O3 1 N.D. N.D.
CFCs N.D. N.D. N.D. N.D. Tabela 1-1 - Os principais gases de efeito estufa e seus respectivos potenciais de aquecimento global (2)
A recuperação do biogás para fins energéticos, segundo Teixeira (2010) (3), vem se
tornando alvo de crescente interesse, em virtude do rápido desenvolvimento econômico nos
últimos anos, que acarreta uma maior geração de resíduos que deverão passar por um correto
manejo, a ratificação do Protocolo de Kyoto, o advento do mercado de carbono regulado pelo
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e a elevação do preço dos combustíveis. Esses
fatores estão motivando investimentos em pesquisas que visam a redução do custo de
oportunidade do emprego de novas fontes alternativas de energia, que permitam a redução do
emprego de recursos naturais não-renováveis. Resíduos sólidos orgânicos se configuram nesse
contexto como uma fonte alternativa de energia, que visa reduzir o volume destinado a aterros
sanitários e incorretamente despejados em lixões à céu aberto que não atendem às condições
sanitárias necessárias.
Conforme definido pelo Ministério do Meio Ambiente na Lei 12.305 sobre Resíduos
Sólidos Urbanos (4):
“A Lei 12.305 em seu artigo 13, item I, subitem i, define Resíduos Sólidos Urbanos como: os
originários de atividades domésticas em residências urbanas (resíduos domiciliares) e os originários da varrição,
limpeza de logradouros e vias públicas e outros serviços de limpeza urbana (resíduos de limpeza urbana). A Lei
nº 11.445/2007 que estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico, em seu Art. 6º diz que o lixo
originário de atividades comerciais, industriais e de serviços cuja responsabilidade pelo manejo não seja
atribuída ao gerador pode, por decisão do poder público, ser considerado resíduo sólido urbano. ”
Nesse contexto, o presente trabalho focará no segmento de resíduos urbanos
domiciliares, descritos pelo Ministério do Meio Ambiente na Lei 12.305 sobre Resíduos
Sólidos Urbanos (4).
1.1. ESPECIFICAÇÃO DO PROBLEMA
De acordo com Elk (2007) (5), no Brasil os municípios falham com as suas atribuições
de coletar e dispor os seus resíduos urbanos de maneira apropriada, em virtude de falta de
recursos econômicos para desempenhar essas tarefas, deficiências administrativas e
1 Segundo o site Recigases (67): “GWP é a sigla referente ao termo em inglês ‘Global Warming Potential’, ou,
em português, potencial de aquecimento global, sendo essa a medida que mostra quanto uma determinada massa
de um gás de efeito de estufa é capaz de reter calor na atmosfera, em comparação a mesma massa de gás
equivalente de CO2. O valor do GWP é sempre calculado para um determinado período de tempo (como 20, 50
ou 100 anos) e considerando a capacidade de absorção de raios infravermelho. Como referência para o cálculo é
utilizado o CO2, sendo que o seu GWP foi estabelecido como padrão e é 1. Quanto mais alto o valor do GWP,
maior o impacto sobre o aquecimento global. ”
20
desinteresse das autoridades públicas quanto à importância da questão ambiental em suas
agendas políticas, o que acarreta em degradação do solo, contaminação dos rios e lençóis
freáticos, por ação do lixiviado, e poluição atmosférica, devido à liberação do biogás,
importante contribuinte antrópico para o processo de aquecimento global.
Os dados referentes à geração de Resíduos Sólidos Urbanos, segundo o “Panorama dos
Resíduos Sólidos no Brasil 2016” publicado pela Associação Brasileira de Empresas de
Limpeza Pública e Resíduos Especiais (ABRELPE) (6), revelam um total anual de produção
de aproximadamente 78,3 milhões de toneladas, sendo que dentro desse universo apenas 71,3
milhões de toneladas se configuram como montante coletado. A destinação final dos resíduos
sólidos urbanos, em ambientes com correta disposição, demonstrou retrocesso no ano,
passando a configurar apenas 58,4% do montante anual coletado. As unidades de manejo
inadequadas como lixões e aterros controlados estão presentes em todas regiões do país e
recebem mais de 81 mil toneladas de resíduos por dia, com potencial elevado de impactos
negativos ao meio ambiente e saúde de populações que ocupem regiões lindeiras. Abaixo
representações gráficas quanto à disposição final de resíduos sólidos urbanos no Brasil por tipo
de destinação em toneladas por dia, ressaltando a proporção significante de materiais de
descarte que ocupam áreas inadequadas do ponto de vista ambiental.
Figura 1-2 - Disposição final de RSU no Brasil por tipo de destinação (t/dia) (6)
Nesse contexto, segundo Oliveira (2015) (7), a biodigestão pode inibir o potencial
impacto poluidor do descarte inadequado de resíduos orgânicos, gerar energia a partir do biogás
de forma descentralizada e próxima aos pontos de consumo, podendo ser vendida às
concessionárias, e reduzir as emissões de metano para a atmosfera. Esse processo biológico de
degradação de rejeitos em um ambiente anaeróbio requer a cooperação entre diferentes culturas
microbianas, cujas espécies pertencem aos grupos de bactérias hidrolíticas, acetogênicas e
metanogênicas.
O desperdício de resíduos sólidos orgânicos em residências, provenientes do descarte
de restos alimentares, os quais poderiam ser empregados como uma forma alternativa de
obtenção de energia elétrica, ou substituição do GLP/GN utilizado para cocção ou
aquecimento, motivou o presente trabalho. Portanto este trabalho tem como produto final
21
embasar uma ferramenta de fácil emprego, que possa se confrontar, de forma intuitiva, com o
custo de oportunidade do aproveitamento do biogás, o modal de aproveitamento do gás de
acordo com o seu potencial de geração, podendo ser a substituição parcial ou integral do seu
consumo de energia elétrica, GLP/GN, bem como as tecnologias empregadas para tais
finalidades.
22
2. OBJETIVOS
2.1. OBJETIVO GERAL
O presente trabalho versa sobre a criação de uma ferramenta, baseada em plataforma
Microsoft Excel 2016 ®, para a realização de um cálculo teórico sobre o potencial de produção
residencial de biogás, inerente do processo de anaerobiose do substrato orgânico, como fonte
de energia alternativa à energia elétrica e ao GN/GLP, utilizado em processos de cocção e
aquecimento de chuveiros, por exemplo.
2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS
O presente trabalho se predispõe a servir por embasamento teórico para a obtenção de
uma ferramenta automatizada capaz de inferir a capacidade de aproveitamento do biogás, após
processo adequado de purificação visando reduzir a concentração de sulfeto de hidrogênio, em
energia elétrica ou substituição do consumo de GN/GLP em uma residência urbana brasileira.
Para tanto alguns pontos devem ser explorados:
Escolha do modelo teórico de produção de gás metano, a partir do substrato
orgânico residenciais urbanos, que tenha por entradas valores acessíveis ao
consumidor final leigo no assunto
Levantamento dos modelos de mercado de reatores de anaerobiose e
aproveitamento do gás produzido para fins de produção de energia ou
substituição da demanda de GN/GLP, bem como o custo econômico envolvido
em sua implantação
Identificação da tecnologia adequada para produção de energia elétrica em
meios residenciais urbanos dentre as disponíveis no mercado que se adeque à
restrição de produção potencial de gás metano, contido no biogás oriundo de
processo de fermentação do substrato.
Constituição de uma matriz de decisão que avalie a viabilidade de implantação
de cada uma das alternativas abordadas.
Obter o consumo residencial de energia elétrica em meio urbano, buscando
inferir sobre o possível emprego da tecnologia para essa finalidade, tendo em
vista os custos envolvidos
Obter o consumo de GLP/GN em uma residência em meio urbano e buscar
inferir sobre a possibilidade de substituição da demanda pelo biogás purificado
23
3. LEVANTAMENTO DE DADOS
3.1. TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Visando prevenir e controlar impactos significativos causados pela disposição irregular
do lixo, como a infiltração em lençóis freáticos de lixiviado, contaminação dos solos e
proliferação de vetores de doenças, segundo Tada et al. (2009) (8), diversas tecnologias de
tratamento de disposição final de resíduos são utilizadas, visando dar um correto manejo aos
rejeitos produzidos. A escolha de uma solução de manejo deve ser criteriosa e levar em conta
fatores como a segurança do processo, características do resíduo a ser tratado, mitigação de
impactos ambientais, criação de valor agregado, reutilização ou aproveitamento de
subprodutos.
A seguir serão discriminadas algumas das alternativas de destino dos resíduos sólidos
urbanos gerados no Brasil e criação de valor por meio desses rejeitos.
3.1.1. Reciclagem
A reciclagem, segundo Nazaro (2016) (9) trata-se de um processo de coleta e
subsequente processamento da parcela seca do resíduo, visando agregar-lhe valor econômico
para que seja comercializado como um produto final, ou como matéria-prima, retornando assim
à cadeia produtiva, reduzindo por suposto o impacto sob o meio ambiente oriundo de extrações
de insumos para a indústria. Dentre suas vantagens estão a redução de volume de rejeitos
destinados a aterros controlados e lixões, categorias inapropriadas de despejo de resíduos
sólidos, bem como a aterros sanitários, conservação dos recursos naturais e redução da emissão
de gases do efeito estufa provenientes da queima desses materiais com potencial de
reaproveitamento.
No Brasil 69,6% dos municípios apresentam iniciativa de coleta seletiva cobrindo, pelo
menos de modo parcial, o seu território, de acordo com a ABRELPE (2016) (6), entretanto
ainda há um grande potencial de resíduos a serem reciclados. Atualmente apenas 38,5% do
alumínio, 63,4% do papel e 51% do plástico tem seu valor econômico recuperado para retomar
seu papel na cadeia de produção da manufatura ou ser ofertado ao consumidor final, o que
ainda mostra-se pouco, considerando as metas da Política Nacional dos Resíduos Sólidos
(2010) (PNRS) (10).
A lei n° 12.305/2010 (10) torna compulsória a instituição por parte de sistemas de
logística reversa, criando um mecanismo de reponsabilidade compartilhada, na qual produtor,
distribuído, consumidor, e a sociedade de uma forma geral dividem o dever de garantir um
correto manejo a seus materiais de descarte. Setores com mecanismos de logística reversa
consistentes, como produtores de pneus, embalagens de agrotóxicos e embalagens de óleos
lubrificantes são exemplos de casos de sucesso para que sejam atingidas as metas de reciclagem
previstas na lei.
24
3.1.2. Aterros Sanitários
O aterramento dos resíduos sólidos coletados implica em um confinamento no solo em
local impermeabilizado e recoberto por solo pouco permeável e material sintético adequado,
visando impedir vazamentos e contato com a atmosfera, animais e vetores patogênicos. Essa é
a maneira de destinação dos resíduos sólidos mais difundida no país (ABRELPE (2016) (6)),
devendo receber apenas resíduos que possam ser degradados por processos físico-químicos em
um ambiente controlado e seguro ao meio ambiente e ao público.
Os aterros sanitários são formas de manejo adequadas aos resíduos sólidos urbanos,
entretanto aterros controlados e lixões ainda possuem uma parcela expressiva do total disposto
no país, conforme aborda a ABRELPE (2016) (6):
Figura 3-1 -Disposição final dos resíduos sólidos urbanos coletados no Brasil) (6)
Os lixões, segundo Brollo (2016) (11) em detrimento dos aterros sanitários, são
depósitos a céu aberto de resíduos domiciliares, industriais e hospitalares, os quais não
receberam preparação adequada do solo, no sentido de impermeabiliza-lo e garantir a
manutenção de sua fertilidade e qualidade das águas subterrâneas. Nesses ambientes não há
sistemas de recuperação de lixiviado, tampouco tratamento de gases do efeito estufa, os quais
escapam para a atmosfera. Vetores de doenças também se proliferam nesses ambientes.
Aterros controlados, por outro lado, segundo Santos (2011) (12) ocupam um meio do
caminho entre aterros sanitários e lixões, o qual se assemelha com os lixões, entretanto recebem
uma cobertura de terra e argila que confina os rejeitos depositados. Esse sistema minimiza o
mau odor, o impacto visual e a proliferação de vetores de doenças, entretanto não há
impermeabilização em sua base, possibilitando ainda o contato entre o lixiviado produzido,
solo, e águas subterrâneas, acarretando nos problemas expostos dos lixões, no que tange esses
dois recursos naturais.
Com isso, os aterros sanitários mostram-se a melhor opção para disposição final de
resíduos, entretanto possuem vida útil e limite de volume a ser ocupado, o que o faz necessitar
de alternativas para o emprego dos rejeitos produzidos. Como a reciclagem pode apenas ser
empregada para materiais com potencial de retorno à cadeia produtiva ou ter seu potencial
valor econômico agregado a compostagem e o aproveitamento do potencial energético em
25
biodigestores figuram como alternativas interessantes para amortizar a produção de lixo
destinado a aterros sanitários.
3.1.3. Compostagem
A compostagem, segundo Nazaro (2016) (9), é um método de degradação aeróbia que
converte parte da matéria orgânica seca, advinda de residências, indústrias e agropecuárias em
fertilizantes. Assim como ocorre na reciclagem, é reduzido o volume de material de despejo
destinado a aterros sanitários, empregando-lhes em uma atividade que gera valor econômico,
no caso a geração de adubo, melhorando assim as características nutritivas dos solos de destino.
Entre as vantagens de adoção de técnicas de compostagem para manejo dos resíduos
sólidos orgânicos estão a formação de húmus (adubo orgânico), redução de materiais
destinados a aterros sanitários, incremento na fertilidade de solos por meio de nutrientes
provindos da matéria orgânica, redução de ambientes propícios à reprodução de patógenos e
economia com o tratamento de efluentes nocivos ao meio.
3.1.4. Aproveitamento Energético a partir de biogás
A biodigestão, segundo Almeida (2016) (13), é o processo de decomposição da matéria
orgânica que ocorre na ausência de oxigênio, dando origem ao biogás, de interesse energético,
e um resíduo líquido rico em sais minerais, que pode ser empregado como biofertilizante na
agronomia. O biogás tem parcela significativa de metano e gás carbônico em sua composição,
ambos com ampla utilização na indústria. A combustão do metano, por exemplo, libera energia
térmica que pode ser convertida em outras formas de energia, o que classifica o biogás como
uma fonte de energia renovável.
Ainda segundo o autor, o uso do biogás como fonte de energia tem aumentado, em
virtude de uma preocupação crescente com a escassez de fontes não-renováveis e preocupações
com questões ambientais como o aquecimento global e o despejo adequado de crescentes
volumes de resíduos produzidos no meio urbano, o que gera interesse do mercado pelos
biodigestores, reatores que realizam a produção desse gás de interesse em unidades
denominadas fermentadores, em associação com outros equipamentos, como um gerador
elétrico, para o caso de geração de eletricidade.
As principais vantagens advindas da utilização de biorreatores, segundo Nazaro (2016)
(9) para o processamento da biomassa são o baixo consumo de energia necessário para operar
o processo, possibilidade de aproveitamento do gás metano como combustível, possibilidade
de aproveitamento dos efluentes como biofertilizantes, tratamento de resíduos, promovendo a
diminuição da carga orgânica, e a mitigação de emissões de gases do efeito estufa.
26
3.2. FUNDAMENTOS DA FERMENTAÇÃO ANAERÓBIA
De acordo com o Instituto Fachagentur Nachwachsende Rohstoffe e. V. (FNR) (2010)
(14) o biogás advém da fermentação de matéria orgânica em meio anaeróbio, sendo um
processo corriqueiro no meio ambiente, podendo ser percebido em fundos de lagos, pântanos,
esterqueiras e no material da digestão de animais ruminantes. O produto gasoso desse processo
é composto, majoritariamente, por metano e dióxido de carbono, além de pequenas quantidades
de gases traço, como sulfeto de hidrogênio, amônia e gás hidrogênio. A composição do produto
final do processo de fermentação anaeróbia é influenciada diretamente pelos substratos
empregados no processo, bem como pela técnica de fermentação.
A produção do biogás é composta pelas fases de hidrólise, acidogênese, acetogênese e
metanogênese. O processo se inicia com o estágio de hidrólise, no qual compostos orgânicos
complexos, como proteínas, carboidratos e lipídeos, são degradados em substâncias orgânicas
menos complexas, como açúcares, ácidos graxos e aminoácidos por meio de enzimas
excretadas por bactérias fermentativas hidrolíticas. Os compostos intermediários formados são
decompostos na fase subsequente, a acidogênese, sendo os produtos dependentes da
concentração de hidrogênio intermediário, formando-se majoritariamente ácidos graxos de
cadeia curta (ácidos acético, propiônico e butírico), além de dióxido de carbono, hidrogênio e
pequenas quantidades de ácido lático e álcoois. Os produtos da acidogênese são convertidos
por bactérias acetogênicas em compostos precursores do biogás, na fase de acetogênese, como
o ácido acético, hidrogênio e dióxido de carbono, sendo a pressão parcial do hidrogênio fator
determinante para o processo.
Ainda segundo o autor, uma concentração de hidrogênio em demasia desestimula a
conversão dos compostos intermediários da acidogênese, levando a um acúmulo de ácidos
orgânicos que inibem a metanogênese, como os ácidos isobutírico, propiônico, isovalérico e
capróico. Por essa razão as bactérias acetogênicas e as arqueas metanogênicas devem estar
estreitamente associadas. No estágio seguinte, a metanogênese, as arqueas metanogênicas
hidrogenotróficas produzem metano e dióxido de carbono, ao passo que as arqueas
metanogênicas acetoclásticas reduzem o ácido acético em metano. A formação de metano para
cargas orgânicas volumétricas relativamente baixas ocorre pela via bioquímica que reduz o
ácido acético, ao passo que, em usinas agrícolas, com cargas orgânicas mais elevadas, a
produção de gás metano ocorre pela utilização de hidrogênio. Para fins do trabalho, em virtude
da carga orgânica volumétrica menos expressiva, por tratarmos majoritariamente de reatores
residenciais, a rota bioquímica preferencial utilizada será a metanogênese do ácido acético por
arqueas hidrogenotróficas (segundo pressuposto pelo trabalho do Instituto Fachagentur
Nachwachsende Rohstoffe e. V. (FNR) (2010) (14)).
Segundo o autor Chernicharo (2007) (15), há ainda uma fase concomitante à
acidogênese e metanogênese: a sulfetogênese. O processo consiste na redução de sulfatos,
sulfitos e outros compostos sulfurados, por bactérias sulfuredutoras, produzindo sulfetos. Por
sua capacidade de utilizar o acetato e o hidrogênio, as bactérias redutoras de sulfato são agentes
competidores às arqueas metanogênicas e acidogênicas, com isso a concentração de sulfato no
meio mostra-se determinante para apontar qual será o processo predominante.
27
As cinco fases expostas ocorrem em um processo de um único estágio com demandas
distintas de pH, temperatura e habitat, porém, por ser a metanogênese o estágio mais sensível
a mudanças no meio, as condições da biocenose devem ser ajustadas a suas necessidades,
segundo Chernicharo (2007) (15). Ainda citando o mesmo, têm-se que tentativas de isolar a
hidrólise e a acidogênese da metanogênese, por meio de dois estágios, provaram-se menos
efetivas para a formação de biogás. Abaixo, a Figura 3-2 - Esquema da decomposição
anaeróbia, adaptada de Tunes (2017) (16), a qual resume os fundamentos da decomposição
anaeróbia.
Figura 3-2 - Esquema da decomposição anaeróbia (16)
3.3. CARACTERIZAÇÃO DO BIOGÁS
Os autores Salomon et al. (2007) (17) avaliaram o potencial energético de diferentes
resíduos orgânicos gerados no Brasil para inferir à respeito da composição do biogás advindo
do processo de digestão em meio anaeróbico e obtendo os seguintes resultados após
experimentações:
28
Gás Porcentagem (%)
Metano (CH4) 40-75
Dióxido de Carbono (CO2) 25-40
Nitrogênio (N) 0,5-2,5
Oxigênio (O) 0,1-1
Ácido sulfídrico (H2S) 0,1-0,5
Amoníaco (NH3) 0,1-0,5
Monóxido de Carbono (CO) 0-0,1
Hidrogênio (H) 1-3 Tabela 3-1 -Composição média do biogás proveniente de diferentes resíduos orgânicos (17)
Ainda segundo Salomon et al. (2007) (17) , o biogás representa de 2 a 4% do peso do
substrato empregado no processo com um poder calorífico variável de 22.500 a 25.00 kJ/m³,
ao passo que a parcela de gás metano isolada desse montante possui um poder calorífico de
35.800 kJ/m³; à título de comparação o poder calorífico superior do gás natural é de 35.000 a
42.000 kJ/m³, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (18).
Abaixo uma tabela com a equivalência energética entre 1m³ de biogás e outras fontes
energéticas, segundo Salomon et al. (2007) (17):
Fonte Faixa
Gasolina (l) 0,61 – 0,70
Querosene (l) 0,58-0,62
Óleo Diesel (l) 0,55
GLP2 (kg) 0,40-1,43
Álcool (l) 0,80
Carvão mineral (kg) 0,74
Lenha (kg) 3,50
Eletricidade (kWh) 1,25-1,43 Tabela 3-2 - Equivalência energética entre 1m³ de biogás e outras fontes energéticas (17)
Ainda segundo os autores, o biogás possui alto potencial corrosivo, sendo essa
característica uma consequência da presença de elementos traço, como o sulfeto de hidrogênio,
exigindo cuidados especiais quanto aos equipamentos e encanamentos utilizados para escoar
essa produção. No Brasil a CONAMA, por meio da Resolução n°3 de 28 de junho de 1990
(19), determina o padrão primário de emissão de sulfetos de 365 mg/m³ 3 e o padrão secundário
de 100 mg/m³ em um período de 24 horas, sendo as substâncias compostas por enxofre e
consideradas como poluentes do ar os óxidos de enxofre (SO2), sulfeto de hidrogênio (H2S) e
2 GLP: Gás Liquefeito de Petróleo 3 O Ministério do Meio Ambiente define padrões de emissão primários e secundários como (65):
“São padrões primários de qualidade do ar as concentrações de poluentes que, ultrapassadas, poderão afetar a
saúde da população. Podem ser entendidos como níveis máximos toleráveis de concentração de poluentes
atmosféricos, constituindo-se em metas de curto e médio prazo.
São padrões secundários de qualidade do ar as concentrações de poluentes atmosféricos abaixo das quais se
prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem-estar da população, assim como o mínimo dano à fauna e a flora,
aos materiais e ao meio ambiente em geral. Podem ser entendidos como níveis desejados de concentração de
poluentes, constituindo-se em meta de longo prazo. ”
29
sulfatos. A amônia, mesmo em baixas concentrações, também é corrosiva ao cobre, podendo
emitir como produto da combustão os óxidos de nitrogênio, que são nocivos à saúde. A
CONAMA prevê, por meio da Resolução n° 316, de 29 de outubro de 2002 (20) que o padrão
de emissão de óxidos de nitrogênio seja de 560 mg/Nm³.
