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Tellus ,  ano 7, n. 13, p. 11-25, out. 2007 Ca m o Grande - MS Concepções indígenas de infância no Brasil Antonella Tassinari Resumo: O artigo utiliza dados recentes de pesquisas antropológicas sobre crianças indígenas para analisar aspectos recorr entes das concep- ções indígenas sobre infância e desenvolvimento infanti l. Ao identificar e analisar cinco desses aspectos recorrentes, o artigo aborda questões que vêm sendo exploradas na etnologia sobre a sociabilidade e o pensamento das populações das Terras Baixas da América do Sul, destacando con- cepções relativas à educação e à re sponsabilidade dos adultos nos cuida- dos com as crianças. Verifica-se que, ao contrário da a visão adultocêntrica do pensamento ocidental, o pensamento indígena coloca as crianças como mediadoras entre categorias cosmológicas de grande rendimento e reco- nhece nelas potencialidades que as permitem ocupar espaços de sujeitos plenos e produtores de sociabilidade. Palavras-chave : Infância; educação; corporalidade. Abstract : The present article uses recent data from anthropological research on indigenous children for analyzing recurring aspects of indigenous conceptions on infancy and child development. On identifying and analyzing five of these recurring aspects, the article approaches questions that are being studied in ethnology on sociability and the thought of the populations in the Low Lands of South America, giving special attention to concepts relative to education and the responsibility of adults in the care of the children. It was verifie d that, contrary to the adult centered vision of western thought, indigenous thought places the children as mediators between cosmological categories of great importance and recognizes in them potentialiti es that permit them to occupy places of full persons and producers of sociability. Key words: Infancy; education; corporality. Doutora em Antropologia Social pela USP, com pós- doutorado na Équipe de Recherches en Ethnologie  Amé rin dié nne na F ran ça. É Professora do Departamen- to de Antropologia da Universidade Federal de Santa Catarina, onde coordena a linha de pesquisa Educação e Infância Indígenas junto ao Núcleo de Estudos sobre Povos Indígenas (NEPI). É autora de vários trabalhos na área de etnologia indígena e educação indígena e, em 2003, publicou o livro No Bom da Festa, pela Edusp. [email protected] 

1 Antonella

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  • Tellus, ano 7, n. 13, p. 11-25, out. 2007Campo Grande - MS

    Concepes indgenas de infncia noBrasil

    Antonella Tassinari

    Resumo: O artigo utiliza dados recentes de pesquisas antropolgicassobre crianas indgenas para analisar aspectos recorrentes das concep-es indgenas sobre infncia e desenvolvimento infantil. Ao identificar eanalisar cinco desses aspectos recorrentes, o artigo aborda questes quevm sendo exploradas na etnologia sobre a sociabilidade e o pensamentodas populaes das Terras Baixas da Amrica do Sul, destacando con-cepes relativas educao e responsabilidade dos adultos nos cuida-dos com as crianas. Verifica-se que, ao contrrio da a viso adultocntricado pensamento ocidental, o pensamento indgena coloca as crianas comomediadoras entre categorias cosmolgicas de grande rendimento e reco-nhece nelas potencialidades que as permitem ocupar espaos de sujeitosplenos e produtores de sociabilidade.Palavras-chave : Infncia; educao; corporalidade.

    Abstract: The present article uses recent data from anthropologicalresearch on indigenous children for analyzing recurring aspects ofindigenous conceptions on infancy and child development. On identifyingand analyzing five of these recurring aspects, the article approachesquestions that are being studied in ethnology on sociability and the thoughtof the populations in the Low Lands of South America, giving specialattention to concepts relative to education and the responsibility of adultsin the care of the children. It was verified that, contrary to the adult centeredvision of western thought, indigenous thought places the children asmediators between cosmological categories of great importance andrecognizes in them potentialities that permit them to occupy places of fullpersons and producers of sociability.Key words: Infancy; education; corporality.

    Doutora em AntropologiaSocial pela USP, com ps-

    doutorado na quipe deRecherches en Ethnologie

    Amrindinne na Frana. Professora do Departamen-

    to de Antropologia daUniversidade Federal de

    Santa Catarina, ondecoordena a linha de

    pesquisa Educao eInfncia Indgenas junto ao

    Ncleo de Estudos sobrePovos Indgenas (NEPI). autora de vrios trabalhos

    na rea de etnologiaindgena e educaoindgena e, em 2003,

    publicou o livro No Bom daFesta, pela Edusp.

