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Universidade Presbiteriana Mackenzie
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
Bianca A. Dall’Ovo
Fernanda S. de Oliveira
Nathália Loureiro Pinto
Paulo Lucas Lima
Habitação econômica
promovida pela iniciativa
privada
São Paulo
2014
2
Bianca A. Dall’Ovo
Fernanda S. de Oliveira
Nathália Loureiro Pinto
Paulo Lucas Lima
Habitação econômica
promovida pela iniciativa
privada
São Paulo
2014
Relatório sobre a habitação econômica
promovida pela iniciativa privada
apresentado à disciplina de Urbanismo
VII, ministrado pelo Prof. Dr. Paulo
Ricardo Giaquinto e pelo Prof. Dr. Antonio
Carlos Sant'anna Júnior aos alunos do 7º
semestre do curso de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Presbiteriana
Mackenzie.
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Sumário 1. Apresentação .................................................................................................................... 4
2. Objetivos ............................................................................................................................. 4
3. Histórico ............................................................................................................................. 4
3.1. Crise Habitacional .................................................................................................... 4
3.2. Ação do setor público versus iniciativa privada ............................................. 5
3.3. O Período Getulista.................................................................................................. 6
3.3.1. Lei do Inquilinato .............................................................................................. 8
3.4. Arquitetura Moderna................................................................................................ 9
3.5. Tipologias das habitações ..................................................................................... 9
4. Estudos de caso ............................................................................................................. 11
4.1. Edifício Icaraí ........................................................................................................... 12
4.2. Edifício Racy ............................................................................................................ 15
4.3. Edifício Arapuan ..................................................................................................... 18
5. O processo da gentrificação no centro de São Paulo .......................................... 19
6. Considerações finais ..................................................................................................... 20
7. Referências ...................................................................................................................... 20
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1. Apresentação
Este trabalho consiste no estudo da produção das habitações
econômicas promovidas pela iniciativa privada a partir do histórico da habitação
social no Brasil, e da análise das tipologias desde as primeiras concepções até
as influências da arquitetura moderna. A partir de estudos de caso
apresentados, poderão ser feitas conclusões sobre a influência dos processos
da evolução urbana do centro de São Paulo sobre os objetos em questão.
2. Objetivos
O objetivo deste trabalho é a compreensão e capacidade de
posicionamento crítico sobre o tema em questão, com o intuito de preparar os
alunos para uma possível discussão em sala comparando a diversidade da
produção da habitação social no Brasil.
3. Histórico
3.1. Crise Habitacional
Quando no final século 19 começam a ser notadas a insuficiência e a
precariedade da habitação em São Paulo, a cidade enfrenta problemas com o
crescimento populacional desmensurado provocado pela imigração na época
da crise de 29 e a Segunda Guerra Mundial(Com a Guerra os países
participantes responsaveis pela exportação de materiais para o setor construtor
cessam as atividades, impossiblitando a construção em um momento onde São
Paulo estava esgotado de habitações), aonde muitos dos proletariados foram
obrigados a construir sua própria casa em terrenos que eram na sua maioria
clandestinas. Capitalistas, remediados e até pequenos comerciantes
(representando a iniciativa privada) passaram a construir habitações em busca
de altos rendimentos a partir de obras modestas em terrenos baratos (Cortiço:
aglomerado de compartimentos justapostos, com banheiros coletivos e
ambiente promiscuo). Onde os recém chegados europeus e grande parte da
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população sobreviviam. Essa tipologia chegou a representar 1/3 das moradias
paulistas da época. Nessa problemática são realizados o primeiro congresso
da habitação e a Jornada da Habitação Econômica, visando a solução de
problemas urbanos e principalmente a falta de habitação para as classes mais
baixas, as propostas buscam soluções como moradias de baixo custo de
construção, pequenas, com um baixo valor de mercado e de rápida construção
onde moral e a higiene seriam presadas. Nessa jornada, torna-se nitido a
necessidade de uma aliança entre a iniciativa privada e o governo, pois os
preços elevadissimos dos terrenos inviabilizavam a ação privada de criar
habitação satisfatórias para as pessoas com pouca renda, uma vez que o
proletariado não possuia estabilidade financeira e era mal remunerado,
tornando necessário segundo Roberto Simonsen uma primeira intervenção
nesse sentido.
