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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
REVISTA ULTIMATO
JORNALISMO CRISTÃO E A OUSADIA “TEMÁTICA” EM PAUTA
ALANA KAROLINA GOIS
SÃO CRISTÓVÃO
2015
2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
REVISTA ULTIMATO
JORNALISMO CRISTÃO E A OUSADIA “TEMÁTICA” EM PAUTA
ALANA KAROLINA GOIS
Trabalho de Conclusão de Curso, em caráter
monográfico, apresentado ao Departamento de
Comunicação Social (DCOS), da Universidade
Federal de Sergipe (UFS), como pré-requisito para
a obtenção do grau de Bacharel em Comunicação
Social, Habilitação Jornalismo.
Orientador(a): Prof. Ma. Michele da Silva Tavares
SÃO CRISTÓVÃO
2015
3
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE EDUCAÇÃO E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
ALANA KAROLINA GOIS
REVISTA ULTIMATO
JORNALISMO CRISTÃO E A OUSADIA “TEMÁTICA” EM PAUTA
Banca examinadora:
_______________________________________________________
Prof. Ma. Michele da Silva Tavares
Orientadora (DCOS/UFS)
__________________________________________________________
Prof. Dr. Fernando Luiz Alves Barroso
Professor Adjunto (DCOS/UFS)
___________________________________________________________
Prof. Dr. Josenildo Luiz Guerra
Professor Adjunto (DCOS/UFS)
SÃO CRISTÓVÃO
2015
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, o grande idealizador deste sonho, que me sustentou durante
toda a construção desta monografia. A Ele, seja o Louvor, a Glória e a Honra para
sempre. À minha orientadora Michele Tavares, por ter aceitado o convite de orientar
este trabalho, e que com sua inteligência e sabedoria, conduziu de forma brilhante as
etapas desta pesquisa. À todos os professores que passaram pela minha vida e
compartilharam os seus conhecimentos. À minha mãe pelo amor, paciência,
companheirismo e cafés nas madrugadas de estudo. Aos pastores Marcos e Cláudia
Andrade por anos de instrução e ensinamentos sobre o caminhar com Deus e à Família
Renovada pela comunhão e alegria de sempre. À minha amiga Leila Renata (Leilinha)
pelo cuidado e amor de sempre. À minha amiga Roseli Silva pela disposição em ajudar
nos ajustes finais. Ao amigo e conselheiro Silas Brito pelo incentivo de sempre. Aos
amigos “jornaleiros” e à turma de Jornalismo pela aventura fantástica ao longo de
quatro anos de curso que vocês me proporcionaram, valeu muito a pena. E a todos que
de forma direta ou indireta, me apoiaram e oraram por mim.
6
RESUMO
Nesta pesquisa, apresentamos um estudo de caso sobre a revista Ultimato e o seu
jornalismo cristão. Partimos de uma reflexão sobre o contexto no qual ela está inserida,
destacando a relação entre mídia e religião e a forma como os meios de comunicação
são utilizados para propagar as mensagens evangelísticas, incluindo uma reflexão sobre
o contrato de informação cristã. Em seguida, abordamos as especificidades do
jornalismo revista, dando ênfase às possibilidades desse suporte para a divulgação dos
valores cristãos. Direcionados por estes aspectos, analisamos o posicionamento editorial
da revista Ultimato - “Sem polêmica, mas delicadamente ousada”, justificando sua
natureza como um produto do segmento editorial “jornalismo cristão”. Para isso,
traçamos uma anatomia da revista Ultimato, pontuando, através de teóricos e do próprio
objeto em análise, algumas características do tipo de jornalismo apresentado pela revista
e, por fim, observando as temáticas abordadas nas matérias de capa.
Palavras-chave: Revista Ultimato; Jornalismo Cristão; Estudo de Caso; Mídia;
Religião.
7
ABSTRACT
In this research, we present a case study on the Ultimato magazine and your Christian
journalism. We start with a reflection on the context in which it is embedded,
highlighting the relationship between media and religion and how the media are used to
propagate the gospel messages, including a reflection on the Christian information
contract. Then, we discuss the specifics of magazine journalism, emphasizing the
possibilities of support for the dissemination of Christian values. Targeted by these
aspects, we analyze the editorial position of Ultimato magazine - "Without controversy,
but gently bold", justifying its nature as a product of the publishing segment "Christian
journalism." For this, we draw an anatomy of Ultimato magazine, scoring through
theoretical and the object itself in analysis, some characteristics of the type of
journalism presented by the magazine and, finally, noting the issues addressed in cover
stories.
Keywords: Magazine Ultimato; Christian journalism; Case Study; media; Religion.
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Censo Demográfico 2010 – perfil religioso brasileiro (Fonte: IBGE)............14
Figura 2. Revistas religiosas do segmento católico. (Fonte: Acervo dos impressos)......16
Figura 3. Revistas religiosas do segmento espírita. (Fonte: Acervo dos impressos).......17
Figura 4. Revistas religiosas do segmento protestante. (Fonte: Acervo dos impressos).17
Figura 5. Jornais impressos religiosos do segmento protestante.
(Fonte: Acervo dos impressos)........................................................................................18
Figura 6. Primeira edição do Jornal Ultimato – Janeiro/1968.
(Fonte: Site/ Editora Ultimato)........................................................................................37
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. O contrato de informação do jornalismo cristão............................................27
Quadro 2. Síntese de análise das matérias de capa..........................................................47
10
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................10
CAPÍTULO 1. MÍDIA E RELIGIÃO: EVANGELIZAÇÃO DO PÚLPITO ÀS
GRANDES AUDIÊNCIAS...........................................................................................13
1.1 Os veículos de comunicação como ferramentas de evangelização...............13
1.2 O contrato de informação do jornalismo cristão...........................................20
1.2.1 O que é ser “cristão”?..................................................................20
1.2.2 Qual é o contrato de informação do jornalismo cristão?.............23
CAPÍTULO 2. ULTIMATO E O JORNALISMO EM REVISTA:
SEGMENTAÇÕES E ESPECIFICIDADES..............................................................29
2.1 O desenvolvimento da revista como veículo de informação.........................29
2.2 Delimitando as especificidades do jornalismo de revista..............................31
2.3 A revista Ultimato e seu jornalismo..............................................................36
CAPÍTULO 3. “SEM POLÊMICA, MAS DELICADAMENTE OUSADA”: UM
ESTUDO TEMÁTICO DE ULTIMATO....................................................................42
3.1 Metodologia...................................................................................................42
3.2 Resultados......................................................................................................46
CONCLUSÃO................................................................................................................51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................53
ANEXOS........................................................................................................................55
11
INTRODUÇÃO
A intensa apropriação dos meios de comunicação de massa pelas religiões cristãs
no Brasil aponta para um entendimento da eficácia destes meios na propagação e
disseminação de suas crenças e mensagens evangelizadoras, uma vez que estes veículos
midiáticos conseguem transmitir o conteúdo religioso para além dos púlpitos,
alcançando assim, um grande número de fiéis e convertidos. Porém, o poder
influenciador destes meios de comunicação, também permite que formas deturpadas da
pregação do Evangelho sejam transmitidas, desviando-se do foco principal da
mensagem do cristianismo, em detrimento do sensacionalismo e das disputas por
audiência.
Em um cenário de inúmeros produtos midiáticos religiosos, constatamos que
alguns deles, principalmente os do segmento impresso, possuem características ou
nuances jornalísticas. Por isso, a revista Ultimato, identificada como cristã, foi escolhida
como objeto de estudo por este trabalho monográfico, centralizando-se na compreensão
de como ela pode ser considerada um produto do segmento editorial denominado
“jornalismo cristão”. Embora nascida em 1976, a revista Ultimato originou-se a partir
do Jornal Ultimato, criado em 1968. Ela autodenomina-se como um produto de
comunicação evangélico, não denominacional, isto é, não se influencia por nenhuma
doutrina de denominação religiosa, e tem como objetivo principal levar evangelização e
edificação ao leitor cristão e não cristão, baseado na ideia de que toda Escritura é útil e
inspirada por Deus.
Para alcançarmos um entendimento a respeito da problemática, foi necessário
estabelecermos um caminho metodológico. Considerando a pesquisa como um estudo
de caso, destacamos no capítulo 1, a partir de uma pesquisa bibliográfica, a relação
entre mídia e religião, além de uma reflexão sobre o contrato de informação cristã, à luz
das ideias de Patrick Charaudeau a respeito do “contrato de informação”, que
juntamente com a contribuição do objeto de análise, culminou na origem das
“características do contrato de informação cristã”, que servirá de base para a análise do
comportamento editorial da revista Ultimato, no capítulo 3. Também através de
pesquisa bibliográfica, identificamos no capítulo 2, as especificidades do jornalismo de
revista, uma vez que o conteúdo de Ultimato tem como suporte a revista. E no capítulo
3, através da análise de conteúdo, procuramos entender o funcionamento e a postura
12
editorial refletida na expressão “Sem polêmica, mas delicadamente ousada”, a partir da
análise das matérias de capa.
Os resultados acerca do Jornalismo Cristão e da “ousadia” temática pautada pela
Revista Ultimato foram direcionados pela pesquisa de estudo de caso, obtida por meio
da pesquisa bibliográfica, ao longo de todo o trabalho, e análise de conteúdo,
concentrada no capítulo 3. Eles mostraram que os temas “polêmicos” de cunho religioso
e social, abordados nas matérias de capa da revista, são contextualizados à luz das
Escrituras, propondo um direcionamento “reflexivo”, dando uma nova roupagem à
linguagem bíblica, esclarecendo o que ela tem a dizer sobre estes acontecimentos e
problemáticas retratadas, e como ela pode contribuir na solução dos mesmos.
Sendo assim, em todo o momento, percebe-se, direta e indiretamente nas
matérias, que a revista Ultimato defende de uma forma sutil, a verdadeira restauração
individual (corpo, alma e espírito) e coletiva (em todas as esferas da sociedade),
alcançada somente através do sacrifício de Jesus Cristo. Isto significa que a revista
Ultimato reflete o objetivo central da inserção das religiões cristãs nos meios de
comunicação, que é o de propagar a sua mensagem evangelística valendo-se de aspectos
do jornalismo cristão.
13
CAPÍTULO 1. MÍDIA E RELIGIÃO: EVANGELIZAÇÃO DO PÚLPITO ÀS
GRANDES AUDIÊNCIAS
1.1 OS VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO COMO FERRAMENTAS DE
EVANGELIZAÇÃO
De acordo com os dados do Censo Demográfico 2010, publicados em 2012, pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o brasileiro mantém, em sua
maioria (cerca de 64%), o perfil religioso filiado à religião católica apostólica romana
(Figura 1), relacionado entre outros fatores, à uma herança do processo de colonização
do País. Destaca-se, contudo, que a partir dos Censos de 1991, 2000 e 2010, registrou-se
uma redução do percentual de pessoas que se declaram da religião católica sem que o
segmento perdesse a hegemonia representativa (CENSO DEMOGRÁFICO, 2010).
De fato, a partir do Censo de 1991, foram registradas mudanças significativas na
composição religiosa brasileira, sobretudo em virtude da população que se declara
evangélica, “o qual passou de 6,6% para 9,0% do total da população no período de 1980
a 1991, com destaque para os evangélicos pentecostais que cresceram de 3,2% para
6,0%.” (CENSO DEMOGRÁFICO, 2010, p.89). A comunidade evangélica vem
consolidando seu crescimento conforme os registros do Censo 2000, com 15,4% da
população, e do Censo 2010, com 22%. O último levantamento do perfil religioso dos
brasileiros ainda indica um aumento total de espíritas nas três últimas décadas (1,1%,
em 1991; 1,3%, em 2000; 2,0%, em 2010) e, também, dos que se denominam sem
religião (7,4%, em 2000, e 8,0%, em 2010).
14
Figura 1: Censo Demográfico 2010 – perfil religioso brasileiro (Fonte: IBGE).
Considerando esses dados do perfil religioso no Brasil, direcionamos a
argumentação desse trabalho para a seguinte reflexão: a forma como determinados
segmentos religiosos utilizam os veículos de comunicação como ferramentas de
evangelização. O crescente avanço das tecnologias e dos meios de comunicação permite
que estas religiões com forte expressividade no país, expressem as suas crenças para
além dos seus templos e cultos religiosos, ocupando, assim, espaços nas emissoras de
rádio e televisão e produzindo jornais e revistas, pois acreditam no potencial midiático
para disseminar fortemente a filosofia de vida que cada religião carrega.
De acordo com Budke (2005), as religiões focavam suas participações na mídia,
apenas para transmitir a sua espiritualidade, porém ao longo do tempo, se deslumbraram
com as diversas oportunidades proporcionadas pelos meios de comunicação e, por isso,
voltaram as atenções às questões ligadas às audiências, ou seja, às pessoas que eles
conseguiam cativar através dos seus programas.
Nos últimos anos, a Igreja Católica conquistou seu espaço na mídia brasileira,
sendo considerada a maior referência em comunicação religiosa por manter no ar, 24
horas, as emissoras de televisão: Canção Nova (1989), Rede Vida (1993) e Século XXI
(1989). Mas, esse lugar midiático conquistado pela Igreja Católica, só se deu em virtude
do crescimento de outras religiões na mídia, incluindo a Evangélica, fazendo com que
alguns fiéis católicos fossem cativados por outras doutrinas, diminuindo assim, o poder
de influência do catolicismo (BUDKE, 2005). Embora o catolicismo possua um espaço
15
bastante consolidado na mídia, são as denominações protestantes que dominam os
veículos de comunicação de maior alcance, a exemplo da Igreja Universal do Reino de
Deus (IURD), com a emissora Record, despertando a atenção do universo midiático.
