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QUADRO DAS PRINCIPAIS TEORIAS CRIMINOLÓGICAS (Adaptado de Cullen e Agnew, 2006, p. 5-8, por Trindade, J.): Teoria de Base Principais Representant es Idéia Central Clássica Beccaria, 1993, 2007 O crime é uma escolha livre e acontece quando, devido à ausência de punição, os benefícios são maiores que os custos. Positivista Lombroso, 1895, 2001 O homem ‘nasce’ delinqüente e está determinado por causas e características morfo-fisiológicas. Sociologismo criminal Ferri, 1905, 2006 O homem não nasce, mas ‘torna-se’ delinqüente. Os fatores do meio (mesológicos ou ecológicos) são a principal causa da criminalidade. ‘Se numa rua escura se comete mais crimes do que numa rua clara, bastará iluminá-la e isso será mais eficaz do que construir masmorras’. Traços Glueck e Glueck, Os criminosos diferem de não criminosos por uma www.sbpj.org

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QUADRO DAS PRINCIPAIS TEORIAS CRIMINOLÓGICAS

(Adaptado de Cullen e Agnew, 2006, p. 5-8, por Trindade,

J.):

Teoria de Base

Principais

Representant

es

Idéia Central

ClássicaBeccaria,

1993, 2007

O crime é uma escolha livree acontece quando, devido àausência de punição, osbenefícios são maiores queos custos.

PositivistaLombroso,

1895, 2001

O homem ‘nasce’ delinqüentee está determinado porcausas e característicasmorfo-fisiológicas.

Sociologismo

criminal

Ferri, 1905,

2006

O homem não nasce, mas‘torna-se’ delinqüente. Osfatores do meio(mesológicos ou ecológicos)são a principal causa dacriminalidade. ‘Se numarua escura se comete maiscrimes do que numa ruaclara, bastará iluminá-la eisso será mais eficaz doque construir masmorras’.

Traços Glueck e Glueck,

Os criminosos diferem denão criminosos por uma

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Individuais

Rowe, 2002, 2006;

Caspi, Moffitt, 1993, 2002 eoutros.

série de traços biológicose psicológicos, queconduzem ao crime quandointeragem com o ambientesocial.

Fatores

familiares

Gluecke Glueck,

Farrington, 1973, 1994, 1995, 1998, 2000, 2002, 2006, 2008.

Ackerman, 1988

Andolfi, 1982, 1984, 1988, 1996

Watzlawick, 1997, 2008

Minuchin, 1988

Pincus-Dare,1987

A delinqüência é umfenômeno multifatorial noqual a família é umavariável de destaque. Aautoridade parental lábil,falta de supervisãoparental, estilo permissivo(permissive parent) ouautoritário (authoritarianparent), disciplina evigilância familiar fracafavorecem comportamentosanti-sociais que podemevoluir para a delinqüênciae para a criminalidadesevera.

Desorganização

Social (Escola

de Chicago)

Shaw e Mackay (1969, 2006),

Trasher,

1927

Comunidades desorganizadasgeram criminalidade namedida em que os controlessociais informais fracassame a cultura delinqüenteemerge. Falta eficáciacoletiva para lutar contra

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o crime e a desordem. Adelinqüência é mais elevadanas cidades devido àdesorganização do tecidosocial.

Associação

Diferencial e

Aprendizagem

Social

Sutherland, 1939

Sutherland eCressey, 1970;

Wolfgang e Ferracutti, 2006.

O crime é um comportamento

aprendido. Interagir com

pares anti-sociais é a

maior causa do crime. O

comportamento criminoso

será repetido e se tornará

crônico pelo reforçamento.

Quando existe uma

subcultura delinqüente,

muitos indivíduos podem

aprender a cometer crimes e

as taxas de violência,

nessas áreas, se tornam

muito altas.

Anomia

Merton

(1938)

Durkheim

(1897)

Ausência de normas ou

regras fracas gera falta de

coesão social e provocam

altas taxas de

criminalidade.

Metas e meios Cohen, 1955 A sociedade estabelece

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Cloward e Ohlin, 1960,2006;

Agnew, 2006;

metas para todos (sucesso,

riqueza, status, poder), mas

não distribui os meios

igualitariamente. Cria-se,

então, uma defasagem entre

metas e meios, e o crime é

uma forma inadequada de

superar essa diferença.

Controle

Hirschi e

Gottfredson,1990;

A principal causa do crime

é a falta de controle. Os

mecanismos de controle

internos ou externos

fracassam na sua função de

contenção gerando o

comportamento delinqüente.

