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1557 JORNAL ETAPA – 2018 • DE 27/09 A 10/10 Jornal do Vestibulando ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA CURSO – DIREITO/USP Ele foi do cursinho à noite para Direito-USP, em ótima classificação Renan de Lima, 28 anos, depois que se formou no Ensino Médio, cursou Engenharia durante um ano e meio. Insatisfeito, deixou o curso, decidido a entrar em Direito. Em 2015 e 2016, estudou em casa e prestou os vestibulares. Não tendo sido aprovado, veio para o Etapa, cursou o Extensivo à noite e conseguiu entrar em Direito-USP, em 36 o lugar. JV – No ano passado, além da Fuvest, você prestou quais vestibulares? Renan – Prestei Fuvest e Enem. O Enem eu fiz mais por treino. Você sempre pensou em seguir Direito? Não. Depois que me formei no Ensino Mé- dio, fiz um ano e meio de Engenharia na Poli. Como não era minha cara, desisti do curso e prestei concurso no Metrô, que é onde trabalho hoje. Também estudei Moda na FMU e me formei em 2013. Era o que eu queria na época. O que o motivou a mudar para Direito? Eu pensei bem na vida e em 2015 decidi fa- zer Direito. Pensei no futuro mesmo. O car- go em que estou no Metrô é de nível médio e para chegar a outros níveis tenho que fa- zer outro concurso. Pesquisei sobre Direito, a carreira, as matérias do curso e me apai- xonei pela grade curricular da São Francisco. Você prestou a Fuvest em 2016 para Direito? Em 2015, estive em Paris, onde fiquei de setembro até meados de outubro. Um pou- co antes, já tinha decidido seguir Direito e me inscrevi na Fuvest. Ao voltar, faltava um mês e meio para a 1 a fase da Fuvest 2016. Estudei pelo material de cursinho da minha prima e consegui passar em cima do corte, mas no final não fui aprovado. Aí eu pen- sei que se estudasse em casa o ano intei- ro, conseguiria passar. Estudei novamente com o material da minha prima e prestei a Fuvest 2017, mas não passei na 2 a fase. Aí decidi no ano passado que faria o Etapa e entrei no Extensivo Noite 10. O que você esperava do cursinho? Quando estudei sozinho em casa, a dinâmica era totalmente diferente. Tem dias que você chega e diz: hoje vou estudar uma horinha só. A organização dos estudos, a dinâmica é outra. Aqui no Etapa, eu prestava atenção nas aulas, focava, dava o meu máximo, fazia os exercícios em aula e tudo. O professor falando, pontuando o que é mais importan- te, mostrando o que as pessoas costumam errar é outra coisa. Aprofunda muito mais. Você começou no ano passado decidi- do a pegar firme? Fui bem dedicado. Sempre fiz todos os simulados, fazia o Reforço JADE e via as palestras sobre os livros. Teve sábado que fiquei aqui das 7 da manhã até 10 da noite. Eu me dispus a isso e fui atrás. Como era a sua rotina? Das 8 da manhã às 5 da tarde eu trabalhava no Metrô e acabava estudando na hora do almoço, meia hora, 40 minutos, às vezes até uma hora. Aqui, as aulas começavam às 7 e 10 da noite, eu saía do Metrô às 5, 5 e meia, conseguia chegar uma hora an- tes das aulas e ficava estudando. Todo dia eu estudava uma hora aqui. Chegava em casa um pouco antes das 11 da noite, não era tão longe, e dava uma lida em alguma coisa. Não fazia exercícios nessa hora, era uma coisa mais leve. Como era sua forma de estudar? Eu priorizava os exercícios. Eu revisava já focando o jeito como a matéria cai na pro- va. Basicamente, eu revisava o meu cader- no e um pouco da apostila, mas era mais fazer exercícios. Se faltasse alguma coisa, eu voltava para a apostila. Eu tenho mania de querer fazer tudo, mas faltava tempo, não conseguia. Estudava as matérias do dia? Da semana. Nem sempre eu conseguia estudar a matéria do dia no dia seguinte. Como você resolvia as dúvidas? Como chegava no Etapa uma hora antes da aula, dava para ir ao Plantão. Em quais matérias você recorria mais ao Plantão de Dúvidas? Mais de Exatas: Física e Matemática. E Por- tuguês, para Redação. 4 TESTE SEU VOCABULÁRIO CONTO Romantismo – Artur Azevedo 3 ARTIGO JK foi eleito. Quem garante sua posse? 5 Estudo avança compreensão de como surgem as doenças autoimunes 7 ENTREVISTA Renan de Lima 1 Renan de Lima Em 2017: Etapa Em 2018: Direito – USP Caiu na Fuvest 8 (ENTRE PARÊNTESIS) Inscrições 8 SERVIÇO DE VESTIBULAR

1557 Jornal do Vestibulando - etapa.com.br na FMU e me formei em 2013. Era o que eu queria na época. O que o motivou a mudar para Direito? Eu pensei bem na vida e em 2015 decidi fa-

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1557

JORNAL ETAPA – 2018 • DE 27/09 A 10/10

Jornal do Vestibulando ENSINO, INFORMAÇÃO E CULTURA

CURSO – DIREITO/USP

Ele foi do cursinho à noite para Direito-USP, em ótima classificação

Renan de Lima, 28 anos, depois que se formou no Ensino Médio, cursou Engenharia durante um ano e meio. Insatisfeito, deixou o curso, decidido a entrar em Direito. Em 2015 e 2016, estudou em casa e prestou os vestibulares. Não tendo sido aprovado, veio para o Etapa, cursou o Extensivo à noite e conseguiu entrar em Direito-USP, em 36o lugar.

JV – No ano passado, além da Fuvest, você prestou quais vestibulares?Renan – Prestei Fuvest e Enem. O Enem eu fiz mais por treino.

Você sempre pensou em seguir Direito?Não. Depois que me formei no Ensino Mé-dio, fiz um ano e meio de Engenharia na Poli. Como não era minha cara, desisti do curso e prestei concurso no Metrô, que é onde trabalho hoje. Também estudei Moda na FMU e me formei em 2013. Era o que eu queria na época.

O que o motivou a mudar para Direito?Eu pensei bem na vida e em 2015 decidi fa-zer Direito. Pensei no futuro mesmo. O car-go em que estou no Metrô é de nível médio e para chegar a outros níveis tenho que fa-zer outro concurso. Pesquisei sobre Direito, a carreira, as matérias do curso e me apai-xonei pela grade curricular da São Francisco.

