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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO Faculdade de Ciências Sociais Departamento de Geografia Permacultura e a Construção do Espaço Geográfico: reflexões teóricas e proposições práticas Cláudia Álvares Chaves [email protected] Orientadora: Profa. Dra. Vilma Alves Campanha Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP São Paulo, SP Dezembro de 2008

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Permacultura e a Construção do Espaço Geográfico: São Paulo, SP Dezembro de 2008 reflexões teóricas e proposições práticas Cláudia Álvares Chaves [email protected]

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

Faculdade de Ciências Sociais

Departamento de Geografia

Permacultura e a Construção do Espaço Geográfico:

reflexões teóricas e proposições práticas

Cláudia Álvares Chaves [email protected]

Orientadora:

Profa. Dra. Vilma Alves Campanha

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, SP

São Paulo, SP

Dezembro de 2008

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Sumário

Página

AGRADECIMENTOS.............................................................................................. 4

1. INTRODUÇÃO ................................................................................................ 6

2. JUSTIFICATIVA .............................................................................................. 8

3. OBJETIVOS ................................................................................................. 11 3.1. Geral ............................................................................................... 11 3.2. Específicos.......................................................................................... 11

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS............................................................... 12

5. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................ 12 5.1. Como se chegou à atual crise socioambiental e econômica......................... 17 5.2. A abordagem sistêmica: economia, meio ambiente, sociedade e cultura ...... 20

6. PERMACULTURA........................................................................................... 24 6.1. Como surgiu a Permacultura.................................................................. 26 6.2. A história da Permacultura no Brasil e seus institutos................................ 27 6.3. A ética da Permacultura........................................................................ 31 6.4. Os princípios da Permacultura................................................................ 32 6.5. As ferramentas de planejamento da Permacultura .................................... 34

6.5.1. Setores..................................................................................... 35 6.5.2. Zonas ....................................................................................... 36

6.6. Criatividade, conhecimento e tecnologias ................................................ 39 6.6.1. Água doce ................................................................................. 40 6.6.2. Energia (elétrica, térmica e mecânica)........................................... 41 6.6.3. Alimentação e nutrientes ............................................................. 41 6.6.4. Construções .............................................................................. 42 6.6.5. Resíduos e saneamento............................................................... 43 6.6.6. Sistemas Produtivos e Economia................................................... 45 6.6.7. Educação .................................................................................. 46 6.6.8. Comunidade .............................................................................. 46

7. ANÁLISE CRÍTICA DE ALGUNS CASOS EXISTENTES .......................................... 47 7.1. Jardim Vera Cruz, São Paulo/SP............................................................. 48

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7.2. Instituto de Permacultura da Amazônia, Manaus/AM ................................. 50 7.3. Centro Sabiá e as comunidades no entorno de Bom Jardim/PE ................... 52 7.4. Casa dos Hólons e Morada da Floresta, São Paulo/SP ................................ 56

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................. 61

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 64 ANEXOS

I. Agronegócios sustentáveis ................................................................... 70

II. Planta do Sítio Sustentável, Ecocentro IPEC, em Pirenópolis/GO ................. 71

III. O Símbolo da Permacultura .................................................................. 72

IV. A Flor da Permacultura, de David Holmgren ............................................. 73

V. Permacultura no Brasil ......................................................................... 74

VI. Design do Sítio Curupira (Santo Amaro da Imperatriz/SC) ........................ 75

VII. Sítio Tir Penrhos Isaf, Inglaterra ........................................................... 76

VIII. Quadro esquemático de um banheiro compostável ................................... 77

IX. Permacharge – Biocombustível ............................................................. 78

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AGRADECIMENTOS

À Vida, que com suas conexões e energias conspirou para que eu trilhasse este

caminho de grande aprendizado, difícil mas extremamente feliz e gratificante, e que me

fez chegar até aqui.

Aos meus maravilhosos pais, Ayr e Fausto, pelos sacrifícios e apoio constante e

incondicional na construção desta minha trajetória na Geografia e sem os quais eu não

teria realizado tudo o que consegui até hoje, inclusive esta monografia.

Às Tias Irene Gonçalves de Assis e Giscelda Álvares Ferraz, meus padrinhos Maria

Alice e Luiz Carlos Silva, os amigos Cristiane Fontana, Fátima Pereira Pinto, Jacqueline

Brizida, Lino Sánchez, Marcelo Francisco Pinto, Profa. Marísia M. S. Buitoni e um certo

anjo chamado Vilma Tanaka, que também acreditaram no meu sonho e contribuíram,

cientes disso ou não, para que eu tivesse condições de levá-lo adiante.

À minha querida amiga e exigente orientadora, Profa. Vilma Alves Campanha, por

sua confiança, paciência, carinho e conselhos, não apenas com relação ao

desenvolvimento desta pesquisa, mas à minha vida. Busquei fazer o melhor, mas este

trabalho ainda não está à sua altura, e fica aqui uma promessa de melhorá-lo em outros

formatos, para que um dia seja realmente digno de levar seu nome como orientadora.

Ao grande amigo, Prof. Eduardo Antonio Bonzatto, por ter enriquecido e ampliado

minha maneira de pensar e de ver o mundo, constantemente me inspirando e instigando

a rever idéias e conceitos, levando-me a abrir janelas anteriormente desconhecidas por

mim, para que eu pudesse vislumbrar outras relações possíveis entre seres humanos, e

entre estes e a Natureza, da qual todos fazemos parte.