Este vínculo do protestantismo com a mídia começou a surgir no Brasil, em 1940,
através da Igreja Adventista do Sétimo Dia, com os primeiros programas evangélicos no
rádio, criando o Sistema Adventista de Comunicação (SISAC) que transmitia o
programa A Voz da Profecia. Logo em seguida, vieram os programas das igrejas
Assembléia de Deus, pioneira na relação do pentencostalismo com a mídia, através do
programa Minutos com Jesus, aparecendo depois a Igreja do Evangelho Quadrangular,
O Brasil Para Cristo e a Igreja Deus é Amor. E na década de 50, foi criado o programa
de rádio, A voz da Nova Vida pelo missionário canadense Robert Mclister e depois a
fundação da Igreja de Nova Vida. Inicialmente, os programas eram moldados pela
estrutura norte-americana e depois foram alinhados aos padrões brasileiros
(SANTANA, 2005).
Já as igrejas Luteranas iniciaram com menos força, obtendo programas de rádio
produzidos pelas suas comunidades, como a A hora luterana ou A hora evangélica,
veiculados nas rádios comunitárias. Com as denominações Presbiteriana, Metodista e
Batista, aconteceu algo semelhante às Luteranas, porém como tinham uma forte relação
com as igrejas norte-americanas, estas colaboraram com a difusão das práticas
comunicativas destas denominações através da mídia. A partir da década de 60, a
televisão começou a dar lugar aos programas evangélicos e novamente os adventistas
foram os primeiros a conquistar um espaço neste novo veículo midiático, chegando logo
atrás o missionário canadense, fundador da Igreja de Nova Vida, com o seu programa
pentecostal (BUDKE, 2005).
Na década de 1970, houve no Brasil, uma explosão dos programas de televisão
evangélicos norte-americanos, como Alguém Ama Você de Rex Humbart e os cultos do
pastor Jimmy Swggart, ambos marcados pela simpatia de seus líderes e por
apresentarem as suas vertentes teológicas e ideológicas. Esta época foi chamada de
Igreja Eletrônica. Mas estes programas só duraram até meados da década de 1980, pois
não fizeram muito sucesso entre os brasileiros, em virtude de serem produzidos de
acordo com um padrão cultural, diferente do vivido no Brasil. (BUDKE, 2005;
SANTANA, 2005).
16
Segundo Budke (2005), existem alguns fatores que reforçam ainda mais a relação
do protestantismo com a mídia. São eles:
- A forte presença da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), através da sua atuação
no impresso, com a publicação da Folha Universal, nos programas de rádio e
principalmente na televisão, por meio da compra da Rede Record de Televisão, se
transformando na primeira denominação evangélica a obter a concessão de uma
emissora de televisão de amplitude nacional, onde são veiculados os programas da
igreja;
- A presença de políticos evangélicos na bancada do Congresso Nacional, tornando
significativa a participação da comunidade evangélica nas questões políticas do Brasil;
- O declínio do catolicismo e a pequena relação que ele tem com as emissoras não
religiosas na questão da autorização de programas televisão e, em contrapartida, o
crescimento do protestantismo no país e abertura que as emissoras televisivas dão para
as igrejas evangélicas exibir seus programas no horário nobre, devido à fidelidade de
seu público, acarretando uma grande audiência para a TV, a exemplo, o programa Show
da Fé da Igreja Internacional da Graça de Deus.
No caso da mídia impressa religiosa, embora não tenha tanto alcance como a
televisão e o rádio, ela se mostra tradicional e consolidada na veiculação de seus
conteúdos religiosos. No catolicismo, há a forte presença de A Revista de Aparecida,
criada em 2002, e do Jornal Santuário de Aparecida, que começou a circular em 1900,
ambos pertencentes ao Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida, que ainda
possui uma emissora de rádio e televisão. Há também a Revista Família Cristã, fundada
em 1934, pela Paulinas Editora, e a revista do grupo Canção Nova nascida em 2000,
que leva o mesmo nome da rede de comunicação cristã (Figura 2).
Figura 2: Revistas religiosas do segmento católico. (Fonte: Acervo dos impressos)
17
O segmento espírita, por sua vez, também possui algumas revistas impressas, a
exemplo da revista Reformador, fundada em 1883 pelo fotógrafo Augusto Elias da Silva
e integrante da Federação Espírita Brasileira (FEB) e a Revista Cristã de Espiritismo, da
editora Minuano, lançada em 1999, e a Revista Ser Espírita (Figura 3). Além disso, há
uma série de jornais impressos e virtuais que também auxiliam à propagação da
doutrina espírita, consolidando sua inserção na mídia, a exemplo dos jornais Correio
Espírita, O Imortal, Folha Espírita, entre outros.
Figura 3: Revistas religiosas do segmento espírita. (Fonte: Acervo dos impressos)
Por fim, representando o protestantismo, há títulos como as revistas Ultimato
(com mais de 40 anos em circulação, conforme veremos adiante), Cristianismo Hoje
(2007), Lar Cristão, (1986), além dos jornais Folha Universal da IURD (1992) e Show
da Fé, da Igreja Internacional da Graça de Deus (2011).
Figura 4: Revistas religiosas do segmento protestante. (Fonte: Acervo dos impressos)
18
Figura 5: Jornais impressos religiosos do segmento protestante.
(Fonte: Acervo dos impressos)
Por mais que as essas religiões se diferenciem em suas doutrinas, todas possuem
um objetivo comum quando se trata dos dispositivos midiáticos: a sua utilização como
ferramenta de transmissão de suas crenças e valores religiosos, tendo como foco
principal os ensinamentos do cristianismo. Portanto, pode-se afirmar que há um
consenso entre esses segmentos religiosos de que a mídia é uma ferramenta estratégica
de evangelismo.
Entre o sagrado e a difusão evangelizadora mercadológica
Martino (2003) defende que toda e qualquer instituição religiosa é definida pela sua
essência sagrada, concebida desde os tempos mais remotos da humanidade. Mas,
quando esta instituição se apropria dos mecanismos “profanos” dos meios de
comunicação, ela começa a sofrer um processo de mudanças no seu conceito de
“sagrado”, promovendo questionamentos pertinentes a respeito de uma nova
possibilidade de relacionar-se com o divino através dos veículos midiáticos.
Para o autor, esta secularização da instituição religiosa, derivada das transformações
ocasionadas pela mídia, fez com que ela perdesse a sua capacidade de determinar
respostas e sentido aos fatos sociais, ou seja, a religião está se desestruturando e
desintegrando tanto na forma quanto no conteúdo, além de estar sendo excluída dos
assuntos “sérios” que norteiam a sociedade por ser uma manifestação de crença e
valores que só pode ser expressa dentro de sua comunidade ideológica, alinhada ao
posicionamento da instituição. No entanto, a religião possui a competência de atribuir
respostas às questões existenciais a partir de suas certezas, mesmo ausentes de uma base
19
racional, sendo disseminadas fortemente pelos meios de comunicação (MARTINO,
2003).
Segundo Melo (2005), mesmo com a percepção que a Igreja Católica tem da sua
atuação massiva em relação à sua reprodução simbólica, que age por meio dos veículos
de comunicação, ela resiste em continuar utilizando esses instrumentos de comunicação
como se tal situação não tivesse sido percebida. No ambiente interno, ela segue com
suas práticas e formas dialógicas e interativas de comunicação, mas, no âmbito externo,
difunde a mensagem do Evangelho no rádio, televisão, imprensa e cinema, ao modo
mercadológico, os quais estão inseridos esses veículos, que vão se modernizando
conforme o avanço tecnológico.
Compreende-se que a ação evangelizadora não pode ser feita sem o concurso
dos modernísssimos instrumentos da comunicação eletrônica; mas tem-se a
consciência de que o processo de evangelização precisa ser repensado,
reestruturado, para evitar que se continue, como outrora, confundindo
comunicação com persuasão (MELO, 2005, p.30).
Uma outra questão abordada por MELO (2005) é que se a compreensão da
prática evangelizadora está relacionada com a tradução da mensagem bíblica, a partir da
realidade, identificando no cotidiano de cristãos, aspectos de que eles vivenciam com
veemência à luz dos ensinamentos de Cristo, em consequência é necessário que as
práticas comunicativas encontrem saídas técnicas, éticas e culturais. A problemática
caminha no sentido de como superar as contingências tecnológicas dos meios de
comunicação de massa, que impedem uma participação coletiva dos interlocutores, a
fim de evitar que a mensagem evangelística não se torne unilateral.
Mesmo diante desse questionamento, o que se observa é a tentativa da Igreja
latino-americana em contribuir para a mudança desse quadro, abrindo espaço para
aqueles que não possuem voz dentro da sociedade, a fim de que eles expressem suas
opiniões e anseios, e principalmente, que compartilhem a esperança que eles têm na
vinda do Reino. Segundo o autor, se não for a solução, pode ser uma porta para ela. Para
ele, o importante é que os comunicadores responsáveis pela propagação da
evangelização libertadora persistam nesse caminho, buscando conciliar as práticas
comunitárias internas da comunicação eclesial com as atividades tecnológicas e
eletrônicas. “Há uma crença enorme nas potencialidades multiplicadoras das mensagens
evangélicas disseminadas através da imprensa, rádio, TV e cinema. É quase uma
proclamação da onipotência e onipresença daqueles meios.” (MELO, 2005, p. 33).
20
A revista Ultimato, objeto de análise desta pesquisa, ao invés de determinar os
significados dos acontecimentos sociais, propõe em seu posicionamento editorial um
direcionamento reflexivo e contextual dos fatos e atualidades que permeiam a
sociedade, a partir de uma consciência cristã. No entanto, a revista não tenta impor seus
dogmas, mas apenas promover afirmativas e questionamentos sobre o mundo baseados
na Escritura. Sendo assim, a Ultimato resiste a essa concepção de Martino (2003) de que
a fé cristã perdeu o seu espaço de formadora de sentidos, em uma época onde a ciência
busca o domínio em todos os campos sociais.
Contudo, observa-se que no conteúdo da revista Ultimato, há uma difusão de uma
prática de fé cristã racional, que não seria exatamente o mesmo conceito de razão
proposto pela ciência, mas que é pautada por meio de ações ligadas à responsabilidade
social com o intuito de expandir as suas convicções para além dos templos religiosos,
ou seja, seria o “colocar a fé em prática”, neste mundo por meio de atitudes cidadãs que
fazem a diferença na sociedade, acreditando que esta deve ser uma das missões dos
cristãos como cidadãos de um Reino que se é aguardado por meio desta mesma fé.
1.2 O CONTRATO DE INFORMAÇÃO DO JORNALISMO CRISTÃO
“Qualquer análise da mídia religiosa, portanto, deve ser precedida por uma análise
de seu campo de produção.” (MARTINO, 2003, p.28). Com base nessa afirmativa,
entende-se que a análise do conteúdo religioso na mídia está diretamente ligada à
estrutura de produção desse segmento. Por isso, este tópico direcionará a compreensão
do funcionamento do contrato de informação do jornalismo cristão, através da
apresentação do conceito de cristão e da reflexão sobre o tipo de contrato de
comunicação estabelecido pela revista, voltado à prática de evangelização pela mídia,
por meio de uma contextualização dos acontecimentos a partir de uma concepção cristã,
colaborando no processo de construção do “jornalismo cristão”.
1.2.1. O QUE É SER “CRISTÃO”?
Para avançar o entendimento acerca da expressão “jornalismo cristão”,
defendido neste trabalho, é necessário refletir sobre as definições das palavras cristão e
cristianismo. De acordo com o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, cristianismo
é “o conjunto das religiões cristãs, baseadas nos ensinamentos, pessoa e vida de Jesus
21
Cristo.” E a palavra cristão possui dois significados: “1. Relativo ao cristianismo ou
que o professa. 2. Indivíduo cristão.” A raiz etimológica de “cristianismo”1 vem da
palavra “Cristo” que significa messias, pessoa consagrada e ungida. No hebraico é
mashiah, o salvador e no grego traduz-se como khristos e no latim, christus.
O livro de Atos2 pertencente ao Novo Testamento da Bíblia, reforça estas
definições quando narra a primeira vez em que os seguidores de Jesus Cristo foram
chamados cristãos, na cidade de Antioquia. “e, quando o encontrou, levou-o para
Antioquia. Assim, durante um ano inteiro, Barnabé e Saulo se reuniram com a igreja e
ensinaram a muitos. Em Antioquia, os discípulos foram pela primeira vez chamados
cristãos.” (ATOS 11:26). Esta nomeação se deu por causa da semelhança entre os seus
comportamentos e o de Cristo, que no início foi utilizada no sentido de deboche pelos
considerados não salvos da cidade. Sendo assim, o significado mais real da palavra
cristão é “pertencente ao partido de Cristo” ou “aderente ou seguidor de Cristo”.
O apóstolo Paulo, escritor de muitas das cartas do Novo Testamento, vivenciou
os primeiros séculos do cristianismo e foi um dos precursores da ideia de que ser cristão
vai além de seguir ou apoiar os ensinamentos de Jesus Cristo sob uma tradição religiosa.
Para Paulo, o verdadeiro cristão professa uma crença no sacrifício de Jesus na cruz
como a única forma de salvação da humanidade perdida em pecado, além de proclamar
a Sua ressurreição e segunda vinda à Terra para estabelecer o Seu Reino e buscar
àqueles salvos. Esta crença constituiu a base da Reforma Protestante, que deu origem ao
protestantismo.
