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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
BELEZA, MÍDIA E CONSTRUÇÃO DO CORPO EM NARRATIVAS DE CRIANÇAS
Vanessa Paula da Ponte
Resumo: Este artigo é fruto de uma pesquisa de doutorado em andamento, cujo foco recai sobre a
produção da imagem corporal de crianças na faixa etária entre 6 e 12 anos, frequentadoras de salões
de beleza em Brasília. Partindo do princípio de que as crianças são agentes e intérpretes sutis de seus
contextos culturais, são priorizadas as narrativas de meninas e meninos, pertencentes a diferentes
realidades sociais e econômicas, acerca dos processos de construção de sua beleza. Trata-se de um
trabalho etnográfico, com perspectiva socioantropológica da infância, fundamentado nos estudos de
gênero, a partir de uma abordagem interseccional com outros marcadores sociais de diferença, tais
como classe e raça. Neste texto, são apresentados dados da etnografia que vem sendo realizada, os
quais apontam que algumas crianças frequentadoras de salões assistem recorrentemente a vídeos
veiculados no YouTube protagonizados por outras crianças, que produzem o embelezamento de suas
imagens corporais (maquiagem, adornos, cortes de cabelo). A partir da análise dos diálogos das
crianças espectadoras desses vídeos, buscar-se-á refletir, especialmente, sobre como as categorias
corpo e beleza – operadas em tais conteúdos audiovisuais – são por elas manejadas, reverberando nos
processos de produção de suas autoimagens e percepções corporais. Será realizada, portanto, uma
reflexão acerca da relação entre cyberinfância, beleza e construção do corpo.
Palavras-chave: Infância, Construção da imagem corporal, mídia, exigências sociais.
Introdução
Este artigo é fruto de uma pesquisa de doutorado ainda em andamento, cujo foco recai sobre
a produção da imagem corporal de crianças na faixa etária entre 6 e 12 anos, frequentadoras de salões
de beleza na cidade de Brasília. Partindo do princípio de que as crianças são agentes e intérpretes
sutis de seus contextos culturais, priorizo as narrativas de meninas e meninos, pertencentes a
diferentes realidades sociais e econômicas, acerca dos processos de construção de sua beleza. Trata-
se de um trabalho etnográfico, com perspectiva socioantropológica da infância, fundamentado nos
estudos de gênero, a partir de uma abordagem interseccional com outros marcadores sociais de
diferença, tais como classe e raça.1
Neste texto, apresento dados da etnografia que tenho realizado, os quais apontam que algumas
crianças frequentadoras de salões assistem, recorrentemente, a vídeos veiculados no YouTube2,
protagonizados por outras crianças, as quais produzem em frente o embelezamento de suas imagens
corporais (maquiagem, adornos, cortes de cabelo). A partir da análise dos diálogos feitos com
crianças com quem interajo, e que são espectadoras desses vídeos, pretendo refletir, especialmente,
sobre como as categorias corpo e beleza – operadas em tais conteúdos audiovisuais – são por elas
1 Gênero e raça são termos utilizados aqui sem conotações essencialistas. Os trabalhos de Brah (2006), Butler (2001) e
Fanon (2008) têm sido inspiradores para pensá-los de forma socialmente situados. 2 YouTube é um site de compartilhamento de vídeos enviados pelos usuários através da internet.”
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manejadas, reverberando nos processos de produção de suas autoimagens e percepções corporais.
Buscarei empreender, portanto, uma reflexão acerca da relação entre cyberinfância, beleza e
construção do corpo.
Almejo organizar tais reflexões, ainda iniciais, em torno de três tópicos. Primeiramente,
apresentarei ao leitor e à leitora os procedimentos metodológicos e o campo de discussão sobre
infância em que o trabalho etnográfico em curso se situa. Em seguida, abrirei, ainda que
minimamente, as portas dos salões pesquisados, apresentando como observei a presença dos referidos
vídeos nos cotidianos das crianças que frequentam esses estabelecimentos. No último tópico, partilho
uma possível interpretação sobre como as categorias corpo e beleza, operacionalizadas em tais vídeos,
ressoam nos processos de produção das autoimagens das crianças.