    [email protected]

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    A mirada da Antropologia para as crianas indgenas no Brasil muito recente e podemos dizer que, embora as crianas sejam aquelasque mais pacientemente nos acolhem nas aldeias, temos nos dedicadomuito pouco interlocuo com elas. Sobre a juventude indgena, hainda menos informaes e por isso me atenho s reflexes sobre infncia1.Procuro, a seguir, sistematizar dados mais recentes sobre o tema, produzi-dos na ltima dcada, encontrados em poucas publicaes e, principal-mente, em apresentaes em Congressos de Antropologia2.

    Ao fazer uma reviso das etnografias sobre duas populaes ind-genas (Qom e Mby), Enriz, Palcios e Hecht (2007) encontraram pou-qussimas descries das dinmicas cotidianas infantis. Perceberam queessas etnografias se referem s atitudes dos adultos nos cuidados relativos gestao, ao parto e ao recm-nascido e, em seguida, tratam dos ritosde iniciao dos jovens para sua integrao ao mundo adulto. Portanto,entre o nascimento e a vida adulta, h um grande vazio de informaes.Pode-se dizer que esse vazio constante nas etnografias sobre povosindgenas da Amrica do Sul em geral. Segundo Nunes (2005), essa ausn-cia de informaes sobre as crianas decorre do adultocentrismo quemarca o pensamento ocidental, dificuldade que no compartilhadapelas sociedades indgenas, que reconhecem a autonomia e a legitimidadedas falas infantis. Da a importncia de pesquisar o que as crianas indge-nas tm a dizer e as maneiras como as vrias sociedades indgenas conce-bem a infncia. A autora considera que os estudos sobre infncia indgenatm um impacto importante para os trabalhos que vm se desenvolvendodesde os anos 1990 na Antropologia da Infncia, fazendo-os sair doprprio umbigo, ou seja, da tendncia em girar em torno do problemaurbano e do contexto escolar.

    Afora alguns trabalhos pioneiros (Melatti e Melatti, 1944; Schaden,1945; Mtraux e Dreyfus, 1958) dedicados educao e cuidados comas crianas indgenas, somente na ltima dcada a Antropologia voltasua ateno para estes pequenos interlocutores, a partir de uma aborda-gem atenta s crianas como sujeitos sociais e no apenas como objetospassivos da educao. Os primeiros trabalhos j ressaltavam a autono-mia e a independncia das crianas indgenas, o carinho e a complacnciados adultos em relao s suas atitudes e a ausncia de castigos fsicos.Porm, nossa viso da infncia como um vir-a-ser, no nos permitialevar a srio o tratamento que os indgenas dispensavam s crianas. Aliberdade e autonomia infantis foram muitas vezes interpretadas comoausncia de autoridade dos pais e inexistncia uma de pedagogia nativaou de formas sistematizadas de ensino e aprendizagem.

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    Alm dessa idia bastante difundida de que as crianas gozam degrande liberdade nas aldeias e nunca so punidas ou castigadas pelassuas atitudes, outra idia nada alentadora construda atravs de notciasde prticas como infanticdio de recm-nascidos e raptos de crianasmaiores. Como explicar atitudes aparentemente to antagnicas em rela-o s crianas, da pacincia extrema com as atitudes delas crueldadedo assassinato ou do rapto?

    Para nos aproximarmos dos conceitos nativos de infncia, serimportante manter uma distncia dessas duas imagens, tanto da canduraquanto da crueldade, pois ambas dizem respeito s nossas vises de infn-cia. Ser preciso buscar as formas indgenas de conceber as crianas e osadultos, para poder compreender as relaes estabelecidas entre eles. Aliteratura da ltima dcada que vem focalizando e procurando escutar acriana indgena revela possibilidades de vivenciar a infncia com muitomais independncia e autonomia do que poderamos supor, j que estamosmuito marcados por uma noo de infncia como etapa incompleta davida, dependente da instituio escolar e das atividades dos adultos.

    Alm das duas ressalvas feitas acima, ou seja, o reconhecimentode que so poucos e recentes os estudos sobre infncia indgena e a neces-sidade de manter alguma distncia de nossos preconceitos sobre infnciae dos esteretipos sobre o modo como os indgenas tratam a infncia,ser importante fazer uma terceira ressalva antes de continuarmos: no possvel definir um modo indgena de conceber a infncia, pois encon-tramos em populaes indgenas variadas formas de tratar esse perododa vida. Portanto, as caracterizaes que apresentarei a seguir no podemser generalizadas para qualquer contexto indgena, nem tampouco seremtomadas como critrios de indianidade. So frutos de uma tentativa desistematizar e buscar caractersticas comuns s descries ora disponveissobre infncia indgena, associando-as tambm s certas caracterizaesque vm sendo elaboradas sobre a sociabilidade e o pensamentoamerndios.

