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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” INSTITUTO DE ARTES – CÂMPUS DE SÃO PAULO SILVIO FERNANDO JANSON ROCKIAVEL: OLHAR DE ARTEMÍDIA SOBRE BANDAS DE ROCK ESCOLHIDAS São Paulo – SP 2020

ROCKIAVEL: OLHAR DE ARTEMÍDIA SOBRE BANDAS DE

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

INSTITUTO DE ARTES – CÂMPUS DE SÃO PAULO

SILVIO FERNANDO JANSON

ROCKIAVEL: OLHAR DE ARTEMÍDIA SOBRE BANDAS DEROCK ESCOLHIDAS

São Paulo – SP

2020

SILVIO FERNANDO JANSON

ROCKIAVEL: OLHAR DE ARTEMÍDIA SOBRE BANDAS DEROCK ESCOLHIDAS

Tese de doutoramento apresentada à

Comissão de Pós-Graduação em Artes do

Instituto de Artes – IA, da Universidade

Estadual Paulista “Júlio de Mesquita

Filho” – UNESP – como requisito parcial

para a obtenção do título de Doutor em

Artes

Orientador: Professor Doutor Pelópidas

Cypriano de Oliveira

São Paulo – SP

2020

Ficha catalográfica preparada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação do Instituto de Artes daUnesp

J35r Janson, Sílvio Fernando, 1957-Rockiavel : olhar de artemídia sobre bandas de rock

escolhidas / Sílvio Fernando Janson. - São Paulo, 2020.218 f. : il. color.

Orientador: Prof. Dr. Pelópidas Cypriano de OliveiraTese (Doutorado em Artes) – Universidade Estadual Paulista

“Júlio de Mesquita Filho”, Instituto de Artes

1. Grupos de rock. 2. Arte e música. 3. Indústria musical. I. Oliveira, Pelópidas Cypriano de. II. Universidade Estadual Paulista, Instituto de Artes. III. Título.

CDD 781.66

(Laura Mariane de Andrade - CRB 8/8666)

Nome: Sílvio Fernando Janson

Título: Rockiavel: olhar de artemídia sobre bandas de rock

escolhidas

Tese de doutoramento apresentada apresentada à Comissão

de Pós-Graduação em Artes do Instituto de Artes – IA, da

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” –

UNESP – como requisito parcial para a obtenção do título de

Doutor em Artes

Aprovado em 26 de março de 2020

Banca Examinadora

Orientador: Prof. Dr. Pelópidas Cypriano de Oliveira

Instituição: UNESP Assinatura:______________

Profª. Drª. Kathya Maria Ayres de Godoy – Instituição: UNESP

Julgamento: Aprovado Assinatura:______________

Profª. Drª. Glaucia Eneida Davino – Instituição: MACKENZIE

Julgamento: Aprovado Assinatura:______________

Prof. Dr. Guilherme Weffort Rodolfo – Instituição: USP

Julgamento: Aprovado Assinatura:______________

Prof. Dr. Euclides Alves Vital Júnior – Instituição: UniCesumar

Julgamento: Aprovado Assinatura:______________

E OS AGRADECIMENTOS VÃO PARA:

Professor Doutor Pelópidas Cypriano de Oliveira, sem o qual este trabalho não teria

acontecido

Anelice, Bebê, Mimi e Maria, queridos.

E, TAMBÉM, PARA MEUS AMIGOS:

Professor Doutor Fábio Miguel.

Professor Doutor Luciano Morais.

ROCKIAVEL (Adriano, guitarra; Fernando Lampoglia, baixo e Leospa, bateria).

PARÁGRAFo D (Vitor Mellado, guitarra; Thiagson, vocal; Silvio, baixo e Chris,

bateria).

DSS (Drico, guitarra e vocal; Silvio, baixo e vocal e Salva, bateria).

Todos os professores, funcionários e alunos do Instituto de Artes, sem exceção.

RESUMO

A tese contida neste trabalho é que banda de rock é um objeto artístico. Esse objeto

visa, para sua plena realização e concretização, colocação no mercado, mercado o

qual se alterou com o decorrer do tempo. Devido às mudança ocorrida nesse

mercado, a necessidade de investimento para os músicos aumentou, o risco da

empreitada passou a ser das bandas e o papel das gravadoras mudou. A

metodologia que adotei utiliza: a) a artemídia, conforme definida por Pel (1992), para

estudar três bandas protótipos; b) o pluralismo metodológico explicitado por

Sampieri, Collado e Lucio (2013); c) levantamento bibliográfico a respeito do Rock

Brasil 80 e d) comparação desse período mercadológico com o momento atual. A

conclusão alcançada é a de que banda de rock é objeto artístico que para ser

materializado atualmente deve adaptar seu fazer artístico às modificações ocorridas

no mercado.

Palavras-chave: Artemídia. Rock. Mercado.

ABSTRACT

The thesis presented in this work is that rock band is an art object. This object needs

to be placed in market for its fulfillment. During the passing years this market

changed. Musicians are required to invest more and take the risk of the enterprise as

consequence of the change in record labels. The methodology used here comprises:

a) artemídia as defined by Pel (1992) for the study of three rock bands prototypes; b)

methodological pluralism as seen in Sampieri, Collado e Lucio (2013); c)

bibliographical review about Rock Brasil 80 and d) comparative analysis from the

eighties with today’s market. Conclusion reveals that rock bands are an artistic object

that need adaptation in the rise of new market conditions.

Palavras-chave: Art. Media. Rock. Market.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Foto 01: Drico (Adriano Capocchi) na guitarra e Salva Pessoa na bateria………….22

Foto 02: Thiagson e Sílvio gravando a chamada para o programa Papo No Pau…25

Foto 03: Serapicos & Banda………………………………………………………………26

Foto 04: Estudo do emblema de Rockiavel…………………………………………..…29

Foto 05: Rockiavel em sessão de fotos para o CD……………………………….……30

Foto 06: CD Aja do Rockiavel…………………………………………………………….33

Foto 07: Rockiavel durante a gravação do videoclipe Adeus…………………………36

Foto 08: Artistas da Jovem Guarda………………………………………………………43

Foto 09: Professor José Fonseca….….………………………………………………….44

Foto 10: O método……………………………….….….….…..….….….….….….….…..44

Foto 11: A primeira música que toquei ao violão……………………………………….45

Foto 12: Capa do LP da Blitz………………………………………….….….….….….…47

Foto 13: Cena de Cinema, primeiro LP autoral de Lobão……………………………..54

Foto 14: Primeiro LP do Barão Vermelho…………………………………….…………56

Foto 15: LP Barão Vermelho 2……………….………………………………………..…59

Foto 16: LP Barão Vermelho MTV Ao Vivo……………………………….….…………59

Foto 17: Primeiro LP do Paralamas………………………………………………………64

Foto 18: Beatles. Os Reis do Ié, Ié, Ié………………………………………………...…65

Foto 19: Beatles. A Hard Day’s Night. Edição inglesa…………………………………65

Foto 20: Beatles. A Hard Day’s Night. Edição brasileira………………………………66

Foto 21: Beatles. A Hard Day’s Night. Edição americana………………………….…67

Foto 22: Álbum Titãs………………………………………………………………………68

Foto 23: Capa do LP da Legião Urbana…………….…………………………………..71

Foto 24: Logotipo do Ultraje………………………….…………………….…….….…...76

Foto 25: Primeiro compacto do Ultraje………………………………………….….……77

Foto 26: Segundo compacto do Ultraje……………………………………………….…78

Foto 27: LP do Ultraje….….….….….…….….….….….…………………………………78

Foto 28: Capa do LP do RPM……………………………………….….….….….….…..85

Foto 29: LP Exagerado de Cazuza…………………………………….….….….….…..88

Foto 30: Capa do LP do Ira!……………………………………………….….….….……92

Foto 31: Rockiavel no The Noite com Danilo Gentili…..….……………………………98

Foto 32: Cartão de visita do Rockiavel….…….….…….….….……………………….103

Foto 33: Brian Epstein, empresário dos Beatles………………………………………109

Foto 34: Cacá Prates……………………………………….………………………….…110

Foto 35: Cecília Degan….………………………………………………………………..111

Foto 36: Lina Kruze e Rodrigo Mariano na banda The Wasted….……………….…112

Foto 37: Eskute BLITZ….……………………………………….….….……….………..127

Foto 38: LP Guia Politicamente Incorreto… ….….…….…….…….…….…….……..130

Foto 39: Viva, Barão Vermelho….….…….………………………………………….…134

Foto 40: Sinais do Sim, Paralamas Do Sucesso……………………………………..141

Foto 41: Doze Flores Amarelas dos Titãs……….….….….….….….….….…….…..144

Foto 42: Uma Outra Estação, Legião Urbana………………………………………...147

Foto 43: Música Esquisita A Troco De Nada, Ultraje A Rigor………………………151

Foto 44: Mais, RPM…………………………….………………………………………..154

Foto 45: Cazuza – 2 Lados……………………………………………………………..159

Foto 46: Ira! Folk…………………………………………………………………………161

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Quantidade de canções e tempos em primeiros álbuns

escolhidos………………………………………………………………………………….203

Tabela 2 – Primeiros álbuns de bandas escolhidas do Rock Brasil 80……….……206

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.................................................................................11

EMPÍRICO ANALÍTICO..............................................................................12

COLETA DE DADOS.........................................................................................................................12

HISTÓRICO HERMENÊUTICO.................................................................13

ROCK BRASIL 80...............................................................................................................................13

DIALÉTICO...................................................................................................13

REDAÇÃO...........................................................................................................................................13

TESE – Visão de Mercado Fonográfico..........................................15

MUDANÇA DE MERCADO.........................................................................16

INVESTIMENTO, RETORNO E RISCO....................................................16

4 TIPOS DE BANDAS...................................................................................17

1 BANDA AUTORAL.........................................................................................................................17

2 BANDA COVER..............................................................................................................................18

3 BANDA COSCOVER.......................................................................................................................18

4 BANDA RECREATIVA...................................................................................................................19

ARTEMÍDIA..................................................................................................19

TRÊS BANDAS PROTÓTIPO......................................................................20

1 DSS...................................................................................................................................................20

2 PARÁGRAFo D................................................................................................................................22

3 ROCKIAVEL....................................................................................................................................27

ANTÍTESE – Visão do Histórico de Bandas de Rock....................34

ROCK DEFINIÇÃO......................................................................................34

ROCK BRASIL 80.........................................................................................38

DEZ BANDAS ESCOLHIDAS.....................................................................42

1 BLITZ!..............................................................................................................................................42

2 LOBÃO.............................................................................................................................................47

3 BARÃO VERMELHO......................................................................................................................51

4 PARALAMAS DO SUCESSO..........................................................................................................55

5 TITÃS...............................................................................................................................................59

6 LEGIÃO URBANA..........................................................................................................................63

7 ULTRAJE A RIGOR.........................................................................................................................67

8 RPM..................................................................................................................................................73

9 CAZUZA...........................................................................................................................................78

10 IRA!.................................................................................................................................................81

SÍNTESE – Visão de Artemídia.......................................................85

OBJETO ARTÍSTICO...................................................................................91

ANÁLISE DE DUAS MÚSICAS PRÓPRIAS..............................................93

GRAVADORAS NO ROCK BRASIL 80.....................................................101

EMI-Odeon.........................................................................................................................................102

RCA....................................................................................................................................................102

Opus-Columbia..................................................................................................................................102

WEA...................................................................................................................................................103

Epic....................................................................................................................................................103

Som Livre...........................................................................................................................................103

TRANSFORMAÇÃO MERCADOLÓGICA...............................................103

GRAVADORAS NO MOMENTO ATUAL.................................................105

Universal............................................................................................................................................105

Warner...............................................................................................................................................106

Sony Music.........................................................................................................................................108

Som Livre...........................................................................................................................................109

BANDAS ESCOLHIDAS E SEUS TRABALHOS MAIS RECENTES....110

1 BLITZ.............................................................................................................................................110

2 LOBÃO...........................................................................................................................................113

3 BARÃO VERMELHO....................................................................................................................116

4 PARALAMAS DO SUCESSO........................................................................................................121

5 TITÃS.............................................................................................................................................124

6 LEGIÃO URBANA........................................................................................................................125

7 ULTRAJE A RIGOR.......................................................................................................................129

8 RPM................................................................................................................................................131

9 CAZUZA.........................................................................................................................................135

10 IRA!...............................................................................................................................................137

CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................140

REFLEXÕES SOBRE O MOMENTO ATUAL DAS BANDASESCOLHIDAS.............................................................................................140

REFERÊNCIAS..............................................................................142

APÊNDICE I...................................................................................160

PRIMEIRA VEZ.............................................................................160

MARCA D’ÁGUA...........................................................................163

SMILE..............................................................................................164

SUPOR ISSO...................................................................................166

SAÚDE.............................................................................................171

FEITA DE LUZ...............................................................................175

AJA...................................................................................................176

APÊNDICE II..................................................................................178

ANEXO I..........................................................................................185

BREGA DA SAÚDE.......................................................................185

KATINGUETÁLLICA...................................................................187

KI LINDA NECA BOFE................................................................188

ANEXO II........................................................................................190

ANEXO III.......................................................................................191

11

INTRODUÇÃO

Dear Sir or Madam, will you read my book?It took me years to write, will you take a look?1

O significado e a importância desta pesquisa para mim e para aqueles

que se interessam pelo tema é a oportunidade de entender cada vez mais as

atividades, os processos e procedimentos utilizados na formação do objeto artístico

banda de rock. Tenho interesse, ainda, em visualizar a importância dos mecanismos

de mercado envolvidos na colocação social dos conjuntos musicais do estilo em

tela, compreendendo a influência dos diversos fatores envolvidos e abordando as

transformações ocorridas neste mercado atualmente.

Quando penso na relevância deste estudo para a academia lembro

que ela se fundamenta em três pilares: ensino, extensão e pesquisa. Pesquisar

bandas de rock certamente acrescentará algo: gerará fonte de referências para os

interessados neste tema, seja para o ensino ou para o próprio desenvolvimento

pessoal, e disponibilizará elementos que poderão ser utilizados pela comunidade.

Para a sociedade, conhecer melhor este mercado milionário é crucial

porque permite a tomada de decisões de investimento com maior propriedade,

decisões as quais podem gerar renda e emprego.

Este trabalho utiliza três formas de metodologia de pesquisa em

ciências humanas, a saber, a metodologia empírica analítica, a histórica

hermenêutica e a dialética. Elas são amplamente estudadas nas disciplinas do

programa de pós-graduação em artes, mormente em Metodologia de Pesquisa em

ciências humanas ministrada pelo Prof. Dr. João Cardoso Palma Filho.

A artemídia, conceito amplamente estudado por PEL (Prof. Dr.

Pelópidas Cypriano de Oliveira), é a base de todo o trabalho porque o olhar da arte

associada às comunicações e a tecnologia é fundamento para meu curso de

1Caro Senhor ou Senhora, será que você vai ler meu livro? Levei anos para escrever, será que você vai dar uma olhada? Paperback Writer composta por Lennon&McCartney em 1966.

12

doutorado em artes, além de ser imprescindível para o funcionamento de bandas de

rock. Esta é, portanto, pesquisa que se situa no campo de conhecimento

denominado Artemídia. Noto que os vídeos, que hoje são imprescindíveis para

bandas de rock, estão inseridos em um amplo contexto cultural vinculado à

artemídia. No entender de Pel (1992, p. 6):

Videoclip: Artemídia Emergente. Esta frase sintetiza o caráter

plurívoco do videoclip que está situado na interface Arte-

Comunicação. Não se refere aos videoclips comerciais que passam

nas TVs. Mas sim, trata do potencial que o meio videoclip pode

oferecer enquanto interface Arte-Comunicação.

Este potencial se encontra em amplo desenvolvimento com o aporte

de novas tecnologias, hologramas, imagens em três dimensões, criação de espaços

que exibem vídeos e aplicação crescente de recursos e reflexões sobre o meio. É a

artemídia em toda sua pujança.

Inspirado por PEL (1989, p. 6), atentei para a interpretação visual

neste texto, utilizando padrões estéticos e plásticos característicos das estesias

geradas no universo rock.

EMPÍRICO ANALÍTICO

COLETA DE DADOS

Na coleta de dados sobre as três bandas analisadas, utilizei o

paradigma empírico analítico. Participei de três conjuntos e esta experiência artística

propiciou uma visão sobre o funcionamento das bandas, sobre o mercado atual para

bandas de rock e sobre as necessidades para um conjunto atingir a inserção social.

Feito este trabalho que consistiu em atividades diversas como, por exemplo, gravar

um CD (compact disc), filmar videoclipes, participar de programas de TV, dentre

outros, passei a analisar e refletir sobre a experiência. Do tratamento desses dados

resultou a classificação em 4 tipos de bandas: 1. Autoral; 2. Cover; 3. Coscover; 4.

Recreativa, descrita no capítulo TESE – Visão de Mercado Fonográfico.

13

HISTÓRICO HERMENÊUTICO

ROCK BRASIL 80

O paradigma histórico hermenêutico foi empregado quando efetuei

leituras diversas sobre o tema da investigação, nas disciplinas cursadas e durante

todo o decorrer de minha vida. Este paradigma permitiu a revisão da literatura

pertinente relacionada ao Rock Brasil 80, gerando pano de fundo para a

compreensão das transformações ocorridas na indústria.

Aqui abro parênteses para indicar que alguns autores, a exemplo de

Dapieve (2015), usam a expressão BRock para referirem-se ao rock feito no Brasil

nos anos de 1980. Optei por Rock Brasil 80 porque, como veremos, o rock no Brasil

surge na década de 1950 e não me parece adequado BRock (Brazilian rock, ou rock

feito no Brasil) para falar apenas de um período.

Do tratamento desses dados históricos resultou a lista “Dez Bandas

Escolhidas”: 1 BLITZ!; 2 LOBÃO; 3 BARÃO VERMELHO; 4 PARALAMAS DO

SUCESSO; 5 TITÃS; 6 LEGIÃO URBANA; 7 ULTRAJE A RIGOR; 8 RPM; 9

CAZUZA; 10 IRA!; descritas no capítulo ANTÍTESE – Visão de Histórico de Bandas

de Rock.

DIALÉTICO

REDAÇÃO

Para redigir a versão final do trabalho, optei pela dialética. Exponho

minha tese no capítulo correspondente, apresento a antítese posteriormente

utilizando minha vivência na cena do Rock Brasil 802 combinada com pesquisa

bibliográfica e, por fim, sintetizo as conclusões.

As hipóteses de trabalho consistem nas ideias de que banda de rock é

objeto artístico, objeto que busca inserção social no mercado, mercado

transformado no decorrer do período estudado. O objetivo do estudo é, portanto,

2Rock produzido no Brasil na década de 1980, como visto anteriormente.

14

confirmar estas afirmações ou negá-las e, neste caso, descobrir qual a alternativa

para elas.

Do tratamento desses dados empírico-analítico e hermenêutico-histórico resultou a

lista de Gravadoras e lista “Dez Bandas Escolhidas na atualidade”: 1 BLITZ!; 2

LOBÃO; 3 BARÃO VERMELHO; 4 PARALAMAS DO SUCESSO; 5 TITÃS; 6

LEGIÃO URBANA; 7 ULTRAJE A RIGOR; 8 RPM; 9 CAZUZA; 10 IRA!; descritas no

capítulo ANTÍTESE – Visão de Histórico de Bandas de Rock.

Alerto para o fato deste trabalho estar escrito em primeira pessoa,

visto que a busca da própria voz em um trabalho inédito é desejável 3, conforme

explicitado na disciplina Seminário de Pesquisa em Artes II ministrada pela Profa Dra

Luíza Christov.

Todas as traduções deste volume foram feitas por mim.

3Conceito extensamente explorado na disciplina Seminários de pesquisa em artes II conduzida pela Profa. Dra Luíza Helena da Silva Christov. Ver o plano de ensino referenciado.

15

TESE – Visão de Mercado Fonográfico

A tese contida neste trabalho é que banda de rock é um objeto

artístico. Este objeto visa, para sua plena realização e concretização, colocação no

mercado, mercado o qual se alterou com o decorrer do tempo. Devido às mudança

ocorrida neste mercado, a necessidade de investimento para os músicos aumentou,

o risco da empreitada passou a ser das bandas e o papel das gravadoras mudou.

O estudo foi realizado essencialmente no Estado de São Paulo

durante o período de compreendido entre o segundo semestre de 2016 e os dois

primeiros meses de 2020.

A amostra escolhida para delimitar os participantes da investigação foi

constituída pelas três bandas nas quais trabalhei: Rockiavel, Parágrafo D e DSS. O

critério adotado para eleger estas bandas foi o fato de poder acessar os dados com

liberdade, pois eu estive presente em todas as etapas concernentes ao processo

artístico.

O desenho do estudo contemplou a observação e a reflexão das

atividades artísticas das três bandas citadas, observação e reflexão confrontadas

com a pesquisa bibliográfica desenvolvida a respeito do Rock Brasil 80, as

condições mercadológicas de então e as mudanças ocorridas.

O procedimento de recolhimento dos dados utilizou como instrumento

o fazer artístico gerador de objetos diversos: ensaios, gravações de áudio e vídeo,

participação em programas de TV, inserção nas mídias sociais e apresentações ao

vivo.

A principal variável presente na análise é função do tipo de banda

estudada. Isto gerou a classificação segundo a qual as bandas podem ser

entendidas como autoral, cover, coscover e recreativa dependendo do tipo de

trabalho desenvolvido e da inserção social pretendida.

16

MUDANÇA DE MERCADO

Falemos, agora, sobre a mudança no mercado. Essencialmente,

tratou-se da terceirização da produção artística. No cenário do Rock Brasil, artistas

eram empregados contratados por gravadoras. Estas companhias pesquisavam a

cena musical, viam e ouviam as bandas que tocavam em espaços diversos e faziam

suas apostas, ou seja, escolhiam as que, sob o olhar das gravadoras, apresentavam

maior possibilidade de retorno financeiro e ofereciam um contrato de gravação,

geralmente por um período de três anos no qual os artistas se comprometiam a

gerar três álbuns com músicas autorais gravadas em estúdio fornecido e bancado

pelas empresas. Noto que, elas, as gravadoras, não aceitavam gravações de shows

ao vivo como prestação de contas para o atingimento da meta de três obras.

Contrato com gravadoras era o objetivo das bandas que procuravam inserção neste

mercado. Uma vez assinado, gravação de músicas, confecção de videoclipes,

aparições em rádio e TV, material promocional e tudo o mais eram por conta das

companhias. Elas investiam e, caso o produto não propiciasse o retorno esperado, o

custo da empreitada era suportado por elas. Atualmente, temos uma nova

configuração. O pretendente a artista deve, em primeiro lugar, gravar a sua obra por

conta e risco. Prepara uma coleção de músicas, paga a captação no estúdio,

músicos de apoio se for o caso, providencia a mixagem e a masterização. Cria todo

o material visual, logo, videoclipes, páginas nas redes sociais e canais de mídia

digital e deve criar seu público nestes meios. Toda a agenda, shows, participações

em rádio e TV e eventos em geral, é responsabilidade da banda. Ela deve funcionar

como uma pessoa jurídica e se estabelecer. Caso esta empresa seja

economicamente viável e se firme através de seu trabalho, aí surge a gravadora. Ela

passa a intermediar as relações dos músicos com demandantes do produto e coloca

o trabalho na, permita-me a expressão que não tem conotação de valor, grande

mídia.

INVESTIMENTO, RETORNO E RISCO

No parágrafo anterior, utilizei conceitos como investimento, retorno e

risco enfatizando o aspecto financeiro embutido nestes termos. É a lógica do

17

mercado para a maioria das empreitadas. Não pretendo discutir aqui as lógicas de

todos os mercados. Há monopólios e oligopólios diversos e, nem sempre a lógica do

lucro se aplica, como por exemplo, mercados de energia, produção de papel-moeda

e documentos nos quais existe a preocupação com a soberania e o poder. Trato de

um mercado particular, enfatizo, mercado para bandas de rock, especialmente no

Brasil nos dois períodos citados: Rock Brasil 80 e atualidade. Este recorte da

realidade é importante pois propicia foco para a pesquisa. Ainda sobre os conceitos

de investimento e retorno, alerto que eles contém o aspecto financeiro mas não se

restringem a ele. Explico. Investimento, segundo minha visão, é a aplicação de

recursos com vistas ao recebimento de retorno. O investimento, no entanto, pode

não ser financeiro. Ter tempo e energia para realizar uma tarefa são tão importantes

quanto a capacidade de inversão. Vem à mente a ideia do aspirante a músico que,

assoberbado por estudos e a necessidade de prover o sustento, não tem tempo ou

energia para se dedicar a um projeto artístico, correndo de escola em escola dando

aulas e gastando noites de sono estudando.

Para explicitar melhor a ideia de investimento e retorno no contexto de

nossa investigação, vou adotar uma classificação para as bandas de rock. Esta

classificação vem de minha experiência acadêmica e vivência no mercado

fonográfico atual, aplicando o resultado do tratamento de dados obtidos com

paradigma empírico analítico.

4 TIPOS DE BANDAS

Aqui é interessante falar sobre os tipos de bandas de rock. Proponho

uma classificação na qual podemos verificar a existência de quatro tipos de bandas:

1. Autoral; 2. Cover; 3. Coscover; 4. Recreativa.

1 BANDA AUTORAL

Autoral é aquela que produz as próprias músicas ou busca músicas

inéditas de outros compositores. Mesmo quando interpreta alguma canção já

conhecida, cria um arranjo ou usa outro método (fazer uma nova letra, por exemplo)

18

para diferenciar seu produto. No entanto, o foco é criar as próprias composições. A

inserção social pretendida é ser reconhecida na grande mídia e criar fonte de renda.

Exemplo de banda autoral é Rockiavel na qual as músicas são

produzidas por seus membros.

2 BANDA COVER

A banda cover executa canções já conhecidas de autores

consagrados. Pode, eventualmente, tocar algo próprio mas isto não é o cerne da

labuta. Busca inserção social apresentando-se em bares, geralmente. O alcance do

trabalho é, essencialmente, local.

Exemplo de banda cover é Zepper’s a qual faz tributo ao Led Zeppelin.

Há pessoas que não gostam desta denominação, a exemplo de

Roberto Frejat, guitarrista e vocalista do Barão Vermelho, que entende cover como

uma cópia “não sendo este o caso de… um disco de regravações” (ALVES JR,

1997, p. 19). Alerto, no entanto, que este conceito não importa juízo de valor.

Lembro que os Beatles gravaram covers em quatro de seus LP, a saber, Please,

Please Me, With The Beatles, Beatles For Sale e Help! E, em muitos casos,

conseguiram versões superiores às originais, a exemplo de Twist And Shout música

de encerramento do primeiro álbum, o citado Please, Please Me. Nesta categoria de

minha classificação, cover indica músicas de outros autores, músicas já

consagradas, sem indicar o grau de inovação presente na performance ou no

arranjo. Parece claro que, quando uma banda autoral faz regravações, ela não deve

ser incluída na categoria Cover. Este é o caso, para citar um, do Ultraje A Rigor com

o álbum Por Que Ultraje A Rigor? que contém apenas uma música própria (Mauro

Bundinha).

3 BANDA COSCOVER

Coscover, o termo que criei para aquelas que buscam reproduzir

fielmente o objeto ao qual se dedicam, executa músicas de um determinado artista

19

já consagrado. Usam os mesmos instrumentos, vestuário e reproduzem fielmente,

dentro do possível, o artista homenageado.

Exemplo de banda coscover é All You Need Is Love que busca

reproduzir fielmente o trabalho dos Beatles, chegando ao requinte do baixista, que é

destro, aprender a tocar baixo como canhoto para respeitar a visualidade do fab

four.

O mercado aqui é um pouco mais amplo se comparado com as de covers. Visa

grandes teatros, Teatro do Shopping Bourbon, por exemplo, além de buscar

competições nas quais se procura aquelas que melhor reproduzem a banda original.

Uma referência é a banda All You Need Is Love a qual se dedica aos Beatles e

participou de festivais diversos, inclusive em Liverpool. Pode ocorrer a hipótese

deste tipo de banda executar música própria, mas trata-se de exceção muito rara. E

o caso, novamente, da All You Need Is Love que gravou uma música própria em

Abbey Road, como se vê no DVD referenciado.

4 BANDA RECREATIVA

Bandas recreativas, em geral, executam músicas conhecidas e o que

as difere das bandas cover é o fato de não possuírem intenção de retorno

financeiro. Os outros três tipos de bandas buscam este retorno, porém o quarto tipo,

a recreativa, não tem este objetivo. Pode até se apresentar eventualmente em locais

que remuneram, todavia este não é o desiderato. A ideia aqui é a diversão, a

socialização e o puro prazer.

Exemplo de banda recreativa é DSS que se reune para se divertir, sem

cronograma, repertório fixo, sem pretenções.

Falo agora do conceito adotado por mim nesta tese, a inserção social.

Trata-se de um conceito subjetivo no sentido de que o próprio ator social irá definir

qual a colocação que ele deseja alcançar no cenário. Não é uma medida física,

econômica palpável como, digamos atingir a obtenção de uma renda mínima

mediante a oferta de seu produto. Quem diz qual a inserção pretendida é o

interessado. Vejamos o exemplo da banda recreativa. Ela pode investir (tempo,

20

dinheiro, recursos diversos) com o propósito de obter como retorno satisfação.

Tocar em uma festa de aniversário, por exemplo. Ela alcançou a inserção que

desejava. Por outro lado, uma banda autoral com CD gravado, participação em

mídias diversas (sociais, rádio e TV) pode não ter atingido a inserção pretendida se

ela quer ampliar seus rendimentos, agenda e exposição. Para quantificar este

conceito imagino entrevistas com os envolvidos e eles dirão se atingiram ou não a

inserção social pretendida.

ARTEMÍDIA

Por fim o conceito de artemídia4, conforme tratado no grupo de

pesquisa Artemídia e Videoclipe liderado pelo Prof. Dr. Pelópidas Cypriano de

Oliveira, é a interação entre arte e comunicação. Abrange os desenvolvimentos

científicos e tecnológicos e, por seu caráter comunicacional celebra a interatividade.

Envolve a noção de que, para as bandas autorais, não basta mais produzir sua arte

musical. Há de cercar-se das ferramentas propiciadas pela comunicação, pela

ciência e pelos novos meios tecnológicos. É o momento em que o músico percebe

que não basta ter um CD gravado: é preciso estabelecer estratégias de

comunicação (videoclipes, mídias sociais, redes virtuais e físicas). Redes físicas

compreendem as relações sociais. São de extrema importância e podem minimizar

investimento, encurtar caminhos. Pense no músico de garagem cujo pai é alto

executivo de gravadora. É um atalho. Entre a sorte grande do exemplo anterior e a

prática comum de sair do zero há um conjunto de variações. A banda que se

associa a um videomaker diminui drasticamente os custos de produção, verbi gratia.

TRÊS BANDAS PROTÓTIPO

Expostos os conceitos adotados, passo a apresentar os dados

empírico-analíticos utilizados nesta pesquisa. São as bandas escolhidas como

protótipos (baseados na classificação de 4 tipos de bandas de rock) sobre as quais

lançarei um olhar fortalecido pela artemídia. DSS (recreativa), Parágrafo D (autoral)

e Rockiavel (autoral). Escolhi para prototipagem apenas os tipos banda recreativa e

4Para aprofundamentos, ler a tese de doutorado de PEL, Pelópidas Cypriano de Oliveira referenciada neste volume.

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banda autoral porque esta é a tipologia que mais vai ao encontro de minhas

aspirações de criação de objeto artístico, pois os tipos banda cover e banda

coscover não contemplam a criação de obras inéditas, inviabilizando a inserção no

mercado fonográfico atual. Considerando a economia criativa, escolhi os dois

extremos de colocação social: a aposta máxima (autoral) e a aposta mínima

(recreativa). Aposta entendida como investimento vis-à-vis retorno esperado.

1 DSS

DSS foi uma banda da qual participei que se enquadra na categoria

recreativa. Ela existiu no período de março a dezembro de 2018. Adriano Capocchi,

guitarrista e amigo, antes de nos conhecemos, tocou em diversas bandas de

músicas cover. Dentre os diversos músicos que ele conheceu um tornou-se mais

próximo: Salva Pessoa.

Salva é baterista. Estudioso e professor do instrumento. Foi com ele

que Adriano conheceu as alegrias e a tortura de tocar com o metrônomo.

Passaram a tocar sempre juntos.

Certo dia, Adriano perguntou se eu não gostaria de tocar baixo com

eles. Respondi afirmativamente. Primeiro pois sou amigo dos dois. Depois porque vi

a oportunidade de ampliar meu repertório tocando rocks de bandas que eu ainda

não tinha estudado.

Logo de saída, ficou acertado que esta seria uma banda, como

afirmado anteriormente, recreativa. Não teria ensaios fixos nem lista de repertório

rígida. Abriria espaço para improvisos e o mais emblemático: não perseguiria

músicas inéditas, algo essencial para qualquer banda que procura se lançar no

grande mercado, permita-me chamá-lo assim.

Adriano escolheu o nome: D (Drico – abreviatura de Adriano) S (Salva)

S (Silvio), Foto 01. Simples e sonoro. Na linha de E (Emerson) L (Lake) P (Palmer).

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Foto 01: Drico (Adriano Capocchi) na guitarra e Salva Pessoa na bateria.

Fonte: Adriano Capocchi.

Fizemos alguns ensaios em meu estúdio e marcamos uma

apresentação em 27 de abril de 2018 na Choperia da Granja, situada na Granja

Viana em Cotia. Naturalmente, a remuneração foi cerveja... Deste show participaram

como convidados Parágrafo D e Rockiavel, à época denominado A era do caos.

Parágrafo D e Rockiavel foram ao evento com o objetivo de testar o repertório em

apresentação ao vivo e divulgar as marcas.

DSS não teve vida-longa. Após mais alguns ensaios surgiu um

problema que se mostrou intransponível: a eleição presidencial de 2018. Salva,

eleitor do PT, e Drico, eleitor de Bolsonaro, começaram a trocar mensagens com o

intuito de fazer proselitismo político. Estas mensagens logo descambaram para a

agressão e a amizade entre os dois foi rompida. Não havia mais, então, um dos

fundamentos da banda Recreativa: a diversão e o prazer de ficar juntos. A

camaradagem passou a não existir. Os dois ficaram rompidos por um bom tempo.

Felizmente, o desentendimento passou recentemente e ficamos de nos encontrar

(os três) para tocarmos novamente.

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2 PARÁGRAFo D

A segunda banda escolhida como fonte de dados deste trabalho é o

PARÁGRAFo D.

