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Fichamento da obra: O que é globalização.
BECK, Ulrich, 1994 – O que é Globalização? Equívocos do globalismo: respostas à
globalização/ Ulrich Beck; tradução de André Carone. – São Paulo: Paz e Terra, 1999.
Aluna: Patricia Martinez Almeida
Professor: Dr. Marcelo Benacchio
Prefácio 9; Primeira parte – Introdução 13; Segunda parte – O que significa globalização?
Dimensões, controvérsias e definições 39; Terceira parte – Equívocos do globalismo 201;
Quarta parte – Respostas à globalização 223; Sugestão de leitura 279.
Com a finalidade de trazer a lume de maneira clara os debates ao derredor da globalização, o
Autor discorre sobre a multiplicidade, os diversos significados e as dimensões do fenômeno,
discutindo as armadilhas, as teorias e os meios de evitá- las, assim como a ampliação dos
horizontes nas respostas políticas à globalização. Desta maneira, o cerne da pesquisa se
consubstancia em verificar o significado da globalização e as possibilidades de sua
configuração política.
Introdução. I. Contribuintes virtuais: após a queda do muro de Berlim acreditou-se ter
chegado a uma época para além do socialismo e do capitalismo, pois a tese de isolamento da
política perdeu força diante do processo da globalização, e, diante da escala de alcance da
globalização econômica acabou por transpor as fronteiras e a moldura da categoria do Estado
nação, com intuito da exclusão da política do Estado nacional. O novo modelo econômico, no
mercado sem fronteiras das empresas transnacionais, culminou na derrocada do modelo da
economia nacional. Desta maneira, as empresas transnacionais passaram a operar sem
oposição e em escala mundial e com o poder de decisão na possibilidade do deslocamento de
seus investimentos, ou seja, sua posição e força de mercado permitem criar confrontos entre
os Estados nacionais e locais para realizarem com elas “pactos globais” (p. 17) com a
finalidade escolher aquele Estado que ofereça melhores condições de instalação, que possuam
mão-de-obra barata, com menor recolhimento de impostos e maior oferta de subsídios. Desta
maneira, poderão os dirigentes das empresas transnacionais escolherem para si os Estados que
melhor lhes atendam e pagar impostos somente aos que forem mais baratos, tudo a força do
discurso de um suposto crescimento econômico por eles propiciados ao Estado de destino,
com o aumento e manutenção dos postos de trabalho, e, desta maneira, castigando os Estados
mais “caros” ou que menos atrativos propiciem aos investimentos dos empresários, com a não
instalação e investimento neles, ou quando neles já instalados, na retirada das empresas e do
capital lá investido, repercutindo, ainda, na consequente demissão em massa.
“Os empresários descobriram a pedra do reino. Eis aqui a nova fórmula mágica: capitalismo
sem trabalho mais capitalismo sem impostos” (p. 20).
Daí a crítica e problemática da dicotomia entre contribuintes reais e os virtuais, uma vez que
as grandes empresas, com seu poderio de barganha, escapam aos impostos nacionais, as
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pequenas empresas são sufocadas pela carga tributária, o que, com efeito, gera um efeito
reverso ao pretendido inicialmente pelo Estado ao albergar as transnacionais: receber
investimento, gerar riqueza e postos de trabalho. Entretanto, as empresas contribuintes reais
acabam por sucumbir e, desta maneira, elevam-se as taxas de desemprego nacional quando de
sua retirada dos países menos propícios aos interesses das empresas transnacionais, pois, além
de serem contribuintes virtuais, ou seja, não geram riqueza direta na arrecadação, tampouco é
suficiente para suprir todos os postos de trabalho necessário à manutenção da economia
doméstica o que implica na desestruturação do Estado nacional.
Esta perda de controle da arrecadação conduz a uma reconfiguração do Estado nacional e a
questão da justiça social ganha novo contorno teórico e político na era da globalização.
“A sociedade mundial, que tomou uma nova forma no curso da globalização – e isto não
apenas em sua dimensão econômica -, relativiza e interfere na atuação do Estado nacional,
pois uma imensa variedade de lugares conectados entre si cruza suas fronteiras territoriais,
estabelecendo novos círculos sociais, redes de comunicação, relações de mercado e formas de
convivência.” (p. 18)
Entre a economia mundial e a individualização o Estado perde a sua soberania: o que fazer?
