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O Papel do Ministério de Louvor na Igreja Marco Antonio Faria 1 Resumo Refletir sobre o papel do ministério de louvor é refletir sobre sua finalidade, seu propósito, sobre a comunidade, sobre a identidade do ministro de louvor e sobre a própria definição de ministério. Nesse artigo, pretendo caminhar numa reflexão apartir da noção de Adoração como submissão total ao Senhor e de louvor como Reconhecimento do Senhorio e Poder, e Soberania de Deus em todas coisas e todos os lugares; Palavras-chaves: louvor, adoração, ministério, serviço, identidade, comunidade; INTRODUÇÃO: DEFININDO TERMOS BASES Não podemos refletir sobre o papel do ministério de louvor, sem antes refletirmos sobre o termo louvor e adoração. Muitas da definições, vão surgir apartir da noção que esses dois termos trazem em si. Louvor, na tradição bíblica portuguesa, é a melhor palavra encontrada, acredito eu, para traduzir o conjunto de palavras que no hebraico fazem menção a algum ato, seja falado, cantando, ou expressado fisicamente, musicalmente e, até mesmo podemos crer, artisticamente, e que era direcionados para Deus, necessariamente como gratidão pela sua grandeza, seu poder e suas obras. No 1 Marco Antonio Faria é missionário vinculado à Jovens Com Uma Missão (JOCUM) desde 2002, obreiro na base Vila do Louvor em Piratininga/SP servindo na lideraça da Escola de Treinamento para Ministério de Louvor (ETMIL). Poeta, cantor e compositor, vem desenvolvendo seus estudos em Canto Popular no conservatório de Tatuí/SP, graduando em Filosofia pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e bacharelando em Teologia pela Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA).

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O Papel do Ministério de Louvor na Igreja

Marco Antonio Faria1

Resumo

Refletir sobre o papel do ministério de louvor é refletir sobre sua finalidade,

seu propósito, sobre a comunidade, sobre a identidade do ministro de louvor e

sobre a própria definição de ministério. Nesse artigo, pretendo caminhar numa

reflexão apartir da noção de Adoração como submissão total ao Senhor e de louvor

como Reconhecimento do Senhorio e Poder, e Soberania de Deus em todas coisas e

todos os lugares;

Palavras-chaves: louvor, adoração, ministério, serviço, identidade, comunidade;

INTRODUÇÃO: DEFININDO TERMOS BASES

Não podemos refletir sobre o papel do ministério de louvor, sem antes

refletirmos sobre o termo louvor e adoração. Muitas da definições, vão surgir

apartir da noção que esses dois termos trazem em si.

Louvor, na tradição bíblica portuguesa, é a melhor palavra encontrada,

acredito eu, para traduzir o conjunto de palavras que no hebraico fazem menção a

algum ato, seja falado, cantando, ou expressado fisicamente, musicalmente e, até

mesmo podemos crer, artisticamente, e que era direcionados para Deus,

necessariamente como gratidão pela sua grandeza, seu poder e suas obras. No

1 Marco Antonio Faria é missionário vinculado à Jovens Com Uma Missão (JOCUM) desde 2002, obreiro na base Vila do Louvor em Piratininga/SP servindo na lideraça da Escola de Treinamento para Ministério de Louvor (ETMIL). Poeta, cantor e compositor, vem desenvolvendo seus estudos em Canto Popular no conservatório de Tatuí/SP, graduando em Filosofia pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP) e bacharelando em Teologia pela Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA).

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português, a palavra vem carregada de sentidos relacionados à gratidão. Primeiro,

louvor significa literalmente elogio. O conceito de elogio, faz menção direta ao

reconhecimento. Se conhecer é ter noção, saber sobre, ter as informações e a

experiência necessaria, é participar (compartilhar) da realidade de alguém ou algo,

reconhecer (talvez seja) é se encontrar participando (compartilhando) dessa

realidade, ou tornar-se consciente dessa realidade. Quando louvo, trago novamente

à tona toda a realidade que conheço, participo e vivêncio (experimento) com

aquele ou sobre quem estou louvando.

Para louvor, vou ater me ao significado de reconhecimento por se aproximar

da ideia de gratidão.

Adoração, na tradição vetero-testamentaria, frequentemente é usado para

traduzir algumas palavras que fazem menção a reverência, ou atitude de

reverência, tal qual era dedicada aos reis, como prostrar-se, demonstrar devoção e

respeito, e serviço. Já na tradição neotestamentaria, traduz conceitos relacionados

ao prostrar-se, beijar a mão como um cão lambe a mão do dono e serviço. A

concepção de adoração para mim que fica mais tangível na tradição bíblica é a

noção de submissão plena. Nas culturas antigas, onde haviam reis e imperadores,

eles, muitas das vezes, assumiam papéis de divindades diante dos seus súditos. Isso

determinava para seus súditos que o rei tinha o poder de decidir sobre todas as

coisas no reino, e inclusive sobre a própria vida dos seus súditos. Nessa perspectiva,

adoração precisa ganhar uma amplitude dum senhorio que domina sobre minhas

ações, definindo-se como submissão enquanto obediência (eu obedeço as ordens

dele, minhas ações são as ações que ele quer), e também que domina sobre a

minha vida, minha realidade. (eu existo por que existo nele e sou o que por que o

sou nele).

