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0 FACULDADE MARIA MILZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL E MEIO AMBIENTE EUDES RAMOS MATEUS DESFIBRAMENTO DA Agave sisalana NO MUNICIPIO DE CONCEIÇÃO DO COITÉ BA: PROPOSTA DE APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS GOVERNADOR MANGABEIRA-BA 2017

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FACULDADE MARIA MILZA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO

REGIONAL E MEIO AMBIENTE

EUDES RAMOS MATEUS

DESFIBRAMENTO DA Agave sisalana NO MUNICIPIO DE CONCEIÇÃO DO COITÉ – BA: PROPOSTA DE APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

GOVERNADOR MANGABEIRA-BA

2017

1

EUDES RAMOS MATEUS

DESFIBRAMENTO DA Agave sisalana NO MUNICIPIO DE CONCEIÇÃO DO

COITÉ – BA: PROPOSTA DE APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente da Faculdade Maria Milza – FAMAM, como parte dos requisitos para a obtenção de título de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.

Prof.ª Dr.ª Claudia Cecilia Blaszkowski de Jacobi Orientadora

Prof. Dr. Frederico de Medeiros Rodrigues

Co-orientador

GOVERNADOR MANGABEIRA-BA

2017

2

3

4

Ofereço esta dissertação a Deus,

que me capacitou e colocou em meu

caminho pessoas especiais, possibilitando

as oportunidades que contribuíram

significativamente para meu crescimento

pessoal e intelectual.

5

Dedico essa dissertação à minha

família, o porto seguro para todos os

momentos da vida, sejam eles de júbilo ou

dissabor.

AGRADECIMENTOS

6

A Faculdade Maria MIlza, na pessoa de seu diretor, professor Weliton

Antonio, pela ousadia na implantação do primeiro Programa de Mestrado do interior

da Bahia, o que se converteu em oportunidade para meu crescimento pessoal,

intelectual e profissional.

A professora Cláudia Jacobi, orientadora desse trabalho, por seus

ensinamentos, interesse, amizade e, principalmente, pela generosidade em

compartilhar seu conhecimento, marca maior dos grandes mestres.

Ao professor Frederico Rodrigues, co-orientador desse trabalho, pelo

entusiasmo e interesse sempre manifestos a cada encontro, contribuindo

significativamente com sugestões importantes e pertinentes.

Aos professores Sérgio Lemos e Mariane de Jesus pela generosidade

em contribuir sempre que foram demandados, apesar de tantos afazeres e

responsabilidades.

A professora Elizabete Rodrigues, coordenadora do Programa de

Mestrado, pela compreensão e incentivo.

A todos os professores do Mestrado em Desenvolvimento Regional e

Meio Ambiente, pelo conhecimento compartilhado.

A Elisângela Araújo , Andréia Velosoe e Jamile Maria , pelo carinho e

presteza dedicados.

Aos senhores proprietários das sisaleiras pesquisadas, por suas

valiosas contribuições para o desenvolvimento deste estudo.

Aos 75 moradores do entorno das sisaleiras que participaram desta

pesquisa pela disponibilidade e boa vontade em contribuir.

7

Aos colegas de mestrado, pelo convívio agradável, a amizade

compartilhada e a cumplicidade nos momentos difíceis, em particular a Gildásio

Gomes, Max Wiliams, Romualdo Almeida, Simone Lima, Camilo Castro, Cléria Silva,

Wdileston Gomes, Mônica Machado, Eliete Serra, Pedro Paulo, Greice Vana e Kátila

Conceição pelo incentivo e boa vontade em servir.

A Família CEB (Colégio Estadual de Bandiaçu), equipe gestora,

colegas professores, funcionários e alunos pela compreensão, carinho, apoio e

incentivo dispensados.

8

“A descoberta consiste em ver o que todos

viram e em pensar no que ninguém pensou”

Albert Szent Györgyi

9

RESUMO

As fibras naturais têm sido amplamente estudadas, dada a sua importância

econômica e ambiental, por serem uma alternativa que apresenta muitas vantagens,

como biodegrabilidade e origem em fontes renováveis. Dentre elas, destaca-se a

fibra de sisal, oriunda da Agave sisalana, que se tornou importante fonte de recursos

para o nordeste brasileiro, em particular no estado da Bahia. O presente estudo tem

como objetivo apresentar uma proposta para o aproveitamento dos resíduos sólidos

gerados no processo de desfibramento da Agave sisalana realizado nas sisaleiras

de grande porte do município de Conceição do Coité – Bahia. Metodologicamente,

trata-se de uma pesquisa descritiva de natureza qualitativa e quantitativa, realizada

através de visitas in loco, entrevistas e registros fotográficos, buscando conhecer

como se desdobra o processo de beneficiamento da fibra de sisal, a geração dos

resíduos sólidos e os problemas de saúde causados pelas partículas em suspensão

e justifica-se por possibilitar o aproveitamento adequado dos resíduos produzidos no

beneficiamento da fibra. Os resultados mostram que as pessoas que residem perto

das sisaleiras sofrem de problemas respiratórios e cutâneos que poderiam ser

evitados pelo manejo adequado dos resíduos (partículas em suspensão). Portanto,

propõe-se a transformação desta matéria particulada em biocombustíveis sólidos

(briquetes) que reduziriam a quantidade de pó de sisal no ar, agregando valor aos

mesmos e evitando o seu descarte de forma inadequada no meio natural. Espera-se

que esta pesquisa seja base para o aprimoramento da cadeia produtiva e contribua

com estudos futuros que gerem inovações relevantes para a indústria sisaleira.

Palavras-chave: Sisal. Resíduos Sólidos. Briquetes. Saúde.

10

ABSTRACT

Natural fibers have been widely studied due to their economic and environmental

importance, for they are biodegradable and renewable resources. Sisal (Agave

sisalana) is one of this fibers that grows in the Northeast of Brazil, especially in the

state of Bahia. The aim of this study was to present a recycling proposal for the solid

residues that result from the sisal unraveling process carried out in the factories

located in Conceição do Coité – Bahia. This was a descriptive research within a

qualitative and quantitative approach consisting of visits in loco, interviews and

photographs to understand the beneficiation process, the residue generation and the

health problems caused by that particulate matter. Our results show that people

leaving close to the sisal fiber factories suffer from respiratory and skin problems that

could be avoided by proper handling of the particulate matter. Therefore we propose

the transformation of this particulate matter into solid biofuel (briquettes) that would

reduce the amount of sisal dust in the air as well as its inappropriate disposal.

Key-words: Sisal. Solid residues. Briquettes. Health.

11

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Planta do sisal (Agave sisalana) .......................................................... 19

Figura 2- Detalhes das flores e do fruto da Agave sisalana ................................ 20

Figura 3- Micrografia da superfície e detalhe da morfologia da fibra de sisal ...... 21

Figura 4- Detalhes do corte, enfeixamento e transporte das folhas do sisal ....... 22

Figura 5- Desfibramento primário das folhas do sisal .......................................... 22

Figura 6- Fluxograma do processo de produção da fibra de sisal no campo ...... 23

Figura 7- Localização do município de Conceição do Coité - Bahia .................... 25

Figura 8- Processo de desfibramento do sisal realizado nas sisaleiras ............. 26

Figura 9- Processo de seleção manual das fibras de sisal .................................. 27

Figura 10- Prensa hidráulica de sisal e fardo já prensado e etiquetado .............. 28

Figura 11- Classificação dos resíduos segundo a norma NBR-104/2004 ........... 29

Figura 12- Fluxograma dos procedimentos de coleta de dados .......................... 37

Figura 13- Fibra bruta oriunda da zona rural sendo acondicionada no caminhão

para ser transportada até a sisaleira .................................................................... 40

Figura 14- Sequência onde se observa os processos de pesagem, seleção das

fibras e desfibramento/coloração ......................................................................... 41

Figura 15- Sequência de imagens onde se observa o processo de enrolamento

das fibras, transformando-as em fios e cordas para exportação .......................... 41

Figura 16- Sequência de imagens que mostra o processo de prensagem e a

produção de fardos da fibra beneficiada para exportação ................................... 42

Figura 17- Sequência de imagens onde se observa a presença de coifas que

coletam o pó, dutos e exaustor que o levam até o processo automatizado de

ensacamento do mesmo e o acondicionamento do resíduo já ensacado ............ 42

12

Figura 18- Sequência de imagens onde se observa a chegada da fibra bruta

trazida por caminhões da empresa e o processo automatizado de pesagem ...... 43

Figura 19- Sequência de imagens que mostra o processo de batimento das fibras,

sua transformação em fios e cordas e sua etiquetagem para exportação ........... 43

Figura 20- Sequência de imagens que mostra o processo de seleção das fibras já

beneficiadas, prensagem e produção de fardos................................................... 45

Figura 21- Sequência de imagens que mostra as coifas, o exaustor e os dutos

coletores do pó, que é acondicionado em local parcialmente fechado ................ 45

Figura 22- Sequência de imagens que mostra a chegada das fibras na sisaleira, o

sisal bruto já pesado e a balança usada para a pesagem manual ....................... 47

Figura 23- Sequência de imagens mostrando a seleção manual da fibra, a

prensagem com prensa parcialmente construída em madeira e o fardo de sisal

beneficiado já prensado ....................................................................................... 47

Figura 24- Sequência de imagens que mostra a chegada das fibras na sisaleira, o

sisal bruto já pesado e a balança usada para a pesagem manual ....................... 48

Figura 25- Sequência de imagens que mostra os briquete de origem vegetal já

produzidos e embalados para comercialização.................................................... 63

Figura 26- Briquetadeira de matriz aquecida ....................................................... 63

Figura 27- Esquema de funcionamento da briquetadeira de matriz aquecida ..... 64

Figura 28- Potencial de valorização e aproveitamento de resíduos agrícolas e

agroindustriais de origem vegetal ......................................................................... 65

Figura 29- Etapas pelas quais passa a matéria prima até sua transformação em

briquete ................................................................................................................ 67

Figura 30- Briquetadeira extrusora de matriz aquecida sem misturador ............. 68

Figura 31- Ano de fundação dos produtores de briquetes no Brasil......................71

13

LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Ranking nacional dos municípios produtores de sisal ........................ 24

Quadro 2- Descritivo/Comparativo dos níveis de tecnologia adotados nas

sisaleiras quanto a entrada da fibra, seu beneficiamento, coleta e

acondicionamento do resíduo (pó) ....................................................................... 49

Quadro 3- Distribuição da frequência dos entrevistados por sexo, faixa etária,

distância da sisaleira, tempo de residência e quantidade de residentes por

domicílio no entorno de S1, S2 e S3 .................................................................... 50

Quadro 4- Frequência de moléstias a partir da variável distância média,

considerando a totalidade das sisaleiras (S1, S2 e S3) ....................................... 52

Quadro 5- Frequência de moléstias a partir da variável tempo de residência

médio no entorno, considerando a totalidade das sisaleiras (S1, S2 e S3) ......... 53

Quadro 6- Quantidade total de casos de moléstias relatados pelos moradores do

entorno de S1, S2 e S3, considerando as variáveis tempo de moradia no entorno

e distância em relação às sisaleiras ..................................................................... 54

14

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Resumo da análise de variância não paramétrica (Kruskal-Wallis) para

variável distância total (DT) dos moradores do entorno em relação ás sisaleiras do

município de Conceição do Coité – BA, no período de março a abril de 2017......55

Tabela 2- Resumo da análise de variância não paramétrica (Kruskal-Wallis) para

tempo total (TT) de residência dos moradores do entorno das sisaleiras do

município de Conceição do Coité – BA, no período de março a abril de 2017 .... 56

Tabela 3- Valores medianos da incidência de casos/moléstias em função da

variável distância total (DT) dos moradores do entorno em relação às sisaleiras do

município de Conceição do Coité – BA da análise de postos do teste de Dunn...56

Tabela 4- Valores medianos da incidência de casos/moléstias em função do

Tempo Total (TT) dos moradores do entorno em relação às sisaleiras do

município de Conceição do Coité – BA da análise de posto do testes de Dunn...56

Tabela 5- Comparativo de desempenho do briquete comparado à lenha.............64

Tabela 6- Preços médios de compra de matérias-primas (sem frete)....................69

Tabela 7 – Preços médios de venda de briquetes (sem frete)...............................70

15

LISTA DE ABREVIATURAS

cm- centímetro ..................................................................................................... 18

%- por cento ......................................................................................................... 19

kg- quilograma ..................................................................................................... 20

km²- quilômetro quadrado .................................................................................... 23

RPM- Rotações Por Minuto .................................................................................. 26

MAPA- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento .............................. 26

NBR- Norma Brasileira de Regulamentação ........................................................ 28

TECPAR- Instituto de Tecnologia do Paraná ....................................................... 29

CONAMA- Conselho Nacional do Meio Ambiente ............................................... 30

USEPA- A Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos Estados Unidos ............ 31

MPS- Material Particulado em Suspensão ........................................................... 31

µm- micrômetro .................................................................................................... 31

PM10 – Material particulado de 10 micrômetros.......................................................31

PM2,5 – Material particulado de 2,5 micrômetros.....................................................31

COPD- Doenças Respiratórias Obstrutivas Crônicas .......................................... 32

m- metro ............................................................................................................... 35

CEREST- Centro de referência da Saúde do Trabalhador .................................. 35

LTDA – Companhia Limitada..................................................................................37

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...........................................38

16

S1- Sisaleira número um ...................................................................................... 39

t, ton – tonelada......................................................................................................39

S2- Sisaleira número dois .................................................................................... 42

S3- Sisaleira número três ..................................................................................... 45

DT- Distância Total ............................................................................................... 54

TT- Tempo Total ................................................................................................... 54

FV- Fator de Variância ......................................................................................... 54

GL- Grau de Liberdade ........................................................................................ 54

CO²- Dióxido de Carbono ..................................................................................... 61

H²O- Água ............................................................................................................ 61

mm – milímetro.......................................................................................................61

oC- grau centígrado .............................................................................................. 62

Kcal- Quilocaloria ................................................................................................. 66

m³- metro cúbico .................................................................................................. 66

Kw/h- Quilowatt hora ........................................................................................... 68

17

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................. 17

2. REVISÃO DE LITERATURA ........................................................................... 17

2.1 AGAVE SISALANA ........................................................................................ 17

2.2 PRODUÇÃO E BENEFICIAMENTO DO SISAL ............................................. 21

2.3 AS SISALEIRAS ............................................................................................. 24

2.4 RESÍDUOS SÓLIDOS E PRODUÇÃO SISALEIRA ....................................... 27

2.4.1 Conceito de resíduo .................................................................................. 27

2.4.2 Responsabilidade empresarial e impacto ambiental ............................. 29

2.4.3 Resíduos do sisal e saúde humana ......................................................... 31

2.4.4 Aproveitamento dos resíduos .................................................................. 33

3. METODOLOGIA .............................................................................................. 34

3.1 TIPO DE PESQUISA ...................................................................................... 34

3.2 COLETA DE DADOS ..................................................................................... 34

3.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO ................................................... 36

3.3.1 As sisaleiras .............................................................................................. 37

3.3.2 Os moradores do entorno ........................................................................ 37

3.4 ASPECTOS ÉTICOS...................................................................................... 38

4. RESULTADOS ................................................................................................. 38

4.1 AS SISALEIRAS ............................................................................................. 38

4.1.1 Sisaleira S1 ................................................................................................ 39

4.1.2 Sisaleira S2 ................................................................................................ 42

4.1.3 Sisaleira S3 ................................................................................................ 45

4.2 MORADORES DO ENTORNO ....................................................................... 49

4.2.1 O resíduo de sisal e a saúde .................................................................... 50

5. DISCUSSÃO .................................................................................................... 57

5.1 UMA ALTERNATIVA PARA MINIMIZAR OS PROBLEMAS DE SAÚDE DA

POPULAÇÃO ....................................................................................................... 59

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................. 71

REFERÊNCIAS .................................................................................................... 74

APÊNDICES ........................................................................................................ 81

ANEXO ................................................................................................................ 95

18

1 INTRODUÇÃO

O sisal, conhecido cientificamente como Agave sisalana, é um vegetal que faz

parte da família Agaveceae que engloba diversas espécies vegetais de região árida

como, por exemplo, a Agave tequillana, que origina a famosa bebida mexicana – a

tequila. Sua principal utilidade do sisal consiste no aproveitamento integral das

fibras, amplamente utilizadas na indústria de cordoalha e na fabricação de mantas

para uso industrial. Este vegetal se disseminou em diversas regiões do planeta,

dada a sua facilidade de adaptação e aclimatização (SILVA, 1999).

O México monopolizou sua produção e comercialização até a Primeira

Guerra Mundial. No ano de 1830, a planta foi exportada para a Flórida, nos Estados

Unidos e em seguida para a África Oriental e Brasil. Estudos afirmam que em 1903,

as primeiras mudas chegaram a Bahia (OASHI, 1999).