Os fios metodológicos e teóricos da pesquisa nos salões
Para realizar plenamente este estudo, vivencio a observação participante realizada em salões
de beleza situados em Brasília, na qual estabeleço uma relação dialógica com as crianças, buscando
compreender – com riqueza de detalhes – os modos como significam esses estabelecimentos em
relação aos processos de produção de suas aparências físicas.3 Fundamento-me, metodologicamente,
nas reflexões de Sarmento (2003), Cohn (2005), Corsaro (2011), autores que ressaltam a importância
da realização de pesquisas socioantropológicas que primem pelo protagonismo dos pontos de vistas
das crianças, valorizando, assim, estudos feitos com elas e não simplesmente sobre elas. Inspirada
em Pires (2007) e Toren (2010), busco abrir mão de uma postura adultocêntrica, e parto do princípio
de que as crianças conseguem se expressar sobre o que lhes concerne. Os posicionamentos
apresentados por elas, em interação com os adultos, são capazes de alargar o entendimento da vida
social em suas amplas dimensões. Neste movimento, busco ouvir atentamente o que meninos e
meninas têm a dizer sobre seus corpos, beleza e gênero. Inspirada nas metodologias de autores que
desenvolveram pesquisas com atores infantis, entre eles Alderson (2005) e Escoura (2012), conduzo
a etnografia com a consciência de que a pesquisa com crianças requer aproximação e conquista de
confiança mútua, tecidas a partir de incontáveis trocas.
É importante destacar, que o presente trabalho almeja estar em sintonia com uma agenda
teórica e metodológica de estudos com crianças, produzidos de forma interdisciplinar, desde o final
dos anos 80; insere-se ainda na esteira do avanço dos estudos feministas, a qual reconhece meninas e
meninos como sujeitos históricos ativos na construção da realidade social, como seres criadores de
3 Apresento reflexões iniciais da pesquisa de doutorado desenvolvida no curso de Ciências Sociais da Unicamp.
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conhecimentos e saberes. Tal agenda, diga-se de passagem, contraria um longo período das ciências
sociais brasileiras, no qual as pesquisas “silenciaram ou simplesmente ignoraram as vozes das
crianças. Mesmo quando elas apareciam, era em geral, como ‘adereço’ no universo do adulto (PIRES;
SARAIVA, 2016, p. 165). “Até bem pouco tempo, a Psicologia e a Educação eram as principais áreas
encarregadas em compreender as dinâmicas do universo das crianças, vistas muitas vezes na condição
de ‘tábula rasa’; seres humanos em desenvolvimento; reprodutores de padrões culturais” (PIRES;
SARAIVA, 2016, p.165). Na pesquisa em curso, além de romper com tais abordagens, tenciono me
afastar também de ideias universalizantes e genéricas que giram em torno da noção de criança, a qual
é entendida aqui “simultaneamente como categoria social, do tipo geracional, e um grupo social de
sujeitos ativos que interpretam e agem no mundo” (SARMENTO, 2007, p. 37)
Com esta consciência, procuro desenvolver formas colaborativas de construção do
conhecimento. Assim, nas visitas sistemáticas que tenho feito aos salões, procuro sempre interagir de
forma descontraída com as crianças. Participo de suas brincadeiras; aprecio seus desenhos; escuto o
que têm a dizer sobre os filmes e programas a que assistem durante o atendimento. Foi justamente
nesta dinâmica que encontrei os vídeos que constituem a pauta central deste texto, e que serão
abordados mais à frente. Além disso, busco garantir a elas o direito de decidir participar ou não da
pesquisa, e procuro deixá-las sempre à vontade para que esclareçam dúvidas sobre as etapas do
estudo, e para que manifestem suas opiniões sobre a minha postura como pesquisadora. Da mesma
forma, indago sempre se autorizam ou não o uso de seus depoimentos e fotografias. Com essas
posturas e posicionamentos, “o meu desejo não é tornar-me nativa, mas, sim, ser assimilada pelas
crianças como uma adulta diferente. Uma adulta que interage com elas, seja brincando, seja
conversando, seja discutindo” (PIRES, 2007, p.4). Ressalto que priorizo, em todos os momentos da
investigação, a preocupação ética – extremamente necessária em trabalhos que envolvem os atores
infantis (KRAMER, 2002).
Para o desenvolvimento do objetivo deste texto, além de movimentar os procedimentos
metodológicos supracitados, próprios da etnografia e da observação participante, também foi preciso
recorrer a trabalhos que oferecessem um suporte para compreender as interações e experiências das
crianças com a internet. Neste sentido, ancoro-me no trabalho de Girardello (2005) que chama
atenção para a “a explosão do mundo digital ” e a sua forte incidência nas vidas de meninos e meninas
de diferentes segmentos sociais. Uma pesquisa realizada pela autora com 2.000 crianças de primeira
série em sua região revelou o seguinte dado: “o computador foi apontado por 100% das crianças
entrevistadas na favela mais empobrecida da cidade como mídia favorita mesmo por aquelas que
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nunca tocaram o teclado de um computador” (GIRARDELLO, 2005, p. 1). A autora enfatiza a
importância de atentar para a produção cultural das crianças nos contextos das novas mídias,
compreendendo o que faz destes contextos tão apaixonantes e sedutores para meninos e meninas.