    O reconhecimento da autonomia da criana e de sua capacidade dedeciso

    Em geral, quando pensamos na autonomia infantil, sempre a res-tringimos a certas esferas nas quais permitimos que as crianas tomemdecises. As etnografias mostram que as crianas indgenas tm umaliberdade de escolha que nos parece inconcebvel, porque lhes permite

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    tomar decises que afetam diretamente seus pais, familiares ou a comu-nidade.

    Um bom exemplo narrado por Lvi-Strauss sobre sua tentativade negociar um vaso com uma senhora Kadiwu3:

    Querer aquela ndia vender-me este vaso? Por certo que quer. Infeliz-mente, no lhe pertence. Ento a quem pertence? Silncio. Ao mari-do? No. Ao irmo? Tambm no. Ao filho? Nem a estetampouco. Pertence neta. A neta a proprietria inevitvel de todosos objetos que queremos comprar. Olhamos para ela tem trs ouquatro anos, acocorada perto do lume, entretida com o anel que lheenfiei no dedo h alguns instantes. E comeam ento com a meninalongas negociaes nas quais os pais no participam de maneira ne-nhuma. Um anel de 500 ris deixam-na indiferente. Um broche de 400ris decide-a.

    Lvi-Strauss sups que a pea pudesse ser de propriedade de vriaspessoas, todos homens, mas ficou visivelmente constrangido de ter quenegocia-la com uma menina de 4 anos.

    Segundo Flvia Mello (2006), a noo Guarani de infncia difereradicalmente daquela ocidental que considera as crianas como seresem formao. Para os Guarani, h o reconhecimento da autonomia dacriana, que deve ser respeitada. A criana vista como um ser de fato,portador de um esprito que precisa ser cativado para ficar na terra. Acriana que surge carnalmente no ventre materno traz uma essncia devida (ange) que transmitida pelo sangue dos pais e carrega os fentipos.Tambm referida na literatura como uma alma telrica (). Mas hainda o esprito (ee) que transmitido pelos deuses ao feto e que otorna humano. A origem dessa alma divina reconhecida pelos rezadoresno ritual de nominao. H ee novos e antigos: os novos so mais agita-dos, adoecem muito e so mais facilmente capturados por espritosayviradj, levando a criana morte. J os ee antigos so mais cen-trados, circunspectos, no nascem com conhecimentos, mas buscam-nocom mais freqncia e profundidade. desta forma que as atitudes dascrianas so respeitadas e sua autonomia pela busca de conhecimentos reconhecida, havendo esforos dos adultos para que o ee tome gostopela vida e permanea entre ns.

    Clarice Cohn (2000) tambm d exemplos de autonomia infantilentre os Kayap. Na lngua Kayap, mari significa ouvir, fazer sentido,compreender, ensinar e aprender. O processo de aprendizagem Kayapenvolve no s a transmisso de saberes, mas o fortalecimento dos rgossensoriais, ou seja, fabricar os corpos e as pessoas. O processo transcorrecom informalidade e cotidianamente, mas h certas habilidades que s

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    podem ser ensinadas por especialistas em processos mais formais, e soas crianas e jovens que tomam a iniciativa de procura-los. H, portanto,uma autonomia na seleo do que se quer aprender. Segundo a autora,os Kayap dizem que as crianas tudo sabem por que tudo vem. Ouseja, os processos de aprendizagem no retiram as crianas do mundo,ao contrrio, a viso de tudo que possibilita a aprendizagem. Ao mesmotempo, os Kayap dizem que nada sabem porque so crianas, refe-rindo-se ao fato de ainda no terem os rgos desenvolvidos para com-preender tudo.

