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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ARQUITETURA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO ROSE LAILA DE JESUS BOUÇAS NO OLHO DA RUA: trabalho e vida na apropriação do espaço público em Salvador / BA Salvador 2015

NO OLHO DA RUA: trabalho e vida na apropriação do espaço

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ARQUITETURA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO

ROSE LAILA DE JESUS BOUÇAS

NO OLHO DA RUA:

trabalho e vida na apropriação do espaço público em Salvador / BA

Salvador

2015

ROSE LAILA DE JESUS BOUÇAS

NO OLHO DA RUA:

trabalho e vida na apropriação do espaço público em Salvador / BA

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e

Urbanismo da Faculdade de Arquitetura da

Universidade Federal da Bahia, como requisito

para obtenção do grau de Mestre.

Orientadora: Professora Dra. Ana Fernandes.

Co-orientadora: Professora Dra. Angela

Franco.

Salvador

2015

B752 Bouças, Rose Laila de Jesus. No olho da rua: trabalho e vida na apropriação do espaço público em

Salvador / Ba / Rose Laila de Jesus Bouças. 2015. 268 f. : il.

Orientadora: Profa. Dra. Ana Maria Fernandes. Co-orientadora: Profa. Dra. Ângela Maria de Almeida Franco Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Arquitetura, Salvador, 2015. 1. Planejamento urbano. 2.Trabalho informal. 3. Economia. I

Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Arquitetura. II. Fernandes, Ana Maria. III. Franco, Ângela Maria de Almeida.

CDU: 711.4

ROSE LAILA DE JESUS BOUÇAS

NO OLHO DA RUA:

trabalho e vida na apropriação do espaço público em Salvador / BA

Dissertação aprovada para obtenção do grau de Mestre em Arquitetura e Urbanismo,

Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

________________________________________________

Profa. Dra. Ana Maria Fernandes (orientadora)

Pós‐Doutorada pela École d'Architecture Paris ‐ Malaquais

________________________________________________

Profa. Dra. Ângela Maria de Almeida Franco (co-orientadora)

Doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Bahia

________________________________________________

Prof. Dr. Antônio Heliodório Lima Sampaio (membro interno)

Doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade de São Paulo

________________________________________________

Profa. Dra. Urpi Montoya Uriarte (membro externo)

Pós-Doutorada pela Universidade Federal de Pernambuco

________________________________________________

Prof. Msc. Gabriel Kraychette (membro externo)

Mestre pela Universidade Federal da Bahia

Salvador, 18 de dezembro de 2015.

À Maria da Penha e Osmário, meus avós.

AGRADECIMENTOS

Gostaria de reconhecer aqui a importância de cada pessoa que faz parte da minha vida, assim

como também àqueles que foram somados ao meu rol de amizade nos últimos dois anos e meio

de mestrado. Sou muito grata por cada palavra, incentivo e colaboração de vocês.

Agradeço à professora Ana Fernandes por ter me acolhido carinhosamente no Grupo de

Pesquisa Lugar Comum. Sou verdadeiramente grata por sua orientação cuidadosa, pelos livros

emprestados e por seu olhar atencioso e preciso, capaz de me fazer rever de forma única a

concepção e estruturação desta pesquisa.

À professora Ângela Franco pela generosidade em ceder seu tempo, sua casa, e seus livros.

Considero um grande presente tê-la conhecido e poder ter contado com suas orientações,

atenção e carinho durante esse tempo. Sinto-me com muita sorte por ter contado com o apoio

de duas orientadoras tão incríveis.

Ao professor Luiz Antônio por ter sido o primeiro a me incentivar e a acreditar na minha

pesquisa.

Ao curso de Urbanismo da UNEB por ter alimentado e contribuído com a minha sensibilidade.

Aos professores e grandes mestres que tive a honra e o prazer de conhecer no decorrer das

disciplinas do PPG-AU: Heliodório Sampaio, Angela Gordilho, Paola Berenstein, Fernando

Ferraz, Washington Drummond, Pasqualino Magnavita, Xico Costa e Thais Portela.

Aos membros da banca por terem aceitado o convite de avaliar meu trabalho.

Aos meus pais que, apesar das inúmeras dificuldades que tiveram, sempre me incentivaram e

fizeram o melhor por mim e pela minha educação. Aos meus avós maternos, a quem dedico

esse trabalho, por serem os guardiões das minhas lembranças mais doces e ternas.

Ao meu companheiro Caio Rubens pela paciência, incentivo e afeto em todos os momentos.

Pela família que estamos solidificando com esse ser semente que trago agora no ventre.

Aos amigos que fiz no PPG-AU, no Lugar Comum e, sobretudo, durante o período em que

participei da elaboração do Plano de Bairro 2 de Julho.

Aos professores, companheiros tirocinantes e estudantes que participaram do Ateliê V no

semestre de 2014.1 da Faculdade de Arquitetura.

À Gabriela, Alice, Iago, Gabriel e Emyle, bolsistas do PIBIC Jr. e estudantes do Colégio

Estadual Ypiranga, dos quais fui tutora durante pouco mais de um ano no âmbito do Plano de

Bairro 2 de Julho e que me ensinaram bastante sobre a arte de partilhar conhecimentos com

paciência.

À Reinofy e Suzana da produtora Domínio Público pela amizade e apoio na impressão dos

questionários aplicados na pesquisa de campo.

À Bruna Tupiniquim pela colaboração cuidadosa na coleta de dados secundários, aplicação e

sistematização dos 299 questionários da pesquisa.

Aos trabalhadores de rua e lideranças que gentilmente cederam um pouco do seu tempo de

trabalho para conversar conosco durante a aplicação dos questionários e nas entrevistas.

Às queridíssimas do grupo “Belas e Criativas”, pela sororidade desse grupo feminino que é o

mais amoroso que conheço.

Aos amigos de todas as horas e tempos: Thallita, João, Larissa e Lais por seu carinho verdadeiro

e por sempre vibrarem positivamente por mim, ainda que nem sempre possam estar fisicamente

presentes.

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES, pela bolsa

concedida durante os dois anos de mestrado.

Muito obrigada!

O homem está na cidade

como uma coisa está em outra

e a cidade está no homem

que está em outra cidade

mas variados são os modos

como uma coisa

está em outra coisa:

o homem, por exemplo, não está na cidade

como uma árvore está

em qualquer outra

nem como uma árvore

está em qualquer uma de suas folhas

(mesmo rolando longe dela)

O homem não está na cidade

como uma árvore está num livro

quando um vento ali a folheia

a cidade está no homem

mas não da mesma maneira

que um pássaro está numa árvore

não da mesma maneira que um pássaro

(a imagem dele)

está/va na água

e nem da mesma maneira

que o susto do pássaro

está no pássaro que eu escrevo

a cidade está no homem

quase como a árvore voa

no pássaro que a deixa

cada coisa está em outra

de sua própria maneira

e de maneira distinta

de como está em si mesma

a cidade não está no homem

do mesmo modo que em suas

quitandas, praças e ruas

Ferreira Gullar

RESUMO

O trabalho é, talvez, a dimensão da vida que tem mais importância em nossa estrutura social.

Através dele obtemos recursos para nosso sustento e podemos nos sentir inseridos na sociedade.

Contudo, o mercado de trabalho não absorve a todos. Desta forma, obter os meios de

sobrevivência para boa parte da população é uma luta diária, que envolve grande criatividade e

poder de adaptação. Nesta dissertação investigamos uma dessas muitas formas alternativas de

sobrevivência. Buscamos compreender o desenrolar de uma atividade laboral que ocorre aos

olhos de todos, no olho da rua, nas ruas do centro de Salvador. Nosso objetivo é, portanto,

estudar de que maneira a atividade dos trabalhadores de rua está inserida e se relaciona com o

espaço público, bem como a maneira como incidem as ações de planejamento e ordenamento

elaboradas entre 1992 e 2014 sobre a mesma, numa área do centro antigo da cidade de Salvador,

onde observamos uma grande incidência de trabalhadores de rua. Nesse sentido, para auxiliar

nossa compreensão, a teoria dos circuitos da economia elaborada por Milton Santos é

fundamental, pois nos ajuda a entender a maneira como as atividades se organizam no espaço,

na medida em que fazem parte do circuito superior ou inferior da economia. O espaço com o

qual estamos lidando, por sua vez, é o espaço público, comum a todos. A apropriação da rua

pelo trabalho por si só já pressupõe a existência de tensões, conflitos e disputas por este lugar.

Nos parece interessante observar ainda, que essa apropriação se converte em uso, na medida

em que passa a ser regulada pelo poder público, que reconhece a problemática social e busca

alternativas para compatibilizar os diversos interesses sobre o local.

PALAVRAS-CHAVE: trabalhador de rua; economia; rua; apropriação; planejamento

urbano.

ABSTRACT

Gainful employment is a large aspect of life that is important to our social structure. We rely

on this for our livelihood and so we can become productive, contributing members of the

community. However, the labor market does not account for the entire population. Thus

obtaining the means of survival, for a majority of the population, is a daily struggle. In this

master thesis we investigate one of those many alternative forms of survival. We seek to

understand the gradual unfolding of an employment activity that occurs for us all to witness on

the streets in Salvador downtown. Our goal is to study how the activity of street workers is

related to public space, as well as how the planning actions of 1992 and 2014 affects this activity

on the city's old downtown area where numerous street workers can be noticed. The theory of

the economic circuits by Milton Santos is an important element to our comprehension because

it helps us to understand the manner in which activities are organized on the space, as it involves

the upper and lower aspects of economy. The space which we are dealing with is the public

space, common to all. The appropriation of the street for the work itself takes on the existence

of tensions, conflicts and disputes over this place. It’s also interesting to take note that this

appropriation becomes a use as they happen to be regulated by the government, which

recognizes the social problem and seeks solutions to reconcile the various interests on the site.

KEYWORDS: street workers; economy; street; appropriation; urban planning.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Trecho da Avenida Sete de Setembro. ................................................................... 81

Figura 2: Trecho da Avenida Sete de Setembro. ................................................................... 81

Figura 3: Largo de São Bento ............................................................................................... 82

Figura 4: Largo do Mocambinho, vista da Rua Carlos Gomes. ............................................. 84

Figura 5: Avenida Sete de Setembro. Área 3 – perspectiva da área (Rua do

Cabeça/Estacionamento São Raimundo). ............................................................................. 88

Figura 6: Projeto para o Largo do Rosário. ........................................................................... 92

Figura 7 Largo do Rosário reformado................................................................................... 92

Figura 8: Proposta de requalificação do mercado das flores (Largo 2 de Julho) / Praça General

Inocêncio Galvão ................................................................................................................. 93

Figura 9: Rua do Cabeça e “Largo das Flores”, bairro Dois de Julho. ................................... 94

Figura 10: Reunião para discussão do Projeto de Requalificação do Mercado Dois de Julho. 94

Figura 11: Trecho da Avenida Sete com parklet. Fotografia retirada de slide apresentado

durante reunião convocada pela SEMOP em 21-11-2014. .................................................... 96

Figura 12: Largo de São Bento em reforma. ......................................................................... 96

Figura 13: Largo de São Bento antes da reforma. ................................................................. 96

Figura 14: Praça Barão Rio Branco (Relógio de São Pedro) antes da reforma. ...................... 97

Figura 15: Vista de cima da Praça Barão Rio Branco (Relógio de São Pedro), em reforma. .. 97

Figura 16: Esquema de espaço demandado pela atividade do trabalhador de rua................... 99

Figura 17: Situação 1 - Demanda de espaço pela atividade, considerando mobiliário

independente de outros. ...................................................................................................... 100

Figura 18: Situação 2 - Demanda de espaço pela atividade, considerando mobiliário de quina

ou encostado com outros. ................................................................................................... 100

Figura 19: Situação 3 - Demanda de espaço pela atividade, considerando mobiliário encostado

com outros ou com a parede. .............................................................................................. 101

Figura 20: Representação esquemática de uma rua. ............................................................ 102

Figura 21: Esquema densidade de ocupação – Ruas tipo “A”. ............................................ 102

Figura 22: Esquema densidade de ocupação – Ruas tipo “A”. ............................................ 103

Figura 23: Improvisos para proteger-se da chuva e do sol na Rua da Forca......................... 150

Figura 24: Improvisos para proteger-se da chuva e do sol na Rua Coqueiros da Piedade .... 150

Figura 25: Ação do rapa com presença policial em 24.09.2014........................................... 153

Figura 26: Ação do rapa com presença policial em 24.09.2014........................................... 154

Figura 27: Reforma da rua Portão da Piedade. .................................................................... 154

Figura 28: Reforma da Rua do Cabeça. .............................................................................. 154

Figura 29: Trabalhadores provisoriamente deslocados para a Praça da Piedade. ................. 155

Figura 30: Trabalhadores provisoriamente deslocados para Avenida Joana Angélica.......... 155

Figura 31: Trabalhadores provisoriamente deslocados para a lateral do Mosteiro de São Bento.

.......................................................................................................................................... 155

Figura 32: Trabalhadores provisoriamente deslocados para canteiro central da Av. Joana

Angélica ............................................................................................................................ 155

Figura 33: Trabalhadores que permanecem ao longo da Avenida Sete. ............................... 157

Figura 34: Trabalhadores que permanecem ao longo da Avenida Sete. ............................... 157

Figura 35: Comercialização de mercadorias realizada com o uso de automóveis. ............... 158

Figura 36: Comercialização de mercadorias realizada com o uso de automóveis. ............... 158

Figura 37: Comercialização de mercadorias realizada com o uso de automóveis. ............... 158

Figura 38: Comercialização de mercadorias realizada com o uso de automóveis. ............... 158

Figura 39: Carregador levando mercadoria para o ponto de um trabalhador. ....................... 163

Figura 40: Trabalhadora montando sua guia no início da jornada de trabalho. .................... 163

Figura 41: Carregadores levando mercadoria na Rua do Cabeça. ........................................ 163

Figura 42: Carregador na Rua Carlos Gomes...................................................................... 163

LISTA DE MAPAS

Mapa 1: Av. Sete de Setembro – Extensão total, 2015. ......................................................... 68

Mapa 2: Bairros que margeiam a Avenida Sete de Setembro. ............................................... 71

Mapa 3: Ruas contempladas com o projeto de ordenamento. ................................................ 91

Mapa 4: Densidade de ocupação na área de estudo. ............................................................ 104

Mapa 5: Percurso de aplicação do questionário de aprofundamento. ................................... 114

Mapa 6: Localização dos trabalhadores de rua em Salvador/BA ......................................... 129

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Estimativa do número de ocupados. ...................................................................... 37

Tabela 2: Distribuição da população em desemprego oculto pelo trabalho precário e experiência

anterior de trabalho, segundo tempo de perda do emprego e duração do último trabalho Regiões

Metropolitanas(*) e Distrito Federal – 1999, 2004 e 2009 (em %) ........................................ 40

Tabela 3: Síntese da análise do projeto “O Informal em Salvador: políticas e propostas”, 1992.

............................................................................................................................................ 83

Tabela 4: Comparativo entre as alternativas da Proposta I para relocação do comércio informal

– Av. Sete de Setembro, 1997 .............................................................................................. 86

Tabela 5: Comparativo entre as alternativas da Proposta II para relocação do comércio informal

– Av. Sete de Setembro, 1997 .............................................................................................. 86

Tabela 6: Síntese da análise do projeto “Comércio Informal: projeto de relocação dos

ambulantes da Av. Sete de Setembro e Baixa dos Sapateiros”, 1997 .................................... 89

Tabela 7: Síntese da análise dos projetos “Plano de requalificação e reordenamento de

ambulantes de Salvador”, “Requalificação do Mercado 2 de Julho” e “Programa Avenida Sete

de Setembro – Território Empreendedor”, 2014. .................................................................. 97

Tabela 8: Caracterização da Atividade – Quais produtos comercializa? .............................. 144

Tabela 9: Caracterização da Atividade – Onde você compra os produtos que comercializa?145

Tabela 10: Caracterização da Atividade – Quanto você consegue tirar num dia bom / ruim?

.......................................................................................................................................... 148

Tabela 11: Questionário de aprofundamento – Quais as três coisas que gosta no trabalho / quais

as três dificuldades / quais os planos para o futuro.............................................................. 161

Tabela 12: Questionário de aprofundamento – Quais as três coisas que gosta no trabalho / quais

as três dificuldades / quais os planos para o futuro.............................................................. 166

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Evolução do PIB nacional, trimestral e das Populações Metropolitanas

Economicamente Ativa e Ocupada -..................................................................................... 37

Gráfico 2: Taxas de desemprego, segundo tipo ..................................................................... 38

Gráfico 3: Caracterização geral – Pirâmide etária ............................................................... 126

Gráfico 4: Caracterização geral – Grau de escolaridade ...................................................... 127

Gráfico 5: Caracterização geral - Origem ........................................................................... 128

Gráfico 6: Caracterização da atividade – Como se desloca até o trabalho? .......................... 131

Gráfico 7: Caracterização Geral – Como você chama o trabalho que faz aqui neste lugar? . 132

Gráfico 8: Caracterização Geral – Se já trabalhou de carteira assinada, o que fazia? ........... 133

Gráfico 9: Caracterização Geral – Quando fica doente (ou quando tem algum acidente ou

problema), o que acontece com o negócio? ........................................................................ 134

Gráfico 10: Caracterização da Atividade – Por que o seu ponto é nessa rua? ...................... 139

Gráfico 11: Caracterização da Atividade – Tempo em que exerce a atividade / tempo que

trabalha na mesma rua ........................................................................................................ 140

Gráfico 12: Caracterização da Mercadoria – Se paga aluguel no depósito, quanto custa? .... 142

Gráfico 13: Caracterização da Atividade – Com quem você compra os produtos que

comercializa? ..................................................................................................................... 145

Gráfico 14: Caracterização da Atividade – Que tipo de investimento fez para começar no ramo?

.......................................................................................................................................... 147

Gráfico 15: Caracterização da Mercadoria – Porque tem licença ........................................ 152

Gráfico 16: Caracterização da Mercadoria – Porque não tem licença .................................. 152

Gráfico 17: Caracterização da Mercadoria – De qual associação/sindicato faz parte? ......... 159

Gráfico 18: Caracterização da Atividade – Se não faz parte de nenhuma associação, qual o

motivo? .............................................................................................................................. 160

Gráfico 19: Caracterização da Atividade – Como você bebe água e se alimenta?................ 164

Gráfico 20: Caracterização da Atividade – O que faz com o lixo produzido? ...................... 165

ABREVIATURAS E SIGLAS

ASFAERP - Associação dos Feirantes e Vendedores Ambulantes da Cidade de Salvador e

Região Metropolitana

ASSINDIVAN - Associação Integrada de Vendedores Ambulantes e Feirantes de Salvador

ASSINFORMAL - Associação dos Trabalhadores Informais de Salvador

BNDES - Banco Nacional do Desenvolvimento

CAB - Centro Administrativo da Bahia

CDL - Câmara de Dirigentes Lojistas de Salvador

CIA - Centro Industrial de Aratu

CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas

CMC - Centro Municipal do Camaragibe

CMR - Centro Municipal Retiro-Acesso Norte

CMT - Centro Municipal Tradicional

DIEESE - Departamento Intersindical de Estatística e Estudo Socioeconômicos

FMLF - Fundação Mário Leal Ferreira

LOUOS - Lei do Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo de Salvador

OIT - Organização Internacional do Trabalho

PAC - Programa de Aceleração do Crescimento

PDDU - Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador

PEA - População Economicamente Ativa

SEBRAE - Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SEDUR - Secretaria de Desenvolvimento Urbano

SEMOP - Secretaria de Ordem Pública

SESP - Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Prevenção à Violência

SINDIFEIRA - Sindicato dos Feirantes e Ambulantes da Cidade de Salvador

SUCOM - Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município

TRANSALVADOR - Superintendência de Trânsito de Salvador

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 18

1 TRABALHO DE RUA: UMA RELAÇÃO ENTRE INFORMALIDADE E ESPAÇO

PÚBLICO ........................................................................................................................... 28

1.1 NEM DICOTOMIA, NEM AMBIGUIDADE: DOIS CIRCUITOS DE UM MESMO SISTEMA ............. 29

1.2 A ECONOMIA NO ESPAÇO, O TRABALHO NA RUA ............................................................ 47

2 O ESPAÇO PÚBLICO E O TRABALHO DE RUA EM SALVADOR:

CARACTERIZAÇÃO, LEGISLAÇÃO E PLANEJAMENTO ....................................... 65

2.1 CARACTERIZAÇÃO DAS RUAS ONDE SE OBSERVA O TRABALHO DE RUA: AVENIDA SETE DE

SETEMBRO, TRANSVERSAIS E LARGO DOIS DE JULHO ......................................................... 66

2.2 O ESPAÇO PÚBLICO EM SALVADOR E A LEGISLAÇÃO INCIDENTE ..................................... 72

2.3 PROJETOS DO PODER PÚBLICO INCIDENTES SOBRE A ATIVIDADE DO TRABALHADOR DE RUA

......................................................................................................................................... 76

2.3.1 Propostas em 1992 ............................................................................................... 77

2.3.2 Propostas em 1997 ............................................................................................... 84

2.3.3 Propostas em 2014 ............................................................................................... 90

2.4 A DENSIDADE DE OCUPAÇÃO ........................................................................................ 99

3 O TRABALHO DE RUA EM SALVADOR: OS PROTAGONISTAS, SUAS

CARACTERÍSTICAS E FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE.............. 106

3.1 AS ASSOCIAÇÕES/SINDICATOS .................................................................................... 106

3.2 OS TRABALHADORES DE RUA ..................................................................................... 113

3.3 CONCEPÇÃO E FUNCIONAMENTO DOS CIRCUITOS DO TRABALHO DE RUA EM SALVADOR 134

3.3.1 Se virar: entre a subordinação e a autonomia .................................................... 136

3.3.2 A correria e o rapa: conflitos e disputas ............................................................. 149

3.3.3 A pedra: circuitos de cooperação, pertencimento e solidariedade ...................... 162

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 170

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 181

ANEXO A: PLANTAS DO PROJETO “O INFORMAL EM SALVADOR: POLÍTICA

E PROPOSTAS, 1992” – TRECHO SÃO PEDRO, JOANA ANGÉLICA E SÃO

BENTO ............................................................................................................................. 189

ANEXO B: PLANTAS DO PROJETO “COMÉRCIO INFORMAL: AV. SETE DE

SETEMBRO; ÁREAS PROVISÓRIAS. SALVADOR: 1997” ...................................... 193

ANEXO C: PLANTAS DO PROJETO “REQUALIFICAÇÃO DA AV. SETE DE

SETEMBRO - ORDENAMENTO DO COMÉRCIO INFORMAL" ........................... 201

APÊNDICE A: QUESTIONÁRIO BÁSICO APLICADO COM OS 289

TRABALHADORES DE RUA ........................................................................................ 205

APÊNDICE B: QUESTIONÁRIO DE APROFUNDAMENTO APLICADO COM OS 10

TRABALHADORES DE RUA SELECIONADOS ........................................................ 209

APÊNDICE C: RESULTADO DA CONTAGEM DOS TRABALHADORES PARA

DEFINIÇÃO DA AMOSTRA ......................................................................................... 211

APÊNDICE D: ÁREAS PARA APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS BÁSICOS ... 215

APÊNDICE E: ROTEIRO DE ENTREVISTA ASSOCIAÇÕES / SINDICATO ......... 216

APENDICE F: DENSIDADE DE OCUPAÇÃO............................................................. 219

APÊNDICE G: SISTEMATIZAÇÃO DO QUESTIONÁRIO BÁSICO: TABELAS E

GRÁFICOS ...................................................................................................................... 224

18

INTRODUÇÃO

Nesta dissertação estudamos o trabalho e o trabalhador de rua na Avenida Sete de

Setembro e seu entorno, no centro tradicional da cidade de Salvador, lugar onde a atividade

acontece com grande intensidade, entre as maiores da cidade. A pesquisa surge e se justifica,

portanto, com o objetivo de estudar de que maneira a atividade dos trabalhadores de rua está

inserida e se relaciona com o espaço público, bem como a maneira como incidem as ações de

planejamento e ordenamento sobre a mesma. Além disso, busca compreender o perfil do

trabalhador que atua hoje nas ruas de Salvador e verificar, através da apropriação do espaço

público pelo trabalhador de rua, quais são as tensões, interações, contradições, pertencimentos,

conflitos, disputas e solidariedades que se evidenciam na dinâmica da realização da atividade

aqui estudada. Esta pesquisa parte então do princípio de que, além de ser necessário

compreender o contexto no qual a atividade dos trabalhadores de rua se torna mais expressivo

na cidade, a ponto de o tema ser inserido nas políticas públicas do Estado sob a forma do

planejamento, é preciso buscar entender também como os trabalhadores se relacionam entre si

e com o cotidiano da cidade e qual a sua importância para ela.

O trabalho, nesse contexto, é tratado como um aspecto intrínseco à vida, e se destaca

ao analisarmos sua realização em um o espaço público, a rua aqui em questão. Talvez possamos

arriscar dizer que o trabalho é a própria vida para essas pessoas, principalmente se

considerarmos que, assim como em outras ocupações na estrutura social capitalista, o trabalho

torna-se uma das feições mais importantes da vida, para a qual dedicamos a maior parte de

nosso tempo. É também através do trabalho que o indivíduo é capaz de obter satisfação pessoal,

de sentir-se útil para a sociedade e potente diante da vida, além de ser o meio pelo qual se pode

garantir a sobrevivência.

O trabalho que estamos estudando possui essa peculiaridade de ocorrer às vistas de

todos, sobre o que podemos nos perguntar: o que leva as pessoas a utilizarem o espaço da rua

para vender mercadorias? Esta pergunta parece um tanto óbvia, mas aqui nos cabe explicitá-la.

As pessoas estão utilizando a rua para comercializar mercadorias, em sua maioria, como

veremos no desenvolvimento desta dissertação, porque não encontraram outro emprego. Apesar

de haver casos de pessoas que optaram por essa ocupação, a maioria dos trabalhadores

pesquisados revelou ter entrado nesse mercado por não ter conseguido um emprego formal ou

por terem sido demitidos, ou seja, porque ficaram no “olho da rua”, expressão que carrega em

seu significado a ameaça ou a própria situação de desemprego. É justamente no olho da rua que

19

verificamos o desenrolar do trabalho, enquanto aspecto fundamental da vida social moderna,

expresso na apropriação do espaço público pelos trabalhadores de rua em Salvador. No olho

das ruas do centro da cidade podemos verificar a presença de diversos trabalhadores que não

foram absorvidos pelo mercado formal, revelando uma das faces das desigualdades de

oportunidades a que está submetida grande parte da população urbana e, ao mesmo tempo, um

de seus lugares de maior disputa.

Para além das motivações que levaram essas pessoas a realizar suas atividades de

trabalho expostas aos olhos de todos, é importante também entender quem são elas, suas

histórias, suas atividades e estratégias de trabalho, questão que será abordada no Capítulo 3 da

dissertação. Todavia precisamos desde já esclarecer porque estamos fazendo uso do termo

“trabalhador de rua”. Cabe ressaltar que, embora seja necessário olhar um pouco para o passado

para justificar tal denominação, o nosso objetivo não é fazer um histórico do trabalho de rua em

Salvador, mas analisá-lo no período compreendido desde a redemocratização do país e

promulgação de sua nova constituição até os dias atuais (1988-2014). Esse recorte temporal foi

escolhido em função de sua correspondência com os projetos encontrados e que foram

elaborados pelo poder público para o tratamento da questão, bem como com o seu tratamento

enquanto política pública incorporada ao planejamento urbano. Dessa forma, podemos melhor

aproximar o tema pesquisado da linha de pesquisa de Processos Urbanos Contemporâneos, do

Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFBA.

Por que não nos referimos a essas pessoas como “ambulantes” ou “camelôs”? O

primeiro termo, “ambulante”, se refere àquele que se desloca para oferecer mercadorias ou fazer

negócios. Dá ideia, portanto, de alguém que não cria pontos fixos de trabalho, uma vez que se

está sempre em deslocamento e não foi o caso investigado nesta pesquisa. Já o termo “camelô”

começou a ser tratado em 1869, conforme Mollier (2009), por Pierre Larrousse no Dictionnaire

universel du XIXe siècle. Nele, o termo camelot aparece com o uso popular que recebia na época,

referindo-se ao “vendedor ambulante que empurra uma carreta com os braços e encurvando as

costas, o que faz lembrar um camelo” (MOLLIER, 2009, p.49). Já no segundo Supplément do

Grand Dicitionnaire universel du XIXe siècle, em 1890 o termo era explicado pelos sucessores

de Larousse como:

O termo camelô aplica-se a uma nova classe de negociantes essencialmente características das grandes cidades e em particular de Paris. Ativo, esperto,

inteligente, o camelô geralmente tem verve e espírito suficientes para reunir a

20

multidão em torno de seu modesto mostruário, que cabe inteiro em um pano

estendido na calçada (MOLLIER, 2009, p.49).

O autor supramencionado destaca que, no intervalo de 20 anos entre as publicações

destacadas, é possível notar que a noção sobre este trabalhador se aprimorou, o que se deve ao

fato de, já naquela época, haver uma expansão da atividade. Vale ressaltar que em outra

enciclopédia, La Grande Encyclopédie de Marcellin Berthelot, publicada entre 1885 e 1891, o

termo se subdividia em duas categorias: o primeiro (gascão) corresponde genericamente ao

mascate e o segundo (parisiense) se subdivide entre aqueles que lidam com papel (ex.:

jornaleiro) e os que vendem mercadoria ordinária (ex.: passador de fitas, bengalas, guarda-

chuvas etc.).

Mollier (2009) dedica sua obra a este que seria um personagem familiar nas grandes

cidades desde o século XIX, retratando o surgimento e papel dos camelôs, na França, que para

ele é uma figura onipresente na metrópole. A rua, para este autor, preserva em si a função

essencial de circulação de informações e mercadorias.

Expostos em um mostruário rudimentar, diretamente no chão ou em uma banca de madeira, mas na maioria das vezes apresentados suspensos em

cordões improvisados e presos com pregadores de roupas, esses opúsculos

expressam à sua maneira a capacidade de resistir ao tempo (MOLLIER, 2009, p.16).

Se no século XIX na França as atividades dos camelôs já se faziam importantes, no

mesmo período no Brasil, sobretudo nas cidades de Salvador, Recife e Rio de Janeiro, se

identificava atividades que se aproximam com a anteriormente descrita, com a peculiaridade de

estarem inseridas num contexto de uma economia ainda baseada na escravidão. De acordo com

Durães (2002) em seu trabalho onde estabelece um paralelo entre os trabalhadores de rua de

Salvador do século XIX e os trabalhadores de rua de hoje, as atividades exercidas pelos

primeiros, trabalhadores negros (escravos e libertos) e crioulos que trabalhavam nas ruas de

Salvador, os identificava como “ganhadores”, “carregadores” ou ainda como “prestadores de

“serviços”. Segundo o mesmo autor “dentre as atividades consideradas como informais, na

época, registram-se a venda de comidas típicas (quitandeiras) e a atividade dos trabalhadores

de “ganho” (carregadores), entre outras” (DURÃES, 2002, p.291).

21

[...] se constituiu o trabalho de rua em Salvador no século XIX, altamente

marcado pela estrutura social rígida, onde diferenças raciais e sociais eram

nitidamente afirmadas. Nesse bojo, processou-se a atividade não regulamentada, marcada pela busca imediata da sobrevivência, que ainda não

se caracterizava pela relação de assalariamento, ou seja, eram atividades

tipicamente não capitalistas, muito precárias e, por vezes, discriminadas,

marginalizadas e excluídas naquela sociedade (DURÃES, 2002, p.294).

Segundo o referido autor, parte do que os trabalhadores de ganho recebiam era

repassado para seus donos e a outra parte era utilizada para garantir sua própria subsistência.

Essas atividades se realizavam, sobretudo no espaço público da rua, considerada como “reduto

dos mais vivos, hábeis e representava o espectro da liberdade para uns, dentre esses o escravo

de ganho[...]” (DURÃES, 2002, p.291). Nesse contexto havia já naquela época uma

concentração desses trabalhadores em “cantos” específicos da cidade. Nesses “cantos”, de

acordo com Durães (2009) havia uma estrutura simbólica que possibilitava o seu uso, mas

também uma dimensão legal/oficial de funcionamento já que normalmente se estabeleciam em

alguma esquina das ruas mais movimentadas.

Como mencionamos anteriormente, nesta dissertação não nos aprofundaremos

neste aspecto particular do contexto histórico que traz à tona a questão do trabalho na rua desde

o período do final da escravidão, pois o momento histórico que estará em foco é mais

contemporâneo. Porém, consideramos importante evidenciá-lo como uma forma de ampliar

nossa percepção sobre o trabalho realizado na rua, cuja apropriação pelo trabalho, como

podemos notar, é histórica. A questão da apropriação, por sua vez, será mais bem explorada na

segunda parte do primeiro capítulo desta dissertação. Por ora, é interessante observar que a

atividade, desde o período comentado por Durães (2002), sofre regulações pelo poder público,

que determina sua realização em cantos específicos da cidade. O fato de ela ter sido realizada

majoritariamente por negros, escravos e libertos, portanto, pessoas em situação de maior

vulnerabilidade, também nos dá indícios sobre a segregação que engendra nossa formação

social, política, econômica e espacial.

Para além das questões mencionadas e uma vez apresentados os termos mais

comumente utilizados para se referir aos trabalhadores de rua, cabe ainda justificar o uso do

termo nesta dissertação. A expressão “trabalhador de rua” é considerada como a forma mais

simples de traduzir e remeter ao significado que se quer passar, de alguém que exerce uma

atividade laboriosa nas ruas para dela tirar o seu sustento. Além disso, consideramos a expressão

importante também por reforçar que se trata de um trabalhador, ainda que a atividade realizada

por ele seja precarizada, desprovida de direitos trabalhistas e o deixe em uma condição de

22

vulnerabilidade, uma vez que são grandes as incertezas no que se refere à obtenção de

rendimentos reais no final do mês. O termo nos parece também mais abrangente, pois pode ser

utilizado tanto para aqueles que possuem pontos transitórios, quanto para aqueles que possuem

pontos fixos de trabalho. É importante salientar também que há uma grande diversidade nas

formas de se referir a esse trabalho, cujo entendimento não é uniforme entre os próprios

trabalhadores de rua, como veremos no terceiro capítulo desta dissertação.

Ao nos aproximarmos de como se estrutura a presente dissertação nos parece

importante esclarecer a metodologia aqui empregada, pela qual foi necessário percorrer um

caminho que buscou alinhavar a compreensão teórica e conceitual com as análises empíricas.

O levantamento teórico-conceitual contou com a revisão da bibliografia sobre o assunto e a

pesquisa empírica contou com o levantamento de informações em fontes primárias e

secundárias, o que foi realizado principalmente porque as informações obtidas com o

levantamento teórico-conceitual não foram suficientes para compreendermos efetivamente o

funcionamento da atividade e quem são os agentes que a tornam possível. Mesmo nos projetos

encontrados, incluindo-se aí os recentemente elaborados, não há um levantamento preciso do

quantitativo de trabalhadores atuando na área estudada, por exemplo, tampouco constam

informações sobre o perfil dessa população. Por este motivo, se fez necessário realizarmos um

levantamento empírico que contou com a observação participante, aplicação de questionários

estruturados, entrevistas, registros fotográficos e elaboração de diário de campo.

No que se refere ao caminho teórico proposto, buscamos principalmente

compreender o que se entende como os dois eixos que alicerçam a nossa abordagem: a

informalidade e o espaço público. O resultado dos estudos sobre esses dois eixos e a relação

estabelecida entre ambos aparece no primeiro capítulo desta dissertação. Em seguida, no

segundo capítulo, veremos como as ações do planejamento municipal vêm incidindo sobre a

área estudada, ao analisarmos os projetos propostos no período enfocado. No que se refere a

tais projetos, a análise deteve-se nas seguintes categorias: existência de um diagnóstico sobre a

situação; conforto ambiental; infraestrutura de suporte para a atividade; relação entre a proposta

e o entorno; e densidade de ocupação. A partir da análise realizada através dessas categorias,

acredita-se ser possível avaliar os projetos de forma mais consistente e crítica. Por fim, no

terceiro capítulo, os dados empíricos nos ajudam a ter uma leitura sobre o panorama geral do

que é o trabalho de rua desenvolvido no centro tradicional de Salvador, suas características,

quem são as pessoas que o realizam e como ele se organiza.

23

O primeiro capítulo é iniciado contextualizando a informalidade, sob a ótica das

linhas teóricas que tratam do assunto, o que nos permitirá analisar o comportamento da

economia e do mundo do trabalho do final da década de 1980 até os dias atuais. Além disso,

dados estatísticos sobre a situação do emprego e da informalidade serão apresentados,

relacionados ao contexto histórico do período estudado, ou seja, considerando o processo de

reestruturação produtiva e da globalização com viés neoliberal, que contribuíram para a

flexibilização e diversas formas de precarização do trabalho. Nesta noção sobre a economia, a

formalidade e a informalidade são interpretadas como duas faces de uma mesma moeda, partes

de um mesmo sistema. Dizer isso significa tratar os dois temas compreendendo que sua

distinção se origina do processo tardio de industrialização do Brasil, que arruinou as ocupações

tradicionais sem ser capaz de absorver uma grande massa de pessoas pouco qualificadas,

desempregadas com a modernização dos processos produtivos, seja na indústria, seja na

agriculta. Trata-se, portanto, de um traço estrutural de nossa economia e que pode ser melhor

compreendido se tivermos em conta a leitura sobre os circuitos superior e inferior da economia

desenvolvidos por Milton Santos, onde a noção do espaço é inserida, ampliando nosso

entendimento sobre a problemática. Sobre esse aspecto, vale mencionar ainda que a teoria dos

circuitos da economia se constituirá como fundamento teórico estruturante da dissertação.

O espaço, por sua vez, é uma dimensão bastante importante para nós e será

brevemente delineado teoricamente, sendo compreendido enquanto um produto social em

permanente transformação. A questão do espaço será levantada, sobretudo, para que possamos

evidenciar a relação imbricada que existe entre espaço e economia, que pode ser expressa de

diferentes formas, como é o caso dos trabalhadores de rua aqui estudados. Ademais, o local

específico no espaço em que se expressa a atividade dos trabalhadores de rua, por sua vez, é o

espaço da rua, espaço público, portanto, que também merece ser melhor compreendido. Assim,

a importância das ruas enquanto lugar do diferente, da socialização e da democracia será

destacada, buscando direcionar o olhar para as diferentes formas de apropriação que incidem

sobre este espaço, que não ocorrem sem problemas ou contradições. A apropriação por parte

dos trabalhadores de rua, como veremos, é convertida em direito na medida em que a atividade

é absorvida pelas políticas públicas do Estado, que a incorporam no planejamento, não sem

restringi-las ou regulá-las.

Uma vez discutidos os aspectos dos eixos informalidade e espaço público, no

segundo capítulo nos deteremos às propostas de intervenção elaboradas pelo Poder Público em

momentos distintos entre os anos de 1988 e 2014. Para isso, realizamos pesquisa de dados junto

24

à Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), ente responsável pela concepção e execução dos

projetos urbanísticos desenvolvimentos para o planejamento urbano do município de Salvador,

onde foi possível colher informações sobre os projetos elaborados durante o período estudado.

Além disso, foi realizada entrevista com um representante da Secretaria de Ordem Pública

(SEMOP), órgão responsável atualmente pelo licenciamento e fiscalização do trabalho informal

na cidade.

Ainda no Capítulo 2, a Avenida Sete de Setembro e as ruas de suas imediações,

onde se incluem as ruas do bairro Dois de Julho, serão apresentadas como uma forma de

aproximar o leitor do lugar estudado. Além disso, as propostas de intervenção são apreciadas

tendo em vista o contexto do planejamento urbano no Brasil no qual estão inseridas, e os

contextos políticos na cidade de Salvador, com a finalidade de evidenciar as semelhanças,

diferenças e críticas das propostas apresentadas. Pensamos que assim será possível tensionar a

ação do Poder Público na regulação da atividade, no que se faz importante ainda realizar um

estudo sobre a legislação incidente sobre o assunto.

No terceiro e último capítulo nos debruçaremos sobre quem são os trabalhadores de

rua que atuam hoje na área estudada, em Salvador, o modo como operam sua atividade e qual

a importância que esses enxergam seu trabalho para a cidade. Nessa parte da dissertação

contamos com uma metodologia bastante comprometida com a consistência das informações

coletadas em campo, que contou com a realização de entrevistas e aplicação de questionários

com um universo considerável de pessoas. Cabe mencionar ainda que o método utilizado foi de

realizar um estudo de caso com inspiração etnográfica e antropológica.

A referência à inspiração etnográfica surge primeiro pelo interesse em

evidenciarmos os protagonistas da história, os trabalhadores de rua. Em seguida, pela natureza

da pesquisa ser qualitativa, principal característica da pesquisa antropológica, ainda que não

esteja sendo realizada com a perícia, habilidade e temporalidade do trabalho de uma

antropóloga. Aqui interessa-nos também, portanto, as histórias de vida e os dados advindos da

observação do cotidiano. De acordo com Santos (2005) conseguir os dados desejados, em

grande parte dos casos, está relacionado ao fato de o pesquisador “estar lá”, envolvido com sua

pesquisa, realizando a etnografia.

O método etnográfico, de acordo com Uriarte (2012:173), “consiste num mergulho

profundo e prolongado na vida cotidiana desses Outros que queremos apreender e

compreender”. Este mergulho possui uma primeira fase de aprofundamento na teoria, em que

se realiza um amplo levantamento de informações e interpretações sobre a população que

25

queremos pesquisar; uma segunda fase de convívio intenso com as pessoas dessa população; e

uma fase de escrita quando o pesquisador retorna para casa e registra suas impressões.1 O

“mergulho” em nosso caso, foi dado muito mais como processo que possibilita a observação

do que da participação propriamente dita, excetuando-se aí os casos em que foi possível

estabelecer uma relação de convívio e confiança com alguns trabalhadores. As impressões

levantadas neste percurso resultaram na elaboração de um diário de campo, realizado

principalmente para que as percepções do campo não escapassem da memória. Nesse sentido

há também a realização de registros fotográficos em diferentes momentos da pesquisa. Diante

disso, fica evidente se tratar de uma inspiração no método e não na sua aplicação propriamente

dita. Contudo, acreditamos que ainda que não se constitua essencialmente como método

etnográfico com toda a profundidade de envolvimento que esta forma de estudo implica, a

inspiração nele foi capaz de enriquecer bastante esta pesquisa, sobretudo pela dimensão mais

cotidiana dos sujeitos que se tornou possível aproximar.

O levantamento de informações também foi realizado através da aplicação de

questionários com uma amostra calculada dos trabalhadores de rua, de modo a auxiliar no

entendimento de como se caracteriza a apropriação do espaço utilizado para o trabalho e como

se organizam suas redes de funcionamento. Em nosso caso, como trata-se apenas de uma

inspiração no método etnográfico e por termos o intuito de levantar informações mais acuradas

e atualizadas sobre o perfil dos trabalhadores de rua, que não estão disponibilizadas pelos

órgãos municipais competentes, optamos pela aplicação de questionários estruturados. Para esta

aplicação foi definida uma área de estudo, considerando os locais onde há incidência de

trabalhadores de rua na Avenida Sete e suas imediações. Os questionários aplicados foram

divididos em dois momentos de aplicação:

Um momento de aplicação do questionário básico (Apêndice A), com questões

majoritariamente fechadas e quantitativas, aplicado com um universo mais amplo de

trabalhadores;

Um momento de aplicação do questionário de aprofundamento (Apêndice B), com

questões totalmente abertas e, portanto, qualitativas, realizadas com o intuito de captar

um pouco mais a própria visão dessas pessoas com relação ao trabalho que

desempenham e a importância deste para a cidade.

1 A inspiração nessa metodologia levou a pesquisadora a se dedicar nos últimos quatro anos aos estudos e trabalhos desenvolvidos sobre a temática, além de, nos últimos dois anos tê-la levado a residir no bairro Dois de Julho, uma das áreas pesquisadas, de modo que assim foi possível experenciar mais de perto os aspectos do cotidiano que são mobilizados em função

da atividade dos trabalhadores de rua.

26

Para iniciar o trabalho empírico, buscou-se levantar o número de trabalhadores em

publicações como jornais e diário oficial, porém, devido à diversidade dos quantitativos

encontrados, fez-se necessário realizar uma contagem in loco. Como metodologia para a

contagem, foi decidido realiza-la em dois dias diferentes e posteriormente tirar uma média dos

quantitativos encontrados, para, a partir dessa média, definir o tamanho da amostra necessária.

Para facilitar a orientação e análise de campo, foi criado um mapa distinguindo as 04 áreas de

aplicação dos questionários (Apêndice D). Neste mapa estão identificadas as áreas e os trechos

da Av. Sete de Setembro e Av. Joana Angélica que precisaram ser subdivididos durante a

contagem. Os resultados da contagem por trecho, por sua vez, estão listados no Apêndice C.

Por ora, cabe aqui comentarmos que a amostra resultante desse processo foi de 287

trabalhadores de rua, nos quais foram adicionados mais 2 questionários em campo por engano,

resultando em uma amostra de 289 trabalhadores, os quais nos permitiram analisar os dados do

perfil e da dinâmica da atividade.

Os resultados da aplicação do questionário básico, bem como os significados dessas

respostas estarão distribuídos ao longo do terceiro capítulo, em diálogo tanto com a teoria

apresentada nos capítulos anteriores, quanto com entrevistas realizadas com os outros agentes

que interagem com a atividade do trabalhador de rua. As entrevistas, portanto, se constituem

como um terceiro elemento da metodologia de realização do trabalho empírico e foram

realizadas também em dois momentos: um com os representantes das três associações e de um

sindicato dos trabalhadores de rua; e com um representante do órgão municipal responsável

pelo controle e ordenamento da atividade.

Soma-se ainda à metodologia de trabalho desenvolvida em campo, a elaboração e

apresentação de um relato construído com o intuito de aproximar-se ao máximo de uma

narrativa2, que surge como um produto do levantamento de dados e que é incorporada ao

terceiro capítulo do trabalho. Tal relato constitui-se, talvez, como o lugar onde mais

genuinamente se evidenciam as relações do trabalhador de rua com o espaço do qual se utiliza

e com os agentes que nele interferem, fazendo emergir um pouco da relação dessas pessoas

com a cidade. A inserção da narrativa no texto se justifica principalmente por considerarmos

que o ponto de vista dessas pessoas sobre o seu trabalho é tão ou mais importante do que aquilo

que se diz sobre elas. Como nos diz Uriarte (2012:175) sobre o método etnográfico “a essas

2 Uriarte (2013) esclarece sobre a distinção entre descrever e narrar o campo. Segundo a autora, descrever é: “um ato sem prévia reflexão, que conta acontecimentos, fatos, impressões sem tentar encontrar ainda ordem ou lógica entre eles”. Já narrar é entendido como “um trabalho conscientemente inventivo, que se vale de outras linguagens que não apenas a oralidade”, ou seja, é uma forma de contar fatos selecionados (determinadas passagens, momentos, personagens, etc.), montados em uma certa

ordem ou sequência, como uma composição.

27

pessoas damos voz não por caridade, mas por convicção de que têm coisas a dizer”. Contudo,

cabe dizer ainda que tal narrativa, apesar de apresentar brevemente a história de vida de dez

“personagens” da Avenida Sete de Setembro, em sua condição de trabalhadores de rua, não

poderá ser demasiadamente prolongada, o que deixa tanto a pesquisadora com mais vontade de

escrever sobre elas, quanto pode deixar o leitor com mais curiosidade por conhecê-las.

Uma vez esclarecida a metodologia realizada para o levantamento de dados

empíricos, cabe-nos apresentar os resultados encontrados como uma forma de dar visibilidade

à dinâmica do trabalho realizado nas ruas da cidade de Salvador. Para isso, no terceiro capítulo,

o perfil do trabalhador de rua é apresentado através dos gráficos e tabelas resultantes da

sistematização do trabalho de campo. Em seguida tentamos sistematizar a análise da atividade

segundo três aspectos que se destacam no seu funcionamento, identificados como: “se virar”,

referente ao próprio exercício do trabalho, onde destacamos a relação entre a subordinação e a

autonomia no trabalho desenvolvido; “a correria e o rapa”, onde se tratará sobre os

tensionamentos existentes no desenrolar da atividade; e “a pedra”, que aborda a relação do

trabalhador com o lugar, seus pertencimentos e relações de solidariedade. Acreditamos que a

apresentação dos dados dessa forma nos ajuda a ter uma leitura mais completa do

desenvolvimento do trabalho de rua em Salvador e suas características, além de ampliar nossa

visão sobre quem o torna possível.

Por fim, serão apresentadas as conclusões da pesquisa, onde serão evidenciadas as

reflexões sobre as questões mais relevantes discorridas ao longo da dissertação. Elas serão

problematizadas principalmente para colocar em questão as interações, contradições, conflitos

e disputas originadas da apropriação do espaço público pelos trabalhadores.

28

1 TRABALHO DE RUA: UMA RELAÇÃO ENTRE INFORMALIDADE E ESPAÇO

PÚBLICO

Neste capítulo será possível tratar sobre os aspectos do contexto e os conceitos que

formam o lastro teórico para o processo aqui observado. As mudanças políticas, econômicas,

sociais e seu rebatimento no urbano serão apresentadas de modo que o desenrolar da atividade

do trabalhador de rua pode ser compreendido como parte de um traço estrutural de nossa

economia. Tais informações, embora nos permitam entender o contexto no qual a cidade de

Salvador esteve e está inserida, só se completa se também estivermos atentos a dois eixos

estruturantes e articuladores de como entendemos o trabalho de rua nesta dissertação. Trata-se

do entendimento do que a relação entre as noções de informalidade e do espaço público nos

dizem a respeito do trabalho realizado na rua.

No primeiro eixo, informalidade, será colocada em evidência a discussão sobre os

setores formal e informal da economia. Perpassar pela evolução da distinção dualista que

inicialmente faz parte do entendimento teórico sobre os dois setores, auxilia também no

entendimento da expressão que a chamada informalidade ganhou na sociedade, sobretudo no

que se refere ao seu papel para a circulação das mercadorias. A dimensão da informalidade será

apresentada então, à luz do processo de reestruturação produtiva e da globalização, que

contribuíram amplamente para flexibilização e precarização do trabalho. Tais análises,

entretanto, não se darão apenas contrapondo os aspectos duais dessa discussão e sua evolução.

Agrega-se a leitura do professor Milton Santos sobre esse processo, onde a informalidade

aparece como parte componente de um sistema, compreendido pelos circuitos superior e

inferior da economia. As características desses dois circuitos serão apresentadas com ênfase no

que se refere ao circuito inferior, onde está inserida a atividade estudada.

O entendimento da informalidade, a evolução da discussão a seu respeito e sua

compreensão a partir dos circuitos da economia não podem ser completos se não levarmos em

conta a noção do espaço, segundo eixo estruturante para a compreensão da atividade estudada

nesta dissertação. O trabalhador de rua ocupa um lugar no espaço que não é escolhido

aleatoriamente. Ele possui características funcionais para o desenvolvimento da atividade que

perpassam por sua localização na cidade e que tem a ver com a dimensão pública da vida. A

concepção do espaço é, portanto, elucidada a partir de categorias de análise propostas pelo

professor Milton Santos (forma, função, estrutura e processo), e serão explicitadas para auxiliar

no entendimento do espaço propriamente dito, compreendido enquanto produto social em

29

permanente transformação. A economia e o espaço aparecem assim intrinsecamente ligados,

onde a economia se expressa no espaço sob as diferentes formas em que este é apropriado, o

que pode ser observado, sobretudo, quando é o espaço público que está em questão. A discussão

sobre o espaço público, compreendido tendo em vista às dimensões pública e privada da vida,

será evidenciada a fim de chamar a atenção para a importância das ruas enquanto lugar de

socialização e do encontro com as diferenças. Considera-se que a articulação entre os dois eixos

apresentados nos instigam a olhar para o cotidiano de maneira especial, enxergando para além

do que normalmente o senso comum nos permite ver.

1.1 Nem dicotomia, nem ambiguidade: dois circuitos de um mesmo sistema

Que significado para a cidade tem o trabalho da pessoa que usa o espaço da rua para

comercialização de mercadorias? A que categoria da economia este trabalho pertence? Para o

desenvolvimento desta pesquisa, considerou-se importante inicialmente compreender quem são

os trabalhadores de rua na cidade de Salvador e isso implica saber em que categoria eles estão

enquadrados, como esse trabalho funciona, como ele está inserido no modo de produção

capitalista e, consequentemente, quais são os desdobramentos da atividade no espaço. Para

aproximar-nos um pouco mais das respostas a essas questões é preciso entender o que é a

informalidade e como ela se apresenta no Brasil. Para tanto, algumas contribuições serão

explicitadas a seguir.

Esta seção tem o objetivo principal de buscar conhecer as principais características,

abordagens e mudanças que o entendimento sobre a informalidade sofreu nas últimas décadas,

e a partir daí explorar também as mudanças ocorridas no mundo do trabalho no mesmo período.

Para Costa (2010) a informalidade surge da noção de subdesenvolvimento, de modo a explicar

a não-inserção dos menos favorecidos no processo produtivo, em contextos nos quais o

assalariamento é pouco generalizado. Para a autora, tal debate se divide em duas correntes:

estruturalista e de extração marxista.

A corrente estruturalista seria orientada pela “Teoria da Modernização”, que

concebia o subdesenvolvimento como decorrência de uma desvantagem no valor relativo das

trocas econômicas entre o centro e a periferia. Está marcada pela presença de um setor de

subsistência ou informal, caracterizado pela baixa densidade de capital, pelo precário nível

técnico de produção e pela baixa produtividade, convivendo com um setor moderno, de

avançado padrão tecnológico, economicamente mais capitalizado e dinâmico.

30

Já a corrente de extração marxista pensava o problema da não integração na

perspectiva das contradições do próprio modelo de acumulação capitalista consolidado sob a

égide da industrialização. Essas ideias eram construídas em torno da “Teoria da Dependência”,

onde o subdesenvolvimento não era entendido como um estágio anterior ao desenvolvimento,

mas como produto de uma inserção subordinada e dependente dos países da região no sistema

capitalista mundial. Destaca-se ainda uma importante crítica dessa corrente:

A crítica basilar dessa corrente às teses da modernização como marginalidade,

e que vai buscar seu fundamento na lei geral da acumulação capitalista em Marx, sustenta que o problema da marginalidade e da informalidade, decorre

não de uma condição de inadequação de parte do sistema (o arcaico) a seu

padrão normal de funcionamento (o moderno); ao contrário, é resultado do

modo de produção capitalista, estruturado sob uma lógica de dominação das relações de produção, portanto, de classe, que gera seu próprio excedente de

trabalho: um exército industrial de reserva que vai buscar seu meio de

sobrevivência fora do domínio das relações capitalistas modernas e que é, sim, funcional e rentável àquele padrão de acumulação, posto que é fator de

barateamento e disciplinamento da força de trabalho (COSTA, 2010:174).

A crítica põe em evidência a funcionalidade da informalidade dentro do sistema

capitalista, pois além de baratear a força de trabalho, ela favorece também à circulação das

mercadorias em diversos níveis, o que será mais bem explorado posteriormente neste trabalho.

Podemos acrescentar nesse debate ainda a ponderação de Oliveira (2003) em sua crítica à razão

dualista, que justamente propõe uma superação ao dualismo no debate entre o formal e o

informal, pois o autor compreende que ambos os setores compõem partes de um mesmo sistema

na economia. Se por formal pode-se entender que há todo um respaldo no que refere ao campo

dos direitos do trabalhador, no informal esses direitos são total ou parcialmente negados, o que

não necessariamente indica uma falta de modernidade ou de importância do setor. “Formal” e

“informal” são, portanto, dois lados de uma mesma lógica e assim, para o referido autor, a

utilização destes termos por si só não possuem mais força explicativa.

Destaca-se neste sentido um trabalho desenvolvido para Organização Internacional

do Trabalho (OIT), onde se caracteriza a mudança do conceito de setor informal para economia

informal. Entre algumas das contribuições apresentadas por Krein e Proni (2010), no que se

refere ao setor informal, este aparece como sendo “funcional” ao conjunto de empresas formais

para rebaixar o custo de reprodução da força de trabalho, além de servir como porta de entrada

ao mercado de trabalho e como manifestação do excedente estrutural e de mão-de-obra. Por

31

conta da diversidade de interpretações sobre o setor informal, a discussão sobre a informalidade

se tornou tema de algumas conferências da OIT.

Para a OIT, em 1991, o dilema enfrentado pelos países cuja predominância é o

trabalho informal se refere à necessidade de se optar pela eliminação do conjunto heterogêneo

das atividades de que faz parte a informalidade, para propor estratégias que aproveitem o

potencial de geração de ocupação e renda para parte da população menos favorecida. Em 1993

foram adotados os critérios estabelecidos na conferência de 1991, que definia que as unidades

econômicas informais poderiam ser de duas maneiras: empreendimentos unipessoais ou

familiares; e microempresas com trabalho assalariado. Para Krein e Proni (2010) as várias

expressões da informalidade continuaram a se expandir, aumentando a sua heterogeneidade, o

que significava que o setor informal desempenhava um papel importante na geração de renda

para parcela significativa da população.

Em 2002, em mais uma conferência sobre o trabalho, a OIT passou a utilizar o

termo economia informal. O motivo da mudança era o de poder abarcar no conceito a

diversidade e dinamismo presentes nesse conjunto complexo e heterogêneo de atividades. O

conceito passou então a abranger:

a) trabalhadores independentes típicos (microempresa familiar, trabalhador em cooperativa, trabalhador autônomo em domicílio);

b) “falsos” autônomos (trabalhador terceirizado subcontratado, trabalho em

domicílio, trabalhador em falsa cooperativa, falsos voluntários do terceiro setor);

c) trabalhadores dependentes “flexíveis” e/ou “atípicos” (assalariados de

microempresas, trabalhador em tempo parcial, emprego temporário ou por tempo determinado, trabalhador doméstico, “teletrabalhadores”);

d) microempregadores;

e) produtores para o autoconsumo; e

f) trabalhadores voluntários do “terceiro setor” e da economia solidária (KREIN E PRONI, 2010:12).

Apesar do termo “economia informal” ser uma referência formulada pela OIT, de

acordo com Krein e Proni (2010), o mesmo não teve muita difusão no Brasil. O termo

informalidade continuaria para os autores, portanto, sendo o mais utilizado no debate nacional.

