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Fundação Armando Alvares Penteado Curso de Arquitetura e Urbanismo História da Arquitetura e Urbanismo V Professora Maria Cristina Wolff O ESTILO INTERNACIONAL São Paulo, 24 de setembro de 2015. Luana Bueno | Patricia Sturm | Ingrid Garcia | Carolina Simão

Estilo Internacional - FINAL COM CONCLUSAO

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Fundação Armando Alvares PenteadoCurso de Arquitetura e Urbanismo

História da Arquitetura e Urbanismo V

Professora Maria Cristina Wolff

O ESTILO INTERNACIONAL

São Paulo, 24 de setembro de 2015.

Luana Bueno | Patricia Sturm | Ingrid Garcia | Carolina Simão

ÍNDICE

Introdução.................................................................................................................................03

Contexto Histórico.....................................................................................................................04

O Estilo Internacional

Definição..............................................................................................................06

Características.....................................................................................................08

Protagonistas.......................................................................................................08

Principais Obras...................................................................................................09

O Estilo Internacional no Brasil............................................................................21

Conclusão.................................................................................................................................23

Bibliografia.................................................................................................................................24

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1. Introdução

Ao longo deste trabalho iremos explicar o que foi estilo internacional, que é o ponto focal do nosso estudo. Primeiro, iremos introduzir o contexto histórico da época em que ele foi estabelecido e além disso, serão destacados os principais artistas, arquitetos e figuras marcantes neste contexto, que de certa forma, nos deixaram algo significativo em sua arquitetura ou ideais.  Citaremos as diferentes obras que localizamos ao longo do capítulo estudado, de maneira que seja feito um rápido panorama sobre elas de maneira cronológica. Por fim, focaremos e detalharemos o projeto do Pavilhão de Mies Van der Rohe e a sua importância, além de análises arquitetônicas projetuais e estruturais, que facilitem o entendimento e o porquê de sua importância e escolha. Ao final, amarraremos com uma rápida conclusão sobre os estudos feitos e a sua importância  e como estes nos ajudaram a entender os temas retratados ao longo do trabalho.

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2. Contexto Histórico

A Primeira Guerra Mundial foi um fator determinante para a diminuição do ritmo da construção civil que estava se desenvolvendo na primeira década do século XX.

Após a Segunda Guerra Mundial, quando o ritmo da construção civil foi retomado, os construtores se depararam com uma situação social, econômica e tecnológica muito modificada.

A Segunda Guerra acelerou o desenvolvimento da indústria, de forma quantitativa e tecnológica. E em decorrência desse desenvolvimento, ocorreu um grande crescimento populacional urbano.

A classe operária, que contribuiu e sofreu com o esforço bélico mais do que qualquer outra classe social, veio adquirindo um peso político; a revolução bolchevique demonstrou que o proletariado pode conquistar e manter o poder; na arte, com os movimentos experimentais e de vanguarda, realizou transformações radicais não só da estrutura e da finalidade, mas também, da figura social do artista. A burguesia, por sua vez, está se transformando em uma classe de técnicos dirigentes.

Devido a todas estas transformações de seus conteúdos e de seu dinamismo funcional, devido também ao crescente desenvolvimento da mecanização dos serviços e transportes, a estrutura da cidade já não responde mais às exigências sociais. Já não há mais qualidade de vida e há o aumento no preço dos terrenos. Essa pressão populacional faz com que a cidade cresça em direção as suas periferias, mas também faz com que aumente a densidade nos centros urbanos aumente. O problema urbanista, que antes da guerra, quase nada significava, agora se apresenta com extrema gravidade e premência. Este aumento de densidade no núcleo da cidade transformou-se na verticalização dos prédios.

A cidade possui um aspecto funcional, a cidade deve ser um organismo produtivo, com força de trabalho, por isso deve se desvencilhar de tudo que atrasa ou emperra seu funcionamento. Possui um aspecto social, a classe operaria é agora, o componente mais forte da comunidade urbana. Possui um aspecto higiênico, em dois sentidos, o fisiológico e o psicológico, a cidade-fábrica é insalubre e é um ambiente opressor e alienante. Possui um aspecto político, para a cidade ter um aspecto ágil e funcional, é necessário tirá-la das mãos de quem a explora por seu próprio benefício. O que impediu e ainda hoje impede a melhoria da estrutura urbana à função e é a causa da desordem das cidades, é a especulação imobiliária.