3.4. FATORES INIBITÓRIOS NO PROCESSO ANAERÓBIO
3.4.1. Condições Ambiente
Conforme exposto pelo FNR (2010) (14) as condições do meio são distintas entre
digestão úmida e digestão seca no que tange o teor de umidade, a concentração de nutrientes e
o transporte de substâncias a serem empregados, entretanto, por ser a rota úmida o método
predominante, será tratada apenas essa via de digestão no presente trabalho. Para tanto, o autor
aborda especificações quanto à concentração de oxigênio, faixas ideais de temperatura e pH, e
presença de inibidores, questões as quais serão exploradas nos próximos parágrafos, segundo
seu trabalho.
No que diz respeito ao oxigênio, têm-se que as arqueas metanogênicas são seres
anaeróbios obrigatórios, o que os leva a necessitarem de um ambiente anóxico, sendo inviável
na prática, porém pode-se aproximar dessa condição expondo ao mesmo ambiente bactérias
aeróbias, fruto de etapas de biocenose antecedentes, as quais consomem o oxigênio presente
no biodigestor, e bactérias metanogênicas, com isso as bactérias aeróbias irão impedir que esse
fator afete as arqueas metanogênicas de forma significativa.
Quanto à temperatura, por sua vez, os microrganismos envolvidos na degradação se
dividem em psicrofílicos, mesofílicos e termofílicos. Os microrganismos psicrofílicos
apresentam temperatura adequada para o seu desenvolvimento abaixo de 25°C, dispensando o
aquecimento do substrato e do biodigestor, entretanto essa faixa de temperatura se caracteriza
pela lenta decomposição e reduzida produção de gás. A faixa mesofílica, por sua vez, na qual
contextualizam-se a maioria dos organismos metanogênicos, tem operação adequada de
temperatura entre 37 e 42°C, proporcionando rendimentos relativamente elevados de gás e boa
estabilidade ao processo. Nesse contexto, deve-se apontar que as arqueas metanogênicas
podem se adaptar a diferentes níveis de temperatura quando a variação se mostra paulatina. A
fermentação com microrganismos termofílicos, por sua vez, tem temperatura adequada de
cultura na faixa de 50 a 60°C, sendo uma faixa de operação adequada em processos que
requerem esterilização do substrato, bem como mais suscetível a distúrbios e a variações do
fluxo de alimentação de substrato ou do modo de operação do biodigestor. Por fim,
experimentações práticas mostram-se que essas faixas não são tão rígidas quanto os dados
teóricos possam apresentar, sendo mais decisivo à inoperância do processo bruscas variações
nos níveis de temperatura registrados.
No que diz respeito ao pH, as bactérias hidrolíticas e acidogênicas trabalham em uma
faixa ideal de 5,2 a 6,3, entretanto a adaptabilidade a valores próximos a essa faixa ocorre da
mesma forma que notado nas condições necessárias de temperatura. Por outro lado, as bactérias
acetogênicas e as arqueas metanogênicas dependem mais fortemente de uma faixa de pH entre
30
6,5 e 8, portanto um processo de fermentação realizado em apenas um biodigestor deve
respeitar essa restrição de pH. Em condições normais esse pH se neutraliza pelo efeito tampão
do carbonato e da amônia, garantindo que não haja variações bruscas de pH que poderiam
prejudicar bactérias metanogênicas.
3.4.2. Condições do Reator
O autor Souza (1984) (21) vai um pouco mais além na questão e traz alguns pontos
adicionais não cobertos pelo FNR (2010) (14) que mostram-se fatores importantes relativos às
características do digestor, sendo eles a idade do lodo e o grau de contato.
O lodo corresponde à parcela de sólidos em suspensão no substrato, sendo esse um
parâmetro importante para a análise da velocidade específica de reprodução dos
microrganismos, por ser, à grosso modo, o inverso da idade do lodo, o qual é definido pela
equação:
𝐼𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑜 𝑙𝑜𝑑𝑜 (𝜃𝑐) = 𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑒 𝑙𝑜𝑑𝑜 𝑛𝑜 𝑑𝑖𝑔𝑒𝑠𝑡𝑜𝑟
𝑀𝑎𝑠𝑠𝑎 𝑑𝑒 𝑙𝑜𝑑𝑜 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑎𝑟𝑡𝑎𝑑𝑎
𝑈𝑛𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑡𝑒𝑚𝑝𝑜
Equação 3-1 - Idade do lodo (𝜃𝑐) (21)
Em um sistema submetido a um tempo de retenção hidráulico superior à idade de lodo,
ou seja, tempo de retenção superior à idade do lodo, ocorrerá a lavagem dos microrganismos e
a impossibilidade da biodigestão, por consequência. Abaixo a definição do tempo de retenção
hidráulico:
𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑡𝑒𝑛çã𝑜 ℎ𝑖𝑑𝑟á𝑢𝑙𝑖𝑐𝑎 (𝜃ℎ) = 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜 𝑏𝑖𝑜𝑑𝑖𝑔𝑒𝑠𝑡𝑜𝑟
𝑉𝑎𝑧ã𝑜 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜
Equação 3-2 - Tempo de retenção hidráulico (𝜃ℎ) (21)
No que tange o grau de contato, ou grau de agitação, digestores convencionais devem
conter um sistema de agitação (o qual será abordado em tópico futuro), uma vez que na
ausência desse sistema haverá uma redução acentuada da velocidade do processo por uma
insuficiência no contato entre os microrganismos e a matéria orgânica. De acordo com o autor,
têm-se as seguintes possibilidades (21):
“[...] retorno de gás produzido, após compressão, por recirculação do lodo em digestão do fundo para o topo do
digestor, ou por agitação mecânica”.
Há indícios de que uma agitação excessiva possa favorecer as bactérias acidogênicas,
deslocando a digestão para a produção de ácidos graxos de cadeia curta, dióxido de carbono e
hidrogênio, segundo o autor (21).
3.4.3. Características do Resíduo
31
De acordo com o autor Souza (1984) (21), fatores relativos às características do resíduo
que podem vir a causar influência na produção final de biogás são o grau de biodegradabilidade,
diluição do material a ser digerido, estado da matéria orgânica, tamanho das partículas de
sólidos em suspensão e concentração de nutrientes, os quais são explorados abaixo segundo o
seu texto.
No que diz respeito ao grau de biodegradabilidade da matéria orgânica, têm-se que esse
se refere à máxima produção de gases a ser obtida a partir de um determinado resíduo, ou seja,
a maior remoção de DQO possível. A previsão teórica da concentração dos gases a serem
obtidos pode ser inferida a partir da seguinte equação estequiométrica:
CaHbOc+ x H20 → yCH4 + zCO2
Equação 3-3 - Formulação estequiométrica para inferir concentrações do gás final (21)
Desta equação pode-se depreender que 1g de DQO removida equivale à produção de
0,35 l de CH4, em condições normais de pressão e temperatura.
A diluição do material a ser digerido, por sua vez, é conveniente para alguns rejeitos,
tal qual o lixo urbano, antes de serem destinados aos biodigestores. É conveniente que a
diluição seja a mínima possível, pois, desta forma, para uma mesma carga orgânica aplicada
será necessária uma maior idade de lodo, como ocorre em biodigestores não convencionais,
por exemplo, os quais são o único tipo de reator que fornece um tratamento efetivo por digestão
anaeróbia a resíduos pouco concentrados. Para que o processo de digestão ocorra de forma
eficiente deve-se utilizar substratos com até 20% de sólidos totais em um processo classificado
como úmido.
O estado da matéria orgânica no substrato a ser degradado, por sua vez, define muitas
vezes, em uma primeira análise, o tipo de biodigestor a ser utilizado. Substratos caracterizados
por elevadas concentrações de sólidos em suspensão requerem digestores convencionais ou o
processo de contato, ao passo que resíduos contendo elevadas concentrações de materiais
dissolvidos são preferencialmente empregados em digestores de fluxo ascendente (UASB) ou
em filtros anaeróbios.
A dimensão das partículas sólidas em suspensão é um outro fator que possui sua
importância quanto à característica do resíduo para garantir o rendimento do processo de
geração de biogás. Nesse âmbito a eficiência do processo está atrelada ao menor tamanho
possível das partículas dos sólidos em suspensão garantem um maior contato entre a matéria
orgânica e os microrganismos responsáveis pelo processo de anaerobiose. Para diâmetros
acima de um centímetro recomenda-se a utilização de moedores, picadores ou liquidificadores,
visando aumentar a superfície específica desse particulado.
Quanto à disponibilidade de nutrientes o Instituto Fachagentur Nachwachsende
Rohstoffe e. V. (FNR) (2010) (14), expõe que, carbono (C), nitrogênio (N), fósforo (P) e
enxofre (S) mostram-se os macronutrientes mais importantes para a taxa de crescimento,
atividade populacional, formação de enzimas e transporte de energia, por meio do NADP
(nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato) e ATP (adenosina trifosfato), uma vez que a
32
concentração de metano a ser obtida a partir do substrato é fruto do seu teor de proteínas,
gorduras e carboidratos. Com isso, mostra-se importante a manutenção da correta relação
carbono-nitrogênio, uma vez que uma relação muito elevada pode reduzir a atividade
metabólica, levando à não degradação completa do carbono e consequente produção de metano
abaixo do seu potencial máximo, por outro lado a abundância de nitrogênio é capaz de formar
amônia em excesso, a qual reage com água formando amônio, elevando o valor do pH e
inibindo o crescimento de microrganismos. Por isso, para que o processo opere em
normalidade, a relação carbono-nitrogênio deve estar na faixa de 10 a 30. Em relação aos
micronutrientes, arqueas metanogênicas necessitam de cobalto, níquel, molibdênio e selênio,
sendo que algumas espécies em específico ainda requerem para o seu metabolismo tungstênio.
Além disso, ferro, magnésio e manganês são micronutrientes essenciais para o transporte de
elétrons e a atividade de determinadas enzimas. As concentrações de micronutrientes previstas
pelo autor (14) são: cobalto (0,003 a 10 mg/l), níquel, (0,005 a 15 mg/l), selênio (0,08 a 0,2
mg/l), molibdênio (0,005 a 0,2 mg/l), manganês (0,005 a 50 mg/l) e ferro (0,1 a 10 mg/l).
3.4.4. Substâncias em Concentrações Potencialmente Inibitórias
O autor Souza (1984) (21) ressaltou alguns compostos que podem impactar
negativamente o processo de geração de biogás, dentre eles os mais significativos para o
presente estudo são a avaliação de concentração de ácidos voláteis, metais alcalinos e alcalino-
terrosos, metais pesados, nitratos, nitrogênio amoniacal, sulfetos e outros compostos de enxofre
e surfactantes.
A toxicidade desses compostos está atrelada à sua concentração, conforme definição
aceita pela Secretaria da Saúde do Estado do Paraná (22):
“Capacidade inerente e potencial do agente tóxico de provocar efeitos nocivos em organismos vivos. O
efeito tóxico é geralmente proporcional à concentração do agente tóxico a nível do sítio de ação”.
Tendo em vista esse conceito, pode-se apontar, de acordo com Souza (1984) (21), que
concentrações de ácidos graxos voláteis inferiores à faixa de 6 mil a 8 mil mg/l não apresentam
toxicidade relevante que possa comprometer o processo de digestão anaeróbia, desde que o pH
do sistema seja mantido próximo à neutralidade. Esses podem ser acumulados no sistema por
aumentos súbitos na carga orgânica aplicada, aumentos repentinos na descarga do despejo,
diminuindo assim consideravelmente o tempo de retenção hidráulico do sistema, promovendo
a lavagem das arqueas metanogênicas, bem como mudanças súbitas de pH e temperatura.
Metais alcalinos, com destaque para o sódio, potássio, cálcio e magnésio apresentam
concentrações inibitórias descritas na tabela abaixo, com base no trabalho de Souza (1984)
(21), podendo estar presentes no resíduo, ou serem adicionados ao processo para correção do
pH.
33
Cátion Concentração (mg/l)
Estimulante Moderadamente
Inibitório
Fortemente
Inibitório
Sódio 100-200 3.500-5.500 8.000
Potássio 200-400 2.500-4.500 12.000
Cálcio 100-200 2.500-4.500 8.000
Magnésio 75-150 1.000-1.500 3.000 Tabela 3-3 - Efeitos estimulantes e inibitórios do Sódio, Cálcio e Magnésio na Digestão Anaeróbia (21)
Metais pesados apresentam toxicidade relevante ao sistema apenas quando
solubilizados em meio ao substrato na forma de sulfetos, carbonatos ou cloretos, e sua potencial
inibição no sistema é explorada na fórmula à seguir proposta pelo autor Mosey, F.E., em sua
obra “Assessment of the Maximum Concentration of Heavy Metal in Crude Sewage which will
not Inhilbit the Anaerobic Digestion of Sludge”, explorada no artigo pulicado por Souza (1984)
(21):
𝐾 =
𝑍𝑛32,7 +
𝑁𝑖29,4 +
𝑃𝑏103,6 +
𝐶𝑑56,2
+ 0,67 ×𝐶𝑢
31,8
𝑆𝑇
Equação 3-4 - Parâmetro K, referente ao grau de toxicidade de metais pesados (21)
A equação explora o grau de toxicidade provocado pelo conjunto de metais Zinco,
Cobre, Níquel, Chumbo, Cádmio e Cobre por meio do parâmetro K, o qual para valores abaixo
de 200 meq/kg apresentam uma inibição improvável no processo, para valores maiores ou
iguais a 400 meq/kg apresentam uma inibição provável, e para valões acima de 800 meq/kg
apresentam uma inibição quase certa.
Os valores 32,7, 29,4, 103,6, 56,2 e 31,8, por sua vez, se referem às massas equivalentes
dos respectivos metais no estado divalente, ao passo que o fator de correção 0,67 destina-se a
corrigir a influência do efeito do cobre na toxicidade por reduzir-se apenas parcialmente ao
estado cuproso. Por fim, a abreviação “ST” refere-se aos sólidos totais no digestor em kg/l, ao
passo que os termos “Zn”, “Ni”, “Pb”, “Cd” e “Cu” referem-se às concentrações totais dos
referidos metais nos lodos de digestão em mg/l, os quais terão seus efeitos explorados à seguir,
segundo o trabalho de Souza (1984) (21).
Os nitratos podem causar uma inibição completa do processo de metanogênese a uma
concentração de 50 mg/l e mínima a 10 mg/l. O nitrogênio amoniacal, por outro lado, pode
causar inibição do processo em concentração superior a 3.000 mg/l, efeitos adversos em altos
valores de pH na faixa de 1.500 a 3.000 mg/l e efeitos benéficos à digestão anaeróbia de 50 a
200 mg/l. A toxicidade do nitrogênio amoniacal deve ser levada em conta na ocorrência de
elevadas concentrações de nitrogênio total no substrato a ser digerido.
Sulfetos, triosulfatos, sulfitos e sulfeto de hidrogênio são compostos de enxofre com
potencial de inibir a digestão anaeróbia a concentrações de 290 mg/l, ao passo que o potencial
tóxico para o processo de degradação oriundo de compostos de sulfato é mais elevado: 6.750
mgSO42-/l. O efeito tóxico de sulfetos pode ser contido por meio do arraste gasoso do gás ou
precipitação com metais pesados, como o ferro.
34
Surfactantes, agentes ativos dos detergentes, compostos majoritariamente de
alquilbenzeno sulfonatos em detergentes não-biodegradáveis, ou alquilbenzeno sulfonatos
lineares, no caso de detergentes biodegradáveis. Embora esse último seja biodegradável, ele
não se degrada significativamente em condições anaeróbias próprias do reator, o que torna
ambos os agentes surfactantes inibitórios do processo em concentrações entre 600 e 900 mg/l.
O Instituto Fachagentur Nachwachsende Rohstoffe e. V. (FNR) (2010) (14), por outro
lado, traz outras faixas de concentração seguras ao processo no que tange a presença de metais
pesados (cobre, zinco e cromo), sulfeto de hidrogênio e complementa com a concentração
segura de operação para oxigênio no reator de degradação anaeróbia, que por seu caráter mais
restritivo e por se tratar de uma literatura publicada com respaldo do Ministério da Nutrição,
Agricultura e Defesa do Consumidor da Alemanha (BMELV) serão adotados como
concentrações de inibição para efeitos do presente trabalho.
O cobre, em virtude de suas propriedades bactericidas, é tóxico mesmo em
concentrações mínimas, na faixa de 40 a 50 mg/l. A amônia livre, não iônica, também se mostra
impactante a microrganismos em pequenas concentrações quando o equilíbrio com o amônio
é desfeito. Esse fenômeno ocorre em decorrência de as duas substâncias coexistirem em meio
aquoso, com a reação de amônia e água formando amônio e íons OH-, quando há formação
excessiva de íons OH- o pH aumenta e a reação é deslocada no sentido de formação de amônia
livre, a qual é inibitória ao processo acima da faixa de 80 a 250 mg/l. Aumentos de temperatura
no biodigestor também deslocam o equilíbrio da reação no sentido de formação da amônia.
O sulfeto de hidrogênio, por sua vez, na forma não dissociada, reage com citotoxina
sendo capaz de inibir o processo de degradação a concentrações superiores a 50mg/l. O
aumento do pH aumenta a concentração de sulfeto de hidrogênio livre no meio aquoso,
aumentando o risco de inibição do processo.
O autor traz ainda dados sobre os metais pesados zinco e cromo, os quais não devem
ter concentrações que ultrapassem 150 mg/l e 100 mg/l, bem como explora o oxigênio, o qual
não deve estar disponível no processo a uma concentração superior a 0,1 mg/l.
Por fim, o autor Chernicharo (2007) (15) traz dados de inibição quanto ao fósforo de
um quinto a um sétimo da concentração inibitória do nitrogênio amoniacal, por motivos
conservadores utilizaremos a razão de um quinto da concentração máxima de nitrogênio
amoniacal para se evitar a inibição do processo chegando ao valor de 600 mg/l.
Abaixo uma tabela resumindo todos os dados colhidos sobre elementos com
características inibitórias, bem como suas concentrações máximas:
35
Elementos Inibidores Concentração de Inibição
(mg/l)
Observações
Ácidos graxos voláteis 6.000 a 8.000 Quanto menor o pH maior o
efeito inibidor
Sódio 8.000
Potássio 12.000
Cálcio 8.000
Magnésio 3.000
Fósforo 600
Zinco 150 Só metais pesados
dissolvidos no sistema
apresentam caráter inibidor,
sendo o sistema
descontaminado pela
precipitação com sulfeto
Cromo 100
Cobre 40 a 50
Nitrato 50
Nitrogênio amoniacal 3.000 Quanto maior a temperatura
e o pH maior será o efeito
inibidor
Amônia livre 80 a 250
Sulfetos, triosulfatos,
sulfitos
290
Sulfato 6.750
Sulfeto de hidrogênio 50 Quanto menor o pH maior
será seu efeito inibitório
Surfactantes 600 a 900
Oxigênio 0,1 Inibição de arqueas
metanogêneas anaeróbias
obrigatórias Tabela 3-4 - Elementos inibitórios e suas concentrações (14) (15)
Cabe mencionar que os microrganismos envolvidos no processo se caracterizam por
sua alta adaptabilidade às condições do meio e, portanto, não se deve considerar os limites
como absolutos e aplicáveis para qualquer circunstância.
3.5. PARÂMETROS OPERACIONAIS
3.5.1. Carga Orgânica Volumétrica
A carga orgânica volumétrica, segundo a Instituição Fachagentur Nachwachsende
Rohstoffe e.V. (FNR) (2010) (14), expressa a quantidade em quilos de matéria orgânica seca
(MOS) que devem ser carregados no biodigestor por m³ de volume de trabalho por unidade de
36
tempo (kg MOS/(m³.d)) para se obter o rendimento máximo de gás advindo da decomposição
do substrato a um custo aceitável. Esse parâmetro é expresso pela seguinte fórmula:
𝐶𝑂𝑉 =�̇� × 𝑐
𝑉𝑟 × 100
Equação 3-5 - Carga orgânica volumétrica (COV) (14)
A equação tem por entradas a quantidade produzida de substrato por unidade de tempo
(�̇�) [kg/d], a concentração da matéria orgânica (c) [% MOS] e o volume do reator [m³].
Segundo a FNR (2010) (14):
“A carga orgânica volumétrica pode ser indicada para cada estágio (reservatório impermeável a gases,
isolado e aquecido), para todo o sistema (total dos volumes de trabalho de todos os estágios) e incluindo ou não
a recirculação de material. A alteração dos valores de referência pode resultar em COVs [Cargas Orgânicas
Volumétricas] bastante diversas para uma usina. Para que a comparação entre as COVs de diferentes usinas seja
o mais representativo possível, esse parâmetro deve ser calculado preferencialmente para o sistema como um
todo sem levar em conta a recirculação de material, ou seja, somente para o substrato fresco. ”
3.5.2. Tempo de retenção hidráulico (TRH)
Para fatores que influenciam o processo de fermentação anaeróbia, o TRH é
referenciado na Equação 3-2 - Tempo de retenção hidráulico (𝜃ℎ), como sendo:
𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑑𝑒𝑡𝑒𝑛çã𝑜 ℎ𝑖𝑑𝑟á𝑢𝑙𝑖𝑐𝑎 (𝜃ℎ) = 𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑑𝑜 𝑏𝑖𝑜𝑑𝑖𝑔𝑒𝑠𝑡𝑜𝑟
𝑉𝑎𝑧ã𝑜 𝑑𝑒 𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜, o que representa o tempo
médio calculado em que um substrato permanece no biodigestor até a sua saída, e deve ser
ideal para se garantir que a renovação contínua do conteúdo do reator não seja lavada a uma
taxa superior à observada pela reprodução microbiana, e pela taxa de decomposição do
substrato, resultando em um rendimento de produção de biogás abaixo das expectativas.
Segundo a FNR (2010) (14) esse parâmetro tem maior importância em reatores que recebam
material a ser degradado com elevadas quantidades de líquidos e baixos teores de material
orgânico a ser decomposto.
3.5.3. Avaliação da Eficiência da Degradação do Substrato
O FNR (2010) (14) aponta que a produtividade, rendimento e taxa de degradação do
substrato são parâmetros que se prestam a descrever o rendimento do reator. A produtividade
expressa a produção de gás em relação ao volume do biodigestor como sendo o cociente entre
a produção diária de gás e o volume do reator. O rendimento, por sua vez, expressa a quantidade
de biogás produzida em relação à quantidade de matéria orgânica empregada no processo por
meio do substrato, entretanto, como parâmetro isolado ele se mostra pouco aplicável por não
agregar a carga efetiva do biodigestor, por essa razão esse critério de avaliação deve ser sempre
acompanhado da carga orgânica volumétrica. Por fim, a taxa de degradação sintetiza a
eficiência de aproveitamento do substrato em termos de massa orgânica seca (MOS) ou
demanda bioquímica de oxigênio (DQO). As formulações referentes à produtividade,
rendimento e taxa de degradação estão respectivamente apontadas abaixo:
37
𝑃 (𝑀𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜) =𝑉(𝑀𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜)̇
𝑉𝑟
Equação 3-6 - Produtividade de gás metano (14)
Onde P (Metano) se refere à produtividade do metano em Nm³/(m³.d), o 𝑉(𝑀𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜)̇ ,
por sua vez, se refere à produção de metano em Nm³/d e o termo Vr faz alusão ao volume do
reator em m³.