Afirma que a educação que não pensa a mídia é uma educação incompleta.
Para este exercício de reflexão, também terei em mente as ideias Dornelles (2005),
especialmente, quando reflete sobre a cyberinfância, termo que indica o atravessamento das “novas
tecnologias nos cotidianos das crianças”, ou seja, que alude à infância online, completamente
conectada à internet, games, celulares, computadores, tablets. Conforme a autora, por meio do uso
destas possibilidades virtuais interativas, as crianças encontram novas formas de se sociabilizar e se
produzir como sujeitos infantis.
Elaborado esse diálogo inicial, no qual apresentei alguns fios teóricos e metodológicos que
tecem a etnografia, a pesquisa de campo e o olhar sobre a relação de crianças com a internet, abro
agora, ainda que minimamente, as portas de alguns salões que pesquisei e narro como foi o momento
em que percebi a incidência de vídeos do youtube sobre embelezamento nos cotidianos de crianças
com as quais interajo em pesquisa.
Fazendo a cabeça: salões, produtos, serviços e vídeos de embelezamento nos cotidianos das
crianças
Atualmente, o Brasil se destaca como o segundo mercado mundial em serviços, produtos
estéticos e cosméticos voltados ao público infantil.4 Além disso, a presença de salões de beleza nas
diferentes regiões do país tem crescido vertiginosamente. Há uma variedade de estabelecimentos
dedicados a públicos de distintas realidades sociais, poderes aquisitivos e idades. Conforme
levantamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), entre 2010 e
2015, o número de registros no setor de salões de beleza e clínicas estéticas aumentou 567% no país.
Hoje, há cerca de 342 mil salões formalmente registrados no território nacional.
Em Brasília, os salões marcam uma presença significativa no cotidiano da cidade, seja no
Plano Piloto, ou nas Regiões Administrativas. Perpassam o abismo econômico e social da capital, a
qual, por um lado, ostenta a maior renda per capita do país e, por outro, possui 52 mil brasilienses em
situação de extrema pobreza.5 Os salões de beleza estão em toda parte: nas quadras comerciais, nas
4 Dados de 2014 publicados pela Associação Brasileira de Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos
(ABIPHEC, 2014). 5 De acordo com Instituto de Planejamento Econômico Aplicado (IPEA), a desigualdade do DF está acima da média do restante
do país. A análise teve como base dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1988, 1998 e de 2008.
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proximidades das mansões à beira lago, no torvelinho de ruas que se desenham distantes do Eixo.
Monumental.
Nas andanças pela cidade, visitei estabelecimentos focados no público infantil, que mais
parecem verdadeiros parques de diversões, repletos de brinquedos e recursos audiovisuais. Tratam-
se de ambientes climatizados, minuciosamente montados por arquitetos e decoradores, com
equipamentos sofisticados e significativo estoque de produtos de beleza, dentre eles os importados.
Possuem ainda equipes administrativas de limpeza e especializadas em serviços estéticos. Da mesma
forma, frequentei também salões situados em regiões com dificuldades na infraestrutura, localizados
em ruas que sequer foram asfaltadas. Estabelecimentos bem mais modestos, no que diz respeito a
instalações físicas, quantidade de estoque, número de trabalhadores, e cartela de preços. Embora estas
diferenças saltem aos olhos, os serviços oferecidos para crianças possuem relativa semelhança: cortes
de cabelo, alisamento, penteados, unhas decoradas, vendas de adornos, dentre outros serviços.