ASPECTOS ESSENCIAIS

Para considerarmos sobre o papel do ministério de louvor faz-se necessário

refletirmos sobre os conceitos de três aspectos que denomino essenciais para a

prática ministerial e o serviço à comunidade. São eles identidade, comunidade e

ministério ou serviço.

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No próprio tema da aula, encontra-se esses conceitos embutidos na frase “O

papel do ministério de louvor na igreja”, onde, o papel é essa identidade buscada;

Ministério, que também quer dizer serviço. E igreja, que é a comunidade dos

santos. Ou uma outra formar de ver essas ideias: o que sou, o que faço e para

quem faço.

Para uma reflexão mais profunda, vamos observar melhor esses aspectos e

seus aprofundamentos.

IDENTIDADE

Quando falamos sobre identidade, logo vem a pergunta “quem eu sou?”, que

com certeza a sua resposta vai nos ajudar a definir melhor o papel desse que serve

a comunidade dos santos. No conceito que tenho considerado de adoração, diz

respeito à submissão ao senhorio de Deus sobre os meus atos, mas também sobre

minha minha vida, em todos os seus aspectos e desdobramentos, e a identidade é

um deles. A identidade é a convicção sobre aquilo que se é e foi criado por Deus,

enquanto obra prima única, com características únicas, com talentos e dons, que

visam especificamente a servir à vocação de Deus para a vida dada na realidade em

que se encontra. A identidade é a submissão total da vida ao senhorio de Deus, de

tal forma que se possa crer que toda a construção que tem envolvido os modos de

se identificar no mundo precisa ser, ou é, coordenada e submetida a Deus e

confiada à sua soberania.

Segundo Henry Nouwen, “nossa vocação se encontra escondida onde estamos

e no que somos. Somos seres humanos únicos, cada qual com um chamado, para,

em vida, perceber aquilo que mais ninguém pode, e percebê-lo num contexto do

aqui e agora.” Em outras palavras, é confiar que somos e temos o que precisamos,

no tempo e no espaço, para realizarmos em nossa vida, cotidiana e imediata,

aquilo que Deus nos chamou para si. Cada ser é capaz de revelar aquilo que apenas

ele é capaz de revelar da parte de Deus para o mundo, a qualquer momento da sua

história.

Em termos mais práticos, é preciso que cada qual que se disponha ao

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ministério na igreja, esteja ciente do seu chamado e vocação para servir àquele

ministério, de acordo com os talentos necessários àquele ministério. Nesse caso, o

ministério de louvor, ou música.

Qual a identificação melhor para aquele que serve num ministério de

música? Músico, ou uma identidade que compreenda talentos necessários para

servir bem musicalmente à comunidade.

MINISTÉRIO

O segundo aspecto essencial é o ministério. A palavra ministério,

abundantemente usada no meio cristão, traz em si e por si a noção de serviço.

Ministrar é servir, administrar, executar uma obra, inspirar a outros, ajudar.

A noção de ministério faz muito mais sentido quando se sabe sua identidade,

seu chamado, sua vocação. Administrar o talento, servir com ele, executar alguma

tarefa que está compreendida pelo talento, inspirar a outros a fazer o mesmo, e

ajudar outros naquilo que é a habilidade de quem serve.

Dentro da noção aqui trabalhada de ministério temos alguns aspectos que

ficam implícitos, das ac es esperadas daquele que deseja fazer ministério ouṍ

serviço.

1. Administrar seu talento e habilidade – considerando o ministério de

música, é ter o cuidado de manter e gerenciar seu talento e sua

habilidade; Trabalhar pelo seu talento e sua habilidade;

2. Executar alguma tarefa – é ser habil para o fazer musical, a pratica de

banda, os ensaios, a apresentação habilmente.

3. Inspirar os outros – nesse caso, ser o exemplo daquilo que se busca na

música, motivando as pessoas a cantar e a se expressarem

musicalmente;

4. Ajudar – na música, é promover uma música que sirva, que comunique

com aquele que você está ajudando a se expressar musicalmente;

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COMUNIDADE

Na perspectiva bíblica sobre ministério e vocação, esse é um dos mais

importantes aspectos para compreendermos o papel do serviço.

