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Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana Ano VI, NºXII, Dezembro/2013 Os africanos livres na Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema: Funções, Origens Étnicas e Rotina de Trabalho (1840-1850). Mariana Alice Pereira Schatzer Ribeiro Resumo: O presente artigo analisa a experiência dos africanos livres, na Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema, em Sorocaba-SP, entre 1840 a 1850. Para tal, abordo, primeiramente, as questões sociais e políticas que originaram este grupo específico. Em seguida, amparada pelas fontes presentes no Arquivo Público do Estado de São Paulo, avalio a trajetória dos trabalhadores no empreendimento fabril como funções, data de chegada, e principalmente as origens étnicas dos mesmos, tendo em vista a demasiada importância que representam na diáspora. Nesse sentido, os africanos tinham a consciência de sua condição jurídica de “livre”, mas na prática para o Estado Imperial brasileiro eram apenas mais um grupo de escravos lutando por sua liberdade. Palavras-chave: africanos livres, Ipanema, escravidão, experiências. Abstract: This article analyzes the experience of free Africans in Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema, in Sorocaba-SP, between 1840-1850. To do this, first aboard the social and political issues leading to this particular group. Then, supported by the sources present in the Public Archives of the State of São Paulo, evaluate the trajectory of workers in the enterprise functions like manufacturing, date of arrival, and especially the ethnic origins of the same, with a view to representing too much importance in the diaspora. Accordingly, Africans were aware of their legal status "free", but in practice for the Brazilian Imperial State were just another group of slaves fighting for their freedom. Keywords: free African, Ipanema, slavery, experience. Mestranda em História- UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdade de Ciências e Letras- Campus de Assis. Bolsista FAPESP. E-mail: [email protected] 6

Os africanos livres na Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema: Funções, Origens Étnicas e Rotina de Trabalho (1840-1850

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Sankofa. Revista de História da África e de Estudos da Diáspora Africana Ano VI, NºXII,

Dezembro/2013

Os africanos livres na Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema: Funções,Origens Étnicas e Rotina de Trabalho (1840-1850).

Mariana Alice Pereira Schatzer Ribeiro

Resumo: O presente artigo analisa a experiência dos africanos livres, na Real

Fábrica de Ferro São João do Ipanema, em Sorocaba-SP, entre 1840 a 1850. Para tal,

abordo, primeiramente, as questões sociais e políticas que originaram este grupo específico.

Em seguida, amparada pelas fontes presentes no Arquivo Público do Estado de São Paulo,

avalio a trajetória dos trabalhadores no empreendimento fabril como funções, data de

chegada, e principalmente as origens étnicas dos mesmos, tendo em vista a demasiada

importância que representam na diáspora. Nesse sentido, os africanos tinham a consciência

de sua condição jurídica de “livre”, mas na prática para o Estado Imperial brasileiro eram

apenas mais um grupo de escravos lutando por sua liberdade.

Palavras-chave: africanos livres, Ipanema, escravidão, experiências.

Abstract: This article analyzes the experience of free Africans in Real Fábrica de

Ferro São João do Ipanema, in Sorocaba-SP, between 1840-1850. To do this, first aboard

the social and political issues leading to this particular group. Then, supported by the

sources present in the Public Archives of the State of São Paulo, evaluate the trajectory of

workers in the enterprise functions like manufacturing, date of arrival, and especially the

ethnic origins of the same, with a view to representing too much importance in the

diaspora. Accordingly, Africans were aware of their legal status "free", but in practice for

the Brazilian Imperial State were just another group of slaves fighting for their freedom.

Keywords: free African, Ipanema, slavery, experience.

Mestranda em História- UNESP - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Faculdadede Ciências e Letras- Campus de Assis. Bolsista FAPESP. E-mail: [email protected]

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1.1. A legislação sobre o tráfico de escravos.

Antes de se pensar na categoria dos africanos livres, é preciso compreender como a

legislação que os denominou como tal fora criada, além do contexto político acerca das

pressões inglesas à coroa portuguesa. Durante todo o século XIX, o governo britânico

realizou uma empreitada abolicionista que gerou diversas transformações em seu país, nas

suas colônias e também aos países os quais foram impostos as medidas1. Entre as

exigências estavam: assinatura de tratados, capturas e condenação dos navios negreiros, e a

emancipação dos escravizados encontrados a bordo dos mesmos.

Os primórdios da pressão britânica para o fim do tráfico remontam a 1810, quando

Portugal assina o Tratado de Aliança e Amizade. Neste combinado, o império luso deveria

permanecer com o tráfico apenas nos territórios africanos que lhe fosse de direito. Passado

alguns anos, a Convenção Adicional de 28 de julho de 1817 regulamentou o fim do

comércio ao Norte da Linha do Equador2 e o apresamento dos navios que estivessem na

região.

Ademais, os africanos apreendidos nos navios ilegais deveriam ser libertos e

utilizados como trabalhadores livres, tutelados pelo Estado3. Porém, foi somente com o

Alvará português de 26 de janeiro de 1818, que ficou determinado o tempo máximo desta

tutela: um período de 14 anos4.

Não obstante, em 1822, o Brasil tornou-se independente de Portugal. Logo, o país

necessitava de um amparo, de ser reconhecido como um Estado independente politicamente

1 Sobre a relação e o impacto da campanha abolicionista inglesa em suas colônias ver: DRESCHER,Seymour. Abolição: uma história da escravidão e do anti- escravismo. São Paulo: Ed. da UNESP, 2011.

WILLIAMS, Eric. Capitalismo e escravidão. Rio de Janeiro: Americana, 1975.2

Segundo Jaime Rodrigues, a região compreendia a Costa da Mina (atuais Daomé e Nigéria, naÁfrica Ocidental). RODRIGUES, Jaime. O infame comércio: propostas e experiências no final do tráfico deafricanos para o Brasil (1800-1850). Campinas: Ed. UNICAMP- CECULT, 2000, p.98. Para mais detalhessobre tratados internacionais, ver o capítulo 03: “A pressão inglesa: honra, interesses e dignidade”. Págs.-97-125.

3 “Convenção Adicional de 28 de julho de 1817”, Coleção das Leis do Império do Brasil, 1817,Biblioteca Nacional.

4 “Alvará de 26 de janeiro de 1818”, Coleção das Leis do Império do Brasil, 1818, Página 07 Vol. 1,Biblioteca Nacional.

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através de uma nação estrangeira. Obviamente, o governo luso a princípio não quis

reconhecer a independência brasileira. Por outro lado, havia um interesse muito grande por

parte dos ingleses.

A fim de que a independência do Brasil se concretizasse, o governo inglês fez a

mediação das discussões com os portugueses, até que em 1825 eles efetuaram o

reconhecimento da autonomia. Em seguida, a Grã-Bretanha realizou o mesmo ato, todavia

exigia uma condição nada confortável para a política e sociedade brasileira do período: o

fim do tráfico transatlântico de escravos. A exigência era bastante perturbadora, visto que o

Brasil desde finais do século XVI já havia se tornado uma sociedade profundamente

arraigada no sistema escravista. De acordo, com Stuart Schwartz: “a norma era usar os

escravos em regime de produção máxima, baixando os custos e mantendo um esquema de

trabalho intensivo”.5

Sendo assim, dificilmente seria possível abolir o tráfico de escravos em um local

aonde a escravidão era o alicerce de seu desenvolvimento. Segundo David Brion Davis, a

ideologia e a infraestrutura judicial estavam montadas não só para favorecer um sistema de

exploração de trabalho, como também para garantir “a preservação da segurança pública e a

perpetuação do poder nas mãos de uma predominante casta de brancos”.6 Portanto, tal

situação vantajosa não poderia se acabar, na opinião de políticos, e principalmente, dos

proprietários de terra e de escravos.

Após o reconhecimento da independência pela Inglaterra houve a Convenção de 23

de novembro de 1826, nela o governo britânico e o recente Império brasileiro mantiveram

os acordos assinados com Portugal, como também criaram o Tratado Anglo-brasileiro. Com

isto, o tráfico passou a ser considerado pirataria e deveria ser extinto em três anos. Também

foram criadas comissões mistas em Londres, Rio de Janeiro e Serra Leoa para julgar os

navios apreendidos7.

Por sua vez, em novembro de 1831, durante o caos do período regencial, após a

5 SCHWARTZ, Stuart. Escravos, roceiros e rebeldes. Bauru: EDUSC, 2001, p. 93.

6 DAVIS, David Brion. O problema da escravidão na cultura ocidental. Rio de Janeiro: CivilizaçãoBrasileira, 2001, p. 271.