Você prestou a Fuvest em 2016 para Direito? Em 2015, estive em Paris, onde fiquei de setembro até meados de outubro. Um pou-co antes, já tinha decidido seguir Direito e me inscrevi na Fuvest. Ao voltar, faltava um mês e meio para a 1a fase da Fuvest 2016. Estudei pelo material de cursinho da minha prima e consegui passar em cima do corte,

mas no final não fui aprovado. Aí eu pen-sei que se estudasse em casa o ano intei-ro, conseguiria passar. Estudei novamente com o material da minha prima e prestei a Fuvest 2017, mas não passei na 2a fase. Aí decidi no ano passado que faria o Etapa e entrei no Extensivo Noite 10.

O que você esperava do cursinho? Quando estudei sozinho em casa, a dinâmica era totalmente diferente. Tem dias que você chega e diz: hoje vou estudar uma horinha só. A organização dos estudos, a dinâmica é outra. Aqui no Etapa, eu prestava atenção nas aulas, focava, dava o meu máximo, fazia os exercícios em aula e tudo. O professor falando, pontuando o que é mais importan-te, mostrando o que as pessoas costumam errar é outra coisa. Aprofunda muito mais.

Você começou no ano passado decidi-do a pegar firme?Fui bem dedicado. Sempre fiz todos os simulados, fazia o Reforço JADE e via as palestras sobre os livros. Teve sábado que fiquei aqui das 7 da manhã até 10 da noite. Eu me dispus a isso e fui atrás.

Como era a sua rotina?Das 8 da manhã às 5 da tarde eu trabalhava no Metrô e acabava estudando na hora do almoço, meia hora, 40 minutos, às vezes

até uma hora. Aqui, as aulas começavam às 7 e 10 da noite, eu saía do Metrô às 5, 5 e meia, conseguia chegar uma hora an-tes das aulas e ficava estudando. Todo dia eu estudava uma hora aqui. Chegava em casa um pouco antes das 11 da noite, não era tão longe, e dava uma lida em alguma coisa. Não fazia exercícios nessa hora, era uma coisa mais leve.

Como era sua forma de estudar?Eu priorizava os exercícios. Eu revisava já focando o jeito como a matéria cai na pro-va. Basicamente, eu revisava o meu cader-no e um pouco da apostila, mas era mais fazer exercícios. Se faltasse alguma coisa, eu voltava para a apostila. Eu tenho mania de querer fazer tudo, mas faltava tempo, não conseguia.

Estudava as matérias do dia?Da semana. Nem sempre eu conseguia estudar a matéria do dia no dia seguinte.

Como você resolvia as dúvidas? Como chegava no Etapa uma hora antes da aula, dava para ir ao Plantão.

Em quais matérias você recorria mais ao Plantão de Dúvidas?Mais de Exatas: Física e Matemática. E Por-tuguês, para Redação.

4TESTE SEU VOCABULÁRIO

CONTO

Romantismo – Artur Azevedo 3ARTIGO

JK foi eleito. Quem garante sua posse? 5Estudo avança compreensão de como surgem as doenças autoimunes 7

ENTREVISTA

Renan de Lima 1

Renan de Lima Em 2017: EtapaEm 2018: Direito – USP

Caiu na Fuvest 8(ENTRE PARÊNTESIS)

Inscrições 8SERVIÇO DE VESTIBULAR

CURSO – DIREITO/USP2

Nos simulados, como era seu desem-penho?No primeiro simulado da Fuvest, eu tirei 80; no segundo, 83; no terceiro, 75; no quarto, 71; no último, 69.

Esses resultados deixavam você con-fiante em relação à Fuvest?Por mais confiante que eu estivesse, sempre tem horas em que dá aquele “e se?”. Então, nunca deixei de me dedicar.

Qual era a importância das aulas do Reforço (JADE) na sua preparação?Os professores focavam bastante em exercícios escritos e eu gostava bastante das aulas. Um dos meus focos era me-lhorar na 2a fase. Melhorar onde tinha falhado nos anos anteriores. O Reforço me ajudou nisso ao longo do ano. Dava uma aprofundada mesmo, até em como escrever as respostas dissertativas. Cada questão é uma pequena redação que você tem que fazer.

Com que frequência você treinava Re-dação?Queria ter treinado mais. Eu fazia as do JADE e as dos simulados. Das apostilas não fiz todas, fiz uma de cada apostila. Então, imagino que fazia uma redação a cada 15 dias.

Você leu as obras literárias obrigató-rias indicadas pela Fuvest?Já tinha lido todas em casa e reli umas quatro. Da relação para 2018, não tinha lido Minha vida de menina. Li também.

Você assistia às palestras sobre os li-vros?Fui a todas. A palestra ajuda bastante, ressalta os pontos principais dos livros, personagens da história, as característi-cas mais importantes. Mas lendo o livro antes, você chega na palestra já com no-ção de toda a história. E aprofunda.

Você estudava nos fins de semana?Sábado de manhã tinha o JADE, fazia si-mulado à tarde e às vezes tinha palestra à noite. Então, no domingo eu estava bem cansado. Tinha domingo que eu ti-rava para mim. Eu até ficava com a cons-ciência meio pesada porque tinha que estudar, fazer o que não tinha feito du-rante a semana, mais exercícios, revisar a matéria.

Qual foi sua pontuação na 1a fase da Fuvest?Eu fiz 77 pontos. O corte de Direito foi 58.

Com essa nota, pegaria também Me-dicina. Foi o que você esperava?Esperava um pouco menos. Com uns 70 já estaria satisfeito.

Para a 2a fase você mudou seu método de estudo?A apostila de Revisão do Etapa é super-completa. Então, acabei focando mais na apostila, nos exercícios que estavam ali. Foquei mais nas matérias que caíam no terceiro dia da 2a fase, Matemática, His-tória, Geografia. Em Português, continuei sempre focado.

No primeiro dia da 2a fase, prova com questões de Português e Redação, qual foi sua nota?Minha nota foi 71,25. Na Redação, tirei 60.

No segundo dia, na prova geral, quan-to tirou?Tirei 65,66.

E no terceiro dia, das matérias priori-tárias para Direito na São Francisco – Matemática, Geografia e História?Tirei 67,71 e fiquei feliz com o resultado. Mais que dobrei a nota do ano anterior.

Na escala de zero a 1 000, qual foi sua pontuação na Fuvest?Foi 725,3.

E sua classificação na carreira?A classificação na carreira me surpreen-deu, fiquei no 36o lugar (dentre 392 apro-vados).

Suas notas na 2a fase foram mais ou menos o que você esperava?Foi mais ou menos o que eu esperava. A maior surpresa foi a pontuação da 1a fase. Como tinha ido muito bem na 1a fase, no fundo esperava ir bem na 2a fase. Mas como ela é dissertativa, você sempre sai na dúvida.