Todos estes fatores modificam drasticamente o papel profissional do arquiteto, pois antes de ser um construtor, ele deve ser um urbanista, deve projetar o espaço urbano das cidades que estão em decadência. Imediatamente é possível distinguir os que querem se beneficiar através da especulação imobiliária, que acabam piorando as condições da cidade, dos que tem consciência de sua função profissional, que tentam propor projetos de utilização racional dos terrenos, se opondo à exploração descontrolada dos mesmos. Já não se trata da distinção entre empíricos e teóricos, entre artistas e engenheiros; e sim uma distinção de ordem moral, onde os arquitetos que se propõem a resolver os problemas funcionais das cidades são os únicos que alcançam resultados esteticamente validos.

A luta pela arquitetura moderna foi uma luta política, inserida no conflito ideológico entre forças progressistas e reacionárias; e uma prova desta disputa é o fato de que onde as forças reacionárias tomaram o poder e sufocaram as forças progressistas, a arquitetura moderna foi reprimida e perseguida. A arte no século XX é uma manifestação da revolução que se dá na sociedade e na cultura deste período, tanto no nível tecnológico, quanto no nível das comunicações, da indústria, da guerra, das revoluções sociais e do comportamento.

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Uma nova sociedade está surgindo no ocidente, e esta sociedade é marcada pelo consumismo, pela cultura de massa e a de comunicação. As artes plásticas têm um novo parâmetro de comparação que não está mais na realidade concreta, e sim na revisão da própria arte e dos meios de comunicação: o cinema, a televisão e a indústria fonográfica.

A arquitetura moderna se desenvolveu em todo o mundo segundo alguns princípios gerais: o planejamento urbano sobre o projeto arquitetônico; economia na utilização do solo, resolvendo o problema de moradia; a racionalidade das formas arquitetônicas; os recursos tecnológicos, a pré-fabricação em série, a industrialização; a concepção de arquitetura como condicionantes do progresso social.

Unindo todos os propósitos racionalizadores e funcionalistas da arquitetura da Revolução Industrial, que tiveram seu campo de experimentação entre 1890 e 1914, são criadas, no pós-guerra, diferentes opções arquitetônicas com objetivos e método muito próximos, com um repertorio formal e com muitas relações até condicionar quase um “Estilo Internacional”, que apresenta semelhanças com diversas vanguardas pictóricas, especialmente o cubismo, e é baseada em alguns princípios da arquitetura moderna.

Entre 1925 e 1940, esta orientação racionalista difunde-se por toda a Europa, sendo por obras isoladas ou por métodos construtivos novos. Pode-se dizer que o racionalismo arquitetônico é a depuração da arquitetura, deixando somente o essencial o prático e o funcional para cada situação.

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3. O Estilo Internacional

3.1. Definição

O termo Estilo Internacional, dentro do contexto arquitetônico, refere-se à arquitetura funcionalista e racionalista produzida, sobretudo entre os anos de 1930 a 1950 no mundo ocidental. Arquitetos começaram a desenvolver um estilo com características em comum, que consideravam adequados a uma vida moderna em busca de novas formas arquitetônicas e sociais, pois viram a necessidade da criação de uma nova forma de viver e habitar que até então eram desconhecidas, como prédios, blocos de apartamentos, fábricas que comportassem uma grande quantidade de maquinário e de operários. Os avanços técnicos dos materiais de construção possibilitaram novas estruturas, e com a industrialização e a produção em massa possibilitou que a produção que começou ser realizada, pudesse facilmente adaptar-se às necessidades de todos os países, daí o caráter internacional do movimento.

O Estilo Internacional pode facilmente ser confundido com a Arquitetura Moderna, ambos se diferenciam pelo simples fato de a Arquitetura Moderna englobar vanguardas e manifestações anteriores e posteriores.

