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Universidade de Brasília – UnBInstituto de Letras – IL
Departamento de Lingüística, Português e Línguas Clássicas – LIPPrograma de Pós-Graduação em Lingüística – PPGL
PRESENÇA DO LÉXICO BANDEIRANTE NO FALAR RURAL
FORMOSENSE
WEIDER ROCHA DE ABREU
Brasília – DF
2009
WEIDER ROCHA DE ABREU
PRESENÇA DO LÉXICO BANDEIRANTE NO FALAR RURAL
FORMOSENSE
Dissertação apresentada como requisito parcial àobtenção do título de Mestre em Lingüística, áreade concentração Linguagem e Sociedade, peloPrograma de Pós-Graduação em Lingüística, doDepartamento de Lingüística, Português e LínguasClássicas – LIP, Instituto de Letras – IL,Universidade de Brasília - UnB.
Orientadora: Profa.Dra.Marcia Elizabeth Bortone.
BRASÍLIA (DF)
Instituto de Letras da UNB
Março de 2009
WEIDER ROCHA DE ABREU
PRESENÇA DO LÉXICO BANDEIRANTE NO FALAR RURAL FORMOSENSE
Brasília, 19 de março de 2009.
Banca examinadora:
_______________________________________
Dra - Marcia Elizabeth Bortone- LIP/UnB
Presidente
_______________________________________
Dra - Ellen Fensterseifer Woortmann- DAN/UnB
Membro externo
_______________________________________
Dra – Stella Maris Bortoni-Ricardo- FE/UnB
Membro interno
_____________________________________
Dra – Enilde Faulstich- LIP/UnB
Membro suplente
Dedicatória
Dedico esta pesquisa a minha mãe, a minha orientadora Marcia Elizabeth Bortone, aos
representantes e integrantes da cultura Caipira no Brasil, aos moradores do Vale do Rio
Paranã, a minha querida família, a meus amigos e Professores.
Agradecimentos
A Deus.
Aos moradores do Vale do Paranã, pela comunhão com sua riqueza cultural.
À Professora Marcia Elizabeth Bortone, exemplo de luta e competência profissional, que
sempre esteve presente, provendo a orientação e o apoio necessários à realização deste
trabalho.
Aos Professores do curso de mestrado e colegas do Programa de Pós-graduação em
Lingüística – PPGL, pela amizade e pelos momentos juntos nesses anos de estudo.
A minha irmã Vanete Rocha que sempre esteve disposta a me ajudar nesta dissertação.
ABREU, Weider Rocha de. Presença do Léxico Bandeirante no Falar Rural Formosense.
2009. 130p. Dissertação (Mestrado em Lingüística) – Universidade de Brasília. Brasília 2009.
RESUMO
Esta pesquisa objetiva aplicar os estudos sociolingüísticos interacionais, de forma a traçar operfil sociolingüístico dos moradores da zona rural do nordeste goiano, por meio de umadescrição etnográfica que priorize a compreensão das identidades desses sertanejos,específicos do núcleo rural de Formosa-Go e adjacências. O trabalho busca explicitar aoralidade dessas pessoas que carregam um repertório lexical, que apresenta, dentre váriosdeterminantes, características arcaicas em seu léxico deixadas nas rotas das bandeiras. Erealçam os comportamentos interacionais nos diferentes ambientes onde ocorrem, como osfamiliares, institucionais e outros. A partir doa análise do “corpus” encontrado, foi possívelverificar a contribuição lingüístico-discursiva referente à formação lexical dessa comunidadeinfluenciada pelas trilhas das bandeiras que riscaram o interior do Brasil em período colonial.
Palavras-chaves: sociolingüística interacional; léxico bandeirante; cultura rural.
ABREU, Weider Rocha de. Presença do Léxico Bandeirante no Falar Rural Formosense.
2009. 130p. Dissertação (Mestrado em Lingüística) – Universidade de Brasília. Brasília 2009.
ABSTRACT
The objective of this research is to apply interactional sociolinguistics studies, to form asociolinguistic profile of the people that live in the northern rural area of Goias, throughethnographic description that highlights the comprehension of the surrounding areas. Thestudy tries to demonstrate the lexical repertoire of these people, which presents among manydeterminers, their archaic lexical characteristics held over from the first explorer´s routes.And bring to light the interactional behavior in different environments in which they occur,such as in the family circle, institutional, and so on. Starting with the analysis of the corpusthat was created, it was possible to verify the linguistic speech contribution relating to thelexical formation in this community that was influenced by the first explorer´s trails thatspread out into the central areas of Brazil during the colonial period.
Key-words: interactional sociolinguistics; Bandeirante lexicon; rural culture
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figuras
Figura 1 – Festa do Divino ............................................................................................. 55
Figura 2 – Entrega da Bandeira do Divino ..................................................................... 61
Figura 3 – Culinária da Festa do Divino ........................................................................ 63
LISTA DE TRANSCRIÇÕES
TRANSCRIÇÃO 1 – trecho de entrevista com senhora sobre identidades culturais _______43
TRANSCRIÇÃO 2 – trecho de entrevista com moradora rural _______________________45
TRANSCRIÇÃO 3 – trecho de entrevista com senhora sobre procuração em anexo ______46
TRANSCRIÇÃO 4 – trecho de entrevista com senhor sobre a pressão dos latifundiários
nas terras rurais ____________________________________________________________46
TRANSCRIÇÃO 5 – trecho de entrevista com senhor sobre traição ___________________50
TRANSCRIÇÃO 6 – trecho de entrevista com senhora sobre Festa de Santa Rosa _______52
TRANSCRIÇÃO 7 – trecho de entrevista com senhor sobre a Folia do Divino na cidade
de Formosa – GO __________________________________________________________52
TRANSCRIÇÃO 8 – trecho de entrevista com senhor sobre o carro de boi _____________56
TRANSCRIÇÃO 9 – trecho de entrevista com senhor sobre a culinária típica da região
do Nordeste Goiano ________________________________________________________61
TRANSCRIÇÃO 10 – trecho de entrevista com senhor sobre lendas conhecidas na região,
como por exemplo, Mudança de Ouro, Lobisomem e Mula sem Cabeça, Nego d’água
Rumãozim _______________________________________________________________63
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 11
I - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA................................................................. 14
1.1 Sociolingüística Interacional.............................................................................. 14
1.1.1 Repertório Lingüístico de uma comunidade de fala.......................................... 14
1.1.2 Histórico da Sociolingüística............................................................................. 15
1.1.3 Discurso e Interação.......................................................................................... 17
1.1.4 Implicações Sociointeracionais......................................................................... 19
1.1.5 Redes de Relações Sociais ................................................................................ 22
1. 2 Filologia Bandeirante........................................................................................ 25
1.2.1 Aspectos Teóricos da Filologia Bandeirante.................................................... 25
1.2.2 Breve Histórico sobre a Formação do Português Rural............................. 31
II A PESQUISA......................................................................................................... 34
2.1 Metodologia ......................................................................................................... 34
2.2 Contextualização do ambiente de pesquisa.......................................................... 37
III - ANÁLISES ETNOGRÁFICAS E LEXICAIS ...................................... 43
3.1 Comunidades Rurais e suas Identidades Socioculturais................................. 43
3.1.1 Discurso rural e abuso de poder........................................................................ 44
3.1.2 Mutirão e Traição.............................................................................................. 48
3.1.3 Religiosidade e Festejos.................................................................................... 52
3.1.4 Meio de locomoção........................................................................................... 56
3.1.5 Culinária............................................................................................................ 61
3.1.6 O real e o imaginário dos causos rurais............................................................. 63
3.2 Análise do Léxico Bandeirante Presente nas Comunidades........................... 66
3.2.1 Léxico e Contextualização................................................................................. 69
3.2.2 Léxico de origem latina..................................................................................... 75
3.2.3 Léxico de origem indígena ............................................................................... 80
3.2.4 Léxico de origem africana................................................................................. 81
3.3 Concluindo .......................................................................................................... 82
IV- Considerações Finais........................................................................................ 83
V - Referências........................................................................................................... 85
VI - Anexos ................................................................................................................. 89
11
INTRODUÇÃO
Por meio dos pressupostos da sociolingüística interacional e da filologia bandeirante,
esboça-se nesta dissertação o perfil sociocultural de algumas comunidades rurais do nordeste
goiano, a partir da focalização das identidades sociais, culturais e históricas, consideradas
como evidência de aquisição de normas compartilhadas que compõem o cenário da rota do
ouro, dos tropeiros, dos aventureiros e dos bandeirantes que fizeram o movimento de ida para
o sertão, o qual envolve os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
A percepção do “corpus” deste trabalho acadêmico está destituída do preconceito que
estabelece a variante rural como desvio inaceitável em relação à norma padrão. Logo, as
características do discurso encontrado são vistas como marcas de identidade do grupo, de
fortalecimento da expressão da comunidade e de resistência à cultura urbana.
Verifica-se, no decorrer das análises, a contribuição lingüístico-discursiva referente à
formação do léxico no Brasil do período Colonial. A observação do desempenho lingüístico
da comunidade esclarece que ainda há termos que fazem parte do repertório do grupo,
entretanto caíram em desuso na variação urbana da língua portuguesa no Brasil. Assim, a
análise etnográfica evidencia um léxico que permanece no domínio dos moradores mais
antigos.
Os momentos de interação verbal com moradores da região estudada possibilitaram
registrar o léxico que fez parte do repertório lingüístico das comunidades que margeavam e
compunham as antigas trilhas bandeirantes. Desse modo, é importante ressaltar que a
linguagem das trilhas constitui o objeto principal do Projeto Filologia Bandeirante,
coordenado pelo professor Megale (2000), no qual buscou pistas da língua utilizada no
processo de povoamento das áreas interioranas do Brasil, desde os primórdios da colonização.
Segundo Megale (2000, p.10):
Há interesse em toda a gama de natureza dos dados que comprovem aarcaicidade da língua nas trilhas das bandeiras. O Projeto se propõe resolvera dificuldade de identificação da natureza arcaica desses dados, bem comosituá-los, na medida do possível, na História da língua.
12
A partir do contato intenso com os moradores das fazendas do nordeste goiano,
principalmente do Vale do Paranã, região que é cortada pelo rio Paranã, considerado como
uma grande veia de água e vida para aquela região, e do apoio da orientadora Profª Drª Márcia
Elizabeth Bortone neste trabalho acadêmico, a comunidade de fala rural que compõe o
município de Formosa-Go e outros do nordeste goiano, saiu do seu anonimato, uma vez que
se iniciaram o registro e a divulgação de vocábulos que estão em processo de
desaparecimento, através da automação do meio rural e da descaracterização que essa
comunidade tem sofrido no decorrer dos séculos.
Esta pesquisa está ligada à análise etnográfica e à lexicologia que, juntas, pretendem
estabelecer uma melhor compreensão da linguagem como reflexo da cultura dessas
comunidades rurais e rurbanas1 integrantes do nordeste goiano. O ponto de partida é o
município de Formosa-Go, seguido de municípios adjacentes e, excepcionalmente, das rotas
bandeirantes.
O aspecto semântico e a origem histórica de vocábulos selecionados são analisados na
linguagem caipira do Vale do Paranã. Tal seleção, após estudo, reflete a identidade do
sertanista e a formação da sua realidade sociolingüística, por meio de observação participante
nos ambientes naturais dessa comunidade.
A análise etnográfica sobre os aspectos históricos, sociais e lingüísticos contribui para
a emersão da variação lingüística com traços arcaicos do português. Logo, é perceptível a
riqueza que os rincões do nordeste goiano guardaram por séculos, em cada atividade de fala
regida sob o paradigma do pretérito lingüístico que ainda sobrevive na oralidade, mesmo na
contemporaneidade.
Esta pesquisa toma como base, portanto, a linguagem dos habitantes rurais do Vale
Paranã, e reveste-se da exteriorização de determinantes que condicionam a diversidade
lingüística, ou seja, a identidade sociolingüística do falante. Portanto, os fatores sócio-
históricos que compõem essa variação lingüística retratam as transformações que sempre
acompanharão qualquer língua.
1 Termo usado por Stela Maris Bortoni (1985) que designa as comunidades urbanas de tradição rural.
13
As páginas iniciais da fundamentação teórica abordam aspectos, ora intitulados, ora
subtitulados, tais como: a sociolingüística interacional, a comunidade rural formosense e a
rede de relações sociais, a filologia bandeirante e os aspectos históricos na formação do
português rural. Após a reflexão teórica, apresenta a seguinte disposição: metodologia,
contextualização do ambiente rural e a análise etnográfica e lexical dos vocábulos.
A conclusão deste trabalho acadêmico permite avaliar o alcance dos objetivos
propostos, assim como apresentar aos interessados em geral, a oculta realidade
sociolingüística do caipira formosense. Finalmente, mais uma situação lingüística, antes
destituída de registro e análise sai do anonimato pelo reconhecimento da identidade de um
povo que até agora se via sem voz.
14
I – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Palavras iniciais
Este tópico traduz os princípios da Sociolingüística Interacional, especificados por
Gumperz (1988). Em seqüência, as redes de relações sociais, os aspectos da filologia
bandeirante e considerações a respeito da formação do português rural são abordados através
das vozes de outros estudiosos de não menor valor. A partir da aplicação das áreas citadas no
início deste parágrafo, o conhecimento científico sobressai através da exposição analítica do
repertório lexical encontrado.
1.1 - A Sociolingüística Interacional
1.1.1 - Repertório lingüístico de uma comunidade de fala
A diversidade de fala sempre foi o objeto principal dos estudos sociolingüísticos.
Através desta premissa, é necessário apresentar a fala de Hymes (1986:38) que retrata a
diversidade lingüística como um auxílio comunicativo nas interações verbais cotidianas, no
sentido de que, em uma atividade de fala, os interlocutores, no intento de ordenar em
categorias os eventos de fala, de inferir, e obter expectativas do porvir, se baseiam em
conhecimentos e estereótipos oriundos de diversas maneiras de falar. Por fim, Hymes
denomina esse conjunto de informações internalizadas como condição de manutenção do
envolvimento conversacional e eficácia persuasiva.
Heteroglossia é a representação textual das diferenças sociais, portanto, quanto a esta
premissa, é imprescindível expor a observação de Mikhail Bakhtin (1895 – 1975), a qual diz
que em qualquer momento de sua evolução, a língua é estratificada em dialetos, em
linguagens sócio-ideológicas – linguagens de grupos sociais, linguagens profissionais e
genéricas - em linguagem de gerações e assim por diante.
Quanto à comunidade de fala, em decorrência de sua importância nesta dissertação,
convém mostrar a definição desta expressão a partir de Hymes (1986: 54), a qual diz que
comunidade de fala é um grupo de pessoas que compartilham regras de conduta, interpretação
15
e regras inerentes à interpretação de pelo menos uma variedade lingüística. Consoante a esta
definição, é necessário destacar que o conhecimento lingüístico nas interações depende da
força de contato, assim como das redes sociais. Neste contínuo de análise, é necessário
comentar o conceito e as características de competência comunicativa sob a ótica de Hymes
(1974:75), o qual defende a idéia de que a competência comunicativa consiste em uma série
de habilidades, inclusive de conhecimento gramatical. Hymes, em função dessa defesa, diz
que dentro da matriz social em que é adquirido o sistema gramatical, a criança adquire o
sistema de seu uso, no que se refere a todos os componentes de eventos comunicativos
inseridos de atitudes e crenças pertinentes.
“Etnografia”, que tem na sua formação o morfema grego ‘ethnos’ – + grafia, refere-se
ao registro descritivo das características antropológicas, sociais, lingüísticas, etc, de um
determinado grupo ou povo em suas atividades cotidianas. De acordo com Bortoni-Ricardo
(2008, p.38), o termo etnografia foi marcado por antropólogos no final do século XIX, para se
referirem as pesquisas feitas sobre os estilos de vida de comunidades desconhecidos na
cultura ocidental.
“Repertório lingüístico”, dentro da noção de competência lingüística apresentada por
Hymes (1974), representa o conjunto de todas as variantes, dialetos e estilos de uma
comunidade de fala, e consecutivamente, os determinantes que levam o falante a fazer
determinada escolha. De acordo com essa caracterização, é notório que uma falante pode
excluir ou ocultar a determinada seqüência discursiva em seu falar, devido ao receio de ser
criticado de forma negativa.
1.1.2 - Histórico da sociolingüística
Figueroa (1994) faz importantes observações quanto à Sociolingüística Interacional, a
qual apresenta o seu desenvolvimento tardio na história, especificamente no século XX,
somado aos aspectos de amadurecimento adquiridos através dos estudos da sociologia da
linguagem, da etnografia da comunicação e da sociolingüística laboviana. A partir dessa
enunciação teórica, é necessário fazer um direcionamento para a análise interacional, ponto
primordial desta pesquisa, pois implica a abordagem qualitativa que se realiza por meio de
observações diretas de situações reais do discurso. Logo, tais observações são centralizadas
16
no evento discursivo, considerado como um modo de atividade social, situado em um
ambiente específico, e relacionado à vida cultural da comunidade em que ocorrem os
desempenhos discursivos.
A Sociolingüística Interacional apresenta John Gumperz (1988) como um dos grandes
precursores do estudo da sociologia da linguagem e sua obra clássica Discourse Strategies:
studies in Interactional Sociolinguistics 1(1988). Ele interpreta regras da linguagem ligadas
aos fatores sociais que contribuem para formação e processo de interação verbal. Portanto,
esse estudioso busca o complemento em outras áreas de pesquisa, como a Antropologia
Social, Etnografia, Análise do discurso, as quais reforçam os estudos da Sociolingüística
Interacional para a compreensão da linguagem e seu contexto.
Citada no parágrafo anterior, a obra de Gumperz é de fundamental importância para a
análise do grupo rural pesquisado, pois são muitos os elementos que caracterizam e compõem
a diversidade lingüística de uma língua. Como exemplo dessa maleabilidade lingüística, há a
língua portuguesa brasileira, da qual a diversidade sociocultural resultou a variante usada por
comunidades rurais do interior do Brasil. Portanto, a obra de Gumperz (1988) proporciona
subsídio salutar a esta pesquisa, uma vez que, além de vasta gama teórica, estabelece o
pressuposto de que a participação em interações verbais, assim como as respectivas criações e
os amparos implicam conhecimentos e habilidades que ultrapassam a competência gramatical
indispensável ao processo decodificativo de mensagens pequenas e segregadas, o que remete
a análise do corpus aos níveis de interpretações.
Pesquisas sociolingüísticas realizadas em comunidades rurais da Índia, Noruega, e nos
Estados Unidos revelam grupos estigmatizados pelo seu falar, mas que possuem forte
identidade sociocultural. Diante da complexidade de interpretação desses grupos, e de
respectiva analogia quanto aos conhecimentos morfológicos e fonológicos repassados por
Saussure e seus dialetólogos quanto às fronteiras gramaticais e populacionais, torna-se
significativa a seguinte assertiva de Gumperz2 (2002, p.6):
2But the more I learned about the nature and functions of conversational strategies, the more I became
convincend that sócio-cultural differences and their linguistic reflections are more than just causes ofmisunderstanding or grounds for pejoratives stereotyping and conscious discrimination.
17
Quanto mais eu aprendi sobre a natureza e as funções das estratégiasconversacionais, mais eu me convenci que diferenças socioculturais e suasreflexões lingüísticas são a causa de inadequações interpretativas ouconsideradas como estereótipos pejorativos e preconceituosos.
A reflexão acima demonstra a necessidade de se respeitar o léxico e a correspondente
interpretação desse léxico, pois é notória a presença de diferentes origens socioculturais na
construção de uma “mesma língua”, que mal interpretada, ocasiona a desconstrução social e
discursiva. Logo, essas palavras são confirmadas em outras postulações do capítulo
Convenções de contextualizações, de Gumperz (1988), as quais retratam as pistas de natureza
sociolingüísticas. Tais pistas lingüísticas são sinais de intenções comunicativas ou de
inferências de intenções conversacionais do interlocutor. Podem ser divididas em pistas
lingüísticas: a alternância de código, de dialeto ou de estilo; em pistas paralingüísticas: o valor
das pausas, o tempo da fala e as hesitações; em pistas prosódicas: entoação, o acento, o tom;
em pistas não-vocais: direcionamento do olhar, o distanciamento entre os interlocutores e suas
posturas, e a presença dos gestos.
1.1.3 - Discurso e interação
O ambiente discursivo, retratado pelas normas culturais compartilhadas, reveste-se,
inicialmente, do processo de aquisição da língua materna, que ocorre nos primeiros anos de
vida de um indivíduo. Consecutivamente, em decorrência da necessidade de adequação ao
mecanismo de aculturação e bom convívio, o indivíduo, membro de seu grupo social, começa
a refletir o contexto cultural no qual está imerso e suas implicações. A língua é criada e
recriada em cada momento de interação verbal, ou seja, a cada vez que o indivíduo elabora e
organiza a própria língua, contextualizada no seu ambiente cultural. Desse modo, constrói-se
a base lingüística em função da interação dos membros que participam dessa realização
verbal, pois há uma língua viva para a qual não cabe uma visão elaborada sob o prisma da
exclusão ou preconceito. A esse respeito, Gumperz3 (2002, p.154) afirma que:
Há teorias que ressaltam a necessidade de uma relação extralingüística, umconhecimento sociocultural para interpretar a gramática de uma língua em
3Existing theories visualize the relationship of extralinguistic, sociocultural knowledge to grammar in
one of two ways.The first is the antropological tradicional of etnography of communication, where socio-culturalknowledge is seen as revealed in the performance of speech events defined as sequences of acts bounded in realtime and space, and characterized by culturally specific values and norms that constrain both the form andcontent of what is said.
18
um de dois caminhos. O primeiro é a antropológica tradicional da etnografiada comunicação em que o conhecimento sociocultural é visto e revelado naperformance dos eventos discursivos definidos como seqüências de atos queultrapassam em tempo real e espaço, e caracterizado por valores e normasculturalmente específicos que direcionam ambos conteúdo e forma do quefoi dito.
A compreensão de uma variante lingüística inicia-se com o conhecimento prévio do
discurso de uma comunidade. Logo, a etnografia passa a ser o meio descritivo do discurso que
revela normas culturais compartilhadas e aspectos lingüísticos típicos dos seus falantes.
Gumperz4 (1982, p.1) salienta que: “A sociolingüística interpretativa desenvolve
abordagens de interação humana que contam com regras que jogam o fenômeno comunicativo
no exercício do poder e controle, assim como na produção e reprodução da identidade social”.
Conforme estas palavras, a interação verbal reveste-se de um jogo de poder que cria e recria a
identidade de um grupo no processo de comunicação. Logo, sabe-se quão necessária é a busca
de mais explicações sobre o fenômeno comunicativo, o qual tem o seu início na obtenção de
respectivas respostas desdobradas nas práticas discursivas e no ambiente de ocorrência.
Gumperz (2002, p.209) define a competência comunicativa como o conhecimento
lingüístico e convenções comunicativas que os falantes possuem para criar e sustentar a
cooperação conversacional. Essa definição permite ir a postulações correlatas: as elocuções
podem ser compreendidas de diversas formas, ou seja, as convenções podem dar sentidos
diferentes a uma mesma enunciação. A enunciação tem determinada significação em função
do momento de interação; e através da pesquisa sociolingüística, o ato de registrar e investigar
aspectos específicos do processo comunicativo (verbal e não-verbal) espelha o contexto
sociocultural. Portanto, o objetivo da análise etnográfica está na ocorrência da atividade
lingüística que segue respectiva ordenação e contexto, ou seja, na abordagem da etnografia da
fala, a situação conversacional deve ser vista, principalmente, pela existência de regras
culturais convencionais de fala que são adequadas para uma determinada circunstância de
ocorrência.
4“The develop interpretative sociolinguistic approaches to human interation which account for the role
that communicative phenomena play in the exercise of power and control and in the production and reproductionof social identity”.
19
Segundo Gumperz (1982, 155), os estudos da linguagem em uso são concentrados
naquilo que Hymes chama de atividade de fala. Dessa atividade, incluem-se as informações
sobre o local em que ocorre o repertório lingüístico, as variações da língua, dialetos e estilos
empregados em uma comunidade. Por fim, a assertiva anterior pode ser retratada da seguinte
forma: as atividades de fala são frutos do meio ambiente em que ocorrem.
A atividade de fala é designada por Gumperz (1982, p.166) como um conjunto de
relações sociais elaboradas a partir de um conjunto de esquemas em relação a algumas metas
comunicativas. A atividade do discurso pode ser caracterizada através de frases descritivas,
como “discutindo política”, “conversando sobre o clima”, “contando história a alguém”, e
“palestrando sobre lingüística”. Na atividade de conversa informal, estabelece que os tópicos
mudam-se livremente, sem prejuízo do significado, pois as pistas lingüísticas asseguram a fiel
compreensão.
A unidade fundamental de observação na análise interacional é a situação,
(cf.GOFFMAN, 1964:134). Em situações interacionais, o indivíduo pode se comportar de
uma forma verbal e não-verbal, com uma intenção comunicativa que busca um entendimento
final.
As situações interacionais de fala são parcialmente estilizadas e orientadas por um
desempenho usual que requer regras fixas, como, por exemplo, cerimônias de batismo,
casamento ou fúnebre, entre outras. Normalmente, esses comportamentos discursivos
estilizados atuam como um definidor da situação onde ocorrem. Porém, as situações
interacionais podem ser marcadas por momentos não estilizados e que não requerem regras
fixas, como, por exemplo, os diálogos sem compromisso, os quais permeiam a vida diária de
qualquer indivíduo.
Podem ser analisadas as situações de fala que foram designadas por Hymes (1972:56)
como eventos de fala. Em qualquer comunidade, como, por exemplo: uma reunião de
professores e pais de alunos, uma entrevista para obter emprego ou uma consulta médica, o
evento de fala requer algumas limitações; pois, em situações de ocorrência de determinada
fala, não se espera ouvir algo fora do contexto, o qual não caracterize situações e eventos de
fala.
20
Gumperz e Blom (1972, p.41) ao descrever os padrões de fala de uma pequena
comunidade da Noruega (Hemmesbertget), relataram: “Eles são alvos de freqüentes
comentários e piadas, e parecem desempenhar um papel importante para a manutenção da
identidade local”. Em suas descrições, identifica-se a manutenção da identidade de um grupo
estigmatizado em maior intensidade na zona rural, uma vez que a característica
sociolingüística do grupo está vinculada às relações interativas. O estudo apresenta uma
análise criteriosa de identificadores próprios da fala, assim como do caráter implícito das
relações sociais. Logo, tal intento investigativo propicia uma ferramenta a mais para a análise
dos diferentes discursos.
1.1.4 - Implicações sociointeracionais
Bortone (1996, p.25) diz:
Para o sociolinguista, a ênfase deve ser dada aos padrões da forma de falacomo uma evidência de uma aprendizagem prévia pelo falante da aquisiçãode normas culturais compartilhadas. O interesse nas atividades de fala podeser concebido como parte, tanto do interesse etnográfico nos padrõesculturais do discurso, como no interesse etnometodológico da produção eorganização local da fala.
A reflexão acima confere ao sociolinguista a possibilidade de analisar os padrões da
forma de fala como destaque de uma aprendizagem cultural concebida previamente pelo
falante, em face à aquisição de regras culturais compartilhadas. Os padrões de ocorrências de
fala tornam-se um índice de determinação da assimilação das atividades de fala interativas e o
respectivo interesse é concebido, ora como etnográfico, ora como etnometodológico. Dessa
forma, Bortone ratifica a necessidade do estudo descritivo do desempenho lingüístico das
diferentes etnias e de suas particularidades antropológicas e sociais.
A sociolingüística busca, também, investigar e compreender a língua em vários
contextos sociais e culturais, nos quais a linguagem é o reflexo de identidade, ou seja, há a
definição da comunidade lingüística. Esta explicação é conferida a Bortone (1996, p.23) em
sua análise a respeito dos trabalhos de Worf (1936) e Sapir (1925): seus estudos marcam-se
21
pela ênfase no valor positivo da diversidade lingüística e cultural e na avaliação do papel do
componente cultural na determinação da estrutura das línguas.
Com o intuito de apontar parceiros teóricos à lingüística em foco, torna-se essencial
citar Jean Dubois (1998, p.133), o qual define comunidade lingüística:
Chama-se comunidade lingüística um grupo de seres humanos que usam amesma língua ou o mesmo dialeto, num dado momento, e que podemcomunicar entre si. A comunidade lingüística não é homogênea: compõem-se sempre de um grande número de grupos que têm comportamentoslingüísticos diferentes. O conceito de comunidade lingüística implicasimplesmente que sejam reunidas certas condições especificas decomunicação, preenchidas num dado momento por todos os membros deum grupo e unicamente por eles; o grupo pode ser estável ou instável,permanente ou efêmero, de base social ou geográfica.
Dubois conceitua comunidade lingüística sob a percepção da competência e
desempenho, as quais se remetem à acepção dada à heterogeneidade, em virtude dos
contextos sociais e culturais. Novamente, encontra-se a exposição das diferenças lingüísticas
que levam aos ‘padrões de forma de fala’, retratados por Bortone (1996).
Sapir (1985, p.7) diz que é verdadeira a concepção da linguagem como um meio
essencialmente perfeito de expressão e comunicação para todos os povos conhecidos. Em
ambientes conhecidos de ocorrências lingüísticas, é notório que a supremacia da linguagem
em face aos outros mecanismos de comunicação é a que mais se insere de perfeição, dada a
sua condição de dirimir equívocos. Desse modo, é primordial a leitura da caracterização feita
do ato comunicativo por Dubois (1998, p.129):
(1) pelos participantes da comunicação, cujo papel é determinado pelo ego(ou eu), centro da comunicação; (2) pelas dimensões espaço-temporais doenunciado ou contexto situacional: relações temporais entre o momento daenunciação e o momento do enunciado (os aspectos e os tempos); relaçõesespaciais entre o sujeito e os objetos do enunciado, presente ou ausentes,próximos ou remotos; relações sociais entre os participantes dacomunicação, assim como entre eles próprios e o objeto do enunciado (ostipos de discursos, os fatores históricos, sociológicos, etc.).
22
Bortone diz (1996, p.23):
A necessidade de um conhecimento mais aprofundado do funcionamento doprocesso comunicativo deveu-se a diversos questionamentos nãosolucionados pela sociolingüística quantitativa, como o papel que ofenômeno comunicativo desempenha no exercício do poder, controle,produção e reprodução da identidade social ou como a ideologia entra naprática discursiva criando um espaço interacional no qual o processosubconsciente de inferências pode gerar uma grande diversidade deinterpretações, ou ainda porque a linguagem estigmatizada de alguns grupostende a persistir mesmo em face das pressões educacionais e sociais para apadronização.
Bortone, em face ao fenômeno comunicativo descrito, salienta a importância do estudo
científico de fatos lingüísticos que ainda não são contemplados em definitivo pela
Sociolingüística. O modelo padrão não alcança a todos, portanto sua força elitista pode ser
um indicativo de segmentação social e os que não a dominam podem se privar ou serem
privados de direitos e presença cidadã. O grau de letramento em qualquer situação de
enunciação pode favorecer ou não a interação.
Esta estudiosa refere-se a um aspecto primordial na análise sociointeracional: trata-se
do espaço interacional no qual o mecanismo do subconsciente de inferências gera uma grande
possibilidade de interpretações. Desse modo, as variações lingüísticas e interpretações
pertinentes podem ocasionar inferências diversas quando os sujeitos da fala são de meios
lingüísticos diferentes. Com esta especificação teórica, a diversidade do léxico, tanto na sua
forma, como na sua abstração, é motivo de análise, pois a interação e o respeito decorrem da
permuta dos ambientes lingüísticos.
1.1.5 Redes de Relações Sociais
Milroy (1980, p.6) diz que grande parte dos trabalhos desenvolvidos sobre redes de
relações sociais é dominada pela influência de Willian Labov, cuja pesquisa inicial é
enraizada num plano de fundo dialetologístico. Nos famosos estudos Martha`s Vineyard (feito
em 1961) e New York City (1966), Labov utilizou o plano de fundo de um trabalho anterior
para localizar suas próprias observações em tempo real ou histórico, o qual iria ajudá-lo
quanto às direções das mudanças lingüísticas.
23
Milroy (1980, p.10) retrata a variação sociolingüística como um elemento lingüístico
(na prática, geralmente fonológico) que varia em tempo determinado, não somente com outros
elementos lingüísticos, mas também com um número de variáveis extralingüísticas
independentes, como a classe social, idade, gênero, grupo étnico e estilo contextual.
Milroy (1980, p.19) esclarece que os recursos disponíveis para a manipulação incluem
variedades de baixo prestígio e estigmatizadas, que podem ser usadas, se o orador assim
desejar, para indicar lealdade a uma comunidade local e rejeição a valores metropolitanos e
nacionais. Percebe-se através deste posicionamento que a linguagem estigmatizada pode ser
usada como uma barreira a influências externas, a qual se torna ponto determinante de
segregação.
Milroy (1980, p.19) faz a seguinte analogia: diz se ao invés de supor um continuum
sociolingüístico com uma posição vernacular na parte inferior e um dialeto de prestígio no
topo, com movimentos lingüísticos de indivíduos geralmente em uma posição vertical, é
possível ver o vernáculo como uma força positiva: deve estar em conflito direto com as
normas padronizadas, utilizadas como símbolo pelos falantes para carregar poderosos
significados sociais e, portanto, resistente a pressões externas. Trata-se de mais uma
postulação de Milroy quanto à capacidade de segregação, identidade e resistência social do
dialeto.
Milroy (1980, p.19) considera que os grupos de network não são somente densos,
como cada indivíduo tende a ser conectado a outros, em mais de uma capacidade – como uma
relação de co-empregado, familiaridade ou amizade. Esse tipo de network (onde há ligação
entre indivíduos) pode ser chamado de multiplex, se contrastada com o tipo ligação, a
uniplex, própria da elite que tende a associar-se com as pessoas locais, em uma única
capacidade.
Os estudos de comparações detalhadas, de Milroy (1980, p.32), sobre a interação de
um pequeno grupo, revelam que residentes da mesma pequena cidade são segmentados em
grupos – ou networks – que de fato não dividem as mesmas normas lingüísticas. O significado
social carregado pelo dialeto é diferente para cada grupo. Logo, tais estudos permitem dizer
que a interpretação do ambiente de fala deve inserir de conhecimento a respeito das normas de
realização, pois cada evento de fala constitui-se de peculiaridades.
24
Para interpretar o comportamento lingüístico da comunidade em análise é fundamental
entender e identificar a rede de relações sociais (cf.Milroy, 1980). Sua teoria modela os
comportamentos interacionais nos diversos domínios nos quais ocorrem, portanto, para
compreender as características das redes de contato (networks), torna-se essencial conhecer as
suas relações com a língua e respectivos reflexos na formação de comunidades de fala, com
traço mais aberto ou mais fechado.
De acordo com a distinção binária que a análise da estrutura network possui, Milroy
conceitua comunidades que apresentam relações “multiplex”, característica dos sistemas
sociais fechados e tradicionais, nos quais há contatos entre os membros de uma comunidade
que se cruzam em ambientes familiares, profissionais. O conhecimento entre esses indivíduos
é amplo e intensifica a rede de relações sociais.
Diferentemente, as comunidades de fala não tradicionais, possuidoras de uma relação
“uniplex”, apresentam uma baixa intensidade de contato entre os membros que as integram.