O entendimento acerca do que denominamos aqui “jornalismo cristão”,
assemelha-se ao que já era compreendido e aceito pela Unión Católica Latino-
Americana de Prensa (UCPLA), uma organização de profissionais religiosos da
imprensa, que na comemoração dos 25 anos de entidade, puderam constatar o
surgimento de um novo “jornalismo católico” no continente. Segundo Melo (2005),
antigamente havia apenas uma preocupação em ganhar espaço nos meios de
comunicação para a “propagação do Evangelho”, mas nos dias atuais, a situação se
reverteu e o que se observa é uma nova postura, mais séria e comprometida com o
registro e a interpretação da realidade, ou seja, dos acontecimentos que nos rodeiam, à
luz dos ensinamentos de Cristo, disseminados nas páginas da Bíblia.
1 Disponível em: “A breve história do cristianismo” http://www.vivos.com.br/86.htm 2 Disponível em: “O que é um Cristão?” http://www.gotquestions.org/Portugues/que-Cristao.html
22
A partir dessa nova postura de comunicação midiática dos propagadores do
Evangelho, observa-se uma forte semelhança entre as definições de “jornalismo
católico” e “jornalismo cristão”. Entretanto, optou-se neste trabalho pela utilização da
denominação “jornalismo cristão”, em referência aos produtos jornalísticos oriundos de
segmentos religiosos que disseminam os ensinamentos do cristianismo. Sendo assim,
considera-se que o jornalismo cristão construído e praticado pela revista Ultimato,
percorre a essência e os fundamentos do cristianismo de uma forma concisa, viva e
estruturada, por meio de uma roupagem jornalística, acreditando que esta é uma
ferramenta eficaz de evangelização e edificação.
Segundo Melo (2005), as práticas de comunicação dominantes estão vinculadas
diretamente às estruturas de poder simbólico das instituições da sociedade e a igreja
latino-americana, como uma dessas organizações detentoras do controle social e
político, possui os seus mecanismos de comunicação em processo de mudança
associado às mutações estruturais que a própria instituição vem sofrendo ao longo do
tempo. Na história do cristianismo, há, portanto, duas dimensões importantes para sua
configuração sociopolítica e que estão interligadas às práticas de comunicação.
A primeira dimensão é a do Cristianismo primitivo que se refere às comunidades
que são direcionadas pelos ensinamentos de Cristo através da Escritura, mas que fazem
parte de uma instituição eclesial não-institucionalizada. A forma de comunicação dessa
dimensão é direcionada por meio de fluxos horizontais, ligados à participação plena e
igual dos cristãos na interpretação do Evangelho e do seu anúncio. E a segunda
dimensão é a do Cristianismo moderno, marcada pela existência de uma instituição
eclesial que assume o papel de detentora do conhecimento teológico, estabelecendo
critérios que determinarão a interpretação do Evangelho. Embora sejam identificadas
nas formas de comunicação dessa dimensão, resíduos de fluxos horizontais das
pequenas comunidades, são os fluxos verticais, originados nas hierarquias e passados às
bases, que guiarão o padrão dominante de comunicação do Cristianismo moderno.
(MELO, 2005).
Para Melo (2005), é o padrão de comunicação do cristianismo moderno vigente
e marcado por monólogos, verticalismo e unilateralidade, que está refletido diretamente
no comportamento da Igreja acerca dos instrumentos de reprodução simbólica utilizados
por ela – imprensa, cinema, rádio e televisão, para disseminar o seu conteúdo. “Esse
padrão repercute particularmente no modo como a Igreja recebe a imprensa e se serve
dela. Persistiria no confronto da instituição eclesial com os meios eletrônicos de
23
comunicação.” (MELO, 2005, p. 25). E esse tratamento que a Igreja dá aos veículos de
comunicação, obviamente, acompanhará as transformações que ela sofrerá na própria
estrutura organizacional e na sociedade.
É importante ressaltar que o grande diferencial do jornalismo católico, segundo
Melo (2005), concentra-se na ênfase em propagar o evangelho do que na atividade
jornalística, isto é, na tentativa de direcionar as pessoas a desenvolverem uma nova
maneira de olhar para a sociedade, baseada na ideologia cristã. Entretanto, há uma
preocupação jornalística, direcionada pelo cristianismo, que procura disseminar a
verdade do evangelho, contextualizando-o com os acontecimentos do cotidiano.
1.2.2. QUAL É O CONTRATO DE INFORMAÇÃO DO JORNALISMO
CRISTÃO?
Como já pontuamos anteriormente, antes de analisar todo e qualquer conteúdo
religioso na mídia convém refletir sobre a lógica produtiva desse segmento. Neste
sentido, trazemos uma reflexão sobre a noção de “contrato de informação”, defendido
por Patrick Charaudeau. Pretende-se, então, com essa reflexão compreender algumas
características do direcionamento editorial da revista Ultimato (como por exemplo, o
que fala, para quem direciona seu discurso, entre outros elementos).
Para que se estabeleça a construção de um discurso cristão dentro do âmbito social,
é necessário compreender o que Charaudeau (2010) afirma em relação à existência de
qualquer tipo de discurso. De acordo com o autor, para que ele surja, é preciso
condições específicas da situação em que se encontra. Sendo assim, a situação de
comunicação funcionaria como um guia de referência para os indivíduos de uma
comunidade social, que conseguem, a partir deste referencial, nortear os seus atos de
linguagem e construções de sentido. “A situação de comunicação é como um palco,
com suas restrições de espaço, de tempo, de relações de palavras, no qual se encenam as
trocas sociais e aquilo que constitui o seu valor simbólico.” (CHARAUDEAU, 2010, p.
67).
Segundo o autor, essas restrições são estabelecidas a partir de uma organização
das práticas sociais feita pelos próprios indivíduos e pelos discursos de representação
que justificam essas práticas e as valorizam. É dessa forma que as normas e convenções
de comportamentos da linguagem são construídas e constituem a comunicação humana,
levando em consideração que o ato de comunicar-se, deve estar ligado aos dados da
24
situação de comunicação, que ressalta a submissão do locutor às suas restrições e a
capacidade de reconhecimento destas restrições pelo interlocutor ou destinatário, que
também as possui. Assim, constituiu-se a “cointencionalidade”, responsável por realizar
essa troca de linguagens, que tem como suporte as restrições da situação de
comunicação. Dado o reconhecimento mútuo dessas restrições entre os parceiros na
comunicação, isto significa que eles se ligam através de um acordo prévio referente a
esse contexto de referências.
Estes parceiros (locutor e interlocutor) comprometem-se, antes de qualquer
finalidade pessoal, “a um contrato de reconhecimento das condições de realização da
troca linguageira em que estão envolvidos: um contrato de comunicação”
(CHARAUDEAU, 2010, p. 68) Este contrato é um resultado das características próprias
da situação de troca baseadas nas regularidades comportamentais dos indivíduos, o que
o Charaudeau nomeia como dados externos, e dos aspectos propriamente discursivos
que diz respeito aos modos de linguagem dos que interagem, conhecido como os dados
internos.
Portanto, por estar mergulhado em um tipo de discurso (o religioso), o
jornalismo cristão observado na revista Ultimato, perpassa por todas as atribuições que
acompanham o contrato de informação, ou seja, como emissor de informação, a
Ultimato preocupa-se em construir um conteúdo que interligue os acontecimentos do
cotidiano às concepções do Cristianismo (uma forma de pensar cristã), apesar de suas
restrições nas trocas de linguagens, respeitando-as e almejando atingir uma interação
profunda com seu interlocutor (cristão ou não cristão), atentando-se ao universo do seu
público-alvo.
O processo comunicacional do jornalismo cristão também é marcado pela
presença de duas instâncias que se relacionam entre si, nomeadas por Charaudeau
(2010) de instância de produção e instância de recepção. A instância de produção possui
a função de fornecer a informação e estimular as pessoas a desejarem consumir essa
informação, a fim de cativar o seu público. Já a instância de recepção manifesta a
vontade de usufruir tal conteúdo. Com isso, constroem-se dois pólos: o de quem produz
a informação e o de quem recebe a informação, porém não são ideias tão simples.
Quando se trata de produção de informações, não significa apenas transmitir o
conhecimento, mas colocá-los de frente aos acontecimentos do mundo ou apreender a
existência deles, para que assim se estabeleça um entendimento acerca das coisas,
sempre levando em conta as construções de representações do público, que nem sempre
25
se reconhecem, em sua totalidade, nessas representatividades, podendo seguir seu
próprio estilo de vida (CHARAUDEAU, 2010).
Charaudeau (2010) aponta outras características das duas instâncias do contrato
de informação:
- Instância da produção: trabalha com as questões externas do sistema de produção e
com o próprio discurso da informação. É composta por diversos atores que juntos
contribuem para a finalização do produto informativo. Eles trabalham na direção,
programação, redação das notícias e operação técnica, para juntos, construírem um
único e homogêneo discurso informativo que representa a ideologia do organismo de
informação. Isso implica que o jornalista, seja ele de qual especificação for, torna-se o
indivíduo mais importante, ainda que seja complexo atribuir somente a ele, a
responsabilidade da informação. Mesmo que seja assinada pelo jornalista, ela sofre
modificações pelas instâncias midiáticas.
- Instância de recepção: move-se em torno do destinatário, a “instância-alvo”, e da
“instância-público”, diretamente ligada à atividade de consumo. Aqui o público é
considerado o foco principal, contudo não deve-se tratá-lo de maneira geral, pois ele
difere-se a partir dos meios de transmissão - uns são leitores (imprensa), alguns ouvintes
(rádio) e outros, telespectadores, (televisão). Uma outra questão é que os produtores de
informação não possuem a presença física dos receptores no processo de produção, o
que impede a percepção imediata das reações deles, além da ausência de diálogo
durante a produção, impossibilitando a compreensão dos seus pontos de vista, que
colaboraria na apresentação da informação.
Sendo assim, todos os atores envolvidos no discurso cristão da revista Ultimato,
sejam pastores, jornalistas e especialistas em diversas áreas, colaboram para fortalecer a
ideologia da instituição cristã, disseminando-a para um público que já espera e deseja
consumir essas informações – público cristão, e para aqueles que não se consideram
alvo do discurso – público não-cristão, mas que na verdade são, em virtude do caráter
evangelizador e edificador a que se propõe o produto jornalístico.
Há ainda, segundo Charaudeau (2010), um conflito envolvendo duas vertentes
ao qual o contrato de informação está submetido. A primeira é a do fazer saber, voltada
ao eixo da informação propriamente dita, resultando na produção de um objeto de
conhecimento que procura informar o cidadão a respeito do que acontece no mundo da
vida social, através de duas atividades, a descrição-narração, que transmite os fatos do
mundo e a explicação, que os contextualiza, expondo suas causas e consequências e
26
produzindo um valor de verdadeiro e de falso por meio do discurso. Em se tratando do
jornalismo cristão, entende-se que através do objeto revista Ultimato, ele materializa-se
com a intenção de descrever os fatos da sociedade e promover o diálogo entre eles e a
perspectiva cristã, para que as suas causas e consequências sejam discutidas sob a ótica
dos ensinamentos bíblicos.
A segunda vertente que envolve o contrato de informação é a do fazer sentir, ou
eixo de captação, responsável por produzir um objeto apenas pensando em seu
consumo, a fim de sobreviver na concorrência mercadológica. Mesmo que na prática
seja a captação que prevaleça no processo de construção da informação, é o fazer saber
que legitima a representatividade do contrato de comunicação. E essa estratégia tratada
por Charaudeau (2010) é mais direcionada a um público que, ao princípio, não se sente
atraído pela mensagem do produto, fazendo com que os organismos informativos
busquem novas formas mais dramatizantes e menos racionalizantes para persuadir e
seduzir. Este fenômeno deve-se à concorrência de mercado e à posição institucional
conquistada que o coloca no dever de informar da maneira mais correta possível.
Baseado neste caminho instruído por Charaudeau que possibilita estratégias para
cativar uma parte do público- alvo que não é conquistado de primeira, é possível afirmar
que a revista Ultimato apresenta algumas nuances de artifícios dramatizadores nas
temáticas pertinentes, importantes e necessárias para mobilizar a emoção daqueles que
se mostram resistentes ao jornalismo cristão – provavelmente o público não cristão, mas
sem desviar do foco principal, que é ser direto na contextualização dos fatos por um viés
cristão para difundir o Evangelho e edificar o indivíduo.
Por fim, o contrato de informação midiático é caracterizado pela dualidade do
fazer saber e do fazer sentir, em que o primeiro preocupa-se com a seriedade da
informação que resulta em um produto de credibilidade e o segundo que procura
produzir efeito através da emoção e dramatização, sendo que se as mídias tenderem para
o racionalizante, elas tocarão menos o grande público mas se elas tenderem para o
dramatizante, serão consideradas menos credíveis (CHARAUDEAU, 2010).
No entanto, para que cada contrato de comunicação se estabeleça, ele deve estar
associado a um dispositivo particular, com suas restrições, mas responsável pela
concretização deste contrato em uma situação de comunicação. Segundo Charaudeau
(2010), este dispositivo é o próprio suporte físico da mensagem, que está
intrinsicamente ligado ao conteúdo veiculado, ou seja, para que a mensagem alcance o
seu fim interpretativo, ela precisa estar em sintonia com a sua forma, seu significante e
27
todas as características deste suporte que a carrega, uma exercendo total influência
sobre a outra. “Todo dispositivo formata a mensagem e, com isso, contribui para lhe
conferir um sentido.” (CHARAUDEAU, 2010, p. 105).
