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Revista de Administração da Unimep E-ISSN: 1679-5350 [email protected] Universidade Metodista de Piracicaba Brasil de Alencar Rodrigues, Tonny Kerley; Moreira Casotti, Leticia SIGNIFICADOS DO AUTOMÓVEL NA MÚSICA: ESPAÇO DE DIVERSÃO, COMPONENTE IDENTITÁRIO E HIERARQUIA DE GÊNERO Revista de Administração da Unimep, vol. 15, núm. 2, mayo-agosto, 2017, pp. 179-209 Universidade Metodista de Piracicaba São Paulo, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273752467008 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Redalyc.SIGNIFICADOS DO AUTOMÓVEL NA MÚSICA

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Revista de Administração da Unimep

E-ISSN: 1679-5350

[email protected]

Universidade Metodista de Piracicaba

Brasil

de Alencar Rodrigues, Tonny Kerley; Moreira Casotti, Leticia

SIGNIFICADOS DO AUTOMÓVEL NA MÚSICA: ESPAÇO DE DIVERSÃO,

COMPONENTE IDENTITÁRIO E HIERARQUIA DE GÊNERO

Revista de Administração da Unimep, vol. 15, núm. 2, mayo-agosto, 2017, pp. 179-209

Universidade Metodista de Piracicaba

São Paulo, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=273752467008

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Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto

Revista de Administração da UNIMEP. v.15, n.2, Maio/Agosto - 2017 ISSN: 1679-5350 DOI :

Revista de Administração da UNIMEP – v.15, n.2, Maio/Agosto – 2017. Página 179

SIGNIFICADOS DO AUTOMÓVEL NA MÚSICA: ESPAÇO DE DIV ERSÃO,

COMPONENTE IDENTITÁRIO E HIERARQUIA DE GÊNERO

CAR MEANINGS IN MUSIC: SPACE FOR FUN, IDENTITY COMPONENT AND

HIERARCHY OF GENDER

Tonny Kerley de Alencar Rodrigues (COPPEAD) [email protected]

Leticia Moreira Casotti (COPPEAD) [email protected]

Endereço Eletrônico deste artigo: http://www.raunimep.com.br/ojs/index.php/regen/editor/submissionEditing/1358

Resumo

Pesquisas encontradas na área de comportamento do consumidor que utilizam a música como

um elemento de interpretação estão essencialmente centradas na compreensão de aspectos

relacionados à musicalidade e/ou sonoridade em anúncios publicitários e como isso leva o

consumidor a comprar determinado produto. Utilizando uma abordagem qualitativa,

amparada no paradigma interpretativo e na família de perspectivas teóricas que formam a

Consumer Culture Theory (CCT), essa pesquisa buscou, na música, compreender os

significados culturais do automóvel construídos em suas letras. Este estudo interpreta

narrativas de músicas do gênero forró, um estilo musical típico do nordeste brasileiro. Foram

selecionados os forrós que falam dos automóveis, um bem de consumo de forte dimensão

simbólica que detém a capacidade de transmitir significados aos seus compradores e que

envolve questões de natureza emocional e subjetiva em seu processo de consumo. Para a

elaboração dessa pesquisa, inicialmente, foi realizada uma busca nos principais sites

especializados no gênero musical em questão, a fim de obter material para essa pesquisa. A

partir da análise de 28 músicas do gênero forró, utilizando a tradição hermenêutica de

interpretação textual, a investigação se concentrou na compreensão do conteúdo semântico

das músicas como relatos de uma cultura que produz e consome seus significados. A escolha

por estas 28 músicas se justifica pela grande divulgação em rádios e meios midiáticos, já que

juntas ultrapassaram 30 milhões de downloads em sites especializados e 42 milhões de

visualizações no Youtube. As letras de músicas trouxeram faces de um universo simbólico

ainda não explorado em pesquisas anteriores, que buscaram compreender significados sociais

e culturais do automóvel. A análise desses textos culturais estimula a busca de novos

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caminhos simbólicos a serem percorridos dentro dos estudos de consumo. Os achados podem

auxiliar as empresas que lidam com a categoria de produto de forma mais ou menos direta.

Confrontar o posicionamento dos automóveis nas práticas de mercado versus o

posicionamento das músicas de forró parece ser uma direção interessante para reflexão. Outro

interesse desses achados de pesquisa se destina às políticas públicas, cuja preocupação é

justamente o combate às duas práticas que aparecem como complementares nas letras das

músicas: dirigir e consumir bebidas alcoólicas, o que traz grandes prejuízos econômicos e

sociais. Assim, a pesquisa destaca que o automóvel aparece nesses textos culturais como um

espaço de entretenimento, capaz de promover diferentes tipos de transformação ou libertação

a partir da sua posse. Os achados sugerem que o carro parece promover diversão, demarcação

entre os gêneros e a complementação de acessórios que viabilizam a transformação do design

original do produto, além de projetar/potencializar a identidade do proprietário que é

beneficiado com relacionamentos sociais bem sucedidos.

Palavras-chave: Cultura e consumo; Textos culturais; Música; Forró; Automóvel.

Abstract

Researches found in the area of consumer behavior that use music as an element of

interpretation are essentially centered on the understanding of aspects related to musicality

and/or sound in advertisements and how this leads the consumer to buy a certain product.

Using a qualitative approach, based on the interpretive paradigm and the family of theoretical

perspectives that form the Consumer Culture Theory (CCT), this research sought in music to

understand the cultural meanings of the car built in its lyrics. This study interprets musical

narratives of the genre forró, a musical style typical of the Brazilian northeast. Forró was

chosen to speak of automobiles, a consumer good of symbolic dimension that has the capacity

to convey meanings to its buyers and that involves issues of an emotional and subjective

nature in their consumption process. For the elaboration of this research, initially, a search

was made in the main sites specialized in the musical genre in question, in order to obtain

material for this research. From the analysis of 28 songs of the genre forró, using the

hermeneutic tradition of textual interpretation, the investigation focused on the understanding

of the semantic content of songs as reports of a culture that produces and consumes their

meanings. The choice for these 28 songs is justified by the great publicity in radios and

media, since together they surpassed 30 million downloads in specialized sites and 42 million

views in Youtube. The lyrics brought faces of a symbolic universe not yet explored in

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previous research, which sought to understand social and cultural meanings of the automobile.

The analysis of these cultural texts stimulates the search for new symbolic paths to be covered

within the studies of consumption. The findings can help companies dealing with the product

category more or less directly. Confronting the positioning of automobiles in market practices

versus the positioning of forró's music seems to be an interesting direction for reflection.

Another interest of these research findings is for public policies, whose concern is precisely to

combat the two practices that appear as complementary in the lyrics of the songs: driving and

consuming alcoholic beverages, which brings great economic and social damages. Thus, the

research highlights that the automobile appears in these cultural texts as an entertainment

space, capable of promoting different types of transformation or liberation from its

possession. The findings suggest that the car seems to foster fun, gender demarcation, and

accessory complements that enable the transformation of the original product design, as well

as designing/enhancing owner identity that benefits from successful social relationships.

