Upload
uff
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
1
Instrumentos participativos de gestão da informação para construção de políticas públicas de
integração: o caso do programa UPP Social (2010-2012) no Rio de Janeiro.
Ludmila Rodrigues Antunes
Gabriela Alvarenga Prestes
Introdução
A partir do século XIX, a expansão das favelas na cidade do Rio de Janeiro tornou-se cada
vez mais evidente como consequência dos movimentos de ocupação informal de determinados
territórios. O processo de negação realizado pelos governos cariocas permanece ao longo dos anos e
em vários momentos recrudesceu. Desde então entendida como questão social passa a ser
administrada e regulamentada, percebendo-se o direcionamento de políticas públicas para essas
áreas e populações reconhecidas como um dos alvos de uma determinada agenda política. Ao longo
dos anos o amadurecimento do papel do Estado no Brasil e dos governos locais do Estado e da
cidade do Rio de Janeiro realizaram ações com diferentes perspectivas.
Num primeiro momento com foco restrito a projetos de (re) urbanização, ações relacionadas
à precariedade cívica daquela população de baixa renda e marginalizada, foram objeto restrito de
políticas sem alcance em diferentes governos. A manutenção do narcotráfico e o aumento da
violência como linguagem da disputa entre facções e polícia, estigmatizaram e categorizaram a
cidade e a população carioca entre “favelados” e “não favelados”.
A partir dos anos oitenta do século XX e durante toda década do início do século XXI, com
a mudança institucional e constitucional e o incentivo a debates que reavaliaram o papel do Estado
e, principalmente, de suas atividades relacionadas às formas de prover o controle social e a
participação popular nos processos da gestão da nação nas três instâncias de governo, o tema da
segurança pública também se reconfigura.
Ademais, a crise do Estado de Bem Estar Social e as novas configurações do capitalismo
mostram que “os acirrados questionamentos entre fronteiras entre Estado e sociedade, entre Estado
e mercado, não possuem nenhuma delimitação natural para as instituições” não havendo espaços
fixos e predeterminados para a deliberação da cidadania (Nobre, 2013:143).
Desta feita, sob o contexto de realização da Copa do Mundo 2014 e as Olimpíadas 2016, a
cidade do Rio de Janeiro passa a viver um período político e econômico vinculado à elaboração de
políticas públicas e políticas públicas de integração com o objetivo de preparar a cidade e sua
população para receber tais eventos esportivos internacionais.
Por isso, visando alterar a imagem internacionalmente divulgada das péssimas condições de
vida, de urbanização, desigualdade social e presença de organizações armadas no tráfico de drogas
ilícitas de algumas favelas cariocas, estas se tornam nesse momento alvos de duas políticas públicas
conjugadas entre o Governo do Estado e do Município:
a) As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), definidas formalmente como Política de
Segurança Pública estadual que propõe uma nova formação curricular de policiais militares.
Tem como objetivo agregar valores civis e comunitários à sua conduta.
b) A remoção de habitações não regularizadas vinculadas à construção de conjuntos
habitacionais.
Ora, a remoção como tal, não é recomendação nova, porém sempre polêmica cuja execução
apresenta condições contraditórias e fortemente questionadas.
A conjugação das políticas, repletas de ambiguidades e contradições indicou um enorme
esforço e interesse conjugado (e diversificado) de grupos econômicos e políticos e movimentos
sociais, os quais pretenderam promover conjuntamente proposta de alteração do status quo dessas
comunidades. De fato e de verdade, os processos de execução das políticas públicas acima se
2
expressaram em delicadas abordagens no contato entre o poder público e a sociedade civil
historicamente marginalizada das favelas, revelando engenhosa organização institucional.
Nesse aspecto, para algumas abordagens teóricas sobre políticas de segurança pública as
UPPs podem ser entendidas como um projeto em que se procurou dar centralidade à polícia
comunitária ao tratamento da segurança como segurança pública, e que reivindicou um enfoque
interdisciplinar e de cooperação entre os diversos níveis federativos ao criar a UPP Social (Alberto,
Caruso e Patrício, 2007, apud Oliveira e Abramovay, 2012: 127) 1.
A implementação do programa UPP Social está pautado no entendimento de que o Governo
do Estado e a Prefeitura do Rio de Janeiro compreendem que a vulnerabilidade das populações das
favelas não depende apenas da segurança pública, sendo o programa um instrumento de gestão para
promoção de cidadania e desenvolvimento social através da integração de políticas públicas.
O programa surge inicialmente dentro da Secretaria Estadual de Assistência Social e
Direitos Humanos (SEASDH) no ano de 2010. Nas eleições estaduais de 2010/2011, foi transferido
para o âmbito do município e realocado no Instituto Pereira Passos (IPP - autarquia da Prefeitura do
Rio de Janeiro) em parceria com a Organização das Nações Unidas Habitat (ONU Habitat),
especificamente vinculado à agenda de direito à moradia e direitos humanos da organização
internacional2.
Boschi (1999) discute sobre os fatores que explicariam o grau de sucesso na instauração de
formatos institucionais capazes de assegurar não só o acesso da população à produção de políticas,
como também respostas concretas, por parte do governo em termos de atuação eficaz e responsável.
A análise do presente trabalho apoia-se no pressuposto clássico desse autor, de que não existe ainda
explicação adequada para novos formatos de produção de determinadas políticas, uma vez
implantados, consolidam-se no tempo como experiências consagradas. Partilha-se a premissa da
ausência de uma teoria consistente da mudança institucional e do processo de institucionalização
que, ex ante, defina com precisão os resultados pretendidos por determinados desenhos (North,
1990 e 1995; apud Boschi, 1999).
O texto no primeiro momento resgata o histórico recente da atuação governamental do
governo do Estado do Rio de Janeiro, destacando o estabelecimento da agenda política da política
de segurança pública de Unidades de Polícia Pacificadora e programa UPP Social. Em seguida
procura descrever o programa UPP Social a fim de abordar seus aspectos organizacionais e sua
metodologia de implementação, embasado na teoria de policy cycle. Por conseguinte, há a tentativa
de dialogar com o modelo gerencialista do programa explorado como estudo de caso e com a
estrutura organizacional historicamente burocrática da administração pública, no primeiro plano
institucional, da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Conclui-se que a característica básica do programa UPP Social enquanto um programa de
apoio administrativo de alto potencial para a gestão e eficiência dos mecanismos de inclusão social
1 Em um contexto de alta polarização política e disputa entre a lógica da guerra e a ausência de polícia nas favelas,
aponta-se um elemento de transição ainda que frustrado, que é a trajetória de políticas de segurança pública para
políticas públicas de segurança. Para parte da literatura, as UPPs têm sido fortemente combatidas pela população como
uma política pública de segurança pelas suas práticas graves de coerção em determinadas áreas urbanas vulneráveis.
Anteriormente ao recrudescimento desse quadro, preocupações com a ausência de capacitação e qualificação dos
quadros da UPP e sua ampliação estimularam a preocupação do poder público (estado/RJ e município) em implementar
políticas públicas que contemplassem práticas de cidadania e inclusão social. Não foi somente como medida de
compreensão a determinadas críticas a práticas nocivas que o programa UPP Social surgiu, mas como projeto de
política pública de integração.
2 Este paper é realizado a partir da monografia defendida em 2013 na Especialização em Políticas Públicas na
Universidade Federal do RJ no Instituto de Economia orientada pela Prof.ª Ludmila R. Antunes A pesquisadora
Gabriela A. Prestes trabalhou no programa UPP Social durante um ano e quatro meses (Novembro 2011 a Fevereiro
2013) nas equipes de Gestão Territorial, a pesquisa em mãos utiliza-se dessa iniciativa governamental como estudo de
caso.
3
através de políticas públicas de integração. Outrossim, identificam-se alguns desafios sob a
observação do histórico característico da administração pública no Rio de Janeiro e no Brasil.
1. Políticas públicas para favelas no contexto de realização dos eventos internacionais e a
formulação do programa UPP Social
“(...) para que a sociedade possa sobreviver e progredir, o conflito deve ser
mantido dentro de limites administráveis. Para isso existem dois meios: a
coerção pura e simples e a política. O problema da coerção é que, quanto
mais é utilizada, mais reduzido se torna o seu impacto e mais elevado se
torna o seu custo”. (Rua, 1998:1).
O programa UPP Social resultou da criação da política (pública) de segurança pública das
Unidades de Polícia Pacificadora do governo do Estado do Rio de Janeiro, previsto e estabelecido
em algumas favelas cariocas3.
Como consabido, políticas públicas são entendidas como um conjunto de disposições,
medidas e procedimentos que traduzem a orientação política do Estado e regulam as atividades
governamentais relacionadas às tarefas de interesse público, atuando e influindo sobre a realidade
econômica, social e ambiental. Variam de acordo com o grau de diversificação da economia, com a
natureza do regime social, com a visão que os governantes têm do papel do Estado no conjunto da
sociedade, e como nível de atuação dos diferentes grupos sociais. As políticas públicas são formuladas a partir da configuração da agenda política de cada
governo. Como em todo processo político, são determinadas pela relação necessária entre atores e
instituições; as instituições são aquelas responsáveis por definir quais são os problemas sociais e
quais são as ações políticas implementadas naquele governo. É a configuração das relações de
poder os atores e instituições que garante o sucesso administrativo e a manutenção das ações
planejadas (políticas públicas) nos processos de decisão (Escobedo, 2013:3).
Qualquer problema social para converter-se em problema de caráter público e prioridade por
parte das autoridades do governo precisa ter reconhecido a sua importância e necessidade de ser
atendido, o problema social tem que estar incorporado à agenda do governo.
O conceito de agenda compreende um conjunto de assuntos que se relacionam com a
escolha e hierarquização das questões que cada instituição tem por responsabilidade ou interesse.
Segundo Rua (1998), os critérios para construção da agenda política são determinantes para a
compreensão do processo de reconhecimento de um “estado de coisas” para o status de “problema
político”.
Para que um problema se incorpore à agenda política e se converta em atividade do governo
requer que o problema seja reconhecido como tal. A formação da agenda é um processo que trata de
múltiplas construções sociais refletidas em concepções específicas por atores políticos rotativos. É
um verdadeiro jogo de tomada de decisões (Elder y Cobb, 2000:77 apud Escobedo, 2013:5).
Segundo Lindblom (1991:12 apud Escobedo, 2013:4), “as agendas são determinadas em
grande medida pela interação das pessoas que lutam entre si pela forma de cooperar, muitos dos
problemas de formulação de políticas derivam desta cooperação”.