Dentro do universo da comunicação midiática, Charaudeau (2010) distingue os
três grandes suportes comunicativos, que são o rádio, caracterizado pela voz, a
televisão, representada pela imagem e a imprensa, marcada pela escrita. Todos estes
suportes se diferenciam nas suas representações de tempo, espaço e condições de
recepção, originando diferentes interpretações para uma mesma mensagem. Diante
dessas classificações, a revista Ultimato caracteriza-se, portanto, como dispositivo
midiático impresso, formato mais adequado para construção de seu conteúdo,
inicialmente formulado como jornal e depois transformando-se em revista. Então,
compreende-se que a crença da revista Ultimato na eficácia do seu dispositivo, é devido
à sua essência escritural, em que as palavras, gráficos, desenhos e imagens fixas,
ganham expressividade sobre o suporte de papel. Portanto a facilidade que o impresso
tem em proporcionar análises, comentários e reflexões a respeito da informação,
corresponde exatamente à finalidade da revista.
A seguir, apresentamos uma síntese das características do contrato de
informação do jornalismo cristão, identificadas a partir das teorias de Patrick
Charaudeau, abordadas ao longo deste capítulo e, principalmente através da observação
do objeto em análise, a revista Ultimato (Quadro 1). Utilizaremos essas referências ao
longo da análise das matérias de capa da revista, conforme apresentaremos no capítulo
seguinte.
Quadro 1 – O contrato de informação do jornalismo cristão.
CARACTERÍSTICAS DO CONTRATO
DE INFORMAÇÃO “CRISTÔ
O QUE SIGNIFICA?
Levar evangelização e edificação ao leitor
através dos veículos impressos (jornais e
revistas)
o anúncio do evangelho não depende somente do
púlpito, mas ele também pode atingir o seu objetivo
através da capacidade de alcance dos meios de
comunicação de massa, neste caso, o impresso.
Dar uma nova embalagem ao conteúdo
bíblico, mas sem alterá-lo.
aproxima o conteúdo bíblico dos acontecimentos atuais
vividos pelo leitor, para que haja uma contextualização
dos fatos da atualidade, através da perspectiva bíblica.
Relacionar “Escritura com promove uma relação entre a tradução da mensagem
28
acontecimento” bíblica no contexto da realidade, mas sem perder a sua
ideia original, e identifica no cotidiano de cristãos,
aspectos vivenciados à luz dos ensinamentos de Cristo.
Não determina o acontecimento dos fatos
sociais.
ou seja, não é polêmico (pois não traz a argumentação
do jornalismo tradicional, na escolha das fontes e dos
pontos de vista), mas é firme (na abordagem do
evangelho e nos ensinamentos bíblicos) e ousado (na
escolha dos temas). A intenção é disseminar a
mensagem cristã sem autoritarismo e prepotência.
Propõe um “direcionamento” reflexivo e
contextual dos fatos.
incentiva o pensamento reflexivo a respeito dos
acontecimentos da sociedade, a partir de uma
consciência e estilo de vida cristã.
Promove o diálogo entre os cristãos e não
cristãos.
estimula a comunicação entre seus públicos (cristão e
não cristão), independentemente de sua religião
declarada, através dos assuntos abordados.
29
CAPÍTULO 2. ULTIMATO E O JORNALISMO EM REVISTA:
SEGMENTAÇÕES E ESPECIFICIDADES
Neste segundo capítulo do trabalho, trataremos da trajetória da revista enquanto
veículo de informação, suas principais características que a diferencia dos jornais
impressos, além de apresentar a história e anatomia do jornalismo da revista Ultimato.
A revista caracteriza-se como um meio de comunicação singular, devido à sua
capacidade de produzir um jornalismo mais elaborado e contextualizado. Isto acontece
em virtude da sua temporalidade estendida que permite desenvolver uma reportagem
interpretativa em profundidade, dando origem a um texto jornalístico visualmente
sofisticado, elegante e sedutor, resgatando a parceria entre jornalismo e literatura.
2.1. O DESENVOLVIMENTO DA REVISTA COMO VEÍCULO DE
INFORMAÇÃO
Embora tenha surgido dissociada da imprensa, a revista (enquanto formato
impresso) foi adaptando sua funcionalidade como veículo de comunicação. Ao longo
dos anos, muitas das publicações começavam a se direcionar aos assuntos pedagógicos
e religiosos, servindo como um canal de instrução, principalmente para aqueles que não
tinham acesso aos livros, considerados fontes de conhecimento.
A palavra magazine (atualmente traduzida como “revista”) surge em 1704, com
o sentido de aprofundamento nos assuntos abordados. No entanto, um pouco antes dessa
data, surge na Alemanha uma primeira publicação com forma e o formato de livro,
chamada Erbauliche Monaths Unterredungen ou Edificantes Discussões Mensais
(1663), sendo aceita como revista por conta dos artigos de teologia, do público
específico e da regularidade na publicação. Logo depois, surge na França a primeira
revista literária denominada Journal des Savants, e em seguida, em momentos
diferentes, foram lançadas o Giornalli de Litterali (Itália) e o Mercurius Librarius ou
Faithfull Account of all Books and Pamphlets (Inglaterra) (SCALZO, 2004).
Apenas em 1731, nasce na Inglaterra a The Gentleman’s Magazine, primeira
revista que se aproxima do padrão moderno atual, e é a partir daí que a expressão
magazine passa a ser utilizada na Inglaterra e França. No ano de 1741, o termo chegou
aos Estados Unidos, através da fundação da American Magazine e General Magazine,
30
com o surgimento de 100 títulos até o século XIX. A partir deste século, a revista
começa a se expandir e ditar padrões. Isto se deu por causa de alguns fatores, como o
desenvolvimento da economia, a diminuição do analfabetismo e o maior interesse por
novos pensamentos e o anseio de publicá-los. Nessa época, as pessoas tinham o desejo
de ler mais e conhecer os mais variados assuntos, porém sem a obrigação de ter que
obter esse conhecimento somente através do livro.
Com isso a revista se tornou uma alternativa, por causa da união de diversos
conteúdos, acompanhados de recursos gráficos em um mesmo produto. Isso fez com
que as pessoas que não tinham acesso ao conteúdo dos livros, que eram uma realidade
apenas das elites, pudessem adentrar aos saberes através de um outro formato, a revista.
Para Scalzo (2004), a revista situa-se entre os jornais impresso, ligados às ideologias
políticas, e os livros, acessíveis somente à classe rica. Este novo produto que surgia se
aproximava mais da ciência e da cultura, funcionando como um incentivo à educação.
O texto em revista seguiu sua evolução atendendo aos gêneros e temáticas. No
século XIX, surgiram as revistas femininas e também começaram a se desenvolver as
revistas Scientifican American e National Geografhic Magazine. No Brasil, as revistas
chegaram no início do século XIX, através da corte portuguesa que chegou ao Brasil
fugitiva da perseguição napoleônica. A primeira revista foi intitulada As Variedades ou
Ensaios de Literatura, editada em 1812, em Salvador, Bahia.
Já no século XX, em 1923, surge nos Estados Unidos, a revista Time, fundada
por Haidden e Luce. Eles tinham o intuito de trazer as informações de uma forma
precisa, apurada, dividindo-as em seções e narrando-as de uma maneira sistemática.
Para os fundadores, a Time serviria como um protótipo de sucesso para todas as revistas
do mundo. Aqui, no Brasil, algumas décadas depois, a Veja, criada em 1968, seguiu o
seu exemplo no modo de fazer jornalístico (SCALZO, 2014).
Em 1936, surgiram as revistas fotográficas, após a criação da revista semanal
ilustrada chamada Life. Fundada por Luce, o objetivo do periódico era a reportagem
fotográfica, almejando ver o mundo e a vida em sua totalidade, desde as coisas simples
até as mais inusitadas. Um exemplo de revistas brasileiras que seguiram a linha da Life
foram O Cruzeiro e Manchete. Segundo Scalzo (2004), O Cruzeiro é considerada um
marco na imprensa nacional. Criada por Assis Chateaubriand, a revista firma sua
identidade por meio da publicação de grandes reportagens com ênfase no
fotojornalismo. Ainda nesta década, se faz presente sua concorrente, a revista Manchete,
que se apresenta bastante empenhada na valorização dos seus aspectos gráficos e
31
visuais. Mesmo com o sucesso, estas revistas não duram muito tempo. O Cruzeiro
desaparece nos anos 70, enquanto A Manchete chega ao fim na década de 90. Ambas
levam consigo o fim do modelo de revistas semanais ilustradas.
2.2 DELIMITANDO AS ESPECIFICIDADES DO JORNALISMO DE REVISTA
Segundo Goulart (2006), seja qual for o veículo de comunicação, eles devem
estar comprometidos com as mesmas virtudes jornalísticas: independência, veracidade,
objetividade, honestidade, imparcialidade, exatidão e credibilidade. Sendo assim, o
jornalismo se comportará de forma diferenciada para cada meio de comunicação, devido
às suas maneiras singulares de produção e emissão de conteúdos, alcançando o público
de formas distintas, mas sem perder a noção dos critérios de apuração jornalística. A
revista conquistou o seu espaço como um desses veículos comunicativos e, portanto,
produz um jornalismo que se adéqua às características e peculiaridades deste formato.
Para Benetti (2013), o conceito de jornalismo de revista é bastante complexo para
obtê-lo de forma linear e com rápida absorção. O produto desse tipo de jornalismo é
tratado como modo de conhecimento e discurso bastante específico, que constrói
sentidos sobre o mundo de forma lenta, reiterada, fragmentada e emocional.
O jornalismo de revista é um discurso e um modo de conhecimento que é
segmentado por público e por interesse; é periódico; é durável e colecionável;
tem características materiais e gráficas distintas dos demais impressos; exige
uma marcante identidade visual; permite diferentes estilos de texto; recorre
fortemente à sinestesia; estabelece uma relação direta com o leitor; trata de
um leque amplo de temáticas e privilegia os temas de longa duração; está
subordinado a interesses econômicos, institucionais e editoriais; institui uma
ordem hermenêutica do mundo; estabelece o que julga ser contemporâneo e
adequado; indica modos de vivenciar o presente; define parâmetros de
normalidade e de desvio; contribui para formar a opinião e o gosto; trabalha
com uma ontologia das emoções (BENETTI, 2013, p. 55).
É possível, portanto, delimitar algumas características que singularizam o
jornalismo no formato “revista”. Entre elas:
- A relação entre periodicidade e profundidade:
Por serem semanais, quinzenais e mensais, as revistas conseguem preencher o
vazio dos jornais diários, porque elas têm o tempo como seu aliado, o que possibilita a
finalização de um produto com mais pesquisa, documentação e riqueza textual, ouvindo
todas as fontes necessárias e levando ao leitor uma linguagem mais sofisticada
(VILLAS BOAS, 1996). Vogel (2013) reafirma essa extensa temporalidade das revistas,
32
através da remodelagem que elas fazem das notícias, atualidades e vivências, deixando-
as mais interpretativas e contextualizadas. Porém, elas promovem uma reflexão sobre o
contemporâneo e nunca representação do contemporâneo.
Existem duas determinantes temporais que cercam o jornalismo de revista: o
tempo da produção da notícia e o tempo da duração da notícia. Isso quer dizer que por
conta do longo tempo que as revistas possuem, estas não se comportam produtivamente
como os jornais impressos, ou seja, elas desenvolvem um olhar e uma postura mais
aguçada sobre a realidade. Além disso, o papel, suporte característico da revista,
também contribui para a sua contínua temporalidade, porque possibilita o retorno da
leitura, além do ato de guardar e colecionar as revistas, produzindo novos efeitos de
sentido (TAVARES E SCHWAAB, 2013).
Por outro lado, com o tempo a favor do jornalismo de revista é possível trabalhar
os conteúdos com mais profundidade, utilizando o gênero reportagem. Segundo Villas
Boas (1996), nos anos 80 e 90, havia uma predominância da técnica jornalística e uma
ausência e necessidade de retomada da reportagem. Ainda de acordo com o autor, este
gênero perdia espaço nos jornais, mas ganhava lugar nas revistas. Furtado (2013) aponta
que a reportagem é o gênero mais indicado para se produzir algo que vai além da
instantaneidade, pois é a partir da reportagem que há o desenvolvimento da análise das
causas, da contextualização e consequências de um acontecimento. E esta profundidade
trazida pela reportagem é o que diferencia as revistas dos jornais, pois eles geralmente
tratam as notícias de forma mais factual e superficial, devido ao pouco tempo de
apuração. Entretanto, segundo Goulart (2006), por ambos serem impressos, são
considerados registros históricos de grande credibilidade.
- Relação de proximidade com o leitor:
Para Scalzo (2014, p.14), a revista é “um fio invisível que une um grupo de
pessoas e, nesse sentido, ajuda a construir uma identidade, dá sensação de pertencer a
um determinado grupo.” Dessa forma, a revista cria uma relação passional entre o leitor,
sua revista preferida, e o grupo ao qual pertence, pois este veículo tem a capacidade de
construir um laço afetivo com seu público, para que assim, o leitor sinta a revista como
parte de sua rotina e transforme o seu consumo em algo constante. (BENETTI, 2013).
Segundo Tavares e Schwaab (2013), a produção de uma revista é pensada a
partir dos anseios e interesses do leitor e é com esse ingrediente que elas se constroem, e
ao lado das descobertas das curiosidades e das potencialidades de consumo, nasce a
33
lógica da segmentação. Portanto, quando a revista chega nas mãos do leitor, não é
somente uma edição que está diante dele, mas sim um produto que faz referência ao
passado, na qual estão presentes as edições anteriores, e também faz menção ao futuro,
através do seu papel como documento, e das edições que virão a seguir. Por isso, ao
passar por uma banca de revista, o leitor tem a sensação de se aproximar de um mundo
de conhecimentos especializados que o orientará quanto a sua percepção de
desconhecimento.