Tal forma de relação social não oferece uma situação que proporciona o reconhecimento entre
os indivíduos em diversos ambientes sociais.
Bortoni-Ricardo (2005, capítulos 8 e 9) apresenta uma gama de informações sobre as
redes de relações sociais e os problemas no processo de aprendizagem da língua materna no
Brasil, em face à clientela diversificada nas escolas, à falta de política educacional que trate
de forma realista a pluralidade sociolinguística e à importância do uso de recursos analíticos
da antropologia social, à análise da clientela diversificada para a produção do perfil
sociolingüístico dos alunos. Essas informações servem de pilares à análise de comunidades
que ainda conservam o seu léxico, pois estabelecem caminhos que, se observados, levam a
registros que respondem de forma fiel ao desempenho lingüístico e suas circunstâncias.
A sociolingüísta e etnógrafa, citada no parágrafo anterior, explicita uma característica
de nuance intrigante nas sociedades modernas: as variedades lingüísticas desprestigiadas
conservam-se nas comunidades urbanas, mesmo sob a constante influência da norma-padrão.
Essa característica é colocada como fator marcante, mesmo em países onde a alfabetização é
universal, por volta de algumas décadas. Aponta, ainda, uma condição que leva a análise
dessas sociedades a uma explicação plausível: há a coexistência das variedades lingüísticas
25
com a variedade de prestígio. Logo, esse fenômeno pode ter sua explicação pautada nos
estudos de redes (networks) da antropologia social.
Bortoni-Ricardo faz algumas considerações salutares sobre o paradigma do estudo de
redes: com objetivos analíticos, esse modelo teve seu desenvolvimento na antropologia, a
partir da década de 1950, com o propósito de obter maior intensidade na explanação da
análise das interações. Retrata Mitchell (1969 apud Bortoni-Ricardo, 2005, p.84), que o
interesse sobre os estudos das pessoas envolvidas na rede, deve focar-se, primordialmente,
nos liames existentes nas relações mútuas das pessoas, como condição de explicação do
comportamento.
A partir das considerações anteriores, outras particularidades de grande importância
para a compreensão dos estudos de redes são citadas por tal estudiosa. Primeiramente, expõe
que a relação entre os traços morfológicos e o comportamento social, sob os ditames do
estudo sistemático, teve seu marco inicial nos estudos de Barne em 1954, quando este
apresentou o conceito de densidade de redes e o grau de redundância nos vínculos.
Consecutivamente, explica os termos ‘uniplex’ e ‘multiplex’: o primeiro refere-se ao vínculo
singular entre duas pessoas, ou seja, quando alguém se relaciona com outra, apenas em uma
situação ou capacidade, exemplificada em empregado-padrão; o segundo termo refere-se às
múltiplas formas de relacionamento que alguém pode desenvolver, exemplificadas em
parentes, colegas de trabalho, vizinhos e outros.
1.2 - Filologia Bandeirante
1.2.1 - Aspectos Teóricos da Filologia Bandeirante
O Projeto Filologia Bandeirante, organizado por Heitor Megale (2000) e outros
pesquisadores, tem como seu marco o primeiro volume da série Estudos. Esse tomo contém a
reunião de vários trabalhos esclarecedores do estado da língua nas rotas das bandeiras. Por
fim, ressaltam-se os diversos pesquisadores que contribuíram com seus trabalhos de
pesquisas, discutidos e apresentados na primeira reunião geral do projeto realizada no Caraça,
em outubro de 1998.
26
O Projeto em questão pretendeu pesquisar e analisar os dados lingüísticos do
português na trilha das bandeiras. Esse “caminho” caracterizou-se pela movimentação
humana que partiu rumo ao sertão em busca de metais preciosos, demarcação de terras e
escravização de índios. Por conseguinte, muitos se instalaram às margens dessa trilha, e
outros bandeirantes e tropeiros retornaram às regiões (SP, MG, GO, MT), que ainda estavam
em processo de colonização, nos séculos XVII e XVIII. Por fim, dentre os integrantes da
trilha bandeirante, os que ficaram na região do nordeste goiano trouxeram tradições e
características lingüísticas dos seus estados e/ou países. Essas diferenças se enraizaram em
comunidades de fala que se formaram nas picadas bandeirantes.
O Projeto Filológico apresenta como referência inicial de rota a grande bandeira de
1674. Em seguida, expande a pesquisa para as demais rotas que surgiram em decurso do
desbravamento dos sertões. Há nesse feito filológico, o registro e a interpretação dos traços de
um português arcaico que é fruto de um falar pertencente ao período do Brasil colônia. Desse
modo, o falar descrito no Projeto Filologia Bandeirante representa uma forma de resistência
sociocultural das comunidades rurais que se estabeleceram como ilhas lingüísticas no interior
do Brasil.
As pesquisas sociolingüísticas reconhecem os falares que são distribuídos ao longo
das trilhas. Portanto, com o intuito de formar um Atlas lingüístico detalhado dos falares que
compõem a língua portuguesa brasileira nas últimas décadas, a fala da região de Goiás
tornou-se objeto de pesquisa da Universidade Federal de Goiás, em meado do século XX.
Logo, essa pesquisa iniciou-se com um trabalho intitulado “Estudo de dialetologia
portuguesa: a linguagem de Goiás” elaborado por Teixeira (1944).
Essas pesquisas realizadas inserem-se dos atributos da “ecologia da língua” (Couto,
2007). Devido à diversidade regional, há influências lingüísticas diversas no estado de Goiás.
Couto (2007, p.42) define ecologia da língua: “Estudo das relações entre língua e meio
ambiente (social, mental e físico).”
Megale (org, 2000 p.10) profere:
Tanto as formas mais antigas, como essas desaparecidas, há menos tempo,interessam sobremaneira aos propósitos do projeto, independentemente da
27
natureza de seus dados, se lexicais, se fonéticos-fonológicos, morfo-sintáticos ou semânticos. Há interesse em toda a gama de natureza dosdados que comprovem a arcaicidade da língua nas trilhas das bandeiras. OProjeto se propõe resolver a dificuldade de identificação da natureza arcaicadesses dados, bem como situá-los, na medida do possível, na História dalíngua.
Independente da natureza dos dados, Megale ressalta que os interesses desse Projeto
não se devem ater às respectivas naturezas. Sob esse propósito, o corpus é analisado em
vários pontos da trilha bandeirante, o qual apresenta um arcaísmo que tem sofrido mudanças
diacrônicas, conforme as influências sociais, históricas e lingüísticas de cada época, mas que
não perdeu sua essência arcaica. Logo, a identificação da natureza arcaica dos dados
encontrados é uma dificuldade a ser vencida.
Megale (2000.p.15) diz em seu texto Bandeira e Bandeirante, que:
O projeto já identifica no leito das trilhas marcas de uma movimentaçãodemográfica que fornecem dados que se espera tornem-se progressivamenteelucidativos de uma língua portuguesa em processo de substituição dasdiferentes línguas nativas, genericamente reunidas sob a denominação delíngua geral.
No Projeto, Megale retrata as marcas de movimentação demográfica, a partir do
mapeamento realizado no primeiro ano de sua ocorrência. O mapeamento permitiu a obtenção
de dados esclarecedores de uma situação progressiva de substituição das diversas línguas
nativas, denominadas na forma sintética de língua geral. Desse modo, as muitas horas de
estudo e gravações de descrições orais dos participantes do Projeto de Filologia Bandeirante
proporcionaram o registro do processo de assimilação entre diferentes contatos.
Há a necessidade de se conhecer um posicionamento teórico muito importante de Silva
Neto (1950.89-91), citado por Mendes, no tópico intitulado “Os Bandeirantes falavam a
língua geral”: Segundo Silva Neto (1950: 89-91), até pelo menos o início ou meados do
século XVIII, havia um predomínio quase da língua geral ou koiné de origem tupi “(...) foi
essa koiné, falada na costa, que invadiu o interior com as bandeiras e as entradas”.
Essa posição teórica de Silva Neto remete à língua falada por aqueles que buscaram as
riquezas minerais do interior do Brasil ao conceito de coinê, vocábulo de origem tupi que
28
significa língua geral. Couto (1996, p.97) define coinê como uma língua que serve de
intermediário entre falantes de língua mutuamente ininteligíveis, “As coinês, trata-se da
convergência de dialetos de uma mesma língua, quer eles sejam mutuamente inteligíveis quer
não”.
É perceptível que as bandeiras e as entradas levaram uma grande quantidade de
pessoas de várias nacionalidades para o interior do Brasil em busca de riqueza e glória, no
qual muitos perderam suas vidas em confrontos ocorridos nesses sertões. Enfim, essa língua
geral (coinê) corrobora o vínculo entre falantes da costa e os das trilhas bandeirantes.
A força dos colonizadores foi tenaz, pois exterminou muitas tribos e silenciou línguas
milenares. Silva (2004:74) reforça a idéia da importância da comunicação no período
colonial:
A larga difusão documentada do uso do que se chama língua geral, seseguindo, num primeiro momento, a frente de colonização dos padrescatequistas, corporificada nos aldeamentos indígenas e nos Colégios daCompanhia de Jesus e depois ultrapassando esses limites para vir a ser,como se costuma afirmar, a língua da colonização dos interiores brasileirospelos bandeirantes partindo de São Paulo, essa língua geral ter-se-iatransmitido pela oralidade, sem controle de escolarização sistemática e emsituações de aquisição imperfeita, no sentido de que nesse contexto deaquisição estariam indivíduos pertencentes a situações bilíngües(português/língua geral) ou multilingües (português/língua geral/ línguasindígenas e/ou africanas).
A idéia anterior expressa uma linha cronológica da língua intitulada geral: inicia-se
com a colonização dos padres catequistas frente aos aldeamentos e Colégios da Companhia de
Jesus, e segue para o interior do Brasil através das Bandeiras. Entretanto, a difusão dessa
língua geral destituiu-se de escolarização sistemática, o que permitiu uma aquisição
imperfeita.
Sergio Buarque de Holanda (1999, p.125) afirma:
Entre os paulistas do século XVII fosse corrente o uso da língua-geral, maiscorrente, em verdade, do que o próprio português. Nada impede, com efeito,que esses testemunhos aludissem, sobretudo às camadas mais humildes (e
29
naturalmente as mais numerosas) do povo, onde a excessiva mistura econvivência de índios quase impunham o manejo constante de seu idioma.
Consoante à citação anterior, é notória a sobreposição da língua geral. Houve
comprometimento da originalidade da fala nativa perante a colonização. Logo, concebeu-se
no período de colonização uma fusão lingüística, étnica, cultural de povos europeus e
ameríndios, denominada anteriormente por Silva Neto (1950) em citação, como koiné.
Os bandeirantes tiveram fundamental importância na migração lingüística. Porém, é
preciso expor o valor da figura feminina, pertencente à sociedade paulista: os homens
bandeirantes que partiram rumo ao sertão deixaram suas mulheres como um elemento de
estabilidade dos afazeres domésticos. Essa situação levou à formação de pólos familiares
mantenedores da língua geral paulista, devido ao elo lingüístico estabelecido por essas
mulheres com seus servos ou criados que dominavam apenas a língua tupi.
A respeito do comentário sobre o sistema matriarcal no parágrafo anterior, é
importante apreciar a enunciação de Holanda (1999, p.124) que reproduz a situação das
crianças em meio a um ambiente de fala plural.
Atraindo periodicamente para o sertão distante parte considerável dapopulação masculina da capitania, o bandeirismo terá sido umas das causasindiretas do sistema quase matriarcal a que ficavam muitas vezes sujeitas ascrianças antes da idade de doutrina e mesmo depois. Na rigorosa reclusãocaseira, entre mulheres e serviçais, uns e outros igualmente ignorantes doidioma adventício, era o da terra que teria de constituir para elas o meionatural e mais ordinário de comunicação.
De acordo com os relatos de Alincourt (2006, p.78) o gentio Goiás era persuadido a ter
como bode expiatório as mulheres, prática pertinente à violência colonialista:
Prosseguiu Bueno nos seus trabalhos, que eram interrompidos de contínuopelo gentio Goiás, que se tinha fortificado no terreno junto à confluência dorio Vermelho, com o dos Bugres: foi, pois indispensável domar, e afastardaqueles contornos a estes bárbaros, e usando-se do estratagema de se lhesprenderem as mulheres, deles se obteve o intento desejado.
30
Luís d`Alencourt comenta em seu diário a relação dos primeiros paulistas com os
índios encontrados nas rotas criadas pelos bandeirantes (2006 p.72-73):
Nada havia naquelas remotas épocas que pudessem quebrantar o desejo dasdescobertas, e alguns paulistas audazes se expuseram à fome, à sede, àsferas e a milhares de incômodos, entranhando-se por sertões desconhecidos,para cativarem os índios, e para depois os venderem nas povoações vizinhasao mar, chegando a haver em S.Paulo casa que possuíam mais de seiscentosdestes miseráveis: eis os motivos, que fizeram descobrir Goiás, e outrosmuitos lugares no interior do Brasil.” (...) “... o cativeiro dos índios foi oúnico fim das primeiras entradas, e aqueles desgraçados, que se não podiaagrilhoar com manha, ou força, eram mortos.” (...) “ Outros paulistas, poriguais razões às de Correia, vagaram pelo sertão, e entre eles se distinguiucom particularidade Bartolomeu Bueno da Silva, natural da vila deParanaíba, que seus compatriotas mencionaram como um herói: estehomem astucioso, duro por natureza, e acostumado ao trabalho, penetrouem 1682, sem que o embaraçasse o peso de uma larga idade, até ao lugar dopacífico gentio goiás.(...) Grande foi o ódio, que os selvagens conceberamao primeiro Bartolomeu, e em razão, de seus enganos, e ardis o apelidaramAnhanguera, que vem a dizer Diabo Velho; foi ele o que, entre todos osantigos sertanistas, soube melhor que nenhum inventar, pôr em práticadiversos estratagemas para iludir os índios, a fim de os cativar; e além do daaguardente, de que já falei, outro me ocorre não menos notável, e que pintabem a sua astúcia, e a credulidade indiana.
A partir do processo de constituição social, histórica, e lingüístico dos estados de São
Paulo, Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, surgiu à necessidade de entender como esses
processos de formação têm suas explicações na linguagem usada por comunidades rurais, as
quais foram construídas ao longo dos séculos e dos caminhos rumo aos sertões. De fato, os
estudos ligados à sociolinguística interacional e às pesquisas da Filologia Bandeirante ajudam
a compreensão e a preservação da cultura ligada a tradições rurais. Concernente a estes
aspectos, é necessário destacar a importância das histórias que se tornaram veículos de
conservação cultural devido à transferência oral dos fatos, ao conhecimento da terra, à
natureza e à própria identidade.
Pelas razões abordadas nos parágrafos anteriores, é preciso que os estudos
sociolingüísticos detalhem, analisem e registrem as variações lingüísticas que são
estigmatizadas por muitos, principalmente pelos detentores do processo lingüístico de
instituições educacionais. Desse modo, as situações apontadas nas referências teóricas,
especialmente as presentes neste capítulo, associadas aos retratos dos ambientes pesquisados e
31
expostos na análise do corpus deste trabalho científico, passam a integrar os dados da
sociolingüística.
1.2.2 Breve histórico sobre a formação do português rural
A realidade sociolingüística do ambiente rural pesquisado e os fatores sociais e
históricos influenciaram diretamente a formação e composição do léxico que ainda pode ser
encontrado em uso por moradores mais antigos, em situações específicas de atividade de fala.
É necessário que o tempo pretérito seja abordado para elucidar a variante lingüística inserida
em características arcaicas da língua portuguesa. A arcaicidade encontrada reveste-se de
diversidade histórica, social e lingüística. Desse modo, a fala encontrada, estigmatizada e de
pouco prestígio, é própria de pessoas menos escolarizadas e com menor mobilidade social, as
quais se encontram no interior e na zona rural do Brasil.
No Brasil colônia, a língua portuguesa teve como objetivos, alcances econômico,
religioso e político. Entretanto, a imposição da língua portuguesa como língua da
administração, do ensino e da catequização não impediu que grande parte da população
sertanista continuasse a falar as línguas nativas.
Silva (2004:80) relata que os antecedentes lingüísticos, provavelmente, foram a forma
de comunicação mais usada no interior do Brasil, a qual equivale a um pré-caipirismo:
“Parece provável que, na evolução do regime de escravidão indígena ao longo do século
XVII, tenha desenvolvido uma forma ancestral do dialeto caipira, aliás, fortemente marcado
pela presença de palavras de origem guarani”.
A conseqüência da convivência lingüística, abordada no parágrafo anterior, é um
ambiente de diversidade cultural e de inúmeros empréstimos lexicais, sintáticos e semânticos
na construção do português rural. As influências de línguas ameríndias, africanas e ibéricas
deixaram suas marcas no vernáculo brasileiro, o que possibilitou identificar as variações
regionais que por motivos fenomenológicos da língua, que não é o objetivo de estudo aqui,
fazem o português brasileiro possuir características lingüísticas diferentes do português de
Portugal.
32
Naro e Scherre (2007:84) respondem que a diferença lingüística entre o português de
Portugal e do Brasil está essencialmente ligada ao contexto social, desse modo, dizem: “No
Brasil houve ruptura da norma da comunidade de fala com a nativização da língua, o que
permitiu maiores graus de liberdade à evolução da variação”. Consoante ao proferimento do
início deste parágrafo, é importante expor o comentário apresentado no livro de Ilari e Basso
(2006), “O Português da Gente” que retrata a condição de fragmentação lingüística do Brasil
colonial, a qual levou os catequizadores a adotarem a língua geral:
Apesar da variedade de línguas indígenas presentes, a criação de “línguasgerais” era facilitada, no Brasil, pelo fato de que as línguas nativas da costa,pertencentes em sua maioria ao tronco tupi, apresentavam uma relativauniformidade; foi a partir dessas línguas que se criaram as línguas geraisbrasileiras. Uma delas teve grande difusão na região Sudeste e continuousendo falada em São Paulo até o início do século XX.
É inegável que na comunidade rural do interior do Brasil, há a influência da cultura
africana, pois nas fazendas o negro estava presente como mão de obra escrava, influenciando
a culinária, o falar, a religiosidade e outros costumes que compõem o cenário das rotas
bandeirantes pelo interior do sertão brasileiro. Logo, pode-se perceber que ainda há muitas
comunidades remanescentes de quilombos, como a comunidade rural de Tabatinga, em Minas
Gerais, a qual apresenta uma forte presença lexical de origem africana, e a comunidade
Kalunga que abrange vários municípios do norte de Goiás.
A partir da informação do parágrafo precedente, pode-se afirmar que os escravos de
origem africana, estiveram presentes nos vários ciclos econômicos do Brasil, como da cana-
de-açúcar, nos séculos XVI e XVII; no ciclo do ouro, nos séculos XVII e XVIII, os quais
foram levados para o interior paulista, Minas Gerais e Centro-Oeste. Logo, a citação de Silva
(2004:128) é imprescindível:
Contrariamente ao que ocorreu com os indígenas, os africanos e afro-descendentes estão no patamar de 60% da população do Brasil entre osséculos XVII ao XIX. Tendo de abdicar de suas línguas de origem, comoreferido, não tinham eles escolha: tiveram de aprender; num processo detransmissão lingüística irregular – na designação da crioulística atual – alíngua da colonização. Certamente, junto com o pequeno contingente deindígenas integrados ao processo colonizador; são eles que vão dar forma aoportuguês geral brasileiro, antecedente, como penso eu, do portuguêspopular ou vernáculo brasileiro.
33
Essa citação reflete a situação lingüística que os africanos e os afros-descendentes se
encontravam, pois tiveram que deixar sua língua de origem e passar a interpretar um
português adquirido de forma irregular por meio da oralidade. Essa situação lingüística
colaborou para caracterização do português rural. Pois, os grupos afros passaram por um
processo sócio-histórico de forte ligação com a cultura rural brasileira, o que traz mais uma
contribuição para a formação do falar caipira, variante de muitas influências. Logo, Naro e
Scherre (2007:186) ressaltam:
O português brasileiro não é o português simplificado ou o português cominfluência africana; é o português com as suas raízes originais, rurais epopulares, transplantado para uma terra mais fértil e conseqüentemente comum desenvolvimento mais intenso.
Principal formador e difusor do português rural, o caipira, que além de nos revelar um
português marcado pela influência dos povos europeus, africanos e ameríndios nos apresenta
como “fruto típico” do seu ambiente interiorano. Esse sertanista apresenta um mundo peculiar
da vida rural e uma herança musical própria, digna de conhecimento: as modas de violas,
músicas sertanejas de raiz, folguedos, rezas e outros. Portanto, essa diversidade de expressão
é o veículo propagador da variante caipira.
Gumperz (1982, p.39) ressalta que as diferenças lingüísticas marcam a identidade
social e são perpetuadas de acordo com as normas e tradições. Dessa forma, manter viva a
cultura caipira dessas comunidades rurais é uma forma de perpetuar costumes e tradições
ligados ao campo, ou seja, é um modo genuíno de fazer uso da variante sertanista, a qual
contempla seu ambiente natural.
34
II. A PESQUISA
Este capítulo faz uma breve reflexão sobre a metodologia adotada na presente
pesquisa, assim como, estabelece elos entre as pressupostos teóricos que circundam o discurso
das comunidades rurais pesquisadas. Consecutivamente, esta seção apresenta análises
lingüística e sociocultural dos grupos, nas quais o processo de formação e desenvolvimento
que resgata um período histórico-cultural muitas vezes esquecido pelas novas gerações.
2.1- Metodologia
O estudo preliminar foi feito com a comunidade rural formosense e municípios
vizinhos. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, realizada nos moldes da pesquisa
sociointeracional, a qual estudou aquele ambiente cultural. A metodologia adotada reuniu e
organizou o conhecimento produzido na interação entre os sujeitos e os pesquisadores, e sob o
ângulo lingüístico, estabeleceu-se o perfil sociocultural do grupo.
No primeiro momento desta dissertação, há o processo de compreensão dos valores
subjacentes ao discurso do grupo em análise etnográfica, especificamente, por meio de
entrevistas informais.
Em relação ao segundo momento, é imprescindível a leitura da subseqüente sinopse:
apresenta o levantamento do léxico utilizado pela comunidade, e em seguida, é feita análise
diacrônica do vocabulário, na qual coexistem os aspectos da história da língua e as nuances,
de sua evolução. Nesse momento, ocorre a tentativa de explicação da formação da variante
rural, assim como, a difusão pelo sertão. Por fim, há Identificação e análise dos traços
pertencentes à época das bandeiras, seguidas do enquadramento da identidade do sertanejo
que carrega o antagonismo entre o padrão e a variante rural.
De acordo com Gumperz5 (2002) “Etnógrafos da comunicação têm coletado
descrições novas e valiosas a respeito do processo comunicativo em diversas culturas que
5 Gumperz (2002)“Ethnografhers of communication have collected new, highly valuable descriptive informationdocumenting the enormous range of signalling resources availabe in various cultures, as well as many culturallyespecific ways that rules of speaking vary with context.”
35
variam de acordo com as regras de uso de cada contexto lingüístico específico”. Essa função
descrita serviu de parâmetro para o desenvolvimento da pesquisa de campo da qual originou
esta dissertação.
Para a coleta do “corpus” e respectiva descrição, foi utilizado o procedimento de
observações participantes. Entretanto, para se levantar todo o processo interacional em seus
momentos específicos de ocorrência na comunidade estudada, contou-se com o auxílio da
descrição etnográfica. A análise etnográfica está focada na ocorrência da atividade lingüística,
nos hábitos diários, seguidos de rituais comunicativos. Somente por meio da pesquisa
etnográfica foi possível registrar o léxico que esteve presente em um período marcado pelas
entradas das bandeiras paulistas em regiões habitadas pelos índios goyases. Logo, a partir da
exposição lexical, a compreensão do desenvolvimento histórico e do ambiente
sociolingüístico rural dá voz e memória à cultura rural do nordeste goiano.
Muitos fatores foram considerados nesta pesquisa etnográfica, que de acordo com
Erickson (1986:81), em relação à caracterização da metodologia da pesquisa etnográfica,
pressupõe:
__ Participação do pesquisador no cotidiano dos indivíduos que compõem
a comunidade pesquisada.
__ Registro dos acontecimentos por meio de gravações e outras formas
de documentação do material a ser colhido.
__ Reflexão analítica e descrição detalhada dos dados coletados.
Consoante aos pressupostos de Erickson, retratados no parágrafo anterior, há na
decorrência da pesquisa, exemplos de análises etnográficas feitas em ambientes rurais e
rurbanos. Tais exemplos identificam-se com os trabalhos de Bortone em Linguagem e
Identidade Social, na comunidade Olhos D`águas, situada em Minas Gerais, e apresentado
como tese de Doutorado na UFRJ. Mesma identificação ocorre em relação ao trabalho de
Bortoni–Ricardo, pesquisa que analisa as identidades e redes sociais de comunidades rurbanas
na periferia de Brasília, formadas por migrantes de origem rural.
36
Milroy6 (1980.33), em Language and Social Networks se posiciona nos seguintes
termos: “Deve ficar claro que há diferentes métodos etnográficos da comunicação como
exemplificado por Blom e Gumperz. Obviamente, os resultados das investigações necessitam
de um conhecimento prévio dos valores locais da comunidade pesquisada antes de começar a
análise”.
A partir do pronunciamento acima, esta pesquisa de campo não comprometeu os
resultados finais ao retratar os problemas da comunidade de fala. Foi imprescindível rever a
escolha do método de estudo, com o intuito de alcançar o mais adequado ao ambiente
lingüístico em estudo. O recurso utilizado se embasou na etnografia, o qual abordou a
comunidade de fala em face ao comportamento lingüístico e valores culturais que esclarece o
seu comportamento social.
A busca pelo registro do repertório lexical foi uma das dificuldades enfrentadas, pois
era impossível ficar por horas gravando e esperando que alguma palavra em desuso
reaparecesse, por isso não foi desenvolvida nenhuma nova técnica de análise, e sim, fazer
anotações. Com esse procedimento, de forma lenta, o léxico, em desuso atualmente, ressurgia
de forma repentina, em momentos de interação verbal com moradores sexagenários. Houve o
registro do léxico que reapareceu no período de doze meses de pesquisa. Portanto, o uso das
anotações e transcrições foi a melhor forma de transpor os dados qualitativos encontrados
através de perguntas do tipo aberta.
6Milroy (1980.33) “It should be clear that rather different field methods from those discussed so far are
necessary for the study of ‘ethnography of communication’ in the manner exemplified by Blom and Gumperz.Most obviously, the researches needed to know a great deal about local values and the local social system beforethey could even begin their analysis”.
37
2.2 A contextualização do ambiente de pesquisa
As alterações sofridas pelos moradores da zona rural do município de Formosa e
adjacências ocorreram em face aos aspectos ecológicos, de produção, transporte, lingüísticos
e oriundos do impacto da mudança da Capital Federal do Rio de Janeiro para o estado de
Goiás.
Em decorrência dos aspectos citados no parágrafo anterior, ressalta-se que as
transformações nos aspectos econômicos, sociais, e lingüísticos foram visíveis em todo o
Planalto Central, principalmente em Goiás. Entretanto, mesmo sob os ditames de todas essas
transformações nessas últimas décadas, os moradores da zona rural do Nordeste goiano ainda
se relacionam de forma Multiplex. Tal forma é caracterizada por Milroy e Bortoni-Ricardo
como um tipo de sistema tradicional que reforça sua cultura popular local, assim como o uso
do vernáculo típico que integra as famílias e conserva a história familiar. Logo, o léxico
encontrado expõe a coesão sociocultural do grupo sob a pressão da modernidade e da norma
padrão.
No paradigma da antropologia social, Bortoni-Ricardo (2006, p.85) demonstra que as
redes densamente inter-relacionadas apresentam uma função de reforço, coesão, integração
social e lingüístico entre os membros que compõem essas redes. Percebe-se que a partir dos
estudos de redes, a relação de integração entre os indivíduos na região rural pesquisada é
denso, o que passa a ser um indicador de ocorrência de traços lingüísticos não-padrão, típicos
de grupos tradicionais que não aceitam facilmente a pressão da cultura dominante, portanto,
apresentam uma maior conservação da variedade lingüística popular.
O levantamento do repertório de fala de moradores, sexagenários da região que
apresentam pouca ou nenhuma escolaridade, devido à dificuldade de encontrar uma
instituição de ensino na zona rural, demonstrou como interagem com a sociedade urbana e
com o tão valorizado e “imponente” português padrão.
O rio Paranã situa-se como divisor de terras, em uma das margens está o grande
latifundiário com sua variante sertaneja ou caipira, mas que não é ridicularizado pelo fato de
ser detentor de poder financeiro e status social. Na outra margem, encontra-se uma
38
comunidade extremamente ligada às tradições do sertão goiano e ao trabalho com a terra.
Vivem em suas pequenas propriedades, na qual trabalham com a monocultura, alegram-se
com festas típicas, mas convivem com o complexo de inferioridade, pois usam uma variante
que destoa da norma monitorada.
O nordeste goiano é um lugar de grande diversidade lingüística a ser explorada e
estudada. Tal lugar apresenta em sua diversidade lingüística, heranças de um grande número
de imigrantes de vários estados, pois fora dormitório dos antigos tropeiros que vieram de
Minas e São Paulo, os quais carregaram consigo os costumes e respectivas variantes
lingüísticas. Ali, muitos se instalaram, e constituíram suas famílias nos municípios de
Formosa, São João da Aliança, Cabeceira de Goiás, Posse e Flores de Goiás, dentre outras.
O Projeto Filologia Bandeirante tem como ponto de pesquisa a rota do ouro, no final
do século XVII e durante o século XVIII. Os pontos de referências são cidades que se
distribuem ao longo das trilhas originárias de São Paulo. Heitor Megale/Silvio de Almeida
Toledo Neto (2004) demonstram essa lista de cidades que seguem esse continuum
conservador de traços da língua antiga: no estado de São Paulo, as cidades de Taubaté,
Guaratinguetá Cunha, Cachoeira Paulista; no Estado de Minas Gerais, as cidades de
Baependi, São Tiago, Ibituruna, Bom Sucesso, Campanha, Ouro Preto, Pitangui, Paracatu; no
Estado de Goiás, as cidades de Catalão, Vila Boa, Pirenópolis, Pilar, e no Estado do Mato
Grosso, a cidade de Cuiabá.
Os relatos de Dona Maria Theodoro de Sousa (Dona Lica), hoje com 90 anos, nascida
em uma fazenda próxima ao povoado do JK, município de Formosa-Go, residente atualmente
na cidade de Formosa, ainda casada e já com os seis filhos crescidos, fazem ressurgir antigos
causos que tem uma forte ligação com as rotas bandeirantes, pois os lugares citados conferem
com as cidades pertencentes ou influenciadas pela trilha.
Essa senhora conta que seu pai, João Theodoro de Sousa, chegou nessa região, objeto
desta pesquisa, acompanhado de três filhas do primeiro casamento. Acredita-se que sua
primeira esposa veio a falecer no trajeto. O caminho foi percorrido com uma grande tropa de
muares, gado vacum, alguns carroções de bois, várias bruacas, antigos baús, e alguns escravos
que restaram dos negócios feitos no decorrer da trajetória do Estado de São Paulo até a
instalação no município rural de Formosa-Go. Ela expõe que o pai sabia ler, escrever e por
39
esse motivo, fazia os registros de casamentos dessa região rural. Relatou que seu pai casou-se
com Antônia, provável descendente de índios Goyases da região, e moradora da zona rural do
Rio Preto. Dessa forma, essa segunda esposa, com a qual João Theodoro teve sete filhos, era a
mãe de Dona Lica. Antônia, mulher de pouca conversa, sempre usava alguns cachimbos para
fumar, todos com a face de um índio talhado em sua parte frontal. Lica dizia que seu pai
constantemente mandava uma tropa de muares, na qual tinha uma mula chamada Rainha que
usava ornamentos em prata e um enorme penacho na cabeça, era a guia, sempre a frente da
tropa, à cidade de Paracatu-MG e Januária-MG. Esse trajeto era feito por vários dias, até
retornarem com as bruacas e baús cheios de mercadorias e carregamentos de sal, produtos que
só encontravam nas cidades com maior desenvolvimento comercial. Outra rota feita pela tropa
de muares, guiada pela mula Rainha, era a trilha que ligava as cidades de Formosa, Santo
Antônio do Descoberto, Luziânia e Pirenópolis, as quais estabeleciam relações de comércio.
Esse é um dos relatos (causos) de antigos moradores da região rural, os quais
contribuem para entender e reafirmar o forte contato que as comunidades rurais tinham com
os centros urbanos que cresciam nas rotas do ouro. Logo, fora criado um contato lingüístico
em permanente circulação por essas antigas trilhas.
Muitas das informações aqui relatadas foram obtidas por meio dos diálogos com
antigos moradores através dos “causos”, narrativas bastante curiosas a respeito dos costumes
e comportamentos lingüísticos desse grupo rural. Esses “causos” representam um meio de
interação verbal que tem como base a confiança mútua entre as pessoas que os contam e as
que os escutam. Por fim, esses momentos de oralidade não têm suas histórias registradas em
textos escritos.
A formação do povo que mescla o município de Formosa origina-se de várias etnias,
entretanto, neste trabalho, apenas as mais marcantes são destacadas: primeiramente, a dos
índios Crixás que viviam na região do vale do Paranã, de acordo com o relato da expedição do
Anhanguera que passou por Formosa, em 1722; depois, a de brasileiros de origem européia e
africana. Infelizmente, acredita-se que os primeiros habitantes mencionados foram
massacrados por razões inerentes à colonização.
A origem do Arraial dos Couros, atual cidade de Formosa-Go, está ligada ao
deslocamento de famílias que fugiam da febre amarela, mal que assolava os moradores de
40
Santo Antônio do Itiquira, situado na região entre o rio Itiquira e o rio Paranã. Logo, dos dois
arraiais, de forma lenta, um prosperou e o outro se extinguiu. Essa situação é relatada pelo
historiador formosense, Olimpio Jacintho (1979, p.20):
Essa transferência deve ter sido depois de 1732, porque os habitantes doarraial abandonado deviam ter permanecido nele por alguns anos, apesar deserem dizimados por febres: deve ter sido mesmo no meados do SéculoXVIII que esses habitantes se estabeleceram em couros (...).
Dentre as várias histórias sobre a origem do nome de Formosa, uma história bem
popular sobre a origem do nome Couros surge: os antigos habitantes do arraial usavam o
couro do gado para cobrir e repartir os cômodos das casas, assim como pelos tropeiros que
faziam do posto fiscal, antigo registro da Lagoa Feia, datado de 1736, lugar de controle da
passagem de pessoas, ouro, gado e muares, oriundos da Estrada Geral do sertão, atual estrada
Colonial. Logo, fizeram desse antigo registro próximo à bela Lagoa Feia, um lugar de seus
acampamentos de descanso e de parada estratégica para os comerciantes e tropeiros da época.