De tal forma que a existência do governo em questão, em suas diversas instâncias possibilita
a cooperação por meio de iniciativas: como se podem aproveitar estas oportunidades, quem deverá
explorá-las e em benefício de quem? Estes são assuntos que competem à própria agenda política.
Dessa forma, no estudo procurou-se relacionar, as configurações atuais do quadro político e
econômico brasileiro e carioca acerca de eventos internacionais e a demanda por recursos
3 Mesmo que seja possível problematizar sobre as escolhas das favelas a serem pacificadas, esse não é o objetivo do
trabalho e nem mérito do capítulo presente. O objetivo desse capítulo é caracterizar o programa UPP Social. O termo
“pacificada” relacionado ao conceito de favela durante esse trabalho é atribuído às favelas recebedoras dessa política
estadual de segurança pública de instalação de Unidades de Polícia Pacificadora.
4
financeiros, públicos e privados - objetivamente vinculados à oportunidade de desenvolvimento
econômico, assim como a formação de grupos políticos e de uma rede de apoio, com a deliberação
de determinadas ações governamentais planejadas como a política das UPPs e a UPP Social- com
os objetos de intervenção nas determinadas favelas da cidade do Rio de Janeiro.Afinal quais são ?
Para que a favela seja uma das questões sociais priorizadas na agenda política, não basta
apenas a percepção de que não há condições ideais para promoção da qualidade de vida nesse
ambiente urbano, é necessário observar os fatores conjunturais que contribuíram e que contribuem
(até) hoje para a sua manutenção na agenda governamental carioca, com maior ou menor
intensidade e abordagens diferenciadas.
Ademais, como agravante da possibilidade da política a ser executada, existe um grave
histórico de denúncias de abuso de poder pelos policiais e de priorização da presença coerciva do
Estado em áreas específicas da cidade.
Anteriormente administradas por facções armadas do tráfico organizado, a desconfiança
quanto à questão da garantia dos diretos humanos e dos direitos sociais em acirrados debates sobre a
militarização do poder e suas consequências não se resolve com a presença da UPP. A perspectiva
de dinamizar o acesso da população de baixa renda à cidadania está explícita nas diretivas da UPP
Social como uma possibilidade de resolução à crítica da política coercitiva e opressiva não
solucionada das UPPs.
Reconhecidamente violenta, segundo Oliveira e Abromovay (2012), a polícia fluminense é
uma polícia que possui um brutal histórico de violência e que paradoxalmente possui também
experiências de policiamento comunitário.A UPP tem sido discutida exaustivamente no meio
acadêmico, em debates dos movimentos sociais e na mídia como uma resultante da trajetória de
transição das políticas de segurança para as políticas públicas de segurança pública. Ou como
menos. Ou como a impossibilidade de uma política pública de segurança pública. (Machado Silva,
2011, 1967).
Durante o ano de 2010, o programa UPP Social fez parte das atividades desenvolvidas pela
Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos (SEASDH) e compartilhou da
natureza pública como ação constitutiva de uma Secretaria Executiva Estadual.
Em 2011, o programa foi estabelecido na Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro, na
autarquia Instituto Pereira Passos (IPP) no Departamento de Projetos Especiais, sendo obrigado a se
reconfigurar organizacionalmente em a parceria com ONU Habitat. Administrativamente para a
realização do programa e sua alocação no IPP, o convênio com a Organização das Nações Unidas
Habitat (ONU Habitat) e o Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos,
legitima-o por meio do selo de representatividade política dessa agência da ONU. Aspecto
atualmente determinante para sua execução política.
Com a intenção de compartilhar o desafio de humanizar a iniciativa de caráter coercitivo em
determinados territórios urbanos4, o programa foi elaborado sob a proposta de servir como
instrumento de gestão e mediador de políticas públicas em favelas recebedoras desta política
estadual de segurança pública. A escolha em abrigá-lo no Instituto Pereira Passos (IPP) conjugava-
se à época com a responsabilidade do órgão municipal prover subsídios para o aprimoramento das
políticas públicas na cidade. O programa compartilha com esse objetivo geral, porém com foco
específico na favela pacificada. Esta é uma questão fulcral para o entendimento do programa.
2. O modelo de gestão integrada do programa UPP Social
Algumas considerações preliminares são feitas antes da descrição do modelo de gestão
integrada adotado pelo programa UPP Social.
4 A relação entre o conceito de favela e território defendido pelo programa se dá a partir do reconhecimento de que
ambos são espaços geográficos socialmente ocupados, donde se considera a relação de poderes entre os personagens e
elementos (políticos, sociais, econômicos e culturais) de sua paisagem, compartilhada no tempo.
5
A seguir, são destacados aspectos considerados relevantes no contexto do programa para que
se compreenda o tipo de relação que pode ser estabelecida entre o programa, seus atores e a política
de segurança pública estatal das Unidades de Polícia Pacificadora nas favelas selecionadas.
A) Para aqueles que estiveram à frente diretamente no começo da implementação do Programa
UPP Social, algumas peculiaridades mostraram as primeiras distintivas e dificuldades
iniciais. O nome do programa UPP Social, ao fazer menção à política de Unidades de
Polícia Pacificadora devido ao uso da abreviação UPP, vinculava-se e poderia ser
interpretado como Unidade de Polícia Pacificadora Social. O uso da abreviação, mesmo que
associada ao termo ‘social’, foi frequentemente questionado entre os agentes /consultores
contratados, principalmente pelos que atuavam diariamente nas favelas. No entanto,
segundo a coordenação do programa, a manutenção dessa marca no título é relativa ao
compartilhamento da área urbana em que ambas as iniciativas governamentais atuam.
A UPP Social mesmo que não sendo polícia ou compartilhando informações com a
polícia, está de fato vinculada à criação da Unidade de Polícia Pacificadora por origem (o
programa foi criado inicialmente no âmbito do Estado). Seu foco em favelas que recebem a
política pública de segurança pública fortalece essa referência. O Programa quando
posteriormente transferido para o âmbito municipal destaca ser o viés social desse conjunto
de políticas direcionadas à população de baixa renda, embora seu objeto sejam os territórios
pacificados, aqueles que já foram alvo de uma política pública de segurança pública.
B) O perímetro de atuação da UPP Social é limitado à região urbana considerada
informal, sem regularização fundiária, o que de forma geral, caracteriza uma favela. A
intersecção dos perímetros de atuação da política de segurança pública e do programa de
gestão de política pública está em evidência no Mapa 1 (Ver). O perímetro da Unidade
de Polícia Pacificadora São João, ou UPP São João, está demarcado em cinza escuro e o do
programa UPP Social em três áreas consideradas favelas, sendo elas São João, Matriz e
Queto, demarcados em cinza claro.
A divisão e destino de atuação das equipes locais, ou seja, das equipes de Gestão
Territorial, estão relacionadas com o perímetro de cobertura da Unidade da Polícia
Pacificadora a ser instalada e número populacional que aquela favela ou conjunto de favelas
abriga. Cada equipe local de Gestão Territorial é responsável por atuar em mais de uma
unidade de favelas diferenciando-se, nesse sentido, da metodologia de organização das
Unidades de Polícia Pacificadora.
2.1 O setor de gestão institucional: a intermediação entre as informações produzidas pela
gestão territorial e as secretarias municipais
De acordo com os documentos oficiais do programa, a UPP Social tem como objetivo final
integrar a favela à cidade através do “Acesso a bens e serviços públicos com cobertura e qualidade
compatíveis com os oferecidos na cidade como um todo5”. Suas diretrizes são: i) Estado
democrático e cidadania; II) Política de desenvolvimento urbano; iii) e Desenvolvimento social.
O grau de desenvolvimento de determinadas dimensões é apontado a partir do convívio das
equipes de Gestão Territorial6 com os moradores, lideranças e demais atores atuantes em
determinada favela. Essa técnica de convivência intensa, analógica a um trabalho de campo
5Trecho retirado da definição de Missão do Programa a partir dos slides da sua apresentação pública entre os meses de
Novembro 2011 a Fevereiro 2013.
6 As equipes de Gestão Territorial são constituídas, em sua maioria, por jovens recém-graduados, mestrandos e
doutorandos na área de Ciências Sociais ou Ciências Sociais Aplicadas.
6
antropológico como a observação participativa; foi nomeada pela coordenação do programa de
Escuta Forte. As observações registradas pela equipe local de Gestão Territorial são a base para a
proposta de gestão de políticas públicas, que são validadas, concomitantemente, pelo contato direto
da equipe com os atores locais da favela. (Ver Figura 1).
Para tanto, o setor de Gestão Institucional, responsável por fazer contato com a secretaria
responsável em atender, ou não, determinada demanda identificada pelo setor de Gestão Territorial
do programa, organizava-se da seguinte forma: (Ver Quadro 1).
O modelo de atuação do programa UPP Social, desde sua introdução e apresentação na
favela selecionada, assim como a descrição das atividades para manutenção e construção das
articulações locais é dividido em duas fases chamadas de “período de pré-implantação” e “período
pós-Fórum UPP Social”, respectivamente. Em ambas as fases estão presentes as equipes de gestão:
Gestão Territorial, Gestão Institucional e Gestão da Informação7.
2.2 Primeiro momento: os 45 dias do período de pré-implantação
Antes de permitir a atuação direta das equipes locais da Gestão Territorial nas favelas, a fim
de prepará-las e capacitá-las para um plano de ação, as coordenações do setor de Gestão
Institucional8 e de Gestão de Informação
9 preparam um documento chamado “Guia do Território”.
Esse documento é um compilado de informações sobre determinadas favelas, fornecidos pelo IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e pelo IPP (Instituto Pereira Passos).
O Guia inclui dados censitários relativos à demografia, acesso e cobertura do sistema de
saneamento, do acesso a equipamentos de educação infantil, taxa de analfabetismo, faixa etária e
gênero; uma lista dos equipamentos públicos localizados à 500m e 2 km, acompanhada por mapas
nos quais os equipamentos se encontram georreferenciados; mapas que destacam o perímetro e
divisão administrativa dos bairros nos quais as favelas estão localizadas; um cronograma relativo às
atividades realizadas e previstas por cada secretaria municipal que contemplam a Área de
Planejamento e a Região Administrativa na qual a favela compartilha espacialmente; e, em alguns
casos quando há literatura produzida, acrescenta-se um resumo sobre o processo histórico de
ocupação urbana daquele local.
Na fase de pré-implantação, por meio de uma rotina diária de visita à favela, a equipe de
Gestão Territorial tem a responsabilidade de através dos interlocutores -geralmente moradores da
favela há mais tempo- reportarem as principais demandas e necessidades de infraestrutura urbana, a
insuficiência ou ausência de equipamento público.