𝐴 (𝑀𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜) =𝑉(𝑀𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜)̇
𝑚 𝑀𝑂𝑆̇
Equação 3-7 - Rendimento de gás metano (14)
O termo A (Metano) se refere ao rendimento de metano em Nm³/t, o 𝑉(𝑀𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜)̇ , por
sua vez, expressa a produção de metano em Nm³/d, e o 𝑚 𝑀𝑂𝑆̇ faz alusão à matéria orgânica
seca introduzida em t/d.
𝜂 𝑀𝑂𝑆 = 𝑀𝑂𝑆𝑠𝑢𝑏×𝑀𝑖𝑛−(𝑀𝑂𝑆𝑠𝑎×𝑀𝑠𝑎)
𝑀𝑂𝑆𝑠𝑢𝑏×𝑀𝑖𝑛× 100
Equação 3-8 - Taxa de degradação da biomassa (14)
O termo 𝜂 𝑀𝑂𝑆 expressa a taxa de degradação da biomassa em porcentagem, a
𝑀𝑂𝑆𝑠𝑢𝑏 se refere ao teor de matéria orgânica seca da matéria fresca introduzida em kg/T, a
𝑀𝑖𝑛 faz alusão à massa da matéria fresca introduzida, em toneladas, a 𝑀𝑂𝑆𝑠𝑎 aponta o teor de
matéria orgânica seca na saída do biodigestor em kg/T, e a 𝑀𝑠𝑎 aponta a massa de
biofertilizantes em toneladas.
3.6. POTENCIAL DE GERAÇÃO DE BIOGÁS TEÓRICO
A produção de gás metano pode ser obtida por meio de dados experimentais ou modelos
teóricos. De acordo com Chernicharo (2007) (15) existem duas vertentes para inferir à respeito
da produção de gás metano, sendo essas a avaliação da composição química do substrato e da
demanda bioquímica de oxigênio (DQO) do substrato degradado. Estudos mais recentes
desenvolvidos por Nashimura (2009) (23) exploram o potencial de geração de gás metano com
base nos sólidos voláteis e o tempo de retenção hidráulico, ao passo que o FNR (2010) (14)
explora um modelo baseado na proteína, carboidratos e gordura digestíveis.
3.6.1. Geração Teórica de Biogás por Demanda Química de Oxigênio
Chernicharo (2007) (15), aborda a possibilidade de cálculo do potencial de geração de
gás metano pela presença de matéria orgânica carbonácea, segundo a equação de cálculo
simplificado da parcela de DQO convertida em gás metano, desconsiderando-se a parcela
38
convertida em biomassa, bem como a produção de sulfetos na competição por parte de bactérias
sulfuredutoras. Com isso, apresenta-se a seguinte equação:
𝐷𝑄𝑂𝐶𝐻4 = 𝑄. (𝑆0 − 𝑆) − 𝑌𝑜𝑏𝑠. 𝑄. 𝑆0
Equação 3-9 - Geração teórica de gás metano pela demanda química de oxigênio (15)
Onde DQOCH4 refere-se à carga de DQO convertida em gás metano em kg DQOCH4/d,
ao passo que Q refere-se à vazão afluente em m³/d, S0 à concentração de DQO afluente (kg
DQO/m³), S à concentração de DQO efluente (kg DQO/m³), Yobs ao coeficiente de produção
de sólidos no sistema, em termos de DQO (0,11 a 0,23 kg DQOlodo / kg DQO apl, segundo
Chernicharo (2007) (15)).
A conversão da massa de metano (kg DQOCH4/d) em produção volumétrica potencial
(m³CH4/d) é inferida com o auxílio das respectivas equações:
𝑄𝐶𝐻4 =𝐷𝑄𝑂𝐶𝐻4
𝑓(𝑇)
Equação 3-10 - Produção volumétrica de metano (15)
Onde QCH4 refere-se à produção volumétrica de metano (m³/d), ao passo que f (T)
refere-se ao fator de correção para a temperatura operacional do reator (kg DQO/m³).
𝑓(𝑇) =𝑃. 𝐾𝐷𝑄𝑂
𝑅. (273 + 𝑇)
Equação 3-11 - Fator de correção para a temperatura operacional do reator (15)
Onde f (T) refere-se a um fator de correção para a temperatura operacional do reator
em kgDQO.m-3. Por sua vez, P refere-se à pressão atmosférica (1atm), KDQO corresponde a um
mol de CH4 (64 kg DQO/mol), R à constante dos gases (0,08206 atm.L/mol K) e T à
temperatura operacional do reator (°C).
Obtida a produção teórica de metano, pode-se estimar a produção total de biogás a partir
do teor esperado de metano neste, de acordo com a seguinte equação:
𝑄𝑏𝑖𝑜𝑔á𝑠 =𝑄𝐶𝐻4
𝐶𝐶𝐻4
Equação 3-12 - Produção volumétrica diária de gás metano (15)
Onde, Qbiogás refere-se à produção volumétrica de biogás por dia (m³/d), QCH4
corresponde à produção volumétrica de metano (m³/d) e CCH4 à um fator de conversão referente
à concentração de metano no biogás, normalmente da ordem de 70% a 80%; para o presente
trabalho será assumida uma concentração de metano no biogás de 70%, valor dentro do
intervalo proposto por Salomon (2007) (24). A partir da eficiência do reator, ou da
concentração final da DQO após a degradação, pode-se estimar a produção de CH4,
desconsiderando-se a carga de DQO que foi convertida em biomassa.
39
3.6.2. Geração Teórica de Biogás por Concentração de Sólidos Voláteis
De acordo com Nishimura, R. (2009) (23), por outro lado, a estimativa da produção de
metano pode ser feita a partir da concentração de sólidos voláteis no substrato. A sequência
abaixo representa as equações necessárias para a estimativa de produção de CH4 na câmara de
biodigestão em função dos sólidos voláteis:
𝛾𝑣 = (𝐵0. 𝑆𝑉0
𝑇𝑅𝐻) × (
1 − 𝑘
𝑇𝑅𝐻. 𝜇𝑚 − 1 + 𝑘)
Equação 3-13 - Produção de metano (23)
Onde γv refere-se à produção de metano em m3, B0 à taxa máxima de produção de
metano em m³CH4/kgSV; SV0, por sua vez, corresponde à concentração de sólidos voláteis do
efluente (kg/m3), TRH ao tempo de retenção hidráulico em dias, μm à taxa de crescimento
máximo específico em 1/d, k refere-se ao coeficiente cinético adimensional, e, por fim, T se
refere à temperatura da biomassa em graus Celsius.
Ainda segundo o autor, o coeficiente cinético adimensional e a taxa de crescimento
máximo específico podem ser expressos pelas seguintes equações:
𝑘 = 0,5 + 0,0043. 𝑒0,051.𝑆𝑉0
Equação 3-14 - Coeficiente cinético adimensional (23)
𝜇𝑚 = 0,013. 𝑇 − 0,129
Equação 3-15 - Taxa de crescimento máximo específico (23)
Brown, D. et. al (2013) (25), por sua vez, realizou o teste bioquímico de metano para
resíduos orgânicos sólidos urbanos, como poda e restos de alimentos de origem domiciliar e
comercial. No que tange resíduos de poda, como grama e folhas, a relação carbono-nitrogênio
obtida experimentalmente para esses substratos foi de 17 e 11, respectivamente, ao passo que
restos de alimentos de restaurantes apresentaram uma relação carbono-nitrogênio de 15, dados
esses que operam dentro da faixa adequada de degradabilidade pelos microrganismos
decompositores, segundo o FNR (2010) (14), o qual determinou essa faixa como sendo uma
razão de carbono-nitrogênio de 10 – 30.
A quantidade de gás metano obtida no biogás foi medida como o volume em litros
obtido a partir da massa de sólidos voláteis do substrato em quilos, empregando o modelo
estatístico SAS software (Version 8.1, SAS Institute Inc., Cary,NC, USA) baseado em análise
de variância (ANOVA) com um desvio padrão para os dados obtidos de 4,2%. De acordo com
o estudo, o resíduo sólido orgânico urbano estudado, contando com uma mistura entre resíduos
de origem comercial e doméstica, obteve uma produção de 508 L de metano por quilo de sólido
volátil adicionado (508 LCH4/kgSV), entretanto, considerando apenas os sólidos orgânicos de
rejeitos residenciais, obteve-se uma produção de 419 L de metano por quilo de sólido volátil
adicionado (419 LCH4/kgSV). O estudo ainda aponta uma razão ideal entre sólidos voláteis secos
40
inseridos no sistema como substrato e biofertilizantes (obtidos após o processo de
decomposição anaeróbia) de dois, visando a condição adequada de digestão dos
microrganismos envolvidos no processo, visando extrair o máximo potencial de gás metano no
processo.
Em um artigo adaptado desse estudo, realizado pela autora Nazaro (2016) (9), calculou-
se a relação carbono-nitrogênio para resíduos de origem domiciliar e comercial, bem como a
quantidade de sólidos voláteis, como um percentual da massa orgânica seca, dados esses
apresentados na Tabela 3-5 - Teor de sólidos totais, sólidos voláteis e relação
Carbono:Nitrogênio (C:N) de resíduos orgânicos residenciais e comerciais:
Substrato Sólidos
Totais (%
Massa
Orgânica
Seca)
Sólidos
Voláteis
(%
Massa
Orgânica
Seca)
%
Sólidos
Voláteis
/ %
Sólidos
Totais
Carbono
(%
Sólidos
Totais)
Hidrogênio
(% Sólidos
Totais)
Nitrogênio
(% Sólidos
Totais)
Carbono:
Nitrogênio
Resíduo
Doméstico
21,9 19,9 0,91 46,8 6,3 2,7 17,3
Resíduo
Comercial
35,4 30,1 0,85 49,0 7,0 3,4 14,4
Tabela 3-5 - Teor de sólidos totais, sólidos voláteis e relação Carbono:Nitrogênio (C:N) de resíduos orgânicos
residenciais e comerciais (9)
3.6.3. Geração Teórica de Biogás por Concentração de Proteínas, Gorduras e
Carboidratos Digestíveis
Segundo a metodologia apontada pelo FNR (2010) (14), a quantidade de biogás que
pode ser produzido por um reator advém das propriedades do substrato, com isso mostra-se
possível estimar o rendimento de gás com base na soma das produções de gás dos materiais
introduzidos. Com base na concentração de matéria mineral, proteína bruta, gordura bruta, fibra
bruta, extratos não-nitrogenados e suas respectivas digestibilidades por parte dos
microrganismos pode-se inferir a respeito do rendimento de metano e biogás total a ser obtido
por meio da formulação matemática:
𝑇𝑒𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑀𝑂𝑆 =(1.000 − 𝑚𝑎𝑡é𝑟𝑖𝑎 𝑚𝑖𝑛𝑒𝑟𝑎𝑙)
10
Equação 3-16 - Teor de massa orgânica sólida (14)
A equação exprime a quantidade de massa orgânica seca (MOS) em termos de
porcentagem de massa sólida, tendo por única entrada a concentração de matéria mineral em
g/kg de massa seca (MS).
𝑃𝑟𝑜𝑡𝑒í𝑛𝑎 𝑑𝑖𝑔𝑒𝑠𝑡í𝑣𝑒𝑙 =(𝑝𝑟𝑜𝑡𝑒í𝑛𝑎 𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎 × 𝐷𝐺𝑟𝑝)
1.000
Equação 3-17 - Proteína digestível por massa seca (14)
41
A equação define a concentração de proteína digestível em kgMOS/kgMS, tendo por
entradas a proteína bruta em kgMOS/kgMS e a digestibilidade do substrato em questão (𝐷𝐺𝑟𝑝)
em porcentagem.
𝐺𝑜𝑟𝑑𝑢𝑟𝑎 𝑑𝑖𝑔𝑒𝑠𝑡í𝑣𝑒𝑙 =(𝑔𝑜𝑟𝑑𝑢𝑟𝑎 𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎 × 𝐷𝐺𝑒𝑒)
1.000
Equação 3-18 - Gordura digestível por massa seca (14)
A equação aponta a concentração de gordura digestível em kgMOS/kgMS, tendo por
entradas a gordura bruta em kgMOS/kgMS e a digestibilidade da gordura bruta (𝐷𝐺𝑒𝑒) em
porcentagem.
𝐶𝑎𝑟𝑏𝑜𝑖𝑑𝑟𝑎𝑡𝑜𝑠 𝑑𝑖𝑔𝑒𝑠𝑡í𝑣𝑒𝑖𝑠 =(𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎 𝑏𝑟𝑢𝑡𝑎 × 𝐷𝐺𝑓𝑏) + (𝐸𝑁𝑁 × 𝐷𝐺𝑒𝑛𝑛)
1.000
Equação 3-19 - Carboidratos digestíveis por massa seca (14)
A equação exprime a concentração de carboidratos digestíveis em kgMOS/kgMS,
sendo as entradas para esse modelo matemático a concentração de fibra bruta na massa seca
em g/kgMS, a biodegradabilidade desse material (𝐷𝐺𝑓𝑏) em porcentagem, a concentração de
extratos não-nitrogenados (𝐸𝑁𝑁) em gMOS/kgMS e a biodegradabilidade de extratos não-
nitrogenados (𝐷𝐺𝑒𝑛𝑛) em porcentagem.
Com os dados obtidos de concentração de proteína digestível, gordura digestível e
carboidratos digestíveis por massa seca multiplicar cada dado, respectivamente, pela produção
de biogás específica, em 1/kgMOS, para obter o rendimento de biogás, em l/kgMOS. Para obter
o rendimento de metano, por fim, em l/kgMOS, multiplica-se o valor de produção de biogás,
em l/kgMOS, pelo valor da concentração do substrato digestível de análise, em kgMOS/kgMS.
Os valores padrão de produção de biogás e teor de metano seguem, segundo o FNR (2010)
(14), seguem discriminados abaixo:
Extrato de Interesse Produção de biogás
(l/kgMOS)
Teor de metano (% em
volume)
Proteína digestível 700 71
Gordura digestível 1.250 68
Carboidratos digestíveis 790 50 Tabela 3-6 - Produção de biogás específica e teor de metano dos respectivos extratos de interesse (14)
3.6.4. Teste Bioquímico de Metano
Segundo o artigo “Proposta de procedimento operacional padrão para o teste do
Potencial Bioquímico do Metano aplicado a resíduos sólidos urbanos”, de Silva (2016) (26), o
Teste Bioquímico de Metano monitora o volume do biogás gerado a partir do substrato,
avaliando a capacidade de biodegradação através da produção total de gás metano. Os ensaios
são monitorados através de medições constantes de pressões e temperaturas internas além da
pressão ambiente. Para a realização do teste são inoculadas amostras contendo uma pequena
42
fração do resíduo sólido, meio de cultura e uma suspensão de microrganismos de concentração
adequada.
Para a elaboração do procedimento proposto por Silva (2016) (26) são realizadas,
segundo o autor, cinco etapas. A primeira parte do experimento consiste em uma coleta de
amostra em área com chegada frequente de resíduos líquidos e pH neutro a fim de evitar um
lodo saturado, mantendo-o a 10°C. Para a realização do procedimento a amostra deve ser
incubada a 35°C durante 24h antes do início do teste, para ativação da biomassa.
Na segunda etapa, qualquer resíduo deve ser preparado de acordo com a caracterização
gravimétrica do local em estudo, buscando aproximar características como teor de umidade de
sólidos totais voláteis, respeitando a indicação de matéria orgânica presente no substrato. Ainda
nessa etapa realiza-se a caracterização físico-química do material através dos parâmetros teor
de umidade, densidade, sólidos totais, sólidos totais voláteis e sólidos totais fixos.
Na terceira etapa do teste de Potencial Bioquímico do Metano adiciona-se a solução
nutritiva como substrato, microrganismos em frasco com sepros, tampas herméticas, e recobre-
se o sistema com papel alumínio para evitar a incidência de raios ultravioleta que poderiam
comprometer o estudo. Ao inóculo é borbulhado nitrogênio por 30s e reservado o sistema em
estufa a 35°C por um período de 90 dias.
A quarta etapa consiste no monitoramento analítico dos reatores do teste, considerando
três parâmetros: temperatura, devendo encontrar-se na faixa de 30°C a 45°C durante todo o
processo de crescimento da população de microrganismos durante o processão de fermentação
anaeróbia, a pressão interna, através de inserção da agulha do medidor no frasco por meio do
septo, e a cromatografia gasosa.
Figura 3-3 - Medição da pressão interna utilizando o manômetro (26)
43
Figura 3-4 - Coleta do biogás no reator anaeróbio com injeção no comatógrafo gasoso (26)
A quinta etapa, por sua vez, e de maior interesse para o presente estudo, consiste na
estimativa da produção de biogás. Os resultados são expressos em litros normais de biogás por
quilograma de massa seca de CNTP e são obtidos através das seguintes equações:
𝑉𝑏𝑖𝑜𝑔á𝑠,𝑇,𝑇+1 =𝑃𝐹𝑚𝑏𝑎𝑟 × 𝑉𝑈𝐹(𝑙) × 22,41
83,14 × 𝑇𝐹(𝐾)× 1000
Equação 3-20 - Cálculo do volume de biogás gerado para o Teste Bioquímico de Metano (26)
Onde T refere-se ao tempo em dias, PFmbar à pressão do frasco em milibar, VUF(l) ao
volume útil do frasco em litros e TF(K) à temperatura do frasco em Kelvins.
𝑉𝑏𝑖𝑜𝑔á𝑠,𝐶𝑁𝑇𝑃 =𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑎𝑐𝑢𝑚𝑢𝑙𝑎𝑑𝑜(𝑚𝑙) × 273 × (𝑃𝑎𝑡𝑚,𝑚𝑏𝑎𝑟 − 42)
𝑇𝐹(𝐾) × 760
Equação 3-21 - Volume de biogás acumulado CNTP para o Teste Bioquímico de Metano (26)
Onde Vbiogás,CNTP refere-se ao volume de biogás acumulado CNTP em NmL, Patm,mbar
refere-se à pressão atmosférica em mbar e TF(K) à temperatura do frasco em Kelvins.
𝑉𝑏𝑖𝑜𝑔á𝑠,𝐶𝑁𝑇𝑃,2 =𝑉𝑏𝑖𝑜𝑔á𝑠,𝐶𝑁𝑇𝑃 × 𝑀𝑆𝑅𝑆𝑈
1.000
Equação 3-22 - Volume acumulado de biogás em NL/kgMS para o Teste Bioquímico de Metano (26)
Onde, Vbiogás,CNTP,2 refere-se ao volume acumulado de biogás em NL/kgMS, e MSRSU à massa
seca do RSU em kg.
3.6.5. Geração Teórica de Biogás pelo Método de Buswell
De acordo com o autor Reith (2003) (27), a fórmula proposta por Buswell baseia-se na
composição química do substrato para prever por estequiometria a obtenção dos produtos
componentes da digestão, assumindo que. A fórmula assume que o composto orgânico
CnHaObNd é biodegradável e pode ser completamente convertido pelos organismos anaeróbicos
(rendimento de lodo é assumido como zero) em CH4, CO2, NH3 e H2S.
A Equação 3-23 - Fórmula de Buswell representa a forma estequiométrica para
obtenção dos produtos da degradação anaerobiótica do substrato enunciada abaixo:
44
𝐶𝑐𝐻ℎ𝑂𝑜𝑁𝑛𝑆𝑠 +1
4(4𝑐 − ℎ − 2𝑜 + 3𝑛 + 2𝑠)𝐻2𝑂 →
1
8(4𝑐 − ℎ + 2𝑜 + 3𝑛 + 2𝑠)𝐶𝑂2
+1
8(4𝑐 + ℎ − 2𝑜 − 3𝑛 − 2𝑠)𝐶𝐻4 + 𝑛𝑁𝐻3 + 𝑠𝐻2𝑆
Equação 3-23 - Fórmula de Buswell (27)
3.7. TIPOS DE REATORES
O biodigestor é uma tecnologia de tratamento de rejeitos utilizado para a conversão de
matéria orgânica em biogás por via anaeróbica. De acordo com o autor Magalhães (1986) (28),
os equipamentos conectados diretamente ao tanque de biodigestão para alimentação, descarga,
coleta e demais etapas de obtenção do produto final e do lixiviado a ser tratado são, de maneira
genérica:
Tanque de entrada: local de amostragem onde é feita a mistura do substrato
Tubo de carga: tubo condutor através do qual é feita a introdução do substrato no
digestor
Digestor: reator onde ocorre a digestão anaeróbia da matéria orgânica
Septo: parede divisória de direcionamento do fluxo de efluentes dentro do digestor
Gasômetro: câmara onde o biogás produzido na fermentação é armazenado
Tubo guia: guia de deslocamento vertical do gasômetro devido à expansão ou
compressão pela produção de biogás, apresentando-se no biodigestor apenas no
modelo indiano
Tubo de descarga: conduto por onde o efluente digerido é expelido
Tanque de descarga: caixa de saída do efluente digerido
Saída do biogás: tubulação instalada no gasômetro para a saída do biogás, a qual
possui uma válvula para controle da saída de gás
Abaixo uma representação genérica extraída do site Climate CoLab no artigo “Using
Biogas Technology To Improve Sanitation And Mitigate Climate Change” (29):
Figura 3-5 - Representação genérica de um biodigestor (29)
45
No Brasil os biodigestores começaram a ganhar mais desenvolvimento a partir da
década de 80, segundo o autor Andrade (2002) (30), o qual expõe que as regiões rurais foram
inicialmente mais favorecidas, em detrimento da região urbana, em virtude de apoio dos
Ministérios da Agricultura e de Minas e Energia com aproximadamente 8.000 unidades
instaladas, destacando-se os modelos de lagoa coberta chineses e indianos, majoritariamente,
acompanhados por modelos com cobertura plástica.
Entre os modelos de biodigestores simplificados mais empregados pode-se destacar o
biodigestor tipo balão (Modelo Canadense), o biodigestor com cúpula fixa (Modelo Chinês) e
o biodigestor com campânula flutuante (Modelo Indiano).
Atualmente, a popularização do uso de biodigestores no Brasil enfrenta barreiras de
ordem financeira: a falta de incentivos governamentais, custos relativamente altos para a
instalação do equipamento, e falta de pesquisas com o intuito de desenvolver materiais
alternativos para a construção desses equipamentos a preços de mercado atrativos para o
consumidor final, bem como a divulgação ampla da tecnologia como forma de aproveitamento
energético em residências.
