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Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Bianca A. Dall’Ovo Fernanda S. de Oliveira Nathália Loureiro Pinto Paulo Lucas Lima Habitação econômica promovida pela iniciativa privada São Paulo 2014

Universidade Presbiteriana Mackenzie Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Habitação econômica promovida pela iniciativa privada

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Universidade Presbiteriana Mackenzie

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Bianca A. Dall’Ovo

Fernanda S. de Oliveira

Nathália Loureiro Pinto

Paulo Lucas Lima

Habitação econômica

promovida pela iniciativa

privada

São Paulo

2014

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Bianca A. Dall’Ovo

Fernanda S. de Oliveira

Nathália Loureiro Pinto

Paulo Lucas Lima

Habitação econômica

promovida pela iniciativa

privada

São Paulo

2014

Relatório sobre a habitação econômica

promovida pela iniciativa privada

apresentado à disciplina de Urbanismo

VII, ministrado pelo Prof. Dr. Paulo

Ricardo Giaquinto e pelo Prof. Dr. Antonio

Carlos Sant'anna Júnior aos alunos do 7º

semestre do curso de Arquitetura e

Urbanismo da Universidade Presbiteriana

Mackenzie.

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Sumário 1. Apresentação .................................................................................................................... 4

2. Objetivos ............................................................................................................................. 4

3. Histórico ............................................................................................................................. 4

3.1. Crise Habitacional .................................................................................................... 4

3.2. Ação do setor público versus iniciativa privada ............................................. 5

3.3. O Período Getulista.................................................................................................. 6

3.3.1. Lei do Inquilinato .............................................................................................. 8

3.4. Arquitetura Moderna................................................................................................ 9

3.5. Tipologias das habitações ..................................................................................... 9

4. Estudos de caso ............................................................................................................. 11

4.1. Edifício Icaraí ........................................................................................................... 12

4.2. Edifício Racy ............................................................................................................ 15

4.3. Edifício Arapuan ..................................................................................................... 18

5. O processo da gentrificação no centro de São Paulo .......................................... 19

6. Considerações finais ..................................................................................................... 20

7. Referências ...................................................................................................................... 20

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1. Apresentação

Este trabalho consiste no estudo da produção das habitações

econômicas promovidas pela iniciativa privada a partir do histórico da habitação

social no Brasil, e da análise das tipologias desde as primeiras concepções até

as influências da arquitetura moderna. A partir de estudos de caso

apresentados, poderão ser feitas conclusões sobre a influência dos processos

da evolução urbana do centro de São Paulo sobre os objetos em questão.

2. Objetivos

O objetivo deste trabalho é a compreensão e capacidade de

posicionamento crítico sobre o tema em questão, com o intuito de preparar os

alunos para uma possível discussão em sala comparando a diversidade da

produção da habitação social no Brasil.

3. Histórico

3.1. Crise Habitacional

Quando no final século 19 começam a ser notadas a insuficiência e a

precariedade da habitação em São Paulo, a cidade enfrenta problemas com o

crescimento populacional desmensurado provocado pela imigração na época

da crise de 29 e a Segunda Guerra Mundial(Com a Guerra os países

participantes responsaveis pela exportação de materiais para o setor construtor

cessam as atividades, impossiblitando a construção em um momento onde São

Paulo estava esgotado de habitações), aonde muitos dos proletariados foram

obrigados a construir sua própria casa em terrenos que eram na sua maioria

clandestinas. Capitalistas, remediados e até pequenos comerciantes

(representando a iniciativa privada) passaram a construir habitações em busca

de altos rendimentos a partir de obras modestas em terrenos baratos (Cortiço:

aglomerado de compartimentos justapostos, com banheiros coletivos e

ambiente promiscuo). Onde os recém chegados europeus e grande parte da

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população sobreviviam. Essa tipologia chegou a representar 1/3 das moradias

paulistas da época. Nessa problemática são realizados o primeiro congresso

da habitação e a Jornada da Habitação Econômica, visando a solução de

problemas urbanos e principalmente a falta de habitação para as classes mais

baixas, as propostas buscam soluções como moradias de baixo custo de

construção, pequenas, com um baixo valor de mercado e de rápida construção

onde moral e a higiene seriam presadas. Nessa jornada, torna-se nitido a

necessidade de uma aliança entre a iniciativa privada e o governo, pois os

preços elevadissimos dos terrenos inviabilizavam a ação privada de criar

habitação satisfatórias para as pessoas com pouca renda, uma vez que o

proletariado não possuia estabilidade financeira e era mal remunerado,

tornando necessário segundo Roberto Simonsen uma primeira intervenção

nesse sentido.