Segundo o pesquisador supracitado, foi somente em 1940, com a

contribuição do então secretário de agricultura Joaquim Medeiros, que a cultura do

sisal e seu beneficiamento se estabeleceram como atividade econômica em nosso

estado. Iniciada no município de Nova Soure, a exploração comercial do sisal se

iniciou com um plantio experimental de 2.000 plantas, desfibradas com uma pioneira

desfibradora denominada “Irene”, logo depois se espalhando por diversos

municípios de nosso estado, onde ainda é cultivado.

Assim, com o passar dos anos, o sisal (Agave sisalana) assumiu um

importante papel na economia baiana, em particular no semiárido. Mesmo com as

dificuldades relacionadas à falta de água, à precariedade educacional e à ausência

do poder público, esta cultura vem promovendo, ao longo dos anos, oportunidades e

geração de emprego e renda desde a preparação da terra, plantio, colheita,

passando pelo desfibramento, empregos na indústria e no artesanato local.

Neste contexto, o desenvolvimento de novas alternativas de produção que

viabilizem a competição da fibra com os fios sintéticos, a redução de custos de

produção, o aproveitamento dos subprodutos do desfibramento e a maior eficiência

no processo de descorticamento1, são fundamentais para elevar a sustentabilidade

da atividade sisaleira e promover a inclusão social das comunidades que subsistem

desta cultura.

1 Processo de primeiro desfibramento ainda no campo, que resulta na retirada do material celulósico da folha por raspagem mecânica.

19

Pesquisas publicadas apontam diversas alternativas de utilização e de

exploração econômica, como uso na fabricação de inseticidas, sabonetes, na

alimentação animal, nos adubos orgânicos, entre outras, contribuem positivamente

para alcançarmos esse quadro virtuoso (OASHI, 1999).

Contudo, ressalta-se que o beneficiamento da fibra realizado nas sisaleiras

interfere diretamente na questão ambiental, uma vez que, diferente do resíduo

molhado e pastoso gerado no campo, resultante do primeiro desfibramento, o pó

gerado nas sisaleiras é seco e se espalha em suspensão no ar ao redor do local de

descarte, contaminando outras áreas e tornando-se um risco iminente para as

populações humanas no entorno, estando inclusive associadas a problemas de

saúde de ordem respiratória (TRAVERSI, 2009).

Assim sendo, o objetivo do estudo é elaborar uma proposta de

aproveitamento de resíduos sólidos (pó) do desfibra mento da Agave sisalana nas

sisaleiras do município de Conceição do Coité, Bahia. Dentro desse contexto, ainda

citamos como objetivos específicos: caracterizar o sistema de produção das

sisaleiras na área de estudo; identificar e descrever o destino e quantidade de

resíduos sólidos produzidos, verificar a relação entre o resíduo seco do sisal (pó) e a

saúde dos moradores do entorno das sisaleiras e, finalmente, propor ações para o

aproveitamento dos referidos resíduos.

O estudo justifica-se por possibilitar o entendimento da cadeia produtiva do

sisal e propor o aproveitamento dos resíduos sólidos produzidos no beneficiamento

da fibra de sisal, agregando valor aos mesmos e evitando o seu descarte de forma

inadequada no meio ambiente, ocasionando danos ao mesmo e à saúde humana.

2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 A AGAVE SISALANA

O sisal (A. sisalana) é uma planta originária do México que se espalhou

rapidamente por diversas regiões do planeta, a exemplo dos continentes africano,

europeu e asiático. Resistente ao clima seco e ao sol intenso, a planta é cultivada

em regiões tropicais e subtropicais (CAMPBELL, 2007).

A morfologia do sisal é considerada simples, devido à preponderância da

reprodução assexuada da espécie. O sistema radicular do sisal tem a característica

20

de ser fibroso e fasciculado, emergindo da base do pseudocaule (roseta). A planta

(Figura 1) possui dois tipos diferentes de raízes: as fixadoras e as alimentadoras,

não possuindo um caule aéreo (caule verdadeiro), o que a classifica como uma

planta do tipo acaulescente. Há um tronco, chamado de pseudocaule, onde estão

inseridos as folhas e broto terminal, tendo a função de dar origem e sustentação ás

folhas. Estas possuem um formato linear lanceolado, são rígidas, de cor verde

escurecido com comprimento variando entre 120 e 160 cm, e com largura de 10 a 15

cm na sua parte média (SILVA et al., 2008).

Figura 1 – Planta do sisal (A. sisalana), observada de forma isolada e

distribuída em seu cultivo no campo

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Quanto à flor do sisal, Silva et al. (2008) ainda afirmam que:

O pedúnculo floral é uma grande panícula que cresce, no início e em

condições normais, 10 a 12 cm por dia; cada ramo produz

aproximadamente 40 flores e, por se tratar de uma planta monocárpica, ele

floresce uma só vez durante o ciclo vegetativo, morrendo posteriormente.

Esta é hermafrodita e acha-se agrupada em cachos situados no final de cada

ramo da panícula. Na floração do sisal, abrem-se as flores dos ramos inferiores e,

quando os seus estigmas são receptivos, os estames dos ramos imediatamente

superiores abrem-se, deixando cair seu pólen para fertilizar as flores logo abaixo

(Figura 2).

21

Figura 2 – Detalhes das flores e dos frutos da A. sisalana

Fonte: https://www.google.com.br/search?q=planta+do+sisal.

Os frutos possuem um formato capsular, medindo 3 cm de comprimento e 2

cm de diâmetro, de coloração verde e consistência carnosa nos estágios iniciais.

Após o seu amadurecimento, o que normalmente ocorre seis meses depois da

polinização, os frutos do sisal passam a ter coloração preta (Figura 02). As

sementes, que estão localizadas no interior do fruto, são delgadas, de tonalidade

preta, lustrosa e de forma triangular. Após a queda das flores, novas plantas são

desenvolvidas sobrea panícula, essas plantas são chamadas bulbilhos, formados

por tecido meristemático, com 6 e 10 cm e 6 a 8 folhas e pequenas raízes

adventícias. Estes bulbilhos se desconectam da planta após três meses e caem no

solo do entorno da mesma, gerando novas plantas de sisal (SILVA et al., 2008).

A fibra, principal produto extraído do sisal, tem uma estrutura formada por

várias células individuais (microfibras) unidas umas ás outras por meio de lamelas

intermediárias, constituídas basicamente de duas substâncias: hemicelulose e

lignina (CAMPBELL, 2007).

Em relação a sua composição química, as fibras e resíduos (pó) do sisal são

idênticos e já foi descrita por vários pesquisadores. Rowell e Shultz (1992)

analisaram a composição do sisal e encontraram 43-56% de celulose, 7-9% de

lignina, 21-24% de pentosano e 0,6-1,1% de cinzas, além de uma pequena

quantidade de hemicelulose e de outros compostos solúveis em água (Figura 3).

22

Figura 3 - Micrografia da superfície e detalhe da morfologia da fibra de sisal

A celulose é um polímero e contém unidades de glucose com micro fibrilas de

estrutura bem ordenada. A hemicelulose é um grande grupo de polissacarídeos

presentes nas paredes primárias e secundárias da fibra. Já a lignina é uma mistura

heterogênea e de aspecto amorfo constituída de polímeros e monômeros

aromáticos. As propriedades físicas e mecânicas da fibra e do pó de sisal são

resultado da combinação destes componentes químicos de origem orgânica

(SANTOS; SFALCIN, 2005).

2.2 PRODUÇÃO E BENEFICIAMENTO DO SISAL

O ciclo de cultivo da A. sisalana varia entre 8 e 10 anos, sendo que a primeira

extração da folha (corte) é realizado aproximadamente 36 meses após o plantio,

colhendo-se uma média de 50 a 60 folhas por planta. As fibras, principal subproduto

extraído do sisal, representam entre 4 e 5% da massa bruta da folha do sisal, que é

cortada em média a cada 6 meses durante toda a vida útil da planta.

As operações de corte, enfeixamento, transporte animal e primeiro

desfibramento devem ser sincronizadas (Figura 4), uma vez que as folhas devem ser

beneficiadas no mesmo dia para evitar seu murchamento, o que dificultaria seu

desfibramento e comprometeria a qualidade e quantidade das fibras.

Fonte: SANTOS et al., 2006

23

Figura 4 – Detalhes do corte, enfeixamento e transporte das folhas do sisal

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

O desfibramento primário da A. sisalana, realizado ainda no campo de cultivo,

é a principal etapa da pós-colheita. Consiste na extração e eliminação da polpa

(mucilagem) que envolve a fibra da folha através do processo de raspagem

mecânica. O desfibramento se faz com o uso de uma máquina chamada de

“paraibana” (Figura 5). Essa máquina é antiga, uma vez que sofreu pouquíssimas

alterações desde sua invenção nos anos 40, desfibra em torno de 150 a 200 kg de

fibra seca em um turno diário de cerca de 10 horas de trabalho, envolvendo 2 a 3

pessoas em sua operacionalização (MARQUES, 1998).

Figura 5 – Desfibramento primário das folhas do sisal e detalhe da

máquina “paraibana”

Fonte: Dados da pesquisa, 2017

24

Segundo o autor supracitado, depois do desfibramento, a fibra obtida é

transportada para tanques com água limpa, ficando imersa durante 8-12 horas,

processo necessário para eliminação de resíduos da mucilagem péctica e da seiva

clorofílica, que ficam presas à fibra de sisal. Após a secagem, que utiliza a luz

natural solar, as fibras são enfardadas em feixes e encaminhadas para o

beneficiamento secundário nas sisaleiras. Na figura 6 apresentamos de forma

resumida, cada passo desse processo.

Figura 6 - Fluxograma do processo de produção da fibra de

sisal no campo

Fonte: Adaptado pelo autor de MARQUES, 1998.

Segundo a Secretaria de Agricultura do Estado da Bahia (GOVERNO DA

BAHIA, 2006), a produção no estado está centralizada na regiões norte (105 mil

toneladas/ano) e nordeste (87 mil toneladas/ano). No ranking nacional de produção

do sisal, os quinze primeiros colocados são municípios baianos, a exemplo de

PLANTIO

CORTE

1º DESFIBRAMENTO

SECAGEM

TRANSPORTE PARA A

SISALEIRA

PRODUÇÃO DO

RESÍDUO SECO

(PÓ)

PRODUÇÃO DO

RESÍDUO

MOLHADO

(MUCILAGEM)

2º DESFIBRAMENTO

(BATIMENTO)

25

Conceição do Coité, área territorial de estudo da presente pesquisa e que aparece

em destaque como 3º maior produtor (Quadro 1).

Quadro 1 - Ranking nacional dos municípios produtores de sisal

Posição Município Produção

(ton/ano)

01 Campo Formoso – BA 18.055

02 Santaluz – BA 16.650

03 Conceição do Coité – BA 16.200

04 Jacobina – BA 11.016

05 Araci – BA 10.400

06 Valente – BA 10.350

07 Queimadas – BA 5.850

08 Itiúba – BA 5.440

09 Retirolândia – BA 5.400

10 São Domingos – BA 5.400

11 Ourolândia – BA 4.980

12 Mirangaba – BA 4.620

13 Morro do Chapéu – BA 4.550

14 Barrocas – BA 4.400

15 Umburanas – BA 4.200

Fonte: GOVERNO DA BAHIA - SEAGRI, 2006

O município de Conceição do Coité está localizado no Território de Identidade

do Sisal, no semiárido baiano, tendo como bioma predominante a caatinga. Sua

população é estimada em 67.810 habitantes distribuídos nos 817 km² de área e suas

principais atividades econômicas são a agricultura e pecuária, complementadas

pelos setor de serviços e da indústria (Figura 7).

26

Figura 7 – Localização do município de Conceição do Coité no estado da Bahia

Fonte: http://pt.slideshare.net/doradino/conceio-do-cite.

A comercialização da fibra no município é tradicionalmente realizada por uma

cadeia de intermediários, desde o processamento (desfibramento, batimento e

enfardamento) até a comercialização. Em geral, o produtor negocia sua lavoura com

o proprietário do motor (desfibrador) que, por sua vez, estabelece uma relação

financeira com o intermediário, que financia todas as despesas com o desfibramento

e transporte, em troca do compromisso de entrega da fibra bruta. Este intermediário

poderá ser o agente de compra que comercializa a fibra bruta ou aquele que a

beneficia em sua batedeira para depois entregá-la à indústria ou ao exportador

(OASHI, 1999).

A cadeia produtiva da A. sisalana abrange assim, desde os trabalhos de

plantação, cultivo e extração até as atividades de beneficiamento e industrialização

para fins artesanais e têxteis, entre outros. Sua produção, beneficiamento e

comercialização trazem inúmeros benefícios socioeconômicos aos diversos

municípios envolvidos. No entanto, como qualquer atividade agroindustrial, resulta

na produção de resíduos sólidos (a exemplo do pó de sisal) que, sem o devido

cuidado, podem causar insalubridade e danos ambientais (SILVA, 1999).

2.3 AS SISALEIRAS

O processo de beneficiamento consiste no batimento e enfardamento das

fibras nas sisaleiras. O peneiramento, também conhecido como batimento da fibra,

visa a remoção do pó e de resquícios da matéria verde (tecido parenquimatoso) que

restou do primeiro processo de desfibramento ainda no campo. O batimento gera

27

ainda o resíduo chamado bucha, composta por fibras de pequeno comprimento que

se soltam durante o processo de batimento (ALVES, 2005).

Nas sisaleiras, ocorre o desfibramento secundário do sisal, também chamado

de batimento (Figura 8). Este processo consiste em remover o pó que envolve a

fibra já completamente seca, para que a mesma seja classificada e enfardada para a

comercialização no mercado interno e externo. É relevante salientar que é

exatamente no processo de batimento secundário da fibra (beneficiamento na

sisaleira) que o principal resíduo sólido do sisal, o pó seco, é gerado (MARQUES,

1998).

Figura 8 – Processo de segundo desfibramento (batimento)

das fibras de sisal realizado nas sisaleiras

Fonte: Dados da pesquisa, 2017

Silva et al. (2008) descrevem a seguir, de maneira detalhada, o processo de

segundo desfibramento e a consequente geração de seus resíduos:

Para realizar o batimento da fibra, um operador segura na extremidade mais

espessa da manoca e a introduz na máquina para proceder à limpeza,

através do batimento das lâminas sobre as fibras, numa extensão de 70%

do comprimento; a seguir, inverte a posição para completar a limpeza da

outra extremidade, operação em que geralmente se perde entre 8 e 10% do

peso original da fibra, pela eliminação dos resíduos parenquimatosos, em

forma de pó e fibras curtas [...].

28

Não limpeza é utilizada uma máquina acionada por eletricidade chamada

batedeira (Figura 8), que é dotada de um tambor rotativo de aproximadamente 0,60

m de diâmetro e de seis lâminas planas de 5 cm de largura, protegidas por uma

capa metálica, que girando no sentido inverso ao das desfibradoras, raspa a fibra,

retirando desta os fragmentos e o pó, tornando-a mais lisa e brilhante. Isso é

possível graças a velocidade de giro do tambor, em torno de 200 rotações por

minuto (RPM). Após o batimento, ocorre a seleção dessas fibras (Figura 9),

realizada de acordo com os padrões de classificação vigentes e determinados pelo

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, através de portarias

que qualificam a fibra do sisal (BRASIL, 1987).

Figura 9 – Processo de seleção manual das fibras de sisal

Fonte: Dados da pesquisa, 2017

Por fim, depois de batida (escovada) e classificada, a fibra passará pelo

processo de enfardamento, último procedimento até seu transporte para a indústria

de transformação. Para realizar a prensagem, as sisaleiras utilizam de uma prensa

hidráulica (Figura 10), composta basicamente de um caixão para acondicionamento

das fibras já beneficiadas, cilindro hidráulico para prensagem, motor elétrico com

depósito de óleo, mangueiras de borracha, conexões e válvulas de comando que

realizam o acionamento do cilindro de prensagem. (SILVA et al., 2008).

29

Figura 10 – Prensa hidráulica de sisal e fardo já prensado e etiquetado

Fonte: Dados da pesquisa, 2017

O município de Conceição do Coité possui 8 sisaleiras de pequeno/médio

porte e 3 de grande porte que serão selecionadas para esta pesquisa conforme os

critérios que trataremos mais adiante. Estas sisaleiras respondem pela totalidade da

produção de fibra de sisal para uso local, regional e para exportação.

2.4 RESÍDUOS SÓLIDOS E PRODUÇÃO SISALEIRA

2.4.1 Conceito de resíduo

Para entender a abrangência e a dimensão presentes no conceito de

resíduos, faz-se necessário que se busque os conceitos ditos clássicos e os

recentemente empregados, visando assim compreender a relação entre a sociedade

e seus resíduos.

É correto afirmar que a maneira como a sociedade lida com seus resíduos

varia muito, indo desde o descarte como lixo até o uso de tecnologias que o tornam

reaproveitável. De qualquer maneira, do ponto de vista histórico, esta relação

homem/resíduo têm se tornado um desafio para os dias atuais. Nos tempos mais

remotos, o fato de o homem ser nômade não tornava seus resíduos um problema,

considerando a quantidade e o tipo de resíduos produzidos. Tais resíduos se

tornaram um problema a partir da fixação do homem (sedentarismo) que, ao formar

comunidades, aumentou consideravelmente a quantidade e a variedade desses

30

resíduos, o que só se intensificou com a Revolução Industrial e a produção em

massa. Esse excesso de produção de resíduos tornou-se então um problema para a

vida em grupo, uma vez que passou a ser associado às doenças e também à

degradação do meio natural, por conta do descarte inadequado (EIGENHEER,

2003).