Keywords: Culture and consumption; Cultural texts; Music; Forró; Car.

Artigo recebido em: 02/01/2017 Artigo aprovado em: 07/07/2017

Introdução

A análise de textos culturais nos estudos relativos à área de comportamento do

consumidor (ASKEGAARD, 2010; HIRSCHMAN, 1988, 2000; HIRSCHMAN; SCOTT;

WELLS, 1998; HOLBROOK, 2004, 2005, 2007, 2008; HOLBROOK; GRAYSON, 1986),

destacam músicas, filmes, programas de televisão, anúncios e a literatura como veículos de

construção de significados simbólicos que podem influenciar nas práticas de consumo de

diferentes categorias de bens e serviços, por meio das imagens e narrativas que os

representam.

Especificamente, ao analisar pesquisas na área de comportamento do consumidor, que

têm na música seu foco de interpretação, foi possível encontrar investigações preocupadas em

compreender a musicalidade em textos publicitários e sua participação no processo de

indução do consumidor a um determinado ato de consumo (GORN, 1982; MILLIMAN,

1982); estudos que relacionavam a música à diminuição do stress e aumento da produtividade

dos trabalhadores (KELLARIS; COX, 1989; MILLIMAN, 1986; STUART; SHIMP; ENGLE,

1987); e estudos que apresentavam a música com noções de cultura associada a outros textos

culturais como o cinema (HOLBROOK, 2004, 2005, 2007, 2008).

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No entanto, pesquisas que buscam entender as letras das músicas como narrativas da

cultura de quem as produz e consome, ou, mais especificamente, como fonte alternativa para

a compreensão da cultura de consumo de determinada categoria de produtos, não são comuns

nesse campo de investigação (ASKEGAARD, 2010), e foi diante dessa lacuna teórica

(ALVESSON; SANDBERG, 2011) que esta pesquisa se desenvolveu.

Este estudo interpreta narrativas de músicas do gênero forró, um estilo musical típico

do nordeste brasileiro. Foram selecionados os forrós que falam dos automóveis, um bem de

consumo de forte dimensão simbólica que detém a capacidade de transmitir significados aos

seus compradores e que envolve questões de natureza emocional e subjetiva em seu processo

de consumo (BELK, 2004; BELK; BAHN; MAYER, 1982; BELK; GER; ASKEGAARD,

2003; FRANCA; CASOTTI; FARIA, 2013; HIRSCHMAN, 2003).

Como as letras de músicas, do gênero forró, podem oferecer contribuições que

permitam compreender aspectos associados à cultura de consumo de automóveis? Essa

pesquisa busca compreender significados culturais e sociais construídos nas letras das

músicas que são inspiradas, não apenas no imaginário, mas também nas práticas de consumo,

como sugere McCracken (1987) em seu modelo de movimento dos significados.

Para atender aos objetivos estabelecidos nesse estudo, adotou-se uma abordagem

qualitativa e interpretativa (DENZIN; LINCON, 2000; ROCHA; ROCHA, 2007) que se

utilizou de dados secundários, ou seja, as letras de músicas de forró. Este estudo de textos

culturais se insere na família de perspectivas teóricas que formam a CCT (ARNOULD;

THOMPSON, 2005, 2007). Foram selecionadas 28 músicas do gênero forró, adotando a

concepção de Hirschman, Scott e Wells (1998) de que esses textos culturais representam

dados secundários produzidos e propagados pela própria sociedade. Utilizou-se ainda

referências teóricas da tradição hermenêutica de interpretação textual para a análise desse

material (PRASAD, 2005).

Textos Culturais: uma abordagem inicial

Dentre a gama de conhecimentos que emergiram de uma nova lente lançada sob o

fenômeno do consumo, cabe destacar o maior interesse conferido à interpretação da relação

entre os textos e as práticas expressivas desenvolvidas pela cultura, ou seja, seus sinais e

convenções comunicativas (MICK, 1986). Assim, músicas, filmes, anúncios, programas de

televisão e a literatura– textos culturais – passam a ser foco de análise de estudiosos do

consumo pela sua capacidade de absorver e comunicar significados representativos da cultura

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(HIRSCHMAN, 1988, 2000; HOLBROOK; GRAYSON, 1986).

Textos culturais podem ser entendidos como representações da cultura e das

concepções formadas e propagadas pelo meio social. Dessa forma, crenças e valores,

codificados por meio de imagens ou narrativas, falam muito sobre a cultura de quem produz e

consome esses textos. A cultura codificada nas cenas de um filme ou mesmo nas letras de

uma canção, por trás de seu caráter de entretenimento, escondem características e

particularidades que identificam grupos sociais (HIRSCHMAN; STERN, 1994). Além disso,

textos culturais também têm a capacidade de “vestir” os produtos físicos de conteúdo

simbólico, o que lhes confere maior valor econômico no mercado (STERN, 1996).

Há uma dinâmica capaz de construir associações simbólicas e fornecer interpretações

acerca dos significados dos produtos e de seu modo de uso originada dos textos culturais

produzidos por constantes relações com o mundo culturalmente constituído, influenciando e

sendo influenciado pelas ações cotidianas (MCCRACKEN, 1987). Essas narrativas derivam

do corpo de práticas em torno do consumo de determinado objeto, ou seja, o corpo existente

de práticas é o material da vida cotidiana que vai originar representações, mas que, por outro

lado, também se desdobra em um modelo de comportamento que influencia práticas de

consumo de determinados produtos (HIRSCHMAN; SCOTT; WELLS, 1998).

Os textos culturais, além de representarem elementos identitários de uma sociedade,

ainda são capazes de sugerir e influenciar comportamentos que podem ser adotados pelos seus

membros, como defendem Hirschman (2000) e Russell e Stern (2006). Ambos observaram

que os consumidores de filmes e séries de televisão incorporam essas narrativas culturais em

suas vidas, tomando-as como suporte para muitos de seus comportamentos não apenas de

consumo, mas de um estilo de vida em geral.

No Brasil, alguns estudos têm sido desenvolvidos de modo a evidenciar as

representações simbólicas do consumo, codificadas por meio de textos culturais (ABRÃO,

2009; CAMPOS, 2009; FARIA; CASOTTI, 2012; SILVA, 2008; SUAREZ, MOTTA;

BARROS, 2009). O trabalho de Suarez, Motta e Barros (2009) ilustra a relação entre os textos

e práticas culturais. Os autores analisaram as relações de consumo apresentadas em um

seriado de TV “A Diarista” para compreender mensagens que o seriado transmite sobre

representações do consumo das classes mais baixas. Diversas vezes, a diarista, que representa

uma camada mais baixa da população, é sempre “castigada” quando tenta usufruir de novos

bens e serviços consumidos pelas classes sociais mais altas, sugerindo uma divisão de bens e

serviços adequados ou possíveis entre classes sociais. As telenovelas brasileiras também

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foram o objeto de análise nos estudos de Silva (2008), Abrão (2009) e Faria e Casotti (2014).