Você já conhecia a São Francisco?Nunca tinha entrado lá. Entrei no dia da matrícula. O prédio é magnífico.

Você ainda se considera calouro?Acho que neste segundo semestre já não sou tão calouro, mas no primeiro semes-tre procurei curtir essa de calouro.

Que matérias você tem neste segundo semestre?O 1o ano é basicamente com matérias de introdução e várias são meio que uma continuação de matérias do primei-ro semestre. Tem Introdução ao Estudo de Direito, Teoria Geral do Estado, que estou vendo agora e estudei no primei-ro semestre também. Direito Civil, que é uma coisa mais prática; tive algumas aulas de Metodologia, que estuda como fazer um parecer, como pesquisar as leis. Neste semestre começou Introdução ao Pensamento Penal, que é o Direito Penal. Estou adorando. E tenho Direito Roma-no, Introdução à Sociologia para o Direi-to, História do Direito, bem interessante

a matéria. Também peguei uma optativa, Introdução ao Direito do Trabalho, uma coisa bem atual.

A São Francisco tem muitas atividades de extensão. Você faz parte de alguma? Por enquanto, não peguei nenhuma ex-tensão. Continuo trabalhando até 5 ho-ras e a aula na faculdade começa às 6 e 20. Às vezes chego lá em cima da hora. Pretendo, em algum semestre, se tiver uma janela, pegar alguma extensão. Tem o Departamento Jurídico da São Francis-co, que presta serviço à população, tem a Sanfran Júnior, tem simulação de júri, tem simulação da ONU.

É obrigatório fazer estágio na São Francisco?Que eu saiba, não. Mas, caso seja, eu posso até continuar trabalhando no Me-trô e fazer estágio interno na área jurídica. Aí é acordado internamente.

Como você vê hoje a São Francisco?É um universo diferente, impactante, com uma estrutura superbacana. E os professores são a nata da nata. Tem aula com ministro, juiz, desembargador.

E como é a relação com os colegas?Tem uma certa diferença de idade, estou com 28 anos, a maioria tem 18, 19 anos. Mas todo mundo é muito bacana. Todo mundo que entrou ali está dedicado ao curso. Tem muito debate, tanto em aula quanto fora de aula. As diferenças de opinião, de conhecimento, acho que en-riquecem bastante.

Como foi seu ano no cursinho?O ano passado foi cansativo, mas valeu a pena. Este ano também está sendo can-sativo e o cursinho até foi um certo treino para continuar no pique, com organização e disciplina. Fiz um grupo de amigos no Etapa, a gente continua conversando. Foi uma experiência bem enriquecedora, bem válida.

O que você tira de lição dessa experiên-cia no cursinho?Foi um ano de muito aprendizado. Uma coisa que me ajudou, que hoje continua ajudando, é a disciplina. No ano passado, eu me organizei bastante nos estudos. E este ano tento me organizar também.

O que você poderia dizer para nos-sos alunos que possuem pouco tempo para estudar?Eu me coloco como exemplo. Eu tinha uma rotina corrida, não tinha muito tempo para estudar. Mas se você se disciplinar, se esforçar pelo que quer colocar como meta, como foco e ir atrás, é possível conseguir resultados e entrar na carreira pela qual está lutando.

CONTO 3

RomantismoArtur Azevedo

I

– Então, Rodolfo, decididamente, não te casas com a viúva San­tos?

– Nem com ela, nem com outra qualquer. E peço­lhe, meu pai, que não insista sobre esse ponto, para poupar­lhe o desgosto de contra­riá­lo. O casamento assusta­me; é a destruição de todos os sonhos, o aniquilamento de todas as ilusões. Deixe­me sonhar ainda. Tenho ape­nas vinte e cinco anos.

– Tu o que tens é uma carregação de ro­mantismo e preguiça, que me aborrece de­veras. O teu prazer, meu mariola, é andar envolvido em aventuras de novela, desen­caminhando senhoras casadas, procurando amores misteriosos e noturnos, paixões de horas mortas, de chapéu desabado e capa. Olha que um dia vem a casa abaixo! Don Juan, quando menos pensava, lá se foi para as pro­fundas do inferno!

– Entretanto, observou Rodolfo a sorrir, Don Juan também usava capa, e dizem que quem tem capa sempre escapa.

– Ri­te! Ri­te! um dia hás de chorar!E o doutor Sepulveda pôs­se a medir com

largos passos nervosos o assoalho do gabinete.De repente estacou, sentou­se, e, voltan­

do­se para o filho:– Que diabo! disse, a viúva Santos é uma

das senhoras mais lindas que conheço! Não se diga que te estou metendo à cara um estupor!

– Fosse a própria Vênus!– É mais, muito mais, porque a Vênus não

tinha duzentos contos de réis em prédios e apólices.

– Ora, sou bastante rico, e o senhor, meu pai, não sabe o que há de fazer do dinheiro. A sua banca de advogado rende­lhe uma for­tuna todos os anos e eu tenho a satisfação de lhe lembrar que sou filho único.

– A minha banca, maluco, há muito tempo não rende o que rendia no tempo em que os cães andavam com linguiças no pescoço. O que te ficou por morte da tua mãe, e o que te posso dar, ou deixar, é pouco para a tua dispendiosa vida de rapaz romântico, anacrônico e serôdio.

– Tenho ainda meu padrinho, o general.– Pois sim! Teu padrinho é muito bom,

sim senhor, muita festa pra festa, meu afilha­do pra cá, meu afilhado pra lá, mas olha que daquela mata não sai coelho.

– É extraordinário o interesse que o senhor toma por essa viúva Santos!

– Não é por ela, é por ti, pedaço de asno! Vo­cês foram feitos um para o outro, acredita, e o que mais lhe agrada na tua pessoa é justamente esse feitio que tens, de Antony de edição barata.

– Ela nunca me viu.– Nunca te viu, mas conhece­te. Pois se

não lhe falo senão do meu Rodolfo! Levei­lhe a tua fotografia, aquela maior... do Pacheco... aquela em que estás tão bonito, que até me pa­rece a tua mãe...

– Que tolice! minha mãe com bigodes!

– Os bigodes não, mas os olhos, a boca e o nariz parecem tirados de uma cara e pregados na outra.

– Mas se o senhor lhe levou o meu retrato, por que não me trouxe o dela?

– Disso me lembrei eu. Infelizmente nunca se fotografou. Se eu lhe apanhasse o retrato, oh! oh! mostrava­to, e estou certo que não resistirias.

– O senhor mete­me medo! Para evitar uma asneira de minha parte, hei de fugir da viúva Santos como o diabo da cruz!