Os seguintes fatores para a produção de habitação econômica são

então destacados pelo Dr. Leyser: orçamentos exatos, diminuição do tempo de

construir, economia pela encomenda uniformizada, simplificação da

fiscalização, normalização dos elementos e a sua fabricação em série. Ainda,

segundo Rubens de Mello, existia necessidade da evolução industrial para que

os diversos materiais que eram usados somente pelos ricos dessa época

tivessem uma redução seu preço fornecendo mais opções para a construção.

No período pós-guerra a iniciativa privada alavancou a economia e com

o crescimento da oferta de credito gerada pelos grandes superávits da balança

comercial, devido à quebra de importações. indústria, do comercio ou da

exportação agrícola passam a investir seus lucros em imovéis e seguindo a

cronologia, nas 3 décadas iniciais do século XX ocorreu o chamado Boom

populacional em São Paulo que levou a população de 240 mil no início do

século para 1 milhão em 1933.

3.2. Ação do setor público versus iniciativa privada

A ação do poder público no setor de habitação social abrangia alguns

impasses, uns acreditavam que o envolvimento direto do poder público

paralisava a iniciativa privada e, com essa paralização, a demanda dessas

habitações seria excedente a capacidade do poder público de supri-la. Os que

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eram dessa opinião geralmente tinham seus capitais aplicados na construção

de casas para lugar e viam a intervenção do Estado nesse setor como uma

possível diminuição de seus lucros.

Outros eram da opinião de que a construção de habitações

operarias devia ser vista como uma questão de ordem pública, e a intervenção

do setor público não atrapalharia a iniciativa privada, posto que o poder público

só intervém quando a iniciativa privada é insuficiente.

Chegou-se então à conclusão de que neste setor, o poder público

era insuficiente para substituir a iniciativa privada, portanto seria mais eficiente

e proveitosa uma ação indireta por parte do Estado.

3.3. O Período Getulista

Getúlio Vargas, no período do Estado Novo, a real de suas diretrizes era

da construção do novo homem brasileiro, afim de aumentar o nível das

camadas populares e a partir disso levar em conta também as questões

relativas à saúde e educação.

Ideologia da casa moderna para Vargas:

"[...]casa moderna é uma verdadeira instituição biológica e precisa

conter um número mínimo de atributos e proporcionar elementos essenciais ao

conforto. Tem que assegurar condições higiênicas, abrigo e repouso à família,

o aparelhamento necessário ao preparo e serviço das refeições, tem que

facilitar a criação e educação da prole, e, finalmente, possibilitar um mínimo de

distrações para seus habitantes, de todas as idades."

O papel do poder público e a participação da iniciativa privada:

A opinião de uma grande maioria era de que o Estado não deveria

investir em implantações de habitação econômicas e outras entre essas, com a

justificativa de que este alto investimento público paralisaria a iniciativa privada.

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O investimento na área de construção de imóveis para aluguel gerou

lucro para algumas áreas, como a industriais e fazendeiros e pequenos

comerciantes que investiam suas economias nesta mesma atividade. Os

atuantes destas áreas que se opunham a intervenção do Estado no ramo de

habitações populares, pois não era interessante perder essa fonte de renda.

Na ditadura de Getúlio Vargas, a revolução industrial foi trazida para o

Brasil e o avanço habitacional econômico ficou evidente, podendo modernizar

todos os setores. Os novos ideiais de construções com baixo custo e tempo

foram postos em prática no quesito habitação para a população trabalhadora

posteriormente à revolução de 30.

À influência moderna, um movimento que estava acontecendo em

diversas cidades europeias no período pós guerra, aconteceu em São Paulo

através de uma carta publicada pelo arquiteto Rino Levi que destaca a

importância de se pensar a estética das cidades com uma alma brasileira, com

praticidade e economia, contendo poucos elementos decorativos.

1930 e 1964: O grupo de arquitetos composto por Julio de Abreu Junior,

Oscar Niemeyer, Abelardo de Souza, Aduardo Kneese de Melo, Eduardo

Corona, Carlos Lemos, Oswaldo Bratke, Plinio Croce, Roberto Aflalo, Giancarlo

Gasperini, Salvador Candia, Fabio Penteado, Hélio Duarte, Francisco Beck,

entre outros interviram brutalmente a arquitetura com os projetos de habitação

econômica.