Ao Aerton Paiva (Apel Consult) e ao pessoal da Permacultura, como André Soares e

Antonio Zayek (IPEC), Carlos Miller (IPA), Índia (IPETERRAS) e Marcelo Bueno (IPEMA);

da Agroecologia, como o Adeildo Fernandes (Centro Sabiá) e Aderbal Garcia (Consultor

em Veterinária Homeopática); e da Antroposofia, como a Profa. Clara Passchier

(USP/FFLCH), pelas informações e oportunidades de aprendizagem que me

proporcionaram.

Aos amigos e parentes, que compreenderam minha constante ausência do convívio

social e sempre me animaram nos momentos de ansiedade, desânimo ou cansaço.

A todos vocês, muito obrigada!

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"Meditava sobre a grandeza e a presença de Deus; sobre a eternidade

futura, mistério sublime; sobre os infinitos que se abismavam a seus

olhos em todas as direções; e, sem tentar compreender o

incompreensível, limitava-se a fitá-lo. Para ele, Deus não era objeto de

análise, era motivo de deslumbramento. Refletia sobre esses magníficos

encontros de átomos que produzem o aspecto da matéria, revelam as

forças provando-as, criam as individualidades na unidade, as proporções

na extensão, o inumerável no infinito; que, por meio da luz, produzem a

beleza, e de cujo acabamento e constante renovação resultam a vida e a

morte.(...)”.

trecho do livro “Os Miseráveis” (HUGO, 1862, p.62)

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1. INTRODUÇÃO

Nos últimos tempos, vem crescendo a conscientização de diversos setores da

sociedade sobre a importância dos recursos naturais existentes no planeta, mas,

sobretudo, sobre o risco de degradação e escassez dos mesmos. O ser humano depende

dos bens naturais para sua sobrevivência e é inevitável que interfira no meio ambiente

para extraí-los. Entretanto, o tipo e a intensidade dessa intervenção, em uma sociedade

voltada para a acumulação do capital como é a atual, vêm destruindo irremediavelmente

justamente o que lhe garante a vida.

De três a quatro décadas para cá, inicialmente por meio de grupos da sociedade civil

e, posteriormente, por meio do poder público e do setor privado, vários estudos, medidas

preventivas e mitigadoras e políticas públicas, vêm sendo desenvolvidos para não

permitir que o atual ritmo de destruição continue. Tais iniciativas, entretanto, não estão

ocorrendo no ritmo necessário por irem de encontro aos interesses econômicos de

grandes grupos corporativos, acostumados a auferir lucros cada vez maiores advindos da

exploração dos recursos naturais e humanos em todos os pontos do planeta. O que esses

grupos relutam em perceber é que se não houver uma mudança – e a esta altura, ela

deve ser imediata - nos seus modos de produção, em breve a economia mundial sofrerá

um colapso irreversível e suas perdas serão ainda maiores.

Os economistas Herman E. Daly e Joshua Farley, em seu livro “Ecological Economics”

(2004), utilizando a linguagem de sua própria área de estudo, a Economia, buscam

alertar todos, mas em especial seus pares, para a urgência de uma mudança de

paradigma. Segundo eles, a Economia convencional vê a macroeconomia como sendo o

Todo, onde a natureza e o meio ambiente, quando considerados, são apenas uma parte

dela. Por outro lado, a Economia Ecológica considera a macroeconomia como uma parte

de um Todo maior que envolve e que sustenta, ou seja, a Terra, sua atmosfera e seus

ecossistemas, que são sistemas finitos e fechados. Um sistema aberto recebe e dá tanto

matéria como energia: a Economia é um sistema assim. Já um sistema fechado, importa

e exporta apenas energia, enquanto a matéria circula dentro dele mas não através dele:

a Terra se aproxima bastante desse tipo pois dificilmente troca matéria com o espaço

exterior à ela. A energia flui na forma da entrada de luz e saída de radiação, é finita e

não-crescente, enquanto a matéria apenas circula dentro do sistema. Em um sistema

isolado, nem energia nem matéria entram nele ou sequer existem: é difícil pensar em um

sistema assim, talvez o Universo seja um exemplo. (DALY e FARLEY, 2004)

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A sensação de que “ainda há bastante tempo para efetuar essa mudança de

paradigmas” vem sendo repetidamente contestada, não apenas pela comunidade

científica e política, como pela própria Natureza, a ver as mudanças climáticas se dando

em ritmo acelerado e cada vez mais impactante ao meio ambiente e à vida das pessoas,

com enormes prejuízos ao setor produtivo.

Em um esforço para contribuir com o uso sustentável dos recursos naturais e uma

convivência mais harmoniosa e duradoura entre a sociedade humana e o meio natural

que a cerca e do qual faz parte, o presente trabalho objetiva levantar e apresentar os

princípios da Permacultura como uma alternativa viável de convivência pacífica,

equilibrada e produtiva entre as comunidades humanas e os ecossistemas naturais, para

a manutenção, conservação e reprodução da vida e dos recursos do planeta. Ou seja,

buscar embasamento teórico e iniciativas práticas que indiquem um caminho possível

para a manutenção dos ecossistemas, da segurança alimentar, o uso de insumos

recicláveis e renováveis, a geração mínima de resíduos, a geração de renda e que

resgate a relação orgânica e simbiótica do ser humano com a Natureza, assim como com

seus próprios pares, apresentando um caminho de transformação do espaço geográfico e

da realidade de todos os envolvidos, por meio da compreensão da importância dos vários

sistemas e de suas relações interdependentes.