A qualificação da demanda pela equipe ocorre através da fala dos moradores, do que é a
questão mais percebida e comentada pelos residentes locais; através da metodologia chamada
“Escuta Forte” na maioria das vezes, identifica-se a reafirmação da informação através de
estatísticas do IBGE ou do IPP10
.
Como instrumento de aproximação e para qualificação das informações locais relativas a
uma determinada favela, a equipe de Gestão Territorial é encarregada de estabelecer vínculo através
da convivência diária, compartilhando das atividades e encontros comunitários, apresentando-se
para os presidentes das associações de moradores11
, para os gestores públicos que atendem a
7Serão descritas as atribuições de cada no decorrer do documento.
8O setor de Gestão Institucional tem mão de obra com qualificação multidisciplinar.
9Setor de gestão exclusivamente constituído por jovens formados nas áreas disciplinares de geografia e economia.
10
Um caso que exemplifica essa afirmação é a relação com dados censitários relativos à taxa de analfabetismo e déficit
em educação infantil, com a insuficiência/carência de escolas e creches ou Espaços de Desenvolvimento Infantil (EDIs).
11
Partindo do pressuposto que a Associação de Moradores representa aquele coletivo de pessoas que convivem sob
mesmas condições urbanas, sociais e históricas.
7
população local12
, administradores regionais, comerciantes, grupos culturais e artísticos,
organizações não governamentais que atuam na região ou atendem aquela população, de maneira
que seja suficiente para se tornar um agente mobilizador e propositor para ações articuladas entre os
atores locais. O propósito é garantir que o Programa seja conhecido e compreendido pela maioria
desses agentes, aumentando a garantia de sua legitimidade no território e, posteriormente, seu
desenvolvimento.
O registro das demandas é realizado através da sistematização das informações no chamado
Sistema Integrado de Gestão (SIG). O SIG é um instrumento (um software online) desenvolvido
pelo o programa UPP Social para o monitoramento das informações locais registradas13
. É nesse
instrumento que as equipes de Gestão Territorial têm a responsabilidade de georreferenciar
(localizar em mapa) e descrever a situação e a fonte da informação (Demanda Social Local),
relacionando a secretaria e/ou órgão responsável pela execução da oferta.
O georreferenciamento das demandas registradas depende da produção do Mapa de
Localidades, identificado a partir da concepção de regiões referenciais, como sub-bairros da favela,
reconhecidos popularmente entre moradores locais e percebidos pelas equipes territoriais.
O Mapa de Localidades, sem a intenção de determinar o perímetro dessas regiões
internamente reconhecidas pelos moradores locais, mas com a finalidade de valorizar essa
percepção simbólica de lugares próprios da favela, tem a intenção de aumentar, pela qualidade da
informação produzida, a garantia do atendimento do serviço público em demanda.
O monitoramento das informações registradas no Sistema Integrado de Gestão é de
responsabilidade do setor de Gestão Institucional, o qual também tem a função de fazer a mediação
entre as informações produzidas pelas equipes locais da UPP Social (equipes de Gestão Territorial)
e as secretarias executivas municipais.
Outra atividade das equipes de Gestão Territorial nesse período de pré-implantação é o
reconhecimento dos atores locais que se destacam na favela e identificar organizações da sociedade
civil atuantes na área ou que atendem a população àquela população. O objetivo é mapear grupos e
organizações formais e informais para que o Setor de Parcerias, vinculado ao setor da Gestão
Institucional, tenha informação suficiente no caso de possíveis arranjos de parceria entre os grupos
e/ou organizações culturais e sociais locais, e propostas de grupos e organizações privadas ou até
mesmo públicas, no caso da Secretaria de Cultura.
Após os 45 dias da inauguração de uma Unidade de Polícia Pacificadora na favela ou no
conjunto de favelas selecionado e, na maioria dos casos, do início do trabalho da UPP Social,
realiza-se o Fórum da UPP Social.
Esse é um marco simbólico do programa naquela região em que se está atuando e é destaque
de uma postura mais propositiva do programa na localidade. Para cada Unidade de Polícia
Pacificadora instalada por favela ou por conjunto de favelas, realiza-se um Fórum da UPP Social.
2.3 Segundo Momento: O Fórum da UPP Social e o Mapeamento Rápido Participativo
(M.R.P.)
O Fórum da UPP Social é um marco simbólico. Tem o formato de uma grande reunião
comunitária com a presença de lideranças, presidentes de associações de moradores, moradores
antigos, gestores de equipamentos locais (de saúde, educação assistência social, habitação, etc.).
Agrega a presença de representantes da máquina pública municipal, como secretários e funcionários
12
Diretoras de escolas, de creches e de Espaços de Desenvolvimento Infantil, Gestoras de Centros de Assistência Social,
Gestores de Clínica da Família, Gerentes Locais da Companhia de Limpeza Urbana- COMLURB- que atuam na área,
etc.
13
Entendido aqui como um produto do programa, destaca-se a importância do instrumento como exemplo para outras
propostas de monitoramento e integração de políticas públicas.
8
de gerências locais do serviço público privatizado, como, por exemplo, a Light/Rio Luz e a
Companhia Municipal de Limpeza Urbana (COMLURB) 14
.
Nesse encontro entre sociedade civil e Estado busca-se a oportunidade de dar voz e escuta
aos moradores, lideranças, diretoras de escola, gerentes de Clínica da Família e Centro de
Referência em Assistência Social locais, e colocando-se em discussão questões demandadas pela
população e gestores presentes, e a possibilidade de oferta de resoluções por parte do Executivo
Municipal.
Após o Fórum, a equipe local de Gestão Territorial deve manter uma rotina mensal de
atualização de chamados “produtos”: lista de contatos locais, formulários de organizações e grupos
culturais locais e lista com o perfil das lideranças visando fornecer ao Setor de Parcerias/Gestão
Institucional informações que favoreçam a priorização e valorização dos trabalhos em
desenvolvimento pelos atores locais em relação às propostas elaboradas exclusivamente pelas
instituições privadas ou agentes públicos.
A ideia é fortalecer a comunidade como portadora de direitos ao definir quais são suas
prioridades.
Nesse momento, as equipes locais de Gestão Territorial já devem possuir informações
suficientes sobre os agentes e espaços físicos locais, podendo indicar o melhor espaço para
realização de eventos, o que significa: a identificação de possíveis parceiros locais para consignação
de mesas, cadeiras, carro de som, indicar contatos de grupos artísticos locais, por exemplo.
Após o Fórum UPP Social a articulação entre grupos e instituições culturais locais,
formalizados ou não, e agentes interessados do setor privado e do poder público (como no caso de
iniciativas previstas da parte da Secretaria Municipal da Cultura), adquirem um caráter mais
propositivo.
Na organização desse arranjo entre iniciativas locais e agentes externos, cujo resultado pode
ser a realização de oficinas, implantação de cursos de capacitação e a realização de eventos em
favelas pacificadas, destaca-se a posição de mediador que as equipes de Gestão Territorial e Gestão
Institucional, via Setor de Parcerias, vão assumir nessa integração. A alimentação de demandas ao
Sistema Integrado de Gestão também é uma das atividades que permanecem desde o período de
pré-implantação.
A partir do Fórum UPP Social, o setor de Gestão Institucional, com as informações
organizadas de forma priorizada através do diálogo entre as equipes de Gestão Territorial e
interlocutores locais, já podem incluir o relatório de demandas da(s) favela(s) nas reuniões
trimestrais com os pontos focais15
de cada secretaria e órgãos municipais.
Neste caso, objetiva-se obter e dar informação suficiente para que as secretarias municipais
comprometidas com o programa tomem decisões executivas sobre as ações que serão executadas
para atendimento das comunidades. Ou em alguns casos, optarem pela não decisão, pela manutenção
do “estado de coisas” (Rua. 1998:5). Outras atividades são realizadas o Fórum UPP Social. No âmbito de gestão de políticas
públicas, a aplicação do instrumento de coleta de informação constantemente aprimorado, o
Mapeamento Rápido Participativo (M.R.P.), elaborado pela Gestão de Informação em parceria com
o Ministério das Cidades é um valioso instrumento.
As equipes de Gestão Territorial tem a tarefa de aplicar um diagnóstico, desenvolvido para
análise urbana e social do local e sua população. A pesquisa ocorre através de entrevistas com
moradores e lideranças, com a intenção de detalhar o histórico de ocupação da favela, saber da
14
Empresas responsáveis pelo fornecimento de energia e coleta de lixo, da cidade do Rio de Janeiro, respectivamente. 15
Ponto Focal é o nome que se dá a funcionários das secretarias e órgãos municipais que servem de contato e elemento
de integração do programa UPP Social com a Prefeitura do Rio de Janeiro, na articulação e atualização de ações do
poder público na favela pacificada, para o programa.
9
existência ou ausência de programas promovidos pelo poder municipal, como o Gari Comunitário16
,
ou de resgatar informações sobre políticas de urbanização, como o Bairrinho ou o Favela Bairro17
.
O objetivo é caracterizar problemas relativos de análise urbana e social do local e sua
população como saneamento, mobilidade urbana, grau de risco geotécnico de algumas zonas
urbanas da favela, mensurar o reconhecimento da existência de equipamentos e serviços públicos
pela população, se há serviço de Correio, entre outras informações. As equipes de Gestão Territorial
devem produzir o mapa da favela em que atuam demarcando perímetros, zonas graduais de
vulnerabilidade social e depreciação urbana, indicadas, em ordem crescente, pelas seguintes cores:
vermelho, rosa, bege, amarelo, verde-claro, verde-escuro.
Com esse mapa e formulários preenchidos, a Gestão de Informação tem como tarefa sobrepor
ao mapa do M.R. P, o mapa de demandas já georreferenciadas no Sistema Integrado de Gestão com
a finalidade de aprimorar cada vez mais o instrumento de pesquisa através da confirmação da
relação entre as demandas priorizadas e as zonas de maior grau de vulnerabilidade social e urbana.
Além dos mapas ‘cruzados’, outro software foi criado para que houvesse a leitura estatística
do M.R. P: um formulário online em que as equipes territoriais têm a função de transpor os dados
dos formulários qualitativos preenchidos, para um formulário com respostas objetivas de
propriedade quantitativa.
Através dele é possível gerar dados, os quais após análise das secretarias de governo e outro
órgãos são ferramentas de insumo e justificativa para elaboração de políticas públicas e arranjos de
gestão mais assertivos, os seja as políticas de integração (interna) propriamente ditas.
Este constante acúmulo de informações qualitativas e quantitativas registradas e
monitoradas pelo programa facultaria a UPP Social a possibilidade de subsidiar dados para políticas
públicas e intervenções governamentais diversas.