Conclui-se então que a revista é marcada pela característica de falar a um
público de uma determinada época. Através dela, pode-se conhecer a história de um
tempo, de um recorte da sociedade marcada por um tipo de comportamento, moda e
personagens que influenciavam uma época.
- O estilo magazine de ser:
Para Villas Boas (1996), o texto jornalístico necessita de técnicas que darão a ele
um estilo próprio, coerência e características que farão com que o leitor entenda que se
trata desse tipo de texto. Por causa disso, a revista encontra o seu espaço como texto de
estilo próprio, conciliando as técnicas jornalísticas com as técnicas literárias, embora ela
não faça literatura exatamente. Portanto, a revista é mais conotativa, opinativa e
literária. O autor afirma que o jornalismo de revista, também conhecido como estilo
magazine, tem a capacidade de fazer um jornalismo mais profundo, interpretativo e
documental do que o jornal impresso, rádio e tv, porém não é um estilo tão avançado e
histórico quanto o livro reportagem.
Para isso, Tavares e Schwaab (2013), destacam que as revistas dispõem os
conteúdos de suas publicações sob a forma de enunciados textuais, visuais (figurativos)
e gráficos (relativos ao design da página). “São processos que se estendem para além
dos textos e que remetem às configurações jornalísticas propostas pela publicação, à
relação destas com os leitores e à interlocução de tais operações com aspectos
contextuais que as envolvem.” (TAVARES E SCHWAAB, 2013, p. 35). O primeiro
elemento de uma revista é a fotografia, a imagem e logo em seguida, na diagramação,
vem o texto leve, agradável, que não faz uso de gerúndios e utiliza de títulos criativos e
sedutores. Um outro aspecto relevante é a divisão em seções que facilita a leitura,
tornando-a mais fácil e fascinante. (GOULART, 2006).
Villas Boas (1996) também destaca a liberdade como um aspecto bastante forte
neste tipo de estilo, porque há um rompimento com o jornalismo diário que se preocupa
34
mais com a velocidade e padronização do que com a interpretação das respostas aos
porquês, fazendo com que ela desenvolva um caráter de formadora de opinião declarada
através de sua editoria que traz uma ideologia bem definida.
- O mercado editorial:
A revista conquistou o seu espaço no mercado contando com a maior variedade
editorial que atinge diversos públicos e gostos, fortalecendo uma de suas maiores
características, a segmentação. A revista tem a capacidade de percorrer por dois
aspectos distintos: a variedade, quando se quer falar sobre muitos assuntos a fim de
prender o leitor, passando a imagem de “conhecedora de tudo”; e, a especialização,
quando se centraliza em um determinado assunto de interesse do seu público. Além
disso, a revista possui uma visão de mercado, por conta da sua familiaridade com o
público, observando as diversas categorias de mercado e concentra seus esforços no
texto e na imagem, uma vez que o leitor é atraído pela combinação desses dois
elementos, se eles forem bem explorados. Portanto, uma matéria composta por texto e
imagem bem formulados são as bases da revista. (GOULART, 2006).
Existem três grandes etapas pensadas para favorecer a circulação da revista no
mercado editorial: a produção, difusão e consumo. “Trata-se de espaços de interação
que se referem a uma ligação com anunciantes por um lado e leitores por outro.”
(TAVARES e SCHWAAB, 2013, p. 39). Os anunciantes significam a dinâmica
econômica que permite o fazer da revista, levando em consideração as demandas
internas acerca dos editoriais e leitorado. E os leitores, significam as demandas externas,
advindas do interior da sociedade, que refletem no cumprimento da revista a certas
exigências temáticas e na criação de pontos de vista jornalísticos com a finalidade de
concretizar a revista como mercadoria da indústria cultural (TAVARES e SCHWAAB,
2013).
Já os anunciantes da revista não interferem tanto nos assuntos e perspectivas do
editorial, mas pertencem a um universo mais amplo no que se refere ao institucional da
revista. E essa ideia de instituição permite que a revista se insira no âmbito social,
tornando os anunciantes, meios que levam comportamentos, expresso no consumo das
páginas da revista, a partir de pautas relacionadas a produtos de bens e serviços, além de
serem representantes de um contexto relacionado à mercantilização da cultura.
(TAVARES e SCHWAAB, 2013).
35
O marketing editorial, o qual identifica e analisa as oportunidades e ameaças de
mercado para a produção de produtos editoriais a fim de obter lucro através de seu
público alvo, também é um outro aspecto tratado por SCALZO (2004), que diferencia
fortemente as revistas dos outros veículos de comunicação, além da profunda relação
entre jornalista e leitor, os seus formatos, periodicidade e as produções destinadas às
empresas ou grupos que geralmente abordam sobre estilo de vida, conhecidas como
costumer publishing ou costumer news.
- As temáticas abordadas pelas revistas:
Benetti (2013) afirma que o jornalismo de revista trabalha com um leque
diversificado de temas. Em virtude do seu discurso ser acompanhado pela segmentação,
e por esta se dá a partir dos objetos de interesse, as revistas seguem uma linha de
temáticas. Porém há um diferencial quando se trata das revistas semanais de
informação. O foco inicial delas é lidar com os acontecimentos políticos, econômicos,
internacionais, científicos e culturais, só que a periodicidade não as restringe na seleção
dos temas e nos assuntos que virarão manchete.
O acontecimento que “ganha” a capa de uma revista semanal de informação
geral é o resultado de uma série de movimentos: houve um investimento de
reportagem, a percepção do veículo de que aquele tema é importante para o
leitor, o acontecimento foi percebido pelos editores como pleno de
potencialidades de tratamento verbal e não verbal. (BENETTI, 2013, p. 52).
O que sustenta o jornalismo de revista são os temas de longa duração. Eles
tornam o produto mais durável e colecionável, além de ultrapassarem a barreira das
circunstâncias e estarem entre os debates dos leitores. Mas isto não pode fazer com que
o princípio da atualidade do jornalismo, seja posto de lado. Dessa forma, as revistas
sempre buscam algo “novo” nesses temas já conhecidos.
- Segmentação e especialização:
Os termos segmentação e especialização possuem algumas semelhanças e
diferenças entre si. A especialização surgiu primeiro na história do jornalismo. O
conceito dela está mais relacionado ao aprofundamento temático, sem muita ligação
com o público definido. Já a segmentação refere-se mais ao público do que ao tema em
questão, podendo abordar diversos assuntos. As revistas começaram as suas publicações
a partir dos temas educativos e logo depois, absorveu-se o entretenimento. Essa relação
36
com a educação é o que vai ajudar no processo de especialização e segmentação. O
desenvolvimento da revista contribui no entendimento acerca da forma como se divide
os assuntos e públicos, sendo assim, as revistas teriam uma disposição ‘natural’ em se
especializarem. (BUITONI, 2013).
Algumas temáticas, por sua vez, já foram se individualizando no jornalismo
diário e outras já nasceram dentro da revista, porém, a especialização depende de um
conhecimento e tratamento mais profundo, necessitando de tradução de vocábulos
específicos ou técnicos. (BUITONI, 2013, p. 112). Portanto, dentro da comunicação, a
segmentação é algo muito mais abrangente e que vai além de uma estratégia de
marketing. Ela faz parte de um processo que vai se construindo ao longo do tempo, de
acordo com as transformações da sociedade.
- A revista como instituição:
Para falar da revista como instituição, é necessário entender que o jornalismo
possui atributos e valores institucionalizados que constroem uma imagem aceita e
disseminada na sociedade. Sendo assim, as empresas jornalísticas (editoras), se vêem
como instituição que difunde princípios intrínsecos ao seu campo de estudo e que são
importantes para o ambiente social. (SCWHAAB, 2013). Com isso, as revistas reforçam
o seu caráter de atuação e de informação, esforçando-se para apagar os controles que
elas exercem e que surgem como resultado de uma ação marcada por uma vontade de
verdade própria. Para elas, o universo institucional torna-se alvo de interesse, em
virtude da sua força refletida nos editoriais e nas publicações.
2.3. A REVISTA ULTIMATO E SEU JORNALISMO
A ideia de produzir uma revista com a temática voltada para o Cristianismo surgiu
em 1966, na cidade de São Paulo. No entanto, a Editora Ultimato, só foi fundada em
janeiro de 1968, na cidade de Barbacena em Minas Gerais, através da publicação do
Jornal Ultimato, um tablóide de oito páginas em papel jornal (Figura 1). O periódico
ainda passou pelas cidades de Porto Alegre (1969) e Campinas (1970), mas foi em
Viçosa, cidade mineira localizada na Zona da Mata, em que ele fixou-se no ano de
1971. Somente a partir de 1976, o título sofre alteração em seu formato e passa a ser
publicado como Revista Ultimato. Atualmente, a Editora Ultimato é membro da
37
Associação Evangélica Brasileira (AEVB), da Associação de Editores Cristãos (AsEC)
e é membro fundadora da Rede Evangélica Nacional de Ação Social (RENAS).
Figura 6: Primeira edição do Jornal Ultimato – Janeiro/1968. (Fonte: Site/ Editora Ultimato)
Em sua linha editorial, Ultimato autodenomina-se como um veículo de comunicação
evangélico, não denominacional, ou seja, procura não deixar o conteúdo da revista se
influenciar por nenhuma doutrina de denominação religiosa, com a finalidade de trazer
evangelização e edificação ao leitor, firmado na ideia de que toda Escritura é útil e
inspirada por Deus. Segundo a equipe editorial, não existe a tentativa de mudanças no
conteúdo bíblico, mas sim uma liberdade de colocá-lo em uma embalagem nova. Ainda
segundo o editorial, eles também afirmam que procuram relacionar: “Escritura com
Escritura, ou seja, compreender a Bíblia em seu próprio conteúdo, Escritura com
acontecimentos, fé com obras, oração com ação, teoria com prática, evangelização com
ação social, conversão com santidade de vida e o suor de hoje com a glória por vir”.
Além disso, trabalham para a construção de uma mentalidade bíblica e o ensino da arte
de encarar os acontecimentos sob uma ótica cristã.
A idealização da Revista Ultimato, em maio de 1966, se deu por conta de um pedido
do coordenador do jornal Brasil Presbiteriano para que fosse feita uma série de artigos
contando a história de alguns jornais evangélicos, como a Imprensa Evangélica (o
primeiro periódico da América do Sul), de Ashbel Green Simonton, fundado em 1864,
no Rio de Janeiro; a revista Unitas, de Miguel Rizzo Junior, fundada com o nome de Fé
e Vida, em 1930, em São Paulo; além de O Púlpito Evangélico (1874), Salvação de
Graça (1875), O Evangelista (1885), O Puritano (1898), etc.
38
Para Simonton3, fundador da Imprensa Evangélica, o surgimento da imprensa
evangélica se justificava pela seguinte explicação óbvia: “O anúncio do evangelho não
pode depender só de púlpito”. O Salvação de Graça seguia a mesma linha de
pensamento: “Chamar os homens das trevas para a luz, guiar os pecadores ao Salvador e
edificar na verdade”. E o jornal O Puritano nasceu para difundir o evangelho em uma
época que apenas 0,3% dos habitantes da antiga capital brasileira frequentavam as
poucas igrejas evangélicas que existiam. Com os artigos elaborados, percebeu-se então
que na década de 60, já haviam bons periódicos que tratavam da temática cristã, porém
eram direcionados somente para os “crentes” e aos serviços de suas próprias
denominações. Levando isso em conta, decide-se criar uma revista que atingisse
também o público não evangélico, originando assim, a Revista Ultimato.
Na edição número 1, a Revista Ultimato declarou que o jornal não se deleitaria em
polêmicas, mas seria firme e delicadamente ousado, afirmando que levaria a temática do
evangelho de forma direta e indireta. “Naquele remoto janeiro de 1968, colocamos nas
mãos de Deus a trajetória que o jornal deveria descrever para glória e honra de Deus”. E
o artigo, Jesus na capa e no miolo, publicado na edição de janeiro de 1998, no 30º
aniversário, exemplifica a preocupação da revista em manter viva a figura de Jesus
Cristo para os seus leitores.
O nome Ultimato originou-se a partir de um desentendimento do padre da Basílica
de São José Operário, que deu um “ultimato” ao deputado José Bonifácio de Andrade,
dono da emissora de rádio Correio da Serra. O padre ameaçou deixar de apresentar o
programa da Basílica, se a Igreja Presbiteriana de Barbacena também tivesse um
programa. E a saída deste padre acarretaria sérios problemas políticos ao deputado.
Sendo assim, a igreja perdeu o programa, mas ganhou a ideia do nome do jornal
Ultimato, e este foi reforçado com o versículo bíblico que diz: “Busquem o Senhor
enquanto é possível achá-lo; clamem a Ele enquanto está perto” (Is. 55:6), numa alusão
à ideia de que Deus também dá ultimatos. Atualmente a revista utiliza parte desse
versículo como slogan de capa.
Embora a editora seja conhecida principalmente pela Revista Ultimato, ela também
desenvolve outras ações, como a publicação de livros cristãos, desde 1993, e a ideia de
responsabilidade social, levada através de temas como criança em risco, ação social,
3 Disponível em: “ultimato – 40 anos de coerência” http://www.ultimato.com.br/pagina/ultimato-40-anos-
de-coerencia
39
missões, meio ambiente, unidade da igreja, missão integral, artes e o conceito de
“evangelização transparoquial”, isto é, a influência cristocêntrica que a Ultimato exerce
sobre os católicos, numa maneira de transcender as barreiras religiosas e diminuir o
preconceito mútuo. O exemplo disso é que, segundo o referido site, as revistas são
enviadas regularmente aos bispos e às paróquias católicas.