Segundo pesquisas preliminares junto a bibliotecas (físicas e virtuais),

permacultores1 e a participação da autora em cursos e palestras, ainda não foi

desenvolvido no Brasil nenhum tipo de estudo ou levantamento acadêmico com as

características deste, relativo aos conceitos iniciais da Permacultura e seus

desdobramentos em várias linhas de ação criativas, a partir da concepção inicial dos

australianos Bill Mollison2 e David Holmgren3, (1976), e que enderecem diretamente as

questões ecológicas da atualidade. A bibliografia disponível ainda é bastante escassa e

pouco difundida, assim como o acesso a ela, difícil e disperso, estando concentrada em

nichos de conhecimento, como os poucos Institutos de Permacultura no Brasil.

Entretanto, por meio do levantamento e análise de material bibliográfico suficientemente

1 Permacultor ou permacultora é a pessoa que obteve o Diploma de Desenho em Permacultura, após ter o Certificado do PDC (Permaculture Design Course) e um mínimo de 2 anos adicionais de estudos e trabalhos práticos. Ambos, certificado e diploma, são concedidos por organizações autorizadas para tanto e reconhecidas internacionalmente pelo Permaculture Institute. 2 Bill Mollison nasceu no vilarejo pesqueiro de Stanley, Tasmânia, Austrália, em 1928 e é pesquisador, autor, cientista, professor e naturalista. 3 David Holmgren nasceu em Fremantle, no Estado de Western Austrália em 1955. É ecologista e escritor.

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relevante e da vivência em núcleos propagadores dos conceitos e das tecnologias da

Permacultura, é possível se chegar a um novo modelo de produção do espaço e

demonstrar sua eficiência na positivação4 socioambiental e econômica de uma

comunidade humana.

A proposta não é a de levantar uma bandeira anti-capitalista no sentido de criticar

ou eliminar esse sistema econômico, uma vez que os descobrimentos e as tecnologias

atuais que facilitam muitos dos processos que serão descritos, foram desenvolvidos

dentro dessa dinâmica do capital, e portanto, a argumentação não se desenrolará

focando os pontos desfavoráveis deste sistema, mas sim focando os pontos favoráveis de

outros sistemas possíveis, seguindo a linha de que o que se escolhe apreender,

consciente ou inconscientemente, dentre tantas possibilidades, é o que construirá a

realidade futura. Relações de comércio em si não precisam necessariamente ser

predatórias, injustas e destrutivas, mas podem, ao contrário, beneficiar a todos dentro

do conceito da sustentabilidade (desenvolvido mais adiante), gerando renda para além

da simples sobrevivência e também contribuindo para a manutenção dos sistemas

naturais, o desenvolvimento sociocultural, a inovação tecnológica e a melhoria da

qualidade de vida.

2. JUSTIFICATIVA

Justifica-se a proposição da presente pesquisa pelas seguintes razões:

a) a experiência de 14 meses que a autora teve morando e trabalhando no Kibutz

Ramot Menashe (Figuras 1 e 2), na planície de Megiddo em Israel, de fevereiro

de 1994 a abril de 1995, e a constatação de que comunidades humanas de

pequena e média escala5, organizadas em torno de objetivos comuns e da

igualdade, constroem um espaço geográfico com maior qualidade de vida para

4 Termo usado pelo permacultor Antônio Zayek (informação verbal, 2007), do Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado - IPEC, para se referir em especial à recuperação ambiental: na visão dele, a Permacultura promove mais que uma recuperação, ela promove uma positivação, ou seja, além de melhoria há uma potencialização positiva das tendências já inatas aos sistemas. 5 O kibutz em questão possuía uma comunidade formada por 700 pessoas no total, compartilhando uma área urbanizada de aproximadamente 800 m2, circundada por campos e áreas de cultivo e pastagem.

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todos (acesso à educação, a equipamentos comunitários6, alimentação de boa

qualidade, processos democráticos de decisão, solidariedade, produção

econômica coletiva, compartilhamento de perdas e ganhos, positivação e

manutenção da biodiversidade local, menor impacto das ações humanas no meio

ambiente, otimização de recursos, etc.) ;

b) coordenação, em 2003, do projeto EYE Exchange da organização holandesa

ICCO, quando a autora teve a oportunidade de conhecer iniciativas para a

erradicação da pobreza, geração de renda, promoção da igualdade de gênero,

dentre outros, promovidas no semi-árido pernambucano (região do município de

Bom Jardim), pelo Centro Sabiá e pela ASA – Articulação para o Semi-árido, e

testemunhou a melhoria das condições naturais, das relações sociais e da

qualidade de vida com a implantação de cisternas, promoção de agroflorestas, e

organização comunitária, atividades coordenadas pelo dedicado Técnico Agrícola,

Adeildo Fernandes;

c) contato com os princípios da Permacultura em 2006, por meio de: visita ao

Instituto de Permacultura da Amazônia – IPA, em Manaus/AM, e consequente

contato com Ali Sharif7 e Carlos Miller em 2006; curso de Introdução à

Permacultura com Luciana Nogueira e Peter Webb8 na Associação de Agricultura

Orgânica – AAO, no Parque da Água Branca em São Paulo/SP (2006);