    Nos dois casos, a criana respeitada como sujeito de sua prpriaeducao. Em recente pesquisa, que realizei com Camila Codonho comas parteiras Galibi-Marworno, percebemos que os alimentos oferecidoss parturientes visam atingir o feto, sendo este o responsvel pelo seunascimento. Assim, a me toma ch de pimenta e mingau para fazer ofeto ficar forte, quente e para ter a fora necessria para nascer. A meno come carne de animais ou peixes que moram em tocas, para que acriana no fique escondida no tero, dentre outros tabus alimentaresque associam caractersticas dos animais situao do parto. Ou seja, obeb reconhecido como sujeito e autor de seu prprio nascimento e aospais cabe alimenta-lo, produzir o seu corpo de forma adequada.

    O reconhecimento de suas diferentes habilidades frente aos adultos

    A liberdade que dada s crianas indgenas parece atrelada a umreconhecimento de suas habilidades de aprendizagem. A concepoKayap de que as crianas tudo sabem porque tudo vem se refere auma situao que no mais compartilhada pelos adultos, que no po-dem circular por todos os espaos da aldeia como as crianas. H espa-os de homens e de mulheres, de famlias prximas e distantes, que nopodem ser percorridos indistintamente, a no ser na infncia. Deixar ascrianas observarem tudo, portanto, parte de uma pedagogia nativa.Cabe aos adultos dar s crianas as condies adequadas de desenvolvi-mento do corpo, especialmente dos rgos sensoriais que dizem respeito aprendizagem: o ouvido e o corao.

    Essa noo vem ao encontro de algumas contribuies recentes daAntropologia da Infncia, especialmente Hirschfeld (2003), que afirmaque as crianas tm uma habilidade cognitiva para a aprendizagem quevai se perdendo com a idade adulta. Isso fica especialmente evidente noaprendizado de lnguas (Jisa, 2003). por isso que as crianas aprendem

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    muito mais do que os adultos lhes ensinam, pela sua habilidade de pro-cessar tudo sua volta: o dito e o no dito, o explcito e o velado, oentendido e o subentendido. Sob este prisma, que os povos indgenasno desconhecem, as crianas so responsveis por sua socializao, namedida em que participam da vida social. Retira-las do convvio social,resguarda-las em espaos infantis que o que fazemos nas escolas,creches, playgrounds, tambm uma forma de retirar das crianas suaautonomia frente prpria educao.

    Camila Codonho (2007) pesquisou crianas Galibi-Marworno edemonstrou que suas atividades cotidianas transcorrem em grupos for-mados por irmos e primos que convivem num mesmo segmento famili-ar. Como a regra habitar junto da famlia da esposa, esses segmentosso formados por um casal mais velho, seus filhos solteiros, suas filhas,genros e netos. Codonho mostra que boa parte da socializao das crianasocorre no interior desses grupinhos, onde os mais velhos ensinam muitashabilidades, tcnicas e conhecimentos aos mais novos. A autora chamoude transmisso horizontal de saberes essa educao realizada entrecrianas, independente dos adultos, que uma outra forma de pensarnas crianas como sujeitos da educao, no apenas escolhendo o quedeseja aprender, mas tambm ensinando as outras crianas.

    O reconhecimento das habilidades infantis e de sua autonomia fren-te educao no tira dos adultos indgenas a responsabilidade por edu-car as crianas e dar-lhes condies de aprendizagem. Em geral, verifica-se um zelo muito intenso e cotidiano com relao educao das crianas.Schaden (1945) descreve a atitude to difundida de produzir objetos emminiatura para que as crianas possam acompanhar os pais na lida coti-diana: mini-arcos e mini-cestos so produzidos para que meninos e me-ninas acompanhem pais e mes em suas atividades e voltem com algumacontribuio prpria para a refeio da famlia. bonito ver como ospais so atentos s etapas de crescimento dos filhos, estimulando-os acolaborar quando so capazes (por exemplo, a carregar um pouco demandioca em sua pequena cestinha), mas no exigindo que faam maisdo que tm condies de oferecer.

    Entre os Karipuna, por exemplo, observei que as crianas trabalhamjunto com os adultos, fazendo pequenos trabalhos de crianas que seintensificam em complexidade e fora conforme vo crescendo. Porm,se tm vontade de fazer outra coisa, as crianas podem deixar o trabalhoinconcluso, coisa que os adultos jamais podem fazer. Num mutiro parafazer farinha, por exemplo, crianas bem pequenas podem auxiliar asmes a descascar mandioca, portando com desenvoltura um grande fa-

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    co. As crianas menores auxiliam carregando gua do poo. J as crian-as maiores, com 9 ou 10 anos, tm responsabilidade de auxiliar os paisa raspar mandioca, a cuidar da farinha no forno, enquanto cabe aosjovens o servio pesado de ralar mandioca. Nesses mutires, somente ascrianas menores podem abandonar o trabalho antes de terminado.