Esses mecanismos podem

variar de acordo com o

contexto histórico, social

e geográfico. O controle

eficaz, por sua vez, pode

inibir ou fazer o indivíduo

desistir da anti-

socialidade persistente.

Labeling –estigma Goffman, 1973, 1974,

Os indivíduos se

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1980;

Foucault, 1977, 1982, 1984, 2000;

Laing, 1959;

Laing e Cooper, 1964.

Basaglia, 1976.

estabilizam no

comportamento anti-social

quando são etiquetados,

definidos e estigmatizados

pelas agências de poder,

desenvolvendo uma

identidade criminosa a

partir dessa ‘marca’. Essa

condição, entretanto,

somente seria válida a

partir do segundo delito.

As instituições totais são

agências de controle e

etiquetamento. A sociedade

criminógena gera os

delinqüentes e depois cria

instituições para tomar

conta deles (cultura da

apresentação, mortificação

do eu, exposição

contaminadora, ruptura da

relação habitual entre

autor e seus atos, sistema

de privilégios, ajustes

secundários, situação

anômica, e cultura do

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interno).

Crítica

Baratta, 1999, 2002;

Cirino dos Santos, 2006;

Bergalli, 1993;

Ferrajoli, 2002, 2006;

Lyra Filho, 1972, 1980;

Carvalho, 2002, 2007;

Andrade, 2002;

Batista, 2002;

Zaffaroni, 2001.

As desigualdades criam

condições que levam ao

delito de rua e à

criminalidade organizada. O

capitalismo e suas formas

selvagens são

fundamentalmente

criminogênicas, porque

geram pobreza, injustiça,

menos valia, e exploração

dos mais fracos.

Conservadora Wilson e

Kelling,

2006;

O crime é decorrência da

quebra da moralidade na

sociedade e da tolerância

do sistema de justiça

repressivo. A solução para

a criminalidade inclui

policiamento vigoroso

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contra as infrações

menores, pois controlando

esses pequenos

comportamentos desruptivos

se evitam os delitos

maiores.

Desenvolvimenta

l – Life-course-

persistent

delinquency e

Adolescence

limited delinquecy

Moffitt,

1993, 2000,

2001, 2002,

2003, 2006;

Fréchette e

Lê Blanc,

2002

A causa do crime pode ser

encontrada no processo de

desenvolvimento que começa

antes do nascimento e

continua através do ciclo

vital. Fatores individuais

interagem com os fatores

sociais e determinam o

início, a duração, e a

gravidade da conduta

delinqüente. A anti-

socialidade de início

precoce é preditiva da

delinqüência persistente ao

longo da vida, enquanto a

de início tardio é mais

circunstancial e pode ser

interrompida quando essas

condições desaparecem. A

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delinqüência pode ser

limitada à adolescência

(reação considerada normal

no marco de uma etapa do

ciclo vital) ou persistente

(patológica) devido à

interação de precoce de

características pessoais

(problemas de temperamento

com base neurológica e

genética) e fatores do

contexto social e

educativo.

Integracionista Thornberry,

1994, 2004,

2006;

Cullen e

Agnew, 2006.

A criminalidade é uma

condição complexa que se

explica pelo controle, pela

aprendizagem social, pelos

traços individuais. Todas

as teorias contribuem com

uma parcela de explicação

para o fenômeno da

criminalidade, e, juntas,

tornam possível a concepção

de uma nova teoria que

integre todas as outras,

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pois as causas do crime são

uma seqüência ao longo da

vida. Quando a conduta

desviada aparece em idade

precoce, interagem fatores

pessoais, familiares, e

sócio-estruturais, que

debilitam as relações com a

família e com a escola,

favorecendo a associação

com grupos de iguais

infratores.

Recuperação da

Anomia

Agnew, 1997 As relações interpessoais

podem se converter numa

fonte de estresse ou de

tensão ao não permitir que

o sujeito alcance suas

metas (situações adversas

ou que levam à perda de

algo valioso). A

estabilidade ou a mudança

da conduta anti-social

depende do temperamento e

do entorno social, sendo

que o adolescente tem

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escassas condições para

enfrentar situações

conflitivas, mas a

maturidade favorece o

ajustamento.

Modelos Biológicos

Representante Idéia Central

Clássico Lombroso (1895) O delinqüente nato

Neo-clássico

(genética)

Sandbert, 1961;

Graves, 1968;

Witken,

Jacobs, 1965

Rutter e Giller, 1976, 1993, 1998;

Frota-Pessoa, 1991

Therani e Mednick,2002

CromossomoY’

Síndrome de

Kinenfleter (XYY).