De acordo com Jacintho (1972, p. 19), em contato com antigos moradores descendentes do
Arraial Couros:
Houve, no meados do Século XVIII, na margem esquerda do ribeirãoParanã, um povoado, situado por baixo da barra do ribeirão - Itiquira,afluentes da margem esquerda daquele. Esse povoado, que tinha adenominação de arraial de Santo Antônio (dele existem taperas de casas e deuma capela), foi edificado em local inabitável: entre várzea paludosas e omal afamado ribeirão – Paranã que depois de receber inúmeros afluentes, éum dos maiores tributários do rio Tocantins. Os habitantes desse povoado,vendo-se dizimados, todos os anos, pelas febres intermitentes, transferiram-se para localidade, onde se acha a cidade de Formosa, distante oito léguasdali, por ser salubre e porque nela se estacionavam os negociantesambulantes de fazendas, ferragens, sal e café, que vinham, sobretudo deMinas Gerais, e, receosos das febres do Paranã, ali esperavam que osparanistas viessem trazer-lhes gado, couros, sola e salitre, para permutaremsuas mercadorias.
Percebe-se que houve uma movimentação entre os protoarraiais no município de
Formosa, pois se sentiram ofendidos por males causados pelas temidas febres (maleita).
Enquanto isso houve outra movimentação entre os velhos caminhos que ligaram regiões de
Minas Gerais com os municípios que compunham o nordeste goiano. Logo, foi criado um
período de contato lingüístico entre comunidades que usavam variantes de não prestígio das
regiões Nordeste e Sudeste.
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As pessoas que faziam parte desse deslocamento humano eram ligadas à criação de
gado e ao comércio de produtos básicos, como sal e outros mantimentos necessários àqueles
grupos que habitavam a região do nordeste goiano. O modo precário e insalubre das
movimentações humanas, causado pela distância existente entre os grandes centros do Brasil
colônia, formou uma colcha de retalhos cultural e lingüística no Planalto Central brasileiro.
Por longos anos, essas comunidades de fala viveram momentos de ostracismo
lingüístico. O contato com a língua padrão ocasionado pela pressão de instituições
educacionais religiosas instaladas no município de Formosa, logo após o período colonial
brasileiro, aumentou ainda mais a separação lingüística e a exploração dos que usavam uma
variante lingüística de não prestígio.
Os momentos marcantes para o fortalecimento do município formosense na região do
nordeste goiano podem ser ordenados da seguinte maneira: em 1736, houve a criação do
Registro da Lagoa Feia (posto fiscal); em 1749, O Padre Antônio Mendes Santiago, do
Bispado de Pernambuco, celebra a primeira missa para os primeiros moradores do arraial de
Couros; em 1767, o Padre Antônio Francisco de Mello, pertencente à paróquia de Luziânia,
celebra a missa na Casa de Orações de Couros; em 12 de abril de 1834, o Arraial de Couros se
torna julgado; em 1843, o julgado é elevado ao título de Vila Formosa da Imperatriz, e como
não tinha prefeitura, a câmara tomava as decisões, tendo como primeiro presidente da Câmara
o Sr.Lázaro de Mello Álvares; em 1877, Formosa recebeu a visita do Visconde de Porto
Seguro, com o ideal de transferência da Capital Federal para o Planalto Central; em 14 de
setembro de 1892, a equipe liderada pelo Sr. Luis Cruls Chega a Formosa para avaliação da
região e demarcação do quadrilátero Cruls.
No parágrafo precedente, constatou-se a cronologia de acontecimentos que
antecederam o período da República no Brasil. Tal período coincide com o momento em que
Formosa e adjacências receberam muitos tropeiros, viajantes, comerciantes e aventureiros à
procura de ouro, assim como, com o de estabelecimento de grandes latifundiários. Portanto,
tratou-se de um tempo do Brasil Colônia, em que as estradas eram riscadas pelos carroções de
bois e marcadas pela força da pisada do gado curraleiro.
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As antigas estradas fizeram à comunicação do nordeste goiano com a Bahia, com o
nordeste de minas, com o atual estado do Tocantins e todas as outras regiões do estado
goiano. Essas antigas rotas que integraram as comunidades que cresciam no Planalto Central
tiveram intenso trânsito nos pontos que ligaram os interiores com o litoral. Consoante às
linhas precedentes, o livro denominado Viagem pela Estrada Real dos Goyazes, de Rocha
Jr,Vieira Jr, e Cardoso(2006), vivencia e comprova na análise do diário deixado por José da
Cunha Diogo, em 1734, as relações estabelecidas entre os bandeirantes do séc XVIII.
Segundo a análise, na data de vinte de junho de 1734, José da Costa Diogo e Joaquim Barbosa
anunciaram que se encontravam nas margens do São Francisco e dali seguiriam para o Serro
Frio. Quando souberam que o caminho para os Goyazes estava livre, decidiram-se prosseguir,
pois acharam que nesse último caminho, teriam melhor sorte. Logo, por descoberta do ouro,
abriu-se em 1730, por ordem real, o primeiro caminho oficial que ligava os Goyazes a São
Paulo.
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III. ANÁLISES ETNOGRÁFICAS E LEXICAIS
Palavras iniciais
Este capítulo apresenta a análise sociocultural da comunidade de fala pesquisada, a
qual traz em seu discurso uma competência comunicativa não reconhecida fora de seu meio
social. As atividades socioculturais e o léxico contextualizado no ambiente rural são revelados
em respectiva formação histórica, social e lingüística.
3.1 - Comunidades Rurais e suas Identidades Socioculturais
Os dados da pesquisa foram coletados em áreas rurais do município de Formosa no
Estado de Goiás e de outras áreas rurais de alguns municípios já mencionados. Dessa forma, a
composição do nordeste goiano partilha de um mesmo processo de formação social, cultural e
lingüístico que constrói a identidade do caipira que tenta manter suas tradições.
Bortone (1996) informa que a noção de atividade de fala tem sido muito usada para
estudos da análise conversacional. Desse modo, é importante ressaltar que no material
produzido por esta pesquisa, há a contemplação da concepção de desempenho e organização
social, dado de grande importância na análise conversacional, segundo tal estudiosa. Na
entrevista abaixo, percebe-se a relação de desconfiança e desconforto que o morador da zona
rural sentiu ao receber alguém do meio urbano em seu ambiente:
Pesquisador (P): _O senhor acha que por morar na roça era discriminado?
Entrevistado (E): “_Ora! É discriminado! I ôta qui ném aquelas pessoa qui..., a genti
morava qui na fazenda, né! Aí, teve as pessoa qui ela morava na cidad`. Eli chegava aqui, eli
já paricía qui quiria mandá !... né! Já di mandá na genti puque sabia qui cê era da roça!...
ucê era anafabeti, né ... aí eli já pricia qui eli tinha usura di tomá aqueli pratinônio seu ô pá
vê se tinha uma criação... isso é o qui mais acunticia !...”
Consoante à referência teórica, mais palavras de Bortone se ratificam na análise do
fragmento de fala transcrito. O ato conversacional exemplificado representa poder, controle,
identidade e possibilidade negativa de interação social. A situação dialógica reflete a
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usurpação em decorrência da opressão lingüística; entretanto, não há o desconhecimento da
situação de prepotência lingüística pelo falante da variante desprestigiada, talvez haja a
impotência perante a astúcia dos usuários da norma padrão. A situação de tirania lingüística é
identificada e o medo da usurpação é perceptível na fala do morador retratado. Por fim, é
notória a compreensão do falante caipira referente ao poder detido nas mãos dos falantes da
norma monitorada.
Fazer do discurso uma forma de agradar ao próximo é uma das características
marcantes dos moradores da zona rural. Segundo a fala transcrita no parágrafo anterior, o
informante sentiu-se ofendido com o discurso de pessoas do meio urbano que não respeitam a
realidade lingüística e social do meio rural de Formosa. Por fim, essa transcrição apresenta
pistas paralingüísticas, ou seja, em alguns momentos, as pausas refletem angústia e/ou
consternação, enquanto o olhar inquisidor, pista não-vocal, remete a expectativa de
solidariedade e justiça.
A falta de respeito leva ao conflito que afasta a efetiva interação verbal e cultural de
dois grupos em contato. Por essa razão e por outras de igual importância, é comum encontrar
pessoas do meio rural que permanece em silêncio quando estão na presença de grupos
urbanos, o qual cria um interstício lingüístico. Logo, esse intervalo reflete uma comunidade
caracterizada por um sistema social fechado e tradicional, exemplificado na não interação
entre a Folia do Divino urbana e a rural, portadoras de base comum de ocorrência.
3.1.1 - Discurso Rural e Abuso de Poder
Há duas vertentes para classificar uma língua e suas variantes, a padrão, idealizada por
pessoas ilustres e influentes, imposta como o melhor caminho para alcançar as vantagens do
ápice da pirâmide social; e outra, a que se refere ao lado lingüístico pertencente aos nativos de
uma determinada região. Esta vertente difere da primeira por apresentar em sua formação
histórico-social, o isolamento, o contato restrito com grupos abastados e resistência quanto ao
que pode gerar descaracterização. Logo, o grupo analisado nesta pesquisa está inserido na
segunda vertente, pois ora, demonstra seu léxico; ora, o esconde; ora, usa outra variante,
camuflando-se em função de sua sobrevivência lingüística e sociocultural.
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O fragmento de fala de uma originária moradora rural, atualmente residente na cidade
de Formosa, ratifica a veracidade do parágrafo anterior:
_ Óia, ocêis num fica falandu essas coisa que a genti fala, não. Se não ocêis
acustuma e fica falandu tambeim. Aí é ruim. Todu mundu vai vê e vai comentá. E tem genti
que fica di ôiu, querendu pruveitá.
A astúcia dos que sabem do poder da fala eloqüente, realizada sob os ditames da
norma padrão, cria preconceitos inclusive nos próprios usuários da variante caipira, pois esses
conhecem a força da persuasão e da opressão de formas lingüísticas elitizadas. Por
conviverem com estereótipos negativos quanto ao desempenho de fala, os caipiras escondem
o desempenho lingüístico originário em algumas situações de interação.
Muitos são os entraves para os falantes rurais analisados. Um deles é o fato de
algumas pessoas, de forma amigável, com falsa cordialidade, passam a usar o mesmo dialeto
rural para ganhar confiança. Tal atitude ardilosa, às vezes, impressiona o caipira; o que se
torna pior, quando somada ao choque do poder financeiro e político local. O golpe é certeiro.
Retiram-se as terras e criações dos sertanejos em face às frases orais e escritas ludibriantes,
pois não conhecem as armadilhas construídas em períodos subordinados e vocábulos
desconhecidos. Muitos adeptos da língua padrão, em prol do poder a qualquer custo, se
tornam grandes latifundiários. A lei do mais forte, do caçador e a caça, do letrado e o iletrado
se reafirma. Por fim, constrói-se encima das variedades lingüísticas uma hierarquia social.
Consoante ao fragmento do discurso caipira apresentado, a definição de Gumperz
(2002:209), sobre competência comunicativa, assim como outras observações sobre aspectos
conexos, subjazem em relação à condição dos falantes desenvolverem recursos de criação e
sustentação conversacional. Porém, há uma interação comunicativa falseada quando um dos
interlocutores é o sertanejo, objeto desta pesquisa, pois apenas aceita a imposição lingüística
de prestígio. Quando o caipira questiona algo, sabe que em seu discurso não há nem voz nem
poder para lutar pelos seus direitos, logo, prefere acatar o que a variação lingüística de
prestígio determina.
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Várias famílias tiveram usurpados seus bens e posição socioeconômica, devido aos
percalços da imposição lingüística. Muitos dos caipiras analisados tiveram que mudar para
cidade por força de pessoas influentes respaldados por cartórios. O respaldo dado
correspondia à montagem de escrituras que determinava os apadrinhados os legítimos donos
de certas regiões. Logo, as famílias seculares que ali se encontravam foram expulsas e a
manutenção de seus costumes em repassar pela oralidade as histórias de família, ora
constituídas de costumes, ora de crenças, perdeu o decurso.
Em linhas subseqüentes, encontra-se o exemplo de uma pessoa letrada que usa do seu
conhecimento lingüístico para se autodeterminar como procurador de uma viúva, moradora da
zona rural e analfabeta. O indivíduo letrado vende parte de terras sem o conhecimento do
verdadeiro dono e ao mesmo não lhe repassa o dinheiro da venda. É um exemplo que
corresponde à afirmação de Gnerre (1995), a qual diz que uma variante lingüística “vale” o
que “valem” na sociedade os seus falantes. Portanto, a variante vale como reflexo do poder e
da autoridade que os seus usuários têm nas relações econômicas e sociais. Conforme a
procuração apresentada no anexo desta dissertação, a explanação dos três parágrafos
anteriores, é imprescindível a leitura de duas narrativas biográficas, relatos de recortes da vida
de dois sertanejos, para a continuação da análise:
Relato de uma senhora de 80 anos sobre sua indignação a respeito da procuração em
anexo
_Sua mãe, Dona Antonia Theodora Lima, recebeu o dinheiro das terras vendidas ?
_Eu num lembru cumé qui foi... mar minha mãe num recebeu essi dinheru não...
purque se ela tivesse recibido ela tinha repartidu cum us fíii dele tudo, né, era herderu..
_Eu lembru que minha mãe nunca recebeu dinheiru. Meu pai morreu, minha mãe
vivia era às custa minha mar de meu maridu. Ela morreu dentu di nossa casa...
_Eu num lembru comu que foi... (feita à procuração) minha cabeça hoji tá pió meu
fiii... eu lembro qui minha mãe ficô sem nada, como tem Jesus Cristo nu céu... ela viveu toda
a vida as custa nossa...
_Eu sei qui esses ôtu ... essa terra de Vereda Grandi o véio, (...), tomô possi di tudu,
ficô cum tudu, minha mãe ... ficô sem nada! Tomô conta, us bichão ricu foi fechanu,
fechanu...
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_Dipois qui meu pai morreu qui Totó (primo) falô prá nóis... eli ainda falô assim si
nóis tivessi dinheru nóis ainda ranjava um bucadu, num ranjava tudu não. Mar um bucadu
nor ranjava!... mais qui é qui vali um pobri mexê cum ricu... é gasta atôa, nu fim nun acha é
nada!
_Meu irmão falô qui u dotô passô a mão ni tudu...
Relato de um homem de 65 anos sobre sua resistência a pressões de grandeslatifundiários
_As pessoas da fazenda eram discriminadas por falar diferente? ...Sofriam com isso?
_Ora! É discriminado! I ôta qui néim aquelas pessoa qui..., a genti morava qui na
fazenda, né! Aí, teve as pessoa qui ela morava na cidad`. Eli chegava aqui, eli já paricía qui
quiria mandá!... né! Já di mandá na genti puque sabia qui cê era da roça!... ucê era
anafabeti, né ... aí eli já pricia qui eli tinha usura di tomá aqueli pratinônio seu ô pá vê se
tinha uma criação... isso é o qui mais acunticia !...
_Acontecia muito?
_Acunticia! Puque?! ...Qui aqui hoji, tá dessi jeitchu!... puque teim acunticidu essas
coisa. ... Avêis a pessoa chegá i dizê: falá assim: Issaqui é meu! Eu comprei! I tomava.
_Tomava?
_Tomava! Isso aqui ... uquê? Eu já fiquei seim um pedaçu da fazenda! Foi levandu!
Comu dizê! Êzi qui mandava nu cartório... você é bôbu... Ocê num intendi di nada... sabia lá
o qui era cartório! Então Êzi arrumava lá umas iscritura frarça i chegava falanu assim:
issaqui é meu... I êzi falava: não maizi issaqui eu comprei... então cêis aqui não teim nada...
cêis qui é pocêru!
_Chamavam vocês de posseiros?
_Di possêru... Isso aconteceu cum nóis... cumigo i quar todu mundu aqui... as terra ia
diminuinu uai! Ficanu us tampim puque foi acunticidu... Aqui puque garrô di duru! Quais
tinha briga... quais qui um ia pu cemitério!...
_E se você fosse no cartório e falasse: lá é meu! Não pode fazer isso não!
_Maizi eli num acredita. Puque? Puque quem manda é u dinheru.
Fica claro nas duas entrevistas que esse caipira, por sua simplicidade e ligação com a
terra, foi discriminado por “arranhar os tímpanos” de quem diz dominar um português
“correto”. No primeiro texto, a narradora se viu impotente diante dos fatos de usurpação, pois
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não via na sua condição de viúva, caipira e pobre, força para lutar na defesa de sua dignidade
e bens. Entretanto, no segundo texto, o narrador, apesar da consciência de sua situação de
analfabeto, luta pelos seus direitos através do segundo nível de leitura da realidade, na qual os
implícitos são identificados nas atitudes ardilosas e observação e observações medíocres dos
aproveitadores. Enfim, na primeira situação, houve a sujeição, enquanto na segunda, houve
relativa resistência.
3.1.2 – Mutirão e Traição
Esse tópico desenvolve-se a partir de algumas entrevistas, objetos de análise
etnográfica, as quais apresentam temáticas diversas, desdobradas em ambiente físico,
sociocultural e lingüístico. Os discursos colhidos sobre momentos da vida diária da
comunidade rural de Formosa e adjacências pertinentes, inserem-se de características que
revelam a interação, a religiosidade, costumes, danças, solidariedade e meio de transporte e
fala que marcam esse meio rural.
Alguns trabalhos de cunho etnográfico provaram a sua importância em tornar
conhecido o discurso e seu contexto. As redes sociais e seu repertório lingüístico resgatam a
identidade sociocultural de uma comunidade de fala que pode se perder com o passar dos
séculos. É necessário ressaltar as palavras de Bortone (1996, p.24) a respeito da importância
da análise etnográfica na sociolingüística interacional, pois fica evidente em seu proferimento
que um dos objetivos auxiliares da análise etnográfica é a identificação da distribuição da
competência comunicativa dentro do grupo. Os atos dos sertanejos analisados no texto
Traição - /treição/, seguidos da informação de Alincourt (2006) sobre mutirão- /muchiron/,
permitem a ratificação das características de redes sociais, pois se percebe que nas narrativas
encontram-se exemplos reais de interação, baseados em solidariedades múltiplas, segregação
do domínio urbano e forte identidade cultural.
Antes da apreciação das entrevistas analisadas nos parágrafos precedente, é necessário
condensar algumas informações preliminares: entre o município de Vila Boa de Goiás e a
região conhecida como São João do Pinduca, atualmente, Serra Bonita, viviam alguns
sertanistas, ora nativos, ora migrantes, que desde época anterior à construção de Brasília,
tinham o costume de formarem mutirão para trabalharem nas roças de milho, mandioca, arroz
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e feijão, as quais apresentavam algumas etapas em sua realização. A primeira etapa referia-se
à escolha do local onde haveria o plantio; a segunda englobava o roçar seguido de derrubadas
de matas densas; a terceira destinava-se às queimadas que se resumiam no ato de encoivarar,
dito pelos caipiras como /encorvará/, referência à situação de organização da matéria orgânica
a ser reduzida a cinzas, enfim, o local estava pronto para o plantio.
O mutirão masculino acontecia quando as roças de arroz, feijão, milho e mandioca se
encontravam tomada por ervas daninhas. A comunidade sensibilizada se reunia com o
propósito de limpar as plantações. Logo, as tarefas eram divididas entre os integrantes do
mutirão em partes chamadas de eito /eitcho/ e, após o fim do trabalho, todos se divertiam até
o amanhecer, sob o som da sanfona e viola, e apreciação de bebidas e comidas próprias.
Quanto ao mutirão feminino, refere-se à confecção de tecidos de algodão destinados às
vestimentas e usos domésticos.
As duas formas de mutirão representam um ato de ajuda mútua nos afazeres rurais.
Pelo prisma lingüístico, essas formas reforçam o modo multiplex que caracteriza essa
comunidade, ou seja, são exemplos de fortalecimento da interação sociocultural das famílias.
Por qualquer ângulo, revelam união, troca de experiências, diversão através de cantigas e
danças, que acompanham o trabalho no mutirão.
Na jornada feita por Luís d`Alincourt,em 1818, pelas antigas trilhas que ligavam o
Porto de Santos à cidade de Cuiabá, foi descrita de forma belíssima em seu diário, “Memória
sobre a Viagem do Porto de Santos à Cidade de Cuiabá, o momento em que os sertanistas
pronunciam o vocábulo /muchiron/ - mutirão, a qual soava de forma estranha para os ouvidos
de Alincourt. Entretanto, mesmo diante da estanheza, justificou em seu diário que tal palavra
tratava-se de uma variante lingüística indígena e descreveu o ambiente de sua ocorrência
(Luís d`Alincourt. 2006 p 29):
Na passagem de Capivari contam os moradores meia jornada da vila deJundiaí, à de Campinas: o rio corre, neste lugar, ao sudoeste: junto a ele háum pouso, ou rancho (assim chamam a uns telheiros levantados em certasparagens, em que se abrigam as cargas das tropas) e uma casa, em que, nestaocasião havia um grande número de pessoas, de ambos os sexos; por sercostume juntarem-se muito para o trabalho a que chamam muchiron nalinguagem indiana; e assim passam de umas a outras casas, à medida quevão findando as tarefas: o trabalho consiste em prepararem, e fiaremalgodão, e fazerem roçado para as plantações. Desta sorte se emprega a
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gente pobre, nos meses de setembro, outubro e novembro; e as noitespassam-nas alegremente com seus toques e folias.
Traição - /treição/
_Fala um pouquinho, agora da traição. A traição...
_ A treição é u siguinti: u treiçueiro como eles falava, ele arrumava o pessuali todinho sem o
dono du serviçu sabê. I era supresa. A pessoa ficava enganadu.
Ali u treiçueiru saia na vizinhança tudo, arranjava o povo. Ele fazia aquela biscoitera. Eu
mesmo fiz isso muito... eu ganhei treição, eu dava treição... eu fazia mutirão. Então, u
treiçueiru covidava o pessoali e eli fazia a dispesa até o lanche da merenda, como o povo
falava. Depois di armoço tem a merenda num é! ... até a merenda era puconta du treiçueiru,
que era pá dá prazu pu dono que recebeu a supresa arruma as coisa. Si ele num tinha! ...
traveis tinha te pobri, qui num dava conta. Purisso nóis fazia sim: queim ia dá a treição
arrumava a dispesa, era biscoitchu, era café, era pinga, era fugueti era tudo... aquilo era
uma festa durante o dia, o povo trabaino, gritano, cantano lá, i uma pessoa qui andava cum a
charera. Charera ce sabi u qui é? Cheia di pinga nu meio da turma lá com o copo...
_ Então o povo trabalhava, mas tomando uma pinguinha?
_ Tomava! Treição e mutirão era cum pinga.
_ Depois do trabalho, então ali...
- Depois qui tabaio todu mundu ia pa suas casa trocava di ropa i vinha pá festa. Ali as muié
já tinha fiadu muitchu pq u mutirão eles faiz u fiadu, aquilu é u dono qui covida, num é? e u
treiçueiro levava tudo, a turma di homi cum inchada e as muié cum roda e balaio di
al`gudão.
_ Então, na traição a mulher ficava cuidando da fiação?
_ É... as traiçuera, a turma qui ia e quem levava tudo pronto, pra faze ali, al`gudão, roda, uns
arco que batia al`gudão, u arco é um pau inverga assim e marra um cordão numa ponta i ota
nota, ali pega nu cordão e vai batenu al`gudão, depois do al`gudão batido vai pá carda pá
fica bom pa fia, ali era assim.
51
_ Todo mundo era conhecido, na região do Paranã?
_ Ali, era só os conhecidu. Todo mundo conhecia todo mundo, era amizade grande, mesmo.
Uma vizinhança grande. Fulano era fii di fulano casado cum fulana fia di fulanu. O povo da
roça era da roça só tinha cunhicimento na cidade assim com os povo di loja pa compra pano,
us corti, as chita, as fazenda qui hoji chama di ticido.
O conteúdo do texto “treição” apresenta aspectos comuns ao fragmento do diário de
Alincourt (2006), gênero que descrevia o contato do autor com a palavra /muchiron/ - mutirão
e o que esta palavra apresenta. A partir da analogia dos dois conteúdos dos textos precedentes,
é pertinente dizer que o termo /treição/ - traição apresenta os seguintes pontos comuns com o
termo /muchiron/ - mutirão: a distribuição do trabalho entre homens e mulheres, comidas
típicas e cachaça. Os dois termos se diferem na prática nos seguintes aspectos: em /treição/ ou
traição, o dono da roça não sabe que terá ajuda até o momento em que todos os solidários
chegam de surpresa e começam a limpeza da roça; em /muchiron/ - mutirão, termo
apresentado por Alincourt, e associado ao significado do Nordeste rural de Formosa, permite
dizer, sucintamente, que o dono da roça convida os vizinhos para limparem a roça em troca de
festa noturna.
O texto /treição/ e o texto de Alincourt (2006), sob a observação de Bortone (1996,
p.37) leva a seguinte consideração: são textos que retratam redes de relações sociais fechadas,
as quais funcionam como mecanismo de reforço da identidade social. A interação lingüística é
real, face-a-face e reitera os vínculos, Logo, as semelhantes situações dos textos promovem o
isolamento cultural e geográfico, assim como, repelem a inovação.
A corroboração dos dados dos discursos anteriores deste subtítulo ocorre em mais um
exemplo de fala representado da caracterização do mutirão: a área das roças era dividida em
eitos - /eitchus/, na qual os familiares, amigos e toda vizinhança se alternavam na limpeza,
motivados pela cachaça, causos, músicas entoadas e criadas nos momentos de trabalho e
interação verbal. Logo, o fragmento de entrevista subseqüente é o objeto de confirmação
desse evento sociolingüístico.
_Como era o mutirão antigamente?
_U mutirão eru u siguinti: a pessoa tava cum a roça nu matu... passanu di limpa...aí
saia nus vizim, na vizinhança, cunvidanu: oh! Tali dia eu vô fazê um mutirão, puque minha
52
roça ta morrenu matu...quandu dava nu dia... primeru ele ia arruma as dispesa... matava
capadu e galinha, carni di porcu cum gairoba...
3.1.3 - Religiosidade e festejos
Comentário de uma Mulher de 49 anos sobre a festa de Santa Rosa, município de Formosa.
_É nove dia di novena, lá im Santa Rosa...
_Vô pegá a foinha dessi anu pa vê ur dia!
_Aqui só teim di dormíli e quatru
_Dia vinti novi é u derraderu dia da novena, i reuni o pessoali pra falá u dia da missa
qui cumeça di notchi.
_Nu mermu dia vinti novi dá ur nome das criança, pra batizá no ôtu dia, 30.
_Teim uma fulia tomém qui intrega na igreja a bandera.
_Teim trer bandera, di Santa Rosa, di São Sebatiãum i di minimu Deus.
Comentário de homem de 60 anos, nascido e criado na roça, a respeito da Folia do
Divino.
_ Como começa a Folia do Divino?
_ Ela cumeça da arvorada. Cumeça... faizi a arvorada, dipois que arvóra. Aí! Agora
cuntinua nu giru... cantanu nas casa, fazenu canturiu de bença pus vizim... Cê tá intendenu?...
e aí aveis teim aqueles dia marcadu. A veis a prumeça é cum treis dia, ôta veis é cum quatru
dia, ôta veis é cum seis dia... Sabi?... e aí arvóra nu período daqueles seis dia, aí quando
termina aqueles seis dia... aí disavóra... ta intendenu?...
_ Hoji ta senu um primeru dia di giru. Já arvôro hoji... i essi é u primeru pôsu!
Agora... sai daqui amanhã di por du almoçu e vai pu ôtu pôsu, já é lá nu parqui Vila Verdi
(Formosa). Aí dumingu di por du almoçu lá, volta pá trais pra disavóra aqui... qui disi num
caba nunca ... ondi saiu a arvorada...
_ A arvorada é um tipu... a saldação di cruzeru já é ôtu tipu... saldação di lapinha é
ôtu tipu, ... agora é a saudação di lapinha! ... pu que nu cruzeru canta é u padecimento... e
na lapinha é nascimento... i mutchas vêis pedi u agazai tumeim, aveis num pedi... é só
ladainha.
_ Agazai é ôtu canturiu... faizi um canturiu pu donu da casa incruindu pedi u agazai...
ta intendenu?...Aí dipois dissu se fô cantá u agazai, aí veim a ladainha, dipois da ladainha
53
vein a janta, dipois da janta teim u benditu da mesa qui agradeci a mesa, qui agenti fala qui
ta agradecenu u pão... aí terminô u benditu, aí vai cantá as cuzinhera, dipois das cuzinhera
vai canta u mussungueru, dipois du mussungueru... aí volta... aí... só pá brinca catira e
curralera...
Dentre as festas religiosas, a que tem mais destaque é a Festa do Divino. Evento que
pode ocorrer na cidade e no ambiente rural. A Festa do Divino com característica caipira
ocorre da seguinte forma: os devotos, após percorrem várias fazendas, entregam as bandeiras
na Catedral de Formosa. Entretanto, esse evento festivo, denominado “Folia da Roça”,
apresenta a seguinte ordem de realização: a composição é feita por foliões escolhidos no fim
da festa do ano anterior; grande concentração de foliões, montados em seus muares,
acompanha em fila, a caixa (tambor) e a bandeira; e, no decorrer dos dias, são servidos cafés
da manhã, almoços e cafés da tarde. Tudo é ofertado por fazendeiros que, muitas vezes, o faz
como forma de promessa ao Divino Espírito Santo.
A Festa do Divino caipira representa momentos de interação verbal intensa entre seus
integrantes. Trata-se de uma relação social “multiplex”, conforme caracteriza Milroy
(1980:51). Esse sistema social fechado e tradicional, caracterizado por tal estudiosa, é
evidenciado nos comportamentos que reforçam o dialeto e os costumes dos sertanejos em
análise.
Esse evento festivo rural de cunho religioso traz em seus rituais marcas específicas:
uso de cavalos e muares para percorrer do início (Alvorada da bandeira) ao fim (entrega da
bandeira na cidade), comidas típicas, danças como a catira e curraleira “curralera”; cantigas -
“canturius” e modas de violas para animar as “mussungas” (barracas improvisadas). Essa
festa inicia-se sempre no mês de maio e se diferencia da Folia Sulena, a qual representa mais
um tipo de festa de cunho religioso. Logo, o discurso subseqüente retrata a respectiva
diferença:
_ Como é a Folia Sulena ?
_ A fulia sulena gira só u caxêru i u retratu , só duas pessoa, a sulena... Ta
intendenu?... qui aí num teim canturiu, é só fazenu as visita cuns retratu nas casa i tiranu as
ismóla... sabi! Mas ai aí num teim canturiu ! Aí chama sulena pu que ela gira caladu... num
teim cantu...
54
_ Teim muitos aqui qui as veizi gira a fulia sulena uns quatru dia, dipois arvóra ela di
ternu... é pu que di ternu é assim... oh! É qui canta us hinu, agora sulena num canta pu que é
só u caxêru i u al`feri...
Paralelamente à Folia ou Festa do Divino caipira, há outros aspectos a serem
especificados: como forma de resistência à perda do ambiente físico rural, moradores da
periferia da cidade, realizam os pousos de folia, nos quais os donos das casas recebem a
bandeira do Divino, seguida dos tocadores de viola com seus “canturius”; “canturius”, tipo de
cantiga realizada por dois violeiros, e cada violeiro têm seu ajudante, escolhido na hora da
primeira apresentação, em frente ao cruzeiro. Terminadas as cantigas e orações do cruzeiro,
os foliões entram para a casa onde saúdam e fazem o “canturiu do altar”... Os “canturius”, na
maioria das vezes, não podem ter suas letras transcritas, pois apresentam palavras em latim e
são cantados de forma chorosa e melancólica. Logo, esse evento musical não pode ter a letra e
a melodia diferenciadas, pois tudo se funde em um sussurro melancólico. Ao qual se atribui à
performance, o contato com tribos indígenas que influenciaram o cantar dos caipiras e duplas
sertanejas goianas.
Nesses pousos de folia que ocorrem na periferia de Formosa, pessoas oriundas do
núcleo rural, que por algum motivo tiveram que residir na cidade, trouxeram rituais religiosos,
compartilhando-os com várias famílias e, dentre elas, com as que perderam ou deixaram suas
terras. A duração da folia é repleta de causos e encontros calorosos agregados ao traço
marcante do dialeto caipira que ocorre nas interações. Todos são bem recebidos,
principalmente quando os visitantes fazem uso da mesma variação lingüística, como prova de
atenção e respeito a essas pessoas que carregam marcas de um dialeto de não prestígio.
_Qual a diferença da catira a curralera?
_ ... É pu que a catira só usa ar duas viola, u restu é só na parma i nu pé... i a
curralera usa us istrumentu tudu... tá intendenu? I é mais cumpricada tumeim pá brinca, num
é quarquer pessoa qui... brinca... Iá catira num entra aquela rabêra di queim num sabi! I aí
chega u miíi todu mundu! Há há há...
_ Essa turma di hoji é mais curralera... é... sempi, aí dipois qui termina essi trabái, aí
pu que muitchas veis vai até u dia maincê ! Esse trabaiu da catira e da curralera! ...mais aqui
a famía acabô di jantá vai imbora, intão fica pôcu, quais só fulião di arvoráda memu... aí vai
brinca...
55
_ Aqui é mema coisa, só qui nacidade é poquinha genti e dá roça é aquli mudidão di
genti, tudu mundu di cavalu e aqui é giradu di a pé, pu que é di casa im casa i é poquinha
genti... mais a divindadi é a mesma... coisa qui é du divinu ispritu santu...
No momento de interação verbal, os moradores relatam sua religiosidade, festejos,
suas danças e foguedos. É perceptível, embora não explícito na transcrição, um enorme
respeito por todo o processo de realização desses acontecimentos, os quais começam com o
convite feito oralmente às pessoas que mantém vínculos com tais processos culturais. O
fortalecimento da identidade lingüística é nítido nesses rituais, pois todos usam uma mesma
variante lingüística em ambiente em que não cabe o rechaço lingüístico. O discurso
precedente a este parágrafo demonstra que a comunidade em análise representa a rede
multiplex, a qual reforça as normas lingüísticas utilizadas.
Os termos “catira” e “curraleira” - /curralera/ representam momentos de danças,
entretanto, o primeiro caso, o da catira, apresenta um grau a menos de dificuldade em relação
à curraleira, pois aquela usa duas violas, palmas e batidas de pés no assoalho, e esta utiliza
mais instrumentos e algumas pessoas que não sabem o seu processo.
No discurso exemplificador das danças catira e curraleira, é notória a presença de
pistas lingüísticas, pois o segundo o interlocutor, o caipira, faz pausas diante da hesitação em
transpor a seqüência narrativa, assim como ao dizer que Deus é um só diante da diversidade
das danças e do ambiente rural e urbano. Logo, associado às pistas, há o sentimento de
religiosidade, que caracteriza o segundo interlocutor ao fazer considerações sobre a
onipresença divina.
Figura 1: Festa do DivinoFonte: Autor da Pesquisa
56
3.1.4 – Meio de locomoção (carro de boi)
Com a tecnologia cada vez mais desenvolvida, a utilidade dos carros de bois e antigos
carroções usados na colonização das regiões sudeste e centro-oeste do Brasil passa a ser
desnecessária para muitas fazendas. Esse meio de transporte torna-se obsoleto na atualidade,
entretanto, em épocas passadas, era usado no trabalho rural e no deslocamento das famílias
entre os estados, principalmente para as viagens e peregrinações religiosas. O carro de boi é
um meio de transporte cada vez mais raro, mas pode ser encontrado como ornamento ou ainda
em escassa utilização em pequenas fazendas caipiras.