Em meio à riqueza de análise do consumo em textos culturais de filmes de propaganda

e cinema, novelas e séries de TV, nosso destaque recai nas músicas como narrativas. A seguir

trazemos contribuições de outros estudos na área de comportamento do consumidor que

usaram a música como contexto de pesquisa.

Textos Culturais: a Música nos Estudos de Consumo

A música se constitui um dos mais importantes elementos identitários da cultura de

um povo, além de representar um caminho para se refletir sobre a relação entre indivíduo e

sociedade (SETTON, 2009). Diferentes gêneros musicais destacam maneiras distintas de

indivíduos e grupos sociais se reconhecerem e se situarem em contextos sócio-culturais

específicos (DREWETT, 2008; MORCOM, 2008; OLSEN; GOULD, 2008). No entanto,

interpretações destinadas a entender a música como uma forma de gerar insights sobre a

cultura de consumo são ainda um horizonte de investigação a ser explorado (ASKEGAARD,

2010).

Holbrook (2008) e Askegaard (2010) destacam que poucos foram os pesquisadores

que se debruçaram sobre esta vertente de representação cultural para fornecer-lhe uma

compreensão mais aprofundada. Encontramos em periódicos da área de marketing, os

trabalhos pioneiros de Gorn (1982) e Milliman (1982), os estudos de Holbrook e Hirschman

(1993), Holbrook (2004; 2005; 2007; 2008) e Askegaard (2010), além de uma edição

especial, em 2008, da revista Consumption, Markets and Culture (BRADSHAW;

SHANKAR, 2008; DREWETT, 2008; HESMONDHALGH, 2008; HOLBROOK, 2008;

MORCOM, 2008; OLSEN; GOULD, 2008) voltada inteiramente às investigações dentro do

escopo da música. Esses trabalhos sugerem o interesse de utilizar “novas lentes” na

observação do “mundo dos bens” como já sugeriram os antropólogos Douglas e Isherwood

(1978). Os estudos a seguir são exemplo dessa busca, pois procuram compreender a relação

existente entre as produções musicais e “o mundo dos bens”.

Os primeiros estudos da área de marketing relacionados à música, como os de Gorn

(1982), Milliman (1982, 1986) e Kellaris e Cox (1989), eram orientados à compreensão da

música de fundo (background music) em anúncios publicitários e seus efeitos, como um

recurso capaz de insinuar determinados aspectos do produto e influenciar na atitude e no

comportamento de consumo. Esses estudos, embora importantes para o desenvolvimento da

temática, não investigaram a música do ponto de vista de suas influências culturais, e

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destacavam a música como um estímulo apenas afetivo e não como estímulo semântico

(HOLBROOK, 2005; SCOTT, 1990)

Scott (1990), em sua pesquisa sobre música e publicidade, forneceu novas diretrizes

aos estudos do comportamento do consumidor, ao utilizar uma abordagem que descreve a

música com base em noções de cultura, retórica e ação simbólica. Para esse autor, a música é

capaz de estruturar o tempo e simular movimento em anúncios publicitários, ou seja,

desempenha uma variedade de funções para a tarefa retórica geral da publicidade. Dessa

forma, as interpretações dessa representação cultural deixam de ser idiossincráticas, e passam

a ser socialmente compartilhadas.

A contribuição do estudo de Scott (1990), publicado no Journal of Consumer

Research, parece abrir espaço para os trabalhos de Holbrook e Hirschman (1993), Holbrook

(2004, 2005, 2007, 2008) onde a análise de músicas passa, de fato, a ser realizada com foco

em aspectos culturais. Holbrook é reconhecido por Askergaard (2011) como pioneiro na

utilização de produtos culturais – seja música, cinema ou ambos – para formular insights

sobre a cultura de consumo. Holbrook (2004; 2005) analisou a música ambidiegética, recurso

sonoro que acrescenta profundidade a um personagem por meio de associações simbólicas

relevantes, capazes de enriquecer uma cena, bem como conferir a um personagem mais velho

vivacidade e juventude.

Yazicioglu e Firat (2008) construíram identificações simbólicas quanto à utilização

de músicas em movimentos sociais. Nessa mesma linha de estudos musicais com ênfase em

ideologias culturais e impactos sociais destaca-se a edição especial da revista Consumption,

Markets and Culture, em 2008. Os estudos que analisam o impacto da música em contextos

como o cenário político do Tibete (MORCOM, 2008), as relações sociais e de gênero na

Jamaica (OLSEN; GOULD, 2008) e o período pós-apartheid na África do Sul (DREWETT,

2008) permitem compreender o ato de fazer e ouvir música como uma produção e consumo

de significado social.

O estudo de Askegaard (2010) oferece outra contribuição aos estudos musicais, ao

destacar as letras das canções como uma janela para o entendimento de aspectos da cultura de

consumo em geral. Ele analisa um conjunto de letras de canções da banda californiana The

Beach Boys, dos anos 1960, conhecidos como verdadeiros mensageiros de um estilo de vida

hedonista. Ao suscitar essa discussão, o autor explora a cultura de consumo contemporânea e

os rituais de consumo associados aos automóveis.

No Brasil, país com reconhecida riqueza cultural de sua produção musical, foram

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poucos os estudos encontrados que trazem a música dentro da perspectiva da cultura de

consumo (CORRÊA, 2011; MONTEIRO, 2013; SCHOTT; CUPOLILLO; SUAREZ, 2014;

SUAREZ, 2010).

Alguns estudos encontrados na literatura de marketing internacional e brasileira

mostram como representações de experiências de consumo cotidianas podem ser descritas em

textos musicais. A música, carregada de códigos e símbolos, está inserida em um sistema

complexo para ser interpretada por sua subjetividade de forma singular (ASKEGAARD,

2010; LARSEN; LAWSON; TODD, 2009; 2010; HIRSCHMAN, 1988, 2000;

HIRSCHMAN; SCOTT; WELLS, 1998; HOLBROOK, 2004; 2005; 2007; 2008;

HOLBROOK; GRAYSON, 1986). A música pode evidenciar, em sua composição, conteúdos

simbólicos capazes de expressar sentimentos e/ou de influenciar ações (HOLBROOK, 2004,

2005, 2007, 2008). Textos musicais que envolvem significados e práticas de consumo podem

auxiliar a compreender o consumo (ARNOLD; THOMPSON, 2005; 2007).

A Pesquisa e o Forró

Nesse estudo, adotou-se uma abordagem qualitativa na coleta e análise dos dados, a

fim de compreender significados construídos em relação à categoria de automóveis em textos

culturais, mais especificamente nas letras musicais do ritmo forró. A natureza e os objetivos

da investigação conduzem à utilização de técnicas interpretativas, no intuito de permitir a

identificação de elementos sociais e culturais em um contexto diversificado e ainda pouco

explorado (DENZIN; LINCOLN, 2000).

