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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE
CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS – CCHEL
COLEGIADO DE HISTÓRIA
O NASCIMENTO DO SENTINELA DA LIBERDADE: AS HISTÓRIAS
EM QUADRINHOS DO CAPITÃO AMÉRICACOMO PROPAGANDA
ESTADUNIDENSE NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
CARLOS EDUARDO BOARETTO PEREIRA
MARECHAL CÂNDIDO RONDON. PR
2010
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE
CAMPUS DE MARECHAL CÂNDIDO RONDON
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS – CCHEL
COLEGIADO DE HISTÓRIA
O NASCIMENTO DO SENTINELA DA LIBERDADE: AS HISTÓRIAS
EM QUADRINHOS DO CAPITÃO AMÉRICACOMO PROPAGANDA
ESTADUNIDENSE NA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
CARLOS EDUARDO BOARETTO PEREIRA
Trabalho de Conclusão de Curso, sob a
orientação da Professora Carla Luciana
Silva, apresentado à Banca Examinadora
como exigência parcial a obtenção do título
de Licenciado em História, pela
Universidade Estadual do Oeste do Paraná,
Campus de Marechal Cândido Rondon.
MARECHAL CÂNDIDO RONDON. PR
2010
AGRADECIMENTOS
Quero agradecer aos meus familiares pela força que me deram durante esse processo.
Aos meus pais Paulo Pereira e Suely Aparecida Boaretto Pereira, pela paciência,
compreensão, apoio necessários para a realização desse trabalho. Meu avô Osvaldo Eugênio
Boaretto, minhas duas irmãs Paula Boaretto Pereira e Talita Boaretto Pereira, meus tios
Sidney Aparecido Boaretto, Sergio Marcos Boaretto e Sandra Marta Boaretto, por todo
suporte que me deram durante essa trajetória.
Agradecer especialmente a minha orientadora Profª. Drª. Carla Luciana Silva, pela
paciência, debates, orientações, apontamentos, aulas, que foram de fundamental importância
para a construção desse trabalho.
Aos três membros originais do “quarteto fantástico” Carlos Felipe, Lucas e Ederson,e
ao membro que se integrou mais tarde Marcelo, pelas Cocas-Cola e conversas nos intervalos
das aulas.
Aos amigos de “trampo”, Profª. Msª Maria José, Prof. Dr. Fábio Ruela, Rúbia e
Fagner, pela tolerância e ajuda durante esses dois anos de estágio no Laboratório de Ensino de
História. Aos amigos de banda Vilmarson, Mutley e Marcos, pelos ensaios e shows sempre
bem humorados. Aos amigos do Observatório do Mundo Contemporâneo, Profª. Drª.
Aparecida, Guilherme e Marcos. Aos amigos de faculdade, Patrícia, Sandra, Prof. Dr. Márcio,
Profª. Msª Carla Corandi, Suzane, Juliana, Prof.Ms. Marcos Vinicius, Prof.Ms.Luis Fernando,
Prof. Dr. Marcos Stein, Boris Becker, Marcos Meinez,Prof.Ms. Barraca, Jonas Vassoura,
Lucas P., Marcos Vinicius, Cíntia, Tineneu, Sabugo, Izabel, Alexandre Ramos, Tonho
Branco, Prof. Ms Alexandre, pelos apontamentos, discussões, textos e livros indicados ou
pelo simples fato de me distraírem durante o processo desse trabalho. Aos amigos de bar,
Jeca, Marcelo Boroske, Paula, Cândoca, Emerson, Luiz, Priscila, Kleber, Boçal, Kelvin, Guto,
Digo, Roberta, Tiago Ruzza, Patrícia Dama, pelas cervejas, tequilas, vodkas, whiskies, runs,
gins tomados, churrascos, pizzas, festas feitas, que me ajudaram a relaxar durante esse
processo. Por último, mais não menos importantes minhas amigas Taty, Juliana e Jéssica,
pelas brigas e conversas, quase que diárias que tanto me fazem bem.
RESUMO
PEREIRA, Carlos Eduardo Boaretto. Análise O nascimento do Sentinela da
Liberdade: As histórias em quadrinhos do Capitão América como propaganda
estadunidense na Segunda Guerra Mundial.Trabalho de Conclusão de Curso.
Graduação Licenciatura em História – Universidade Estadual do Oeste do
Paraná. Marechal Cândido Rondon. 2010 .
O objetivo dessa pesquisa é investigar a abordagem do HQ do Capitão América nas relações
sócio-econômicas com o contexto da Segunda Guerra Mundial. Os HQ (Histórias em
Quadrinhos) assim como as novelas, séries de TV, filmes e desenhos animados, são
produções fictícias, que em sua maioria trazem elementos do cotidiano político, econômico do
momento em queestão sendo produzidas, expressam as perspectivas ideológicas de seus
autores e, portanto essas produções culturais não são livres de intenções. Ao entrar em contato
com o HQ do Capitão América, percebi que havia várias possibilidades de investigações, por
ser um quadrinho que se originou durante o período da Segunda Guerra Mundial nas vésperas
dos ataques de Pearl Harbor, ataque este que segundo a historiografia oficial, foi o estimulo
que faltava para os Estados Unidos da América entrar no confronto mundial. O instigante é
que o principal inimigo mostrado nesse HQ analisado é Hitler líder alemão. O HQ nos
permite pensar quais as questões que estão por trás dessa representação, entre outras como o
patriotismo, contexto histórico no qual foi produzido, possibilita pensar perspectivas de
subjetividade do documento, a analise das personagens, dos símbolos figurativos, como
uniforme, armas, inimigos, amigos, gêneros de linguagens, entre outros aspectos que se têm
no decorrer das historietas. É o conjunto desses elementos que mostrará o posicionamento
assumido pela revista.
Palavras Chaves: Segunda Guerra; HQ; Capitão América.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO... .. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .06
CAPÍTULO 1 - Cena 1, tomada 1: Apresento-lhes, os inimigos e os amigos do Capitão
América.....................................................................................................................................10
CAPÍTULO 2 - Cena 2, tomada 1: Ao abrir as cortinas, apresento-lhes Capitão
América.....................................................................................................................................28
CONCLUSÃO..........................................................................................................................64
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................72
INTRODUÇÃO
“É o Capitão e eu contra os inimigos da liberdade1”.
Bucky
Este trabalho de conclusão de curso é o resultado de uma pesquisa que unificou dois
interesses pessoais, a leitura de histórias em quadrinhos e a Segunda Guerra Mundial.
Meu interesse por histórias em quadrinhos despertou-se na minha infância devido aos
jogos de fliperamas e de vídeo-game que continham como personagens heróis retirados das
histórias em quadrinhos,como por exemplo, X-Men, Marvel Vs. Street Fight, X-Men Vs.
Street Fight,Homem-Aranha,Heróis Marvel e Batman. Esse interessa também ocorreu devido
aos desenhos animados televisionados que também foram inspirados em revistas de historias
em quadrinhos, como Batman, Homem Aranha e X-Men.
Ao descobrir que esses personagens haviam sido retirados de histórias em quadrinhos,
comecei a procurar as revistas desses personagens, mais especificamente do X-Men. O X-
Men é um grupo de personagens mutantes, composto por Ciclope, Jean Grey, Fera, Homem
de Gelo e Anjo, criados por Stan Lee e Jack Kirby na década de 1960 e que foi lançado
através da editora de historias em quadrinhos estadunidense Marvel Comics, que também têm
entre seus lançamentos personagens como Homem-Aranha e Capitão América.Naturalmente
ao ler essas histórias em quadrinhos, entrei em contado com diversos personagens novos,
tendo em vista que muitas destas histórias, eventualmente, se entrelaçavam e os seus
personagens dividiam as mesmas aventuras.
Um desses super-heróis o qual mais me chamou a atenção foi o Capitão América,
justamente por ele ter uma identidade maior dos símbolos dos EUA, não só devido suas
roupas, que estampam as cores e a bandeira estadunidense, mas também o conteúdo geral dos
assuntos abordados nas suas histórias. O que me intrigaram, já que havia notado esses
1Bucky, Capitão América as Primeiras histórias, Abril de 1992.
7
elementos em algumas das produções cinematográficas a qual havia assistido, porém nunca
com uma perspectiva crítica.
Pesquisando sobre esse herói, descobri que ele havia sido publicado pela primeira vez
durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto após os conflitos, ele havia sumido.
Eventualmente ao passar dos anos, os editores da Marvel, o relançavam, mas sem o mesmo
sucesso de vendas dos inícios dos anos 1940.
Quando ingressei no Ensino Médio, já tinha um grande interesse pela matéria de
História, parte pelas próprias histórias em quadrinhos, desenhos animados e filmes que faziam
referências à matéria e parte também por assuntos que professores já haviam abordado
durante minha formação escolar. Um desses assuntos era a Segunda Guerra Mundial, pois,
havia assistido alguns documentários específicos e lido algumas reportagens que me
chamaram à atenção para suas causas e conseqüências no mundo contemporâneo, embora,
minha visão dos desdobramentos ocorridos, não tinham uma preocupação crítica, e nem
poderia.
Contudo apenas ao freqüentar o curso superior de História, percebi que esses meus
dois interesses de adolescência poderiam ser aprofundados, e sim desta vez com uma visão
crítica a cerca de suas produções, cujas inquietações poderiam se tornar parte de uma
pesquisa.
Apesar de não existir uma extensa bibliografia sobre o assunto e a dificuldade de
encontrar as histórias em quadrinhos desse período, minha intenção com esse projeto é
analisar as primeiras histórias em quadrinhos do Capitão América, compreendendo essa
revista como uma produção cultural, não isenta de influências do seu contexto histórico, a
Segunda Guerra Mundial.
O trabalho converge esses dois assuntos aparentemente dissociados, tendo em vista
que entendemos que as produções culturais são condicionadas por uma identificação política,
econômica, social e/ou ideológica e que seus autores expressam em suas obras, perspectivas,
sonhos e ideais. Nenhuma obra é pura de intenções, as histórias em quadrinhos, assim como
filmes, novelas, séries de TV, desenhos animados, dentre outros, e mesmo como produções
fictícias trazem elementos da vida cotidiana, política, econômica do momento a qual em que
está sendo produzida.
O objetivo desse trabalho é analisar a fonte “Capitão América: As Primeiras
Histórias”, considerando a revista em conjunto com uma bibliografia adequada, é essa
perspectiva que vai nos ajudar a perceber os elementos intrínsecos e extrínsecos desta
8
produção cultural.Verificando as figuras de linguagens e o discurso que consiste essa história
em quadrinhos, é que poderá identificar sua função ideológica.
Dividimos o trabalho em dois capítulos, o primeiro “Cena 1, tomada 1: Apresento-lhes
os inimigos e os amigos do Capitão América” é uma revisão bibliográfica sobre a situação da
Europa no pós Primeira Guerra Mundial e como se deu a acessão do Fascismo e Nazismo,
principalmente na Itália e Alemanha respectivamente, seus conflitos com os partidos
comunistas e posteriormente o início do conflito.Em seguida esboço o “conflito no pacífico”2,
o embate entre os EUA e o Japão que culminou na entrada dos EUA nos conflitos da Segunda
Guerra.
Posteriormente, apresentamos uma contextualização do período, abordando algumas
produções culturais produzidas tanto na Alemanha, quando nos EUA e as suas conotações
ideológicas. Tratamos mais especificamente dessas produções constituídas nos EUA, devido o
significado que elas tomam durante o conflito, o forte discurso anti-nazista após 1939, e ao se
tornarem um “exército” indo literalmente ao campo de batalha.
O segundo capítulo “Cena 2, tomada 1: Ao abrir as cortinhas, apresento-lhes Capitão
América”. É constituído pelo cerne do trabalho, a análise da fonte escolhida, “Capitão
América: As Primeiras Histórias”, em edição lançada em 1992 que traz na integra os
conteúdos das revistas Capitão América Comics nº 1 e nº 2, criadas por Joe Simon e Jack
Kirby, que foram editados pela Timely e lançados em Abril e Março de 1941.
Dividimos as análises em dois blocos, o primeiro contém todas as histórias editadas
em abril de 1941, são elas: “Caso nº 1. Conheça o Capitão América”; “Sando e Omar”;
“Rathcone” e “Capitão América e o Enigma do Caveira Vermelha”. O segundo bloco de
análise contém apenas a segunda historieta editada na revista de março de 1941, “Prezo na
fortaleza nazista”.
Delimitamos assim esses dois blocos, pois não haveria tempo suficiente para a analise
de todo o conteúdo dos HQ‟s. O segundo motivo é separar os personagens inimigos do
Capitão América em “irreais” e “reais”, tendo em vista que no primeiro bloco contém apenas
fictícios, e no segundo aparecem personagens reais.
Na conclusão fazemos a conexão entre os dois capítulos, finalizando o trabalho com a
perspectiva de que o Capitão América é um herói que apesar do aparente discurso anti-nazista
2Termo retirado do artigo da Gabriele Rodrigues. “O Conflito na Ásia” In. PADRÓS, H. S.; RIBEIRO Luis
Dário T.; GERTZ, René (org.). Segunda Guerra Mundial, da crise dos anos 30 ao Armagedón. Porto Alegre.
Editora Folha da História. 2000. p.182.
9
suas prerrogativas vão indicando uma crítica maior à figura de Hitler e não ao regime em si
que ele comanda.
A quem serve o Capitão América? O Capitão América serve a muitos propósitos entre
eles a unificação de um discurso anti-Hitler.
Portanto, ao avançar as próximas páginas vocês verão um Capitão América como
nunca haviam visto, acomodem-se e sintam-se a vontade. Ao abrir as cortinas apresento-lhes:
Capitão América.
CAPÍTULO 1
Cena 1, tomada 1: Apresento-lhes, os inimigos e os amigos do Capitão
América
É de fundamental importância para essa pesquisa apontar primeiramente alguns
antecedentes da Segunda Guerra Mundial, que articulados com suas produções culturais,
podem nos ajudar a entender os HQ´s do Capitão América.
Assim como a maioria dos historiadores, entendemos que a Segunda Guerra Mundial
concretamente é a conseqüência das disputas que ocorreram durante e pós Primeira Guerra.
A situação mundial criada pela Primeira Guerra era inerentemente instável,
sobretudo na Europa, mas também no Extremo Oriente, e, portanto não se
esperava que a paz durasse. A insatisfação com o status quo não se restringia
aos Estados derrotados, embora estes, notadamente a Alemanha, sentissem
que tinham bastantes motivos para ressentimentos, como de fato tinham.
Todo partido na Alemanha, dos comunistas na extrema esquerda aos
nacionais-socialistas de Hitler na extrema direita, combinava-se na
condenação do Tratado de Versalhes como injusto e inaceitável3.
Essa instabilidade econômica nos países pós-guerra gerava conflitos internos, mais
especificadamente conflitos de classe, pois apesar das dificuldades econômicas das
populações em geral, várias indústrias nesses países lucraram com o conflito.
Esses conflitos também enalteceram a esperança de uma revolução socialista, a
exemplo do que aconteceu na Rússia. O clima pós Primeira Guerra, era propício para
agitações populares e uma possível revolução. Na Alemanha e na Itália as agitações
mobilizaram tanto militantes de esquerda, e também da extrema direita, insatisfeitos com as
políticas econômicas de seus países, tendo em comum os ataques ao Tratado de Versalhes.
A insurreição dos soldados e operários, então organizados em conselhos
(sovietes), alastrara-se por várias cidades alemãs, num prenúncio do que
poderia vir a ser uma autêntica revolução socialista. A revolta, entretanto, foi
abafada em 1919, mediante uma impiedosa repressão, na qual vários dos
3HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX 1914-1991. 2ª Edição. São Paulo. Editora
Companhia das Letras. 1998. p.43.
11
mais destacados dirigentes e líderes do movimento, entre os quais Rosa
Luxemburgo e KarlLiebknecht, foram assassinados4.
Nem mesmo a repressão que o governo alemão levou a cabo foi suficientemente
efetiva para satisfazer os anseios de uma burguesia assustada com a proletarização, o que
causava a insegurança das classes dominantes. Esse foi o objetivoda insurreição de 1923,
comandada por Hitler,para instalar-se no poder e controlar essas agitações populares.
Seguindo o exemplo de Mussolini na Itália, Hitler, no entanto, não possuía apoio suficiente
para isso, o que culminou no fracasso do levante.
Na Itália, a situação de tensão social não era diferente, mesmo a nação tendo sido uma
das potências vitoriosas no conflito anterior.
A participação neste conflito em nada elevou o seu status. Ao contrário.
Tendo-se aliado aos países que sagraram-se vencedores, a burguesia italiana
saiu da guerra sem ver atendidas as principais promessas territoriais (nos
Bálcãs e no norte/nordeste da África) pelas quais, em 1915, rompera sua
neutralidade. O saldo foi profundo desgaste material e humano, que abalou
ainda mais a precária situação econômica. As difíceis condições de vida, a
escassez de alimentos e matérias-prima e o crescente furor nacionalista
impulsionado pelo sentimento de perda, associados às manifestações
populares contra a miséria (invasões de terras, greves, ocupações de fabrica e
saques), trouxeram o caos político caracterizado por freqüentes trocas de
governos, via de regra, imponentes frente à crise. Neste clima de
instabilidades e insatisfação, condimentado pelo temor de uma revolução
socialista, brotou e, a partir de 1922, firmou-se o fascismo5.
Podemos perceber que mesmo a Alemanha e a Itália passando por processos diferentes
no pós Primeira Guerra, suas características internas de recessão, agitação e proletarização se
assemelharam causando um forte sentimento de medo e preocupação na sua classe média e
burguesia, o que fez com que essa burguesia se identificasse com as propostas nazi-fascistas.
Claro que esse processo não é tão simples e direto, trataremos mais adiante dos dois
casos com mais atenção.
Não vamos aqui esmiuçar o que foi o pensamento intelectual de articulação dos
teóricos que pensaram o fascismo, mas pretendemos entender como que esse projeto político
se instalou nos dois países que promoveram e articularam as invasões e ataques que geraram o
segundo conflito mundial.
Para identificar alguns desses elementos do Fascismo se faz necessário a leitura de
Leandro Konder, “Introdução ao Fascismo”. Para ele é necessário que se entenda que “O
4ZENOR, Fernando. Relações Internacionais no período do entre guerras. In. PADRÓS, H. S.; RIBEIRO Luis
Dário T.; GERTZ, René(org.). Segunda Guerra Mundial, da crise dos anos 30 ao Armagedón. Porto Alegre.
Editora Folha da História. 2000. p.16. 5Idem, p. 17.
12
conceito de direita é imprescindível a uma correta compreensão do conceito de fascismo”6, ou
seja, “a direita é o gênero de que o fascismo é uma espécie”7.
Todavia a direita não aspira modificar o sistema vigente, por mais “liberal” e não
homogênea que pareça, ela apenas o altera perante uma situação de risco a sua posição
dominante. Os liberais se aliaram a extrema-direita para conservar sua posição desigual ao
resto da população, portanto o fascismo nada mais é que uma saída da burguesia, tanto
italiana quanto alemã para evitar a revolução socialista.
Em sua essência, a ideologia da direita representa sempre a existência (e as
exigências) de forças sociais empenhadas em conservar determinados
privilégios, isto é, em conservar um determinado sistema socioeconômico
que garante o estatuto de propriedade de que tais forças são beneficiárias.
Dai o conservadorismo intrínseco da direita8.
As divergências entre capitalistas liberais a favor do estado mínimo e conservadores
que apostam num “capitalismo de estado” criam disputas para sua manutenção como classe
hegemônica, entretanto ambas as frações concordam com a manutenção do sistema capitalista
e com a repressão contra revoltas e agitações. E quando as classes mais baixas se organizam e
resistem, a direita tende a se reordenar e se unificar rapidamente, pois têm um inimigo em
comum que pode modificar a ordem vigente.