Como instrumento de informação específico para favelas e outros logradouros, o
Mapeamento Rápido Participativo possui enorme valor quando e se utilizado na articulação e troca
de informações entre outros programas governamentais de caráter urbano como neste caso o
programa UPP Social, o Morar Carioca e o Programa de Aceleração do Crescimento18
. Os
diagnósticos sociais e urbanos obrigatórios para reconhecimento e avaliação de impactos de
determinadas políticas públicas, fazem desse instrumento uma ferramenta bastante importante ao
evitar a sobreposição de propostas e ações não coordenadas de intervenções municipais, estaduais e
federais.
Do ponto de vista da implementação do programa UPP Social, o armazenamento dos dados
e o incentivo em debater sobre o desenvolvimento do programa e principais problemas observados
nas favelas, oferece oportunidades extraordinárias para visualização de problemas-padrão
frequentemente evidenciados pelas equipes locais e ferramentas participativas e instrumentos e
softwares de gestão.
A questão é como coordenar e gerir as informações validadas para poder realizar as políticas
possíveis?
O acúmulo de informação, a mão de obra qualificada do programa e a participação da
comunidade conquistaram dois acordos de gestão em parceria com a Secretaria Municipal de
Conservação, intitulados de Vamos Combinar uma Comunidade Mais Limpa e o Vamos Iluminar.
16
Programa criado no governo municipal César Maia. A intenção é promover a inclusão social da população de favela
através do trabalho de limpeza urbana, em sua própria comunidade. No primeiro mandato do prefeito Eduardo Paes
(2009-2013) o programa foi proibido em 2010. Por pressões populares, essa medida foi revogada e o programa foi
reautorizado.
17
Nome de políticas públicas urbanas em favelas cariocas durantes os governos dos ex- prefeitos Luiz Paulo Conde
(1997-2001) e César Maia (1993-1996; 2002-2005; 2006-2009), respectivamente.
18
Programas de políticas públicas urbanas emergenciais. O primeiro elaborado e implementado em instância municipal
carioca no governo Eduardo Paes em 2010 até hoje e exclusivo para áreas de favela; e o segundo elaborado pelo
governo federal Lula (2007-2010) em processo de finalização até o ano atual, que dá prioridade para medidas de
infraestrutura urbana e infraestrutura social.
10
Respectivamente vinculados aos setores da Companhia de Limpeza Urbana (COMLURB) e a Rio
Luz, os serviços de coleta de lixo, instalação e recuperação de pontos de coleta e a recuperação de
pontos de luz pública procuraram ser aprimorados por meio da troca de informações entre a UPP
Social e setores de execução do poder público municipal.
Em ambos os arranjos de gestão houve inicialmente participação direta dos moradores. No
caso do Vamos Iluminar, a participação do morador estava em formação. Ao mesmo tempo em que
o Vamos Iluminar estava sendo acordado com a Rio Luz, a planilha de controle do serviço era
criada pelo setor de Gestão Institucional e estava em trâmite a criação do cargo-chave do programa,
o agente de campo.
2.4 Promoção da participação direta de moradores locais no programa: a integração por
meio dos agentes de campo
Os Agentes de Campo19
são moradores da favela que, capacitados pela instituição Redes da
Maré em parceria com o Instituto Pereira Passos, assumem a função principal de fazer o
reconhecimento dos logradouros do local onde moram. A tarefa inicial, evidenciada no Quadro
Estratégico do programa, vinculada à diretriz de Desenvolvimento Urbano, relativo aos Eixos de
Serviços urbanos e Ordem pública, também está sob a diretriz de Estado Democrático e Cidadania,
justificada na equalização de serviços públicos ofertados na cidade e na favela.
Após a identificação dos logradouros em mapa pelos Agentes de Campo, as informações são
encaminhadas por meio do setor de Gestão Institucional para Secretaria Municipal de Urbanismo
(SMU) e aos técnicos do Pouso20
. Essa ação em parceria com a SMU tem o resultado final de
regularizar21
, por decreto municipal, becos e vielas das favelas características, atribuindo-se CEP e
endereço para cada domicílio e imóvel comercial daquele lugar.
As duas figuras a seguir demonstram como fica a imagem aérea da favela antes e depois do
reconhecimento de seus “caminhos” pelos Agentes de Campo: (Ver Mapa 2 e 2.a).
O valor de ‘ser local’/pertencer à região é priorizado pelo programa, à medida que, de
acordo com as orientações dadas constantemente pela coordenação, as equipes locais UPP Social
devem incentivar a participação do Agente de Campo na rotina de trabalho, ampliando sua
responsabilidade no desenvolvimento e manutenção do programa. A intenção é incluir sua
participação e aproximá-lo de processos decisórios de políticas públicas.
Neste aspecto vale ressaltar as conhecidas peculiaridades sobre a atividade de mapear as
entradas de acesso e caminhos internos da favela, que poderia ser interpretada ocasionalmente como
uma ameaça por integrantes do tráfico local organizado, se realizadas pelo Gestor Local e/ou pelo
Assistente Local - em caso de não moradores locais. Como já apontado o risco entre a relação do
19
Em sua maioria jovens maiores de 16 anos e, no mínimo, matriculado em Ensino Médio.
20
Pousos são “postos avançados da Secretaria Municipal de Urbanismo dentro das favelas declaradas, [em termos
urbanos], como Áreas Especiais de Interesse Social – AEIS. A Coordenadoria Geral das áreas de Interesse Social tem
entre suas atribuições: Preservar o espaço público; Manter o alinhamento de ruas, escadarias e servidões; Evitar
construções em áreas de risco; Controlar a expansão das comunidades; Elaborar legislação urbanística para cada novo
bairro; Reconhecer os logradouros; Fazer planejamento local; Dar orientações básicas nas reformas; Conceder "Habite-
se" às unidades habitacionais; Fiscalização da legislação urbanística; Articulação com órgãos municipais para a entrada
de outros serviços da Prefeitura; Promover ambiente mais saudável nas comunidades;”.
21
A regularização urbanística de logradouros em favelas, ou em Áreas de Interesse Social, é realizada da seguinte
forma: Após o alinhamento das ruas ser definido por um projeto de alinhamento aprovado pela SMU, procede-se à
nomenclatura oficial das ruas. Há uma legislação própria para o reconhecimento de logradouros em toda a cidade e a
mesma regra é usada para nomear-se as ruas destas áreas. Nem sempre o nome pelo qual as ruas são conhecidas pode
ser mantido, pois não se pode usar nomes de pessoas vivas, por exemplo. Em muitas situações, é necessário mudar o
nome e isto é feito em conjunto com os moradores, que indicam novos nomes e entregam ao POUSO o atestado de
óbito, assim como o histórico da vida dessa pessoa. Dessa forma, garante-se a identificação dos moradores com os
novos nomes.
11
nome do programa UPP Social com a política de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), dá
oportunidade para especulações sobre o objetivo da atividade.
A atribuição ao Agente de Campo nesse caso, por ser morador local, ameniza a
possibilidade de propagação dessa interpretação negativa já que é reconhecido como morador,
possibilitando o diálogo necessário com a comunidade local para compreensão e finalidade precípua
do mapeamento. As equipes de Gestão Territorial, portanto, no período pós-Fórum UPP Social, ao
ampliarem sua equipe são, finalmente, constituídas pelos cargos de Gestor Local, Assistente Local e
Agente de Campo.
3. O policy cycle no modelo de implementação do programa
Mais uma vez retomamos Rua (1998), para explicar que ainda que a política pública não siga
necessariamente uma sequencia linear existem alguns critérios que servem para analisar o curso de
uma ação, e por isso o uso do ciclo das políticas. São quatro momentos gerais de qualquer política
pública: incorporação do problema social na agenda política, o desenho da política, a
implementação da ação, a avaliação dos resultados e feitos da política.
Na literatura sobre políticas públicas, ponto de encontro das áreas da administração (pública)
e, atualmente com mais rigor, da ciência política, distinguem-se duas abordagens antagônicas para
caracterização de modelos de atuação em políticas públicas: top-down – perspectiva em que a
decisão política é autoritária, em nível central e a botton-up – abordagem que leva em consideração
a complexidade do processo de implementação (Najan, 1995 apud Carvalho; Barbosa; Soares,
2010:5).
A fim de aprimorar e inovar as ações governamentais, qualificar servidores e gestores
públicos, a avaliação de políticas públicas se deu como necessária ao ter a função de colocar em
evidência questões relativas à busca pelas condições ideais para o alcance das metas e o sucesso de
iniciativas e propostas governamentais.
Preocupada com os fatores políticos da gestão de uma iniciativa de governo, autores como
Rua (1998) fazem questão de destacar uma etapa original da ação política a ser planejada e/ou
formulada, sendo o estabelecimento da agenda política. Como visto esse é momento no qual se
define qual o problema social (Rua, 1998) o qual será interpretado como questão social (Castel,
1999) a ser tratada e atendida por uma política pública.
Esse momento merece destaque, pois é onde se percebe que política pública não é uma
receita ou apenas uma questão de cumprir fases de execução por determinados procedimentos do
ponto de vista gerencial e administrativo, mas também é necessário levar-se em consideração
aspectos da conjuntura política e social.
Como no caso da política estatal de segurança pública das Unidades de Polícia Pacificadora
no estado do Rio de Janeiro Portanto, esta política pública é produto (e decisão) da relação entre
elementos sociais e atores políticos que, combinados, geraram uma situação favorável para sua
emancipação.
Para que uma política pública seja planejada, portanto, discute-se antes de qualquer coisa,
quais esforços financeiros, administrativos e políticos estão em jogo para sua implementação.
A vertente tradicionalista em políticas públicas, caracterizada por uma perspectiva top-down
das iniciativas governamentais, quando se trata do policy cycle adequado para o alcance de metas e
objetivos de programas, consta a percepção de um procedimento linear no qual não se considera
elementos de constituição e do destino de uma política pública. Em tais metodologias não
discriminam, por exemplo, valores culturais de uma determinada sociedade ou classe social que
serve de ‘público alvo’ em uma proposta de programa de políticas públicas. Isso dificulta o
reconhecimento e aderência da política pública no coletivo, aumentando seu risco de ineficiência
e/ou ineficácia do impacto social.