O conceito de resíduo passou por transformações ao longo da história. Antes

se entendia lixo como a sobra do processo produtivo, o que o tornava inútil e sem

qualquer serventia. Até o final do século XIX, era impossível separar os resíduos

sólidos dos líquidos e pastosos, fazendo-se uso da palavra “dejeto” para nomear

esse conjunto mesclado de materiais descartados, conforme relata EIGENHEER

(2003).

Nos tempos atuais, destaca-se a diferenciação dos resíduos, o que se tornou

um marco no modo como os mesmos passaram a ser tratados. Tais resíduos podem

ser classificados considerando-se sua origem: industrial, comercial, hospitalar ou

domiciliar; sua composição: orgânicos, inorgânicos, químicos, etc. ou ainda por seu

nível de periculosidade: Classe I, IIA e IIB, segundo a Norma Brasileira de

Regulamentação (NBR) 10.004/2004 (Figura 11), entre outros. Essa diferenciação

entre os resíduos possibilita uma visão mais aprofundada daquilo que

genericamente chamava-se de “lixo” e que, nessa nova abordagem, passa a ser

valorado como matéria-prima que pode voltar ao processo produtivo. Ademais, essa

constatação permite uma gestão mais eficiente dos referidos resíduos (GOUVEIA;

PRADO, 2010).

Figura 11 – Classificação dos resíduos segundo a norma NBR-104/2004

Fonte: https://www.google.com.br/search?q=Classe+I,+IIA+e+IIB,+segundo+a+NBR+10.004/2004

31

Segundo conceitua o Instituto de Tecnologia do Paraná (TECPAR ,2007)

resíduos são os materiais ou restos de materiais cujo produtor ou proprietário não

considera com valor suficiente para conservá-los. Existem resíduos altamente

perigosos e exigem cuidados especiais quanto à sua coleta, transporte e destinação

final, uma vez que apresentam riscos à saúde dos seres humanos e dos demais

organismos vivos do ambiente.

Por sua vez, Nolasco (2005, p.171), define resíduo como sendo:

Todo material sólido, líquido ou pastoso que é descartado nas cadeias de

produção e consumo e que, por limitações tecnológicas ou de mercado, não

apresenta, no momento, valor de uso ou econômico e, quando manejado de

forma inadequada, pode resultar em impactos negativos ao meio ambiente.

O autor supracitado também afirma que, ao serem descartados de maneira

inadequada, esses resíduos impactarão negativamente o meio ambiente, resultando

na poluição das águas, do ar e do solo e interferindo diretamente na saúde e no

bem-estar das populações (fauna e flora). Ademais, além dos prejuízos ecológicos e

de saúde pública, tais resíduos ainda demandam um alto custo financeiro para seu

recolhimento e processamento, seja no setor público ou no privado.

2.4.2 Responsabilidade empresarial e impacto ambiental

Sabemos que todo e qualquer projeto de desenvolvimento interfere no meio

ambiente (MULLER, 1998). Uma vez que o crescimento se impõe, faz-se necessário

discutir instrumentos que conciliem desenvolvimento com preservação, minimizando

os impactos ambientais e, como efeito, reduzindo os custos econômicos e sociais.

Conforme estabelece Ávila (2003), a necessidade de uma estratégia de

crescimento econômico com vias à sustentabilidade tem se tornado cada vez mais

necessária. Uma maior conscientização da sociedade, o estabelecimento de

legislação voltada para a preservação ambiental e a redução de passivos ambientais

que podem comprometer a continuidade dos negócios são razões pelas quais a

responsabilidade com o meio ambiente se impõe no sistema produtivo.

32

Desta forma, a empresa que está inserida em uma comunidade, deve assumir

suas responsabilidades ambientais, respondendo por seus impactos ao meio

ambiente. O setor público não mais consegue ser, sozinho, o guardião do bem

comum. Assim sendo, as empresas em geral precisarão assumir sua parte no

processo de preservação, preocupando-se não apenas com seu lucro, mas também

minimizando os resultados de sua ação produtiva no que tange ao meio ambiente

(DRUCKER, 1981).

Com o advento da Revolução Industrial, a produção em larga escala

determinou a geração exacerbada de resíduos oriundos dessa industrialização.

Estes, por sua vez, foram sendo descartados de maneira inadequada no meio

natural e nas áreas urbanas, causando impactos negativos ao ambiente.

Segundo estabelece o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA

(1986), impacto ambiental deve ser entendido como qualquer alteração das

propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer

forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou

indiretamente, afetam:

✓ a saúde, a segurança e o bem estar da população;

✓ as atividades sociais e econômicas;

✓ a biota;

✓ as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente;

✓ a qualidade dos recursos ambientais.

O Brasil possui uma das mais modernas legislações ambientais do mundo, a

exemplo da Lei de Crimes Ambientais (1988), que o colocou em posição privilegiada

no que tange à proteção ambiental no mundo. No entanto, Ávila (2003) manifesta

certo pessimismo quando se trata das próximas décadas, que poderão variar do

caos à ressignificação de certos valores (sociais e ambientais).

Ainda segundo o autor acima citado, nesse bojo de preocupações com o

futuro do ambiente e o presente da produção, as áreas urbanas-industriais

representam a mais profunda alteração da superfície da Terra, dos ecossistemas e

da atmosfera, patrocinada pela ação humana e seus meios de produção. Segundo o

33

referido autor, os efeitos urbanos dessa ação produtiva são altamente intensivos e

localizados e, assim, grandes produtores de resíduos.

Nas cidades, a disposição nos aterros sanitários tem sido o método mais

simples e barato para o descarte dos resíduos sólidos em geral e, no caso do sisal,

não é diferente. Com exceção das pequenas quantidades do pó gerado pelo

processo de beneficiamento do sisal que é retirado pelos produtores rurais para ser

utilizado como parte de ração animal ou como adubo orgânico, quase a totalidade

deste resíduo gerado nas sisaleiras têm sido descartado no aterro sanitário do

município. No entanto, esta solução tem causado problemas ambientais como

contaminação de reservas de água, emissão de odores e contaminação do solo ao

se misturar ao chorume. Além desse aspecto, espaços para aterros são cada vez

mais limitados (GOUVEIA; PRADO, 2010).

Assim sendo, faz-se necessário a adoção de um modelo de aproveitamento

para os resíduos gerados na produção sisaleira, visando dar aos mesmos alguma

finalidade mais nobre e assim evitar seu descarte de maneira indiscriminada e suas

consequências nocivas ao homem e ao meio natural.

2.4.3 Os Resíduos de sisal e a saúde humana

Órgãos e instituições governamentais que tratam do meio ambiente e da

saúde pública são responsáveis pela fiscalização e controle da qualidade da água,

do ar e de outros fatores abióticos que influenciam diretamente na qualidade de vida

e no bem-estar da população. A Agência de Proteção ao Meio Ambiente dos

Estados Unidos (USEPA), por exemplo, indica dois tipos de padrões de qualidade do

ar ambiente: os padrões considerados primários, que fornecem proteção à saúde

pública, incluindo a proteção à saúde das populações sensíveis, a exemplo dos

asmáticos, crianças e idosos e os padrões secundários, que fornecem proteção ao

bem-estar público (EPA, 2012).

Embora a literatura científica seja econômica quanto aos potenciais riscos do

resíduo sólido do sisal para a saúde humana, podemos identificar possíveis danos a

partir do conceito de material particulado em suspensão (MPS), que são as

partículas de diâmetro igual ou superior a 100 µm e materiais com diâmetro que

oscila entre 10 µm e 2,5 µm (conhecidas respectivamente como PM10 e PM2,5) que,

34

devido a seu pequeno porte, podem ser encontrados em suspensão na atmosfera

(COELHO, 2007).

Estudos concluíram que exposição por longo prazo a altas concentrações de

material particulado pode aumentar significativamente o risco de doenças

respiratórias obstrutivas crónicas (COPD). Já a exposição de curto prazo pode

causar exacerbação de outras doenças respiratórias, incluindo bronquite e asma

(SORENSEN et al.,2003),

Segundo a Organização Mundial de Saúde, os MPS provocam efeitos

adversos para a saúde em nível de sistema respiratório e cardiovascular, sendo toda

a população afetada. Em comum, a sensibilidade às partículas de 2,5 e 10 μm varia

com a idade e estado de saúde.

Assim sendo, as partículas finas em suspensão no ar, a exemplo das do tipo

PM2,5 e PM10 representam potencial risco à saúde humana, uma vez que, ao serem

inspiradas juntamente com o ar atmosférico, podem penetrar profundamente no

aparelho respiratório, chegando ao tecido alveolar. Essa propriedade física (tamanho

reduzido) associada às propriedades químicas representam potencial risco à saúde

humana, principalmente no acometimento do sistema respiratório (TRAVERSI,

2009).

Partículas finas podem se originar de fontes naturais, como a poeira do solo,

restos biológicos da decomposição, incêndios florestais ou como resultado da ação

humana (fontes antropogênicas). No segundo caso podemos citar a queima de

combustíveis fósseis e as várias atividades humanas, sejam elas residenciais,

comerciais ou industriais (GOUVEIA, 2010). Dentre as últimas, destacamos o

beneficiamento da fibra de A. sisalana nas sisaleiras, atividade que gera como

subproduto o resíduo seco (pó) do sisal, MPS que se espalha no entorno da

indústria ou nos espaços de depósito do resíduo (lixão ou aterro), atingindo a

população animal e humana das proximidades.

Estudos mostram que a exposição por curto prazo aos referidos MPS pode

levar ao desenvolvimento de irritações do sistema respiratório superior (traqueia e

brônquios) e intensificar doenças respiratórias preexistentes, a exemplo de bronquite

e asma, afetando inclusive a frequência cardíaca. Já a exposição por longo prazo e

a altas concentrações dos referidos MPS aumenta consideravelmente o risco de

desenvolvimento de doenças crônicas relacionadas à obstrução pulmonar

(DOMINICI, 2007).

35

Os vegetais em geral possuem diversos compostos que são responsáveis

pelas suas funções metabólicas. No caso do sisal (A. sisalana) podemos identificar o

tanino, os alcaloides, a saponina e cumarina (BARRETO, 2012). A saponina,

glicosídeo presente em grande concentração nas folhas e fibra do sisal, também é

encontrada no resíduo seco do mesmo e pode ser tóxica se absorvida por animais e

humanos, dependendo da sua concentração (PUENTES, 2009), fator que se

estabelece como mais um agravante quando da inalação de partículas em

suspensão do resíduo em questão.

Assim, o controle da qualidade do ar e a redução da quantidade e volume do

MPS no ambiente são fatores fundamentais para a preservação da saúde coletiva,

principalmente no que tange às doenças de ordem respiratória. Por estes motivos,

uma proposta de aproveitamento do pó de sisal gerado no seu processo de

beneficiamento nas sisaleiras se justifica enquanto alternativa para mitigar os efeitos

nocivos deste resíduo seco em particular.

2.4.4 Aproveitamento dos resíduos

Ao se pensar em um modelo de gestão e aproveitamento dos resíduos

sólidos (pó) da A. sisalana, é necessário considerar duas frentes de ação: a redução

da produção dos resíduos e a valorização dos mesmos. A redução da produção dos

referidos resíduos tem como principal base a prevenção, uma vez que estabelece o

manejo dos resíduos de forma preventiva, partindo do maior para o menor impacto

ambiental e social dos mesmos. O primeiro passo é buscar reduzir a geração do

resíduo sólido sem comprometer a produção, ação que deve ser seguida de seu

reaproveitamento (SUDAN et al, 2007).

Na primeira ação temos o “reduzir”, seguido do “reutilizar” e do “reciclar”,

premissa estabelecida no conceito dos “3 erres”. Ao se propor formas mais eficientes

de produção, teremos como consequência a diminuição dos resíduos gerados neste

processo produtivo. Ao reutilizar ou reciclar o que é considerado resíduo, contribui-

se significativamente para a redução do lixo e de suas consequências na saúde

ambiental e humana, além de aumentar a vida útil dos aterros sanitários e diminuir

os gastos públicos com sua manutenção. Além disso, reciclar garante a inserção de

36

matéria prima no sistema produtivo, reduzindo assim os impactos ambientais da

extração desses materiais.

Na segunda frente de ação, ao agregarmos valor aos resíduos sólidos,

inclusive os da A. sisalana, objeto deste estudo, estaremos adotando uma

alternativa social, econômica e ambientalmente correta. Ao se agregar valor aos

resíduos em discussão, os mesmos deixarão de ser considerados lixo e terão o

status de subproduto ou matéria-prima. Gouveia e Prado (2010) esclarecem que a

maioria dos modelos atuais de gestão dos resíduos sólidos, sejam de origem

doméstica ou industrial, segue um modelo que o mesmo chama de “final de tubo”,

ou seja, baseiam-se mais na destinação final do que na prevenção (minimização) de

sua produção e/ou descarte, o que exige uma mudança de mentalidade.

3 METODOLOGIA

3.1 TIPO DE PESQUISA

A presente pesquisa é de natureza qualitativa e quantitativa, visando analisar

e descrever os fatos e os objetos envolvidos no beneficiamento do sisal, na

produção e destinação de seus resíduos e no impacto destes na vida dos moradores

do entorno das sisaleiras.

3.2 COLETA DE DADOS

Objetivando levantar os dados necessários para a concretização da pesquisa

em discussão, foram adotadas 5 etapas apresentadas a seguir e representadas pari

passu pelo fluxograma abaixo elaborado (Figura 05):

Como primeiro passo, foi encaminhado ofício ás 3 sisaleiras selecionadas,

solicitando autorização para desenvolvimento da pesquisa, seguido de visita in loco,

quando desenvolveu-se o registro das imagens (fotografias) e a observação e

descrição dos procedimentos envolvidos no beneficiamento do sisal e na

consequente produção dos seus resíduos.

Na sequência, aplicou-se a entrevista (instrumento de coleta I em anexo)

dirigida aos proprietários/gerentes, com a finalidade de levantar o perfil de cada

sisaleira no eu diz respeito ao volume de sisal a beneficiar, quantidade e destinação

37

dos resíduos produzidos, relação com os fornecedores, destinação e volume da

fibra beneficiada, entre outros aspectos. Esta entrevista consistiu em 16 perguntas

dirigidas a cada um dos 3 proprietários/gerentes e que contemplaram os aspectos

financeiros, ambientais, produtivos e físicos de cada sisaleira;

Como terceira etapa, aplicou-se o questionário (instrumento de coleta II em

anexo) dirigido aos moradores do entorno das sisaleiras para levantamento de

dados que permitam estabelecer relação entre a presença do pó/resíduo de sisal e

problemas de saúde relacionados ao mesmo. Este questionário foi composto por 18

perguntas dirigidas a 75 moradores e distribuídos em 3 blocos de 25 questionários

tendo como critério intervalos de distância (0-300m) e tempo de residência (1 a 30

anos).

Em seguida, efetuou-se o levantamento de dados junto ao Ministério Público

e Juizado de Pequenas Causas, com o propósito de identificar possíveis processos

judiciais impetrados por moradores do entorno das sisaleiras, além de buscar

informações mais detalhadas sobre a recente mudança de endereço de uma das

sisaleiras para região menos povoada da cidade e a possível causalidade desta

mudança;

Como quinta e última etapa, procedeu-se a visita ao Serviço Municipal de

Saúde (SMS) e ao Centro de Referência de Saúde do Trabalhador – CEREST. No

primeiro caso visando buscar dados relacionados à problemas de saúde dos

moradores do entorno das sisaleiras (previamente mapeados na coleta de dados

anteriormente citada) e a possível relação desses problemas com a presença do

pó/resíduo de sisal através de prontuários e demais registros médicos. No segundo

caso, objetivou-se levantar dados sobre os riscos laborais dos funcionários que

atuam nas sisaleiras a partir das vertentes de investigação e fiscalização adotadas

pelo CEREST.

Abaixo, apresentamos o fluxograma que aponta, de forma sequencial, os

passos seguidos para a realização da presente pesquisa (Figura 05)

38

Figura 12 - Fluxograma dos procedimentos de coleta de dados

.

Fonte: Adaptado pelo autor de NOLASCO, 2005.

3.3 CRITÉRIOS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO

Uma vez estabelecida a amostra a ser analisada em qualquer pesquisa, faz-

se necessário que o pesquisador confira atentamente todos os elementos que

constituem a citada amostra, adotando critérios de exclusão, desprezando aqueles

componentes amostrais que não atendam completamente características pré-

definidas (UNISANTA, 2004).