A escolha por uma abordagem qualitativa amparada pelo paradigma interpretativo

(DENZIN; LINCOLN, 2000; ROCHA; ROCHA, 2007) parece ainda tangenciar diferentes

dimensões da CCT, já que se utiliza dessa família de perspectivas teóricas, que abordam

relações dinâmicas entre as ações do consumidor, o mercado e os significados culturais, para

compreender um fenômeno que se relaciona com os seguintes conjuntos de temas em

comportamento do consumidor: a) identidade do consumidor; b) culturas do mercado; c)

padrões sócio-históricos de consumo; e d) ideologias de mercado.

Esse estudo toma por referência metodológica trabalhos como o de Mick (1986),

Hirschman (1988), Hirschman e Stern (1994), Holbrook (2005) e, principalmente, Suarez

(2010) e Askegaard (2010), uma vez que tem por proposta gerar contribuições teóricas na

interpretação de textos culturais musicais. O forró é um gênero musical típico da região

nordeste que se constituiu midiaticamente a partir das canções de artistas como Luiz Gonzaga,

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Jackson do Pandeiro e Dominguinhos (QUADROS JUNIOR; VOLP, 2005). Toda a produção

musical construiu a imagem do gênero vinculado ao sertão nordestino e suas representações

típicas, como a pobreza, a seca e o sertanejo (TROTTA, 2009a). Originalmente, o gênero se

dedicou a retratar, por meio de suas canções, a realidade do povo do nordeste, sendo

frequente, nessas músicas, a presença do dialeto regional, expressões linguísticas e fonéticas

características desse povo (FERNANDES, 2008).

No entanto, a dinâmica do gênero musical passou por mudanças consideráveis,

assumindo, então, outras denominações como forró elétrico e forró universitário. O consumo

de objetos de valor, como carros, mansões e bebidas alcoólicas, está presente em suas letras e

guarda semelhança com mudanças ocorridas no funk em São Paulo e no Rio de Janeiro, como

o chamado funk ostentação (ANTONACCI; MARCELINO, 2013) e adaptações da música

sertaneja nos grandes centros urbanos, que passou a ser conhecida como sertanejo

universitário (ALONSO, 2011a).

As mudanças do forró e outros gêneros, como o funk e a música sertaneja, indicam o

distanciamento desses gêneros musicais de suas origens sócio-culturais. A necessidade de se

adaptarem à indústria fonográfica parece ter sido um importante condicionante para essas

mudanças (ALONSO, 2011b): o funk incorporou hits de exaltação à riqueza, marcas e

produtos de luxo e a diversão (ANTONACCI; MARCELINO, 2013); a música sertaneja se

distanciou da realidade do universo rural (ALONSO, 2011a; ALONSO, 2011b) e canta, por

exemplo, um modelo de carro, o Camaro amarelo. Já o forró deixou de representar a realidade

do sertão nordestino e passou a cantar os comportamentos e consumo dos grandes centros

urbanos (TROTTA, 2009a). Destaca-se que este aspecto adquirido, especificamente, pelo

forró foi determinante para sua escolha nesta investigação.

Para a elaboração dessa pesquisa, inicialmente foi realizada uma busca nos principais

sites especializados no gênero musical em questão (portal do forrozão; forró dicumforça;

planeta forró; forró para o Brasil; estação forró; e portal do forró), a fim de obter material para

essa pesquisa. Foram encontradas, inicialmente, 41 músicas que faziam alguma menção à

categoria de produtos “automóvel” dentro do gênero estudado. No entanto, o objetivo era

analisar canções em que o carro apresentasse um papel de destaque dentro da narrativa

selecionada, ou seja, que permitisse uma análise apurada do fenômeno; então, destas 41

músicas encontradas inicialmente, apenas 28 detinham essa peculiaridade e, diante disso,

representaram o objeto de análise desse estudo.

A escolha por estas 28 músicas se justifica pela grande divulgação em rádios e meios

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midiáticos, já que juntas ultrapassaram 30 milhões de downloads em sites especializados e 42

milhões de visualizações no Youtube. Além disso, essas músicas representam um material

disponível e de fácil acesso em meios eletrônicos para estudiosos que queiram tomar como

suporte os resultados aqui apresentados para a formulação de outros estudos e para

pesquisadores que desejem refazer o mesmo caminho metodológico e avançar essa pesquisa.

Essa disponibilidade de acesso ao material utilizado na pesquisa foram destacados em outros

estudos de textos culturais (HIRSCHMAN, 2000; SUAREZ; MOTTA; BARROS, 2009).

É importante destacar que, apesar da popularidade dos textos musicais nas mídias

eletrônicas, bem como uma ampla divulgação em rádios, os shows ao vivo de forró são o

principal meio de promoção dessas músicas. Algumas bandas realizam uma média de 25

apresentações por mês, cobrando cachês que ultrapassam cem mil reais, com média de

público de 15 mil pessoas por show (FORROZÃO NA NET, 2013). Na análise, as músicas

são identificadas com o título, seguido do nome do cantor ou banda e do ano da primeira

gravação. A tabela 1 a seguir reúne informações das músicas analisadas e traz os consumos de

bens e serviços mencionados na letras.

Tabela 1 – As músicas utilizadas no estudo e suas características

Ano Música Quem canta? Bens e serviços

mencionados

Visualizações

no Youtube

2014 Playboy Fazendeiro Mano Walter Gado, Uísque e Cerveja. 910.954

2013 As mina curte e bebe Banda Garota

Safada

Bebidas Alcoólicas em

geral.

96.880

2013 Garagem Milionária Forró Estourado Entretenimento. 1.160.199

2013 Meu Carro Virou Bar Banda Farra de

Rico

Bebidas Alcoólicas em

geral.

67.490

2013 O Empresário Forró Pegado Cordão de ouro e

bebidas alcoólicas.

496.273

2013 O show Terminou Gabriel Diniz Cerveja, Uísque e Som

automotivo

171.921

2012 Abra a mala e solta o

som

Banda Garota

Safada

Som automotivo. 112.129

2012 Beleza e Riqueza Forró Estourado Champagne, cerveja e

camarote.

39.601

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2012 Eike Batista Forró Estourado Cobertura em frente ao

mar, helicóptero, viagem

a Disney e Cassinos.

412.567

2012 Motel Disfarçado Aviões do Forró Bebidas Alcoólicas em

geral.

7.499.930

2012 Quem paga minha

faculdade

Aviões do Forró Faculdade. 648.112

2012 Resposta do Motel

Disfarçado

Forró Pegado Motel, Mansão e Uísque. 107.145

2012 Rico e Solteiro Forró Pegado Casa na praia. 48.492

2012 Saveiro do Papai Gabriel Diniz Cerveja. 50.367

2012 Tem que ter carrão Chapahalls do

Brasil

Entretenimento 63.849

2012 Vai a pé que eu vou de

Carro

Forró Pegado Uísque, relógio

importado, cordão de

ouro.