A partir da perspectiva botton-up, a dimensão política das decisões no processo de
elaboração e gestão de políticas públicas estão compreendidas, autores como Rua (1998), Melo
(1998-2000), Silva (2000), Garcia (2001), Arretche (2003) e Souza (2006) entendem o teor político
12
na fase de implementação de uma política pública, que se destaca por caracterizar o encontro entre a
decisão e a prática (a realidade de aplicação). Observa-se que quando se executa algo que foi
expansivamente planejado, surgem fatores inerentes à prática da iniciativa e, geralmente, não
previstas pelos formuladores de políticas públicas. Esses fatores, em sua maioria, são relativos às
possíveis combinações entre o planejado e a qualidade técnica dos profissionais, a relação entre
setores administrativos e seus servidores, e deles com a população recebedora de uma política. Essa
combinação é somente exposta no momento de execução de um programa ou projeto político,
sendo, portanto, no momento da implementação que os erros referentes às escolhas, à organização
dos procedimentos e funcionamento do ciclo de uma política pública se concentram.
De acordo com a descrição realizada do modelo de atuação do programa UPP Social, é
possível observar que sua gestão leva determinados aspectos em consideração, diferenciando-se,
assim, da perspectiva top-down de políticas públicas, ao depender ou utilizar-se da participação
social no seu processo de desenvolvimento.
Contudo muitos obstáculos foram detectados para que a participação obtivesse resultados
para a comunidade. Baseando-se ainda na literatura de implementação de políticas públicas,
procura-se destacar o processo de implementação, pois, assim como a maioria dos teóricos em
avaliação de políticas públicas, entende-se esse momento da execução de um programa como
determinante para robustez e durabilidade de uma proposta.
Estudos iniciais e clássicos sobre implementação indicam a importância dessa fase no
processo de políticas públicas, pois que mais que influenciam os resultados das políticas. No
bottom-up a implementação modifica a formulação, e são vários as razões apontadas, a política
formulada é vaga e ambígua, há múltiplos atores na implementação e os implementadores tem
discricionariedade. Para Lipsky (1980 apud Lima; D’ascenzi, 2012:8), na corrente bottom-up, os
burocratas de nível de rua (street-level bureaucrats) têm discricionariedade na implementação da
política; na interação entre burocrata e cidadão, a política é modificada.
Afirmam ainda que as políticas delimitam apenas um conjunto limitado de cursos de ação e
decisões que os agentes devem seguir ou tomar, e que há amplo espaço para a discricionariedade
dos agentes implementadores. A maneira como os burocratas entregam benefícios e sanções,
estruturam e delimitam a vida e as oportunidades dos cidadãos, entregam não somente a política
formatam seus resultados por meio da interpretação das regras e da alocação de recursos escassos
(Lima; D’ascenzi, 2012:7-10).
O desenvolvimento do programa deu origem a um instrumento, uma tecnologia social que
acumula informações urbanas territoriais e memórias populares através de uma abordagem local,
acerca do vínculo dos moradores com os gestores e assistentes locais.
Pode-se dizer que a iniciativa de certa forma assemelha-se com a política pública de
Orçamento Participativo do ponto de vista de integrar e aproximar moradores locais nas
responsabilidades da área da gestão e administração pública quando no caso da criação do Agente
de Campo.
Sua metodologia de implementação merece destaque, pois se entende que, para além da
discussão teórica sobre a etapa de implementação do policy cycle, a escolha pela abordagem
presencial, através da rotina de contato diário com a população da favela.
No período inicial de sua aplicação o programa procurou dar prioridade ao contexto local de
aplicação, admitindo as diferenças históricas, contextuais e sociológicas de cada favela nas quais
está a UPP Social adaptando-se às demandas sociais identificadas em cada uma delas. A
implementação do programa tem como característica uma metodologia retro avaliativa ao ter como
premissa determinante para seu desenvolvimento, a procura pela melhor maneira de realizar
articulações entre atores locais a favor da construção de, no mínimo, formas de contato e
comunicação entre gestores públicos e moradores locais.
3.1 Considerações sobre a implementação de um programa de políticas públicas: o “elo
perdido” do policy cycle.
13
“(...) nem sempre a implementação se distingue do próprio processo de
formulação, e em muitos casos, a implementação acaba sendo algo como “a
formulação e processo”. Isto tem consequências: entre outras, os próprios
objetivos da política e os problemas envolvidos não são conhecidos
antecipadamente em sua totalidade, ao contrário, vão aparecendo na medida
em que o processo avança”. (Rua, 1998:15).
O programa UPP Social surge como uma ferramenta de articulação e adequação de políticas
públicas nas comunidades pacificadas. A sua missão é, através da melhoria operacional de serviços
públicos, admitir as propriedades históricas, urbanas e sociais das comunidades pacificadas como
indicadores para promoção da integração sob o aspecto do acesso a serviços e políticas públicas.
O objetivo geral dessa política pública de apoio administrativo, que tem como frente a
produção de informação especializada, assim como o de desenvolver articulações em rede para a
inclusão e promoção dos serviços públicos nessas favelas, é imbuído, significa, na melhor das
hipóteses, defender um plano de desenvolvimento preocupado com as atribuições e demandas de
cada favela carioca contemplada pela política de segurança pública estadual de Unidades de Polícia
Pacificadora (UPPs).
No caso do programa UPP Social, por ter um caráter inovador no sentido de admitir as
diferenças entre as favelas nas quais a iniciativa se desenvolve pela qualidade territorial das
informações que gera de cada uma, fez da proposta municipal em questão, servir de base de dados
para propagação de outras iniciativas, como os acordos de gestão Vamos Combinar uma
Comunidade Mais Limpa, o Vamos Iluminar e a iniciativa de regularização de logradouros nas
favelas tratadas. Além de desenvolver determinadas articulações em nível local através do incentivo
dado a comunicação entre atores (moradores, lideranças e gestores de equipamentos públicos
locais) para algumas favelas e outras não, de acordo com o perfil e a combinação dada pelo
contexto específico declarado pelas equipes de gestão territorial.
Observa-se no programa UPP Social e assim como Melo e Silva afirmam:
“A implementação, portanto, “cria” políticas: a implementação de políticas
constantemente orienta novas políticas. Como a implementação implica em
tomada de decisões, ela própria se constitui uma fonte de informações para a
formulação de políticas. A prática de programas de governo revela que
apenas em raríssimos casos os formuladores de política decidem ex nihilo.
As decisões em matéria de políticas setoriais constituem apenas inovações
em relação a políticas existentes ou manutenção de políticas existentes
realizando-se ajustes incrementais de metas, recursos e prazos de execução”.
(Melo; Silva, 2000:11).
O programa UPP Social, portanto, exemplifica com destaque a referência acima, a partir da
consideração de que a iniciativa, através do acúmulo de informações e do registro de indicadores
sociais constantemente atualizados pelos seus três setores de gestão, há a produção de dados
suficiente para o estímulo de novas e diversas resoluções em políticas públicas.
O programa UPP Social tem como desenho de seu policy cycle, no caso, um programa de
política pública para política pública. Seu Modelo de Atuação dá preferência para o resultado final
de ações integradas entre a favela pacificada e a cidade, ou seja, a combinação entre os atores
identificados por cada equipe e contexto específico das favelas em questão (Ver Figura 2).
4. Possíveis fatores de redução do grau de legitimidade do programa na prefeitura e na favela
pacificada
14
A fim de identificar aspectos de eficácia e eficiência do programa, recorre-se à observação
do resultado ideal objetivado, no caso do programa UPP Social, o de integração da favela à cidade,
por meio da articulação de políticas públicas.
O conceito de integração pode assumir duas formas: “(...) tanto uma orientação vertical
(orientada para a autoridade, estrutura formal), como horizontal (abordagem baseada no
relacionamento)” (Keast; Brown; Mandell, 2012:314). O uso da integração para resolver a
fragmentação da prestação de serviços, superar a duplicidade e reduzir custos teve tanto um forte
apelo intuitivo para os administradores públicos quanto para os colaboradores. A ênfase dada à
integração horizontal centrou-se na necessidade da elaboração de uma política de vínculo e de
serviços entre organizações e setores, no qual os mecanismos de vínculo associados formaram uma
agenda central para a política e a prestação de serviço em muitos países.
A crescente complexidade do serviço social causada pelo insulamento, e, mais recentemente,
pela mercantilização dos serviços sociais e a reconhecida incapacidade do governo, bem como das
instituições sem fins lucrativos, para tratar questões sociais complexas ou graves evidenciaram a
importância da sistematização dos estados de integração, os quais se definem por cooperação,
coordenação e colaboração (Keast; Brown; Mandell, 2012).
A setorialidade presente no policy cycle tradicional, onde as fases de uma política pública
são definidas e avaliadas em etapas isoladas de formulação, implementação, monitoramento e
avaliação, tem relação análoga ao isolacionismo e especialidade burocrática dada a cada gerência
administrativa de governo desde os primórdios da burocracia moderna weberiana. Diferente dos
arranjos interorganizacionais convencionais, a integração horizontal é baseada na necessidade de
estabelecer relações interdependentes entre setores, a fim de ser eficaz. Os modos internos de
operação não só devem mudar como também as relações um com o outro.
Dividida em três níveis graduais de intensidade, a integração horizontal é atingida na
seguinte combinação organizacional:
“Cooperação: compreendida pelo estabelecimento de relações de curto-
prazo e informais, nos quais seus esforços se consistem essencialmente no
compartilhamento de informações. É involuntária. (...) Cada organização
permanece separada nas relações cooperativas, mantendo recursos e
autonomia individuais.
Coordenação: ocorre principalmente quando a especialização é necessária e
quando há uma necessidade de se alinhar setores e organizar atividades para
crescer dentro das condições existentes. (...) Ou seja, as organizações
continuam separadas umas das outras, mas contribuem para um programa de
ações estabelecido e específico. Os esforços envolvem não somente o
compartilhamento de informações, mas também requerem o planejamento
conjunto e possivelmente financiamento conjunto.
Colaboração: tipo de arranjo mais estável e a longo prazo. Exige maior grau
de ligações entre os membros. O desenvolvimento de formas colaborativas
de trabalho depende do estabelecimento de um alto grau de confiança entre
os membros sendo, portanto, um processo muito demorado. Depende do
comprometimento dos membros com a missão comum e de se considerarem
parte de um quadro geral. (...) Dentro de arranjos colaborativos os membros
(...) estão trabalhando para mudanças nos sistemas. (...) sua perspectiva é
holística”. (Keast; Brown; Mandell, 2012:329).
De acordo com esses parâmetros, a favor da redução da fragmentação e sobreposição de
ações governamentais, a UPP Social tem a intenção de ser um instrumento para integração de
15
serviços públicos através da gestão de informações especializadas sobre favelas pacificadas,
mediação e diálogo entre a sociedade civil da favela e o poder público.
O programa favorece ações do poder público municipal visando à integração do status de
“cidade” 22
às favelas pacificadas. Como uma iniciativa e um instrumento de gestão de políticas
públicas integradas, deve lidar com dois focos para sua implementação: a administração pública
propriamente dita e a diversidade etnográfica de cada uma dessas favelas.