Nesse sentido, uma das conclusões a que chegam é de que a principal característica da

informalidade é a inserção precária no mercado de trabalho, o que se dá, sobretudo, pela

ausência ou precariedade de leis trabalhistas e sociais. Mas de que maneira chegamos a esse

cenário? É preciso compreender o processo que levou a questão informalidade a ganhar tal

32

expressão. Para isso, será necessário olhar um pouco mais no passado, mais precisamente para

algumas reflexões da década de 1960 para cá. Contudo, esse olhar não será demasiadamente

aprofundado, pois o que se pretende como foco neste trabalho é analisar os rebatimentos desse

processo nos dias de hoje, sobretudo no que se refere à atividade dos trabalhadores de rua.

De acordo com Costa (2000:175), “o trabalho informal pode ser conceituado como

aquele não regulamentado pelo ordenamento legal do trabalho no país, sobre o qual, inclusive,

a sociedade construiu sua política de seguridade social”. Nesse sentido, as políticas de

seguridade desenvolvidas pelo Estado dirigiam-se apenas para os trabalhadores formalmente

reconhecidos, o que significa para a autora uma “cidadania regulada”, ou seja, aquela adquirida

unicamente pelos indivíduos enquadrados na estrutura ocupacional definida e reconhecida pelo

Ministério do Trabalho. Sobre este aspecto é importante retomarmos a Consolidação das Leis

Trabalhistas (CLT), promulgada em 1943 na era Vargas, cujo objetivo era o de assegurar os

direitos dos trabalhadores no campo individual, com a definição do limite à jornada de trabalho

de 8 horas, salário mínimo, férias, 13º salário, entre outros benefícios, e que também assegura

a representação coletiva, ou seja, a negociação dos termos de trabalho entre patrões e

trabalhadores, através dos sindicatos. Entretanto, esses direitos se dirigem apenas aos

trabalhadores formais.

A divisão da economia em formal e informal para Filgueiras et al. (2004), além de

ser muito simplista, também associa o setor informal aos segmentos mais pobres da população,

sem considerar as formas de inserção do trabalhador na produção. Os autores destacam a

possibilidade de se distinguir o espaço econômico-social através de dois critérios distintos, que

originam três conceitos de informalidade diferentes. O primeiro critério distingue formal e

informal por suas lógicas de funcionamento e o segundo delimita a diferença entre ambos a

partir da legalidade e ilegalidade das atividades.

O primeiro conceito abordado pelos autores se refere aos estudos da OIT já

mencionados, para o qual o setor informal seria uma consequência do excedente de mão de

obra. De acordo com Filgueiras et al. (2004) a partir da década de 1970 o termo informalidade

passou a ser abordado partindo das relações do trabalhador com os meios de produção, cuja

definição engloba o conjunto de atividades não tipicamente capitalistas, onde a busca do lucro

não é o objetivo central e não há uma separação nítida entre capital e trabalho. Sob este enfoque,

a informalidade estaria relacionada às atividades autônomas.

O segundo conceito foi formulado a partir da realidade dos países capitalistas

centrais, onde a crise do Fordismo, do Estado de Bem Estar Social, e os programas de

33

liberalização econômica tiveram como consequência o surgimento de atividades não

regulamentadas pela legislação vigente nestes países. O termo informal, nesse contexto, passou

a ser utilizado para exprimir o conjunto de atividades ilegais e/ou ilícitas. A informalidade passa

nessa segunda definição a se referir tanto as atividades e formas de produção quanto às relações

de trabalho consideradas ilegais, identificando-se com o que se chama de economia subterrânea

ou submersa.

O terceiro e último conceito ao qual Filgueiras et al (2004) fazem referência é o da

informalidade tomada a partir da junção dos critérios de ilegalidade e das formas de produção

não tipicamente capitalistas, ou seja, a informalidade estaria relacionada com todas as formas e

relações de trabalho não-fordistas e/ou precárias. Isso quer dizer que os trabalhadores informais

teriam uma inserção precária no mercado de trabalho, ou seja, não estariam sob a proteção de

leis sociais e trabalhistas. Vale ressaltar que é em sentido semelhante que a informalidade é

entendida nesse trabalho, ou seja, como toda forma de inserção precária no mercado de trabalho,

onde não se tem respaldo quanto aos direitos trabalhistas.

Filgueiras et al. (2004) chamam atenção para o fato de, no Brasil, a informalidade

ter sido intensa desde o período que sucede a IIª Guerra Mundial, momento que coincide com

o período de aceleração da industrialização brasileira. De acordo com Costa (2010) a rápida

urbanização dos anos 1960 e 1970 não foi capaz de absorver os indivíduos que migraram para

as cidades. A atividade capitalista se expandiu, tomando espaço das atividades tradicionais,

porém não foi capaz de gerar os empregos na mesma proporção dos que destruiu ou dos que a

sociedade necessitava. Desse processo decorreu a criação de novas modalidades de trabalho

informal e o próprio desemprego.

Segundo Filgueiras et al (2004) no início dos anos 1980, momento de crise no

padrão de desenvolvimento criado desde o pós-guerra e de crise no fordismo, houve um intenso

processo de desestruturação do mercado de trabalho, onde já se prenunciava a precarização do

emprego. Para Costa (2010) foi a partir da referida década que as mudanças na análise do

problema da informalidade passaram a se dar em torno de duas situações principais: em torno

da perda da centralidade e do dinamismo do setor secundário (que não gerava mais tantos

empregos); e em torno da crescente força do setor de serviços na absorção da força de trabalho.

A informalidade se generalizou nesse período, em que se disseminou o discurso de que o

caminho para a modernidade passava por reformas no âmbito das privatizações e da

desregulamentação dos mercados e do trabalho.

34

Ainda segundo Costa (2010) na década de 1990 há uma acentuação no retraimento

da economia organizada e do trabalho formal. Com o advento da terceirização, empregos

regulares que contavam com certo acúmulo de conquistas sociais foram substituídos por

empregos precários, temporários e/ou não regulamentados. De acordo com Borges (2007) as

transformações dos anos 1990 impactaram a vida dos brasileiros mudando o padrão de

desenvolvimento, as formas e mecanismos de inserção e de permanência no mercado de

trabalho, e os projetos para o futuro de diversos trabalhadores. Passou-se de uma economia

fechada para uma economia aberta, desregulamentada, voltada a atender os interesses

neoliberais de agentes externos, que ganharam maior influência, sobretudo, através das

privatizações de setores estratégicos da economia nacional.

Finalmente, nesse período, passou-se de uma economia com elevado

dinamismo no seu mercado de trabalho, com geração contínua de postos de trabalho (bons e ruins), para uma economia que destrói os melhores empregos

e gera, quase que exclusivamente, postos de trabalho mal remunerados,

desprotegidos e em número insuficiente. Com isto, o mercado de trabalho

brasileiro, estruturalmente marcado pela presença expressiva da informalidade e do subemprego, aprofunda esses traços e a eles agrega

elevadíssimas taxas de desemprego aberto e oculto (BORGES, 2007:82).

Nesse sentido, para Filgueiras et al (2004) a globalização e a reestruturação

produtiva da década de 1990 possuem um papel de destaque, pois resultaram em altas taxas de

desemprego, acentuação da precarização do trabalho e do emprego, e crescimento das

atividades não regulamentadas. A globalização, por sua vez, favoreceu que as empresas

buscassem se fixar onde havia mais recursos para seus negócios (por exemplo: isenção de

impostos e mão de obra barata). Nos anos 1990, no Brasil, foram registradas as maiores taxas

de desemprego da história, bem como uma expansão bastante expressiva do setor de serviços,

que mesmo assim não foi capaz de absorver o contingente de trabalhadores existente. Ainda de

acordo com os autores supramencionados, a ampliação da informalidade com a transferência

dos trabalhadores que outrora realizavam atividades formais para as atividades informais, deu

origem a chamada nova informalidade. Esta, por sua vez, de acordo com Costa (2010) tem

como características: precariedade das condições de trabalho e vida, negação dos princípios

mais elementares de cidadania, além de perpetuar a reprodução da pobreza e das desigualdades

sociais. Grande parte dessa nova informalidade é formada por trabalhadores advindos de grupos

sociais pauperizados, que se inserem em condições de trabalho bastante precárias. Não se pode,

porém, generalizar o papel destes na economia informal, conforme nos diz Costa:

35

[...] a economia informal não pode ser considerada um eufemismo para a

pobreza, devido à sua elevada heterogeneidade: há muito dinamismo na

economia informal e ela é geradora de elevado nível de renda para muitos empreendedores informais. Todavia, a noção de pobreza não pode ser

entendida apenas pelo critério de renda (ou insuficiência de renda), pois ela

também está relacionada ao consumo ou ao acesso a serviços, como qualidade

da moradia, acesso à educação, políticas de saúde coletiva, enfim, à noção de direitos e de cidadania. Esses aspectos remetem às escolhas políticas de uma

sociedade e aos mecanismos que ela socialmente engendra para distribuir sua

riqueza. E esse é essencialmente o campo do conflito político de classe (COSTA, 2010:182).

No âmbito da economia informal nem sempre se poderá fazer uma relação direta

com a pobreza, cuja noção está relacionada à negação de uma série de direitos, nos quais se

incluem o direito ao trabalho. Considera-se, portanto, que o baixo ingresso ao trabalho formal

(aquele em que os direitos são assegurados) indica uma situação de maior vulnerabilidade para

todos os que estão submetidos a ele, uma vez que a possibilidade de acesso a recursos adequados

às necessidades cotidianas dos indivíduos fica limitada pela insegurança ou falta de renda. Nas

palavras de Kraychete e Borges (2007:233), “[...] a reprodução contínua da pobreza está

diretamente associada à sub-remuneração do trabalho”.

Com relação aos riscos provenientes da renda, aos quais estão submetidos esses

trabalhadores, é preciso ter em vista também o que nos chama atenção Filgueiras et. al. (2004),

quando mencionam os novos modos de exploração capitalista, sustentados numa forte

individualização e que têm no binômio empregabilidade/empreendedorismo a construção de

sua ideologia. Segundo Borges (2007) estes novos modos de exploração reforçam a ideia de

que, por exemplo, o empreendedorismo e o trabalho autônomo por serem flexíveis, oferecem

mais vantagens aos trabalhadores, pois lhes permitiriam ter mais autonomia e liberdade. Porém

essa ideia de liberdade é muito mais ideológica do que realmente concreta, pois a flexibilização

do trabalho implica em uma maior taxa de exploração, já que nesse regime não é coberta uma

série de direitos como a fixação de limite de horas e dias de trabalho, por exemplo, além de

favorecer o aumento da velocidade e ritmo do trabalho.

Aproximando-nos do momento histórico atual, temos que a situação do trabalho e

do emprego sofreu algumas alterações importantes nos anos 2000. De acordo com Alves

(2011), esse período da história da economia do Brasil pode ser denominado de

“neodesenvolvimentismo”, cujo termo é utilizado em contraposição ao período neoliberal

vigente nos governos dos presidentes Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso. O

“neodesenvolvimentismo” abrange, portanto, o período dos dois governos de Luis Inácio Lula

36

da Silva, entre 2003 e 2010, e se caracteriza por duas vertentes principais: “Estado financiador”

e “Estado investidor”.

O “Estado financiador” se caracteriza pela utilização de recursos, principalmente

oriundos do Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), para induzir o crescimento

econômico, contribuindo principalmente para o fortalecimento de grupos privados estratégicos.

Já o “Estado investidor”, se caracteriza pelo investimento em mega-obras de infraestrutura,

realizadas através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Uma terceira vertente

que há ainda de se considerar como característica do momento vivido pelo país nos anos 2000

é o “Estado Social”, onde temos o Estado reassumindo o papel de provedor de políticas sociais

e de mitigação da pobreza.

De acordo com Boschi e Gaitán (2013) o neodesenvolvimentismo é um conceito

utilizado atualmente para referir-se aos estudos sobre desenvolvimento elaborados

posteriormente à hegemonia neoliberal. Sua discussão é considerada ainda como resultado do

fracasso das políticas neoliberais que proclamaram o Estado mínimo e poder auto regulador do

mercado. É discutido por dois grupos principais: o primeiro, sob a liderança de Bresser Pereira,

apresenta a proposta como mais do que uma simples teoria econômica, mas como uma

estratégia nacional de desenvolvimento, onde a base está na industrialização aberta à

competição com os mercados externos. O segundo grupo, se estabelece no Instituto de

Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e da Associação Keynesiana Brasileira.

As ideias desse segundo grupo aproximam-se das análises do primeiro, mas buscam ir além da

questão macroeconômica ao incluir, por exemplo, a questão da relação entre público e privado

e as relações da economia com a sociedade. Para eles, o novo desenvolvimentismo demanda

um mercado e um Estado forte. Resumidamente, de acordo com Boschi e Gaitán (2013:327-

328), o neodesenvolvimentismo pode ser definido como "formulação de um projeto nacional

que postula a formação de um espaço de coordenação entre as esferas pública e privada, com o

intuito de aumentar a renda nacional e os parâmetros de bem-estar social." É considerado ainda

um processo econômico, político e social ligado à tensões derivadas das políticas

implementadas no país.

Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos

(DIEESE, 2011), a partir de 2004 verificou-se um aumento no nível do emprego no Brasil. O

período entre 2004 e 2008 foi considerado o mais próspero da década, com melhoria nos

indicadores sociais e na redução do desemprego, onde a ocupação cresceu em ritmo superior

ao crescimento da População Economicamente Ativa (PEA) (Gráfico 1).

37

Gráfico 1: Evolução do PIB nacional, trimestral e das Populações Metropolitanas

Economicamente Ativa e Ocupada - Brasil e Regiões Metropolitanas(*) - 1998 a 2009 (Base 100 = média de 1998)

Fonte: Ipeadata e Convênio DIEESE/SEADE/MTE-FAT e convênios regionais. Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED Nota: (*) Estão incluídas as Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e Distrito Federal.

O DIEESE (2011) aponta que os fatores que tornaram essa realidade possível foram

a confluência de resultados positivos da gestão interna e do ambiente internacional favorável.

A partir de 2004 a nova dinâmica do mercado de trabalho brasileiro centrou-se no

comportamento do Produto Interno Bruto (PIB) e na expansão dos investimentos. Na Tabela 1

divulgada pelo referido Departamento, podemos verificar que o número de ocupados cresceu

em todas as regiões metropolitanas do Brasil.

Tabela 1: Estimativa do número de ocupados.

Regiões Metropolitanas(*) e Distrito Federal – 1999, 2003, 2004, 2008 e 2009

Fonte: Convênio DIEESE/SEADE/ MTE - FAT e convênios regionais. Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED Elaboração: DIEESE Nota: (*) Estão incluídas as Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo

38

Através da leitura da Tabela 1 podemos notar ainda que entre 1999 e 2003 a média

do crescimento anual foi de 2,2%. No período de 2004 a 2008 o mesmo indicador atingiu 3,4%

e no período de 2004 a 2009, correspondeu a 3,1%, redução que se deu pela crise financeira

internacional, que ameaçou a prosperidade que vinha sendo observada no período. Contudo, o

destaque para o crescimento ocupacional nesse momento foi para o setor da construção civil

que continuou contratando em 2009 e 2010 devido ao aumento do crédito no segmento

imobiliário e ao Programa Minha Casa Minha Vida, que surgiu com o objetivo tanto de superar

o déficit habitacional no país, quanto de ampliar as ofertas de emprego no setor da construção

civil.

De maneira geral, o DIEESE (2011) aponta que nos anos 2000 verifica-se um

aumento importante no trabalho assalariado, enquanto os trabalhos domésticos e autônomos

apresentaram queda. É importante mencionar que no período mencionado houve ainda uma

forte geração de postos de trabalho com vínculo formal, além de incentivos fiscais como a

implantação do Simples Nacional, que estimulou as micro e pequenas empresas a saírem da

informalidade e a formalizarem o vínculo de trabalho junto aos seus funcionários.

Consideramos válido mencionar ainda que, no período de 1999 a 2009 segundo análise do

DIEESE (2011), a redução do desemprego foi generalizada. A taxa de desemprego médio anual

caiu de 20,3% da PEA para 14,2%, como poderemos observar no Gráfico 2.

Gráfico 2: Taxas de desemprego, segundo tipo

Regiões Metropolitanas(*) e Distrito Federal – 1999 e 2009 (em %)

Fonte: Convênio DIEESE/SEADE/ MTE - FAT e convênios regionais. Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED Elaboração: DIEESE Nota: (*) Estão incluídas as Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.

39

Dentre os tipos de desemprego apresentados no Gráfico 2, podemos observar que a

redução mais expressiva foi na taxa do desemprego aberto3 (2,6%). Com relação ao desemprego

aberto, é preciso estar atento ao fato dele estar relacionado com a procura pelo posto de trabalho,

que exige custos por parte do postulante à vaga que vão desde a distribuição dos currículos e

inscrição em agências de intermediação de mão-de-obra, até as providências para a boa

apresentação nas entrevistas e processos seletivos, sem contar com a manutenção de sua própria

sobrevivência nesse período. Assim, os trabalhadores que perderam ou deixaram um emprego

anterior há pouco tempo e que possuem recursos rescisórios conseguem se organizar de forma

melhor na busca por um novo posto de trabalho. Para o DIEESE (2011) os provedores de

família tendem, portanto, a aceitar as primeiras ofertas de trabalho que surgem, pois

dificilmente conseguem conciliar longos períodos de procura por trabalho com o sustento da

família. Se, por um lado temos que o desemprego aberto é menor entre os chefes de família nos

domicílios, por outro, entre os filhos desses chefes de família concentra-se a maior proporção

de desemprego aberto, ou seja, entre os mais jovens.

Uma categoria que merece ser evidenciada, por estar relacionada com o objeto de

estudo desta dissertação, é a do “desemprego oculto pelo trabalho precário”. Neste tipo de

desemprego, o DIEESE (2011) informa que encontram-se os trabalhadores com experiência

profissional anterior, porém essa experiência acumulada reflete mais uma trajetória de

dificuldades do que os requisitos exigidos pela matriz produtiva de um país em expansão. Isto

porque, mesmo tratando-se de um contingente em processo de redução, estes desempregados

foram demitidos e/ou perderam seus postos de trabalho há muito tempo. Para essas pessoas, o

desenvolvimento trouxe a rotatividade. Ainda de acordo com informações do DIEESE, em 10

anos houve, de maneira simultânea, a redução do número de trabalhadores que associam a

procura de trabalho com o exercício de bicos, e o crescimento para 35,6% da proporção

daqueles que declararam ter perdido ou deixado o último emprego nos últimos 4 meses. Cabe

destacar ainda que, como pode ser observado na Tabela 2, 40,7% dos desempregados em 2009

permaneceram por até 6 meses no último posto de trabalho, ou seja, um tempo bastante curto.

3 Segundo o DIEESE (2011), o desemprego aberto é composto pelas pessoas que procuraram trabalho de maneira efetiva nos 30 dias anteriores ao da entrevista e não exerceram nenhum trabalho nos sete últimos dias; o desemprego oculto pelo trabalho precário é composto pelas pessoas que realizam trabalhos precários – algum trabalho remunerado ocasional de auto-ocupação – ou pessoas que realizam trabalho não-remunerado em ajuda a negócios de parentes e que procuraram mudar de trabalho nos 30 dias anteriores ao da entrevista ou que, não tendo procurado neste período, o fizeram sem êxito até 12 meses atrás; e o desemprego oculto pelo desalento é composto pelas pessoas que não possuem trabalho e nem procuraram nos últimos 30 dias anteriores ao da entrevista, por desestímulos do mercado de trabalho ou por circunstâncias fortuitas, mas apresentaram procura

efetiva de trabalho nos últimos 12 meses.

40

Tabela 2: Distribuição da população em desemprego oculto pelo trabalho precário e

experiência anterior de trabalho, segundo tempo de perda do emprego e duração do último

trabalho Regiões Metropolitanas(*) e Distrito Federal – 1999, 2004 e 2009 (em %)

Fonte: Convênio DIEESE/SEADE/ MTE - FAT e convênios regionais. Pesquisa de Emprego e Desemprego - PED Elaboração: DIEESE Nota: (*) Estão incluídas as Regiões Metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador e São Paulo.

Nesse contexto consideramos relevante o que nos diz Alves (2011) sobre esse

período contemporâneo de expansão capitalista do Brasil, em que se retoma, em termos

relativos, o crescimento da economia por um lado, e consolida-se um novo e precário mundo

do trabalho por outro, marcado por uma nova condição salarial flexível, caracterizada pela

intermitência laboral. Se na década de 1990 o mundo do trabalho no Brasil se caracterizava

pelo desemprego aberto e pela informalização das relações de emprego, na década de 2000 é a

natureza flexível do emprego e da organização do trabalho que predominam. O autor

supramencionado afirma que a expansão capitalista do Brasil “decorre não de aspectos

conjunturais da dinâmica capitalista, mas sim, de um processo estrutural de precarização do

trabalho que emerge com o novo regime de acumulação” (ALVES, 2011, p.157).

Embora possamos ter claro que a situação do trabalho e do emprego no país, de

maneira geral, tenha melhorado nos anos 2000, essa tendência ao crescimento da economia e

da geração de postos de trabalho cresceu juntamente com os fenômenos da precarização e da

flexibilização. Esse novo trabalho perde qualidade, portanto, no sentido de ser pouco capaz de

assegurar a prosperidade e qualidade de vida das pessoas que se ocupam sob tais termos, já que

carrega em suas entrelinhas a instabilidade e a insegurança no futuro. Nesse sentido, a discussão

sobre a formalidade e informalidade das relações de trabalho persiste, no que se torna

41

importante agregar a leitura sobre a teoria dos circuitos da economia propostos pelo professor

Milton Santos, considerada de fundamental importância para esta pesquisa.

Santos (2008a) parte da noção de subdesenvolvimento, assim como, por exemplo,

Chico de Oliveira anteriormente mencionado, para elaborar sua teoria dos circuitos da

economia, à qual é agregada a noção de espaço, aspecto bastante importante para nós. Para ele,

o espaço dos países subdesenvolvidos é descontínuo e instável, pois é mais fortemente

tensionado por múltiplas influências e polarizações oriundas dos diferentes níveis globais de

decisão. Ele está marcado pela grande desigualdade de renda, expressa tanto em níveis

regionais, onde é possível perceber uma tendência à hierarquização de atividades, quanto na

escala do lugar, onde é possível observar a coexistência de atividades de naturezas similares,

mas de níveis distintos. Nos países desenvolvidos, as disparidades de renda aparecem com

menos importância e têm pouca influência na aquisição de bens e serviços. Isto é o contrário

do que acontece nos países subdesenvolvidos, onde a capacidade de consumo dos indivíduos

possui uma variação maior. Assim, o nível de renda é colocado pelo autor como um nível que

também influencia na localização do indivíduo, pois aqueles que possuem melhores

rendimentos tendem a ocupar os locais onde há mais infraestrutura e aqueles que não dispõem

dos mesmos recursos, tendem a ocupar os lugares menos favorecidos. Esse nível de renda

quando associado a outros fatores, por sua vez, pode determinar a situação dos indivíduos

enquanto produtores e consumidores.

A seletividade do espaço é a chave para concepção de uma teoria espacial, que pode

exprimir coisas diferentes caso se considere a produção ou o consumo. A produção tende a se

concentrar com mais força em pontos onde as atividades são mais modernas e o consumo

responde às forças de dispersão. Este consumo, por sua vez, se apresenta de formas distintas, já

que a seletividade social age como um freio, que limita a capacidade de igualar o consumo dos

indivíduos qualitativa e quantitativamente. É neste contexto que o autor observa a constituição

de dois circuitos responsáveis pelo processo econômico e também pelo processo de organização

do espaço. Ele afirma que:

A existência de uma massa de pessoas com salários muito baixos ou vivendo

de atividades ocasionais, ao lado de uma minoria com rendas muito elevadas,

cria na sociedade urbana uma divisão entre aqueles que podem ter acesso de maneira permanente aos bens e serviços oferecidos e aqueles que, tendo as

mesmas necessidades, não têm condições de satisfazê-las. Isso cria ao mesmo

tempo diferenças quantitativas e qualitativas no consumo. Essas diferenças são a causa e o efeito da existência, ou seja, da criação ou da manutenção,

42

nessas cidades, de dois circuitos de produção, distribuição e consumo dos bens

e serviços (SANTOS, 2008a:37).

Para Santos (2008a), os circuitos superior e inferior são resultado da modernização

tecnológica, onde o superior usufrui diretamente dessa modernização, enquanto que no inferior

os indivíduos se beneficiam parcialmente ou não se beneficiam do processo.

O circuito superior é definido pela forma como se organiza e se comporta a

sociedade urbana. Já o circuito inferior é um produto da modernização em processo de

transformação e adaptação permanente, sendo, a maioria das vezes, subordinado ao circuito

superior. A diferença entre os dois está fundamentalmente baseada nas diferenças de tecnologia

e organização. No circuito superior é utilizada uma tecnologia de alto nível, ou seja, o capital é

intensivo. Já no circuito inferior a tecnologia é justamente o trabalho intensivo e as atividades

se baseiam no crédito e no dinheiro líquido. Além disso, os empregos raramente são

permanentes e a remuneração, de maneira geral, situa-se abaixo do mínimo que uma pessoa

precisa para ter uma vida digna, ou seja, para ter acesso à educação, saúde, moradia,

alimentação, lazer etc.

Cada circuito se define pelo conjunto de atividades realizadas em um determinado

contexto e se ligam pela atividade do consumo. É importante ressaltar que todas as camadas da

população podem consumir dentro ou fora do circuito ao qual pertencem, sendo este, um

consumo parcial ou ocasional de cada categoria. No circuito superior, os preços são geralmente

fixos e a sua manipulação supõe uma margem de lucro considerável a longos prazos, visando

sempre à acumulação. O circuito inferior é o maior gerador de ocupações para a população

pobre da cidade e nele pechinchar é uma regra. A preocupação com o lucro ou acumulação de

capital não possui tanta relevância quando o que está em jogo é uma questão de sobrevivência.

No circuito superior o lucro elevado corresponde ao volume da produção, o lucro

por unidade é reduzido e há grandes investimentos em publicidade, utilizada para criar e

modificar os gostos da demanda. No circuito inferior o resultado total de lucro é pequeno,

porém o lucro por unidade é elevado, porém repartido, o que se deve ao grande número de

intermediários envolvidos no processo até que o produto chegue ao consumidor final. Para

Santos (2008a) a publicidade não é necessária no circuito inferior, pois o contato direto da

clientela com os produtos garante a efetiva comercialização. Porém, podemos considerar que a

disseminação de produtos específicos em determinados períodos, podem ter a ver tanto com as

variações climáticas, quanto com a moda da época, propagada pelas telenovelas, por exemplo.

43

Dessa maneira, ainda que as atividades inseridas no circuito inferior não produzam sua própria

publicidade, utilizam-se daquela desenvolvida para as mercadorias produzidas no circuito

superior para potencializar a venda de seus artigos, frequentemente cópias produzidas com

menor qualidade.

No circuito superior há uma valorização da capacitação investida para qualificar o

seu quadro de trabalhadores. Com essa especialização há uma divisão maior do trabalho e a

remuneração é equivalente a tal especialização. Quando não encontra mão-de-obra

especializada no país busca a estrangeira. No circuito inferior existe um baixo nível de

especialização proveniente de uma base educacional precária, que leva para o setor produtivo

uma densidade de trabalhadores mal preparada, saturando o mercado e gerando um aglomerado

“exército de reserva”. A massa ociosa configura o quadro de desempregados da economia.

Todavia a outra parcela adicionada ao mercado de trabalho frequentemente é mal remunerada,

o que pode significar um menor poder aquisitivo.

Para Santos (2008a) então, os circuitos da economia podem ser identificados

através das diferenças de tecnologia e organização, onde podemos perceber a existência de uma

bipolarização e não de um dualismo, pois não há nem circuito intermediário, nem continuum

entre eles. Os dois circuitos, embora distintos, complementam-se, e um aspecto que lhes é

bastante importante é o da dependência do circuito inferior com relação ao superior. Ambos

têm, portanto, a mesma origem, conjunto de causas e estão interligados. Ainda para o autor,

insistir em sobrepor a posição hegemônica do circuito superior sem considerar o subemprego

como conseqüência das formas monopolísticas de suas atividades, pode nos levar a

interpretações superficiais da realidade. Por este motivo e porque o circuito inferior compõe o

ciclo de realização das mercadorias produzidas no circuito superior, uma vez que contribui para

distribuição de sua produção, será preciso analisar um pouco mais detalhadamente as

características e dinâmica do circuito inferior da economia.

Como já mencionado anteriormente, o circuito inferior é uma consequência das

desigualdades oriundas do modelo de crescimento econômico vigente, baseado, sobretudo, em

uma distribuição de renda desigual. A modernização da economia e a composição orgânica do

capital oriunda desse processo impõe uma rigidez à expansão do mercado de trabalho, uma vez

que são requeridas cada vez mais especializações, e grande parte da população fica excluída

por não ter acesso a, no mínimo, uma educação básica que lhes permitiria galgar melhores

postos de trabalho.

44

Para Santos (2008a), os pobres arcam com o peso maior da nova divisão do

trabalho, pois eles são aqueles que estão bem abaixo das escalas de salário e que mais

comumente estão desempregados. O processo de urbanização contribui para agravar as

desigualdades e, nesse sentido, o aumento das favelas está diretamente relacionado com a

pobreza urbana e o modelo de consumo vigente, onde as pessoas dão preferência ao dinheiro

líquido que é utilizado na compra de produtos não duráveis, relacionados com a própria

subsistência do indivíduo.

O trabalho no circuito inferior é de difícil compreensão, pois ele é tanto o mal

remunerado quanto o temporário ou o instável. Para ingressar nesse circuito é necessário muito

mais trabalho do que capital. Santos (2008a) indica ser possível distinguir três categorias de

atividades4:

as que não exigem nem capital nem qualificação (ex.: trabalho doméstico);

as que exigem exclusivamente capital; (ex.: comércio)

as que exigem qualificação e capital. (ex.: artesanato)

Como algumas características dessas atividades destacam-se a importância do

crédito para iniciar e/ou manter um negócio, a grande densidade dos comércios (de pequenas

dimensões com estoques reduzidos), que ocupam pouco espaço, além da existência da

possibilidade da realização da atividade comercial em casa, de maneira a fugir total ou

parcialmente do recolhimento de impostos.

O circuito inferior da economia, do qual fazem parte os trabalhadores de rua,

também está relacionado ao que Kraychete e Santana (2012) entendem por economia dos

setores populares. Para eles, as atividades que compõem esse setor da economia seriam aquelas:

“[...] que possuem uma racionalidade econômica ancorada na geração de

recursos humanos próprios, agregando, portanto, unidades de trabalho e não de inversão de capital. Essa economia abrange tanto as atividades realizadas

de forma individual ou familiar como as diferentes modalidades de trabalho

associativo, formalizadas ou não” (KRAYCHETE E SANTANA, 2012:1).

Além disso, a racionalidade dessas atividades estaria relacionada às necessidades

de reprodução da vida, ou seja, da busca pela satisfação das necessidades básicas para a

4 É importante frisar que, Santos escreveu seu livro no final da década de 1970. Hoje, a distinção das categorias propostas por ele poderia ser atualizada, uma vez que dificilmente é possível trabalhar ou montar um negócio sem ter capital e qualificação. É o caso das empregadas domésticas trazido por ele, por exemplo, que hoje precisam ter minimamente ter boas referências,

experiência e qualificação para se inserirem no mercado de trabalho.

45

sobrevivência da unidade familiar. O termo economia dos setores populares, entretanto, difere

conceitualmente daquilo que identificamos com o termo setor informal. De acordo com o

conceito apresentado no trabalho dos autores, o setor informal frequentemente está relacionado

com a produção em unidades produtivas micro ou pequenas, nas quais as relações capital-

trabalho não se encontram bem estabelecidas. Podem se situar ainda sob tal designação

processos como a sonegação fiscal e a contratação ilegal de trabalhadores. A economia dos

setores populares, por sua vez, pressupõe uma forma de desenvolvimento que alia o

desenvolvimento da economia com a promoção de outros direitos fundamentais.

Com relação aos trabalhadores de rua, Santos (2008a) entende que os mesmos

compõem o nível inferior da pulverização do comércio, configurando-se como o “último elo da

cadeia de intermediários entre importadores, industriais, atacadistas e o consumidor”

(SANTOS, 2008a:218). Esta categoria destaca-se por ter menor dependência com relação à sua

clientela, uma vez que desloca-se à procura da mesma.

[...] os pequenos vendedores ambulantes não são independentes, mas verdadeiros empregados de patrões invisíveis que comandam microcadeias de

comercialização, cujos agentes frequentemente são doentes, crianças e mesmo

adultos (SANTOS, 2008a:219).

Para o autor, há ainda uma distinção com relação a estes trabalhadores de rua em

duas categorias: aqueles que tem local fixo na calçada com suas mercadorias expostas nas ruas

do centro ou aqueles que vão a procura da freguesia nos bairros.

Cabe destacar, ainda, os três elementos essenciais ao funcionamento desse circuito:

o crédito – indispensável para agentes e consumidores sendo o método de

ingressar na atividade para os primeiros e configurando-se com a

possibilidade de consumo dos últimos;

os intermediários – responsáveis por fornecer crédito aos artesãos ou

comerciantes, cujo pagamento inicial é feito muitas vezes sob a forma de

mercadorias;

o dinheiro líquido – representa o pagamento dos numerários e é

indispensável para o funcionamento deste circuito.

O consumo na modernidade aumenta a necessidade do dinheiro líquido e acelera a

rapidez da sua circulação. O dinheiro líquido é utilizado tanto no pagamento de dívidas quanto

46

para obtenção de novos créditos. De acordo com Geertz apud Santos (2008a, p. 233) ele age

como “lubrificante” nas engrenagens do circuito inferior. A questão que se coloca é que uma

vez que o capital circula rapidamente há uma consequente baixa acumulação e, dessa maneira,

se mantém as condições de pobreza.

O crédito bancário não é facilmente acessado pelo circuito inferior, tendo em vista

a instabilidade de garantias de pagamento que o segmento pode oferecer. Nesse cenário os

atacadistas assumem grande relevância, já que oferecem maior flexibilidade aos que buscam

tomar empréstimo.

Quanto mais se desce na escada dos intermediários, mais diminuem o tamanho das

operações e os prazos, e mais aumentam os riscos e as taxas de juros. Assim, o medo

permanente dos atacadistas e semi-atacadistas de não serem reembolsados restringe os

fornecimentos em valor e os limita a uma clientela conhecida (SANTOS, 2008a: 239).

Esse tipo de crédito pode ser na forma do adiantamento de mercadorias e os prazos

geralmente são curtos. O endividamento ocorre, na maioria das vezes, justamente pelo desejo

de poder consumir. De acordo com Santos (2008a) os pobres tendem a endividar-se para

despesas correntes (pagamento do cartão de crédito) enquanto que os ricos se endividam para

as chamadas despesas ocasionais (despesas com viagens).

O pequeno comerciante, no entanto, possui margens de lucro mais elevadas e alerta-

se para o fato de que os trabalhadores de rua podem ainda possuir mais lucros que estes. Isto

acontece porque o vendedor de rua, nos termos utilizados por Milton Santos, pode escolher os

produtos que irá comercializar de acordo com seu interesse, enquanto os pequenos comerciantes

precisam de uma maior variedade para expor. Entretanto, o vendedor de rua conta com maior

instabilidade, já que pode passar dias sem vender nada. A margem de lucro por unidade pode

ser elevada, mas o lucro final pode ser nulo. Nesse sentido, Matta (1997) ao tratar das

diferenciações do comportamento do indivíduo na casa ou na rua, aborda a situação do

comércio, onde existe o comportamento de tentar obter vantagem quando efetuado com um

estranho na rua, o que não ocorreria caso houvesse uma proximidade de parentesco ou amizade

entre as partes (em casa).

A relação com o tempo é algo que também precisa ser destacado nos dois circuitos.

Estocar produtos pode representar um grande prejuízo para os pequenos trabalhadores de rua.

Um fenômeno comum é a possibilidade de o consumidor adquirir a mercadoria muito abaixo

de seu valor no final do dia, quando a falta do lucro é recompensada pela obtenção do dinheiro

líquido. É nesse sentido que ressalta-se a importância da pechincha enquanto mecanismo de

negociação entre vendedor e comprador.

47

Se retomarmos o pensamento marxista, temos que a mercadoria é a forma elementar

da riqueza, objeto que satisfaz necessidades humana e que rege o capitalismo. Toda mercadoria

é considerada no aspecto da qualidade e da quantidade. Para Santos (2008a), a importância de

uma mercadoria varia ainda de acordo com a característica do produto: se ele é perecível ou

sazonal, indispensável, necessário ou útil. Este aspecto é fundamental se observarmos as

mercadorias comercializadas pelos trabalhadores de rua, que variam tanto sazonalmente quanto

na medida em que necessidades de consumo são criadas.

Santos (2008a) considera que a importância do circuito inferior se dá de maneira

proporcional à massa de população que dele faz parte. As atividades dependem totalmente do

mercado local enquanto que no circuito superior a preocupação é controlar o mercado de

maneira ampla.

Há grande fluidez no emprego no circuito inferior e a velocidade com a qual o

dinheiro circula pode indicar uma baixa acumulação e, consequentemente, uma perpetuação da

situação de pobreza entre os indivíduos que nele se inserem. A complementaridade entre os

dois circuitos não exclui a concorrência entre ambos, pois os mesmos estão em um equilíbrio

instável que os conduz a uma relação dialética.

A observação do circuito inferior feita aqui, através da atividade do trabalhador de

rua possui estreita vinculação com o espaço, pois implica a apropriação da rua por estes

trabalhadores. A singularidade deste lugar estará expressa nos significados que esta apropriação

pode ter. Este é um aspecto bastante importante e que será destacado, sobretudo porque esta

pesquisa busca demonstrar a relação da economia com o espaço, através da apropriação do

espaço público pelo trabalhador de rua. Neste sentido, o presente capítulo seguirá com a

abordagem sobre o espaço público, de modo a construirmos os alicerces que proporcionarão

tais relações, além de servir de subsídio para entendermos o caso específico dos trabalhadores

de rua na cidade de Salvador.

1.2 A economia no espaço, o trabalho na rua

A atividade que se constitui como objeto de pesquisa desta dissertação não é

observada em qualquer lugar. Há particularidades onde ela ocorre que perpassam pela noção

do espaço propriamente dito. O que é o espaço? Explorar esta questão é um exercício que,

sozinho, daria uma dissertação. Portanto, o que se pretende nessa seção é discutir algumas

concepções teóricas que consideramos chave para compreensão do fenômeno estudado. Assim,

48

trabalharemos a noção do espaço de maneira introdutória considerando, sobretudo, o que nos

diz Milton Santos e Henri Lefebvre. Posteriormente, avançaremos na discussão sobre o espaço

público, local onde se expressa a atividade do trabalhador de rua.

De acordo com Santos (1985), o espaço pode ser compreendido como uma

instância da sociedade, um fator da evolução social que contém e é contido pelas demais

instâncias. A essência do espaço é, portanto, social, onde ele constitui-se não somente pela

paisagem (configuração geográfica), mas pela interação da mesma com a sociedade. As formas

geográficas contêm frações do social e adquirem conteúdo, conformando-se no que o autor

nomeia de formas-conteúdo. Dessa maneira, são permanentemente modificadas na medida em

que ganham novos conteúdos, o que nos permite fazer a leitura de que o espaço pode ser

compreendido então como uma interação de forma e conteúdo. Cada localização é resultado da

apreensão de um momento do movimento do mundo em um ponto, um lugar, e este muda sua

significação conforme o movimento social se desenvolve. Cada lugar tem seu papel no processo

produtivo e quanto mais diminuirmos a escala de análise com relação a um lugar, mais níveis

de forças poderão ser observados atuando sobre ele. Esse papel, no entanto, dá-se mais no nível

das trocas do que da produção propriamente dita.

Santos (1985) nos alerta para a necessidade de entendermos os efeitos dos processos

(tempo e mudança), especificando as noções de forma, função e estrutura, enquanto elementos

fundamentais para compreensão da organização espacial. Sucintamente, podemos dizer que a

forma é o que vemos, o aspecto visível de uma coisa. A função está relacionada à atividade que

espera-se ser realizada pela forma, com maior ou menor vinculação a ela. A estrutura é o modo

de organização vigente e, por fim, o processo é uma determinada ação no tempo. O conjunto

dessas categorias compõe o que podemos compreender como sendo o espaço. O espaço, por

sua vez, enquanto produto social está sob permanente processo de transformação e é o resultado

do que a sociedade produz.

[...] o tempo (processo) é uma propriedade fundamental na relação entre forma, função e estrutura, pois é ele que indica o movimento do passado ao

presente [...] O tempo vai passando, mas a forma continua a existir.

Consequentemente, o passado técnico da forma é uma realidade a ser levada

em consideração quando se tenta analisar o espaço. As mudanças estruturais não podem recriar as formas, e assim somos obrigados a usar as formas do

passado (SANTOS, 1985:54).

49

As formas podem ser entendidas ainda como uma cristalização do tempo. Santos

(1985) afirma que elas permanecem no aguardo do próximo movimento dinâmico da sociedade

para assumir uma nova função, de modo que dificilmente são destruídas ao longo do processo

histórico, tornando-se o que ele chama de rugosidade, cujo valor muda na proporção em que

muda a estrutura. As diferentes maneiras como este espaço é apropriado, por sua vez, são

resultado da maneira como a sociedade se organiza, o que perpassa pela distribuição de renda

entre os indivíduos e por suas necessidades de produção e consumo.

Para Lefebvre (2000) o espaço não é um lugar passivo, pois nele são contrapostas

as forças das relações sociais, onde a hegemonia de uma classe se superpõe sobre a sociedade

como um todo. Para este autor, o espaço é antes de tudo um produto social, com características

próprias de cada sociedade. Ele contém lugares apropriados pelas relações sociais de

reprodução social e pelas relações de produção que lhes engendram, organizadas de acordo com

a divisão do trabalho. As situações de produção e reprodução não podem se separar, pois a

divisão de trabalho repercute na família, na sociedade e, de forma inversa, a organização da

sociedade interfere na divisão do trabalho. No espaço estão contidas representações de

interferência entre relações sociais (produção e reprodução), que o complexificam.

O processo de produção do espaço, fundamentando-se nas relações de trabalho

entre homem e natureza, coloca-se como uma relação que deve ser mais amplamente entendida.

Neste sentido, Lustoza (2012) nos auxilia no entendimento do conceito de reprodução social e

relações de produção. A autora menciona que, na medida em que a sociedade produz o espaço,

passa a ter dele uma determinada consciência. Para ela, os homens ao produzirem seus bens

materiais e reproduzindo-se enquanto espécie, produzem o espaço geográfico, meio e condição

para reprodução das relações sociais. Este espaço, por sua vez, se diferencia conforme cada

momento histórico, e de acordo com o estágio de desenvolvimento das forças produtivas.

Contudo, a produção da vida não envolve apenas a produção de bens para satisfação material,

ela significa a produção da própria humanidade do homem. O plano da produção assim, articula

a produção em termos de desenvolvimento das relações de produção de mercadorias e de

produção da própria vida.

O espaço, para Lefebvre (2000), pode ser compreendido de duas maneiras. A

primeira delas é identificada por ele como sendo o espaço abstrato. Este é o espaço do

capitalismo, que contém o mundo da mercadoria, cuja lógica põe sua potência em termos de

dinheiro e de Estado político. O Estado, por sua vez, se sustenta na autoridade que exerce sobre

o espaço e o espaço, abstrato, apóia-se nas redes bancárias, nos centros de negócio e unidades

50

de produção. Ele funciona como um conjunto de coisas e signos, com relações próprias e

formais, que pode reduzir o significado do vivido, já que tende a homogeneização das relações.

Na medida em que o espaço abstrato reduz as diferenças e particularidades por

tender a homogeneidade, um novo espaço, diferencial, pode nascer justamente da acentuação

das diferenças que o abstrato produz. De acordo com Lefebvre (2000:64; tradução nossa) é o

espaço diferencial que “reúne aquilo que o espaço abstrato separa: as funções, os elementos e

momentos da prática social”. Esse espaço novo, portanto, discernirá o que o espaço abstrato

confunde, pois nele as diferenças não irão se basear em particularidades, mas irão emergir da

luta política cotidiana e vivida.

Assim, para o autor, a luta de classes pode ser lida claramente no espaço. E é ela, a

luta de classes, que impede que o espaço abstrato se estenda ao planeta inteiro apagando as

diferenças, pois ele mesmo as produz internamente ao crescimento econômico. Diante disso,

compreendemos que é através da construção do espaço diferencial que se poderá afirmar o valor

de uso do espaço, em contraponto a tendência do espaço abstrato de transformá-lo apenas em

valor de troca.

Dando continuidade à discussão do espaço em Lefebvre, temos que as

representações das relações de produção, que são também relações de poder, podem ser

percebidas no espaço, sob diversas formas, sejam elas materializadas sob a forma de edifícios,

monumentos, praças ou até mesmo obras de arte. Lefebvre (2000) estabelece uma triplicidade

de características sobre o espaço que são: a prática social, as representações do espaço e os

espaços de representação, também identificadas enquanto espaço “percebido”, “concebido” e

“vivido”, brevemente apresentadas a seguir.

Segundo Lefebvre (2000), a prática social abarca a produção e a reprodução, em

que espaços específicos e os conjuntos sociais próprios de cada formação social concebem à

relação de cada membro da sociedade ao seu espaço. Pode-se descobrir a prática social de uma

sociedade se decifra-se o seu espaço. E a prática social no neocapitalismo associa, no espaço

“percebido”, a realidade cotidiana (tempo) e urbana (trajetos que ligam os locais de trabalho,

da vida privada e do lazer), criando uma separação surpreendente entre os lugares que liga, o

que só pode ser examinado empiricamente.

As representações do espaço têm a ver com a ordem que as relações de produção

impõem a este espaço, ou seja, são conformadas enquanto espaço “concebido” (aquele do

51

domínio dos planejadores, urbanistas e técnicos). As representações do espaço são, para o autor,

dominantes na sociedade, cuja influência é bastante específica sobre sua produção.

Os espaços de representação, por sua vez, podem ser entendidos como o espaço do

“vivido”, onde estão inseridos os simbolismos ligados ao lado clandestino da vida social. É o

espaço do habitante, dos usuários, portanto, dominado, que a imaginação tenta modificar e

apropriar. É o espaço que tem um centro afetivo, contendo os lugares das situações vividas,

constituindo-se como obras simbólicas para os indivíduos.

Essa triplicidade de características do espaço trazidas por Lefebvre é capaz de nos

levar a leituras fundamentais, sobretudo quando forem relacionadas com aquilo que

estudaremos nos próximos capítulos, onde focaremos principalmente na relação entre o espaço

concebido e vivido. Assim, avançando na teoria para o ponto que desejamos chegar, podemos

prosseguir com o que nos diz Santos (1985). Para ele, cada lugar adquire uma significação

decorrente do movimento social em determinado período histórico (tempo) e possui um papel

próprio no processo produtivo que é formado pela produção propriamente dita, circulação,

distribuição e consumo. A maneira como os circuitos produtivos ocorrem, ajudam a

compreender a própria organização do espaço, pois “o espaço está na economia, assim como a

economia está no espaço” (Santos, 1985:1). Neste sentido, será preciso também abordar duas

importantes características deste lugar para ampliar nossa compreensão sobre a dinâmica

existente no espaço apropriado pelo trabalhador de rua: a primeira se refere à localização da

atividade estudada na cidade e a segunda se refere à particularidade do espaço onde ela ocorre.

A atividade dos trabalhadores de rua está fortemente presente no Centro Antigo da

cidade de Salvador5, de modo que é preciso compreender o significado que este lugar possui

em termos de polarização de atividades, usos e consumo. A produção de bens visando o

consumo do excedente e, consequentemente, a obtenção do lucro tem sua origem com o modo

de produção capitalista. A divisão social do trabalho distinguiu os ofícios da agricultura e os

ofícios que se instalaram na cidade. Ferrari (1977) questiona se foi o comércio que originou a

cidade ou o contrário que aconteceu.

De acordo ainda com autor supracitado o desenvolvimento dos transportes urbanos

permitiu a concentração do comércio a varejo, o que deu origem às zonas comerciais geralmente

situadas no centro das cidades. Os centros urbanos coincidem, portanto, muitas vezes com o

5 A localização da atividade em Salvador será apresentada no próximo capítulo desta dissertação.

52

núcleo inicial das cidades e possuem a histórica e marcante característica de ser o lugar de

organização do comércio local, favorecendo a circulação da mercadoria6.

Para Santos (2008b:198) “o ‘centro’ da cidade se caracteriza por uma paisagem

arquitetural e humana muito mais completa”, constituindo-se como o nódulo principal da cidade

com forte concentração de serviços e comércios nos países subdesenvolvidos, que tende a

monopolizar todas as funções mais importantes da cidade. Muitos autores consideram que os

centros antigos ou tradicionais (aqueles que se formam praticamente junto com a cidade) sofrem

um esvaziamento ou perda de importância na medida em que a evolução urbana acontece e

novas centralidades se formam ou são criadas. Aqui especificamente não se pretende tratar de

um “esvaziamento” do centro de Salvador, mas sim numa mudança no perfil da população que

utiliza o centro, pois tomando como exemplo a localidade analisada, observa-se que na

realidade houve uma modificação no status social da população que usufrui deste espaço. Se

antes era uma população abastada que se beneficiava do Centro, atualmente observa-se que são

as classes de rendas médias e baixas que o fazem. Como afirma Lefebvre (2001), esses centros

tradicionais podem se transformar, mas continuam sendo centros de intensa vida urbana, onde

a função econômica é a função essencial.

[...] O núcleo urbano torna-se, assim, produto de consumo de uma alta qualidade para estrangeiros, turistas, pessoas oriundas das periferias,

suburbanos. Sobrevive graças a este duplo papel: lugar de consumo e consumo

do lugar. Assim, os antigos centros entram de modo mais completo na troca e no valor da troca, não sem continuar a ser valor de uso em razão dos espaços

oferecidos para atividades especificas. Tornam-se centros de consumo. O

ressurgimento arquitetônico e urbanístico do centro comercial dá apenas uma versão apagada e mutilada daquilo que foi o núcleo da antiga cidade, ao

mesmo tempo comercial, religioso, intelectual, político, econômico

(produtivo). A noção e a imagem do centro comercial datam de fato da idade

média. Corresponde à pequena e média cidade medieval. Mas hoje o valor de troca prevalece a tal ponto sobre o uso e o valor de uso que quase sempre

suprime este último. (LEFEBVRE, 2001: 20)

É possível fazer uma analogia ainda com relação a teoria dos espaços opacos e

luminosos. Para Santos e Silveira (2003), os espaços luminosos são aqueles que acumulam

densidades técnicas e informacionais, estando aptos a atrair maior conteúdo em capital,

tecnologia, informação e atividades que fazem parte do universo formal. São as características

6 Existem abordagens clássicas que tocam a noção da centralidade, como são, por exemplo, as desenvolvidas na Escola de Chicago por Park e Burgess (1925) ou por Christaller (1933), que avançaram na teoria, mas não serão aprofundadas neste trabalho, pois não consistem em seu foco teórico. No entanto é importante destacar que essas discussões sobre a estrutura

urbana propõem modelos espaciais e tratam do centro da cidade como um importante centro de negócios.

53

assumidas pelas novas centralidades. No caso dos espaços opacos, as atividades presentes no

espaço luminoso estão teoricamente ausentes e existe, por analogia, uma maior presença de

atividades informais que é o que pode ser observado nos antigos centros, como é o caso de

Salvador.

A concentração de diversos usos e serviços no centro o torna um lugar bastante

atrativo e acessível, capaz de despertar o sentimento de pertencimento nas pessoas que o

frequentam cotidianamente. Costuma ser, portanto, o local da cidade mais propício para

realização de trocas, sejam elas econômicas, sociais e afetivas, por exemplo. As relações que

se expressam no centro são influenciadas e influenciam mutuamente na forma como o espaço

é percebido e vivido por todos aqueles que o frequentam. Ter em vista a importância da

dinâmica que este lugar cria é bastante importante para compreendermos a sua apropriação

pelos trabalhadores de rua. Contudo, não poderemos nos furtar a uma particularidade do espaço

do qual estamos tratando, ou seja, da rua, do espaço público.

Para compreender o que é o espaço público e o que a apropriação desse espaço pode

significar, precisamos também nos aproximar minimamente do que significa a distinção entre

as esferas pública e privada da vida. Para isso recorreremos principalmente a contribuição de

Richard Sennett, sem desprezar o que também nos diz Hannah Arendt.

Sennett (2014) acredita que a história destas duas palavras é fundamental para

entender as transformações ocorridas nos últimos séculos no domínio público. Segundo ele, as

primeiras ocorrências da palavra “público” o revelam como algo comum na sociedade.

Posteriormente, em Roma, “público” era aquilo que estava exposto à observação geral.

Retomando o pensamento grego, Arendt (2007) explica que com a cidade-estado o

homem recebe além da sua vida privada (família e casa), uma segunda vida (bios politikos) e

que a partir de então, o homem pertence a essas duas ordens de existência, onde diferencia-se

“aquilo que lhe é próprio (idion) e o que é comum (koinon)” (ARENDT, 2007:33). Essa

distinção entre as esferas pública e privada da vida por sua vez significam uma separação entre

a família e a política.

O que impediu que a polis violasse as vidas privadas dos seus cidadãos e a fez

ver como sagrados os limites que cercavam cada propriedade não foi o

respeito pela propriedade privada tal como a concebemos, mas o fato de que, sem ser dono de sua casa, o homem não podia participar dos negócios do

mundo porque não tinha nele lugar algum que lhe pertencesse. (ARENDT,

2007:39)

54

Sennett (2014), ainda sobre a historicidade dos significados de “público” e

“privado”, prossegue nos contando que no século XVI o termo “privado” foi usado com o

sentido de distinguir os privilegiados. Por volta do século XVII “público” e “privado” já se

opunham de maneira semelhante ao que ocorre na atualidade. “Público” significava que algo

estava disponível para observação de todos, enquanto que “privado” se referia a uma região

protegida da vida, referente à família e aos amigos. Já no século XVIII a palavra “público”

adquire o sentido moderno, onde significa não somente uma parte da vida separada do domínio

da família e dos amigos, mas também passa a significar um domínio público mais amplo

incluindo uma diversidade grande de pessoas estranhas. O “público” passa então a significar

uma vida para além da família e dos amigos íntimos, aproximando-se da região da vida pública

onde grupos semelhantes e diferentes podem ter contato.

Para Arendt (2007) a esfera pública significa comum, onde o “público” em primeira

instância pode ser visto e ouvido em todo lugar e em segundo é aquilo que é comum a todos, o

próprio mundo e o lugar de cada um dentro dele. Este mundo comum reúne os indivíduos e ao

mesmo tempo evita que ocorra um choque entre eles.

Só a existência de uma esfera pública e a subsequente transformação do mundo em uma comunidade de coisas que reúne os homens e estabelece uma

relação entre eles depende inteiramente da permanência. Se o mundo deve

conter um espaço público, não pode ser construído apenas para uma geração e planejado somente para os que estão vivos: ele deve transcender a duração

da vida de homens mortais (ARENDT, 2007:64).

Já o sentido moderno de “privado” aparece sob o formato de um círculo de

intimidade. Esta esfera privada se relaciona com a propriedade, onde o termo “privado” é

considerado na acepção de “privação”, que reside na ausência dos outros e induz à solidão. A

vida pública, ainda para Arendt (2007), só se tornaria possível na medida em que as

necessidades urgentes da própria existência (por meio da riqueza privada) fossem atendidas e

o meio para atingi-las se dá, portanto, através do trabalho.

Para Sennett (2014:36): “Juntos, o público e o privado criavam aquilo que hoje

chamaríamos de um “universo” de relações sociais”, onde os indivíduos mantêm certo

equilíbrio entre as “exigências da civilidade” (comportamento público) e as “exigências da

natureza” (família). Isto implica uma forma de relação diferenciada entre os estranhos, porém

55

fazendo parte desse conjunto de estranhos (vida pública), adversa ao tipo de relação

estabelecida em família (vida privada).

Arendt e Sennett contrapõem o espaço público, lugar de ação política, ao lugar da

família e das questões relativas à privacidade do indivíduo. Os pontos de interseção dos

pensamentos dos autores anteriormente citados levam-nos a entender o espaço público,

portanto, como o palco onde se estabelecem uma diversidade de relações sociais ou ainda como

sendo locus da comunicação, encontros ocasionais e democracia. Essa importante pontuação

conceitual entre as esferas pública e privada nos conduz com mais consistência à

problematização acerca da tensão e dialética que está contida na apropriação do espaço público,

mas no que, em essência, ele consiste?

Borja (2003) relaciona a noção do espaço público com a cidade e com a noção de

cidadania, entendida como um conceito do direito público. Ele trata da dialética existente entre

os conceitos de cidade, cidadania e espaço público e afirma que quanto mais uma cidade possua

espaços públicos, mais ela terá mais cidadania e também mais conflitos haverá sobre o uso deste

espaço. A cidade então, pensada enquanto cenário, constitui-se enquanto um verdadeiro espaço

público que quanto mais aberto a todos, mais expressará a democratização política e social. Isto

porque, para o autor, o espaço público é o local em que a expressão e a representação da

sociedade, considerando tanto dominados quanto dominantes, se tornam visíveis. É um lugar

de relação e de identificação entre as pessoas, de contato, de animação urbana e até mesmo de

expressão comunitária.

O espaço público é um conceito intrínseco ao urbanismo, e conforme Borja (2003),

costuma ser erroneamente confundido com espaços verdes, equipamentos ou com o próprio

sistema viário, o que se deve ao funcionalismo em que se baseia o urbanismo moderno, que

desqualificou o espaço público na medida em que lhe designou usos específicos. O espaço

público moderno resulta de uma separação entre a propriedade privada e o domínio público. A

dinâmica das cidades e os comportamentos das pessoas que nela habitam, podem criar espaços

públicos que a princípio não seriam pensados como tal pelo planejamento. Isto pode ser

observado em espaços intersticiais entre edifícios, no entorno de equipamentos públicos, ou em

locais abandonados, por exemplo. O que define o espaço público, portanto, é seu uso e não seu

status jurídico.