3.7.1. Biodigestor Modelo Canadense
O biodigestor modelo balão, ou modelo canadense, segundo Macedo (2013) (31)
apresenta um tempo de retenção entre 30 e 35 dias, além de apresentar como vantagens,
segundo o autor Andrade (2002) (30), o baixo custo de implantação, a simplicidade técnica de
construção, por poder ser instalado sob o terreno ou em baixas profundidades, além de sua
descarga, fácil limpeza e manutenção. Por outro lado, ainda segundo o autor, o biodigestor
modelo balão apresenta como desvantagens a curta vida útil (cinco anos), a suscetibilidade a
danos, não sendo recomendado para locais onde esteja sujeito a cortes da lâmina (a qual deve
receber tratamento contra raios ultravioleta para aumentar a vida útil dos gasômetros de
material plástico), além da sensibilidade a variações térmicas superior a outros modelos de
reatores, sendo recomendado que esse modelo seja empregado em locais com temperaturas
altas e constantes; em regiões frias recomenda-se a instalação de um sistema de aquecimento e
proteger o equipamento à ação do vento.
Os autores Alves (2013) (32) e Henn (2005) (33), por outro lado, colocam mais enfoque
na descrição do biodigestor, apontando que alguns autores o caracterizam como uma lagoa
anaeróbia coberta com baixa taxa, podendo possuir uma caixa de entrada e uma de saída,
canalizando os rejeitos em função da vazão que se deseja. Possui, ainda, uma câmara de
fermentação subterrânea revestida com material impermeabilizante e uma campânula superior
para reter os gases produzidos. A cúpula deste modelo é de plástico maleável tipo PVC, o qual
infla com a produção de biogás, podendo-se controlar a pressão na qual o gás se encontra na
campânula com o auxílio de uma válvula reguladora. O biodigestor deve prever ainda uma
drenagem de lodo. Ainda segundo Henn (2005) (33), alguns autores recomendam a
combinação da tecnologia do modelo canadense com o pós-tratamento em lagoas de
decantação ou pré-tratamento com bioesterqueiras, obtendo-se, assim, bons resultados na
estabilização da matéria orgânica
46
Neste modelo precisa-se, ainda, instalar um sistema com lastro para regular a pressão
do gás. Abaixo pode-se ver uma representação simplificada do biodigestor modelo canadense
extraída do artigo de Alves (2013) (32):
Figura 3-6 - Representação gráfica do biodigestor modelo canadense (32)
Pode-se observar na Figura 3-6 - Representação gráfica do biodigestor modelo
canadense que ao redor do reator existe um feixe hídrico (lâmina d’água); tal estrutura tem
como função, segundo Henn (2005) (33), impedir a saída do biogás em toda a extensão do
biodigestor. A ancoragem em biodigestores de volumes pequenos pode ser feita no solo,
enterrando-se as lonas internas e externas, gastando-se, entretanto, mais lona para tanto. Abaixo
uma representação no detalhe do feixe hídrico utilizado na ancoragem da campânula do
biodigestor, extraída da tese de mestrado de Henn (2005) (33):
Figura 3-7 - Esquema do feixe hídrico de um biodigestor (33)
Na captação de biogás, ainda segundo Henn (2005) (33), quando a operação se inicia,
deve-se liberar o gás até a manta ficar cheia pela primeira vez dado que o gás produzido estará
misturado com oxigênio, o que gera um risco de explosão. Tal procedimento é feito fechando-
47
se a saída de biogás e expulsando o gás interno sem sua queima; quando a manta for enchida
pela segunda vez o biogás gerado poderá ser queimado normalmente.
De acordo com Macedo (2013) (31), o biodigestor canadense é composto pelas
seguintes unidades, cada uma possuindo as características discriminadas abaixo:
Caixas de passagem na entrada e saída dos rejeitos
Câmara de fermentação
Tubulação de entrada e saída para o fluxo do dejeto
Campânula em manta de PVC
Tubulação de saída do biogás
Conjunto de bombas centrífugas
3.7.1.1. Caixa de Passagem
Dado que o fluxo dos biodigestores é contínuo, não se faz necessário a construção de
caixa de entrada para estoque de rejeitos à entrada e saída do biodigestor, segundo Henn (2005)
(33). Projetam-se apenas caixas de passagem para inspeção
3.7.1.2. Câmara de Fermentação
Segundo Henn (2005) (33), a câmara de fermentação pode ou não ter revestimento em
alvenaria, o qual protege a manta. O volume do biodigestor pode ser determinado através da
Equação 3-2 - Tempo de retenção hidráulico (𝜃ℎ), a qual exprime o tempo que o efluente deve
permanecer no reator para se atingir a degradação esperada.
A carga volumétrica, por sua vez, ainda segundo o autor, aponta a quantidade de massa
aplicada diariamente no reator por unidade de volume do mesmo, respeitando a equação
abaixo:
𝐶𝑉 =𝑄 × 𝐶0
𝑉
Equação 3-24 - Carga volumétrica (31)
Onde CV refere-se à carga volumétrica aplicada ao biodigestor (kg/(m3.d)), Q, por outro
lado, refere-se à vazão em m³/d, S0 refere-se à concentração de substrato (kg/m3) e, por fim, V
refere-se ao volume do reator em m³. Recomenda-se que para biodigestores de baixa carga
sejam aplicadas cargas volumétricas entre 0,5 e 1,6 kg SV/(m3.d).
Para o dimensionamento da unidade, segundo Henn (2005) (33), deve-se ainda inferir
sobre a eficiência do processo, utilizando-se a concentração de substrato afluente e efluente,
segundo a seguinte equação:
𝐸(%) = (𝑆 − 𝑆0
𝑆) × 100
Equação 3-25 - Eficiência do reator tipo canadense (31)
48
Onde E refere-se à eficiência do tratamento (%), S0 à concentração de substrato afluente
(kg.m-3) e S à concentração de substrato efluente (kg/m³).
No que se refere à altura útil do biodigestor a autora aponta que são encontrados os
seguintes valores na literatura:
Biodigestor: 1,5 a 3,0 m
Digestor de lodo: 4,0 m
Lagoas anaeróbias: 3,0 a 5,0 m
Em relação à base retangular da câmara de fermentação, essa possui um talude, o qual
tem uma relação comprimento-largura que varia de 2,7 a 3,0 m, para as partes superiores do
talude, e de 4,3 a 6,0 para as partes inferiores do talude. Freitas (2011) (34) em seu trabalho
aponta as medidas de alguns empreendimentos, os quais acompanhou a implantação, trazendo
dados reais e testando experimentalmente as relações comprimento-largura propostas para
biodigestores de pequeno porte:
Volume
(m³)
Profundidade
(m)
Comprimento
maior C1 (m)
Largura
maior
L1 (m)
Relação
C1/L1
Comprimento
menor C2 (m)
Largura
menor
L2 (m)
Relação
C2/L2
3 1,0 3,5 1,2 2,9 3,0 0,7 4,3
7 1,0 6,0 2,0 3,0 4,8 0,8 6,0
15 1,4 7,0 2,5 2,8 5,5 1,0 5,5
20 1,5 8,0 3,0 2,7 5,0 1,0 5,0
30 1,5 10,0 3,5 2,9 8,0 1,5 5,3
Tabela 3-7 - Dimensionamento do biodigestor de acordo com o volume (34)
Figura 3-8 - Planta de topo da escavação e dimensionamento da manta (34)
Por meio do estudo de Freitas (2011) (34) pode-se comprovar experimentalmente a
legitimidade das relações comprimento-largura para as porções superior e inferior do reator em
formato de talude, as quais são, respectivamente, 2,7 a 3,0 m e 4,3 a 6,0 m, dados esses que
serão utilizados no dimensionamento.
49
3.7.1.3. Tubulações
As tubulações e conexões, segundo Henn (2005) (33), devem ser previstas para os
seguintes usos do projeto:
Abastecimento e drenagem de lodo
Sistema de armazenamento, transporte e distribuição do efluente digerido
Sistema de transporte e conversão do biogás
3.7.1.4. Bombas Centrífugas
As bombas de recalque, segundo Henn (2005) (33), são projetadas comparando-se a
altura manométrica do sistema com a altura manométrica que a bomba poderá recalcar. A altura
manométrica refere-se ao fluxo de rejeitos gerado através da gravidade pela instalação do
biodigestor em uma cota inferior à jusante da entrada de substrato.
3.7.1.5. Campânula em Manta
O volume da manta de PVC que cobre o digestor, segundo Henn (2005) (33), deve ter
volume suficiente para que a pressão parcial do gás não exerça pressão na manta, sendo a área
da manta diretamente proporcional a esse volume.
3.7.1.6. Custos da Implantação do Biodigestor
Conforme explorado no trabalho de Macedo (2013) (31), o dispêndio financeiro para a
conclusão de tal empreendimento está diretamente associado aos materiais empregados nessa
obra, às atividades a serem desenvolvidas, bem como à mão-de-obra necessária para a sua
construção e às condições do terreno. Entretanto, o custo mais significativo do biodigestor de
modelo canadense é mais previsível que os demais: aquisição da manta de 1,0 m de espessura.
Ainda segundo a autora, os serviços de mão-de-obra necessários são a escavação do
solo para abrigar o reator da unidade de degradação anaeróbia do substrato, a caixa de entrada
de substrato e a caixa de saída de biofertilizante, cobertura do reator com a manta plástica de
PVC, colocação dos tubos para transporte do substrato efluente, afluente e biogás, fixação do
perímetro da manta plástica, ancorando-a com o auxílio de um feixe hídrico, e, por fim, iniciar
a primeira carga e descarga da unidade para, após então, iniciar sua operação.
A Tabela 3-8 - Área total e preço da manta de laminado de PVC flexível , aponta preços
fornecidos pela empresa SANSUY, os quais são compatíveis com o estipulado pela Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária, com dado referente a 2013 segundo a autora Macedo
(2013) (31) de R$ 150,00 por metro cúbico.
50
Volume (m³) Área Total (m²) Preço (R$)
3 43 712,00
7 68 1.127,00
15 99 1.640,00
20 127 2.104,00
30 161 2.666,00 Tabela 3-8 - Área total e preço da manta de laminado de PVC flexível (31)
3.7.2. Biodigestor Modelo Chinês
Segundo Nazaro (2016) (9), o modelo, também conhecido como biodigestor de
campânula fixa, é normalmente construído sob o solo, em alvenaria, e com teto abobadado,
que funciona como câmara de gás. Esse modelo tem por intuito ter a pressão interna aumentada,
conforme ocorra a digestão do substrato e produção do gás, deslocando, assim, para a caixa de
saída o material digerido até que o gás seja totalmente produzido, e desloque-se para uma
câmara de gás fixa, reduzindo assim a pressão do reator, levando ao retorno do material
digerido da caixa de saída.
Os modelos construídos em alvenaria, ainda segundo a autora, geralmente são de baixo
custo, mas devem ser devidamente vedados para evitar o escape de gases da biodigestão
anaeróbia. Para garantir um funcionamento adequado o substrato deve ser adicionado com uma
frequência adequada para conferir ao reator uma condição de alimentação contínua, além de
garantir-se um substrato com concentração total de sólidos de até 8% para prevenir
entupimentos das tubulações de entrada e de saída do substrato.
Segundo Andrade (2002) (30), por sua vez, caracteriza-se pela variação de pressão no
gasômetro; caso seja requerida uma pressão constante para alimentação de equipamentos é
necessário um regulador de pressão ou um depósito de gás flutuante ou a construção de uma
campânula ligada ao biodigestor por conexões de PVC que armazene o biogás, com um
dispositivo de feixe rápido que controle a entrada do biogás e impeça a saída do armazenado.
Na Figura 3-10 - Representação do funcionamento de um regulador de pressão, o sistema de
armazenamento e de feixe rápido é representado de forma mais elucidativa.
Ainda segundo Andrade (2002) (30), mostra-se importante que o projetista de um
biodigestor de modelo chinês mantenha no máximo uma abertura na câmara de gás, a escotilha
de entrada para manutenção. Uma solução viável é projetar uma abertura entre o tanque de
compensação e a câmara de digestão por onde possa passar um operador para a realização da
manutenção e, assim, eliminar a escotilha de visita na cúpula de gás. Além disso, as tubulações
de carga e descarga de lodo não devem passar pela câmara de gás, evitando assim vazamentos
nas intersecções entre os diferentes materiais utilizados; a tubulação de saída de gás também
pode passar pela abertura de descarga do lodo digerido, evitando assim qualquer furo na cúpula
de gás.
O modelo chinês apresenta baixo custo de construção, segundo Andrade (2002) (30),
por não possuir partes móveis, tampouco partes metálicas que possam ser oxidadas e, com isso,
destaca-se por sua maior durabilidade. Esses biodigestores são construídos enterrados e
51
ocupam pouco espaço fora do solo, por isso são menos sensíveis a variações térmicas em
regiões que apresentem baixas temperaturas no inverno. Por outro lado, há a ocorrência de
oscilações de pressão de gás que às vezes são muito altas para serem suportadas pela estrutura
ou pelos equipamentos a gás. Estes biodigestores não apresentam descarga automática,
possuindo, portanto, um manejo complicado.
Abaixo, uma representação gráfica simplificada dos componentes relacionados ao
biodigestor de modelo balão, extraída de Torres e Pedrosa (2009) (35):
Figura 3-9 - Vista frontal, em corte, do biodigestor modelo Chinês (35)
Figura 3-10 - Representação do funcionamento de um regulador de pressão (35)
52
Por fim, quanto ao tempo de retenção hidráulico do reator chinês, têm-se que segundo
a autora Stachissini (2014) (36) esse varia na faixa de 40 a 60 dias.
3.7.3. Biodigestor Modelo Indiano
O biodigestor de campânula flutuante, ou modelo indiano, segundo o autor Andrade
(2002) (30), é composto de uma câmara de digestão e de um depósito de gás móvel, e assim
como os outros modelos enunciados anteriormente, não possui sistema de agitação que evite a
sedimentação do lodo ou a quebra da escuma. Este reside diretamente sobre o lodo em digestão,
o qual deve ter um teor de sólidos de até 8% do volume total do substrato, assim é possível
manter constante a pressão do gás, operando como um biodigestor contínuo com descarga
automática, dispensando o tanque de compensação. Este modelo de reator, por outro lado,
apresenta alto custo de implantação, devido ao emprego da campânula, geralmente metálica, o
que implica em necessidade recorrente de manutenção quanto à pintura da campânula em
virtude de corrosões.
Segundo a autora Nazaro (2016) (9), os procedimentos de manutenção deste modelo
envolvem retirada de lodo sedimentado, controle de vazamentos e conservação da estrutura,
podendo ter menor vida útil que o modelo chinês em virtude da campânula de aço devido à
provável corrosão desse componente.
Abaixo, Figura 3-11 - Biodigestor contínuo modelo indiano , realizada por Júnior
(2005) (37), bem como uma representação em perfil com todas as câmaras, conexões,
alimentação de substrato e saída de gás discriminadas (Figura 3-12 - Biodigestor modelo
indiano representação gráfica ), retirada de Furtado (2012) (38):
Figura 3-11 - Biodigestor contínuo modelo indiano (37)
53
Figura 3-12 - Biodigestor modelo indiano representação gráfica (38)
Por fim, referente à capacidade de produção diária do tanque digestor em função da
relação diâmetro x profundidade, pode-se mencionar o estudo de Gaspar (2003) (39), para
baixas profundidades:
Capacidade do Reator (m³) Dimensões do Reator
(diâmetro x profundidade)
Dimensões da Campânula
para Clima Tropical
(diâmetro x altura)
8 2,00 x 2,60 1,80 x 2,30
10 2,20 x 2,70 2,00 x 2,50
12 2,35 x 2,80 2,15 x 2,50
15 2,53 x 3,00 2,33 x 2,50
18 2,70 x 3,15 2,50 x 2,60
Relação Biomassa/Biogás: 2,4 m³ : 1m³ Tabela 3-9 - Biodigestores construídos em baixas profundidades (39)
No que diz respeito ao preço para emprego da tecnologia na propriedade, de acordo
com os autores Bonturi e Van Dijk (2012) (40), o gasto total seria da ordem de R$ 11.922,90,
trazidos a valores atuais. Os custos com materiais e escavações são discriminados a seguir:
54
Material Unidade Quantidade Preço Atual
Total %
Tijolo milheiro 5,75 231,1 1328,6 11,14
Cimento saca 48 25,3 1213,0 10,17
Areia grossa m³ 1 127,1 127,1 1,07
Areia fina m³ 3 69,3 207,9 1,74
Brita 2 m³ 1,5 85,9 128,9 1,08
Brita 1 m³ 0,5 85,9 43,0 0,36
Impermeabilizante 18 litros 1,5 61,8 92,7 0,78
Tubo PVC 150mm barra 2 153,7 307,3 2,58
Registro de esfera 50mm Unidade 1 47,2 47,2 0,40
Gasômetro peça 1 6094,0 6094,0 51,11
Mangueira cristal (3/4”) m 4 41,9 167,5 1,40
Ferro galvanizado (3/8”) Unidade 2 29,7 59,5 0,50
Tubo galvanizado Unidade 0,5 356,1 178,1 1,49
Junções Unidade 16 4,5 71,6 0,60
Registro de esfera 32mm Unidade 1 29,9 29,9 0,25
Tubo PVC 32mm barra 5 40,1 200,7 1,68
Tubo PVC 50mm barra 4 64,4 257,6 2,16
Outros 46,9 46,9 0,39
Total de materiais 32,5 10601,6 88,92
Escavação horas 2,5 86,6 216,6 1,82
Mão-de-obra pedreiro horas 20 39,0 779,8 6,54
Mão-de-obra ajudante horas 15 21,7 324,9 2,73
Total de serviços 1321,3 11,08
Total Geral 11922,9 100,00
Tabela 3-10 - Custo para construção de um reator modelo indiano (40)
Por fim, quanto ao tempo de retenção hidráulico do reator indiano, têm-se que, segundo
a autora Stachissini (2014) (36), esse varia na faixa de 40 a 60 dias.
3.7.4. Biodigestor Modelo CSTR
O biodigestor de tanque com agitação contínua, também conhecido como continuous
stirred-tank reactor (CSTR), segundo o autor Pereira (2017) (41), apresenta capacidade de
conversão de biomassa em metano superior a biodigestores tradicionais, porém, mostra-se de
complexa confecção. Caracteriza-se por dispor de um sistema para mesclar o conteúdo do
digestor de forma contínua ou periódica, através de equipamento mecânico, hidráulico ou
pneumático.
Segundo Rupf et al. (2016) (42), o reator apresenta tempo de retenção entre 20 e 30
dias, desde que o processo de biodigestão ocorra eficientemente na faixa mesofílica (entre 20
55
e 45°C). Neste tipo de reator normalmente considera-se uma mistura perfeita, o que faz com
que o produto na saída do reator tenha a mesma composição da mistura reacional dentro do
reator. Abaixo a Figura 3-13 - Representação esquemática de um biodigestor CSTR:
Figura 3-13 - Representação esquemática de um biodigestor CSTR (41)
De acordo com o Nazaro (2016) (9), no que se refere à concentração de sólidos
máximos efluentes, o substrato deve ter uma concentração de sólidos totais máxima em torno
de 12%, para evitar obstrução do tubo de carga e facilitar a circulação da biomassa.
Salomon (2007) (17), por sua vez, explora, nos reatores convencionais do tipo CSTR,
questões como o tempo de retenção celular (TRC), eficiência na remoção de DQO e as cargas
usuais afluentes a esse tipo de reator para usos domésticos a industriais. O TRC deve ser o
mesmo calculado para o TRH , portanto o menor TRH possível de se utilizar está limitado ao
tempo de geração média das bactérias limitantes do processo. Os reatores convencionais são
adequados para o tratamento de efluentes com altas concentrações de material biodegradável,
apresentando uma remoção de DQO na faixa de 80 a 95%. As cargas orgânicas usuais são da
ordem de 1 a 10 kg DQO/m³ dia.
3.7.5. Biodigestor Modelo UASB
O biodigestor de Manta de Lodo Anaeróbio de Fluxo Ascendente, também conhecido
como Upward-flow Anaerobic Sludge Blanket (UASB), segundo o autor Pereira (2017) (41),
caracteriza-se por ser um biodigestor de fluxo contínuo baseado em agitação no sentido
ascendente da corrente de rejeitos. O autor continua em sua análise, expondo o princípio de
funcionamento, bem como apresentando um dado sobre o seu rendimento de remoção de
matéria orgânica do substrato. Segundo Pereira (2017) (41), esse equipamento é denominado
de manta de lodo devido à capacidade de receber elevadas concentrações de biomassas, o que
favorece a redução do tempo de retenção hidráulica, tornando assim o sistema mais apropriado
para degradação biológica de resíduos líquidos, como efluentes agroindustriais e domiciliares.
Ainda segundo o autor, sua capacidade de conversão de biomassa em metano, segundo o
mesmo, supera modelos tradicionais, apresentando uma redução de 92% da DQO do substrato
em 22 dias.
56
O autor Almeida (2016) (13), por sua vez, aponta as características desse reator, no que
tange a sua constituição e materiais envolvidos, atividade dos microorganismos envolvidos e
locais de escoamento dos efluentes produzidos.
Segundo o autor, o reator é protegido por uma parede defletora, que serve como
interface da zona de digestão e de decantação, e é onde são realizados os processos de digestão
anaeróbia do substrato afluente. Seu volume é substancialmente reduzido, em decorrência da
concentração de biomassa elevada, isto comparado a outros sistemas de tratamento, e o gases
produzidos nessa unidade são destinados à parte superior interna, os quais são direcionados
para descarte ou reaproveitamento energético através de uma tubulação específica.
Quanto à matéria orgânica suspensa, ainda segundo Almeida (2016) (13), essa é
transformada pelas bactérias contidas no manto de lodo em produtos estáveis, como água,
biogás e outros elementos inertes. A parte sólida arrastada pelos gases retorna ao manto de lodo
após o desprendimento das bolhas geradas. O líquido segue para o decantador periférico e é
vertido para uma canaleta que coleta todo o efluente tratado e o conduz para o emissário. Este
emissário pode conduzir o efluente para um corpo receptor ou para um pós-tratamento. O lodo
excedente gerado no reator deve ser removido periodicamente para leitos de secagem e aterros
sanitários.
Garcia, et al. (2015) (43), por outro lado, assume uma posição mais conservadora
quanto à eficiência do reator em reduzir a DQO do substrato, trazendo como fator interveniente
na faixa de rendimento o pH, avaliação essa feita dentro de um contexto de parâmetros
operacionais de controle para os reatores UASB em questão. Segundo Garcia, et al. (2015)
(43), o controle operacional dos reatores UASB é efetuado em função da avaliação de três
parâmetros principais: a eficiência de remoção de matéria orgânica, a produção de biogás e a
acidez do meio.