Deve-se a Henry-Russel Hitchcock, um dos mais importantes historiadores da arquitetura americana a expressão Estilo Internacional, usada pela primeira vez no seu livro Modern Architecture.Romanticism and Regionalism em 1929. Hitchcock apenas tinha intenção de dar nome a certa arquitetura europeia dos anos 1920, caracterizando o Estilo ao enfatizar as texturas superficiais, a ornamentação reduzida às formas abstratas, sem nenhuma referência ao passado, a priorização do volume e do plano, em detrimento do chamado valor de massa, analisando assim as obras de arquitetos europeus, como: Le Corbusier, Jacobus Oud, André Lurçat, Gerrit Rietveld e Mies van der Rohe.

O termo foi realmente reconhecido em 1932 na primeira exposição de arquitetura moderna “The Internacional Style: Architecture Since 1922”, realizada no MOMA – Museum of Modern Art, em Nova Iorque, fruto da parceria de Hitchcock com Philip Johnson, jovem filósofo ainda não graduado em arquitetura. A exposição caracterizava a produção arquitetônica desde os anos de 1920 a 1960, revelando à estética racionalista, os programas funcionalistas, as composições harmônicas, as proporções, e as novas técnicas e materiais. Em paralelo, Hitchcok e Johnson publicaram o livro The International Style: Architecture since 1932,  onde definiram os princípios estéticos do estilo, sendo: o predomínio do volume sobre a massa, espaços definidos por planos muito leves, regularidade prevalecendo sobre a simetria, uso de materiais suntuosos, perfeição técnica em lugar da ornamentação, flexibilidade de planta e esmero nas proporções.

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Bairro Weissenhof. Projeto de Le Corbusier.

O estilo internacional além da repercussão na arquitetura, também foi manifestado no design e mobiliário produzidos na época. No design aplicou-se a máxima clareza, layouts estruturados, nitidez, minimalismo, fotografias objetivas, funcionalidade, levando-se em consideração as necessidades do homem e a compreensão da mensagem, enquanto no mobiliário percebe-se a preocupação em conforto e praticidade, linhas retas, e uso de material como o aço tubular.

À direita uma cadeira produzida antes da Bauhaus, cheia de ornamentos e a esquerda a Cadeira Wassily, 1925 – Marcel Breuer.

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3.2. Características

Padronização da forma visual através de informações simples, concretas e racionais.

Formas geométricas puras e simples, “Less is more”.

Rejeição ao passado, principalmente a ornamentação.

Edifícios econômicos limpos e funcionais.

Grandes aberturas (janelas), possibilitadas através das fachadas livres.

Importância não edifício em si, mas sim de sua perspectiva urbana. O desenho urbanístico e a organização das cidades começam a se tornar importantes.

A estrutura dos edifícios seguem os princípios do racionalismo: pilares e as vigas de concreto armado.

Estética exterior de aço e vidro.

Plantas Livres.

3.3. Protagonistas

No Estilo Internacional temos grandes arquitetos como:

Walter Gropius Mies Van Der Rohe Le Corbusier Richard Neutra Rudolf Schindler Frank Lloyd Wright Philip Johnson

Alguns arquitetos da época rejeitavam a rotulação de funcionalistas e negavam o estilo, Rudolf Schindler, por exemplo. Assim, iam contra a criação de um estilo por não se considerarem estilistas e por não fazerem uma arquitetura pertencente a um período, almejavam que suas obras fossem atemporais.

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3.4. Principais Obras

Para conseguirmos entender claramente o estilo de um período, devemos nos aproximar e depois nos afastar de elementos comuns. Podemos ter uma ideia do que divergências de estilo pessoal significam quando consideramos duas edificações seminais dos anos 1920, a Casa Cook, de Le Corbusier, de 1926 e a Casa Schröder, de Rietveld, de 1923-1924. As duas têm mais em comum entre si do que com qualquer moradia expressionista ou Art Nouveau, mas ao mesmo tempo, as diferenças entre elas são muito notáveis.