Todos estes aspectos mencionados acima são abordados de forma direta ou indireta
nas edições da Ultimato. Para a revista, estes temas sociais são reflexos do compromisso
que se tem com o evangelho, indicando que há um desejo de compartilhar a
reconciliação liderada por Jesus Cristo, a fim de que esta seja permanente e presente nos
produtos e serviços da Ultimato. De acordo com a missão da editora Ultimato, expressa
no institucional do seu portal, o intuito é “contribuir para a transformação de vidas e
edificação da Igreja, por meio da publicação de conteúdo cristão.” Além disso, a editora
identifica-se com o Pacto de Lausanne e com a Declaração de Fé da Aliança Evangélica
Mundial (WEF), entendendo que ambas são formas históricas e corretas de fé e missão.
Ao longo dos 40 anos de existência da revista Ultimato, foram publicadas em média
100 edições. Em sua plataforma online difusora dos conteúdos, além de possuir espaços
para divulgação da revista e dos livros publicados, também há o lugar para parcerias
com blogs sobre a temática cristã em diversas áreas, interatividade através de vídeos e
podcasts, devocional diária, estudos bíblicos, notícias e artigos de opinião.
Segundo o editorial, “evangelização e edificação” são as principais palavras que
representam a revista Ultimato. Para ela, a primeira transmite a ideia de que todos
precisam reconciliar-se com Deus por causa do pecado, através do perdão e da salvação
adquiridas pela morte e ressurreição de Jesus. A segunda, entende-se como um ideal de
vida cristã séria, de conhecimento contínuo sobre as Escrituras e uma maior
aproximação a Jesus Cristo através da oração, que fará o pecado diminuir e descobrir-
se-á a esperança cristã. Com uma média de circulação de 35.000 exemplares, Ultimato é
vendida através de alguns planos de assinaturas e também é distribuída gratuitamente
em alguns lugares. Trata-se de uma publicação bimensal (circulação em meses
ímpares), direcionada a um público alvo cristão e não cristão.
Anatomia da Revista Ultimato
Para fins deste trabalho, observamos toda a estrutura da revista, da capa até sua
página final, com o intuito de conhecer cada seção e apresentar uma definição para cada
40
espaço da revista. Após essa etapa da análise foi possível perceber que Ultimato aborda
as temáticas de uma forma reflexiva e filosófica.
Além da capa, expediente, sumário e anúncios publicitários, a revista Ultimato
possui em média 14 a 15 seções, com a aparição de seções esporádicas como “Painel” e
“Entrevista”. As seções, no entanto, não obedecem uma ordem regular na revista.
Também há a presença de nove colunas de opinião, além da matéria de capa (objeto de
análise desta pesquisa).
As seções fixas são:
- Abertura: seção fixa de uma página que dá introdução à revista;
- Carta ao Leitor: seção fixa de uma página que possibilita a comunicação da equipe da
revista com o leitor acerca do tema da edição;
- Pastorais: seção fixa de uma página contendo uma mensagem de reflexão;
- Ultimatoonline: seção fixa de uma página que traz os destaques do conteúdo online da
Ultimato;
- Cartas: seção fixa de quatro páginas, destinada à interação dos leitores com a revista;
- Frases: seção fixa que divide a página com a seção Números. Esta seção traz frases de
várias personalidades;
- Números: seção fixa que divide a página com a seção Frases. Esta seção traz dados
numéricos sobre acontecimentos relevantes para a sociedade
- Mais do que notícias: seção fixa de duas páginas que apresenta notícias que procuram
relacionar-se direta ou indiretamente com o cristianismo;
- Conexões: seção fixa de uma página e escrita por Lissânder Dias que traz histórias de
pessoas engajadas com a responsabilidade social;
- Pergunte ao Ari: seção em que o escritor e conferencista Ariovaldo Ramos responde
ao questionamento de algum leitor;
- De hoje em diante: seção fixa, que poeticamente relata os anseios do autor a respeito
de comportamentos que ele deseja não mais ter;
- Altos papos: seção fixa escrita por René Breuel, que traz temáticas voltadas aos
jovens;
- Caminhos da missão: seção fixa de uma página, escrita por Alcir Souza que apresenta
temáticas relacionadas à vida missionária;
- Arte e cultura: seção fixa de seis páginas, que apresenta de forma contextualizada,
dicas culturais ligadas à música, cinema, literatura, etc.;
41
- Especial: seção fixa de seis páginas, que traz um conteúdo referente a algum tema
relevante para a edição;
Além dessas, existem as seções esporádicas:
- Entrevista: seção de quatro páginas que traz uma entrevista com alguma personalidade
a respeito de um tema em questão.
- Painel: seção de duas páginas que apresenta um panorama de opiniões a cerca de um
determinado assunto considerado relevante para a sociedade.
E, as nove colunas de opinião:
- O caminho do coração: coluna escrita pelo pastor Ricardo Barbosa de Sousa,
coordenador do Centro Cristão de Estudos, em Brasília. Nesta coluna, o autor escreve
sobre temáticas ligadas às questões reflexivas sobre a vida, fé, coração e alma;
- Da linha de frente: coluna da escritora Bráulia Ribeiro, que trata de diversas temáticas
correlacionadas com o cristianismo;
- Missão integral: coluna escrita por René Padilla, fundador e presidente da Rede
Miqueias, e membro-fundador da Fraternidade Teológica Latino-Americana e da
Fundação Kairós. Nesta coluna, o autor aborda temas relacionados à missão e trabalhos
missionários;
- Casamento e família: coluna escrita pelo casal Carlos “Catto” e Dagmar, psicólogos e
terapêutas de casais e família. Nesta coluna, eles escrevem sobre a temática voltada ao
seu objeto de estudo, o casamento e a família;
- Redescobrindo a Palavra de Deus: coluna escrita pelo pastor Valdir Steuernagel que
aborda temáticas analisadas segundo a Bíblia;
- Reflexão: coluna escrita pelo pastor Ed René Kivitz, que traz temas mais profundos a
cerca do meio cristão;
- História: coluna escrita pelo doutor em história da igreja, Alderi Souza, que traz
aspectos históricos, direcionados por um viés bíblico;
- Ética: coluna escrita pelo pastor Christian Gillis, que apresenta assuntos ligados à
Ética sob uma perspectiva cristã;
- Ponto final: coluna escrita pelo presbítero Rubem Amorese, que encerra a revista
também trazendo reflexões cristãs.
42
CAPÍTULO 3. “SEM POLÊMICA, MAS DELICADAMENTE OUSADA”: UM
ESTUDO TEMÁTICO DE ULTIMATO
3.1. METODOLOGIA:
Neste capítulo buscamos compreender porque a revista Ultimato pode ser
considerada um produto do “segmento editorial” jornalismo cristão, a partir das
características deste segmento apontadas no “contrato de informação cristã” construído
no capítulo 1. Além disso, observamos, como a revista articula elementos jornalísticos,
inicialmente com a anatomia da revista, presente no capítulo 2, e através da análise das
matérias de capa analisadas neste capítulo, identificando quais e como os temas são
abordados a partir da proposta editorial da revista refletida na expressão “sem polêmica,
mas delicadamente ousada”.
Desse modo, considerando o problema de pesquisa e os objetivos apresentados,
definiu-se o seguinte caminho metodológico para esse trabalho monográfico: considera-
se a pesquisa como um estudo de caso, executado em duas etapas – pesquisa
bibliográfica e análise de conteúdo.
Duarte (2011) apresentam algumas definições para o entendimento do estudo de
caso, dentre elas a do teórico Yin (2001), que afirma que este método consiste em uma
investigação empírica de um fenômeno atual inserido em um contexto da realidade, em
um cenário onde o limite entre o fenômeno e o contexto não é devidamente esclarecido
e onde várias fontes de constatação são utilizadas. Ele ainda ressalta que esta é uma
forma eficaz quando se pretende responder às perguntas “como” e “por que”, em uma
situação que o pesquisador tem pouco controle sobre os acontecimentos e quando as
atenções estão voltadas aos fenômenos da atualidade pertencentes à realidade.
Já os teóricos Goode e Hatt, apresentam o estudo de caso como uma maneira de
olhar para a realidade social. “Trata-se de uma abordagem que considera qualquer
unidade social como um todo, incluindo o desenvolvimento dessa unidade, que pode ser
uma pessoa, uma família, um grupo social, um conjunto de relações ou processos (crises
familiares, invasão étnica de uma vizinhança etc.), até mesmo toda uma cultura.”
(DUARTE, 2011, p. 216). Para Stake, também citado por Duarte (2011), propõe um
pensamento diferente. Ele acredita que os estudos de caso não são uma escolha de
metodologia, mas uma decisão do objeto que se vai estudar, e que este objeto deve algo
específico com um comportamento funcional, a exemplo de uma pessoa ou sala de aula.
43
Dessa forma, cada estudo de qualquer entidade que se toma como objeto (pessoas,
organizações, países), pode ser um estudo de caso, seja qual for a metodologia utilizadas
(experimento psicológico, análise econômica etc). (DUARTE, 2011).
E os teóricos Bruyne, Herman e Schoutheete, entendem o estudo de caso como
uma análise profunda realizada em uma ou várias organizações reais. Segundo eles, o
estudo de caso agrega detalhadamente diversas informações, com o intuito de
compreender o todo de uma situação. Portanto, recomendam a utilização de técnicas de
coletas de informações distintas, como observações, entrevistas e documentos, e outras
mais aprimoradas como, observação participante, sociometria aplicada à organização e
pesquisa de tipo etnográfico. (DUARTE, 2011).
Bressan, também citado por Duarte (2011), ressalta que o principal motivo da
pesquisa de estudo de caso é a compreensão, indicando os seguintes objetivos: (1) a
descrição, (2) a classificação (desenvolvimento de tipologia), (3) o desenvolvimento
teórico e (4) o teste limitado da teoria. (DUARTE , 2011). Mas, Yin também
complementa que o estudo de caso pode ser utilizado para explicar as conexões
eventuais que acontecem na vida real, descrever uma ação e o cenário da realidade em
que aconteceu, ilustrar certos aspectos de um modo descritivo ou mesmo por uma
compreensão jornalística, averiguar situações em que a intervenção que está sendo
utilizada não demonstra uma clareza de resultados e ser uma “metaavaliação, podendo
utilizar o estudo de caso para realizar o estudo de um Estudo de Avaliação. (DUARTE,
2011).
Assim, classificamos este trabalho como uma pesquisa de estudo de caso, por
conta do seu anseio em compreender cada parte que compõe a performance do objeto
escolhido. Por isso, pretende-se através do estudo de caso, aprofundar o entendimento
do funcionamento da revista Ultimato, por meio da análise de seu posicionamento
editorial (“Sem polêmica, mas delicadamente ousada”), tomando como base as matérias
de capa. Destaca-se, todavia, que o estudo de caso está sendo executado ao longo de
todos os capítulos, porém, com maior ênfase analítica da revista nos capítulos 2 e 3. No
capítulo 2, foi apresentado o histórico da revista Ultimato e traçada a sua anatomia. A
partir da observação, buscou-se compreender como Ultimato articula elementos
jornalísticos ao longo de toda a revista, destacando cada seção e suas propostas, a
exemplo das seções de cunho mais noticioso, como a “Números”, “Mais que notícias” e
“Entrevistas”. E neste terceiro capítulo, apresentaremos, por meio da análise de
conteúdo, a análise das 11 matérias de capa da revista Ultimato, destacando cada
44
temática abordada e observando como elas são tratadas a partir do direcionamento
editorial da revista.
Os capítulos 1 e parte do capítulo 2 desta monografia foram construídos a partir
da pesquisa bibliográfica, com o intuito de compreender por meio da revisão de um
conjunto de literatura, as relações mercadológicas entre mídia e religião, a qual a revista
Ultimato está inserida, (capítulo 1) e a natureza e características do dispositivo revista,
escolhido pela Ultimato para disseminar as suas informações (capítulo 2).
O método utilizado na construção deste estudo foi a pesquisa bibliográfica, que
segundo Stumpf (2011), consiste em termos gerais, no planejamento inicial de qualquer
trabalho de pesquisa, que busca identificar, localizar e obter a bibliografia necessária
sobre o assunto. Após esta etapa, apresenta-se um texto contendo o entendimento do
pensamento dos autores do conjunto da literatura pesquisada, juntamente com as ideias
e opiniões do pesquisador.
De forma mais específica, trata-se de um processo que procura informações
bibliográficas, elege os documentos importantes para a temática estudada, a fim de
iniciar a tarefa de anotação ou fichamento das referências e dos dados dos documentos
para que depois eles sejam usados quando o trabalho acadêmico for escrito. Considera-
se como a fase essencial e primeira de uma pesquisa que usa dados experimentais, e que
seu produto receberá a nomenclatura de Referencial Teórico, Revisão de Literatura ou
similar. É considerada (STUMPF, 2011).
A revisão bibliográfica serve para mostrar ao pesquisador o conhecimento já
produzido acerca daquele assunto, para que ele possa avançar nas bases de sua pesquisa,
evitando o despendimento de esforços em problemas que já foram solucionados. Além
disso, a consulta à literatura pertinente é algo que direcionará o caminho que o
investigador deverá percorrer. Quando o pesquisador começa a ler sobre o tema de seu
interesse, ele descobre definições que contribuirão para a formulação exata do problema
a ser investigado. Algumas ideias serão utilizadas, e outras, deixadas de lado, porém
pode ser um isolamento provisório, pois é interessante que todas as anotações sejam
guardadas, porque poderão ser úteis em investigações futuras. (STUMPF, 2011).
Inicialmente, houve dificuldades para encontrar um conjunto de literatura a respeito do
assunto tratado na pesquisa, porém, ao longo do trabalho, foram descobertos títulos
pertinentes e que contribuíram significativamente para a construção deste estudo.