– Disseste que me interesso por ela; e quando me interessasse? Não é filha de um bom camarada, o Teles, que morou comigo quando éramos estudantes, e se formou em Olinda no mesmo dia que eu? – Não imaginas o prazer que tive quando recebi uma carta de Rosalina – ela chama­se Rosalina – dizendo­­me: “Venha ver­me; quero conhecer um dos melhores amigos de meu pobre pai.”

– O pai é morto?– Há muitos anos. Morreu juiz municipal

nas Alagoas. Deixou a mulher e os filhos na mais completa pobreza, mas os rapazes arran­jaram­se no comércio, e lá estão em Pernam­buco em companhia da mãe. A Rosalina, essa casou­se com um negociante aqui do Rio, o Santos, que a viu por acaso uma vez que teve de ir a Pernambuco tratar de negócios.

O doutor Sepulveda aproximou a sua ca­deira para mais perto do filho e comentou:

– Alguém disse que a viúva é como a casa que está para alugar: há sempre lá dentro algu­ma coisa esquecida pelo antigo inquilino. Bem vejo, meu filho: o que te desgosta é esse Santos, esse marido, esse inquilino; pois não tens razão. O casamento de Rosalina foi obra dos irmãos – um casamento de conveniência. A pobre rapa­riga sacrificou­se à felicidade dos seus. O cora­ção entrou ali como Pilatos no Credo. Oito dias depois de casados, os noivos vieram para o Rio de Janeiro. Seis meses depois morreu o marido, mas antes disso teve a boa ideia de chamar um tabelião e fazer testamento em favor dela. Ofe­reço­te um coração virgem, meu rapaz; aceita­o, e com isso darás muito prazer a teu pai e ao ge­neral, teu padrinho, que consultei a esse respei­to, e é inteiramente da minha opinião.

Rodolfo ergueu­se, espreguiçou­se longa­mente, e disse, com os braços estendidos, e a boca aberta num horroroso bocejo:

– Ora, meu pai, não falemos mais nisso.E não falaram mais nisso.O doutor Sepulveda foi ter com o general,

e contou­lhe a relutância do afilhado.– Mas hei de teimar, seu compadre, hei de

teimar!– Não teime. Você não arranja nada. Aquele

que está ali não se casa nem à mão de Deus Padre.– É o que havemos de ver, seu compadre, é

o que havemos de ver...

IIDois dias depois, Rodolfo sentia­se aba­

lado pela insistência paterna, e estava quase disposto a pedir ao doutor Sepulveda que o apresentasse à viúva Santos, quando o correio urbano lhe trouxe uma carta concebida nos seguintes termos:

“Rodolfo – Se não é medroso, esteja ama­nhã, quinta­feira, às 8 horas da noite, no largo da Lapa, junto ao chafariz. Ali encontrará uma senhora idosa, vestida de preto, com o rosto coberto por um véu. Faça o que ela indicar. Trata­se de sua felicidade.”

A carta escrita com letra de mulher, em pa­pel finíssimo, não tinha assinatura, e exalava um delicioso perfume aristocrata. Rodolfo leu­a, releu­a três vezes, e guardou­a cuidadosamente. Ocioso é dizer que a viú va Santos varreu­se intei­ramente da sua imaginação, excitada agora pelo misterioso da aventura que lhe propunham.

Foi ao largo da Lapa. Por que não havia de ir? Poderia recear uma cilada? Ora! no Rio de Janeiro não há torres de Nesle nem Margari­das de Borgonha.

Já lá encontrou a velha, junto do chafariz. Ela foi ao seu encontro, cumprimentou­o, e, di­rigindo­se a um coupé estacionado a alguns pas­sos de distância, abriu a portinhola e com um gesto convidou­o a entrar. Rodolfo não hesitou um segundo; entrou; a velha entrou também, e o coupé rodou na direção do Passeio Público.

– Aonde vamos? perguntou ele.A velha disse­lhe por gestos que era muda,

e abaixou os stores. Rodolfo percebeu que o carro entrou na

rua das Marrecas, e dobrou a dos Barbonos; depois não pôde saber ao certo se tomou a rua dos Arcos ou a de Riachuelo. As rodas mo­viam­se vertiginosamente. De vez em quando dobravam uma esquina. Dez minutos depois, o moço ignorava completamente se se achava em caminho de Botafogo ou de Vila Isabel, da Tijuca ou do Saco do Alferes. Quis levantar um store. A velha opôs­se com um gesto preci­pitado e enérgico. Ele caiu resignadamente no fundo do carro, e deixou­se levar.

Ora, adeus!A viagem durou seguramente uma hora.

Quando o coupé estacou, a velha ergueu­se, ti­rou um lenço da algibeira, e tapou os olhos do moço, que se deixou vendar humildemente, sem proferir uma palavra.

Ela ajudou­o a descer, e levou­o pela mão, sempre de olhos tapados, como Raul de Nagis nos Huguenotes.

Pelo cascalho que pisava e pelo aroma que sentia, Rodolfo adivinhou que estava num jar­dim, caminhando em deliciosa alameda.

Depois de andar cinco minutos, guiado sempre pela mão encarquilhada da velha, esta murmurou baixinho: – Adeus, seja feliz! – e afastou­se. Ao mesmo tempo, uma voz argen­tina, uma voz de mulher que parecia vir do alto e soou musicalmente aos seus ouvidos, disse­lhe: – Desvenda­se, Rodolfo.

Ele arrancou o lenço dos olhos. Estava efeti­vamente num jardim, defronte de uma das partes laterais de um belo prédio moderno. A lua, ilu­minando suavemente aquele magnífico cenário, batia de chofre na sacada em que se achava uma mulher vestida de branco com os cabelos soltos.

– Onde estou eu? perguntou ele, e olhou para o horizonte, a ver se algum morro conhe­cido o orientava. Nada! – nos fundos da casa erguia­se, é verdade, um morro, mas tão pró­

CONTO4

ximo e tão alto, que o moço do lugar em que se achava, não lhe podia notar a configuração.

– Onde estou eu? repetiu.Por única resposta a mulher de cabelos

soltos deixou cair uma escada de seda, cuja extremidade ficou presa à sacada; e Rodolfo subiu por ela com mais presteza do que o faria o próprio Romeu.

Ao entrar na alcova, fracamente iluminada pela meia­luz de um bico de gás, ficou des­lumbradíssimo. Estava diante de um prodígio de formosura! O pasmo embargou­lhe a fala; quis soluçar um madrigal, e não teve uma pa­lavra, uma sílaba, um som inarticulado!

– Amo­te, disse ela com uma voz que mais parecia um ciciar de brisa; amo­te muito, Ro­dolfo, e quero que também me ames.

– Oh! sim, sim... quem quer que sejas... eu amo­te, e...