Cromossomo

superavitátio,

também denominado

cromossomo

‘assassino’.

Neo-clássico

(genética)

Moffitt, 1993,

2002, 2006;

Neurotransmissores

Baixos níveis

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Zuckerman, 1999;

Holmes, 2002,

2007;

Damásio, 1994,

2006;

serotonina e altos

níveis de

testosterona;

Fatores Genéticos:

filhos biológicos

de pais com

Transtorno de

Conduta apresentam

altos níveis de

concordância (TC),

mesmo quando

adotados ao

nascimento e

criados por pais

que não têm

transtorno.

Neo-clássico

(orgânico)

Patersohn, 1954;

Mayer, 1987;Sistema Límbico

Neo-clássico

(orgânico)

Cleckley, 1976;

Eysenck, 1977,

1983, 1987;

Farrington, 1998;

Córtex frontal

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2000, 2003, 2006,

2008

Quay, 1964

Raine, 2002, 2003,

2004

Neo-clássico

(organomental e

parenting)

Hodgins, 2002Fontes pré e peri-

natais

Modelos Psicossociais

Representante Idéia Principal

Teoria Geral do

Crime

Hirschi e

Gottfredson, 1990,

2006.

Fonseca e Simões,

2002.

Comportamentos

anti-sociais são

estimulados pelos

benefícios ou

ganhos imediatos

para seus autores,

associados ao

baixo autocontrole

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e ao déficit de

socialização na

família.

Perturbações do

vínculo

Spitz, 1963, 1983

Bowlby, 1958, 1969

Ainsworth, 1969,

1978

Balint, 1969,

1977, 1993

Winnicott, 1953,

1985, 1996, 2005

(pseudoself)

Mucchielli, 1979,

2002, 2005

Cyrulnik, 1989

Sá, 1990, 1991,

1995, 1997

Ajuriaguerra, 1983

A delinqüência

está associada a

perturbações dos

vínculos precoces.

Pode ser entendida

como uma patologia

vincular: uma

perturbação

acentuada do

vínculo precoce.

Delinqüência como

sinal de

esperança.

Processo de Skinner Estímulo e

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socializaçãoBandura (1971,

1973, 1980)

Akerson (1966)

resposta.

O comportamento

delinqüente é

apreendido e

decorre do

fracasso no

processo de

socialização pelo

reforçamento de

condutas anti-

sociais.

Condicionamento

operante.

Raciocínio Moral

Piaget (1932,

1966, 1970, 1971,

1990)

A delinqüência

relacionada a

prejuízos da moral

heteronômica e da

moral autonômica e

ao fracasso na

transmissão dos

valores da

sociedade

convencional.

Identidade Erickson (1966, A adolescência

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Identidade

positiva e

negativa

1968, 1969, 1975)

Blos, 1979

Reckless (1956)

Amaral Dias, 1984

enquanto etapa de

busca de

identidade própria

aumenta a

exposição a

fenômenos

oportunistas, tais

como o uso de

drogas,

comportamentos de

risco, condutas

disfuncionais,

anti-sociais e

delinqüências, que

podem ser

limitados a essa

etapa vital. O

adolescente pode

delinqüir sem ser

delinqüente.

Associação com

Pares Delinqüentes

Patterson e

Dishion (1985,

1995)

As práticas

inadequadas da

criança na

primeira infância

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Thornberry (1984,

2004, 2006)

Lê Blanc (1987,

2000, 2002)

Moffitt e Caspi,

2002, 2006

são reforçadas e o

mundo escolar se

apresenta repleto

de dificuldade pra

uma criança

inábil, aumentando

a probabilidade de

fracasso escolar e

desajuste. Os

pares com

comportamento

anti-social

contribuem para

aperfeiçoar as

práticas de

desviação, que

depois tendem a

permanecer nas

dificuldades de um

trabalho estável,

nas relações com a

família, no

contato com as

drogas e numa

inadequada relação

com o mundo. A

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conduta anti-

social se torna

permanente.

Confluência de

Traços

Dishion, Patterson

(1995, 1996)

MacCord (1997,

1999)

Delinqüentes

crônicos e

psicopatas possuem

traços confluentes

que se encontram

nos infratores

comuns:

presenteísmo,

busca do prazer,

da satisfação

imediata,

indiferença

afetiva,

egocentrismo,

falta de empatia,

dentre outros.