A integração horizontal, baseada em relações de vínculo, tem como reflexo a escolha pela
metodologia territorial do programa na favela; na administração pública, o programa propõe um
grau de intersetorialidade entre as secretarias municipais pouco estimulado e historicamente
segregadas.
4.1 As falhas no processo de integração do programa UPP Social
O programa UPP Social, ao mesmo tempo em que surge como proposta para as críticas às
ações prioritariamente interventoras do governo estadual e municipal do Rio de Janeiro toma como
meta a promoção intensiva do desenvolvimento social das favelas pacificadas por meio da
integração de serviços e políticas públicas.
Contudo, o programa não garante a sua legitimidade política e seu propósito conforme não é
reconhecido na prática cotidiana pela Prefeitura e demais secretarias executivas no que se refere às
respostas mais imediatas que o Poder Executivo municipal e estadual não ofereceu às demandas e
necessidades requeridas pela UPP Social durante o período analisado.
Em face de gestão administrativa gerencial contemporânea e avaliação de resultados em
políticas públicas, a UPP Social expôs graves equívocos na sua estratégia para coordenação,
cooperação e colaboração em políticas públicas, destacadamente porque possui a produção de dados
constantemente atualizados e a total disponibilidade da exposição dos mesmos para os setores
administrativos.
Consequentemente fica mais evidente a ineficiência de setores executivos da administração
pública, a inadimplência das ações municipais nesse ambiente urbano da favela e o desgaste das
relações entre os setores do serviço público.
A falta de comunicação entre as autoridades técnicas e políticas é o principal problema
identificado como fator de dificuldade para execução plena do programa.
A equipe de Gestão Institucional informa não ser notificada ou incluída em reuniões de
planejamento das ações de cada Secretaria Municipal, o que, segundo o setor, dificulta o acesso às
informações, até mesmo a confirmação e/ou o acompanhamento de alguma atividade executada
pela Prefeitura nas áreas determinadas.
A importância do ponto focal, elemento link, responsável por promover e coordenar a troca
de informações entre as secretarias executivas (representando a Prefeitura) e integrantes do setor de
Gestão Institucional/programa UPP Social, é insuficiente e ineficaz pela falta de respaldo
institucional e executivo das secretarias municipais arroladas no processo.
Observou-se que sob responsabilidade das secretarias municipais participantes do programa
a elaboração do orçamento e planejamento relativo a quantidade e salário dos consultores, custo
padrão para realização dos Fóruns UPP Social e eventos, compras para acessórios de trabalho-
notebook e celulares e materiais de escritório - numa primeira avaliação não foram completamente
orçados ou planejados. De tal forma que os recursos para as intervenções e para a maioria das
articulações locais justificada pela relação de apoio com as secretarias municipais, de resolução das
demandas identificadas pelos Gestores e Assistente Locais encontraram dificuldades para ser
solucionadas.
22
O termo cidade está em evidência, pois o conceito defendido pelo programa é limitado à ampliação e regularização
de serviços públicos e privados em regiões urbanas consideradas favelas.
16
Com o objetivo de incentivar determinadas atividades que envolvem gestores e funcionários
de equipamentos públicos, ações itinerantes de Centros de Assistência Social para ampliação do
cadastro dos moradores das favelas pacificadas no programa Bolsa Família, os articuladores do
programa foram obstaculizados pela indisponibilidade de recursos (financeiros) para estrutura
(aluguel de barracas, cadeiras, serviço de frete, etc.) e/ou parcerias na concessão de material
necessário (laptops, água, ventilador, etc.).
A despeito da construção de um poderoso banco de informações facultado pela iniciativa do
programa UPP Social, os orçamentos-padrão para os Acordos de Gestão “Vamos Combinar Uma
Comunidade Mais Limpa” e o “Vamos Iluminar”, embora incentivados pelos coordenadores do
programa UPP Social, não foram elaborados. A parceria com a Secretaria Municipal de
Conservação e Serviços Públicos não ocorreu, confirmando-se nessa fase ainda as inúmeras
dificuldades encontradas na relação entre a UPP Social e demais instâncias da Prefeitura.
O vínculo entre o Programa e o Executivo Municipal, na representação de suas secretarias
no qual se baseia parte do sistema de sustentabilidade do programa e de suas ações em longo prazo,
mostrou que sem a execução de um planejamento integrado com essas secretarias, o programa não
pode estar fortalecido o suficiente na favela, e, portanto, enquanto programa de integração de
políticas públicas não acontece.
Durante o período analisado observou-se também aspectos relativos à fragilidade do arranjo
institucional da iniciativa governamental em discussão, neste caso não só voltados à ausência de
orçamento e recursos para articulações locais e acordos de gestão, mas também relativos à
precariedade dos contratos de trabalho dos consultores/gestores, todos administrados pela ONU
Habitat, renovados trimestralmente, reforçando essa perspectiva de incerteza do programa e sua
continuidade.
Ainda com relação aos aspectos de integração, a análise do programa identificou que a
Prefeitura, teve dificuldade em assimilar e aderir às informações e ao próprio corpo técnico do
programa UPP Social. Supõe-se que essa situação esteja relacionada a uma questão de cultura
organizacional; considera-se numa avaliação muito preliminar e exploratória que houve um
estranhamento com os consultores contratados, em sua grande maioria, sem experiência prévia com
a administração pública, o que aparentemente dificultou relações de colaboração para integração
das políticas públicas.
No caso do programa UPP Social, entendido como instrumento de produção de informação
(cooperação) e coordenação de algumas ações integradas de políticas públicas nas favelas
pacificadas, busca-se introduzir cada favela como um ‘pacote’ específico de problemas sociais.
Dessa forma, exige dos setores públicos executivos grau de sensibilidade, amplo e diversificado
para determinação dos processos de decisão e resolução das demandas identificadas. Principalmente
no que diz respeito à abordagem, à forma como o governo irá interceder em cada uma das favelas
pacificadas.
O problema é que as decisões políticas dependem de uma rede de apoio e interesses, assim
como esclarecido por Rua no início deste trabalho. A decisão é fruto da negociação e fusão entre os
interesses de todo ator político e/ou administrativo relevante para cada escolha em pauta na agenda
política.
Os acordos de gestão Vamos Combinar uma Comunidade Mais Limpa e o Vamos Iluminar é
considerado arranjos padronizados e específicos para coleta de lixo e manutenção da iluminação
pública em favelas pacificadas– são exemplos do resultado de coordenação de políticas públicas -,
porém neste caso tiveram seus prazos de implantação adiados. De acordo com a Gestão
Institucional/UPP Social e o ponto focal/Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos,
isso aconteceu devido ao remanejamento de custos e recursos relativos à decisão de implantar ou
não o acordo: a geografia/acesso, demografia, quantidade de equipamento, de garis, de transporte e
acessórios (pá, rastelo, luvas, etc.). Explica-se o lançamento desses acordos em cada uma dessas
favelas pode ocorrer por meio do remanejamento de recursos, sem critério publicitado e
aparentemente arbitrário, mais uma vez enfraquecendo o critério integrador da política pública.
17
Sob a ótica da administração pública, os custos relativos à implantação destes acordos de
gestão são facilmente identificados. Mas, de acordo com os gestores públicos do órgão, há
preferência em atender certas favelas e outras “quando der” 23
.
De acordo com Silva e Melo (2000), perceber a implantação como processo, aberto para o
aprimoramento e adequação da proposta, sem ignorar o reflexo das possíveis mudanças relativas a
correlação das forças que constituem a arena política de onde surge a política pública e garante com
mais qualidade as relações institucionais e políticas necessárias para aceitação do programa:
“A implementação pode ser melhor representada como um jogo entre
implementadores onde papéis são negociados, os graus de adesão ao
programa variam, e os recursos entre atores são objeto de barganha” (Melo;
Silva, 2000:5).
Um ano depois de ser transferido para o âmbito municipal e instalado no Instituto Pereira
Passos, em agosto de 2012 o principal elaborador do programa e presidente do IPP ser destituído do
cargo, modificando a orientação geral de gestão do órgão municipal, provocando uma sensação de
“inércia e desorientação da UPP Social no campo” 24
.
O peso político da UPP social se expressa em seu arranjo institucional e caracteriza o
programa como temporário e de baixo impacto social em comparação com suas potencialidades e
instrumentos de gestão de informação e de integração de políticas públicas. A falta de adesão da
Prefeitura condena a genialidade de sua engenharia pela falta de sincronia e sinergia do poder
executivo municipal em relação ao programa UPP Social e entre seus setores de gestão. O programa
se encontra em execução, mas sem a garantia do resultado de integração que se propõe pela falta de
relação necessária com o mesmo órgão público que o deliberou, a Prefeitura.
Considerações finais
A iniciativa UPP Social, oriunda de um contexto estadual de política de segurança pública,
sob a coordenação da Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro encontrou inúmeros obstáculos
relativos a sua formulação e implementação. Esses obstáculos e impedimentos foram descritos e
analisados no que se referem ao não reconhecimento e dificuldades do poder executivo municipal e
suas secretarias na tentativa de se relacionar com a proposta de integração horizontal do programa e
a sistematização dos processos de decisões em políticas públicas.
Observou-se que a cultura organizacional da administração pública na cidade do Rio de
Janeiro na relação estabelecida com programa UPP Social durante o período estudado
foi incompatível às frentes de cooperação, coordenação e colaboração incentivados pela UPP Social
que possuem como ordem de valor principal a participação social para construção de um plano de
desenvolvimento local para favelas pacificadas.
Do discurso inicial sobre o projeto de cidade Olímpica 2016, de melhoramento e maior
garantia de desenvolvimento social para determinadas populações de baixa renda, conveniente para
responder às críticas relativas à política estadual de segurança pública das Unidades de Polícia
Pacificadora, o estudo conclui que não foram produzidos os resultados esperados. Outros estudos
apontam que existe hoje maior risco de militarização da presença do Estado nas favelas do que a
resolução de problemas urbanos e sociais pela Prefeitura da cidade do Rio de Janeiro. È uma
questão que permanece aberta.
23
Resposta do ponto focal/Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos a pesquisadora, quando Assistente
Local na equipe de gestão Territorial UPP Social 2 – Mangueira/Tuiutí e Providência. (Maio de 2012).
24 Relato de consultor do setor de Gestão Territorial durante reunião geral em 14/12/2012. O termo “campo” aqui é
relativo ao ambiente de execução do programa, ou seja, a favela.
18
A partir da descrição da metodologia de implementação e de organização do programa UPP
Social, o estudo destaca as suas potencialidades como instrumento de gestão para integração de
setores e órgãos públicos, ao mesmo tempo em que procura relatar e analisar a complexidade da
produção de decisões em políticas públicas sob a consulta e o debate com a sociedade civil.