No que tange a eficiência de remoção da DQO do substrato, Garcia, et al. (2015) (43)
expõe uma faixa adequada para uma conceituação teórica entre de 60% a 70%. Quanto à
produção de biogás, por sua vez, o autor traz uma ressalva, destacando a necessidade de
consideração da possibilidade de até 40% do biogás produzido no processo de digestão
anaeróbia permanecer dissolvido na massa líquida, além de trazer um dado teórico de que,
aproximadamente, 1,0 kg de DQO consumida deve produzir 0,35 Nm³ de metano. Por fim,
quanto ao pH do reator, deve-se apresentar um pH entre 6,5 e 7,5 na fase metanogênicas,
expondo que para o caso de o pH ficar abaixo desta faixa poder se inferir que o reator esteja na
fase acidogênica, levando a uma concentração de ácidos voláteis acima de 500 mg ácido
acético/L, geralmente em função de um desequilíbrio entre a carga aplicada e a biomassa no
reator. Neste caso é aconselhável reduzir a carga orgânica e não realizar o descarte do lodo até
que o pH se normalize. Em casos extremos é possível controlar o pH com a aplicação de
produtos químicos alcalinos.
Quanto ao custo de implantação da tecnologia, a empresa Rotosis comercializa seu
modelo de 1.300 l, capaz de atender até 10 pessoas, segundo a própria companhia, a R$ 1.650
(44), contando com uma eficiência no tratamento do efluente estimada na faixa de 75% a 90%.
Abaixo uma representação gráfica do reator pela própria companhia:
57
Figura 3-14 - Representação do funcionamento de um reator UASB (44)
Figura 3-15 - Reator UASB da marca Rotosis (44)
58
3.7.6. HomeBiogas
O produto se diferencia pela praticidade de montagem, a qual pode ser feita pelo próprio
consumidor por se tratar de uma unidade pré-fabricada, dimensões reduzidas: 1,27 m x 1,65 m
x 1,0 m, segundo o site do fabricante HomeBiogas (45). No que tange o tempo de retenção
hidráulica, segundo Bleicher, et al. (2017) (46), a unidade conta com um tempo de retenção
hidráulica de, aproximadamente, 21 dias.
De acordo com o site da empresa (45) o produto pode ser adquirido por US$ 520,00
dólares, ou aproximadamente R$ 2.012,40 pelo câmbio de US$ 3,87 referente ao dia 06/07/18.
Figura 3-16 - Visão geral do processo produtivo do HomeBiogas (45)
Figura 3-17 -Vista do HomeBiogas, com ênfase para o tubo de condução do biogás produzido, bem como do
tubo de PVC de destino do biofertilizante
Para o HomeBiogas funcionar é necessário colocar os resíduos no coletor, após isso
estes serão direcionados para o compartimento onde ocorrerá o processo de digestão pelas
bactérias, com isso será produzido o biogás e este é armazenado no topo do equipamento. A
partir disso, pode-se usar o biogás produzido para cocção ou produção de energia elétrica. A
seguir a figura apresenta um esquema simplificado do funcionamento.
59
Figura 3-18 - Imagem explicativa funcionamento HomeBiogas (47)
No que tange a manutenção, o site da empresa (45) recomenda substituir o filtro de gás
uma vez por ano, remoção do lodo que se acumulam na parte inferior do tanque de digestão
uma vez a cada cinco anos, o qual pode ser aplicado diretamente ao jardim como fertilizante e
substituição do comprimido de cloro, dentro do reator, periodicamente.
3.7.7. Recolast Ambiental Biodigestor Tubular - 3000
O modelo Tubular – 3000, segundo a fabricante (48), é um sistema que acelera o
processo de decomposição orgânica. O tratamento acontece quando as bactérias anaeróbicas
fermentam e liberam biogás, além de biofertilizante e calor. Os resíduos ficam por 30 dias
dentro do biodigestor e a produção de matérias naturais depende do tipo e da quantidade de
matéria orgânica. Tem dimenção de 1,0 m x 1,40 m x 3,40 m. Abaixo a Figura 3-19 - Imagem
do Biodigestor Tubular 3000 da Recolast.
60
Figura 3-19 - Imagem do Biodigestor Tubular 3000 da Recolast
As especificações técnicas do Biodigestor Tubular 3000 da Recolast são, segundo o
fabricante (48):
Confeccionado em laminado de PVC flexível com divisórias internas para
melhor movimentação dos resíduos;
Possui válvulas de alívio para manter a pressão no biodigestor;
Tubulação de entrada, saída e limpeza;
Lagoa aeróbica: é um reservatório impermeabilizado com geomembrana para
armazenamento biofertilizante que sai do biodigestor.
Também é possível alguns itens adicionais, que são:
DGD – dispositivo gerador de descarga
Flare (Queimador) – queima o gás gerado em excesso.
A solução fornecida pela Recolast Ambiental tem por vantagem a fabricação doméstica,
o que garante a não incidência de impostos advindos da importação, uma vez que as demais
soluções de prateleira não são comercializadas no Brasil. O modelo tubular – 3000, segundo a
área de vendas da empresa (48), é comercializado a R$ 2.779,86.
3.7.8. Mailhem Ikos Environment Portable Biogas Plant
O sistema “Portable Biogas Plant” mostra-se mais adequado para o emprego em
ambiente residencial por se tratar de uma planta portátil de biogás com partes de menor
dimensão. De acordo com o site do fabricante Mailhem Ikos Environment Ltda. (49) a unidade
conta com o seguinte conjunto de peças e acessórios:
Digestor
Regulador de pressão
Tubos de entrada do substrato
Tubos de saída do gás
Cúpula flutuante para armazenamento do biogás acima do reator projetada abrigar
o biogás provindo dos materiais de resíduos biodegradáveis gerados em ambiente
residencial
Caldeira para aquecimento do fluido intermediário, utilizando como combustível o
gás metano produzido
61
Essas plantas atendem os seguintes propósitos:
Eliminação ecológica de resíduos biodegradáveis
Geração de gás metano
Geração de biofertilizante para emprego no plantio, o qual é importante para
reabastecer recursos naturais que diminuam rapidamente de solos produtivos
Proteção ambiental, ajudando na manutenção de ciclos elementares na natureza
De acordo com a Mailhem Ikos Environment (49), o processo se inicia com a inserção
do material orgânico no triturador, o qual é misturado com água para alcançar a concentração
desejada, obtendo-se, assim, o substrato com a relação de sólidos totais por unidade de volume
ideal. Após o processo de trituração, o substrato é bombeado para a parte inferior do reator, o
qual conta com módulos que auxiliam a decantação dos sólidos no interior dos biodigestores,
retendo assim material particulado no interior do reator.
Na parte superior do biodigestor inclui-se um dispositivo de emulsificação da escuma.
O biogás gerado, por sua vez, é coletado em um balão externo, o qual se infla conforme há a
produção do gás. Por fim, há a queima do gás metano produzido para a produção de energia
elétrica e, em caso de produção excedente, há a queima do mesmo em um flare para que o gás
metano não seja direcionado para a atmosfera, em caso de produção acima da demanda, o que
poderia causar um GWP de vinte uma vezes a contribuição relativa ao gás carbônico, de acordo
com dados do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação em seu relatório de Estimativas
Anuais de Emissões de Gases do Efeito Estufa no Brasil (2014) (2).
Figura 3-20 - Mailhem Ikos Environment Portable Biogas Plant (49)
62
3.7.9. EUCOlino
Segundo o site do fabricante Bioferm Energy Systems (50) o EUCOlino é uma
tecnologia de dimensões 15,24m x 3,35m x 3,35m e capacidade para digerir 96 m³ de resíduos.
O digestor anaeróbico EUCOlino usa resíduos orgânicos variados, como esterco bovino, sobras
de alimento e resíduos de jardinagem, para criar energia renovável e subprodutos com
quantidades limitadas de biomassa, operando a temperatura mesofílica. É pré-fabricado e
enviado para chegar no local como uma unidade completa, pré-montada em contentores.
O sistema opera normalmente de 1.000 a 6.000 toneladas de resíduos orgânicos por ano,
dependendo das especificidades do projeto, sendo aplicável em:
Municípios
Campus
Estações de tratamento de águas residuais
Zoológicos
Cervejarias
As principais vantagens do produto são o uso flexível de matéria-prima e o sistema de
produção de energia elétrica acoplado com a possibilidade de gerar de 50 – 100 kW por dia.
Os componentes do sistema incluem: unidade de digestor com misturador, bombas,
dessulfurização, motor de mistura e controles de planta, alimentador para substratos sólidos
(opcional) e separador de pré-digestão para tornar o substrato mais concentrado. Abaixo uma
descrição gráfica na Figura 3-21 - Representação gráfica das unidades do sistema de
biodigestão e geração de energia elétrica EUCOlino:
Figura 3-21 - Representação gráfica das unidades do sistema de biodigestão e geração de energia elétrica
EUCOlino (50)
63
O sistema de alimentação recebe resíduos, os quais são triturados e misturados com
água para formar um substrato com teor de sólidos de aproximadamente 15% sólidos totais. O
tanque digestor, por sua vez, conta com um sistema de agitadores que move o substrato ao
longo do biodigestor em um tempo de retenção hidráulico de vinte e oito dias. A câmara de gás
é a unidade que armazena o biogás produzido durante o processo de fermentação, contando
com uma capacidade de armazenamento de 25 m³ a 50 m³, instalado acima do reator de
digestão.
3.8. PURIFICAÇÃO DO BIOGÁS
A Resolução n° 8 de 30 de janeiro de 2015, estabelecida pela ANP (14), determina as
especificações do biometano, refinado à partir do biogás gerado por processos de anaerobiose
de resíduos orgânicos agrossilvopastoris, comerciais ou residenciais, para emprego em usos
veiculares na forma de GNV ou GN para o aproveitamento residencial voltado para a cocção e
aquecimento.
Segundo essa resolução, o biometano deve apresentar concentrações limitadas de
componentes potencialmente corrosivos, de modo a assegurar a integridade dos equipamentos
envolvidos. As especificações previstas na Resolução n° 8 de 30 de janeiro de 2015,
estabelecida pela ANP (51) seguem abaixo:
Características Unidade Limite
Região Norte –
Urucu
Demais Regiões
Metano % mol 90,0 a 94,0 96,5 mínimo
Oxigênio, máximo. % mol 0,8 0,5
CO2, máximo. % mol 3,0 3,0
CO2 + O2 + N2,
máximo.
% mol 10,0 3,5
Enxofre Total,
máximo.
mg/m3 70 70
Gás Sulfídrico
(H2S), máximo.
mg/m3 10 10
Ponto de orvalho de
água a 1 atm,
máximo.
°C -45 -45
Tabela 3-11 - Especificações para o Biometano (51)
O biogás, segundo Freddo (2017) (52), deve passar por processos de dessulfurização e
secagem para que possa ser aproveitado para a produção de energia elétrica, bem como venha
a substituir o consumo de GLP e GN em residências para cocção e aquecimento.
Ainda segundo a autora (52), a elevação da qualidade do biogás, para que possa ser
aproveitado nas mesmas aplicações próprias ao GN/GLP, deve passar por um processo de
redução da concentração de gás dióxido de carbono e sulfeto de hidrogênio, os quais,
64
respectivamente, afetam a eficiência da combustão do biogás e causa a corrosão a corrosão de
estruturas metálicas em instalações de biogás, o que causa desgastes aos motores e
equipamentos acoplados, e consequentemente, aumentos nos custos de depreciação e
manutenção, em função das reações químicas envolvidas no processo.
De acordo com Freddo (2017) (52), o termo “purificação de biogás” é empregado para
denotar a remoção de dióxido de carbono do biogás, visando produzir um gás com alto teor de
gás metano, bem como controlar a concentração de sulfeto de hidrogênio, aumentando a
segurança em casos de inalação e reduzindo efeitos adversos de corrosão sobre componentes
metálicos, equiparando o gás obtido ao gás natural e sendo possível substituí-lo em diversas
aplicações.
Dentre as formas possíveis de remoção do dióxido de carbono, ainda segundo a autora
(52), destacam-se os Lavadores de Gases (Water Scrubbing), com água ou solventes orgânicos,
e a adsorção com modulação de pressão (Pressure Swing Adsorption – PSA), a qual emprega
carvão ativado ou peneiras moleculares como adsorventes, sendo esse último aplicáveis à
purificação de grandes plantas de produção de biogás, as quais fogem ao escopo do trabalho.
A seguir serão exploradas as tecnologias dedicadas à remoção de gás dióxido carbônico
e hidróxido de sulfeto para obtenção do gás purificado de interesse.
3.8.1. Absorção com Líquidos
Segundo a autora Freddo (2017) (52), o processo de absorção do gás por meio de
líquidos se dá por meio de uma corrente de efluente gasoso contendo o poluente colocada em
contato com um líquido no qual se dissolverá graças à sua solubilidade, influenciada por fatores
como pressão, temperatura e a razão entre solvente e soluto. O mecanismo pelo qual a espécie
é removida consiste em três etapas que ocorrem em série:
1. Difusão das moléculas poluentes através do gás para a superfície do líquido
absorvente
2. Dissolução no líquido na interface líquido-gás efluente
3. Difusão das espécies dissolvidas da interface para o corpo do volume líquido
O solvente mais comumente utilizado é a água, entretanto a adição de produtos
químicos pode aumentar a eficiência do processo de absorção, resultando em um menor
dispêndio de água e energia no processo
3.8.2. Lavador de Gases (Water Scrubbing) – Absorção Física
De acordo com a autora Freddo (2017) (52), os lavadores de gases (Water Scrubbing)
são comumente utilizados na purificação do biogás, removendo dióxido de carbono em função
de sua solubilidade em água; processo no qual, mistura-se água e biogás sob pressão, em
contracorrente, em uma coluna contendo recheio para maximizar a área de contato entre o
líquido e o gás. O processo convencional de absorção líquido/gás tem sido mais frequentemente
65
utilizado para separação do gás dióxido de carbono do biogás, baseando-se na diferença de
solubilidade entre o dióxido de carbono o gás metano, que é dependente de fatores como
pressão, temperatura e a razão líquido/gás. A água é o solvente mais utilizado em função do
seu baixo custo.
Ainda segundo a autora (52), em lavadores de gases, o biogás é pressurizado e
alimentado na parte inferior da coluna de absorção e a água é injetada na parte superior, o que
proporciona ao sistema um fluxo de contracorrente de gás e líquido, mostrando-se fundamental
para garantir uma alta eficiência. O dióxido de carbono e uma pequena parcela do metano, com
isso, são fisicamente absorvidos na água. A seletividade do processo depende da solubilidade
elevada do dióxido do carbono, em relação ao metano, cerca de vinte e cinco vezes superior.
A água rica em dióxido de carbono é então encaminhada para uma coluna de regeneração onde
a maior parte do dióxido de carbono é liberada a partir da injeção de ar ou modulação de
pressão. Após regeneração, a água é novamente enviada para o sistema de absorção. O esquema
representativo do sistema de water scrubbing é apresentado na figura Figura 3-10 -
Representação do funcionamento de um regulador de pressão.
Figura 3-22 - Diagrama básico do funcionamento de sistemas Water Scrubbing (52)
O hidróxido de cálcio, segundo Freddo (2017) (52), é um composto químico de fácil
acesso, sendo por isso utilizado nos lavadores de gases para compensar a elevação do pH,
resultando em operações com baixos custos operacionais. As principais desvantagens do uso
desta solução são controlar sua consistência e remoção de grandes quantidades de precipitado
(CaCO3) do tanque de mistura e do lavador. Normalmente é necessário remover todos os
sedimentos e partículas em suspensão, a fim de evitar a obstrução de bombas, bicos de
pulverização de alta pressão e borbulhadores nas colunas de absorção e regeneração.
Ainda segundo a autora (52), para a operação é necessário o controle do pH durante o
funcionamento do sistema, recomendando-se a adição de um corpo básico para aumento do pH
e compensação da queda provocada, principalmente, pela oxidação de sulfeto de hidrogênio no
66
meio. O uso do sistema de water scrubbing gera um auto teor de pureza de metano, de 80% a
99% do volume total, dependendo do grau de impurezas que não irão ser removidos, como N2
e O2. Esse processo também pode ser utilizado para a remoção de baixas concentrações de
sulfeto de hidrogênio, o que se mostra aplicável para aplicação residencial em voga, uma vez
que a concentração do composto se configura entre 0,1% e 0,5% da composição total do biogás.
3.8.3. Solução de Hidróxido de Sódio
Segundo Freddo (2017) (52), a solução de hidróxido de sódio tem alta capacidade de
remoção de hidróxido de sulfeto e gás dióxido de carbono, uma vez que eleva a absorção física
da água pela reação química com hidróxido de sódio. Esta reação resulta na formação de sulfeto
de sódio e hidrossulfeto de sódio.
Devido ao seu alto requisito técnico para lidar com a solução, este método dificilmente
é aplicado, exceto quando são tratados grandes volumes de gás ou na existência de altas
concentrações de hidróxido de sulfeto, considerações essas que fogem ao escopo do presente
trabalho.
A vantagem dessa técnica em relação ao lavador de gases (water scrubbing), de acordo
com o trabalho da autora (52), é um menor requisito de volumes nas colunas de absorção e
regeneração, além de uma menor demanda por bombeamento. A desvantagem, por sua vez, é
a disposição de grandes volumes de água contaminada com sulfeto de sódio em grandes plantas
de produção de biogás.
3.8.4. Sistema de Tratamento de Biogás com Solução de Ca (OH)2
Na Figura 3-23 - Sistema experimental para tratamento de biogás em escala de bancada,
a autora Freddo (2017) (52) apresenta a disposição do aparato experimental para
encaminhamento da avaliação do rendimento de tratamento do biogás, objetivando a conversão
em purificação do gás com o auxílio do hidróxido de cálcio como agente compensador da
redução do pH inerente do processo.
67
Figura 3-23 - Sistema experimental para tratamento de biogás em escala de bancada
Neste sistema, de acordo com a autora (52), o biogás é enviado para um lavador de gás
contendo uma solução responsável por promover o tratamento do biogás. As dimensões e
propriedades do lavador de biogás são dispostas a seguir:
Característica Lavador de gás 500 mL
Material Vidro
Altura total do lavador 21,5 cm
Altura útil 15,0 cm
Diâmetro do lavador 6,5 cm
Diâmetro do borbulhador 1,1 cm
Volume total 645 mL
Volume útil 500 mL Tabela 3-12 - Características do lavador utilizado no experimento (52)
O ensaio contou com as seguintes condições experimentais:
Parâmetros Valores Unidades
Temperatura ambiente 32,4 °C
Temperatura da solução 30,0 °C
Vazão de biogás 0,45 a 0,5 L/min
Vazão de biogás 0,65 a 0,72 m³/dia
Volume da solução 500 mL
Concentração 0,250 Mol/L
Concentração 18,5 g/L
pH da solução 12,53 Tabela 3-13 - Condições experimentais para os ensaios com Ca(OH)2 (52)
68
A utilização da solução de hidróxido de cálcio no tratamento de biogás teve uma
eficiência na remoção de dióxido de carbono de 91,45% e 100% de sulfeto de hidrogênio,
segundo Freddo (2017) (52), o que permite a purificação do biogás e consequente substituição
do GN/GLP para os fins de geração de energia elétrica ou substituição em uma residência para
processos de aquecimento e cocção.
3.8.5. Remoção de H2S com Óxido de Ferro
Segundo o autor Mercado (2010) (53), a remoção de sulfeto de hidrogênio utilizando
óxidos de ferro ocorre pela formação de sulfeto de ferro insolúvel. A formação de enxofre
coloidal por meio da inserção de ar atmosférico na coluna de dessulfurização prolonga o tempo
de vida do material e a regeneração deste, porém o leito pode ser obstruído pelo enxofre gerado,
devendo ser substituído periodicamente. Nesta técnica, de acordo com Mercado (2010) (53)
geralmente são impregnados pequenos pedaços de madeira com o óxido de ferro, Fe2O3 ou
Fe3O4, e insere-se estes pedaços na coluna de dessulfurização, onde entram em contato com o
sulfeto de hidrogênio. As equações a seguir demonstram a sequência de reações envolvendo o
Fe2O3 (óxido de ferro III) e o H2S.
𝐹𝑒2𝑂2 + 3𝐻2𝑆 → 𝐹𝑒2𝑆3 + 3𝐻20
𝐹𝑒2𝑆3 +3
2𝑂2 → 𝐹𝑒2𝑂3 + 3𝑆
Equação 3-26 – Dessulfurização do biogás
Ainda segundo o autor (53), as lascas impregnadas com óxido de ferro têm uma maior
relação superfície-volume e uma menor relação superfície-peso que a limalha de ferro, outra
solução muito comumente empregada para a remoção de sulfeto de hidrogênio em pequenas e
médias plantas de produção, devido à baixa densidade da madeira. Cerca de 20 gramas de H2S
podem ser removidos utilizando 100 gramas de lascas de madeira impregnadas com óxido de
ferro, de acordo com o estudo de Mercado (2010) (53).
3.9. GERAÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DA CONVERSÃO DO
BIOGÁS
3.9.1. Conversão Energética do Biogás
De acordo com o trabalho de Winck (2012) (54), a conscientização do governo
brasileiro para com a questão da produção de energia elétrica através de fontes renováveis é
recente, tendo por marco a criação do Departamento de Energia e lançamento de cinco
programas de energia (solar, hidrogênio, eólico, carvão mineral, biomassa e eficiência
energética), em meados dos anos 70, pela FINEP, Financiadora de Estudos e Projetos, a qual
69
financia a inovação, desde a pesquisa básica até a preparação do produto para o mercado. O
objetivo desse programa era a criação de grupos de pesquisa que pudessem atuar no
aprimoramento de tecnologias de produção de energia, baseadas em fontes renováveis, que
pudessem ser levadas ao mercado amplo. A biomassa, ainda segundo o autor, representou 38%
dos projetos e 28% da captação de fundos para pesquisa entre 1982 e 1993.
Atualmente, de acordo com Winck (2012) (54), o uso de biomassa tem sido crescente,
com emprego majoritário como fonte de energia térmica, mas com importância relevante
também na geração de energia elétrica. No que tange a produção de energia elétrica no Brasil,
o modal de biomassa representa 3% do total, segundo dados do próprio autor. Para tanto, as
principais tecnologias envolvidas no processo de produção de energia elétrica a partir do biogás
são, segundo Macedo (2001) (55) as seguintes:
Geração em pequena escala (menor que 1MW): os sistemas pode ser à vapor
(alternativos, ou mesmo à turbina) ou utilizar tanques reatores para biomassa,
que produzirão gás metano, acoplados a motores de combustão (Diesel e Otto)
Geração em escala média/grande (da ordem de dezenas de MW produzidos):
trabalham com ciclos a vapor, tecnologia amplamente empregada nas
agroindústrias de cana-de-açúcar e celulose. A eficiência desse modal é
totalmente dependente do nível de pressão utilizado e do uso de co-gerador total
ou parcial
Geração em escala média/grande (da ordem de dezenas de MW): os sistemas
empregados são produção de gás metano, a partir do substrato de biomassa,
combinado com turbinas a gás
A seguir, uma caracterização dos modais de produção de energia elétrica: turbina à gás,
turbinas à vapor, ciclo combinado e motor de combustão interna, com base no trabalho do autor
Winck (2013) (54), bem como na pesquisa de outros autores.