Uma gargalhada o interrompeu. Era o doutor Sepulveda que entrava na alcova e dava mais luz ao bico de gás.

– Meu pai!– Teu pai, sim, meu romântico. Era esse o

único meio de te fazer cá vir. Ora aqui tens a viúva Santos. Agora recuas, se és homem!

O casamento ficou definitivamente trata­do naquela mesma noite.

IIINo dia seguinte o doutor Sepulveda, na­

dando em júbilo, foi ter com o general e con­tou­lhe tudo.

– Então? não lhe dizia, seu compadre?– Ora muito obrigado! respondeu o outro

com a sua rude franqueza de velho militar; por esse processo você poderia casá­lo até com a Chica Polka!

Extraído de: Contos de Artur Azevedo. Disponível em: <www.dominiopublico.gov.br>.

01. Eclodir:a) morrerb) descartarc) complicard) irrompere) seduzir

02. Cabeço:a) trajetóriab) cume do montec) insígniad) córregoe) chefe

03. Desassombrar:a) desanuviarb) assustarc) precipitard) referire) conduzir

04. Despotismo:a) esclarecimentob) melancoliac) atletismod) amizadee) tirania

05. Arrazoado:a) cansadob) destruídoc) lendad) discursoe) prato típico com arroz

06. Plebeu:a) refinadob) exaustivoc) nacionald) populare) exclusivo

07. Monturo:a) misteriosob) misericordiosoc) porção de escombrosd) porção de diamantese) prematuro

Você encontra neste exercício 20 palavras, dadas de forma direta, ou seja, sem contexto e com cinco alternativas para testar seu vocabulário.

08. Cerro:a) tipo de panob) erro, em lógicac) decisivod) colinae) acampamento

09. Vil:a) espetacular b) aspectoc) varonild) relese) infeliz

10. Arbitrário:a) flácidob) despóticoc) íntimod) especiale) sacrílego

11. Viço:a) vigorb) infantilidadec) perplexidaded) vaidadee) vitória

12. Salutar:a) amarrarb) impiedosoc) dissolverd) lutar com ânimoe) benéfico

13. Cândido:a) reveladob) imaculadoc) destruídod) renascidoe) proibido

14. Intemperante:a) abastadob) impenetrávelc) imoderadod) envolventee) sagrado

15. Reverberar:a) reclamarb) indenizarc) refletird) impedire) ressarcir

16. Libar:a) exalarb) livrar-se dec) resumird) bebere) tecer

17. Luminar:a) pessoa recém-nascidab) pessoa que nada sabec) pessoa muito doutad) pessoa muito pobree) pessoa de posses

18. Gorgolo:a) tipo de queijob) o mesmo que escaravelhoc) ruído semelhante a engrenagensd) o mesmo que pessoa “almofadinha”e) ruído semelhante a gargarejo

19. Afoiteza:a) malandragemb) honestidadec) coragemd) impérioe) injustiça

20. Consaber:a) refrearb) compartilharc) ignorard) repercutire) alinhar

De 18 a 20: você é um gênio do português.De 15 a 17: está quase lá.De 10 a 14: tente se esforçar mais.De 0 a 9: que tal tentar melhorar?

1. d; 2. b; 3. a; 4. e; 5. d; 6. d; 7. c; 8. d; 9. d; 10. b; 11. a; 12. e; 13. b; 14. c; 15. c; 16. d; 17. c; 18. e; 19. c; 20. b

RESPOSTA

TESTE SEU VOCABULÁRIO

ARTIGO 5

Dez de novembro de 1955 foi um dia cinzento e chuvoso no Rio de Janei-ro, então capital federal, com os jor-

nais do dia anunciando tempestades políti-cas ao lado do mau tempo meteorológico. Quatorze meses e meio antes – a 24 de agosto de 1954 – Getúlio Vargas, obrigado a se afastar do poder, neutralizara a derrota e a desonra política com o gesto extremo do suicídio. E desde a sua morte o clima político não se acalmara. Até que naque-le 10 de novembro as ventanias políticas ameaçavam desandar num furacão.

Naquele dia, o país tinha três presiden-tes: João Café Filho – o vice-presidente que substituiu Getúlio – internado há uma semana na Clínica São Vicente com distúr-bios do coração, em licença; Carlos Luz, presidente da Câmara dos Deputados, substituto constitucional de Café, em-possado dia 8, em exercício; e Juscelino Kubitschek, eleito a 3 de outubro em elei-ção direta, aguardando, bastante preocu-pado, a posse em janeiro. No dia seguinte haveria um quarto presidente.

Ao final da tarde de 10 de novembro, após esperar numa antessala por uma hora, o ministro da Guerra, general Henri-que Dufles Teixeira Lott, foi recebido pelo presidente Carlos Luz na sede do governo, o Palácio do Catete. Dez minutos após a audiência com o presidente, com o rosto severo e contrafeito, Lott abandonava o Pa-lácio debaixo de um temporal, carregando

JK foi eleito. Quem garante sua posse?

Juscelino Kubitschek de Oliveira foi eleito presidente da República – e Jango, vice – no dia 3 de outubro de 1955.No dia 4 de outubro, começou a ser contestado. Jango representava a volta do getulismo ao poder e os partidos de oposição a ele – a UDN, principalmente – não podiam tolerar isto. Tentaram impugnar as eleições por vários meios legais, mas não foi possível. Sua última esperança, então, ficou depositada nos militares e eles tentariam impedir a posse de JK e Jango à força. Mas o marechal Teixeira Lott, então ministro da Guerra do país, acabou com todas estas pretensões. Botou os tanques na rua e, com eles, garantiu a continuidade constitucional do Brasil, ou seja, a posse dos homens eleitos pelo povo.

João Pedro Nunes Pereira

outro no espírito. Resignara ao cargo de ministro da Guerra e aceitara passá-lo ao seu substituto no dia seguinte. Lott sabia que o seu afastamento era uma vitória da facção política e militar que se opunha à posse de Kubitschek, após ter se oposto inutilmente à própria realização das elei-ções. Legalista, por índole e convicção, Lott não só fora favorável à realização das eleições, como a 8 de outubro – cinco dias depois delas – endossara publicamente a posse dos eleitos. Com ele na chefia do Exército, a posse de Kubitschek e de seu vice João Goulart dificilmente seria evita-da. Com o seu afastamento, tudo poderia acontecer. Estaria um general legalista dis-posto a quebrar a lei momentaneamente mesmo que fosse para defendê-la? O mais correto seria dizer que, fazendo-se esta pergunta, naquela noite ele não dormiu.