56

El espacio público supone pues dominio público, uso social e colectivo y

multifuncionalidad. Se caracteriza físicamente por su accesibilidad, lo que lo

convierte en un factor de centralidad. La calidad del espacio público se podrá evaluar sobre todo por la intensidad y la calidad de las relaciones sociales que

facilita, por su capacidad para generar mixturas de grupos y comportamientos,

por su cualidad de estimular la identificación simbólica, la expresión y la

integración cultural. Por ello, es necesario que el espacio público se piense como obra de cualificación del entorno y de calidad intrínseca, como son la

continuidad en el espacio urbano y su facultad ordenadora, la generosidad de

sus formas, de su diseño y de sus materiales y la adaptabilidad a usos diversos a través del tiempo (BORJA, 2003:124).

Entendemos que o fator de centralidade mencionado pelo autor está numa ordem

de proximidade com o habitante, tanto se pensarmos em espaços públicos de maior atração,

como grandes praças e parques com capacidade de atrair habitantes de diferentes partes da

cidade, quanto se pensarmos na escala de um bairro, por exemplo, onde determinadas

localizações se convertem enquanto espaços públicos atraindo seus moradores. Neste caso,

podemos observar situações em que espaços planejados para serem destinados a função do

lazer, não são assim usados pelos moradores por diversos motivos, no que pode-se incluir desde

o fato de estarem localizados em locais com grande fluxo de automóveis ou não oferecerem

segurança, por exemplo. Em seu lugar, ruas por onde não transitam carros podem se converter

em verdadeiros espaços públicos, onde crianças brincam, amigos se reúnem em diferentes

momentos do dia, vizinhos se encontram, e diversos tipos de trocas sociais se realizam.

Para Borja e Muxí (2000) o espaço público não pode ser considerado como um

espaço residual, pois é o local que permite o passeio e o encontro, além de ordenar cada zona

da cidade, dando-lhes sentido. É um lugar ao mesmo tempo físico, simbólico e político. Para

estes autores, a história de uma cidade se confunde com a história do seu espaço público, pois

é nele que se materializam as relações entre os habitantes e o poder público. Deve, portanto,

garantir a apropriação por parte de diferentes coletivos sociais e culturais, de idade e de gênero,

em termos de igualdade.

Os espaços públicos têm seu significado e utilização modificados, sobretudo pelas

alterações nas formas como são utilizados ao longo do tempo. Para Lefebvre (2001), a cidade

é uma “obra” e esta contrasta com a orientação que há na direção da acumulação, do comércio,

das trocas e dos produtos, pois a obra se constitui em valor de uso, enquanto que o produto é o

valor de troca.

57

A cidade e a realidade urbana dependem do valor de uso. O valor de troca e a

generalização da mercadoria pela industrialização tendem a destruir, ao

subordiná-las a si, a cidade e a realidade urbana, refúgios do valor de uso, embriões de uma virtual predominância de uma revalorização do uso

(LEFEBVRE, 2001:14).

O espaço público para Lefebvre é, portanto, em essência social, onde estão contidas

as representações das relações de classes estabelecidas pelo modo de produção vigente. Em

sentido semelhante, para Serpa (2007), ao analisarmos o espaço público é preciso ter em vista

que forma e conteúdo são indissociáveis e que sua compreensão perpassa os aspectos da

“concretude” da esfera pública urbana.

O autor supramencionado, fundamentando-se em Henri Lefebvre, acredita que

ocorre uma homogeneização dos espaços urbanos, onde reina a repetição, o que ocasiona a

baixa diversidade na morfologia urbana, e o repetitivo substitui as características particulares

dos lugares. Esse espaço homogêneo (abstrato) se contrapõe ao espaço do vivido, onde ocorrem

as atividades cotidianas. É como se num mesmo lugar estivessem contidos um ideal (planejado)

e uma realidade (espontânea), onde o “ideal” é produzido de maneira a, muitas vezes, repelir o

uso, como é o caso observado na concepção das reformas ocorridas em Paris com o

“urbanismo” haussmaniano, comentadas por Lefebvre (2001). Já a “realidade” é aquilo que

acontece espontaneamente, independente da vontade do planejador, ou seja, a forma como o

espaço é apropriado pelos indivíduos.

Sennett (2014) afirma que, ao organizar o espaço urbano, o aspecto do domínio

público é muitas pensado como se fosse desprovido de sentido pelo planejamento. Nesse

contexto, as áreas a céu aberto são tratadas como espaços vazios, lugares de passagem e não de

uso ou permanência. O referido autor chega a transcrever as palavras de um dos encarregados

do planejamento do centro da Défense, maior centro financeiro de Paris, para o qual o solo é

definido como “nexo de apoio ao fluxo de tráfego para o conjunto vertical” (SENNETT,

2014:30). Sennett (2014) conclui sobre esta afirmação que o espaço público se tornou na

maioria dos casos, uma derivação do movimento.

Nesse sentido, para Sennett (2014), o automóvel é colocado como um fator de

grande influência, pois foi por intermédio dele que se deu uma facilidade de movimentação

desconhecida até o momento de sua massiva utilização. O fato de poder utilizar o carro para os

deslocamentos diários, associado às atribuições da vida moderna, provoca um grande impacto

no uso dos espaços públicos, sobretudo da rua que se torna um espaço sem sentido, pois esta

58

forma de movimentação substitui o estar na rua e vivenciar este lugar. As cidades, através do

massivo uso do automóvel e ao privilégio dado a esse meio de transporte em detrimento das

demais formas de deslocamento, passam então a ser pensadas muito mais para uso individual

do que para dar suporte à vida coletiva.

Para Sennett, o isolamento proporcionado pelo automóvel particular na medida em

que o mesmo produz no inconsciente a ideia de que se isolando em seu interior para se deslocar

com liberdade (todo o ambiente circundante perde o seu significado) contribui para o que chama

de morte do espaço público, pois agrava a tendência à diminuição da sociabilidade. Além do

automóvel, outros fatores como a insegurança, se somam para corroborar essa tal morte do

espaço público e são teorizados por diversos autores. Contudo, esta visão de morte do espaço

público, embora mencionada aqui, não será aprofundada por nós, pois o que observamos é

justamente o oposto: um espaço público vivo, pulsante, repleto de usuários e contradições.

As diferentes formas de organização do espaço público, por sua vez, revelam as

contradições das transformações sociais. Cabe-nos aqui, portanto, caracterizar o local que mais

do que um lugar de passagem, é também lugar de uso, permanência (ainda que transitória) e

onde ocorrem intensas trocas comercias e sociais, aquele que é o primeiro lugar no qual nos

encontramos assim que deixamos o ambiente privado de nossas casas e nos encontramos em

meio aos outros diferentes de nós: a rua.

Segundo Santos (1985) entre os pólos do “público” e do “privado” se estabelecem

relações de apropriação diferenciadas. Para ele, as atividades que se opõem às ideias de

intimidade e privacidade, tais como festas, encontros e jogos, encontram na rua o lugar ideal

para seu acontecimento.

De acordo com Santos & Vogel (1985:24) “a palavra rua vem do latim ruga.

Primitivamente o vocábulo significava o sulco situado entre dois renques de casas ou muros em

um povoado qualquer”. Para Lamas (1993), a rua é um lugar de circulação, ela é estruturadora

do traçado urbano e se constitui em um dos elementos mais fáceis de serem identificados numa

cidade, estando contidas no próprio gesto de projetar.

Sobre a importância da rua, Carlos Nelson esclarece:

[...] As ruas são importantíssimas. Não se pode conceber uma cidade sem elas.

Servem para ligar os diversos pontos de interesse particular ou semipúblico,

conformando uma rede de canais livres e de propriedade coletiva. Se não

existissem, não haveria troca de espécie alguma, pois servem de suporte ao

59

deslocamento de pessoas, veículos, mercadorias, informações. Mas não é só

isso: territórios de ninguém e de todo mundo, são palco de onde se

desenvolvem dramas e representações da sociedade (SANTOS, 1988:91).

A rua pode ser compreendida como o lugar da novidade, do inesperado para os

autores Santos & Vogel (1985). Isso se deve porque ela é o lugar do outro, que pode ser tanto

o estranho como também aquele com quem se mantém algum tipo de relação social. Na rua o

social pode se apresentar como espetáculo e daí gerar um fascínio, pois este lugar permite que

personalidades sejam assumidas e que diferentes papéis sejam desempenhados. A rua para esses

autores é “palco por excelência” (SANTOS & VOGEL, 1985:83).

Para Schvarsberg (2011) a confluência dos diversos desejos dos homens revela que

a rua está sujeita à própria dinâmica do sistema capitalista. O autor faz em sua dissertação de

mestrado a apresentação de quatro modelos de rua, de modo a retratar a maneira como uso deste

espaço foi se transformando ao longo do tempo. A caracterização desses modelos será apenas

brevemente apresentada, no entanto consideramos que vale a pena demonstrá-los, pois a

historicidade das transformações nas formas de seu uso e de sua apropriação são importantes

para nós. Os quatro momentos da rua abordados pelo autor são:

Boulevard: este modelo de rua surge no século XIX e se caracteriza por ruas longas e

avenidas que estruturam a circulação. Ele separa as calçadas, que continham arborização,

iluminação pública, sistema de drenagem, esgotamento sanitário e abastecimento de água,

do lugar destinado à passagem das carroças.

Autopista: surge já no século XX sob a perspectiva do trânsito mais intenso e da

popularização do automóvel. Defendido por Le Corbusier e presente na Carta de Atenas,

este modelo propunha um conjunto hierárquico de vias de maneira a organizar e deixar

fluir o tráfego de veículos, além de ligar de modo eficiente os pontos que abrigavam

diferentes funções urbanas. Ao longo dos trajetos criados avolumavam-se ilhas de

comércio e serviços, com bolsões de estacionamentos, formando um contexto onde surgem

e se popularizam, posteriormente, os shoppings centers.

Rua de bairro: é característica do período a partir da década de 1950. Sua concepção faz

parte do Movimento Moderno que teve como alvo o urbanismo funcionalista da Carta de

Atenas. Este tipo de via se caracteriza pela valorização da simplicidade da rua comum,

reforçando as relações de vizinhança e o comércio popular. Neste modelo, se indicava que

as calçadas fossem suficientemente largas para abrigar diversos tipos de apropriação,

como, por exemplo, o das crianças. Quadras curtas, lotes menores e possibilidades de se

60

combinar diferentes tipologias seriam responsáveis por aumentar o contato com o público,

além de criar uma rede de respeito e confiança.

Rua de pedestres: este modelo está associado ao modelo da autopista. Surgiu na década de

1960 devido às preocupações com os centros urbanos, uma vez que a mobilidade pelo

automóvel criava uma série de problemas para estes locais, como, por exemplo, os

congestionamentos. A importância das ruas de pedestres se dá, portanto, porque dentro de

uma ótica capitalista em que as cidades passam a ser consumidas, sobretudo nos seus

centros históricos, é preciso criar condições para que as pessoas possam circular.

As ruas de pedestre são difundidas em todo mundo, sobretudo pelo uso intensivo

do automóvel na sociedade moderna. É neste espaço e nas ruas de bairro que os habitantes de

uma cidade podem encontrar toda uma diversidade de situações e possibilidades de encontro

com o diferente e o novo. Porém, para que essa dinâmica da vida possa se expressar é

fundamental que o ambiente circundante não seja monótono. Nesse sentido, podemos

considerar que além do uso intensivo do automóvel, capaz de isolar o indivíduo do meio

externo, os grandes edifícios conhecidos popularmente como espigões influenciam diretamente

nas relações de vizinhança, pois diminuem as possibilidades de sociabilidade, já que isolam os

edifícios da rua e frequentemente criam uma série de atrativos em seu interior no sentido de

evitar que seus moradores precisem sair, sob a alegação de que entre seus muros há maior

segurança.

Jacobs (2011) ao escrever sobre a cidade a partir de suas observações do cotidiano

e vivência como moradora do Greenwich Village em Nova York, afirma que, para que uma rua

tenha segurança como trunfo à presença de desconhecidos, sua infraestrutura precisa conter três

características principais: 1) ter nítida a separação entre o espaço público e o privado; 2) existir

olhos para a rua, ou seja, as janelas dos edifícios devem estar voltados para a rua; e 3) a calçada

deve ter sempre usuários transitando por elas. As ruas das cidades devem lidar com os

desconhecidos, resguardando não apenas aqueles estranhos que depredam, mas também

protegendo os desconhecidos pacíficos e bem intencionados que por elas transitam, pois todos

precisam usar as ruas.

Essa situação desenhada por Jacobs (2011) coloca uma questão importante no que

se refere à vigilância, e consequente uso das ruas. Como ela mesma diz: não se pode forçar as

pessoas a vigiar ruas que elas não estejam interessadas em vigiar. O requisito básico da

vigilância proposto por ela então, é de que haja um número considerável de estabelecimentos e

de locais públicos dispostos ao longo das calçadas, que possam ser utilizados também durante

61

a noite. Esses estabelecimentos, por sua vez, contribuem para dar às pessoas que habitam o

lugar motivos concretos para utilizar e aumentar, conseqüentemente, a segurança das calçadas,

pois “a presença de pessoas atrai outras pessoas” (JACOBS, 2011:38).

A vida na rua, tanto quanto eu possa perceber, não nasce de um dom ou de um

talento desconhecido deste ou daquele tipo de população. Só surge quando

existem as oportunidades concretas, tangíveis, de que se necessita. Coincidentemente, são as mesmas oportunidades, com a mesma abundância e

constância, necessárias para cultivar a segurança nas calçadas. Se elas não

existirem, os contatos públicos nas ruas também não existirão. (JACOBS,

2011:75)

Jacobs (2011) observa também que para que uma rua se mantenha viva, é preciso

que ela gere diversidade, ou seja, a monotonia residencial deve ser quebrada pela presença de

opções de comércio variadas e de atrativos culturais. Teoricamente isso torna-se mais fácil de

ser alcançado pelas cidades grandes, naturalmente geradoras de diversidade e incubadoras de

novos empreendimentos e ideias. Contudo, só se verifica na prática se houverem diversas e

eficientes combinações de usos econômicos na cidade. As situações capazes de gerar tal

diversidade dependem, para a autora, basicamente de quatro condições essenciais: 1) atender a

mais de duas funções principais (lazer, moradia e trabalho, por exemplo), o que garante que

haja pessoas saindo em diferentes horários e otimiza o uso da infraestrutura disponível; 2) as

quadras devem ser curtas, o que possibilita aos usuários a oportunidade de virar esquinas, ou

seja, diminui-se a possibilidade de existirem ruas isoladas, separadas e desassistidas pela

população; 3) uma combinação de edifícios de idades e estados de conservação diversos, o que

pode gerar rendimento econômico variado, pois prédios antigos podem ser alugados por

comércios ou serviços que não tem recursos para investir em novos edifícios; 4) densidade alta

de pessoas, sobretudo incluindo pessoas com o propósito de morar no lugar. Este último aspecto

é importante por favorecer a concentração de pessoas no bairro, que habitualmente são as que

mais consomem dos pequenos comércios, o que amplia mais a diversidade de usos.

Tais condições problematizadas por Jacobs (2011), mais do que garantir o uso das

ruas, implicam também em sua apropriação pelos mais diversos tipos de usuários. Na rua, a

apropriação de suas formas, por sua vez, pode ocorrer de diversas maneiras. Para Santos &

Vogel (1985) apropriar-se de um ponto, por exemplo, em um determinado local através de uma

atividade, implica particularizá-lo, ou seja, privatizá-lo, não apenas pela especialização dada

por seu uso, mas também pelo tipo de vinculação ao grupo de pessoas que passa a se utilizar

62

desse lugar. O que define o “ponto” é o exercício regular de uma determinada atividade. Para

os autores, essa atividade pertenceria ao domínio público, pois sem ele não seria possível à

criação do mesmo. Entretanto, esse ponto pode ser ou não reconhecido. No caso de não ser é a

própria atividade que confere a sua significação, tornando-o passível de ser identificado.

Os conceitos de apropriação, particularização e privatização quando trabalhados

por Santos & Vogel (1985), contudo, talvez não tivessem a mesma distinção conceitual atual.

Hoje, por exemplo, a apropriação pode não implicar necessariamente numa privatização7. É

importante ressaltar que nesta dissertação não chegaremos a discutir se a apropriação implica

numa privatização do espaço público. O que nos parece importante sobre o que os autores

trazem, no entanto, é justamente a definição do ponto através de uma atividade regular, que se

relaciona com aquilo que observamos no caso dos trabalhadores de rua. É importante ressaltar

que a apropriação aqui é entendida como o ato de tomar posse de algo que, a princípio, não lhe

pertenceria ou como é o caso do espaço público, do lugar que pertence a todos.

Nesse sentido, consideramos significativo mencionar a definição de Roger Chartier

sobre o conceito de apropriação, que embora relacionado às suas pesquisas no âmbito da

História Cultural, nos parece bem interessante por atribuir ao conceito um uso inventivo e

criador. Ele nos diz:

Existe a apropriação no sentido da hermenêutica, que consiste no que os indivíduos fazem com o que recebem, e que é uma forma de invenção, de

criação e de produção desde o momento em que se apoderam dos textos ou

dos objetos recebidos. Desta maneira, o conceito de apropriação pode misturar

o controle e a invenção, pode articular a imposição de um sentido e a produção de novos sentidos (CHARTIER, 2001:67).

Para Chartier (2001), no âmbito da cultura, há sempre uma vontade de controle

sobre a apropriação, sendo esta o resultado de uma tensão entre o desejo de controle e

monopólio (do compositor de uma música ou autor de um livro, por exemplo) e a vontade de

conquista (de quem escuta a música ou lê o livro). Isto se dá porque, do lado de quem cria, há

a tentativa de fixar um sentido único para a obra, e a apropriação, que é a forma como as pessoas

tomam para si o sentido da obra, e que dificilmente pode ser controlada. Para Chartier, portanto,

a apropriação se dá nesse conflito.

7 Privatizar tem o sentido de tornar particular, não público. Já apropriar tem o sentido de tornar algo próprio, apoderar-se de

algo.

63

No nosso caso estamos falando do espaço público, e nele verificamos o conflito

latente entre o concebido pelo planejamento urbano e as formas como esse mesmo espaço é

vivido e apropriado pelas pessoas. Dessa ambiguidade podem resultar tanto praças abandonadas

quanto estacionamentos apropriados por crianças para brincadeiras, por exemplo. Assim, da

mesma forma que é possível usar uma caixa de fósforos para fazer música, os indivíduos são

capazes de tomar para si, de apropriar-se de espaços, para desenvolver outros usos que não os

inicialmente propostos pelo planejador.

Vimos na seção anterior que a industrialização tardia nos países em

desenvolvimento destruiu as atividades tradicionais, mas não foi capaz de absorver a força de

trabalho de toda a população que migrou para as cidades, sendo a favela como símbolo principal

desse processo. Já nos países desenvolvidos, segundo Lefebvre (2001), foi a proliferação de

subúrbios que se constituíram como um grande problema para a vida urbana, pois se

constituíram enquanto áreas homogêneas e segregadas. Nesse sentido, para o referido autor, o

problema da moradia sobressaiu e ocultou os reais problemas da cidade, aprofundados quanto

mais ela é tratada em termos de setores e funções subordinados aos centros de decisão. Na

medida em que a cidade se alinha pela lógica industrial, torna-se “dispositivo material próprio

para se organizar a produção, para controlar a vida cotidiana dos produtores e o consumo dos

produtos” (LEFEBVRE, 2001, p.82). Isso significa dizer, em nosso entendimento, que a

homogeneidade do concebido pode recobrir a diversidade, uma vez que tenta lhe podar as

possibilidades de apropriação. Assim temos que a forma criativa como os indivíduos podem se

apropriar daquilo que lhes é oferecido pela cidade, ou pelo que é concebido para ela, pode

resgatar o valor de uso nas cidades.

O sentido da apropriação tratada por Lefebvre também pode ser complementado

quando tomamos este conceito em outra obra sua, onde ele define que um grupo social se

apropria de um espaço natural quando o modifica para servir as suas necessidades e

possibilidades. Isto significa que o sentido da apropriação está relacionado às práticas que

modificam um espaço natural, podendo dar origem a um outro espaço produzido pelos

interesses do grupo em um determinado momento. “Nem sempre: um lugar, uma praça, uma

rua podem se dizer “apropriados”. Tais espaços abundam, ainda que nem sempre seja fácil dizer

em que e como, por quem e para quem eles foram apropriados” (LEFEBVRE, 2000:192). O

espaço público, portanto, não pode ser entendido como um lugar estático, mas sim como um

lugar praticado, cujas ruas e praças, por exemplo, podem ser transformadas pelo uso que lhes é

dado, pela forma como são apropriados.

64

Na medida em que a apropriação do espaço público aqui analisada se dá por meio

do trabalho que é exercido na rua, cabe destacar que este é convertido por essa prática em um

novo espaço de consumo e a junção de atividades formais e informais, por sua vez, contribui

para a convergência de fluxos que reafirmam a centralidade no lugar onde observamos sua

ocorrência. De acordo com Montessoro (2006), o comércio nas ruas existe e continuará se

expandindo, sobretudo nas áreas centrais, pois o fluxo que incide neste local permite uma

circulação mais acirrada. A apropriação por parte dos trabalhadores de rua, para esta autora,

tem uma relação de causa e efeito que está associada ao desemprego.

Ainda para a autora citada, a relação de troca com enfoque nos trabalhadores de rua

modifica os usos do espaço numa relação entre indivíduos e uma sociedade que se baseia no

consumo. Mesmo que a relação de troca esteja como pano de fundo, é possível estabelecer

contatos com as pessoas e com o lugar apropriado (ponto), de maneira que quando se avista

alguém adquirindo produtos com os trabalhadores de rua, pode-se pressupor que o contato de

compra e venda cria uma imagem da pessoa com o lugar, sendo este um espaço público

apropriado pelo vendedor.

Diversos tipos de apropriação do espaço público são possíveis, porém nos chama

atenção o fato de que no caso dos trabalhadores de rua, esta apropriação passe a ser reconhecida

pelo Poder Público e passe a incorporar o quadro de políticas públicas desenvolvidas pelo

Estado. Em outras palavras, isto significa que a apropriação é incorporada pelo planejamento

na medida em que ela passa a ser entendida como um direito. Veremos no Capítulo 3, por

exemplo, que mesmo nos locais onde o poder público permite a atividade do trabalhador de rua,

outras formas de apropriação são possíveis para além da atividade do trabalho. É o caso das

crianças levadas por suas mães e parentes, que além de aprenderem sobre o ofício, passam

também a utilizar esse espaço para brincar. Assim também é o caso das rodas de jogos de dama

criadas por trabalhadores nos momentos em que o movimento está fraco. Apesar desses

exemplos não podemos deixar de considerar a permanente tensão entre a apropriação pelo

trabalho em locais que a atividade dos trabalhadores não é permitida. Todavia, por ora, nos

deteremos a eles e seguiremos nos próximos capítulos tratando sobre a relação entre o

concebido e o vivido, ou seja, entre as ações do planejamento apresentadas criticamente no

Capítulo 2 e a atividade dos trabalhadores de rua, que será apresentada tal como se configura

na contemporaneidade, com base em dados empíricos que revelam sua caracterização e

funcionamento no Capítulo 3.

65

2 O ESPAÇO PÚBLICO E O TRABALHO DE RUA EM SALVADOR:

CARACTERIZAÇÃO, LEGISLAÇÃO E PLANEJAMENTO

No Capítulo 1 tentamos evidenciar a relação existente entre a informalidade e o

espaço público numa perspectiva predominantemente teórica, onde foi possível observar que a

apropriação se dá, sobretudo, pelo exercício de um uso novo e distinto do que aquele que teria

sido concebido para um determinado lugar. Neste capítulo agora, buscamos esmiuçar a forma

como essa apropriação se dá, mantendo a atenção nos dois eixos articuladores desta dissertação

(espaço e economia).

Neste capítulo, inicialmente, apresentaremos a área de estudo, onde se insere a

principal via aqui estudada, a Avenida Sete de Setembro e os bairros que a ela estão adjacentes,

nos quais se inclui o bairro Dois de Julho, aqui também tratado por concentrar historicamente

trabalhadores de rua. Posteriormente, apresentaremos a legislação que incide sobre o espaço

público e, seguiremos com a leitura crítica das propostas de intervenção elaboradas pela

municipalidade em momentos distintos, selecionados no período que sucede a

redemocratização do país.

Trataremos neste capítulo, não do histórico da relação entre o trabalhador de rua e

o espaço público, mas de como o espaço é concebido, ou seja, aquele espaço sobre o qual incide

o planejamento, sob os interesses de seu agente promotor, o Estado, conforme enunciado por

Lefebvre. Para nos aprofundarmos sobre a forma como este espaço é concebido,

apresentaremos a caracterização das ruas que aqui são estudadas, onde se observa a apropriação

pelo trabalhador de rua e que, por sua vez, integram o campo do vivido. Este, por sua vez, será

tratado mais adiante, no Capítulo 3, quando lançaremos nosso olhar sobre a organização e

funcionamento do trabalho de rua, que não se observa em quaisquer ruas. As ruas escolhidas

pelos trabalhadores são determinadas devido a um conjunto de fatores que envolvem desde o

grande fluxo de transeuntes que se deslocam em busca de empregos, serviços, comércio e

diversas outras atividades do cotidiano, até o próprio interesse do poder público em permitir a

comercialização de mercadorias em locais específicos e de obter com a atividade uma forma de

arrecadação.

Por fim, antes de avançarmos sobre o desenvolvimento desta parte do trabalho, é

importante destacar que a leitura das propostas elaboradas pelo poder público será feita com

base em cinco categorias de análise distintas: existência de um diagnóstico sobre a situação;

conforto ambiental; infraestrutura de suporte para a atividade; relação entre a proposta e o

66

entorno; e densidade de ocupação. Sobre esta última, densidade de ocupação, informarmos que

nos deteremos a ela mais particularmente, por ter sido uma categoria pouco ou não mencionada

nos projetos estudados e que consideramos de fundamental importância para compreensão da

dinâmica da atividade no espaço.

2.1 Caracterização das ruas onde se observa o trabalho de rua: Avenida Sete de Setembro,

transversais e Largo Dois de Julho

A Avenida Sete de Setembro é uma das principais vias urbanas do município de

Salvador. Além de ter sido palco de diversos acontecimentos históricos, ao longo da Avenida

Sete estão diversos marcos arquitetônicos importantes como o Mosteiro de São Bento e o

Convento das Mercês, por exemplo. Ao analisarmos também a localização da referida Avenida,

podemos observar que ela corta alguns bairros do centro antigo de Salvador, os quais não serão

detalhadamente apresentados aqui, com exceção ao bairro Dois de Julho, onde também é

fortemente notada a presença de trabalhadores de rua.

Em Salvador, as primeiras décadas do século XX podem ter sido marcadas pela

estagnação econômica, mas não pela letargia urbana. De acordo com Flexor (2011) os

problemas da cidade foram enfrentados sob a luz dos ideais higienistas, bem como foram feitas

tentativas de criar condições para modernização da cidade. Dentre as intervenções do período,

destaca-se o alargamento da Avenida Sete de Setembro entre os anos de 1912-1916, principal

obra do governo de J.J. Seabra, realizada seguindo os moldes do “urbanismo demolidor”

parisiense, que fora protagonizado pelo barão de Haussmann. As obras desse período visavam

romper com o traçado colonial, de modo a ordenar e higienizar a cidade que se expandia em

direção ao sul. O plano de J.J. Seabra contava com financiamento internacional, que teve seu

andamento prejudicado com o acontecimento da Primeira Guerra Mundial. Graças a este fato,

diversos prédios históricos deixaram de ser demolidos ao longo do trajeto da avenida, pois os

recursos destinados à obra foram reduzidos, o que forçou algumas mudanças na execução do

que foi planejado. Ainda assim, conforme Pinheiro (2011) cabe destacar que alguns prédios

históricos não escaparam e foram demolidos em prol do alargamento da Avenida Sete, como é

o caso da Igreja de São Pedro Velho.

67

Ainda de acordo com Pinheiro (2011) o objetivo da reforma da Avenida Sete era

desafogar o Distrito da Sé8. O traçado da via projetada tem 4,6km de extensão, 21m de largura

e 3m de calçada. Uma parte da avenida está situada no Distrito de São Pedro, área que

compreende 1,5km do total da via e que outrora fora ocupada pela elite econômica e intelectual

de Salvador, porém que passou por um processo de empobrecimento, em que muitas edificações

foram convertidas em cortiços. A atividade dos trabalhadores de rua é justamente observada no

trecho que corresponde ao Distrito de São Pedro, que vai do Mosteiro de São Bento ao Forte

de São Pedro. A partir do Campo Grande a Avenida Sete de Setembro faz parte do Distrito da

Vitória, uma das áreas mais enobrecidas da cidade, onde partes de seu trajeto são popularmente

denominados de Corredor da Vitória e Ladeira da Barra. De lá seu traçado segue até a Barra

(Mapa 01).

O Centro Antigo e o Centro Histórico de Salvador9 aos poucos perderam parte de

seu prestígio. Na Rua Chile, por exemplo, que tinha grande importância para o comércio e

serviços da cidade, as principais lojas e estabelecimentos de luxo foram deslocados para outras

regiões. Segundo Gomes & Fernandes (1995), já nos anos 1950 o varejo fino da cidade, que

antes se concentrava na rua supracitada, começava a se direcionar para a Avenida Sete de

Setembro. É de se considerar também o impacto que a ampliação do sistema viário com a

abertura das Avenidas de Vale proporcionou à cidade, que pode se desenvolver em novas

direções, o que, conseqüentemente, impactou diretamente no fluxo de pessoas que

redirecionaram seus deslocamentos para novas centralidades.

8 Reconhecemos que a delimitação por distrito, a princípio, pareça defasada. Porém, optamos por utilizá-la tanto para

compatibilizar aquilo que falamos hoje com as informações mais antigas sobre a área, quanto por Salvador ainda não ter uma delimitação oficial para os bairros, conforme será comentado adiante. 9 O Escritório de Referência do Centro Antigo da Cidade de Salvador em convênio com a Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) apresenta uma delimitação onde são considerados o Centro Histórico e o Cento Antigo da cidade. Nesta delimitação o Centro Histórico compreende a área que vai da Rua Chile ao Santo Antônio. Já o Centro Antigo abrange o Centro Histórico, Campo Grande, Politeama, Centro, Barris, Tororó, Jardim Baiano, Nazaré,

Barbalho, Lapinha, Comércio, Água de Meninos, Sieiro, Queimadinho, Liberdade e Calçada.

68

Mapa 1: Av. Sete de Setembro – Extensão total, 2015.

Fonte: Elaboração da autora.

Na década de 60, segundo Margarete Oliveira (2003), a criação do Centro Industrial

de Aratu (CIA), dentre outros fatores, contribuiu para que o crescimento físico da cidade fosse

direcionado para o vetor norte. Nessa região, além do favorecimento da malha viária, a

construção do Shopping Iguatemi Salvador, a implantação da Estação Rodoviária e o Centro

Administrativo da Bahia (CAB) na Avenida Paralela foram empreendimentos que

redirecionaram e redimensionaram os fluxos da cidade.

Esse conjunto de acontecimentos contribuiu para que o centro antigo e sua principal

avenida vissem a sofisticação e o luxo outrora existentes serem substituídos por um varejo mais

popular. Contudo, o fluxo de pessoas que se deslocam diariamente para a área não se tornou

menos importante. Nesse contexto, assume grande destaque um equipamento erguido nas

proximidades da Avenida Sete: a Estação da Lapa, inaugurada na década de 1980. Para o

69

terminal de transporte da Estação da Lapa se dirigem, segundo a Transalvador (2010), 92 linhas

de transporte, num contingente de cerca de 278 ônibus/hora ou cerca de 260.000

passageiros/dia. Ressalta-se ainda que, no ano de 2014, houve a inauguração da Linha 1 do

metrô, que atualmente vai da Estação da Lapa até o Acesso Norte, e que transportou no mês de

abril de 2015 uma média de 31 mil usuários por dia, segundo informações contidas no site da

Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur). Cabe ainda destacar que na região há também

duas grandes superfícies comerciais: os shoppings centers Lapa e Piedade, que atraem um

número significativo de viagens, o que pode ser constatado pelos números apresentados por

suas administrações, que informam em seus sites que por ali circulam cerca de 70 e 100 mil

pessoas/dia, respectivamente. Essas estimativas sobre o número de pessoas que circulam na

área indicam não somente o volume de transeuntes, mas também o grande número de empregos

que a região concentra, sejam eles formais ou informais.

O rumo seguido pela urbanização em Salvador durante a década de 1980 deslocou o centro do processo de capitalização – que se tornou centro histórico

– criando novas zonas de concentração de capital, porém deixando no centro

grande parte de suas funções tradicionais. Enquanto a formação de capital expandiu-se nas áreas de Pituba-Itaigara-Iguatemi, o centro continuou com a

concentração dos sistemas de transporte, preservou sua função residencial –

ainda que atualmente esteja destinado a outras classes sociais, mantendo sua dinâmica com um notável aumento da circulação de pedestres (SALVADOR,

1992a:18).

A Avenida Sete de Setembro então, mantém sua grande importância para a cidade,

pois corta uma área onde há grande concentração de atividades comerciais e de serviços, além

de instituições como igrejas e escolas. Ainda é palco dos principais eventos cívicos e de protesto

que acontecem na cidade e, por contar com um grande número de transeuntes que se deslocam

diariamente pelo local, seja para trabalhar, estudar ou consumir mercadorias e/ou serviços,

tende a ser bastante procurada por trabalhadores de rua para desenvolver suas atividades

laborais. Por este motivo, diversas intervenções foram e são planejadas pelo poder público.

Intervenções e propostas que datam desde o século XIX, no período próximo à abolição da

escravatura, quando escravos de ganho e quitandeiras podiam comercializar produtos apenas

em cantos específicos da cidade. Não será possível, entretanto, aprofundarmo-nos nessas

questões históricas, pois o recorte aqui proposto é contemporâneo. Contudo, não poderíamos

deixar de pontuar que este é também um traço histórico, que demonstra como o ato de utilizar

o espaço da rua para vender mercadorias faz parte da nossa herança cultural.

70

A Avenida Sete, como dito anteriormente, corta três distritos da cidade de Salvador.

Considerando sua parte pertencente ao distrito de São Pedro, ela pode ser entendida ao mesmo

tempo como um eixo de ligação e de fronteira entre alguns bairros centrais. Isto porque, se de

dia os moradores destes bairros podem transitar entre os mesmos e se utilizar dos serviços e das

mercadorias comercializadas na Avenida, durante a noite, finais de semana e feriados (quando

o comércio está fechado) este uso fica limitado, pois esta é uma região considerada insegura

por muitos daqueles que habitam no seu entorno. Isto se deve ao fato de, ao longo da avenida o

uso ser predominantemente destinado ao comércio e aos serviços, restando poucas moradias.

Lembrando do que nos disse Jacobs (2011) no capítulo anterior, quando a autora

comentava sobre suas observações das ruas em um contexto de bairro, o uso misto das formas

é tratado como uma das maneiras capazes de garantir que uma diversidade de interesses conflua

e se expresse no uso do espaço público e na sua consequente segurança. É uma situação um

pouco diferente do nosso caso, em que se trata, ainda hoje, de uma área predominamente

comercial, porém cercada de bairros residenciais. Estes são nutridos pela dinâmica do entorno

e também contribuem para nutrir a dinâmica das relações estabelecidas nas ruas do centro da

cidade. Durante o dia estas ruas, sobretudo a Avenida Sete de Setembro, apresenta grande fluxo

de transeuntes, tanto daqueles que se deslocam de diversas partes da cidade para este local,

quanto daqueles que habitam em suas proximidades. Isto se deve aos diversos tipos de

estabelecimentos que concentra e dos serviços que ali são ofertados. Além dos estabelecimentos

fixos, há neste espaço ainda grande número de trabalhadores de rua, comercializando todo tipo

de mercadorias em suas bancas, telas e esteiras postas sobre o chão das calçadas. A existência

de olhos voltados para as ruas, aspecto mencionado pela autora como uma das maneiras de

torná-las seguras, praticamente inexiste neste lugar no período da noite, favorecendo a

existência de atividades consideradas marginais.

Ao percorrermos a extensão que aqui é estudada temos os seguintes bairros nas

margens da Avenida Sete: Dois de Julho, Aflitos, Barris e Politeama.10 Destes, nos deteremos

apenas ao Dois de Julho, por também concentrar tradicionalmente trabalhadores de rua.

Destacamos ainda os bairros que fazem parte do Centro Histórico, Mouraria e Nazaré, que

apesar de não estarem imediatamente nas margens da Avenida Sete, também se relacionam com

este espaço (Mapa 02).

10 Embora aqui esteja-se usando a denominação bairro, a mesma não é reconhecida oficialmente pela municipalidade. Salvador, ainda no ano de 2015 ainda não possui uma delimitação oficializada pelo poder público. O estudo de maior referência até o momento é o trabalho intitulado “O caminho das águas” publicado no ano de 2010, porém ainda não foi oficializado. Mesmo neste estudo de referência, os bairros aqui mencionados não aparecem delimitados. A maioria deles compõe um “bairro”

denominado Centro, que engloba as localidades mencionadas.

71

Mapa 2: Bairros que margeiam a Avenida Sete de Setembro.

Fonte: Elaboração da autora, 2015.

A formação do bairro Dois de Julho coincide com as primeiras expansões

extramuros da Salvador colonial, quando caminhos e ladeiras foram abertos para vencer a

distância entre o porto, localizado na cidade baixa, e a cidade alta. Dentre tais caminhos destaca-

se a Ladeira da Preguiça e Rua do Sodré (Schefler et al.). A aglomeração de moradias nessa

região que fazia parte da antiga Freguesia de São Pedro, deu origem ao que conhecemos como

bairro Dois de Julho. Ainda naquele período há indícios de que nessa freguesia funcionava um

mercado de abastecimento que, dentre outas características, marcou a formação do bairro

(Nascimento, 1986).

Com o alargamento da Avenida Sete de Setembro no início do século XX, há uma

substituição das residências existentes por hotéis, pensões e alojamentos, sobretudo no Largo

Dois de Julho, o que favoreceu a desvalorização da área, uma vez que a população de elite

tendia a afastar-se das zonas comerciais (Araújo, 2006). Como pudemos notar, o Dois de Julho

faz parte e é afetado diretamente pela dinâmica do centro antigo, absorvendo os impactos das

mudanças nele ocorridas ao longo do tempo. Apesar de ainda hoje ser um bairro com uso

72

residencial forte, possui também um número considerável de estabelecimentos comerciais e de

serviços, sobretudo nas proximidades do largo e das praças existentes. Dentre suas

características marcantes, está a presença de um grande número de pessoas circulando e

vendendo mercadorias nas ruas, motivo pelo qual o poder público também se interessou por

intervir neste espaço, sobretudo no intuito de ordenar as atividades do comércio informal que

aí ocorrem. Nesse sentido, seguiremos apresentando a legislação que incide sobre a atividade

do trabalhador de rua no espaço público em Salvador.

2.2 O espaço público em Salvador e a legislação incidente

A Lei nº 3.377/84 que dispõe sobre o Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo

de Salvador (LOUOS/84) traz em um de seus anexos conceitos sobre o que a prefeitura entende

por diversos termos. Os espaços públicos são entendidos como “espaços livres de uso público”

e são definidos como “todas as áreas de domínio público cujo acesso esteja franqueado a

qualquer cidadão.” (SALVADOR, 1984, s.p.). O espaço público da rua em Salvador também

pode ser traduzido pelo termo “logradouro público”. Este é definido pela LOUOS/84 como

“espaço livre, reconhecido pela municipalidade, destinado ao trânsito, tráfego, comunicação ou

lazer públicos” (SALVADOR, 1984, s.p.).

No Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador de 2008 (PDDU/2008)

os logradouros públicos são considerados como “ambientes de convívio e socialização, meios

de inserção social, de fortalecimento da identidade coletiva e de desenvolvimento econômico”

(SALVADOR, 2008, s.p.). A sua recuperação e complementação urbanística, com a finalidade

de melhorar a paisagem dos espaços está prevista como um dos objetivos da política urbana do

município. Esta definição nos remete à questão da própria apropriação dos espaços públicos

quando a lei cita o “fortalecimento da identidade coletiva” que se relaciona com a ideia de

pertencimento dos indivíduos ao lugar e, além disso, insere a ideia do desenvolvimento

econômico, que não aparecia nos conceitos anteriormente citados e que indica uma nova

funcionalidade. O PDDU/2008 ainda considera, dentre as diretrizes para o Centro Municipal

Tradicional11, o ordenamento e controle do comércio exercido pelos trabalhadores de rua nos

11 A lei nº 7.400/2008 que dispõe sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU/2008) define zonas para onde convergem e por onde se articulam os principais fluxos estruturadores do município (corredores viários) pela convergência que há em relação a comércio, serviços e mobilidade. Três Centros Municipais são por ele definidos: Centro Municipal Tradicional (CMT), Centro Municipal do Camaragibe (CMC) e Centro Municipal Retiro-Acesso Norte (CMR). No CMT está incluído o

centro histórico e a região compreendida como centro antigo.

73

logradouros públicos. Ressalta-se que o PDDU sobre o qual estamos nos referindo está em

processo de revisão.

As atividades públicas ou privadas que configuram uso do solo na cidade são

reguladas, fiscalizadas e punidas administrativamente, quando é o caso, pela polícia

administrativa do município, que é responsável ainda por disciplinar o exercício dos direitos

individuais sob os interesses públicos e pode ser representada por órgãos como a

Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo do Município (SUCOM) e a ex-

Secretaria Municipal de Serviços Públicos e Prevenção à Violência (SESP), cujas funções

foram absorvidas pela Secretaria de Ordem Pública (SEMOP), criada na gestão da prefeitura

do ano de 2013. No que se refere às atividades comerciais, compete ao poder de polícia

administrava disciplinar a exposição de mercadorias e impedir sua exposição em áreas externas

além do que estiver autorizado por ela, que deve ainda exercer o controle do uso do solo.

O Código de Polícia Administrativa, instituído pela Lei nº 5.503/99, regula as

atividades dos trabalhadores de rua, em que a exploração da atividade depende de um alvará de

licença ou autorização. Este só é emitido se estiver em conformidade com aspectos de higiene,

estética, limpeza pública e/ou segurança, trânsito e impacto ambiental, bem como com o

estabelecido pela LOUOS/84, no que se refere a sua localização e/ou equipamento utilizado na

atividade. O alvará expedido para atividade em logradouro público depende da autorização da

Prefeitura e sempre é emitido em caráter individual (pessoa física), precário e intransferível, ou

seja, precisa-se de autorização para vender. Por título precário entende-se o modo de conceder,

usar ou gozar alguma coisa, sem que isso se constitua como um direito. 12

A caracterização do que se constitui efetivamente enquanto trabalho de rua pela

municipalidade foi buscada também através da realização de entrevista com agente do poder

público13. Para a Coordenação de Fiscalização e Licenciamento da SEMOP, é entendido como

ambulante toda atividade que é exercida na via pública. Os flanelinhas, por exemplo, são

compreendidos em outra categoria, estando enquadrados como prestadores de serviço. Já a

baiana de acarajé faz parte de outro segmento, que é o segmento de alimentos. O vendedor de

pipoca também faz parte do segmento de alimentos, porém é cadastrado como comércio

12 Há ainda o Decreto nº 12.016/98 que é anterior ao referido código e o complementa no que se refere à localização e funcionamento da atividade desenvolvida pelos trabalhadores de rua nos logradouros públicos da cidade. Para obter a autorização deve-se preencher um requerimento junto à SEMOP, através da Coordenadoria de Licenciamento e Fiscalização, ente ao qual pertence competência pelo ordenamento, licenciamento e fiscalização da atividade desenvolvida pelos trabalhadores de rua. 13 Em 29/09/2014 foi realizada entrevista com o atual coordenador de licenciamento e fiscalização da Secretaria de Ordem

Pública, Braz Augusto Pires, que trabalha na prefeitura há 18 anos e atua na fiscalização e ordenamento há 2 anos.

74

informal. Contudo, o coordenador entrevistado chama atenção para o fato das denominações

“ambulante” e “comércio informal” quererem dizer a mesma coisa, referindo-se aquele que

comercializa na rua, porém a diferenciação é feita pela prefeitura apenas por uma questão de

diversificação do tipo de produto comercializado.14

A atividade comercial desenvolvida pelos trabalhadores de rua é entendida no

Código de Polícia Administrativa do Município como comércio informal. Com relação às

atividades em logradouros públicos, o exercício por parte desses trabalhadores se divide entre

aqueles que trabalham com equipamento removível daqueles que trabalham com equipamento

fixo.

Os que trabalham com equipamento removível deverão seguir o padrão definido

pela prefeitura, em que o seu funcionamento também é regulamentado.15 As atividades

desenvolvidas com equipamento fixo dependem de cadastramento e expedição de alvará de

funcionamento. A prefeitura, para emitir o alvará de funcionamento e a permissão da atividade,

verifica a conveniência de localização bem como as implicações relativas à mesma no que se

refere ao trânsito, estética, saúde pública e preservação do meio ambiente. O padrão do

equipamento fixo também é definido pela municipalidade, o que, de acordo com a lei, deverá

ser feito ouvindo em tempo as entidades representativas para o estabelecimento das normas do

decreto. Os 12 modelos padronizados pela SESP, hoje SEMOP, contidos no Decreto 12.016/98

incluem:

banca desmontável com dimensões de até 1.05mX0.80;

tabuleiro com até 1.20mX0.60;

equipamento móvel sobre rodas com até 0.95mX1.35m;

recipiente tipo mala com tampa com até 0.80mX0.50m;

isopor com capacidade para 50 litros;

mostruário com dimensões de até 0.80X1.20m;

cantimplora;

cestos de vime ou garrafas térmicas;

recipientes com capacidade de até 30 litros;

cadeira de engraxate;

14 As informações obtidas são confusas, mas relatam o que foi comunicado na entrevista mencionada. Isto revela uma fragilidade conceitual no entendimento do poder público com relação a atividade. Ressaltamos que este entendimento é confuso também para os trabalhadores como veremos adiante, que apresentam dificuldade para especificar a que categoria de trabalhadores pertencem. 15 Aqueles que possuírem a autorização para o exercício da atividade deverão sempre ter consigo o alvará de funcionamento,

documento de identificação e carteira de saúde.

75

máquina fotográfica tipo lambe-lambe;

máquina com esmeril tipo amolador

Tais modelos foram citados aqui com a finalidade de que se tenha uma ideia geral

do que é normatizado e encontrado nas ruas de Salvador, bem como as dimensões que os

equipamentos podem ocupar no espaço. Cabe ressaltar que outros modelos podem ser

encontrados, porém os mesmos dependem também de autorização específica por parte da

SEMOP. As taxas cobradas pelo equipamento para o exercício da atividade podem variar de

R$6,35 (ex.: equipamento usado por engraxate) a R$33,37 (ex.: equipamento tipo banca

desmontável) por mês, de acordo com o Código Tributário e de Rendas do Município (Salvador,

2006).

O processo de licenciamento e fiscalização, de acordo com a coordenação do setor

na SEMOP, é feito quando o trabalhador dirige-se ao setor de protocolo da secretaria e dá

entrada com a documentação exigida pelo órgão, onde informa o local onde ele quer atuar. A

Secretaria, por sua vez, envia a fiscalização no lugar a fim de avaliar se há vaga. Após o parecer

do fiscal, o trabalhador é chamado para ser informado sobre o deferimento ou indeferimento de

sua solicitação.

Ainda de acordo com o disposto no Decreto 12.016/98, para utilização de

logradouros públicos onde a atividade pode ser desenvolvida são considerados aspectos como

fluxo de pessoas que favoreça o exercício da atividade, espaço disponível para instalação do

equipamento e disposição da mercadoria, além de preservação do espaço livre ao pedestre e ao

trânsito de veículos, quando for o caso. A atividade poderá ocorrer ainda, todos os dias da

semana nos locais e dentro do horário especificado no alvará de autorização recebido. Cabe

salientar que a localização pode ser alterada a qualquer momento caso seja entendido que a

mesma está sendo prejudicial à circulação de pedestres ou a outros motivos de interesse público

devidamente fundamentados. O trabalhador não poderá ainda alterar a localização do

equipamento sem ser autorizado.

As restrições quanto à atividade se referem a alguns locais como, por exemplo, a

menos de 10m de semáforos, portões de acesso a estabelecimentos de ensino, bancário ou

repartições públicas, além de prédios residenciais. Não devem ocorrer ainda próximo a locais

em que haja a entrada e saída de veículos, pontos de ônibus, rampas de acesso, descidas de

passarelas e a menos de 20m de estabelecimentos que desenvolvam o mesmo tipo de atividade

só que no campo formal. Com relação às mercadorias, não é permitida a venda de bebidas

76

alcoólicas, armas que sejam consideradas perigosas como facas ou armas de fogo, inflamáveis,

corrosivos, explosivos, animais, alimento (exceto pipoca, cachorro quente, algodão doce,

amendoim e milho), ou qualquer outro produto que já não tenha sido especificado na

autorização concedida.

No caso do não cumprimento dos dispositivos contidos no Decreto nº 12.016/98,

os trabalhadores de rua podem ser punidos desde advertências por escrito até cassação da

autorização ou apreensão do bem e da mercadoria, caso seja constatado o caráter ilícito do

comércio, a transgressão às normas do referido Código ou quando se tratar de bens irregulares

localizados nos logradouros públicos.

A normatização para a atividade estabelecida por meio da legislação vigente cria

restrições e permissões à atividade, de modo que podemos perceber que o poder público define

através do seu poder disciplinador os locais e os formatos em que a atividade lhe interessa.

Assim, seguiremos apresentando os projetos elaborados pelo poder público no recorte temporal

que corresponde ao período posterior a redemocratização do país, cujo marco é a promulgação

da Constituição Federal de 1988, e vai até o ano de 2014. Este recorte foi escolhido por

corresponder ao período em que foram encontrados projetos propostos pelo poder público para

as áreas da Avenida Sete de Setembro e bairro Dois de Julho, e nos auxiliarão no entendimento

tanto da importância que a atividade adquire na cidade, quanto a forma como a mesma tem sido

regulada pela municipalidade ao longo das últimas décadas.

2.3 Projetos do poder público incidentes sobre a atividade do trabalhador de rua

O exercício da atividade comercial em via pública costuma ser alvo de intervenções

do poder público, que tem suas ações tanto no sentido de coibir quanto de regular a atividade.

No recorte de tempo aqui proposto, entre 1988 e 2014, na cidade de Salvador, foram elaboradas

algumas propostas por distintas gestões municipais no sentido de organizar a atividade do

trabalhador de rua na região da Avenida Sete e do bairro Dois de Julho, mais precisamente nos

anos de 1992, 1997 e 2014. Cada um dos projetos será brevemente apresentado, focando

principalmente nas principais características de cada um dos tipos de intervenção. Daremos

mais atenção, no entanto, aos projetos elaborados no ano de 2014, por coincidir com o período

em que também foram coletadas as nossas informações de campo. Porém, nosso olhar agora

será voltado principalmente para as características técnicas dos mesmos. Voltaremos a tratar

77

dos demais aspectos posteriormente, quando pudermos relacioná-los àquilo que foi obtido com

a aplicação dos questionários e entrevistas.

2.3.1 Propostas em 1992

Projeto “O informal em Salvador – Políticas e Propostas”, 1992

Este projeto foi proposto no ano de 1992, na gestão do prefeito Fernando José

Guimarães Rocha e contou com consultoria de dois economistas de referência: João Carlos

Araújo e Fernando Pedrão. No relatório do projeto, há uma importante contextualização e

diagnóstico da informalidade à época, destacada como um dos mais relevantes problemas da

cidade. A referida proposta tinha a pretensão de “implementar uma solução urbanística que

integre os trabalhadores atualmente localizados em um dos mais importantes e tradicionais

espaços da cidade” (SALVADOR, 1992a:4). Este espaço é sinalizado como o circuito

compreendido entre a Praça da Sé e o Campo Grande.

Para aquela gestão da prefeitura, a utilização do espaço público implicava em custos

e as atividades localizadas nos logradouros públicos deveriam, portanto, dentro de suas

possibilidades, contribuir com a manutenção desses locais. Além das propostas de intervenção

urbanística que visavam tanto organizar a atividade no local, quanto redistribui-la na cidade,

havia também diretrizes no âmbito social no sentido de incentivar a promoção de programas

para orientação e qualificação do trabalhador de rua.

Fica evidenciado, através do relatório, que a intenção da prefeitura naquele período

era de implementar uma política voltada para as atividades informais, nas quais estavam

incluídas a atividade do trabalhador de rua (ambulantes), das barracas de praia, bancas de chapa

e feirantes. Nota-se ainda uma preocupação de incorporar a problemática da informalidade ao

planejamento urbano da cidade, pois a proposta conta com o estabelecimento de diretrizes para

a questão e não somente com uma orientação para intervenções pontuais.

Antes de partirmos para a apresentação das diretrizes propriamente ditas, é

interessante notar como a questão da informalidade é posta pelo projeto de 1992. O relatório

nos traz um pouco da evolução pela qual o conceito da informalidade passou desde a década de

1970, destacando a imprecisão conceitual utilizada e a pluralidade de formas de trabalho nas

quais se inclui o uso do termo. Contudo, considera-se que tais conceitos têm pouco a oferecer

se não forem postos em contato com a realidade do cotidiano urbano. Neste sentido, a

78

informalidade é compreendida no âmbito do projeto como um produto da urbanização, fruto da

atividade urbana contínua, onde cada tipo de cidade possui um quadro de informalidade

correspondente, cuja composição muda ao longo do tempo, o que reflete as mudanças

demográficas e econômicas pelas quais a cidade passa. Reconhece-se então que a informalidade

transcende a questão da marginalidade e reflete estratégias de sobrevivência de trabalhadores

excluídos do mercado formal, de maneira que não parece muito interessante a proposição de

políticas que ignorem a questão ou visem extingui-la.

Assim como mencionamos no capítulo 2 desta dissertação, o texto do referido

projeto reconhece a informalidade como um traço estrutural de nossa economia, resultado de

um desenvolvimento econômico tardio e do descompasso existente entre as ofertas de trabalho

e a mão de obra disponível nos centros urbanos. A informalidade então é entendida por este

projeto como:

[...] um conjunto de relações sociais que não estabelece vínculos tipicamente capitalistas entre capital e trabalho, pelas quais a sociedade não se

responsabiliza, ou seja, a reprodução do trabalho fica a cargo exclusivamente

do próprio trabalhador. São os trabalhadores autônomos, assalariados sem carteira assinada e patrões, geralmente situados na faixa de renda de até 5

salários mínimos (SALVADOR, 1992a:9).

Tendo em vista esta concepção da informalidade pelo poder público à época, o

objeto das intervenções se concentraram em dois eixos: o primeiro, no que se refere às

atividades informais exercidas em logradouro público e o segundo, na implementação de uma

política social voltada para redefinir o quadro de pobreza urbana verificado na cidade. A

metodologia para o desenvolvimento deste trabalho recorreu tanto às pesquisas oficiais

desenvolvidas por institutos como o IBGE, quanto aos estudos de caracterização física e

socioeconômica das categorias, com vistas a compreender e qualificar melhor o universo

pesquisado. Foram selecionadas 16 grandes áreas de concentração de atividade do setor

informal, em que foram aplicados 3 questionários distintos, de modo a contemplar ambulantes

e barracas de praia, bancas de chapa e transeuntes.

Para orientar os estudos e proposições foram também pensados alguns possíveis

cenários futuros no que se refere ao desempenho da economia baiana, onde se revelou como

mais provável o cenário que previa uma estagnação generalizada da economia, com a

continuidade de uma política recessiva do governo federal, ausência de investimentos e

aumento do subemprego e emprego. Tal perspectiva apontava para a necessidade de que o

município de Salvador viesse a assumir iniciativas voltadas para sustentar o nível de ocupação

79

e renda de sua população, atuando não apenas de forma ordenadora. Apesar desta reflexão,

coloca-se que a postura da municipalidade não deve ser passiva com a informalidade, pois:

[...] não é possível assistir de formar impassível os espaços públicos serem

invadidos pelo comercio de mercadoria ou pela prestação de serviços como

também não se constitui em solução a adoção de medidas repressivas que só agudizam um problema de cunho eminentemente social e que, ao que tudo

indica, tende a agravar-se (SALVADOR, 1992a:16).

Os resultados das pesquisas realizadas indicaram, dentre outros fatores, que havia

uma expressiva demanda de consumo que só podia ser atendida por este tipo de comércio, que

ofertava mercadorias a preços menores. Além disso, o mercado informal se apresentava também

como alternativa de sobrevivência de parcela importante da população. Estes fatores são

apontados pelo referido estudo como motivação para adoção de uma postura proativa da

prefeitura com relação a atividade, a quem caberia a criação de condições favoráveis para que

essas pessoas pudessem garantir o seu sustento. Neste sentido, há uma importante indicação no

que diz respeito a integração da questão da informalidade ao planejamento urbano da cidade,

de modo a trata-la não apenas como uma problemática isolada ou setorial. Esta ação pressuporia

medidas preventivas e educativas em pontos identificados como críticos, bem como a

implementação de ações nos bairros de origem dos trabalhadores informais, de modo a criar

opções de trabalho ou de viabilização da sobrevivência dessas pessoas nas proximidades do

local de suas residências. Assim se estaria evitando a pressão exercida nas zonas de maior

tensão para onde essas pessoas costumam confluir, as quais correspondem às áreas centrais da

cidade.

A diretriz geral para a política da prefeitura com relação ao comércio informal

estabeleceu a indicação de que cabe ao poder público gerir os conflitos entre o exercício da

atividade informal nos logradouros públicos e os interesses globais da população,

compatibilizando-os. De maneira especifica, estabelece diretrizes nos seguintes eixos

destacados a seguir.

Físico/urbanístico: este eixo propunha a integração das ações voltadas para a

informalidade com o planejamento urbano, através da indicação de áreas para desenvolvimento

da atividade informal, de modo a ordená-la para liberação dos espaços públicos para o cidadão.

Dessa maneira, a proposta executada pela prefeitura deveria compatibilizar a atividade do

comércio informal com a circulação de pedestres e tráfego de veículos. A municipalidade

deveria ainda: definir uma escala de prioridade entre as 16 áreas identificadas; identificar áreas

de baixa renda para o desenvolvimento do comércio informal; evitar o exercício das atividades

80

informais quando esta comprometer a paisagem e o patrimônio histórico; padronizar os

equipamentos utilizados, que deveriam apresentar características como adaptação à

comercialização de diversos tipos de mercadorias, ser removível e ter espaço para guarda de

material; definir a densidade e o zoneamento no sentido de disciplinar as atividades e facilitar

a fiscalização; e orientar a política de transporte coletivo a favorecer a circulação entre os

bairros populares para estimular o deslocamento dos trabalhadores em outros centros.