A entrevista subseqüente, colhida de um morador da zona rural saudosista, expõe
como o carro de boi está mais difícil de ser visto na lida do campo.
Pesquisador(P): Desde quando você conhece um carro de boi?
Entrevistado(E): Como assim cê fala?
P: Desde pequeno... se faz muitos anos?
E: Ah, desdi piquenu!
P: Você já tocô?
E: Já!
P: Quem te ensinou os macetes?Pá...
E: É criado tudu cum esses povo mais vei, né... antigamente...depois ai eu aprendi
trabaia cum eles...
P: Poque hoje agente num vê mais isso, né?
E: Vê, não! Muito difícil né? Nagum lugar, né, cum povo mar vei ainda teim, us
fiiii ainda num jogo fora, né...
Pesquisador(P): Começar por essas rodas... o nome aqui das peças?
Entrevistado (E): Essa aqui é o meião... da roda...
P – Aí você me conta... qual é a função desse meião?
E – O meião é função do exu,né.
Nas frases anteriores, o entrevistado usa a partícula, /né/, como condição de
manter o canal da interlocução.
P – Sei...
E – Né! ... Meião é esse, aqui é combota qui trata.
57
P – Combota!
E – É! Ar duas, né, pega duas... u meião fica nu meii,né e as combota...
P – Esse aqui é o...?
E – É u exu. É a cabeça, né. U exu.
P – Essas pontas?
E – Essas ponta, mermo é cunha di arrochu.
Em muitas fala, o caipira estrevistado utiliza apenas um identificador do plural.
Na fala anterior, apenas o pronome demonstrativo “esses” é usado no plural.
P – Di arrochu?
E – É... pra arrocha u carru.
P – Essa aqui?
E – Essa aí é a chapra.
P – A chapra...como é feito isso aqui?
E – De ferro né... cê chapra ele pra num estraga a roda...
P – Essa aqui não tem umas pontinhas...?
E – Essa aqui é uns cravim mermo, de ferro, né, que bate né, pra segura a chapra...
P – pra dá mar firmeza?
E – Pá dá ma firmeza...
P – Essa parte, Sino! Do carro de boi, aqui do centro?
E – Eu vô fala! Aqui.
P – Ce pode falar que eu vô anotando, num tem problema, ninhum!
E – Ãrram! Esse aqui é o cabeçaio,... cabeçaio é qui poim ur boi lá na frent`, sabe! ... aqui
é ur buraco di botá us sueru ...
P – Sueru!cê usa issu aqui pra quê, sueru?
E – Sueru é pá cê coloca as coisa i num caí du carru...
P – Hum...
E – Intendeu! é , né...ã cê poim uns pau, aqui,i num cai. Ce vai carrega...carrega
um miiií secu, pega umas taboca, tira uns pau... vara elis bem varadim pá elis num caí ...
intendeu...
P – Aí coloca...
E – Coloca, é ... aqui é u chumaçu.
P – chumaçu!
E – É i u cocão...
58
P – chumaçu e cocão é pra quê?
E – É, u cocão é pra modi num istraga u...a chêda.
P – A chêda!
E – É, tem a chêda tameim.
Consoante às palavras de Amaral (1976, p.63), o vocábulo /chêda/, de origem celta,
representa a permanência dos mesmos hábitos, costumes e idéias dos interioranos de duzentos
anos atrás. Essa conservação de vocábulos representa a teimosia do caipira, ou seja, a sua
resistência em face ao novo, a qual resulta em um falar arcaico.
P _ ... Chêda! Onde ela fica?
E – É esse aqui! É us lateral du carru.
P – Ah!... us lateral aqui?
E – É... dá cheda,né! E aqui é us cocão pá num istraga u exu! I u
Chumaçu aqui é pá firma u exu pá num saí, né! Du luga, né!
P – Du luga.
E – É! Oh, esse aqui é us tabuadu dela, du carru.
P – ah, issaqui é us...?
E – Tabuadu, du carru, casu taba, né!
P – Ah,sei!
E – Essa aqui é as chavera, pá coloca na canga, né, pá nun sai u cabeçai, trata
ele di chavera...
P – Então essa ponta, aqui...
E – Teim uma chavera, na ponta.
P – chavera fica na ponta?
E – É
P – a chavera fica...
E – A chavera fica na ponta du cabeçai, aqui ondé qui poim ur boi. É isso...
P – Hum...
E – Cabô! Agora, fico a canga?...É...canga dur boi, esses aqui é us...
P – A canga dos bois servem pra ...?
E – Pá pô num cabeçai! ... “Ela vai fica nu cabeçai poim aqui nu tambueru... esse
aqui trata di tambueru.”
P – Essas cordas...(?)
59
A interrogação deu-se pelas pistas gestuais na fala destacada.
E – Essas corda!
P – Qual é a função do tambueru?
E – A fução du tambueru é pá coloca u carru nu cabeçai, pá u boi puxá!
P – E onde ficam os bois?
E – Us boi fica aqui, Ó! Um di cá i um di lá! Sabe! Um du ladu um du ôtu! Ai
puxá u carru...
P – Eles são amarrado onde? Esses bois... O que da firmeza neles? O que não
deixa eles escapulirem?
E – Aqui, pu cá dá brocha... oh! Esse aqui Canzil`.
P – A brocha serve pra quê?
E – Pra canga num sai du pescoçu deli!
P – E a ...
E – O canzil` tamém pá canga num sai do pescoço... o canzil`fica dus ladu...dus
pescoçu du boi.
P – E, aqui cabem quantos bois?
E – Dois
P – Então fica um de cá?
E – E ôtu di lá... ó qui ó comu qui amonta ele lá...oh! ... u tambueru vein aqui na
...nu cabeçai...tá venu!
P – Aah!...
E – E esse aqui é a chave qui eu falei qui coloca, ai, ta venu a chavi...chavena... tá
venu?
P – Estou vendo, então a chave...
E – Arriba ela pá riba e trava aqui dentu.
P – Ah!...intendi! Então como isso é chamado?
E – Chavera.
P – Essa...
E – É u “tambueru”.
Ao vocábulo destacado, /tambueru/, se relaciona à análise de Amaral (1976, p.63),
feita ao termo /tamoeiro/, acresenta-se a este a seguinte informação: há o acréscimo da
consoante /b/, presença das vogais /o/ e /i/.
60
P – Esse...
E – Canga é... esse ai é um canzil`e as brocha... acho qui só.
O entrevistado do texto precedente a este parágrafo é morador da zona rural de
Posse-Go, fazenda Macaúba, tem 33 anos e apenas começou a freqüentar uma escola rural,
mas logo abandonou devido à necessidade de trabalho. Ele relata, a seu modo, os nomes das
peças que compõem um carro de boi que, atualmente, perdeu sua função nas fazendas que se
tornaram empresas. O entrevistado faz uso do português não padrão, e através do léxico,
nomeia as peças do carro de boi que tende a desaparecer com a automação rural. No discurso,
o entrevistado não faz uso da palavra nome e sim, da expressão “trata di”, para se referir aos
nomes das partes desse milenar meio de transporte. Enfim, o sertanejo entrevistado esclarece
que ainda usa o carro de boi no trabalho rural, pois mantém costumes ensinados pelos mais
velhos de sua família.
A comunicação é de fundamental importância no processo cultural e social de
qualquer povo. Em relação aos moradores da zona rural do nordeste goiano, a comunicação
mantida estabelece as normas culturais compartilhadas e o léxico arcaico. A partir da
comunicação, palavras foram transportadas de um tempo pretérito, o dos bandeirantes e
tropeiros, às fronteiras regionais e culturais. Dessa forma, o discurso precedente remete à
transmissão oral do conhecimento cultural do grupo, repassado por várias gerações; pois, o
sertanejo em questão, revela que ainda mantém a utilização do carro de boi em função de ter
aprendido tal lida com pessoas mais velhas de sua família. Consoante à entrevista, é
pertinente citar Park (1971, p.60): Grupos de famílias ou sindicato, toda forma de sociedade,
enfim, excetuadas as mais passageiras, tem uma “história de vida” e uma tradição. É pela
comunicação que esta tradição se transmite.
Os indivíduos que compõem os grupos rurais do Nordeste goiano utilizam a
interação comunicativa na ajuda mútua em seus afazeres diários, o que confere a esses
indivíduos, o caráter de unidade cultural. É pela comunicação que conservam os costumes, os
quais integram a unidade cultural de seu meio ambiente. Park (1971, p.63) faz importante
observação sobre a comunicação, a qual confere a esta, o ato de operar como um princípio
integrador e socializador. A partir desse posicionamento teórico, é imprescindível dizer que os
habitantes dessas regiões rurais do nordeste goiano, ao se comunicarem, fazem uso de uma
variante lingüística que transmite os seus procedimentos culturais. Tal explanação se ratifica
61
no discurso precedente a estes três últimos parágrafos, pois o falante retrata as partes do carro
de boi, utilizando-se de sua forma peculiar de interagir verbalmente.
Observa-se, na entrevista sobre o carro de boi, um léxico muito remoto. O uso do
carro de boi remete a um passado que permanece vivo em raros momentos do cotidiano rural.
Dessa forma, é notória a ancianidade lexical através dos seguintes vocábulos: “chumaçu”,
cuja origem está no Latim Tártaro (plumacium); “cocão” que vem de cocca, ‘embarcação do
séc XIII, ou do Latim Medieval ‘caudex’, tronco de árvore; “Chêda”, de etmologia celta,
refere-se as laterais do carro de boi; “canga”, segundo Houaiss provém do celta.
Figura 2: Entrega da Bandeira a Cavalo na Catedral de FormosaFonte: Autor da Pesquisa
3.1.5 – Culinária
Relato de senhor de 64 anos sobre os momentos vividos na fazenda e o tempero
Giquitaya. (Toda fala é exclusiva do entrevistado.)
_Eu trabaiei no lado di baxo da fazenda onde era chamado antigamenti de
cueitezeiro...
_Nois fizemo muinta roça lá...acabava di cumê a malmita i ia cuidá du alqueiri
qui nor tava prantanu...
62
_Cueitezeiro é o pé que da cueité ! Mar dá umas vazia linda!
_Agora o lugar eles puseru o nome di Barra alta.
_Foi depois qui mudei di lá qui`elis puseru essi nom`i.
_Eu num teim certeza mar acho qui é essi nom`i ...
_Cê já cumeu gequitaya ?
_Pregunta sua mãim se ela cunnheci ?
_Eu fiizi pá um amigo e el`i acho bão di maizi...
_Aí el`i chego, estúrdia, pidinu pá fazê gequitaya! I eu dissi vãmu uai...
_Pá fazê pega a banha do porco. A banha do porco fica dibaxo, intrimeio da
custela e o toicinho, o toicinho dá maizi torresmo, a deferénça é qui a banha pôim
no fogo ela derreti e o toicinho é duro e demora...
_Pá quem gosta di pementa é uma cumida boa! Quem gosta maizi de pementa
coloca muinta... quem gosta de mar pôco, põem pôco! Dá um paladáre na
cumida...
_Se cuzinhá mal´i ela perdi! Só ieu qui sei fazê aqui!
_I só podi sê feita cum banha!
_Dexei pra pô essa parti pruderraderru!
_Nus caso de armuça é só pô na cumida quenti! Num servi na cumida fria, é só pô
um tiquinhu inrriba! Tamém serve pra pô nu frango, enrriba da cumida!
_É só compra us apreparu pra fazê!
_Pementa, sal`i, açafrão, cebola de cabeça, cuetu, cebola verdi, pementa do
reino, alho.(banha!) Bota um feche de cuetu na banha...
_Todo conté temperu podi misturá! Mar teim que tê a ciênça! ...
Essa entrevista revela léxicos com traços antigos da língua, como /paladare/,
/apreparu/, /enrriba/, /derraderu/, /deferença/, /esturdia/, /prantanu/. Esses exemplos são
encontrados em textos antigos, como os de Camões. Entretanto, tais achados ainda podem ser
encontrados no falar de moradores rurais pesquisados.
Um achado reveste-se de relevância: a palavra /giquitaya/ de origem indígena,
aparece em relatos da época em que as regiões Sudeste e Centro-Oeste estavam recebendo
bandeirantes e aventureiros em busca de riquezas. Tal vocábulo refere-se a um tipo de
tempero que é obtido através da mistura da pimenta, sal e diversas ervas e/ou banha de porco,
a qual serve para acompanhar diversos pratos, entre eles, o da mandioca ferventada.
63
Figura 3: Culinária da Festa do DivinoFonte: Autor da Pesquisa
3.1.6 O real e o imaginário dos causos rurais
Mudança de ouro
O povo na região do Paranã acreditava que tinha mudança de ouro? Como que
acontecia essa mudança de ouro?
Aconticia assim, u oru vinha di passagem, ele passava das banda, passava na porta
das casas, clarianu a casa todinha e sumia, a noite, só a noite. Ali, ele ia imbora. Ao
contrário pelo que os antigo ia falano era oru. Vinha aquela tochona assim, oh! Parecenu
uma lua, cheia, cê sabi que é lua cheia,né! Bem forte! Aquela tochona assim passava beranu
a casa, otra passava pru fora clareanu. Adonde ele passava, passava clareanu.
E como fazia se a pessoa ficasse com vontade de pegar o ouro?
É o que eles falava ocê atrai o oru com u sangue, cortava... pra aquele que tinha
coragem, dava um taizim nu dedo e quando pingava o sangue atrai o oru e caia, assim era
que eles falava, o sangue chamava o oru.
64
Lobisomem e Mula sem cabeça
O senhor podia contar como surgia o lobisomem e a mula sem cabeça?
Pois é, era esse tipo que eu to ti falano, que o povo falava, nun é, quando era sete
mulher, uma virava mula sem cabeça e se tivesse sete homi, um virava lobisoni. Aquele qui
virava lobisoni ele sai a noite, chegava adonde um animali espojava, espoja é u animali vira
nun lugar assim... fica espojanu na areia, aqueli lobisoni,aquela pessoa chegava tirava a
ropa ,ali adonde aquele animali espojo, tirava a ropa as zavesa, jogava lá e rolava e
espojava também, quando ele levantava dali ele era um porco,sempre era um porco,porção...
Esse foi acunticidu, foi verdade, na casa do meu sogro, nesse tempo a casa era feita de
enchumento. Assim, enchumento é ocê fazê uma paredi, corta vara com taboca e bati barro.
Nesse tempo ele num tinha botadu barru ainda era só um lugar du enchumento pra modi
enchergar u qui tava du ladu di fora, e já tinha toda quorerma, tinha u virado di lobisoni. Ai
ele chego, us cachorru munto di cima, ele quai nem porco i ele pego a ispingarda pra atirar
nu porco, mar minha sogra num dexo, e o porco virava a pessoa. Ai complicava! ...Não atira
não que o lobisoni vira a pessoa.
E agora o caso da mula sem cabeça?
Esse é caso veio, a qui virava mula sem cabeça saia trinanu nu mundo di noite, cheia
di fantasia, cheia di oru, a riata, a riata dela pricia se feita di oru... dava aquele brilho e ela
passava direto, eu sei que pra ela num passa dicima do ce ... tinha que correr o esconde as
ulha dus pé e das mão... puque se ela visse as unha ela vinha incima do ce. Ela passava
diretu... todu mundu acreditava... minha sogra viu ela danu aquelis urru guali burru, passava
cum a tirinata...
Nego D`água
Outra história que eu já ouvi o povo conta é que no Paranã aparecia Nego d`água?
Nu corgo da Cana Braba tinha o nego d`água, tinha um poço pur nome capote, poço
do capote, la paricia,tinha u nego d`água, nego mesmo, era na mesma pessoa, só que quando
ce chegava ele pircibisse ocê ele batia dentu du poço i sumia, era um poção inorme, poçu du
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capote, todo mundo sabia que tinha. Ninguém, nem pescava lá...cumeeedu. Ele pegaava ...era
um negrão, pretim mesmo, só que era da água, ali era quali pexi, natureza di pexi...
Rumãozim
Lá na região do Paranã tinha muita história, tinha também do Rumãozim?
U Ruamãozim ataco na casa do meu avô, ele chego quebranu trem , jogano trem fora,
quandu ataco la na casa du meu avô, meu avô colocava oratório pra reza, pensanu que era
uma asombração, mas ele era batizado... porque Rumãozim, tudo era história...Ele teve na
casa du meu avô, como eu tava ti contanu ele tinha que dexa a casa... Rumãzim panhava
carne jogava lá fora, panhava açúcar jogava lá fora, panhava queijo jogava...
No contínuo da análise dos textos precedentes, da relação às palavras de Bortone,
contextualizadas no corpus desta pesquisa, é necessário fazer a seguinte caracterização: nas
comunidades rurais pesquisadas, as pessoas mais idosas, que possuem, em maior escala, o
hábito de contar “causos”, repassam de forma oral, suas histórias de família, suas crenças,
mantendo suas tradições rurais que perpassam gerações. Talvez, alguém que esteja fora do
contexto em que ocorre a produção de histórias, ora revestidas de “ares” de fábulas, ora sob a
visão “floreada” da realidade, não consiga entender o contexto. O mesmo pode ocorrer em
relação aos que possuem a norma monitorada. Portanto, para que ocorram os processos de
inferências, é preciso o conhecimento dos diversos “mundos” lingüísticos. Os causos
exemplificados em parágrafos precedentes, e analisados neste parágrafo, representam o elo
entre o real e imaginário expressado por várias pessoas, principalmente idosas, do meio rural,
as quais contam suas histórias ou suas realidades, reproduzindo uma identidade fortalecida
culturalmente, que sofre danos irreparáveis por fazer parte de grupos que dominam apenas
uma variante lingüística estigmatizada, mas que conserva o brilho da criatividade e releitura
de eventos físicos.
Os aspectos apresentados no Corpus desta pesquisa, sob a forma de subtítulos de
Análises Etnográficas e Lexicais, necessitam de um posicionamento determinante, o qual foi
auferido em Bosi (1995, p.324), através da caracterização de cultura popular e as suas
implicações no modo de viver: alimentação, a relação entre homem-mulher na divisão de
tarefas, crenças, festas religiosas, etc. Essas características vão ao encontro, respectivamente
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dos seguintes fatos registrados: a /giquitaya/, tipo de tempero e a /jacuba/, espécie de mistura
de farinha torrada com água ou leite, tipos de alimentação do caipira em estudo; no /mutirão/,
homens e mulheres desempenham funções diversas, as quais qualificam tal termo em face dos
gêneros masculino e feminino; as Folias do Divino da roça e as crenças sobre o Rumãozinho,
Mudança de Ouro e Nego d`água reforçam a caracterização deste autor sobre cultura popular.
3.2 - Análise do Léxico Bandeirante Presente nas Comunidades
A partir do método da sociolingüística interacional e das leituras de diários de viagens
realizadas durante os séculos XVIII e XIX, são retratados os aspectos geográficos, sociais e
lingüísticos dos rincões goianos. A variante encontrada nas micro-regiões rurais do nordeste
goiano representa o léxico proveniente da movimentação humana oriunda da região sudeste,
especificamente dos estados de São Paulo e Minas Gerais.
No decorrer das análises dos diálogos, apareceram palavras que resistiram ao tempo e
às mudanças sociais. Algumas dessas palavras ainda permaneceram nas lembranças de
pessoas ligadas ao campo. Essa permanência, dentre outros fatores de ocorrência, pode ter sua
origem ao fato de algumas pessoas não possuírem tempo e/ou dinheiro para freqüentar a
escola, pois o tempo era destinado à lida nas roças.
A interação verbal analisada originou-se em face ao ouvir e falar do dia-dia, sem
interferência do ensino sistematizado e de livros. Algumas palavras indígenas, atualmente em
desuso, chegaram nessas regiões pesquisadas através das rotas das bandeiras. Consoante a
esta explanação, há como exemplo, a instrução de um tempero caseiro, de nome /giquitáya/,
feita por um morador da cidade de Formosa-GO, mas que sempre teve sua vida ligada às
pessoas e manifestações culturais do meio rural. Esse tempero, explicado anteriormente em
situação diversa, é fruto de trituração de sal, ervas, pimenta e/ou banha de porco. Esse preparo
fica curtindo por algum tempo e, posteriormente é usado para acompanhar diferentes iguarias.
O léxico em análise pode ser encontrado no registro da viagem às minas de Cuiabá e
Goyazes, feita pelo capitão João Antônio Cabral Camelo, no ano de 1727 e oferecido ao
Intituto Histórico e Geographico brasileiro, pelo seu sócio correspondente, o Sr.Francisco
Adolfo de Varnhagen. Consecutivamente, as notícias de viagem que abordam a demarcação
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dos limites da América Meridional, trazem um léxico conservado nas trilhas das bandeiras. A
palavra (Gequitáya), conforme histórico anexado, ainda resiste ao tempo, pois aparecendo em
relatos do ano de 1727, e pode ser encontrada, também, nos diálogos dessa pesquisa.
Os vocábulos que compõem a história lingüística brasileira fizeram a seguinte rota:
partida da península ibérica, depois por trilhas bandeirantes e de ouro, e estradas coloniais até
a chegada na região central do Brasil. O vocábulo bandeirante percorreu o trajeto até o
município de Formosa através de desbravadores em lombo de muares, dos antigos carroções
(carros de bois) ou dos pés grossos e calejados a procura de riquezas naturais desta região
central do Brasil. Logo, o léxico rural do nordeste goiano sofreu variações em virtude de
ambientes diversos do passar dos séculos.
Em virtude do trajeto e do tempo explanadas no parágrafo anterior, a palavra taipeiro -
/taipêru/, de etimologia árabe-hispânica, possui o significado de grande quantidade na
variante pesquisada, o que difere do significado comum, o qual se refere ao processo de
construção de paredes que utiliza barro amassado para preencher um tipo de gradeamento
feito de paus, varas ou bambus, dentre outras utilizações.
Essas e outras tendências irão continuando, naturalmente, a obra incessanteda evolução autônoma do nosso falar que persistirá fatalmente em divergirdo português peninsular, e até do português corrente nas demais regiões doPaís. Mas essa evolução já não será a do dialeto caipira. Este acha-secondenado a desaparecer em prazo mais ou menos breve. Legará, semduvida, alguma bagagem ao seu substituto, mas o progresso novo se guiarápor outras determinantes e por outras leis particulares.
No continuo da análise do léxico bandeirante, surgem expressões que sugerem
temáticas diversas, dentre elas, seguem as que se referem ao meio ambiente: “abri uma
aragem”, significa que o sol apareceu no céu; “as manga de chuva”, pouca chuva em
determinados lugares; “chegá terra”, colocar a terra nos pés das plantas; “chuva de flores”,
forma de eufemismo para tratar o momento em que granizos caem no solo, pois devido ao
sentimento de religiosidade, não é recomendável dizer chuva de pedras, uma vez que
representa uma ofensa ao divino; “solistanhado”, referente ao sol forte, quente, reluzente; “a
serra tá pitanu”, expressão que indica o momento de estiagem na serra, após intensa chuva, o
qual faz com que haja vaporização e conseqüente visão ficcional de um ser que pita.
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Neste tópico, há expressões que indicam atividades rotineiras: “Chiriri capeta”, forma
de bater na porta; “passá barrela nas panela”, usar o barro, substância de fácil retirada após
utilização, como fator de proteção às panelas que são levadas ao fogão à lenha; “ fazê
dicuada”, ato de coar a água misturada com as cinzas, a qual resulta em um tipo água ácida
usada para fazer sabão; “ muitcha luitcha e briquita”, utilização de muito esforço na
realização de algo; “garrá no cabu do catambu”, é o mesmo que pegar no cabo da enxada
para realização da lida da roça; “ untá ela”, ir até alguém, ou seja , visitá-la; “falar rosado”,
refere-se ao ato de falar firme, com bravura.
Esta seqüência de expressões possui temáticas diversas: “dori di ventusidade” refere-
se aos gases criados no estômago; “dá mixoxu”, significa irritar-se; “engoli a seco”, é uma
referência à aceitação de algo sem resmungar; “borlé”, é um tipo de fruta denominada fruta
cera; “galo sura”, refere-se ao galo sem rabo; “mané pelado”, é um tipo de bolo feito com
mandioca; “neim vêla”, refere-se ao ato proibitivo de algo, ou seja, de não pensar sobre
determinada hipótese; “no baxo du calado”, trata-se de algo feito escondido; “pilá arrôis”, é o
ato de socar o arroz; “quando vér de que”, significa agradecimento por algo feito; e “levá uma
tunda”, significa ganhar uma surra.
O léxico do português brasileiro não é o mesmo lusitano. Esse léxico aparece como o
resultado de uma interação vocabular, no qual muitas palavras se perdem no tempo, se
adéquam a novos valores e ganham usos diversos. A contextualização do léxico desta
pesquisa mostra que vários vocábulos são extintos com o término de uma geração,
principalmente quando se trata de grupos que carregam uma variante lingüística de não
prestígio e registrá-los é uma forma de mantê-los vivos.
Nos arredores rurais de Formosa, encontram-se vocábulos que, segundo Amadeu
Amaral (1976, p.64-65), vieram do português, do tupi e de outras línguas. A partir deste autor,
entende-se que vários vocábulos formaram-se no Brasil especialmente pelo processo de
derivação, pois através do deslocamento do povo paulista para longínquas regiões do
território nacional. Desse modo, o falar caipira de São Paulo, inserido de neologismo
derivados, é encontrado na região pesquisada, o qual pode ser analisado de seguinte forma:
assuntar - /assunta/, referência ao ato de prestar atenção em determinado fato ou conversas;
bestar - /bestá/, significa fazer papel de tolo ou ao ato de estar aproveitando o tempo sem
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compromisso; desguaritar - /isguaritá/, refere-se ao fato de uma pessoa sair sem esclarecer seu
destino; mamparrear - /mamparreá/, significa a realização de algo com pouca vontade.
3.2.1 - Léxico e contextualização
No Dicionário Moraes 1789-1949, dicionário da língua portuguesa, de Antonio de
Moraes, percebeu-se que muitos dos vocábulos analisados estavam dicionarizados e outros,
lexicalizados, pois aqueles apresentavam traços sêmicos diferentes do vernáculo. Além da
verificação no dicionário, o vocabulário aqui selecionado é resultado dos discursos rurais,
principalmente dos mini-contextos de entrevistas. Muitos dos vocábulos apresentado é
atribuído à fala de uma moradora da zona rural, a qual contextualiza os vocábulos de acordo
com a sua experiência de vida.
Seguem-se os vocábulos e os mini-contextos:
Adeporna: não encontrado no dicionário de Antonio de Morais-1945 vol I. Ádipo,
s.m.(do lat. Adipe-) Gordura,sebo.
Arribada, s.f.(de arribar). Acção ou efeito de arribar: - Nem eles daquela arribada
foram a Malaca-, Diogo do Couto, Décadas, IV,l.6, cap. II. / Acto de arribar a algum porto
com tormenta, ou necessidade, não sendo o seu destino, ou tornar ao lugar de onde saiu, antes
de findar a viagem: - ...frei António embarcou-se para a nova Espanha, onde não chegou,
porque a nau foi logo de arribada- Camilo, Santo da montanha,123, 4ª ed / fig: - ... como
quer que tornemos, ainda que seja de arribada, enjeitados do mundo, nos recolhe(Deus), nos
estima-, António de Vasconcelos, tratado do Anjo, II, 1.004. / Náut. Guinada do navio para
sotavento./ Agr. Desmoronamento de cômodos, nas vinhas; sapada. / Beira do campo, em
declive, sem parede. / Rebanho disparado.
Arribado, adj. e p. p. (de arribar). Recolhido, refugiado (o navio) em qualquer porto,
por efeito de temporal ou perseguição do inimigo.
Arriba de, loc prep. Acima de; mais, passante: - arriba de dez-.
Aluir ou aluí: aluído, adj. (de aluir). Abalado, vacilado, pouco firme ou seguro. /
Derribado, caído, desmoronado; arruinado: - limos e terras aluídas e levadas pelas chuvas e
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torrentes e enxurradas-; Chuvas de tijolos à mistura com pedaços de ameias aluídas - Camilo,
Caveiras da Mártir, 77,3 ed. – Diz da vasilha cujas aduelas ou os arcos não estão bem
apertados.
Aluir 1 (u-í), v. t. (do lat. Abluere). Sacudir, abanar, abalar qualquer coisa que está
fixa, fincada: - ... acertou de achar ali os paus não mui firmes, e tanto esteve aluído neles, que
fez entrada-, João de Barros, décadas, II,9, cap.I; - os conselhos ...eram a alavanca mais bem
temperada para aluir a independência da aristocracia e faze-la cair despedaçada- , Herculano,
Monge de Cister, II, cap. 17, 79, ed. De 1918.
Aluir 2 (u-i), v. int. abalar-se : -não só não há-de cair... senão que nen há de aluir ou
inclinar- , Manuel Bernardes, Sermões, I, 28, ed. De 1721. / Fraquejar, vergar, vir abaixo: -
... entrou o Zeferino muito enfiado, num espasmo, sentindo-se aluir pelos joelhos- , Camilo,
Brasileira de Prazins, cap. 7, II9, ed. De 1882.
Apiançado, adj. Asmático, ofegante: -...numa vozinha lenta e branda na qual, por
vezes, silvava desafinadamente uma palavra apiançada- Coelho Neto, Tormentas,240, 3ªed.
Acoitá: ver acoitar.
Acoitar 1, v.t.( de coito). Dar coito ou guarida a; acolher, agasalhar; o mesmo que
acoutarar: - acoitaram em casa o perseguido, que ia fugindo-; Esconder, asilar: - ... bucar
asilo... onde quer que os amigos os acoitem-, Garrett, Catão,IV, 7 ; - Ó tresquidão amena, ó
grato asilo/ onde me ia acitar de acerbas mágoas- Garrett, Camões, c V, est. 5./ Brás. Dar
guarida a namoros ilícitos. Cf. Viotti, Dicionário de Gírias Brasileiras.
Assunga: Assungar, v.t. Brás. Puxar para cima; levantar. / o mesmo que sungar.
Arage: ver aragem.
Aragem, s.f. (de ar x desin. Agem). Vento brando, fresco; viração, bafejo: -... à luz da
tocha que ardia a curta distância, e que a aragem movia-, Herculano, Eurico, 273, 24ª ed; -
Assim ressoam os murmúrios da aragem nas frondes da palmeiras- , José de alencar, Iracema,
46, ed. 1920. / Oportunidade, ensejo favorável: - aproveitou a aragem para conseguir o que
desejava. Fig. Brás. Ir a aragem, acompanhar o movimento, as paradas de um jogador feliz. /
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Cair na aragem ou ganhar a aragem, fugir. Burundanga, s.f. Palavreado confuso; algaravia. /
linguagem menos polida, algaraviada: - É uma burundanga deslavada com brotoeja de
solecismos e inchaços de hipérbole-, Camilo, Perfil do Marques de Pombal, 3I, 4ª ed. /
Trapalhada, confusão. / Reunião de coisas sem préstimo ou sem valor. / Mixórdia. /
Cozinhado mal feito ou pouco limpo ou repugnante: - ... olhou para os torresmos que se lhe
afiguraram a descair para o ranço e os peixes, burundanga maior ainda, e novamente
implorou que o deixassem-, Aquilino Ribeiro, Volfrâmio,326.
Binga, s. f. (do quibundo). Chifre. / Isqueiro de fuzil. / Estojo onde se guarda o
isqueiro. / Corno preparado para servir de copo. / Ponta do chifre de boi, torneada e enfeitada,
própria para guardar o rapé. / O mesmo que colibri. / Espécie de cascalho. / Homem casado a
quem a mulher atraiçoa. / Caixa de rapé. / Marido ludibriado.
Chanfrar, v.t. (do fr. Chanfrer). Cortarem semicírculos, em forma de meia lua. / Carp.
Cortar com plaina ou garlopa as arestas de; fazer chanfros em. / Entalhar, dentar. / Gir. Ant.
Dizer mal de (alguém) na ausência. / Gir. Brás. Ter relações sexuais; copular.
Espaduado, adj. e p. p.(de espaduar). Que tem a espádua deslocada.
Espádua, (do lat. Spatula). Omoplata, ombro. -... longos cabelos anelados que lhe
caiam pelas espáduas...- José de Alencar, Tronco do Ipê, 60, ed. De 1938. / A parte mais
elevada dos membros anteriores dos quadrúpedes.
Empuca: não encontrado no dicionário DM-1789-1949
Entangado: ver entangar.
Entangar, v.t. (de tanga). Por tanga em, vestir de tanga. /Tanga1, s.f. (do quibundo).
Pano ou avental com que os selvagens tapam as partes pudendas, desde o ventre às coxas: -
As pretas, com uma tanga no ventre, a arregaçar-lhes um palmo dos vestidos- , Machado de
Assis, Brás Cubas, cap. II, 49, ed. de 1945./ Pedaço de pano das dimensões de um lençol, que
servia de vestuário aos negros chegados ao Brasil.
Embustido/Embosteiro: ver embuste.
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Embuste, s.m. (do fr. Embûche, do esp. Embuste?). Mentira artificiosa; patranha; ardil
para enganar e enredar: - diga-o a chave falsa do sobrinho. E a gazua do criado. _ Não contais
o embuste do amigo? -, D. Francisco Manuel de Melo, Apólogos Dialogais, II, 122.
Embusteiro1, adj. (de embuste). Que usa de embuste; impostor, trapaceiro: É por
câmbio de tantas maravilhas, embusteiros e traidor me considerais!, Porto Alegre (cit.de
Laud. Freire, Dic., s.v.).
Gavár: ver gabar.
Gabar, v.t. (do ital. Gabbare?). Elogiar, louvar, enaltecer: - E que este desejo tomara
ao Sábio de querer em sua ajuda, por lhe ele gabar a gente português...-, João de Barros,
Décadas, I, 4, cap.III.
Gasapiá: não encontrado no dicionário DM-1789-1949.
Giquitáia: não encontrado no dicionário DM-1789-1949
Grimpa, s.f. (do hol. grippen) lâmina, ordinariamente de metal, móvel em torno de
uma vertical, sob a acção do vento, cuja direcção indica; catavento. / Por ext. Qualquer remate
na parte superior de edifício ou árvore: - E nas douradas grimpas/ Das cúpulas soberbas/ Piam
nocturnas agoureiras aves-, Correia Garção, Obras Poéticas, 259, ed. de 1778. / A parte mais
alta de qualquer coisa.
Grimpar, v. int. (cf. o fr. Grimper). Crescer em altura, elevar-se, alçar-se.
Isalô: não encontrado no dicionário DM-1789-1949
Jambrô: não encontrado no dicionário DM-1789-1949
Jambo1, s. m. (do lat. Iambio). Pé de verso grego ou latino, composto de duas sílabas,
a primeira breve e a segunda longa. / Verso jâmbico, / Poema satírico. / O mesmo que iambo.
Malacafento, adj, (de malaca1). Adoentado. / Antipático, asqueroso.
Malaca1, s.f. Brás. Nome genérico de qualquer doença.
Malaca2, s. m. Membro de uma tribo de Angola, a oeste do Cassai e ao norte da
região dos Bapendes ou peindes.
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Pichoá/pichuá, s.m. Brás. Fumo ordinário, macaia ou macanha.
Picho, s. m. (de pichel). O mesmo que pichel./ Provinc. Pequeno pote de barro./
Carrapitode cabelo, no alto da cabeça.