Alguns acontecimentos como a crise de 29 e a segunda Guerra Mundial

(1939-1945) retardam a oferta habitacional, pois os matérias eram impostados

de outros países, logo os preços foram as alturas, o que juntamente à crise

industrial potencializa a péssima situação paulistana.

Com a Guerra o setor construtivo foi diretamente prejudicado, resultando

em altos preços e criando uma distanciação entre os pobres e a habitação.

A inflação monetária provocou o encarecimento dos terrenos e por

consequência a construção civil baixou a menos da metade dos números

anteriores.

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3.3.1. Lei do Inquilinato

Antes da Lei do Inquilinato o proprietário do domicilio tinha o poder total de

todas as decisões tomadas, sem nenhum critério, podendo impor o valor que

achasse justo para o imóvel, e impor o prazo de locação que achasse justo. "o

proprietário tem domínio absoluto sobre o imóvel objeto de locação. Poderá

aluga-lo ou não, ainda que numerosas famílias fiquem em desabrigo"(FARIA,

1963).

A Lei do Inquilinato foi marcada por medidas tomadas pelo Estado afim

de garantir um padrão habitacional para a população trabalhadora com valores

compatíveis ao salário dos mesmos.

Esta lei que teve algumas publicações entre o ano de 1942 e 1964, que

restringia a livre organização dos aluguéis que afetaram drasticamente a

relação entre proprietário e inquilinos.

Em 1921 aconteceu a primeira fase do processo de legislação sobre o

inquilinato, devido a revoltas contra os valores exorbitantes oferecidos nas

locações e a falta de uma garantia escrita. Os contratos eram feitos

verbalmente que se tratavam de:

-Tempo mínimo de locação: 1 ano

-Possibilidade de renovação

-Possibilidade de aumento do aluguel após 2 anos do prazo de

notificação

1942: segunda fase da legislação do inquilinato.

De 1942 à 1964 as leis foram sendo renovadas afim de gerar uma

defesa ao inquilino.

1963- O proprietário tinha total liberdade de fixar o valor que julgasse

justo, o prazo de locação, enfim, era responsabilidade do proprietário ditar as

regras.

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3.4. Arquitetura Moderna

O movimento moderno se deu alguns anos após a Primeira Grande

Guerra, quando um grupo de arquitetos europeus passou a seguir um

movimento harmônico, que prezava pelo funcionalismo da obra.

Um dos arquitetos que se destacou nesse movimento foi Water

Gropius, ele acreditava que um homem moderno necessitava de uma

habitação moderna que tivesse equipada de acordo com suas necessidades.

Os princípios de Gropius estavam presentes nas obras de muitos outros

arquitetos, entre eles estão Mies Van der Rohe que, assim como Gropius,

produzia uma arquitetura industrial e Le Corbusier que tinha um ideal de

responsabilidade social do arquiteto e focou sua produção na questão da

habitação.

Le Corbusier também aponta os cinco pontos dessa nova arquitetura,

que são:

A casa sobre pilotis, que é uma proposta para deixar o térreo do

edifício permeável;

O teto jardim, que estende a área para cima do edifício;

A planta livre, que permite uma maior flexibilidade na organização

do programa.

A janela em fita, que propõe um dinamismo na fachada;

Fachada livre, a ausência de pilares na fachada proporciona um

melhor aproveitamento da mesma.

A arquitetura moderna demonstrava o desejo de participar do

processo de transformação da sociedade através da adequação do programa à

necessidade da vida cotidiana e da preocupação com a questão da habitação,

destacando a responsabilidade social do arquiteto.

3.5. Tipologias das habitações

Faziam-se presentes também no Brasil, as questões associadas à

moradia. Com a concentração populacional nas grandes cidades as discussões

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voltadas ao tema da habitação passam a levar em conta a influencia do morar

nas condições de vida principalmente dos operários. É nesse momento que

ocorre o debate acerca do envolvimento direto do poder publico no setor da

habitação social, através dos Institutos de Aposentadorias e Pensões começa-

se a produzir espaços habitacionais diferenciados transmitindo uma imagem de

modernidade e mudança.

As questões da arquitetura moderna estão presentes em muitas obras

produzidas a partir da década de 40. As produções dos IAPs mostram vários

princípios modernos, como o da moradia mínima, econômica e racionalizada.