O próprio sistema em cuja defesa as classes dominantes se acumpliciam –
um sistema que gravita em torno da competição obsessiva pelo lucro privado
– impede que as forças sociais em que se consiste a direita sejam
profundamente solidárias: elas se unem para objetivos limitados da luta
contra o inimigo comum9.
No período pós Primeira Guerra esse inimigo comum é o comunismo e a revolução
socialista na Rússia. Como já mencionado os Partidos Comunistas viam na Rússia uma
inspiração de revolução para seus próprios países, faziam greves e muitas vezes insurreições,
a exemplo da já citada na Alemanha que foi sufocada não só pelo estado como também por
milícias fascistas. Essas manifestações geraram fortes repressões, em contra partida na
maioria dos países da Europa instalam-se governos fascistas ou simpáticos a esse modelo.
O movimento proletário se aviva com essas tensões generalizadas na Europa. Na
contensão do vírus comunista, foi levada a cabo uma política de cordão sanitário
(total isolamento) contra a URSS. Não só isso. A terrível ameaça desencadeou uma
febre de governos autoritários, ditaduras de direita e fascistas pela a Europa: Hungria
6KONDER, Leandro. Introdução ao Fascismo. Rio de Janeiro, graal, 1977. p. 5.
7Idem, Ibidem, p. 5.
8Idem, p. 6.
9Ibidem, p. 6.
13
(1920-1944, Almirante Horty); Itália (1922-1945.], Mussolini); Espanha (1923-
1931, Primo de Rivera, depois 1936-1975, Franco); Albânia (1924-1939, Rei Zog);
Polônia (1926-1939, Marechal Pilsdski e RadzSmigly); Iugoslávia ( 1929-1934, Rei
Alexandre); Romênia (1930-1944, Rei Carol até 1940 depois Antonescu) Áustria
(1932-1938, Dollfus depois Schuschingg); Estônia (1932-1940, K Päts);
Alemanha(1933-1945, Hitler); Portugal (1933-1974, Salazar até 1970 depois M.
Caetano); Lituânia (1934-1940, A. Smetona); Letônia(1934-1940, K. Ulmanis)
Bulgária(1934-1943 série de governos ditatoriais); e a Grécia (1936-1940, Metaxas).
Apesar das diferenças entre esses governos serem maiores que as semelhanças,
todos eles possuem um ponto em comum: o anticomunismo. Essa configuração
política que corresponde a mais de cinquenta porcento da Europa solidifica a teoria
de que o fascismo é o último recurso do capitalismo, quando sente suas bases
gravemente ameaçadas pelo movimento proletário10
.
Entretanto dois países foram fundamentais para que essa política fascista tomasse
proporções continentais e sua expansão externa gerasseum conflito que mudou todas as
relações sociais, políticas, econômicas e ideológicas dos anos 30 e 40, a Itália e Alemanha.
Itália
Mussolini entendeu que a Itália não havia sido “recompensada” como deveria por ter
entrado no conflito. Konder aponta que Mussolini era um apoiador incondicional da
intervenção da Itália na Primeira Guerra, e teria por isso sido afastado do partido socialista
italiano. Quando fundou seu jornal para propagandear a causa intervencionista recebeu ajuda
financeira de grandes empresários que se beneficiaram com a intervenção da guerra11
.
Essa ligação é um indício para explicar os rumos que o fascismo tomou após os
conflitos, se considerarmos que o apoio da classe média e da burguesia industrial e agrária
foram fundamentais para Mussolini chegar ao poder.
Como já citado, houve uma grande concentração de renda pela burguesia industrial.
Esse elemento,associado com o êxito rural que ocorreu durante o período do conflito
culminaram em uma maior concentração de renda, e de pessoas nas cidades.
A guerra tinha acentuado o processo de concentração na indústria italiana,
proporcionando grandes lucros à siderúrgica, a indústria automobilística, à
indústria química. A Fiat decuplicara seu capital. Os grupos maiores – Iiva e
Ansaldo – cresceram enormemente. O setor agrário entrou em crise a
produção agrícola baixou, os capitais se deslocavam para a indústria, em
busca dos superlucros. O processo de concentração por sua vez, liquidava
muitas pequenas empresas e ameaçavam a pequena burguesia com a
10
DE CASTRO, Nilo André Piana. “A ascensão do Nazismo e a construção do III Reich”. In. PADRÓS, H. S.;
RIBEIRO Luis Dário T.; GERTZ, René(org.). Segunda Guerra Mundial, da crise dos anos 30 ao Armagedón.
Porto Alegre. Editora Folha da História. 2000. p. 64. 11
KONDER, 1977. Op. Cit. p. 30.
14
proletarização. A inflação pesava sobre a massa trabalhadora e sobre as
chamadas classes médias, acentuando o descontentamento e a insegurança.
(De 1914 a 1920, a moeda Italiana perdeu 80% de seu valor.) Acrescente-se
a isso o fato de que os trabalhadores rurais e pequenos proprietários
agrícolas tinham sido retirados pela própria guerra do isolamento e da
marginalização secular em que se achavam em face da vida política do país,
e passaram a se agitar, a protestar confusa, mas apaixonadamente contra a
miséria crescente que os envolvia. Os combatentes desmobilizados (600.000
italianos tinham morrido nos campos de batalha, 500.000 tinham sido feridos
e voltaram mutilados para casa) não foram unanimemente escolhidos como
heróis pela população irritada; e compreenderam logo que não ia ser fácil,
para eles, reintegrarem-se na vida civil, nas condições sociais com que se
depararam12
.
Mussolini apoiou-se nessa massa de ex-combatentes, e através de seu jornal
denunciava o que para ele seriam “os inimigos da pátria”. Para a sustentação da teoria, o
fascismo na Itália precisou fundamentalmente criar uma “necessidade de indicar aos seus
liderados uma direção clara e permanente para canalizar a energia deles”13
. Pensando nessa
unificação é que deveria criar “um principio sagrado”. Esse princípio sagrado, “a pátria”, que
invocaria o sentimento de solidariedade entre os ex-combatentes.
Era imprescindível um princípio sagrado, posto acima de qualquer discussão,
imune a qualquer dúvida, capaz de funcionar como bússola quando o barco
tivesse de manobrar em meio à tempestade, um valor supremo que nunca se
degradasse e pudesse alimentar incessantemente a chama da fé no coração
do combatente14
.
Na Itália Mussolini usou expansivamente o mito da nação e para que se mistificasse a
figura do Estado acima das relações sociais, utilizando de um conceito marxista, associado
com o mito da nação, para justificar que a Itália seria uma “Nação-proletária”, explorada
pelos países liberais, França e Inglaterra.
A nação italiana era evidentemente uma realidade: uma realidade complexa,
uma sociedade marcada por conflitos internos profundos, dividida em
classes sociais cujos interesses vitais se chocavam com violência. Mussolini
fez dela o mito, uma idéia do nacionalista de direita Erico Corrandioni,
apresentou a Itália como uma “nação proletária”, explorada por outras
nações, e acusou seus ex-companheiros socialistas de utilizarem o
proletariado italiano para, com suas reivindicações enfraquecerem
internamente o país em proveito dos inimigos que a Itália tinha no exterior15
.
Assim obteve a “desculpa” de perseguir os comunistas, eliminando teoricamente a luta
de classe e indicando o inimigo a ser combatido internamente.
12
KONDER, 1977. Op. cit. p. 31. 13
Idem, p. 10. 14
Ibidem, p. 10. 15
Idem, p. 11.
15
O sentido social conservador dessa idéia era claro: tanto na Alemanha como
na Itália, os trabalhadores eram convidados a ver em seus compatriotas
capitalistas não os beneficiários de um sistema social baseado na exploração
interna, mas sim colegas proletarizados (ou em vias de proletarização),
vítimas de um sistema de exploração internacional16.
Viam também como inimigos não só as potências imperialistas mais desenvolvidas
como a Inglaterra e a França, mas os próprios governos liberais italianos, que foram omissos
ou coniventes ao aceitarem os tratados pós Primeira Guerra.
Apesar de sua fragilidade intrínseca, o mito fascista da nação mostrou-se
eficiente: brandindo-o exaltadamente, o fascismo conseguiu recrutar adeptos
em todas as classes sociais (inclusive nas classes, que nada teriam a lucrar
com a sua política)17
.
A recessão pós-guerra atingiu profundamente a classe média, que mesmo não
ganhando com a guerra, se via acima do proletariado, e com o medo de uma revolução
socialista e a possível tirada de seus privilégios, fez com que essa classe média se agarrasse
nas políticas fascistas. É essa burguesia aliada às elites italianas, da igreja, do exército, da
burguesia industrial e agrária, que marchou por Roma e colocou Mussolini no poder em 1922,
ao qual ele só deixaria o poder fuzilado em 1945.
Alemanha
A crise pós-guerra era efetivamente mais grave na Alemanha do que na Itália, isso
porque como já mencionamos os tratados de guerra, e principalmente o tratado de Versalhes,
exigia que a Alemanha honrasse vários compromissos por se tratar de uma nação vencida.
Já mencionamos também que a Revolução Russa criou um inimigo a ser combatido,
pois em uma situação como a da Alemanha, em que a maioria de sua população estava
passando dificuldades de sobrevivência, foi o ambiente perfeito para se difundir a idéia de
quebra da ordem social vigente.
Ao final da Primeira Guerra, espalhados por toda a Europa, os socialistas e
os comunistas cresciam. Na esteira dos custosos êxitos da Revolução Russa,
toma vulto a revolução na convulsionada Alemanha. Acuada pelo Tratado de
Versalhes, que lhe tirava o direito de manter um exército superior a cem mil
homens, uma força aérea e uma marina de guerra; despojada de parte
significativa de seus territórios e todas as suas colônias e, além disso,
16
KONDER, 1977. Op. Cit. p. 12. 17
Idem, p. 14.
16
arcando com pesadas reparações de guerra, a República Alemã, criada em
cinco de Novembro de 1918, deparava-se com um quadro catastrófico. Além
do famigerado Tratado de Versalhes, existiam as tropas desmobilizadas,
grupos de extrema direita atuando violentamente e a massa operária pronta
para rebelar-se18
.
Os movimentos de esquerda na Alemanha foram reprimidos com ferocidade, como
mencionamos antes o assassinato dos líderes espartaquistas. Paralelamente com esses
movimentos de esquerda, surgiam também movimentos e partidos ligados a extrema direita,
caso do então chamado “Partido dos Trabalhadores Alemães”.
Nesse mesmo ano de 1919, na mesma Munique, ingressava no pequeno
Partido dos Trabalhadores Alemães (Deutsche Arberterpartei) Adolf Hitler.
Um ex-cabo austríaco do exército imperial alemão, profundamente anti-
semita, bom orador e ardoso defensor da unidade dos povos germânicos
numa grande Alemanha. Em fevereiro de 1920, ele já era a principal
liderança dentro do partido, mudando inclusive seu nome para Partido
Nacional-Socialista dos trabalhadores Alemães de abreviatura nazi19
.
Hitler também utilizou da mesma tática de Mussolini de criar culpados para a recessão
que havia na Alemanha, e esta atraiu aliados para sua causa, principalmente os ex-
combatentes e nacionalistas, criando também a aversão aos inimigos e legitimando a caça dos
mesmos, como visto mais tarde explicitamente nos campos de concentração.
O programa do partido apresenta uma linha bastante confusa, na qual
mistura anti-semitismo, revanchismo, um nacionalismo febril e virulento, e
idéias “revolucionárias” no campo social (que serão abandonadas ao passo
em que o nazismo se aproxima do poder). 20
Castro aponta também alguns destes “ideais revolucionários” do programa do partido
nazista de 1920, antes desses serem abandonados:
Acabar com a cidadania dos judeus; conquistar colônias para a expansão do
povo alemão; realizar reformas agrárias; aumentar a participação dos
trabalhadores nos lucros das empresas; prender os que enriqueceram com a
guerra e não cumprir o Tratado de Versalhes21
.
E como havíamos mencionado, apesar da pouca expressão que o partido apresentava,
Hitler influenciado pelas ações do italiano Mussolini, tentou o golpe de 1923.
Em 1923, a crise econômica havia se aprofundado na Alemanha. A hiper-
inflação grassava. Os nazistas são ainda um pequeno e truculento partido
18
DE CASTRO, 2000. Op. Cit. p. 62. 19
KONDER, 1977. Op. Cit. p. 63. 20
Idem, p. 65. 21
DE CASTRO, 2000. Op. Cit. p.64.
17
regional, quase sem expressão fora da Baviera e de Munique, mas o seu líder
já sonha alto. Aproximando-se de lideranças militares como Ludendorf, os
nazistas tentam um golpe de estado na Baviera, conhecido com o Putsch de
Munique ou Putsch da Cervejaria. A tentativa de repetir a marcha de
Mussolini (A marcha dos fascistas italianos sobre Roma, que levou
Mussolini ao poder em 1922, na Itália) falha; o grupo é desbaratado e seu
líder preso e levado a julgamento22.
O Julgamento de Hitler serviu mais para propagandear suas idéias, já que ele mesmo
fez sua defesa,utilizando de um discurso efervescente e enérgico, que continha os conceitos e
pensamentos ideológicos articulados com suas propostas. Não bastante, seu julgamento foi
difundido pelo rádio para toda a Alemanha, o que acarretou a simpatia de alguns setores mais
conservadores da sociedade.
É certo que Hitler não queria a mudança da ordem vigente, pois ele não propunha
acabar com o capital, no entanto ele entendia, assim como Mussolini, que a Alemanha estava
sendo explorada pelas nações mais “evoluídas”, França e Inglaterra e que, como já
mencionado, enxergavam a Alemanha e a Itália como nações exploradas, proletárias
(novamente importando e modificando o conceito marxista).
Assim a exploração interna é deixada de lado, a Itália e a Alemanha estavam
sendo proletarizadas por outras nações, os capitalistas italianos e alemães
estavam sendo explorados por estrangeiros. O mito da nação contido no
fascismo consegue conquistar adeptos em todas as classes sociais,
principalmente nas camadas médias, que eram as mais sujeitas à
proletarização e aos efeitos da crise23
.
Condenado, Hitler cumpriu apenas nove meses de prisão, momento em que escreveu
seu livro “MeinKampf” (Minha Luta), em que intensifica a acusação da conspiração judaica.
Hitler tratou no livro para além de criticas aos socialistas, o “problema judeu”, o anti-
semitismo.
Assim, todas as mazelas eram projetadas nos judeus, enquanto a perfeição
devia ser o alemão puro, ou a raça idealizada. Essa identificação do dito
inimigo interno dissimulado, permitirá mais tarde a expropriação do capital
dessas pessoas, dos bens, do trabalho, da vida e até mesmo dos seus restos
mortais. A pureza racial era mostrada como passaporte para o Vahalla
(paraíso nórdico). Mesmo um modesto operário fazia parte do povo
escolhido para liderar o mundo, pois todo alemão é um senhor. Contudo,
existe a hierarquia interna com grande apreço pela concentração financeira,
chamada estrategicamente de capital nacional24
.
22
KONDER, 1977. Op. Cit. p.65. 23
DE CASTRO, 2000. Op. Cit. p. 67. 24
DE CASTRO, 2000. Op. Cit. p.68.
18
Com a política da raça, do inimigo externo, do mito da nação, Hitler isolava a luta de
classe internamente, mas não a eliminava, a “disfarçava” em um hierarquia da sociedade, que
mantinha a “ordem” entre as classes. O que devemos entender é que neste contexto no qual
Hitler “pregou” suas idéias, as contradições sociais não foram, apagadas, mas meramente
dissimuladas.
Hitler dizia que o capitalismo estava doente, e que os nacionais-socialistas
não queriam destruí-los, mas sim, curá-lo. Isso seria possível através da
distinção entre os bons capitalistas (nacionalistas e produtivos) e os maus
(especuladores e judeus em geral). Mostrava o movimento nazista uma
impressionante capacidade de se adaptar a novas situações, munido de uma
ideologia superficial e até mesmo maleável, mas eficiente e funcional como
nenhuma outra25.
Identificamos ainda que essa “mutação ideológica” do nazi-fascismo é a unificação da
direita em frente ao inimigo comum, o comunista. Assim como Konder menciona em seu
livro “Introdução ao Fascismo”.
O Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães chegou ao poder também
condicionado pelo distanciamento que a social-democracia e os comunistas tornaram ainda
maior nas eleições subseqüentes a crise de 1929, e com o a adesão dos médios e grandes
burgueses alemães.
O abandono da via “revolucionária” de Hitler e o distanciamento das políticas mais
“progressistas” do partido, levaram ao aumento dos seus fundos monetários através do apoio
dos grande empresariado e esse apoio serviu para a nomeação de Hitler como chanceler em
1933. Ao chegar ao poder, precisava ainda consolidar sua força política.
Os nazistas não perdem tempo. Em vinte e sete de fevereiro de 1933, antes
de completar trinta dias de governo, ocorre o incêndio do Reichstag. As
acusações contra os comunistas são lançadas durante as tentativas de apagar
o fogo. Começam a ser presos comunistas e social-democratas antes que
aconteça rescaldo do prédio calcinado. O bode expiatório é um holandês, de
nome Marinus Van der Lube, portador de uma carteira do Partido
Comunista. Um desequilibrado que acabou sendo julgado e decapitado26
.
Esse episódio serviu para que se endurecessem mais contra os opositores do regime,
principalmente os comunistas, além de instituir vários decretos, como aponta Castro
“suspende por decreto as liberdades individuais civis”27
, para “abolir toda e qualquer
25
Idem, p.69. 26
Idem, p.72. 27
DE CASTRO, 2000. Op. Cit. p. 73.
19
autonomia dos estados e nomeando governadores nazistas para cada região da Alemanha”28
,
declara o monopartidarismo29
.
Com a posse de Hitler intensificou-se as manobras para garantir que os nazistas
tivessem plenas “liberdades” para executarem seus objetivos, mas, no entanto sua base, os SA
não estavam satisfeitos com os caminhos que o partido estava tomando.
As atividades constantes das SA marcha, reuniões e brutalidades contra
judeus ou comunistas interferiam no funcionamento das fábricas e na
produtividade das mesmas, pois os empregados membros daquelas tinham
faltas abonadas, fato que fazia o número de SA continuar a crescer. Esse
absenteísmo desacelerava a produção e gerava protestos dos grandes barões
do Reichur (região de concentração de indústrias pesada na Alemanha)
diretamente com o Führer. “Os responsáveis são os SA” afirma Krupp. “Essa
gente quer uma espécie de bolchevismo de botas e sem cérebro que seduz
muita gente”. Essa afirmação de Krupp não era de toda errada. Parece ser
mesmo verdade que os SA estavam descontentes com o rumo legalista de
Hitler, seus dirigentes queriam ser condutores da Wermacht (exército alemão
Nazista) e banir a velha guarda aristocrata. Também se falava em
descontentamento geral das SA, pois, cada vez mais o partido se afastava
dos aspectos populistas originários de seu programa e que eram identificados
com o socialismo e os interesses dos trabalhadores. A formidável dimensão
das SA causava temor em Hitler quanto à possibilidade de um golpe30.
Podemos avaliar com essa referência, que primeiro Hitler não tinha domínio total da
sua base e por isso enfatizou sua política no totalitarismo e na perseguição dos que são contra
o regime. E que segundo, se nota o vínculo que Hitler irá criar com o capital, a ponto de
promover um verdadeiro massacre contra os SA, o que foi conhecido pela “a noite das longas
facas”, em foram eliminados mais de mil homens, com a justificativa de estarem planejando
um golpe.