7 “Convenção de 23 de novembro de 1826”, Coleção das Leis do Império do Brasil, 1826, BibliotecaNacional.

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abdicação e saída de Dom Pedro I, e em conjunto com a ascensão de um ministério liberal,

foi sancionada por Felisberto Caldeira Brant, o Marquês de Barbacena, a lei que designou a

categoria dos “africanos livres”. A Lei determinava o seguinte:

A Regência, em nome do Imperador o Senhor DomPedro Segundo, faz saber a todos os súditos do Império,que a Assembléia Geral decretou, e ela sancionou a Leiseguinte: Art. 1º. Todos os escravos, que entrarem noterritório ou portos do Brasil, vindos de fora, ficamlivres. 8.

Ademais, ficara decidido que os africanos presos deveriam imediatamente ser

conduzidos de volta à África, custeados pelos traficantes que os aprisionava. Entretanto,

devido à ineficácia e lentidão para o cumprimento da medida, várias pessoas permaneceram

alojadas na Casa de Correção da Corte9 enquanto aguardavam a decisão sobre seus

destinos. Poucos africanos de fato foram reexportados para seu continente, pois a grande

maioria permaneceu no Brasil tutelados, utilizados em obras e instituições públicas como a

Fábrica de Ferro Ipanema. Na prática, o Estado brasileiro buscava uma alternativa entre a

extinção do tráfico e o impedimento de um possível choque político com a Inglaterra.

A norma ficou conhecida como: “lei para inglês ver”, porque não pôs um fim

definitivo ao comércio negreiro e tampouco atendeu as expectativas do governo britânico.

O desrespeito à cláusula foi realizado pelas mais importantes autoridades, representadas por

políticos, juízes e também por oficiais, funcionários portuários, comerciantes e traficantes

de escravos. Fato este que demonstra o interesse das mais variadas camadas da sociedade

na lógica escravista.

Com o fim do período regencial (1831-1840), das disputas políticas internas e com a

demissão do Gabinete da Maioridade (de tendências abolicionistas) devido à emancipação

8 Lei de 07 de novembro de 1831. Coleção de Leis do Império do Brasil, 1831. Biblioteca Nacional.Optou-se por deixar a ortografia original do documento exposto.

9 A Casa de Correção da Corte, construída na década de 1830 abrigou centenas de africanos que chegaramilegalmente no país. Além disso, a penitenciária tinha como objetivo transformar aqueles que haviamcometido crimes em pessoas laboriosas, através do trabalho como cumprimento das penas. Para maisinformações sobre a participação dos africanos livres e os detentos no estabelecimento ver: ARAÚJO,Carlos Eduardo Moreira de. Cárceres Imperiais: A Casa de Correção no Rio de Janeiro. Seus detentos eo sistema prisional no Império (1830-1861). Tese de Doutorado, Campinas-SP: UNICAMP, 2009.

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de Dom Pedro II, o esforço do governo em reprimir o comércio negreiro tornou-se cada vez

mais relaxado. Por outro lado, a pressão britânica fazia-se latente, visto que os ingleses

estavam determinados em fazer com que o negócio fosse abolido.

Com a recusa do governo brasileiro em fazer valer os acordos, a Inglaterra

estabelece um tratado unilateral, o Slave Trade Suppression Act , o qual resultou em 08 de

agosto de 1845 na lei Bill Aberdeen10. A legislação determinava que o governo inglês

poderia julgar as embarcações e seus comandantes como piratas em tribunais ingleses, não

importando o local onde fossem capturadas (África ou Américas).11

Deste modo, o tráfico estava sujeito à repressão, independente de qualquer contato

prévio entre o Império Britânico e o país responsável pela carga. Entre os anos de 1840 e

1848, a marinha inglesa apreendeu mais de 600 navios, carregando milhares de africanos.

Muitos deles foram conduzidos às colônias inglesas do Caribe onde, apesar de receberem

um soldo, viveram em condições muito próximas a dos escravos12. Após esta lei começou a

declinar o número de africanos capturados com o tráfico. Vale lembrar que o período era

conturbado e havia muitas preocupações em jogo, muitas autoridades tinham a consciência

do dever de acabar com o tráfico. No entanto, temiam as consequências sociais e

econômicas da medida.

Somente em 1850 é que foi retomada a discussão acerca da legislação de 1831,

através da lei sancionada em 04 de setembro, mais conhecida como “a lei Eusébio de

Queiróz”. A norma previa processar traficantes, capitães, tripulação e todos os envolvidos

no sistema ilegal. Por sua vez, os escravos presentes nas embarcações apreendidas ou na

costa, deveriam ser libertos e continuar sob a guarda do governo brasileiro13. Apesar das

falhas e lacunas presentes na legislação, foi só a partir dela que o tráfico de escravos

10 O nome é uma referência ao lord Aberdeen, então Ministro das Relações Exteriores da Grã-Bretanha.11 Sobre as negociações detalhadas entre o Brasil e a Inglaterra ver: LESLIE, Bethell. A abolição do tráfico

de escravos no Brasil: a Grã Bretanha, o Brasil e a questão do tráfico de escravos, 1807-1869. Rio deJaneiro: EDUSP/Expressão e Cultura, 1976, págs. 232-254.

12 Mamigonian em sua tese de doutorado aborda ricamente a questão da abolição do tráfico entreos dois países, como também discute as políticas empregadas pela Inglaterra em suas colônias, entre elas a doCaribe. MAMIGONIAN, Beatriz G. To be a liberated African in Brazil: labour and citzenship in thenineteenth century. PhD, History. Waterloo: University of Waterloo, 2002.

13 Lei n. 581 de 04 de setembro de 1850. Coleção das Leis do Império do Brasil. Abolição do Tráfico deEscravos, Tomo XI, parte 1ª, 267-261, Biblioteca Nacional.

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diminuiu significativamente chegando ao final no Brasil.

Enquanto eram travados os debates sobre o comércio negreiro entre intelectuais e

parlamentares, nenhuma outra medida havia sido tomada a respeito da liberdade efetiva dos

africanos tutelados no país. Somente com o decreto de 28 de dezembro de 1853 foi possível

definir a liberdade daquelas pessoas. Inicialmente, apenas foram “contemplados” os

africanos que tivessem trabalhado durante 14 anos, exclusivamente para particulares14.

No entanto, analisando mais detalhadamente a referida iniciativa, pode-se perceber

que o governo brasileiro acabou revelando o não cumprimento do Alvará de 1818, o qual

determinava o período de 14 anos da tutela, pois todos concluíram o tempo de serviço

quando o decreto de 1853 foi emitido. Sendo assim, “a maioria deles trabalhou muito

tempo antes receber suas cartas finais de emancipação”15.

Já, a liberdade para todos os trabalhadores tutelados ocorreu em 1864. As cartas

deveriam ser expedidas pelo Juiz de Órfãos da Corte e pelos Presidentes das Províncias.

Após o processo eram destinadas aos chefes de polícia para serem entregues aos

emancipados16. Todavia, mesmo após esta data ainda foram encontrados africanos livres em

alguns estabelecimentos imperiais.

Vale lembrar, que ao longo destes 40 anos, devido a uma preocupação do estado em

identificá-los e controlá-los existe uma riqueza documental sobre os mesmos, permitindo

aos estudiosos comparar e estudar este grupo social de diversas formas a partir dos anos

2000.

1.2. A Fábrica de Ferro Ipanema: panorama histórico.

A Fábrica de Ferro Ipanema foi um estabelecimento muito importante e esteve na

ordem da agenda do governo imperial. Deste modo, há diversos documentos produzidos

pelos órgãos brasileiros durante todo o século XIX, como por exemplo, os relatórios dos

14 Decreto 1303 de 28 de dezembro de 1853. Coleção das Leis do Império do Brasil, Biblioteca Nacional.15 MAMIGONIAN, Beatriz G. To be a liberated African in Brazil: labour and citzenship in the

nineteenth century. PhD, History. Waterloo: University of Waterloo, 2002, p. 239.

16 Decreto n°3310 “Emancipação dos Africanos Livres”. 24 de setembro de 1864. Coleção das Leis doImpério do Brasil, 160-161, Biblioteca Nacional.