    A educao como produo de corpos saudveis

    Alm de ensinar as habilidades necessrias para os trabalhos coti-dianos, a educao indgena dedica-se especialmente produo de cor-pos saudveis. O tema da fabricao dos corpos tem sido muito explo-rado nos estudos sobre povos indgenas da Amrica do Sul (Seeger et al,1978), reconhecendo que essas populaes associam o ensinamento devalores morais e ticos produo de corpos saudveis e bonitos, median-te a ingesto de alimentos adequados e a prtica de tcnicas corporais.

    A preocupao com a educao parece ser muito mais direcionadaa preparar os corpos para a aprendizagem e a mostrar como se fazemcertas coisas do que falar a respeito delas. Por isso, h muito pouco recurso palavra, o que no deve ser confundido com um mero aprender fa-zendo no-sistematizado. Assim, encontramos listas enormes de ali-mentos que devem ser ingeridos em certas fases da vida ou em certascircunstncias e alimentos proibidos para estes momentos. Essa pareceser a esfera na qual as crianas no tm liberdade de escolha, e se deixamlevar pelas prescries dos adultos. Tambm quando so submetidas acertas tcnicas que provocam dor ou exigem esforo, costumam aceita-las com resignao, como as escarificaes que os Kayap fazem nascrianas agitadas para verterem sangue e se acalmarem, ou as atividadesexaustivas que os homens impem aos jovens Xavante que habitam acasa dos solteiros, para desenvolverem corpos belos e saudveis, e apren-derem coisas importantes vida adulta, como sonhar adequadamente(Maybury-Lewis, 1984).

    Sendo assim, fica evidente que os cuidados com a educao dascrianas so os mesmos que visam a sua sade e bem estar. H o entendi-mento de que a educao de pessoas ntegras e moralmente corretas de-pende da produo de corpos saudveis e belos, bem desenvolvidos eornamentados. Montardo (2003) explica que a palavra guaraniumuatir, que pode ser traduzida por afinar, consertar, adequar usada para se referir afinao de um instrumento ou do coral, mastambm se refere ao que acontece com o corpo nos rituais. Ou seja, a

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    correta produo do corpo, sua afinao, depende tambm da parti-cipao adequada nos rituais.

    Etnografias que abordam noes indgenas de sade e doena vmmostrando que recorrente a noo de que as doenas ou a morte soprovocadas por atitudes predatrias de entidades csmicas contra oshumanos. Os Piaroa, por exemplo, consideram a doena como um proces-so de ser devorado (Overing, 1975). Os causadores das doenas podemser espritos de mortos, entidades relacionadas aos animais caados ou aambientes percorridos, seres sobrenaturais, manipulados ou no porhumanos com habilidades de feiticeiros. As crianas seriam o alvo maisfrgil dessa atitude predatria, pois se acredita que seus espritos aindano estejam bem presos ou fixos no corpo, e por isso demandammuita ateno e cuidado, pois podem ser mais facilmente capturadospelos espritos. com esse intuito que os Kayap evitam ao mximo queas crianas chorem, pois o choro afastaria o esprito de seu corpo, e como mesmo objetivo fazem as escarificaes, para verter o sangue, acalmara criana e permitir que o esprito volte a habitar o corpo (Cohn, 2000).

    A noo indgena de educao, portanto, no se dirige apenas transmisso de idias, conhecimentos, tcnicas e valores, mas reconheceque aquilo que se sabe incorporado, toma assento no corpo, e estedeve ser adequadamente produzido para receber os conhecimentos. Se-gundo Limulja (2007), entre os Kaingang, a produo correta dos cor-pos se inicia com os primeiros cuidados com o recm-nascido e o destinodado placenta. Por isso, muitos problemas que este povo enfrenta atual-mente vm sendo atribudos por eles ao impedimento de seguir essasantigas tcnicas nos partos realizados em hospitais.

    O papel da criana como mediadora de diversas entidades csmicas

    As etnografias tm dado exemplos de que as crianas, especial-mente as mais pequenas, so importantes mediadoras das vrias esferascosmolgicas, por no estarem totalmente assimiladas categoria hu-mana. Embora sejam consideradas e respeitadas como seres completos,em alguns casos, como entre os Guarani, ressalta-se sua proximidadecom os deuses. Em outros casos, ressalta-se sua semelhana aos animais,numa concepo muito difundida de que os animais so tambm gente,embora de uma qualidade corprea diferente da nossa, que os fazem terseus prprios pontos de vista.