Rabu-táio não encontrado no DM-1789-1949
Sura ou surucu: sem rabo. Ver suro.
Suro1, adj. (do cast. zuro). Que tem rabo, derrabado: - Eu não juro nem esconjuro, /
Mas galo negro suro/ Cantou ao meu monturu-, Gil Vicente, Anto das Fadas, em Obras, II,
296. / Pop. Frade suro, o que tinha coroa e não dizia missa.
Os mini-contextos apresentados nas entrevistas explicam o sentido dos léxicos
selecionados. Após leitura, a entrevistada apresentou os respectivos significados:
a) /arribada/ - A novilha ficou de arribada na beira da serra.
b) /aluir/ - Esse menino tá precisano de aluir o passo.
c) /apianaçado/ - A menina dormiu e acordou apiançada.
d) /acoitar/ - Aquela mulher sempre acoita os erros do marido.
e) /arage/ - Passei perto da mata e senti uma arrage tão fresca!
f) /burundanga/ - Ele só quer comer burundanga.
g) /embuçucado/ - O tempo tá embuçucado.
h) /binga/ - Essa binga não esta prestando.
i) /espaduado/ - Aquele cavalo ficou espaduado.
j) /empuca/ - Acho que onça gosta de ficar nas empuca!
k) /entangado/ - O tecido que eu quero tem que ser entangado.
l) /embosteiro/ - Eu conheço um vaqueiro que é muito embosteiro.
m) /gavar/ - A madrinha ta sempre gavando o filho.
n) /gasapiá/ - Aquele rapaz gosta de gasapiá minhas coisas do irmão.
o) /gequitáya/ - Você sabe se a gequitáya leva muita pimenta?
p) /grimpa/ - Eu só gosto da manga pegada na grimpa.
q) /isalô/ - Aquelas burundangas que estavam na caixa isalô.
r) /jambrô/ - Jambrô aquela roça de milho que ele plantou!
s) /malacafento/ - Lá onde eu moro tem muita mulher malacafenta!
t) /pichuá/ - Esse pichuá que você tem não serve pra mim fumar.
u) /rabutáio/ - Comprei um gado e quando fui ver, era só o rabutaio.
v) /mamparra/ - Ele só faz as coisas de mamparra.
w) /mazarôio/ - Onde ta o mazarôio de garfo e colher?
x) /Banzé/ - Cigarro também e chamado de banzé?
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Nos momentos de interação verbal registrados nesta pesquisa, é perceptível que muitas
palavras desconhecidas retornam como repertório lingüístico e uma geração sexagenária se
alegra quando é motivada a manter sua variação lingüística como forma de interação,
resistência de sua cultura e fortalecimento de suas raízes.
A Pesquisa etimológica feita no Dicionário eletrônico Houaiss possibilitou melhor
suporte para a compreensão do léxico encontrado na fala dos moradores rurais pesquisados, A
etimologia associada à interpretação do processo histórico de movimentação que levou
séculos até alcançar os rincões do nordeste goiano, refletem o respectivo contexto de fala.
Três leituras foram fundamentais para comparar o léxico encontrado no nordeste
goiano com realidades lexicais do século XIX, registradas em Memórias sobre a viagem do
Porto de Santos à cidade de Cuiabá por Luís d`Alincourt em 1818. Tais memórias registram
as antigas rotas que ligam São Paulo ao Sertão goiano, os causos, os costumes, e o léxico.
Mais realidades lexicais são apresentadas em outra obra publicada pela editora da
Universidade Federal de Goiás, chamada Viagens às Terras Goyanas, que faz parte da coleção
“Documentos Goianos” escrita por Oscar Leal. Este autor partiu de São Paulo, em 1882 e
adentrou-se pelo sertão, registrando o comportamento do povo goiano. O município de
Formosa esteve em seu trajeto, e ele termina o livro com um glossário de grande parte do seu
léxico comum agregado ao glossário de Amadeu Amaral. Este autor registrou em o Dialeto
Caipira (1920), como brasileirismo lingüístico corrente em São Paulo, vocábulos usados pelos
roceiros ou caipiras. Os aspectos analisados nas três produções abordadas neste parágrafo
podem ser encontrados em análises feitas em Megale (2000, p.67; p.9; p.104; p.219; p.219),
através da transcrição de vários termos, dentre os quais, merecem destaque, / duentchi/,
/fruita/, /bulir/, /tchega/. Finalmente, os exemplos encontrados no projeto do professor Heitor
Megale, associados aos três textos precedentes permitem dizer que o léxico registrado
apresenta uma forte ligação com o léxico desta pesquisa.
A grande maioria das palavras apresentada neste trabalho é de origem latina, trazida
pelo colonizador europeu. Em segundo lugar, há as palavras pertencentes aos povos nativos
do continente Americano, e por último, há uma quantidade lexical menor, oriunda dos povos
africanos. A partir da precedente classificação encontram-se elementos de várias
procedências.
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3.2.2 - Léxico de origem Latina
O léxico de origem latina, descrito na seqüência deste tópico, possui a datação dos
primeiros registros e etimologia, verificação que pode ser feita no anexo dessa pesquisa.
Percebe-se que o arcaísmo lexical conservado por esse caipira está relacionado à teimosia de
manter a identidade ligada aos costumes.
Abom: usado no lugar de bom.
Acochá: apertar, torcer.
Acoitá: esconder algo ou segredo.
Acuar: estacar, recuar ou ficar recantiado.
Alpendre: área da casa.
Alvejado: deixar o tecido branco.
Aluir ou aluí: sair do lugar, romper.
Amuntá: animal que se mete no mato, selvagem.
Andadura: forma de andar dos animais de sela.
Apiá: descer, hospedar-se.
Apiançadu: sem fôlego.
Apisuadu: Bolo que tem a massa pesada, que não fica fofo.
Apividi: Parte interna da abóbora que se joga fora.
Arage: céu aberto ou vento fresco.
Arapuca: armadilha para pegar passáro, ou estilo de telhado.
Areá: limpar um objeto.
Arreda: sai.
Arribá: levantar.
Arribada: animal que fica de fora do grupo ou esquecido no campo.
Armonca: almodega
Atarentado: ficar preocupado, doido.
Azucriná: importunar, atormentar.
Azulêgo: de cor escura, pintado de branco e preto
Babujo: sujo de saliva ou baba.
Baio: animal de cor amarelada.
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Baita: grande, forte.
Bajulado: paparicado, adulado.
Bandê (i) ra: porção de espigas de milho, arroz ou feijão.
Bandô: suporte para colocar cortina.
Bandulaque: muitas coisas amontoadas, muito ornamento.
Barbela: cordão que prende o chapéu sob o queixo, ou pele sob a queixada de um
animal.
Barrão: porco reprodutor.
Barrela: barro usado para passar no fundo das panelas.
Bassôra: vassoura
Baxuliado: cochicho.
Bença: benção.
Bimboca: tipo de grota, quebrada, lugar apartado.
Bistunto: sem rumo.
Bitelo: forte, grande.
Bodoque: arco para aremeçar pedras.
Borlé: espécie de fruto do cerado.
Brabu: bravo
Brioso: elegante, garboso.
Briquita: lida com algum serviço.
Bruaca: saco de couro usado pelos tropeiros.
Bucadu: muito.
Calombo: inchaço.
Cambada: grupo de pessoas.
Cambito: perna fina.
Cambóta: peça que pertence à roda dos carros de boi, dar cambota (dar piruetas).
Campêro: espécie de veado
Campiá: procurar animal no campo
Cangóte: parte do pescoço
Canguim: avarento
Capado: porco castrado
Capenga: mancar da perna
Caxingano: mancar
Chanfrar: fazer cortes na madeira
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Chêda: parte do carro de boi
Chincha: preso na corda, puxar com força
Chispa: sai
Chumaço: pedaço de madeira entre os cocões do carro de boi
Cisma: desconfiaça, presunção
Coará: roupa lavada posta ao sol
Cobrêro: alergia na pele
Cochonilho: fôrro que se coloca sobre a sela
Colerina: dor de barriga
Coretá: criticar, falar mal
Cotó: sem uma parte do membro do corpo
Culiado: junto, participar de algo
Dêca: dê-me
Desta: deixa estar
Deraderu: último
Diachu: interjeição (diabo)
Disbandáio: bagunça
Disarnar: sair do lugar, resolver algo
Discalquiado: sem idéia
Discambar: sair sem rumo ou direção
Distibilado: nervoso, inquieto
Embatumado: cheio
Embutido: embustice
Embusteiro: embuste, mentira ardilosa
Embuçucadu: tampado, vestido com muitas roupas, embrulhado
Empanzinado: empanturrado
Entufado: cheio ou aborecido
Enrriba: em cima, elevado
Esbirrá: teimar ou colocar esbirro
Escanchar: dependurar
Escrafunchar: procurar, querer saber algo
Esculateira: lata para fazer café
Espaduado: deslocamento da espadua
Espícula: perguntar
78
Espojar: deitar, cair no chão, rolar
Estambo: estômago
Estanhado: quente
Estivado: jogado, bagunçado
Estorva: atrapalhar
Estrupiado: machucado
Fexe: feixe
Feição: carinho por alguém
Fia: fiar
Fuá: confusão
Fuminá: sair sem direção
Gaitada: risada
Gaiofano: fazer galhofa
Gambira: fazer troca
Gava/gaba: falar bem
Gasapiá: pegar algo escondido
Grimpa: na copa, nas alturas
Grosolo: farinha encaroçada
Imbirrado: cheio de birra, teima
Indez: ovo deixado no ninho como chamariz para outras galinhas
Isalo: perdeu, sumiu
Ispia: olhar
Ispiticado: jogado, espalhado
Jambrô: algo que não deu certo
Jofá: expelir ou lançar fora
Japona: agasalho
Labuta: trabalho árduo e penoso
Ladino: esperto
Latada: especie de grade horizontal para videiras ou plantas trepadeiras
Légua: medida de distâcia
Macega: campina suja, cheio de mato
Maçaroca: fio torcido, cabelo despenteado
Madorninha: cochilo
Madrucê: amadurecer
79
Manjarra: Pau que é amarrado na atiradeira dos bois para fazer o balanço
Malacafento: doente
Malamanhado: desarumado
Malino: que faz travessuras
Mandraca: macumba
Matula: espécie de marmita
Mazaroi: feixe
Michado: pouco
Mucunã: semente de uma planta
Murrinha: mal cheiro ou pessoa avarenta
Nódia: mancha, nódua
Pafuá: desarrumado ou bagunçado
Pajiá: vigiar animais ou pessoa
Peia: chicote
Parrudo: forte, grande
Pisa: surra
Pisadura: lesão na pele
Pistelento: pessoa sem respeito
Posa: dormir
Pouso: local para pernoitar
Pranto: choro ou queixa
Prosiá: bater papo
Punhado: uma quatidade de algo
Rabinha: espécie de panela
Rabutáio: resto, aquilo que sobrou.
Ralhar: brigar ou dar bronca
Ramona: espécie de grampo para os cabelos
Réis: antiga moeda
Refulefêgo: estradas com várias de curvas
Fefugo: sobra, resto.
Remeda: imitar
Ribuçar: cobrir
Ridico: sovino
Riguilido: sem vergonha, lerdo
80
Riquifoqui: festa, algazarra
Ripuná: sentir enjôo de alguma coisa
Sariadô: aquele que sai sem se preocupar com o tempo de voltar
Sarráfu: pedaço de pau
Sova: bater, socar
Suvino: avaro
Taiá: dar talhos em algo
Taipêru: grande quantidade de algo
Tange: tocar o animal
Terrêrru: quintal
Ticar: fazer pequenos cortes
Trabisseiru: travesseiro
Trupicar: tropeçar
Tuia: espécie de baú feito de madeira
Urdir: falar
Venda: armazém
3.2.3 Léxico de origem indígena
Apura: andar de pressa
Binga: espécie de isqueiro
Bocó: bobo
Burundanga: misturas de várias coisas
Capina: limpa com enxada, capinação
Capuêra: mato
Coité: tipo de cabaça
Coivara: paus que restam da queimada na roça
Empuca: mato grosso
Gequitaya: tempero
Guacha/guasca: chicote
Itiquira: cachoeira (topônimo)
Jacuba: alimento que mistura farinha, água ou leite, toucinho e carnes
Jirau: estrado de varas
81
Jataí: abelha
Mucutáia: coisas sem valor ou bagunça
Mundé: armadilha para caça
Mutirão/muchiron: reunião do sertanejo para auxiliar um vizinho em trabalhos
agrícolas
Pichuá: tipo de fumo forte
Piraím: tipo de chicote
Puba: mandioca fermentada
Pucumã: fuligem
Pururuca: couro torrado
Quiçaça: bagunça coisas sem valor
Sura/surucu: sem rabo, derrabado
Tapéra: casa velha, antiga
3.2.4 Léxico de origem africana
Assunga: retirar, puxar
Bandulaque: pequenas coisas usadas como ornamento
Bazé: cigarro
Cacunda: costas
Cafuné: carinho
Catira: dança goiana
Catira: fazer trocas
Ingambelar: mentir, enganar
Intangado: tecido bem trançado
Ganzé: fraco
Gunguná: resmungar
Mamparra: fazer algo com preguiça
Moxé: sapo
Munha: bucha
Piticongo: bagunça
82
3.3 - Concluindo
O léxico do português brasileiro encontrado neste trabalho não é apenas de origem
lusitana, pois aparece como o resultado da ação continuada de empréstimos lexicais, no qual
muitas palavras se perdem no tempo, se adéquam a novos valores e ganham outro uso, da
mesma forma que um novo léxico vai sendo periodicamente criado.
Ilari e Basso (2006:134) informam que ao analisar, do ponto de vista histórico, o
léxico do português brasileiro, aparece como o resultado de um longo processo, muitas
palavras antigas se perdem, ou apenas sobrevivem com novas funções e novos valores, ao
mesmo tempo novas palavras vão sendo constantemente criadas. Por isso, é notório que
vários vocábulos alteraram seus significados iniciais, como por exemplo, /suru/ que quer dizer
ausência de rabo para o sertanejo, porém /zuro/ proveniente do castelhano, quer dizer rabo
caído.
Existe uma relação entre comunicação e linguagem e Sapir (1985, p.15), em seu texto
“A natureza da linguagem” diz que “a linguagem é uma grande força de socialização,
provavelmente a maior que existe”. A pesquisa sobre as interações verbais entre os moradores
da zona rural de Formosa-Go e adjacências, faz observar que os indivíduos que integram esta
comunidade lingüística, identificam-se uns aos outros pelas expressões, léxico e estilo de
falar. A partir da compreensão da solidariedade, do reforço das relações sociais, da
acumulação cultural e da transmissão de histórias familiares, canções, orações, etc, torna-se
essencial ratificá-la sob as palavras de Sapir (1985, p.16), o qual diz:
A extraordinária importância das mínimas diferenças lingüísticas paras asimbolização dos grupos psicologicamente reais, em contraste com osgrupos políticos ou sociologicamente oficiais. “Ele fala como nós” equivalea dizer “Ele é um dos nossos”.
A diversidade lexical encontrada nessa região é resultado do intenso contato
lingüístico entre falantes de Português, de línguas nativas e de línguas africanas, a qual
resultou nesse amálgama lexical, revelado na oralidade dessas comunidades de origem rural.
Logo, as festas, músicas, trabalho, alimentação e religiosidade são elementos que reforçam a
identidade grupal, conforme Milroy (1980). As comunidades tradicionais criam e recriam
elementos mantenedores da presença desse léxico, decorrente de rota dos bandeirantes, no
nordeste goiano.
83
IV - Considerações finais
Um dos principais objetivos desta pesquisa, a partir de uma proposta etnográfica,
constituiu-se no registro da situação sociolingüística das comunidades que fazem uso do
dialeto caipira em suas interações diversas no nordeste goiano. As festas religiosas, o mutirão,
as danças, os causos e as redes sociais tradicionais (mutiplex) permeiam as interações das
regiões rurais cortadas pelo rio Paranã.
Esta pesquisa mostra que a língua está atrelada às normas culturais compartilhadas e
que a análise interacional possibilitou entendê-la como parte de situações vividas em um
ambiente “in natura”. A variante pesquisada reflete o espaço físico, o tempo, os contatos de
línguas, as manifestações culturais próprias ou aglutinadas e a não utilização do polimento
lingüístico próprio da norma padrão. Por fim, esse dialeto caipira trouxe uma história
sociolingüística rica em características dos períodos da formação do português do Brasil,
especificamente as relativas ao léxico dos bandeirantes e tropeiros e as línguas indígenas e por
fim, a língua geral paulista, que foi distribuída entre os estados de São Paulo, Minas Gerais e
Goiás, deixando suas marcas lexicais nas áreas pesquisadas.
O respaldo teórico permitiu a realização desta pesquisa sob a visão da Sociolingüística
Interacional, o que possibilitou fundamentar a identidade sociocultural firmada e conservada
pela linguagem do caipira. Desse modo, esta pesquisa desenvolveu-se nos municípios de
Formosa, áreas adjacentes e, especificamente, na região rural localizada no nordeste goiano,
cuja comunidade é composta, em sua maioria, de trabalhadores rurais iletrados.
A observação da comunidade de fala permitiu vislumbrar a pluralidade de formações
discursivas. O conteúdo teórico favoreceu a compreensão dos vários aspectos
sociolingüísticos, os quais ainda ocorrem em face à busca de fortalecimento de suas raízes.
É perceptível que o dialeto caipira conseguiu sobreviver às transformações, devido às
relações multiplex cultivadas. Esse falar nunca teve reconhecimento, pois o foco de poder
sempre esteve direcionado à elite conservadora, a qual exigiu bajulações e benefícios
ardilosos, uma vez que detinha a tradição do bem falar, ou seja, a competência comunicativa
sistematizada.
84
Esta pesquisa insere-se na reflexão sobre a situação sociolingüística de uma
comunidade rural que ainda sobrevive sob as intempéries do novo, o que foi constatado pela
análise do léxico das trilhas das bandeiras, presente até hoje no repertório ligüistico dessa
comunidade. O registro desse dialeto é alento para os seus falantes, manifesto sobre as
atitudes ardis contra a simplicidade caipira, e uma contribuição para os estudos
sociolingüísticos, ao demonstrar a resistência às normas urbanas e a força que a tradição
exerce nessa comunidade.
Segundo Amaral (1976, p.9), este dialeto caipira está condenado a desaparecer em um
período breve, confirmando o processo de evolução, o qual é guiado por determinantes e leis
particulares, por essa razão esta pesquisa traz uma contribuição importante ao registrar um
léxico inserido em um contexto rural específico, o que demostra a manutenção da identidade
de um povo que resiste. Estar com o sertanejo do vale do Paranã é ser recebido com um
aperto de mãos verdadeiro, mas notar sua mão grossa e calejada pelo trabalho pesado, é
perceber a tristeza da desigualdade, as rugas e a pele queimada pelo sol, mas, acima de tudo
isso, um olhar de coragem, uma resistência cultural e um sorriso alegre de uma boca que já
não conserva suas verdadeiras vozes.
85
VI – REFERÊNCIAS
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_______________ TARALLO, Fernando. Pesquisa Sociolingüistica. SP: Ática, 1985.
Intituto Histórico e Geographico brasileiro e retirado do Google pesquisa.
95
ANEXO C
Dicionário Houaiss eletrônico
Léxicos e etimologia
Abom: lat.bonus lat. bonus,a,um 'bom'; ver bon-; f.hist. sXIII bom, sXIII boa, sXIII boo(s),sXIII búú(s), 1325 boons, sXIV boom
Adeporna: não encontrado
Alvejado : 1562 cf.JC. Que se tornou alvo, branqueado. Hieronymi Cardosi LamacensisDictionarium ex Lusitanico in Latinum Sermonem. part. de alvejar; ver 2alv(i)- antepositivo,do lat. albus,a,um 'branco, claro, puro', f.vern. mas erudita do cultismo latinizante albi-, ver, edo lat.tar. albor,óris 'brancura, alvura, clara (de ovo)', ocorrente em compostos doRenascimento em diante: alva 'aurora', alvação, alvacentar, alvacento, alvadio, alvar,alveador, alveiro, alvejante, alvejar 'clarear'; alvicerúleo, alvidúlcido, alviflorido,alvilactescente/alvilatescente, alvilumíneo, alviluzente, alvinegro, alvinitência, alvinitente,alvirrostro, alvirrubro, alvitorácico, alvitórax, alviverde; alvo 'branco', alvor, alvorada,alvoradense, alvorado, alvorar, alvorário, alvoreado, alvoreamento, alvorear, alvorecer,alvorecido, alvoredo, alvorejamento, alvorejar, alvorejo; alvura; dealvarAlvo:lat. album,i 'cor branca, brancura, alvura; parte branca de alguma coisa; clara do ovo;belida do olho, mancha branca no olho'; ver 2alv(i)-
Alpendre: 1267cf.IVPM. 3-varanda coberta. 6-regionalismo: Alentejo, casa, nas habitaçõesdas herdades, onde se cozinha e onde comem os trabalhadores da lavoura. orig.duv.; prov.relacionado com o v. pender do lat. pendére 'ser suspendido, estar suspenso'; ver alpend- epend-; f.hist. 1267 alpendere, 1378 alpender, sXIV allpemderes
Alpend- elemento de composiçãoantepositivo, do port. alpendre, que A. Nascentes diz ser de orig. controversa, lembrando a f.arc. alpender (sem dizer se oxítona ou paroxítona); J.P. Machado averba alpênder,remetendo-o para alpendre; "alpendorada, s. Está por alpendrada, q.v."; "alpendorar, v. Estápor alpendrar, q.v."; "alpendrada, s. De alpendre (segundo D.V.). A var. alpendorada nomesmo séc. (id.)."; "alpendrar, v. De alpendre. Em Filinto Elísio, segundo D.V.", e, enfim,"alpendre, s. Segundo parece, a forma arc. mais corrente era alpênder. Deve relacionar-secom o lat. pendere 'pender'; em cast. alpende, gal. alpendre. Em 1339: '...no adro da Eigreiade ssam jujhiãão sso o Alpender dos sseus pááços...', em Desc., I, p. 60. No séc. XVIdocumentam-se as duas formas: '...entrárã em hu páteo de alpenderes...', Déc., I, IV, cap. 8,p.149; '...fezeram todos jurameto aho Prinçipe nas mãos delrei seu pai, no alpedre do mosteirode S. Domingos...', Góis, I, cap. 34, pp.65-66.'" Corominas, s.v. alpende, diz ser"provavelmente tomado do lat. appendix 'apêndice', 'anexo', derivado de pendére 'pender', 1ªdoc. 1846."; citando documento medieval em que aparecem as var. alpienda e alpendio,reconhece sua pequena extensão em cast., limitando às Canárias e a alguma localidadepróxima ao galego-português, o que já a 1ª doc. 1846 deixa supor; trata-se, assim, de umétimo sobre o qual há uma hipótese de base comum sem, porém, uma história satisfatória; acognação port. deve ressaltar a presença viva no Brasil da f. alpendre, ademais das f. menosfreqüentes na língua em geral de alpendra, alpendrada, alpendrado, alpendrar, alpendroada,alpendroado, alpendroar, alpendorada, alpendorar, havendo, sobre as f. com -o- maiordúvida quanto à cognação
96
Andadura: s.XIV cf.IVPM. Tipo de passo de cavalgadura. Se admite sobre o v.lat. ambulo.
Rad.de andado+ura;ver and-.
Arribada: 1602 cf.DA.5- rebanho disperso,fugido; fem.substv.do part.arribado; ver (rib-), rib- elemento de composiçãoantepositivo, do lat. rípa,ae 'margem (em geral de rio); costa, litoral'; antigo, clássico;panromânico, com numerosos der.: romn. rîpà, it.ant. ripa, it.setentrional (> it.) riva, logd.riba, engad. riva, friul.fr. rive, provç.cat.esp.port. riba; derivados: it. rivellino (> fr. revelin,esp. rebellín, port. revelim); fr. rivage, provç. ribatge (> it.ant. rivaggio), fr. ribieira (> it.riviera), cat.esp. ribera, port. ribeira; esp. vera, port. beira; esp.port. arriba, lomb.ant.derrivar, esp.port. derribar; a cognação lat. inclui ripùla,ae 'pequena ribanceira',riparìus,a,um 'que se mantém nas margens', donde ripariòlus,a,um 'id.', ripensis,e 'vizinho dasmargens (do Danúbio)'; a cognação vern. apresenta vulgarismos (rad. rib-) doc. desde as orig.da língua e cultismos (rad. rip-) atestados do Renascimento para cá: arriba, arribaçã,arribação, arriba-coelha, arribada, arribadeiro, arribadiço, arribado, arribanceirado,arribanceiro, arribante, arribar; derriba, derribação, derribada, derribadinha,derribadinhense, derribado, derribador, derribamento, derribante, derribar, derribativo,derribatório, derribável; inderribável; revelim; riba, ribação, ribada, ribaduriense, ribaldio,ribamar, ribamarense, ribaminhoto, ribança, ribanceira, ribar, ribas-rio-pardense,ribatejano, ribatejense, ribatejo, ribeira, ribeirada, ribeirão (e uma série de comp. comribeirão-), ribeirar, ribeirense, ribeiresco, ribeirinha, ribeirinho; ribeirista, ribeiro, ribeiró,ribeironense; ripa 'riba, ribanceira', ripário, ripícola, ripuárioArriba : latim.1188 cf. leges. Acima, para cima; a + riba; ver rib-
Armonca: variação de Almôndega, ár. Al-bundqâ. bolinha 1566 MAfon 165.Y
Estambo: variação de estômago. Gr. Stomakhos,pelo lat. Stom!chus, f.hist. sXIV estamago,
sXV estamaguo, sXV stamago, sXVstomago, sXVI estomago.
Enrriba: variação de arriba. 1188 cf.leges. prep. a com o subst. riba; ver rib- ; f.hist. 1188 ad
ribam, sXIII arriba, sXIII ariba.
Rib- elemento de composiçãoantepositivo, do lat. rípa,ae 'margem (em geral de rio); costa, litoral'; antigo, clássico;panromânico, com numerosos der.: romn. rîpà, it.ant. ripa, it.setentrional (> it.) riva, logd.riba, engad. riva, friul.fr. rive, provç.cat.esp.port. riba; derivados: it. rivellino (> fr. revelin,esp. rebellín, port. revelim); fr. rivage, provç. ribatge (> it.ant. rivaggio), fr. ribieira (> it.riviera), cat.esp. ribera, port. ribeira; esp. vera, port. beira; esp.port. arriba, lomb.ant.derrivar, esp.port. derribar; a cognação lat. inclui ripùla,ae 'pequena ribanceira',riparìus,a,um 'que se mantém nas margens', donde ripariòlus,a,um 'id.', ripensis,e 'vizinho dasmargens (do Danúbio)'; a cognação vern. apresenta vulgarismos (rad. rib-) doc. desde as orig.da língua e cultismos (rad. rip-) atestados do Renascimento para cá: arriba, arribaçã,arribação, arriba-coelha, arribada, arribadeiro, arribadiço, arribado, arribanceirado,arribanceiro, arribante, arribar; derriba, derribação, derribada, derribadinha,derribadinhense, derribado, derribador, derribamento, derribante, derribar, derribativo,derribatório, derribável; inderribável; revelim; riba, ribação, ribada, ribaduriense, ribaldio,ribamar, ribamarense, ribaminhoto, ribança, ribanceira, ribar, ribas-rio-pardense,
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ribatejano, ribatejense, ribatejo, ribeira, ribeirada, ribeirão (e uma série de comp. comribeirão-), ribeirar, ribeirense, ribeiresco, ribeirinha, ribeirinho; ribeirista, ribeiro, ribeiró,ribeironense; ripa 'riba, ribanceira', ripário, ripícola, ripuário
Aluir ou aluí: s XV cf. IVPM; lat. F.hist.sXV alloyr, sXV luyr, regionalismo: Brasil, mexer-se,sair do lugar.
Apiançadu: orig.onom. sXV cf.fichIVPM, part de apiançar, regionalismo: nordeste do Brasil,Minas Gerais. 1-que sofre de asma; asmático; agoniado. Prov. de piaço, der.de piar, pio+ar
Apisoado: latim. 1548 cf.DA. compactar,socar. A-+pisoar; ver pis-; f.hist. 1548 apisoado,1562 apisoar. Antepositivo,do lat. Pinso,is,pistum,´pilar (o grão)` etc...
Apividi: Não encontrado. O miolo da abóbora
Arreda: prov. do lat. ad rètro 'para trás' + -ar (suf. verbal); ver re-; XIII arredar, sXIII redrar,sXIV aradar, sXV arrendarrecuar ou provocar o recuo de; afastar(-se), desviar(-se)
Atarentado: cheio de coisa para fazer. Não encontrado no Houaiss.
Tareia: certo trabalho que se faz no campo; tarefasova, surra, tunda.alt. de tarefa ou ár.vulg.taríha 'quantidade de trabalho que se impõe a alguém', pelo esp. tarea'tarefa'; f.hist. 1821-1875 taréa; a datação é para a acp. 'sova'
Acoitá: acoitar, latim sXIV cf.IVPM, dar proteção ou amparo a; acolher, agasalhar,esconder( alguém perseguido por infração à lei); favorecer(atos criminosos) a- +coitar oucoutar, viterbo (eluc) registra “forma protética de coitar(coutar),der. Coito (couto) <lat.Cautu”; donde,tb.acoutar, ver caut-; f.hist. sXV acoytar.Caut- elemento de composiçãoantepositivo, do v.lat. cavèo,es,cávi,cautum (cavìtum),cavére 'acautelar-se, tomar cuidado,tomar precauções contra, precaver-se; olhar por, cuidar de, olhar pelos interesses de, tomarprovidências para; aparar, desviar, furtar-se a (um golpe ou pancada); caucionar, dar umagarantia; regular (por uma lei); prover; dispor em testamento'; antigo, usual; não român.; der.e compostos: cautus,a,um 'precatado, circunspecto, prudente; esperto, matreiro; caucionado,afiançado; seguro, certo, protegido', cautum,i 'precaução' (friul. kot,esp. coto,port.couto,galg.ant. couto), incautus,a,um (antônimo de cautus), cautéla,ae 'cautela, precaução,cuidado, desconfiança; caução, segurança', cautìo,ónis 'precaução, cautela; caução, fiança,penhor; promessa, empenho'; cautor,óris 'homem precatado; fiador', *cavitáre (romn.càutà,calb. gavitare,siciliano gavitari, port. cavidar), discavèo,es 'acautelar-se bem; guardar-se de', recavèo,es (lat. jurídico, raro), precavèo,es (freqüente e clássico) 'acautelar-se,precaver-se, prevenir-se contra; tomar precauções pela segurança de alguém', dondepraecautìo,ónis 'precaução'; a cognação vern. está representada por cultismos do sXIV emdiante: acautelabilidade, acautelado, acautelador, acautelamento, acautelar, acautelatário,acautelatório, acautelável; acoutadiço/acoitadiço, acoutado/acoitado, acoutador/acoitador,
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acoutadura/acoitadura, acoutar/acoitar, acouteza/acoiteza, acouto/acoito; caução,caucionado, caucionador, caucionamento, caucionante, caucionar, caucionário, caucionável;cautela, cautelado, cautelamento, cautelar, cautelatório, cauteleiro, cauteloso, cauto;coutar/coitar 'proteger uma propriedade', couto/coito 'refúgio'; desacoutado/desacoitado,desacoutar/desacoitar; desacautelado, desacautelamento, desacautelar; descautela,descautelado, descauteloso; desprecaução, desprecaver, desprecavido, desprecavimento,desprecavível; imprecaução; incauteza, incauto; precaução, precaucional, precaucionar,precaucioso, precautelar, precautório, precaver, precavido;no sXVI aparece o v. precatar(-se),que, aparentando afinidade morfológica com acatar, catar, desacatar, recatar (ver seusétimos), tem sensível influência semântica de precaver-se
Acuar: 1527. latim cf. GVicsum- Regionalismo:Brasil, não sair do lugar, recusar-se a andar(ger. Cavalgadura ou animais de carga); empacar, estacar. A-+cu+ar, há quem postule umlat.vulg. acculare, de culus.
Arage: 1777 ABNv 103 150- vento brando e intermitente. Ar-+agem; f.hist. 1777 arages.Azulêgo: Regionalismo: sul do Brasil.Cavalo com pequenas pintas pretas e brancas.
Baita: 1899.cf.CF.supl. Regionalismo: Brasil. Uso: informal. Muito grande, crescido,
corajoso, valente, apreciável, excelente. Orig. Obsc. Segundo Nascente, é voc.expressivo.
Baio: 1043 cf.PMH. que tem cor castanha ou amarelo-torrado. Lat. badius,f.hist. sXIV bayo.
Barrela: 1562 cf.JC. 1- caldo coado de cinzas vegetais, ou de soda, us. Para clarear roupas;cenrada, coada, decoada, lixívia. Orig. controv.; ou barra+-ela, dim.de barra, ou der. Debarro+-ela; tem sido tb. Ligado a barrilha; ver barrel- ; antepositivo do port.barrela(sXVI),anterior a barrilha (ver barrilh-) antepositivo, do port. Barrilha (esp. Barrilla,que Corominasdefine ‘ sosa, espécie de pedra que se hace com las cenizas de la planta llamada barrilla,empleada para fabricar jabón’), não excluindo, porém, a possibilidade de ser de barro (verbarr-), o esp.barrilla é o étimo do port. Barilha (1712).
Bajulado: bajular; latim.1789 cf.MS – adular,lisonjear. Lat. Bajulo,as,are.atum ‘levar nosbraços’ ver bajul- antepositivo, do bajulus,i; ‘carregador,homem de fretes,mariola.(deorig.desc.) de seus der. Bajulare e bajoliare(por bajolare), donde, no port., vocábulos sob asf. bajul- e bajoul-, formados no próprio lat. Ou no vern.: abojoujado,abajoujamento,bajoujo,bajulado, bajulador,...
Bandô: Rubrica: decoração.peça decorativa, rígida, feita de madeira ou substituto, pintada ou coberta de tecido, quearremata a parte superior de portas e janelas, ger. para esconder trilho de cortinas
fr. bandeau do fr.ant. bendel (c1167), dim. formado de bande 'banda, faixa, tira' + -eau; nofr. é de 1676 a acp. 'tira decorativa de remate usada na parte superior de janelas e portas';cp. bandó; ver 2band-
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Barrão: latim,varrão: lat. vérres,is 'varrasco, porco por capar, voc. para expr. pej.', der. do v.verrère 'levar de rasto, varrer'; alt. -e- > -a- atribuída à infl. da líquida -rr-; var. barrão; vervarr-; f.hist. sXIII uerrões, 1516 varrão
Bassôra: Uso: informal. Diacronismo: antigo.m.q. vassoura ('utensílio')lat. *versorìa der. de versus, part.pas. do. v. verro,is,í ou si,versum,verrère 'arrastar pelo chão,varrer, ajuntar ou apanhar varrendo'; o esp. escoba (c1400), it. scopa (sXV-XVI) < lat. scopa'vassoura'; ver escova; o fr. balai (sXII), ing. broom (sXV), e o al. Besen traduzem o port.vassoura e seus correspondentes em esp. e it.; ver varr-
Baxuliado: não encontrado.