PROPRIETARIO/GERENTE

COLETA DE DADOS

LEVANTAMENTO DE

PRONTUÁRIOS /RELATÓRIOS

DESCRIÇÃO DOS

PROCEDIMENTOS

/PRODUÇÃO

SISALEIRAS

VISITA IN LOCO

REGISTRO FOTOGRÁFICO

MINISTÉRIO PÚBLICO

E JUIZADO DE

PEQUENAS CAUSAS

LEVANTAMENTO DE

AÇÕES JUDICIAIS

SERVIÇO

MUNICIPAL

DE SAÚDE

(SMS)

MORADORES

DO ENTORNO

APLICAÇÃO DE

QUESTIONÁRIO/INSTRUMENTO

DE COLETA II

VISITA AO

CEREST

TRATAMENTO DOS DADOS:

(BOESTAT)

MODELO ESTATÍSTICO:

KRUSKAL-WALLIS

APLICAÇÃO DE

QUESTIONÁRIO/INSTRUMENTO

DE COLETA II

39

Partindo desse pressuposto, o presente trabalho adotou inicialmente como

critérios de inclusão e exclusão os itens a seguir.

3.3.1 As Sisaleiras

Como critérios de inclusão da presente pesquisa no item sisaleiras, foram

selecionadas apenas as empresas legalmente constituídas que atuem

exclusivamente no beneficiamento da fibra de sisal e que se localizem no perímetro

urbano do município. Isso permitiu a seleção de 8 sisaleiras.

Uma vez selecionadas, adotou-se como critério de exclusão a produção de

fibras beneficiadas para fins de exportação, o que permitiu que a amostra fosse

reduzida á 3 empresas, descritas nesse trabalho como sendo S1, S2 e S3.

A seleção das empresas exportadoras justifica-se pelo fato de as mesmas

produzirem grandes quantidades de fibras beneficiadas, o que repercute

obrigatoriamente no volume de resíduos produzidos, uma vez que o maior refino da

fibra é uma exigência dos compradores externos que, em contrapartida, gera mais

pó no processo produtivo.

Depois de selecionadas, as empresas citadas foram classificadas de acordo

com o nível tecnológico adotado por cada uma no beneficiamento da fibra e no

manuseio do resíduo sólido (pó), o que permitiu classifica-las como empresas de

baixa, média ou alta tecnologia.

3.3.2 Os Moradores do Entorno

Nesse item, adotou-se inicialmente como critério de inclusão a seleção de

moradores do entorno das sisaleiras. Visando dar a maior heterogeneidade possível

ao conjunto da amostra, aplicou-se 75 questionários dirigidos aos moradores do

entorno, distribuídos na proporção de 25 moradores por empresa, adotando-se

posteriormente como critérios de exclusão a proximidade destes em relação à

sisaleira, uma vez que foram estabelecidas as faixas de 0-50m, 50-100m e 100-

150m como distâncias limites para a escolha das famílias/residências, e o tempo de

moradia destes no entorno das sisaleiras, com faixas médias de 2.5 anos, 7.5 anos,

12.5 anos, 17.5 anos e 25 anos.

40

Os dados foram submetidos a análise de variância não paramétrica pelo teste

de Kruskal-Wallis. As medianas foram comparadas pela análise de postos de teste

de Dunn e as análises estatísticas foram realizadas pelo programa estatístico

Bioestat 5.3 (AYRES et al., 2007).

3.4 ASPECTOS ÉTICOS

Como primeiro ato, se procederá o encaminhamento de ofício dirigido aos

proprietários das 2 sisaleiras a serem visitadas solicitando a autorização dos

mesmos para as visitas in loco, registro fotográfico das dependências, equipamentos

e processos. Em seguida, se efetuará o cadastramento do projeto de Pesquisa na

Plataforma Brasil para encaminhamento ao Comitê de Ética, do qual se aguardará a

aprovação. Após o parecer favorável do comitê supracitado, se iniciará a execução

da pesquisa em campo, que deverá ser apresentada e detalhada a todos os

participantes, explicando-se todas as etapas e esclarecendo todas as dúvidas que

surgirem. Por fim, será solicitada a assinatura do Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido (TCLE) ao tempo em que se garantirá a todos os envolvidos a

preservação do sigilo quanto às informações compartilhadas.

4 RESULTADOS

Nessa fase do trabalho, serão detalhadas a análise dos dados coletados in

loco e através dos instrumentos de coleta aplicados aos proprietários e aos

moradores do entorno das sisaleiras.

4.1 AS SISALEIRAS

A partir da aplicação do instrumento de coleta I, foi possível levantar

relevantes dados sobre o histórico das sisaleiras, suas atividades comerciais e

industriais como a produção da fibra, a geração e o destino dos resíduos sólidos (pó

de sisal), permitindo assim a sua caracterização. Conforme detalhado nos

procedimentos metodológicos adotados na presente pesquisa, foram selecionadas 3

sisaleiras instaladas no município de Conceição do Coité.

41

Partindo das informações prestadas pelos seus proprietários/gerentes,

constata-se que embora as mesmas tenham na exportação sua principal fonte de

receita, todas produzem também para o mercado interno, processando o sisal

cultivado no município onde estão instaladas e também recebendo fibras advindas

dos municípios de Santaluz, Campo Formoso, Valente, Teofilândia, São Domingos,

Serrinha, Araci e Retirolândia.

A seguir, descrevemos de forma detalhada o perfil de cada sisaleira,

elencando suas principais características e detalhando o processo produtivo desde a

recepção da fibra até a destinação dos resíduos gerados.

4.1.1 Sisaleira S1

Localizada na sede do município, a sisaleira é uma sociedade limitada

fundada em 1965 e que hoje possui 45 empregados diretos, que processam 100

toneladas/semana de sisal bruto, composto de fibras ainda sem nenhum

beneficiamento. Este sisal ainda bruto chega dos diversos destinos através de

fardos trazidos por caminhões da própria empresa, que retira o sisal diretamente no

campo, onde ele é produzido e temporariamente armazenado em pequenos

depósitos locais (Figura 13).

Figura 13 – Fibra bruta oriunda da zona rural sendo

acondicionada no caminhão para ser transportada até a sisaleira

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

42

Ao chegar às sisaleiras, as fibras são pesadas por meio de balança

automatizada e, depois de selecionadas de acordo com o tamanho e a qualidade

dos fios, são encaminhadas para o processo de desfibramento e coloração (Figura

14).

Figura 14 – Sequência onde se observa os processos de pesagem, seleção

das fibras e desfibramento/coloração

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Depois de beneficiadas, as fibras são trançadas por máquinas que as

transformam em fios e cordas, destinados principalmente à exportação. No caso da

S1, segundo informações de seu proprietário, a maior parte desses fios e cordas é

exportada para a China, Estados Unidos e Europa, o que exige uma rotulação

específica para cada destino, considerando as especificações técnicas do produto

exigidas por cada comprador (Figura 15).

Figura 15 – Sequência de imagens onde se observa o processo de

enrolamento das fibras, transformando-as em fios e cordas para exportação

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

43

Além da produção direta de fios e cordas para os mercados interno e externo,

a empresa também vende a fibra beneficiada para utilização como matéria prima por

outras indústrias. Depois de passar pelo beneficiamento, as fibras são prensadas em

prensa hidráulica e formam fardos de 300 kg, recebendo rotulagem que descreve as

especificações do produto e contem dados de sua origem e fornecedor (Figura 16)

Figura 16 – Sequência de imagens que mostra o processo de

prensagem e a produção de fardos da fibra beneficiada para exportação.

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

O processo de desfibramento (beneficiamento) das fibras de sisal geram 2

toneladas/semana de pó de sisal. Este resíduo é coletado e ensacado por processo

automatizado e armazenado nas dependências da própria sisaleira em local fechado

e coberto, destinado a esse fim (Figura 17).

Figura 17 – Sequência de imagens onde se observa a presença de coifas que

coletam o pó, dutos e exaustor que o levam até o processo automatizado de

ensacamento do mesmo e o acondicionamento do resíduo já ensacado.

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

44

A empresa não possui certificação ambiental e nunca recebeu visita de

órgãos municipais, estaduais ou federais responsáveis pela fiscalização relacionada

à poluição ambiental. Segundo seu proprietário/gerente, são realizadas auditorias

internas direcionadas à produção e controle interno (gestão financeira).

Quanto à relação com seus fornecedores, a empresa oferece assistência

técnica na manutenção das máquinas que realizam o desfibramento primário ainda

no campo, além de fornecer peças de reposição para as mesmas máquinas. O

pagamento do sisal bruto fornecido pelos produtores rurais é realizado na entrega e

pesagem das fibras. Esporadicamente efetua-se o adiantamento de valores, visando

garantir a disponibilidade de fibras (matéria-prima) para atender aos pedidos

externos (exportação) quando requisitados em maior volume.

Nesta pesquisa, a sisaleira em discussão foi classificada como de alta

tecnologia, considerando o grande nível de automação da produção/beneficiamento

da fibra e no manuseio do resíduo gerado, conforme descrição no quadro 2 a seguir.

4.1.2 Sisaleira S2

Fundada em 1989 como sociedade limitada, a empresa está localizada na

sede do município de Conceição do Coité, empregando 35 funcionários diretos,

recebe 200 toneladas/semana de fibra de sisal bruto a ser beneficiada. Este sisal,

oriundo dos produtores rurais, é coletado pelos caminhões da empresa e

transportado até a sisaleira, onde é pesado por balança automatizada (Figura 18).

Figura 18 – Sequência de imagens onde se observa a chegada da fibra bruta

trazida por caminhões da empresa e o processo automatizado de pesagem

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

45

A sisaleira S2 também beneficia a fibra de sisal para a produção de fios e

cordas para venda no mercado interno e para exportação, vendendo principalmente

para países europeus, como a Bélgica, Suécia e Holanda. No entanto, para o

processo de beneficiamento da fibra (batimento), a sisaleira utiliza máquinas menos

tecnológicas em relação aos equipamentos observados em S1, o que exige mais

esforço físico por parte do operador por conta da baixa automação (Figura 19).

Figura 19 – Sequência de imagens que mostra o processo de batimento das

fibras, sua transformação em fios e cordas e sua etiquetagem para exportação

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Segundo informações do proprietário, a demanda por fios naturais é maior no

mercado externo, principalmente no europeu em relação ao mercado interno, o que

é explicado pela rigorosa legislação ambiental adotada nestes países.

Além de produzir e vender fios e cordas de sisal, a empresa também

comercializa as fibras beneficiadas e enfardadas em prensa hidráulica, que são

utilizadas como matéria-prima por outras indústrias (Figura 20).

46

Figura 20 – Sequência de imagens que mostra o processo de seleção das fibras

já beneficiadas, prensagem e produção de fardos

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Em seu processo produtivo, a sisaleira gera semanalmente 04 toneladas de

resíduo seco (pó de sisal). Embora coletado por processo automatizado, que utiliza

sistema de exaustores, o pó é ensacado manualmente por dois funcionários

designados para esta tarefa. Os sacos contendo o pó são armazenados em galpão

específico nas dependências da mesma. No entanto, o ensacamento manual e o

acondicionamento em local parcialmente (e não tolamente) fechado, aumenta

consideravelmente a quantidade de pó que se espalha pelo piso e dependências da

sisaleira, além de se espalhar com mais facilidade pelo ar (Figura 21).

Figura 21 – Sequência de imagens que mostra as coifas, o exaustor e os dutos

coletores do pó, que é acondicionado em local parcialmente fechado

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

47

Este resíduo ensacado é usado pelo proprietário em suas propriedades rurais

como ração animal nos períodos críticos da estiagem. Parte dele também é doada

para os fornecedores para o mesmo fim. O restante do resíduo gerado permanece

acondicionado nas dependências da empresa e acaba se perdendo por conta da

umidade e se dispersando pelo chão das áreas externas ou como partículas em

suspensão que se espalham pelas dependências externas da sisaleira e no seu

entorno, o que acaba por afetar os moradores, como veremos mais adiante.

A empresa não possui qualquer certificação e nunca recebeu visitas de

órgãos ambientais de qualquer esfera governamental (municipal, estadual ou

federal) e só realiza auditorias internas no setor financeiro

(pagamentos/recebimentos). Também não há quaisquer ofertas de insumo ou

assistência técnica aos seus fornecedores, pagando aos mesmos na entrega da

fibra bruta, mediante pesagem da carga. Esporadicamente esse pagamento é

antecipado, visando garantir oferta de fibra nos períodos de estiagem, quando

ocorre queda na produção do campo, objetivando garantir a oferta de matéria-prima

para a manutenção da produção.

Para fins de análise comparativa, esta empresa foi classificada como de

média tecnologia, tendo como parâmetro a forma de coleta dos resíduos, seu

armazenamento e destinação final, conforme explicitado no quadro 2 a seguir.

4.1.3 Sisaleira S3

Estabelecida como sociedade limitada desde 1980, localiza-se na sede do

município de Conceição do Coité. Possui 30 funcionário diretos e beneficia uma

média de 60 toneladas/semana de sisal, que é coletado diretamente no campo

através dos caminhões da sisaleira. A pesagem do sisal que chega á sisaleira é feita

manualmente, o que demanda mais tempo, já que os fardos que chegam do campo

precisam ser pesados individualmente (Figura 22).

48

Figura 22 – Sequência de imagens que mostra a chegada das fibras na

sisaleira, o sisal bruto já pesado e a balança usada para a pesagem manual

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Diferentemente das sisaleiras S1 e S2, a empresa não produz fios ou cordas

a partir das fibras de sisal, limitando-se a beneficiar e enfardar as fibras para serem

utilizadas como matéria-prima por outras indústrias no Brasil e no exterior. Esse

processo de beneficiamento (batimento), seleção e prensagem das fibras é similar

ao adotado na sisaleira S2, diferenciando-se apenas pelo fato de usar uma prensa

rústica que, embora também use assistência hidráulica, é construída em sua maior

parte de madeira, ao invés de totalmente fabricada em material metálico, como é o

caso das prensas mais modernas (Figura 23).

Figura 23 – Sequência de imagens mostrando a seleção manual da fibra, a

prensagem com prensa parcialmente construída em madeira e o fardo de

sisal beneficiado já prensado

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

49

A sisaleira gera 1,2 toneladas de resíduo seco (pó de sisal) por semana. Não

há sistema mecanizado de coleta destes resíduos, que se acumulam no piso e são

coletados com o uso de vassouras e pás e ensacados manualmente pelos

funcionários que vão se revezando nessa tarefa, o que gera uma imensa quantidade

de pó em suspensão, tanto no interior, quanto na área externa da sisaleira. Além

disso, a armazenagem do pó ensacado em área aberta ocasiona a rápida

deterioração do tecido dos sacos, ocasionando o derramamento do pó e sua

consequente dispersão pelo ar (Figura 24).

Figura 24 – Sequência de imagens que mostra detalhe da cobertura da sisaleira

sem nenhum sistema de exaustão e com acúmulo de pó, que também foi

encontrado em grande quantidade no chão e no depósito aberto onde se

acondicionam os sacos cheios de pó

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Sem nenhuma certificação, a empresa nunca recebeu visita de qualquer

órgão oficial responsável por fiscalização de cunho ambiental. Não realiza auditorias

internas de qualquer espécie e também não possui plano de gestão de seus

resíduos, usados em pequena parte como ração animal nos períodos de estiagem,

para atender os rebanhos do proprietário, sendo armazenado na sua maior parte. No

entanto, por conta das precárias condições de armazenamento (em área coberta,

porém aberta), boa parte dos resíduos estraga por conta da umidade e se espalham

nas dependências do depósito e se dispersam pelo terreno do entorno. Observou-se

também que razoáveis quantidades de resíduos sólidos são lançadas nas áreas

50

abertas da sisaleira (quintal) quando coletados através de varrição, misturados à

poeira do precário piso.

Os fornecedores não recebem insumos de nenhuma natureza e também não

contam com nenhuma assistência técnica por parte da sisaleira, recebendo o

pagamento pela fibra bruta no ato da entrega, mediante pesagem em balança

manual operada por um funcionário também responsável pelo registro manuscrito de

peso e valores pagos. Não há antecipação de pagamentos.

Dada à ausência de automação tanto no beneficiamento da fibra quanto na

coleta e armazenamento do pó, a empresa em questão foi classificada como sendo

de baixa tecnologia (Quadro 2)

Quadro 2 – Descritivo/Comparativo dos níveis de tecnologia adotados nas sisaleiras

quanto a entrada da fibra, seu beneficiamento, coleta e acondicionamento do

resíduo (pó)

SISALEIRA FIBRA BENEFICIAMENTO RESÍDUO

S1 • Entrada -100 t./semana

• Pesagem automatizada

• Classificação manual

• Desfibramento secundário

• Lavagem e coloração

• Produção de fios e cordas

• Prensagem automatizada

• 2 ton./semana

• Coleta automatizada

• Ensacamento automatizado

• Armazenagem em área

coberta e fechada

• Baixa dispersão

S2 • Entrada -200 t./semana

• Pesagem automatizada

• Classificação manual

• Desfibramento secundário

• Lavagem e coloração

• Produção de fios e cordas

• Prensagem automatizada

• 4 ton./semana

• Coleta automatizada

• Ensacamento manual

• Armazenagem em área

coberta e parcialmente

fechada

• Média dispersão

S3 • Entrada -60 t./semana

• Pesagem manual

• Classificação manual

• Desfibramento secundário

• Sem lavagem ou

coloração

• Sem produção de fios e

cordas

• Prensagem manual

• 1,2 ton./semana

• Coleta manual

• Ensacamento manual

• Armazenagem em área

coberta e aberta

• Alta dispersão

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

51

4.2 MORADORES DO ENTORNO

Considerando os dados levantados através das entrevistas dirigidas aos

moradores do entorno, levou-se em consideração a relação entre a proximidade

desses moradores, seu tempo de residência e os possíveis problemas de saúde

relacionados com a exposição ao pó de sisal. Houve certa reticência por parte dos

entrevistados no que tange as respostas solicitadas, o que pode ser explicado pelo

fato de alguns trabalharem direta ou indiretamente nas sisaleiras ou terem familiares

vivenciando a mesma situação.