Este trabalho começou a tomar forma quando conheci o compositor

Thiago Alves. Ele estava finalizando o curso de composição no Instituto de Artes da

UNESP e tive o prazer de participar, em outubro de 2016, de banca de avaliação do

trabalho de conclusão de curso (TCC) preparado por ele. Vale mencionar que nossa

indicação (indicação da banca da composta por PEL e por mim) para publicação

vingou e o TCC foi editado como livro.

Fortemente influenciado por Falcão (humorista e cantor cearense com

nove discos gravados), Mamonas Assassinas (banda de rock satírica), Ary

Toledo(humorista paulistano) e por tudo o que diz respeito a piadas, cacofonias e

escatologismo. Thiago escreveu uma coleção de canções jocosas e começamos a

preparar um projeto em conjunto.

Nossa primeira apresentação foi no evento POEforMAceS DA

revIRAda no CRP ECA USP (Departamento de Relações Públicas da Escola de

Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo) ocorrido em novembro do

mesmo ano. Thiago, César (compositor da mesma turma do Thiago) e eu

executamos canções próprias e acompanhamos performances de atores os quais

leram poesias. Nosso equipamento instrumental foi composto por violões Martin de

seis e doze cordas, cajon e baixolão Martin. Todos cantamos. Este foi,

primordialmente, um show acústico, no qual só o baixolão foi amplificado. A

recepção foi educada, porém fria. Senti não ser o público propício para este tipo de

música: canções muito popularescas, principalmente Aja a qual cantei com forte

drive, em um local tão erudito. Outro fator que prejudicou a performance e ficou

evidente para mim foi a necessidade de muito mais ensaios para atingirmos um

patamar menos amadorístico. No entanto, tocar ao vivo é sempre fonte de

crescimento para músicos. Sempre vale a pena. Arrisco-me a dizer que, sem o

contato direto com a plateia, é muito difícil o desenvolvimento artístico.

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Abro parênteses aqui para relatar uma peculiaridade ocorrida nos

ensaios do PARÁGRAFo. Não havia calendário sistemático: os ensaios aconteciam

apenas como preparação para eventos. É peculiaridade que não vi nas bandas

profissionais que conheci, cujo calendário contemplava ensaios diários. Ensaio,

aqui, é entendido em sentido amplo. É a reunião dos membros da banda para tocar,

compor, tratar de assuntos comerciais, fotografar, fazer vídeos, em fim, ficar junto

trabalhando. Ensaios regulares são particularmente importantes quando o repertório

está sendo formado porque assim a sensação subjetiva de segurança dos músicos

aumenta e passa a ser possível tocar sem a necessidade de contatos visuais que

sempre ocorre quando não há firmeza na estrutura a ser interpretada. Com esta

firmeza, passa a ser possível interagir melhor com o público. Fixado o repertório, os

ensaios podem ser entendidos como manutenção e, na parte musical, não precisam

ser tão intensos.

Logo após a apresentação na USP, a primeira baixa. César nos

informou que não pretendia continuar. Éramos, então, uma dupla.

Em dezembro de 2017, eu e Thiago nos reunimos e ele trouxe uma

ideia. Produzir um canal de TV no YouTube denominado Papo No Pau.

Essencialmente um programa de entrevistas com músicos da cena alternativa de

São Paulo, Foto 02. A nossa banda foi promovida, então, à banda oficial do canal. O

primeiro programa foi com o músico Serapicos, Foto 03, que falou sobre seu

trabalho e suas apresentações no SESC e outros espaços. Compusemos a primeira

parceria: Katinguetállica, uma sátira ao heavy metal inspirada na métrica da música

A Barata do grupo de pagode Só Para Contrariar. Gravamos em meu estúdio e

fizemos um clipe no Beco do Batman.

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Foto 02: Thiagson e Silvio gravando a chamada para o programa Papo No Pau.

Fonte: Thiago Alves.

Este trabalho revitalizou o S27, o meu estúdio. Surgiu, desta forma, a

ideia de transformar a sala de visitas de minha casa, até então com uma decoração

inspirada em futebol, com mesa de jogo de botão, bonecos de times, camisas de

equipes. A nova versão do espaço foi projetada pelo arquiteto Leonardo Galasso

(sim, o Leospa, baterista do Rockiavel é arquiteto!) transformando-se no segundo

estúdio da casa. Mais espaçoso, mais próximo das garagens, contando com terraço

e sala de convivência. Possui TV de 55” de tela curva, acesso à internet, bar e

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espaço para refeições. A sala sofreu tratamento acústico e recebeu nosso

equipamento, bem como um par de caixas JBL novinho para o PA (public address,

destinado a amplificar, no nosso caso, as vozes). Contratamos um técnico de som,

Rodrigo Ferrari, do Estúdio 500, para equalizar a mesa de som. Além destas

comodidades, o fator decisivo foi podermos ensaiar com nosso equipamento.

Durante as apresentações do ano de 2017, alugamos PA, tocamos em bateria

cedida pelos espaços que nos contrataram, ensaiamos no DoZe e no Pata Negra

com equipamento destes estúdios e os problemas ficaram nítidos. Transportar e

montar um PA que não é nosso mostrou-se tarefa difícil e estressante, algo que

desvia o foco da banda e desperdiça energia. Só para exemplificar, a bateria cedida

por uma das casas de show na qual tocamos, não tinha todas as peças… Ensaios

com aparelhos diversos produzem sons diferentes e a manutenção em estúdios

alugados nem sempre é um primor.

Foto 03: Serapicos & Banda.

Fonte: Serapicos.

Voltemos à banda propriamente dita. Lançado o programa com

Serapicos, resolvemos estender a parceria com ele e gravar em seu estúdio o áudio

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do segundo vídeo do PARÁGRAFo. A música escolhida, composição de Thiago, foi

As Melhores Do Ary, satírica, irreverente e repleta de cacofonias, como não poderia

deixar de ser.

O vídeo da canção foi gravado nas dependências do Instituto de Artes

da UNESP. Neste momento, entrou para a banda o guitarrista Vitor Mellado, à

época, graduando em composição no mesmo Instituto que nós. Dublamos,

dançamos, fizemos palhaçadas e pronto… Segundo vídeo no Facebook.

Partimos, então, para a segunda e a terceira entrevistas para o Canal

Papo No Pau. O local das gravações foi o estúdio DoZe e um parque dentro de um

clube, ambos situados na Granja Viana em Cotia/SP. Os personagens foram A Era

Do Caos e o dono do estúdio, o Zé. Com a banda foram feitas tomadas tocando no

estúdio e outras em ambiente externo, o já citado parque do clube em Cotia. Zé

falou nas salas do estúdio, forma de divulgarmos o espaço. Estes dois projetos, no

entanto, não viram a luz do dia. Mais para frente, explicarei o porquê.

Prosseguimos com mais um vídeo com Vitor Mellado, eu e Thiago que

foi lançado na página lançado na página Papo No Pau: Respondendo a perguntas

de fãs. Gravado nas cercanias do Terminal Barra Funda, teve dois momentos. No

primeiro, Thiago aparecia caído à porta de um bar fechado e eu o resgatava para

levá-lo para a gravação. No segundo, Thiago lia perguntas de fãs (falsas, claro) e

nós três respondíamos. Coisas do tipo as irmãs Ava e Gina perguntam, Thomas

Turbando quer saber e assim seguia.

Em um ensaio no estúdio Pata Negra, mais um vídeo com som e

bobagens para promover a banda no canal. Foi a estreia de Cristiane Cordeiro na

bateria.

Aí surgiu uma apresentação. Compromisso na Cervejaria da Granja

em 27 de abril de 2017. Novo vídeo no Pata Negra para promover o show, Aqui a

ideia de tocar com outras bandas vingou. Junto com PARÁGRAFo D. A Era Do

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Caos e DSS. A casa lotou. A apresentação foi bem aplaudida. Todas as bandas

desempenharam bem. A prova disto é que fomos contratados para um segundo

show de inauguração de novo espaço da cervejaria, com data a ser definida. Este

show só não ocorreu devido ao encerramento da banda a ser explicado mais

adiante.

Dia 7 de maio, novo show, agora no Jai Club na Rua Vergueiro em

São Paulo/SP. Neste dia, devido a fratura no ombro ocorrida quando transportava

equipamentos na Cervejaria da Granja, toquei os baixos das músicas nos teclados.

E aqui, nossas produções chegaram ao fim. Uma série de

desencontros ocorreu. Citei, anteriormente, o fato de termos gravado duas

entrevistas que não vingaram. Por que? Bem, chegou o momento de editarmos o

material. Interessava-me trabalhar em conjunto com Thiago, mas surgiram

problemas. Ele temia circular por São Paulo com seu notebook. Estava atarefado

demais com aulas e estudos. Preferiu fazer sozinho as edições. Mais do que isso.

Abandonou as duas entrevistas e passou a editar vídeos pessoais. Aí morreu Papo

No Pau e nasceu o Canal Do Thiagson. Abortei o plano de comprar um notebook

para editarmos em vídeos em conjunto, pois estava claro que ele pretendia seguir

sozinho.

PARÁGRAFo D teve um ou outro ensaio irrelevante, Thiago e eu

proferimos algumas desinteligências e assim mais uma banda foi para o vinagre.

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3 ROCKIAVEL

Foto 04: Estudo do emblema de Rockiavel.

Fonte: Rockiavel.

A terceira banda escolhida para integrar minha base de dados é

Rockiavel, Foto 04. Ela é formada por Leospa, Fernando Lampoglia (sim, este foi o

nome artístico que adotei para esta empreitada) e Adriano Capocchi. Leospa e eu

fomos integrantes do Ultraje a Rigor e tocamos, respectivamente, bateria e baixo.

Adriano é guitarrista, como vimos anteriormente, Foto 05, da esquerda para a

direita, Adriano, Lampoglia e Leospa.

A primeira ideia que tivemos ao montar esta banda foi gravar uma

coleção de canções de minha autoria e montar um álbum. Posteriormente, foram

incluídas duas músicas de Adriano e uma releitura de Ciúme do Ultraje, agora

chamada de Saúde com letra escrita por Leospa.

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Foto 05: Rockiavel em sessão de fotos para o CD.

Fonte: Rockiavel.

Logo de saída, ficou acertado que a banda seria Autoral. A pretensão

sempre foi criar um empreendimento com vistas a retorno financeiro. Naturalmente,

o prazer de tocar, divertir e compartilhar momentos juntos não ficou de fora, porém

Recreativa Rockiavel nunca foi.

Gravamos onze músicas e confeccionamos o CD Aja. Mas, como

chegamos a este número ideal? Fiz uma análise do número de músicas e do tempo

total e parcial dos primeiros álbuns lançados por artistas que admiro. Os trabalhos

escolhidos foram Nós Vamos Invadir Sua Praia do Ultraje A Rigor, The Rolling

Stones da banda homônima, Please Please Me dos Beatles, Revoluções Por Minuto

do RPM, Titãs dos Titãs Do Iê-Iê-Iê (nome original, depois simplificado para Titãs e

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Mudança De Comportamento do Ira! Neste rol, todos os álbuns brasileiros contém

onze músicas. Stones com doze e Beatles com quatorze foram as exceções. O

tempo total ficou no intervalo entre 37m46s (Ultraje) e 31m52s (Beatles). Decidimos,

então, pela moda, aqui no sentido estatístico de observação mais frequente: onze

canções. As tabelas elaboradas por mim podem ser consultadas no Apêndice II.

Leospa surgiu, então, com a ideia de gravarmos oito de minhas

músicas (em português), duas outras compostas por Adriano (em inglês) e uma

cover, a já citada Saúde. As composições em inglês objetivavam atingir o público

internacional das redes sociais, Facebook, YouTube e Instragram.

Agora uma curiosidade. Rockiavel chamava-se originalmente A Era Do

Caos. Como Leospa não gostava do nome (A Era Do Caos) e eu não tinha vontade

de gravar músicas em inglês, decidimos que cada um cederia. O nome ficaria e

gravaríamos as canções em inglês. No entanto, a certa altura do trabalho, Leospa

disse que preferiria sair da banda a seguir com o nome que ele não gostava. Aí eu

cedi, Deixei ele escolher outro nome e preferi não me indispor com Adriano

solicitando a retirada das músicas dele do projeto. Afinal, “it’s only rock’n’roll”. Assim

morria A Era Do Caos e nascia Rockiavel.

Rockiavel é a junção das palavras Rock e Maquiavel. Rock por motivos

óbvios e Maquiavel, a princípio, pela sonoridade. Posteriormente, coloquei aos

amigos que o filósofo florentino foi o ideólogo da unificação dos estados italianos.

Nossa banda poderia agir assim, tentando unificar bandas em um movimento de

revitalização do rock nacional. Esta ideia, a princípio, pareceu interessante e o sinal

disto foi que passamos a receber material de diversos conjuntos de todo o Brasil (e

até da Bolívia).

Com o número de canções definidas para gravarmos em nosso CD de

estreia, editei CD demonstrativo (comumente chamado de demo). Coloquei

gravações preliminares de minhas músicas e isto serviu para Leospa e Adriano

avaliarem o material, o qual foi aprovado. Eles começaram a aprender as músicas e

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nós três passamos a pensar nos arranjos. Não utilizamos partituras neste estágio.

Como salientado anteriormente, agregamos Smile e Goodbye Son de Adriano e

Saúde de Roger e Leospa.

Passamos então, na primavera de 2016, a ensaiar o repertório a ser

gravado. Os estúdios Pata Negra (Vila Madalena) e DoZe na Granja Viana foram os

escolhidos para nossa preparação. Tocamos com baixo, guitarra e bateria. Para as

vozes (os três cantamos), usamos um sistema de PA composto por mesa de som

com efeitos, equalizador, potência e caixas. Além disso, frequentemente

realizávamos preparações acústicas com dois violões Martin, um de seis e outro de

doze cordas, para acertar harmonias, vocais e estrutura das músicas.

Tocamos, também, já pensando em nos preparar para apresentações

ao vivo, seis músicas de outros autores. Do Ultraje a Rigor, Inútil, Nós Vamos

Invadir Sua Praia e Saúde. Loiras Geladas, Olhar 43 e Rádio Pirata foram os nossos

tributos ao RPM.

Após esta preparação, estávamos prontos para gravar. O estúdio

escolhido foi o de Luiz Schiavon, compositor e tecladista do RPM.

Aí começa um processo complicado de tomada de som que se

arrastou por muito tempo. As tomadas de baixo e bateria foram rápidas, porém as

guitarras e violões demoraram pois foram praticamente desenvolvidas nas

gravações. Isto ocorreu devido ao fato de termos ensaiado uma guitarra e no

momento de gravar tínhamos de registrar pelo menos duas: base e solo. No

entanto, não foi incomum a gravação de duas bases. Usamos, também, violão

Martin de seis cordas com afinação em Ré, Lá, Ré, Fá#, Lá e Ré (da mais grave

para a mais aguda) na música Goodbye Son. Luiz Schiavon participou de todas as

faixas tocando teclados de maneira sensacional e isto valorizou muito todo o CD.

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Concluídas as tomadas de som, partimos para a mixagem do álbum no

Estúdio 500, local frequentado por bandas como Titãs, RPM e outros de igual

calibre.

A masterização foi feita na Holanda e gerou, por assim dizer, três

álbuns: um para o CD, outro para execução em rádio e TV e outro para streaming.

Isto é necessário por que os volumes e as frequências devem ser adequados para

os três meios de divulgação. As faixas para o rádio e a TV, por exemplo, devem ser

mais comprimidas para evitar distorções. Compressão, como ensina Dourado (2008,

p. 88) “consiste na redução do espectro entre os sons mais graves e os mais

agudos de qualquer sinal de áudio”.

Cumpridas as etapas citadas, fizemos o lançamento mundial na

plataforma de distribuição CD Baby no dia 07 de julho de 2018. A caminhada foi

longa, desde nossos primeiros ensaios na primavera de 2016. Agora, em posse do

CD, Foto 06, partimos à procura de apresentações.

Foto 06: CD Aja do Rockiavel.

Fonte: Rockiavel.

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O lançamento do álbum foi nossa segunda apresentação ao vivo.

Como vimos anteriormente, Rockiavel participou de show na Cervejaria da Granja

em companhia de DSS e PARÁGRAFo D. Para esta nova empreitada a ter lugar no

Open Mall Granja Viana durante o Festival de Inverno de 2018, contratamos

iluminador, técnico de som, dois rodies e contamos com a participação especial de

dois craques do Rock Brasil 80: Roger Moreira e Luiz Schiavon. Foi o espetáculo

mais concorrido de todo o festival com público de mais de duas mil pessoas.

Nossa próxima participação ao vivo foi na Oktoberfest em São Paulo

em outubro de 2018. Aparecemos como convidados e tocamos três músicas:

Primeira Vez, Até Quando Esperar (música da banda Plebe Rude) e Que País É

Este? (da Legião Urbana). A reação foi boa, mas nenhum novo compromisso foi

agendado como consequência deste show.

As apresentações no SBT e na TV Premium se seguiram. Noto que, o

programa The Noite Com Danilo Gentili foi muito positivo. Geraram a apresentação

na TV Premium e reconhecimento de meus pares na UNESP. Até um entregador do

correio citou o programa… No entanto, não demos continuidade ao trabalho.

Poderíamos ter ido ao Programa Raul Gil e ao Programa Todo Seu do Ronnie Von,

porém Leospa esfriou meu entusiamo ao dizer que se o Gentili não alavancou nosso

trabalho, estes outros dois citados não o fariam. Aqui eu não concordo com meu

velho amigo, porém tive de acatar o argumento, mormente porque os contatos eram

dele.

Cacá Prates possuía o contato para participarmos do programa de

rádio comandado por Clemente, vocalista dos Inocentes e atualmente com a Plebe

Rude, mas não agendou, talvez por falta de estamina, drenada por problemas

familiares relativos a doença grave.

Rockiavel encontra-se em um momento de repouso ocasionado

primordialmente pela mudança do baterista para Minas Gerais. Contudo, o

repertório está ensaiado, o disco gravado, clipes produzidos e a arte visual pronta.

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Qualquer oportunidade que surgir, encontrará a banda pronta para responder ao

chamado. Leospa não tem interesse em fazer o circuito de bares que tão pouco

cachê paga, mas outras propostas serão analisadas com cuidado.

Sinto que a busca por um empresário não terminou. A banda também

não. Talvez seja o momento de aguardar condições mais favoráveis de mercado

porque o interesse pelo rock não acabou e sempre surgem movimentos cíclicos

como a Jovem Guarda, Tropicália e Rock Brasil 80 que demandam novas bandas.

A experiência de criação artística foi amplamente positiva, deixou

registrado um trabalho de qualidade que engrandeceu os participantes. Contatos

foram criados e ampliados e, caso a barreira geográfica seja revertida em algum

momento, Rockiavel continuará seu caminho.

Existe o projeto de gravarmos mais músicas que já estão prontas. Há

concomitantemente a ideia de aprimorarmos nossa participação nas mídias sociais,

mas isto vai exigir a presença de pessoal qualificado e profissional para executar

esta tarefa. Sinto que esgotamos a estratégia de aglutinar camaradas, amigos

verdadeiros, que, embora providos de forte entusiasmo e garra, pecam pela falta de

especialização profissional.

Agora, só o tempo dirá se Rockiavel, Foto 07, continuará.

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Foto 07: Rockiavel durante a gravação do videoclipe Adeus.

Fonte: Rockiavel.

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ANTÍTESE – Visão do Histórico de Bandas de Rock

A antítese à minha tese pode ser enunciada nos seguintes termos:

banda de rock não constitui objeto artístico, no Rock Brasil 80, a necessidade de

investimento para os músicos era igual ou maior do que a exigida atualmente. O

risco da empreitada era das bandas e o papel destas companhias era o mesmo

comparativamente aos dias atuais.

Vejamos. Banda de rock é objeto artístico? No Rock Brasil 80 havia a

terceirização? Vamos recorrer à história de dez artistas do período para dirimir esta

dúvida. No cenário do Rock Brasil 80, artistas eram empregados contratados por

gravadoras? Estas companhias pesquisavam, ou não, a cena musical, viam e

ouviam as bandas que tocavam em espaços diversos e faziam suas apostas, ou

seja, escolhiam as que, sob o olhar das gravadoras, apresentavam maior

possibilidade de retorno financeiro e ofereciam um contrato de gravação? O estúdio

era fornecido e bancado pelas empresas? Contrato com gravadoras era o objetivo

das bandas que procuravam inserção neste mercado? Uma vez assinado o referido

contrato, gravação de músicas, confecção de videoclipes, aparições em rádio e TV,

material promocional e tudo o mais eram por conta das companhias? O pretendente

a artista devia gravar a sua obra por conta e risco? Preparava uma coleção de

músicas, pagava a captação no estúdio, músicos de apoio se fosse o caso,

providenciava a mixagem e a masterização? Criava todo o material visual, logo,

videoclipes, páginas nas redes sociais e canais de mídia digital e devia criar seu

público nestes meios? Toda a agenda, shows, participações em rádio e TV e

eventos em geral, era responsabilidade da banda?

Teremos respostas para essas perguntas, após olharmos a carreira

dos artistas escolhidos do Rock Brasil 80.

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ROCK DEFINIÇÃO

Aqui é necessário definir o termo rock e também a expressão Rock

Brasil 80.

O Dicionário Grove de música, editado por Sadie (1994) traz a

seguinte definição:

rock (Ing.5, balanço) Termo que, numa definição rigorosa, refere-se a

um estilo musical que surgiu em meados dos anos 60. Mais

amplamente, porém, abrange esse estilo e o rock and roll que

prevaleceu no final dos anos 50 e início dos anos 60. Os dois estilos

têm semelhanças: ambos usam o canto e os instrumentos elétricos

amplificados (geralmente uma primeira guitarra elétrica, uma seção

rítmica importante, de baixo elétrico e bateria e muitas vezes uma

guitarra ritmo e um instrumento de teclado)…

Afirma que o rock surgiu em meados dos anos 1960 porque foi a partir

de 1965 e 1966 que os artistas passaram a escrever obras com maior profundidade

temática e ao mesmo tempo começaram a compor músicas que se diferenciavam da

estrutura característica do chamado rock’n’roll. Esta estrutura é essencialmente

baseada em progressões que utilizam três acordes para satisfazer as funções

harmônicas de tônica, subdominante e dominante: I, IV e V7, ou seja, os acordes

correspondentes ao primeiro, ao quarto e ao quinto grau da escala maior. Os Beatles

lançam Help!, Rubber Soul e Revolver, Bob Dylan surge com Highway 61 Revisited,

The Rolling Stones com Aftermath, Cream com Fresh Cream para citar alguns

destaques. Nestes álbuns, as experimentações harmônicas vão além do modelo I, IV

e V7. Para termos uma noção das mudanças ocorridas podemos olhar para

Tomorrow Never Knows, faixa de encerramento do LP Revolver na qual é utilizado

apenas um acorde, Dó maior (C), há solos tocados ao reverso do que foram

gravados e a música tonal é substituída pela música modal (Dó mixolídio é o modo

no qual ela é executada). A pesquisa com instrumentos variados, além da voz,

guitarra, baixo, teclado e bateria, é intensa. Peguemos a música Paint It Black

5 Abreviatura para inglês.

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presente na versão americana do LP Aftermath, e escutemos a cítara indiana tocada

por Brian Jones. As letras, por sua vez, não falam apenas do amor adolescente,

como é o caso de Like A Rolling Stone que abre o álbum Highway 61 Revisited com

sua angústia e desespero refletido na história de decadência da personagem

abordada. Help! é efetivamente um pedido de socorro proferido por John Lennon ao

perceber que fama, sucesso, mulheres e dinheiro não eram a resposta para o que

ele procurava. Por sua vez, George Harrison nos presenteia com Taxman, faixa de

abertura de Revolver, na qual critica ferozmente o sistema tributário britânico. Este

mesmo George que no álbum Rubber Soul tocou pela primeira vez em um disco de

rock a cítara indiana que tanta personalidade e distinção conferem a Norwegian

Wood, faixa número dois do referido LP. Por sua vez o Cream, banda britânica

formada por Eric Clapton, guitarra, Jack Bruce, baixo e Ginger Baker, bateria traziam

timbres inovadores com forte influência do blues e longas improvisações nas

apresentações ao vivo.

O prestigiado Dicionário de Música e Músicos Grove On-Line produzido

pela Faculdade de Música da Universidade de Oxford da Inglaterra traz acepção

contida no Anexo II do presente trabalho, a qual passo a discutir.

O referido texto nos remete, primeiramente, ao conceito de rock como

música popular do pós-guerra. Naturalmente, descarta este conceito porque não

podemos nos referir ao rock como música popular do pós-guerra. Primeiro porque

havia outras músicas a exemplo do jazz de Sinatra. Além disso, o rock’n’roll surgiu

com Bill Haley & His Comets executando a canção Rock Around The Clock lançada

em 20 de maio 1954, seguida por That’s All Right Mama de Elvis Presley em 19 de

julho de 1954. Estes fatos nos deixariam sem música popular de 2 de setembro

1945 a 19 de maio de 1954 e isto obviamente não ocorreu.

O rock’n’roll surgiu nos Estados Unidos. É sabido que, até o advento

dos Beatles e da chamada Invasão Britânica (aporte de bandas do Reino Unido na

América na década de sessenta), o rock’n’roll feito nas terras da Rainha possuía

apenas expressão local. As bandas de então faziam covers dos sucessos dos EUA

e não contribuíram para o surgimento do gênero. Portanto, não me parece preciso

40

dizer que o rock originou-se nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, como advoga o

texto. A origem do rock foi o rock’n’roll e este surgiu com Bill Haley e ganhou

proporções maiores com Elvis Presley, americanos. Outros artistas do princípio do

gênero são dignos de nota, todos americanos, a saber, Chuck Berry, Litltle Richards,

Jerry Lee Lewis e Fat Dominos.

A divisão do rock em subgêneros é interessante para situarmos

momentos históricos, mas, em meu trabalho, agrego todos estes subgêneros no

gênero rock, mormente no que se refere à música internacional. Não é uma camisa

de força, nem me impede de referir-me a algum subgênero, o Rock Brasil, por

exemplo, porém enxergo todos estes subgêneros como mais uma característica do

gênero, a qual seja, a constante renovação dos temas e das músicas, sempre em

transformação.

Embora a propaganda e a postura de algumas bandas em

determinados momentos quererem mostrar um enfrentamento com as corporações

precisamos convir que sem as referidas corporações jamais teríamos tomado

conhecimento destas bandas. O rock precisa das corporações para ser divulgado.

Isto, no entanto, não quer dizer que as ideias contidas nos trabalhos se alinhem com

o estabelecido. As mudanças de comportamento patrocinadas pelo gênero

serviram-se das produções bancadas por empresas. A rebelião da juventude, tida

pelo articulista como fundamento do rock, realmente se faz, ou se fez, presente. No

entanto, já há muito esta questão diluiu-se. Veja como exemplo as apresentações

de Sir Paul McCartney na qual vemos crianças, adolescentes, adultos e terceira

idade unidos cantando e acompanhando com real entusiasmo. A chamada rebelião

da juventude parece ser para todas as idades… A questão da faixa etária e muito

mais complexa do que a simples idade cronológica. Fatores diversos influenciam no

comportamento das pessoas, por exemplo, a saúde, a forma de encarar a vida, a

cultura, escolaridade, em fim, todo um conjunto que não pode ser ignorado.

Fico, então, com a seguinte definição: rock é a música originada nos

Estados Unidos na década de cinquenta produzida por Haley, Presley, Berry,

41

Richard, Lewies, dentre outros, música caracterizada pela constante evolução

temática, social, cultural, técnica e estética, com apelo internacional, divulgação

corporativa e aberta a uma miríade de influências das quais destaco o blues, a

música erudita, indiana, africana, europeia e brasileira. Cream, Rolling Stones e Jimi

Hendrix são os primeiros que vem à mente quando penso na influência do blues. A

orquestra sinfônica utilizada em A Day In The Life, música de encerramento do LP

Sgt Pepper’s, os quartetos de cordas em Yesterday do LP Help! e Eleanor Rigby do

Revolver são exemplos da influência da música erudita. Love You To do LP

Revolver mostra a influência da música indiana. Raul Seixas com Mosca Na Sopa

presente no LP Krig-ha, Bandolo! transparece a influência da música africana com

seus tambores rituais. Blackbird do LP The Beatles (conhecido como Álbum

Branco), inspirada no Bourré de J.S.Bach, peça contida nos manuais para violão

erudito, é um belo exemplo da influência europeia, ao passo que Simpathy For The

Devil, composta por Jagger e Richards, inserida no LP Beggars Banquet, inserem o

Brasil no cenário, posto que os autores estavam em Salvador/BA quando ouviram o

samba e os tambores rituais da Macumba e esta foi a fonte de inspiração, tanto na

parte rítmica quanto na temática esotérica.

ROCK BRASIL 80

Passo, agora, a mostrar um subgênero que me é caro. O Rock Brasil.

O fenômeno cultural chamado rock não foi ignorado em nossas terras. Para termos

uma ideia, existe no Canal de Música da Net (televisão a cabo) a entrada Rock

Brasil ao lado de outras como Instrumental/Clássica. Shows e Festivais

Internacionais como Rock in Rio e Lollapalooza apresentam atrações nacionais e

internacionais, lado a lado com grande afluência de público. A importância

econômica do setor gera renda em diversos segmentos, a exemplo do rádio, TV,

cinema, setor de serviços (alimentação e bebidas sempre presente nos shows) e

empresariamento de eventos, para citar alguns.

A história do rock no Brasil tem início no ano de “1955 (ano em que)

Nora Ney lançou uma gravação em inglês de ‘Rock Around the Clock’…(e continua)

no ano seguinte… (com) Heleninha Silveira”(KID VINIL 2008, p. 27) que inaugura

42

uma tendência que vige até os dias de hoje: a confecção de versões. Rock Around

the Clock é vertida para nosso idioma por Júlio Nagib sob o título Ronda das Horas.

A primeira composição brasileira de rock cabe a Miguel Gustavo com a

canção Rock and Roll em Copacabana gravada por Cauby Peixoto em 1957,

conforme reportagem publicada da ISTOÉ de 16/05/2016.

Estes nomes pioneiros, Nora Ney, Heleninha Silveira e Cauby Peixoto,

não são, no entanto, considerados os primeiros artistas do Rock Brasil. Aqui faço

um parêntese para definir o conceito de Rock Brasil no presente estudo. Rock Brasil

é o subgênero do rock no qual está inserida toda a produção de música do gênero

feita no Brasil. Seu início é o ano de 1955 com a primeira gravação de rock e se

perpetua até os dias atuais com diversas bandas e artistas dedicados ao gênero,

por exemplo, Sepultura, RPM, Ultraje a Rigor e Capital Inicial, para citar uns poucos.

O subgênero é, por sua vez, dividido em períodos. Os mais marcantes para mim

foram a Jovem Guarda e o Rock Brasil 80. Feita esta definição, utilizo a constatação

efetuada por Lemos (2011), referenciado no item Sites e redes sociais, de que o

primeiro artista dedicado ao gênero foi Betinho e seu conjunto. Esta banda gravou

em 1957 a música Enrolando o Rock composta por Betinho e Heitor Carillo. Ela

caracterizou-se por abraçar o gênero assumindo uma postura rocker ,

especializando-se no gênero. Ney, Silveira e Peixoto gravaram rock e outros

gêneros como samba, bolero e jazz e não são considerados artistas de rock. Outros

se seguiram a Betinho, como Tony e Cely Campelo, porém ele foi o primeiro.

Falemos agora sobre a Jovem Guarda. Foi, inicialmente, um programa

de TV que se transformou em um movimento (movimento no sentido de

agrupamento de pessoas dedicadas ao mesmo objeto). O programa foi elaborado

para substituir as transmissões de futebol que iam ao ar todo domingo à tarde. Esta

substituição ocorreu devido ao distrato ocorrido entre a TV Record e a Federação

Paulista de Futebol, detentora dos direitos de transmissão. A Federação sentiu que

as transmissões ao vivo estavam desestimulando a presença de torcedores nos

estádios ocasionando perda na arrecadação.

43

Roberto Carlos comandava o programa apresentando os artistas da

Jovem Guarda, Foto 08, como Wanderléa, Erasmo Carlos, Deno e Dino, Jerry

Adriani, Os Incríveis, Golden Boys dentre outros. Foi sucesso no período em que

existiu de 1965 a 1968. Era televisionado ao vivo para a capital paulista e exibido

em videotape nas outras regiões do país.

Foto 08: Artistas da Jovem Guarda.

Fonte: Revista Contigo! 2004. Documento musical Jovem Guarda.

A importância desse, que com o correr do tempo transformou-se em,

movimento, é nacionalmente conhecida. Nos dias atuais, frequentemente ocorrem

apresentações relembrando as músicas, os artistas e o espírito da época.

A Folha de São Paulo dedicou artigo em 17 de janeiro de 2018 ao

cinquenta anos do programa. Reproduzo este referido artigo no Anexo II desta

pesquisa.

Este movimento artístico teve grande influência em minha formação. A

partir do que vi na TV, passei a me interessar por música. Não só como polo

passivo, mas com vontade vigorosa de tocar e cantar. Movido por este desejo, fui ter

aulas de violão porque, à época, não havia, ou eu não conhecia, professores de

guitarra ou contrabaixo, minhas profundas paixões. Aí conheci meu primeiro

professor de violão: José Fonseca, Foto 09.

44

Foto 09: Professor José Fonseca.

Fonte: Editora Vitale.

O que me impressionou, logo no primeiro instante, foi a ideia de sair

tocando uma música já a partir da segunda aula. Isso não era comum. Em

conservatórios, alunos estudavam um ano de teoria antes de pegar no instrumento.

José Fonseca, no entanto, havia desenvolvido um método de violão

chamado Números mágicos para solos de violão editado pela Vitale, Foto 10.

Foto 10: O método.

Fonte: Editora Vitale.

45

Consistia em uma combinação inteligente de quadros para acordes e

números para linhas melódicas e baixos. Isto permitia, desde que se conhecesse a

música (devido à rítmica), executá-la com maior facilidade.

Os quadros representavam segmentos do braço do violão. Dentro

deles, a posição dos dedos da mão esquerda, um número representando cada

dedo: 1 para o indicador, 2 anelar, 3 médio e 4 mínimo. Fora do quadro, o X

indicava tocar uma vez, o O duas e o X sobre o O, três.

Na primeira aula, ele explicava a posição do instrumento e das mãos,

indicava como as cordas deveriam ser pulsadas e aplicava exercícios de arpejos e

escalas que deveriam ser praticados durante a semana.