Diante da escala da individualização o tecido social se tornou poroso, a sociedade perde a sua
consciência e autoconsciência coletiva, desta forma, a busca pelas respostas políticas às
grandes questões perde sentido e não mais possui local ou sujeito determinado, mas
determinável (p. 25).
Nos dizeres do Autor, o projeto da modernidade fracassou: o capitalismo globalizado gera
desemprego e não dependerá do trabalho, caindo por terra a histórica aliança entre a economia
de mercado, Estado do bem-estar social e democracia, pois não mais legitima o modelo
ocidental e o projeto do Estado nacional para a modernidade: os neoliberalistas se convolaram
em desmontadores do ocidente com sua modernização que conduz à morte do Estado nação.
(pp. 25-26).
Com a intenção de romper a ortodoxia territorial da política e da sociedade o Autor estabelece
uma distinção entre Globalismo, na concepção de que o mercado mundial substitui a ação
política, numa ideologia neoliberalista exclusivamente na dimensão econômica, que traz em
sua essência a distinção fundamental em relação à modernidade, ou seja, no afastamento da
tarefa primordial da política na delimitação das condições para os espaços jurídicos, sociais e
ecológicos, das quais a economia necessitava para se legitimar, para subverter tais condições
como meros instrumentos a serviço DA economia mundial em sua sede por lucros e
crescimento exacerbado; e,
Globalidade, que significa que vivemos em uma sociedade mundial, pois os espaços
isolados, ou limitações das fronteiras, se tornaram fictícia, assim as diversas economias,
culturas e políticas se entrechocam, uma vez que o conjunto de relações sociais havidas nessa
sociedade mundial não está integrado à política de um Estado nacional ou por ele
determinado, de sorte que para se operacionalizar acaba significando a sociedade mundial ser
3
real e reflexiva; real no sentido das vontades de seus integrantes, mas uma diversidade sem
unidade (pp. 27-30);
Globalização significa os processos de interferência dos atores transnacionais na soberania,
identidade, redes de comunicação, orientações e chance de poder dos Estados nacionais (p.
30).
Para o Autor a irreversibilidade da globalização convolará na necessidade de abertura de
espaço para a política, diante da perspectiva da pluridimensionalidade da globalidade para
ilidir a ideologia opressora do globalismo.
Traz oito motivos para a irreversibilidade da globalização: 1. Ampliação geográfica e
interação do comércio internacional; 2. A revolução dos meios tecnológicos; 3. A exigência
universal por Direitos Humanos; 4. As correntes icônicas da indústria cultural global; 5.
Política mundial e policêntrica (atores transnacionais); 6. A pobreza mundial; 7. A destruição
ambiental mundial; e 8. Conflitos transculturais localizados.
A investigação da vida humana ganha um novo significado, pois nada mais será um fenômeno
isolado e, assim, deve ser reorganizada e estudada em torno do eixo “global-local”, por tais
razões a política deve ser reformulada, reinventada. A partir da globalidade a globalização
caracteriza-se como um processo dialético que produz as conexões e os espaços sociais e
transnacionais reformulando o sentido e o alcance de espaço, tempo e densidade social da
comunicação (pp. 31-32)
A sociedade mundial representa um horizonte que se caracteriza pela multiplicidade e pela
não integração. Não foi alterada somente a vida cotidiana com a derrubada das fronteiras do
Estado nacional, com as novas tecnologias, mas a consciência desta transnacionalidade na
percepção do Outro transcultural e dos riscos ecológicos, além da indústria cultural global,
com o novo “desterramento” (desterritorialização ) da comunidade, do trabalho e do capital, a
escala de concentração econômica e a quantidade e o poderio de atores, instituições e acordos
transnacionais.