Social: as ações desse eixo se dariam no sentido de: definir programas de

assistência social que possibilitasse o pleno acesso a dignas condições de saúde, educação e

moradia; implementar estratégias com diferentes grupos de trabalhadores informais através de

suas representações de classe com o intuito de qualificar este trabalho e melhorar as condições

do serviço prestado; e definir programas educativos e assistenciais para população de baixa

renda, identificada como origem do comércio informal, através de dois programas: o primeiro

de educação básica voltada para cidadania e trabalho, e o segundo de orientação e intermediação

com realização de cursos sobre noções básicas de higiene, voltados sobretudo para aqueles que

trabalham com o segmento de alimentos.

Fiscal: indicava a necessidade de se instituir um sistema tributário que considere a

diversidade interna do setor quanto aos níveis de rendimento proporcionado, a fim de cobrar

taxas justas para os diferentes segmentos.

Jurídico Institucional: visava atualizar e instituir normas para a regulamentação

do exercício das atividades informais, voltadas para consolidar os objetivos do poder público

através da elaboração de uma legislação única voltada para a questão.

Administrativo: as ações desse eixo estariam voltadas para aperfeiçoamento do

sistema de fiscalização; modernização dos mecanismos de acompanhamento e fiscalização, a

ser realizada através da mútua colaboração entre os órgãos da prefeitura envolvidos; e

cadastramento e licenciamento de todos aqueles que trabalham no mercado informal.

Nessa conjuntura foi elaborada uma proposta piloto (Figuras 1 a 3), cuja

implementação serviria de exemplo para as demais áreas identificadas. Trata-se do circuito

entre o Campo Grande e a Praça da Sé, escolhido em função de determinações técnicas,

administrativas e políticas. Esta proposta implicaria em uma intervenção física ao longo da Av.

Sete de Setembro, suas transversais e ligações com a Av. Joana Angélica, incluindo as praças

existentes no percurso.

81

Figura 1: Trecho da Avenida Sete de Setembro.

Fonte: SALVADOR, 1992a.

Figura 2: Trecho da Avenida Sete de Setembro.

Fonte: SALVADOR, 1992a.

82

Figura 3: Largo de São Bento

Fonte: SALVADOR, 1992a.

Através da análise dos croquis e das plantas16 do projeto apresentados

anteriormente podemos notar que a atividade do comércio informal permanece integrada ao

logradouro público, separada da calçada e da faixa de rolamento utilizada pelos automóveis

através do uso de recuo e barreiras físicas. No caso do Mosteiro de São Bento, há também a

disposição de pontos de trabalho na praça existente na frente da igreja, porém em local que não

interfere na entrada e saída de pessoas que se dirigem aos cultos. No caso da Avenida Sete,

notamos que o mobiliário utilizado pelos trabalhadores fica disposto de modo que a mercadoria

fica voltada para a calçada ao longo da via e o espaço para arborização e demais mobiliários

urbanos aparecem preservados. Na Tabela 3 apresentamos a análise do projeto apresentado, de

acordo com as categorias que consideramos importantes para sua avaliação.

16 Não foi possível apresentar todas as plantas do projeto, pois além de numerosas, elas foram desenhadas à mão em papel manteiga em formato com mais de 1m. Optamos, portanto, por fotografar as plantas por partes, já que não foi possível fotografá-las em sua totalidade. Este método tornou os arquivos ainda mais numerosos, levando-nos a selecionar apenas alguns trechos

para apresentar no Anexo A.

83

Tabela 3: Síntese da análise do projeto “O Informal em Salvador: políticas e propostas”, 1992.

CATEGORIAS DE ANÁLISE PROPOSTAS APRESENTADAS PELO PROJETO

Diagnóstico da situação Diagnóstico bastante completo, contando inclusive com

importantes consultorias em sua elaboração.

Conforto ambiental O projeto não apresenta proposta no sentido de abrigar os

trabalhadores do sol ou da chuva, deixando-os expostos às

intempéries.

Infraestrutura de suporte Em todos os pontos do projeto há disposição de lixeiras

públicas. Quanto aos sanitários, verificamos apenas 02

equipamentos localizados na Praça de São Pedro. Com

relação ao armazenamento das mercadorias, o relatório do

projeto informa que as mesmas serão guardadas na parte

inferior das bancas dos trabalhadores, o que não oferece

segurança para os mesmos. Não constam informações sobre

iluminação pública nos locais da intervenção.

Densidade de ocupação

O projeto não apresenta parâmetros ou cálculos para

densidade de ocupação na área de intervenção.

Relação proposta e o entorno A proposta visual visa uma integração da atividade com os

demais usos da rua, mantendo-a na via principal, segregada

por baias. Podemos notar ainda que há disposição de grande

número de bancos em todo o perímetro de intervenção, o que

significa uma alternativa importante para que os transeuntes

possam ter pontos de apoio e descanso enquanto fazem

compras ou passeiam. Fonte: Elaboração da autora com base na análise do projeto, 2015.

O projeto apresentado é de grande riqueza e profundidade, entretanto não foram

encontradas indicações sobre a implementação do mesmo pela prefeitura na gestão em que foi

elaborado. Apesar disso, os estudos realizados serviram de referência para elaboração de

projetos em outras gestões nos anos de 1994, no que se refere ao ordenamento do Relógio de

São Pedro e Joana Angélica, constantes no “Caderno de projetos” da gestão da prefeita Lídice

da Matta, eleita entre os anos de 1993 e 1996; e em 1997, no projeto de relocação dos

ambulantes realizada na gestão do prefeito Antônio Imbassahy, eleito duas vezes entre os anos

de 1997 e 2004.

Proposta de ordenamento do comércio informal: Largo 2 de Julho, Largo do

Mocambinho e Praça Cairú, 1992.

Destacamos ainda que no ano de 1992 há também a “Proposta de ordenamento do

comércio informal: Largo 2 de Julho, Largo do Mocambinho e Praça Cairú” (Figura 4), onde a

Praça Cairú localiza-se fora do recorte estudado.

84

Figura 4: Largo do Mocambinho, vista da Rua Carlos Gomes. Fonte: SALVADOR, 1992b.

Esta proposta visava ordenar o comércio informal nas áreas da Praça do

Mocambinho, Rua do Cabeça e Largo Dois de Julho, através da implantação de três módulos

comerciais construídos para absorver os comerciantes de flores do Largo Dois de Julho e Rua

do Cabeça. Estes módulos seriam implantados no Largo do Mocambinho, possuem forma

octagonal e espaço para quatro unidades comerciais, com ponto de água, pia, bancada interna,

prateleira externa para exposição de mercadoria e balcão de atendimento. Ao nos dirigirmos

hoje ao Largo do Mocambinho podemos verificar que o projeto foi implantado, porém passará

por novas alterações no ano de 2015, resultantes do projeto elaborado para requalificação do

mercado do Dois de Julho, que será comentado adiante.

2.3.2 Propostas em 1997

Comércio Informal: projeto de relocação dos ambulantes da Av. Sete de Setembro

e Baixa dos Sapateiros, 1997

Na gestão do prefeito Antônio Imbassahy foi elaborado um novo projeto com vistas

ao ordenamento do comércio informal na cidade de Salvador, publicado no ano de 1997. O

projeto faz referência aos estudos realizados em 1992, reconhecendo o cenário de agravamento

da crise na economia nos anos 1990 apontado por aquele estudo, que colaborou efetivamente

com a crise no emprego e levou muitos trabalhadores a recorrerem ao mercado informal como

uma alternativa de sobrevivência.

De acordo com as análises realizadas em 1997, a dinâmica do centro antigo foi

85

mantida e tensionada principalmente em razão do movimento de passageiros da Estação da

Lapa e da presença dos diversos serviços disponíveis neste lugar, o que o constituiu como a

maior concentração de trabalhadores de rua da cidade. Considerando que o projeto proposto em

1992 não foi efetuado, o projeto de 1997 toma os objetivos do trabalho anteriormente citado

como referência, porém com a pretensão de efetuar uma intervenção de caráter emergencial.

Acreditamos que tal caráter emergencial, embora não esteja explicitado nos relatórios

encontrados, se relaciona com a crise do emprego dos anos 1990 que influenciou diretamente

no aumento da informalidade. Entre os objetivos desta gestão estão: gerir os conflitos existentes

entre a atividade do comércio informal e os interesses globais da população; assegurar o uso

coletivo dos espaços públicos; compatibilizar a atividade com o sistema de circulação de

pedestres; evitar o comprometimento da paisagem e do patrimônio em decorrência da atividade

do comércio informal; e padronizar os equipamentos utilizados pelos trabalhadores.

O estudo verificou a existência de 1.620 pontos de comercialização existentes na

Av. Joana Angélica e Av. Sete de Setembro. De acordo com as informações contidas no

relatório, houve um crescimento de 64,47% da atividade nesta área desde 1992, onde se destaca

a comercialização de aparelhos eletro-eletrônicos. A comercialização de tais artigos

importados, por sua vez, é considerada como incompatível com as características do centro

antigo, e contribuiriam para descaracterizar o desenho desta região da cidade, pois

demandariam uma ampliação dos passeios em função do espaço para exposição que demandam,

o que, consequentemente, viria a prejudicar o desempenho e a fluidez do trânsito. Tais motivos

justificavam o remanejamento da atividade para outros locais.

A proposta da gestão do prefeito Imbassahy era de ordenar a atividade confinando-

a em trechos específicos e transversais existentes do lado esquerdo da Avenida Sete de

Setembro, no sentido de quem está na Praça Castro Alves e vai para o Campo Grande, com

exceção ao trecho correspondente à Ladeira de São Bento, onde se permitiria a ocupação em

ambos os lados. Nestes trechos haveria a instalação de baias e corrimãos de proteção. Para a

execução da proposta, previa-se a transferência dos trabalhadores da Praça da Piedade e Praça

Rio Branco (Relógio de São Pedro) para as transversais. Do Largo de São Bento deveriam ser

retirados todos os trabalhadores do comércio informal, restando apenas um ponto para

comercialização de acarajé.

Enquanto os estudos de 1992 reconheciam que os produtos comercializados na

região eram em sua maioria de gêneros alimentícios e que isso demandaria uma ação de

orientação do poder público no que se refere à higiene, o estudo de 1997 informa não ter

realizado um zoneamento por tipo de mercadoria, mas que “as precárias condições de higiene

86

na comercialização de frutas e verduras, determinaram a sua exclusão das atividades

permitidas” (SALVADOR, 1997a:9).

Duas propostas foram criadas, sendo a primeira com duas alternativas sintetizadas

a seguir, na Tabela 4 e a segunda também com duas alternativas sintetizadas na Tabela 5. As

plantas do projeto que foram disponibilizadas indicam a disposição dos trabalhadores de rua

nas áreas propostas, conforme pode ser observado no Anexo B.

Tabela 4: Comparativo entre as alternativas da Proposta I para relocação do comércio

informal – Av. Sete de Setembro, 1997

Trecho Alternativa I Alternativa II

Rosário/Politeama 113 pontos 113 pontos

Paraíso/Rosário 271 pontos 271 pontos

Relógio de São Pedro 222 pontos 222 pontos

São Bento 105 pontos 105 pontos

Estacionamento São Raimundo 452 pontos 916 pontos

TOTAL 1.163 pontos 1.627 pontos Fonte: SALVADOR, 1997c:9.

Tabela 5: Comparativo entre as alternativas da Proposta II para relocação do comércio

informal – Av. Sete de Setembro, 1997

Trecho Alternativa I Alternativa II

Largo da Igreja do Rosário 77 77

Praça Carneiro Ribeiro 213 213

Rua do Cabeça 70 70

Estacionamento São Raimundo 452 916

TOTAL 812 1.276 Fonte: SALVADOR, 1997c:11.

Podemos observar, através dos dados apresentados, que a única diferença entre as

alternativas da primeira proposta é com relação a uma maior ou menor ocupação do terreno do

Estacionamento São Raimundo, localizado nas proximidades do Shopping Orixás Center.

Contudo, a utilização dessa área não se constituía como prioritária, pois ela é considerada como

muito valorizada por suas características locacionais e topográficas. Caso a hipótese de

utilização do estacionamento fosse descartada, restariam 711 pontos de comercialização,

potencial que, de acordo com o relatório, poderia ser dobrado se em vez do uso diário pelos

trabalhadores em cada ponto houvesse utilização em dias alternados, o que resultaria numa

ocupação de 1.422 trabalhadores. Como foram cadastrados 1.620 trabalhadores em 1997,

considerando a hipótese de alternar os dias de utilização dos pontos entre os mesmos, haveria

ainda um déficit de 198 pontos de trabalho. Estes números, entretanto, não chegam a considerar

87

a exclusão dos que comercializam frutas e verduras, mercadorias tornadas proibidas nesta área.

A segunda proposta elaborada por essa gestão consistia na retirada por completo do

comércio informal das avenidas e imediações, relocando os trabalhadores para as seguintes

áreas: a) Estacionamento São Raimundo, com capacidade para 916 pontos, onde o comércio

seria destinado aos importados; b) Largo da Igreja do Rosário, com capacidade para 77 pontos,

onde o comércio seria destinado a comercialização de produtos artesanais; c) Praça Carneiro

Ribeiro, com capacidade para 213 pontos, com indicação para comercialização de produtos de

utilidade doméstica; e d) Rua do Cabeça, com capacidade para 70 pontos, onde a

comercialização de palhas e vimes seria mantida. Esta proposta totaliza 1.276 pontos de

trabalho.

Comparando as propostas, temos que a alternativa 2 da primeira proposta é a que

mais disponibiliza pontos de trabalho, considerando a utilização do Estacionamento São

Raimundo. Essa proposta, seria melhor do ponto de vista do trabalhador de rua, pois poderia

contemplar um maior número deles, contudo não significa ainda que seja a melhor alternativa

para a cidade, visto que as opções planejadas por essa gestão foram bastante limitadas,

reduzindo-se a apenas 4 ou 5 trechos. Vimos, por exemplo, que a proposta anterior elaborada

em 1992 contemplava uma área de ocupação bem mais expressiva. Na Figura 5 apresentamos

a perspectiva do projeto para o trecho da Rua do Cabeça, porém informamos que tivemos

dificuldade em relacionar a imagem ao local indicado no desenho. Acreditamos que talvez a

perspectiva se refira à área do Estacionamento São Raimundo e não à Rua do Cabeça conforme

é informado no projeto.

88

Figura 5: Avenida Sete de Setembro. Área 3 – perspectiva da área (Rua do Cabeça/Estacionamento São

Raimundo).

Fonte: Salvador, 1997b.

Podemos notar que, apesar de ser inspirado na proposta elaborada em 1992, o

projeto de 1997, segrega a atividade do comércio informal, pois prevê a sua retirada quase

completa da Avenida Sete e da Avenida Joana Angélica. Por tratar-se de uma medida de caráter

emergencial, a atualização da pesquisa feita pela proposta da gestão anterior também não é

totalmente realizada, limitando-se apenas à elaboração de um novo quantitativo por área e das

estimativas de crescimento ou decréscimo da atividade entre os períodos analisados. Além

disso, fica evidente o caráter repressivo da medida, uma vez que não são propostas soluções

para casos como o da comercialização de frutas e verduras, por exemplo, colocando a atuação

da prefeitura no sentido da proibição da venda desses produtos. De forma semelhante ao que

fizemos com o projeto de 1992, aqui também sistematizamos a análise das propostas

apresentadas pelo projeto de acordo com as categorias selecionadas para sua avaliação. Na

Tabela 6 estão relacionadas essas análises para cada uma das categorias escolhidas.

89

Tabela 6: Síntese da análise do projeto “Comércio Informal: projeto de relocação dos

ambulantes da Av. Sete de Setembro e Baixa dos Sapateiros”, 1997

CATEGORIAS DE

ANÁLISE

PROPOSTAS APRESENTADAS PELO PROJETO

Diagnóstico da situação A proposta apresenta um diagnóstico breve sobre a situação do

trabalhador de rua, no que faz referência aos estudos

anteriormente elaborados em 1992. Atualiza algumas

informações sobre o aumento da informalidade entre 1992 e

1997, porém não levanta informações com a mesma minucia

do projeto anterior.

Conforto ambiental A proposta apresenta um tipo de cobertura capaz de dar algum

nível de proteção aos trabalhadores no que se refere às

intempéries do dia. Entretanto, essa cobertura parece ser

confeccionada em lona colorida, não havendo estrutura para

captação e drenagem da água da chuva, por exemplo. Como

não temos informações sobre realmente qual é o tipo de

material utilizado, não podemos avaliar o quanto ele é capaz de

proteger do sol sem gerar um desconforto térmico.

Infraestrutura de suporte Nada é apresentado no projeto no que se refere às estruturas de

suporte à atividade. Não há informações sobre o

armazenamento das mercadorias, estrutura de sanitários

públicos ou destinados aos trabalhadores de rua, tampouco

informações sobre a coleta de lixo nos pontos de trabalho. Não

foram encontradas informações sobre o tipo de pavimentação a

ser utilizado ou as obras que seriam realizadas para implantação

dos novos locais de trabalho, nem informações sobre a

iluminação pública.

Densidade de ocupação

O projeto não apresenta parâmetros ou cálculos para densidade

de ocupação na área de intervenção.

Relação proposta e o

entorno

Podemos observar pelo exposto no projeto que os locais

propostos segregam a atividade do trabalhador de rua das áreas

mais movimentadas e criam uma estética que pouco tem a ver

com o lugar. Fonte: Elaboração da autora com base na análise do projeto, 2015.

Podemos observar como um todo, que o projeto elaborado em 1997 é menos

sensível a questão do trabalhador de rua. No entanto, os impactos das medidas, bem como a

opinião daqueles que vivenciaram esse processo serão abordados no Capítulo 3, quando

estivermos tratando dos conflitos e tensões que permeiam a atividade do trabalhador de rua. Por

ora, seguiremos aqui com a análise dos projetos elaborados em 2014.

90

2.3.3 Propostas em 2014

Plano de requalificação e reordenamento de ambulantes de Salvador, 2014

Somente em 2014 a questão do trabalhador de rua voltou a ser tratada no âmbito do

planejamento urbano da cidade de Salvador, após um hiato de 10 anos sem que nenhuma

proposta fosse apresentada pelo poder público, período que corresponde à gestão do prefeito

João Henrique Carneiro, eleito duas vezes entre os anos de 2005 à 2012. Esta lacuna no

tratamento da questão justificou uma ação, também realizada em caráter emergencial, pela

gestão do prefeito Antônio Carlos Magalhães Neto, iniciada no ano de 2013, poucos meses após

sua posse. Ressaltamos que o caráter emergencial desta vez não se relaciona com uma crise no

emprego, já que no referido período houve decrescimento da taxa de desemprego no país. A

emergência parece estar relacionada então, com a ausência da questão nas políticas públicas

propostas e realizadas pelo poder público na gestão anterior. Cabe destacar também que a nova

gestão da prefeitura tem tido ações que privilegiam os interesses corporativos e gentrificadores

na região do centro antigo da cidade, sobre os quais não poderemos nos aprofundar no

momento.17

A ação proposta no âmbito da gestão 2013-2016 vem sendo executada através da

Secretaria de Ordem Pública (SEMOP), que carrega em si a missão disciplinadora do espaço

público. Sua intervenção aparece no âmbito do plano de requalificação e reordenamento de

ambulantes de Salvador, que se desdobra em três projetos principais: Requalificação da Av.

Sete de Setembro – ordenamento do comércio informal; Requalificação do Mercado 2 de Julho;

e Projeto Avenida Sete – território empreendedor.

Não foi possível ter acesso ao plano de maneira integral, pois o mesmo não foi

publicado, nem tampouco disponibilizado pela atual gestão. Contudo, teve-se acesso aos

documentos das ações mencionadas anteriormente, onde constam basicamente pranchas de

plantas baixas e vistas do projeto executado.18 Diferentemente do que se relata sobre o projeto

elaborado em 1997 na gestão de Imbassahy, o processo de ordenamento de 2013-2015 contou

com a realização de reuniões entre as associações e sindicatos de trabalhadores do comércio

17 Cabe mencionar uma declaração proferida pela secretaria de Ordem Pública, que põe em evidencia uma tentativa de uniformização do espaço apoiada no discurso da necessidade de ordenamento do centro da cidade. Ela declarou de forma polêmica no início da nova gestão que “enfrentamos dificuldades na estética da cidade. Precisamos realizar um trabalho de maquiagem para receber [os visitantes]... Mas não só para isso, mas também tornar a cidade boa para quem mora aqui. Esse que é o objetivo principal” (Mendes, 2012). 18 Para auxiliar no entendimento do processo e na ausência de documentos oficiais fornecidos pela prefeitura, foram utilizadas

também informações contidas nas publicações do Diário Oficial do Município e em jornais de grande circulação no município.

91

informal e o poder público, com parceria do SEBRAE. Após a realização dessas reuniões com

as lideranças, a nova secretaria chega a um projeto que prevê a transferência de todos os

trabalhadores da Avenida Sete de Setembro para as transversais constantes no Mapa 03,

contemplando apenas aqueles que possuem licença.

Mapa 3: Ruas contempladas com o projeto de ordenamento.

Fonte: Elaboração da autora, 2015.

Iniciado no mês de junho do ano de 2013, no final do ano de 2014 a obra já contava

com a reforma estrutural de praticamente todas as transversais da Avenida Sete de Setembro,

restando apenas para conclusão a reforma da Praça do Relógio de São Pedro, Rua Onze de

Junho, Rua Vinte e Um de Abril e Rua Nova de São Bento. Na Figura 6 pode-se observar o que

fora divulgado por meio de jornais de circulação local a respeito do projeto de requalificação.

92

Trata-se de perspectivas da nova estrutura de trabalho e mobiliário proposto. A Figura 7 traz o

registro de uma das ruas que já passaram pela reforma.

Figura 6: Projeto para o Largo do Rosário.

Fonte: Correio da Bahia, 2013.

Figura 7 Largo do Rosário reformado.

Fonte: Foto da autora, 2014.

Nas 13 áreas o projeto executado conta com obras de saneamento, iluminação e

pavimentação, onde a pedra portuguesa foi substituída por piso intertravado e se inseriu rota

acessível para o uso de pessoa com deficiência visual. Houve também a implantação de

cobertura em policarbonato sobre estrutura metálica (SALVADOR, 2014). Alguns aspectos

relativos à implantação do projeto, entretanto, são questionáveis. É o caso, por exemplo, da não

existência de calhas para captar e canalizar a água da chuva e do conforto térmico. Contudo,

por se tratar do projeto executado no período em que os estudos empíricos desta dissertação

também se realizavam, tais observações não podem ser conclusivas.

No ano de 2014 há ainda o projeto para requalificação do Mercado 2 de Julho,

sintetizado na Figura 8, que prevê a transferência dos trabalhadores de rua que atuam na Rua

do Cabeça para um mercado que será implantado na Praça General Inocêncio Galvão.

93

Figura 8: Proposta de requalificação do mercado das flores (Largo 2 de Julho) / Praça General Inocêncio Galvão

Fonte: Machado, 2014. (Jornal A Tarde)

94

Em janeiro de 2014 foi realizada uma ação que retirou deliberadamente todos os

trabalhadores da Rua do Cabeça, não considerando aqueles que possuíam licença. Após esta

ação, associações que representam os interesses dos trabalhadores de rua e associações do bairro

Dois de Julho requisitaram que o projeto fosse apresentado e discutido, o que foi atendido pela

prefeitura. Foram realizadas reuniões para apresentação do projeto, onde se negociou a

substituição dos quatro boxes para dez, adequados para os peixeiros, com sanitários, pontos de

água e pontos destinados a coleta de lixo. Além da área construída com alvenaria, há também

uma área destinada para 44 trabalhadores, que são aqueles que hoje estão na Rua do Cabeça e

Largo das Flores e, após a reforma, comercializarão em mobiliário removível, fornecido pela

prefeitura.19 Na Figura 9 podemos ver parte do Largo das Flores com a presença de feirantes

em fotografia tirada no ano de 2012 e na Figura 10 temos o registro de uma das reuniões

realizada entre moradores, trabalhadores e a prefeitura de Salvador para discussão do projeto

para requalificação do mercado do Dois de Julho, realizada na sede da SEMOP. De acordo com

informações divulgadas no Jornal A Tarde, a obra está orçada em R$2,6 milhões e levará 8

meses para ficar pronta (MACHADO, 2014).

Figura 9: Rua do Cabeça e “Largo das Flores”, bairro

Dois de Julho.

Fonte: Foto da autora, 2012.

Figura 10: Reunião para discussão do Projeto de

Requalificação do Mercado Dois de Julho.

Fonte: Foto da autora, 2012.

19 Atualmente os trabalhadores guardam as mercadorias ou por conta própria, em depósitos existentes no próprio bairro, ou as deixam no próprio ponto, cobertas por lona e cordões bem amarrados. Após a reforma, por se tratar de mobiliário removível, será necessário que todos guardem suas mercadorias em depósitos, o que poderá implicar em maiores despesas para boa parte

dos trabalhadores dessa área.

95

Programa Avenida Sete de Setembro – Território Empreendedor, 2014

Por fim, no âmbito das ações voltadas para a atividade do trabalhador de rua criadas

na gestão de 2013-2016, há ainda o Programa Avenida Sete de Setembro – Território

Empreendedor, que consiste numa proposta de articulação entre os agentes econômicos,

políticos e sociais, localizados na Avenida Sete. Este programa, iniciado no ano de 2014, se

constitui como elemento de estruturação e ajuste das atividades econômicas, voltado para

ampliação das possibilidades de inserção e geração de emprego e renda na Avenida Sete,

concebida enquanto um território particular da cidade. Para sua execução estão sendo realizadas

reuniões com ambulantes, comerciantes, técnicos da prefeitura, acadêmicos e profissionais do

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) e da Câmara de Dirigentes Lojistas

de Salvador (CDL). O plano de ação do Programa Avenida Sete de Setembro – Território

Empreendedor possui seus eixos de atuação nas seguintes áreas: empreendedorismo,

empreendedorismo social e acesso a crédito; desenvolvimento urbano; economia criativa,

cultura e turismo; comunicação e marketing; e prevenção à violência e assistência social

(SALVADOR, 2014). Como o projeto ainda está em processo de concepção, não será possível

realizar análise crítica sobre ele, porém considera-se importante destacá-lo por conta das

transformações que pretende no espaço.

Em reunião realizada em um auditório da CDL, no dia 21.11.2014 para

apresentação do projeto de requalificação urbana Av. Sete e Rua Chile, que fazem parte do

programa acima mencionado, foi levantado que um dos maiores problemas da região é de cunho

urbanístico, resultante do conflito existente entre o pedestre, o veículo e o comércio informal.

De acordo com as informações apresentadas pela prefeitura, este é um conflito que não atrai

moradores de outras áreas da cidade para a localidade. Sendo assim foi proposto o alargamento

do passeio do lado esquerdo da avenida, no sentido do Campo Grande à Praça da Sé, que poderá

ser efetuado com a redução de uma das faixas de rolamento da via. Esta medida deixa espaço

apenas para uma faixa de estacionamento, ao invés de duas em cada lado da via como existe

hoje. A Figura 11 traz um exemplo de uma das áreas do projeto.

96

Figura 11: Trecho da Avenida Sete com parklet. Fotografia retirada de slide apresentado durante reunião

convocada pela SEMOP em 21-11-2014.

Fonte: Foto da autora, 2014.

Além das proposições mencionadas acima, está ainda previsto o enterramento dos

cabos de energia dos postes e implantação de parklets em alguns trechos da via, com bancos

para descanso dos pedestres. As medidas apresentadas, entretanto, não propõem soluções para

melhoria da coleta de lixo ao longo da via, considerado um dos grandes problemas da área,

embora preveja um aumento na implantação das lixeiras públicas ao longo do trajeto. Cabe

ressaltar que as praças existentes ao longo do referido trecho da Avenida Sete também passarão

por obras de requalificação, porém os projetos foram apenas apresentados em vídeos. As praças

às quais nos referimos são o Largo de São Bento e Praça Barão Rio Branco (Relógio de São

Pedro), que se encontram em reforma, conforme podemos notar nas Figuras 12 a 15.

Figura 12: Largo de São Bento em reforma.

Fonte: Fotos da autora, 2012.

Figura 13: Largo de São Bento antes da reforma.

Fonte: Fotos da autora, 2014.

97

Figura 14: Praça Barão Rio Branco (Relógio de São Pedro)

antes da reforma. Fonte: Fotos da autora, 2012

Figura 15: Vista de cima da Praça Barão Rio

Branco (Relógio de São Pedro), em reforma.

Fonte: Fotos da autora, 2014.

Semelhante ao que foi realizado para os projetos anteriormente apresentados, assim

também realizamos uma análise dos projetos elaborados em 2014 com base nas nossas

categorias de análise, conforme consta na Tabela 7.

Tabela 7: Síntese da análise dos projetos “Plano de requalificação e reordenamento de

ambulantes de Salvador”, “Requalificação do Mercado 2 de Julho” e “Programa Avenida Sete

de Setembro – Território Empreendedor”, 2014.

CATEGORIAS

DE ANÁLISE

PROPOSTAS APRESENTADAS PELO PROJETO

Diagnóstico da

situação

Não foram encontradas informações sobre o diagnóstico elaborado pelo

poder público em 2014, no sentido de atualizar e informar sobre a

problemática do trabalhador de rua para os projetos estudados, inclusive

no sentido de justificar as ações propostas. As informações que

conseguimos coletar foram dispersas, disponibilizadas sobretudo

através de notícias de jornal e do Diário Oficial do Município.

Conforto

ambiental

Com relação à proposta elaborada no âmbito do “Plano de requalificação

e reordenamento de ambulantes de Salvador”, podemos notar que apesar

da existência da cobertura, a mesma não foi confeccionada com material

adequado, o que causa grande desconforto térmico para os

trabalhadores, que sofrem bastante com o calor sob a estrutura. Ainda

sobre a cobertura implantada, verificamos que proteção com relação a

chuva deixa a desejar, já que podemos notar em diversos pontos a

existência de improvisos com lona para evitar que a água da chuva

molhe tanto os trabalhadores, quanto sua mercadoria. Além disso, não

foram implantadas calhas.

98

Infraestrutura

de suporte

A pavimentação de todas as ruas que estão passando pela intervenção

foi substituída por piso intertravado. A prefeitura informa ainda que

realizou obras de drenagem nas localidades.

Com relação à disposição do lixo, além das lixeiras públicas que foram

distribuídas nas ruas de intervenção, apenas no bairro 2 de Julho será

implantado, segundo o projeto, contêineres para armazenamento dos

resíduos.

Também com relação aos sanitários, apenas no bairro 2 de Julho há

proposta de implantação desse equipamento. Nos demais pontos da

Avenida Sete, nada aparece nas plantas disponibilizada. Houve

informações obtidas através de entrevistas com as lideranças dos

trabalhadores de rua (que serão melhor apresentadas no próximo

capítulo), de que a implantação dos sanitários está em discussão com a

prefeitura.

Sobre o armazenamento de mercadorias, nada aparece nos projetos.

Fomos informados também através de entrevista com o responsável pelo

setor de Licenciamento e Fiscalização da SEMOP, cuja entrevista

também será apresentada no próximo capítulo, que a prefeitura não pode

bancar com essa estrutura, pois ela demanda também um custo com a

segurança do local e do material.

O projeto “Avenida Sete de Setembro – Território Empreendedor” não

pode ser avaliado, pois não conseguimos dispor de informações mais

precisas sobre o mesmo.

Densidade de

ocupação

Os projetos não apresentam parâmetros ou cálculos para densidade de

ocupação na área de intervenção.

Relação

proposta e o

entorno

Com relação às propostas apresentadas podemos notar, de maneira geral,

uma desarticulação entre a cobertura proposta e a morfologia urbana do

entorno. Este aspecto fica mais evidente principalmente nas ruas da

Avenida Sete. No caso do 2 de Julho, a relação entre a proposta visual e

o entorno também nos parecem em desarmonia e deslocam o vendedores

de frutas para uma área relativamente distante dos locais onde há mais

gente circulando, o que pode vir a prejudicá-los em suas vendas e fazê-

los retornar para o local de origem. Fonte: Elaboração da autora com base na análise do projeto, 2015.

A ausência de informações sobre a densidade de ocupação em todos os projetos

estudados revela um nível de inconsistência no conhecimento do poder público com relação a

real demanda por espaço que a atividade do trabalhador de rua implica. Consideramos que este

é um importante dado, capaz de subsidiar um planejamento mais eficaz, pois através do

conhecimento sobre a densidade de ocupação é possível saber realmente em quais áreas a

atividade influencia no direito de ir vir dos transeuntes e em quais áreas ela não é tão relevante.

Por este motivo, sentimos a necessidade de avaliar como a situação se encontra hoje na Avenida

Sete, ruas de seu entorno e bairro Dois de Julho, que trataremos a seguir.

99

2.4 A densidade de ocupação

O espaço demandado pelo trabalhador de rua não é apenas aquele ocupado

materialmente pela estrutura física do seu mobiliário. Além do espaço ocupado pelo mobiliário,

que por vezes extrapola os limites pré-estabelecidos pela municipalidade, ocupa-se também um

espaço para o desenvolvimento funcional da atividade.

A Figura 16 ilustra esquematicamente como se dá a demanda da atividade pelo

espaço, e através dela podemos identificar a área ocupada pelo mobiliário e o dimensionamento

da faixa utilizada pelos compradores das mercadorias, aqui denominada de “faixa de

utilização”. Para a definição do dimensionamento dessa faixa, se levou em consideração a

dimensão referencial para deslocamento de pessoas em pé da NBR 9050/2004, que é de 0,60m

para pessoas sem órteses. Se considerarmos que a rua esquematizada possui as dimensões de

8X5m e área de 40m², a área demandada pela atividade corresponderia a cerca de 30m² ou 70%

do total da rua. Esta informação é importante, pois ilustra o que pode ocorrer na maioria dos

casos nas ruas estudadas, em que o espaço físico requerido pela atividade dos trabalhadores de

rua é maior do que as dimensões do mobiliário fixo podem indicar, restando no final para o

transeunte muito pouco do total que deveria estar disponível para sua circulação.

Figura 16: Esquema de espaço demandado pela atividade do trabalhador de rua.

Fonte: Bouças, 2012.

100

Compreender essa questão é fundamental tanto para que possamos dar conta da

interpretação sobre a densidade de ocupação da atividade do trabalhador de rua nas localidades

que estudamos nesta dissertação, quanto para que possamos analisar o tratamento dessa questão

nos projetos encontrados. A densidade de ocupação que buscamos avaliar aqui difere da

comumente estudada pelo planejamento urbano, que se dá mais na escala da unidade de

vizinhança, do bairro ou da cidade. Para esses casos, a densidade costuma ser calculada através

da relação entre a população e a área ocupada, geralmente dada em km² ou hectares. Em nosso

caso, buscamos a densidade de ocupação das ruas, que está em uma escala maior e para qual

não encontramos parâmetros na literatura pesquisada. Por este motivo, fizemos um esforço para

tentar compreender a relação proporcional entre a área ocupada pela atividade e a área destinada

aos pedestres nas ruas e para tal, além de precisarmos ter em mente o que o esquema

anteriormente apresentado na Figura 16 indica, é preciso estarmos atentos também ao fato de

que diferentes arranjos entre o mobiliário e a faixa de utilização são possíveis. As Figuras 17,

18 e 19 indicam essas possibilidades e as respectivas áreas encontradas para cada caso.

Figura 17: Situação 1 - Demanda de espaço pela

atividade, considerando mobiliário independente de

outros. Fonte: Elaboração da autora, 2015.

Figura 18: Situação 2 - Demanda de espaço pela

atividade, considerando mobiliário de quina ou

encostado com outros.

Fonte: Elaboração da autora, 2015.

101

Figura 19: Situação 3 - Demanda de espaço pela atividade, considerando mobiliário encostado com outros ou

com a parede.

Fonte: Elaboração da autora, 2015.

As áreas encontradas para cada uma das situações hipotéticas apresentadas, nos

ajudará a calcular a área demandada pela atividade do trabalhador de rua. Para isso,

multiplicamos a média dos valores das situações hipotéticas (2,68m²) pelo valor encontrado

para a média de trabalhadores contados na área de estudo (conforme consta na contagem do

Apêndice C). Salientamos, porém, que em nossa área de estudo temos dois tipos de situação:

A) ruas completamente pedestrianizadas20, ou seja, por onde não transitam carros; e B) ruas que

dividem o espaço entre pedestres e veículos. No caso “A”, as ruas estudadas podem ser mais

densamente ocupadas pelo trabalhador de rua, pois há mais espaço disponível para ser

compartilhado com o pedestre. No caso “B”, o espaço disponível é apenas o espaço da calçada

e a atividade do trabalhador de rua compete muitas vezes com os demais usos da rua.

No croqui esquemático apresentado na Figura 20, representado utilizando as

normas para o dimensionamento de calçadas estabelecido pela NBR9050/2004, temos que

numa rua com duas faixas de rolamento a área destinada para o trânsito de veículos corresponde

à aproximadamente 73% da via. Já a parte da calçada corresponde aos outros 27%, e destes,

13% corresponde ao passeio.

20 De acordo com Cruz (2006), a pedestrianização compreende a exclusão do automóvel pela implementação de calçadas em toda a largura do logradouro. O objetivo nesses casos é reduzir o trânsito nos centros históricos ou em áreas de comércio

varejista intenso, de modo a tornar o ambiente mais agradável para o pedestre.

102

Figura 20: Representação esquemática de uma rua.

Fonte: Elaboração da autora, 2015.

Entender a distribuição de proporções entre os usuários desse espaço foi importante

para que pudéssemos estabelecer os parâmetros para as densidades de ocupação das ruas

estudadas. O esquema abaixo (Figura 21) sintetiza os parâmetros estabelecidos para os casos

de rua tipo “A”, pedestrianizadas. Nesse caso, o que define a densidade de ocupação da rua é a

relação entre a área ocupada pelo trabalhador de rua e o quanto ela ocupa da área total da rua

onde ele se encontra. Assim temos que, quando:

Figura 21: Esquema densidade de ocupação – Ruas tipo “A”.

Fonte: Elaboração da autora, 2015.

Para os casos das ruas tipo “B”, ou seja, daquelas ruas onde o espaço divide-se entre

a área destinada aos veículos e a área destinada aos pedestres, o que define a densidade de

ocupação da rua é a relação entre a área ocupada pelo trabalhador de rua e o quanto ela ocupa

da área total do passeio (Figura 22). Assim temos que, quando:

103

Figura 22: Esquema densidade de ocupação – Ruas tipo “A”.

Fonte: Elaboração da autora, 2015.

Assim, utilizando os dados colhidos com a contagem dos trabalhadores por rua, e

as áreas contabilizadas para cada uma dessas ruas, conseguimos definir a densidade de

ocupação verificada quando foi realizado o trabalho de campo desta dissertação. Os cálculos

realizados bem como os resultados encontram-se no Apêndice F. Com base nos resultados

obtidos foi possível fazer uma espacialização das densidades de ocupação observadas quando

da realização do levantamento de campo. Através do Mapa 04 podemos observar que a área

mais densamente ocupada pelos trabalhadores de rua está num raio de 170,5m e abrange a

localidade acessada diretamente pela Estação da Lapa, onde estão os dois shoppings centers da

região, duas importantes praças (Piedade e Barão do Rio Branco – Relógio de São Pedro), e no

acesso ao bairro Dois de Julho pelas ruas do Cabeça e da Forca.

A concentração dos trabalhadores de rua nessas imediações específicas, portanto,

se justificam pelos atratores presentes na localidade e indicam que essa pode ser a área por onde

mais circulam transeuntes na região, já que essa é uma condição importante para escolha da

localização dos trabalhadores, quando eles têm essa opção. Uma leitura sobre essa observação

pode ser mais completa ainda se lembrarmos do que nos disse Jane Jacobs (2011) sobre as

condições para a diversidade urbana. Esta região mais densa liga um dos bairros residenciais

mais dinâmicos do centro com a Avenida Sete de Setembro. Aí temos circulando tanto os

residentes do bairro, quanto os trabalhadores e comerciantes que se encontram na região.

Percebemos, portanto, o papel da combinação dos usos do lazer, trabalho e moradia, conectados

por um importante articulador que é a Estação da Lapa.

104

Mapa 4: Densidade de ocupação na área de estudo.

Fonte: Elaboração da autora, 2015.

Conseguir visualizar onde a atividade se concentra no espaço em nossa área de

estudo é um passo importante para ampliar nossa percepção sobre ela, para além da análise da

legislação e dos projetos que estudamos. Porém, para avançarmos mais, é preciso também

compreender quem são aqueles responsáveis pela execução da atividade. As ações do poder

público podem ser concebidas, com o intuito de organizar, ordenar ou coibir os usos que não

considera compatíveis com os interesses que se tem sobre o espaço público. Ainda que as

permissões para que os trabalhadores possam explorar o logradouro público sejam precárias,

ou seja, possam ser retiradas no momento em que este seja o interesse da prefeitura, isto não

significa necessariamente que a atividade possa ser totalmente eliminada ou controlada. Assim,

105

podemos nos questionar até que ponto é possível que tais representações do espaço, utilizando

aqui os termos de Lefebvre, são capazes de, de fato, exercer controle sobre os processos efetivos

de apropriação criativa dos espaços. Desta forma, nos deteremos a seguir às práticas cotidianas

presentes nos espaços de representação, ou seja, aquelas que ocorrem no âmbito do vivido,

naquilo que se refere ao trabalho exercido nas ruas de Salvador.

106

3 O TRABALHO DE RUA EM SALVADOR: OS PROTAGONISTAS, SUAS

CARACTERÍSTICAS E FORMAS DE ORGANIZAÇÃO DA ATIVIDADE

A atividade dos trabalhadores de rua está marcadamente presente no cotidiano da

sociedade soteropolitana e interfere diretamente na dinâmica da cidade, sobretudo do centro

antigo aqui em questão. No entanto, ela não se refere apenas ao espaço e as intervenções nele

incidentes ou apenas aos trabalhadores em si. Além de ser necessário compreender quem eles

são, é preciso buscar entender também o seu papel e o das associações e o sindicato, enquanto

entes representativos dos interesses dos trabalhadores. Nesse sentido, buscamos ainda nos

aproximar da visão atual da prefeitura sobre a atividade, através de uma entrevista realizada

com representantes do setor responsável pela fiscalização e licenciamento. Destacamos ainda

que reconhecemos a relação dos transeuntes e lojistas com a atividade, porém eles não serão

abordados em nossa pesquisa.

O presente capítulo é iniciado com a apresentação dos protagonistas da atividade

aqui estudada, começando pelas associações que representam os interesses dos trabalhadores

de rua e posteriormente por eles próprios, sujeitos que a tornam possível. Em seguida, essas

pessoas são apresentadas através de uma narrativa contendo as informações e impressões do

campo. Por fim, com a finalidade de possibilitar uma percepção ampliada da atividade do

trabalhador de rua em Salvador, serão apresentadas três propostas de entendimento sobre o

funcionamento da atividade, que são distintos, porém intrinsecamente ligados: a subordinação,

os conflitos, e o pertencimento e solidariedade.

3.1 As associações/sindicatos

Iniciamos este capítulo buscando entender o papel na atividade são as entidades que

representam os interesses dos trabalhadores de rua, ou seja, o sindicato e as três associações

existentes. Para tal, foram entrevistadas as quatro lideranças dessas entidades utilizando o

roteiro disponível no Apêndice E. É importante salientar que o quadro dessas lideranças é

composto por quatro homens casados, com idades entre 48 e 54 anos, e escolaridades entre o

ensino fundamental incompleto e ensino médio completo. Três deles são naturais de outras

cidades do interior da Bahia e apenas um nasceu em Salvador.

Buscamos levantar a forma como eles denominam o trabalho que realizam e

verificamos que não há um consenso no que se refere à nomenclatura, ainda que a descrição do

107

conceito por eles elaborado muito se aproxime. Dois deles identificam a atividade como

ambulante, um como trabalhador informal e outro como comerciante. Ao somarmos suas

respostas, podemos chegar à descrição da atividade exercida como: “meio de sobrevivência da

pessoa que não tem emprego fixo, que vende todo tipo de mercadoria que se possa vender em

local aberto e conectado com a cidade, com o intuito de obter lucro”.

Neste momento, será apresentada cada uma das associações e o sindicato,

destacando o tempo em que cada liderança se envolve com sua respectiva entidade, quem pode

se associar, quais os critérios, quantos são os associados e quais os principais desafios e

conquistas enfrentados por eles durante o seu tempo de atuação. Ressalta-se ainda que

consideramos que o olhar para as questões da entidade perpassa pela pessoa que a representa,

seu perfil e histórico de atuação, motivo pelo qual faremos uma breve apresentação dessas

pessoas.

Começaremos a apresentar as entidades por aquela que é a mais antiga: o Sindicato

dos Feirantes e Ambulantes da Cidade de Salvador (Sindifeira)21, fundado em 1966 e que conta

com 16 membros na atual chapa, os quais assumiram seus cargos após a última eleição,

realizada em dezembro de 2013. As eleições para o sindicato ocorrem de 4 em 4 anos e o

representante com quem conversamos é o atual presidente da entidade, Marcílio Costa Santos,

que está no seu segundo mandato e autorizou o uso de sua entrevista22. Ele conta que começou

a ser feirante quando ainda morava em Valença, seguindo o exemplo do pai.

Para fazer parte do Sindifeira é preciso ser feirante ou ambulante, ter os documentos

básicos exigidos (CPF, RG, duas fotos 3X4 e comprovante de residência) e pagar uma taxa

mensal de R$15,00. Quem não é licenciado pela prefeitura também pode fazer parte do

sindicato. Para isso basta que o trabalhador prove que realiza a atividade através de fotos e

testemunhas. O sindicato faz uma averiguação no local, antes de confirmar a adesão do novo

membro. Marcílio estima que hoje existam mais de 26.000 associados ao Sindifeira, onde cerca

de 1.200 destes são ambulantes da Avenida Sete, conforme censo realizado pela entidade entre

os anos de 2012 e 2013. Nesta ocasião foi levantado também a área em que o trabalhador atua,

o produto que vende e sua situação com o órgão competente, informações que ainda não se

encontram sistematizadas. Apesar do grande número de associados, Marcílio conta que a

inadimplência é bastante expressiva. Ele acredita que isso se deve ao grande número de

21 Como podemos notar no próprio nome do sindicato em questão, sua atuação é tanto com os ambulantes, trabalhadores de

rua, quanto com os feirantes. 22 A entrevista com o presidente do Sindifeira foi realizada no dia 22 de janeiro de 2015, na Feira de São Joaquim, onde Marcílio

tem seu ponto.

108

trabalhadores aposentados atuando na área, aos quais fica garantido pelo estatuto o direito à

isenção da taxa. Além de representar os interesses coletivos do segmento, o Sindifeira oferece

também orientação jurídica aos seus associados por meio de um advogado e atendimentos

médicos nas áreas de clínico geral, cardiologista, dentista e ginecologista. Esses profissionais

são pessoas pagas pelo sindicato e oferecem uma cota mensal de atendimento aos trabalhadores.

Assim como o sindicato, que possui maior legimitidade jurídica para negociar em

prol da categoria, há também outras três associações que trabalham pelo segmento. A primeira

entidade delas é a Associação Integrada de Vendedores Ambulantes e Feirantes de Salvador

(Assindivan), cujo presidente é Valmir Sales Fonseca que está no ramo há 40 anos e começou

a trabalhar com a família quando ainda era bem jovem23. Ele conta que, todos os dias ao sair da

escola, levava almoço para os tios e primos que trabalhavam na Baixa dos Sapateiros. Lá

passava a tarde e ganhava alguns trocados no final do dia, o que o levou a pegar gosto pelo

trabalho.

O presidente da Assindivan se envolve com as questões políticas de sua classe desde

1994, quando era membro de um sindicato extinto, posteriormente transformado em uma

associação também extinta. Essa associação também foi desmembrada e deu origem a

Assindivan no ano de 2013, com uma gestão compartilhada entre os seus dirigentes. Valmir

conta que a associação nasceu com o intuito de tomar a frente da arrumação da Avenida Sete

no âmbito do projeto de ordenamento da nova gestão municipal. Porém, em seu novo formato,

ainda não há nenhum associado pagante. A Assindivan está funcionando com base no trabalho

voluntário de seus dirigentes e só haverá inscrição de associados quando a situação das vendas

para o trabalhador de rua melhorar, o que se espera que aconteça após a conclusão das obras do

projeto. Valmir conta que, para se inscrever na entidade será necessário estar devidamente

regularizado junto ao poder público, ou seja, estar licenciado. A Assindivan pretende ter entre

seus membros, portanto, todos trabalhadores licenciados na região da Avenida Sete que

voluntariamente queiram se associar.

Para Valmir o trabalho da Assindivan possui três pilares: o cidadão de Salvador, o

trabalhador de rua e o poder público. Para ele o cidadão deve estar em primeiro lugar, pois

reconhece que quando ele sai para qualquer outro lugar ele precisa da calçada para se deslocar.

E para que o espaço da calçada seja preservado ao cidadão é preciso que haja um bom diálogo

23 A entrevista com o presidente da Assindivan foi realizada no dia 17 de novembro de 2014, no Largo do Rosário, onde

Valmir tem seu ponto.

109

entre a prefeitura, responsável por ordenar o espaço público, e o trabalhador de rua, “que precisa

ganhar o pão de cada dia”, segundo suas próprias palavras.

O momento mais dramático que Valmir já vivenciou em sua experiência de

liderança foi nos anos 1992 e 1997. Naquela época foi feito um cadastro de trabalhadores

existentes entre o Campo Grande a Praça Castro Alves, resultando num quantitativo de 3.300

ambulantes. Ele conta que a gestão da prefeitura daquele período foi associando essas pessoas

ao mesmo tempo em que faziam o cadastro, dando-lhes a esperança de que todos teriam onde

trabalhar. Porém, o projeto elaborado contemplava apenas 453 pessoas, que teriam que

trabalhar em uma nova área nas proximidades da Ladeira da Montanha. Para garantir que a

proposta fosse cumprida, a municipalidade proibiu que qualquer ambulante colocasse seu

mobiliário na Avenida Sete utilizando a presença policial para coibir os trabalhadores que

tentassem infringir a determinação no trecho em questão.

Valmir relata que ao contrário do que aconteceu no passado, quando as decisões

eram tomadas de cima para baixo, agora é possível que as entidades representantes do segmento

consigam negociar diretamente com a prefeitura. Porém, apesar disso, já aconteceram algumas

ações consideradas como desastradas pelo presidente da Assindivan, como foi o caso da retirada

aleatória de todos os trabalhadores, sem tampouco considerar os que possuíam licença, da Rua

do Cabeça, no Dois de Julho, ocorrida em janeiro de 2014. A Assidinvan foi uma das

associações procuradas após a ação e junto com outros movimentos conseguiu articular

reuniões com o poder público que reverteram a situação e contribuíram para participação do

segmento na elaboração do projeto de requalificação do bairro Dois de Julho, onde foram

negociados os locais destinados e as condições para a atividade do trabalhador de rua no bairro.

Para Valmir, algumas das principais conquistas do segmento em Salvador

atualmente, além das 13 áreas indicadas pela prefeitura para a realização atividade, foram a

pedestrianização da Rua da Forca, que antes funcionava como retorno para os automóveis e o

reconhecimento da lateral da Caixa Econômica, na Rua Clóvis Spínola, como uma área também

destinada para a atividade. Ele conta que no início da atual gestão a proposta era de se criar um

camelódromo atrás da Secretaria de Segurança Pública, na Piedade. Porém tal proposta, apesar

de contar com um projeto para cerca de 1.200 trabalhadores, foi rechaçada pela categoria, pois

não atendia às necessidades deles, já que sua implantação implicaria em uma segregação do

trabalhador com a rua, distanciando-os conseqüentemente do seu público. Para ele, a prefeitura

gastaria dinheiro investindo em um projeto que não daria em nada, pois, quando as vendas

caíssem, as pessoas retornariam para seus locais de origem. Assim, após reuniões entre o poder

110

público e a categoria, chegou-se à proposta que está em execução, onde ocorre a adequação das

transversais da Avenida Sete.

A terceira entidade de que falaremos é Associação dos Trabalhadores Informais de

Salvador (Assinformal), uma associação um pouco mais antiga do que a Assindivan, com

quatro anos de funcionamento, mas que atualmente está sendo modificada com a revisão do seu

estatuto. O interlocutor com quem conversamos é o presidente da entidade, Arismário Nunes

Barreto, mais conhecido como Alemão24. Ele nasceu na cidade de Santa Luz, mora em Salvador

há 30 anos e há 20 anos trabalha nesta área. Apesar do pouco tempo de existência da

Assinformal (14 anos), Arismário se envolve com as questões de sua classe desde 1999. Além

de ser presidente da Assinformal, ele também é membro da diretoria do Sindicato de

Ambulantes e Feirantes da Cidade de Salvador (Sindifeira).

Para fazer parte da Assinformal, Arismário esclarece que basta ser ambulante, ser

trabalhador informal, e por enquanto também não está sendo cobrada taxa de adesão para os

associados. Por ser uma entidade relativamente nova e que está passando por ajustes, não há

informações sistematizadas sobre o número de membros que a compõem.

Arismário coloca que a pior fase do relacionamento entre o trabalhador de rua e o

poder público foi nos anos de 1997 a 2004. Ele relata que naquela gestão houve muitos casos

de violência contra os trabalhadores. Entre as propostas daquela gestão, havia a de criar um

camelódromo no estacionamento São Raimundo (próximo ao Shopping Orixás Center) e na

Ladeira da Montanha, conforme também relatado por Valmir da Assindivan. O presidente da

Assinformal relata que a proposta de camelódromo não foi adiante e que na Ladeira da

Montanha, após poucos meses, só restaram cerca de nove trabalhadores. Foi realizado então um

deslocamento dos ambulantes para as transversais (becos), porém sem nenhuma estrutura e sem

muita discussão.

Em contraponto à fase anteriormente citada, Arismário relata que o atual momento

é o melhor na relação entre os trabalhadores de rua e a municipalidade, pois agora há diálogo

com o poder público, através da Secretaria de Ordem Pública. Contudo, a permanência de

pessoas trabalhando na Av. Sete foi inegociável no processo de elaboração do novo projeto de

ordenamento, ainda que a associação tenha indicado a permanência de trabalhadores em alguns

muros cegos de colégios e igrejas e colunas de lojas ao longo da avenida. Os trabalhadores

aceitaram se deslocar para os becos, mas segundo Arismário, enfrentam grandes dificuldades

24 A entrevista com o presidente da Assinformal foi realizada no dia 29 de setembro de 2014, no Beco Maria Paz, onde

Arismário tem seu ponto.

111

para vender nesses locais, sobretudo porque os clandestinos (pessoas sem licença) continuam

vendendo ao longo da Avenida Sete, que para ele não tem sido devidamente fiscalizada. O

presidente da Assinformal diz que a entidade está aguardando a conclusão das obras, a fim de

verificar se o poder público vai cumprir com o que foi prometido aos trabalhadores e, enquanto

isso não acontece, segue no acompanhamento das obras. Para o entrevistado, o melhor dessa

nova gestão é justamente o processo de negociação mais aberto. Além disso, ele pontua também

a cobertura implantada nos becos e a pedestrianização da Rua da Forca, também mencionada

pelo presidente da Assindivan.

Por fim, temos ainda a Associação dos Feirantes e Vendedores Ambulantes da

Cidade de Salvador e Região Metropolitana (Asfaerp), presidida por Marcos Luiz Neves de

Almeida, ou Marcos Cazuza25. Ele conta que a crise do emprego entre as décadas de 1980 e

1990 o atingiu fortemente, sobretudo por ter pouco estudo, o que o levou a buscar seu sustento

como trabalhador de rua. Marcos Cazuza se envolveu politicamente com as questões de sua

classe praticamente desde que começou a trabalhar na categoria e é um dos fundadores da

Asfaerp. Sua motivação veio da desmobilização que observou no segmento e da vontade de se

organizar para ter uma vida melhor, com mais dignidade.

Para fazer parte da Asfaerp, assim como da Assindivan e da Assinformal, não é

preciso pagar nenhuma taxa: basta ser trabalhador de rua. A entidade, assim com as demais,

vive através dos recursos dos próprios diretores e das contribuições voluntárias dos membros

que desejem contribuir. O que garante a participação do membro na associação é a vida efetiva

dos companheiros no seu local de trabalho, ou “na pedra”, como eles se referem. Marcos Cazuza

conta que há 2.886 trabalhadores associados à Asfaerp, número que não considera apenas os

trabalhadores da Avenida Sete e a que se chegou através de um cadastro realizado pela própria

associação. A Asfaerp conta também com algumas informações sobre a categoria, levantadas

em um censo realizado em 2001, onde se verificou, por exemplo, o nível de escolaridade, o

tempo de trabalho “na pedra” (no mesmo local) e a cidade de origem. Não foi possível, no

entanto, ter acesso às informações desta pesquisa, pois elas não se encontram na posse da

associação e o presidente da associação não soube nos informar onde poderíamos encontrá-la.

Para o presidente da Asfaerp o principal problema para a categoria sempre foi o

confronto com o rapa26, o que foi acentuado no período de 1997 a 2004, conforme já apontando

25 A entrevista com o presidente da Asfaerp foi realizada no dia 28 de janeiro de 2015, na Estação da Lapa, próximo de onde Marcos tem seu ponto. 26 De acordo com o disposto no dicionário Michaelis (2008) o termo “rapa” refere-se ao “carro que conduz fiscais da Prefeitura

e força policial para apreender, na via pública, mercadorias que estejam sendo vendidas por pessoas não licenciadas e pequenos

112

pelas lideranças das outras entidades aqui apresentadas. O atual momento é visto por ele

também como um momento de diálogo mais aberto e humano. Ele acredita que a organização

é um ponto favorável para realização da atividade, que passa a ser vista de outra forma pelo

cliente. Sobre esse aspecto, pensa ser fundamental a realização dos cursos que o SEBRAE

ofereceu de forma complementar à ação da atual gestão da prefeitura. Os cursos ocorreram de

forma gratuita e capacitaram os trabalhadores nas áreas de, por exemplo, empreendedorismo,

vitrinismo e idiomas. Marcos Cazuza considera que a principal conquista do trabalhador de rua

hoje é a de poder trabalhar adequadamente, garantindo o sustento da família e uma melhor

educação para os filhos.