A principal característica do projeto da Casa Cook é a alocação de espaço, que é inversa, os quartos foram colocados no primeiro pavimento, às salas de estar e jantar estão no segundo pavimento e no terceiro pavimento estão a biblioteca e o terraço. Todo o projeto foi ordenado pela disposição da escada, o pavimento térreo é um andar aberto, sobre pilotis. O acesso é feito através de um hall que recebe o pedestre do lado esquerdo, no centro estão às escadas que levam aos andares superiores. Os jardins se localizam na parte posterior da casa, junto à área de serviços. No primeiro pavimento, temos os quartos e os banheiros, os quartos são muito amplos e “abraçam” as escadas. No segundo pavimento há uma sala com pé direito duplo, uma sala de jantar e a cozinha. Tanto a sala de estar quanto a sala de jantar tem vista para o principal acesso ao pátio. E no terraço, há uma biblioteca, que possui um piso de madeira que liga ao terraço principal.

Como na maior parte de suas casas, Corbusier utiliza lajes encasetonadas e um sistema de cofragem, que deixam à laje e o piso plano e aberto. Na estrutura, utiliza pilotis divididos em três seções, que são refletidas na planta.

Le Corbusier utiliza o concreto, argamassa como revestimento e argila, para obter superfícies lisas nas paredes. Usa também, perfis e chapas de vidro, aço extrudado para o piso em madeira e grades de perfis tubulares.

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Uma das principais características da Casa Schroder é a sua flexibilidade dos espaços interiores e a qualidade planimétrica que a torna mais singular em cada nível. O piso superior pode ser configurado como um grande espaço aberto e por meio de placas deslizantes e rebatíveis, sendo que o pavimento inferior mantém a configuração espacial mais tradicional e a relação entre os pavimentos é adquirida por meio da utilização de vidro no topo das portas. Com preocupação nas melhores vistas, Rietveld procurou uma relação entre área interna e externa como a janela do pavimento superior que foi feita parecendo que ela não existisse quando abrisse, criando uma relação direta com a paisagem externa.

A escolha das cores mostra sua clara influência do movimento “De Stjil” e das obras de Piet Mondrian, sendo marcada pelo uso de cores primárias. Nas áreas internas foram utilizados tons cinza nas paredes e nos tetos e nos elementos rebatíveis e nas estruturas metálicas a cor preta. Na parte externa utiliza-se a cor branca para ressaltar a intersecção dos elementos metálicos pretos, além de alguns detalhes nas cores vermelha amarela e azul.

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No primeiro pavimento, os cômodos são organizados em torno da escada central, sendo constituída por cozinha, três quartos, sala de leitura, quarto de empregada, escritório e depósito. Já no segundo andar, a área de estar em planta parece ser a sala principal, por conta de os elementos rebatíveis não aparecerem, constituindo uma forma de burlar as rígidas legislações da época. Assim o espaço pode ser utilizado como uma sala ampla ou subdivido em três quartos, banheiro e sala de estar.

As fachadas são constituídas por planos e linha que dão a impressão de estarem flutuando no espaço, com a utilização varandas. Cada componente apresenta sua própria forma, posição e cor destacando suas características plásticas.

O que mais surpreende na comparação destas duas obras é a diferença na ênfase espacial entre a caixa planar de Le Corbusier, que tem um uso irregular de pilotis e paredes internas, e os planos explodidos de Rietveld, que se sobrepõem, essas são as diferenças cruciais entre Purismo e De Stijl.

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Já o ano de 1927, foi o ano de “maturação” do novo estilo, neste ano foram construídas diversas obras em que formas podiam ser previstas e problemas estavam sendo solucionados a partir de descobertas que cada vez mais se confirmavam, um exemplo claro de todas estas realizações é a Casa Lovell, que é uma casa extravagante e progressista, foi feita com base em estruturas de aço, que era a mesma tecnologia usada nos arranha-céus. Ela foi projetada por Richard Neutra e construída entre 1927 e 1929, sendo uma de suas características mais marcantes sua estrutura leve, com pilares perimetrais, fazendo com que a construção se encaixe perfeitamente com o entorno e o terreno.