Entre os elementos que permitiram caracterizar os moradores do entorno, destaca-

se: o sexo, a faixa etária, a proximidade da sisaleira, o tempo de residência e a

quantidade de residentes por domicílio (Quadro 3)

Quadro 3 – Distribuição da frequência dos entrevistados por faixa etária, distância

da sisaleira, tempo de residência e quantidade de residentes por domicílio e sexo no

entorno de S1, S2 e S3

FAIXA ETÁRIA

(ANOS - %)

18 A 25

07

9,3%

26 A 30

08

10,6%

31 A 35

09

12%

36 A 40

08

10,6%

41 A 45

07

9,3%

46 A 50

05

6,6%

51 A 55

04

5,3%

56 A 60

10

13,3%

+ 60

17

22,6%

DISTÂNCIA DA

SISALEIRA

(METROS - %)

0- 50

34

45,3%

50-100

27

36%

100-150

8

10,6%

150-300

6

8%

TEMPO DE

RESIDÊNCIA (ANOS

- %)

01 A 05

12

16%

06 A 10

09

12%

11 A 15

13

17,3%

16 A 20

09

12%

21 A 30

21

28%

+ 30

11

14.6%

RESID. POR

DOMICILIO (%)

01

07

9,3%

02

16

21,3%

03

23

30,6%

04

13

17,3%

05

10

13,3%

06

04

5,3%

07

01

1,3%

08

01

1,3%

SEXO

MASCULINO – 22 (29,4%)

FEMININO - 53 (70,6%)

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Dos 75 entrevistados, 53 eram do sexo feminino e 22 do sexo masculino. A

predominância feminina, explicada pela maior presença das mulheres em suas

52

residências no horário da aplicação das entrevistas (manhã e tarde, no horário

comercial).

A faixa etária dos entrevistados foi bem distribuída entre os intervalos de

idade adotados: 18 a 25 anos (9,3%), 26 a 30 anos (10.6%), 31 a 35 anos (12%), 36

a 40 anos (9,3%), 41 a 45 anos (10,6%), 46 a 50 anos (6,6%), 51 a 55 anos (5,3%)

56 a 60 anos (13,3%), destacando-se os que possuíam mais de 60 anos (22,6%).

Ao analisar a proximidade dos entrevistados em relação à sisaleira, observou-se que

a maioria (34 pessoas ou 45,3% do total) morava a uma faixa de 0 a 50 metros e a

faixa de menor número de moradores foi a de 150 a 300 metros, onde residiam 06

moradores ou 8% do total de entrevistados. As demais faixas de distância,

estabelecidas em 50 a 100 metros e 100 a 150 metros registraram 27 moradores

(36% do total) e 8 moradores (10,6% do total) respectivamente.

No que tange ao tempo de residência destes moradores do entorno das

sisaleiras, percebeu-se intervalos de tempo contemplados na pesquisa foram de 01

até mais de 30 anos em todas as sisaleiras (S1,S2 e S3), sendo que a maior

frequência de moradores se deu no intervalo de 21 a 30 anos de residência,

totalizando 27 moradores ou 36% do total de entrevistados.

Levando-se em consideração a quantidade de residentes por domicílios, detectou-se

que a mesma variou entre 01 e 08 moradores/casa, destacando-se numericamente

os domicílios que possuem entre 01 e 03 habitantes, somando 46 domicílios ou

61,3% do total, o que denota uma predominância de pequenas famílias residindo na

área territorial pesquisada.

4.2.1 O resíduo do sisal e a saúde

A partir do levantamento de casos/problemas de saúde relatados pelos

moradores do entorno das 3 sisaleiras e considerando os dados totais, foi possível

perceber uma predominância da rinite, relatada por 58,6% dos entrevistados,

somando 44 casos e da dermatite, citada por 25,3% dos entrevistados, perfazendo

19 casos. Também se destacaram as citações de asma, citada por 8 moradores, ou

seja, 10.6% deles.

Buscando-se uma relação entre a presença do pó de sisal (resíduo) em suas

residências e os problemas de saúde relatados, observou-se que 58,6% dos

53

entrevistados (44 moradores) relataram encontrá-lo nas roupas de cama e mesa, no

chão e nos móveis. Destes, 36,3% (ou 16 moradores) relataram sentir coceira no

nariz, crise de espirros, falta de ar e coceira na pele ao proceder a higiene domestica

e ter contato com o pó. Estes mesmos entrevistados afirmam haver relação entre a

presença do pó em suas residências e os problemas de saúde relatados – afirmação

que deve ser entendida como uma percepção pessoal dos moradores. Ainda

perguntados se já ouviram queixas dos vizinhos relacionadas à presença do pó em

suas casas e de reações alérgicas em função da presença do mesmo, 61,3% (ou 46

entrevistados) confirmaram tais relatos.

Analisando os dados coletados no conjunto de moradores do entorno das

sisaleiras, sem diferenciá-los entre S1, S2 e S3, foi possível observar que a variável

distância influenciou diretamente na quantidade de casos/doenças. Considerando os

problemas de ordem respiratória (asma e rinite), constatou-se que na menor faixa de

distância (25m), foram relatados 34 casos contra 15 casos na faixa dos 75m e 03

casos na faixa dos 125m. Ao considerarmos as irritações de pele (descritas aqui

como dermatites), observou-se o relato de 14 casos na faixa de menor distância

(25m) contra apenas 05 casos na faixa dos 75m e nenhum caso nas demais faixas.

Assim, ao analisarmos os números absolutos coletados diretamente dos

questionários (Instrumento de coleta II), ainda que sem tratamento e análise

estatística, fica claro a relação distância/moléstias no que tange à influência do pó

de sisal em suspensão no entorno das sisaleiras e seu impacto na saúde dos

moradores do entorno (Quadro 4).

Quadro 4 – Frequência de moléstias a partir da variável distância média,

considerando a totalidade das sisaleiras (S1, S2 e S3)

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

DIST. DA SISALEIRA

(MÉDIA)

ASMA DERMATITE RINITE TOTAL

25m 06 14 28 48

75m 01 05 14 20

125m 01 - 02 03

54

Quanto à variável tempo de residência e também considerando os dados

totais dos moradores do entorno das 3 sisaleiras (S1, S2 e S3), foi possível observar

que a referida variável, mesmo que mais discretamente, também influenciou na

quantidade de casos/moléstias relatados. No que tange aos problemas de ordem

respiratória (asma e rinite), constatou-se que a maior faixa de tempo de moradia (25

anos) apresentou 18 casos, contra 12 casos na faixa dos 12.5 anos, 10 casos na

faixa dos 7.5 anos, 4 casos nas faixas dos 17.5 e 5 casos na faixa de 2.5 anos. Já

quanto às irritações de pele (descritas aqui como dermatites), observou-se o relato

de mais casos na faixa dos 7.5 anos (6 casos) contra 5 casos na faixa dos 25 anos,

além de 4, 3 e 1 caso nas faixas de 12.5, 17.5 e 2.5 anos, respectivamente.

Tais dados nos permitem concluir que, a exemplo da variável distância média

das sisaleiras acima citada, a variável tempo de residência no entorno das sisaleiras,

se analisada a partir dos números absolutos coletados em questionário dirigido aos

moradores do entorno e sem a análise e tratamento estatísticos, também mostrou-se

influente na incidência de casos de moléstias relatados.

Mesmo que não tão explícito como na variável distância, observou-se que

somadas as duas menores faixas de tempo de residência (2.5 e 7.5 anos) aparecem

07 casos de dermatite e na somatória entre as maiores faixas de tempo de

residência – 17.5 e 25 anos – são relatados 08 casos do referido problema de

saúde, o que nos leva a constatar a discreta, embora visível, relação entre o tempo

de residência no entorno das sisaleiras e o número de moléstias relatadas (Quadro

5).

Quadro 5 – Frequência de moléstias a partir da variável tempo de residência

médio no entorno, considerando a totalidade das sisaleiras (S1, S2 e S3)

Fonte: Dados da pesquisa, 2017

TEMPO DE

RESIDÊNCIA (MÉDIA)

ASMA DERMATITE RINITE TOTAL

2,5 ANOS 01 01 04 06

7,5 ANOS 02 06 08 16

12,5 ANOS 01 04 11 16

17,5 ANOS - 03 04 07

25 ANOS 03 05 15 23

55

Se analisarmos os dados coletados a partir da comparação dos diferentes

níveis tecnológicos adotados por cada sisaleira, podemos observar que este fator

influencia diretamente nos casos de moléstias relatados.

Considerando os dados extraídos diretamente do instrumento de coleta II,

tendo como referencial as variáveis distância média dos moradores do entorno e

tempo médio de moradia em relação às sisaleiras, contata-se que a soma dos

números de moléstias de ordem respiratória relatadas em todos os intervalos de

distância aplicados chega a 18 casos no entorno da S3 (baixo nível tecnológico) e a

21 casos na S2 (médio nível tecnológico). Já em ralação à S1, que adota alto nível

tecnológico no beneficiamento, coleta e acomodação dos resíduos sólidos do sisal,

foram relatados apenas 09 casos de ordem respiratória (Quadro 06).

Se pontuarmos os casos de problemas de ordem dermatológica, citados

nesse trabalho como dermatites e ainda considerando as variáveis distância média

dos moradores e tempo de moradia no entorno das sisaleiras, percebe-se uma sutil,

embora inegável diferença, uma vez que no entorno da S3 e S2 aparecem 07 casos

em ambas as sisaleiras e no caso da S1, detecta-se 2 casos a menos (Quadro 6).

Quadro 6 – Quantidade total de casos de moléstias relatados pelos

moradores do entorno de S1, S2 e S3, considerando as variáveis tempo

de moradia no entorno e distância em relação às sisaleiras

CASOS/MOLÉSTIA SISALEIRA

S1

S2

S3

Problemas de ordem respiratória 09 21 18

Problemas de ordem dermatológica 05 07 07

Fonte: Dados da pesquisa, 2017.

Assim, ao considerarmos as variáveis citadas, somando todos os resultados

obtidos em seus intervalos, os diferentes níveis de tecnologia observados em S1, S2

e S3 influenciam diretamente na quantidade de casos de moléstias relatados pelos

moradores do entorno.

Isso certamente se deve ao fato de que, mesmo não interferindo diretamente

na quantidade de resíduos/tonelada gerados no processo de beneficiamento da fibra

56

(conforme podemos constatar consultando o quadro 2), mantendo-se inalterado o

percentual de pó gerado em relação ao montante de fibras beneficiadas, a forma

como o pó de sisal é coletado, transportado, embalado e acondicionado em cada

sisaleira influencia na quantidade deste mesmo pó que estará em suspensão no

ambiente da sisaleira e, consequentemente, em seu entorno.

Do ponto de vista estatístico, por conta do desenho experimental adotado -

conforme citado anteriormente, não foi possível analisar e comparar as sisaleiras a

partir de blocos distintos (S1, S2 e S3), motivo pelo qual foram estudadas em sua

totalidade.

No entanto, ao analisarmos os dados coletados no instrumento de coleta II

(Anexo), percebe-se claramente que há diferenças quanto às variáveis distância e

tempo e sua influência na quantidade de casos de moléstias de ordem respiratória

ou dermatológica, o que está explicitado no quadro 05 logo acima.

O fato de os dados não seguirem uma distribuição normal impossibilitou a

utilização de médias como medidas representativas dos dados observados. Dessa

maneira, utilizou-se a comparação das medianas, permitindo identificar possíveis

diferenças entre as faixas de distância total (DT) e tempo total (TT) avaliadas

(Tabelas 01 a 04).

Tabela 1 – Resumo da análise de variância não paramétrica (Kruskal-Wallis) para

variável distância total (DT) dos moradores do entorno em relação ás sisaleiras do

município de Conceição do Coité – BA, no período de março a abril de 2017

FV

DT

erro

GL

2

6

H

7,2*

p-valor

0, 0273

Mediana geral 9

*Significativo a 5% de probabilidade pelo teste H.

57

Tabela 2 – Resumo da análise de variância não paramétrica (Kruskal-Wallis) para

tempo total (TT) de residência dos moradores do entorno das sisaleiras do município

de Conceição do Coité – BA, no período de março a abril de 2017

Tabela 3 – Valores medianos da incidência de casos/moléstias em função da

variável distância total (DT) dos moradores do entorno em relação às sisaleiras do

município de Conceição do Coité – BA da análise de postos do teste de Dunn

Tabela 4 – Valores medianos da incidência de casos/moléstias em função do Tempo

Total (TT) dos moradores do entorno em relação às sisaleiras do município de

Conceição do Coité – BA da análise de posto do testes de Dunn

Dist. Total Casos/Moléstias

25

75

125

18,0 a

9,0 ab

0,0 b

Medianas seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Dunn

Tempo Total Casos/Moléstias

25

7,5

12,5

17,5

2,5

9,0 a

6,0 a

4,0 a

3,0 a

3,0 a

Medianas seguidas pelas mesmas letras não diferem entre si pelo teste de Dunn

FV

TT

erro

GL

4

10

H

6,07ns

p-valor

0,1942

Mediana geral 4

ns Não significativo pelo teste H.

58

Ao analisarmos a relação entre a distância total dos moradores do entorno

das sisaleiras (S1, S2 e S3) e o número de casos/moléstias relatados pelos mesmos

moradores, observou-se que, aplicando-se o teste H de análise de variância não

paramétrica, detectou-se uma diferença significativa a de 5% de probabilidade entre

as faixas de distância comparadas, o que nos permite afirmar que a distância dos

moradores em relação à sisaleira influenciou no número de casos/moléstias (Tabela

1).

Conforme explicitado na tabela 3, a análise de postos do Teste de Dunn

mostra que as maiores medianas em relação à distância total e as moléstias

computadas foram observadas nas faixas de distância de 25m (18,0) e 75m (9,0).

Embora a primeira e a segunda faixa de distância não diferenciem estatisticamente

entre si (25 e 75m, respectivamente), a primeira faixa de distância (25m), se

comparada a última (125m) apresenta clara diferenciação.

Ao observarmos a mesma análise de variância não paramétrica realizada,

tendo como referência a variável tempo total (TT) de residência dos moradores no

entorno das sisaleiras, pode-se afirmar que não houve diferença significativa entre

as faixas de tempo avaliadas (Tabela 2).

Conforme apresentado na tabela 4, a maior mediana foi obtida na faixa de

tempo total (TT) de 25 anos, embora não se tenha constatado diferenças estatísticas

significativas entre as faixas de tempo avaliadas pela análise de posto do teste de

Dunn.

Por fim, pode-se concluir que a variável distância média dos moradores em

relação ás sisaleiras influenciou diretamente no número de casos/moléstias

descritos no quadro 4 e na tabela 2, anteriormente apresentados. Apesar de não

observadas diferenças estatísticas significativas entre as faixas de tempo total (TT)

observadas, a análise dos dados brutos (não tratados) coletados no instrumento de

coleta II, dirigido aos moradores do entorno das sisaleiras, a análise dos dados

apresentados no quadro 04 nos permite afirmar que há discreta relação entre estas

mesmas faixas de tempo e os casos de moléstias citados, uma vez que o maior

número de casos aparece justamente na maior faixa de tempo pesquisada (25

anos).

59

5 DISCUSSÃO

Conforme detalhado na Revisão de Literatura apresentada neste trabalho,

não existem muitos trabalhos publicados sobre os potenciais riscos do pó de sisal

para a saúde humana. Assim, na ausência de trabalhos que tratem especificamente

deste resíduo, faz-se necessário que o mesmo seja estudado enquanto Material

Particulado em Suspensão ou MPS, que são partículas de diversas origens, que

possuem diâmetro igual ou inferior a 100 µm (COELHO, 2007).

Dependendo da variação destas dimensões, pode-se encontrar entre os MPS

as chamadas partículas finas, que oscilam entre 10 e 2,5 µm (conhecidas

respectivamente como PM10 e PM2,5) que, devido a seu pequeno porte, representam

potencial risco à saúde humana, uma vez que, ao serem inspiradas juntamente com

o ar atmosférico, adentram o aparelho respiratório, causando irritação e potenciais

danos (TRAVERSI, 2009).