No âmbito do novo ordenamento executado pela atual gestão municipal e em

decorrência das reuniões com as lideranças até então ocorridas, criou-se também um novo

agente: os líderes de rua. Essa liderança surge porque, segundo o presidente da Asfaerp, há uma

sobrecarga das associações, que não tem diretores suficientes para cobrir cada área da Avenida

Sete. Os líderes de rua agem então como interlocutores entre as associações e os ambulantes

em cada rua ordenada e entre as associações e o poder público. Foram escolhidos de acordo

com o destaque e envolvimento que assumiram durante o atual processo de negociação com a

prefeitura e se constituem como um primeiro agente a tentar resolver um problema estrutural

nos becos quando este surge, como, por exemplo, a queima de uma lâmpada ou um furo na

cobertura, levando o problema para o conhecimento da prefeitura

É importante pontuar que, como podemos notar, as transversais da Avenida Sete

que hoje passam por adequações para comportar os trabalhadores de rua, já contavam com

pessoas cadastradas para elas desde a gestão da prefeitura de 1997. Por esse motivo, fica claro

que não foi possível criar efetivamente muitos novos pontos de trabalho. Nesse sentido, a

negociação com as associações e sindicato se deu de forma a contemplar os trabalhadores

licenciados na Avenida Sete, de acordo com os seguintes critérios: idade, idade no local de

trabalho, deficiência e proximidade de seus antigos pontos com relação às transversais

autorizadas. Segundo informações das entidades aqui entrevistadas, o número de trabalhadores

licenciados e que poderão permanecer nas transversais da Avenida Sete é de 950 pessoas.

A existência dessas quatro entidades com atuação sobre o segmento pode induzir

ao pensamento de que talvez ocorra uma sobreposição de interesses e de capacidade de atuação.

Sobre isso, os representantes das entidades aqui mencionadas dizem haver uma ajuda mútua

veículos não matriculados.

113

entre eles nos processos de negociação, onde são defendidos os interesses coletivos do

segmento. Podemos notar ainda que há muitas convergências naquilo que observam sobre a

atividade, mas de forma semelhante, há também as divergências. Estas, contudo, serão

abordadas posteriormente, quando tratarmos dos circuitos de realização da atividade. Resta-nos

então, por ora, aproximarmos nosso olhar daqueles que são os agentes que dão corpo à

atividade, que a fazem existir: os trabalhadores de rua.

3.2 Os trabalhadores de rua

Para nos aproximarmos sobre quem são as pessoas que tornam esta dissertação

possível, optamos por trazer as histórias de 10 trabalhadores com os quais conversamos durante

a realização das entrevistas do questionário de aprofundamento em forma de narrativa, cujo

percurso consta no Mapa 05, principalmente porque o conteúdo dessas histórias fornece

elementos importantes para o entendimento do trabalho realizado por eles na rua. Esta narrativa,

entretanto, não deve ser entendida como uma forma de romantizar a atividade exercida nas ruas

da cidade, mas sim como uma tentativa de tornar visíveis aspectos do cotidiano que geralmente

não se expõem aos nossos olhos, além de conferir sensibilidade à discussão, o que pode

contribuir para ampliar nossa percepção sobre a realidade. Para trazer esta questão à superfície,

foram escolhidas as entrevistas dos trabalhadores com quem mais se teve contato durante a

pesquisa, ou seja, aqueles com os quais foram realizadas a aplicação dos questionários básicos

e de aprofundamento. Aqui não se terá foco apenas nas respostas objetivas dadas aos

questionamentos feitos, mas entrará em destaque também um pouco da ambiência e das

conversas espontaneamente ocorridas, que serão descritas com inspiração etnográfica.

Considera-se que este conteúdo é de extrema relevância e que irá auxiliar bastante na

contextualização dos dados que serão apresentados posteriormente, pois faz emergir o

entendimento dessas pessoas sobre sua relação com o espaço público e com o centro da cidade

no âmbito do trabalho que realizam.

114

Mapa 5: Percurso de aplicação do questionário de aprofundamento.

Fonte: Elaboração da autora, 2015.

Antes de iniciarmos a história e apresentarmos seus “personagens”, é preciso situar

o contexto no qual ela se desdobra. Vimos no capítulo anterior que nos últimos 23 anos a

atividade dos trabalhadores de rua sofreu diversas tentativas de regulação pelo poder público,

que passa a reconhecer e incorporar a atividade em suas políticas públicas regulando-a e

controlando-a. No momento atual, as intervenções propostas pela municipalidade não vem

ocorrendo sem conflitos, pois a intenção do novo ordenamento é retirar todos os trabalhadores

de rua da Avenida Sete de Setembro, restringindo sua atividade a ruas e transversais específicas.

As mudanças ocorridas com a reforma trouxeram diferentes níveis de problemas,

tanto para os trabalhadores que atuavam nessas transversais, quanto para os da Avenida Sete.

Os trabalhadores das transversais foram deslocados para locais provisórios durante a reforma

da rua em que trabalhavam. Segundo muitos relatos, isso aconteceu sem aviso prévio, ou seja,

não foi possível avisar aos clientes com antecedência onde estariam durante o período da

reforma, o que trouxe diversos tipos de prejuízos para os trabalhadores, desde os emocionais

até os financeiros. Para os que trabalhavam na Avenida Sete, a situação foi ainda mais grave,

115

pois mesmo com a determinação de não poder mais trabalhar no local, muitos retornam mesmo

com o risco de perder sua mercadoria para o rapa. No início da ação da prefeitura era possível

sentir um forte clima de tensão ao transitar pela Avenida Sete, com trabalhadores apreensivos

e sempre muito atentos a todos os movimentos do entorno. Esse sentimento de insegurança com

relação ao trabalho, ou seja, ao sustento cotidiano, infelizmente não foi uma situação pontual

para muitos trabalhadores. Nos relatos que leremos a seguir, veremos que situações semelhantes

ou piores já ocorreram em outros momentos, onde o jogo entre a norma e a irreverência, a

obediência e a resistência se fez presente em suas vidas. Temos então, a ação principal de

regular a atividade desencadeando o conflito pela sua permanência. Entendendo, portanto, o

conflito principal que se dá na disputa pelo lugar, podemos seguir apresentando o lugar e as

pessoas de quem nos aproximamos, suas histórias de vida e sua relação com o trabalho que

desenvolvem.

***

Ao percorremos a Avenida Sete com um olhar minimamente atento nos deparamos

com uma grande diversidade de situações e acontecimentos, edificações, usos e apropriações.

É difícil passar desapercebido(a) pelas diferentes arquiteturas que a margeiam e que pertencem

a distintos períodos históricos, onde podemos encontrar, por exemplo, edifícios-galeria, lojas,

escolas, bancos, igrejas, mosteiros e praças. Para além desse aspecto, não podemos deixar de

mencionar também como característica marcante da Avenida Sete, a diversidade de

mercadorias e de gente que por ela circula. Gente que disputa espaço, que caminha com pressa,

que caminha lentamente, que desvia dos carros, que tropeça nos buracos da calçada de pedra

portuguesa, que se orienta através de uma bengala, que usa cadeira de rodas, que procura o

caminho com mais sombra, que compra, que vende, que “mora na rua”, que mora nos prédios

ou que apenas passeia e vive o momento no lugar. Temos aí, portanto, um lugar onde a vida

pulsa intensamente, seja pelo desenrolar do próprio cotidiano, seja pelo trabalho presente em

quase todos os seus cantos.

Há ao longo da Avenida Sete um importante número de estabelecimentos

comerciais e de serviços, que por sua vez, concentram um grande número de empregos.

Juntamente com a abertura das lojas, escolas e clínicas há também a chegada de trabalhadores

que possuem empregos formais e informais. Aqueles que possuem empregos formais dirigem-

116

se para seus locais de trabalho e lá, teoricamente, encontram a estrutura que precisam para

realizar suas atividades. Já os que trabalham no setor informal, sobretudo aqueles que utilizam

o espaço da rua, precisam montar e desmontar toda sua estrutura de trabalho diariamente.

Assim, se chegarmos entre às 7h e 9h da manhã na Avenida Sete de Setembro, vemos o início

da dilatação do dia, onde além de lojas se abrindo, podemos ver também carrinhos deslizando

por toda parte sendo empurrados por carregadores. Nesses carrinhos, é transportada toda uma

diversidade de mercadorias, armazenadas em grandes caixas de madeira, que pertencem aos

trabalhadores de rua que atuam na referida avenida, nas ruas de seu entorno e no bairro Dois de

Julho. Aos poucos escutamos aumentar o volume do tilintar das estruturas de metal das barracas

sendo montadas e o burburinho de vozes começando a se confundir.

No meio do dia, frequentemente com o sol a pino, a agitação do dia se expande. O

andar das pessoas é apressado. A disputa por quem grita mais alto para atrair o cliente se

intensifica. No caminho alguém oferece “ÁGUA MINERAL GE-LA-DI-NHA!!! OLHA A

ÁÁÁÁGUA!”. Em outro ponto pergunta-se: “É EXAMES E CONSULTAS?” e outra pessoa

oferece um “CHIP DA TIM”. A calçada torna-se um lugar de disputa e de trânsito intenso. É

possível verificar um transbordamento de pessoas para a faixa de rolamento em alguns pontos,

onde se disputa o espaço com o automóvel. É neste momento que temos o ápice do movimento

da vida nas ruas do centro da cidade.

Com o anoitecer, vem a retração da dilação do dia. Parte dos trabalhadores dirige-

se para os pontos de ônibus de volta para casa. Outra parte desloca-se a pé mesmo, pois mora

nas proximidades do centro. Os trabalhadores de rua começam a desmontar suas barracas e

armazenar as mercadorias para que os carregadores possam levá-las e guardá-las até o dia

seguinte nos depósitos, localizados geralmente ali bem perto de onde trabalham. É também na

noite que se verifica um novo movimento nesse lugar, que cede lugar para a prostituição,

usuários de droga e transito das pessoas em situação de rua, que buscam locais para se abrigar

e passar a noite.

117

Mosaico de imagens. Fonte: Fotos da autora, 2012-2014.

118

Diversos conflitos podem ser percebidos nesse lugar e ocorrem, dentre outros

motivos, devido a mistura de usos e apropriações que se expressam nesse espaço. A atividade

do trabalhador de rua é uma delas e sua permanência não se dá sem resistência e luta. Luta de

pessoas que não conseguem se empregar no mercado formal e que precisam, como todos,

sobreviver com o mínimo de dignidade. A forma de obter essa dignidade em nosso mundo

capitalista se dá, sobretudo, por meio do trabalho e essas pessoas não se negam a trabalhar. Para

o poder público não é mais possível lidar com essa situação sem reconhece-la, ou seja, sem

reconhecer sua própria ineficiência e incapacidade em gerar oportunidades de trabalho para

todos. É preciso então incorporá-la, aceitar que essa é uma das formas pelas quais seus

habitantes conseguem se manter, produzir e consumir. Contudo, esse mesmo poder público que

reconhece e incorpora a questão em suas políticas públicas, precisa também determinar como

ela deve acontecer, de modo a compatibilizar essa atividade com as demais da cidade. Porém,

muitas vezes o faz atropeladamente, na urgência das necessidades de um planejamento urbano

feito para resultados imediatos.

Entre os acertos e desacertos do poder público ficam as pessoas e suas necessidades

cotidianas. Pessoas com histórias de vida e de luta, com conquistas, desejos e sonhos. Esse é o

caso de seu Raimundo, um homem alto, de 55 anos idade, que “caiu” na juventude (foi preso)

e não conseguiu mais outro emprego. Seu Raimundo aprendeu sua profissão atual no Liceu de

Artes e Ofícios, que ficava na Praça da Sé, mas antes disso chegou a trabalhar com carteira

assinada na antiga Telebahia. Hoje trabalha como sapateiro no bairro Dois de Julho, entre

bancas de frutas, verduras, farinhas de beiju, ovos, queijos e ervas medicinais. O local onde ele

trabalha vai passar por uma reforma, mas ele disse que mesmo quando tudo estiver pronto vai

continuar nesse lugar e daqui não se mudaria, pois é onde está sua clientela. Seu Raimundo é

artesão e por ser artesão disse nunca ter conseguido licença da prefeitura. Ele opta por trabalhar

na rua principalmente porque em ambiente fechado fica-se muito exposto ao cheiro da cola de

sapateiro, então trabalhar na rua é uma questão de saúde segundo sua opinião. Contou que suas

coisas já foram jogadas fora e sua guia quebrada em momentos de tensão entre ambulantes e o

poder público, que existiram em gestões anteriores. Segundo conta, só conseguiu permanecer

por ajuda de uma cliente que foi professora de um antigo prefeito e intercedeu por ele. Ele não

tem nenhum controle contábil de seu negócio, o que sabe é que consegue pagar suas contas em

dias. Com o trabalho conseguiu conquistar a casa própria e o estudo particular dos filhos. Entre

seus planos para o futuro está o desejo de ver os filhos formados, mas não pensa em ter um

trabalho formal para si. Quer poder continuar sendo sapateiro e pontua que tem dificuldades

119

por não ter uma boa máquina de costura, que ele não pode comprar com os rendimentos que

tem, que muitas vezes são incertos. Entretanto, diz ser muito contente pelos amigos e clientes

que tem no lugar onde trabalha. Para ele a melhor coisa no seu trabalho é ter a confiança das

pessoas. Como ele mesmo diz: “Chega uma pessoa e deixa aqui um sapato desses, não leva

nenhum papel porque eu não tenho recibo. Deixa o sapato só na palavra, então essa é a coisa

mais importante”.

Próximo ao ponto de seu Raimundo, mais adiante e também no Dois de Julho,

conhecemos dona Valdenice, de 58 anos, que chama atenção por estar praticamente sempre

catando feijão verde, mercadoria com que trabalha desde quando era criança e morava na roça.

A história que a levou a fixar ponto no Dois de Julho é, no mínimo, curiosa. Ela conta que

começou a vender numa feira que existia perto do Orixás Center. Lá era só dia de sábado, o

movimento era fraco e tinha muita gente vendendo a mesma coisa. Falaram pra ela ir pra feira

de São Joaquim, mas ela não tinha barraca e não conseguiu se estabelecer no local. Tentou

então vender seu feijão numa feira na Barra, mas só conseguiu vender 1L, pois a clientela dali

era fiel aos feirantes antigos. Com o pouco dinheiro que ganhou, decidiu pegar o primeiro

ônibus que passou, um Praça da Sé. No caminho pensou que estava fazendo bobagem, pois o

que iria vender na Praça da Sé? Porém ao passar pelo Relógio de São Pedro olhou pro outro

lado e viu gente na rua. Resolveu descer e foi até o Dois de Julho. Assim que botou a guia na

rua veio logo uma cliente. Conta que em meia hora vendeu todo o feijão que tinha levado: era

dinheiro pra ir embora, para comer e pra garantir a comida da filha recém nascida. Depois desse

dia nunca mais saiu do bairro e nele trabalha já há 30 anos. Dona Valdenice conta que com seu

trabalho conquistou a casa própria e nela tem tudo que precisa. Criou seus dois filhos e hoje é

empresária, só vai trabalhar duas vezes na semana (quinta e sexta). Além do feijão verde, vende

também mangalô, andu e pimenta, mercadorias que só ela oferta no bairro. Apesar de gostar

muito do trabalho que realiza, dona Valdenice, que já foi prestadora de serviço para uma

empresa com a carteira assinada, conta que gostaria de ter novamente um emprego formal, mas

sabe que não conseguirá mais por conta da idade e da pouca escolaridade. Se considera uma

boa comerciante e acha que seu trabalho é um lazer, pois nele pode conversar com todo mundo,

além de se divertir.

Saindo do Dois de Julho e caminhando para o início da Avenida Sete, próximo ao

Mosteiro de São Bento encontramos Adriana, que relatou ter começado a trabalhar costurando

em casa com a mãe. Mulher de 39 anos, concluiu o ensino médio e quer voltar a estudar. Disse

ter optado pelo trabalho na rua porque nele consegue ter liberdade para cuidar do filho pequeno,

120

que estuda no centro. De início não quis falar muito conosco, mas depois de um tempo de

conversa e com um sorriso largo no rosto contou que a grande vantagem de trabalhar assim é

que aqui consegue fazer o próprio horário, o que é bastante importante também se

considerarmos que ela mora a 24km do centro, no bairro de Itapuã. Como não ficar aliviada

com a possibilidade de sair mais cedo do trabalho e assim evitar pegar um engarrafamento que

cruza quase toda a cidade no horário de pico? Para Adriana “vender na rua é ter dinheiro à

vista”, e diz que se pudesse mudaria para um lugar onde tivesse mais movimento, pois a rua

onde está agora é muito fraca. Antes de vir pro beco estava trabalhando na Avenida Sete e conta

que alguns clientes já a encontraram, mas outros ainda não sabem para onde ela foi depois que

precisou se mudar devido à política de ordenamento implementada pela nova gestão da

prefeitura. Sua mercadoria é diferenciada, trata-se de confecções de moda praia produzidas por

suas próprias e habilidosas mãos, cujo controle de compras e vendas é feito num caderninho

onde ela anota tudo, separando o dinheiro daquilo que compra para manter o negócio, daquilo

que é de seu uso. Ela pontua que as principais conquistas de seu trabalho são de ter conseguido

arrumar a casa e de poder viver dignamente. Sua relação com as demais mulheres da rua

também é de chamar a atenção. Elas tomam conta das bancas umas das outras e reúnem-se em

conversas enquanto o movimento está fraco. Esta rua onde trabalham, Beco Maria Paz, é uma

das que mais se ouve reclamações por parte dos trabalhadores, pois o movimento de pessoas

transitando por ela é pequeno se comparada com as demais. Contudo, Adriana chama atenção

para algo que considera bom de estar nela, que é o fato de o lugar agora ser coberto, o que lhe

possibilita vender mesmo em dias de chuva, além de ser um lugar para onde ela pode levar seu

filho, que brinca com as outras crianças também filhos(as), netos(as) e sobrinhos(as) de outros

trabalhadores do local. Adriana revelou ainda que se as vendas continuarem fracas depois do

carnaval, desistirá do ponto e procurará um emprego formal próximo de onde mora, pois

pretende também mudar a escola do filho.

Ao contrário de Adriana, que já foi transferida da Av. Sete de Setembro para um

dos becos, entrevistamos também Diana, que ainda está na Avenida aguardando as obras do

local para onde será transferida serem concluídas. Diana tem 45 anos e fala muito de sua filha

pequena. Na primeira vez que nos encontramos, ela foi indicada por outros trabalhadores depois

de uma sequência grande de recusas para responder o questionário básico. Disseram para

procurá-la porque ela gostava muito de falar. Ela está neste ponto há dois anos e disse ter

entrado no ramo por falta de opção, depois de ter sido demitida do antigo emprego, onde atuava

na linha de produção, embalando roupas. Apesar de ter amizade com alguns lojistas próximos

121

de seu ponto, ela contou que não vai mais no banheiro enquanto está trabalhando, deixa pra ir

só quando chega em casa. Segundo ela o motivo para isso é a intensa fiscalização que está

havendo e as ações do rapa. Ela trabalha na rua e expõe suas mercadorias em tela, o que facilita

o seu deslocamento. Na segunda vez em que conversamos o sol estava muito forte e ela estava

trabalhando de sombrinha. Às vezes mostrava dificuldades para segurar a sombrinha ao mesmo

tempo em que atendia, recebia o pagamento e dava a mercadoria para o cliente. Contou que

preferia trabalhar num lugar coberto, onde tivesse um banheiro e disse que às vezes chega a

almoçar em pé. Sobre seu controle contábil, ela tenta anotar tudo que compra e o que vende,

sobretudo porque se não fizer isso sai gastando tudo que ganha no mercado e não pode deixar

a guia vazia. Quanto a seus planos para o futuro, deseja continuar trabalhando por conta própria,

mas quer “ter uma lojinha em um lugar mais aconchegante”. Considera que o bom de trabalhar

na rua é principalmente que tem sempre dinheiro na mão e faz amizades.

Uma história bastante marcante que conhecemos um pouco mais adiante na

Avenida Sete é a de seu Antônio, um homem de 61 anos, que disse nunca ter frequentado a

escola. Desde a primeira vez que conversamos, sua história despertou muita curiosidade,

principalmente porque foi difícil falar com ele, já que a todo momento chegava alguém para ele

atender. Além disso, houve uma cliente que se interessou tanto pela pesquisa, que quase queria

responder o questionário por ele. Nesse primeiro momento a mercadoria com que trabalhava

eram colares, anéis e brincos de aço inox e uma das poucas coisas que ele conseguiu contar foi

que não sabia onde nasceu porque fugiu de casa muito novo. Em nosso segundo encontro ele

vendia adereços para o carnaval: delicadas tiaras de flores confeccionadas por ele mesmo. Nesse

dia o movimento estava mais tranquilo e ele contou com mais calma sua história. Disse ter

fugido no fundo de um caminhão com 10 anos de idade porque era obrigado a trabalhar na roça

desde os 5 anos e apanhava do padrasto. Por isso ficou muito tempo sem documentos, não

lembra o ano certo em que nasceu, nem sua data de aniversário, tampouco de que cidade era.

Começou vendendo bala na rua e foi baleiro até os 20 anos de idade. Seu Antônio prefere

continuar vendendo na Avenida Sete sem ponto fixo, mesmo se tiver que correr do rapa, pois

ele não tem licença e acha que no beco não se vende nada. Segundo ele “cliente nenhum procura

camelô para comprar nada; ele compra quando vê a mercadoria”. Além disso, diz não ter mais

idade e condição de montar e desmontar a barraca todos os dias. Atualmente ele guarda sua

mercadoria numa das lojas da Avenida, pois tem amizade com o dono. Ele não faz controle

contábil de seu negócio e diz só saber o que deve no cartão de crédito. Destaca que sua principal

conquista com esse trabalho foi ter uma casa e ter criado os filhos, inclusive, contou com

122

orgulho que uma de suas filhas hoje está formada e é administradora. Seu Antônio não pensa

em ter um emprego formal, tampouco em sua aposentadoria. Ele não paga INSS e diz não saber

se vai conseguir sair da rua quando tiver que se aposentar, pois para ele “coisa boa é estar aqui

na rua, dá pra conhecer todo mundo, ter amizade”. De dificuldade no trabalho, para ele, só

mesmo o rapa.

Assim como seu Antônio, há outros trabalhadores que não se vêem em outra

atividade na vida. Esse é o caso de Fábio, homem de 36 anos, pai de 3 filhos, que pediu para

sair da empresa onde trabalhava com carteira assinada, abrindo mão de seus direitos

trabalhistas. Desde nosso primeiro contato ele se mostrou bastante receptivo e simpático. Sua

banca, que abriu com o investimento de R$250,00, fica na Praça do Relógio de São Pedro e é

na verdade constituída por um balcão pequeno e uma tela que fica encostada na parede cega de

uma loja (onde ele também guarda gratuitamente a mercadoria no final do dia). É neste lugar

onde pendem brincos, pulseiras e colares de bijuterias e folheados, num ponto muito

movimentado, sempre cercado por mulheres. A sua mercadoria, como ele chama, é “mercadoria

de vaidade”, escolhida pessoalmente por ele junto aos fornecedores. Ele anota tudo que vende

no cartão e na “mão”, tem segurança sobre quanto movimenta por dia. Nas conversas que

tivemos, ele contou que também já foi empresário e deseja voltar a ser, pois está cansado de se

sentir perseguido. Contudo diz que não vai deixar de ter o seu ponto na rua porque é nela onde

está a sua clientela. Fábio pegou gosto pelo trabalho de comerciante desde criança ajudando

seus pais a chamar clientes quando eles trabalhavam em lojas da Barroquinha. Para ele “é o

camelô quem movimenta a rua”, mas vê sua classe muito desunida, o que identifica como sendo

ponto negativo no trabalho que realiza. Acha que sua mercadoria é desvalorizada só porque não

está dentro de uma loja, mesmo que às vezes seja igual ao que é vendido muito mais caro nos

shoppings. Se diz apaixonado pelo que faz e que o comércio já nasceu consigo. Ao final do

nosso último contato fez questão de presentear com pares de brincos.

Também na Praça do Relógio de São Pedro conhecemos seu Francisco, de 56 anos,

que teve uma pequena indústria têxtil na época do governo FHC. Segundo conta, começou a

trabalhar nas ruas depois que a rede de lojas para a qual fornecia matéria prima quebrou e,

conseqüentemente, levou-o a falir. Além disso, ele também foi funcionário de outra empresa

por 11 anos. Conta que começou o atual negócio com apenas R$300 e que utiliza hoje a

experiência que adquiriu quando era empresário. Seu Francisco não parou de atender gente

enquanto conversávamos e para alguns ele até nem deu muito de sua atenção. Veio de Alagoas

e disse não gostar do trabalho como ambulante, nem do ponto. Quer ter seu próprio negócio.

123

“Gosto é de vender”, ele diz. Para ele, sua maior conquista foi a de ter conseguido, com o

trabalho de ambulante, pagar as dívidas adquiridas com a falência de sua pequena indústria. Ele

é também um homem muito organizado, contrata uma contadora para organizar suas finanças,

trabalha com cartões de crédito e está entrando no Simples27. Sabe de cor a porcentagem dos

impostos que paga para a prefeitura, para o Estado e para a União. Além disso, tem controle de

estoque, de tudo que compra e do que vende e quer estabelecer uma loja entre 1 ou 2 anos. Diz

que o trabalho na rua é só pela necessidade, mas não é bom, pois é um trabalho que exige muito

do indivíduo. Segundo ele, tem que acordar cedo, trabalhar de sol a sol, enfrentar intempéries,

desrespeito, opressão, e ainda por cima não é valorizado. Essas são algumas das piores coisas

que destaca no seu trabalho. As melhores coisas são os clientes que faz e a possibilidade de

honrar seus compromissos através do trabalho que realiza.

Próximo de onde trabalham Fábio e Francisco está dona Maria, na rua Portão da

Piedade. Uma senhora forte, de 58 anos que nos recebeu ambas as vezes arrumando os chapéus,

boinas e bonés de sua guia, o que fazia aparentemente sem muita pressa. Seu olhar desconfiado

se desfez quando descobriu que já tínhamos nos visto porque moramos no mesmo bairro. Ela,

que já trabalhou de carteira assinada como ascensorista, tem sua guia nesta mesma rua há 19

anos, “herdada” de uma amiga que não quis o ponto. Com isso pôde realizar o sonho que sempre

teve de trabalhar para si mesma, alimentado desde quando fazia crochê para complementar a

renda da família. Dona Maria contou que quando começou a vender na rua tinha vergonha de

levar marmita e se alimentar na rua, sempre dava um jeito de se esconder. Como o tempo fez

amizades e a vergonha foi passando. Comentou ainda sobre as intrigas que de vez em quando

acontecem entre seus colegas, mas que não afetam o desenvolvimento do trabalho, pois eles

“são como uma família”. Sua principal conquista com este trabalho foi ter formado os filhos e

“ter um cantinho”. Ao ser perguntada sobre seus planos para o futuro e se teria desejo de ter um

emprego formal, dona Maria ameaçou jogar um lenço e disse: “ai de vocês que me chamem de

camelô. Eu sou empresária!”. Para ela esse é o seu trabalho formal e apesar de estar com

problemas de saúde e precisar se afastar da atividade para se cuidar, não sabe se vai conseguir,

pois gosta de passar o dia no lugar onde trabalha. “A gente mora mais aqui do que em casa”,

ela diz.

Seguindo a rua Portão da Piedade encontramos dona Lindinalva, que trabalha na

rua Coqueiros da Piedade. Dona Lindinalva tem 54 anos, 2 filhos, 6 netos e 1 bisneto. Numa

27 De acordo com informações no site do SEBRAE, o Simples Nacional é “um regime de opção facultativa compartilhado de

arrecadação, cobrança e fiscalização de tributos, aplicável às microempresas e empresas de pequeno porte.” (SEBRAE, 2015).

124

primeira impressão parece ser uma senhora bastante mal humorada, o que talvez tenha se devido

ao fato de a termos abordado no momento em que ela tentava tirar um cochilo entre as folhas

de suas ervas medicinais. Bastante desconfiada, perguntou várias vezes sobre o que se tratava

e depois, na medida em que as perguntas eram feitas, foi ficando mais tranquila para nos

responder. Ela está nessa atividade há 48 anos e contou que começou aos 6 anos de idade,

sozinha indo pra feira, pois sua mãe estava cega e debilitada em uma cama, com seus 8 filhos

pra criar e que precisavam se virar. Dona Lindinalva, que não freqüentou a escola e contou

nunca ter ficado doente na vida, chegou na rua Coqueiros da Piedade antes dos shoppings, seus

atuais vizinhos, abrirem as portas. Conta que suas principais conquistas são sua casa e a

“comida que defende todos os dias”. Na idade em que está diz que não conseguirá outro

emprego e tampouco pensa em se aposentar. Vai continuar vendendo na rua enquanto der. Para

ela o melhor do seu trabalho é a hora em que pode ir pra casa descansar, mas gosta de ver as

pessoas passando enquanto lá está.

Perto de onde dona Lindinalva trabalha, um pouco mais acima, está Jeferson, um

jovem de 23 anos que já concluiu o ensino médio e que começou a trabalhar na área desde os

10 anos de idade, com sua mãe. Ele foi desconfiado e respondeu às questões com bastante

objetividade. A mercadoria com que trabalha é do ramo dos eletrônicos, celulares e acessórios,

que ele adquire aqui mesmo em Salvador. Hoje o ponto da família fica sob sua responsabilidade.

Jeferson conta que suas principais conquistas são materiais como carro, motocicleta e casa, mas

também as amizades que fez no ponto. Para ele essa rua é a melhor para se trabalhar, pois é

muito movimentada. Apesar de considerar o trabalho como bom, quer sair da área, mas não

pensa em ter um trabalho formal. Em sua opinião, a principal dificuldade enfrentada por quem

trabalha nessa área é o rapa.

Em outro ponto da Avenida Sete, Dona Marinalva, uma mulher que aparentava seus

50 anos de idade e que usava uma boina colorida, aceitou conversar conosco em uma

oportunidade, mas bem rapidamente. Dentre os poucos comentários que fez nos contou sobre

um esquema de agiotagem e revelou que não pretende mais voltar a trabalhar em casa de

família, mas que está sendo difícil continuar vendendo no beco. Depois disso foi difícil

encontra-la novamente. Seu ponto estava sempre vazio e as colegas diziam que ela estava “por

aí”. Um dia, por acaso, lá estava D. Marinalva com sua boina colorida correndo com várias

capas de almofada nas mãos, de um ponto da Avenida Sete para a transversal onde era seu ponto

licenciado, lugar onde nos encontramos a primeira vez. Foi visível em seus olhos o desespero

para não perder a mercadoria, bem como a solidariedade dos colegas que a ajudavam a carregar

125

suas coisas. Volta e meia é possível avistá-la em diferentes pontos da Avenida Sete de

Setembro, sempre com o olhar muito atento e poucas mercadorias nas mãos. Não conseguimos

mais conversar.

De forma semelhante não conseguimos mais conversar com Joana, uma moça

jovem que trabalhava na Praça Carneiro Ribeiro e estava muito animada com a nova perspectiva

de trabalho, cheia de quitutes preparados por ela para ofertar ao público. Joana acreditava que

agora conseguiria ser empresária, dona do próprio nariz. Talvez ela tenha encontrado outra

oportunidade de trabalho, ou desistiu porque o local onde estava trabalhando é considerado uma

das áreas com o movimento mais fraco.

Os conflitos que presenciamos no desenrolar da atividade agora não são exclusivos

desse tempo. Tem suas raízes na histórica falta de oportunidades de trabalho que engendram

nossa formação econômica. Tem seus momentos de maior calmaria e também de agitação.

Evidenciam a luta permanente pela sobrevivência. Um dia os trabalhadores podem ser retirados,

mas por quanto tempo?

Seu Raimundo, D. Valdenice, Adriana, Diana, S. Antônio, Fábio, Francisco, Maria,

D. Lindinalva, Jeferson, D. Marinalva, Joana e outros tantos trabalhadores da Avenida Sete de

Setembro, transversais e bairro Dois de Julho estão unidos não só pelo trabalho que realizam,

mas também pelo curioso afeto pelo seu trabalho apesar das dificuldades enfrentadas, sobretudo

com a possibilidade de perder o ponto ou a mercadoria em decorrência do novo ordenamento.

Curioso para nós, que a princípio não conseguimos imaginar que exista alguma felicidade em

um trabalho tão duro e precarizado, mas completamente possível para eles, que provavelmente

são muito gratos por levar o pão para casa todos os dias através da realização desse trabalho.

***

As pequenas amostras das histórias dessas pessoas nos colocam diante de uma

diversidade enorme de realidades e situações de informalidade. Permite-nos entrar um pouco

no cotidiano do seu trabalho e perceber suas dificuldades e realizações. Considera-se que essa

narrativa é de grande importância na costura entre a informalidade e o espaço público,

sobretudo quando a ela é agregado o embasamento dos dados estatísticos levantados. As

histórias se constituem como subsídio de realidade, portanto, substância essencial à nossa

leitura e interpretação da dinâmica, realizada através de três propostas de entendimento da

126

atividade do trabalhador de rua, e que serão tratadas mais adiante. Por ora, nos ocuparemos em

relacionar esses relatos aos dados coletados em campo. É importante ressaltar, no entanto, que

as informações serão apresentadas, mas não necessariamente todos os gráficos. Os dados

completos estarão disponíveis para consulta no Apêndice G.

Ainda antes de partirmos para a apresentação da leitura dos dados estatísticos

produzidos em campo consideramos importante reforçar que os mesmos não terão seu sentido

completo se não forem associados às narrativas, pois quando tabulados e transformados em

gráficos tendem a homogeneizar a realidade. Estas informações, portanto, quando associadas

ao desenrolar da vida cotidiana (e laboral) podem nos levar a outro patamar de compreensão da

realidade estudada em sua relação com o espaço.

Dedicou-se o primeiro bloco de perguntas realizadas no questionário básico para

captar um pouco melhor quem são efetivamente os trabalhadores de rua na cidade de Salvador,

no que foi chamado de caracterização geral. Do resultado destas perguntas, uma das primeiras

observações que podem ser feitas é de que nossa amostra foi bastante equilibrada em termos de

gênero, contudo há mais homens (53,3%) do que mulheres (46,7%). No Gráfico 3 podemos

verificar que a faixa etária dos pesquisados demonstra que trata-se de uma população

predominantemente adulta, entre os 31 e 50 anos (54,7%) e a proporção entre as idades do

restante dos entrevistados se equilibra bastante entre aqueles com idade até os 30 anos (23,1%)

e aqueles com idade acima de 51 anos (21,4%).

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 3: Caracterização geral – Pirâmide etária

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

127

Ao analisar os dados quanto ao grau de escolaridade dos trabalhadores, temos que

os casos de seu Antonio e dona Lindinalva que nunca tiveram a oportunidade de estudar, não

se constituem como maioria de nossa amostra. Contudo o grau de escolaridade (Gráfico 4) dos

entrevistados não é muito alto. Boa parte deles, 47,1%, possui até o ensino fundamental

completo e 48,4% freqüentou o ensino médio, ainda que não o tenha concluído.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 4: Caracterização geral – Grau de escolaridade

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

As pessoas pesquisadas em sua maioria possuem um companheiro (51,6%) e têm

filhos (78,2%). São majoritariamente oriundos de Salvador e região metropolitana (51,6%) e

para tentar facilitar a visualização da origem desses trabalhadores, optou-se por relacionar os

municípios apontados com seus respectivos territórios de identidade, apresentados no Gráfico

5 a seguir. Apesar de os entrevistados nascidos da região metropolitana estarem em número

mais expressivo, temos também que 9,7% deles vem de outros estados, onde aparecem de forma

mais representativa os estados da região Nordeste, com destaque para Sergipe. Além disso,

temos também que 34,7% dos trabalhadores vieram do interior da Bahia, mais

representativamente do território de identidade do Portal do Sertão (9,7%), com destaque para

o município de Feira de Santana e do território de identidade do Recôncavo (5,9%), com

destaque para o município de São Felipe.

1,7%

32,9%

12,5%

17,3%

31,1%

0,7% 0,7%3,1%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0% Sem escolaridade

Ensino fundamental incompleto

Ensino fundamental completo

Ensino medio incompleto

Ensino medio completo

Graduaçao incompleto

Graduaçao completo

Está estudando no momento

128

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 5: Caracterização geral - Origem

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Ainda na dimensão territorial, foi perguntado aos trabalhadores sobre o bairro no

qual residem na cidade de Salvador. As respostas a essa pergunta auxiliam-nos a entender a

articulação da atividade, realizada no centro da cidade, com os demais bairros de onde vem os

trabalhadores e, a partir disso, os fluxos que são gerados. Devido à grande diversidade de bairros

apontados pelos entrevistados e pela delimitação não oficial que dispomos28, optou-se por

realizar esta leitura através de um mapa elaborado especificamente para este fim (Mapa 06).

A indicação dos bairros de origem dos trabalhadores de rua foi elaborada utilizando

13 zonas, pensadas como uma subdivisão das macrorregiões Orla, Miolo, Centro e Subúrbio29.

Estas zonas são propostas como uma tentativa de organizar nossa leitura, levando em

consideração a existência de uma certa similaridade nas condições urbanas e sociais de cada

uma dessas áreas, porém não desconhecemos suas diferenciações internas.

28 Embora a cidade de Salvador possua um estudo de delimitação de bairros, o mesmo ainda não foi institucionalizado o que dificulta a definição da localização precisa da área estudada.

29 A proposta da divisão em 13 zonas é uma elaboração de Ângela Franco e Jacopo Spigaroli (FRANCO et al 2012).

1,7%3,8%

0,3%2,1%

0,3%1,0%

0,3%

52,2%

0,7%

9,7%5,9%

1,0%3,1%

4,2%

0,3%0,3%

9,7%

0,3%2,8%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

129

Mapa 6: Localização dos trabalhadores de rua em Salvador/BA

Fonte: Elaboração da autora, 2015.

130

Podemos identificar que, em linhas gerais, o Centro e Itapagipe correspondem a

uma região com forte característica histórica e que hoje concentram estratos populacionais de

rendas média e baixas. O Miolo juntamente com Pirajá/Valéria, concentra populações muito

frequentemente de estratos populacionais mais empobrecidos, redirecionadas para essas

localidades sobretudo por indução das políticas habitacionais datadas da década de 1980. A

Orla corresponde ao local onde há concentração de uma população com maiores rendas. Por

fim, temos o Subúrbio Ferroviário que corresponde a área mais empobrecida e carente de

infraestrutura urbana na cidade.

Uma vez que temos conhecimento das informações anteriormente mencionadas,

podemos identificar que a maioria dos trabalhadores de nossa amostra concentra-se na região

do Centro, sobretudo do Centro I, composto basicamente pelo Centro Histórico e Antigo de

Salvador30 e onde moram cerca de 26% dos entrevistados. Vale ressaltar que a Avenida Sete de

Setembro está inserida justamente no Centro I, o que significa que parte considerável das

pessoas que trabalham nesta rua, habitam em sua proximidade. O local de moradia do restante

dos entrevistados distribui-se na região do Subúrbio e Miolo, com destaque para o Miolo I

((Pernambués/Cabula/Tancredo Neves) e Miolo II (Fazenda Grande/Pau da Lima/Cajazeiras).

Chamamos atenção ainda para o fato de alguns dos trabalhadores residirem em cidades da

Região Metropolitana de Salvador, deslocando-se diariamente para o centro antigo da cidade

de Salvador.

O bairro de origem dos entrevistados também pode ser relacionado com a forma

como eles se deslocam até o local de trabalho. Através dos dados coletados, podemos notar que

a grande maioria desses deslocamentos se dá por meios de transporte motorizados, com

destaque para o transporte coletivo realizado por ônibus, utilizado por 59,3% dos trabalhadores,

como é o caso de Adriana, moradora de Itapuã cuja história foi apresentada na narrativa

apresentada anteriormente. É possível também evidenciar o número de deslocamentos

realizados a pé (23%), praticado principalmente por pessoas que moram no e nas proximidades

do centro (Gráfico 6).

30 O Escritório de Referência do Centro Antigo da Cidade de Salvador em convênio com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO)30 apresenta uma delimitação onde são considerados o Centro Histórico e o Cento Antigo da cidade. O Centro Histórico compreende a área que vai da Rua Chile ao Santo Antônio. Já o Centro Antigo abrange o Centro Histórico, Campo Grande, Politeama, Centro, 2 de Julho, Barris, Tororó, Jardim Baiano, Nazaré, Barbalho,

Lapinha, Comércio, Água de Meninos, Sieiro, Queimadinho, Liberdade e Calçada.

131

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 6: Caracterização da atividade – Como se desloca até o trabalho?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Ao perguntarmos se os trabalhadores estão realizando a atividade por conta própria,

91,7% respondeu que sim e 8,3% disse que não, ou seja, é contratado por alguém. Consideramos

importante também levantar a forma como eles identificam o seu próprio trabalho e qual o

termo que é mais difundido entre eles para essa identificação. Para isso utilizou-se a pergunta:

“como você chama o trabalho que você faz aqui neste lugar?”. Em alguns momentos esta

questão não foi muito bem compreendida, levando-nos a complementá-la realizando questões

do tipo: “quando te perguntam o que você faz ou qual o trabalho que você realiza, o que você

responde?” As respostas a essas questões muitas vezes foram dadas com hesitação e dúvida,

buscando uma confirmação nossa sobre aquilo que era respondido, o que pode ser devido a

discriminação com relação ao trabalho que realizam, a fraca coesão no seu entendimento

enquanto classe, ou a ambas. Analisando o Gráfico 7, constatamos que maioria das pessoas,

34,5%, se disseram ambulantes e 20,9% se disseram autônomos. Curiosamente apenas 15,7%

se vêem como camelô, embora alguns dos que tenham dado essa resposta tenham justificado

não ser ambulantes por possuírem ponto fixo. É importante ressaltar ainda, que esta questão foi

aberta e que as pessoas puderam dar mais de uma resposta para ela.

59,3%

23,0%

8,2%4,4%

1,3% 1,3% 0,6% 0,6% 0,6% 0,6%0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0% Ônibus

A pé

Automóvel próprio

Motocicleta

Bicicleta

Carreto

Ferry boat

Metrô

Mototaxi ou van

Taxi

132

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 7: Caracterização Geral – Como você chama o trabalho que faz aqui neste lugar?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Vimos nas histórias relatadas no início dessa sessão alguns exemplos de motivos

pelos quais as pessoas começam a realizar a atividade trabalhando nas ruas. Para esta pergunta

também foi possível dar mais de uma resposta. 43,3% das pessoas informaram que não

conseguiram encontrar outro emprego, devido a diversos motivos tais como idade,

escolaridade, etc. 21,2% delas declararam também que estão nesse trabalho porque não querem

ter patrão, apontando a flexibilidade que conseguem ter para resolver outras questões da vida

como se ausentar do trabalho algumas horas para pagar contas, chegar um pouco mais tarde

porque precisou deixar o filho na escola, etc. Há ainda os casos de tradição familiar, 11,3%,

onde os trabalhadores que estão na atividade hoje aprenderam com os pais sobre esse oficio,

por acompanhá-los desde a infância e/ou por receber incentivo deles para entrar no ramo.

É importante notar também que 59,5% dos trabalhadores entrevistados já tiveram

um trabalho formal com carteira assinada e os outros 40,5% sempre estiveram na informalidade.

No Gráfico 8 verifica-se que daqueles que já tiveram um trabalho com carteira assinada, 57,6%

atuou na prestação de serviços com cargos em, por exemplo, serviços gerais, serviço doméstico,

vigilante, balconista, atendente e motoboy; 11,6% já trabalhou no ramo do comércio e serviços

e 9,3% na construção civil.

34,5%

20,9%

15,7%

7,4% 7,4%5,5% 5,5%

0,9%2,2%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0% Ambulante

Autonomo(a)

Camelô

Vendedor / Comerciante

Comércio informal

Micro empreendedor /Empeendedor individualOutros

Não respondeu

Artesão

133

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 8: Caracterização Geral – Se já trabalhou de carteira assinada, o que fazia?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Encerrando o último bloco de questões da caracterização geral, mas não do

questionário básico, foi perguntado aos trabalhadores de rua sobre o que acontece com o seu

negócio no caso de haver impedimentos relativos à sua saúde. A maioria deles, 59,9% diz que

caso sofra um acidente ou fique doente, o seu negócio fica fechado até se recuperar, o que pode

implicar em um grande prejuízo no final do mês (Gráfico 9). Essa questão evidencia, portanto,

uma grande fragilidade no que se refere a sua capacidade de se manter a partir desse trabalho,

pois uma vez que a guia fique fechada, não há vendas e, conseqüentemente, não há lucro.

57,6%

11,6%9,3%

4,7% 3,5% 2,9% 2,9% 2,9% 1,7% 1,7% 0,6% 0,6%0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

Prestação de serviços Vendedor / comerciante

Construção civil Profissional do setor industrial

Não respondeu Profissional do setor de transportes

Profissional com cargo de gerência / bancário Outros

Profissional do setor de saúde Profissional do setor de educação

Profissional do setor agrícola Artesão

134

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 9: Caracterização Geral – Quando fica doente (ou quando tem algum acidente ou

problema), o que acontece com o negócio?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

As informações apresentadas ajudam-nos a entender um pouco mais sobre o perfil

dos trabalhadores de que estamos tratando. Podemos relacionar tanto as histórias apresentadas

na narrativa, quanto os dados obtidos com a aplicação do questionário básico. Contudo, para

aprofundarmos nossa leitura sobre as informações levantadas no campo propomos sua

problematização no âmbito de três aspectos estruturantes, postos num formato que acreditamos

ser mais eficaz para identificar e reconhecer as diferentes perspectivas do trabalho de rua.

3.3 Concepção e funcionamento dos circuitos do trabalho de rua em Salvador

O trabalho de rua possui singularidades que perpassam desde a motivação dos

indivíduos que o buscam até as formas como este trabalho é realizado. Através das histórias

que apresentamos na seção anterior, pudemos ver diversos aspectos dessas singularidades,

representados numa pequena amostra de situações que se repetem e que se somam a outras

diversas. A motivação que leva essas pessoas a recorrerem a esta forma de sobrevivência pode

basear-se numa escolha pessoal, mas também ser fruto de poucas oportunidades em outras

áreas, decorrentes de baixa escolaridade, da idade, da busca por uma maior flexibilidade para

cuidar dos filhos, por exemplo. Os trabalhadores buscam seu lugar no espaço através da

comercialização de mercadorias e encontram meios de se estabelecer nos locais que lhes

parecem mais interessantes, onde seu produto é mais visto e cobiçado. Estabelecer-se em

determinados locais, por sua vez, cria nestes pontos tensões que reverberam em outras

59,9%

25,5%

7,6%4,8%

1,0% 0,6% 0,6%0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0% O negócio fica fechado até serecuperarUm membro da família ouconhecido se encarrega do negócioUm outro trabalhador de rua cuidada atividadeNão fica / nunca ficou doente

O dono toma conta do ponto

Outro

Contrata outra pessoa paratrabalhar

135

instâncias da cidade, pois além de movimentar dinheiro, movimentam-se também interesses

pessoais e coletivos e as relações que se estabelecem entre os indivíduos, a sociedade e o espaço.

Como dar conta dos diversos desdobramentos que decorrem desta atividade?

Podemos direcionar o nosso olhar para a atividade do trabalhador de rua de diversas

maneiras e assim realçar determinados aspectos em detrimento de outros, dependendo do

enfoque escolhido. Nosso intuito aqui é explorar ao máximo a relação que este tipo de trabalho

tem com o espaço, abordando o seu lugar na economia, os tensionamentos, conflitos, disputas

e redes de solidariedade que se formam no cotidiano. Para tanto, metodologicamente optou-se

por situar a atividade no âmbito de três propostas de entendimento, concebidas para analisar a

atividade de forma particularizada, mas sem encerrará-las em si próprios, pois consideramos

que as mesmos constituem partes de uma rede ampla de relações interdependentes.

Além disso, vimos também que o lugar onde a atividade se realiza é de interesse do

poder público, sobre o qual incide a competência do planejamento. As ações do planejamento

urbano em Salvador nos períodos analisados podem ser comparadas em parte com o que foi

proposto nesse mesmo sentido no Rio de Janeiro, sobre o que Ribeiro (1986:3) comenta serem

soluções que “expressam a tentativa de subordinar o excepcional às medidas rotineiras de

governo da cidade”. Podemos pressupor que essa sujeição tanto ao capital quanto às imposições

do poder público não se dá de forma pacífica e sem resistências.

Para Hardt e Negri (2005) os pobres estão incluídos na produção social e é preciso

reconhece-los não apenas como vítimas, mas como agentes poderosos na medida em que estão

excluídos apenas em parte do processo, o que se deve principalmente à sua criatividade. Para

os autores há uma “massa cinzenta” por onde os trabalhadores oscilam de maneira precária

entre o emprego e o desemprego. Além disso, nenhuma força de trabalho está fora dos processos

de produção social. As estratégias de sobrevivência dos pobres, como é o caso dos trabalhadores

de rua, revelam uma enorme criatividade e habilidade de sobrevivência, que merecem, portanto,

ser estudadas com a devida profundidade e detalhamento.

Dentre os aspectos apresentados podemos elencar três elementos chave: a

subordinação, os conflitos e as redes de solidariedade estabelecidas entre os trabalhadores. Estes

aspectos, portanto, foram aqueles escolhidos para que possamos olhar a atividade do

trabalhador de rua sob diferentes perspectivas, analisando as relações estabelecidas por cada

um dos circuitos que são criados por cada um dos aspectos citados. Serão traduzidos por

palavras do cotidiano dos trabalhadores aqui incorporadas.

136

3.3.1 Se virar: entre a subordinação e a autonomia

A nossa primeira proposta de entendimento tenta dar conta do “se virar”, que está

relacionado ao próprio exercício do trabalho realizado no cotidiano, onde destacaremos a

relação dialética que se estabelece entre a subordinação e a autonomia do trabalhador.

De acordo com Martinez (2010) a subordinação é inerente à relação de emprego

típica e decorre de um modelo de organização que posicionou o trabalhador como parte da

engrenagem do sistema produtivo. O trabalho é um gênero que contém o emprego, onde o

emprego será sempre uma forma de trabalho, mas o trabalho nem sempre implicará no emprego.

Nesse sentido, Gomes e Gottschalk (2008) colocam que o termo empregado deve ser utilizado

para quem trabalha em virtude de um contrato de trabalho.

Para Bulgueroni (2011) o trabalho representa toda a atividade desempenhada por

um indivíduo com vistas a sua promoção financeira e social. Através do trabalho, é possível

sentir-se inserido em uma classe simplesmente por conta do exercício da atividade e não

necessariamente porque se é tutelado pelo direito do trabalho. Porém, para aplicação do direito

do trabalho é fundamental que exista a subordinação.

No dicionário Michaelis (2008), temos que subordinação é “o ato ou efeito de

subordinar ou subordinar-se”, “ordem estabelecida entre pessoas dependentes entre si, tendo

umas o direito de mandar, e as outras a obrigação de obedecer, mas dentro da lei e da moral”.

É também a “dependência acompanhada do reconhecimento da superioridade de uns em relação

aos outros”, “obediência à lei, aos superiores, à disciplina, à ordem pública” e, por fim,

“dependência ou conexão direta das coisas entre si”.

Segundo Martinez (2010), no trabalho, a subordinação se evidencia quando o

tomador de serviço define o tempo e o modo de execução do que foi contratado. Isso significa

que o tomador de serviço pode determinar tanto o horário de início, de fim e de intervalo da

atividade, quanto a maneira como ela será operacionalizada. Na subordinação, o tomador de

serviços assume a condição de pós pagador, que primeiro recebe o serviço e depois paga por

ele. Tais fatores evidenciam que a subordinação é contrária à autonomia a qual, por sua vez,

indica uma situação na qual o próprio trabalhador estabelece as regras para oferecer o seu

serviço. Podemos compreender então que a subordinação limita à autonomia do prestador do

serviço.

137

A autonomia é uma característica do trabalho por conta própria e sobre o

trabalhador autônomo não incidem proteções e direitos trabalhistas, como é o caso do

trabalhador de rua, cuja atividade não possui proteção jurídica no âmbito do direito do trabalho.

Entretanto, a sua autonomia pode ser questionada, pois ele realiza seu trabalho não

necessariamente de forma independente, uma vez que se submete a diversos tipos de

subordinação. Relembrando-nos do que dissera Milton Santos sobre o circuito inferior da

economia, o trabalho realizado na rua não pode ser considerado como independente, pois ele

compõe as microcadeias de comercialização que permitem à circulação de mercadorias para o

capital. Durães (2013), de forma semelhante, comenta também sobre o que considera como

sendo o “trabalhador gratuito”, que é aquele que promove a realização final da mercadoria da

compra à venda, arcando com os custos de distribuição, armazenamento, troca e consumo.

Essas etapas que são bancadas pelo trabalhador de rua são, portanto, gratuitas para o grande

capital industrial, para quem a atividade é importante por manter o fluxo de escoamento das

mercadorias produzidas pelo seu sistema também no circuito inferior.

Como vimos anteriormente, sobre o lugar no qual a atividade do trabalhador de rua

é observada incidem ações de planejamento do poder público, onde os diversos projetos que

estudamos tentam dar conta justamente da organização da atividade no espaço ocupado por

esses trabalhadores. Estas ações não se limitam apenas ao planejamento urbano, mas à

regulação da atividade de acordo com aquilo que também é interessante para o município. Se

por um lado é socialmente inviável a proibição ou exclusão total da atividade nas ruas, por outro

numa cidade com vocação voltada para os serviços é importante também não limitar as

possibilidades de circulação de mercadorias. Nesse sentido, podemos analisar o caso da

intervenção mais recentemente ocorrida na cidade, onde, além do ordenamento proposto pelos

projetos e da adequação urbanística concebida, há também outras determinações que

subordinam a realização da atividade do trabalhador de rua ao poder público.

Vimos também que os projetos conforme têm sido concebidos e aplicados nem

sempre conseguem dar conta de todas as dimensões para as quais o vivido se expande,

sobretudo quando não levam em consideração alguns aspectos como os presentes nas categorias

de análise que elegemos neste trabalho. É importante ressaltar que essas categorias não são

engessadas, nem necessariamente se constituem como a melhor opção de análise, pois outras

formas de estudo também são possíveis. O método que encontramos é apenas uma forma de

leitura dentre tantas outras possíveis. No âmbito do projeto atual, por exemplo, as

determinações que se dão, além do lugar, também ocorrem na definição dos horários e nas

138

características do espaço onde a atividade pode ser desenvolvida. Podemos notar, portanto, que

a relação estabelecida se dá mais no nível da subordinação da atividade a determinações pré-

estabelecidas pelo planejamento, mas que não conseguem conter situações de autonomia. Este

e demais aspectos que caracterizam a subordinação da atividade é o que propõe-se tratar daqui

em diante, tendo como pressuposto os dados coletados em campo com a aplicação dos

questionários e realização das entrevistas.

Antes de começarmos a apresentar os dados, no entanto, é preciso ter em vista que

diversos níveis de subordinação e autonomia podem ser observados, tanto na relação do que a

prefeitura determina sobre a atividade, quanto, por exemplo, na obtenção de recursos para

iniciar ou mantê-la. Para organizar melhor nossa leitura sobre as informações, propomos

agrupá-las nos seguintes níveis de subordinação e autonomia: a) com relação ao que determina

o planejamento urbano; b) com relação à posição na ocupação (acordos, contratações e

subcontratações); c) com relação ao acesso às mercadorias; e d) com relação à obtenção de

recursos para iniciar ou manter a atividade;

a) Com relação ao que determina o planejamento urbano

Nas narrativas mencionadas anteriormente, nas quais contamos um pouco das

histórias de alguns trabalhadores de rua, podemos identificar alguns elementos de subordinação

quando os trabalhadores, por exemplo, submetem-se a mudanças de ponto, independentemente

de sua vontade e mesmo para locais onde as vendas são fracas, para não terem a mercadoria

apreendida pelo rapa. Em contraponto, verificamos também alguns casos de autonomia como

o de dona Valdenice, que vale-se do produto diferenciado que apenas ela comercializa para

estabelecer os dias e horários em que trabalha. A respeito do novo ordenamento, grande parte

dos dez trabalhadores que foram entrevistados com o questionário de aprofundamento,

disseram não ter tido tempo de avisar aos clientes sobre a mudança de ponto, onde agora

vendem muito menos. Consideram de maneira geral o ordenamento positivo porque lhes parece

necessário liberar a calçada para o pedestre, porém, ressentem-se da queda nas vendas, sobre o

que pondera seu Antônio: “cliente não vai atrás de camelô. Só compra quando passa e vê algo.

Você quer comprar um coador, você esquece que precisa. Mas quando passa e vê, você

compra”. Porém, além de ser necessário ocupar os locais determinados pela prefeitura, os

trabalhadores informaram que pagam também uma taxa para obter a licença e explorar o

139

logradouro público. 73% dos entrevistados possuem licença e aproximadamente 25% não a

possuem. Os outros 2% dos entrevistados não quiseram responder a essa questão.

Perguntamos ainda o motivo pelo qual o ponto é na rua onde eles estão e 43% deles

respondeu que estão nos locais onde trabalham atualmente porque houve uma determinação da

prefeitura, ou seja, não estão nos locais em que optariam por estar. Temos aqui uma aparente

contradição, pois anteriormente havíamos mencionado que 73% dos trabalhadores de rua

disseram possuir licença da prefeitura. Porém, é preciso ter em vista que parte dos trabalhadores

entrevistados já tinha seu ponto nas transversais agora adensadas pela prefeitura e outros, como

os que atuavam na Avenida Sete de Setembro, precisaram ser realocados. Com isso, deixamos

claro que embora 73% dos trabalhadores tenha informado que é licenciado, não

necessariamente responderam estar no local em que estão porque foi determinado pela

prefeitura, pois em momentos anteriores a esse ordenamento teria sido possível escolher entre

os locais disponíveis.