A pesquisa de campo evidenciou que no cotidiano dos salões há uma nítida imposição de um
determinado padrão estético, o qual valoriza um corpo magro e os cabelos lisos. Há também uma
clara diferença dicotômica de gênero no modo de perceber a beleza corporal. Os gestos que
embelezam6 direcionados às meninas são muito diferentes daqueles direcionados aos meninos. Isso
pode ser observado na própria identidade visual dos locais, nos seus objetos, nos serviços oferecidos
e, de forma especial, nos discursos mobilizados por muitos de seus funcionários e frequentadores.7
As imagens que permeiam as decorações geralmente são de crianças brancas, magras, com cabelos
lisos. As cadeiras de cabelereiro dedicadas às meninas são geralmente tronos de princesas na cor rosa,
ao passo que as cadeiras reservadas aos meninos são em formato de carro. Quando o menino é
chamado para o corte, são comuns frases como: “Vamos ficar bonito pras namoradinhas? ” (assim
mesmo, no plural). Já as meninas ouvem frases do tipo: “Vamos lá, princesa? ”. Expressões como
“corte de homenzinho”, “corte militar”, “cabelo bom”, “cabelo ruim” são recorrentes nos salões.
Também é comum os estabelecimentos – sejam de pequeno ou de grande porte – divulgarem
nas suas redes sociais na internet – como no Facebook, por exemplo – fotos exibindo crianças no
momento da realização dos serviços. As fotos das meninas geralmente são acompanhadas por
legendas como: “Lindo penteado para deixar a sua princesinha mais linda e toda estilosa!” Já nas
fotos dos meninos, são comuns legendas como: “Dia de ajeitar a jubinha” (referência a juba de um
6 Esse termo foi utilizado por Sant’Anna (2000) e indica um conjunto de ações que visam ao embelezamento do corpo,
do rosto, do cabelo. A autora elucida que cada contexto social possui os seus conjuntos de gestos que embelezam que
correspondem seus valores, histórias. 7 Visitei cerca de 20 salões que atendem crianças situados nos diferentes pontos de Brasília. Para este trabalho, trago
apenas algumas cenas pertinentes à três deles: um situado na Asa Norte, outro Asa Sul, e o último Ceilândia.
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leão), “Porque todo menino é um super-herói!” (na foto, aparece o corte do cabelo de um garoto, com
um raio desenhado à máquina, alusão ao personagem Flash8). No site de um dos salões pesquisados,
encontrei a seguinte propaganda: “Salão de Beleza Infantil (especializado em cortes de cabelos de
crianças e bebês), penteados especiais e unhas decoradas. Com muita diversão e responsabilidade
para as princesas e heróis”.
No interior dos salões, é intenso o estímulo ao consumo, seja pela venda de adornos e produtos
de embelezamento, seja com campanhas promocionais, como a promoção “mãe e filha” (a unha da
filha sai mais barata se a mãe também fizer). Há ainda uma promoção especial, realizada no final das
férias escolares, chamada “Astros e Estrelas: voltar às aulas com estilo”. Há, inclusive, alguns
estabelecimentos que promovem festas de aniversário, denominadas “o dia da princesa”. Nelas, a
aniversariante celebra mais um ano de vida ao lado de suas amigas em meio aos serviços do salão
orquestrados pelas profissionais do estabelecimento. As meninas pintam as unhas, fazem maquiagem,
penteados. Toda decoração da festa alude ao universo da beleza (desde o bolo, até as lembrancinhas).
Foi justamente no fluxo de uma dessas festas, ocorrida num salão de classe média situado na
Asa Norte, que Marina, 7 anos, ao assistir um vídeo em seu tablet, chamou-me atenção. Com a
permissão da menina devidamente concedida, vislumbrei, ao seu lado, a tela. Vimos no YouTube
Fernanda Lima, uma garota de 10 anos, dona do canal “Bonecas em ação”, protagonizando o vídeo
intitulado “Um tour pela minha penteadeira.” Fernanda mostrava, em detalhes, as suas maquiagens,
perfumes, cosméticos, adornos e indicava o local para a compra de uma penteadeira semelhante à
sua. Chamou-me atenção a grande quantidade de produtos de embelezamento apresentados, a
propaganda que a menina fazia da loja e o número de visualizações do vídeo.9 Perguntei à Marina se
ela costumava assistir a vídeos parecidos, com que frequência os assistia, e por que se interessava por
eles. De forma entusiasmada, a garota respondeu: “Eu adoro! Assisto sempre. Tem canais que eu amo
de paixão.” A menina começou a me mostrar canais semelhantes, mas como a festa estava mais
atrativa, ela foi vivê-la. Depois, visitei o mesmo canal e assisti a outros vídeos protagonizados pela
jovem youtuber10 Fernanda fazendo alusão à beleza, como por exemplo, “Como cuidar das minhas
unhas” e “Cortando meu cabelo” (este último mostra um dia da menina no salão).
