1 FINLEY, M. a Politica No Mundo Antigo

8/11/2019 1 FINLEY, M. a Politica No Mundo Antigo

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MOSES L FINLEY

POLÍTICA

NO

MUNDO ANTIGO

Título original: Politics in the Ancient World

© Cambridge University Press, 1983

Tradução: Gabinete Editorial de Edições 70

Capa de Edições 70

Todos os direitos reservados para língua portuguesapor Edições 70, Lda.

Depósito legal n° 108942/97

ISBN: 972-44-0942-2

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edições 7O



PREFACIO

Para JOHNDUNN Este livro foi elaborado à volta de quatro Wiles Lectures

que tive a honra de apresentar na «Queen's University», Belfast,em Maio de 1980. Quatro capítulos constituem versões revistasdessas mesmas conferências, enquanto que os capítulos 2 e 6foram escritos mais tarde e publicados pela primeira vez sobforma mais reduzida como trabalho em memória de J. C.Jacobsen da Real Academia Dinamarquesa de Ciências e Letras(publicados nos começos de 1982 no Me ddel el ser daAcademia).

A palavra inglesa 'politics' tem um alcance semântico quedifere um pouco do dos seus sinônimos noutras línguas ociden-tais. Por um lado, 'politics' não se emprega normalmente, nosentido em que se utiliza 'policy'; por outro, engloba implica-ções resultantes das maneiras, informais e formais, como a

governação é conduzida, como se tomam as decisões governa-mentais e a ideologia atinente. A política (politics) neste sentidoé o que constitui, essencialmente o meu tema de estudo.

Não tenho conhecimento de que, sob a forma de livro,tenham surgido estudos sobre este assunto, do qual me ocupei ede que publiquei alguns artigos ao longo dos últimos vinte anos.Considerando que não é fácil discutir a Grécia e Roma com-parativamente, não hesitei em recorrer aos conhecimentos e aopensamento de amigos e colegas. Para todos eles vai o meu

caloroso agradecimento, embora só nomeie aqueles que leram ecomentaram as provas deste livro: Tony Andrewes, Peter Brunt,



PREFACIO

John Dunn, Peter Garnsey, Wilfried Nippel e Dick Whittaker.Outros agradecimentos, são devidos aos colegas, na maioria deBelfast, historiadores e estudiosos de política, alguns especialis-tas em história antiga que, como é costume nas Wiles, foram

convidados a participar, todas as tardes, na discussão abertasobre a conferência do dia. E muitos mais colegas aderiram àcalorosa hospitalidade que marcou esse acontecimento, condu-zido pelo Vice-Chanceler, Dr. Peter Froggatt, e pelos represen-tantes da Associação Wiles, os Professores Alan Astin e DavidHarkness.

Finalmente, minha esposa deu mostras da sua incansávelpaciência enquanto eu tinha em mãos outro trabalho.

Capítulo um

ESTADO, CLASSE E PODER

Colégio Darwin, CambridgeSetembro de 1982

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M. I. F. No terceiro livro da Política (1279b6-40), Aristótelesescreveu: «A tirania é o governo de um só homem em benefíciodo governante, a oligarquia em benefício do rico, a democraciaem benefício do pobre». E prossegue para precisar a definição:«Para a oligarquia e para a democracia, não é essencial que pou-cos ou muitos governem, porque, em toda a parte, os ricos sãopoucos e os pobres muitos... A verdadeira diferença entredemocracia e oligarquia é a pobreza e a prosperidade».