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O estilo que havia sido pioneiro em pequenas vilas, agora, precisava lidar com programas cada vez maiores e mais complexos, e precisava, ainda assim, mostrar sua utilidade. Os prédios da Bauhaus, em Dessau, foram um caso em que a arquitetura usou variações no sistema, pois precisava organizar uma variedade de funções e volumes. O Campus da Bauhaus foi fundado por Gropius. O edifício principal é feito de concreto armado e alvenaria, com esquadrias marcantes. Os blocos são dispostos em forma de hélice no terreno. O projeto inclui salas de aula, estúdios, escritórios, refeitórios, salas de reuniões e alojamentos para alunos e para professores. Mas, o prédio foi abandonado porque, de acordo com Mies van der Rohe, a Bauhaus foi transferida para Berlim.

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Outro caso foi o da Fábrica Van Nelle, é um edifício moderno do final de 1929, nos arredores de Roterdã. É considerada uma das construções mais importantes no âmbito industrial moderno. Feita por Johannes Brinkman y Leendert van der Vlug, apresenta grande influência do construtivismo russo. As principais funções da produção foram dispostas em três edifícios conectados, cada um mais alto que o seguinte, fazendo com que o prédio fosse escalonado.

Os espaços internos possuíam uma planta livre e eram apoiados por uma grelha de colunas que sustentavam lajes cogumelo; estas lajes eram em balanço, para que as fachadas envidraçadas pudessem acontecer sem interrupção, para que o ambiente fosse iluminado e ventilado. O prédio mais alto estava unido à principal ala de escritórios por uma passarela envidraçada de formato quase circular, neste local, convidados podiam observar o grupo de prédios abaixo. A ênfase horizontal foi suavizada por verticais que continham os elevadores e tubulações. O programa da Fábrica Van Nelle sugeriu um arranjo linear de blocos retangulares; o Sanatório Zonnestraal, localizado na cidade holandesa Hilversum, construído entre 1919 e 1940, pelos arquitetos Jan Duiker e Bernard Bijvoet. Possuía uma planta mais dispersa, já que suas funções eram a de um complexo médico, um bloco administrativo e pátios individuais lineares. Os volumes estavam dispostos em forma de borboleta, com a administração e os serviços comunitários onde seria a cabeça e as alas medicas onde seriam as asas. Quando foi construído, o projeto era bastante conhecido, porém, com o tempo, os edifícios foram abandonados e quase desapareceram, “engolidos” pela vegetação de seu entorno. Algumas partes do sanatório tiveram que ser reconstruídas, incluindo alguns elementos industriais que não são mais fabricados e, tiveram que ser refeitos artesanalmente. O projeto é geometricamente racional e é considerado uma preciosidade da arquitetura do século XX.

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O Estilo Internacional tinha alguns adeptos que não entendiam totalmente os princípios básicos e que adotavam as formas como um simples adorno externo, como se fossem embalagens ao invés de uma expressão de um significado mais profundou o resultado da atenção à funcionalidade sugerida pela tarefa. Este era um dos perigos ao chamar a nova arquitetura de “estilo”. Para os funcionalistas intransigentes, definições como estas eram irrelevantes, todo estilo era uma imposição falsa. Em 1929, o engenheiro-filósofo Richard Buckminster Fuller projetou uma casa envidraçada de base hexagonal ao redor de um mastro central ao qual se prendiam todas as instalações, foi pensada como uma unidade autônoma e de produção em série, podendo ser facilmente transportada para qualquer lugar. Um novo protótipo foi desenvolvido em 1944 e construído em 1946, a Casa Dymaxion Wichita, um modelo circular revestido de alumínio, que aplicava conceitos da indústria aeronáutica. Fuller declarou que esta casa era muito mais ligada à otimização funcional e tecnológica do que as produções cosméticas do movimento moderno, que ele rejeitara prontamente.

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Alguns arquitetos rejeitavam tentativas de igualar a arquitetura moderna a qualquer estilo, não apenas porque isso era exclusivo demais, mas também, porque eles desejavam enfatizar que valores arquitetônicos duráveis estavam além do alcance de estilos.