Na segunda aula, a grande alegria: executar a linha melódica de

Namoradinha de um amigo meu, grande sucesso de Roberto Carlos lançado em

1966, Foto 11.

Foto 11: A primeira música que toquei ao violão.

Fonte: Columbia.

As vendas de discos e ingressos para shows, o acompanhamento da

imprensa e o interesse do público percebido na Jovem Guarda ressurgiram nos

anos de 1980 com o movimento que denomino Rock Brasil 80.

DEZ BANDAS ESCOLHIDAS

Para falar sobre esta época, decidi escolher oito bandas e dois artistas

que representam os fatos ocorridos: Blitz, Lobão, Paralamas do Sucesso, RPM,

Ultraje a Rigor, Titãs, Legião Urbana, Barão Vermelho, Cazuza e Ira!. Distribuíam-se

nas gravadoras EMI-Odeon, Warner, Som Livre, Epic, Sony, Continental e CBS.

46

Justifico o título desta seção como uma licença poética lembrando que os dois

artistas solo não são, a rigor uma banda. Artistas solo trabalham com músicos

contratados que não possuem vínculo ideológico com o trabalho. Porém,

socorrendo-me da referida licença, posso pensar, como me explicou PEL6, o artista

solo como banda de um único elemento.

Exponho, agora, os critérios para a escolha efetuada. De modo geral,

todas se destacaram no Rock Brasil. Falando especificamente, A Blitz foi eleita por

se tratar da primeira no período a obter reconhecimento midiático nacional. Devido

ao fato de Lobão ter integrado esta banda, surgiu o interesse de acompanhar seu

desligamento e cobrir sua carreira solo. Paralamas Do Sucesso atraiu a atenção por

ser o conjunto a primeiro ter fita demo executada em rádio. RPM e Ira! pela

convivência que tive com Luiz Schiavon, Fernando Deluqui e Edgar Scandurra.

Ultraje A Rigor foi escolha obrigatória porque toquei nela. Legião Urbana, Barão

Vermelho e Cazuza por conter os poetas da geração, Renato Russo e Cazuza. Por

fim, Titãs, retratada pelo ineditismo do formato, com oito integrantes, diversos

vocalistas e apresentações sui generis.

1 BLITZ!

A Blitz foi a primeira banda deste período a obter sucesso midiático.

Iniciou sua jornada tocando em bares e passou por algumas alterações, mas quais

Evandro Mesquita esteve sempre presente, até chegar ao time que gravou o

primeiro single e o primeiro long-play: Evandro Mesquita (voz e violão), Ricardo

Barreto (vocal, guitarra e violão), Antonio Pedro Fortuna (vocal e contrabaixo),

William Forghieri (vocal e teclados), Márcia Bulcão (vocal), Fernanda Abreu (vocal) e

Lobão (bateria).

O single contendo Você Não Soube Me Amar no lado A e Nada, Nada,

Nada no lado B possuía, na realidade, apenas uma música tendo em vista que o

lado B continha apenas a voz de Evandro Mesquita repetindo nada, nada, nada em

6Conversa com o autor em 29/10/2019 no restaurante Tanta Felicità em São Paulo.

47

looping, o que não deixou de ser uma sacada interessante, posto que a música era

mesmo nada… A execução radiofônica de Você Não Soube Me Amar foi massiva.

Seguiu-se uma exposição televisiva que levou a banda para o público

brasileiro e uma tendência foi inaugurada: a apresentação em programas de

auditório interpretando as canções sobre a gravação original, o conhecido playback.

Anteriormente, a exemplo do programa Jovem Guarda, os músicos de rock se

apresentavam em teatros, no caso o Teatro Record da Rua da Consolação em São

Paulo, Capital, e o programa era ao vivo com gravação exibida pelo Brasil, como

visto anteriormente. Evandro Mesquita adotou posição firme em favor da

apresentação em programas de auditório como nos conta Alexandre (2002), posição

2359 do Kindle: “Desde o Astrúbal eu vinha brigando para que a gente aceitasse ir

ao programa do Chacrinha, a fim de que, quando se apresentasse no Acre, não

precisasse responder a perguntas como ‘por que Asdrúbal Trouxe o Trombone7?”

Foto 12: capa do LP da Blitz.

Fonte: http://www.blitzmania.com.br/site/.

O LP As Aventuras Da Blitz, Foto 12, continha treze músicas, porém

após o disco estar prensado veio a ordem do Departamento de Censura da Polícia

Federal: as faixas Ela Quer Morar Comigo Na Lua e Cruel Cruel Esquizofrenético

Blues estavam vetadas. A solução encontrada foi inutilizar as duas faixas como se

7Trupe carioca.

48

tivessem sido riscadas a prego. Atualmente as duas estão disponíveis em CD e

streaming. Mas, qual o motivo da censura? Perigo à segurança nacional? Incitação

ao crime? Uso de drogas? Obscenidade? Vejamos:

ELA QUER MORAR COMIGO NA LUA

Composição de Evandro Mesquita

Ela é uma fera

Ninguém é como ela

Quando chega por perto

É mais incerto no meu coração

Que dança dança na palma da sua mão

Beijo musical

Marca de batom

Copo de cristal

Um pouco de amor

E dança dança aonde você for

Ô ela diz que eu ando bundando

E que não agito nem uso

E fico confuso vendo o mundo rodar

E nessa dança você não sai do lugar

Me propõe um plano

Real, humano e lógico

Para soltar os bichos

Do jardim zoológico

Pra ver o bicho que deu

Pra ver o bicho que dá

Agora ela quer

Morar comigo na lua

Morar comigo na lua

Agora ela vem morar comigo na lua

Morar comigo na lua

E nessa dança

O nosso corpo flutua

Blitzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz (LETRAS, site da web)

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Encontrei apenas duas possibilidades para o veto: a palavra bundando

e a referência velada ao jogo do bicho na frase “pra ver o bicho que dá”. Ainda

assim, “pra ver o bicho que dá” é expressão coloquial correspondente a para ver o

que acontece. Bundando, por sua vez, é mais uma expressão descontraída que

estava na boca do povo e não propriamente um palavrão, uma obscenidade. Trata-

se de uma canção de amor juvenil e este veto revela a mentalidade dos donos das

consciências da época que não se preocupavam com custos impingidos às

empresas e aos artistas. Uma palavra atravessada e pronto, fim de discussão.

Olhemos agora para Cruel Cruel Esquizofrenético Blues:

CRUEL CRUEL ESQUIZOFRENÉTICO BLUES

Composição de Evandro Mesquita e Ricardo Barreto

Oh esse é um papo meu

Esse é um papo meu com uma mina da mesma idade que eu

Só que ela envelheceu

Um dia eu perguntei pra ela: ô, mina, você ainda tem um brilho

(brilho...) eu disse um brilho nos olhos

Você ainda tá ligada, ligada nos dias de ontem, quando tudo era

divino, divino maravilhoso

Agora conte me sobre o seu esposo

Sentado numa sala atapetada, com ar-condicionado em frente a

televisão

Que sua mãe coitada, ainda paga a prestação

Ela lhe deu quando você se formou

Ela lhe deu quando você se casou

Ela lhe deu quando você engravidou

(E agora é mãe...)

Mãe de um loiro lindo casal levadíssimo.

Mas você não sabe e também não entende

Que esse vazio idiota que te consome

E some com a tua paz

Que se foi como aquela empregada radical

50

que você mandou embora numa cena feia depois da ceia na noite de

Natal

Só porque ela pegou no peru do seu marido, (peru de Natal…)

Você ficou com o coração ferido, sacou o lance num relance quando

passou pela cozinha

Não, não vá dizer que a culpa é minha

Meu Deus como você foi

Ah meu Deus como você foi

Eu disse meu Deus como você foi

(Cruel cruel), esquizofrenético blues,

(Cruel cruel), esquizofrenético blues,

(Não, não vá...). Não, não vá botar a culpa no destino, por ter

casado com um cretino industrial

Apenas para dar uma satisfação, a sociedade

Pois na verdade eras parada, num surfista boçal

Não agora não dá mais, ah puta que pariu

Meu Deus como você foi,

Eu disse meu Deus como você foi,

Cruel cruel, cruel cruel, cruel cruel, cruel cruel, cruel cruel

(Tirururu...., Tirururu...., ) (LETRAS, site da web)

Aqui há duas as frases que provavelmente levaram a interdição. “Só

porque ela pegou no peru do seu marido” e “puta que pariu”. Talvez uma

obscenidade e um palavrão. Talvez o questionamento do casamento por interesse

em oposição ao casamento por amor. Realmente a camisa de força estava

apertada.

A trajetória da banda, antes da gravação do single e do long-play,

iniciou com uma série de shows. Aí Alexandre (2002, posição 2315 do Kindle) nos

mostra como funcionou o mecanismo que levou a Blitz para a EMI-Odeon:

Com o carro emprestado pela tia de Evandro e com o equipamento

emprestado pela Cor do Som, em poucos meses…(a Blitz) começou

a provocar bochincho no meio musical. A tal ponto que, durante uma

pelada de fim de semana, um diretor da EMI-Odeon, Jorge

51

Davidson, procurou Evandro para lhe avisar que outro chefão da

companhia, Mariozinho Rocha, estava interessado em conhecer a

Blitz…

O contato, como se vê, partiu da gravadora que, ciente da cena

musical no Rio de Janeiro, procurou os músicos e propôs um teste de estúdio.

A banda foi para o Estúdio Transamérica e lá gravou sua demo às

expensas da gravadora EMI-Odeon. Posteriormente, foi aprovada e partiu para a

gravação do single e do long-play.

Pelo exposto, podemos constatar que o investimento do conjunto foi

pequeno, praticamente reduzido ao trabalho empregado nas apresentações, visto

que transporte e aparelhagem eram emprestados. Como o investimento financeiro

era diminuto, o risco associado à perda de capital era praticamente zero.

Notamos que as apresentações em rádio e TV foram impulsionadas

pela gravadora após a assinatura do contrato. Quanto a videoclipes, estes

praticamente não existiam e podem ser resumidos a apresentações no Fantástico,

apresentações conseguidas através da EMI-Odeon e bancadas pela Rede Globo de

Televisão.

2 LOBÃO

O próximo artista a ser retratado aqui é Lobão. Trata-se de compositor,

violonista, guitarrista e vocalista que se considera “antes de mais nada um baterista”

(LOBÃO e TOGNOLLI, 2010, p. 32).

Seu interesse pelo rock surgiu em 1965 quando ouviu Help! dos

Beatles e Satisfaction dos Rolling Stones (LOBÃO e TOGNOLLI, 2010, p. 40).

Gostava, também, da Jovem Guarda. Lobão, ao abraçar o rock, não esqueceu de

suas influências cariocas como as marchinhas de carnaval, o samba e o chorinho.

Gravou em 1988 o LP Cuidado! no qual, na faixa título, contou com a participação

52

da bateria da Mangueira. Seu estilo virtuoso na bateria é repleto de swing, swing

que denota estas influências.

Participou, na década de 1970, da banda Vímana8 formada por ele

(bateria), Lulu Santos (guitarra), Ritchie (voz), Fernando Gama (baixo) e Luiz Paulo

Simas (teclado), cujo repertório autoral seguia a linha do chamado rock progressivo

(KID VINIL, 2008, p. 187), subgênero do rock que contou com expoentes do quilate

de Yes, Emerson, Lake & Palmer, Genesis, Som Nosso De Cada Dia e Premiata

Forneria Marconi. Noto que as três primeiras bandas são inglesas, e as duas últimas

são, respectivamente, brasileira e italiana. Esta vertente foi profundamente

influenciada pela música erudita europeia a ponto de Rick Wakeman, tecladista do

Yes gravar a faixa Cans And Brahms, do LP Fragile executando tema do compositor

alemão.

A estreia no Vímana ocorreu quando a banda acompanhou Marília

Pera na peça A Feiticeira no Teatro Casa Grande no Rio de Janeiro. Apadrinhados

por Nelson Motta (produtor dos mais importantes da música brasileira e letrista de

grande sucesso) conseguem contrato de gravação com a Som Livre, gravadora

pertencente ao conglomerado da Globo. É aí que aconteceu fato inusitado. O

tecladista Patrick Moraz se encanta com o Vímana e quer criar um projeto com a

banda. Patrick tinha tocado no disco Relayer com o Yes e era um astro

internacional. Os músicos do Vímana, encantados com a possibilidade de uma

carreira internacional, rescindiram o contrato com a Som Livre. Após diversos

ensaios, veio a triste notícia: o rock progressivo não estava mais nos projetos dos

executivos internacionais devido à onda punk que se alastrou pela Grã-Bretanha e

pelos Estados Unidos. O rock progressivo foi solenemente escanteado.

Sem colocação fixa, Lobão passa a atuar como músico contratado e

toca com Luiz Melodia e, posteriormente, com Marina Lima. Estreitou relações com

a cantora e compositora carioca e escreveu trabalhos em conjunto com ela.

8Do sânscrito, vimâna: na Índia medieval, torre piramidal sobre a capela central de um templo;( literal):marcando, delimitando; atravessando, percorrendo. (HOUAISS, on-line). Para Lobão (2010, p.147), “Vímana, em sânscrito, significa carruagem dos deuses...”

53

Seu primeiro trabalho gravado foi a participação no CD inicial da Blitz,

tocando bateria. Antes deste evento, ele já havia atuado como músico de estúdio, a

exemplo da gravação da faixa Um Lindo Blue do LP Respire Fundo de Walter

Franco. Lobão decidiu não seguir na Blitz por não estar satisfeito com os vocais das

meninas (Fernanda Abreu e Márcia Bulcão) e ainda por julgar o caminho artístico

seguido pelo conjunto não interessante.

O disco Cena De Cinema, Foto 13, foi sua estreia no papel de

compositor, músico e cantor. Não foi uma obra especialmente marcante. Para

termos uma ideia, o álbum completo não está disponível no Spotify9. Mesmo assim,

o artista gravou videoclipe para o Fantástico, programa da Rede Globo de

Televisão, de grande audiência e penetração nacional.

A música que dá nome ao disco passa a ser tocada na Rádio

Fluminense 94,9 MHz e se transforma em “um cult da rapaziada” (LOBÃO, 2017, p.

148).

A trajetória do disco foi prejudicada por desavenças de Lobão com

executivos da gravadora RCA e o músico, após depredar escritório da empresa, é

colocado na geladeira, ou seja, estava contratado mas não teria o trabalho

divulgado.

9Plataforma de streaming de grande popularidade, Consulta efetuada em 04/09/2019.

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Foto 13: Cena de Cinema, primeiro LP autoral de Lobão.

Fonte: http://lobao.com.br/#discografia.

Vejamos a letra de Cena De Cinema:

CENA DE CINEMA

Composição de Bernardo Vilhena/Lobão/Marina Lima

Tava queimando no meu carro

A tal da gasolina

E, do meu lado, meu amor me avisou:

“Vou sair de cena”

Me deu um beijo na corrida

Correndo ela sumiu

Desceu voando a escadaria do metrô

Cena de cinema

Lá embaixo não tem estrelas

É a maior ficção

Fico alucinado

E a luz no fim do túnel

Vem me hipnotizar (2X)

Tava queimando na estrada

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Ao sol do meio-dia

E, de repente, o rádio tocou

Cena de cinema

Vi meu amor numa lambreta

Com a sua capa preta

Passou por mim a menos de cem

Passou por mim a menos de cem

Passou por mim a menos de cem

E saiu de cena (LETRAS, site da web)

A letra é poética e utiliza figura de linguagem equiparando a metáfora

sair de cena ao fim de relacionamento amoroso. Usa concomitantemente a

metalinguagem ao falar da música Cena de Cinema tocando no rádio, a música

falando da própria música.

É canção jovem, e, sendo assim, fala sobre os interesses dos jovens

como relacionamentos, carros, lambretas e cinema.

O álbum que atingiu o sucesso foi o segundo gravado por ele: Guerra,

com a banda Lobão E Os Ronaldos. Me Chama e Corações Psicodélicos obtiveram

grande exposição midiática e consolidaram o espaço de Lobão como uma das

figuras mais controvertidas da cena do Rock Brasil 80. Prisões por posse de drogas,

críticas avassaladoras à chamada MPB, luta pela numeração de discos, rompimento

com gravadoras e, por fim, o lançamento de suas obras de maneira independente

fazem dele uma das figuras mais emblemáticas e contestatórias do período em

questão.

3 BARÃO VERMELHO

Barão Vermelho é uma banda carioca que “começou em 1981 fundada

pelo guitarrista Roberto Frejat e lançou seu primeiro álbum, Foto 14, no ano

seguinte” (KID VINIL, 2008, p. 179).

56

Foto 14: primeiro LP do Barão Vermelho.

Fonte: https://www.discogs.com/artist/253025-Bar%C3%A3o-Vermelho.

A formação inicial contava com Cazuza (voz), Roberto Frejat (guitarra

e violão), Maurício Barros (teclados e piano), Dé (baixo) e Guto Goffi (bateria e

percussão).

À época, o diretor da Som Livre era João Araújo, pai de Cazuza e isto,

certamente, ajudou muito. A utilização dos estúdios da Som Livre na gravação de

demo que teve, por fim, papel decisivo na contratação da banda, é prova desta

influência benigna.

Passaram a ensaiar diariamente, mas não correram o circuito de bares

porque o conjunto tocava muito alto. O perfil da banda se coadunava com as

apresentações ao ar livre como a Quebra-Mar da Barra da Tijuca patrocinada pela

prefeitura do Rio de Janeiro (DAPIEVE, 2015, p. 68).

O primeiro LP, Barão Vermelho atingiu exposição na mídia, mas não

houve um sucesso estrondoso e nem deixou músicas marcantes, embora a

qualidade poética de Cazuza já começasse a despontar. Uma das canções

compostas por ele, presente no referido álbum, foi Todo O Amor Que Houver Nessa

Vida da qual reproduzo a letra.

57

TODO AMOR QUE HOUVER NESSA VIDA

Composição de Cazuza

Eu quero a sorte de um amor tranquilo

Com sabor de fruta mordida

Nós, na batida, no embalo da rede

Matando a sede na saliva

Ser teu pão,

Ser tua comida

Todo amor que houver nessa vida

E algum trocado pra dar garantia

E ser artista no nosso convívio

Pelo inferno e céu de todo dia

Pra poesia que a gente não vive

Transformar o tédio em melodia

Ser teu pão,

Ser tua comida

Todo amor que houver nessa vida

E algum veneno antimonotonia

E se eu achar a tua fonte escondida

Te alcanço em cheio, o mel e a ferida

E o corpo inteiro feito um furacão

Boca, nuca, mão e a tua mente, não

Ser teu pão, ser tua comida

Todo amor que houver nessa vida

E algum remédio que me dê alegria (LETRAS, site da web)

58

Cazuza trata da temática do amor de forma mais adulta e sensual do

que seus contemporâneos do Rock Brasil 80. Demonstra seu objetivo de ser artista

como vemos na frase “e ser artista no nosso convívio”. Fala da consequente luta

pela sobrevivência em busca de “algum trocado pra dar garantia”, fonte constante

de preocupação para músicos e parentes. Frejat, em entrevista a Alves Jr. (1997, p.

22), coloca a questão da seguinte forma:

Se você quer viver de música, você tem que ter certeza de que só

vai conseguir viver daquilo, se você tiver uma outra maneira de

sobreviver então vá atrás dela. Música é ingrata, irregular e

inconstante, você não tem a menor segurança de nada…

Cazuza demonstra sua habilidade como letrista mais uma vez ao

passar suavemente pela questão das drogas de forma elegante com as expressões

“e algum veneno antimonotonia… e algum remédio que me de alegria”. Realço a

criatividade do autor ao produzir palavra não dicionarizada: antimonotonia.

Barão Vermelho 2, Foto 15, foi o LP gravado em seguida e lançado em

1983. A formação da banda não mudou e neste trabalho a resposta do público foi

bem maior. Pro Dia Nascer Feliz, segunda faixa do lado dois do LP, é executada até

hoje e foi incluída no LP MTV Ao Vivo, Foto 16, no qual o conjunto executa seus

maiores sucessos.

59

Foto 15: LP Barão Vermelho 2.

Fonte: https://www.discogs.com/artist/253025-Bar%C3%A3o-Vermelho.

Foto 16: LP Barão Vermelho MTV Ao Vivo.

Fonte: https://www.discogs.com/artist/253025-Bar%C3%A3o-Vermelho.

Examinemos a letra de Pro Dia Nascer Feliz.

PRO DIA NASCER FELIZ

Composição de Cazuza e Roberto Frejat

Todo dia a insônia me convence que o céu

Faz tudo ficar infinito

E que a solidão é pretensão de quem fica

Escondido fazendo fita

Todo dia tem a hora da sessão coruja

Só entende quem namora

Agora, vão'bora

Estamos, meu bem, por um triz

Pro dia nascer feliz

60

Pro dia nascer feliz

O mundo inteiro acordar

E a gente dormir, dormir

Pro dia nascer feliz

Essa é a vida que eu quis

O mundo inteiro acordar

E a gente dormir

Todo dia é dia e tudo em nome do amor

Ah! Essa é a vida que eu quis

Procurando vaga, uma hora aqui, outra ali

No vai e vem dos teus quadris

Nadando contra a corrente

Só pra exercitar

Todo o músculo que sente

Me dê de presente o teu bis

Pro dia nascer feliz

Pro dia nascer feliz

O mundo inteiro acordar

E a gente dormir, dormir

Pro dia nascer feliz

Pro dia nascer feliz

O mundo inteiro acordar

E a gente dormir (repetir 3ª e 4ª estrofes e refrão) (LETRAS, site da web)

A mensagem de Cazuza e Frejat aponta para um dia que está prestes

a surgir no qual as pessoas acordadas (espiritualmente despertas) poderão

descansar (dormir) porque o mundo acordará. O amor será supremo (“tudo em

nome do amor”). Este recado é dado com a graça de quem fala em duplo sentido

sobre sexo, o que não pode faltar no rock, como vemos nos versos quarto, quinto e

sexto da terceira estrofe. Tema profundo, escrito de forma coloquial, na linguagem

da juventude de seu tempo, como nos versos terceiro, quarto e quinto da segunda

estrofe nos quais fala da Sessão Coruja (filmes apresentados na madrugada pela

61

Rede Globo de Televisão), momento no qual os pais iam dormir e a garotada fazia a

festa. É um clássico da banda, com todo o merecimento.

4 PARALAMAS DO SUCESSO

A primeira característica marcante que vejo ao olhar para esta banda é

o fato de que desde que gravou o primeiro LP, sua formação de músicos não se

alterou. Herbert Vianna (guitarra e voz), Bi Ribeiro (contrabaixo) e João Barone

(bateria). Não é algo trivial. The Rolling Stones, talvez o grupo de maior duração da

história do rock, teve que substituir o membro fundador Brian Jones devido a

problemas com drogas que inclusive o levaram a óbito logo após a saída da banda

em 1969. Para seu lugar entrou Mick Taylor e posteriormente, em 1975, Ron Wood.

Bill Wyman, baixista desde as primeiras formações, deixou a banda em 1993 e não

foi substituído. Os Stones preferiram usar um músico contratado, Darryl Jones, que

está com eles desde então.

Na música brasileira, o caso mais notório é o do Ultraje a Rigor, no

qual apenas Roger permaneceu.

Ao companheirismo mostrado pela banda juntou-se um elemento

característico da serendipidade a impulsionar as alternativas do Paralamas. O irmão

de Herbert Vianna, Hermano Vianna, foi contemplado com o LP do The Clash,

Combat Rock por participação no programa Rock Alive transmitido pela Rádio

Fluminense 94,9 MHz e apresentado por Mauricio Valladares. Hermano, ao buscar o

prêmio na casa do radialista, mencionou a banda de Herbert e disse que gostaria de

apresentar a demo dos Paralamas. Assim foi feito e Vital e sua moto passou a ser

executada pela rádio roqueira (DAPIEVE, Arthur et al., 2006, p. 13).

A partir de dezembro 1982, Mauricio Valladares sempre esteve junto à

banda. Foi fotógrafo das capas dos discos e responsável por levar a demo com as

músicas da banda para a gravadora EMI-Odeon (DAPIEVE, Arthur et al., 2006, p.

17 e 19).

62

Vital e sua moto foi o carro-chefe do primeiro LP, Cinema Mudo.

VITAL E SUA MOTO

Composição de Herbert Vianna

Vital andava a pé e achava que assim estava mal

De um ônibus pro outro aquilo para ele era o fim

Conselho de seu pai: Motocicleta é perigoso, Vital

É duro de negar, filho, mas isto dói bem mais em mim

Mas Vital comprou a moto e passou a se sentir total, sentir total

Vital e sua moto, mas que união feliz

Corria e viajava, era sensacional

A vida em duas rodas era tudo que ele sempre quis

Vital passou a se sentir total

Com seu sonho de metal

Vital passou a se sentir total

No seu sonho de metal

Vital passou a se sentir total

Com seu sonho de metal

Vital passou a se sentir total

No seu sonho de metal

Os Paralamas do Sucesso iam tentar tocar na capital, (na capital)

E a caravana do amor então pra lá também se encaminhou

Ele foi com sua moto, ir de carro era baixo-astral

Minha prima já está lá e é por isso que eu também vou

63

Esta canção é uma homenagem ao primeiro baterista da banda, Vital,

que fez alguns ensaios na casa da vovó Ondina (avó de Bi Ribeiro), mas foi logo

substituído por João Barone. Vital explica: “eu meio que me distanciei do negócio

porque trabalhava e estudava. Não havia essa visão profissional que a gente vê

hoje em dia” (FRANÇA, 2003, p. 33). Vovó Ondina também foi homenageada no

primeiro disco da banda com a canção Vovó Ondina É Gente Fina, justo

reconhecimento à pessoa que providenciou o espaço para ensaios que logo se

tornou o ponto de encontro do conjunto.

VOVÓ ONDINA É GENTE FINA

Composição de Herbert Vianna

Silêncio meninos! Toquem mais baixo

Que o velhinho aqui de baixo está doente de dar dó

E o rock rolava na casa da vovó

Chamaram a polícia – mas que barra!

Desliga essa guitarra que a coisa

Está indo de mal a pior

São trinta soldados contra uma vovó

É gente fina – vovó Ondina

É gente fina – vovó Ondina

São trinta soldados contra uma vovó

Estamos na rua desalojados

Pra ganhar alguns trocados

Temos que tocar forró

Vovó Ondina é gente fina

Valeu vovó!!!

Realmente, há vovós e vovós. A letra deixa transparecer a

precariedade do local de ensaio, obviamente sem isolamento e nem tratamento

acústico, transtornando a vizinhança.

64

Os ensaios, no entanto, foram profícuos. Paralamas conseguiram,

então, agendar duas apresentações no Western Club localizado na Rua Humaitá no

Rio de Janeiro. Com o dinheiro arrecadado mais algumas economias, gravaram a

demo que foi apresentada ao DJ da Fluminense, conforme vimos anteriormente. O

estúdio escolhido foi o Tok, de oito canais, propriedade do músico Chico Batera

(FRANÇA, 2003, p. 36). O resultado foi profícuo: o LP Cinema Mudo, Foto 17.

Foto 17: primeiro LP do Paralamas.

Fonte: https://www.discogs.com/artist/360329-Os-Paralamas-Do-Sucesso.

5 TITÃS

Originalmente denominado Titãs do Iê-Iê quando tocavam em casas

noturnas no início de carreira, passaram a se chamar Titãs a partir de março de

1983. Iê-Iê é a releitura pretendida pelos Titãs do Iê-Iê-Iê, ritmo típico da Jovem

Guarda que nada mais é que o rock do início da década de sessenta. Foi

denominado assim devido aos refrões dos Beatles que utilizavam recorrentemente a

frase Yeah, Yeah, Yeah!10. O LP A Hard Day’s Night foi denominado no Brasil de Os

Reis Do Ié-Ié-Ié, Foto 18. Trata-se, essencialmente, do mesmo álbum com as

mesmas faixas na mesma ordem, porém a cor da capa é diferente: a brasileira é

vermelha e a inglesa, azul, Foto 19. Na contracapa, o texto de Tony Barrow está em

português na edição brasileira e em inglês na edição inglesa. A tradução do texto de

10Sim, Sim, Sim!

65

Tony é natural na versão brasileira, porém em 1988, mais uma deliciosa jabuticaba

para os Beatlemaníacos: foi lançado no Brasil LP remasterizado digitalmente com a

capa inglesa e a contracapa brasileira!, Foto 20.Nos Estados Unidos, o álbum, Foto

21, foi lançado com faixas diferentes, incluindo apenas aquelas usadas no filme

porque os direitos do disco pertenciam à United Artists empresa que produziu a

película. Foram utilizadas, portanto, as faixas instrumentais que acompanham cenas

do longa-metragem. É curioso o fato de as pessoas dizerem Iê, Iê, Iê, pois a

pronúncia é Ié, Ié, Ié como está grafado na capa do LP…

Foto 18: Beatles. Os Reis do Ié, Ié, Ié.

Fonte: https://som13.com.br/the-beatles/albums/os-reis-do-ie-ie-ie.

Foto 19: Beatles. A Hard Day’s Night. Edição inglesa.

Fonte: https://www.discogs.com/The-Beatles-A-Hard-Days-Night/master/24003.

66

Foto 20: Beatles. A Hard Day’s Night. Edição brasileira.

Fonte: arquivo do autor.

67

Foto 21: Beatles. A Hard Day’s Night. Edição americana.

Fonte: https://www.discogs.com/The-Beatles-A-Hard-Days-Night-Original-Motion-

Picture-Sound-Track/master/507400.

Característica marcante do período inicial é o número de componentes

da banda: oito, nove e oito novamente. Foi com a seguinte formação que atuaram

no Teatro da Lira Paulistana localizado na Rua Teodoro Sampaio em frente a Praça

Benedito Calixto em Pinheiros, São Paulo, Capital em agosto 1982: “Marcelo

Fromer, Tony Bellotto, Branco Mello, Nando Reis, Paulo Miklos, Arnaldo Antunes,

Ciro Pessoa e Sérgio Britto…em outubro 1982 (juntou-se a eles o baterista) André

Jung…” (DAPIEVE, 2015, p. 91). Ciro Pessoa deixou a banda em meados de 1983

para dedicar-se integralmente ao Cabine C

Aí surgiu a dificuldade de colocar todos nos, geralmente, pequenos

palcos das casas noturnas de São Paulo, dificuldade que foi sendo contornada com

habilidade e garra. Durante dois anos o circuito da noite paulistana foi o local das

apresentações do conjunto. O repertório era, então, composto de músicas próprias e

covers. Este período foi importante para o amadurecimento artístico do trabalho e

para a definição de quais instrumentos cada um tocaria, visto que o agregado é

composta por multi-instrumentistas.

Os componentes da banda que se revezavam nos vocais eram

Arnaldo, Branco, Ciro, Paulo, Nando e Sérgio. Isto, certamente, criou uma

identidade única e muito interessante. Com seis cantores a banda tem condições de

entregar arranjos vocais variados e dinâmicos.

68

Outro elemento importante nos shows que eles faziam era a

coreografia. Isto levou a um desenvolvimento diferente no caminho percorrido pelos

Titãs quando o comparamos a outras bandas da época: “…atraiu a atenção das TVs

antes das gravadoras… (passando a frequentar os) programas de Chacrinha,

Bolinha, Barros de Alencar, Raul Gil e Hebe Camargo” (DAPIEVE, 2015, p. 94).

Gravaram algumas fitas demos até que uma delas caiu nas mãos de

Pena Schmidt que a levou à André Midani, presidente da Warner, e o contrato foi

firmado.

O álbum de estreia foi o homônimo Titãs, Foto 22, lançado pela WEA

em 22 de agosto 1984.

Foto 22: álbum Titãs.

Fonte: http://www.titas.net/discografia.

A música de trabalho foi Sonífera Ilha.

SONÍFERA ILHA

Composta por Tony Bellotto, Marcelo Fromer, Branco Melo, Ciro Pessoa e Barmack.

69

Não posso mais viver assim

Ao seu ladinho

Por isso colo o meu ouvido

No radinho de pilha

Pra te sintonizar

Sozinha, numa ilha…

Sonífera Ilha!

Descansa meus olhos

Sossega minha boca

Me enche de luz

Sonífera Ilha!

Descansa meus olhos

Sossega minha boca

Me enche de luz…

Não posso mais viver assim

Ao seu ladinho

Por isso colo o meu ouvido

No radinho de pilha

Pra te sintonizar

Sozinha, numa ilha…

Sonífera Ilha!

Descansa meus olhos

Sossega minha boca

Me enche de luz

Sonífera Ilha!

Descansa meus olhos

Sossega minha boca

Me enche de luz…

Sonífera Ilha!

Descansa meus olhos

Sossega minha boca

Me enche de luz (LETRAS, site da web)

70

Canção bastante inusitada, bem ao estilo diferente da banda que pode

ser entendida como uma ode ao sono, nos moldes de I’m only sleeping do LP

Revolver dos Beatles.

6 LEGIÃO URBANA

O começo da formação desta banda de Brasília ocorreu a partir do

momento em que Renato Russo deixou de tocar no Aborto Elétrico11 devido a

desavenças com o baterista Fê. Renato, que já havia recebido uma baquetada na

cara em um show por ter esquecido a letra de Veraneio Vascaína, canção de

Renato que foi popularizada pela gravação feita pelo Capital Inicial, vinha se

confrontando com o baterista pela liderança da banda e preferiu, no verão de 1982,

sair dizendo que a postura dos músicos não era profissional (VILLA-LOBOS,

DEMIER e MATTOS, 2015, p. 39 e 40).

Durante certo tempo, trabalhou sozinho, cantando e se acompanhando

por uma craviola Guiannini de doze cordas, até que se reuniu com Marcelo Bonfá

em julho 1982, contituindo o núcleo da Legião, ainda sem um guitarrista fixo e com

Renato no baixo.

O guitarrista definitivo, Dado Villa-Lobos, juntou-se à banda em março

de 1983.

“O primeiro show da Legião Urbana com a formação clássica (Renato

no baixo e voz, Marcelo Bonfá na bateria e Dado Villa-Lobos na guitarra)”

(ALEXANDRE, 2002, posição 4054 da Edição Kindle) ocorreu “… em abril de

1983… no teatro da Associação Brasileira de Odontologia…” (ALEXANDRE, 2002,

posição 4050 da Edição Kindle). Este espaço foi alugado pela banda e mais outros

conjuntos de Brasília, dentre eles, o Capital Inicial e a Plebe Rude.

11 Aborto Elétrico era formado por Renato Russo (guitarra e vocal), pelos irmãos Fê (bateria) e Flávio Lemos (baixo), além de guitarristas temporários que não se fixaram na banda.