Os seguintes fatores para a produção de habitação econômica são
então destacados pelo Dr. Leyser: orçamentos exatos, diminuição do tempo de
construir, economia pela encomenda uniformizada, simplificação da
fiscalização, normalização dos elementos e a sua fabricação em série. Ainda,
segundo Rubens de Mello, existia necessidade da evolução industrial para que
os diversos materiais que eram usados somente pelos ricos dessa época
tivessem uma redução seu preço fornecendo mais opções para a construção.
No período pós-guerra a iniciativa privada alavancou a economia e com
o crescimento da oferta de credito gerada pelos grandes superávits da balança
comercial, devido à quebra de importações. indústria, do comercio ou da
exportação agrícola passam a investir seus lucros em imovéis e seguindo a
cronologia, nas 3 décadas iniciais do século XX ocorreu o chamado Boom
populacional em São Paulo que levou a população de 240 mil no início do
século para 1 milhão em 1933.
3.2. Ação do setor público versus iniciativa privada
A ação do poder público no setor de habitação social abrangia alguns
impasses, uns acreditavam que o envolvimento direto do poder público
paralisava a iniciativa privada e, com essa paralização, a demanda dessas
habitações seria excedente a capacidade do poder público de supri-la. Os que
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eram dessa opinião geralmente tinham seus capitais aplicados na construção
de casas para lugar e viam a intervenção do Estado nesse setor como uma
possível diminuição de seus lucros.
Outros eram da opinião de que a construção de habitações
operarias devia ser vista como uma questão de ordem pública, e a intervenção
do setor público não atrapalharia a iniciativa privada, posto que o poder público
só intervém quando a iniciativa privada é insuficiente.
Chegou-se então à conclusão de que neste setor, o poder público
era insuficiente para substituir a iniciativa privada, portanto seria mais eficiente
e proveitosa uma ação indireta por parte do Estado.
3.3. O Período Getulista
Getúlio Vargas, no período do Estado Novo, a real de suas diretrizes era
da construção do novo homem brasileiro, afim de aumentar o nível das
camadas populares e a partir disso levar em conta também as questões
relativas à saúde e educação.
Ideologia da casa moderna para Vargas:
"[...]casa moderna é uma verdadeira instituição biológica e precisa
conter um número mínimo de atributos e proporcionar elementos essenciais ao
conforto. Tem que assegurar condições higiênicas, abrigo e repouso à família,
o aparelhamento necessário ao preparo e serviço das refeições, tem que
facilitar a criação e educação da prole, e, finalmente, possibilitar um mínimo de
distrações para seus habitantes, de todas as idades."
O papel do poder público e a participação da iniciativa privada:
A opinião de uma grande maioria era de que o Estado não deveria
investir em implantações de habitação econômicas e outras entre essas, com a
justificativa de que este alto investimento público paralisaria a iniciativa privada.
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O investimento na área de construção de imóveis para aluguel gerou
lucro para algumas áreas, como a industriais e fazendeiros e pequenos
comerciantes que investiam suas economias nesta mesma atividade. Os
atuantes destas áreas que se opunham a intervenção do Estado no ramo de
habitações populares, pois não era interessante perder essa fonte de renda.
Na ditadura de Getúlio Vargas, a revolução industrial foi trazida para o
Brasil e o avanço habitacional econômico ficou evidente, podendo modernizar
todos os setores. Os novos ideiais de construções com baixo custo e tempo
foram postos em prática no quesito habitação para a população trabalhadora
posteriormente à revolução de 30.
À influência moderna, um movimento que estava acontecendo em
diversas cidades europeias no período pós guerra, aconteceu em São Paulo
através de uma carta publicada pelo arquiteto Rino Levi que destaca a
importância de se pensar a estética das cidades com uma alma brasileira, com
praticidade e economia, contendo poucos elementos decorativos.
1930 e 1964: O grupo de arquitetos composto por Julio de Abreu Junior,
Oscar Niemeyer, Abelardo de Souza, Aduardo Kneese de Melo, Eduardo
Corona, Carlos Lemos, Oswaldo Bratke, Plinio Croce, Roberto Aflalo, Giancarlo
Gasperini, Salvador Candia, Fabio Penteado, Hélio Duarte, Francisco Beck,
entre outros interviram brutalmente a arquitetura com os projetos de habitação
econômica.