O mito do inimigo interno e da nação, aliados à persuasão pela força, ajudou no “bom
funcionamento” do regime.
Enquanto movimento, o nazismo era, inicialmente, uma reunião de
indivíduos de tendências políticas contratantes ou de ideologia pouco
definida, sendo talvez, a frustração pela derrota da Alemanha na Primeira
Guerra e o descontentamento com República de Weimer, os únicos pontos
realmente consensuais. Justamente em torno do racismo, que o Partido
Nacional-Socialista resolverá seus problemas de coesão. O discurso de
pureza racial permitia apresentá-la como uma revolução social alternativa,
tanto à democracia liberal como ao comunismo – uma espécie de populismo
militarista. A idéia de uma “Alemanha acima de tudo”
(Deusschtlandüberalles) colocava não só a Alemanha acima de qualquer
nação, mas principalmente acima de qualquer conflito de classe entre os
28
Ibidem, p. 73. 29
Idem, p. 74. 30
Idem, p. 75
20
próprios alemães. Por fim, o anti-semitismo fornecia o “bode expiatório”,
um culpado para as dificuldades enfrentadas pelo povo alemão. O próprio
anti-semitismo passava pela desvalorização das diferenças sociais, uma vez
que a maioria dos judeus passavam pelas mesmas dificuldades enfrentadas
pela classe média e operária, na maioria dos países europeus. A política
racial do nazismo foi fundamental para esse elo, como vimos a ideologia
nazista não era uma terceira via entre o capitalismo e o socialismo e suas
propostas frágeis, e é na política racial que eles vão unificar suas
divergências, “fantasiar” a luta de classes e fomentar uma guerra, que além
de imperialista se tornará ideológica.31
Por fim iremos concordar com Konder que analisa o fascismo em relação a
periodização do capitalismo nos países centrais do último.
O fascismo é uma tendência que surge na fase imperialista do capitalismo,
que procura se fortalecer nas condições de implantação do capitalismo
monopolista de Estado, exprimindo-se através de uma política favorável de
uma política de conteúdo social conservador, que se disfarça sob a máscara
“modernizadora”, guiado pela ideologia de um pragmatismo radical,
servindo-se de mitos irracionalistas e conciliando-os com procedimentos
racionalistas-formais de tipo manipulatorio. O fascismo é um movimento
chauvinista, antiliberal, antidemocrático, antisocialista, antioperário. Seu
crescimento num país pressupõe uma preparação reacionária que tenha sido
capaz de minar as bases de forças potencialmente antifascista
(enfraquecendo-lhe a influência junto às massas); e pressupõe também as
condições da chamada sociedade de massa de consumo dirigido, bem como
a exigência nele de um certo nível de fusão do capital bancário com o capital
industrial, isto é a existência de capital financeiro32.
Portanto Hitler e Mussolini tinham interesses imperialistas, pois além de
estabelecerem uma mudança na política e economia de seus respectivos governo, estavam
dispostos a entrarem em guerra por territórios que julgavam necessários para o
desenvolvimento e modernização de suas nações. Entretanto suas intenções se chocariam com
as de outras nações.
Enquanto a Alemanha e à Itália nos anos 30 abriam caminho para suas expansões
territoriais, o Japão no Pacífico também começaria uma investida contra seus vizinhos
asiáticos, no entanto entraria em choque com o EUA.
31
KIELING, César. A Questão Étnica e Racial In. PADRÓS, H. S.; RIBEIRO Luis Dário T.; GERTZ,
René(org.). Segunda Guerra Mundial, da crise dos anos 30 ao Armagedón. Porto Alegre. Editora Folha da
História. 2000.p. 166. 32
KONDER, 1977. Op. Cit. p. 21.
21
A guerra além do front
Apesar dos EUA nos anos 30 manterem uma política isolacionista, se preocupando
apenas com as questões internas, e do continente americano, seu governo exerceu forte
influência política e econômica no Pacífico e mesmo não participando diretamente da
primeira parte dos conflitos na Segunda Guerra, tinha fortes interesses comerciais na região,
onde também estava em processo a expansão territorial levada a cabo pelo governo do Japão,
gerando um conflito de interesses imperialistas.
[...] Devido à guerra com a China (até então aliada dos norte-americanos), o
Japão sofreu boicotes econômicos, embargos comerciais (principalmente de
petróleo) e pressões diplomáticas. Até o início da década de 40, o país
resistiu em função da aliança com a Tailândia, que lhe permitiu realizar uma
forte ofensiva contra a Indochina, como também da assinatura do Pacto
Tripartite, com Alemanha e Itália em 194033
.
Esse pacto influenciou o Japão a tomar ofensiva de conquista contra os outros países
asiáticos, atitude que teve como conseqüência o início dos conflitos diplomáticos com os
EUA, que também usufruíam de forte política de influências na Ásia.
[...] Além disso, devido às constates derrotas dos Impérios Coloniais e à
necessidade, cada vez mais premente, de matérias primas e de formação de
um cinturão de defesa, os japoneses voltaram os seus interesses para
sudoeste asiático. Entretanto, a conquista de tais territórios era inviável em
função da forte presença militar norte-americana na região (principalmente
nas Filipinas). Os interesses de ambos os países na Ásia eram excludentes;
crescia a disputa imperialista. Os EUA pressionavam para a retirada das
forças armadas nipônicas o que, em última instância, significava a rendição
do Japão; A guerra contra os EUA era inevitável34.
Podemos perceber que o que estava em jogo no conflito no Pacífico era a hegemonia
do controle de mercados e territórios influenciados pelas duas nações, mesmo isso não sendo
propriamente uma guerra declarada. Com o decorrer do impasse diplomático e com os
confrontos na Europa encaminhando para uma guerra, os japoneses apostaram num ataque aos
estadunidenses. “Pearl Harbor foi bombardeada por uma força tarefa nipônica em 7 de
dezembro de 1941”35
.
33
RODRIGUES, Gabriela. O Conflito na Ásia In: In. PADRÓS, H. S.; RIBEIRO Luis Dário T.; GERTZ,
René(org.). Segunda Guerra Mundial, da crise dos anos 30 ao Armagedón. Porto Alegre. Editora Folha da
História. 2000.p.182. 34
Idem, Ibidem, p. 182. 35
Ibidem, p. 182.
22
Portanto, diferentemente da Primeira Guerra, a Segunda Guerra Mundial teve três
grandes frentes de conflitos, uma na Europa, outra na África e a terceira no Pacífico. Além de
outra frente, caracterizada pela produção cultural e sua veiculação em termos de comunicação
de massas36
.A Guerra ideológica esteve presente nas produções culturais dos anos 20 e 30 e
de maneira mais intensa durante os conflitos nos anos 40.
Mussolini e Hitler utilizaram dos meios de comunicação de seu tempo (jornais e
rádios) para que suas diretrizes fossem propagadas de maneira rápida e eficaz, além de
manterem controle direto sobre eles, noticiando apenas o que seria de interesse dos regimes.
Os nazistas tiveram contatos com as produções de documentários já nos anos 1920.
O nazismo e o cinema têm ligações remotas que datam de antes da ascensão
de Hitler ao poder. Entre 1923 e 1925, muitos alemães puderam ver, pela
primeira vez, a figura de Adolf Hitler em documentários que cobriram o
Pustch da cervejaria e o julgamento que se seguiu. Então o movimento
nazista era um fenômeno regional, limitado à Baviera. A Universum Akition
Film, mais conhecida mundialmente como UFA, a principal produtora de
filmes alemães, se encarregaria de manter, sempre que possível alguma nota
sobre o movimento “revolucionário” (como era chamado na época) de
extrema direita nessa fase mais embrionária do nazismo37
.
Como havíamos mencionado anteriormente, Hitler ficaria conhecido na Alemanha
posteriormente a essa tentativa de golpe em 1923. Como Castro aponta, a relação do Nazismo
com o grande capital e a simpatia da burguesia com o movimento fomentaria uma
“propaganda” positiva das atividades do partido e de sua figura maior Hitler.
A UFA era uma empresa fundada em 1917, no final do primeiro conflito
europeu. Tinha larga dependência do grande capital, principalmente da
empresa de Krupp e de sua indústria bélica. Essa mesma Krupp, junto com
Thissen e suas indústrias poderosas, aparecem entre as principais
contribuintes para o Partido Nacional Socialista dos trabalhadores Alemães
(nazista). Era natural que o nazismo ganhasse espaço no cinema, visto que
tanto um como outro eram financiados pelo mesmo investidor38.
O cinema foi um dos meios que o governo nazista utilizou para propagandear os feitos
do regime não só na Alemanha, mas também nos territórios ocupados chegando à marca de
1097 filmes de 1933 a 194539
. Entretanto, Castro aponta que apenas 96 desses filmes foram
feitos pelo Ministério da Propaganda, entretanto, isso não diminuiria a simpatia e a exaltação
do regime nas películas. O que nos indica que também ouve um forte engajamento dos setores
produtores de filmes na política nazista.
36
Entenderemos aqui como comunicação de massas os HQs, produções cinematográficas e o rádio. 37
DE CASTRO, 2000. p. 279. 38
Ibidem, p. 279. 39
Idem. 282.
23
Muitos autores já mencionaram a relação dúbia que os EUA mantinham em relação ao
regime nazista durante os anos de 1930, essa relação também é nitidamente vista nas
produções cinematográficas do período.
Em Hollywood, ao iniciar-se a guerra, imperava ainda o famoso
isolacionismo. Os anos que a Europa se tensionou política e militarmente
não haviam repercutido no cinema americano de forma eficiente, filmes
politizados não eram a tônica hollywoodiana. Os EUA começavam a emergir
do caos da quebra da bolsa de 1929 e o cinema cumpriu um papel importante
na propagação do New Deal durante toda a década de trinta. Filmes sobre
crise internacionais como a Guerra Civil Espanhola não eram bem vistos,
embora alguns tenham sido rodados, como Bloqueio (EUA, 1938, Direção
WillianDieterle) o mais célebre deles40.
Castro avalia que essa “tônica hollywoodiana” de fazer filmes politizados era apenas
no quesito internacional já que ele mesmo aponta que o cinema foi um dos grandes
propagandeadores do “New Deal”, para em seguida mencionar o verdadeiro motivo para o
“isolacionismo” do cinema.
Até 1939 a situação não mudou muito. Embora começassem a aparecer
filmes falando sobre nazismo, eles mantinham uma crítica muito sutil. Foi
montado o comitê do Cinema para a Cooperação com a Defesa Nacional, em
1940, tentando mudar o direcionamento isolacionista assumido pelos EUA.
Contudo, o filme de Charles Chaplin. O grande Ditador, rodado em 1939 e
lançado em 1940, foi muito mal visto, pois comprometia a imagem de
neutralidade de Hollywood. Houve diversos protestos contra Chaplin e suas
instrumentalizações política do cinema. Essas posições defensivas estavam
baseadas na lógica mercantil das produções americanas. Sendo o cinema a
principal indústria de exportação dos Estados Unidos, não podia correr risco
de ter censurada a exibição de seus filmes em países simpáticos ao
fascismo41.
Essa política do cinema de Hollywood transparece a política do próprio governo dos
EUA, que via o nazismo com bons olhos, mesmo porque para ele era uma excelente política
anticomunista, em sua visão um inimigo muito mais perigoso.
Ao divulgar a intenção de realizar-lo, em 1934, o autor sofreu diversas
represálias, e não só de simpatizantes do nazismo. Entre 1934 e 1939, foram
imensas as pressões para que abandonasse o projeto. Lembre-se que, na
década de 30”para muitos direitistas, ser antinazista equivalia a ser
bolchevique”; e já nos anos 50, Chaplin foi vítima do macartismo. Um
aspecto a destacar foram as pressões diplomáticas realizadas pelos países do
Eixo, proibindo a exibição de seus filmes em 1937 e ameaçando proibir
todos os filmes note americanos caso Chaplin levasse adiante seu projeto.
Assim, aconteceram imensas pressões da indústria cinematográfica para que
o Grande Ditador não fosse rodado. Além do interesse da indústria
40
DE CASTRO, 2000. Op. Cit. p. 275. 41
Idem, p. 276.
24
cinematográfica norte-americana no mercado alemão, aponta-se a
conveniência das potências capitalistas liberais diante da ascensão do
fascismo42.
O impasse das filmagens e produção do filme nos permite pensar a influência política
que sofriam as produções culturais, que tinham uma preocupação além da confecção dos
filmes, mas também a mercantilização, reforçando o caráter comercial que a indústria cultural
irá desenvolver nos anos subsequentes. No entanto essa política sofre uma modificação após
a declaração de guerra feita pela Inglaterra à Alemanha.
Com a declaração de guerra pela Inglaterra, a situação tornou-se mais
favorável, ao menos nos Estados Unidos. A United Artists, que até então
pressionara para que Chaplin desistisse do filme, passou a estimular a sua
conclusão o quanto antes43.
E após a declaração de guerra, Hollywood e sua indústria sofreram modificações nos
seus roteiros, personagens e publicações para inserirem-se no coletivo de apoio a guerra.
A necessidade de informar a população sobre as dimensões do conflito,
sobre o “caráter” dos inimigos e os objetivos americanos de defender a
liberdade, passou a ser cuidadosamente planejada nos estúdios. Por sua vez
os documentários também ganharam uma larga importância. Consagrados
diretores americanos como Frank Capra, John Huston. John Ford,
GeogerKukor e muitos outros ingressaram nesse campo. Literalmente
fardados, eles rodaram e, principalmente, realizaram montagens de imagens
assinando filmes informativos e de propaganda. A principal série de filmes
documentais conscientizadores de guerra chamou-se WhyWeFight (Por Que
Combatemos) e foi produzido por uma equipe de diretores comandada por
Frank Capra44.
Além da forte propaganda cinematográfica, os atores também engajavam-se nas
propagandas pró-guerra, muitas vezes se alistando nas forças armadas para incentivar também
a participação de civis no conflito.
Antes da exibição de qualquer filme de ficção se exibiam curtas de
atualidades da guerra, rodados de forma industrial e subvencionados pelo
governo. Esses curtas retratavam desde as mudanças no cotidiano americano,
passando pelas fábricas de armamentos, pelas frentes de combate e pela
ampla cobertura do alistamento voluntário das grandes estrelas de
Hollywood; Clark Gable e James Stewart na aviação, Tyrone Power nos
fuzileiros e, assim por diante, quase todos os artistas importantes ou
secundários como Ronald Reagan, estavam fardados e muitos realmente
42
WEIMER, Rodrigo de Azevedo. O Grande Ditador In: Cinema e Segunda Guerra Mundial. Porto Alegre,
URGS, 1999. p. 37. 43
WEIMER, 1999. Op. Cit. p. 37. 44
DE CASTRO, Nilo André Pianna. Segunda Guerra Mundial e Cinema In. PADRÓS, H. S.; RIBEIRO Luis
Dário T.; GERTZ, René(org.). Segunda Guerra Mundial, da crise dos anos 30 ao Armagedón. Porto Alegre.
Editora Folha da História. 2000. p. 277.
25
entraram em combate, o que era amplamente divulgado na mídia
americana45.
Esse tipo de publicidade tinha o intuito de mobilizar a população num “esforço
conjunto de guerra”. Não é a toa também que muitas produções que tiveram seus enredos com
o tema de Guerra foram ganhadores de Academy Awards, a exemplo de “Rosa da Esperança”,
“Casablanca”46
.
A temática da guerra incorporou-se em muitas produções culturais, filmes, desenhos
animados, histórias em quadrinhos. Muitos personagens foram criados durante o conflito, que
é o caso do nosso objeto de pesquisa o Capitão América, e outros reelaborados para
“combaterem” os inimigos dos EUA na guerra, a exemplo do Pato Donald, que nos anos 30
era apenas um coadjuvante nas produções do estúdio e durante a guerra protagoniza vários
curtas, chegando a ganhar um Academy Awards em 1943 com “A Face do Fuhrer”47
, como
“Melhor animação”. Outro personagem que ganhou um novo sentido durante a guerra foi
Namor.
O Namor, em especial, aparecia em suas histórias como inimigo dos Estados
Unidos sendo combatido pelo Tocha Humana. Mas, com as ameaças
nazistas, juntaram forças para combater um inimigo comum, mostrando
assim como Inglaterra e a URSS, servindo, de certa forma, como exemplos
para humanidade48.
A Walt Disney World fez inúmeras produções no decorrer do conflito, entre a citada
“A Face do Füher”.A imagem do Pato Donald no início do desenho em um campo, onde
presume-se que seja um quartel alemão, quando o desenho corta para um outro cenário, onde
ele trabalha na indústria armamentista em linha de produção. Na última parte o desenho revela
que Donald apenas estava dormindo e tendo um sonho ruim e logo aparecem referências à
bandeira americana e termina o desenho com ele em posição de sentido e declarando amor aos
EUA.
Uma dura crítica ao que se presumia que acontecia nas fabricas armamentista da
Alemanha nazista, uma espécie de escravismo dos trabalhadores, porém, nos EUA práticas
similares eram aplicadas no intuito de um esforço geral da população em torno da causa de
um bem comum, a luta para defender a nação do inimigo comum, os nazistas.
45
Ibidem, p. 277. 46
É interessante ressaltar que o filme é de 1942 47
VALESCO, Barbara Marcela Reis Marques de. Das Disney's Face Representações do Pato Donald na
Segunda Guerra Mundial (1942-4).Brasília,2009. Disponível em ENDEREÇO DA WEB. Acessado em
25/09/2010. Sem página. 48
OLIVEIRA, Fernando Feitosa de. Representações humanas nas história em quadrinhos do Homem -Aranha.
Rondon 2005. p.12.
26
Outro desenho “Como nasce uma criança nazista”, a mesma linha de pensamento foi
proposta, de propaganda anti-nazista, criticando a educação alemã, num esforço de condenar
as instâncias governamentais e inocentar a população em geral, retirando-a do processo e
legitimando um governo autoritário e sem representação popular.
A Disney pretende com essas produções criar a “face” maléfica do “fuher”, ou seja,
simplificar a estrutura política da Alemanha e seus avanços bélicos imperialistas na figura
caricatura de Hitler e resumindo sua pessoa em um louco, ignorando as relações sociais e o
contexto histórico do país, incluindo o apoio de setores da população civil, como já
mencionamos nas produções filmatográficas feitas na Alemanha nazista.
[...] o verdadeiro perigo que representa para países dependente como o
nosso. A ameaça não é por ser o porta-voz do “american way of life”, o
modo de vida do norte-americano, mas porque representa o “american dream
of life”, o modo por que os EUA se sonham a si mesmo, se redime o modo
por que a metrópole nos exige que representemos nossa própria realidade,
para sua própria salvação49.
A tese de Ariel e Armand sobre a produção dos quadrinhos da Disney é interessante
para pensar esse desenho, já que não é uma reprodução fiel do que se ocorreu na Alemanha
Nazista, mas uma produção com o olhar norte-americana sobre o assunto. Ou seja, o
“american dream of life” que citam os autores, é a expansão das suas produções culturais
como propaganda ideológica dominante.
A indústria cultura de guerra fomentou muitos outros artifícios para juntar aliados em
sua causa.
Não bastando todo esse cuidado para desencadear a mobilização da opinião
pública no interior dos EUA, as produções cinematográficas americanas
serviram como embaixadoras do “Tio Sam” para possíveis aliados, como no
caso a América latina. A política de boa vizinhança, lançada por Roosevelt
no final dos anos trinta e início dos quarenta, contou com larga divulgação
cinematográfica. No caso brasileiro, além de levar Carmem Miranda para
estrelar vários filmes na América do Norte, o Brasil recebeu um
personagem-símbolo concebido pelos estúdios Disney: Zé Carioca (Joe
Carioca), que apareceu dividindo o estrelato com o Pato Donald e outros
personagens em dois filmes Alô Amigos! (Saludos Amigos: 1943 direção
Walt Disney) e Você já foi à Bahia (The Trhee Caballeros: 1945 direção
Normam Ferguson). Ambos os filmes enaltecendo as relações pan-
americanas e homenageando não só no Brasil, mas Argentina, Bolívia,
Chile, Peru, México e Uruguai numa clara utilização do cinema para
interesses dos Estados50.