71

Legião herdou as canções do Aborto Elétrico e com mais algumas

novas composições de Renato apresentava repertório composto exclusivamente de

músicas autorais.

Passou a frequentar o circuito da cena paulistana e, posteriormente,

rumou para o Rio de Janeiro ao encontro dos amigos de Brasília que já estavam

integrados no mainstream: os Paralamas Do Sucesso.

Herbert Vianna levou uma demo em fita cassete para a EMI com

Renato interpretando Faroeste Caboclo só com voz e a citada craviola. O trabalho

vingou e após reuniões dos executivos da gravadora com a banda o contrato de

gravação foi acertado, levando ao primeiro LP, Foto 23.

Foto 23: capa do LP da Legião Urbana.

Fonte: http://www.legiaourbana.com.br/.

A música Geração Coca-Cola foi um dos destaques do LP.

GERAÇÃO COCA-COLA

Composta por Renato Russo.

Quando nascemos fomos programados

A receber o que vocês

72

Nos empurraram com os enlatados

Dos U.S.A., de nove às seis

Desde pequenos nós comemos lixo

Comercial e industrial

Mas agora chegou nossa vez

Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês

Somos os filhos da revolução

Somos burgueses sem religião

Somos o futuro da nação

Geração Coca-Cola

Depois de 20 anos na escola

Não é difícil aprender

Todas as manhas do seu jogo sujo

Não é assim que tem que ser

Vamos fazer nosso dever de casa

E aí então vocês vão ver

Suas crianças derrubando reis

Fazer comédia no cinema com as suas leis

Somos os filhos da revolução

Somos burgueses sem religião

Somos o futuro da nação

Geração Coca-Cola

Geração Coca-Cola

Geração Coca-Cola

Geração Coca-Cola

Depois de 20 anos na escola

Não é difícil aprender

Todas as manhas do seu jogo sujo

Não é assim que tem que ser

Vamos fazer nosso dever de casa

E aí então vocês vão ver

73

Suas crianças derrubando reis

Fazer comédia no cinema com as suas leis

Somos os filhos da revolução

Somos burgueses sem religião

Somos o futuro da nação

Geração Coca-Cola

Geração Coca-Cola

Geração Coca-Cola

Geração Coca-Cola (LETRAS, site da web)

A rebeldia juvenil explode no canto de Renato. Atira contra a cultura de

massa focando no imperialismo cultural americano com seus “enlatados” e ao

mesmo tempo reconhece a força da indústria cultural quando denomina sua geração

com a marca do famoso refrigerante. Embora esteja falando em linguagem figurada

ao dizer “desde pequenos nós comemos lixo

comercial e industrial”, antevê o problema que hoje enfrentamos com a qualidade do

que ingerimos para nos alimentar em época caracterizada por transgênicos e

agrotóxicos. Volta-se contra o golpe de estado ocorrido em 1964 ao dizer ser filho

desde processo, processo do qual conhece “todas as manhas do seu jogo sujo”.

Exibe a faceta burguesa da banda, composta por filhos de altos funcionários do

serviço público federal, e ao mesmo tempo flerta com o marxismo ateu porque são

“burgueses sem religião”. É um clássico que sempre esteve presente nos shows da

Legião.

7 ULTRAJE A RIGOR

Falemos agora sobre o Ultraje a Rigor e da minha participação nesta

banda fantástica. Após muitas aulas de violão e depois de ganhar um baixo Giannini

Stratosonic e um amplificador Thunder Sound Giannini II, fiquei confiante e passei a

procurar colocação em alguma banda. Comprei o Primeira Mão12, e lá estava o

anúncio que eu esperava. Procura-se baixista para banda de rock. Peguei o telefone

e liguei. Fui atendido por uma voz cavernosa de baixo que se apresentou como

Leospa. Perguntei que tipo de som faziam e ele respondeu que era Beatles e outros

12Jornal de classificados existente na década de 1980.

74

covers. Beatles, minha banda preferida. Perfeito. Conversamos um pouco mais a

respeito do repertório e fui indagado a respeito de diversas músicas dos Beatles,

que, se você está lendo até aqui, sabe que eu conhecia. Aí, perguntei sobre uma

música que pensei fosse parte do repertório: Old Brown Shoe, contida na coletânea

dos Beatles lançada em 1970, Hey Jude. Esta música, porém, não fazia parte do

repertório e Leospa não a conhecia. Ainda bem, porque a execução desta canção

não é trivial. Combinamos, então, nosso primeiro ensaio na Rua Anchieta em Santo

Amaro, São Paulo, Capital. Eu tinha como indicação dois carros estacionados: o

Fusca bordô de Leospa e a Marajó amarela de Roger. Cheguei impoluto com meu

amigo Edson Radesca em meu Opala caramelo, após algumas paradas em bares

da região. A química rolou imediatamente. Era uma garagem que Leospa e Roger

tinham alugado. Leospa na bateria, Roger na voz com um amplificador acoplado à

guitarra e ao microfone e eu com meu baixo Giannini e o Thunder Sound Giannini II.

Foi sensacional. Até hoje recordo aqueles dias felizes. Roger gravava

os ensaios e eu levava como presentes algumas gravações em cassete13.

No entanto, nos faltava um guitarrista solo. Cacá, amigo de Leospa e

posteriormente amigo meu, fez um teste, mas não vingou.

Aí apareceu Edgar Scandurra e a banda ficou completa. Passamos a

tocar em todos os lugares disponíveis.

A primeira apresentação foi em uma festa à beira de uma piscina.

Neste dia, Roger surgiu com o nome Ultraje e Edgar completou… Só se for a Rigor.

O nome pegou.

Nesta época, a marca surgiu, como esclarece Ascenção (2011,

posição 377 do Kindle):

Com o nome definido, é hora de criar a marca. Régis e Roger pegam

um papel cartão grande. A ideia parte dos dois irmãos, mas é o

13Fita magnética muito popular nos anos 1980.

75

artista gráfico Régis que acaba desenhando. O “Ultraje” é pincelado

com uma brocha em vermelho e o “a Rigor” vem escrito num estilo

de caligrafia. Está feita a máscara ou molde que serve para se

reproduzir em outros cartazes.

76

Foto 24: logotipo do Ultraje.

Fonte: https://br.images.search.yahoo.com/search/images?

p=logotipo+ultraje&fr=mcafee&imgurl=http%3A%2F%2F4.bp.blogspot.com%2F-

mmwpCsw-mrg%2FT9qhipDYSCI%2FAAAAAAAAANc%2F-mswSKuzHjk

%2Fs1600%2Fperiscopio%2B1.png#id=0&iurl=http%3A%2F%2F4.bp.blogspot.com

%2F-mmwpCsw-mrg%2FT9qhipDYSCI%2FAAAAAAAAANc%2F-mswSKuzHjk

%2Fs1600%2Fperiscopio%2B1.png&action=click.

Foi com a marca e o logotipo, Foto 24, e não com o som que Pena

Schmidt, produtor da WEA teve o primeiro vislumbre da banda (ASCENÇÃO, 2011,

posição 388 do Kindle).

Muitas apresentações em bares, graças ao espírito empreendedor de

Leospa e Roger e aí, tive que optar, para minha grande tristeza. As exigências

familiares não incluíam banda de rock. Foquei, então, no mestrado em economia,

aceitável para aqueles que possuíam a capacidade monetária de me sustentar.

Para o Ultraje a solução foi chamar Maurício Fernando Rodrigues, ou

DeFendi que “acaba trazendo mais influências punk para o Ultraje a Rigor, inclusive

no visual”. (ASCENÇÃO, 2011, posição 464 do Kindle).

Lembro de ter assistido a primeira apresentação na TV da banda no

programa Fábrica do Som da TV Cultura. Agora os covers não estavam mais

presentes. O repertório era composto por músicas autorais, compostas por Roger.

77

Fiquei feliz porque fui a primeira pessoa a falar com o Roger a respeito da

necessidade de compormos material próprio. À época ele tocou para mim Mauro

Bundinha e eu toquei para ele um protótipo de Maria, canção que estou gravando

atualmente.

A aparição na TV, provavelmente, atraiu a atenção de Cacá Prates,

empresário musical que passou a trabalhar com a banda e mais uma etapa no

processo evolutivo foi atingida.

Surge, então, a oportunidade de tocar no Lira Paulistana, teatro

localizado na Rua Teodoro Sampaio, em frente a Praça Benedito Calixto em

Pinheiros de “11 a 17 de abril de 1983” (DAPIEVE, 2015, p. 109). Incluído em

apresentações com outras bandas que surgiam na cena do rock paulista dos anos

de 1980 foi assistido por Pena Schmidt, executivo da WEA que gostou e os

contratou.

Lançaram o primeiro compacto, Foto 25, com as músicas Inútil e Mim

quer tocar, ambas compostas por Roger.

Foto 25: primeiro compacto do Ultraje.

Fonte: https://www.discogs.com/artist/198445-Ultraje-A-Rigor.

Posteriormente, o segundo com Eu me amo e Rebelde sem causa,

Foto 26.

78

Foto 26: segundo compacto do Ultraje.

Fonte: https://www.discogs.com/artist/198445-Ultraje-A-Rigor.

Enfim, o tão esperado LP, Foto 27, é lançado pela WEA em 04 de

julho de 1985.

Foto 27: LP do Ultraje.

Fonte: https://www.discogs.com/artist/198445-Ultraje-A-Rigor.

A partir daí, a banda que vinha se impondo no mercado com

apresentações cada vez mais concorridas, inclusive no Rock em Rio de 1985,

decolou de vez.

79

As execuções em rádios e TV atingiu altos patamares e uma canção

se destacava: Inútil, citada inclusive por figura importante do mundo político de

então, o Senador Ulisses Guimarães.

Mas o que esta música tinha de tão particular e atraente? Vejamos a

letra:

INÚTIL

Composição de Roger Rocha Moreira

A gente não sabemos escolher

A gente não sabemos tomar conta da gente

A gente não sabemos nem escovar os dente

Tem gringo pensando que nóis é indigente

Inútil!

A gente somos inútil

Inútil!

A gente somos inútil

Inútil!

A gente somos inútil

Inútil!

A gente somos inútil

A gente faz carro e não sabe guiar

A gente faz trilho e não tem trem pra botar

A gente faz filho e não consegue criar

A gente pede grana e não consegue pagar

Inútil!

A gente somos inútil

80

Inútil!

A gente somos inútil

Inútil!

A gente somos inútil

Inútil!

A gente somos inútil

A gente faz música e não consegue gravar

A gente escreve livro e não consegue publicar

A gente escreve peça e não consegue encenar

A gente joga bola e não consegue ganhar

Inútil!

A gente somos inútil

Inútil!

A gente somos inútil

Inútil!

A gente somos inútil

Inútil!

A gente somos inútil (LETRAS, site da web)

A primeira impressão é a de ouvir uma crítica feroz a baixo estima e a

ignorância dos brasileiros. O erro proposital de “a gente não sabemos”, recorrente

em toda a canção, remete ao proverbial pouco caso dos brasileiros com a língua

portuguesa e ao mesmo tempo ao chamado complexo de vira-lata, muito bem

alardeado por Nélson Rodrigues. “A gente não sabemos” nada. Não sabemos

escolher presidente, o que caiu como uma luva para o momento histórico no qual

estávamos (luta pelas diretas), não tínhamos noções de cuidado e higiene. Nossa

81

imagem internacional, pelo menos para nós mesmos, era sofrível. Não tínhamos

utilidade para nada. Aqui uma reflexão: será que a vida humana deve ter utilidade?

Será que este é um conceito impingido para direcionar o ser social ao mundo do

trabalho? Ficam as questões para as quais não há resposta simples.

Inútil bate forte na nossa autoestima ao dizer que não sabemos guiar,

logo nós, todos Ayrton Senna em mármore de carrara. Expõe o fracasso de nosso

transporte ferroviário perdido em bitolas diversas que não conseguem se integrar.

Mostra a razão de tantas crianças nas ruas sem pais ou destino. Brinca com nossas

constantes idas, à época, ao FMI para pedir recursos, recursos que quase nos

levaram ao calote internacional. Faz uma crítica aos artistas em geral, incapazes de

levar a contento suas produções e por fim, escracha com a seleção “dos sonhos” de

1982 que joga, joga e perde.

O público se identificou.

8 RPM

A banda paulista RPM (Revoluções Por Minuto) criou um nome

particularmente elegante e repleto de significado. RPM, além de Revoluções Por

Minuto, é a rotação dos discos de vinil, a saber, 33 e 1/3 RPM (compactos e long-

plays no Brasil), 45 RPM (compactos no exterior) e 78 RPM (antigos discos com

duas músicas, uma em cada lado). É a poética da música com suas rotações por

minuto gerando revoluções.

A formação que se tornou clássica do RPM é composta por Paulo

Ricardo (voz e baixo), Luiz Schiavon (teclados), Fernando Deluqui (guitarra) e Paulo

P.A. Pagni. Paulo conheceu Luiz em 1977 quando os dois participaram de uma

banda cover do Deep Purple. No início de 1980, começaram a compor juntos e

“mais tarde, integraram a banda o guitarrista Fernando Deluqui e o baterista Paulo

P.A.” (KID VINIL, 2008, p. 182).

82

Luiz “em 13 de dezembro de 1976…formou-se em música erudita pelo

Conservatório Mário de Andrade” após dez anos de curso regular, equivalente a

graduação e pós-graduação (MORAES, 2007, p. 40)

Paulo cursou jornalismo na ECA/USP. Desta forma, com base sólida

na escrita, juntou seu talento ao de Luiz para criar músicas que estouraram em todo

o Brasil.

Fernando Deluqui aprendeu a tocar sozinho ouvindo discos e tirando

as músicas de ouvido. Tentou frequentar cursos regulares, mas não se adaptou. Em

1983, passou a tocar na banda de May East e foi nesta época que conheceu

Schiavon, tecladista deste projeto. Luiz entregou uma fita cassete para Fernando e

este, após algum tempo, escutou, gostou e se integrou ao projeto de Luiz e Paulo.

P.A. iniciou sua carreira tocando em bares na noite paulistana.

Executava qualquer tipo de música profissionalmente, porém, era com o rock que se

identificava. Conheceu Luiz em 1981 numa jam na casa de amigo comum, mas

perdeu o contato.

O biografo da banda, Moraes (2007, p. 72), escreve que “Paulo

Ricardo e Luiz compraram equipamento e alugaram uma casa para os ensaios na

alameda Jaú, bairro dos Jardins, em São Paulo”. O aporte financeiro veio da renda

auferida por Luiz em seu trabalho na Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e

dos ganhos obtidos por Paulo como jornalista.

Além dos dois parceiros, o time era completado por Paulo Ricardo

Valensa na bateria e Eduardo Coelho na guitarra (MORAES, 2007, p. 73). Este

83

projeto, denominado Aura, não vingou e após diversos percalsos Luiz e Paulo

voltam a se encontrar, agora trabalhando na casa dos pais de Schiavon. Após a

incursão no rock progressivo do Aura não ter rendido frutos imediatos, a proposta

agora era criar um som dançante e popular influenciado pelas novas tendências que

surgiam como o new romantic, new wave e punk.

É neste momento que Fernando Deluqui se integra ao projeto junto

com o baterista Moreno Júnior. Adotam o nome RPM e fazem a primeira

apresentação abrindo show do Ira! no Cineclube Zoom Cósmico na Vila Madalena.

A partir daí, vivem em função da banda e tocam no circuito da noite de São Paulo.

Após a troca do baterista Moreno Júnior por Charles Gavin parecia que

a banda estava formada. Ledo engano. Charles foi convidado para tocar nos Titãs e

deixou o RPM.

O trabalho do conjunto finalmente rendeu frutos e foi reconhecido pela

gravadora CBS que os contratou. Isto se deu durante um processo de busca de

novas bandas empreendido pela companhia.

O primeiro trabalho lançado foi uma participação em um LP chamado

de pau-de-sebo. Pau-de-sebo porque diversas bandas iniciantes gravam e a que se

sobressair grava um LP inteiro. A canção escolhida foi Louras Geladas. Em seguida,

gravaram um compacto simples com a citada Louras Geladas e Revoluções Por

Minuto, esta última vetada para execução pública. Para alavancar a execução da

banda, é feito um remix de Louras Geladas que estourou nas pistas de dança e foi

distribuído apenas para danceterias, DJ e rádios. Remix é uma nova mixagem da

84

música escolhida. É apresentado em formato de LP de doze polegadas, geralmente

com duas ou três faixas. Moraes (2007, p. 115) explica como era o remix do RPM:

… era composto pela versão original da música Louras Geladas com

2 minutos e 58 segundos, a faixa remix com 5 minutos e 26

segundos e a dub-remix com a mesma duração do remix. A dub-

remix é uma faixa totalmente instrumental da música.

É neste momento que P.A. se integra à banda, a princípio como

colaborador e posteriormente como membro efetivo.

Em maio de 1985 é lançado o LP Revoluções Por Minuto, Foto 28,

campeão de vendagem.

85

Foto 28: capa do LP do RPM.

Fonte:

https://www.discogs.com/RPM-Revolu%C3%A7%C3%B5es-Por-Minuto/master/

273956.

Deste trabalho, destaco Louras Geladas, grande hit da banda.

LOURA GELADAS

Composição de Luiz Schiavon e Paulo Ricardo

Só tem homem feio ai?"

Disfarça e faz

Que nem me viu

Não me ouviu te chamar

Desfaz assim de mim

Que nem se faz

Com qualquer um

86

Agora eu sei

Passei por cada papel

E rastejei

Tentando entrar no teu céu

Agora eu sei, sei, sei, sei

Passei por cada papel

Me embriaguei

E acordei no bordel

Já sei que um é pouco

Dois é bom e três é demais

E eu fico louco de ciúmes

De um outro rapaz

Agora eu sei

Passei por cada papel

E rastejei

Tentando entrar no teu céu

Agora eu sei, sei, sei

Passei por cada papel

Me embriaguei

E acordei num bordel

Na Madrugada

Na mesa do bar

Ai!

Loiras Geladas

Vem me consolar

Qualquer mulher

É sempre assim

Vocês são todas iguais

Nos enlouquecem

Então se esquecem

Já não querem mais

87

Agora eu sei

Passei por cada papel

E rastejei

Tentando entrar no teu céu

Agora eu sei, sei, sei

Passei por cada papel

Me embriaguei

E acordei num bordel

Mais! Muito Mais!

Na Madrugada

Na mesa do bar

Loiras Geladas

Vem me consolar

Passei por cada papel

E rastejei

Passei por cada papel

Me embriaguei

E acordei num bordel

A vertente romântica fica evidenciada nesta letra. O que chama a

atenção, porém, é o cacófato contido no refrão: passei por cada papel… Não dá

para acertar sempre…

88

9 CAZUZA

A carreira solo de Cazuza não chegou a durar cinco anos. Começou

com o lançamento de seu LP Exagerado, Foto 29, em novembro de 1985 e terminou

com sua morte em 7 de julho de 1990 (ARAÚJO, 2011, p. 22). Foi vítima da AIDS

em época na qual o tratamento para a doença era insipiente.

Foto 29: LP Exagerado de Cazuza.

Fonte: http://cazuza.com.br/albuns/.

Além de Exagerado, o cantor lançou mais três álbuns em vida e um

póstumo: Só Se For A Dois (1987), Ideologia (1988), Burguesia (1989) e Por Aí

(1991) (KID VINIL. 2008, p. 179).

Cazuza é um caso atípico em nossa amostragem, pois saiu de uma

banda já conhecida, Barão Vermelho. Dapieve (2015, p. 72) cita entrevista de

Cazuza ao jornal O Globo na qual ele afirma que “vinha pensando em tomar esta

decisão, porque queria ter um trabalho mais autoral, mais de intérprete, e em grupo

as decisões sempre são democráticas, tomada por todos”. Não teve de enfrentar: 1.

a busca por gravadora porque permaneceu na Som Livre, parte integrante da Opus-

89

Columbia que gravou os discos do Barão; 2. locais para ensaio; 3. empresário; 4.

gravação de demo e tudo o mais que um artista iniciante tem como grandes

desafios. O que justifica sua inserção no rol de analisados é a qualidade de seu

trabalho. Cazuza é reconhecido como um dos poetas de sua geração e sua atuação

transcendeu o rock. Foi interpretado por Gal Costa (Codinome Beija-Flor), Caetano

Veloso (Todo O Amor Que Houver Nessa Vida) e Ney Matogrosso (O Tempo Não

Para), dentre outros.

Mesmo sendo reconhecido pelos baluartes da MPB (música popular

brasileira), manteve todo seu prestígio junto aos artistas de rock, a exemplo de

Lobão, Renato Russo e o próprio Barão Vermelho.

Participou em 1984 do filme Bete Balanço interpretando o personagem

Tininho. O roteiro do filme mostra a história de Bete, interpretada por Débora Bloch,

que sai de Minas Gerais e vai tentar a sorte como cantora no Rio de Janeiro.

Cazuza faz um dos amigos que ela conhece no Rio.

Em 1987 figurou no filme Um Trem Para As Estrelas, no qual interpreta

a si próprio.

Em 2004, suas músicas e as do Barão Vermelho fazem a trilha de

Cazuza – O Tempo Não Para, longa-metragem sobre sua vida.

De seu primeiro LP solo, escolhi a faixa que dá nome ao disco.

EXAGERADO

Composição de Cazuza, Ezequiel Neves e Leoni.

Amor da minha vida

Daqui até a eternidade

Nossos destinos

Foram traçados na maternidade

90

Paixão cruel, desenfreada

Te trago mil rosas roubadas

Pra desculpar minhas mentiras

Minhas mancadas

Exagerado

Jogado aos teus pés

Eu sou mesmo exagerado

Adoro um amor inventado

Eu nunca mais vou respirar

Se você não me notar

Eu posso até morrer de fome

Se você não me amar

E por você eu largo tudo

Vou mendigar, roubar, matar

Até nas coisas mais banais

Pra mim é tudo ou nunca mais

Exagerado

Jogado aos teus pés

Eu sou mesmo exagerado

Adoro um amor inventado

E por você eu largo tudo

Carreira, dinheiro, canudo

Até nas coisas mais banais

Pra mim é tudo ou nunca mais

Exagerado

Jogado aos teus pés

Eu sou mesmo exagerado

Adoro um amor inventado

Jogado aos teus pés

Com mil rosas roubadas

Exagerado

Eu adoro um amor inventado

91

Consoante ao tema escolhido, Cazuza adota as hipérboles para

descrever as características desse amor e até onde ele pode ir: “eu nunca mais vou

respirar, vou mendigar, roubar, matar”. Mas será este um amor de verdade? O

compositor, na última frase da canção diz: “eu adoro um amor inventado”. Será que

este amor descrito na letra é um amor inventado? Tudo não passa de uma grande

brincadeira? O julgamento cabe a cada um de nós, ouvintes.

10 IRA!

Para encerrarmos nossa seleção, escolhi a banda paulista Ira!

Composta por Edgar Scandurra (guitarra e vocais), Nasi (vocal),

Ricardo Gaspa (baixo) e André Jung (bateria). Aqui temos um fato curioso. André

era baterista dos Titãs e o baterista do Ira! era Charles Gavin. Foi feita a troca e

assim ficou, Charles nos Titãs e André no Ira!

Nasi ganhou o apelido porque na época do colégio vestia-se como

verdadeiro punk, com roupas rasgadas, era brigão e passou a ser chamado de Nazi,

corruptela de nazista. Ele detestou, mas apelidos são assim: não gostou aí pega.

Com o tempo substituiu o z pelo s. Tentou assinar o primeiro trabalho como Marcos

Valadão, mas não teve jeito. Em algumas entrevistas antigas, tentou explicar que

era porque tinha o nariz proeminente, logo Nazi (nariz em italiano). Só que nariz em

italiano é naso… Não colou…

Com esta formação foi gravado o disco de estreia, Mudança De

Comportamento, Foto 30. Antes, porém, em 1984, foi lançado o compacto Pobre

Paulista/Gritos Na Multidão esta última censurada para execução pública. Compacto

com pouca divulgação e vendagem, o que não impediu o lançamento do álbum.

92

Foto 30: capa do LP do Ira!

Fonte:

https://www.discogs.com/Ira-Mudan%C3%A7a-De-Comportamento/master/554351.

Deste trabalho, escolhi a canção Longe De Tudo para observar a

poética da banda.

LONGE DE TUDO

Composição de Edgar Scandurra.

Longe de tudo, longe de você

Por um momento me esqueço

Mas parece ser isso mesmo

Longe de você, longe de mim

Longe de tudo, longe de você

Por um momento me esqueço

Mas parece ser isso mesmo

Longe de você, longe de mim

Longe de tudo (longe de você)

Longe de mim (longe de você)

Longe das luzes (longe de você)

Longe do sol (longe de você)

93

Sem as estrelas, sem seu amor, baby

Você não sai à noite, com as luzes da cidade

Eu sempre saio à noite, com as luzes da cidade

Existe algo especial

Por um momento me esqueço

Mais parece ser isso mesmo

Longe de você, longe de mim

Longe de mim, longe de mim

Letra que fala da solidão e da tristeza de estar só. A noção da

existência de “algo especial” que não se consegue atingir neste momento no qual o

protagonista está “longe de tudo”. Descreve o comportamento da juventude da

década de 1980, o sair à noite, possível graças ao nível de violência muito menor do

que o atual. Rock poderoso que abre o LP e se tornou um dos clássicos da banda.

Ao ler a biografia de Nasi, A Ira De Nasi, encontro declaração inusitada

que reproduzo a seguir para posterior análise:

Cresci ouvindo o Ira! e a geração de bandas dos anos 80 que tocam

muito mal. Não conheço nenhuma banda dos anos 80 que toque

bem. Eles não sabiam tocar e nem afinar. Continuaram não tocando

bem. Mas a química do rock é essa. Não é preciso tocar bem para

fazer rock. E o Ira! Sempre foi uma banda de rock boa pra caralho

(BETING e PETILLO, 2012, posição 293 da Edição Kindle).

A generalização é sempre perigosa. Dizer que Lulu Santos toca mal e

não afina é temerário. Trata-se de músico com formação erudita que no início da

carreira tocava no Vímana, grupo de rock progressivo, um subgênero do rock com

forte influência da música de concerto. Rock, aliás, de difícil execução. Outro músico

de formação erudita é Luiz Schiavon, como vimos anteriormente. O parceiro de

RPM, Paulo Ricardo, estudou canto erudito. Os shows desta banda paulista aliaram

perfeição técnica ao sucesso absoluto de público. Assisti shows do Ultraje A Rigor

94

ao vivo e posso testemunhar dizendo que o trabalho era muito bom tecnicamente.

Não sou propriamente um leigo: sou licenciado em Música pela UNESP.

Ao continuar a leitura da biografia de Nazi acredito ter entendido o

porque da fala tão depreciativa. Surgiu dos problemas que a banda Ira! enfrentou

durante a gravação de seu segundo LP, Vivendo E Não Aprendendo de 1986. A

gravação ocorreu no estúdio Nas Nuvens, no Rio de Janeiro com produção de

Liminha. Arnolpho Lima Filho, o Liminha, iniciou sua carreira como baixista dos

Mutantes, banda revolucionária paulistana composta por Rita Lee e pelos irmãos

Batista, Arnaldo e Sérgio Dias, participante ativa da Tropicália e reconhecida

internacionalmente. Tornou-se o produtor de maior sucesso do Rock Brasil 80,

montando o citado estúdio Nas Nuvens, criando concepções sonoras, programando

instrumentos eletrônicos e, frequente, tocando baixo. Houve desentendimentos

desde o início do projeto com Liminha apontando erros e desafinações, o que feriu

profundamente a sensibilidade dos músicos. O auge do problema ocorreu durante a

gravação de Flores Em Você. Para esta música, foi feito arranjo de cordas escrito

por Jacques Morelenbaum, craque do violoncelo e músico erudito reconhecido por

todo o Brasil, com participações em trabalhos com bastiões da MPB. Ao final da

“gravação, Liminha não poderia deixar barato: ‘E aí, Nasi, como é cantar com um

acompanhamento afinado? Foi a última faixa em que todos trabalharam juntos”

(BETING e PETILLO, 2012, posição 1626 da Edição Kindle). Ao dizer que todos os

músicos do Rock Brasil 80 tocam mal e desafinam, Nasi adota a ideia de que o

ataque é a melhor defesa. Aparentemente, sem ter como desmentir as críticas de

Liminha, traz todos ao mesmo patamar. Respeito a posição de Nasi, mas discordo

totalmente.

No contexto desta crítica, surge a posição de Dapieve (2015, p. 154)

para o qual os vocais de Nasi são “o ponto fraco do quarteto” no capítulo

Segundona de sua obra. O Ira! é colocado na segunda divisão das bandas de rock

brasileiras por não ter vendagem significativa. Dapieve pegou pesado, como se diz,

e assim a posição do vocalista torna-se mais clara: atitude defensiva.

95

Por outro lado, a visão de Nasi vai além de questões técnicas. Em

entrevista a Alves Jr. (1997, p. 13) ele diz: “Ninguém se deu conta ainda que a

música é só um detalhe, se você toca bem melhor ainda, mas o objetivo básico é

dizer coisas, é passar ideia e pensamentos através da música”. Difícil discordar da

afirmação.

Para nossos propósitos, atingimos a visão que precisamos para

compor o painel que nos propiciará elementos para enriquecer a síntese que virá a

seguir.

96

SÍNTESE – Visão de Artemídia

Para efetuar a síntese da tese e da antítese apresentadas, vou

confrontar a proposição inicial e os dados captados das três bandas escolhidas para

representar o momento atual do mercado da música rock, com ênfase no Rockiavel,

vis a vi a proposição de confronto embasada na pesquisa realizada com oito bandas

e dois cantores do Rock Brasil 80 e interpretar os resultados obtidos.

A tese aqui exposta diz que para o objeto artístico banda de rock

possa existir, a necessidade de investimento para os músicos é diferente no dois

períodos. Diz também que, atualmente, os recursos necessários para inversão em

projetos artísticos é maior, exceção feita àqueles que através de contatos sociais

conseguem colocação na grande mídia. O risco nos dias de hoje é suportado pelo

artista, fato que não ocorria no Rock Brasil 80, período no qual as inversões mais

relevantes eram suportadas pelas empresas do disco. O papel das gravadoras e o

mercado mudaram. Hoje as empresas não buscam os artistas na cena musical,

aguardam o público se formar nas redes virtuais e aí sim passam a distribuir e a

promover o trabalho.

A antítese é a proposição acima ao inverso, ou seja, a necessidade de

investimento dos músicos é menor ou igual hoje, o risco é suportado por empresas

do disco nos dias presentes e o papel das gravadoras e o mercado não se

alteraram.

Não se tem notícia de estudos anteriores que utilizem a artemídia

como conceito para pesquisar o assunto rock e seu mercado. Pesquisa efetuada no

Repositório Institucional da UNESP, Biblioteca Digital USP – Teses e Dissertações e

no Google Acadêmico não indicam trabalhos neste contexto.

Os objetivos propostos foram atingidos porque validamos a afirmação

de que banda de rock é objeto artístico e mostramos as transformações sofridas

pelo mercado ao compararmos o momento atual com o do Rock Brasil 80 utilizando

97

o olhar de artemídia, olhar indicador da necessidade de entendermos o rock não

apenas como música, mas como um coletivo de ações, práticas e processos

artísticos.

O caráter inovador da pesquisa, como visto anteriormente, é função do

tema e de sua abordagem.

As perspectivas futuras são múltiplas. É interessante aprofundar a

investigação das mídias sociais: seus mecanismos de sucesso, a aferição destes

mecanismos, a duração cronológica de cada mídia e processos e procedimentos a

serem utilizados para entendimento do fenômeno no campo do rock.

Passo aos casos concretos e em primeiro lugar falo da Blitz. Abordo,

inicialmente, a questão da necessidade de investimento. Verifiquei, no caso da Blitz,

inversão mínima de recursos financeiros. A inversão, neste caso, foi a aplicação de

horas de trabalho como investimento mais importante. Comparando com o que

aconteceu com Rockiavel, vejo que a necessidade de aplicação de recursos é, no

caso atual, muito superior. O trajeto de apresentações em bares e shows continua

similar nas duas épocas, com a aplicação intensiva do fator trabalho. Aqui começo a

fazer as distinções. A Blitz teve sua demo gravada às expensas da EMI-Odeon.

Rockiavel produziu demos às próprias custas, seja aquela demo inicial gravada em

meu estúdio para mostrar as canções aos músicos, ou as diversas demos

realizadas no DoZe com dispêndio de recursos financeiros. A gravação de um

álbum, anteriormente long-play, atualmente CD e streaming, foi diferente para as

duas bandas. Enquanto a Blitz teve todos os custos suportados pela gravadora,

Rockiavel teve de lançar não de recursos próprios para fazer a captação, mixagem e

masterização. PARÁGRAFo D utilizou meu estúdio e o de Serapicos e neste último

teve que despender recursos. Hoje em dia, as gravações definitivas correm por

conta dos artistas, como vejo no exemplo do RPM, banda de sucesso avassalador

que está com duas músicas novas no mercado: Escravo Da Estrada e Ah! Aonde

Está Você. Elas foram gravadas pelo próprio grupo no Estúdio de Luiz Schiavon.

Não foram lançadas em meio físico. Estão disponíveis para streaming. Atualmente,

98

o importe de capital para a geração do produto música é do artista e,

consequentemente, todo o risco da empreitada está com os músicos.

As apresentações na televisão e no rádio que, no caso da Blitz, eram

agendadas pela gravadora em harmonia com o empresário da banda, agora corre

por conta dos músicos, pelo menos em um primeiro momento quando não há um

contrato com gravadoras (sim, eles ainda existem) as quais, atualmente,

encarregam-se essencialmente da divulgação e distribuição de projetos já

amplamente conhecidos através dos meio de divulgação online. Rockiavel

apresentou-se em dois programas de televisão, The Noite Com Danilo Gentili no

Sistema Brasileiro De Televisão (SBT), Foto 31, e Em Foco na TV Premium de

Osasco, os dois agendados pela própria banda. Rockiavel não participou de

programas ou teve execução em rádio.

Foto 31: Rockiavel no The Noite com Danilo Gentili.

Fonte: Rockiavel.

99

Lobão apresentou uma característica diferente no quesito

investimento. Embora seus equipamentos fossem comprados por sua família, a

gravação de sua primeira demo, a qual, posteriormente, seria lançada como o LP

Cena De Cinema, foi financiada por um amigo, Inácio Machado, que “depois de

várias negociações (conseguiu) dez dias de gravação no Tok Studios” (LOBÃO,

2017, p. 129). Os músicos, todos amigos, gravaram de graça. É o caso típico de

relações sociais que encurtam os caminhos para o objetivo. No entanto, mais uma

vez, o investimento não foi suportado pelo músico, embora também não tenha sido

coberto por gravadora. Posteriormente, as gravações foram remixadas nos estúdios

da Som Livre e lançadas pela RCA.