Alguns acontecimentos como a crise de 29 e a segunda Guerra Mundial
(1939-1945) retardam a oferta habitacional, pois os matérias eram impostados
de outros países, logo os preços foram as alturas, o que juntamente à crise
industrial potencializa a péssima situação paulistana.
Com a Guerra o setor construtivo foi diretamente prejudicado, resultando
em altos preços e criando uma distanciação entre os pobres e a habitação.
A inflação monetária provocou o encarecimento dos terrenos e por
consequência a construção civil baixou a menos da metade dos números
anteriores.
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3.3.1. Lei do Inquilinato
Antes da Lei do Inquilinato o proprietário do domicilio tinha o poder total de
todas as decisões tomadas, sem nenhum critério, podendo impor o valor que
achasse justo para o imóvel, e impor o prazo de locação que achasse justo. "o
proprietário tem domínio absoluto sobre o imóvel objeto de locação. Poderá
aluga-lo ou não, ainda que numerosas famílias fiquem em desabrigo"(FARIA,
1963).
A Lei do Inquilinato foi marcada por medidas tomadas pelo Estado afim
de garantir um padrão habitacional para a população trabalhadora com valores
compatíveis ao salário dos mesmos.
Esta lei que teve algumas publicações entre o ano de 1942 e 1964, que
restringia a livre organização dos aluguéis que afetaram drasticamente a
relação entre proprietário e inquilinos.
Em 1921 aconteceu a primeira fase do processo de legislação sobre o
inquilinato, devido a revoltas contra os valores exorbitantes oferecidos nas
locações e a falta de uma garantia escrita. Os contratos eram feitos
verbalmente que se tratavam de:
-Tempo mínimo de locação: 1 ano
-Possibilidade de renovação
-Possibilidade de aumento do aluguel após 2 anos do prazo de
notificação
1942: segunda fase da legislação do inquilinato.
De 1942 à 1964 as leis foram sendo renovadas afim de gerar uma
defesa ao inquilino.
1963- O proprietário tinha total liberdade de fixar o valor que julgasse
justo, o prazo de locação, enfim, era responsabilidade do proprietário ditar as
regras.
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3.4. Arquitetura Moderna
O movimento moderno se deu alguns anos após a Primeira Grande
Guerra, quando um grupo de arquitetos europeus passou a seguir um
movimento harmônico, que prezava pelo funcionalismo da obra.
Um dos arquitetos que se destacou nesse movimento foi Water
Gropius, ele acreditava que um homem moderno necessitava de uma
habitação moderna que tivesse equipada de acordo com suas necessidades.
Os princípios de Gropius estavam presentes nas obras de muitos outros
arquitetos, entre eles estão Mies Van der Rohe que, assim como Gropius,
produzia uma arquitetura industrial e Le Corbusier que tinha um ideal de
responsabilidade social do arquiteto e focou sua produção na questão da
habitação.
Le Corbusier também aponta os cinco pontos dessa nova arquitetura,
que são:
A casa sobre pilotis, que é uma proposta para deixar o térreo do
edifício permeável;
O teto jardim, que estende a área para cima do edifício;
A planta livre, que permite uma maior flexibilidade na organização
do programa.
A janela em fita, que propõe um dinamismo na fachada;
Fachada livre, a ausência de pilares na fachada proporciona um
melhor aproveitamento da mesma.
A arquitetura moderna demonstrava o desejo de participar do
processo de transformação da sociedade através da adequação do programa à
necessidade da vida cotidiana e da preocupação com a questão da habitação,
destacando a responsabilidade social do arquiteto.
3.5. Tipologias das habitações
Faziam-se presentes também no Brasil, as questões associadas à
moradia. Com a concentração populacional nas grandes cidades as discussões
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voltadas ao tema da habitação passam a levar em conta a influencia do morar
nas condições de vida principalmente dos operários. É nesse momento que
ocorre o debate acerca do envolvimento direto do poder publico no setor da
habitação social, através dos Institutos de Aposentadorias e Pensões começa-
se a produzir espaços habitacionais diferenciados transmitindo uma imagem de
modernidade e mudança.
As questões da arquitetura moderna estão presentes em muitas obras
produzidas a partir da década de 40. As produções dos IAPs mostram vários
princípios modernos, como o da moradia mínima, econômica e racionalizada.