A resposta veio ao alvorecer, com o Exército assumindo o controle do país. Lott, com habilidade e mão forte, se man-teve ministro e o PSD de Kubitschek provi-denciou um quarto presidente, Nereu Ra-mos, presidente do Senado e o seguinte na linha legalista de sucessão. Kubitschek e Goulart tomariam posse em janeiro.

Os ministros: antigetulistas

Este desfecho para tal crise foi talha-do no momento em que Café Filho, ao suceder Getúlio, formou o seu Minis-tério. Depois de escolher o brigadeiro Eduardo Gomes e o almirante Amorim do Vale, dois antigetulistas, para as pas-tas da Aeronáutica e da Marinha, Café vacilou entre os generais antigetulistas Canrobert Pereira da Costa e Juarez Távora para a pasta da Guerra. Por fim, considerando que – diferentemente da Aeronáutica e da Marinha, maciçamente contrárias a Getúlio – a oficialidade do Exército estava dividida, optou por um terceiro nome, pouco conhecido, lem-brado até com a ajuda do Almanaque do Exército: Lott. Entre as virtudes do homem escolhido, falou-se do seu cen-trismo, capaz de unir o Exército.

Ao lado da escolha desapaixonada de seu ministro da Guerra, Café Filho quali-ficou-se desde logo como um presiden-te de transição e declarou-se disposto a uma única missão política: presidir a sua própria sucessão – que teria de ser abso-lutamente constitucional – e feita através das eleições de 3 de outubro de 1955.

Lott, Juscelino e Jango.

Carlos Luz, Eduardo Gomes e Prado Kelly.

ARTIGO6

Esta disposição do presidente, mais a presença de Lott no seu Ministério, fize-ram a história de novembro de 1955.

Em fevereiro daquele ano, enquanto alguns políticos a conselho dos militares procuravam um impossível candidato de união nacional, o PSD, em convenção na-cional, indicava o governador de Minas, Juscelino Kubitschek, como candidato a presidente. Quando, em seguida, o PSD começou a negociar o posto de vice com o PTB de Getúlio e, precisamente, com o seu herdeiro político João Goulart, o anti-getulismo, com seu Iíder civil Carlos Lacer-da, ganhou o estopim para explodir a crise.

Essa crise se estendeu por todo o pro-cesso eleitoral e desaguou no 11 de no-vembro. Para enfrentar Kubitschek e Gou-lart, a UDN aderiu ao candidato de uma facção dissidente ao PSD, Etelvino Lins, político de pouco apelo eleitoral. Ademar de Barros surgiu em seguida como can-didato do seu próprio partido, o PSP. Os integralistas do PRP vieram com seu che-fe Plínio Salgado. E o PDC, um pequeno partido, apresentou à candidatura Juarez Távora. Mas só em junho o quadro eleitoral se definiu: desiludida com a frieza da can-didatura Etelvino, a UDN apoiou Juarez.

Faltava maioria a JK e Jango

Entretanto, Carlos Lacerda, a grande voz da UDN, só apoiou Juarez no último momento. Desde fevereiro ele estava ocu-pado em condenar a realização das elei-ções e em pregar um regime excepcional que impedisse a volta dos getulistas ao po-der. Mas tanto Café Filho, quanto seu mi-

nistro da Guerra, o marechal Lott, tinham posição definida: as eleições de 3 de ou-tubro seriam realizadas e os eleitos seriam empossados.

Kubitschek e Goulart venceram a elei-ção num dia e começaram a ser contesta-dos no outro. A UDN tentou ressuscitar a tese levantada inutilmente em 1950 con-tra Getúlio: os vencedores não contavam com maioria absoluta (Kubitschek tivera 36% dos votos) e portanto não deviam ser considerados eleitos. Mas a Justiça Elei-toral pouca esperança dava a essa ideia. O Congresso, em setembro, também se mostrou ineficaz para prevenir essa solu-ção: um projeto para que a eleição fosse decidida na Câmara em caso de não haver maioria absoluta não teve sucesso. Esgo-tados os meios legais, extremistas como Lacerda jogaram suas esperanças nos mi-litares. Essas esperanças se fortaleceriam a 1º de novembro.

No primeiro dia de novembro, no cemi-tério de São João Batista, discursando no enterro do general Canrobert Pereira da Costa, um coronel de feição intelectual, Jurandir de Bizarria Mamede, além de elo-giar o morto por ter liderado o movimento de agosto de 1954 contra Vargas, atacou os políticos e a vitória da minoria nas ur-nas, qualificando a situação de mentira democrática.

Café Filho doente e afastado

Diante do discurso de Mamede, Lott, que duas semanas antes forçara a refor-ma de um general, Zenóbio da Costa, por se pronunciar a favor da posse dos eleitos, sentiu que se não punisse o coronel es-taria comprometendo a sua autoridade. Mas, para puni-lo, Lott precisava de auto-rização do presidente da República, a cuja autoridade o coronel estava diretamente subordinado por pertencer aos quadros da Escola Superior de Guerra, sujeita ao presi-dente e não ao ministro. Por telefone, Lott pediu a punição do coronel aos ajudantes militares de Café Filho. Mas antes que o ministro fosse atendido, na manhã de 3 de novembro, Café Filho sofreu um ataque cardiovascular. E o episódio Mamede foi se arrastando.

Quando a 8 de novembro Carlos Luz as-sumiu o governo, as esperanças dos anti-getulistas aumentaram. Ele era uma figura menos neutra que Café Filho. Havia sido mesmo um dos líderes da dissidência do PSD que se opôs à candidatura Kubitschek. E, além de tudo, não simpatizava com o ministro da Guerra. Cabia-lhe resolver o problema criado pelo discurso do coronel Mamede. E os antigetulistas estavam cer-tos de que ele não admitiria punição.

Na primeira reunião do Ministério a que presidiu, a 9 de novembro, as intenções de Carlos Luz surgiram claras. Quando Lott tentou falar, Carlos Luz encerrou a reunião

e convidou o ministro da Guerra para de-bater o assunto em particular. Nessa con-versa, o presidente tentou demover o mi-nistro da ideia de punir o coronel Mamede e se recusou a transferi-lo da Escola Supe-rior de Guerra. Em novo encontro, no dia seguinte, ambos continuavam firmes em suas posições, o que levou Lott a resignar. Mas a caminho de casa o general mudou de ideia e, em algumas horas, certo de que Carlos Luz estava a serviço dos que pre-tendiam impedir a posse de Kubitschek, colocou nas ruas uma espécie de golpe preventivo; depôs Carlos Luz, assegurou a posse do presidente do Senado, Nereu Ra-mos, na Presidência da República, tirando assim todas as preocupações de Juscelino Kubitschek e João Goulart quanto à posse.