3.9.1.1. Turbinas a Gás
Segundo Garcia et al. (2014) (43), a conversão de energia consiste no processo de
transformação entre tipos de energia visando o aproveitamento do potencial gerado. O biogás
contém energia armazenada nas ligações moleculares do metano, podendo ser convertida em
energia elétrica ao passar por um processo de combustão controlada, movendo uma turbina que
ativará um gerador, convertendo assim a energia mecânica em elétrica. A faixa de operação
para esse tipo de tecnologia, segundo Winck (2012) (54), varia de 100kW a 180 MW.
Ainda segundo o autor, as turbinas à vapor possuem grande vantagem comparada com
motores de combustão interna, uma vez que nelas há a ausência de movimentos alternativos e
de atrito entre superfícies metálicas, como o movimento do pistão e do interior dos cilindros,
por exemplo, levando, consequentemente, a uma economia em óleo lubrificante.
Segundo Garcia et al. (2014) (43), as turbinas a gás permitem maior eficiência global
na conversão elétrica quando operadas em cogeração de calor e eletricidade. A turbina a gás,
representada na Figura 3-24 - Turbina a gás em corte , é composta por um compressor de ar,
câmara de combustão e a turbina propriamente dita. O funcionamento se dá pelo giro do motor,
que aspira o ar para dentro do compressor, elevando sua pressão, ao mesmo tempo em que é
70
misturado ao combustível dentro da câmara de combustão. A mistura de gases é queimada em
pressão constante, aumentando a temperatura dos gases, desta forma é gerada a energia
primária do sistema, posteriormente os gases produtos da combustão são expandidos na
turbina, movimentando-a e transformando a energia térmica em mecânica, sendo que parte dela
é utilizada para girar o compressor. O sistema composto por compressor, câmara de combustão,
turbina e gerador elétrico denomina-se “micro-turbina” para potência desenvolvida abaixo de
250 kW.
A turbina a gás segue o ciclo de Brayton, representado na Figura 3-25 - Ciclo de Brayton
para uma turbina a gás :
Figura 3-24 - Turbina a gás em corte (43)
71
Figura 3-25 - Ciclo de Brayton para uma turbina a gás (43)
3.9.1.2. Turbina à Vapor
De acordo com o trabalho de Winck (2013) (54), uma máquina motora à vapor
transforma a energia, contida no fluxo contínuo de vapor que recebe em trabalho mecânico,
acionando, assim, um equipamento de geração de energia elétrica.
Ainda segundo o autor, a tecnologia é apropriada para grandes instalações, acima de 20
MW, como indústrias de papel e celulose, refinarias, indústria química, entre outras. A grande
difusão dos sistemas de cogeração com turbinas a vapor pode ser parcialmente atribuída às
vantagens da longa vida útil e à adequação desses equipamentos ao uso de uma grande
variedade de combustíveis.
Segundo Garcia et al. (2014) (43), o sistema de turbina à vapor, em detrimento do
sistema de turbinas a gás, apresenta a desvantagem de utilizar um fluido intermediário para
acionar o compressor, possuindo, assim um tamanho significativamente maior ao primeiro.
Nessa tecnologia de geração de energia elétrica, baseada no ciclo de Rankine, trabalha
bombeando o fluido, aumentando assim a pressão. Em uma caldeira o fluido é aquecido à
pressão constante até tornar-se vapor, o qual movimenta uma turbina ao redor do seu eixo e
fornece energia para a bomba do fluido de trabalho; o vapor então entra em um condensador e
resfria-se, voltando na forma líquida para a bomba em um ciclo fechado. Essa modalidade de
geração de energia elétrica apresenta por desvantagem, além do maior espaço ocupado e uso
de um fluido intermediário, o menor rendimento na conversão de calor para eletricidade, em
comparação ao sistema de turbina a gás.
Abaixo, a Figura 3-26 - Esquema de uma turbina a vapor (54) apresenta uma
representação gráfica para o tópico, contida no trabalho de Winck (2012) (54):
72
Figura 3-26 - Esquema de uma turbina a vapor (54)
3.9.1.3. Motor de Combustão Interna
De acordo com Winck (2013) (54), esta tecnologia apresenta por vantagens um
rendimento térmico superior às demais tecnologias expostas, o arranque rápido e a elevada
eficiência mecânica, além de ser uma solução mais adequada para pequenas instalações.
Quanto às desvantagens, essa tecnologia apresenta um tempo de vida útil curto, custos de
manutenção elevado (incluindo frequentes inspeções) e graves restrições associadas à
recuperação do calor quando instalada em regiões caracterizadas por baixas temperaturas.
Quanto ao modo de funcionamento do motor de combustão interna, ainda segundo o
autor, têm-se uma mistura do ar atmosférico ao combustível na câmara de combustão, onde
ocorre a explosão para movimentação cíclica do pistão, produzindo assim energia mecânica.
Esse trabalho desenvolvido pelo motor é usado para acionar um gerador elétrico, com o intuito
de produzir energia elétrica. Esse tipo de tecnologia utiliza como combustível mais
frequentemente o gás natural, propano, butano, biogás e gás de síntese nafta química e tem
rendimento aproximado de 25%.
Abaixo a Figura 3-27 - Gerador elétrico com combustão interna (56), com uma
representação gráfica do exposto em acordo com o trabalho do autor Winck (2013) (54):
73
Figura 3-27 - Gerador elétrico com combustão interna (56)
3.9.2. Capacidade de Geração de Energia Elétrica a Partir do Biogás
De acordo com Almeida (2016) (13), para o cálculo da potência energética disponível
no biogás colhido pode-se utilizar a seguinte metodologia:
𝑃𝐸 =𝑄metano × 𝑃𝐶𝐼𝑚𝑒𝑡𝑎𝑛𝑜 × 𝜂𝑔𝑒𝑟𝑎𝑑𝑜𝑟 × 4,1868
86.400
Equação 3-27 - Potência disponível no gás biogás para geração de energia (13)
Onde PE refere-se à potência elétrica gerada em kW, Qmetano, por sua vez, refere-se à
vazão (produção média) do metano em m³/d, ao passo que PCImetano diz respeito ao poder
calorífico do gás metano (kcal/m³), ηgerador refere-se ao rendimento do motor, 4,1868 ao fator
de conversão de kcal para kJ, onde 1 kJ/s equivale a 1 MW e 86.400 a um fator de conversão
de segundos para dias.
De acordo com o autor, o poder calorífico inferior do biogás é de 5.500 kcal/m³, ao
passo que o rendimento do gerador é de, aproximadamente, 30% para a tecnologia de micro-
turbina escolhida.
Para cálculo da energia disponível pode-se utilizar a seguinte equação, segundo Garcia
et al. (2014) (43):
𝐸 = 𝑃𝐸 × 𝑇𝑒𝑚𝑝𝑜 𝑑𝑒 𝑜𝑝𝑒𝑟𝑎çã𝑜
Equação 3-28 - Cálculo da energia disponível no biogás em MWh/dia (43)
Onde PE refere-se à produção elétrica gerada em kW, ao passo que tempo de operação refere-
se a um período de 24h devido a operação permanente considerada no presente trabalho, com
isso obtém-se a energia elétrica produzida diariamente.
74
4. MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho versa sobre o delineamento de uma ferramenta, baseada em
plataforma Microsoft Excel 2016 ®, a qual por meio de entradas do usuário, possa prever a
quantidade de biogás produzida, bem como a concentração de gás metano no mesmo, em um
reator de uso residencial. Com esse gás metano gerado a ferramenta buscará inferir sobre o
potencial de utilização do mesmo para cocção, aquecimento de chuveiros à gás e produção de
energia elétrica para habitantes brasileiros em um meio urbano. Para tanto, faz-se necessário
determinar nesse ponto do trabalho o modelo teórico de produção de gás metano, a partir do
substrato orgânico de dejetos urbanos residenciais em meio urbano brasileiro, escolha da
tecnologia de geração de energia elétrica a partir do biogás, estruturação dos critérios de
avaliação da matriz de decisão para avaliação das alternativas de reatores anaeróbios, bem
como os pesos de cada um desses para a atribuição da nota final e escolha da solução adequada,
a partir de prós e contras elencados.
No que diz respeito aos métodos de cálculo do potencial teórico de geração de biogás:
3.6.1. Geração Teórica de Biogás por Demanda Química de Oxigênio, 3.6.2. Geração Teórica
de Biogás por Concentração de Sólidos Voláteis, 3.6.3. Geração Teórica de Biogás por
Concentração de Proteínas, Gorduras e Carboidratos Digestíveis, 3.6.4. Teste Bioquímico de
Metano e 3.6.5. Geração Teórica de Biogás pelo Método de Buswell, o método escolhido para
o modelo teórico é o 3.6.1. Geração Teórica de Biogás por Demanda Química de Oxigênio
devido à maior abordagem em literaturas técnicas quanto ao seu emprego em uma modelagem
teórica, em detrimento dos demais modelos abordados, bem como a simplicidade quanto às
entradas por parte do usuário, que deverá conter apenas o número de habitantes na residência
em estudo.
Quanto ao reator de anaerobiose para produção de biogás, temos as seguintes soluções
abordadas no levantamento bibliográfico: 3.7.2. Biodigestor Modelo Chinês, 3.7.3. Biodigestor
Modelo Indiano, 3.7.4. Biodigestor Modelo CSTR, 3.7.5. Biodigestor Modelo UASB, 3.7.6.
HomeBiogas, 3.7.7. Recolast Ambiental Biodigestor Tubular - 3000, 3.7.8. Mailhem Ikos
Environment Portable Biogas Plant, 3.7.9. EUCOlino, dentre as quais foi apontada como
solução ótima para o problema abordado o 3.7.6. HomeBiogas, segundo a matriz de decisão,
através de critérios ambientais, econômicos e técnicos.
Quanto ao tratamento do biogás para purificação do mesmo, dentre as soluções
possíveis de emprego 3.8.1. Absorção com Líquidos, 3.8.2. Lavador de Gases (Water
Scrubbing) – Absorção Física, 3.8.3. Solução de Hidróxido de Sódio, 3.8.4. Sistema de
Tratamento de Biogás com Solução de Ca (OH)2 e 3.8.5. Remoção de H2S com Óxido de Ferro,
temos que a mais adequada, do ponto de vista econômico, para o emprego em uma residência
urbana para tratamento do biogás produzido em baixa escala é a 3.8.5. Remoção de H2S com
Óxido de Ferro utilizando lascas de madeira impregnadas com óxido de ferro.
No que diz respeito à tecnologia de geração de energia elétrica, dentre as possíveis
alternativas elencadas: 3.9.1.1. Turbinas a Gás, 3.9.1.2. Turbina à Vapor e 3.9.1.3. Motor de
Combustão Interna, a mais adequada para o problema apresentado é a 3.9.1.3. Motor de
Combustão Interna, uma vez que essa se mostra aplicável para a geração em pequena escala
75
(menor que 1MW), inerente à produção domiciliar, tem seu espaço menor em relação as
turbinas, e é economicamente mais acessível para o cenário proposto.
A Figura 4-1- Critérios de avaliação das alternativas para a solução do problema,
estrutura os méritos de avaliação de cada alternativa de reator apresentada, visando elencar as
soluções que poderiam ser empregadas dentre as alternativas possíveis para o aproveitamento
da biomassa.
As soluções, obtidas segundo os critérios apresentados, serão então exploradas na
ferramenta, baseada em plataforma Microsoft Excel 2016 ®. Abaixo os fatores de avaliação
discriminados em grupos:
Figura 4-1- Critérios de avaliação das alternativas para a solução do problema
No que tange os critérios ambientais, segundo Sánchez (2013) (57), esses são, em
síntese, definidos como alterações no meio físico, biótico e social, conforme transcrito de seu
livro, definição essa que será utilizada para orientar a caracterização dos critérios de ordem
ambiental escolhidos:
“Pode-se [...] postular que impacto ambiental pode ser causado por uma ação humana [relevante] que implique:
1. Supressão de certos elementos do ambiente, a exemplo de:
a. Supressão de componente do ecossistema, como vegetação;
b. Destruição completa de hábitats (por exemplo, aterramento de um mangue);
Critérios de Avaliação
Critérios Ambientais
Impacto físico
Impacto biótico
Percentural de redução de matéria
orgânica
Critérios Econômicos
Custo total de investimento na
tecnologia
Custo médio de encerramento da
tecnologia
Critérios Técnicos
Tempo de retenção hidráulico
Tempo de instalação
Possibilidade de auto-
instalação
Isolamento térmico
Volume
ocupado
Produtividade
Possibilidade de aquecimento
76
c. Destruição de componentes físicos da paisagem (por exemplo, escavações);
d. Supressão de elementos significativos do ambiente construído;
e. Supressão de referência física à memória (por exemplo, locais sagrados, como cemitérios,
pontos de encontro de membros de uma comunidade);
f. Supressão de elementos ou componentes valorizados do ambiente (por exemplo, cavernas,
paisagens notáveis)
2. Inscrição de certos elementos no ambiente, a exemplo de:
a. Introdução de uma espécie exótica;
b. Introdução de componentes construídos (por exemplo, barragens, rodovias, edifícios, áreas
urbanizadas)
3. Sobrecarga (introdução de fatores de estresse além da capacidade de suporte do meio, gerando
desequilíbrio), a exemplo de:
a. Qualquer poluente;
b. Introdução de uma espécie exótica (por exemplo, coelhos na Austrália);
c. Redução do hábitat ou da disponibilidade de recursos para uma dada espécie (por exemplo,
impacto dos elefantes na África contemporânea);
d. Aumento da demanda por bens e serviços públicos (por exemplo, educação, saúde)
À Luz de todas essas considerações, o conceito de impacto ambiental adotado neste livro será “alteração da
qualidade ambiental que resulta da modificação de processos naturais ou sociais provocada por ação humana. ”
(Sánchez, 1998a). ”
Quanto aos critérios ambientais explorados, têm-se:
Impacto físico: critério que, no escopo do trabalho, determina a necessidade de
terraplanagem e escavações, impactando assim o relevo do local a ser implantado o
empreendimento
Impacto biótico: representa a perda de biodiversidade da fauna e da flora e dos seus
habitats
Percentual de redução de resíduos pós-tratamento: concentração de lodo gerada
após o processo, o qual deverá passar por um manejo ambiental adequado
Os critérios econômicos, por sua vez, abrangem:
Custo total de investimento na tecnologia: valor financeiro dispendido com o capital
imobilizado por meio de mão de obra para instalação, materiais para montagem ou
compra de soluções comerciais de prateleira
Custo médio de encerramento da tecnologia: valor dispendido para abandonar a
produção de energia por esse modal
Aos critérios técnicos, por fim, compete os seguintes pontos de avaliação:
Tempo de retenção hidráulico: esse critério está intimamente ligado com a
otimização do tempo para desenvolvimento do processo de biodigestão sem que
haja a lavagem dos microrganismos anaerobióticos em tempo menor ao de
reprodução dos mesmos
Tempo de instalação: quantidade de dias necessários para que uma mão-de-obra
especializada possa instalar a unidade
Possibilidade de auto instalação: facilidade na implementação do empreendimento
por meio do operador
77
Isolamento térmico: capacidade de manutenção da temperatura, reduzindo assim a
necessidade de um ente externo para controle de variações de temperatura ao longo
do dia
Volume ocupado: dimensões do biodigestor as quais devem ser compatíveis com o
espaço disponível em uma residência
Produtividade: melhor rendimento na geração de biogás
Possibilidade de aquecimento: por meio de equipamento externo, esse tópico avalia
a possibilidade de manutenção do substrato no reator em temperatura na faixa
mesofílica, em virtude do material do reator
4.1. DETERMINAÇÃO DOS MÉRITOS PARA OS CRITÉRIOS DE
AVALIAÇÃO
No que tange os impactos físicos será atribuída nota um para aquelas soluções que
necessitarem de escavações de grandes áreas para instalação de reatores, ao passo que será
atribuída nota dois para soluções que não necessitem alterações no meio físico para sua
instalação.
Quanto aos impactos bióticos, será atribuída nota uma àqueles que apresentarem
impactos significativos à fauna e flora devido a perdas de habitats oriundos de terraplanagens
e escavações, explorados nos impactos físicos, ao passo que será atribuída nota dois àqueles
que não apresentarem impactos significativos à biota local.
Ao percentual de biomassa reduzida será atribuída nota 1 para remoções abaixo de 60%,
2 para 60% a 80%, e 3 para reduções superiores a 80%.
Para o custo total de investimento na tecnologia será atribuída nota um para gastos
superiores a dois mil reais e dois para gastos inferiores a dois mil reais.
Quanto ao custo médio de encerramento da tecnologia, será atribuída nota um a
tecnologias que envolvam retirada de camada impermeável, visando evitar o contato do
substrato digerido com o solo e o lençol freático, lidar com eventuais infiltrações de lixiviado
e aterramento de área previamente escavada. Por outro lado, será atribuída nota dois para
tecnologias fabricadas com peças pré-moldadas que possam ser apenas recicladas uma vez que
limpas de resíduos provindos do extrato digerido.
Ao critério de tempo de retenção hidráulico, por sua vez, será atribuído nota três para
reatores com tempo de retenção entre 0 e 30 dias, nota dois para reatores com tempo de retenção
entre 30 e 50 dias, e nota um para reatores com tempo de retenção superior a 50 dias.
Para o critério de possibilidade de auto instalação, será atribuída nota um para aqueles
que não tiverem praticidade na instalação pelo usuário final e nota dois àqueles que oferecerem
essa vantagem.
Quanto ao isolamento térmico será atribuída nota dois para alternativas que fiquem
enterradas, o que auxilia em uma menor variabilidade de temperatura no decorrer do dia,
levando a um menor gasto com equipamentos para manter a temperatura em uma faixa
78
mesofílica. Por outro lado, será atribuída nota um para soluções que não fiquem enterradas e
apresentem materiais que não possuem um potencial de manutenção da temperatura, como o
plástico por exemplo.
Para o critério de volume ocupado será atribuída nota 1 para volumes acima de 60m³, 2
para volumes entre 10 e 60 m³ e 3 para volumes abaixo de 10 m³.
Para o quesito de produtividade, será utilizada como métrica de avaliação o volume de
gás metano produzido por massa de substrato produzido pelos habitantes de uma residência
urbana brasileira, com isso será utilizada as equações: Equação 3-9 - Geração teórica de gás
metano pela demanda química de oxigênio , Equação 3-10 - Produção volumétrica de metano,
Equação 3-11 - Fator de correção para a temperatura operacional do reator, substituindo a
respectiva eficiência de remoção de biomassa. Quanto às notas atribuídas nesse critério, será
contemplado com nota um nesse quesito produtividades abaixo de 0,50 m³/dia, nota dois para
produtividades entre 0,50 m³/dia e 0,60m³/dia, e nota três para produtividade superior a 0,60
m³/dia.
Para o quesito de possibilidade de aquecimento, atribui-se nota dois àqueles reatores
que possam ser aquecidos, em virtude do material do mesmo, e nota um àqueles que não podem
ser aquecidos.
Os pesos atribuídos para cada um dos critérios será:
Peso um para: impacto físico, impacto biótico, custo médio de encerramento da
tecnologia, tempo de instalação, possibilidade de auto instalação e isolamento
térmico
Peso dois para: percentual de redução de resíduos pós-tratamento, custo total de
investimento na tecnologia, tempo de retenção hidráulico, volume ocupado e
produtividade
Por fim, notas zero serão atribuídas a soluções cujos fabricantes não forneçam
informações suficientes para tecer conclusões acerca da alternativa quanto ao critério proposto.
79
5. RESULTADOS E DISCUSSÕES
Tendo por foco a finalidade de atendimento ao âmbito doméstico deste presente
trabalho, mostra-se apropriado o emprego de pequenos biodigestores, de até 60 m³, os quais
podem fornecer biogás a ser empregado na cocção, aquecimento de chuveiros à gás e produção
de energia elétrica por turbina a gás. Os resíduos sólidos urbanos a serem utilizados como
substrato incluem as sobras de alimentos e esgoto doméstico, composição essa que pode que
pode variar em quantidade e composição ao longo do tempo.
5.1. CÁLCULO DA PRODUÇÃO DE LIXO ORGÂNICO E ESGOTO POR
HABITANTE NO BRASIL
A avaliação do potencial existente para tratamento da fração orgânica dos resíduos
sólidos produzidos foi feita a partir do levantamento da composição gravimétrica dos resíduos
sólidos urbanos coletados no Brasil. Para tanto, foi construída a Tabela 5-1 - Estimativa da
composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos coletados no Brasil, de acordo com o
Diagnóstico dos Resíduos Sólidos Urbanos realizado pelo IPEA em 2012, o qual aponta uma
presença de 51,4% dos resíduos sólidos urbanos referentes à parcel orgânica, dado importante
para inferir sobre o potencial de produção de gás metano.
