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Vida de Gomes Freyre de Andrada, general da Artelharia do reyno

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V J .D A

GOMES FREYREDE ANDRADA

General da Artelharia do Reyno doAI*garve,& Gapitaõ General do Ma-

*

ranhão, Pará, &Rio das Ama- *

'

zonas no-Eíhdo do Brazil.S E G U N D A PA R T E,

composta porFr.DOMiNGOS TEYXEYRA

Eremita deSanfo Agoílinho,

obraposthumaOFFEREC/DA AO M. R. SENHOR

rOSEPH FERREYRA DE ABREUMcftrc.em Artes.DoutorncsSag.adosCa*noncs.Protonotarid Apoítol.co & Ar-

'

cediago.de Santa Chriftms no Ar<«biípadodé Braga &c-

or Lucas daSyha de Ag^ & 4 fkã ç«fi*tmpreffo comprivilegio Real.

LISBOA OCClDENfÃiT^gMjrf* de ANTÓNIO PEDROZO SAÍRAM.

AO M.R.SENHQR JOSEFHFEWrejrade Abreu Meftre em Aries , Dou-

tor nos bagraâos Cânones^ PrMôno*

tario Apoftohco,& Arcediago de

Santa Qmjima no Arctbif*

fado de Braga.

Avendo de aptfarécef tiovlU

tofo theatro do Orbe cílc bri*

lhamte parto do tilais luzido

engenhoé a quem o cornmurri

femimento lamenta defunto,

o ttniverial afyplaiiío celebra

immortal) naS' podia a benigna íbríe ddce*

~~

Brir mais forte cfcudo para o defender dos

c.ueis golpes de tantos Anítarcos , do que o

'íublime-refpeyto devoíla mercê, cujas gene-

rotasacçoens ainda em floridos annos fervem

amuytos de exemplar, a todos deaíTombro.

Nem .imagine foy ointentivo para eita

ofterta por minha humilde , grande peia ma-tcÚ3,por fcu Authur digna de todo oappre-

ço., aíu3 liberalidade, que a pezar de tanta

tnodciba publicaó da fama os tecos , forman-

do em cada elogio huma Eítatua à fua peííoa.

erigindo em cada applaufo hum obelifeo a leu

nome , aonde5vencidas do cegipo as injurias,

permanecei á eterno: porque o motivo,que

me conftrangco a implorar a fua proteção

foy julgar, queerafstal abfurdo , fendo efta

fegunda parte da vida de Gomes Freyre de

Andrada,à primeyra noeftyllo femelhante,

noailumpto idêntica, Ihefoílefó no Mece-nas dcíigiial.

Confeílb rríe íeria difficultoío achaa* igual

patrono ao da primeyra parte , que he Jacinto

Freyre de Andrada , fe a minha attençáô, íemdar credito à errada opinião de Pithagoras,

não rcconhcceflê em voíía mercê o mdmo ef-

pmto , 5c prendas daqutlle Htroe, gloria de.Luíltania , do mundo. inveja.

Pois, te ellc foy pelo nuícimentopreclaroy

pelas fciencias farneio y perpetuo pelos eferi-

tos,

-1

f5s .abundante pela Ecclefiaftica dignidade*

queoccupou , também a vofla mercê onaíci-

mento o declara illuftrc, as artes o vene &,

Meftre os Sagrados Cânones o intitulao

Doutor ',Braga

Bo venera Arcediago*&*

Chriftina dignidade nó appetecda pelas lar-

gas rendas, como pela regalia de aprefentar

fetelgreias.

Efe acaufapara efte atrevimento , que

tomeyhetáojufta, efperoque fcja««bido

para o .patrocínio com aquella afiàbilidade

que merece efte orfáo , cujo progenitor fo«be

defvanecer ,. como Apollo as lembras ,que a

feus fulgores oppoz a inveja. Para que eu te-

nha adita de afleverar com verdade, que a

xkvpara tutella deftaobra a hum Vwo tao

contornado. comoaqueUe, que.nqu.ria na

praça de Athenas o antigo Filofofq. Ueos

guarde apeflba de voQa mercê por'muytos

ínnos para amparo de doutos ,para columna

de engenhos.Usboa Occidentalaadejaneya

rode*?*?.

Mayto obrigado,& humilde fervo de

vofla mercê.

Lucas da Sylva de Aguiar:

'#3 pro-:

m

PR OLOGOAo Le-ytor amigo.

Eyrorberíevolo : Hsme precizo?gora falar com tigo

3 porque pa-;a os Leytnres, ou malevolos

9ou

inimigosJío na primeyra parte

verias com bem aparada pennamais dil rtado prologo : Nefte volume te ofTe-

Jtço a fegunda parte da vida daquellc grandaHeroe , cujas acçoens principiaftcs a ler naprimeyra. Pequena he no corpo aobra;no af-

íumpto grande, & nada menor poríluAu*th or, cujo engenho tendo por credito a emu-hçaójfoube tirar das fombras que fe lhe oppu*nhaõ mayorcs luzimentos com que brilhar:Por credito da fua penna , quiz dar mais eftes

raigos para deícmp:nho das falfasimpofturasdos críticos, que com leviífiunos fundam en-tos quizeraó anribuir a latrocinio huma obra,que.por iflb roefmo

,que era elcrita com pio-

priedade, lhe negavap fer pmpâa : Difpofi-

Çaõ tal vej 3a PiQyidcncH,que de meyos op.

foftos

poftos {evalemuytas veies para gf««#"os : Nem fempre as nuvens efcondem os ra-

yos do Sol ; algumas vezes lhe tornao ma.í(

em vida de feu Author ; mas efta fegunda ;ef-

mdo ames da fua morte acabada.&ja promp->

S para fe dar ao prelo , não chegou a ver a luz

rubi «. &* fer parto pofthumo ,de feupro-

£en tor Na obra naó acharás ,que reprehen-

ler naimpreffaó pouco que emendar ,Sete

emÍmã parte encontrares algum erro, ou

bTrSmo , ao teu juizo deyxo a correcção;

para fé naó quizeres como menos culpável*

diffimute os erros daímpreffao.

E4tí

# LTCENt

^1

t

LICENQA DA ORDEM.

CmSVRJ £>0 Aí R, P.M. FR. 4LVARQPimentel,

MuytoR.P. Provincial.

1} Stc livro que voíía Paternidade muyto_j Reverenda me manda examinar hc o íc,

guodo une da vida , & «cçoens do GeneralGomes Freyte de Andrada compoz o M, R.

à-ÇÀ r

jDo,"'n^s Teyxeyra Reiigiofo da

noíh Ordem.aíltm o primey ro como o fecun-do .compoz eík Author compenna igualacom cjtie aquellç inflgne Heroe voou parachegar a mayor grandeza, & fe noprimevro

• grangeou cantos credites ( como « fama pU,blica )ncítefeexcedeo afimelmo, Sc era ra-tão que affim fofle; pois (e efmeraó mais os ta-ientos, & (capiua ma,'$ o dilecto quandoniais ayolrao as acçcens heróicas, & da maisrelevante, & affentada prudência. Náocon,tem elh-l.vro çoufa contra noíTa Santi Fé ,ScbonsçoíW re!o qual o julgo ppr JiRno4f fç !hedaralicençaq Mçpçdc, Ççnvcntodo

flofla

iiofla Senhora da Graça de Lisboa Oriental

%, deOutubrode 1725.

Jh Álvaro Pimentel,

ÇÇNSVRA DO M. R.P Af. FR. MlGVELde Sarna Maria.

Muyto R. P. Provincial.

A Segunda parte da vida do General Go-

mes Freyre de And rada compofta pelo

Padre Fr. Domingos Teyxeyra, quevofia

Paternidade muyto Reverenda me mandou

Cenfurar ,eítiefcritacom amefma penna , 6c

igual eftylo aoelevado daprimeyra. Em re-

ver as obras dcfte Author r ão tem a obedien-

cia merecimento ,porque lhe faita o fer. facri-

ficado na liçaó de huma cicritur* , que dt ley-'

ta cpm a relação dos fucceíVos :aó bem arrima-

dos, eomo proferidos com elegância igual ao

rigor, cjm queobferva os preccytos da Hrf-

toria iainda mais por não ernter coufa

, quecontradiga a Fé, ou»bons coílumcs :pelo que

me parece o livro digno deetemizar-fe naef-

tampa» VoíTa Paternidade muyto Reverendamandará q que for fervido, Convento deN.r Senhora

»

Senhora da Grzç* de Lisboa Oriental iS. di

fOutubrode 172,5".

Fr Miguel de Santa Maria.

*

FR. Manoel de Almeyda Provincial dos

Eremitas de noffb Padre Santo Agoíli-

nho h.-ftcs Re y nos , 6c Senhorios de Portu-

gal damos licençi ao Padre Fr. DomingosTeyxcyra para qtiefeyças as mais diligencias

do cílyllo polia imprimir a Ugunda parte da

vida de Gomes Freyre deAndrada viíloque

Religiofos, doutos,& graves da noffa profif-

faó, a que mindmios a viflcm nos informarão

naõacharfe nffllacoufa alguma queencontre

fahir a luz publica: dada nelle Convento 9e

noflTi Senhora da Graça de Lisboa Oriental

aos 20. de Outubro de 17*?»

Fr. Manoel de Almeyda Provincial.

$PPROJ

APPR0VAC,0ENSD0S.0FFIC10. -

ÇENSVRA BOM.R. P.M. Fr. MANOE&Guilherme Qualificador do Santo Offiçio.

EMINENTÍSSIMO SENHOR-

VI com brevidade, porque com furrimd

goíto,alegunda parte da vida de Go-

mes Freyre , efcrita pelo Padre Fr.Domingos

Teyxeyra , Religioío de meu Padre Santo

&goftinhó-,& com dizer que iobre não lhe

achar .coufa alguma contra a Fé , ou bons cof-

tumes vSc em fcr efta a obra eícnta com a mef-

mapenna, que as outras duas obras doAu-

thor, me parece que explicava todo opoiTi-

vei em abono do Author, 6c recomendação

da obra. Mas não poffo deyxar de dizer que li

çfta fegunda parte com mayor admiração que

as primevras : porque fe nellas me extremrci

vendo a hum Rcligiofo tam deliro , U verfa*

do nas mais intimas politicas da Guerra,& duítamesdaartemilitar,neíl:aobraovejòainda

mais pratico nas noticias da iv4*W4,çxplieaii'

do-fe com termos tão próprios, individunes,

(kfuinificativos-, como fe tivera gaftotodaa

vida, náoms Aulas , Sc Púlpito» , roas em» di*

latadas

Taradas mvegsçoem i & fe tivera experimèn-

ttaJo terríveis naufrágios, para nos intimar

> que couíii era quebrai em-fe as ondas cm flor,

ou íordir íabrça vaga, & outras particulari-

dades , que parece naó baila a lição para a per-feyta noticia. V. Eminência mandará o quefor fervido S. Domingos de Lisboa Occiden-tal 30. de Ou rubro de 172,5.

Ir*. Manoel Guilherme]

CENSVRA DO M. R P M.FR. fOAMBapúfta Troyano Qualificador do S. Oficio.

EMINENTÍSSIMO SENHOR.

POr mandado de V.Eminencia !i a fegun-da parte da vidadeGome~ Frcyrc de An-

drad 1 efenta pelo Reverendiíllmo Pad< e Fr.Domingos Teyxcy ra fi!ho da Sagrndp.OrdemHeremrtici do g»nndc p^re Santo Agofti-nho

, & não foy menor o gofto qu^ me reíuj.'

tou da lição deita fegunda parte doquehegrande a inveja, que me fica agora de não terfido revedor da primeyra O eftyllo do Authorht tão natural no deicrever como elevadofera affedaçaõ 110 cxpqy, & não iey adonde

me arrebata mais a attehçaõ, fe admirar nsae?

çoens, & procedimento de Gomes t ieyie t9

ou aclefiancc pcnnacom que o Author anima

deite Her.oe o procedimento,&asacc:ocns a

citas dcveaquelleniuílreVuraò, fcacftro

foldado os feus na& vulgares merecimentos cc

àquella deve não menos a extençao daiu*

Rlorioia Rima à pafteridade jporque íe nasac-

çoens dam vida ie elevou à esfera mais a ca

de benemérito, a bem aparada penna- deite

Elcritor o conflitue nafnemoria ímmoití.I:

dellc&doÀuthoÉ parece filiou Plmipquan-

do diíie: Qutmvis tpfcjlwm ; & mM/nracon-

diderit, wuttnmtamenperpetxiUti e}w.pipt07iim.

tuoYitm <tterniusaddet.Ptin.JHn Epift ibMb,6.

Na penna do Author eneonnou Gomes

Frcyre naõfó huma verdadeyra relação da

fuavida, fenão também hum cabal elogio as

proezas da íua milícia, & governos j & como

na curta esfera da minha capacidade nao acho

cabal elogio ao elegante eftyllo. & clivada

relação do Author, fó poderá fer difcreio o íi-

lencio , fupnndo a minha admiração ,o que

não pode exagerar a eloquência ,confcílando

não ha nêíta obra couta que encontrea.pureza

de nofla Santa Fé , ou bons coílumes ,antes

iu^go he m'cr< cedor* do prdo.em q etei nizar-

fc pn tende. It* cen[eo]alvo è&c. Giriro di Lis-

boa Occidental 4 ^J><7f™b'°

jjll^^

_

LICENC,A DO S. OFFICIO,

VIftasas informnçoens, pòdc-fe impri*miro ]i v? ode que fe trata* & depois de

impreífo toYnaiá para feconfair, & dar li-cença para correr, fem a qual não correrá*J^uboa Occidental 7. de Dezembro de 1 725.

Rccha. Fr. % Lancaftre. Cunha.Teyxsyra. Sylva.

DO ORDINÁRIO.

PO'dc*fe imprimir o livro de quefe trata;& dtpoi? de jmpreílò tomará para íe con-

ferir, & dar licença que corra ítmaqual naócorrerá. Luboa Occidental i8,de Dezembrode 1725-.

DjoaoArcekiJjm,

APPRO.

?&

approvacam do paca

CENSVRA DO M.R. T..M.FR.LVCÃS

de $*ut*Cathcrin*aa Oram dos Pregadores.

SENH 6 R-

VI o livro (de que trata a petição indufa)

por ordem de V. Magcftade, 6c tao con-

tinuados nefte fegundo, os aceitos dopri-

meyro, quefó o numero, nos diz que heie-

gundn.Efta a felicidade da penna do Author,

& nclla parece fobir ; ate o declinar ;,

<X io lo

lhe defcobre o inculpável dcfcyto, ac te lhe

acabar o aílumpto-, porque naextcnçao dei-

Ic.cntcrcffava a elegância Ijiftona o ir reco-

lhendo novos documentos, para Ubertecr

panegíricos, atè na precifa narração dosiuc

ceflbs,em que a pobreza do idioma ,vincalou

ò elogiar , a fidelidade do propor. A efta gran-

de addercncia da fua fuplica,njunca o nao con-

ter coufa q fe opponha ao Real fe™Ço* V.

MaReftade. Efte heomeu parecer^ V.M^ge -

^ordenará o q. for fervido. S.Domingos c^

Lisboa Occidental em a de Janey rode 1720.~ Fr.LucMdt Sma ÇàtbéfrM*

J

LICENÇA DOPAQO.QUefepofTa imprimir viftas as licen-

ças do Santo OfBcio, & Ordinário , êc

eepois damprcílo tornará à Mefa parafc çoofcnr

, & taxar que fem j flb mô correrá.Lisboa Occidental ix.de Janeyro de 1726.

'

OUvnr*. 7e)xe)ra. BonicL

L I C E N G, A S*

Vlfto cftar conforme cora o original pòdcfPWr, Lisboa Occcidental 1 j.de Julho

J<J I 7?

ir. tf. Lacere. Cunha. Sjlva t Cabcdo.

Vlftoeíl^rconfcrmeconi ó original pòdccorrer. Lisboa Occidental ia. de Julho

de 1727.t j ^

JD.foaaArcebifpo.

TAxaõ cíh- livro cm c m papel.Lisbo*Ucciden-i! 17. de julho de 1727. ,

M*r<jutz. P. Olivejra. Tem?*. Bmchçi

Pag.fi

VIDAGOMESFREYRE

DE ANDRADEGeneral dadrtdharia doReyno do Algar*ve>& Capitai General de Maranhão*

SEGUNDA PARTE*

Livro Pritneyrõ*

Eyxámo.s em òiítra patte àGom:$ Freyre de Andrada,Jcfcançando já dos trabalhosda Guerra, à fombra dostro-feos, penduradas as armas nótemplo da pns, que nos tinha

çntrado pelas portas da vistoria; Efcrevere*

A mos

A5 Viàà de Gemes Freyre

mos agora o zelo, com que depois veyo a ler*

< vir à pátria em oceupaçoens mayores, cuja

fatisfaçao no;? dará a ler leu talento naóimenosrobuíio ,que feu braço * lua actividade/, naôinferior à de íua efpada/

.

i Ajudadas as pazes entre as duas coroas*

6 desfeytos as corpos marciaes de Portugal,

& Caftella. Ficou Gomes Freyre em LisboaVagando no moledo cuydado dosnegocios>

políticos entre os tumultos da Corte,que me-nos atento a medrar , do que a ferVir , curfou

aquelle tempo , que veyo a durar a neceífida*

de dapcflba: atè quçfolido ogoverno* os

ânimos loíTegados* chegou a penetrar, quenaó fazendo jà falta o braço , lc tornava a akfiftencia da pefíbapefada a alguns, que lhe

veyo a declarar emulos í a attençaó , com queera olhado dofuperior, de quem huns já eraó,

outros ainda pertendiaô fer creaturas , fem os

feceyos de íncontrar os que fe lhe reprefen-

tavaõ eftorvo i ou fe lhe propunhaô (òmbra*

2, Como Gomes Freyre era naõ menoseftadiftn, que foldado , obfervando que a am-bição do valimento naõ fofria companheymsnaprívança^refolvcòdJviarfepondoem

execução o penfamento , que trazia , de reco-

Iherie ao retiro da fua quinta da Garnota, on-

de entertido nas liberdades que permitte a

íingelleSa do campo ,fçdeyxouefquecer ai*

guns

"^í

De Anatada lLP*r%Lib.L fguns tempos detido , naõ como inútil, ienaó

como defenterefFado , entregue humas vezes f

ao exercício da caça > outras ao da pefca , di»

verfaôem que pafiava fcm moleítia , que lhe

altera (Te o defeanço do corpo, ou queyxa quelhe perturbafle o focego do animo.

3 Satisfey to com eííe género de vida.J

que lograva de quieta porçaó ainda mayor,do que a parte , que tinha de ociofa , ie deley*

tavadifeorrendo na humilde forte dos agri-

cultores ,a felicidade de viver a ílmpiicidade

dos ruílicos* apartados osaffe&os da emula-ção , fem no perigofo achaque da opofiçaõpadecerem os mortães íintómas da invejai

quando por Lu irLobo da Silva , com quemprofeflava eftreyta amifade ; recebeo a nati-

cu», de que auíente naò^acabara e.fquecido naitt&ioria do Princepe > a quem fe fez muy a-

ce^to pelos ferviços , ainda mais pela izen-çao , com que rcgfytara os foldos

, que fe lheoffereciaõ de reformado.moftrando naquelb*que alguns notiraô" inteyrcza deraafiada., oraro defentereílç, com que agradecendo, lemadmittir o beneficio, obfervou fempre a má-xima de naõ recolher fruto da terra, que naõagricultava, moJeraçaô taô nova

„que antes

naõ fabemos tivefle alguma para a imitação,nem depois a que foffè exemplo*

4 Será precito paraintelligencia dahif-

Ai toria

4 Fida de Gomes Freyre

toria darmos mais individual relação do Ca*

* io • que os accidentes fizeraõ cfpecial , a occa-

fiaôeftranho. Achava- fe Luiz Lobo nó Paçoatempo, queoPrinccpe Regente, entre a

multidão dos negócios de huma Monarquiaj

que começava a ediíicarfe de novo, feacor*

dou de Gomes Freyre * &: como íiaó ignora-

va a familiaridade jCom dueosdpus fe trata*

vaõ, lhe perguntou poreíle : como Luis Lo-bo refpondeíTe , aífiftia na Carnota , em cuja

companhia determinava hir paflar huns dias,

lhe diíTe : com naõ vulgar expreíTaõ dos affe-

&os , que ambos cuydaílem , cm que podia a*

comodallos a feu gofto, porque defejava, queíogeytos taô beneméritos das oceupaçoens

mayores , naô eftiveíTem parados , como os

innutcis, que entertidos com vicioía diver-

faô . fe corifervavaõ contentes com o ócio por

defpacho, por premio ô defeanço^

j Luiz Lobo, q tinha de defentcreíTado,

o que lhe fobrava de valerofo * grato a huma*

flidade, com que fevia tratado >refpondco:

que pelo que lhe tocava com a vontnde fe

dava por pago; que guardava*o real favor co-

mo huma pedra bazar \que fe tiveíTe alguma

doença daquellas, que na gravidade mdica-

vaõ ò perigo , a morte nos fintomas , entaõ

fe valeria delia , que em tsnto a dey xava eftar

arrecadada como remédio, que porintem-

pcftiva

De Anàraàa 11 Part.Lib.l fpeftivo naó vieífe à fa*erlhe danojporque pa-

ra emulos lhebaítavaõ, os que outros bern>*

ficios já recebidos damaõ de fua Alteza, lhe

tinhaó grangeado oppoftos,8chaô queria que

com novas mercês lhe creafle mais inimigos,

porque os prémios , com que cultivado mc-

draíTc, feria a agua, com que regada a inve*

ja, creceria fem medida; aueá Gomes Freyre

reprefentaria o que mandava lhe infinuaíie.

6 Poucos foraó os dias, que L*úiz Lobo

fe deteve na Corte , chegado àCarnota, deu

rclaçaõ individual do que deixamos referi-

do paliara em Palácio, Como efte avifo rece-

bia credito mayor pela qualidade domenfa-

geyro , refpondeo Gomes Freyre agradeci-

do a lembrança dos ferviços , que durava pa-

ra a fatísfaçaó depois deceflar aneceffidade

da peffoa, quedos Princepeseftiaiavamaisa

memo ria , do q os donativos , c^ae affim como

delconfiado do feu merecimento , nunca fe

atrevera a pedir \ t-aó bera naó fàberia regey-.

tar qualquer mercê, que fe lhe fizeíTe \ ió ad-

vertia que oceupaçaõ ultramar lhe feria muypefada, naó pelo temor da paíTagem , fenaój

porque a diftancia da Corte *que pela deft"

culdade dos recurfos toma menos obedeci-*

das as ordens, faz que pequem mais livres os

homens, & como afua inteyreza naó íabia

alterar o premio, nemdifpenfar nocaftigo;

A j receava

'^|

^ Fida de Gomes Freyrereceava na execução das leys, cahir na indig*

t naçaõ dos fubditos, pelo que obialTeem bc*

nrácio do fuperipr, cm cujo deíagrado leva*va igual perigo de hir dar, ou pelo rigor, oupela moderação.

7 Acabados os dias que Luiz Lobo tinhataxados para nadiveríaó vagar r-liviado aotrabalho dos negócios igualmente inoportu-nos, &molefto$, voltou à Corte; como na-quelle fidalgo, refpondiaó não menos osaf«feftos ao vator de Toldado, do que a execu-ção aos brios de Cabo, quealurnno daSar*mas tinha nas Campanhas creado a guerranos braços. Dos illuílres feytos com que feuesforço foubeíinalarfe benemérito da famafoy tntaó coronifta melhor fuaefpada, doque ainda cm volqme próprio hoje o poderáfer nofla penná

1

; chegado ao Peço mó tardoua reprejentar na prefença doPrincepeas mcUmas palavras com qqe Gomes Freyre confef-fando a divida para a fatisfaçaô, grato fogev*tava apeflba, obediente Verificava a liber-dade.

8 Pefada com a attenção de que fc faziasciedora tão madura repolta , refultou ícrGomes flreyre de Iti nado para ogovernodePeniche. Partecipadaa noticia da coiveren*cu

, juruacom a certeza de ler por ultima re-

íoíuçãoelcolhido entrémuytos, que fe pro-

proerão

Tk AnàraitU.Part.Lib.L f«uíerãobenemmcos de occupaçoens ma|o.

STmô tardou empaflar à Corte, ondefoy

recebido do Princcpe com os agrados doa-,

ceytoí largo dpaffo fe deteve em Palácio re -

pondendoa perguntas cur.ofas, &£»**curió da pratica incontrar maspalavias, ou

nofemblante infmuaçáo , que podefi» pare,

cer.neroaíndalevcindicio da merceque afir-

mavaoavifo , confirmada na voados mimf-

tros que pelaconfulta ateftavao fem duvida o

defpacho , donde veyo a interpretar, que ou

fora trato delle, ou algum accidente o ah*.

2£ Defpedido do Paço náo tardou em a-

vcíiguar a verdade do caio. de que infor-

mandofe com individuação achou terem-le

atravedado refpeytos, que paliarão a ler ef,

torvos , osquaes ettaváo tão adtantados ,que

imbaraçada a reí-luçáo ,não podia jaexecu-

tarfe , fem ou efcandaio do pertendente ou

offènia dópredeftmado para o fogar,_ difi-

culdade , que com juizo fácil afirmavao ai.

euns, fet viria a demorar ;masnaoadelva,

necer , o provimento ; mas Gomes F.ey-

re, que penetrava com vrfta mais aguda as

negociaçoens da Corte sonde a feara da

emulação , como creatura da mefma terra,

medra fem cultura ,depois de natcer fem

femearie, ateenco a que náo podena^per-

11 Vida de Gomes Freyrevaiecer, contra hum poderofo declarado, em

9huma contenda que havia de dilecdir a fortu-na, nãoa efpada, procurou acautelado

,jâ que

tíão podia declinar o golpe, poupar parte dador , & receber a ferida de mais longe,

io Scmmoftrarquefenua,ncmqdefpre-faya,overfe pedra reprovada depois decíco-Ihida para fundamento do ediricio , voltouGomes Freyre em bufea dod^fcanço dafuaquinta da Carnota , onde p ílados poucosdias, começou a fermoleílado. dos importanos rogos, com que os paes,entcreçados nafucceílaó dafua caia, operfuadião aromareftado; efeufouíe ao principio cora a vida

,

que profeflava de íbldado , a que era p: zo, acompanhia da mulher , tropeço, ainda maisintolerável os çuydados dos fil bos

,que nada

afeminara o valor de Marte , mais que os af-

fc&os de Vénus. Ainda que a 4Jcu/pa tinhaaparências dearrefoada, como fepenctraffe

openesto aftectado, creceião as iníbneiasiguacsaocxceíjb com que reriâio conftanteem náo admktir as pnfoens do matrimonio,fem bailarem a movello damáyos mimos,nem do pay os amiaços,

1 1 Naó foy pouco o tempo que aquellefidalgo levou aos hombros de ília paciência opezo daquelle

,que tolçrava como tromento,

tem chegar arrendeljo, nem o trabalho queíopor»

Dt Andrade IlPart.LibJ, ?foportava , nem o reípcy to ,

que o prcfuidia*

até que ou apurado o fofrimento.ou por mo;^

derar odifgofto dos pi ogenitores ,quenao %

ceflavaó de lhe ferem cançados comporta

inútil:refoiveo,deyxadafuauieímacaiavre-

tiraríe a outro domicilio ,que cfcolhco no li-

.

tio das Larangeyras, nas vefinhanças de Lis-

boa , onde goiava a comunicação da Cidade,

fcm os tumukos da Cor te, aqui paHou alguns

annos, mas taô moderado ,que eíhndo livre

em idade verde ^naó chegou a crear os vícios,

que no defeanço produz o ócio,

iz Comofe contentava da iolidao, a que

com antecipada madureza fe tinha retirado,

paíiava fatisfcyto com afoite de ter pouco a

anem mandar , ainda menos , a quem obede-

cer guando chegou a enfermar : a gravidac e

da doença o levou putra vez a Carnota ,on e

affiftido com PS cuydados de primogénito.

veyo a força dos remédios a render a dos ma-

les que cevados na alteração dos humores le

prJlongaraõ perigoíos , a que refpondco hua

larsa convalecença: nefta o vifitou o Vifcon*

àede Fonte Arcada Pedro- Jaques de Magv

Ihaens ,que fe achava por aquellas partes ,

ÔC

como o unha ajudado a crear, quando ainda

pupillo da guerra curfava asCampanhas ri-

lho de íua difeiplina , laílimado de ver com

DCiofidade vicioía vagar çoraó inútil humCubo,

tó PiiadeGomèsFreynCabo, cujo valor tinha fido exemplo aos na-^turaes, aosinimigos efcandalo, o períuadioanaó infamar fuás virtudes no tempo, eraque podia com novos ferviços, acrefeentadamais huma títatua âs de feus ançepafiados,grangear nomemayor, queoquejá lhead*«juirira feu merecimento

, que pertendefe apraça deentertido nofeupofto de TenenteGeneral da Cavallaria, com a obrigação deembarcar nas armadas; porque hefte exercí-cio Marcial, vinham falvar a opinião dedef-enterecado, recebendo os foldos , naó comomercê, feiiaõ Como paga,

i? Naó deíagradou aGomes Freyre oparecer de taô grande General, & como eranasexecuçoeris prompto: naõ tardou a meternoConcelhodeGuerra memorial em que da-va a ler a juftiça do feu requerimento, quecom eííeyto fe confultou, não como cómododo pertendente , fenao como utilidade do Ef-rado, em cujo beneficio cedia ter homens jáfeytos empregados em crear de novo nos tra-balhos as forças , nas occàfioens os brios , queeftrãgava o oeio , confervada a difeiplína, quegaitava o defeuydo. Sobioaconfulta asefea-das de Palácio, onde a deyxaremos ficar para*da,*.tè que outra vt % defça com defpacho,querefpgnda mais à fatisfaçaó doíuperior, doque á efperança do fubdito.

14 Por

De Anatada IlParhLihL * t

ia Por dt~ tempo ie cnct ninha G&mts

Frevrecom alguns divertimentos, que naty

tendo de vicioíos maisqueopárcceUo.crao t

iulaados de alguns delenrado difcreto, de ou-

tros efcandalo cortes-; mas como a malícia

femprc troce o difcurfo dos mâbrl &os ,ora

faltou a inimiftde a Formarlhe da urbanidade

culpa ,que a vei iguada por tella de juízo, lá-

bio com honra dos ferros , a que voluntária

íe cntregeu,& a^nde cfteve detido foaquel-

les dias ,qfte a feu requerimento gaUou^jui-

tiçaempefquizar a verdade do delito de que

outroera oagrcffor u acujapena lati*to de-

pois no patíbulo duas vezes reo, huma na

própria culpa , outra na ínnoccncia alteya,

if Livre da prizap , em que o deteve o

brio, naô o delito , de que as mais eXact is de*

ligencias naó poderá defcobnr leve indicio,

ainda que apurada a innocencia rccebto pa-

rabéns dos amigos, como o nvtflclaftimado

ocftrondo da iuftiç», ainda mais acircunl-

tancia de fer a execução das ordens cometida

a miniftro menos proporcionado a qualida-

de d* pellba, íentido ic retirou para o lugar

das Cachoeyras, onde na companhia de al-

guns parentes, afliitio largos tempos .ou el-

Suecendo rta djveriaó os agravos , ou íausra-

zendofe das defatençoen» na auiencia.

16 Naquelle frio vngava divertido ,-cn-

tre-

* 2 Fida de Gomes Freyrêtregae quaíi todo à cultura dos livros , a quèna iulpcnlaódas armas, começou a inclinarfe,

k & com atençaómayor aos cj i Poeíia , arte a*

que naturalmente o levava ogeaio neíle ex-ercício dos Poetas, ou tentação das Muzas,Xm que apurado o engenho, medra em nuns,aloquacidade ,em outros a diferiçaõ : coníu-mia a mayor parte do tempo , facrificado noParnafo em holocauíto a Apolo, de cujo tem-plo, infenfados os altares, adornou as pare-des com mó vulgares teftemunhos do ft u ta-lento, Aqui paíTava osdias, ainda que comemprego menor que fçus grandes efpiritos,contente de huma vida quieta, que lhedey-xava no focego lugar para humas horas mo-ralifarconceytos alheyos, outras para claraler os próprios,

.

f 7 Como a mtfmaoecaíiaõ, que mudoso*inítrumentos de Marte, lhe tinha embai-nhado a efpada , lhe aparou a penna , trocadosos certames da Campanha, pelos do MonteX arnaío

, íe achava humas vezes divertidonas creaturas da agudeza deleytandofe nosPartos do entendimento , outras rifeando omeímo quejá tinha eferito, deíagradando-fedepois

, do que antes fe contentava , quandorecebeoa noticia de que o Príncipe Regente,moílrado nas palavras , & no fcmblantc aoenfado, cílranhára afuaaufençia das veíi-

nhan-

Z)cMâfãdâÍL?art.Ukt '$$

nhanças da Corte fcm dar parte em Pakao,

de que fe retirava a viver no campo ,reparo^

a que fácil &»&* reprefent ndo.que ío buf- ,

cava m diverçaó ,intevterie alguns dias, qu*

fendo taô pequena a demora* ainda menor a

diílancia ,julçàra naõ ler cupa iabir tem pe-

dir licença.- quem rito iinlm oceupaÇK* ou

empreso , a q podeffe fazer falta^que para oc-

curcncia de al^um negocio fortuito, que ao

real ferviço íí fizeffe percifá atuaafiiftencia,

andava tam perto, que em poucas horas po-

dia refpondcr o eccò a qualquer ligey a voz,

apeílba amais leve infimwçãoi que nunca

fe achava longe ofilMUo, que nao. porta-

va a vontade > nem deflorava os afTcóhos,

porefaeem toda a parte cortfervaVa na obcdi*

dienciaa lngeyçãr* ao império fupenor.

18 Paílados poucos dias lhe chegou avi-

fo,que oPrincep. fatistey to da modeíha.com

que defeulpada a falta., faenheava apefloa,

lhe premeria aquelle delcanço, < m que vaga-

,, ya aliviado dos cuydados molhos, com que

o tratavaõ as politicas da Coite, quando hum

efiranhoaccidente, quenaó km perigo da

vida lhe truncou ogoíto, com.que no cam-

po fc divertia-, chegou a akerarihe oiocego,

em que pãííivafcm emulo?- Em beneficio de

fua piedade daremos relação do fucefíb „ que

por laftimofo 4eyxàramos dç referir, a naor ceder

*X4 Vida de Gomes Frtfftcedtfr noffo íifcancio em oflcniá de feu valor,mò menos de lu \ chriftandadè.

19 Andava, por aqueile tempo

, humrufticodaquella Aldeã dcíavindo com humcreado de Felippe àc Sou fa Pacheco, queimitadas as virtudes deíeu progenitor veyoa acabar no poíto de Capitão de Manguei-ra íaffiftiaefte Fidalgo na fila quinta daScr^ranna com feu irmão Francifco de Soufa,que mandado depois por inviado aOlapda,caiou naqueles eftadoscom huma filha doPríncipe de Nalaú , de que deyxada fuceçaõíeícpukou com íaudades da Pátria, minif-tro benemérito de mais larga vida

, pelos cré-ditos com que honro* àpcílba, íervio à na-ção.

10 Como as razoens do langue, os faziaóunidos ainda mais conjuntos às daamifaJe,comquetinhaó contrahido parentefeo maiscftreyto, íahí.o hum dia os três de ouvir Mif-ia.feguidos de alguns creados : como entreoutros os acompanhava oque andava defa-vindo com oruftico,na fobida dehunsde-gráos

,que da Igreja das Cachoeyras daõ ter-

Vcnna para o adro, lhe tirou com humaef-pingarda defparada com pontaria taõ certa,quepefeado com huma baila pela cabeça , obaqueou morto em terra,alcançou outra per-dida, dalguns quartos a Gomes Freyre ps-

De Anirâdaft Part.LèJ. if

las elpaldas , & braço efquerdo , mas corBo já

o feu valor tinha feyto com òs hábitos mu-,

reza de defprezar pelouros * fero fenuríe fen-

do foy com os demais em demandado agref-

for de taó feyo delito, que íacrilego com abo*

minaçáo em hum templo do Senhor* corna

aampararíe de outra Gafa deDeos, buícan-

do abrigo no Sagrado de hum Convento de

Recostos Francif.os, que dalli pouco dif-

Tantefe achava fuuado no lugar dáCarnota,

©ndc a piedade catholica o tinha edificado*

em beneficio dos filhos , à honra do Pay dos

Pobres..

li Hindo Gomes Freyre a montar hum

vallado ,queíelheatraveíTava diante , fenuo

nafraquezaafaltadofanguc, tu da rclpira-

çaõo perigo da vida , ao mefmo tempo * que

Felippfi de Soufa alcançado Q matador o íe-

guravapelacakca, que o aperto lheenfinou

adifpir vdmdo-lhetempo para eícaparfe : 03

brados com que Gomes Freyre eompaíuvo

nos males alheyos, paciente nos próprios,

ou tolerada a dor, oufofrida aoíFenla com

humanidade eítranha gritou, quedeyxado o

delinquente lhebufcaílem hura Confellor,

que ouvindo-o penitente o abfolveffc de fuás

culpas* As vozes fuípenderaó a to dos, & a

cada hum moveo a voltar mais ligefro , onde

Os chamava a neceíTidadc, dQquecornao a

donde

t6 Viàa ie Gtones FreyrêdorfJt|oslevavftó noscfíèytosdaira , osaífe*£tosda vingança.

22 Deyxou a deígi aça a todos tao juftn*mente (unidos* ou indignados àfatilidadedecaio taó íeyo, que atè o meímo Pay domatador, que corria de volts com os que per*fcguiaõofilhojouparaajudarafálvallo, ouque offendido da culpa lhe procura íle o cafti*

go, vendo taó novo efpctaculo* lamentada aperda , magoado repetia muy tas vezes , que o>treydor* que tal tiro dera com ameímaarmafoíle morto, Gomes Freyre a quem o defms*yo naô tinha defacordadoj ouvidas com hor-ror aquel las palavras* mais oftendido rio danodefeumai feytor* do que nas propi ias feri-das, lhe mandou fecalaflc, mas como naõçeflafc da prorla , infurecido lhe tirou com obaftaó

.a que arrimado defeançava, dizendo*

lhe: velho ruim naó praguejes teu filho, co-mo com a fim mnree muô refgatas a minha fal*

ta ,nem compras à minha vida * mais do que

cllc na fendab me agravas no caftigo que lhe

pedes. Piedade rara , & que poderamos con-tar única a que nao extinguio a ira , nem de-minuio a dor em taó frefea offenía.

23 Como Gomes Freyre conheceo agrandeza do perigo, em que fe achava pelomuytofanguc que játinha perdido* mal ata-

das as feridas fc apartou çpm o CgnferTor,en-

$e Andradalí.PmJJbl. fjj

irando naquelle mefmo lugar primeyro ^le-

dos remédios dó corpo 4a tratar o importante

§

negocio de fua alma procurando nas demõfr

traçoens de arrependido facilitar na contri-

ção ia fegurança daquelle ultimo paffo, que

as culpas lhe faiiao arrifeado.

14 Acabada a Confiffaó* em qiie gaitou

largo efpaço : foy nós braços dos amigos , 6ê

ereados levado à defcartçar no leyto. , onde o

cfperava tromento iriayor na moleftia da cu-

ra.Tenteadas as feridas por hum meíire, (que

a fama de infigne na Cirurgia tinhapor outro

accidente trazido de Caftella àquellas partes)

entrou a aplicarlhe imborcaçoens de agua

ardente * remédio que por novo pareceo oudeípróporcionado^ oueftranho ao juizodos

profeíTores daquella arte^que ignorada a Qui*

micaocapitulavaÔmaispromptoamatar,dò

queafegurara vida-, rrías o mefmo enfermo*

aquém a dor mò tinha defacordado* afir-

mando que daquella forma de bailas tinha

vittó acabar muytos, ou convallecer raros^

mò admitia outra cura , dizendo : queria oii

aprovar eftaçorn a fua faude, oureprovalla

com a fua morte., ,

.

25* Chegarão à Corte as noticias dadef-

graça ,& como as encarecia adiftancia, foraô

ouvidas com fentimento dos grandes t & íaí-

fitimasda plebe : fobiraõ aprefladas as efeadas*• B 'áe

tí Vida de Gomes Freyrè

ddPalaciò, & como Gomes Freyre ordína*piamente era de todos bem v ifto , & a oppoíUçaõ acaba nas veíinhanças dalepultura, atê

achou laftima nos emulos , no Príncipe com*Jíayxaó naó vulgar*

±6 Durou o perigo alguns dias» atèqucfaflados os decretorios , ou críticos, come-çou a conhecerfe a melhora , em pouco tem*po convalecido *. veyo a cobrar inteyra fau*

de contra a opinião de alguns, quejulgandoftaõ haver mais remédios

,que os com que íc

curàraõ, ou de que morrerão feus antepafla*

dos, attcftavaó que Gomes Freyre acabavade teymoíb

, por fe naò deyxar aplicar os jáexperimentados de que ufavaõ os naturaes,

que obrando lentamente , fenaõ mataõ maisfedo , atromentaõ mais*

2.J Aqui referiremos como argumentojnayór da lua izençaõ hú calo,cuja raridade ofez dignode efpecial memori^Entre muytoique o viíitavaõ na doença» foy hum Fran-cifeo Vaz Gal vaó í buícou horas em que po*defTe achaca Gomes Freyre delacompanha-do ,& confeguida a occafiaó, com as circuní-

tancias,que a procurava, intentou deyxar*lhedebayxo dacabcceyra huns Cartuxos detnoedas de ouro, dizendo lhas offerecia hum4eu amigo, para premio, ou íatisfaçaõ doQuímico, que imeresada aopiniíiõ, Jhcaf-

fiftira

De Andrada II.Part.tA.l tfRftira prompto nos remédios , na cura fSli*

cito.

28 Gomes Freyre que tinha por mayorhonra a dos benefícios que ie regeytavaó , doque a utilidade dos que ferecefctíaõ, travan-

dolhe do braço* perguntou, quem era aquel*

le , a quem ainda depois de paga a divida , ha-

vil de ficar obrigado a agradecer a piedade»

Francifco Vazquecreado entre as politicas

da Corte * obiervava a naõ vulgar diiciplina

Com que do fegredo fe faz myfterio no fagra-

do dos Palácios * fe defculpou com o achaqua

do delitoem que incorreria (e revelaíle o que

fe recomendara tiveíTe occulto no filencio , 6t

excedidas as ordens alterava as leys da fideli-

dade, de que nenhum refpeyto o faria fer

tranfgreflbr*

%*) Gomes Freyrc Vendo a donftadeia dojtnenfageyro , ainda que naõ ignorava a maôt

que fe eícorídia para dar mais liberal nacau*

tella, comque fe poupava aferacredorado

agradecimento* fem moftrar* quedefprefa*

va o beneficio ie efeufou acey tar o donativo.

Taõ demafiadamente parco tratou femprô

as conveniências da pcílba,que atè veyoa re«

geyrar 4 o que como gratidão fe lhe devia , fe

lhe tributava como premio.

50 AindaGomes Freyre naõ tinha fahi-

$£> dos rayos do perigo , em que o puzeraõ as

ft% feridas*

ío Pula de Gomes Freyrt

fendas \quando entrou com novo trabalho

no molefto cuydado de moderar a dor dosparentes, & amigos, que ofendidos na cul-

pa,pelo caftigo do agreílbr

,procuravaô hús

iatisfazer aos affectos* outros aofangue, Sc

mó fe contentando fó com o fegurar dos feus,

lhe lolicitou^ 6c confeguio dos cftranhos operdaô do homicídio, que tinha cometido

voluntário , culpa ta que naó tardou o Ceo a

dar a pena igual ao delióbo , dando-fe a íi pró-

prio a morte na Villa de Setuval * com a mef*ma efpingardaj com que tirada ávida afeu

inimigo , fe armava para a defíenfa , & veyo a

fervii lhe para fuplicio.

31 Como com as melhoras de GomesFreyre convalecefTe a inveja que tinha en-

fermado no perigo, naõ faltou a emulação a

repetir naprezença doPrincepe, fora apa-

rência a piedade, com que aquelle Fidalgo,

defprefada apropria oftenfa, alcançara das

partes o perdaô da morte , aflirmando naó era

íeu coração taó bom , como fe reprefentava^

porque procuraraòcomaquellas moftras de

interceíTaó ,defcuydar o agreílbr,para mais

afeu falvo fe vingar, noticia que os melho-

res receberão femfé, duvidarão os pruden-

te?, os fáceis deraõ credito.

32 Averiguoufe depois ocafo por tella

de juizo , & fe achou , ( que por fentença dejuftiça

DeJndradallPartLíkl J&iuftiçafupsrior ,em cujo Tribunal re#«fe

ulga fem inclinação ou relpeyco, )queiuhi*

,

do em huma figueyra , adonde o levou ,ou

o apetite do ffuto*ou o intento de fazer çl pêra

a alguma caça miúda, que vinha apaitar em

fitio alli vefinho /querendo de Uma íílar a ei

*

pingarda , que ao pè da rrtefma arvore unha

deyxado arrimada, ou que pegaffe no cronco,

ou fe imbaraçaffe em algum ramo.por ii mel-

xnadefparáíia, lhe meteo toda a carga pelos

pey tos , deyxando4he tirada a a^lma , o corpo

pendente, vindo afervhlhe como ajudas a

arma de verdugo a figueyra de patíbulo.

33 O Princepe Regente , a. quem nunca

osafíeótos fouhsraó fazer aajuftiça parcial,

ouvida a acuftçaó , mandou , mformarfe por

miniftroque ointeyraffe com individuação

do fuceflo. , 6c achandofe provada que o ódio

erao afeai ,que íupondo, a delito , caluniava

culpada a innocerçcia daqudle Fidalgo: ef-

perouoccafxaò,em que outra vez feajuntaf-

fem aquelies mefmos,que preienceada a de-

traçaõ forao teftemunhas doavizo, & lida

diante de todos a deva(ft,voltou ao author da

falça noticia, naõ fcm demonftraçaõ de defaj.

grado, no fembknte , & nas palavras, lhe dif-

fe : tenho obíervado, que em todos os inimi-

gos de Gomes Freyre, fenaõaxha mais que

línguakm mã';$t. 1V

*i Viiâ de Gomes Freyrê

34 Devertia-fe por efte tempo aquelleCabo nofitio daCarnota, entertido naco-rioíidade de quintas eflencias aromáticas

, &remédios químicos , a cujo arteflcio fe entre-gou com tal exceílb, que o fez eíquecer detodos os exercícios fm que antes vagava, a-partandoo atè da comunicação das gentesdonde aíguns daquclles, queajuizaó viciosas virtudes, vieraõ a affirmnr, que variaraconceyto ordinário, mas errado,, que faz ôinundo dos que retirando^fe a viver quietos,leparados dos tumultos, feoccupaõ melhorempregados»

i ÍS Poucos dias eraó parlados, que fempoupar- fe a dcfpezas, ou a trabalho , íe dtleytava noeftudo, & na pratica daquella arte,quelhe fazia aprender fem tempo o emereflederemedearaiheas neceffidades

\ quando co-meçaraõ aouvirfenaCoite osinílrumcntosMnrciaes que chamavaõ os foldados ao foc-corro deOraõ Praça de Africa na Corta deTremecem da Mauritânia Cefarieníe , hojefogeytaaEIRey de Argel, qucnaôfcm lai-tima da Chuítandade a recuperou pela erade mil iete centos & treze , naquelle tempoobediente ao Império dcCaftella pela Con-quiíla do Cardeal Ximenes Arçebifpo deToledo , eícallada dos Heípanhoes pelosannos de mil quinhentos^nov^em cuja

domi*

&e Aniraàa llfm.W.1. *J

dominio fe çonfervava a pezar deprolucos

hometanos intentarão por ««ffigWJgtaurada a perda, fatUfezer fedas

offenças reec.

bidas dentro das portas de tua mefma cata os

qu.es fazendo agora <M**W*W JW*lentivoa vingança, tinhao voltado com «r

der formidável fobre os muros daquella Cw

dade, que pela eftreyteza docitio, «tuna

dos combates fe achava noult.mo>m

m

26 Eftava por efte tempo Caftella tao

atenuada , com as forças gaftas ,por caufa

doseftragos recebidosem noffas Frontey«s,

q a obrigou a necemdade, tolerados os efcan-

dalos a valerfe das mefmas armas ,de que tu

nha recebido os golpes , crendo que nao ie-

riaõ entaô noffas mãos menos pefadas^ aos

Mourosde Afi ica, do que antes asWW^perimentado os leoens de Hefpanha, cujo

poder haviaó cedido a noflo esforço ,por ine

faltar a fortuna, naó o valor,

aT Pedido foccorro a Portugal que o

Princepe Regente zelofo nacaufa deUeos,

nadovtfinho com piedade inclinado ,con-

ccdeo faci! , mandando preparar' ««>«,«

nàos porporcionadas à fegurança daquella

Praça , dando pveça major a confideraçao

de que os tiros quebatiao osmuros deOrao

fazendoeftrcmecer os de Ceuta.aballavaoas

B 4 peara»

M4

*4 Viàa de Gomes Freyrepeuras de Marfagaõ

, & vínhamos com asflicfmas armas a defender nacaufa comua anoíia particular.

38 Chegarão à Carnota as noticias deque íe apreftava armada , a cuja expedição feaplicayáó os miriiftros fem reparar- fe emdefpezas ,ou trabalho. Como Gomes Freyrebuícava com maisambiçaó os perigos da vi-ca, do que pscpmmodosda pcflba.naó lhe fo-irendofeu coração o ócio em tempo que atodos chamava a honra de ar ri fcarfe em bene*too da Religião

, & do Império; paílbua-Lisboa, a preparar fe

fpara aquella jornada,

ae que naó referiremos individuados todososaccidentes por chegarem a no/Ià noticiatao eicaíTos que acufaô de culpa odefcuydpcom que fempre tratamos noflas coutas, dev-orando com défprezo no (ilcncio illuftresieytos com que Enriquecidas noflashiftoria*déramos a ler nas memorias os excrrj pios.

38 Naó refpondeo o fuccdlb ao pcnfa-rnento com que fe imbarcaraó de majs dosMbos

? & foldados muytos aventurcyrosque entereílados nos créditos d » Naçaó volíí-!tarioscornnô a traz dos rifcos,'deiprtfadaavida, que pródigos facrificavaô em benefíciocia honra.

40 Gurfou Gomes Freyre a Corte rodosqudle tempo, que a armada gaíiou ema,

prcl*

DeAnànàaUPàrtXtb.l if

preftarfc , 6c mofando fem P reque fcfvia

a honra íem o arrimo dosenterefles fcfPJ*^

fervou íem aparecer no Paço , nem íolicuar

dcfpachoà petição, que com tediosos votos

do Concelho de Guerra tinha fobidoparale

lhe concederem os Toldos de enteado no

feu pofto de Tenente General d iCavoaria

(como em outro lugar, ^yxatàOI rcfendoj

quando inefperadadelcepefcufada, notiua*

que recebeo com ainreyrm de quem em?

mav^como premio rnayor pdpmerecimen?

to, do que o da paga.

41 Comóaquelle Cabo nao procurava

medrar fçnaôfervir, o naô alterou aqulla

falta do defpacho, havcndo-fe com modera-

ção taorara, que aos que ou acompayxaô,

ou a íifonja , fazia atrever a culpar menos gra-

tidão aquella refoluGáo defima, rclpondia:

que os Princepes tinhaó penfamentos occulj

tos , que naó eftavaò obrigados a revelar, nao

obrando nada ,que mô foíVe fqpenor inipi-

raçaó, vindo muytas vezçs adtfpacharme*

íhor nas mercês que negavaõ, do que nos

prémios, que concedião.

4% Poíta a armada de verga dalto embar-

coufe Gomes Frcyre na nào em que h.ia fer-

vindo anccupaçoó de Almirant do mar o

| Meftre d. Campo doTerço da ArmadaGorr

•caBo da Coita de Menezes , em cuja tompa-":

-, nhia

t6 Vida de Gomes Freyretihikfe aliftáraó , a tmyoT parte dos Fidalgos;

(

a que chamarão os brios, ou o zelo da pátria,aoffcreceremfc fáceis a arriícar as vidas porcredito das pefloas , o fangue em beneficio daReligião.

43 Levado ferro foraõ os noflbs coravento feytodifcorrendo a tomar aaltura doCabo de Saô Vicente: dobrado o Promontó-rio íacro , navegarão em demanda do Eftreyto, de caminho foraó dando humatemorofavifta a todos os lugares da cofta de Africa; atèchegar a dar fundo no porto de Alicante , ef-cal la principal doRtyrio de Valença , ondecraõ mandado* a incorporarfe para dar guar-da a algumas vellas Caftel ha nas, que paíftvaõcom moniçoens, & Toldados a ingroflar oprefidio de Oraó , atenuado de gente , Sc baf-timento com os trabalhos de tao prolixo cer-co , que fofreraó cotiftanr.es , tolerarap valen-tes,

44 Aqui fe detiveraó os noílos algunsaias q aturarão impacientes na demora, com qtardavaó as ordens, mas gafto todo tempo cmtomar informaçoens do eíladojda praça , dopoder inimigo, da forma, com que guarne-cidos òs ataques fe achava fortificado naseí-tanças , de como fe vigiava, por onde podiafer acometido, que terreno oceupava, lemdeícuydaremfe de averiguar a ,mais ligeyra

cir-

Dê AftàtâàâlLVm.Ubl. af

rircunftancia, que podefic occukar fcufde-

acnhos , a noite difciphna. »

4c Moftrava-íe ]á a armada ífladas as vel- »

las prompta para anaveffar aqutila porção

do Mediterranéo.que divide por aquella par-

te a Africa da Europa, quando ao largo ie

devifou huma embarcação ligey ra que arra-

iada em popa, pelo rumo que trazia dava

íhoftras devtrdenundar aquella barra 2 co-

mo navegava com vento feyto nao tardou

muyto em dar fundo naquelk porto hum pa-

t*xo de av ifo ,que todoembandey rado ,

com

as flâmulas ,& galhardete s vinha dando de li

huma alegre viíta ,que os noilos interpreta-

rão pretogio menos grato, osnaturaes vate-

cinàrão anuncio feliz,

46 Comoem breves horas correfle pela

terra a yoz de que era embarcação de avifo,

que no dia antes fairada barra de Orão ,enca*

minhàrão os noflos a praya de volta Com os

Caftelhanas levados de affcaos difterentes*

huns a faber novas do eftado da praça/outros

dos parentes ,& amigos. Rompeo fe a noti-

cia ,que trazião do inimigo ter defaíkmib ra-

do aquella praça, que informado dos veti-

nhos, òu pelas elpias viera a penetrar, que

hamaarthadaPortuguezapaílaraoEftrcyto,

(faiaõfoy que osnufmos Cattelhanos, en-

carecida afortuna de noflàs armas, íuperior

a 110íw*

*B Vida de Gomes Frèynnotfas forças não querendo confeíTar-nos

fm novaxexperiência o valor, divulgarão o

< ioccorro.) Como a fama de noíTas vitorias ti-«naafeytoeftrctnecer o mundo todo, ma-yormcme contra Mouros : deíconfladoscia empreza, ou enfadados já do titio , emflue por muyto tempo aturarão confiantescom trabalho mutil, íe tinhão levantado compreça ião igual ao íegredo , «que a todospareceo temor o precepicio , a diiciplina re-ceyo. r

.• -

47 Fóy eíla nova celebrada dos Cafte-líianos com apiaufo uniyeríal, dos noíTos ou-vida comíentimentorião vulgar. Como aosioldados Portugueses , os tinha levado o en-terece de acreícentar huma vitoria mais a feustriunfos

, êç os trazia menos fatisfeytos va-gar, com que femovião os miniftros daquel-Ja expedição

, não íabendo deíímular a dorm feita do perigo, que bufeavão pródigosfio ^iigue

, da honra a varosè mal fofridos.

^negarão a acuíar a obediência, que os for-çara a tomar aquelic porto, culpando a de-mora que lhe roubou aoccaííão de merecernome

,alguns houve da plebeMarcial, quecom jmzo racil, entenderão, queosmeímos

rteipanho.s cmulos denoflo esforço Jerãoonvilo procurando tiramos agloria já quenaopodiãoovalor. '

.

H

48 Go:

De Anâraâa ILParLLib.L 29

48 Gomes Freyre , que em praça dt#íbl-

dado, hia avetitureyro paraaquella guerra,f

como era daquelles homens >que medião a

opinião pela grandeza dos perigos * a gloria

pela dos trabalhos , náõ fe contentando > de

huma vitoria que afortuna lhedaVa fera rif~

co, alcançada fó com orefpeyto, fem def-

erabainhar aefpadai vendo com o ameaço

fem golpe fiifpenfa a occafiãs ,que lhe fizera

ir buícar tão diftante a ambição de cortar no-

vas palmas para coroar ílus triunfos, moftrou

tão vivo fentimentõ, ?que nectíTnou de ali-

vio na dor ,de confolação na magoa.

49 Todo o tempo que a armada íe dete-

ve iòbre ferro furta naquelle porto * com a

gente defembarcada em terra # alojada era

quartéis , frequentava Gomes Freyre os

Templos aíTiftmdo nelks com efpecial devo-

ção aos Divinos Officios,levando-lhe mais

a tenção hum que lhe ficava veíinho deRe-

ligiofas Recoletas áem que fe moftravacom

reverente culto * huma verónica do Salva-

dor do mundo* que a tradição affirmavr,fer

o original, quefeu Sagrado roilo éftampoU

na toalha ^com que pafíada a ruá da Amargaia , o alimpou eompaffiva huma piedofa mu-

lher, no dia em que os peccados dos homens*

com infinitas injurias o kvavão a padecer

huma afronto fa morte no mçnteCal vario/)»-

r,

'

ek

30 Vida de Gomes freyrede acabou ás mãos do ódio pela falvaçao do

..género humano, cuja ingratidão fofreo a-

mante, tolerou fino.

50 Mis não fe farisfazendo a devoçãodaquelle Cabo , fó com adora,r repetidas ve-zes , venerando com profunda humildadeaquelle fagrado tnmfunto ; informado da po-breza igunl à obfervancia

, que profeílavaaqutlla Caia do Senhor, repartioxom cila lafcgas tfmollas, & ainda lhe folicitou outras doscompanheyros. Reftituido depois ao Rey-no , foube com rafoens fáceis períuadir aoPrincepc, fe oífcrtaíle com hum donativo,que na grandeza moíírou ícr cortado pelamão real . Damos aqui a ler a fua devoção co*mo argumcnromayor da fua Chriftandade,para que fé veja como não incôtra,antes fervemelhor a reverencia da Igreji, ao impériodas armas.

$ 1 Como a demaíiada corteíía , com que03 Mouros refpeytãrão noílb esforço, faziaigualmente inútil apaílagcm de Africa, &Caffiftencia daquelle porto, voltou a armadade Alicante a Lisboa , com todos os Cabos,& foldados

, mais fatisfeytos do agaíalho,com que forão tratados dosCaítelhanos, doque da jornada por não reiponder o \uçccfíb

ta refolução com que foy intentada aqueliâexpedição

j masaojuizo dos melhores, não

def?

VeAniraáalLPm.LibJ. 3*

defmerecérão os noflbs na voa da fama,aqfbel*

les aplaufos com que celebra huma ílluftref

vitoria $ que conleguirao noflas armas mais

gloriofa, por não ar >ifcar gente, nemcuílat

langue , bailando íó ouvirfe em partes tão

remotas o nome Poituguez primeyro para

dehnimar â logo para vencer huma multidão

de Barbaros,que fiados em íeu poder* tinhão

poflo em aperto á Qi ão^m cuydados a Caf-

tella.

f% Defamarradas as nios daquellc Por*

to forãodifeorrendo ingolfadas, & como ti*

«hão vento de fer vir, em poucos dias detvia-

gem entiáráoabarra*de Lisboa, ondevie-

iãoa dar fundo íem fucctíTo digno de me-

moria. Em toda cila jornada nâo paliou Go-

mes Frey re tempo tão ocioib , que não úzeC*

fenella ferviços aoCeo, à pátria beneficio,

Hião embarcados na meíma nào ,os maisdoS

Fidalgos, que o alvoroço de tingir aeípada

no fangue dos inimigps da Igreja , fazia def-

prefar , nos rifeos da guerra os perigos docombate , ou da batalha*

53 Como as lobras do valor na falta do»

annos , ajudadas as verduras da idade , doge*»

nio de alguns detnafiadamente aipero, tor-

naífe degeneradas âs galantarias em defeon-

fianças > chegando a tanto excefio os defa-

irimerjtos, que yinjmo a parar muytas ve-

zes

-~

3 2 Vida de Gomes Frefre

zes^m defcompoíiçâo as graças, os brincos

„em dcfaíios* Trabalhou de foite GomesFreyre por modtrar$aquellcs ânimos inquie-

tos, queveyo aconfeguir, que alguns ain-

da irmãos*!!' feparaílem voluntários , mudan-dofé a outros navios ^ outros fe fugeytárão

táo obedi: ntes a ieu árbkriof que tinhãoa re-

prehenfaõ por mimo, por favor ocaftigo^

donde vierld áíakar em terra; tão differen*

tes, que lizimente confeíiavão depois os mef-

rnos que antes alterada a cólera,- rnenos co-

medidos» fe deyxavão dominar do império

da ira j que à difeiplirn daquelle Cabo de-

vião o íêr de gente : com tanto artificio fou*

be a fila doutrina crear de novo diveribs há-

bitos níquel los nattfraes \ que trocada emhumanidade a fereza , chegarão a comunicar-

letfataVeis^aquelles mtfrnosj que intolera*

veis aos companheyros , & atè a íi mefmospefados/enão podiáo fôfrer eíhanhos.

5-4 Defembarcada a gente, como todos

vinhão jáconformes; Forãojumos os Cabosá

& Fidalgos beyjar a mão ao Princepe, de

quem vierão a fer recebidos com não vulgar

demonftração de agrado nos emboras da vi^

toria ,que confeguirão com a fombra , fim o

inimigo querer verlhes aefpada. Paílàdosos

primcyros comprimentos, em que expreílbu

afatisfeção.com que fteava do vallor de to*

dos:

De Anàraâa Il.Part.Lib.L 3

3

íos : tomou de parte a Gomes Freyre diztn-

dolhe : o enformaffe com individuação dos

:afos dajornada* dníido a conhecer neftafe*

paragãó ,ou fazia conceyto mayor de feujuj •

:o i ou confiava mais da fua inteyreza.

55 Sada exaóh relação dos fuceflbs da

irnuda $ feiri deyxar no íilencio o muyto que

aiereciaó os homens na obediência , com quereíogcytavaõem beneficio da pátria airbuf-

:ar os perigos por entre as ondas a climas di-

ferentes, fem oseftorvar oreceyo de tantos

ílementos, que com movimento fácil fc con-

luravjo i igualmente j em dano dos atrevi^

ios , fem excetiíar os fracos : que huns fazen-

3o do brio natureza ioutros: da neccflidade

virtude fouberão moftrarfe não ióàcrèdores

je premio , mas de eítatuás*

56 Demoroufe o Princepe,& comoGo»triesFreyré advertiffe naattenção com quefoy ouvido íeríão fazia pefado na pratica fe«*

folveo a largilla, dando conta do peníamento

com que andava de mudar de vida : mas co-

mo asdefpezas da guerra otrazião alcança*4

do ,& lhe euítava igualmente o dever í & opedir : propoz a nectffidade , não calando omeycwque podia haver para remedeadas as

dividas, fe livrar de empenhos, fem perten-4

der riovas mercês, que renunciando todas as

cjuê tinha recebido damaõ Realjempeflba^G «jug

34» Vida de Gemes Freireqik tomado 'por lua conta

4

íeifdeíempenfio,

f iicana locegado com osacrèdores ou pagos*ou iatisfeytos.

°

57 Como não dcfagradáraõ ao Princepeasrazoens, com que reprefcntou ÍUapobre^%% gaftas as rendas, os cabçdaes coníumidosemferviçodaCoroa, não teve difículdadealicença, ainda que não chegou aefTeytoporaccidentes, que itm alterar odefpacho íuí*penderão a execução, osquaes pornaó en-volver coufa fuftancial deyxamos de referiraqui, não como alheyos dahiftoria* fenãoporeítratíhos à brevidade doeftyllo que fe-guimos*

58 Defpedido do PaçojComo fcguia vio-lento aconfufaó dos tumultos populares, a.tnando por natural inclinação afoledade,feretirou da Corte com o pertexto de ir a def-cançar dos trabalhos da jornada , fatisfazendoaosqueiatentavão diiuâdirlhe como vicio odemafiado defvello

, com que iolicitavaapai taríe do trato dos homens

, que não fugiapor virtude a comunicação das gentes * fenãoque para bulcalla menos infaftiado, hia naquietação do campo gaitar o injoo do mar.59 Pouco tempo era paliado

, que go-zando do focegOi Vagava no ócio , íatisfeytofia fohdão dos montes em que ie divertia, a-frendcnd[c)

èno robufto dostropcos a fegu->

rança

De Jndrada iLPàrt.tihí. ^fanca convquecrecem ,em quanto vivem fo-

itarios rios mattós: quando de repente o afal-

ou a naó cfperadá dccailao de fofrer o mayorrolpe na falta da máy j que erií breves dias de

ioença acabou cheya ainda niais de nlereci*

àeritos, que de arirtos : como fe fazia igúate

nerite amâdá dos feus, & doseftranhos pelaâ

>rendas naturaes j de que era dotada , mais

linda pelas virtudes* que foúbe adquirir, fez*

elheefta perda tãoJfeníivel, que aojuizode

nuytos pareceo ,que deíetiganado do mun-

ío , bufciria a tâo defmedido pezar , ò alivio

iafepultura de bum cláuftro , onde morto à

erra fó viveíTe para o Ceo.Eííe era o concey-

t>, quefizerâo aquetles* que pezando me-nor as forças da magoa ria demónftraçaõ dapena laftimados o ajudavão , ou a feritir o pe*

&ari oii a padecer a dor ,

qUe chorando occul-

:o , no publico defimulava as lagrimas por

sreditodo valor , como fefofle culpa os afie*

5fcos de filho, ou oserteytos da natureza of-

fenças da mão.6o Não erão pa findos muycos dias do \\x*

to , quando chegou a divúlgarfe , que para

tia diverfáõ enxugar as lagrimas , fe tinha

contratado com o Abbade de MaFaratc Em»bayxador extraordinário da Coroa de Caílel**

la no Reynó de Portugal, para nasfrontey-

íás de FlaudrejÉ ir a íervir nas tropas de ÉI-

Ca, Rey

36 Vida de Gotms FreyreRey de Hefpànha ; como não foy tanto o íe*gredo, que logo no principio não chegaiTcapenetrarfeaquella negociação

i correoavul-tàda com fuplementos t ílranhos, com a mef-mapreça com que defcorrco pelas cafas dosgrandes, fobio aseícadas* entrou pelas por-tas nas falas de Palácio fem pai ar antes do ga-binete mais occulto, onde afirmada na vozde todos íereprefentou tão adulterada, queamefmatintacomque a pintava enfcytada alifonjadehuns, erafombra com que efcure-cida a ateava a emulação de outros; como ca-da hum lhe dava as cores da lua enclinação*veftida ao modo de todos em trage de prd-petiva paflbuligeyra aos ouvidos do Prince-pe, em cuja opinião recebeo> ainda que en-fermo algum credito*

6*1 O Princepe que fazia efpecial efti*

mação dos homens, que fabião finalarfe va-

leroíos , fentido de perder hum Cabo que aguerra creára grande , & moílrava ainda ma-yor a paz, procurou com camélia enformar-fedacaufa,qucolevava a militar empaizef-tranho \ averiguado não fer o motivo

,quey-

xa , ou dcígofto , fe naó o defejo de confum*marfenaartequeprofeílava, ( tendo por vi-

cio eítar parado fem movimento em que gaf.tar as horas no focego as forças intropeeidasno ócio , furnas fe poftraó enfermas outras f«

confu-

®è Anàradâ Ih Part. tibl. $f:òníumem inúteis ,nernlouvpu ,nemrepren

lendeo a refoluçaó.

6% Não faltou quem referifle a Gomes

Freyre os cuydados , que no lemblante fe

leyxava ler , tinhão começado Fa dar as notU

:iasdaaufencia, que íe divulgara intentava

fazer do Reyno * enfinuando-lhe de cami-

abo, o efcandato que podia fegu ir fe , de ajaft

tar partido, com hum Princepe Eftrangsy-

ro, antes de ocommunicar ao natural, de

quem tinha recebido favores públicos , &de mais das grandes mercês, de que íeu mere-

cimento o fizera acrèdor benemérito, outros

benefícios efpeciaes que excedida a gratidão

finalavíoocfcyto.

63 Gomes Preyreque íe achava ínno-

cente,moí!rando-{e juftamcnre fentido,na

trato doble cq,m que adefaffeyção pertendia

ofílnder, ou a fua aitenção, ou a fua obediên-

cia ,procurando fatisfazer primeyro a quey-

xa do Princepe , do que a fua opinião , não

Eardouaappurecemo Paço, onde naprefen-

ça daqu.He a que reverenceava fupcrior , re*

ferio com fumiffoens naó (o de vaca lio, mas

defubdito, que fe lhe comunicara a jornada

de Flandres com avantajado? partidos , de

que era certo, fcnãa detagradára ,porque não

jiavia coração tão moderado ,que ckfcfti*

mafle ouvir í;u nome celebrado com applau*

G3 foa

3B PUa de Gomes Fteynios cftranhos

; que fem entender que era cul-,,pa .admitira a pratica das propofiçoens , masfem chegar ao ajufte das conveniências : por-que comoa conclufaódaquellc negocio ef-tava pendente (Jajicença de fua Alteza 'nãopafla.aa mais fem primcyro 4ar parte, parafaber íe a refoluçáo do dtfterro , a que fe of-ferecia_yoluntario, elã defcu Real agradoquepaonesavaeftara vontade prompta fe félhe çonceíece a liberdade de pari ir paraaquelles Eftados.oquc agradecendo como

Utdidade^de medrar acrefeentando nos pof-tos íenao pelo intereflè de ir acabar dea-prendGr nos frçqucptes perigos da guerra avafta fciencia da? campanhas

, em que erameftra melhor a experiência do que a arte;que os Paijes bayxos eraõ o teatro em quePa-Jas

,com primor armada, repreíentava as Ce-

nas; ou as tragedias Marciaes, em cujo efpe-taculo defeja va enfaya. fe

,para voltar a fazer

melhor o papel nas noíHs Frontey i as , fe ou-tra vez mudados os bftidores, tornaíle a ver-iencllas Bellonafurioia, indignado Marteque nos trabalhos, a que fe expunha p10cu-rava menos fervir aosaffiftos dapeiloa, doque aos da Patna

, a q U< d. via o fer; q Ue femembargo da diftanc.a

, em nenhuma neceflu(Jade vlpReyno citaria longe, nem o adiaria

falto*

J)e Andrade II.Pdrt.LeJ. 39

alto, porque em toda aparte que eftivifle

lada lheferiaimpedimento,oueftorvo,pa-. ^

•a que com a efpadafizefle caminho ,para

ãr a foccorrello em qualquer accidente ,qu<?

:obrevieíIe, porque nos eftranhos çranolpe-

je, filho nos naturaes. . ,

64 Naó menos attento ,que admirado

puvio oPrmcepe eftas razoens , moftrafldo

no lemhlante.naó. menos nas palavras, o dey*

xava fatisfeyto a fingeleza , com que Ufamen-t

teconfeffando .refpòndeo aos cargos de que

o acufava a oppofiçaõ de alguns, que affirma-

váo fe tinha contratado em. fcgredo com o

Emhayxador Cr.ftelháno ; 8ç querendo mol-

trarfe grato o zelo com que inteutava apren-

der novos prccçytos entre as armas eltran-

gevras, para depois fervir melhor a Pátria,

luydou fcomo logo refei;iremas)em oçcupa-

lo, em outro emprego ,que veyo a malograr

a Politica com o pretexto de achaque.

6f Tinha- fc por efte tempo nomeada

por Enviado a França hum. Min.ftro (ainda

que benemérito da oceupaçáo) que fe nao

confirmava a eleyçáo com aparecer de al-

guns dosentereflados: como a importância

3o negocio ,era de qualidade, que fe fazra de-

pendente de inftramento proporcionado a

fatisfaçáo de todos , poz o Prmcepe osolnos,

yara. aquella. expedição em Gomes Freyre*

Ç 4 ^

1 %o Vtàaàt Gomis Fnyn

SÃ d"V|douacey[ar » jornada, fópelò

,

cntereflè de fervir em emprego , em que le-vava menos conveniências, que trabalho.66 Depois de terconfumido cabedaesK dias nos apreftos, veyo a entendcrfe

, que'mo acomodava a grande inteUigencia da-quelle Fidalgo para agente de hum negocio.em que importava

, nàó chegar a per|evCrarquem o tratava, que para fatisfaçaóde peflba

major entereffada fedefejava a pratica, mas«ao a execução : como a política da Co, teveyo aperceber dojuizo de Qomes Frevre.que nao era daquelles Miniftros

, que fácil'roemecredulos podiaÕ fer os primeyros en-ganados

,creou embaraços novos, que tolda-

do o gofto , lhe intibiaflèm o apetite.

67 Demorava. fe o defpacho,fem GomesI'reyré poder penetrar as intelligencias, quelabcravaotecretas

, atè que bindorfe já avefi,nhando otempo, que por ultimo prafo daPartida íe tinha decretado ,começou a achar-le, ainda que levemente, alguma coufa in-dilpofto,accidente

f quedeulugaradefvial-Jocomtaorara lubtileza, qu,- amU ytos pa-receo compayxáo o agravo, favor a offenfa.6« Como a molcftia abrio porta ao in-

rentodefentereílados começarão adivulg-<rgrave o achaque, crecendo cada diaencue.gldo na boca dos que comapparente laftima

fingiao

- DeAnârââalLPart.LibL %%

finaiaõ docrfe da queyxa ,que a teítavaofnal

emprc«da,cm fogey to de tantas eíperanças,,

ôcparccendorlhtsque já o podemo apartar

tanto fem agravo, qpe ainda vieík aconfef,

farte obrigado naoffenfa aosmdrnos amh-

ces do engano, de quem paciente íem srepa-

raríe eftava recebendo no coração as lança;

das, na alma fofrendoas afrontas ,começarão

a entender com demafiado calor nos apieitos

da viagem, avifando-lhe f^fizeíTe prompto

para logo embarcarfe ,pornaõ prermnrem

yaearefos negócios, nem o tempo dilaçoens.

6o Gomes Frey re a quem ja trazia cuy-

dadofo, ou deftonfiâdo a tardança ,pene-

trando agora que o fim a que fe encaminhava

tão aprèifoda expedição , era bufear na iua el-

cufadeículpa ao agravo: comoera n sreío*

luçoensprompto,cortando pelosoVeipon-

deo: que lhe não faltava mais que a inftruçao

dos negócios, que havia detratar cm França-,

porque de tudo o mais eftava aviado ,porque

fe creara defde o berço nas Campanhas, onde

muytas vtzes fe contentara com o p.P de

monição nas guerras da.terra, que paia as

viagens do mar fe fatibfazia mais do que das

confervas doces, de bifeouto, & de agua.

70 Dcíla repofta -vierão a inferir os emu-

los lhes penetrara a intenção , tendo comia li

as conciencias,que ps acuiavãp culpados: mascomo

42 Vfya de Gomes Frèyrècortjp eftavaó determinados a defviar-lhô

(

Murlle cmprcgo,cn, penhárão todas as forças,por diíuadillor propondolhe nomovimenro

o perigo. Vendo depois não fer fácil aballar•que lc animo confiante com asrazoensemqu^lhepropunhao pudida afaude, ávidaamicada procurarão que ojuizo dos Fificos,

fer^A r'co™ fintomas «ovos, huma en'

termidadefuppofta, capitulafle mortala do-ença, a refciuçaõjá delírio.

Ji Como a oppofição cobria ícusinten-tos com capa de zello , nas cores de piedadeveyo

í Ma opiqiaõ a receber credito tomadas astorças, que lhe dava o engano comapparen-ciasde verdade. Aprovou o Princepe a caufacomo «obrada a poupar os perigos de qual-quer iubdito

, quanto mais os de hum vaflàl*Jo

,que fazendo-fe pelas virtudes benemérito

dos agrados, lhe era por natureza inclinadodelorte,quedcu não vulgares finaes moí-trando nopezar acompayxáo, na dor os af.tectos coro que fentia perder em tão verdesannos hum homem para tanto, iaítimando-íc, na molcltia que nrj botada a efpada lheem-rbainhava o talento.

W^ Aílentado por todos que os males ti*nh; o ja cortado asgrandes eíperanças, que delidava aqudle maduro juizo , ieconfultouSçreíolvco enviar opnmeyro perdeflinado'

para

fjeAndràdallPàrt.tibl 4#

xna aqueHacmpreaa, ficandooutra vez efco-

,hida a mefma pedra reprovada egurandQ a,

SomesFreyre, para temperar-lhê no agra-

Vo huma parte daqueyxa, que aquelle Mi»

niftro levava os poderes táoquartados, que

jenáo eftendião a mais que defpofiçoens.pov-

que fe qachaque defle lugar ^pnvalecer h|*

ria depois com mais autoridade, ajuftar aul

íimaconclulaódaquella enu>yxda que ou

por falta das intell.gencias, ouporfobns de

negociaçoens fe tratou com calor ,acabou

íemiffcyto. , , -

72 Gomes Frey r.e q íem embargo do íe-

eredo que feoblervava inviolável ,penetrou

tom vida mais aguda.o curto cpm que le roo-

yiaó as esferas politicas encaminhadas acon-

feeuiro fim de ò deixarem pffcndido.mas nao

queyxoto, defenganado dos relógios porque

fe governava a Corte, que temperados por

dentro comeftranho arteficio, ou davaocm

falio as horas , cm traziáo errado o mqltrador;

pornáocahirem fegundo engano com a cu>-

pa dosbifonhos, ou facilidade doscredulo?,

fe reurou â fua quinta da Garnota , onde co-

mo olevafie dcfgoftofo o trato dos homens,

entrou na çonfideraçâo, de tomar eftaJo. tyi-

clinavafe aoEcclefi ftico, que felhepropu-

nhafó proporcionado a quietação, a que poi

génio éta aíFeycoado. Gomo fpy^P"^™

H Vida de Gomes freyrercHkvcr fácil

, paffou Jogo a eftudar os winS,-C-P.os. da hngua latina, dequeaindaKlES"05 COn<er

Ta^"»,-nd SueDieveJuz, começando a darfe todo aquelle2,C'°. com ofervordequem interna",tugido ao mundo bufcar na Wia fJ^T*

a vida, íèguro à fal vaçáo.8 J ã ad°

74 Saasfeyto com aquelle género deoc-CUpaçaoemq fedeleytava aproÍSdopaf.

fund°oHdVaSCmf

r,8.b: ^aLochegouadÍ

&a Sõ ThdC^,Sb°a huma nao vinda*

vern^ Jh°me'em aue tachava Go^

SrSo ^rnardlm F^yre * Andrada

rnrfll Vdequem recebeo ««as, & no

S,nô p •

areco,rida^ dehuma '»'

ponanc a°/mccPc Rcg<=»«

,que pela im-

Ircchc £Í 1

nerg0Cl°' «I^^tava fc fazia

C° £f da£Ja mão entregue na defua

F év"e,?°Tefta occ'lfi*° vo'tou Gomes

Jacio óurrTc1

!, *T COmo n5° tillha «« pa*

Sncllde^.

ndjnc»s

,& o trasiaó dema,

ruia ffilenfa

^iad0

?S tumu,c°s 4a Corte,Puja a«ift;ncia ic lhe fazia pefada aogofto

ffil :'o,cnta ' no mefm° d»«"'SWE '

eF,r°> 1« entereffado no deícançoiegoia por inclinação, eftimava por premio:

iaálca 'nc>uanto Gomes Freyre ambicic»

oue ,5.CCg0 em

rmb* ém demanda doahVioque achava na fojidaó, daremos relação do

que

T>eÂndradaII.Part.Lih.L tfque cm fi continha a carta do Governador de

SaóThomè >por vir o negocio dequetrata-,

^

vajainquietarlheoocio em que vagava íem

emulos contente , lem premio fatisfey to*

76 Lida a cana fe achou avifava oGo^

vernador de São Thoroè , que o Capitão Dr-

namarquez que governava oCaftello deSaô

Jorge na Cofiada Mina ètinha ajudado en-

tregar aquella Fortaleza, que os Português

zeshavião edificado pelos annos de mil qua-

trocentos oytenta êcdous, reynando DomJoaô ofegundo donome, em cujo edifício

trabalhou incançaVel Diogo de Azambuja

Comendador de Cabeço dcVidc, St Alter

Pcdrofo na Ordem de A viz.Varao vei dadey-

ramcnte grade, de cujas virtudes fe açhaóem

noílos volumes não vulgares memorias de

outras ,que eíquecidas a noflas penas jazem

fepuhadas no filencio de noflosefciitos. Não

fera digreífcõ mclefta darmos aqui em rela-

ção breve alguma fuecinta noticia , em bene-

ficio de homem tamanho, que folhe faltou

para hiroc o volume , não a fama, nem o me-

recimento* * ;

77 DefcuJpãdos com oddcuydo de noU

fos hiftoriadores não referimos o esforço

com que nas guerras de Caílclla,& Conquif*

tas de Africa lervio a pátria em tempo dos

Reys de Portugal Dom Affonfo V. DomJoaõ

4.6 Vida de Gomes FreyrèJo.fell. Dom Manoel I. em que à cuíca do

f.propr,o Zangue quebrada huma perna no a f-.íâkorcndeo a V.lla de Alegrete, efcallou aCidade de Zafim, fundou osdousCartellosdeSao Jo.ge, ícoRo.!} ló expomos comoafgumenro mayor de fua piedade o valor,com que defprefados os applauíbs , com quea fama yu gai ifava feus triunfos , efcond.doa vaidade le apartou a vagar para Deos o ulti-mo quartel da v,da , retirado em Monte mòro velho, onde tinha nafeidò illuftre filho declaros progf-mtores.

78 Ail. fugindo aos brados da plebe quecelebrava feú nome, gaftou osult.mos diasoceupado em fundar caia à Religião Eremi-ticadagrandcluzda Igreja SantoAgoftinho,-em que lavrou lurhwofo templo à Rainhados Anjos

;riaô refpondeo o complemento a

grandeza, com qUe Ce principiou obra tâomagnifica; porque antes de fe contornar oedifício,- o veyo a alcançar a morte cm idadede oytema & féis annos , aos quinze de AgpCto de mil quinhentos & defoyto, jaz fcpulta"-donaCapellamorem humíoberbo tumulo,no qual de vulto relevado fé moftra vertidode armas brancas fobre apedra, que cobrefuás venerável': cinza?.

79 Ao trabalho íncanfavd de rão famo-foheroe devemos o Caftello de SaóJorge na

tofta

fizAndradalLPart.Lih.t éfi

Coitada Minadcficnfavcl pela arte , haô%>e^

nos pela natureza do fuío, fcm quatro gráos|

& mcyo a Norte da Equinocial nas prayaside

Guiné, levantado fobre huma rocha viva*

que dominado o mar cobre huma dilatada

porçaó de Campanha, na foz de hum rio em

ttoflas eferituras femnome, com fundo fo-

brado a ancorarem nàos de todo o lote , guar-

necido o porto com três fortes* & hum redu»

&Q,acavalleyro da barra, que fazroítbahu

padrafto * que da outra parte a condena , com

hum fòflo aberto aopicaõ narnefma pedra,

que o deyxa inexplicável aos naturaès, aos ei-

tranhosinaciíiveh

8o Correo aquelía fortaleza com o tem-

po varias fortunas, na era de mil fcisccntcs ÔC

trinta fefette feyriando em Portugal Felip-

pclV. deCaíielía pafíbu ao domínio Glanrdez-conquiftadó por Joaô Coino' Capitão da

Guarda do Conde de Nafau ,que difeorren-

do por toda a Coita de Africa, depois deva^

riasefeailas , cm diferentes enfeada* , veyq a

dar fundo naquel.lc Porto , que por menos

vigiado ganhou fcm oppofição ,qtíe Ihefi-

zcíle aeítaneia arrileada, ou a entrada euf-

tpfa.

81 A facilidade , com que os Otande&M

dominarão a barra, osinfitou adefembarcar

milU quinhcamscçfmbítcmc5,íi com a me£ma

48 '.

yFida dê Gomes Freire

mnvordem, com; que ferrarão a terra fòrfepondo o íitio ao Caftdlo. Como aquella For-taleza fe achava tâo falte dt gente como demoniçoens , & cífes' poucos

, que a guarne-cíaõ com tanta confiança ; como homens quemó receavaõ ainvnfaó, nem tehliaó aquel-lesiniríiigos em partes taó remotas, deu lu-gar íeu defcuydo a experimentarem o golpeprime yro que vhTem aelpada;

82 O inimigo, que nãof medos valerofo,

que diíeiplinadoáfez da falta de opofiçaó ar^

gumento da noíla fraqueza ; trabalhou emadiantar as luas iiríhas,' que naõ achando eí~torve» em noffas armas crefeéraé femtempoj& fem medida» Lavrados os ataques,-& aflef-

tados nas batarias os canhoens Olandezes*começarão a laborar com aballo ainda mayorno coraç iodos cercados do que rias pedras daFortaleza s fendoa primeyra baila tirada con-tra osnoiTos a falta debiftimentos, femef-peranças de foccorros de fora, neceflidadeque com leve reíiítencm os obrigou a ren-devíc a partidos, por naõ acabarem com va*lor defefperadoem huma deffenfa inútil.

85 Confeguida aquella vitoria que lheajudou a ganhar, com naõ pequena parte nof*íb defcuydo, tornindoína-fe menos glorioía

mais fc gura a debelidade do preíldio: por lhe

dar hum triunfo llm fangue, entrarão os

plàn-

Be Anàrada H.Partittb. t. M>íandezes a arvorar íuasbandeyras, no mlf-;

io lugar onde fe abaterão,no (las Quinas , ra-

iando poífe da rdefma caía que os noffos lhe

nbaõ feyto , 6c defpejáraó, riaó menos fenti-í

os do íuceffo ,que roubados os bens os def-

ojou da reputação, do qUê laftímadòs da-'

uelles Ghriftãos* que amparados àfombra

as paredes da quella Fortaleza católicos

onicrvavao a Fê , & a liberdade fcrii temor

e perder nutria ria crueldade dós inimigos,1

utra na diffcrerite religião ,que profeílavâõ

a falfa doutrina de Lutero * & Calvino, que

íles deraó a beber por hum meímo vafo era

arios Dogmas diverfóierros;

84 Pouco fby o terripo que aquella prà^

;a durou da devoção Ólandeza , paliando

>or nòvòs acidentes ao Senhorio de Dina-

nàrca,a cujo Imperid obedeceo por alguns

nrios i íbgeyta com violência a Ieys , &?rincepes eftranhos:cómo aquellaFortalezai

me lograva as liberdades ,& ftíros da Cidade

leSaô Jorge concedidos em Santarém por

SlRey Domjoaólí. aos qiíiiize de Marçoíemil quatrocentos &oytenta & féis ^ era a

srimeyra povoação , que noíTos fòldadòs la-

carão naqdelías partes fofria-te como inju-

*ia do valldr a paciência j com que tolerava-

rrios erri alheyas mãos , as permiffas de rioffos

sâítellos,naqucílepaiz.

o

5& Vida de Gomes Freyre8jT Bernardim Freyre, ouporquejá deReyno lcyafle poriníbuçaõ tentar aredu«

çao daquella praça a noílb dominio ; ou por-que tinha porofFcnça de feu governo

f con-fentir de tao perto aaflrònta de noíTas armasentrou naconfideraçaõ deréftauralla : qui-fcera ententar aquella empreza com força def-cuberta

,mas como lhe faltaíTem meyos por -

porcionados a expugnaçaó, receando fe lhe

notafle a refoluçaõ intempeftiva , o valor cul-pa

,refolveo acomodado a neceffidade dos

tempos, era quanto naõ defcobria caminho

ou mais fácil, ou mais feguro a entrega ouentrepreza ,toleraríe fofhdo na dor, na inju-ria paciente. J

86 Como as coufas de Saó Jorge traziaócuydadofo ao Governador deiSaó Thomènão defeançava em idear artefícios , com que*Viefíe a conleguir a honra de dilatar poraquella cofta a Religião , & o Império que feachava hum declinado, a outra abatida. Dc-pois de vários difcuríbs, em que gaitou al-guns dias

, fe lhe propoz, feria melhor confe-Iho fohcitar a comunicação do Capitão mòrde Caftello da Mina- porque fe refolveílèvendemos a Fortaleza pelo preço, que noshavia decuílar aConquifta , fcmpre vinha-mos a comprar mais barato, poupando ore-çeyo de perder gente, Scarrifcauiàos fema

cerce-

De Anatada ll.Part.LM. $ l

terteza de refponder o effeyto ao penfamen-

io,!depois de exceflivas defpezas confumi*

ias em baftimentos j-gaftas em apreftos.

87 Iníitado de lemelhantes penfamen*

tosyque lheeníinava a vangloria de em Teu

tempo ie reftaurar Portugal de perda taõ

coníideravel,determinou pòr em pratica feus

dezenhos* Como era no refolver prompto,

em executar fácil, fem maisiconfultajquea

do feujuizo iporque a comunicação não di*

Vulgaffe os intentos, por ler aquelle negocio

dependente decobrirfe debayxo das azas do

fegredo : não tardeu em defpedir humà em-barcação ligeyra com pefloa intelligente,que

aviltada a cofta de Guiné fe fo fie cozendo

com a terra a demandar a barra de Saõ Jorge,

com aparências de arribar neceffitado,por

ter corrido no mar fortuna * que travada pra-

fcicacom o Capitão mòr da Fortaleza procu-

raffe das palavras > ou do femblante penetrar

o animo daquelle Cabo', & achando modode*

o ganhar o tentafle > entrando primeyro a

perfuadirlhe a humanidade ,com que os Por-

tuguezes agafalhão os Eftrangeyros , depois

introdúzindo-lhe quanto milhonria de par-

ido fe leílituiííe aquelle Caílello;porque fe

lhe reprefentava não feria em preza dificul-

t)fa , a mudança de opinião, em Toldados que

fcais ambiciofos dos enterefle« que da gloria,

D % pro?

•f^ Vida de Gomei Freynprofeflavaoengroílaríe dos tratos maís que

< dos defpojos ; que as naçoens do Norte comoerão por influencia doaftro de natureza in-conftante , com fácil Religião vendião a Fea troco das conveniências; porque das armasque veítião forçados, ou voluntários , não fa-

zião degráo à honra , ítnão efcalla ao comer-cio.