Beberão: alimento formado de farinha, raspa de rapadura, água quente ou café quente epedaços de queijo, todos ingredientes reunidos em um copo. não encontrado no Houaiss.Beber: sXIII cf.IVPM lat.bibo,is,i.
Bêju: biju, Culinária. Regionalismo: Brasil. F.hist.c.1698 bijú.cronMar.
Beiçudo: s XIII. IVPM. Quem tem beiços grossos. Beiço + udo; f.hist. sXIII beyçudo 1562cf.JC. Orig.controv.; tem sido ligado ao celt. Baykkyon ´boca de lábio grosso`; ver beiç-;f.hist. sXIII beiço, sXIII beyço, sXV beco.
Bitélo: sXVIII – grande, vistoso. Etimologia. Prov.lat. Vitellus ‘vitelo’, de área dial. Lusitana.Prov. Como arcaísmo consentâneo como o linguajar da área. Pessoa, animal ou coisa detamanho avantajado; butelo, brutelo. Rubrica: termo de garimpo.Regionalismo: Centro-Oeste do Brasil, m.q.Xibio(‘pequeno diamante’).
Bistunto: Bestunto: antepositivo do lat. Bestia,ae, ‘ besta’/ê/; termo antigo. 1771cf.CGOp.Uso: informal, pejorativo. Capacidade mental limitada, inteligência curta. Besta/ê/ +-unto;term.que,no caso, tem valor mais expressivo do que referencial; ver best(i)- .Bistonto: Regionalismo: Alentejo.que ou aquele que é atoleimado; apalermado, apatetadoorig.contrv.; para Corominas, prov. voc. expressivo; há contudo as hipóteses de der. do lat.attonìtus,a,um 'assombrado; estupefacto; espantado' ou do lat. tontum < tondére 'tosquiar',dado o hábito de rasparem o cabelo dos loucos e delinqüentes; a datação é para o subst.Borlé: Borla 1532.PLMH 1484. Rubrica: adorno. Obra de passamanaria que consta de umabase( esférica, discóide etc.), pompom, bolota. Lat. Vulg.*burrula, ae ‘floco de lã’. Do lat.burra, ae ‘lã grosseira’.
Bodôqui: gr. pontikón (káruon) '(noz) pôntica', através do ár. bunduq 'noz, avelã, bolota, balade pedra ou barro para espingarda ou atiradeira', e desenvolvimento de novos signf. p.metf. ep.met.
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Brabu: var. de bravo, a f. brabo (sXVII) tem, ao que parece, conotação pej. que se estende aseus der.; ver brav-; f.hist. 1124 brauo, sXIII bravo, sXIV brabo 'corajoso', 1555 brabo
Briquitar:1913 cf. Pelejar.Regionalismo: Centro-Oeste do Brasil, Minas Gerais,SãoPaulo.orig. controv.segundo Nascente
Brioso: 1brio + -oso; f.hist. sXIII brioso, sXIV bryosocéltico *brígos 'força, coragem', por infl. do esp. brio e do provç. briu, de mesmo sentido; verbrig-; f.hist. sXIII brio, sXIII briu, sXIII bryo
Butelo: Regionalismo: Norte do Brasil, Centro-Oeste do Brasil.m.q. bitelo ('pessoa', 'animal', 'coisa grande')prov. lat. vitellus 'vitelo', de área dial. lusitana (Meyer-Lübke vitellus, it. vitello, engad. vide,friul. vidiel, fr. veau, provç. vedel, cat. vedell, fr. viau); semicultismo port., com -t-intervocálico não sonorizado e signf. referente ao aspecto dimensional 'grande/pequeno';bitelo, butelo e brutelo, tidos como brasileirismos, são lusismos enraizados nessas ou emformas anteriores; a f. orig. brasileira deve ser bitelo, a f. em bu- explica-se porprolongamento fonético vocálico da bilabial inicial e a f. em bru- teria infl. formal esemântica de bruto; o voc. é registrado em MS10 e LF (1949) como adj.; Waldomiro BarianiOrtênsio, Dicionário do Brasil Central, 2ª ed. (1983), dá as acp. butelo 'muito grande, coisade horror' e (gar) 'xibiu, pequeno diamante'; Edilberto Trigueiros, A Língua e o Folclore daBacia do São Francisco (1977) diz que o adj. bitelo 'grande, desenvolvido' aplica-se tanto apessoas como a coisas e animais; definições e ex. levam a crer, porém, tratar-se de subst.tornado genérico, us. apositivamente junto a subst., para fins magnificantes, prov. comoarcaísmo consentâneo com o linguajar da área
Bucadu: bocado.1258cf.P.M.H. pequena quantidade de algo. Boca+-ado, ver boc(a)- ;bouche, proveç.cat.esp.port.boca; der.latinos: buccula,ae.Boc(a) - elemento de composiçãoantepositivo, do lat. bucca,ae 'boca', sinônimo familiar de os,oris [ver 2or(i/o)-]; no pl.designa sobretudo 'as bochechas, os maxilares'; antigo, usual; panromânico: romn. bucà, it.bocca, logd. bukka, engad. buoká, friul. buke, fr. bouche, provç.cat.esp.port. boca; der.latinos: buccùla,ae 'boca pequena; bocado que se mete na boca; parte do capacete que defendeas faces; objeto em forma de bochecha; convexidade do escudo; barra de ferro da catapulta;pl. bochechas', representado nas línguas român.: provç. bocla, bloca (> it. borchia), fr. boucle(> romn. buclà, it. bucchio, sbrucchio, venez. bukolo, friul. búkul, logd. búkkulu, cat.esp.bucle, esp.ant. bloca, port.ant. broca), com os der. fr.ant. bocler, fr. bouclier (> provç.bloquier, broquier, it. brocchiere, brocchiero, friul. brukulir, esp.port. broquel); b.-lat.buccella,ae 'boca pequena; bocado pequeno'; buccelágo,ìnis; buccellarìus,ìi 'que comebiscoito; soldado a serviço de um particular', buccelláris,e 'de biscoito'; bucco,ónis 'palrador;estúpido, tolo; boca grande', donde o v. bucco,as,ávi,átum,áre 'tagarelar'; *imbuccare (romn.îmbuca, it. imboccare, fr. emboucher, esp.port. embocar); a cognação vern. apresentavulgarismos doc. desde as orig. do idioma: aboca, abocadada, abocadar, abocado, abocador,abocadura, abocamento, abocanhado, abocanhador, abocanhamento, abocanhar, abocar,aboco, aboquejado, aboquejar, aboquejo, aboquilhado, aboquilhar; aboquelado, aboquelar;boca (e vários comp. com boca- como primeiro el.), bocaça, bocada, bocadinho, bocado,
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bocadura, bocagem, bocaina, bocal, bocalrão, bocalvo, bocanha, bocanhar, bocanheira,bocanho, bocanhudo, bocar, bocarejar, bocarra, bocca-chiusa (it.), bocejado, bocejador,bocejante, bocejar, bocejo, bochecha e derivados (ver bochech-); bocodelicado, bocuda,bocudo; boquiaberto, boquiabrir, boquialvo, boquiardente, boquicheio, boquiduro,boquifendido, boquifranzido, boquifresco, boquilargo, boquilavado, boquimole, boquinegro,boquirrasgado, boquirroto, boquisseco, boquissumido, boquitorto; broca 'saliência na partecentral do escudo', broquel (e seus der. abroquelado e abroquelar); bucelário, bucle;desabocado, desbocação, desbocado, desbocador, desbocamento, desbocante, desbocar,desbocável; desembocado, desembocador, desembocadura, desembocante, desembocar,desembocável; emboca, emboca-bola, embocada, embocado, embocadura, embocamento,embocar; os etimólogos não reconhecem a mesma base para os v. rebocar 'pôr revestimento' erebocar 'puxar corda ou carro'; ver o rad. culto em buco-
Cambito : orig.contrv.; prov. de camb- + -ito; JM parte de 2cambar; há quem veja infl. do it.gambetta, dim. de gamba 'perna'; cp. 2gambitoGamba: red. de viola de gamba, do it. viola di gamba; note-se que, ao ser tocado, oinstrumento fica em posição vertical, preso entre os joelhos, donde a sua relação com o it.gamba 'perna', o qual, por sua vez, deriva do lat.tar. camba ou gamba 'jarrete de quadrúpede';ver camb-
Cambada:Regionalismo: Brasil.grupo de pessoas com alguma característica comum (p.ex., da mesma classe social oufamília, ou que têm a mesma função etc.)orig.contrv.; do lat.tar. camba,ae ou gamba,ae 'pata dos quadrúpedes, articulação de ummembro', prov. tomado pela língua dos veterinários e criadores ao gr. kampê 'curvatura'; essanoção está presente no port. camba, que designa orign. 'peça curva da roda de veículos';Nascentes, AGC e JM referem-se, no entanto, a uma raiz camb-, de orig céltica, porémcomentam Ernout e Meillet que esta hipótese não é comprovada (daí porque, segundo essesmesmos autores, não se deve associar camba ou gamba ao v. cambiáre ou cambíre); vercamb-
Cambota: prov. f.snc. de cambalhota, talvez ligada a cambalear; ver camb- elemento de composiçãoantepositivo, do lat.tar. camba,ae ou gamba,ae 'pata, jarrete do cavalo e, mais comumente,dos quadrúpedes', tomado prov., referem Ernout e Meillet, pela língua dos veterinários ecriadores ao gr., onde kampê 'curvatura' designa particularmente a 'articulação de ummembro', donde it. gamba, logd. kamba, engad. kamma, friul. gambe, fr. jambe, provç.cat.camba; comentam ainda Ernout e Meillet que a hipótese de uma orig. gaul. não é comprovada(daí por que não se deve associar camba ou gamba ao v. cambiáre ou cambíre); ocorre emvoc. atestados desde as orig. da língua, entre os quais: acambaiado, acambaiar, acambetado,acambetar, acamboado 'preso ao cambão', acamboar 'prender no cambão', acambulhado,acambulhar; camba 'peça curva das rodas de um veículo', cambada, cambadela, cambado 'depernas tortas', cambaiar, cambaio, cambal, cambaleante, cambalear, cambaleio, cambalhota,cambalhotada, cambalhotar, cambamento, cambão 'peça de madeira para prender boi(s) a umcarro', cambar 'cambalear', cambeia, cambeira, cambeirada, cambeiral, cambeiras, cambeiro'de pernas tortas', cambeta 'de pernas tortas', cambetear, cambicho, cambitar, cambiteira,cambiteiro, cambito, camboada, camboar, cambota; descambação, descambada,descambado, descambar; encambitação, encambitar; engambitar; gamba 'instrumento
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musical', gambérria, gambeta, gambeteação, gambeteador, gambetear, gambeteiro, gâmbia,gambiarra, gambito, gamboína, gambota; para contraste, ver camb(i)- e chamb-
Cisma: 1393. cf.ivPM. lat.ecl. schisma,àtis, adp. do gr. skhísma 'separação, divisão', der. do v.gr. skhízó 'separar, dividir, fender'; ver esquist(o)- e esquiz(o)-; f.hist. 1393 çisma, sXV cisma,sXV scisma
Chispa: orig. onom.; Nasc. sugere orig. onom., com base no ruído da crepitação, interpretaçãoque está em consonância com a de Corominas para o esp. chispa (d1580) 'id'
Cheda: cada uma das pranchas que limitam lateralmente um carro de tração animal e onde seencaixam os fueiros; chazeirocelta *cléta; cp. fr. claie (< b.-lat. *cleta, nome gaul.) e antigo provç. cleda; f.hist. 1813chèdas
Campiá: campo + -ear; ver camp-Camp- antepositivo, do lat. campus,i 'planície, terreno plano', p.opos. a mons,montis 'monte,serra', com der. em b.-lat. campanèus e campósus, donde 'terreno de exercício ou de batalha',p.ex., campus Martius 'campo de Marte [deus da guerra]', donde o germ. kampf e o der.campìo,ónis 'combativo, belicoso' (fr. champion, it.esp. campione); ou 'carreira (abrir umcampo de)' no sentido físico e moral; desenvolvendo-se a cultura quase sempre na planície,campus tem tb. o sentido rural de 'campo de cultivo' e, tendo-se especializado neste sentido,opôs-se a plána 'chã, planície' e a urbs, como o campo à cidade; antigo, usual; panromânico:romn. cîmp, it. campo,logd. kampu,engad.friul. kamp,fr. champ,prov.cat. camp,esp.port.campo;der. latinos: campétris (ter),e 'da planície, do campo (de Marte)' (it. campestre,fr.champêtre,provç.cat. [esp.port.] campestre); campéstris,adj. confinado à linguagem literária,foi suprido por campánus, donde campanèus,nìus e campanìa:it. campagna (> fr. campagne),engad. kampaña,fr. champagne,provç. campanha,cat. campanya,esp. campaña,port.campanha; campaniensis, no pl. campenses 'espécie de heréticos', campósus, *campaniolus(fr. champignon, port. cogumelo);diminutivos de baixa época: campùlus, campellus,campicellus;a cognação port. inclui: acampado, acampamentense, acampamento, acampar,acampo, acamponesação, acamponesamento, acamponesar; campão, campar, campeação,campeada, campeador, campeana, campeanada, campeão, campear, campeio, campeira,campeiraço, campeirada, campeiragem, campeirar, campeireada, campeirear, campeirense,campeiro, campelevado (< fr. champlevé), campelevar, campelo, campense, campeonato,campereada/campeireada, camperear/campeirear, campesinado/campesinato, campesinho,campesino, campestrar, campestre, campestrense, campiano, campícola, campidoctor,campimetria, campimétrico, campímetro, campina, campinação, campinagem, campina-grandense, campinar, campinarana, campina-verdense, campine (fr.), campineiro,campinense, camping (ing.), campinhais, campinhal, campinhano, campino, campir (it.),campismo, campista, campístico, campo (vários comp. de campo-), campolina, camponês,camponesas, camponesismo, campônio, camponisco, camposino, camposo, campus (lat.);desacampado, desacampamento, desacampante, desacampar, desacampável; descampação,descampadense, descampado, descampador, descampamento, descampante, descampar,descampatória, descampatório, descampável; encampação, encampador, encampar,encampesinação, encampesinado, encampesinamento, encampesinar; escampado, escampar,escampe, escampo
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Chanfrar: orig.contrv.; talvez chanfro + -ar, considerando-se duv. a orig. do subst. base (veretim. de chanfro); Nasc. propõe o fr. chanfrer, voc. que JM diz inexistir nesta língua,acrescentando, porém, que o voc. tem indubitavelmente orig. francesa: “creio tratar-se de der.de chanfro, este proveniente do fr. chanfrein“; mas, s.v. chanfro, o mesmo autor registra,contraditoriamente, “der. regr. de chanfrar“; AGC afirma ser incerta a orig. do v. e considerachanfro um deverbal; f.hist. 1508 chanfrado, a1583 chanfradas, 1712 chanfrar, 1712chanfrâr, 1858 xanfrár
Caxingano: segundo Nasc., var. de *coxingar por coxear, de coxolat. cóxus,i 'manco'; ver cox(o)-
Capenga: Regionalismo: Brasil.que ou aquele que capenga, puxa da perna; coxo, manco, perneta
Canguim: Derivação: sentido figurado.indivíduo avaro, sovina1canga + -inha; ver cangac-
elemento de composiçãoantepositivo, segundo A.G. Cunha, de canga 'armação de paus para se colocar sobre os tetosde palha; peça de madeira que liga os bois pelo pescoço e os liga ao carro ou ao arado', estedo celta *cambìca 'madeira curva' < cambus 'curvo'; J.P. Machado, porém, liga-a ao lat.*canica, fonte de várias pal. port. que se podem relacionar com uma orig. *canicus, canica,constituindo uma verdadeira subfamília de canis,is 'cão', donde chega a canica para qualificara cópula desses animais, dada a sua notável peculiaridade, donde canga; se nos ativermos aessa fonte de cognação - quer na hipótese de Cunha, quer nesta - limitaremos os cog. a canga,cangaceirada, cangaceirismo, cangaceiro, cangaço, cangalha, cangalhão, cangalheiro,cangalheta, cangalho, cangueiro, cangar; escangalhação, escangalhadeira, escangalhado,escangalhamento, escangalhar, escangalho, sendo cangaço só explicável como regressivo decangaceiro
Colerina: cólera + -ina; ver col(e)-; f.hist. 1899 cholerina, 1913 colerina
Cotó: acutização expressiva de coto /ô/, segundo Nascenteslat. cùbìtus,i 'cotovelo' (< *cobto < *cotto < coto /ô/ ); divg. de couto, côvado e cúbito); f.hist.1500 couto 'medida antiga de comprimento'
Culiado: colear: pronominalEstatística: pouco usado.introduzir-se de maneira sorrateira1colo + -ear
Deradero: lat. *der(r)etrárius 'último, extremo', der. do lat. de- + lat.tar. retrarius,a,um (deretro 'para trás'); f.hist. sXIV derradeiro, sXIV derradeyro, sXIV dirradeyro
Diacho: 1728cf.RB. uso informal, eufemismo. m.q.Diabo.
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Dicuada: vem de Decoada. Regionalismo: Portugal.água fervida com cinzas, us. na lavagem de tecidos; barrela, lixíviaDerivação: por analogia. Regionalismo: Brasil.água fervida com cinzas das fornalhas (barrela ou lixívia), us. para livrar de impurezas ocaldo da cana nas caldeiras, tornando o açúcar mais fortefem.substv. do part. decoado; ver coa-; f.hist. d.sXIV decoado, sXV decoada; datado a partirdo part.
Disbandáio: bagunça.Desbanda: Regionalismo: Portugal.o que se encontra à banda, ao ladoBand- elemento de composiçãoantepositivo, como 'senha, sinal', port. banda (sXIV), do gót. *bandwa 'id.' (it. banda 'tropa',cat. banda 'distintivo militar'), tendo em conta que o port.cast. banda 'tropa, multidão' procededo fr. bande 'bando' (sXIV), por sua vez do provç.; a f. banda como 'bandeira' provém dogót.tar. manwjan; há ainda a noção de 'lado de navio' (sXV) e a de 'lado, margem', de 1496(com a var. vanda em 1474, arcaizada) de tal modo imbricadas que, como em outras línguas,é difícil, se não impossível, não admitir para os cog. seu étimo múltiplo ou interinfluente; eisessa cognação: abandado, abandalhação, abandalhado, abandalhamento, abandalhar,abandar 'reunir em bando', abandeado, abandear, abandeirado, abandeiramento, abandeirar,abandejado, abandejar, abandejo, abandidado, abandidamento, abandidar; abandoado,abandoar; banda 'grupo, facção', bandado, bandalheira, bandalhice, bandalhismo, bandalho,bandalhona, bandão, bandarilha/banderilha, bandarilhar/banderilhar,bandarilheiro/banderilheiro, bandarra, bandarrear, bandarrismo, bandarrista, bandear,bandeira, bandeirado, bandeiral, bandeirante, bandeirar, bandeireiro, bandeirista, bandeiro,bandeirola, bandeirologia, bandeirológico, bandeiroso, bandeja, bandeja-d'água, bandejão,bandejete; bandidismo, bandido, banditismo, bando (lat.tar. bandum, do gót.);contrabandeabilidade, contrabandeado, contrabandeador, contrabandeante, contrabandear,contrabandeável, contrabandismo, contrabandista, contrabandístico, contrabando;debandada, debandado, debandador, debandante, debandar, debandável, debandinha;desbanda, desbandada, desbandalhar, desbandar, desbandeira, desbandeirado,desbandeiramento, desbandeirar, desbando; desembandeiração, desembandeirado,desembandeiramento, desembandeirar, desembandeirável; embanda, embandar,embandeirado, embandeirador, embandeiramento, embandeirar; esbandalha, esbandalhado,esbandalhamento, esbandalhar, esbandeiramento, esbandeirar, esbandulha, esbandulhar
Distibilado: meio doido, fadigado. bile: Derivação: por metonímia.mau gênio, mau humor; irritabilidade, atrabílislat. bílis,is 'substância amarga e escura secretada pelo fígado', p.ext. 'mau humor'; ver bili-
Disarnar: sair do lugar, animar-se,ir pra luta.Desainar: segundo Nascentes, prov. de- + saina (< lat. sagina 'gordura', cf. esp. do sXIII saíne sainete) + -ar; dizia-se do falcão que se privava de carne para amansar e adestrar; talvez sejacog. de sanha;var. dessainar, desseinar verbo
Estatística: pouco usado.transitivo direto1 adestrar (o falcão), diminuindo-lhe a ração de carne para que perca a braveza
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transitivo direto1.1 Derivação: por extensão de sentido.domesticar, amansar (animal arisco ou bravio)intransitivo2 soltar gritos raivosos, como o falcão privado de carnetransitivo direto e pronominal3 Derivação: por extensão de sentido.fazer agitar ou agitar-se, fazer zangar ou zangar-se; agastar(-se)
Discambar : des- + 1cambar; ver camb(i)-orig.contrv., prov. de uma raiz céltica *kamb, com idéia de 'curvo'; ver camb-
camb- elemento de composiçãoantepositivo, do lat.tar. camba,ae ou gamba,ae 'pata, jarrete do cavalo e, mais comumente,dos quadrúpedes', tomado prov., referem Ernout e Meillet, pela língua dos veterinários ecriadores ao gr., onde kampê 'curvatura' designa particularmente a 'articulação de ummembro', donde it. gamba, logd. kamba, engad. kamma, friul. gambe, fr. jambe, provç.cat.camba; comentam ainda Ernout e Meillet que a hipótese de uma orig. gaul. não é comprovada(daí por que não se deve associar camba ou gamba ao v. cambiáre ou cambíre); ocorre emvoc. atestados desde as orig. da língua, entre os quais: acambaiado, acambaiar, acambetado,acambetar, acamboado 'preso ao cambão', acamboar 'prender no cambão', acambulhado,acambulhar; camba 'peça curva das rodas de um veículo', cambada, cambadela, cambado 'depernas tortas', cambaiar, cambaio, cambal, cambaleante, cambalear, cambaleio, cambalhota,cambalhotada, cambalhotar, cambamento, cambão 'peça de madeira para prender boi(s) a umcarro', cambar 'cambalear', cambeia, cambeira, cambeirada, cambeiral, cambeiras, cambeiro'de pernas tortas', cambeta 'de pernas tortas', cambetear, cambicho, cambitar, cambiteira,cambiteiro, cambito, camboada, camboar, cambota; descambação, descambada,descambado, descambar; encambitação, encambitar; engambitar; gamba 'instrumentomusical', gambérria, gambeta, gambeteação, gambeteador, gambetear, gambeteiro, gâmbia,gambiarra, gambito, gamboína, gambota; para contraste, ver camb(i)- e chamb-
Discalquiado: não encontrado no Houaiss. Pessoas que está sem foco, sem rumo, preocupadocom algo.
Dêcá: de- me isso. Entregue-me isso.
Destá: Deixa está!
Espaduá: sofrer deslocamento da espáduaespádua + -ar; ver espad-Espádua: lat. spathùla ou spatùla,ae 'espátula; ramo de palmeira; espécie de marco em formade spatha; omoplata', dim. de spatha,ae 'espada'; ver espad-; f.hist. 1192 spadoam, sXIIIspadoa, sXIV espadoa, sXIV espalda
Espad- elemento de composiçãoantepositivo, do lat. spatha,ae 'instrumento de tear, para apertar o tecido; espátula; ramo depalmeira carregado de tâmaras, ramo novo de palmeira; espada larga' (it. spada, logd. ispada,engad. speda, friul. spade, fr. épée, provç. espaza, cat. espasa, esp.port. espada), der. do gr.spáthé,és, pelo lat.vulg. - ver espat(i/o)-; ocorre em voc. documentados desde as orig. dalíngua: espada, espadachim, espadachinar, espadada, espadadeira, espadado, espadagada,espadagão, espadagar, espadana, espadanada, espadanado, espadanar, espadarte,espadeirada, espadeiro, espadim etc.
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Espiculando: Segundo os moradores da região rural de Formosa: aquele que faz perguntaindiscreta,indagar, quer saber de tudo.
Espicular: a respeito da conj. deste verbo, ver -ularEspig- elemento de composiçãoantepositivo, do lat. spíca,ae; o lat. teve o dobrete antigo spícus; há tb. um neutro spícum euma f. rural speca; a variação de gên. provém por certo de uma flexão spícus, pl. spica: 1)'espiga', propriamente 'ponta', cf. spicùlum, aplicando-se, em seguida, a objetos de formasemelhante à espiga, 'vagem', 'tijolo oblongo', spíca testacèa, que servia para fazer soalhosque imitavam arranjos como grãos de trigo numa espiga; 2) Espiga, estrela da constelação daVirgem; antigo, usual, panromânico; as f. român. remontam a spíca e spícum, cf. Meyer-Lübke 8145: romn. spicà, it. spiga, logd. ispiga, engad. spia, provç.cat.esp.port. espiga;derivados: esp. espiguilla (> port. espiguilha, cat. espigó, esp. espigón, port. espigão, port.respigar); spicáre: it.ant. spicare, it. spigare, fr. épier, provç.cat.esp.port. espigar (e, entre osder. deste, o port. espigueiro): Bluteau (1713) registra espicha e espicho, que devem seranteriores (embora A.G. Cunha os date de 1813 para toda a cognação de espicho); der.latinos: spicó,-as, donde spicátus; spicèus (lat.imp.); *spicárium 'sementes de trigo'; spicìfer;spicilegìum, prov. termo técnico da linguagem rústica: spicùlum 'ferro farpado de flecha oudardo; ponta de dardo', depois 'lança, espinho' (mas o fr. épieu provém do germ.) e spicùlus,-a,-um; spicùlo,as 'tornar pontudo'; spicùla 'espiguinha, moscada'; spicósus, spicella; a estacognação associa-se a de spína; mas, fora do lat., nada há claro; a cognação port. tem um rad.espic- culto, um rad. espig- vulg., um rad. espich- (a aceitar-lhe a cognação), a saber, espicha,espicha-canivetes, espichadeira, espichadela, espichado, espichal, espichamento, espichão,espichar, espicharete, espicharético, espicharétur, espiche, espicheiro,espichelite/espichelita, espicho; espicífero, espicifloro, espiciforme, espicilégio, espicinardo,espiciondrífico, espícula, espiculado, espicular, espicúlea, espiculífero, espículo; espiga(vários comp. com o primeiro el. espiga-), espigadiço, espigado, espigador, espigadote,espigaitado, espigaitar, espigame, espigamento, espigão, espigar, espigas, espigatório,espigo, espigoada, espigoado, espigoso, espigue, espigueiro, espiguento, espigueta,espiguete, espigueto, espiguilha, espiguilhado, espiguilhar; respiga,respigadoira/respigadoura, respigador, respigadura, respigão, respigável, respigo,respigueira, respigueiro
Esbirrar: 2esbirro + -ar verbo Regionalismo: Brasil.transitivo diretopôr esbirro ('escora') emorig.obsc.; cp. it. 2sbirro (1805) mar 'espécie de nó que mantém ligado o poleame a um mastroou a um cabo', prov. der. de 1sbirro 'guarda-costas, beleguim, policial', porque prende opoleame, como o 1esbirro faz com um prisioneiro
Escanchar: separar ou afastar (as pernas) uma da outra, para montar a cavalo ou sentar-sesobre algo à maneira de quem montaorig.contrv.; AGC considera obsc. a orig. do voc.; talvez se trate de alt. de escachar; há quemafirme que está por esganchar, de gancho; f.hist. 1516 escãchado, a1557 escanchar,1562
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escãchar. Gancho: celta *ganskio, base do irl.ant. gésca 'ramo pequeno, galho de árvore';f.hist. 1522 ganchinho, 1562 gancho
Estambu: gr. stómakhos,ou lit. 'orifício, abertura', daí, 'boca, esôfago, o orifício do estômago,estômago', pelo lat. stomàchus,i 'estômago, fig. ira, cólera, indignação'; ver estom(at)-; f.hist.sXIV estamago, sXV estamaguo, sXV stamago, sXV stomago, sXVI estomago
Estrupiadu: machucado. estropiar: prov. it. estropiare (a1503) 'id.'cortar-se ou cortar algum membro a; aleijar(-se), mutilar(-se)
Estivado: Derivação: por extensão de sentido. Regionalismo: Brasil.cheio, completo. part. de 1estivar 'amontoar, carregar'; f.hist. sXIII estivarestiva: it. stiva (a1347) 'local da nave no qual é armazenada a carga; carregamento; fundointerno da embarcação', regr. de stivare 'amontoar, estivar'; ver estip-; f.hist. sXV estiba
Escrafunchar: remexer em, ger. à procura de alguma coisalat. *scariphunculáre, do lat. scarífus ou scaríphus,i 'instrumento cirúrgico para escarificar,sarjar; lanceta, bisturi', num dim. *scarifunculum ou *scariphunculum, donde o v.escafandrar: investigar profundamente (algo); mergulhar num assunto (como umescafandrista); esmiuçar.
Embuçucado: part. de embuçar; em- por 1en- + buço + -ar; ver boc(a)-; f.hist. sXVembuçado, 1540 embuçarver boc(a)-embuçado.que se embuçoucom o rosto tapado, deixando de fora apenas os olhosDerivação: por extensão de sentido.coberto com capa, capote ou similarDerivação: por analogia.que está disfarçado; encoberto, oculto
Embutido: aquele que se entromete em conversas alheias. orig obsc.
Embuste: mentira ardilosa; logro, embustice, embusteiriceEmbusteiro: embuste + -eiro; f.hist. 1709 embustteiro
Empanzinado: que se empanzinou. part. de empanzinar; ver empanz-Empanz- elemento de composiçãoantepositivo, do port. empanzinar e derivados, sobre cuja form. há controvérsia: se de pança,se de pão; Silveira Bueno, citado por J.P. Machado, deriva-o de pança, posição tb. de A.G.Cunha, mas o próprio J.P. Machado declara que a primeira significação da pal. seria 'encherde pão'; na verdade, de pança (mesmo que sob influxo do esp. panza), o port. empanzinarteria o -z- dificilmente explicável, enquanto como der. de pão (na f. átona pan-) a consoante -z- de ligação é de regra (panzaria/pãozaria, panzeiro/pãozeiro); a alternância gráfica nãoparece alterar a natureza verb., donde empanzinadela, empanzinado, empanzinador,empanzinamento, empanzinar; note-se que Gonçalves Viana (Voc.) registra apenas panzaria epanzeiro, sem alternativas
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Entufado: part. de entufar; ver tif(o)-; f.hist. 1817-1819 entufar. 1en- + port.ant. tufo(<lat.vulg. tufu, do lat. typhus, 'intumescimento, inchação; orgulho' <gr. tuphos) + -ar, cp.1tufar; ver tif(o)- adjetivo que se entufouque aumentou de volume, que está inchadoRegionalismo: Brasil.que sente amuo, enfado; amuado, zangado
Estanhado: lat. stagnum 'estanho', forma antiga e clássica, prov. gaul., coexiste com o lat.stannum, vulgarização da época clássica muito usada na Idade Média, que é a origem do port.estanho, do sXIV, esp. estaño, c1250, it. stagno, do sXIII, fr.ant. estain, do sXII, fr. mod.étain; a possível fonte gaulesa da palavra liga-se à afirmação de Plínio (23-79 d.C) que diz sera estanhadura invenção daquele povo; o ing. tin, do sIX, al. Zinn, hol. tin, sueco tenn são deorigem teutônica; ver estanh-; f.hist. sXV stanho
Estanh- elemento de composiçãoantepositivo, do lat. stagnum ou stannum,i 'liga de prata e de chumbo; estanho (acp. maistardia)', emprt. de orig. incerta só atestado a partir de Plínio (sI); a f. stagnum é mais bem doc.do que stannum e confirmada pelas línguas român.: it. stagno (> logd. istañu), engad. stañi,steñ, fr. étain, provç. estanh, cat. estany, esp. estaño, port. estanho; der. latinos: stagnèus oustannèus,a,um 'de estanho', o v. stagno,as,ávi,átum,áre 'cobrir de estanho, soldar', stagnátor,óris 'estanhador'; a cognação vern. apresenta o rad.vulg. estanh- (doc. desde o sXIII) e o rad.culto estan- (voc. da terminologia química e mineralógica, de fins do sXIX em diante):desestanhado, desestanhador, desestanhagem, desestanhante, desestanhar, desestanhável;estanhação, estanhado, estanhador, estanhadura, estanhagem, estanhamento, estanhante,estanhar, estanharia, estanhável, estanheira, estanhetilo, estanhodietilo, estanhometilo,estanhopéia, estanhoso, estanhotetraetilo, estanhotrietilo; estanato, estânico, estanífero,estanina, estanita, estanito, estanodietilo, estanoetilo, estanolita, estanometilo, estanopéia,estanoso, estanotetraetilo, estanotrietilo
Feche: não encontrado no Houaiss.
Feição: sXIII cf.fich IVPM. Configuração física; aparência, apecto,feitio. Lat. factio. F.hist.sXIII faiçon, sXIX feição.
Fiá: confeccionar (tecido, trama) com fios. lat. fílo,as,ávi,átum,áre 'fiar, fazer em fio,entrelaçar fios'; ver fi(l)-
Fuá : Regionalismo: Brasil.que age com valentia; valentão
bagunça, orig obsc.
Fuminar: procurar algo, descobrir algo.Não encontrado no Houaiss.
Fumigar: provocar vapor, fumaça, gás etc.lat. fumigo,as,ávi,átum,áre 'id.', de fúmus,i 'fumo, fumaça, vapor' + rad. do v.lat.
agère 'levar, conduzir'; divg. de fumegar; ver fum-
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Fuminanu: está procurando algo. Não encontrado no Houaiss.