A Casa de Vidro, projetada por Pierre Chareau de Bernard Bijvoet, em 1928-1931, foi outra obra da época que desafiava a caracterização superficial. Ela foi projetada com a intenção de unir as funções de uma clínica e uma casa particular. Os principais materiais utilizados neste projeto foram, tijolos de vidro e uma estrutura de aço, composto em uma estética linear que remete às tramas de madeira e às divisórias da construção japonesa tradicional. Possui uma planta complexa que reflete a necessidade de separar o lar da profissão e procura obter o máximo de luz natural possível em um terreno urbano apertado e, ao mesmo tempo, preservar a privacidade. O tijolo de vidro foi usado para criar um véu, que filtra a luz externa para o interior e ao mesmo tempo mantem o lado externo afastado, dando privacidade ao interior da casa.

O espaço que mais impressionante é a sala de estar, que é, ao mesmo tempo, uma biblioteca de pé direito duplo, com mezaninos suspensos e suas persianas ajustáveis. As instalações elétricas passavam por tubos de metal que iam do chão ao teto e as tomadas eram conectadas diretamente a estes tubos. A Casa de Vidro era considerada uma “máquina de morar”. O brilho do vidro e a finura do alumínio remetiam a aviões, ou objetos produzidos em série.

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De acordo com Henri Focillon, “o tempo que oferece apoio à obra de arte não oferece definição nem ao seu princípio nem à sua forma especifica”. Esta observação soa muito pertinente em relação a uma obra-prima do movimento moderno, o Pavilhão de Barcelona, de 1928-1929, de Mies van der Rohe.

Mies van der Rohe era considerado um dos arquitetos mais importantes do século XX e do modernismo, ele sempre buscou a racionalidade que guiasse seus projetos e possuía o conceito de minimalismo, “Less is more”.

O pavilhão foi construído como uma estrutura temporária para a Exibição Internacional do ano de 1929 é o ponto culminante de um processo de melhorar a qualidade dos produtos industriais alemães, que eram considerados inferiores aos ingleses, feanceses, belgas e americanos. O Pavilhão tinha a função de representar os valores culturais da “nova Alemanha”, que se afastava cada vez mais de seu passado imperialista.

O Pavilhão de Barcelona é considerado um marco na história da arquitetura moderna, é conhecido por sua geometria depurada e pelo uso de materiais tradicionais, era, por assim dizer, História da Arquitetura e Urbanismo | O Estilo Internacional 17

uma jóia arquitetônica. Uma composição elementarista, onde tudo era reduzido ao mínimo e elevado a um nível ideal na perfeição do desenho e na qualidade dos acabamentos e dos materiais. Travertino foi usado no piso, mármore verde polido, ônix dourado, vidros esverdeados, metal cromado, isso tudo atribuía ao Pavilhão um caráter inefável.

O prédio foi considerado um tour de force, pois demonstrava o poder da invenção estrutural moderna que cria efeitos espaciais sem precedentes. Possui uma laje fina que está pousada sobre oito pilares cruciformes de aço cromado, que remetia à estrutura Dom-ino. Esses pilares eram compostos de quatro perfis de aço, montados entre si para formar uma cruz grega e, eram revestidos com chapas de metal cromado polido. Possuía algumas paredes portantes e a trama estrutural estava longe de ser um instrumento de padronização de baixo custo. Esta estrutura foi colocada na extremidade de um pódio elevado em justaposto com dois espelhos d’água retangulares. O sofito era branco e a união com o topo das colunas era lisa, fazendo com que a laje parecesse estar flutuando em paralelo à água e ao chão. A planta baixa do Pavilhão parecia uma pintura abstrata, que gerava um ritmo de espaços planos.

Os interiores foram mobiliados com pesadas cadeiras de couro com flanges de aço cromado, as chamadas “cadeiras Barcelona”. Os moveis foram agrupados formalmente como antiguidades.