Prosseguindo com a leitura dos dados no que se refere à relação com o que

determina o poder público, temos que aproximadamente 31% dos trabalhadores disseram ter

escolhido o lugar por causa do movimento, localização, por escolha própria por considerar o

lugar como bom e por tradição familiar. Essa possibilidade provavelmente se deu pelo fato de

terem se instalado nos pontos há mais tempo ou pelos lugares escolhidos não serem muito

concorridos (Gráfico 10). Cabe ressaltar que nesta questão foi dada a possibilidade aos

trabalhadores de indicar mais de uma resposta.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 10: Caracterização da Atividade – Por que o seu ponto é nessa rua?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

43,3%

14,9%9,7% 9,0% 7,3%

4,2% 3,1% 2,8% 2,4% 1,7% 1,4% 0,3%0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

Determinado pela prefeitura / foi transferido / onde trabalhava está em reformaPor causa do movimento / localizaçãoFoi o único local disponívelTradição familiarEscolha propria / acha o local bom / pediu para ser transferido para cáPorque tem amigos no localNSOutroRecebeu o ponto de outra pessoaTem proteção contra sol e chuva / faz menos calorAcha que o lugar é mais tranquilo / tem menos concorrencia / os outros locais estavam cheiosFoi autorizado pelo dono do estabelecimento

140

A seguir, no Gráfico 11, podemos notar que aproximadamente 35% das pessoas

entrevistadas trabalham neste ramo entre 5 e 15 anos, o que corresponde exatamente ao mesmo

número de pessoas que disse trabalhar entre 5 e 15 anos na mesma rua. É possível verificar

também que 27% dos trabalhadores com quem conversamos mudou seu ponto para uma rua

nova no período de até 1 ano, o que corresponde ao momento em que a ação do novo

ordenamento ocorreu, e isto indica que o tempo de exercício no lugar, embora crie uma relação

de pertencimento, não significa necessariamente uma estabilidade na localização. Por isso

acreditamos que percentual encontrado provavelmente aumentará se realizarmos a mesma

pesquisa no final das obras da prefeitura, quando outros trabalhadores terão sido deslocados

para os novos pontos. Cabe ainda comentar que 80,8% das pessoas entrevistadas trabalham de

segunda à sábado, 60,5% chega para trabalhar entre 8h e 10h da manhã e 65,8% encerram a

jornada diária entre 17h e 19h. Aproximadamente 11% dos trabalhadores informaram começar

sua jornada antes das 7h da manhã e 7% a encerra após às 20h. Muitos trabalhadores

informaram durante as entrevistas que há uma recomendação da prefeitura para encerrar as

atividades entre 19h e 20h, no máximo.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 11: Caracterização da Atividade – Tempo em que exerce a atividade / tempo que

trabalha na mesma rua

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

10%

4,5%

9,7%

22,1%

12,8%14,2%

17%

6,9%

1,4% 1% 0,3%

27%

4,5%

14,5%

22,5%

12,5%

9%

6,9%

2,1%

0,3% 0,7%0%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

até 1 ano entre 1 e2 anos

entre 2 e5 anos

entre 5 e10 anos

entre 1 0e 15 anos

entre 15e 20 anos

entre 20e 30 anos

entre 30e 40 anos

entre 40e 50 anos

mais de50 anos

NR

Tempo que exerce a atividade Tempo que trabalha na mesma rua

141

Os dados apresentados nos revelam que as determinações do poder público

tensionam a relação entre a autonomia e a subordinação principalmente no que se refere a

localização dos pontos de trabalho, porém essa conexão também se estabelece em outros níveis.

Seguiremos então analisando como se dá essa relação no que se refere à posição dos

trabalhadores em sua ocupação, ou seja, buscando entender se eles são realmente donos de seu

próprio negócio, quais os tipos de acordos, contratações e subcontratações que são mais

frequentes entre eles.

b) Com relação à posição na ocupação (acordos, contratações e subcontratações)

No trabalho de rua há a criação de arranjos e mecanismos de organização próprios.

Forma-se uma cadeia em que a informalidade se reproduz dentro informalidade, ainda que

inspirada nas relações formais, dando espaço para o surgimento de acordos informais de

subordinação. Assim, pode-se verificar que nem todos os pontos de trabalho pertencem aos

trabalhadores entrevistados, pois 53 deles (18,3%) trabalham para outras pessoas. Quando

questionados sobre a relação que têm com este outro indivíduo, 56% desses 53 trabalhadores

respondeu que o patrão é algum familiar ou amigo e 34% são contratados por alguém com quem

não possuem vínculos de amizade ou parentesco. É importante salientar que, embora algumas

pessoas tenham respondido que trabalham para alguém da família, isto não necessariamente

significa que são empregados, com obrigações de pagar aluguel pelo ponto, por exemplo. Em

muitos desses casos, os parentes ou amigos cedem o ponto para que outro trabalhador possa

ocupá-lo por um determinado tempo, sem que isso gere um custo ou uma relação “trabalhista”

entre as partes. Destacamos ainda os casos em que um mesmo trabalhador entrevistado possui

mais de um ponto, o que correspondeu a aproximadamente 5% da nossa amostra.

Com relação aos diferentes arranjos possíveis na realização da atividade do

trabalhador de rua, é preciso considerar ainda as relações que estabelecem para o

armazenamento das mercadorias. Os depósitos são uma estrutura bancada pelo próprio

trabalhador para armazenar sua mercadoria no final do dia. Verificamos durante a aplicação dos

questionários que há praticamente um ou dois depósitos na proximidade de cada uma das

transversais ordenadas recentemente pela prefeitura, ao longo da Avenida Sete e do bairro Dois

de Julho, e que 85,5% dos trabalhadores entrevistados guardam sua mercadoria nesses locais.

Optamos por não mostrar exatamente onde eles se localizam em respeito aos trabalhadores que

142

responderam os questionários com receio de revelar esses lugares. É importante notar, contudo,

que os depósitos são geralmente antigas casas utilizadas inteira ou parcialmente para este fim.

Conforme Bouças (2012) este fato revela novas funções sendo assumidas pelas antigas formas

do Centro, resultantes de uma demanda que confere um novo uso a imóveis aparentemente

abandonados, e que possivelmente tem implicações sobre o valor dos seus aluguéis. É possível

supor que os donos desses antigos imóveis preferem alugá-los como depósitos ao invés de para

moradia, pois existe aí um mercado que gera um rendimento considerável. 59,9% dos

trabalhadores entrevistados realiza apenas duas viagens para o depósito durante o dia, uma para

retirar sua mercadoria e outra para guardá-la. Entretanto, nem sempre é o próprio trabalhador

quem realiza essas viagens. Existem carregadores contratados pelos donos dos depósitos que

colocam e retiram as grandes caixas onde a mercadoria é armazenada dos pontos de trabalho.

80% destes depósitos são coletivos, ou seja, armazenam juntas as mercadorias de diversos

trabalhadores, e apenas 12,8% deles é de uso individual. Há ainda trabalhadores que alugam

quartinhos no centro para ter, além de um depósito privativo, um local de apoio e descanso,

onde é possível alimentar-se e ir ao banheiro, por exemplo.

Destaca-se, por fim, conforme nota-se no Gráfico 12, que 50% dos entrevistados

paga entre R$20 e R$60 aos depósitos por semana. Se hipoteticamente considerarmos que 10

trabalhadores utilizam um mesmo depósito para guardar suas mercadorias e pagam R$40 por

semana, o dono do depósito recebe por mês R$1.600,00 com este tipo de aluguel. Pontuamos

ainda que os 3% dos entrevistados que disseram não saber quanto custa o aluguel do depósito,

são pessoas contratadas e que provavelmente não tem muita relação com o dono do ponto.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 12: Caracterização da Mercadoria – Se paga aluguel no depósito, quanto custa?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

9%

7%

17%

32%

18%

3% 2% 3%5%

3%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35% Guarda de graça

Guarda em casa

até R$20 por semana

entre R$20 e R$40 por semana

entre R$40 e R$60 por semana

entre R$60 e R$80 por semana

entre R$80 e R$100 por semana

mais de R$120 por semana

Não respondeu

Não sabe

143

Podemos constatar através dos dados apresentados que, no que se refere às

mercadorias, existe um nível de subordinação na relação dos trabalhadores com relação à uma

estrutura de suporte essencial para a atividade, que são os depósitos. A carência desse

equipamento favorece a criação de arranjos informais que surgem para suprir essa que é uma

necessidade básica para o funcionamento da atividade. A saída para aqueles trabalhadores que

tentam ter mais autonomia sobre seu trabalho acontece quando eles conseguem, por exemplo,

guardar sua mercadoria com amigos, parentes ou mesmo com lojistas. Porém, a relação dialética

entre a subordinação e a autonomia não se limita a questão do armazenamento, ela está também

presente na forma como as mesmas são adquiridas pelos trabalhadores.

c) Com relação ao acesso às mercadorias

Antes de avançarmos sobre a questão da subordinação e autonomia com relação à

acesso às mercadorias, consideramos importante informar aqui quais os tipos de mercadoria

mais frequentemente encontradas na nossa área de estudo. Na Tabela 8 podemos verificar que

os produtos mais frequentemente comercializados, considerando nossa amostra, são as

confecções e os adereços que somam 27,5% das mercadorias encontradas durante a aplicação

dos questionários. Cabe ressaltar que existe uma grande variação no tipo de mercadoria

comercializada, que corresponde à demanda de cada época do ano. Assim é possível encontrar

adereços de carnaval no período próximo a essa festa, cadernos escolares em período de retorno

às aulas, brinquedos quando se aproxima o dia das crianças, e assim por diante. Embora esta

questão em princípio não indique uma subordinação em si, consideramos que este é o local

mais adequado para sua exibição. Além disso, ela serve como subsídio para compreendermos

a relação de subordinação existente na aquisição, armazenamento e distribuição das

mercadorias. Chamamos atenção para o fato de, nesta questão, o número total de respostas ter

excedido o número de questionários aplicados, pois há trabalhadores que comercializam mais

de um tipo de mercadoria.

144

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Tabela 8: Caracterização da Atividade – Quais produtos comercializa?

Quais produtos comercializa? Nº de respostas %

Confecções 45 13,9%

Adereços (cintos; meias; toucas; chapéus; óculos e bijuteria) 44 13,6%

Frutas; verduras; temperos 25 7,7%

Eletrônicos (celular; antenas; cabos; etc.) 25 7,7%

Bolsas; carteiras; sacolas; mochilas 24 7,4%

Alimentos preparados (acarajé; sanduíches; pipoca;etc.) 22 6,8%

Relógios 19 5,9%

Acessórios e serviços para celular 16 5,0%

Variedades (adesivos; fotos; pega-rato; etc.) 12 3,7%

Água de coco; água; refrigerante 12 3,7%

Sandálias 11 3,4%

Brinquedos 11 3,4%

CD/DVD 10 3,1%

Produtos p/ o lar (peças e fogão; liquidificador; cantoneiras de

vidro; tolhas de mesa; almofada etc.)

9 2,8%

Bomboniere; cigarros 7 2,2%

Cosméticos; cabelo; maquiagem; perfumes 6 1,9%

Outros 5 1,5%

Importados 5 1,5%

Artesanato 5 1,5%

Plantas medicinais 4 1,2%

Serviços de afiações; engraxante 3 0,9%

Material de escritório; escolar 3 0,9%

TOTAL 323 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Relacionado ainda ao circuito de subordinação está a forma como essas mercadorias

chegam até os trabalhadores de rua. As mercadorias são mais frequentemente adquiridas com

distribuidores no atacado, em aproximadamente 44% dos casos. Como pode-se ler no Gráfico

13, 24% dos entrevistados adquirem sua mercadoria no varejo, em muitos casos no próprio

centro da cidade nas lojas dos chineses e coreanos. Há ainda 18% dos trabalhadores que

informaram realizar viagens para adquirir as mercadorias em outros municípios dentro e fora

do estado e 3,7% que fabrica a própria mercadoria. Cabe destacar que existe um tipo de

fornecedor chamado de “atravessador” de mercadorias, que compõe a cadeia de intermediários

entre a produção e distribuição dos produtos. O atravessador é responsável por 8,1% do

fornecimento de mercadorias no centro da cidade e leva os produtos diretamente para a rua

onde o trabalhador está.

145

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 13: Caracterização da Atividade – Com quem você compra os produtos que

comercializa?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Em seguida, na Tabela 9, verifica-se que 64,2% das mercadorias adquiridas tanto

com atravessador, no atacado ou no varejo, é distribuída para os trabalhadores de rua na própria

cidade de Salvador, onde 15,8% destas pode ser comprada no próprio centro da cidade. Se

somarmos esses percentuais ao daquele correspondente as mercadorias que procedem do

interior do estado, temos que 80% das mercadorias que circulam nas ruas da Avenida Sete de

Setembro e bairro Dois de Julho são aquelas que chegam e são distribuídas no próprio estado

da Bahia. Ressalta-se ainda, no que se refere às mercadorias, que 32,6% dos trabalhadores

renova seu estoque diariamente e 37,5% o faz semanalmente ou quinzenalmente. Isto demonstra

como para esse comerciante é difícil fazer estoques, pois trabalha-se no circuito inferior com a

necessidade do dinheiro líquido, utilizando os termos do professor Milton Santos. É preciso

então vender na medida que há procura, e assim reduzir os riscos de prejuízos no final do dia,

o que significa um grau bastante importante de subordinação. Nesta questão também foi

possível que o trabalhador desse mais de uma resposta.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Tabela 9: Caracterização da Atividade – Onde você compra os produtos que comercializa? Onde você compra os produtos que

comercializa?

Nº de

respostas

%

Salvador (BA) 169 48,4%

No próprio centro de Salvador (BA) 55 15,8%

Interior da Bahia (BA) 55 15,8%

São Paulo (SP) 35 10,0%

Ceará (CE) 9 2,6%

Sergipe (SE) 9 2,6%

Pernambuco (PE) 4 1,1%

Não Sabe 4 1,1%

Paraguai 3 0,9%

43,8%

24,4%18,0%

8,1%3,7% 1,7% 0,3%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0% Com distribuidor (atacado)

Varejo

Faz viagens

Alguém leva no local (atravessador)

Fabricação própria

Não sabe

Não respondeu

146

Não respondeu 3 0,9%

Paraíba (PB) 1 0,3%

Santa Catarina (SC) 1 0,3%

Internet 1 0,3%

TOTAL 349 100%

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Pelo exposto podemos notar que a aquisição de mercadorias movimenta outros

níveis na relação entre a subordinação e a autonomia dos trabalhadores. A subordinação, por

exemplo, se evidencia na aquisição de mercadorias com os atravessadores, que levam produtos

pré-determinados ou com a promessa de que serão mais facilmente vendidos para mostrar aos

trabalhadores, reduzindo suas possibilidades de escolha num mercado mais amplo. Já a

autonomia é verificada quando os próprios trabalhadores realizam viagens e escolhem os

produtos que irão comercializar pessoalmente ou quando eles mesmos os fabricam

artesanalmente. Além disso, essa relação entre autonomia e subordinação se evidencia na forma

como eles obtém o recurso inicial para adquirir tais produtos, sobre o que nos debruçaremos a

seguir.

d) Com relação à obtenção de recursos para iniciar ou manter a atividade

A relação entre a subordinação e a autonomia pode ser verificada também através

do tipo de investimento que foi necessário fazer para começar o negócio. No Gráfico 14

verificamos que 57% das pessoas entrevistadas informaram que utilizaram recursos de sua

própria poupança ou não precisaram de recursos para iniciar a atividade como trabalhador de

rua. Não ter precisado de recurso significa que o trabalhador começou vendendo alguma

mercadoria produzida por ele mesmo ou que foi comprada com baixo investimento e, a partir

dela, foi possível juntar dinheiro para aumentar o negócio. Destaca-se ainda que 12% dos

entrevistados adquiriu empréstimo com algum familiar e que outros 12% obtiveram recursos

através de empréstimo bancário ou do microcrédito produtivo. Dentre os 11% que responderam

ter utilizado outros recursos para começar o negócio destaca-se o fato de terem mencionado

recorrer à agiotagem para abrir sua guia. Durante a aplicação dos questionários, por exemplo,

Marinalva, que não conseguimos mais encontrar para conversar com mais profundidade após

uma primeira conversa, informou ter pego um empréstimo de R$400 para abrir sua guia,

147

pagando 24 parcelas de R$20 por dia, o que resultará no final do pagamento em R$80 de lucro

para o agiota.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 14: Caracterização da Atividade – Que tipo de investimento fez para começar no

ramo?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Ainda relacionado ao dinheiro líquido, tentamos nos aproximar do conhecimento

sobre os rendimentos dos trabalhadores com quem conversamos. Houve uma dificuldade

grande para obter informações sobre esses valores, o que supreendentemente não parece ter

sido causado particularmente pela desconfiança com relação a esta questão, mas de realmente

essas pessoas não terem dimensões exatas do quanto lucram por dia. Nos relatos contidos na

narrativa, podemos perceber que poucos trabalhadores têm um controle mais formal sobre seus

rendimentos. Apenas um deles, por exemplo, mencionou contar com serviço de contador. Os

demais ou anotam essas informações em cadernos ou não fazem nenhum tipo de controle

contábil. Assim, perguntamos no questionário básico quanto esses trabalhadores conseguem

obter em termos de vendagem, considerando a diferença entre os valores de um dia bom e um

dia ruim. Podemos observar na Tabela 10, através dos dados obtidos que, no dia bom, 28,7%

dos trabalhadores consegue tirar entre R$51,00 e R$100,00 de vendagem. Os que conseguem

vender mais de R$300 num dia bom somam 16,3% dos entrevistados. Já com relação ao dia

ruim, temos o dado de que 43,6% dos trabalhadores conseguem obter até R$30,00 de vendagem.

A hora de trabalho atual custa R$26,26, considerando o salário mínimo de R$ 788,00 e uma

jornada de 8h de trabalho diárias. Inicialmente podemos pensar que até mesmo os valores

obtidos no dia ruim estão dentro do ganho de um trabalhador formal que recebe um salário

mínimo, porém é preciso considerar que o valor mencionado não é líquido, ou seja, não é lucro

livre para o trabalhador, pois aí não estão embutido os custos da produção, nem os custos fixos

com a reposição da mercadoria, aluguel de depósito, o pagamento ao carregador que transporta

36%

21%

12% 11% 10%6%

3% 2%

0%

10%

20%

30%

40% Poupança própria

Não precisou de recursos

Empréstimo com familiar

Outro

Empréstimo bancário

Não sabe

Indenização

Microcrédito produtivo

148

a mercadoria, a taxa para a prefeitura e até mesmo seu deslocamento até o local de trabalho.

Além disso, quando dizemos até R$30,00, significa que há pessoas que não vendem nada nos

dias ruins. É preciso descontar da média entre o dia bom e o ruim tudo aquilo que é necessário

para subsistência do trabalhador e de seu negócio, ou seja, aquilo que ele gasta para se deslocar

ida e volta até e do local de trabalho; o que ele gasta para alimentar-se e beber água; o que gasta

para adquirir os produtos a vender e a estrutura de suporte; e o que gasta para guardar a

mercadoria.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Tabela 10: Caracterização da Atividade – Quanto você consegue tirar num dia bom / ruim?

Quanto consegue vender num dia bom? Quanto consegue vender num dia ruim?

Nº de

respostas

% Nº de

respostas

%

Não respondeu 31 10,7% Não respondeu 31 10,7%

entre R$10 e R$30 9 3,1% até R$10 80 27,7%

entre R$31 e R$50 19 6,6% entre R$11 e R$30 46 15,9%

entre R$51 e R$100 83 28,7% entre R$31 e R$50 41 14,2%

entre R$101 e R$150 23 8,0% entre R$51 e R$100 50 17,3%

entre R$151 e R$200 46 15,9% entre R$101 e R$150 15 5,2%

entre R$201 e R$300 31 10,7% entre R$151 e R$200 10 3,5%

entre R$301 e R$500 21 7,3% entre R$201 e R$300 11 3,8%

entre R$500 e R$1.000 21 7,3% entre R$301 e R$500 5 1,7%

mais de R$1.000 5 1,7% - - -

TOTAL 289 100,0% TOTAL 289 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Nas situações apresentadas vemos mais uma vez a relação dialética entre a

subordinação e a autonomia no trabalho de rua. O fato de iniciar a atividade através de seus

próprios recursos ou poupança própria revela um grau de autonomia com relação ao seu

trabalho, enquanto a necessidade de obter empréstimos com agências bancárias ou agiotas

revelam sua subordinação. Nesse sentido, é importante chamarmos atenção para o papel do

SEBRAE na disseminação de informações para a obtenção de crédito facilitado, sobretudo a

partir de 2009 com a criação do Microempreendedor Individual (MEI), que são aqueles

empreendedores que trabalham por conta própria, sem ter participação em outra empresa,

149

empregando apenas uma pessoa e recebendo um salário mínimo ou o piso de uma categoria. Os

trabalhadores que se tornam microempreendedores individuais são considerados formalizados

e podem se inscrever no INSS pagando taxas mais baixas que as vigentes, e dessa forma, passam

a acessar aos benefícios da Previdência. Contudo, a forma como os trabalhadores realizam o

controle contábil de suas mercadorias revela que poucos conseguem organizar suas finanças, o

que fragiliza a possibilidade do seu negócio crescer e prosperar.

De maneira geral, podemos considerar que os dados apresentados nesta proposta de

entendimento do “se virar” revelam o conjunto de redes e articulações que são movimentadas

no centro da cidade a partir da atividade do trabalho de rua, isto quando nos detemos apenas

aos aspectos relacionados à sua subordinação e autonomia, seja ao grande capital industrial,

seja às determinações do poder público. Continuando nosso objetivo de desvendar a relação

desta atividade com o espaço, seguiremos agora direcionando o nosso olhar para os conflitos

que se dão na relação entre os próprios trabalhadores de rua, entre eles e os lojistas, os

transeuntes, o poder público e suas entidades de representação. Nos deteremos então a essas

questões na apresentação do próximo eixo de análise da atividade.

3.3.2 A correria e o rapa: conflitos e disputas

A relação entre o trabalho de rua e o espaço público gera tensionamentos entre

interesses contraditórios se pensarmos apenas no antagonismo existente entre o ato de liberar

os passeios para os pedestres e o de permitir a livre comercialização de mercadorias neste

mesmo lugar. Vemos, de um lado, um ente que possui o poder de decisão e determinação sobre

a atividade, e de outro, aqueles que se submetem às determinações daqueles, numa relação

predominantemente em que uns mandam e aos outros cabe obedecer, sendo observados poucos

casos onde são tentados acordos comuns entre as partes, se tivermos como referência as

intervenções propostas para a atividade apresentadas no capítulo anterior, por exemplo. Essa

subordinação de uns com relação aos outros, como podemos supor, nem sempre se dá de forma

pacífica. Frequentemente podemos associar os conflitos e disputas que aí emergem ao rapa,

termo usado pelos trabalhadores para se referir aos fiscais da prefeitura que podem apreender

suas mercadorias, sobretudo daqueles que não são licenciados. Contudo, as situações

evidenciadas neste eixo não serão referentes apenas às ações do poder público, mas as relações

de embate e tensionamento que se revelam também em outas situações exploradas a seguir.

150

Olhando um pouco mais para o passado, sobretudo com a apresentação do papel

das entidades de representação dos interesses dos trabalhadores de rua que tivemos, foi possível

verificar que houve um momento crítico no período de 1997 à 2004, onde parecem ter ocorrido

casos de violência contra o segmento. As propostas de intervenção daquela época parecem não

ter sido bem aceitas nem pelas entidades, nem pelos próprios trabalhadores, porém foram

impostas sem muito diálogo. Segundo os relatos que obtivemos, o confronto com o rapa naquele

período era bastante frequente, assim como a presença policial nas ruas no sentido de coibi-los.

Sobre este aspecto, podemos nos remeter também às narrativas anteriormente apresentadas,

onde verificamos alguns exemplos dos conflitos ocorridos naquele período, como é o caso de

Seu Raimundo que teve suas mercadorias jogadas na rua e que só não perdeu tudo por conhecer

alguém influente.

Ao realizarmos as entrevistas do questionário de aprofundamento perguntamos aos

trabalhadores sobre os momentos críticos que já vivenciaram e sobre o que eles pensam que

está acontecendo hoje com relação às novas propostas de ordenamento. As respostas dos

trabalhadores não revelam um consenso na aceitação das propostas, evidenciando, inclusive,

dificuldades no entendimento das propostas pela linguagem que a prefeitura utiliza. Há, entre

os trabalhadores, aqueles que acreditam que haverá benefícios reais com o novo projeto e

aqueles que não as vêem como algo bom para ninguém. Alguns citaram que já existem

problemas com o que foi implantado, como o calor que foi intensificado pela cobertura em

policarbonato, apesar de agora terem alguma proteção contra a chuva (Figuras 23 e 24). Esta

proteção, contudo, não é total, devido a ausência de calhas nas laterais dos telhados, o que é

resolvido com diversos tipos de improvisos pelos trabalhadores.

Figura 23: Improvisos para proteger-se da chuva

e do sol na Rua da Forca

Fonte: Foto da autora, 2014.

Figura 24: Improvisos para proteger-se da chuva e do sol

na Rua Coqueiros da Piedade

Fonte: Foto da autora, 2014.

151

É importante salientar que, apesar de termos visto na seção anterior que 73% dos

trabalhadores de rua possuem licença, isso não significa que não estejam submetidos à ação do

rapa. Isto ocorre porque a licença, além de ser para o ponto, é também para o tipo de mercadoria

que é comercializada. A mercadoria, por sua vez, também como vimos, sofre uma variação

sazonal na medida em que os interesses pelos produtos variam no tempo. Assim, por vezes

determinados produtos considerados ilegais podem se tornar populares num determinado

período do ano e os trabalhadores os adquirem para aumentar suas vendas, ficando desta forma

também sujeitos à ação do rapa. Além disso, pudemos sentir durante a aplicação dos

questionários uma forte resistência ao ordenamento da Prefeitura pelo fato de nos pontos

propostos pelo planejamento as vendas serem mais fracas. Isto faz com que muitos

trabalhadores, embora licenciados para pontos nas transversais, desloquem-se para seus locais

de origem, localizados principalmente na Avenida Sete de Setembro, onde também podem ter

sua mercadoria apreendida.

Os motivos apontados pelos trabalhadores para os casos de ter ou não ter a licença,

por sua vez, revelam um pouco das tensões que existem hoje e estão presentes nos Gráficos 15

e 16. 28,6% entre os que possuem licença disseram que a tiraram porque é algo obrigatório,

sem o qual não se pode trabalhar. Motivos como “porque é mais seguro”, “porque pode ficar

em paz, despreocupado”, “para estar legal / ter respeito” e “para não perder mercadoria” somam

28,7% das respostas e deixam evidente a sujeição dos trabalhadores à necessidade da licença,

que é tirada com o intuito de assegurar o seu direito de trabalhar. Entre os que não possuem

licença, verifica-se que 38,9% já deu entrada e possui protocolo, aguarda apenas pela

oficialização de sua autorização ou que ainda não deu, mas deseja dar entrada no pedido de

licença, ou seja, verifica-se que há uma grande pressão para sua formalização. Há ainda 13,9%

que disseram nunca ter conseguido tirar a licença ou pelo tipo de mercadoria que comercializa,

ou pela indisponibilidade do local onde desejam ficar. Os que rejeitam o licenciamento seja

pela falta de interesse, por vender mercadoria não autorizada, porque acham que não adianta

em nada, não querem trabalhar nos becos, não tem tempo de tirar a licença e outros motivos

somam 29,3% das respostas dadas.

152

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 15: Caracterização da Mercadoria – Porque tem licença

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 16: Caracterização da Mercadoria – Porque não tem licença

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

No âmbito do novo ordenamento, sobre o qual não podemos nos aprofundar por

estar acontecendo concomitantemente com a realização da pesquisa de campo, podemos

evidenciar algumas questões relativas aos conflitos e disputas pelo espaço. Um exemplo é o

caso ocorrido no bairro Dois de Julho em janeiro de 2014, conforme relatado pelo presidente

da Assindivan quando entrevistado, em que ele conta ter havido a retirada de todos os

trabalhadores de rua de seus pontos de trabalho independentemente da posse da licença, o que

foi revertido posteriormente. Neste sentido, podemos destacar também, entre as narrativas

anteriormente apresentadas, o caso de uma trabalhadora que informou se privar de ir ao

28,6%

16,1%

8,8% 8,8% 8,3% 6,9% 6,5% 6,5%3,2% 3,2% 2,3% 0,9%

0,0%

50,0%

Porque precisa ter, é obrigatório / Senão não pode trabalharSem respostaPorque ajuda a organizar / precisa ter controlePorque é mais seguroOutros

36,1%

13,9%

9,7% 8,3%5,6% 5,6% 4,2% 4,2% 2,8% 2,8% 2,8% 2,8% 1,4%

0,0%

20,0%

40,0%

Tem protocolo, deu entrada, está aguardando Nunca conseguiuOutro Sem respostaNão tem interesse Não, senão tem que ficar no becoVende produto que não é licenciado Perdeu a licençaNão, mas tem autorização da loja Falta tempoNão, mas quer ter Não sabeNão, porque acha que não ajuda em nada

153

banheiro por medo de haver uma ação do rapa no momento que deixar sua mercadoria para

alguém olhar, embora tenha protocolo e esteja aguardando sua licença chegar junto com a

reforma do local para onde será relocada. Esses são casos de trabalhadores que teoricamente

terão seus pontos de trabalho preservados com a entrega e completa implantação do novo

projeto. No dia 24.09.2014, ao caminhar pela Avenida Sete, a pesquisadora presenciou uma

ação do rapa nas proximidades do Relógio de São Pedro. Ao tentar saber dos trabalhadores o

que ocorreu, foi relatado que pessoas se recusaram a deixar suas mercadorias serem apreendidas

e apedrejaram o carro da fiscalização e as viaturas da guarda municipal. De acordo com notícia

divulgada no site do G1 Bahia sobre o fato ocorrido neste dia, lideranças das associações

informaram tratar-se de um conflito com pessoas que não possuem licença para trabalhar e que

não fazem parte do reordenamento. Os registros da ação constam nas Figuras 25 e 26 a seguir.

Figura 25: Ação do rapa com presença policial em 24.09.2014

Fonte: Foto da autora, 2014.

154

Figura 26: Ação do rapa com presença policial em 24.09.2014

Fonte: Foto da autora, 2014.

Durante a reforma das transversais que viriam a abrigar os trabalhadores

licenciados, houve várias situações de deslocamento dos mesmos para áreas provisórias, o que

causou alguns transtornos, tanto para o segmento, pois os trabalhadores não tiveram como

informar sua clientela sobre o lugar onde estariam, como para os transeuntes, pois os passeios

ficaram ainda mais obstruídos. Nas Figuras 27 a 32 temos o registro dessas situações, onde

podemos notar o grande volume de pessoas transitando em locais estreitados ou em reforma.

Figura 27: Reforma da rua Portão da Piedade.

Fonte: Foto da autora, 2014.

Figura 28: Reforma da Rua do Cabeça.

Fonte: Foto da autora, 2013.

155

Figura 29: Trabalhadores provisoriamente

deslocados para a Praça da Piedade.

Fonte: Foto da autora, 2013.

Figura 30: Trabalhadores provisoriamente deslocados

para Avenida Joana Angélica.

Fonte: Foto da autora, 2014.

Figura 31: Trabalhadores provisoriamente deslocados

para a lateral do Mosteiro de São Bento.

Fonte: Foto da autora, 2013.

Figura 32: Trabalhadores provisoriamente

deslocados para canteiro central da Av. Joana

Angélica

Fonte: Foto da autora, 2013.

Uma questão que nos interessou também foi o que teria sido feito daqueles que não

conseguiram obter a licença? As lideranças das entidades dos trabalhadores de rua que

entrevistamos informaram que esses companheiros foram encaminhados para a SEMOP, para

que regularizassem sua situação legal junto à prefeitura, o que não significa que poderão

continuar comercializando na região da Avenida Sete e do bairro Dois de Julho. De acordo com

o coordenador de licenciamento e fiscalização da SEMOP, o critério para definir quem

continuaria atuando nas novas áreas destinadas aos trabalhadores de rua na Avenida Sete, os

chamados “becos”, foi estabelecido ao priorizar aqueles que já possuíam a licença nessa área e

tinham mais tempo na atividade. Os trabalhadores que continuaram irregulares, por sua vez,

não podem continuar na referida área, que tem sido fiscalizada todos os dias, das 8h00 às 19h00,

de acordo com a prefeitura. Aqueles que foram contemplados a continuar na região da Avenida

Sete foram deslocados para os becos de acordo com a proximidade destes com relação ao local

156

onde tinham seu ponto na Avenida Sete. No caso do bairro Dois de Julho, todos os trabalhadores

de rua, com exceção do mercado das flores, serão deslocados para o novo mercado na Praça

General Inocêncio Galvão, quando as obras forem concluídas.

O coordenador de licenciamento e fiscalização informou ainda que há uma média

entre 980 e 1.600 trabalhadores na região da Avenida Sete, onde também realizamos nossa

contagem, número que não pode ser precisado devido ao fato de cotidianamente aparecerem

novas pessoas trabalhando nas ruas. O cadastramento atualizado dos trabalhadores de rua que

atuam nessa área, entretanto, está sendo atualizado concomitantemente com a nova ação de

ordenamento, motivo pelo qual não pudemos dispor de informações mais precisas. O principal

problema enfrentado pela prefeitura na questão do trabalhador de rua, segundo o coordenador,

é justamente o excesso de trabalhadores em locais indevidos. Segundo ele, a maioria das

pessoas quer trabalhar nos locais mais centrais e isso dificulta o trabalho da prefeitura, pois não

há como alocar todos no mesmo lugar. Para solucionar a questão está-se pensando em criar

áreas fora do centro para que essas pessoas possam trabalhar. Há propostas de deslocar

trabalhadores para locais como: Iguatemi, Calçada, parte baixa do Bonfim e Comércio, nas

proximidades do porto que está sendo reformado.

Buscamos saber ainda o entendimento dos próprios trabalhadores entrevistados

com relação aos que ficaram de fora do projeto de ordenamento. Alguns informaram que

aqueles que não receberam licença não são de Salvador, “não são camelô”, segundo a fala de

uma das entrevistadas, o que nos revela um conflito interno da classe e uma disputa pelo lugar,

onde aqueles que são da cidade reivindicam o seu direito de permanência baseado em sua

naturalidade e não na sua condição de pertencimento a uma mesma classe. Em contraponto há

também aqueles que acreditam que todos devem poder trabalhar, já que não há espaço no

mercado formal para todos, desde que não lidem com mercadorias ilegais. Nesse sentido

podemos destacar a fala de um dos trabalhadores entrevistados: “um homem trabalhando não é

problema, é solução porque ele consegue dar educação pros filhos, saúde e uma habitação

melhor”. Uma outra trabalhadora também coloca que quem optou por ficar na “correria”, ou

seja, submetendo-se ao risco de ter a mercadoria apreendida pelo rapa, não tira a licença porque

não adianta ficar legal e não ter lucro. Ela, que está numa nova área ordenada, relata que uma

colega desistiu do ponto porque “aqui não vendia nada. Tem pessoas que moram de aluguel,

que tem conta pra pagar. Não dá pra ficar parado”. Tais relatos trazem à tona os conflitos entre

a atividade e o uso do espaço público. Nas Figuras 33 e 34 podemos notar a permanência do

exercício da atividade em diversos trechos da Avenida Sete de Setembro.

157

Figura 33: Trabalhadores que permanecem ao

longo da Avenida Sete. Fonte: Foto da autora, 2014.

Figura 34: Trabalhadores que permanecem ao longo da

Avenida Sete.

Fonte: Foto da autora, 2014.

Como a relação entre o exercício da atividade e o uso do espaço público pelos

transeuntes é percebida por esses trabalhadores? Para tentar responder esta questão

perguntamos aos trabalhadores de rua entrevistados através do questionário de aprofundamento,

o que eles pensavam com relação as seguintes afirmações veiculadas em jornais: “Comércio

desordenado invade calçadas”; “Pedestre é expulso das calçadas em Salvador por todo tipo de

tranqueira” e “Excesso de camelô na Calçada causa acidente e fere idosa”31. Três dos dez

trabalhadores entrevistados responderam que nunca viu pessoas se machucarem por causa da

atividade e acreditam tratar-se de perseguição, pois as notícias pegam casos isolados e destacam

como regra. Por outro lado, sete trabalhadores reconhecem que a situação acontece, mas

discordam quanto a justificativa. Dois deles já viram pessoas caindo e se machucando, porém

um acredita que isso é devido a não haver espaço para andar na calçada, e outro atribui o fato à

própria execução do projeto, onde há diferença entre os níveis do piso assentado. Os cinco

trabalhadores restantes se dividem entre três que acreditam que este tipo de problema é causado

pelo “outro tipo de camelô”, que coloca a mercadoria exposta no chão de qualquer maneira,

sem pensar no pedestre; e dois que acham que há exagero nas notícias, onde é preciso ponderar

no porquê deles estarem realizando esta atividade, para muitos única opção de trabalho possível.

Algumas pessoas nos falaram ainda sobre comerciantes que vêm de outros lugares da cidade

para vender mercadorias utilizando automóveis. Nas Figuras 35 a 38 temos registros de vendas

realizadas em automóveis nos anos de 2012 e 2014, porém não sabemos quem são aqueles

comerciantes. É possível notar nessas respostas que a maioria dos trabalhadores reconhece que

sua atividade interfere diretamente no uso do espaço público, porém os problemas são

31 Matérias publicadas pelo jornal Tribuna da Bahia entre os anos de 2010 e 2013, período antecedente às ações de ordenamento

iniciadas em 2013 pela recém empossada gestão da prefeitura.

158

colocados em outras instâncias, contrapondo os trabalhadores licenciados e antigos contra os

não licenciados, novos e “outros”.

Figura 35: Comercialização de mercadorias

realizada com o uso de automóveis.

Fonte: Foto da autora, 2012.

Figura 36: Comercialização de mercadorias realizada

com o uso de automóveis.

Fonte: Foto da autora, 2014.

Figura 37: Comercialização de mercadorias realizada

com o uso de automóveis.

Fonte: Foto da autora, 2014.

Figura 38: Comercialização de mercadorias

realizada com o uso de automóveis.

Fonte: Foto da autora, 2014.

Podemos associar as questões levantadas com uma pergunta do questionário básico

sobre a relação entre o entrevistado e os outros trabalhadores de rua, onde 95,8% dos

entrevistados disse que esta relação é boa. A contradição que esse percentual de respostas

coloca pode ser desfeita se considerarmos que, para eles, os outros a quem nos referíamos eram

os seus semelhantes, ou seja, aqueles licenciados e antigos e não aquele “outro tipo de camelô”.

Entre aqueles que disseram ter uma relação ruim, foram apontadas como justificativa a falta de

união da classe e a existência de intrigas.

159

Buscamos também evidenciar os conflitos entre os trabalhadores de rua e os lojistas,

questionando os 289 trabalhadores entrevistados sobre esta relação, onde 92% disseram ter uma

relação boa e 4,5% não pode comentar sobre o assunto por trabalhar em locais onde não há

lojas próximas. Assim, apenas 3,5% comentou ter uma relação ruim com os donos das lojas, o

que contradiz uma ideia frequentemente propagada de que há um grande conflito entre o

comércio formal e a atividade dos trabalhadores de rua nas proximidades dos estabelecimentos.

Por fim, no que se refere aos conflitos e disputas, podemos destacar ainda a relação

entre os trabalhadores de rua e suas entidades de representação, em que 85,5% dos entrevistados

disseram não fazer parte de nenhuma associação ou sindicato, contra apenas 14,5% que

disseram estar associado. Desses que disseram estar associados, observa-se no Gráfico 17, que

24,4% não souberam informar qual o nome da associação ou sindicato de que faz parte. 22%

se referiu ao Sindicato de Ambulantes e Feirantes e 14,6% mencionaram a Assindivan e a

Assinformal. O fato de muitos trabalhadores não saberem informar de qual associação fazem

parte pode ter a ver com o fato de muitas das associações terem sido criadas recentemente e

atuarem mais próximas da prefeitura do que efetivamente de sua classe. Assim, os trabalhadores

podem se sentir pertencentes a essas associações, no sentido de tê-las com algum nível de

referência no que se refere à sua competência de representar os direitos comuns da categoria,

mas sem estar verdadeiramente associado ou fazer parte da associação.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 17: Caracterização da Mercadoria – De qual associação/sindicato faz parte?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

24,4%

22,0%

14,6%

12,2%

7,3%

4,9%4,9%

2,4%2,4%2,4%2,4%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0% Não soube especificar o sindicato ou associaçãode que faz parteSindicato dos ambulantes

Não respondeu

Assindivan

Associação dos vendedores ambulantes

Associação dos moradores do Dois de Julho

Associação dos feirantes

Assinformal

Associação de peixeiros

Asinderp

Movimento populacional dos moradores de rua

160

Entre os motivos para não fazer parte das entidades destaca-se: a falta de interesse

dos trabalhadores, apontada por 12,5% deles; a baixa credibilidade que há no trabalho das

associações mencionadas por 11,3% dos entrevistados; e a falta de conhecimento sobre o

trabalho das associações, apontada por 10,9% dos entrevistados (Gráfico 18). Podemos inferir

que tanto o baixo interesse pelas associações quanto o baixo reconhecimento delas enquanto

representantes dos interesses globais da categoria contribuem para fragilizar os trabalhadores

de rua enquanto classe e provavelmente diminuem seu poder de barganha frente às

determinações do poder público sobre seu trabalho e seus direitos.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 18: Caracterização da Atividade – Se não faz parte de nenhuma associação, qual o

motivo?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Perguntamos aos trabalhadores quais as suas três principais dificuldades com

relação ao seu trabalho (Tabela 11) e verificamos que sobressai o conflito com o rapa. Surgem

também questões como a precariedade dos recursos para realização do trabalho, desgaste físico

e o sentimento de desvalorização. São apontadas ainda questões sobre a falta ou precariedade

da infraestrutura de suporte à atividade, sobretudo no que se refere a proteção às intempéries e

a inexistência de banheiros públicos. A dificuldade em seu trabalho no que se refere à

organização da produção também é mencionada quando o trabalhador diz que não consegue

25,0%

12,5%11,3%

10,9%10,5%

6,5%5,2%

4,8%3,6%

3,2%2,8%

2,0%1,6%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0% Não respondeu

Não se interessa

Acha que as associações são fracas / nãoacredita nas associaçõesNão conhece / não tem associação

Outro

Não sabe o motivo

Ainda não procurou / não foi procurado pornenhuma entidadeNão gosta / não quer

Não vê melhora / utilidade

Não tem tempo

Já faz parte, mas saiu. Não sabe mais comoestáÉ novato / não sabe se continuará na atividade

Não tem dinheiro

161

repor a mercadoria na medida em que ela sai, porque não tem capital para produzir a mercadoria

nos momentos em que tem tempo sobrando para se dedicar ao seu negócio.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Tabela 11: Questionário de aprofundamento – Quais as três coisas que gosta no trabalho /

quais as três dificuldades / quais os planos para o futuro

Questionário Quais as três dificuldades?

1 Equipamento precário

Ter um depósito/quartinho próprio

Guardam drogas na cobertura da barraca

2 Falta de respeito com o trabalhador

Grande desgaste físico

Falta de apoio dos gestores

3 Não consegue repor à medida que a mercadoria sai quando o movimento está forte

Quando tem tempo sobrando, não tem capital para produzir mercadoria

O ponto não é bom

4 O rapa

-

-

5 Classe desunida

Não há estudos do que precisa melhorar para a categoria, só do que precisa

melhorar para a cidade

Mercadoria é desvalorizada só por estar na rua

6 Relacionamento entre os colegas, mas faz parte. "mora" mais na rua do que em casa.

-

-

7 Sol e chuva

Falta de banheiro

O rapa

8 Chuva

-

-

9 Nenhum problema

-

-

10 Cobertura mal feita

O rapa

-

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de fevereiro e março de 2015.

Se por um lado temos um aspecto que evidencia os conflitos e disputas, onde pesam

as questões contraditórias e os tensionamentos estabelecidos em sua relação com o espaço, com

162

o poder público, com os transeuntes, lojistas ou entre os próprios trabalhadores, por outro há

um oposto que os complementa, ao qual nos deteremos a seguir.

3.3.3 A pedra: circuitos de cooperação, pertencimento e solidariedade

Como o próprio nome indica, neste eixo pretende-se explorar os aspectos mais

subjetivos que compõem a atividade, ou seja, aqueles que estão ligados ao sentimento das

pessoas com relação ao trabalho que desenvolvem, ao lugar onde ele acontece e com aqueles

que com ele estão envolvidos. “A pedra” é um termo que serve para designar a relação de um

trabalhador com o lugar, ou a rua, no qual se estabelece. No caso das entidades que representam

os interesses coletivos dos trabalhadores de rua, por exemplo, se anteriormente tínhamos

chamado a atenção apenas para o seu enfraquecimento, agora podemos também perceber o fato

de, mesmo com sua imagem desgastada, ajudarem-se solidariamente nos processos de

negociação, defendendo os interesses coletivos, ou pelo menos aqueles menos nocivos para o

segmento como um todo. Assim, nesta seção trataremos de aspectos dos circuitos de

cooperação, pertencimento e solidariedade envolvidos na realização da atividade.

Nas Figuras 39 a 42 temos exemplos de uma situação cotidiana entre aqueles que

frequentam, trabalham ou moram na Avenida Sete e seu entorno: a presença dos carregadores

contratados pelos donos dos depósitos, pessoas que usam sua força para empurrar pesados

carrinhos com as mercadorias dos trabalhadores de rua, por repetidas vezes durante o dia. Essa

situação é uma pelas quais se revela a complexidade do sistema que estamos estudando, já que

também está relacionada com uma das escalas de subordinação anteriormente apresentadas,

mas também nos remete às cadeias de reprodução da informalidade que ocorrem dentro da

própria informalidade, onde diferentes circuitos de cooperação32 se evidenciam e operam. Os

carregadores se configuram, portanto, como um elo importante entre os trabalhadores de rua e

os donos dos depósitos, realizando a tarefa diária de armazenar e entregar, em cada ponto, as

mercadorias que serão comercializadas.

Se por um lado há trabalhadores que precisam pagar aos donos dos depósitos, e

estes por sua vez remuneram os carregadores, numa situação em que a subordinação e

a cooperação se relacionam por outro lado temos também importantes relações de solidariedade

32 Azambuja (2009), fundamentando-se em Paul Singer, define a cooperação como a soma de esforços individuais coordenados

em torno de um objetivo comum.

163

estabelecidas com alguns lojistas, que guardam mercadorias gratuitamente, como é o caso de

Fábio que apresentamos na narrativa, dos peixeiros da Rua do Cabeça, que armazenam aquilo

que não conseguem vender num açougue existente na mesma rua, e de outros tantos

trabalhadores com quem conversamos.

Figura 39: Carregador levando mercadoria para o

ponto de um trabalhador.

Fonte: Foto da autora, 2012.

Figura 40: Trabalhadora montando sua guia no início

da jornada de trabalho.

Fonte: Foto da autora, 2012.

Figura 41: Carregadores levando mercadoria na

Rua do Cabeça.

Fonte: Foto da autora, 2012.

Figura 42: Carregador na Rua Carlos Gomes.

Fonte: Foto da autora, 2012.

Não podemos deixar de mencionar a percepção dos trabalhadores sobre a

contrapartida de suporte que a cidade dá para a realização deles, até mesmo para

compreendermos em que medida a ausência de determinadas estruturas nos projetos elaborados

pela prefeitura afetam a atividade. Para isso, perguntamos como essas pessoas costumam se

alimentar e beber água no dia a dia. Ao somar os percentuais de resposta daqueles que disseram

trazer o alimento de casa ao daqueles que compram quentinha, temos que 50,9% dos

164

trabalhadores se alimentam no próprio local de trabalho. Dona Maria, por exemplo, comentou

que tinha vergonha de almoçar na rua logo quando começou a desempenhar a atividade, mas à

medida em que fez amizades, se sentiu familiarizada com os outros colegas e não precisou mais

se esconder para se alimentar. Isso significa uma relação forte de pertencimento, pois é apenas

a partir do momento em que se identifica com os demais que estão em sua mesma situação, que

é pública, que ela consegue aderir a esse comportamento. Há ainda 39,8% dos entrevistados

que disse se alimentar em restaurante próximo do local onde trabalha e 8% que, por morar no

centro antigo da cidade, almoça em sua própria casa (Gráfico 19). Não podemos deixar de

mencionar ainda a cadeia de negócios que são movimentadas no centro em função da atividade

estudada, como podemos observar no caso dos diversos restaurantes existentes no centro da

cidade e que servem de apoio à atividade, pois 59,2% dos trabalhadores de rua compra e

alimenta-se nesses locais.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 19: Caracterização da Atividade – Como você bebe água e se alimenta?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Perguntamos também como essas pessoas fazem para ir ao banheiro durante o dia

enquanto estão trabalhando e a grande maioria, 94,5% informou que utiliza banheiros de

estabelecimentos próximos ao local onde trabalham. Esses estabelecimentos pertencem ao

comércio formal como é o caso da Fundação Politécnica e dos shoppings Center Lapa e

Piedade, mas são também pequenas lojas e restaurantes. Assim, a ausência de sanitários

públicos construídos pelo poder público é compensada pela solidariedade dos donos dos

estabelecimentos comerciais, o que pode não durar a longo prazo, pois o aumento na demanda

nos sanitários desses estabelecimentos implica em custos para seu proprietário mantê-lo.

Com relação ao lixo, constatamos através do Gráfico 20 que 52,6% dos

trabalhadores de rua informam acumular resíduos durante o dia, descartando na própria rua no

39,8%

31,5%

19,4%

8%

1,4%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0% em restaurante próximo ao localonde trabalha

traz de casa e consome no mesmolocal onde trabalha

compra e consome no mesmo localonde trabalha

em sua própria casa

em casa de amigos ou parentespróximo ao local onde trabalha

165

final do dia, em local próximo ao ponto de trabalho ou no próprio ponto. 42,3 % diz que descarta

o lixo em lixeiras públicas ao longo do dia ou acumula para o gari recolher durante o dia. Apenas

um trabalhador disse separar os resíduos produzidos para a reciclagem. Como vimos na

apresentação dos projetos, em geral são ofertas apenas lixeiras de pequeno porte no percurso

da área de estudo, embora haja pontos onde há um volume grande de descarte de resíduos e que

precisam de estruturas maiores como contêineres, por exemplo.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Gráfico 20: Caracterização da Atividade – O que faz com o lixo produzido?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Quando perguntamos aos trabalhadores o que eles consideram ser a coisa mais

agradável de seu trabalho, a grande maioria menciona os vínculos de amizade criados com os

outros colegas e o prazer de lidar com o público, cativando os clientes. Na Tabela 12 trazemos

de forma sintetizada as respostas que foram obtidas. Através delas podemos notar que a

satisfação com relação ao trabalho, além de estar relacionada com os clientes e amigos feitos

nos pontos, está também na possibilidade de honrar os compromissos através do trabalho

realizado e de ter uma maior flexibilidade para cuidar dos outros aspectos da vida que não

somente relacionados ao trabalho. Considera-se ainda a possibilidade de obter maiores

rendimentos e dinheiro sempre na mão.

Com relação aos planos para o futuro, a realização dessas pessoas está, sobretudo,

através do desejo de um futuro melhor para os filhos. Aproximadamente 50% dos entrevistados

mencionou que gostaria de se formalizar, ainda que reconheçam que isso poderá não ser

possível por sua idade ou grau de escolaridade. A outra metade, por outro lado, parece não ver

muita perspectiva no mercado formal, pois pretendem continuar desempenhando essa mesma

atividade. Assim, afirmam que gostariam de abrir seu próprio negócio.

52,6%

33,6%

8,7%4,2%

0,7% 0,3%0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0% acumula durante o dia e descarta naprópria ruajoga em lixeiras públicas ao longo do dia

acumula e gari recolhe durante o dia

outro

leva consigo para descartar em outro local

separa para reciclagem

166

É importante notar que a parcial falta de interesse por entrar no mercado formal

possa se justificar por diversas questões. Dentre elas está o fato de, apesar das inúmeras

dificuldades na realização desse trabalho, como o fato de estar exposto às intempéries do dia

ou de ter a mercadoria apreendida pelo rapa, para muitas pessoas essa ainda é uma perspectiva

melhor de obter sustento e garantir a sobrevivência, pois mesmo com os lucros incertos ainda

é possível obter uma melhor renda através dessa atividade do que com alguns empregos no

mercado formal, com carteira assinada. Além disso, como vimos, boa parte dos trabalhadores

que entrevistamos estão em idade adulta e possuem baixa escolaridade, o que significa ainda

mais dificuldade de entrar no mercado formal.

Pesquisa sobre trabalhadores de rua em Salvador

Tabela 12: Questionário de aprofundamento – Quais as três coisas que gosta no trabalho /

quais as três dificuldades / quais os planos para o futuro

Questionário Quais as três coisas que gosta no

trabalho?

Quais os seus planos para o futuro?

1 Os clientes Ver os filhos formados

As amizades Continuar desempenhando o mesmo serviço

A confiança das pessoas -

2 Os clientes Abrir uma loja, se formalizar

Honrar os compromissos com o trabalho -

- -

3 Poder tomar conta do filho Procurar o mercado formal se as vendas não melhorarem

Ganhar um pouco mais -

Poder fazer as coisas com mais liberdade

-

4 Trabalhar e passar o dia todo na rua Pretende continuar na atividade

Coisa boa é estar aqui, conhecer todo mundo, ter amizade

-

- -

5 É apaixonado pelo que faz Sair da rua

A clientela -

Fazer o próprio salário -

6 Fazer crochê Quer continuar na atividade mesmo com problemas de saúde

Toma café e almoça na rua -

Gosta do trabalho na rua -

7 Tem controle do próprio horário Sonha em ter uma loja

Dinheiro sempre na mão -

Contato com o público, faz amizade, alivia o estresse e conversa

-

167

8 Sair do cansaço e ir para casa dormir Continuar na atividade

Descansa a mente vendo as pessoas

passarem

-

- -

9 Os clientes Gostaria de ter um emprego formal,

mas acha que não vai mais conseguir

por causa da idade

Os colegas Pretende continuar na atividade

-

10 A amizade Não quer ter emprego formal, mas quer sair da área

Conhecimento adquirido -

Dinheiro -

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de fevereiro e março de 2015.

Vimos brevemente no Capítulo 1 que a leitura sobre o circuito inferior da economia

aproxima-se da economia dos setores populares, cuja racionalidade estaria mais associada a

reprodução da vida. Esta reprodução da vida de acordo com Kraychete (2000), entretanto,

ocorre de maneira precária, pois não há nenhum tipo de assistência técnica ou jurídica destinada

a esses trabalhadores, que precisam se virar da maneira como podem. Assim, apesar de haver

momentos de repressão, eles retornam para as ruas “proibidas”, mesmo sem possuir licença e

correndo o risco de perder sua mercadoria; se não há cobertura adequada para proteger a si e a

sua guia, criam eles mesmos diversos tipos de improvisos com plásticos, ganchos e cordas

presos aos postes de energia; organizam seu próprio sistema para o armazenamento de

mercadorias; subcontratam-se e movimentam um mercado próprio; a sua maneira, dão um jeito

de manter a si e às suas famílias. E um aspecto que não podemos deixar de considerar é que por

trás de cada trabalhador há uma unidade familiar, doméstica.

Para Coraggio (2000) as unidades domésticas são compostas por trabalhadores,

entendidos como as pessoas que dependem da realização permanente de sua força de trabalho

para se manter, onde não cabe enquadrar aqueles que vivem de rendas ou pensões oriundas de

trabalhos realizados no passado. Mesmo nos casos em que o empreendimento se encontra

separado do domicílio do trabalhador, ele funciona como uma unidade doméstica, cujo objetivo

não é propriamente a acumulação, mas o de manter-se a si e a qualidade de vida dos membros

da unidade a qual pertencem.

De acordo ainda com Coraggio (2000), um equívoco recorrente entre as agências

que prestam apoio a estas unidades, é o fato de tratarem os empreendimentos populares como

se fosse possível transformá-los em pequenas empresas capitalistas. Querem ensinar aos

168

trabalhadores que eles devem separar a economia da empresa, da economia do lar, no que é

possível resgatar o depoimento de Diana que disse precisar reverter rapidamente tudo que lucra

em novas mercadorias, pois se entrar num mercado pode gastar sem pensar todo o dinheiro que

obteve. Ela preocupa-se mais com a necessidade de prover a sua subsistência e a dos seus, do

que com a lucratividade do seu negócio, o que é abominado por muitos técnicos que não

conseguem captar esta racionalidade da reprodução da vida. A categoria dos setores populares

inclui em si formas de trabalho realizados solidariamente para produzir bens e serviços de

consumo muitas vezes desenvolvidos pelos próprios membros da família, seja na execução do

produto a ser comercializado, como é o caso de Adriana que produz em casa costurando com a

mãe a mercadoria que vende na rua, seja na realização do trabalho para o autoconsumo, como

é o caso das atividades realizadas para reprodução da unidade doméstica.

Através do que foi exposto então, podemos entender com mais clareza a relação da

atividade com a cidade e evidenciamos uma pergunta que fizemos aos trabalhadores com

relação a este tema. Perguntamos a eles qual a importância que consideram que o trabalho que

desempenham tem para a cidade, no que cabe a transcrição de suas respostas:

“A pessoa tem uma manicure, um cabeleireiro e também um sapateiro de

confiança. É uma pessoa que você sabe que o trabalho é bom e que confia. Além disso, tem

pouco sapateiro na cidade. A coisa mais importante é a confiança que as pessoas têm no meu

trabalho”, Seu Raimundo.

“Numa escala de 0 a 10, acho que a importância é de 7, 8. Salvador não tem muitas

ofertas de emprego. Onde a pessoa consegue emprego aqui? No comércio, nos serviços e no

governo. Mais de 40% vai pro comércio informal porque não acha outro emprego pra sustentar

a família. Muitos caem no comércio informal e nele é possível crescer, mudar de vida”, seu

Francisco.

“Acho que colabora com o comércio”, Adriana.

“Quando a pessoa não tem estudo, não tem jeito. Não tem emprego pra muita

gente. A importância é poder trabalhar”, seu Antônio.

“Todo trabalho honesto é importante para a cidade porque a clientela volta. Meu

preço é melhor do que o da loja. Além disso dou emprego pra outras pessoas. Sou

microempresário”, Fábio.

“Sem nós enfraquece as vendas. O mesmo que tem na loja, tem aqui. A gente é

microempresário sim, somamos com o lojista”, dona Maria.