organização do mini-curso de Permacultura na Semana de Geografia da PUC-SP,

em novembro de 2006, com Peter Webb e Luciana Nogueira; e envolvimento

com o projeto-piloto “Sítio Sustentável” (Anexo I e II), desenvolvido no Instituto

de Permacultura e Ecovilas do Cerrado – IPEC, em Pirenópolis/GO, no qual a

participação da autora foi de novembro de 2006 a agosto de 2007;

d) contato com os princípios da Agroecologia, em julho de 2007, no Seminário de

Formação em Agroecologia na UNESP de Botucatu/SP, onde também pode trocar

informações com diversos agricultores ali presentes, provenientes de

assentamentos da reforma agrária na região de Itapeva/SP;

e) contato com os princípios da Agricultura Biodinâmica e da Antroposofia nos

vários cursos de extensão promovidos pelo Departamento de Geografia da USP e

6 Os equipamentos comunitários referem-se à clínica médica, lavanderia, restaurante, cozinha, playgrounds, piscina, quadra de esportes, campo de futebol, videoteca, sala de TV, sala de leitura e cafeteria, museu, salão de eventos, mercado, cabeleireiro, jardins, automóveis, telefones, etc.) 7 De origem persa (Irã), ex-aluno de Bill Mollison. Integrante do IPA e também comanda a PAL - Permacultura América Latina (informação verbal, 2006). 8 De origem australiana, ex-aluno de Bill Mollison (informação verbal, 2006). Coordena a organização Vida de Clara Luz, com sede no bairro de Perdizes em São Paulo e um sítio em Itapevi, SP.

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ministrados pela Profa. Dra. Clara Passchier (2006-2007), nos quais a autora

participou e quando também teve oportunidade de trocar informações com a

comunidade antroposófica; e

f) obtenção, em dezembro de 2007, do certificado do Permaculture Design Course

(PDC), após curso intensivo na Morada da Floresta em São Paulo/SP, com o

permacultor e Diretor do Instituto de Permacultura da Mata Atlântica – IPEMA,

Marcelo Bueno, autorizado e reconhecido internacionalmente pelo The

Permacultue Institute.

Figura 1: Vista aérea do Kibutz Ramot Menashe, Israel

– 32°35'48.61"N, 35° 3'24.70"L Figura 2: Vista aérea de outro ângulo do Kibutz Ramot

Menashe, Israel – 32°35'48.61"N, 35° 3'24.70"L

(www.israelimages.com, acesso em 08/fev/2009)

A experiência no kibutz mostrou como uma comunidade humana, de pequena ou

média escala espacial, facilita uma organização social mais solidária, igualitária e justa,

uma vez que permite que todas as pessoas se conheçam e se ajudem, dentro de uma

área geográfica cujas distâncias entre os pontos extremos podem ser percorridas a pé.

Entretanto, embora sua produção econômica fosse de menor impacto ao meio ambiente,

devido a áreas de plantio pequenas e rebanhos pequenos, ela seguia alguns padrões não

sustentáveis a longo prazo, como a utilização de insumos industrializados na agricultura,

e o não tratamento adequado dos resíduos ou a reutilização da água, o que levou, dentre

vários outros fatores, nos últimos anos, à inviabilidade econômica do sistema de então,

que talvez pudesse ter sido evitada, como sugere o parágrafo a seguir.

O contato posterior com os princípios da Permacultura, Agroecologia e Agricultura

Biodinâmica abriu à autora as portas aos elementos que faltavam na construção do

espaço geográfico do kibutz, para que ele fosse mais sustentável em termos ambientais

e economicamente viável, e a levou a buscar modelos flexíveis que aliassem o sucesso

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do Kibutz na área social ao sucesso de outras iniciativas nas áreas ambiental e

econômica. A escolha da Permacultura como tema tornou-se, então, o caminho natural

de estudo e que resultou neste trabalho.

3. OBJETIVOS

Os objetivos da pesquisa foram subdivididos em geral e específicos.

3.1. Geral

O objetivo geral da pesquisa foi apresentar uma opção alternativa de

organização do espaço geográfico por meio da Permacultura, frente a outros

modelos mais difundidos de organização desse espaço na atualidade e que se

baseiam na exploração desmedida dos recursos naturais e do ser humano.

3.2. Específicos

Os principais objetivos específicos da pesquisa foram:

a) aproveitar a experiência e o modelo do kibutz para sugerir a construção de

um espaço geográfico, de pequena ou média escala, apoiado em novas

relações estruturais;

b) apresentar a Permacultura como um modelo de construção do espaço

geográfico mais flexível, orgânico e adequado às necessidades atuais de

recuperação e preservação do meio ambiente, resgate das relações

humanas e produção econômica sustentável e saudável; e

c) mostrar que a Permacultura está ao alcance de todos e que pretende ser

um conhecimento de livre e fácil acesso, de todos e para todos.

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4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Os principais procedimentos metodológicos foram os que se seguem:

a. levantamento dos principais problemas provenientes do pensamento

determinista e mecanicista, e da visão do ser humano dissociado do meio

ambiente, este visto simplesmente como fonte de insumos para a produção e

manutenção do sistema econômico atual, ou seja, do Capitalismo;

b. apresentação da concepção de Permacultura, sua história, proposições e

abordagens;

c. contextualização do objeto de estudo (Permacultura, meio ambiente,

comunidades humanas):

c1. a paisagem e a dinâmica em um sistema padrão de produção permacultural

e de convivência (levantamento de seus elementos e razões). Como se

forma? Como opera?

c2. identificação das relações de seus elementos entre si e com o externo. Como

ocorre, contribuições, etc. Identificação das redes de atuação/influência

(dimensão).