    Refiro-me a teorias recentes da etnologia que tm explorado umacaracterstica do pensamento amerndio definida por perspectivismo

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    (Viveiros de Castro, 1996), em alternativa s antigas definies do pen-samento indgena como animista. Segundo Viveiros de Castro, no setrata apenas de pensar que todos os seres tm alma, mas de concebero cosmos como habitado por vrias categorias de seres, cada qual comum ponto de vista prprio. Assim, ns humanos nos vemos como gen-te, o que nos permite caar e consumir macacos e queixadas, mas tam-bm sermos caados por onas. Estes animais, por seu turno, tambm sevem como gente e, desse outro ponto de vista, nos vem como onas(se so caados por ns) ou como macacos ou queixadas (se nos caam).Dessa maneira, o cosmos pensado num constante movimento depredao e consumo, no qual se engajam seres de diferentes pontos devista, que dependem uns dos outros: humanos, animais, deuses. Omovimento complementar predao vem sendo caracterizado comoproduo (Overing, 1991), referindo-se aos cuidados com a constru-o dos corpos, como vimos acima, atravs da alimentao correta, daornamentao e das tcnicas corporais.

    Nessa economia nativa de produo e predao, as crianas ocu-pam um lugar central, sendo as mediadoras entre as vrias categoriascosmolgicas. Entre mortos e vivos, entre deuses, animais e humanos, huma relao agonstica constante marcada pela possibilidade da captu-ra das crianas do outro. Tudo se passa como se cada categoria csmicabuscasse, atravs das crianas, fazer valer seu ponto de vista. A esserespeito, bastante ilustrativa a idia Guarani de que as crianas precisamser convencidas a ficar neste mundo, ou seja, o investimento nas crianas tambm uma forma de captura-las dos deuses. Esse investimentodepende de convencer o ee a habitar seu corpo.

    Myriam Alvarez (2004) tambm observou que a criana na socie-dade Maxakali mediadora das relaes entre segmentos aliados e tam-bm entre vivos e mortos. Nos rituais de iniciao, h uma encenaoem que crianas j falecidas, representadas por outras crianas ornamen-tadas, so recebidas por suas mes, sendo o foco da dramatizao ritual.A autora ressalta que a iniciao dos jovens s pode se dar por intermdioritual dessas crianas falecidas.

    Em alguns casos, como entre os Kadiwu, a captura de crianas tambm uma prtica recorrente, no apenas simblica, mas efetiva.Lecznieski (2005) props pensarmos nessa atitude em relao s crianasdentro da lgica Kadiwu em detrimento da lgica ocidental: no casoKadiwu, a predao no diz respeito destruio. A autora mostrou apresena constante do tema do rapto das crianas na mitologia, na vidadiria e na histria (em que ficaram famosas as expedies guerreiras e

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    os raptos de crianas das localidades vizinhas) e sugeriu que, para osKadiwu, criar crianas raptadas de outros inimigos, estrangeiros,afins , um movimento de aproximao desta alteridade para a vidadomstica. Como vimos, no pensamento amerndio, o que visto comopredao de um ponto de vista, pode ser visto como produo deoutro ponto de vista. Os Kadiwu desejam capturar crianas de ou-tros para cuidar delas e familiariza-las a si. Por outro lado, como obser-va a autora, se uma criana Kadiwu cativada por outro, s restadesejar que ela seja bem cuidada em sua nova morada.

    O papel da criana como mediadora dos diversos grupos sociais

    Os cuidados com as crianas, a sua correta produo, realizadanum espao familiar, entre aqueles que convivem juntos, partilham ali-mentos e substncias corporais. Nessa esfera familiar, as crianas soeducadas e seus corpos so produzidos. Mas, apesar do ideal de iden-tidade, essa esfera familiar s pode existir a partir da combinao deseres diferentes socialmente, pois no se pode casar entre os mesmos(aqueles considerados consangneos), mas deve-se casar com os outros(afins). Isso nos remete a outra idia bastante explorada no pensamentoamerndio que a oposio complementar entre ns e outros. Essaoposio, como vimos acima, pode ser pensada em relao aos serescosmolgicos, mas tambm em relao prpria sociedade. essa dife-rena que permite o prprio parentesco, que visto como um balanoentre ns e outros.