642.137

2012 Vida Mais ou Menos Banda Luxúria Uísque 1.483.5413

2011 A festa começou Banda

Estakazero

Bebidas Alcoólicas em

geral.

272.627

2011 Carro Pancadão Banda Garota

Safada

Rodão, suspensão a ar,

vidro fumê, teto solar,

DVD, GPS e turbina.

3.804.669

2011 Combate Mundial de

Som

Forró Estourado Som automotivo. 629.719

2011 Eu era feio agora tenho

um carro

Aviões do Forró Entretenimento. 2.589.804

2011 Sou Playboy Forró Estourado Cerveja e ouro. 52.301

2010 Tem que ter carrão Forró Estourado Som automotivo. 59.769

2009 Abre o som Bonde do

Maluco

Cerveja. 1.843.245

2008 Carro de Playboy Banda Garota

Safada

Som automotivo, DVD. 648.125

2008 Carro de Apaixonado Companhia do Cerveja e Som 333.960

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Revista de Administração da UNIMEP – v.15, n.2, Maio/Agosto – 2017. Página 190

Calypso automotivo.

2007 Vai a pé Aviões do Forró Uísque, DVD, aro

cromado,

372.872

2007 Zoar e Beber Banda os Kara

de Carrão

Cerveja. 4.781.913

Dessa forma, para análise do conteúdo cultural das letras das músicas foram utilizadas

referências da tradição hermenêutica de interpretação textual. Além de ser uma técnica muito

difundida em pesquisas qualitativas (PRASAD, 2005), a adoção da hermenêutica, como

tradição interpretativa textual nesse estudo, se deu em decorrência de ela considerar que a

linguagem representa muito mais do que uma grande coleção de palavras e regras gramaticais.

Para a hermenêutica, a linguagem é um sistema de significados inter-relacionados que

fornecem um quadro culturalmente compartilhado de referências (PRASAD, 2005;

THOMPSON; POLLIO; LOCANDER, 1994). Desse modo, conforme destaca Prasad (2005,

p. 31) “a hermenêutica representa o processo de explicar e esclarecer textos, com a intenção

de tornar o obscuro mais óbvio”.

O estudo segue, portanto, a orientação de Prasad (2005), quando interpreta as letras

das músicas por meio de uma análise criteriosa de suas narrativas, tomadas como discursos do

meio social, o que evidencia muito mais que simples concepções sobre uma categoria de

produtos, mas traz à luz significados que permitem um melhor entendimento sobre a cultura

de consumo em geral.

Destaca-se que o objetivo dessa análise vai além da verificação da influência da

musicalidade/sonoridade sobre a atitude de consumidores e práticas de consumo em geral,

como defendido nos estudos de Gorn (1982) e Milliman (1986), já que nessa investigação os

esforços se concentram na compreensão do conteúdo semântico das músicas como relatos de

uma cultura que produz e consome seus significados.

Principais Achados da Pesquisa

Uma breve observação da tabela 1, onde estão os títulos das músicas selecionadas,

permite caracterizar o consumidor de carro que está no imaginário dos compositores das

músicas de forró. De acordo apenas com os nomes atribuídos às músicas de forró, o carro é

um produto superlativo, ou seja, ele é um “carrão pancadão”, que pertence a alguém rico

(empresário ou playboy fazendeiro) e solteiro. Esse “carrão” de rico vem também associado a

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outros consumos tanto de espaços de luxo (“camarote”, “cobertura de frente pra praia”)

quanto de bebidas sofisticadas (“champanhe”, “whisky”). Para que consumir tudo isso?

“Curtir”, “zoar” e conquistar as mulheres. Estão aí resumidos alguns ingredientes que já

sinalizam que “a festa” do forró vai começar.

A descrição e interpretação das letras das músicas trazem diferentes perspectivas

relacionadas ao consumo e utilização do automóvel que serão analisadas a seguir: “a festa” ou

a posse do automóvel como espaço de entretenimento; a posse do automóvel como promotora

de mudanças pessoais e sociais e a posse do automóvel associada às relações de gênero.

Posse do carro como espaço de entretenimento: “a festa vai começar”

Poucas músicas associaram o carro à sua tradicional função de transporte. Em meio ao

conjunto de canções analisadas, pudemos encontrar apenas alguns exemplos de que o carro é

útil para “levar” alguém ou para “dar um rolé”, expressões que indicam a funcionalidade

desse bem de consumo.

Predominam nas letras analisadas de forró, no entanto, situações de uso do automóvel

que o distanciam de sua funcionalidade associada ao benefício da mobilidade. O carro

descrito no forró é usado como o próprio entretenimento e não como o objeto que pode

transportar o consumidor para seus locais de entretenimento. Ainda que o carro não seja um

espaço que se imagina típico de uma festa, alguns usos descritos desse bem de consumo nas

músicas de forró trazem componentes que não podem faltar em uma boa festa: pode servir de

bar para as bebidas, pode trazer um som “pancadão” em seu “paredão” e também atrair a

“mulherada”. Tudo isso faz do carro um gatilho para “começar a festa” ou faz do carro a

própria festa. As músicas falam, por exemplo, do carro como o bar da festa, pois ele gela as

bebidas no freezer colocado em seu porta-malas ou do capô que pode virar uma mesa de bar.

Combinado com música, bebida e a “mulherada” o carro cantado no forró é o promotor da

festa.

“O show terminou/ e eu alcoolizado/chamei a galera, tá tudo preparado/

compramos uísque / caixa de cerveja/ e os capôs dos carros

transformamos em mesa [...]” (O show terminou, Gabriel Diniz, 2013,

grifo nosso).

“[...] Botei um freezer no meu carroôôô/ um som irado o meu carro é

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um show/botei um freezer no meu carro aaa/fim de semana meu carro

virou bar [...]” (A festa começou, Banda Estaka zero, 2011, grifo

nosso).

A festa promovida pelo carro pode não terminar no bar ou, mesmo, depois que a

música do “paredão” parar de tocar. O entretenimento pode continuar ainda no espaço do

carro depois que a festa acabar. O carro pode ser usado, de acordo com o próprio título da

música, como um “motel disfarçado”.

“Carro parado com vidro embaçado/Cuidado, cuidado é motel

disfarçado/Carro parado, carro balançando/ subindo e descendo tem

gente ficando (Motel disfarçado, Aviões do Forró, 2012, grifo nosso)”.