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presidentes da Província de São Paulo e os relatórios do Ministério da Guerra, o qual o

empreendimento esteve subordinado até 1877. A Fábrica de Ferro Ipanema, conhecida

como uma das primeiras estabelecidas no Brasil tem sua origem em meados de 1765, data

da primeira amostra de ferro fundida na região, a qual englobava o morro de Araçoiaba,

também conhecido como Ipanema que lhe dera o nome. Durante o século XIX, as

indústrias no Brasil se estabeleciam fora das áreas urbanas, usufruindo fontes de energia,

fornecimento de matéria-prima e eram bastante artesanais. A partir da administração da

capitania de São Paulo realizada por Luís Antônio de Souza, o Morgado de Mateus iniciou-

se então as primeiras experiências metalúrgicas com o ferro. Este a enviou para o Marquês

de Pombal, e afirmou que: “as explorações de minas de ferro se mostravam mais úteis que

as de ouro”.17.

A criação do estabelecimento foi pensada para atender as necessidades estratégicas,

militares, de defesa, como também de povoamento, visto que a capitania possuía baixa

densidade populacional no momento. Assim, através da Carta Régia de 1810, o

estabelecimento passa a se chamar Real Fábrica de Ferro São João do Ipanema. No

documento, também existem informações sobre a chegada dos primeiros escravos, bois e

outros investimentos do governo português, conforme aponta o documento assinado pelo

príncipe regente:

Sendo de suma utilidade criar no Brasilestabelecimentos de minas de ferro, na maior extensãopossível, que possam dar ferro e servir de base àspreciosas manufaturas do mesmo metal, não só para oconsumo do Brasil, mas ainda servir de objeto deexportação, o que será ao comércio destes estados desuma utilidade, e havendo constado na minha realpresença, que em Sorocaba, na capitania de São Paulo,há uma mina de ferro muito rica.18.

Com relação aos africanos, após a aprovação da lei de 1831 houve a determinação

17 DANIELI Neto, op. cit., p.85.

18 VERGUEIRO, Nicolau Pereira de Campos. História da Fábrica de Ipanema e Defesa perante o Senado.Brasília, Senado Federal, 1979, p. 58.

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assinada em 19 de novembro de 183519. A lei dizia que todos os tutelados apreendidos

fossem depositados na Casa de Correção da Corte-RJ, para que em seguida fossem

destinados a seus concessionários particulares ou às instituições públicas. No mesmo ano

de 1835, chegou o primeiro grupo proveniente da Corte na Real Fábrica de Ferro. Durante

a entrega, o Presidente da Província de São Paulo lembrava as obrigações do diretor perante

eles:

Esperando por último este governo, que o sobreditosenhor diretor terá da sua parte a maior vigilância nãosó sobre a conservação destes indivíduos, a fim de quenão possam a vir a ser presa de algum ambicioso que osdesencaminhe e os reduza a cativeiro, como mesmosobre o seu bom tratamento e competente ensino. 20

Sem contar com a extrema vigilância salientada pelo Presidente da Província, a

rotina exercida na instituição era muito rígida, porque não existia permissão para os

tutelados deixarem os estabelecimentos e escolherem as suas atividades. Além do mais, as

condições de controle disciplinar e tempo de trabalho tornavam a jornada muito exaustiva,

devido à própria natureza do empreendimento. Como demonstra este documento:

Os trabalhos diários da oficina são de 5 horas da manhã até

às 8 horas da noite, bem entendido no verão se terá meia

hora para o almoço e uma hora e meia para o jantar, no

inverno meia hora para o almoço e uma hora para o jantar 21.

Pode-se perceber como os trabalhos eram exaustivos, os trabalhadores tinham

poucos momentos para fazer suas refeições. Ademais, os tutelados ocuparam diversas

funções na fábrica: mestre de fundição, mestre moldador, mestre de refino, mestre fundidor,

19 Coleção de Leis do Império do Brasil – 1835. http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret_sn/1824-1899/decreto-37084-19-novembro-1835-563013-publicacaooriginal-87123-pe.html. Acesso em 08 deabril de 2013, às 16h: 35m.

20 AESP. Fábrica de Ferro Ipanema. 28 de junho de 1835. Ofício do Presidente Francisco Antônio de SouzaQueirós ao diretor da fábrica

21 AESP. Fábrica de Ferro Ipanema. 25 de maio de 1835. Contrato de trabalho com mestre ferreiro. OrdemCO 5214.

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entre outras22. Vale lembrar que todas as atividades relativas ao ferro e a metalurgia eram

desempenhadas somente pelos homens adultos. As mulheres, as crianças e os idosos eram

os responsáveis pela criação de animais e a agricultura23.

Alguns estudos apontam que os africanos já exerciam o ofício da metalurgia em seu

continente, principalmente na região centro-ocidental. Aliás, o impacto proveniente de tal

produção econômica fez com que estes profissionais detivessem uma posição social

diferenciada na sociedade africana. Segundo a crença do povo, lidar com a metalurgia era

também lidar com a transformação da natureza, do mundo vegetal e animal, através de

regras e rituais associados a esferas não humanas. Em muitos locais, os ferreiros eram

considerados reguladores da fertilidade por estarem associados aos espíritos da terra,

desempenhando importantes funções de chefe24.

Embora haja toda uma mítica e conhecimento anterior associado aos africanos,

enfatizamos que não fora por esses motivos que os mesmos vieram trabalhar em Ipanema, a

experiência previa era apenas mais um motivo para exploração. O que prevaleceu foi a

lógica do sistema escravista brasileiro desempenhado na fábrica, o qual utilizou a mão-de-

obra passível de controle a fim de alcançar o seu desenvolvimento. Como aponta Carlos

Eduardo M. Araújo:

22 Quanto à especificidade de algumas funções, os ferreiros fundidores, extraíam o minério de ferro da terrae faziam a sua fundição; já os ferreiros forjadores transformavam o ferro já fundido em objeto comoarmas, caçarolas, ferramentas, etc. Tais informações não estão presentes na documentação referente àFábrica de Ferro, mas foram extraídas do livro Homens de ferro. Infelizmente não há certeza se a técnicautilizada pelos escravos e africanos livres de Ipanema, era semelhante à empreendida na África Centraldurante o século XIX. Sobre os ofícios com o ferro ver: Silva, Juliana Ribeiro da. Homens de ferro: Osferreiros na África Central no século XIX. São Paulo: Alameda, 2011, p. 137.

23 A agricultura foi muito praticada na fábrica, as roças geralmente eram cultivadas pelas mulheres,crianças e idosos. Nelas havia plantações de milho e feijão, destinadas ao abastecimento interno,principalmente para a alimentação dos próprios africanos e escravos.

24 SILVA, Juliana Ribeiro da. Homens de ferro: Os ferreiros na África Central no século XIX. São Paulo:Alameda, 2011, p. 13. A autora aborda os vários significados que os ferreiros tinham para as sociedadescentro-africanas, entre eles o social, o econômico, o político e também o religioso. O trabalho trazgrandes contribuições, visto que a temática foi pouco estudada no Brasil até o momento. Ademais,Juliana salienta o interesse da atividade pelos portugueses no continente africano, o que pode serdemonstrado pela criação em 1765, da Fábrica de Ferro de Nova Oeiras, em Angola, a qual teve comomão-de-obra grupos diversos de trabalhadores. Pode ter sido proposital, acaso, ou coincidência dahistória, mas tanto a Fábrica de Ipanema, quanto a de Nova Oeiras foram criadas no mesmo ano, com umsistema de trabalho e mão-de-obra parecidas. Por sua vez, acerca do poder político há também os mitossobre os reis ferreiros, associados à fundação dos estados africanos, bastante conhecido através de JosephMiller. Sobre isto ver também p. 61-69.

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A distribuição dos africanos livres pelas obras públicas

e a particulares evitava um gasto excessivo com o

sustento dessas pessoas em depósitos e ainda

possibilitaria ao Estado arrecadar com a exploração de

sua mão-de-obra25.

O número de africanos livres presentes na fábrica de ferro nunca fora uma

constante, a quantidade se modificava ao longo dos anos, principalmente devido às fugas,

transferências para outros estabelecimentos e mortes. Por exemplo, em 1841 havia 104

africanos, em 1846 a instituição contava com 240 (compostos por 196 homens, 23 mulheres

e 21 crianças). Já, em 1854 existiam 131 africanos livres, dentre os quais 20 encontravam-

se doentes e inválidos26.