Comunidade é, a grosso modo, um grupo de pessoas que compartilham de

algo, ou que tem algo em comum. No caso da igreja, a comunidade dos santos em

Cristo Jesus, que devotam suas vidas à Deus, à sua missão e aos seus propósitos,

submetendo-se uns aos outros para que, cada qual servindo em sua vocação e

chamado, contribua para o crescimento, a edificação, a exortação e ao

encorajamento de uns para com os outros, no caminho por vivênciar e

experimentar o Reino de Deus na Terra.

A comunidade é um dos aspectos mais abrangentes, pois abarcar pelo menos

tres níveis de relações: com o próximo (individuo), com a comunidade (grupo

imediato) e com a sociedade.

Com o próximo: Quando penso nesse dimensão de relação do serviço

comunitário, algumas perguntas vem à tona. Se nosso papel, envidenciado até

aqui, é servir a comunidade com a música no louvor a Deus, o quanto disso se

aplica ao próximo? Se louvor é reconhecimento e gratidão, o quanto se tem

inspirado ao próximo no exercício da gratidão e no reconhecimento à Deus, da sua

presença e da suas obras e ações, em sua vida (a do próximo) e na vida dele

próprio (do ministro)?

O ministro serve ao indivíduo, quando busca ser esse inspirador sobre louvar

a Deus e também sobre adorá-lo. Não somente no tocante à sua postura durante as

apresentações, mas principalmente nos seus relacionamentos cotidianos com o

próximo. Quando ajuda o próximo a se dispor na devoção e na submissão plena a

Deus, discipulando, orando, ensinando, compartilhando, através ou não de seu

louvor, sendo ele musical ou não.

Serve também quando entende que seu serviço não se restringe a vida

religiosa, dentro das quatro paredes, mas refere-se a sua existência na sua

realidade cotidiana, em outras palavras, em qualquer lugar, em qualquer hora, ele

usa seus talentos para servir as pessoas baseando-se no amor e na graça como

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expressão de louvor a Deus.

Com a comunidade: Nessa dimensão de relação, compreendendo suas

relações imediatas comunitárias, como família, banda, grupo de estudo bíblico,

grupo de amigos, grupo de interesses, igreja e etc. E a reflexão é a mesma, como

se permite que sua vocação demonstre aquilo no qual é chamado unicamente para

mostrar sobre Deus e sobre a vida para esses grupos? O quanto se busca promover o

louvor, nesses meios? O pastor da igreja americana Mars Hill, Rob Bell, diz em seu

livro “Repintando a igreja”, que somos chamados a mostrar aquilo que Deus está

fazendo, como um guia turístico das obras que ele tem realizado no mundo hoje.

Tem se vivido isto como realidade? Consegue através daquilo que se é, demonstrar

intencionalmente o que Deus tem feito no mundo hoje, para esses grupos imediatos

dos quais participa?

Existe um outro aspecto do serviço na relação com a comunidade que se

defini a partir da própria noção de comunidade, que é o investimento num

relacionamento com grupos da comunidade, com o intuíto de compreender como se

pode melhorar o serviço para eles? Qual tipo de música a comunidade mais se

identifica? Qual o momento, o espírito do tempo, vivido pela comunidade? Serve-se

à comunidade com os ensaios para melhor oferecer serviços para a igreja. Também

quando se identifica grupos pouco assistidos na comunidade musicalmente, como os

idosos e as crianças, por exemplo, e cria-se meios de serví-los.

Quando falamos de comunidade, consideramos uma comunidade cristã, que

tem um liderança cristã, existe também o serviço do ministro junto à liderança da

igreja. Qual o relacionamento e a disposição que se tem para caminhar com a

liderança, o pastor da comunidade? O ministério tem se reunido frequentemente

com o pastor para orar pela comunidade? E a partir daqui, todas as variaveis

possíveis em relaçao a própria noção de comunidade e as determinações dadas em

ministério.

Com a sociedade: Essa é um da dimensão de relação pouco explorada pelos

ministérios de música ou louvor nas igrejas. O que se tem feito, enquanto equipe

ministerial, para fora dos âmbitos da igreja? Tem se envolvido com serviços e ações

sociais e sociabilizantes, junto à sociedade (no bairro, na cidade, nas escolas,

creches, asilos, etc)? Tem servido outras areas das sociedade? E por aí, vai abrindo-

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se o leque possível de ações que o ministério de música puder abarcar junto à

sociedade.

CONCLUSÃO

O papel do ministéiro de louvor na igreja, de acordo com o que foi

abordado, fica melhor determinado quando cada indivíduo que se inscreve no

ministério tem uma boa compreensão sobre sua identidade e vocação, tanto

também dos talentos e habilidades necessários para esse serviço, aqui dado

especificamente pela música, servindo à comunidade no louvor e nas expressões de

gratidão e reconhecimento e consequentemente na adoração. “O povo que

(re)conhece a Deus, seu poder e suas obras, fatalmente estará mais disponível a

devotar-se e submeter-se a Ele, à sua missão, ao seu reino”.