Assevera o Autor que “globalização significa também: negação do Estado mundial. Mais
precisamente: sociedade mundial sem Estado e sem governo mundial.” (p. 33)
III. O choque da globalização, uma discussão tardia: por significar a desnacionalização, a
erosão e possível transformação do estado nacional em transnacional, a globalização traz ao
Estado perda de suas dimensões na sua soberania e sua substancia, notadamente, quanto aos
seus recursos financeiros, conformação do poder político e econômico, política cultural e
informacional, além da identidade comum dos cidadãos. (pp. 36-37)
Assim, os fundamentos da primeira modernidade devem ser revistos, pois com a globalização
não sabemos mais o que significa tolerância, quais direitos humanos devem valer diante da
diversidade cultural ou quem irá garanti- los, diante do agravamento da pobreza mundial e do
desemprego como salvar e reformar as garantias sociais, antes manutenidas pelo Estado
nacional; não sabemos se assim caminharemos à um mundo sem violência e de paz a ser
garantida pelo mercado mundial ou se voltaremos às guerras santas, agravadas por catástrofes
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nacionais. Estes são os questionamentos ao derredor da discussão sobre a globalização
suscitados pelo Autor em sua obra.
Segunda Parte: O que significa a globalização? Dimensões, controvérsias e definições:
diante da globalização informativa, ecológica, econômica, da cooperação ou da força de
trabalho (home office ou a on- line), cultural e da sociedade, depreende-se que a globalização
possui dimensões distintas e repercussões diversas na esfera social e política dos indivíduos e
do Estado.
Mas permanece a incógnita do marco inicial da globalização. Alguns defendem que o início
se deu na dimensão econômica e por isso remetem às grandes navegações, outros à queda do
bloco do leste Europeu. Entretanto, seria possível ao menos definir um marco comum a todas
as dimensões da globalização?
Analisando as premissas da primeira modernidade (viver e interagir em espaços fechados e
delimitados dos Estados nacionais e as respectivas sociedades) e que a globalização significa
a experiência cotidiana sem fronteiras em todas suas dimensões, o surgimento do mundo
compacto, em que os eventos regionais repercutem na esfera global em tempo real.
“Globalidade significa o desmanche da unidade do Estado e da sociedade nacional, novas
relações de poder e de concorrência, novos conflitos e incompatibilidades entre atores e
unidades do Estado nacional por um lado e, pelo outro, atores, identidades, espaços sociais e
processos sociais transnacionais.” (p. 49)
IV. A abertura do horizonte mundial: para uma sociologia da globalização.
Citando Marx e Engels, o autor assevera a importância da burguesia na história mundial e o
dimensionamento cosmopolita dado à produção e ao consumo pela ótica da exploração do
mercado mundial.
Sob os argumentos suscitados no manifesto comunista, conclui que a história mundial teve
impulsionamento pela exploração do mercado mundial (do mercantilismo ao capitalismo
industrial), logo o papel do mercado na globalização tem suas raízes em datas longínquas,
consequentemente o papel do Estado nacional já era questionado em razão das políticas do
capitalismo industrializante. (p. 52)
Faz uma análise crítica da teoria sociológica do container social - na qual o controle do
espaço territorial, enquanto poder e força, é exercido pelo Estado, exigindo um sistema
ordenador de identidades de coletivas (classes, estamentos), um sistema social (economia,
política, direito, ciencia, família).
No qual a homogeneidade interna é parte do controle estatal como um caráter modernizante e
superior na evolução da sociedade - e a implicação da teoria sociológica da globalização -
partindo da pesquisa da migração e a consequencia multicultural e a glocalização, passando
pela análise internacional das classes e miscigenação, pela política internacional e proteção
internacional do direitos inerentes ao homem, pela teoria da democracia e a cultural theory e a
sociologia das grandes metrópoles, a avaliação dos espaços sociais transnacionais e sua
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repercussão na derrocada do Estado-nação.
O que impulsiona a globalização? lógica dominante da economia (MARX) e lógicas
complexas e multicausais, um pluralismo que abriga aspectos econômicos, culturais e sociais
(WEBER)
1. Teoria do sistema mundial (Wallerstein): o capitalismo como motor da globalização;
tendo como elementos básicos um mercado único em prol do lucro máximo, a existência de
estruturas internas e externas garantidoras do livre comércio e a deslocalização da força de
trabalho (centro, semiperiferia e periferia) levando a uma decomposição mundial.