5. REFERENCIAL TEÓRICO

Neste item, serão abordados os referenciais teóricos das concepções geográficas

mais utilizadas no campo de estudo ora proposto.

A concepção de “espaço” será diferente para cada ciência e dependerá,

exclusivamente, do objeto de estudo e do tipo de abordagem conceitual adotado por

cada uma. Pode ser entendido como um lugar físico onde se desenrola um

acontecimento, uma área delimitada por coordenadas, ou ainda o vazio necessário para

que um fenômeno se manifeste. O Espaço Geográfico - ou seja, a concepção de espaço

dentro da Geografia - leva em consideração a localização física de uma paisagem, seus

elementos (ambiente natural, ambiente construído e o próprio ser humano), como se

distribuem, as marcas derivadas de sua história (“rugosidades”, como diria Milton

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Santos, 1980) e como todos esses fatores se organizam e interagem, ou seja, a questão

do movimento e da ação9, que nos leva à noção de tempo. Portanto, é uma construção

espaço-temporal. O espaço é uma das principais categorias filosóficas da Geografia: “é

considerado ao mesmo tempo como o resultado concreto de um processo histórico, e

neste sentido ele possui uma dimensão real e física, ou como uma construção simbólica

que associa sentidos e idéias” (GOMES, 2000 in “O conceito de Lugar na Geografia

Humana”, Paula da Silva Bespalec, UNICAMP: 2007). Sua investigação exige um exame

das trocas de energia, constantes e simultâneas - ou não -, entre seus elementos, as

quais promovem a construção desse mesmo espaço e de todos os outros com os quais se

relaciona, mesmo que tangencialmente, faz parte ou contêm.

Já o conceito de lugar envolve uma experiência mais concreta do espaço, “el ámbito

de la existencia real y de la experiencia vivida” (CAPEL, 1981 in idem), é, portanto, um

“dar-lhe um significado e uma significância”. O lugar é derivado da percepção individual e

coletiva de uma cultura. Tuan (1980) vai além e desenvolve o conceito de topofilia: “o

elo afetivo entre a pessoa e o lugar ou ambiente físico” (op. cit.), ou seja, diz respeito ao

valor daquele lugar para uma pessoa ou grupo, e é mais um sentimento e sensação de

pertencimento ou não, do que uma análise ou categorização racional do espaço, e que

não pode ser ignorada na construção do espaço geográfico permacultural que se deseja

propor aqui.

É necessária a superação da abordagem determinista e linear, de causas e efeitos,

que a sociedade moderna tem utilizado há séculos, para avançar na compreensão de que

o espaço que se constrói é resultado dos processos da vida, que são orgânicos e

sistêmicos, ou seja, das inter-relações entre seus elementos, e que essa construção só é

positiva – tanto para o meio natural quanto para a humanidade - quando ela

compreende, respeita e está em harmonia com as leis da Vida, com o fato de que a

diversidade – e não a homogeneidade – é que promove um crescimento e manutenção

saudáveis dos ecossistemas e que as trocas constantes é que determinam suas essências

e sua sobrevivência.

A moderna visão de um mundo fragmentado, separado do Todo, vem se modificando

mais fortemente nas últimas décadas, embora tenha começado a ser resgatada, mesmo

que com certa timidez, após os descobrimentos da Física Quântica, na primeira metade

do Século XX. A concepção de um mundo formado por partículas ou unidades separadas

foi sendo substituída pela noção de totalidade e conexão, onde cada parte é um reflexo

9 Movimento é entendido aqui como deslocamento, seja físico ou temporal. Ação é entendida como uma intervenção que resulta em modificação física da paisagem ou das relações entre seus elementos.

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do todo e contém a informação do todo, além de estarem conectadas de alguma maneira

por fluxos energéticos, embora no nosso nível de compreensão elas possam parecer

isoladas. Bohm10 desenvolve, juntamente com Pribam11, a idéia do cérebro humano como

um holograma, ou seja, um registro de determinadas informações (partes) selecionadas

através do que se apreende pelos sentidos (senses), para formar um todo carregado de

sentido (meaning). Essas informações se manifestam em um espaço e a um determinado

tempo por meio de energia. Entretanto, uma vez que o espaço se produz a cada instante

de tempo, não há como dissociar esses dois conceitos, que na verdade se complementam

para formar a idéia do continuum “espaço-tempo”. Consequentemente, quando

selecionamos “um quadro” nesse continuum somos guiados inexoravelmente pelos

valores construídos pela série de quadros captados anteriormente e que nos dão a idéia

de realidade e movimento, embora seja apenas uma construção arbitrária do real12.

Apesar de a civilização ocidental ter por muitos séculos trabalhado com o conceito de

linearidade (cartesiano), na verdade vê-se o mundo hoje como construído de maneira

holística, onde há várias possibilidades ocorrendo simultaneamente e que estão

intrinsecamente ligadas e em constante comunicação. Uma região, lugar ou ponto se

constituem, então, em uma unidade de estudo, mas não podem ser considerados

isolados de suas relações com o mundo.