88 Como o menfageyro achaíTe ventosde fervir chegou em poucos dias a dar fundodtbayxodoCaftdio, repreftntando nasmi-ferias de deftroçado das ondas a neceffidadequetfrazia derepararfe aimbarcação dosef-tragos

9os marinheyros dos trabalhos, não

menos da falta de baftimentos de induftriaIão taxados que não levàraõ mais que òs pre-cifos aos dias de viagem. Alguns que fobrá-rão para darapparencias mayores de verda-de ao engano mandou o Capitão fealijaíTem

ao mar, não íem indignação dos companhey-.jos, que ignorada a derrota, no ardil necios,

acufaváoopreceytodecruel, aley de barba-ra : queyxa, a que fatisfez com moítrar-lhealguns que refervou corrutos apontandolhesa terra onde fe provei iaõ de outros ,fe commais cufto , melhor acondicionados»

89 Forão os nofTbs recebidos do preíidic

com laítima , acharão no Capitão mòr encompayxáo deperfeguidos , agafajho de ho :

peds

,edcs-'o tempo que alli te detiveráo gaft»u q

So em notar osfurgidouros doRio

a

aua idade do porto , as deffenças , & artefi-» ,

-Som que aquella Fortaleza eflava traçada,

IforSque fecompunha fua guarn.çao,

o cuydadoMn que fe vigiava as moniçoes,

armas, & reparos de que fe achava provada,

ftmdeVcuvdarfe demoftrarao Capitão com

va a conhecer grato ao beneficio ,obriga-o

dotmo : arteficlo cftranho com que veyo;

a

adquirir a familiaridade daquelle Cabode-

fcS que deyxando londarfe , **gj£cer odeígofto, com*™™*£^Mkmfeyto da intemperança do clima, °«»g»faudades da pátria , ou receyo dos contágios,

que aUirefultão perigofos, por caufa ou da

dignidade dosares da W^jgg3rompem os ares. ou do. ngor dos calores

que naquellas partes fé experimenta? excef-

fivo pela vefmhançadalinhaipor vir em al-

àumaeftaçâo doanno a ficar os rayos do Sol

fomevo dia perpendiculares,com tanta in-

enS que trocadas as cores dos homens tin-

gemde pardo aos brancos ,de preto aos me-

n"o

ar

CS

;maofogeyto,aquefetinhafiado

a importância daquella imprela, era nas.n-

telligencias aftuto, em ncgocear pratico.con^

^1

ff Vida de Gomes Frêyre» mefmas artes com que k mtroduzío fe fi>«aproveytando da occafião

, par ° lhe ?cr,ÍT,

.do novos temores, à fomL do <Wque ,a padec.a

, encarecendo, quan o ma Ue'

las partes perdidas as cores femzizifZXPengo

,a v.da arrifeada , fen honra nem^

tereflequeaqaellaFo/talezafopodTcon'

£rvarfe "° doininio Portugucz cu°o .^u

^Tfaváonasinclemencia's díÊK ode-andofijas armadasdefde as portas doclW

Efp rSçfl' f ar/doCabo^boya*,>perança da hi voltando por Mocamhi

quechegaváo.dobradoodeGuardaSS"

cZenlaqUe

rm

'&0 P0rt0^ Sues, & dif-erido por efpaço mais de c.nco mil lê-

circular r-I^ ,' "ao,he faItando P*ra

PrE' la,f Pen.nfola.que íeclW

eo m ,;c ' " & quatrocentas de lar-

fftC o,.?!?- TiUCnq r° rta dc ter«,ou

í o &

a

qD"' d

JV;de hum «"^iterraneo d. 'ou-tro « a pm d ,

fas c

J *c'ArSel

» frenieccm» até os muros de

Ceuta,

DeAndradalLPart.LihJ. gfeuta , que tendo já com os habitosfeyto «*j

2a dos trabalhos, fofriáo "^"*«f,

lelles prefidios ,que aturavao^metfior que

, naçoens do Norte, que levadas ao dego-

douro lacrificadas nas aras de Neptuno ho.

.cafto a Marte, em lugar de incontrarem,

ara a habitação cafa , achaváo para morrei;

-haque, para fepultarfe tumulo,

qi Paffou daqui a reprefentar ,que os

"ortueuezes atè então occupados com as

cerras dos vefinhos em fuás fronteyras ,lh<$

iltáráo naó as forças, mas o tempo para Iç-

arem fora fuás armas , mas achandofeja em

,a2 com os inimigos dk porta ,pegadas a?

Ufcordias domefticas, comoerao mallotri-

los nas injurias, naótardanáo em cobrar as

erras, que afeu domínio tinha perdido o

delcuvdo do governo Gaftelhano, que era

gente táobriofa, k«p*«p,D,aaaos interefles; que fendo aquelle Caftello as

primícias dos p^droens que em beneficio da

Religião levantarão na Etiópia as memorias

de léus illuftresfeytos, feria opnmcyro, a

que alfeftados feas canhoens, expcnmentafle

feu rigor ,quê fé entaÓ rendido da força ha-

via delogey tarleàs leys de vencido , melhor

confelho tomam, fe refolvefle entregarfe an-

tes fem experimentar o rigor de nofla efpada,

ajoftando-feapartidM, comque nco vieflè

i

^6 Fida de Gomes Frèyndtyois a viver fenáo taó honrado , mais íegxH

, to. &

ça Fizeraó aquejlas razoem tamanhoaballo no coração do Comandante, que nãotardou a rcfponder com algumas dtmonf-traçoens de inclinado, mas coeio ainda osbrios lhe faziao alguma força , fe recolheo adifcorrer na matéria? gaftas poucas horas fa-luo refoluto a entrar em pratica de partidos,a que fe acomodou com refoluçaó taó fácilque logo ajuftou vender a Fé a troco dosin-'terefles fo com a condição de ir huma nào deguerra Portugueza

, a cuja vifta perfuadiriaos feus a enti cgarfe, primey ro que chegaílema expenmentár a crueldade do noflo ferrofobreaintemperança do clima, que fe faziacircunftanciamayor.que aopin>aó daspel-foas creadas fobre hum Paiz gellado , reprc,ienundo feu per.go fupenor nas doenças,que japadeciao os filhos de huma naçaómaisacoftumada a tolerar na vefi,,hança do Polo

ZT°r ^K°rCS da

JZon ' fr«id<! do que a fo*

Tórrida ° 4°^^^ °5 ard° reS da

93 Ávifava Bernardim Frevre do tiladoem que ficavaó ascoufas da Coifa da Minacom a individuação, que temos referido &fomo pela inidligcncia daquelic Governaidor le achaflçm taó ad (antadas as negocia-

THAnârahlIVart.LibJ. fi

coens fov recebida do Princepe efta noitcm

quifta de huma fortaleza , ta .que íe_Utjumneftado com reputação, com enterenes os

leBravaó iá coro as certezas de potie, o que

nSvLfovagavapenden^dasUTcerte.

lasdaefoerança, tuias prorneffas vivem 10-

St aVdominm de accdentes que ou va,

confequencias daRehguo, do que wla,do

Império , começou a cuydarfe ,em iogey^

Snetncnto 'da occupaç*?^penhaf

Jeo credito da naçaó , nos cafos daqueUai

em*

«rela em cujas dificuldades havia deobrav

S par™ mayor a arte do que o valor, entre

Sos queícpropozeraó pareceo Gomes

F?eyr° amais pLp^orcionado, para ospen-

íósydaquella facçaó. huns o apontavao inca*

fecendolhes fingelkmente as v.rtudes,/e-

Smandocomlifura ojuizo quefaznoda

Soa omros que naõ fe contentando com o

Er dosolhos do Pnncepe apagada

Corte* ptocuravnô comcautella deíteriallo

do Revno , o pintarão ainda mayor que a fa-

Sí guPa a fi melmo. Taó conformes

KiraóaUi huns, ft outros coneeytos

58 'Piia de Gomes Frêyrè

íSriíhSi;?T km VarÍar de cor vi^a5a cortar huns o luto

3 oUtros agalla com aue

9* Aprovada por todos a elleyçaó fowGomes Freyre chamado à Corte, ondeWrecendo com prompta obediência f°lhe ntPOZ a importância daquelle negocio E£í"L

ex

ê;mçoó*H fe*t0 SítdfS

SunS* °SCUydad0S da "STSzia alguns penfamentos, que fe começaraporem execução", de íetlrarf S fSonde em huma vicia quieta vagafle fo,'

StSlT^ 1"^'1 "a fuaoP-n-otantoo

ouen.L ^nncepe em diIa"«- o Império,

?rfn,• ,Í

uv,dava «porfc a novos rifcosSiranainaiu atedar aultimagotta defaneue

ES" «»«i fogeyíaó defta So *

d7w S •"- eftranhas. iue apartadasda Ig.eja v,ylaõ eu. feus erros , fervia ,

nl!n?M0 torna " ;io acreardenovoaquellas

eomec!*^ fcfeCaraó «»"• quandoainSeo'ncçayao a crccer pelo cuyd.do , com queas

3Dí Anàraãi 11 Part. Lib.I fy.

regavaó os < breyros catholicos arranía-

05 os efpinhos da idolatria ,hmdo abr,r.

utra vt zaquella porta a pregação Evan-

elica por onde viria a conleguirle acon-

wfaõ do Genrelifmo de Guiné , & limM

quellacftrada dos abrolhos, ficam porah

icaminho fácil a outras miflbens , era que p

•rato refpondeflo ao lavor dosagncuitores

fpirituats , Sc como nos que fiztlie lubditos,

(crefcentava filhos à Igreja, vindo a .leme

com huma maó a terra em que nalcei a .com

autra ao Deos de que era creatura , lobrara lo

efte motivo a perfuadirlhe , que deyxado

aqufileddcanço, foflfc a recuperar naquel-

las partes aoverdadeyro paftor as ovelhas %

Portugal os vaçallos , a podas armas- o credn

to, que o dominio Caftelhano tinha feyto de-

clinar , ou Pda»faltade foccorro , de que nof-

faiConquiftas foraó naque.le tempo menos

affiftidas, ou porque oCeo qui/efle fonshi-

zerfe de algumas demaíias de nonos foldados,

aqueadiftancia dava mais liberdade para as

culpas, do que autoridade askys pai a o cal-

ção Acabado efte dilcurlo panou acon-

firmar nas conveniências, que deipreíava,

a indepcndencia.com que fe ofilrecia aos pe-

rigos da jornada, dorido a ler huma carta,que

poucos dias antes recebera do Embayxador

éa Fida de Gomes Frêynçle<França em que referia que feu foberano

^ínrormado de feu grande merecimento, tcn*ao noticia do fentimento com que ficara denaopaflarinviado aquella Coroa occupaçáoquedefejára fópclo apetite de lhe ver orde-nar feus exércitos

; que achara táo efpecialJugar em feu Real agrado, que para que o lo-graJie

,Sc elle o goito de o praticar de perto

o ficava' efperando para General de fuás tro'pas

,que Luiz des Granges que havia fervido

em noífasFronteyras,nas guerras contraCaf-tella

,que íe achava de prefente Coníul da

Jjaçaó Francesa, tinha ordem para fazer to-das as defpesas neceffarias para íahir deiteKeynp

, que naquelle acharia agafalho , comque efquecidos os mimos de Lisboa aliviaffeas faudades da Pátria.

97 Lida a carta diante de todos , com ad**rmraçaõ da humanidade, com que aquellaMageftade tratava os homens, que o valortoa beneméritos da attençaõ. Moftrou oPrincepe Regenteeílunar oterpor vaçalloJ?um Cabo

, cujo nome tinha afama levadotaoalco nos eftranhos, íem o defvanecer agloria

, nem o render preíloneyro a força dointeiTÍie, de cujo Império dominados eraóraras os que ícnaó fazião eferavos j & que-rendo moftrarfe grato a fineza, de regeytar osavulcados offerecimentos de ElReyChriílU.

njffimo,

DeJndradalLPàrt.Lé.L 61

nfimO, começou a cuydar ainda mais flos

omodo'S da peffoai doque namftruÇaodo,

ieKocio para que ettava decretado, defpa-

-hando-ofem petição ou coiKultacomhuma

vida mais nos bens da Coroa, dobrados os

foldos de Tenente General, em quanto le de-

tivefl> na jornada féis mil coifados de ajuda

de cufto , & coníí-auida aempreza o lugar de

Concelheyro no Ultramar, com mil cruia»

dos de tença effea.va em quanto tlaoentraf-

k em comeniadefupçrior lote; premio na

verdade grande , mas que naó chegou a golar

pelo accidente q naó daremos a lerkm ienti-

mento, depoisdeoefcrevercomlaft.ma.

oc Defpachado Gomes Freyre com tao

largas merecs cortada lua grandes pela me-

dida da mão Real houve para demoraríe a

iornada entre outros refpeytos ; o feprefen-

tarfe conveniente cfperar fêeundo avifo do

Governador de Saó Thomé: Mais de três

mezes cráo panados que fem apparecer em-

barcação daquella Ilha faltavao as noticias,

o que começava a dar cuydado a alguns Mi-

niftros que zclavloa caufa de Deosenterefla-

dosnadoPrlncepe. fqa Poderá a incerteza do ffiar, em que fe

hade difeorrer a diferiçáo dos vemos.que náo

profeflaváo obedecer a vontade dos Pilotos,

fcryir de alguma confolação, lenao tornafle

C| Vida de Gomes Freyreeffealivio enfermo o cl.ma daquellallha fí-

<tuada deb,yxo da Linfia f & por qualidadesocçujtas d, ares tão mal condicionados, quevulgarmente ie .ffirrna que os natural 6-2em leylao dos Portugueses

, que tomadoaqueIJe porto defem barcaô na prava, por fe-rem raros os que efeapaõ da morte, nenhumdacroençn.

ioo Apertava cominítanch mayor eílecuydado a Gomes Freyre, receando algumaccidente

, que na falta do Governador opnvaíie de hum irmao.que foube fazerie dig-no dos affdós pelas virtudes , ainda maisque pelo largue

, depois de diícorrer impaci-ente na dilação coníiderando ou a magoa in-tempeítiva,ouinutiioíentimento,ie olveopaliarão Forte na Província do Alentejo dif-tanteduaslcgoas de Vilh V.çoía, a celebraras vod s com Dona LuizaCl.ra deMen. zcsrilha herdeyra de Ambroiío Pereyra de Ber-redo crmi quem pouco anres fe tinha con-tratado: Chegarão os dez de Abril de mil íeiscentos (eterna & nove.em quedadas as mãosdecfpofos feobngavão a viver no W decaiados íogcytos nos laços do matrimonio,& yieiao n defempenhar com tanta famfaçaóns leys do tálamo que cnegou primeyro a

Tns " ^ °SCOrpos^ 9uea feParar a«

ioi Go-

VeAndraàalLPârt.Lihl. .4$ioi Gomes Freyre querendo[com novo

vinculo fegurar roayor merecimento naob-*,

lervancia daquelle iacramento 3 no mefmo

dia fez voto deCaftidade conjugal, que por

toda a vida guardou inviolável , com rão ca-

tolicademonftmçao facrificado a Deos Reli-

giofo, a mulher graro , ficou goíando dos ap-

plaufos naõ vulgares , com que os parentes 9

& amigos feeongratulavão, celebrando co-

mo triunfo tfpecial da graça a porporçaó,

com que a natureza unia as vontades refpon-

dendo-fe iguaes em ambos as finezas, confor-

midade que durou atè o ultimo termo, emque a Parca cruel os apartou , fem que o tem-

po foíTe poderofo a deminuir em hum o c ar-

fectos , no outro as attençoens.

ioi Satisfeyto da lua íone vagava Go-

mes Freyre na companhia fie fua efpofa huas

vezes emertido no devertimento da pc fca,ou-

tras no exercício dacaça, algumas oceupado

em montar os cavallos, que mandava comdefpejo, quando declinado já o mez de Ju-

nho chegou a inquietarlhe aquelle focego

huma carta de Bernardim Frevre, acompa-

nhada de outra deFrancifco Corrêa de La*

cerda j que aefte tempo goíava o emprego de

Secretario de Eftado , nella lhe dava a ler or-

dens iuperiores , que o chamavão para com a

prefença dar calor aos apreftos da nào Madre

&| Fida de Ornes FreyrêdeOeoscfcoihida para ajornada daCoftada

(

Mina, cujo negocio pendente do íegredo fe-guravamos ria brevidade;

103 Recebido aqtfcjíe avifo , não foyfleceílàrioparamovello mais incentivo, queaneccfíidade da lua pYefenga

á que íerepre-ieritava incarecida

* para a expedição dos inf-trumentos

,que havião dektvir àempreía,a

queeftava dtftinado, Defpédido nomefmadiadafuacafapartio pela poíía em demandada Corte, oride foy recebido do Princepecom demonftraçSo grata confeílando-Iè,com humanidade eítranha rias Mágeftades*nos fuperiores rara , obrigado a promptidão,com que a obediência do lubdito; íçmbc an-*tepor o lerviço da Pátria aos cómodos da pef-foa.

.104 Sem tomar tempo para deícançoícn-trou Gomes Freyre no trabalho de preparar»fe para a viagem

i cuydando menos nas con-veniências próprias* do que na utilidade daPátria* em cujo benefício procurouKemprcíacrificarfe comaflft&os de filho, ntaisaten*toaíervir dó que a medrar, moderação raraque louvarão todos * exemplo que poucosimitarão.

iò$ Derois daquííla expedição feacharadiantada com paflos ainda mais largos queotempo, fobreveyo inefpendo hum novo acci-

dentc 2

De Andrade II.Part.LiU. fflente, que perturbados os progrcílbs, lhes

ufpendeo todo o complemento* Daremos

daçaõ do cafo que deyxáramos no filencio,

i podermos fatisfazer as !eys da hiftòria* fem

:om eílyllo eftranbo, adulterara verdade,

;runcados os fucceffos*

106 Tinha Bernardim Freyre acabado

3 tempo do íeu governo de São Thomé , a*

:havaíe já nomeado para ir a rendello Jacin^

:o de Figueyredo-, profeílava efte Fidalgo

imifadceftreyta com Gomes Freyre, & co-

mo^ ou do rofto , ou das palavras , fe lhe reve-

laílem os penfarnentos incontrados , com que

lutava fofrido * veyoafazer juizo,queachan-

3oíe ca fado de poucos dia§,o levavão os brios»

detendo-o os afFec~fcos ,que procurando oc-

cuítar naaima ,naô foube o femblante efcoo-

dellos.

107 Liftimado Jacinto de Figueyredo

de que houvelle Gomes Freyre de fepararfe

tão cedo dos braços da efpofa , defterrandofe

da íiia companhia , ao meímo tempo que

eftava recebendo os parabéns de noyvo , en-

trou a difcorrer hum meyo, que praticado,

pareceo a todos digno da aprovação pela faci-

lidade , com que fem faltar à honra fatisfazia

aos afívftos.

'io8 Pefados com maduro juizo as varias

razoens , com que por largo efpaço , não fem

66ve

contradição deopinioens difierentes fe dif.• correona matéria vuráo aafientar com opa-reter dos melhores

, que fem perder o útil dasmercês jafcytas pod ia Gomes Freyre confe-guir fem pengoda honra pouparfe a moleftiada jornada

, apontando para a reftauraçaó doCaítelloda Mina humCabo.lenâo roais vale-rolo.mais porporcionado.

109 Pa/Uraô logo a reprefentar, que

««nardim Freyre, por cuja inteligência atè

alJi tmhao corrido todos os tratos naquellasmefmas nãos, havia de voltarão Reyno , quefem perder a monçaó., podia com navegaçãofácil fazer viagem pelaCofta da Mina? quetomada a altura de Saó Jorge folie demandaraquella barra onde fe recolhem, com o per-texto de defpedirfe do Capitão, com quemlecorretpondia no governo, que dado fundono l orto, a mefma correzia o introduziria noCairello lem foípeyta ,que lhefizeífe cuílofaa pofle

, expediente fem rileo , em que vinhaapouparíe naó menos defpezas, que molef-tia.

1 10 Naó defògradáráo a Gomes Freyreas razoens

, que deyxamos referido , & comofim perigo da opinião cediâb em beneficio dogoíto

,pafiou a dileorrer o modo com que as

introduzifle era Palácio , fem efcandafe doPnnccpe, que ponderados os fundamentoa

foli» I

De anatada ILPàrt.LihL JB$

folidõs , em queeflribavão.asouvio íem def-

agrado, refpondendo ,que por não ouvir» *

certo miniftro , a que o dcmafiado zello Fazia

maliofrido nas dilaçocns , nasconfultas im-

portuno , (e bulcaíTe âjè novo algum pretex-

to, que femoffcnfa dos brios o cfcufaíledo

trabalho, . _ . _m Partecipado eftc àvifo te aflentou >

que Jacinto de Figueyredo fofle comandan-

do os navios atèSáo Thome, onde tomada

pofie do Governo , feembarcaffe Bernardim

Freyre para a Coita da Mina 4jornada que

fez com prefteza , mas.que deyxou infrutife-

ra a apreílada morte do Gapitíb Dinamar-

q«ez ,por ter acabado* corri fentimento noílo

fuperior alaítimados feus, dous diísarttes de

chegarem noíías náos àquelle Porto, onde

derão fundo» & ancoradas ajudou com viva

dor a nofla gente a .celebrar primeyro que as

exéquias do defunto a perda do CaílfUo , que

fe nos m terá nas mãos lemcuftar^fangue, a

não ítkar na vida o tempo, a occatiaõ nas ho-

ras,que antes íem provecto gaftarão as dila-

çoens , confumiraõ depois inútil as demoras.

ui Determinado, como deyxamos ef-

crito, que a B rnardtm Freyre, como inftm-

mento mus propor ionado à recuperação da*

qudla Fort^lczajecometelle a conclufaõ da*

qucilç negocio i de cujo iucceffo antecipamos

E % ara-

.fâk ^ Vida de Gomes Freyre

a relação ao tempo por naó virmos depois,ou1 a truncar ahiftoria, ou a incerrompcla comdigreflaõ moleira: Como aqucJlc trato era^ubcrtoaosMiniílros, qucanteslcinhaõ vo-tado na matéria, & fe obrava íó por infirma-ção fupenor.vfeyo eftc movimento occultoa ler Immaccidcme, que desbaratou, quantoietmhaidcadc.

113 Foy Gomes Freyre reprefentar queie achava com cfpcrançade fucccflâõ na fuacaia, & na incerteza do mar, que naó profcflâ-ra obedecer maisque asleys da inconftanciado vento , com o rifco de faltar na jornada , &como entre as mercês offerecidas, ou comopremio antecipado ao merecimento, ou co-mo gratidão aoferviço deexporfe aosperi.gos em beneficio da pátria, era hum o lugardo Concelho ultramar , em que naó podiaíueceder com fobrevivencia nem a mulher,nemosglhos, pedia íe lhecompenfafle cilaemjoutro dcfpacho, porque faltando*lhe otempo para lograr na vida o galardão, vieflea gozar o fruto na poftn idade.

1 14 Meteo-fc,a petição, & como acau>tellahaviadccobriroicgrcdo atè aos de calaque por dentro manejavaó osjncgocios, leo- fecom atenção, a que rcípondeo humas amof-tras de enfado

, cfrranhando-fc as propofi-çoenscomo efpurias por -adulterarem a or-

dem

De Ânârâda ILPart.LiU. <%

demdoprimeyro deipacho. Bailou de*o.

brirfe o femblante doPrincepe com apparen-#

cias de indignado , para os emulos ,que igno.

ravào o trato iecreto, entrarem a periuadie.

defattencao no fubdito , no fuperior paci--

encia desfiadaJbfrer atrevimentos de hum

vaflallo, votando que a tanto -delito era aro

prehenfaõ pouco caftigo , fatisfaçao pequena

Angola, a índia fupiicio moderado.

115 O Princepe que não ignorava a op«*

poíiç^ó, & na matéria fe achava, o culpado;

não querendo por razaó ckEftado fe reyelaíp

o fcgredo , cobrindo agora com hum infado

fingido, odefígrado'aftea-ado ,procurou

com cautetla efeonder melhor as intelligen-

cias fecretas, com dizer aos que oacufavao

naò deyxaria para exemplo tem alguma pena

aquelle crime, em que ainda ínnocente fe

moftrava nasapparencias reo intolerável-

116 Como a emulação creada à fombra

do ódio crecla alimentada aos pey tos da inve-

ja, ou porpouparfeas importunaçoens com

que lemhnda afVlãoffenfa ,lhc perfuadiaó

o íuppofto aggravo , ou por fatisfazer aos

rogos de Gomes Freyre, que pei tendia por

raercéefpscialocaftigo, que os inimigos lhe

lolccitavão : paífidos poucos dias mandou o

Princepe fe lhe iníinuaíTe por carta da fecre^

tariadeEftado, que tendo entendido, que a

E 3 Jçfc

"

fô Viàa de Gomes Frtirtiori.ada da Coitada Mina íhe dava defcomo«

(

do, o havia por eícufo,que podia recolherfe

a

lua cala onde poupado aos perigos , aliviaffe

asiaudadescaíiimveyoaquellegrandePrince-pe,que o Cco de ultimo tornoupi imeyro a fa-vorecer a caufa de todos, fatisfazendo coni hudefpacho a muitos affc&os incontrados.

iiy Achava-fe Gomes Freyre rodeadode amigos a tempo que recebeo o avifo da ie-cretanajeo acarta diante de todos fcm quelio roíto,ou nas palavras fe Jhe viflc mudançaSC como ignoravao que invol via f ,vor mayoroameaíToiuperior, acadahunrdeu quefcn-tir a novidade

; Francífco Maiheyro de Mel^to Mmiftro do Ultramar que os afficfcos fa.fciao parcial nas conveniências daquelle Fi-dalgo confio tinha çom o feu voto aprovadoa cicolha, entrou a perfuadilb procur?flcmoderar aquella defgraça

, que fem duvidaera creatura de alguma informação imitira.

1 l

r _<*omesFreyreq penetrava q o disfa-vor do Prracepe era aparência exterior , comque aos de dentro cobria comcautella o en-gano, agradecendo como benefício a dor,com quefenuaafcltadefcus adiantamentos,relpondco com a meíma deffimuLção, que'Jarrendò fem averiguar, hia af.zer oque fei.ne mandava; porque com osfob:ranos ne-goceavamais' a /bgcyçaó, que.as replicas , a

obedi-

T>& Anàraiâ II PartXJb.l »Acdienciaritelhor que as palavras. •

,;

i,9 A vifta da rcfolução fupenor fe re«

iroulGomesFrcyrcpara a lua quinta daCar.

aota com tanta preffa, qoefby aluafelt.

n.

Corteaprimeyra que divulgou a cauta, que

fcouvio com laftimadehuns, & fatisfaçao

de outros : aflimrefpondia hum mefmo luc-

ceffo a affeétos contrários ,qu o mtfmo ,a<£

ridente eraíreroedio a huns, a outros achaque.

,XO NaquellaAldea paflavatáo pagodos

divertimentos, quefem arteficio oíFcrece o

campo ,que ainda hoje ateftao alguns que

alli lhe foráo companheyros, quemuytas ve-

zes lhe ouvirão contar por felicidade raia o

quepareceo queda etoanha; por fortuna ma-

vor , o que fe reprefentava fupenord-fgrajja.

ia, Correo poralgunsdiaso tempo lcm

declinarem as demonftraçoens do delagrado,

por ferrazáo deeftado noPrmcepe affcótar

o eiquecimento do vaffrllo;em Gomes Frey-

repolitica.onáo fazerie lembrado, vindo a

durar nas apparcncia» o efcandalo de hum,

&aqueyxa do outro (como logo nos dirá a

hiftoria ) fó o que de pmpofito tardou mais

q a induftria, o acafo aofferecer occaQao de a-

viftarem-fe. „ e„i

\%% Panou o Princepe Regente a Sal-

vaterra , onde feriado ao pezo dos negócios

políticos coftumava por alguns dias vagar

E 4 alivia»

~)

» >

*?7** Vida âe Gomes Freyrealiciado nadive.làó da caça : Andava hurairoanhaa perfegumdo as feras delviado dosinonteyros, que por differcntes partes hiáobatendo o mato, & como difco^l cÔmpoucos cafladores em demanda das rezes qu™furtadas procuravâo efcaparie pela cftrâdaque do Alentejo dá ferventia ao porto de/Te'

paí?ar de Villa Viçofa à Carnota , chepáráoa encontriirle> de tão perto, que nas l c| defubd to naopod.a jálem nota ddviarle aosrendimentos de vafíãllo.

.12-3 Chegou aquelle Cabo com as Ai.m.çoens deReo àprefença do Prince^ de^uem foy recebido com aga.alho£%&Woberanos. Eftendeo-fe a pratica, aiè efue

que pode. a formar defeonfiança de leu de-rnafiaaorettro, mas latisfeyto da defeulnapor íer a caufa que o apartara

, não .zençaõVe-'mo.elpeyto de não vir a penetrara benefi-

aaffiVnc,VUr§8Va caft '

> 1^*&efquecn

3

rr2G°rte,p0rque ainda

<Juc ™oelquecia perauzente, não podia fer fervi-do delle com tanta prompt.daód.frante.

frA$ - P° ,s de hum lai'ê° CÍP*Ç» , quefe de .v-erao juntos defpedio-le Gomes Krey!

cuinÊt0

'aP

?flai' afua "'" Lisboa ifc-

guiole a.execução, relpondeudo a prompt,-

dão

I

De JndradalI.Part.Lê.L li

Jaôà brevidade com que determinou fogey--.

Brie obediente a infinuaçao do Pnncepe,uo-

cado pela vontade alhcya , o.próprio gottr,»

que fazia efpecial da folidaó dos montes ,de-

levtandofe nas liberdades do campo.

*iif Poucos dias eraó paliados que vaga-

va entre os tumultos populares da Corte,

quando hum infperado accidente fez entrar

a fatmliaem fentimento, o Prmcepe em cuy-

dado.Achava-fc aquelle varão «nftantevmis

gafto dos trabalhos ,que dos afinei ,

fk altera

dos os humores .chegou a enfermar- Delco-

brio-feadoença nos pulfos grave /*"£"£mas mortal , durou o perigo por tnuyos

fem otnal que chegou a offende' aquela

grande cabeça darmoftras de rende, fe obe-

diente aos preceytos da raedecina nem as leys

da natureza ,atèquepafiados osdecretonos,

declinada a febre começou a mudar d, km-

Mame o achaque , os médicos de rcnKdn.s.|

126 Cekbroufea melhora, como indi-

cio que dava daquelbvida mais efperanças

que certeza, aosapplaufos toy rcípondendo

a natureza ajudada .dos remédios, cm cujo fa-

vor cftnbado veyo a cobrar inteyra laiu.e, le-

vando tempo a crcar.as forças poftnwa: iguai-

mente dos medicamentos, &aosina;e.s. A;

chava-fe já convf-lecido, mas tao eníaibado

dos vagares com que fe recoperava ,como do-

° clima

H Pula de Gomes Ffeyre

Szl5 1S^ c.cu%" ,« oppofto,;on «>'2lucros lhe unhão pofto huma vezem Derivo

( <

« vidi,muytas a opinião

) que refolvXlrdo Pa.2onde.ncontrava.ou o rifco. ou o dff-

lJ2«iI>et

7ininado a a«'entarfc de Lis-boarefolveo dar parte aoPrincepe dequemfoy recebido com aquellas demondraçoeTs

àST*?** fa2c ' fe -«-édorfeu Sere!cimento5 entre os parabéns da melhora , ex-Preíou quanto defejava fervirfe do feu preftl

Sdecon?0t€r

PeLnctrad0

' 1«naóPeraf .cu de contentar, tinha fufpenfa a execuçãoa vontade mortificada, pelo receyo de na5

lcvS hPC°m

?80ft°

; que ai^ayque ad-

nJSl ir J ,?a ),vre

' auer" íogeytar-fe, a

occafiaSdie"efC

?'ha ' P°r naó fi«r a >>«»

dfqueyxíarrePcnd'™"t°

,a outro motivo

maiíL SrmC

AF ' eyrc que trazia oso,hosSS frV 'rdoc

' ueei"'ncdrar,fa2c„doef.uraaçao amda mayor da vontade, quedo

do'pr?n,COm0

rqUCm fabia

«fer Memoria

Sn , k 1? ° favor ma,s avultado' »g«de-c.do ao beneficode lembrado , fem efifuecer

aue A.m,uIc,da« ^s cuydndos diferentesque dava huma Monarquia, pela variedade

tro. de tropel confufi» eftavaó fempre, ouibbindo

Ve AnàraànILPart.Lfo-l ?f

bbindo pelas elcadãS ou entrando pelas T*>r-

** de Palácio; rdpondco : que paliava aa

SfcíiSSdc odSlio dcfervirdefenteref. » \

E o chamava a affcntar praça de foldado

mtròÍadaGuardadoGeneraldasarrnasda.

oue la Provinda, onde oachanaó as ordens

Reae fingida outram a cfpada ,prompto

?, que para hum*femoftrmanabamha ;p •

doutra defembamhada. TambémMU* .

grandeza do talento daquel eCabo wtfli as

Kpr«as que huni mofino mftrumemo lhe

vinha a fd vir de adorno na paz , na guerra de

deffenfa. . _ „ _„

t

ião Semgaftar mais tempo que o pre-

cifo àquella expedição, que adiantou ade-

rne a , com que ambiciolo do merecimen-

tobufeava os trabalhos, part.o em demanda

deVillaViçofa, onde ficou vagando lupe-

£na fogeyçaô defubdito, adernada praça

na ropa daBuarda que comandava Tenen-

te com exercido deCapitaó Jf^J*f

£

cujo talento mõ damos aqui abrpoi ildey-

»r em feus eferitos melhor recomendado

àpofteridade , do que cm volume mayor po-

deria encarecello noflapenna, ^«'«^2°,*?

nos dá a conhecer entre muytos bem limados

difereto na profa, nn verio elegante.

.; ,50 Tomado Gomes Freyre ao berço

Viàa de Gomis Frêyrtda «ilicia, depois decreado delde a infânciaaospeytos de Belo™, & ter incanec do C !

de„V

Tran^nr

braÇ°S deMarte' começoude novo a eftudar , como fe ignonffe ,

*,?les manejos, que aprendera nos primeyros

Cí ?«"*?*»?. q«e tefpeytando napefioa ospoftostapenorcs, que tinha occu-pad procurava cufluadillo damoleftia dos

que nao pailava da esfera de ioldádo, comnayores obngaçocn». por lheficar a dedar

ra auZa

íeyi'°S eXem PIo «-"oderaçaó ra-

tic da fo damodeft.a daquelle Varaó, cuja

emÍ^CU f°Ube

' P?kd0s Pel° «)« talião os

o"SS*C0,,tar fem artificio « demafias,

ostxcelioscom arre, -

difío,

1 S" isfcyto daquelle género de vidadfco.nnn.mcuy^os.quetlteradoodeA

ve de 'iS^a l,

l""aílem ° r°«g«.quãdo hou-ve de afluftailo num mcfpcrado accidenteque chegara a perturbar a paz de alguns Ca-'boi ,a nao açharfe no Alentejo aquelle Fidal-

£ r'^,UJrA

llg£nda.

fe deveo ^renarfe aquel-

c, '.T"' ^ueai" d!, "o principio, come.

Ç vMaalewnurfc prrigofi. Daremos rela-

W;'íafo

'.(

l.

ue Por fatal deyxáramos nofi,"ncio

,a nao razclJo filho ua hiftoria o euftar

dcf.

De Anatada ll.Part.Lib.t -gf

iefvello ao General, aGomes Freyre traba-

iTfl. Joaô de Mello de Gaftro Fidalgo

que nos brios naõ degenerava dof.ngue herJ

dado no nafcimento , occupava por aquelle

tempo opofto de Governador da praga de

Eftremoa , em cujo prefidio nffiftia Capitão

dehumatropade cavallos António Pereyra

da Cunha, Cabo de caó illuftre procedimen-

to, que adefcuydarfe afortuna dedarlheos

claros progenitores , a qiu devia o ícr , Cobra-

ria a fazelío illuftre ferereatura defeusbra-

155 Como ambos eráo foldados de não

vulgar opinião, com fequito de amigos » a ca-

da bum feia inclinar, ou o rcfpey to, ou a de-

pendência das peílbas, por fer hum irmão do

General das armas da Província ,- outro do

Secretario de Guerra do Reyno, vieraôadef-

confiar por caufas ao principio ligeyras , mas

que peíado nos brios tomarão graves ostro-

cedores, que interpretadas as intençoenscom

finiftraintelligenci^vieraó afoprar deíbrte

ofogo dadiícordia, quecomcçnndo a.arder

lenta , em breve ateada , chegou a dtfcobrirfc

nos effeytos incêndio , cujas layaredas ^pega-

das na matéria fácil ameaçavão naruina de

hum, oeftrago do outro.

1 34 Não faltou quem , atento ao periga

*

/ i Piáa de Gemt Preyreque jjadivif ô daquelks Fiaalgosameaçava

<s aquaispraç^avifafleao General, quefen.co os contendores igualmente amados da mi-Jiaa.òc do povo, fereceavãoniguns bando*Marceaes

, que involveílem a plebe, que in-amada iempre a novidades fe fhovia fácil acumuku ,r (idicioA , (em baftar amodcrnlla o

relpeyto de alguns C.bos, queparciaes do

bem comum procuravão a paz antes que che-galk a rom perle a guerra.

1 5f*rn 9,-

ncr"'' <?ue a eíb ccfl'

a° fe acha-va«n Vdla Viçofi.praça -iueefcolbtra paraafliítenciaotempoque aoccipaçáo lhe per-Kiitia vagar aos negócios: depois de ouvircom laftima igual ao elandalo, nova tãoef-'tran.ia, mandou chamar a Gomis F<eyreaquém aflombrado da grandeza do perigo'comunicou com individuação os avdos , pe-d.ndooaconfelhaflc na matéria

; p >rquenãofebia reíolver entre os affcctos da mtur. za &*s da am.fade

, porque do Capitão era aungo.doGovernadorirmáo.

1 36 Gomes Freyre , a cujo cor cão ain-da que nenhum perigo fofobrou por grande,confídaadaaneceílidade que aqu. lie- mal ti-nha de remédios promptos, fcdefpediofemoutra repoftamais quehiinn rev, rente cor-teíia: o General, aquém o calo tinha dema-iiadamente fobie faltado, vendo que voltava

lem

De Andrada ILPart.Lib.t 9 7$fem dizer palavra, entrou na defeonfiança

dequeiugiaatè deo aconfelhar, ôcnãolhe* v

dando apayxão lugar adifeorrer, ofoy fe-

guindo com tão ligeyros paffòs , que âtraveí-

fado diante, lhe perguntou-, porque cora tan-

ta prefla ie retirava, iem ao menos reprelen-

tarlhe o que obrara feie viíTeemfemelhante,

occafiáo, cmqueíeachavão parciaesaincli;

nação,não menos que o langue.

127 Gomes Freyre,que fiava ainda maís

das mãos , que das palavras , vendo o General

turbado com a gravidade do cafo, a que nao

achava lahida faci), não querendo gaftar tem-

po lhe tornou muy de ia(Tombrado : fenhon

quandoeu vierde Êífremozdireyoquedey-

Xofeyto,& pelo caminho hirey cuydando,

oque lá heyde .fazer, que femelhantes em-

prezas , não efperão}, que para fe lhe acudir íe

gaite em contelhos o tempo de obrar, 6c quã-

do me chegão à noticia hs , ou para as acabar,

ou paraacabirnellas,

158 OGeneral, atè alli ignorava a reío«

lução daqueiie Cabo, querendo moílrarlc

grato a tamanho beneficio, procurou fuprir

com os braços a falta das pa!avras,que lhe não

deyxava pi oferir o gofto embargadas na ale«

gria,com que já celebrava o bom TucceíTo 3

que lhe prometia, nuo mcnosovslor, que a

fortuna ajudada do talento daquelle Fidalga

T que

.Só* Vida deGomes Freyre

.

;que fó pode deter o tempo preeifo a pafla*

( .rem-íe ordens apertadas para proceder ntèaprifaó contra os rcos , a quem obngafle aobedecer a força ,fe rebeldes duvidallem íb-geytorfe a razão.

1 39 ParrioGomesFreyrei&comotfe lon*ge via cuecer na dilação o perigo a que eílavaexpoíhaquella praça, andou em mrnos dehuma hora as duas Iegoas de caminho, quedivide aEftremoz de Viila Viçoía , &anaõieHhecftimuIo, a ambição deconfervar naVida a reputação de dous Toldados beneméri-tos da fama, que a euftado próprio ,&alheyofangue tinhão em muytas occáíioens alcan-çado valentes , chegara cedo a laftima , tardeao remédio

j porque como logo nos dirá a hif-

toria , adilatarfe poucos inflames fora tefte.

'

inunha de huma tragedia horrorofa , em quelamenta: a os contendores, ou amortalhados,ou perdidos.

140 Entrado Gomes Freyre cm Eftre-jmos f o y dem and ar p rime v ro a ca í\ do Go-vernador, que encontrou já na rua marchan*do armado com alguns companheyros embufea cie António Pereyra, checou apre liadoa detelo, & logo a reprèientarlfrc com mode-ração de iubdito, a defordem daquellc movi-mento, noexceílb, com que corna a preci-pitarje defi mefmo inimigo, lembrandolhe

nas

De AndraàalÍParíLlbJ. Si

as obrigAÇoens do orgo , a injuriaí a quê

«punha apeflba , & a oecupação^ em que

avia de data todos exemplo defofrido, dU

endo que não corria por conta doGo vertia-

onnemeítava bem a fua opinião vulgar as

ffenfas de João de Mello

-

3 que dospruden-

ss era mudar de parecer * raayormente quari-

o tão mal a conlelhádo caminhava a traz dò

ifco í a que levaria rauyros, que fem ter par-

s na culpa, virião a íer Parciaes na pena ,qué

- General das armas feti irmão era ô primey-

o, a quem havia de alcançar a mayor põrçaò

la defgraça : que ainda que fetinha dadoa

onhccer Miniftro tão intcyro ,que para

rocer r*juftiça , não fazia nelle aballò a natii-^

ezaviiein osrefpeytos, que não feria fácil

)eríuavfrfe oPrincipe* a que ó não incluía-*

ão os affeãos em favor do fangue *qúe;náo

júizerle ler agreílor de hum delito , em qiiô

lavião de fer todos ou reos,oú qúeyxofos.

141 Atento oúvio ó Grovernador eítaa

'aZoens proferidas com a alma,que lhe infun-

Yià aeffcciadaquelleCabo : masacha^a-fe

;ão po fluido da cólerajenl que era préeepità-

3o, que nem aspal^vrasinéinorefpeyto dd

Somes Freyre forão fuffkientess aaballar*

muytómeriosamover, aquelle animo, OUeoiíílante , ou contumaz , fazendo força pat

pafiar adiante j eítribado na authoridade dd

F eargo>

&|

rida de Gomes Freyrêcargo i ou na dosarmos.

1 12 Gomes Freyre que lábia venerarcom attençió as cana , fem faltar à attençaó'de1uperior, tornou ainda mais comedido , a inf-lar que femoderafiè nas payxoens, atè queinfaftiado da profia^om que impaciente pro-curava defpenharfe , refolveo valerfe da for-ça vvendo que já a violência erajuíliça, o ri-gor neccílidade ,lhe travou do braço , detidoafiim , ainda forcejando , o fez voltar a lua ca-ía

, onde recolhido lhe revelou otegrtdodasordens que levava do General

\que pornaó

dcfcompolo em publico as fupremira, que o

naó obrigaífe a deyxallo prefo, attençaóaque obediente houve deíogeytarfe rendidomais da urbanidade do Mimftro

, que ida au-toridade do fuperior.

143 Deyxado o Governador a bom re-cado a paílbu em demanda de António Pe-reyra da Cunha, queavifado da refoluçaõ,com que Joaó de Mello hia a bufcallo , fahiaarccebello jáfóra das portas de íeu quartel,dizendo queria no caminho pouparlbe humaparte do trabalho, porque não tinha por cor-teziaefperarfeufuperior dtfcançado emea-fa , nem teria por gloria vencer a quem carre-gado de armas , fobrado de annos vinha a bri-

garcom clle , cançado de andar.

J44 Com tanto defafogo, ou defprezo

dos

J>t Andrada ILPârhUkL Álos

p -nãos, comodcyxamos referido,hia

fcntelk Capitão pelas ruas tratando ôs riícos,

[ qur fe avelí nhaVa ,quâdo fe achou com Go-

nesFrcyre, que atravèílado diante icomo

to ambos fe refpondiaó os aftóos , com ur*

bana aalàntiria, oacufova de que lhefugifle*

quando hia a bulcallo \ depois de receberemfe

rios braços» fe fauJáraô nas attençoens cor-

rezes.nademortftraçaõ familiares, refponden-

do os comprimentos à fingileza creada na

antiga amilade, queconfervada fem corrup-

ção os fazia comunicai- fieis, tornaVa fáceis.

14c António Pcreyra que iabia fenho*

rcar luas pay xoens de force* que nem no fem-

blantemem das palavras deyxava perceber al-

teração, ou mudança,& ignorava que Gomeã

Frcyre era o Mmiltro, a que fe tinha cometi-

do conhecer dafua culpa* procurando oe-

cuicai lha ,ou por não querer empenhallo* ou

por evitar humelldrvo afeusdefigmos, Ih*

offereceo o feU quartel* pedindolhe foffe fíej-

le a defeançar , em quanto hia averiguar nu*

demanda de-hdnraquc nâo levaria tempo a

d feidiríe» que nella vencedor falvava a opi-

nião, vencido osbrios.

146 Gomes Frcyfe vendo aíegur&nçâí

,Com que António Pereyra lhe foliava férrt

declararfe ,procurou ferillo pelos fíiefmos

fios fazendo offenfa de que fenão quizeffe a*

F % com*

> >

&4{ Vida de Gomes Freytécompanliar delie , como de parcial na empre*

i fca ,em que levava empenhada a peílba , ente*reflada a reputação

5que pois lhe occuitava a

fuacaufa guardada nolegfedo, queria mof-

trarlhe na facilidade, com que lhe defcobriafeu peytOj quanto mais ria va de ieus brios.

147 Daqui paflbu a reprefenrar o traziacafo de mayor conílderação

} & Gomo para ofeu negocio não poderia tardar ainda queíedetiveíTe algum eípaço , lhe pedia em benefí-cio da amifade,vo)taíle a ou villo em lua mef-fnacafa,onde tinha que comunicar lhe ma-téria tão importante > fque podia danar qual-quer ligeyra dilação, que não permiti/Te,porfalta detãoleve trabalho; femalografTea diligencia, no que pendia menos dosílusbraços do que do leu juízo.

148 Defculpava-fc o Opitão com a ne-ceflidade, em que fe achava deíatisfazer pri-meyro ao empenho

i alegando entre outrasrazoens,adequefefaltriHedeyxava fipulta-do o credito. Jáneftas ultimas palavras lhetomou Gomes Freyre a mão* & referinde-Ihefeparado doscircunftantes o que ficavaobrado com o Governador, começou a afear*lhe a culpa deveftir 'asarmas emcffènfa doi, iuperior: dizendo que cftesíé ha v ião de fo-

„ frer como os Princepés os davaõ,que o mais„ feria quererem os vaflàllos dar leis sos fobe*

ranos,

De AnàraàA U.PàruLè.l bf

anos ,que João de Mello fora entre muy- „

os beneméritos efcolhido" por digno do „ »

Tovcrnbdaqudh praça,

^««"P"^ S '

-

no todos lifamente confeflavSo, & eUc nao „

negaria, era premio pequeno a feusmere- „

amentos , & naquella occupaçao t.nha da- „

do não vulgares moftras do acerto ,com,,

que delle fe fizera eleyção ,que paraaquel- „

k, que iuftamente fe eftranhava exceflo, 5C „

não podia efeufar de demafia , t.nha naco-,,

leradefcarga,dcfculpanosannos. _ .,

149 António Pereyra como era nao me-

nos valerofo, que de condição dócil, ouvi-

das eiras razoens confeflou lifamente , que

menos confiderado corria a precepitarle em

humdelito, emque o brio o fazia agreflor,

a opinião culpado, que ja tornado afidole

thargo , conhecia o delcuydo cm que cah.ra

incitado de motivos, que pefados em ballança

menos fiel,que a do íeu juizo o obrigarão

aquelle excedo.,que parecendo antes cre-,

dito da peffoa , olhado agora a melhor luz, le

moftrava aos naturaes m|una,aos eftranbos

efcandalo, que arrependido de naafotrer aih

tes le fosey ta va a tolerar paciente como be-

neficio a,rcprehcnfa& . ocaftigocomo pie.

""uq Moderado aquelle Cabo ,pafiàrão

. psdous juntos aofeu quartel onde ouvida

fk Vida de Gomes Freyre

relação individua! do caib,r feudos do prin-cipio todos os actidentes. Dafingdeza cornque António Pereyra expoz, fem calar hurna,todas as circunftancias , nem as inftytar a ieumodo a utilidade própria, penetrou GomesFreyre , havia quem, oceulta r; mão

,procu-

rava com efpada alhcaíatisfazu aos aríe&osdo ódio , ou da inveja.

151 Conhecido o myfterio em que ooculta fe alimentava a diícordia daquellesdous Cabos, DeyxadooCapiiáo cm íuacafatomada a palavra de não iuhir delln, em quan-to fazia outras diligencias, voltou GomesFreyre à do Governador, que; Iterada tomdemafia a cólera, fe mo {trava no íemblunteirado, nas palavras defcompoíio, entre as quemenos comedido lhe sdminiftrou a exceflbdapayxão, fe deyxou percebei tinha aqueUle delito outros agrelToi es , ainda m is culpa-dos pela maldade, com que laborando oceul-*

tostem arrifearfe, foliciçavâo apropria vin-gança na ruína alheya.

£fc iyi Como deitas breves luzes, que lhçdeu a pratica de hum , & a deítempersnça deoutro, vey o a colher ainda qucconfufa,a]gu»ma noticia certa, do que arç entá\> não palia-va de hum:? fôfpeyta com leves fundamento?,difeorreo Gomes Freyre que para extinguir

de todo aqueíle fogo cuja lavurcda íofocada,

do

HeAnaraian.Pirt.LibJ. Alefóra parecia j^a^gada,& a^^^*ro ardia lentamente, confervado debayso

asdni era neceflirio fepararlhe amatem»

!m que^cevava fuprimida, pata depa.s fe

,íe

içíC

Mas como para entrar com algum

,ene?o dfetperança , que lhe promcteffe»

Sá que de todo nSo foguraffè o coníegu r

"empL^lheeraprecifotemperaroGover-

nador Começou a perfuadirlhe ofotn-,,

Ímò,ie em fi havia de praucar enanan. ,,

do a paciência aqs que mandava mais com +

as obras do que com as.palavras ,que fend

ínayor no lugar , devia doumnar como,,

Semplo . que os mfenores çrao,lub-.,

ditos ; mas não eícravos que ie Ihehaviao *

de caftigar huns defcuydos , reprehender „

outros , & outros tolerarfe, que muyta par- „

Smaximas do Governo çonfiáúo nos „

accidemes, que muytas vezes emmendava,,

rnais huma" infinuaçáo branda que huma „

íeverjdade afpera.êt que fem d.ffiraular fe- „

não revn^v<i« *

If4 Depois de gaftar algum tempo aen-

finarlhe, que a pacienct* nos fubd.tos era v r-

tude, nosfuperiores obrigaç o, entrou na

rLrofa averigua dos .nítrumcntos fe,.

t fdaqueUa feliçSo, pmque arrancadasde

mmmm daquella fizan«,que nafcendo

I~» Miade Gomes FreyreSld

?,0KCreda ""?*• íeçaíre »wy™ «a

caufa de hum, cortada nos motivos aófhnfapo outro.

rIf9

u^«"'jgencia.com que Gomes Frey-

re trabalhou incançavel , tez com que cmpoucas horas penetrafle quaes flrão ospri-meyros motores daquclle defabrimento ,Sçoue a.nda

, ou receofos do caft.go , ou da i*ju.ia

,que da reconcialiaçáo dos aggravados

1M reluhava,por vir adefcobrir-fe na trey,«ao a mfamia ,-íuftennndo o meímocneanoçom novos arteficios, continuiváocma fu-

£"JttfadiíoordM, procurando cobrir humajnaldade grande com outra ainda ma vor cc-moquem para falvaríe ,náo achava outra ta.

d?íW-ISl

^gUI

?' doque a Fcrfeverança dadUumao.dos dousque çom trato dobll tia,?.iao encontrados,

'Cflt -Colhi dí> Pela ponta o fio daquella

jneada,q tanto fetmbacmbaraçado, foy fácilcon,por aqueljcs ânimos, q ad.icordia uazia

dei„bridos,moftrãdofe. lhes os afoita» crtai.

h n FC> tQS fiIho de Pefl;jas mayot es,em cujo

£«ehcia deyxamos o nome no filencio.A hfifautores daquella tragedia, que ferepre.iuitaraefpctaeulo laftinofo , 'com efcandalo««olhos de naturaes, &cfl ranhos, a não ,.-

iflar remédio fácil napromptidáo de GomesFrey-s

DeAndradaII.Part.lilI. Omte que ou por náouzar mayor rigor, ou

.òrfèrnosilluftrcsfuFHciornavo.ainfcrma, , ,

?o a outro, ou por reverencia a qualidade,

fupor efpeyto ao cargo, infinuada agravi-

daieda culpa, perdoada a pena lhedeyxou

feo meímo d. liço por çalbgo.

1*7 Reconciliados aquelles dous U-

bos, não menos à Satisfação do lupenor que

adoWerno .Porvnemambosnorn ey.o

eonhecimenio de ler na razão daW^gpofta , huma ofienfa aparente , a occafiao

que os'tmia encontrados movendo-as a d,f-

cenção, que mal aconO. lhad°s os levava «o

defpenhadc yro, onde verdugos de fi mefmos

eamP,nhaváo

ya percepitarfe. ?^*»**<

derar admirados ^^^^^cTllra o od.o ,

que cobna huma falia am fack co

meçou acorrer entre ambos «*«»* a

™f*comunicação , com que antes travado*.

o.«£.

fedos;, fe trataváo humanos ,reípondtao

'

"7*8 Gomes Freyre querendo moíharie

gratoaurbanid.de, com que obedientes os

brios , ao império da razão , fe logeyta. ao ta-

ceisfedetcvenaquellaPraçaalgunsdms.ev

tre outros chegou hum de preccyto ,era.que

fahioaouvir MiflV acompanhado doGover

mdor, Si Capitão ,precedidos de jnigws

m,

f\ Fida de Gomes Freyrê

•ssífsspSja?reverentes áoíientasâo

fos dcSáoFrancifco, qu?c™ "J «E"fervancia fc devxa lPr m?2 «guiar ojj.

Plano ahum &o^R3S5irv¥°era pela occaliáo d- feita „j- 2

a V,l,a:

f«f«!«t«nái Wolidos VdC?

r« *i" rtMLCS »Wue depois dos molho-«solevarem nosbnços, chetíi^Z?

r

lher« ™ j ;,UUH^S

> cneg^rão as mu-anerçs com defeuW im pvnoíR

P ecev3 °n0

íer^ adulterados

*& Entre aquelle univer&l applaufo

;

cm

^pofte idade, que iem ..«**o^f«, °*

Sigio dosroorgdos , vem afocccdr com»

^ir^llef^lgohu.do.paa-.

lt>%f V^ m difcordia que acabamos

,.Goms Freyre lhe tinha defiujul*^-

b"vX a de èfcurccer íua qualidade com hum*

S?o nos humildesinfame,vil m nobreza,

Sfdiffe aoouvidc, queboaseftaváo as p^es

fefSmâreTF.y reque(abiatoUra,de

;

.

cu 2s , mas não áfimular at.ev.m.nto

23 íofrido na injuria que a fi mcfmo ft ftz»

aquelleCabo, que «nau aftuto qm v-M»& as çonwwicnci ,« nas d^couijg£g

enredos os entcreíies , empunhada aUpaa»

íhe relpoadeo. em voz que de poucos foy

ouvida : por elta juro, que fc a po* na!An»

que viX « experimentar algum como_*.

ilmK.,inh-idaf,btconaro:nv.saste-squeuc

"

~1

•c

tida de Gomes Frem !^p.rfeparadesfa2erosds^ íe ;inhate>

*<% Como biíhíTe o amiaflb i PmK,;

r'Sfl°•f°y receb>do do General com as

Sem2, Pefl°a'"3° menos P l 1° "rifcado

aifi.r5" P

°í n*° c»feftiarmos cora relac^

SR3SSS?* P°UCOde e(P--.^y "amos

ínemo -,JmUyt0S acc'^ntes dignos de

orevç relação das vn tudcs , o grande zelo dè

Gomes pi'81"15 temP°seiâ0 'P»fl«dos. que

cora uc I

'V ' C

T^* "° AlcnteÍ°< fa^"dacora ut .oao das obngaçoens de foldado, ouv>d>, ouuuerrciym.cnto, qwn(1o ochamàvião

DeAndradallPart.LibJ. Álo a Lisboa as dependências dacaia^deBo-

.adella , cuja herança já muyto antes do anno >

le mil feifcentos& ietenta& quatro, que pot

alta de Luiz Frtyre de Andrada (ultimo dos

xjffuidofes que fc intentaváo moftmr mtru*

^osjosfeusafcendentes iiugavão de pays 3

ílhos , com outros opofitores > ou como per-

•endentes , ou como fueceflores legítimos*

por deftyto do quarto fenhorefautdo pela

MaRcftade de AffonloV. por caiar fem difr

peníacáo com parenta dentro do quarto grão,,

nem licença deEÍRey * caufa porque forao

para osb.ns da Coroa „opay julgado por in,

havtl.os filhos por cfpunos»

167 Coroo acaufâdeBobadella (que de*

pois no anno de tnilfeiscentos noventa & fetc

fc íentenciou vaga para a Coroa ) por aquel*

le tempo íe achava pendente 4 & ie havia de

defeidir opleyto por relia de juízo* acudiô

Gomes Freyre a reprefentar o dm yto do fe-

cundo filho dotcrceyro ienhor daqudla il*

luftre cafa, de quem defeendia fua baronia

por linha reta ,& moftrava pertencerlhe não

ao tercey ro, que entrou nella pelos deméritos

dopnmeyro* . _,

1 68 Detinhafe por efte fefpeyto na Cor*

te , onde a multidão dos negócios , ou por fe

confundirem , ou por fenão atropelarem nus

a outros j parão , ou fe movem vagareios,1

.

quan*

/* fida àt'Gô>ms Freyrequando pr. c ir* mela*. o tempo paliou no A*

ifcntcjo a mdhor vida , cum morte aprcflàdaJoaó do Crato da Fonfeca Tenente Generalda Cava!!aria daquclle Par tido

, poílo que ti-nha oteupado com a fatisfação , com qUe oioubc merecer.

i6g Fez*fe avífo a Gomes Freyre, &como prla isenção com que fempré tratou oscnterefks, dava a conhecer o defgoftavi pe-dir,lhe efeieveo pelica a que devia reverenciapelo íexo

, rendimento ainda i nayor pelo ref-peyto,quep"rtendeíie aquele lugar; por*que iefogeycava aíervir rm praça defoida-do, quiz. fie antes merecer naoccupaç.ó deCaoo; como aperfuaflàõ vinha authouíadacom a firmada que venerava para a obediên-cia mas por fello deíua conloite, queenfi-nunva naerhcaciadasrazoens o dcfjo que ti-nha ,- de o ver mandar a câvallatia daqurllaProvíncia, refòivco-íe, ainda que mô femviolcnci»

, a cortar pelo eftyllo da natureza,por naõ faltará pratica dasattençoensi

170 Nomcímo diaque recebeo a cariafoy a Palácio, onde feprtilnto'?, nomuytoque tinha íevvido a Pátria, aju%a com quepedia o pofto cie General da Cavallaiia doAlentejo, que fe achava vago

,que podia ter

oppofitorea de mayores merecimentos, mas

nenhum de mais tempo , por ter militado nas

eam-

VêÂndràda ÉPart.UkL > y

•anipanhas, atè aquelle em que os outros am-

ía fecreaváo aospeytos das amas, de cujos ^>

xados o tirarão os eftrondos Marciaes , com

iue animado do furor bélico gaitara os pti-

meyros annos occoputo nos exercícios de

huma idade robufta , fem defpir as armas ou

embainhar a eípada,em quanto Portugal nao

deytfára pendentes no templo da paz, osíni*

trumentos da guerra.„

171 Naô teve o defpacho dificuldade f

qucodetWcík , antes ferecebeo como alvi-

tre novo , ou beneficio que fazia ler elle mei-

mo quem ofolicitafTe,* por fazer duvidar o

deíprezo, com que tratava feusintereflcsque

ainda offerecido aceytaiTe aquelle lugar, por

ferem ftus merecimentos naopin ão dos que

osfabiaò pezarpelo quevaliaó acrèdores de

rBayoi premio hmas veyo aparecer ainda

luperior a mercê pelo cafo que jefenremo?,

em beneficio da peíToa pela attençao , com

que era viíto dos olhos doPrincepe, aquém

foube fazerfe fingularmentcaccyto pelo va-

lor ,por outras virtudes naô menos atten-

1 71 Achav?-fe Bernardo de Fari i no A*

lentejo , oceupando o cargo de Corniílark*

Geral da cavaliaria, vendo que eípirava João

do Crato defpedio pela poíla hum avifo ao

Conde de Pomevel , crendo tem enganar-ff*

quê

Pífa de Gomes Freiretíiffcintereflado

, em que melhoraílè de poíío:,

íecmpcnharia a favorecer padrinho o acrelíccntamciítodequeo fazi.iô digno fcus mere-cimentos. OCondequenão^bia efquecer*íedasfuãscreatura^partlcipada a noticia nãoperdeo tempo, em expor a Tua perrenção

<como fby km oppofitor, 6c o afilhado cfta*Va bem recomendado pela opinião , que dei-"k tinha divulgado afama, quefoube mere-cer leu esforço/ achou tão ficilodcfpacho,que ja nao faltava ao decreto mais que firmai©ataao Red, quando chegou a petição deCromes 1< reyre fem mais nd rentes que os deiuarntfma juíhça, que foi 5o osunic-savo-gados, de que cofturnava vakríe em feus re-querimentos*

*73 Ntó faltou Miníífrô da âffirrçtura*que íe achava preílnte, queintereflàdo, ouattenro cfnfcefle lembrar a mercê já feyta aBernardo de Faria 5 oPrincepe que domo-Vimefuô lhe penetrou a intenção, antesque.çfcegafte a fer prectbida dos eírWliftaírces , o

1

advertio com òs ol hos , obrigando-o a immii '-

dece-r o fevero da demonftraçaõ , como o mef-mooepois Uamente conferiam, defeulpan-do feu defcuydo, cm beneficio do ptr ten-der» te,

1 74 Logo que Gomes Fj ey rc k déípe-cio de Palácio mandou o Pnncepe chamar o

Conde

fíeJndrãdallPdrt.tml . */

Jonde de Pontevei com que dcfculpou afa* .

líiJade do provimento * não antevendo que ^ )

ucrd Gabo fe refolveria a fervir em hum

afto que tinha occupado muytos annos an-

:s t& como lhe não podia negar aquellelu*

"arVemefcandaloda.'pc'flba#. nem off;nfa da

iftiça i avizaíle a Bernardo de Faria, que emodaaoccafião que concorrefle com Gomes

iYeyre havia de exercitar deComiíTario : fe*

'urada pelo Gonde â boa ^correípondencta

|ue entre osdous haveria foraó ambos pro*

'idos mmcfma forma não fófem queyxa*

nas com fatiàfaçaò de hum > & outro mere-

iimentoi •

, .

ijf Aos ôyttí de Mayd de mil fetscentos

k oy tenta & três * fe paífou a Gomes Freyrc

10 va patente deTTenente General das Tro-

pas do Alentejo ]pofto que em muytos *nnos

ic guerra tinha occupado na Beyra. Paílbu a

fefvir no feu partido , & como fe rúfceee para v

naò ter defeanço , com a poffe do cargo enA

trou em mayores trabalhos i como logo nos

referirá a hiítonai

176 Poucos dias eraõ pafladòs quegofa-

va no ócio osapplaufos daoccupação ato**

dos grata pelos acertos daefcclha * dando-íe

os parabéns huns do fuocrior, outros ãó

eompanheyro, quando fe ayifon deEWque amotinada ámilicia-iiaquelh F-tâjfê*

*•-

G iaá

5? .Viàa de Comei Freyre

nhaó os foldados rompido em batalhai agref

iores nas dependências dos Cabos mayoresque creavão a defobediencia à fombra dos iatentos demandar* Do cafo daremos relaçacmenos abreviada, & a não Ter falta culpávelo calar truncado o fio da hiftoria , o deyXa-ramos nofilencio, por não darmos noticiídos vícios de huns , ondç de outros refcnmoias virtudes.

17? Acbava*fe a Praça de fclvas, pelaauzencia dejoaó Furtado ílu Governador,comandada pelo Meftre de Campo JofephPcíTahha

, foldsdo de brios taó elevad; $ que ofariaô mal fofrido. ÁfTiftia de guarnição norn.fmo p-efidio Bernardo de Faria TenenteGeneral daCavallaria, a quem tinha dadonome igual o valor , & as occafíoens , em quede fprclados os perigos foube fiar da fortuna,ainda mais que da razão*

178 Refpondiaõ-fe aquelles dous Ca-bo* entre fioppoílos, cretda na ambição aantt patia , a emulação no esforço. Picára*>fefobrejunfdiçaò, começando a lavrar de li-

fíevros piincipios, humaleve defeonfiança*»as como achava nos génios encontradoâmatéria difpofta , levada tm pequenos moti-vos, foycrefcendo atè fe fazer robuíta comcxc( fio tãodt rnaíiado, que em pouco tempoChegou a fazer emereiladps osCapitacns, osloldauosparciacs* I79 paf.

De Andrade tLParuLibl $179 PaiíoU o defabrimento daquelles

ous Cibos ( eiqueéidos da obrigação, que

o pofto tirihaõ de eníin \r na paciência o ex-

moio, com qite íbfridas asfaltas ie devem

>erdoar as injurias ) a termos tão defeompof-

os* que excedendo os efcandalos do profano,

ihegáraó as abominaçoens aofagrado, cor*

iartdo*fe* no bárbaro defatiito, com que a

rente de guerra amotinada fe offendia , a Ca-

edralde Elvas hòrrorofo campo de batalhai

em refpeyto à Mageftade de Deos dos exer-

;itos emíua mefma cafa, nem a tenção aos

>antds em fuás Imagens^ifadaras fepukuras

los mortos com deíprefo , tratadoscom irre-

verência os altares.

189 DefembainriadasasefpidaSjCom fá-

crilega reíoktção , foraô osgolpes taó feftl

pied ide i que depois de cortados os vivos, in-

famado feu esforço de cruel * correocom in*

juria o fangue , regadas as pedras , a infopar

as cincas dos defuntos, cujos cadáveres doi>

mindo em paz, defcatlçayaó nos jazigos. Sembailai a moderarlhes a fúria a prezença ve-

nerável do Biípo Dom Frey Valério dcSaõ

Raymundo ,da illufrre família dos Pregado-

res, eujts raras virtudes íe fazij^ antes r.tten-

dicfts de todos, não menos para o merecimen-

to , do qu í para o r; fpeyto*

180 Moftrando fepaílor noofficio, nó

G % efpi*

Égó Viàà de Gomes Freynclpirito rejjigiofo, pay na pi «Jade, defecoaquelle Prelado daCapelía mor ,o Cruzeyroáondenaõ fem lagrimas quefuzia deramara.çompayx^ô^ verctr á dor , fe ofF recia vióbi-hiaao lacriíicío , penetrando poi entre os ef-quadroens armados dos arTec>ós da ira , efti-mulados dos da vinganç a*

i8z Seguirão os Cónegos taó claro ex-emplo j enterrompidas as horas canónicas

i&outros Divinos Officios, quec iebiav ó at*tentos , 'off-reciaõ devotos , naó menos vale-rofos, quelaílimadosj dífprefado o perigo,que òsameaflava veílnho * amparadas à Tom*bra das fobrepelizeSj & das murças, fem maisarmas que breviários, atraveíTáraó dehumaa outra parte» pelo meyo dos íidiciofos , iimperdoar a alguma diligencia, qu. podefle for»vir aofocego da Cavallaria , & infantaria,que dividida em bandos, fazia efta as partesdofeuMefbe deCampo J íeph Peiànha,aquclla as de Bernardo de F.rn íeu TenenteGeneral, que litigavaó encontrados f breopeder, que queria exercit.r hum, outro du-vidava que tivelTe jurifdiçâVde inmdar n .$

Tropas de Cavallo com Império igual àsef-quadrasdepé} demanda quepleyc aváocc*•gos.deffendiaó obftinados.

185 Os Clérigos, ÔC moços do Coro>

Vendo que immoveis aos humildes rogos doPi»

£>í Andrada ll.Part. LibJ. toi

relido . ajudado do Cabido, duravão^a

rofia fera os moerem as lagrimas dos Ec-

lefialticos , n:m ns-das mulheres atropeladas,

ceder da oppofigaó, deípeníados em huns

s prectycos do Sacerdócio, em outros as

•v!i de Ecclcfnfticos , fe armarão dospaos

1 Cruzes , & outros «ift< uraentos, que f>r*

nevroencontráraQa mão, cada hum íe apro,

revtava , dos ou; achava mais promptos,

em aprelTa dar tempo adefçorrer fe erao

proporcionados , a reb.ter a? armas ,ou_ ja

:int,s no fangwe, ou que ainda fe encam.nha,

Paó a rafgar as veas dos contrários , m« nada

naefikaz.a moderar o furor, com quelou*

caaquclla geme, huma a outra fe enveftia.oij

pom defefperaçãQ eftianha , ou ja com valor

defatinadot , , 6r „,_

,84 Eftt ndeoTfeafuriadehuns,êío^

tros aggreuores tanto alem dos limitada

crueldade ,que chegouM^Ç*»*£w

do , a fatisf>7,erfe nas teas da Igreja ,fem ízen-

tar os confeffionarios, paos das cruzes, K me*

fas das Irmandades , que naó bailando a con-

fervallosinteyros o robutto da matéria ,por

lerem humas de paoftrro, algumas deange*

Hm, outras de bordo, ou anfmho,experimen*

táraóocftrago ap^arNda rcfiftencia, rece-

bendo couladas taó desformes na grandeza,

que parecerão machados aselpadas* vindo na

.-

Fida de Gomes Treyrêdesumanidade » ficar teatro laftimofo «quelle meímo Templo , que íervindo no Di.vmo ao culto, incitava na piedade à devoção

iSf Foy a briga durando por tantas ho-ras porfiada, que av>íado oGeneral daS ar.mas

,quedefbuydado de tão eftranho fuccef-

lo vagava deícançandoem Villa V.çoía qua^iro legoas diftante , à fombra d;, paz , dt quegofavaaquella Provinda; comento entre-vallo de tempo gafto no caminho, ainda acontenda njoeftava extinta de todo

, quandochegou a Elvas acompanhado de Gomes*reyre, queefcolheo como Piloto expertoparafarvar nos perigos de tão ar, ifcada via-gem ,p»los excertos da tormenta, em que lhetoy noconfelhQefcudo.paraal no trsbalho,* JS6 Acudirão juntos os doustntcrefi'a-ctos cm focegar o tumulto, que ainda perfe.verava menos nos golpes do que nosameaf-íof, com que amotinados deíloni ò os fdda,dosem magotes peias nus, tão livres comoitnaot.veflemluperioresa que obedecer, oufone aquclla Cidade huma das Pr,ças inimi-gas acabada de conquiftar : os vefinhos corta-dos do temer

, mais que do ferro, náo queren.do invplverfe na caufa dos Cabos, k nc< lhe,rao a fuás calas, em que ainda fenão daváopor leguros

, por andarem os militares tãoatrevidos com as culpas que reccaváo lá os

foflè

DeJndraâalIM.mi m>flc alemç ,r , ou a indignação aos

valcn*.

u a defaraça dos traços, j „„

187 Difcorré.aó os dous por todas as

JÍJ (em encontrar mais que ranchos do

Se a nída , que reprefentanJo na íoltura

'liberdade de vencedores ,parecia que dei*

,anecidos m culpa, tnunfaváo no delito.

Émpenhoufe com inútil co.teziaaaothorj.

ffi General, paffou dos rogos aos ameaf-

fôs, & náo baftou nem o ngor ,nem a bian,

du a , a moderar o animo daquelles homens

Jue tVazia infolentes ™s^íd/atoaffedos da vingança ,,tornando-le ingratos

ao beneficio, reos de mayor cruftcosfjos, 6Ç

SferS não querendo hfr largadasas^mas

(ogevtarfe à cura , nem os outros apl*M188 Naó íe via pelas ruas outro objecto,

mais que nos intuitos motivos para aquey*

rnaTonfufaõiníentivosajaft.marateque

os mcfmos infbumentos do efcandalo ou

JZ a cólera , ou já cançados com a noy te a.

ffiao de offegarfe por fi mefmos, mas tao

pagrdefeuh.rbaroprocedrmentoquecon,

taváo por proeza briota a crueldade ,a leíil-

tencia por gentileza do vallor.

• 180 OGeneral.que magoado doselba-

aoslentia comhuma mefma Jor., asirreve*

fendas feytas , ao Templo , ao Pre ado,aos

Miniftros da Igreja , 8c o eftado múanà*\j 4

"

Píia de Gomes fnyre

TíSn^ r''duziíl

adifciP"na Marcialdaquella Praça, moftrou taó vivo o p.zarque voiou havia de enforcar rodos aqu, lies,que feyta exada averiguação fc provai*

Sreh/nTnPI,mCy r

L°dad'Pada fo^» coS

Sífí*» Io; «**«* demot.m, ou re-nuncio o baftao, largar o íerviço ,& a não

valereinosrogos?naó£mlagrimasdÔB,lpo,q

4 ou efquec.dos os.ggravos, ou perdoada

arcabuíiados dous<j feconteftouierem reoi

aggrtffores da CHlPa,principaes no cfcariJalo.19? Achavale taó alterada apazdaquel,

la P, aça , que pa ra fe reftÍ£UJr a^^^cego,toy neceflâno repartir o Generafo tra,balho entre fi,& Gomes Freyre,* quem cou-

bem perfuad.r a cada hum a bayxa que tinhadado nos bnos que ma,s corridos da culpa,

^pendidos do erro rem.r na çon- llaó a inju,r>a,ainfam lanafumiçaó, '

ri.!9

.'Dep-°ÍS

,de aderem todos volunta-nos da oppofiçaõ dada, as mãos , k logcytá-»o?o juízo daquelk Cabo, a cJja diJileS

Í^T^^.ouamayorpauedapazaX -

<Jade' ^ Ue as diícordL domcíti-

o&SfE™ •

por tCatro d£ * feftteiw, ouQacmadcabom.nasoens, oucfcala dehor-

:,19a A vi*

J)e AndradalI.Part.LiM- fg.

, qx Avifou oGeneral a Corte com in%

id£aô dàs demafias, coro que fe tinha»iduaçao u

r^ados , danda relaç o

[

a

o

V

f cedido , te» cX acaufa ,deyxandj

ofilencio fó algumas togjjg-ias aue fe n ,6 aggravavao , fazi -o roais rejo

fdeluo dos roayom. Politica com que v,n-

™1Kdos alaiins accidentes fero fuftanc.a, pe-

d ffmaSe recolher àquella Pr.* João

Furtado feu Governador, oqual tinha coro

bngaçoens nnayores ,o y«» .-

^^SaáS^^^acabamos de rcferir.foy na Corte ouv.da dos

SSSSS com krtimafdoPnncepe coro nao

vu gar demonftraçáo do fentimento ,que

Ih- moderou «noticia do trabalho incança.

^rcomVGomesFreyreaiudaraacon^

&S Vtàà de Gomes Freyreg*-« apazjdaquelIaPraça. & confíderandoque para «a conílrvaçaó do focego Vcl£acura de tantos males juntos , fóf^cScOÍbo era remeda proporcionado, Lno fel

StV «W*». fem efperar ferconfultado na matéria, por fimefmofem ou-tro parecer refolveo ficafle afliftindo ao a",

^erno de El!

vas, em quanto durafle a auflnlcia de João Furtado^teíhndo

, fiava doç"~

ta ento ,gual ao vallor. que ajudaria defortetodas as partes que compoftaícom a lua juS

rJft íio8,rande,comodeyMmo8 refe-

lel£^''mi0a,n<,1,h

°Je fcft«--"'unhas da-flueilesdias.era oconceyto que defte Cahnnnhaaquellc Puncepe/^dlque íínaô cZganou nojureo que razii de Am virtudesnoscerttficarao, com argumento mayor a fa-cilidade com q„e terminou ,cora hum mel-Polucceflo.d.n-rent.scafosquedaXo,aler nobreve tempo, que durou naquellcgoverno

, qUe deyxou taõ voluntário , comoaccytou violento.

'

,p6 Em quanto fe efperavaó as ordensdaCorcequcnaótardáraó muyto vagwaGo-nus Freyre naquella Praça com útil o,ioprecurando moderar os ânimos de alguns

que

X verdes, & como peccavao «£"££» fenaue ,

que na cólera exaltada ,davao m

HcKbLrcrnhons.ondefecavaoou-

^ fcntreoutros ,a queicudelgraçado

C"C

^,fi

Bem rdfd Fá''covtado leve-

ornados . » " V£ °t<uiz pt flanha irmão

pffend.do .caft.goU a^P^^g 'dooutro o atrevimento de violarem o »£»?

do Altares,^ refpeyto a d.gmdadedosSa.

^ça,Sinda comoGathoUco 6ffl^aò na legurança da conaenera de cada hum

!que a dor , Sc os rçmedms^f* ^gravosfamo igualmente culpada, c. tanto

fonh- duer fero patecer afiL&ava ,ou mca

injurias ,fe eiquecu dasotíenías ,que:

vcy

*

«onfeguir convakceflempan.ey.0dood.o.

™S Vida de Gomes Freyredó que das fendas

, lembrada antes para a ir, S

199 Com efe feliz exórdio , entrou a

X»,fc - *foJdiidos

» era tratada comoeftranha nao menos daquelles mefmoj.quea deytao zel ar fapcjjore. , do que dosoú^ros

22SS*"?'E-:de*Bfi,W '"faltemos

, ou™

prender fubditos. *H

2.00 Çomoeranaprofiflàõfoldado.dosque fe unhão creado nos braços deMarte def!deoSpriiney no5 ^ M tedef

» Praça a efcoJIa onde tirado do berço a-prendera nawfono.a as leys da guerra . repa,

rnlhi • íCrdl3 "" Suarda •« d <= »oy te fe re,colmao

, defeançar nos quartéis fiando as vi,gias aos oiBcaes, que inferiores no poftp os

SuyT."a

' '

dadC'

fc"*°*A 5aueenr3

VerÍgUad?$ ac

>uelIa9 ordens,que ent. e 11 prancavão como ley aquclfcsC

<*»,nío fem cicandalo no exemplo, mandou

cornar a todos, & fcm outras teftemunhas

^nS?' sfeda acu'l» ""tadvertio" " "««Wffidade.que tinha a honra de fe mc.e-«cermais pelos ferviços ao que pelo .nalci.

mento.

»

OeAniraàall.ParuLib.I. míento que os poftos lelhefiárao, porfe*,,

&febemo melhor atados aos precey-,,

os defeu regimento ;confervar osfolda-,,

losemordenança ique«obr Igaçoensdo j>

refidios íenáo deftingvmó, mais qu nos,,

r i8os 4as dafaz , das da guerra ;

que nao „

Xaenfrnadhe alguma co«lanova,?o.-,,

Leanuflle era oleyte* com que Bchona,,

PlaSs pejtJ os filhos, que Marte,,

T^flbulogoaperfuadirlhes.qu^lfemfmsfeytos da fua cortez.a , obngarle da

fom íS, com que pedia, quando poderá

Edar, por izentalio o cargo de ma.s lobor-

ESUqueaoGeneral dasavmas j queeípe-

Í vaSdo primor década hum, Çuydar.a em

lhe não daroccafiaó emque violentadooge-

Lio.Iffe do rigor fempre*^^*cUnàçáo ,

que todos os Capuaens , & os ou-

trosOffici.es, cp.e entraffem de «»**,*»-

VraodeaWnelladenoyte J £cded 1a por-

aue aquelle exercício, continuo dasguami-

Joens fenaõ confervava paranpparencm , fe-

Aaó jporque eraô as praças de armas na paza

pakítra, em que fe vinha aeftudar na arte

Marcial as leys da guerra-MS A modeffia , com que o Governa-

dor adverxio asfaltas <^uel es CaboJ,

o

íleyxou ti© fem queyxa emendado-,que íen-

nf

Vida de Gomei FrepéoVoprimeyroqueièfeguio Dom MigueldiSilwíe empenhou a fera todos exemplo oueimitarão os mais com tão fevera diíciplln!cm todo tempo, que Gomes Freyre auiftiorogovCll1odeElvas

$ qucnaó houve humque alterada aquella ordem fe aproveytaitede dt! Pen açao, ou indulgência, m.m femof-trafle por „ oyx.o mais negligente , ou pof re-belde menos obiervante

204 Com não m nos diligência cuydouoGovernadoíem acudir à reforma dealgunsabater, Ja mvrterados, que a ocinfidade da'quelh pazt.nhacreado robuftos. Coftumavao Oaptao a que cabia por d.Unbtiição aguarda ou porpoup.rfe ao trabalho, ou aoscuydados , tcehar as portas da Cidade 1-eoque começava a ir ferrando fe a noytc.RduNtava daquellapretteza antecipada, abrirem,íe depois a olgumas pi (Toas de defbnçaói queou poi hcceítídade, cu por ferem alli mora-dores

, bufCavárii ou o defeanço de luas cafaj,ou o abrigo daquella praça.àoy Gomes Freyre

, que tinha as praçasfechais por efcolla de Marte , em que < eaprend.ao com aproveytamento mayor nadournna das armas, os preceytos militares,delagradadodeftcintempeítivo procedimen-to

, procurou emendar , cm hunsa preftlnosoutros os yagare? , fera trabaihodosfoldados,

nem

VeÂndradatLPartMl. ij*

emmókftia dos hofpedes, ou defcomdSo

os naturaes ,que intereffados no agafalho

inhaô a demandar huns a flgurança >outros

'Tôó^Confídeí-adas as diíianeias > de qUe

?odiáo viraffim os agricultores que vaga-

/ão no campo , como os que cUrfavao asei*

rradas , mandou que a ultima porta , que logo

Snalou ft techáffe a certas ho, asscom ordem

que não tornafleaabririttyatè o outro dia,de-

creto que íe notificou ao prefidio*& vefinhos

fem izedtar iliuítres ,ou plebeos , Cabos ,ou

foldados ^excetuido quando folie -avi-o ,pa-

ra a execução de alguma couia do ierviço de

EIRey.oquefcz obfervar com o"g°r

J"e

referiremos em benefício dainteyreza doMi-

niftro 5aque nãoaballavão empenhos ,

nem

trociaórefpeytos. „

207 Paliados poucos dias chegarão a pe-

dirlhe licença r.tguns dosmU\tos Fidalgos,

qúeaffiitentes no prefidio militavao naquel-

la Praça ,os quaes fazendo d«imertemmen.

tos* amdamais qiiedotrab.lho, efcalla aos

ptemioscom o pretexto do/ervir honravao

aambicaõ deerefcrrj tinhafi eftes entre fia-

iuftadaVima jornada a Badajoz, Praça ptm*

cif>al da faya deCaftcíla n.s margens dono

Guadiana diíhnie trçs kgoas da Cidade de

Elvas i reprefemando huns negocio át im-poi>

M2 Fida de Gomes Fmré•j<*uaiicin, outros aibcicdadc.ardiz, comqu^intentarão oecultar a cmiofidade defculpa*vcl na prudência de huma madura idade,muyto mais ria facilidade de caô verdesannos.

208 Dada parte ao Governador dos in*Centos, que entre íítrazião praticados, &mpor outras vias * tinha antes parteeipado, ref-pondeocom urbmiddde fácil, concedendo'lhes faculdade para fazerem a jornada, de queJhes ficava a invr ja por lhe não fcr poffivel a-companhallos fem culpa, por Jhedeflenders natureza da oceupação aufenrarfe daqudjaPraça, onde vivi 1 prezo com poderes paraJicericiar os outros, femellcs para difpcnfarcorafigo.

tp99 Viiidoaquelícs Fidalgos nodia an-tes do decretado para ajo. nada, ou adefpe-di: fe corteser, ou acompi imentallo politico*,com os ('íTcrccimentos deícrvillo naqudlaspanes, lhes perguntou , fe voltavâo 110 mcCmo dia

\ refpondendo que fefn duvida na caí*de fer.-cojhcrião àquela Cidade, lhesadvei-tio, iiíéfiem porchegir a horas que naó fin .

caflem delàcomodados; porque fechadas asportas Ihenao feria fácil oagafalho defeusquartéis ftmõ entrafTem pdos muros, cujafobida lhcdefiaidcriaõ as fentinsllas , 6c ha-via de fentif ley («ílem huma mà noytc no

campo*

De Ândrada ttPart.LiM. í

«

.topo. Com tanta cautclla procurava aqueP

Gabo delviar a óceafiaõ às dcfconfianças*

ic mó deyxava rio lugarpara a offenfa* ra«

lóparaaqueytfa*

aio Partirão aquellés Fidalgos , á que

a volta deteve mais o caminho, ouengana-

ió as horas* a que íahiraó de Badajoz, de for-

:que vieraó a faltar àquelle tempo que as

ortascoftumavaô a fecharfe: mandou o Go*

ernador ao Capitão da Guarda * que por at-

enção as peflbas , fé fofrece hum pouco :de-

:vefle largo efpaíToi mas como tardaíTem de-

íafiado, defcortíiando da demora s refolveò*

achadas as portas entregar aschaves.

aí t PaíTado tempo eonfidefavel chegou

mm Toldado da guarda comavifdj da parte

lued^u alentineila do friurô ,que defóra fe

ichaváo os Fidalgos * que forâo a Badajoz,

jue com funiiíioens defubditòs, pedião fe

heabriíTem as portas fdefculpàrido corri ó*

icgccios a dilação, que fahirão tão tarde, quà

lhe não foy poífivel vencer ó caminho nas

boras que felhe repreferitáraó nâõ fó baftaíl*

Ees i mas fobradas a fazer ainda rriayor jor*

nada. .

^

z ia Gomes Frey fe , qde proedfóu fem*

pre na obfervancia da difcipiínaj caíligar fent

©ffenía dos culpados^efpondeocom não vuU

gar demonftragão do femitfieriío* que lhe &;

H Cm

p4 PidadeGotnn&qriliava de os haver de deyxar taó mal acomodaitfosrmas pois fc achavão primcyros feos com-Pretendidos na tranígreção de íeusprecey*tos, eftimava fofle táo illuftre o exemploque ndles tinha para dar, aos que depois íe•ireveflem a quebrantar aquella Icy

, que lhepedia quizeflem com paciência lôfrer* que«faffeçomelles daquelle rigor, para que al-gum dm não vieffe a parecer fua juíliça

§ queatroemo refpeytos, ou affeftos a tornavãoparcial *

lij <)uvidas eftas razoem que fe repe*ttfão do alto pela íentinelia de íobre a porta,fe retirarão defenganados.a defeançar em húaquinta allivifinha, onde paíTada aquella noy-te com mais admiração da modeítia , do quefiicaftdalodalevendade, entrarão na Cidadeiiamanhãa do outro dia, táo fatisfeytos da*nteyreza, que em lugar de ofendidos do caf-<igo

,fe confeilavaó obrigados á cortezia

çom que lhes negara o abrigo* Taõ bem fou*bc a igualdade daquelle Miniftro obfervar osfeus decretos, que repreendidas as faltas femmoleítiaiemendaVaos defcuydos femqueyxa.214 Neceilítavão deremedios promptos

outras demafias admitidas por vicio, tolera-das já como neceííidade pelo ócio em que va*gavão noíTos foldados. Com o beneficio daparque nos outorgarão ,& cm que nos con-

fervajç

PeÀndradaEParML .*£fvamos com os vifmhos da porca , íe intro-

uiraó varias relaxaçocnscomqucadultt-

da a difciplina , Ce unha eftragado o eflyl q

[arcial daquelle prezidio » com efcandalo

3S veteranos vque creada nos braÇosa guer*

..niôfabcndo diffimular erros, comofem-

lante nao menos com as palavras .cftrannar

áo nos fuperiores os defcuydos* as faltas nos

ibditoSh , r .. .

,

1

1

1 O Governador , que fempre íolici-

) fem ftrearfe aoscuydadosdeíatisfazeras

briaaçoens do cargo , não admitia defcanço,

u vída a jufta dor, de que os sellofosfc quey-

avão.apontando humaa huma as defordens,

ornque ie procedia na guarnição do prt*.

tieyro propugnaculo daqueíla Província,

ntroU na confideração de recuperar o mane*

o das armas ,tâoe(querido doPrefidio.quc

4 fe nao dcftinguiáo mais que pelas farda* , o*

Foldados pagos, dos milicianos*

£16 Depois de averiguados âcJUelies

deffeytos ,que juftificou notáveis a própria

experiécia : diligente procurou reparar o da-

no* que já fc padecia grave* 8c ameaílavaécom

ruim mayor ms confequencias i mandando

em dias divididos fazer exercidos, em humàCavallarta * à Infantaria em outro < & no fe-

gutnte^todos juntos , vindo com hum tra-<

balho fuave terçar de novo fem violência,

Hl «a

P"4

*H& tôdadeGòmèsfrêyrècm pouco tempo o antigo efplendor daqtiellPraça ^ moíh ando aos vifinhos cm huma oítentação horrorofa, huma reprefentaeão alegre.

*

i* 1 7 Nas horas do ekercifcio, qtie refer

vava para as tardes dos dias do preceyto mandava com novo artificio, faier a guarda pelaiordenanças, hãò cohfêntindo ficafíe vagandealeum foldado

, que não tftiveíTe por enfer-midade êmpedido, ou com licença auícnte:fendo opnmeyro que apparecia no campeonde levava a outros o exemplo dofuperior,que deleytando-fe nas apparencias belkas , fe

rcprelentava animado dosefpiritosguerrey*

li 8 Ordenados os regimentos no campoem forma de batalha , aíTiftia incançavel a to*das asoperaçotns, humas vezes mandando,outras obfervando de fora os movimentosdos corpos, algumas norando o defcuydoj oufrouxidão de nuns * 6c agilidade de outros,louvando neftes a diligenciai reprehendendonaquelles a fraqueza , arte com que lhes hiacriando na emulação os brios > a deftreza noshábitos.

' 219 Não deyxarèmos fepultado no fi*

Jéncio , a fingular ft licidade \ com que atten-to àfatisfação não menos dapeflo.i* quedocargo, apurava a Cabos, & foldados, íem cai>

{illofl

neÂnàraààílMtihJ. itt.

d ÍS que foffc indicio de quçy** pormgft a que receheffem , tão alegre* tolerava*

falta do focego, que chegarão aconfeffat

o rouytafvese lhes era afiv.o mais fuayç

afcgeyção de-outros Governadoresicemo

.proVInha diante de todos para aobedien.

ia

PfuPerbr, igual para os trabalhos,

emquç

emoftrava oprimeyro, a nenhum pa.eçeo

kmafiado noque difpuoha ,ou no que man-;

lava importuno, /l^^m»*o Todoorempoquevagavaasou m

jccupaçoens gaíhva naqueUes ordmanoS

-xcrcicios, em que formados «ppoftoícfc

Jadroens na Infantaria,a porporçao dos b^

ilhsens daCavallarn.que ao tom dos.rvH

trumentos M^rciaes ,que mc.tavao a peleja

valentes fe acometiaó, on fe ret.ravap deliro ,

para voltar mais oufados , ou melhor un.dos.

Fiendohnnsteymadasmvçft.das outros da

renitência porfia , não vindo a faltar .,para feç

real a batalha, mais que as mortes, ouo-ian-;

gUaki Como oGovernador antes fe final

decometerfe abngadifeorreffe P«r

/oda* f

filcyW vendo hú a h^os filhps dç lua d fcw

«$*8 Piãa de Gemes Freyreciplina

, para naquclla peleja fingida lhes en*£nar os golpes da verdadeyra, reparou, quedosfoIdados,quemilitavâodebiyxo de luasbandeyras, no prefidio daquella praça , an-dava huma parte dei les rauytomil tratados,huns rotos, outros quaíi defcalços , Scalefopouco menos quedeípidos, eípctaculo queolhou com dor, chorou com laítima.%z% Acabadas as facçoens doprimeyro

dia ferecolheo adefeançar no feu quartel,onde compaffivo depois de lamentar as mife-nasalheyas

, chamou Joaô de Carvalho humCapuao de Infantaria íntertido , a quem deupor companheyro o Ajudante Bento Lopesfereyra, peffoas que antes na guerra tinhãoprocedido com reputação do vallor , & con-fervavao na paz as meímas vi;tudes , comque armados fouberaó adquirir a opinião,Jhes mandou

, que fem penetrarle o ítgredoicentormaflem das caufas quetrazião rediui*dosaqudles foldadosap eftadomiieraveJ, < mq ue le moftravão aos olhos da crueldade ob*jecto digno dodefprezo, aos da compayxãobenemtntods laítima.

X *3 Averiguadas as cauias pela inteyre-Za daquelles dous Miniftros , àquelles que ítachou íer vícios ò motivo do mao trato , or-denou foflem com afpereza reprchendidoscomo indignos da honra militar, a íeus Ca-

bos,

„.. aqufm com a infmuaçaó eftranho^»

tosdoslub4itos. advemo que 4o? loldostos uos '«"^ *

( ms precifo , 8C 1«íes campraffem por íua wv> v _

ff.

Srveyofuavemcmeaemendwcro nuns

xulpa.em outros o defçuydq.

