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Novos sentidos da família na Europa Inês Cardoso, Anália Torres, Rui Brites, Bernardo Coelho AMAR E TRABALHAR NA EUROPA Semin Semin á á rio Internacional rio Internacional Lisboa | ISCTE 14 e 15 Fevereiro 2008 Sessão temática: Por onde passa a mudança na família?

Novos sentidos da família na Europa

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Novos sentidos da família na Europa

Inês Cardoso, Anália Torres, Rui Brites, Bernardo Coelho

AMAR E TRABALHAR NA EUROPA

SeminSemináário Internacionalrio Internacional

Lisboa | ISCTE

14 e 15 Fevereiro 2008

Sessão temática: Por onde passa a mudança na família?

Objectivo

Evidenciar a reconfiguração social ao nível ideológico na Europa- Mudança de valores mais tradicionais para valores mais igualitários

- Emergência de novos sentidos da família na Europa

Questões

Como definir os novos sentidos da família? O que alimenta a emergência destes novos sentidos? Como se diferenciam entre países? Como é que eles estão relacionados com as condições estruturais e institucionais?

Dados base

Dados do ESS 2002, ESS 2004 e Eurobarómetro 2003Análise de entrevistas realizadas a casais em várias regiões de Portugal

De onde partimos – reflexões teóricas

Importância dos factores institucionais (Crompton; Wall) e dos processos históricos de cada país (Leira; Therborn) nas escolhas dos indivíduos

Diferenças entre Welfare States (Gornick e Meyers)

- Efeito das políticas nos padrões de emprego feminino (Stier)

A im

portân

cia do trab

alho e d

a família

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Noruega

Suécia

Finlândia

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Reino Unido

França

Alemanha

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Hungria

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Polónia

Eslovénia

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Família

(homens)

Trabalho (h

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Família

(mulheres)

Trabalho (m

ulheres)

Centro

da escala

ESS 2002

Compromisso com o trabalho

EB 2003

Novos Sentidos da família1,0

1,5

2,0

2,5

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Noru

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Polónia

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Estónia

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Portugal

Grécia

G6 Uma mulher devia estar preparada para reduzir o seu trabalho remunerado para o bem da sua famíliaG7 Os homens deviam ter tantas responsabilidades como as mulheres em relação à casa e aos f ilhos

G8 Quando os empregos são poucos, os homens deviam ter prioridade em ocupá-los em relação às mulheresG9 Quando há crianças em casa, os pais deviam manter-se juntos, mesmo quando não se entendem bemG10 A família mais próxima devia ser a principal prioridade na vida de cada um

Concordo totalmente

Concordo

Não Concordo nem discordo

Disorcordo

Discordo totalmente

ESS 2004

“Quando os empregos são poucos, os homens deviam ter

prioridade em ocupá-los em relação às mulheres”

(Percentagem)

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Noruega

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Irlanda

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Eslováquia

Estónia

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Espanha

Portugal

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Homens Mulheres

ESS 2004Soma dos que “concordam” com os que “concordam totalmente”

“Quando há crianças em casa, os pais deviam manter-se juntos,

mesmo quando não se entendem bem”

(Percentagem)

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Noruega

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Eslováquia

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Espanha

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Grécia

Homens Mulheres

Soma dos que “concordam” com os que “concordam totalmente”ESS 2004

“Uma mulher devia estar preparada para reduzir o seu trabalho

remunerado para o bem da sua família”

ESS 2004Soma dos que “concordam” com os que “concordam totalmente”

(Percentagem)

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Noruega

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Reino Unido

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Homens Mulheres

Os padrões europeusConsenso geral com a valorização da família e a entrada do homem na esfera privadaPredominância de “situações intermédias”

� Rejeição do sacrifício do trabalho profissional feminino em favor dos homens

� Rejeição da ideia da indissolubilidade do casamento devido à existência de crianças

� Grande ambivalência relativamente à ideia de a mulher se sacrificar em favor do bem-estar da família

Análise de ClustersModernos (11.004 indivíduos)- Isolados na discordância quanto à prioridade dos homens no acesso ao trabalho e na manutenção do casamento devido à

existência de filhos

Intermédios (22.445 indivíduos)- Enorme divisão- Inclinação para a discordância do sacrifício do trabalho profissional feminino em favor dos homens

Conservadores (9.841 indivíduos)- Concordância com os três enunciados

- Isolados na concordância, no que toca à ideia da centralidade da mulher na construção do bem-estar familiar

