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INTER MÚSICA: INTERAÇÃO E COLABORAÇÃO NO ACOMPANHAMENTO DO ESTUDANTE
Flávia Motoyama Narita
Universidade de Brasília – UnB
Eixo temático: Avaliação da Aprendizagem e Sistemas de Acompanhamento do
Estudante
O presente trabalho tem como objetivo ressaltar a importância da interação e
colaboração entre os diversos atores do curso de Licenciatura em Música da
UAB/UnB no acompanhamento do desempenho acadêmico dos estudantes.
Sendo um curso essencialmente prático, que visa à formação do “professor
como músico” (SWANWICK, 1993), oferecendo subsídios teórico-práticos para a
formação do músico e professor, a avaliação da aprendizagem é frequentemente
acompanhada por meio de vídeos e oficinas nos polos. Para tanto, tem sido
imprescindível a colaboração dos tutores presenciais e o apoio dos
coordenadores de polo nas gravações das produções dos estudantes.
Entendendo colaboração como um processo de interação em que seus
participantes compartilham e complementam habilidades com o
comprometimento coletivo (KENSKI, 2008; PANITZ, 1997; REES, 2002 e
outros), podemos observar e valorizar diferentes habilidades dos diversos atores
que compõem o grupo de tutores presenciais, a distância e professores
supervisores que, conjuntamente, contribuem no processo de acompanhamento
do estudante. A colaboração desses atores requer negociação, respeito,
“compartilhamento de autoridade e aceitação de responsabilidade” (PANITZ,
1997).
Ao estender esse princípio de colaboração para os estudantes, delegamos a
eles também a responsabilidade por seu processo de aprendizagem,
descentralizando o poder da figura do professor. Espera-se, com isso, que os
estudantes passem a ver “o grupo, os colegas e o professor como parceiros
idôneos, dispostos a colaborar com sua aprendizagem” (MASETTO, 2000,
p.141).
Durante o curso, os estudantes experienciam vários momentos em que a
aprendizagem colaborativa é incentivada; tanto em atividades no ambiente
virtual de aprendizagem (AVA) como nas práticas musicais em que tocam e
cantam em conjunto, tiram músicas “de ouvido”, fazem arranjos, composições e
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apreciam diferentes estilos musicais. As práticas musicais são incentivadas não
só nas disciplinas de Instrumentos (teclado, violão, canto e percussão), mas
também nas disciplinas de Práticas Pedagógicas, em que planejam,
implementam e reavaliam práticas pedagógico-musicais que contemplem o
envolvimento direto com o fazer musical. Desse modo, todas as semanas temos
atividades musicais práticas para serem gravadas, filmadas e enviadas pela
plataforma. Utilizamos prioritariamente os fóruns para envio, pois as produções
podem ser compartilhadas e comentadas pelos pares, além de apreciadas pelos
tutores responsáveis pela avaliação.
O sistema de avaliação de cada disciplina, com a quantidade de pontos e tipo de
atividade, é determinado pelo professor autor durante a elaboração de sua
disciplina. É ele, portanto, quem decide como serão as atividades on-line e
presenciais, a partir de um planejamento e conhecimento das possibilidades
tecnológicas que podem ser incorporadas em sua disciplina. Com relação à
utilização da tecnologia da informação em processos de ensino e aprendizagem,
Behrens (2000, p.103) relembra que
A inovação não está restrita ao uso da tecnologia, mas também à maneira como o professor vai se apropriar desses recursos para criar projetos metodológicos que superem a reprodução do conhecimento e levem à produção do conhecimento. (BEHRENS, 2000, p.103)
Assim, espera-se que cada professor autor, que muitas vezes também está
descobrindo as possibilidades de utilização pedagógica das tecnologias, planeje
práticas musicais e práticas pedagógico-musicais integrando atividades on-line e
presenciais que incentivem o estudante a buscar soluções criativas e
colaborativas, condizentes com seu contexto de aprendizagem. Com isso,
esperamos estimular o auto-conhecimento sobre estratégias de aprendizagem, a
autonomia e a responsabilidade na gestão da própria aprendizagem musical
(NARITA, 2009).