«4 AquencS emquef^reçonheceo»quç

Mobriaaváo amoftrar no veitiao *J*D**"*

prompto a ioccorrer nao fo a^JJJj*

comparo , ou Grécia «os feus Alexandre*

^iTíSw.peflbM dedittinção, «««uf«ftado erapefeaffas as rendas, os cab£

2 Ya6 taxados, que mó,os atar o«o fe

JogeytáraO ,g^^ígiffiSSE

fo F ancifeano de Recoleyçaó da Piedade

d^quemmó fó fiou os donativos mas^o«

eíedo com que liberal favorecia os pobres

forno auem íó efperava de fuperior Magefta-

de^eS ™ÕQUeriana cerrados emços

?u*ttibu«ú aoCeopaga. ocm*»*^f»4

e:õ yiSa de Gomes Freyn ^Cios que fazia aos homens memoria.2*6 Era como em outro iuear devxam™

da guarnição daquella Praça Jofeph Peç°

nbadeCaftro foldadodebrrosnaõinfcno?

«

aofangue, vallor igual ao nafeimento, mascom tanto exceflo ambiciofo deizençoens,quefe lhetornavaó. violentas asleys, queó%eytavaoaobe^cceraimperio a )h,.yo Co-mo amda que fe fazia alguma força, mó po-dia, ou nao queria acabar <* vena r a repus-«anca ,q tmha creado, de fiibordinarfe a dlmimo eitranho

, coraeçáraóa nafcer algumasduvidas fobrejurífd.çoens, que ouinten».va procrear novas para o porto , ou c ngana.do julgava jaantes creaturas do cargo,

«,*«£ rGoroes £rcyre que fatía fácil tole-

rar offenfas da peflba, mas naô lofe r dclaten-çoens ao lugar, len. defcobrir mudança norolto ou alteração nas palavms lhe d< u a co-nhecer ate donde íeeÔcndiaó es poderes dequem governava huma Praça de armas, comtao modeftas hazoens, que lhenaõ deyxouporta por onde podcíle entrar agçravo, oufahirqueyxa, p '

9A% Em beneficio da moderação do Go-vernador referiremos pelas luas mefmas pa-íavras

,que (em truncar huma daremos a ler,

ÇQroo,argumento da paciência, com que de-

pois

VtAnàraàaU.Part.Lih.1 igoh aíuaaalantavia, caftigadas fuavemefitl

s°ImKdaambiçaõ, »^rCbamkm^

:a osimpulíbs dos bnos , os da coleralent

% Gomo a contenda , <í* «ffi^Jependencias dos coitos, nao

f^™°**peita, teconkrváno osdousíempre leni

íterar aquella antiga commun.caçaocread*

fav a

P6defde osaimos quealumnos daguen*

mhaórniluadonas earnp3nhas:cornopore^

terefpeyto ordinariamente leachaíkm jun_

tos em muvtas occafioens moviao alguns

eomp^neyJ, praticaiobre asmatenas, d»

que o Meftre de Campo doendo.fe .fcffl po-

der íoportar o fentimentô, «naliof.ido ic

a«evxava da juftiça , devendo fer da culpa.

qSo Gomes Freyre, que penetrava a o-

ciefidade dos outros Cabos, nae,

quero»^

cortar a pratica inventada para no enUuoae

huSrecLr osoutros.tanto <V*™™£;trado.quepodiaodevertmKntopafl^adef-

confiança, voltavaa elledvz ndoparaosen-

minhas» : mm ' fi»hor Mért de CampoM

Com tanta fegurança loube leu madui o ,u£

zo governar Oias acçoens , fem nongo..&

«z ViàdàiGomtt Freyrêtragara arniíaSe, nemnosaflèéfcos declinar *mteyreza.

2,31 Mas ainda que aquella Praça , aopnncipjo íe achava tão alterada , defeançavafe em tanta paz que atè dos defenfados feco*«? ,a utilidade, do ócio fruto, ainda GomesFreyre vivia folieito no remédio de algumasliberdades, creaturas dorcfpeyto,queodef-cuydo tinha admitido como accidentes fofri*veis

,o coftume fazia ainda mais toleráveis,

*>i% Tinha- (ç pelo tempo introduzido,como ley, o ufo efcandalofo,dc naõ haver na-quella Praça juftiça para os podçrofos, fiadofleífce império com que alli reynava a tiraniados grandes , cometeo hum Fidalgo dos quealli militavjo huní delito ( ainda que não dosmais graves) daquelles, que nosrigurofospreceytos de Marte oobrigavaõ as leys ali*vrarfe prezo. Gomes Freyre em cuja igual-dade tinha melhor lugar a oblcrvaneia do re-gimento Marcial , do que a qualidade da pef-íoa

, mandou fofle levado à cadea publica.'Nao foy a ordem paíTada tanto em fegredo,q tènáo divqlgifle antes da execução.Alcan-çada a noticia, que lhe participarão algumconfidentes

, procurou falvarfe retirado naconfideraçáo de que declinada naaufenciaamemoria da culpa

, íe moderaria na diftanciaaíevendadedocaítigo*

*33 tok

i« Mados alguns dias, começara**

tver os empenhos, aicg*v«„v„V.;atazi%

éo entre outras razoens ( qWc aefi&cacia ta^a

porquedepois dapaifenao havia PJfJ^

vernador depois de ouvn

refpondeo conftar.te, q-^^iteí

gycolV- -^ficar •«»£«&<££;euir delinquentes,- que lo d« 1"* ,'

i

".íe „..

^encomendir.afufciu«ao^J^

«»abafo..vKl&m«ft«^«^foresforaô.«mplo osmcfmos, que tranigi"

CÍX]

Não baftailo ^uftifi^£

fâ^o%áoduvidava^pn,áopor ,mun -

dade& ««alidade , fenao • £'£l,fg,°

c

Pora

loa, que k achava com alguns crime^

*$4» Viàà de Gomis Freyrèparte-, porque receava ficar embargado ná

< cadea:[GomcsFrey re a quem doião mais quepróprios, os males alheyos, fentido de queíeJheguardaíie aquelle fegredo,para íelhcdar a noticia fora de tempo, refpondeo que Ceantes íoubera a cauía

, que o fazia temer a ío-geyçao aos ferros , fácil lhe deferira , mas de-pois de vulgmíada aordem, que paflara únao tinha outro remédio, maisque aobedi-encia, que osmefmos empenhos, com queprocurara eftrovar a execuçaô.fizeraó publi-co o decreto

, & havendo de ceder hum, pri-nieyro devurde fer o fubdito , do que o fupc-nor. V *r

*35 Aíevendade deíla refoluçaõ, que«loítrou inflexível a ínteyreza refpondeo oculpado com a obediência, hindo mereríe vo*Juntano no lugar deftinado: o Governador,quedosfubditosqueriamais afogeyçaõ, doque o caíligo

, vendo que fe rendia a feuspreceytos

, o mandou paffar ao forte de San*ta Luzia, onde fem oefarzar da pena, lhepoupou os receyos emeadea, aindaquenãomenos ngoroía

, mais honrada , deite proce-dimento vitraó a entender todos que tambémpara os illuftres havia império luperior najuínça daquelle Governador ,. femrefpeytosqueodobiaílem, oufobornos que otrocef*

2,36 Via-

t>e AndraâaILPart>Ltb.T,i

4,6 Via-te jáaqueUa Praça, naotm

,o Marcial que no politico ,reftituida a teu

StS" ter pila vigilância do Governador

,

3°ando-te tão diffcrente^ue aoso ho,

ic todos vinha a melma pela íuftancla,ara

recer outra pelos accidentes,nao te achando

«nta Sic,dade mais que hum Hnag.mdo

obftaculo,queaospafladosunhafido efcan^

dalo,& na opinião dosprefentes, fe repi enta

va tropeço preferiremos a caufa como argu-

LVmo m,yor da futilexa com que vencia

S arSficio, onde teria culpa oufo do va-

l°f

Ul Vivia por aqiielle tempo em Elvas

huma Fidalga Viuva a que todos retpeyta-

vão pela qualidade , ainda ma.s pela Uberda-

de com que fiada não menos np eftada,que

no Smtavaatè aos melhores com dcfpre-

zo, eynando com tão abfoluto ,mpenoque

tóò haYvia M.n.ftro é

ou Cabo que,

fen«>

te

Pev tafle a leu domínio, ou efeapafk a tirania

Sa nguaumhaeftaalgunsefcravos^que

atrevidos^ attençaõ ,que te guardava^ íua

fenhora ,cometiáoalguns iniultos.fem te-

mor da eprehenfaó, ou receyo decaftigo,

porque para hum faltara nos Governadora

autoridade, para outro refoluçao.

xi8 Todos efperavâo te oftereeeile a

Pom«,F«yre alguma occafiáo.em que v»d-

|£5 Vida de Gotnês treyre

,

lem a travarfe, & atè o Vis.Conde de Barba-

i cena, que o tinha creado filho de fua difei*

phna quando popilo da guerra tomou o habi*to de Toldado, lhe dizia, que já o tomara vercontender com aquella matrona , para ver feentão lhe valia o arteficio de fuás habilidades

í

não tardou muyro, que hum dos mulatos te-

merário cometefle a violcncia de arrombarnuma porta que fe lhe duvidou abrir,feguio-fe a offenía de quem habitava aque lia cafa , ocíeandalo dos vifinhos , mas como fe achavãooprimidos do temor, callado o delito, qui*Zerão antes no filencio fer cumpleces nacul*pa do agrcflbr,do que reos noTnbunal de fuaienhora,

239 Divulgoufenokguintediaoexceí-lo da noy te , chegou ads ouvidos doGover-nador, queeítranhando mais ainda que oa-trcvimcnto,afJta dos que não prenderão odelinquente, caftigára o defcuydo, a não va*lerem-fe para defeulpa das ordens anteceden-tes ,^ que havia para rião entenderfe com ascoufas daquella Fidalga , a que refpondco,que as ordens naõ paflavão com a oceupaçãode huns para outros Governadores, que aprimey ra occafião

, quealgum daquelles mu*latos comcteiTe a mais leve culpa, lho trou-cedem à fua prefença; porque eíhva detre-minadea fazer entender que naquella Praça*

não

DeAndrada ILPart.LiM. i||

âo tinha roais que fubdu s a que mandar,

mfuperioraque obedecer.

440 Não paHáilo muy tas noytes que o*

oldados que andavão de ronda Ibenaotrou-

TÍTem Pi ezo hum dos efcravos , a que a pa*

iencia dos Miniftros ttahafeytotmts atre-

vidoiainda mais infolente atâka docaftigo*

Somes Frcy re * que fabia feparar os agrados

Je homem /das feveridades de Mimitro.o

reccbeo não como reo,(enãocomoa hofpedef

mandando que ficaíle aquella noy te cm iua

cafa onde com humanidade nos fupenores

rara, fem Iheeftranhar, ou reprehender a

culpa, lhe mandou preparar boa cama, &melhor cea, tem defcuydaMe deofegurar

com vigias rendidas aos quartos receando

que intentaffe lia fugida poupada aaflrontaj,

cícaparfeaocaftigo.

241 Na manhãa do outro dia remeteo

Gomes Freyre o mulato a íua fcnhora acom-

panhado de alguns Miniftros com huma

carta $em que repetidos hum a hum os i nitri-

tos de feus efcraVos , lhe pedia o quizefle aju->

dar a fazer a fua obrigação , a que não pode-

ria fuprir com iatisfaçãode peíloa ,& do car-

go > fe ella mefma não come^affepela emenda

de feus criados ique aqueile tivera detido atè

aquellahora, fó a fim de oreftituir fenide*

iaçomodalla * que aão repetia a culpa nem o— -mt0i

£2 8 'Vida de Gomes Fréyrêtrato, porqtle doagafalho, & do delito ífH

(formaria o agre flor melhor * queeiperavade*ícu fcclo p mandafle advertir para que não po*deíTefegimfemais aoGovernador queyxas*à Cidade efcandalo.;

24.2 Re ípondeo à urbanidade de GomesFrcyrc, a cortem cLquella fehhora, comnão vulgares agradecimentos \ tornando a re-meterlhe outra vez o mulato pedindo quizef*fe mandar caftigallo com rigor, que mere*ciaô luas culpas 4 execução de quenãofófctfeufou grato aattenção, lenâo que vendodepois que aquelle meímo cícravo paílavapela rua com osfinaes depenittn< iado, emhum chocalho pendente de hum ferro

, quede hum colar que da mefma ma teria trazia aopeft oço , lhe fobia lobi e a cabeça , affirman*dolhe , que era pena , a que o condenou o de-lito da noy te, que o trouxerão a fúa prefença,foy com todos os Cabos ,& Fidalgos , de quefe achava afliítido, aenterceder pelo culpa-do ,coníeguindocom tão fácil diligencia , noalivio do rco , huma tal emenda que os efean-dalosft tornarão exemplos*

245 Ainda Gomes Freyre recebia para-

béns de vencer com a facilidade quedeyxa-moseferito humadefficuldade, queaojuizode todos íe reprefentava impoífivel, quandofc achou entre mãos com outra tão arrifeada,

que

DiJndraâa llfart.Lê.t i*|

ucfoy ncceílario úlar de nova arte pararei

Lado o golpe falvar do perigo adaus Ca-

osdediftmçáo > aquemos brios traziaoen-

diitrados* a imaginada offenia defabndos,

144, Andavâo por efte mefmo tempo de;

aboreados entre fi dous Fidalgos, dos q m\*>

ivâo naquclle prefidio , fero mais cauia, que

quella ,que huma ligeyra ddconfiança lhe

cz parecer grave. Achavão*fe em cala áo Bis*

?onde de B .rbacena 4que entrando hoípede

rivia de aflíftencianaquella Praça, paliou»

rifitallo Gomes Freyre , em occafiáo que os

lous oppoftos hum a òUtro te convidavao»

>ara entertidos fe divertirem ao jogo dos

;entos *que fe lhe porpoz como próprio para

ds piques > o mais porporcionado para a fatis •

facão»

%\$ O Governador * cjue corri viíh mais

acuda lhes penetrou os peofatnentos , conhe*

cendo que d defenfado erapretexto pára def-j

avindos virem a brigar falvando-fe da lcy

dos defafios ; com a defeulpa de outro acci*

dente, fe chegou para a mefa, procurando

detellos,coma occafíào de também fediver*

tír,para não ficar hum de fora* rcfolvér&o

mudar oiogo de centos em arrenegadas Alodosos circunftaptes pareceo a tafularia no-

vidade eàranha, por fe ter ob/ervado não ad*

mkia oinienemmento das cartas, que ai*

*3<* Piàa, de Gomes Freyrêfonscomavão por vida,frequentavão por viicio.

i ?f6

*aN° difcurio do J°go>em que ou pe^

la faltajdo exercício moftrava menos fcienciaou advertidamente affeétava a ignorância \fòy faborcando a perda das mãos com tantolai dos ditos

> que o mais entereíTado hapen*tJencia tornado a íi veyo a aíTentar que era fai-tade razão* atreverfe a defgoftar humfupe-rior

, que com tão difereto modo procln ava,evitado o precipício dos fubditos* poupar-Ihes no perigo a ruina * no exceflb a deftrui-|ao

* a que le expunhão na vingança : bene-ficio que náo podendo negar o principal a*greflor

f confcffando depois lifamente a fuáculpa ,-ateftava que Gomes Freyre o falvára,ou de arrifear a vida vencido , ou de fe perdervencedor j lendo o motivo da queyxi, queos trazia oppoflos creatura dehumfalfo ag*gravo^quelhe reprefentára verdadeyro , oua lua idea * ou informaçoens finiftras.

147 Tão vigilante o trazia naquellef>reftado governo as obrigaçoens do cargo,«juc nem nos fueceflos a cafo incontrados ,0apanhou algum accidente defaperobido , ca*ío fortuito defcuydado Como fenãovivellepara íl* empregado todoem benefício alheyo,nãoadmitia, (como defpiezo dequedeor-dinario nalcem as ruinas) algum poftigo,que

por

fieJndradalLPart.Lél 1$g>r pequeno deyxaffe de examinarie:

aforro.

IIoTfechavaàjuftiça, oum.lfeg«rote

Ma à fem-razâo , virtude rara de que nefta

ftorla darèsiosà lermayores argumento*

ue eicrevemt» para a admiração ,quando

efer idos nâofirváo aoexemplo.

a48 Achaváe^ poraquelle tempo ra-

^salgumásCompanhiasdeOrdenança por

àita dos Capitaetis , a qu^ a morte iou os def•

eytos rinháo abíolv.doda oceupaçao :repa-

ou oGovernadór que fendo trtuytos os per-

endentes, rienhumfaíia merecimento mais

,ue de ^mai^voíds, fem alegarem outros

-erviços, que. os habilitaífem pafaopotto,

-òmefte fundamento entrou a duvidar com

mfta cad(a , das elteyçocrls f^eytas com

LquelU mítica, que devia efcolher aosmafc

dignos f difcorrendo com madurojuixo, que

alíum eíbanho refpeyto poiíacoolprar por

bfy ko preço a inclinação dos vogaes, a cuja

império fogeyta a vontade deyxaflem com

vilefcr.vidão renderfe.oucativárfe aslibei-

kÍ% Ainda que efte difcurfojião paffiV*

dei vefofpeytaeftribada no poíTlvel ( relol-

Veo entrar na averiguação das circunftan;

cias. que conejrrião, para aqiíelks provj.

tóentos: aplicadas «.diligenciai veyo adeí-

«obor ,que todos o que tinhao voto na elley-

1 % Çao i

H* Ptia dtGmès treyftçao , Fazendo a d própriosb fufragio com ruí*nado comum fedeyxaváo fobornar deinte*reflcs.ou refp.ytosparticularcs:confirmado oGovernador no conccytb que antes formara,mandou foflem avifados todos os oppofito-res

, para que em dia decretado meteíTem aspetiçoens acompanhadas de feruiços, ou ra-fcoens eípeciaes > que os fizeflem , ou acrèdo-res da ocçupaça<H Qu beneméritos do cargo.%fo No dia deftinad© entrou com os Ve*

l*cadpres>a cujo arbítrio pertencia o governocivil, adiicorrer a gravidade da matéria

, queJuntos vinhão a determinar* paflbu logo 3 ex*ciscar a attenção , com que Te devia obrar nacícolha dos homens para hum pofto Marcial*cm que os nobres recebiáo honra* os mecâ-nicos adquiriaó nobreza -

f alargando-fea con-tar huma a huma as obrigaçocfiS daquelkcargo

, reprefentou as conciencias culpadasdosquevotaflem com os olhoscm outra de*pendência

, que náo fofle no zcllo do Jerviçodo Rey , 6c utilidade da pátria.

2ji Acabou de fallar, mas não de pcrfqa-dir, moftrando.Jhes a injuria que cada humgrangearia deyxando-íc levar de convenien.cias , ou dominar de negociaçoc ns j em que fepraticaíTefeguir alguma opinião* que comarazaò náo juftificaíle a caula.Seguio^fe a pro*poííçâo das petiçoens ,& logo a elleyção, era

qac

VrAndradãlí.Part.Lé.Z i

je fshiráoefcolhidos, aquelles que ai™

je melhor o mereciáo .menos^W"*anfeffando lifaménie <1^° fer P^fm*!

Mfc devia à iateyreza do Governador ,que

riSSS>,mayLqueoimperu>, creouas

maldades de Mifliftr - r

"SS DaquelWeyreza, raras vezes o&.

a em bene&iodos beneméritos. veyo,*&

irmar Travados,hum Cap.tao deCavaHo^

úe «oeftado depurado P^vajraça de

allantc Que o governo de GomesJbreyre

SS^dS^^aiporque^d*k querelem huma rua. onde moiavao,wg^dtgovermnça, os «áo bufcavac,

o tȣ

nos, nlffi os refpeytavlo pertendentes, ef.

[andovaga buma Companhia docampojpor-

«ie Í ào e» neccfiario ,para confcgutf

Sk occupaçâo, fazer piefente ma.s que

demerceimentos, comera clareza fecxpli,

Sva no incorrupto da iuft,çaareudaOa

do

Governador, pelas palavras^^.JStão folto das mãos . como da Ungiu ,

mas iena

offender çom^nos, porque ainda os que

com aagudcza^&áo moleftar P^evena.

perava huma difercta graça natural ,cujo fal

SerferVando dador, fuavifava o fenumentoJ

ií$Comajádeclinadoparaooccaloo

anno de mil feiscentos oytenta& tres.em

que os moradores de Elvas munfaadodos

Í£4Vià* àe Gomes Freyre

òrrores de huma guej ri domeítica, c elebra*vaó comuniverfal applaufo a paz daquell*praça, quando da Corte chegárap osaviíosde que EJRey Dom AíFonfo VI. aos doze deSetembro nos paílbs de Cintra ( onde alivia-do do pezo do cetro vagava aliviado aos ira*balhos do governo) tinha paliado dasmife-nas da vida a lograr na pátria com melhor co->

joamayorReyno.2jT4 Achavaô-fe os habitadores daquclla

Praça taõ conformes, pela inreljigencia dofeu Governador, cuja arte foubc temperar*le modo aquelles ânimos oppoftos, que ex-ttnpsosodjos, vierao os militares, Senado,& Cabido a concordarfe deforte que concor.reraó juntos, a celebrar as exéquias daquelieJVmcepe, q^ ordenarão com capta ofttnta*Ç*° magnificas, que a riaõ ferem reaes peloobjecto, o viriaô a parecer pela Mageftade.

2fjf Corriap em tanto focego as coufas«hquella Praça lerenadas de todo, atromen*ta que afoprada do Vento da ambição a ti.

nhaó antes em bandos qua^ifebruda ,que fe

moílrava jáefpetaculo dalr/* amçlmaquepouco antes tinha fido teatro dediícordias

j

cfqijecidas em huns asofFenfas, em outrosperdoados os sggravos , fe comunicavaó oprefidio

, & os moradores com aheilidade deconjunto; , nos aflfeótos de wwrass , fem difr

«guirfeosparciaesdosoppoftos.oshof^

'f^^SÓ hum Miniftro que por razão do

cessais

^f^ThSSte^poantesprczon,

íentinelUhoma noytedeu ««°"e «g^Gtm oue andava de ronda ;a culpa que te moi

vaKodaalegalidade, Provadaeracapi,

V f-Tmh^ftar ifalvallo do patíbulo ,as de-

SS o t.nhaò feyto pegar no lono nett

rSo de Official ,que o tratou mal com

rvenfbolo. Como nasleys,<k: Marte, nao

difpenf.ó os privilégios ue Baco, eltava"»

pem o dinaria , mas avogavaó pe a fua pa.*Co filhos ,& a mulher fazendo laftin» efta

Sueis pelo fexo,do que aquelles pela o*

^í ' A primeyra vifita que Gomes Frey-

H$ " Wda de Gomes freyrtmno foy adaquclla mulher, cujos roeos re-prefentando no coração a dor , iT«osolhos odeíampar^oJotig^fe!comp3de do nas miferias alhefJ°>?WCtcflenaofcntcnciaracaufaemauantoSft^

íwT"^T5^ Naópa(rárô muy t0s<!<as,queo M. niftTO lhe naôaprefentafle COnclulos os autos, para que profer.daStenc/condenadooreoapuiecír,

foflè namSfrontofa vingança a huns.a outros exemplo.

•a>59

uUOo

.

vernadoi aqucmo fanguedoseftranhos vercdo fazia horror, lart.SdosS? der

;amad°' Vcndo<^ «»õ podL

in?evr«fAf-1°U C°m a Pkdade '™*»r »

í°?yj í8 da

>uft,Ça, ou com o rigor feeara

«iue feachava naquella Praça hofpcde com

radoferomoleftIa tantos tempos, que fefo-frçffe maK hunsd.as. quenaó podtó afcr«uytos oS que tardaflê quem tinha ocírSPorpropnedade.oprofe/ir por ofício, que

íeguiaperjuizo, antes cm parte vinha a lerSS • porque fe cra' ufto «*>'*£

nrDlSP0,mUytomflhorOellava dando

que ma* depreíTa efquccena fepultadò dé-potsdeacabar pendente no patíbulo, doque

deti-

VtJndradalLPartXibl. n?nidonos grilhoen, ,cm que pndcccnJo h^

[orte no temor , outra «os vagares. íegur.va,

,e

1

mbrançrna'v 1fta. melhor que na me,

10

a6o Aquelle Miniftro a que ou nas de-

noras rufava já aconciencia culpada, ouooras acu,"*V araidaô nofuplicio do.rocurava mo

rttl *r

maí"^

ar moverie da m(Vnenoa podcrofo,fem deyxar

J

t ^lcftk»deftasrazoens,le

o

ddpedoff

dos poucos d»»»K»° »^~ fazer mais

S "f díqueUa Cdade ,chegarão* «g»

trarft nas portas, onde como le^™»

detodososCabos, & 1.

.dajg^ PfaUavaÔM

eoSlldaqucneprezo,cujodehSen-

doabominaçaõgrande comendo.vinta ater

efcandalomayordefimulado.

2,61 O Governador que parecia mayor

PeSckncia,comquciofrU

c

asm^pro:

J

*S 8 /^ de Gomes Preyre

Lfj tn^ Clr°

"aoffenMue naó unhaduvida, a firmar a fentença daquelle crimino,Jo

,mas que com cila havia de levar concluía

a ca ufa de outro reo, que lhe confiava eftardetido nos mefmo> ferros pelofqrto dehúasmulJas

f quç roubara nos campos de Ttllenaque havendo partes prejudicadas

, que o açu.*íavaofe lhe mo deferia naquelleiuifo, omif-iao

,ou defcu ydo

f que por ferem os entcreíTa.dos eílrangeyros cedia a menos opinião danoílajuíbçaemdefcredito mayor danaçaó,zbi Procurava aquelle Miniftro

, queie achou alcançado, defeulpar a falta comostermos legaes, mas colhendofeque as razõescrao íp^ítiças, os fundamentos apparencia,*em lhe admitir efcufa,mandou pozefieofev-to corrente, &ostrouxcflc ambos, porquen^o havia defentencear hum pleyto em queo vinho fora aggreíTor, deyxando outro cmiupenor vicio delinquente, ou, mais grave,ou igualmente culpado.

2,63 Paliado algum rempo que fufpenfaaexecuçao com tanto filencio, que já nemJcmbra va a caufa, nem o prefo , chegou a Go-mes Freyre a noticia que do Tribunal do Pa-Ço tinha fobido huma confulta às mãos daMagcítadc, que coníhva de huma queyxaaaqueíie Miniftro , em que referia, que o

Go-

nmdo.Sndlle em numa «H* '^ dc

ious delitos, ambos capitães.

BS»U*«5iSS£3!S

?S? EÍRcy^deGomesFreyrertinha

SSvaíobfervancia daskys, conruma-

doífe lh.infinu.ffc aqueyxa, qucdeUeTe

£ Que fiava da fua retidáo enfarmaíle da

S» Jue dera para cila ,que^P«W

omasteftemuuhas, porque lhe fegurava o

S brio não truncaria d. verdade do caía

nem 0-XOM leve mot.vo que o ablolvefie

S a mais liPF« circunftanc.a que o cul-

V%$ Gome» Frcyre vendo a opinião.

_I

*3« Víia de Gomes Freire

•ai

da Mageftade, refpondeo com tanta fing£

ieza aos cargos, q ue baftou para prova da Fua

it.noccnc.aa hiura, com que repetio atè osátomo» ma.sfut.z, retebendo tanto creditoluas palavras, que niultou fer o Miniftrodaqueixa chamado àCorte donde não voltou aoJugar.todo o tempo queaquelleCabogover.«ou aquella praça , emqw trsbtlhm% ^canfavcl na confervaçao da paz dos naturaes,o naodefcuydaváoos inítruínentos Marciaesdeobfervara.nteyreza dajuftiça fcm faltaracomm ,feraçao da mifericordia , com aruéciotao novo

, q Ue naó pode o rigor de huma vir-tude, alterara piedade da outra.107 Paflava já a emulação dos Cabos em

iilencios, a.Jos íoidados em tanto foceeo, queja a quietação daquella Praça dava lugar aOomes Freyrc defeançar vagando algumasJon,sal,v,ado do pezo, fereado ao trabalhodo governo. Nefte ultimo ócio fe entretinhaoeve,tido, quando recebeo hum próprio queae Lisboa tinha partido pela porta com avifodo Secretario de Eítado oB.fpo Dom Fr.Manoel Pereyrada Sagrada Ordem dos Pre-gadores, cujo talento pareceo antes, &moi-irou a experiência depois proporcionado aosperigos daquclla r.ccupacáo, em que atè osacenos andao em litigio com os rifeos.

DeAnàraU ILPart.LèJ. ;H

>

i«8 Recebida a carta do SecretarioPj*

Mbdo com outra inclufa doKmbayxadxK

e Caftella para o Governador das armas

^ftelhanas afluente em Badajoz com»

„ de que naqUeílã Praça knao guardai-

Suspafl^portes ,por,p haver prezo hy

Francez* que enviado da Corte d. Portuga ,

Daffavaa bufear medicinaparaa rara da R-ai-

nfaDon» Maria Francifca llabel deSaboya,

cujasmoleftiascomeçáráoadcícobmfcgra.

ves nos accidentes , nos líntomas mortaes,

^

10g Como a doença da Ma^ftadcne-

ceffitava de remédios promptos , & o polte-

Ihko detido fazia crekèr o nico ,efcrevco o

Secretario com encareemunto , que pareceo

fEhoozello.oeftyllo menos .dvert-dj,

afirmando que ElRey™^™fâ±%?£,ncs Freyre a Bada oz ,

porque fo da fua aèh-

Vidade fiava conleguirle o cft.yto de defem-

Laçarfe aquclle Francez, por cuja «ped.-

çáoffperava f.náo poupafie atrabalno, ou

reparaffeemdefpezas.

a7o Não ignorava Gomes Freyre, o fK.

traordinuio defta refoluçáo , ma* como tinha

por culpr menos os extíeílos, do que a talta de

obediência * k fogeytou ao ngor àopreCtjto

contra a opinião de alguns , que d.fiuadmdo-

Jhe a jornada , o perluadião a recorre; a Cor-

te.No mefmo dia fe preparou para r» manta»

Vk\ Pila de Gomes Preyrêííguintc p.íiaj a Bid^joz, como quem fiavamais doíife/rf íodabolfa, do que doseftron-dos do efhdo i í\ folvco levar mais dinheyroque ceados. '

271 fiftaridtí para partir chegoil abuf-calio Pedro de Mello de C.iftro enrão Capi*caóde CavaMosn cjuella Praça,- hòjefegun-tlo Conde das Galvcas por íu*a der a feu pay*m quem tiVcrão feiís bi ios infentivos para anonrajpara o Valor cyempla.ajfeadd do cavai-lo repeuoem breves palavras , cj lheaffirma-Vao pafla va aCaftella a negócios acomedadosdaMageftadejque Vinha para o acompanharalenao cançafle em o díffuadir

; porque da*queíh opinião nenhumas razdens ferfaó po-derofas a movello

imuyto menos a apirtallo.

271 Ainda aquelle Fidalgo mõ tinha a-cabadode proferir as ultimas palavras, emque arefoluçaó emula do íangue moftravaexceder aos annos, quando já fc achava pre-íente o Vis- Conde de Barbacena , com- Af-fenfo de Sequeyra, que levados da rrieímaf

becafi tõ procuravão kguillo companheyrosiiá rionra „ pafciàes no-? perigos.

273 Gomes Freyreéque media humas

emprezas pela razaõ, outraí pela fortuna , &de todas defeonfiava antes de cnnfeguid.is,

grato àquella demonftraçaõ . em que expreí-

fado narefoluçaõ o valer, os afíèclos nas fo-

bras

BeJttdradall.Part.LibX ypras de cortefia

,procurou defviarlhes a joí-,

ada.naconfideraçaô dequeemhuma pra-

a fechada lenaô havia de ekal.ar a cadea pa-,

a livaí-dos ferros a hum Frâncei que reclu-

fe guardava vigiado ,que aquelle n gocio

aelhor o havia de acabar a a-te ,do que a for,

>a ,quo lhe pumitiffem o ir fó ,

porqu qaa-

•omenosfoire oeftrondo, roais fegurava o

:oncluirle. * .*, „IU Ainda que aefficacia, com que O

Governador proferioeftas raíoens craluffi-

ciente a«fblvr qualquer animo conftanw.

não baftáraó aaballaraalgum daqu lies Fi-

dalcos para que mudaílem d o|).maa í arti-

raôtuntos em demanda d. Badalo* acompa-

nhados de poU cos Creados, qu.aoentrar das-

portas le levcd.raó por tfaó dar occaíi ,o a «-

Pararfe o lufímento das pefloas acrefectwa-

Ao no numero da cornaiva ,que poj avulta-

da caufaria nos Caftelhanos, ou cuydado ma".

Yor.oumaiscuriofidade.

aÀ8 Foy Gomes Freyre o ultimo que

entrou, irias por mais que procurou oceu tar-

fe mandando a hum ereado ,que felpondefle

àèuarda, que eraópa?Kinos de Olivença,

«aó bailou acautella aefconMo aeíperteza

dehum Alferes, que cbegandofe ao Oapitao

da Guarda, lhe advertia que os pnmeyros

eraóCabos da guarnição de£iw« « °.ul*

%4+ Viàá de Gomes Freyrê

timo q os feguia era oTenenteGeneral daGrvajlana do Alentejo* que governava aquelíaPraça

:duvidava o Capitão, mas o Alferes te*

naz no feu parecer , r.tteftou com tanta certe-za que ienaõ podia enganei*

,que recebeo al-

gum credito na fegitrança , com que affirma-va que daquella cítatura ( ainda que pequenaataô grandes cípiritos) eraómuy raros os

- homens.

249 Em quanto os dous contendiáo, fbyGomes Freyreavançando*fe a ganhar apor-ta, \p$ íem perder de viliao Alferes, que pe*h viveza, & mal fardado, le lhereprefentouporporcionado aos intentos, que levava dif*corrido, julgando com advertida reflexão,que dos fold^dos rotos a corrompidos , ordi-nariamente não hía mais diír.ancia,quc o tem-po, que gaitava em chegar aoccafmó de me-Ihorarfc com deícarga,fazendo da neccítidadedefculpaatreyçaó, da pobreza ekalla ao de-lito.

xjro Como Gomes Freyrc que mõ dbkperder inftante.que naóoccupafleem ganhartempo , mandou a Simaô Pereyra foldadoigualmente pratico, & de boas máos,hoje Ca-pitão de cavallosentertido

, q romaffe de par-te aquelle Alferes, áccom opertexto de osencaminhara buma eftalagem , viíTe fe opo-dia induzira que osguiaílè aonde podefle

co-

DeAndradalLPart.Lib.l 14;

aonicarlhc hum negocio, que pendia de

evidade igual ao fegredo.

xx 1 O Alferes que recehco como bene«

io ofer convidado para os conduzir , en-

>u com as demafiadas cortefias daquella na-

ófempre encarecida, apedirlhe nao qui-

ne negar quem era: Gomes Frcyre que do«dia da lua agilidade , como de ínftrumen-

mayor dacmprcjrt, que intentava conie-

iir , com a mefma facilidade affavei lhe rei-:

>ndeo , que naó fó lhe revelaria apelioa,

as também o negocio iporque o unha tão

>ngado a íua urbanidade ,que lhe fiava to-

> olêgredo, de vir aqueyxarfe aoMeítrc

:C«mpo General, que governava as armas

a Eílremadura, de haver embaraçado ,hi •

mi-febufcar remédios para acura da Ra*-

ha de Portugal , naó havendo certeza de ler

^uelle o Francez, quede Madrid Tc pedia*

evendo em matéria tão delicada ,proceder-

1 com mais cautelh por não airifear as Co*

oas a defconfiança tou ao precipício,

zfz Depois de encarecer nas palavras o

bntimento, paílbu a comunicarlhe anecef*

idade de fallar ao prezo primeycp que ao

onerai, & como fiava mais doprínaio que

las prometias, acompanhou tilas ultimas jwavras com alguns dobrbens , dourando com

tquella demonítraçaõ , a efpeunSa àc mayof

146 Viàa dt Gomes Preynagradecimento,ie o efTVy to reipondcílea fetl

penfímcntoí ; virtude, que alguns lhe taxaráo vicio, como íepara negoccar fofie maiproporcionada, que a liberalidade de hunpródigo, a efeafles de hum avaro.

253 Dcfpedio-fe o Alferes ,& como íobrèprati o hiatãofrtisfeyto, quedeyxnvajVontadepreza, embicve tempo alcanço^ j

fua mtelligehcia osmeyos deçonftguirk 2

facção intentada , defcobrindo , ou tratadas ]t

de antes, oucreadas de novo pefíbas cítra-nhãs, .qqeaffirmandò lerem de.Madrid,ateftáraó conhecerem o Frnncez, que feproculavada Corte, que era differente do que íl

achava na cadea » apontando tantos finais, &circunftancias,quecubertooengano,veyoaíeceber credito na opinião, dos que ou leves,ou voluntários fáceis quizeraó períuadir-fc<Com tanta ligeyreza comerceado o trato,alie-

iiaocntcreíil* comprada porbayxo preço a

fidelidade.

a^ Governava por aquclle tempo as ar-

mas da Eftremadura Dom Diogo de Portu-gal Meftre de Campo General nos exércitosdeCafteíía,pcla parte, que tinha de Portu-guez conjunto em fangue a AmbrofioPercy-ra de Berredo, rcfpcyto que os obrigava a

.fprrefpondtrem-fc com amiladecftrcy ta; co-

mo nas praças de armas nãofeja fácil guar-

da rfc

DèAndradatl.PaWLibJ. ||?

rfc o f. gredo , chegando^lhe a noticia,-»»»"

;quc fel cmeza,que entrániGome*Fre£

com quem corna pela «rao da confortei

«lios o mefmo vinculo; mandou logodum'enentedapeílbaapedir Ihequizefle dar o

,lto de revelai -lhe quem era, porquelabe-

a occultar no publico feu nome ,fe aton-

uíaó do Pu negocio pendefle daqudle fa-

rjHDento, pi oteftando moítraríe nas fuás dj-

cndrnciasencèveflado como parente ..coroo

?ni«opircid.

i?f . Gomes Freyre que para aluancgo-

iacáo fbíaaproveytarie de todos aqudles

cadentes, que lhe offerecia- a conjunção do

-mpo -merendo- moftrar riíSyóí fineía em

sdcyxar rotíar ,fofrida primeyro a ímportu-

.aráodoinvisdo, repfeíehtou nas apfSarcn-

M a dimeuldade , com queref ria o mefmo

meeftava defejando fazer publico^ffirman-

lo , que o reSpey to das cans , o faziaq contet-

ãr a peflU , <me vinha como particular, a

folicitar certo negocio com Tua Excelk]!-

:i 3 , que ainda queí'à juftiça da ca ufa era.cla-

ra,-o empenho da brevidade cYa de qualidade,

que o obi igara , anão o fiar de outrem ,'pírer;

cendo-lhe cobriria aoccupaçaó no deífjttre,

Bi defimulaçaó o nome; mas pois osolnos

Caftelhanos, eraó tão linces ,que não pode

oicondeHfe.de forte que não chegafiem a de-

K % viíallo,

I

148 Vida de Gomis Freyrivifallo

, defcuberto praticaria fuás cuias eicujo favor advoganão, interceffor o íangu,emereflados os aficftos.

, *f6 Partio o Tenente a dar parte ao Gevernador das armas , &a defpedir guarda pasai

iporta dcGomcs Frcyre, atempo que

Alferes fazendo myfterio do fcgredo , entrava com a^noticia de ter facilitado o negocieAinda naotinha acabado de referir omod.com que tudo cftavadilpofto, quando chegou Dom António de Portugal, a compri.roentarlo da penedo General, reprefentando, que os achaques tinhaó a feu Tio tão po(trado r que fe não podia mover

, pclo^ceílide hum accidente de gotta que o tinha «<Jeyto; que Hie pedia quizefle ir adefeançacm lua cafa, onde ficava cfpcrando como mimo da fortuna aquelle alivio nas dores.

r**il ,Gomcs Freyre vendo que aocca.

fiao lhe abna na porca do General caminhefácil para confeguir o fim de feus intentos.fa2cndo pohtica da urbanidade

, mfolvecaceytar aofFcrta. PaíTcu logo da eftalagemaoapofento doGcnrral, de quem foyrcte-bido com attençoens dcmonftradoras do tx«ceflo,comque creados rias veas crefeem ncfangue mais avultados os affcâos

t fem fc,

baítante a moderar-lhe a alegria , nem osmales, nem o fufto , com que íe achava , por

fc

DêÂttdradallPart.Ltb.l iclhe reprefentar de lupofiçáo fupenor a

,fa ,que dcyxada a Praça .

que governava,

dára hum homem tamanho pelo pofto,ma-

r pelo naícimento a expor junto coma

alidade da peffoa . o rtfpcy to do lugar.

scft Acabados os primeyros compn-

cntos.emque gratos feadiantarao osbra-

,s a refponder aos agrados , com que os

>us fc congratulaváo ,paliarão a praticar

bre o negocio, que Gomes Freyreexpc*

n breves claufulas para locegar mais de-

reflâ do abalo ,que advertio padecia aquel-

grande coração , a que o acadente julta

,entc tinha lobrelaltado , revolvendo f*

Dnfidcraçaó o receyo de algum eftranho

lotivo.que na defeonfiança dasGoroas,a»o-

ida outra vez a guerra chegaffe a alterar a

'%o D.íadombrado o «eneral Caftelha-

10 dos cuydados em que o tinha polto leu

«udente difeurfo, mandou logo chamar o

Secretario ,a quem recomendou , com pala-

vras taó encarecidas, ( que amo lerM.ml-

Ero taó inteyro, poderá parecer parcial, ) que

Examinaffe com prcftew , Çe o Francez prezo

eraomefmoquefe pedia de Madrid, quea-

chando fer outro o pozeffe em liberdade pa-

ra que ou partiffe a França.ou voltafle a Por.

'I i

260 Gomo a negociação tjo Alferesnha laborado com prcfttra taó igual anca«dadcqueja o Secretario eftava deíbbrcvilojrelpondeo, que três dias-eraó jápafldos

,que t.vera buma infinuaçaó oue o vr

*0 paôera o que de Madrid fe pedia, q ue1dera antes aquella noticia, por cíperair n,,y,certeza. Satisfcyto o General deitas razoenque ou as apparencias, ou o defeio lhe fizer;crer verdadeyras, exprt.ffado no femblannaomenosque nas palavras, o goft,, »uct<ria de que fe averiguafle a verdade fcmderairas

,mandou que aplicados todos os inevo

lenao poupaiíè alguma diligencia.101

.

O Secretario, que na matéria tinhem penhos de entereífado, comoascoufas íachavao jacom antecipada intclligencia deípo.tas

, adiantou de fora- o negocio , que baítarao duas horas |dcyxar livre o Francrzquenamefma tarde continuou a jornada dtlanz. Com tanta préfla fe concluem as de-pendências de que o ouro he o agente. Nelegumte dia voltou Gomes Freyre a Portu-ga ,nao findo poderofosa dctello menos ro-gos do Ceneral

, nem as carrancas do tempo,cuja ferr.çaô delatada em huma hoirorofàtempeftade de vento, & chuva ,0 levou a El-vas mais aliviada a bol/a do pezo do dmheyro,doqueacapadodaagua.

a6z Ref.

£>e AndradallPart.Ltb.l1*1

i£ Keftuuido Gomes Freyre aquella

de todos duvidota de confeguirfe.

, *, Náo o efquecerao os applau os po-

f& dí defped.r para Luboa o avtio coo

d v Laçaó do k.cceflo que deyxamos re.

£ & damosaqu. a ler como ^gumento

«vordafuaaaividade, a.ndaque por nao

fE com relação por larga, .mportuna.

lí-mós muytos accideptes digno, deme-

S, quTfem parecer encarecidos, poderá-

os expor como demonftraçaô da intelh-

rencia . ou 'ffcyto da promptidao

IS Chegou à Corte a not.c.a onde foy

xSUduW com ogoftod^-

Iteffados; Rcftituio Gomes Freyre outra.

Jacarta do EmbayxadordcÇattella para

rèene Idasarmasda&ftremaduraqueou.

com aemafia efcrupulofo nos pontos do brio.

ouTdvertidamente P iàcd ,^«FmSr .

porque o lucceíío fe náo atnbuiflc mais

faueyxadoMiniftro.doqueaorefpeytodo

portador, ou porque fiou mais das Cuas pala-

vra , do que da. razoei» de hum papel.que

hum aggravo faria eferever apayxonado ,o

elcaudaladçfebridoMan>

í Viâa de Gomes Beyré*6f Mandou EIRey agradccerlhe adi

í «.nciacomdemonítraçáo não vulgar éfatisfaçao, com que ficava dap.ompTidãocom quecxpofta a peflba venceo em taó breve tempo as grande sd.mculdadcs, que fereprelentavao naquellaemplez,

, porvir atopar a matéria em politicadat Coroai , obúôcna„ ío de esfera íuperior , mas de n-.tur. zd mafiadamente ftnfivel . cpjo corpo anima.A» d:- efpmtos fot.z, à fombra das forças mai,

"íS" '£? " «""P^ÇSo mais dibeada.X66 Nao deyxatemos no filtncio ateu-»« circunftancias, que aattençáo dasM,.

giftades fez beneméritas de memoria , o def-cuydo alheyo dignas de rep.ro. Na carta cmque Gomes Freyre dava conta do que tinhaobradoem beneficio da obediência , ftm fal-tar no fofamente a modeft.a defubdito in-linuava parte da dor , com que lc mia fer con-tra o eftyllo do Império fuperior, mandarqu» deyxada a Praça, cujo governo fe lhe ti-nH entregue

, paflifle a Reyno cftranhocom o emprego de portador dchuma carta,junto a com.flaó de Agente do livramento demim Hrancez ao parecer reo no delito deef-pia

;

culpa aos ouvidos, efcandalo; em todas as

naçoens capita).

• J6? Advertic,a aMagcftadf, reparou nos

Jndicios da queyxa.de q relukou pergútar ao

Sccre-

DeJnârtdeIlPtrt.Lib.1 *g

Uloubeffc ap^oveytarfe do vaWMue me

dera cm Gomes Freyrc , de cujo "^P

L9S0 «notici» d» AfpOT. «»"'"gJJ

'}• Fida de Gomes Frtyrtr os aios

; porque hum negocio que ucunftanc,,snzerãograve,fCnáopodiac n"

cSja

a

;r poucâsborasfemdifp^™*7

°rGomes Freyre quceflimando maisos cred.tos de liberal do que a fama de rico femoftrçu lempre defprcfador conftante dos

enterefats; refpondeo , que não defertimava alembrança, com que lhe advertia a falta de

ZZZi^T *«*«**» tinha,

SSS na° fcr-qUCm fizera as con»s nacftallagem

, quc não fabia o que importa!

Selhír ?hun" n°y te

v q"e na certezaque lhe dava de ter fervido à vontade de El-

ro™ ,

,

Cava Pa8° do trabalho, do gaito muy-

tomelhorfatisfeyto. }

tn*71

,?omo GomesFreyreaffiftia violen-

to naquelle governo de empreftimo, que go-fava ma,s poroçcafiáo

, que por officio . áiáaqueha Praça focegados os tumultos fe acha-va em tmta paz, que para confervarfe fem al-teração, mõnecefíitava de rcfpeyto dapeí-loa, lobrava o do cargo: andava bufeandopretexto para deyxallo.fem que a ddeulpapodefle parecer faftio do ferv.ço , ou defprc-2o da oceupaçaó.

p% D-pois de vários diícurfos veyo arelol veríe a pedir licença para panar à Cortetomando por motivo acauía que íe litigava

09

marÀ°

nBComo Elvas í»c a porca pringpaj

/*% R» va ouc dá a ferventía ,por^daq

ieRc mo fccomumcaó n.uy.os doscom efte K.eyno i-c

. praçaalgunseftranhos P

afla.aopor^ueUa^.Ç È

meiraopoito de ^ue '^'"j:!, fckas outrapor terra, em quanto »^^'S„ue naVez as velUs fegu.a fu»ggg"^ ven.

inconftancadas ond.s , a ddcnçao

tos,rorfef chamado com dias taxados par

recolhtrfeaParií. ^ paf.

Fida de Gomes Freyrt

7JPa/fruaquella Fidalga ao AlemvioUo^confiada de vencer ajo nada deSç^ afaludeilu.de, que emcadapYflb*£

JuevxX^''?'qUCÍ0b,c «g^vidade da

quçvxalheacrtfantoucom nova moleftia oaballodo caromho. Tinha.fc adi.,ntado humG&P ?efg"nS« deípediõ antecipado™

o,,Í . r'

mar^ da

.

quc,,a enfcrraa • » q«e ai-gtima caufa particular obrigava a mó dererfe"'^•^«ja força rnovída.efcolhilan?

do n.,T7íCr

a

° dcfam Par° em húma eftrada,

fií*ad"ía2lí' opinião, honra o b. io.

*76 Tanto que oGovernador pelas ef.Pias, que traz,a , vigiando „ eftra(Ja;no icmqueaquelaf nhora feavifinhava aos

TZVJ,aqUel

nVril3

'fahio a rccebellafóra

«rS ífW Marcial- Recolhida

na Cidade lhe hnallou paraapofento em luacafa o im. fmo quarto de fua mulher, que poriquelje

:

tempo lhe fazia companhia , de quem>y hofpedada, com as dernonftracoens de,ue fabi

,

fazeríe benemérita, pelas virtudes.

Tyf''?T]o

vnguCl ° trat0 refpondeo i

luahdade da peíloa , os remédios às do acha-3uc, com tanta porporçáo, que cm breve

con-

Dt Anànàa ILPart.LtbJ. $ranvakcidapode fcguir a jornada de Franc,

onde com fingeW*» eftrangcyra encarecenc

ocuvdado.confeflava a obrigação.

a,7 Panados algús dias voIcouLafcol.hu

TTrancezquepÒroecafi.Ô do negocio nfiJ»

de annoVantes em Lisboa , & tinir* a comp*.

nhado aquela Senhora, de quem uai» ,(em

tre iloins brincos oferecidos' a Dona Lua»

Clara de Menezes como memoria doagaia-

lho ) huma carta táo chi» de a^rade.im.ntos.

como deexpreffoens d« íaudade que anaO

dcvxar leife averd.de na lifu.a do animo,

paLérão as palavra, mais e.var.c.mentosda

lifonia, do que excedo dos affl&os.

T78 ' D pois de dar conta itídivldu 1 de

todos os accidentes da jo.n.da.conviuayi m

Dona Luiia CUra de M nezes com o faca do

caminho, a que foffc ver P,..z, onde ku n a-

tidokria recebido daMa* ftade com os agi*.

dos que tep.efentaria melhor o poítauoi. ao

Sue em carta breve podia refeur. O Embay-

xadorekreveoagradecéJoaG -mes Heyre.

como beneficio mayor a bo(> dagem daÇon-

(orte,affirmandoa lograva já como rc utaia-

da pelos mimos .& regallos de que em Elvas

fora afliftida na convalecenç i .depois uos re-

médios aplicados cjm cuydado n 1 cura.

a7Q Paffavalogoapednlht quiztflefa-

wrhuma jornad* aFr-nça, .nd. acha. ia na

É^*«

r* 8 Vida de Gomas Frêyrtmp& 9»artJ pára reco iher-fe hofpede ,af*íiitir compsmheyro

, civ onerando asafalhomcihornos>gr.-.dòs deEiKcy ÚhriOuiiúffi.nio,qui nao íahcndo occuirar a inclinação,que rhc.-cinhio < reado a? n- LÍcias , rc ferio4iafvo!,que fahendo voU;.vía.JPfertogíI porterra

, & que havia de ir deinMKfor Elvas, lherccomcncarí diccfR aoGov, rriador, quefea LlRcy de França Fora tão feci] vir a Lis-boa coroo Gomes Freyre a i

Jariz, q já o ha-

via deter vifto;mas q nãoem ndeile era con-vidai Io

,a ficar, nofeu íerviço, porque tobi«a

ss obngaçoens dos que n-rfciSo tJluArà, que

jcgeytosa fortuna de vaílajios, forcadotdçfe

bnos obcdrrhô menos a própria vontade,que aos prro vtosdeimprrioaJhcyr

.

280 Ouvidas com artençãd km vnidadeasrazoens da Magcftade de Luiz XIV. queíifçriG LaícoIafE* mando , róo faze r mais rc-retiras palavras daquJie Príncipe fem trun-car, cuakerarhuma, Como Gomes Freyreíc via rogado daqaeHc grande Monarca

,que

a fama juíhmente tinha no mundo divulga*do, ma yor ainda ao talento doquenoscíta*dos

;começarão osdefejos, que antes tinha

ineficazes de p<flar aFrsnçj, acrcfccr de-mnfrdo

énão já como filhos &?< u ioíÍJadr,

feia* Cumo creaturas da gratidão ao benefi-cio de viver lembrado cm tão foberam. me-moria. 281 A-

deJniuialLPàrt.LiM \1

181 Achavaefta opinião, aquele t,

inclinado , infentivo inayor no apetite

mulher, que não cabido kMg^gração no natursl ,

ambictofa d.vtr cmei

Sósias, novos pa«es, lhe prríugu

aquclla jornada, cn! que opoucocuf.o Sco

menos uãbdho vinha a conkguu os cn «ef.

íes de huma gloria fcm per«o logiada nos

dopezar o merecimento dos homens iftitna

va as pefioas pelas v irtu.dcs ,reputadas as act

SOa8?

aUmdaIaquciias duas vontades, que

aambUoda honra tinha conformes no mel-

mo pa?eceí , foy fi*j dcfcobr irfé meyo por

ondealiviarfe do |M do governo daque la

Prscja ,queaceywu obng >do, tolerava v.io-

entl fem quepWs#*»* a ugÀg»penetmfe era o fim mais que a ncceffiuade da

'adir às groflas demandas que traí» na

Corte p^dêm« dos juízos dos Miruftro*

de cuja inteytwa ainda que nao duv.dava,

queria por credito das caulas.al gadas de

mais peno fuás razocris.tepreíemar a íua jul,

tlS

i8x Conieguida á licença, & entregue

o governo da Praça a outro Cabo ,entrou

Gomes Frey.re nos cuydados de apreftarte

parapaffar a Lisboa: expedição que acabou

"6o pifa ieQõmesf e

a84 Cun ia já declinado para ooccafooin« de Junho de mil íeiscentos& oytenta &quflR».quando defpedido daqueila Kanao tem feudades do^fidio .^goacs às&v.finhos, que conteíUndo de ver a fua. ou ra-ra ,ou no va providenoa ,a paz deq£22.vao

,nao ceiTa ,ão de lamentara falta, ao mtf-

£»'W^^^nvavjpM virtudes ; náofa.be„do d.ft,ngulrfc ari..gr,mas , c'

om quechoravaoador das vozes.com que o aclama!vao m .ulr.ça Miniftro conftame , n, de-menu Varão cxclienre.z$/ Paliou

., VilJa V.çofe.onde de cami-nho concordou os Irmãos da Mifencordia.que cftranhos accidentes traziáo encontra-dos com o teu mefmo Capellâo

, pleyt, andoentre fi hum o ter admitido àoccupçáo deque te achava «xpulfo. outro fulkmandoaparte quando exçluia negocio que litigavãocontroverte

, d.vidida a nobreza . o povo re-partido ,& todos parcises.a86 Detevt-fe Gomes Frtyre naqnella

V.llacomaoccafíaó de dar a execução às or-dens que achou daMageftade, em que lheexptcflkva repuzefle o Capcllaó na fua pofle.

con-

Be AnâràdàILPárt.tM.L i$>mràdiziaó osoppóftos o cumprimento d

»creto fuperior, ainda que íem ie admiurer

auns requerimentos que etóbargavao o d

>yto das defp ílçoens fobf fanas o tinhaó

mbaracado. Maí "Gomes Ffeyrcquc era da-

lielles foldados que gaftavao menos pala-

ras do que fios à evpada , em poucas ra-

oens deferio a todos mandando-lhes,quc lu-

nflem a falta com protcftos j & requererias

epoisdefogtytar-fe* que osdcfpachos dos

rincipês, quando erão abfoluto* ,naotH

hão outra interpretação, maisque orecur-

d depois da obediência.

.

4,8? Socegadojá o tumulto dá plebe, ôC

,s bandos da nobreza, feyta entrega daóccii*

,açaõ de Provedor ,qUe acabava de lei vir {

g ficou defcançando alguns dias em fui mef-

nacaía, atè que chegado Setembro partia

*ara Lisboa >ondc o ch.unavão asrdependen-

nas que perturbada a quietaçtó" dofeu quaf-

eU ihetolhião o íocego* Chegado a Lisboa

Foyaprimeyra diligencia beyjaràmão a Et-;

Rey* de quem foy recebido com aquelle não'

vulgar agafdho de que o faziáo àcrèdor be-

nemérito i ainda mais que teus grandes fervi-

ços, osaírtaosda Mageftade^ que reconhe-

cendo opreftimo dos homens, osdeyxava*

mó menos faúsfeytos dgs agrados, que do

pfCtBÍaSr. Mt*

6% Fida de Gemes Freyré2

.

8*? .

Depois de EIRcy averiguar còntícunoiídade rara codas as coufas de Elvas, femcfquecerfe de perguntar peloeftadodaqucl-Ja Provincij , fatisfeyto das repoftas , comque deu conta do Marcial^ do Pclitico,paí-fou a inquirir a caufa que o trazia à Corte*Aproveytoufc Gomes Freyre da occafiáo cmqueamefmaMageftadelheabrio porta paraa relação dos plcytos íque trazia pendentes deaveriguarfe portella dejuizo, deu noticia,que litigava^ cotn oppofitores tão poderoíbs,que o fariaó demorar mais do que quizera,porque da Corte ainda q faria muyto porfe*guir fóiquella parte que tinha de difereta,lempre receava encontrar a porção de que íecompunha ociofa.

189 Largo era oefpaffoque osdous ícíinhaó detido em praticas differentes, quan-do Gomes Freyre reprcfentandofe-lhe con-junção oportuna para declarar feus intentos,facilitado na familiaridade, com que feviatratar da Magtftade,coníKÇou a referir quefua mulher

, pouco antes de o fer , fizera vo-to de ir a Roma vifitar na Bafilica de Saó Pe-dro ,0 fepulcro dos Príncipes dos Apoftolo*,condição que ajuntara ao ajufte do cafamen-to , que para a acompanhar em demanda tãojufta , fe achava fobre os infenti vos da Reli-gião

, deiembaraçadofde forte, que poftos cmordem

De Andrada ítfàvtMbl. i &$

•dem os rleycos , não dependia de mais que

meederlhe iua Mageftade licença por oyte

ezes,por fer o tempo que percifamentepo-

ta saltar naquella jornada, que lhe obrigava

faza ainda mais oeícrupulo, que a devo*

iqo Oiívio EIRey attento todas aquel-

is razoens \ mas interpretrando ,que fingida

Romana, fazia da piedade, ou efcalla ao ape-

icc,ou caminho a negociação ,mudado de

-mblantc iedeyxou dominar de algua pay-

io , com que alterada a cólera de maney ra o

•oçobrou q hmdo a refponder ; mal deyxou

ierceberfe mais que nos últimos aííentos, re-

:ado de França. .

101 Advertido Gomes Freyre dasulti*

nas palavras ê

" acodio com perturbação a fo-

íeg*r o rigor da Mageftade4pedmdo-lhe o

ouvifledenovo, que podena fer viefleaco-

ábécèrfe mal fundada a defçonfiança em re-

lação falfa, ou caula luppofta, porque íe ti-

nha inteyra noticia do que EIRey Chiittia-

niffimo lhe inviára dizer por Lafcol, & vão

havia quern interpretrando ftniftramente a-

dulteraffe o recado, delle mefmò fe colhia

melhor o defeng <rto, de que não admitiria

tervaflalio de outro Príncipe, mais que da-

quelle , q o naicimentò lhe deftioára por for-

te ; que em outto tempo , em que tão pobre*

t, % coma

/

'ftf 4». "f%/rf ^ Got^j Freyrecomo difgoftofo, o trazia a fortuna quafi def»terrado da Cone, nãoaceytára* os grandespartidos, que de Caftelia lhe faziaó * nem ad-mitira a pratica dos acrtfcentamcntos, que

i

fe IheofTerecéraó de França, fem dar partedas honras para que deonvidavão os Rey-rios eílranhos bailando a dettello em ócioinútil ,fó a iníinuaçaó de que náo feria do feuReal agrado, refponder aos que o chama vão*que não negava fefizeíTe a jornada por terra,tomaria a eílrada dePariz por entender naõferia falta da fidelidade, nem contra o fervi-ço daíúa Goroa ter vsçallos a quem tílimaf-íem outros Principes , mayormehte LuizXIV, cuja cabeça a fama divulgava venera-da em todo o mundo por huma das mayoresteílas coroadas daquelle tempo , mas que atèdeíTe leve cuydado podia hvrar aos naturatsembarcando-íe em dirtytura a Liorne , ou aoutra parte de Levante onde tomaria Itália

fem tocar a Coita de Fiança, ainda que lheparecia fem enganarfe poderá ir a toda aparte > fem que lhe ficaílè o menor reccyo;de que foíle ingrato a parríâ de qiic nafeerafilho*, nem ao Príncipe deque fecreárafub*dito.

291 Naõ menos atíento, que admiradodaiegurança

, com que proferio dhsou.fe-inelhanusiazocns,ouvio£iRey as palavra?*

cm

T)tAnàraàaILPart.Lib.l^ if

m que peíaboca dava a ler o coração mayor

11 no que lábia defpreiar i«Jggg»

^Xnfa Polgal fendo taó pequeno

srear homens tamanhos, 8c como os vaffal-

M o tòõ mu yta mayor da que »«gg£.(lados, a imbiçaó , de çonierva ma*

i

dilata»

do Império em menos arcunfewa.o

brigava , a não os deyxar apartar de <j ,qu. le

«Sana, era n=cW «f*g$*gbaroÇaó fegura ,

para Génova ,Hoftia 1

1

berina, ou Liornc, 8ç ^ co;loflda

?rYruriaconforte ,

que lhe prometia de enviar a Cu. i*

míoft' acendo occaftaô de o mandar com

camer, que a ambos eftiueík melhor.

20; Bcyjou Gomes Freyre a mao da

Maaeftade agradecendo nas demonftraçaen*

de obri-adcTaVcxmxiloíns doaffi^b, mal

como ò°defacho não refpondn ao penfa-

S^o°porque o langue no rofto nao defco-,

bnfle as cores de mal contente, fcdefpedio,

&nòs o dçyxaremos fcmiodo no «lencio*

dor de menos fatisf.yto, atèem livro difc*

rente darmos rekçaó da honra com que a po

íicicarcfolveo prcndcUo em gnlhoens de ou-

ro, quefempreanaaáo.amdaque naolaftu

VIDAGOMES FREYRE

DE ANDRADAGeneral da Artelfearia do Reyno doAl.

garvc,Governador,& CapitaôGe-neral do Maranhão.

LIVRO SEGUNDO.

Orriaojempo já nos rrie-

zes próximos a ftch*r asportas aoanno de mil leis-

cencos oytenta & quatro,quando falvas dos perigos

Qo mar chegarão com feliz vingcrn a dar fun-do no portadeLishoa as nàos da índia povci-nndaporaqucllcs dias pelo Vifo.Rey

C

Fran-CIícq de Távora depois Conde de Alvor , Va-rão íliuftre pelo firhgue , ainda mais pelo va-

lor,,

;

Ve AnàraàallPart.LéJl r

,r dccui^s virtudes déramos aqm.,«n

ue em eftyllo fuccinto,menos abrev.ada r

S anaóandarem já uatadas em voumr

Sor« muytas das proezas que emu o do

bus Condes feu Irmão o Ç^JeLu"£ .

ares de Távora deSaó João, Mlgud

,

Ua'

os de Távora de Sa5 Vicente , unha obrado

-eubraçoembeníacio da Patri. nas campa-

nhas do Revno , das com que fuaefpadahoni

ST.tSS™ Afi* fuUamuytomçlhorafa*

ma doquepòdeefcreverapenna.

» Entríos diamante*, * outras drogas

de preço cranfportadas .aquelleannode Goa

re&yno.vmbaóembarcadasasn^as

oue oWoRey dava mdmduas dos faceei*

S de nonas armas no Oriente ,& da nccefll-

5 df, em que ft achava deC^gÇ^•reparo denoífas toitftiezas, V" 1

fjt a d_

dentes atenuadas mayorrnente pela foltade

pente e-atta igualmente nas batalhas &. nas

f to,ia?aLnçadasdosRegulosvumhos>que

alterada a paz nos tinhão,.ainda que vence-

do conUidas asforças, pe os muytos

foldados mortos,outrosdtropeados,& todos

oncados, receando fe que o fcbagi noflo

2ko da porta laftimado por muytas vezes

de nòub ferro , 8c ultimamenteoffcnd.do de

íoSo sforço ^ perda de hum^rcto vo£

'6B WâadeGomtsFreyretaífe ingrpíTado , de novo poder, mais formiidavel av.ngarosaggravos, rompendo maisviva a guerra, de que fomos os agreílbrcs,coma oceafiaó deíatisfazermonos, deefcan-,dalos q Ue recebíamos , ou de fcgs infultos.oqde leu atrevimento.

3 Ainda que do memorável cerco, quepor aquelle tempo conftante tolerou, & aque refift,o valente a Cidade deGoa, (cujos

açpdentes não referimos por naó alterar aAiítorm com digrellaó eltranha a brevidadedoeítyllo quefcguimos; fe tinha o jmmieomirado, tão poftradas as forças, 00 qucb ra,dos os brios

, que não defpindo depots as ar,ma?,coniervado nainjunaoodio, queain-dahoje Iheefta lembrando, ou a memoriadas mortes, ou a dor das fendas, recebidas,ainda mayores nos combates da Fortaleza delonda do que nos ataques daquellefitio, fe«ao atrçveo mus a inquietamos o íoeeeocom guerra defeuberta, acautelladooViio-«ty, ienao dava por feguro de huma paz quele nos outorgava fem mais fiadores

, que o te,

triunfo

"0fla^^'

°n ° ,efPeytQ dc poílbs

4 Oifcorrcráo eftas novas pela Corte I

pnde Forao ouvidas com fentimentos diffe-rentes, os grande* as repetiaó incarecidas femcmuJ3ça.o, o povo devito « recebia huma

parte

DeAnârad*imrt.Ub.IL i*„,

;,V« mm alccr acelçbran;

me a fama ao nome t 01 fs* ,VJos :i,

rqueJU* partes a venerável «W?»W£X feytos de nSffos.. P"™"£^£-,.,- il invelhecida no-oeio , ou gafta na jdaae,

"rS^saqudles-Veves dias q«e,

Corte tem como taxados para vaga ddeorrer

nos cafos novos, entrou WRey ^?£orSÇáo de mandar àlnd.a por Cabo do focçorra

hum fogeyto que deiempenhado o «rg.

podefleLa der no governod»^^do , ao Vifo-Rcy , que acabava , ^l*™ *£.

ceílbr. Gomo entre muytos ,que fcfVgg

vaõbenemeritosdeoecupaçoensmao spa-

receo Gomes Freyre, ou por ^ggMJgJma.s sentil-homem , ou pelas expendeu

emprego cm que te hugav,* qua*

ie a honra, te o enterefle,naaueU

6 Gomes Freyveaju^ndoquçnaque>

*Jo Fida de Gomes Freyre*pcrdiftinação, obrava ofeu merecimentoa^nos

,quea defeonfiança fuperior

, procu-rando com o achaque da conveniência defvi-aiineajornada de França fem lhe poder R.car occafiao para a qucyxa, icm alterallo a no-vidade ja perviíh

: refpondeo, que quem fa.aa v.da de fervir dcfprtfados os entertiles]mo regcjrta va os perigos , que em bufea def-tes hiria a Regioens ainda rmisdiílantes, queaAíia.íejc podeflem defcobrirem outra partedo mundo ainda efeondida .terras mais remo.tas

i que fendo mandado íóabufcar por pre-mio a fama, por utilidade o nome , citaria tão

Prcitcs para partir a merecer na obediência aJonra

,como para eíhifarfe daqucllas occa-

ii cnsem que fereprefentavaó as conveniên-cias da pefíoa para infentivo, porque deitasmo deyxa va aballarfe .muyto menos mover-le. que os nprtftes de medrar nos cabedaes, oucreleer nos poílos feria poderoio ,a perfuadíraqndlcs homens, que mais contratadores queMmiítros deyxandodominarie da cobiça le-vava arraftados a dependência , ou de avul-gar

, ou de ingrolTaríe nos lugares onde nego-ceanJo com lucro infame íazião comerciodos poftos

: masque a fua ambição, comocracreadi cm fuperior esfera, afombra dosbrios tinha melhor objeóto

i naõ confemindolo^eytarfe comtaõ vil eferavidão rendida a

tanta

VeAnâraâaU.Part.Lib.l t*.

nr*haxeza; porque animada ae outros cl-

aldos; que fóaípirava a tnnqneccr-fe

audla gfor» imtno.tal ,que paliados os

3Í&Í vinha arcfulíardontcodasero,

'T* Com t*Õ mcdeftas razoens contido

k.n vo em fi mcimo foube o grande coração

Lucile Cabo advertir tftranha aquella tao

Xpolma dos iuperiores que fazendo nas

kvçoen premio do que fó he merecimento,

íocuráo para ícrviríe dos homens nos luga-

EsTm fc lhe» confcffvetn obngados ,tor

rem he entender na reprefentaçaodascon.

v;n.encias,f,vor S elco!ha,aoccu Paçaorna-

cè icoroo fe fofiç Pag* mayor aquelh for

Lvcan.com que os beneméritos volur.tmos

fjviolèntos\ facrifieaó , lhe vero .defeon-

t* como divida proprw os mefmos lucros

em auelbesfaó «credores.

8 Ainda informes a» coufas da Afia pof

m, haverem paflado do principio, com que

SdiK entrado a p. atiaríe na p. imey ra «.«ri

SSraóa dar cuydado roayoros av jlos da

Aroenca ,nlterado«íjWaranháo*$*&dores rebellados na Cidade deSao Unz ti

íh" Sado a obediência ao Governador

ÊSífeeHado . de cujo dckobnm^

CoW^i"»-. &^-^arcroo»ero

*"?* Vida de Gomes Freyretocanta relação breve noticia

, por vir a feJvi. em beneficio dos rt.turaes, à utilidadedos eftranhos Geógrafos, qoe ou menos af-teyçoados a noflai coufas , ou faltos de infor-BMÇoens verdaieyras, não íem culpa erráona demarcação de ffu dcftrito.

ca9 °,^l00 do Mar»nbSo

, porçaócon-fideravel da America Meridional , a que deunome o p,o Brazil de que fe poVoão feus di-latados matos comprehende em fi a Capita-n.adoPara.R.ó.IJh.s. & parte do vaftolaudas Amazona., dilata-fe porcfpaffo dequatrocentas trinta & cinco kgoas de Coftacomeçando feudeílnto em quatro g>áos, &trinta minutos da equinocial p,ra o Sul, vemaaçabarem dousgráos, ÔCcincoenta minu-tpsdaoucw parte do Equador nr> rio de Vi-cente Pinçnn pailido o cabo do Norte,

IO Defcobriorfe o Porto do Maranhãonoanno demilqu-urocentos noventa & no,veporEfteváo Annes Pinçon conjunto eralangue de hum daquelles três primeyros Ca-pitães, que mandados dosReys Catholicos* ernando, Sc Ilabel.na obediência do Almi-rante Cólon em bufea do novo mundo

, par-tindo de Hcfpanha em três baxeis, fem temordas indigm.çoens de Neptuno difeorreraõpeJoUcccanoo vaíto império das ondas, en-tregues emhuma cafa movei na inconftan-

Cft

DeJndrodaILPart.Lib.il.i

* domar àd.fcriç.ó dos ventos fiada a

a^õ no governou leme, ao arrimo c:

el

lT Aieum tempo fc confervou na foge*

TX lhairi decuianaqaófoy o;ctipado,

ftcèr fea domínio a Coroa^^{&£

Sc trinca minutos Onnata-, 4 Fc z EIRey Dom João IH .

"£"""

rio dcftaCapitania.o famoío J<»°

de *»"*

SfiSdor fão famolo das couías*g*a*que poderamos duvidar* qual^~Xfe à noflaefpada, fc à fua penm , PfB»™^*™?

Movias que em fe^^»10^^^Afia o v, vo a deyxar mais pobre depois o

prenàio/doqueaníes otinhafeyto omercc

mT Ainda que as mercês da MageíladS

oôdlrão vir a igu*lar os trabalhos com que

Tvm°p ria fcelJe gr,nde homem na

c pondeoofucc fio àdrfpm, Somquen

*?$ FiâaÀe Gomes Freyreanno de mil qumhentos trinta Sc nove iflteidMMl.at.ir por aquelfa parte a Rd.gíáo?*

o

Impeno com huma nova Colónia, por var

"Perderfcçoçobradanosb^so. da La dabam,huma armada de de z nãos em que hião

Tm ce

ClV°VCCCm0S (°idados '«*»£

• ErAy

fl-C1 daCunhahum PidalgoP,,. tugueZentereflado nos frutos daquelta expedição^e Cobrando o va!or fali a fortuna"

§ '

14 Abertos os navios.nos bancos de área.

££ V C°ST,

refti"8as P°r í"r 8quellcp£to ao aparo lado q e ló deyxa limpo bumfftrcyto canal

, que ferve com deficit p*fl™jem huma pcr(g ft entrad;u SaIváraã^èaU££?

0«ea nadoefcapáráodoiwufragío, fer-

ffi&T" daPUCra Parte do rió

> q ,Je*™em n

baídefrontc ^Cidade? no fitío,«n que a piedade Catholica venen hoje com

.„, VecCU,t° ,Rlinha dos Anjos com ti-

iuio de b t nhora da Guja > ^ huma ^fcrmida que lhe lavrou nnquclloluear ma.sdevota q ue íumptuofa a Religião daquellepovoíobre os cimentos deoutra fabrica de«lueaindafemoftraõveftig.-oscomma.sindi-cio, que certeza de antiga forrificaçaó.

if Voltarão alguns depois ao Reyno.outros a que a dor dotftrago fazia, ou lem-

brar

De AndradalLPort.Lib.il 17'.

•ar melhor , ou temer mais °;

pe»go, hem

çaõconftante, queconíbmido. cjostrab.

S fevieráo a confederar com ôgentto,d.

rra donde vierao apropigat-a mçaoTa-uia.aquechamáoosBarbados^orferen,

Juncos a que na America nafeem ,Sc fe

il h, gas ?& fó por dia* fe deft.nguem dos

utrosbarbaros ,de que^<*S2&£

os os coftumes ,.& a fereza naoconfervando

[a politica natural mais veíhg.os ,que no al-

ivoaizençáOinosbnosovalor. .

°6 Correndo o tempo oceuparao mFrancezcs aquelle porto, que dclamparado

Ídonoflbdefcuydovieráoaachardeferto.

Dosannosque o dominarão coan abfoluto

Set 1onosfaltáráoa S notic,as iquenaofem

SmadèyXamosnomcnc,odclculHono

elquecimentode noflas memorias, ate: q eno

de mil feiscentos, Scqua^orze. co"qufou

deTovo aquella Ilha Jeronymo de Abu-

Sucrque Coelho ,que herdey ro das nuudes,

Tc tóo iuuftres apelidos, creadoí;

os b > « nj

memoria , o valor «° «emplo de kosclaro.

«fendentes , atraveflou pelo Ce tao do Pe»

nambuco acompanhado de oytenulortu

«tezes filhos de fua difciplu* cm ^manda

fòsinim.gos,aquc náo tinha.defvydadoâ

falia de oppofiçáo, coroo erao,

nap. M*o

foldados enfinava-os • paz ienao «**£<•

recear a guerra. ?* OT

^7& 'tââa de Gornes Êreyrè

\J Com tam pequeno numero acometateoaquvlíc Coprráohuifl»corpá dedous milíndios, 8c duzentos Francezes que formadosnaquclla ponta de terra da Jíha i\o MaranhãoJobrefahida aomar aque bsnoflòspor occa«ííão deite fueceflb puzerao nome de SantaMana

, gratos aos auxílios fiípc riofes, que li-

famenteconfcííárãô alli receber da Senhora/não faltando muytos que afrirmaíTem forasquelIafòberanaBelouavifta diante de todosna vanguarda moftrando*fe benigna aos nof-íos, aos oppoftos terrível , nem le nos hz in-digno do credito efte fav.o r do Geo

4fe atten-

tos a juftiça da Caufa \ reparamos * em tantadefproporçuõ

, na facilidade com que depoisdehuma profiada refiftericii , em que osini-niigos, nos fuftenta a batalha confiantes

, pe-lejarão valentes Com mais honra que foi tu-na, vierão nâo ílrrijnuytos pfefioney rcs-a'ce-dernos o triunfo nos mortos

hno campo a vi-

toria*

18 Conftguida aquella facção dcnoíiasarmas , queíbbrc não perdermos hum foi-dado, fez maisglorioia oaccidente de cederO numero ao er-forço, com que os noflbsaquclle dia comprarão ahoriía a preço doproprib, & alheyo fangue , feíeti ái5o osinimigos do lugar do conflito cosn preíla*que H)ais que atirada parceco fui; iJa , n pre *

cipicio,

t>e AnàraàaU.nruLib.lh *rficto em que eonfufas as fileyras deil.uk

dASProcuravaó ou declinar nonos golp^

,defviaffe dos cadáveres >

que deysava«

„3 dos como efpetaculo quç lomoftrm

s olhos da compayxao horrorofo ,grato

',fS»F^ as feandeyfa^a fcuja

,mbra milítavaô com valor, & difeiplma

arbará correrão os gentios cautos, ouumi*

os a etnbufcarfepelos matos » defptefadas as

ozes dos mayoraes, que valentes ouckfdpe-

ldos os mfitavão a deffcnfa ,bujcavao na eC

eflura ,oa nadsftanciafalvaçao as vidas as

ie ffoas abrigo, onde os dèyxaremos com laf-

imartoenfcrmoaliviochorandocomhumas

nefmas lagrimas a falta dos mortos ,U a del-

gaça dos vivos. , . j3

t& Osírancezes com igual íorte rotos*

ião lhe faltando mortes que fentir* nem fe-

ndas quèatar ,comoeraô toldados , & fe ani*

mavão de melhores efpiritosi procurando

cpílfervár aíiida na perda algum género de

ordemiiçi». forão unidos demandar a fua for-

taleza àfombra de cujas paredes iMcntayao

jtoiparavfc de noflasarmss, cujas cargas íuc-

ceiíivas oshiaó defatinando , cahmdo muv-

tosqueaicançaváo nonos pelouros, de que

indefesos receberão aquelle dia no temor»

«ffínfã.nos golpes o caftigo, que fofrera©

M W*

* 7 8 Viàa de Gomes Freyrepacientes, uíeráraócortezes.

2,1 Nofíbb foldados defprefados os In3dios naturacs da terra* em que ou a nudeznegava a efperança dedtlpojos, ou os arcos&asfettas faziãomtnos illuftre apc]ejq,feIguiraó o alcance dos cír.r*ngcyros, atèos'in-curralar dentro das portas dt fua mefma For-taleza , que Monfiur de la Reverdié íeu Go-vernador

, ou defefperado de foccorros de fo-ra ,ou avaliando nofTo poder pelo noflo atre-vimento, mô fe atrevendo a experimentar;fegunda vc* o rigor de nofTo ferro de que feâchavajáfangrado,veyo a render com leverefiftencia fazendc*nos fua cortezia, aindaque menor a vitoria por menos peijgofa , fu*perior o triunfo por alcanç>llo o refpeytoíemoreceyo, de perder tempo nos ataques,rio aflaltoarrifcar gente,

21 Ganhada aqudla força, em que eftri-1

bava mais que em feu poder o domínio deFrança- Acabarão os ncflòs bum trabalhopara começar outro, na fogeyçaô dos gen*tios, queeicandelifados de noites armas,- ounão querendo renderíe a obediência de im-pério alheyo,nos começarão a faz- r nova op-pofíçaô

, defet ndo dos Cerroens vefinhos, &diftantes inumeráveis cempanhi s de Ta-puyas auxi!iarcs,de cujos foccorros íc ingroiViavâo cada dia os moradores 4a ilha, a cuja

Coi>

2)<?JndradalLPart.hb.lt. i

>rtquiíta ajudou Alexandre de Moura , q

Pernambuco , ao méfmo tempo que Jcro-

mio de Albuquerque por terra, pattiopor

ar com alguns Toldados, baíhmentos Sc

«rectws Marciaes para aquella guer ra,che

mdo em occafião qúefo ferviode teftemu^

batia entrega da Fortaleza; .

al Como Alexandre de Moura , que vi-

ha por Cabo da Armada dofoccorro era na

rofiflaô foldado daqueiles ,que andavad

Usando por officiò osritcosí a honra por

pinião , & tinha por dtfgraça Tua a fortuna

os companheiros, a qus invejava as Feridas*

ao os ddrJnjoUentindo comddcfl-yto ade-

lòraqdepadcccd llrri culpa, pela incerteza

íasvellas pendentes do beneficio do vento,-

>rocurou remir como injuria da pefiba , a dt-

açáo da vfiágem * enfiando pelos «feto? a cal-

a de Tapuyãs à .empreza em que obrou gent-

ilezas dign vs i ou demah larga efctitura , òii

je melhor aparada pmrta.

ia' Acabada com menos ctlfto cjue mo-»

leftia aquella guerra^dè os Gentios difcipli-

ttados dos eftraiigcyros nos fizerão com.

ef-i

forço robdfiocreadó na de$Huroãnidade bar-

b n*a, começarão osnoflbs areípirar com a

pazejae nos feguraVá o refpeyto de no fl as vi-

torias i a cuja iornbra entrarão a fundar em

fôrraa de povoação algumas caías£0jasparç^Mi *«

a 3* Fida de Gomes íreyredes, tetos, & telhados fabricarão dç palmasbravas : com tão humildes íimentos deraá'aquelíes Portuguezes principio à Cidade

,

quedcnomináraódeSaóLuizj ou foíTe quejá dos Francezes nos ficaíTem algumas relí-

quias deapozentos as memorias, ou gratos au?Kinidade , com que nos largarão o íkio, lhe

puzeraó aquellé nome, que hoje coníervahabitada de quinhentos vifínhoSj cuja modef-»tia ainda hoje prefevera na ííngeleza do IratOí

mcftra-fe a pobreza authonfadanascans dealguns daqutlles edifícios, policia com que fe

comentava a vaidade daqu? lies tempos, maisavara do cómodo * que da oftentaçaô<

25 Poucos foiáo osannos qucaqutl-la Cidade logrou cm locego os frutos dapaz* que lhe tinha entrado pelas portas davitoria i corria o de mil fei centos ôc quaren-

ta & hum, quando appareceo lobre a barra

huma efquadra de deiòyto vellas Qlande-

zas, a cuja viíta cítremecidos os moradores,

atè lhes faltou acordo, para íalvar asfazen*

das,& porem em cobro as vidas, mulheres*

& filhos.

26 Governava as armas daquelk Eílado

Bento Maciel Parente, que antes parecco be-

nemérito da ocupação , depois moíhou a

cxperkncia mais porporcionada pai a confer-

varfe na paz > doqucprompto paradifpora

guerra

Uerra,como na«-»«**gg «nora-

o comcrceaffem çom luas ar°g*V *

HosÍSeSs, & moradores, que oprimida»

Íd=íe£oVcandalonaucyS,ô,nacruel,

dt8

a

vS*> a ícguirfe a entrega orintal-

tos porque confluindo fem oppofiçaa o

defèSque poiando os botes emtenafcm

eíSXràmais kvc re'fiftcuc.a que lhe em,

baraX aempreza , faltarão n, praya »rma-

íos I ndo fe no mefmo dia lenhares das

cafas, honras ,& fazendas, que os nnfe-ave»

rntregav5oporpreçodaHberdade,quemur

Svieraô a perder iporque lançando,mao

de algumas píflbaspnncpacs,fendo o^

&jtit Vífade Gomes ffieyrevernador opnimeyro, quetomá>áo prefío"ueyro de guerra, vindo a acabar ávida (queHão foube vender, ou remir nadefenfa^ 4sináos dos Gentios no caminho do Siará paraonde pa humilde iortecjeeícravo de (eu te-nior

5hia remetido, pgra fer guardado era

ferros, na Fortaleza

, que já de antes os ini-migos oceupavao naquellePáiz com dompnio cruel no Império tirânico.

29 PaíTado algum rempo, que os vifi,nhostoleraváo com paciência fervi! osrigo-res pouco menos que de eferavos nafogèy*çao dos domínantes,a que na Religião cítra*jiha faltava a piedade Cathclica

,qusndo f .

fnmento nos trabalhos ftcccffiyos fcw efpc-rança de melhora

, que os chegue a coníolarjador, rcíolvérão alguns tirar as forças dafraqueza ou creadas m defefpei>ção, a inten-tar íacudir o pezo de tão violento jugo. Co-jnuntcadoefíe penfamenro

tentre poucos , o

foi aò com cautella revelando a outros , emque pnreceo nãoperigiva okgredo, ainda.quenao íern receyomayor daiing*j(2a dosieus do que da inteligência dosmefmosini---PUgoí.

3Q juramentados aquçíles poucos, quenaviao & ler primeyro inílrumcnto da re-dempçaó da cabeça dnquellc Eílacío , nãoqucicudo fiarfcdçmuyEos na confie ração»

'de

DeAndradalLPart.Ublj

e que em fc pondo em campo«»W™;dedapatfiaeramiUJadedetodos ^,A o fer Darciaes atè aquelles de cuja te te

'^ida rferarr 1fcav?cdamukidáooua

!

SrçfeeosOUnd^as. ou ainfedelida

fde>um dos companheyrosquearraftaC-

bo temor ou o interefle a defcobnt os cum-

tesporfalvarfedaculpa.nodeh^aheyo

>aflárâo logo a d.fcorrer , os meyos prop^i

ionados a refponJcr , í execução ? cjytp,

2! Aiuftado com ukuna leioiuç.^

«noelle nea<KÍo .igualmente importante , 6Ç

Sofo entalo que a j^fflgjígjhavia dcferdcUlojw hum corpc

»de t**ç£

tos foldados, queVeudmdo a h^> Foue,

auarneciáo vários engenhos o.*aflucar que

Idefcobnáo nas margens do rio l»P£«;ftexecução que dependia deprefteza, iguala

neceSe ,que unhamos de «^oflarnos

de" us deípVvos , 8c de»P»W^Í$3armas de que todos feach.vào delpojaoo*

ScaTuel^dia, em que o-n.m.gos entr-

rão àC.dadc bisque avenceisafegurar »

*L nosinftiumentos daguerra dcquep£

vàráo os moradores acordando.th.s nctta ic

guXnjuria . a ofcnfa do pnmey.o ag-

*?x°* Seguio-fe a executo àoxonfelho,'

J£i*J£» noffos (não paixão de cinco-

M &* •

--

» 84 Viàa de Gomes Freyrèentaraalarrojdos

) m obedienca.de AntónioMoniz Barreyro-, Cabo de brios, & que aexperiência v«o a moftrar depois bene-mérito de oceupaçoens mayores, com tãopequenonumero, fc avançou-aquelle Capi,t-opaflado da outra parte da Ilha do Maia,nhao

,onde animados os feus à empreza mof.

trandoJhes que jàaíuaculp.i não tinha ou,tra redempç^o

, mais que o quê fo grangeafiffem íeus braços, emhuimnoyte ludco to-dos os engenhos,& o forte, com morte, ouprizaq doprefidio Glande* fem nos <uft,r

ÍiXfaVltona

»acci<:}ç,"e que adeysou mais

33 Gomtaõffcíjz principio começou afama arepreíentar com tampa % Isentosincareada aquella premiff, de profpendadedo Eftado, que bafiou fó a not,aa do luecefcio ( (em mais averiguação

, que a certeza quedemais da voz vaga lhe dava ocqydadodosinimigos

5mandando incarcetar a muycos

dos moradores) p,ra dos que efcapàraó dapnzac feaugmentarem noflas forças de forteque parecendo podião já intentar coufas ma-yores

, lcanimàráó a crefcer tanto em atrevi-mento, que refolvèrão aConquifts da Gda-oe, empreza que vieraó a confeguir depoisde cinco mezes.que António Teyxcyr í deMello que fuecedeo no lugar r<¥ morte dç

Anta-

a G 1dr,de:8vç.rac cr^g

n.

mados QS

T $ÈÈ™-mp£ fó.lhc drlfc: que como »,

lada> qucamaaqaec^haa.que

iaj ^

nfcarie lenao tao jumu.t-ncuiezes, ,*

que com hms meiwws .4» »*« .

" n ~ íí rv aterra para u a caia, s^n

lavamos,

* 36 *Pída de Gomes freyrélf Forão eftas poucas palavras daquellc

Cabo repetidas com tanta íegur*nga , quecontadas dehuns a outros como prcfagiodavitoria, infundirão tão grandes efpirito* nocoração daquelles íol&tdos coniumidos dasvigias} ou canfados dós trabilhos, queveíH-das outra vez as armas,acada hum parecia tar-dar o tempo , ou de matar vencendo , ou demorrer vingados,

36 Vendo aqueíle Capitão que os mef-raos toldados creados novos brios com im»portunos rogos odefatinavío míítando-oacontinuara guerra ,naó querendo por entãomodcrarlheourgulhoiudilaçaó, depoisídernandar tomar lingua que informaffe do eira-do

»

dos inimigos, quecauco nos cobria feus«Cenhos, diligencia que encarregou a oytotoldados Portugueses , & trinta índios

% quepartindo em duas canoas abalroarão, & ren-ççftq hum barco grande com morte de trintaw fluatrò Olandezes referyando fóhum, aque perdoarão a vida para informar do poder.dos feus,

37 Recolhidos aquellcs foldados carré-*gados de honra, & dedcfpojos, defpedio oCapitão algumas partidas de Porcuguezes,&índios a tomar alguns paflps fofpeytoíbs,Com ord.m

s que imbojícadbs por entre osinatos protuiaílcmlazer aos inimigos déf-

>s man-

nf Andrade HPtrttâA ,&£pe 4na

'f*' podciTem leva at?

ícarfe , era quanto lncavai

ÍUeaspciuz..sati*nFr

cisa

fa decmba.aço, .^ e- „,.

& os prime v ros ,que pafla »<gg^ ft

embarque da outra parje: . av.tóU . ^Bo. cora que

derrota a^ algumas£ ^J^

Olandczes fe fe* awlla

^

ffe

offcndíto dasmffP^ „s offen,

deieps de vingar de huma^m y

^forçados os reraos v aoemJ

>*

, dar fundo n S praya daW apo

^huma legoa da Qdad

^

u i

remem terra^.^JgSitô a&ro ., de batalha .^«W^ffi rior camrtella , com^«^e^g \

^i^m^(0*"^Szn as planta»

dos fechados, em.cb naqu Pd pw%

-^

^ Vida d&Gomês Freyrècom ameíma íòmbra, com que noscobriaÕos movimenros

, nos podiaõ efcondtr o rifco.

t39 Advertidos todos os perigo? , & ata-

lhados com alguns batedores, que hiaó dei-tQ

a 2 ?rfa *** Mra5 osm^ em de.raanda de hum fítio porporcionado aoffen-dn- o inimigo, Jemoriíco de receber danode toas armas. Deite lugar deJpedio o Gmitfomor varias tropas de foldadoS pratLos noWiza tomar alguns portos ,& outros p.ílòsda XI ha por onde os Olandezes fe bafteciaõobnguido-os comettc género de guerra aviver incurralados dentro dos muros deíuafortaleza donde fahindo algumas vezes For-Çados da nectíTidadc vieraó a encontrar amorte no remedjo que bufcavaõa vida.40 O Capitão mòr vendo que osOIande-

*es, ou tímidos, ou acaute liados nas perdasiHcceflivas»dc reputação, & gente, fe conti-«ajo

>

dentro das. paredes de íua Fortalcza,on-tie* fome lhe era já inimigo igual , ou fupc-rior a nofías armas, refolveo darlhe a fentir ogolpe de mais perto, mandando aballar ocampo pua as vefmhanças'da Cidade , a cujaynta formou osnoiTos em batalha: os inimi-gos que av liados dos inftrumentos Marciaes,»ôs olhavão do alto com temor

J& clpantof

conhderando fobre fí nollas armas tantas ve-ies vnoriofas de ílu poder , começarão a defr

confiar

l"!)t

AndraâaU.Part.Lij>.lL

l0ffa determinaçãogg^gSSfe

armas. ^tetóálta gm tíue onoftb4,1 Amsiiheceo hum aia cm m , ,

^ 4k a«ía Hp naffar a qilartclarle dentro

gtegssgs& inftrumentos s

& ío ao mar ic u

algumas vellas que fthindo^ ȇ

appiaulos ainda mayores que deV«ompo*

nos pouparem no imo o£^lh°ÍJ d j.

anques &affaltoS em que deneceffiM i.