49
DORFMAN, Ariel. MATTELART, Armand. Para ler o pato Donald: Comunicação de massa e colonialismo.
Tradução por Álvaro de Moya. RJ, Paz e Terra, 1980. p.127. 50
DE CASTRO, 2000. Op. Cit. p. 278.
27
Essas relações desenvolvidas pelos filmes, desenhos animados, histórias em
quadrinhos, humanizam seus personagens a ponto de servirem como “embaixadores da
liberdade” a favor dos interesses dos “irmãos americanos”, no entanto, podemos perceber que
essa preocupação é na verdade uma estratégia para não perderseus aliado sem suas áreas de
influência, mesmo porque, alguns governos da América Latina tinham mais semelhanças com
os governos ligados ao Eixo do que com os Aliados, a exemplo do Brasil.
Com isso, podemos concluir inicialmente que a Segunda Guerra Mundial caracterizou-
se pela nova modalidade, a guerra ideológica. EUA, Inglaterra, França, Japão, URSS,
Alemanha e Itália, mobilizarão não apenas soldados e armas para os conflitos, mas também,
escritores, diretores, atores, personagens de desenhos animados, historias em quadrinhos para
uma batalha que modificou os quadros sociais de uma geração. É nessa perspectiva que
vamos analisar o super-herói Capitão América.
CAPÍTULO 2
Cena 2, tomada 1: Ao abrir as cortinas, apresento-lhes Capitão
América
Do Herói ao Super-Herói
Entre diversos autores que desenvolveram pesquisas sobre historias em quadrinhos,
Nildo Viana, denomina os períodos que caracterizam a história desse gênero em três, sendo a
primeira fase de 1895 a 1928, a época de tiras, é uma seqüência curta de imagens geralmente
diárias publicadas em jornais e periódicos que se inicia com o Yelow Kid, considerado o
primeiro personagem do gênero, caracterizado por personagens como caricaturas, pois não
possuem uma história complexa, são personagens que ilustram uma notícia ou que contém
historias curtas. O segundo período é quando as tiras se transformam em revistas próprias,
semanais ou mensais, nesse período consiste na mudança de conceito nos quadrinhos, ou seja,
os personagens caricaturados da primeira fase, cedem espaço para os gêneros de aventura, os
heróis. Essa fase se inicia 1929 e vai até 1939, que contem personagens como Flash Gordon e
os personagens da Disney, esses personagens ganham suas próprias revistas, além de suas
histórias serem baseada nas aventuras, como por exemplo, aventuras desbravadoras, a
exemplo do Tarzam e Fantasma, esses não possuem super poderes. O último período é
quando entra em cena o gênero de super aventuras de 1939 até os dias de hoje51
, Super-
Homem, Batman e o personagem da nossa “história” Capitão América, suas histórias são
baseado nas super-aventuras de seus personagens, com inimigos superpoderosos, mutantes,
ou aventuras que incube o personagem principal em salvar a terra de alguma ameaça mortal.
Essa demarcação temporal das historietas é ilustrativa, apenas para mostrar os diversos
gêneros que foram produzidos e ainda são encontrados, seja nos jornais, revistas de notícia e
entretenimentos e nas suas próprias revistas em quadrinhos.
51
Essa definição de período foi tirada do livro de Nildo Viana. Heróis e Super-Heróis no mundo dos Quadrinhos.
Rio de Janeiro, Achiamé, 2005.
29
As mudanças de um gênero para outro foram muito significativas para o mundo dos
quadrinhos, em que quase todo assunto foi e são abordados nelas, desde aventuras coloniais
até personagens da vida cotidiana. Assim essas produções se inseriram nas relações sociais
das pessoas e a partir disso começaram a retratar suas vivências.
Nossa pesquisa, entretanto, não tem como objetivo problematizar esses períodos e suas
contradições, entendemos que outros autores já o fizeram com muito mais competência, nossa
pesquisa pretende apenas, entender o Capitão América na relação com seu meio e tempo.
Para isso se faz necessário entender o que difere um Herói de um Super Herói, já que o
Capitão América surge justamente nessa mudança de período onde os heróis cedem espaço
para os super-heróis.
Em sentido amplo o herói é um individuo que possui qualidades
consideradas especiais, tais como habilidades físicas, mentais ou morais. A
coragem é atributo mais característico do herói. A qualificação de herói, no
entanto, não é reservada apenas ao mundo da fantasia, pois ele é aplicável a
indivíduos concretos que se destacam em nossa sociedade. O herói, portanto
possui uma existência real. Ele pode ser transportado para a literatura, as
historias em quadrinhos, cinema, e televisão etc. 52
Já o super-herói é o ser com poderes superiores aos humanos, esses indivíduos
possuem capacidades de força, velocidade, agilidade entre outras superiores aos de um
humano comum. “O que distingue um super-herói de um herói? A primeira resposta, e a mais
simples, é a de que os heróis possuem habilidades excepcionais mais humanamente possíveis
enquanto que o super-herói possuem habilidades sobre-humanas”53
.
O nosso personagem, portanto, caracteriza-se por ser um super-herói, tendo em vista
que possui características super-humanas modificadas através de uma experiência em
laboratório, como mostra a figura número 01.
52
VIANA, Nildo. Heróis e Super-Heróis no mundo dos Quadrinhos. Rio de Janeiro, Achiamé, 2005. p. 37. 53
Idem, p. 38.
30
Figura 01 Capitão América as primeiras Histórias p.12.
1º Quadro, cientista: Hoje esse rapaz alistou-se no exército e
foi recusado pois suas condições físicas! Sua oportunidade de
servir ao país parecia perdida.
2º Quadro, cientista: Mal sabe ele que o soro ejetado em seu
sangue desenvolve rapidamente os tecidos elevando sua
estatura e inteligência a um nível espantoso.
3º Quadro, narrador:As pessoas na sala observação a cena,
espantadas!
3º Quadro, Figurante 1: M.mas v-vejam
3º Quadro, figurante 2: Ele... Está mudando
3º Quadro, Figurante 3: Deu certo, deu certo
4º Quadro, Observem! Eis o coroamento de anos de
trabalho: O primeiro de um exército de super-agentes física
e mentalmente capazes de aterrorizar espiões e sabotadores!
5º Quadro, cientista: Nós o chamaremos de Capitão
América. Filho... Porque assim como você, a América
ganhará força para proteger!
6º Quadro, narrado: Mas, a mão inimiga alcança as fileiras
dos altos oficiais dos EUA: Um deles presentes pertence a
Gestapo de Hitler.
6º Quadro, Espião anônimo 1: Este experimento jamais
chegará ao teste fina.
Os super-poderes do Capitão América tem portanto, uma origem de cunho
tecnológico, já que faz parte de uma experiência com um soro desenvolvido para aumentar as
suas características humanas. Na maioria dos HQs, os super-heróis têm seus DNA
modificados ou por acidentes54
, ou mutações55
, seres divinos ou espaciais56
e os humanos que
utilizam de seu poder aquisitivo ou habilidades intelectuais para desenvolverem armas para se
tornarem super.57
Com isso discordo de Nildo Viana.
[...] podemos distinguir três tipos de super-poderes: o poder tecnológico, o
poder mágico e o poder energético (ou “cósmico”). O poder tecnológico é
uma extensão do corpo humano, é um instrumento (roupa, arma etc) que
permite ao seu portador ultrapassar os limites humanos (voar, lançar raios
etc); o poder mágico se inspira no pensamento religioso e daí que vem o seu
caráter misterioso, inclusive de sua origem; o poder energético é um poder
que extrai da natureza, ou seja, o ser humano (ou qualquer outro ser) se
apossa da energia (cósmica ou qualquer outra) e ela se torna uma parte dele.
A diferença entre poder tecnológico e o poder energético ou mágico se
encontra no fato de que o portador do primeiro depende do seu aparato
54
Meta Humanos, esses acidentes podem ser tanto por explosões nucleares (Hulk) ou por espaciais (Quarteto
Fantástico), ou alguma modificação genética causada por alguma experiência após o nascimento, Capitão
América. 55
Mutantes, essas mutações são causadas no DNA antes do nascimento, um mutante ao contrário de um Meta
humano, já nasce com superpoderes, esses personagens são criados após os anos 60, os X-man. 56
São alienígenas , mitológicos, ou mágicos que se inserem nos universos dos super-heróis a exemplo de Super-
Homem e Mulher Maravilha, respectivamente. 57
Esses são geralmente personagens ricos, a exemplo de Batman, Homem de Ferro, e Arqueiro Verde.
31
tecnológico (Batman depende de sua roupa, cinto, carro etc.; o Homem de
Ferro depende de sua armadura) enquanto que o poder em sua própria
estrutura orgânica. No mundo dos super-heróis, a magia (o sobrenatural) e a
ciência (o tecnológico) se misturam e mantêm suas especificidades.
Entendo que o poder tecnológico não precisa ser necessariamente uma máquina ou um
ser robótico, como já utilizamos como exemplo, o Capitão América, que foi modificado
geneticamente através de um experimento de laboratório, seu poder deriva das pesquisas
tecnológicas desenvolvidas e aplicadas por um cientista.
Outro exemplo é o Sr. Fantástico58
modificado geneticamente através de um acidente
no espaço, apesar de adquirir superpoderes, utiliza de seu intelecto para desenvolver aparelhos
para conter seus inimigos, ou seja o “poder tecnológico” aliado ao “poder energético”.
Também podemos verificar no personagem do X-Men, Wolverine59
que possui uma mutação
genética de nascimento, com alto poder de regeneração e ao utilizar desse poder, um cientista
insere em seu corpo um esqueleto de adamantium60
tornando-o uma arma poderosa, ai vemos
“poder tecnológico” aliado ao “poder genético”.
Portanto, em meu entendimento o poder tecnológico é ligado a qualquer
desenvolvimento de tecnologias que eventualmente derem vantagens aos personagens, seja
elas sobre poderes energéticos ou armas.
Essa análise permite-nos uma questão muito interessante, com o desenvolvimento do
capitalismo, se tende a uma “corrida” por novas tecnologias, em tempos de guerra essa
“corrida” vai passar a ser no campo armamentístico, o Capitão América é um super soldado
que foi modificado geneticamente para combater nos campos da Segunda Guerra. O
Wolverine e o Sr. Fantásticos, surgiram nos anos 60 em plena guerra fria e a corrida
espacial/armamentista, ou seja, o desenvolvimento capitalista, está de maneira intrínseca nos
HQs dos super-heróis.
Nossa pesquisa, pretende verificar essas caraterísticas nos enredos dos HQs do Capitão
América.
58
Líder do Quarteto Fantástico. 59
Personagens do X-Men. 60
Um metal ultra resistente que existe apenas no universo Marvel. O escudo do Capitão América é feito desse
mesmo material.
32
Ao abrir as cortinas, apresento-lhes Capitão América
A história em quadrinhos, “Captain América Comics, editado pela a editora Timely -
antecessora da Marvel. Data de Março de 1941”61
.
O que chama a atenção na primeira edição de Capitão América é justamente o
principal inimigo mostrado nela, Hitler líder alemão e quem faz os ataques a Pearl Harbor são
os japoneses, os quais também são os principais conflitantes no Pacífico pela hegemonia
imperialista antes da declaração de guerra.
A fonte a qual utilizaremos na nossa pesquisa é “Capitão América: As Primeiras
Histórias”, uma edição lançada em 1992, que publica na integra os conteúdos das revistas
Capitão América Comicsnº 1 e nº 2, lançados em 1941. A capa que encaderna as duas
primeiras revistas reeditadas no início dos anos 90 é um recorte da capa do segundo HQ
lançada em Abril de 1941 (ver página 47). Abaixo podemos visualizá-la na figura 02:
Capitão América as primeiras Histórias, Capa.
Não vamos analisar todas as histórias da revista, pois o tempo não nos permitiu,
mesmo assim as histórias analisadas apresentam várias características semelhantes umas das
outras como, os inimigos do Capitão América, que são espiões alemães que tentam sabotar
meios de comunicação, indústrias de guerra, seqüestrar e matar políticos estadunidenses.
61
Revista Capitão América: As primeiras histórias. São Paulo: Abril, 1992. p. 5.
33
Relacionarei os personagens interligando-os quando achar necessário, já que para as
personagens serem compreendidas necessitam estar no seu espaço social e interagindo com
esse, ou seja, o Capitão América só é o Capitão América, quando interage com seus inimigos,
assim como os seus inimigos só tem sentido de existência quando estão executando suas
“missões”, formando um ciclo social de dependência.
Já nas primeiras páginas do HQ, percebe-se que o Capitão América não surge por
acaso e que representava não apenas mais um herói que foi reelaborado para combater os
nazistas em histórias fictícias, a exemplo de tantos outros que surgiram durante o final dos
anos 30 e que na década de 40, durante a Guerra, apareceram em suas edições com um forte
discurso nacionalista e anti-nazista, a exemplos de Super-Homem, Batman, Mulher
Maravilha, e os já citados anteriormente Namor e o Pato Donald.
O que faz o Capitão América diferente é que ele não é um alienígena com super
poderes (Super-Homem), nem um ser mitológico (Diana princesa amazona, Mulher
Maravilha), um deus marinho (Narmor, que é o senhor de Atlântida) ou um animal (Pato
Donald), e apesar de Bruce Wayne (Batman) ser um humano sem poderes sobrenaturais, ele é
um “playboy” de Gotham City62
que após o assassinato de seus pais, herda uma imensa
fortuna, com esse dinheiro ele constrói seus equipamentos. Portanto esses outros personagens
possuem pouca identificação com a maioria da população estadunidense da época e muito
menos com os soldados que lutavam durante a guerra, ou seja, contrário dessas outros
personagens Steve Rogers é um cidadão comum.
A diferencia de Steve Rogers, o Alter Ego63
do Capitão América, das outras
personagens é, portanto sua história antes de ser tornar um super-herói. “Hoje, esse rapaz
alistou-se no exército e foi recusado por suas condições físicas sua oportunidade de servir ao
país parecia perdida”64
, o que seria um personagem perfeito para incentivar não só as tropas
americanas, como vários outros jovens a se alistarem.
[...] o Capitão América era um panfleto e havia público para ele. Um público
que foi com o Capitão América para as trincheiras, quando sua tiragem foi
toda comprada pelo governo estadunidense e distribuída entre seus “soldados
franzinos”. Jovens que se alistaram no exército estadunidense e que viam na
62
Gotham City, cidade fictícia a qual reside o herói Batman. 63
Alter ego ou alterego (do latim alter = outroego = eu) pode ser entendido literalmente como outro eu, outra
personalidade de uma mesma pessoa. O termo é comumente utilizado em análises literárias para indicar uma
identidade secreta de algum personagem ou para identificar um personagem como sendo a expressão da
personalidade do próprio autor de forma geralmente não declarada. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Alterego. Acessado em 02.11.09. 64
Revista Capitão América: As primeiras histórias. São Paulo: Abril, 1992. p. 12.
34
personagem, a inspiração para que pudessem manter o seu ideal enquanto
combatentes da guerra65.
O Capitão América, assim como outros personagens da época,irão servir de
propaganda, vão se alistar e combater o inimigo, como vimos no primeiro capítulo, o
alistamento de estrelas de Hollywood e de personagens famosos de filmes e desenhos. Essa
indústria cultural vai utilizar-se dessas artimanhas para incentivar não só o alistamento de
combatentes como também aumentar os investimento para a indústria de guerra.
Luciana Zamprogne Chagas, no artigo “Capitão América: interpretações sócio-
antropológicas de um super-herói de histórias em quadrinhos”,faz uma análise da
personagem, e percebe alguns elementos significativos que aparecem no Capitão América.
Em seu primeiro número existem diversos elementos que vão dando a característica desse
personagem e de sua proposta. Chagas também faz uma analise bastante detalhada da
primeira capa do Capitão América (figura 03), e mostra várias possibilidades de se pensá-la.
Capitão América as primeiras Histórias, capa original da
primeira revista do Capitão América de 1941.
65
CHAGAS, Luciana Z. Capitão América: interpretações sócio-antropológicas de um super-herói de histórias
em quadrinhos. In: SINAIS - Revista Eletrônica. Ciências Sociais. Vitória: CCHN, UFES, v.1, n3. p.140.
35
Essa capa também nos mostrar alguns elementos, que vão identificar qual é a missão
do Capitão América.
Como já dito anteriormente, a Capa da revista #1 do Capitão América –
também sua primeira aparição – é emblemática: nada menos do que o super-
herói socando Hitler. Além disso, existem na capa, diversos detalhes que
compõe um visual declaradamente hostil aos nazistas. É importante pensar,
também, no impacto visual que essa capa trouxe a quem a leu em 1941 e a
quem lê agora. Confeccionada com o intuito de fortificar o sentimento
patriota e nacionalista nos soldados e cidadãos estadunidenses, ela tenta
demonstrar algo como a Alemanha nazista, e conta com uma grande
bandeira do partido ao fundo, e diversas outras suásticas espalhadas pela
cena. Outro ponto interessante é que enquanto o Capitão América soca o
“Fuehrer”, três soldados ao fundo, de hierarquias diferentes dentro do
exército alemão, tentam matá-lo a tiros. É como se o Capitão América
estivesse lutando não só contra aquelas pessoas que ali estavam, mas contra
toda a Alemanha nazista. Outra figura que destoa é, ao fundo, um homem
com fones de ouvidos olhando para uma televisão enorme, cuja tela contém
um homem de terno e chapéu – possível espião nazista – acionando um
dispositivo de dinamite e uma grande explosão, de algum prédio, onde está
escrito “Fábrica de equipamentos de Guerra” um trocadilho, pois em inglês
essa frase “U.S. Munitions Works” também poderia ser identificada como
“as armas dos Estados Unidos funcionam”. Outro ponto que vale ser
ressaltado é uma janela que se encontra na margem direita da composição,
cujas grades estão tortas e quebradas, o que nos leva a entender que foi por
esse espaço que o Capitão América entrou, sozinho, no Quartel General de
Hitler. Ainda na capa, no primeiro plano da figura, existe uma mesa, com um
mapa dos Estados Unidos e uma folha rosa embaixo, onde se podem ler
algumas letras das palavras que nos levam a frase: “planos de sabotagem
para os Estados Unidos”. Atrelando isso à frase anterior, de que as “armas
dos Estados Unidos funcionam”, e a toda composição da figura percebe-se a
mensagem que se passa: o inimigo é fraco, pois precisa traçar planos de
sabotagem e espionagem, todo o exército luta contra apenas um soldado
estadunidense. Em contrapartida, a superpotência de guerra “Yanke”,
simbolizada na figura de um super soldado66
.
Apesar da autora apenas analisar detalhadamente a capa da primeira edição de 1941 e
uma parte da história, “O Nascimento da Sentinela da Liberdade”, que é prelúdio das demais
histórias contidas na revista, suas indicações são ricas para analisar as demais histórias que
fazem parte da nossa pesquisa.
O Governo aprova um projeto secreto para criar um exército de super-
soldados. Steve Rogers foi o primeiro voluntário. O professor maluco de
nome “Reinstein” injeta em Rogers um líquido especial e o transforma em
um super-soldado, nomeando-o: “nós devemos chamá-lo de Capitão
América filho! Porque, como você, a América deverá ganhar a força e a
coragem para guardar nossas fronteiras!" (Captain América #1, 1941). Logo
66
CHAGAS, Luciana Z. Capitão América: interpretações sócio-antropológicas de um super-herói de histórias
em quadrinhos. In: SINAIS - Revista Eletrônica. Ciências Sociais. Vitória: CCHN, UFES, v.1, n3. p.144.