Gaitada: Regionalismo: Norte do Brasil, Nordeste do Brasil, Minas Gerais, Goiás, Açores.Uso: informal. risada ruidosa; gargalhada.gaita + -ada; ver gait-gait- elemento de composiçãoantepositivo, der. prov., segundo Corominas , do gót. gaits 'cabra' (cf. ing. goat), “porque elfuelle de la gaita se hace de un pellejo de este animal“; observa ainda o mesmo autor que oesp. gaita (de meados do sXIV), é “Voz oriunda del castellano y el gallego portugués,extendida desde la Península Ibérica por el África hasta Turquía y el Oriente europeo.“; emport., gaita é atestado em 1534, mas, como pondera J.P. Machado, “é provável que o voc. sejamais antigo, pois, como antr., o der. gaiteiro já aparece em 1390"; a cognação vern. incluiagaitado, agaitar; gaitada, gaita-de-beiços, gaita-de-boca, gaita-de-capador, gaita-de-fole(s), gaitado, gaita-galega, gaitar, gaitas, gaitear, gaiteira, gaiteirada, gaiteirice, gaiteiro,gaitejo, gaitona; engaitado;é provável que em entupigaitado, entupigaitação, entupigaitar,entupigaitador, entupigaitamento haja a base de gaita;ver entup-
Gambira: 1gamba + -ista; ver camb-Gamba: red. de viola de gamba, do it. viola di gamba; note-se que, ao ser tocado, oinstrumento fica em posição vertical, preso entre os joelhos, donde a sua relação com o it.gamba 'perna', o qual, por sua vez, deriva do lat.tar. camba ou gamba 'jarrete de quadrúpede';ver camb-Camb- antepositivo, do lat.tar. camba,ae ou gamba,ae 'pata, jarrete do cavalo e, maiscomumente, dos quadrúpedes', tomado prov., referem Ernout e Meillet, pela língua dosveterinários e criadores ao gr., onde kampê 'curvatura' designa particularmente a 'articulaçãode um membro', donde it. gamba, logd. kamba, engad. kamma, friul. gambe, fr. jambe,provç.cat. camba; comentam ainda Ernout e Meillet que a hipótese de uma orig. gaul. não écomprovada (daí por que não se deve associar camba ou gamba ao v. cambiáre ou cambíre);ocorre em voc. atestados desde as orig. da língua, entre os quais: acambaiado, acambaiar,acambetado, acambetar, acamboado 'preso ao cambão', acamboar 'prender no cambão',acambulhado, acambulhar; camba 'peça curva das rodas de um veículo', cambada,cambadela, cambado 'de pernas tortas', cambaiar, cambaio, cambal, cambaleante,cambalear, cambaleio, cambalhota, cambalhotada, cambalhotar, cambamento, cambão 'peçade madeira para prender boi(s) a um carro', cambar 'cambalear', cambeia, cambeira,cambeirada, cambeiral, cambeiras, cambeiro 'de pernas tortas', cambeta 'de pernas tortas',cambetear, cambicho, cambitar, cambiteira, cambiteiro, cambito, camboada, camboar,cambota; descambação, descambada, descambado, descambar; encambitação, encambitar;engambitar; gamba 'instrumento musical', gambérria, gambeta, gambeteação, gambeteador,gambetear, gambeteiro, gâmbia, gambiarra, gambito, gamboína, gambota; para contraste, vercamb(i)- e chamb-
Gavá:uso informal, Gabar: enaltecer as qualidades de; louvar, celebrar; incensarf.hist. a1858 gavárorig.contrv.; muitos o tomam do fr. gaber (1100) 'zombar, escarnecer', der. de gab 'zombaria,escárnio', este, por sua vez, do ant. nórd. gabb 'escárnio'; para JM e Nasc.; é prov. que o voc.tenha chegado ao port. não do fr. gaber, mas do provç. gabar, de mesmo sentido
Garitó: caixa grande feita de madeira para guardar arroz. Não encontrado no Houaiss.
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Gasapiá: roubar ou pegar algo escondido.Não encontrado no Houaiss.
Grimpa ou Copa (ávores): segundo A.G. Cunha e JM, prov. regr. de grimpar, embora as datasencontradas não corroborem tal hipótese; ver grimp-; f.hist. 1537 grinpa
Grimp- elemento de composiçãoantepositivo, prov. do fr. grimper 'trepar, subir, elevar-se com o auxílio das mãos e dos pés,estender-se progressivamente para cima', f. nasalizada de gripper - ver 1grip-; ocorre emvocábulos do sXIX em diante (salvo grimpa, doc. desde o Renascimento): desengrimpado,desengrimpar, desengrimpinado, desengrimpinar, desengrimponado, desengrimponar;engrimpado, engrimpar, engrimpinado, engrimpinar; engrimponado, engrimponar;grimpação, grimpado, grimpador, grimpagem, grimpamento, grimpante, grimpar, grimpo;para as f. desnasaladas, ver 2grip-; ver tb. garimp-Rubrica: termo de marinha.nas embarcações, bandeira pequena ou placa de metal ou de outro material, que se coloca notopo do mastro a fim de indicar a direção do ventoDerivação: por extensão de sentido.o ponto mais alto de uma edificação; cocuruto, cumeDerivação: por extensão de sentido.a ponta, o cume de qualquer coisa
Ispía: Regionalismo: Brasil. olhar, ver.prov. do gót. spaíhôn; há quem veja a orig. no a.-al.ant. speha 'observação atenta' (o frânc.apresenta um v. *spehôn 'observar'), der. de uma raiz indo-européia, *spec- 'olhar comatenção, contemplar, observar', com provável interveniência do fr. épier (1155 sob a f. ant.espier) 'observar atentamente; tentar descobrir alguma coisa, (1160-1174) observar atenta esecretamente (uma pessoa ou um animal), este do ant. baixo frânc. *spehôn 'observaratentamente'; JM e AGC derivam de 1espia; ver 1espi-; f.hist. sXV spyar
Ispiticado: não encontrado no dicionário Houaiss. Cortado em vários pedaços, algo jogado oudistribuído por uma grande área.Espicaçado: part. de espicaçar; ver pic-; f.hist. 1713 espicaçar, 1813 espicaçádoEspicaçar: orig.contrv.; Nascentes deriva de pico, este, segundo ele, regr. de picar; JM e AGCpreferem derivar diretamente de picar; ver o que se diz em pic- e na term. -açarPic- elemento de composiçãoantepositivo, do lat.vulg. *piccáre - form. expressiva do lat. pícus,i 'picanço (ave), grifo (avefabulosa)', em alusão aos golpes empregados por essa ave -, que, com o redobro expressivo do-cc- significou 'ferir ou furar com objeto pontiagudo ou perfurante, moralmente espicaçar;ferir ou morder com o bico ou o ferrão' (sXIV); a cognação port. inclui espicoiçar/espicouçar;pica-amoras, pica-boi, pica-bois, pica-burro, pica-chouriços, picada, picadão, picadeira,picadeiro, picadelo, pica-del-rei, picadense, picadete, picadilho, picadinhense, picadinho,picado, picadoiro/picadouro, picador, picadora, picador-sugador, pica-figo, pica-flor, pica-folha, pica-fumo, picagem, picamento, pica-milho, pica-nariz, picanca, picança, picancilha,picancilho, picanço, picanço-bacoreiro, picanço-real, picancudo, picanear, picanha,picantaria, picante, picão (e diversos comp. com picão- como primeiro el.), pica-osso,picãozeira, pica-pau, pica-pauzinho, pica-peixe, pica-polho, pica-ponto, pica-porco, pica-porta, picar, picareta, picaretagem, pica-triga, pico, picoso, picotador, picotadora,picotagem, picotar, picote 'seqüência de pequenas perfurações', pique 'pequeno corte',piqueiro, piqueta, piquetar, piquete, piquetear, piqueteiro; espicaçar, tido como der. de picarpor vários etimólogos, mas com ausência de motivação, donde espicaçadela, espicaçado,espicaçador, espicaçamento, espicaçante, espicaçável, espicaçoar; repicada, repicado,
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repicador, repicadora, repicagem, repica-ponto, repicar, repique, repiquetar, repiquete;diretamente do lat. pícus,i ocorrem os cultismos pícida, picídea, picídeo e piciforme 'relativoaos piciformes'; para contraste, ver pic(i/o)- e pisc(i)-
Imbirrado: insistir com obstinação ou enfado; teimarem- por 1en- + birraresp. e leonês birria < prov. lat.vulg. *verrèa de verres,is 'porco não capado, barrão', comevolução de sentido para 'capricho, teimosia' pelas características do animal.Esbirrar:
verbo Regionalismo: Brasil.transitivo diretopôr esbirro ('escora') emorig.obsc.; cp. it. 2sbirro (1805) mar 'espécie de nó que mantém ligado o poleame a um mastroou a um cabo', prov. der. de 1sbirro 'guarda-costas, beleguim, policial', porque prende opoleame, como o 1esbirro faz com um prisioneiro
Indez: lat. indicii (sc. ovum) 'ovo de chamariz', genit. sing. de indicìum,ìi 'sinal, indicação,denúncia, acusação'; ligado ao v. indíco,is,díxi,dictum,ère 'dar a saber, anunciar, denunciar';cp. indício; ver diz-Diz- elemento de composiçãoantepositivo, conexo com o lat. dix,dicis fem., dex,dicis masc. e com os v.lat. díco,is,dixi,dictum,dicère e dìco,as,ávi,átum,áre,f. alternantes da raiz *deik-/dik 'mostrar'; o osco e oúmbrio têm igualmente essa alternância; o parentesco com o gr. (v. deíknumi 'mostrar, fazerver, fazer conhecer' e subst. díké 'costume, uso, direito, justiça') foi visto pelos latinos; 1) *dixsubst. fem., nome de ação, só us. na ant. fórmula jurídica e religiosa dicis causa ou dicisgratìa 'por causa da fórmula', donde 'por maneira de dizer, pela forma'; 2) dex,dicis masc.,nome de agente, us. como segundo el.comp. (conforme -spex, -ceps, -fex em index,ìcis;judex,ìcis, vindex,ícis; index 'o que mostra, o que indica' (que serviu em particular paradesignar um dedo da mão, 'o que serve para mostrar', donde indicìum, indìcáre: it. endice,port. endez; port. inçar; indicíva 'preço de uma denúncia'; judex,ìcis 'o que mostra o direito, ojuiz' (ver jur-), donde judicìum, judicáre (romn. judet, it. giudizio, fr.ant. juis(e), provç. judici,cat. juhí, esp. juicio, port. juízo; romn. judeca, it. giudicare [> logd. dzudigare], fr. juger,provç.cat. jutjar, esp. juzgar, port. julgar); vindex,ìcis 'garante, que reivindica, vingador',donde vindiciae, vindicáre (romn. vindeca, it. vendicare [> engad. svendiker, friul.zvindikasi], fr. venger [> cat. venjar], provç. venjar, esp. vengar, port. vingar);dícó,is,dixí,dictum,dicère 'dizer', us. em todas as épocas; panromânico: romn. zice, it. dire,engad. dir, friul. di, fr.provç. dire, cat. dir, esp. decir, port. dizer); o v. dicére, que significa'mostrar' nas outras línguas conexas, especializou-se em lat. no sentido de 'mostrar, fazerconhecer pela palavra, dizer'; abdíco,is 'recusar-se a reconhecer', cujo contrário é addíco,is'julgar, concordar'; condíco,is 'concluir um arranjo', donde condictìo,ónis 'acordo das partesem fixar dia em presença do magistrado para comparecerem diante do juiz'; condicticìus;edíco,is 'proclamar um édito, publicar, ordenar', donde edictum,i 'edito'; indìco,is 'proclamar,declarar, impor'; indictìo,ónis 'ação de indicère'; interdíco,is 'interdizer'; praedíco,is 'predizer,fixar com antecedência; recomendar ou ordenar, advertir'; prodíco,is 'fixar com antecedência,diferir, adiar'; benedíco,is 'pronunciar palavras de bom augúrio', maledíco,is 'pronunciarpalavras de mau augúrio' (donde benedícens,entis, benedictum; maledícens,entis;maledictum); dìco,as 'dizer solenemente, proclamar'; na linguagem religiosa, 'assumir umcompromisso solene, dedicar, consagrar'; dicatìo,ónis 'declaração formal pela qual alguém seengaja a fazer-se cidadão de uma cidade'; dicátor; abdìco,as 'recusar-se a reconhecer', donde
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'excluir da família, deserdar'; *addìco,as, dedìco,as 'consagrar aos deuses em termos solenes,declarar solenemente', daí, na linguagem comum, 'declarar, indicar'; dedicatìo, dedicatívus;praedìco,as 'proclamar, publicar', depois 'gabar', na língua comum 'anunciar' e, porenfraquecimento, 'dizer'; na linguagem da Igreja, 'pregar' (it. predicare, genovês ant. prichar,logd. preigare, fr.ant. preechier, fr. prêcher, provç. prezicar, esp. predicar, port. pregar);praedicatìo, praedicátor, praedicatìvus 'afirmativo, denunciativo'; indíco, judíco, vindícoservem de v. denominativos para index, judex, vindex; indicarìus, dicìo,ónis, termo de direito,'palavra, fórmula de ordem, de comando', donde 'comando, autoridade'; condicìo,ónis 'fórmulade entendimento entre duas pessoas, condição fixada reciprocamente; arranjo, pacto,condição, convenção, esp. de casamento', donde 'partido', 'situação resultante de um pacto e,em geral, situação, condição', não raro, pejorativo, donde o sentido de 'escravidão', nalinguagem da Igreja; condicionális,e termo técnico da gramática e do direito: 'condicional; deescravo', substv. 'escravo', na linguagem da Igreja; dìcus,a,um adj. e -dicusí subst.masc.:segundo el.comp.: causidìcus 'advogado', juridìcus 'relativo à justiça, jurídico'; fatidìcus'fatídico'; veridìcus 'verídico'; maledìcus 'maldizente'; dìcax 'zombador, pilheriador'; dicacìtas'pilhéria', dicacùlus 'brincalhão, mordaz'; dictìo,ónis 'fato de dizer' (raro e tardio); dictúra 'oque foi dito'; dicterìa,órum neutro pl. 'pilhérias', raro; dicto,as, freqüentativo e intensivo dedíco 'dizer em voz alta, repetir, ditar'; dictáta neutro pl.; dictátum; dictámen; dictatìo;dictìto,as 'dizer repetidamente, repetir'; a dictáre se ligam etimologicamente dictátor 'ditador',donde dictatúra, dictatorìus; a cognação port. é rica de vulgarismos e cultismos:abdicabilidade, abdicação, abdicacionismo, abdicacionista, abdicacionístico, abdicado,abdicador, abdicante, abdicar, abdicatário, abdicativo, abdicatório, abdicatriz, abdicável;abença, abenção, abênção, abençoadeira, abençoadeiro, abençoado, abençoador,abençoamento, abençoante, abençoar, abençoável, abendiçoado, abendiçoante, abendiçoar;acondicionabilidade, acondicionação, acondicionado, acondicionador, acondicionamento,acondicionar, acondicionável, acondiçoado, acondiçoador, acondiçoar; adicar, adicente,adicto, aditar 'tornar ditoso'; amalçoar, amaldiçoado, amaldiçoador, amaldiçoar; bênção,bendição, bendicionário, bendiçoar/abendiçoar, bendidela, benditismo, benditista, bendito,bendizente, bendizer, benedição, benedicionário, benedícite, benedí(c)tia, benedita,beneditense, beneditinense, beneditino, beneditionário/benedicionário, beneditismo,beneditista, benedito; benedicência, benedicentíssimo, benédico; benzer e derivados (verbenz-); causídico; condição (condiçõ 1288, condiçã e condição já no XV), condiceiro,condicente, condiciar, condicionabilidade, condicionado, condicionador, condicional,condicionalidade, condicionalismo, condicionalista, condicionalístico, condicionamento,condicionante, condicionar, condicionável, condiçoar; condizente, condizer, condizibilidade,condizível; contradita, contraditado, contraditador, contraditante, contraditar, contraditável,contradito, contraditor, contraditória, contraditório, contradizedor, contradizente,contradizer, contradizível; dédica, dedicabilidade, dedicação, dedicado, dedicador,dedicante, dedicar, dedicatário, dedicatório, dedicável; descondicionar; desdichado; desdita,desditado, desdito, desditoso, desdizedor, desdizente, desdizer, desdizimento, desdizível,desindicação, desindicado, desindicar, desindicável; desindiciação, desindiciado,desindiciador, desindiciamento, desindiciante, desindiciar, desindiciável; dicação,dicacidade, dicacídeo, dicacíssimo, dicáculo, dicaz, di(c)ção; dicha, dichote, dichotesco;dicionariação, dicionariado, dicionariar, dicionariável, dicionário, dicionariofilia,dicionariófilo, dicionarístico, dicionarizado, dicionarizador, dicionarizar, dicionarizável,dictriz, dictum (lat.), di(c)tério, di(c)tura, disse-me-disse, disse-não-disse, disse-que-disse,ditabilidade, ditado, ditador, ditadura; ditafonia, ditafônico, ditafono/ditafone, ditame, ditar,ditatorial, ditatorialismo, ditatorialista, ditatorialístico, ditatório, ditável, diteiro, ditinho,dito, dito-cujo, ditografia, ditográfico, ditologia, ditológico, ditoso, ditote; dixe, dixe-me,dixe-me-dixe; dizedela, dizedor, dizente, dizer (dico > digo, dicis > dizes, dicit > diz, dicimus
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> dizemos, dicitis > dizedes > dizeis, dicent > dizem; dixi > disse, donde dissera, dissesse,disser; dictu(m) > dito), dizonho, diz-que, diz-que-diz, diz-que-diz-que, dize-tu-direi-eu,dizível; endecha, endechador, endechar, endechoso, edital 'relativo a edito', edito;endez/indez; fatídico; impredicatividade, impredicativo; inçar; incondicionabilidade,incondicionado, incondicional, incondicionalidade, incondicionalismo, incondicionalista,incondicionalístico, incondicionável; indicação, indicado, indicador, indicante, indicar,indicatário, indicatividade, indicativo, indicator, indicatorídeo, indicatorínea, indicatório,indicatriz, indicção, índice, indiciação, indiciado, indiciador, indiciamento, indiciante,indiciar, indiciário, indícias, indiciativo, indicificação, indicificar, indício, indicionarizado,indicionarizável, indicioso, indicível/indizível, indictado, indictibilidade, indictivo, indículo;malcondizer, maldição, maldicente, maldiçoar, maldita, maldito, malditoso, maldizedor,maldizente, maldizer; maledicência, maledicente, maledicentíssimo, malédico; perdita,prédica, predicabilidade, predicação, predicado, predicador, predical, predicamental,predicamentar, predicamento, predicante, predição, predicar, predicativo, predicatório,predicável, predito, preditor, predizer, predizibilidade, predizível; pregação (no sentido de'predicar', não conexo com pregar [< lat. plìcare] 'pôr prego'), pregado, pregador,pregamento, pregante; para pregão e derivados, ver prego(a)-; prodição, pródico, pródito,proditor, proditório; recondicionado, recondicionador, recondicionamento, recondicionante,recondicionar, recondicionável; vericidade/veridicidade, verídico; vindicar e derivados, vervindic-Vindic- elemento de composiçãoantepositivo, do lat. vindex,ìcis 'caução (em juízo), abonador, fiador; defensor, patrono,advogado, protetor; vingador', cujo segundo el., aparentado a dicère (ver diz-), é o mesmo quese encontra em judex,ìcis; a cognação lat. inclui o v. vindìco,as,ávi, átum,áre 'reclamar (emjuízo), reivindicar (em juízo), reclamação, usurpação; defesa, proteção; vingança, punição,castigo'; panromânico: romn. vindeca, it. vendicare (> engad. svendiker, friul. zvindikasi), fr.venger (> cat. venjar), provç. venjar, esp. vengar, port. vingar; vindicátus,a,um (part.pas. devindicáre) 'libertado, salvo; arrogado, usurpado; punido, castigado; vingado', vindicta,ae'varinha com que o lictor tocava a cabeça do escravo enquanto o pretor pronunciava a fórmulade alforria; defesa, proteção; vindita, castigo, punição', vindicìa,ae 'causa em litígio perante opretor; ação de dar andamento a uma causa posta em litígio; pedido de posse provisional deuma coisa que está em litígio; reclamação em juízo'; a cognação vern. desenvolve-se desde asorig. da língua, apresentando rad. cultos, semicultos e vulg.: 1) rad.vulg. ving- (sXIII): vinga,vingação, vingado, vingador, vingamento, vingança, vingante, vingar, vingativo, vingável,vingue; desvingado; revingado, revingar; 2) rad. culto vindic- (sXVI): vindicação, vindicado,vindicador, vindicamento, vindicante, vindicar, vindicativo, vindicável, víndice, vindícia,vindi(c)ta; revindi(c)ta; 3) rad. semiculto reivindic- (sXVI): reivindicabilidade, reivindicação(do lat.jur. rei vindicatìo 'reclamação de uma coisa', alterado por influxo do pref. re-),reivindicado, reivindicador, reivindicamento, reivindicante, reivindicar, reivindicativo,reivindicatório, reivindicável (as f. revindicado, revindicador e revindicar, esta doc. na flexãorevindiquemos, no sXVI, em Duarte Nunes de Leão, são tidas como não-preferenciais); 4)rad. semiculto revanch- (sXX): revancha/revanche (< revanche, sXVI, do fr.ant. revancher,de vencher, do v.lat. vindicáre), revanchismo, revanchista, revanchístico
Ixalô: dissipar-se ao tornar-se volátil; evaporar-se.Exalar: lat. exhálo,as,ávi,átum,áre 'id.'; ver hal-
Hal- elemento de composiçãoantepositivo. do v.lat. hálo,as,áre 'assoprar, bafejar, respirar, exalar', o qual, ensinam Ernout eMeillet, "não parece atestado no perfectum: os der. halìtus,halìto supõem talvez um perfeito
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*halùi, um supn. *halìtum, mas são mais prov. cunhados segundo o modelo de spíro,spirìtus;exhalávi,exhalátum devem ser recentes"; a cognação lat. inclui halìtus,us 'sopro, bafo, hálito,exalação, vapor, emanação', o v.freq. halìto,as,ávi,átum,áre 'deitar cheiro, exalar', exhálo,as'exalar, assoprar, bafejar; expirar, falecer', exhalatìo,ónis 'exalação', inhálo,as 'soprar, bafejarsobre; exalar', lat.tar. inhalatìo,ónis 'ação de introduzir um aroma', lat.imp. inhalátus,a,um'alcançado por um sopro'; a cognação vern. data do Renascimento para cá: exalação, exalado,exalante, exalar; halitar, hálito, halitose; inalação, inalado, inalador, inalante, inalar,inalatório
Jofá : que sai ou aparece na superfície de algo.não encotrado no Houaiss.Gofrar: fr. gaufrer (1565) 'imprimir em tecido, couro ou papel, motivos ornamentais emrelevo', (1947) 'fixar', de gaufre (c1185)
Gofrado: adjetivo que se mostra com a superfície em relevo pelo processo de gofragem
Jambrô: não encontrado no Houaiss.
Japona: Derivação: por extensão de sentido. Rubrica: vestuário.agasalho esportivo, de lã grossa ou tecido sintético, de feitio semelhante ao da japona (acp.substv. de japona, fem. ant. de japão ('japonês'), este sob a f. rad. japon- comdesenvolvimento de consoante nasal dental + -a, desin. de fem.; segundo Nascentes, a acp.'alcunha dos portugueses' se deve ao fato de os imigrantes usarem japonas
Labuta: orig.obsc.; ger. considerada cog. de laborar, lavrar; AGC lembra prov. cruzamentocom luta; f.hist. 1450-1516 labytar, c1560 labuta, a1583 lavutãotrabalho árduo e penoso, lida, canseira
Ladino: lat. latínus,a,um 'latino'; divg. vulg. de latino; ver latin(i)-; f.hist. sXV ladinho, 1644ladinodiz-se de ou indivíduo que revela inteligência, vivacidade de espírito; esperto
(sXV)diz-se de ou indivíduo cheio de manhas e astúcias; espertalhão, finórioRegionalismo: Brasil.dizia-se do índio ou do escravo negro que já apresentava certo grau de aculturação.
Latada: espécie de grade horizontal, ou um tanto inclinada, constituída de paus roliços, varasou caniços, que, disposta ao longo de uma parede, oferece suporte para videiras ou quaisqueroutras plantas trepadeiras; caniçadoLata: orig.contrv.; segundo Nasc., b.-lat. latta,ae 'vara comprida', de orig. céltica ou germ.;para JM e AGC, it. latta (1333) 'lâmina de ferro, recoberta de leve camada de estanho, us.para fabricar recipientes', do lat.tar. làtta 'pau ou vara comprida', donde 'vara transversal deplanta (esp. parreira), cerca ou grade de suporte de plantas', depois 'tira, viga, chapa ou lâminade metal (esp. ferro), p.ext. 'caixa ou outros recipientes feitos desse material'; segundoCorominas (DELCast), a doc. mais ant. da acp. 'lâmina estanhada de ferro ou aço' ocorre no it.e no fr., tendo prov. influenciado o esp. lata (sXV) 'id.'; f.hist. 1134 Vale de Latas top., 1562lata acp. de carp, sXVI lata 'folha-de-flandres' e 'caixa de ferro estanhado'
Légua,Légoas: lat.tar. leúca ou leúga,ae 'medida de extensão', us. pelos gauleses para registraritinerário ou distância percorridos, prov. do celta leak 'pedra'; segundo Corominas, ger. doc.
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em lat. leuga, depois leuva > lewa com labialização e do -g- precedido da vogal -u-; de lewadeve ter passado a légua, do mesmo modo que o germ. wardan > guardar ou treuwa >trégua; f.hist. sXIII leguas, sXV leegoa, 1500 leguoas, sXV llegoaRubrica: metrologia.medida de distância em vigor antes da adoção do sistema métrico, cujo valor varia de acordocom a época, país ou região; no Brasil, vale aproximadamente 6.600 m, em Portugal, 5.572 mDerivação: por extensão de sentido.distância não especificada que se imagina grande ou muito grande; grande comprimento oudistância (mais us. no pl.)
Macega: orig.obsc. almácega: esp. almaciga (1513) 'sementeira', este do ár. al-máxdjara'sementeira'
substantivo feminino Diacronismo: antigo.pequeno tanque destinado a receber a água da 2nora ou da chuva; almágega, alvercaRubrica: viticultura.m.q. malvasia-do-bairro
erva daninha que nasce em terras cultivadascampina suja, com capim alto e seco, a ponto de dificultar a passagemRegionalismo: Rio Grande do Sul.arbusto rasteiro que cresce ger. em terreno de baixa qualidadeRegionalismo: Sudeste do Brasil. Uso: informal.conjunto de coisas embaralhadas, mal ordenadas; maçarocada, confusão
Mazaroi: orig.obsc.usado para desiginar um molho de chaves,talher,couve,etc. orig.obsc. substantivo masculinoRegionalismo: Rio Grande do Norte.grande porção.
Maçaroca: bagunça. Ex: Seu cabelo esta uma maçaroca.conexo com o esp. mazorca (sXV) 'fio de linho, lã ou crina que se enrola no fuso', p.ana. deforma 'espiga de milho', depois 'emaranhado de fios', de orig.contrv.; ora ligado ao bascomazurka, ora ao ár. másura 'canudo de lançadeira', sob suposta infl. do germ. *ròkko ou rukka'roca', e outras hipóteses, todas insuficientes para explicar os voc. esp. e port.; f.hist. a1789massaroca
Malacafento: Regionalismo: Brasil. Uso: informal.que está com malaca; doente, enfermiço.malaca + -ento, com el. de ligação arbitrário -f- (cp. friorento, fumarento etc., com -r-) ou,segundo Nascentes, de malaca, numa form. arbitrária; ver mal- e malac(o)-malaca- orig.contrv.; tem sido ligado a mal, em der. arbitrária, ao gr. malakós,ê,ón 'mole,macio, doce, suave, brando', pelo lat. malàcus,a,um 'macio, brando, mole', às vezes tb. comored. de malacia, do gr. malakía,as 'moleza, fraqueza'; ver mal- e malac(o)-malac(o)- elemento de composiçãoantepositivo, do gr. malakós,ê,ón 'mole, macio, doce, suave, brando', de uma raiz indo-européia *mel-, ver 1mol-; ocorre já em voc. orign. gregos, como malacia (malakía),malácotrix/malacótrique (malakótriks), malacossarco (malakósarkos), malacóstraco(malakóstrakos) e maláctico (malaktikós), já em vários cultismos da terminologia científica,
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do sXIX em diante: malacanta, malacântida, malacantídeo, malacanto, malacicte, malacíctis,malacina, malacino, malácio, malacitano, málaco, malacobdela, malacobdelídeo,malacocarpo, malacocéfalo, malacocotíleo, malacocoto, malacoderme, malacodermo,malacofilo, malacófono/malacofono, malacogamia, malacogáster, malacogastro,malacolite/malacolita, malacolitito, malacólito/malacolito, malacologia, malacológico,malacologista, malacólogo, malacônio, malaconite/malaconita, malaconito, malacoplasia,malacópode, malacopsila, malacopsilídeo, malacopterígeo, malacopterigiano, malacóptila,malacoptilínea, malacorrinco, malacose, malacosperma, malacossaco, malacossarcose,malacossarcósico, malacossoma, malacossomo, malacosteídeo, malacósteo, malacosteose,malacosteósico/malacosteótico, malacosteu, malacostráceo, malacóstraco,malacostracologia, malacostracólogo, malacotíleo, malacozoário, malacozoófago; ver -malacia
Malamanhado: mal amanhado,mal-arrumado.
part. de amanhar; ver man(i/u)-
amanhar- prov. a- + manha + -ar; ver man(i/u)-
man(a)- elemento de composiçãoantepositivo, do v.lat. máno,as,ávi,átum,áre 'correr em gotas, gotejar', e 'deixar porejar,destilar', depois 'escorrer(-se), difundir-se (sentido físico e moral); emanar de, decorrer de';antigo, usual, clássico, mas assaz raro, salvo na linguagem poética, na época imperial; nãopopular; der. latinos: mánális,e, ligado a Mánés (deuses Manes, ger. interpretado como pl. doadj. mánis 'os Deuses bons', epíteto pelo qual se designavam por eufemismo os espíritos dosmortos, esp. dos antepassados - 'dí parentes'), mas por prov. etim. popular (ver manh(ã)-);manabìlis, manátis, manámen; démáno, dimáno,as 'espalhar-se, derramar-se, estender-se',emáno,as 'escorrer de, emanar, difundir-se'; emanatìo (tardio); intermáno; permáno (usual,clássico); permananter; mánasco; permánasco,is; prománo; remáno 'escorrer para trás';summáno,as 'escorrer por baixo, regar'; manáre e manális parecem der. de um subst. nãoatestado que seria aparentado ao irl. móin,galês mawn 'pântano, turfa'; a cognação port. é todaculta, incluindo dimanação, dimanado, dimanador, dimanante, dimanar, dimanável;emanação, emanacionismo, emanacionista, emanacionístico, emanado, emanador, emanante,emanantismo, emanantista, emanantístico, emanatório; manação, manadeira, manadeiro,manado, manancial, manante, manantial (esp.), manar; promanação, promanado,promanante, promanar, promanável; sumanais, sumanalAmanhado: Uso: informal.que se enfeitou; composto, ataviadoEx.: traje a.que se acomodouRegionalismo: Portugal. Uso: linguagem de delinqüentes.trancafiado, presoRegionalismo: Alentejo.que se ajeitou; reparado, consertadoEx.: sapatos a.
Mandraca: Regionalismo: Brasil.intervenção ou trabalho de bruxo; bruxaria, feitiçaria, mandingabeberagem empregada em feitiçariaorig.contrv.; prov. alt. pop. do lat. mandragòra ou mandragòras,ae 'planta estupefaciente esoporífera, usada em rituais de magia'; ger. ligada a feitiçaria, em virtude de suas raízes
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tuberosas às vezes se assemelharem a um ser humano; Nascentes vê orig. africana; Nei Lopessugere o quimb. ndaka 'maldição'; ver mandrágora
Matula: Regionalismo: Brasil.alforje, farnelm.q. matalotagem ('provisão')prov. alt. de matalotagemmatalote + -agem; cf. fr. matelotage 'arte de navegar; carga de navio'; f.hist. c1537-1583matalotagem, c1537-1583 matolagem, 1858 matalotáge1 Rubrica: termo de marinha. Diacronismo: antigo.conjunto de matalotes; marujada2 Rubrica: termo de marinha.provisão de mantimentos e víveres, embarcados num navio para consumo da tripulação e, emnavios de carreira, tb. para consumo dos passageiros3 Derivação: por extensão de sentido.qualquer provisão de mantimentos4 Derivação: sentido figurado.quantidade de coisas díspares e amontoadas
Michado: pouco.fr. miche (1172-1190) 'pequeno pão branco', do lat.vulg. *micca, forma reforçada de míca,ae'parcela, migalha'; cp. mica e migaMicha: pão feito da mistura de diversas farinhas. m.q. migalha ('fragmento de farináceo')
Murrinha: morrinha, que ou aquele que revela grande apego ao dinheiro, às riquezas; que ouquem é excessivamente econômico; avarento, sovinaorig.contrv.; ger. relacionado a morrer; Corominas, no entanto, propõe ligação com as acp.hsp. de morro; as diversas hipóteses não explicam satisfatoriamente a base etim.
Madorninha: sono. esp. modorra 'nome de doença, sonolência, prostração', de orig.contrv.;segundo Corominas, prov. voc. ibérico pré-român. conexo com modorro; f.hist. 1154Modorra top., 1524-1585 modorram.q. modorramadorra: sonolência causada por certos tipos de doença2 Derivação: por extensão de sentido.desejo irresistível de dormir, ainda que não provocado por doença3 Derivação: por extensão de sentido.grande desânimo ou prostração; apatia, indolência4 Rubrica: veterinária.doença que ataca o gado ovelhum
Malino: Regionalismo: Brasil.que faz muita travessura, arte (diz-se esp. de criança); traquinasver em maligno; f.hist. sXIV malínos, sXIV mallinos, sXV malino
Mucunã: lat.cien. gên. Mucuna (1763); f.hist. 1903 mucunan, 1938 mucunãRubrica: angiospermas.1 design. comum às plantas do gên. Mucuna, da fam. das leguminosas, subfam.papilionoídea, tb. conhecidas como mucuna e mucuná
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1.1 trepadeira de grande porte (Mucuna altissima), nativa das Guianas e Brasil (AMAZ aPI e RJ), de folhas com três folíolos oblongos e flores róseas, com carena amarela, emfascículos sobre longo pedúnculo; comandá-açu, olho-de-boi1.2 trepadeira (M. pruriens) nativa de regiões tropicais, de flores avermelhadas, vagenscom pêlos urticantes, dos quais se faz o pó-de-mico, e sementes pretas e luzidias, us. comosucedâneas do café; café-beirão, café-de-mato-grosso, café-do-pará, fava-café, fava-coceira,feijão-café, feijão-inglês, olhos-de-burrico, olhos-de-burro, pó-de-mico, quicuta1.3 trepadeira venenosa (M. urens), nativa das Guianas e Brasil (AMAZ a GO e SP) e us.como adubo verde, de folhas com três folíolos ovados e oblongos, flores pálidas, amareladasou esverdeadas, e vagens grandes e grossas, com pêlos tb. urticantes, e poucas e grandessementes; olho-de-boi, orelha-de-frade
Nódia: nódoa: lat. notùla,ae 'marquinha, malhazinha, pequena mancha', dim. de nòta,ae,f.divg. de nótula; ver 1not-Not- elemento de composiçãoantepositivo, do lat. nòta,ae 'marca de reconhecimento, sinal; inscrição, sinal de convenção,letra, abreviatura, sinal estenográfico, anotação; nódoa, labéu, infâmia, desonra'; der. latinos:notarìus,ìi 'secretário, estenógrafo, escrivão, escrevente, amanuense'; clássico, usual;notùla,ae 'marquinha' (port. nódoa); o v. lat nòto,as,ávi, átum,áre 'marcar, pôr um sinal em;escrever por abreviaturas, escrever por estenografia, escrever; dizer em poucas palavras,indicar; denominar; exprimir; anotar, comentar; censurar, repreender', notabìlis,e 'notável,insigne, famoso; sensível à vista, que se pode distinguir; notado de infâmia, infamado',notatìo,ónis 'ação de marcar com um sinal; descrição, pintura de um caráter (termo deretórica); exame, inquirição, inquérito a respeito de uma pessoa; ação de observar, de notar;etimologia; censura, pena imposta pelo censor'; annòto (ou adnòto),as 'anotar, pôr nota ouobservação, tomar nota; observar, notar', annotatìo,ónis 'anotação, nota, observação; adição aum escrito; inscrição de um nome no rol de acusados; etimologia', annotátor,óris 'o queobserva, espia, anotador'; denòto,as 'indicar, notar com um sinal, marcar, designar',denotátus,a,um 'indicado, notado, marcado, conhecido' (esp.port. denodado); enòto,as 'notar,lançar em notas, tomar apontamentos'; innòto,as 'marcar, notar'; praenòto,as 'marcar deantemão, pôr marca em, notar; marcar no frontispício, pôr título em; designarantecipadamente, predizer', praenotatìo,ónis 'título'; subnòto,as 'marcar; anotar; assinar',subnotatìo,ónis 'assinatura'; sem parentesco com o v. (g)nosco, pois, como afirmam Ernout eMeillet, nenhuma f. normal da raiz deste v. explicaria o ò de nota, no qual, de resto, não hánada que indique a presença de um antigo g inicial; a cognação vern. apresenta el. cultos evulgares: adnotação, adnotado, adnotar; anotação, anotado, anotador, anotar; conotação,conotado, conotador, conotante, conotar, conotatividade, conotativo, conotável;denodabilidade, denodado 'diz-se dos votos feitos por cavaleiros e/ou soldados', denodador,denodamento 'voto feito pelos cavaleiros ao serem armados', denodatório, denodo;denotabilidade, denotação, denotado, denotador, denotante, denotar, denotatividade,denotatório, denotável; desnodoado, desnodoante, desnodoar; desnotar; noda/nódoa,nodoado, nodoante, nodoar; nota, notabilidade, notabilíssimo, notabilização, notabilizado,notabilizador, notabilizante, notabilizável, notação, notado, notador, notando,notariado/notariato, notarial, notárico, notário, notário-mor, notável, notista, nótula;prenotação, prenotado, prenotador, prenotante, prenotar; subnota
Uso: informal. Diacronismo: antigo.m.q. nódoa.