Barão Vermelho é exemplo emblemático da importância do empresário

nos destinos de uma banda. Naturalmente, falamos de pessoa pró-ativa, com

espírito empreendedor e não do título ‘empresário” propriamente dito. No citado

conjunto, coube a Ezequiel Neves esta função. Produtor musical dedicado à

descoberta de novos talentos, ouviu a fita demo do Barão e sem mais delongas

acreditou nos rapazes e acionou o produtor da Som Livre, Guto Graça Mello, e este

levou o trabalho para o diretor João Araújo que, a princípio não queria se envolver

para não ser acusado de nepotismo, pois, como vimos, era pai de Cazuza. Por fim,

docemente constrangido, cedeu ao argumento de Guto: “pior vai ser se seu filho

estourar em outra gravadora, aí vão dizer ‘viram, o Araújo não sabe nem o valor do

que tem na própria casa’” (DAPIEVE, 2015, p. 69).

O investimento incorrido pela banda é similar ao invertido pelos outros

artistas do Rock Brasil 80: essencialmente intensivo no que se refere ao fator

trabalho e aparelhagem de palco. As gravações, demo e álbum, foram suportadas

pela Som Livre. Ensaios eram agendados na garagem da casa dos pais do

tecladista Maurício Carvalho de Barros (DAPIEVE, 2015, p. 67).

O caso confronto representado pelo Ultraje a Rigor mostra pequena

inversão de capital financeiro: o aluguel de uma garagem, gravador de fitas cassete,

três amplificadores, três microfones e os instrumentos. Os amplificadores,

100

microfones e instrumentos eram todos nacionais de baixo custo. Não há como

comparar meu Thunder Sound II que atualmente custa mil reais por ser uma

raridade (na época era mais barato) com o amplificador que uso atualmente,

cabeçote Ampeg SVT-VR com dois gabinetes de contrabaixo SVT-410HE 4 x 10,

nos quais 4 x 10 indicam quatro alto-falantes de dez polegadas em cada gabinete

no valor aproximado de trinta mil reais. Tenho, ainda, mais três amplificadores,

Marshall Bass State B 65, Staner (ambos combos transistorizados) e o antigo

Giannini. Os contrabaixos que uso atualmente são seis: Rickenbaker 4003

(americano, no valor de doze mil reais), Höfner H500/1 – HGL – 0 (feito a mão na

Alemanha, dezesseis mil reais), Fender Precision Bass (japonês, quatro mil e

quinhentos reais), Fender Jazz Bass (americano, dez mil reais), Baixolão Martin

(americano, doze mil e quinhentos reais) e o meu antigo Giannini Stratosonic

(nacional, aproximadamente mil reais). Naturalmente, seis baixos é uma

liberalidade, porém, no mínimo três são necessários, um Baixolão para

apresentações acústicas e dois elétricos, um para tocar e outro para ficar de

prontidão, caso cordas quebrem ou outro problema ocorra.

Quanto a gravações, o Ultraje teve todas as suas financiadas pela

gravadora. Clipes, apresentações em rádio e TV também por conta da WEA. O

financiamento mais vultoso e o risco da empreitada, corram por conta da

companhia, diferentemente do que ocorre atualmente.

Outra mudança no mercado ocorreu no que diz respeito à procura de

artistas na noite e em espetáculos correlatos. Conforme depoimento de Midani

(2015, p. 210 e 211), “…no início da década de 1980, chamei o Liminha que

acabara de promover a diretor artístico da Warner, e o Pena Schmidt, contratado

para a mesma posição em São Paulo…” e ficou acertado que eles buscariam

talentos para a gravadora contratar. Desta garimpagem, surgiram “…Kid Abelha &

os Abóboras Selvagens, Ultraje a Rigor, Titãs do Iê-Iê, Ira!, Camisa de Vênus, Kid

Vinil… Barão Vermelho… e Lulu Santos…” Este processo de acesso às companhias

de disco praticamente não existe mais. Atualmente, é necessário criar público nas

redes virtuais para ser notado.

101

Chegou a hora de refletirmos sobre a jornada trilhada durante o curso.

A pesquisa em artes pode ser vista como uma árvore frondosa e esta

exibe diversos ramos. Arte educação, história da arte e processos e procedimentos

artísticos são exemplos destes ramos. Minha pesquisa esta localizada neste último

ramo. O interesse é verificar como se desenrola o ato da criação, quais as atitudes e

fundamentos adotados. Isto foi possível ao vivenciar ativamente a prática artística

das três bandas das quais participei.

A metodologia aqui aplicada é coerente com a visão de Sampieri,

Collado e Lucio (2013, p. 20) de “… ‘pluralismo metodológico’ ou ‘liberdade de

método’…”. Como explicam os autores, com esta visão “… podemos ser

considerados pragmáticos. Estamos convencidos de que tanto a pesquisa

quantitativa como a qualitativa e a mista proporcionaram subsídios importantes ao

conhecimento…”. Este é o embasamento teórico para a adoção dos métodos

empírico analítico, hermenêutico e dialético no desenvolvimento de minha

investigação.

O trabalho em bandas de rock é, essencialmente, um esforço coletivo.

A tradução deste esforço em texto implica na existência de um orientador engajado

e participativo, o que, felizmente, ocorreu. É um projeto coletivo longe da perfeição,

construído enquanto evoluímos. Nas palavras de Sampieri, Collado e Lucio (2013, p.

22):

… a pesquisa é desenvolvida em equipe e, quando descobrimos um

sentido para ela, pode ser divertida e criar fortes laços de amizade

entre os membros do grupo. Essa foi a experiência de milhares de

jovens que se aventuraram nela… Também diremos que não existe

pesquisa perfeita… a questão é nos empenharmos ao máximo…

O tema que eu abracei foi bandas de rock escolhidas. A música, a

identidade visual, as mídias atuais e todo o universo que um conjunto cria ao seu

102

redor. Compus e acompanhei de perto as composições de Thiago Alves, trabalhei

com as duas bandas na criação de videoclipes e gravações de áudio e tive

experiências desde a inserção no YouTube, Facebook e Instagram até a prosaica

confecção de cartões de visita para o Rockiavel, Foto 32.

103

Foto 32: cartão de visita do Rockiavel.

Fonte: Rockiavel.

As questões principais respondidas foram como criar uma banda de

rock, quais as necessidades, os fundamentos, bem como entender o papel do

empreendedorismo em artes e o da economia criativa. Criar uma banda de rock,

como vimos, requer investimento, definição de proposta artística (cover, coscover,

recreativa ou autoral), atitude empreendedora por parte dos músicos na busca

constante de oportunidades de divulgação e atenção especial à economia criativa,

ou seja, economia baseada no capital “intelectual e cultural e na criatividade que

gera valor econômico” (SEBRAE 2019).

Um dos resultados esperados era a produção de objeto artístico a ser

analisado neste trabalho. Isto foi atingido com os vídeos, CD, identidade visual e

todo o aparato que cerca o Rockiavel. PARÁGRAFo D, ainda que em escala bem

104

menor, produziu vídeos e gravações de áudio. Aqui, descrevo um fato que lamento.

Os vídeos que contavam com a participação de Vitor Mellado foram tirados da rede

a pedido dele alegando que as imagens prejudicavam sua carreira. Optamos por

respeitar a vontade do amigo. É possível, contudo, ter uma ideia do vídeo que

produzimos para As Melhores Do Ary assistindo ao clipe dos Bregsons, banda

anterior do Thiago, interpretando a canção Ki Linda Neca Bofe. Nos dois clipes, a

locação foi nos fundos do IA/UNESP. A coreografia é muito similar, com as danças

do Thiago em evidência, simulando atos sexuais dentre outras presepadas. No

vídeo dos Bregsons há dois personagens, Thiago e o tecladista Rafilson das Teclas.

No do PARÁGRAFo D, três: Thiago, eu e Victor Mellado. Vale ressaltar que a

música Ki Linda Neca Bofe é uma versão de Killing In The Name da banda

californiana Rage Against The Machine.

OBJETO ARTÍSTICO

A banda de rock é por excelência um objeto artístico. Comporta a

existência de múltiplos significados subjetivos e ao mesmo tempo pode transmitir as

emoções e ideias dos componentes. Escolhi contar minha experiência com três

destes grupos, Rockiavel (inicialmente A era do caos), PARÁGRAFo D e DSS. A

princípio, meu objetivo era o de profissionalizar as três. No entanto, banda de rock é,

em essência, uma criação coletiva. Os objetivos, portanto, devem ser de todos.

Sendo assim, logo de início, percebi que DSS não poderia se enquadrar na

categoria citada. Não havia o desejo de proceder desta maneira. Com o

PARÁGRAFo, embora houve o desejo, outros fundamentos não existiram. O ensaio

regular, ensaio em sentido amplo, conforme definido neste trabalho, não ocorreu. Os

componentes eram muito atarefados e não dispunham de tempo para tanto. Ou,

talvez, não acharam tempo para investir. Investir… Palavra crucial. Devido à

mudança nas condições de mercado ter capital próprio e investir tornou-se

primordial. Foi-se a época em que um conjunto era contratado por uma gravadora e

esta bancava gravações em estúdio, videoclipes, publicidade e propaganda.

Atualmente, estas empresas terceirizaram para o artista toda esta atividade. Embora

ainda detenham papel significativo no mercado, propiciando acesso a importantes

meios de comunicação, só se interessam por trabalhos que já possuem visibilidade.

105

Bandas com discos gravados, shows agendados, público nas redes sócias e toda a

identidade pronta. A artemídia é cada vez mais requerida: hoje, só o produto

artístico musical dificilmente atingirá o objetivo de inserir-se no mercado.

A estrutura física da banda é outro fundamento para o

desenvolvimento do projeto. Existe, primeiramente, a necessidade de espaço físico.

Há algumas formas de resolver a questão. Existe a possibilidade de locar um

espaço para ensaiar. Na década de 1980, Ultraje a Rigor e Aja (banda na qual eu

tocava na época) alugaram duas salas em um prédio na Rua Teodoro Sampaio em

Pinheiros e Leospa e Cacá, ambos arquitetos, realizaram um trabalho de vedação

acústica. Levamos nossos equipamentos e ensaiamos. Este tipo de solução

contempla as necessidades requeridas pelo conceito ampliado de ensaio pois

possibilita espaço para reuniões, armazenamento de equipamentos, local para

estudos, dentre outros. Ainda pensando em locação, pode-se alugar estúdio

equipado, o qual cobra por hora de ensaio. Foi o que A era do caos e PARÁGRAFo

fizeram no Pata Negra e no DoZe. Aí a solução é mais precária. Um problema que

surge de imediato é a qualidade dos equipamentos. A experiência mostrou que eles

não atendem à necessidade de ajuste fino de timbres, porque, a cada locação, você

toca com um equipamento diferente, e esta necessidade, a do ajuste fino de

timbres, é imperiosa quando se quer produzir algo inédito. Perde-se, ainda, a

possibilidade de estudar o nosso próprio equipamento. Problemas de manutenção

dos equipamentos locados também não são incomuns. O espaço para o ensaio em

sentido amplo desaparece. A melhor solução é a mais onerosa. Criar um espaço

próprio. Foi o que fiz. Em conjunto com Anelice, Leospa e membros da banda

idealizamos o S27, estúdio em minha casa no qual ensaiamos hoje. Atende às

necessidades do conceito amplo de ensaio. Guarda todo o equipamento e isto

facilita a logística quando nos apresentamos ao vivo. Nos encontramos

regularmente e marcamos reuniões de negócios. Poderia, inclusive ser fonte de

renda, porém não tenho interesse em alugar. Prefiro que permaneça um local

exclusivo.

106

Mais um fator crucial na formação do projeto é o repertório. O

repertório define até onde você quer chegar com seu trabalho. A recriação de obras

conhecidas possui duas vertentes principais. Uma delas é o Coscover que consiste

na procura por reproduzir com exatidão a obra abordada. Chega ao requinte de

compreender pesquisa histórica, replicação de vestuário, equipamentos e

instrumentos. Tem seu mercado e o objetivo máximo é tocar em espaços

qualificados, a exemplo, do Teatro Bradesco, no Shopping Bourbon na zona oeste

de São Paulo/SP. É o caso da banda All you need is love, banda cover dos Beatles.

A outra vertente é recriar a obra incluindo uma leitura pessoal. É mais

comum nas configurações voz e violão e atende à demanda de bares de menor

porte. Músicas de autoria própria objetivam o grande mercado. Rádio, televisão e as

mídias em geral. Aqui a dificuldade e o investimento necessários são muito maiores.

Em primeiro lugar você terá de ter as músicas inéditas suas ou de outros autores.

Terá de arranjá-las. Para compor um álbum, cheguei ao número de onze músicas.

Não é uma camisa de força, mas, pelo menos, de trinta a quarenta e cinco minutos

de música é desejável. Há de ter em mente outra dificuldade: é mais difícil satisfazer

o público com canções não conhecidas. Por isto, para apresentações ao vivo, é

importante tocar hits (músicas de grande popularidade) de outros autores. No

entanto, deve haver o cuidado de manter coerência no corpo do repertório. As

músicas próprias devem harmonizar-se com as músicas de outrem,

complementarem-se, reforçarem-se, jamais contradizerem-se.

ANÁLISE DE DUAS MÚSICAS PRÓPRIAS

Para termos uma ideia da temática abordada pelo Rockiavel, passo a

analisar duas músicas presentes no CD Aja, Marca D’Água e Aja. Aja foi composta

na década de 1980 e Marca D’Água em 2010. Ambas apresentam três estrofes de

quatro versos. Aja, por seu turno, conta com um refrão, o que não ocorre com

Marca D’Água. São rocks agitados e pulsantes, ambas. Ambas tratam do tema da

adequação do indivíduo à sociedade e do conflito entre as aspirações pessoais e as

necessidades sociais. Em Aja, bem no espírito da época em que foi composta, a

ideia é a ruptura a qualquer custo. Não ouça as pessoas, faça o que seu coração

107

manda a despeito das consequências. A linguagem é direta sem espaço para

figuras de linguagem: “aja, mesmo que lhe digam não”. Tem a energia da juventude,

a autoconfiança característica desta fase da vida. Afinal, neste período do percusso

há mais tempo para corrigir erros. Marca D’Água reflete outro momento. Foi

composta trinta anos depois. O tema ainda é relevante, mas a abordagem é mais

reflexiva. Mostra três momentos do personagem. No primeiro, existe o desejo de

inserção social em posições julgadas nobres, se assim posso me referir a elas:

poeta, professor, músico. No segundo, a realidade de ter de se inserir no quadro

que foi oferecido pela sociedade: juiz, carrasco, corruptor. No terceiro momento, o

desejo de ouvir, sentir e viver a beleza, o canto, a dança, as artes em geral.

Diferentemente de Aja, no entanto, o discurso não é de ruptura, mas sim de

reflexão: será que a marca d’água (o poder do dinheiro) se desfez? Será que é

possível viver o sonho idealizado? Existe a constatação de que o dinheiro não pode

ser o único referencial com a frase “há de invocar um novo Deus”. Nesta canção,

utilizo figuras de linguagem que substituíram o discurso direto. Marca d’água é

metonímia na qual o símbolo (marca d’água) substitui a coisa significada (o

dinheiro). Há a metáfora na qual Deus é escrito como desvio do sentido próprio da

palavra e passa a indicar o dinheiro. Estas duas canções são, portanto, reflexo de

sua época, mas mantém coerente a temática abordada. Convivem em harmonia no

CD para o qual foram designadas.

É importante dizer que Rockiavel acolhe as músicas que refletem a

vivência de seus elementos. A diversidade dos temas está em consonância com o

projeto da banda. Há canções de amor, a exemplo de Adeus e Feita de Luz, há

protesto contra a guerra (Goodbye Son), momentos cômicos (Dá Pau, Supor isso e

Morena). Por este motivo, os arranjos são variados. Rockiavel encaixa-se

confortavelmente no gênero rock, sem um subgênero específico (metal, new wave,

punk).

É necessário falar agora da importância do estabelecimento de redes

sócias fortes e coesas. Quando falo em redes sócias, quero dizer a rede de pessoas

tanto no mundo físico quanto no mundo virtual. Videomakers, fotógrafos,

108

divulgadores e empresários, para citar alguns, são essenciais para qualquer banda.

Criar projetos de interesse comum deve ser sempre o alvo. O pertencimento a uma

rede social influente pode, por exemplo, abreviar a entrada na mídia e minimizar o

investimento necessário e, consequentemente, diminuir o risco suportado

atualmente pelos músicos.

Volto meu olhar agora para um fator denominado por PEL14 de

Ressonância. Trata-se da afinidade que os elementos da banda devem ter entre si.

Implica na disposição para aceitar visões distintas de forma democrática. Sem esta

disposição, o risco de rompimento é muito elevado como demonstraram as

experiências das bandas DSS e PARÁGRAFo D. Aparentemente não tão

irreversível no caso do DSS.

Atento, neste momento, para o papel do empresário em uma banda de

rock. Se o objetivo da banda é expandir sua atuação, ele é figura-chave no

processo. Deve, em primeiro lugar, gostar e acreditar no trabalho do conjunto.

Precisa ser pró-ativo criando os contatos para alavancar o processo de divulgação e

agenda dos empresariados. A figura do empresário reforça a postura profissional da

banda e demonstra a existência de estrutura e consistência do projeto. Exemplifico

com Brian Epstein, Foto 33, empresário dos Beatles “o homem responsável por criar

as etapas que a banda percorreu até o topo”, conforme Niezgoda (2008, p.122).

Foto 33: Brian Epstein, empresário dos Beatles.

14Conversa com o autor.

109

Fonte: https://br.search.yahoo.com/search?

fr=mcafee&type=E211BR714G0&p=brian+epstein.

Foi através dele que a banda conseguiu o tão sonhado contrato de

gravação com a EMI-Parlophone em 1962, fruto de um encontro fortuito com Syd

Coleman de uma editora possuída pela EMI e Syd o levou a George Martin. Quem

nos conta esta passagem é Barrow (2006, posição 314 e 315 do Kindle), relações-

públicas dos Beatles de 1962 a 1968.

Lennon em Norman (2008, p. 507 e 508) nos dá a impressão que ele

(Lennon) teve após a morte de Epstein:

Eu sabia que à época estávamos com problemas. Nunca tive

nenhuma ilusão a respeito de nossa habilidade de fazer qualquer

coisa que não fosse música. Estava aterrorizado e pensei “agora nós

nos danamos. (Tradução livre do autor15).

A reação de Paul McCartney foi análoga à de John:

Alguns dias depois da morte de Brian, Paul chamou os outros três

para uma reunião em Cavendish16. Uma das primeiras a saber da

pauta foi Frieda Kelly, ex-secretaria de Brian e ainda uma confiável

funcionária da NEMS17. “Paul disse aos outros que, se eles não

15“I knew we were in trouble then. I didn’t really have any misconceptions about our ability to do anything otherthan play music and I was scared. I thought, ‘We’ve fuckin’ had it now”.167 Cavendish Avenue, residência de Paul McCartney em Saint John’s Wood em Londres.17North End Road Music Store, empresa de Brian que agenciou os Beatles.

110

encontrassem alguma maneira de trabalhar juntos de novo, e

depressa, os Beatles se desintegrariam.” (NORMAN 2016, p. 283).

A experiência vivida por Rockiavel, mostrou que a falta de um

empresário pró-ativo e a mudança de Leospa para Minas Gerais, foram as principais

razões para Rockiavel ficar aquém das expectativas de inserção social pretendida.

Quero destacar, porém que, os dois empresários com quem trabalhamos, Cacá

Prates, Foto 34, e Cecília Degan, Foto 35, são amigos queridos que, dentro de suas

possibilidades, fizeram o possível para ajudar. Sou grato a eles.

Foto 34: Cacá Prates.

Fonte:

https://br.images.search.yahoo.com/search/images;_ylt=A2KLfRok_jteGXMAH0nz6

Qt.;_ylu=X3oDMTByMjB0aG5zBGNvbG8DYmYxBHBvcwMxBHZ0aWQDBHNlYwNz

Yw--?p=cac%C3%A1+prates&fr=mcafee.

111

Foto 35: Cecília Degan fotografando Rockiavel.

Fonte: Rockiavel.

No entanto, o fato é que nenhum dos dois conseguiu agendar uma

única apresentação sequer para a banda. Argumentou-se que a época estava difícil

para a colocação de bandas de rock que estavam sendo lançadas. Isto é

parcialmente verdade porque o mercado não apresentou e não apresenta,

atualmente, tendência de alta demanda por bandas novas, como, por exemplo, nos

períodos da Jovem Guarda e do Rock Brasil 80. Porém, devo lembrar que nós

conseguimos nos apresentar por conta própria (sem empresariamento) no SBT, TV

Premium, Open Mail Granja Viana e Octoberfest em São Paulo. Lançamos diversos

videoclipes nas mídias sociais, gravamos o CD por conta e aí passamos a ser

empresariados por Cacá e deixamos de correr atrás porque não seria de bom tom

nos sobrepormos à atividade dele. Aí a banda parou. Tentamos ainda trocar para a

Cecília, porém nada aconteceu. Certamente a mudança do baterista para Minas

Gerais, por questões de negócios, arrefeceu os ânimos de todos envolvidos no

projeto, mas ele se comprometeu a tocar caso uma agenda de shows fosse

112

confeccionada e esta agenda não foi elaborada. A distância geográfica torna os

trabalhos bastante difíceis. Foi esta a realidade que ocorreu quando eu tocava com

Lina Kruze e Rodrigo Mariano, Foto 36.

Foto 36: Lina Kruze e Rodrigo Mariano na banda The Wasted.

Fonte: https://www.conexaocontagemalternativa.com.br/2017/05/23/the-wasted/.

Ambos moravam e moram até hoje em Tatuí e eu sempre vivi em São

Paulo. Conseguimos manter ensaios regulares aos domingos. Um domingo em São

Paulo e outro domingo em Tatuí. Gravamos a música Aja no estúdio do Korzos

(banda heavy metal de São Paulo) e começamos a ensaiar Primeira Vez. Esta

banda poderia ter seguido com um projeto similar ao Rockiavel, porém, em

determinado momento, faltaram forças para mim: não estava mais conseguindo

viajar de carro semana sim, semana não e tivemos que parar. Foi uma pena, porque

tanto Lina quanto Rodrigo são músicos excelentes, com formação acadêmica e

amigos queridos.

113

Estou convencido de que a distância geográfica exerce influência

importante nos destinos de qualquer grupo que quer fazer música junto. Mesmo

morando na mesma cidade, São Paulo, por exemplo, a distância das zonas leste

sul, norte, oeste já dificulta. Quanto maior a distância, maiores os custos e maior o

dispêndio de um fator crucial: o tempo.

Convém lembrar que, Paul McCartney e George Harrison

“costumavam encontra-se no ônibus em que viajavam” (DAVIES 1968, p. 61) e

tomavam o coletivo com apenas um ponto de diferença. John também morava perto

deles e “’Paul costumava chegar pela porta da frente’, conta Mimi18. Encostava a

bicicleta na grade e me olhava com aqueles olhos de ovelha, dizendo: ‘- Posso

entrar?’ (DAVIES 1968, p. 63).

Há uma questão que sempre surge quando penso nos motivos que

levam alguns grupos ao sucesso e outros não: qual o ingrediente que alguns tem e

falta a outros, ingrediente que os leva a caírem nas graças do público? “É preciso ter

uma estrela, um algo mais” como acredita a mãe de Cazuza (ARAÚJO, 2011, p.

83)? Estará este fator além das nossas capacidades cognitivas? Relembro que

sucesso pode ser entendido como inserção social pretendida. Esta questão também

rondava a cabeça de André Midani, um dos mais importantes executivos do

mercado brasileiro e mundial de discos. Ele, em sua biografia, relata que não podia

entender porque músicos de menor quilate, volta e meia vendiam muito, enquanto

outros por ele avaliados superiores, naufragavam. Araçá Azul, álbum considerado

por Midani ao nível de Sgt. Pepper’s (MIDANI, 2015, p. 149), encalhou enquanto

cantores como Orlando Dias (MIDANI, 2015, p. 88) iam bem no quesito comercial. A

resposta, para Midani, está na ligação do artista com os parâmetros coletivos do

inconsciente, conceito desenvolvido por Jung (1989, p. 39 e 40). Ele, Midani,

chegou a esta conclusão após jantar com dois amigos psicólogos e nos forneceu o

seguinte relato.

18Tia de John que o criou.

114

Comecei, então, a entender que o que o cantor e sua música diziam

não era tão importante quanto a maneira como o diziam, e como o

que diziam dependia da genuinidade do sentimento que vinha do

fundo da alma. Quando o público carregava um sentimento similar,

identificava-se com o cantor através do inconsciente coletivo. E a

canção, como tal, se restringia a um pretexto, e era meramente um

fio condutor da empatia entre o cantor e o público (MIDANI, 2015, p.

88).

É uma opinião de peso, proferida por alguém que dedicou a vida ao

mercado de discos. No entanto, existem outras, ainda que heterodoxas. Olhemos

para a explicação de Niezgoda (2008) ao interpretar o sucesso obtido pelos Beatles.

O que estes quatro rapazes possuem que ninguém mais têm? O que

poderia explicar a rápida super reação provocada pela banda no

mundo inteiro? As músicas deles não eram mais empolgantes ou

bonitas daquelas produzidas por The Kinks ou The Rolling Stones, e

eles nunca foram considerados grandes músicos ao vivo… Parecia

que eles possuiam uma espécie de mágica… Uma pista sobre o

mistério envolvendo os Beatles pode vir de uma frase proferida por

John Lennon...ao seu amigo Tony Sheridan19: “Eu vendi minha alma

ao diabo” (NIEZGODA, 2008, p. 5 e 6).

Podemos interpretar a frase de John como uma figura de linguagem a

indicar que ao trabalhar na indústria fonográfica teve que se sujeitar a todo tipo de

imposições e disabores. Muitas entrevistas concedidas por Lennon indicam que a

pressão e a humilhação cresciam em paralelo ao sucesso ao ponto dele dizer,

falando sobre os compromissos social impingidos ao grupo,: “Era uma puta

humilhação. A gente tinha de se humilhar completamente para ser o que eram os

Beatles...”(EDITORES DE ‘ROLLING STONE’, 1989, p. 101). Quanto a questão das

músicas, devo lembrar o ineditismo do fab four20 que surgiu primeiro no mercado

19Cantor inglês contemporâneo do Beatles. Gravou com a banda de Liverpool em Hamburgo na Alemanha uma série de canções lançadas em 1961 que posteriormente viriam ser lançadas no CD The Early Tapes Of The Beatles. 20Expressão criada por Tony Barrow que equivale a “os quatro fabulosos”.

115

mundial ocasionando a chamada invasão britânica ocorrida na década de sessenta

nos Estados Unidos capitaneada pelo sucesso do single I Want To Hold Your

Hand21, o qual atingiu a primeira colocação nas paradas de sucesso americanas,

fato inédito para artistas ingleses, e por apresentações em fevereiro de 1964 no Ed

Sullivan Show22. Lembro que em 1964 a parceria Jagger & Richards responsável

pelas canções dos Rolling Stones, ainda era incipiente, a ponto de o primeiro e o

segundo singles da banda, Come On de Chuck Bery e I Wanna Be Your Man de

Lennon&McCartney, terem sido compostos por covers. Quanto aos Kinks, sei que

são bons, mas compará-los ao Beatles parece desproporcional. O argumento de

que eles não eram particularmente bons ao vivo não parece sustentar-se quando

assistimos as apresentações no Ed Sullivan Show, no Washington Coliseum em

1964, em Paris e no Shea Stadium, ambas em 1965. O primeiro concerto no Japão

em 1966 não foi bom, é verdade, porém os seguintes foram excelentes. O

entendimento de Niezgoda (2008), no entanto, é literal. Toda sua obra é baseada

neste suposto pacto demoníaco.

Após ler Niezgoda (2008), é natural ficar intrigado com a fala de Ringo

Starr em entrevista para o projeto Anthology, na qual declara “que por este pedaço

de vinil vendia-se a alma”23(BEATLES, 2000, p. 77). Pedaço de vinil é metonímia

para contrato de gravação.

Entendo que a explicação de Midani (2008) faz mais sentido, desde

que os artistas estejam submetidos a iguais condições de produção e divulgação de

seus trabalhos. A música é essencialmente um fenômeno social e cultural e o

conceito de inconsciente coletivo aplicado do por André é muito interessante e

esclarecedor. Devo lembrar aquí, porém, uma conversa que tive com Leospa

quando da contratação da banda pela WEA. Ele me contou que o Ultraje foi visitar

uma mística antes do sucesso e ele recomendou alguns sortilégios que, nas

palavras de Leospa, “se não ajudassem, mal não fariam”…

21Lançado no Brasil no LP Beatlemania.22Programa de TV de grande audiência nos EUA na década de 1960.23“…as I say, for that bit of plastic you would sell your soul”.

116

Em vista do fato de que Rockiavel não atingiu, ainda, o patamar de

inseção social pretendido, fico devendo uma resposta mais contundente quanto a

questão do sucesso. Posso dizer, contudo, que para esta banda faltou mais estrada,

no sentido de muitas apresentações ao vivo. Elas foram poucas e, assim, não

permitiram avaliar a reação do público quanto ao repertório. A falta de investimento

em rádio é outro fator importante que impediu maior divulgação das canções. Este

meio de comunicação continua vigindo com força, notadamente para aqueles que

utilizam automóveis e passam horas no trânsito. Nos consultórios, em geral e

notadamente nos odontológicos, a presença do rádio é constante. Profissionais que

trabalham em segurança ouvem rádio de maneira constante. As principais rádio

difusoras estão também na internet e, desta forma, ampliaram o púplico ouvinte. Há,

ainda, as rádios universitárias que tem um público segmentado interessante de

pessoas formadoras de opinião. É um meio que não pode ser ignorado.

GRAVADORAS NO ROCK BRASIL 80

É o momento de falar sobre as gravadoras.

Aquelas que produziram os discos das bandas escolhidas para

representar o Rock Brasil 80 são, EMI-Odeon (Blitz, Paralamas do Sucesso, Legião

Urbana), RCA (Lobão), Opus Columbia (Barão Vermelho), WEA (Titãs, Ultraje a

Rigor, Ira!), Epic (RPM), Som Livre (Cazuza).

EMI-Odeon

EMI-Odeon era a gravadora responsável pelo lançamento dos Beatles

no Brasil. EMI é a abreviatura para Electric and Musical Industries Ltd, companhia

inglesa possuidora de subsidiárias importantes como a Parlophone (responsável

pela produção e lançamento dos discos dos Beatles no Reino Unido), a Capitol

(empresa encarregada pelo lançamento das produções do quarteto de Liverpool nos

Estados Unidos) e EMI-Odeon (Beatles no Brasil). Odeon foi a primeira empresa

brasileira a manufaturar discos na América Latina inaugurada em 1913 por

Frederico Figner, empresário pioneiro no Brasil no ramo em questão, a partir de uma

117

parceria técnica com o grupo sueco Lindström (VICENTE e MARCHI, 2014, p. 12).

Posteriormente, em 1932, passa ao controle da EMI e em seguida foi vendida para

a Universal.

RCA

RCA (Radio Corporation of America) é a empresa responsável pelo

lançamento de Elvis Presley no Brasil. É uma companhia americana que abriu uma

filial no Brasil em no segundo quartel do século XX e, posteriormente, foi vendida

para a Sony Music em 2008.

Opus-Columbia

Opus-Columbia foi “um selo brasileiro criado através da parceria entre

a CBS do Brasil e a Som Livre que durou de 1981 até a metade de 1986. Está

extinta e os fonogramas pertencem à Som Livre” (DISCOGS, site da web). Selo é

uma célula menor da gravadora, com direção artística descentralizada, mais ágil

“com independência estética e divulgação segmentada” (ALEXANDRE, 2002,

posição 6431 na Edição Kindle), a exemplo dos selos Warner, Atlantic e Elektra,

todos da Warner Communications (empresa que engloba a Warner Bros. Pictures e

a Warner Music Group) que na década de 1970 contavam com o capital da Warner

para contratar grandes astros, Led Zeppelin, por exemplo, e tinham autonomia

artística (MIDANI, 2015, p. 164 e 165).

WEA

WEA é gravadora americana pertencente ao Warner Music Group,

divisão do conglomerado da Warner Brothers (Warner Bros.)24 com filial no Brasil

fundada em 1976 por André Midani.

24Para mais detalhes da fascinante história da empresa, ver Bruck (2013).

118

Epic

Epic é selo lançado em 1953 pela gravadora americana Columbia

Broadcasting System, Inc (CBS). Columbia Records, por seu turno, é a divisão de

música gravada da CBS. Atualmente a CBS é parte integrante da Sony BMG Music

Entertainment (DISCOGS, site web).

Som Livre

Som Livre foi a gravadora criada pela Rede Globo de Televisão em

1969. Com o crescimento da mídia televisiva e o sucesso das novelas, a gravadora

se expandiu. Participação em trilhas de novelas passou a ser, e é até hoje, objeto

de desejo dos artistas da música. Segundo Morelli (1991, p. 70 apud VICENTE e

MARCHI, 2014, p. 18) “essas trilhas, formadas normalmente por coletâneas de

músicas nacionais e internacionais, transformarão (transformaram) a gravadora Som

Livre numa das maiores vendedoras de discos do país”.

TRANSFORMAÇÃO MERCADOLÓGICA

A crise nos negócios das gravadoras começa a surgir com o

aparecimento de gravações piratas em fitas cassetes em meados da década de

1990. Gravações piratas são aquelas produzidas clandestinamente. Não pagam

impostos, direito de artistas e gravadoras. Posteriormente, esta prática se estendeu

aos CD. Hoje a venda de meios físicos (vinil, fitas e CD) é muito pequena. Diversas

lojas grandes dedicadas à venda de bens culturais fecharam a exemplo da Fnac

Pinheiros e da Fnac Paulista, e outras diminuíram a oferta dos produtos citados,

como A Livraria da Vila do Shopping JK. Vinil é um item que ainda é produzido,

porém é destinado aos audiófilos. A música continua a ser comercializada, mas sob

outra forma, o chamado streaming. A palavra tem origem inglesa e

etimologicamente significa fluir. Conforme Houaiss (on-line) é “… tecnologia usada

para captar, como um fluxo contínuo, som ou imagens num computador, a qual

possibilita ouvi-los ou visionar as imagens antes de a informação como um todo ter

sido baixada para o computador”. Este processo, permitiu a aceleração das

comunicações e gerou o chamado Serviço de streaming. Este serviço é oferecido

119

por diversas plataformas, a exemplo do Spotify e do Deezer. Estão presentes nos

telefones celulares e possuem, geralmente, duas versões, a gratuita e a paga. Na

gratuita, o assinante recebe anúncios que financiam o aplicativo. Estes anúncios

são retirados na versão paga. É possível criar listas de escuta, as chamadas

playlists, escolher artistas e combinar a escuta com outros aplicativos, a exemplo do

Waze, usado para localização veicular. Assim com o Waze, o GPS permanece

informando as direções enquanto ouve-se música.