36
em seguida, um nazista espião mata o professor e a fórmula morre com ele,
deixando o Capitão América só na tarefa de sentinela das fronteiras67.
Primeiramente o termo “O professor maluco” usado pela autora é um termo pejorativo
e que em minha analise não procede na característica do personagem. Ele faz parte de uma
sequencia de cenas que iniciam na representação do presidente dos EUA que ironicamente
diz em uma frase “O que sugerem cavalheiros? Um personagem de quadrinhos? Talvez o
Tocha Humana no exército resolvesse nosso problema!”. Essa afirmação mostra que a
intenção do documento é criar uma espécie de realidade dos ataques, ou seja, o HQ passa a
representar um ataque eminente. Em seguida descreve uma experiência ultra-secreta que
envolveria o desenvolvimento de uma arma secreta. Essa arma secreta é o Capitão América,
Rogers é tratado com um ser existente no mundo real, por isso das suas caraterísticas, ele
pode ser confundido facilmente com qualquer jovem e é essa a aparência do Capitão que o
HQ vai procurar frisar no seu decorrer.
Quando o Dr. Reinstein aparece não tem uma fisionomia de louco, pelo contrário sua
semiótica representa um cientista preocupado com a “arma” que está desenvolvendo, em
nenhum momento sua fala trás expressões de “cientista maluco”, ou a conotação dos seus
traços.
Outro elemento que aparece nesse prelúdio, que estará muito presente nas demais
historias da revista são as sabotagens dos espiões nazistas que se articulam para atacar os
EUA, e o Capitão América sempre estará como um “Sentinela” para salvaguardar as
fronteiras do país. Já que o desfecho dessa cena é a morte do Dr. Reinsteinpor um espião
nazista.
Esse prelúdio contém em seu final uma propaganda, como podemos verificar na figura
04:
67
CHAGAS, Luciana Z. Capitão América: interpretações sócio-antropológicas de um super-herói de histórias
em quadrinhos. In: SINAIS - Revista Eletrônica. Ciências Sociais. Vitória: CCHN, UFES, v.1, n3. p.140.
37
Figura 04 Capitão América as primeiras Histórias p.15.
Em meia página e num quadrinho inteiro, tem a seguinte descrição em preto e amarelo
num fundo rosa. “Veja como você pode se tornar membro das Sentinelas da Liberdade do
Capitão América e Unir-se ao grande herói em sua guerra contra os espiões e inimigos que
ameaçam a nossa independência...”68
. Ao lado, outro letreiro em forma de círculo, de cor roxa
escrito em cores verde amarela e preta. “Envie 10 cents à TinelyPublication para custo de
correio e receba um distintivo oficial e cartão de membro”69
. Embaixo desses dois letreiros
um desenho que supostamente seria o distintivo dos sentinelas da liberdade, é uma miniatura
do escudo do Capitão América, que até então era triangular, no escudo ao centro superior uma
imagem do rosto do Capitão América, do lado direito à imagem do Bucky e do seu lado
esquerdo a imagem do rosto da Betty Ross70
, o escudo tem sua parte superior com a estampa
dos rostos dos heróis, e na parte inferior as cores e listras da bandeira estadunidense com os
dizeres Sentinela da liberdade e um lugar para um número, que seria para identificar o número
da inscrição desse possível ajudante do Capitão América. Também há uma ilustração do que
seria o cartão de membro das Sentinelas da liberdade, “Membros dos Sentinelas da Liberdade.
“Juro solenemente apoiar os princípios dos Sentinelas da Liberdade e ajudar o Capitão
América em seu combate contra espiões nos EUA”71
. Essa parte da revista nos mostra a
intenção da editora em semear o ideal patriótico e como os leitores do HQ, deveriam se portar
68
Revista Capitão América: As primeiras histórias. São Paulo: Abril, 1992. p. 15. 69
Ibidem, p. 15. 70
Investigadora do governo americano que aparece eventualmente nas aventuras do Capitão América. 71
Revista Capitão América: As primeiras histórias. São Paulo: Abril, 1992. p.5.
38
diante essa ameaça, essa representação mostra que a revista tende a unificar os leitores
entorno de um inimigo comum, os nazistas. A revista tem a intenção de semeando a ideia de
que Hitler e seus aliados ganhando a guerra e ameaçarem a posição política de influências dos
EUA, sua liberdade e transformariam a “democracia americana” numa ditadura comandado
por um louco. A pergunta que nos suje é: Através do HQ é possível entender se esse conflito era
baseado em questões políticas entre dois inimigos com ideologias diferentes ou se eram por interesses
comerciais divergentes?
Essa página aliada à introdução da revista pode nos dar uma ideia da intenção dessas histórias.
O perfil recomendado pelo editor aos criadores era o de um tipo não muito
agressivo, que usasse a violência como último recurso, mas que fosse capaz
de abrir caminho até o líder nazista com seus próprios punhos. Por isso sua
única arma é o escudo, instrumento mais identificado com a defesa do que
com o ataque72.
A primeira ideia que temos é: Os criadores desse HQ deveriam desenhar um super-
herói que tivesse identificação com a grande maioria dos cidadãos estadunidenses em idade
para combate. A segunda é que as historias teriam em seu enredo sabotagens feitas por esses
espiões para que os mesmos cidadãos tomassem partido contra um inimigo comum, os
nazistas.
Considerando que em tempos de guerra o contingente das forças armadas tende a
aumentar, o HQ serve de “incentivo” para os jovens se alistarem, ao verem seu país sendo
“atacado” e seus direitos em risco. Os temas de liberdade e manutenção da democracia vão
estar presentes nos discursos das personagens no decorrer do HQ.
Com exceção de Hitler todos os inimigos mostrados nessas revistas, são personagens
fictícios, e que em sua maioria, como já citamos anteriormente, articulam seus planos de
espionagens e sabotagem todos nos EUA.
Na primeira história já podemos perceber que essa onda de sabotagens tem um cunho
propagandista. Na primeira página aparecem os dois vilões dessa história, Sando aparece no
canto esquerdo superior e Omar logo em baixo dele, deixando a entender que Sando manipula
as ações de Omar. No meio da página um navio do exército estadunidense sendo afundado e
logo embaixo uma fabrica de munições explodindo, ambas as imagens simbolizando
sabotagens, já que não mostram nenhum sinal de ataques inimigos. No canto superior direito
aparece a imagens do Capitão América em movimento, dando a impressão de que ele está
correndo para lutar contra esses vilões. Na parte de baixo, do lado esquerdo, aparece um casal
72
ALENCAR, Marcelo. Revista Capitão América: As primeiras histórias. São Paulo: Abril, 1992. p. 5.
39
visualizando o nada, com a impressão de que elas estivessem assistindo a um show, em nossa
interpretação essa imagem é proposital, pois essa história tem como ponto principal um show
de previsões do futuro realizado por Sando e Omar. Na lateral inferior direita aparece Bucky a
frente da bandeira dos EUA e uma tarjeta, como se um narrador declamasse, apresenta os
seguintes dizeres: “Que ligação havia entre a onda de sabotagens as industrias de defesa
Americanas e o estranho homenzinho que conseguia prever o futuro? Só o Capitão América
poderá resolver esse enigma”73
Essa mesma imagem Bucky através de um Balloon74
exclama
os seguintes dizeres: “ É o Capitão e eu contra os inimigos da liberdade”.75
Como podemos
observar na imagem nº 05.
Figura 05 Capitão América as primeiras Histórias.p.16.
O contexto dessa história gira em torno de Sando e Omar, ambos realizam shows
lotados em que Omar faz previsões de ataques a bases militares, monumentos, pontes, etc,
desconfiados, pois em um jornal há uma notícia de mais uma explosão ocorrida numa
instalação do exército, o Forte Bix, Steven Rogers e Bucky, vão assistir ao um show, e
quando Omar faz uma previsão sobre a queda de uma ponte onde poderia ferir vários civis,
73
Revista Capitão América: As primeiras histórias. São Paulo: Abril, 1992. p. 16. 74
É uma “semântica” característica das revistas em quadrinhos “Elemento fundamental dessa semântica é, antes
de mais nada, o signo convencional da “nuvenzinha” (que é precisamente a “fumacinha”, o „ectoplasma‟, o
“balloon”) o qual, se traçado segundo algumas conversações, terminando numa lâmina que indica o rosto do
falante, significa “discurso expresso.” ECO, Umberto. “Leitura de „Steve Canyon‟”. In. Apocalípticos e
Integrados. São Paulo: Perspectiva S.A., 2001. p.145. 75
Revista Capitão América: As primeiras histórias. São Paulo: Abril, 1992. p. 16.
40
Steve Rogers se transforma em Capitão América e vai até a ponte onde ele não consegue
evitar a tragédia, no entanto ele decide voltar para descobrir como Omar realiza essas
previsões, ao chegar ao teatro invadem o palco e Capitão América, pergunta ao Sando: “ Eu
faço as perguntas! Como os dois sabiam que a ponte iria cair? Fale!”, Capitão América acerta
um soco em Sando e diz “Desculpe Sando, mais você não vai escapar”, ao ouvir um grito de
mulher, anunciado por uma tarjeta no canto do quadrante76
, o Capitão América se dirige aos
bastidores do show e descobre que na verdade Sando é Von Krantz um agente alemão e que
Omar é apenas um fantoche e as previsões na verdade são distrações para outros agentes
nazistas fazerem as sabotagens e que ele também mantém uma repórter como prisioneira, é a
primeira aparição de Bety Ross. Após Von Krantz contar seus planos de sabotar o país,
Capitão América e Bucky entram em combate corporal, derrotando assim os seus inimigos.
Na história seguinte “O Tabuleiro de Xadrez”, aparece dois vilões, um uma caveira, e
o outro uma pessoa, um agente nazista chamado “Rathcone” jogando xadrez, as peças desse
jogo representam agentes do governo estadunidenses que vão ser mortos durante o decorrer da
história, além dos personagens Capitão América e Bucky. Aparece o Capitão América ao
fundo da imagem na posição agachada, dando a impressão que ele está chegando devagar,
espionando o jogo dos dois outros personagens. Essa cena se passa em um esconderijo
subterrâneo e ao fundo desse esconderijo pode se ver uma bandeira com a suástica, como o
próprio HQ informa “numa parte oculta da cidade” como o visto na figura 06:
76
Iconografia típica dos quadrinhos, quadrante é o quadrinho, o lugar onde a cena acontece.
41
Figura 06. Capitão América as primeiras Histórias. p. 23.
A caveira dessa capa não representa nenhum personagem que tenha relação com a
história, mas sim o espectro da morte, tendo em vista, que logo embaixo aparece o mesmo
personagem humano, Rathcone jogando xadrez sozinho, outro elemento que nos faz imaginar
essa representação da caveira como símbolo da morte é que as pessoas mortas durante o
decorrer da história são assim escolhidas conforme o personagem manipula as peças do
tabuleiro. Como vemos nas próximas páginas na figura 07. O personagem Rathcone
manipulando uma peça que tem as características físicas do Almirante Perkins, ele emite uma
ordem aos seus capangas e eles executaram o plano que é matar o Almirante. Em um outro
quadrinho inferior aparece Steve Rogers dizendo ao Bucky referindo-se ao Almirante como
um dos “maiores líderes” que eles têm.
42
Figura 07 Capitão América as primeiras Histórias p.24.
1º Quadrante, Rathcone: Você é um homem importante
almirante... Importante de mais pra minha causa! É pena deixar
seus amigos subitamente!
2º Quadrante, Rathcone: Apesar de ser um homem forte, sou
superior a você! Não falara hoje pois o estou removendo do jogo!
O almirante Perkins Morrerá esta noite!
3º Quadrante, Narrador: Numa sala vizinha agentesestrangeirso
ouvem atentamente um receptor de ondas curtas.
3º Quadrante, espião anônimo 2: Parkin Morrerá essa noite.
4º Quadrante, espião anônimo 2: Número 15 e 3... Ao trabalho
4º Quadrante , espião anônimo 3: Iá, HerrKámelon! Mas porque
nucnavemosRathcone?
5º Quadrante, espião anônimo 2: Vocês não vêem agora... Mas o
tempo virá quando toda a América se curvará ante ele... Ante
fuehrer do novo Reich
6º Quadrante, narrador; Hora da palestra... E figuras militares
se reunem para a sessão.
7º Quadrante Bucky: Ah... Eu nunca gostei dessas reuniões!
7º Quadrante Steve Rogers: Ora Bucky... Isso não é jeito de
falar! O Alm. Perkins é um dos nosso maiores lideres!
Aprenderemos muito com ele!
8º Quadrante, Bucky: Mas eu quero sair e caçar bandidos...
8º Quadrante, Steve Rogers Shh! O almirante já está chegando!
Na próxima página a qual podemos observar na figura 08 o Almirante aparece morto,
personagens figurantes77
dizendo “Alguém pegue o assassino Sujo” ou “linchem ele...
Linchem”, Esse ultimo “linchem” em negrito o que característica na simbiótica dos
quadrinhos uma ênfase na palavra, caracterizando ferocidade na entonação. Nessa página
ainda Bucky e Steve Rogers iniciam uma perseguição aos suspeitos de assassinato, no entanto
Steve Rogersdiz “Esse é um problema da América! Vamos ver o que o Capitão fará”, logo
aparecem o Capitão América e Bucky com os uniformes de combate.
77
Vamos usar o conceito de figurantes para determinar personagens que não têm nome no decorrer dos
quadrinhos, são personagens que exercem participação, mas apenas em determinadas cenas, ou seja, personagens
figurativos.
43
Figura 08 Capitão América as primeiras Histórias p.25.
1º Quadrante, personagem anônimo 2 : O almirante está
esquisito!
1º Quadrante, personagem anônimo 3: Parece que algo terrível
aconteceu!
2º Quarante, personagem anônimo 4: Ele está morto!
3º Quadrante, narrador: Em poucos momentos o auditório é
tomado por um caos de homens furiosos!
3º Quadrante, personagem anônimo 5: Alguém pegum o
assassino sujo!
3º Quadrante, personagem anônimo 6: Lichem ele... Lichem!
4º Quadrante, Steve Rogers; Vamos Bucky! O criminoso não
esperará por aqui!
5º Quadrante, Bucky: Lá está ele... Fugindo!
5º Quadrante, Steve Rogers Este é um problema da América!
Vejamos o que o Capitão fará.
6º Quadrante, Narrador: Com uma troca-relâmpago, o recruta
Rogers torna-se o terror dos espiões e bandidos... O Capitão
América!
6º Quadrante, Capitão América: pronto garoto? Vamos lá!
6º Quadrante, Bucky: UAU!
7º Quadrante, Capitão América: Acha que pode dar conta do
Recado Bucky?
7º Quadrante, Bucky: Claro que posso! O que você acha que eu
sou... Um bebê?
No decorrer dessa história aparecem inúmeros combates corpo a corpo entre o Capitão
América, Bucky e seus inimigos, vários desses combates têm como cenários vielas escuras e
seus inimigos sempre retratados como traiçoeiros. Ao vermos na figura 09 um desses combates
Bucky enfrenta um inimigo, em um dos quadrinhos o seu oponente diz “Duas mortes em uma
noite! Ah! Serei condecorado por isso!”.
Figura 09 Capitão América as primeiras Histórias.p. 26.
44
Essa frase da personagem dá a entender que a condecoração na Alemanha nazista não
é feita por feitos heróicos, como salvar vidas, ou evitar desastres, mas sim por assassinar
inimigos, agir de modo anti-heróio, ou seja, ele vai contra a ética e a moral do herói, feito esse
que justifica sua morte no próximo quadrante.
A próxima página tem como desfecho desse cenário o Capitão América salvando
Bucky e rende seu inimigo, após essa luta corporal e a imobilização de seu oponente, Capitão
América tenta retirar informações do espião, mas ele não entrega seu líder, o Capitão então
utiliza de tortura para retirar informações, no entanto quando o oponente decide cooperar com
o Capitão, entra em cena uma mão com um revolver ocultando, um personagem a qual efetua
os tiros, assim o primeiro figurante é morto, essa cena é totalmente justificada, já que vimos
anteriormente que esse sujeito não possui uma “boa índole”, logo as ações do Capitão que é
torturá-lo são plenamente justificadas. O figurante oculto foge enquanto que o Capitão diz:
“Morto por um dos seus próprios homens! Lá vão eles Bucky! Corra”. Nessa próxima fala do
Capitão ele se exime da culpa, já que os próprio companheiros dele o matam, O Capitão não
suja suas mãos ao mata-lo, mas não sente culpa ou remorso, pois a maldade deve ser punida.
O sujeito foge, e, portanto Capitão América e Bucky voltam para seus disfarces no quartel.
Figura 10 Capitão América as primeiras Histórias p.27.
1º Quadrante, Capitão América: Ai vai uma medalha que você
não poderá usar.
2º Quadrante, Capitão América: Se você gosta de viver...
Comece a falar! E depressa!
2º Quadrante, Espião 3: Nós nunca falamos.
3º Quadrante, Capitão América: Não é uma pena? Isso pede um
pequeno aperto de garganta!
3º Quadrante, espião 3: Não... Não! AG-GH! Eu... Eu falo!
4º Quadrante, narrador: Súbito, o rugido de uma pistola corta o
ar silencioso da noite.
5º Quadrante narrador: O Agente Nazista cai morto, quando o
Capitão América repele outras balas!
6º Quadrante, Bucky: O que estamos esperando?
6º Quadrante, Capitão América: Morto por seus prórpios
homens! Lá vão eles Bucky! Corra!!!
7º Quadrante, Bucky tarde de mais... Nunca s pegaremos!
8º Quadrante, Capitão América: A única coisa a fazer é voltar
ao campo como recruta Rogers e mascote Bucky! Vamos,
garoto!
A página seguinte mostra mais uma movimentação do Rathcone em seu tabuleiro,
dessa vez a vítima é um general. Ele passa a ordem mais uma vez e seus capangas vão atrás
45
de executar o serviço. Nos quadros abaixo aparece o recruta78
Steve Rogers recebe ordens para
servir de sentinela na barraca do General, mas ao chegar nela encontra o general morto.
Figura 11 Capitão América as primeiras Histórias p.28.
1º Quadrante , narrador: Nisso de volta ao esconderijo de Rathcone...
E ao tabuleiro de Xadres.
1º Quadrante, Rathcone: Um gênio militar a menos para bloquear
caminho à ditadura! Neste ritimo, governarei até minha pátria!
2º Quadrante, Rathcone: Hmmm... Deixa ver... Tomarei o general
Ellsworth !ele também deve ser removido! O General Ellsworth
morrera essa noite!
3º Quadrante, Rathcone: O general morrerá está noite!
4º Quadrante, espião 2: Herr estrangulador... Ou melhor número 13
chegou sua hora de servir à nossa pátria !
4º Quadrante, Herr: Eu irr dar tratamentaezpecial a chegenral!
5º Quadrante, narrador: Num campo do exército...
6º Quadrante, Sargento: Bela noite, você não acha, Rogers?
6º Quadrante, Steve Rogers: Podia ser pior!
7º Quadrante, Sargento: E vai ser, você montará guarda na tenta do
General Ellswoworth! Mexa-se!
8º Quadrante, Steve Rogers: Engraçado... Só porque Ellsoworth vem
aqui para inspeção, eles põem um sentinela lá na porta!
8º Quaddrante, Bucky: Vai ver ele é sonâmbulo!
9º Quadrante, Bucky: Parece que o general teve um dia duro!