Traços de

Personalidade

Allport (1937)

Eysenck (1970,

1977, 1983, 1987)

Quando se descreve

um psicopata,

descreve-se um

delinqüente e seus

traços de

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personalidade são

exemplificativos

do que se encontra

em outros

delinqüentes de

enraizamento

criminoso.

Busca do Prazer

(Presenteísmo)

Cusson (1998)

Born (1983)

Falta de

perspectiva de

futuro, falta de

memorização do

passado, carência

de pensamento

abstrato, agitação

compensatória,

presenteísmo e

funcionamento

psíquico preso ao

“aqui” e “agora”

são algumas

características

dos sujeitos

delinqüentes e

anti-sociais.

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Enraizamento

Criminoso

Le Blanc (1987,

1991, 2002)

O processo de

agravamento da

atividade

criminosa passa

por cinco

estágios: a)

aparecimento; b)

exploração; c)

explosão; d)

conflagração; e)

transbordamento.

Continuidade

(continuity)

Moffit (1993,

2002)

Loeber (1990)

Fréchette e Lê

Blanc, 1987, 2002.

Delinqüentes

limitados à

adolescência e

delinqüentes de

carreira versus a

delinqüência

persistente e como

estilo de vida.

Pode haver uma

linha de

continuidade entre

a delinqüência

ocasional e a

delinqüência

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persistente e

grave.

Fatores familiares Glueck e Glueck,

1950;

Farrington, 1992b,

1997;

Minuchin, 1988

Olson, 1979;

Watzlawick, 1972,

2006

McCord, 2002

Le Blanc e Janosz,

2002

Naplava e

Oberwittler, 2002

Kury e Woessner,

2002

Mucchielli, 2002,

2005

Johnstone e Cooke,

Delinqüência como

um produto das

condições e

relações na

família e enquanto

uma perturbação da

comunicação

familiar. Sistema

familiar

descomprometido e

caótico.

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2002

Pincus-Dare, 1987

Práticas

Educativas

(Parenting)

Hirschi, 1969;

Loeber, 1990;

Glueck e Glueck,

Farrington, 1992b,

1992c

A delinqüência é

decorrente da

falta de

implicação e de

competência de

vigilância por

parte dos pais,

disciplina

excessivamente

tolerante ou

ambígua, (falta de

supervisão

parental,

negligência).

Psicanalítico Freud,

Klein, 1963, 1964,

1970, 1976, 1981,

2006

Asúa, 1947,

Rosolato, 1974,

Fracasso do

superego com uma

debilitada

internalização das

noções de lei,

transgressão e

culpa.

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Rascovsky, 1970,

1973

Segal, 1975

Sandler, 1990

Rouanet, 1983

This, 1987

Fenichel, 1981

Fedida, 1968, 1988

Garma, 1960, 1984

Goldstein, 1960,

1987

Ginberg, 1973

Heimann, 1982

Martins, 1973

Bion, 1963, 1989,

1991, 1992;

Amaral Dias, 1984,

2000;

Kernberg, 1983,

O adolescente

transgride por

causa de um

superego

excessivamente

complacente e

tolerante ou

excessivamente

rígido, arcaico, e

punitivo. Pode-se

estabelecer a

diferença entre

delinqüência por

sentimento de

culpa (neurótica e

reativa) e

delinqüência por

falta de

sentimento de

culpa (perversa e

persistente). O

adolescente age

por uma

incapacidade de

pensar. Trata-se

de um fracasso do

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1995

Matos, 1986, 1991,

1996

imaginário.

O acting e as

atividades de

risco podem ser

uma maneira de

esconder (negar) a

depressão, e o

adolescente pode

delinqüir sem ser

delinqüente.

O agir representa

o fracasso do

pensamento ao

nível da concepção

e do conceito:

incapacidade de

desenvolver o

aparelho de pensar

os pensamentos.

Os atos são

esboços de

pensamentos não

pensados à procura

de um intérprete.

São significados

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em busca de

significação,

porquanto ainda

não nomeados.

Passagem ao ato

Feldman (1977,

1993, 1997);

Lagache (1948,

1951);

Winnicott, 1985,

1996, 2005

Além da lógica da

racionalidade, o

ato transgressor

carrega um

sentido, um

significado que

escapa à

consciência A

delinqüência pode

ser um sinal de

esperança. Quando

uma criança furta

uma caneta, ela

não está furtando

somente uma

caneta.

Minimização do ato Matza (1957, 1981) Mecanismos de

negação do dano,

da

responsabilidade,

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da vítima,

condenação dos

condenadores e

pseudo-idealização

das ‘lealdades

superiores’.

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