Crítica de Beck: não há prova empírica ou histórica que sustente a teoria, nem marco
histórico apórtico da transnacionalidade pela economia linear apresentada, que não considerou
os fatores imprevistos e indesejados da perquirição (luta de classes, estado social, guerras…)
2. Política pós-Internacional (Rosenau, Gilpin e Held): questionando a ortodoxia do
Estado-nação diante da globalização tecnológica e das relações de política e poder;
significando a globalização que a humanidade teria ultrapassado a era da política
internacional circunscrita tão somente aos Estados nacionais para partilhar o cenário e o poder
global com atores internacionais (organizações e órgãos internacionais, companhias
transnacionais, movimentos políticos e sociais transnacionais)
Dupla arena de sociedades globais (politica mundial policentrica): dos Estados e dos
atores internacionais. Nela existe uma mútua implicação da politica e do capital que tem como
origem à dimensão tecnológica da globalização, no surgimento da sociedade da informação e
conhecimento e na eliminação das distâncias e das fronteiras que justifica a multiplicação dos
atores internacionais, quais sejam, organizações transnacionais, questões transnacionais,
eventos transnacionais, comunidades transnacionais, estruturas transnacionais.
Gilpin: Estados acorrentados, surgimento de atores internacionais, mas sob a dependência de
autorização dos Estados nação (tratados, documentos?), ou seja, a globalização permaneceria
contingente, ameaçada, pelo privilégio do Estado-nação. Se fazendo necessária uma
conversação entre as soberanias para evitar o caos sistêmico nas relações transnacionais e uma
estrutura hegemônica de poder como condição para a globalização.
3. Soberania cindida e acorrentada (David Held): a perda do poder da soberania estatal
pela comprovada cessão em tratados internacionais, internacionalização e internalização de
dos processos de decisão política (supraestatalidade), pela livre circulação de mercadorias e
trabalho (sem politica protecionista).
Diante da globalização emerge um emaranhado de condições e poderes mundiais, ou seja, um
processo de relativização e flexibilização da autonomia e da soberania estatal, diante da
transversalidade dos assuntos transnacionais disciplinados nas conversações entre as
soberanias
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4. Sociedade de risco mundial (Beck): A crise da consciência ecológica, os riscos
ecológicos despertaram no mundo uma consciência coletiva de implicação em todos os
continentes independente do grau de degradação ambiental isolada, quer sejam os riscos de
alcance global (camada de ozônio), causados pela pobreza, em que os recursos ambientais são
explorados à exaustão e pelos processos técnicos- industriais ou os causados pelo conflito
militar entre Estados ou pelo terrorismo fundamentalista;
5. Cultural theory (Robertson, Appadurai, Albrow): refutaram a teoria da mcDonaldização
do mundo (imposição de universalização dos símbolos e ideologia e exclusão pelo poder de
compra) declarando que a globalização cultural não significa homogeneidade mundial, mas ao
contrário, significa muito mais uma glocalização, ou seja, que a cultura local é adaptada a
nova realidade global, processo de implicação interna que tem como suas piores
consequências a dicotomia entre a riqueza global e a pobreza local (Bauman, Globalização e
as consequências humanas) e o capitalismo sem trabalho (Beck), ou seja, não é só uma
deslocalização, mas também uma relocalização. (p. 90)
“Global quer dizer em vários lugares ao mesmo tempo, ou seja, translocal. (...) tornar-se parte
da cultura local, o „localismo‟ é a estratégia empresarial que eleva o significado prático da
globalização” (BECK, 2007, p. 90).
6. Globalização Roland Robertson: o processo em curso de intensificação de mútua
dependência, para além das fronteiras nacionais, evolui para a consciência do mundo como
um espaço singular. Assim, diante da globalização cultural ou melhor a glocalização cria um
abismo entre a identidade da sociedade nacional globalizada e o Estado nacional, ou seja, não
há como avaliar as consequências da globalização para a cultura sem considerar as mudanças
comportamentais dos indivíduos em movimento e não em termos de Estado.
7. O poder da imaginação dos mundos possíveis (Arjun Appadurai): os pontos de vista e
a teoria das culturais glocais de Robertson são ampliadas por Appadurai que desenvolve a
teoria da autonomia relativa, a independência e a lógica dessa cultural glocal, conjugando a
inquietude humana no deslocamento - turistas, imigrantes, fugitivos, trabalhadores - os
movimentos promovidos pela tecnologia - do comunicar para além das fronteiras, passando ao
negociar sem fronteiras e agora ao conviver sem fronteiras -, a propagação das possibilidades
de produção e das ideologias pelos meios midiáticos e a transição do mundo da produção para
a produção dos desejos das vidas possíveis como um produto na vitrine da imagem-modelo da
loja da felicidade (Bauman, Vida para consumo).