9º Quadrante, Steve Rogers: É vamos dizer que estamos de serviço!
Interessante nessa página é ver Rathcone mencionar que a morte do general será mais
um elemento fora de seus planos, cujo fim é transformar os EUA em uma ditadura. Ele se
sente vitorioso, pois se seus planos de conquistar os EUA dessem certo, logo conquistaria
grande prestigio. A importância de se conquistar um território como o dos EUA, o
credenciaria inclusive para governar o seu país de origem.
Esse quadrante apresenta mais uma vez a falta de escrúpulos entre os espiões nazistas,
acentua que os mesmos almejam o poder para benefício próprio. Com essa representação o
autor contrapõe os dois modelos, o de “democracia” dos EUA e o de “ditadura” na Alemanha,
assim demonstra para o leitor a necessidade de combater esses espiões para garantir a
democracia.
78
Já mencionamos que o recruta Steve Rogers é alter Ego do Capitão América, portanto seu papel nas aventuras
do Capitão América é totalmente o contrário do Herói, é um sujeito submisso e atrapalhado, como vamos ver no
decorrer da análise.
46
Figura 12 Capitão América as primeiras Histórias p. 28.
O desfecho dessa história é o Capitão América descobrindo o esconderijo de Rathcone e
também a descoberta de plantas de centros industriais e militares nesse esconderijo, no entanto em
combate o Capitão América prende os seus inimigos e calmamente chama os policiais, abandonando o
cenário e deixando a prisão para os “homens da lei”, observamos a figura nº 13.
Figura 13 Capitão América as primeiras Histórias p. 38.
1º Quadrante, Bucky: O que acha? Ele queria tomar o país!
1º Quadrante, Capitão América: Hmm... As localizações dos
centros industriais das Américas do Norte e do Sul!
2º Quadrante, Capitão América: Vamos deixar tudo aqui e chamar
o F.B.I! É hora de irmos embora!
3º Quadrante, Capitão América: Sim... Nós pegamos Rathcone e
seu grupo de espiões! Eles vão esperar... Estão dormindo!
4º Quadrante, Narrador: Com o dever cumprido os heróis
desaparecem na escuridão!
5º Quadrante, manchete de um jornal: Sabotadores presos em
batida: Pouco se sabe do misterioso Capitão América que subjugou
a quadrilha inteira com a ajuda de um companheiro adolescente.
6º Quadrante, Steve Rogers: Vista seu uniforme de gala, Bucky! O
major Fields quer que vejamosoutra palestra!
6º Quadrante, Bucky: Que?
7º Quadrante, narrador: No quartel general...
7º Quadrante, Major Fiels: É só o que eu queria ler, Rogers... Prá
mostrar do que o exército precisa! Gostaria de saber quem é esse o
Capitão América...
A última história desse primeiro bloco traz o personagem mais significativo das histórias em
quadrinhos do Capitão América, depois de Hitler, o Caveira Vermelha:
47
Figura 14 Capitão América as primeiras Histórias p. 39.
Essa história é sua primeira aparição, e apesar dele ter em seu uniforme um símbolo da
suástica, sua principal característica é o vermelho em seu nome e em sua aparência. Nossa
interpretação é que essa seja uma alusão ao comunismo e a União Soviética, tendo em vista
que nesse período a União Soviética ainda mantinha o pacto nazi-soviético, portanto, a leitura
que temos é que o autor via a União Soviética e a Alemanha como países onde não havia
liberdade e por isso estariam do mesmo lado.
O Caveira Vermelha assim como Rathcone, têm pretensões de tomar o governo
estadunidense e transformá-lo numa extensão do Reich, como podemos ver os planos dele na
figura 15:
Figura 15 Capitão América as primeiras Histórias p.42.
1º Quadrante, Caveira Vermelha: Como vocês sabem, o maior
problema para se derrubar um governo é dinheiro!
1º Quadrante espião anônimo 6: Yeah
2º Quadrante, Caveira Vermelha: Enquanto cuido de oficiais militares,
quero que vocês saqueiem o Banco Nacional! Se falharem, morrerão!
Esse quadrante é muito interessante na medida que ele ataca o capital finânciero dos
EUA, ou seja, roubar o dinheiro do “Banco Central”. O Caveira Vermelha além de derrubar o
governo dos EUA, quer saqueá-lo eliminar suas reservas, o “seu rico” dinheiro.
Outra semelhança com Rathcone é que o Caveira Vermelha mata elementos do alto
comando dos EUA, no entanto ele o faz com um tipo de veneno, o Caveira Vermelha na
48
verdade é um homem com uma máscara, essa por sua vez serve de elemento para assustar
suas vítimas com a distração o Caveira injeta o veneno nas vitimas, como podemos observar
na figura 16:
Figura 16 Capitão América as primeiras Histórias p. 51.
1º Quadrante, Capitão América: Faz muito sentido Bucky! Este é o
olhar da morte do Caveira Vermelha!
1º Quadrante, Bucky: Não peguei!
2º Quadrante, Capitão América; O truque era deixar as vítimas
apavoradase então enjeta nelas este veneno, fazendo parecer que seu
olhar as matou!
2º Quadrante, Caveira Vermelha: E daí?
3º Quadrante, Capitão América: Você é só um assassino Caveira... Ou
...Maxon! A queda do avião também foi obra sua! Mas você jamais
derrubará esse país.
4º Quadrante, narrador: O vilão tenta pegar sua arma, e...
4º Quadrante, Caveira Vermelha: Eu ainda não estou vencido!
4º Quadrante, Bucky: Nada Disso!
5º Quadrante, Bucky: Não pode ficar com a prova da acusação!
Na última cena Bucky tenta impedir que o Caveira Vermelha mexa na prova,
mostrando que o personagem tem uma ligação com a legalidade, “Não pode ficar com a prova
da acusação” ou seja ele tem a intenção de que ele seja “julgado”.
Essa página também nos traz uma informação até então desconhecida sobre a
personalidade do Capitão América, ele deixa o Caveira Vermelha morrer, Buck pede alguma
explicação, entretanto o Capitão América se nega a falar do acontecido. O herói, não pode
sujar suas mãos para matar um inimigo, por mais perigoso e mal caráter que seja, no entanto
ao deixar o Caveira Vermelha morrer, o Capitão América se exume da responsabilidade, não
há a necessidade de explicar o porque deixou ele morrer. Os atos do Caveira Vermelha
justificam o silêncio do Capitão América.
49
Figura 17 Capitão América as primeiras Histórias p.51.
1º Quadrante, Bucky: Seu idiota! Rolou sobre a siringa!
1º Quadrante, Caveira Vermelha: UGH!
2º Quadrante, Bucky: Mas você viu tudo, por que não impediu que ele se
matasse?
2º Quadrante, Capitão América: Não quero falar nisso!
Não há conflito entre Bucky e Capitão América, mesmo intrigado com o ato de seu
“herói” e parceiro, ele aceita a não explicação.
Essa representação nos da um indicio de como o soldado deve se comportar no campo
de batalha. O soldado ao defender seu país pode atacar e matar os soldados inimigos, pois a
justificativa é de que os soldados nazista são maus e estão querendo dominá-los.
Figura 18 Capitão América as primeiras Histórias p.52.
1º Quadrante, bilhete: Quando os EUA forrem parte do grande
Reich, o posto de ministro de toda a indústria americana será a
recompensa por seu excelente trabalho de espionagem. O Füeher!
2º Quadrante, narrador: Assim termina a carreira sangrenta de
GerogeMaxon... O Caveira Vermelha!
3º Quadrante, narrador: De volta ao capo... Steve Rogers e Bucky
descansam em sua barraca.
4º Quadrante, narrador: Mas o trabalho do Capitão América
nunca termina, pois é preciso combater os inimigos do país.
Aguardem o próximo número.
O Desfecho dessa história mostra o apresso que o Caveira Vermelha teria no Reich.
Essa é mais representação da insistência de que os espiões do Reich estariam invadindo os
EUA.
Esses quadrantes nos mostram que o autor tenta indicar que os Nazistas, não têm como
preocupação atacar e conquistar territórios na Europa, mas sim avançar e acabar com a
“Democracia” nos EUA, assim tendo que todos deverão ficar em alertar para identificar o
inimigo. A carta assinada pelo Füeher é um indicio do exemplo que vimos no primeiro
capítulo, os EUA, assim como a Itália e Alemanha, vai criar um “inimigo interno”, isso
permite os EUA utilizar do seu jargão de “atacar para se defender”. Esse é o incentivo que
mencionamos anteriormente, o incentivo para cada estadunidense se unir e lutar contra o
inimigo.
50
No segundo e último bloco do nosso recorte separamos apenas a historia em que
aparece Hitler, essa história contem algumas características diferentes das outras, primeiro
aparece um personagem real nos quadrinhos, Hitler, segundo é a primeira história que ocorre
longe do território dos EUA.
Figura 19 Capitão América as primeiras Histórias p. 69.
Dividimos a capa da historieta em duas partes para podemos analisá-las melhor, a
primeira parte mostra Capitão América empurrando Hitler, Bucky faz uma espécie de “cama
de gato” fazendo o ditador cair em uma lata de lixo, essa imagem tem o intuito de
desmoralizar o líder alemão, numa alusão à frase “lixo no lixo”. O Capitão América está
numa “fortaleza nazista” como podemos observar na cena acima. Nessa cena há três soldados
nazistas, um deles atirando diretamente no Capitão, no alto de um pilar aparece outro soldado
mirando uma metralhadora para o “herói” e o terceiro apenas parado olhando para o
personagem, também nesse local, contém uma suástica pendurada na parede, ao que parece é
uma caverna, indicando como vimos na primeira capa, o Capitão América indo de encontro
com Hitler e combatendo com seus próprios punhos o inimigo. Nessa historieta o Capitão
América invade a Alemanha, em nossa analise essa é a única utilizada que passa fora dos
EUA, o que mostra uma nova fase da ação dos EUA, a qual ele não pode ficar apenas na
defensiva esperando o inimigo, mas ele foi para o ataque no território inimigo.
51
Figura 20 Capitão América as primeiras Histórias p.69.
A segunda metade da capa traz um discurso de dois personagens, o primeiro é um
figurante que inicia seu discurso chamando as democracias a se unirem em torno da
Inglaterra, e o segundo é Henry Baldwin, é em torno desse segundo personagem que a história
vai se desenvolvendo. Ele diz “Sou firme defensor das democracias! Darei o que tenho para
derrotar nossos inimigos”, o primeiro elemento que nos aparece é que oficialmente o EUA
não está na guerra e isso é representado nos HQ, entretanto, deveria haver um apoio contra o
Reich e para isso o autor utiliza mais uma vez do embate “Democracia versus Ditadura”,
também utiliza da semântica própria dos meios de comunicação impressos de dar ênfase na
frase através do negrito, essa frase tem como intuito que todo cidadão deveria depositar em
seu país a esperança da vitória, assim deveria abrir mão de seus bens para que permanecessem
livres.
Vimos no primeiro capítulo que a Disney ao produzir o “Espírito de 43” tenta
construir a idéia de que a guerra também é de cada cidadão e que ele deve pagar seus
impostos em dia, dessa maneira fica implícito a necessidade de se arrecadar dinheiro para o
financiamento da guerra.
É importante verificar que no contexto no qual o quadrinho do Capitão América é
produzido, temos uma conjuntura diferente nos países envolvidos, a França dividida, parte
alinhada com o Reich e parte aliada com a Inglaterra em guerra com os Nazistas. E a União
Soviética, que tinha uma postura ambígua, nesse momento não era vista como um país
importante para o desfecho do conflito mundial.
Portanto essa demonstração ao contrário do desenho da Disney, não indica diretamente
a propaganda de arrecadação de fundos, mas sim uma tentativa de modificar a opinião pública
para que os EUA entrasse na Guerra.
52
Figura 21 Capitão América as primeiras Histórias p. 70.
1º Quadrante, Bucky: É isso que eu chamo de americano!
1º Quadrante, Steve Rogers: Precisamos de outros como ele,
Bucky! Vamos... Baldwin está indo embora!
2º Quadrante, narrador: Mal sabe a multidão que Steve
Rogers é o famoso Capitão América e o menino com ele é
Bucky!
2º Quadrante, Steve Rogers: Aposto que esta conferência vai
causa encrenca, por isso vamos acompanhá-lo!
3º Quadrante, narrador: Mas olhos cruéis observam o tímido
financista que sai à rua.
3º Quadrante, espião anônimo 7: Aquele é o Sr. Baldwin!
4º Quadrante, Baldwin: M-Mas eu n-não entendo!
4º Quadrante, espião anônimo 7: Não precisa entender
Baldwin! Entre!
Observamos no último quadrinho que o personagem Henry Baldwin tem a
nacionalidade estadunidense e que o discurso é feito nos EUA, outro elemento interessante é a
fala do Recruta Rogers, já prevenindo seu assistente de que algo poderia acontecer ao Henry
Baldwin, já que ele pretende assinar um pacto com a Inglaterra de auxilio, esse pacto
simboliza a união entre as democracias. Podemos entender que está posto nos quadrinhos dois
projetos, democratas e autoritários, no entanto, questões econômicas e sociais não são
expostas, e nem as contradições dessas democracias, não há uma crítica ao sistema econômico
dos nazistas, a suas políticas raciais, apenas colocam os como inimigos da democracia e
supostamente um agressor.
Nos dois quadrinhos abaixo percebemos que espiões sequestram o Sr. Baldwin.
Capitão América as primeiras Histórias p. 70.
1º Quadrante, Baldwin: Nazistas? Não vão me pegar!
1ºQuadrante, semântica de golpe: Pow!
1º Quadrante, Fritz: Hummel
2º Quadrante, voz de Bucky: Abaixo Hitler!
2º Quadrante, espião anônimo 7: Zegure-o, Fritz vou... O que?
3º Quadrante, Fritz: ACH! Quem foi?
3º Quadrante, espião anônimo 7: Quem ousa insultar, o grande
Füehrer?
Semântica de Mudança de cena, quadrinho com os nomes do
Capitão América e Bucky
4º Quadrante, Capitão América: Aqui está a resposta espião!
Uma luta corporal entre os Capitão América e os espiões nazistasse inicia, mas mesmo
assim, o Henry Baldwin é sequestrado.
53
Figura 22 Capitão América as primeiras Histórias p.71.
1º Quadrante, Bucky: Esses Apagaram! Eu... Ei! O Carro
sumiu! E Baldwin também!
1º Quadrante, Capitão América: É e bem debaixo do nosso
nariz!
2º Quadrante, narrador: Nisso, num sedã que atravessa a
noite.
2º Quadrante, Heinrichi: Seus amigos americanos foram
enganados, Yá, Herr Baldwin?
2º Quadrante, Baldwin: É evidente! Mas aonde estão me
levando... E por que?
2º Quadrante, Fritz; Não fale Heinrichi! Já dissemos demais!
3º Quadrante, manchetes de jornais: Financista desaparece!
Baldwin Levado para Europa? F.B.I Atribuiu rapto de
Baldwin a Quinta Coluna!
4º Quadrante, Bucky: O que está pensando em fazer, Capi?
4º Quadrante, Steve Rogers: Provavelmente Europa? E...
Parece lógico!
Interessante desse próximo quadrante é que aparecem notícias sobre o
desaparecimento de Baldwin, atribuindo o mesmo a Quinta Coluna79
, que no HQ seria uma
espécie de espiões organizados para sabotar industrias ou setores do exército estadunidenses,
aparece também noticias como “Financista desaparecido” o que da a entender que as
esperanças sumiram com o desaparecimento do mesmo. Rapidamente Capitão América apesar
do seu aparentemente fracasso ao deixar Baldwin ser sequestrado, anuncia a Bucky que ele
tem uma ideia de onde o personagem pode estar.
O desfecho desse quadrante tem o Capitão e Bucky se disfarçando, o Capitão de
“vovó” e Bucky de neto, para saírem do quartel sem que os descobrissem. Pegam um avião e
desembarcam em Portugal, não mencionam nada sobre a ditadura de Salazar, de lá se
encaminham para a França onde o território está ocupado pelos nazistas. Esse quadrante é
interessante, pois percebemos um forte apelo dramático ao ver soldados nazistas coagindo
pessoas, soldados mutilados, além de utilizar de várias suásticas e soldados empunhando
armas, guiando tanques de guerra para dar ênfase ao domínio nazista na França. No centro da
figura Bucky e Capitão América, Capitão América da uma lição de heroísmo quando diz a
79
Quinta coluna é um termo usado para se referir a grupos clandestinos que trabalham dentro de um país ou
região, ajudando a invasão armada promovida por outro país em caso de guerra internacional, ou facção rival no
caso de uma guerra civil. Por extensão, o termo é usado para designar todo aquele que auxilia a ação de
forasteiros, mesmo quando não há previsão de invasão. O termo ganhou força no curso da Segunda Guerra
Mundial, denominando aqueles que, de dentro dos Países que combatiam o Eixo, apoiavam a política de Guerra
nazista e de seus aliados, tal como aconteceu com parte dos alemães que habitavam os Sudetos ou com os
fascistas Brasileiros. A ação de uma quinta coluna não se dá no plano puramente militar. Assim como os demais
partícipes de uma guerra, os elementos quinta-colunistas agem por meio da sabotagem e da difusão de boatos.
Em outras palavras, pode-se dizer que a força da quinta coluna reside tanto na possibilidade de "atacar de
dentro", como na capacidade de desmobilizar uma eventual reação à agressão que se intenta. Disponível em
http://pt.wikipedia.org/wiki/Quinta_coluna. Acessado em 22.10.10.
54
Bucky, “Poderiamos ficar e arrumar a França... Mas temos que seguir para a Alemanha.” Essa
frase tem uma conotação ainda que isolacionista. Capitão América não está preocupado com o
avanço dos nazistas na Europa, mas sim com seu personagem estadunidense, tendo em vista
que os EUA não se metem nas questões dos outros países, apenas quando tem envolvimento
seu próprio povo, ou seja, para o Capitão o auxilio à França se faz necessário, mas primeiro se
deve salvar o mundo.
Essa imagem da França representada torre Eiffel, também passa uma outra mensagem,
o que pode acontecer com os EUA se eles permitirem que a Alemanha invada os EUA, se não
combaterem o inimigo em seu próprio terreno.
Figura 23 Capitão América as primeiras Histórias p.74.
1º Quadrante, Steve Rogers: Não entendo Bucky! Primeiro nós
o vemos... Depois, nada! Por duas vezes, Baldwin evaporou sob
nossos narizes!
1º Quadrante, Bucky: è mesmo vovô... Quero dizer, Capi! Acho
que a resposta está em Algum lugar da Europa!
2º Quadrante, narrador: Pousando em Lisboa, o Capitão
América e Bucky rumam para a françaescravizada pelo
nazismo.
3º Quadrante, narrador: Outrora alegre, Paris não é uma bela
visão sob o domínio do conquistador nazista.
3º Quadrante, Steve Rogers: Poderiamos ficar e arrumar a
França... Mas temos que seguir pra Alemanha!
No próximo quadrante temos a imagem de Henry Baldwin, entretanto é um espião que
tem o “nome” de 3-21. Vimos ao longo do HQ que muitos dos espiões nazistas não têm
nomes, e quando os têm são sugestivos, como Ratchone e Caveira Vermelha. Isso para nós
passa a ideia de que os soldados nazistas não têm identidades, são elementos que são
manipulados na medida que seus comandantes querem. Vimos que essa representação está na
maioria das produções desse período feitas nos EUA, como o exemplo de “como nasce uma
criança nazista” onde seu personagem principal Hans é manipulado a pensar apenas aquilo
que o partido quer que ele pense. Essa ideia passa que o único modo de “salvar” as pessoas na
Alemanha é derrubar seu governo manipulador. Vimos também no primeiro capítulo que essa
é uma ideia equivocada, pois as políticas nazistas tiveram muito aceitação na Alemanha,
principalmente na classe média, logo o HQ tira a intervenção social das pessoas, anulá-os
55
como sujeitos históricos, a população não passa de pessoas que não podem mudar seu destino
é preciso ajudá-los. Ai que entra o super-herói, como esse aspecto o Capitão América elimina
a revolta popular, no HQ não se menciona a organização de resistência na França, elimina as
contradições. Desse modo o HQ serve de panfleto para as ações do próprio EUA, serve para
colocar que sem a ajuda dos estadunidenses o mundo conhecerá a tirania de Hitler.