    Joanna Overing (2002) compara algumas estruturas de sociabili-dade indgenas e mostra que, para certas populaes, como as do BrasilCentral, a oposio entre ns/outros tematizada no interior da socie-dade, entre segmentos que se opem ritualmente e/ou que regulam oscasamentos. Desta forma, a sociedade se divide entre parentes/noparentes ou consanguneos/afins ou com quem posso casar/comquem no posso casar, ou da minha metade/da outra metade. Paraoutras populaes, com as amaznicas, essa oposio obliterada nointerior do grupo social, e reforada em relao ao exterior: os estrangei-ros, os inimigos, os mortos, os deuses. Dessa forma, a vida social divididaentre aqueles com quem convivo/aqueles com quem no convivo,aqueles com quem troco/aqueles com quem no fao trocas. Segundoa autora, essas duas variaes partem de uma mesma maneira de conce-ber o outro o diferente, seja social ou csmico, como potencialmente

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    perigoso. A forma de lidar com essa diferena, com o perigo da alteridade, procurar cativa-la, aproxima-la, traze-la para o grupo familiar. Trans-formar o outro em ns parece ser o grande investimento das socie-dades indgenas, aliado ao movimento complementar de transformar-nos em outros.

    Os trabalhos de Alvarez (2004), Lecznieski (2005) e Mello (2006)mostram que as crianas so importantes mediadores e ocupam lugarcentral nesses processos, apontando para a urgncia de repensarmosessas comparaes sobre a sociabilidade indgena tendo em conta o lugarocupado pelas crianas. Podemos dizer que as formas amerndias detransformar o outro em ns dizem respeito aos cuidados com crian-as, pois toda criana traz a marca da alteridade, como vimos, sendoassociadas com os deuses, animais ou com os outros segmentos sociais.

    Por isso, as difceis relaes com os afins so sempre mediadas pelascrianas. Segundo Alvarez (2004), para falar com um afim com quem setem uma relao de vergonha, especialmente os sogros, os Maxakaliassumem a voz de seus filhos, e falam com os sogros como se fossem osfilhos falando com os avs. Cohn (2000) descreve situaes em que ascrianas Kayap levam e trazem recados dos diferentes grupos domsti-cos que cotidianamente no se relacionam entre si. Tambm os Piaroausam recursos de tecnonmia para se dirigir aos afins, remetendo-se scrianas como mediadoras: como consideram indelicado dirigir-se medo marido com o termo correspondente a sogra, chamam-na de avdo meu filho, o que muito mais gentil (Overing, 1975).

    Em vrios casos, a prpria insero social dos adultos se d porintermdio das crianas. Como vimos, no caso Maxakali, da iniciao dejovens na vida adulta pela mediao simblica e ritual das crianas fale-cidas. Entre os Kayap (Vidal, 1977), homens e mulheres mudam destatus quando tm o primeiro filho ou o primeiro neto, participando dediferentes categorias de idade. Com o nascimento do primeiro filho, oshomens passam participar de forma plena nas reunies do conselho doshomens e, com o primeiro neto, atingem a categoria mais respeitvel dossniores. Entre os Xavante (Maybury-Lewis, 1984), os filhos represen-tam o aumento da faco poltica paterna, ampliando tambm seu poderno conselho dos homens. Dessa maneira, v-se os pais carregarem commuito orgulho seus filhos no colo, pois com eles tambm ostentam seuprprio status.

    Finalmente, h situaes de contato com os no-ndios em que ascrianas indgenas ocupam uma importante posio de mediadoras. Ao

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    estudar o cotidiano das crianas Guarani da aldeia MBiguau em SantaCatarina, Oliveira (2004) percebeu que elas estavam no centro de umapoltica de estabelecimento de contato controlado com os no-ndios,atravs de sua participao nas atividades escolares, na casa de rezas eno coral infantil. Nas apresentaes do coral, por exemplo, as crianasso consideradas como sondaro (corruptela de soldado, tambmtraduzida como guerreiras, aquelas que vo na frente), numa pol-tica de divulgar a cultura guarani para os no-ndios. Tambm entre osPatax de Coroa Vermelha, na Bahia, Miranda (2005) analisou o papelpreponderante das crianas indgenas no estabelecimento de relaescom os no-ndios. Trata-se de uma situao de extrema exposio fren-te aos turistas que visitam o Museu e o Shopping Indgena de CoroaVermelha. As crianas parecem ter muito mais desenvoltura que os adul-tos para comercializar com os no-ndios e impressiona-los com aspec-tos de suas culturas. Nesses casos, as crianas so mediadoras das rela-es entre ndios e no-ndios, ali colocadas estrategicamente pelos adul-tos, por reconhecerem suas habilidades para lidar com essas situaes.