Nessa época de mudança na produção habitacional houve uma grande
inovação nos programas, no inicio da década de 50 surgem as duas tipologias
características da produção promovida pela iniciativa privada que foram tidas
como solução da demanda habitacional desse período de consolidação do
mercado imobiliário: os apartamentos tipo kitchenettes, e os grandes edifícios
ou edifícios-conjunto que, acredita-se, têm forte influencia dos conceitos de Le
Corbusier referentes à unidade de habitação.
Desde o início da década de 40 a crise de moradia na cidade vinha se
acentuando. Com a primeira Lei do Inquilinato e suas consequências sobre a
relação entre inquilino e proprietário e os preços dos alugueis, uma opção para
quem precisava de uma moradia era o apartamento mínimo ou a kitchenette,
pouco cômodo, porém bem localizado, próximo ao trabalho e/ou aos melhores
locais de comercio e serviço.
Na época houve uma demanda por esses apartamentos pequenos e
bem localizados que deu origem a proposta das kitchenettes (cômodo único)
ou quarto e sala de serviços, essas tipologias eram voltadas a moradores da
área central e têm em vista o maior lucro para os investidores, portanto
procurava-se implantar o maior numero de unidades no edifício. Porém essas
tipologias em nada ajudam quando se diz respeito á solução do problema
habitacional, e cometem o mesmo erro presente nas casas proletárias: a
junção e sobreposição das funções do habitar.
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Outra tipologia muito presente nesse período foi a dos grandes edifícios,
ela consiste na inserção de um conjunto habitacional de uso misto em um lote
de grandes proporções. Esses edifícios abrigam um programa complexo e
articulado que possui diversas tipologias habitacionais que visam atender a
diferentes composições familiares, resultando em varias tipologias de
apartamento que diferem quanto ao tamanho, quantidade e composições dos
cômodos. Eles possuem também uma área significativa voltada aos usos
comerciais e de serviços. A importância dessa tipologia no contexto da cidade
se dá em seu conjunto, sua volumetria e seu partido arquitetônico que
conferem a ela a definição de “cidade dentro da cidade”.
4. Estudos de caso
Os edifícios a serem estudados neste capítulo compreendem na ação da
iniciativa privada que produziu habitações econômicas com arquitetura
moderna e suas tipologias em São Paulo. Estes edifícios estão dispersos em
toda a cidade, projetados por inúmeros arquitetos, porém no período analisado
concentram-se nas áreas mais centrais e nos principais eixos viários.
Optamos por estudar edifícios que se tornaram referência no contexto da
cidade e para futuras construções. Concentraremos a análise em edifícios de
quitinetes e um grande edifício de uso misto, levando em consideração a
linguagem da época. São os edifícios Icaraí com projeto do arquiteto Franz
Heep e de Otto Meinberg, o edifício Racy de Aron Kogan e o edifício Arapuan
de Otto Meinberg e Franz Heep.
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4.1. Edifício Icaraí
Imagem do livro “A promoção privada de habitação econômica e a arquitetura moderna”
13
Ficha técnica
Autor: Otto Meinberg e Franz Heep
Localização: Praça Roosevelt, 128, Consolação – São Paulo
Data: 1952-1953
Tipologia: quitinete
Proprietário: Otto Meinberg e Arnaldo Camera Werneck
Área do terreno: 386,53m²
Área de projeção da edificação: 212,80m²
Área construída: 5320m²
T.O.: 56,35%
C.A.: 13,76
Densidade bruta: 0.5 hab/m²
Densidade liquida: 0.9 hab/m²
Neste período da história existem certos exemplos de arquitetura que
estabelecem relação com as transformações culturais, sociais e econômicas da
cidade. Como os apartamentos quitinetes construídos por Adolf Franz Heep
(1902-1978) entre os anos de 1940 e 1950 em São Paulo.