Figura 24 Capitão América as primeiras Histórias p. 70.
1º Quadrante, Narrador: Em algum lugar da Alemanha...
1º Quadrante, soldado nazista 1: Tudo está pronto, Yá, 3,21?
1º Quadrante, 3,21: Ah, meus bons amigos! Certamente! Até
agora, o plano não falhou! Confundimos completamente os EUA!
2º Quadrante, 3,21: Não. Veem? Eu sou Henry Baldwin! Devo
assinar um pacto com a Inglaterra que fará os países menores se
unirem com as democracias! Ah, Ah! Agora podem me levar a
Herr Hitler para o exame final
3º Quadrante, soldado nazista 2: HeilHittler!
3º Quadrante, soldado nazista 1: Heil Hitler!
4º Quadrante, 3,21: Tudo está como desejado em Füeher?
4º Quadrante, Hitler: Sim, 3-21! Agora o resto do meu plano!
No HQ podemos verificar que o autor cria diversas maneiras que os nazistas utilizam
de artimanhas para enganar os “aliados”.
Como podemos verificar no quadrante acima e abaixo vemos Hitler com um sujeito
maligno e que pessoalmente cuida de todos os assuntos, o autor o representa enquanto
gerenciador de todos os planos, isso exclui a responsabilidade dos demais alemães dos atos da
Alemanha Nazista, como mencionamos antes. Demonstra também que a “dominação” do
mundo por Hitler não está ligada as questões comerciais ou políticas, não menciona as
consequências da Primeira Guerra e a Crise de 29, as misérias e as tensões que esses fatores
trouxeram para os países da Europa, resume a guerra apenas a “loucura” de um homem,
Hitler.
No quadrante abaixo percebemos que o jogo de luz feito pela arte do desenho,
escurece a face do Füeher, com essa arte, a expressão maligna fica mais evidenciada.
56
Figura 25 Capitão América as primeiras Histórias p. 70.
1º Quadrante, Hitler: O mundo todo espera que você assine o pacto
com a Inglaterra!Isso fará o resto da Europa se alinhas com as
democracias, mas...
2º Quadrante, Hitler: ... Vocã não assinará o pacto! O assinará com
Mussolini... Que trará a Europa para o nosso lado, deixando as
democracias encurraladas!
3º Quadrante, Hitler: Der Tag chegou enfim... Minhamaior Blitz está
pronta para ser lançada sobre o mundo! Não falharemos!
3º Quadrante. Todos fazem a Saudação: Heil Hitler!
4º Quadrante, manchetes de Jornais: Henry Baldwin Encontrado!;
Baldwin Vivo na Europa; Desaparecimento foi truque para enganar
inimigo. Financista assinará o pacto amanhã no palácio de
Buckingham!
Outro elemento que o autor explora exacerbadamente é o termo “Democracia” em
nenhum momento ele problematiza o termo, apenas deixa no ar que Hitler quer transformar o
mundo numa extensão da Alemanha, eliminar as democracias e instalar um regime
autoritário.
Baldwin representa o apoio dos EUA a Inglaterra, apesar de não estar no conflito
oficialmente até Dezembro de 1941. Os EUA apoia de maneira diplomática a Inglaterra.
Hitler tenta fraudar esse tratado utilizando de um falso Baldwin, mas o Capitão
América e Bucky descobrem seu plano a tempo e desmascaram o impostor.
Figura 26 Capitão América as primeiras Histórias p. 77.
1º Quadrante, narrador: ... E a velha senhora imediatamente
torna-se o famoso herói!
1º Quadrante, figurante 4: Ora, é o Capitão América
1º Quadrante, figurante 5: O que ele veio fazer na Europa?
1º Quadrante, figurante 6: Três vivas pro Capitão!
2º Quadrante, Capitão América: Agora uma pequena limpeza!
2º Quadrante, figurante 5: Veja! O ianque é falso!
3º Quadrante, Capitão América: Henry Baldwin sempre levou a
bengala na mão esquerda! Você leva na direita!
3º Quadrante, 3,21: Droga!
4º Quadrante, narrador: Súbito uma submetralhadora dispara
da janela de um carro!
4º Quadrante, espião nazista 8: Eles pegaram 3-21!
4º Quadrante, espião nazista *: Ele nunca falará... Depois desta
dose de chumbo!
O Capitão América é recebido com festividades, tendo a impressão que seus feitos já
são reconhecidos em todo o mundo, essa representação remete à importância dos EUA de
57
interferir no conflito, ter o reconhecimento de seu poder bélico, e esse poder imprescindível
para a vitória.
Ao desmascarar o falso Baldwin, surge um carro com metralhadorasque atira contra o
espião matando-o. Mais um vez, a representação de que o Capitão América não elimina seus
inimigos. Por sua vez os espiões são eliminados por seus próprios companheiros,
representação que sugere a queima de arquivo. Como vimos essa característica vai aparecer
repetidamente nos HQsdo Capitão América, porque um herói não pode “sujar” suas mãos
matando um ser humano por mais “perverso” que ele seja, entretanto a “maldade” de seus
inimigos é tanta que seus atos “inescrupulosos” extrapolam o limite da humanidade matando
seus próprios companheiros, a própria atuação dos sujeitos que são “assassinados” justificam
sua morte, ou seja, a justiça foi feita.
Figura 27 Capitão América as primeiras Histórias p.77.
1º Quadrante, Bucky: Os nazistas sujos!
1º Quadrante, Capitão América: Vamos Bucky atrás deles!
2º Quadrante, narrador: Com a força de um caminhão, o
Capitão América e Bucky seguram o Sedã!
2º Quadrante, Capitão América: Semântica para designar
força: OOOOAAA!
3º Quadrante: Capitão América: Saiam da toca ratos
Nazistas!
Mais uma vez, Capitão América e Bucky demonstram uma foça sobre-humana para
deter os nazistas.
Bucky e Capitão América vão utilizar para denominar a natureza dos Nazistas algumas
expressões como “Nazistas Sujos” ou “Ratos Nazistas”, essas palavras significam que os
Nazistas são sujeitos inescrupulosos e traiçoeiros. Essa caracterização claramente mostra a
definição de bem e malintrínseca nos HQs, um herói luta contra o mal, que assombra a paz no
interior da sociedade.
58
Figura 28 Capitão América as primeiras Histórias p.78.
1º Quadrante, Capitão América: Agora podem voltar se
conseguirem, cretinos!
2º Quadrante, Bucky: Vamos embora, Capi! O falso Baldwin
morreu, mas achei esse bilhete nele!
3º Quadrante, várias pessoas: Não se vá Capitão América!;
Precisamos de Você; Onde está o verdadeiro Henry Baldwin?
3º Quadrante, soldado inglês 1: Cáspite!
4º Quadrante, narrador: Depois...
4º Quadrante, Capitão: Agora estamos SOS! Deixe ver essa
nota, Bucky!
4º Quadrante: Bucky: Aqui está Capi!
O Capitão América e Bucky derrotam os outros espiões nazistas. Rapidamente Bucky
encontra um bilhete que demostra que o verdadeiro Baldwin está vivo, deixam o que parece
ser a Inglaterra, porque um soldado com a característica dos soldados reais ingleses exclama
uma palavra de saudação para os dois.
Figura 29 Capitão América as primeiras Histórias p. 78.
1º Quadrante, Bucky: Nossa! O que diz agora?
1º Quadrante, bilhete: A Floresta é negra o rio vem depois
Baldwin está preso no campo vinte e dois.
2º Quadrante, Capitão América: Simples: Bucky! Baldwin
está num campo de concentração na floresta Negra!
3º Quadrante, narradorNo Campo de concentração da
Floresta Negra...
3º Quadrante, Soldado nazista 3: Quem vem lá?
4º Quadrante, Capitão: Somos os irmãos Smith e viemos
ter com algumas tropas de choque!
Descobrem que o verdadeiro Baldwin está num campo de concentração na Floresta
Negra, em alemão Schwarzwald, região de florestas montanhosas às margens do rio Reno.
Não há registros historiográficos sobre existência de campos de concentração nessa região, no
entanto o HQ já demonstra o conhecimento dos EUA desses campos.
Balwdin estando preso num campo de concentração, considero essa interpretado,
como esse personagem sendo preso político, fazendo menção assim, ao que acontecia aos
adversários políticos de Hitler, que eram perseguidos, presos e muitas vezes eliminados.
59
No Campo de Concentração ao meio de explosões e tiros Bucky e Capitão América
enfrentam sozinhos sem nenhuma arma apenas com o escudo, os soldados nazistas, essa
representação reafirma a ideia do editorial da revista: “O perfil recomendado pelo editor aos
criadores era de um tipo não muito agressivo, que só usasse a violência como último recurso,
mas que fosse capaz de abrir caminho até o líder nazista com o próprio punho”80
.
Figura 30 Capitão América as primeiras Histórias p. 79.
1º Quadrante, Narrador: enquanto isso um
soldado dispara impiedosamente uma
metralhadora sobre os lutadores!
2º Quadrante, Bucky: Rápido, Capi! Pegue a
granada desse soldado!
3º Quadrante, arremedo da granada!
4º Quadrante, narrador: A grana atinge o alvo e o
ninho de metralhadora é despedaçado!
4º Quadrante, semiótica de explosão: Boom
Outra característica que se repete no HQ o alto escalão alemão mostrado de maneira
satirizada, no entanto aparecem cometendo atrocidades como a tentativa de eliminação do
Baldwin.
Figura 31 Capitão América as primeiras Histórias p.80.
1º Quadrante, soldado nazista 4: Heil Hitler!
1º Quadrante, Goering: Heil Hitler!
1º Quadrante, Hitler: Heil! O que foi agora?
2º Quadrante, soldado nazista 4: O ianque está no
campo! O Capitão América!
3º Quadrante, Hitler: Aquele shiweiniamque quer
estragar meus planos? Ah! Essa é boa!
4º Quadrante, Baldwin: N-Não! Vocês têm que me soltar!
4º Quadrante, Hitler: Primeiro, a morte de canhão!
80
Revista Capitão América: As primeiras histórias. São Paulo. Abril, 1992. p. 5
60
No entanto o Capitão América consegue salvar no último momento Baldwin da
execução.
Figura 32 Capitão América as primeiras Histórias p.80.
1º Quadrante, Hitler: Vamos vera execução, HeerGoering!
1º Quadrante, Goering, Ah, Ah! Um prazer, MeinFüehere!
2º Quadrante, soldado nazista 6: Preparar, apostar?
3º Quadrante,soldado nazista 6: Fogo!
3º Quadrante, Capitão América, semântica e barulhos de bala
com a boca: FFF-FFT-SPUTTER-
3º Quadrante, Goering: Que houve?
4º Quadrante, Capitão América: Saudações Cavalheiros!
4º Quadrante, Bucky: Olá, Adolf!
4º Quadrante, Hitler: Der yanqueshiwein!
Quando Adolf descobre o Capitão América, sirenes81
tocam e uma grande quantidade
de soldados, tanques e até aviões surgem para combater o Capitão América e Bucky.
Figura 33 Capitão América as primeiras Histórias p. 81.
1º Quadrante, narrador: Em instantes, o alamento do
sinal de ataque é ouvido...
1º Quadrante, semântica de sirene:
ERREEEEEEEEEEE
2 Quadrante, narrador: E a infantaria ataca, e...
3º Quadrante, narrador: Rápidas unidades mecanizadas
se mobilizam para ofensiva...
4º Quadrante, narrador: temidos bombardeiros de
mergulho Stuka. Avançam para se unirem a Blitz contra
o Capitão América!
5º Quadrante, Capitão América: todo o exército nazista
contra nós!
6º Quadrante, Bucky: Verdade, Capi!
7º Quadrante, Bucky: Cuidado Capita, ai vem um
bombardeiro!
8º Quadrante, aviador nazista: Agora, servir a pátria...
Capitão América torrado!
O autor enfatiza a batalha de um homem, super-soldado contra um exército, como
Viana mencionou, em seu livro:
Um super-herói só é super-herói quando tem que colocar em prática seus
poderes e isto só ocorre havendo uma população de seres poderoso num
mundo em que ele vive e combate, ou seja, o super-herói só pode existir, ao
81
É mais uma “semântica” característica dos quadrinhos que repete os sons através de palavras.
61
contrário do herói, em constante relação com o super-vilões e com outros
super-heróis. Em poucas palavras o super-herói só pode existir havendo um
mundo habitado por seres superpoderosos.82
O Capitão América é um ser que habita o mundo real, interage com o mundo real, no
entanto deve ter super poderes para derrotar seus inimigos, Hitler não é um ser super
poderoso, mas contém em seu comando um exército, o Capitão precisar ser forte e corajoso,
para derrotar esse exército, essa relação que aparenta ser contraditória, mostra que todos
precisam ser como o Capitão América como vimos no início do capítulo, a editora chama o
público para ser um “sentinela” junto com o Capitão América, portanto ele tem super poderes,
mas ele representa o esforço que cada soldado deve fazer para enfrentar Hitler, um super-
herói pode ter super poderes, mas também pode se superar. Por isso que o Capitão América é
um super-herói diferente, ele não retrata um ser inalcançável como o Super-Homem, que
contém visão de raio-x, voa, e visão de calor, ele é um cidadão comum, que na visão da
revista, queria servir seu país.
Figura 34 Capitão América as primeiras Histórias p. 82.
1º Quadrante, Capitão América e Bucky batem com um avião
em um galpão!
2º Quadrante, narrador: Quando o Capitão AméricaeBucky
investigam o prédio onde bateram, encontraram...
2º Quadrante, Capitão América: Ora! Quem está aqui!
2º Quadrante, Bucky: E a guerra acontecendo lá fora!
3º Quadrante, Goering: Você pega o grande, Aldof, e eu pego o
pequeno!
3º Quadrante, Hitler: Não Hermann! O pequeno é meu!
4º Quadrante, narrador: Súbito, Bucky corre em direção aos
dois!
4º Quadrante, Narrador: Não discutam! Ambos podem ficar
comigo!
Mas ao mesmo tempo que o autor retrata Hitler com a feição maligna, ele também
utiliza da satirização do mesmo, covarde e que se faz necessário apenas Bucky para derrota-
lo, ou seja, para eliminar os nazistas, não precisa ser forte, e ter super poderes, basta ter
coragem. Aparentemente parece ser outra contradição, mas essa representação mostra que o
importante não é ter força, mas coragem para o combate.
82
VIANA, Nildo. Heróis e Super-Heróis no mundo dos Quadrinhos. Rio de Janeiro, Achiamé, 2005. p. 37.
62
Figura 35 Capitão América as primeiras Histórias p. 83.
1º Quadrante, Bucky: Os dois estão satisfeitos?
1º Quadrante, Hitler: UUUUFFF
1º Quadrante, Goering: AAAGGHH
2º Quadrante, Capitão América: Bom trabalho,
Bucky! Agora vamos pegar Baldwin!
3º Quadrante, narrador: Desamarrando Baldwin, O
Capitão remove o saco que cobria a cabeça do
prisioneiro.
3º Quadrante:, Baldwin: Onde estou?
3º Quadrante, Capitão América: Na Alemanha, Sr.
Baldwin! Mas será levado de volta a Inglaterra!
3º Quadrante, Bucky: Capitão! Aviões!
4º Quadrante, sujeito não identificado: É a RAF!
Capitão América captura Hitler e Goring e liberta Baldwin. Na última cena, aparecem
aviões da RAF(Royal Air Force) a Força Aérea Britânica. Mais uma vez mostra que o Capitão
salva o dia, e que os personagens reais estão atrasados, chegando quando já estão resolvidos
os problemas.
Figura 36 Capitão América as primeiras Histórias p.83.
1º Quadrante, Narrador: Respondendo ao sinais do Capitão
América, os aviões britânicos pousaram...
1º Quadrante, Bucky: Por aqui rapazes!
1º Quadrante, Baldwin: Estamos salvos!
2º Quadrante, manchetes de jornais: Extra! Extra! Capitão
América deixa Reich de pernas para o ar!; Baldwin assina
com a Inglaterra!; Henry Baldwin resgatado dos alemães;
Hitler e Goering na lata do lixo.
3º Quadrante, narrador: De volta ao campo do exército,
nosEstados Unidos...
3º Quadrante, Sargento: Hmmm... Aí vêm Rogers e o garoto
tenho uma bela surpresinha para eles!
4º Quadrante, Sargento: Fugindo, hein? Vou ensiná-los a
vagabundear aqui! Uma semana de guarda! E cale a boca!
4º Quadrante, Steve Rogers: Sim, Sr.
As notícias dão a entender que o Capitão América não elimina o Reich, mas o
desmoraliza e que a guerra não acabou, portanto ainda é preciso continuar a lutar. A ordem se
estabelece e só assim o Steve Roger volta para casa. Chegando no quartel, ele é punido por
ter fugido e por conseqüência não cumprido suas atividades enquanto recruta.O sargento não
63
sabe quem na verdade é Steve Rogers, por isso, interpreta seu ato de fuga do quartel como
indisciplina, e o puni.
Steve Rogers aceita sem reclamar essas punições, sempre com um sorriso, muitas
vezes de deboche, pois tem a sensação do dever cumprido, ou seja, essa representação de
Rogers indica que há muitos serviços no quartel e que todos devem fazê-lo sem vergonha ou
reclamação, por mais heróico que você seja, a deveres a se cumprido e cada um tem o seu, a
harmonia do cosmos depende disso.
Essa representação transcende o exército e tem a função de organizar a própria
sociedade, cada sujeito tem o seu papel na sociedade, e deve cumpri-lo com orgulho.
A revista tende a passa a idéia de que o herói é aquele que luta nos campos de batalha,
mastambém aquele que faz o trabalho braçal, todos agem em função de ajudar o país, com
trabalho, disciplina e respeitando as hierarquias.
CONCLUSÃO
Ao fechar as cortinas e ao apagar as luzes, Capitão América, mostra
quem ele realmente é
Os elementos que são indicados nessas histórias nos mostram como o Capitão
América se relaciona com seu meio. Em primeiro lugar o Capitão América surge por que há
um conflito, ele tem a função de organizar e estabelecer a ordem novamente.
Para se pensar os HQs do Capitão América, também se faz necessário outros
apontamentos, como os de Ariel Dorfoman e Manuel Jofre fazem em “Super-Homem e seus
amigos do peito”. Apesar das discussões desse livro serem pautadas no personagem Zorro83
.
Este livro é rico e seus apontamentos são muito significativos ao pensar o Capitão América e
sua revista.
Ao nos mostrar Zorro, nos apresentam suas metodologias de como se pensar as
histórias em quadrinhos de super-heróis. Para eles, essas revistas são transmissores de uma
ideologia ligada ao capital, principalmente do pensamento liberal estadunidense,
representantes do pensamento da classe dominante. Os eventos que elesvão descrevendo ao
longo das analises feitas das historias em quadrinhos do Zorro, vão apontando os indicativos
de como essas revistas em quadrinhos não servem apenas de entretenimento.