Ameaçado por Lott, Carlos Luz abando-nou o Palácio do Catete numa ambulância e se refugiou no Ministério da Marinha, para onde acorreram vários ministros e o Iíder da contestação a Kubitschek, Carlos Lacerda. Carlos Luz e seus companhei-ros logo partiram no cruzador Tamandaré, rumo a Santos, numa tentativa de trans-ferir o governo para São Paulo. As baterias de costa, controladas por Lott, fizeram vá-rias salvas de advertência, mas deixaram o Tamandaré passar. Em troca, Carlos Luz, ainda que muito solicitado, não permitiu que o cruzador respondesse ao fogo dos fortes, pois os tiros do navio poderiam cau-sar danos à população.

Enquanto o Tamandaré iniciava o seu cruzeiro, Lott, em seu gabinete no Ministé-rio da Guerra, com um exemplar da Cons-tituição e uma pistola 45 sobre a mesa, recebia os políticos e apressava a legitima-ção de um novo governo. No final do dia, Nereu Ramos estava eleito pela Câmara dos Deputados. Na tarde seguinte, o Ta-mandaré estava de volta trazendo a bordo um presidente deposto.

Dez dias depois da deposição de Car-los Luz, a crise se reacenderia: Café Filho, recuperado, ia deixar o hospital e se dizia disposto a reassumir.

Café Filho deixou o hospital a 21 de no-vembro e seguiu para seu apartamento em Copacabana, anunciando que pretendia voltar à Presidência. Cinco minutos depois de entrar em sua casa, chegaram os tan-ques e cercaram o quarteirão. De pijama e pela janela, mais um presidente recebia a notícia de sua deposição. Virtualmente preso em sua residência, Café Filho teve certeza de que não reassumiria. No dia se-guinte, a Câmara dos Deputados legalizou a situação impedindo Café Filho e confir-mando Nereu Ramos. E o país terminava novembro com apenas dois presidentes: um em exercício e outro eleito, aguardan-do, agora com segurança, a posse.

Extraído de: revista História, nº 18.

Odillo Denys e Silvio Heck, figuras de bastidores, mas muito importantes durante todo o correr do golpe de 1955. Esta foto foi feita em 1961, seis anos após o sucesso do movimento.

ARTIGO 7

Estudo avança compreensão de como surgem as doenças autoimunes

Elton Alisson

O sistema imunológico humano às vezes falha em sua função de re-conhecer tecidos e órgãos como

elementos próprios do corpo e passa a atacá-los como se fossem estranhos. Esse erro de identificação é denominado autoimunidade agressiva e desencadeia doenças como a síndrome poliglandular autoimune tipo 1 (APS-1) e o diabetes mellitus do tipo 1.

Nos últimos anos descobriu-se que dois genes, que atuam nas células da medula do timo (células mTEC), contro-lam a autoimunidade agressiva: o Fezf2 (sigla em inglês de forebrain-expressed zinc finger 2) e, principalmente, o Aire (si-gla em inglês de autoimmune regulator).

Um grupo de pesquisadores das facul-dades de Medicina (FMRP) e de Odon-tologia de Ribeirão Preto (FORP) da Universidade de São Paulo (USP) usou o sistema CRISPR/Cas9 – uma ferramen-ta de edição do DNA – para manipular o gene Aire e, dessa forma, entender me-lhor como ele atua no controle de doen-ças autoimunes.

O estudo, resultado de um projeto de pesquisa apoiado pela Fapesp e do traba-lho de mestrado de Cesar Augusto Speck--Hernandez feito na FMRP-USP, foi publi-cado na revista Frontiers in Immunology.

“Usamos, pela primeira vez, o CRISPR/Cas9 para ‘anular’ o Aire em células mTEC de camundongos cultivadas in vitro [fora do corpo dos animais] e estudar o efeito da perda de função desse gene”, disse Geraldo Aleixo Passos, professor da FMRP e da FORP-USP e coordenador do projeto, à Agência FAPESP.

Passos explica que as doenças autoi-munes são desencadeadas por autoanti-corpos (que reagem contra o próprio cor-po) ou pelos linfócitos T autoagressivos. Essas células, provenientes dos “timóci-tos”, são “educadas” na glândula do timo (um órgão torácico, situa do logo à frente do coração) para não atacar os elementos próprios do corpo.

Quando essa educação falha, o timo deixa escapar para o resto do corpo linfó-citos T autoagressivos que podem agredir órgãos, como a glândula suprarrenal (cau-sando a síndrome APS-1) ou o pâncreas, onde destroem as células produtoras de insulina e provocam o surgimento do dia-betes mellitus do tipo 1.

Pesquisadores da área de Imunologia sempre associaram a função do gene Aire com a eliminação dos timócitos autoa-gressivos, pois os pacientes com a síndro-me APS-1, por exemplo, apresentam mu-tações na sequência do DNA desse gene. Mas ainda não havia uma demonstração cabal que validasse essa associação.

“Decidimos testar a hipótese de que o gene Aire estaria envolvido na eliminação dos timócitos autoagressivos ao controlar a adesão física ou contato deles com as células mTEC. Sem o contato físico com as células mTEC os timócitos autoagres-sivos não são eliminados”, disse Passos.

Edição do gene

Os pesquisadores intuíram que, se os pacientes com doenças autoimunes apresentam mutações no Aire, o gene perderia a função de controlar a adesão entre as células mTEC e os timócitos au-toagressivos.

A fim de testar essa hipótese, eles usaram o CRISPR/Cas9 para romper o DNA do gene Aire de células mTEC de camundongos e provocar mutações nele, a fim de possibilitar a perda de sua fun-ção original.

Para funcionar, um gene tem que estar íntegro, ou seja, não pode ter mutações deletérias. Quando o DNA dele é rompi-do por meio do CRISPR/Cas9, a célula dispara um sistema emergencial de “re-paro” para reunir novamente a dupla fita antes que ela morra. Como esse sistema de reparo não é muito eficiente, a própria célula gera erros na sequência do gene--alvo, que resultam em mutação, expli-cou Passos.

“O gene-alvo mutante geralmente per-de a sua função original e isso ocasiona algum problema na célula mutante”, disse.

Os pesquisadores da USP observaram que as células mTEC Aire mutantes se mostraram menos capazes de aderir aos timócitos quando comparadas com as cé-lulas normais, chamadas Aire selvagens.

Ao fazer o sequenciamento do trans-criptoma, ou seja, do conjunto completo dos RNAs mensageiros (mRNAs, codifi-cadores de proteínas) das células mTEC Aire mutantes e das selvagens, eles ob-servaram que o gene Aire também con-trola mRNAs codificadores de proteínas envolvidas com a adesão célula-célula.