Essas partículas finas (PM10 e PM2,5) podem ter diversas origens naturais

como a poeira do solo, restos da decomposição biológica e incêndios florestais.

Também são abundantemente geradas pela ação humana, na queima de

combustíveis sólidos ou de biomassa e também nos processos industriais de

transformação e beneficiamento de produtos de origem mineral ou vegetal

(GOUVEIA, 2010).

Conforme citam Wilson et al. (2000), a meia vida dessas partículas em

suspensão é geralmente muito alta, uma vez que podem ser transportadas para

longe do seu ponto de origem, garantido grande propagação e prolongando sua

atuação enquanto alergênico, expondo ao risco tanto a população que estiver

próxima à fonte geradora, quanto aquela situada distante. Tal constatação corrobora

com os relatos da presença do pó de sisal no ar, na casa e nos móveis dos

moradores do entorno das sisaleiras em todas as faixas de distância pesquisadas

(25, 75 e 125m).

Segundo Dominici (2007), a exposição aos referidos materiais particulados

em suspensão podem levar ao surgimento de irritações no sistema respiratório

superior (traqueia e brônquios) e intensificar doenças respiratórias preexistentes,

como a asma. Já a exposição por tempo prolongado e em altas concentrações dos

mesmos materiais particulados podem levar ao desenvolvimento de doenças

crônicas relacionadas à obstrução pulmonar.

60

Os vegetais em geral possuem diversos compostos. No caso do sisal,

podemos citar o tanino, os alcaloides, a saponina e a cumarina (BARRETO, 2012). A

saponina, presente em grande concentração nas folhas e na fibra do sisal, também

é encontrada no resíduo seco (pó) do mesmo e pode ter ação alergênica se

absorvida em grande concentração por animais ou seres humanos (PUENTES,

2009).

Considerando que o beneficiamento da fibra da A. sisalana nas sisaleiras,

gera como subproduto o pó de sisal, material particulado que se espalha no interior

e no entorno das sisaleiras, podemos assim relacionar a presença deste pó nos

domicílios com os problemas de saúde relatados, a saber: asma, rinite e dermatite.

Segundo Hetzel e Silva (2008), a asma pode ser definida como a inflamação

e obstrução das vias aéreas, podendo ser reversível espontaneamente ou com

tratamento específico. Ela está diretamente relacionada com fatores genéticos e/ou

ambientais, através da exposição à compostos alérgicos e agentes infecciosos.

Esses compostos alérgicos podem ser representados pelas partículas em

suspensão trazidas pela ação do vento e que se instalam em cortinas, mobílias e

outros objetos do ambiente doméstico (TINKELMAN, 1999).

A rinite, por sua vez, pode ser definida como uma inflamação das fossas

nasais advinda de uma alergia ou infecção (PALOMBINI et al., 2001). Segundo

Smeltzer e Bare (2005), além de surgir por conta de infecções virais e bacterianas, a

rinite também pode ter origem alérgica, causada nesse caso por alergênicos trazidos

pelo ar, ao conjunto dos quais podemos incluir o pó de sisal em suspensão.

A correlação positiva encontrada entre a rinite e suas manifestações (espirro,

coriza e obstrução nasal) e a concentração de material particulado (pó) em

suspensão no ar, ou observado no interior dos imóveis e sobre objetos em geral

também pode ser observada no trabalho publicado por Castro et al. (2009), que

relataram haver uma relação direta entre o aumento das partículas e a diminuição da

capacidade respiratória, principalmente em crianças e idosos.

Por fim, ao buscar a relação entre os trabalhadores rurais, sua exposição a

partículas em suspensão de origem animal e vegetal e sintomas respiratórios

manifestos nestes mesmos trabalhadores, Faria et al. (2006) constataram qua a

maior proporção de agricultores com dificuldades de ordem respiratória era

encontrada entre os que se expunham mais tempo à poeira gerada em suas

atividades laborais diárias no campo. Considerando a grande quantidade de pó de

61

sisal em suspensão gerada durante a produção dos fardos de sisal seco ainda no

campo, no seu beneficiamento na sisaleira e em seguida no seu transporte (carga e

descarga), é plenamente possível entender as mesmas relações alérgicas relatadas

tanto por quem manipula o sisal (produtor e funcionários das sisaleiras) quanto pelos

moradores do entorno, expostos ao mesmo pó em suspensão.

Sampaio (1998) conceitua dermatite como sendo uma inflamação aguda ou

crônica da pele causada por contato com substâncias e/ou materiais que, em

contato com a pele, causam irritação ou reação alérgica caracterizada por ardor,

descamação ou coceira. Dentre os fatores de risco, o Decreto de nº 6.957/2009

(Previdência Social), cita o contato com plantas, em exposição laboral como um dos

comprovados agentes causadores da dermatite.

A partir do exposto, seria possível sugerir a relação entre o pó de sisal

enquanto partícula em suspensão e os casos de asma, rinite e dermatite manifestos

pelos moradores do entorno das sisaleiras. Embora não podemos atribuir todos os

casos de moléstias citadas ao pó de sisal, já que os trabalhos de pesquisa citados

também apresentam outros fatores, é inquestionável a atuação do pó em suspensão

nesses processos alérgicos (respiratórios ou dermatológicos) e nas moléstias

relatadas, conforme afirmam os entrevistados.

Em função dos problemas de saúde causados pelo resíduo seco (pó) de sisal,

pensamos em uma alternativa viável economicamente para diminuir a quantidade de

pó de sisal em suspensão no entorno das sisaleiras, como descreveremos na

próxima seção.

5.1 UMA ALTERNATIVA PARA MINIMIZAR OS PROBLEMAS DE SAÚDE DA

POPULAÇÃO

Uma vez constatada a relação direta entre o pó de sisal em suspensão no

entorno das sisaleiras e a saúde dos moradores que a rodeiam, é salutar que se

encontre meios para reduzir o volume desse MPS, visando assim mitigar seus

efeitos danosos à saúde, assunto que trataremos a seguir.

A busca por fontes alternativas de energia tem promovido um considerável

crescimento de estudos associados ao desenvolvimento de novas tecnologias

sustentáveis. Segundo Quirino (2003), a acentuada redução dos recursos não

renováveis reforçou o uso da biomassa como fonte energética totalmente viável

62

No entanto, mesmo sendo apresentada como uma eficiente fonte natural de

energia, o uso de biomassa (particularmente no que tange ao uso de madeira) para

queima e produção na indústria, além das diversas aplicações na construção civil,

teve um exponencial crescimento, reforçado pelo crescimento populacional e sua

consequente demanda, fato que têm exercido grande pressão nas florestas e outras

áreas verdes, principalmente nos países que têm na queima da madeira sua

principal fonte de energia (PAULA et al., 2011).

Diante desse quadro, a utilização de resíduos sólidos de origem vegetal em

substituição à madeira originária da derrubada de árvores se revela uma alternativa

viável, uma vez que, sendo mais bem aproveitados, deixarão de ser descartados e

terão uma destinação mais adequada do ponto de vista ambiental. Estes resíduos

conservam o mesmo potencial energético dos vegetais que os originaram e tais

resíduos chegam a significar mais da metade da matéria bruta beneficiada (DIAS et

al., 2012).

Garcia et al. (2012) ainda apresentam algumas vantagens para a adoção da

biomassa enquanto fonte de energia, contemplando os 3 pilares da sustentabilidade

(ambiental, econômico e social), a saber:

✓ estabilidade térmica ao longo da queima;

✓ espaço de armazenagem reduzido, possibilitando assim a manutenção

de estoques reguladores e de emergência;

✓ ausência de conservantes e substâncias químicas, uma vez que é

produzido apenas por compactação (plastificação da lignina por

pressão e calor);

✓ criação de empregos, evitando despovoamento das áreas rurais e

pequenas cidades, dada a sua relação com a agricultura familiar;

✓ neutralidade em relação às emissões de CO², uma vez que o

crescimento da planta se deve ás reações de fotossíntese, com

sequestro de carbono da atmosfera;

✓ maior higiene e melhor aparência que a lenha, o que o torna ideal para

indústrias alimentícias;

✓ grande oferta de resíduos (matéria-prima), o que reduz preços e

possibilita competitividade em relação aos combustíveis fósseis.

63

Para transformar esta biomassa em energia térmica (calor) para os fins a que

se destina, são utilizados os chamados processo termoquímicos, destacando-se a

pirólise, a gaseificação e a combustão (MANARA et al. (2012), sendo a última de

maior relevância para a pesquisa em questão. O carbono, o hidrogênio e o oxigênio

são os principais elementos envolvidos nesse processo, reagindo durante a

combustão completa, estes formam água (H2O), gás carbônico (CO2) e liberam calor

(VANLOO e KOPPEJAN, 2002).

Segundo afirma Nogueira (2000), os aspectos da biomassa considerados

mais importantes para permitir seu uso enquanto fontes de energia são a sua

composição química elementar (teor de carbono, hidrogênio, enxofre, oxigênio,

nitrogênio, potássio, fósforo e cálcio) e seu teor de umidade (quantidade de água na

biomassa).

Tratando-se de resíduos sólidos de origem vegetal, também chamados de

lignocelulósicos, a briquetagem surge como uma eficiente forma de aproveitamento

destes, transformando-os em biocombustíveis sólidos (AMORIM et al., 2015). Este

processo consiste em transformar a biomassa em um combustível de grande

densidade, com baixíssimos teores de umidade e energeticamente denso, com

formato cilíndrico/padrão para facilitar seu armazenamento e transporte: o briquete

(QUIRINO et al., 2012).

De uma forma geral, o briquete proveniente da biomassa vegetal resulta da

compactação de resíduos lignocelulósicos (lignina e celulose) e são utilizados na

geração de energia na forma de calor ou eletricidade. Seu diâmetro oscila entre 50 e

150 mm e pode ser produzido a partir de qualquer resíduo de origem vegetal (Figura

25)

64

Figura 25 – Sequência de imagens que mostra os briquete de origem vegetal já

produzidos e embalados para comercialização

Fonte: https://www.google.com.br/search?q=briquetes+de+madeira&tbm

Os briquetes são fabricados por compactação e aquecimento, utilizando-se

uma prensa com rosca cilíndrica e matriz aquecida, considerada o tipo mais comum

de briquetadeira, que depende apenas de uma fonte de energia elétrica para seu

funcionamento (Figura 26).

Figura 26– Briquetadeira de matriz aquecida.

Fonte: https://www.google.com.br/search?q=briquetadeira+de+matriz+aquecida

A rosca transporta e empurra a matéria-prima contra a matriz. Ao chegar à

matriz aquecida por resistências elétricas, o briquete prensado é torrado em sua

superfície, a uma temperatura entre 250 e 300° C. Graças a esse processo, não há

a necessidade de adesivos ou aglutinantes, devido ao poder plástico da lignina que,

sob o efeito do calor e da pressão gerados pela briquetadeira no processo de

produção do briquete (figura 27), se molda ao novo formato e cria uma película que

envolve o briquete e mantém a sua forma depois de resfriado (FILLIPETO, 2008).

65

Figura 27 – Esquema de funcionamento da briquetadeira de matriz aquecida

Fonte:

https://www.google.com.br/search?biw=1280&bih=851&tbm=isch&sa=1&q=briquetadeira+de+matr

iz+aquecida+desenho+tecnico

Considerado um processo bastante vantajoso, o briquete permite a redução

de volume e garante uma forma regular do material usado em sua fabricação,

facilitando o seu armazenamento. Além disso, a prensagem da matéria prima

envolvida no processo de produção do briquete aumenta a densidade e elimina a

umidade da biomassa vegetal, melhorando consideravelmente o seu desempenho

nos processos de queima, entre outras vantagens.

Na tabela 5, apresentamos um quadro comparativo que demonstra as

vantagens do briquete em relação à madeira obtida a partir da lenha in natura.

Tabela 05 – Comparativo de desempenho do briquete comparado à lenha

Briquete Lenha

Alto poder calorífico Baixa temperatura de chama

Armazenagem racional paletizada Grandes áreas para armazenamento

Redução de mão-de-obra no manuseio Maior mão-de-obra no manuseio

Baixa produção de cinzas Alta produção de cinzas

Baixa umidade (melhor queima) Alta umidade

Isento de licenças ambientais Requer licença ambiental

Fonte: BIOMAX (2016)

66

Partindo desses pressupostos, podemos então afirmar que o briquete se

apresenta como uma alternativa viável para o aproveitamento do resíduo seco (pó)

do sisal, o que fundamentamos no tópico a seguir.

Além de serem largamente aproveitados para a alimentação animal, os

resíduos oriundos das atividades agrícolas servem como insumo para outros

produtos. A geração de energia revelou-se como uma importante alternativa para o

uso destes resíduos, uma vez que a grande biodiversidade brasileira permite a

disponibilidade de considerável variedade de resíduos agrícolas e agroindustriais

gerados a partir do bioprocessamento de diversos vegetais (MAPA, 2016).

Neste cenário, aparecem resíduos derivados de diversas atividades como a

indústria de papel e celulose – maravalha de eucalipto e pinus, as serrarias -

serragem e pó de madeira, as usinas de açúcar e álcool - bagaço de cana, a

produção agrícola em geral – palhas, sabugos e cascas e a indústria sisaleira –

bucha e pó de sisal, conforme descrito na figura 28 (ROSA et al., 2011).

Figura 28: Potencial de valorização e aproveitamento de resíduos agrícolas e

agroindustriais de origem vegetal

Fonte: ROSA et al., 2011

Nos últimos anos, diversas pesquisas publicadas objetivaram encontrar

aplicabilidade para os resíduos supracitados nas mais diversas áreas. Entre as

Resíduos agroindustriais de frutas

Sementes ou casca de: coco, caju,

manga, goiaba, maracujá, abacaxi,

acerola, etc. Resíduos agroindustriais de oleaginosas

Torta de semente de dendê, algodão,

girassol, soja, etc. Resíduos agroindustriais de madeira e

fibrosas

Bucha e pó de sisal, serragem de

madeiras, etc. Resíduos agrícolas em geral

Palha de cereais, bagaço de cana-de

açúcar, casca de grãos, etc.

Plataformas químicas

Celulose

Lignina

Taninos

Amido

Pectina

Ácidos graxos

Colágeno

Corantes naturais

Açúcares

Produtos de valor

agregado

Energia

Biopolímeros

Compósitos

Hidrogéis

Bioadesivos

Bioetanol

Biogás

Ácidos orgânicos

Corantes a encapisulados

67

alternativas estudadas, destaca-se a produção de briquetes para geração de calor

(energia térmica), em substituição à lenha in natura (SILVA et al., 1999).

Os resíduos agroindustriais de madeira e plantas fibrosas são apresentados

por Rosa et al. (2011) como produtos de valor agregado para, entre outras

aplicações, serem usados para a produção energética. Dentre estes, destacamos os

resíduos secos oriundos do beneficiamento do sisal: bucha e pó (Figura 28). Isso

nos permite considerar a viabilidade do pó de sisal para a produção de briquetes,

objetivando a geração de energia térmica (calor).

Reforçando tal constatação, análises realizadas pelo Instituto de Tecnologias

do Paraná – TECPAR (2016) sobre o poder calorífico dos resíduos sólidos do sisal

depois de transformados em briquetes demonstraram grande potencialidade para a

utilização como fonte de energia térmica, podendo ser empregados nos fornos de

panificadoras e pizzarias, evitando a devastação da vegetação nativa do semiárido

baiano por conta da retirada de madeira. Isso se dá porque, segundo o referido

estudo, biomassas vegetais do tipo, submetidas a temperaturas elevadas (entre 300

e 500º C) na ausência de ar, se decompõem produzindo e liberando gases de

altíssima temperatura (ANDRADE et al., 2011).

Andrade (2008) reforça a potencialidade do sisal como fonte de energia,no

que se refere ao poder calorífico de suas fibras. Considerando que o desfibramento

é um processo mecânico, é possível o afirmar que este não altera a composição

química do pó gerado, que permanece idêntica às fibras, mantendo, portanto, o

poder calorífico das mesmas.

Em sua pesquisa sobre o tratamento e processamento das fibras de curauá,

Spinace at al. (2009) constataram que, mesmo depois de fragmentadas, as fibras

produziram resultado semelhante se comparadas do ponto de vista de suas

características físico/químicas, o que corrobora com a constatação de Andrade

(2008), apresentada logo acima.

Ao estudar as fibras de coco quanto á sua composição química, propriedades

mecânicas e térmicas, Corradini et al. (2009) comparam amostras de fibras de coco

verde de 5 cultivares diferentes. Conforme descrito no trabalho, as cascas foram

dilaceradas em triturador com faca de corte e martelos desintegradores e em

seguida prensadas, de forma a obter duas frações: pó e fibra. Concluíram ao final de

seu trabalho que mesmo prensadas, trituradas ou dilaceradas, as amostras não

sofreram alterações em sua composição química, não deixando dúvidas que a ação

68

mecânica (prensagem, trituração e corte) sobre fibras vegetais não proporciona

alterações em seus componentes.