A coordenação do curso frequentemente discute os planos das disciplinas com
os professores autores, procurando manter uma unidade e coerência no curso,
sugerindo atividades transversais que conectem os assuntos e práticas
propostas nas diversas disciplinas. Entretanto, cabe ao professor autor decidir se
dialogará ou não com as demais disciplinas e, ainda, quais atividades serão
avaliativas. Em conformidade com o § 1o do Art. 1º do Decreto 5.622/2005, os
professores autores são orientados a prever a obrigatoriedade de momentos
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presenciais para as avaliações dos estudantes e laboratórios de ensino, entre
outras atividades. Ainda no mesmo Decreto, o Art.4º determina que:
A avaliação do desempenho do estudante para fins de promoção, conclusão de estudos e obtenção de diplomas ou certificados dar-se-á no processo, mediante: I - cumprimento das atividades programadas; e II - realização de exames presenciais. § 1o Os exames citados no inciso II serão elaborados pela própria instituição de ensino credenciada, segundo procedimentos e critérios definidos no projeto pedagógico do curso ou programa. § 2o Os resultados dos exames citados no inciso II deverão prevalecer sobre os demais resultados obtidos em quaisquer outras formas de avaliação a distância. (BRASIL, 2005)
Entendemos os exames presenciais exigidos no Decreto supracitado como as
diversas atividades realizadas nos polos sob a condução do tutor presencial, tais
como: gravações de áudio ou filmagens de vídeos com execução de músicas
criadas ou aprendidas pelos estudantes, provas escritas, apresentações
musicais ao vivo transmitidas via WebConferência, apresentação de projetos de
pesquisa, prática pedagógico-musical (aulas de música em escolas ou para
colegas, no polo) etc. Uma vez escolhidas as atividades de sua disciplina, cabe
também ao professor autor fornecer as instruções para a implementação das
atividades práticas planejadas, tanto aos tutores presenciais quanto para os a
distância. Os primeiros são responsáveis pela organização, realização e registro
das práticas, enquanto que os segundos ficam encarregados da avaliação da
produção e do processo de aprendizagem dos estudantes, sob a orientação dos
professores autores/supervisores.
Para ilustrar um sistema de avaliação e acompanhamento de estudantes no
curso de Licenciatura em Música, apresento a proposta avaliativa da disciplina Prática de Ensino e Aprendizagem Musical 3 (PEAM3), que é composta por três
eixos – prática musical, prática pedagógico-musical e reflexão sobre o ensino e
aprendizagem musical – abordados durante oito semanas. A prática musical é
necessária para dar subsídios aos planejamentos das aulas e foi programada
para ocorrer quinzenalmente, sempre com atividades avaliativas. A prática
pedagógico-musical é baseada em textos e reflexões sobre a própria atuação,
que é orientada e analisada por meio de planejamentos e vídeos. A reflexão
sobre o ensino e a aprendizagem musical ocorre durante toda a disciplina,
durante as práticas musicais e práticas pedagógico-musicais; pois espera-se que
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a partir do envolvimento direto com o fazer musical e pedagógico, os alunos
reavaliem suas ações e reformulem novas práticas.
A avaliação de todas as atividades considera a capacidade de reflexão do
estudante sobre o processo de aprendizagem, relação com a prática docente,
expressão de ideias claras e de autoria própria, bem como o bom uso da escrita.
Mais de 50% da contabilização da nota é referente às atividades presenciais.
Durante o bimestre, a disciplina PEAM3 propõe quatro práticas musicais em
conjunto, uma atuação docente e uma prova presencial. O total das atividades
on-line e presenciais é de 300 pontos, distribuídos conforme figura abaixo,
sendo 155 pontos referentes às atividades presenciais.
Fig. 1: Quadro de Atividades Avaliativas – PEAM3
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Pelo quadro de atividades da disciplina PEAM3, podemos perceber que o
acompanhamento do desempenho do estudante está baseado nas ações
conjuntas e colaborativas da tutoria presencial e a distância. Assim como nessa
disciplina, o curso de Licenciatura em Música, de modo geral, requer a
articulação e interação constante entre esses atores responsáveis diretamente
pela avaliação da aprendizagem de nossos estudantes.
Buscando otimizar esse canal de comunicação entre os tutores presenciais, a
distância e professores autores/supervisores, a coordenação e secretaria do
curso administram uma página de interação onde há um fórum com discussões
sobre cada disciplina em oferta. Denominada “Inter Música”, essa página é o
“ponto de encontro” dos tutores, supervisores e coordenadora do curso. Além do
fórum de interação, a página contém informações acadêmicas como histórico
escolar dos alunos, planos de estudos, formulários de solicitação de revisão de
menção, de matrícula em disciplinas e alocação dos alunos (por polo) em grupos
virtuais.