O estudo completo segue abaixo:
Materiais Participação (%) Quantidade (t/dia)
Material reciclável 31,9 58.527,4
Metais 2,9 5.293,5
Papel, papelão e tetrapark 13,1 23.997,4
Plástico 13,5 24.847,9
Vidro 2,4 4.388,6
Matéria orgânica 51,4 94.309,5
Outros 16,7 30.618,9
Total coletado 100 183.481,5 Tabela 5-1 - Estimativa da composição gravimétrica dos resíduos sólidos urbanos coletados no Brasil (58)
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, em publicação feita em 31 de Julho de 2017
por Amorim, D. (59), o percentual de habitantes brasileiros residentes em meio urbano, de
acordo com a classificação adotada atualmente pelo IBGE, é de 84,4%, segundo dados da
própria instituição explorados na matéria. Com isso, dado que a população brasileira é
composta por 207.660.929 habitantes, de acordo com reportagem do jornal Valor Econômico
veiculada em 30 de Agosto de 2017, em publicação feita por Bôas, B. V. (60), pode-se inferir
sobre a produção de lixo orgânico por habitante em meio urbano no Brasil:
80
𝑃𝑙𝑖𝑥𝑜 𝑜𝑟𝑔â𝑛𝑖𝑐𝑜 = 94.309,5 𝑡𝑜𝑛𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑜𝑟𝑔â𝑛𝑖𝑐𝑜𝑠
𝑑𝑖𝑎×
1.000 𝑘𝑔𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑜𝑟𝑔â𝑛𝑖𝑐𝑜𝑠
1 𝑡𝑜𝑛𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑜𝑟𝑔â𝑛𝑖𝑐𝑜𝑠
×1
207.660.929 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠
×100 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑏𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙𝑒𝑖𝑟𝑜𝑠
84,4 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑏𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙𝑒𝑖𝑟𝑜𝑠 𝑒𝑚 𝑟𝑒𝑔𝑖õ𝑒𝑠 𝑢𝑟𝑏𝑎𝑛𝑎𝑠
= 0,54 𝑘𝑔𝑟𝑒𝑠í𝑑𝑢𝑜𝑠 𝑜𝑟𝑔â𝑛𝑖𝑐𝑜𝑠
ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑒𝑚 𝑚𝑒𝑖𝑜 𝑢𝑟𝑏𝑎𝑛𝑜 𝑛𝑜 𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙 × 𝑑𝑖𝑎
Equação 5-1 - Aproximação da quantidade produzida em média de lixo diariamente por uma família residente
em meio urbano (58) (59)
No que diz respeito à produção de esgoto no Brasil, têm-se os dados abaixo com base
no Diagnóstico dos Serviços de Água e Esgotos – 2016 do Sistema Nacional de Informações
Sobre Saneamento (SNIS) (61), os quais seguem abaixo:
Informação Unidade Valor
População total atendida
com abastecimento de água
Habitantes 166.611.571
Quantidade de ligações de
água
Unidades 55.053.274
Quantidade de economias
residenciais ativas
Km 56.733.555
Extensão de rede de água Mil m³ 626.272
Volume de água produzido Mil m³ 15.909.565
Volume de água consumido Habitantes 9.890.927
População total atendida
com esgoto sanitário
Unidades 103.846.957
Quantidade de ligações de
esgoto
Unidades 30.686.088
Quantidade de economias
residenciais ativas
Unidades 34.222.491
Extensão da rede de
esgotos
Km 303.089
Volume de esgoto coletado Mil m³ 5.473.895
Volume de esgoto tratado Mil m³ 4.055.844
Tabela 5-2 - Informações gerais sobre o abastecimento de água, coleta de esgoto e tratamento de esgoto no
Brasil (61)
81
Com base no estudo, têm-se:
𝑃𝑒𝑠𝑔𝑜𝑡𝑜 = 5.473.895 × 103𝑚3
𝑒𝑠𝑔𝑜𝑡𝑜
𝑎𝑛𝑜×
1 𝑎𝑛𝑜
365 𝑑𝑖𝑎𝑠
×1
103.846.957 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑎𝑡𝑒𝑛𝑑𝑖𝑑𝑜𝑠 𝑝𝑜𝑟 𝑐𝑜𝑙𝑒𝑡𝑎 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑔𝑜𝑡𝑜 𝑠𝑎𝑛𝑖𝑡á𝑟𝑖𝑜
×1.000 𝑙𝑒𝑠𝑔𝑜𝑡𝑜
1 𝑚3𝑒𝑠𝑔𝑜𝑡𝑜
= 144 𝑙𝑒𝑠𝑔𝑜𝑡𝑜
ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 . 𝑑𝑖𝑎
Equação 5-2 - Produção de esgoto no Brasil
Dado que a população rural atendida por coleta de esgoto compete apenas a 0,3% do
total, frente à urbana que responde pelos demais 99,7%, faz-se razoável aproximar a produção
de esgoto em meio urbano no Brasil pela coleta de esgoto no país em cidades com serviço de
saneamento básico, tendo em vista as demais premissas adotadas nesse racional de cálculo.
Para o cálculo da massa orgânica presente no esgoto doméstico brasileiro, produzido
em meio urbano, usando por base a caracterização qualitativa do esgoto, segundo o autor Silva
(2007) (62) , o qual aponta uma presença de matéria orgânica da ordem de 700 mg/l no esgoto
doméstico. De posse desse dado, têm-se:
𝑃𝑒𝑠𝑔𝑜𝑡𝑜 = 144𝑙𝑒𝑠𝑔𝑜𝑡𝑜 𝑑𝑜𝑚é𝑠𝑡𝑖𝑐𝑜
ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑒𝑚 𝑚𝑒𝑖𝑜 𝑢𝑟𝑏𝑎𝑛𝑜 𝑛𝑜 𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙 × 𝑑𝑖𝑎× 700
𝑚𝑔𝑚𝑎𝑡é𝑟𝑖𝑎 𝑜𝑟𝑔â𝑛𝑖𝑐𝑎
𝑙𝑒𝑠𝑔𝑜𝑡𝑜 𝑑𝑜𝑚é𝑠𝑡𝑖𝑐𝑜
×1 𝑘𝑔𝑚𝑎𝑡é𝑟𝑖𝑎 𝑜𝑟𝑔â𝑛𝑖𝑐𝑎
1 × 106𝑚𝑔𝑚𝑎𝑡é𝑟𝑖𝑎 𝑜𝑟𝑔â𝑛𝑖𝑐𝑎
= 0,1𝑘𝑔𝑚𝑎𝑡é𝑟𝑖𝑎 𝑜𝑟𝑔â𝑛𝑖𝑐𝑎
ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒 𝑒𝑚 𝑚𝑒𝑖𝑜 𝑢𝑟𝑏𝑎𝑛𝑜 𝑛𝑜 𝐵𝑟𝑎𝑠𝑖𝑙 × 𝑑𝑖𝑎
Equação 5-3 - Produção de esgoto no Brasil em massa
Por fim, pode-se concluir, que a massa total de resíduos orgânicos, a ser utilizada como
substrato no reator anaeróbio é a soma de produção de lixo e produção de esgoto resultando
em 0,64 kg matéria orgânica / (habitante em meio urbano no Brasil. dia).
5.2. DIMENSIONAMENTO PRELIMINAR DE UM REATOR GENÉRICO,
EMPREGANDO UM SUBSTRATO DE LIXO ORGÂNICO E ESGOTO
DOMÉSTICO
Nesta seção serão desenvolvidos os racionais matemáticos, para emprego na
modelagem teórica, do potencial de geração de energia elétrica, ou compensação do consumo
de GN/GLP, para um reator genérico com base em algumas premissas (a escolha do reator mais
adequado à solução do problema enunciado será apresentada mais adiante):
82
Utilização do modelo teórico de geração de biogás: 3.6.1. Geração Teórica de
Biogás por Demanda Química de Oxigênio
Tecnologia de geração de energia elétrica: 3.9.1.3. Motor de Combustão Interna
Utilização dos dados estimados de produção de matéria orgânica nos dejetos
produzidos por habitante por dia em meio urbano no Brasil, bem como a
produção de esgoto doméstico diária, calculados na seção anterior
Para cálculo da vazão de gás metano a ser produzida será utilizado o método de
avaliação da demanda química de oxigênio, presente no capítulo 3.6.1. Geração Teórica de
Biogás por Demanda Química de Oxigênio. Para tanto faz-se necessário inferir sobre a
demanda química de oxigênio afluente e efluente, vazão afluente, coeficiente de produção de
sólidos no sistema, em aproveitamentos exclusivos de resíduos orgânicos como substrato, e a
temperatura de operação do reator.
Quanto ao coeficiente de produção de sólidos no sistema, pode-se adotar o valor de 0,17
kgDQOlodo /kgDQOapl, segundo Chernicharo (2007) (15); a temperatura, por sua vez, será operada
na faixa mesofílica, de 20 a 45°C; para efeitos do presente trabalho será considerada uma
produção a 35°C constante. Quanto à concentração de DQO afluente, segundo a autora Vespa
(2005) (63) em sua caracterização sobre resíduos urbanos, para uma parcela orgânica desse
total pode-se adotar uma razão de 652,36 mgDQO/gamostra, com isso, têm-se:
𝑆0 =652,36 𝑚𝑔𝐷𝑄𝑂
1 𝑔𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎×
0,64 𝑘𝑔𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎
1 𝑑𝑖𝑎×
1000 𝑔 𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎
1 𝑘𝑔 𝑎𝑚𝑜𝑠𝑡𝑟𝑎×
1 𝑑𝑖𝑎
0,14 𝑚³×
1 𝑘𝑔 𝐷𝑄𝑂
1.106 𝑚𝑔 𝐷𝑄𝑂
= 2,88 𝑘𝑔𝐷𝑄𝑂
𝑚𝑠𝑜𝑙𝑢çã𝑜3
Equação 5-4 - Concentração de DQO afluente (63)
Analisando a demanda química de oxigênio afluente, têm-se que o valor obtido
encontra-se dentro da faixa proposta por Salomon (2007) (24) de 1 a 10 kgDQO/m3, estando
próximo ao limite inferior devido ao escopo residencial para a utilização de resíduos sólidos
urbanos domésticos.
5.3. DIMENSIONAMENTO PRELIMINAR DE UM REATOR GENÉRICO,
EMPREGANDO UM SUBSTRATO APENAS DE LIXO ORGÂNICO
Os passos a seguir são importantes para inferir sobre o volume de água necessário para
atingir a concentração de sólidos em solução para a produção ótima de biogás, sendo pouco
relevantes para uma modelagem que preveja o emprego de esgoto sanitário, dado que a
composição do esgoto doméstico é majoritariamente água.
No que tange a demanda química de oxigênio afluente deve-se calcular a quantidade de
água necessária para atingir uma diluição de 12% de sólidos totais diluídos (9), com isso pode-
se empregar a formulação proposta por Nazaro (2016) (9):
𝐶𝑆𝑇 =𝑃𝑑 × 𝑆𝑇𝑎
100
83
Equação 5-5 - Carga de sólidos totais adicionada diariamente ao biodigestor (9)
Onde CST se refere à carga de sólidos totais adicionada diariamente ao biodigestor
(kg/dia), Pd à produção diária de resíduo (kg/dia) e STa à fração sólida do substrato afluente
(%).
Dado que são gerados diariamente 0,54 kg de resíduos por uma família padrão de um
meio urbano, têm-se que a carga de sólidos totais adicionada diariamente ao biodigestor será
de 0,12 kg, admitindo a fração sólida do substrato afluente de 21,9%, conforme apontado por
Brown (2013) (25).
De acordo com esses resultados, pode-se inferir a massa total de alimentação diária do
biodigestor, com base no dado de diluição de 12% para funcionamento operacional correto do
reator, provido pela autora Nazaro (2016) (9):
𝑀𝑡 =𝐶𝑠𝑡 × 100
𝑆𝑇𝑓
Equação 5-6 - Massa total de alimentação diária do biodigestor (9)
Onde Mt refere-se à massa total de alimentação diária (kg.dia-1), Cst à carga de sólidos
totais adicionados diariamente ao biodigestor (kg/dia) e STf à fração sólida no substrato final
(%).
Dado que a carga de sólidos totais produzidos diariamente é de 0,14 kg, têm-se que a
massa total de alimentação diária é de 1,17 kg.
Dessa forma o volume de água a ser adicionado ao substrato afluente é calculado por:
𝑉𝑎 =(𝑀𝑡 − 𝑃𝑑)
𝜌á𝑔𝑢𝑎
Equação 5-7 - Volume de água necessário para operação do reator (9)
Onde o Va refere-se ao volume de água necessário em m³, Mt refere-se à massa total de
alimentação diária (kg/dia), Pd à produção diária de resíduo (kg/dia) e ρágua refere-se ao peso
específico da água (1 kg/L).
Com isso, pode-se inferir que a quantidade de água a ser adicionada ao substrato
afluente é de 0,53 m³ de água/habitantes.
Para inferir sobre a produção de gás metano pela metodologia 3.6.1. Geração Teórica
de Biogás por Demanda Química de Oxigênio, serão utilizadas as equações Equação 3-9 -
Geração teórica de gás metano pela demanda química de oxigênio, Equação 3-10 - Produção
volumétrica de metano e Equação 3-11 - Fator de correção para a temperatura operacional do
reator.
84
6. ALTERNATIVAS PARA SOLUÇÃO DO PROBLEMA
No que tange a discriminação de alternativas para a solução do tema abordado, serão
cobertas alternativas para o emprego de reatores anaeróbios, dentre as levantadas no
levantamento teórico: 3.7.1. Biodigestor Modelo Canadense, 3.7.2. Biodigestor Modelo
Chinês, 3.7.3. Biodigestor Modelo Indiano, 3.7.4. Biodigestor Modelo CSTR, 3.7.5.
Biodigestor Modelo UASB, 3.7.6. HomeBiogas, 3.7.7. Recolast Ambiental Biodigestor
Tubular - 3000, 3.7.8. Mailhem Ikos Environment Portable Biogas Plant, 3.7.9. EUCOlino, os
reatores 3.7.6. HomeBiogas, 3.7.7. Recolast Ambiental Biodigestor Tubular - 3000 foram os
escolhidos segundo a matriz de decisão Figura 4-1- Critérios de avaliação das alternativas para
a solução do problema.
No que tange a avaliação de metodologias que permitam a confecção de um modelo
teórico, pode-se apontar que as entradas requeridas variam de acordo com o modelo de cálculo
do potencial de geração de biogás, ao passo que as saídas variam de acordo com o reator a ser
empregado no processo de obtenção desse gás.
As entradas requeridas pelo usuário são discriminadas por modelo de cálculo do
potencial de geração de biogás abaixo:
Geração Teórica de Biogás por Demanda Química de Oxigênio: para o cálculo
teórico do potencial de geração de biogás nesse modelo, faz-se necessário a
produção de resíduos sólidos diários, a concentração de substrato afluente, e o
percentual de remoção de demanda química de oxigênio por meio do reator
Geração Teórica de Biogás por Concentração de Sólidos Voláteis: taxa máxima de
produção de metano, concentração de sólidos voláteis do efluente, tempo de
retenção hidráulico, taxa de crescimento máximo específico, coeficiente cinético
adimensional e temperatura de operação do reator
Geração Teórica de Biogás por Concentração de Proteínas, Gorduras e Carboidratos
Digestíveis: matéria mineral, proteína bruta, porcentagem de proteína digestível,
gordura bruta, concentração de gordura digerível, fibra bruta, fração de fibra
digestível, concentração de extratos não digeríveis e biodegradabilidade de extratos
não-nitrogenados
Os parâmetros para controle do processo são similares para todos os modelos de
reatores enunciadas, os quais foram apresentados na revisão bibliográfica como 3.5.
PARÂMETROS OPERACIONAIS, sendo os mesmas: Carga Orgânica Volumétrica, Tempo
de retenção hidráulico (TRH), Erro! Fonte de referência não encontrada., Erro! Fonte de
referência não encontrada. e Avaliação da Eficiência da Degradação do Substrato, possuindo,
cada um desses modelos, algumas especificações técnicas para a construção do
empreendimento.
Das alternativas possíveis de manejo dos dejetos produzidos foram desconsideradas as
seguintes soluções: Reciclagem, Aterros Sanitários e Compostagem, uma vez que o problema
explorado abrange a possibilidade de aproveitamento energético do substrato, e não o seu
retorno para a cadeia de valor, como forma de matéria-prima, para o caso de resíduos
recicláveis, visando sua reutilização na escala industrial, tampouco sua deposição controlada,
85
ou seu aproveitamento como adubo, o qual poderá ser uma forma de manejo para o
biofertilizante advindo do biodigestor.
No que diz respeito às alternativas de purificação do biogás gerado no reator, temos:
3.8.1. Absorção com Líquidos, 3.8.2. Lavador de Gases (Water Scrubbing) – Absorção Física,
3.8.3. Solução de Hidróxido de Sódio 3.8.4. Sistema de Tratamento de Biogás com Solução de
Ca (OH)2, e 3.8.5. Remoção de H2S com Óxido de Ferro.
Por fim, quanto à produção de energia elétrica à partir do gás metano, para aquelas
residências nas quais essa seja uma alternativa economicamente viável, temos: 3.9.1.1.
Turbinas a Gás, 3.9.1.2. Turbina à Vapor e 3.9.1.3. Motor de Combustão Interna.
86
7. ESCOLHA DA SOLUÇÃO
No que diz respeito ao modelo de avaliação do potencial de geração de biogás, o modelo
escolhido foi o 3.6.1. Geração Teórica de Biogás por Demanda Química de Oxigênio devido à
necessidade de entrada apenas do número de habitantes na residência, evitando, assim, uma
complexidade à modelagem teórica que impossibilite o entendimento por parte do usuário final,
bem como uma maior cobertura em literaturas especializadas sobre o assunto. Quanto às
alternativas de purificação do biogás, por sua vez, temos que a mais aplicável ao contexto
apresentado é o 3.8.5. Remoção de H2S com Óxido de Ferro, por se tratar de um sistema
economicamente viável para um ambiente doméstico urbano. No que tange a produção de
energia elétrica, a solução adequada para uma pequena geração, menor do que 1 MW, é o
3.9.1.3. Motor de Combustão Interna.
A opção de reator escolhida, por sua vez, foi a solução comercial 3.7.6. HomeBiogas,
exposta no levantamento bibliográfico, tendo por vantagens competitivas perante o segundo
colocado Recolast Ambiental Biodigestor Tubular – 3000, o tempo de retenção hidráulica
inferior, bem como o preço mais competitivo. A matriz de decisão com as notas dadas a cada
critério, bem como os pesos para a nota final de cada critério, está exposta na página a seguir,
seguida por uma síntese das considerações a respeito de cada alternativa.:
87
Impacto
físicoIm
pacto
s bió
ticos
Perce
ntu
al d
e re
duçã
o d
e
resíd
uos p
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Custo
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Pro
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Possib
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e
aquecim
ento
Canadense
11
21
12
11
21
32
27
Chin
ês
11
11
11
11
21
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11
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11
11
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22
21
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12
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88
Quanto ao percentual de redução da biomassa pós-tratamento cabe ressaltar a
capacidade de remoção de demanda química de oxigênio de cada um dos modelos
apresentados:
Modelo canadense: remoção de 80% da demanda química de oxigênio afluente,
segundo dados de Macedo (2013) (31)
Modelo chinês: redução de 52%, de acordo com Stockmanns (2017) (64)
Modelo indiano: redução de 57%, de acordo com Souza, et al. (2013) (65)
Modelo CSTR: remoção de 80 a 95% da DQO, para cargas orgânicas entre 1 e 10
kg DQO/m³ dia, segundo o autor Salomon (2007) (17). Para fins de
conservadorismo será adotada uma redução de biomassa para o reator CSTR de
80%
Reator UASB: redução de 75%, aproximando as faixas adotadas por Garcia, et al.
(2015) (43) e a fabricante Rotosis (2018) (44)
HomeBiogas: redução de 85% de acordo com Bleicher, et al. (2017) (46)
Recolast Ambiental Biodigestor Tubular – 3000: redução de 90% de acordo com o
fabricante (48)
Portable Biogas Plant: não informado pelo fabricante
Para cálculo do orçamento de implantação dos reatores foi considerada uma família
brasileira média de quatro pessoas, afim de dimensionamento da vazão afluente aos reatores.
Deve-se levar em conta ainda o volume do biodigestor, o qual é diretamente proporcional ao
tempo de retenção hidráulico dos biodigestores, com isso têm-se, para os respectivos
biodigestores previstos na revisão bibliográfica, bem como os modelos comerciais levantados
na sessão
Modelo canadense: segundo Macedo (2013) (31) esse tipo de biodigestor possui um
tempo de retenção hidráulico de 30 a 35 dias, com isso usaremos um tempo
equivalente a 35 dias, visando calcular o volume no pior cenário possível. Com isso
o volume do biodigestor será de 62 m³. Segundo a autora Macedo (2013) (31), o
custo para produção de um biodigestor médio, proposto pela Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (2013), é diretamente proporcional ao volume do reator em
uma razão de R$ 150,00 / m³, conforme explorado na sessão 3.7.1.6. Custos da
Implantação do Biodigestor, com isso o custo de implantação será de
aproximadamente R$ 9.300,00
Modelo chinês: segundo a autora Stachissini (2014) (36), conforme exposto na
sessão 3.7.2. Biodigestor Modelo Chinês, o tempo de retenção hidráulico varia de
40 a 60 dias, com isso, para adotar uma estimativa conservadora, será admitido um
tempo de retenção hidráulico de 60 dias. Com isso o volume do digestor será de
106,2 m³. Pela razão apresentada pela autora Macedo (2013) (31), têm-se o preço
do sistema de R$ 15.930,00.
Modelo indiano: segundo a autora Stachissini (2014) (36), conforme exposto na
sessão 3.7.3. Biodigestor Modelo Indiano, o tempo de retenção hidráulico varia de
40 a 60 dias, tal qual o modelo indiano, com isso, para adotar uma estimativa
conservadora, será admitido um tempo de retenção hidráulico de 60 dias. Com isso
89
o volume do digestor será de 106,2 m³. Para tanto, segundo dados de Bonturi e Dijk
(2012) (40) os gastos de implantação seriam de R$ 8.175,00.
Modelo CSTR: segundo Rupf et al. (2016) (42), o tempo de residência varia entre
10 e 30 dias, com isso usaremos 30 dias para fins de conservadorismo, visando
utilizar o digestor de maior volume que possa ser necessário. Portanto, o volume do
biodigestor será de 53 m³. Pela razão apresentada pela autora Macedo (2013) (31),
têm-se o preço do sistema de R$ 7.950,00.
Reator UASB: segundo orçamento da Rotosis (44) a compra do reator seria de R$
1.650,00, desconsiderando gastos com escavação para instalação do reator e mão
de obra
HomeBiogas: R$ 2.012,40, segundo o fabricante (45), considerando a cotação do
dólar de R$ 3,15
Recolast Ambiental Biodigestor Tubular – 3000: R$ 2.779,86
Portable Biogas Plant: não informado pelo fabricante
Quanto aos critérios técnicos, pode-se apontar, primeiramente, o tempo de retenção
hidráulico, a partir de dados de cada um dos tipos de reatores:
Modelo canadense: entre 30 e 35 dias, segundo dados de Macedo (2013) (31)
Modelo chinês: 60 dias, de acordo com a autor Stachissini (2014) (36)
Modelo indiano: 60 dias, segundo Stachissini (2014) (36)
Modelo CSTR: 30 dias, segundo Rupf, et al. (2016) (42)
Reator UASB: 22 dias, segundo Pereira (2017) (41)
HomeBiogas: 21 dias, de acordo com o fabricante (45)
Recolast Ambiental Biodigestor Tubular – 3000: 30 dias, segundo o fabricante (48)
Portable Biogas Plant: não informado pelo fabricante
Quanto ao critério de volume ocupado pela tecnologia, têm-se:
Modelo canadense: conforme exposto o volume é de 62 m³
Modelo chinês: conforme exposto, o volume é de 106,2 m³
Modelo indiano: conforme exposto, o volume é de 106,2 m³
Modelo CSTR: segundo Rupf et al. (2016) (42), o tempo de residência varia entre
10 e 30 dias, com isso usaremos 30 dias para fins de conservadorismo, visando
utilizar o digestor de maior volume que possa ser necessário. Portanto, o volume do
biodigestor será de 53 m³
Reator UASB: 1,3 m³, modelo da Rotosis (44)
HomeBiogas: 2,10 m³, segundo o site da empresa (45)
Recolast Ambiental Biodigestor Tubular – 3000: 4,2 m³, segundo o site da empresa
(48)
Portable Biogas Plant: não informado pelo fabricante
Quanto à produtividade, para uma família média de quatro pessoas residindo em
ambiente urbano no Brasil, têm-se, para cada um dos modelos, a produção de gás metano à
partir da Equação 3-9 - Geração teórica de gás metano pela demanda química de oxigênio (15),
Equação 3-10 - Produção volumétrica de metano (15), e Equação 3-11 - Fator de correção para
a temperatura operacional do reator (15):
90
Modelo canadense: 0,50 m³/(habitantes.dia), para um rendimento de 80%
Modelo chinês: 0,28 m³/(habitantes.dia), para um rendimento de 52%
Modelo indiano: 0,50 m³/(habitantes.dia) para um rendimento de 57%
Modelo CSTR: 0,24 m³/(habitantes.dia), para um rendimento de 80%
Reator UASB: 0,46 m³/(habitantes.dia), para um rendimento de 75%
HomeBiogas: 0,54 m³/(habitantes.dia), para um rendimento de 85%
Recolast Ambiental Biodigestor Tubular – 3000: 0,48 m³/(habitantes.dia), para um
rendimento de 90%
Portable Biogas Plant: não informado pelo fabricante o rendimento dedo sistema
Por fim, quanto à possibilidade de aquecimento do reator para manutenção do substrato
em temperatura mesofílica, o único que não pode ser aquecido, e por isso recebeu nota 1, foi a
solução comercial HomeBiogas.