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Existia uma estrutura feminina clássica contemporânea alocada próxima à uma das piscinas, o que dava um toque de excentricidade a rigorosidade retangular das formas modernas de Mies

As superfícies de pedra, que foram cortadas com precisão, estabelecem um ritmo e o jogo de luz sobre os materiais, a água, o mármore, o vidro e o aço, dá uma ideia de leveza. A transição do exterior para o interior do edifício é feita em camadas sensoriais, e durante este processo de entrada, se entende como as divisórias unem o lado interno com o externo. Os pilares acentuam verticalmente a luz, o mármore e o ônix são refletivos. Os planos de vidro são vistos todos de uma vez, eles se desmaterializam sob a luz e a agua se mistura à essa mudança.

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Nos termos de Mies, o Pavilhão Alemão de Barcelona foi uma síntese de lajes horizontais, estruturas moduladas e do tipo de planta baixa com um eixo giratório que ele utilizara em suas obras anteriores.

Mas o Pavilhão de Barcelona, assim como a Casa Schröder, os prédios da Bauhaus ou as vilas de Le Corbusier, era uma solução para problemas de expressão comuns do período. Não surpreende o fato de que Hitchcock e Johnson tenham selecionado o Pavilhão como exemplo para o Estilo Internacional.

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3.5. O Estilo Internacional no Brasil

No Brasil pouco se tem do puro Estilo Internacional, devido a alguns fatores determinantes, além de ser muitas vezes confundido com o Movimento Moderno como um todo.

A implementação do Estilo chegou para nos na década de 1960, fruto principalmente da industrialização, a nossa indústria ainda estava nascendo se comparada a industrialização internacional. Até o Estilo chegar aqui, as puras características do estilo já tinham sido mesclada com ideias como a do brutalismo e do expressionismo mega-estrutural, típicos da década de 1950. Fomos influenciados tanto pelos princípios racionalistas de Le Corbusier, como também pela sua liberdade projetual, Arquitetos modernos no país como Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Afonso Eduardo Reidy, Carlos Leão, Rino Levi e Vilanova Artigas, possuem uma obra bastante fundamentada em suas ideias.

O Estilo Internacional teve sua verdadeira representação no Brasil nas obras de:

Giancarlo Palanti, o Edifício Conde Prates - 1952

Henrique Mindlinm, o Edifício Avenida Central - 1958

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Franz Heep, o Edifício Itália - 1956

Rino Levi - Banco Sul-Americano

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4. Conclusão

Ao longo deste trabalho percebemos que a arquitetura sofreu diversas alterações com o passar do tempo, sempre adaptando-se á época em que estava inserida e para diversas finalidades. No Estilo Internacional, a arquitetura se adapta as mudanças da época e as novas tecnologias, sendo funcional e racional, suprindo as necessidades da população. Percebe-se que devemos dar a devida atenção ao Estilo Internacional como arquitetura e modo de expressão e não apenas como um “estilo” a ser seguido, meramente estético, mas sim, o exterior seria resultado de um projeto funcional e racional, proveniente desde período, que utiliava-se das técnicas e materiais disponíveis da melhor maneira. Tentavam alcançar a perfeição técnica, através de plantas flexíveis. Sendo assim, conseguimos compreender o que foi o Estilo Internacional para o período em que estava inserido, além das consequencias que trouxe para épocas posteriores, de grande influencia para a historia da arquitetura. Além disso, os grandes arquitetos da época, refletem as características citadas acima em suas obras e deixam um grande legado para estudo e referência de projetos respeitando a história sem renunciar a expressão. Observa-se que apesar do estilo ter sido criado em 1932, é usado até os dias de hoje.

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5. Bibliografia

ARGAN, Giulio Carlo; Arte moderna; São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

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FRAMPTON, Kenneth. História crítica da arquitetura Moderna; São Paulo: Perspectiva, 1996.

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CURTIS, Wiliiam j. r.. Arquitetura moderna desde 1900 – Terceira edição.

FRAMPTON, Kenneth. “História Crítica da Arquitetura Moderna” São Paulo: Editora Martins Fontes, 1997.

ZEVI, Bruno. “A Linguagem Moderna da Arquitetura” Lisboa, Publicações Dom Quixote, Coleção Arte e Sociedade, 1984.

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