“De um lado, os sistemas de objetos condicionam a forma como se dão as ações e, de outro lado, o sistema de ações leva à criação de objetos novos ou se realiza sobre objetos preexistentes. É assim que o espaço encontra sua dinâmica e se transforma” (SANTOS, 1996, p.51)

Os objetos e ações que transformam uma paisagem em espaço se constroem

mutuamente por meio de suas relações, e se recriam como novas realidades a cada

momento. Ainda de acordo com essa visão, na Geografia, Milton Santos introduziu a idéia

de verticalidade e horizontalidade (SANTOS, 1997), onde um elemento mantém relações

com outros elementos em seu próprio plano (relação horizontal), mas sua sobrevivência

depende também de sua inclusão ou não dentro de um fluxo de informações verticais.

Nas palavras de Sônia Morandi (2002: p.72), “o primeiro [vertical] é criado por uma

racionalidade global, com funções controladas e planejadas, conectado a uma ordem

10 David Joseph Bohm (1917-1992, EUA). Físico quântico, graduou-se em 1939 e passou a trabalhar com Oppenheimer em física teórica, primeiro no Instituto de Tecnologia da Califórnia, depois na Universidade da Califórnia, Berkeley. Após a guerra, Bohm se tornou professor assistente na Universidade de Princeton, onde trabalhou com Albert Einstein. Suas contribuições para a física, principalmente na área da mecânica quântica e teoria da relatividade, foram significativas. 11 Karl Pribam (1919, Áustria). Neurocientista, professor de psicologia e psiquiatria na Universidade de Stanford. 12 Não se trata, de maneira alguma, de fazer alusão ao solipsismo ou tomar esta abordagem como a linha metodológica deste trabalho.

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global. O segundo [horizontal], ligado ao fazer local dos lugares, ao cotidiano, aos

objetos e ações próprias da sociedade local”.

Por outro lado, mas não em contradição, Ruy Moreira (2004) se expressa por meio

do conceito de região, onde esta é uma síntese de determinadas características físicas e

humanas, inserida em uma rede de relações de diferentes níveis, facilitadas ou mesmo

induzidas pela globalização e o avanço tecnológico (transportes, comunicação, etc.). Os

elementos se localizam e se distribuem dentro de uma região assim como são parte de

uma rede de relações, e a extensão e dinâmica desse fenômeno no espaço-tempo é que

lhe dará significado. O círculo se recria em cada momentum da espiral.

Vivianne Amaral (2007) afirma que “O conceito vem do conhecimento dos sistemas

vivos e dinâmicos e da cibernética. O padrão organizacional rede é um dos padrões de

organização da vida e a circularidade é um de seus operadores básicos. Por ser aberta,

sua operação deve considerar as abordagens sistêmicas que possibilitem visão de

contexto, emergências e mudanças qualitativas. Ao mesmo tempo, é um sistema

fechado: pelos objetivos, foco, perfil de integrantes, regras, trama de interações e

vínculos entre integrantes, pelos territórios biogeográficos que abrange”. A Figura 3

apresenta as características do padrão em rede, segundo Amaral (op. cit),

Figura 3: Características do padrão em rede. (AMARAL, 2007)

E segundo Fonseca e O’Neil (2001) “Seu interesse [de Castells] está assentado no

período atual caracterizado pela Revolução da Tecnologia e da Informação que vem

engendrando um arranjo em forma de rede em escala global. Enquanto Parrochia afirma

que a matéria é rede, Castells aborda que os avanços tecnológicos criaram uma

sociedade rede. Sendo assim, o arranjo reticular presente na matéria, no vivente e,

também, nas sociedades, é fator de aproximação, considerando suas diferenças e

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complexidades, entre as ciências naturais e humanas. É uma ‘nova aliança’

natureza/sociedade via redes. (Pregogine & Stengers, 1997)“

“Os movimentos sociais, por exemplo, da forma como estavam engendrados até então – objetivavam mudanças estruturais da sociedade a partir de escopos ideológicos bem definidos – se esvaziaram. Novas redes sociais começam a surgir. Ao invés de grandes projetos de transformação social os novos movimentos são efêmeros, fragmentados, localistas e voltados, muitas vezes, à preservação do querer viver. Estes movimentos estão presentes hoje em vários recantos do Brasil. Na Bahia, particularmente, estão se configurando desde o final da década de 1980, estratégias locais envolvendo múltiplos atores sociais de variados municípios com objetivos reivindicatórios e também de busca de soluções para os problemas locais13.“ (Fonseca e O’Neil, 2001)

Partindo dessas premissas, este trabalho pretende mostrar que, sim, todos os

sistemas estão interligados, são interdependentes e se constroem mutuamente a cada

momento (ou seja, tanto no espaço, quanto no tempo) e que há alternativas para a

construção de um Espaço Geográfico onde os sistemas atuais de produção capitalista e

de reprodução do capital podem, pontualmente, tornar-se irrelevantes e até mesmo

dispensáveis: onde há a possibilidade de auto-suficiência dentro de sistemas

relativamente pequenos e simples, mas em constante intercâmbio com seus sistemas

adjacentes, numa relação em rede que reconstrua as conexões de solidariedade e

reconcilie seres humanos e natureza.