Numa primeira e simples leitura podemos observar que o Zorro enfrenta e
resolve um problema central-a defesa do Vale do Potro Selvagem-e também
as suas derivações (por exemplo, a tentativa de fuga de Silver), utilizando
recursos indispensáveis: sua força física, sua perícia e habilidade, sua
capacidade de persuasão através da palavra, e sua moral irrepreensível. É um
homem superdotado que consegue superar qualquer obstáculo que lhe
aparece no caminho. Quando se afasta, identificado para o leitor e para os
demais personagens, não restam dilemas nem dificuldades. Tudo é
harmonia, felicidades84
.
83
Esse personagem é o Lone Ranger, pistoleiro, personagem esse que fez muito sucesso nos anos 60 na América
Latina, chamado de Llanero Solitário em espanhol e que no Brasil recebeu o nome de Zorro. Não confundir com
o personagem da Disney, o espadachim. DORFMAN, Ariel; JOFRÈ, Manuel. Super-Homem e seus amigos do
peito. Paz e terra, Rio de Janeiro, 1978. p.11 84
DORFMAN, Ariel; JOFRÈ, Manuel. Super-Homem e seus amigos do peito. Paz e terra, Rio de Janeiro, 1978.
p. 27.
65
Zorro tem como objetivo nessa história conservar o Vale do Potro Selvagem e vai
utilizar de suas habilidades para mantê-lo como está.
O Capitão América nas historias analisadas tem como ponto central a Segunda Guerra
Mundial, mas não o conflito geral na Europa e sim, o “Ataque dos espiões nazistas em solo
estadunidense”, isso já fica claro na primeira capa analisada, a qual os dizeres dessa capa
sinalizam a defesa das fronteiras dos EUA, percebemos que todas as historias descritas tinha
como inimigo um espião, assim o Sentinela da Liberdade utiliza de suas habilidades sobre
humanas para combater esses espiões.
Trata-se, como em qualquer estrutura de ficção em que predomina a ação, de
destruir um adversário que veio perturbar a tranqüilidade do cosmos. As
façanhas do protagonista são imprescindíveis para garantir o bom
funcionamento deste mundo, através da eliminação do foco ameaçador. Há
uma crise que se manifesta de maneira intensa e somente quando essa
situação crítica estiver superada, o justiceiro poderá prosseguir sua viagem85.
Dorfman e Jofre acentua que a perturbação “a tranquilidade do cosmos” nas historias
do Zorro, é a perturbação à ordem social vigente, os inimigos de Zorro, ora são bandidos que
atacam propriedade privadas ou o fazendeiro que tenta expandir seu capital de maneira imoral
ao querer destruir um vale que é um bem natural de uso de todos, como essa história analisada
por eles. Então Zorro só resolve esses conflitos e segue viagem no momento em que prende os
bandidos ou utiliza de sua conduta moral para alertar o fazendeiro, que essa não é uma
maneira legitima de aumentar sua riqueza.
Nas historietas do Capitão América também existe um começo e um fim, quem
perturba a ordem são esses espiões nazistas, disposto a atacarem os EUA e o transformarem.
A ordem vigente demonstrada no HQ é a democracia dos EUA, assim o Capitão América
utiliza de seus poderes para expulsar os espiões e livrar os EUA da ameaça da “Ditadura”. O
Capitão América só segue para próxima historieta quando derrota esses inimigos.
Zorro tem em sua personalidade a moral e a ética burguesa, de defesa da acumulação
do Capital, ele não reprime o fazendeiro por querer expandir seu capital, mas apenas por não
o fazer de maneira moral e ética.
Aparentemente, joga-se na cara de Bruno seu excessivo afã de lucro, seu
capitalismo desenfreado. É um homem obcecado pelo amor ao dinheiro (que
menciona várias vezes como primordial para ele: subordinou tudo ( sua
85
DORFMAN, 1978. Op. Cit. p. 27.
66
ética, o futuro de seu filho, o futuro da terra) à procura de lucros. É um
homem que “perdeu a cabeça”86.
A historieta do Zorro, não condena Bruno por ser um latifundiário, ou por querer ficar
rico utilizando dos recursos naturais, mas por querer sua riqueza de modo fácil.
Assim em um nível complementar, o conflito se apresenta entre o Dinheiro e
a Virtude. Notemos, entretanto, que Zorronão impugna o fato de que Bruno
enriqueça. Pelo contrário, sugere até uma maneira legitima de fazê-lo: caçar
cavalos na planície. Não podemos entender de forma alguma que o autor da
historieta esteja atacando por ele ser um homem rico. É evidente que Bruno
não explora os homens para se tornar endinheirado, já que esses recebem
seus salários e bons tratos, e tratam de ser fiel ao patrão. As relações entre
Bruno e seus homens assim o revelam; inclusive permitem-se descordar
quando acreditam equivocado. A única fonte de ingresso do latifúndio,
portanto, é a própria natureza. O conflito não se trata entre Bruno e os
assalariados, posto que estes não constituem uma força que produz
dividendos nem aumenta os lucros; são um fator permanente, passivo e leal
durante todo transcurso da ação. O conflito se dá entre Bruno e os produtos
da terra. Ele deseja maximizar a exploração desses recursos naturais
(cavalos). Esta é a razão pela qual rechaça a solicitude de Zorro: nas grandes
planície é muito difícil de capturar cavalos. Perde-se tempo ( e esforço), e
portanto dinheiro. É evidente, então, que o que nos aparecia a principio
como uma contradição entre dinheiro e virtude, era de fato um antagonismo
entre a virtude e todo o dinheiro que se consegue quando se excede certos
limites. As reservas morais de Bruno esgotaram-se porque seu dinheiro não
foi obtido de acordo com certas normas mínimas de conveniência e respeito.
Basta que ele renuncie à perseguição de cavalos selvagens, e se converta em
seu guardião obstinado, para que volte a ser uma figura exemplar,
substituindo o próprio Zorro na defesa do vale. Continuando lucrando, sem
dúvida, mas agora em seu devido lugar: a planície87.
Não há nenhuma lei que impeça Bruno de caçar os cavalos no Vale, o próprio Zorro
admite isso, no entanto caçar cavalos no Vale, eliminaria a reserva natural, esse conflito,
portanto não é entre o Capital e suas conseqüências, mas sim, entre o que se pode ou não fazer
para aumentar esse Capital.
O repúdio à atitude de Bruno, parte de um dos problemas que mais preocupa
o homem norte-americano dos últimos 20 anos: a super exploração dos
recursos naturais, trouxe como consequência fenômenos como a
contaminação atmosférica e das águas, as perturbações climatológicas e as
da ecologia, o envenenamento da flora e da fauna, o despojamento
sistemático do meio em que deverá desenvolver-se a existência humana.
Basicamente estes problemas derivam do sistema capitalista, que se
preocupa com o destroçar riquezas a fim de obter lucros a curto prazo. A isto
se somam os males endêmicos e típicos dessa forma de organização social: a
falta de planificação, competição desenfreada, ausência de restrições e de
controle e de responsabilidades específicas, em suma,
86
Idem, p. 28. 87
Ibidem, p.28.
67
“theaffluentsocietyisaneffluentsociety” (a sociedade opulenta, é uma
sociedade poluída-numa tradução livre). Claro que separado do contexto
social, abandonada à sua própria evolução autônoma, a tecnologia avançada
tende a produzir efeitos indesejáveis88.
Percebemos que o autor transfere para as histórias do Zorro o dilema da sociedade,
como manter a produção, sem que se destrua a si próprio. Ao abrir os olhos de Bruno, Zorro,
tem essa resposta, manter o Vale do Potro Selvagem é manter espaços vitais, as reservas que
minimamente permitem os recursos naturais para a sobrevivência, logo, o herói salva o dia,
mantém a ordem de modo que não haja conflito, escondendo as contradições.
Como afirmamos no primeiro capítulo as obras fictícias são fruto de sua época,
quando foram produzidas a historias analisadas por Dorfman e Jofre, já havia uma discussão
em torno das questões ambientais no processo de industrialização, apesar da historia de Zorro
se passar no velho oeste, o autor consegue transportar as discussões para a revista.
Da mesma forma Joe Simon e Jack Kirby trazem as discussões reais para os HQ. No
período em que as historias do Capitão América estão sendo produzidas os EUA mantinham
relações comerciais com diversos países, apesar de se manter longe dos conflitos na Europa.
Quando a Alemanha declarou guerra à França e à Inglaterra, e também invadindo
outros países na Europa, o EUA percebeu que sua participação no conflito seria necessária
para manter sua hegemonia comercial, política e econômica, ou seja, não poderia perder áreas
de influência para a Alemanha.
Nas histórias do Capitão América, quem ameaça essa ordem, são os nazistas, os
espiões que invadem os EUA e boicotam as indústrias, prédios do governo, seqüestros de
figuras ilustres da elite, ou seja, um boicote ao desenvolvimento do capital estadunidense, por
isso o Capitão América está ali, para mediar esse processo, ele é o elo que vai mostrar ao
consumidor de HQ, o que está acontecendo na guerra, não vai utilizar da verdade, mas sim do
que lhe interessa ser a verdade, assim como Zorro, ele vai defender o interesse do Capital dos
EUA.
Sabemos que a opinião pública estadunidense, assim como o próprio governo não via
interesse na participação dos conflitos da Europa. “De qualquer modo a opinião pública
estadunidense encarava o Pacífico (ao contrário da Europa) como um campo normal para a
ação dos EUA, mais ou menos como a América Latina.”89
entretanto quando a ameaça da
Alemanha a hegemonia dos EUA se faz presente, os estadunidenses procuram imediatamente,
88
DORFMAN, 1978. Op. Cit. p.30. 89
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX 1914-1991. 2ª Edição. São Paulo. Editora
Companhia das Letras. 1998. p. 48.
68
uma forma de entrar no conflito, essas produções culturais vão auxiliar no engajamento da
guerra.
Jofre assim como Dorfman, aponta a falta das relações políticas nas histórias em
quadrinhos, além da falta dos conflitos sociais.
O trabalho, a política ou a procriação, são os temas frente aos quais, o gênero
é mais renitente. É o que acontece com os conflitos sociais de qualquer tipo:
diferenças sociais, por exemplo. Quando o trabalho aparece, como no caso
de Super-homem, que na sua verdadeira personalidade cotidiana (a de Clark
Kent) é jornalista do “Planeta”, só serve como chamariz para uma
identificação mais profunda com o super-herói ou para motivar novas
aventuras. Porém surgem prefeitos (na Disneylândia), mas sempre fazendo
discursos ou inaugurando estatuas, nunca atuando politicamente. O que tenta
ser uma família normal, nunca é: Falta à mãe ou “os filhos” que são na
verdade sobrinhos 90.
As revistas do Capitão América apresentam semelhanças com a revista de Zorro ou
com outras publicações do gênero. Steve Rogers, o alter ego do Capitão América não possui
um emprego com salário, no entanto ele é um recruta de um quartel, apesar de não ser um
“emprego” ele é submetido às ordens de seus superiorda mesma forma, e as ordens são
descascar batatas, limpar os banheiros do quartel ou o estábulo, sempre submisso ao seu
Sargento. Essa postura é clara da maioria dos super-heróis.
Na revista do Capitão América, representa a hierarquia do exército e a função de cada
soldado, dentro do quartel, a benevolência, humildade, mesmo sendo um herói, quando não
está vestido com tal, é um ser humano normal e harmonioso, trabalhador e obediente das
disciplinas da sociedade, sem reclamar dos seus superiores, dos salários ou dos serviços, essa
é a disciplina que um soldado deve ter, mas do que isso é como o cidadão comum também
deve se portar, realizar suas tarefas diárias, obedecendo às hierarquias, realizando seu trabalho
de maneira humilde, sem reclamações.
Não mostra as contradições dos soldados nazistas, os trabalhos nas industrias ou a
industria de armas, mesmo porque os soldados não podem se reconhecer como iguais, é por
isso que a revista utilizasse do bem e do mal. Ao utilizar esses termos os trabalhadores da
indústrias bélicas, os soldados que fazem o trabalho dura não vão reclamar, pois estão
inseridos em um projeto maior, que é deter o inimigo externo.
O nazismo de Hitler o utiliza dessa tática quando expõe que cada alemão seja ele
trabalhador ou não é um ser superior, elimina a luta de classe.
90
DORFMAN, Ariel; JOFRÈ, Manuel. Super-Homem e seus amigos do peito. Paz e terra, Rio de Janeiro, 1978.
p.102.
69
Os agentes políticos no interior da revista, também não agem ativamente para resolver
problemas da população, quando aparecem, os norte-americanos, estão procurando modos de
defender o estado das posições de seus adversários, e os nazistas tramando atacar os EUA.
Ao dividir a realidade social objetiva em parcelas diferentes e estaques, que
nunca se tocam, anula-se uma característica estrutural do mundo
contemporâneo, (e de uma sociedade de classe) seu caráter problemático,
contraditório, conflito e dinâmico. Este parcelamento é o que permite não
mostrar as contradições entre o capital e o trabalho, ao eliminar, por
exemplo, tudo o que seja laboral91.
Jofré e Dorfman analisam as revistas em quadrinhos, no geral, sem identificar as
particularidades das revistas, ou seja, cada revista propõe uma discussão diferente, quando se
analisa num todo, não se identifica as peculiaridades delas.Mesmo assim os apontamentos
feitos por eles são muito ricos paraà analise do personagem do Capitão América. A falta de
conflito de classe, a defesa da estrutura econômica capitalista, a ausência de pensamento
crítico, entre outros, mas o interessante das analises de Jofré para se pensar as revistas em
quadrinhos do Capitão América, é a sua idéia do bem e do mal.
Um dos principais recursos presente nos quadrinhos é o maniqueísmo.
Mediante ele se mostra o mundo humano fragmentado e polarizado em bons
e maus. Esta demarcação ética tende a resolver-se no clímax, onde sempre
vencem os bons. Bons são todos os super-heróis, porque representam à
justiça e defendem a lei92.
Na revista em quadrinhos, o Capitão América é bom porque se alistou no exército e foi
voluntário para defender as linhas americanas na guerra, é justo e nunca provoca a morte de
seus adversários, mesmo eles sendo retratados como maus, covardes, ratos, indignos e sem
honra. A relação do Capitão com seus inimigos é um embate representado entre o bem e o
mal, entre o Loiro, alto e bonito, o herói e o feio e asqueroso, o bandido.
Essa relação entre bem e mal, permite ao Capitão América utilizar da tortura e até a
não importar-se com a morte de seus inimigo, sua ação é justificada pelos próprios atos de
traição que esses espiões cometeram, essa justificativa também serve ao ataque a Pear Harbor
e para o convencimento da opinião pública de que a guerra era eminente, por isso com os
ataques a pessoa de Hitler e não ao povo germânico a revista oculta as relações sociais que
existe e limita-se a colocar que a guerra é fruto das loucura de um homem, Hitler.
Além da ausência dos negros, também existe a ausência da crítica ao extermínio de
judeus, como vimos há referencias claras ao campo de concentração e de extermínio, já que
91
Idem, p.103. 92
Ibidem, p.103.
70
vimos Balwdin ser preso, e quando estava preste a ser eliminado, e o Capitão América o
salva. No entanto em nenhum momento os HQ‟s mostram outros presos desses campos, ou
seja, podemos ver que o autor não crítica o extermínio dos políticos contrários ao regime, ou
dos judeus, ciganos, homossexuais,dentre outros que foram exterminados no Holocausto.
Notemos também que se pegarmos a imagem do Capitão América, há semelhança com a
distinção do que seria o “ideal nazista” é muito semelhante.
As medições raciais, baseadas principalmente em dimensões cranianas,
altura e padrões de cores de olhos e cabelos, eram destinadas a mapear a
população alemã dentro de uma tipologia das variações dos indivíduos
arianos. Um dos efeitos dessa orientação era institucionalizar a seleção de
indivíduos por critério raciais, com consideráveis vantagens para tipos
nórdicos (altos, loiros e de olhos azuis). Especialmente nas SS93.
A crítica posta no HQ evade a crítica sobre o ideário criado pelos nazistas para
justificar as perseguições políticas e de extermínio.
O Mistério é: por que Hitler já inteiramente esgotado na Rússia, declarou
gratuitamente guerra aos EUA, dando assim ao governo de Roosevelt a
oportunidade de entrar no conflito europeu ao lado da Grã-Bretanha, sem
enfrentar esmagadora resistência política em casa? Pois havia muito pouca
dúvida na mente de Washington de que a Alemanha nazista constituía um
perigo muito mais sério, ou de qualquer forma mais global, para a posição
dos EUA – e do mundo – que o Japão. Os Eua portanto preferiam
concentrar-se mais em ganhar a guerra contra a Alemanha do que contra o
Japão, e concentrar seus recursos de acordo. O calculo foi correto. Foram
necessáriomais três anos e meio para derrotar a Alemanha, após que o Japão
foi posto de joelhos em três meses94.
Como percebemos no primeiro capítulo que as empresas estadunidenses já vinham
investindo desde 1939 nas produções desses meios de comunicação de massas em prol da
guerra, mesmo sem participar dos conflitos, o governo dos EUA já tinha consciência de que
poderia ser necessário entrar na guerra e tanto que o fizeram.
Como indagamos no início do Segundo Capítulo, “Através do HQ é possível entender
se esse conflito era baseado em questões políticas entre dois inimigos com ideologias
diferentes ou se eram por interesses comerciais divergentes?”
Como percebemos na leitura de Konder, o nazi-fascismo foi a salvação última do
capitalismo na Europa.
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KIELING, César. A Questão Étnica e Racial In. PADRÓS, H. S.; RIBEIRO Luis Dário T.; GERTZ,
René(org.). Segunda Guerra Mundial, da crise dos anos 30 ao Armagedón. Porto Alegre. Editora Folha da
História. 2000.p. 167. 94
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: O breve século XX 1914-1991. 2ª Edição. São Paulo. Editora
Companhia das Letras. 1998. Pág 48.
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Através da nossa pesquisa percebemos que o HQ do Capitão América utiliza,
guardada as devidas proporções, do mesmo princípio de pátria apropriado por Hitler e
Mussolini. É importante mencionar que nesse período as histórias do Capitão América eram
produzidas apenas para consumo interno.
Nessa medida entendemos que apesar da dúbia participação dos EUA durante todo o
conflito, internamente havia uma produção de filmes, documentários, histórias em
quadrinhos, desenhos, em fim uma gama de produções baseadas nos conflitos e na
necessidade de intervenção dos EUA contra a Alemanha nazista.
Aliado com a consolidação da Revolução Soviética e a expansão nazifascista, os EUA
entra na guerra, apesar das contradições dessa sua participação, para impedir o avanço
daqueles que poderiam colocar em risco sua hegemonia comercial e política no mundo.
O Capitão América foi um produto de guerra, como sua ida para o front, quando foi
distribuído para os soldados estadunidenses, sua função era a de homogeneizar o pensamento
desses soldados, convergindo seus pensamentos e ações em prol da guerra, encorajando-os e
unificando-os entorno do inimigo interno, o “espião nazista” e a “ditadura”.
Na formação da sua identidade tem as características de um herói comum, entretanto
sua coragem se sobressai na medida em que ele vence um inimigo e abre caminho para
combater o próprio Hitler, percebemos que a construção do enredo das histórias desses dois
números vai evoluindo para a construção do discurso do confronto eminente, ou seja, o
fortalecimento do discurso de “antes que eles nos ataquem devemos atacá-los”.
Portanto, ao fechar as cortinas e ao apagar das luzes, vimos a quem o Capitão América
serviu. Serviu para manter, internamente, o pensamento estadunidense de nação livre, e a
posição que eles deveriam assumir mundialmente de protetores da democracia e da liberdade,
discurso que após o fim dos conflitos em 1945 irá se consolidar na medida em que a Guerra
Fria se intensificou, mas isso é assunto para os próximos episódios.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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