Além disso, os africanos livres e os escravos residiam em taipas piladas e eram

obrigados a realizar inúmeras atividades no plantel; como participar das missas, seguir os

preceitos da fé cristã, sem esquecer da vigilância e opressão diária dos feitores. Nesse

sentido, havia um regulamento sobre as atividades dos mesmos:

Art.38: A escravatura e os gados ficarão sujeitos e a cargo de

um ou mais feitores em tudo subordinados ao vice-diretor, a

quem recorrerá para providências sobre o sustento, vestuário,

e curativo deles.27

Apesar da vigilância realizada pelos feitores havia um medo e preocupação por

25ARAÚJO, Carlos E.M. Arquitetando a liberdade: os africanos livres e as obras públicas no Riode Janeiro imperial. In, História Unisinos, 14(3): 329-333 Setembro/Dezembro 2010, p.06.

26 Nos capítulos seguintes será discutida mais detalhadamente a questão populacional dos africanos emIpanema. Ademais, com o decorrer dos anos os números caem drasticamente, como por exemplo, em1863; um ano antes da promulgação da lei da emancipação definitiva, havia na instituição apenas 15africanos livres vivendo em profunda miséria.

27 AESP, Fábrica de Ferro Ipanema, 26 de maio de 1834. Regulamento provisório para a administração dafábrica. Ordem CO 5512, caixa nº 04.

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parte das autoridades com relação aos tutelados, seja por decorrência das fugas, ou devido à

possibilidade de uma corrupção dos costumes, de influenciarem os cativos em conflitos e

revoltas. Em ofício acerca da mão-de-obra, o diretor do empreendimento, o Major João

Bloem28 dissertava sobre os mesmos:

[...] Eles são relaxados, mostram sempre uma cara feia, e

parece que são seduzidos por algum mal- intencionado, pois

há entre eles alguns de 05 a 08 fugidas, e não servem

correções.29.

Por conta de sua condição, veremos posteriormente que a principal diferença no

tratamento perante os tutelados foi com relação à vigilância, opressão e coerção dos

administradores.

A utilização da mão-de-obra dos africanos livres como trabalhadores no Brasil

oitocentista foi distribuída em 82%30 entre os locatários privados, (normalmente os

senhores de escravos, considerados íntegros e de confiança do governo)31. Já, entre as

instituições espalhadas pelo império, foram disseminados aproximadamente cerca dos

18%32 dos recapturados.

Nesse sentido, não apenas a Fábrica de Ferro Ipanema contou com os serviços

obrigatórios prestados por aquelas centenas de homens e mulheres, categorizados na lei de

07 de novembro de 1831, como outros estabelecimentos na Província de São Paulo e Rio

de Janeiro. Tais estabelecimentos em São Paulo eram: a Colônia Militar de Itapura, o

28 O Major João Bloem era natural da Renânia (oeste da Alemanha) e ocupou a direção entre os

anos de 1835 a 1842. Em seu lugar assumiu o tenente, Antonio Manoel de Mello, que permaneceu na

administração de 1843 a 1845.

29 . AESP, Fábrica de Ferro Ipanema, 28 de fevereiro de1842. Relatório do diretor ao presidente daprovíncia de São Paulo. Ordem nº5215.

30 MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti. To be a liberated African in Brazil: labour and citizenship in thenineteenth century. Tese de Doutorado em História. University of Waterloo, 2002, p. 66.

31 A medida foi estabelecida através da Instrução de 29 de outubro de 1834. In: Coleção das Leis doImpério do Brasil, 1834, Biblioteca Nacional. Após disseminar os africanos pelas instituições, o Chefe dePolícia enviava os restantes aos particulares. O arrematante se comprometia em devolver o africano parao governo assim que fosse decidido sobre a sua sorte.

32 MAMIGONIAN, Beatriz Gallotti. To be a liberated African in Brazil: labour and citizenship in thenineteenth century. Tese de Doutorado em História. University of Waterloo, 2002, p. 66.

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Hospício dos Alienados, o Jardim Público. Esses, entre outros, contaram com a participação

dos tutelados. No Rio de Janeiro os mesmos foram encontrados, entre outros, na: Casa de

Correção, Santa Casa de Misericórdia, Fábrica de Pólvora da Estrela.

1.3. Nomes, Funções, Naturalidades, Sexo e Rotina de Trabalho

Em 1835 foram deliberadas as instruções do Ministério da Justiça33 para a chegada

dos africanos livres em Ipanema34. Segundo elas, o diretor com a chegada dos tutelados

deveria lavrar um ato contendo informações referentes aos nomes, sinais corporais de

identificação e naturalidades35. O responsável pelo empreendimento naquele momento era o

então, Major João Bloem, conhecido por sua gestão rigorosa, além das constantes queixas

sobre a falta de mão-de-obra na fábrica.

No ano de 1837, trabalhavam no empreendimento 48 africanos livres (30 homens e

18 mulheres); 121 escravos (68 homens, 29 crioulos e 24 mulheres). Além disso, havia 12

escravos e um africano evadidos, contabilizando o total de 169 pessoas36. Durante a

trajetória da instituição, exceto em algumas fases, a maioria dos operários era composta por

cativos. A quantidade de africanos sempre foi superior, como analisaremos mais adiante.

Uma das exigências realizadas por Bloem ao governo imperial para assumir a

direção estava baseada no aumento do contingente dos trabalhadores. De acordo com o

major, o número de operários livres (nacionais, estrangeiros)37, africanos e escravos da

33 Instrução n. 143 da Justiça, 06 de junho de 1835. In: Coleção das Leis do Império. Dá providênciassobre os africanos livres enviados para a Fábrica de Ferro.

34 Segundo Mário Danieli Neto, os primeiros africanos livres que chegaram à Ipanema eram em número de48. Todavia, não encontramos informações precisas sobre isto nas fontes compiladas.

DANIELI Neto, Mario. Escravidão e Indústria: Um estudo sobre a Fábrica de Ferro São João do Ipanema-Sorocaba (SP)-1765-1895.Doutorado em História, Universidade Estadual de Campinas: Instituto deEconomia, 2006, p. 150.

35 Apesar da deliberação referente à transcrição dos sinais corporais de identificação, a mesma foiencontrada em poucos documentos.

36 AESP, Fábrica de Ferro Ipanema, 01 de maio de 1837. Mapa dos empregados, escravos eafricanos que existem na Fábrica de Ferro de São João do Ipanema. Ordem n° 5214 (1835-1839).

37 Como o citado no Capítulo 01, foi durante a administração do Major Bloem que ocorreram os conflitoscom os operários prussianos, tendo como consequência a baixa na quantidade de trabalhadores.Entretanto, sobre os operários nacionais livres não encontramos muitas informações, para Jorge Prata deSouza, o número de livres nunca ultrapassou os 25% do total dos empregados, incluindo-se os nacionais

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nação não davam conta de atender à produção. Assim, algum ano depois, percebendo a

lentidão governamental, a fim de fazer valer a reinvindicação, o mesmo queixou-se na

correspondência destinada ao Ministério da Guerra:

Se me fornecia 180 a 200 tantos africanos ou escravosde 15 a 30 anos de idade e debaixo destas condições meanimei em aceitar o emprego de diretor, vejo eu queestava iludido [...]. Suplico novamente a V. Exª. aremessa dos 180 africanos de 15 a 30 anos de idade,homens não mulheres.38

A preferência do diretor pelos africanos homens era porque eles exerciam as

atividades mais especializadas, como os serviços de alto forno, refinaria e ferro. Como já

dito anteriormente, cabiam às mulheres as tarefas relacionadas à agricultura de subsistência,

corte, retirada e empilhamento do carvão, muitas vezes auxiliadas por menores e idosos.

Embora existam algumas listagens detalhadas acerca dos tutelados, infelizmente a

documentação encontra-se esparsa. Ou seja, não localizamos fontes com uma rígida

sequência cronológica. Desta forma, encontramos mapas relativos aos anos de: 1835,1837,

1842, 1846, 1848 e 1849. Ademais, segundo Jorge Luiz Prata de Souza, no tempo de 1839

a companhia possuía 229 indivíduos39. Desse total, os africanos somavam 145. Por sua vez,

Jaime Rodrigues aponta que no ano de 1841 havia 312 trabalhadores, sendo 104 africanos

(e 5 crias)40. No entanto, não achamos os referidos documentos para transcrevê-los.

Provavelmente, eles deveriam estar em tratamento técnico pelo Arquivo do Estado no

momento da consulta.

O governo imperial atendeu uma parte da exigência do Major João Bloem, o

número de tutelados enviados à Ipanema aumentou, mas o diretor encerrou a sua

em funções burocráticas. SOUZA, Jorge Prata de. Africano livre ficando livre: Trabalho, Cotidiano eLuta. Tese de Doutorado em História Social. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999, p. 87.