A arquiteta Joana Mello de Carvalho e Silva, aponta em seu artigo
Habitar a metrópole: os apartamentos quitinetes de Adolf Franz Heep:
”O apartamento quitinete participava de um dos vetores de crescimento
da cidade, justamente aquele que consolidou a sua face moderna mais
visível e festejada: a verticalização das áreas centrais. Além de
contribuir para a construção dessa imagem, a nova tipologia era
resultado de uma operação aritmética cujo objetivo principal era
estabelecer a melhor equação entre preço da terra, tecnologia,
legislação urbanística e desenho arquitetônico com vistas no maior
aproveitamento do solo urbano por meio da multiplicação de unidades
habitacionais. Mas os apartamentos quitinetes não respondiam apenas
aos interesses econômicos do mercado de compra e venda de imóveis
residenciais que então se estruturava. Havia uma demanda crescente de
habitação impulsionada pelo intenso processo de urbanização e por
mudanças profundas nos modos de estar, morar e trabalhar em São
Paulo, que coincidiram com transformações nos parâmetros disciplinares
que orientavam o discurso e a prática arquitetônica no Brasil desde pelo
menos o século XIX.”
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Em um contexto de forte especulação imobiliária, a problemática do
projeto do edifício Icaraí consistia em colocar o maior número possível de
apartamentos numa área reduzida. O arquiteto Franz Heep encontrou uma
solução bem resolvida diante desta condicionante, com cômodos bem
concebidos. Mesmo com apartamentos muito pequenos, Heep cria terraços, os
quais ocupam toda a frente dos apartamentos e do edifício, que evitam a
sensação de enclausuramento e protege contra a insolação direta, formando
também, uma malha reticular que promove fácil identificação das unidades. A
tipologia exclusiva das quitinetes forma o desenho de fachadas uniformes em
grelha, cuja dimensão coincide com a modulação da estrutura e a largura dos
apartamentos. Essa sincronia atende a preocupação de Heep em conciliar
engenharia e arquitetura.
O edifício faz a associação de térreo comercial e quitinetes em seus
demais andares, possuindo 24 pavimentos tipo, com 4 apartamentos por andar,
o que totalizam 96 unidades, mais térreo e cobertura. No térreo as duas lojas,
contam com aproximadamente 130m², separadas pelo hall de entrada que se
encontra no centro da fachada.
As quitinetes tipo possuem 35m² cada, terraço com vista para a praça
Roosevelt e banheiros voltados para o corredor na parte posterior do prédio
(por onde ocorre a ventilação).
Atualmente o preço médio de venda de uma unidade é de 255.000 reais
e de aluguel 1500 reais.
15
4.2. Edifício Racy
http://spf.fotolog.com/photo/63/34/55/sao_paulo/1149034666_f.jpg
Imagem do livro “A promoção privada de habitação econômica e a arquitetura moderna”
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Ficha técnica
Autor: Aron Kogan
Localização: Av. São João x Rua Helvétia – São Paulo
Data: 1955
Tipologia: edifício misto - 2 dormitórios
Proprietário: Indústrias de Papel Simão S.A.
Área do terreno: 4463,67m²
Área de projeção da edificação:2440,30 m²
Área construída: 28696,16m²
T.O.: 54,67%
C.A.: 6,42
Densidade bruta: 0,12 hab/m²
Densidade liquida: 0,47 hab/m²
Grande edifício com linguagem moderna, pode ser comparado à
conceitos de habitação de Le Corbusier e com aspectos estéticos das obras de
Niemeyer do mesmo período, como os pilotis em “w” e a marquise curva.
Sua massa consiste em um bloco ondulado com 14 pavimentos de uso
residencial e outros 5 pavimentos de comércio e serviço. Entre estes blocos há
um terraço jardim coberto por uma marquise onde situa-se o playground.
Outras diversas atividades estavam previstas no projeto original, dando ainda
maior caráter de uso misto ao edifício, porém posteriormente a massa se
afastou um pouco mais dos limites do lote, o que diminuiu a instalação destas
atividades.
O bloco residencial abriga amplos 140 apartamentos de dois dormitórios,
há cinco torres de circulação vertical que são elementos marcantes na fachada
posterior.
No térreo há um trajeto planejado com tratamento paisagístico fazendo
uma relação público-privado evidente. Muitos dos projetos deste caráter feitos
entre 1940 e 1950 possuem integração com a rua, ao contrário dos projetos do
BNH que tinham como regra a construção de muros de divisa no limite do
terreno.
Atualmente o valor de venda de um apartamento no edifício está em
média 680.000 reais.