Nessa época de mudança na produção habitacional houve uma grande

inovação nos programas, no inicio da década de 50 surgem as duas tipologias

características da produção promovida pela iniciativa privada que foram tidas

como solução da demanda habitacional desse período de consolidação do

mercado imobiliário: os apartamentos tipo kitchenettes, e os grandes edifícios

ou edifícios-conjunto que, acredita-se, têm forte influencia dos conceitos de Le

Corbusier referentes à unidade de habitação.

Desde o início da década de 40 a crise de moradia na cidade vinha se

acentuando. Com a primeira Lei do Inquilinato e suas consequências sobre a

relação entre inquilino e proprietário e os preços dos alugueis, uma opção para

quem precisava de uma moradia era o apartamento mínimo ou a kitchenette,

pouco cômodo, porém bem localizado, próximo ao trabalho e/ou aos melhores

locais de comercio e serviço.

Na época houve uma demanda por esses apartamentos pequenos e

bem localizados que deu origem a proposta das kitchenettes (cômodo único)

ou quarto e sala de serviços, essas tipologias eram voltadas a moradores da

área central e têm em vista o maior lucro para os investidores, portanto

procurava-se implantar o maior numero de unidades no edifício. Porém essas

tipologias em nada ajudam quando se diz respeito á solução do problema

habitacional, e cometem o mesmo erro presente nas casas proletárias: a

junção e sobreposição das funções do habitar.

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Outra tipologia muito presente nesse período foi a dos grandes edifícios,

ela consiste na inserção de um conjunto habitacional de uso misto em um lote

de grandes proporções. Esses edifícios abrigam um programa complexo e

articulado que possui diversas tipologias habitacionais que visam atender a

diferentes composições familiares, resultando em varias tipologias de

apartamento que diferem quanto ao tamanho, quantidade e composições dos

cômodos. Eles possuem também uma área significativa voltada aos usos

comerciais e de serviços. A importância dessa tipologia no contexto da cidade

se dá em seu conjunto, sua volumetria e seu partido arquitetônico que

conferem a ela a definição de “cidade dentro da cidade”.

4. Estudos de caso

Os edifícios a serem estudados neste capítulo compreendem na ação da

iniciativa privada que produziu habitações econômicas com arquitetura

moderna e suas tipologias em São Paulo. Estes edifícios estão dispersos em

toda a cidade, projetados por inúmeros arquitetos, porém no período analisado

concentram-se nas áreas mais centrais e nos principais eixos viários.

Optamos por estudar edifícios que se tornaram referência no contexto da

cidade e para futuras construções. Concentraremos a análise em edifícios de

quitinetes e um grande edifício de uso misto, levando em consideração a

linguagem da época. São os edifícios Icaraí com projeto do arquiteto Franz

Heep e de Otto Meinberg, o edifício Racy de Aron Kogan e o edifício Arapuan

de Otto Meinberg e Franz Heep.

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4.1. Edifício Icaraí

Imagem do livro “A promoção privada de habitação econômica e a arquitetura moderna”

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Ficha técnica

Autor: Otto Meinberg e Franz Heep

Localização: Praça Roosevelt, 128, Consolação – São Paulo

Data: 1952-1953

Tipologia: quitinete

Proprietário: Otto Meinberg e Arnaldo Camera Werneck

Área do terreno: 386,53m²

Área de projeção da edificação: 212,80m²

Área construída: 5320m²

T.O.: 56,35%

C.A.: 13,76

Densidade bruta: 0.5 hab/m²

Densidade liquida: 0.9 hab/m²

Neste período da história existem certos exemplos de arquitetura que

estabelecem relação com as transformações culturais, sociais e econômicas da

cidade. Como os apartamentos quitinetes construídos por Adolf Franz Heep

(1902-1978) entre os anos de 1940 e 1950 em São Paulo.