££ d^ar, itear gente Sc pW ||o Capitão mòr naó podia pe, fu.dnk«fdcprW nos largaílem a caía ,

que «nl.jo**

*-*-•

* )£ fe<* ^ Gomes treyrévi ado com íuor igual no perigo , com qtíe *tinhãoconí, rvado^amaflando muytas vezeso barro

; & tintos os outros materiaes com feumeimu f*ngue , que a cobiça lhe £<zia offêre*cer pródigos

, o valor derramar confiantes

45 Gomo aquelte Cabo era na prafiffaô*& no valor foldado, a qtíe o ócio não tinhacfqUectdoadifbplina

, nem osbrios, naõ fedando por fegurofó com 03 indícios

, que feicprcitmavão da paz fegurada na itieerfa fu-gida do inimigo, mandou diante alaúas com-panhias com mftruçao que fe informallem •

km tocarem as paredes da Foi tal za# nem fe

Cheguem mUyco a contra denrpa, cauteilaque advertití pratico, receando a devxaíTemminsda com alguns murroensac íbs/quear-dendo lentamente pegando depois na polvo-»ra o fogo oprimido afeefle voar, fazendo-jios vir a-ft rder no triunfo, os imfmofrj ouainda mais foidados

, dos que havia de rtaftar*nos d combate.

44 Depois do Capitão mor dcfped/r asprime, yras pa. tidas é que foy ingrofT.ndo,corti Outras

, q U; hiaó deftacando em diihn-cia proporcionada

,que fe podefll m dar as

mãos,lo o filericio da Fortaleza* fofle cãiitcU

iaiou arti ficio do inimigo , mandou marchar

todo o Campo formado cm batalha : poucospfiílostinhão osnoflbs andado^ quando che-

garão

DeAndradálLPart.LéJt t:

ido a incontrarfe com os avifos destoe

ia6 diante ,que trazi iõ a certeza daC.dade,,

íorSk eftardefpejada dos Eftrángey

>s,davaÔ por noticia que receberão de ai-

uns TapUyas que tomarão ,que os Ulande-

esnaquella meíma noyte ieftze.ao avella,

i os levava com tanta preQa o medo ,que a

urbaçáo lhes não deyxàra acordo, mais que

>ara falvar as vidas na retirada, ponJo em co-

sroaspeíloas fem curarem demuytas/azen-

ias que antes adquii irão avaros, etltaodel*

prezarão prpdigos vindoadarle aiimefmos

hum vicio por .aftigo de outro. __

4,ç Foy ella nova celebrada nd Uattipo

com applaitfo univníal pela. certeza, com

que nosfegurava com apofle da Ilha ap.«

do Eftado, que litigavamos-ptnaente dojui-

ao das armas. Depois fe loube de alaus efera-

vosque fe efcapáráo, que o inimigo tefido

avifo.queo noffo exercito le movia , ou tol-

fc por alguma efpia ,que dos Gentios ,

que o

aiudaváo parciaesnaquella guerra ,<n>Zíano

noffo Campo, ou comprada d.°s melmns bar*

baros, que acelaiiados miliíavao auxiliares

àfombradenofias bandeyras ;porque rtuníj

£c outros feferviáo dos arcos dos Tapuyas,

& como gente fem Deo< , feml/y, nem Re-

liará fácil Vende a Fé pelos «nterefles , fe

veyo a erereatâo,& nós naó duvidamos Ws?

» 9 * ^W* ^ Gflww treyrè

je, lhe participai ião osaviíos denoíTo dcfeinho,acadente a que devemos emhumaví*toiia fera culto , hum triunfo íem fatiguei

46 Informados os inimigos com tanta

individuação de noílbs intentos, que atè fe

lhefinatou o dia , & hora, cm que o Capitãomor tinha determinado a marcha cm deman*da da Cidade ,- empreza fácil por kr por todasas partes aber ia jfem algum reparo antes, oudepois, mais que os braços de jfeus morado*,res, dequeeítava defpejada* & que v< Ilidas

as armas vinhaõ agora aíer ConquiíL doresde íua mefma Cafa , difeorrendo com madurojuízo que os noílbs nãomudavaó de quartel*

contentando^fe fó com a pequena empreZa deoceupar huma praça deleita, vieião aafien*

tar , que o intento do Capitão mor era fi iada

ya Fortaleza fenhorear o poi to, com aefperan*ça de algumas embarcaçoens do Pará, dondejà tinha recebido foccori os, que unidas as ca-

noas da terra lhevicííc aferrar a barra, ruja

eftrcytezi dificultava riaónienos a lahida do'

íquea entiada,&como era única porra que ti-

nhaó aberra para a falvaçaó,que fechada hua

vez, OU de neceífidade haviaô deacabar às

triáos da fome, ou entrega r fc à cortez ia dosPorruguezes , de cujas palavras * os fazia dei*

confiar, a pouca fé que lhes guardarão nacanada daquellallha, ajuítàraõ quepoftas

em

Ve Anârdn U.Part-Lé.n. Mn cobroalgumas: fazendas de menos volu-

ES& antes as peíloas n^onftan-

a das ondas , do que expor as vidas a mcer

Za di noffa humanidade ,deyxands-nos U-

re d Sultos aquella Ilha, que anno

&

íeyo dominarão com não menos abfoluto,

^^S^quiefpecial noticia de

1Uytôs recontros, S£ outros calos dignosde

mbrança que refultárâo das guerras d^e-

;ntc,cWquevariasnaçoensnosd,fputa-

\o apofle daquelle Eftado, por naoenfaíh-

mosPcom relação eftAnha anoflo aflump-

o materb, que deyxamôsrefervada para ou-

ksascoufasde>"ocom osolhos,daraaler

por ordem todos os açadentes comuas fc-

gurança (doque aavenguacao de quem ef-

creve fiado ocredito à verdade fingella.ott

adulteradaem alheas memorias.

Ts Retirados osOlandezes pelos anno.

de mil kiscentos quarenta &tres,ficount

noíla obediência a Ilha do Maranhão fituad»

ao Oriente do Brafil em altura de dous grãos,

& quarenta minutos da Equinocial parai

o

polo Artíco ,quafi no meyo daquelle:Eftada,

vindoarelponder com tanta igualdade ohm

ao principio , que fó çpm a diferença de pou^

cos minuws fe avifwha mais a hJ®m a o<£st.,.

jj ^ m

Í94 Píiade Games Frèyrtuo termo

: eftende-fc cm fórmaovada por ef*paço de nove legoas , pouco menos delargoipafiadc trinta fua circunferência rodeada demar pela parte do Norte, Efte,& Oefte: peloSul a dividem

r da terra firme os caudeloiosriosMoni,Itapucuro, & Miari,ou Maranhãode que tomou o nome

, que efprayando ao en-trar no Occeano formão huma dilatada Bahiacom mais largura do que fundo, donde comartificio abertos fe moftraó vários Efteyros,ou Igarapés na língua Tapuya, que retalhan-do muy ta parte da terra por fer bayxa dãoíêrventia fácil aos agricultores, que do inte-rior da Ilha recolhem vários géneros ,& con-duzem em canoas o importante àftbrica defrofias fazendas

, que cultivadas ftm dema-ado fuor triburão aos donos , o útil nos fru*

tos, nas plantas o deleytavel.

49 Na ponta de Angulo que forma a ter-ra,entreocanalqtte fezefcalla principal dasembarcaçoens

, que demandaõ aquel le portoScoEfteyro de Santo António eítáíituadaaCidade de São Luiz Capital daquelle Eira-do, he habitação de quinhentos viíinhos,queao principio moráraó em caias de madeyracubertas de folhas de palmeyra , de que aindahoje íceonfervão não fó osveftigios cm al-gumas ruínas, mas memorias frefeas em edi-ficios intcyros, que ou na humildade moftraõ^

Ippj

Lfabtsw óu *a modeftia o defpre» ,cont

SfeS^SS fe"ião mais ao cómodo,

fu a lobert» dos palácios. AcWfe ja muy-

Jiíffle barro amaç^outra dç»

w

f ou fabricadas de adobes cubertas de telh»

â.:. Confcrvando nas varias fortunas que

J«eS moderação de feus prtmeyros few

adores le naó tem eftendido a mayor fump*

^fH^cldadeaberta^tópeiapartedo

mt com alguma? plataformas , da banda d»

a a «rcâ! efpefios matos que lhe fe=uimas veies de muro para a deffçnfa ,

outra

deTombraparaocculta.fe.eftende^ecomçf-

p fluías ruas, nomeyo ft deyxa verornada

com Piedade Catholicaa Igfeja Matriz Tem.

pSE mediana grandeza dedicado a Senhora

5a invocação da Vitoria ,pe a quedos Fran-

jei" alcançou Jeronymo de Albuquerque

«aponta de Santa Maria , hoje bumadasCa-

tearae" daquelle Eftado. A da Mifèrfcordift

oue no adorno inculca o zelo, a riqueza na

moderada Mageftade. Pu»Ermida hum*

de S.IoáoBaptifta.outra confagrada a Senho-

rado Defterro , obras , a q fobeia de devotas a

que lhe falta de magnificas. Ennobrecem-na

çom não vulgar eltentação bum Conyentj

í$6 • fyàadeGomts Ftèyrêde Carmelitas Obfervantes, outro de Mercê»narios,humCollegio da Companhia de Jdus,&hum Convento de Religioíbs Francifca-nos Recolretos intitulado de Santo António,edifícios todos mais Religioíbs, que iober-bos.

5-1 Deftes quatro Clauftrosfahem todo&os annos differcntes Miffionarios , queríeisobreyrosno campo da Igreja, diícorrem pormuytas partes.daquelle vafto Certão , ondeoceupados^ naconverçãodaqusllns barbarasnaçoens , íuaó na cultura da íeára do Senhor,cuja fementeyranaquella terra, antes porin-culta efteril , tem acodido com tão copiofosfrutos, que refponde fértil ao trabalho não.

menos na obediência de fubditos à Religião,do que na logeyçáo de vaíTallos ao Império.

fz De mais de muytos lugares lem no-me que nas viílnhanças daCofta faõ habita-

dos de Portugueses tem fegundo lugar a Ci-dade de Belém no Gram Pará , hoje erigidaem Cátedra) pela Mageftade de EIRey DomJoaó V. de Portugal cujo piedofo zello pro-curando dilatar ainda mais a Religião, que oImpério , impetrou do Sutnmo Pontífice adívizaõ daquella Dioceze , da do Maranhão,nomeando para feil primeyro BiTpo D. Fr.Bartholomeu do Pilar Reíigiofo da SagradaOrdem denoffa Senhora do Carmo Prelado

m

VeAndradaBPart.mil. t9y

55 Como aqutlL£inc pdQ

afoitos com PK.

dafe

„7e re(Lndia6 com *j

^•tfilSdín

n£doo dlfcomodo,e&as de hinos, conuu

-jjftante pai a o

imparo, para o rec"""felicito no re-

Up.decidonosin.ks ,que to««

^

médio daquellasalmas, leloive ^

i^h*&foÍ5M?ESÍi «colhermayor asmiff ens de que i v

dasniuv-

ço curral da Igreja "^fj^didas.de dif-

tas que pelosW™*^"££và& o Pai*ferentes naçoens

barbaras qae P^

das Amazonas , « margen», ^ &celebrado rio , o Cabo do Noue

(

«nuytas parteSí ondeavndagjWg^as vozes da verdade

Cathohcap

guma breve luz. do tvangcmu

^Ts^numeraveisoshab^o,!^

tro fexo em -quadr ^ 'f£ fcen0 rraj01>

mais ,qucp quenocsrf^m por entreç primeyro homem,.

nuzd^orr.in,p

tf8 Víâà deGomes Frefrêque Bebem todos humas meímas abominaiÇoens,fendo fó o caliz di verfo,mas o veneno omefmo

ípara jazigo de feus mortos ne ven-

frs cios vivos o tumulo mais honrado, ond$depois" de chorar feus defuntos com Uftimafem dor, pão fttn horror da natureza fcpultianas entranhas os filhos aos pays , ou ospaysaos filhos. Alim *maõ*fe da caça ,& da peíca*fem perdoar feu paladar a algum animal portakip que f ja immundD,não ufaó ajfayas maisOuedous vsfbs de barro , feus leytos aterrafua cobertura o Ceo , fem fugcyçaó a maiskys que as de feuaperite, moftraó em hum*ainda que menos proporcionada figura hu*mana

,a natureza <te brutos, as condições

çjefeia.

55 Comprehendcíe dentro dos Iimfttcsdaquelle Eftadoo famofo rio das Amazo*ws [mi nafeendo m$ íerras do Peru atravef-fa a dilatada Regiaó' das Amazonas*, de quçtomou ônome.Nadirtanciadefeucurfodif*cordão noílbs, cVeftranhos Eícntores hun$iheiínalãodefeupnmeyro nafeimento atèomar onde entra poroytenta legoajde bocacom pouca diferença, mil ftoytoccqtas te*goas, outros mil & duzentas, alguns denãòinferior autoridade , as íbbem a três mil , nécfpaflo que conferva doces fuás corrente* :en>

«é« Q9das doQççcapa^jicoaçig osAutorci

fisffi

CGmr° "nflffi^a ouf bu m « t«diw

crerie oQUt amima ,uu 1. 1>

g alguns efctitos daquellas W/ggÃfernandarerrandofc&easaguasa

gusllheos

& filveftres ;que tremulas na corrente ie mo .

«m a hum» ,& outra parte

, ç7 Doultimo termo do Certaonamta

dode Ge„tbShamaiscon3eturasdoquecer,

teza , faltando a* noticias frw^Sffiitffc

com oquecolhiáó fc pratica ^g? "jouvas. aque amanfou oenterefle. ou a coí

SStttt , hoje tem achado a experiência

^eTsdlftdtosdaquelleEftadoexcedemn.

riqueza de minas dcOUro, ggft^jPJ*

*

peço a todas as maisÇf^fS^S*tilidade dos frutos* mats abundanteda

Ame

ãft Colho-f?fS^w-í*""*^;

ioo,\

v

iPiiade Gomes Frèmmatos madeyraá diferentes, todas de tiáo vul£gar efttmaçaô, muyto pao, cravo, algumacanelia com pouca differença da deSeylaó.pimenta, cacao, falfa parrilha,& outras dro-gas que com o tabaco, fcaílucar paflaó portrato ao Reyno

, donde a que fobra do confu-mo de Portugal, íe leva a varias partes da Eu*ropa por Comercio,

58 Efçrevemos com menos eícaça peiWca ascoufas de Maranhão, & ainda deyxa-mosmuytas dignas demeworia igual às quetemos referido, por não moleílar aos quefeenfaítião do que excede a huma narraçãoiimples

\fe parecer a rejâç^o diffufa, digreilàÓ

prolixa culpem noílòs Hiítoriadores da A-jpenca,a que efqueeeo muyto daquella gran-de porção do novo mundo , rokrando-nos adilação a q nos obrigarão as leys dahiftoria,por feraquelle Eftado teatro das novas glo.nas com que Gomes Freyre illuftrado leunome,mereceo na pátria osapplaufos, comque o celebra a fama na gratidão dos morado*res de SaÕ Luiz , & de Bclem , iobre os elo*gios os retratos , que em lugar de eftatuta lhepuzeraó aquellas duas Cidades,em ieusCa*|)itolios f

59 Gonfeguida a pa& daquelic Eftado;que os vifinhos do Maranhão comprarão a

JP?SS9 dS âa£U& É SgtHOB t & eítranhas<

v

VèAnàraàalLPart.Likll. *P%

.meçáraô os homens a viver outra vez nd

S locego todo o tempo que aamb.ça»

3a nostoites da modpftia.fe contentou

£ neceffario à vida, íem a{pn ,,rem os ho-

cmacrefcer,ouap,(Tardamod.radaesfea

etnque os detinha huma íimplic.daderara

S.qton emulação, ainda daquellcs que

em diffêrençallos a natureza os deftingu»..

brtuna noscabedaes ,ou qualidsde

6o PaíTados annos começa; ao a fentirte

>lgumas inquietaçoens populares que ad-

ertidas dos Governadoresfc apauligai fofe

Lente atalhado no pr.nap^aur.aefogo

de difeordias antes quflavrando Imiameii»

om novo calor começaffe a prender çffl toda

a matéria diípofta atearfe : mas «mo de todo

fenáo extinsuiffe confervado nas cinzas, che-,

cada a era dl mil feifeentos ovtenca & quat£

fm que governava o Eftado Francifco deSx

de Mendes, como alavareda fcoceultava a

fombra do fofriraento, & fe achava por op.

«riroida violenta, rebentou omomina eom

ruinaigualaofegredo.ou por ter creado no

defcuydo mayores forças ,ou por achar me-,

nos reíiftcnciai

6í Do tumulto em que vagou o povo^

foblevado . por cauzar cuydadns áo Reyno,

aGomes Freyre trabalho , em extinguir O

fccçodia qucfeatcoucomíuinadosviUnhos

5© i Vida de Gomes Freyrêde S.Luiz,& Ullmn d- todo oEftado doMat;fanhão, daremos aqui noticia rm nos abre vian-

da com aquela individuação , que o achamostratado cm memorias dnquelle tempo , decuja verdade nos faz não duvidar a mcfmaConfiflaódosagreíTores, ateftada demuytoiQue na fedição, ou temerão os intuitos , ou.ps experimentarão.

6^ Chegou o Gevernador Francifco dèSá de Menezes à Cidade de S-LuizCapita! doEíbdodo Marmhííoonde foy recebido comaquellas acclamaçoens,deque fe fazia bene-mérito pela fatis^çã,o, com que no Reynatinha igualmente fervido as letras, Sc asar-»

mas,curíkndo em beneficio da pátria hum, Scoutro emprego himiss vezes íoldado nasCampanhas. outras Miniftro nos Tribunaes;com applaufos deBartolo na penna, de Ce*farnaefpada.

6$ Acabados aquslles dias, que taxa apolitica aos (uneriores para ouvir nas lifonjas

publicas pnv.bens do lugar, nosquaes pro-curando cada hum comerceada aaceytação

f

comprar o valimento , Si toios incareciaó as

fortunas que k prometia o Eftado em taô fe*

Hz governo. Refal veo dar a execução, as or-

dens que levava por inftruçaõ, para cujoef*

feyto tinha já difpoftos muytos ânimos,por*

^ae a alguns dos que o bufcáwõfpy a*pra«

VtAiOrad* JWartJjibJL iôf

Cá pedindo o Informatftm, do que danavi

utilidade dos vai-los , de outros ouv.a «fti entre asqueyxas do governo asfaltas dos

/Imiftros panados, moítrando fe compade-

ça dos males do povo , cujas antenas chnra^

>a Uftjmado , eftrànhando íe dekuydaílenf

lasobrigaçoens do cargo os que na piedade*

e havião de moftrar pays. Raro artificiei

•om que deu a entender queria dosdefkyto*

Jheyos tirar ditames para os teus acertos.

6a Bemquiftado com efte exórdio qué

a arte fez parecer natureza, moílrãndo nas

palavras, quedava a lejo coração , com que

queria governar feaTmoleília dos íubditos;

nem falta de juftiç*, adquirio as vontad. sdos

mayores,» quemfacil fe arrima a fimpliada-*

de da plebe,Conhecida a logeyção com huns

|á rendidos , outros que aballados, ia moítra^

vão os aífc&os : incarecendo a confiança qud

feria de todos , foy com infeytada hfura ver*

guntandoacada bum osmeyosque poden*

ftaver proporcionados , a remediar os males^

que padecUó os moradores daquelle Èítadò,"

gc como alguns lhe apontarTcm o? que ào

Réyno levava por regimento, confirmou d

ppiníaò daqutlies refutada com razoens de

hirifta , & refpeyto de foldado o parecer

$è oú-tròs qú2 titihao a contraria , os^ quaes

t^p^^cior kidma4oXçmovcraô feceU

5o4 Vtâ*^ Gmis Freyrt

fc íeguir como útil o mdmo ,que pouco antcfc

Condenavaó eicandalo.

6y Seguiofe logo mandar ao fom decay-.

ias divulgarfe huma ley , em que fubftabele*

Cia o contrato das fazendas por eftanco.Coma

fíle decreto da Magtftade* tinha jámuytofaffeyço;<dos, & a prim^yra face íe rcpreferi-

toú beneficio de qualidade, que fe vinha a

çntérelFir no negocio com mayores câm-bios, foy recebido daquelks vaflallos comuniverfal applaufo , & fem duvida fora

f todos o mais útil , fe a ambição de poucos,

cão alteraffe os preços, adulterados os gene-?

ros,

66 Pouco tempo paliou , que não come-

ÇafTe averfe com a experiência o p^rjuizo

quercfultava da avareza de alguns, que tor-

nando comercio a ufura/aziííp observar a ley

éàs prtços fritando às fazendas o valor in?

çrinfeco, $í como o pezo, naó rrfpondia àaf-i

timação, começarão aindaque ao principie»

comedidos na dor ,afentirfe aquelles vaflal-

Jos do trato,em que enganado o íuperior, pa-

oecião^s-fubditos.

6y Crefcco com demafia a cobiça dos en^1

tereíTadospafTando a apurar a paciência deal-i

guremal fofridos , os quaes vendo que o que

fe inventou para remedio .fe.tinln tornada

achaque, recorrerão ao lBp.«Í6b9@* S°.roq as

VfJnirãââH.Pârt.Lt.n. **f

Wm da queyxa articuladas de longe ,ou na?

Saó aosouvidos dosMimftros, ouf*

íafaó confufo o ecco.quefç naõ deyxavao

receber fi*u oprimida a virtude de huns

ovtcio deoutros; todo o tempo, q«e ovr«

efoeyto.ou o temor lhecreou naeiperanç*

Sménto . atè que dcferjganados rompe*

raó em ablurdos , como alguns anda™?.£mal acompleycionados.foy tac.1 revolvido*

os humores, encontrarruina.o que reprefen-

tavaóconfervaçsõ. n

68 Começouporhu©aligcyramtirmu^

raçaô^dequeaopritidpiofcnao fezcafo, 6C

como no defprezo lheTaltaffe a reprehençao,

ouocaftigo,foycom otempo tomando tor*

çasmayores,crefcendo com tanto excefloa

numero dos mal contentes, que ídolveraô,

alauns, entre oscumplcce* de melhor ©pi*

niaó.amoftrar indicies denegar aobedien*

cia , levando comfigo fó a gentalha do povo,

que lobre a difpofiçaõ natural com que iem-

pre eftàprompta para aprovar inventos no-

vos, agora de mais de atiçada defua meírai

inclinação , alegava como infentivo , outol-

íe falfo , ou verdadeyro receber violência do*

Miniftros da juíliça efcandalos ,core» em

queaquelle monftro de rriuytas cab ças, ic

vefte , ou com que fe desforçaõ os mal scon-

telbados nos delixios da rebelião-

P9 A*

fé6 -Fida de Gomis &#pg69 Ach-*va4c pqr;iquulí S umpo naGíí

dade de Saó Luiz Manoel deBiquunáo porUaicimento natural do Reyno, por afeenr

denas eftranho , jà reítituido de hum degre-

do a que fora condenado por agrelíbr de ou-gas ioblcvaçoens , que km chegarem a ef-

yto pela vigilância do Governador conf-

iou fomentava em fcgredo noticias que igna-

ro Coelho da Silva moderava aquelle Ef-

fo Como Biquimaõ era homem deef-

Piritos inquietos , c* tinha alguma authorida-

4e com o po YOjtomou a voz de procurador d*

liberdade, & a mo íoubcoom arte fingir zel-

lo> ó que era ambição, com 09 vicies ador-

nados no trage de viitucks, confeguio ievar

çomíigo a mayor parte da plebe, cuja igno-

rância, movida daprimey>à*pparencia def*

enfreada rçrn o ligeyra ao lifco, de que deí-

penhada fe precipitou cega*

71 Ajudou cem muyia parte4 adetermi*

liar aqtic lia err.d' gente, dt mais das r^zoens^

com que a pn fij»dip o Biquimaô, a aulencia

de Govc r na dor , q ftj achava no Pará O nto ÔC

íeíTenta legoac diltantc cndc oduinhaõ al-

gnmps dep< iWenass da occupaçuõi Em qua>

to f<*eíp< »°u o rf grtílb viv< o aqutlla Cidade

ainda que fempie inquina* (em filtcrar de

todo o focego , ou folie rcfpey to a peflea , ouj

VtAnàraàãlParuUbJl §©fc '

•mor do caftigo \ mas vendo que a occurrcBí

ia dos negócios o detinha deraafiadamenc*

ivertido , começarão aquelles , a que o efta*

o impedia a ufura, a revolver as aguas qu$

â de tempos trazia turbadas a prohibiçao doá

ícravos ,& outras circurtftancias leves ,que

)or menos importantes deyxamos de refe^

ir.'

\

j% Gomo o povo ie achava prornptoa

feguir qualquer que lévantaíle a voz da li-

berdade, & a abundância daqucUa terra , fa*

zia na ocioíidadé ávida viciofa,invGlveo*fé

com aplebe alguma nobreza, naõ faltando»

Ecclefiafticos * que ei"quecidos do cftado,»

que profeiTaváô, autorizaíTem o motim, par-

ciaesdos kvantados,com elles mais eífr anhos

que religioíos foecorros veyo a acabar de

confumarfe errática aquella mefma Cidade*

que algum tempo fe tinha confervado tre-

mula.

73 «Refultou do tumulto, em que a ple-

be vagava incofiftante fem mais lugeyçaõ»

que asleys do apetite , enviarfe ao Reyno

Thomàs de Biquimão com ainvcftidurade

procurador defeulpada afublevaçáo como'

rigor das leys, dizendo quevinhaó aiVzera

que não poderão os inimigos, mó feíTando

de encarecer atyrannia, com que nacuelle

dlado mandava o império dos Capitaens Ge-'u neraçsL

*oS Vtda de Gomes Fréyrt

neraes. Ao meímo tempo chcgàraõ a Corte}

por differcntes vias, outros aviios , em queíe liãocom relação mais vcrdadeyra osefcan-

dalos do Maranhão, cujos males para curar-

ièneceílitavaó de remédios prompcos*

74 Como a catxça do Eítado experi-

incntava o dano , & na dilação crefcia comCXceíTo mayor o perigo do contagio fe corrjo-

uicar aos membros com ruina irreparavel,pe-

ía vifinhança dosFrancczes emCaya nallha qaquellanaçaõ domina ni America Meridio-

nal da outra parte do rio das Amazonas, ÔC

como França ainda que fem mais direyto

que o da ambição, com que procurava dila-

tar feu Impei ío ti azia os olhos no Mara-

;nhaõ,rcceava-fe, queouieaproveytaíTe da

occaíiaó , que lhe oftereciaó noílas difcordias,

ípu que os mefmos levantados ingratos à pá-

tria, em que naícérão, lhespediíVem foccor-

<ros, oulhes tribut flbm obediência procu-

rando izentarle do caíligo , com fegun^a cul-

jpamayorqueaprimeyra.#

75* Confiderados comattençaó todos os

perigos daqucjle Eftado , & a neceííidadc

que einhamos de aéodir afocegar as pertur-

Jbaçotns,em quediícomaaquella II ha, antes

que ocxtmplo Icvaile tr.su omros lugares,

& tomaíTe aquella conjuração com outros

parciaes forças mayorcs,reprefenUUaa prc.f*

DéAndraâa ltPart.Lib.il 109

Com que crefcem os infultos creados a fóm-

ra do íbfrimento , comque íe diffimula. Fa*

orecida dos grandes, a liberdade da plebe

ifcorréraó alguns dias encarecido o mal,fcm

i acertar o remédio.

76 Depois de vattoS concelhos de ttíta*

o < em que fc difcorreo com variedade de

fpinioens fobre os perigos da índia , & os

uydados do Maranhão, vierao a conformar

*

e todos mefeolha de ©ornes Freyre, para

mpaffar a Goa a concluir fia Afia agtierra

lo Oriente ,ou de ir ao Brafil reftaurar 11a A-

nerica a paz do Occafo : màs como em muy-

as occafioens tiveífe Teu defcntereffe mof-

rado o defpreao , com que tratava o medrar,

5c fejulgaffe.que fó obrigado dá reputação,

ainda que violento aceitaria qualquer dos gò«

vcrrio$*faltádo-lhe pretexto, com quepodef-

lê deíviar-fe * lera qtfe pareceffe intentava

pouparie com rcceyò dos trabalhos , ou te*

mordos rifeos , com que ftos anteaçfavaÔ eto

huma parte o valor dos naturaes , em outra a

multidão dos eftranhos ,& em ambas a difiV

rença de climas , & como podia com catffa

juftificjada alegar por efeufa , entre outras de

menos porte, o pleyto da caía de BobadeH

la , refolverão fe mandaffe por decreto, paraf-

fe todo aquelle tempo , que podia deterfe oç-

cupado no «mprego que elegeffe ; porque

O cor-

'

fjp ffyá de Comes Freyre

cortado aquclle cabo, aqucppdia pegar-frt

como lhe íiáo ficaya outra amarra , cm quefjdvar a opini|o da obediência com citdi-

fps da peffoa,façil cederia do íbcego,em bene-ficio da honra.

77 ElRcy xjuc fazia de Gomes Freyreconceyto áin(jla mayor,qucojuiio dos Con-aUfeeyroSjQUvidas com attcnçaõ as razoens,

f:deyxamos referido , approvando aquclle

ecer craque todos fe conformavão, lhe

jnandou recado para que ykíTc aPalacipjpor-

^ue tinha que comunicarlhe negocio, cuja

importância pendia da brevidade ; comoáquelíe fidalgo era

v

na obediência prompto,

.& dos Príncipes naô faô neceíTarios precey*

tos * fobraõ as infinuaçoens aercar aias , nãotardou em chegar à prefença da Magcftade,

de quem foy recebido com honras que exce-

derão as vulgares , beneficio fácil , com qu£os íoberanos obrigaõ aos homens lern defpc-

za , &: com que comprando com o agrado a

liberdade dos fubditos,fajtcni que fua,vciuen«

te tyrannifada a vontade dos vaíTallos, vo-

luntária fe rençla çígrayade íeu goílo.

78 Intr^odufido Copes Freyre ci pre-

fença da Mage#*4e ouy#>t £,ntrc os encareci-

mentos do afiado f que lhe revellava a pre-

jdeftinaçaõ , que delle tulha feyto para huma,

4$ duas çmprras, quç de qualquer delias

Dt/hàf4ÍsU.Pm.^Il ff*iftava a grandeza para honra ,

que aeiley*

iô da peílbafora do Rcy, a da parte que ba-

ia de ir governar dcyxava à lua cícdlha, por-

ue dos vafTallos queria os ferviços , roas não

lortificarlhcs ó gofto , que fe tinha difeomo-

o na viagem dalndia, foíTefeccgar ostU-

tiultos do Maranhão , expedição que folhei

•varia o tempo precifo a deyxar quieto a-

luetle Hftado , donde voltaria logo ao Rçy-

Io jque para os acrefeentamentos lhe não tk-i

iao wlta es perigos da jornada da índia >nem

>s trabalhos da Afiai porque na America ti*

lha a fua coroa iguaes cuydados tcom mayo«

es entereffes.

fg Ouvida a rciolu§ao da Mageftade

irendo que ainda que naõ podia aceytar com

oofto , naõ podia regeywr ícm efeandalo , re*

íblveoab?yjarmeamão mais grato àmemo-

ria do o, ao beneficio , por fe fogeytar força-

do a receber aquelia hema , que teve de ma*

yòr ,que fua mcfma grandeza * o naõ fer pe í-

tendida.Ocfpedio-fclogo fem procurar para

fi outras mercês mais que as que lerv iaó à uti*

lidade da Coroa* reprefentando fó i^que fica-

va melhor acomodado tio Marsmhaõ pela c(m

perahça de voltar mais cedo * ftaô para vagãf

noòciojenaô pelo pouco affentoque ainda

tinhaó tomado fuascoufasj porque asoecu-

paçoenslhe naôderaõ lugar, apoias emor-

I

2tt FídadeGomêsFreyredem ,& como fe achava adiantado em annos,

com mulhef ,& luccefíàõ queria arrimar emfcu lugar as dependências da iua caía; porqueos achaques f

creados nas campanhas , orno-

leftaváo já coro demafia , & crefciaó com a

idade, & fe viefTcm a cortarlhe a vida,deyxaí-

fe em menos trabalhos mais deícanço a fua

família.

8o Paflbu logo a propor com a condiçãoá mercê de fe lhe confervar o poílo de Te-nente General daCavallaria , & darfe-lhe in-

fantaria , que fe conduzifTe em duas náos, queo Miniftro da alçada,& Secretario do Eftadò,

haviaódeíer àfua efcolba, porque hindo a

iocegar hum povo amotinado, dependia decompanheyros, que fenaó encontrarem nospareceres; porque o fim fenão podia conle-»

guir le os inftrumentos ie naõ conformaflem,

propofiçoens,que EIRey ouvio naõ menos

attento , que admirado da comprehenfaõigual à modeftia daquelleCabo, que fendobufcado para o lugar, antevendo os futuro?,

pára perfervar todas asoccaíioens do perigo,

icm efquecerlhc alguma leve conveniência

da Coroa, lenaó lembraffe para falar humapalavra de feus particulares;izençaõ rara, queentaÕ íervio mais ao cfpanto que ao exemplo,

& de que ainda hoje fe moftraó os eflèytos dodçfcntereife na poíleridadc menos utilifrd*

ás?

e mercês ,que de merecimentos.

Si ElReyaquem a experiência tinha

âdômelhoraconhecetacapacdadedaque-

Soraé , depois de lhelouvaro zelo encare-

'.dasaTvir-cudes.queconfirmavano^facnfi-

ioda obediência , com que fe fogeytava .lhe

èlpondeo náo fó fiava dofeujmzo a efeo-

S de Secretario , 8c Mimftro da alçada

nas ainda lhe agradecia ao que Ihepoupa-

^de uTdado e

Sm andar buícando fogeytos

proporcionados aolugar , conformes ao tem-

P°8z Entrou logo Gomes Freyre nojw-

balho de aprcftar-Fe ,^^io^JtfSc.

cia que podefle vira fervulhe ao bom fuccel-

fo da empreza. Elegeo para Secretario a Joa^o

Rodrigues Villar Prior dalgreja de S. Ben

ono Irmo do Redondo , pettoa denao n*.

gar talento , & maduro confelho.em q aflen

fava amd» melhor o lugar por reW«»«lie as virtudes às letras , nao lkgj|Perito o eftado , como coh..

eftranho,

«ma fe

pcríuadem alguns, que todo o Ecckfialtico

kdelproporcionadoparamanejaremjregos

feculares «corno fequem ho«veJede enoj

"minharos negócios foffe a profiffao, & na»

o entendimento. A , , « •_!,„»

8? Como as coufas do Maranhão çinha»

jácomeçadoapezarfobreoshorobros dcGo^

.. . v 3

1*4 mkitbmò&tjrt*P?.

S F«)fie fJ trazia cuydadoío afoita de no-ticias daqúelle Êftado ; porque a« que hav iana Corte, ou eraõ mandadas por relação deFranejfcodeSá, ou trazidas por ThomàsdcBiqiiimáo, cujosavifos tornava a emulaçãopara o credito enfermos , a oppofiçao os dey*xav* foípeytos , porque as vias porque fe

cpnduziao ap Reyno , reprefentavaõ hunsmefmos cafos taó difTerentes

,que pelo trage,

com que hum os vcftia pareciaó diverfos nascores , que putrolhc dava,8a Delejava o novo Governador enfor*

inarfe de peffoas taó dcfentèrefiadas%que

nem incareceffem os cafos, nem os defeurpaf.íem , mas ainda que fe naõ poupava a algumtrabalho de procuraljas , defenganado quenaóíera fácil defcobrirfe algpm que|naõfi-zefle parcial, ou o temor, ou a conveniência,relolveo bufcàr conjunção de encontrarfecom c procurador que na Corte requeria'por parte do povo , por ver fe da pratica vi*nha a colher indícios de que podefíe valer-fcjpara cautella da peíToa, ou aproveytarfe paraditame de fua direção,

8j Naó tardou muyto õ, fe lhe n$o oftrerçefle aopportunidade preteriremos naómr*nos pela utilidade do fucceíTo ,do cj pela çir-

cunftancia do lugar. Por habito que dospri?Ifleyros annos tinha criado , & coflh a idade

havia

revrc os Templos ,ondetf^JS&Hj

caÓ deiolcfedo, efta piedade de Religioio.

Çmofc achava na Corte, lhelevava osaffe-

Selffif, -egida^oje emBafil^.

riarcal à inftancia &&Q&&j£S^) loaóoVxom tantas preheminencías, que

uõ cabem napcnna ,nem^g^fcSfeus Prebendados .podendo

femÇjjgggncarecidosamrmar^entre as<M^«

«Jtandade, fchdo no lugar da <*$&$$% ?

gofa na dignidade tantos P"V^g»os^pr»

Lyrà fem fegunda, que «gK&jSquefabem pezar ascoufas pelo que vanem,

fó Roma á Lede , henhuma outra a.gualla.

06 Aqui vagava Gomes Freyre aDeos

oImpo que ou The íobravà , ou era nèceffa-

r,oTLer boras para^r^aos fgdocWoa-a tóparfe com Thomas * Biqwmao,

oue primeyro fe adiantou * falar-lhc.P&Wdo na Sca facilitou com as moftras de

mt&m mifeHis do povo a que fc de.

claraffL com individuação aSgg^gSgtim, ás circunftancias que concorrerão as

forças em que eftribavaó,& todos ornatos

doVagréflorts, fabtndo-os aVcngnar coma

v/ 4

*rte de fingir taó rara fingeleza nas perguntas i

que mais parcceo curioíidade de particularquefentia com dormayor asdefordens doque Miniftro que Jc enformava da origemdos delitos,

&

.

Á87 Acabava deinteyrárfe com miudeza

dasqualidadesdagente, ares,& clima, quan-do chegou Jacinto de Moraes Rego foldadofeceranodeiVianna de Foz de Lima comoflual nas guerras contra Caítella tinha milita,do nas Campanhas fja Beyra : como feu VJjlorS>tinha dada a conhecer digno d* eftimaçaõ,quçmp dcfmerecia pelo naícimento , lhe fa-louOomes Freyre,çorn aquelle agrado, comque feu eftyllp coítumava tratar todo* os ho«inens, que pródigos da yida feipoíhavaófóda honra avaros,

88 Pa(Fados os primeyros comprimen-tps, cm que recordando fe com faudadçs osPerigos

, contarão alguns dos fucceflbs dag

íí

Cr? 'C diíre^cinto dc Moraes

, que tir

? d£° bufcar5 porque no Maranhão traziapum hlho

, irmãos , & outros parentes, que

Jupjoito lhe afíjrrnavaõ naó favoreciaõ a par-te (to revellados, o naó defacompanhavaóçuyc%dos

; porque em hum povo alterado.» mpfe havia perigos que temer , ou que ex-perimentar

, mayorrnente naquella repupli*ca ern que ospeyores eráoos que manda vaõf

icm

DeÂndradaJLPart.LiML iif: »

m conhecerem outro fupenor a que obede-

r mais que às teys do ft u apetite,& que del-

refado o império da nzaó , nem os judos le

«rntariáo de culpa, nero osinnocentes do

^g60

Gomes Frcyre que cuydava em a-

>roveytar todas as occafioens ,que felhe re-,

.refentavaó úteis, a melhorar o partido Real,

1gemia opprimido debayxo doimperrodos

jantados fcuja tyrannm dominava abfolu-

a na cabeça do Eftado , lhe refpondeo ;fol-

iaria le viflim de vagar ,para praticarem na-

quella matéria com a madureza, que pedia

(ua gravidade, Aflim fe defpcdrrao hum a

tratar de feus requerimentos , o ourro das ne-

gociacoens , a que já as horas o chamavao. ,

oo Nofeguintedia foy Jacuito^de Mo-

raes bufear o Governador.queo recebeo coifl

affeí&s de companheyro. & lathma de po-

bre : deteve-íe hum pouco na relação deieus

trabalhos : depois que a paz os feparara ,re-

ferindo que tinha confumido cmefperanças

na Corte os bens que lhe fobrarao dos gai-

tos das Campanhas, que andava jataoen-

faftiado de fazer correzias aos Mimftros

,

fem rcfponderetn os defpachos a (eus re-

querimentos ,que fe contententava com hum

paó atempo, mas que nem efle defgraçado

prçmiochfgava a alcançar feu merecimento,

ir8 WiâieGptHtsftèjrtque nafeendo honrado.Sc naõdcfmerecendopor íuas obras afottunt de feus mavores , íéachava- tio falto de rticyos para fuítentar ntvida o cftado de pefíba , que lhe feria necçffa-

rio ir mendigar entre oseftranhos, por nsõinfamar a pátria de cruel culpada nos víciosde ingrata.

91 Gomes Freyreque na6 fabia perder :

inítancc,kjue naõaproveytafle cm comereearinftrumentos

, com que enfraquecidas as For»ças dos contrários cngrofíar feu poder , ven-do que naquelle homem levava hum grandefoccorro ao Maranhão, porvir afervir-lheaos intentos, que logo nos dirá a hiftoría,

depois de o confolàr na dor, quemoftravada patria.cm cujo beneficio empobrecera , otrazer menos fatisfeyto, entrou a perfuadir*lhe, paíTaíTe na fua companhia ao Brafil , on-decom novos ferviços melhoraria fua forte,

poderia valer aos leus quahtfo*fe achafíêmculpados na alteração dolEftado ; porqueemendado o erro a terripo fe izcarariaô docaftigo, fazcndo-<e naõ fó beneméritos doperdão , mas acrèdores de premio.

92. Jacinto de Moraes , a à,ucm a meíraarvxrflidadc , que lhe havia abatido os brios,

lhe tinha dcyxado ainda mayoraurbmidade,Vendo que a piedade de Gomes Frey rc o con-vidava para cmcrèfics na Atnerica fem gaftos

na

ih

j)tJfnirddaTLPart.Lib.TL g*t iornada , fe rendeo grato ao beneficio com

íS&w&res^mwiftnçoens de obriga-

lo confiflaô em quefagorao deveremos ft,

lendoTdefpezasda viagem àcufta dos orde-

iadosdo Governador : liberahdade que ai-

euns taxáraó demafia. como fe nçfta falta nao

Rm a ateftar, eraóneHe melhores os vi-

cios.queemoutrosasvHmdes.emcuioselo.

gIosnosnaódetemo3 aquipor n^ps^amarí

f 1íloriaadarrelaçãodotrab ílh^nut 1l com

que procurava adiantar a expedição dos ne-

gócios,que pararão acc.dentes . tntropecidos

OS

9

M5

Ín

*mquamo^Rey afliftio naCortc

foral ascoulas do Maranhão correndo feu

curlo com adireytura.que pediaa neceffida,

de em que fe achava aquelle Eftado, cuja»

miferias ouvia a human.dadexom laft ma,

chorava com dor. Chegou a fcfta doNatalde

n,irfeiscentosoytenta& quatro ; em que te

f&dosaostríbumes vagão osMiniftrosno

ócioem reverencia de tanto myfteno : pan-dos os primcyros dias de Janeyro refolveo

ElRev rctirar-fe a Salvaterra, onde mai-

Verfaô da caca procurava aliviartepor algum

tempo.a moletlia dos negocios.qucomziao,

ou cançado pelo pexo , oupela multidão op-

P,!u! °Naaufcncia da Mageftade. aindaque

yy ocuy-

2zo Fida dê Gomes Freyre°cuydado de Gomes Frcyre não perdia inf-tante de applicar as diligencias , esfriou muy-*o, ou fe cxtinguio de todo aquclle calor acti-vo

, com que antes Te cxpediaó os Míniftros,faltando-lhe a influencia nadiftaneia doÀÍ-tro fuperior,a cuja viíh íe moviaõ promptos.Voltou ElRey à Gorte , & como dos Prínci-pes b.ifta a fombra para créar efpiritos novos,& animar

, ou dar pèsàquelles corpos, 'quetorna coyxos, ou cadaveres a falta da prefen-ça, começarão outra vez as coufas a andarencaminhadas com os fervores do principio.

9? Neftceííado andavão já comrhuytospaílos adiantados , quando a emulação , quepor aley vpfa não íabe , ou por fraca não podeacometer íenáo a treyçaô, disfarçada a invejalios hábitos dapolitíca, começou com novoarçifieio, adefviar aprefteza, creando humeftranho motivo , com que defgoítado o Go-vernador, oobrigafle leu meimo brio, aef-cufarfedaoccupaçaó.ou fe fugeytaíTea accyvtar o cargo com menos fatisfaçaó da Peíjba.

96 Como o vicio da Inveja hc monftrofobre horrendo pelo feytio , de mtureza taõáftuto, que creado o corpo fantaílico pornão cfpantnr com o femblanre ,com eftranhascores íimula o rofto efeondido debayxo , hu-tnas vezes , do veo de Religião, outras à íbm-èrada rrrafeara dolmperio,artes£om que che-

gou

DtAnâraà<ill?*rt.nb.lL 221

»n aconfeguir alguns effeytos, que ainda

ue não perturbação de todo.aballarao aquel-

Lrande^oração, acoftumado afofrer def-

cuvdos.masnaóatolcraraffrontas. .

07 Mas como aquellc aborto da politica

nafeido para çícandalo da human.d^de ,ain-

da que por fora vifta o habito debelo noffl.

ge adulterado, le deyx, conhecer, que não'

profefla de virtude mais que humafalfaap.

parencia , foy fácil de penetrar-fe o Vicio,

com que introduzido ó pnmeyro engano,

pertendia com legando desbaratar todo o

edifício, que lavrado com fuor.femoftravaja

levantado em grádealtura fobre oscimemos.

Daremos relação docafo callados os agreflo-

res, beneficio, com que viremos a poupar-

lhesmpofteridadeainiuria.pelafaltadpco-

nhecimento, pois que femoftjníadahiftona

naó podemos deyxarlhe osarlèaos , comos

nomes efquecidos, ou fepultados no íilen-

cio'

08 Deu-fc noticia aGomes Freyre que

EIRey fogeytando feu parecer ao juízo de

alguns eftadiftas , que difeorrendonamemo-

riacom affeâos differentes , reprefentarao os

daribs , que refultavao dos exemplos ,em q le

abria húa porta paraa ambiçãodemuytos en-

trar em novas pertençoens commoleltw da

Hageft#igWal à deFpô» da fazenda Reg,

«2 Vida de Gomes Freyre

&fmo menos prejuízo dos beneméritos fu-premidos por haver de ocícupar hum fó ho-jmem os lugares, em que dous íe acomodavãoà vontade , razoens a que deu tanta alma ajefficacia com quer perfuadião

; que obrigarãoa crer felhe negava" o poftd de Tenente Ge-neral, compenfando-feefta falta com a mer-cê de mil cruzados de íobreíoldo, o tempoque decido no governo vicíle a tardar na jor-nada.

99 Gomes Freyre que penetrava comvifta mais aguda que aquella mercê tendo degrande no vulto a apparencia.lhe faltava ovalor intrinft co, porque não levando a oceu-pagão de Governador por mais dias que os

çaxados a focegar o Eíhdo do Maranhao,on-de hia a lervir, & não a enriquecer , voltandoao Reyno pobrejhe feria precifo andar men-digo de defpaçhos pelas portas dos Miniftro?*

entrando cm noyps requerimentos , & comoceifava a neceflidade da peííba* ouvidas fua»

vozes , fenaõ menos attenojdos feus mereci-

fticntos.

i oo Depois de gaitar tempo neftas con-fideraçoen? , como cites avifos yinhaõ trari-

dos por peflbas, que os affeâos parçiaes faihè

fufpeyrofas, $c yiyia já defconíiado com a

experiência de outros cafos ; certo de que os

entereflados no íeu defeomodp % alterados al-

guns

De Anàrââá lI.P4rtd.ibJL «$runs accidentes intrcpretravão as ímençoens

oberanas : fera defcobrir o fentimento , vei-

ido nas armas da paciênciacomo parte pnn-

•ipai do valor . rcfpondco com moderação

íara que n^ prefençada Mageftade exporia as

(iiasrazoens, porque quena ouvir fetaoei-

[ranho vaticínio erão vozes daquelle Orácu-

lo , ou mentidas pekboca de alguma dasef-

tauias que arrimadas às paredes , ouadorna-

váo o templo, ou enfeytaváo o trono, ou ie

as fingião osMiniftros que com mais reveren-

te culto adorando de mais próximo o ídolo

incenfavãooaltar.

ipi Ouvidas cilas ultimas palavras fc

perturbou o menfageyro, ou por julgallaa

menos rcfpeyto.ou porque ie achava culpa-

do, refpondco que huma moleftia embarga-

va a ÈIRcy o faltar portrasello hum deflu-

xo indifpofto , Gomes Freyrc que obferva-

va não menos asrazoens, que olemblaate,

confirmada a lua opinião nas dificuldades

comqueprocurayão defviarihc a audiência,

acerefeentou . que como não pértxxidia o que

fc lhe dava, não podia dar reporta femavih

tarfe com ofoberano que o predeftinara.por-

que pendia 4e fallarem particulares que paf-

fárào entre ambos, Scqueosfegredos quefe

tratav^o comos Príncipes crio myítcno q fe

«tá tfTfito ^ffl*W profenadoo fa-

224 fiida de Gomes Fnjregrado fe comettefie facrilegio.

102 Alterou- fe oEnviado com eftaníci-

ma refolução de Gomes Frcyre, dizendo- lhevifie como fallava com hum Miniftro dosèrirrjeyros da Magcftade ; mas aquelle Fidal-go que livrava násmáos a vida, nodefente-reffe a hberdade, fem ainda deyxar pertur-

baríe, lhe tornou muy defaíTombrado, que

e<candnlifado de alguns Miniftros não queriafalíar fe não com E!Rcy,de cuja pratica eípe-

rava fe defcobrifllm os agreíTorçs, que atre-

vidos em feu mefrno delito culpaváo ainno-cencia da Mageftade.

103 Admirado aquelle Miniftro do dc£*afogo , com que Gomes Frey re íoltou pala*

vras tão livres, receando paflaíFea mais o ex-

cedo, procurcu moderaljo, mas como aquel*

leCabo da pratica tinha aprendido a politica,

com que fe intentava difuadirlhe air beber

na fonte mais pura a noticia , refpondeo : qtíe

não tinha duvida a fogcytar-íe obediente embeneficio da pátria, mas que havia deierfa-

bendo a cujo império (e rendia; porque fe

ElRey o mandava voluntariamente fe tinha

facrificado em feu Real ferviço, o que nãoíofreria fem averiguar çom certeza fe algummenos attentonproveytando-ie dbftu lado,

não temendo offender tão íoberano refpeyto,

tomada a fombra, lhe fingiaa rozr

104 A-

Dt AndradallTart.Lib.il **ç

104 Aqui chegou a acabar de defenga*-

ir-íe ,ou de offender-fe de todoaquelle Mi-

ftro , paliando logo a Paláciocom a prefla,

jc na dor de aggravado , lhe davão os eíh-

ulos da vingança. Seguio Gomes Frcyre

s me.foios paflos com diffcrentesafftctos, fu-

io nas fuás efpaldas, mas ainda que entrou as

rímeyras portas, todas as outras achou fe-

ladasi porque cílando fenhores delias , ou

semulos, ou feus parciaes , receofos que fe

efcobrifle o engano procurarão com humleímo artificio ,efcondido o Príncipe : dec-

ompor o vaflallo* .

105- Vendo as dificuldade!» de contfaftar

que He padrafto ,que condenanda-o a não

11 ouvido , no filencio lhe fabricava * roiite:

efolveo retirarfe igualmente oílendidovd^

nftrumentos ,& das artes ,com que a tyran*

11a de alguns fubditos vinha a rey nar nos Pa*

acios.Hindoiá adefcer asefeadas fcenéòn*

rou com João Furtado , que fobia a foliei-

ar dependências do feu governo 4e Eivas,

juc oirazião pertendentç. Travarão os dous

:onverfação, pelodifcurfo da pratica veyo

3omçs Freyrc «referir oquedeyxamo* ef-

:rito paffára com aquelie Miniftro .cújaperí

cefikó culpava, dizendo não entendera bem orecado da Mageftade, de quem fabia não al-

terava humdclpacho queajuftado antes Ew>

_

t%6 Pidâ, de Gomes Frtyre

ra publico a mcfmafacilidndeLcom que U•cbbccdeo. João Furtado que ou íc achaíiil

aindacom as lendas frefeas de femelhunte re

vez , ou que o receaffe , lhe rcfpondeo : que c

peor ordinariamente era certo, ÔCqueíensc•Impara o Maranhão , ou fe enterrava , ou íl

perdia.

«; 106 Gomes Frcyre que defprefados oi

j«mer*fTes eftimava em mais a honra do que í

ôrida^ lhe tornou que antes quem aopiniac

?no tumulo ,que o deferedito no trorto,qu<

ie a patriaem <rujabciteíicio muytas vestes f<

arrifcàra ingrata, o pfivaíle dospremioS meretidos nasoeeafiôensdtí tantoyannosdefer,viço,que fccorífolamem fua áefgraça corr

aforjtuna de Scipiáo Africano,- aofuem Ro'^na^relgatada a liberdade pelo feu -braç^, negou no Capitólio eftatuja , <^ue depois lhe la

víou todo o mundoy acabando'viíifenéo n<

Afterro, a que o condenou, corri*á priva!

xhs cinzas de tão illuftre filho> ^uecorntãt

relaro exemplo bemíft^odi* r^ccbeYí, ^6u <:

saftigo comofavor^tou o desfavorcorno mi4EQO. Oh v.'í

107 Em quanto eftasjra^oens paflavãc

fóia chegarão dentro tãd adulterarás as qu<

Gomes Freyte ti^há dado áquelleMiniftro

que fe repetirão na prefença daMagcftad<

Sreftida* de furtaçores > aparecendo tãòdêffor

Ve AnàraàaILP*rUhêIl «7>rmes , reprefentadas na imagem de defcom*

>fiçáo,queaíua fealdade fexmudaf todos

i baftidore* de Palácio , onde *mre alguns

aflentou que para tamanho delito era mo-

eradocaftigoodeílerro da índia por toda a

ida #& como na náo Santa Clara * que feef-

iva aparelhando para partir naquella mon*

ao , le mandaffe lavrar hum camarote eípe-

ialpafeceo aojuizo da Corte, & fedivul-

;ou com fentiinentos differentes , que era a*

(ofcnto em que agafalhado fe hoipedafíe

quclk Fidalgo.

108 Vulgafifadá efta noticia fe ouviò

:om dor dos amigo$ , dos neutraes com íafti*

na,ôc fófeftejadadosoppoílos *quecelebrá-i

•ão corno forttína fua fa defgraça daquelje

Cabo, de cujos merecimentos, que parecerás

nayorts à vifta do infortúnio, falavão commenção oshomens # culpando a men^s gra-

tidão da pati ia* em que fobrando hum deffcy-

toarrifear a memoria do fangue derramado

pela fua Uberdade, não baftára de tantos fer*

viçosa ficar para o perdão a lembrança.'

1Ó9 Neftes dileurfos paflava intertidaa

ccioíidade da Corte, quando Francifco Ma-

lheyrode Mello Alçayde mor defonteyfa*

& Comendador de Lanhofo na Ordem de

Chrifto cuia Cafa ,& Alcaydaria paflbu por

herança à familiadosLeytes de nobreza tão

F % %nr

^*8 Fiiãâe Gomes Freyreantiga, jantes de Portugal fci Rcyno temoidelia noticia, confervada hoje em feufobri-nbo António Leyte Malhcyro Comcndadoíde Villa Franca de Xira. Como a authonda-dcqueaquelle Miniftro gofava nouitramaionde era Concelheyro lhe fazia cfpccial lu-gar, & pelozello com que empenhado o ref-peyco da pefloa em beneficio da Coroa eramuy aceyto à Mageftade , doendo-fc da fortede Gomes Freyre, com quem profeflava ef

txrey ta amifade , averiguada com individuaição a verdade do cafo , refolvcofallar a El-Rey na matéria ,em cuja prefença reprefen-tou fielmente todas as razoem,& acrefer ntoualgumas circunftancias , não pouco aggra-vantes, que ofofrimento daquelle Fidalgohavia tolerado com paciência demafiad*, por-que ainda que penetrara o fim com que aemulação , oua politica as inventava à as dey-xára fempre ao filencio por não malquiftar osmefmos que oirritavaó procurando-lhe noprecipício , ou aqueda , ou a rtiina , em bene*ficio de outro Cabo , que a experiência tinhamolhado, ou menos proporcionado aquellaoceupação , ou para os cargos Marciaes inha-vcl.

mo Ouvio EIRey attento a larga rela-ção daquelle Concelheyro, & como à ver-dade lbcQão h,cncccffanggufj*agalla auea

DeArtdraàallP*rt.Li1>ff> n*fevtcmaisquefuanudcz. adorno femartc

mquTfefaz aceyta, recebido o .nteyro

edito, que lhe gíangeava fua naturalfe -

ofura ficou aquelle Pnnopc comdita a

uzaó admirando, não como finB"* .??"-

3 queabrafadopadeceoomundoMi íodia,

ue os affcdos obrigarão aApolono Império

os Aftrosa fiar de Faetonte , no governo das

•deas, aobedicneia doscavallos, que tira-

áopelo carro do Sol. Naó menos notou o

trevimento de reprefcntarem a folhoserdadeyro, oque fe.fabuhza dePromoteo,

,ue roubando o fogo no Cco,pertendeucan -

nar ;porque eráo fuás , humas creaturas, que

úopaflaváo deeftatuas, queymando como

:roncos inuteis.outras que ja eráo homens.

1 ii Reprchendidos com efta leve de-

monftracão os malaffcãos ,procurou darlhe

caftigo mayor no tratamento dtGomest rey-

re, que mandou vir à fua pretença, onde

achou nos agrados da Maçeftade agafalho

mais que ordinário , afirmando diante de to-

dos, como (atisfaçáo nos Príncipes raras ve-

res encontrada , que pelo penfamento lhe nío

paliara tirarlhe a retenção do pofto, qucU»

nosloldos fallára, por entender encontrava

o eftvllo do Reyno cobrar dousdi verfos que

não duvidada os recebeffe ambos, como hum

íó ordenado; porque affim ,nem fazia exem-

P 3pio»

$$o VidadeGomesFreyrêÍúo , nem ficava defraudado , & por fcefeu'

arem outras defordens dos meníageyros a-dultararem os avilos por não entenderem, oupor interpretrarem os rçcados , que fe lhe en*comendavão , determinava , que todos os ne-gócios que tocaffe ao Maranhão correflempor via differente, (inalando Miniftro de cu-ja intelligencia fiava, íemoveíllm ascoufasfem tropejo

, que as empediíle , ou embaraçoqueasdetiveíle.

fix Com efta refoluçáo daMageftade,chegou em breves dias aexpedição a termosde cuydaríe na gente paga, que havia dcíer-vir àempreza. Na Secretaria onde fe fazia aIma,& fácil a penna militava fem perjgo , deencontrar oppoftos os fios.da efpada , redu-2140 o numero dos foldados a cento & cincoenta homens de armas. Como Gomes Fiey-re levava por inftruçaó tomar a Ilha de CaboVerde de ares menos falutiferos , refpondco;que havendo de demandar aquella terra, porinfluencia dos Aftros , ou qualidades oceultasdoentia .chegaria com os filhos de |ua âiCci-plina, fobre deminuidos, huns <«fcrmos, ou-trosgaftos dos trabalhos domar, que lendotao poucos não bailarião

, para que os refpey.íaílcrn os moradores, nem para a autoridade4o Capitão General.u j AfliftiaaodcfpachopormoJeftia do

ou iro.

_DeAnàtahíl^mt.lAMy Jgei

«tro a que eftava cometida aquella expedi-:

foque lheiobravade parcial , nao poden

?o oceultar oachaque def^SSSSWxonado, «fpondeo. que oGovcrmdoj

íuedefobedecido no Maranhão, fe achava

curado no Pará, tinha av.fado ,que cop

cento , & cincoenta combatentes tomamaCidade de Saó Lu* , ?^^£.££tio iieevro foccorco a reduzir a obediência os

namSLftranhos. dequeetáo ajudados

com armas auxiliares* . , ,

?i4 Gomes Freyrea 4gu>^»g*confiado apolítica Jaquclle Min.ftro, jftg

mulado da obftinaçáo . com que porfiava, ou

5 feuodio, ou a.nda fuadefafleyçio tomado

ilgum fogo ainda que lento, herefpondeo

qSeFrLiicxideSàfeatrevia aconquiftar

2om tão poucos aquella meíma praça qu £-

de ou não foube confervar na paz quecllea

red.iz.na com a terceyra parte: depo» po.

moftraràa hiftoria .vaticínio verdadeyro.et-

te incei '.oprefagio, jvjjj,.

ur Dclempachadoaquelle negocio dos

conmpezos que o demoraváo, começarão

a chegar a Gomes Freyre algumas notiaas

pclSkiaes que affift.áo àcarga dasnao ,

' que fe apreftaváo para o Maranhão ,que nei-

las fe embarçavaó alguns mantimentos ma

?'J* ViàaiéGmttFnmacondicionados, & outros já corruptos &que o meímo defcuydo do fuílento ufadocom os íac* alcançava ao remédio dos enfer-mos

,a que o mar , & o tempo tinha , ou iádanado, ou perdido a força, por ferem os

que haviao fobrado das nàos de guerra aca-bados os dias de feu regimento, fe recolhe-rão a invernar naquellc porto.que os meíhes.« as medicinas íe acomodavão no pataxo fi.cando a embarcação do Governador exauftade botica,& de Cirurgioens,

116 Com attenção igual a laftima ouvioCornes Frcyrea^uelleavifo, mas ainda queicnndo admirou o exceíTo , com que faziaobrar adefafeyçáo, em ódio de tantas vidas,iern mais reparo que três dedos de taboa , ex-poftos as miferias da doença,& da fome, nemJjas palavras, nem no rofto de u demonfti açâodaoftenfa

, lo reípondeoao mcnfaeeyro, queate donde podcíTe chegar a fua frenda fc nãoiiavia de q ueyxar,que a caufa era de Dcos,queo Ceo a deffenderia,

ii 7 Mas porque aquelle Cabo , não fia.va de todos os fubditos , a fé taõ robufta co-mo cm fí a creàra fua reíignaçnó , fem repararcm dcípezas mandou à fua cuíta prover asnãos com tanta abundância, que gaíb.ndo-íenp mar fem taxa , ou medida, como não pou-pa va para negociar com osfobejos, do que

fo*

De Andrade ILPart.Ltb.II. v&(obrou da matalotagem no fim da jornada,co.

mo depois nos dirá a hiftcria comerceou Go-

mes Frcyrc à vontade da plebe em beneficio

da Mageftade, que foráo iempre os enterefles,

de que nos lugares feengroíTou aqueile Go-

vernador \ zello raras vezes praticado no

mundo, 6c nos o poderamos contar único

que naquellas panes foubeffc, adquenda com

Sinto cuftp a fama , çomprauc tio cara a hon-

ra, virtude que louvarão todos » oexemplo

imitarão poucos.

i iS Vencidas todas as dificuldades ,quc

embaraçavaõ aexpedição, com que 0G0-

vernadof fe queria fazer prompto > foy a cu-

contrar com outra, na opimaó daquelle^aDo

tãoconfideravcl ,quependm fodaqudle ac-

cídenteouconfeguirfefemeílorvos^pazdo

Maranhão, ou acrefeentar com diftcrentes

motivos novas occafiòes de tumultuar aquel-

le povo , a que a izençao fazia abíoluto, a obl-

tinaçaó rebelde.

1 19 Tinha Gomes Freyre , como em

outro lugar deyxaroos ekrito, pedido para

Miniftro da Alçada , hum a que a rctidão fo-

mente fizeffe benemérito daqueile lugar ,co-

mo íc fiafTe a tua eícolha a elleyção ,nomeou

para tão pcrignfaoccupaçaõ, a Manoel Vaz

Nunes anualmente Piovedor da Comarca

de Elvas , de cujo procedimento tinha com a• expe-

*5<f Fida ieGoma Fnyriexperiência adquerido largas noticias»& avi*lado jà do provimento fe eftava aprcftandopara a jornada, quando fe divulgou que (c

çuydava em novo Miniftro , negoceaçaó a

que dava calor o empenho de pçíloas » ou par-

ciaesdaquellelegundopertendcnte, ou op-poftas ao que primeyro íe predeítinara.

120 Ponderarão os encere (Tadós a maté-ria diícorrida com tanta fcgu rança d~* fua par-te, que pareceo folida a apparencia das ra-

zoens, com que apadrinhada fuacaufainten-tavão perfuadirfcomo fe a madureza das cansfofle mais creacura dos annos , do que filha dojuizo) que para julgar vidas, Scfazendaseradcfproporcionado hum homem » a que ospoucos lugares naõ davaõ rcfpeyto , nem ex-periência, mayormente havendo defenten-ccar com adjuntos de porfiçaó alhcya das

lcys, dos rnbunacs cftranhos.

ii 1 Introduzida efta pratica que naódefagradou pelo apparato , com que a ornoudifercta a politica , vertida nas cores de zelo,

quche o metal com que ie doura o copo emquedos Príncipes feda a beber disfarçado oveneno de que vem a morrer, ouacnkrmaros eflado*

; paliou logo a adulação arontaroutro jà Togado, oue inculcava digno da*

quelle lugar pela reverencia das cans, ainda

mais por ter aprendido cm outros cafos doultra-

Vi Andrada ILPM.Ltb.IL 2|ft

iltramar,donde havia pouco tinha chegado,

£ SSà mó eftr.nh.ria « chma da Aon nca,

fem a tromcntas doOcce.no,^W&radoque em hum perigo lhe obedec.aoMventos, 8c .sondas, em outro os ares

. & as

eftSS

*Attento ,& admirado ouvio Gome,

Freyre as eftranhas artes com que ovioo«

Corteempenhado mtent.va favorecer a hnm

Miniftro com in una de outro ,tazendo da

m ima efc.da pJoodc efc defera1

p-tggj

do firme degraopara fobir aquelle ,acabou

dcapumfcle a paciência ,8ccomo enten-

deffeque ao fofrimento era modeíha doma-

fiada, rTfolveo fali» a ElRey na confidera-

troredo náoerãQOsentercíres do Governa-

dor , fenaó da Mageftade. ..

iU Naófoymuytooquetardoua.rre-

prefemar naprefènça de ElRey *&***&fua cauia ,

que chegado a P.l«ao expoz

zellofo.defièndeo conftante. Gomo achafle

iá fáceis aqu lias meimas porcas, queourr»

vezes a emuilaçaó lhe fechara, falou nefta

fuftancia:Naó venho a repetir; porquea ex- „

periencia tem muyto melhor moftrado,,

auanto defpre^e y fempre os meus interelles „

em beneficio da pátria:Derramey o fangue, „

amlquey a vida, confumi os bensna guer - „

1

1

136 fida ie Gomes&wt„ ra , cm c»ja efcolla aprendi menino 1 difew„ plina Marcial , em que robufto crelci ho~„niem , curfey todos os perigos das campa-inhas, creado deíde o berço entre as lanças,

„ raolquetcs ,& arcabuzes , fem temer os pe-

„ louros de huns , nem os ferros das outras,

„ naómclrvando outra conveniência atin-

ai tos trabalhos , mais que o brio de fuftentar„com as mãos a coroa na cabeça de Príncipe

„ natural. Vcftidas as armas cúydey cm me-„drar na honra, naõ nos cabedaes

, porque„dos inimigos eftimey fempre menos os def-„pojos que a vitoria, bufeando tirarlhe o ian-

„ gue, naó as riquezas, dosnoílbs invejey as

„ feridas , não os thefouros. Na paz que nos

tí embainhou aefpada também menãopou-„ pey fenão aquellesannos, que violentome„quiz ter vago no ócio a Magcftade , de cuja

„ liberal maó, para quefoílem mayorcs, re-

s> cebi, fem os procurar, prémios íupenores

„ a meus merecimentos , & ainda agora fe eí-

„ tá vendo afFêófco no que fia de mim ncírc,, emprego, antepondo-me que o reíiília a

|f muytos, que o íolecitavaõ beneméritos„dc mayorcs deípachos. Dey efta breve

„ noticia do muyto que a Real grandeza„me tem feyto venturofo , para que fay-

„ba o mundo que me lembro dos benefi-

;» cios, quando venho aqueyxarme j porquenao

DtÀndradalLPart.LihJL *17

aaõ poffo remediar asfaltas do Mimftro da „

Meada que parcial na gloria,& nos perigos„ne ha de íer companheyro nos trabalhos,,,

nem tambem iabercy tolerar fe vir, que me- $

nos obfervante dasleys, obra em dano da,,

Religia6,ou do Imperio^porque para a det- „

fenfa de hum fó foldado,para a da outra Ca- ,f

tholico. ,.„' "

ia4 Acabado efte largo difeurfo, entrou

cm nova pratica dizendo : que a caufa era de i9

Òeos , & da Mageftade ,que ou fe lhe defle „

Miniftro aquelle que antes ie nomeara, ou „

outro equivalente ,porque hum que lhe af- ; f

firmavãoi f inculcava para aquella oceupa- „cão , reconhecia digno de raayor lugar, que ,;

omòregeYtavapordeíproporcionadopara,;

o cargo, fenaó porque fe laftimava tanto,;

de que featrazaffe, que naô iofrena, que,,

foíTe a feu lado tão pouco premeado hum,;

homem de tantos merccimento9,que aquel-,;

Ie Defembargador vinha cançado de trnba- „lhar muyto ,& que de juftiça 1c lhe devia „era tribunal , cm que gozafle em iocego, os„

frutos que pelas outras partes, ou femear*, ,f

ou colhera ,. que para o cílado , «em que fe „achava o Maranhão, naõ fervia quem fo„

pertendia acomodarfe com defpacho , fem,,

procurar adiantamento. %$

IH MojíCcçrcícnt^acíU praticahum

*

?3 8 Wàa de Goms Freyniios mais empenhados na cleyçaó daquelle

novo Mini ftro, que fe predeftinava para los

perigos daqui lia empreza, todo o difeurfo

4x> tempo que Gemes Freyrc gaftou afallar,

o que deyxnmos rtfi rido , oceupou aqucllc

Fidalgo em o medir com os olhos , não fey íc

adm; rado da c ftatura ^íe da grandeza do cort-

,çáo, vindo Hfamenteaconfcflar depoisquerpara tamanhos

;

efpiritos ainda era esfera pe-

quena o avultado daque lie corpo, aííim foubeçdefenganados os emulos vencer refoluto, aos

que intentavão precepitailo iriimigos,ou def-

goftaUo parciacá.

tt: 126 EIRty aquém a experiência tinha

fiçnfifiado ozelio , com que Gmnes-Fieyre.fervia a pátria, fem procurar das cm prezas

mais que n honra9dos ricos o nome. Depois

de o ouvir com àttenção^voltadoâos cireunf-

tantes , em que fe «chavão alguns dosoppof-

4oSy-Tompea-fEre palavras, que íem truncar

rhurna , repetiremos com aíingelcza, que as

achámos apontadas cui memorias daquelle

tempo*1x7 Se Gomes Freyre pàT me fervir a-

trorellaof|ofto,aniieaavidav deyxÁ acafa,

& filhos, Êc gafta os beris móArando íua

izenção que naó bufea aprovcyta* para fí dos

lugares mais aue aquella parte qac offerecem

paratft€rcccrafamâ> deípipefeda apoíttqucabrem

VejíndradalLPArt.LiUL 239

*brem para lucrados os eotereffes, engroflac

nos artxdaes, fceu eftou nao To vendo de

longe , mas com as mãos palpando cila verda-,

<fc , com que razão poderia fcradeyxallo ag-

ravado } negar o que me pede, nao mais que

para me íatistoer melhor , ouquejufto mo-

tivo me poderia perfuadir a d*igofar tao fiel

vaíTallo, fem vir na menor gratidão a hcar

culpada não fóa peffoa, mas a Mageftade.

ix8 Depois de arguir aos circunítantes

com efta demottftraçáo ,que reprel ntou íc-

vero L voiiado*Gomet Freyre concirno ,o>

zendo: qt* havitdeiêrMiniftro da Alçada

©Doutor Manoel Vaz Nunes, & como íe

acrMÍTeprefente oSecretar4o por onde cor-

riaõ os negócios do Maranhão, lhe mandou,

paffafle ordens paraque vieffe apreft iríe, que

em..qimwfezha jornada para a-Corte ietne,

-conferifle o áefpacho-, porque nem huma no-

ra queria eftivcfíe folicito na efperança d»

nwcè. n -'K c 1\K

149 Acabado aquellc negocio -ficou bl-

ReValgumefpço detido a p«*gimtara Go-

^esFrcytfe felhe occorria advertir alguma

Sircunltancia ,que vieffe a fevir em utdtda-

dedoEftado, õUquepodeífe ajudar aCon-

quifta feusiúbditss delle, como fe receava,

tomaflem *s armas para a deffenfa ou afua

mt U «hcgaífem a fogeytarfe voluntários;

L ^ que

:?

4

o Vtàa de Gomes Freyre

que lhe encomendava procurafTe com todas

as forças rcduzillos frm guerra; porque dosvaflal los queria a obediência , não o Tangue.

igo Gomes Freyre que iem querer in-

tremtterfe a dar parecer nem aconíelhar , oufoíle izençáo do génio , ou reccyo do perigoque alcança aos que praticaõ arbítrios novos,Com o rjfco de não refponder depois o fuecef-

fo ao penfamento. Vendo-le rogado para di-

„2er o que entendia , rcfpondeo : que tinha

~„obftrvadocom maduro juizo^ quemuytis

5»emprez3S grandes^que tepbdei ão confeguir

^faceisjmorriáo na obediência pe§dido o fey-

„ tio, com que haviaõ de acabar/e, fe afo-

„geyção aospreceytos fupehorcs deyxaflc

„ obrar os inftrumcntos, que as occaíioens da

„paz ,& na guerra çrap osraeUaore$ meílres

„ para a execução ; que o valor com as mãos„ atadas ficava mais proporcionado para o fa-

^crificio, do que para o triunfo; quemuy

,, pouco emportaria o entendimento de hum„ Governador promptP para conhecer os pe-

l(rigos , fc lhe faltafle a liberdade para apph-

t , car o» meyos , com que ojh&Via de evitar,

J(que lhe ferviria a lua actividade naó mats

„que para fentirmais, ou para doeríe mais

9I tempo; que fe os Capitaens Gcneraes , &„ ainda os íubalternos naó levaffcm licença

.vparaoudifpcnfar nosçafos, ou imerpretrar

VtAnàrààalimt.hMl 241

5 ky.s ,que não comprehendem todos , vi- £

iaó entre muytos erros tem culpa , a ter ai- 44

um acerto por fortuna mais que por ra- l#

ao,quenadiftancia feviaò melhor os ma-,,

*s que os remédios \que fe fizeílem homens ré

rara os lugares , & fe fokaffem os lugares a#f

ffts homens, porque fe amarrados a dita^ fás

ne alheyo haviaò de ir a fazer fomente o ,,

iue outros lhe ordenafiem , naó feria neeef. M

àrio ctcolher*fe para os governos das ar- „

nas, dos Eíhdos,das Províncias,& das pra-u;as toldados, que fbubeíTem mandar * fc„

ião Religtofos, que profeíTaíTem obedecer, M131 PaíTou logo com novas razoeris a

incorrer; que pelo que tinha alcançado das

míftucoens , que fe eftavaõ paffando , lhe pa-

recia que fe fofle amarrado aellásiouhiriaa

ler vi&imaao Maranhão , offerecido nas aras

dalcrueldade daquelle povo rebelde ,ou dor

bárbaros que acelerados , o ajudavaõ auxi-

liares, ou voltaria a Portugal tem a honras

que procurava comercear à troco dospcri-»

gosi porque nem viria a confeguir oque in*

tentava^ Mageftade, nem chegaria a lograr:

o que defejava em beneficio daquelkÊftadcv

quefelhepremitivTe obrar com liberdade ,&fe demafiado ufafle mal dos poderes, para

Reyno havia de trazer a cabeça, aonde fobr^

yao verdugos ,& cadaralfos , & le fccabaffe n*

2$* Vida de Gomes Freyre

America longe da patri i,em que nafcéra,duas

yczes vinha no deílerro a ficar caftigada íua

culpa , huma no delito , que a infamava , ou»

tra em jazer privado da iepultura de feus ma-yores.

i %z Pcdio depois fe pondcrafle, que as

noticias do Maranhão vinhão de muy longe,

que paflavaóa-linha onde tudo referido pade-

cia mudanças , & fe rereriáo na Corte , naó fó

por procuradores 'apayxonados , a cuja dif*

criçaõ corriaó trocados os veftidos , mudadas

as cores, mas contadas pela relação de peílbas

parciaes,que <rnfeytayaô a feu modo os acci-

dentes de que pendia afuítancia dos cafos,

que fendo nuns mefmos fc da vão a ler em vá-

rios eferitos com taõdi verias drcunftandlas,

que os dehúa penna pareciaõem outra acon*

tecimentosdifferentes, porque cada humafu-

premia, ouacrefeent^va o que fazia mais ao

negocio da fua conveniência , ôtquando che-

gavão a palácio os avifos de hum fueceflb ef-

tranho, entravaõ táo desfigurados, na boca

dos que procuravão menos fervirdefcntere£

fados, do que medrar lilbngeyros, cjfke a pe-

nas ledcyxavaó ver pelas eipaldas afombra

do que toy, pela arte , com que a politica de

naó dcfgoílar os Principes , ou efeonde parte,

ou cobre toda a cara da verdade : fazendo que

expofta aos olhos da Mogcítade contrafey

M

Dê 4#4fada lIJRart.tib.II. híivenha a ficar mais fea pela fermofura, do

uepela deformidade, que foquem fe pe*

Ulem todas aquellasrazoens,ôc depois íelhe

ene forma , com que le naô vieffe a perdei

iiuil o trabalho* as defpezas infrutíferas*:

121 EIRey depois de ouvir alterno* ad*

lirandtt a madureza do juizo * refponded

,uo ,s ordens que fepaffayâo era inftruçãd

.idinaria, que geralmente fedava átodosos

governadores Idas Conquiftas , que de mais

laqucllàs havia de levar outras eípeciaes é que

he deyxaffem taó livre o arbítrio* que obraÇ-

e independente de mais rccurfd *que áofeii

súzo í& corri effeyto fe lhe entregarão cora

i recomendação de que eftiVeíTem ctafegre*

lo , atd que as náos teVaritadò o ferro íaniflern

fora da barrainas quaes fe lhe deu , com po-

deres mayores iliberdade para fe haver rias

Dccafioens como o enfinafle o tempo * ou os

cafos; £ ^134 Não fe defcuydava Gomes Freyré

de iblicitar todos osmeyos deconfeguir a

reíhuraçáo daquelle Eftado ,queouçra Vex

hia a crear de novo, tornado ao berço da obe*

diencia, depois de encanecido na fogeyçaõ d«

Rey natural, Defcorria todos os caminhos

de ntgociarcom tuavidadeapaz * ou decon*

cluir fem perigos a guerra dos amotinados;

Mas como 4o Maranhão atè QsAftrps nien^

Í44 VtàadeGomèsFrèjàtem,& os Mapas fabuhzaõ, andava fcmpreircaça de noticias, fem lhe fer fácil alcançar

áquellas informaçoens exa&asque lhedey-

xaífem livre de folpeyta a verdade, ou por

demaiiadamentedeminutoSjOU pelas lobras

tle encarecidas.

155* Neftes cuydados gaftava todas

aqucllas horas,que feriava às outras oceupa-

çoens,&como do crato vieíTe adivulgaríea

humanidade , tom que comunicava os ho«

rriens , chegarão algumas peíloas a falar-lhe

a

refpeytode parentes ou amigos, que por 00caliaó de comercio viviaõ naquellas partes.

Depois de ouvir a todos benigno ,afravel os

convidava a parlarem na iua companhia a-

quelleEítado , fem outra de ípeza, mais que

o leve trabalho da jornada, efeu farão- fe al-

guns delculpados com coufaSjuítificadas,ou-

trôs vendo que o lifongeavâo , fe refol verác

a embarcar, &vierão depois a ler vir, cora

ftaõ pequena parte , a redução do povo faci

ferh feguira primeyra opinião, oblhnado err

naó querer ceder delia.

156 Deites, que como parentes de ai

guns dos amotinados fe lhe faziaõ menos fof

peytoíòs, íe veyoaproveytar Gomes Freynna chegada do Maranhão mandando-o diant<

adefcobrir menos aterraque os ânimos do:

tnoradores j donde voltarão não ló com as no<

- £ cicia

Dé AnàrâdalIJaruLib.II. Hf,dividuaes do corpo que tinha tomado ameliaó.masdeque deyxavaó apartados a ai-

uns,'muytosWos, & aos que tena.es

•effendérãó fempre a parte da Magcft de

onfirmados na devoção do novo Governa-

br, de cui.s virtudes mformaiao/em que os

izeíle parecer incarecidos os benéficos que

á tinhao recebido , nem os que ainda efpera-

,ão ,& vieráo depois a confeguir como^pre-

mio dos (erviços ,com que foubevao fazei-ie

beneméritos da reputação , com que arama

calados os nomes ,lhes divulgou os br.os

117 Chegarão os vinte dous de Março

demil feiscemos.oytenta & cinco,como ins-

tava o dia da partida , refolyeo o Governador

ir vifit->ra nao.emque havia de fazer v.agem

a primeyra diligencia chegado abordo, roy

mandar voltar o bargantim em torno da em-

barcação, depois de difeorrer por hum. BC

outro coitado, & a ver toda de popa aproa

pela parte defóra: paffou a regiftalla comos

olhos por dentro com tanta miudeza que ine

não ficou curva, ou efcaninho da arca da

bomba atè o convés, nem afllm a verga ,mat-

tro , ou vella que não examinaffe , louvando

os acertos com a mefma advertência, cora

que notados eftranhava os deffeytos ,que in-

troduzira a ignorância ,paflara o defcuydo.

u8 Como das armadas , em que unha\* = "

q^3 inih*

% 4*5 Vida deGornes freyrejmlitado havia a Tua Lunoíidadc alcançado ai.

guma hizdaNautica»depoisdi ponderar comas regras da arte algumas circunftanciasdig-

nas de reparo ; não menos mannheyro quefoldado , voltou para o Capitão dizendo

:

que peja forma em que a carga fc achava ar-

rimada, naó podia aqudíe navjo marearfetão fácil comp o fupunhão , os que nateirofalvos dos perigos riap tenaiaó as tromentâsdo Occeano , na inconftançia das ondas , nemreccavão nas calmarias da linha o jugar dasembaresçoeps paradas , &mpvcjs pp t)anzaçdos marer.

1 39 O Çapitaó , cu acfeando«?fc alcanç>rdo

, pu tendo por injuria fer por p<- floa deoutra porfifiaô advertido çle erros no pfficio,

em que lograva pa autoridade defupenoraVaidade de Meftre , n§o qucrenplp ceder da.

fua opinião , rcipondeo que a carga eftava ar*

rimada em tjío boa fprma,que nem aos ma^

rinheyros para o governo , nem aos fpldadospara a peleja feria de impedimento , muytaipenos para anão fazer viagem com expedi-ção igual à ncceíTidade v detraníportaríe aqgaranhão onde o levaria fem demoras, & qfieyxaria fem riico.

i4Q Gomes Freyre fpfrido procuravapreíuadir melhor com o exemplo , cuydou8 dcyxflria convencido com moftrarlhe o pe-

rendo que * »*ao Pmafiadamente moderadoXC

dXuP--,di,endo que nasduas

j« fm oue embarcara , como rao per-

Kn raTefp ender, com pilotos. & .ua-

Í„hevro3ÍgurimenteperitosScac?utelado,

Modera com menos tempo *diantar-fe tanto

Queila arte, que conheça antes o perigo.

Ko orava evitallo para o náo exper.men-

B£*1 mas vifto náo querer a fua obftt-

SBSâS Iremediar então fem moUf

ff o oue depois náo feria fac.l fem enfado.

fcfiSfe com afua opinião ,que da conta-

Stcceberiac^go »ayor , ao trabalho

I

$4& Vida de Gomes Frtyrêque levemente alli poderá efcuíar, ou commenos curto vencer.

142, Vendo Gomes Freyreque aquellc^apjtao, nao menos pródigo da vida queavaro de trabalhos era da natureza daquêllesque notados na carta os bayxos querem lhêobedeçao os bancos ,& reftingas , ou fe afifai-tem os penedos

j fem deterle voltou para ter-ra acrear nova paciência

, para tolerar no maro abfoluto procedimento daquelle homem acuja djfcíição entregue o governo eh nao,pc-

olemí1*120 k Ú° dC ,0ltar M VC,laS

'rc^

H3 Como a pratica entre Gomes Frcy.'rc, õc o Capitão tinha psfladodiante daco-metiva & marmheyros , não tardarão as pala-vras a chegar a palácio onde repetidas fe ou-virão com obíervação da Magcftade que fa-

.tisfeyto da efeolha encareceo a esfera daquei-JeCabo. Nofeguinte dia que o GovernadortoyaclaraomenagemJhedifleEIRty.coaiaquelle agrado que lhe tinha creadorobuítoou para a gratidão os merecimentos , ou noValqr a íimpatia

, que bem fabia nãõ achara acaía bem arrimada; a que fó refpondeo, pode-ria enganado ajuízo errar odifeurfo ,modef-

%

tia rara com que ainda offendido ioubedef-culpar a falta alheya, politica nova, de que•Mffljraflo, fe pagou unto aquellc Priucipe,

flúej

-

Ve Anâraàa ILPart.htb. II. t&auc a outro coração mais ambiciofo q ue o da-

auclle Fidalgo poderá fó a demonítnção dos

affe&os fobrar por beneficio , bailar por pre*

mio. j

144 Amanhecerão 03 vinte & cinco de

Março dia que a Igreja Catholica coníagra

às memorias daquelle venturoio , em que o

O o inclinado em beneficio doGenevo hu-

mano obrou* oinerTavel myfteno da Encara

nação do Divino Verbo nas entranhas de

Maria SanritTima , em cuja proteção fiado h-

vravaGomes Freyre todas íuas emprc7as,co.

mo debayxo do amparo daqutlla May de

Mifericordia, que venerou fempre advogada,

experimentou protetora , obrfva todas luas

acçoens : depois dedeipedirie de algumas de

íuas Imagens, a que reverencea com mayor

culto devota a piedade da Corte, dcyxando

cuydado aos prezentes , aos amigos fauiades

pardo aembarcar-ie nanaoConceyçao, cm

cujo titulo levara a fua Fé as efperançws cer-

tas, feguros os fueceflos.

14j A- hou-fe EIRey abordo coítume

obfervado da piedade daquelle grande Prín-

cipe , como refpondia com affe&os de Pay,

àquelleamor de filhos, com que os vaíTallos

Portuguczes reverenceaõ a Mageftade de

ieus Monarcas, levava frefeas na memoria,

as rasoens que o Governador tinha paflado

com

MH

ò

Vida de Gomes Freyrê

com o Capitão da nao, vendo que levado fer-

ro, o pano largo fim obediência ao lf me hia

t)nav o íem governo à diferição do vento

,

repetida a 1 37/áo de Gomes Frcyre , 6c a tey,

ma do Capitão, naõ íem moílras da dor queAfie fezerefeer o receyo do pciigo, rompeocm palavras com voz que foraõ ouvidas doscircundantes

,que depois as repetiaó com

-laftima. Deosmedeyxc tornar a ver hum homemtantopara, tudo

j fazendo- o parecer agora nosolhos ào íuperior grandes as virtudes, mayoro riíco.

146 Dtfamarrad •> daquelle porto comow navega (Te em maré , & vento feyto , em bre-

ves horas (efngolfpu. Pafíados poucos dias

amanheceo hum em que com incfperado en-

contro (cachou fotaventeado. dehumanoflafrota que do Brafil vinha a enriquecer oRey-r>o, ao mefmo tempo acometeo huma naoArgelina ao pauxo da conferva do Governa-dor , quedifeorria , ainda que pelo mefmorumo, hum pouco dcfviado da íua eíteyra,

entendendo atracallo para lhe meter Mourosdenfo vintes quefofle fentido , mas comoachaífe folia los , os q iuppunha palbgeyros,

& na difeiplina do Capitão Joaó da Coita

não menos acordo para animar os ícus , doque valor pararefiílir aos inimigos, procu-

rou rcndello cora força defcubeita, &me-jendq

De AnaradallPart.Lib.il *«tendo de ló o foy rodando cm tão pouca dif«

íancia.qu,^ roe-lo conymn.ro çon«

fideraveí de alcancias, granias, & pelou-

ros de cl ,v.na, a que vcfpo.de, ao nofl* ef-

pingardas, & a. telhada, cojcvftronoo aju-

dado dos outros inftrumenos Marciaes ,deu

a primeyra noticiada peleja ao Governador,

oueavádo do perigo pelas Docas de logo,

voltou com preito incnvcl fobre os ba ba-

ros.-xemplo que imitarão os Cabos do Com-

boyo arribando aonde os kvava a opiroao,

chamados do riico, . _ rlr~*liy 'Os Mouros ,

que bufeavaa o defpo-

jo, não a batalha , vendo-fe atUUados de po-

cter fuperior a fúas forças , declinado o golpe

fe cfcufai áo aoconflifto , deyx .nckvnospaf-

fado de huma baila por hUmbrsço.aoA te-

res Thomè da Fonfcca: p.fiarão de vime<oi-

dadosem poffas memorias ftm o nome de que

fouberáo fazer.le dignos ,quclafiimadosdos

colpef, com feu meimo tangue i umeada lua

fama, eíe.cvé.ão a gloria daquelle dia,de-

pois vjeráo alguns, com mats honra que tbr-

luna ,a acabar das fendas. A perda do inimi-

go podemos melhor ajuizalla, do que rcte-

"Í4.8 Quizera Gomes Freyre caftigar

coro mais pefadas máos o atrevimento da-

•guellecof&tio imas vendo-lhe defendia leu

í5 2 Vida de Gomes Freyrêregimento empenhar-íedetido em darlhe ca-ça , houve de rende r-íe o brio , cm beneficiodaobediencia

,que fogeyto a ordens tuperio-

res, não podia exceder, Tem que a culpa dovalar deyxaffe de fer offenfa da difciplina,

que obrigava a feguir Tua viagem, em quefoy difeorrendo com tempos aiperos em de-manda de Cabo Verde, cujas Ilhas tomou emdoze de Abril depois de deOnove dias de jor-nada, foiçado das inftruçoens, que levava daJMageftade.

149 Aqui pelo arridente que referire-ÍRosfe deteve rmiis tempo que oprecifo, adar expedição àquelles negócios, que reco-mendados do Príncipe, o obrigarão a tomaro porto daqueila Ilha , gaftando fc te dias emacodír ao reparo da Almirante da índia

, quechegou arribada a dar fundo naquelle porto,com oiifco deçfcçobrar-íc poi Jiuma agua,que fazia tãogroíla que três bombas conti-nuas não biftaváo a vcncella. Devco-fe a di-ligencia igunl ao trabalho de Gomes Frcyre,que cm pcflba acodio com carpinteyros , ÔCcalafates, não menos afegurança, do que a

prelieza com que ialva do perigo, ifladas ou-tra vez as vellas fe fez na volta do mar.

IJ3 Acabadas de concluir as coufas deCabo Verde com prefteza igual àneceílida*

de que havia de acodir a locegar as alterações

de

De Jndrada lLPart.Lib.il. »1

1

do Maranhão, fem admitir nem hum dia de

defcanço, na manhãa de quinta feyra da ic-

roana Santa mandou levar ferro, depois.*

avizar ao pataxo da fua conférva ,que nial

tura das Canárias tinha defgarrado com hum

temporal ,& depois de diícorrer vago na tro^

menta àdifcrição dos ventos , 8w dos mares

toy a demandar a Villa da Pray a ondfe a Cap

3

taniaeftava furta , mas como achafte os ma-

res verdes ,& o vento rijo pelo olho.nao po-

dendo tomar aqudle porto, em três dias que

errandoa huma ,& outra parte andouTazcn-

dobordos àvifta dabarra,paflou adefeair

com as aguas groflas ^mm»opwxv^idas, h.ndo a entrar orio da Cidade de Cato

Verde dando fundoalgumas legoas d.ltante

do furgidouro , em que a nao do Governado*

fe achava ancorada. '

.