A cena descrita abriu uma porta para as reflexões aqui movimentadas. A partir daquele
momento, permaneci atenta às crianças que portavam aparelho eletrônicos, aos vídeos por elas
8 Personagem criado por Gardner Fox e Harry Lampert, em 1940, para a revista Flash Comics. 9 O vídeo pode ser acessado através do endereço: https://youtu.be/LL708tHD1kI. Até o momento, ele conta com mais de
150 mil visualizações. 10 Termo designado para pessoas que produzem e enviam vídeos para o youtube, mas alcançam uma difusão significativa
destes, com expressivo número de assinantes nos canais, considerados influenciadores digitais.
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assistidos e as suas impressões sobre os mesmos. Vale mencionar, que muitos dos meninos e meninas
pertencentes a famílias com alto poder aquisitivo possuem seus próprios tablets, smartphones e
computadores. Por sua vez, as crianças pertencentes a famílias com recursos financeiros mais
escassos não ficam alheias a estas tecnologias. Utilizam celulares de familiares, frequentam lan
houses e os computadores na escola. Foi Elisa, 9 anos, estudante de escola pública, frequentadora de
um salão de pequeno porte na Ceilândia, no setor habitacional Sol Nascente, região carente de
infraestrutura e saneamento básico, que me mostrou o canal de outra youtuber mirim, Julia Silva.
Nele, há uma seção chamada maquiagens e looks. Entre os vídeos, consta o “Arrume-se comigo, 3
looks”.11 A menina dá dicas de como se arrumar para ir passear, ir a festas com as amigas e ao cinema.
Durante o vídeo, Júlia faz propaganda da loja em que é possível comprar as roupas, sapatos e
acessórios. Elisa fala com encanto sobre a protagonista do canal: “Ela é show! Linda. Muita roupa,
maquiagem, tudo caro.”
Para movimentar os propósitos deste texto acessei, durante 4 meses, com regularidade, o
YouTube. Neste exercício, deparei-me com uma infinidade de vídeos de crianças consideradas
youtubers, inclusive algumas com tenra idade, como Julie, de 4 anos, que apresenta um tutorial de
maquiagem para o parquinho e para o shopping.12 O canal de Julie alcançou um número tão
expressivo de visualizações que a menina acabou aparecendo em jornais e programas de televisão.
Vale mencionar, que a plataforma também conta com vídeos sobre beleza encenados por crianças que
não são necessariamente youtubers, ou seja não possuem um canal com visualizações expressivas. Já
os vídeos protagonizados por meninos tematizam brincadeiras, games, viagens e peripécias. Um bom
exemplo disso é o canal Nick e Nelson, encenado por Nelson Victor, 14 anos, e seu irmão caçula
Nicolas, 5.13 Uma exceção foi o canal de Jake Warden de Denver14, residente do Colorado, que traz
seus tutoriais de maquiagem com um número intenso de visualizações.
Verifiquei que os dados por mim levantados durante o tempo de pesquisa no YouTube estavam
em sintonia com uma pesquisa de grande porte intitulada “Geração YouTube: um mapeamento sobre
o consumo e a produção infantil de vídeos para crianças de zero a 12 anos no Brasil” realizada pela
ESPM Media Lab, entre 2015 e 2016. O estudo aponta que a audiência de canais de youtubers mirins
cresceu quase 6 vezes em um ano no Brasil e o número de visualizações dos canais feitos por crianças
na plataforma teve um aumento de 564%. Outro dado foi o aumento do número de inscritos desses
11 O vídeo pode ser acessado através do endereço: https://youtu.be/G5bV9d1BuVg. 12 O vídeo pode ser acessado através do endereço: https://youtu.be/UFFBv3o8ZaQ. 13 O canal pode ser acessado através do endereço: https://youtu.be/D9_uS16h5wI. 14 O vídeo pode ser acessado através do endereço: https://youtu.be/1TcJ1515P3w.
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canais: 550%.15 Além de mostrar a forte incidência de vídeos realizados e assistidos por crianças, o
estudo mostra como em tais vídeos há o estímulo ao consumo infantil e como o universo da beleza
está presente como um dos temas centrais.
Diante das cenas observadas nos salões, do estudo das cenas vislumbradas nos vídeos e com
o suporte da literatura pesquisada, trago algumas questões norteadoras para reflexão: de que forma as
categorias corpo e beleza são operacionalizadas cotidianamente em tais estabelecimentos e nesses
vídeos? Como as crianças manejam tais categorias? Dialogam? Subvertem? Tensionam? Como isso
reverbera nos processos de produção de suas autoimagens corporais? O que isso revela sobre os
contextos sociais em que estão inseridas? Na próxima seção, procuro lançar luz a essas questões.