91
8. ESPECIFICAÇÃO DA SOLUÇÃO
8.1. MODELO TEÓRICO DE GERAÇÃO DE BIOGÁS E APROVEITAMENTO
ENERGÉTICO
O modelo teórico se propõe a inferir a economia potencial de energia elétrica, ou
GLP/GN, em uma residência urbana brasileira. As entradas necessárias pelo usuário são
especificadas em uma janela de comando que aparece no momento em que o usuário roda uma
nova consulta, as quais são exploradas nas Figura 8-1 - Capa do modelo teórico de previsão da
produção de biogás e Figura 8-2 - Entradas promovidas pelo usuário no momento de uma nova
consulta.
Figura 8-1 - Capa do modelo teórico de previsão da produção de biogás
Figura 8-2 - Entradas promovidas pelo usuário no momento de uma nova consulta
92
Após o preenchimento das entradas requeridas pela ferramenta ao usuário, uma janela
de confirmação do preenchimento é disparada apontando as planilhas onde foram gerados os
relatórios de interesse, bem como o número da nova consulta na planilha “Consolidação –
Resultados”, como pode-se ver nas imagens abaixo, de cunho meramente ilustrativo:
Figura 8-3 - Entradas preenchidas pelo usuário
Figura 8-4 - Resultados da nova consulta preenchida pelo usuário
Com o término do preenchimento, por parte do usuário, da janela de comando, com
especificações quanto ao número de habitantes, reator optado, distribuidora local de energia
elétrica e tipo de ligação residencial, é executada uma sub-rotina em VBA responsável por
alocar os inputs nas respectivas variáveis, bem como armazenar um histórico dos resultados
obtidos na planilha “Consolidação – Resultados”, conforme exposto na figura abaixo:
93
Figura 8-5 - Código em VBA para execução do modelo - parte 1
Figura 8-6 - Código em VBA para execução do modelo - parte 2
94
Figura 8-7 - Código em VBA para execução do modelo - parte 3
Figura 8-8 - Código em VBA para execução do modelo - parte 4
95
Figura 8-9 - Código em VBA para execução do modelo - parte 5
O modelo teórico, em plataforma Microsoft Excel 2016 ®, é dividido nas seguintes
planilhas: Capa, Instruções, Histórico – Resultados, Vetores_Uso Interno, Inputs, Preço kWh
Brasil por Estado, Tarifa Gás Canalizado Brasil, Tecnologias Sugeridas,
Relatório_RO_ESGOTO, Relatório _RO e Consolidação – Resultados.
A planilha “Capa” é selecionada automaticamente no momento em que o usuário abre
a pasta de trabalho, contendo as instruções quanto a pressionar o botão para iniciar o processo
de uma nova consulta, bem como uma explicação sobre o código de cores, o qual explora quais
planilhas são destinadas a inputs, base de dados, saídas, checks, e planilhas não envolvidas na
execução da sub-rotina, ou seja, na execução do código VBA que será disparado no momento
em que o usuário terminar a consulta.
No que tange as planilhas não envolvidas na execução da sub-rotina, temos a planilha
“Instruções”, a qual traz uma conceituação teórica para o usuário quanto aos cálculos
empregados na pasta de trabalho. A exposição de cálculos na planilha é dividida em deduções
referentes à produção de sólidos, volume de água no biodigestor, para o caso de utilização
apenas de resíduos orgânicos produzidos em uma residência, em cenários onde não se espera
aproveitar o esgoto doméstico para fins de produção de biogás, cálculo de demanda química
de oxigênio, cálculo da vazão de biogás produzido, produção de energia elétrica e custo de
oportunidade da substituição de energia elétrica, como foi explorado nos itens 3.6.1. Geração
Teórica de Biogás por Demanda Química de Oxigênio e Erro! Fonte de referência não
encontrada.. Erro! Fonte de referência não encontrada.. A planilha “Tecnologias
Sugeridas” também se contextualiza nesse âmbito, expondo quais os reatores anaeróbios
empregados no modelo, bem como as páginas na internet onde o usuário pode adquiri-los e
maiores informações à respeito de suas operações.
No que tange as planilhas de check, por sua vez, temos apenas uma denominada
“Histórico de Resultados”, a qual abriga consultas passadas geradas na planilha “Consolidação
96
– Resultados” com o propósito de validar o modelo produzido, verificando a consistência dos
outputs gerados.
Quanto às planilhas de inputs, por outro lado, temos a “Vetores_Uso Interno”, a qual
compete a armazenar a lista de reatores possíveis de serem escolhidos pelo usuário no momento
de rodar uma nova consulta, no caso o HomeBiogas 2.0 e do Recolast Biodigestor Residencial,
escolhidos como solução ótima na Erro! Fonte de referência não encontrada.. Erro! Fonte de
referência não encontrada., bem como suas características quanto a tempo de residência
hidráulica, rendimento do reator, altura do digestor, comprimento do digestor, largura do
digestor, volume do digestor, área total ocupada e preço do reator de anaerobiose, os quais
serão utilizados na planilha “Inputs”; última planilha com o código de cores referentes a inputs,
passíveis de mudança por parte do usuário final. A planilha “Inputs” é dividida em entradas
referentes a fatores de conversão, dados sobre a residência de estudo, dados da produção de
resíduos orgânicos no lixo doméstico urbano brasileiro, produção de resíduos orgânicos no
esgoto brasileiro, produção teórica de gás metano pela demanda química de oxigênio, cálculo
do fator de correção para a temperatura operacional do reator, cálculo da produção de biogás,
dados do digestor, capacidade de geração de energia elétrica, preço dos equipamentos
envolvidos, dados sobre o gerador de gás, conversão de biogás em biometano, consumo de
energia elétrica no país, bem como o preço do kWh por distribuidora local, e o consumo de
GLP/GN no país.
No que diz respeito às planilhas de base de dados, temos Preço kWh Brasil por Estado
e a Tarifa Gás Canalizado Brasil, as quais, respectivamente, se referenciam aos dados
publicados pela ANEEL no Ranking das Tarifas (66), atualizados em 24 de Novembro de 2015,
e aos dados publicados pela Comgas nas Tarifas de Gás Canalizado (67), publicados em 30 de
Maio de 208.
Por fim, quanto às planilhas de resultados, temos o “Relatório_RO_ESGOTO”,
“Relatório _RO”, e a “Consolidação – Resultados”, os quais, respectivamente, fornecem como
saída o custo de oportunidade no emprego do biodigestor para um substrato formado por
resíduos orgânicos residenciais e esgoto, e um substrato formado exclusivamente por resíduos
orgânicos, nas especificações concedidas pelo usuário final, bem como um resumo de todas as
entradas e saídas utilizadas pelo usuário em todas as suas consultas passadas.
Dado que as soluções escolhidas, por intermédio da matriz de decisão e avaliação de
cenários com o auxílio do modelo exposto, são os ratores comerciais HomeBiogas e Recolast
Ambiental Biodigestor Tubular – 3000, acompanhadas de um motor de combustão interna,
caso haja a produção de energia elétrica prevista para o usuário, o cálculo do potencial de
geração de gás metano purificado, bem como de aproveitamento para geração de energia
elétrica do mesmo, irá prever o cenário de aproveitamento de esgoto sanitário para inferir sobre
o custo das tecnologias envolvidas e a viabilidade econômica de emprego da solução escolhida.
Têm-se uma especificação da solução a seguir, considerando uma família média brasileira de
quatro pessoas para fins de dimensionamento de uma solução, entretanto prevendo um modelo
flexível para a mudança do parâmetro de pessoas residentes no domicílio, aproveitamento, ou
não de esgotamento doméstico no processo, ligações residenciais individuais ou em
condomínio, bem como a região e a distribuidora que atendam o usuário.
97
8.2. PRODUÇÃO DE BIOGÁS NO HOMEBIOGAS E POTENCIAL DE
CONVERSÃO EM ENERGIA ELÉTRICA
Pelas equações Equação 5-1 - Aproximação da quantidade produzida em média de lixo
diariamente por uma família residente em meio urbano e Equação 5-2 - Produção de esgoto
no Brasil, temos que a vazão de lixo orgânico e esgoto doméstico, para uma família média
brasileira de quatro pessoas, residindo em meio urbano, será de, aproximadamente, 0,58 m³/dia.
Com isso, dado o tempo de retenção hidráulico do HomeBiogas 2.0 é de 21 dias, segundo
Bleicher, et al. (2017) (46), temos que o volume necessário dos digestores é de 12,17 m³
Ainda de acordo com Bleicher, et al. (2017) (46), por sua vez, o rendimento da
tecnologia HomeBiogas 2.0 para remoção de demanda química de oxigênio do substrato é de
85%, calculado de forma experimental. Com isso, para a tecnologia disponibilizada pela
empresa HomeBiogas, em sua versão 2.0, têm-se as seguintes produções de gás metano e
energia elétrica:
𝑄𝑎𝑓𝑙𝑢𝑒𝑛𝑡𝑒 =𝑉𝑜𝑙𝑢𝑚𝑒 𝑟𝑒𝑎𝑡𝑜𝑟
𝑇𝑅𝐻=
6 × 1,65 × 1,27 × 1,00
21 𝑚³
𝑑𝑖𝑎= 0,60
𝑚³
𝑑𝑖𝑎
Equação 8-1 - Cálculo da vazão afluente no reator de biodigestão
𝐷𝑄𝑂𝐶𝐻4= 0,60 × (2,88 − 2,88 × (1 − 0,85)) − 0,17 × 0,64 × 2,88 = 1,17
𝑘𝑔 𝐷𝑄𝑂𝐶𝐻4
𝑚3
Equação 8-2 - Geração de gás metano no HomeBiogas (15)
𝑓(𝑇) =1 × 64
0,08206 × (273 + 35)= 2,53
𝑘𝑔𝐷𝑄𝑂
𝑚𝑜𝑙
Equação 8-3 - Fator de correção para a temperatura operacional no HomeBiogas (15)
𝑄𝐶𝐻4=
𝐷𝑄𝑂𝐶𝐻4
𝑓(𝑇)=
1,17
2,53= 0,46
𝑚3
𝑑𝑖𝑎
Equação 8-4 - Produção volumétrica de metano diário no HomeBiogas
𝑄𝑏𝑖𝑜𝑔á𝑠 =𝑄𝐶𝐻4
𝐶𝐶𝐻4=
0,46
0,7= 0,66
𝑚3
𝑑𝑖𝑎
Equação 8-5 - Vazão de biogás produzida diariamente no HomeBiogas (15)
𝑃𝐸 = 0,46 × 5.500 × 0,3 × 4,1868
86.400= 0,04 𝑘𝑊
Equação 8-6 - Potência disponível no biogás admitindo um reator genérico (13)
𝐸 = {0,46 × 5.500 × 0,3 × 4,1868
86.400} × 24 = 1,02
𝑘𝑊ℎ
𝑑𝑖𝑎
98
Equação 8-7 - Energia disponível no biogás em um reator genérico (13)
8.3. MOTOR DE COMBUSTÃO INTERNA
O motor de combustão interna é a solução empregada para aproveitamento do biogás
para produção de energia elétrica, uma vez que dentre as soluções elencadas: 3.9.1.1. Turbinas
a Gás, 3.9.1.2. Turbina à Vapor, e 3.9.1.3. Motor de Combustão Interna, essa é a única solução
economicamente viável para um contexto residencial.
A marca Shanghai Amazonas comercializa o seu modelo LT2500EB, o qual tem uma
potência de produção de até 2,75 kVA (ou 2,2 kW), utiliza por combustível o gás natural,
possibilitando o uso de biogás para a mesma finalidade, e se adequando, por fim, ao uso
descrito em nossa solução. O aparelho é comercializado a R$ 3.017,00 e uma representação
real do aparelho é apresentada abaixo:
Figure 8-1 - Gerador de energia elétrica à gás Shanghai Amazonas, modelo LT2500EB LPG (68)
8.4. CUSTO DE OPORTUNIDADE COM O APROVEITAMENTO
ENERGÉTICO DO BIOGÁS
A produção de gás metano pela solução comercial da empresa é de 0,46 m³/dia e a
produção de energia elétrica é de, aproximadamente, 1,02 kWh/dia. Para executar a
comparação com o percentual de energia elétrica e demanda por GLP/GN que esse método de
obtenção de energia renovável pode suprir para uma família padrão residente em um ambiente
urbano, têm-se, segundo o Balanço Energético Nacional (2017) (69) os seguintes dados:
99
10³ TEP (TOE)
Fontes 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Gás Natural 221 229 238 255 280 296 321 310 312 357
Lenha 7.812 7.706 7.529 7.276 6.505 6.472 5.741 6.109 6.334 6.064
GLP 5.896 6.043 6.115 6.298 6.364 6.393 6.521 6.535 6.541 6.573
Querosene 9 9 8 4 5 5 4 3 3 2
Gás
Canalizado
0 0 0 0 0 0 0 0 0 0
Eletricidade 7.816 8.220 8.655 9.220 9.629 10.118 10.737 11.373 11.264 11.426
Carvão
Vegetal
22.271 22.738 23.129 23.562 23.267 23.761 23.726 24.808 24.927 24.851
Total 22.271 22.738 23.129 22.562 23.267 23.761 23.726 24.8808 24.927 24.851
Tabela 8-1 – Modais energéticos distribuídos por produção anual (69)
Fatores de conversão para energia
de >>>> para Multiplicar por
J Btu cal kWh TEP
Joule ( J ) 1,0 947,8x10-6 0,23884 277,7x10-9 2,388x10-11
British Thermal Unitr ( Btu ) 1,055x10³ 1,0 252 293,07x10-6 2,52x10-8
Caloria ( cal ) 4,1868 3,968x10-3 1,0 1,163x10-6 10,0-10
Quilowatt-hora ( kWh) 3,6x106 3412,0 860x10³ 1,0 8,6x10-5
Tonelada equivalente de petróleo (TEP) 41,87x109 39,68x106 10,0x109 11,63x10³ 1,0 Tabela 8-2 - Fatores de conversão para energia, segundo as medidas utilizadas de energia elétrica da ANEEL
(70)
Com base nesses dados, e na tabela de fatores de conversão para energia da ANEEL
(70) têm-se a seguinte quantidade média de consumo de energia elétrica (CEE) por família:
𝐶𝐸𝐸 = 4 ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 ×11.426.000
207.660.929
𝑇𝐸𝑃
ℎ𝑎𝑏𝑖𝑡𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠×
1 𝑘𝑊ℎ
8,6 . 10−5 𝑇𝐸𝑃= 2.559,18
𝑘𝑊ℎ
𝑎𝑛𝑜
Equação 8-8 - Consumo médio de uma família brasileira de eletricidade em um ano (69) (70)
A produção de energia elétrica anual, a partir da biomassa no reator, é representada
abaixo:
𝐸 = 1,02𝑘𝑊ℎ
𝑑𝑖𝑎×
365 𝑑𝑖𝑎𝑠
1 𝑎𝑛𝑜= 372,40
𝑘𝑊ℎ
𝑎𝑛𝑜
Equação 8-9 - Produção de energia elétrica anual à partir da biomassa em um reator HomeBiogas 2.0 (13)
No que tange o gás natural, têm-se, de acordo com os dados energéticos fornecidos pelo
Estado de São Paulo no Boletim Energético (2017) (71), o consumo residencial de GLP/GN é
de aproximadamente 17,2 m³/mês, o qual será generalizado como uma média de consumo para
o presente estudo. O estudo completo segue abaixo:
100
Discriminação 2015 2016 2017
anual mensal anual mensal (outubro)
Residencial 186,2 15,5 202,3 16,9 17,2
Industrial 2.789.503,9 232.458,7 2.520.578,3 210.048,2 197.933,1
Comercial 7.793,6 649,5 7.678,9 639,9 628,3
Automotivo 647.790,9 53.982,6 670.714,1 55.892,0 58.853,6
Co-geração 10.874.408,9 906.200,7 10.433.744,9 869.478,7 748.219,7
Termogeração 472.165.649,0 39.347.137,4 133.751.221,7 11.145.935,1 -
Total 5.066,1 422,2 3.997,6 333,1 315,2
Tabela 8-3 - Consumo de energia elétrica mensal e anual (71)
Por fim, podemos concluir que a produção de gás metano purificado de 0,64 m³/dia, ou
19,14 m³/mês, pode suprir toda a demanda residencial de GLP/GN. Para o período de um ano
seriam consumidos 206,4 m³/ano de gás metano purificado, em detrimento do GLP/GN, o que
representaria uma economia de R$ 1.235,17 por ano para uma produção de gás totalmente
voltada para a utilização do gás metano em substituição do GLP/GN. Esse valor é pautado na
tarifa mensal do metro cúbico prevista pela Comgas (2018) (67) por deliberação da ARSESP
nº 727, de 30/05/2018, com vigência a partir de 31/05/2018, sendo aplicado o valor fixo de R$
9,92 por mês e um valor variável de R$ 5,407584 /m³ para consumos entre 14,01 a 34,00 m³
em ambientes residenciais com medições não-coletivas.
Quanto à produção de energia elétrica a partir da biomassa, em um reator modelo
HomeBiogas 2.0, por sua vez, tem-se que essa pode substituir, aproximadamente, 14,55% da
demanda em um ano. Com base no preço do kWh médio das tarifas residenciais para o Brasil,
segundo os valores homologados pela ANEEL (72), têm-se que a economia seria de R$ 188,43
por ano para uma produção de gás metano totalmente voltada para a produção de energia
elétrica.
Por fim, temos a tabela com o resumo de custo de oportunidade de emprego do biogás
purificado, abaixo, para cada uma das tecnologias abordadas em uma residência urbana
brasileira. A partir da mesma pode-se concluir que a solução mais adequada para o problema
exposto é a substituição da demanda de GLP/GN na residência pela produção de biogás a partir
de resíduos orgânicos provenientes do lixo produzido in loco, bem como o aproveitamento do
esgoto sanitário gerado, podendo, assim, compensar integralmente a demanda por GLP/GN,
garantindo uma economia anual de, aproximadamente, R$ 1.235,17 e um payback de 9,78 anos.
101
Emprego do reator para substituir a produção de energia elétrica
Porcentagem de energia elétrica
compensada
14,55%
Economia anual R$ 188,43
Gastos com equipamentos (imobilizado) –
CAPEX
R$ 15.092,27
Payback 80,09 anos
Emprego do reator para substituição do consumo de GLP/GN
Porcentagem de GLP/GN compensada 100,00%
Economia anual R$ 1.235,17
Gastos com equipamentos (imobilizado) –
CAPEX
R$ 12.075,38
Payback 9,78 anos
Escolha da melhor alternativa Compensar o consumo de GLP
Tabela 8-4 - Resumo do custo de oportunidade de emprego do biogás purificado para a produção exclusiva de
energia elétrica e substituição da demanda de GLP/GN
102
9. CONCLUSÃO
O modelo teórico construído em plataforma Microsoft Excel 2016 ®, realiza o cálculo
teórico de biogás produzido em uma residência e infere ao usuário quais são as oportunidades
possíveis para o uso do biogás e qual é o horizonte de tempo que seu investimento terá retorno,
para que isso seja possível alguns tratamentos teóricos foram feitos e com isso foi possível
chegar na escolha do melhor reator e uma solução ótima.
A escolha do reator foi feita a partir de uma matriz de decisão, que atribuiu notas a
critérios de avaliação de cunho ambiental, econômico e técnico, assim chegando nas duas
melhores opções para o usuário, sendo elas respectivamente, HomeBiogas 2.0 e Recolast
Ambiental Biodigestor Tubular – 3000.
Para calcular o potencial teórico de biogás utilizamos a geração teórica por demanda
química de oxigênio, pela ampla abordagem na literatura que se teve acesso em detrimento dos
demais modelos expostos no trabalho, bem como o número reduzidos de entradas que deve ser
preenchido pelo usuário final.
Por se tratar de um gás altamente corrosivo, o biogás necessita de uma purificação para
remover o sulfeto de hidrogênio, e a solução mais viável e facilmente aplicada é a remoção de
sulfeto de hidrogênio com óxido de ferro, que apresenta uma remoção de 20g de H2S utilizando
100g de lascas de madeira impregnadas com óxido de ferro.
Caso seja escolhido a produção de energia elétrica a partir do biogás é necessário a
escolha de um motor de combustão interna para que assim seja gerada energia, o escolhido foi
o motor da Shangai Amazonas e não foi escolhido as turbinas por não serem economicamente
viáveis para uma residência.
A solução ótima do modelo é dada pelo HomeBiogas 2.0, onde foi obtido uma geração
de 0,64 m³/dia e 0,74 kWh/dia. Para que isso seja possível é necessário um investimento inicial
de R$ 15.092,27 e R$ 12.075,38, respectivamente, para uma produção voltada exclusivamente
para a substituição da demanda de energia elétrica e para a substituição da demanda de
GLP/GN.
Com base no preço do kWh médio das tarifas residenciais para o Brasil, segundo os
valores homologados pela ANEEL (70) e na tarifa mensal do metro cúbico prevista pela
Comgas (2018) (69) por deliberação da ARSESP nº 727, de 30/05/2018, com vigência a partir
de 31/05/2018, têm-se que o horizonte de tempo para recuperação do investimento aportado
para instalação do reator, e emprego de um motor à combustão interna, para o caso de produção
de energia elétrica, seria de 80, 09 anos para uma produção exclusiva de energia elétrica à partir
do gás metano purificado, gerado pela solução comercial HomeBiogas 2.0, ao passo que,
empregando o mesmo reator, o payback para o uso exclusivo do gás metano gerado para
substituir a demanda de GLP/GN seria de 9,78 anos, configurando-se como a melhor solução
para o problema apresentado.
O presente estudo não previu fatores inibitórios como uma condição que possa reduzir a
produção teórica de biogás, podendo ser explorados em trabalhos futuros, como uma
complementação dos resultados obtidos. Dentre os fatores inibitórios explorados no
103
levantamento bibliográfico pode-se apontar a presença de substâncias em concentrações
potencialmente inibitórias, como o sódio, potássio, cálcio e zinco, bem como as condições do
meio, como temperatura e pH fora das faixas ideais, o que provocaria a operação do processo
de anaerobiose fora da faixa de máxima produção mesofílica ou a morte prematura dos
microrganismos que degradam o substrato.
104
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