,

i ei Da ordem ,que paffou ao Capitaa

do pataxo , confiava a hora , que partia man-

dando-lhe, que ao mefmo tempo hrgattea*

vellas , & fe foffeeneorporar com a Capitania

fora das Bahias. Chegado àquella altura JKnotando que o pataxo naõ tin.ha defamarrado,

fepoz à capa efperando todo aquelledia, CC

parte da noyte.em-quenâo podendo iolrer

o vento , ainda que de fervir , que começou a

foprar demaíiadamentc efperto , &cada vez

«refeíamais riiQ.receandolheyoltauctrayel-

iao,

*54 Vi&A àe Gomes Freyrè

<aó,que oobrigaflq arribar a alguma enlea*da,pornaõir a dar no&bayxos ondedesfey't&o cafco fe perdeflem ,• forçado houve de fe-

gui^fua denota fem íuçccflq digno de me-moria atè iresgúos antes da linha, em cujaaltura eícaceadoò vento* lhe entrarão oytadias de calmaria

4 com dano confideravel depà-ffageyros « & loidados ^ fem izentar os ma*rinheyras * a que ou a falta de ar puro

t ou aintenção do foi , queàquclla feflaõ, paíTadopouco do Equador para o Norte, vinha a fi*

car perpendicular naqiu lia paragem , acci-

dente que tornou a tantos enfermos, que che-garão a mendigar , de qui m marcaíTe o navioque ali i fem tormenta lc vio por mtiyt.s ve»

fces çoçobrado* porque banzando os maresque por natureza inconllantes fem alterar- fe,

parando inquietos fe moviaó lentos ,obedi-CtKeao influxo, & rtfiuxo gemendo debay-Xo de feu mtfmo.pezo , (cm mudar- fe jogavainclinado huma vez a hum , outra a outrabordo*

153 Paliados alguns dias em qufcapura-

f3a a paciência do Gõycrmdor fe detinha tre-

mulo , fem anão mover- fe< nnn parar, atjè

quedeyxando-fc cairtod.j a bum parte, le#

vando-a leu meímo pezocom tamanho pre-

cepicio , que chçgáraò a lavaríc na agua falga-

da hum dos colados, vcllas,& Vargas, a gen*

Dí Anàraàa U.Part> Lê. 11 t $fá que netla hia embarcada feltoa pouco para

,eber no mar a morte , nenhum efcapou de

laftimar, ou na queda ogolpe, ounonfcoa

Ui ?4 A' vifta de Per'S° w° fi

-bili

?naÔ

houve dos faós hum , que fe poupafle , & ain-

da dos doentes ,que rodando com camas

,ou

fem cilas fe foráo achar amontoados , os que a

enfermidade tinha deyxado livre odiícurto,

largados os leytos, ou as rabo», acodtraoa

donde os chamava o aperta, menos cuyda-

dofos ja nos remédios da faude , do que na fab

vaçaó 4a vida. Forcejarão ^smarinhçyro»

por oficio , os mais por neceffidade, mas can*

çando-fe todos com trabalho mutil.

ie? O Governador, aquém tirou d»

camera, taóeftranho accidente vendoquo

os Meftres, Sc Pilotos encarecendo o mal naa

fabiaó darfe aconlelho, fem perder acorda

naquella , quejá todos defuayadoschorava»,

fatal defgraça .depois de os animar enunanr.

dolhes na paciência aconftancia, com que

deviaó fofrerfe asadverfidadcs,,notandoque

aolemc fe achava hum fó homem .acuja por-

fia, refiftia o pezo, lhe lançou as mãos ao ca-

bo,&como as forças relpondiao a grandeza

do corpo, ocaTregou de maneyra, quebai-

toufó afazei fe endireytaffe o navio. j

if6 Gílebroufe oíucceflb cosn applíu-1 lo

I

*f6 PídadeGômdFreyHfo univerfnl de marinheyros ,6c íoldados, ad**

mirando aíciencia,comque exercitava húaartealheya dafua profiííaõ, fervindo dead*vertir com o exemplo anecdlidade que ti*

nbão de gente ao leme q o podeíTcm carregara tempo, o aclamarão redemptor de tantas vi-

das, que a Deos mifericordia alli hiaõ acaban-do defefpcrad.is de remédio.

157 Dura\ a acalmariaia cujo paflb fc

augmentavão as doenças, íobindo ocaftigoa cxceílb* que faltavâo iáos para aíTiítirern aosenfermos, mas como no coração daquelle

Governador ti veflie a humanidade iempre lu-gar mayor que ó refpey to , compadecido nosmales alhcyosv tomou por íua conta acodiratodos com remédios, que felicito na faudedos fubditos lhes applieava por fuás próprias

mãos ajudado íb dehum creado, queadmi*tio companheyro n^quelle piedofb exercí-

cio , por ter algum * luz de Cirurgia j caridaderara nos igunes ,aos fuperiores.eítranha.

158 Naó deyxaíemos naiilerteio donsaccidenres dignes de elpecial memoria , & os

referimos para exemplo em beneficio da pie*

dade, com que o-Ct o premiou o zello do Go-vernador, que ".dcfprciada a autoridade doeàrgo, ftztndocfíkir de enfermeyio,de Me*dico, & de Pay,cnfinando^ feus doentes na

paciência o valor, com que conformes haviaõ

fefofrer os males, naô menos religioíb nd

fpirito, que foldado rio esforço* curava corri

,s medicinas o corpo ô a alma com as palavras

mais de oy tenta* que rendidos à gravidade

lo achaque ,jazião poftrados , não fendo dei

nenos admiração* que vagando entre tahtoá

jue padcciaõ hum contagio de condição tão

naligno*qúe acabou a muytos no Pataxo naõ

altou i nem na Capitania *nem tocòU a mais

evequeyxa ao Governador < fendo quem a

•odas as horas lhe affiítia ajudando-os a voltai?

na cama* dando-lbe ocomer, & medicinas:

foycafóraro, & que por «raro pareceo mila-3

ijo, Paliados oytôMia^ de calma* eitique

vagando incerta icorreo a naofem moverfe*

começou outra vez arerrefcaf o vento, ad

principio eícaço, mas efpertarido* em bre-

ves horas crefceo de qualidade rijo,que pal-

iou na linha a íer tromema ,que tornou mais

perfgofa o defcuydo dos marinheyfos, ori

confiança dos pilotos, cujo atrevimento fup-

pondo obediente a feu império o domínio dai

ondas* quecrufadas entravão por hum* &outro bordo , tardaiaôem ferrar as vellas .Taci

vários faò os lucceíTos do manque vem muy-tas vezes a comarfe a falyaçaô rifco ^enfermi-

dade o remédio. *

%6q -Depois de fef4fcrporaIgUmw koya

*53 FtdaieGomtsFreyna$ iras de dous elementos conjurados ezaódio dos navegantes, aplacada a foberba,conique corriaô contrários, foraó navegando comvento, ainda que efeaço , de fervir, atè osquinze de Mayo em cuja manhãa houveraôvilia de terra

, que demarcada de longe fc co*nheceo fer cofta doBraíil.Hindo a deman-dalla káçháraõ na tarde fobre o Maranhão,,roas como fcmudaíTeo vento por proa afo-

pràndo contrario eomorifear dedefcúr fo-

bre as refíinguas , refolveo o Governador íedefle Fundo entre 03 bayxos Fora da barra , cu*ja cílrcyteza por ajwrcelada, forma a entradadaquelle porto de natureza perigofafern ar*

tiflcio defTenfavèl.

161 Surça anão entrou o Governadornoscuydados de adquirir infojmaçoéns,queo iBteyralTem do eftado das coufas

,para cujo

crTeyto refolveo mandar Francifco daMottaFalcão, que do Rcyno levava acelariado parafe valer da Fua imelligencia , como praticono Paiz por fer filho do Pará , & a Jacinto deMoraes Rego, que por ter irmãos, filho,&parentes, peiToas principaes na Cidade , &naõ levava pofto , ouofficio, que ofizefle

íofpey co,ajuizou feria bem recebido dos feus,

Fcm dcfconfiançi dos eftranhos.

fc> i6z Ainda o Governador defeorria coraosdqusí^sqauttlhs, com quthaviaõ de era-

larfç

De^hdradaiWafLttktT. *f£frrfetmre homens que não conbceiaó de que

bando erão huns , & outros parciaes ,quan^

dohouveraõ viífa de buma canoa que força-

dos os remos vinha a demandar a nao* A fo-

moutetoda agente aô convés* haó faltando

o Governador que docaftdlo da proa cftava

obfervando oficio da povoação. Erh breve

elpaço fe achou abordo hum Ajudante man-

dado do inuuzo governo a reconhecer

aquella embarcação deViiada ao largo dosí

moradores, que acufados dcfuamefma con-

ciência, fuás próprias culpas ostrazifo naò

menos temeroíos >que vigilantes*

16? Trazia a invkdo ordem para à todd

o rifeo bufear aquelle navio ie cónheceffe

t^ue era do Reyno , oú da Efquadra de hutfi

Domjoaõ de Lima, cujo nome aqui calara-*

mos em beneficio dapeflba a não ler falta nat

hiftoria , onde para imitar fe o exemplo íe re-

ferem as virtudes, emudecer para osVicio?*

que aos outros fervem de horror^ feus agrei-5

iores de eaftigo,

164 Diícorria nquclíe Portugííeí fura*

gido , ou aborto da natureza * ou filho adtilte-

lino da pátria , em que nafeéra corríandanddi

com império íuperioroscoflarios do Norte*

que infeftados com algumas vellas aquèlles

mares * andavão roubando fem perdoai a na»

i tura€$ lQHeftra.nhos ym comoaqtíçllc pifi&i

*6o Fida de Goma Frfyta ç\ àlgus bons íucceffos tinhão feyto atrevi*

do, & fe engroffava das prezas, 8c as culpas deque naõefperava perdaõ, cTtornaváo cruel;

pareceo a alguns dos rebeldes do Maranhão,& mais proporcionado para foccorro nosapertos daquelle tempo, & refolutos com ul*

tima defefperação determinarão chamai Io

offerecendo-lhe no domínio daquella Ilha , a»

fegurada em fu is forças , humdepoíuo paraieus latrocínios, procurando com juizo fácil

remir liberdade na tyrannia dehu cativeyro

voluntário, admitindo como remédio dehudilito abominável , outro mais atroz.

165 Reccbeo o Governador o Ajudanteno convés, onde com artificiofa urbanidadeoefperou cortezrepreíc mando noiemblan-te, & nas palavras huma demonítração tão

grata ,que pareceo na fingeleza aceytava da-

quelles íubditos , a cautella como beneficio,

como favor a oftènfa , arte com queaquellcgrande coração, fem çoçobraríe , foubc dcKminada a fortuna , poftrar os fados.

166 Como o Governador tinhaomen-fageyro por efpia,fingindo que deyxára ven-

derfe pelo mefmo preço , que vinhão a com-prallo, fe lhereprefentou, no modo affavel,

«o trato taõfacil que vcyo km cuílo a co-

mercear as conveniências pelos mefmos fios

que os amotinados intemavaõ negocear os

ence-

VeAndraáaIlPârt.Lií>.n. iéx

Mrtereues; porque depois de:algum*

;per-

guntas géracs ero publico, fe recolheo mLneraaouvillo em particular, ali. nao me-

nos eftadifta ,que o Ajudante doble como

quem vinha inftruido pelos cabeças da pie-

ge alterada, lhes prefuadio com «P»Uvm

que proferia de laftima na ruína do Eftado,

ou nofemblante, quemoftrava decompay-

xãò , nas miferias do povo , que crédulo,ou

fácil defcobriffe alguns fegredos ,que vterao

a lervir depois com naó pequena parte ao

bom (uccefib daquella empreza ,que intenta-

dacom receyos , ie confeguio fem pei lgo.

167 Depois de huma larga pratica, em

que os dous fe detiveráo , na defpedida man-

dou o Governador dar aos remeyi os alguns

refrelcosdoReyno. ao Ajudante galardoou

o trabalho com os braços, & alguns mimos

da Corte, rogando lhe feguralk aos naturaes

o bom agafálho ,que nclle achar.âo todos os

que obedientes <e íogeytaíTem a feu império,

fera defcuydarfe de advertirlhe o rigor, com

que feriaó t.arados,os que obftmados nas cul-

pas nãofoubcíTemaproveytir-fc de lua cie.

ínencia, que es arrependidos do erro oexpe-

rimentariáo fácil empndoar asoftnlas.os

rebeldes inteyro em caftigar os delitos. •

168 Acabou o Governador de ler njpf*•

lavras do inviadoo coração dos amotinados,

R 3 «nuyt

* —

ti* PU* de Ornes ftynmu ytos delles donaimdos do temor ; comqueos enfraqu cia , ou o horror daculpa

f ouq reçeyo do caftigo, & como fiava ainda mais0a corcczia

, do que do rcípey to , porfiou poracompanhar aofubdito quercfiftia * tratan*do-o com attencofe-.de igua:,& reverencia dehoípede,ate oconvçsonde convhumanida*de nos JuperiQres rara lhe pedio

, qujzeffe lc.Vara terra naquella canoa dous paflagcyrosqueinfaftiadosdo mar, deíljavSoir a dondecom ares mais puros convaleceíTem da enjoo,que ou por mais delicados , os moleftava commayor exceíTo, ou pelo defeoftume tolera»vao

,com menos paciência , mal fofridos,

1 69 Hia o Ajudante tão fatisfeyío da hu*inanidade do Govero.idor.quc eftimando bc*ntficio , àcccafíaõ de agradar , recebeo comopremio a vaidade de íer o primeyro

,que na*

quellc Eftado começafle a fervir , ou aobe,decer a feus preceytos. Recolhidos Francil-co da Motta , & Jacinto de Moraes , mandouremar a canoa em demanda da Cidade , ondeosdeyxaremos oceu pados nas fecre tas nego*Ciaçoens, dequemaõ bera inftruidos, emquanto referimos novos cafos , a que nos cha«manaómenosa hiftoriaqueotempo.

170 Em quanto os dous navegava© naConfiança hum de natural , outro de hofpede:êtn fundo a bordo da na© euua canoa em que

ViAnârd*lLP*rt.Wll *6?

rinha Henrique Lopes da Gama Capitão

S de Tapuytaperá, que em todo aquellc

£nípo'li iUdo fiel ao Eftado :corno

vKquellamo lurta, reconhecendo era em-

barcação do Reyno , ajudando levam Go-

vernador novo ao Maranhão, nao lhe toan-

do o coração fiar de outrem a averiguação,

rciolveo dema«daUaem peffoa , chegando ao

convès,entrou a dar. os emboras da viagem ao

CapitaõGeneral , de quem foy recebido com

aquellas demonftraçoens de agrado ,de que

iefaiia acélor na5 menos feu merecimento,

ouefuaurbinidade.

171 Parladas as pnmeyras cortmas, em

que a gratidão do fuperior refpondeo aos

Smprfmentos.doiubdito,moveo.fea Prati-

ca em beneficio da empreza, cujo fuccelio

pendia do principio , reveloulhe o Governa-

K aqueíla paríe da inftruç.ó que levava

por regimento de furgir naVilh de Tapuy-

taoerà onde pelos avilos , que daquellc Ef-

tado chegarão ao Reyno. Afirmava Franc.f-

to deSá efperaria fuecefior o primeyro de

Mayocomtodaa gente, quelhefofle poffi-

velelcufar da Guarnição do Para ,para jun-

tos diícorrerem as dificuldades daquelfc ne-

Eocio, &fondada com madureza lua altura,

obrar com o acordo, de que neceffitava a exc-

çuçaô.cuJM confcq^cias taváo d*ftr na

*H fida de Gomes Freyrêredução dospaturaes a paz do E,'ltaj .

;•• *?* n9 CaP»ráPmòv> quem fobre a pra-

tica doPa.z.tmhaa.-xperiencia dosannosdado.major conhecimento das confas doMa-ranhao depesde ouvir attentocomo era na.reíoluçocns prompto, 8c tinha fondadodeperto o an,n,o Sc as forças , em que eft ribavaP poder dos vebpldc-sir, íp ,ndeoV TapUy,ppe.a pQr fa] tli de fundo naõ tinha furgidou-ro capaz de ancorar aquella nao, & que ashoras que f, gaftaflèm

'

em^>* <}«»

»£ la, fe dariam a ganhar aos ioblevados,Cujo temor, perfuadida a un,aó , os incitaria ,'

•Pett,-nia, auefeachavaõ despercebidos, &n cento & fefienta legoas diílantedaquellçporto, que a,nda drmdo-Ihe o achaque lugara embarcar-fc, naó feria f*cil a jornada fn»

canoas, cmbarcaçocnsdehú (ó troncoeava,Po, q nao podiaó por leves fofrer mares gr f,&«vento, que asgalernos,$ hav.a$Pç coítear toda aquella marinha, em que coraqualquer tempo r,j não podeAdo lurdír a^

gando-íe nas bocas dos nos, ou enfadas,o»* as deimh» o nfco de perderfe , ou elpalma-.

das na terra ou alagadas nas ondas.'

m As r§2oçns do Capitão mor ditaj

çoçi

DeJndrada llfmJLibJl £g*

pm a alma, que lhe infundia a experiência,

leyxáraô ao Governador por algum cípaço

«uydadofr, mas como aquelle grande corm;aõ fe animava de efpintos taó generoíos,

que nenhuma dificuldade lhe parecia gran*

de, difcorrendo que a honra ie naõ ganha-

va íem rifco , nem a gloria das façoens fe me-

dia fenão pJ .grandeza dos perigos ,ôc que

tanto leria mayor quanto tiveile menos com

quem icpaniíTe os trabalhos,. ^

174 Depois de agradecer ao Capitão

tnòr a noticia louvado o parecer, odelpidio

com ordem para que fizeffe piojnfit.Qí» os Çc\~

dadosde Tua obediência ,porque te nackalls*

da Iiha necçffitafíede ajuda pudefle foccor-

rello a tempo, mas que fc não movdie kmavifo, & que tfta expedição tivéfleemfegre-

do ,prohibindo que naô pana (Te àCidadcj;

forque queria mofl;r u* aos morador*, s de Saó

AÚz, ou que os não temia, ou a confiança,.

que fazia dtlles, em naó leVar mais poder,

quecffes pou; os homens , que mal convale-

çidosda&docnças.efta vão capazes de tomar as

armas que fuftentavaó , mais que nos corpos,,

nos* fpiritos , dandn-lhe por efte modo a co-

nhecer que não intentava conquiftivllos çom

força deícuberta5

fe naó com a razaô , vindo

s| juílífii ar a íua cauía naó fahindo a terra

£om joaaiiacpmpanhamçnto, ou eftrondcs

/7 Mar-

1

i66 Vila da Gâtnês frtyriMarciacs

, qu: aquelle que em huma boipatfpareceíTe ou jonduccmeaoeftado chi ptflba,cu à àuthorida Je do cargo.

175* Pwfpsdido o Capitão mor não car-

dou a cheg ir FraiKiíco da Motta voltandoda Gi Jade com aviío, queos vifinhosa fegu-rados meípr-rança io procui\idor,qu?tinhác>mau lido à Corto (e acha vão quietos; que Ja-cinto de M >n s cujo irmão Gabriel de Mo-raes Rego era Juiz aquclleanno, ficava en-corporan io os Vianezes que era bumà por-ção grande diquJl p:>vo,dequeoscedicio-<os ícYeceákaõ fempre

;por os principies , ef-

ttanh ida a loucura da plcb? , naó aprovaremíêus birbiros proce íimeneos

fque o Ajudan-

te fora recebi J> dos Teus com afectos diífc-

rentes, p lo execílo, co n que referi 1 as vir-

tu les do novo Governador, cuja famadivuUgada entre todos tinha aiiuns confiidos, ^outros tercnroTos, qu^ os cabeças confufo*

naõ Tabião Jarfe a confJho , na coníidcraçaó

de queoCipitão General era no naTcimcnto'

illuflre, na profiflaó, & no valor Toldado ,

a

que asguerns do Reyno tinhão dado mayornome, que naj havia de ir ao Maranhão per-

dera honra, que com o Tangue tinha adqui-

rido nosn rigos, mayormente levando Cam-

bos, & Toldados veteranos, que primeyroquecingtíTernasfpadi ,vcftwâ os brios.

176 Q

VtAniraàa UP*rt. Lib.U. 267

j "J76 O Governador que ouvio alterno

queile aviío, acabando dedetengartaiO- d»

rro , com q de longe reíolve a falta de expc*

iencia , ou de noticias , como levava inltrit-

-aofecreta que nos cafos lhe deyxava aaoped

içoens livres , determinou intrepretradas as

>rdens ir demandar a Cidade de Saõ Lutar*

aue lhe era pelo regimento deflendida-, d$u

peniada a obediência em beneficio da erwpre*

h , que tornava defkil >quando a rtao fizefle-

knpoffivcl , aobfervancia dosprèceytos fi>«

perior s, fe Fofle atado deforre ,que nos acci •

dentes novos naó podcffe obrar uidepen*

dente. { \ . r .

177 Reíolutoá ir dar fundo defronte da

Cidade, mandou o Governador na manhã*

do outro dia paliar ordens aos pilotos ,& ma-

rinheyros para levantar ferro , r. que !e obrr u

com prefteza incrível hindo já aèmbocar a

barra Calmou o vento tão de fubito que obrH

gou a ancorar na ponta dejoaõ Dias meya

legoa da Cidade ,por não ir com as aguas,

que corriaó precepitadas ,a defeahir nos bay-

xos alli vefinhos. Ao mefmo tempo deu par-

tcogajeyroque do cães deSaò Luiz tinha

defamanado huma embarcação ligeyra , que

forçados os remos vinha demandar aquella

paragem. Naó tardou muyto em chegar a

bordo <W nao huma canoa bem equipada ,

íí'lí que

at>

8

Píâa de Gomes ftfyrêque trazia o Procurador, & Efcrivá© da Ca.mara,quc levados ao Capitão General ,cmnome do Senado, õí moradores, reprefentá-mò com fingi ia me rtíagem vínháo a dar nasboas vindas a pi imeyra obediência ao Go*vernador

, de quem foraõ recebidos com tau-?

tas ddmoníhaçoens de agrado, que bailava;a rendellos a cortezia , a náo trazerem no am>.bio dobrado cuberta agueira nasápparenciaf

' da paz.

178 Depois de comprimentarem. o Gq-ívernador da parre da Cidade, reprefentando;Com fingidas lifonjas, encarecido oarTecro,com que deíejavíto íua chegada

, porque ef-peraváo no (cu império lograr as felicidades,

que íc prometia o Eíhdo , mas que ainda qu©femortificavaó na dilação, lhe pediaó comoprimeyra mercê, nãoquizeííe defembarcaraquelle dia

; porque o repente , com queinf-perado tomáraaquelle porto,- & as altera-

çoens da terra , atinhão fem prsvençaõ parao receber com aquella oílentaçió devida naómenos à peflba , que ao cargo

,que feria inju-

ria dos fubditos, naó 3 gafaiharém com as ma-yores oílent iço ns de reverencia a tal Capi-no General ;que de taó longe lhe trazia a paz,com pradaà cu fta de perigos, de trabalhos, 6cdoenças, a que fe expuzera por falvalos da ul-

tima ruiua, que por initanr.es os ainiaflava.

DtAndudalLPart.LtblL 269

m«s que até-as cafas,em que coftumavão pou-

m os Governadores , feachavão deimantel-

Ladas, que lhes era neceffario tempo para dei-

pejarem outras , em que poâzfc ficar alojado

ícm deícomodo de fua família*

179 O Governador que penetrou na pe-

tição ,acautella , com que cobrião os inten-

tos de ganhar tempo , vendo que toda a dila-

ção lhe era prejudicial -, fem moftrar mudan-

ça no rofto , ou akeraçaõ nas palavras ,ref--

pondeo ferindo pelos mefraos fios, com in-

finuaçoens de agradecimento a attcnçao com

oueotratavaô aquelles.vaflaUos, masqueo

navio não podia deyxar de entrar naquell*

maré, & que logo em dando fundo havia de

fair em terra , com a gente, a que a enfermida-

de dêfle lugar de tomar as armas; porque ie

achava mal tratado do mar , St que diria o

mundo feviffe que o Governador do Mara-

nhão fc detinha embarcado no porto , fo

pela vaidade de fer recebido com a mageftade

de feus antecefíores,que na caía da Camcra ie

í acomodaria em quanto naó houvefTe outro

apofento; quefecreára foldado nas campa-

nhas cm Paize* mais aíperos, que o clima da

America ,& nao eftranhava # nem as camas

duras , nem os quartéis menos adornado? f

porque muytas noytes paflaxa defeane?rdo

sto fetÉnd feffi mais tapeceria, o» armação,que

* 7

o

fida dê Gomes Freyreque as piam? s , & os prados , por Icyto a tefmpor-colchotns as armas , o ar por cobertura oC^opor tflhado.

iSo Com tila ultima rcfoluçaõ* fcdcÇ.pedirão os rn(of%cyros

f &como repreicã-taílem na Cidade,' que da fegurafiç», comque o Governador lhes fallára, fe inferia, queeítiva avifado, ou lhes penetrava a* \mcm>çoens, porque nem das palavras,nem dofen>blantedeyxára perceber amaisleve inquw>tacão ; comece u a refol verfe a plebe fazendotamanho abalo naquclles cor?.çocns o locegodo General , que os Capitacns da fediç.ic dan>do-fe por pc rdidos entrarão na coflííderaçáode remir as vidas , vindo depois de vários dif-.curiós a refolvcr, quenâo tirtháo outra hUvaçaô, mais que a que ícgurafícm em Teusbraços derTcndcrdo odekmbarque do Go-vernador • de cuios brios iguaes aoe sforçofedeviaõ recear naõdcíiírifTe-da empreza , íimcu ganhar a for tira de oíonfcguir, cu a deperde r a v ida na de ma nda.

^181 Hm quamo tilas coufas pa Ma vão na

Cidade m. nd( uc Governador levar aamar.ra,par* ir d( mandar oíurgidoiiro mais viíVnhodaqudia p-aça.: cftai.d..>.jáa pique che*goua boicic dÃnaohumacanc i a mavifodoSargento rròr, & do Prr vedor da fazendaFrafiaíio liyxcyra deMorac?, que ns©

duvi-.

DeAndrada ILPart.LiblL 27%

duvidando arrifcar os filhos em beneficio da

Pátria , mandou por hum , cujo nome etque-

cco a nofias memorias , dar parte que Manoel

de Riquimãò , inftrumcnto fatal da rebe-

lião, mais atrevido nas culpas com oreceyo

docaftigo, andava com os Miilcrcs como*

vendo o povo ,períuadindo a todos, que

guarnecida a marinha fe oppirzeflem aodel-

embarque impedindo- lhes tomar terra em

quanto fe lhes não moftrafle perdão geral dos

infultos cometidos , em quatorze mtzcs que

negadaa obediência, viverão fugeytos à dii-

criçãode feus apetites. Com tão abfoluto im*

peno rcynava a ambição daquelks homens*

xjue não contentes com tyrannizar o domí-

nio chegarão a intentar ,ou py preceytos ao

Govcraidor,oudarleysâM gcftade.

i8x Recebep o Governador cfte avifò

tão defalTombrado coma poderá , o de que a

Cidade fe lhe entregava rendida km alguma

reíiftencia. Como àquelle grande corsção

nenhum cafo parecia novo, porque pervií*

tos antes os fabia remediara tempo , mandan-

do outra vez dar fundo,como levaíTe a lancha

prompta , embarcados nelía c\ rtcoentu íolda-

dos , que forão os que fe achai ao capazes de

tomar armas, &nindaalguns íe fuflcnta\ ã<»

nms nos eTpiritos , que nas forças, r>oilía*-

da* das doenças, comandados pelo Cftritáo

Mu-

* jt Viàa déGomes FreyreM moei do Porto ,& o Alferes Nicolao Nu*lies de cujo valor tinha já enformado a expe*riencia com provas não vulgares* os envioucom ordem

,que a todo onfco fofíem afe*

fihorear huns fortes , ou plataformas, quedalli feeftavão devifando , que não tardariamais tempo ,em os ftguir peia meírna eftey*ra, que o que fe deti véfle em lançar o bote aomar, refpondendo aos que odilluadião da*quelle empenho, que nâo rinha por honra aque ganhava com nico inferior às de cada hudos hinos de lua diferplina , de quem fe mof*trou fempre igual nos perigos > nos trabalhoscompanhcyro, nas necelTidadLS Pay.

183 Ao mefrrfb terrfpo defpedio o men-fageyro, que $inha vindo da Cidade , reco-mendando -lhe que forçados os n mos , a foi*

fe outra vez demandar levandoavifo ao Sar-gento mor, 8c ao Provedor ftuPay dopc-der que mandara a tomar as obras exteriores*que guardavaõaquella praça, que recolhen-do a fi todos os homens de armas, que nosapertos do tempo folie

j oítivcl, niarchailcmaincorpojaríc com a geiite do Reyno, da-quellc lugar q.-iejareceífe mais convenienteaícgurar com hú osmdmos íoldados o do-mínio, cia povoação , 8c odo porto

, porque fe

ficava f;»7 ( ndo pi t ftes pan em pciíba ir a foc-

corrti osícus, que o não adjarjão menos fe

naõ

t)e dndfâdalLPdrt.LièJL tfèaaõ òpércifo a vencer a diftancíui dos queáeyxandolhe a inveja de partirem primeyroi

lhe hião diante*

184 Ainda a lancha não tinha ferrado a

íerra, quando oGovernador fefez na volta

da Cidade* acompanhado íó de alguns pou*

pos paíTageyroSj que ambiciofos da honra

defprefárão os perigosiEm tanto que hia íur*

áindo fobre a vaga * vencidas as correntes$

Sc o vent® que achou pelo olho , chegou oCapitão a tomar terra com os foldados de íuâ

obediência : como a todos animavaõ os peri*

gos do Governador com a meíma fôrmá quehiaô defembarcando i

marcharão a demandai

ps fortes t que efcalárao fem refiíkncia * pelo

defcuydocomque o povo os tinha defaper*

cebidos de deffènfa \porque Manoel de Bi-

quimlo , ainda que lhe hão faltava reioluçãç*

igual ao valor* ou natural* ou creado na defef»

peração, vendp-fe aílaltad© de repente', ouperturbado,ou já menos obedecido* não íou*

be darfe aconfelho , deyxandodefem paradosaqutlles.poflos, que atellos guarnecidos

é

nos fizera a entrada igualmente perigofa > 6ç

deficil , havendo de paflar a no fia gente depeuberta por bayxo de feus reparos.

ígj Ao mefrno tempo que os noflbs hiao

tomando poííe daefplànada,deu o botefun*

fio n© cães ^ue achou com o mdmo ddcuy

*

vj 4, Fida de Gomei Frêjre

do dcíamparado. O Governador naõ íàberwdo perder tempo , fem efperar aviío do Capi-tão, que lhe precedia, íâltou em terra eomcfles poucos ,

que companheyros nos perigos

lhe forão parciaes na gloria : valor, a que naopinião dos que todo o rifco ajuizão exceflb,

não pode livrar de culpa, nem aoccaíiâo,nem a neceffidade , mas a iílo que alguns nonotarão temeridade de Fé deveo o bom fuc*

ceíio daquelle dia , em que veyo a ccnfeguir»

fe, em huaia vitoria fem batalha , hum triun-

fo fem íarigue.

1 86 Em tanto que oGovernador delem-barcava tratou o Capitão de iegurar-fe nopofto,qiíejá havia ganhado, operação a quedeu tempo oíilencio igual àprefteza, comque tinha obrado naquella expedição , igno-

rada dos rebeldes , atè que noíTos inítmmen*tosMarciaes lhederão oprimeyro rebatedo

perfgo , a que os tinha levado feu defcuydo.

ou lua confiança : divulgai áo-le as noticias

por todos os vifínhos, de.quem forão ouvidas

com íentimentos diíTcrentes. Como feacha-

vão divididos, em dous bandos oppoítos, to-

dos com animo parcial as recebião huns ceie»

brando-as como prinaeyra fortuna , outros

como ultima defgraça*

187 Os rebeldes que veftidas as armas

íeguião a Manoel de Biquimaõ,fe vinháo

^]UQt

«jantando cm hum fitio acomodado a cmpé-

dir o defembarque * mas recebendo pelas vo*

zes das cayxas a noticia da fegurançá , comque os noflbs fe tinhão já fortificado nos mef-,

mes reparos *que hião a bufear para deffehfa^

& avifados que aos íoldados do Reyno fe ha-

via unido a gíiarriição da terra ingroffadá

de quarenta Vianezes* & oUtros moradores

capitaneados por Gabriel Pereyra da Silvey-

ra, & Gabriel de Moraes Rego peífoafc de

authoridade igual ao valor* acufando-os fua

mefma facilidade de leves* começarão adef-

confiar da empreza*

188 Pcuco foy ò íerripo éjiíè osârriòtu

iiados vagarão errando a hum a § 8c Outra par-

te tão certos no perigo como ignorantes noremédio, quando foráo avifados $ que o Go-vernador tomada terra $ qUe achara defarn-

parada vinha marchando em demanda da Cté

dade de que fe achava jâ tão perto , que nãd

tardaria inflames aentralla. Efta noticia ou-

vida com efpanto deyxoú a todos tão polirá*

•dos,que não fabendo darfe a confdho fefo-

rão recolhendo alguns ou por mais culpados,

ou por mais cortados do temor ^ não fe dandopor feguros em fíias mefmas caías , em que ti-

nhão jà por contrários atè osmefmoS qúccompanheyros nos iníuhos , lhe foraõ par*

$iges no5 delitos , deíamparandotudo feeífi^

S-a hmH

v;<

V76 Vida dê Gomes Frefrt

barcárãoem canoas, que íeachavão pròmp*tas, ou a cafo , ou como quem receando o fuc*

ceflb, fe haviaó antes prevenido , ie. retirai âopelos rios bufeando na agua falvaçaò ás pef-

foas, nos matos amparo à vida.

189 Defaflbmbrada aquella Cidade detaõ pelados viíinhos , a que baftou a vencer

o nome, fobrou a dcsbaratallos a fama doGovernador , fem defembdnhar a efpada,

correo alguma da plebe confufa com a mais

parte da nobreza que le havia confervado , ouneutral,ou rlel,& que feguindoa voz da Ma-geftade tinha fofrido confiante osefcandalãs?

daíidiçiõ, noatievimento dos rebeldes , fa-

hiraõ fora das portas, a que já feachavavi-

íinho , aqui o recebeo o Senado em corpo de

Carnera onde tomada poífe do governo, humdos Vereadores lhe fez huma eíludada prati-

caacomodada ao tempo, & ao lugar, em queouvio aslifonjas publicas, com que incare-

cidas as virtudes, fe prometiaõ na paz, quelhe traria de taõ longe , reftituidas as antigas

felicidades , de que em outra idade gofára

aquelle Eftado.

190 Daqui levado debayxo de hum pa-

lio encaminhou àSé, adonde oomreligioloculto poftrado diante dos altares rendeo aoCeo primeyro as graças de huma vitoria,

que alcançou oreipeyto fem cufto , depois as

Vi Anâraia ILPàrtZihJL *itáeâcabar huma viagem, q«e os vanos acci^

dentes,quedeyxamosrefendofizerao humas

vezçs molefta, outras pêíigofa..

ioi Acabados aqudles a&os de Chrií-

táoTem que deu as primeyras moftras defua

piedade.le delpediodos altares comprofun-

da inclinação, com reverencia dosEcclelijl-

t.cns ,que fahindo antes a recebcllp fora idas

portas do Templo ,o tornarão a acompanhar

em corpo de Cabido atè o mefmo lugar don-

de foy levado como em triunfo, por entre

duas alas de infantaria , a cujas elpaldas aíuftia

.

multidão de povo , que fempre amigo de no-

vidades , fácil fe perfuade, que namudança te

melhora , o qual naô fabendo por taxa os lou-

vores do novo Governador, o acclamavao

huns reftaurador da paz do Eftado ,outros

Pay da Pátria, as mulheres , mininos , 6C de-

crépitos ajudaváo das janellas a voz da plebe.

naó fe ouvindo poí todo aquelle caminho

mais que bençoèns de hum ,& outro fexo.

io* Por entre eftesapplaufos populares,

mokftos aos ouvidos, à vaidade gratos , che-

gou às cafasda Cameraonde foy aquartelado^

aqui obedecidas as ordens Reaes , fe ouvirão i

outra v<z repetidas as importunas vozes da

plebe, cujos vivas feconfundiáocom osínf-

trumentosMarcbes , a que relpondiáo falvas

de artelhari», cujo eftròndo guerreyro,M,-.-—- »-

S j dês

9ft \ V&â deGofoes Friytêalegre fe tornava efpcticuioaceyto aofccon*fidentc$,aos rebeldes rnrrorpfo.

193 As poucas horas, que refbrio do

dia, gaitou ernord.mr a fegur?ihÇi d Cida-de, coTicuvdado ainda mayor, do que feahouveííe coqquiitado de algu-na ntçaô efctranha, ou povo bárbaro, rmndando guar-necer os poftos fofpey tolos com guarda do-brada, deyxando íbltas algumas patrulhasgroíi* de foldados ,que rendidos aos quarcoslondaíTem pels nus toda anoyte, cauteilacom que aquelle General

, procurou eftrovaralguma novidade, feno animo dos mal con*tentes perfeverafTe ainda alguns intentos defoblevarfle,com a meíma prevenção fez poralgumas vigias confidentes em parus, queefpiaflem todas aseflradasque dos matos da*vaó parlo aos naturaes , dos rios ícrventiuaoícftranhos.

J94 Amanheceo o outro dia, em que fefichou aquella meíma Cidade, que poucashoras antes errando inquieta tumultuava re-belde

, tão focegad a como fenapaz demuy-tps annos, não tiveíTe fentido , nas alteraçõesdo paíTido motim , os elcandalos que pelo ef-paíTo de quatorze mezes tolerou, apuradacom iníultos

, que atraziaõ perturbada , comJaftima demuytos dos vifinhos na ruína do

DeAndràâalLPart.ML m',0V Os dous dias feguintes refervados

«,« Hpfr-inco eaftou o Governador occupa-

KoSnuno trabalho de refponder aos

moleftos comprimentos , com que a nobreza

votmarV, vinha a ofterecerfe obediente a

S iSSer ô, cortezia, com que adiantados

huns procuraváo negocear na graça o ente.

reffe, outros fanar asquebras , com que mur-

Surados de lufpeytosna Fé, «nhao mancha,

doa opinião. A todos recebeo com hum mçf.

mo lemblante, ouvindo a cada hum feramof-

„ar,oinfadava arepet.çaÓ dashfonjas par-

ticulares ,ou das publicas queyxas ,com que

Seavão ô governo dos loblevados, fem ad-

mitira pratica dos que.intentando melhorar-

ia, arguiaó culpas, ou notavao deffeytos em

ftusanceceffores , cuias acçoens louvou íem-

pre.lemeftranhar nem ainda aquellas, que

ou aio imitava com o exemplo, ou de que

defviandofe fugiacomo efcandalo.

196 Como atè das horas que vagava no

ócio procurava tirar fruto , obfervadas todas

as palavras dos que vinháo a vefitallo ,veyoa

recolher individuaes noticias da origem , et

primevros progrefios do motim ,porque co-

mo os agreíTores fe fizcflem odiolos a muy:

tos, que no principio parciaeslhes aprovavao

as tyrannias, com que começarão a reyna

©eaos ablolutos, 6c ou offendidos de nao te.

S 4

1 8<9 Vida de Gomes Frêytorem canta mão no governo como fua efo£rança lhe prometia , ou temerofos de não po*deriuíiítir mando com tão mao titulo, fe re-tirarão; querendo agorajuítificar a fua cau-ía com o delito a íheyb , revela vão ate os ptn-iamentos mais oceultos, que tinhão paliadoem kgredo, pratica a que ajudou o artificio*om que o Governador doendo-íe, com pieidade natural, das miferias de todos, fe mof*-trava com eftranha uibnnidadc affavel nacorivcrkçaó, no trato fácil.

197;

N;íó fe defcuydava o Governadorde iohcitar todos os meyos de concluir a pazdaquel.e povo, negocio ornais importante,.mas que fe fazia depoente da prizaó de Ma-noel de BicjuimãQ, vindo, a entender que fia-do nns artes, com que procurando reynarporoccafiao, fouh; , alterada a plebe, fazerfeo-Meçer, ou que eítrib.ido na authoridadeque ainda confer.vava entre muytos, que par*d es nos fçus delitos feachavão igualmenteculpados, andava com toda a fegurança moí,trandoíeem publico, confiança eitranha,que nuns mtreprecravaõ atrevimento, outrosdeiprezo.

:198 O Governador vendo que não poí

«lia ter paz legura comaquellc inimigo do.Wefuco

, (obre poderofo , confervado dentroga g}çima çafe , aprovcytand<Hfc dadefeuy*

«a

De Jniradâ llPârt.Lih. II. *ff

âo pafibu ordem em fegredo aos Officiaes da

terra ; para que o puzeíTem a borrr recado , h-

andores a diligencia, por não fer conheci-

do dos Toldados doRcyno : mas ou fofle te-

mor , ou ainda veneração dos naturaes, a cau-

tella, cem que poz, emeobroa peflba , deu:

indícios par, que fe ajiiffaffc ofueceflo falta

defikncio nos Miniftros , a que fe encarre-

gou a execução, pda preffa com que íeau-

ílntou , exemplo que ftguiraõ outros , a que

aconcicnciaculp-ca acuíavareos nomeimo

delito, receando que iguaes na forte vieflem

aferlhescompanheyros, mó menos nainía-

mia,quenocaftigo. . •

#;".*

199 Corrto logo a noticia que a Cidade

fe defpejava dos viíinhos pela .fimplicidade da

plebe , que vendo com novidade no mundo

cftranha,ma\crmente naquela terra ,jufti-

ça executada nos poderofos, otifao! crendo

ou ajuizando leve ,que o goípe ,

que ameaça-

va a cabeça daquelles , cu alcançaria farte

,

ou defearregaria todo febre fuás gargantas fe

começou a pòr em (alvo retirandofe furtivos

aos mato?, onde efeolhião antes cair nos den»

tes das feras do que nas mãos dos homens.

aoo O Governador ainda que defejava

fubíhbeUcer a pazdaquelle Eirado fobre bs-

tes mau foi idas ,que as promeíTas , com que

affeRurava lua humanidade ^guard^va para- melhor

ttt Vida àt Gomes Frêyrèmelhor tempo a execução de íeus penfamcn^toscas vendo agora

,que o povo monftruo

de muytas cabeças , fern hurrn que o gover-naíTe , não faben Jo obedecer a mais leys

, queas que na defeonfiança lhecreavao temor,receando que o remédio retardado foífe rui-na,refoíveo mandar publicar o perdão geral»queimava daM igefl: id^oafa os que feachâf-.fe nlo foráo cabeças da rebelião; Correo a f^ma da indulgência, com que o Governadorprocuriva o íocegodetodos,dequs refultouvoltarem a íuas cafis os innocentes, exemploque frguirão alguns menos culpados.201 Mis como pira exemplo fe fazia

preciso ociftigo dos prineipaes agreíToresdetamanhodelito, osquaes fe tinhão retirado,procurando filvar as vidas , ou em perigoiguilentreasiérasiou fuperior n is Gentios,por ferem os bárbaros habitadores daquellesCertoens, tão brutos que com efcand.ib da.

natureza bebido o fangue, fc fuftentaõ dacarne hum mi.fem perdoar os pays aos filhos,

riem os filhos aos pays, vindo aierosquôprimeyro ac.ibaõ pafto dos que lhefobrevwvem, crueldade eftranha que não podendoouvirfefem efpanto ,fe vé entre as abomina-çoens d iq uel las gentes , ufada fem horror, oucomo vingança tomada de feus inimigos de-

pois da guerra, ou como piedade offerecida

depois

De Andrade ILPãrt.LiUL itj

lepois da morte as memorias dos defuntos.

%o% OGovernador veado que para da*

principio , ao aíiento que havia de tomar nas

-oufas do Eftado , pendia de affcgurarle do*

cabeças da rebelião , a que o temor tinha oc-

cultos , mas não arrependidos , defpedio dit*

ferentesefpias , de cuja diligencia vcyoa coj

\\itr /que Eugénio Ribeyro Maranhão íe

achava em Taquitaperá , onde fe julgava

diftante dopeugo-, mas como ospreceytos

dos fuperiores chegaô mais diílantes ,que os

braços, maníou ao Capitão mor daque la

Villa oremeteffc emcuftodia àquella Cida-

de, ordem , que recebeo,& executou promp-

to ,ao*mefmo tempo <e prenderão em outros

lugares Manoel Serraõ de Caftro , Jorge de

Saó Payo de Carvalho , 6c outros , que nega-

da a obediência, ainda obftinados fav.oreciaa

a rebelião, que íuftentavão como defeipera-

gão , ou como remédio.• 205 Ainda a prizaó de tantos delinquen-

tes trazia oceupado ao Governador, quando

fe divulgou a noticia que opataxo da fua

conferva, que ficara furto*em Cabo Verde

demandando aquelle porto fe achava na por? -

ta d:; Maffame fobreosbayxos daquella Coi-

ta toda aparcelada ,& que vendo o perigo aos

olhos tirava para cjue fofle foccorrick>;avifa-

do d% ngceffidadé , lhe mandou officiaes ,8c

pilotos

iS^ Viàa de Gornês Frèyrêpilotos práticos

,que fcm pouparfe a rifcoji

ou a trabalho, forão abordar aquella embar-cação,quc íe achava a Deos mifericordia con-certando o leme, que das muytas vezes quehavia topado nas reftingas tinha faltado fora,:

deyxando a nao arraveíTada,q por falta de go-verno não podendo fordir fobreas ohdas,def-

I

cahindo com a corrente hia a naufragar nosbancos de área que tornão aquella barra arrif- ;

cada, ôcdeíFcníàve! por não ter fundo mais.que hum canal rão eítreyto ,que defaparelha-,doo primeyro navio

,que aentrafle bailaria

a em pedir a paflagem aos.mais , que o íeguil-fcm.

xo.{, Recolhido o pataxo aoporto«onde,feguras as pefloas j Sc as fazendas deu fundoaos vinte & íeis deMayo de féis centos & oy-tenta & cinco. Cu ydou o Governador, emacabar de inteyrar aquella parte, que faltava

.para aíTegurar de todo a paz , negocio o maisimportante, mas que fe fazia dependente depòr em ferros Francifco Dias deEyro,o qual,com antecipada diligencia, fe faivou nadif.tancia , comprando a vida a preço do defter*

ro,ôcMi:i)el deBiquimão, que como pri- ,

meyro agre flor, mais delinquente, fetinhípoílo em cobro , depois de aggravar as anti-

gas culpas com o novo excedo de intentar acícalia dacadea, em que fe

x achava reclufo

mAnaradaIlPm.Lib.lt i8f

ThomàsdeBiquimão, queinviado à Corte

procurador dos fidiciofos , como deyxamos

referido, fe remeteònanaoque aqueJleanno

fez viagem naconferva do Governador, 5C

fobrcodelitodequeeftava convencido, ha-,

via acrefeentado o de fugir em Cabo Verde,

bufeando na imunidade de hum Templo ara-

paroavida,mólhevaleo por então a Igreja

de Sagrado àpefloa*- . m \

%of O Governador a quem traziao lo-

bre maneyra cuydadofo as cotiías do Ma*

ranhaó, ainda que poraquelles dias quieto,

comoneeeffitava deacodir a muytos abuios,

que íehaviaó defimulado na frouxidão das

governos paffados ,& outros fupenores, que

tinhaó introduzido asdefordens defobleva-

çaõ dos moradores, ínaõ dcyxava de recear,

ainda que naõ temia as artes de Brçuimao,

que fuppofto fe achava retirado como anda-

va folto , & lograva entre osfeus opinião de

atrevido, confiderando com maduro juízo,

que creando o valor à fornbra da deiefpera-

çaô, procuraria outra vez comover aquelle

povo,onde confervava muytos, queoceul-

tosofeguiaõparciaes por inclinação adqui-

rida na iemclhança dos génios inquietos , ou-

tros por benefícios ,que ou játinhão coníe-

guido, ou ainda efperavaôi acharia occpíiao

ínaisopportiana de ingroffar feu partido com

386 Viàa de Gomes Freyrêos mal contentes , a que havia de laftimaf 'aJrcfoi ma dos cofturnes depravados com líber*dadc mayor na falta de obediência*206 Naõ tardou a moítrar a experiência

não ferem vãososreccyos do Governado^Ainda diícoí ria nos remédios dos malts futu>ros

, que ameaçavão o Eítado* quando che-

gou hum avjfo daseípias que trazia fecretasenrre aquclks de cuja fédefconfiava.que Ivla*Hoei de Bjquimaõ * fegunda vez intentava li-vrar a Teu Irmão dos ferros^ atrevimento paraque achava ajuda em alguns é que fofrendomal a fogeyção , fe tinhaõ offerecido compa-tiheyros no trabalho^ nos perigos paciaes.

207 O Governador, que aSim como nãotemia os rifees , naó fabia defprefallos , acau-tclladoccmaquellanotitÍ3,mandouocculta-mente cavalgar algumas peças deartelharia*tanto que íoy noyce as mandou alleftar, car-regadas de b*lla metida jiias boccas das ruas*que viritaó dt mandar a cadea,ondcos prezosfe guardav ao cc m k mim lia à viita , paiTsndoordem àsgu?rdís, que dobrou , eítivelTemcom tmchacalh da, êc vendo juntos mans decinco hrm<ns caminhar aqutlía parte dadofogo nsdcjpr.raflirPj poique Vinaó afervirdecaftíioa l.uns,a ouposdc av»io.

2c8 B^ílcu cila ligeyra derronítraçãoa moderar ucfcite Oiniajo dos mal centen-

9BH

J)e Anârâda iLFart.Lib.íl. t%7

tcs , 'que tendo tomado corpo mayor a parte

dos alçados , já mais ouíáraó * intentar couô

que parece fie novidade , acabando de perfua-

diríe,que o Governador, ouilluftrado pe-

netrava as intençoens , ou tinha entre os rneí-

mos conjurados quem o informava, atèdos

penfamentos mais oceultos; juizo com que

cnuàraó entre íi a dcfconfiar,togo de dífeor-

dia ,que precebido foy a foprando ,para que

fe ateafle incêndio , , como hum dos inftru-

mentos, em que naquelles princípios havia

de eftribar a paz de todos os que obedecendo

por certezia , fe fogeytavão violentos.

209 Em quanto os aleados de Biquimão

4itigavâo entre fi qual era o infiel, mandou

o Governador dobrar as eípias s ou para que o

temor puzeffe aquelle reo taó longe doMara*

nhaõ ,que não deyxalTe fofpeytas de fomen-

tar alguma foblevação, ou para o colher às

mãos , mas como aquelle criminofo era natu-

ralmente aftuto ,ôcaconciencia culpadnoa-

eufava , ou ajuizando , ou aviíado dos âeCc-

nhos do Governador, começou aefeonder-

fe de forte que naõ pode averiguarfe lugar

-certo onde focegaffe, porque confervando-fe

vago mudando eílancias cada hora , veyo a

(occultarfle por muytos dias que íecançáraõ

as vigias na diiigenck infrutifera com tn ba-

IhoimitiLt ítio Ven-

«88 VttadeGòmès&eyU210 Vendo o Governador, que o íuccef»

fo mò refpondia a Teus peniamentos, peloacautellar os nífeâos de huns , & acompay*Xaó de outros j rcfol veo mandar lançar hum•bandojcominadas craves penas aos que o an>paraílem ,.íem dcfcuydarfe de finalar premioa quem o tntrcgaílê.Comeftearteficio, veyoo Biquimão a perder o favor atè das fuás mef-jnas creaturas * que laftimados menos das mi*/eriasalheyas,que temerofos das íuas

i feef-

Cufaraô a refugiai lo com o pretexto da indig-

nação do íuperior perdoando fácil as injurias

da ptflòa , naó fabia foffrer as offenfas do lu»

gan2 1 i Defpedido de todos , como efeanda*

lo das gentes , começou a andar vago , erran*

do pelos matos alguns dias* atè que naó fc

dando por feguro dentro da Ilha pela vifi-

«hança da Cidadeife retirou feílenta legoas

diftante, a huma fazendaique poíluía nas

margens do rio Myary, adonde o deteve, ©ulua confiança* ou feu dcfcuydo» o tempoque tardou a infidelidade de hum que antes

contava no numero dos amigus, cujo nomeadvertidamente calláraô noflas memorias »

dando-nos fé a ler que lendo creatura fua , a

que deia o Ter naoccafiaõ da profrei idade.,

agorac fqutcido^ ou mg) ato depois de o me-terem ferros , o levou prezo à Cidade de Saó

Luiz»

De Anâraàâ ILPart.LiUl itf

Luiz i onde, depofitado na cadca publicado

dey xaremos lamentando na humilde: fortuna,

a deigraça de huma fotte abatida, atè que ou*

tra vez cfpetaculo horroroío aos olhos da

compayxaõ, pendente no patíbulo i venha

com infame caftigo a fer objecto fatal a noíTos

ouvidos ,a noíTa pefttía~laftimofo*

liz Cortadas comaquella prizaõ tddaS

asraizts das íublcvaçoens, que receava re

bentafTem de novo, entrou o Êroverhadof

no moledo cuydado de dar á execução as or-

dens da Mageftade : a primeyra que poz errí

pratica foy a depofição de algúsCabos,& Of-ficiaes de guerra , & juíliça intruzos pelo go*yano do povo, refticuidosa feuspoíto^ todosos que lua fidelidade tinha defpojado

\ paflop3ngo a repor o comercio rto antigo eftado, ern

que feachavapor contrato, que tinha altera-

do a fublevaçaó popular. Seguio«fe premearcom a liberdade nos trabalhos a Manoel deCampella de Andrada Juiz dos Orfaós da*quella Cidade ,

que a crueldade dos amotina-dos tinha cm ferros

,por reílftir a íeus inful-

tos t confolando-o nas rniferras incareceo ahonra

,que alcançara

4 naquella que fentía si*

íronta, chorava defgraça*

x 1 5 Como o Governador zellava a cati-

fa de Deos , primeyro que a da Mageftadti&.tinha adquirido entre os melhores y a opi-

t$b Via* de Gomes Ftyreniâo , de que a igualdade , com que imperava,

eràmais que artificio, virtude natural , refoU

veõ mandar vir do Pará os Rcíigioibs da

Companhia de JeíUá,que o povo de S. Luiz,

naó menos ingrato'* quecruel tinha di (terra-

do dàquella Cidade, fem lhe premitir nemhum pobre domicilio em toda a Ilha, femmais caufa> que o exemplo com que a iua mo--dâftiá* doUttfiriandô,cnfinava aobfervancia

dos divinos * &' humanos prcceytbs, repre*

hendehdo b$ Vicios jem cujo fuga r dt toôís âtarrancados proctírtfvaó plantar as vihudcs,

encontrando o cativcyro. que os Portugue*

zes faziaõdos Tâpuyas, como impedimento,

àconverfaó daquellès Gentios» porfer aef-

cravidaõ prccédvmehto ,que'os bárbaros re-

xebiaõ como eftartdalo , enVahhavâo deshu*

manidadejtornandô-fe por tfterefpeyto de-

jficil odefcobrimento dos Certo^ns , àfcfnir-

foens perigofas ,òtfimpraticáveis.

2.14 Por eftc rnelnm tcmpornantfoti àCn-

mera do Pavá q íe acnaíTe rtòMa far\Hao;na cò-

"fiáferaçaõdequépVá^icadãs áscoufas de per-

to acabariaõmaisTacilmente os tícgbciòs' pty-

HirôCfc daíua inftrúçaô, do que feicritbsde

longe , onde a diftancia, podia ou corronv

•|*r a obediência , ou intrepretaras ordens. OIfcmpo que tardou áquetíe Senado

,gaftou

iJi&ovrcndo bom utilidade publíft, attento

Pi *?S

De AndradalLPart.Liblt zyià reformação de muytos coílumes eftraga-

dos, obra que acabou com tanta íatisfaçaõ

dos que oureprehtndn oúcaftigava$ queo*

brigava com o modo, atè os queoffendia coma pena.

2, 1 $ Acabado efte trabalhe» entrou no degalardoar o daquelíes

yque nos rifeos da via-

gem voluntários lhe forlo companheyrosnos perigos, ria gforu parciaes, fazendo-le

beneméritos de premio fuperior,nãoló pe*

loque iervirsb ineançaveis na entrada da-cjuella praça $ hindo expoftos diante

i a fon-

dar o animo dos moradores , averiguando as

forças , cm que eftnbava o partido dos rebel*

des , movendo os parentes , que cofnígo leva-

rão os amigos, & outros dependentes, fepa-

rando a muytos dos amotinados, deyxandóoutros inclinudos , artifício raro com cjue en-fraquecida aquella parte pérdeo muyto davigor,com que intentava refiílir conítante,

ou defeí perada.

2,1 6 Com não menos utilidade da Pátria

vierão depois a fervir ao focego comum; por-

que como fecomónicavâo/comosreus, &íftranhos, alcançarão todos os fegredos, queentre fi pafíavaõ alguns dos natúraes 4 que oc-cultos perfeveráraõ algum tempo obítina-

dos, dando ao Governador com taó exaâaRVcriguiastó as noticias dos tratos a

genios,

39

2

Vtàa de Gomes Freyre

& íogeytos, que no que acautelarão fuás in-

telligencías > vieraõ a concorrer, como inf-

trumentos mais proporcionados à felicidade

daquelle governo , em que o Capitão Gene-

ral confeguio o bem da paz antes de experi-

mentar o rigor da guerra.

:.| i f Faziaó-fe os ferviços daquelles ho-

mens taó acrédores da remuneração , comonos dá a ler o muyto que trabal háraó ,em be-

neficio da Mageíladc \ mas como a pobreza

doEftado naôdeyxava lugar a gados, que

chegafie a proporcionar apaga ao mereci-

mento década hum , porque os thefouros da

Coroa fc achavaó pelas dclordens pafladas

exauftos, as rendas eonfumidas ; reconhecida

a neceflídade que havia de fazeríe aqueila def-

peza , igual à penúria ,que fe padecia de ca-

bedaes , diícorreo com maduro juízo,& con-

feguio fatisfazeUos naó fókm gaito, mas ain-

da com utilidade da fazenda Real.

218 Como pela aufencia.de Dom Fer-

nando Ramires queaquelle anno 'paflbu ao

Reyno fe achava vaga a occtipaçio de Pro-

vedor mòr da fazenda fproveo cm íèu lugar

a Jacinto de Moraes Rego, no emprego de

Efcnvão a comodou a Bartholomeu Corrêa*

ambos moftrárão depois ozelloigual àfide*

lidade com que antes os tinha provado aex»

periencia. A Francifco da Motta Falcaõ , &outros

DeÂndradallPart.LtbJL *93

outros que concorrerão para a redução da-

quelles vaffallos repartio com maõ larga ter.

ras na marinha,& Certão; uuiifando nos difi-

mos a Coroa , os donos nos frutos.

^l9 Ainda oGovernador vagava occu-

pado noscuydados de contentar ahup fem

offenfa, ou cTcandalo de outros ,quando che-

garão a dar fundo no porto daquella Ilha as

canoas do Pará , em que vinháo embarcados

os Vereadores da Cidade de Bellem : tomada

terra forão em corpo de Camera em bufca das

cafas do Governador ,de quem forào recebi-

dos com aquelia demonftraçaõ de agrado,

com que fem parecer fácil , inculcava nafin-

gekza a humanidade de kuai , tem perder na

inteyreza o refpeyto de íuperior,

%%é, Paflados os primeyros CQmprijnen-

tos, cuydou em os mandar agsdajhar com tra-

tamento de hofpedes , & mimos de amigos,

os dias que lhepreraitio para defcançarem

das moleíUas da viagem, lhesaffiftio com al-

guns pratos da mefa , no ultimo convidou os

dous Senados de Bellem , & SaèV Luiz ,pàxa

hum banquete,em que a variedade dosgur-

iados fervio fem faftio aogofto ,à admiração

o ícrem todns as iguarias deviandas do Rey-

no, iementrar do Eftado mais que a lenha,

& a gua com que fe cofinhárão , liberalidade

raras vezes vifta na America , onde atè os re-

T 3 ,gallos

i

galloí quefobraò das matalotagens cambia-dos fervem com a ufura ao comercio.

Úfl PaíTados poucos dias , que lhes pre*mitio para delcanço dos trabalhos do mar,mandou o Governador yir asduas Camerasa fua prefença , onde depois de os receberemlala publica, com honras naô vulgares nosfupcrioresdaquelle Eftado, entrou a pei lua-dirlhes , com razoens náo menos acomodadasao tempo que ao lugar , aquelle eipecial cuy-dado com que EIRey zeliava aconfervaçáodosvaíiyiosdaquellaConquiíra,moftrândofe não efquecia do valor com que feus ante-paflados fuftentada em ftm braços a guerrados naturaes, & eilranhos, referia huma afiuma as occailoens em que expuzerjão as pekfoas^as fazendas, ÔC os próprios filhos ,cm be-nefício da Mageíbde, cieando pnmeyro denovo com feu esforço , depois remindo outravez com feu fangue o domínio daquell.s ter-

rasiogeytando-as àobediencia de fua Coroa,emprefa quecuftára a alguns ávida, ficnfi-cada cmholpcaufl;oapatiia,queelta noticia

durava na memoria daquelle Príncipe me-Jhor queeferitos, que ainda que na Adiçãopaílída alguns vieraó adegcncr.ir de tão tVmoios progenitores , que reípey rando à con.íervação das cinzas detáo beneintutos Povtuguezes , a.quem/o Maranhão devia o fer, 8c

Poitu-

VeAndraá*lI£«r$MbJL J95

Portuga) aqucllc Império, fe moftraya Pay

Z perdoar as culpas de feus defeendeme?,

;ontentando.íe com o caftigo^de poucos en-

:re muytos que culpados vierao amoitrar-le

nas infidelidades ou filhos adultérios , «l;M

borcos da natureza, >

r%%% Paflbu logoa ponderar, domocom*

wndo?lheaneceffidadc, que para agricultu-

ra, tinhaó de fervos* defpeza com que pro-

curava introduzir naquelle Eftado multidap

de deravos da Africa , certificando4hes , que

em tempo algum nãoprimiuna ostomatlerrt

óas naçoens gentílicas doCertaó, porque da-

quelles índios queria valerfe para coufas mar

yores ,que huns domefticados tramo outro?

àobediência df noflbs pr$cey|os,& que ce^os

doutrinados , viríamos com novas ^nnttatv

dades a dilatar por aquella parte a Religião,

& o império *, acrefeentando com dmerentes

fubditoso rebanho da Igreja, em cujo çorral

intentava meter aquellas ovelhas perdidas,

que fem paftor, ou guia findavaó errando nos

dckrtosda America, o que não viria aterei-

%tp fe confentifle ft meteíTem aquelles bar*

baròs çm cativeyro ,que craó por natureza

rudes , por coftume fcrozes ,-«c por herança

lenhores^aquellas terras que habitarão paci-

ficos^m quanto noflas armas os naõ forao *n<-

quietar em feuiocego» & queria moítrar-

t 4lhc*

*9$ Piàâ de Gomei Frèjrilhes naõ pcrtenderia íua ambição roubai -lheseom violência feu domínio , fe não com íaftj-ma íua piedade eníinarlhe na melhor ley omelhor Deos,para o que mandara já acref.centar cm dobro os ordenados dosobreyrosEvangélicos, a cuja proporção fe havia dempltiphcar o numero dos MiffionariosApoíttoltcos

, que deyxados todos os empregosCemporaes, para que alguns defcuydados fedevertião.feoçcupaflem comzello catholicona converíaõdaquelles idplatras , & cultiva-do o campo do Senhor vieíie acrefeentar-fedilatada a ceara efpiritual daquellcs Gcrtoens,que refpondeíTe ãotrabalho a extcnçaó.o fru-to ao iuor.

22| Diípoftos com eftas breves razoensaquejles animps paflbu apraticarlhe as con-veniências do contrato, na forma jaeihbie-cido, mas para que melhor podeíTem diicor-rer matéria tão importante, que pendia deliao focego publico, lhes deu por eferito a maté-ria para que antes de refolver confulcaflèmentre (i

, o q lhes pareceffe mais ucil à conkr-vaçaó da republica ,affinando-lhes dias taxa-dos para reiponderem com asdeficuldades,que íelhepropunhão para fufiftirpeítanco.apontando os meyo? proporcionados , a in-troduziremfe os efera vos da Africa , íem deí-peza mayor dos moradores, a cujos enterefles

attendia

DêAnàrada IlPart.LibJL 19/

kttenáía mais a Mageftade , do que a ingroffar

as rendas Reaes. ;

': ^ /

2,24 No termo ímakdo voltarão os dous

Senadosjuntos , traziaó apontados alguns li-

geyros fundamentos, emque/fe eftribavSó

para extinção do contrato, & outros aofeu

juízo proporcionados à condução dos ne gros

de Guiné ; ainda que nenhuma das razõens,

que reprefentàraó ,parecerão folidas. Como

oeftanco fe tinha feytoodiofo peladeimfia-

da avareza dos adminiftradores , oí pelas ave-

tiguaçoens 1< gaesie tinha achado o dolo,com

que corriaõfalcificadas as fazendas com dano

confideravel dos fubditos daquelle Eftado,

refolveo fechar aquella porta auíura dosaf-

fentiftas , cuia cobiça eitragou hum negoéo

não menos útil ao Príncipe , que conveniente

aos vaffallos.

i%$ Daremos noticia do cafo para que

cm fuecinta relação veja o mundo , as ruínas,

que produz, no comum, a avareza dos parti-

culares. Palíáraõ ao Maranhão os Adminif-

tradores do contrato com a fuperintendencia

daquelle negocio, taxados os preços às fazen-

das ,que haviaõ de meter naquelle Eftado at-

tendendo-fe a qualidade dos géneros , &cor-

ruçaódelles. Como todos paflavaó , ou da

África por comercio \ oudo Reyno por dro-

ga ,& chegafiem alguns mal acondicionados,- os

*98 yiàâ de Gomes Freyreos quaes fe cambiavaó a troco de cravo,tacão,& outras eípecies,violentaví!Õ os AífentifU»moradores a acey tar pelo prc ço das fazenua*

deleyaque]las,queou por chegarem comi-ta*, ou por íerem de natureza inferiores , lhefaltava o valor intriníeco, & como a eltn na-ção era legal ,

&' não do pezo , vinbáa os íub-ditos a receber danoconíideravel, ôccreíecoa tanta demafia

, que parlava jáaqueila repu-r

blica declinada a enfermar avenenada daJnefma triaga inventada para reme diodos ma-les , que ou já padecia , ou ainda receava.

226 Conlidi rando o Governador com a

madureza do feu juizo,por huma parte a po*

breza daquellcs fubditos, por outra a avareza

dos Adminiftradores, quefemattcndercrBaimisleysque as de feus enterefies , procura-váoingioflarfe doiuor alheyoi mandou fe

fuípendeííe o contrato por eftanco, comomataria ao parecer dosobeduntesefcandclo*ia , à dos rebeldes abominável , & a todosodit fa.

tij Levantado o contrato poreítanco,pelos motivos que deyxamos referido, & ou •

tros que calamos em beneficio dosenten fia-

dos, como as miíeiiasdaquelles povos tinhão

JaiiimaJo o comção do Govermdor, íèflj fal-

tar àinceyiczade Miniítro , rcjbiveo compiedades de Pay dar conta a EIRey , do Efta-

do

Dt Andraâa ILPartZihlI. 199

do em que fe achavão aquelles vaífallos / cu-

jas lágrimas filhas da dor fe iaziaó beneméri-

tas da compayxão Real, pela neceffidade que

padecião reduzidos a penúria, que osobrú»

gsria a ir mendigar noseftranhos fuftentoà

vida, fe negada a mifericordia osobrigaíleni

feusacrédores a fatisfazer de contado as divw

das, que haviio contraindo, para veítir , ou

alimentarfe pela falta de efcravos| que fervif-

fem náo menos a agricultura , do que a fabri-

ca dos engenhos dos afTucrcs 9 huns já desba-

ratados até 05 cimentos, outros de todo tão

extintos, que apegas fe conhecia o lugar pe*

ias meraorias,femdeítinguirie pelas ruínas.

iz8 Chegados os quinze dg Outubro de

mil feisícentosoytenta &cincp le recolheo a

efcrcver para o Reyno, depois de darinteys t

conta do merecimento dos homens, naópo»

dendo fem culpa calar os deméritos de muy.

tos , n ferio em poucas palavras , as fales de

hum , §c outro éíhdo, não fendo me nos cui*

pados no concurfn para o motim alguns Ec*

clefiafticos ,que por enterefles particulares,

naó fem cfcandalo da profifTaó, ou injuria do

habito , com pretexto de neceflidade , íc ap-

plicavaô naquellas partes, mais ao comercio

temporal, do que àu fura doei pinto.

a»9 Difcorrco depois lobre ocativeyro

dos Tapuya$;dizendo que aquelles Certoens

eisõ

300 y. Viàa de Gomes Frweeraõ habitados de muytos povos bárbaros di«>

vididos em naçoens deftintas nas línguas,naõ nas crueldades , como todas eraó por an-tigos ódios inimigas,confei vavaô entre fi co-i

mo herança a guerra,que entre aquclles

Gentios aos mortos ,& aos rendidos nas bata-*

lhas alcançava em igual fone huma melmacondição

; porque huns , & outros guifadosaoíeumod^vinhaó afertodos fultento dosvencedores

, que ló achando quem lhe com-,

praíle os prefioneyros fe desfaziaõ delles a

troco de alguns infti umentos de cortir mato,ou outras drogas de pouca coníider xÇaó, queferia acçaô de piedade Catholiça íufpendidacm partealey

, que prohibia aqueles eíçra-

vos , refgaftar com taõ leve defpeza aquelles

iniferaveis , em q vinhaó a lucrar no cativeyt

roa vida , na converfaõ os cntereíTes efpirw

tuaes , ôc o Eftado do Maranhão ie utiliíava

emobreyros para a gricultura, a Igreja cmfubditos , o Reynoem vafíaUos^que naõ eraõ

mai juítificadas as caufas , porque os rece-

bíamos comprados em Gabo Verde, Coita da

Mini , Santo Thomè, Angola , Moçambi-que , Mombaça, Rios de Sena ,& outras par-

tes ; que os Gentios daquellcs Certoens , naõtinhaõ melho r Ocos que os de Guiné, para

quefenaóuianè na America, as meímas kysque le praticavaõ na Africa \ que as demafias

ou

De Andrada ll.Part.Lib.il. 501

ou infultos dos noflbs ,que paffando a tyran-

rtiaderaò occafião aqucfenao conicnmiem

cativcyros daquella gente, fc evitava com El-

Jtey tomar afi cite negocio, fendo os meí-

mòsMiffionarios.os Adroimítradorts, com-

prando^ da fazenda Real fcnv k pre mitir

que algum particular, nem ainda o Go\ ema-

dor do Eirado, Cabo de guerra jou Miniftro

dcJuíliça,os rcfgataíle que nas batalhas que

tiavaó noífas tropas, a alguns daquclles Gen-

tios noílos inimigos padeciaó os miferavefc

eftragos ainda mayores, porque como fc não

tomavaò prefioneyros cortavaó noflas efpa-

das, com hum mefmo golpe, oppoftos', oC

rendidos^eshumanidade horrorofa aos olhos

dacoflip»yxaõ ,aosda indignação grata , que

no que referia náo fazia mais que apontar as

feridas ique na mão da Mageftade eftavaoU

aggravallas mais , ou applicarlhc o remédio.

%$o Ainda naó tinha foltado da maõ a

penna, quando lhe foy neceffario começar hu

trabalho antes de acabar outro. Corrmpor

aquelle tempo não corria no Maranhão/ di-

nheyro faziaô-fe todos os pagamentos' eai

géneros. Dohiam-fcos foldados,que ajuftan-

dofe-lhe osíoldos empano, que medido às

pcffas fazia a quantia certa que fe declarava

mos conhecimentos, depois devididoem va-

ras fe achava quebrar de forte, que em cada

;r paga-

3o 2 Vida dê Gomis Frqrepagamento ouhaviaó derkar alguns defpí-dos, ou todos defraudados, ou o Almoxarifeperder a importância do que exccdcíTe,chegá-ráoasqueyxas ao Governador, &como eractnrefolverpiompto, mandou, que para feevitar aquelle dano

jque huns, ou outros re-

eebcriaó fem culpa, que o AdminiftradorpaffaílG hum recibo , à parte do que fe lhe en-tregava paiaiatisfazer a falta > & que os Atienuitas requei tilem a remunen çaó da per-da diante da Mageftade : com taõfacil reíolu-çaó intcyrou o Marcial , fenl eftragar o poli-tico.

231 Corria ainda no principio omez deNovembro, quando oGovernadpi acaboude darexprdiçaõ aos negócios, fem tempopara rcípnar entrou em novos trabalhos. A-chav;-fe Manoel de Biquimaõ com outros,que parciaes nos deliros, lhe tinhaõ fido com-panheyros nos intuitos, prezo na cadea daCidade de Saó Luiz

,petas, culpas de cabeça

de motim, moíirava-fe ocrimç legalmenteprovado , cv Como ainda confervava as artes,

com que antes fe tinha fey co obedecer do po«vo teve intclligchcia para com nos de algo-dão molhados paíTados por área meuda, quede fora fe lhe adminiftravaó , hia limando osgrilhoens , que com tutileaa gaítos , fe hiaó

confumindo lentamente!

%%% Ser>

DeAnâraia 11?m LibJL 305%\t Sentiaõ osguardas de noyte algum

ievc rumor, mas ajudando no principia que

feriaõ effêytos de algum movimento natural,

ou turtuito fe deícuydáraò de examinar a

èaufa , atè que hum mais advertido <ou mais

defconflado, como pelas oras de filencio fe fa-

fcia a inquietação fufoeytofa ,procurou com

cautella averiguar aquella novidade fingindo

que dormia , veyo a penetrar * que hum Co-

lõmí que pela pouca idade pareceo fe pedia

permitir fèul perigo ,que dentro na prizaõ

lhe aíTiftiíTe , com aquelle artificio tinha qua-

fi fegadasas correntes ,naó bailando a dureza

do ferro , a confervarfe, nem a groíTura a re*

filtir na porfia de tâô brando inftrumenco*

133 Deu-fe ao Governador noticiado

Calo, que admirou por eílranhv),acod indo

Com pffcfté&t a íegurar aquelle reo com guar-

das dobradas , & huma fentinella a viíla, cota

ordem que nao paflàfle nada què prirneyro

fenão re.gÍíhíTe* Como deite accidente fe

deu a conhecer naó citar o Biquimão taó def-

tituido <fe parciaea, nem a Cidade taó foflega*

da como dava ã ter no ferftblante. Receando

o Miniftro da Alçada quê daqueHa Hidra,cu<-

jás cabeças eftavaô ainda por cortar, reben-

taííem outras novas,quepeTíurbaflem a pas,

<fe que vagava o Eftado , refolveo fenteaciafr

H<tUelÍe fcrefcowm <jttc mgíaffado de podei-

creaf-

304 Viàá de Gomes Freyre

creaile nadcitlpuaçáo forças niayores, atre-

vimento fnpcrior, ou na nofla omiflaó , 011

nos auxílios de ftu partido.

234 Para a execução de feu negocio fe

lhe naó oflferteia mais dificuldade * que ven-cer a condição do Governador inclinado pornatureza à piedade , querendo dos iubditos

mais a emenda que o langue. Como viviaõ

dentrodaspoms de hum a mefmacafa, foymais fácil achar oceifiaó de falíai lhe ,- do quede pcrfuadilfo» refiftio ao ptincipio , comadefeulpa deferem mais os agreííores, cujos

delitos naoeftavaó ainda legaímeme prova-dos, quedifKriíTem fentenecar aquelles au-

tos para occaíiaô que todos juntos podcíltmier julgados ; que nos dias que Ihcpremitif-

iem mm devida vinhâo a condenalíos emoutra mayor pena , porque a.morte que le di-

Jatava , fe padecia mais tempo*235* O Miniílro cuja inteyreza não aba-

lava compayxaõ , menos fatisfeyto da huma-nidade do Governador, lhe tornou arepre-

fentar com tantas ' razoens a offenfa dajuíliça

<nas demoras , expondo nos perigos da dilação

onfco de novas akeraçoens, com aquellc»

delinquentes ainda que fem liberdade para

convocarem íeusiequazes, com eloquência

mayor nas miferias para os comoverem , que

animados da compayxaõ fe arrojarão aopre-

cipicio

fV ándrââa ll.Part.Uk lt |6çiipictòdecujofucceíTo lefeguina a ruína de

iodos, que menos euftaria entaó a fofrer *

dor de huns poucos j do que depois atolcrai?

i laftima de tantos.

136 O Governador Vendo a deficulda-

dedediíluadir o Miniftro $ & confiderandò

que naõ podia acontecer algum fueceflb

maó jfem que ficaílè agreflòr na culpa alheai

houve dedeyxar vencer fc acomodando* íe ao

lugar,& ao tempo , em que para cmendà,nos

males já padecidos, dos outros que ainda fe

receavaô» pareceo oexenlplo remédio mais

eficaz que o caftigo, mais proporcionado Otemor que o refpeyto.

237 Trazidos os autos à preleiiça doGo*vernador fe achou ferem muytos os que fuai

culpas condenava a pena ordinária^ por fereirt

os delitos de fua natureza capitães, masco-moaquelle animo laítímado nos males

yos fentia os dos eftraílhòs defprefados ospróprios , inclinado à piedade , perfúadio n%conferencia, ao MiniUro i & ao Provedormòr da fazenda adjunto còrnquem fé haviaõ

de lentenctar aquellas devaffas i foíTem fó os

tresprincipaes os condenados à morte ^ aca^

modáraõ-fe os dous à opinião dofúperiorporque a autorifava naó o refpeyso , íenaô a&

razoensi com quemoftrou íe devia moderaro rigor com os menos delinquentes

1

/.

V %l% En|

|o6 Vida âeGornes Preynx;8 Entrarão a votar na matéria , &Zàoi

mo as culpas foraõ tão publicas,- que atè as

tefternunbasdadefezaacufavaõaosreos,con*

fifcadososberisparaaCoroa feprofevio lca-

tença de morte contra Manoel de Biquimaõ,

Jorge de Saõ Payo de Carvalho 4 & Francil-

Co Dias de Ey vo, que padt eco em eílatua por

jter pofto a peiYoa em cobro* a outros feper-<

doou a vida, comutada em degredos, açou-

tes , ou penas pecuniárias , íufpenfoens de

pôftos , ou offictos j bay xa de Cabos , & offi-*

ciaes de guerra. Com tanta moderaçap uíòu

leu poder dasleys, que noíuplicio deyxouaos delinquentes fóquey&ofos da culpa, ao

executor do caftigo, obrigados.

239 Chegado ao termo de àííínaT a fen*

tença fez naquélle grande coração tamanho

aballo a laftima, que atè o braço lhetremeo

dlfcrte , que depois pareceoaiheya afirma*

fjaffaridoa oprimiílo com tanto exceíTo a dor,

tjuefe lheprendeo por largo efpaço arefpi*

ração , demonílraçâo de piedade tão rara

que a damos a kr como eftranha entre os

jguacs * nos íuperiores poderamos contar

Unica*

240 Ao outro dia em que recolhido oGovernador eftava fentindo os males dos

dons penitenciados ^ que no Oratório íeefta-

jãoapieftande , para falvós os nicos da ultif

Kit

t)eÂnàradatí. Parulib.lt pzfm jornada ,

paliarem peias affi ontas de huma

rnorte infame, a gozar de hUma vida bemat

irerituradá » lhe deu avifo hum ereado^ que

i mulher do Biqiíimao com dUas filhas dori*»

fcéllas vinha abuícailo. Bem qiiizera o Go-vernador, efciízuíe àqueile encontro, emque de força laftimado havia defentir a ma-

goa do fçxo , fem a compayxaò remediar a

pena : mas como á íua piedade fe fazia lance

preciío confolar naaffíiçaS asqtíebufcavaoè

ou na fua fombra amparo?

ou nas fuás razpenfc

alivio, íahio com Urbatiidade nos fúperiores

rara , arecebellas ria prtmcyra íala | oncle já

a$ achou cubertas de luto , & os cabello$ iol-

tos derramando cópia de lagrimas , que fazia

verter a dor com que huma lamentava aper«

da do maridd , as dutras a falta do pay

.

ta4< Refporidérão asíres à còrtezia.dá

Governador poftradas á féíispès, áque todas

fe abraçarão , fem poderem os rogds acabai

que levantadas o íoitaííem i efperoú humlar-

^õ efpa§o,qite daopez;;ir nopeyto fuípen-

deo a voz, ou ria boca os fuipirosembargáraó

as palavras, ate que a may,ent cjue íalárao ain*

da mais os olhos que a língua , rompeo q fi*

Icncio dizendo $ que anão trazia àquelieíu^

gar i pedir a vida do marido* porque ccrta.efe

íava^emqúe íefemofíenfa dajuftiça opo*áira falyar dá morte , fetn rogos o fizera j.q»á

JôÔ Viàa de Gomes freyri

Vinha féarraftada dalaftima a offereceríhè

|

f< aqucllas duas orfáas

*para que no navio que

fe cíhva apreftando pata partir naquella* monçaó-* asmandaffe para oReyno, onde

foflcmfervir a lua mulher j êcfilhas4 & na

fua caia amparadas podeflírrt conlervar ahonra # porque fem bens , Com o íionic inju*

riofo de rilhas de hum enforcado , ficaváo ar-»

íifcadas naquelle Eftadò , onde oscabcdaestem eftimaçaô melhor que o ria fcimento, va-lor mayorafonuíia que as virtudesj

24* Seguirão* fe às lamentações d^ ttlãyi

es clamores das filhas, que fern largarem ospès do Governador pedião inccífantemente*

que pois Minrftro asdeyxava orfâasé Supe-

rior as amparaíle Pay, que as mandafle a Por-tugal onde recolhidas entre ascreadas de fua

familiafervindo efçravas. fegurarião aopi*nião ,

que ajli arrifeadajá não tinbão jpara a t Es-

perança outro porto, nempara a falvação'ou«*

trataboa; porque a defgraça de quem as gera-

ra progenitor as alcançara* não como herdei-rasda culpa i fc não como fuect fibras da penade que feus delitos o fizerão reo* tirande-lhe

com elles na morte o fer, que lhe dera no naf-

cimento \ que pois com fácil defpeza podiaremirlhe a infâmia, que lhe chegava comporção mayor partecipada no fangue ; o mo-yçffç ver quç erão pelo fexo fragiles^pela ida-

DiAn^radallPmMJl %*$de moças de poucos annos, que todos, dan*

dojbe com a injuria no rofto,íe lhe acrevcnaõ,

& veriaó a fiar entre os natura.es com afron*

ca traçada* dehuns.efpetíiculo dodefprezof

de outros, objeto do efcandalo.

X43 O Gavernador,que para doerfe nos

males alheyos naõera neceflario osproferifíb

a fraqueza dofexo» feutindo com eytremq

taô forçofo lance ,em que via a frus olhos re-r

prez-ntado o efpetaculo, da laílima no íheatro

da compayxaê, le foy ncceflai io todo a conte*

as lagrimas, que par credito do valor re-

primio no publice,como fe foíle culpa da peft

Joa as entranhSs piedofas 8 QU offenfa do lugar

osafteâos da natureza,

244 Depois de algum tempo, que o tevç

fulpenfq a magiu procurando conlohllas na

dor, lhes pedio foííem a recolherfe çm quan*

to ficava cu ydando o moio de favorecer a fua

çaula. Defpedidas da fua preferiçi, mandoupor terceyra peflba arrematar na praça todos

os bens do JJiquimaô , os quaes , pagos à eufr

ta da fua fazenda , tez entregar inçeyramentc

para dote das duas filhas do padecente-, fera

de muytas alfayas de preço refervar para Qriem hum eferavo, Izenç \o t que poderamos

aqui dizer % fem parecer exagerávamos , que

para louvarfe cabalmente , empobrecida a

mbQriC4,mçndigaâ eloqueriçiadc palavras.

fio f*ida de Gomes Ereyrè

òs hipérboles de incarecimento. Diga agoraGrécia'* fe no animo dps feus AL xa mires , ouPerfia no coração dos feus Darios ;achou pie«r

fhde que igualafle , ou gcncroíidade,que ex-»

çedefle.

245 Chegarão os definove çJaNovem»vem, em que o Biquimaó fahio a receberpendente no patib.ulo, cqmo premio propor-cionado a feus merecimentos, o eaftigo deluas maldades.Vendo que era chegado o ulti*

ino termo?emquc a vida pifadas as rayas da

rnortehia chamado ajuízo , querendo em taò

incerta viagem Aguiar na tafooa doarrepen*dimento, opona emque fó podja fdv.ufe,

pedindo perdaõ a tQcios que ou tinha offendi-

do,ou fervido de.efcandalo , advertio a obri-

facão, que cad< humtjnha áç obedecer aoyovernador, que fe achava mandando aqucl*

le Eílado,que para moílrar que era aífíítido

{le auxílios fuperiores ltfamenre confcffiva,

que no tempo'que defcmbaicája defacompa-nhado na praya , duas vezes intentara defpa-rarlhe aqueyma roupa huma piítpla ^que a,

primeyra náo#pegàra togo, na fegunda lhecahira amortecido o braço, que pormuytoa<lias trouxera lezo fem movimento ^ caio para

accidmteraro, gt quede yxamos aoconctlfi

ifjTdos que de- tudo duvidáo, on galfc, 014

ÇXil\o providencia, coro que o Çc aguarda-.

PedndradallPtrt.LibJI, fftvaaquelle Cabo em beneficio do Eílado d©

Maranhão , em cujo tempo abraçado a paz

,

j&c ajuftiça le virão ou tornadas a reítitmr ,oi|

p]antada*s de novo. .

%±6 Acabadas de arrancar as ulumas rai^

aes que ainda fe confrrvavão verdes da pela-

da ftdição fentrou o Governador na confide*

ração de aliviar Queila Cidade de huma par-

tcdosvifinhos, de que fechava oprimida,

pela eftreytezadoPaiz, cujaeftcnltdade le

experimentava alguns annos faltando com os

frutos ordinários ou por intemperança do cif*

ma ,011 pela debilidade do terrreno cançado?

ou enfraq uecido da demafida agricultura.

%±7 Gomo para os fubditos tinha çrea*

do attc&osde P,,y, compadecido das mifena*

daqudles vaflallrs , cuja multidão porpobre

fè fazia aoEftado inútil, aos nfeos pefada,

procurou cm beneficio depdos acodir cora

remédio a huns, a outros com alivio ,nao lern

ufura da Igreja igual ao interefie daMagetta-

de, dilatando por aquella partea Religião, 5*

o Império com novas povoaçoens , tirada q*

Cidade de S40 U^ aquella porção cie mora-

dores , que fazia a cabeça do ftíhdo quanto

maispopulofa, menos abundante,cu, mais pe*

fada» ....

$48' Depois dedifeorrer folicito na ma*

teria 8 deu conta aP Senado ,que deyxandosfe

V 4 ouvUL

5 1 i Fida de Gomas Freynouvir attento,& aprovar faciVagradcccoco^mo beneficiocomum a utilidade dos parttcunlares: com aparecer cfc todos manejou logoefquipar huma canoa , em que embarcados,quatro Cidadoens , hum piloto, hum tnge-nheyro, & alguns Toldados os enviou comordem rque navegada a cofh para a parte doSiará , foílcm fondando tqdas as Banias, cn«ifeadas

, 6c rios, que ddcobr iíTem, & (inalados©sbayxos, penetraílcm aquelas barras, em,que

!iem o perigo de ferem acometidos do*

barbaros(,que hibitão luas margens podei]emíurgir

,procurando examinar as qualidades

do Paiz, & achando fítio acomodado à fun-dação de huma Villaadcfenhaflem no lugir,que parcceíle aos moradores mc}hor defien-,favel , aos foccorros mais fácil,

a49 Partirão os enviados, & a dez legoasdediftancia defcobrirão na foz do riolcatuporto tão abrigado ,& feguro.

, que fe dt fem-barcava por prancha , regiftada tuas ribeyrasfe acharão defpejadas de inimigos, ou fofledefcuydo , ou rcfpcytq 4os Tapuyas,queeAcandalifados do noílb ferro , procurarão , eí>eufado o confli&o, declinar ogoípe, corte-»$»aquc deyxau lugar aos noOos ferrar cerrafem reíiftencia ,ou oppoílçâo

, que lhe fizeífetio iuccejlncuílofe, a e fcal la menos glo.nofu

4^9 RckmbiircadQS for^o com cautella

exa-

examinando os matos , lançados diante a.-

guns batedoras ,que cubertas áseftraday íe-

gy raffern qs paflbs das embofeadas , artehcio

Marcial cm que eliriba a mayor parte da dil-

çiplim daquelles barbaros.Dcpois dedílcor*

rerem muvcapavtc da terreno que acharão

tão fértil , & ameno, como fe|Útifftro<» pela

pureza dos *res , aguas, & baftimentos ,conv

muy tos matos de varias plantas agreftes, õç

frutíferas-, defcobrindofe troncas dedefme->

didà grandcza,& copia de madeyra de preço,

& de tudo conducente ao fuftento , $c ao

regallo em tanta abundância que baíbva a-

feaíkcer muy tas povoaçoens,o que alh fobra-f

vadoneociTario,

a? i Pa fiarão os noflps a averiguar a ca-

pacidade da deffimfa que a natureza do terre-*

naorTerecia a feus moradores , depois de efíf-

correrem crufadas todas as eftradas ,que cor-»

tavão a campanha, acharão, que com duas

pequenas fortalezas que ie-lavraíTem nos Ti-

tios que logo abaliía^o , (c fegurava todo;Q

Paiz,que fe comprehendia entre os dou^ rios,

ltacú ,U Mony, que pelo Gertão fc avifinha-

vão ,6c hião alargando ao mcímo paííp que

ambos caminhaváo precepitados^ cm deman-

da da marinha, onde tão arnbtcioios de alheyo

Criftal , como defprefadorcs do próprio m>#ierrjaíepulta,r n'p-Qc«c»0Q Osçafccçlaes/ôço

* rwrme,

I

314 Vj4* àe Gomes Freyrenome, que ou avaros perdem , ou amortalhâopródigos.

15% Regiílárão depois as margens dehum , Sc outro rio

5& como erão caudelofos,

reconhecendo que feu fundo fervia defoílb,os lados alcantilados fie muro a icodo aquelleJargo deftriçQ , que abraça vão fuás correntes,

que fó per ejentro do Certãq havia huma liq-

goa de terra, que a modo de peninfola os di-

vidia , única porta por ondepodiaô recearíe

invazoens doQentio, a qual pela eftreytczaíe fechava com cjuas cafas fortes defendido domar com os bayxos , ôc rcftingas, Simllado oíitio paraa nova povoação , voltarão com hároteyro • que entregarão ao Governador , deque m-forão recebidos comaqu Jlas demonf?traçoens gratas , com que os hábitos ajudadosda natureza ofuzão humano \ fem o tornarfácil.

a5? Agradados os novo? colonos doPaizpelos cnterefTes das pefloas, o Governadorpeii utilidade eipiritual.reprefentandofe-lhe

por alli caminho fácil à converfaó dos Ta»puyas ,por ferem osGerto^ns daquella parte

povpados demuytas naçoens barbaras, hu»mas naturaes da terra, outras que pçrfegUKdas d.-ís cruentas guerras, que lhe faziãoos

pauíiílas, não podendo fofrer x>s golpes, le

imháo reçirado de luas pátrias , a viver na'

quella

PeAndradairFart.mil 3*5

quelh região < km q por apartada fe davão por

fceuni* denoflas armas , como fe o> braços,

& as eípadasPortugoezas nãocheguem mais

longe que os pè* dos que lhe fogem ,ou as

cau tellas fofiem baílantes a .alvar Teus inimt-

^Vf4 Nao menos que pelo efpuitual fe

faziautUodominio da porção deterra, que.

corre dilatada entre os dous rios Icacu, ÕC

Many .do que pelos entere fies temporaes do

Èftado, por cobrir oriofcapecuru, 8ç fea«

charem, em pouca diftonch humas f-Iinas,

queprometiãQ grado rendimento, & app*

voaçSo «nlupr tão, fone pela natureza da

fitio, que ainda (cm arte fortificada podia re-

íiftir a forças mayores, não podendo, ainda

que fe fitiafle por mar ,& por terra ier tao re-

gular o cerco que lhe tolheíle os foccorros de

fora a por ficarem feus rios defembocando no

canal que fe comunica com a Bahia de Saa

]ofeph , eícalla principal da Ilha do Mw"hão. ... y ,

- zft Tirada a planta da povoação , 3v ae«

fenhada a das fortalezas, que os de fcobndore*

trazião com hum breve niapa,em que apea-

daem leúlugar toda a grandeza do Pa.wcom

bofques,campQ?,& çaudçlolosnos, ^weaos

hdos a G paravão da terra 6>ine 4reprelçnioq

aÈlRey o Governador napwieyra ròoiv

çao,

3 *6 Viàa de Gomes FrqrtÇaõ, as conveniências d.*s Cnriilandades nasovelhas aerefeentadas ao corral da Igreja,com a utilidade da fazenda Real ingrotladanos difimos dos novos vaflallos

, que deyxa-dasasabomináçoens daidolatria, dominadaa barbaridade de feus apetites paffaflein dceí*cravos a filhos, de brutos a rachnaes.