Entre salões, espelhos e vídeos: estímulos à beleza no cotidiano das crianças
A pesquisa vem apontando que de forma semelhante ao que ocorre no interior dos salões, o
conteúdo audiovisual encenado pelas crianças nos vídeos aqui pautados apresenta a predominância
de determinado padrão estético, o qual valoriza um corpo magro, os cabelos lisos. Outra similaridade
entre as cenas dos vídeos e as cenas nos salões consiste na diferença dicotômica de gênero nas formas
de pensar as performances corporais de meninos e meninas. Geralmente, as meninas trazem em seus
discursos uma forte centralidade do corpo belo, maquiado em sintonia com moda, o “corpo da
princesa”. Já a beleza dos meninos vem apresentada a partir da figura do herói, das brincadeiras de
ação. Essas ideias correntes acabam naturalizando papéis e funções dos seres humanos, procurando
homogeneizar os comportamentos, os modos de ver, pensar e sentir as corporalidades. Tais ideias
têm um caráter universalizante a respeito do gênero. Desconsiderando, inclusive, as dificuldades que
muitos desses seres sentem ao ter que enquadrar seus corpos em determinados padrão de ser e viver.
O vídeo do garoto de Jake e seu tutorial de maquiagem quebra esse esquema marcadamente binário
e acaba recebendo um arsenal de comentários pejorativos.
Outro ponto que ficou evidente no exercício da pesquisa, tanto na análise das cenas no interior
dos salões, como na análise dos vídeos, é o entendimento da imagem corporal como um elemento
preponderante na definição de quem deve ou não ser admirado. A beleza é vista como uma forma de
alcançar a aceitação social plena. Entendimento respaldado por diversas instâncias sociais: indústrias
de cosméticos, medicina estética, mercado da beleza, mídia, e tantas outras que incitam o
empreendimento de um trabalho sistemático na aparência física. Venho refletindo que essa
valorização da beleza gera, por meio de suas nuances, uma acentuada distinção de classe, gênero e
15 Pesquisa disponível em: http://pesquisasmedialab.espm.br/criancas-e-tecnologia/. Acesso em: 06 jul. 2017.
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raça, evidenciando mecanismos de reprodução de desigualdades. O trabalho de Gomes (2002), por
exemplo, é elucidativo nesse sentido, quando aponta que o preconceito capilar recai fortemente sobre
as pessoas negras. Já o estudo de Edmonds (2002, p. 255) explana que: “Se o consumo de produtos e
serviços de beleza torna-se essencial para manter uma aparência considerada ‘normal’, aqueles que
não podem consumi-los suficientemente se tornam cada vez mais marginais.” Por sua vez, Novaes
(2006) mostra como a “tirania da beleza” recaí com maior intensidade no cotidiano de meninas e
mulheres. Desse modo, não basta apontar que nos salões e nos vídeos os corpos de crianças
geralmente são percebidos e produzidos em função de certos critérios estéticos, em que a beleza é
representada como um dever; é preciso refletir que esse dever se dá de forma particular, levando em
consideração fatores como classe, raça, gênero, idade.
Algo que também vem à baila diante do número estrondoso de youtubers mirins e a forte
incidência das presenças desses vídeos nas vidas de meninos e meninas de diferentes classes sociais
é a necessidade de refletirmos sobre a publicidade infantil. Como podemos notar, nos vídeos
elencados, muitas das crianças que os protagonizam acabam se tornando “promotoras de venda”.
Estimulam de forma lúdica hábitos de consumo. Desse modo, é importante atentar para as relações
comerciais que podem existir a partir da produção e recepção de tais vídeos. Tanto as crianças que
encenam os vídeos como aquelas que os apreciam estão submetidas a toda sorte de produtos. Neste
caso, como aponta Dornelles (2005, p. 94), “não se consome apenas o objeto em si, mas tudo aquilo
que ele possa representar para meninos e meninas, status, conforto, desejos e beleza, saber, poder.”
É importante frisar, tal como critica o Instituto Alana16, que há uma ausência de
regulamentação para publicidade infantil no YouTube. A organização aponta os efeitos danosos da
publicidade direcionada às crianças, uma que vez que ela veicula serviços e produtos que aguçam a
vaidade infantil, propagando, assim, a exigência de um tipo físico que não contempla, nem de longe,
os corpos sociais que são física e subjetivamente diversos. Outros tantos estudos também alertam
como os discursos produzidos pela mídia ou pela moda produzem efeitos sobre os corpos e as mentes
das crianças (SAMPAIO, 2000; HAMANN, 2002).17
Algo notório nos vídeos estudados é a presença marcante de produtos estéticos e cosméticos.