Desafios do ato de decisão já inicialmente ensaiados em programas como o do Orçamento
Participativo mostram como a elaboração de instâncias e instrumentos participativos também
aumentam a maior garantia de sucesso na correspondência entre a demanda e a melhor maneira de
administrar ofertas na resolução de questões sociais.
O estudo da implementação do programa na Prefeitura e sua propriedade inovadora
caracterizada pela postura retroavaliativa da implementação de ações articuladas entre setores
públicos e políticas públicas através do fluxo constante de informações revelaram não só uma
novidade como um desconforto no âmbito da administração pública carioca analisada. Gerir e
registrar informações sobre problemas sociais frequentemente atualizados e administrar a oferta de
suas (re) soluções num maquinário predominantemente burocrático, técnico, clientelista e arbitrário
como a administração pública (Abrucio, 1997; Pereira, 2007) é o principal obstáculo.
Ademais, o que se conclui, é que o maior desafio da UPP Social no primeiro momento não
foi integrar a favela à cidade, mas sim, integrar-se à Prefeitura da sua própria cidade.
Como demonstrado pelos motivos apontados o estudo avalia que àquele momento inicial da
implementação a prefeitura não conseguiu gerir as demandas sociais do programa UPP Social.
Originalmente elaborado sob a responsabilidade de equalizar serviços públicos ofertados em áreas
formais da cidade e áreas informais sob o recorte das favelas pacificadas, o programa UPP Social
representa um desafio para a administração e políticas públicas, se não, um exemplo de não decisão
por excelência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Abrucio, Fernando (1997), “O impacto do modelo gerencial na Administração Pública” em
Cadernos ENAP n. 10.
Antunes, Ludmila R., (2013) “Inovações no Processo de Gestão Pública no Brasil: Experiências
de Participação Social no Planejamento Municipal: o caso do Orçamento Participativo” VII
Congreso Latinoamericano de Ciencia Política (ALACIP), FLACSO, Bogotá, Colômbia, 25 al 27
de septiembre de 2013,
http://alacip2013.uniandes.edu.co/index.php?ini=1&ct=11&inf=1&code=1&id=1, 12-06-2014.
Antunes, Ludmila R. (2013) “Gestão e Participação” em Dicionário Crítico de Gestão e
Psicodinâmica do Trabalho, F. Vieira, Álvaro Merlo, Ana Mendes (orgs); Ed Juruá Curitiba,
Paraná.
Arretche, Marta (2003), “Dossiê Agenda de Pesquisa em Políticas Públicas” em Rev. Brasileira
Ciências Sociais, vol.18, nº51, São Paulo.
BOSCHI, Renato Raul (1999). Descentralização, Clientelismo e Capital Social na Governança
Urbana: Comparando Belo Horizonte e Salvador, Dados - Revista de Ciências Sociais, Rio de
Janeiro, v. 42, n. 4.
--------------------------- (2004), “Modelos Participativos de Políticas Públicas: os Orçamentos
Participativos de Belo Horizonte e Salvador” em Orçamento Participativo: Construindo
a Democracia, Fernandes Azevedo (Org.), Rio de Janeiro, Revan.
Carvalho, M. L.; Barbosa, T. R. C. Guimarães; Soares, J. Boechat (2010), “Implementação de
Política Pública: Uma abordagem teórica e crítica”, X Coloquio Internacional sobre Gestión
Universitaria em America del Sur – Balance y prospectiva de la Educación Superior en el marco de
los Bicentenarios de America del Sur. Mar del Plata, 8, 9 y 10 de Diciembre de 2010,
https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/97020/IMPLEMENTA%C3%87%C3%83O
%20DE%20POL%C3%8DTICA%20P%C3%9ABLICA%20UMA%20ABORDAGEM%20TE%C
3%93RICA%20E%20CR.pdf?sequence=1. 28-07-2013.
19
Castel, Robert (1999), As Metamorfoses da Questão Social - Uma Crônica do Salário, Tradução
Iraci D. Poleti. Petrópolis, Editora Vozes.
Centro Cultural Antonio Carlos Carvalho, “Segregação Urbana e Criminalização”,
http://www.cecac.org.br/MATERIAS/UPP_segregacao_urbana_criminalizacao-20.9.10.htm. 06-08-
2013.
Escobedo, Francisco José Rodríguez (2013), “Aportes Teóricos de las Políticas Públicas”. Trabajo
preparado para su presentación en el VII Congreso Latinoamericano de Ciencia Política (ALACIP).
Bogotá, 25 al 27 de septiembre de 2013.
Garcia, R.C (2001), “Subsídios para organizar avaliações da ação governamental” em Planejamento
e Políticas Públicas, Brasília, v. 23, n. 7.
Junqueira, Luciano A. Prates (2005), “Articulações entre o serviço público e o cidadão”, X
Congreso Internacional del CLAD sobre la Reforma del Estado y de la Administración Pública,
Santiago, Chile, Oct. 2005, http://www.otics.org.br/otics/estacoes-de-observacao/rio-saude-
presente/subpav/promocao-da-saude/cpai/CPAI%20-%20Leituras%20interessantes/articulacoes-
entre-o-servico-publico-e-o-cidadao/view, 22-07-2013.
Keast, Robyn; Brown, Kerry; Mandell, Myrna (2012). “Encontrando a combinação certa:
decifrando significados e estratégias de integração”, Revista do Serviço Público n. 63, Brasília.
Lima, Luciana Leite; D'ascenzi, Luciano (2012), Implementação de Políticas Públicas: Perspectivas
Analíticas, VI ENAPEGS, São Paulo (SP), Brasil, anaisenapegs.com.br/2012/dmdocuments/19.pdf.
02-07-2014.
Lucchese, Patrícia T. R.; Aguiar, Dayse (2004), Informação para Tomadores de Decisão em Saúde
Pública, Projeto ITD: Biblioteca Virtual em saúde - Saúde Pública Brasil,
http://files.bvs.br/upload/M/2004/Lucchese_Politicas_publicas.pdf. 08-07-2014. Machado da Silva, Luis Antonio. (1967), A política na favela, Cadernos Brasileiros, v. 9, n. 3.
---------------------------.(2011) “Os Jovens e o Policiamento nas favelas cariocas hoje”, IX RAM Mesa
Redonda Violencia de Estado, Políticas de Seguridad Pública y Derechos Humanos. Experiencias
regionales de intervención y activismo universitário. Curitiba, Brasil
Melo, Marcus André (1999), “Estado, Governo e Políticas Públicas” em O Que Ler na Ciência
Social Brasileira (1970-1995): Ciência Política, S. Micelli (org.), São Paulo/ Brasília,
Sumaré/Capes.
Melo, M.A.B; Silva, P.L.B (2000), O processo de implementação de políticas públicas no Brasil:
características e determinantes da avaliação de programas e projetos, Universidade Estadual de
Campinas – UNICAMP, Núcleo de Estudos de Políticas Públicas - NEPP. Caderno n. 48.
Navarro, Natalia (2011), A Intersetorialidade como modelo de gestão das políticas de Combate à
Pobreza no Brasil – O Caso do Programa Bolsa Família no Município de Guarulhos. Dissertação
(mestrado) Escola de Administração de Empresa de São Paulo, 2011. Disponível em
http://bibliotecadigital.fgv.br/dspace/bitstream/handle/10438/8225/62090100009.pdf?sequence=1.
22-07-2013.
Nunes, Joana Marie Girard Ferreira (2013), Formulação e implementação da UPP Social Carioca:
os desafios de transformar ideias em práticas. Tese (doutorado) – Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Instituto de Economia, Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e
Desenvolvimento. Rio de Janeiro – RJ - Brasil.
Oliveira, Fabiana Luci de; Abramovay, Pedro Vieira (2012), “As Upps e o longo caminho para a
cidadania nas favelas do Rio de Janeiro” em UPPs, direitos e justiça: um estudo de caso das favelas
do Vidigal e do Cantagalo, Fabiana Luci de Oliveira(org) , Maria Teresa Sadek, Pedro Vieira
Abramovay e Isabel Nuñez, Fgv/Ford Foundation, RJ.
Ost, Sabrina; Fleury, Sonia (2013), “O Mercado Sobe o Morro, A cidadania desce? Efeitos
Socioeconômicos da Pacificação no Santa Marta”, DADOS - Revista de Ciências Sociais, Rio de
Janeiro, vol.56, nº3, 2013, pp. 635 - 671.
Pereira, L.C.B (2007), “Da administração pública burocrática à gerencial” em Pereira, L.C.B. e
Spink, P., Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial. Rio de Janeiro, Ed. FGV,
(reimpressão).
20
Pires, Hindenburgo Francisco (2010), “Planejamento e intervenções urbanísticas no Rio de Janeiro:
a utopia do plano estratégico e sua inspiração catalã”, Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias
Sociales, Universidad de Barcelona, Vol. XV, nº 895 (13), 5 de noviembre de 2010,
http://www.ub.es/geocrit/b3w-895/b3w-895-13.htm, 09-08-2013.
Prefeitura do Rio de Janeiro, Instituto Pereira Passos (IPP), http://ipprio.rio.rj.gov.br/o-instituto-2/,
07-06-2013.
Prefeitura do Rio de Janeiro, Secretara Municipal de Urbanismo, http://www.rio.rj.gov.br/web/smu,
18-06-2013.
Prestes, Gabriela Alvarenga (2013), Considerações sobre o programa UPP Social: “Nós” da
Implementação de Políticas Públicas Integradas nas favelas pacificadas do Rio de Janeiro.
(Monografia) – Universidade do Rio de Janeiro, Instituto de Economia, Programa de Pós
Graduação - Curso de Especialização lato senso em Políticas Públicas. Rio de Janeiro – RJ - Brasil.
Proposta para um Plano Municipal de Ordem Pública (Diagnóstico e Proposições) (2010),
Prefeitura do Rio de Janeiro, Secretaria Especial da Ordem Pública (SEOP),
http://www.rio.rj.gov.br/dlstatic/10112/478382/DLFE-191707.pdf/pmop.pdf, 03-06-2013.
Rua, M. G.(1998), “Análise de Política Pública: Conceitos Básicos”, em O Estudo da Política:
Tópicos Selecionados, Ed. Brasília: Paralelo 15.
Sanchez, Fernanda; Bienenstein, Glauco; Mascarenhas, Gilmar; Oliveira, Alberto (2012),
“Megaeventos e Metrópoles: Insumos do Pan 2007 e as perspectivas para Olimpíadas 2016”, em
Grandes Projetos Metropolitanos: Rio de janeiro e Belo Horizonte, Fabrício Leal Oliveira, Lúcio
Adauto Cardoso, Heloisa Soares de Mora Costa, Carlos Bernardo Vainer, Letra Capital, Rio de
Janeiro.