45
Mas esta pesquisa bibliográfica também acompanha a etapa de análise dos dados
coletados. “É nesta fase que o exame dos textos poderá auxiliar a interpretar e explicar
os fenômenos observados [...]. Sendo assim, a revisão de literatura acompanha o
trabalho acadêmico desde a sua concepção até sua conclusão.” (STUMPF, 2011, p.54).
Neste trabalho, por exemplo, a revisão de literatura referente aos assuntos relacionados
a mídia e religião e contrato de informação, foram indispensáveis para a construção do
quadro com as características do “jornalismo cristão”, apresentado no capítulo 1.
Mas para que a compreensão do funcionamento da proposta editorial da revista
seja profunda e completa, a fim de entender como ela articula os elementos jornalísticos
e como direciona as suas matérias de capas, é necessária a utilização da análise de
conteúdo.
Segundo Fonseca (2011), dentro dos métodos de pesquisa de comunicação de
massa, a análise de conteúdo constitui basicamente a avaliação de mensagens, assim
como trabalham a análise semiológica ou análise de discurso. Porém, as principais
diferenças entre essas análises, é que somente a análise de conteúdo trabalha com os
critérios de sistematicidade e confiabilidade.
Dessa forma, de acordo com Fonseca (2011, p.286, apud LOZANO, 1994, p.
141-142),
A análise de conteúdo é sistemática porque se baseia num conjunto de
procedimentos que se aplicam da mesma forma a todo o conteúdo analisável. É
também confiável – ou objetiva – porque permite que diferentes pessoas,
aplicando em separado as mesmas categorias à mesma amostra de mensagens,
possam chegar às mesmas conclusões.
Já para Krippendorff, outro autor citado por Fonseca (2011), a análise de
conteúdo possui três características essenciais: orientação fundamentalmente empírica,
exploratória, vinculada a fenômenos reais e de finalidade preditiva; transcendência das
noções normais de conteúdo, envolvendo as ideias de mensagem, canal, comunicação e
sistema; metodologia própria, que permite ao investigador programar, comunicar e
avaliar criticamente um projeto de pesquisa com independência de resultados. Ainda
segundo Krippendorff, ao adotar a análise de conteúdo como ferramenta de pesquisa, o
pesquisador deve entender os dados como eles se apresentam o contexto dos dados, leva
em consideração o conhecimento que dispõe, o objetivo da análise de conteúdo, a
atividade intelectual da inferência e a validade como uma forma de sucesso.
(FONSECA, 2011). E a autora Laurence Bardin, também mencionada por Fonseca
(2011), apresenta uma estrutura para o método de análise de conteúdo em cinco etapas,
46
a organização da análise, a codificação, a categorização, a inferência e o tratamento
informático.
Por estes aspectos, a análise de conteúdo se mostra uma ferramenta útil na
colaboração das respostas que esta pesquisa deseja alcançar. Isto porque o método
auxiliará de um modo sistemático e objetivo nas análises das mensagens dispostas nas
edições da revista Ultimato selecionadas para o estudo.
3.2 RESULTADOS:
É importante ressaltar que embora o conteúdo de Ultimato não apresente um
formato padrão jornalístico, ele traz aspectos que indicam a presença do jornalismo.
Além disso, apontaremos quais são os temas ditos “polêmicos” pela revista e como eles
são abordados nas matérias de capa, destacando o tipo de polêmica ao qual eles estão
associados e explicando o direcionamento editorial “sem polêmica, mas delicadamente
ousada”, nestas matérias.
Neste tópico do capítulo, apresentamos o resultado das análises das matérias de
capa de 11 edições bimestrais da revista Ultimato, ao longo de 2 anos (janeiro-fevereiro
de 2013 a setembro-outubro de 2014). Como mencionado anteriormente, o objetivo é
identificar a partir das características do contrato de informação “cristã”, a proposta
editorial da revista Ultimato através dos temas apresentados em suas matérias.
As capas destas matérias são compostas por imagens e títulos criativos e
atraentes que juntos, sugerem o tom da “polêmica” que a matéria discutirá. Exemplo
disso são as manchetes “Doenças que pouco matam e muito fazem sofrer”, “Corrupção,
do Éden ao jeitinho brasileiro”, “A igreja está doente” e “Crack, o monstro de boca
aberta”. Ao longo da análise das 11 edições, a maioria dos assuntos apresentados nas
matérias de capa foram alternando-se de maneira equilibrada, em temas religiosos (6),
sociais (4) e religiosos/sociais (1), predominando, os temas religiosos (ver em Anexos, a
sinopse de todas as capas e matérias analisadas).
As matérias de capa que abordam acontecimentos religiosos referem-se aos
elementos diretamente relacionados ao universo religioso (a exemplo de temas como o
Espírito Santo, Jesus, adoração, restauração e o retorno da Perfeição). Já as matérias de
capa que abordam os acontecimentos sociais se referem às questões e problemas
cotidianos enfrentados no seio da sociedade, porém com um direcionamento reflexivo
do ponto de vista da conduta cristã (a exemplo de temas como saúde mental, corrupção
47
e crack). E as matérias de capa que apresentam os acontecimentos religiosos/sociais
estão ligados diretamente a aspectos religiosos, mas que também são refletidos na
sociedade (a exemplo dos temas sobre a instituição Igreja).
O quadro a seguir, apresenta uma síntese da análise do comportamento editorial
da revista Ultimato nas matérias de capa, com a finalidade de ilustrar e facilitar a
compreensão dos resultados posteriores. (Quadro 2).
Quadro 2 – Síntese de análise das matérias de capa
Edição
Data
Manchete (Capa)
Acontecimento
relacionado
(Social/Religioso)
Matéria de Capa
(Direcionamento reflexivo)
Nº 340
Janeiro/
Fevereiro
2013
O Espírito Santo
em movimento
Intervenção do
Espírito Santo
(Religioso)
Título: O Espírito Santo em
movimento
Informa os momentos bíblicos em que
houve a manifestação do Espírito
Santo, indicando que a Sua presença
também atua nos dias de hoje e que ela
deseja guiar o modo de viver do
homem.
Nº 341
Março/
Abril 2013
Doenças que pouco
matam e muito
fazem sofrer
Saúde mental
(Social)
Título: A vergonha do manicômio de
Barbacena
Responde à problemática social em
questão por meio das Escrituras e
propõe à igreja um engajamento social,
colocando-a como uma das
colaboradoras no tratamento.
Nº 342
Maio/
Junho
2013
Quando vier o que é
perfeito...
Esperança na segunda
vinda de Jesus Cristo
(Religioso)
Título: Quando vier o que é
perfeito...
Atribui o pecado como resposta ao
sofrimento do homem, mas aponta a
solução por meio da segunda vinda de
Cristo que destruirá toda a miséria
humana.
Nº 343
Julho/
Agosto
2013
Corrupção, do Éden
ao jeitinho
brasileiro
Corrupção
(Social)
Título: Corrupção, do Éden ao
jeitinho brasileiro
Apresenta um panorama da corrupção à
luz das Escrituras e do contexto atual,
levando o leitor a compreender que
esta situação humana possui raízes na
“queda do homem” no episódio do
jardim do Éden.
Nº 344
Setembro/
Outubro
2013
A igreja está doente
Aspectos negativos
que estão fazendo a
igreja adoecer
(Religioso/Social)
Título: A igreja está doente
Indica alguns pontos negativos vividos
atualmente pela igreja e propõe um
caminho de solução através de
48
orientações baseadas na Bíblia.
Nº 345
Novembro/
Dezembro
2013
Aleluia! Ó Deus,
que todo o meu ser
te louve
Adoração a Deus
(Religioso)
Título: Aleluia! Ó Deus, que todo o
meu ser te louve
Mostra poeticamente a grandiosidade
de Deus e o Seu controle soberano
sobre a vida, levando o leitor a
contemplar as Suas obras e a adorá-Lo.
Nº 346
Janeiro/
Fevereiro
2014
Lembre-se sempre
de Jesus
A importância da
pessoa de Jesus
Cristo
(Religioso)
Título: Lembre-se sempre de Jesus
Cristo
Adverte os cristãos quanto à relevância
da vida, morte e ressurreição de Jesus
para a humanidade.
Nº 347
Março/
Abril 2014
Depressão,
ansiedade, tentação,
culpa.
Deus está de braços
abertos para o aflito
Doenças que afetam a
alma
(Social)
Título: O Deus dos cristãos é um
Deus de braços abertos para a alma
aflita
Discute os transtornos que afetam o
corpo, a alma e o espírito, direcionado
por uma percepção bíblica.
Nº 348
Maio/
Junho
2014
Restauração: de
pessoas, da criação,
da igreja, da
história
Restauração
(Religioso)
Título: A oração que precisa ser
feita: “Restaura-nos, ó Senhor!”
Incentiva a busca pela restauração
física e espiritual alcançada somente
em Deus.
Nº 349
Julho/
Agosto
2014
Crack, o monstro de
boca aberta
Drogas
(Social)
Título: Crack, o monstro de boca
aberta
Aproxima o leitor da realidade dos
usuários de crack, através do relato de
uma experiência na cracolândia e dos
trabalhos sociais e missionários
realizados no local.
Nº 350
Setembro/
Outubro
2014
O Deus de Israel e
o Israel de Deus
História do povo de
Israel
(Religioso)
Título: O povo de Israel não é o povo
exclusivo de Deus
Faz um apanhado histórico e teológico
da relação entre Deus e a Sua promessa
destinada ao povo de Israel.
Como mencionado anteriormente, das 11 matérias de capa analisadas, quatro
referem-se aos acontecimentos sociais ligados à saúde mental (ed. 341), corrupção (ed.
343), transtornos da alma (ed. 347) e drogas (ed. 349). O espaço que a revista Ultimato
concede, através de suas matérias de capa, a estas temáticas que permeiam a sociedade,
permite que elas se aproximem do que chamamos de jornalismo tradicional, por isso
centraremos nossa análise apenas nesses textos.
49
A matéria (ed. 341) que fala sobre os problemas relacionados à saúde mental,
concentra a sua “polêmica”, nos transtornos mentais e na forma, muitas vezes errônea,
que são tratados pela sociedade. Para nortear o assunto, a matéria utiliza-se de
elementos jornalísticos, como o relato das barbaridades que ocorriam no manicômio de
Barbacena (para ilustrar a maneira desumana que os pacientes eram tratados), e das
fontes oficiais como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde
(MS), que traçam um panorama a respeito dos transtornos mentais. Além disso, a Bíblia
também é utilizada como fonte, propondo um direcionamento reflexivo sobre o assunto,
atribuindo a origem destas doenças mentais e de outras mazelas humanas ao episódio da
“queda do homem”, que resultou na entrada do pecado no mundo, registrado nas
Escrituras. E também à luz da Bíblia, a matéria busca estimular as igrejas, nomeadas no
texto de “comunidades terapêuticas”, um engajamento social, afirmando que elas podem
ser colaboradoras dos profissionais da saúde, no processo de tratamento destes
transtornos.
A “polêmica” apresentada na matéria (ed. 343) sobre corrupção, diz respeito aos
hábitos e costumes corruptos que permeiam a sociedade, com um destaque para a
expressão “jeitinho brasileiro”, muito conhecida e praticada, que possui uma conotação
muito mais negativa que positiva, segundo a matéria. Para embasar o tema, o texto
utiliza-se de fontes como, a Folha de São Paulo, que traz informações a respeito do
aborto, e a procuradora da justiça, Luiza Nagib Eluf, que apoia o projeto de lei que
regulamenta os serviços das profissionais. Pela condução da matéria, percebe-se que
ambas as práticas são condenadas e consideradas corrupção pela revista, porém trazer
opiniões diferentes para a contextualização do assunto é uma forma sutil de demonstrar
uma “certa” imparcialidade. A matéria também traz como fonte, a Bíblia, que mais uma
vez reforça a “queda do homem”, como responsável pela corrupção, afirmando que esta
situação ocorrida no Jardim do Éden foi o primeiro ato corruptivo do homem,
concluindo, que foi neste episódio que nasceu a corrupção.
A matéria (ed.347), que discute os transtornos da alma (depressão, ansiedade,
tentação, culpa), classifica-os como “incômodos”, que afetam não só a alma, mas o
corpo e o espírito. O assunto também é contextualizado através de fontes de
especialistas, como o sociólogo Phil Zuckerman, e a revista Saúde. Além de mostrar a
importância do tratamento com profissionais adequados, a matéria também dá o
direcionamento reflexivo da Bíblia (fonte documental) que aponta como uma solução
eficaz para estes transtornos, a aproximação e oração a Deus e o apoio da família e
50
amigos, exemplificada na matéria, pela história dos amigos, o reformador João Calvino
e o pastor Pierre Viret.
A matéria (ed. 349), que aborda o problema das drogas, em especial o crack, traz
como principal indício jornalístico o relato de um homem identificado como “Mineiro”,
que conta a sua experiência ao visitar a Cracolândia e as organizações sociais e
missionárias, lá instaladas, para auxiliar na recuperação dos viciados. Sendo assim,
podemos perceber que a preocupação que o jornalismo tradicional tem de aproximar o
interlocutor da realidade social, está inserida nesta matéria, uma vez que ela tenta
aproximar o leitor da realidade dos usuários de drogas e daqueles que se dispõem a
ajudá-los. Além disso, o texto utiliza-se de fontes de especialistas, como a Cartilha do
governo e a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes da ONU. Como
característica principal das matérias, a Bíblia também aparece como fonte documental,
só que nesta com pouca freqüência.