O que certamente alimenta o desempenho do mercado da beleza. As linhas de produtos de beleza
exclusivos para crianças cresceram mais de 40% em dois anos (ABIPHEC, 2015). Por traz desta
16 Ver: http://alana.org.br/. 17 A Constituição Federal, pelo ECA, pelo Código de Defesa do Consumidor e por meio de uma resolução de 2014 do
Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), prima pela proteção da criança diante da
publicidade infantil. A ausência é de uma lei específica que amplie o diálogo sobre o consumo e promova a sua eficácia.
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porcentagem, há uma série de casos de danos à saúde. O uso incorreto de certos cosméticos
desencadeia reação alérgica. O salto alto, por sua vez, é prejudicial à coluna. Já os constantes
alisamentos podem provocar irritações no couro cabeludo. Além disso, há ainda a doença alimentar,
que vem vitimando um crescente número de crianças (FERNANDES, 2007). Essa reflexão nos leva
a questionar uma ideia que há muito vigora em nosso contexto social, isto é, que um corpo bonito é
necessariamente um corpo saudável. A centralidade que a aparência física assume nas vidas dos
sujeitos sociais pode, em alguns casos, prejudicar o seu bem-estar físico, emocional e social,
sobretudo quando eles acreditam não estar de acordo com o padrão estético vigente. Faz-se importante
refletir sobre os possíveis riscos que o consumo exacerbado de produtos divulgados nos vídeos aqui
estudados pode ocasionar e os danos que podem ser causados à saúde das crianças.
Ciente do uso intensivo de cosméticos pelas crianças, a Anvisa18 determinou normas para a
adequação do comércio desses tipos de produtos. Dentre as normas, foi estabelecida a faixa etária
para o público infantil, que vai de 0 a 12 anos, para o uso de cada categoria de cosmético. O esmalte
para unhas, por exemplo, só pode ser utilizado por crianças a partir de 5 anos. Crianças com 3 anos
podem usar sombra e batom com a ajuda de um adulto. Depois dos 5 anos, elas mesmas já podem
utilizar os produtos sozinhas. Essas medidas adotadas pela instituição são mais um indício que mostra
a presença cotidiana de cosméticos e práticas de embelezamento nas vidas das crianças. É importante
frisar, nesse sentido, que a intenção aqui não é culpabilizar os familiares e os salões de beleza,
tampouco os vídeos do YouTube pelos usos excessivos de cosméticos ou serviços estéticos pelas
crianças e nem pelas relações que estas estabelecem com seus corpos. Antes disso, procuro refletir
sobre os sentidos do contexto social que orientam ou impõem exigências em torno da beleza que
podem gerar discriminação de corporalidades infantis e prejuízos à saúde física e emocional de
meninas e meninos.
Sobre o modo como as crianças manejam as categorias corpo e beleza operacionalizadas nos
vídeos e nos salões, afirmo que algumas reiteram parâmetros de beleza e critérios normativos de
distinção de gênero. Como por exemplo, uma menina com 5 anos, que se recusa a receber os doces
oferecidos no salão, pois diz estar gorda; outra, com 7 anos, perguntou se havia alguma cirurgia capaz
de retirar suas sardas e assiste tutoriais de maquiagem com tal intento; vi uma garotinha, de apenas 3
anos, entusiasmada por ter abandonado a chupeta em troca de seu primeiro batom; outra garota, com
18 Ver resolução RDC Nº 15, de 24 de abril de 2015, estabelecida pela Anvisa, que estipula requisitos para o uso de
cosmético infantis no Brasil. Disponível em:
http://pesquisa.in.gov.br/imprensa/jsp/visualiza/index.jsp?jornal=1&pagina=47&data=27/04/2015. Acesso em: 28 de
maio de 2017.
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Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
8 anos, só saía de casa com maquiagem na bolsa e, além disso, também demonstra insatisfação com
seus cabelos crespos, querendo-os mais lisos; observei ainda um menino que voltava constantemente
ao salão de beleza para atualizar o cabelo, conforme o corte de seu jogador preferido.