Também nessa página, disponibilizamos uma planilha com as atividades
semanais de cada disciplina que devem ser acompanhadas pelos tutores
presenciais. É a programação ou “dieta acadêmica” de nossos estudantes,
elaborada pelos professores autores e compilada pela secretaria de curso.
Os alunos de Licenciatura em Música cursam 4 a 5 disciplinas por bimestre e os
tutores presenciais são responsáveis por acompanhar e organizar as atividades
práticas de todas as disciplinas ofertadas. A planilha de acompanhamento (“dieta
acadêmica”), portanto, auxilia os tutores no planejamento semanal e distribuição
de tempo despendido para cada disciplina. Infelizmente não são todos os
professores autores que fornecem orientações específicas para os tutores
presenciais, mas todos orientam os estudantes quanto à realização das
atividades, e muitas dessas orientações servem como um guia para a atuação
dos tutores presenciais.
Um outro propósito dessa “dieta acadêmica” seria oferecer aos estudantes uma
“dieta balanceada”, com uma programação teórico-prática bem distribuída
durante o bimestre e entre as disciplinas. Entretanto, percebemos que o
planejamento entre as disciplinas ainda precisa ser melhorado, de modo a não
sobrecarregar os estudantes e tutores presenciais com muitas demandas em
uma mesma semana.
Baseados nessa programação bimestral, colocamos um questionário semanal
com as atividades que os tutores presenciais devem realizar, orientar ou verificar
em cada disciplina. Nesse questionário, solicitamos que os tutores presenciais
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avaliem se as atividades que tiveram de realizar, orientar ou verificar foram: 1)
impossíveis de serem feitas; 2) feitas parcialmente, com dificuldade; 3) feitas
parcialmente; ou 4) feitas sem problemas. Colocamos também uma caixa de
texto em que eles podem comentar livremente sobre dificuldades, motivações e
sugestões relacionadas às tarefas da semana de cada disciplina. Com isso,
pretendemos acompanhar a atuação dos tutores presenciais e avaliar se as
atividades atribuídas a eles são/estão adequadas.
É também no “Inter Música” que os tutores presenciais enviam semanalmente as
listas de presença digitalizadas, de cada disciplina com atividade presencial
programada. Assim, tanto os tutores a distância como os professores
supervisores podem saber quais estudantes compareceram às atividades
práticas de sua disciplina.
Como mencionado anteriormente, uma outra ferramenta utilizada para
acompanhar o estudante no curso é o fórum de interação, que funciona como
um “conselho de classe” virtual. Nesse espaço são discutidos, por exemplo, o
desempenho dos alunos nas disciplinas, suas ausências, dificuldades,
comportamento e linguagem utilizada em fóruns, bate-papos e encontros nos
polos etc.
Como os tópicos nesse fórum são visíveis e abertos a todos, os tutores a
distância e professores autores, que são específicos para cada disciplina, podem
ter uma visão geral do desempenho dos estudantes nas demais disciplinas,
podendo verificar se a dificuldade, os anseios, as expectativas que determinado
estudante apresenta é recorrente em outras disciplinas. Esse diagnóstico
possibilita planejar estratégias comuns entre os professores visando a um
melhor acompanhamento do estudante, uma vez que oferece uma visão mais
global do potencial de cada um. Esse “conselho de classe” virtual ocorre durante
todo o período de oferta das disciplinas, sendo complementado com encontros
presenciais que ocorrem na Instituição de Ensino Superior – IES.
Basicamente, os encontros presenciais na IES são de duas categorias: formação
e acompanhamento. A primeira ocorre semestralmente, antes da oferta das
disciplinas, e consiste na apresentação e realização de oficinas práticas. Os
professores autores são responsáveis por suas apresentações e oficinas, que
são ministradas aos tutores presenciais que vêm à IES especialmente para essa
formação. Este momento, além de (in)formativo, é também mais uma
oportunidade de promover a interação entre os tutores presenciais, a distância,
professores autores e coordenação de curso.