A arquiteta Joana Mello de Carvalho e Silva, aponta em seu artigo

Habitar a metrópole: os apartamentos quitinetes de Adolf Franz Heep:

”O apartamento quitinete participava de um dos vetores de crescimento

da cidade, justamente aquele que consolidou a sua face moderna mais

visível e festejada: a verticalização das áreas centrais. Além de

contribuir para a construção dessa imagem, a nova tipologia era

resultado de uma operação aritmética cujo objetivo principal era

estabelecer a melhor equação entre preço da terra, tecnologia,

legislação urbanística e desenho arquitetônico com vistas no maior

aproveitamento do solo urbano por meio da multiplicação de unidades

habitacionais. Mas os apartamentos quitinetes não respondiam apenas

aos interesses econômicos do mercado de compra e venda de imóveis

residenciais que então se estruturava. Havia uma demanda crescente de

habitação impulsionada pelo intenso processo de urbanização e por

mudanças profundas nos modos de estar, morar e trabalhar em São

Paulo, que coincidiram com transformações nos parâmetros disciplinares

que orientavam o discurso e a prática arquitetônica no Brasil desde pelo

menos o século XIX.”

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Em um contexto de forte especulação imobiliária, a problemática do

projeto do edifício Icaraí consistia em colocar o maior número possível de

apartamentos numa área reduzida. O arquiteto Franz Heep encontrou uma

solução bem resolvida diante desta condicionante, com cômodos bem

concebidos. Mesmo com apartamentos muito pequenos, Heep cria terraços, os

quais ocupam toda a frente dos apartamentos e do edifício, que evitam a

sensação de enclausuramento e protege contra a insolação direta, formando

também, uma malha reticular que promove fácil identificação das unidades. A

tipologia exclusiva das quitinetes forma o desenho de fachadas uniformes em

grelha, cuja dimensão coincide com a modulação da estrutura e a largura dos

apartamentos. Essa sincronia atende a preocupação de Heep em conciliar

engenharia e arquitetura.

O edifício faz a associação de térreo comercial e quitinetes em seus

demais andares, possuindo 24 pavimentos tipo, com 4 apartamentos por andar,

o que totalizam 96 unidades, mais térreo e cobertura. No térreo as duas lojas,

contam com aproximadamente 130m², separadas pelo hall de entrada que se

encontra no centro da fachada.

As quitinetes tipo possuem 35m² cada, terraço com vista para a praça

Roosevelt e banheiros voltados para o corredor na parte posterior do prédio

(por onde ocorre a ventilação).

Atualmente o preço médio de venda de uma unidade é de 255.000 reais

e de aluguel 1500 reais.

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4.2. Edifício Racy

http://spf.fotolog.com/photo/63/34/55/sao_paulo/1149034666_f.jpg

Imagem do livro “A promoção privada de habitação econômica e a arquitetura moderna”

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Imagem do livro “A promoção privada de habitação econômica e a arquitetura moderna”

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Ficha técnica

Autor: Aron Kogan

Localização: Av. São João x Rua Helvétia – São Paulo

Data: 1955

Tipologia: edifício misto - 2 dormitórios

Proprietário: Indústrias de Papel Simão S.A.

Área do terreno: 4463,67m²

Área de projeção da edificação:2440,30 m²

Área construída: 28696,16m²

T.O.: 54,67%

C.A.: 6,42

Densidade bruta: 0,12 hab/m²

Densidade liquida: 0,47 hab/m²

Grande edifício com linguagem moderna, pode ser comparado à

conceitos de habitação de Le Corbusier e com aspectos estéticos das obras de

Niemeyer do mesmo período, como os pilotis em “w” e a marquise curva.

Sua massa consiste em um bloco ondulado com 14 pavimentos de uso

residencial e outros 5 pavimentos de comércio e serviço. Entre estes blocos há

um terraço jardim coberto por uma marquise onde situa-se o playground.

Outras diversas atividades estavam previstas no projeto original, dando ainda

maior caráter de uso misto ao edifício, porém posteriormente a massa se

afastou um pouco mais dos limites do lote, o que diminuiu a instalação destas

atividades.

O bloco residencial abriga amplos 140 apartamentos de dois dormitórios,

há cinco torres de circulação vertical que são elementos marcantes na fachada

posterior.

No térreo há um trajeto planejado com tratamento paisagístico fazendo

uma relação público-privado evidente. Muitos dos projetos deste caráter feitos

entre 1940 e 1950 possuem integração com a rua, ao contrário dos projetos do

BNH que tinham como regra a construção de muros de divisa no limite do

terreno.

Atualmente o valor de venda de um apartamento no edifício está em

média 680.000 reais.