Em contrapartida, também registrei cenas de crianças negociando, deslocando e negando tais
padrões de beleza e as noções rígidas de diferenciação de gênero. Como é o caso de uma menina com
10 anos que se recusou a depilar as pernas, mesmo diante dos apelos da mãe. Uma outra, com 8 anos,
não quis depilar as sobrancelhas, mesmo com a insistência da tia. Presenciei meninas que queriam
manter seus cabelos curtos, e meninos que desejavam manter suas madeixas grandes. Um garoto, com
6 anos, desejava cortar o cabelo na cadeira de princesa. Pude conviver com meninas que apreciam
assistir a vídeos sobre viagens e games e não gostam dos tutoriais de maquiagem.
Vale mencionar, diante dessas cenas, que as negociações entre pais/responsáveis e crianças
são complexas e diferenciadas: às vezes permeadas de conselhos, outras de choros, de
constrangimento, ou risos. Tais cenas evidenciam ainda que o corpo o qual se tenta educar ou
disciplinar nunca é uma massa inerte, “desinformada”, ou, a priori, passiva (Sant’Anna, 2000).
Assim, não podemos dizer, com efeito, que todas as crianças reagem de forma acrítica diante dos
discursos e estímulos presentes nos salões e nos vídeos pautados, nem que existe, entre elas, uma
interpretação homogênea acerca desses apelos. Como defende Louro (2003), os atores infantis não
são meros receptores passivos de processos pedagógicos externos, mas sim agentes que participam
ativamente desse empreendimento.
Apesar dos estímulos presentes nos vídeos e nos salões não indicarem necessariamente uma
domesticação corporal, eles se mostram fortes nos cotidianos de algumas crianças no sentido de
orientarem e incentivarem normatizações de corpo, beleza e gênero. Ao frequentarem os salões e
assistirem aos vídeos, as crianças convivem com práticas e valores anunciados em torno da beleza
física e formas de ser. Elas vão manejando e negociando, reiterando ou desestabilizando esses
aprendizados, ou seja, convivendo de alguma forma com eles em suas trajetórias. Pela análise das
narrativas, depoimentos e cenas, percebi que para muitas crianças, as experiências vividas nos salões
e apreendidas nos vídeos não se encerram no momento em atravessam as portas destes
estabelecimentos ou desligam seus aparelhos eletrônicos. Em muitos casos, elas permanecem
ressoando, refletindo nos modos como percebem suas próprias imagens corporais e de seus pares.
Não podemos responsabilizar aos salões ou aos vídeos o pleno poder de definir as identidades sociais,
mas inspirada em Louro (2016, p. 21), afirmo que eles possuem um efeito pedagógico e que “é preciso
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reconhecer que suas proposições, suas imposições fazem sentido, têm efeitos de verdade, constituem
parte significativa das histórias pessoais.”
Como salienta Sant’Anna (2000, p. 237), “O conhecimento do corpo é por excelência
histórico, relacionado aos receios e sonhos de cada época e grupo social.” Hoje em dia, tal
conhecimento está massivamente difundido na internet. Não é proibindo as crianças de acessar as
tecnologias que uma forma democrática de pensar a educação das corporalidades se concretizará. Isto
ocorrerá, antes, por meio da construção social de estratégias saudáveis para este acesso. No caso do
embelezamento, a cybercultura pode ser uma aliada para questionar padrões rígidos de beleza que,
por vezes, instauram nas pessoas, das mais diferentes idades, um sentimento de insuficiência, de
culpabilidade e de vergonha, e evidenciam mecanismos de reprodução de desigualdades.
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Beauty, media and construction of childhood in children's narratives
Astract: This communication proposal is the result of a doctoral research in progress, whose focus is
on the construction of the body image of children in the age group between 6 and 12 years old,
attended by beauty salons in Brasília. Assuming that the child is a producer of culture (Cohn 2005,
Sarmento 2007), will be prioritized their narratives and discourses on the processes of constructing
their beauty. This is a qualitative work with ethnographic content, based on anthropological theory
of the body. Through the analysis of these narratives, we intend to understand the subjectivities, the
physical and emotional implications regarding the construction of their appearances and, above all,
what this reveals about the social context of which they are part. In the seminar, I intend to present
data from the ethnography that point to the dense circulation in the social networks of videos carried
out by children, producing the embellishment of their body images (makeup, adornments, haircuts).
Such videos have resonated strongly in the research participants as inspirations for the construction
of their physicists. In the proposed communication, I intend to present the experiences of children of
different genres, social classes and races in relation to the content of the videos, fomenting a reflection
about the relation between media\gender\construction of the childhood body.
Keywords: Childhood, Body image construction, media, social requirements.