As letras analisadas parecem ainda ignorar a Lei Seca, promulgada desde 2008, que

modificou o Código de Trânsito Brasileiro. Essa lei proíbe o consumo de álcool, em qualquer

quantidade, por condutores de veículos. Desde então, o motorista que infringir essa lei pode

sofrer sanções que vão desde uma multa e suspensão da habilitação até a detenção. O forró

parece desconhecer essa lei, pois bebidas alcoólicas nas músicas analisadas aparecem quase

como produtos complementares ao automóvel. O antropólogo Roberto DaMatta, quando

analisa o comportamento dos brasileiros no volante, observa que, na cultura brasileira,

obedecer à lei pode ser visto como um sintoma de inferioridade, o que explica o fato de o bom

motorista, cumpridor da lei, ser visto como “babaca” ou, por analogia, o motorista “esperto”

seria o que burla a lei (DaMATTA, 2012). No entanto, diferente das músicas românticas do

popular cantor Roberto Carlos, que nas décadas de 1960 e 1970 cantava um carro que

acelerava para encontrar a mulher amada, esse carro do forró parece ficar mais parado e por

isso está associado a um espaço de entretenimento.

O estudo de Russell e Russell (2009), que analisa o conteúdo de produtos culturais

como programas de televisão, filmes e músicas, também faz uma referência à forte presença

de bebidas. As músicas analisadas do forró sugerem que os homens – gênero dominante no

conteúdo das letras – dirigem “alcoolizados” esse carro-bar. A quase apologia da mistura do

carro e do álcool cantada nas músicas passa distante das consequências retratadas nas

campanhas da mídia (“se beber não dirija”), que alertam sobre a perigosa mistura e sobre o

risco de ser enquadrado na Lei Seca, cada vez mais aplicada nos centros urbanos:

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“Mais o calor bateu/ vou tomar uma geladinha./Eu vou lotar

meu carro/e dar role com as gatinhas [...]” (Sou Playboy, 2011,

Forró Estourado, grifo nosso).

Russell e Russell (2009) observam que as mensagens sobre o consumo de álcool em

textos culturais podem ser positivas, negativas e mistas. Aquelas positivas geralmente estão

associadas a humor, camaradagem e encontros românticos, e as imagens negativas envolvem

associações com vícios, acidentes e morte. No forró, as bebidas alcoólicas possuem apenas

associações positivas e assumem, juntamente com o carro, o papel de combustível para a festa

e para a socialização, como indica a expressão “vou lotar meu carro”.

Além da ideia de socialização, as letras do forró ainda descrevem o carro como um

instrumento de conquista masculino, já que são descritas situações em que os homens se

aproximam das “gatinhas”, “das novinhas” e “da mulherada” ao utilizar esse bem.

Posse do carro como mudança identitária: “eu era feio, agora tenho um carro”

O antropólogo Roberto DaMatta observa que a elite brasileira sempre rejeitou a

perspectiva igualitária representada pelo transporte coletivo e que o carro foi adotado como

um símbolo de superioridade social (DaMATTA, 2012). O forró traz em seu texto uma

descrição do processo de transformação social, financeira e estética que acontece a partir da

posse do carro: o antes e o depois. O homem sem carro é cantado como “feio”, “zé ninguém”,

o “coitado”, o “otário”, o “mala”, o “vacilão”, “liso”, “triste”, já que “andar a pé” é ser

relegado ao esquecimento, à solidão, ao desprezo. Não ter carro no forró é ser socialmente

excluído, enquanto a posse do carro traz um efeito transformador para o homem que é, então,

cantado como “bonito”, “empresário”, “rico”, “feliz” e cheio de “amigos pra curtir” e

“mulherada pra namorar”.

“Eu era feio/ Agora tenho carro ôôôô/ Eu sou muito mais

feliz/ A mulherada me adora/ Tenho amigos pra curtir/ E um

carrão da hora/Minha vida mudou/Agora só penso em

diversão/ Tristeza xô, xô, xô/ Adeus solidão [...]” (Eu era feio

agora eu tenho um carro, Aviões do forró, 2011, grifo nosso).

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“[...] Quando eu não tinha carro só andava de busão/não pegava

nada não/não pegava nada não/ Tenho dinheiro e um carrão da

hora/ mulherada me ama/mulherada me adora/ tenho dinheiro

e não ando mais a pé/ na minha horta está chovendo mulher

[...]” (Tem que ter carrão, Chapahalls do Brasil, 2012, grifo

nosso).

“[...] comprei casa na praia e um carrão da hora/só porque

fiquei rico/você vem dizer que me adora [...]” (Rico e Solteiro,

Forró Pegado, 2012, grifo nosso).

As letras do forró sugerem que não é um simples carro que detém a capacidade de

transformar o homem “feio” e excluído socialmente em um homem “bonito” e com aprovação

social. O que pode promover essa mudança é o “carro novo” ou o “carrão”, que são cantados

com muitos acessórios que complementam a identificação da conquista social e da conquista

feminina, pois “a mulherada adora, pira e encosta”:

“Botei quatro rodão/ suspensão a ar/ vidro fumê/ teto

solar/power DVD/ GPS pra rodar/ botei banco de couro e uma

turbina pra voar/a mulherada quer/ a mulherada adora/ a

mulherada pira/ a mulherada encosta [...] Eu equipei meu carro

pras gatinhas enlouquecer! [...]” (Carro Pancadão, Banda Garota

Safada, 2011, grifo nosso).

“Mas elas querem carro rebaixado/que tenham turbina e aro

cromado/ela gosta de aventura/ essa mina é pirada/som

automotivo ela se amarra [...]” (Tem que ter carrão, Forró

Estourado, 2010, grifo nosso).

“[...] ele tinha um carrão irado/DVD, aro cromado/todo

rebaixado, um sonzão/tinha um teto solar [...]” (Vai a pé,

Aviões do Forró, 2007, grifo nosso).

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Os trechos de músicas acima sugerem uma distância entre o carro e o “carrão”

customizado com “rodão”, “suspensão a ar”, “vidro fumê”, “teto solar”, “DVD”, “GPS”,

“banco de couro”, “turbina”, “rebaixamento” e “som”. Essa customização pode ser entendida

como uma co-criação, já que a montadora não fornece o carro com o conjunto de itens que a

música reúne. Consumidores ou homens consumidores devem, então, customizar seus

automóveis “pras gatinhas enlouquecer!”. Belk (2004) também observou em seu estudo que a

devoção aos carros e à customização tem como objetivo exercer atração nas mulheres, já que

os entrevistados de seu estudo falam em “as mulheres ficam loucas” e “as mulheres tem uma

coisa com carros” para justificar o engajamento no processo de customização do automóvel.

As análises de Belk (2004) também mostram que a modificação do automóvel está

associada às modificações dos próprios homens pois, a cada novo acessório adicionado ao

carro, o que torna esses veículos mais atraentes visualmente, consequentemente, os seus

proprietários também se sentem mais atraentes aos olhos das mulheres. O forró canta esse

jogo de atração e sedução entre homens e mulheres a partir do “carrão” customizado. De um

lado “a mulherada quer”, “a mulherada gosta”, “a mulherada pira” e “pra ficar com elas tem

que ter carrão”. Por outro lado, os homens respondem com seus atraentes carros e acessórios

que parecem ser o “eu estendido” (BELK, 1988) do homem socialmente bem sucedido.