Por fim, os trabalhos acima citados nos permitem concluir que o processo de

desfibramento do sisal, por ser exclusivamente mecânico, não afeta suas

características químicas. Assim sendo, o pó de sisal apresenta capacidade de

queima equivalente à fibra, cujo potencial térmico já foi comprovado no trabalho de

Rosa et al. (2011). Entende-se então que a utilização dos resíduos de sisal (pó) para

a produção de briquetes torna-se plenamente viável, o que se apresenta como uma

alternativa ao descarte do referido resíduo.

Nilson et al. (2011) afirma que a briquetagem de resíduos agrícolas e

agroindustriais consiste na compactação do resíduo de modo a obter produtos com

maior densidade energética (Kcal/m³), superior à dos resíduos originais usados

como matéria prima no processo. Dependendo da composição química e condições

físico-químicas do resíduo a ser utilizado como matéria-prima, estes precisam

passar por um pré-tratamento antes de ser compactada, visando a produção dos

briquetes (Figura 29). Assim sendo, pode ser necessário triturá-la para diminuir o

tamanho das partículas ou secá-las para reduzir o teor de umidade.

No caso do resíduo de sisal enquanto matéria-prima, estes processos são

desnecessários, uma vez que este resíduo já é disponibilizado totalmente seco e se

apresenta em forma de pó, misturado a fragmentos de fibras de reduzido tamanho.

Figura 29 – Etapas pelas quais passa a matéria prima até sua

transformação em briquete

Fonte: Nilson et al., 2011

COLETA

TRITURAÇÃO

EMPACOTAMENTO

RESFRIAMENTO

MOAGEM

SECAGEM

TRANSPORTE

COMPACTAÇÃO

ARMAZENAMENTO

69

Conforme apresentamos anteriormente, para a produção de briquetes a partir

da compactação e aquecimento da biomassa vegetal, o que se aplica também ao

resíduo seco (pó) de sisal enquanto matéria-prima e sua utilização na fabricação de

briquetes faz-se necessário a aquisição de uma briquetadeira de matriz aquecida

(Figura 26).

As máquinas e equipamentos utilizados no processamento da matéria-prima

para a produção de briquetes no Brasil são, na maioria, de fabricação nacional.

Dentre estes fabricantes, destacam-se a Biomax (Rio Grande do Sul), a Lippel

(Santa Catarina), a Chavantes (São Paulo) e a Tecnoambiental (Paraná).

Após consulta aos sites das empresas supracitadas e a partir da comparação

entre as opções oferecidas, a alternativa que possui a melhor relação custo-

benefício é o modelo de briquetadeira extrusora de matriz aquecida sem misturador.

Com um satisfatório consumo de energia (5 Kw/h), este modelo processa 250 kg de

matéria-prima por hora trabalhada, transformando-a em briquetes (Figura 30).

Figura 30 – Briquetadeira extrusora de matriz aquecida sem misturador

Fonte:

https://www.google.com.br/search?biw=1280&bih=851&

tbm=isch&sa=1&q=Briquetadeira++de+matriz+aquecida

Considerando que as sisaleira produzem, em média, 2.400 kg/semana

(Quadro 2), este modelo conseguiria processar toda a produção média semanal de

pó das sisaleiras pesquisadas em pouco mais de 9 horas de produção.

Podemos afirmar que a relação custo/benefício é muito interessante, uma vez

que o investimento inicial para a aquisição do equipamento é em torno de R$

70

9.000,00 (Nove mil reais), carecendo apenas de uma fonte de energia para seu

funcionamento. É relevante salientar que não há necessidade de insumos ou

produtos químicos na produção dos briquetes, uma vez que, conforme anteriormente

explicado, a lignina presente no pó de sisal exerce o papel de agregadora do

briquete, em resposta ao aquecimento e pressão gerados no processo de produção.

É importante salientar que o pó de sisal é matéria-prima farta nas sisaleiras e

de custo zero para o proprietário, o que a torna extremamente vantajosa em relação

a outras matérias-primas. Ainda no levantamento realizado pela Embrapa

Agroenergia (2012), observou-se que os gastos com transporte da matéria-prima

para a produção de briquetes em geral chega a atingir 20% do custo final do

produto. O fato de o pó de sisal já está disponível nas sisaleiras elimina esse custo

por completo.

Além do custo com o frete, ainda se gasta com a aquisição das matérias-

primas convencionais normalmente usadas na fabricação dos briquetes (como a

serragem, a casca de arroz e a fibra de coco, entre outras) que são compradas

diretamente das empresas geradoras, como as serrarias, as usinas de álcool e

açúcar e as beneficiadoras de arroz (Tabela 6), o que onera ainda mais os custos de

produção do briquete. No caso do uso do pó de sisal enquanto matéria-prima, esse

custo também se reduz a zero, dada a imediata disponibilidade do pó armazenado

nas sisaleiras.

Tabela 6 – Preços médios de compra de matérias-primas (sem frete)

Fonte: Pesquisa Embrapa Agroenergia (2012) e site MF Rural (2012)

Além de resolver as questões que envolvem o armazenamento e inadequado

descarte dos resíduos secos do sisal e seus consequentes danos à saúde do meio

ambiente e dos moradores do entorno, o aproveitamento do pó de sisal na produção

71

de briquetes ainda se revela uma fonte extra de receita para as sisaleiras. Os preços

médios de venda de briquetes de origem vegetal oscilam entre R$ 250,00 (serragem

de madeira) e R$ 1.600,00 por tonelada (Tabela 7), o que nos permite afirmar que,

mesmo que seja comercializado nas faixas mais baratas de preço, o briquete

produzido a partir do sisal será um negócio rentável.

Tabela 07 – Preços médios de venda dos briquetes (com frete)

Fonte: Adaptado pelo autor de EMBRAPA (2012)

Apesar de o briquete ser uma fonte de combustível relativamente antiga, só

recentemente percebeu-se uma expansão do mercado desse produto, fato

certamente explicado pela crescente demanda por fontes de energia alternativas ao

petróleo e a lenha. Estima-se que nos últimos anos, o mercado de briquetes tem

experimentado crescimento da ordem de 4% ao ano (SILBERSTEIN, 2011). Esse

crescimento poderia ser ainda maior, considerando a quantidade de resíduos de

biomassa que ainda não são comercialmente aplicados para esse fim, entre eles o

resíduo seco de sisal. Os dados apresentados nos levam a perceber o grande

potencial do mercado de briquetes de biomassa vegetal enquanto combustível para

atender a crescente demanda por energia térmica gerada a partir de fontes

renováveis.

Gentil (2008) estimou que, em 2008, existiam 80 empresas produtoras de

briquetes no Brasil, responsáveis por uma produção média de 960.000

toneladas/ano. A Embrapa Agroenergia (2012) realizou levantamento que permitiu

comprovar que 72% das empresas produtoras de briquete identificadas até então

surgiram a partir do ano 2000, sendo relativamente jovens (Figura 31), o que nos

mostra o potencial de expansão desse negócio.

72

Figura 31 – Ano de fundação dos produtores de briquetes no Brasil

Fonte: Pesquisa Embrapa Agroenergia (2012).

Assim sendo, considerando o pequeno investimento na aquisição do

maquinário necessário, o baixo consumo de energia, a inexistência de custos com a

aquisição e o transporte da matéria-prima (pó de sisal), o grande nicho de mercado

a explorar, o elevado preço dos briquetes produzidos a partir de outros materiais, a

receita a ser gerada pela produção e venda dos briquetes produzidos a partir do pó

do sisal e as vantagens para o meio ambiente e a saúde dos envolvidos, fica clara a

aplicabilidade e o potencial econômico, social e ambiental da proposta em

discussão.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluir a presente pesquisa, que tratou do desfibramento da Agave

sisalana no município de Conceição do Coité – Bahia, pode-se dizer que os

objetivos foram alcançados, uma vez que, a partir do volume de informações

prospectadas nas visitas in loco e dos instrumentos de coleta aplicados, foi

plenamente possível caracterizar o sistema de produção e beneficiamento da fibra

de sisal, além de construir um detalhado perfil de cada uma das três sisaleiras

selecionadas e estudadas neste trabalho.

Também foi possível identificar e descrever o destino e as quantidades de pó

gerado processo de beneficiamento da fibra, observando como cada sisaleira

pesquisada lida com esse resíduo e entendendo de que forma o mesmo se propaga

73

no meio interno e externo e que danos causa. A partir das consultas à literatura

relacionada ao tema e do cabedal de informações levantadas nas sisaleiras co-

participantes desta pesquisa, ficaram claros todos os processos envolvidos na

produção, coleta, manuseio, acondicionamento e usos aplicados do resíduo em

questão.

Confirmou-se também a relação direta entre o pó de sisal em suspensão e a

saúde dos moradores do entorno das sisaleiras, fato comprovado a partir dos dados

levantados e analisados, em alguns casos, também estatisticamente, que permitiram

concluir que tanto a variável distância dos moradores do entorno das sisaleiras

quanto a variável tempo de residência dos moradores do entorno foram fatores que

influenciaram na saúde dos moradores, sendo que a última em menor proporção.

Ademais, uma vez comprovados os riscos que envolvem os resíduos secos

do sisal para a saúde das pessoas e do meio ambiente e levantados todos os dados

necessários para uma proposta viável e rentável de seu uso, concluiu-se que sua

utilização enquanto biomassa para produção de energia térmica surge como uma

alternativa viável.

Partindo dessas constatações, apresentou-se ao final, a proposta de

utilização deste resíduo seco para a produção de briquetes a serem comercializados

pelas sisaleiras como uma alternativa ao uso da lenha e dos combustíveis fósseis,

garantindo assim o adequado uso dos resíduos secos de sisal, assegurando mais

qualidade de vida para os moradores do entorno, menos danos ao meio ambiente e

proporcionando, ainda, mais uma fonte de receita para as sisaleiras, que

converterão um problema em uma solução lucrativa.

No entanto, é relevante ressaltar o leque de estudos futuros que o tema

possibilita, uma vez que a presente pesquisa não contemplou outras potencialidades

do resíduo de sisal, a exemplo de seus princípios ativos que poderiam ser utilizados

na farmacologia para a produção de novos medicamentos, ou de seu potencial

nutritivo, enquanto alternativa para a alimentação humana, ou ainda sua utilidade

enquanto matéria-prima para a indústria de papel e papelão, dada a sua composição

celulósica.

Por fim, a presente pesquisa apresenta como produto final o projeto de

intervenção anexo, intitulado “Proposta de Aproveitamento dos Resíduos Secos (pó)

do Sisal Para a Produção de Briquetes”, dirigido tanto ás sisaleiras incluídas neste

trabalho, quanto as demais que não foram elencadas no mesmo mas que,

74

certamente, também podem se beneficiar do modelo proposto, através do

incremento de receita e dos benefícios ambientais proporcionados pelo projeto de

reaproveitamento sugerido.

75

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82

APÊNDICES

APÊNDICE A - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

FACULDADE MARIA MILZA

PROGRAMA DE MESTRADO PROFISSIONAL EM DESENVOLVIMENTO

REGIONAL E MEIO AMBIENTE

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE

Eu, _______________________________________ (nome do responsável), ____

(idade),____________________(estadocivil),_____________________(profissão),_______

_____________________________(endereço),_________________(RG), estou sendo

convidado a participar do estudo intitulado “DESFIBRAMENTO DA Agave sisalana NO

MUNICÍPIO DE CONCEIÇÃO DO COITÉ – BA: PROPOSTA DE SISTEMA DE

APROVEITAMENTO DE RESÍDUOS SÓLIDOS”.

O objetivo geral do referido projeto de pesquisa será elaborar uma proposta de sistema de

gestão de resíduos sólidos para os subprodutos do desfibramento da Agave sisalana no

município de Conceição do Coité – Bahia e como objetivos específicos pretende caracterizar

o sistema de produção das sisaleiras na área de estudo, identificar e ddescrever o destino e

quantidade de resíduos sólidos (pó) produzidos e, finalmente, propor ações para o

aproveitamento dos referidos resíduos. Os instrumentos de coleta de dados será

questionário com perguntas objetivas agrupadas em critérios pré-estabelecidos (clínicos,

socioeconômicos, vida laboral, entre outros).

O estudo se caracteriza como uma pesquisa de campo exploratória, descritiva, de

abordagem qualitativa e quantitaviva. O lócus são as sisaleiras de médio e grande porte do

município de Conceição do Coité – Bahia, localizado no Território de Identidade do Sisal, no

semiárido baiano. Os participantes voluntários serão os proprietários/gerentes das sisaleiras

e os moradores do entorno destas, conforme número pré-estabelecido.

O estudo justifica-se por possibilitar a gestão adequada dos resíduos sólidos (pó) produzidos

no beneficiamento da fibra de sisal, agregando valor aos mesmos e evitando o seu descarte

e dispersão de forma inadequada no meio ambiente.

A minha participação no referido estudo consistirá em responder as questões propostas no

instrumento de coleta, sendo informado que o possível risco da pesquisa será apenas algum

eventual comportamento adverso (desconforto) em alguma pergunta durante o

preenchimento do questionário. Caso haja algum constrangimento ou desconforto durante a

aplicação do instrumento de pesquisa (questionário), fui alertado que posso recusar a

83

participar do estudo ou me abster de alguma resposta, de maneira que o instrumento de

pesquisa seja pouco invasivo e garanta a minha privacidade.

Os benefícios da pesquisa serão, principalmente, os subsídios que minha participação

poderá gerar para ações que mitiguem os impactos ambientais e na saúde humana

causados pelo descarte inadequado dos resíduos sólidos do sisal, na elaboração de um

modelo de gestão dos referidos resíduos nas sissaleiras que os geram.

Fui comunicado de que os dados pessoais e instrumentos de coleta utilizados na pesquisa

serão excluídos anteriormente à divulgação dos resultados. As informações confidenciais

ficarão arquivadas com o pesquisador responsável por um período de cinco anos e após

esse tempo serão destruídos. Apesar disso, caso sejam identificados e comprovados danos

de qualquer natureza à minha pessoa provenientes desta pesquisa, me será assegurado o

direito à indenização, conforme determina a Lei 466/2012. E, caso tenha alguma despesa

ou prejuízo financeiro comprovado decorrente da minha participação nessa pesquisa,

haverá ressarcimento na forma de pagamento em espécie. Também fui informado que me

recusar a participar do estudo, ou retirar meu consentimento a qualquer momento, sem

necessidade de justificativa e, se desejar sair da pesquisa, não sofrerei nenhum prejuízo.

Caso eu me sinta a vontade para participar da pesquisa, fui informado que esse TCLE

possui duas vias que serão assinadas por mim e pelo pesquisador responsável e eu ficarei

de posse de uma das vias. Os pesquisadores envolvidos com o referido projeto são a Profª

Drª Cláudia Jacobi Blaszkowski de Jacobi e o mestrando Eudes Ramos Mateus e com eles

poderei manter contato pelos telefones (75) 99243-4403 e (75) 99972-9526. As dúvidas

também poderão ser esclarecidas junto ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres

Humanos da FAMAM, pelo telefone (75) 3638-2549, localizado na Rodovia BR 101, Km 215

– Zona Rural – Sungaia, no município de Governador Mangabeira – Ba. É assegurado o

livre acesso a todas as informações e esclarecimentos sobre esse estudo e suas

consequências e tudo o mais que eu queira saber antes, durante e depois da minha

participação no mesmo. Enfim, sendo orientado sobre o teor do todo aqui mencionado e,

compreendendo a natureza e os objetivos desse estudo, manifesto meu livre consentimento

em participar, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor econômico a receber

ou a pagar, por minha participação. Isso posto, assino o presente termo, juntamente com os

pesquisadores.

Conceição do Coité, _____ de __________________ de 2016.