38 NA: IG 5-18. Fábrica de Ferro Ipanema. 1835-1840. Carta do Major do Corpo de Engenharia MajorJoão Bloem ao Ministério da Guerra, em 18 de janeiro de 1839.

39 SOUZA, Jorge Prata de. Africano livre ficando livre: Trabalho, Cotidiano e Luta. Tese de Doutorado emHistória Social. Universidade de São Paulo, São Paulo, 1999, p. 88.

40 RODRIGUES, Jaime. Ferro, Trabalho e Conflito: os africanos livres na Fábrica de Ipanema. In:Revista de História Social: Campinas - SP, n°4/5, 1997-1998, p. 35. O autor também relata a presença de45 livres (incluindo a direção), 09 guardas municipais, 88 escravos, 33 crioulos e 42 presos.

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administração ainda lamentando a falta de operários. Aliás, a queixa permaneceu ao longo

da trajetória da fábrica, estando presente nas correspondências e relatórios produzidos pelos

gerenciadores subsequentes.

Em 1843, o então dirigente do empreendimento, Antonio Manoel de Mello41 efetua

novo pedido ao presidente da Província, a fim de que fossem admitidos mais africanos:

[...] Cumpri-me expor que acho necessários ao menoscem deles, que tenham a robustez conveniente, mas quequalquer número destes acima de quarenta, já irá darnotável aumento ao produto do ferro, por cortar grandeparte das dificuldades, com que até agora tenholevado.42.

A jornada de produção na fábrica demandava a presença de muitos indivíduos, esta

condição se agravou devido à saída dos operários livres estrangeiros na gestão Bloem.

Outros acontecimentos como as doenças, mortes, além das fugas recorrentes dos africanos

e escravos no estabelecimento agravavam o ritmo de trabalho no plantel. Por isso, Melo

declarava a necessidade de, ao menos, cem deles, preferencialmente fortes, robustos, pois a

natureza do trabalho exigia pessoal com condição física adequada, conforme demonstra a

tabela abaixo:

41 O tenente Antonio Manoel de Mello permaneceu à frente do empreendimento de 1843 a 1845, ele entrouno lugar do Major Bloem, porque o mesmo ao se envolver na Revolução Paulista de 1842, foi destituídodo cargo pelo presidente da Província. A Revolta originou-se em decorrência das disputas políticas entreliberais e conservadores. O partido liberal havia fraudado as eleições para a Assembleia dos Deputados,mas os conservadores exigiram a anulação dos votos e conseguiram retomar ao poder. Todavia, os liberaisnão aceitaram tal fato e começaram a Revolução pela cidade de Sorocaba, liderados por Antônio Feijó,Brigadeiro Tobias Aguiar e Bloem. O conflito seguiu até a província de Minas Gerais, pois os revoltososdesejavam conquistar novamente o poder através da luta armada, porém logo foram derrotados peloBarão de Caxias. Alguns elementos conseguiram escapar e refugiaram-se no Rio Grande do Sul,acolhidos pelos Revolucionários Farroupilhas. Por fim, com a retomada dos liberais no jogo político, em1844, todos os seus pares envolvidos receberam a anistia.

42 AESP, Fábrica de Ferro São João do Ipanema, 07 de novembro de 1843. Correspondência do diretorAntonio Manoel de Mello ao presidente da província de São Paulo. Ordem n° CO 5215 (1840-1848).

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Tabela 1 : Lista das atividades realizadas pelos escravos da Nação e africanos

livres existentes na Fábrica de Ferro São João do Ipanema (1835-1845)43.

Atividades1- Alto Forno

4- Oficina de Carpintaria Peneirar, torrar o fubá

Mestre do cadinho e forno Contramestres Corte de MadeirasAjudante de cadinho e forno Oficiais Juntar e empilhar carvãoCarregadores Aprendizes Tiradores de carvãoAjudante de carregadores 5- Diversos Instaladores linha para carvoaria

Ajudantes de misturas Serra d´água Queimadores de carvão

Moldadores Moinho MineirosAprendizes de moldadores Pilões de Mineral Costureiras2- Refino: Arrieiros Servente na casa do diretorRefinadores Carreiros MaquinistaMestre do malho PedreirosAprendiz de refino Serventes de Pedreiros3- Ferraria FalquejadoresContramestre Criação porcos/cavalos/boisOficiais EnfermeirosAprendizes Cozinha

Apesar da lista compreender dados até o ano de 1845, as referidas funções foram

realizadas durante todo o funcionamento da instituição. A análise da tabela demonstra como

a maioria dos postos compunha-se de afazeres exaustivos, principalmente os de refino,

ferraria e alto forno. Para chegar à qualidade ideal do ferro, a temperatura nos fornos muitas

vezes ultrapassavam os 1000°C, sendo extremamente perigoso para aqueles que

trabalhavam nas proximidades deles.

Todavia, os cargos ocupados no item n°05. (exceto os pedreiros e queimadores de

carvões) apresentavam menor grau de periculosidade, exercidos também por mulheres e

crianças. Logo, é possível perceber o quanto a fábrica dependia dos africanos e escravos.

Seus serviços variavam desde a cozinha, costura aos cargos mais técnicos e especializados.

Ainda acerca da falta de trabalhadores localizamos o relatório produzido na

Repartição dos Negócios da Guerra, em 1843, apresentado à Assembleia Geral Legislativa,

aonde o Ministro Salvador José Maciel faz uma abordagem realista sobre Ipanema:

[...] Consta das queixas, cem vezes já d´antes repetidas,da falta de braços, e das promessas cem vezes repetidas

43 SOUZA, Jorge Prata de. Africano livre ficando livre: Trabalho, Cotidiano e Luta. Tese de Doutorado emHistória Social. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999, p. 89.

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de centenas de contos de réis de rendimento anual, nocaso de por parte do Governo satisfazer-se a essacondição de braços. E como esses braços nunca hão deficar à disposição do Diretor; porque os livres não sehão de ir entregar a trabalhos duros e penosos porsalários minguados, e os cativos hão de ser semprealeijados, doentes, e sobretudo fugitivos, como tem sidoaté agora todos quantos para ali se tem mandado, segue-se que nunca as promessas de rendimento se hão derealizar, e que a falta delas não se poderá imputar aoDiretor, que liga à elas uma condição justa e razoável44.

Se os livres dificilmente aceitariam executar os trabalhos penosos, situação

complexa era a dos cativos e africanos livres. Houve momentos que o governo chegou a

enviar alguns deles já debilitados, porém a maioria ficou doente, aleijada após a rotina de

trabalho exaustiva. O ministro, seguindo a intenção governamental preocupava-se com a

produção, custos e lucros oriundos da fábrica; concordava com a postura do diretor na

exigência por mais braços; porém jamais com as condições de vida, de trabalho daquelas

pessoas.

Inclusive é de 1843 a relação dos trabalhadores existentes em Ipanema,

contabilizando um total de 90 africanos. Na fonte há também referências dos escravos, mas

optamos por transcrever apenas às relativas aos tutelados. O número de cativos nesta fase

era de 120 (34 mulheres e 86 homens), fora as 20 crianças abaixo dos dez anos. A relação

contém nomes, idades e observações, o último item preenchido com a palavra “pronto”

significava apto ao trabalho45.

44 Relatório da Repartição dos Negócios da Guerra apresentado à Assembleia Geral Legislativa, 1843.http://memoria.bn.br//720950/per720950_1843_00017.pdf Acesso em 15 de maio de 2013.

45 Nas listagens optamos por seguir a grafia original dos nomes escritos nas fontes. As demais informaçõesforam transcritas de acordo com a norma culta atual.

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Tabela 2: Relação dos africanos e escravos existentes na Fábrica de Ferro São

João do Ipanema em 1843.46.

Africanos

Número Nome Idade Observações01 Balbino 30 anos Pronto02 Daniel 24 anos Idem03 Vicente 26 anos Idem04 Rogério 26 anos Idem05 Martinho 26 anos Idem06 Silvério 20 anos Idem07 Juvêncio 34 anos Idem08 Romão 27 anos Idem09 Julião 22 anos Idem10 Francisco 30 anos Idem11 Estevão 31 anos Idem12 Felipe 26 anos Idem13 Anastácio 40 anos Asmático e quase

cego.14 Alípio 23 anos Pronto15 Braz 22 anos Idem16 Thadeo 36 anos Idem17 Damazio 26 anos Idem18 Athanazio 27 anos Idem19 Antão 40 anos Idem20 André 18 anos Idem21 Marcolino 24 anos Idem22 Lúcio 26 anos Idem23 Augusto 19 anos Idem24 Ilegível 17 Idem25 Ilegível 19 anos Idem26 Laurentino 18 anos Idem27 Benedito 19 anos Idem28 Caio 21 anos Idem29 Luciano 26 anos Idem30 Bráz 36 anos Idem31 Gabriel 22 anos Idem32 Bazílio 23 anos Idem33 Inoccencio 24 anos Idem34 Crispiniano 22 anos Idem

46 AESP, Fábrica de Ferro Ipanema, 25 de outubro de 1843. Relação dos africanos e escravos existentes,elaborada pelo escrivão Antonio Martins da Costa Passos. Ordem n° CO 5215 (1840-1848).