8. Riqueza globalizada, pobreza localizada (Bauman- Globalização e as consequências
humanas): se afastando da teoria da universalização cultural, a glocalização pode ser
7
explicada como reflexo do desejo criado pela imaginação das vidas possíveis. O mercado de
consumo global, com vista a indústria do desejo, em que a felicidade é o objetivo dos
indivíduos, que poderá ser adquirido se e quando puderem pagar pelo bem de consumo que
foi transformado em objeto de desejo.
Daí a dicotomia entre ricos e pobres, para aqueles a globalização repercute a liberdade, para
estes o aprisionamento no local.
O esfacelamento do tempo\espaço gera outros sintomas e consequências: aqueles que
possuem condições (econômicas e técnicas) de usufruir dos bens de consumo e da realidade
do espaço virtual, são privilegiados por otimizar o tempo para auferir maiores benefícios
(negócios, compras, viagens, estudos) há uma gama de possíbilidades viabilizadas pela
globalização e o uso das TICs e das NTs, mas, em contrapartida, aqueles que não dispõem dos
mesmos recursos se vêem sem alternativas e sem mobilidade em seu espaço acorrentado,
acarretando o ócio destrutivo, isto porque, o capitalismo sem trabalho dispensa a necessidade
de contratação especialização, pois hoje os profissionais são multifuncionais para ganhar o
mercado.
Desta forma, há uma separação entre aqueles que podem consumir e atender a nova sociedade
do consumo globalizada e os que não podem, e, destes, não há sequer a preocupação em
resgatar a condição de consumidor, pois imprestáveis a função nova da sociedade não
atendem aos reclames da sociedade. Alteração do paradigma do consumir para viver, agora do
viver para consumir.
9. Capitalismo sem trabalho: (ver a mínima moralia): crítica a ausência da construção no
raciocínio baumaniano sobre os fatores que consecutiram na destruição da comunidade
mínima entre os mais ricos e os mais pobres.
Neste intento, Beck focaliza o estudo no questionamento: A sociedade do trabalho
(capitalismo industrial) finda sem trabalho?
A lógica do capitalismo - mais lucro, menos investimento - impulsiona a evolução
tecnológica, dispensando o uso da mão-de-obra de grande quantidade de trabalhadores
artesanais que foram substituídos por máquinas operadas por poucos trabalhadores, depois
mais evolução, e os poucos trabalhadores foram substituídos por aqueles mais especializados
e polivalentes e hoje desde o estabelecimento comercial, os atendentes e parte da logística das
empresas são substituídos por softwares que permitem que o próprio consumidor se sirva dos
bens de consumo na rede mundial de computadores.
Asseverou que no debate público 3 são os mitos que impedem uma visão mais clara da
situação: 1. o mito da incompreensibilidade; 2. o mito da prestação de serviço; e, 3. o mito
dos custos.
A problemática suscitada por Beck se envereda pela questão democrática e da necessidade de
liberdade política para a democracia, entretanto, sem a garantia de direitos sociais o mercado
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de consumo não se mantém, pois para o consumo é necessário capital, pa ra isso o trabalho e
sem trabalho não há economia.
Beck: do confronto de todas essas teorias surge o quadro da sociologia plural da globalização.
V. SOCIEDADE CIVIL TRANSNACIONAL: COMO IRÁ SURGIR UM PONTO DE
VISTA COSMOPOLITA?
Nacionalismo metodológico e sua refutação: Adam Smith definiu como sociedade e Estado
cobrem um mesmo espaço e são pensados, organizados e vivenciados como sendo um mesmo
limite. Pressupõe a fixação e o controle político estatal do espaço. As aspirações de poder e
controle do Estado fundamentam e delimitam a sociedade (container social).
Refutação: a arquitetura desse pensamento se vê esfacelada diante da globalização economica,
cultural, politica, biográfica. Novas formas de poder , de ação e percepção da vida social:
empresas transnacionais e os pactos globais - postos de trabalhos e impostos- transformando
os Estados em instituições casca (Giddens), com os mundos simbólicos da industria cultural
global (glocalização cultural) também é suprimida a identidade entre Estado e sociedade, que
não mais se coaduna com os ideais estatais, mas para além do simples desejo das vidas
possíveis, uma verdadeira implicação no tecido social que se tornou poroso e miscigenado.