Modernos, Intermédios e Conservadores

por país

33,2

40,7

41,4

40,8

46,1

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28,7

26,8

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19,6

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19,9

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25,5

25,6

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37,1

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21,7

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21,9

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0% 20% 40% 60% 80% 100%

Noruega

Suécia

Finlândia

Dinamarca

Is lândia

Re ino Unido

França

Alemanha

Áustria

Holanda

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Luxemburgo

Suíça

Irlanda

Hungria

Rep.Checa

Polónia

Eslovénia

Eslováquia

Estónia

Espanha

Portugal

Grécia

Ucrânia

Modernos Intermédios Conservadores

ESS 2004

� Países nórdicos com posições mais consistentes de rejeição dos papéis tradicionais de género

- Uma mais forte tendência para a modernidade nos sentidos da família

- Políticas públicas de apoio às mães trabalhadoras e promotoras da igualdade de género

� Nos restantes países os indivíduos revelam maiores dificuldades de posicionamento

- Uma tendência mais conservadora

- Políticas públicas mais deficitárias em termos do apoio àconciliação trabalho-família e à criação de equipamentos destinados ao cuidado das crianças

Diferentes contextos institucionais

A posição intermédiaMotivos metodológicos

Reconfiguração das representações simbólicas de género, que implica constantes negociações de poder entre homens e mulheres - divisão do trabalho doméstico (coexistência entre novas ideologias e velhas práticas)

Enquadramento do caso portuguêsModelo de duplo emprego fruto de dinâmicas sócio-políticas

� Legado de conservadorismo imposto por uma longa ditadura

� Guerra colonial � Movimento migratório� Mudança legislativa com o 25 de Abril e a

entrada na CEE � Criação de políticas públicas no campo dos

cuidados com as crianças e a educação pré-escolar (1995 – 2001)

O trabalho como fonte de identidade para as mulheres

“Influencia muito no sentido de conseguirmos ser nós próprios, sermos independentes, porque é uma auto-estima muito grande o nosso profissionalismo.”

(Adélia Bandeira, 41 anos, proprietária de minimercado, Leiria)

“Eu acho que se não trabalhasse não era nada na minha vida, felizmente tenho um trabalho. (…) se não fosse isso eu não era nada independente, tinha que andar debaixo do meu marido.”

(Andreia Gouveia, 43 anos, cabeleireira, Porto)

“O trabalho é o que faz uma pessoa andar viva, se não fosse o trabalho o que éque uma pessoa tinha? (…) Acho que isso é muito importante, para não estar a pedir e pedir, não!”

(Armanda Serra, 46 anos, empregada doméstica, Leiria)

Coexistência de atitudes contraditórias“Eu? Faço tudo. Não tenho ninguém que me faça nada, portanto eles só desfazem. Os homens todos em cadeia costuma dizer que ajudam, as mulheres fazem e eles desfazem.”(Júlia Jesus, 44 anos, doméstica, Leiria)

“Eu acho que é um sacrifício para a mulher. Porque é assim, logicamente o homem também devia participar. As tarefas domesticas é um cargo para as mulheres. Porque o homem utiliza a sua dominância como macho. Eu tento fugir um bocado disso, mas pronto. É sempre aquela história…” (Custódio Nascimento, 50 anos, economista, Lisboa)

“Eu tento fazer a mesma coisa que a minha mulher faz. Não tenho problema nenhum, eu sempre mudei as fraldas aos miúdos”

(Manuel Carvalho, 35 anos, operário, Leiria)

“Hoje em dia o papel do pai está mais… não é só aquele pai que é para trabalhar e chega a casa e não liga aos filhos. Mas acho que no geral a mãe ainda se preocupa um bocadinho

mais na educação, está mais em cima.” (Carolina Arroteia, 33 anos, contabilista, Leiria)

ConclusõesFamília e trabalho constituem as duas prioridades na vida dos europeus Escolhas e orientações dos indivíduos moldadas por constrangimentos institucionaisMudança na percepção dos papéis de género, no sentido de uma maior igualdade - Mais alicerçada nos países Nórdicos- Envolta ainda em ambiguidade nos restantes paísesEm Portugal atitudes modernas perante o trabalho –interiorizado enquanto elemento central também da identidade feminina – e atitudes mais conservadoras perante o cuidado com as crianças