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35 Bernardino 29 anos Idem36 Diogo 33 anos Pronto37 Raymundo 18 anos Idem38 Bertholdo 20 anos Idem39 Olegario 01 ano Idem40 Belmiro 18 anos Idem41 Rozendo 22 anos Idem42 Cyrilo 18 anos Idem43 Cassiano 23 anos Idem44 Braulio 28 anos Idem45 Silvestre 34 anos Idem46 Antonio 33 anos Idem47 Paulo 29 anos Idem48 Deziderio 18 anos Idem49 Guilherme 32 anos Idem50 Margarida 30 anos Idem51 Silvania 16 anos Idem52 Catharina 24 anos Idem53 Joaquina 31 anos Idem54 - - -55 Apolianaria 33 anos Idem56 Theodora 27 anos Idem57 Felizberta 36 anos Idem58 Domingas 15 anos Idem59 Honorata 30 anos Idem60 Maria 30 anos Idem61 Luciana 28 anos Idem62 Ignacia 37 anos Idem63 Engracia 27 anos Idem64 Maria Joze 27 anos Idem65 Evaristo 25 anos Idem66 Ilegível 30 anos Idem67 Fulgêncio 26 anos Idem68 Horácio 28 anos Idem69 Marcolino 26 anos Idem70 Pedro 18 anos Idem71 Leao 25 anos Idem72 Hemergencio 28 anos Idem

73 Eustaquio 32 anos Idem74 Lucio 22 anos Idem75 Florencio 26 anos Idem76 Herculano 28 anos Idem77 Lucas 28 anos Idem78 Honório 30 anos Idem

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79 Gregório 30 anos Pronto80 Caetano 32 anos Idem81 José 34 anos Idem82 Ignacio 03 anos Menor83 Joze 02 anos Idem84 Laureano 02 anos Idem85 Maria do Rozario 01 anos Idem86 Archanja 01 anos Idem87 Angelica 03 meses Idem88 Antonio 02 anos Idem89 Camillo 02 anos Idem90 Caetano 30 anos Pronto91 Manoel Sebastião Recém-

nascidoMenor

Francisco - Idem, fugido em1841.

Boaventura - Fugiu em tempodo diretor MajorJoão Bloem.

Telésforo - IdemJuvenal - Idem

O estudo da lista revela um total de 14 mulheres, sendo a mais nova, Domingas de

15 anos e a mais velha Ignacia de 37. Já, as crianças eram compostas por 03 meninas, (duas

com 01 ano, e outra de 03 meses). Nesta lista também existiam 67 homens, o mais novo, de

nome ilegível com 17 anos; e os mais velhos Antão e Anastácio, ambos com 40 anos, (este

último asmático e quase cego, mas não sabemos se chegou assim ou adoeceu no

empreendimento). Ainda havia 06 meninos (o menor, Manoel Sebastião recém- nascido e

Ignacio de 03 anos). Na tabela, além de ser citados os 04 homens evadidos, (Francisco,

Boaventura, Telésforo, e Juvenal) não há menção de africanos idosos.

Com relação ao gênero é possível comparar o número de homens e mulheres,

africanos livres ou escravos da nação, referentes ao período de 1839 a 1858. Assim, de

acordo com a fase 1839 a 1842 os escravos (as) constituíam a maioria dos trabalhadores.

Os anos de 1855 a 1858 dizem respeito ao momento de intercâmbios com Itapura e as

emancipações, ocasionando a brusca diminuição dos trabalhadores. Veja-se:

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Tabela 3: Relação entre os sexos e os totais de escravos da Nação e

africanos livres existentes no estabelecimento da Fábrica de Ferro de São João de

Ipanema 1839-185847.

Categoria 1839

1842

1846

1855

1857

1858

Escravosmasculinos

61 117 57 27 52 58

Escravos femininos 25 58 52 41 60 60Escravos menores 35 63 32 37 45 44Total de escravos 121 238 141 105 157 162AfricanosMasculinos

25 46 146 85 91 78

Africanosfemininos

17 31 15 15 29 16

Africanos menores 05 16 09 06 07 05Total de africanos 47 93 170 101 127 99

Através da análise dos dados percebemos que o total de africanos homens foi

superior ao de escravos em 1846, 1855, 1857 e 1858. Interessante é o fato de, após as

transferências para a Colônia no Mato Grosso, os índices de tutelados permanecerem

elevados se comparado aos cativos. Provavelmente isto ocorreu, pois os escravos

pertencentes à fábrica deveriam estar idosos e não mais aptos para o trabalho, ainda mais se

levarmos em consideração a possibilidade de muitos deles já trabalharem há muitos anos no

local. Não obstante, as taxas de mulheres africanas e menores estiveram abaixo das

escravas se observamos todo o período da lista. É notória a ideia acerca do número total de

escravas serem menores na comparação com os homens nos plantéis. Porém, podemos

dizer que, em relação as africanas, a quantidade era ainda mais baixa; não apenas no

concernente aos homens, mas, sobretudo, com relação às cativas. Possivelmente, tais

percentuais ocorreram, porque as tuteladas permaneceram majoritariamente alocadas aos

concessionários particulares.

A tabela 3 foi transcrita na tese de doutorado de Jorge Luiz Prata de Souza, tendo

47 SOUZA, Jorge Prata de. Africano livre ficando livre: Trabalho, Cotidiano e Luta. Tese de Doutorado emHistória Social. São Paulo: Universidade de São Paulo, 1999, p. 93.

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como referência o Relatório do Ministério da Guerra, presente no Arquivo Nacional- RJ.

Todavia, não o encontramos nos relatórios disponíveis no site da Biblioteca Nacional. No

entanto, encontramos um resumo estatístico no Arquivo do Estado de São Paulo, elaborado

pelo então diretor, o Barão de Itapicuru- Mirim, datado de 08 de dezembro de 1846. Nele,

os números são divergentes daqueles encontrados na classificação do Arquivo Nacional.

Não obstante, para 1848, o mapa dos africanos e escravos contabilizava outros

números. Nele, há o relato da presença de 115 africanos adultos, e 06 meninos menores de

07 anos. Já, as mulheres africanas totalizavam 16, sendo 08 meninas menores de 07 anos.

Sobre os escravos, a taxa aponta 55 homens e 12 menores; além de 53 escravas mulheres e

20 menores48. Além disso, há outro ofício do mesmo dia, aonde o diretor relata a rotina de

trabalho:

[...] No tocante aos mestres e operários livres nãopassam de sete, devo mencionar que muitos dosescravos e africanos vão se aperfeiçoando nos ofícios demoldador, ferreiro, carpinteiro e que alguns outros têmadquirido bastante prática do serviço dos fornos altos[...]. O produto do trabalho dos escravos no cultivo dasterras, contou de mil trezentos e oitenta e oito alqueiresde milho, trinta e três e meio alqueires de feijão e vintee meio alqueires de arroz.49.

O ofício demonstra a escassa quantidade de operários livres, os quais praticamente

desaparecem dos documentos após a entrada dos tutelados. Bem como a colheita dos

cativos (e africanos) nas roças de subsistência, pois os alimentos eram consumidos dentro

do plantel, inclusive na manutenção dos animais.

Embora, nosso foco seja a identificação total do número dos africanos livres da

fábrica, não pudemos aqui desmembrá-los dos escravos, porque se assim o fizéssemos

analisaríamos apenas uma parte dos documentos. E poderíamos chegar a conclusões

48 AESP, Fábrica de Ferro Ipanema, 15 de novembro de 1848. . Ofício do diretor ao presidente daprovíncia de São Paulo. Ordem nº CO 5215 (1840-1848).

49 AESP, Fábrica de Ferro Ipanema, 15 de novembro de 1848. Ofício do diretor ao presidente daprovíncia de São Paulo. Ordem nº CO 5215 (1840-1848).

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simplistas referentes à mão-de-obra.