    A guisa de concluso...

    Gostaria de encerrar retomando o que foi apresentado acima. Deincio, fiz trs ressalvas para que possamos tratar com respeito e respon-sabilidade as concepes indgenas de infncia: a) reconhecimento deque ainda temos poucos dados etnogrficos; b) necessidade de deixar delado nossa viso de infncia e os esteretipos sobre a candura ou a cruel-dade indgenas; c) reconhecimento da diversidade scio-cultural indge-na e do carter provisrio das generalizaes. Em seguida, explorei cincoaspectos que parecem recorrentes nas concepes indgenas sobre a in-fncia: 1) o reconhecimento da autonomia da criana e de sua capacida-de de deciso; 2) o reconhecimento de suas diferentes habilidades frenteaos adultos; 3) a educao como produo de corpos saudveis, 4) opapel da criana como mediadora de diversas entidades csmicas; 5) opapel da criana como mediadora dos diversos grupos sociais. Ao tratardesses aspectos, abordei algumas questes que vm sendo exploradas naetnologia sobre a sociabilidade e o pensamento das populaes das Ter-ras Baixas da Amrica do Sul, destacando concepes relativas educa-o e responsabilidade dos adultos nos cuidados com as crianas.

    Verificamos que, ao contrrio da viso adultocntrica do pensa-mento ocidental, o pensamento indgena coloca as crianas como media-

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    doras entre categorias cosmolgicas de grande rendimento: mortos/vi-vos, homens/mulheres, afins/consangneos, ns/outros, predao/produo. Igualmente, ao contrrio de nossa prtica social que exclui ascrianas das esferas decisrias, as crianas indgenas so elementos-chavena socializao e na interao de grupos sociais e os adultos reconhecemnelas potencialidades que as permitem ocupar espaos de sujeitos plenose produtores de sociabilidade.

    Ainda que todas essas concepes sejam muito estranhas para ns,acredito que tenham muito a nos ensinar.

    Notas1 Este texto foi originalmente escrito para ser apresentado na 156 Assemblia Ordi-nria do CONANDA, como parte da Mesa A Realidade das Crianas e Adolescen-tes Indgenas no Brasil, ocorrida em 3 de outubro de 2007, em Campo Grande/MS. Agradeo a Benedito dos Santos pelo convite para elaborar o texto. OCONANDA Conselho Nacional dos Direitos da Criana e do Adolescente , estprevisto na Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 Estatuto da Criana e do Adoles-cente. Foi institudo pela Lei n. 8.242, de 12 de outubro de 1991 e atualmente estvinculado administrativamente Secretaria Especial de Direitos Humanos, rgoda Presidncia da Repblica.2 Refiro-me s seguintes fontes: as dissertaes de Nunes (1997), Cohn (2000), Oli-veira (2004), Codonho (2007), Limulja (2007); a tese de Lecznieski (2005); a colet-nea organizada por Lopes da Silva & Nunes (2002); o artigo de Alvarez (2004); ostrabalhos apresentados durante a VI Reunio de Antropologia do Mercosul, em2005, em Montevidu (no GT Infncia Indgena: Perspectivas e Desafios Educacio-nais coordenado por Angela Nunes e Antonella Tassinari), na XXV Reunio Bra-sileira de Antropologia, em 2006, em Goinia (no GT Por uma Antropologia daInfncia coordenado por ngela Nunes e Benedito dos Santos e no SeminrioInfncia coordenado por Antonella Tassinari) e na VII Reunio de Antropologiado Mercosul, em 2007, em Porto Alegre (no GT Educao Indgena, coordenadopor Antonella Tassinari, Stella Garca e Mariana Paladino); os trabalhos desenvol-vidos e discutidos no Projeto de Pesquisa Educao e Infncia Indgenas, coordena-do por Antonella Tassinari no NEPI/UFSC e financiado pelo CNPq.3 Texto publicado em Tristes Trpicos, retomado por Lecznieski (2005) para pensarna infncia entre os Kadiwu.

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    Recebido em 03 de setembro de 2007.Aprovado para publicao em 12 de setembro de 2007.