Eu: Na segunda modernidade ou pós-modernidade é elevado a era dos pluralismos: cultural,
religioso, ético etc. A cultura adquire um significado mais aberto para o exterior, mas ainda
com vistas a uma localização, ou seja, a cultura emana de um local, ainda que transnacional.
Por isso a conceituação de Lévy do ciberespaço como um local, uma vez que a cultura
cibernética ou cibercultura é o conceito mais abrangente da cultura, ou seja, um processo
translocal, localizado no espaço virtual. (inerente àqueles individuos- internautas).
Esse processo da globalização cultural foi impulsionado pelos meios de comunicação de
massa, que oportunizaram o alargamento do conhecimento dos mundos possíveis, gerando
aspirações aos seus espectadores.
Neste sentido a queda do bloco leste europeu seria uma consequencia e não o motivo da
globalização. Um marco histórico que comprova a força da globalização cultural e o
descortinamento do discurso socialista para o discurso persuasivo das possibilidades do
mundo capitalista globalizado, no qual se bradava a plenos pulmões a emiscuidade entre
consumo e liberdade política incutindo o desejo de pertencer a essa realidade sedutora.
A confusão do público e do privado: com a expansão da circulação de informações, os
meios de comunicação de massa foram utilizados como mecanismos manipuladores da
consciência coletiva global.
Com intuito de utilizar o mercado como instrumento de viabilização dos interesses estatais,
algumas funções aprioristicas do Estado foram delegadas às iniciativas privadas, às
organizações internacionais e ao mercado. Concebendo uma política economica mundial da
9
associação do Estado -público- e o mercado - privado-.
Essa junção repercute em novo dimensionamento democrático global, isto porque as empresas
transnacionais e as economias domésticas sofrem pressão do espaço público mundial.
Por se tratar de uma nova sociedade voltada ao consumo, a participação individual-coletiva se
pauta no próprio consumo como fundamento para a intervenção política reunindo sociedade
ativa e democracia direta em todo o planeta - primeiro com a intermediação dos meios de
comunicação de massa e a pressão das vontades transnacionais, concretizando o discurso
suscitado por Kant em sua teoria da sociedade cosmopolita, sob a ótica da economia emerge a
nova lex mercatoria e os organismos de fomento, regulamentação e proteção ao livre
comércio e meios de alternativos de solução de controvérsia, como mecanismos hábeis às
novas necessidades do contexto globalizado.
Problemática: quem vigiará o vigilante? princípio da segurança ou garantia
“Se o Leviatã foi o simbolo da política moderna, então a posição moral dos „poderes
nacionais‟ e das superpotencias será reproduzida no futuro pela imagem de Lemuel Gulliver,
que após um inocente cochilo se vê amarrado a um sem-número de finíssimas correntes”.
(BECK, 1999, pp133-134)
Topopoligamia: casamento com muitos lugares_globalização das biografias: uma vida
nomade, no carro, no telefone, na internet (second life) é uma vida transnacional mass-media,
o residir e o conviver também são libertos e apartados de determinado local e do espaço
físico.
A figura arquétipica da vida individual é a convivência com o e-mail, telefone, a
plurilocalização se convola em prisão tecnológica. A globalização da vida individual augura o
sepultamento da soberania com a deslocalização dos indivíduos, pois a alternância e eleição
dos lugares são corolário da globalização e consequente afastamento da força subordinadora
do Estado moderno.
Isso requer um redimensionamento do conceito de mobilidade, pois a globalização das
biografias, que pode se dar de maneira incisiva nos campos da multilocalização de nações,
culturas, religiões, por isso ela pode se dar com a mudança no âmago do ser humano, no
deslocamento físico ou virtual dele (tele-trabalho, second life).