Em um estudo anterior, feito durante o trabalho de mestrado de Nicole Pezzi, sob orientação de Passos, os pesquisadores demonstraram por meio de uma técnica de silenciamento gênico, chamada RNA interferente, que o gene Aire realmente controla a adesão entre as células mTEC e os timócitos.

“Essas novas constatações reforçam a tese de que o gene Aire está implicado na adesão mTECs-timócitos, que é um processo essencial para eliminação das células autoagressivas e prevenção das doenças autoimunes”, disse Passos, pes-quisador associado ao Centro de Pesqui-sa em Doenças Inflamatórias (Crid), um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiado pela Fapesp.

Na avaliação dele, a utilização da técnica CRISPR/Cas9 abre perspectivas importan-tes de pesquisa no sentido de “editar” o genoma das células mTEC de camundon-gos de laboratório de modo a “mimetizar” as mutações do gene Aire encontradas nos pacientes com doenças autoimunes.

“Isso facilitará muito as pesquisas so-bre o efeito das mutações patogênicas do gene Aire. Como os genomas do ho-mem e do camundongo são muito pare-cidos em termos de sequências de DNA [mais de 80% de identidade], poderemos continuar a utilizar o CRISPR/Cas9 nas cé-lulas desse animal para estudar os meca-nismos da autoimunidade agressiva que acontece em humanos e quem sabe, no futuro, tentar corrigi-los”, disse Passos.

Extraído de: Agência FAPESP – Divulgando a cultura científica, jul./2018.

Pesquisadores da USP usam ferramenta de edição em gene que desempenha papel-chave na eliminação das células autoagressivas e no controle do surgimento de doenças, como o diabetes mellitus do tipo 1 (imagem de imunofluorescência de células mTEC, onde o núcleo celular está em azul e os pontos vermelhos são a proteína Aire / Karina F. Bombonato-Prado (FORP-USP)).

SERVIÇO DE VESTIBULAR8

Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper)

Período de inscrição: via internet até dia 21 de novembro de 2018.Endereço da faculdade: Rua Quatá, 300 – Vila Olímpia – São Paulo – SP – CEP: 04546- -042 – Telefone: (11) 4504-2649.Requisito: taxa de R$ 200,00.Cursos e vagas: no site<www.insper.edu.br/vestibular>.Exames:• 1a Fase: dia 14 de dezembro de 2018.• 2a Fase: dias 19 a 23 de janeiro de 2019.

Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” (Unesp)

Período de inscrição: via internet até dia 08 de outubro de 2018.Endereço da faculdade: Rua Quirino de Andrade, 215 – Centro – São Paulo – SP – CEP: 01049-010 – Telefone: (11) 5627-0245/7036.Requisito: taxa de R$ 170,00.Cursos e vagas: no site<www.vunesp.com.br>.Exames:• 1a Fase: dia 15 de novembro de 2018.• 2a Fase: dias 16 e 17 de dezembro de 2018.

Centro Universitário de Araraquara (Uniara)

Período de inscrição: via internet até dia 15 de outubro de 2018.Endereço da faculdade: Rua Carlos Gomes, 1 338 – Centro – Araraquara – SP – CEP: 14801-340 – Telefone: 0800-55-65-88.

Requisito: taxa de R$ 300,00 para Medicina e R$ 25,00 para demais cursos.Cursos e vagas: no site<www.uniara.com.br>.Exames: 13 de outubro de 2018 para Medicina e 20 de outubro de 2018 para demais cursos.

Instituto Federal Minas Gerais (IFMG)

Período de inscrição: via internet até dia 20 de outubro de 2018.Endereço da faculdade: Av. Prof. Mário Werneck, 2 590 – Buritis – Belo Horizonte – MG – CEP: 30575-180 – Telefone: (31) 2513-5132.Requisito: taxa de R$ 20,00.Cursos e vagas: no site <www.ifmg.edu.br>.Exame: dia 19 de novembro de 2018.

Centro Universitário de Adamantina (Unifai)

Período de inscrição: via internet até dia 31 de outubro de 2018.Endereço da faculdade: Rua Nove de Julho, 730 – Centro – Adamantina – SP – CEP: 17800--000 – Telefone: (18) 3502-7010.Requisito: taxa de R$ 340,00.Cursos e vagas: no site<www.vunesp.com.br>.Exame: dia 02 de dezembro de 2018.

Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

(Cefet-MG) Período de inscrição: via internet até dia 14 de outubro de 2018.

Endereço da faculdade: Av. Amazonas, 5 253 – Nova Suiça – Belo Horizonte – MG – CEP: 30480--000 – Telefone: (31) 3319-7033.Requisito: taxa de R$ 80,00.Cursos e vagas: no site<www.copeve.cefetmg.br>.Exame: dia 02 de dezembro de 2018.Leitura obrigatória:Opisanie swiata – Verônica Stigger.

Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)

Período de inscrição: via internet até dia 26 outubro de 2018.Endereço da faculdade: Rua Sena Madureira, 1 500 – São Paulo – SP – CEP: 04021-001 – Telefone: (11) 3385-4101.Requisito: taxa de R$ 135,00.Cursos e vagas: no site <www.unifesp.br/reitoria/vestibular/>.Exames:• 1a Fase: Enem.• 2a Fase: dias 13 e 14 de dezembro de 2018.

Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG)

Período de inscrição: via internet até dia 22 de outubro de 2018.Endereço da faculdade: Av. General Carlos Cavalcanti, 4 748 – Praça Santos Andrade – Ponta Grossa – PR – CEP 84030-900 – Telefone: (42) 3220-3000.Requisito: taxa de R$ 145,00.Cursos e vagas: no site <www.cps.uepg.br/vestibular>.Exames: dias 09 e 10 de dezembro de 2018.

(ENTRE PARÊNTESIS)

Jornal ETAPA, editado por Etapa Ensino e Cultura REDAÇÃO: Rua Vergueiro, 1987 – CEP 04101-000 – Paraíso – São Paulo – SP

Jornal do Vestibulando

Caiu na FuvestCada um dos cartões apresentados tem de um lado um número e do outro uma letra. Alguém afirmou que todos que têm uma vogal numa face têm um número par na outra.Para verificar isso, é suficiente virar todos os cartões? É necessário virar quantos e quais cartões?

A B 2 3

A afirmação será falsa somente se houver algum cartão com número ímpar e letra vogal. Caso contrário, será verdadeira. Para verificarmos isso, é, obviamente, suficiente virar todos os cartões, embora não seja necessário. É necessário virar apenas dois cartões: o cartão “A” (verificando se é par ou ímpar o número do verso) e o cartão “3” (verificando se a letra do lado oposto é consoante ou vogal).

RESPOSTA