Por sua vez, a lista nominal dos africanos livres para 1849 declara as funções

exercidas por eles, a data de chegada ao estabelecimento e suas naturalidades. As

informações referentes às origens, na realidade, dizem respeito aos portos em que foram

embarcados, e não aos locais exatos de nascimento daquelas pessoas. Ademais, a presença

desses elementos nas fontes encontra-se esparsas, elas aparecem somente em algumas

listagens, ou nos ofícios das fugas, juntamente com a discrição física dos evadidos.

Tabela 4: Relação nominal dos africanos livres maiores e menores, extraídado livro de matrícula dos mesmos, organizada em julho de 1849, declarando os queatualmente existem nesta Fábrica, os que tiveram desterros e os que faleceram.50.

Africanos livres maiores de 20 anos:

Nome Naturalida

de

Aplicação Observações

1-Francisco Angola Trabalha nasfundições deforno alto e refino

Veio para esta Fábricaacompanhado da Portaria doExmo. Governo da Província, de28 de junho de 1835.

2-Bras Benguela Ferreiro Idem3-Lúcio Cassange Carreiro Idem4- Rogério Congo Carpinteiro Idem5- Balbino Benguela Ferreiro Idem

6- Vicente Congo No serviço domato

Idem

7-Gabriel Benguela Idem Idem8-Martinho Congo Ferreiro Idem9-Paulo Angola Idem Idem10-Basílio Congo Ferreiro Idem11-Inocêncio Benguela Ferreiro Idem12-Daniel Idem Moldador Idem13-Chrispiniano

Bié Carreiro Idem

14-Luciano Benguela Ferreiro Idem

50 AESP, Fábrica de Ferro Ipanema, julho de 1849. Relação nominal dos africanos livres, extraída do livrode matrícula dos mesmos, declarando os que atualmente existem na Fábrica, os que tiveram desterros e osque faleceram. Ordem nº CO 5216 (1849-1870). A lista contém apenas informações dos africanos livresmaiores de 20 anos.

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15-Marcelino Idem Idem Idem16-Estevão Angola No serviço do

matoIdem, 06 de abril de 1836.

17-Bernardino Rebolo Servente Idem18- Diogo Cassange No serviço do

matoIdem

19-Antonio 1° Rebolo Servente Idem20- Thaddéo Tumbe Idem Idem21-Juvencio Rebolo Trabalha nas

fundições dosfornos altos

Veio para esta Fábricaacompanhado da portaria doExmo. Governo da Província, de06 de abril de 1836.

22- Anastácio1°

Goguin. Servente Idem em 06 de agosto de 1839.

23- Felis Congo No serviço domato

Idem

24- Romão Macúa Idem Idem25- Braz 2° Mogange Idem Idem26- Raymundo Idem Carreiro Idem27- Augusto Mucena No serviço do

matoIdem

28- Bertholdo Idem Carreiro Idem29- Deziderio Mogange Soldador Idem30- Benedicto Mucena No serviço do

matoIdem

31- Aleixo Macúa Carreiro Idem32- Silvério Mogange Servente Idem33- Laurentino Mogange No serviço do

matoIdem

34- Jovito Ilegível Idem Idem35-Ollegario Macúa Idem Idem36- Belmiro Mucena Carreiro Idem37- Julião Guintiqui Nas fundições dos

fornos altosIdem

38- Rozendo Congo No serviço domato

Idem

39- Cyrilo 1° Cabinda Servente Idem40- Guilherme Moçambiqu

eNas fundições dosfornos altos

Idem, 30 de janeiro de 1840.

41- André 1° Ozamba Carreiro Idem, 12 de março de 1840.42- Braulio 1° Chificta Tropeiro Idem43- Alippio Mucena Tropeiro Veio para esta Fábrica

acompanhado da portaria doExmo. Governo da Província, de12 de março de 1840.

44- Evaristo Quilimane Ilegível Idem, 07 de maio de 1841.

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1°45- Pelaio Moçambiqu

eNo serviço domato

Idem

46- Fulgencio Quilimane Tropeiro Idem47- Marcolino2°

Moçambique

Carreiro Idem

48- Pedro Quilimane Moldador Idem49-Hermogenio

Idem No serviço doMato

Idem

50- Eustáquio1°

Idem Tropeiro Idem

51- Lucio 2° Idem Nas fundições dosfornos altos

Idem

52- Herculano Moçambique

Idem Idem

53- Lucas Quilimane No serviço domato

Idem

54- Gregorio Idem Idem Idem55- Caetano Moçambiqu

eNos pilões Idem, em janeiro de 1843. Não

consta a data da portaria.56- Abrahão Ilegível No serviço do

matoIdem, de 09 de agosto de 1845.

57- Angelo Noambo Idem Idem58- Arnaldo Utinanda Nas fundições dos

fornos altosIdem

59- Bento Barundo Torneiro Idem60- Balbino 2° Mgarangue Nas fundições dos

fornos altosIdem

61- Carlos 1° Ilegível No serviço domato

Idem

62- Vencesláu Congo Servente Idem63- Antonio 2° Benguela No serviço do

matoIdem

64- Antero Cassambo No serviço domato

Veio para esta Fábrica,acompanhado da portaria doExmo. Governo da Província, de09 de agosto de 1845.

65-Appolinario

Ilegível Idem Idem

66- André 2° Ilegível Idem Idem67- Agostinho Benguela Idem Idem68- Amadéo Barundo Idem Idem69- Andronico Ilegível Nas fundições dos

fornos altosIdem

70- Braz 3° Cucera Pedreiro Idem71- Bonifácio Cacondo No serviço do Idem

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mato72- Bazílio 2° Ilegível Idem Idem73- Braulio 2° Ilegível Idem Idem74- Ilegível Ilegível Idem Idem75- Canuto Cabia Idem Idem76- Claudiano Cacondo Ferreiro Idem77- Cyrilo 2° Cabia No serviço do

matoIdem

78- Carlos 2° Ilegível Moldador Idem79- Cantidio Ilegível No serviço do

matoIdem

80- Cantidiano Ilegível Idem Idem81- Chrispim Calunda Idem Idem82- Domingos Ilegível Idem Idem83- Damião Cacondo Idem Idem84- Deolindo Ilegível Idem Idem85- Damazio Ilegível Carpinteiro Veio para esta Fábrica,

acompanhado da portaria doExmo. Governo da Província, de09 de agosto de 1845.

86- Ilegível Ilegível No serviço domato

Idem

87- Diógenes Cabinda Idem Idem88- Esequiel Idem Idem Idem89- Ilegível Cacondo Idem Idem90- Eustachio2°

Ilegível Moldador Idem

91- Thomas Ilegível Ilegível Idem92- Libanio Mogange No serviço do

matoIdem

93- Antenôr Barundo Idem Idem, de 19 de novembro de 1846.94- Athanazio2°

Cassange Idem Idem

95-Alberto Idem Idem Idem96- Cosme Cocauete Idem Idem97- Casimiro Calunda Idem Idem98- Dario Ilegível Servente Idem99- Evaristo2°

Ilegível Idem Idem

100- João 1° Macúa Ilegível Idem, de 15 de setembro de 1847.101- José 1° Idem No serviço do

matoIdem

102-Francisco2°

Moange Idem Nada consta

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103-Alexandre 2°

Mina Idem Veio para esta Fábrica,acompanhado da portaria doExmo. Governo da Província, de18 de janeiro de 1849.

104- Amancio Idem Idem Idem105- Ambrozio Idem Idem Idem106- Adriano Idem Idem Idem107- Anastácio2°

Mina No serviço domato

Idem

108- Clemente Idem Tropeiro Idem109- Carlos Idem Torneiro Idem110- Calisto Idem No serviço do

matoIdem

111- Claudio Idem Ilegível Idem112- Cyro Idem Carreiro Idem113- Gregório Idem No serviço do

matoIdem

114- Eusebio Idem Idem Idem115- Manoel d´Assumpção

Idem Idem Idem

116- Manoel Idem Idem Idem117- Simplicio Idem Idem Idem

A análise da lista demonstra as funções dos africanos para o ano de 1849, desta

forma contabilizamos as seguintes ocupações: no forno alto e refino (09), carreiros, (09),

ferreiros (09), serventes (09), carpinteiros (02), torneiros (02), no serviço do mato (61),

moldadores (04), tropeiros (05), soldador (01), nos pilões (01), pedreiro (01) e (04) com

ocupações ilegíveis. O interessante é que para a referida data, a maioria dos tutelados

realizavam atividades pouco especializadas, como o serviço do mato. Fato este que

contraria a noção de que eles executavam grande parte da produção do ferro, pois os postos

referentes à metalurgia (forno alto/refino, ferreiros, moldadores) continham apenas 22

indivíduos. Ou seja, 18,80% do total. Apesar dos dados acima levantados fica claro que,

mesmo sem as ocupações específicas, os africanos fizeram parte de toda a rotina de

trabalho em Ipanema.