Outra forma de distribuição de músicas é o download. É a forma

utilizada pela iTunes empresa americana Apple (não confundir com a empresa

homônima dos Beatles). Neste caso, o conteúdo é todo baixado antes de ser

escutado. É possível adquirir canções individuais ou álbuns inteiros. Em seu site

oficial é possível baixar o aplicativo para Windows, caso você o esteja acessando

via computador. Há versão para Android e, naturalmente, iPhone caso o acesso se

faça por celular.

Com o barateamento das gravações de qualidade, a estratégia das

gravadoras, como vimos anteriormente, modificou-se. Não contrata mais artistas

com gravações caseiras esperando levá-los para um grande estúdio com um

produtor gabaritado e criar, a partir daí, um produto. Como explica Luiz Schiavon

“hoje é possível fazer um trabalho de qualidade tão boa quanto num estúdio com

recursos muito menores. Agora, divulgação em larga escala como uma gravadora

faz é outra história” (MORAES, 2007, p. 86). Luiz ressalta o papel que cabe às

gravadoras hoje: divulgação em larga escala. Esta aparente democratização do

acesso aos meios de produção musical via barateamento dos custos envolvidos

esbarra em nova necessidade de capacitação do músico. Se, anteriormente, o foco

era tocar, cantar e criar, agora agregou-se a necessidade de conhecimento técnico

para captação, mixagem e masterização. Não são conhecimentos triviais. Para

termos uma ideia, em determinado momento de sua carreira, após registrar os

maiores artistas do Rock Brasil 80, o produtor Liminha mudou-se “para os Estados

Unidos para se aperfeiçoar e estudar produção” (ALEXANDRE, 2002, posição 7542

da Edição Kindle). Ainda que o músico consiga incorporar este conhecimento ao seu

120

cabedal, emergem outras questões. A criação de local próprio para gravação, o

qual, necessariamente, deve possuir isolamento acústico e propriedades especiais

para criar a ambiência, uma parede de pedra, por exemplo. Microfones são

importantíssimos. Não adianta comprar modelos baratos porque a sonoridade não é

adequada nestes modelos. Para a bateria, deve-se adquirir um conjunto de

microfones, pois cada um deles é específico para a captação de frequências de

peça determinada: você não quer um microfone de chimbau captando um bumbo.

Lembro que estamos analisando bandas de rock. Naturalmente, uma menina

simpática, com seu violão cantando MPB e gravando com seu celular é questão

diferente. Rock é centrado no som, timbres, potência, brilho. A aparelhagem é cara

e complexa, passando por mesas de 24 canais, compressores, limitadores, delays,

reverbers e assim sucessivamente. Devo pensar, ainda, no custo unitário de

produção. Cada banda suportando os custos de seu álbum ou single, com a

gravação de nova produção comumente após um ano de lançamento do

antecessor, no caso do álbum, terá o custo por produto muito maior do que se

transferisse para estúdios especializados, a exemplo do Estúdio do Schiavon e o

500.

GRAVADORAS NO MOMENTO ATUAL

Falo agora da atualidade das gravadoras lançadoras das bandas do

Rock Brasil 80. As que ainda estão em atividade no Brasil são a Warner (WEA) e a

Som Livre. Destaco também a Universal e a Sony Music incorporadoras dos selos

EMI (Universal) e RCA, Opus Columbia e Epic (Sony Music).

Estas quatro empresas (WEA, Som Livre, Universal e Sony Music)

dominam o mercado hoje em dia.

Universal

A Universal, em seu site oficial (entrada Sobre), denomina-se “a maior

empresa de música no mundo”. Os selos desta empresa compreendem a Capitol

Music Group, Capital Records UK, DECCA, a gravadora que rejeitou os Beatles

121

porque, segundo Dick Rowe, executivo da empresa, eles, na DECCA, “não

gostaram do som dos rapazes e grupos de guitarristas estavam saindo de moda”

(EPSTEIN, 2011, posição Kindle 595), Def Jam Recordings, Deutsche

Grammophon, Mercury Classics, EMI, Island Records US, Island Records UK,

Polydor, Republic Records, Virgin EMI Records, Caroline, Verve, Aftercluv Dancelab,

Hollywood Records, PM:AM Records e Walt Disney Records.

Os artistas que fazem parte do elenco desta gravadora são: Alice

Caymmi, Amy Winehouse, André Rieu, Andrea Bocelli, Anny Petti, Babado Novo,

Bananas De Pijama, Banda Eva, Bruna Viola, Bruno Martini, Caetano Veloso, Carla

Bruni, Chitãozinho & Xororó, Coral Resgate, CPM 22, Daniel, David Garrett, Demi

Lovato, Diogo Nogueira, Edson & Hudson, Eli Soares, Ellie Goulding, Felipe Araújo,

Frank Aguiar, Israel Novaes, Ivete Sangalo, J Balvin, João Bosco & Vinícius, João

Victor, Joelma, Jonas Vilar, Justin Bieber, Katy Perry, Legião Urbana, Lenine,

Madeleine Peyroux, Marcelo D2, Maria Rita, Mariene de Castro, Marisa Monte,

Maron 5. Matheus & Kauan, MC Gui, Megadeth, Melody Gardot, Mumuzinho, Nelson

Freire, Paula Fernandes, Pedras Vivas, Placebo, Plácido Domingos, Pregador Luo,

Projota, Queen, Renascer Praise, Rihanna, Sam Smith, Sandy, Seu Jorge, Shirley

Kaiser, Taylor Swift, The Beatles, The Weeknd, Xande de Pilares e Zeca Pagodinho.

Destes sessenta e cinco artistas, considero Amy Winehouse, CPM 22, Legião

Urbana, Marcelo D2, Megadeth, Placebo, Queen e The Beatles como música rock.

Esta música representa, portanto, doze por cento do cast da gravadora. Na ativa,

isto é fazendo shows, CPM 22, Marcelo D2, Megadeth e Placebo. Todos fundados

no século passado.

A Universal comercializa CD, DVD e LP/Vinil, além de disponibilizar os

produtos nas diversas plataformas digitais.

Warner

O site oficial da empresa não indica a existência de selos. Eles estão

indicados no sítio eletrônico da loja da companhia: Atlantic, Warner Music Nashville,

122

Big Beat, Canvasback, Elektra, Roadrunner Records, Warner Classics, Black

Cement Records e Warner Records.

Os artistas nacionais contratados são os que se seguem: 2strange,

Anita, Biel, Carol Csan, Day & Lara, DDP Diretoria, Delano, Fernanda Pizuti,

Ferrugem, Giulia Be, Imagina Samba, Iza, João Gustavo & Murilo, Kayki, Kelly Key,

Kevinho, Lua, Lucy, Ludmilla, Marcelo Falcão, Mazzoni, MC Fioti, MC Can, MC

Leléto, MC Pocahontas, MC WM, Miranda, Mr. Dan, Nick Cruz, O Rappa, Papatinho,

Paula Matos, Pedro Sampaio, PK, Suel, Thiago Brava, Tiê, Um44k e Yasminnie.

Os artistas internacionais são: 88-Keys, A Boogie Wit Da Hoodie,

AB6IX, Alec Benjamin, All Time Low, Ally Brooke, Alok, Anderson Paak, Anne-Marie,

Ava Max, Avenged Sevenfold, Avril Lavigne, B.O.B, Bazzi, Bebe Rexha, Biffy Clyro,

Birdy, Blur, Brandi Carlile, Bruno Mars, Bryce Vine, Cardi B, Charli XCX, Charlie

Puth, Cher, Christina Perri, Chromeo, Clean Bandit, Coheed And Cambria, Coldplay,

Conrad Tao, Damon Albarn, Danny Ocean, Dashboard Confessional, David Guetta,

Death Cab For Cutie, Deftones, Devendra Banhart, Dido, Disturbed, Dr. John, Dram,

Dua Lipa, Echosmith, Ed Sheeran, Elderbrook, Enya, Eric Clapton, Fitz And The

Tantrums, Florida, Foals, Gary Clark Jr., Gerard Way, Gojira, Goo Goo Dolls,

Gorillaz, Grandson, Green Day, Guccimane, Halestorm, Hayley Kiyoko, Hunter

Hayes, Iron Maiden, Jack Ü, James Blunt, Janelle Monáe, Jason Mraz, Jeff Beck,

Jess Glynne, Jesse & Joy, Johnny Marr, Jorge Drexler, Josh Groban, Kaleo,

Katherine Jenkins, Kehlan, Kelly Clarkson, Kevin Gates, Kid Rock, Kiiara, Kimbra,

Kodak Black, Korn, Kyary Pamyu Pamyu, Kyle, Kylie Minogue, Laura Pausini, Led

Zeppelin, Liam Gallagher, Lianne La Havas, Lil Dicky, Lil Pump, Lil Skies, Lil Uzi

Vert, Lily Allen, Linkin Park, Lizzo, Luis Miguel, Lukas Grahnan, Lynyrd Skynyrd,

Mac Miller, Macklemore, Maite Perroni, Maná, Marina And The Diamonds,

Mastodon, Matchbox Twenty, Meek Mill, Melanie Martinez, Michael Bublé, Mick

Hucknall, Mike Shinoda, Missy Elliott, Motörhead, Muse, Natalie Merchant, Neil

Young, Nico & Vinz, One Ok Rock, Pablo Alborán, Panic! At The Disco, Paolo Nutini,

Paramore, Pat Metheny, Paul Weller, Phoenix, Piso 21, Pixies, PNB Rock, Portugal

The Man, Ravyn Lenae, Rüfüs Du Sol, Red Hot Chili Peppers, Renina Spektor, Rita

123

Ora, Rob Thomas, Robert Plant, Robin Schulz, Roxette, Royal Blood, Rudimental,

Sabrina Claudio, Sage The Gemini, Selah Sue, Sheryl Crow, Sia, Simple Plan,

Simply Red, Skillet, Skrillex, Slipknot, Sofia Reyes, Stereophonics, Stone Sour,

Sturgill Simpson, The Black Keys, The Doors, The Fever 333, The Knocks, The War

On Drugs, Tinie Tempah, Tom Petty, Trivium, Twenty One Pilots, Ty Dolla $aign,

Vance Joy, Vintage Culture, Weezer, Why Don’t We, Wiz Khalifa, Ximena Sariñana,

Young The Giant, Young Thug, Youngboy Never Broke Again, Zak Abel e Zion &

Lennox.

O sítio eletrônico da gravadora classifica os artistas por gênero. Estes

gêneros são: Rock, Eletrônico, Hiphop, Erudito, Poprock. Segundo a gravadora,

seus músicos de rock são: O Rappa (o único nacional), All Time Low, Avenged

Sevenfold, Biffy Clyro, Brandi Carlile, Coheed And Cambria, Coldplay, Damon

Albarn, Dashboard Confessional, Death Cab For Cutie, Deftones, Disturbed,

Echosmith, Eric Clapton, Foals, Gary Clark Jr., Gojira, Goo Goo Dolls, Gorillaz,

Grandson, Green Day, Halestorm, Iron Maiden, Jeff Beck, Johnny Marr, Kaleo, Kid

Rock, Korn, Led Zeppelin, Liam Gallagher, Linkin Park, Mastodon, Matchbox

Twenty, Motörhead, Muse, Neil Young, One Ok Rock, Panic! At The Disco, Paolo

Nutini, Paramore, Pat Metheny, Paul Weller, Phoenix, Pixies, Portugal The Man, Red

Hot Chili Peppers, Robert Plant, Royal Blood, Simple Plan, Skillet, Slipknot,

Stereophonics, Stone Sour, Sturgill Simpson, The Black Keys, The Doors, The Fever

333, The War On Drugs, Tom Petty e Young The Giant.

Warner possui duzentos e dezesseis artistas contratados. Destes,

sessenta são músicos de rock. Portanto, vinte e sete por cento dos artistas

contratados são músicos de rock.

Os produtos disponíveis na loja oficial incluem camisetas, CD, Vinil,

Digital, CD/DVD, Box Set, Cassete e Soundtrack.

124

Sony Music

No site https://www.sonymusic.com.br/ vemos os selos de

propriedade da gravadora: Sony Music Nashville, Columbia, Epic, Legacy e RCA.

A empresa conta com os seguintes artistas, classificados em

nacionais, internacionais e gospel: nacionais – Marcos & Belutti, Bruninho & Davi,

Capital Inicial, Daniel Boaventura, Jota Quest, Natiruts, Padre Marcelo Rossi,

Fernando & Sorocaba, Cat Dealers, Dilsinho, Emicida, Evokings, Jord, Nego Do

Borel, Pabllo Vitar, Preta Gil, Taís Alvarenga, Ana Carolina, Authentic Games, Belo,

Ftampa, Lucas Lucco, Martinho Da Vila, Oriente, Skank, Solange Almeida, Turma

Do Pagode, Diego & Victor Hugo, Dennis DJ, Maria, Pankadón, Rouge, Yasmin

Santos, Bárbara Dias, Diego & Arnaldo, Funtastic, Karol Conká, Lagum, Rashid,

Rob Nunes, Z4, Adriana Calcanhoto, Djavan, Roberto Carlos, Avine Vinny, Lucas &

Orelha – internacional – Abraham Mateo, Arcade Fire, Beyoncé, Britney Spears,

Calvin Harris, Camila Cabello, David Gilmour, DJ Khaled, Enrique Iglesias, Fifth

Harmony, Foo Fighters, Grace Vanderwaal, Harry Styles, Il Volo, John Mayer,

Jennifer Lopez, Justin Timberlake, Kesha, Lau, Louis Tomlinson, Maluma, Miley

Cyrus, Prettymuch, Rag N Bone Man, Roger Waters, Romeo Santos, The

Chainsmokers, Shakira, Pink – gospel – Aline Barros, Damares, DJ PV, Priscilla

Alcantara, Ao Cubo, Brenda, Discopraise, Gabi Sampaio, Irmão Lázaro, Leonardo

Gonçalves, Marcela Taís, Silvia Lippy, Os Arrais, Lagoinha, Kemilly Santos, Mariana

Valadão, Projeto Norte, Mari Borges, André Luz, Waguinho, Giovanne, Nívea Silva,

Mariah Gomes, Diego Karter, Juliano Son, Weslei Santos e Kemuel.

Os músicos de rock da Sony Music, em minha avaliação: nacionais –

Capital Inicial, Jota Quest e Skank – internacionais – Arcade Fire, David Gilmour,

Foo Fighters, John Mayer e Roger Waters.

A companhia possui noventa e oito contratados dos quais oito

produzem rock, logo a percentagem correspondente a artistas de rock é oito por

cento.

125

O sítio eletrônico da empresa não indica comercialização de mídias

físicas.

Som Livre

Os selos desta firma são Austro Music e Slap.

Os artistas denominam-se: Alexandre Pires, Ana Vilela, André

Valadão, Bhaskar, Bivolt, Breno & Caio Cesar, Carol & Vitoria, César Menotti &

Fabiano, Céu, Cleber & Cauan, Costa Gold, Davi Sacer, DJ Caique, Edi Rock, Edu

Chociay, Erasmo Carlos, Filipe Ret, Gustavo Bertoni, Haikaiss, Hugo & Guilherme,

Israel & Rodolffo, Jads & Jadson, Jefferson Moraes, João Cavalcanti, João Neto &

Frederico, Jonas Esticado, Jorge & Mateus, Kafé, Laila Garin, Laura Lavieri, Lexa,

Lu & Alex, Luan Estilizado, Luan Santana, Maiara & Maraisa, Mano Walter, Marcelo

Jeneci, Maria Gadú (sic), Marília Mendonça, May & Karen, Mc Marks, Michel Teló,

Mojjo, Naiara Azevedo, Nicolas Germano, Nina Fernandes, Novos Baianos,

Onze:20, Padre Alessandro Campos, PaQua, Raça Negra, Ralk, Rosa De Saron,

Saia Rodada, Samhara, Scalene, Silva, Thiago Anezzi, Thiaguinho, Tiee, Ton Carfi,

Welington & Nillo, Wesley Safadão, Xand Avião, Zé Felipe, Zé Maria, Zé Neto &

Cristiano.

Erasmo Carlos, Gustavo Bertoni, Laura Lavieri, Novos Baianos e

Onze:20 podem ser considerados músicos com influência do rock. Sessenta e oito

artistas contratados dos quais cinco podem ser considerados inseridos no gênero

rock. Isto nos conduz a sete por cento dos músicos representando o citado gênero.

A companhia comercializa mídias físicas diversas (CD, vinil, DVD,

dentre outros) além de estar presente nas plataformas digitais.

BANDAS ESCOLHIDAS E SEUS TRABALHOS MAIS RECENTES

1 BLITZ

126

A Blitz continua em atividade atualmente. A presente formação é

composta por Evandro Mesquita (vocal, guitarra e violão), Billy (teclados), Juba

(bateria), Rogério Meanda (guitarra), Cláudia Niemeyer (baixo), Andréa Coutinho

(backing vocal) e Nicole Cyrne (backing vocal) como nos informa o sítio eletrônico

oficial da banda na rede mundial de computadores: blitzmania.com.br. Trata-se de

página bastante completa que conta com as seções 1. Home, 2. Loja, 3. Blog, 4.

Release, 5. Agenda, 6. Fotos, 7. Vídeos e 8. “Custom Imprinted Guitar Picks By

Clayton, INC.” na barra superior. Na barra inferior são adicionadas as seções 9.

Integrantes, 10. Discografia, 11. Contratantes e 12. Contato.

Ainda segundo o site, nestes trinta e oito anos de carreira (1982 a

2019) foram lançados os álbuns As Aventuras da BLITZ 1 (1982), Radioatividade

(1984), BLITZ 3 (1985), Todas as Aventuras Da BLITZ 1 (1990), BLITZ ao Vivo

(1994), Línguas (1997), BLITZ 2000 Últimas Notícias (1999), BLITZ com Vida

(2006), Ao Vivo e a Cores (2007), Eskute BLITZ (2010), Foto 37. O mais recente, foi

lançado em CD.

127

Foto 37: Eskute BLITZ.

Fonte: http://www.blitzmania.com.br/site/.

A música que dá nome ao álbum possui a seguinte letra:

ESKUTE

Composição Blitz

A muito tempo atrás (nem me lembro mais)

A vida que eu vivia (não esqueci)

Tinha um pouco mais de poesia (te esperei você não vem)

Mais sobrevivi (sem ninguém)

Sem nada no bolso (já perdi o trem)

Tem na mão o meu coração (te desejo tudo de bom)

Talvez agora seja a hora de perguntar (o que quer me perguntar)

Como anda a vida, onde você vai?

Eu sei (eu sei) eu sei (eu sei)

Você sabe que falei

De mais (já mais) de mais (já mais)

Sem você não fico em paz

128

Vem logo (my love) me leve (my love)

Me leve lindo e livre na ilusão

Numa ilusão – na ilusão

Me olho no espelho (só vejo você)

E não me reconheço mais (estou aqui)

Tenho vivido a vida pelo avesso(isso não tem mais alguém)

Escute meu bem (enquanto não vem)

Preciso do trem (só de mais um trem)

Viajante sem ninguém

Talvez agora seja a hora de perguntar (o que quer me perguntar)

Como anda a vida onde você vai?

Eu sei (eu sei) eu sei (eu sei)

Você sabe que falei

De mais (já mais) de mais (já mais)

Sem você não fico em paz

Vem logo (my love) me leve (my love)

Me leve lindo e livre na ilusão

Numa ilusão – na ilusão

Nesta canção, o grupo faz menção ao tempo passado no qual havia

mais poesia na vida do narrador. Evoca o período áureo do grupo, o qual contrasta

com o momento atual, momento no qual não há nada no bolso porque o trem foi

perdido, o trem dos anos oitenta.

É hora de perguntar aonde os novos caminhos trilhados pelo público

levarão a banda. Muito já foi dito e existe a esperança de que o público diga que

não se falou demais e leve a Blitz à ilusão do sucesso novamente, pois o narrador

só vê o público e confessa precisar do trem.

129

Eskute BLITZ está disponível atualmente nas plataformas de

streaming, a exemplo do Spotify. Não há gravadora vinculada a este lançamento e

os direitos de cópias estão vinculados à BLITZ. Posso inferir, portanto, que o

trabalho foi produzido pelo próprio grupo, sem vinculação com as grandes

companhias.

2 LOBÃO

Da mesma forma que a Blitz, Lobão continua trabalhando atualmente.

Possui um site oficial no qual existem os seguintes atalhos na barra

superior: 1. Sobre, 2. Agenda, 3. Discografia, 4. Livros e 5. Contato. 1. Sobre

descreve o perfil do artista. Neste perfil, há a informação que “em 1999 (ele) decidiu

lançar seu primeiro álbum independente, ‘A Vida É Doce’, comercializado em

bancas de jornal” (LOBÃO, site oficial, Sobre). Com este CD, alcançou a sua

segunda maior vendagem entre todos os álbuns confeccionados por ele. 2. Agenda

traz os espetáculos promovidos pelo artista. Aqui existe uma particularidade: as

datas não indicam o ano, apenas a hora, o dia e o mês dos shows. 3. Discografia

tem os álbuns e singles lançados: Cena de Cinema (1982), Guerra (1984), O Rock

Errou (1986), Vida Bandida (1987), Cuidado! (1988), Sob O Sol De Parador (1989),

Vivo (1990), O Inferno É Fogo (1991), Nostalgia Da Modernidade (1995), Noite

(1998), A Vida É Doce (1999), 2001: Uma Odisseia No Universo Paralelo (2001),

Canções Dentro Da Noite Escura (2005), Acústico MTV (2007), Lobão Elétrico: Lino,

Sexy & Brutal (Ao Vivo Em São Paulo) (2012), O Rigor E A Misericórdia (2016), O

Que É A Solidão Em Sermos Nós (2016 – canção avulsa), Eu Não Vou Deixar (2013

– canção avulsa – está fora da ordem cronológica porque é assim que aparece no

site), O Bobo (2017 – participação especial de Roger Moreira) e Seda (2017),

Antologia Politicamente Incorreta Dos Anos 80 Pelo Rock (2018) (não aparece no

site, porém está disponível no Spotify), Lobão E Os Eremitas Da Montanha (quatro

EP de 2018 com músicas cover), Geração Coca-Cola (single de 2018) e, a mais

recente Com A Graça De Deus (single de 2019) . Ressalto que nem todas as obras

estão disponíveis para escuta neste sítio. 4. Livros mostra as capas de seus

trabalhos literários complementadas por resenhas dos títulos e atalhos para compra

on-line: 50 anos a mil (2010), Manifesto Do Nada Na Terra Do Nunca (2013), Lobão

130

Em Busca do Rigor E Da Misericórdia: Reflexões De Um Ermitão Urbano (2015) e

Guia politicamente incorreto dos anos 80 pelo Rock/Lobão (2017), Foto 38. 5.

Contato traz site, e-mail e telefone de PK7 Produções e Viracomunicações.

O site possui também links para o Facebook, Twitter, Instagram (que

está desabilitado), YouTube e Vimeo.

Lobão não está vinculado hoje em dia a nenhuma gravadora. Suas

produções são trazidas ao público pela Universo Paralelo, produtora independente.

Foto 38: LP Guia Politicamente Incorreto…

Fonte: https://www.discogs.com/artist/471679-Lob%C3%A3o.

Vejamos a letra de seu trabalho mais recente:

COM A GRAÇA DE DEUS

Composição Lobão

O inseto luta contra a vidraça

Porque se engana com ar

São fronteiras limite entre a vida

E a ilusão de voar

131

E o dia amanhece tranquilo

Com a graça de Deus

Quando o homem desperta do sonho

Que jamais esqueceu

Que jamais esqueceu

Que jamais esqueceu

Todo tolo não entende o horizonte

Nem os mistérios do céu

Satisfaz-se feliz com o blefe

De qualquer fariseu

E o dia amanhece tranquilo

Com a graça de Deus

E os segredos do homem sozinho

Ele chama de eu

Ele chama de eu

Ele chama de eu

Então me dê uma prova

Que ainda é quem pensa ser

E não apenas uma fada

De um universo de papel

O que vejo te segue o que canto

Já te ensurdeceu

E o luminoso nonsense do místico

A miséria escondeu

E o dia amanhece tranquilo

Pra quem jamais temeu

E o homem que vence moinhos

132

Tem a graça de Deus

Tem a graça de Deus

Com a graça de Deus

Então me dê uma prova

Que ainda é quem pensa ser

E não apenas uma fada

De um universo de papel

Me dê uma prova

Que ainda é quem pensa ser

E não apenas uma fada

De um universo de papel

De um universo de papel

Me dê uma prova

Que ainda é quem pensa ser

E não apenas uma fada

De um universo de papel

De um universo de papel

Neste momento de sua vida, Lobão fala em despertar do sonho e nos

permite criar analogia com o que ocorreu na década de oitenta (o sonho) e o

momento atual (despertar). É um sonho que a personagem da letra “jamais

esqueceu”. “Todo tolo não entende o horizonte”, ou seja, a conjuntura

mercadológica do rock. Esta conjuntura, no entanto, não abala pois “o dia

amanhece tranquilo”. Está sozinho e procura provar “que ainda é quem pensa ser”,

o artista significante que foi no passado.

3 BARÃO VERMELHO

Ainda na estrada, o grupo lançou seu mais recente trabalho em 2019,

Viva, Foto 39, com nove canções “autorais e oficializou o cantor Rodrigo Suricato

133

como novo vocalista” (CORREIO BRASILIENSE, DIVERSÃO E ARTE, 04/09/2019,

versão on-line). O título da reportagem, Barão Vermelho lança álbum com nove

canções após um hiato de 15 anos, se refere ao fato de que desde 2004 os músicos

não lançavam um disco com músicas inéditas.

134

Foto 39: Viva, Barão Vermelho.

Fonte: https://barao.com.br/.

Os integrantes atuais são Guto Goffi (bateria), Maurício Barros

(teclados), Fernando Magalhães (guitarra) e Rodrigo Suricato (vocais). Márcio

Alencar (baixo) é músico de apoio, isto é, não faz parte da sociedade da banda e é

contratado. Recebe cachês e não participa dos lucros ou prejuízos da empreitada.

Possui site oficial na internet, mas este consiste apenas de uma foto

com um telefone para contato destinado à marcação de shows. Existe indicação de

que a banda está no Facebook e no Instagram. Esta prática, manter um site com só

uma página, é consistente com a necessidade de estabelecer propriedade do

domínio. Isto foi feito, também, pelo Rockiavel.

Barão Vermelho não está vinculado a gravadora. O direito de cópia do

álbum Viva é vinculado a NBV Produções Artísticas Ltda empresa de propriedade

dos integrantes da banda (conforme o site CONSULTASOCIO.COM).

Segundo o site Wikipedia, a banda lançou os seguintes álbuns de

estúdio: Barão Vermelho (1982), Barão Vermelho 2 (1983), Maior Abandonado

(1984), Declare Guerra (1986), Rock’n Geral (1987), Carnaval (1988), Na Calada Da

Noite (1990), Supermercados Da Vida (1992), Carne Crua (1994), Álbum (1996),

135

Puro Êxtase (1998), Barão Vermelho (2004), Barão Pra Sempre (2018) e Viva

(2019). Os álbuns ao vivo são: Barão Ao Vivo (1989), Acústico MTV (1991), Barão

Vermelho Ao Vivo (1992), Barão Vermelho Ao Vivo + Remixes (1996), Balada MTV

(1999), MTV Ao Vivo (2005) e Rock In Rio 1985 (2007). Houve, ainda, as coletâneas

Melhores Momentos: Cazuza & Barão Vermelho (1989) e Pedra, Flor E Espinho

(2002). Utilizei a Wikipedia porque não existe no site oficial da banda a discografia.

Noto que ela (a discografia) está consistente com outros sites, a exemplo do

LETRAS.

A seguir, a letra da música que abre o álbum mais recente da banda.

EU NUNCA ESTOU SÓ

Composição BK, Rodrigo Suricato, Fernando Magalhães, Guto Golfi e Maurício

Barros

Eu nunca estou só

Eu nunca estou só

Eu nunca estou só

Não estou sozinho

Às vezes basta um livro

Ou ouvir mil discos

E tudo se resolve

Tudo faz sentido

É que eu me conheço

No meio desse nada

E aos poucos me entendo

Nessa encruzilhada

Eu nunca estou só

Eu nunca estou só

136

Eu nunca estou só

Não estou sozinho

É só o medo

É só a noite

Eu dou meu jeito

Não estou sozinho

Eu não preciso

Conversar com espelho

Sobre o que eu penso

De milhões de maneiras

Armadilhas, teias

Festa na aldeia

De caneca cheia

Noites pra brincar

E jantar tua ceia

Eu nunca estou só

Eu nunca estou só

Eu nunca estou só

Não estou sozinho

É só o medo

É só a noite

Eu dou meu jeito

Não estou sozinho

137

Eu tenho mil manos

Mil minas por mim

Eu tenho mais de mil coisas

Pra fazer por aqui

Mil trutas, mil tretas

Planos e metas

Tenho mais de mil sonhos

Não posso desistir

O verso que livra

Quando não tem mais saída

É por isso que falam

Que o rap salva vidas

Quando eu quero ficar só

Tô eu e o beat

Ou seja

Trabalhando junto

Nós não temos limite

Só fé

Eu nunca estou só

Eu nunca estou só

Não estou sozinho

É só o medo

É só a noite

Eu dou meu jeito

Não estou sozinho

138

Eu nunca estou sozinho

Nunca estou só

Correndo por mim

Correndo por vários

Mas não corremos daqui

Junto e misturado

Porque eu represento a rua

Represento o bairro

Represento o mundo

O futuro e o passado

Represento a rua

Represento o bairro

Represento o mundo

O futuro e o passado

Eu nunca estou só

Eu nunca estou só

Eu nunca estou só

Não estou sozinho

A solidão não preocupa os autores. A maturidade trouxe a capacidade

de estar só sem sentir solidão. Mesmo “nessa encruzilhada”, “no meio desse nada”,

frases que remetem ao momento atual dos artistas de rock, a personagem diz: “eu

dou meu jeito”. Há no universo retratado “mil manos, mil minas” companheiros e

“mais de mil coisas pra fazer por aqui”, “planos e metas”, não é possível desistir do

trabalho, dos sonhos pois “nós não temos limite, só fé”. O papel representativo do

artista é enaltecido, no futuro e no passado. Há caminhos a trilhar.

139

4 PARALAMAS DO SUCESSO

Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone se mantém atuantes e

unidos desde a gravação do primeiro LP, Cinema Mudo de 1983.

O site oficial da banda, www.osparalamas.com.br, está em processo

de atualização. Os atalhos presentes na barra superior são os mesmos da barra

inferior: 1. Início, 2. Contrate o show, 3. Imprensa, 4. Spotify, 5. Instagram e 6. Loja

Paralamas. 1. Início, tendo em vista que o site está sendo atualizado, contém

convite para o internauta visitar as redes sociais da banda: Facebook, Instagram,

Twitter e Youtube. 2. Contrate o show e 3. Imprensa direcionam o interessado para

a confecção de e-mail. 4. Spotify e 5. Instagram direcionam o interessado para as

respectivas redes sociais. 6. Loja Paralamas funciona e lá é possível comprar

diversos itens como canecas e camisetas.

Para listar os lançamentos fonográficos dos Paralamas, recorro ao

mesmo expediente usado para o Barão Vermelho: consulta a Wikipedia. Os álbuns

de estúdio são: Cinema Mudo (1983), O Passo do Lui (1984), Selvagem? (1986),

Bora Bora (1988), Big Bang (1989), Paralamas En Español (1991), Os Grãos (1991),

Severino (1994), Dos Margaritas (1994), Nove Luas/Nueve Lunas (1996), Hey Na

Na (1998), Longo Caminho (2002), Hoje (2005), Brasil Afora (2009) e Sinais Do Sim

(2017). Os álbuns ao vivo são: D (1987), Vamo Batê Lata (1995), Acústico MTV

(1999), Titãs & Paralamas (1999 – com Titãs), Uns Dias Ao Vivo (2004), Rock In Rio

1985 (2007), Paralamas E Titãs (2008 – com Titãs), Legião Urbana E Paralamas

Juntos (2009 – com Legião Urbana), Multishow Ao Vivo (2011) e Multishow Ao Vivo

30 Anos (2014). As coletâneas: Os Paralamas Do Sucesso (1987), Arquivo (1990),

Arquivo II (2000), O Melhor 83-99 (2000), Perfil (2006), Perfil II (2006), Série 10

(2006), Arquivo 3 (2010), Novelas (2010), Rock Your Babies (2015) e A Arte De Os

Paralamas Do Sucesso (2015). Os singles são faixas extraídas dos LP.

140

Paralamas continua vinculado a gravadora, no caso a Universal. Seus

dois lançamentos mais recentes, Multishow Ao Vivo 30 Anos (2014) e Sinais Do Sim

(2017), Foto 40, saíram por esta companhia.

141

Foto 40: Sinais do Sim, Paralamas Do Sucesso.

Fonte: https://www.discogs.com/artist/360329-Os-Paralamas-Do-Sucesso.

Do álbum citado acima, olhemos a faixa que dá título ao trabalho.

SINAIS DO SIM

Composição Herbert Vianna

Eu

Sei que teu coração é meu

Que algo em mim te convenceu

De que o melhor está por vir

Sim

Se deixe levar por mim

Peço perdão por insistir

Mas se já chegamos até aqui

Ver o nascer de um novo dia

Não parece tão ruim

Há pouco tempo só se via

142

Na poeira da dor

Os sinais do sim

Não

Se afaste tanto dos seus sonhos

Sem ser ousado eu te proponho

Relaxe e se deixe sonhar

Pois

Um dos encantos desta vida

É não ter peso nem medida

Pra restringir o imaginar

Ver o nascer de um novo dia

Não parece tão ruim

Há pouco tempo só se via

Na poeira da dor

Os sinais do sim

Esta canção comporta pelo menos duas leituras. A primeira consiste

em entender o texto como canção de amor. A segunda é ver a mensagem como

vinculada ao momento atual da banda. Nesta interpretação, “o melhor está por vir”.