Silva, Jailson de Souza (2013) “As Unidades Policiais Pacificadoras e os novos desafios para as
favelas cariocas – Aspectos Humanos das favelas cariocas”. Observatório de Favelas,
http://observatoriodefavelas.org.br/wp-content/uploads/2013/06/Aspectos-humanos-das-favelas-
cariocas.pdf. 03-07-2013.
Souza, Celina (2006), Políticas Públicas: uma revisão da literatura. Sociologias, Porto Alegre, ano
8, nº 16, p. 20-45, http://www.scielo.br/pdf/soc/n16/a03n16. 09-07-2013.
Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), http://www.upprj.com, 06-08-2013.
Valladares, Lícia. (2000), “A Gênese da Favela Carioca”. Revista Brasileira de Ciências
Sociais, vol.15, nº 44.
Weber, M. (1999) Economia e Sociedade: Fundamentos da sociologia compreensiva. São Paulo,
Editora Universidade de Brasília.
RESENHA BIOGRÁFICA:
Ludmila Antunes- Profª Adjunto- Universidade Federal Fluminense Instituto de Ciências da
Sociedade - Departamento de Administração e Ciências Contábeis- Macaé-RJ-Brasil
Gabriela Alvarenga Prestes – Mestranda no Curso de Administração da Universidade Federal
Fluminense, Niterói-RJ-Brasil. Linha de pesquisa: Estado, Organizações e Sociedade.
QUADROS, TABELAS E GRÁFICOS:
21
Mapa 1: Perímetro de atuação da UPP São João (Morro dos Macacos) e da equipe territorial número 3 da UPP Social.
Fonte: IPP - Instituto Pereira Passos, Prefeitura do Rio de Janeiro, 2011. Imagem retirada da apresentação pública do
programa UPP Social durante os meses de Novembro 2011 a Fevereiro 2013.
INSTITUTO PEREIRA PASSOS – IPP RIO
Quadro Estratégico
INTEGRAÇÃO
PACIFICAÇÃO
ESTADO DEMOCRÁTICO
E CIDADANIA
Segurança e
Superação da Violência
Justiça e Resolução
de Conflitos
Cidadania e
Participação Social
INSTITUTO PEREIRA PASSOS – IPP RIO
Combate à Pobreza e
Inclusão Produtiva
Educação e
Acesso à Informação
Saúde e
Assistência Social
DESENVOLVIMENTO
SOCIAL
Cultura, Esporte e Lazer
Conservação
Urbana e Ambiental
Infraestrutura
e Habitação
Serviços Urbanos
DESENVOLVIMENTO
URBANO
Regularização e
Ordem Pública
DIV
ER
SID
AD
E E
DIR
EIT
OS
SU
ST
EN
TA
BIL
IDA
DE
A
MB
IEN
TA
L
Figura 1: Quadro Estratégico. Fonte: Slide documento de apresentação pública do programa, Novembro 2011/
Fevereiro de 2013.
Eixos Quadro Estratégico de Serviços e Programas Prefeitura
Estado Democrático e
Cidadania
(Sub-gerente G.I 1)
Dimensões Serviços/ Programas Agentes
Segurança e Superação da
Violência
(Assistente G.I 1)
Policiamento Regular Gov.Estado / UPPs
Apoio à Interação Polícia /
Comunidade / Servidores
Municipais
Equipe UPP Social
Apoio à Reinserção
Egressos das Redes
Criminais
Parcerias Diversas
Apoio à Integração
Territorial / Dissolução
Fronteiras
Parcerias Diversas
Justiça e Resolução de
Conflitos
(Assistente G.I 2)
Acesso a Serviços de
Justiça e Defesa de
Direitos
Gov.Estado e Judiciário
Promoção de Meios Locais
de Mediação e Resolução
Negociada de Conflitos
Parcerias Diversas
Cidadania e Participação
Social
(Assistente G.I 3)
Promoção de Canais e
Práticas Locais de
Participação Democrática
Equipe UPP Social
Apoio ao Associativismo e
Organizações
Comunitárias Locais
Parcerias Diversas
22
Desenvolvimento
Urbano
(Sub-gerente G.I 2)
Conservação Urbana e
Ambiental
(Assistente G.I 4)
Manutenção de Vias,
Espaços e Equipamentos
Públicos
Seconserva / CGC
Iluminação Pública Seconserva / RioLuz
Limpeza Urbana e Coleta
de Lixo
Seconserva / Comlurb
Programa Coleta Seletiva
Solidária
SMAC e SEDES
Manutenção de Parques,
Jardins e Áreas Verdes
SMAC / FPJ
Programa Guardiães dos
Rios
SMAC
Programa Reflorestamento SMAC
Infraestrutura e Habitação
(Assistente G.I 5)
Programa Morar Carioca SMH
Programa Bairro
Maravilha
SMO
Mapeamento e Contenção
de Áreas de Risco
SMO / GEO-Rio
Programa Minha Casa,
Minha Vida
SMH
Serviços Urbanos
(Assistente G.I 6)
Água e Saneamento CEDAE
Energia Light
Gás CEG
TV e Internet Operadoras Privadas
Desenvolvimento
Social
(Sub-gerente G.I 3)
Inclusão Produtiva e
Erradicação da Pobreza
(Assistente G.I 7)
Programas Bolsa Família e
Cartão Família Carioca
SMAS
Programa Família Carioca
em Casa
SMAS
Programa Rio Economia
Solidária
SEDES
Programa Empresa Bacana IPP, SMTE e SEOP
Programa Itinerância do
Trabalho
SMTE
Programa Qualificando
para a Paz
SMTE
Programa Inclusão no
Mundo do Trabalho
SMPD
Educação e Acesso à
Informação
(Assistente G.I 8)
Programa Escolas do
Amanhã
SME
Criação Espaços de
Desenvolvimento Infantil -
EDIs e Apoio a Creches
Comunitárias
SME
Praças do Conhecimento,
Casas Rio Digital e
Programa Ilumina
SECT
Saúde e Assistência
Social
(Assistente G.I 9)
Programa Saúde Presente -
Clínicas da Família e
Equipes de Saúde da
Família
SMSDC
Programa Saúde Mental e
Atendimento a Usuários de
Álcool e Outras Drogas
SMSDC e SMAS
Programa Saúde Móvel SESQV
Programa Reabilitação SMPD
23
Social na Comunidade
Programa Esterilização
Animais
SEPDA
Cultura, Esporte e Lazer
(Assistente G.I 10)
Programa Microprojetos
Culturais
SMC
Programas Cultura de Rua
e Domingo no Parque
SMC
Programa Rio em Forma
Olímpico
SMEL
Programa Academias ao
Ar Livre
SMEL
Programa Academias da
3a Idade
SESQV
Quadro 1: Organização do setor de Gestão Institucional - Quadro Estratégico de Serviços e Programas Prefeitura. Fonte:
Retirado de documentos internos do programa produzido entre os meses de Novembro 2011 a Fevereiro de 2013.
Mapa 2: Reconhecimento de logradouros (antes); Foto aérea das Favelas Pavão/Pavãozinho/Cantagalo – Foto ampliada
da Favela Pavãozinho. Fonte: IPP - Instituto Pereira Passos, Prefeitura do Rio de Janeiro, 2011. Imagem retirada da
apresentação pública do programa UPP Social durante os meses de Novembro 2011 a Fevereiro 2013.
Mapa 2.a: Reconhecimento de logradouros (depois); Foto aérea das Favelas Pavão/Pavãozinho/Cantagalo – Foto
ampliada da Favela Pavãozinho. Fonte: IPP - Instituto Pereira Passos, Prefeitura do Rio de Janeiro, 2011. Imagem
retirada da apresentação pública do programa UPP Social durante os meses de Novembro 2011 a Fevereiro 2013.
24
Figura 2: Modelo de Atuação. Fonte: Slide retirado de documentos internos do programa durante os meses de
Novembro de 2011 a Fevereiro de 2013.
Resumo:
O Rio de Janeiro, “cidade-foco” de investimentos para a realização de megaeventos como a
Copa 2014 e as Olimpíadas 2016 vivenciou nos últimos anos experiências de elaboração de
políticas públicas de integração cujo objetivo foi preparar a cidade e sua população para os mesmos.
Neste trabalho buscou-se contribuir para o debate sobre a implementação de políticas públicas de
integração e se essas expressaram-se em algum medida como uma ferramenta para a solução dos
problemas históricos de distribuição de renda e de acesso da população aos bens, serviços e
equipamentos urbanos.
O programa selecionado para análise é a UPP Social. A iniciativa tem origem na política de
segurança pública de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em algumas favelas cariocas; o
programa tem como objetivo principal a integração territorial e cívica das favelas e a sua respectiva
população à cidade do Rio de Janeiro realizado a partir de práticas de ações cooperadas entre
setores executivos governamentais.
A escolha pelo programa como estudo de caso se dá devido à percepção do seu caráter
inovador e a possibilidade do seu modelo de implementação contribuir para a reprodução de
políticas públicas de integração às nações interessadas em pensar e desenvolver iniciativas que
considerem fundamentais a participação popular e emancipação de direitos civis para populações
historicamente excluídas como as das favelas.
Foi realizado um registro da metodologia de implementação do programa e das ferramentas
de gestão de informação para políticas públicas que a UPP Social teve a oportunidade de
desenvolver entre Novembro de 2011 até Fevereiro de 2013. O registro segue a metodologia de
observação participante. Descreve o programa UPP Social a fim de abordar seus aspectos
organizacionais e sua metodologia de implementação, embasado na teoria de policy cycle. Por
conseguinte, há a tentativa de dialogar com o modelo gerencialista do programa explorado como
estudo de caso, com a estrutura organizacional historicamente burocrática da administração pública,
no primeiro plano institucional, da Prefeitura do Rio de Janeiro.
Conclui-se que o programa UPP Social em seu arranjo institucional caracteriza-se como
temporário e de baixo impacto social em comparação com suas potencialidades e sofisticados
instrumentos de gestão de informação e de integração de políticas públicas. A UPP Social enquanto
um programa de apoio administrativo possui alto potencial para a gestão e eficiência dos
mecanismos de inclusão social através de políticas públicas de integração que entretanto não é
utilizado.
A partir dos instrumentos de política de integração analisados observou-se que o Estado
promove e ao mesmo tempo dificulta a participação dos atores e movimentos sociais nos diferentes
níveis de articulação e coordenação interinstitucional- consideradas suas instâncias municipal,
estadual e federal.