VI. CONTORNOS DA SOCIEDADE MUNDIAL: PERSPECTIVAS EM
CONCORRÊNCIA
Globalização acentua o caráter do processo de transnacionalização das dimensões com o
crescimento e intensidade dos espaços, dos problemas, dos conflitos, das biografias e, esse
movimento não deve ser compreendido como total ou totalizante, mas sim contingente e
dialético, pois é preciso questionar o grau, a escala e a densidade da globalização em suas
várias dimensões. (p. 157)
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O conceito de globalidade representa sociedade mundial e esse estado da coisa é irreversível,
multidimensional, policêntrica, contingente e politica e, portanto, um horizonte mundial que
se abre quando a comunicação comprova sua realidade.
Sua irrefutabilidade se espreita sob as perspectivas do Beck chamou da sociedade
telespectadora. A globalidade dos eventos não são dados ou construídos e sim fabricados
pelos meios de comunicação de massa.
Sociedade civil global;
Democracia cosmopolita, na qual a ordem global se concretiza em múltiplas redes de poder
em que todos os grupos almejam uma autonomia relativa em todos os campos da atuação
social, econômica ou política, os princípios e legislação garantidos em conexão local e
transnacional, incidência da supraestatalidade, formação de organizações da sociedade civil
transnacional e implementação dos direitos sociais;
Sociedade mundial capitalista: com a queda do bloco leste europeu e sua inserção na
sociedade capitalista o autor assevera que alguns aspectos da lógica capitalista, dantes
encobertos pelo capitalismo ocidental europeu do welfare state, foram descortinados, assim, o
processo de integração transnacional passa a implicar a desintegração nacional;
Como a globalização não ocorre de forma homogênea em todos os recônditos do mundo, as
companhias transnacionais têm particular interesse nos Estados fracos para impor seus pactos
globais, em razão disto o Estados de bem-estar social entram em crise progressiva, diante da
evolução tecnológica o trabalho é substituído pelo conhecimento e pelo capital aumentando
sobremaneira as desigualdades sociais, não só quantitativamente, mas sobretudo
qualitativamente, com isso há uma relativização\redimensionamento da pobreza servindo
como critério de exclusão aos incapacitados ao consumo;
Sociedade mundial de risco; sociedade de transição politica mundial; e, Estado transnacional.
IV PARTE: RESPOSTAS Á GLOBALIZAÇÃO
Para o autor, a única consequência derivada da discussão acerca da globalização, seria a
inauguração do debate a propósito da conformação política da globalização.
Um debate que pressupõe uma crítica radical da ideologia neoliberal do globalismo, da
unidimensionalidade econômica, do pensamento linear e de mão única, do autoritarismo
político, sempre ancorado no mercado mundial, que se apresenta de modo apolítico e no
entanto, intervém de forma extremamente política. Não seria o fim, mas o recomeço da
política.
Neste sentido, para o autor, a globalidade e a globalização não são nem um fenômeno de
aparência estrategicamente divulgado e cuja encenação pública seria um meio para a liberação
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dos grilhões do capitalismo estatal-social petrificado, e nem conceitos que podem requisitar e
impor a submissão de todos às novas leis naturais do mercado mundial.
O autor então contrapõe dez respostas ante as dez armadilhas do globalismo:
1. Cooperação internacional: a cooperação política entre os Estados nacionais precisa ser
construída para eliminar ou coibir a criação de “currais” que permitam às empresas globais
minimizar o pagamento de impostos e maximizar as subvenções estatais. A tarefa política
consiste em esclarecer a opinião pública que a globalização não pode significar o abandono de
tudo às forças do mercado. Cresce, assim, a necessidade de regulamentações e instituições
internacionais para transações que ultrapassem fronteiras. Ex.: União Europeia, G-7, OMC.
2. Estado nacional ou “soberania inclusiva: a arquitetura política do Estado transnacional pode
ser respondida em duas frentes: o princípio do pacifismo jurídico, fundado no direito
internacional, e o pacifismo federalista, que significa uma política de auto-integração ativa
dos Estados isolados no contexto das relações internacionais com vistas à renovação dos
Estadosglocais isolados e à delimitação do poder dos centros transnacionais. Significa a
renúncia aos direitos de soberania, implicando na conquista do poder de conformação política
fundamentado na cooperação transnacional.
3. Participação do capital: o trabalho vem sendo substituído pelo conhecimento e pelo capital.
Uma nova política social poderia estabelecer como meta a participação do trabalho no capital.
O princípio da decisão conjunta complementa o princípio da propriedade conjunta. Os
modelos em questão vão desde a substituição de parcelas de salários por participações no
capital da empresa, em seus lucros e prejuízos.