Já que o relacionamento do grupo com seu público “já chegou (no original,

chegamos – alterei para respeitar a concordância verbal) até aqui”, deixe-se “levar

por mim” porque “ver o nascer de um novo dia não parece tão ruim”. Herbert está

otimista com as perspectivas da continuidade da carreira dos Paralamas.

5 TITÃS

A formação dos Titãs foi bastante alterada com o decorrer do tempo. A

formação atual que atuou no Rock In Rio 2019 contou com Branco Mello (baixo),

Sérgio Brito (teclados) e Tony Bellotto (guitarra). O baixo, eventualmente, é tocado

143

por Sérgio Brito quando Branco Mello canta. Branco também executa violão. No

show citado, Beto Lee, filho de Rita Lee e Roberto de Carvalho, tocou guitarra. Ele

aparece como integrante, também, no site oficial da banda, http://www.titas.net/,

assim como Mário Fabre (bateria).

Neste site, os atalhos, todos na posição superior, são: 1. Banda, 2.

Agenda, 3. Discografia, 4. Contato, 5. Loja e 6. Ópera Rock. 1. Banda apresenta os

componentes do conjunto com um texto elegante que ressalta as mutações nas

formações pois se trata de “… um organismo coletivo que suplanta as

individualidades que o compõe…” Informa, ainda, que “os Titãs seguem

determinados, impulsionados por inquietação e ambição artística, e orgulho das

glórias conquistadas”. 2. Agenda mostra os shows a serem realizados. 3.

Discografia apresenta os trabalhos gravados. 4. Contato apresenta o telefone e o e-

mail para shows e imprensa, indicando a produtora DS Produções para os

espetáculos e a perfexx para a imprensa. O site http://perfexx.com.br/ mostra que

perfexx é empresa “especializada em assessoria de comunicação e

empresariamento artístico”. 5. Loja não estava funcionando no dia acessado

(30/10/2019) indicando impossibilidade de exibição do conteúdo. 6. Ópera Rock

também mostrou-se indisponível.

Os álbuns produzidos pelo conjunto, conforme a aba 3. Discografia do

site oficial é composta por: Titãs (1984), Televisão (1985), Cabeça Dinossauro

(1986), Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas (1987), Go Back (1988 – ao

vivo), Õ Blésq Blom (1989), Tudo Ao Mesmo Tempo Agora (1991), Titanomaquia

(1993), Domingo (1995), Acústico MTV Titãs (1997 – ao vivo), Volume Dois (1998),

As Dez Mais (1999), A Melhor Banda De Todos Os Tempos Da Última Semana

(2001), Como Estão Vocês? (2003), MTV Ao Vivo Titãs (2005 – ao vivo), Sacos

Plásticos (2009), Cabeça Dinossauro Ao Vivo (2012), Nheengatu (2014), Nheengatu

Ao Vivo (2015) e Doze Flores Amarelas (2018).

Doze Flores Amarelas (2018), Foto 41, o disco mais recente, foi

lançado pela gravadora Universal.

144

Foto 41: Doze Flores Amarelas dos Titãs.

Fonte: http://www.titas.net/discografia.

Aqui, em vez de analisar uma letra do trabalho, ressalto a faixa de

abertura, denominada Abertura… Começa com o narrador anunciando: “Doze flores

amarelas, a ópera rock”. É a intenção da banda de não só fazer rock atualmente,

mas sim rock em grande estilo: ópera rock. Esta forma de fazer música teve início

com Tommy, filme de 1975 protagonizado pela banda inglesa The Who. A película

contou com a participação de diversos expoentes a exemplo do guitarrista, cantor e

compositor inglês Eric Clapton e Tina Turner, cantora americana, além do próprio

The Who. Versava a respeito de Tommy, rapaz cego, surdo e mudo devido a trauma

familiar (encontrou a mãe, vivida pela atriz sueca Ann-Margret, num pega com a

personagem interpretada pelo ator britânico Oliver Reed), transformado pelo destino

em imbatível jogador de pinball. Na produção dos Titãs, a história versa sobre o

tema do estupro de três meninas, denominadas na abertura de Maria A, Maria B e

Maria C, curioso paralelo com os três membros efetivos remanescentes do conjunto.

O trabalho inclui peça teatral inserida nos shows da banda.

145

6 LEGIÃO URBANA

Esta banda parou de se apresentar como consequência da morte de

Renato Russo em outubro de 1996, aos trinta e seis anos, morte devida a

complicações causadas pelo contágio do vírus da AIDS.

Apesar deste fato, existe site oficial da banda:

http://www.legiaourbana.com.br/bio.html. Na aba superior temos as seguintes entradas: 1.

Início, 2. Shows, 3. Discografia, 4. Galeria. 5. Youtube, 6. Biografias e 7. Contato. 1.

Início contém um clipe da Legião em preto e branco e sem som, sugestiva alusão à

interrupção das apresentações da banda. 2. Shows se desdobra em cinco entradas

para textos que falam de apresentações consideradas históricas pelo grupo: 2.1.

Maracanãzinho em 1988 no Rio de Janeiro/RJ, 2.2. Gigantinho em 1990 em Porto

Alegre/RS, 2.3. Jockey Club, 1990, Rio de Janeiro/RJ, 2.4. Ibirapuera, 1994, São

Paulo/SP e 2.5. Reggae Night, 1995 em Santos/SP. Em todas elas, um quadro ao

lado do texto mostra clipes das apresentações, novamente, mudos. Destaco o fato

de que a apresentação no Reggae Night foi a última do conjunto. 3. Discografia

contém os as fotos dos discos lançados. Divide-se em Discos de estúdio e Discos

ao vivo. Ao clicarmos sobre elas, somos remetidos a texto explicativo sobre os

álbuns. Estes são os de estúdio: Legião Urbana (1985), Dois (1986), Que País É

Este (1987), As Quatro Estações (1989), V (1991), O Descobrimento Do Brasil

(1993), A Tempestade ou O Livro Dos Dias (1995), Uma Outra Estação (1997) e

Compilações. As Compilações foram duas: Mais Do Mesmo (1998) e Perfil (2011). O

sítio eletrônico informa que “além destas compilações, o tributo ‘Babies Love Legião

Urbana’ (Sony Music) traz músicas da banda com novos arranjos, especialmente

feitos para crianças”. Os álbuns ao vivo são: Música Para Acampamentos (1992),

Acústico MTV Legião Urbana (1999), Como É Que Se Diz Eu Te Amo (2001), As

Quatro Estações Ao Vivo (2004) e Legião Urbana E Paralamas Juntos (2009). A aba

4. Galeria apresenta fotos raras da formação original da banda, capturadas por

Ricardo Junqueira. 5. Youtube, além do link para o referido canal, contém a

solicitação para que os fãs mandem “o link de seu vídeo preferido no Youtube e

ajude(m) a gente (sic) a criar o canal com imagens da Legião Urbana”. 6. Biografias

apresenta histórico da banda e de seus músicos incluindo convidados e outros

146

integrantes presentes na fase inicial do conjunto. 7. Contato propicia o envio de e-

mail para a banda.

O último disco da banda foi póstumo, confeccionado com canções que

não entraram nos álbuns anteriores. Denominado Uma Outra Estação, Foto 42, foi

lançado pela EMI em 1997.

147

Foto 42: Uma Outra Estação, Legião Urbana.

Fonte: http://www.legiaourbana.com.br/.

A canção Uma Outra Estação traz a seguinte letra:

UMA OUTRA ESTAÇÃO

Composição Dado Villa-Lobos e Renato Russo

Sei que não tenho a força que tens

Se me vejo feliz quase sempre exijo um talvez

Ela mora perto de um vulcão

E meu coração suburbano espera riquezas maiores

Eu sigo o calendário maia

E sou descendente dos astecas

Hoje vai ter prova

Mas no final da aula

Acho que tem futebol

Gosto quando estou feliz

Gosto quando sorris para mim

148

Estou longe, longe

Estou em outra estação

Não me digam como devo ser

Gosto do jeito que sou

Quem insiste em julgar os outros

Sempre tem alguma coisa pra esconder

Teu corpo alimenta meu espírito

Teu espírito alegra minha mente

Tua mente descansa meu corpo

Teu corpo aceita o meu como a um irmão

Longe longe

Estou em outra estação

Todos fazem promessas demais

Temos muito o que aprender

É um feitiço tão latino

Essa preguiça ser feitiço

Mas tudo bem

Voltarás na terça-feira

És fogo e gelo ao mesmo tempo

E vai ser bom

Do Equador, da Venezuela, do Uruguai

Teremos o fim de semana só pra nós

Venha comigo

Não tenha medo

Tem muita gente

Que pensa o mesmo

149

Estou longe, longe

Estou em outra estação

Estou longe, longe

Em outra estação

Estou longe, longe

Estou em outra estação

Estou longe, longe

O mais interessante desta letra é a premonição de estar muito longe e

em outra estação que nos remete ao destino de Renato Russo. Há menção ao

universo latino-americano, ao futebol, à paixão com a poesia de Renato.

Noto que a Legião Urbana é artista contratado da Universal, como

informa o site da empresa, mesmo não estando mais em atuação, exceção feita aos

shows de nostalgia e encontros especiais.

7 ULTRAJE A RIGOR

Talvez a banda que mais tenha mudado os componentes, é hoje

formada por Roger Moreira (guitarra e vocal), Bacalhau (bateria), Mingau (baixista) e

Marcos Kleine (guitarrista).

Possui site oficial na web: http://ultraje.com/. Há quatro entradas na

porção superior da tela: 1. Home, 2. News, 3. Biografia, 4. Integrantes, 5. Agenda, 6.

Discografia, 7. Fotos, 8. Vídeos e 9. Contato. 1. Home mostra o logotipo do Ultraje

no canto superior esquerdo da tela e três fotos com exibição alternada. 2. News

apresenta dez links para notícias relativas à banda. 3. Biografia mostra as diversas

fases do conjunto e é assim dividida: 3.1. Princípio: 1980 – 1988, 3.2. Maturidade E

Mudanças: 1989 – 1998, 3.3.Recomeço: 1999 – 2007, 3.4. Fase Independente:

2008 – 2010 e 3.5. 2010 – Atualmente. 4. Integrantes exibe fotos dos músicos da

150

formação atual com atalhos para o Facebook, Twitter e Instagram. 5. Agenda possui

um calendário com as datas de shows e outros eventos, a exemplo de aniversário

de membros da banda. 6. Discografia exibe os seguintes trabalhos: Inútil/Mim Quer

Tocar (1983 – single), Eu Me Amo/Rebelde Sem Causa (1984 – single), Nós Vamos

Invadir Sua Praia (1985), Liberdade Para Marylou (1986 – ep com três canções),

Sexo!! (1987), Crescendo (1989), Por Quê Ultraje A Rigor? (1990), O Mundo

Encantado Do Ultraje A Rigor (1992), Ó (1993), Coletânea Geração Pop (1995),

Coletânea Pop Brasil (1997), Coletânea Música! (1998), Coletânea 2 É Demais

(1998), E-Collection 02: Raridades (2000), E-Collection 01: Sucessos (2000), O

Melhor Do Rock (2001), Os Invisíveis (2002), Acústico MTV (2005), Warner 30 Anos

(2007) e Música Esquisita A Troco De Nada (2010 – ep com três músicas). Clicando

na capa dos discos é possível ouvir as canções. Noto que o compacto Inútil/Mim

Quer Tocar (1983) não traz as gravações originais da época e sim reproduções das

versões do LP. Este setor do sítio eletrônico apresenta problema quando acessado

por computador: alguns discos passam rapidamente pela tela, a exemplo de Ó

(1993), o que impossibilita a audição. No acesso via celular o problema não ocorre.

7. Fotos contém vinte fotos. 8. Vídeos remete ao canal do Youtube e possui muitos

vídeos com apresentações em shows e TV. 9. Contato permite o envio de

mensagem e apresenta telefones e e-mails da Showtime, empresa de Aírton

Valadão, irmão do Nasi, vocalista do Ira!

O trabalho mais recente é o EP Música Esquisita A Troco De Nada de

2010, Foto 43. No Spotify apenas duas músicas estão presentes: Vida De Bebê e

Cabelo. Não está vinculado a gravadora. No item 3. Biografia está escrito que

Ultraje gravou em 2015 o álbum instrumental Por Quê Ultraje A Rigor? Volume 2

distribuído pela EF, selo pertencente à Sony Music. No entanto, este álbum não

aparece na discografia do grupo, embora esteja disponível no Spotify.

151

Foto 43: Música Esquisita A Troco De Nada, Ultraje A Rigor.

Fonte: http://ultraje.com/.

A canção que abre o EP é Vida De Bebê.

VIDA DE BEBÊ

Composição Roger Moreira

Mama-mama, mama-mama, mama-mama

Mama-mama, chupa-chupa, come-come, dorme-dorme

Mama-mama, mama-mama, mama-mama

Mama-mama, chupa-chupa, come-come, dorme-dorme

Mama, chupa, come, dorme, chora

Mama, chupa, come, dorme, caga

Mama, chupa, come, dorme

Chora, caga

Mama, chupa, come, dorme

Mama, chupa, come, dorme

Mama, chupa, come, dorme

Mama, chupa, come, dorme

Letra essencialmente descritiva da vida de um bebê, bem ao espírito

galhofeiro da banda. Talvez inspirado pela experiência da paternidade.

152

Os músicos integram o programa The Noite com Danilo Gentili,

transmitido pelo SBT com reprises no Comedy Central Channel. Através do contato

com Roger Moreira, foi possível para o Rockiavel participar do show. É interessante

notar que a versão da apresentação do Rockiavel no canal por assinatura foi

completa, ao passo que a exibida no canal aberto foi resumida.

8 RPM

A formação atual do RPM conta com os seguintes músicos: Luiz Schiavon

(teclados), Fernando Deluqui (guitarra), Dioy Pellone (baixo e vocal) e Kiko Zara

(bateria). Duas alterações ocorreram na escalação dos artistas: Paulo Ricardo

(baixo e vocal) e Paulo PA (bateria) deixaram a banda. O vocalista preferiu seguir

carreira solo e o baterista morreu em 22 de junho de 2019 aos sessenta e um anos

de idade.

http://rpmoficial.com/ é o site da banda. Conta com as seguintes

entradas: 1. Home, 2. Agenda, 3. O RPM, 4. Shows, 5. Discografia, 6. Mídia, 7. Loja

e 8. Contrate-nos! 1. Home apresenta uma foto da formação atual com Dioy,

Fernando e Luiz e links para o Facebook, Twitter, Instagram, Spotify e Youtube. 2.

Agenda está associada ao site Songkick no qual é possível fazer subscrição para

receber notícias e atualização quanto às datas de shows. 3. O RPM traz um texto

dizendo que o conjunto está de volta e agora conta com dois vocalistas, Dioy e

Fernando, como vimos anteriormente. Além do texto, há um vídeo a ilustrar a

entrada. 4. Shows apresenta quatro vídeos com a execução ao vivo de Naja e

Ciúmes (do Ultraje A Rigor) na Tork’n Roll em Curitiba, Rádio Pirata e Loiras

Geladas no Circo Voador no Rio de Janeiro. 5. Discografia contém fotos das capas

dos álbuns Revoluções Por Minuto (1985), Rádio Pirata Ao Vivo (1986), Quatro

Coiotes (1988), MTV: RPM 2002 (2002), Compilation (2005) e RPM Elektra (2011) e

os singles Escravos Da Estrada (2018) e Ah! Onde Está Você? (2019) Beijos

Sinceros (2019), Conflitos (2019) e Mais (2019). Ficaram de fora RPM & Mílton

(1987) e Paulo Ricardo & RPM (1993). 6. Mídia possui diversos clipes e quatorze

fotos. 7. Loja mostra um aviso: “Hey! Estamos fazendo uma revolução por aqui!

153

Aguarde as novidades! Keep rocking! 8. Contrate-nos! Traz o contato da produtora

Showtime.

O lançamento mais recente é o single Mais (2019), Foto 44, disponível

no Spotify. Trata-se de canção desvinculada de gravadora, produzida pela própria

banda.

154

Foto 44: Mais, RPM.

Fonte: https://rpmoficial.com/discografia/.

Dos singles lançados em 2019, vejamos o que diz Escravo Da

Estrada.

ESCRAVO DA ESTRADA

Composição Luiz Schiavon, Fernando Deluqui, PA e Dioy Pallone.

O sol nasce no céu

Banho, café o hotel

Tão cedo e eu já tô pegando a estrada

O que faço pra viver é tocar

E como disse Mílton

O artista tem que ir aonde o povo está

E você pode achar que eu tô passando mal

Mas meu amor vai vendo eu não estou sofrendo

155

Eu tô por ai cuidando muito bem do que é meu

Essa é a única viagem

Não, não tem bobagem eu sou

Escravo da estrada, escravo da estrada

Escravo da estrada, escravo da estrada

Então eu vou fazer os meus corres

Não abro mão dos meus sonhos

Descobri que a vida pode ser um porre

Mas se você parar você morre

E olha quanta gente foi embora

E depois de tanto tempo ainda estou aqui

E você pode achar que tô passando mal

Que eu sou uma peça da bagagem

Uma tragédia anunciada

Mas eu tenho alguns parceiros

E vou até o final

Vou na moral, vou me bancando

Não tô me queimando

Eu sou

Escravo da estrada, escravo da estrada

Escravo da estrada, escravo da estrada

Não vou embora não

Não deixe ninguém te parar

Ninguém

Bora navegar é preciso

Bora decolar sem aviso

156

Momentos felizes é o que eu quero da vida

Mas é como uma prisão me vestir

E não como escapar dessa sina

Pra voltar no tempo

Também não há saída não

E você pode achar que eu tô passando mal

Mas meu amor vai vendo

Não, não estou sofrendo não

As guitarras na vibe total

A galera toda grita, não tem lugar na pista

Eu sou

Escravo da estrada, escravo da estrada

Escravo da estrada, escravo da estrada

Trata-se da celebração do ato de excursionar. O narrador diz “você

pode achar que eu tô passando mal”, mas não. É o sonho que está vivo. A

inatividade é vista como morte e esta não se aplica ao RPM porque “depois de tanto

tempo ainda estou aqui” e “vou até o final”. Agora bancando suas atividades, retrato

do momento atual do rock.

9 CAZUZA

Ao abrir o site oficial do artista falecido em 7 de julho de 1990 aos

trinta e dois anos de idade encontramos atalho para o vídeo de Medieval II, setas à

direita que mostram cinco fotos, opção de busca e os atalhos denominados 1.

Cazuza, 2. Sociedade Viva Cazuza, 3. O Poeta Está Vivo. Na barra superior há 4.

Home, 5. Sobre Cazuza, 6. Novidades, 7. Álbuns, 8. Livros, 9. Galeria, 10. Vídeos,

11. Contato e 12. Letras. Na parte inferior da tela, atalhos para reportagens. 1.

Cazuza contém depoimentos, reportagens e uma redação escolar escrita em 1971

sobre rock. 2. Sociedade Viva Cazuza remete ao site da instituição criada pela mãe

157

do cantor, Lucinha Araújo, instituição voltada para o amparo de carentes portadores

do HIV/AIDS. 3. O Poeta Está Vivo remete à aba 7. Álbuns que será vista adiante. 4.

Home é a página inicial descrita acima. 5. Sobre Cazuza leva ao item 1. Cazuza. 6.

Novidades apresenta diversas reportagens, a mais recente Quando A Arte Importa

Ainda Mais: Da (sic) Luciana Caravello Para A Viva Cazuza de 18 de outubro de

2019. 7. Álbuns possui fotos e informações sobre a discografia de Cazuza solo, seu

trabalho com o Barão Vermelho e de outros artistas relacionados ao vocalista. Com

o Barão Vermelho temos: Barão Vermelho (1982), Barão Vermelho 2 (1983), Maior

Abandonado (1984), Bete Balanço (1984), Barão Vermelho Ao Vivo (1985), Barão

Vermelho Pérolas (2000) e Barão Vermelho – Rock In Rio (2008). Os discos solo

são: Exagerado (1985), Só Se For A Dois (1987), Ideologia (1988), O Tempo Não

Para Ao Vivo (1988), Burguesia (1989), Viva Cazuza (1990), Por Aí (1991), Coleção

Personalidades (1992), Esse Cara (1995), Som Brasil Cazuza (1995), Remixes

(1998), O Exagerado (1998), Minha História (2000), Coleção Obras Primas (2000),

Cazuza O Poeta Não Morreu (2000), Preciso Dizer Que Te Amo (2001), Cazuza

Sem Limite (2001), Cazuza Gold (2002), Cazuza O Tempo Não Pára (2004), A Arte

De Cazuza (2004), Novo Millennium (2005), O Poeta Está Vivo (2005), Cazuza

(2007), Cazuza Um (2007), Cazuza Dois (2007), Box – Discografia Completa (2008),

Ao Vivo Cazuza (2008) e Cazuza 2 Lados (2011). Constam, ainda, os álbuns

Melhores Momentos Cazuza & Barão Vermelho (1989) e Cazuza Cássia Eller (2000)

nos quais Cazuza está acompanhado de outros artistas. Além de todos esses, MPB

Compositores Cazuza (1997), Cazas De Cazuza (2000), Faz Parte Do Meu Show

(2004), Codinome Cazuza (2013) e Agenor (2013), os cinco com artistas variados.

8. Livros possibilita a compra dos volumes Preciso Dizer Que Te Amo, escrito por

Lucinha Araújo e Regina Echeverria (2001), Songbook Cazuza Volume 1 (2009),

Songbook Cazuza Volume 2 (2009) ambos produzidos por Almir Chediak, O Tempo

Não Pára, Lucinha Araújo (2011) e Só As Mães São Felizes, depoimento de Lucinha

à Echeverria (2014). 9. Galeria reproduz diversas reportagens sobre o músico. 10.

Vídeos conta com clipes variados. 11. Contato possibilita ao internauta o envio de e-

mail para o site. 12. Letras traz as canções A Inocência do Prazer (gravação original

de Dulce Quental de1987), Bicho Humano (1983), Bilhetinho Azul (1982), Billy

Negão (1982), Carente Profissional (1983), Carne De Pescoço (1983) e Certo Dia

158

Na Cidade (1982). As letras não estão em ordem cronológica. Optei por manter a

ordem de apresentação do site.

O mais recente lançamento de Cazuza é Cazuza 2 Lados (2011), Foto

45, coletânea com dois CD, produto fora de linha de acordo com o sítio eletrônico da

Saraiva. Não está disponível no Spotify, também. Foi lançado pela Universal.

159

Foto 45: Cazuza – 2 Lados.

Fonte: http://cazuza.com.br/albuns/.

Talvez a mais recente composição de Cazuza a ser lançada no single

de Lobão é a canção Seda de 2017.

SEDA

Composição Cazuza e Lobão

Agora que a seda

Transformada em trapos

Já não me atrapalha movimentos

Nem me aperta os sapatos

E que grito agudo

Já não encontra eco

Misturado à luz de outros

No universo

Agora que o vento

Me seca as lágrimas

Água que é mar no meu corpo

Sobra sal

Bob Dylan

160

Você está invisível agora, sem segredos

Saudade é felicidade abafada, futura

Agora que o vento me seca as lágrimas

Lá lá lá lá lá

Cazuza ao escrever a letra está liberto, a seda, metonímia para roupa,

“já não me atrapalha movimentos”. Está feliz como denota a frase “o vento me seca

as lágrimas”. A água é “mar no meu corpo” transmite a ideia de plenitude, plenitude

na qual “sobra sal”, mais uma metonímia indicando tempero. Cita, ainda, Bob Dylan

na frase “você está invisível agora, sem segredos”25. É o encontro de dois poetas do

rock.

10 IRA!

A formação atual desta banda conta com Nasi (vocal) e Edgar

Scandurra (guitarra). No sítio eletrônico oficial do conjunto, vemos que é possível

contratar dois tipos de show: Ira! Folk, no qual Nazi e Edgar, tocando violão, se

apresentam em dupla e o Ira! com dois ou três músicos contratados para baixo,

bateria e teclados. Ressalto que não há menção ao nome destes contratados no

site, porém é possível através da visualização dos vídeos depreender que atuam

tanto com dois e três músicos dependendo do contrato.

Na página inicial do site temos duas fotos que se revezam: uma

anunciando o Ira! Folk e outra o Ira! Nela, além de atalhos para o Facebook,

Instagram, Twitter e Youtube, existem na barra superior as seguintes abas: 1.

Home, 2. Agenda, 3. Discografia, 4. Vídeos, 5. Apoio e 6. Contato. 1. Home possui,

em acréscimo aos elementos citados, telefone, WhatsApp e e-mail para contato. 2.

Agenda é administrada pela Songkick e mostra os concertos a serem efetuados e

permite a compra de ingressos. 3. Discografia traz a capa dos discos e atalho para a

audição das músicas de todos os trabalhos que são: Ira – Compacto (1984),

Mudança De Comportamento (1985), Vivendo E Não Aprendendo (1986),

Psicoacústica (1988), Clandestino (1990), Meninos Da Rua Paulo (1991), Música

25You are invisible now, you got no secrets to conceal, frases presentes na canção Like A Rolling Stone.

161

Calma Para Pessoas Nervosas (1993), 7 (1996), Você Não Sabe Quem Eu Sou

(1998), Isso É Amor (1999), MTV Ao Vivo (2000), Entre Seus Rins (2001), Acústico

MTV (2004), Invisível DJ (2007) e Ira! Folk (2017). 4. Vídeos contém vinte e um

videoclipes. 5. Apoio traz os atalhos para os patrocinadores Strinberg (guitarras e

baixos), Zeus (pratos para bateria), Sonotec (importadora de produtos musicais),

Gretsch (guitarras, embora o logo traga uma bateria o site da empresa não

comercializa este instrumento de percussão). Ainda nesta aba, há atalho para

Mundo Ira! (site de fãs). 7. Contato remete à produtora Showtime.

O lançamento mais recente é o álbum Ira! Folk (2017), Foto 46, que

conta com a participação de Yamandu Costa e Fernanda Takai e foi gravado ao vivo

em São Paulo. Não está vinculado a gravadora e foi produzido pela Showtime.

Todas as músicas são regravações de títulos presentes nos diversos álbuns da

banda.

Foto 46: Ira! Folk.

Fonte: http://www.iraoficial.com/discografia.

A música que abre Ira! Folk é Mudança De Comportamento.

MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

Composição Edgar Scandurra

162

E aqui estou eu sozinho com o tempo

O tempo que você me pediu

Isso é orgulho do passado

Um presente pra você

Uma delicada lembrança

Branca neve que nunca senti

Solidão me deixe forte

Talvez resolva meus problemas

Eu morreria por você

Na guerra ou na paz

Eu morreria por você

Sem saber como sou capaz

E aqui estou eu sozinho com o tempo

O tempo que você me pediu

Isso é orgulho do passado

Um presente pra você

Uma delicada lembrança

Branca neve que nunca senti

Solidão me deixe forte

Talvez resolva meus problemas

Eu morreria por você

Na guerra ou na paz

Eu morreria por você

Sem saber como sou capaz

Mudanças no meu comportamento

Distância louca de mim mesmo

163

Vontade de sentir o passado

Presente pra você

Eu morreria por você

Eu morreria por você

Eu morreria por você

Eu morreria por você

Sem saber como sou capaz

História de um amor que está suspenso porque o narrador está

“sozinho com o tempo”, o tempo que a musa pediu. O amor é forte a ponto de o

autor morrer pela amada. Ele, o autor, percebe a ocorrência de um novo

comportamento, fruto deste momento de solidão.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

REFLEXÕES SOBRE O MOMENTO ATUAL DAS BANDAS ESCOLHIDAS

A primeira reflexão diz respeito ao fato de que todas as bandas do

Rock Brasil 80 possuem site oficial na rede mundial de computadores. Com a

exceção do Barão Vermelho que como vimos possui um sítio apenas para guardar

domínio, as outras dispensam atenção e produzem páginas com qualidade

informativa e apelo visual, mesmo aquelas que não se apresentam mais (Legião

Urbana e Cazuza). Tendo este fato em mente, tentei acessar o site do Rockiavel e

percebi que ele está fora do ar. Estou entrando em contato com a banda para

resolver este problema.

A segunda reflexão remete à questão da contratação das bandas por

gravadora. Apenas Legião Urbana é contratada atualmente pela Universal. Esta

empresa distribuiu os trabalhos mais recentes de Paralamas do Sucesso e Titãs,

porém estes conjuntos não estão nas fotos do cast da companhia. Blitz, Lobão,

Barão Vermelho, Ultraje A Rigor, RPM e Ira! produzem de maneira independente,

assim como Rockiavel.

164

A terceira indica a utilização intensiva das mídias sociais, Facebook,

Instagram, Twitter e Youtube. Embora Rockiavel tenha feito isto também, é

necessário o uso mais intenso destes meios. É preciso uma atualização constante e

conclui que este é trabalho para profissionais do ramo, dedicados a alimentar de

conteúdos estes espaços, administrar e tornar visível o produto oferecido através de

estratégias de marketing. É algo que falta ao Rockiavel.

Falta, ainda, para Rockiavel, presença em programação de rádio. Os

planos são tentar a inclusão das músicas em rádios universitárias, como a Rádio

USP. A Kiss FM está no radar e contato será tentado.

Como se vê, Rockiavel tem etapas a cumprir.

Prosseguindo com as reflexões sobre as bandas escolhidas, vale

lembrar que o espaço atual para o rock está bastante restrito na grande mídia. Kid

Vinil (cantor da banda Magazine e radialista falecido em 19 de maio de 2017) em

depoimento a Alves Jr. (1997, p. 32) diagnosticou este problema afirmando que, a

partir da década de noventa do século passado, as gravadoras direcionaram seus

esforços de divulgação para a chamada música brasileira, entendida aqui como

pagode, samba e sertanejo. Para termos uma ideia da restrição atual, olho para as

estações de rádio de São Paulo e verifico que, da plêiade de emissoras existentes,

apenas duas tocam rock: 89 FM (a chamada rádio rock) e a Kiss FM.

165

REFERÊNCIAS

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BARÃO VERMELHO. Barão Vermelho 2, Brasil: Som Livre, 1983. LP.

BARÃO VERMELHO. MTV ao vivo, Brasil: WEA, 2005. CD.

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BEATLES, THE. The four complete historic Ed Sullivan shows featuring The Beatles ,

Brasil: Sofa Entertainment, 2003. DVD.

BEATLES, THE. The first U.S. visit, Brasil: Apple, 2003. Contém o primeiro concerto

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BEATLES, THE. Live in Paris, EUA: Manhattan Project, Não indicada. DVD.

BEATLES, THE. The Beatles at Shea Stadium, EUA: Manhattan Project, Não

indicada. DVD.

BEATLES, THE. Five nights in a judo arena, EUA: Divine Creations, Não indicada.

DVD.

BEATLES, THE. The early tapes of The Beatles, Estados Unidos: Polydor, 1985.

CD.

BEATLES, THE. Please, please me, Grã-Bretanha: Parlophone, 1963. LP.

BEATLES, THE. With The Beatles, Grã-Bretanha: Parlophone, 1963. LP.

BEATLES, THE. A hard day’s night, Grã-Bretanha: Parlophone, 1964. LP.

BEATLES, THE. A hard day’s night, Estados Unidos: United Artists, 1964. LP.

BEATLES, THE. Os reis do ié, ié, ié, Brasil: EMI-Odeon, 1964. LP.

BEATLES, THE. Beatles for sale, Grã-Bretanha: Parlophone, 1964. LP.

BEATLES, THE. Help!, Grã-Bretanha: Parlophone, 1965. LP.

BEATLES, THE. Rubber Soul, Grã-Bretanha: Parlophone, 1965. LP.

170

BEATLES, THE. Paperback Writer/Rain, Grã-Bretanha: Parlophone, 1966.

Compacto em vinil.

BEATLES, THE. Revolver, Grã-Bretanha: Parlophone, 1966. LP.

BEATLES, THE. Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, Grã-Bretanha: Parlophone,

1967. LP.

BEATLES, THE. The Beatles, Brasil: EMI-Odeon, 1968. LP.

BEATLES, THE. Hey Jude!, Brasil: EMI-Odeon, 1970. LP.

BEATLES, THE. The Beatles in mono, Japão: Apple, 2009. Caixa com onze CD com

toda a produção original em mono e na qual se incluem os álbuns citados em LP, de

Please please me a Sgt. Pepper's.

BLITZ. As aventuras da Blitz, Rio de Janeiro: EMI-Odeon, 1982. LP.

BOB DYLAN. Highway 61 revisited, EUA: Columbia Records, 1965. LP.

CLASH, THE. Combat rock, Grã-Bretanha: Epic Records, 1982. LP.

CREAM. Fresh Cream, Grã-Bretanha: Reaction, 1966. LP.

IRA!. Mudança de comportamento, Brasil: WEA, 1985. Fita cassete.

LOBÃO E RONALDOS, Os. Guerra, Brasil: RCA, 1984. LP.

LOBÃO. Cuidado!, Brasil: BMG, 1988. LP.

LOBÃO. Acervo especial, Brasil: BMG, 1993. CD.

171

RAUL SEIXAS. Krig-ha, Bandolo!, Brasil: Philips, 1973 (data de lançamento original

no formato de LP). CD. Contém a música Mosca na sopa.

ROBERTO CARLOS. Roberto Carlos, Brasil: CBS, 1966 (data de lançamento

original no formato de LP). CD.

ROLLING STONES, THE. The Rolling Stones, Brasil: Polygram, 1984. CD reeditado

na data indicada. Produção original de 1964 lançado pela Decca Record Co. Ltd.

ROLLING STONES, THE. Aftermath, EUA: London Records, 1966. LP.

ROLLING STONES, THE. Beggars banquet, Grã-Bretanha: Decca Records, 1968.

LP.

ROLLING STONES, THE. Singles collections – the London years, EUA: ABKCO,

1989. Caixa com três CD que incluem as canções Come On e I Wanna Be Your

Man.

RPM. Revoluções por Minuto, Brasil: Epic, 1985. LP.

TITÃS. Titãs, Brasil: WEA, 1984. CD. Versão de 1990 distribuída pela BMG, série

Best sellers.

TITÃS. Õ Blésq Blom, Brasil: WEA, 1989. Fita cassete.

ULTRAJE A RIGOR. Inútil/Mim quer tocar, Brasil: Warner, 1983. Compacto em vinil.

ULTRAJE A RIGOR. Eu me amo/Rebelde sem causa, Brasil: WEA, 1984. Compacto

em vinil.

ULTRAJE A RIGOR. Nós vamos invadir sua praia, Brasil: Warner, 1985. LP.