O maior grupo de tutelados (para o período) chegou ao empreendimento em 1845 e

continha 37 pessoas, enquanto o menor entrou em 1847 e possuía 02 pessoas, não obstante,

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há também a presença de mais 02 indivíduos, os quais não constam informações. Deste

modo, optamos por apresentar a tabela abaixo a fim de que haja melhor compreensão dos

elementos expostos na fonte. Veja-se:

Tabela 5: Número de africanos e as respectivas datas de chegada na Fábrica de

Ferro Ipanema (1835-1849)51

Data Número deafricanos

1835 151836 061839 181840 041841 111845 371846 071847 021849 15Não

consta02

Ainda sobre o referido documento, escolhemos também criar mais uma tabela a fim

de exemplificar as origens dos trabalhadores. Na relação o maior número é composto de

africanos minas (15 indivíduos), seguido pelos de Benguela (09), Quilimane 52(08), Congo

(07), Mogange (06), Moçambique, Mucena e Macúa (05). Além dos grupos menores, os

ilegíveis e não identificados. As denominações na relação nem sempre correspondiam

fielmente às origens étnicas dos tutelados, pois muitas vezes as regiões citadas apontavam

na realidade, os portos, ilhas ou locais de onde os africanos foram capturados. Nesse

sentido, Reginaldo Prandi faz uma reflexão crucial:

A identidade da origem podia simplesmente estarreferida ao porto de embarque. Embora cada portoconcentrasse preferencialmente as presas das

51 Idem.52 Atualmente corresponde a região de Moçambique.

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vizinhanças, a necessidade de manter portos deembarque afastados, para driblar a vigilância quando otráfico começou a ficar ilegal, primeiro em certossegmentos da costa africana, mais tarde em todo olitoral, fez com que partidas de escravos alcançassem osportos depois de percorrer a pé, pelo interior, longostrajetos. Isso complicava a identificação do escravo,pois sua origem através do porto de embarque podianão mais corresponder a sua origem verdadeira.53

Ademais, as autoridades poderiam relatar inclusive a etnia a qual pertenciam, por

exemplo, Macúa não era um lugar na África, mas sim uma tribo, grupo étnico. Logo, não

existe homogeneidade nos nomes de procedência. Por conseguinte, os nãos identificados

provavelmente deveriam corresponder a locais, grupos ou portos que foram extintos ao

longo do tempo. Veja-se o número de africanos e locais de procedência:

Tabela 6: Relação do número de africanos e os locais de procedência54

Procedência Número deafricanos

Porcentagem%

Angola 03 2,5%Benguela 09 7,6%Cassange 04 3,4%Congo 07 5,9%Bié 01 0,85%Rebolo 03 2,5%Macúa 05 4,2%Mucena 05 4,2%Cabinda 03 2,5%Moçambique 05 4,2%Quilimane 08 6,8%Barundo 03 2,5%Mguarangue 01 0,85%Cassambo 01 0,85%

53 PRANDI, Reginaldo. De africano a afro-brasileiro: etnia, identidade, religião. In: RevistaUSP, São Paulo, n.46, p. 52-65, junho/agosto 2000, p. 56.

54 Ibidem.

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Cacondo 04 3,4%Cabiá 02 1,7%Calunda 02 1,7%Cucera 01 0,85%Cocauete 01 0,85%Mina 15 12,8%Mogange 06 5,1%Moange 01 0,85%NãoIdentificados

07 5,9%

Ilegível 20 17%

Os estudos consolidados sobre o tráfico55 já demonstraram que os africanos vieram

de três grandes regiões: Costa Oriental56, Costa Ocidental da África (Costa da Mina)57 e da

África Centro-Ocidental58. Todavia, as fontes podem apresentar registros genéricos como

“Angola”, “Luanda” e “Cassange”, lugares conhecidos como mercados de escravos. Um

trabalho interessante é o de Mariza Soares59, o qual buscou compreender as variações da

identidade “Mina”, pois apresentava aspectos diferentes no Sudeste e na Bahia. Nesta, eles

possuíam identidades separadas por ser proporcionalmente mais numerosos. Já no Sudeste,

a autora concluiu que, os “Mina” foram identificados como todos os africanos da Costa

55 FLORENTINO, Manolo. Em Costas Negras: uma história do tráfico de escravos entre a África e o Riode Janeiro. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. KARASCH, Mary. A vida dos escravos no Rio deJaneiro, 1808-1850. São Paulo: Companhia das Letras, 2000. MAMIGONIAN, Beatriz G. Do que “opreto mina” é capaz: etnia e resistência entre africanos livres. In: Afro-Asia, 24 (2000), pág.71-95.OLIVEIRA, Maria Inês Côrtes de. “Viver e Morrer no Meio dos Seus: Nações e Comunidades Africanasna Bahia do Século XIX”. In: Revista USP, n° 28, pp. 174-93, 1996. OLIVEIRA, Maria Inês Côrtes de.“Quem Eram os ‘Negros da Guiné’? A Origem dos Africanos da Bahia” . In: Afro-Ásia, no 19-20, 1997(1999). SLENES, Robert W. “Malungu, ngomavem!”: África coberta e descoberta do Brasil. In: Revistada USP n°12. (1991/1992). pp. 48-67. SLENES, Robert W. Na Senzala, uma Flor: Esperanças eRecordações na Formação da Família Escrava - Brasil Sudeste, século XIX. Rio de Janeiro: NovaFronteira, 1999. SOARES, Mariza de Carvalho. Os Mina em Minas: Tráfico Atlântico, Redes deComércio e Etnicidade. Anais do XX Simpósio Nacional da ANPUH - História: São Paulo:Humanitas/Anpuh, 1999, p. 689-685. SOARES, Mariza de Carvalho. Mina, Angola e Guiné: Nomesd’África no Rio de Janeiro Setecentista. Tempo3 (1998). pp. 73-93. VERGER, Pierre. Fluxo e refluxo dotráfico de escravos entre o Golfo do Benin e a Bahia de todos os santos: dos séculos XVII a XIX. Brasília:Ministério da Cultura, 1987.

56 A Costa Oriental do continente africano é banhada pelo Oceano Índico e compreende as regiões deMoçambique, Sudão, Egito, Etiópia, etc.

57 Também é conhecida como costa dos escravos, ilustrada pelas culturas dos povos ioruba ou nagô.Atualmente compreende os territórios da Nigéria, Benim, Togo, Gana e Costa do Marfim.

58 Formada pelas regiões de Congo, Angola, Cabo Verde, Camarões, São Tomé e Príncipe, etc. 59 SOARES, Mariza de Carvalho. Devotos da cor: identidade étnica, religiosidade e escravidão no Rio de

Janeiro, século XVIII. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.

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Ocidental. Ademais, segundo Mary C. Karasch60, embora a etnia incluísse também os

iorubas, aussás, tapas e outros grupos, eles compuseram menos de 7% da população de

escravos e africanos no Rio de Janeiro oitocentista. Tendo em vista os aspectos observados,

os tutelados enviados à fábrica de ferro, entre o período 1835 a 1849, eram em grande parte

provenientes das regiões da África Central e Centro- Ocidental, prevalecendo o grupo

mina, extremamente importantes no processo da diáspora.

Conclusão

O texto apresentado foi apenas um recorte da atual pesquisa de Mestrado, a qual

ainda há questionamentos, análises e considerações a realizar. Por sua vez, a historiografia

ainda carece de estudos que deem ênfase ao cotidiano desses trabalhadores, suas origens

étnicas, seu modo de viver, pensar e agir durante sua atuação nos empreendimentos

públicos ou particulares. Assim, a importância do presente trabalho encontra-se no

aprofundamento da experiência desses africanos (livre de direito, escravos de fato) na

fábrica, ou seja, costumes, resistências, conflitos e solidariedades. Por conseguinte, tal

estudo pode vir a recuperar um fragmento do mundo do trabalho compulsório, no século

XIX, visto que a consciência dos tutelados da sua condição oficial de não escravo era usada

como premissa para suas reivindicações; encarando-os como sujeitos históricos e atuantes à

resistência do sistema escravista, podendo assim, somar-se aos estudos referentes à

escravidão e liberdade dos povos africanos e afro-brasileiros.

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