4. Reorientação da política educacional: o trabalho deve ser valorizado ou renovado pelo
conhecimento, como investimentos em educação e pesquisa, pois os verdadeiros ativa
tecnológicos de um país se encontram na capacidade de seus cidadãos para a resolução dos
problemas do futuro. Uma das melhores respostas políticas à globalização é esta: a construção
de uma sociedade de conhecimento e pesquisa, prolongamento do período de formação e a
quebra do seu vínculo com as implicações técnicas imediatas, e também o direcionamento dos
processos de formação para qualificações mais abrangentes.
5. As empresas transnacionais são a-democráticas ou então antidemocráticas: um capitalismo
transnacional que não arrecada impostos e destrói postos de trabalho acaba de perder sua
legitimidade. Quem pratica o comércio em todo o mundo, deve estar disposto a assumir, em
todo o mundo, as responsabilidades pelas condições políticas e sociais deste comércio,
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reunindo o controle local e o autocontrole empresarial. Suas contribuições para um
desenvolvimento social, acompanhado por uma justiça social, seriam indiretas, pois é preciso
refletir a respeito do paradoxo destes efeitos colaterais.
6. Aliança em favor da atividade comunitária: aliança civil-estatal pela sociedade civil em vez de
uma aliança pela atividade comunitária. Pressupõe uma concepção política que desestrutura o
monopólio do sistema política.
7. O que virá após o modelo Volkswagen de nação exportadora? A determinação de novos
objetivos culturais, políticos e econômicos: a identidade da nação exportadora já não se
sustenta. O mercado munida premia a diferença. Deve-se portanto, perceber e revelar a força e
o potencial dos aspectos que foram desacreditados, com especificidades regionais, a
individualização, mercados de risco, a re-regionalização dos mercados, a superação da
barreira da homogeneidade cultural.
8. Culturas experimentais, mercados-nicho e auto renovação social: na era das localidades
globais, as culturas desses mercados especiais são biótipos engenhosos, que servem de
influência para os criadores dos produtos para o mercado mundial. A generalização dos
mercados-nicho, regionalmente enraizados e prósperos, é uma das respostas de dois
problemas da primeira modernidade: o fim da produção em massa e o fim do emprego
integral.
9. Empresários públicos e trabalhadores autônomos: no lugar da figura social do trabalhador e
do operário como adversários do capitalista e do empregador, coloca-se a figura central do
trabalhador autônomo e do empresário público. Se o capitalismo inicial se firmou como
exploração do trabalho, hoje se apoia na exploração da responsabilidade (resultado).
10. Pacto social ou exclusão: como a justiça social é possível na era global? Organizar e
incorporar garantias básicas; fortalecer redes sociais de autoproteção e auto-organização;
levantar e vigiar a questão da justiça econômica e social em escala mundial, nos centros da
sociedade civil global.
EUROPA COMO RESPOSTA À GLOBALIZAÇÃO
A Europa política não existe, e sua existência não é vivenciada uma única vez como carência
real. É nada mais que um rótulo, adesivo ou decreto burocrático.
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O que a Europa é ou deve ser não precisa ser produzido a partir do passado, mas deve ser
politicamente projetado como resposta política às questões futuras, em todas as áreas
temáticas: mercado de trabalho, ecologia, Estado social, migração internacional, liberdade
política, direitos fundamentais. Somente na Europa de um espaço transnacional é que a
política de um Estado único pode-se transformar de objeto ameaçador em sujeito da
globalização configurada.
A construção de um Estado transnacional, pelos grandes países da União Europeia, poderia
trazer de volta para os Estados-membro a primazia da política e a capacidade de ação,
democraticamente controlável, da política econômica e social. Uma união Europeia forte e
democrática poderia empregar toda sua força, como maior poder comercial do mundo, na
promoção de reformas reais.
PERSPECTIVA: NAUFRÁGIO À LA CARTE – A BRASILIANIZAÇÃO DA EUROPA
Se o fatalismo dos pós-modernos e do globalismo neoliberal se converter em profecia auto-
realizadora, será fatal. Tornar-se-ão realidade as visões catastróficas que já tomam conta,
quase que exclusivamente, da fantasia pública.