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4.3. Edifício Arapuan
Imagem do livro “A promoção privada de habitação econômica e a arquitetura moderna”
Imagem do livro “A promoção privada de habitação econômica e a arquitetura moderna”
Ficha técnica
Autor: Otto Meinberg e Franz Heep
Localização: Rua Martins Fontes,268, Consolação – São Paulo
Data: 1952
Tipologia: quitinetes
Proprietário: Sociedade Beneficente Escandinava Nordyliset e Silvio Maia
Área do terreno: 588,00m²
Área de projeção da edificação: 417,25 m²
Área construída: 5841,50m²
T.O.: 70,9%
C.A.: 9,93
Densidade bruta: 0,44 hab/m²
Densidade liquida: 0,62 hab/m²
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O edifício localizado também no centro segue a tipologia de um único
bloco com a mesma concepção de térreo com uso comercial e com quitinetes
nos demais andares superiores, totalizando 14 pavimentos.
Assim como o edifício Icaraí, o acesso dá-se no centro do bloco,
subdividindo a área comercial e direcionando à circulação vertical. O corredor
de circulação dos apartamentos se encontra ao fundo do lote, onde ocorre a
ventilação dos banheiros. E da mesma forma a malha da fachada identifica as
unidades.
O pavimento tipo abriga 10 unidades de 30m². O diferencial é que os
três últimos andares são recuados, gerando quitinetes menores e sacada.
Apenas no último andar há um único grande apartamento de 250m².
Atualmente o aluguel de uma quitinete neste edifício custa 1.200 reais.
5. O processo da gentrificação no centro de São Paulo
Á expulsão de moradores de baixa renda de determinada região através
de um conjunto de medidas socioeconômicas e urbanísticas como
hipervalorizarão de imóveis, o aumento de alugueis e custos básicos é
chamada de Gentrificação. Em São Paulo, os bairros localizados entre os rios
Pinheiros e Tietê, centro expandido da cidade, têm sofrido intenso processo de
especulação imobiliária e estão cada vez mais caros, expulsando os antigos
residentes de maneira “passiva” (expulsão branca), uma vez que a vida que
costumavam levar, torna-se impossível de acontecer com o mesmo salário.
A Gentrificação leva ao fechamento repentino de pequenos negócios,
que não suportam o aumento abusivo de alugueis. O encarecimento de custos
inviabiliza pequenos negócios e até lojas tradicionais se veem pressionadas a
fechar.
Essa concentração de imóveis de luxo em determinadas regiões e essa
expulsão da população mais carente para as periferias agrava os
deslocamentos para todos. Enquanto uns sofrem presos no trânsito em seus
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carros luxuosos, os outros sofrem com o transporte público cada vez mais
lotado.
6. Considerações finais
Através do estudo realizado neste relatório contatamos que a partir do
processo de gentrificação ocorrente em diversas regiões da cidade, as
habitações que antes eram voltadas ao interesse social de operários e pessoas
de baixa renda sofrem, com a especulação imobiliária junto com a revitalização
do centro, uma supervalorização e mudança do perfil dos compradores. Apesar
deste processo de revitalização ser benéfico à qualidade de vida no bairro,
prejudica o principal intuito de gerar habitações econômicas e este público
acaba sendo realocados para regiões subdesenvolvidas, gerando um quadro
de pobreza e falta de infraestrutura nestes bairros periféricos sem
investimentos.
Os estudos de caso ilustram perfeitamente estes processos ocorrentes
no centro da cidade de São Paulo.
7. Referências
SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de (org.). A promoção privada de
habitação econômica e a arquitetura moderna 1930-1964. São Carlos:
Rima, 2002.
SILVA, Joana Mello de Carvalho e. Habitar a metrópole: os
apartamentos quitinetes de Adolf Franz Heep. An. mus. paul., São
Paulo , v. 21, n. 1, June 2013 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
47142013000100009&lng=en&nrm=iso>. Acessado em: 07/10/2014.
ANITELLI, Felipe. Como nasce um modelo: o projeto de apartamento na
cidade de São Paulo. 2010. Dissertação (Mestrado em Teoria e História
da Arquitetura e do Urbanismo) - Escola de Engenharia de São Carlos,
Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010. Disponível em:
<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18142/tde-05052011-
142438/>. Acesso em: 2014-10-07.
BONDUKI, Nabel Georges. Origens da habitação social no
Brasil: arquitetura moderna, lei do inquilinato e difusão da casa
própria. São Paulo: Estação Liberdade, 1998. 342 p. ISBN 8585865911