Outros trechos de músicas falam de um “efeito transformador” reverso, caso o

“carrão” seja perdido em uma blitz, isto é, caso a lei seja cumprida. As situações festivas com

o “carrão” e com a “mulherada” podem sofrer um revés se o carro for apreendido em uma

blitz que leva o carro e também “leva a gata”.

Vacilou a blitz pegou/tava charlando com dinheiro da prestação

do carro/se ferrou, quando o carro passou/levou as gata de

carona/ elas disseram seu otário/ Vai a pé que eu vou de

carro/vai a pé que eu vou de carro/vai otário, vai a pé que eu

vou de carro (Vai a pé que eu vou de carro, Forró Pegado, 2012,

grifo nosso).

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Posse do carro e papéis de gênero: “a novinha e o papai”

A análise de gênero é caracterizada por comparações que buscam distinguir e

aproximar diferentes gêneros nos discursos sociais (ARAÚJO, 2005). A relação de gênero

cantada nas músicas do forró destaca posições assimétricas e hierarquizadas entre as noções

de masculino e feminino. O homem cantado possui estereótipos patriarcais, de dominância e

virilidade como o “ricão”, o “patrocinador”, o “empresário”, o “pegador”, o “gostosão”, o

“papai” e o “patrão”, enquanto a mulher é retratada de maneira submissa e infantilizada como

a “mina”, a “gatinha”, a “novinha” e a “sapequinha”.

Essa concepção de dominação e superioridade masculina também pode ser

identificada em outros gêneros musicais brasileiros, como no pagode baiano

(NASCIMENTO, 2008), no sertanejo universitário (ALONSO, 2011) e no funk ostentação

(ANTONACCI; MARCELINO, 2013), bem como em representações culturais internacionais

(DUNNE, FREEMAN, SHERLOCK, 2006). As letras do forró constroem significados

socialmente positivos para os homens que têm “carrão”. Ele tem “pinta de barão”, “marca

presença”, ele é “empresário” e “patrocinador”, ele é quem “paga a conta” e que “tem moral”.

Já a mulher aparece nas letras de forró que cantam o carro como um gênero sem moral capaz

de ser atraída facilmente pelo carrão, como uma posse desejada em meio a outros produtos

como “cordão de ouro” ou “relógio importado”, ou mesmo um acessório “pra chamar muita

atenção”.

“O cara que tem moral, tem carrão e é estourado/ Quem sou eu? O

empresário! [...] Eu marco presença, só elite no meu lado/De cordão

de ouro e de carro importado/Sou patrocinador, sou eu que pago a

conta/ Mulher que anda comigo fica logo beba tonta [...]” (O

empresário, Flávio e Forró Pizada Quente, grifo nosso).

“[...] Ele só tomava uísque / tinha pinta de barão/ seu relógio era

importado e de ouro era o cordão só queria gata massa/ pra chamar

muita atenção/ o carrão ia lotado/ quase encostando no chão [...]”(Vou

a pé que eu vou de Carro, Forró Pegado, grifo nosso).

A representação do gênero feminino tem destaque reduzido nas músicas analisadas se

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comparada ao gênero masculino. As mulheres, nesses textos, recebem atributos pejorativos

(NASCIMENTO, 2008), são inferiorizadas, e infantilizadas (ROCHA, 2001) e sensualizadas

(NASCIMENTO, 2008; ROCHA, 2001). Elas aparecem de forma recorrente no diminutivo

como “novinha”, “gatinha”, “sapequinha” e “piriguete”, gíria que parece reunir as três

caracterizações diminutivas. Essas representações da mulher analisadas na música constroem

uma posição hierárquica socialmente inferiorizada em relação ao uso do carro pelo homem e

simbolizada também pelo lugar que as mulheres ocupam ou não ocupam no carro cantado no

forró: elas não dirigem o carro, vão de carona ou na caçamba.

Nas 28 músicas selecionadas a partir do tema carro, apenas uma, que é cantada por

uma mulher, traz significados diferentes em relação ao papel da mulher nesse gênero musical.

O forró “Quem paga minha faculdade” canta sentimentos de libertação e independência da

mulher. Ao invés de acessórios de luxo e bebidas alcoólicas, a voz feminina fala de “limpar a

honra”, de “não ter preço”. O estigma de inferioridade em relação aos homens, ou a

representação de mulheres que enlouquecem por causa do carrão dá lugar a uma mulher que é

dona do carro, que estuda, tem auto-confiança e quer mostrar a sua liberdade, pelo fato de não

depender do homem, ou de poder ter o que quer: “não importa o que você tem, se eu quiser eu

posso ter também”.

“Eu tenho meu carro e a minha faculdade quem paga sou

eu/Então não pense porque tem dinheiro/ Meu amor vai ser

teu./Você fala que mulher só gosta de dinheiro/ Que sentimento

feminino não é verdadeiro/ Mas hoje eu vim aqui limpar nossa

honra/Te provar que tem mulheres que você não compra/Não

importa o que você tem/Se eu quiser eu posso ter também/Eu

não tenho preço então não venha me comprar [...]” (Quem paga

minha faculdade, Aviões do forró).

Uma nova imagem da mulher? Certamente a sinalização de mudança, quando o

automóvel é reconhecidamente um demarcador do gênero masculino (BELK, 2004). Um sinal

de mudança e liberdade em meio a outras 28 músicas selecionadas que cantam uma mulher

objeto, subjugada à posse do carro.

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Posse do Automóvel na Música: Uma proposta conceitual de significados e práticas

As músicas de forró analisadas trazem, em seus conteúdos, significados culturais e

sociais associados à posse do automóvel, como representado na Figura 1. A partir desses

textos culturais, a posse do carro aparece ligada às experiências hedônicas de consumo

(“espaço de entretenimento”), que promovem reconhecimento social (“ficar bonito”) e que

são marcadoras de hierarquia entre os gêneros e/ou um instrumento libertador de padrões

sociais tradicionais impostos às mulheres. Dessa forma, o esquema conceitual representado na

Figura 1 mostra três eixos principais de significados sobre a posse do carro encontrados nas

letras de forró. Esses eixos possuem fronteiras tênues e aparecem interseções, quando

analisamos os diferentes textos musicais. Essas fronteiras e interseções estão representadas

pelos círculos em aberto dos três eixos destacados, dada a interação entre eles. Além disso, os

três eixos destacados fazem parte de um mesmo processo de consumo. As narrativas

musicais sugerem que a origem do entretenimento, da transformação identitária e da

hierarquia de gênero pode estar na customização do carro ou, dito de outra maneira, pela

busca de diferenciação do automóvel cantado no forró. Mas esses três elementos de

diferenciação podem ser vistos, também, como a motivação para que esse carro seja

customizado.