É possível que a matéria tenha escolhido o relato como uma forma mais enfática
de fazer o leitor refletir sobre esta problemática pertinente na sociedade, além de
incentivar a igreja a colaborar com a recuperação dos viciados em drogas, através dos
exemplos na matéria, dos trabalhos missionários desenvolvidos por ministérios como
Cristolândia e JEAME (Jesus Ama o Menor).
Diante dessa análise das matérias de capa, conclui-se que o posicionamento
editorial da revista Ultimato é marcado por uma profunda contextualização da
linguagem bíblica procurando sempre relacioná-la a um acontecimento, seja de caráter
religioso ou social, e mostrando o que ela tem a dizer sobre ele. Além disso, propõe
constantemente, para cada problemática abordada, uma solução sob uma perspectiva
bíblica e cristã. E para contribuir com este objetivo, a revista também procura
estabelecer uma relação sutil com o jornalismo tradicional, uma vez que ela preocupa-se
também em apresentar nas matérias, outras fontes além da Bíblia, além de conduzir os
seus temas “polêmicos” por um percurso delicado e sem “escândalo”.
51
CONCLUSÃO
Durante esta monografia, apresentamos a partir da condução de teóricos do
assunto, um panorama a respeito das relações entre mídia e religião, concentrada na
crescente ocupação das religiões cristãs no Brasil, nas grades de programação dos meios
de comunicação de massa, e na capacidade que eles têm de disseminar a mensagem
religiosa, transpondo-a para além das paredes do templo, tornando-se eficazes
ferramentas de evangelização.
Além disso, para que houvesse uma melhor compreensão acerca de como a
revista Ultimato utiliza-se de alguns aspectos do jornalismo para difundir o cristianismo
em suas temáticas, construímos, através da teoria do contrato de informação de Patrick
Charaudeau e do próprio produto analisado, um “contrato de informação cristã” e suas
características, que formaram a base para análise das matérias de capa da revista, com o
intuito de compreender o seu posicionamento editorial. A busca pelo entendimento
sobre o desenvolvimento e as especificidades do jornalismo de revista também foram
significativas para chegarmos aos resultados do estudo.
Nesta pesquisa, traçamos a anatomia da revista Ultimato, descrevendo suas
seções, e para entender mais profundamente o comportamento da revista, analisamos 11
matérias de capa, observando a expressão editorial “sem polêmica, mas delicadamente
ousada” trazida por Ultimato. Os resultados da análise mostram que o conteúdo da
revista Ultimato é marcado por uma intensa contextualização dos fatos abordados, a
partir das Escrituras, procurando trazer significados e soluções para eles, por meio de
uma perspectiva cristã.
Conclui-se então, que a revista Ultimato centraliza a sua produção em conteúdos
religiosos e sociais, cuja finalidade é propagar uma mensagem cristã, concentrada na
ideia de que o homem é um ser pecador e caído e que só encontrará restauração e
regeneração, ao aproximar-se de Deus, construindo uma intimidade com Ele, através do
sacrifício de Jesus Cristo na cruz. Portanto, a Ultimato exemplifica bem a forte presença
e o propósito das religiões cristãs na mídia: disseminar suas mensagens evangelísticas,
com o intuito de alcançar um grande número de pessoas. Sendo assim, o jornalismo
cristão nasce como um colaborador para esta atividade evangelizadora nos meios de
comunicação. Por fim, compreende-se, em geral, que as temáticas tratadas pela revista
Ultimato levam a crer que a sua ideologia concentra-se na ideia do homem como um ser
52
absolutamente pecador e caído, que encontrará somente em Jesus Cristo, um ser
absolutamente perfeito, a salvação e regeneração do seu corpo, alma e espírito.
53
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ULTIMATO. O Espírito Santo em Movimento. Viçosa: ed. 340, Janeiro-Fevereiro 2013.
_____. Doenças que pouco matam e muito fazem sofrer. Viçosa: ed. 341, Março-Abril 2013.
_____. Quando vier o que é perfeito. Viçosa: ed. 342, Maio-Junho 2013.
_____. Corrupção - do Éden ao jeitinho brasileiro. Viçosa: ed. 343, Julho-Agosto 2013.
_____. A igreja está doente. Viçosa: ed. 344, Setembro-Outubro 2013.
_____. Aleluia! Ó, Deus, que todo o meu ser te louve. Viçosa: ed. 345, Novembro-Dezembro
2013.
_____. Lembre-se sempre de Jesus. Viçosa: Ultimato, ed. 346, Janeiro-Fevereiro 2014.
_____. Depressão, ansiedade, tentação, culpa. Deus está de braços abertos para o aflito.
Viçosa: ed. 347, Março-Abril 2014.
_____. Restauração de pessoas, da criação, da igreja, da história. Viçosa: ed. 348, Maio-
Junho 2014.
_____. Crack: o monstro de boca aberta. Viçosa: ed. 349, Julho-Agosto 2014.
_____. O Deus de Israel e o Israel de Deus. Viçosa: ed. 350, Setembro-Outubro 2014.
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TAVARES, Frederico de Mello B.; SCHWAAB, Reges. A revista e seu jornalismo.
São Paulo: Penso Editora, 2013.
55
ANEXOS
CAPAS E SINOPSES DAS MATÉRIAS
Dados Editoriais
Capa
Sinopse da Matéria
Edição nº 340
Ano 2013
Janeiro-Fevereiro
Tema: O Espírito Santo em
movimento
A matéria conta, por meio de várias
passagens bíblicas, as diversas formas de
manifestação e intervenção do Espírito
Santo, desde o Antigo Testamento até o
Novo Testamento. O personagem principal
desta matéria é o Espírito Santo, uma das
três pessoas que compõem a Trindade
Santa, sendo assim, o relato dos
acontecimentos bíblicos que tiveram a
ação do Espírito Santo, é mais direcionado
ao público cristão, que acredita e professa
essa espiritualidade, do que ao público
não-cristão, porém, isto não significa que
estes não tenham curiosidade em entender
sobre este universo. A matéria é dividida
em blocos de textos que facilitam ao leitor
a compreensão dos momentos em que
houve a presença do Espírito Santo no
meio das pessoas na época bíblica.
Edição nº 341
Ano 2013
Março-Abril
Tema: Doenças que pouco matam e
muito fazem sofrer
O tema central desta matéria são os
transtornos mentais, trazendo a tona
questões relacionadas à saúde mental e
psicológica das pessoas, um assunto
relevante para a sociedade em geral. A
personagem principal deste texto é história
que ocorreu no hospício de Barbacena,
contada na parte da matéria intitulada “A
fazenda da caveira de Barbacena e a colina
da caveira em Jerusalém”. Neste hospício
aconteciam diversos maus tratos, e muitos
levavam à morte, porém anos depois, a
farsa do manicômio foi revelada e
denunciada. Para explicar a existência de
tantos transtornos mentais e outras
tragédias humanas, o autor da matéria,
atribui a “queda do homem”, relatada na
Bíblia, como uma explicação para tal
situação. Esta “queda do homem” é
ilustrada na matéria, através do poema
“Paraíso perdido” de Jhon Milton, e do
poema “Paraíso reconquistado”, do mesmo
autor, que retrata a reconciliação de Deus
com o homem.
A matéria também traz algumas
informações importantes a respeito dos
transtornos mentais, seus tratamentos e
56
uma proposta de mudança de pensamento
sobre como tratar os pacientes. Por isso,
discutiu-se no texto que ocupar-se com o
trabalho pode contribuir para estimular o
paciente durante o seu tratamento, ao invés
de afastá-lo de suas tarefas durante o
período de recuperação. O respeito e a
liberdade a estes pacientes, também são
considerados pela matéria,
comportamentos indispensáveis no auxílio
ao tratamento, o que traria novas
mudanças sociais. As igrejas são
consideradas um apoio aos profissionais da
saúde no tratamento dos transtornos
mentais, e são chamadas no texto, de
“comunidades terapêuticas”, pois ajudam
aos necessitados, seguindo o mesmo
exemplo de Jesus. Esta seria uma forma
dos cristãos vivenciarem a
responsabilidade social na sua totalidade.
Com isso, há a associação entre a nova
proposta de assistência à saúde mental,
mencionada na matéria, e o evangelho.
Edição nº 342
Ano 2013
Maio-Junho
Tema: Quando vier o que é
perfeito...
A temática proposta por esta matéria está
ligada à uma relação entre as questões
espirituais e terrenas, ou seja, ela associa o
sofrimento e tragédias do homem,
chamadas no texto por “vale de lágrimas”,
à entrada do pecado no mundo. Mas, a
matéria também apresenta a esperança que
se deve ter na salvação por meio de Jesus e
na Sua Ressurreição, confiando que Ele
virá pela segunda vez para acabar com
toda dor humana e buscar os que Nele
esperam e ressuscitará àqueles que
morreram esperando a ressurreição. Por
isso, a matéria intitula-se “Quando vier o
que é perfeito...”, uma analogia à segunda
vinda da Perfeição, ou seja, à segunda
vinda de Jesus Cristo.
Edição nº 343
Ano 2013
Julho-Agosto
Tema: Corrupção, do Éden ao
jeitinho brasileiro
A corrupção é o tema principal desta
matéria e um dos mais debatidos na
sociedade. Sendo assim, o texto apresenta
a sua atuação em algumas áreas sociais,
apontando também a “queda do homem”
através do pecado, como responsável pelo
nascimento da corrupção. Além disso, a
matéria apresenta as principais
características da expressão “jeitinho
brasileiro”, trazendo os seus aspectos
negativos, oriundos da corrupção e alguns
pontos positivos. A superioridade dos ricos
sob os pobres, exemplificada por
passagens bíblicas, também é um outro
ponto ressaltado na matéria, acrescido da
relação prejudicial entre igreja e mercado.
57
Edição nº 344
Ano 2013
Setembro-Outubro
Tema: A igreja está doente
A matéria expõe a preocupação com
alguns aspectos negativos que estão
fazendo a igreja adoecer, dentre eles a
exploração das curas e bênçãos,
transformando-as em negócio, a
concorrência entre as denominações, a
mercantilização da fé, a falta de
simplicidade e o luxo exagerado. Mas o
texto também faz uma chamada para
mudar esta situação negativa de algumas
igrejas, mostrando que ainda existem
igrejas firmadas no verdadeiro Evangelho
e que buscam proclamá-lo. Para estimular
esta mudança, a matéria apresenta com
fundamentação bíblica, como a verdadeira
igreja, que prega sobre Jesus Cristo, deve
atuar na sociedade.
Edição nº 345
Ano 2013
Novembro-
Dezembro
Tema: Aleluia! Ó Deus, que todo o
meu ser te louve
A matéria apresenta, através da forma
poética dos salmos, em especial do Salmo
104, a grandiosidade de Deus, observada
em Sua criação, levando o leitor a adorá-lo
e contemplar a Sua glória. Para afirmar
esta magnitude de Deus, o texto traz
constatações de um físico e matemático a
respeito das maravilhas do universo, desde
a infinidade de estrelas, galáxias e
microscópios, até as células e o DNA que
compõem a forma humana, além de
pequenos relatos ao longo da matéria de
pessoas que compartilham as suas opiniões
sobre Deus e suas maravilhas. Ao final, o
texto traz uma carta de adoração a Deus
escrita pelo próprio jornalista.
58
Edição nº 346
Ano 2014
Janeiro-Fevereiro
Tema: Lembre-se sempre de Jesus
A matéria faz uma chamada à igreja e aos
cristãos, para lembrarem-se sempre da
pessoa de Jesus Cristo, tomando como
orientação bíblica, a exortação de Paulo no
livro de II Timóteo, no Novo Testamento.
Para contribuir com essa advertência, o
texto aponta, por meio de referências
bíblicas, algumas características do
verdadeiro Cristo, as muitas ênfases dadas
a Ele, e alguns episódios que antecediam
Sua morte, como uma forma de nunca nos
esquecermos da Sua grandiosidade e
importância para a humanidade.
Edição nº 347
Ano 2014
Março-Abril
Tema: Depressão, ansiedade,
tentação, culpa. Deus está de braços
abertos para o aflito
A matéria apresenta os principais
“incômodos” da tentação, culpa,
ansiedade, depressão, solidão e o espinho
na carne, que afetam o corpo, alma e
espírito das pessoas. O texto discorre sobre
esses “incômodos”, norteado por uma
percepção bíblica a respeito do assunto,
incentivando àqueles que possuem tais
problemas a buscarem soluções não
somente em profissionais e pessoas
adequadas, mas também se aproximando
de Deus.
Edição nº 348
Ano 2014
Maio-Junho
Tema: Restauração: de pessoas, da
criação, da igreja, da história
A matéria apresenta as diversas áreas
humanas que precisam de restauração e
exemplos bíblicos de homens e mulheres
que tiveram suas vidas restauradas por
Deus, quando suplicaram-lhe Sua ajuda,
como uma forma de incentivar o leitor a
buscar essa verdadeira restauração obtida
somente através da intervenção de Deus.
59
Edição nº 349
Ano 2014
Julho-Agosto
Tema: Crack, o monstro de boca
aberta
A matéria aborda os principais malefícios
do crack e traz um relato de uma
experiência, de alguém que se identifica no
texto como “Mineiro”, nas ruas da
Cracolândia e nas organizações sociais e
missionárias lá instaladas, com o intuito de
proporcionar uma oportunidade de
recuperação ao drogados.
Edição 350
Ano 2014
Setembro-Outubro
Tema: O Deus de Israel e o Israel de
Deus
A matéria faz um apanhado histórico e
teológico da história da promessa de Deus
ao povo de Israel, utilizando a Bíblia como
fonte principal para discorrer sobre a
trajetória histórica e para obter uma
conclusão teológica.