Entretanto, a linha deste trabalho pretende ir muito na direção do conceito de

Topofilia de Tuan, e dos desdobramentos que ele gera, do que no da desterritorialização

como resultado das redes criadas e feitas possíveis por meio da globalização. Isso porque

a relação de afetividade ou repúdio que um ser humano desenvolve com um determinado

espaço construído, transformando-o em um lugar, acredita-se muito mais forte que os

chamados (callings), embora sedutores, para “um mundo homogeneizado”, que é o

oposto dos padrões da vida. A Permacultura, assim como algumas outras ferramentas de

construção de um espaço geográfico de pequena ou média escala, busca levar a um

auto-equilíbrio orgânico entre assentamentos humanos e meio ambiente, sem, por isso,

excluí-los das relações com um todo maior, muito pelo contrário, os avanços tecnológicos

que têm feito cada vez mais “do mundo uma vila”, são extremamente valorizados nas

relações da comunidade com outras comunidades e com o mundo em geral, sem perder

suas identidades de grupo ou de apego ao lugar, transformando em realidade a frase

atribuída a Jane Goodall: “Pense globalmente, aja localmente”.

13 Sobre estes movimentos na Bahia, ver Fonseca (1995) e Teixeira (1994).

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5.1. Como se chegou à atual crise socioambiental e econômica

“Aquilo que é necessário para uma subseqüente manutenção da Natureza entrou completamente para a ignorância, no decurso da era materialista. Nem ao menos se sabem as coisas mais importantes. E deste modo continua-se a manejar as coisas, certamente a partir de um instinto muito bom, mas que vai desaparecendo paulatinamente. As tradições estão sumindo. As pessoas acabarão adubando as lavouras com ciência. As batatas, os cereais, tudo se torna cada vez pior” (STEINER, 1924: p. 23).

Ao longo da história, o ser humano sempre encontrou um meio de se relacionar

com a natureza, que freqüentemente não entendia, por meio da criação de mitos

que justificassem seus processos, assim como pela observação destes, o que em

muitos casos, como dos povos egípcios e americanos pré-colombianos, para nomear

apenas alguns, poderia até ser chamado de ciência. A diferença entre a maneira

como os antigos se relacionavam com a natureza e a maneira como o ser humano

passou a se relacionar com ela por volta do Século XV, é que os primeiros a

respeitavam e reverenciavam, com uma absoluta certeza de que tudo estava

interligado e, portanto, eles mesmos eram parte dessa Natureza, construindo, assim,

uma forte identidade espiritual, entre outros. Suas observações e experiência

baseavam-se principalmente nos astros, em especial o Sol, a Lua e a Terra,

receptora e transformadora das energias dos dois primeiros. O Cristianismo

paulatinamente incorporou as crenças, valores, e lugares sagrados pagãos,

transformando-os em seus próprios símbolos, associando histórias e feitos cristãos

aos mesmos e dando-lhes outra roupagem. Apesar disso, a antiga relação com a

Natureza continuou presente e forte ao longo dos séculos.

Na Baixa Idade Média, o caminho do aprendizado começa definitivamente a

passar do macrocosmo (a Natureza, o Cosmos, o Todo), para o microcosmo (a

compartimentalização, o ser humano, elementos separados, sem relação com o

Todo, etc.). Pode-se perceber essa passagem claramente por meio das pinturas

dessa época (do Séc. XIII ao XV): aos poucos a Natureza sai de foco e entra o

homem, principalmente na imagem de Maria e Jesus, ilustrando o forte domínio da

Igreja Cristã na época. A passagem do geocentrismo, onde a terra e,

consequentemente, o homem, eram o centro do universo, para o heliocentrismo

(teoria desenvolvida por Nicolau Copérnico no século XV que apontava o Sol como

centro do universo) foi, de certa maneira, o grande impulso para o desenvolvimento

de uma incipiente ciência, contradizendo as teorias da Igreja sobre a criação e

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funcionamento do mundo de então. O interesse pelos processos da natureza como

sendo calculáveis e previsíveis vão ganhando força, e nomes como Renè Descartes

(1596-1650) e Isaac Newton (1643-1727) iniciam a Revolução Científica, com

teorias que colocam o pensamento racional como a [única] ferramenta para a

compreensão dos processos da vida, impulsionada posteriormente por outros como

Charles Darwin (1809-1882). Nascia o método na ciência, assim como a ilusão de

que o que está lá fora - a natureza, o universo - é separado do homem e que pode

ser analisado e categorizado apenas por alguns de seus elementos, sem

consideração pelo Todo e suas relações. A dissociação do espiritual, da visão de

mundo sistêmica, da inter-relação entre as partes, e o colocar o ser humano como

centro e a verdade científica como a última (ultimate), tomam conta da época e dos

séculos que a sucedem. O período entre o Século XV e o Século XVIII é

extremamente fecundo na produção de conhecimento científico em todas as áreas

da Física.

As Figuras 4 e 5 ilustram essa transformação no campo da pintura.

Figura 4: Madonna and Child, de Duccio di Buoninsegna, c. 1300 Metropolitan Museum of Art, NY

Figura 5: Experimento com um pássaro em uma bomba de ar, Joseph Wright, 1768 (Tate Gallery de Londres).

A louvação ao intelecto e ao experimento é imensa e qualquer coisa que não

possa ser sistematizada, reproduzida e provada é descartada. Cientistas, filósofos e

sábios que se opuseram a esse tipo de reducionismo e desenvolveram outros modos

de apreensão do conhecimento do mundo foram, de certa maneira, banidos do

círculo dito científico. Todo esse conhecimento adquirido por meio da

experimentação gera frutos e acaba por levar a invenções que modificam totalmente

as relações de trabalho e de produção, e, portanto, as relações humanas e com a

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natureza. A Revolução Industrial começa na Inglaterra no final do Século XVIII e

espalha-se pelo mundo ocidental a partir do Século XIX, levando ao surgimento do

Capitalismo.