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Ora: é a própria pal. hora 'divisão de tempo, tempo, duração' empr. já no sXIII em agora (dolat. hac hora 'esta hora') e a seguir com uso gramatical (nem sempre gráfico) de conj., adv. einterj.; f.hist. sXIII ora, sXIII oura, sXIV hora adv., sXIV ora, sXIV hora conj., sXIV ora,sXIV hora interj.
Pafuá: malamanhado. não encontrado no Houaiss.
Pajiá: Pajear: verbo transitivo direto1 m.q. apajeartransitivo direto2 Regionalismo: Brasil.cuidar de, vigiar (criança)transitivo direto3 Derivação: por extensão de sentido. Regionalismo: Brasil. Uso: ironia.tomar conta de (adulto)pajem sob a f.rad. paj- + -ear; f.hist. 1881 pagearpajem: fr. page (c1225) 'jovem rapaz', (sXIV) 'moço fidalgo que acompanhava um senhorfeudal ou príncipe', segundo TLF, de orig.contrv.: emprt. do it. paggio (sXIV) < gr.paidíon,ou, dim. de paîs,paidós 'criança', pouco prov., vista a anterioridade da f. fr., ou b.-lat.pathìcus,a,um 'pederasta passivo' < gr. páthos [ver pat(o)-], hipótese difícil, do ponto de vistahistórico; a datação é da f. inicial port. paje; f.hist. sXIV paie, sXV paje, sXV pageis substantivo masculino
rapaz que, na Idade Média, acompanhava um príncipe, um senhor, uma dama, paraprestar-lhes certos serviços e iniciar-se na carreira das armas
Regionalismo: Brasil.empregado que acompanha alguém em viagem a cavalo substantivo femininoRegionalismo: Minas Gerais, São Paulo.
m.q. 1ama ('babá)
Parrudu: parra + -udo; ver parr- adjetivo 1 rasteiro como as parras2 baixo e largo; atarracado3 que tem musculatura desenvolvida; forte, robusto substantivo masculino
Regionalismo: Brasil. Uso: pejorativo.indivíduo portuguêsParr- elemento de composiçãoantepositivo, do port. parra, voc. da segunda metade do sXIII, 'vide ou videira levantadaartificialmente', voz própria das três línguas român. da Península, de orig. incerta; como nalíngua de Oc, parran é 'cercado, horto', parral valia o mesmo que o aragonês, 1269, e o galg.-asturiano parreiro 'grãozeiro', e é provável que o sentido inicial de parra fosse 'caramanchão,cercado' e que o voc. seja aparentado com parrìcus 'grãozeiro, cercado' mencionado emparque (< fr. parc), ver infra; a procedência última desta família, comum ao romance e aogerm., é incerta; isso, não obstante, faz com que a f. do fem. occitânico parran só possaexplicar-se por um gót. *parra,-ns 'cercado, engradado, caramanchão' e é prov. que dessamesma pal. venha o nosso parra (= esp. parra), donde a cognação aparrado, aparreirado,
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aparreirar; desparrar; emparrar, emparreirar; parrado, parrana, parranda, parrar, parreira,parreira-brava, parreira-do-mato, parreiral, parrilha, parruda, parrudo; como referidoanteriormente, o port. parque (sXVI) é do fr. parc (sXII), por sua vez do b.-lat. parrìcus, der.de *parra 'vara' pré-latina, cuja cognação sofre em port. a infl. da cognação francesa e dainglesa no sXX (através do ing. parking, tomado ao fr. parquer 'estacionar [veículo]', dosXIV): parque, parquê, parqueação, parqueador, parqueamento, parqueante, parquear,parqueável, parquete, parqueteria, parquímetro, parquista
Pisa: sova, surraregr. de pisar; ver pis-pis- elemento de composiçãoantepositivo, do v.lat. pinso(píso),is,pistum,pinsère 'pilar (o grão)'; em lat., ao lado do supn.pistum, registram-se pinsum e pinsìtum; houve um divg. pinsáre ou pisáre (romn. pisa, engad.pizer, fr. piser, provç. pizar, esp. port. pisar), ao lado de um der. *pinsiáre (it. pigiare) epistáre (it. pestare, pistare, logd. pistare, friul. pestá, provç. pestar, esp. pistar) e compistare;são 'almofariz' píso,ónis e píla,ae (ver para este o el.comp. pil-); pílum,i 'pilão' e seu dim.pistillum; pistor,óris 'o que pila o trigo para fazer pão, padeiro'; moer com pedra era em lat.moló,is,ui,molìtum,molère, ver mo(l)-; ter presente que o v. oppílo, as,ávi,átum,áre 'arrolhar,fechar (um vaso, uma porta)' é der. de píla ou pílum (ver opil-); no conjunto, prevaleceram assegg. bases: pil-, pis-, pist-: apiloar, apisoar, apisteiro, apisto; despista, despistar; epistação,epistar; expilação, expilado, expilador, expilar; pilado, pilador, pilão, pilar, pilo, piloada,pilorada, pilota; pisa, pisada, pisadela, pisado, pisador, pisadura, pisão, pisar, piso,pisoador, pisoagem, pisoamento, pisoar, pisoeiro, pisotear, pisoteio, pista, pistão, pistiláceo,pistilar, pistilo, pistiloso, pistom; recopilação, recopilador, recopilar; repisa, repisado,repisar
Peia: corda ou peça de ferro que prende os pés dos animais, instrumento de açoite; chicote.lat.vulg. *pedèa, do lat. pedìca,ae 'laço que prende os pés, armadilha, grilhão para os pés', esteder. de pes,pèdis 'pé'; ver ped(i)- e pej-; f.hist. 1111 peia, sXIV peyoos, 1602 pea
Pej- elemento de composiçãoantepositivo, do v.port. pejar (sXV) 'impedir, embaraçar, encher', der. do port. peia 'corda oulaço para atar o pé de animais, embargo, embaraço, impedimento, empecilho', de um lat.vulg.*pedèa, der. do lat. pes,pedis 'pé'; o esp. despejar, de 1564, é tomado de emprt. ao port.; oregr. port. pejo 'pudor, vergonha (por ser forma de coerção ou impedimento como seembaraço moral)' retorna semanticamente sobre o derivante pejar, dando a este a sua segundalinhagem significativa, de natureza não física, mas ética; Corominas, s.v. despejar, ressaltaprocedentemente que peia, doc. em 1156, i.e. muito antes de sobrevir o desfazimento do hiato-ea com o -i- anti-hiático, não pode senão provir do lat.vulg. *pedèa e não do lat. peda'pegada'; a cognação port. inclui: apeaça, apeaçado, apeaçar, apeadeira, apeadeiro, apeado,apeadoiro/apeadouro, apeamento, apear, apedado, apedar, apedoso, apeia (nesta primeirasérie, há prov. cruzamento morfossemântico de *pedèa > peia com peda > *pea com pede-[de pes,pedis 'pé'] > pé com o rad. culto de pé 'ped-'); apejado, apejar; despejado,despejadoiro/despejadouro, despejamento, despejante, despejar, despejável, despejo; peja,pejada, pejado, pejadoiro/pejadouro, pejador, pejamento, pejar, pejeiro, pejo, pejoso
Pistelento: pessoa que não obedece. não encontrado no Houaiss
Posá: pousar: (sXIII) hospedar-se por breve tempo; pernoitar, albergar-se <vai p. na casa datia>.b.-lat. pauso,as,ávi,átum,áre 'cessar, parar, fazer parada; repousar, descansar'; cp. pausar;
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ver paus-; f.hist. sXIII pousar, sXIII posou, sXIV poussaua, sXV possou, sXV pouzar, 1836poisar 'hospedar-se', sXIV pousar 'morar', sXIII posou 'assentar'
Pouso: Regionalismo: Brasil.lugar onde se pernoita; pousadatelheiro ou choça à beira dos caminhos para abrigo de viandantes; rancho
Prosiá: prosa:lat. prósa,ae 'id.'; ver pros(i)-; f.hist. sXIII prosas, sXIV posa acp. de mús, 1720prosa 'expressão natural da linguagem escrita ou falada'
Pros(i)- elemento de composiçãoantepositivo, do lat. prosa,ae 'prosa, discurso não medido'; ocorre já em voc. orign. latinos,como prosa (sXIII) e prosaico, já em cultismos formados à sua feição: prosador, prosaísmo,prosaísta, prosaizar, prosar, proseado, proseador, prosear, proseio, proseirão, prosificação,prosificado, prosificador, prosificante, prosificar, prosificável
Pranto: lat. planctus,us 'ação de bater com ruído, pancada, murro; lamentação, pranto'; cp.chanto; ver plang-; f.hist. sXIV pranto, sXIV planto, sXIV plãto, sXV plancto
ato de chorar; choroato de lastimar-se; queixa, lamentaçãoRubrica: literatura.antiga poesia elegíaca em que se lamentava a morte de pessoa querida ou ilustre
Punhado: quantidade de (qualquer coisa) contida numa mãopunho + -ado; ver pugn-pung- elemento de composiçãoantepositivo, do v.lat. pungo,is,pupùgi (pepùgi; -punxi nos comp.), punctum,pungère 'picar,furar; atormentar, inquietar, fazer sofrer, pungir, mortificar, afligir'; antigo, clássico, usual;representado nas línguas român.: it.logd. pungere, friul. spóndzi, fr. poindre, provç. ponher,cat. punyir, esp.port. pungir; a cognação lat. inclui: pugìo,ónis 'punhal', pugiuncùlus,i 'punhalpequeno', punctum,i 'picada; pequeno buraco feito por uma picada; ponto (sinal depontuação); parte de um todo, do tamanho de um ponto, pequeno espaço, pequena parcela;momento, instante, pequeno espaço de tempo; ponto (geométrico); ponto (no jogo de dados)',panromânico (salvo romn.): it. punto, logd. puntu, friul. pont, fr. point, provç. ponch, cat.esp.punto, port. ponto; do fem. puncta,ae 'estocada, golpe de ponta': it. punta, fr. pointe, provç.poncha, logd. punta, friul. ponte, port. ponta; punctus,us 'picada, ponto'; punctìo,ónis 'picada,punção' (termo médico), donde punctiuncùla,ae 'pequena picada ou punção'; punctúra,ae'picada', punctillum,i 'ponta pequena, pontinha', punctùlum,i 'leve picada; pontinho,manchinha', punctorìum,ìi 'instrumento para picar' (tardio), punctiare (Meyer-Lübke): it.ponzare, cat. punxar, esp. punzar, port. punçar; os v. compungo,is,compunxi oucompùgi,compungère 'picar; causar impressão desagradável em, ferir, ofender' (b.-lat.), dondecompunctìo,ónis 'compunção', compunctus,a,um 'picado em muitas partes; compungido';expungo,expunxi,expunctum,expungère 'picar tudo, de um lado a outro; fazer desaparecer (umnome) com pontos, riscar, apagar, tirar da lista, riscar o nome de um devedor; descarregar, darquitação a; fazer a barba a; terminar, acabar', donde expunctìo,ónis 'complemento, remate',expunctor,óris 'o que verifica, revisor'; interpungo,is 'pontuar, separar as palavras por meio depontuação', donde interpunctìo,ónis 'sinal de pontuação', interpunctum,i 'intervalo para tomar
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fôlego, pausa'; perpungo,is 'atravessar totalmente', donde perpunctus,a,um 'picadoprofundamente'; repungo,is 'picar de novo'; a cognação vern. - que se enlaça à de pugn-, ver -documenta-se em formas vulg. ou semipopulares desde o sXIV, com os rad. pont-, punc-/punç-, punt-/punct-, pung-, ademais de cultismos dos v. prefixados acima referidos; acognação vern. inclui: apontar 'fazer a ponta de', apontar 'marcar com ponto ou sinal' e osder. de ambos: apontado, apontador, apontamento, apontável; aponteado, aponteador,aponteamento, apontear; apontoar 'coser com pontos largos', apontoar 'escorar por meio depontaletes' e os der. de ambos: apontoação, apontoado, apontoamento; bispontar;compunção, compungido, compungidor, compungimento, compungir, compungitivo,compungível; contraponta, contrapontado, contrapontador, contrapontante, contrapontar,contrapontável, contraponteado, contraponteador, contraponteante, contrapontear,contraponteável, contrapontismo, contrapontista, contrapontístico, contraponto; desapontar'apontar mal', desapontar 'causar desapontamento' e os der. de ambos: desapontado,desapontador, desapontamento, desapontante, desapontável, desaponte, desaponto; desponta,despontado, despontador, despontadora, despontante, despontar, despontável, desponte,despontear; despontilhado; despontuação, despontuado, despontuador, despontual,despontualidade, despontuante, despontuar, despontuável; empontão, empontar; esponta,espontar, espontear, esponteirar, esponto, espontoar; expunção, expungido, expungimento,expungível; impontão, impontar, imponteiro, impontual, impontualidade; impun(c)tuado;perpontar, perponte, perponto, perpun(c)to; pespontadeira, pespontado, pespontador,pespontar, pesponteado, pespontear, pesponto; ponta, pontaço, pontada, ponta-de-diamante,ponta-de-eixo, ponta-de-lança, ponta-dentro, ponta-de-ouro, ponta-de-rama, ponta-de-sobrancelha, ponta-de-terra, ponta-direita, pontado, pontadora, ponta-embutida, ponta-esquerda, pontal, pontaletar, pontalete, pontaletear, pontão, pontapé, pontapear, ponta-preta, pontar, pontareco, pontarelo, pontaria, ponta-seca, pontavante, ponteação, ponteado,pontear, ponteio, ponteira, ponteiro, ponteiro-direito, ponteiro-esquerdo, pontelha,pontelhão, pontiagudo, pontilha, pontilhação, pontilhaço, pontilhada, pontilhado, pontilhar,pontilheiro, pontilhismo, pontilhista, pontilhístico, pontilho, pontilhoso, pontinha, pontinhar,pontinho, ponto, pontoação, pontoada, pontoado, pontoar, ponto-atrás, ponto-de-admiração,ponto-de-exclamação, ponto-de-interrogação, pontoeira, ponto-e-vírgula, ponto-falso, ponto-final, ponto-limite, pontoneiro, pontoso, ponto-vogal, pontuação, pontuada, pontuado,pontual, pontualidade, pontualização, pontuar, pontudo, pontuoso, pontusais, pontusal;pospontadeira, pospontador, pospontar, posponto; punção, punçar, puncejar, punceta,puncionagem, puncionar, puncionista, puncionístico, punçoar, punçonadeira, puncta,pun(c)tação, pun(c)tado, pun(c)tador, pun(c)tante, pun(c)tar, punctária, punctariácea,punctariáceo, punctarial, punctariale, pun(c)tável, pun(c)ticular, pun(c)tiforme,pun(c)tilhismo, pun(c)tilhista, pun(c)tilhístico, pun(c)tilioso, pun(c)tual, pun(c)tura,pun(c)turela; pundonor, pundonoramento, pundonoroso; pungência, pungente, pungibarba,pungido, pungidor, pungimento, pungir, pungitivo, pungível; reponta, repontado, repontador,repontamento, repontão, repontar, reponte, reponteado, repontice, repontista, repontona,repontuado, repontuar; repungente, repungir
Pisadura: rad. do part. pisado + -ura; ver pis-lesão produzida por golpe ou impacto, sem dilaceração ou rotura da pele; contusãoRegionalismo: Nordeste do Brasil.qualquer ferida em lombo de animais
Rabutáio: não encontrado no Houaiss. Sobra de qualquer coisa.
Ralhar: lat.vulg. *ragulare 'vociferar', der. do lat.tar. ragere
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repreender severamente, com tom de voz elevado; admoestar
Refulefêgo: confuso, lugar com vários caminhos. Não encontrado no Houaiss.
Remeda: lat.vulg. *reimitare (< lat. re- + lat. imitáre, por imitári 'imitar'); cp. arremedar; verimag-; f.hist. sXV rremedarimitar (ave, como o papagaio) a voz humana ou outro som
Rabinha: pequena panela. Não encontrado no Houaiss.
Ribuçar: que se rebuçou; embuçado, oculto, disfarçadopart. de rebuçar; ver boc(a)-; f.hist.sXV reboçado
Ramona: tipo de grampo usado no cabelo.regionalismo goiano
Réis: pl. de 3real; ver reg(i)-; f.hist. a1580 reis
Rêfugo:latim lat. refùgus,a,um 'fugitivo'; ver fug-; f.hist. 1720 refûgo, 1789 refugo
Riguilido: orig.obsc orig.obsc.; há quem o veja como alt. de *reguinga, regr. de requingar
Ripuná: não encontrado no dicionário eletrônico Houaiss.arripunar: Regionalismo: Paraíba. Uso: informal.sentir enjôo com a ingestão de iguarias muito doces
Riquifoque: origem obsc
Ridico: regionalismo goiano, Latim rídico + -arorig.duv., talvez de ridículo; ver rid-Rid- antepositivo, do v.lat. ridèo,es,risi,risum,ridére 'rir, rir-se de; sorrir, gracejar; zombar';us. em todas as épocas, panromânico: romn. rîde, it. ridere, logd. riere, engad. arrir, friul.ridi, fr.provç. rire, cat. riurer, esp. reir, port. rir; a cognação lat. registra risus,us 'riso, risada;zombaria' (romn. rîs, it. riso, logd. rizu, fr.provç.cat. ris, esp.port. riso), ridicularìus,a,um'gracioso, divertido', ridicularìa,ìum 'gracejos, jocosidades', ridicùlum,i 'coisa risível, que fazrir', ridicùlus,a,um 'risível, jocoso; absurdo, extravagante', ridicùlus,i 'bobo', além de f.prefixadas com de- e sub-: deridèo,es 'rir-se de, escarnecer, zombar de' e subridèo,es 'sorrir'(it. sorridere, engad. sorrir, fr.ant. souzrire, fr. sourire, esp. sorrir, port. sorrir); já no vern.como reir no sXIV, riir no sXV, quando se faz rir; da cognação emergem cultismos com rid-e ris- (do supn.): derisão/derrisão, deriso/derriso, derisor/derrisor,derisoriedade/derrisoriedade, derisório/derrisório; irrisão, irrisível, irrisor, irrisório;ridência, ridente, ridicularia, ridicularização, ridicularizado, ridicularizador, ridicularizante,ridicularizar, ridicularizável, ridiculez, ridiculeza, ridiculismo, ridiculização, ridiculizado,ridiculizante, ridiculizar, ridiculizável, ridículo, ridiculoso; risibilidade, risilóquio, risinho,risível, riso, riso-de-maria, riso-do-prado, risonho, risor, risório, risota; rir, risada,risadagem, risadaria, risadinha, risão, risoteiro; sorridelhar, sorridência, sorridenho,sorridente, sorrido, sorrifulgente, sorrir, sorriso, sorrisonho, sorrisoteiro
Suvino:origem incerta, latim orig.obsc., embora associado por Nascentes ao esp. sobina 'tornode madeira', que acrescenta, "figuradamente, por metáfora difícil de induzir, passa a significar
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'avaro, mesquinho, somítico, miserável' "; segundo Corominas, o esp. sobina 'clava demadeira', de orig. incerta, talvez seja der. da f.fem. do lat. suìnus,a,um 'relativo a porco', p.ana.do torno de madeira com o membro desse animal; a acp. 'pessoa avara, mesquinha' é citadapor Corominas como uso figurado
Sarráfu: orig. contr., para Nascentes, simplificação de sarrafaçar; para JM, orig.obsc.; adatação é para a acp. 'm.q. sarjar'
Sariadô: não encontrado. Saria: regionalismo português.
Sova: latim orig.contrv.; segundo Corominas, o voc. comum ao port. e ao esp. (sobar, 1050) éde orig. incerta, talvez contração do lat.vulg. subagère, que suplantou o lat.cl.subìgo,is,égi,actum,igère 'meter debaixo; subjugar; domar; amansar, amassar, apertar, moer,triturar'; Nascentes considera a orig. obsc.; JM cita, ainda, a hipótese de ser der. do lat.supo,as,ávi,átum,áre 'lançar, atirar', e Nei Lopes, de ser do umbd. sova 'espancar'
Taiá: latim lat.tar. talìo,as,ávi,átum,áre 'talhar, cortar', por um *lat.vulg. taleáre; ver 1talh-;f.hist. sXIII talla, sXIV talhã, sXIV talhi
Terrêru: latim lat. terrarìus,a,um 'relativo a terra, solo', depois substv. no neutro sing.terrarìum,ìi 'área de terra batida ou calçada, elevação de terra'; ver terr-; f.hist. sXV terreyro
Taipêru: taipa + -eiro
taipa: prov. do ár.-hsp. tábyya; cp. esp. tapia (sXIII) 'id.'; f.hist. sXIII tapia, sXIV tapea, sXVtaipas, sXV taypa
Ticar: Regionalismo: Brasil.ato ou efeito de ticarsinal manuscrito, em forma de V, ger. feito à margem esquerda de cada um dos itens(palavras, parcelas de soma, listas etc.) que vão sendo conferidos; tico3tique + -aring. tick (1844) 'id.'
Trupicar: latim ver em trôpegoTrôpego: port.ant. tropigo, do lat. hydropìcus,i 'doente de hidropisia', pelo andar vacilante;segundo Nasc., a alt. de -dr- para tr- deve-se ao fato de não haver dr- inicial em pal.propriamente lat.
Tange: latim lat. tango,is,tetìgi,tactum,tangère 'tocar (sentido físico e moral, transitivo eabsoluto)'; ver tact-; não consta do desenvolvimento do verbete a acp. 'ferir; agitar' (sXIV),referida no IVPM, por arcaica na língua; o emprego substantivo de tanger é tb. do sXIV;f.hist. sXIII tanger, sXIV tãger, sXIV atangas, sXIV tãgã, sXIV tamgeu, sXVI tangue'atingir, roçar', sXV tãgedo, 1420 tanjuda 'fazer soar' sXIV tanger 'dizer respeito a'
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Trabisseiro: travesso + -eiro; o nome advém do fato de ser uma espécie de almofada que sepõe na cama atravessada em relação ao comprimento da mesma; ver ver(t/s)-; f.hist. sXIVtraueyseyro, sXV trauesseyros, 1623 travisseiroTravesso: lat. transversus,a,um 'que atravessa, posto de través; oblíquo, atravessado'; apronúncia da vogal tônica etimologicamente esperada para este voc. seria /ê/, como avesso /ê/,do lat. adversus, (cf. Ed. Williams Do Latim ao Português 126.9), como, aliás, preconizavaCA em 1881, diferentemente de MS 1813 e SC (1836) que explicitamente marcavam adiferença entre as f. travesso /é/ 'atravessado, transversal' e travesso /ê/ 'traquinas, buliçosoetc.', MS na edição de 1879 lembra, inclusive, que o fem. de travesso /é/ é travessa /é/, aopasso que o fem. de travesso /ê/ é travessa /ê/; tudo indica que a pronúncia travesso /é/ sejaproduto do fato de que na acp. 'atravessado, transversal etc.' este adjetivo tenha sido mais us.na forma feminina em expressões como rua travessa, porta travessa, peça travessa,expressões em que, por sinal, se tornou comum a silepse do subst. determinado, donde asdiversas acp. do subst. fem. travessa; outro fator que certamente tb. influiu ou reforçou otimbre aberto da vogal tônica deste voc. foi o fato de que aí pelo início do sXVIII o adj.travesso metaforicamente adquiriu mais uma acp. 'traquinas, levado, buliçoso', e nessa acp. otimbre da vogal tônica do voc. é sempre /ê/; registre-se enfim que a acp. do subst. fem.travessa 'rua secundária transversal' já ocorria em lat. na expressão via transversa; verver(t/s)-; f.hist. sXIV atraveso, sXIV de trauesso, sXV travesso, sXV trauesos
Tuia: lat.cien. gên. Thuja (1737), do lat. thýa,ae 'tipo de cedro' < gr. thuía,as 'cedro'; há tb. af. tuja; f.hist. 1877 thúia
Urdir: latim lat. ordìor,íris,órsus sum,ordíri 'urdir, fazer uma trama; começar, começar afalar', pelo vulg.; ver urd(i)-; f.hist. sXIII ordian, sXIII urdida
Venda: latim vulgar regr. de vender; o lat. vulg. *vendita serve para o it. vendita, fr. vente,esp. venta; ver 1vend-
Léxico de origem indígena
Apura: sXIV cf.IVPM, ver se em apuros, apurar, aligerar(passo), andar depressa, apressar(-se). A-+puro+-ar, ver pur(i). Segundo Nascente, de orig. indígena. Rubrica: etnologia- grupoindígena, hoje considerado extinto, que habitava o Espírito Santo, Rio de Janeiro e Sudestede Minas Gerais no sXIX; eram tb. Chamados coroados. Obs.:etnm.:br. Puri.
Burundanga: não encontrado no Houaiss. Meu conceito: qualquer coisa que se come, muitascoisas diferentes juntas. Buraçanga,1913 cf.CF, regionalismo: Brasil, 1 cacete com que sesova o algodão ou a roupa, na lavagem. 2 Rubrica: pesca. M.q. Araçanga. Etimologia: Tupi,imbiraisanga ‘pau grosso e larga’ ‘sang’ ‘estendido, alargado’.
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Bocó: 1899cf.CF supl. Regionalismo: Brasil. Bolsa ou assemelhado ( alforje, embornal, etc.)feitos de couro rústico, ger. Ainda com o pêlo do animal, us. Para carregar objetos vários,como canivete, fumo, farnel. Etc. Segundo Macedo Soares, voc. de língua indígena *mbocog ‘segurar, guardar’ .
Binga: 1899 cf. CF – isqueiro feito com a ponta de um chifre e uma lasca de pedra, que seatrita com uma lamina de ferro ou de aço ( ger.um pedaço de lima), provocando uma faíscaque inflama a bucha de algodão; artifício, fuzil, papa-fogo. Quimb. mbinga ‘chifre’.
Coité: Rubrica: angiospermas, artesanato.m.q. cuia ('fruto', 'recipiente')tupi cúi-etê 'vasilha verdadeira', segundo Teodoro Sampaio; f.hist. 1875 coitè
Empuca: mato fechado, moita não encontrado
Guácha ou guasca: 1881 cf.CF - Regionalismo: Rio Grande do Sul. Tira ou correia de courocru. Quích. Uaskha ‘ corda, laço’.
Gequitáia: de origem tupi. Segundo Amadeu Amaral, s.f. molho de pimenta.Imbira: 1618 CF.AFBrand. Rubrica: angiospermas. F.hist.1618 jmvira,sXVIII imbîra, sXIXimbira.
Itiquira: habitante,top itiquira.
Jacuba: Regionalismo: Brasil. 1889 cf.DVB- orig.duv; Pereira da costa(DVB) cita Rohan,que levanta a hipótese de o voc. provir do tupi jecuacuba e do guarn.jecoacu, significando‘jejum’,pois, “ em falta de pão detrigo, é provável que os jesuítas sujeitassem seus penitentes,em dias, de jejum, ao uso da farinha de mandioca molhada em água fria”, há autores quevêem em jacuba uma alt.do tupi Y-acub; segundo o autor do DVB, para Veríssimo a palavraé de origem africana; f.hist.1889 jacúba.
Jataí: 1789 cf.DHPT 2-m.q. abelha-mosquito(Plebéia droryana) tupi yatei ‘espécie deabelha’, Teodoro Sampaio registra o tupi ya-ti o indivíduo branco,a branca, casta deabelhas. F.hist. 1789 gitaí,1817 getahy,1863 jatahi.
Jirau: Regionalismo: Brasil.armação de madeira semelhante a estrado ou palanque, que pode ser us. como cama, depósitode utensílios domésticos, secador de frutas ou, quando posta em cima de um fogão, comofumeiro de carne, toucinho, peixe etc.
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armação de madeira sobre a qual se constrói uma casa de modo a evitar a água e a umidade(1831) Rubrica: agricultura.palanque de madeira armado junto a árvores de tamanho avantajado do qual se serve olenhador para serrá-las em segmentos
Mucutaia: segundo Nasc., tupi muku'taya. Usado na zona rural de formosa como :muitacoisa.muito objetos,muita bagunça.
Pucumam ou picumam: indígena tupi apeku'mã 'fuligem, negro de fumo; teia de aranhaenegrecida pela fuligem'; f.hist. 1872 picuman, 1918 picumam, 1946 picumã
Pichuá: indígena segundo Nascentes, do tupi pixu'a
Quiçaça: orig.obsc.
Mundé: indígena tupi mu'nde 'armadilha de caça'
Muchiron ou mutirão: indígena voc. tupi não definido; Nascentes propõe um tupi moti'rõ,étimo, entretanto, que permanece como um desafio aos pesquisadores etnodialetais, já que apalavra apresenta enorme gama de f.var. e só se documenta graficamente pelos inícios dosXX ou, no máximo, fins do sXIX, embora, na hipótese do tupi, deva ter vida oral desdesempre no Brasil; ainda não se caracterizaram as áreas dialectológicas relativas às var., cujofonema inicial é em todas uma bilabial, já a sonora nasal m-, já a surda oral p-, já a sonora oral-b, inclusive, nas notações menos infiéis, o fonema nasal-oral mb-, com ocorrências da partefinal ensurdecida mp-; esse componente fonético comum presume serem as f. em mb- e mp-mais arcaizantes, o que, porém, não dirime quanto à origem, se indígena, se africana, poisaparece tanto em pal. brasílicas quanto em africanas, sobretudo do grupo banto; de outro lado,as term. em -um e -om, que perduram em f. locais, revelam, nesse caso, substrato lingüísticoainda atuante, enquanto a term. em -ão indica f. aculturadas ao padrão normal do port. comumdo Brasil; com respeito a mutirão, a base indígena, prov. tupi, deve ser prioritariamente retida,mas a realidade referencial instituída pode advir, nas f. vigentes no Brasil, de convergênciacultural; f.hist. 1872 moquirão, 1899 mutirão
Puba: indígena segundo A.G. Cunha (DHPT), puba ou pubo, do tupi 'puwa 'mole, cansado,podre, imprestável'; para Nascentes, do tupi pubae 'fermentado'
Pururuca: indígena segundo Nascentes, alt. de 1pororoca; para o autor, “é qualificativo domilho quebradiço“; f.hist. 1877 pururúca, 1877 purerucatupi poro'roka 'estrondo'; ver -poca; f.hist. 1636 paroroca, 1636 porocroca, 1763 pororóca,1817 póróróca acp. de geo, 1771 pororuca, 1817 perurúca acp. de cul
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Piraim:tupi *pira'i; embora AGC registre este étimo no Dicionário Etimológico NovaFronteira, em DHPT o mesmo autor põe em dúvida a orig. tupi; Teodoro Sampaio consignapirá-y 'o rio do peixe'; f.hist. 1875 pirahy, 1946 piraí
Sura ou surucu: orig.obsc., ocorrem tb. suri e suruSuri:ver sinonímia de derrabado, regionalismo de São Paulo.
Tapéra: tupi ta'pera 'aldeia indígena abandonada, habitação em ruínas' (< 'tawa 'taba' + 'pwera'que foi'); f.hist. c1698 tapéra
Léxico de origem africana
Assunga: a- + sungar. quimb. sunga 'puxar'; Nascentes identifica o étimo como quimb.kusunga
Bandulaque: não encontrado no HouaissBandulete: Regionalismo: Guiné-Bissau. afr.espécie de pente ou prendedor de cabelos
Bazé:africano orig.contrv.; afr., prov. f. desnasalizada de banzé, com o signf. 'má qualidade'estabelecendo a conexão semântica; note-se que há registro de bazé como var. de rapé
Cacunda: africano segundo Nei Lopes, do quimb. kakunda 'corcova, giba'; cp. carcunda
Cafuné: orig.contrv.; segundo Nei Lopes, do quimb. kifune, sing. de ifune 'estalidosproduzidos com os dedos na cabeça'; para Nasc., do quimb. kifunate 'entorce, torcedura,torção'; segundo AGC, do quimb. kafu'ndu 'cravar, enterrar'
Catirar: orig.controv. Africano orig.duv.; talvez red. de cateretê, pronunciado catiretê
Cateretê: orig.contrv.; segundo AGC, de prov. orig. africana, mas de étimo indeterminado;segundo JM, orig. onom.
Catira: dança rural típica de regiões goianas.
Entangado: africana 1en- + tanga + -arTanga: quimb. tanga ou ntanga 'pano, capa'
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Inganbelar: enganar ou seduzir por meio de adulaçãoorig.duv.; João Ribeiro e Renato de Mendonça supõem orig. afr., no quimb. ngmbular 'fazeradivinhações', hipótese perfilhada por Nasc.; Silveira Bueno (apud JM) vincula o voc. agamba 'perna', aduzindo: "A própria perífrase correntíssima em português passar a perna estádemonstrando que esta é a formação da palavra..."; CF filia o voc. a gamela (na acp. de'mentira'); há ainda uma hipótese (consentânea com o tardio da datação): as noções 'seragradável ou dar alguma coisa em troca, para seduzir' levam a associar o voc. ao v. cambiarem cruzamento com enganar, a que se atribui a passagem de c- a g-; em qualquer dashipóteses precedentes, é palpável a influência semântica de enganar
Ganzé: africano orig.obsc.
Gunguna: quimb. ngunguma 'produzir som cavo e profundo; roncar'
Mamparra: orig.contrv. relaciona ao ronga(moçambique) africanismo orig.contrv.; AFrelaciona ao ronga (Moçambique); f.hist. 1899 mamparra, 1899 mampárria
Moxé: sapo. não encontrado no dicionário Houaiss
Munha: afro Moçambique orig.obsc.Mucuta: quicg. mukuta 'cesta que se carrega nas costas' usado na zona rural de Formosa,ex.Pega suas mucuta! Equivale a pega suas coisas,suas bagunças.mucutaia: segundo Nasc., tupimuku'taya.