ULTRAJE A RIGOR. O mundo encantado do Ultraje a Rigor, Brasil: BMG, 1992. LP.

172

ULTRAJE A RIGOR. Por que Ultraje a Rigor?, Brasil: Warner, 1990. LP.

VELOSO, Caetano. Araçá azul, Brasil: Phonogram, 1972. LP.

WALTER FRANCO. Respire fundo, Brasil: Epic, 1978. LP.

YES. Fragile, Brasil: Atlantic, 1971. LP.

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cursei a disciplina em 2016, mas o plano de ensino disponível on-line é o de 2019

devido à reestruturação do site do Instituto de Artes.

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para pesquisa científica para ciências humanas, São Paulo: IA/UNESP, 2019.

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humanas.pdf. Vale a mesma observação para a disciplina acima.

PEL, P. C. Plano de ensino ano 2019 da disciplina Artemídia equivalente e a

pesquisa no ateliê-laboratório, São Paulo: IA/UNESP, 2019. Disponível no site

https://www.ia.unesp.br/Home/ensino/pos-graduacao/programas/artes/

estruturacurricular/2019-1---artemidia-equivalente-e-a-pesquisa-no-atelie-

laboratorio.pdf. Participei desta disciplina no ano indicado, 2019.

Fotográficas

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Adriano Capocchi.

180

Foto 02: Thiagson e Sílvio apresentando a chamada para o programa Papo No Pau.

Fonte: Thiago Alves.

Foto 03: Serapicos & Banda. Fonte: Serapicos.

Foto 04: Estudo do emblema de Rockiavel. Fonte: Rockiavel.

Foto 05: Rockiavel em sessão de fotos para o CD. Fonte: Rockiavel.

Foto 06: CD Aja do Rockiavel. Fonte: Rockiavel.

Foto 07: Rockiavel durante a gravação do videoclipe Adeus. Fonte: Rockiavel.

Foto 08: Artistas da Jovem Guarda. Fonte: Revista Contigo! 2004. Documento

musical Jovem Guarda.

Foto 09: Professor José Fonseca. Fonte: Editora Vitale.

Foto 10: o método. Fonte: Editora Vitale.

Foto 11: a primeira música que toquei ao violão. Fonte: Columbia.

Foto 12: capa do LP da Blitz. Disponível em http://www.blitzmania.com.br/site/.

Acesso em 06/02/2020.

Foto 13: Cena de Cinema, primeiro LP autoral de Lobão. Disponível em

http://lobao.com.br/#discografia. Acesso em 06/02/2020.

Foto 14: primeiro LP do Barão Vermelho. Disponível em

https://www.discogs.com/artist/253025-Bar%C3%A3o-Vermelho. Acesso em

06/02/2020.

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Foto 15: LP Barão Vermelho 2. Disponível em

https://www.discogs.com/artist/253025-Bar%C3%A3o-Vermelho. Acesso em

06/02/2020.

Foto 16: LP Barão Vermelho MTV Ao Vivo. Disponível em Fonte:

https://www.discogs.com/artist/253025-Bar%C3%A3o-Vermelho. Acesso em

06/02/2020.

Foto 17: primeiro LP do Paralamas. Disponível em

https://www.discogs.com/artist/360329-Os-Paralamas-Do-Sucesso. Acesso em

06/02/2020.

Foto 18: Beatles. Os Reis do Ié, Ié, Ié. Disponível em Fonte:

https://som13.com.br/the-beatles/albums/os-reis-do-ie-ie-ie. Acesso em 06/02/2020.

Foto 19: Beatles. A Hard Day’s Night. Edição inglesa. Disponível em Fonte:

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Foto 20: Beatles. A Hard Day’s Night. Edição brasileira. Fonte: arquivo do autor.

Foto 21: Beatles. A Hard Day’s Night. Edição americana. Disponível em

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Foto 26: segundo compacto do Ultraje. Disponível em

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Foto 30: capa do LP do Ira! Disponível em https://www.discogs.com/Ira-Mudan

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Foto 31: Rockiavel no The Noite com Danilo Gentili. Fonte: Rockiavel.

Foto 32: cartão de visita do Rockiavel. Fonte: Rockiavel.

Foto 33: Brian Epstein, empresário dos Beatles. Disponível em

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Foto 35: Cecília Degan. Fonte: Rockiavel.

Foto 36: Lina Kruze e Rodrigo Mariano na banda The Wasted. Disponível em https://

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Foto 37: Eskute BLITZ. Disponível em http://www.blitzmania.com.br/site/. Acesso em

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Foto 38: LP Guia Politicamente Incorreto… Disponível em https://www.discogs.com/

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Foto 39: Viva, Barão Vermelho. Disponível em

https://www.discogs.com/artist/471679-Lob%C3%A3o. Acesso em 06/02/2020.

Foto 40: Sinais do Sim, Paralamas Do Sucesso. Disponível em

https://www.discogs.com/artist/360329-Os-Paralamas-Do-Sucesso. Acesso em

06/02/2020.

Foto 41: Doze Flores Amarelas dos Titãs. Disponível em

http://www.titas.net/discografia. Acesso em 06/02/2020.

Foto 42: Uma Outra Estação, Legião Urbana. Disponível em

http://www.legiaourbana.com.br/. Acesso em 06/02/2020.

Foto 43: Música Esquisita A Troco De Nada, Ultraje A Rigor. Disponível em

http://www.legiaourbana.com.br/. Acesso em 06/02/2020.

184

Foto 44: Mais, RPM. Disponível em https://rpmoficial.com/discografia/. Acesso em

06/02/2020.

Foto 45: Cazuza – 2 Lados. Disponível em http://cazuza.com.br/albuns/. Acesso em

06/02/2020.

Foto 46: Ira! Folk. Disponível em http://www.iraoficial.com/discografia. Acesso em

06/02/2020.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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1989.

ANDRADE, MÁRIO DE. Pequena história da música, 6. ed. São Paulo: Martins,

1967.

BEZZI, Marco (editor). 100 discos que você precisa ter… para não passar vergonha,

São Paulo: Escala, 2004.

CEGALLA, Domingos Paschoal. Novíssima Gramática, 26. ed. São Paulo:

Companhia Editora Nacional, 1985.

ECO, Humberto. Como se faz uma tese, 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 1986.

ECO, Humberto. Como se faz uma tese, 24. ed. São Paulo: Perspectiva, 2012.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio da língua

portuguesa, 4. ed. Curitiba: Positivo, 2009.

FERRO, Daniel. Contos do rock, Porto Alegre: Dublinense, 2017.

185

PIETZSCHKE, Fritz e WIMMER, Franz (orientadores). Michaelis: dicionário ilustradoinglês-português, 61. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1998.

PIETZSCHKE, Fritz e WIMMER, Franz (orientadores). Michaelis: dicionário ilustradoportuguês-inglês, 59. ed. São Paulo: Melhoramentos, 2000.

RODRIGUES, André Figueiredo. Como elaborar e apresentar monografias, 4. ed.Ampliada e atualizada. São Paulo: Humanitas, 2013.

SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia, 12. ed. São Paulo: MartinsFontes, 2010.

UNESP, INSTITUTO DE ARTES, CONSELHO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES.Instrução normativa nº 05 Conselho do Programa de Pós-Graduação em Artes , 10.de abril de 2012. São Paulo. Disponível em <http://www.ia.unesp.br/Home/Pos-graduacao/Stricto-Artes/normativa-5-artes-exame-geral-de-qualificacao.pdf>. Acessoem 04/07/2018.

WEBSTER’S NEW TWENTIETH CENTURY DICTIONARY. 2. ed. Cleveland/OH/Estados Unidos: Prentice, 1983.

WENNER, Fann S. Os 500 maiores álbuns de todos os tempos, São Paulo:Perspectiva, 2014.

186

APÊNDICE I – LETRAS DAS MÚSICAS DO ROCKIAVEL

PRIMEIRA VEZ

Silvio Fernando Janson

Tem que ter uma primeira vez

Para descobrir tudo que não se fez

Tem que ter uma primeira vez

Para enxergar com plena nitidez

Depois da prima vem a segunda

Terço, tercina a fé se aprofunda

A quarta, a quinta, a sexta e a sétima…

A enésima

Tem que ter uma primeira vez

Para o dinheiro dar no fim do mês

Tem que ter uma primeira vez

Para a razão vencer a estupidez

Depois daquela vem a terceira

A vida fica mais verdadeira

187

A quarta, a quinta, a sexta e a sétima…

A enésima

Tem que ter uma primeira vez

Para se viver com nobre honradez

Tem que ter uma primeira vez

Para se criar o que jamais se fez

Antes da nona vem a oitava

Muito antes, eu acreditava

Na quarta, a quinta, a sexta e a sétima…

O infinito

São Paulo, 19 de dezembro de 2010

188

ADEUSSilvio Fernando Janson

Não queria ver mas vi

Fim de tudo

Não quero lhe enganar

Sinto muito

Falar o que pensamos

Às vezes fere fundo

Mas este é o caminho

A seguir

É muito, muito simples

Não falo por maldade

Nada mais será

Seus olhos seus anseios não são meus

Tudo aquilo que senti

Fim de tudo

É triste de dizer

Sinto muito

Eu sigo meu caminho

Você segue o seu

Adeus

São Paulo, 4 de fevereiro de 1998 (data de registro na Biblioteca Nacional)

189

MARCA D’ÁGUA

Silvio Fernando Janson

Quis ser rei, poeta, sonhador

Astronauta, profeta, professor

Mas a marca d’água se impôs

Há de ajoelhar pro novo Deus

Foi juiz, carrasco, executor

Vil tirano, ladrão, corruptor

Pois a marca d’água se impôs

Há de ajoelhar pro novo Deus

Quis cantar, dançar e desenhar

Inventar, viver e arriscar

Será que a marca d’água se desfez?

Há de invocar um novo Deus

São Paulo, 02 de outubro de 2015

190

SMILE

Adriano Capocchi

Don’t you know

You were so bright

Haven’t seen you

For a long time

Don’t you know

How cool were your smile

That you’ve been hiding

For quite a long time

So, unlock that door

And try to come back...to life

Why don’t you fight, honey

You gotta try

You cant live behind you,

Hiding under your nightmares

You gotta wake up

191

Wake up from the shadowsNow I see

Quite a little smile

Let the sun

Heat your face for a while

Forget those distant times,

|I’m right by your...side

Why don’t you fight, honey

You gotta try

Unleashed those wings...

Now you can fly again...

And I’m so glad

That now you can smile, again...

Now that you’ve fight, honey

You gotta a smile, baby

Now that you fight, baby,

You gotta a smile, again

São Paulo, 13/03/2018

192

SUPOR ISSO

Silvio Fernando Janson

Oba, oba

Muito prazer

Será que fará sol

Será que vai chover

Meteorologia de lado

Você me deixa tão assanhado

Babe, oh babe

Você é tão exótica

Parece iusgulava

Era bom se você me amava

Seu inglês é coisa de louco

A boca mexe, não entendo nem um pouco

Babe, oh babe

Passam-se as tardes

Numa transcendental

193

Você recusa uma gulosa

Tá me deixando mal

Você me deixa no maior ouriço

Eu nunca poderia

Poderia

Supor isso

São Paulo, há muito, muito tempo atrás

194

DÁ PAU

Paulo Ribeiro e Silvio Fernando

José da Silva comprou um notes

Nas Lojas Jabá

Na internet ele vai entrá

Com a namoradinha virtualmente ele vai transá

Um e-mail pro chefe já pode mandá

Diz que tá doente e vai faltá

É que o notes dá pau!

Dá pau, dá pau, dá pau, dá pau

Silva passa mal

A bateria descarregada

Sem no-brake, Eletropaulo judiava

O disco rígido entupiu

O monitor apagou, sumiu

Um e-mail pro chefe vai ter de mandá

Diz que tá doente e vai faltá

É que o notes dá pau

Dá pau, dá pau, dá pau, dá pau

Silva passa mal

Salvou o arquivo e sumiu

Chorou quando o notes explodiu

Sumiu, sumiu, sumiu, sumiu

Foi pra Portugal de navio

A bateria descarregada

Sem no-brake, Eletropaulo judiava

O disco rígido entupiu

O monitor apagou, sumiu

Sumiu, sumiu, sumiu, sumiu

195

Foi pra Portugal de navio

Um e-mail pro chefe vai ter de mandá

Diz que tá doente e vai faltá

É que o notes dá pau

Dá pau, dá pau, dá pau, dá pau

Silva passa mal

São Paulo em 03/12/97

196

GOODBYE SON

Adriano Capocchi

Really good times, you and me,

Playing in the sun

Remember as yesterday,

Waiting you to come

Duty called,

It will never be undone

And now I’m here,

Feeling so alone

Miss you all,

On my own

Shadow and rain,

War is on

Here I am,

On my own,

Oh My God…….. my time has come

Good bye dad,

Nightmare is on

Teared apart,

My time has come

Good bye daddy,

Good bye my son,

Teared apart,

My time has come

197

SAÚDE

Leonardo Galasso e Roger Rocha Moreira

Eu quero levar uma vida depravada

Deixar minha saúde ser deteriorada

Não ser careta e nem bancar o mauricinho

Ser muito louco e cheirar os meus pininhos

Mas eu acabo com a saúde

Meu grande mal é que estou sempre com vontade

E isto é ruim porque me tira a liberdade

Eu acabo perdendo uma boa oportunidade

Mas me internar por isto é muita crueldade

Mas eu acabo com a saúde

Eu quero sair desta vida aloprada

Peço ajuda para todos os camaradas

De tanto usar já estou me sentindo mal

Se não parar vou acabar no hospital

Mas eu acabo com a saúde

Saúde, eu alopro

Eu detono, eu extrapolo

Onde é que eu estava mesmo?

Esqueci o que estava falando…Carapicuíba, 2017.

198

MORENA

Silvio Fernando Janson

Morena você foi pro mato, viver sem sapato, nos abandonou

Agora fica se coçando sempre reclamando do que se passou

Morena você foi maldita, fez a esquisita, só você não viu

Que o mundo está bem mudado e que a cachaça nos consumiu

É hora, levante a cabeça, esqueça a tristeza e vá tomar Plasil

Morena você tá mudada, toda alterada, que coisa cruel

Passa o dia lamentando, a noite toda uivando pra Lua no céu

Morena pare já com isto, acabe este suplício, volte a sorrir

A vida está a sua frente você é linda, cheia de dente

Não seja assim malvada

Pague pra nós mais uma rodada

Morena, você foi cruel

Mandou, todos pro beleléu

Morena, não me trate assim

Acorde, volte já pra mim

Morena tudo já passou, como você mudou que coisa legal

199

Agora virou manequim, voltou toda pra mim mas que sensacional

Morena você tá bonita, não toma mais birita, tá especial

Seu charme é reconhecido no mundo todo é aplaudido

É só parar de se coçar

Pro povo inteiro se extasiar

Morena

Você tá superbem

Agora

Vamos fazer neném

São Paulo, 4 de fevereiro de 1998

200

FEITA DE LUZ

Silvio Fernando Janson

E passou num relance

Hoje reencontro você

Como foi sua vida, meu amor

Como vai você?

Feita de luz e estrelas esta noite

O inevitável surgiu

É olhar, é fingir, imaginar

E o tempo não passou

Não passou

Pra nós dois

Feita de luz e estrelas esta noite

O inevitável surgiu

É olhar, é fingir, imaginar

E o tempo não passou

Não passou

Pra nós dois

São Paulo, 05 de dezembro de 2017 (letra para o 1º CD)

201

AJA

Silvio Fernando Janson

Aja, aja

Mesmo que lhe digam não

Aja, aja

Sempre, sem qualquer restrição

Gostam de lhe ver inseguro

Sem coisa alguma a dizer

Querem é lhe ver reprimido

Querem lhe dizer o que fazer

Aja, aja

Mesmo que lhe digam não

Aja, aja

Sempre, sem qualquer restrição

Aquele que lhe quer censurar

E não sabe bem o porque

Está querendo mesmo esquecer

Não sabe mais o que é viver

Viva sempre, sempre feliz

Esperança, amor e paixão

Faça o que você sempre quis

Eu vou lhe dizer é a solução

Aja, aja

Mesmo que lhe digam não

Aja, aja

Sempre, sem qualquer restrição

202

São Paulo, gravada em 2010 com Lina Kruze, guitarra, Rodrigo Mariano, bateria e Silvio Janson, baixo.

203

APÊNDICE II – TABELAS

Tabela 1 – Quantidade de canções e tempos em primeiros álbuns escolhidos

1Artista ULTRAJE A RIGORÁlbum Nós Vamos Invadir Sua Praia

Tempo1 Nós Vamos Invadir Sua Praia 00:04:122 Rebelde Sem Causa 00:03:193 Mim Quer Tocar 00:03:454 Zoraide 00:03:245 Ciúme 00:04:006 Inútil 00:03:337 Marylou 00:02:158 Jesse Go 00:03:459 Eu Me Amo 00:03:3010 Se Você Sabia 00:03:3311 Independente Futebol Clube 00:02:30

TEMPO TOTAL 00:37:46

2Artista THE ROLLING STONESÁlbum The Rolling Stones

Tempo1 (Get Your Kicks On) Route 66 00:02:202 I Just Want To Make Love To You 00:02:163 Honest I Do 00:02:084 I Need You Baby (Mona) 00:03:325 Now I've Got A Witness (Like Uncle Phil And Uncle

Gene)00:02:28

6 Little By Little 00:02:377 I'm A King Bee 00:02:338 Carol 00:02:319 Tell Me (You're Coming Back) 00:04:0510 Can I Get A Witness 00:02:5411 You Can Make It If You Try 00:02:0012 Walking The Dog 00:03:08

TEMPO TOTAL 00:32:32

3Artista THE BEATLESÁlbum Please Please Me

Tempo1 I Saw Her Standing There 00:02:522 Misery 00:01:473 Anna (Go To Him) 00:02:544 Chains 00:02:235 Boys 00:02:246 Ask Me Why 00:02:247 Please Please Me 00:02:00

204

8 Love Me Do 00:02:199 P.S. I Love You 00:02:0210 Baby It's You 00:02:3511 Do You Want To Know A Secret? 00:01:5612 A Taste Of Honey 00:02:0113 There's A Place 00:01:4914 Twist And Shout 00:02:33

TEMPO TOTAL 0:31:52

4Artista RPMÁlbum Revoluções por Minuto

Tempo1 Rádio Pirata 00:03:292 Olhar 43 00:03:043 A Cruz e a Espada 00:03:164 Estação no Inferno 00:03:105 A Fúria do Sexo Frágil Contra o Dragão da Maldade 00:02:436 Louras Geladas 00:02:587 Liberdade / Guerra Fria 00:03:458 Sob a Luz do Sol 00:03:459 Juvenília 00:03:3010 Pr'esse Vício 00:03:5111 Revoluções por Minuto 00:03:18

TEMPO TOTAL 00:36:49

5Artista TITÃSÁlbum Titãs

Tempo1 Sonífera Ilha 00:02:512 Marvin 00:04:103 Babi Índio 00:03:364 Go Back 00:03:355 Pule 00:02:196 Querem Meu Sangue 00:03:037 Mulher Robot 00:02:198 Demais 00:02:449 Toda Cor 00:03:1810 Balada Para John E Yoko 00:02:3511 Seu Interesse 00:03:08

TEMPO TOTAL 00:33:38

6Artista IRA!Álbum Mudança de comportamento

Tempo1 Longe de tudo 00:03:182 Núcleo base 00:03:483 Mudança de comportamento 00:03:004 Tolices 00:04:385 Coração 00:02:346 Saída 00:03:57

205

7 Ninguém precisa de guerra 00:03:358 Por trás de um sorriso 00:02:039 Como os ponteiros de um relógio 00:02:1710 Sonhar com que? 00:02:0811 Ninguém entende um mod 00:03:27

TEMPO TOTAL 00:34:45

206

Tabela 2 – Primeiros álbuns de bandas escolhidas do Rock Brasil 80A data se refere ao dia do lançamento

1Artista BLITZ DataÁlbum As Aventuras Da Blitz 26/05/82

Tempo1 Blitz Cabeluda 00:03:082 Vai, Vai, Love 00:03:363 De Manhã (Aventuras Submarinas) 00:03:364 Vítima Do Amor 00:02:405 O Romance Da Universitária Otária 00:02:086 O Beijo Da Mulher Aranha 00:03:047 Totalmente Em Prantos 00:02:128 Eu Só Ando A Mil 00:03:009 Mais Uma De Amor (Geme Geme) 00:03:5510 Volta Ao Mundo 00:02:3611 Você Não Soube Me Amar 00:03:2312 Ela Quer Morar Comigo Na Lua 00:03:1013 Cruel Cruel Esquizofrenético Blues 00:03:39EMI-Odeon TEMPO TOTAL 00:40:07

2Artista LOBÃO DataÁlbum Cena De Cinema 1982

Tempo1 Cena De Cinema 00:03:272 Amor De Retrovisor 00:02:303 Love Pras Dez 00:02:234 O Homem Baile 00:02:465 Doce Da Vida 00:03:066 Stopim 00:03:417 Squizotérica 00:03:118 Sem Chance 00:03:099 Scaramuça 00:00:4710 Robô, Robôa 00:03:12

RCA TEMPO TOTAL 00:28:42

3Artista BARÃO VERMELHO DataÁlbum Barão Vermelho 15/09/82

Tempo1 Posando De Star 00:02:182 Down Em Mim 00:03:153 Conto De Fadas 00:03:394 Billy Negão 00:03:245 Certo Dia Na Cidade 00:04:436 Rock’N’Geral 00:02:437 Ponto Fraco 00:02:548 Por Aí 00:03:40

207

9 Todo Amor Que Houver Nessa Vida 00:02:1510 Bilhetinho Azul 00:02:19

OpusColumb

iaTEMPO TOTAL 00:31:07

4Artista PARALAMAS DO SUCESSO DataÁlbum Cinema Mudo 18/05/83

Tempo1 Vital E Sua Moto 00:03:102 Foi O Mordomo 00:03:513 Cinema Mudo 00:03:504 Patrulha Noturna 00:02:535 Shopstake 00:03:006 Vovó Ondina É Gente Fina 00:02:007 O Que Eu Não Disse 00:03:378 Química 00:03:029 Encruzilhada 00:02:5710 Volúpia 00:02:37EMI-Odeon TEMPO TOTAL 00:30:56

5Artista TITÃS DataÁlbum Titãs 22/08/84

Tempo1 Sonífera Ilha 00:02:512 Marvin 00:04:103 Babi Índio 00:03:364 Go Back 00:03:355 Pule 00:02:196 Querem Meu Sangue 00:03:037 Mulher Robot 00:02:198 Demais 00:02:449 Toda Cor 00:03:1810 Balada Para John E Yoko 00:02:3511 Seu Interesse 00:03:08

WEA TEMPO TOTAL 00:33:38

6Artista LEGIÃO URBANA DataÁlbum Legião Urbana 02/01/85

Tempo1 Será 00:02:302 A Dança 00:04:013 Petróleo Do Futuro 00:03:024 Ainda É Cedo 00:03:575 Perdidos No Espaço 00:02:576 Geração Coca-Cola 00:02:227 O Reggae 00:03:338 Baader-Meinhof Blues 00:03:279 Soldados 00:04:5010 Teorema 00:03:06

208

11 Por Enquanto 00:03:16EMI-Odeon TEMPO TOTAL 00:37:01

7Artista ULTRAJE A RIGOR DataÁlbum Nós Vamos Invadir Sua Praia Abril 85

Tempo1 Nós Vamos Invadir Sua Praia 00:04:122 Rebelde Sem Causa 00:03:193 Mim Quer Tocar 00:03:454 Zoraide 00:03:245 Ciúme 00:04:006 Inútil 00:03:337 Marylou 00:02:158 Jesse Go 00:03:459 Eu Me Amo 00:03:3010 Se Você Sabia 00:03:3311 Independente Futebol Clube 00:02:30

WEA TEMPO TOTAL 00:37:46

8Artista RPM DataÁlbum Revoluções por Minuto Maio 85

Tempo1 Rádio Pirata 00:03:292 Olhar 43 00:03:043 A Cruz e a Espada 00:03:164 Estação no Inferno 00:03:105 A Fúria do Sexo Frágil Contra o Dragão da Maldade 00:02:436 Louras Geladas 00:02:587 Liberdade / Guerra Fria 00:03:458 Sob a Luz do Sol 00:03:459 Juvenília 00:03:3010 Pr'esse Vício 00:03:5111 Revoluções por Minuto 00:03:18Epic TEMPO TOTAL 00:36:49

9Artista CAZUZA DataÁlbum Exagerado Nov 85

Tempo1 Exagerado 00:03:452 Medieval II 00:04:223 Cúmplice 00:03:304 Mal Nenhum 00:03:455 Balada De Um Vagabundo 00:03:486 Codinome Beija-Flor 00:02:327 Desastre Mental 00:03:248 Boa Vida 00:03:089 Só As Mães São Felizes 00:03:4610 Rock Da Descerebração 00:04:07

Som TEMPO TOTAL 00:36:07

209

Livre

10Artista IRA! DataÁlbum Mudança De Comportamento 11/02/86

Tempo1 Longe de tudo 00:03:182 Núcleo base 00:03:483 Mudança de comportamento 00:03:004 Tolices 00:04:385 Coração 00:02:346 Saída 00:03:577 Ninguém precisa de guerra 00:03:358 Por trás de um sorriso 00:02:039 Como os ponteiros de um relógio 00:02:1710 Sonhar com que? 00:02:0811 Ninguém entende um mod 00:03:27

WEA TEMPO TOTAL 00:34:45

210

ANEXO I – LETRAS DAS MÚSICAS – PARÁGRAFO D

BREGA DA SAÚDE

Thiagson

Hoje em dia atualmente

Não se pode brincar

Pois saúde é coisa séria

Você tem que pegar e se cuidar

Se você bebe

Pega e se cuida mais

Se você fuma

Pega e se cuida mais

Se come gordura trans

Pega e se cuida mais

E os exercícios são imprescindíveis

Mas se você não gosta de academias

Basta só caminhar

Só caminha e tá bom

Pode ser devagarinho

Só caminha e tá bom

Só pra dar uma suadinha

Só caminha e tá bom

E a alimentação é deveras importante

Não coma besteira

Pegue umas frutas

E faça uma vitamina

Bata com mamão

211

É bem gostosa

Bata com mamão

E se você está louca

Pra passar

A mensagem da saúde

Pois é bom se cuidar

Fale pros seus amigos

E pra quem for da sua família

Pra sua namorada

E pra quem for da sua família

212

KATINGUETÁLLICA

Thiagson & Janson

Cama!

Toda vez que eu chego em casa

Os negócios da suruba tão na minha cama

Toda vez que eu chego em casa

Os negócios da suruba tão na minha cama

Toda vez que eu chego em casa

Os negócios da suruba tão na minha cama

E diz aí Valdeci qui se vai fazê

Vô toca numas deis banda até aprende

E diz aí Valdeci qui se vai fazê

Vou passá um batonzinho pra mi defendê

E diz aí Valdeci qui se vai fazê

Vou tomá uns remedinho pra ficá belê

213

KI LINDA NECA BOFE

Thiagson

Interpretada por Os Bregsons

Ô Simone não forces

Se engolir vai dar tosse

Ô Simone não forces

Se engolir vai dar tosse

Ahhh!!!

Ki linda neca bofe!

O Pelé e a Xuxa…

O Pelé e a Xuxa…

O Sid vai, a Cleide vai

Se não rolar pagode a casa cai

O Cyro vai, a Sandrinha vai

Com o Fabiano e a Bete

Cantando “A lua vai”

Ô Simone não forces

Se engolir vai dar tosse

Ô Simone não forces

Se engolir vai dar tosse

214

O Pelé e a Xuxa… (que lindo casal)

Eu não sou broxa

Só preciso de amendoim com farofa

215

ANEXO II – ROCK – DEFINIÇÃO

Acepção da palavra rock contida no Dicionário de Música e Músicos Grove On-Line

produzido pela Faculdade de Música da Universidade de Oxford da Inglaterra

Rock é algumas vezes usado como termo genérico para indicar a

música popular do período posterior à Segunda Guerra Mundial.

Este artigo utiliza uma definição mais restrita e, teoricamente, mais

apropriada do termo como, de maneira geral, uma categoria

específica de música popular posterior à Segunda Grande Guerra

produzida primariamente nos Estados Unidos e Grã-Bretanha que

eventualmente se espalhou por outros países, música possuidora de

características particulares e fundamentos socioculturais. O termo é

quase sempre acompanhado com uma designação de subgênero

como blues rock, glam rock, rock psicodélico, rock alternativo e

assim por diante e gêneros como o punk e o heavy metal são

também, algumas vezes, indicados como subgêneros do rock,

embora estes gêneros tenham sido estética e politicamente opostos

ao rock em certos momentos históricos (meados dos anos setenta,

por exemplo) quando o rock foi visto como conservador, tendência

do momento e atrelado a interesses corporativos. Na realidade, há

motivos musicais e sociais para considerarmos todos subgêneros do

rock. O termo rock começou a ser usado na metade dos anos

sessenta, coincidindo com o desenvolvimento da crítica de rock, para

distinguir esta música do rock and roll dos anos cinquenta e do pop e

do soul do começo dos anos sessenta. Como o rock and roll, o rock

fundamentava-se na ideia da rebelião da juventude, particularmente

do jovem branco, jovem o qual sempre produziu esta música e fazia

parte significativa (mas não exclusiva) da audiência. Embora existam

agora gerações mais velhas de rockers, a rebelião da juventude

ainda é central nesta música. A idéia de rebelião no rock’ n’ roll dos

anos cinquenta situava-se no que Lawrence Grossberg26 chamou de

experiências de alienação, falta de poder e tédio da juventude”, que

26 Estudioso americano da cultura popular.

216

surge “em um contexto temporal genericamente caracterizado como

capitalismo tardio [ou] pós modernidade”. Para muitos jovens

brancos, a música rock funcionou como um tipo de salvação, até

mesmo como uma teologia. Tem sido um meio para desafiar o status

quo, criar comunidade e sentir-se poderoso.

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ANEXO III – JOVEM GUARDA

Jovem Guarda – artigo publicado na Folha de São Paulo em 17 de janeiro de 2018

Em 17 de janeiro de 1968, o rei Roberto Carlos fazia a sua última aparição comoapresentador do dominical “Jovem Guarda”, atração da TV Record que oficializou omovimento musical homônimo no Brasil.A partir daquele dia, as jovens tardes de domingo, sempre regadas a paixões,guitarras e flores, já não seriam as mesmas sem a presença do ídolo máximo dajuventude brasileira daqueles anos.EI, EI, EI, ROBERTO É O NOSSO REIO programa “Jovem Guarda” entrou no ar pela primeira vez às 16h30 no dia 22 deagosto de 1965. O tremendão Erasmo Carlos e a ternurinha Wanderléa, como eramconhecidos os outros dois astros da música jovem, foram os artistas convocadospara comandar a nova atração ao lado do rei.Os primeiros convidados do programa foram a cantora Rosemary, os conjuntos TheJet Blacks e Os Incríveis e os cantores Ronnie Cord, Tony Campelo e Prini Lorez,três componentes da primeira geração do rock brasileiro, que na passagem dosanos 1950 para os 1960 compunham versões em português para os hitsinternacionais da época.O primeiro nome cogitado para o programa foi “Festa de Arromba”, título de um dosgrandes sucessos do Tremendão na época. Mas o trio de apresentadores decidiupelo nome “Jovem Guarda”, ideia do publicitário Carlito Maia (1924 – 2002), que seinspirou em uma frase de Lênin dirigida ao proletariado russo: “O futuro dosocialismo repousa nos ombros da jovem guarda”.TAPA-BURACOA então nova atração musical da Record surgiu como uma espécie de tapa-buracona grade da emissora, uma vez que a Federação Paulista de Futebol, com oargumento de que a exibição do Campeonato Paulista no canal estava esvaziandoos estádios, revogou a autorização da transmissão dos jogos.O núcleo artístico da TV Record na época contava com a direção de PaulinhoMachado de Carvalho, filho de Paulo Machado de Carvalho, dono do conglomeradoque incluía ainda as rádios Record, Pan-Americana (Jovem Pan) e São Paulo. Oprograma era dirigido por Carlos Manga, um dos nomes mais citados na história datelevisão no país.O “Jovem Guarda” era transmitido ao vivo do Teatro Record, localizado no número1992 da rua da Consolação, na região central de São Paulo, onde uma massaensurdecedora de jovens e adolescentes lotava o local aos gritos de “ei, ei, ei,Roberto é o nosso rei” e “asa, asa, asa, Roberto é uma brasa”, jargão que significa“muito bom”.Foi através desse movimento que surgiram algumas gírias usadas pelajuventude. Entre as mais populares estão: “broto” (garota bonita), “pão” (garotobonito), “papo firme” (alguém muito legal), “carango” (carro bacana), “coroa” (velho)e “calhambeque” (carro velho), esta última patenteada por Roberto Carlos.O programa, assim como o movimento que levou o seu nome, influenciou toda umageração de jovens, tanto na estética quanto no comportamento. A grande audiênciaque só em São Paulo chegou ao alcance de 3 milhões de espectadores, trouxe umavida lucrativa ao mercado fonográfico brasileiro.

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Ao longo de seus quase três anos de existência, a atração teve grandes destaquesda cena musical, como Eduardo Araújo, Silvinha, Jerry Adriani, Trio Esperança,Golden Boys, Os Vips, Martinha, Deny e Dino, Leno e Lilian e Waldirene – estaúltima imortalizada na música “É Papo Firme”, de Roberto e Erasmo.Nomes de outras vertentes sonoras, como Elis Regina, Jair Rodrigues e JorgeBenjor – à época Jorge Ben –, também passaram pelo programa.O FIM EM MOMENTOS DE LUTANo início de 1968, com a saída de Roberto Carlos, o programa, que continuou sobos comandos do Tremendão e da Ternurinha, resistiu durante cinco meses, até oseu fim, em junho daquele ano, devido sobretudo à queda na audiência. Eramnovos tempos. O movimento tropicalista e contestador de Gil e Caetano seintensificava no país com o advento dos grandes festivais de MPB – além do teatroe do cinema. E as grandes manifestações de jovens contra o regime militar,implantado no Brasil em abril de 1964, passaram a tomar as principais vias públicasdo “país tropical” cantado por Jorge Ben.Cinquenta anos depois, Roberto e Erasmo, que, a partir daqueles anos formaram adupla de compositores mais bem-sucedida da história da música popular brasileira,além de Wanderléa, ainda continuam (sic – pleonasmo) arrastando multidões peloBrasil, sempre com o intenso romantismo e recordações daquelas tardes deguitarras, sonhos e emoções.