%f6 Em quanto r*o Reyno (i refolvia *jpva povoação t como o Governador não faibia gaftar pu perder tempo no ócio, &fca,cbava aliviado do§ negocies políticos refol-veo entrar nosempivgos Marciaes, a quç qclamava náo menos a inclinação, do que afieceffidade de recuperar o credito de noífisarmas

, de alguns annos declinado em muytas.parçes daquele Eftado ,. ou pela falta de for-ças, ou pelademafiada paciência dos Çapi-taens Gçnerars, que não íem vicio pruden-tes, receando as culpa? do valor, cahião nas<Ja fraqueza, não querendo arriícarfe com po-der inferior, comq fefofle falta menor a bay«xi da opinião, que o dcf&yto (Jc hum. mapíacccíTo.

%fj Gomoaquelle Governador defdeoberço, fe tinha crendo nas guerras do Reyno,& era daquclles fo!dados,que não fabendo íq*krar defatenç Jtns dos inimigos primeyraperguntava peia honra , do que pela dilciplwaa.in.il fafãlo. nasdemafias dQsTapuvasvn

Unho*,

T"

fíê Andraâa tlPártUktL $ifíínhos, que donoflb defcuydofazião argu*

tnento de fraqueza ! tendo por afronta ma*

yor que huma nação daquelks bárbaros , que

fem toda a parte ettrangcyra artdava Vaga pe*

los matos dé todos áqmlles Certocns viven-

do decorfo éfem perdoar aos naturaes que o*

jrectbiãohofpedes,nemaoseftranhos que fè

lheoppUnhão inimigos , osquaes aprovey*

tando*fe da nofla còrtezia* aflakavâo todos

ús annos as ribeiras do rio Mcary ,que expe*

rimentàráò rios infuhosem huma guerra leni

derTeiiía ruínas , & efeanda ! os j ficando fonas

Cinzas dos edifícios memorias para .a laíHma,

fto fatigue dos mortos infen.iivos à vinganga.

ij8 Chegarão ao Governador as noticias

das antigas queyxas , renovadas com outras

frefeas $ incarecidas ria dor dos miferaveis,qUe

na invafaõ daquellas gentes fem Fé , fem

Deos , & fem Ley , perdidas as famílias

fazendas < & efcravds choravão com hu-

mas mefmas lagrimas a falta dos bens* mu-lheres, & filhos ) porque como aqúelles Gen-

tios ainda que por mtureza homen$,eráo por

coílurrie feras * íêm perdoar a oppoftos%

oií

rendidos fazião .paflaf pelo rigor do ferro ntè

os que oli a idade , ou o. fexo ttií ntWa das Íey8

daeípada,

ijrg PaíTotí o atrevimento daquellcs Ta*puyas aereíeer avultado de íoíèô #Q nofTó

def-

I -3 lã fáda de Gomes Freyrè

/defcuydp, que já o temor tinha defpovóscíd

de todo aqiíellefitio , cuja amenidade tnbií*

tando regalos «aos ríâtílraes convidava áosef-

tranhdscom eiitererTes. Chegado oavifo poralguns que efcapárâo com vida dadeshtima*«idade daquelles inimigos ^ qúe poucos dias

paflados havião defmaníx liado hum enge-

nho ia que o recevoda invazão tinha deyxa-*

do defeito , morto hum negro que o vigiava*

&deZj ou doze e feravos que fugidos a íeus

fénhores fé amparavão daquellas paredes;

Ouvidas asqueyxas com laflima doGover-nador^não fabendo deílmular ásortenfas^ pro*

curou cmendarlhts o urgulho * eafligada a

confiança.

260 Airída que d Èftado fe achava pela

alteração atenuado $ exníftos os thefourps

com dcfpeza inútil, íe não moftrava com pof-

fes para foportar ogafto de huma empreza/

que huns ajuízaváo voluntária , outros pre-

cifi i mas o Goveniador tendo por mayoi in-

juria da nação fofrer defpreZos ^ dòqueem*penhar as rendas íteaes nos baftime ritos parai

huma guerra j queefeufada nos perdia repu-

tação, & ente refles, feyta nos cobrava o rei*

peyto\ com que antes erlo tfatadas nfaíTiS ar*

mas : formado hum corpo de Cem foliados

PortUguczcs , & duzentos éc trinta índios

com^ndad^s por Joãg Sarayva Capitão. de

Irt-

DeJndrada ÍI.ParuLihJL %ifInfantaria, que entre muytós pareceo mais

proporcionado para os perigos daquellaem-

preza * que acabou com fatisfa§ão mayor dovalor i do que da difciplina.

' ±6 1 Pdffios os noflbs em arruas marcha*

rão formados cm demanda do rio ftícary, por

onde íobirão. otí fiados mais no valor* que

no poder * ou ajudando, que os Tapúyàs me-

dirião noflns forças por noílb atrevimento.

A

poucos dias de jornada , que difcorréráo pelos

matos com batedores diante * quê cubem a

marcha defcobrião aseftradas* pof-fazellas

fofpeytofas os eipeflbs arvoredos * que de

huma j & outra parte íingiáo as margens dòfio copados de folhas j& frutos í que confer-

irão em todas aseíLçoens doanno* ou tem-

perança do AftrOíquealliinflucjí ou qualida-

de oceulta do teneno * em que o verão á Sc o

inverno fe refpondem com a mefma igualdar*

de , de primavera # êc outono*

?.6l AiTeguradoS os paflbs,que por eP

trey tos fe reprefentavão perigofos j com os

batedores,que marchavão avançados em at«

guma diíLnciado corpo da batalha j forâo os

noflbs penetrando ©íntCuor doCeitão, arè

que chegvlrão a diftarícia , em que ou feiitidoá

a caio ^ouavifadosájs vigias qtíc fobtdas emlima dos troncos mais levantados , oceultos

entre as ramas efpiáo os caminhos # que gú ;áóa feus

3 *© Víàà de Gomei Prtynaíeus quarrei*, fe achou a noiía vanguardacortados os batedores quaíi metida em huniaembufeada , artificio Marcial

,para qué não

falta àquelles bárbaros luz , ou diíciplina] %

filas fendo atempo conhecida fónos ferirão*

dous toldados, dos que avançados marcha-vãodiariteadefcobrirdcampo é, quedefeuy-dados do rifeo encontrarão o perigo * ondemenos o ttm ião.

265 O Comandante vendo- íe de fubito

acometido fem tempo para aconfdbarfé ralais

que com a occaíiáo que fe lhe propunha j oude ganhar a honra $ ou de perder a vida, ani-

mando aos leus a peleja com o exemplo coríi

amefma forma è^í marcha * ordenou fe í-co-

meteíTem os inimigos$ que vendo*fe defeu*

brrtos fe moítraváo no campo oufados; Cadahum dos noílos Capnáo, 6c foldado de íi mefmo foy inveftindo por aquella parte

,que lhe

ficava mais perto ^ ou fe lhe propunha mais

certa a vitoriados Cabos falrando-lhcs a quemmandar

4obedientes à forte daquelle dia fe*

guindo o exemplo dosfoldadosy fefogeytà*

xão , com precey tos novo?* aos rigores de husi

eftrarthadifciplina.

164 Àquelles barbards^ttãd bailando

Verfe acometidos de repente r para perderemânimo , ou acordo , nos cfperáVáo tunítantes

o pnmcyro repelão , enxque eahio morto oMU*

*

fDê Ândrada ILPart.Lib.il 3 2

1

Mayoral.com alguns dos companheyros,que

lhe forão iguaes na gloria, & na dcfgraça par-

ciaes: os mais perdida, na falta do Capitão

que os mandava, aefperança defalvarie pc*

kjando, & vendo que osnoílòs rompendopor mu y tas partes léus efquadroens defprefa-

da a obediência de feus Officiacs , fe começa*rão a affaftar com tanta prefía, q a retirada fe*

nãodeftinguio de fugida , deyxando a cam-panha cuberta de cadáveres , depois de rega-

da de fangue dos feridos, pordefpojo muyfosarcos , & aljavas guarnecidas de fettas, humnumero exceffivo depaos dejuncar , & ou-tros inftrumentps a feu uío Marciaes, quelargarão, ou para correrem mais ligcyros,,

ou porque acordandonos osaggravos, nosnão iníuaíTem a vingança , aliviando-fe da«quellas armas, que inúteis já adeffenfa, fó

fervião de peão.

±6$ Cortado o inimigo Com tão pefadogolpe voltarão osnoílbsmais carregados dehonra q de defpojos , com menos hufoldado,que fem fiear devendo nada ao esforço aca*

bou das feridas por mal afliftido na cora, onome lhe fepultou o defcuydo, efqueçimen-toque repetidas vezes lamentamos, dcyxan*do caftigados no filencioa muytos , que crea-

1

luras de feus braços hofirárão aspeflbas , &apatrja, como lcnos homens que cm luas

X mãos

1

íi

'*M

%

$ x z Ftda de Gâwes Freyremãos tivcrão mais illuftres progenitores fofleculpa ou deffey to nafcerem abatidos por caio,oii por fortuna humildes.

> z66 Chegados os noflbs a Saó Luiz ío-*ão recebidos do Governador com demonf-tração de agrado não vulgar , do povo leva-dos como em triunfo , applaufo que hunscelebrarão , como efitereílados na vingança

,

outros como couía nova naquelle Eftado

,

feia veterana paciência, com que íbfriamososinfuItos.Eícureceo em parte hum acciden^te , no parecer de muytos leve , a alegria oni-verfal, com que huns a outros fedavãonoaemboras da batalha os parabéns da vitoriai

267 Acufárão alguns dos fubditos aoCabo íuperior da tropa, quedemafiadamenteprudente , fe contentava com a primeyra fac-

ção* deyxando de feguir os inimigos, que

por íi mefmos desfcytos, fe retirarão comd£fórdem desbaratados mais a ida do te-

mor* do que dos golpes, que achaiido»nosinreyros a noffa irrefoluçáo os íalvára dowltimo cftrago , em que de todos acaba-riáo deyxando-nofc pòraquella parte em pafc

muytas legoas dáquclle Certão . que 0*bárbaros, a que faltava a policia, mas nãoodifeurfo* julgariaõ refpeyto de léus arcosnoíla diteijpUna , noffa cautell* rcccyo de feu

T

DeAnaradtlI.Pm.Lib.il. ?2?^68 Dcfculpava-fe o Capitão alegando"

que era de foldados bifonhos cometer em-prezas voluntárias comrilcofabido; que osTapuyas

, a que não faltava valor , mas difei-plina, ainda que Mimados do noflb ferronao ficá.áo táopoftrados doprimeyro con-flito, quenosnãopodeflèm fazer rofto &quequalquer roao lucceffo bailava a deftruunos, que receara aserabufcadas nos paffo»cftreytos, por onde deneceífidade havia depanar, ôc como pata fcguillos perciíamentéhavia dealargarfe com demafiada diftarteiapor dentro do Certão , vinha a ficar deficil aretirada quando obrigado de algum acoute-cimento eílranho hou verte de reíolherfe.quefe fofie particular fem duvida lenáo defv ari«daquella opinião

; roas fendo quem havia "dedar conta ao bom ou mao fira daquella euerira íe nao atrevera a expor tantosPortuguezeade que neeeffitavamos ,cm humafacçfo, que

'

pcrdidatnosdeilruhia, ganhada não valra oque podia cu iramos.z69 Eltas razoens,que dey*àr5o a muy-os mclmados

,a outro» fatisfeytos,,tôo pode-

ao moderar ador, com que o Governadornagoadododefcuydo, fenda aoccafiãoníeter*» aquellc Cabo ,& propondo-o p£Sí«nploaouaros.«ftigou como delito aqueHc«fe^BCfwdwfucttderfcmculpa.mandan-

A * do-o

324 ViàâAt Gomes Frêjrê

do-o prender como agreflbrna bayxa da opi-

nião de noffas armas, pela fombra,

'que aos

inimigos fe podia reprefentar de fraqueza.

zjo Ainda o Governador não tinha con-

fvalecido na magoa com que odeyxou odeí-

çuydo do Cabo que mandou ao rio Miary,

quando chegou a dar fundo naquelle porto

huma canoa do Pará em que vinha embarca-

do o Ouvidor Geral doEílado, cujo nome

dey?amos no filencio cm reverencia da oc-

cupaçaó,& caláramos osdeffcytos em bene-

ficio da pcíToa, a naó fer falta nasleys da hii

toria emudecer para a relação dos víciosfon-

de contamos as virtudes, fazendo de huma;

memoria "para o exemplo, dos outros lem

branca para emenda.

271 Chegarão à Cidade deSaóLuizd(

Maranhão primeyro que o Miniftro as quey

xas do Império abfokuo, comqucmandav

os povos doPará,dando-fe individual relaça<

do procedimento, com que independente do

minava , 6c outras demafias uiadas com c

vaflallos daCídade de Bcllem , cUjos exceíTc

tinhaó confternado aquelle povo deforte qu

jompera em defatinos a nobreza , a naõ tell

maõ o refpeyto de António de Albuquerqu

Coelho ,áquelle tempo Capitão mor daque

lc Paiz , depois Governador do Eílado doi

MP«osi cargas, de tjuç ofizeraó acrédor te\

VtAndradalWafMMJL p$merecimentos, 6c que adminiftrou com fatis*

façaó da pefloa , iem degenerar de feus claros

progenitores, de que tinha herdado no fam

gue os apelidos , as virtudes no naíeimenro 4

achando nclles paraasacçoens heroycas efti-»

mulo ,para as de piedade exemplo.

272 Naõ nos detemos a çferever fuás

virtudes por deyxar feus elogios a outra me-»

lhor aparada pcnna, que em mais ellcvado

eftyllo nos conte dcfde a infância fuás acções

com os progreífos da vida nos governos ào

Maranhão , Rio de Jancyro , Minas y & An*

gola onde em beneficio da Pátria vçyo acabar

gafto ainda mais dos trabalhos , que dosan-

nos, faltando-lhe para gozar dos prémios a

vida , que lhe fobrou para os merecimentos

quechegou adquirir nós lugares onde mof-

trou a experiência leu valor emulo dotalen*

topelaimeyreza,com que na pazfoube ob-

fervar o Marcial^em na guerra eftragar o po*

lítico.

273 Deveo-fe todo o locego daqucllc

povo àintelligenciadefle Cabo, queattento

làcôníervaçaó dosíubditos; quecomeçavaó

a tumjdriuar incitados^ dosexceíTos doOuvi-

dor , Geiíal , os moveo comreprcícntar-lhe

que tinhaó hum Gomes Frcyre Governador

do Eftado,que nos caftigos executados no

Maranhão; tinha dado a conhecer fu-ajuftiça

X 2 infk*

p6 Viàâ it Gomti Wrtyt

!inflcX^d '

quc íabia l*1**' íacil as injuriasda pcíloa , mas não tolerar as do lugar 5 refe-rindo com tantas razoens encarecidas que nãodefimulaya defeuydos, que podeílem pare^cer atrevimentos, que obrigou aos morado-res do Pará a iofrer antes as demafías do Mi-lilitro, do queexporfe a experimentar a in-dignação do fuperior,

274 Foy o Ouvidor recebido doGovcr-nador com agafalho de hofpcde , do povocom attençoens de Miniftro , mascomo logonos primeyros dias começou a dar moftrasde q ue ospoucas atnnos lhe não deyxavão li-

berdade para diflimular faltas ligcyras , jul-gando e*ceffo atcoque naõ chegava adef-cuydor.| rigor que alguns intrepretavaõ fa-tisfaçaõ a queyxa^os moradores daquellaCidade poB eftarem levantados o naó acty-tarem quando defpachado no Reyno foy aportar naquell* Ilha onde orecolhiaó copocftranho.foy tratado como particular.

%7f Gomo ajuftiça do Ouvidor come-çou a parecer indignação, o procedimentovingança

, vindo a provar com novas culpasas de que a Camera do Pará o acufára. OGo-vernador naó menos attemo à con(crvaçãodos fubditos, do que â reputação daquclleMiniftro, procurou occafiaó de lhe advertircm fcgredo a moderação, com que havia de

ufar

f

DiAniraiaIlP*rLm.IL ^7ufardasleys, & apacicneia>CQm quedey^a

tolerara huns, reprehcnder a outros , Sc fò-

freratodos, que a donde (obrava a voz, era

vicio ufar do rigor da vara *,que a vingança

kmpre era affe&ovii, mwytornais nos que

impunhavftõ aefpada da juíhçj|para íatisfa,

zerie de offcnfaspeffoaesl^floulogoa exph-

car-lhe ate donde chegava a íua jurisdição,

moftrando-lhe com o dedo rtps regimentos o

que tinha excedido oslemites taxados pel*

Magcftade, que moderadas as payxoens , &fe poupaffe as injurias, com que o calunia-

vaò.

ij6 Deftas oufemelhantestraxoens ve-»

yo o Ouvidor a conhecer que naõ podia quâV

todefejava jmascomoera dccfpiritos eleva-

dos , naõ fabendo fogeytarTeus affeftos ^che-

gou a deítemperaríe com tanta demaíia na

€Xtenç4Ó da jurifdiçaó , & outros exceflbs

menos lègaes , que depoíto pelo Governador

do cargo,houve deacabaríhc oexerciciada

judicatura antes que cípirafle o tempo dç

Mifliftro.

277 Socegadoopovòdaaltdfcaçaõ, com

quç o crazia perturbado a inquietação do

Ou vidbr; entrou o Governador naconfide-

raçaó defatisfazer aos júítos requerimentos,

com que a Camera rfaqudHa Cidade ie quey

xava d* feu&antecefl ores lhe terem ufurpada

|

X 4 *^r

3*8 Fiâaie Gomes Pnyrèa eleyçaõ dos Capitaens/& Alferes das Com-panhias de Ordenança, cujo provimento fa-2iaó portempo taxado, havendo alguns quenaó chegavaó a lograr por três mezes a oceu-paçaó , de que refultava dano ao Eftado , pe-los previleg|p da nobreza, de que íicavaõgozando, Spòr.. fedarem aquelles poftos afogeytos menos dignos, adquirindo o mere-cimento para elles por meyos illicitos, de

Nque íe feguia a perturbação do Governo po-lítico, naô menos a murmuração da plebeemula dos grandes por coítume , por nature-za oppoíta aos que melhoraó de forte , que naViHa de Tapuyrapera naó fem efcandalo dospobres fe extinguira a Irmandade da Miíeri-cordia, por falta de mecânicos, porque du-rando osCapitaens , & Alferes fó o tempodos Almotaccis, vieraõ a multiplicar de fone,que naó poderão achar os nobres compa-»nheyrosparaameza,

2.78 O Governador vendo que até asobras de caridade alcançavaô oseffeytos da-quelia fem-razaó, com que os Capitacns Ge-neraes do Maranhão tinhaó izentadasas Ca-

.meras da poífe

> que gofavaõ , & fer contra oregimento, com que EiRey Dom SebaftiaÕtmha provido naquella matéria, confirmadopor EIRey Dom JoaõIV. lhes mandou paf-lar ordens para que no meaffem todos os Offi-

ciacs,

w

.De AndradalLPart.LibJl. 32^ciaes ,& Capitaens das companhias , que efti-

veílcm vagas,ou vagaílem da hi em diante era

quanto ElRey nacdctermimíle o contrario.

O mefmo , fem algum requerimento das par-

tes mandou fepraticaíTc nas mais Villas, &'

Cidades daquelle Eílado. A de Bcllem do

Pará remetco o mefmo decreto com a carta

que aqui daremos a ler iem alterar forma , ou

eftyllo,para que das fuás mefmas palavras fe

veja melhor a izençaò , igual àinteyreza da-

quelle Varaó verdadeyramente gfande]

Carta do Governador.

P Ela ordem junta veraõVoíhsmercéá o

requerimento que me fez a Camera def-

ta Cidade <,& a forma , emque deferi julgan-

do por- taõ conveniente ao Efhdo, que a no-

breza delle íènaõ multiplicafle por meyos

ilícitos^ que para-todo elle paíley a dita ordem

de que VoíTa mercês k poderão aproveyta£

páreccndo-lhe que delia fe podem produzir

oseffcytos, que aqui fe lhe confideráo. Sa§

Luiz vinte & quatro de Abril de mil feiscen-

ços oytenta ôcfeis.

# Gomes Freyre de Andrada.

Deyxámos de referir a reformação de muy tos

abufos , que o poder havia introduzido na-

quelle Eftado , por não moleftar com a repe-

tição

$$p Viàa de Gomes Btyrêtição decafos tão parecidos, que fá o tempofez defferentes , as matérias deflimelhantes,&nos chamar a hirtaria ao emprego de coufasmayorcs,de que daremos em eferitura fucein-ta relação abreviada.

279 Comportas as coufas da cabeça doEftado: entrou oGovernador naçonfidera-ção de dilatar a Religião,& o Imperio.náo íócom algumas povoaçoens fundadas dç novo,ou reedi ficadas fobre as ruínas de outi as des-manteladas atéos cimentos, mas tam.bcm comdeícobrimentos dos Certoens , ou nunca an-tes intentados

,

; ou ainda não conícguidos,procurando por efte meyo a comunicação dalodo oErafii, áomefticando aqueJIas feras,

com mimos, donativos, & bom tratamento aíeus «íayoraes

,que medeando leparavão o

Maranhão das outras Conquijhs de Portu-gal por toda aquella Corta atè Boynos Ayresnas margens do Rio da Prata

, praça ultima

30 Su! da America Portugueza, cujo domí-nio par muytas vezes litigado pendeo do jui-

Zo desarmas.

180 Mas porque o Gentio .que tinha

com fuás correrias feyto inhabiwv<is as mar-gens doR ioMyary.antes povoado de mu yto»engenhos cm que fe. lavrava copia deaííucar,

& outros gcncioã-, de que ie ballecia o Efta-

do , & paílavâo ao Rcyno por comercio , fe

acha-

De Andrada ILPart.LtbJI. 355achava com as forças taõ poftodas docafti-

go,que tinha recebido de noffas armas, que

fe havia retirado para lugares remotos. Re-

folveo o Governador mandar peffoas prati-

cas a bufearçm íuas ribeyras íitió proporcio-

nado a huma praça , que metefle refpeyto

àquelles bárbaros , &cobrifl'e todosàquelles

lugares,em que duravaó nas ruinas as memo-rias de edifícios ; para que outra vez levanta-

dos de novo ferecebefiem osentcreíTes, dtf

que gozavão os donos, recuperadas as quer

bras da fazenda Real.

a8 1 Difcorridos pelos noíTos todas as

margens daqucllerio , fe ckfcobri© em fítio

eminente à campanha hum lugar tão forte

pela natureza, que a pouco cufto da arte Ic fa-

zia inconqui(lavei. Como pela faci! deflfenfa

párecco ainda mais útil, pafTâraõ a regiftar

aqueliedeftritocom attençaõ tio individual,

que naó ficou paffo fem exame» Sobidosdc-

pois a hum pequeno monte que fe elevava

eminente a todo o terreno, 6c dominava lar-

go efpaflb de Paiz : vicraõ adefcobrir entre

humas penhas, huma Imagem da Senhora dq

palmo 6c meyo eftofadaxom feu manto pof-

to,fem das inclemências do tempo aqueeí*

lava expofta , receber alguma injuria , nern

dosTapuyas,que ao juizo de todos a tinha©

levado entreos ddpojos de algumas Igrejas,

que

33 * Fida de Gomei Friyrtqueefcalladas ^ãqucáraônaquelle contornou

2.8z Depois de vários difcurfos , em queos homens ajuizarão com pareceres diferen-tes

, atribuindo hús a cafo , o que outros fáceiscriaó milagre ,como todos fe conformavãocm ter o fucceílb por feliz prefagio ; mandouo Governador abalizar o circuito para a for-tificação daquella Villa, fendo aprimcyrapedra do edifício, aque íe lançou nosaliccr-íès de hum Templo, que ordenou alli fela-vraíTe a Rainha dos Anjos na mefma parteaonde fe confervou ao Sol , à chuva , & aovento fendo de madeyra, & o manto de fedafem, nem hum fedeicompor, nem outra fe

corromper.

285 Agradece© o Governador àMãy deDeos o appareccr em feu tempo fua ImagemCom Jhe edificar cafa, emquefoífe louvadados ficÍ5, a qual fe contornou mais devota quefoberba, a povoação intitulou em reveren-cia da Senhora com o nome de Santa Maria,em cuios auxílios fiado nap íó fácil acabouaquelia obra , mas confeguio alcançar no ref-

peyto dos povos a paz do Eftado , na fogey-ção dos ftfbditos as felicidades do governo.

2.84 Segurado o Rio Myary com tão fo-

berano patrocínio, começou o Governadora renovar o pentamento, que ci azia dedeíco-brir os Certoens daquella parte; empreza,em

que

J)e Artdr &àâII.Part.LiUL j$?

que naó admitia ócio .procurando meyes de

Jenctrar os interiores daquellas dilatadas re-

Sn , de que naó havia mais noucias, que as

SSafis fabulilaváó colhidasdosGennos.de

Sele duvidava pela variedade ,com que

3 refridas/Divulgoufe encarecido o tra-

halho com que fem perdoar a dil .gencw inf

Svanaquellenegoc.omaisfacilded.fcorrer-

fe,doquedecon!eguu-le.

\%< Panados alguns dias, chegou ano-

ricia dejoaó VelhodoValle o empenho do

GÒv^dorjcomoeranaõmenosmtell.gen-

«que pratico doCertaõ, 8c iabia almgu»

geral dos tapuyas ,& outras efpec.aes de al-

gumas naçoens daquelles bárbaros, hfongea-

oodaoccafiaó. felheoffereceo para ospen-

gos daquellacmprela ,que unha de glonofa;

t que lhe fobrava de arnfeada., fltque profe;

guio com trabalho, acabou com latisfaçao

Lyor do emprego, doque fortuna da pef^

foajor chegar ao fim da vida nouk.moter^

mo'dajornada , coníbmido doa defeomodos

Ttaô arga peregrinaçaóemclmiasdirferen.

«s entre GentiSs , de que recebeo em urba-

"dadeagrefte, Scagalalho ruft.co trato hu-

manoW^ nafeahia de todo» os Santos

onde deyxouhum roteyro das terras por on-

de tinha difeotrido: naõ fabemos fea fua pol-

aridade refpondera6 os preituos ao mereci-

' 334 Vida de Gomes Frtyremento dos lei viços com que íoube fazerfcdpmdeefpccial memo, .apelas notic asque«dqu.no, dasquechegáráo ànoflipenS fe

ate\tr::]:ç

mar,slar8acfCTitu,a

' mc-286 Defpedido Joaó Velho do Valle pa.

2?3?*T'T°a «Goverwdor nacoml

rVJ, r n"ha n° Ma"»^ô elpersr doReyno fueceflor

, que o rendcfTc, ou algumaPefloa de capacidade, a que entregar aqudLCapuanm por naó fe acharna guarnic,ô,nemJioj vifinhcs /ogeyto proporcionado cu to

írZT }

°SmO!ad0KS deSaó L^encon-. adospdos ju.nmentcs, em que huns a cu-rros fc culparão nas devaffas

, «è que vendofaltavao nãos dfPo.tugal

, & tinha paffadoamonção para as embareçoens daquelle anno,refo!veo mandar virBaltheiar deSeyxasCou-unhodo Ceríao onde, por naó obedecerãontruzo governo dos amotinados, le haria K -

n«A>»decujonlento,gu,l aocifo rçocinlianasoccafioens enformado com argumento,mayores aexperiencia notempo qtc outrasvezes oceupara o poflo de Capuáo mèr , quefcry» coro valor , adminiftrou prudente

*«7 •Diyx«g>BaHhezar4eScyxssCapí-

De Andraàa ILPart.Lih.II. 35 ^taô mor 110 Maranhão : paíiòu o Governadorao Pará. O muy to

,que em beneficio da Re-

ligião,& do Império, obrou nàqúel ia parte

daremos a ler em outro livro, onde efcrevere*

mos com elcafFá penna, 6c eftyllo breve o me-nos dos progreíTos de fua vida,que acabandocom faudadts da pátria , dura na lembrança,

fcm fe extinguir nas memorias , a donde per*feyera depois da, morte feu nome mais integ-

ro na tradição , que nos eferitos, na fama me-lhor

, qrçe nós volumes.

/mK&\&«\Í(

VIDA

VIDAGOMES FREYRE

DE ANDRADAGovernador , & Capitão General do

MaranhãcçCenéral darAneibariado Reyno do Algarve.

Segunda Parte.

LIVRO TERCEYRO.

Aminhava já declinado o

mezdejunhodemil feiseen-

to$ oytenta & íeis, tempo,

em que refpirnva de todo empaz a II ha do Maranhão: ven-

do o Governador , ou elquecidos , ou deíTi-

mulados os ódios dos viíinhos de Saó Luiz,

refoluo partir para o Pará, onde havia muy-

i

r ws

DeAndrada ILPari. Lib.llL 1 5 ytosdiasodperava o povo da Cjdade de BeUkm como redemptor dasmiferias * a que a ti-

nha reduzido a relaxação das leys interpre-

tadas em beneficio dos poderofos, naóíemofílnfa dos humildes*

% Nas veiponis da partida fe recolheo

com o Capitão mòr Bal theíar de SeyxasCou-

tinho ,quc deyxava governando aquella por*

çao do Eítado ,que comprehende toda a cof-

ia ,& Certaõ do Siará para o Maranhão , de-

pois de lhe recomendar com palavras gtraes

o bom tratamento dos íubditos, lhe deu porefcrito hurri regimento,em que lhe ordenava,

queattento primeyroàcauladeDeos,qtte a<$

íerviço do Rey fizeíTe guardar inteyramentè

todosos privilégios concedidosaos Miíliona*

rios da Companhia de Jefu odiados naqudlascartes pelozello , com que procurada a con-veríaó do Gentio f fem pouparfe a trabalhei

ou a perigo , confeguifaó evitarfe o cativey*

ro dos Tapuyas , que impedia a redução da-*

quellas almas aogrernio da Igreja; qíic lhedaria todo o faVor para o exercício das miAíòens ,queeftavaõa feu cargo; atíendendo aque fenaõfaltaíTe à eftimaçãò que fe devia fa-

zer dos Rcligiolos de outras profifloens,nerri

ao refpeyLo dos Ecclefiafticos , a que não ne-garia ajuda do braço íeculár noscafos que fé

«oftumav.a pedir, que naò cotífemiria,que

X aos

3 3 8 Hdâ de Gomei Freyrê

aos Cidadocns de Saó Luiz fe lhe quebraffemfeus foros , jiem que a plebe fofie maltratada

dos poderòfos , ou Officiaes de Guerra *, quevigiaria fobre os da fazenda Real, que naópadccefledelcaminhos ,nem experimentaflè

falta na boa arrecadação : que cuydaria em a-

judar aos Miniftros da juftiça em ordem aobíêrvancia das leys : que naó confentiria fe

retiraíTem índios dasAideas fem ordem ex-preíla $ que os que fe atrevefíem a alterar nei-

ta parte os preceytos da Mageftade , medidaa pena pela grandeza da culpa , lhe arbitraria

ocaftigo * que conftando-lhe que algumaspelToas praticafíem os índios contra os Mif-ílonarios amiaflando bus » & intimidando ou-tros, averiguado o delito, -lhe remeteria os

reos ao Pará: que qualquer noticia, que ti»

velle de que algum intentava perturbar o fo%

cego publico, ou amiaffar a outro por refpey-

to do juramento da alçada , o mandaria logo

ao Pará para os caftigar, òu inviar ao Reyno;que Joaó Velho doValle fe achava trabalhan.

do com cuydado incançavel nodefcobrimé-to dos Certoens dos Rio« Mony, Itapccurú,

& Peragaflu onde tinha praticado , & fcyto

pazes com muytas naçoens , com intento deperiuadir aqu lies bárbaros a mudarem fua

habitação para as veílnhanças da Ilha do Ma*ranha© , facilitando por aquelle mcyo a paíTa-

gem

-

f

DeAndràda IlParhGUIL $&gem das ferras do Siará, 5c a comunicação da-

quelle Eftado 4 com as povoaçoens dos Por-tuguezes ,

que habitavaô as margens do RioPeragalTú , pòr fe entender era o que os noí-íos do Braííl chamaõ de Saõ Francifco

; quevindo alguns Gentios a ampai arfe à fombrade nofias armas, rendida £ obediência ano£ias leys, Ihcsaflinafle fido àíatisfaçaô dos no-vos colonos íem prejuízo dos outros vaflal-

losf & os íbccorreria com inftrumentos , &

índios domefticos , que c/s ajudaflem a lavrar

a cafa , & agricultar as terras , acodindo*lhescom Miffionarios da Companhia de Jefus , aquem dana os línguas que feachaffem, &querendo os Padres ir ao Certaõ com oSGentios, osprovefle dos meyos neceíTarios;

que recebendo os noffos alguns iníultos dosGentios , executaria todo o género de eafligo,*

quevingaíleaofl&níãj porquê Gnoflofofri-

mento não viefle a parecer refpeyco a feu po-der.

j Dadas as ordens de que dèyxamos aquifeyto memoria, & outras muytas, que pornaó moieítarmos com relação importunadeyxamos no íilencio : começou o Governa-dor a entender nosapreftos da fornada .çujatf

difpoíiçoens lhe levarão alguns, ainda quepoucos dias. Chegado ©ultimo da partidsy

conçorreoftacompanhalta ,à votada nobre-

Y % 23,

$4° '.FiàââtGòtneshiyrè

zayhuma multidão da plebe; no cães fedef-

pedio de todos ,que naó fabendopór termo à

dor moftráráo nos. olhos os effeytos do fenti*

jnento , no fernbianteos da íaudade.

«4 Embarcado nas canoas que do Pará ti*

rihâo vindo a conduzir apeffoa, & a família

foltas as> velias foy com vento fcyto coftean*

do aquella porção da America meridional,

que de vide a Cidade de Bellem da de S; Luizpor efpaíTo de duzentas legoas pela volta domar, naó fendo mais de cento & Íeflent3 por

terra, caminhoique por entre os matos da-

quelle Certaó , dticobrio a neceffidade dos

moradores da Ilha do Maranhão , na retirada,

?ue na guerra dosOlandezes fizerão para o'ará , eftrada que depois tornou impraticá-

vel , fobre outros refpey tos, a facilidade , comque fugiaõ daquella praça os índios , que vi-

nhaó preíloneyros de guerra do rio das Ama-zonas.

5 Noprimeyro dia da viagem, quandoforçados os remos fé achavão já ingólfados,

fe levantou de repente hurrja tempeftade tão

horrorofa aos olhos dos timidos,que naó hou-ve valor atè nos mais oufados, que reíiftiffe ao

receyo de perder fe. Começou a correr humtemporal rijo pelo olho , com que increfpa-

dos os mares, íe tornarão em breve efpaffo

tão verdes ,& cru/^dos ,que vindo a quebrar

1

" m

"

f

DeAnãrãallMètMMm. f0cm flor as ondas alagavão ^aS embàrcíagoehs

por hum , & outro bordo. Com a morte bé»

bida , vagos na tromènta km goVerrio ,forãõ,

a Deosmifericordia, nadando àdifcriçaêd^

vento , efpera^dõ em cadáinftahté o naufrá-

gio continuo , em cj diícorriaó fem poderetíí

vencer a sgua ,que trabalhavão incançavèfè

por efgotar com baldes. As canoas , ainda qfoel

por leves íbfrião melhor aquelles mares atórados, como levavão asveUas ferradas, ou

quaíirazas aopè domaftró, çoçobrada* noembatera hum mefmo tempo feviaó fumer*

gir , ôc fordir lobre a vaga. > l

6 Ajudava ao temor dos paffageyros odefmayo dos pilotos

i& rnarinheyros

,qué1

defconfiados da falvaçaõ em; mares taõ grofc

fos, encareciaô ò perigo, no receyo, cjue rriòf-

travão , de acabar a vida em cada rajada , atè

que pafladas algumas horas do dia v em que a 1

ierraçaó durou com pouca diffcrença de noy*

te , começarão calmado o vento , a íerenarfe

os ares. Vaiado o tempo em favor doâ nave-

gantes , tornarão as erabarcàçcféns obedientes

aos preceytos do leme , a continuar a viagemfem os> horrores , de que ainda na bonança fe

deysava conhecer sem huns ò^temor do pró-

prio dano, nos outros[ti laíirma do Governa-dor , a quem , ou foíTe àballo do fufto , ou in-

diípofiçaõ dos humores fobreveyo húm ac«

Y J'

. . cidente

mâajkGmèflfrmçidente dç pedra,cotj> dores tao intenfasi queexperimentou no achaque rifeo igual , ou íu*

perior 30 de que já tinha efcapaçjo na tro*

menta.

7 Convalecido da enfermidade, & todoslaivos do perigo foraõ navegando fem foço*

broatè àenfeada chamada Cabello de Velhapelos muytos bayxos daqqella paragem.Aquifobrefaltou a cada hum a viíta laíHmofa deajgu/nas toboas, & hum pedaço de eafco de

ftavio desfeyto , que* nas ruínas davão comcerteza a noticia de poucos' dias antes havernaufragado nas reftjngas , de que he povoadasqtiçlla cofta

|Crefcep o cuydado na falta de

nao do ELeyno.* ajuizando qqe defeahindo

com as aguas , que alli correm cpm mayore*

fluxos, & refluxos, fora levada de feu tnefmopezq a aílentar fobre os bancos de arca , ondedefpedaçada fe moftrava eJpetaculo da magoaaos olhos dacpmpsyxãp, aos dos enperehVíjos objeâp da dor.

8 QGovernador,que no fqrablanteda-

Va^Jeroftntimento, íem admitir aconfola-

ção,do$que por alguns pedaços que errandono imbate das ondas fe deyxavão ver demaispirto , affirmavão ferem reliquiasde nao ef-

trangeyra,que ignorando os bayxcs vícra.a

encalhar naquejla paragem, em que íeforáo

^efcpbrindo na praya alguns: cadáveres* que

t f olhados

1

De Anârâàa II.PafcáMU. $4|olhados não fem horror íevtáo comMim*.

9 O Governador , a quem tinha cortada

aperda d*>s miferaveis , não querendo paffar a

diante tem averiguar as certezas do caio

;

mandou remar para terra, que tomou embreve efpaffo por hirem as embarcaçoens

.

muiycoíidascomelia, Dado fundo fahio na

praya , donde defpedio algumas partidas, que

examinada a marinha , &: os matos yifinhos,

forão defcobrindo outros cadáveres jà disfor-

mes,dados à cofta,Chegados à foz de hum rio

que alli perto corria a defaguar no mar , en-

contrarão com três negras, & hum negro de

mayor idade, acompanhado dehumafua fi-

lha ide tão defmedida grandeza que excedia

na eftatura meyo palmo à do Governador,

que era mais de ordinária,

io Trazidos à prefença do Governador,

como na fua tâmilia fe achavaó alguns efera-

vos de nação Ardas ,queaindaconfervaváoa

lingua materna , fç entenderão huns* outros.

Perguntados pelo fucceílb referirão do prin-

cipio ,que hum navio de Brancos fora refga-

taraCofta da Mina, onde ieachavão prezos

muytos^Ardas tomados na^guerra ,que entre

íi trazião porfiada aquelles dous Principes^ÔC

como entre aquelles bárbaros fenão fazdif-

ferença de priíioneyros , a cativos » os vende-

rão eferavosj àquelles contratadora ,que af

Y 4 firrnavão

I' $44*m

Wàa út Gomes Frèyfè#rmavão ostraziaõ para negocear nasCon.quiftas dos Portuguezes, mas que a gente da-quella embarcação nãofallava conto aqueUJesqueallivião, nem como os moradores daIlhadeSaó.Thomé, queem varias occafioenstinhão chegado com fuás nãos aos portos doP^yno de Arda, aonde hião humas vezes porcomercio ,& outras por neceflidade.

1 1 Depois de contar o que deyxamos re-ferido, paliou o preto a dar reíação do naufra*gio, que vindo a nao defpedida com humvento rijo tocara de noyte em hum bayxo, fi-

cando atravcffada fem governo , nem poderfurdir por mais que os marinheyros trabalha-rão por falvallâ do perigo

,que as horas , & o

temor fizerão parecer mayor na confuzaõ dasfombras, que mu ytos íem acordo lançadosao mar íchàrão a morte onde a fugiáo , que &*

manheceraodia,em quecomapniBeyra luz,

reconhecido melhor o rifco na nao de todoçoçobrada por varar fbbre as reftingas, &com a força: dos mares * que andaváo verde?,por terem entrado os ventos géraes

, que cur-íavão rijos naquellas partes , & as ondas que-brarem em flor fqbre o coíiado, em brevetempo por todas as partes aberta , começoua ruimrfe com dano irreparável dos donos, &das fazendas.

i% O Capitão?a quem no exceflb â$

perda

De Anatada ILParuLib.IIL 34Çperda alcançou mayor parte na dor ,que ad-

vertido na delgraça mandara fazer huma jan-

gada , quenella, & dous bateis fe meterão

todos osquehaviãoefcapado, Ôcforaõ a va-

rarem terra, onde recolhida algumaiazend4que tinha fahido na praya , íe ingolfái ão ou-tra vez, deyxando todos os negros , que a-

chando-fedefamparados, feforaô metendopelos matos , que clle vendo os não podia fe-

guir pela muyta idade , que lhe era demafiVdamente pefada ,fedeyxara ficar

,que aquei-

la preta mais avultada era íua filha , que obri-

gada :dds a ff ftos dn natureza o não quizera*

largar, que as duas pretas que<alli feachavãoa doença lhes impedira retirar- fe,- que duasluas havia , que paílavão naquellas áreas fuf*

tentando4e de algum peyxe que comião cru,

& frutas agreftes,que colhião no mato.

1

3

Delia relação veyo a conhecer o Go-vernador que o navio naufragado era embar»caçaó Olandèza da conferva de outra

, quecarregada de eferavos da Africa tinha poucosdias antes aportado no Maranhão , deyxandoao Capitão cuydadofo a falta de huma quepartira diante com carga de negros era de-manda daquella Ilha.

14 Aliviado o Governador dos cuydgdosemqueotinha poíloadefgraça: dqfceo o ne-

gro à praya , donde molhou o lugar ,em que: tinhão

546 Vtia. de Gomes frtyft

tinháo naufragado em hum bayxo pôuc©mais de hum tiro de efpera diftante de terra,

que ou o defcuydo do piloto, ou a pouca pra-

tica daquelles mares , naó deyxou marcar n*

tarde.O preto com a filha , 8c as duas compa^nheyras mandou o Governador recolher,re-

comendando aos feusefcravos as foíTeoi cati-

quizando, ©rcomo naturaes da terra fc ênten»

dióoa lingua , no tempo,que gaitavão na via-

gem , aprenderão os myíterios principaes derjoíTa Fé, pela qual trocarão as abominaçõesgentílicas, chegados aoParáforao inviados

a huma das Aldeãs , a que affiítião os Religio-

íos da Companhia de Jefus , onde cm poucosaias efpirou o velho com todos ospiedofos

idos de Chriftão, acabando de lavarfe naagua do Baptifmo , em cuja graça recebeo os

merecimentos para a gloria*

IJY. Livre o Governador do furto, man-dou vogar as canoas , que achando o mar ley-

te ,..& os ventos galernos foraó furgindo pe-

las trinta & duascnieadaSjOU bahias ,que por

aquella coita da>Aaierica faz o Occeano da

íllfa do Maranhão, até a do Sul nabocca da

barra do GramParà, atodas,foy fondando,

tomando as alturas , finalando os bayxos , &fazendo hum rotcyro da jornada com indivi*

duação, que aqui eíoaevc remos"em beneficio

da hiítoria menos attentos à moleítia ,ou faf-

tio

m

De Andraàa Il.Pârt. Lih.Ill 34?tio que caufa alicio de femelhante género de

relaçocns.

16 Parladas as Bacias de Tapuitape™,&

a deJoaõVazCalfoao, a da ponta de Jagoro-

quá,adeCurumaità, a de Suafuità, ferrarão

a doCabello de Velha , donde ferão deman-

dar a de Cacipoeyrá , daqui difeorrerado pe-

las de Turirraná.&Oturiaffu, angra tão di-

latada , que de bua parte à outra fe não deíco-

bre a terra, navegarão as de Motufquà , a do

Cararà, a de Maracuíforné, a de Apirocab^a-

hi a das duas Irmãas ,.« de Iririmornn , a de A-

eorupi ,de Percai iná , daqui ie feguem as de

periatingà , a de Toque imboque , a de Bu-

ranongà, a de Aponga , a de Mamgitubà ,a

deOcutipurú,de JapeViqu*,â de Apirabaílú, a

de Pirabá) Merim , a de Goaripipó t a de Bi-

rimbíibá,q^frcam ponta das;Salinas:, def-

ta íe vão a demándac as de Maracanà , axie Ja-

goapiporá , a de Gogiitubà, &dc Boquimon-

gà, a da Avegiac, daqui fe faz viagem pela cof-

ta da ilha do Sol de terreno alto, 6c enxuto de

ares puros pela influencia do Aftro ou quali-

dade oceulta do clima falutífera,accidente rá*«

ras vezes encontrado na natureza daquelles

Paizes.Terà Je circuito: dez Legoas , fica vinte

& féis ao Su !

,da boca do rio das Amazonas,do-

m com pouca dcflvrença da Cidade de Bel-

lem com hum porto em huma dilatada Bahia

por

}4$ Ftda de Gomes Freyrtpor abrigada a todos os v#ntos igualmentedeffenfavel , ôc fegura , com altura nasmaiéseheyas,capaz de entrarem nãos de todo o.por-te,dentro com fundo para ancorarem fem rif-

co muytas nãos grofías, que amparadas da ter-

ra por todos os lados, pela eftreytcza da en-trada ficão deffendidas naô menos dos tem-poraes, que dos inimigos: daqui fe navegapor dentro do rio aenfeadadeSanto Antó-nio, donde muytas vezes em huma maré Cevay ferrar ocaes da Cidade de Bellem Capi-tal daquella Capitania,& naquelle tempo re*íidencia mais ordinária dps Governadores doEftado do Maranhão.

17 Lançado ferro no cães da Cidade deBeliem, faltou o Governador erri terra , ondejá o efpeijtva , com os Vereadores em corpo«è Cabido

| huma multidão: de povo. Comoprimeyroque a peílba tinha chegado af„raade fuás virtudes, foy recebido de todos comtantas demonftraçoens de alegria, quepare-'-ceo celebra vão feus próprios cnterèfles, tri-

unfando na gloria alheya.• .- 1 8 Armaraõ-fe as ruas por onde havia depaíTar com varias fedas , &: tapeçarias táo dif-

fe rentes quemoftrarão aos olhos na riqueza^os vilinhos^hgofto, comqueaquelles íub-ditos feílejavão a- vinda do íuperior , íahiraõ

as portas os velhos ,& meninos., & attè os dc-

crepi»

DéÂndrãdálLPart.LiMIL 349crcpitos arrimados aos hombros de outros,ou

nos bordoens , não tiverão aquelle dia a idade

por pezo , nem por carga os annos : as matro-

nas ,& donze lias deyxados os eftrados, algu-

mas levando nas mãos os inftrumentos dolá-

bbr em que feachavão occupadas, & todas

cfquccidas do recolhimento, fe a (Tomarão às

janellas, Sc cyrados, ajudando ao applaufo co-

mum com hum novoelpetaculo, nãofaben-

do por taxa ao encarecimento, com que do a1 -

to proferião os louvores da peíToa , repetindo

srpiedade, com que no Maranhão amparara

asorfãas do Biquimaò, & favorecera hum,& outro fexo, íemnoque com huma mãocortava aefpada dajuftiça, oflender o queem outra pefava o fiel da miíericordia.

19 Comeftatão ma orientação foy le-

vado à Matriz daquella Cidade, onde enca-

minhava render ss graças de tantos benefí-

cios aoDeos, de que fe reconhecia creatura:

aqui poftrado diante dos Altares; rogou a

Maria Saniiffima, de que era eípecialmente

devoto foíTe íuainterceflbra, paraconkguiros auxílios divinos ,& de que os recebeo effi-

cazes he não vulgar argumento a felicidade

defeu governo entre homens, em? que a fo-

geyçaõ era cortezia , temor a obediência.

20 Difpedido com não menos venera-

ção das In^gens* que reverenciado Templo,tornou

35° Vià* de Gomes Freyre

tornou a ouvir repetidas de hum, & outrofexo,asaclamaçoens,ck vivas por todo aquel-le caminho que guia ao Paflb , ondefoy a re-

colhcríc por entre huma multidão da plebe,a volta danobr-tza, que fem pór termo aocontentamento celebrava aquellc dia ou co-mo primcyro das felicidades, ou como ultimodas nu ferias.

21 Recolhido no Palácio, que alli fe la-

vrou fbmptuofo paia mo*ada dos Governa-dores

, poucos foraõ os dias, que tomou para

deícançò, tendo por perdidas no ócio, atèaquellas horas, que gaftava em receber dosmoradores os parabéns da chegada , a cujas li-

fonjas por não parecer pelado , rtfpondiaõrinó menos o ftmblante, que as palavras,comdemonílraçaõ grata j fem em tanto diícuy-

darfe de attendtr incnnfavel aos negócios po-líticos do Eífodo. Entrou namolefta confi-

deraçao de dar caftigo , quefervifle a outros

de exemplo, a alguns Typuyas doCertaó,de que tínhamos recebido efcandalos mayo-res,que cada dia crefciao mais avultados à vif-

tado íioffo fofrimento , diícorríndoaquelles

bs rbaros taõ foi tos em noflo da no,que julga-

vaó tolerávamos já pelocoflumc a injuria eje

feus infultos , naó já como offenfa , fenão co-

mo neceflidade.

il Em quanto para efta guerra fe demo-rava©

De Andraiâ IlPart.Lik III. tftravao osapreftos no tempo que nos impedia

aquella jornada, por haver deftzcrfe por al-

guns rios f que pela falta de agua fenáo dey*-

xavaó navegar no veraó , feenterteve o Go-vernador com novaexpediçaó., ainda que demenos perigo, de não inferior trabalho

, porhaver de dar á execução muytas coufis

; quetrazia premeditadas ,as quaes conduzi&oa re-

formação de muytos abulou introduzidos,oúdeífimulados naquellc Eftado pela froxidaô

dos fuperiores, mais attentos a confervar oscómodos das peffoas , do que fatisfazer as

obrigaçoens do cargo.

23 A primeyra cmpreza,que intentou,&veyo aconíeguir foy arrancar como ori-

gem de todos os males , o defprczo , com quefe tratava a obediência dasleys , que aquellesvaíTullos ourecebião como affronta, nuto-mavaõ como eícandalo, relaxação deteftaveí,

que abominavão todos , nenhum remedeava,por fe achar tão introduzida na liberdade da-quellas gentes, que imitados os vícios dosíndios por natureza bárbaros, fáceis adultera-vão os preceytos dos fuperiores , fem baft «r

para obfervancia dos decretos daMageíhdenem a brandura da voz , nem o vigor da vara.

24 Entre os negócios da fua inftrução,levavao Governador , com mais efpeciaí re-

comendação daMageftade, o de averiguar

algu-

3 5 2 Afcíir* Gomtt Ireyrt

algumas qtiey-xas,que tinhão chegado ao

Reyno,de Dom Gregório dos Anjos,a quemnão menos as letras, que as virtudes fizeráo,

entre muytos beneméritos , mais digno daeleyção para primeyro Bifpo do Maranhão,& achando-fe verificavão os defcuydos deque era notado *deyxavá EIRey aíuadifcri-

çaõ ,ou reprehendello naquelle Eftado , oumandai lo para Portugal , onde defterrado napátria receberia depois do caftigo de algumasdemafias o perdão dos exceflos.

zf Erão os principaes cargos de que a-

cufavãoaquelle Prelado a refpeyto da maté-ria dasjurifdiçoens, que ateftavaõ procura-va eftender fobre as reaes : offendião-fe os

Miniftros fecuíare.s do império, com que fe

oppunha a execução das ordens fuperiores,

mayormente na refinxncia , que fazia , nãoquerendo fogeytaríe a fofrer o juizo da coroa

tribunal que tolerava coro menos paciência,

repreíentandofe-lbe eregido em beneficio

dos reos , contra a imunidade da Igreja, que

lhe perfuadia oleueícrupuloeftava obriga-

do a deflènder ,confervados os foros Eccle-

fiafticos , atè ou porelks por a vida , ou der-

ramar o fangue das veyas,julgando aggravo

da mitra, conhecer a coroa das forças, para

remir violências.

26 Eíte feiç duvida era oconceyto da»

quejle

De Andrada ILPart.Lib.UL 355quelle Prelado que huns ajuizaváozel lo, ou-tros intrepretavão mais ambição quê juftjça,

mayormente na opinião dos que fáziaó argu-mento dos procedimentos legaes de algunsJMiniílros Eccltfiafticos daquelle Eftadomurmurados de menos juffificados. Impu*nhão-lhe além de outras Faltas a culpa de nãoacudir a íbcegar o motim , de que havia famativera noticia antecipada ao fueceflb

, não fal-

tando quem aíHrmaíTc fomentara na omiflaõo tumulto do povo

9não eftranhando alguns

Eccléfiaftfébs que o aconfelhárão de publico,entendendo fe defculparia fácil com ©acha-que da diftancia de duzentas Jegoas, dondenenhum remédio podia chegara tempo

, ouler efficaz a fazer çonvalecer do contagio, quetinha lavrado com força mayor, ou nadef»poíição dos humores , ou na falta demeyosproporcionados,

27 A eíles deffeytos, que fe aiuizaváo

intoleráveis npPaflor, que por officio era

obrigado a procurar, como porção mayordo pafto efpiritual , a paz de fuás ovelhas , a-juntavão outras faltas ligeyras , que nãofer-vião mais que dçinfaítiar os ouvidos comaretaçaó importuna, as quaes deyxamos noíllencio por não infamarmos o fagrado dapcíToa comeafos, que ainda na opinião dosfSalaffe&QSfc não pinhão de çuipsj mais qw

Z aquelk

$<4 PM* àiGomts WtjHaquella parte, que naafpereza do génio, íè

notava de imprudência no fogeyto.

1% O Governador que fcmpre venerou

os Miniftros da Igreja comattençaó defupe-

riores , com reverencia de pays aos Prelados*

depois de examinar com individuação todos

osdefcuydòsdoBifpo: achando que em al-

guma parte faltara fem culpa, & outras que

as circunftancias as faziaõ menos graves , tor-

nandonfe4he peccado moleílar aquelíe, a

quem a dignidade creára refpey^smayores,

as cans authoridade,5c não podendo diffimu-

lar fem faltar aospreçeytos fòberanos^foy

defirindo a admoeftação , que EIRey lhe

mandava fazer, ficando a leu arbítrio mandai-

lo para Portugal como reo, oucomo'inno-

cente deyxallo no Eftado.

2,9 PaíTadosmuytos dias, que depois de

ouvirdehunsaslifonjas ideoutros as quey-

xas i gaitou erá beneficio da plebe íegurando

aos pequenos da tyrannia dos poderofos , que

obrigou a ceder daquelle abibluto império,

com que 'domina vão fobre os humildes já

cançados de obedecer a muy tos ienhorcs,que

os deiprefavaõ abatidos , tràtavó pouco me-nos que eferavos.

Jo Vendo hum dia, que o Palácio íe ac-

enava focegado do tumulto, dos que ou por

çfficio, ou porlifonjà affiftiio aramados a

fuás

I

®eÀndràdalI.Pm<Lib.IIL 3^fuás paredes, arraíhdos menos da corteziaque dos entercfies. Bufcadas as horas mais ei-cufas

* fem outra companhia mais que a de hucreado confidente

{fahio furtado aos compri-

mentos por huma porta ílcreta, & tomadasas ruas mais foi itams[foy demandar acafadoBifpo

, que achou tão defcuydado, como

quem tendo por eftranha femelhante vifitaMaoufada naquclle Eftudo, anaõ efperava,nem a pode efcuzar.

3 * Acabados os primeyros comprimen-tos, paliarão das cortezias , com que aurba-nidade coífcuma em femelhantes occafioensoííercccr rendimentos de palavras , a trava?pratica fobie matérias diferentes, vendo oGovernador que aquelle Prelado , feremdaaquclia primeyra pmu; b« ção, em que o poza novidade, ou a condenem culpada , fenãotoyacharfe alcançado de não íeroque fean-tecipafle a bufrar em luacaía aquelle hofpe-de

, emeuja afLvelidade confeíTava depois aprender a moderar nas pay*oens do animoos afTeaos da cólera

, aqueera inclinado pofmuraa, por habito precepitado.3a Corno o Governador vifíe que ò Bif-

>o entrado já em íi fá achava livre do fufto B> tinha alterado íe poftrou a feus pès

, pedinllo-lhe o ouyifle, o qual entendendo procura-racomritolavarft das culpai aa fome da pé-*

Z % nitençia^

3^6 PiâaièÚofnérFrêfrê

nitenciâ , fe lhe inclinou com picdades de

Confefíbr , & affê&os de Pay , mas a poucas

palavras veyo a conhecer, que eráopeccados

do Paftor, as offenlas que aquella ovelha acu-

fava ientida, repetia magoada.

33 Como o Bifpo ignorava a publicida-

de, com que feus deffêytos efaó divulgados

Ba Corte > onde difcorrião por encarecidos

ainda mayôres do que os tinha cometido.

Começou a temer» & atreiner, ou de ar-

rependido, ou de envergonhado, defabe-

rem-fe os deméritos , com que a pefioa ad-

roiniftrava aoecupação, no mcfmoReynoj

a donde ps merecimentos o predeftinárão pa-

raolugar* &fentido doçonceyto que delle

teria fey to a pátria , em que nafeera filho, de

forte o chegou a oceupar o amor próprio, na

bayxa da opinião, mayorjueote quando ou-

vio ( manda-me lua Mageftade diga a Voffa

Illuftriffima) que refpondendo nos olhos aí

lagrimas, nem foube pòr termo ao pranto,

nem admitir r)or confolação a piedade , com

que o Governador procurava moderada í

dor aliviarlhe a magoa.

34 Moftrou então aquelle Prelado , nc

pezar o arrependimento emquc veyo apre

feverar , refpondcndo tanto as obras aos pro-

teftos que pareceo depois outro homem .tro-

cada em, brandura a afpçrcaa , com que repre

hgfidia

f

Jiendia , era moderação o rigor, com que caí*

tigava accidentes ,qiieo trazião entre os fub-

ditos tão mal opinado, que atè as virtudes lhenotavão vícios ,. mas de forte foube emendarcom outros hábitos a natureza

, que chegoua edificar com a fuavidade da doutrina aos

meímos que fe oflfcndião do rigor das pala-

vras,

3J O Governador íâtisfeyto com aquekla demonftração 4 em que reconhecidas fuás

fiiltas,pedia miíericordia, refpeytando as cansainda mais a dignidade, o deyxou ficar no,

Biípado,, onde edificando depois comóex»emplo, veyo acabav poucos annos depois,cahçado naõ menos da idade que dos traba-lhos

, que naquelles últimos tempos curíoucom frequenciafem pouparfe,ao púlpito , ouao Confeffionario , em que affiftia continuo,fatisfazendo em hum lugar 1 ao oficio de la-

vrador Evangélico , em outro ao de obreyroApoftoiico , & nos o deyxarem.òs aqui dcC*cançando nafepuftura, km quanto vamos adar- relação de outros fucceflbs

3que já can-

gados de efperar , com impaciência noseftãochamando pelo tempo. rj )

36 Como entre as coufás que obrigarãoao Governador paíTar ao Parí, era a de nãomenor conílderaçaó dar caftigo a alguns dosclapayas. í* que noffo fofrimento, áfoda mais.

358 VtàéitGoMèsFnyrequê im% fpfças , trazia atrevidos , com repe*

tidos infulios ,dc que tínhamos recebido emdiverfos tempos não menos perda de gente,

que de reputação , mayormente no governopaliado , cm que com liberdade mayor , aco-

meterão aos noíTos, tratando-nos com o dei*

prezo que logo nos dirá ahiftoria, para cuja

intelligencia tomaremos de mais longe os

princípios , & virmos cohMnoticias mais exa-ctas ajuftificar as caufàs çfcfta guerra, quepela penúria , em que fc adiava o Eftado degente , & baftimentos , empfenderaos commais valor do que poder , acabamos com maisfortuna que razão,

37 Governando Francifco de Sá de Me*nezes aquelle Eftado entrou nos Certoens doPará Gonçallo Paes de Araújo com algunsIndips , & poucos Pprtuguezes ,

que na coqtfiança da paz, que tínhamos aítentado comos Gentios, penetrarão até o deltrito, emque habitavão osÇaravarés,naçaõque;»fFey*Coada a noílas coufas, havia noticia que íbli-

cita procurava arnpararfe à fombra de noíTas

armas , não duvidando delcer dos matos a u-riirfe aquella Capitania neceffitada de ingrof-

(arfe de Aldeãs delndios, em cujo numeraeftribava, noflb poder, por vários accidentes

cleclinado mquellas partes.

$8 Comp em trazermos, aquelle Gentio

àobc-

De Andrada IlJParLLtklIL tffi obediência de noflas leys recebíamos auri*

lídade de dilatar a Religião, &: o Império,

hum com defferentes vaíTallos, outra comnovas ovelhas, que vinhão a recolher- fe no

corrai da Igreja , mandou o Governador

aquelle Cabo de cuja intclligencia fiou o

bom iucceíTo dajornada , que conleguio fern

outra molcftia mais qije o trabalho do cami-

nho pela eíperTura dos matos , & eftreytez*

dos paíTos aipero , pela diftancia dilatado.

59 Foy Gonçallo Paes recebido dos Ca^

ravares com demonftraçoens gratas , refpon-

dendo nelles o contentamento à grandeza do

beneficio, para que os convidava o Gover-

nador , offerecendo-lhes no diftrito daquella

Capitania terras, em que viveffem feguroç

debay %o do noflb amparo , fínalandolhe pa-

ra habitação o fitio ,que etcolheflem propor?

cionado, Eanto a fua utilidade , como afaci|

condução denoflbs foccorros 9 fe invadidos

nectffitafleín da afíiftencia de noflas armas,

40 Paílados alguns dias em que os nof-

íos forão tratados do mayoral com mimos de

hofpedes , dos mais com agaíalho de compa-

nheyros , reíblveráp todos inviar diante humcavaleyrote ( nome de huma certa porçaó de

gente deguerra,que com léus Cabos man-r

dão como partidas deftacadas de fuás tropas.)

DefpedidoSHeftes Toldados, que efcolhéráa

Z 4 entre

366 piia iê Gètntt Fréyrtentre os melhores , marcharão na obediênciade Gonçallo Paes , a dar principio a fuás rof-fas no íugar , que fe lhe reprefencafle maisacomodado a feus entereíles, & a noílas de-pendências.

41 Penetrados os matos fem oppofiçãoque lhe fizeffe ajornada euftofa chegarão àsterras dos Taquanhapés ,& Gerunas, naçõesbarbaras que habitavão as margens, & Ilhasdo rio Xingu , onde lhe fahirlo os naturaes,que confederados em noíTo dano, nos rece-berão com as demonftraçoens da antiga ami-fade firmada nos artigos da paz, queconíer-vavamos inteyra, êcatç aquelk tempo porelles fielmente guardada ; mas cobrindo corno íemblante da urbanidade a treyçaõ ,que ha-viaõ traçado , pedirão com trato doble aGonçallo Paes le detivefle com os leus

\ por*que em pouca diftancia lhe tfioftrarião copiade cravo

, que podiáo colher , com mais lu-cro que trabalho.

42, O Capitão a quera com demafiadafingèíeza arraftou a confiança da paz , crédu-lo ou fácil nas prometias daquelles bárbaros,fe deyxou vencer das razoens apparentes,com que deftroç no arteficio das trcyçoens,Jhes cobrirão o engano. Intentarão primeyrolevar os noflbs feparadps a diffeientes partesdo Certão , cm que reprdthtàvãb haver

aqueli»

"

De Andrada JLPart. hib.HL 361àquella droga, mas ou antevendo que tam-

bém havião de dividir o poder , & que fe def-

armavaõcom a meíma arte , com que nosen-?

fraqueciãò % ou que nos podia defconfiar feu

mefmo ardil , refol verão naó abalar os noííos

intertendo-os naquelle lugar , com o pretex-

to de juntar gente de armas que batidos os

matos noscobriflem a marcha, que fe fazia

fufpeytofa,naó menos pela efpeflura dos'b6f-

ques , do que pela eftreyteza dos paflbs*

45 Neftes enganos gaitarão alguns dias,

em que ie nao pouparão ao trabalho de ajun-

tar gente, & aprcílos Marciaes, femqueosnoíToslhespenetraíTem o difignio.Chegadoo

tilrimo dia determinado para primeiro da jor-

nada, apareceohum grofío confideravel de

Tapuyas armados de arcos , flechas f paos de

juncar, êc outros inftrumentos de guerra , &com o pretexto de acompanharem osnoíTos

fervindo-lhe de guia , & de deffenfa , os aco-

meterão por todas as partes com deshumani-

dade eftranha no furor bárbaro.

44 Gonçallo Paes que comandava noíTa

gente, ainda que defcuydado no perigo co-

moera no valor, fotdado,nalrefoluçaõ proinp-

to, fem perder acordo no repente, tomadas

as armas le oppoz ió àquella multidão tumul-

tuaria, decendo-os era quanto fe formarão

alguns dos feus , com que incorporado podefaíet

362 yida de Gomes Freyrefazer roftoatodo o campo inimigo, fuften-tando opezo da batalha aqu( ile efpaflb ,quegaftárão osCaravarés noíTos fieis correfpon-dentes , em armar os arcos, & fe ir unindo aosnoflbs ,que receberão mayor dano em quan-to pelejarão divididos.

4? Tanto que o Capitão íe acheucomtodos os feusformados em hum corpo , aindaque poucos,como erão melhores na difcipli-

m,íuperiores no esforço, defparadas as bo-cas de fogo de que cahirão alguns na van-guarda do inimigo , mandou acometelos pelafrente , o que os noflbs obráraõ com preíieZa

tão igual à refoluçaõ que poderamos duvidarqual foy nelles primeyro , fe o preceyto fe aobediência.

46 Ateou-fe abriga de ambas as partes

profiada fervindo a huns de infentivo osen-terefles da vitoria, a outros de eftimulo a hon-ra da de ffenfa, durou algumas horas íemin-clinarfe à parte da multidão , nem ceder àdovalor , com que os noflos inferiores no nume-ro íemetiaó por entre asfettas, dardos, êc

paos dejuncar do inimigo como que náòbuf-cavaó }á vencer, fenaõ morrer vingados, &como a defordem , com que pelejwão aqueKJcs bárbaros, em arremetidas, & retiradas,

nos confundiaõ a forma , cada hum Capitão,

& foliado de íi mefmo , fem lhe fervir de def-

mayo

cDé AndradallPartXibJIl. 365

tnayo o íangue , ou as morres de horror , fez

aquclle dia gentilezas dignas de mais larga ef-

Crkuracom melhor aparada penna»

47 Depois de largas horas de contenda»

cm que aos iriimigos não faziaõ falta os mor-

tos, pela deíporporçaõ do numero em que

nos excediaó, mandou o noflb Capitão unir

hum pequeno efquadraó íerrado de todos os

filhos defua «difciplina, comelles avançou

pelatefta do exercito contrario, carregando

com mãos taõ peladas a tudo que achou op-

pofto, que naó podendo íofrer golpes tão pe-

fados fe abril -40 pela frente, cometidos emconfuzaõ fe foraó afa:ftando,dfyxando-nos

lugar a hum breve repoufo fobre as armas ^

que tintas de fangue próprio, & alheyo acref-

centavão em huns 03 aíFeftos do odiò, cm ou-

tros os da vingança.

48 Pouco foy o tempo que nos deyxá-

raô em defeanço, voltando a enveftirnos comfuás acoftumadas arremetidas , & retiradas,

difeiplina barbara ,que nos obrigava a imitai-

los, & a confundirnjs defeompondo nbffas

fiíeyras, deíbrdem que nos poderá perder,fe o

Capitão pratico na mil iria daquelles Gentios,

naô deyxára foltos alguns de noflbs índios,

que fahindo pelos claros , & lados os feguiãò,

§C carregados voltavão aampararfe dos que

formados fufteiHavaõ firmes a fúria d^s ini-

migos,

36+ Vida de Gomei Freyrtniigos ardil que veyo aadvertir-lhe feu penVgo , depois de bem fangrados do nofíb ferro.

49 O Capitão vendo que o inimigo imi-tada nofla difciplina , acautelado fe continhados aflaltos , & para derrotamos não. era ne-ceíFarioenveftirnos, íenaõ fuílentarfe intey-ro

, por ternos com os caminhos tomados àretirada, tolhidos de recolhermos baftimen-tos, voltado aos feus lhe falou nefta fuftancia.

„ Aquella multidão deTapuyas que allieí-

3) tamos vendo, quanto nos excede no nume-ro, tanto refpeyta nofíb esforço , defenga-

_nados de que nosnaó podem poftrar com

j, as armas, procurarão rendemos com afo-" já noflas vidas naõ tem outra falvaçaõ

„mais que emnoflbs braços, ou em noffas

„ mãos i ou as havemos de remir , ou as have«?

„ mos de facrificar nos akares da morte pelas

„ da crueldade daquelles infiéis pródigos de„ fereza , de humanidade efeaffos. Todos os

„ que aqui eftamos fomos Portuguezes , ou„ por natureza , ou por inclinação , & como„ fey que em cada hum dos noflbs confedera-?

3, dos hz o afTecfco , o que jhe negou o nafei-

» smento, me refolvo atacar aquellc exercito,

í9 o<?que mequizerem feguir podem ircer«r

tos, que fe naõ confeguirem a gloria de ven*„ cedores, gofaraó a de acabarem vingados.

jro Acabou de falar, mas naõ de periua^

dtr

Dê Andada U.Pdrt.LiMIL 36?dir:com o exemplo,ainda melhor que comas

palavras , pofto diante de todos íe offereceo a

fero primeyro que ferifíe o inimigo, osnof-

fos ainda que poucos, & já cangados do tra-

balho creados os alentos nos brios , as forças

na deíefperaçaõ \porque a fufpençaõ naó pa-

recefle temor feforaô avançando aincontrar

& vanguarda do inimigo , aonde o eítrago

iguallou ao valor, com que nos efperáraõ fir-

mes iuftentando por largo elpaflb a peleja

com esforço, cu natural, ou adquirido nos

affectos do ódio , ou no receyo do caftigo,

que por muyto tempo, fem inclinarfc a algu-

ma das partes, cftéve duvidofo o fucceUo, atè

que perdidos os melhores nos foraó cedendo

o campo , & a vitoria ,que nos cuílou hum

irmão do Capitão, & alguns índios , foraó

mais os feridos. Dos contrários ficarão tendi-

dos no campo tantos, que lhe faltou a muytos

a terra para cahirem , como pelejava© amon-

toados , hum mefmo pelouro lobre o legun-

do derribava o primeyro , que ou mor-

talmente feria , ou matava de todo , outros

hindo a inveftir ou a retirarfe tropeçando

nos cadáveres cobrindo-os em fima lhe fica-

vaó fazendo companhia.

fi Affaftouíe o inimigo outra vez, mais

acautellado na perda,do que defenganado da

yitoria.O noffp Çapitaô , ainda que já grave-

mente

366 fida de Gemes Freyremente feridojpoi que como naô íabiapoupar-ie aos perigos, o alcançarão os golpes cie maisperto, como fe viiTc deíaíTombradodetaópc.íadovifinho,refolveo, em quanto osTapu-yas, fe moítravaó pouco diftantes mas difper-fo$, voltavaõ a unirfe, intentar a retirada,

&

como o tempo do confclbo era o meimo deobrar, formou dos feus duas pequenas bata-lhas,& cobrindo os flancos com algumas eí-pingardns , & arcos , ordenou a vanguarda fe

avançafle por contra-marcha em demandadas terras dos Curavarés, pelomefmo cami-nho

,que tinbaó trazido do Certaó , & pofto

na retaguarda foy fc guindo osmcfmos pál-ios, fempre com os olhos rio inimigo

, que lo-go comrçou a moílrarfea noíTas efpaldas ou-fâdoem noíTo feguimento.

52 O Capitão peleijando , & mandandoíêfeznquelle dia invejado de todos, humasvezes eníinando aos feus o fotrimento , comoparte melhor do valor ,apreílâva mais a mar-cha, outrasaconfelhan<fo- lhes o defprezo dosperigos, voltava fobre o inimigo, que noscarregava por todas as partes nos paftos nu -

nrseftreycos onde podia aproveytmfe de to*

do leu poder. Sempre em continua batalhaíbraó osnoflbs dando, & recebendo perdaconíideravel ; facçaõ , em que merecerão nafama com perigo, honra fem premio.

S3 Du:

T

De Ânà^âââ ILPart.LiUIL $675*5 Durou a briga o tempo da jornada, o

Capitão como naô fabiapouparfe, chegou a

receber tantos golpes que para falvallo foyneceffario ,que os Caravarés o tomaíTem cn-tre fí , levando-o muytas vezes aos hombros,pela debelidade , em que o tinha pofto a falta

dofangue, & nem fazendo- lhe força pode-rão acabar com elle fofle fegundo em arrif-

carfe. Perdemos em taó repetidos conflitos

humirmaó do Capitão, cujo nomedeyxouodefcuydo nofilencio, fepúltado entre os

bárbaros, debayxo da mefma terra, que co-

bre fuás cintas ;alli efpirou com honra iguil

ao valor , que poderá na pátria lograr entre os

feus jazigo mais íoberbo , masnaõ, efeolher

morte mais illuftre.

fá Perecerão na batalha, & nosrecon*tros do caminho todos os índios domefticos,que defprèfadas as vidas fízeraó gentilezas

dignas da fnma| faltarão trinta dos Cara vares

noflbs aLados, que moftrando a fidelidadeemula no esforço, naô duvidarão derramarofangue das veyas

, por livrar nas peífoas dosnoflbs ,a fua reputação-, fineza raras vezes in-contrada entre Gentios da America, & con-tamos como única naquella naçaõ ou maisbriofa, ou menos barbara.

Sf Todos os Caravarés, que ficarão vi-

vos ainda qut efeaparaõ poucos deferidos,

iem

3^8 Fida de Gumes Frejre

ièm perder acordo em taó repetidas defgra-

ças , nem o temor da morte poder apartar hu,feytos rmhum corpo com onoíío Capitão

no centro , Sc as armas íempre nas mãos foraõ

marchando por entre nuvens de fettas,em de-

manda de fuás Aldeãs , onde curado Gonçal-\o Paes, com humanidade aos Tapuyas eítra-

nha , veyo a convalecer em breve tempo das

feridas,cujòs finaes ferviraõ entaõ à honra,de-

pois à fama, ou como fobre eferito do perigo,

ou como inlcriçaõ do valor.

56 Como àquclle Gentio fe tolerou efte

bárbaro atrevimento •, tomàraõ confiança os

Aroaquizes, a que ieuniraó os Caripitenas,

Sc outras naçoens que habitaó os Certoens

das Amazonas, para acometerem a Manoel

da Gama , Domingos de Madureyra , & Pe-

dro Carrinho ,& outros Portuguezes , aque

entaõ faltou a fortuna, hoje em noflas memo-rias os nomes, naõ a noticia do valor, comque íabendo acabar vingados merecerão na

perigo a honra , a gloria, na defgraça.

57 Acha vaó-le aquelles poucos oceupa-

dos no corte do pao, cravo,drega ,que fe co-

lhe nos inatos ,,& palia ao Rcyno por comer-

cio, nefte defcuydo , os inveílio {iuma multi-

dão tumultuaria com todo o geneio dear-

. manque lheadminiftrouoodio.Os noflbsa

que trazia defacautcllados da treyçaó , a paz

que

De AndrddalLPart.hibJlL ityjue gozávamos naquelle Eílado , vendo-fe

iffakados de repente , fem tempo para fe uni-

rem em hum corpoífe forão defendendo dif*

per fos por largo cípaflb , atè que cangados deenatar vieraô a cahiir rendidos ao pezo dosgolpes.Trinta índios domefticos

,que acofti*

panbavaó , imitado o exemplo, ou diíeiplint

dos Cabos comprada a honra 3 preço do peri-

go. , refiltiraõ com valor mayor que as forças*

itè que fem efeapar hum \ierão a oceuparmortos o mefmo lugar , em que fc cofrferwvaõ vivos*

58 Do poder dos Tapavas* que entaéaos cometerão , cantentaraô-fe noffas rela*

goens com incarecer a multidão * fem indírvi*

áuar o numero, com o mefmo efqueêimentdFaltou a nofias rftemorias:contar os* mortos,- &Feridos^ filencio quernos dcfculpa mò os dar-

mos aqui a Ier$ mas fe a verdade cíà hifforia fc±

naõ offendeííe das licenças prettíjtidas em ou-tro género de eferituía t . pòderamos inferira

perda do inimigo, eftimadapetó valor deféí*

pemdo com que osnoffos aqueMe d\& defpre-sadas..-as vidas procurara^ acabar vingados^tènd&em tanta defproporçaõ ágloria que ad-quirirão morrendo* p&r igual ou fuperior , aque fe alcança matando.

i S9 Comohaviaõ paflado cinco arinós d&primeyro;rQmpimento> fuccedeàds huhs eí-

Aa tragos*

17° PiâadêGoàèsFnyrètragos i a outros , fem que cm nòs fe vifle aiguma dcmonítraçaó , mais que adapaciencia , com que foportada no íikncio a dor , íofriamos o fentimento dos aggravos fem co-

rnar latisfaçaó das offenfas, Continuavãcaquelles Gentios crefeendo nos iníultos , fa«

sterido-nos já 'defeuberta a guerra , em quenaó incontráfáo oppoíiçaó, que lhe fizeflea!

emprezas arnfeadas,ou os fucceflbs perigoíos,

& como aquelles bárbaros eftáo fempre a mi-ra no que obramos > para ou íe recatarem, ouadiantarem fuás crueldades , fazendo da nofla

cortezia argumento de fraqueza , nos tinhacmortoem differentes partes paffavaó decrin-ta Portuguezes, alguns eícravoscom mais decento ,& trinta índios domeílicos

> que ven-dendo por preço mayor as vidas , derramarãopela Religião:,& pelo império o fangue, aca-bando às mãosdaquellas feras amiaíTando-nosainda nos fuçerioresoaquejá padecíamos.6o Naó feeíqueciaõ aquelles barbafos

de nos ir moleftando em rauytas partes dif*

tintas; ardil,còm que intentavaó dividimos opoder, que aindajunto não baftava para acu-dirmos ahuma.muyto menos, havendo dedefender-nos com huns mefmos fo!dados,ahuramelmotempo,errimuytos lugares dif-

ferentes , cortava-nos em hum o golpeí cm

9Utros o amçaflb, pairando já aflbmbrar o te*

DeAnArMalI.Part.Lih.IIL 37 i

mor , atè onde náo cbegaváo asfettas. Pelorio dás Amazonas já fenão fazia viagem femo rifco de noílas canoas ferem preadas das doinimigo

,por difcorrer a defpeyto rioflo com

groílas armadas,acometendo onde nos fentiaôa fraqueza, experimentando-nos osdefcuy-dos

, de que fe aproveytavaó para fuás forci-

das, hjndocrefcendofeusexceflos, &noflbsJanos à fombra de noffa ddifnulaçãoé61 Como íc achavaõ já com poder ma*

yor que noílas foiças, atrevendo-fe a fazer*los a guerra por mar, &por terra. Armaraõ)sGerunas por aquelles dias trinta & duas;anoas, as qu.*es encontrando algumas em-jarcaçoens noifas lhe foraõ dando cafla porilgum tempo, mas como asnoflaspor levei,;raóbayxeis maisligeyros

9tiveraõ lugar de

:fcaparfe , levando aviío a outros Portu-juezes, que com alguns navios de remo /eichavaõ comerceando em diverfos portos>nde a cobiça os levava a ingroíTar osqabciaes com perigo igual , ou fuperior aos enxe-•eíles. -.,:

'

6% Traziaó aquelles bárbaros por ban-ley ra na lua Capitania a cabeça de AntónioRodrigues hum Sargento noíTo, que ferri fi.ar devendo nada ao valor, depois de vender arida a preço de muytas mortes, tinha acaba-ro às mãos dos Gentios no tempo de Francif-

Aa % çq-

n

3 7 * Piàâ âe Gomií Frêyre

co de Sá.Cõmoaquelle trofco levantado, naô

fem injuria do nome Portuguez , nos acorda-

va o aggravo,foy olhado dosnoíTos comcf*

panto ,caufando-lhes horrorj oefpetaculo , a

deshumanidade laftima.

6$ A dor viva que lhes deyxou aquella

crueldade os infitava a vingança , . mas vendoque lhe faltava poder proporcionado ; avifs-

raó oGovernackvr,dando-lhe relação doa-

trevimento , com que os Tapuyas difeorren-

docomabfoluto império por todos aquelles

tios trataváo noíTas coufas com defprezo. Decaminho mcareciàõcom lagrimas os infultos,

que padeciaõ os miíeraveis , que obrigava a

neceffidade a falvarfe fugindo declinado o

golpe com menos honra que fortuna*

64 O Governador que já vivia efeanda-

lifadoda liberdade j com que aquelles Gen«

tiosdifcorriaó foltós 9 perdida aquella revê*

rencia, com que antes relpeyta vão noíTafom-

bra , fentindo como injuria da peffoa que emfeu tempo continuaffc abayxâ de nofla' opi-

nião , a que dava calor a falta de caftigo , acci-

dente que lhes hiáõ creando nome entre oj

outros bárbaros , ou ajuizando o noflb fofri-

mento refpeyto a fuás forças, ou fazendo d:

nofla cortezia argumento de fraqueza , refol

veo darlhes a conhecer como eraô pefada

ftoflasnwos, moftrando-lhes que a nofla pa

cicnci

r

De Andraâa IlPart.LiUIL 373ciência mais eradifciplina , que temor.

Sf Já o Governador nao efperava mais

que a oportunidade,por fe aehar falto de gen-

te *naó menos de embarcaçoens, quecondu-

xiíle huma^ tropa ao Certaõ com petrechos

Marciaes , & baftimentos, de que naôera me-

nor aneccffidade, pelo empenho das rendas

da Coroa, exauftos os theíouros por vários

accidentes , fazendofe-lhe igualmente íenfi-

vel a penúria de índios de que fç achavão hur

mas Aldeãs diminutas % outras quafi defpeja*

das , coníumidos nuns dos contágios , outros

nos recontros paliados,& alguns que fe acha-

vaó occupados nas feytorias do cravo , & ca*

cáo mu ytas legoas diftantes, 8c como naquel-

las partes correm ordinariamente ventos ge-

raes,gaftaã tempo em efperarem as monções,

naó iirvindo de menos impedimento adef-

temperança de alguns rios pela demafiada

agua que tomaõno inverno , do que pela por

breza de cabedal de q;Ue mendigaó no veraô.

66 Mas como os males que experimerv-

tavamos ncceffitavaõ de remédios^ promptos,

antes que creadas mayores forças à fombra da

noffa neceflidade , fe fizefíem incuráveis : rç-

iolveo o Governador por fima de todas as de-

ficuldades acodir a remediar noidanos, que

já padecíamos , outros mayores que já nos

amiaflayaõ, entrando na confideraçaõ de for-

Aa X mai

1 74 Pula de Gomei Freyremar hum corpo de gente mayor na qualida-de, que no numero , com que infreaíTe o ur-gulhodaquclles bárbaros, que atrevidos cornos bons fueccílbs paliados, já nem receavaóperigos , nem perdoavaõ a infultos.

67 O Governador a quem trazia febresrnaneyra folicito aconcluzaó de negocio taõimportante, fcrvindo-lhe de eftimulo naómenos os brios, que as crueldades que os na-turaes cada dk reprefentavaõ , incarecidosnas lagrimas os danos , que reçebiaò daqud.les bárbaros. Entrou no trabalho de apreftar-fe para aquella guerra , que havíamos de fa-

zer em paizeftranho, & como aos noflos lhenaõ ficava efperança de foccorros,ncceílita-vaõ de levar forças,& moníçoens p» opoi cio*nadas afacçaõ

, queemprendiamos prccifnrdos: mayormente pendendo domno fuecef*foa ruina do Império , do bom a coniei vaçaódo Eftado.

68 Entre as grandes dificuldades quejfepropunhaõ naõ era de menor confiJeraçaõ a

falta de canoas, que veyo a remediar fac lf pe-

dindo aos moradores da Cidade de Bellem osquefepodeíTem eicuzar doílrviçodo povo,que grato à moderação , com quê rogava , oque poderá mandar, acodio prompto comtodas as embarcaçoens , que fe achavaó furtasnaquellç porto , ofíèrtcendo-fe todos para

foi-

De Andraâa Il&mãJb. III. fftbldados , ÔC quinhentos alqúeyresdè farinha

lepao,comque fe of&rtáraô, &muytosef-

ravos que fupriraó a falta de índios para re-

nar as canoas. Ta6 promptos femoftràraõ.

quelles fubditos os dias de Gomes Frey-

e ,que pareceo bufcavaõ na fua obediência

jsrifcos com ambição igual à preça , comjueosfugiaónoiernpo de outros Superiores.'

69 O Governador que lera faltar à in-

eyreza foube com rara politica fazer da ur-

unidade comercio , tornando-fe fterédor fle

nayores benefícios na izençaõ com que os

egeytava; depois de agradecer a todos la fi*

íeza de fe fogeytarcm voluntários emutila

iade da pátria , lhes louvou as virtudes inca*

-ecida a fidelidade , com que defprefados o*

perigos procuravaõ honra a preço das vidas,

}ue kvavaõarrifcadas , naó menos najorna-

da, que na batalha.

70 Vendo-fe o Governador cem tantas

vontades, que acortezia lhe tinha grangea-

do', começou a dar preça nos apreftos aco-

dindo incanfavel a todas as partes que o cha-

mava a ntceífldadefem em alguma fe achar

menos , a cuja viâa fe poz de verga dalto bõa

armada em que fe embarcou o Capitão morHillario deSoufa de Azevedo , o Sargento

mòr Joaã Pereyra Seyxas , Capitaens Am*brofio PereyradeCaftro com quarenta Por-

Aa 4 tugue-

37$ J^da de Gumes Frèyrètuguefccs do prefidio do Maranhão , Antoníde Miranda, & Jofeph de Mello, cada hurcom quarenta foldados efcolbidos na euarniçao da Cidade de Beliera ; a que fe agreeàraicento & vinte índios , cftribados em taõ pequenas forçai. Levou ferro a armada partindo do porto da Cidade de.BeUem do Parçm vinte fcdous deDezembra de mil íeifeentos oytenta &feis, foy com vento [detervidar fundo no Camutà trinta iegoas diftanteonde António de Albuquerque Coelho, ti«ha promptas muytas embareaçoens conchulma de índios para as remar, alguns foidados .inftrumentos Marciaes ,& muniçõesdeque igualmente feaílecida, & ingrofladsa armada moftrava jà hum* apparencia nacmenos alegre que guerreyra.

r71 Tomados três dias para defeanço do<

loldados, que o Capitão mor gaftou em man-dar concertar algumas das canoas, com quePa

iuir

?doParà

' P°r íe lhe haverem defapa-relhado com a força das correntes

, por fer ocoração do Inverno , & naõ eftarem capazesde viagem com aguas taógroflas, & ventosrijos

, que em humas paragens corria peloolho, em outras traveíTaô.

7* No fegundo de Jancyro de feiscen-tos & oytenta , & fete iíTadas outra vez a$ vel-ws

,fern perdera, terra de vifta foy demandar

aAJdea

De Anafada IlPart.LibJll 377a Aldeã de Bocas refidencia do Padre Fr.

Theodoíio Viegas, que com efpirito Reli-

giofo affiftia incanfavel ao minifterio de dou-

trinar aquelle povo nospreceytos Evangé-

licos, Aqui feguarneceo aarmada de novos

Jndios ,& o Capitão mor t que naó fabia per-

der tempo,em quanto os ioccorros embarca-

vaõ, praticou os principaes , que deyxou per-

suadidos, acompanhallo na guerra do Taqua-

nhapés , que tinha determinado fazerlhes na

volta doCertaó.

73 Recolhido aquelle pequeno foccor-

ro, foy a armada vagando atè a Aldeã dos In-

gaybas , naçaõ que habita as margens do rio

Aracurú. Achava^fe aquelle lugar tão defpe-

jado de gente, que mais parecia minas de al-

gum eftrago , do que povoação de homens,

que trocadas as abominaçoens gentílicas pe-

las verdades catholicas , receberão nobaptif-

mo a graça , na Religião a policia.

74 Averiguada pelo Capitão mor acau-

fa da falta dos vifinhos , achando que muytosdaquelles Tapuyas tinhaõ paílado ao Cabodo Norte húa ponta que faz a terra dcGuaya-na regiaô da America ao polo Articò que da

boca do rio das Amazonas corre pela cofia atè

a foz do rio Orinico ,ou Oronoquem comoachamos nas memorias eftranhas, levando-os

àquella paragem o comercio que conferva-

vaõ

378 fida dt Gmes Freyrevaõícom o&Francezcs deCayana Fortalezaque dominaõ na altura de cinco gráos aoNorteda Equinocial em huma Ilheta na bar-ra ào rio de que tomou o nome , os quaes dií-

correndo furtivos poraquelles mares, fiadoscm noflb defcu ydo, chegavaõ a aífombrar nabocadoriódasAmazonasas Ilhas de Joann s,

a dos Aroás,& outras do Império Portuguez,cjue pela cofta fe eftende atè o rio Ojopoz, oude Vicente Pinfon íicuadoem altura de dousgráos , & cincoenta minutos do Equadorpan o Norte , & pelo Certaó fe eftendeduas legoasaffima do rio Orimà, que difta deGurupà quatrocentas & feflenta legoas, &mais de quinhentas da Cidade de Bellcm,moftrando-fe hoje o titulo dapoíTe emhumpadraõ,quealli cmíitioalto levantou o Ca-pitão mòi Pedro Teyxeyra , quando no def«

cobrimento da mayor parte do rio das Ama-zonas paiíTou do Para com hum corpo degente Portugueza, & cinco mil índios à Ci-dade do Quito, deyxando na volta demarca-do , defronte do rio do Ouro , íltio para huapovoação , em que confervafle a fama ftu ií

-

luftre nome, as memorias o ultimo termoldeno (To Império.

75 Ouvio o Capitão mòr com laftima a

relação do atrevimento , com que aquelles

vaífrllos, defprefadas noíiaskys, contrata-

va»

DeAndraáallPart.LiUIL yfòvaõ com eílrangeyros fazendo refgaces de

drogas, 8c cravos, a troco de armas de fogo,

& outros inftrumentos Marciaes, de que fe

açhavaõ taô providos,que já chegaváo a por

receyoaos noflbs , a confiança , com que vi-

viaó fiados em fuás forças. Quizera o Capi-

tão mor caftigal los, mas houve porenraóde

contentarfe com oamèaffo por lhe ficarem

ordens para a impreza 9para a fatisfaçaõ o tem-

po,

jS j» Daqui foy a nfrfla armada com féis

dias de viagem a dar fundo cm Gurupà, por*

ta por onde do Paii íe entra no rio das Ama-zonas. Aqui foraõ os noílos recebidos de

Gonçallo de Lemos Mafcarenhas Capitão

mòr daquella Fortaleza , corn as deraonílra*

çoens de alegria é de que fe fazia benemérito

huma armada,qqe hia a defaíTombrar do te-

mor, todasaquellas Aldeãs,que fogey tas i

noífas leys , viviaó na protecção de noífas ar*

mas , membros do Eítado,

71 Como a Aldeã que alli dominamos,eni outro tempo povoação confiderave! , en-

tão por vários accidentes atenuada de viíi-

nhos, refolveo o Capitão mòr da armada naõ

tirar delia hú índio , na çonfideração, que to-

dos vieraõ a par cer numero pequeno para ofery iço, & deffcnla da Fortaleza,a qual amca*

çando por humas partes a ruim , por outras

quafi

—38o Pifa de Gomes Freyre

quaíi defmantellada , cobria aquelk portoeícalla principal das embarcaçoens de remo,que deícendo do Certaõ a baftecer a praça deBellem a enriquece de diverfos géneros , quepaíTaó aoReyno por trato, aos cftranhos porcomercio.