_______________________________ _____________________________________

CONVIDADO. PESQUISADOR

84

APÊNDICE B – Instrumento de Coleta de Dados I

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS QUESTIONÁRIO I – PROPRIETÁRIO/GERENTE

1. SISALEIRA: _________________________________________ 2. NOME: _____________________________________________

3. 3.1 ( ) PROPRIETÁRIO 3.2 ( ) GERENTE/DIRETOR

4. SEXO

4.1 ( ) Masculino 4.2 ( ) Feminino

5. FAIXA ETÁRIA

5.1 ( ) 18 - 25 anos 5.2 ( ) 26 – 35 anos 5.3 ( ) 36 - 45 anos 5.4 ( ) 45 - 55 anos

5.5 ( ) Superior a 55 anos

6. NÍVEL DE

ESCOLARIDADE

6.1 ( ) EF incompleto 6.2 ( ) EF completo

6.3 ( ) SG incompleto 6.4 ( ) SG completo 6.5 ( ) ES incompleto 6.6( ) ES completo

6.7 ( ) Pós-graduado

7. TEMPO DE

FUNCIONAMENTO DA EMPRESA

7.1 ( ) 01 a 05 anos 7.2 ( ) 05 a 10 anos 7.3 ( ) 10 a 15 anos 7.4 ( ) 15 a 20 anos 7.5 ( ) 20 a 30 anos 7.6 ( ) mais de 30 anos

8. ÁREA DE

ATUAÇÃO DA EMPRESA

8.1 ( ) Merc. interno 8.2( ) Merc. Externo 8.3 ( ) Ambos os mercados

9. A SISALEIRA RECEBE SISAL DE QUAIS MUNICÍPIOS DA REGIÃO? ____________________________________________________________________________________________________________________________

85

10. SE RECEBE APENAS DE CONCEIÇÃO DO COITÉ, DE QUE DISTRITOS E POVOADOS? ____________________________________________________________________________________________________________________________

11. A SISALEIRA PRESTA ALGUM TIPO DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA AOS SEUS PAFRCEIROS/FORNECEDORES? 11.1 ( ) SIM 11.2 ( ) NÃO

11.3 SE SIM, QUAIS? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12. A SISALEIRA FORNECE ALGUM INSUMO AOS SEUS PARCEIROS? 12.1 ( ) SIM 12.2 ( ) NÃO SE SIM, QUAIS? ____________________________________________________________________________________________________________________________

13. COMO SE DÁ O PAGAMENTO DOS FORNECEDORES? NA PRONTA-ENTREGA OU AL LONGO DO PROCESSO PRODUTIVO? ____________________________________________________________________________________________________________________________

14. QUAL A ENTRADA DE FIBRA BRUTA DE SISAL NA EMPRESA (TONELADAS/SEMANA)? ________________________________________

15. QUAL A SAÍDA DE FIBRA BENEFICIADA NA EMPRESA

(TONELADAS/SEMANA)? ________________________________________

16. QUAL A QUALTIDADE ESTIMADA DE RESÍDUO/PÓ DE SISAL GERADO NA EMPRESA (QUILOS/SEMANA)? ________________________________

17. A EMPRESA POSSUI ALGUM PLANO DE GESTÃO DE RESÍDUOS? 17.1 ( ) SIM 17.2 ( ) NÃO

17.3 SE SIM, QUAL(IS)? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

18. A EMPRESA APROVEITA O RESÍDUO GERADO NO BENEFICIAMENTO DO SISAL? 18.1 ( ) SIM 18.2 ( ) NÃO

18.3 SE SIM, DE QUE FORMA? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

86

19. A EMPRESA COMERCIALIZA O RESÍDUO GERADO DE ALGUMA

FORMA? 19.1 ( ) SIM 19.2( ) NÃO

19.3 SE SIM, QUAL A FORMA? ________________________________________________________________________________________________________________________________

20. SE NÃO HÁ APROVEITAMENTO OU COMERCIALIZAÇÃO DOS

RESÍDUOS GERADOS, QUAL A DESTINAÇÃO FINAL DOS MESMOS? ________________________________________________________________________________________________________________________________

21. A EMPRESA POSSUI ALGUMA CERTIFICAÇÃO?

21.1 ( ) SIM 21.2 ( ) NÃO

21.3 SE SIM, QUAL (IS)? _______________________________________________

22. COM QUE FREQUÊNCIA A EMPRESA RECEBE A VISITA DE

FISCALIZAÇÃO (MUNICIPAIS, ESTADUAIS OU FEDERAIS) RELACIONADA AO CONTROLE DA POLUIÇÃO AMBIENTAL?

22.1 ( ) MENSAL 22.2 ( ) SEMESTRAL 22.3 ( ) ANUAL

22.4 ( ) EXPORADICAMENTE 22.5 ( ) NUNCA RECEBEU

23. A EMPRESA REALIZA/POSSUI ALGUM TIPO DE AUDITORIA INTERNA? 23.1 ( ) SIM 23.2 ( ) NÃO

23.4 SE SIM, QUE ÁREAS SÃO CONTEMPLADAS?

________________________________________________________________________________________________________________________________

87

APÊNDICE C – Instrumento de Coleta de Dados II

INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS QUESTIONÁRIO II – POPULAÇÃO DO ENTORNO

1. ENTREVISTADO__________________________________________

2. 2.1 ( ) TRABALHA 2.2 ( ) RESIDE

3. SEXO

3.1 ( ) Masculino 3.2 ( ) Feminino

4. FAIXA ETÁRIA

(anos)

4.1 ( ) 18-25 4.2 ( ) 26-30 4.3 ( ) 31-35 4.4 ( ) 36-40 4.5 ( ) 41-45 4.6 ( ) 46-50 4.7 ( ) 51-55 4.8 ( ) 56-60 4.9 ( ) Mais de 60

5. PROXIMIDADE

DA SISALEIRA

5.1 ( ) 0-50m 5.2 ( ) 50-100m 5.3 ( )100-150m

5.4 ( ) 150-300m 5.5 ( ) 300-500m 5.6 ( ) 500-1.000m 5.6 ( ) mais de 1.000m

6. TEMPO DE

RESIDÊNCIA NAS PROXIMIDADES

6.1 ( ) 01 a 05 anos 6.2 ( ) 05 a 10 anos 6.3 ( ) 10 a 15 anos 6.4 ( ) 15 a 20 anos 6.5 ( ) 20 a 30 anos 6.6 ( ) mais de 30 anos

7. QUANTOS

RESIDENTES

7.1 ( ) 01 7.2 ( ) 02 7.3 ( ) 03 7.4 ( ) 04 7.5 ( ) 05 7.6 ( ) 06 7.7 ( ) 07 7.8( ) 08 7.9 ( ) 09 7.10( ) 10 7.11 ( ) mais de 10

8. QUE PROBLEMAS DE SAÚDE VOCÊ OU ALGUM(NS) RESIDENTE(S) MANIFESTOU(ARAM) RECENTEMENTE?

8.1( ) GRIPE 8.2( ) ASMA 8.3( ) DERMATITE 8.4( ) RINITE 8.5 ( ) OUTROS ________________________________________________________________________________________________________________________________

88

9. QUAL (IS) O(S) SINTOMA(S) QUE SE MANIFESTOU (ARAM) ?

9.1 ( ) DIF. RESPIRATÓRIAS 9.2 ( ) ESPIRROS FREQUENTES

9.3 ( ) DORES DE CABEÇA 9.4 ( ) CORIZA 9.5 ( ) TOSSE FREQUENTE

9.6 ( ) OUTROS:

________________________________________________________________________________________________________________________________

10. HÁ PRESENÇA DE PÓ DE SISAL NO PISO, MÓVEIS E OBJETOS DA SUA

CASA? 10.1 ( ) SIM 10.2 ( ) NÃO

10.3 SE SIM, ESTE PÓ CAUSA ALGUM DESCONFORTO RESPIRATÓRIO?

__________________________________________________________________

______________________________________________________________

11. O TRÁFEGO DE CAMINHÕES PELA RUA AUMENTA O VOLUME DE PÓ

SISAL ENCONTRADO EM CASA? 11.1 ( ) SIM 11.2 ( ) NÃO

12. A DIREÇÃO DO VENTO INFLUENCIA NO AUMENTO DO PÓ DE SISAL

SUA RESIDÊNCIA? 12.1 ( ) SIM 12.2 ( ) NÃO

13. FAZ ALGUMA RELAÇÃO ENTRE A PRESENÇA DO PÓ DE SISAL NA SUA

RESIDÊNCIA E ALGUM PROBLEMA DE SAÚDE?

11.1( ) SIM 11.2( ) NÃO

11.3 SE SIM, QUAIS?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

____________________________________________________________

14. ALGUÉM DE SUA CASA JÁ SOFREU ALGUMA CRISE ALÉGICA?

14.1 ( ) SIM 14.2 ( ) NÃO

14.3 SE SIM, QUAIS?

__________________________________________________________________

__________________________________________________________________

____________________________________________________________

89

15. O(A) SENHOR(A) TEM NOÇÃO DO CUSTO PARA UM TRATAMENTO DESTE

TIPO DE CRISE? 15.1 ( ) SIM 15.2 ( ) NÃO

16. TEM CRIANÇAS E/OU IDOSOS EM CASA? 16.1 ( ) SIM 16.2 ( ) NÃO

16.3 SE SIM, CONSIDERA QUE ELES APRESENTEM ALGUM PROBLEMA

RELACIONADO AO PÓ DO SISAL? QUAIS?

________________________________________________________________

________________________________________________________________

________________________________________________________________

17. JÁ OUVIU QUEIXAS DOS VIXINHOS COM RELAÇÃO AO MESMO

PROBLEMA? 17.1 ( ) SIM 17.2 ( ) NÃO

17.3 SE SIM, QUAIS?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

18. VIVENCIOU OU CONHECE ALGUMA SITUAÇÃO DE PESSOAS DO

ENTORNO DSTA SISALEIRA QUE TIVERAM ALGUM PROBLEMA DE SAÚDE

COMPROVADAMENTE RELACIONADO AO PÓ DE SISAL?

18.1 ( ) SIM 18.2 ( ) NÃO

18.3 SE SIM, QUAIS?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

90

APÊNDICE D – Projeto de Intervenção

PROPOSTA DE APROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS SECOS (PÓ DE SISAL)

PARA PRODUÇÃO DE BRIQUETES

1. INTRODUÇÃO

O sisal, conhecido cientificamente como Agave sisalana, é um vegetal que faz

parte da Família agaveceae. Largamente cultivado no semiárido baiano, em uma

região que, em sua homenagem, é chamada Região Sisaleira, onde se destaca

como grande produtor, beneficiador e exportador das fibras de sisal o município de

Conceição do Coité.

Posição Município Produção (ton)

1 Campo Formoso – BA 18.055

2 Santaluz – BA 16.650

3 Conceição do Coité – BA 16.200

4 Jacobina – BA 11.016

5 Araci – BA 10.400

6 Valente – BA 10.350

7 Queimadas – BA 5.850

8 Itiúba – BA 5.440

9 Retirolândia – BA 5.400

10 São Domingos – BA 5.400

Fonte: www.seagri.ba.gov.br

A principal utilidade comercial do sisal é o aproveitamento integral de suas

fibras, amplamente utilizadas em diversas aplicações industriais e artesanais. Nesse

processo de beneficiamento do sisal para a produção da fibra e seus derivados, é

gerado o “pó de sisal”, coletado e acondicionado nas dependências das sisaleiras e

que carece de maior aproveitamento, uma vez que é matéria-prima gratuita e farta.

91

2. OBJETIVO

Assim, o objetivo desse projeto é apresentar uma proposta de aproveitamento

para o pó de sisal, visando agregar valor ao mesmo, tornando-o uma fonte

alternativa de receita para as sisaleiras, evitando sua dispersão e descarte.

3. BRIQUETES: UMA ALTERNATIVA

De uma forma geral, o briquete proveniente da biomassa vegetal resulta da

compactação de resíduos de origem vegetal. Utilizados na geração de calor (energia

térmica), são produzidos a partir do uso de uma briquetadeira, que realiza a

compactação e aquecimento da matéria-prima, transformando-a em cilindros com

diâmetro que oscilam entre 50 e 150 mm, que podem ser produzidos a partir de

qualquer resíduo de origem vegetal, inclusive do pó seco de sisal.

Briquetes de origem vegetal e modelo de briquetadeira utilizada em sua fabricação

Fonte: http://biomaxind.com.br

Considerado um processo bastante vantajoso, o briquete permite a redução

de volume e garante uma forma regular do material usado em sua fabricação,

facilitando o seu armazenamento. Além disso, a prensagem da matéria-prima

envolvida no processo de produção do briquete aumenta a densidade e elimina a

umidade da biomassa vegetal, melhorando consideravelmente o seu desempenho

nos processos de queima, entre outras vantagens.

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Comparativo de desempenho briquete/lenha

Briquete Lenha

Alto poder calorífico Baixa temperatura de chama

Armazenagem racional paletizada Grandes áreas para armazenamento

Redução de mão-de-obra no manuseio Maior mão-de-obra no manuseio

Baixa produção de cinzas Alta produção de cinzas

Baixa umidade (melhor queima) Alta umidade

Isento de licenças ambientais Requer licença ambiental

Fonte: BIOMAX (2016)

Partindo desses pressupostos, podemos então afirmar que o briquete se

apresenta como uma alternativa viável para o aproveitamento do resíduo seco (pó)

do sisal, agregando valor comercial ao mesmo, sendo possível sua utilização em

substituição à madeira nos fornos de padarias, pizzarias, pequenas olarias, entre

outros fins.

3.1 VIABILIDADE FINANCEIRA - INVESTIMENTO E RETORNO

A maioria dos materiais utilizados para a fabricação de briquetes, a exemplo

da casca de arroz, bagaço de cana e serragem de madeira precisam ser comprados

em outros fornecedores, o que gera custos de produção. Além disso, precisam ser

transportados de sua origem, passar por secagem e eventual trituração antes de seu

uso enquanto matéria-prima. No caso do resíduo de sisal, estes processos e seus

respectivos custos inexistem, uma vez que este resíduo já se encontra armazenado

na sisaleira, é disponibilizado totalmente seco e se apresenta em forma de pó,

misturado a fragmentos de fibras de reduzido tamanho.

Preços médios de compra de matérias-primas (sem frete) por tonelada

Fonte: Pesquisa Embrapa Agroenergia (2012) e site MF Rural (2012)

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As máquinas e equipamentos utilizados no processamento da matéria-prima

para a produção de briquetes no Brasil são, na maioria, de fabricação nacional.

Dentre estes fabricantes, destacam-se a Biomax (Rio Grande do Sul), a Lippel

(Santa Catarina), a Chavantes (São Paulo) e a Tecnoambiental (Paraná).

Após consulta aos sites das empresas supracitadas e a partir da comparação

entre as opções oferecidas, a alternativa que possui a melhor relação custo-

benefício é o modelo de briquetadeira extrusora de matriz aquecida sem misturador.

Com um satisfatório consumo de energia (5,51 Kw/h), este modelo processa 250 kg

de matéria-prima por hora trabalhada, transformando-a em briquetes.

Briquetadeira extrusora de matriz aquecida sem misturador

Fonte:

https://www.google.com.br/search?biw=1280&bih=851&

tbm=isch&sa=1&q=Briquetadeira++de+matriz+aquecida

Considerando que as sisaleira produzem, em média, 2.400 kg/semana

(Quadro 2), este modelo conseguiria processar toda a produção média semanal de

pó das sisaleiras pesquisadas em pouco mais de 9 horas de produção.

Podemos afirmar que a relação custo/benefício é muito interessante, uma vez

que o investimento inicial para a aquisição do equipamento é em torno de R$

9.000,00 (Nove mil reais), carecendo apenas de uma fonte de energia para seu

funcionamento. É relevante salientar que não há necessidade de insumos ou

produtos químicos na produção dos briquetes, uma vez que, conforme anteriormente

explicado, a lignina presente no pó de sisal exerce o papel de agregadora do

briquete, em resposta ao aquecimento e pressão gerados no processo de produção.

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Dentre as vantagens do uso do resíduo seco de sisal para a produção de

briquetes, se comparado a outras matérias-primas, podemos citar a inexistência de

despesas com transporte/frete e aquisição da matéria-prima, devido à grande

disponibilidade de resíduo sec e particulado disponível, zerando os custos com

secagem e trituração.

Quanto ao valor que pode ser agregado ao resíduo seco do sisal,

apresentamos a seguir um comparativo de preço dos briquetes já produzidos e

comercializados, o que nos permite perceber a grande viabilidade do uso desse

resíduo como alternativa para geração de receita nas sisaleiras:

Preços médios dos briquetes já comercializados (R$/Tonelada)

Fonte: Embrapa Agroenergia (2012)

Os preços médios de venda de briquetes de origem vegetal já produzidos e

comercializados oscilam entre R$ 250,00 e R$ 300,00 por tonelada, o que nos

permite afirmar que, mesmo que seja comercializado nas faixas mais baratas de

preço, o briquete produzido a partir do sisal será um negócio rentável.

Apesar de o briquete ser uma fonte de combustível relativamente antiga, só

recentemente percebeu-se uma expansão do mercado desse produto, fato

certamente explicado pela crescente demanda por fontes de energia alternativas ao

petróleo e a lenha. Nos últimos anos, o mercado de briquetes tem experimentado

crescimento da ordem de 4% ao ano. Sabe-se que 72% das empresas produtoras

de briquete identificadas até então surgiram a partir do ano 2000, sendo

relativamente jovens, o que nos mostra o potencial de expansão desse negócio.

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4. CONCLUSÃO

Todas essas informações no levam a perceber o grande potencial do

mercado de briquetes de biomassa vegetal enquanto combustível para atender a

crescente demanda por energia térmica gerada a partir de fontes renováveis.

Assim sendo, considerando o pequeno investimento na aquisição do

maquinário necessário, o baixo consumo de energia, a inexistência de custos com a

aquisição e o transporte da matéria-prima (pó de sisal), o grande nicho de mercado

a explorar, o elevado preço dos briquetes produzidos a partir de outros materiais, a

receita a ser gerada pela produção e venda dos briquetes produzidos a partir do pó

do sisal e as vantagens para o meio ambiente e a saúde dos envolvidos, fica clara a

aplicabilidade e o potencial econômico, social e ambiental da proposta em

discussão.

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ANEXO

ANEXO A – Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa

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