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Figura 1 - Significados da Posse do Automóvel na Música

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Com essa representação esquemática, trazemos novas lentes para compreender

significados do comportamento do consumidor de automóvel construídos em uma subcultura

brasileira e que podem ou não ter ressonância em outras regiões do país. Estudos recentes

feitos no Brasil sinalizam uma diversidade de novas questões associadas à posse do

automóvel. Mesmo quando predominam na promoção da categoria, por fabricantes e

varejistas, associações como status adquirido a partir da posse do bem, alguns consumidores

trazem em suas falas, em primeiro lugar, benefícios em relação à funcionalidade e à

mobilidade proporcionada pelo primeiro automóvel (RODRIGUES; CASOTTI, 2015). Outro

exemplo diz respeito aos problemas com endividamento e inadimplência das famílias a partir

da compra do automóvel que é pago em dezenas de parcelas, onde estão embutidos altos

juros. Os sérios problemas enfrentados parecem não abalar o imaginário de significados

positivos construídos sobre a posse do carro pelas famílias (FRANCA, 2013; FRANCA;

CASOTTI; FARIA, 2013). Também identificamos um estudo que mostra como o processo de

consumo do carro, desde sua compra até o seu descarte, possibilita compreender relações

familiares (SUAREZ; CASOTTI; MATTOS, 2013).

Estes são alguns exemplos de estudos que buscaram compreender significados e

práticas da posse do automóvel no cotidiano de indivíduos e famílias. Significados trazidos

pela análise das letras de forró são construídos a partir desse cotidiano e ou podem estar

influenciados por outros textos culturais como, por exemplo, aqueles associados às estratégias

de comunicação de fabricantes e varejistas.

Podemos inferir, partindo da proposta esquemática da Figura 1, por exemplo, que o

carro como espaço de entretenimento, como transformador da identidade e representante de

hierarquias de gênero é customizado, é o “carrão” que não sai das fábricas ou concessionárias

“montado” “diferente”, adaptado ao seu dono que quer maior interação com a categoria,

como cantam as músicas analisadas sobre o automóvel.

Qual a contribuição desse esquema conceitual? Acredita-se que ele pode inspirar

pesquisas futuras que continuem analisando textos culturais de outros estilos de música ou

outros textos originados de outras mídias. Seriam esses significados e essas experiências com

o automóvel, cantadas no forró, vivenciadas no contexto real? Também apontamos, aqui, que

os estudos que buscam analisar significados e práticas dos consumidores de automóveis no

cotidiano da vida também podem se beneficiar desse esquema conceitual como inspiração ou

guia para a construção de roteiros ou questionários de pesquisa que tragam informações que

contribuam para diferentes empresas inseridas no setor automobilístico, ainda que as

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representações do carro trazidas pelo forró não estejam condizentes, por exemplo, com o que

seria considerado um bom comportamento ao dirigir (DaMATTA, 2012).

Considerações finais

O automóvel, como retratado nas letras do forró, assumiu conotações interessantes

que, até então, não haviam sido trazidas à luz de outras análises encontradas. Estudos

anteriores com textos culturais falaram de “movimento”, “fuga”, “velocidade”, “liberdade”,

“conforto”, “autonomia”, “mobilidade” e de associações fortes com o gênero masculino. A

masculinidade construída por muitas negações, por exemplo, homem não chora ou homem

não usa a cor rosa, tem na música, tipicamente nordestina, a posse do automóvel como uma

afirmação da masculinidade. O carrão é um espaço de entretenimento e festa típico do

homem.

Esse carro do homem, no entanto, não vem pronto da fábrica. O “carrão” deve ser

customizado com uma série de acessórios. O “carrão” deve também estar acompanhado de

produtos complementares a exemplo das bebidas alcoólicas, produto politicamente incorreto,

e mulheres que aparecem nas letras de forró como objetos de consumo masculino. Esse

“macho” parece ter nesse carro customizado a sua identidade de gênero estendida, ou seja,

para ter mulherada tem que ter carrão com muitos acessórios e muita bebida para eles e para

elas na festa automotiva.

A mulher não é cantada com algum tipo de caracterização singela e delicada como as

mulheres cantadas na bossa nova brasileira ou de forma romântica, vista nos sucessos

musicais de Roberto Carlos com letras repletas de automóveis dirigidos em alta velocidade.

Não existe a mulher amada, pois as mulheres estão no plural: “mulherada”, “piriguetes”,

“gostosas” que “piram” com o carro do macho. Apenas uma exceção, cantada por uma

mulher, descreve a mulher independente e livre, que dirige o carro que ela mesma foi capaz

de pagar, assim como as parcelas da sua universidade. Um pequeno sinal de emancipação

feminina em meio às 28 músicas selecionadas.

As letras de músicas trazem faces de um universo simbólico ainda não explorado em

pesquisas anteriores, que buscaram compreender significados sociais e culturais do

automóvel. A análise desses textos culturais estimula a busca de novos caminhos simbólicos a

serem percorridos dentro dos estudos de consumo. Os achados podem auxiliar as empresas

que lidam com a categoria de produto de forma mais ou menos direta.

Confrontar o posicionamento dos automóveis nas práticas de mercado versus o

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posicionamento das músicas de forró parece ser uma direção interessante para reflexão. Outro

interesse desses achados de pesquisa se destina às políticas públicas, cuja preocupação é

justamente o combate às duas práticas que aparecem como complementares nas letras das

músicas: dirigir e consumir bebidas alcoólicas, o que traz grandes prejuízos econômicos e

sociais. Como os jovens percebem as caras campanhas de educação, prevenção e repressão de

não beber quando se está dirigindo? De que forma os textos culturais, como a música, que

mostram o carro tão próximo da bebida, podem funcionar como neutralizadores ou como uma

força oposta às campanhas, ou mesmo ao cumprimento da Lei Seca?

Analisar aspectos relacionados à cultura de consumo pode desencadear questões

complexas como essas que fogem aos limites dessa pesquisa de textos culturais. Esse estudo

pretende ser apenas uma abordagem inicial capaz de abrir margens para estudos posteriores,

que intentem se aprofundar não só em elementos representativos da cultura de consumo, mas

em outros tipos de estudos e metodologias capazes de construir informações diversas e

integradas que contribuam para o entendimento dos caminhos da categoria automóveis. Será

importante conhecer, também, os diferentes elementos que compõem o mercado dessa

categoria de produto, tais como os consumidores e produtores envoltos em questões

econômicas, legais e as difíceis questões relativas ao meio ambiente. Um exemplo recente

chama atenção. Duas músicas de forró levaram a um grande aumento de vendas de

motocicletas: o forró “pop 100”, destacando o modelo 100 cilindradas da montadora japonesa

Honda, e a música “Shineray”, que traz, já no título, a marca chinesa de motocicleta, a qual,

abertamente, se coloca como produtora do forró. A força dos textos culturais da música sendo

descoberta pelo mercado produtor? Possibilidades se seguem de novos exercícios de pesquisa

para compreender movimentos de significados que partem de textos culturais que podem

tanto incentivar quanto desestimular o consumo de categorias ou marcas específicas de

produtos.

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