78 Sendo Gurupà porto tão importante,

naõconíhva feuprefidio mais que doCapi*tão mòr, hum Alferes, & quinze loldados

eftropeados.O Capitão mòr da armada ven-do a pouca gente,de que fe compunha a guar-nição de huma Fortaleza , em que os braços

haviaõ de ferrôr de deftenfa,os peytos de mu-io,aíTentou dcyxarlhe algum ainda que en-

fermo reparo, para alguma invazaõ fubita na-

quelles poucos índios, que amparados à fom-bra daquellas paredes quaíi derribadas viviaó

feguros , fiados mais no refpeyto de noffas

umas , do que em noíTas forças,

79 Obrigou ao Capitão mòr a procurar

aíegurança daquelle porto o jufto receyo

dos muytos inimigos , naturaes eibangeyros^

com que fe achava aquelle Eftado, bailando a

deftruillo a falta daquella Praça , que naõ

confervavajámais que em humas ténues relí-

quias as memorias da grandeza , em que fun-

dada pelos Ohndezes perfeverou populoíâ,

no domínio daquella naçaõ ,os dias que Por-

tugal gemeu opprimido debayxo do jugoCaf« \

-

r^i

Dê Anàraâa ILParí.LiUIL ?8 1

Caftelhano , de cujo poder a conquiftàraa

ftoffosfoldados com perigo igual ao esforço,

com naó menor conftaheia a deftenderaõ de*

pois de poder fuperior , com que Olanda ou-

tra vez inutilmente empenhada , intentou

reftauralla: facçaõ que ernprendeo com valor

mayor do que fortuna' deyxando-nos à eufta

de muytas vidas no campo? a vitoria, nas mãos

osdefpojos. '

m

' \'

8o Nefte lugar mandou o Gapitao mor

lançar hum bando ,que levava por inftruçaó

do Governador , em que debayxo de graves

penas prohibia os vicios nosfoldados, odefc

cuydo nos Cabos, (inalando por caftigo ef-

pecial três tratoside polé a braço folto aos de*

aertores, que defamparadas fuás bandeyras fe

retiraftem do campo , rigor que efcuíou a in*

teyraobfervancia dos filhos de lua difciplina,

quebufeando a honra como premio dosspe*

rigos » voluntários oôerecéraõ as vidasifewi

elperarem ou cro delpojo , mais que as morte*

ou os trabalhos jentereffe mayor que as feri-

das.

8 iv

Depois deideyxar ordem âo Capitão

da Fortaleza de Gurupà , & ao Padre Joaâ

Maria hum Miffionario que a Companhia de

Jeíus coníervava naquella Aldeã , quê ambosempenhados na confervaçaó , da Religião,&dolmperio tiveflem naquelle lugar promptas

as

$82 Víia ie Gotnts Freyreas provifoens para baftecer a armada , com osfbccorros de Chingú , Aldeã três jornadas,diftante dnquella Fortaleza, para que ingrof-fada de gente, & moniçoés, de q defceria falta

dos Certoens* voltar as armas contra osTa-cahhapés inimigo* da porta deque vivíamosefcandeliíados , iem fer neceflario efperar,peloperigo, que naqucllas partes fe recebedas demoras , em que os bárbaros da Americaganbaó tempo

, que aproveytáovpara avifarle

huns a outros, que fendo por inclinação op-poftos , fe comonicaô unidos em noíTo danof

vindo a fer com elias mais poderofo o ódiocom qtíe nos aborrecem ,do que os aggravos,com^ue k offendem.

p\ 82 Deíenhadas ascoufas deGurupà , fe

fez a armada àvelJa, em demanda da Aldeã deJagacará fuuada na Capitania, Provincia queftex.nas margens do rio das Amazonas a qual

Itffld ida antes obediência a noílb Império» ba-

yia noticia q defpejada dos viíinhos fe achava

ddamparada dos moradores * que recolhidos

aos matos procuravaó ou izentarfe do jugode non*as leys ,ou do rigor de nofíà eípada.

83 Foy a armada com vento feito atè def-

ejrnbocado o braço, que deu o nome a Capita-

nia do Pará , entrar no rio das Amazonas, por

ondeforçados os remos foraó navegado a dar

:fifta * Jagacará , cm cujo porto dado fundo,

c*; ma tf"

Dê Anâraâa IlPart.Lib.IIl. 585mandou o Capitão rnòrelpiar a cerra por al-

guns íoldados práticos no Paiz, que voltarão

com a noticia de fe achar a Aldeã defpo voa-

da,

84 O Capitão mòr naõ fibendo perder

tempo na execução das ordens fuperiores,

faltou com todos os teusem terra, donde def-

pedio o Alferes Braz de Barros com humaefquadra de Portuguezes , & alguns índios,

que difcorrendo por varias partes daquelle

Certaò vuraõ depois dealguns dias a alcan-

çarão principal, & acompanhado de aígunfc

homens, & algumas mulheres,' rendidos femrcfiftencia foraõ levados i prefença do Capi-tão mòr , onde confeflarão lifamente para ç£-

eufa da fugida , as culpas do temor de feremlevados àjguerra

,que hiamos fazer aos Ta*

puyas,afnrmando-3he faltava parao foccorro

as f01 ças , para a batalha o animo.

85 OCapitaõ mòr depois deouvir at-

tento as affrontas, com que injumvãoas pef-

foas , na confiffaõ que Faziaõ da fraquezajheseftranhou feveramente a refolu^aõ intem*peftiva de retirarfe,naõ menos a negligencia,

com que fe deicuydavaóde ter aquellá Aldeãpovoada de vifinhos , mas comentando- íe

com as promeíTas daquelle regulo, que feo-brigou a recnchella de moradores, mandoulevantar ferro àarmadai que fcytammh* do

rio

384 Vida âeGomet freyrerio foy fordindoera de manda de outra Aldeãpouco diftantc

; que de annos fe confervavana noíTa logcyçaó , mas como aquelles bárba-

ros ou faõ íubditos por conveniencia,ou obe-

decem por temor , & livres por occafiaõ , ti-

nha© chegado ao Pará algumas queyxas de

menos obfervancia de nofías leys , cujo rigor

cncareciaõ , ou como defculpa , ou como ínf-

trumentolde fua izençaò.

86 Mandou o Capitão mor diante husna

canoa ligeyra com ordem que affeguraíTe os

moradores dáquella Aldeã da piedade, cora

que feriaõ tratados dos noflos, pedindo-lhe tr-

vefíem promptos alguns índios de armas pa-

ra o acompanharem naquella jornada , fahi-

raõosnlofíbsaterra fcm oppotíçaó , entrarão

na Aldeã, onde náoachàraó mais que nosa-

pplentos as memorias de feus habitadores.

87 Pouco tardou a armada a dar fundo

mquelle porto , o Capitão mòr informado

com os olhos do lucceííb -.mandou que devi-

didaagenteemefquadras bateffem os matos

viíinhòs, êcdiílantes ; & a Mathias de Aze-

vedo hum Sargento igualmente pratico , &valerofo,que comhuma partida grofTa fea-

largaffe por humaeír.rada,crae fe ajuizou lo

variaó aquelles bárbaros. Paffados dou s dias

voltou com o principal» de cujas dcículpas

deyxou conhccerle, que como naóeftimavaó

a honra

DéJndradalLPart.UUII. &iI honra das facçoens , aberreckó a guerra pe-

los perigos , & como daquella naçaõ mò bal-

tavaõ muycos a fazer hum foldado : refolveo

deyxallos como gente ás armas inútil , ao Eír

tado fem preftimo.

88 Defte lugar defpedio o Capitão moi?

ao Ajudante Luiz Mendes com oy to Portu-

gueses, 6c alguns Indiosem duas canoas com

ordem que bufcaflfem a Aldeã Çaffary da na-

çaõ Aratus, de quem os npflos foraõ recebi-

dos com asdcmonítraçóes de Beis correfpon*

dentes do Eaado, &como he gente que,rV

cilfegue a guerra pela honra da vitoria , def-

preíado o entereíTe dos deipops , naõ houv#

hum que fe efcuzaffe afer auxiliar., naquella

empreza,emque nos foraõ iguaes no traba-

lho , na gloria companheyros*

89 Daqui foraô os noflbs atraveffanda

o rio das Amazonas em demanda das Aldeãs

dos Tapa yos, cujas povoaçoens fe compõemde Tapajozes ,& Arufyucuzés , naçoens am-

bas belicofas, que fè oferecerão voluntárias

ao trabalho a de que o Capitão mor os ciçuíoa

querendo tellos poupados para invasão dpS

Tacanhapés, admitindo Fé aSçbaftiaõ Oru-

curá principal da Aldeã de Curupatuba , comalguns índios, que ajudarão a noffas vitorias

com valor de íbldadps. ., Como atè çatrç

âsucUei t>arbaíQ§ be a qpiniag .0 ff«§8í&

08 tHiddt&òmei Fhyrsinovei

?feguiraõ outros rcgulos Pexcmplo*

pediaJo lhe naô neg&flfe as occafioen* de me-recer erjtre os rjóíTqs p credito

?nos íeus a fa-

rpa. '

90 IngrpíTada a armada , com foccorrosín^yores ni qualidade , que do numero

, foypor dir7ercnr.es rtimps fazendo varias dcallas

?

âtè osTupinambaranàs onde recebidas algu-mas proyífoená, partip em direyturaaos Ra-mos y-daqiii difpedio o Capitão mor ao Capi-tão António de Miranda cpm huma parte daicanoas ligeyras, a efpiar o rio dos Ároaquize?^£om-ordvni para tomar alguma Ijngua, queinformando dpeítadq (ia terra , IhesvieíTet

íervirde língua,

g t Anroríiò de Miranda que nas rçíolu-

goensde foi- lado, lograva com p vajòr a par-

te da difeiplina Marcial, cm que era pratico,

iepnradas algumas embai Gaçpens da fua cpn-íerva lhes mandou, que adhntada a efqua-r

drafofltm àdéfcofoiir a foz daquelle rio: a

poucos paíTbs houyeraõ vifta de duas velía?ç

que navegando com vento feyto y tímidos,

pi| acautelládò$, procura.vap {iefriaríe de

rioffts canoas.

<)% G Gabo qide comandava ndflas em*fcafeaçoens vendo que intentava© ou efeaparr

fe á pelfja , òúfugir deferem reconhecidas,

JUUiaando déftêacddente; taucetafrVtMj*

Dê AndraãallPartLiklIl. 387inimigas, mandou arribar fobreellas

1

-» depoisle largo efpaço que os noflbs lhe foraó dando:aiTa, chegarão aabalroallas, naõfem algu-

ma refiftencia dos bárbaros, que as guarne-

:iaõ, atè que enrrados com morte dos mel ho»es foraó defpojo de noflbs índios, que ofE n-iidos do valor , comqueaquelles Tapuya*ouberaõ deffenderfenaó deraó quartel a coii-a viva como fe nos contrários fofle culpa o:srorço,paffáraó pelas leys da efpada oppof-os

, & rendidos ; deshumanidade que oc-ultarão no filencio , temendo a reprehenfaõlo exceflb, ou da crueldade o caftigo.

9? Voltou António de Miranda a incor*)orarfe na armada , com a noticia de eftaremiquelles rios limpos de inimigos. Com eftetvifo navegarão os noflbs húas vezes rngolfa-los,outras coíidos com a terra ate a foz do riot{ue hiaõ demandar, tomada a barra foraó for*findo até huma paragem , em que cubertaslofTascmbarcaçoens com huma ponta , dei->edio o Capitão mòr ai gflas canoas ligeyras,ara que fondada a carreyra , & abalifados os•ayxos , fe podelTe fazer a viagem fem peri-o , em que naufragaíRsn , ou imbaraço quesdetiveffe.

94 Dobrado o Cabo que oceultava aroflo da armada houveraõ os noflbs' viftade

umaç^nocurcawdbdc tresnegro$,«jue vó|^

Bb % lados

$&$ Xtâ&tb de GofóteMeyre

fados osremos , fcyt^ no ourro bordo j fc hiá

efcapartdQ^noíTas vella.s em demanda doino

das Ana ozonas: foraó os noílb? dando-lhe caí*

fa , '& dobrando fobrç cila .,,que lua a varar erh

Serra, a fia&ftHt arjib *r ao mefmo porto, cm qçftaya fana noíla armada,na. qual dado de roi-

f;o, vendoqu.e» refiftencia era inútil , o fugir

irnpofíiyd, refolveuq ennegarfe, rendidos

à

ÍfhfcngaõV 1'

i

"

. V.'"

x

'9$ lavados ao Capino mòrcopfefíarnõ

JiYarraente/quehião abuícar íbcçprros nas

Aldeãs amigas para hireq fazer guerra aos

Carapitçnas, que,atrevidos com algqns bons

fucceíTos,' quehavião cpnícguido dos bran-

cos que hi^o ao crayo , cor^eiérão de repen-

se a Ájdea , de que/ erão rnapdores > & coma

Si achafíem 'dcftprecebid na confiança da

paz lheç matàraó niuy çqs leva:ndp potros prii

jioneyros , (endo poucos os que nos matos ef-

çapât ao defc ridos, fem majs caufa para,lacjueíj

jeinfultovqueperfuadi^m-re, que^iftavãa

efperandopoÃasaijmaspara lhe fervirem d«

guia nas entradas daCertão, moftrmdo-lhes

, õ caminho mais Veve , òu mais íeguro.

96 O Capitão mor a quem interneceo a

<rjpr que os mileraveis incarecião nas lagrimas

tainia mais que nas palaVías,depois de os con-

• folar, moftrando-lhes 4eífimbainhada a ef«

pada para a vingança dos^ggia^os 1maadou

4evai

í)e AnfoààaM&afàúMJÚ. g%levar Ferro partindo comoshegiosi^òrguia:émbufca dos agreíToresi pèrfuadmdo-'ie ospoderia ainda inconcrar em algum pqrto o\â

enfiada daquelle rio.} em que os derive fíc4

:ónôahça de naó recearem d periga tão viíi*

nho. r . , >

§7 Chegarão Òs tiòflos á Aldeã dos neíjròs ; cujas ruinal ihfdrrriáião melhor do ef-

rago, com que acafjàrãtí os* Jíiora&Qtes ; 6c:diiicios, que íenão vião mais qíieoè cimén-ós íem mais differénça dorazò ao povoado*lo que aquella; com que à laftima dos que (o*

Mievierãoàbsinfulcosi lhe eonfervavão nasinzas as. memorias; . ....98 Como os ridíTos chegarão mais cedo

>a*a a bílima, do que para o remédio, não ad rf

nitio o Capitão mòr h tia hora dedefeanço;Oeíamarrado daquélíe porto foy dando vifc

aaos lugares de par daquelJa marinha ^ondeornando falia de differentes naçoens; que asíabitavão , foube que òs delinquentes , acu-ados de.(iia mefma conciencia culpada, nave«^àrãoa diverfas partes, procurando falvarfé

b perigo, que vierãd a encontrar nos mèf-rida abrigos , a que fugirão.

99 O Capitão mòr?que pratico rio efíy»

o ab Gcrtão conhecia com a experiência dolnnos , a natureza datquelles bárbaros% a quelaica da Religião faznão admitir roais 'Fá>

$$o v VtâaâeGòmts Erqnque os cnterefies , mandou paíTar avifos aorios Negro, & Amatary com largas promeffas do premio a quem entregaffe os culpadosÍCcomo no Império daquelles Gentios nã<

feynão a3 leys da hofpitalidadc , vierão a fe

ininiftros do caftigo, os nieímos,que buícarác

inftrumento do amparo.100 Depois da armada regtftar variai

Ilhas daqUclle rio , de que o Capitão mòr fo]

fazendo roteyro , (inalando os bayxos ,& to"

mando pelo Sol as alturas,chegarão os noffos à primeyra cachoeyra , ou catadupa enque rodo o pezo das aguas do rio das Amazonasfedefpenha, &como feachafledemafia

damente^deminuido, fazia quafi ímpratica

vel a paflage das embarcaçoens f mas como i

neceííidade de atraveflar aquelle porto cfí

igual à importância da impreza, mandou <

Capitão mòr,roteados os matos que lheguarnecião as margés , abrir huma eftrada por ter-

ra, & dando cabo a feíTenta canoas de íua Co»ferva as levou atoadas atè montarem o dei

penhadeyro.101 Vencida aquella dificuldade fó faci

à grandeza do coração daquellcCabo,defcã«farão os noflbs a noyte,& o que reftava da tar

de.Noíeguintc diadeyxadas atrazasembarcaçoes que hião mais impachada*,fc adiantou

com. as canoas ligeyrçs, a tomar porto na pri

mm

-

r

Éneyra i^ldea dosÇarapjíenas» iSlefte lug$r

deu a armada fundo atices de lermos fentidos

dos naturais%como os noflos não àthajitó

oppofição qUelheeíircVafle odefembarqu&com a mcfma ordem que ferrarão a terra\ ío.

rão marchando ha forma,que lhe premitia o

terreno de natureza alagadiçof & febre o$

pântanos fefradd de matos $ qtie ietiâo impe-'

dião o camiftho # eftrôVàVão kVarem-fe o$

corpos unidos , obrigaridò-nós htimas tféles

a pcrlongar mais fingclias as linhas foutro$#

de todo desfilar por não poderem camiíihar

dous iguaes pela eftreyteza dos pailòs^ quele moitràrão niais deficeis* que fefigóloSfpelo dcfcuydo dos inimigos * que fiados outia diftancia , ou nas íentint lias experimenta^rão o dano

, primeyro que ó rccéafTern.

i o% rTitihâo os noflos andado hõa poi>'

Ção larga de caminho , rna$ como á povoação?ftcaffe maisdiftante da praya , «m que lança-

ião ferro ,do q&e ames feajtlizàta ^& a igoo*íancia das eftfadas que íhe daVão ferventta^

era igual à nsccífidáde qtié liíihanios de Vert*

cellas primeyro qtíe fentido* dos liapôyas#

íc puzeffem em fefifteneia , ou efíí fugida,* fi-

carão os noffos fulpenfos acitretb cfpaflbquetardarão em aprecei x&aniecadás duas fbmi*nellas do inimigo> que ern poâos diffefcmm§&layavão a campanha , as quaei cornadas dst

IN mk

%fi PíiadeGomt$F^èyrinoflbs batedores , nos forão fervindo de gula]

obrigando-os o temor a entregar aos íupli-

cios os meímos, que procuravão ialvar denolTas mãos*

103 Chegados osnoflbs à Aldeã , nãoacharão os bárbaros tão defapercebidos

, quenio procurafíem difputarnos a entrada ;eo-

moaviíla de mulheres* Sc filhos lhecreaíTe

novas forças nos afFeétos, valentes oudefei*perados correrão à defTenfa, travou fe a briga

porfiando, durou igual largo efpáílb lem nv»

clinarle a vitoria à parte da multidão , nem àdo esforço.

104 O Capitão mor vendo a conftanciai

com que aquelies Tapuyasdefprefádas as vi-

das íuíkntavão o lugar queprimeyro oceu-pàrão , foy refrefeando os noflbs com outros

deícançado?, os quaes tendo por affronta a-

char valor em gente barbaramente diícipli-

nada , acometerão por entre huma nuvem deietas tiradas jcom pontaria certa , a avançarhuma tranqueyra acujafombra os inimigos

feamparavão, os qunès não podendo foírer

golpes tão pelados, nos forãò cedendo olu-?

gar deyxãnda. tendidos na terra o principalf

óc outros dos melhores,que compmheyros

na forte compravão o nome à culta das pró-

prias vicias, que ofFerecèrão em beneficio da

pátria, pòr lacrificio da honfa.

-

Í>éAfidràãbILPaft.MM $£§làf Alaftitna dosqueagonifavão, oua

dor dos feridos fez que defaiiimados fe retí-

rafíem deyxarído-nos huma porçaó confide-

ravel de priíloneyros ,que manietados honra-

rão noílb triunfo, os que eícapàrão^docori*

fli&o fe recolherão aos matos onde não $$ã|*,

rão ferfeguidos pela efpeííura * não rtféntís

peio receyo das imbufcadas , género de guer*

ra,a que ajuda o terreno à deltreza daquelles

bárbaros.

iô6 Recolherão-femuytòs arcos, &al-!

jabás * alfayá confideravel na eílimação da*

quellas gentes , aos noílbs detpojo inuui*

nas cafas não tocarão deyxando o Capitão

mòr aquelíe pobre abrigo aos mileraveis corí*

tra a opinião dos foldados ique convertida a

indignação contra a humildade dos edifícios*

votavão fe reduziflem a cinzas paredes, ÔC

telhados, por ferem todos de palma brava 5!

107 Fez aquelle dia mais fermofo aos

noílos o accidente de não perdermos hurii

homem ,çafoque pareceo milagre em tanta

multidão de tiros não fe achar mais que humÍndio levemente ferido de huma fetta ,& três

que feJncravárão nos eftrepes , que os inimi-

gos tinhão femeado nas entradas do lugar,

não fe efquictndo a natureza de enfinar

àquelles bárbaros , atè aquelie eftranho gene*

lodcddFeufa,

$94 FUade Gmes Frqr*108 Ainda com as armas quentes foráo

S>% noílos aisaltar outras Aldeãs , onde os ini*imgos receberão m mayor rcfiítencia fupe-Mor eftrago. Desbaratadas todas as povoa*^oens daquelle contorno, que acrutldadô-^ftgferra dcyxou por muyto tempo deferias,ííginda de algumas dura lóms memorias docaítigo anotieia para alaftiraa, voltarão osfloflosaembarcarfe,

109 Tomadas outra vei as embarcaçõesJoy o Capitão mòr apoveytandofe de todas«ascanoetas que por todos aquelles portos toyachando

, humas que preou por força , outras-que achou defem paradas dos Tapuyas,como~|>or leves íbfriaó meíhor o pezo fem toparemlio» bancos, chegando cem facilidade aterra,comq hiaóccfidos por naô deyxallos ingol-far a fúria da corrente , mandou paflar a ellas

«gente da guerra aliviadas as canoas da arma?da neccfTuadas ou de mais fundo, ou de me*nos carga.

110 Levantado ferro foráo os noffot«dando vifta avarias povoaçoens pequenas,que o medo, tinha defpcjadas dos vifinhos,atè darem fundo crflhuma enfeada capaz dei

ancorar toda a armada. Como fenaVegavâocom efpias diante que fínalados 0$ bay*os íe-

guraíkm a paffojem , deícobriraó três negras,.que ignorado 9 rifeo bifo vadiando hum pe-

De Anatada ILPartJL&.IlL , Wfcueno rio, q alli corria vindo do Certáo a in-

groflar o das Amázonas.Saltarão os nofíos e«t

terra fem ferem fentidos, prenderão duas,*

terceyra, que efeapou',/oy fugindo para *

Aldeã ,que lhe ficava vifinha , onde prfmey-

ro que chegaffe deu rebate corri os grito**

que ouvidos de longe advertirão os índios do

perigo que defcuydados , ou não o receavío,

ou o não temião de tão perto,*

;

-'

1 1 I 1Tocada arma na Aldeã tfahifao ate

osqueaidade izeníava das leys da guerra, *

impedimos o detembarque , mas como o Ca-

pitão mor ,que nãofabia perder tempo , tt«

veíTc já na praya hõ grofíbdeyxando ordera

aos Cabos que ofèguiíkm com oreíto^fò

avançou na vanguarda aarróftar ommugo,

que achando Portugueses fos que julgava

Índios da Aldeã que os dias antes ttnhao ef*

callado» procuraraõ na retirada para os matos

falvar as vidas, depois debem fatfgrados de

noflo ferro que aquelle dia cortou com rigor

igual à crueldade daquellçs bárbaros ,que

creadas forças na defefperação iefuftentàrão

firmes largo efpaço , fazendo-nos o combate

cuftoío , a vitoria arrifeada* ^ _

nx Dos inimigos que aqui acabarão

ictrjquedos noflbs pcrdefíemos nutri Tolda-

do* faltarão em noflas relaçoens as noticias,

çop o giefmo fiiéejp enunudecidas calarão os

úiu pri:

*»**

&6 Vida de Goma Frtyre^ lííoneyros

,& feridos, contentando-fe comJjosrefwirtmque foráo muytcs fem indivi-duar nume i o, efqút amento que lamentamosfcm fruto. Com o mélmbdtfcuydo ficarãofem me mona os que mais íe finalàrão no ton-mpiãl&fymdfrfe Corri rios deyxarem en-cartada .ha fama a gloria que então fouberáomerecer, vicio, ou achaque de que adoece-rão, & acabarão fem nome em noílàs hiflo-nas tnuyios

* que as poderão honrar , ou enri-quecer;

113 Nefte fheímo jugar , regado do fari-guc inimigo

j mandou o Capitão mòr alojaro noflo cam Po com as cofias na marinha, v in-cocomhumasmcfmas armas aiegurar Ocx-crcico,.&acobrÍr a armada, que lhe ficavaíjas eípaldas, Fortificados os noílòs Com vala-dos deteria levantada, que mais parecia di-Vlz^qúedéífenfa: deipediò o Capitão mòrao A]fcre> Braz de Barros ; cõm duzentos ho-mens am^yor parte índios denoflas Aldeãs*aqucí( união alguns dasnaçòcns confede-radas

, < om pi dem que batidos os matos, foC*ic recolhendo os gentios

, qjie ach) fie deigar-radòs,pe?do?ncioavida,atèaqúdít\squedcf-íendt rdo-íe, podeíi: a fó» ça tomai fenj rejee-berdanoi porque mtentava moíhar aquel-Jes bnibaros, que mais queria dtlles oariopcndimenro , do que o fangue,

X14 Brás

De Anáraâa llPârt.LibJll 39/114 Brax de Barros , a quem a experieiW'

eia tinha provado íbldado de brios mayores

que osannosi vendo feeicolhido entre muy^

tos beneméritos da honra daquella facção,

fem admitir ócio foy diícorrendo por todos

aquelíes contornos, com os Teus divididos

em pa; tidas , nas diftancias proporcionadas a

darem- fe as mãos, com efta ordenança mar-

chou aquelie corpo,acautellado das embofca*

das, "TtifiVio Marcial em queaquelles bárba-

ros fe moftraó não menos valentes ^quedif-,

ciplinado".

11? PâíTados oyto dias, que osnoflo9

difeorrião àcaíla daquclles Gentios vicrãoa

darlhe alcance , em Cicio que ou não podendo

retirarie fem perigo, ou vendo o pequeno

poder de que fugião reiolveráo efpcrarnos

formados embatalha.Os noílos tendo pora-

trevimento a determinação daquelíes bárba-

ros , com a mefma ordem da marcha inveíri-

rio pela frente.donde forão rociados de humariuvem de fettas ,

que atiradas com pontaria

incerta', não chegarão a oíFendér mais que o

ar, que turbado- rios cobrio o Geo » efeondec»

GSiíniraigos* SDí!

í 1 6 Osnoffcnque tinhão por injuria

acharem refiftencia em gente barbara> crea-

liàs novas forças qa indignação, acometerão

0m reáQlugaõ; moú^ktu ,quç rotos na pri-

£98 Viàa, de Gomes FreyreUiveftida nos largarão o campo , & a vitoria."

deyxando monos quarenta, não entrando«efte numero tresprincipaes, cuja perda fefefc entre os feus tão demafiadamente fentida,que fenão atreverão a diíputar nos mais o paf-fo, retirou~fe &4nmigp com defcompoftafugida deyxando nos muytos prifíoneyrosque comprada a vida a troco da liberdade'Com a íua lídima honrarão noíTo triunfo.

117 Recolherão »>s noílòs por defpojoda batalha arcos- fettas, ÔC paos de juncar def-pojo* e^nfíderaveis m opinião do inimigCLna cftimação dos noflbs dignos do dei prezo,romque forão tratados dos Toldados Pnrtu-£uezef,queretirando*fe mais ricos de gloria

que de outros entereíTes , voltarão ao campo*endr forão recebidos com alegria univerhldeCabos, & Toldados, huns lhe tnveiárãoaforte , outros o esforço, & todos juntos ceie-,

bravão o fucceílb com aclamaçoens , & vivas

fem termo nosapplaufos, nos louvores íemtayxai

1 1 8 Ainda os noflbs vagavio congratu*landowfe nos cafos particulares da batalha,q,ue

huns a outros repetião incarecidos com fu»

plementos deaccidentes» que ie atribuiãoa

Çi mefmos ,011 aosamigosi quando pelas eft

pias ,que*raziamos no campo ,chegou aviíov

queo inimigo, na5 perdendo, acordo na de&

Pe AnâràâallParttibJIL 599»graça fehia unindo emhuma Aidca amai*-populofa , & deffenfavel daquelle Certão,que diítava duas jornadas daquelle ficio,on«:

de já le achava huma multidão confiJeravéL

de Gentios, ingroflàdos dosfoccorros de na».Çoens dif&rcnteY, que em lua ajuda chamaraainda mais o nolíb ódio, que a fua laftima,

çrefcen.do cada dia o exercito no numero, 8çnas torças, ie moftrava já aos olhos defeuspoderofo t a^s dos noíTos formidável,

1 19 O Capitão mor, que defejava de hua*jrez acabar aquella guerra, vendo que a fortiKpa lhe tinha juntos os inimigos,Ôc que a mef-mafacilidade, que os unia, os podia feparar*

pela variedade daquclles bárbaros, em que.nâo dura huma rèfofução mais tempo

, que aque tarda a reprefentarle-lhe melhor outra;,

ítfolveoirbuícallos dentro em feus mefmo*alojamentos; mas como aquella empreza ti-i

«ha de gloriofa , ò que lhefobrava de arriíca*r

da ,& n$o refpondendo o fucceífo a ftus pen»[amentos, virijo a ier julgados demazia oiintentos, o valor culpa. Chamados a fio*Gabos, & foldados de melhor nome lhesfa<í

fof| riefta fuftancia ; que ainda que os pode-^res que levava para aquella guerra , onaõ

tíbbord^avâo mais que ao Governador do,^filado , como o perigo, ou a honra havia J4ç lef dèifcdos^stáío «queria privar da me»,*

Ibor

Jjpo VtAa de Gomes Fftyri

„ lhor parte da vitoria ,que confeguia em a«

„confelhar osmeyos de aconfeguir; que

,^quelles Gentios, eícandilifados de noílb

Jlferro, k tinhãò retirado ofFendidos mas não

), defanimados ;porque podendo falvarfe nos

„ matos, ou na diítancia, onde não chegafTem

„ os pelouros de nofl^s efpingardas , nem os

f jgolpes de noíía elpada , detidos dos affeótos

" davingmça ;porque as ferida ainda frek

„cas lhesacorda.vão na injuria ofarvguc, na

,, dor o aggravo , nos efperavão em campo a*

aberto, confiança tão eftranha queapode*

J,'ramos contai pdi mayor ofcnfa de quantas

^tínhamos recebido, em cantos annos que

^ nos moieílaváo cóm guerra dcfcubertaique

,iintentava caftigarlhe oatrevimento, com

^que oucreadas as forças na defefperação,

;,ou fiados na multidão deiprelavão noíio

„' poder, masqueeratãofuperior o numero

i em que nosexcedião, que receava em tama-

%ha defproporção ,que ficafferaos venci-

'?dos por cançados de matar J que ainda que

^no rofto de todos eílava lendo a grandeza

,-do coração , cuja alegria periaga da vitoria,

. prometia o triunfo ,queria votallem na ma-

téria• que cada hum difeorrefíè livre por*

^.qufi havia de feguir dos pareceres o melhor,

^nâooimaisauthprif-ido. i

, iío .. lA«eni«i«c admirados , uaq.meno»

_ r - - -- Si

Be ÂnàfàU ILParlLiblíí 40a»ííagrandeza do animo, do que damodeftía^em que fe fogey cava ao parecer dos lubditòs,»

ouvirão todos as razoens: chegados a votar namateria,como não hoúveíTe hum, que naõ fe-

guiíTe a opinião do Capitão mor , entrou a fa-

zer refcnha dos Toldados de que havia fepara-

dohuma efjuadra comandada peioCapkãc*António de Miranda i % partio aò rid Átúmágloride õ deyxarêmos tíavegándd embuica de3ous régulos íoíí puncipaes dos levantados^}ue receando ò gdl^e foraõ ampararfe à forn-

ira de outra nação , em que vieráo a achar noigafalhd de hofpedes , tratamento de inimi--§os.

12 í Áchdii o Capitão mor qiie orioffd:ampo coiíftava fó de fetentâ PorÊuguezes* Sejuatrocefittís & fetenta índios de peleja, toda)*ente efcòlhida ,de que hou ve de deyxar ay*enta ôc três canoas guarnecidas,» com ò ref-ofe poz em marcha para o Cayfára .fitio for-e pela natureza não menos pelo beneficiala arte * com que o inimigo fe tinha ampara*io de algumas tranqueyras com fuás efplana^las obradas com artificio menos bárbaro jen-ihando-lhes ou a neceífidade,ou a pratica dosiodos,, aquelle género de deífenía, que a pre*eyçoáraõ

, naõ ían,alguma , ainda que brçvçUZilaforciEcaçaó.

â$fr, Çomaaquellesbarbaroj fc achavamCg á»

4,o« Vida de Gomes Frêyrè

ou menos brutos» ou mais difciplinados nápolicia Marcial aprendida à cufta do própriolangue, levou o Capitão mòr unidos duzen-tos índios & quarenta Portuguezes , os quereftaraõ desfeytos em pequenos corpos mar-charão diante, & pelos lados deicobrindo ocampo, 6c cobrindo a eftrada. Pelos caminhosque eraõ afperos, &eftreytos foraò os noílbs

batedores encontrando muytas fentinellas

do inimigo, que de arvores levantadas, oulugares altos cfpiavaõ ospaflbs, dos quaesforaó cahindo alguns derribados de noflos

pelouros que tirados com pontaria certa

matáraó huns, a outros deyxáraó mal feri-

dos.

1 23 Marcharão os noílbs fem detellos,

nem o pezo das armas,nem aalperez* dos ca-

minhos^inda que com tardo movimento portropeçarem em alguns embaraços, que os

mõdeyxavãoapreíiar. Três legoas diftarite

deCayfáraie virão atalhados coma viíinhan-

çadanoyte que começava aamiaflar horro-

roía pela ferraçaõ da tarde : o Capitão mòrreceando alguma defordem , mandou fazer

alto a quinze lndios,& leis Portuguezes camque marchava na retaguarda, dando final aos

mais para que foliem parando nas diftancias,

cm que íe achavaõ.Ao pòr do Sol fe achou af-

faltado de dezTapuyas,que furtados aos bate-

dores

Í)è Anatada II.Pdrt.LihílÍ. 40

j

íores fevinháo retirando danoíla vanguar-ia

$ Sc chegarão a perder a liberdade onde cf-

péravaõaialvaçaõ.

124 Morrerão áquelle dia pelos matos al-guns dos inimigos acabando fiuris indefefcoSj

?utros na refiftencia. Tomáraô-fe alguns pre*loneyros,q osPortuguezes falvàraóda indig-laçaó dos noflbs Indios,que offerididos do ri*

*or, com que outro tempo tinhaõ fido trata-

ios daquelles barbaros,naõ perdoavaó a inno<:ente , ou culpado * paliando fem quartel p j.

asleysdaeípadaoppoftos, frendidos, íemzentarfe da crueldade (cxú oíí idade 5 corrianta deshumaríidade reyna o ódio ria natu-ureza daquellas gentes

é que hão defjbrezaõ £vingança, ainda a troco da repreheníaõ , UlocaíligOí

12,5 Paílàda aquella rioyte corri aígurri)reverepoufoiobre as armas pela viílnhartç*lo inimigo cujo poder incarcciaõ ospfefio-leyros , na rnanháa fe puzeraõ os noflbs ou-ra vez em marcha : parlados três dias que oJàpitaõ mor efpcrou para unir todas as partnias,que levava divididas do campo , aviftá-aó a Aldca do Cayfára , onde affirmavaõ osvifos nos aguardavaó os índios j o CapitãoDor porque a dilação naó parecetfe fefpcyto,m remor fe avançou com a vanguarda a ef-alar os reparos exteriores, com que fe tinhaõ

Ce % forçj.

£o4 Fida de Gomes Frtyrê

fortificado , que achai aõ defpejados da guaiS,

niçaó ,ganhados fem defpiua, quenosdiât

culta ííe aquelle paflb , entrarão os nofíbs à

povoação queachàràódefamparada dos Tol-

dados , & dos vifinhos,que defconfiados de

fuás forças , nos cederão o lugar,que faziaõ

celebre a grandeza, ÔCarmonia dos edifícios

traçados com alguma policia eftranha no ufodaquelles bárbaros.

126 O Capitão mòr vendo refpeytadas

noílas armas de poder íuperior, fazendo ar-

gumento daquella vitoria fem langue galha-da íó com afamadenoíío nome, que era.at-

tençaõ a noílb esforço , aífentou podia já in-

tentar coufas mayores na coníideraçaó , de

que o inimigo avaliava noílas forças por nof-

fo atrevimento. Tomadas algumas linguas,

que fem tromcnto confeííaraõ,que os Ta-

puyas receando o valor dos Portuguezes,

divididos em corpos dirTerentes fe metéraõ

pelos matos , onde vagos difcorriaô fem acor-

do errando a huma , Sc outra parte fem daríe

aconlllho, porque temiaô a ruina, atè na-

quelles abrigos, em que pouco antes fe pro-

metia© fegurança.

] 27 Averiguada com individuação a no-

ticia que aírumava a voz vaga ateítada na

coníiilaó dos prifioneyros. Desfez o Capitão

*iòr noflb excercito em partidas groffas > quemaa«

-

De Ankâàd ILPari.Lib.IIl. 40?mandou correr os matos, com ordem

, que

[íaõ atiraíTem com ás armas de fogo , excetu-

mdo na neceífidade da deffenfa ,porque fèr-

viria o eftrondo de final para foccorrer com o

|rofíb, que deyxou de referva, para acodir

iquella parte onde o chamaffe o aperto.

128 Muytos dias difcqrréraõ os noíTos

pela efpeffura , onde foraó tantos osincon-

:rosarnfcados, que por muytos fenaò nu-

merarão em noíTas noticias, ou deyxando-os

como accidentes femfuííancia* ou reduzin-

3o-os a huma fó batalha eíquecéraõ àjelaçaõ,

que deita guerra fizeraõ os noffos taõefcaíTa,

como aqui damos a ler. Defprezo Portu-

guez , em que os homens mais avaros dos ni-

cos, que da fama naô tiveraõ por dignos dias

memorias os fuccefibs gloriofos , em que aUcançàraômuytas vitorias com trabalho igual

ao perigo, de que enfermarão muytos pelo

mao trato, efcapàraõ todos com honra íèmnome» Naõ perdemos nefta facção hum íol-

dado , nem fe achou algum ferkfo , cafo quepareceo milagre , em taõ repetidos conflitos,

quealcançando-fehuns a outros\, fe naõ po-

derão contar diftintos.

129 Quinze dias parTáraô osnoffbs va-

gos pelos matos à ca fla de Tapuyas : excede-

rão de cem o numero dos mortos em que ert-

fráraõ quatro prineipaes , que refpondem st

- " " Çç 3 Goi

406 Pída dê Gomes FreyreGovernadores, ou régulos reytos poreley^çâõ dopovo dominando, ainda que com jm*perio enfermo , hum em cada Aldeã

, que (cgovermp como Kftado feparado , fem iubor-dinaçaõ, ou dependência de outro íuperior,menos os que vivem em melhor ley iogey

*

tos à Coroa Portugueia , que recebem aquel-Ja dignidade por patente dosCapitaens Qe^peraes.

igQ Tomàraõ-fe muytos prifioneyrosjem que entrarão mulheres, veJhos , & mini-nos, fem izentar os filhos dos principaes au*tores das treyçoens ufadas cpm osnoflbs, quefem perdoar agora a fexo , ou idade chegoua todos o caftigo, paílando fem difFerençade eftado , ou qualidade , arraftar nas miferiasde cativos, ascadeasdeeícravos no Para, &Maranhão , onde entrarão manietados a ré,preíçqtar na fua defgraça raayor o noflb tri-

unfo.

Igi Qs Gentios do rio Negro, queren-ido lifongearosnoffos

, pujqftificarafua cau-fa

, feguiraõ a Joaó Cafcalho , & outro prin-cipal, que tinhaó (ido parciaes çomosagref-fores dos delitos paliados, & dancTo-lhe aUpmce os tomarão vivos : mas como eraõ va-lentes, & determinados, receando-lhe efea.pafiem das mãos pelo dilatado do caminho,ífíÇ deraõ a ©§r|ç co® áesjuganidade na*

£ : fluelkg

DtAndradalWart.LikHL 407quellesbárbaros natural, a piedade eftranha,

& tiradas as canas das pernas ,& braços , com

as cabeças , as remeterão ao Capitão mor, fer-

viço que agradeceo cora as palavras, remune-

rou com prémios fatisfazendo à cufta de feus

próprios bens as dividas daMageftade,a quem

iervionefta guerra com defenterefle igual ao

valor - *. » í ^

il% Faltavaõ por caftigaf alguns prin-

cipaes quecumpleces nas treyçoens tinhão

fidoparciaes nos delitos, mas como o temor

os tivefíe acautellados antes, fe letiràraõ a lu-

gares remotos, onde paffavão tão vigiados,

que não era fácil dar- lhe alcance. O Capitão

inòr a quem trazia cuydadofo efte negocio,

por depender a paz dosCertoens da morte,

ou da prizaó daquelles dous régulos , vendo a

dificuldade de apanhallos às mãos, paliou or-

dem para o rio Amatary , & outras partes on-

de por efpias iecretas era avifado , que algúas

vezes aparecraõ ,finalando premio a quem os

cntrcgaffe , & como aquelles Gentios , fem

mais ley que os emereffes ,lhes falta na Reli-

gião a Fé, &deleytando-fe nas crueldades, fe

çcvaô no rigor *Tía6 tardarão amoftrarfe na

obediência exaítos , na execução promptosJ

155 A© mefmo tempo defpedio o Aju-'

ilatue António Rodrigues a bater alguns ma-

^s. em que ainda íeconfervayaõ xgrioscoji"""

fie 4 SÔÍ

íjo8 Vtãâ de Gomes Frèyrêpos de inimigos. Depois dedifeorrerem ernbeneficio daquelia impreza, foraõ osnoílbsa dar em hum fitio oceulto , onde o medo ti-nha efcondido a muytos^daquellcs Gentiosque vendo-fe afoitados de repente, fem tem-po para falvaras peíToas, nem valor para ven-cemos as vidas, fe entregarão à diferiçaõ: tra-ídos a preíença doCapitaò mòr,feaveri-guou íererrj alguns, daquelles vaílallosde hureguío, de que mõ tinbamos recebido efean-dalo,os quaesíeparados mandou foltar , iuf-PÇa que por pova mquellas partes, recebe-rão como beneficio, & que gratificarão coma paz, que nosofkrecèraó voluntários, ex-emplo que feguiraq todss as Aídeasdaquellescontornos Píide chegou a noticia da noíla in-teyreza

,igual à humanidade , vindo a bufear

aamiíade doEítado, de que fe mcíbàraqlempre huns vaíjallos

, outros fieis corres-pondestes,

134 Acabava Hillario de Soufa de dar opltimo caíligo aos Aroaquizes , & Carapite-nas

,quando recçpep a noticia que os France-

ses deCaena defmandados fe demafiavaó nasentradas

, que faziap furtivas \cm noíTos Cer-toens, donde nravaõ eferavos, & outros go-neros

,de que íngroflàdo leu trato , empobre^

yiao noflas conquiílas,aduIteradasnoíTasleys;5jue profebíao s§fefg^tes dos Gentios. Naã

feri

De Andrâàa IT.Part. Lib.lll. 409fera alheyo dahiftoria darmos aqui rehçaôjnenos abreviada da ambição, com que Fran*

çapertendia lenhorearfe comabfoluto im-pério, das terras, Sc comercio daquellesCer-

toens por virem entaôa cuílar recevos a Go~mes Freyre no Eftado do Maranhão , depois

no Reyno cuydados à Mageftade,

135' Jaza Ilha de Caena íiruada com 'feto

legoas de circunferência , em altura de cinco

grãos da banda do Norte da Pinha Equino-}

cia! , na foz dos rios Oja , & Totana , ou Cae-na como lemos em outras memorias, quecorrendo do Certaõ , vem a defjgu ;r no Ca-nal , que a devide da terra firme. Foy em íeu

principio Conquifta dos Rey sCatholicos,de

cujo domínio interpreíada paliou no armo demilôc íciscentos, trinta &oyto aoíenhoriodos Olandezes , a quem pelos de mil feiscen-

tos&oytenta com pouca diíFerença a vieraõ

a tomar os Francezes, confervando-fe em taõ

varias fortunas fempreinteyra mais pela uti-

lidade do Porto limpo,& abrigadc,com fun.'

do capaz de ancorarem nãos de todo opor*te, do que pela deitem perança do clima , taô

enfermo quehe raro o minino alli nafeidoque chegou a contar cinco annos , dos quede fora vaõ adultos paíTaó poucoé a velho?»Confífte fua defTenfa em humà Fortaleza re,'

guiar de mediana grandeza, acdjoprefidio

affifte

lM

£io Vida de Gomes Frtyrè

affifte hum Governador com cento & trinta

& cinco íôldados repartidos em tres compa-nhias, 8c outra de milicianos noCcrtão, que4a outra parte ni terra firme guarnece ama*rinha.

1 36 Como as terras firmes da outra par-tedoEfteyro quedevide aCacna, porefte-reis não refpondem com frutos para o iuften*

to, nem drogns que iirvão ao comercio, íea-

Jargavão os Toldados , &: moradores navegan-do por toda aquella cofia da America Meri-dional atè o famofo rio Peruaxe, a que oiFrancc7.es com pouca corruçâo chamaoProu.Daqui atra vi fiando a foz do Ajoapocodos noílbs chamado de Vicente Pinçon , ul-

timo termo por aquella parte donoíio Brafíí^

dobrado o Cabo do Norte Ce alargaváo 8 dif^

correr pelas margens do rio das Amazonas in«

feítadas as Ilhas aos Aroás , & Janacuzés, pe*netravão ate o interior dos nollbs Ccrtoens»que a fama de noflas antigas vitorias defièndia

com o refpcyto ícm armas,

1 37 Cnrno a confiança na paz que goía-vamos nos tinha defcuydados , forão àíbm*bra denoda paciência crefeendo em atrevi*

mentos de lorte, que intentarão roubamos o

domínio daqucllas terras, que pelas demar*caçoen-s antigas nos pertenciaó , & gofava*

mos com pofle affectiva de trint§ & bum de

Um

De Màraàa 11 PartLih.IIL 41 *'

Mayo de mil quinhentos vinte & quatro , &que depois oGapitaò mor Pedro Teyxeyra,

com valor mayor que as forçai reílaurou ,

çom ruína dosQlandczes, 8c Inglezes, quenas difFei enças de Caftclla pafláraó com grof*

ias armadas aícnhorcar vários, deftritos na*

quellas partes, onde noanno de mil íeiscen»

tos & defoy to com poucos Portuguezes , ôc

alguns índios, efcalou a Fortaleza que huns

tinhaó lavrado no rio do Torrego , & no de

mil feiseentos ôcdefànove , a que os outros

confervavão no rio de Felippe, não ficando

por toda aquella cofta do rio de Vicente Pin-

çon atè a boca; £t toda a marinha do das A-mazonas forte , feytoria , ou dtfílnía que defi-

pojo de noflas armes, fenão renddle obedUpnte na fogeyção de noflas ieys,

158 Não damos aqui a lt r asacçocnsil*

luftrcs ,com que eílefamofo Capitão dt bei-

jados em repetidos confli&os , Olaridczes , &Inglezes, recuperou naquelleEftado ocre-»

dito de noflas armas, porque alem de não ca-

berem osfeytos de homem tamanho em liJ

vro pequeno, fpra ofíèndermos as leys da híf-

toria fazermos eferitura larga de memoriasalheyas, baile- lhe para elogio íàbcrfe, quesião lograrão feus grandes ferviços mais pre-

mio, que a gloria de merecellos mayor que$gda a gratidão

,que não achou na pátria en-

T tre

. $ft Vida de Gonrn FrêyrêÉreosnaturars onde deyxou famofo íeu nò-me na tradição , mais que nos efcritos : nosVolumes cfiranhos corre celebrado grandeentre os heroes de feu tempo ,ou porque a ín-tcyreza deftes foube fazendas virtudes maiscílímação , ou fua inveja menos defprezo.í

i?9 Também deyxamos de referiraqueile valor raro, com quebufeados os pe-rigos pelo intereíie da honra, paíTou compoucos-Ponuguezes , de Pernambuco , aoMaranhão onde à eufta do próprio, ôcalheyolangue deílroçaJo o poder de Inglaterra , ÔCOlanda creou o*utra vez de novo íuftentando-em íeus braços aq uel ia grande porçaõ do Im-pério da A meri ca

, que antes robufto , depoisincanccJdomnoílafugeyçaó, tinha acabadopara a noíla obediência , ou por fraco , ou pordecrépito.

140 Só não calaremos a culpa do valor;

com que íeu atrevimento , vencidas todas as

dificuldades, emprendeo, êcconfeguioatra-vefTír do Pará atè a Cidade do Quito, portão dilatados Certbés habitados de bárbaros,

paliando tão vaftas regioens , & climas diffe-

rentes , jornada qu ? profeguio com trabalho,

acabou fem perigo, fazendo a El Rey de Por-tugal triburias maisnaçoens do que levavafoldados , facçaõ, fó para intentada, tão gran-de, que a incarcçem com elogios as pennas-

De Anâraâa Il.Part.LihllL Í« $eftrangeyras, em cujos efcritos he tratada

como hum dos heroes digno da fama immor*

tal que foube adquirir valente > merecer fa4

cil em arriícar pela pátria a vida, a peffoa pela

opinião»

141 Fomos bufear taõ longe osprinoi*

pios para moftrar ao mundo a tyrannia,com

que as nações eftfanhas infeítiraõ por muy»tos annos aquella parte da noíTa America fem

mais direyto que o que a ambição lhecrèou

nas armas , Sedarmos a conhecer* oinjuílo

procedimento com que de prezente os Fran-

cezes de Caena pizaraó noflos CertoenSj ha*

vendo trinta & cinco dias que tinhão partido

doriodosTamurás, onde os havia levado o

comercio doseferavos, que refgatavaô do*

Gentios a troco de ferramentas, 6c outras

drogas de pouco preço , introduzindo na3

Aldeãs da no fila obediência pólvora, bailas^

efpingardas , ôt outras armas de fego , de que

recebíamos dano ainda mayor que a perda

dos variai los,que nos levavão cativos. 1

142, Ouvidas deHillario de Sou ia cora

laftima ,fentidas com dor as noticias da liber-

dade , com que os Francezes , já fem bufear

o pretexto da Religião , com que no princi-

pio faziaó efcalla ao comercio a deípey to nof-

ío entraváo nas terras do domínio Ponugue*pprdç marcação , 8c pgr Conquiíta, mandou

r çha;

4*4 Ftda dê Gemes Freyrêchamares principaes, a quem com inteyrezáde Mmiitfo

, & aut.horidade de íuperior, queíc acha va com a efpada deiembainhada pata ocaíhgo

, ou para a deffènfa , lhes eílrarihou otrato com os Eílr»ngcyros,culpa de que hou^¥Cs dedeyxallos km pena, pela neceflidadeque moflravão ter de iriftrurhentos para agri-cultura de fuás roílas, & como nas luas Al-deãs não tinhão outros géneros mais que fa*rinhas , tartarugas j & cativos tomados emguerra juíla

, que os Portuguezes por obfer-yancia^ dospreceytos Reaes , não aceytavaó,íc valião dos cftranhos, que os proviáo da-quellas drogas, íemasquaes nâopodiaó vi-ver

* nem ler vaífallos de hum Príncipe , quecom fuás mefmas leys os viria á perder.

143 Satisfeyto das razoens , com que juf-tihcaváo a lua cauià fe delpcdio o Capitãomòrdaquelles Certocns carregado mais degloria que dedefpojos ferecolheo ao Pará,.Vindo com toda a armada emb^ndeyrada adar fundo nopos to da Cidade de Rellcm, on-de cfpcrado dos melhores na prava! foy comalegria univerfal recebido do povo , que o k-vouaospaílbs do Governa dor como em tri*unto. Daqui partirão osdous iuntos à Matriza render asgraçis de tamanhos benefícios aoDeos dos exércitos , reconhecendo a piedadede Gomes Freyrc dever ao Ceo todos os

bons

De Jndrada H.Part. Lib.IIL 41^bohs fucceflbs daquella guerra , 6c de que fa-

rão nòflas armas afliftidas de auxílios íupe-

riores , he argumento mayor , não faltar huti*

fòldado em íeis mezes de campanha * cm queforão poueosmais os dias que as batalhas, as

vitorias mais que os conflitos.

144 Recolhéraõfc por fruto dostraba-

lhos daquella guerra quinhentos prefioney-

ros, que manietados honrarão noílb triunfo,

paííáraõ de mil os mortos nos conflitos , nãoentrando ncfte numero muytos* que acaba-

rão depois das feridas , nem huma multidão

dellés, que perderão ávida às mãos dos Ín-

dios rioflbs aleados, emquc reynava oodtoj

com mayor império para a vingança, doqutfnoflas leys para defíènder os inimigos ; por-

que lem eíperar pelos Cabos íe metião def-

ínandados pela efpeíTura dando caíla aos fugi-

tivos , 6c como nelks a fereza igualla, ou cx^cede a barbaridade , não perdoavão a fcxo, ouidade paílando pelo rigor do ferro

,quantos?

iricontravãooppòftosou rendidos, occultan-*

do os fucceílos , efeondidos os cadáveres, pe~

Joreceyo docailigo, que afua crueidadea*

miaflavaõ noflbs decretos,tolhendo -lhes cor-

tar , aos que ou não foílb prectfo para adef-fcnla própria ,ourpara osfogeytar a noílb do-mínio;

Hf OGovernador% de3cycandorfe,co-

\J

% 16 Vida de Gomes FréyrixnocntereíTado na gloria alhcya, ajudava ao§applaufos,com que o povo celebrava as virtu*des do Capitão mor cujo nome levou a famaate osiugares mais remotos daquclles Cet*toens

, onde era ouvido com efpanto dos bár-baros

,em que ainda duraíreíca adornos fi-

naes das feridas , com reverencia, dos quenão lhe eh: gando o gojpe^lcançou o receyo„fez eíhxmtcer o ami«íio * vindo a iervir a to-dos decautella o exemplo, que incarecidcinas memorias do caítigo , reeordavão nasitiinas ,Iião nos eftragos*.

146 A guerra.que.o Governador tinhadeftinado fuzer nas margens dorioXingumaosTacanhapéj, -atalhou. por então a mele*ipencia do tempo

,por entrar rigorofo o ve-,

tão, faltando fundo paradas canoas navega-rem às Aldeãs daqueíle Gertfihfmo* acrefçeii-

go oaccidcmc das doençav que laboravioaggravadas nos calloicsexceffivps,& osbaf-.

timemos fobre pr.ucos. mal.acondicionados,

& alguns corruptos, mceífitando os Tolda-dos huns de cura, outros de eonvalcccnça,&todos de d fcunçar. dos trabalhos paliados

,

gaílos íeis mc2.es íem deípin as armas, femprecm marcha , o*i cm batafhavDepois a fufpen-deodetodo achegada do novo GovernadorArtur d< Sá de Menezes, que aos vinte & cin-

co de Marco de feiscentos oy tenta & fcic fer-

fbu a barra do Maranhão , ayifo * que GomesFreyre recebeo com alegria igual ao íenti*

mento i que moftravão os fubditos de acabarcão cedo hum Império

ique nem cftragoua

brandura$nem o íigor cornou violento*

147 Àchava*fc Gomes Freyre cem fu3seíTor noEftadoi mastrazía*o cuydadofo,olegredo , com quê íe lhe demorou o aviío *. fi-

wndo todos os do Reyno retardádõá iio Ma-ranhão * ou foffe cafo * ou cautelía $ átè que)>aíTado tempo * recebeo entre as cartas dosVliniftros huma da Mageftade* taóchea dúíonras que poderá fobrar por premio,a querâiveíTe ou mais ambição , ou menos mereci*nentos 5 aqui a daremos a ler* porque meihoiílella feveja aafcteriçaô* com que eraõ trata*las do Rey as virtudes daqúelle vaíTali®.

G Ornes Freyre 4e Abeirada amigos è\áEIRey vos mando niuy to faudan Via-

e à vofla carta dejinte& tfes de Agofto def»eanno, em quc*me daes conta do procedi**tjento, que tivertes com o Governador d$^aena, & doqueelle vos refporideo iobrç*ntrada, & comercio que osvaííailos de El*tey Chriftianiffimo jproeuraõcer nas terralgíie Bftado, que fiçao pafa a pane da Noi*

pS Pída deComês T?rèyri

te,& mandando confidcrar eftc negocio, CoiS

aattençaó, que pede a qualidade delle,me

pareceo dizervos, que o expediente que to-

maftes , em mandar os Francezes prdioney-

ros ao Teu Governador foymuyto acertado,

como o tem fido todos os dovoíío governo,

6c porque o meyo mais efficaz de fe atalhar

o intento dos Francezes , faó os que contém a

vofTa carta, procurareis deosdeyxardifpof*

tos de maneyra,que Artur de Sá de Menezes,

que vosvay afueceder, os pofla confeguir,

ôc executar tão promptamente, como lhe

mando incarregar por outra carta. Para as

Fortaleza?, que he hum dos meyos que apon-

taes , vos tenho já mandado paliar as ordens

neceílatias com oprimcyro avifoque dtfta

matéria me fizeíte, dizendo-vos osefFeytos,

de que vos haveis de valer ; ÔC porque íoa*

provada húa d^s ditas Fortalezas , 6c no mel-

roo tempo deit.es avifos podereis ter mudadode parecer iobre ofitio,emque íchade fa<*

bricar, podereis efeolher de novo, o que a

experiência vos tiver moftrado fer mais con*

veniente, fem embargo, doque difpoemaS

ditas ordens , como também podereis mandar

fazer não ló huma, mas todas as que julgares

necellarias tanto para dominar o Gentio, o

qual procurareis perfuadir cora as dadivas,

quaes coftumão ©brigarfcomo para impedir^

IqUaesquer mçoens, que entrão nas terrasdefia Coroa, ftrn ascondiçocns neceflanas*:om que o d<- vem fazefjenu ndendoi que ne(*cc

:

principio de fe fabricarem as FortalezaSjpòdaferneceíiària noCeríâo a afliílencia deilgumapeílba» que tenha authoridade para:udo o que importar a obra delias , & me ten-tes informado do fcclloj & cuydgdo

é comiue me ferve António de Albuquerque Coe*ho Capitão mordo Para, hey por bem de lheiicarregsrque logo que tiver ordem voflà,a com ocngcnheyro doÊffedo, & alguns•raticos daquelie Cenaô (inalar * ôcdifpor asitas Fortalezas j & vos valereis ao rncHiio:mpo dosMifíionarios Capuchos de S*Anto-10

,que tem as MilTocns do Cabo do Norte,

c dos Padres da Companhia de jefu ,que f©Jemmaisapropofito acíleflm, avivando-osa minha parte do que devem fazer , para fe

°a-f íí1

!

de^onfian§a a íugeyção àa$ndios das Aldeai, &fe tratar ,&?juiíar comgurança a paz , & amifade do Gentio

f qucaoeítiver doroefticado. O ComiíTario dosadres Capuchos, que fe embarca neíicna*io he fogeyto de quem o leu Provincial>n&* muyco

,

clle vay difpoílo a feguir > txu^ que lhe advertires icrneceíferio. & con-sente ao bem das MilTocns , & meti ft*£o

i * aos ?adres da Companhia deJefa4?d * tmbè

4*o Viàa de Gomes Freyn

tenho ordenado ,que façaõ huma nova Mií*

faó pelo Cabo do Norte, 6c os achareis com

a difpofiçaó , que coftuma adiantar o feu

zello nas matérias dolerviço deDeos noilo

Senhor, & meu j 6c para que huns ,6c outros

ofaçaó-fem competências de jurifdiçoens

,

Írocurareis dividir as fuás reíidencias, 6c

lilíoens corri diítancias que feja útil para não

terem duvidas^ no que pertence a huns , 6c

outros para corífervaçaó do Gentio , 6c bem

do Eftado , 6c com o cuydado deiles Miflio-

narios ,podereis confeguir , que os Mifliona-

rios Francezes não queyrão a pratica dos A-

roás , 6c que os índios não bufquem a comu-

nicação alheya efquecidos do próprio, 6c na-

tural de meu domínio. O ref&ate dos índios

que he o fegundo meyo ,que contém a voila

carta , tenho mandado confiderar novamente

a vifta dasrazotns ,que acre feéraõ pda vofía

informação , 6c quando vos não và reloluçaó

neíla materia, hirá a voífo lucceíTor em qual-

quer embarcação, que depois deita partir.

Fareis repor todos os índios nas Aldeãs, 6c

rcíTas, donde forão tirados porcaufa do le-

vantamento da Cidade deSaó Luiz, 6c me

dareis conta , de que affim o tendes intentado,

6c do que vos parecer nefta matéria ,para de*

terminar o que for mais conveniente a mnj

fçrviço. No tempo que vos detiveres neffi

I

VeAnàraàa lLPdrt.Lib.UI. 42IEftado, que fera todo aquelle, que vosfor

poífivel , confcrvarcis o governo delle ,& de

rodas as voffas noticias, & experiências, que;

:endes adquirido deyxareis huma relação def-

unta ao Governador, que vos hade fuceder

Artur de Sá de Menezes, ao qual o comunica*

reis logo, 8c dareis também depois eâa mi-

nha carta, 6c todas as mais, que vos forem-

nefta occaíiaõ, ôc a elle ordeno que figa as dif-

poíiçoens ,que tiveres ordenado , fem as al-

terar em coufa alguma téordem minha in-

contrario* Efcrita em Lisboa a vinte & humde Dezembro de mil ôc feiscento^& oy tentai,

Be féis.

%*}

Deita carta , em que ítrnoílra a confiança^

que EIRey fazia deGomes Frevre fedeyxa

ver como eraó aceytos àMagefhde os fervi*

ços, 8c o talento daquelje Governador , a cu-

jo juizo parece fubardinava atè as mefmasordens Reaes,fazendo-as para a interpretação

dependentes do íèu parecer, para a execução

do íeu braço.

148 Achava-Je Gomes Freyre gafto ain-

da mais dos trabalhos que dos annos , Sc co*

mo os achaques o tinhaô dernafiadsmenta

poftrado , tolerava violento o pezo do gover~

po, mas vqndo que a MageftacW, o mandava

continuarm mefma oçcupaçaõ atè fe embar<

ti T ~ ' m ã m

-*m

4W ' Fi'âadeGo)nes FreyhcarparaoReyno,houve de fogeytarfe fubdi*to aos preceytos de império fuperior , o tem*po que fe detinhaõ as nàos de viagem , oq açfperar a monção, ou a cornar carg.r.

149 Aquelles dias que detidas as vellas

veyo ademorarfé gaftou em dar a Artur deSá inteyra conta do Eftado : a primeyra coufacmqueentendeo, foy fazer huma memoriaefpeçial, quedeyxou como herança a feu fiu>

ceflbr, do preftimo dos homens , apontandoosdequepodiafervirfe, ouacautellarfc , re-

tratando com tar vivas cores as esferas , osgénios, ou condiçoens de cada hum, queveyo a moílrar penetrava as intençoens detodos como quem de fora as via porjentro,

150 Pafibu logo a dar à execução asor*dens fuperiores, & corno zellava a cauia dePeos, mais que a dos homens, reconhecen*doqueasMiflbens,eraoantemural das For-talezas

,que fe manda vj|o defenhar no Cabo

do Norte , entrou nefte negocio com o calordeMiniftro entereflada na converfaó daquel-las almas

,que errando nos matos , ignoravaõ

3 Religiãoi & a policia, huma por falta do

comunicação ,autra de meftres,

ífi Moftroufe çfta empreza aoprinci»pio com algumas dificuldades, por ferem as}lhas dos Aroás, Joannes , & Terra firme dof?afe9 Úo Norçç & tempos awe« dcftinadas a

âssá

DêAnâradalLPart.LthJIL 4*£çfoutrina dos Rcligiofos Francifcanos daRc-

coleyção de Santo António ; havendo agora

<te entrar ( como fe achava por inftrução da

Corte) os di Companhia dejeíu, acultivar

huma porção daquella dilatada ceara,em que

o fruto refpondia melhor que outras ao fuot

dosobreyros Evangélicos , com defculpa na

cobiçado merecimento feoppunhão huns,&

outros agricultores , igualmente ambiciofos

doentereffe efpirituaradquirido nos mulri^

plicados lucros, que vinhão a refultar-!he$

dos trabalhos , controveríia ,que depois de

<iefputada com varias faxccns que juítifica*

vão huma , & outra caufa , veyo a vencerfc

cedendo huns , 8c outros em beneficio daRe«

ligião,8c do Império.

ijx Compoftas as coufas efpirituaes do

Cabo do Norte , entrou o Governador nos

cuydados defegurar a marinha, 8c osCer-

toens daquella Capitania mandando a Antó-

nio de Albuquerque com ordem, que grati-

ficada a paz daqueiles Gentios, que o defeuy-

do tinha feparado de noffa comunicação, che.

gaííe aregiílar comosolhos, as rumas das

Fortalezas do Torrego , do Camau ,-' àe Ma-yacary , ou do General Balde Gniú, como fè

nomea em outras memorias , 8c outras ga~

libadas , & demutidas pelo Capitão Pedra

Teyxeyra na guerra dosOlandézes, 8c Tn-i

'#H Wda dè GòmèsFrêyrèglezes, & achando alguma emíitio acomo?dado àdeffenfa da invazão das n*çoens Eí*trangeyras naquelle Eftado, mandato fazerplantas, para Tc edificarem as meimas, ouJavrarfe outras de novo em melhor parte,ref-peytando a pureza dos ares

, qualidade daséguas

,& fertilidade do terreno, que refpon-

dcíle com frutos proporcionados , a baftecerP prcíidio

, & huma povoação de Tapuwscujos moradores , amparados à fombra dexioíTos muros, vjveílem íeguros ria protecçãom noíFasaimas,

1

*$rrEn| quant0 António de Albuquer*

que paliados os perigos dajornada , trabalha-;Va em deíerçhar novas Fortalezas para fegu-

:

^ârdemva?:oens oCabp do Norte onde foydar fundo com hum engenheyro, & algunsRehgiofos da Companhia dejeíus, em queentrava o^ Padre Aloizio Corrado iníignc na*^íaçematiç^s. Entrou Gomes Freyre notra*èalho de dar relação individual dosdefabri-jnentos, que npCenão fe havião feyto notempo de feu governo , deyxando a feus fuoReflores hum rotcyro das naçoens, minas, ÔCdrogas difbrentes dequeabundavão aquelksRaízes com, as noticias do que çinba obradoJoão Velho do Valle deípedidodoMaranhão|m Dezembro de mil feiscentos oytertta &U\$ a csnyinicgr vwios geniios

, §051 i*teu,

i ./ m

t>è Anàuàâ II.ParL Lib.IIl. 4 2f

,

los de p<-.netrar por te na atè a Bahia , & dey-

xar defeuberta eftrada por onde com jornada

fácil fe podefle paliar às outras Capitanias da

America Portugueza , cujos interiores atè

entaõ occukos andavaõ em noiTas memorias

mais por tradição que por certeza.

154 Não lerá uiolefto darmos aqui rela-

ção daquelle defcobrimento ,por ceder em

Utilidade doEftado, gloria do Governador;

& honra de João Velho quefahindo do Ma-ranhão a ajuftar pazes com os Caycazes nação

Gentia ,. a que ainda wò tinha chegado a luz

do Evangelho por pregação, nempornotUcia, cujas Aldeãs íecompunhaó, de edifí-

cios ainda que rufticos traçados com algumapolicia, os pátios das cazas deçincoenta bra-

ças em quadro fe faziaõ correfpondcncia cota

armonia menos barbara.

1J5 Daqui atraveffado o Certaõ , pafíbu

aorioPeraga(Tú,onde recebido com huma-nidade eítranha a natureza daquelles Gentiosos conlólou na dor do golpe ainda frefeo ,deque eftavão alguns curando as fendas , & to%dos com laílima chorando as miierías a queos tinha reduzido a crueldade dos Bárbarospaçaó feroz da America i que naõ admite zfaz dos outros

$nem aceyta ou dá quartel pafl

íando pelo rigor dofenp, atè os que kentaõ

w%26 Plda de Gomei Frèyre

156 Defte lugar foy em demanda dosGaratizcs onde admetida noflíi aliança, mar-chou aos Guinares, que fogeytos com fácil

obediência íe reduzirão à nofla amifade.Nef?te fitio dcyxou deícubcrtas três eítradas , dif.

ícrentes, que penetradas as ferras de Iguapa-

va,que devide os Garajús , nação igualmen-

te cruel, ôc populofa que não regeyiou nof-fa piz, refolveodar conta ao Governador qjá a efte tempo íe achava no Pará , a donde re-

ferindo as afperezas dos caminhos demaílada-méte largo?,voltou a continuar nos defcobri-

métos j em que o deyxaremos difcorrendo notempo de outro givcrno atè chegar à Bahia,

onde depois de dar em larga relação noticia

exacta à^s C^rtoensq penetrou ,rios , & na-

ções varias q os habitaõ,íinalando ptlos gráos

es alturas do Polo.mais gaito dos trabalhos , c{

dosannosveyo a acabar em beneficio da pá-

tria com ferviços mayores q a gratidão. Def-

cançaõ fuás cinzas em jazigo humilde na Ci-

dade de Saô Salvador , onde vevo a confumar

tom ultimo termo íeus trabalhos com mais

honra 'que entereíles, faltoulhe para os re-

querimentos o tempo, a vida para o premio,,

fòbrou-lhe para o merecimento*

15*7 Acabadas decompor as coufas àógoverno, para aquella ordem que recebeo na

inftrujão daGatte,como fcfoffc chegando

ptemp^

pe Anàráàa ILPart.L&JIL 41?©tempo da monção,& as nãos que cilavão àcarga começavaó já a meter pano, reiolveo

Gomes Freyre ali viarfe do pezo do governo»

oceupação que aturando violento tolerava

matfofridó.

158 Sinco dias antes da partida pafíbu i

carga. a outros hombros entregando a Artur/

de Sá o baftáo de Capitão General , Defpcdi*

do do governo , começou a confolar nas la*

grimas os fubditclp ,quefemdeyxarem per»

íuadiríe das razoelis ,com que lhes encarecia

as virtudes do íueceflor lamentavão com dei-*

graça aquella auzencia, moítrandofe na ma-1

,

goa fem alivio , fem moderação na doitx

1 59 As horas ,que lhe reftaraó de aflíf-

tencia naquella praça gaftou parte em defpe*

dirfe de todos , buiçando a nobreza em íuas

cafas , a plebe pelas ruas, não fe izemandode chegar às portas de muy tos offictaes mecâ-nicos , que naslogeas, ou tendas feachavaõ

trabalhando, nem derefponder aoseferavos,'

que encontrava , com o ultimo a Deos, huma*nidade nos fuperiores rara,no$ Governadores

do Maranhão nova ; urbanidadetaó eítranha#

que a reconhecerão osfubditosdaquelle Ef*fado na demonftraçaõ do fentimento , comque felaftimaváo, como íeem Gomes Frey-re perdeíTem osmayõreso refpeyto, ospe*guen^s^rjaparo,§C todos pay , verdade íolid*

que

JjttS fada de Gomes Préyrê

queentaõateftouacmfiíTaõquefaziaõpubK*ca, ôcque ainda hoje noseftá affirmando acarta , que o Senado do Paràefcreveo a EURey, que aqui damos a ler como teftemunha,para o cred ito aurentica , & pela occaíiaó fe

deyxa melhor ver a naó ditou 1ifonja,refpey-

to^ ou dependência fenaõaff.éto, ou grátis

daõ.

Cartapara EIRey do Senado do Park m

SEnhor , fe fora poífível , ou fe dera cafoque tivefTemos alguma hora razaõ de

«nieyxa contra V.Mageftade fora em a occa-

fiso prezcnte,em qu; V.iVhgeibdefoy fervi-

do mandar fuceflbr no Governador, & Capi*

vò General, que foydeíle Eftado GomesFrrvre de Andrada, pela falta que ha de Fazer

atodo elle, porque hetaó grande o aftt&o

que lhe devemos , como o zello, com que temíblicitado oaugmento defta Conquifta , 8c.

ainda que oftntimento da ília auzencia feia

comum a to^o o Eftado , mnis partícularmé-

te deve eíb Cidade fentirafuafalta , poisaf-

fidindo nlla hum anno, nos deyxou o íeu

Jionefto , 6c virtuofo procedimento raó obri-

gados, que dando- nos muytas occafioensde

lhe vivermos agradecidos , naó deu a t ftc po-*

vo o menor para o deyxar queyxoío, ra-í

ióens que nos movera a mandar a noflb"

IProá

DeAndradaII.Part.LiUn. /**!

Curador, que nosinvieofeu retrate, para

que em noífos defeendentes fe perpetue, 6

agradecimento de hum tão grande Heree , 8C

fe fayba que affim como efta Republica , fe

queyxa dos eíquecidos da fua obngaçaó,D ri-

to contra oferviço dcDeôs* & leys deV;

Mageftade, fabe tambem bufear meyos, con*

que faça publico o procedimento daquelles*

que cóm acerto obráraó ajuftados aóque V*Mageftade lhes orckna, confiamos em Deô*

que aílim como o Capitão General Artur de

Sálhe fuecedeo no governo,r lhe faceda tarrí-

bem em os acertos. De tudo devemos rendeÇ

a V.Mageftade as graças ,que como Rey rl<*

pio, procura com tanta anciã a melhora def-

tes feus obedientes fubditos , & leaes vaflaí*

los. Asleys que V. Mageftade foy fervido cn-'

viar em companhia do Governador Artur de

Sá, para o bom governo , & direcção dos ín-

dios, aílim efpiritual , como temporalmente,

aceytamos ,& puzemos íobre noíTas £abeÇása

porém comopara ainteyra gtiarda,ôc íeu cfr»

primento,lhe faô neceííafias aiguas panicula-

ridades,pòde V.Mageftade inteyrarfe deltas,

pela informação doGovernsdorGomesFrey^

se, que como taõ defentereíTado representai á

toda a verdadejpara que V. Mageftade ordene

o que for fervido, que tudo redundará em|»gnacgto deita Çonquifta.OGeo guarde a

. i Reju

íj* VidadeGontesíreyrtKeal Pcfloa de V.Mageftade como eftes feustoes vaflallosdefcjaõ, & haõmiítcr. BeliemcmCaroera defoyto de Julho de mil feiscen*tos ,&oy anca, 6c íete.

160 Defta carta, que temos dado a ler,

copiada km alterarmos huma palavra do E£tillo comque aditouaílngeleza daquelles.Valiallos* leda melhor a conhecer a prudên-cia

, com q.ue o grande talento de Gomes*reyre, moderando com o exemplo, aindacriais que com a vara osexceílos daqucllepo*iVo , o deyxou obrigado amefma efpada[quecortou os vicies , ítm o laftimar na dor o gol.t>?> com que lhe caftigeu as culpas.

iót Confumadas as demonítraçoens deJJibanidrde, que lhe acabarão degrangear*reverencia univerfal, cem que era tratado

r

da*

:

queile pevo , fe recolheo com o feu Confef-for a tnttr der no negocio deíua alma, comjtanto tuydado , corro quem reconhecido«os perigos do mar

fto íifco da vida , fe defpu-

nra na ultima viagem, para a jornada do ou-tro mEr.do,?pcmou para sfatisfaçró aJgúasobugíçocrs de dividas, que lhe crcfcèraõcom ;n dífpczas do cargo: que oemptnhoforaó as riquezas que Gomes Freyre tiroufempr-c dos governo?, cm que Cngroíláradalguns

,que dclprtiada a opinião fc contei

tarac aaais do prpvcy to, queda henra.

VeAndradalLPart.Lib.llt 4Í*162 Como fahia pobre do Eftado peíc#

dcmaíiados gaftos em acòdir à neceflídade dê

muytos, íem aproveytarie nem ainda daquefc-

les entereffes , que poderá receber íem culpa,'

naó foy necefiario tempo para embarcar a&

alfayas , por fe ter dcsfeyto atè a prata do feti

ferviço,que levou do Reyno, pararemediat

a penúria dos íoldados , & baítccer os que

mandava ao deicobrimento dos Certoens, iu^

prindo dos íeus ordenados , onde não chega*

vão as rendas Reaes por vários accidentes

tonfumidás , ou quaíi atenuadas.

163 Chegados vinte & dous de Junhtf

de íeiscentos &oy tenta & fete fe embarcoupara o Reyno, dia que teve fempreoceulto,

mas como levava osàfk&os de todos, osa±

chou tão vigilantes, que não bailando ofe*

gredo a cobrirlheos penfamenros, quandQfoy aíair do Palácio, encontrou na fala, 8C

cícadas toda a nobreza, a que feguia huajà

multidão íem numero da plebe, de que foy

acompanhado atè a praya*Áqui tornado g»ai»

to a defpedirfe ,naõ Tem admiração na idoía*

tria da America , onde na Religião dos Ta-puyas fe aprende a pedrejar o Sol

,que iê p§H

êc adorar o que nafee , vio com novidade ei-

tranha aos, ritos daquelles povos,que volra-

das as coitas ao Oriente , infenfav^õo ociafo.

J^oftrou o çxcsflodoconcurfoaÇidade def-

povedê

$3 a Vida de Gomes Ffêynpovoada , os olhos mais que as palavras eriêl?

reciaõ na atxcnçaó os afTe&os * nas lagrimas ásfàudades#

164 Entrou Gomes Freyre na canoa

»

que elquipada no porto efperava para o to*

mar , como levava o coração de todos fegui-

raô-noosda^rayacomosolhos^osqueachà*raõ embarcação prompta, o acompanharãoa bordo, onde derao a ultima demonftraçaõda reverencia, com que era tratado daquelleal

lubditos , a que perdoando deffe y cos > fem di*iimular culpas , foube grangear tanto as von*tades

,que vcyo a conieguir com as artes de

Orpheu praticar o artificio de Amfiaõ, redu-zindo àvidacivi! aos que o exemplo dos ín-dios tinha enfinadò nescoftumes gentílicos*

o natural barb^roi

16f De/amarrada â fiao diícorreò com.Vento fty to n tomar a nhurn das Ilhas dos A(+fores* aviltnraó a do Fayal, que forão deman-dar : gqui recebida agoa > & alguns refrefeos

ft Içvaritàrão os mares taõ groíios , & cruza-

dos, que hr.u verão de levar ferro iantes que

trincadas as amarras vieíiem a varar em terra*

©ndedcsftyta a embareaçaõ com miieravel

naufrágio íe perdeflem as peíloas , & oseffèy-

ros.

166 Por alguns dias foraô diíeorrcndo

natromerjta fempre aDwsnjifericordia en*

swwa

DeAndradâll.ParuLibJIL 435tragues à diícripção dos ventos,& dos'mares*taô verdes que lhe entravão por hum, Ôc ou-tro bordo, atè que amanheceo o quinto, cmcj com a morte bebida houveraó vifta de ter-ra pdaRoca de Cintra^c como a ferraçaõ eragrande

, & as ondas rebentavâo em flor pelabra veza da cofta, com a nao que vinha defpe-dida, comidas já as obras marras fem lancha,nembote,queatempcftade tinhaalijado dclconvez com todos os fefrefeos

, que haviaõrecebido na Ilha , Sc o temporaí não deu lu-gar arecolheríe: ftzuíc-ihe neceffidade to*mar a enícada de Cafcac?, onde montado cooidificuldade © Cabo,vieraõ afurgir com traba-lho igual ao perigo*

; 167 Recolhido o Piloto com dificulda-de

,que fez vencer o temor* como os ventos

ainda que ponteyros , craóde fervir, foraóaLsmandar a barra , mas como a tromenta du-rara

, & a nao deícahiíTe, naõ podendo cornara carreyra principal eicaíla das embarcaçoensgroflas, entrou pelo outro canal com perigorao fabidoqúe lhetrrarão da torre, mas comovianadeípedida fem obediência ao governoJo leme coa> hum mar groflb varou da outraparte falyando os bancos

i que faziaó a pafia«yçm impraticável , caio que por raro pareceortiiJagre, nao tocar em algum dos bayxos toeulija ríaijuelle, tempo fàziaõ as reftingas tor-

Eé mn4©

-n434 fW* á* G<w«tt Freyrt

nando a entrada arrifeada porcftrcyta, por

aparcelada perigoía.

168 Ganhado o rio foy o navio corren-

do na mefma tromenta atè avante da Madrede Deos , onde tomadas com dificuldade as

vt lias, veyo a dar fundo em tão pequena altu-

ra que faltou pouco para atreveítar encalha-

do. Achava-íe EIRey a huma das janellas da

Corte Real a tempo que a nao paílava defpe-

dida,& ou fofle que aconhceeo, ou que o de-

feiava , voltado ao Secretario de Eítado Men-do deFoyosPereyra, que citava prezente^

& o ateftou depois , lhe diíle : aquella fragata

he do Capitão Manoel Ribcyro Quareírna,

nella vay ©ornes Freyrc ancorar à Carnota,

celebroufe entaõ como galantaria o vaticínio

da Mageftade , naõ tardou mUyto a divulgar-

fe a certeza do prefagio.

169 Correo pela Cidade a noticia, enca-

recidos os perigos na fortuna de os vencer, a*

codiraó a bordo parentes & amigos, a tempo

que chegava hum recado da Mageftade, queo chamava. Como era naobcdiéciaproropto,

& os trabalhos do mar o tra^iaô enjoado, paf-

fou a huma fragata , que mandou remar para

a Madre de Deos, onde foy render â Senhora

as graças dos benefícios recebidos nodifeur-

fo da viagem cm que lutando com os mares

empolados por efpaflc de cinco dias, nave-

gou

DeAndraâa ILPart.Lib. III. 4?fgouquafi a pique fempre cm continuo nau-frágio, encontrando cm cada onda hua mor-te , numa fepultura cm cada vaga.

1 70_> Daqui paííou à Corte Real onde (àyrecebido da Magcftade com tantas demonf-traçoens de agrado , como fe de fc us grandesíerviços naó houvera de receber outro pre-mio. L-ftimouíe EJRey do eílíido.cm que oriagafto naó menos dos achaques

, que dostrabalhos

; moftrando tão vivo lentimentoquedeyxou conhecer no fimblante ador olâcâo nas palavras. ,

'

17* Como o fcmblante baítava a entor-nar da nectfíidade

, que Gomes Freyre tinhale defeançar

, pedio licença a EIRey para5 -flar ao.Alentejo, qiíeem fc achando con-hecido voltaria a dar conta do Maranhão,Wileynaõ podendo negar, nem íeatreven.o a conceder

, ihc refpondeo naõ tinha dtivkla, masquefem clle íenaó dava forma àsvliffoens daqucHc Eftado | onde Queria q 0$gentios naó experimentaiTem falta deMinifrros Evangélicos para a converiaô, nem as^hnftandades de obreiros cfpiritíiaés q agri-ultaíTcm aqucllas vaítas regioeíis cultivan-o taó dilatadas cearas, quecreeendo laftima-jas entre osefpinhos da infidelidade , necef-itavaó deahmparic dos matos, queemhuas*ttesíofacavaóafemente, emeutras afoga-

4?6 FidadeComes Freyri

vaõ aquellas plantas tenras fem raízes, que

dependiaó de crcar para fobirem direy ras íemo eítorvo dos vícios, a que os levada por iiv

clínaçaõ a natureza, por deícuydo os-habi-

tos.

172 Gomes Freyre aquém trazia cuy-dadoto oefpiritual da America, cujos Cer-toens fe achavaõ povoados de Tapuyas dediverfas naçoens ,& lingoas a que o demóniodava a beber por differentes vafos as mefmasabominaçoens gentílicas , vendo que ElReyfe inclinava a procurar osmeyos de reduzir

as ovelhas deChrifto, & recolher nocorral

da Igreja aquclle perdido rebanho , naó foraõ

neceffario mais perfuaioens para ogofto lhe

fazer efquecer os trabalhos , o zello as fauda-

des.

1 75 EÍRcy attento a que regeytado o

deícanço, defprezava a vida , ou a faude embeneficio da Religião o premeou com a Al-

çaydaria mòr de Sincs,Sc cem mil reis de ten-

ça, com a liberdade de a poder nomearemfuccílbr, deyxando-lbe relervados mayoresdcfpachos para paga dos trabalhos , com quefervioao Império no governo do Maranhão.

174 Gomes Freyre queeftimava mais a

bonra , que os donativos , grato à mefcè queiníinuava oaffecto >da Mageftade foy a bey-

jarlhc a mão pelo beneficio , Sc logo a tomar

poflç

De Anafada U$wtlAbJIl. 43 7poffc dò trabalho,para quco predeftinava fua

glande capacidade, por mandar EIRey que

todasas dependências doMaranhaô k fiaflent

a Tua experiência, que procurando depois re-

duzillo a aceytar lugar extranumerario no

Concelho Ultramar, honra de que feefeulou

taó parco, que naõ pode a izençaó parecer

Culpa.

175* Paffados poucos dias começarão a

aggravarfe os achaques, chegando a exceflb a

queyxa ,que a mefma Mageftadc , que o deti*

nha vendo a neceffidade que moftrava ter de

reparar a faude , reíolveo mandai lo para o A-lentejo, com honras muyto mayoresqueafdo poílo ,no decreto ; com que o defpachou

Sargento morde batalha,aqui o daremos a ler,

por fer o elogio melhor do merecimento da-

quelleCabo.

Decreta Real.

IEndoconfideraçaõ ao bem que GomesFreyre de And rada feropre me lervio

no tempo da guerra , como depois na

paz, & particularmente, ao grande íerviço

queme fez no Eftado doMaranhaô compon-do as alteraçoens delle, ÔCfaiendo tudo,

o

que no mefmo Eftado era neceflario para me-

lhor forma de feu governo , deffenfa , 6c aug?

Ee 5 mento

43$ Vtàaàt Gmts FnyHmento de feu comercio, com tanta limpes*de mãos «acerto, & independência que naõíomente lhe deíejo fazer honra, & mercêcmremuneração de feu bom ferviço, fenaó tam.bem para exemplo daquelles, que nas partesultramarinas me fervirem

, para que imitar*do o feu procedimento, poíTaõ eíperar dernim igual

,& femeihante premio : fou fervi-do fazer! he mercê do pofto de Sargento mòrda batalha no exercito da Provinda do Alenttejo ficando com a tropa qu« tinha em Te-nente general dacavallnria, & porque naõfce

a minha tenção acrefeentar eftc porto pa-ra fempre aos da lotação daquella Provínciaquando no tempo da paz fe naõ neceflita dcUetanto que por qualquer caufa vagar fera ex-tinto ,fem que poffa fazer exemplo

, para quçoutrem o pertenda

j por haverfe dado ao ditoGomes Frcyre de Andrada. O Concelho deGuerra o tenha affim entendido, & ncíh con-formidade lhe mandará paflàr a íua patente.Lisboa vinte êedous de Novembro de mil& feiscentospytenta &íetc.

Com efte defpacho, que ceve de mayor a cir-

cunítancia de naõ íer pertendido, paflbu Go-

Wc» Frcyre a Villa Viçofa com mais honrasq íaude

$& ao juízo dos Médicos prometendopouca vida, que foy confervando retirado

no

Ve Anàraàâ llPart.LibJII. 459no monte das Pegas na ferra de VillaBaim,

cm cuja pureza de ares começou a refpirar

divertido humas vezes no exercício da caíla*

outras nodapefea tomando hum pordiver-

faõ do outro *

5intertenimento que veyo a icr-

vir no principio de remédio , depois de con*

yalecença.

176 Chegou à Corte a noticia das me-

lhoras , a tempo que te achava vago o Govcr^

no das armas da Beyra ppr falta de Bcrthola-

meu de Azevedo, a quem a morte tirou o baí*

taô das mãos. Entre muytos beneméritos foy

Gomes Freyreoefcolhido , mas comoíervia

com mais ambição de merecer, do que de

medrar , refpondeo : que fc naquella Provin-

cia podia ter mais preftimo que o mandaffem,

mas que ie erafó por cómodo dapefloa , lhe

tinha moftrado a experiência , que ío os ares

do Alentejo eraó remédio proporcionado às

fuás qucyxas. Moderação tão rara ,^quebaf-

tara a deyxallo famofo entte osVarocnsdòíeu tempo, feja por outras virtudes ofnão

conta ílc a fama na pátria grande, ainda mayornos eftranhos.

177 EIRey mais attento , a confervar a

vida dovílMlo, do que àfatisfaçaõ do feu

goílo , lhe aceytou a cícpfa , admirada a izen-

çâo, com que fervia a pátria deíentcreflado:

mas fem deyxar que vagaíTe no ócio ,porque

Ee 4 Ia

144 -P5dà dê Gmtt Wnyrilio bii6 bufcar vários papeis pertencentes'^Maranhão,& outros que envol vião differen-tes matérias politicas

, em que dífeorria comrazoens, & refolvia com tão folidos funda-mentos, que poucas rorão as que malogradasmo refpondeffcra os fucceíTos.aos peníamen-tos.

r

1 78 Neftcs trabalhos vagou o que durouO ínrcrno, até que chegou o tempo de ir bus-car nas caldas remédio aos males

, que inve-terados, ate as meímas curas tornavaõ enfer-mas

?mandou íe lhe fizcílc a jornada pela Cor-

te: como era na obediência pronipto não tar-

dou cm chegar à prezença da Mageftade , dequem foy recebido corri as demonítraçoens,Çom que a empatia exprcíla os afiâes.

1

*?a ^omcÇava já por eftc tempo a darcuydado a Portugal , a pertençaõ de Frsnçaao domínio do Cabo do Nowc no Eftado doMaranhão, pratica que nefte principio íe ata-lnou fácil

, mas como alguns annos adiante fedefputoti comrcccyos ainda mayores das po-liticas , do que das armas Francczas , a dcyxn-moscreando as forças naliíonja de algunsMimftroi de ElRcyChnftianiíSme^itè che-gar pecafiao de as moftrarmos pedradas nosrazoens de Gomes Freyrc.

180 Rebatidas as negociaçoens Eftrai*-geyras, demorarão a Gomes Freyre alguns

mcpéa

Dê Anafada ILPart.Lib.HL 44,r

mexes na Corte , outras oceupaçoens , atè

que vendo hiapaflàndo o tempo das caldas,

pedio licença para ir tomar aquellc remédio»

ao defpedírfe lhe perguntou ElRey ( oufof*

fe curiofidade, ou noticia déquenão tinha

tomado pofte) que tal era a Alcaydaria morde Sines. Refpondeo promptamente, que a

íiu lotação erão cincoenta mil rtis ,que. o feu

rendimento o não fabia, por naò.ter ainda

cc rrentecfia mercê, nem a dos eem mil reis

de tença , porque fempre dos Príncipes tive-"

ra por beneficio maypr a rnemoria,quc o pre-

rino;,

iSi ElRcy, queouvio arepofta admi-rado da izcnçaó que parecia dcfpre2o,lhc tor-

nou,que todos fervíão para medrar , íó elle

trabalhava para fedeílruir. Gomes Freyre fe

defeulpou dizendo fenão tinha aproveytadoda mercê ; porque intentava pedir lha tfoéaf»

fe , & a da Alcaydaria mor de enteyro lotada

em cem mil reis , & a de cento & íétenta miíreis de tença que fua mulher tinha no Almo-xarifado da Portagem por ferviços de feu

Tio Dom Francilco Lobo, pelas faboarias deVilla Viçofa , 6c fuás anexas quepertenciaôao Meftrado de Avíz,& íeachavao vagaápo*morte de Luiz de Mello, que erão da lotaçãode quatrocentos mi! reis, emqucfenáo mc-JhoraYão com mais utilidade que a de íir ren-

da

442 Ptáa de Gomes Freyredajuma ás portas de lua cafa.

182 Como o que pedia não deminuhiaos bens da Coroa, não houve duvida, que de-moraíTeodeipacho

, hindoa paíTarfea porta-ria , ou foíle deicuydo , ou demaíiado cuyda-do, fe eícreveo ihc fazia EIRey mercê das ia-boa: ias em titulo de comenda, cm remune-ração Jos ícrviços do Maranhão, cen ão fa-bido engano confeguio aquellc Mmiir.ro,

(infamada em culpa a Mageítadc^deyxar fempaga merecimentos tamanhos

, que todo opremio parecia fa tisfaçaõ pequena.