Mais tarde, já no séc. XIX, no seu óptimo comentário àPolítica, W.L. Newman observou que Aristóteles dava aí explí-cito reconhecimento de uma verdade importante, pois que amoderna e prevalecente teoria do contrato social do Estadoobscurece a nossa aceitação do facto que Aristóteles havia assi-nalado muito antes: que a constituição de um Estado tem assuas raizes naquilo que os modernos chamam o seu sistemasocial('). Precisando melhor, Aristóteles deu expressão sistemá-tica a uma noção comum, mas ainda muito indeterminada, queera largamente (ou até universalmente) partilhada pelos Gregosclássicos. Esta noção impregna a literatura, tanto a dos poetas,historiadores e panfletários como a dos filósofos políticos;desde a queixa mordaz de Hesíodo contra os soberanos «devo-radores de presentes» e seus trapaceiros julgamentos, passandopelo alarde do reformador Sólon («mantive-me firme, a ambos[ricos e pobres] protegendo com um forte escudo, a nenhumpermitindo que triunfasse, injustamente, sobre o outro»), até à

reiterada insistência de Platão em como, mesmo antes desse 11

























































Capítulo três

A POLÍTICA

Numa história muito repetida, Plutarco diz como, em certaxasião em Atenas, quando se procedia à votação para se des-terrar alguém, um rústico analfabeto se aproximou de umlomem e lhe pediu que por ele escrevesse no seu caco de loiçanome de Aristides. O homem perguntou-lhe que mal Aristideslhe fizera, e recebeu como resposta: «Nenhum. Eu nem sequer o

conheço, mas já estou farto de ouvir chamarem-lhe 'o Justo' portodo o lado». Pelo que Aristides, já que era ele o homem solici-tado, escreveu devidamente o próprio nome como lhe forapedido (Aristides 7.6). Um conto edificante, mas o meu inte-resse centra-se no gosto que os historiadores manifestam emuceitá-lo como verídico, dele retirando amplas conclusõesiuvrca de Aristides, acerca do ostracismo e da democracia ate-niense. Alguns têm dúvidas quanto à imagem dos chefes políti-cos atenienses como nobres cavalheiros não dispostos a man-

rhar-se com tão baixas formas de comportamento comosolicitar votos a camponeses e comerciantes (só os bons chefes•olíiicos, é desnecessário acrescentar, e não demagogos comoHéon). Os cépticos obtiveram recentemente uma vitória inespe-rada. Escavações efectuadas desde a última guerra revelaram,sobretudo na área da olaria, mais de onze mil óstracos comnomes inscritosO). A maioria fora obviamente deitada fora aiir ao fim de um ou outro processo de ostracismo. Porém, milote de cento e noventa, encontrados na vertente oeste da

Auópole, ostentavam o nome de Temístocles, escrito por>i-i|ueno número de caligrafias diferentes, claramente prepara-

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Capítulo cinco



p

PROBLEMAS E CONFLITOS POLÍTICOS

Os políticos profissionais, seja no mundo antigogreco--romano seja no contemporâneo, formam, em termosquantitativos, uma insignificante minoria no conjuntodos cidadãos. A política é para eles um modo de vida, aindaque acreditem ou pelo menos queiram acreditar que o seupapel é o de promover o bem da sociedade onde operam;por outras palavras, isto quer dizer que a política constituiuma actividade secundária tendo por fim atingir objectivosque não são políticos em si mesmo. Para todos os demais, apolítica é apenas um meio: os objectivos são o que contamem última análise. Ao dizer isto, não afirmo que não nossatisfaça ou divirta a excitação provocada por umacampanha eleitoral ou por uma renhida contendalegislativa; ou que as eleições ao estilo romano, com os seusnumerosos jogos e comezainas, não proporcionassem

ganhos imediatos e tangíveis, desligados de programas oude planos de actuação. Nem sugiro tão-pouco que a massados cidadãos tivesse em mente objectivos claro e definidosou que fosse menos apta que a sua homóloga actual paradefender pontos de vista mutuamente contraditórios.Limito-me a exprimir o lugar-comum de que os votantesnas eleições ou nas Assembléias não separavam as per-sonalidades dos objectivos, acreditando que, de uma formaou de outra, estes últimos eram suficientementeimportantes para, de certo modo, justificar a suaparticipação na política(').

Ainda assim, por muito óbvia que pareça, esta análisetem sido contestada por quem se dedica à história daAntigüidade a





















































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