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4.3. Edifício Arapuan

Imagem do livro “A promoção privada de habitação econômica e a arquitetura moderna”

Imagem do livro “A promoção privada de habitação econômica e a arquitetura moderna”

Ficha técnica

Autor: Otto Meinberg e Franz Heep

Localização: Rua Martins Fontes,268, Consolação – São Paulo

Data: 1952

Tipologia: quitinetes

Proprietário: Sociedade Beneficente Escandinava Nordyliset e Silvio Maia

Área do terreno: 588,00m²

Área de projeção da edificação: 417,25 m²

Área construída: 5841,50m²

T.O.: 70,9%

C.A.: 9,93

Densidade bruta: 0,44 hab/m²

Densidade liquida: 0,62 hab/m²

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O edifício localizado também no centro segue a tipologia de um único

bloco com a mesma concepção de térreo com uso comercial e com quitinetes

nos demais andares superiores, totalizando 14 pavimentos.

Assim como o edifício Icaraí, o acesso dá-se no centro do bloco,

subdividindo a área comercial e direcionando à circulação vertical. O corredor

de circulação dos apartamentos se encontra ao fundo do lote, onde ocorre a

ventilação dos banheiros. E da mesma forma a malha da fachada identifica as

unidades.

O pavimento tipo abriga 10 unidades de 30m². O diferencial é que os

três últimos andares são recuados, gerando quitinetes menores e sacada.

Apenas no último andar há um único grande apartamento de 250m².

Atualmente o aluguel de uma quitinete neste edifício custa 1.200 reais.

5. O processo da gentrificação no centro de São Paulo

Á expulsão de moradores de baixa renda de determinada região através

de um conjunto de medidas socioeconômicas e urbanísticas como

hipervalorizarão de imóveis, o aumento de alugueis e custos básicos é

chamada de Gentrificação. Em São Paulo, os bairros localizados entre os rios

Pinheiros e Tietê, centro expandido da cidade, têm sofrido intenso processo de

especulação imobiliária e estão cada vez mais caros, expulsando os antigos

residentes de maneira “passiva” (expulsão branca), uma vez que a vida que

costumavam levar, torna-se impossível de acontecer com o mesmo salário.

A Gentrificação leva ao fechamento repentino de pequenos negócios,

que não suportam o aumento abusivo de alugueis. O encarecimento de custos

inviabiliza pequenos negócios e até lojas tradicionais se veem pressionadas a

fechar.

Essa concentração de imóveis de luxo em determinadas regiões e essa

expulsão da população mais carente para as periferias agrava os

deslocamentos para todos. Enquanto uns sofrem presos no trânsito em seus

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carros luxuosos, os outros sofrem com o transporte público cada vez mais

lotado.

6. Considerações finais

Através do estudo realizado neste relatório contatamos que a partir do

processo de gentrificação ocorrente em diversas regiões da cidade, as

habitações que antes eram voltadas ao interesse social de operários e pessoas

de baixa renda sofrem, com a especulação imobiliária junto com a revitalização

do centro, uma supervalorização e mudança do perfil dos compradores. Apesar

deste processo de revitalização ser benéfico à qualidade de vida no bairro,

prejudica o principal intuito de gerar habitações econômicas e este público

acaba sendo realocados para regiões subdesenvolvidas, gerando um quadro

de pobreza e falta de infraestrutura nestes bairros periféricos sem

investimentos.

Os estudos de caso ilustram perfeitamente estes processos ocorrentes

no centro da cidade de São Paulo.

7. Referências

SAMPAIO, Maria Ruth Amaral de (org.). A promoção privada de

habitação econômica e a arquitetura moderna 1930-1964. São Carlos:

Rima, 2002.

SILVA, Joana Mello de Carvalho e. Habitar a metrópole: os

apartamentos quitinetes de Adolf Franz Heep. An. mus. paul., São

Paulo , v. 21, n. 1, June 2013 . Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-

47142013000100009&lng=en&nrm=iso>. Acessado em: 07/10/2014.

ANITELLI, Felipe. Como nasce um modelo: o projeto de apartamento na

cidade de São Paulo. 2010. Dissertação (Mestrado em Teoria e História

da Arquitetura e do Urbanismo) - Escola de Engenharia de São Carlos,

Universidade de São Paulo, São Carlos, 2010. Disponível em:

<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/18/18142/tde-05052011-

142438/>. Acesso em: 2014-10-07.

BONDUKI, Nabel Georges. Origens da habitação social no

Brasil: arquitetura moderna, lei do inquilinato e difusão da casa

própria. São Paulo: Estação Liberdade, 1998. 342 p. ISBN 8585865911