169

“O preço é mais em conta, tá mais a vista a mercadoria da gente. É uma coisa que

a pessoa não liga, quando vê a mercadoria vai e compra. A mercadoria tá mais a vista, por

isso que ir pro beco foi ruim pra muita gente”, Diana.

“Sei lá! O povo compra chá, compra folha, não é uma mercadoria fácil de achar.

As pessoas compram, melhoram e voltam pra cá”, dona Lindinalva.

“Trazer alimento saudável pra barriga das pessoas. É coisa saudável, coisa boa,

o alimento é bom. É seguro pra eles (clientes) e pra gente”, dona Valdenice.

“Financeira. A gente vende coisas baratas, que às vezes não tá no mercado e

quando tá, é caro. A gente vende barato aqui”, Jeferson.

Percebemos que, à sua maneira e com suas palavras, os trabalhadores compreendem

o seu papel no mercado de trabalho e na economia, pois parecem cientes de que contribuem

para a circulação das mercadorias (e para a reprodução do capital), frequentemente oferecidas

a preços mais em conta do que aquelas do setor formal. Podemos perceber ainda que o preço

do produto sobressai em suas respostas. Além disso, eles evidenciam os benefícios de sua

mercadoria, sobretudo quando se trata de produtos naturais ou que fazem parte da cultura e do

saber popular. Aspectos como a honestidade e a confiança com relação ao serviço que oferecem

também reforçam a importância da autovalorização do seu trabalho. As respostas obtidas

revelam um sentimento de pertencimento e contribuição com a cidade que apenas pode ocorrer

se a atividade desses trabalhadores ocorre nas ruas, no espaço público. Isso pode nos levar a

refletir sobre o próprio conceito de espaço público presente atualmente no urbanismo. Será que

este espaço deve apenas ser funcional para o ir e vir, asséptico e vazio, concebido para repelir

uma diversidade maior de usos? Será que é possível conceber uma política urbana que

possibilite um espaço público mais humano, capaz de compatibilizar uma maior diversidade de

usos e torne outros diferentes tipos de apropriação possíveis, além dos previamente planejados?

170

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O mercado de trabalho brasileiro é marcado pelos efeitos de uma industrialização

tardia, que destruiu as ocupações tradicionais de boa parte da população. Se no campo a

estagnação ou a mecanização diminuíram as possibilidades de trabalho das pessoas por

substituí-las, nas cidades, passou-se a aglutinar uma grande massa populacional que não foi

absorvida pelo mercado de trabalho que começava a se consolidar. Um mercado que, portanto,

sempre foi excludente, e que traz as cicatrizes de um passado baseado num regime escravista,

sobretudo considerando a cidade de Salvador. Às margens desse mercado e com poucas

perspectivas de inserção provocadas por desigualdades históricas, como o acesso precário à

educação, saneamento básico, saúde, habitação, etc., temos indivíduos que buscam a

sobrevivência através de formas criativas, porém também frequentemente bastante

precarizadas. Assim, vimos brevemente no início do primeiro Capítulo desta dissertação, como

esses traços foram aprofundados, sobretudo na década de 1990, quando a globalização e a

reestruturação produtiva pela qual o mundo capitalista passou contribuíram para um

agravamento da situação.

Diversos teóricos tentaram entender o fenômeno e sua polarização simbolizada na

discussão sobre os setores formal e informal da economia. Francisco de Oliveira e Milton

Santos, dentre outros autores, nos mostraram que essa dualidade era mais complexa, pois

tratava-se de duas faces de um mesmo processo. Numa retrospectiva bastante sucinta sobre a

leitura de Santos (2008), temos que num mesmo sistema coexistem e se retroalimentam dois

circuitos da economia: um superior, no qual é possível satisfazer todas as necessidades de

consumo, e o inferior, em que se tendo as mesmas necessidades não há o mesmo poder de

consumo. Neste circuito inferior movimenta-se toda uma cadeia de trabalho, que se reproduz

sob diferentes relações, inclusive as informais. Os termos formal e informal para nós, portanto,

adquirem significado semelhante ao que Santos propõe para os circuitos: formal para nos

referirmos a quem tem acesso aos benefícios sociais garantidos pelas leis trabalhistas e informal

para quem não tem o mesmo acesso garantido, por não conseguir se inserir no mercado de

trabalho formal devido a sua impermeabilidade estrutural em cidades como Salvador, sobretudo

para aqueles sem acesso à educação.

Em um momento recente de nossa história, mais precisamente nos anos 2000, uma

melhora na situação do trabalho e do emprego é verificada no país, porém por um período muito

breve. Essa frágil melhora não se sustenta face à crise financeira mundial de 2008, que só

171

atingiu a economia brasileira anos depois, em 2015, levando a uma nova desestruturação do

mercado de trabalho brasileiro, num mundo ainda mais globalizado, marcado pela acumulação

flexível e pela precarização do trabalho, ou seja, por um trabalho que é muito mais instável e

inseguro, pouco capaz de garantir alguma estabilidade no futuro.

Tais acontecimentos têm diversos desdobramentos no espaço, como a ocupação de

áreas inadequadas para a moradia e comumente distantes dos centros urbanos, por exemplo. Na

perspectiva em que trabalhamos, esse desdobramento se dá numa escala de maior proximidade,

na escala da rua e do cotidiano. Aos olhos de todos, ricos ou pobres. No olho da rua de um dos

centros comerciais de maior importância para a cidade de Salvador. Situação, contudo, que não

é exclusiva de nossa cidade: repete-se em muitas outras capitais brasileiras, de formas ao

mesmo tempo particulares e semelhantes.

Trocar produtos num mercado talvez seja a forma mais antiga de se obter recursos.

A apropriação da rua pelo trabalho, por sua vez, provavelmente implica em disputa por esse

espaço desde seu primeiro instante. Para que uma pessoa defina seu ponto num determinado

lugar, é preciso minimamente que a mercadoria ofertada seja aceita pela população, que haja

demanda. Na medida em que a demanda gerada agrada é possível que o ponto possa se

estabelecer. Isso significa que uma apropriação inicial aos poucos se converte em uso e este

uso, por sua vez, converte-se em conquista social na medida em que é reconhecido como um

direito. Este reconhecimento ganha força principalmente quando o poder público passa a

legislar sobre o assunto e cria normas específicas para ordenar a maneira como o uso do

logradouro público pode se dar.

A atividade do trabalhador de rua, nesse contexto, assume real importância tanto

por questões sociais, uma vez que garante uma forma de sustento para aqueles que nela se

ocupam, quanto pelo capital que movimentam, visto que contribuem para o escoamento de

mercadorias que também são produzidas pelo circuito superior. A apropriação do espaço pela

atividade se incorpora ao cotidiano e estabelece novas relações entre aqueles que usam este

espaço.

É importante ter em vista, nesse sentido, que a apropriação não deixa de ser

tensionada mesmo quando convertida em um uso legitimado. Isto ocorre porque o lugar onde a

apropriação que estamos lidando ocorre, a rua, é um lugar em permanente disputa. No passado,

mesmo quando não haviam os veículos motorizados, o espaço da rua já era dividido entre

pessoas, animais de carga, carroças e charretes. No momento em que os veículos motorizados

se disseminam, o espaço de circulação dos pedestres nas ruas é reduzido e cada vez mais, até

172

que normas são criadas para garantir que os passeios permitam minimamente a circulação a pé

das pessoas. Assim, a calçada que já é uma porção reduzida da rua, agrega pelo menos a área

destinada ao mobiliário urbano, o passeio do pedestre e a área acesso aos estabelecimentos e

residências. Isso sem contar os demais usos e apropriações que se faz dela como, por exemplo,

quando uma pessoa em situação de rua delimita uma porção deste espaço para dormir. Nesse

sentido, a permanência nesse espaço limitado pressupõe um conflito constante entre diversos

direitos, como o direito de ir vir, o direito à cidade e o direito ao trabalho, por exemplo.

Podemos considerar que a rua enquanto lugar de disputa, é ainda mais tensionada

quando o poder público lhe impõe normas e regras de uso. No caso da atividade dos

trabalhadores de rua, a qual estudamos, pudemos perceber essa tensão constante sobretudo

porque as pessoas não querem trabalhar em ruas onde não há movimento, ou seja, em ruas onde

não há possibilidade de vender. A sua necessidade de sobrevivência se sobrepõe à ordem

estabelecida. Desta forma, os locais onde a atividade não deveria mais acontecer sofrem

pressões permanentes, assim como re-apropriações constantes, ocorridas durante e após cada

intervenção tentada pelo poder público.

Dentre as tentativas de ordenamento que estudamos nesta dissertação, pudemos

notar que entre 1992 e 2014 houve basicamente três propostas no que se refere a atividade do

trabalhador de rua em Salvador. A primeira delas foi realizada com base em estudos mais

aprofundados sobre a temática, sintetizados em uma proposta que integrava a atividade com os

demais usos do espaço público, porém sem se concretizar. Tal proposta sobressai por assimilar

o trabalho de rua como fenômeno inerente à economia soteropolitana e passível de integrar a

política pública urbana. A segunda proposta, apesar de partir da análise anterior, praticamente

repeliu toda a atividade da rua onde se manifestava com mais intensidade, redirecionando-a

apenas para alguns pontos específicos, o que foi desfeito na medida em que a fiscalização

constante desses locais não foi praticada, sobretudo no intervalo entre a transição de uma gestão

para outra. Neste caso, a normatização do uso não impediu que a apropriação voltasse a se

manifestar em outros momentos. A última e mais recente proposta, apesar de também

intencionar a retirada de todos os trabalhadores da rua principal, da Avenida Sete de Setembro,

cria algumas condições para a sua permanência em locais determinados ao implantar algumas

estruturas de suporte, o que não garante a efetividade da proposta.

A adequação desses projetos, avaliada com base nas categorias de análise que

elegemos mostra que apenas o projeto mais antigo, elaborado em 1992 possui um diagnóstico

mais bem estruturado sobre a questão. Os demais elaborados em 1997 e 2013, se justificaram

173

com base em necessidades urgentes e propuseram soluções pouco embasadas teoricamente e

voltadas para uma ação de curto prazo.

Com relação ao conforto ambiental, vimos que de 1992 a 2014 alguns avanços

foram propostos, sobretudo no que se refere ao fato de se pensar em algum tipo de cobertura

para os pontos de trabalho. Entretanto, podemos considerar que a proposta para as estruturas a

que se chegou não se constituem como as melhores soluções que podem ser pensadas, sobretudo

no caso da atual, onde a cobertura proposta foi executada com um material de baixa qualidade

e que intensifica a sensação térmica para quem está exposto a ela. Além disso, é uma estrutura

que praticamente não protege da chuva, levando muitos trabalhadores a improvisarem soluções

pontuais para não molharem a si ou a suas mercadorias. Por sua vez, essas estruturas servem

para ocultar a “desordem” causada pelo trabalhador de rua, sobretudo quando se visualiza o

centro da cidade de Salvador utilizando imagens de satélite. Isto significa que para quem não

conhece a cidade, vem de outro país ou estado e decide antes observá-la através de mapas,

passa-se a impressão de uma cidade mais “limpa” e ordenada.

A infraestrutura de suporte para a atividade também é pouco pensada pelo poder

público, que limita suas ações à pavimentação e iluminação. A coleta de resíduos sólidos parece

não levar em consideração o volume de resíduos gerados em algumas das transversais

estudadas, sobretudo naquelas onde há a venda de hortifrúti, geralmente acumulados sem

critério em grande quantidade em algumas esquinas no final do dia. Uma política voltada para

a coleta seletiva dos outros tipos de resíduos gerados também não é problematizada pelos

projetos estudados.

A questão dos depósitos é outra que quase não é tocada pelas propostas

apresentadas, ficando a cargo dos trabalhadores, que por sua vez se apropriam da ausência dessa

estrutura para criar possibilidades alternativas de obtenção de renda, movimentando uma outra

cadeia de informalidade.

Ainda no que se refere à infraestrutura de suporte, podemos notar que nada é

apresentado no que se refere aos sanitários, tanto os públicos que possam atender à população

de maneira geral, quanto a específicos, destinados aos trabalhadores de rua, que, assim,

dependem da solidariedade de lojistas ou dos sanitários existentes nas grandes superfícies

comerciais, que são os shoppings centers.

A relação entre as propostas e o entorno também foi um aspecto considerado para

a análise dos projetos. Assim temos que o projeto de 1992 foi o que mais conseguiu criar uma

174

solução que integra a atividade do trabalhador de rua com o espaço. Apesar de não prever

nenhum tipo de cobertura para proteção do trabalhador, podemos perceber essa integração

quando a mesma permanece na rua mais cobiçada que é a Avenida Sete de Setembro. A solução

encontrada suprime o espaço do automóvel e não do pedestre, buscando compatibilizar os três

usos no mesmo ambiente. As demais propostas visam uma segregação da atividade com a rua

principal e mais do que isso, propõe uma estrutura que visualmente se desconecta do contexto

do lugar.

Por fim, a última categoria de análise sobre a qual nos debruçamos é a densidade

de ocupação na área de estudo. Através dela verificamos que não há estudos que investiguem a

demanda pelo espaço que a atividade cria. Isso notadamente empobrece as propostas

elaboradas, já que são mais baseadas em suposições do que em resultados sistematizados sobre

a realidade. O método que encontramos para calcular a densidade de ocupação na área de

estudo, embora não tenha a pretensão de ser uma referência, nos ajudou a avançar sobre a

compreensão deste aspecto, de modo que podemos ter uma leitura mais apurada sobre quanto

do espaço é realmente demandado pela atividade do trabalhador de rua e o quanto ela interfere

no direito de ir e vir dos transeuntes. Com base em nosso estudo, consideramos que seria

interessante, por exemplo, verificar se o projeto mais recente contribuiu para adensar áreas que

já eram muito densas, o que pode ter implicado numa piora na qualidade da circulação de

pessoas e vai de encontro, portanto, ao que deveria ser o objetivo do planejamento. Como

realizamos nossa contagem num período em que o ordenamento dos trabalhadores de rua já

havia sido iniciado não é possível afirmar isso com certeza. Contudo, podemos observar que 05

das 14 ruas apontadas pela prefeitura como os locais permitidos para a atividade já se encontram

saturadas, com alta densidade de ocupação.

No que se refere à legislação sobre o assunto, consideramos importante notar as

incertezas e instabilidades dos trabalhadores de rua com relação ao trabalho de onde tiram o seu

sustento, já que as licenças são concedidas em caráter precário, o que significa a perda do ponto

a qualquer momento em que a municipalidade entenda a inviabilidade da atividade no local.

Sob esta questão há uma contradição interessante, pois ao mesmo tempo em que a atividade é

reprimida, o logradouro público é também considerado como local de desenvolvimento

econômico pelo próprio Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de Salvador. O conceito de

logradouro público no PDDU/2008 agrega a ideia da funcionalidade do lugar para além dos

aspectos referentes ao convívio e socialização, pois insere o aspecto do desenvolvimento

econômico no conceito. Desse modo, o logradouro pode ser regulamentado e fiscalizado,

175

submetendo seus usuários às sanções administrativas estabelecidas por lei. Podemos inferir

diante das informações expostas no que se refere a intervenção do poder público, que o interesse

sobre a atividade não é apenas daquele sujeito que a realiza, mas também da municipalidade

que a reconhece sob diferentes perspectivas políticas, tanto do ponto de vista social quanto do

ponto de vista econômico, já que, como vimos anteriormente, a mesma promove a circulação

de mercadorias no circuito inferior da economia e gera impostos para serem arrecadados pelo

município.

Entre o poder público e os trabalhadores de rua há as associações e o sindicato que

representam os interesses dos trabalhadores. Essas entidades, no entanto, são entidades

fragilizadas tanto pelo seu pouco tempo de existência, quanto pelo pouco reconhecimento que

possuem junto a classe. Conforme pudemos notar, das três associações existentes, duas tem sua

data de fundação praticamente coincidente com o início da execução do projeto de ordenamento

elaborado pela gestão da prefeitura iniciada em 2013, o que indica que provavelmente elas

tenham sido criadas para dar suporte político a execução dos projetos elaborados pelo poder

público. Desta forma, a legitimidade das entidades para responder pelos trabalhadores fica

bastante comprometida, principalmente se levarmos em consideração o fato de que 85,5% dos

trabalhadores entrevistados revelaram que sequer sabem o nome das associações às quais estão

vinculados. De maneira geral ainda, essa circunstância torna delicada a relação entre

trabalhadores e poder público, já que as decisões tomadas possivelmente não levam em

consideração os interesses da maioria, nem são discutidas com um público mais amplo. Além

disso, a existência de quatro entidades atuando na mesma área pode indicar uma sobreposição

de interesses e problemas na capacidade de atuação, que precisa ser melhor articulada entre os

trabalhadores de rua e as lideranças.

Num primeiro momento, a fragilidade de direitos vivenciada pelos trabalhadores de

rua, sobretudo no que se refere ao direito ao trabalho, cuja carência implica a negação de uma

série de outros direitos, incluindo-se aí o direito à cidade. Nas falas dos trabalhadores

provocadas em parte por nossas perguntas, a maioria deles revelou que a importância do seu

trabalho se dá na medida em que contribuem para circulação das mercadorias, oferecidas a

preços mais em conta do que aquelas do setor formal, e assim consequentemente, favorecem a

economia na cidade.

Vimos que a maioria dos trabalhadores entrevistados são adultos e que o número

de homens é ligeiramente superior ao número de mulheres. O nível de escolaridade dessas

pessoas varia do fundamental incompleto ao ensino médio completo. De maneira geral as

176

pessoas com quem conversamos são pais e mães de família, ou seja, além de trabalhar para

obter o seu próprio sustento, trabalham também para manter outras pessoas. Em sua maioria

são oriundas de Salvador e Região Metropolitana, porém há quem tenha vindo de outros estados

do Nordeste.

Os dados apresentados indicam que parte dessas pessoas provavelmente ficou

desempregada na década de 1990, momento de profunda crise no emprego e no trabalho no

Brasil. A atividade realizada, como fica evidente através dos dados, não é realizada em caráter

transitório, mas se constitui como forma permanente de ocupação. Além disso, o baixo grau de

escolaridade e a idade em que muitos se encontram hoje são apontados como motivos para

permanecer na atividade, sem perspectivas de inserção no mercado formal. Podemos, portanto,

prever uma continuação do trabalho na rua, pois sendo esse trabalhador pouco qualificado e a

precarização do trabalho em geral uma tendência, o mais provável é que continue realizando

atividades informais.

Os dados indicam ainda que a maior parte dos trabalhadores de nossa amostra

residem no próprio centro de Salvador ou em bairros do Miolo e Subúrbio, sendo estas últimas

áreas as mais empobrecidas e com maior carência de infraestrutura urbana. O fato de muitos

trabalhadores residirem no centro ou nas suas proximidades aponta para a possibilidade dessas

pessoas constituírem um público alvo potencial para programas de habitação de interesse social

no centro da cidade, pois claramente têm um interesse em residir nessa área e provavelmente já

possuem também um vínculo com ela.

Verificamos também que cerca de 43% dos trabalhadores entrevistados exercem a

atual atividade porque não encontraram outro emprego formal ou porque foram demitidos. Ser

trabalhador de rua, portanto, foi a “opção escolhida” na falta de uma ocupação melhor. Essa

situação por si só rompe com a ideia de grande autonomia que se pensa sobre a atividade, ainda

que possamos perceber que há autonomia em certas circunstâncias como, por exemplo, quando

entrevistados mencionaram optar por esse trabalho para ter tempo de cuidar dos filhos.

O trabalhador de rua, em geral, está desprovido de seguridades sociais. Caso

adoeçam, por exemplo, não têm direito ou proteção alguma. Muitos trabalhadores disseram

durante as entrevistas que nunca adoeceram, o que é surpreendente, visto que trabalham numa

jornada diária extensa, expostos à rua, muitas vezes utilizando a voz como ferramenta para

atrair o cliente, sem poder ir ao banheiro e frequentemente alimentando-se mal. Em sua maioria,

folgam apenas uma vez por semana e não podem tirar férias já que seu sustento depende do

trabalho diário, de segunda a sábado.

177

Através da ação do poder público, da estrutura do mercado capitalista e da própria

rede que fornece as mercadorias, por exemplo, que podemos identificar as situações de

subordinação as quais estão submetidas este trabalhador. Apesar da maioria dos entrevistados

ter respondido dispor de licença para trabalhar nos pontos onde estavam, isto não significa que

não tenham receio das ações de fiscalização da prefeitura (o rapa), pois muitos dos que

migraram para os novos pontos queixam-se da queda das vendas e frequentemente retornam

para seus pontos de origem na Avenida Sete, correndo o risco de terem a mercadoria

apreendida. Além disso, há os que mudam o tipo de mercadoria comercializada e passam a

vender produtos considerados ilegais, que também podem ser apreendidos.

Boa parte dos trabalhadores revelaram ter mudado de ponto no último ano, ou seja,

tiveram seus pontos alterados. Foram muitos os relatos de trabalhadores que disseram ter

precisado mudar ponto do dia para a noite, sem ter tempo de avisar sua clientela. O impacto

dessa ação é bastante agressivo se pensarmos que algumas dessas pessoas ofertam uma

mercadoria que dificilmente pode ser encontrada, que é produzida artesanalmente, ou que suas

vendas dependem da relação antiga e amistosa que têm com seus clientes. Essas pessoas ficaram

"perdidas" na multidão e algumas vezes foram relocadas mais de uma vez. Uma vez que a

procura por produtos se dá quando a pessoa sabe onde encontrá-lo ou é atraído pela mercadoria

no instante em que passa por ela, isto traz realmente sérios impactos para os rendimentos do

trabalhador no final do dia e do mês. Como sabemos, há dias em que os trabalhadores podem

receber bastante dinheiro e há dias em que passam sem conseguir vender nada. Nesses

momentos, o pouco que conseguem obter frequentemente se destina ao transporte para ir

trabalhar e voltar para casa, e para alimentar-se durante o dia de trabalho.

A atividade do trabalhador de rua movimenta outras escalas de informalidade como

pudemos constatar. Há casos em que os pontos são alugados ou que um mesmo trabalhador

possui mais de um ponto. Além disso, os depósitos movimentam uma outra cadeia de

ocupações. Por armazenar a mercadoria dos trabalhadores de rua, inserem na atividade a figura

do dono do estabelecimento onde a mercadoria é guardada, carregadores que as transportam

diariamente e até mesmo seguranças responsáveis dos locais onde a mercadoria é guardada. Em

troca desse serviço, alguns trabalhadores pagam taxas semanais, mas há também aqueles que

conseguem guardar a mercadoria na casa de amigos, parentes ou lojistas, assim também como

há quem leve a mercadoria para casa todos os dias no final do expediente.

Através dos dados que obtivemos ainda sobre as mercadorias, pudemos notar que

há uma grande variedade delas sendo ofertadas na área de estudo, com destaque para as

178

confecções, adereços, produtos de hortifrúti, eletrônicos, bolsas e alimentos. As mercadorias

por sua vez são adquiridas em volume significativo no próprio centro da cidade, nas lojas de

atacado e varejo que muitas vezes pertencem aos chineses, ou com atravessadores que levam

mercadorias selecionadas diretamente para os pontos de trabalho. Uma parcela menos

expressiva de trabalhadores revelou adquirir a mercadoria que comercializam pessoalmente

através de viagens. Essas mercadorias, entretanto, não podem ser estocadas por muito tempo,

sobretudo porque a venda delas comumente é incerta. Diante disso, os trabalhadores costumam

adquirir os produtos num período de tempo menor, que varia de diariamente a quinzenalmente.

Vimos ainda que os recursos para começar a atividade costumam ser adquiridos com poupança

própria e com investimentos iniciais pequenos.

Boa parte dos conflitos dos trabalhadores de rua pode ser percebido em sua relação

com o poder público, com o rapa, sobretudo após as ações de ordenamento, o que é natural,

visto que a situação nova lhes tirou da situação mais confortável em que se encontravam antes.

Essa situação de impasse com as ações do poder público, por sua vez, já foi verificada em outros

momentos e gestões, e sua natureza está justamente no conflito inerente entre a competência do

poder público de buscar organização do espaço para permitir a efetiva circulação de pessoas e

a atividade dos trabalhadores de rua que se apropriam e intensificam a demanda por espaço,

obstruindo o fluxo do pedestre em alguns pontos. Contudo, as soluções adotadas pelo poder

público, como pudemos constatar, são bastante empobrecidas, seja pelo fato de a prefeitura não

ter dados sistematizados sobre a situação, seja pelos poucos estudos que embasam suas ações.

Além disso, pudemos perceber que existem conflitos entre os próprios trabalhadores, entre

aqueles que possuem e não possuem licença, que são de Salvador e de fora do município, por

exemplo. A relação com os lojistas, por sua vez, contrariamente ao que se pode incialmente

supor, parece ser bastante tranquila e amistosa.

Podemos afirmar que certamente o cotidiano no centro de Salvador não seria o

mesmo sem a atividade dos trabalhadores de rua. A dinâmica criada por sua atividade e as

diversas instâncias que este trabalho movimenta, criam contradições ao mesmo tempo em que

lhe enchem de vida. A atividade pode ser lida também como um resultado da diversidade de

usos existente na área. É como se os trabalhadores sentissem a concentração dessa diversidade

e a aproveitassem, dinamizando e ampliando ainda mais as possibilidades do lugar. Essas

pessoas provavelmente contribuem significativamente para a existência de tantos e variados

restaurantes e casas de lanches que existem no centro, por exemplo, que frequentemente

179

ofertam almoço a preços bastante populares. Isso para citar apenas um dos diversos negócios

que se beneficiam da atividade e se proliferam a partir dela.

O espaço da rua onde o trabalhador exerce sua função não se esgota no trabalho,

ele ganha contornos maiores. Estas pessoas desenvolvem uma relação de pertencimento com o

lugar no qual fixam seus pontos, onde muitos deles permanecem durante anos e até mesmo

décadas, o que faz surgir uma relação afetiva, comprometida e algumas vezes até mesmo

conflituosa, como pudemos constatar. Percebemos ainda que há uma grande heterogeneidade,

inclusive, nos próprios interesses dos trabalhadores com relação à atividade que desempenham,

pois há entre eles os que não têm outro meio de sobrevivência e mesmo assim encontram nessa

atividade maneiras de se divertir e ter prazer com o trabalho. Outro aspecto relevante é que, se

por um lado há a flexibilidade de organizar os próprios horários e a possibilidade de cuidar dos

filhos durante o trabalho, por outro lado há a incerteza da obtenção dos seus proventos diários

e mensais, o que leva alguns trabalhadores a terem bastante dificuldade de garantir sua

sobrevivência e até mesmo de prosperar em seus negócios.

Não há como negar, portanto, que esta categoria absorve boa parte da mão de obra

que não é aproveitada pelo mercado formal e está desempregada. O esvaziamento das ruas aqui

estudadas nos períodos da noite e finais de semana, como comentado por um dos trabalhadores,

revela ainda como a atividade comercial, incluindo-se aí a desenvolvida na rua, contribui para

a vivacidade dos espaços públicos. O trabalho na rua aparece assim como uma alternativa de

sobrevivência ao indivíduo socialmente vulnerável, através da qual lhe é possível viver com

alguma dignidade, e sua presença nas ruas é capaz de proporcionar uma intensificação da

experiência de estar, viver e pertencer à cidade.

O lugar que a atividade ocupa é de interesse de todos, uma vez que se trata do espaço

público. Este, por sua vez, não é escolhido aleatoriamente por cada um daqueles que dele se

apropria. Para o desenvolvimento da atividade aqui estudada vemos que as características

funcionais deste espaço perpassam por sua localização na cidade, nas quais diversos fluxos são

articulados. Assim, ações do poder público podem ser concebidas, com o intuito de organizar,

ordenar ou coibir os usos considerados não compatíveis com os interesses que se tem para o

lugar. Vale ressaltar também que as recentes intervenções executadas promovem uma

segregação da atividade do trabalhador de rua para transversais específicas, liberando a Avenida

Sete, vetor principal de circulação entre o Centro Histórico com a Barra, da presença e imagem

desse trabalhador, o que tornaria o lugar mais “atrativo”, sobretudo para o turista, como

180

preconiza o planejamento estratégico que visa, dentre outras coisas, a competitividade entre as

cidades.

Ainda que as permissões para que os trabalhadores de rua possam explorar o

logradouro público sejam precárias, ou seja, possam ser retiradas no momento em que este seja

o interesse da prefeitura, isto não significa necessariamente que a atividade possa ser eliminada.

Através dos projetos elaborados desde 1992 para cá ficou evidenciada a compreensão da

funcionalidade desse setor da economia, cuja vivacidade se relaciona com a força social dos

trabalhadores de rua que movimentam e contribuem para o escoamento das mercadorias no

circuito inferior da economia, bem como a resistência desses próprios trabalhadores em

permanecer ou retornar para os locais dos quais buscam se apropriar. Trata-se, portanto, de uma

situação que não pode ser ignorada pelo poder público e que o planejamento possivelmente só

será capaz de enfrentar a partir do momento em que busque compreender sua complexidade e

proponha alternativas que compatibilizem os diferentes interesses envolvidos, sem a intenção

de eliminar as práticas cotidianas dos espaços de representação, ou seja, do âmbito do vivido,

utilizando aqui os termos de Lefebvre, pois estas tendem a voltar ou resistir, tensionando o

espaço público, seus usos e apropriações.

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Ambulantes e Feirantes de Salvador (Assindivan), 2014. Entrevista concedida a Rose Laila

de Jesus Bouças, Salvador, 17 set. 2014.

187

ALMEIDA, Marcos Luiz Neves. Entrevista com a Associação dos Vendedores Ambulantes

de Salvador e Região Metropolitana (Asfaerp), 2014. Entrevista concedida a Rose Laila de

Jesus Bouças, Salvador, 28 jan. 2015.

SANTOS, Marcílio Costa. Entrevista com o Sindicato dos Feirantes e Ambulantes da

Cidade de Salvador (Sindifeira), 2014. Entrevista concedida a Rose Laila de Jesus Bouças,

Salvador, 26 jan. 2015.

Periódicos:

SALVADOR (Município). Operação vai ordenar comércio informal na Barra. Diário Oficial

do Município, Salvador: PMS, ano XXV, nº 5.774, 12 a 14 jan. 2013.

Notícias:

G1 BA. Viatura da guarda municipal é apedrejada em ação de ordenamento. Portal G1 Bahia,

Salvador, 24 set. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/bahia/noticia/2014/09/viatura-da-

guarda-municipal-e-apedrejada-em-acao-de-ordenamento.html> Acesso em: 29 out. 2014.

LAGO, Rodrigo. Excesso de camelô na Calçada causa acidente e fere idosa. Tribuna da Bahia,

Salvador, 24 out. 2010. Disponível em:

<http://www.tribunadabahia.com.br/2010/02/24/excesso-de-camelo-na-calcada-causa-

acidente-e-fere-idosa> Acesso em: 20 out. 2014.

MACHADO, Priscila. Largo Dois de Julho será revitalizado em 8 meses. Jornal A Tarde,

Salvador, 15 ago. 2014. Disponível em:

<http://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/largo-dois-de-julho-sera-revitalizado-em-8-

meses-1614542> Acesso em: 22 set. 2014.

MENDES, Davi. Precisamos realizar trabalho de maquiagem para receber visitantes’, diz

secretária de Neto. Bahia Notícias, Salvador, 15 dez. 2012. Disponível em:

<http://www.bahianoticias.com.br/principal/noticia/127912-%E2%80%98precisamos-

realizar-trabalho-de-maquiagem-para-receber-visitantes%E2%80%99-diz-secretaria-de-

neto.html> Acesso em: 10 jan. 2013.

PEREIRA, Daniela. Comércio desordenado invade calçadas. Tribuna da Bahia, Salvador, 16

out. 2012. Disponível em: < http://www.tribunadabahia.com.br/2012/10/16/comercio-

desordenado-invade-calcadas> Acesso em: 29 out. 2014.

SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO URBANO DO ESTADO DA BAHIA (SEDUR).

Metrô atinge marca de 5 milhões de passageiros em menos de um ano de funcionamento.

Disponível em: <http://www.sedur.ba.gov.br/metro-atinge-marca-de-5-milhoes-de-

passageiros-em-menos-de-um-ano-de-funcionamento/> Acesso em: 22 abr. 2015.

SERVIÇO BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS (SEBRAE).

Simulador Simples ou lucro presumido: qual o melhor para sua empresa? Disponível em:

<http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/Simulador-Simples-ou-Lucro-

Presumido:-qual-o-melhor-para-sua-empresa%3F> Acesso em: 29 abr. 2015.

188

SODRÉ, Naira. Pedestre é expulso de calçadas em Salvador por todo tipo de tranqueira.

Tribuna da Bahia, Salvador, 10 jan. 2013. Disponível em:

<http://www.tribunadabahia.com.br/2013/01/10/pedestre-expulso-das-calcadas-em-salvador-

por-todo-tipo-de-tranqueira> Acesso em: 29 out. 2014.

189

ANEXO A: PLANTAS DO PROJETO “O INFORMAL EM SALVADOR: POLÍTICA E PROPOSTAS, 1992” – TRECHO SÃO PEDRO,

JOANA ANGÉLICA E SÃO BENTO

a) São Pedro

Fonte: SALVADOR, 1992a.

190

b) Av. Joana Angélica

Fonte: SALVADOR, 1992a.

191

c) São Bento - A

Fonte: SALVADOR, 1992a.

192

c) São Bento - B

Fonte: SALVADOR, 1992a.

193

ANEXO B: PLANTAS DO PROJETO “COMÉRCIO INFORMAL: AV. SETE DE

SETEMBRO; ÁREAS PROVISÓRIAS. SALVADOR: 1997”

Fonte: SALVADOR, 1997b.

194

Fonte: SALVADOR, 1997b.

195

Fonte: SALVADOR, 1997b.

196

Fonte: SALVADOR, 1997b.

197

Fonte: SALVADOR, 1997b.

198

Fonte: SALVADOR, 1997b.

199

Fonte: SALVADOR, 1997b.

200

Fonte: SALVADOR, 1997b.

201

ANEXO C: PLANTAS DO PROJETO “REQUALIFICAÇÃO DA AV. SETE DE SETEMBRO - ORDENAMENTO DO COMÉRCIO

INFORMAL"

a) Largo do Rosário-A

Fonte: SALVADOR, 2014b.

202

b) Largo do Rosário-B

Fonte: SALVADOR, 2014b.

203

c) Portão da Piedade-A

Fonte: SALVADOR, 2014b.

204

d) Portão da Piedade-B

Fonte: SALVADOR, 2014b.

205

APÊNDICE A: QUESTIONÁRIO BÁSICO APLICADO COM OS 289

TRABALHADORES DE RUA

QUESTIONÁRIO BÁSICO

PESQUISA SOBRE TRABALHADORES DE RUA EM SALVADOR

CARACTERIZAÇÃO GERAL 1. NOME: ____________________________________________________________________ 2. SEXO: ( )F ( )M 3. BAIRRO ONDE MORA: _______________________________________

4. IDADE: _________________________

5. ESTADO CIVIL: 6. ONDE NASCEU: ________________________

( ) até 14 anos ( ) Solteiro(a) ( ) Salvador ( ) entre 14 e 18 anos ( ) Casado(a) ( ) RMS* ( ) entre 19 e 25 anos ( ) União estável ( ) interior da Bahia ( ) entre 26 e 30 anos ( ) Viúvo(a) ( ) Outro Estado ( ) entre 31 e 40 anos ( ) Divorciado(a) ( ) Outro país. Qual?

________________________ ( ) entre 41 e 50 anos ( ) Outro: _____________ ( ) entre 51 e 60 ( ) NR ( ) NR ( ) mais de 60 anos ( ) NR

* Região Metropolitana de Salvador: Camaçari, Candeias, Dias d'Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas, Madre de Deus, Mata de São João, Pojuca, São Francisco do Conde, São Sebastião do Passé, Simões Filho e Vera Cruz.

10. VOCÊ TRABALHA POR CONTA PRÓPRIA? ( )Sim ( ) Não. 11. POR QUE ESTÁ REALIZANDO ESTE TRABALHO?

( ) Desejo de não possuir patrão ( ) Para complementar a renda da família ( ) Não encontrou outro emprego ( ) Um parente ou amigo ofereceu o trabalho ( ) Tinha experiência ( ) Outro motivo. Qual? _________________________ ( ) Tradição familiar ( ) NR ( ) Para ganhar mais ou melhor ( ) NS

12. VOCÊ JÁ TRABALHOU COM CARTEIRA ASSINADA ANTES? ( ) Não ( )Sim. 12.1 SE SIM, O QUE VOCÊ FAZIA? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 13. QUANDO FICA DOENTE (OU TEM ALGUM TIPO DE ACIDENTE), O QUE ACONTECE COM A ATIVIDADE? ( ) o negócio fica fechado até se recuperar ( ) um membro da família ou conhecido se encarrega do negócio ( ) um outro trabalhador de rua cuida da atividade ( ) outro: _________________________________________________________________

Universidade Federal da Bahia Faculdade de Arquitetura Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PPG-AU/UFBA Grupo de Pesquisa Lugar Comum Nome do entrevistador: _____________________ Data: ________________ Rua: ______________________________________________________________

8. TEM FILHOS? ( ) Não ( ) Sim. Quantos?

_________________ 9. COMO SE CHAMA ESTE TRABALHO QUE VOCÊ FAZ AQUI NESTE LUGAR? ______________ ____________________________ ____________________________

7.GRAU DE ESCOLARIDADE Sem escolaridade ( ) Ensino fundamental Completo ( ) Incompleto ( ) Ensino médio Completo ( ) Incompleto ( ) Graduação Completo ( ) Incompleto ( ) Pós-Graduação Completo ( ) Incompleto ( ) NR ( )

206

CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE

14. QUANTO TEMPO EXERCE A ATIVIDADE?

15. HÁ QUANTO TEMPO TRABALHA NESTA RUA:

16. QUE HORAS ABRE / QUE

HORAS FECHA:

_______ anos _______ anos Abre Abre ( ) até 1 ano ( ) até 1 ano 7h ( ) 7h ( ) ( ) entre 1 e 2 anos ( ) entre 1 e 2 anos 8h ( ) 8h ( ) ( ) entre 2 e 5 anos ( ) entre 2 e 5 anos 9h ( ) 9h ( ) ( ) entre 6 e 10 anos ( ) entre 6 e 10 anos 10h ( ) 10h ( ) ( ) entre 11 e 15 anos ( ) entre 11 e 15 anos 11h ( ) 11h ( ) ( ) mais de 15 anos ( ) mais de 15 anos Outro: _____ Outro: _____ ( ) NR ( ) NR 17. QUAIS DIAS TRABALHA? 18. COMO SE DESLOCA ATÉ O LOCAL DE TRABALHO? ( ) segunda à domingo ( ) a pé ( ) ônibus ( ) carona ( ) segunda à sábado ( ) motocicleta ( ) metrô ( ) carreto ( ) segunda à sexta ( ) bicicleta ( ) taxi ( ) NR ( ) outro:_____________________ ( ) automóvel próprio ( ) ferry ( ) NS ( ) NR ( ) transporte alternativo (mototaxi ou van)

19. ONDE VOCÊ BEBE ÁGUA E SE ALIMENTA? 20. SE PRECISAR IR AO BANHEIRO, ONDE VOCÊ VAI? ( ) traz quentinha e almoça no mesmo local onde trabalha

( ) em estabelecimento próximo do local onde trabalha

( ) compra quentinha no mesmo local onde trabalha

( ) em banheiro público

( ) em restaurante próximo ao local onde trabalha

( ) em casa de amigos ou parentes próximos ao local onde trabalha

( ) em casa de amigos ou parentes próximos ao local onde trabalha

( ) em sua própria casa

( ) em sua própria casa ( ) NR ( ) NR ( ) NS ( ) NS

21. O QUE FAZ COM O LIXO PRODUZIDO? ( ) acumula durante o dia e descarta no final da jornada. Onde: ___________________________ ( ) joga em lixeiras públicas ao longo do dia. ( ) leva consigo para descartar em outro local. ( ) deixa na mesma rua onde trabalha. ( ) separa para reciclagem. ( ) Outro: ___________________________________________________________________

22.1 QUANTO VOCÊ CONSEGUE TIRAR NUM DIA BOM?

22.2 QUANTO VOCÊ CONSEGUE TIRAR NUM DIA RUIM?

( ) até R$10,00 ( ) até R$10,00 ( ) entre R$10,00 e R$25,00 ( ) entre R$10,00 e R$25,00 ( ) entre R$25,00 e R$40,00 ( ) entre R$25,00 e R$40,00 ( ) entre R$40,00 e R$60,00 ( ) entre R$40,00 e R$60,00 ( ) entre R$60,00 e R$80,00 ( ) entre R$60,00 e R$80,00 ( ) mais de R$80,00 ( ) mais de R$80,00 ( ) NR ( ) NR ( ) NS ( ) NS

207

23. POR QUE SEU PONTO É NESTA RUA? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

24. O PONTO É SEU? 24.1 - SE O PONTO NÃO É SEU, QUAL A RELAÇÃO DE TRABALHO QUE VOCÊ TEM COM ESSA OUTRA PESSOA?

( ) Empregado ( ) Sim ( ) Familiar ( ) Não ( ) Amigo ( ) Outro: ____________________________________

26. VOCÊ TEM LICENÇA? ( )Sim ( ) Não. 26.1 POR QUÊ? ________________________________________________________________________ 27. QUE TIPO DE INVESTIMENTO FEZ PARA COMEÇAR A TRABALHAR NO RAMO?

( ) Poupança própria ( ) Indenização ( ) Empréstimo c/ familiar ( ) Empréstimo bancário ( ) Microcrédito produtivo ( ) Não precisou de recursos ( ) Outro. _______________ ( ) NR ( ) NS

28. SUA RELAÇÃO COM OS COMERCIANTES DAS LOJAS VIZINHAS É: ( ) Boa ( ) Ruim 28.1 SE RUIM, POR QUÊ?_______________________________________________________________ 29. SUA RELAÇÃO COM OS OUTROS TRABALHADORES DE RUA É: ( ) Boa ( ) ruim. 29.1 SE RUIM, POR QUÊ?_______________________________________________________________ 30. VOCÊ FAZ PARTE DE ALGUMA ASSOCIAÇÃO DE TRABALHADORES DE RUA OU AMBULANTES? ( ) Sim ( ) Não 30.1 SE SIM, QUAL? ____________________________________________________________________ 30.2 SE NÃO, POR QUÊ? _________________________________________________________________ CARACTERIZAÇÃO DA MERCADORIA 31. QUAIS PRODUTOS COMERCIALIZA?

( ) Eletrônicos ( ) CD/DVD ( ) Relógios ( ) Bolsas ( ) Roupas ( ) Artesanato ( ) Frutas ( ) Verduras ( ) Alimentos preparados ( ) Cintos ( ) Peixe ( ) Brinquedos ( ) Acarajé ( ) Outros: __________________

32. ONDE VOCÊ COMPRA OS PRODUTOS QUE COMERCIALIZA Indicar local, caso a pessoa especifique:____________________________________________________

( ) No próprio Centro ( ) Salvador ( ) Feira de Santana ( ) São Paulo ( ) Outra cidade. Qual?______________________ ( ) Outro estado. Qual? ________________________ ( ) Outro país. Qual? ________________________ ( ) NR ( ) NS

33. COMO VOCÊ COMPRA A MERCADORIA?

( ) com distribuidor ( ) Faz viagens ( ) Fabricação própria ( ) Outro: __________________ ( ) em lojas de varejo ( ) NR ( ) NS

34. COM QUANTO TEMPO RENOVA O ESTOQUE: ( ) não sabe informar ( ) diariamente ( ) semanalmente ( ) quinzenalmente ( ) mensalmente ( ) Outro: _______________________________________________________

35. ONDE GUARDA A MERCADORIA ( ) Depósito ( ) Em sua própria casa ( ) NR ( ) NS 35.1 ONDE FICA O DEPÓSITO?___________________________________________________________ 35.2 QUANTAS VIAGENS FAZ ATÉ O DEPÓSITO POR DIA? ( ) 2 viagens ( ) 3 viagens ( ) mais de 3 viagens 36. NO LUGAR ONDE GUARDA A MERCADORIA, O ESPAÇO É SÓ SEU OU É DIVIDIDO COM OUTROS TRABALHADORES? ( ) Individual ( ) Coletivo ( ) NR ( ) NS

25. VOCÊ POSSUI OUTROS PONTOS? QUANTOS?

25.1 SE POSSUI OUTROS PONTOS, ONDE ELES FICAM?

( ) Não possui outros pontos. ( ) Na mesma rua.

( ) Possui mais 1 ponto. ( ) Em outro local. Qual? ____________________

( ) Possui mais 2 pontos.

( ) Possui mais de 3 pontos.

208

37. QUANTO CUSTA? ( ) Gratuito ( ) Paga aluguel ( ) NR ( ) NS 37.1 SE PAGA ALUGUEL, QUANTO CUSTA? ________________________________________________ 38. VOCÊ TERIA DISPONIBILIDE PARA RESPONDER OUTRAS QUESTÕES PARA ESTA PESQUISA, CASO SEJA NECESSÁRIO? ( ) Sim ( ) Não OBSERVAÇÕES: _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

209

APÊNDICE B: QUESTIONÁRIO DE APROFUNDAMENTO APLICADO COM OS 10

TRABALHADORES DE RUA SELECIONADOS

QUESTIONÁRIO DE APROFUNDAMENTO

PESQUISA SOBRE TRABALHADORES DE RUA EM SALVADOR

CARACTERIZAÇÃO DA ATIVIDADE

1. NOME: ____________________________________________________________________

2. COMO COMEÇOU A ATIVIDADE? O QUE PÔDE CONQUISTAR A PARTIR DESSE TRABALHO?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. VOCÊ MUDARIA O LOCAL DO PONTO SE PUDESSE? PARA ONDE? POR QUÊ?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. VOCÊ POSSUI ALGUM TIPO DE CONTROLE CONTÁBIL DO SEU TRABALHO? QUAL?

( ) Não possui ( ) Controle de estoques ( ) Controle de caixas ( ) Controles contábeis

( ) Controle de vendas a prazo ( ) Outro: __________________________

5. COMO VOCÊ OBTEVE A LICENÇA? QUANTO TEMPO LEVOU E O QUE VOCÊ PRECISOU FAZER?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

6. COMO ESCOLHE AS MERCADORIAS? VOCÊ CONSIDERA A CONCORRÊNCIA NA ESCOLHA?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

7. QUAL SUA RELAÇÃO COM O LUGAR ONDE GUARDA A MERCADORIA? E COM O PROPRIETÁRIO? (Para ajudar, se for necessário: se conhece o local, se tem acesso, se acha seguro, etc.)

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Universidade Federal da Bahia Faculdade de Arquitetura Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PPG-AU/UFBA

Grupo de Pesquisa Lugar Comum Nome do entrevistador: _____________________ Data: ________________

Rua: _____________________________________________________________

210

CARACTERIZAÇÃO DO COTIDIANO

8. QUAL A IMPORTÂNCIA QUE CONSIDERA QUE O SEU TRABALHO TEM PARA A CIDADE? ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

9. O QUE VOCÊ PENSA SOBRE O QUE ESTÁ ACONTECENDO HOJE COM RELAÇÃO ÀS AÇÕES E PROPOSTAS DE ORDENAMENTO DA ATIVIDADE?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

10. O QUE VOCÊ PENSA SOBRE A SITUAÇÃO DOS QUE FICARAM DE FORA DA PROPOSTA DE ORDENAMENTO?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

11. O QUE VOCÊ SABE SOBRE OS LÍDERES DE RUA? QUAL O SEU PAPEL?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12. O QUE VOCÊ PENSA SOBRE AS SEGUINTES AFIRMAÇÕES VEICULADAS EM JORNAIS:

“Comércio desordenado invade calçadas”; “Pedestre é expulso das calçadas em Salvador por todo tipo de tranqueira” e “Excesso de camelô na Calçada causa acidente e fere idosa”

(Se for preciso ajudar: o que você pensa sobre essa visão que a mídia ou que a população tem do seu trabalho e o que pensa sobre a relação com a rua)

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

13. COM RELAÇÃO AO TRABALHO QUE DESEMPENHA, QUAIS SÃO SEUS PLANOS PARA O FUTURO? VOCÊ GOSTARIA DE TER UM EMPREGO FORMAL?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

14. QUAIS AS TRÊS PRINCIPAIS DIFICULDADES QUE VOCÊ ENCONTRA NO SEU TRABALHO?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

15. QUAIS AS TRÊS COISAS QUE VOCÊ GOSTA NO SEU TRABALHO?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

211

APÊNDICE C: RESULTADO DA CONTAGEM DOS TRABALHADORES PARA

DEFINIÇÃO DA AMOSTRA

Para iniciar este trabalho empírico, buscou-se levantar o número de trabalhadores

em publicações como jornais e diário oficial, porém, devido a diversidade dos quantitativos

encontrados, fez-se necessário realizar uma contagem in loco. Como metodologia para a

contagem, foi decidido realizar a mesma em dois dias diferentes e posteriormente tirar uma

média dos quantitativos encontrados, para, a partir dessa média, definir o tamanho da amostra

necessária.

As contagens foram realizadas nos dias 03/09/2014 (quarta-feira) e 11/09/2014

(quinta-feira). No primeiro dia, 03/09/2014, a contagem foi realizada unicamente pela

pesquisadora, no período da manhã. Cada barraca ou banca que foi encontrada ao longo da área

de estudo foi contada, sempre atentando para a presença do trabalhador junto ao mobiliário. Na

medida em que foi-se caminhando pelas ruas, trechos foram separados para contagem de modo

a evitar a possibilidade de perder-se entre os números. Neste primeiro dia a presença de alguns

fiscais da prefeitura foi notada ao longo de todo percurso e alguns pareceram curiosos sobre o

que estava sendo feito. Os fiscais estavam sempre em duplas e foram observados em três locais

diferentes: próximo às Mercês, ao São Bento e na região do Center Lapa. A contagem realizada

neste dia foi de 1.180 trabalhadores. Ressalta-se que não foi incluída nesta contagem os

trabalhadores que usavam carrinhos, pois devido ao seu deslocamento, havia o risco de contá-

los mais de uma vez. A exceção para este caso foi dos carrinhos de água de coco, pois a maioria

destes tem ponto fixo na rua.

No segundo dia a contagem foi realizada pela pesquisadora e por uma bolsista de

iniciação cientifica. Cada uma fez uma contagem e no final os números foram conferidos. Na

grande maioria dos casos chegou-se ao mesmo resultado, porém quando o resultado diferia

optou-se por retornar ao local para contar novamente ou fechou-se uma média entre as duas

contagens realizadas. Nesse dia só foi notada a presença de quatro fiscais. Dois na região da

Praça São Pedro e dois na região do Center Lapa. Nesse dia o número total foi de 1.076

trabalhadores.

Para facilitar a orientação e análise de campo, foi criado um mapa distinguindo as

04 áreas de aplicação dos questionários (Apêndice D). Neste mapa estão identificadas as áreas

212

e os trechos da Av. Sete de Setembro e Av. Joana Angélica que precisaram ser subdivididos

durante a contagem. Os resultados da contagem por trecho, por sua vez, estão listados na Tabela

X.

De posse dos dados da contagem, cálculos estatísticos foram realizados para se

chegar numa amostra. Esta foi calculada com um nível de confiança de 95% e margem de erro

de 5%. A estatística nos sugere que se estabeleça uma proporção entre dois grupos distintos a

fim de compará-los com o objetivo de saber se a proporção de interesse é a mesma nos dois

grupos ou não. Por exemplo, se temos um dado oficial de que a proporção de mulheres

trabalhadoras de rua é de, digamos, 50% (valor hipotético). Em nosso caso, optamos por

estabelecer a amostra como se este dado proporcional fosse totalmente desconhecido, pois o

nosso interesse não é o de testar se uma determinada proporção é verdadeira ou falsa. Sendo

assim, foi utilizada nos cálculos a proporção 50%, indicada para quando o pesquisador não tem

elementos para arbitrar numa proporção suposta e que, conseqüentemente, resulta na maior

amostra possível. Os cálculos apontaram que seria necessário entrevistar 287 trabalhadores,

número que foi distribuído proporcionalmente ao total global de cada trecho nas ruas. Tendo

sido determinado o tamanho da amostra, partiu-se para a aplicação do questionário básico que

ocorreu entre os meses de setembro e outubro do ano de 2014.

213

Tabela X: Resultado da contagem por trecho

ÁREA LOGRADOURO CONTAGEM

1 DATA

CONTAGEM

2 DATA

MÉDIA

CONTAGENS 1 E

2

% AMOSTRA

ÁR

EA

1

Rua do Cabeça (Dois de Julho, até o coreto) 41 03/09/2014 28 11/09/2014 35 3% 9

Praça Inocêncio Galvão 13 03/09/2014 13 11/09/2014 13 1% 3

Rua da Forca (Dois de Julho) 3 03/09/2014 3 11/09/2014 3 0,3% 1

ÁR

EA

2

Avenida Sete - Lado direito (até o São Bento - Beco Maria Paz) – Trecho 1 22 03/09/2014 19 11/09/2014 21 2% 5

Beco Maria Paz 36 03/09/2014 35 11/09/2014 36 3% 9

Avenida Sete - Lado direito (do Beco Maria Paz à

Rua do Cabeça) – Trecho 2 34 03/09/2014 47 11/09/2014 41 4% 10

Rua do Cabeça (Carlos Gomes) 38 03/09/2014 34 11/09/2014 36 3% 9

Avenida Sete - Lado direito (da Rua do Cabeça até o

Beco do Mucambinho) – Trecho 3 8 03/09/2014 5 11/09/2014 7 1% 2

Beco do Mucambinho 10 03/09/2014 6 11/09/2014 8 1% 2

Avenida Sete - Lado direito (do Beco do

Mucambinho até Rua da Forca) – Trecho 4 4 03/09/2014 3 11/09/2014 4 0,3% 1

Rua da Forca (Carlos Gomes) 57 03/09/2014 55 11/09/2014 52 5% 14

Avenida Sete - Lado direito (da Rua da Forca até Rua Pedro Autran) – Trecho 5

26 03/09/2014 25 11/09/2014 26 2% 7

Avenida Sete - Lado direito (da Rua Pedro Autran até a Travessa Jonathas Aboti - Beco das Quebranças) –

Trecho 6

9 03/09/2014 9 11/09/2014 9 1% 2

Travessa Jonathas Aboti - Beco das Quebranças 5 03/09/2014 3 11/09/2014 4 0,4% 1

Avenida Sete - Lado direito (da Travessa Jonathas

Aboti (Beco das Quebranças) até Rua Salvador

Pires) – Trecho 7

5 03/09/2014 2 11/09/2014 4 0,3% 1

Rua Salvador Pires 6 03/09/2014 5 11/09/2014 6 0,5% 2

214

Á

RE

A 3

Avenida Sete - Lado esquerdo (até a Rua do Paraíso)

– Trecho 1 13 03/09/2014 14 11/09/2014 14 1% 4

Avenida Sete - Lado esquerdo (da Rua do Paraíso até loja Barreiro's Calçados ) – Trecho 2 4 03/09/2014 5 11/09/2014 5 0,4% 1

Praça São Pedro 147 03/09/2014 144 11/09/2014 146 13% 37

Rua Portão da Piedade 79 03/09/2014 84 11/09/2014 82 7% 21

Rua 11 de Junho 25 03/09/2014 em reforma 11/09/2014 0 0% 0

Rua 21 de Abril 62 03/09/2014 59 11/09/2014 61 5% 15

Avenida Sete - Lado esquerdo (da loja de roupas em

frente à Insinuante até a Livraria Monteiro e depois

até a Farmácia Santana) – Trecho 3 23 03/09/2014 23 11/09/2014 23 2% 6

Praça da Piedade 20 03/09/2014 22 11/09/2014 21 2% 5

Avenida Sete - Lado esquerdo (da Faculdade de

Economia até Largo do Rosário) – Trecho 4 15 03/09/2014 16 11/09/2014 16 1% 4

Largo do Rosário 25 03/09/2014 17 11/09/2014 21 2% 5

Avenida Sete - Lado esquerdo (do Largo do Rosário

até a Rua Clóvis Spínola) – Trecho 5 4 03/09/2014 4 11/09/2014 4 0,4% 1

Rua Clóvis Spínola 24 03/09/2014 24 11/09/2014 24 2% 6

Avenida Sete - Lado esquerdo (da Rua Clóvis Spínola até às Mercês) – Trecho 6 5 03/09/2014 4 11/09/2014 5 0,4% 1

ÁR

EA

4

Rua Nova de São Bento (em reforma) 0 03/09/2014 0 11/09/2014 0 0% 0

Frente do Center Lapa 24 03/09/2014 25 11/09/2014 25 2% 6

Rua Coqueiros da Piedade 193 03/09/2014 166 11/09/2014 180 16% 46

Rua Conselheiro Junqueira Ayres 48 03/09/2014 43 11/09/2014 46 4% 12

Rua 24 de Fevereiro 45 03/09/2014 34 11/09/2014 40 3% 10

Praça Carneiro Ribeiro (Central) 58 03/09/2014 56 11/09/2014 57 5% 15

Joana Angélica - Lado esquerdo(da Rua Portão da Piedade à recarga de cartucho) – Trecho 1 2 03/09/2014 1 11/09/2014 2 0,1% 1

Joana Angélica - Lado esquerdo(da recarga de

cartucho até Rua Nova de São Bento) – Trecho 2 10 03/09/2014 11 11/09/2014 11 1% 3

Joana Angélica - Lado esquerdo(da Rua Nova de São Bento até Rua Americo Simas) – Trecho 3 37 03/09/2014 43 11/09/2014 40 4% 10

Joana Angélica - Lado direito (da Coqueiros da

Piedade até 24 de fevereiro) 0 03/09/2014 0 11/09/2014 0 0% 0

TOTAL 1180 03/09/2014 1076 1131 100% 287

Fonte: Laila Bouças, 2014

215

APÊNDICE D: ÁREAS PARA APLICAÇÃO DOS QUESTIONÁRIOS BÁSICOS

Figura X: Divisão de áreas para aplicação do questionário básico

Fonte: Elaborado pela autora, sobre a Base SICAD (Sistema Cadastral do Município de Salvador).