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Primordialmente, a proposta do encontro de formação é realizar com os tutores
presenciais algumas das práticas musicais que eles deveriam fazer com os
estudantes nos polos. Apesar do envolvimento e participação ativa dos tutores
presenciais nas oficinas, temos observado que essa formação nem sempre tem
assegurado a realização das práticas musicais como idealizadas pelos
professores autores. Uma das razões que certamente dificulta sua realização é a
falta de formação específica de alguns tutores presenciais. Portanto, mesmo as
oficinas sendo planejadas para tutores sem formação musical, percebemos a
necessidade de reavaliarmos nossas estratégias e propostas de formação para
esses tutores: Que conhecimento/saberes eles precisam ter para realizar a
tutoria de Música? Isso é trabalhado/mobilizado durante o encontro de
formação? Como? Eles têm consciência do que devem fazer durante as
práticas?
Esperamos que a reflexão sobre essas e outras questões que emergem
principalmente durante a oferta de disciplinas ajude-nos a melhor direcionarmos
as práticas musicais e as orientações oferecidas na formação dos tutores
presenciais. Certamente elas terão implicações imediatas na condução do
acompanhamento dos estudantes.
O encontro presencial de acompanhamento ocorre bimestral ou mensalmente e
consiste em reuniões pedagógicas para complementar as discussões surgidas
no fórum de interação e tratar de outros assuntos acadêmicos. Participam
dessas reuniões a coordenação e secretaria de curso, os professores
supervisores e tutores a distância.
Como os professores supervisores e tutores a distância são específicos para
cada disciplina e, portanto, a cada bimestre ou semestre usualmente temos
novos atores responsáveis pela formação e avaliação dos estudantes, é
essencial a reunião pedagógica geral a fim de procurar assegurar mais unidade
ao curso, padronizando informações e condutas gerais. Assim, além de
eventuais tópicos específicos de determinada disciplina, costumamos traçar e
definir ações conjuntas com relação a prorrogações ou manutenção de prazos e
estratégias de recuperação paralela, quando aplicável.
Diante das responsabilidades atribuídas a esses atores que acompanham e
avaliam o estudante, especificamente os tutores (presenciais e a distância), faz-
se necessário refletir sobre sua formação e constante orientação para a atuação
adequada no curso de Licenciatura em Música. Neder (2000, p. 119) defende a
formação e informação desses atores com relação ao projeto político pedagógico
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e proposta teórico-metodológica do contexto em que atuarão como “uma das
garantias da qualidade do trabalho educativo que se quer desenvolver”.
Portanto, visando oferecer aos estudantes um curso que possibilite a formação
do músico e professor, apto a desenvolver e criar estratégias de ensino e
aprendizagem musicais condizentes com seu contexto de atuação, é essencial
continuarmos nossa reflexão e investigação acerca da formação desses que
acompanham diretamente o desempenho de nossos estudantes. A avaliação da
aprendizagem integrando atividades on-line e presenciais requer uma “sintonia”
na interação entre os tutores a distância e presenciais que, colaborativamente,
contribuem na formação do músico-professor. Nesse sentido, o incentivo a
espaços de interação e colaboração entre os tutores e demais atores envolvidos
na avaliação pode aprimorar formas e sistemas de acompanhamento dos
estudantes.
Referências Bibliográficas: BEHRENS, M. A. Projetos de aprendizagem colaborativa num paradigma emergente. In: J. M. MORAN, J. M. e MASETTO, M. e BEHRENS, M. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 2000. Cap. 2, p. 67-132. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para assuntos jurídicos. Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília, 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5622.htm>. Acesso em: 27 ago. 2009. KENSKI, V. M. Novos processos de interação e comunicação no ensino mediado pelas tecnologias. Cadernos de Pedagogia Universitária, São Paulo, n.7, p. 1-24, 2008.
MASETTO, M. Mediação pedagógica e o uso da tecnologia. In: J. M. MORAN, J. M. e MASETTO, M. e BEHRENS, M. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas, SP: Papirus, 2000, Cap. 3, p.133-173. NARITA, F. M. Colaboração virtual: uma prática musical real na modalidade a distância. In: ENCONTRO ANUAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EDUCAÇÃO MUSICAL , 18, 2009, Londrina. Anais... Londrina: ABEM, 2009. NEDER, M. L. C. A orientação acadêmica na Educação a Distância: a perspectiva de (re)significação do processo educacional. In: PRETI, O. (Org.). Educação a Distância: construindo significados. Cuiabá: NEAD/IE – UFMT; Brasília: Plano, 2000. Cap. 6, p. 105-123. PANITZ, Ted. Collaborative Versus Cooperative Learning: Comparing the Two Definitions Helps Understand the nature of Interactive learning, winter 1997. In:
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