«83 L.iílimouíe o agente de GomesFreyie, que aefte tempo fe achava nas Cal-das , de que íe lhe vendefle como remunera*çáo de íerviços , o mefmo que convenciona-do, comprava por preço taxado, não foy 4queyxa tanto em fegredo, que não cheggiièaos ouvidos daMageftade, quçoffendidodafem ra2ão do Miniftro , mandou fe reformai-*fe a portaria, declarando que era troca dasmercês,& não gratidão dos trab.ihos. Juíri-ça que aquelle Cabo nãoadmitio, dizendoque o erro fora Providencia fuperior; porquetivera íempre a refolução de não acey tar gra-tificação do que obrara no Maranhão

\por-*

que queria com mavor paga foíle fó da mãodeDeos aiatisfaçaó, quedo mundo fe con-tentava cora o merecimento por pi c mio.

184 De-

DeAndradalLPart.LiUIl 441184 Dcreve-fe Gomes Frcyrc na Corte

d tempo que as moleftías lhe deraó lugar a

fervir com o talento aos negócios políticos,

oceupaçaó, em que creados huns achaques»

aggravava outros 9 de que hia çònvalecer aoAlentejo ,

para voltar adoecer na Eftremadu-ra , repetindo as jornadas de Lisboa ,^& as deVilla Viçoia medidas huáias pela neceffidade

dapeíToa f outraspelada faude.quc hia recu»

perar em numa partcs

f para a viraprder naoutra.

185* Achava-fe Gomes Freyre na Corteao tempo, que fecuydava em íuccefíbr

,que

folTe render a Artur de Sá , que hia acabandoo feu governo do Maranhão. Depois de vá-

rios , com a mefma facilidade efeolhidos, &reprovados, pergútou EIRcy aGomes Frey-re , fe fora o que proveffe , quem eliegera pa-

ra Capitão General daquelle Eftado, a quepromptamente refpondeo : que a nenhum!primcyro que António deAlbuquerque Coe-lho. EIRey que daquelle Cabo tinha ocon-ceyto de que fe fazia acrèdora fua inteyreza,

km mais confulta o nomeou , dizendo :- quecftimaria foubeffe devia aqueila occupaçaóafui memoria. i

186 Gomes Freyre f que lem dcfprezar

os afíeclos, eítimava mais a honra de aceyto,

do que a de parecer valido,vendoque EIReypro-

444 Viàâ de Gomes Freynprocurava tornallo acrèdor do beneficio, quefazia a Magefhde, icm faltar à gratidão , ref-

pondeo com izençoens de defcntereflado.qucAntónio de Albuquerque, foradamerce defua Mageftadc , não devia aqucllc defpacho.mais que a fimefmo, queainda era premiopequeno a feu grande merecimento, pelomiíyto que tinha fervido naqueile Eltado,com rifeoda peílba , Et defpcza dos be-n*;, quepodia rroporíe como exemplo de Cabos,&Toldados. Moderação cmnofTas* Scalfoeyas

hiftorias raras vezes encontrada , haver quematèdcfuasmefmas creaturas feefeuze adey-xallas obrigadas dofer, quando licitamentepodia na divida cambiar o agradecimentodo defpacho que J he grangeou íolicito.

187 Tinha^fe por eftc tempo divulgadocom mais fama,que verdadc,q noPará fe fun-dia prata, &ouro de algumas pedras tiradas

de differentes (itios d .quclla Capitania, como.receberão credito mu yor que averiguação cf-

tes aviibs , que depois confirmou a chegadade ArturdeSá. Refolvco ElflLey mandarãoEíhdo do Maranhão pcfioa de confiançaigual à intelligécia,quc tomado o pezo àquclt

k negocio, o cftabeleceífe com fegurança,de que iefazri pendente fua importância, oc-

eupação para que ic icpreítntou GomesFreyre, ornais digno ptl.i expedição, pelo

deferi-

*

wamm

De AniradâllPart.Ub.UL 445defewé refle ô mais proporcionado.

188 Conferidas eílafc couías ficarão cm

fegrcdo em quanto fenão praucavão a Go*

mes Freyre, que ouvindo da boca da Mageí-

tadea neceífidade que havia de voltar ao Ma-

ranhão , refpondco que eftava prompto a ar*

rifcara vida em beneficio da pátria, não fó

por féis annos , mas por todos que fé aehafle

feria utilidade do Eftado \que não lembrava

porque íe eftava vendo a lua pobreza em ida-

de rio adiantada que lhe não ficava tempoda-

ra grangeardefempenhos das dividas, que

contrahira nos lugares; que os foldos móchegavaõ aos-gaftos ordinários, muyto -me-

nos para poupar jfe com tantas obrigáçoena

comokvavano cargo , nem podia confegtfir

o goftffdefedar por dcípachado.comoda ou*

travez, fó cora a mercê, que fiuMageftadc

lhe fizera em o oceupar fera dos trabalhos re-

ceber mais premio que o credito,que fc con-

legye no merecimento.

189 Aqui veyo E^Rey afaller fc não

emendara õ erro da poruna, noticia que ou-

vio como efcandalo , cftranhou como offènfa

da Mageftadc,qu« na troca que deyxamos re-

ferido fe cáfaíiern osferviços do Maranhão;

que naqucltâ' falta , a injuria era fua, a culpa de

outrem, que logo fepafíaffe novaprovifaó*

era que emendado o erro, fedefle fatisfaçaõ

do

40 yida deGomes freyredo dcfcuydo

; porque não queria diflefle comrazão o mundo

, que era daquellcs Príncipesquecreada a feuspeytos a ingratidão, não co-nhecem os homens, mais que em quanto lheíao neceflanos

, vicio nos fubditos cruel, nosiupenores abominável.

1 90 Gomes Freyre iempre das conveni-ências defprefador conftance, vendo que Ei-Kcy fenndo fe molcílava demafiado

, procu-rou modcrallò dizendo : que o que obrara noMaranhão como for; ómais com os olhos naKeligiao, do que no Império, naõ queriamais premio que odcDeos, que pedia Jhcdcyxafle de retém aquella pequena referva,para fõccorrerfe, quando em tribunal fupc-norjulgado , fe lhe tomafle conta de has cul-pas, palavras que não fem lagrimas re^tio dointimo da alma , com tanta edificação dos cir-cunftantes,que fazendo a piedade compun-gira todos, forão poucos os que não obrigoua chorar íua Chriftandade.

191 Socegado EIRey, entrou adifeor-rer nosdefpachos de Gomes Freyre, refoí-veraóque aoecupação duraffe portempodedez annos , que <c lhe darião dez mil crufadospara defempenho, fcaiuda de cutto

\ que dosaprcítos para a jornada, íeriaõ asdefpezas àculta da fazenda Real

,que k a caia de Boba-

delU cujo direytcfe litigava lcíentenccaffc

par»

"^

Di AndraiallPart.LtbJIl 447para íi Coroa, fe lhe daria de juro fem excluir

fêmea ,que não fe julgando vaga ie ftusfaria

com huma comenda de mayor lote , 6c o titu-

lo de Vifconde, com o Senhorio da Viíla^ que

fundara no Caytu, que havendo minas teria

nellas mil cruzados em fua vida,& de Tua mu-lher,^ faltado ambos duzentos mil reis a teus

íuceflbres ^ & que acabando no Maranhão fe

daria ajuda decuftopara a condução de fua

mulher ,8c família, que não havendo minas,

& fua mulher lhe fobrevivefle teria de aiimé-

tos no tabaco feiscentos mil reis cada anno;

que os ferviços que fizeíTe feriaõ indepen-

dentes deftas mercês ,que lhe anticipaya gra-

tuitas como premio do defprezo, com que

tratava a vida, em beneficio da pátria , expon-

dja aos perigos por tempo taó lar&o.

192 Confirmado pela mão Real eftea-

jufte ficou emfegredo efperando chcgaíTeo

tempo de acabar o governo de António deAl-

buquerque , como neccífario a confumarem-

k algumas Fortalezas, &C idear outras para

Icguiança daquelle Eirado, onde pelo nau-

frágio de Ambrofio Pereyra de Berredo, quepaliava a governar a Ilha de Saó Thomè , &a Dcos miíericordia com o navio quafi alaga-

do arribar à Cofia de Pernambuco ) parlou a

noticia de Gomes Freyre voltar aoMaranhá®

nova que fe ouvio com alegria, celebrou comapplau-

i

44^ Vtàâ de Gomes Fréyreapplaufo univerial da nobreza, & da plebe*a execução fuípendeo malograda o accidentêde k averiguar menos juftificada a verdadedas nugas» pelas pedras que chegarão

, quefundidas te achou não darem mais prata

, querias eípumashuma apparencia, querefolvi-da em fumo fe desfazia vapor.

193 ^oucotemi o era paflido, quandoreyoaconfultarfe o governo da Bahia ,comoera a Capital da Amencadiíeorreo-fe na ms.teria com attenção a grandeza do lugar , cen*lideradas as circunftancias

, que nem fó os ví-cios fazem os homens indignos das oceupa-çoens.Depois de vai ios iugeycos, que fc por-punhao beneméritos por humas virtudes , &por outras f*hiào logo reprovadas. LcmbiouGomes Freyre ao juizo de todos tão propor-cionado aocaigo, que não houve hum quedefcobnfre nelie defícyto grave . ou levefalta.

194 .Como a capacidade daquellc CaboIc tinha feyto tãoacrèdora da opinião que lo-grava no conceyto dos melhores, que palia-vajaós limites de emulação, & da inveja h-hio votado por todos no pj imeyro lugar

jj fu-bio a coqfulta às mãos daMageíhdc, quelouvando o acerto,duvidou da aceytaçáo,pcr-guntandoap Secretario dadefpacho, fe feriaaquel lajornada ,& oceupaçaó para que delji-

navaõ

Dê Anàfââa IlPartLibJIL 449fiavaõ a Gomes Freyre tanto dogollo ik-He,

:omo a efcolha era do íeu agrado , a que ref-

pondeo que Gomes Freyrc, não tinha a maisteve noticia

,que os Concelheyros votáraõ fó

rttentos as conveniências do Eftadoj que para[ograrem-fe as minas deouro< que começa*/aóa defcobrirfe,nas viíinhanças deSaó Pau-ío,fe neceííitava de peílbaque aprefeyçoafTet comunicação pelos Gertocns , a que aquelle

fidalgo dera principio no Maranhão^ coro*

èguira àcufta da própria fazendaf com dei-

>eza coníideravel > defcobrir paílage por ter-

aatè a Bahia , q lóo feu zello poderia acabaríta obra útil ao Braíil , ao Reyno conveni*Rte.

195 Ouvio EIRey com attençaô as ra-oensjmas louvado o zello dos Miniítros, lheazia pezo o génio de Gomes Frcyre , em|ue achou femprepara os governos repugn-ância

5 igual ao prêftimo , & receava violen*alio. Alguns q ieachavaôprezentcsforaódccarecer que ie mandaíTe chamar , mas aquelle>nncipe cuja piedade não íabia mortificar oSlomens

,a que conhecia que ós brios obriga-

ao a íacnficar as vontades viâimas cruentaso gofto da Mageftade : refpondeo

5 que of*enar viefleaiua prefença efaobrigaiio a tf'America* ainda que nãdquizeflè • porqueouelIeCabo era donum«ro dosmoeriM

4jo Vida de Gomes Frèyrê

que a obediência fizera famofos , que fobraváqualquer infirmação fuperior para não faber

eícuzarfe a perigos , ou pouparfe a trabalhos.

196 Vendo os Concelheyros que El-

Rey , ou por attençaó ao vaflalio,ou ao pró-

prio affe&o , fc punha da parte da dificulda-

de , votáraó fe manda fie a falar-lhe RoqueMonteyio Paym Miniftro por cuja mão cor-

ria aquelle negocio, ÔCcomo ambos proflf-

íYyaõ amifade» liiainente lhe comu nica ííe a

refoluçaõdoConcelho,Sc os receyos da Ma-geftade, porque da fua repofta viria a co-

lherfea luz , que os guiafle para caminharemiem tropcílb , os defviafle , ou iombra que os

impedi lie.

1 97 Não tardou aquelle Miniftro mais

tempo que operciío a vencer a dittanciado

caminho, referio a Gomes Frcyre, arefolu-

çaó tomada, & as duvidas da Magcftade,quefugindo de parecer huni daquelies ídolos,

que fe deleytaó nos holocauftos,que deyxaõ

feus altares tintos deíangue humano, nemqueria efcufalo do governo , nem violentallo

aaccytar,que vide fe lheacomodava o lugar?

,Rcipondeo que governar o defacomodavafempre, &que íofabia fazer, o que fe lhe

mandava, que não defconheciaas honras,que

lhe faziaô, nem defprcfavaasquc comprava a

eufta dos perigos , mas que cítirnava em mais

incrçj

t>e Andrada ltPatt.LibJlt tf fBiereccilas que gozallasé

198 Repeuraó^e aquellas palavras napreíença da Ma^eítade* naõ fem admiraçãodos circundantes que invejarão huns o talen-to i outras a izcnçaó , naõ faltou algum

, quecom zelo mayorq a emulação de outros re«prefemaífe aElRey, que homem de tama-nho coração erafó oque fervia para ocu pa-?oens tão grandes

; que a Bahia era a Corte doBrafil

, & na conjunção prezente era o qutíronvmha para unir à cabeça osmembrosde:âo dilatado corpo eftendido por muytas le-pas # a que divkliaó por huma parte as ondas,5or outra os feparava o inculto dos matostabuados de feras , ou de bárbaros

J que paralugmentarfe a esfera daquelle vaílo Impérioiçpcndia depeíToa

, que eníinando com asVirtudes mandafle menos com o poder dojue com o exemplo,

199 El&ey aquém naÔ menos perfilliao as ra*oens do que obrigavão os aífe&osnao arnfear hum homem tanto da fiía &&«açao

;pnmeyro que refol vçffc mandou aos

fedjeos defua Camcra vi fita (Tem a Gomes•rcyre ,& que enformados das quçyxas aul•decu complicadas, viíTem fc fem perito d!ida podem aturar iobre os trabalhos dfbr!«ada

,a deíremperança do clima da Amenca

-orno aojuízo de todos aqueiles quc fófc£

4f i Viàa de Goma Freyrè

o pulfo fizeraõ obkrvaçaó dos males , hía ã

morrer ou no mar , ou no porto : noticia queouvida dos entereílados com laíHma,deEl-

Rey com leruimcnto , refolveodeyxalío go-

zando nos ares da pátria o deícanço , ou comopremio de feus merecimentos, ou como fruto

de feus trabalhos.

aoo Poucas foraõ as horas que GomesFreyre vagou no ócio : depois de EIRey re«

folver naõ o oceupar , em emprego taõ pcía-

do para que lhe íbbrava talento , mas faltavaõ

forças , o mandou vir à íua prefença , ondecxprcíTadoo lentimento dos males que o pri-

vavaõ doaproveytaríedofeubraço, Ihedif-

ie não queria deyxar de valerfe daquella par-

ce,quefem a poder offender, lhe dcyxaraõ

livre os achaques que o chamava para faber,

qual dos q foiáo votados cm fegundo ,& ter-

çcyro lugar para o governo da Bahu lhe pa-

recia mais proporcionado ao lugar, ou achava

mais fácil a aprender , ck íeguir os íeus dieta-

mes, porque queria lhe praticaffe aqucllas

noticias, que tinha adquirido dosCertoens,

no tempo que aííiítio ru America.

20 1 Gomes Freyre, que naõ tinha por

menos pelada a obi igaçaõ de dar parecer , da

que a de governar, promptamente refpondeo,

que ate a ultima hora que fahira do Pará

quantas noticias adquirira deyxara a Artur de

9*1

Ve Anàraàâ ILPartLib.in. 45

J

Sá, como ellc meímo não negaria , Sc ateftava

huma cédula , que guardava firmada de lua

mão ,que o roteyro que João Velho do

Valle fizera na fegonda vez que o deípedira

a continuar ps defcobrimentos , & o deyxára

na Bihía onde acabara g*fto dos trabalhos da

jornada , como chegara a leu poder o levara

a íua Mageftade,& porque lhe ordenara o re-

tiveffe o confexvava em fua mão como dcpo-

fito ,& não como propriedade , que o daria a

qualquer dos predeftinados;porque de ambos

fazia igual conccyto , ÔC conhecia ntlles tan-

tas virtudes,quc fe não atrevia a antepor, nem

podia louvar mais hum iemoffenfa de outro.

102 EIRey , que do juizo de GomesFreyre fazia aquelle grande conceyto, que

cm muytas occafioens tinha cníinado a todos

a experiência", ouvidas as razoem , com que

politico procurava efcufarfe a. dizer o que

lentia , naó fey fe o prefuadío , feo obrigou a

declarar , qual dos dous elegera, que fe recea-

va a queyxa do reprovado , lempre ficava lu-

crando os afièítos do efcolhido.

205 Violentado da obediência fefugev-

tou a nomear, afirmando ter com aquelle

defde a infância fiel correfpondencia , masque independente da amifade o inculcava por

lhe parecer por algumas circunftancias mais

digno daquella occupaçáo , Seque fiava- não

Ff 5 def-

ff* Fiâa de Gemes Frtmdefpreíarja.nem as noticias que lhe praticaflVnem os di&ames q Ue lhe dcílc

, por fer não5de natural docilnns fac.l deinchnar ao me-lhor, partes eflenciaes para os que paflaõ ag >vern,r no Ultramar , o„de » hberdade do»homens (edeyxa prender melhor do modoque do Império. *

*04 Como a efeolha de Gomes Frevrefe contormou, com o que predeftinava a von-tadede EIRey, teve circunftancias.quefi,zerao parecer mayor o acerto. Declarada aeleyçao participou ao novo Governadorasnoticias indi viduaes do Paiz fem oceultar ou.trás mais importantes , dando-lhea conhecerás condiçoens dos habitadores da Americacom alguns diítames que Jhe tinha enfinadoa exper.çncia na praticadaquelles homens, dequefoube também aproveytarfc, que fahiodo lugar com os créditos, que depois vulga-Utou a fama, o Reyno com interefles de fe fa«Zer comunicável pelo Certaó aqucllc dilataido império,

.2Q? Porn3oenfaftiarmos com relação

impertinente deyxamos no filencio a piedadeporefte tempo ufadana morte deAmbrofio

5rfJ8 ^u^V que acabou no gover.nodeSao Thome obrigandofe apagargrof-ias dividas contrahidas nos apreftos dfvia-gem, & no lugar calamos wmbem os traba-

lhos,

De Anàraàa ILPart.LiUII. tffRios ,que comdefpeza confideravei dos pró-

prios bens , tolerou nas minas de prata que

por ordem fíiperior mandou abrir pouco dif-

cante de Villa Viçoía, junto da ribeyra da A-

fecacm huma herdade do Conde do Redon-

do Fernão de Soufa , nem referimos os cftu-

dos, com que incanfavel coníumio bens , 8c

tempo, em bufea da pedra filofofal , oceupa-

çaõ que huns notarãoèvicio , outros curiofi-

dade.

ao6 Corria o anno de mil feiscentos &noventa & fete ainda pouco adiantado dos

princípios, quando EIRey attento ao mere-

cimento de Gomes Frcyre, refolveo acref*

centallo deporto, parlou ao de General da

artelharia do Reyno do Algarve ficando na

Província do Alentejo com o exercício de

Sargento mòr de batalha, recebendo de humaDccupação o trabalho , de outra os foldos.

ao; Paliava porefte tempo entertido

aquelle General, ainda que não iem moleftia,

que fazia mayor o trabalho, com que incan-

favel affiftia à fundição da prata ,que íe tira-

va ,com deípezamayor que o lucro, nas mi-

nas daZambugeyra, pouco diante dejero-

menha, quando começarão a inquietallo comnovos cuydados osavifos da Corte, que re-

ferião as pertençoens de França ao domínio

do Cabo do Norte, que comprehende aquel-

Ff4 M

jffo" Máa de GomtsBmrihi porção de Terra firme, qu/corre dotí&das Amazonas atè o de Vicente Pinçon.

zoá Penetradas as politicas Francesas.veyoGomes Freyrechamado à CorteSoamatena era da mayor confideração parabuma ,& outra Coroa, entrou a pelalla com aattcnçao,ouSped 1a ncgociodeLtSeTv u

' «í™"^ chegou aencontrarfe com

em caía de Roque Monteyro, onde fe acha-vao alguns F.daigos.que tmhakvadoí|uaT-darroupa daquelle Mmiftro, u a móleftiade.querunentos, ou a dependência*S,„A°9

C°T-a matcria

• em que por aquel-"sdusvaga d.fcorria aCorte/eríõ asper-tcnçocK de Fiança tocouíe mais con/af.'

TaZac ^nveHação. do que Como objec*to do d.fcurfoi o Embayxador como efteerao ponto princ.pal da fua negociação não

Sdaí

°

Prrde1

' 8°.CCafia5í fe 'he off"rc!

ca"h co

r

btar 3 fua Cauk• entrou » P»«-

di pofto^^c,Kce" te«»ãdo, procurando

dilpoltos os ânimos dos circunftantes affev-çoalos, ou perfu.dillos , fua opinião'

)

210 Gomes Frcyre depois de ouvir fofri-

tf*™\7 í

efP°nJer n\oderado,apom n.

Í£ dSí**',^ °PUnha° a<> ucl,a ™-preía

, dando a conheça; o engano , com q os

Miaií*

<w

Ve Anâraâa ILPart.LibJII. 457Miniilros -de Luiz XIV. edificavaó as luas

maquinas íbbre fundamentos menos foli-

dos iporque a Capitmia do Cabo do Nor-

te era por demarcação, &por Conquifta da

Goroa de Portugal remido com o langue , Sc

confervado nos braços dos Portuguezes.

xii G Embayxador que fiado no poder

de França dcfpníava noflas forças , tomado

algum fogo , refpondeo : que kienio atten-

dcffe a juftiça da fua cauía alegando-nos

razoens , que propunha , leria todo o Eítado

doMaranháo hum almoço para França, cu-

jas armas feachavão occioías , & viriaô dever

afuaefpadajoque lhenegafle a noffa corte-

sia-

212 Gomes Freyrc como era na profi-

çaõ foldado, dos que fabiãoT fofier ofFenfas

próprias , mas não injurias da nação , ÔC tinha

oamiaço poraggravo, ainda mayor que ogolpe ,eícandeliíado da demaflíi, refpondeoí

fem alteração nas palavras ,ou no femblantc,

que íè os Francezes fe refol vcílèm a ir almo-

çar o Maranhão, havia de pedir licença a El-

Rey feu fenhor , para lhes ir pòr a raefa , &guiar as viandas»

xi 3 Divulgoufe o caio na Corte , ondeíoy celebrado da plebe, & dos grandes, quelhe invejarão huns o valor , outros apromp-|idio. O Embayxador , ou que

è

reconbeceoícu

:

45 8 Viàa de Gomes Freyrefeu atrevimento, ou que fentiodeíprefojfe-deyxou conhecer perturbado hum breve eí-

paílb , are que tornado a fi, meteo a galantariao cafo, os circundantes mudada a pratica ata-

Jháiio a dcfconfiança. Depois fcfoube ref-

pondera EIRey Chriítianifíimo à conta, queo Embayxador deu dcfteíucceílo,<jue o Ge-neral Freyre, era hum dos homens que fem-predefejára para amigo, o que fenão fazin*digno de credito, fc recordamos as diligen-

cias , que deyxamos referido , com que aquel-le Principe intentou , tirado aquclleCabo,aefte Reyno , levallo a feu ferviço.

414 Pouco foy o tempo, que fe deteve

na Corte, chamando-o as dependências doAlentejo a voltar àquella Província , onde odilatou por alguns mezes a obrigação do car-

go naaíliílcncia da Rainha daGram Bcrta-

nha ^que por cftes dias paífou a divertirfe emVilla Viçola, 'onde tinha fahido a luz feliz

parto da natureza pelonafcimento , & pelas

virtudes benemérita da Coroa, que logrou

fe menos afortunada na falta de fucceíI*aó,glor

riofa na exaltação do marido, quedando-lhena vida a mão para a elevar ao trono, afirmouentaó confiante afama, hojeatteita com fé

mais robuíla a tradição , que na morte lha

deu ella,para fobir a melhor Reyno.2

1

5 Em quanto Gomes Freyre vagouno

m

Dê Anàtâàt II Part. LiblIL 4^ífio Alentejo, tornarão a reverdecer as perten*

çoens de França. Como aquella nação nos

era pefada para vinfihn, para inimiga podero*

la , começou a dar cuydadoa ambição , comque procurava dilatar fêu Império f dílcorria-

fe a matéria com pareceres differentes, todos

incarecião aneceífldade de remédio promp*to, nenhum fe acertava efficaz, atè que os

apertos fizerão que lembrafleGomes Freyre,

que como do principio tinha manejadotquelle negocio , íaberia , penetrada! as poli*

ticas Francesas , não fó enformar mas refol-

ver nas juntas.que cada dia fe faziaõcom maisfrequência do que fruto.

216 Gomo a importância daquelle nego*cio, pefada com maduro juizo, íe fazia igual*

mente confideravel pelos danos, que recebia^

mos , como pelo$ que receávamos; porque ouhaviamos de ceder huma parte do Impérioda America a domínio eílranho, ou rompero guerra ficando a caufa pendente da fortuna

dasarmas.RefolveoEIRcy chamara GomesFreyre , que medindo as jornadas pela neceí»

{idade, não tardou a entrar na Corte , ondefcm tomar hum dia para deícanço , entrou nafnolefta oceupação de conferencias com oDuque do Cadaval , o Marquez de Alegrete,

e Conde de Alvor , os dous Secretários Men-fiode Foyos Pcrcyra, & Roque Monteyro

Paym f

r

Ho ViiaàtQomnFrèyrèPaym

\ os dons Defembargadores do PaçoManoel Lopes deOiiveyra, & Paulo Car-neyro. -

ai7 Continuarão as Conferencias alsuns

dias,ate que Gomes Freyre rendido ao pezo

dos achaques cahij kúáo dagota pelos pey-tos, crefceo com as dores o perigo, &corrilerem, ao juízo dos Médicos, fintomasmor-taes, naobiftou o accidente que lhe pof-trou as forças, a fulpcndcrlbc odifeurfo no"meimoJcytocmque jazia enfermo meditav*razoens, com que convenceíTe desfeytos osandamentos apparçntcs, em que França ef-tnbavaicudireyto.

rv/1

!

8/- ,

Como a9uclIe negocio pendia decondufao prompta , durando no augmento aooença fe fízerão cm fua mefma Camera duasjuntas, em que defprefadas as dores, difeor-

/

reo com tanto focego que admirados oscir-cunítantes repetião depois na prefença daiviageítade.que ou a natureza formara aqucl-Je homem de bronze , ou o animara de efpiri-tosluperiore.f.

209 Paffados alguns dias, que moderl&oo accidente podedeyxar acama,foy aconva-

iccer nomeímo exercício em que grangeouadoCnça occupação emque oachou hurn•vilo do Secretario de Eftado; para que man-ciaile cobrar dpusiailçrujçados, queElRey

íabenda

Dê Anàrâàa IlTm.Le.IIt. tfiíabcndo o tinha empobrecido o defentertíTe;

com que o fervira nas occupaçoens , em que

outros engroflãrão , queria começar a grati-

ficarlhe as virtudes, cm quanto não chegava

o tempo depremear os merecimentos: dona»

tivo que agradecco , & regcytou por refpey

tos particulares» quedeyxamos noíllenao

por não adulterar a hiftoria com relação ain-

da que não alhea doaflumpto, qucefereve-

mos ,eftranbaà brevidade que feguimos.

lio Chegou o termo ultimo , em que fe

refolvco tomar alguma concluluó fobre as

pertençoens de França, cujo direyto fe ale-,,

gava em differentes pontos, com que o Em- ubayxador daquella Coroa intentou perfua-

ff

dir huma poííe de mais de cem annos , tra- „zendocomo documento autentico otcfle-,*

munho iem fé de Joaó de Laet.quc affii ma- Hva achando-fe naquelle Paiz no anno de 5f

mil quinhentos noventa & féis lheconfef-,,

fávão os índios ,que as nãos Francesas Kião „

àquellas partes, onde carregavão de madey- i%

ias , 6c outras drogas : confirmava cila opi- „nião com outra igualmente enferma, refe- „rindo a viagem que o Capitão Monfiur Re- tf

vejdier fez no anno de ftiscentos & quatro,, t

em q comerceára comosnaturaes do rio de,t

Vicente Pinçon , acrefeentando ; que noHanno de feisceritos & trinta& crés fundarão

#6» Víàâ dè Gomis B-yre,,os Mercadores de Normandia hWcaftiS„ panhia

, que fe intitulava do Cabo do Nor-..recomprovizaôdeLuizXlU. & do Car-» dtal Kichilu u luperintendente da nàveea.»»Çao, para que elles fomente podeflèm co-..nwrcwr naquelas terras da America, que» nao cftivcflcm oceupadas deoutros Princi*„pes Chníkos, dandofe*lhe por limites de.. huma parte o no Orinoco, da outra o das A.«mazonas, dizia em beneficio da fua caufa*que noanno de feiscentos quarenta & três„le formara nova companhia com mayoics„ prcviir gjo,

, nomeando-fc Governador da-„ quella Colónia Monfiur Ponfct de Bertie-„ ni

,que paflou com trezentos homens a ro-

„ voaraquellas terras, &que no de feiscén-„toscincocnta Sc bum Monfiur Revilhe a„ quem ElRcy Chriftiamflimo fizera mercê«daquellas terras, aonde fevara quinhentos" 5°m

f JL*T dUaS naos dc r° r<ía

' <fuc t0«nan-„do a jlnadaMadeyra emvinteoyto de Tu.

,, uo deít.scentos cincoenta & dous fora„bem recebido do Governador, queoftere-„cera mimos aos Cabos , aos foldados refref-„ cos

,nao ignorando o fim , a que leencami*

„nhava aquclla expedição, que no defeis-

„ centos fiflenta & quatro fe fizera nova••companhia F»" aslndias Occidcntaes a„ que ie concederão todas as Ilhas , 6c Paizcs

ibtbi*

Ve Anàraàa H.Part. Lib.Ul 463habitados de Francezes em toda aAmcrca„Meridional , & que Monfiurde Labarrc*

tomara poííe de Caena , deyxando por Go- ,»

vernador a Moníiur de Lepi -feu irmão, & $t

.quedefdeaquelle tempo as pefluiãoos Frá- „cezes lem contradição, exettuando que no „

de mil feiscentos feflenta & fete fora Catn #É

faqueada dos Inglezes , que depois a toma- „ráo osOUndezes que a cfcallárão na pri-,,

meyra guerra, & no fegundo annooucra,,

vez reftaurada por Moníiur Marifcal de,t

Tre,eC que pelo tratado de Nimega íe con- „firmava à Coroa de França a pacifica paz„

deíla Colónia. Trazia o &mbayxador para Harguméto mayor da lua fuppofta poíie> quc„noannode íeiscentos feflenta Scnovepe „nctiárão os Padres Guilhet, & Bichamcl,,

da Companhia de Jeíus Francezes , mais de Mcem legoas de Paiz ao meyo dia de Cacna „chegando a comunicar em fuás Aldeãs os ff

povos Nuraguis,Merceux, èC Agoásque,,

babitaó ao poente fdo Cabo de No; te , fa- ,*

zendo roteyros dos Certoçns ,& coita que ncorrç do rio das Amazonas atè o Morinhay, ,*

que os Francezes com poíle fueceffiva de Jf

ít tenta annos , Sc demais de cem intropo- Mlada difeorrião por aquellas partes com Ii-„

berdades de fenhores caiando ,& pefeando „lem que osPortuguezes em todo aquelle *

çfpaíla

64 Viàa deGornei Frêyre„tipaíTo de tempo rizeiiem amais leve de*„ rhODitração de queixa , nem foflem viftos„ naquclla Capitania , fundamento* com que„ le molhava pertencei* a França, o domínio„ dapanefc-entrionil cjorio das Amazonas,„que fora kmpre 'incíiudo noslemites da-„quella Colónia; queFrarífça podia ter di-,,rcytonáo fó aqueiias terras, mas a Cida-„dc do Maranhão

, que fora .fundação^fua, dçque ainda confervava o primeyro„ nome, que lhe pufciáo de Saó Luiz, & que„a Fortaleza principal

,que nella havia era

„obra claLjUclJa nação, a quem osnoffos a„ conquiítáiáo ,fcm que entre as duas Coroasí.houvcflegucrra.cmquejuftificadaacaufa,

M nos d( Hem a$ armas o dirtyro.221 Elias razoem proferidas com aqucl*

Ia alma qut Ihv citava infundindo a eloquên-cia dofcmbayrador

, dcyxàrão ahuns fui-penfes, a outros inclinada* : Gomes Ffcyreaquem animavão os efpiruos Portuguezes,como núo receava pela pena a repoiía , nemtemia adeflenfa pela cfpada* dando- lhe efí*lenuo lugar, as cans authot idade, feadian-

„ tou a faliar ndh fuílancia: que não duvida-„ va come recailem os Francezes no rio-de Vi*..ccntcPinçon chamado dosnsuiracs Ojo 1-

„ poça termo ultimo, em que fe dividem as

9 índias do Lrafil , nem diipotava fea Ilha de

Caena

t>è Anafada ílPàrt.Lik ltt ^èfCaena erafua>pela antiguidade de cem an-,|

nosjquedaquelle rio para o das Amazonas,^gfa o qiie derTendia

,portei d que cònquif-.

f<

tàrão os Portugueses i qUepára Coníbtiiir,

Eoílè i ou adquirir direyto ahUm Pai2»núoJg

aftavacomtrcear fielki qiiecra rieceflario,.

Dtcupaf òs portosjôc introduzir a pregação%i

do Evangelhoique erão as arma^com que^

licitamerite os Príncipes Catrrôíicos podião^

itíminaf as Êerras dos Gentios$que já pelos^

,

inrtos de mil feiscentos & quinze conten*/3ia o Capitão mor ÍYancifcoCáldeyra Gaf-

éi

cl- branco com osOIaiidefces no Cabo do,fóorte, fjreíídiando as VOttaíeias * de que,')s defpojára eftabeleeehdo MiiToefts foriqUelle Ceftâo A hão havendo memoria ou ,*

;radiçãoqUe França ti veflè habitado For-^^ieza^ ou breve domicilio eritre òrio dâs

rt

Amazonas * & o de Vicente Piriçori^ qUe f,Dlanda, ôc Inglaterra aproveitando- íe do f|

HolTo dcícUydo fe dilatarão pôr aqtiel/as5Í

partes, onde o Capitão mor Pedro Tey-^.^eyralhesconçjuiílàra ã grande Fortaleza^iono doTerrego pelos ahflos deíeisceri-

f:os& deioyío & rio de fciscêtos & dej&fío. Jí/e lhe efcalou a do rio de Felippe , cuja ror-

$<iurta feguirão todas asfeytòrias^& feltifi**,

:açoens,que pelos mapas antigos fe fiióítra*^

tefeftqi por aíjUelte cófiayaq<*ella$ dtiã*,,

466 Vida de Gomes Frêyrt„naçoens

; que em quanto os Portugueses„ andavão occupados ntfta guerra, nãopo-„dião fer validas as'Provifoens,emque Ei-„ Rey Chriftianiífimo dava aquellus terras,

,^& muyto menos declarando, que náoef-„tando oceupadas de Príncipes Chrittãos;

„ que todas as conceíToens de El Rey de Frã-„çaforão poíteriores , a queElRey Calho*„lico fez ao Governador Bento Maciel Pa-„ rente

, que já por cíle tempo íe achava çom„ o domínio de toda aquella Capit. nia do„ Cabo do Norte, que fe com prebende entre„osdous rios de Vicente Pinçon, &: Ama-„ zonas , obedecido das naçoens daquelle

„ Certí?,a cujas Aldeãs provia de principaes,

„ Capitaés,& mais poftos Marciaes, & polui*„cos , acomodando-fe aquclles bárbaros a

„ viver na íogeyção de noflss leys, que as

„ viagens^dos Francezes fcterminàrão fem-j, pre do rio de VicentePinçon para oOrino»„ co, que fica ao Norte de Caen>, & reconhe-cido pelo Governador.da libada Madeyia,„ofim a que fe dirigião as navegaçoens de„ França, era certo que havia de dar bom„ tratamento a Monfiur Poníet de Benignil9 recebendo-o como hofpede

, que hia a am»

'

,, pai arfe de noílos portos , & naó como ini»„roigo, quedifeorria ainfcítarnofías Con*„ quiítas

, que a mercê que EIRey de Fian-

toe Andrâãa ILPârU LibJít fêf'Çafez no armo de ieiscencos fcflema &" qua- Htro das cerras da America Meridional

}não

,f

-chegou Monfiur de Labarre ao Cabo dofJ

Norte i nem ao rio de Vicente Pinçon, que9i

,*ios ferve de raya por aquelia parte * & nos, f

roteyros antigos anda comotitulode porto, 9

dos PortugUezes * cujas noticias ainda fe„

confcrvavão nas ruínas dos edifícios fem asJf

gaílara idade ,ou confumiro tempo , attef-%i

tada ainda melhor que nos mármores * nas,f

memorias dos naturaes; que Os Caílclhanos ti

perderão a Ilha de Caena petos annosde^feiscentos trinta &oyto > cm que paliou a,

#

domínio eftranho * de que depois a con-)f

,

quíílárão os Franceses * os quaes nunca ti- HVerão guerra comlnglezes, nem Olande-

lf

zes do rio de Vicente Pinçon para o dás Ar ^mazoiías * fe não daqueíle para o Orinoco,

,f

tjue fe pefear naqttellas Codas* 6c cáííar nos i9

Certoens abei tos foffe procedimentoétjue l#

podefíe adquirir poíle , nenhuma naçaó,*

confinante eílaria íegura9nem os Reynos

9i

terião rayas certas^ que o deminio da Âme- „rica Fe confervava nafugeyçaô

4 com que^os naturaes obedeciâo às )rys dos conquifta- #..

dores , vindo a ficar vaíTailos dos Príncipes, rí

que com a Religi 5 ,que introduzem d Ía-~,

taó feu Império, que abrnçartfh os Oeníios i5

p comercio, que lhe cfTerecia a liberdade,*

Gg á dos

468 Vida dêGomis fnyrt,,dos que com ciles contrata vaó, era acçaS„ furtiva,que não induzia poile nem adquíria„direyto

, muyto menos mandarem Rtli-„gioíbs, queíem fazerem Miílbens efpiada„a terra voltaílem com roteyros dos Cer^,, toens, que íc ih praticaíle que femelhante„ procedimento adquiria direyto , a nenhum,,fepremiteria perigrinar do Cabo do Nor-,,te, feadquitio desde o princípio conquif-,, tado à cuíla do Tangue Poi tuguez , confer-

+ yado com as armas cípirituaes , aífiíHndo-le

3,aquella Capitania com Miílbens continuas

?,em que reíidião Rcligioíbs a flectivãmen-te , que fuavão na agricultura daqucJlafea^,,ra, reduzindo humas almas ao grémio da,i Igrcja> fuftentandc-as já convertidas com o>9 paílo da doutrina Catholica , do tempo queyy Bento Maciel tomara pofle daquellas terras

a ,pela Coroa de Portugal, que osMifiiona-

^nos de Sinto António, que rtfídiâo na$

,,Ilhas viíínhas a Terra firme paílavaõ todos

^ os nnnos ao rio Araguary, cujas Aldeãs efti-^vcião norioAquiííú favorecidas de huma^fosulcza, que Pedro Favella lavrara na-

9, quelle lugar, cujas ruinaSjdefmantelada pe-^lotcmpo/cdcyxavão ainda verna eminen-4 cia de huma barreyra vermelha; que fe o fa-

, mem cartas, & roteyros daqtiellaCofta, 8$^Çcruoçonftituhifle poíle, viria qualquer

De Anàfaáa ILPart.Lib.lII. 46^Bãçaõ ,

que fizefle hum mapa a ficar fenho- „

ra do mundo; que Portugal tinha apoíle,,

do Cabo do Norte adquirida pelo direyto,,

da demarcação, das armas » & das Mifloens, „fazendo feytorias de eacao,íervindo-fedos,,

índios ,que obedecerão íubditos, reconhe- ,t

cendo-fe vaflallos da Coroa Portugueza,,,

fcm admittir outro fenhor , nem outras,,

leys, recebendo prémios, Sccaftigoscon-,,

forme íeús merecimentos , ou deméritos; „que os Portuguezes nunca deyxáraõ de„

queyxarfe da moleftia , que recebião nas „

entradas furtivas quefazião os Francezes „

mqueile paiz ;que fe os Governadores de „

Caena oceultavaõ nofías demonftraÇocns, ,,

era culpa, que fe lhe devia eftranhar ; por- „que naõ cometendo aqueile Certao k náo „depoisque Monfiur Marifcal de T»e occu~„.

para ô governo de Caena ,togo no íegundo „

anno o Capitão mòr da Fortaleza deGu-,,

rupá lhes tolhera a paflagem ,. que intenta- |f

vaóporaquellaparte',quenoanno defeis-,,

centos & oytenta 8c dous mandara EIRey „de Portugal DomPedro fegundo do nome „

& primeyro na piedade, ordem ao fupenor,f

dás MiíToens ,que entaõ era o Padre Pedro M

L,uiz,& ao Padre Alaifio Corradoda Com-,,

panhia de Jefus Varoens de (inalado efpin* %x

to, queentraffem aquelle Ceuaõ, &que,vGg 5 nos

47°.

VidadeGvmtsFreyrè'„nos limites de íln Coroa prégaffeaLeV,,Evangélica aos Gentios, & adminiftradoS

r ,os Sacramentos aos já convertidos i noff.

„Fe:divulSaflemaley, qiíe prohibia ferem«tomados por eícra vos; quenaquelias Dar.„ res toparão cinco Francezcs. Pierre Du„ot, Janello, Re„e Rovdhon, Luiz MntZ,..RoveRoy, Françoens Clarea

, aos quaes..eíhanharao aquella entrada , fazendo!„

voltar para Cacna onde naqueUc tempo Eo!, ,venma MoníiurTorrdlo*

; que J>Xl„ Pedro Luiz cfcrevcra huma carta nUei,

v a„ Rcn -Rovelhon ao Padre Pedro Rr„ na fupenordasMiflbens de Gaena.emó is!.fazia avife, que mandando ElRev nuhi„ hum, ley aos índios feus va.flàíofZcZ„ do Norte

,na qual prohibia a eferavidaó í„chara que os Francczes daquel], ti?a

'£cativos daquella Capitania, que \LTtinem

,nâoofFendeflem noílis Llí

3^ •'

tmdo taôodiofo comercio qaé2S

iJÍ,

Tnarios Capuchinhos fe quèS,* f^ "

^lemelhantesproccdimU^^íe,Gomes Frcyre, governando o^Eoremetera ao Governador de C„l c '

Marte dous Francezes, qu*f„ 1?.n,

,?*'nw -

rnaM^ódosPadresde^rJXmt^Jfcí eferevera em vinte de Dezembro de

que

• Dé-AnàrAàâllTâfUTJBãll. 47*

sue os feus iubditos à fombra da pazfoflem M

comprar eferavos a noffas terras ; que os fr- »,

seíTe abfter das entradas, que faziao ern nof- ..

fas Conquiftas,o que devia zellar em bene- „

Seio da paz confervada na boa correipon-,,

dencia de ambas as Coroas, cuja amifade*

naôquizeflc arruinar portão leves cautas;*

que o fitio do Forte,&povoaçao do Defter- ,,

ro fe achava na Província dos Tacujus ias „

legoas do rio deOinipape deftinado nefta,,

parte para ter os índios em melhor fugey- ,.

çaó que fendo aquellas terras no Gabo do^,

Norte,quefe acha em dons graos,& cinco-,*

ema minutos,& a praça de Cacna em cinco •»

grãos do Equador ,que era o lugar mais vi- ,»

finho em que habitavão Franccze?, Vinha a „

ficar indubitável pertencer aquelie paiz a>t

Coroa de Portugal, naófó pelo direytoda,%

pofle , mas pela repartição dos lemites; que ,;

o direyto, qucaos Francezes ie reprefema- tr.

vapodiaõ alegar para lhe pertencer oMa-„

ranhão , eftribava em falta de noticia nos „

que informarão , que aquella naçaô o oceu- „

para primeyro que os Portuguezes; por- „

que defeuberto feu porto por Eftevao An- „

nesPinçon pelos annos de mil quatrocen- „

tos noventa fcnove reynando cmCaftel-,;

]a Fernando , & Ifabel , o largarão os Cafte-|f

lhanos pouco dcpois,por pertencer pela de-

,

t/--

. Gg 4 «arca*

47 i Fida de Gomes Frêyrb^íparcaçáõ dos dpftritos a EiRev de p^ttl

"

,eé, &nodein,! **w£%íg»„ Cinco fizera EfRey Qoo, Joaó o e ccvrn*n,ercèdaquejla

. c/pican^e juro EgE?» ne h.ftonador Joap de Barros & quc „"L„ barra naufragara no de quinhencps trinta &»,no VeA y res daCunhaqueafora ? dem"ndS

"™arJ7 ** D0natari°*K

"£? ^etramportaraó novecentos infim*„tes & cento &tr,nta eavallos; que osfoU„dadqs queefeapáraõ 4o perigo fahiuo I

„ dando a terra , no fit.o cm%ue bZu„|ap de Nofla Senhor, da Gui,

, «ondeS-

" Krf^qq

'

f,ín*rap amparando-fe à fom-

„ aos b,i, b,rQs & que naõ podendo por en-„ taoconfervaríe, voltarão ao Reyno a?gUns„ outros receando na inconftancia dasoS*'£$?Sm.4Q?*'. Te nietçraó pelos £S«fiando a v,qa , corteja dos naturaes.de quí,,emao fe CQ11fervava entreps índio „a?ra!

"da£lsT hl'™" aSa° «,m barbas herl.dadas dos progenitores, feTeftranno*

„ Mos os bárbaros da America efte fimide

^f««ceies, gquç Jevçu uugWjaó, ou ,- forwi

Ve Andraàa ll.PartZibJIl. 475fortuna -açodados de ,;lgum temporal, os„

quaes agradados do fitio edificarão huma*

Fortaleza, de que fbraó defpojados porJc- ff

ronymo de Albuquerque Coelho pelos ft

annos de feiscewos & quatorze ficando» nnos pertencendo antes pdodireyto darc*,,

partiçaò,& da pofle, depois pelo das armas,ff

que o detrito do noíTo Brafil eílava demar- yt

cado por fentença de doze Cofmografos „dada noultimo de Mayo.de mil quinhen-,^

tos vinte & quatro rcynando cm Por- ntugal Dom João HL em Caílella Car*

ff

JosV. lançandofehuma linha mental, o\x^

imaginaria da Ilha de Santo Antaõ húa das*

dos Aflores, como fora determinado porf

duas bujas de AlexandreVk huma paflada*

em Mayo dç mil quatrocentos noventa &,*

treá, outra em fetedejunhodequatrocen-^

tos noventa & quatro , acrefcenmido na (ê-*

{runda para a Coroa de Portugal trezentas'

egoas ao occidéte fobre as cem da primey •*

ra, que na eferitura que fe firmou entre'

íquelles dòus Príncipes fora h{ía das clau-*

fulas,que no cafo que da linha , que fe lan*

*

çou no uitimoponto de trezentas& feten-$

*

ta legoas do Polo Artico, ao Antartico para .*

a parte do Oriente , os vaflallos de Caftella*

defcobriflem algumas terras fcriaõ da Co-'*

|çj de Portugal,,como íc ascouquiftaílem/

feu*

474 Vida de Gomes Freyre„feus meímos Cipitaens; que o Eítado do

,>> Maranhão fe achava povoado de duas Cida-..des.muytas Villas, & numero mayor de», torta ezas

, lugares , 6c Aldeãs povoadas de„ íeis para íecc mil viGnhos , a que eftá fugey-», ta a m^yor parte do no das Amazonas , viu-„doosIivJiosdciIa comercear ao Pará , 6c a..bulccirosalvaràs,& patentes para os portos,>,que haviao deoceupar om fuás Aldeãs go-„ vernandofe por noílas Leys

, que com elles» fq na vcgavaôjioílas embarcaçoens,, & deU»Ies íe ferviao s Portuguezes aílentando» nas fuás terras as feytorias do cravo , cacào,fíOCoutrns drogas, quMtdlas íe produzem;»»que os Franceses fe entrava-) eraõ de dous», ate% íurti vos,que efeondidos a noflàs ha-9. biraçonis, compravaó alguns eferavos, que»»osTapuyaslhcs vendiaô por ferem prohi-->bidosfemelhantesrefgatesaosPortugueze*

tque eílas entradas naõ podiaõ alterar a poíTc

q gofavarnos deide o principio pelo direytoda repartição, pelo das armas ,& peloefpi-

„rirual das Miflbens , em que os noflbs traba-jtlhavaó por dilatar o Império em benefício

„ da igreja acreícentando à cuíla do próprio„fuor ao Ponrifice fubditos , vaflallos ao,» Rey.zzz Eftas rnzoens.ouvidas de todos com

aucnçaó de quefcfaziaó acredoras, acabarão

DêAndraia ILPartLiklIL 47?|e reíolver no mefmo parecer, atèosque ifr

ihaõ outra opinião. O Embayxador , ainda

ijue menos fatisfeyto ,por naõ refponder o

[ucceílb a feu peniamentq , houve de fugey*

tarfe rendido à forte daquelle dia , confeílan-

dofe convencido dos fundamentos, naõme,

nos do diícurfo ,que entaó louvou com pa-

lavras acomodadas ao tempo, depois exage*

rava humas vezes incarecendo o talento, ou*

trás o valor com que Jeu braço melhor que o

deCezarfoube defcnder a Portugal coma

cipada ,com a penna o Maranhão.

2,2$ Defcidida aquella caufa, a que os

movimentos da Europa acabarão depor fl-

lenciocom a pertençaõ de França, &Ingla-

terra que procurando a aliança denoíTa Co-

roa intentava cada hum , felicito no? feus en-

tereffes , fenhorear o Occeano comprando

com a noíla corrcfpondencia , ou ajudarfe de

noflas armas , ou ierviríe de noílos portos.

224 Difcorria-fe com variedade de pare-

ceres, porpondo-fe de huma parte a utilidade

docòmercio,daouíra fe reprefentavaa da po-

tencia. Como a ambos os contendores nosa-

chavamos obrigados pelos foccorros , có que

nas guerrasda Aclamação nos tinhaó acodido,

naó fabiàõ os melhores darfe a confelho,mu y-

%o menos refoiver maisque a neutralidade,

opinião , a que conluludom WÊtÊi® »fc *c°"

47& PídaJi Gomet Trêyrèmodava o voto ide Gomes Freyre, atè que"vendo nosprecifavaó a declarar a guerrai à*wftancias diquejlas dinsnaçoem, quepro-íiavaodefconfíadas.qucou havíamos de!ad-rnitir aamiladc dehuma ouíofrermos a am-bas inimfgis, reíolveo antepor a Religião aosintereílcs.

*i>5 Ajudada a liga de França forao aspnmeyras op.-raçoens fortificar a marinha de

i ' tVC^CUJopartovieraõ a dar fundo ásgales de ElRev ChriítianiíTimo comandadasporMonfiur Chatcrnó, com ordem para em-pcnFurfc na dcfflnía de nofla barra , amiafladadas armas Inglezas.quefenhorcados os marescomgroflis armadas, moftravaô querer fu-geyiar às hys de Marte o Império de Nep-tuno.

.

^2,2,6 Seguio-fe aos apreftos da guerraena marfe o partido do Alentejo

, para engrof*«r"a guarnição daCorte.onde a G ornes Frey-letinaloà para quartel a Torre dcBellem,poucos foraô os disque vagou naquelle traío*1'™» que o deleyte.com que iervia lhe fa-ín

i

parecer delcanço, como era igualmentevalerofo,ôc pratico nadifeiplina Marcial,»<?uc El lleyan-es por natural propencaó,en-tao por necefliJade, era inclinado, ÔCgoíhvaaç ouvr,r difeorrer aqu:lle Cabo , ordenouvieíle para mais perto de Palácio, determi-

nando-

De Anãrada ILPart.Lib.lll 477fiando-lhe eitanciam marinha', onde fem ad-

mitir ócio , trabalhava incançavel deftnhan-

do huma !s vezes, outras mandando os officiaes

da fortificação, cuja obra crefeia fem tempo

àviftadofuperior, que enfinandocom o ex-

emplo naõ íabia pouparfe.

227 Aqui fe dilatava intertido com os ar-

tifícios Marciaes ,quando EIRcy refolvco

darhuma viíto a toda apraya que corre de

Lisboa atè a Torre deSaó Giaó, Fortaleza

fuuada na boca da barra* Entre outros Gene*

raes nomeados paraaqnella facçnõ^ foyGé*

mesFrcyre dosprirmyros efccihidos;como

pelodiícurfo do caminho lhefofle pergun-

tando de que modo fe poderia embaraçar o

defembarque, fe huma armada inimiga pa (fa-

das as Fortalezas que fingem a entrada na foi

do Tejo, fenhorcaííc aquelle porto? Lheíoy

praticando a fácil refiftencia com que fc po-

dia defrender o ganhar terra.

228 Paliado o Forte de Santo António;

notou Gomes Freyre hum furgidouro por

todas as partes deícuberco , aqui volcado a

ElRey, lhe afirmou , que para fuftcnttr

aquelle paífo,fobrava cavallaria a tftorvarque

asembarcaçoens ferraflem aterra, por fera

prayaraza. ècorio comoefprayava taóbay^

xo , & aparcelado nas margerrç f que cnõ po-

diaô mdajr as lanchas icei perigo deacrareí-

far

478 Ptdaâe Gomes Friyrelar na are», quc asnaõdeyxaria lurdir vtlóPouco fundo

, ficando fácil aos cavallòs che°

vaa3op(iíiç3 o,n iasreceavao perigo dos ieus,g :

rcfpondco, que naõ podia ler íem perder-

fervia] f?.°mr FrTe

• 1Ue fi,bia rae'horlcrv,HoJdado,do quehfongear po!i„co ou-V.da a reporta lhe cornou, íenhor a guerra hernonlbuo horrendo, quefenaó fiança deoutros egum.s, ou viandas, mais que hemí& cavallos, quem cuyda em poupar efte" naõ

o;

va fl^llcs, magoado na confidrraçaó dt ar*r.ica los en, pc, lgo f.bido , ainda qíe proeu.

ZlZnTtCià

?tícondrr «Pena, nao

Ppodenos olhos oceultara dor. Chegados à Forta-

em ^" tmV0Sí1 Uc to^s ouvirão na5lem latíjM a

,fllle não fabi a fefeus lubdiros,

££flC,:

l ''m •«««rfwqtí. de boa von.

quererde, o menor de lmsfold.de» cortado

SKt?'*" rl4*odosçeloufoí : huma-

írlnK '"L«".Pnocípci fcnrangeyros ef-

tranha.roíPortuguczcsnaturaha?o Goorcs Prtyre, ou porque feacha-

^*«fo»»rou porque tinjwfeu ztilo fidoaoccafi._ocopc.ar, procurando aliualo nador lhe figurou, tedos recc nhcciac os :mava

Pay,

De Andrada llPartXib .111 475ÍPay» 6c que íabiaó gratos pagar com novas fi-

nezas aquelle excdlò,porque lenaó acharia

hum ,que voluntário não procurafte expor a

vida,por luftentarlhe aGòroa na.cabeça, quenaò havia quem duvidaíle que fe chegava a

romper a guerra, o levava aneccílidade ar-

raíladocom violência , s quenenhuma força

pode rcfiílir, que nenhum ignorava,quc nemo credito da naçaò ^ nem a confervaGaó da pá-

tria le adquiria ícm as armas,, que era iiííbu-

mento horroroíb ,rnas único , em que íiv-ra-

vaõ os íubditos a honra, o refpey to as Magcf»tades.

2,31 Recolhido EIRey, foy. GomesFreyrea defeançar dotrsbalho da marcha,noda fortificação do ftu quartel. Aqui o achouhuma multidão de foidados repreienrandocam lagrimas o perigo de algus companhey-rosculpadosem hum tumulto. Daremos re-

lação do cafo em beneficio da piedade dr.quel-

k General, hum dos adjuntos nomeados pnra

ftntencearosrcosqueorTendidosdos Aílen-tjftas pela má qualidade dos mantimentos fo.íaó a queyxarfea EIRcy , mas tantos junto?,

& com vozes taõ deíentuadas ,q a razaó pare-eco motim : faraó alguns prezo^ , & pi ofíefa-

dos por tella de juizo ie tinha decretadoaquelle dia para a fentença final daqueila cau-

& 1 em que o delito dos emereíTes, de hum,V

fc?

^M

d&o VUa de G$m$ trèyrêfcz parecer crime mayor, a juftiça dos õútíõií232 Gomes Frcyre, cuja piedade naõ

licceffitava de rogosf como conhecia que a

culpa coníiftira mais nosaccidentes que n*fulLncia

5 procurando foccgallos no CemorCom lhefegurar oempenho^òqUe íepermi-tiiVe favor femofíênfa da juftiça. Depois deconfolara todos na dor, íbybufcâr a ÈiRey,aquém achou menos femido da ofFenía, doque da pena que receava cxccutaíTem os Mi-lilitros, lixando detodo o rigor dasleysemeaftig© dosnulcraveis, cuja vida, ejepofta*dtn\ rentes pareceres , le achava pendente dojuízo dos homeris*

i g % Vtndo aquclle General a Mageífo*de inclinada em favor dos culpados , come^Çou a expor com taô vivas razoais a innocen-cÍ3 díiqut l\cs Toldados ^ moílrando que naopcccàr*ò mais que rta n pi efentaçaójpelo mo-do com cue a ignorância os tinha fcyto obrafíemíittençsõaofíigradodaMag(ítadt^qUeleíc exnminalle a intenção , fe acharia qUco cx -

ccíTo nsõ rinha de dtlito maisqueasapparen-cias

,que a íímplicidade os animara à facilida-

de^ cem que k pncipiráiaõ abuícar Cura aomalj que ps.di ciaó/cm coníiderarcm omodo*parcccndelnes que quanto mais grítalTcra

moíbavaõ que mais razaõ rinhao j qut o vul-go Marcial apre ndc ra a manejar as ai mas,fcm

çítiídaç

SêAndadaHPáriãMJIL *$tèliudar politicas } que intentara remediar st

kia neceflidade procurando a fombra da Ma-geíhde não como offcniVi ft não como am-paro.

''

*34 Ditas eftas, ou íenleIÍiantesra2oensf

com aalma* que lhe infundia UM caridaderpe-

dio licença a EIRey para que fem aggr&vcrdfc

Mageftacié lhe podefle dizer* era risque Urde-litoreo mais culpado* peia piedade náo vul-gar i com que agazalbavá ate o nu nor-fof-

dadoj quéeíta humanidade lhe derd aqúellàconfiança * que era plebe ruílica feri» defeui*fd,quc muytodbralfe a falta de juizo fem corr,felho;

a?* Èllley que òivvn íartimadò, & fefAbffenfá da juftiça * defejava favorecer a caúfados rcòSi lalvando-os dò perigo le^al , éuiqiiefe achava* vendo-os taõ bem defeu!pados;mandou aGdmésFreyrei que pois era humdos juizes, dicefle àòs hiais que por livrar asHdas defeus vaflallos queria ellemcfrricj fei»

b culpado+ que nds Toldados a íihgelezá, nelíc

>s a&ctos deraô occafíaõ a demaiia que obra*ao alterados

s que para caítigò bailava o íuf*Oi lobrava a dcrríonílraçáo para exemplo,'piga Grécia

^ ou Rorria ièáchoU hurfia rioseus Ce2arcs,outra rios feus Alcxandrès Prin-:ipe piara Rey com mais merecimento' , og;om melhpre^tnffaríhás para Pay.

Bb %i6 Pari

4$ 1 Vtàú àeGames frqfc%y& Partio Gomes Frcyrc para o Tribit*

nal, onde referi© diante de todos os Mmilfcros

as razoens da Magçftade , a cuja vifta poucosfe atreverão a condenar os reos , na confidera»

çáo de que não era culpa o erro material. Eí-Rcy que fe deu por agreílbr no delito alheyo,

os mandou abfolver da pena* com applaufo

univcrial dos Cabos , vivas fem taxa da piebe

Marcial é

2,57 Andava GomesFreyrepor cíle tem-po ja táo gaito dos achaques , a que ajudaváojos trabalhos, que osannos, que começou a

defconriardavida. Foráo cieíccndo esmalesfem obedecei cm aos remédios, & aomefmQpalio augmentanderfe os temores na conilde-

raçáo da conta, que havia de dar cm Tribunalfuperior, onde íenão achão valcdores mais

que as virtudes, de que clivando para íi, Je

achava dcfpido.Lamentava fentido o muy tQ

tempo conlumidocm beneficio da pátria ,£ç

o pouco gafto em utilidade da alma. Muy ta?

vezes dizia fe oReyno do Cco fe deyxártconquiftar daefpada, podei ãoficarme a lgu*pias cfperanças de efcalar feus muros, mascomo fuás guardas fomente as vende omere^cimento, com que valor chegarey a arrimar*

me aquellas porcas, que fechão as culpas, abre

o arrependimento feparaeftc feacha ocora-raçâô duro', naquellas ©bftinado.

aj8 Neftaf

t)è Ànàraãa iLPari.LibÂiL $$i}8 Ncífcas pias coníidcraÇocns paiíou

as mu y tas horas $ que andou bu içando piloto

feguro 5queíôubeílc na ultima viagem gover-«araquclle eípirito aopoito daíalvaçaó, a-

chou-o naCòmparíhia de Jefus ondcckolhcdo Padre António da Silva, que lhe fervia deguia, & de arrimo o tempo queviveo^masvendo peltísfíntomás qtie fe lhe aviíinhavaamorte

é refo! veo para recebei la com mais fofc

fego irefperalla no retiro de huma daufurUtonde defpedido da mulher

é& filhos vagaíTea

Deosapartado dos tumultos daGoite, pen-

iamentoaque impedid a execução ^ o preccy-to do ÍUperior

ha cujo ímperjo fe fogeytava

VaíTallo i obedecia íubdito, tomando para de-telloaneceffiJnde da peííba naèçcafisó< queiios amiaftava agueira com os inimigos àporta.

2,39 Gorrioáquella natureza poííradàca^dadiaielhcavcíiirihâva o ultimo, que lhe a*preffava mais a continua imaginação repre-fentando-lhe naéertcza de acabar a incertezada hora, & porque a morte onáoapahhaíTcemalgúa dtícuydado,pafrava todas em vigia.Huma noyte quando fepreíumio ddrrhia fe©uvio falar* aplicando com curiofídade òs ou*Vidos quem lheafiiftiai náo pode perceberftiais que hum a Deos amigo.Como íê Coribe-«çp não fèrJfbnhcvlhe pei^untiífto c$mquçfú* * titCQl

$84 PM* àe Gomes Freyré,tivera tão travada converfação ; refpondco:eftava intertcnck) a pena da morte de Leonor,huma filha fua Rciigiofa Agoftinha, que noConvento de Santa Cruz de VillaViçofa ti-

nha pouco tempo antes acabado com tantos íl-

naes depiedettinada, como tinhão dado deexemplo fuás virtudes asdemayoridadc nosverdes annos , em que para gozar oCeo dey-xouatcrra; mas obíervouie ficara dahi pordiante tão focegado,que nunca mais o pertur*bou temor,ou imaginação.

240 Parlados poucos dias veyo a confeflàr

lizarnente,qucerhndo dormindo huns tem-pos anus como andava tão affi.cto , fonhara Ce

via com o venerável Padre Fr. António dasChagas, com quem militara nas campanhas,tonfervando-fe fempre entre an.bòs humaficlcorrefpondencia, que viera a eitreytaríc

ainda mais depois que defprefado o mundo ic

retirara .para o claufti o ,& que lhe dizia comoDeps o livrara cm muytas occaítoens dospe-rigos das armas inimigas

,que como foflè

tempo o a vifiria, mascomoiempre tivera osfonhos por oráculos falfoY, não dera a eíle ne-nhum predito, fupptfncfoidça forjada na luameíma fantafia

; que naquclla noy te , cm quefalam, citava ncordado,que não vira , mas queouvira a voz do mefmo Padre, que Ihcuizi*çra tempo deprepararlc, §t |he parecia no*

mear»

Dê Anafada ll.Part. Liè. Ill 48^meara oytavario, mas que tudo faia íepre-

fentação, & nòso eferevemos como teftemu-

nhofem Fé , ainda que o fueceflb como logo

nosdiráahiftoria, verificou o vaticinio comcircunftancias que a não arrifearmonos ao pe-

rigo de fácil , ó julgáramos verdadeyro.

%4l Chegarão pouco depois os três de Ja-'

neyro de mil fetecentos & dous dia oytavo*

do Evangelifta S|o João , em que repetindo*

lhe pelas onze horas hum accidente de gota

por hum hombro deu indicidsde mortaVcô*'

mo pela falta dos pui fos, n|o prometia muyt#*

duração , mandou logo chamar Confeflbr,.

com quem recolhido tão largo efpaço, que

pareceo paliava p tempo dos remédios , fe dil-

poz com tanto vagar , que chegou a iocegar

de todo aquelle animo invencível, Fixosos

olhos em hum Crucifixo lhe òfrerecia as do*

res exceílivas que torrud&a garganta o priva*"

ráo de receber o Sagrado V iatko , faltando*

lhe para os perigos de tão larga jornada o Íoc-J •

corro de tão ioberana companhia, penafem

medida que plerQU,com çtf[bo^ fofreo çontor*

me.242, Achavafe affiftindo à fua cabeceyra

<Vkl>outor Lopo Gil hum dos Médicos da

Camera Real, vendo eftava paraefpirar lhef

perguntou, fe queria diceflè alguma coufa a

SuaMageftaaV? Refpondeo; pelahpra emHh J que

'0$ M Hda deGowesfrêynqu^eftounáo tenho de que lhe pedir perdão;.fahi dqs braços das amas para o feu íerviço,jielle acabo decrépito, mais gaito dos traba'lhos do que dos annos: não fqube nunca pou-parrne, nem aos perigos, nem à mjnhaobn,gaçãoínqsc^nfelhosícgui odiétameda mi-jiha conciencia fem torcer o meu juízo , fe er-rey enganoqme oentendim^ro fem vontade-porque fcrnprc difle p que me pireçja fem ac-endera refppyto, nem me levar Iifonja : dafazenda Re*! não-afaftey hum feiril,nem dcy-*ey perder hum vintém

; poraue dos Iu~gares bufquey a honra não os enterefTes: fahjdos governos pobre, Dos favores cjo Prjnci.pe recebendo-ps grandes, foubeaprqveytar-piepara a eftimaçío, mas não para medrar:picargpçqqç oceupey poderá dizer quepri-racyro fuy levado a elícs do que os bufcaflê: aWem devo pedir perdão hc a minha mulherCia meus filhos, aquemporfervir bemdcy-xo faltos de bens,de cabeejaes exauíros.

*43. J4 a efte tempo fe achavão tão debeí*

oseipintos vitaes, que entrou em hum letar-go, ao iuizo de todos ultimo, de que contraajqpinião dos Fificos

, tornou com hum re-médio de hum ef pirita

, que por fuás mãos ti-nha obrado: reftituido a feus feptidos pedioamm V nçao,qUC recebeocom todos os finaesde devoção Sç recqraendadas algumas orfóas,

í>e AnàraàallPart.hibJIL 48?

Sc amparava emfua cafa.deu a alma afeu

«ador pela féis horas da tarde de três de Ja*

neyro de fetecentos Scdous entrado nos íeí-

fenta 8c féis de lua idade: fincoenta& fete gaf-

tos nasoecupaçoens defoldado, Capitão de

infantaria, & de cavailos, Tenente General

dacavallaria, Sargento mòr de batalha , Ge*

neral da Artelharia, Governador ,& Capitão

General do Maranhão. Pa fatisfação com

que íervio a pátria damos a ler a menor parte,

deyxando no filencio muytas acçoens dignas

de volumes mayores, que por parecidas nos

tez calar oreceyo dofàftioque caulanlo re-

petidas, fendo femelhantes peloíucceflb, ÔC

fó differentes pelo tempo , oceupando cargos

imyores, nãoadquirio outras riquezas mais

que a gloria de deiprezador conftante de fua&

próprias conveniências, virtude tão rara que

baftara afazelio acredor dosapplauios t qtte<

logrou entre naturaes,& eftranhos,a não ceie.

brallo por outras afama major que feu mef*

mo nome.

*44 Sepultou*fe na Capella rnayor dá

Igreja do Lumiar jazigo dos fucceílbres do

morgado de fua mulher ,onde le mandou de*

pofitar, efpera-íc atresladação deiuascmzas

para o presbitério da Gapetta mor do Con-

vento de Sant* Cruz de Villa Viçoía d e Reli-

giofas Agoftinhas , onde na parte do Evaoge-*tíh 4 lho

VíâaàeGtmtsFrêyrélho vtrfo «defansv íeqs ofibs, fecmurn*.menos foberb.,

, eqrp epitáfio-, cm que lelcffua piedade liiperjor afeunome.feu talentojgyal a ílu valor, .

'

^"-" Lv

Í4íí O funeral igu.lou aos grandes na /o.lcn,u,Jc,cx':edcos n* facrificfos, Scnasla-gr.nvas.

; Eifccy não feefquecendo na morS.de que honrou na v,da ; depois das demonl.tr.çocnsdcfcut.rnento não vulgar, mandouofrupcr a Deos repetidas Miflas por fua al-ma, ukimo bcneficiocom que mais vivamen-ríeveyo aexprefiar na piedade os aflldos, ».gratidão nos fuffrsgios. '

*"

Pm2T

46i

Go™S Freyré deAndrada naíceoMiUsboa a deftnovede Dezembro doannode mi!.fciícentos trinta & Içis , foy filho pri-mogCBKo de Manoel Frçyre de Andadafêc'defqa mulher Dona foniu de Brito nem deBermrd.n, Freyre dcármeyda, ou de An!drada. bifnetodeGbmrs Freire de And r d.

rc dePZ'

ter

fV f° "et0 de ^™rd,m Frey:rc de Almryda, quarto neto de Nuno Fer-S*™ dcAndrada Caçador mòr deEIRev

, & Alcaydç mòr de Bcja\ quinTo nef*° dcÇa™? FreVre «e Andrada tercey o Se-

re^ífh;df*< fcxtonetodeJoãoTrey

redcAnd.adakg„ndo Senhor de BobadeTla

ge deElRey Domjoaó o primeyto ,&pri.mcyro

De Andrada II. Part. Libjlh 4S9nacyro Senhor de Bobadtlla , oycavo neto de

Dom Nuno Rodrigues Freyre de Andrada

Mcftre da Ordem de Chrifto, & Chanceler

mor de EIRcy Dom Fernando,que de Ga-

lha paflbu a Portugal no Reynado deEl RèyDom Pedro primcyro por haver morto humCorregedor cm huma praça publica , foy fi-

lho de Ruí Ffteyre de Andrada Senhor de'

Moech , jk Santa Cruz, de cujo primogénito

idefeendem os Condes de Andrada, neto de

Nuno Freyre de Andrada Senhor d» Caftel-

lo de Andrada , bifheto de Fernão Peres de

Andrada , terceyro neto de Pedro Fernandes

de Andrada, quarto neto de Fernão Peres deAndrada f

quinto neto de Pedro JkrmudesPeres de Andrada,Texto neto do Conde DomBermudo Peres de Trava , letimo qcr.o de D.Pedro Fernandes de Trava , oyuvoneto doConde Dom Fernão Peres , nono neto d" D.Pedro Forjas filho terceyro do Conde DomFruelU Bermudes,de cujo primogénito DomRodrigo Fojas te deduz alIluuVecafade Pc-reyra nefte Reyno , decimo neto de Vcrmui,ou Bermudo Forjas como achamos em outras

memorias, undécimo rfètodeDom Fruellfr

Mendes , duodecime neto do Conde DomMendo Rauíura, ou Raufona irmão de De*fiderio ultimoRey dosLongobardos na Itália,*

Sc de Dqm Joanna Ramies filha do CondeDom

4í>o Viàa de Gomes FreyrêDom Ramon irmão de Dom Aflfonío CaftoJneta de EIRcy Dora Fruella primeyro de

247 Contava Gomes Freyre "os quaren-ta ôítresannos de fua idade quando lerefol*veo a tomar cílado, cafou com Dona LuizaClara 4e Menezes filha herdeyrade AmbrofioPereyra de Bcrredo Governador de S, Tho-ínè, 6c de Dona Maria Lobo da Silveyra viu*vaque ficou de Álvaro de Miranda Hènri.ques neti de Henrique Pereyra de Berx-do,biin^a deAmbroíIo Pereyra Comendadorde S.10 Miguel dó Mogadouro na Ordem doChriílo, terccyra neta de António Pereyrade Bjrredo G >rnendador de Argsnil , & Go-vermdor da Ilha da Madeyra, General deTan^cre,& Governador das Armadas defteReyno, Sc nomeado Governador da índia,quarta neta de Ambrofio Lopes Homem,ne-t°deJoaó Lopes de São Luiz Vedor, &tef-tamenteyro da Prinrcza Santa Joanna, &deíua mulher Dona Mm ia Pereyra filha de RuíPereyra da ca ia de Temedo.MS Paílou no Alentejo em idade de no*

v^annos na companhia de feu pay , que foyP rovido cm Ci pitão mor, & Governador deElvas onde levado da inclinação , defpeníado*V> terripo aíTcntou praça de fòldado. Àlli cre»^nda ainda -mais no merecimento que no»,

dias,

De Anârada II. Pari. LifclII 49

1

lias , aíTiftioa todas as obrigíiçocns com a ia«?

:isfação,que fedcyxa ver neftahitloria ,atè

*iue o leu progenitor defpedido daocçupa*

gâo fe retirou a fua quinta da Carnota çlonda

fahio furtivo a embarcarfe na Armada deguarda cofta, onde obrou proezas dignas de

feu fangue : applicouíe ás M^hernaticas , em'ojua,mo paliarão cmíilencio no (Tas armas, aque fervio cora v dor igual àdiíeiplina. Se-

guio as partas do Pnncipe Dom Pedro nas

diferenças com leu irmão EIRey Dom Af-

fonlo Vj mas com tanta attençao à Mageftá*

de, que fervio a inclinação , íem faltai* ao ref*

peyto,compodas as c «ufas domeftiças s6c pou*

co depois as de tora fe retirou a defeançar na

fua quinta da Carnota, donde fdiio a embar*

càrfe na armada de foccori o a Grão , jornada,

cm que ganhou bpnra fem perigo. Tomoudepois a fervir no Alentejo donde voltou $Gorte chamado de negócios importantes , co-

mo fuás virtudes o inculcaílem benemérito

das oceupaçoens mayores, 8c ainda«fc achafle

çm apertos o Maranhão levantado , íe lhe

deu a efeolher hum dos governos: aceytòu oque podia durar menos, regeytando o em quefe repreientava mais enterefle , deyxou-o fua

juftiça tao aceyto naquelleEílado que os dous

Senados de Saô Luiz, & de Bsllem. o manda-

do retraçar çp^fervando-íe ainda hoje n^s ca--

'

' ias

492 Viâa de Gomes Frtyreias da Camera daquellas Cidades as duas co^pias, a que os naturaes tributão tamanho ref-peyto ^reverencia eílranha na America) queintentando hum íucceflbr , tirarlhe na morteaquellaseftatuasque lhe levantou agratidãooaquellas duas Cidades fe alterou o povo, vol-tou ao Rcyno onde logrou com osspplauios

•<ia plebe não vulgar eftimaçaóda Mageftade,que o galardoou com aAlcaydaria mòr deCines, & outras mercês dadas náo por pre-mio fenúo comoalviceras,foy nomeado Con-eelheyro de Guerra, honra que íbbrando-lhca vicia para merecella faltou-ihe para logralla,ô^atè para tomar pofle delia , era de tempera-ipcnto melancólico , mas tão entendido

, que"bn com a graça artificial eíconder o deffey-*Q da natureza , no femblante inculcava ref--peyco

, na converíaçáo coníllrava agrado, fechegava aalterarfe oquefocedia poucas ve-^^es;íedeyxava precipitar na cólera. Foy no-tado de d.. miííido liberal ; não menos o taxa*

-

ião de izeríto. Ouvia Mifla todos os dias Con-feíTWa femuytas vezes ; comungava poucas*por temor de chegar com menos defpoíiçaõ,tentação que fó nos últimos tempos vcyo avencer

Jera com efpecialidadc devoto de Ma-

ria Santiflima , Sc das almas do Purgatório, deque Ce lembrava com repetidos fuffragios.V

Dos pobres may.ormente Toldados era tão.,

com-

DeAndrada ILParULib.IIL 495compaflivo ,

que dizia muytas vezis ames

queria ficar fem jantar, que deyyallos fcm cf-

molla* Tinha cfpecial rcfpeyto aos Mtniftros

da Igreja ,& reverenciava os Sacerdotes comtanta attenção que tendo qucyxas doBifp&

do Maranhão,& de alguns Eccleiiaíbco^náò

confentio fe lhe faltado a veneração, a muytas

peílbas necÉÍlitadas favorecia, íemqueiou-beílem de que mão recebião o beneficio* Pc-

dia-lheHillario de Soufa de Azevedo licença

para cm feu teftamento, (que com lua mulher

fazia demáocomua, por não terem herdey-

rosjdeyxarern féis mil cruzados ahuma de

luas filhas refpondeo-lhe grato mandandolheos Miffionarios Fraílcifcanos da Recoleyção

da Piedade ,queaquelle anno paílavaó do

Rcyno ao Pará pcdindo4he os recebefle por

filhos, & applicaíle para luas neceíluiades

aquelle donativo* Era tão fofi ido nostraba»

lhos que com o rnclmo femblante o viraõ as

fortunas,Scadveríidadcs: moílroufcnajuíbV

çafempretão reéfco que alguns o raxavíio de

inceyro > fazia receber as ordens da M-igeíla-

de fem admitir replica , direndoque le i\>gey*

taiTem , & depois recorreflem* judo procedi*

mento que alguns quizerão notar rigor, 011

exceflb conforme com as regras da prudên-

cia, como fe o Império dosfubditos ictftcn-

deík mais que aos limites d* obediência , ghas

4H fada de Goms Frtyfê,a> ordens fuperioi es , não hou velicm de receCbcr o cwdHo da execução. Ufava-íc no Pará,« Maianháoa barbaridade gentílica de ajun-taren^ic nos dias de preceyto os efcraVos Ga-tnohcos de hum, & outro fexo, em lugaresretirados afazer osfeus chamados parceisdeque reíu ravacom injuria daRelig,áomUytasorFenfis de Dcos , deiordem

, que fácil evi-tou

> voltando em louvores da Senhora dommm o que eraabominaçáo aterra, *ot,eo efc,ndalo* PraticaVa-fe no Mado doMaranhão

, como fenaó foífc peccado os rou-Oos da fazenda Real , ignorância de que veyo» tirar aquelles vatiallos, admitindo acomu-JJicaçao dos Príncipes , & metendo a conver-laçao na matéria da reílituiçãô, em quem ad«vertidos d Sccretano

í & Sendicantr-& corooamboseraó doutvsd; íorte refutarão aqudlaWta^Mfio, que vicrão todos conhecido oerro

* nrõ fó a emendar os vícios , más a fc ftj*tuirosdano .Era compafTtvo nos males alhe-yos

,nos litis iofrido : fácil em perdoar as ift*

jurias próprias, naó lábia deílmular ocaiti-go nas de s outros Experimentou fnenosat*tençoens dehum íupuior, cu troque tinhapoder maver Ihediík; porque fe lhe naâqueyxavn

! rcírond(o qtieantc* queria tolc*waggra vo*

f do qur ler occafiaó de feusemu*Jcí oíuubutni. Dizia o vencível Padrt

Frcy

De Anâraãa H.Part.Lib.IIl. ^F'tey Amónio das Chagas * qucelle fora o icu

-primeyro Miflionario jporque jamais afiara

de lhe pregar ,atè que as fuás prefuaíoens,8c

os calos* oreiblvéraõ a deyxar o mundo ao

mundo ; foy naturalmente Poeta de que íc

eoníervaó algumas poeílas fuás em que fe daõ

«ler as agudezas do engenho é noelevado dos

-conceytos , não lhe di-raõas armas tempo pa-

ra feguir as letras,mas era tal a vi veza que bai-

larão os primeyros rudimentos com algumpequeno exercício depois dapazparacnten*

derfufficiemementea lingua Latina, na Ita-

liana era perito , na Franceza veríado, da Ma-ithematica tinha alguma luz : applicoufe a for*

tificaçaó feiencia em que fahio coníumado*Nunca foube admitir ócio » que naô foílc taõ

tiril como aoccupaçaõ, o tempo que vagavaaos negócios politicou , ou exercícios Mir«ciaes, tomava para ler, efere ver, cultura das

flores , diftilaçoens de quintas efllncias aro»

maticas , fazer pederneyras, lavrar tartarugas,

óc que obrava coufas cor iofas pelo enteieíie

tjeasdar, repartindo com tão boa ordem ptempo que lhefobravaõ horas para oalivio*

iem lhe faltar para as obrigaçoens : mandavaoscavallos com dei pejo , com o raefmo juga-

vaas armas, nos confelhos era msduro^as re-

foluçotns.prompto, lt groucftimaçotns daMagcftade ,nunca parafe aproveitar, aos a-

migos

496 Vida de Gomes Freyrijuízos era taó fid, que nunca os deffeytos deí->i« ihc parecerão virtudes, das faltas os ad-vertia com liberdade

, íim os offender com oraodoj tugia da lifonja como de vicio abomi-nável, tendo os aduladores porefcandalo damtUreza: tratou íempre os fuperiores com«tenção, os iguaes com ílngelcza, aos inferio-res com humanidade* arte com que foube ad-quinr o agi ido de todo?, louvaVa atèaquellesde que recebia aggtavos, chegando muytasvezes a beneficiares í na obediência era tãopromptoque jamais felhevio viftlcncia naexecução .dizendo: que osfubdiÉos lhenaõUcava liberdade paradifeorrer, fenâo paraobrar ^porque náotinhâo obrigação de darconta dos erros

, nos últimos annos íe entre,gou aonçô, que frequentava com a deli-gtncia dequem queria aproveytaf nOscxcr*cicios do típirico^ muytas vezes lamentava

o

eiquecrr éto, com que os primeyros dias dor-mira tfín dckuydado n> agricultora de fil*alma, piccurando recuperar aquella perda.comn.uJtiplicarosaãos de Catholico, corrivwitides de Re lifcjoft. Teve cinco filhos ,&nove hll^s Dona Joamu Bernarda mulhertfc Jeli primo Manoel Frtyre de Andfada Co*roncl do Regimento da guarnição de'Peni-che. Dons, Maria Lobo, Dona Thereza deTortugal, De na Mr rórida Michatil*, Dona

Cecília

e

_;3t jíndrédaílP^rt.LibJlt 4$f

Cecília Ma ria* Dona Izabd Jofefa , Dona íg«àez i 8c Dona Leonor de Menezes todas íetcRcligiofas rio Convento de Santa Cruz deVilla Víçofa da Ordem de Santo AgoítinhòéDona Bernarda Maria qúe fendo a primeyraho nafeinaentò acabou antes de hum anno,Manoel Freyre que a poucas horas de nafeidopaffou riò Ccò a gozar de melhor mundo*'Bernardim Freyrc, que acabou de fete ànnofcAmbrofio Pcreyra que fe fcpukou de cinco*Ambrofio Pereyra Freyre que dcfprefadas asletras comòempreza pequena afetis grandesefpiritos ferve as armas natíompanhiàde ieit

irmão: Manoel freyre de Andrâda;& Caftròfoerdeyro dafcafa* & das virtudes de feu pay^Capitão decavaílos na Província dó Alentejo*bndeaffentou praça nós verdes annos , mof-trarido fempre nas decafioerís do perigo naSiegenerar feu valor, nas do juizo feu talentoJècreatura detaõ famofo progenitor quea»:abando na morte paráa vida dura nas naemugfias para exemplo,

f I M.

a índice

*9*

ÍNDICEDAS COUSAS MAIS NOTÁVEIS

defta fcgunda parte*

O numero fyntfica a pagina*

ADÒm AffonfoVI. Rey de Portugal. Morre

crnCmta. pag. 134. Cdebraó-fe fuás

cjçequia*» Ibid.

Anttnio de Albuquerque Pereyra. Suas virtudes*

'Artur de Sá& MenezesMzy por Governador

paraoMaraniiaô.

RBErnardim trejre de Andtãda irmão de Ga*

mes Freyre. Governador da Ilha <kSa6

Thomè.44. Intenta recuperar oCailtllo

dcS.Jorgeiíclasaçdeíleiucçeflb.Jo.oíleq.~~T BcrW'

N Dascoufastnais notavtul 4##Bernardo de faria. Pertende o pofto de Te^• ncntc GeneraL Qf.

cCArta.de EiRey Para Gomes Freyre.41 ?)

Carta. Para ElRey do Senado do Pará;

428,Çaena, Sua íituaçaõ. 409.Parta. De Gomes Freyre. 319,Çafo do Norte. Sua dt ic"ripçaõ.

DDIogQ.de Azambuja. Epitome de filas Vif3

tudes,& acço.ns 45" & feq

,

EELREY. D^ftina a Gomes Freyre parao

governo de Peniche.6.1mpede-fe a mer*

cL 7. Encontra a Gomes Freyre em SaU

vaterra.72. Manda paííar Gomes Freyre a

Badajca. 141. Manda agradecer- lhe a deli-

gencia. ij2. S; me que Gomes Frcyre

queyrapaflaraFrançs. 165. QuantoeítU

ma a Gomis Frcyre. 25c?. Faz-lhe mercê da

Ale» yd -iria mor de Sines. 456.ElRey Luiz* XIVM'Traífd.Rccado,que manda

a Gomes Freyre, Si eltimagaó %quedetle

fa7. 60.

%nmtodc Gtoair^^Oppoem-fe afuacley-

li 2 çaõ

foo índiaçaó de Embayxador de França. 40. Prc*;çuraótirar-Ibe o pofto de Tenente Gene-ral. 222.

pmfyxador dç Franca. Eícreve aGomesFrcv*

FC ^»f^«. ForaõfenhQres do Maranhão,

GVjV<r™ Entre os noílbs, «cos^emíc*.360, &feq. Nellas os vencemps. 392.

'Dcfpojos que nos fícaráo.393.

(M^x^ri, Vem áCorte p. 7. entrega-feàp.nzaó 1 i.Cafq que lhe fucadç naçCacho-èyras 15. &feq. Izcnçaorarç, com que íehouve 18.& ig.PaíTaaLisboai^, Embar-enfe m Armada 2jp. Sua devoção emAIi^çançe 29, Enforma a EIRey dos fueceífosda Armada 33. Sentimento que moftra n^morte d -Tua má y 35% Entra úaconfidera-çaõ de tomar eílado^. lie chamado iCorte ; & para que? 58. Gaza com Donaí-uiza.Clara de Menezes 62. Faz voto deca ftidade conjugai 63. Prcpara-fe para ir àÇoíit cia Mina £4. Fruíha-íe a viagem £&^Menta, pr ça de Soldado 75. Impede o{«elo de dou» Fi Jalgqj 89. 8c ftq. Dac-lhe

^ pofto

Vos Côufasmâu nofaveú. %o £Ô pofto de Tenente General 94. ÔC feq.Sua

pbfervancia da difciphna militar % 13. ate

iip.Suajuftip í^atè !^8. Sua humam*<iade 13&Recomendação qqe a Rainha fiz

de feus merecimentos 15?? Manda-o EUJLey ao Maranhão $} 1 /Vcííta à nào em queha de jr

?& o qu,e pella paíla com o Capitão

245. Encontra hum navio de Mouros %fiiChega a Cabo Verde £j$, Perigo em que

fe vè ^f4.Sua piedaçle $57? Chega ao Ma*ranhaóxjS}. Manda prender osfediçiofos

2,85. Manda vir do Pará Rcjigioíos d*

Companhia de Jefus 19^. Reforma os çof-

tumes do Paiz 2,9 1 . D4 num banquete aos

Senadores i93.Sufpende o contrato do E£?

tanpo 198. Dá corita a Eljtey do Eíladq

299. Sentjmen.ro com que a 05nou hum*fentença da morte 306. Raraizençaõ , &caridade 509.Manda defcohrir os portos da

Coftajix &*ety Faz guerra aos Tapuyas

5 1 g. Funda huma Yjlla. ,# huma Igreja de

$4. Senhora que appareceo no mato 33x.

faffa do Maranhão ao Pará 33$. Tempefrtade que fs lhe levanta 341 . que mais lhe.

iuceede na viagem 34a. Chegado a terra,

pompa cç*m que he recebido 348. Huma-nidade com que trata , & emenda os defdy*

tos do Bifpo 35*6. Dcfpede-fe do Eftado

7 çEmbxa:fe para o Reytio 43o.Chega

f02 Índice

a Lisboa 434. Faz-lhe EíRey mércè deGeneral de Artdharia do Revno do AURarve 45-5-, Difetfrrc iohrc o Direyto doCabo do Norte 464. Sonhou que vira oV.PadrcFr. António das Chagas. MorrecmiLisboa 487. Suafepukura ibi. Breveepitome de tua vida» acçoen >& genealogia.488.atèorlm.

1TAcinto de Figncredoí* Governador de Saõ

Thomé. 6f.Júlio de Mello. Capitão no Alentejo. 75%fofeph Pefjanh*. Bág > com Bernardo de Fariam^é de Eívíís 99. Accidentts deftecaíb*ioo.8cfq.

foam relho do faUe. OfTerece-fe para defcobrir

roCcrr^ó.^g.

feronymo de Albuqtterqm Coelho, Conquiíta , 8çri fl>u. a o Maranhão.

1 75-.

jacinto de Moraer, aceyta a viagem do Ma-ranhão 2 18, Leva o lugar de Provedor datazenJ:;.2ç2.

fiamSarayvá. Capitam de Infancaria venceosTapuyas.jzi.

E Mt Lobo da Syha. Noticia,que dá a Go-i-> ,IJLi> *'

>"ty»"cjtReprc^cnta a EIRey a fuaicpofta.6. Ma.

Dás conjas mais notavas. - 503

MMArmhao. Breve noticia defeu deíco*

bnmento 172. &feq. Foyconquifta*

doaosFrancezes. 175. Tomado peíosO-

landezes 181. Retiàô-fe cfa II ha 189. Si*

tuaçao,&deícripçaõda Ilha do Maranhaõí

194.& feq.

fyfmwelde Biquimuo Motim que levanta. zo62Queer-ie oppor ao dekmbarque doGo»;vernador 271, Intenta livrar (€uirmaôdi^

,

cadea 286.Foy prezo 288. Intenta fugir d*Cadea 303.Morre enforcado, & caio qúc re:

fere antes de morrer. %to.

Maneei* az. Nunes. Mimítro da Alçada pirio Maranhão. 239.

Merte defe/trada. De hum homicida.io.&xi<}

oOKàb*. PraÇa de Africa fítíada pejoé

Mouro> 2.3. Determina EIRey íoccor-

rela.lbid.Ltvantaó os Mouros o fitio.2&

Olandez.es, Tomáo o Caftdio de S.Jorge.48JOuvidor Gerai Procedimento ceai que fc

houve. %%S*Veda

5o* índice

PPEdro dé Mello de Cafiro , Acompatlha Ga*

uKsFreyrcaB.dajoz, 143*

RT% h das Amalonas. SeU naícimcttto , &

grandeza 398

VVlfiondéde

Frevre.9

Pontearcada. Vifita a Gomes

pifionde deBarbaceti* Acompanha a GomeiJFreyre a Badajoz. 143.

FINIS LAUS DEO.