216

APÊNDICE E: ROTEIRO DE ENTREVISTA ASSOCIAÇÕES / SINDICATO

ROTEIRO DE ENTREVISTA – ASSOCIAÇÕES E SINDICATOS

PESQUISA SOBRE TRABALHADORES DE RUA EM SALVADOR

1. Nome: ____________________________________________________________________

2. Sexo: ( )F ( )M 3. Bairro onde mora: _______________________________________ 4. Idade: 5. Estado civil: 6. Onde nasceu:

________________________

( ) até 14 anos ( ) Solteiro(a) ( ) Salvador

( ) entre 14 e 18 anos ( ) Casado(a) ( ) RMS*

( ) entre 19 e 25 anos ( ) União estável ( ) interior da Bahia

( ) entre 26 e 30 anos ( ) Viúvo(a) ( ) Outro Estado

( ) entre 31 e 40 anos ( ) Divorciado(a) ( ) Outro país. Qual?___________________

( ) entre 41 e 50 anos ( ) Outro: _____________

( ) entre 51 e 60 ( ) NR ( ) NR

( ) mais de 60 anos

( ) NR * Região Metropolitana de Salvador: Camaçari, Candeias, Dias d'Ávila, Itaparica, Lauro de Freitas, Madre de Deus, Mata de São João, Pojuca, São Francisco do Conde, São Sebastião do Passé, Simões Filho e Vera Cruz.

7.grau de escolaridade Sem escolaridade ( ) Ensino fundamental Completo ( ) Incompleto ( )

Ensino médio Completo ( ) Incompleto ( )

Graduação Completo ( ) Incompleto ( )

Pós-Graduação Completo ( ) Incompleto ( )

NR ( )

8. Para você, como se chama este trabalho que faz aqui? O que ele compreende? Como se define?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

9. Você trabalha por conta própria? ( )sim ( ) não. 10. Por que está realizando este trabalho?

( ) Desejo de não possuir patrão ( ) Para complementar a renda da família

( ) Não encontrou outro emprego ( ) Um parente ou amigo ofereceu o trabalho

( ) Tinha experiência ( ) Outro motivo. Qual? _________________________

( ) Tradição familiar ( ) NR

( ) Para ganhar mais ou melhor ( ) NS

11. Há quanto tempo está no sindicato / associação?

__________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________ 12. O que é preciso para fazer parte do sindicato / associação? Quais os critérios?

__________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

Universidade Federal da Bahia

Faculdade de Arquitetura

Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo - PPG-AU/UFBA

Grupo de Pesquisa Lugar Comum

Nome do entrevistador: _____________________ Data: ________________

Associação/Sindicato: _____________________________________________

217

13. Quantos são os membros associados hoje?

__________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________ 14. O sindicato / associação possui informações sobre quantos são os trabalhadores cadastrados para a

região da Av. Sete de Setembro e adjacências? Em caso afirmativo, onde constam esses registros?

__________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

15. Há algum levantamento do perfil dos trabalhadores que fazem parte do sindicato / associação? É

possível ter acesso a essas informações? __________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

16. O sindicato ou associação possui informações sobre qual foi critério definido pela prefeitura para escolher os trabalhadores que permaneceriam na Avenida Sete?

__________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

17. Há informações sobre qual o encaminhamento dado com os demais?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

18. O sindicato ou associação possui informações sobre qual a maneira de inibir/coibir que os que não

tenham autorização possam voltar? __________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________ 19. Qual a posição do sindicato/associação no que diz respeito a essa situação?

__________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

20. Como foi o processo de negociação dos critérios do ordenamento com a prefeitura?

__________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

21. O que o projeto contempla?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

22. E para a associação/sindicato, ficou alguma coisa de fora? __________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________ 23. Com relação às estruturas que dão suporte à atividade, o que mais precisa ser pensado? (ex.:

iluminação, armazenamento de mercadorias, banheiro, coleta de lixo, etc.).

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

24. Na visão da associação/sindicato, o que mais significativamente mudou com o novo ordenamento dos trabalhadores de rua?

__________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

218

25. Como funciona o processo de licença/fiscalização atualmente? Houve alguma mudança após as

ações de ordenamento dos últimos 2 anos?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

26. Durante o tempo de atuação do sindicato/associação, quais foram os principais problemas

enfrentados pela categoria e em que período esses fatos aconteceram? __________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

27. Durante o tempo de atuação do sindicato/associação, quais foram as principais conquistas alcançadas

e em que período esses fatos aconteceram?

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

__________________________________________________________________________________

_________________________________________________________________________________

219

APENDICE F: DENSIDADE DE OCUPAÇÃO

A Tabela X apresenta os resultados obtidos para as ruas pedestrianizadas e a Tabela

X para as ruas em que o espaço é dividido entre as faixas de rolamento para veículos e a calçada

de uso dos pedestres. Vale ressaltar que em todas as ruas multiplicamos a média de contagens

por 2,68m² para encontrar a área total demandada pela atividade, exceto para o caso da Rua do

Cabeça (Dois de Julho), onde multiplicamos a média por 4,4m². Isto foi devido ao fato de que

na Rua do Cabeça o mobiliário utilizado não ser o padronizado pela prefeitura, podendo ser

encontrados diferentes tipos de tabuleiro. Por isto, optamos por utilizar como base a área da

situação onde mais espaço é demandado pela atividade.

Tabela X – Ruas tipo “A” – Pedestrianizadas

Logradouro

Média

contagens

1 e 2

Área

demandada

pela atividade

(m²)

Área da

rua (m²)

% Área

demandada /

Área da rua

(pedestrianizadas)

Densidade de

ocupação

Rua do Cabeça (Dois de

Julho, até o coreto) 35 155 313,6 50% Alta

Rua da Forca (Dois de

Julho) 3 8 805 1% Baixa

Beco Maria Paz 36 96 359,13 27% Média

Rua do Cabeça (Carlos Gomes)

36 96 229,04 42% Média

Beco do Mucambinho 8 21 167,2 13% Baixa

Rua da Forca (Carlos

Gomes) 55 147 215,73 68% Alta

Rua Portão da Piedade 82 220 387,42 57% Alta

Rua 11 de Junho 25 67 210,88 32% Média

Rua 21 de Abril 61 163 448,34 36% Média

Largo do Rosário 21 56 1041,35 5% Baixa

Rua Nova de São Bento 53 142 986,04 14% Baixa

Rua Coqueiros da Piedade 180 482 968,1 50% Alta

Rua 24 de Fevereiro 40 107 373,2 29% Média

Praça Carneiro Ribeiro 57 153 785,895 19% Baixa

Fonte: elaboração da autora, 2015.

220

No caso da Tabela X, em que temos o espaço dividido entre as faixas de rolamento

para veículos e a calçada de uso dos pedestres é importante salientar que a média das contagens

dos trabalhadores foi multiplicada por 4,4m² em todos os trechos da Avenida Sete, pois nessa

rua o mobiliário dificilmente atende ao padrão da prefeitura e muitas vezes fica isolado de

outros. Nos demais casos multiplicamos a média de contagens por 2,68m² para encontrar a área

total demandada pela atividade.

221

Tabela X – Densidades de ocupação nas ruas tipo “B” (dividida entre veículos e calçada)

Logradouro

Média

contagens

1 e 2

Área

demandada

pela

atividade

(m²)

Área da

rua

inteira

Área da

calçada

(m²)

% da área da

calçada em

relação à rua

inteira

Área do

passeio

% da área

do passeio

na

Calçada

% Área

demandada /

passeios

Densidade

de

ocupação

Travessa Jonathas Aboti - Beco das

Quebranças

4 11 532,56 133,14 25% 76,08 14% 2% Baixa

Rua Salvador Pires 6 16 400,66 131,56 33% 71,76 18% 4% Baixa

Rua Clóvis Spínola 24 64 1487 312,27 21% 178,44 57% 21% Média

Frente do Center

Lapa 25 67 1147,39 480,75 42% 96,15 20% 14% Alta

Rua Conselheiro

Junqueira Ayres 46 123 605,64 158,62 26% 86,52 55% 78% Alta

Avenida Sete - Lado direito (até o

São Bento - Beco

Maria Paz)

21 92 2721,65 1032,35 38% 225,24 22% 9% Média

Avenida Sete - Lado direito (do

Beco Maria Paz à

Rua do Cabeça)

41 180 3238,3 871,85 27% 298,92 34% 21% Alta

Avenida Sete -

Lado direito (da

Rua do Cabeça até

o Beco do Mucambinho)

7 31 820,7 226,4 28% 67,92 30% 14% Média

Avenida Sete -

Lado direito (do

Beco do Mucambinho até

Rua da Forca)

4 18 790,49 201,95 26% 69,24 34% 9% Baixa

222

Avenida Sete -

Lado direito (da

Rua da Forca até Rua Pedro Autran)

26 114 3061,5 714,35 23% 244,92 34% 16% Média

Avenida Sete -

Lado direito (da

Rua Pedro Autran até a Travessa

Jonathas Aboti -

Beco das Quebranças)

9 40 2565 665 26% 228 34% 6% Baixa

Avenida Sete -

Lado direito (da

Travessa Jonathas Aboti (Beco das

Quebranças) até

Rua Salvador

Pires)

4 18 1728,25 446 26% 133,8 30% 4% Baixa

Avenida Sete - Lado esquerdo (até

a Rua do Paraíso)

14 62 1468,64 274 19% 131,52 48% 22% Média

Avenida Sete -

Lado esquerdo (da Rua do Paraíso até

loja Barreiro's

Calçados - Praça São Pedro)

5 22 2142,6 398,85 19% 164,16 41% 6% Baixa

Avenida Sete -

Lado esquerdo (da

loja de roupas em frente à Insinuante

até a Livraria

Monteiro e depois até a Farmácia

Santana)

23 101 2549,9 655,9 26% 245,28 37% 15% Média

223

Avenida Sete -

Lado esquerdo (da

Faculdade de Economia até

Largo do Rosário)

16 70 2239,65 414,75 19% 199,08 48% 17% Média

Avenida Sete -

Lado esquerdo (do Largo do Rosário

até a Rua Clóvis

Spínola)

4 18 1761,2 523,6 30% 142,8 27% 3% Baixa

Avenida Sete - Lado esquerdo (da

Rua Clóvis Spínola

até às Mercês)

5 22 2521,92 444 18% 213,12 48% 5% Baixa

Fonte: elaboração da autora, 2015.

224

APÊNDICE G: SISTEMATIZAÇÃO DO QUESTIONÁRIO BÁSICO: TABELAS E

GRÁFICOS

A) Dados de caracterização geral

TABELA A.1

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Sexo

Nº de

respostas

%

feminino 135 47%

masculino 154 53%

Total 289 100,0 Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO A.1

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Sexo

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA A.2

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Bairro onde

mora

Nº de

respostas

%

Águas Claras 3 1,0

Alto da Teresinha 1 ,3

Alto das Pombas 2 ,7

Alto de Coutos 1 ,3

Alto do Cabrito 4 1,4

Arenoso 1 ,3

Arraial do Retiro 1 ,3

Bairro da Paz 3 1,0

Baixa de Quintas 1 ,3

Baixa dos Sapateiros 2 ,7

Barbalho 1 ,3

47%

53%

Feminino

Masculino

225

Barris 13 4,5

Barroquinha 2 ,7

Boa Visa do Lobato 1 ,3

Boca do Rio 4 1,4

Bom Juá 1 ,3

Bonocô 2 ,7

Brotas 4 1,4

Cabula 6 2,1

Caixa d'água 3 1,0

Cajazeiras 9 3,1

Calabar 2 ,7

Campinas de Piraja 1 ,3

Candeias 1 ,3

Castelo Branco 6 2,1

Centenário 1 ,3

Centro 14 4,8

Cidade Nova 2 ,7

Cosme de Farias 4 1,4

Coutos 1 ,3

Dois de Julho 14 4,8

Engenho Velho da Federação 2 ,7

Engenho Velho de Brotas 6 2,1

Engomadeira 1 ,3

Estrada da Rainha 1 ,3

Estrada das Barreiras 1 ,3

Fazenda Coutos 1 1 ,3

Fazenda Grande 2 ,7

Fazenda Grande do Retiro 1 ,3

Fazenda Grande II 1 ,3

Federação 4 1,4

Feira de Santana 1 ,3

G. Piraja 1 1 ,3

Garcia 2 ,7

IAPI 2 ,7

Ilha 2 ,7

Itapuã 2 ,7

Jardim Cruzeiro 1 ,3

Jardim Nova Esperança 1 ,3

Jardim Santo Inacio 1 ,3

Joana Angelica 2 ,7

Lapinha 1 ,3

Largo do Tanque 1 ,3

Lauro de Freitas 1 ,3

Liberdade 3 1,0

Lobato 4 1,4

Marechal Rondon 1 ,3

Mares 1 ,3

226

Massaranduba 1 ,3

Mata Escura 4 1,4

Matatu 1 ,3

Metro 1 1 ,3

Mouraria 1 ,3

Mussurunga 3 1,0

Narandiba 2 ,7

Nazare 3 1,0

Nazaré 6 2,1

Novo Horizonte 1 ,3

Ogunjá 1 ,3

Paralela 1 ,3

Pau da Lima 6 2,1

Pau Miudo 1 ,3

Periperi 2 ,7

Pernambués 8 2,8

Pero Vaz 1 ,3

Piedade 2 ,7

Pirajá 4 1,4

Pituaçu 2 ,7

Plataforma 4 1,4

Politeama 1 ,3

Portão 1 ,3

Praia Grande 1 ,3

Retiro 3 1,0

Ribeira 1 ,3

Rio Sena 1 ,3

Rio Vermelho 2 ,7

Saboeiro 1 ,3

San Martim 1 ,3

Santa Cruz 1 ,3

Santa Mônica 2 ,7

Santa Rita (Matatu de Brotas) 1 ,3

Santo Antônio 2 ,7

São Caetano 5 1,7

São Cristovão 2 ,7

São Marcos 1 ,3

Saúde 1 ,3

Sete de Abril 1 ,3

Sete Portas 3 1,0

Simões Filho 3 1,0

Suburbana 6 2,1

Suburbio 1 ,3

Sussuarana 8 2,8

Sussuarana Nova 1 ,3

Sussuarana Velha 1 ,3

Tancredo Neves 8 2,8

227

Teresinha 1 ,3

Tororó 6 2,1

Vale do Matatu 1 ,3

Valéria 2 ,7

Vasco da Gama 4 1,4

Vida Nova 1 ,3

Vila Laura 1 ,3

Vista alegre 1 ,3

Total 289 100,0 Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA A.3

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Idade

Nº de

respostas

%

até 14 anos 1 ,3

entre 14 e 18 anos 11 3,8

entre 19 e 25 anos 26 9,0

entre 26 e 30 anos 31 10,7

entre 31 e 40 anos 82 28,4

entre 41 e 50 anos 76 26,3

entre 51 e 60 46 15,9

mais de 60 16 5,5

Total 289 100,0 Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO A.3

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Idade

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

0,3%

3,8%

9,0%10,7%

28,4%26,3%

15,9%

5,5%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%até 14 anos

entre 14 e 18 anos

entre 19 e 25 anos

entre 26 e 30 anos

entre 31 e 40 anos

entre 41 e 50 anos

entre 51 e 60

mais de 60

228

GRÁFICO A.4

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Pirâmide Etária

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA A.4

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Estado civil

Nº de

respostas

%

Solteiro(a) 117 40,5

Casado(a) 109 37,7

União Estável 30 10,4

Viúvo(a) 9 3,1

Divorciado(a) 14 4,8

Outro 10 3,5

Total 289 100,0 Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO A.4

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Estado civil

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

40,5% 37,7%

10,4%4,8% 3,5% 3,1%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%Solteiro(a)

Casado(a)

União Estável

Divorciado(a)

Outro

Viúvo(a)

229

TABELA A.5.1

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Onde nasceu

Nº de respostas %

5 1,7

Alagoas 2 ,7

Alagoinhas 4 1,4

Amargosa 7 2,4

Anguera 1 ,3

Antas 1 ,3

Bom Jesus da Lapa 1 ,3

Botuporã 1 ,3

Cachoeira 1 ,3

Camaçari 1 ,3

Castro Alves 1 ,3

Ceara 3 1,0

Ceará 1 ,3

Chapada Diamantina 1 ,3

Cipó 1 ,3

Coite 1 ,3

Coité 4 1,4

Conceição de Feira 2 ,7

Coração de Maria 1 ,3

Cruz das Almas 2 ,7

Espírito Santo 1 ,3

Feira de Santana 16 5,5

Gandu 3 1,0

Grecia 1 ,3

Ilha 1 ,3

Ipiaú 1 ,3

Ipira 1 ,3

Ipirá 6 2,1

Irará 2 ,7

Itabuna 1 ,3

Itajuipe 1 ,3

Itaparica 2 ,7

Ituberá 1 ,3

Jaguaquara 1 ,3

Jaguaripe 1 ,3

Jeremoabo 1 ,3

Laje 1 ,3

Mairi 1 ,3

Maracás 1 ,3

Maragogipe 1 ,3

Maranhão 1 ,3

Marau 1 ,3

Mato Grosso do Sul 1 ,3

230

Muritiba 1 ,3

Mutuípe 1 ,3

Não quis informar 1 ,3

Não sabe exatamente onde

nasceu

1 ,3

Pará 1 ,3

Pernambuco 1 ,3

Riachão do Jacuípe 1 ,3

Rio Grande do Norte 1 ,3

Rui Barbosa 2 ,7

Salvador 143 49,5

Santo Amaro 2 ,7

Santo Antonio de Jesus 1 ,3

Santo Antônio de Jesus 1 ,3

Santo Estevão 3 1,0

São Felipe 6 2,1

São Felix 1 ,3

São Gonçalo dos Campos 1 ,3

São Miguel 1 ,3

São Paulo 4 1,4

Sátiro Dias 1 ,3

Sem resposta 6 2,1

Sergipe 9 3,1

Serra Preta 2 ,7

Serrinha 4 1,4

Simões Filhos 1 ,3

Sul do Brasil 1 ,3

Teodoro Sampaio 1 ,3

Terra nova 1 ,3

Valença 1 ,3

Vitória da Conquista 1 ,3

Total 289 100,0 Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA A.5.2

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Onde nasceu –

Síntese Geral

Nº de

respostas

%

Salvador 143 49,5

RMS 6 2,1

Interior da Bahia 111 38,4

Outro Estado 28 9,7

Outro País 1 ,3

Total 289 100,0 Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

231

GRÁFICO A.5.2

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Onde nasceu –

Síntese Geral

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO A.5.3

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Onde nasceu –

Por território de identidade

Nº de

respostas

%

1 ,3

Agreste de Alagoinhas 5 1,7

Bacia do Jacuípe 11 3,8

Bacia do Paramirim 1 ,3

Baixo Sul 6 2,1

Chapada Diamantina 1 ,3

Litoral Sul 3 1,0

Médio Rio das Contas 1 ,3

Metropolitana de Salvador 151 52,2

Outro Estado 29 10,0

Outro País 1 ,3

Piemonte do Paraguaçu 2 ,7

Portal do Sertão 28 9,3

Recôncavo 16 5,5

Sem resposta 8 2,8

Semi-árido Nordeste II 3 1,0

Sisal 8 2,8

Vale do Jiquiriçá 12 4,2

Velho Chico 1 ,3

Vitória da Conquista 1 ,3

Total 289 100,0 Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

49,5%

38,4%

9,7%2,1% 0,3%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

Salvador

Interior da Bahia

Outro Estado

RMS

Outro País

232

TABELA A.6

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Grau de

escolaridade

Nº de

respostas

%

Sem escolaridade 5 1,7

Em andamento 9 3,1

Ensino fundamental completo 36 12,5

Ensino fundamental incompleto 95 32,9

Ensino medio completo 90 31,1

Ensino medio incompleto 50 17,3

Graduaçao completo 2 ,7

Graduaçao incompleto 2 ,7

Total 289 100,0 Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO A.6

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Grau de

escolaridade

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA A.7

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Tem filhos?

Nº de

respostas

%

Não tem filhos 63 21,8

1 filho 69 23,9

2 filhos 71 24,6

3 filhos 45 15,6

4 filhos 12 4,2

5 filhos 13 4,5

6 filhos 8 2,8

7 filhos 1 ,3

8 filhos 1 ,3

10 filhos 4 1,4

1,7%3,1%

12,5%

32,9%31,1%

17,3%

0,7% 0,7%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%Sem escolaridade

Em andamento

Ensino fundamental completo

Ensino fundamental incompleto

Ensino medio completo

Ensino medio incompleto

Graduaçao completo

Graduaçao incompleto

233

11 filhos 2 ,7

Total 289 100,0 Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO A.7

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Tem filhos?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA A.8

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Para você,

como se chama este trabalho que exerce?

Nº de

respostas

%

Ambulante 112 34,5%

Artesão 7 2,2%

Autonomo(a) 68 20,9%

Camelô 51 15,7%

Comércio informal 24 7,4%

Micro empreendedor / Empeendedor individual 18 5,5%

Outros 18 5,5%

Vendedor / Comerciante 24 7,4%

Não respondeu 3 0,9%

TOTAL 325 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

21,8%23,9%

24,6%

15,6%

4,2% 4,5%2,8%

0,3% 0,3%1,4% 0,7%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%Não tem filhos

1 filho

2 filhos

3 filhos

4 filhos

5 filhos

6 filhos

7 filhos

8 filhos

10 filhos

11 filhos

234

GRÁFICO A.8

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Para você,

como se chama este trabalho que exerce?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA A.9

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Você trabalha

por conta própria?

Nº de

respostas

%

Sim 265 91,7

Não 24 8,3

Total 289 100,0 Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRAFICO A.9

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Você trabalha

por conta própria?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

34,5%

20,9%

15,7%

7,4% 7,4%5,5% 5,5%

2,2%0,9%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0% Ambulante

Autonomo(a)

Camelô

Vendedor / Comerciante

Comércio informal

Micro empreendedor /Empeendedor individualOutros

Artesão

Não respondeu

91,7%

8,3%

Sim

Não

235

TABELA A.10

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Porque está

realizando este trabalho?

Nº de

respostas

%

Desejo de não possuir patrão 71 21,2%

Gosta de trabalhar na rua 19 5,7%

Não encontrou outro emprego 144 43,0%

Para complementar a renda da familia 12 3,6%

Para cuidar dos filhos 6 1,8%

Tem pouca escolaridade 5 1,5%

Tinha experiencia 12 3,6%

Tradição familiar 38 11,3%

Outro motivo 28 8,4%

TOTAL 335 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO A.10

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Porque está

realizando este trabalho?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA A.11

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Já trabalhou de

carteira assinada antes? Nº de

respostas

%

Sim 167 57,8%

Não 122 42,2%

Total 289 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

1,5% 1,8%3,6% 3,6%

5,7%8,4%

11,3%

21,2%

43,0%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

45,0%

50,0%Tem pouca escolaridade

Para cuidar dos filhos

Para complementar a renda dafamiliaTinha experiencia

Gosta de trabalhar na rua

Outro motivo

Tradição familiar

Desejo de não possuir patrão

Não encontrou outro emprego

236

GRÁFICO A.11

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Já trabalhou de

carteira assinada antes?

TABELA A.12.1

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se já trabalhou

com a atividade formal antes, o que fazia? – Lista completa

Nº de

respostas

%

25 anos de carteira. Adquiriu deficiência 1 ,3

Acompanhante de idosos 1 ,3

Açougueiro 1 ,3

Ajudante 1 ,3

Ajudante de escritório 1 ,3

Ajudante de montador 1 ,3

Ajudante de pedreiro 2 ,7

Ajudante de pedreiro por 6 meses 1 ,3

Ajudante na empresa 1 ,3

Almoxarifado 1 ,3

Assessorista 1 ,3

Assessorista. Trabalhava no Spc. 1 ,3

Atendente 2 ,7

Atendente e balconista 1 ,3

Auxiliar administrativa 1 ,3

Auxiliar de cozinha 1 ,3

Auxiliar de cozinha. Operadora de caixa etc. 1 ,3

Auxiliar de deposito 1 ,3

Auxiliar de encanador industrial 1 ,3

Auxiliar de enfermagem 1 ,3

Auxiliar de escritório 1 ,3

Auxiliar de escritório, recepcionista. 1 ,3

Auxiliar de produção 1 ,3

Auxiliar de serviços gerais por 2anos 1 ,3

Auxiliar de serviços gerais. 2 ,7

Avipal nordeste no interior 1 ,3

Baba 1 ,3

Balconista 4 1,4

58%

42%

Sim Não

237

Balconista e trabalhou em fabrica também 1 ,3

Balconista, eletricista. 1 ,3

Banco por 3 anos. 1 ,3

Boy de empresas 1 ,3

Caixa de mercado 1 ,3

Caixa Econômica 1 ,3

Caixa por 3 anos 1 ,3

Casa de família 1 ,3

Casa nunes, loja de sapatos. 15 anos 1 ,3

Caseiro, mas não assinou carteira. 1 ,3

Cobrador e trabalhou na Coca Cola por 12 anos. 1 ,3

Comerciante por 19 anos com carteira 1 ,3

Comerciaria, em farmácia Chile. 9 anos e 6 meses 1 ,3

Comerciário 1 ,3

Confeitaria 1 ,3

Conferente 1 ,3

Construção 1 ,3

Construção civil. 2 ,7

Contadora por 10 anos 1 ,3

Construção civil. 1 ,3

Construção civil. 36anos de carteira 1 ,3

Costureira 1 ,3

Cozinheiro na cantina da lua(pelourinho) 1 ,3

Cuidadora de idosos 1 ,3

Dava aula para o primário por 3 anos(1990/1993). 1 ,3

Dava aulas. Tem curso de auxiliar de enfermagem e foi recepcionista. 1 ,3

Digitador 1 ,3

Domestica 2 ,7

Domestica/ Baba 1 ,3

Domestica/Serviços gerais 1 ,3

Eletricista 2 ,7

Em escritório, serviços gerais. 1 ,3

Emprega Doméstica 1 ,3

Empregada com bolsas, cinto ( Não era vendedora). 1 ,3

Entregava jornal 1 ,3

Estagiaria na Farmácia Santana 1 ,3

Fazia leitura de agua. Prestava serviço da Embasa 1 ,3

Fazia moveis 1 ,3

Foi gerente do bom preço. Por 16anos 1 ,3

Funcionaria do Banco Central por 35 anos. 1 ,3

Garçom 1 ,3

Garçom por 15 anos 1 ,3

Garçonete e vendedora 1 ,3

Gerente de loja 1 ,3

Gráfica, porto, frentista 1 ,3

Insinuante 1 ,3

Já trabalhou por a contrato de trabalho 1 ,3

238

Jardineiro 1 ,3

Lanchonete 1 ,3

Loja de ferragens 1 ,3

Manicure, cabelereira. 1 ,3

Militar do exército por 5anos 1 ,3

Motoboy 1 ,3

Motorista 1 ,3

Motorista, caminhoneiro. 1 ,3

Não respondeu 1 ,3

Não se aplica 113 39,1

Não se recorda 1 ,3

Nunca teve oportunidade 1 ,3

Nunca, e nem pretende. Daqui e botar uma loja e pronto 1 ,3

Office Boy 1 ,3

Oficina 1 ,3

Operador de máquina. Pediu para sair, perdeu 8 anos de empresa 1 ,3

Paga INSS de forma autônoma 1 ,3

Pagou INSS por fora para poder se aposentar 1 ,3

Pedreiro 1 ,3

Pedreiro . Carteira assinada por anos 1 ,3

Pedreiro por 18 anos 1 ,3

Pintor 2 ,7

Pintor por 23 anos 1 ,3

Porteiro 1 ,3

Porteiro de cinema. 1 ,3

Produção, embalar roupa, por 4anos 1 ,3

Professora 1 ,3

Promotora 1 ,3

Promotora de vendas 1 ,3

Promotora de vendas por 4anos 1 ,3

Recebia salario, tinha um patrão. Nunca assinaram sua carteira, era

vendedor. E musico.

1 ,3

Recepcionista 2 ,7

Recepcionista por 19anos 1 ,3

Repositor 1 ,3

Rodoviário 1 ,3

Segurança 3 1,0

Segurança por 35 anos. 1 ,3

Sem resposta 3 1,0

Senac, vestart, caixa, vendedora. 1 ,3

Servente, porteiro. 1 ,3

Serviços gerais 2 ,7

Serviços Gerais 1 ,3

Serviços gerais e vigilante 1 ,3

Serviços gerais, vendas de porta em porta. 1 ,3

Serviços gerais. 1 ,3

Serviços gerais por dois anos.Ganhava pouco 1 ,3

239

Sorveteria no campo grande. Viajava para o Paraguai 1 ,3

Supervisor de mercado. 1 ,3

Tem muitos anos . Domestica 20 anos 1 ,3

Terceirizado em uma empresa 1 ,3

Trabalhava na construção civil 1 ,3

Trabalhou 5 meses na Bel, mas não quis que assinassem a carteira,

pois so queria juntar dinheiro.

1 ,3

Trabalhou em 4 empresas 1 ,3

Trabalhou em casa de família 1 ,3

Trabalhou em estaleiro 1 ,3

Trabalhou em mercado 1 ,3

Trabalhou em mercado, repositor 1 ,3

Trabalhou em padaria 1 ,3

Trabalhou em Shopping e em clínica 1 ,3

Trabalhou em uma roça em São Paulo 1 ,3

Trabalhou na Pelicano 1 ,3

Trabalhou na Telebahia 1 ,3

Trabalhou no Bom preço. Promotora de vendas e garçonete 1 ,3

Trabalhou no Fantoches 17 anos 1 ,3

Trabalhou, mas não assinaram a carteira, era secretaria e doméstica. 1 ,3

Transportadora 1 ,3

Varias coisas 1 ,3

Vendas 1 ,3

Vendedor 2 ,7

Vendedor e produtor de material para o polo petroquímico 1 ,3

Vendedor por 13anos, e recepcionista. 1 ,3

Vendedor/ repositor/atendente 1 ,3

Vendedora 6 2,1

Vendedora de loja, 6meses 1 ,3

Vendedora por 13 anos. 1 ,3

Vendedora, professora 1 ,3

Vigilante 2 ,7

Vigilante. Depois com a idade não arranjou mais emprego 1 ,3

Zelador 1 ,3

Total 289 100,0 Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA A.12.2

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se já trabalhou

com a atividade formal antes, o que fazia? – Síntese

Nº de

respostas %

NR 6 2,1%

Construção civil 16 5,5%

Vendas / Comerciante 20 6,9%

Prestação de serviços 66 22,8%

240

Área de saúde 3 1,0%

Serviços gerais 15 5,2%

Serviços domésticos 10 3,5%

Área de transportes 5 1,7%

Artesão 1 0,3%

Área agrícola 1 0,3%

Área industrial 7 2,4%

Área de educação 3 1,0%

Cargo de gerência / bancário 5 1,7%

Militar / segurança / vigilante 8 2,8%

Outros 6 2,1%

Não se aplica 117 40,5%

Total 289 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO A.12.2

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se já trabalhou

com a atividade formal antes, o que fazia? – Síntese

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

57,6%

11,6%9,3%

4,7% 3,5% 2,9% 2,9% 2,9% 1,7% 1,7% 0,6% 0,6%0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%

Prestação de serviços Vendedor / comerciante

Construção civil Profissional do setor industrial

Não respondeu Profissional do setor de transportes

Profissional com cargo de gerência / bancário Outros

Profissional do setor de saúde Profissional do setor de educação

Profissional do setor agrícola Artesão

241

TABELA A.13

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Quando fica

doente, o que acontece com a atividade?

Quando fica doente o que acontece com a atividade? Nº de

respostas

%

Contrata outra pessoa para trabalhar 2 0,6%

Não fica / nunca ficou doente 15 4,8%

O dono toma conta do ponto 3 1,0%

O negócio fica fechado até se recuperar 188 59,9%

Um membro da família ou conhecido se encarrega do negócio 80 25,5%

Um outro trabalhador de rua cuida da atividade 24 7,6%

Outro 2 0,6%

TOTAL 314 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO A.13

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Quando fica

doente, o que acontece com a atividade?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

59,9%

25,5%

7,6%4,8%

1,0% 0,6% 0,6%0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0% O negócio fica fechado até serecuperarUm membro da família ouconhecido se encarrega do negócioUm outro trabalhador de rua cuidada atividadeNão fica / nunca ficou doente

O dono toma conta do ponto

Outro

Contrata outra pessoa paratrabalhar

242

B) Caracterização da atividade

TABELA B.1

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Há quanto

tempo exerce a atividade?

Nº de

respostas

%

até 1 ano 29 10%

entre 1 e 2 anos 13 4,5%

entre 2 e 5 anos 28 9,7%

entre 5 e 10 anos 64 22,1%

entre 1 0 e 15 anos 37 12,8%

entre 15 e 20 anos 41 14,2%

entre 20 e 30 anos 49 17%

entre 30 e 40 anos 20 6,9%

entre 40 e 50 anos 4 1,4%

mais de 50 anos 3 1%

NR 1 0,3%

TOTAL 289 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.1

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Há quanto

tempo exerce a atividade?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

10%

4,5%

9,7%

22,1%

12,8%14,2%

17%

6,9%

1,4% 1% 0,3%0%

5%

10%

15%

20%

25% até 1 anoentre 1 e 2 anosentre 2 e 5 anosentre 5 e 10 anosentre 1 0 e 15 anosentre 15 e 20 anosentre 20 e 30 anosentre 30 e 40 anosentre 40 e 50 anosmais de 50 anosNR

243

TABELA B.2

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Há quanto

tempo trabalha nesta rua?

Nº de

respostas

%

até 1 ano 78 27%

entre 1 e 2 anos 13 4,5%

entre 2 e 5 anos 42 14,5%

entre 5 e 10 anos 65 22,5%

entre 1 0 e 15 anos 36 12,5%

entre 15 e 20 anos 26 9%

entre 20 e 30 anos 20 6,9%

entre 30 e 40 anos 6 2,1%

entre 40 e 50 anos 1 0,3%

mais de 50 anos 2 0,7%

NR 0 0%

TOTAL 289 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.2

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Há quanto

tempo trabalha nesta rua?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

27%

4,5%

14,5%

22,5%

12,5%

9%

6,9%

2,1%0,3% 0,7% 0%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%até 1 ano

entre 1 e 2 anos

entre 2 e 5 anos

entre 5 e 10 anos

entre 1 0 e 15 anos

entre 15 e 20 anos

entre 20 e 30 anos

entre 30 e 40 anos

entre 40 e 50 anos

mais de 50 anos

NR

244

TABELA B.3

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Que horas abre

/ que horas fecha?

Fonte: Pesquisa de

campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de

2014.

GRÁFICO B.3

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Que horas abre

/ que horas fecha?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

Horário que abre

Antes de 6h 2 0,7%

Entre 6 e 7h 29 10%

Entre 7 e 8h 63 21,8%

Entre 8 e 9h 101 34,9%

Entre 9 e 10h 74 25,6%

Entre 10 e 11h 12 4,2%

Entre 11 e 12h 6 2,1%

Outros 2 0,7%

Total 289 100,0%

Horário que fecha

Entre 17 e 18h 71 24,6%

Entre 18 e 19h 119 41,2%

Entre 19 e 20h 63 21,8%

Entre 20 e 21h 16 5,5%

Após às 21h 4 1,4%

Outro 16 5,5%

Total 289 100,0%

0,7%

10%

21,8%

34,9%

25,6%

4,2%2,1%

0,7%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

24,6%

41,2%

21,8%

5,5%

1,4%

5,5%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

45,0%

Entre17 e18h

Entre18 e19h

Entre19 e20h

Entre20 e21h

Apósàs 21h

Outro

245

TABELA B.4

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Quais dias

trabalha?

Nº de

respostas

%

segunda à domingo 6 2,1%

segunda à sábado 248 85,8%

segunda à sexta 27 9,3%

Outro 8 2,8%

TOTAL 289 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.4

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Quais dias

trabalha?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA B.5

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Como se

desloca até o local de trabalho?

N de

respostas

%

A pé 73 23,0%

Automóvel próprio 26 8,2%

Bicicleta 4 1,3%

Carreto 4 1,3%

Ferry boat 2 0,6%

Metrô 2 0,6%

Motocicleta 14 4,4%

Mototaxi ou van 2 0,6%

Ônibus 188 59,3%

Taxi 2 0,6%

TOTAL 317 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

2,1%

85,8%

9,3%2,8%

0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

segunda à domingo

segunda à sábado

segunda à sexta

outro

246

GRÁFICO B.5

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Como se

desloca até o local de trabalho?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA B.6

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Onde você bebe

água e se alimenta?

Nº de

respostas

%

traz de casa e consome no mesmo local onde trabalha 91 31,5%

compra e consome no mesmo local onde trabalha 56 19,4%

em restaurante próximo ao local onde trabalha 115 39,8%

em casa de amigos ou parentes próximo ao local onde

trabalha

4 1,4%

em sua própria casa 23 8%

TOTAL 289 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.6

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Onde você bebe

água e se alimenta?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

59,3%

23,0%

8,2%4,4%

1,3% 1,3% 0,6% 0,6% 0,6% 0,6%0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

70,0%Ônibus

A pé

Automóvel próprio

Motocicleta

Bicicleta

Carreto

Ferry boat

Metrô

Mototaxi ou van

Taxi

39,8%

31,5%

19,4%

8%

1,4%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0% em restaurante próximo ao local ondetrabalha

traz de casa e consome no mesmo localonde trabalha

compra e consome no mesmo local ondetrabalha

em sua própria casa

em casa de amigos ou parentes próximoao local onde trabalha

247

TABELA B.7

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se precisar ir ao

banheiro, onde você vai?

Se precisar ir ao banheiro, onde vai?

em estabelecimento próximo ao local onde trabalha 273 94,5%

em banheiro público 1 0,3%

em casa de amigos ou parentes próximos ao local onde

trabalha

3 1%

em sua própria casa 10 3,5%

No mesmo local onde trabalha 1 0,3%

Não respondeu 1 0,3%

TOTAL 289 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.7

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se precisar ir ao

banheiro, onde você vai?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA B.8

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – O que faz com

o lixo produzido?

Nº de

respostas

%

Acumula durante o dia e descarta na própria rua 171 50,1%

Acumula e gari recolhe durante o dia 33 9,7%

Descarta em outro lugar próximo (poste ou via

pública)

20 5,9%

Joga em lixeiras públicas ao longo do dia 109 32,0%

Não produz lixo 7 2,1%

Separa para reciclagem 1 0,3%

TOTAL 341 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

39,8%

31,5%

19,4%

8%

1,4%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

45,0% em restaurante próximo ao localonde trabalha

traz de casa e consome no mesmolocal onde trabalha

compra e consome no mesmo localonde trabalha

em sua própria casa

em casa de amigos ou parentespróximo ao local onde trabalha

248

GRÁFICO B.8

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – O que faz com

o lixo produzido?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA B.9

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Quanto você

consegue tirar um dia bom?

Nº de respostas %

Não respondeu 31 10,7%

entre R$10 e R$30 9 3,1%

entre R$31 e R$50 19 6,6%

entre R$51 e R$100 83 28,7%

entre R$101 e R$150 23 8,0%

entre R$151 e R$200 46 15,9%

entre R$201 e R$300 31 10,7%

entre R$301 e R$500 21 7,3%

entre R$500 e

R$1.000

21 7,3%

mais de R$1.000 5 1,7%

TOTAL 289 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

52,6%

33,6%

8,7%4,2%

0,7% 0,3%0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%acumula durante o dia e descarta naprópria rua

joga em lixeiras públicas ao longo do dia

acumula e gari recolhe durante o dia

outro

leva consigo para descartar em outrolocal

separa para reciclagem

249

GRÁFICO B.9

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Quanto você

consegue tirar um dia bom?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA B.10

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Quanto você

consegue tirar num dia ruim?

Nº de respostas %

Não respondeu 31 10,7%

até R$10 80 27,7%

entre R$11 e R$30 46 15,9%

entre R$31 e R$50 41 14,2%

entre R$51 e R$100 50 17,3%

entre R$101 e R$150 15 5,2%

entre R$151 e R$200 10 3,5%

entre R$201 e R$300 11 3,8%

entre R$301 e R$500 5 1,7%

TOTAL 289 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.10

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Quanto você

consegue tirar num dia ruim?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

10,7%

3,1%6,6%

28,7%

8,0%

15,9%

10,7%7,3% 7,3%

1,7%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

Não respondeuentre R$10 e R$30entre R$31 e R$50entre R$51 e R$100entre R$101 e R$150entre R$151 e R$200entre R$201 e R$300entre R$301 e R$500entre R$500 e R$1.000

10,7%

27,7%

15,9%14,2%

17,3%

5,2%3,5% 3,8%

1,7%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%Não respondeu

até R$10

entre R$11 e R$30

entre R$31 e R$50

entre R$51 e R$100

entre R$101 e R$150

entre R$151 e R$200

entre R$201 e R$300

250

TABELA B.11

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Por que seu

ponto é nesta rua? (Síntese)

Nº de

respostas

%

Determinado pela prefeitura / foi transferido / onde trabalhava está

em reforma

125 43,3%

Foi o único local disponível 28 9,7%

Por causa do movimento / localização 43 14,9%

Porque tem amigos no local 12 4,2%

Escolha propria / acha o local bom / pediu para ser transferido para cá 21 7,3%

Acha que o lugar é mais tranquilo / tem menos concorrencia / os

outros locais estavam cheios

4 1,4%

Recebeu o ponto de outra pessoa 7 2,4%

Foi autorizado pelo dono do estabelecimento 1 0,3%

Tradição familiar 26 9,0%

Tem proteção contra sol e chuva / faz menos calor 5 1,7%

Outro 8 2,8%

Não sabe 9 3,1%

TOTAL 289 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.11

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Por que seu

ponto é nesta rua?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

43,3%

14,9%

9,7%9,0%7,3%

4,2%3,1%2,8%2,4%1,7%1,4%

0,3%0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

45,0%

50,0% Determinado pela prefeitura / foitransferido / onde trabalhava está emreformaPor causa do movimento / localização

Foi o único local disponível

Tradição familiar

Escolha propria / acha o local bom / pediupara ser transferido para cá

Porque tem amigos no local

NS

Outro

251

TABELA B.12

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – O ponto é seu?

Nº de

respostas

%

Sim 237 82%

Não 52 18%

TOTAL 289 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.12

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – O ponto é seu?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA B.13

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se o ponto não

é seu, qual a relação de trabalho que você tem com essa outra pessoa?

nº de

respostas

%

Empregado 18 6,2%

Familiar 24 8,3%

Amigo 6 2,1%

Outro 5 1,7%

Não se aplica 236 81,7%

TOTAL 289 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

82%

18%

Sim

Não

252

GRÁFICO B.13

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se o ponto não

é seu, qual a relação de trabalho que você tem com essa outra pessoa?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA B.14

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Você possui

outros pontos? Quantos?

Nº de

respostas

%

Não possui outros pontos 275 95,2%

Possui mais 1 ponto 11 3,8%

Possui mais 2 pontos 2 0,7%

Possui mais de 3 pontos 1 0,3%

TOTAL 289 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.14

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Você possui

outros pontos? Quantos?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

81,7%

8,3% 6,2% 2,1% 1,7%0,0%

50,0%

100,0% Não se aplica

Familiar

Empregado

Amigo

Outro

95,2%

3,8% 0,7% 0,3%0,0%

20,0%

40,0%

60,0%

80,0%

100,0%

Não possui outros pontos

Possui mais 1 ponto

Possui mais 2 pontos

Possui mais de 3 pontos

253

TABELA B.15

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se possui

outros pontos, onde eles ficam?

Nº de

respostas

%

Em outro local 8 2,8%

Na mesma rua 6 2,1%

Não possui outros pontos 275 95,2%

TOTAL 289 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.15

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se possui

outros pontos, onde eles ficam?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA B.16

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Você tem

licença?

Nº de

respostas

%

Sim 213 74%

Não 72 25%

Não respondeu 4 1%

TOTAL 289 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.16

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Você tem

licença?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

2,1% 2,8%

95,2%

0,0%

50,0%

100,0%

Na mesma rua

Em outro local

Não possui outros pontos

74%

25%

1%

Sim

Não

Não respondeu

254

TABELA B.17

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Porque tirou a

licença?

Nº de

respostas

%

Porque precisa ter, é obrigatório / Senão não pode trabalhar 62 28,6%

Porque é mais seguro 19 8,8%

Porque pode ficar em paz, despreocupado 14 6,5%

Para estar legal / ter respeito 15 6,9%

Para não perder mercadoria 14 6,5%

Porque ajuda a organizar / precisa ter controle 19 8,8%

Tem, mas acha que não ajuda 7 3,2%

Foi outra pessoa quem fez 7 3,2%

Tem, mas foi licenciado para outro lugar 2 0,9%

Outros 18 8,3%

Sem resposta 35 16,1%

Não sabe 5 2,3%

TOTAL 217 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.17

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Porque tirou a

licença?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

28,6%

16,1%

8,8% 8,8% 8,3% 6,9% 6,5% 6,5%3,2% 3,2% 2,3% 0,9%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

Porque precisa ter, é obrigatório / Senão não pode trabalhar

Sem resposta

Porque ajuda a organizar / precisa ter controle

Porque é mais seguro

Outros

Para estar legal / ter respeito

Porque pode ficar em paz, despreocupado

Para não perder mercadoria

Tem, mas acha que não ajuda

Foi outra pessoa quem fez

Não sabe

Tem, mas foi licenciado para outro lugar

255

TABELA B.18

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Porque não

tirou a licença?

Nº de

repostas

%

Nunca conseguiu 10 13,9%

Não tem interesse 4 5,6%

Vende produto que não é licenciado 3 4,2%

Não, mas tem autorização da loja 2 2,8%

Não, mas quer ter 2 2,8%

Não, porque acha que não ajuda em nada 1 1,4%

Não, senão tem que ficar no beco 4 5,6%

Tem protocolo, deu entrada, está

aguardando

26 36,1%

Falta tempo 2 2,8%

Perdeu a licença 3 4,2%

Outro 7 9,7%

Não sabe 2 2,8%

Sem resposta 6 8,3%

TOTAL 72 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.18

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Porque não

tirou a licença?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

36,1%

13,9%

9,7%8,3%

5,6% 5,6%4,2% 4,2%

2,8% 2,8% 2,8% 2,8%1,4%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%

Tem protocolo, deu entrada, está aguardandoNunca conseguiuOutroSem respostaNão tem interesseNão, senão tem que ficar no becoVende produto que não é licenciadoPerdeu a licençaNão, mas tem autorização da lojaFalta tempoNão, mas quer terNão sabeNão, porque acha que não ajuda em nada

256

TABELA B.19

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Que tipo de

investimento fez para começar a trabalhar no ramo?

Nº de

respostas

%

Crédito com fornecedor 5 1,6%

Empréstimo bancário 30 9,8%

Empréstimo c/ familiar 39 12,7%

Empréstimo com agiota 9 2,9%

Indenização 16 5,2%

Microcrédito produtivo 5 1,6%

Não precisou de recursos 76 24,8%

Não sabe 16 5,2%

Poupança própria 104 34,0%

Outro 6 2,0%

TOTAL 306 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.19

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Que tipo de

investimento fez para começar a trabalhar no ramo?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

1,6% 1,6% 2,0% 2,9%5,2% 5,2%

9,8%

12,7%

24,8%

34,0%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0%

40,0%Crédito com fornecedor

Microcrédito produtivo

Outro

Empréstimo com agiota

Indenização

Não sabe

Empréstimo bancário

Empréstimo c/ familiar

Não precisou de recursos

Poupança própria

257

TABELA B.20

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Sua relação

com os comerciantes das lojas vizinhas é:

Nº de

respostas

%

Boa 266 92%

Ruim 10 3%

Não tem loja próxima 13 4%

TOTAL 289 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.20

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Sua relação

com os comerciantes das lojas vizinhas é:

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA B.21

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Sua relação

com os outros trabalhadores de rua é:

Nº de

respostas

%

Boa 277 96%

Ruim 12 4%

TOTAL 289 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

92%

3% 4%

Boa

Ruim

Não tem loja próxima

258

GRÁFICO B.21

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Sua relação

com os outros trabalhadores de rua é:

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA B.22

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Você faz parte

de alguma associação de trabalhadores de rua ou ambulantes?

Nº de

respostas

%

Sim 42 15%

Não 247 85%

TOTAL 289 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.24

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Você faz parte

de alguma associação de trabalhadores de rua ou ambulantes?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA B.25

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se sim, qual?

Nº de

respostas

%

Assindivan 5 12,2%

Assinformal 1 2,4%

Associação dos vendedores ambulantes 3 7,3%

Sindicato dos ambulantes 9 22,0%

Associação dos moradores do Dois de Julho 2 4,9%

Associação dos feirantes 2 4,9%

Não soube especificar o sindicato ou associação de que

faz parte

10 24,4%

96%

4%

Boa

Ruim

15%

85%

Sim

Não

259

Associação de peixeiros 1 2,4%

Asinderp 1 2,4%

Movimento populacional dos moradores de rua 1 2,4%

Não respondeu 6 14,6%

TOTAL 41 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.25

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se sim, qual?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA B.26

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se não, por

quê?

Nº de

respostas

%

Acha que as associações são fracas / não acredita nas associações 28 11,3%

Não vê melhora / utilidade 9 3,6%

Não gosta / não quer 12 4,8%

Não sabe o motivo 16 6,5%

Não conhece / não tem associação 27 10,9%

Não se interessa 31 12,5%

Não tem tempo 8 3,2%

É novato / não sabe se continuará na atividade 5 2,0%

Não tem dinheiro 4 1,6%

Ainda não procurou / não foi procurado por nenhuma entidade 13 5,2%

Já faz parte, mas saiu. Não sabe mais como está 7 2,8%

24,4%

22,0%

14,6%

12,2%

7,3%

4,9% 4,9%

2,4% 2,4% 2,4% 2,4%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0% Não soube especificar o sindicato ouassociação de que faz parte

Sindicato dos ambulantes

Não respondeu

Assindivan

Associação dos vendedores ambulantes

Associação dos moradores do Dois deJulho

Associação dos feirantes

Assinformal

Associação de peixeiros

Asinderp

Movimento populacional dos moradoresde rua

260

Outro 26 10,5%

Não respondeu 62 25,0%

TOTAL 248 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO B.26

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se não, por

quê?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

25,0%

12,5% 11,3% 10,9% 10,5%

6,5% 5,2% 4,8% 3,6% 3,2% 2,8% 2,0% 1,6%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

Não respondeu

Não se interessa

Acha que as associações são fracas / não acredita nas associações

Não conhece / não tem associação

Outro

Não sabe o motivo

Ainda não procurou / não foi procurado por nenhuma entidade

Não gosta / não quer

Não vê melhora / utilidade

Não tem tempo

Já faz parte, mas saiu. Não sabe mais como está

É novato / não sabe se continuará na atividade

Não tem dinheiro

261

C – Caracterização da mercadoria

TABELA C.1

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Quais produtos

comercializa?

Nº de

respostas

%

Adereços (cintos; meias; toucas; chapéus; óculos e bijuteria) 44 13,6%

Acessórios e serviços para celular 16 5,0%

Água de coco; água; refrigerante 12 3,7%

Alimentos preparados 22 6,8%

Artesanato 5 1,5%

Bolsas; carteiras; sacolas; mochilas 24 7,4%

Bomboniere; cigarros 7 2,2%

Brinquedos 11 3,4%

CD/DVD 10 3,1%

Confecções 45 13,9%

Cosméticos; cabelo; maquiagem; perfumes 6 1,9%

Eletrônicos (celular; antenas; cabos; etc.) 25 7,7%

Frutas; verduras; temperos 25 7,7%

Importados 5 1,5%

Material de escritório; escolar 3 0,9%

Plantas medicinais 4 1,2%

Produtos p/ o lar (peças e fogão; liquidificador; cantoneiras de vidro;

tolhas de mesa; almofada etc.)

9 2,8%

Relógios 19 5,9%

Sandálias 11 3,4%

Serviços de afiações; engraxante 3 0,9%

Variedades (adesivos; fotos; pega-rato; etc.) 12 3,7%

Outros 5 1,5%

TOTAL 323 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA C.2

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Onde você

compra os produtos que comercializa?

Nº de respostas %

Salvador (BA) 169 48,4%

No próprio centro de Salvador (BA) 55 15,8%

Interior da Bahia (BA) 55 15,8%

Ceará (CE) 9 2,6%

Paraíba (PB) 1 0,3%

Pernambuco (PE) 4 1,1%

Sergipe (SE) 9 2,6%

Santa Catarina (SC) 1 0,3%

São Paulo (SP) 35 10,0%

Paraguai 3 0,9%

262

Internet 1 0,3%

Não respondeu 3 0,9%

Não Sabe 4 1,1%

TOTAL 349 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO C.2

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Onde você

compra os produtos que comercializa?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA C.3

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Como você

compra a mercadoria?

N de

respostas

%

Com distribuidor (atacado) 156 43,8%

Varejo 87 24,4%

Alguém leva no local (atravessador) 29 8,1%

Fabricação própria 13 3,7%

Faz viagens 64 18,0%

Não respondeu 1 0,3%

Não sabe 6 1,7%

TOTAL 356 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

48,4%

15,8%15,8%

10,0%

2,6%2,6%1,1%1,1%0,9%0,9%0,3%0,3%0,3%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%

60,0%

Salvador (BA)

No próprio centro de Salvador(BA)

Interior da Bahia (BA)

São Paulo (SP)

Ceará (CE)

Sergipe (SE)

Pernambuco (PE)

263

GRÁFICO C.3

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Como você

compra a mercadoria?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA C.4

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Com quanto

tempo renova o estoque?

Nº de

respostas

%

Diariamente 99 32,6%

Dois em dois dias. 9 3,0%

Na medida em que vende 8 2,6%

Semanalmente 74 24,3%

Quinzenalmente 40 13,2%

Trimestralmente 5 1,6%

Mensalmente 45 14,8%

Semestralmente 3 1,0%

Bimensalmente 7 2,3%

Anualmente 1 0,3%

Não respondeu 1 0,3%

Não sabe 4 1,3%

Outro 8 2,6%

TOTAL 304 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

0,3% 1,7% 3,7%8,1%

18,0%

24,4%

43,8%

0,0%

10,0%

20,0%

30,0%

40,0%

50,0%Não respondeu

Não sabe

Fabricação própria

Alguém leva no local (atravessador)

Faz viagens

Varejo

Com distribuidor (atacado)

264

GRÁFICO C.4

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Com quanto

tempo renova o estoque?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA C.5

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Onde guarda a

mercadoria?

Nº de

respostas

%

Depósito 247 85%

Em sua própria casa 24 8%

Outro 18 6%

TOTAL 289 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO C.5

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Onde guarda a

mercadoria?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

32,6%

3,0%

24,3%

13,2%

1,6%

14,8%

1,0%2,3%

0,3%

2,6%

0,3%1,3%

2,6%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

30,0%

35,0% Diariamente

Dois em dois dias.

Semanalmente

Quinzenalmente

Trimestralmente

Mensalmente

Semestralmente

Bimensalmente

Anualmente

Na medida em que vende

Não respondeu

Não sabe

Outro

85%

8%6%

Depósito

Em sua própria casa

Outro

265

TABELA C.6*

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Onde fica o

depósito?

nº de respostas %

Dois de Julho 42 14,5%

São Bento 14 4,8%

Barroquinha 3 1,0%

Avenida Sete de Setembro 20 6,9%

Politeama 9 3,1%

Carlos Gomes 3 1,0%

Portão da Piedade 30 10,4%

Piedade 12 4,2%

São Raimundo 7 2,4%

Rua 21 de abril 20 6,9%

Rua 11 de Junho 1 0,3%

Praça Relógio de São Pedro 16 5,5%

Rua Coqueiros da Piedade 6 2,1%

Lapa 15 5,2%

Campo Grande 4 1,4%

Av. Joana Angélica 4 1,4%

Barris 2 0,7%

Rua Conselheiro Junqueira Ayres 9 3,1%

Rua 24 de Fevereiro 5 1,7%

Rua Nova de São Bento 5 1,7%

Rua Direita da Piedade 3 1,0%

Em casa 21 7,3%

Não especificou 38 13,1%

TOTAL 289 100,0%

* Não pretende-se exibir estes dados na versão final da dissertação. Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA C.7

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Quantas

viagens faz até o depósito por dia?

nº de respostas %

Não faz viagens 55 19%

2 viagens 172 59,5%

3 viagens 14 4,8%

Mais de 3 viagens 26 9%

Não se aplica 22 7,6%

TOTAL 289 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

266

GRÁFICO C.7

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Quantas

viagens faz até o depósito por dia?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA C.8

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – No lugar onde

guarda a mercadoria, o espaço é só seu ou é dividido com outros trabalhadores?

Nº de

respostas

%

Individual 37 13%

Coletivo 232 80%

Não se aplica 20 7%

TOTAL 289 100,0% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO C.8

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – No lugar onde

guarda a mercadoria, o espaço é só seu ou é dividido com outros trabalhadores?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

19%

59,5%

4,8%9% 7,6%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Não faz viagens

2 viagens

3 viagens

Mais de 3 viagens

Não se aplica

13%

80%

7%

Individual

Coletivo

Não se aplica

267

TABELA C.9

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se paga

aluguel, quanto custa?

Se paga aluguel no depósito, quanto custa? Nº de respostas %

Não respondeu 14 5%

Guarda de graça 27 9%

Guarda em casa 19 7%

até R$20 por semana 49 17%

entre R$20 e R$40 por semana 92 32%

entre R$40 e R$60 por semana 53 18%

entre R$60 e R$80 por semana 10 3%

entre R$80 e R$100 por semana 7 2%

mais de R$120 por semana 8 3%

Não sabe 10 3%

Total 289 100% Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

GRÁFICO C.9

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Se paga

aluguel, quanto custa?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

TABELA C.10

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Você teria

disponibilidade para responder outras questões para esta pesquisa, caso seja necessário?

Nº de

respostas

%

Sim 218 75%

Não 71 25%

TOTAL 289 100,0%

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

9%

7%

17%

32%

18%

3% 2% 3%5%

3%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35% Guarda de graça

Guarda em casa

até R$20 por semana

entre R$20 e R$40 por semana

entre R$40 e R$60 por semana

entre R$60 e R$80 por semana

entre R$80 e R$100 por semana

mais de R$120 por semana

Não respondeu

Não sabe

268

GRÁFICO C.10

Pesquisa sobre trabalhadores de rua na Avenida Sete e Bairro Dois de Julho – Você teria

disponibilidade para responder outras questões para esta pesquisa, caso seja necessário?

Fonte: Pesquisa de campo da autora, realizada entre os meses de setembro e outubro de 2014.

75%

25%

Sim

Não