Não se entrará aqui em detalhes sobre todo esse processo histórico por não ser

ele o objeto deste estudo e por existirem já inúmeras fontes disponíveis aos que

quiserem se aprofundar. A sua inclusão destina-se apenas a dar ao leitor uma idéia

de como a visão de mundo holística e integradora dá lugar à concepção de um

mundo compartimentalizado e secionado, onde o ser humano é visto como

dissociado da Natureza, como se estive acima dela, e, outrossim, torna-a apenas

mais um insumo para a produção de capital. Este apanhado geral é baseado nos 28

anos de estudo formal da autora e no conhecimento geral difundido nos meios

institucionalizados e acadêmicos. Isto posto, seguem-se outras considerações.

Os descobrimentos da ciência e as tecnologias que foram desenvolvidas ao

longo destes últimos séculos muito contribuíram para o aumento da produção,

melhoria dos meios de comunicação e de transporte, o conforto, saúde e bem-estar

do ser humano e não há como negar seus benefícios. Todo esse desenvolvimento se

deu, e ainda se dá, num crescente geométrico, dentro de uma visão de mundo ainda

determinista e compartimentalizada, como anteriormente mencionado. Essa

abordagem, no início atuando em uma escala pequena, provava-se benéfica mais

que danosa, embora muitos visionários, em especial na Europa do Século XVIII, já

tivessem fortes insights sobre sua inviabilidade a longo prazo, desenvolvendo,

inclusive, teorias baseadas em uma visão de mundo sistêmica, denunciando a

limitação e os perigos daquela linha de pensamento cientifico da época e propondo

outras metodologias. Foi o caso, por exemplo, do alemão Johann Wolfgang von

Goethe (1749-1832). Essas vozes encontraram pouco ou nenhum apoio nos círculos

de então, sendo fadadas a uma existência marginal.

A Revolução Científica, antecedida pela varredura promovida pela Igreja

Católica de todo conhecimento produzido e acumulado que não viesse de fontes

cristãs, ou transformadas em cristãs, ignorou o que já se sabia há muito tempo. Nas

palavras do persa Al-Biruni (973-1048)14:

14 Abu Rayhan Muhammad ibn Ahmad Al-Biruni, contemporâneo e colega de Avicenna, foi um extraordinário astrônomo, matemático, físico, médico, geógrafo, geólogo e historiador. Segundo Max Meyerhoff (1931), Al-Biruni é provavelmente a figura mais proeminente dentro da falange dos universalmente formados estudiosos muçulmanos que caracterizam a Idade de Ouro da Ciência Islâmica.

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“A minha experiência no campo da astronomia e da geometria, e na física, revelou-me que deve existir uma Mente Planejadora de Poder Ilimitado. As minhas descobertas na Astronomia comprovam que existem detalhes fantásticos no universo que corroboram a existência de um sistema criativo e de um controle meticuloso não explicáveis por simples causas físicas e materiais." (BIRUNI, citado por Abu Salahudin, 2004 e também em http://www.islam.org.br/al_biruni.htm)

A sociedade pós-revolução industrial pecou não por sua produção científica e

tecnológica, que foi e tem sido fantástica, mas sim por ignorar que o Todo é uma

complexa e tênue rede, da qual tudo e todos fazem parte, inclusive o ser humano e

a natureza, e que a energia que move o Universo, é uma só, apesar de suas

diferentes manifestações no tempo, no espaço e na intensidade, e que não há como

intervir em um único ponto sem que a rede toda sinta o reflexo e as conseqüências.

Assim como no conto de E.J. Gold, “O Muro de Vidro” (The Glass Wall, 1984), o

ser humano aos poucos esqueceu o conhecimento antigo de que há algo mais, para

além das paredes do aquário.

5.2. A abordagem sistêmica: economia, meio ambiente, sociedade e

cultura

“Sustentabilidade é o atendimento das necessidades das gerações atuais, sem comprometer a possibilidade de satisfação das necessidades das gerações futuras". (ONU, Brundtland Comission, na publicação "Our Common Future", Oxford University Press, 1987: p.43).

Esta concepção da ONU sobre sustentabilidade, utilizada e cantada cada vez

mais hoje em dia, apesar de ter sido banalizada e apropriada de maneira

desvirtuada pelas empresas e pela mídia atual, ainda carrega em si seu significado

original: o do respeito pela capacidade auto-reguladora da Natureza. Ou seja, a Vida

tem uma enorme capacidade de manter o equilíbrio de sua estrutura em condições

normais, a exemplo do corpo humano e suas inúmeras unidades, formas/sistemas e

processos (CAPRA, 2002). Mesmo a intervenção humana no meio, inevitável para

sua própria sobrevivência no mundo, é equilibrada por essa admirável resiliência e

capacidade de recriação da natureza. Entretanto, essa capacidade tem uma

velocidade, um alcance, um limite, que é o do tempo-espaço: assim como uma fonte

jorrando em um vaso deve despejar tanta água dentro dele quanto sua capacidade

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de vazão, para que não transborde, mas também não falte. Quando há uma

intervenção em uma parte do sistema, outras também devem ser feitas de modo

que o equilíbrio seja mantido. A sustentabilidade é utilizada neste trabalho

exatamente com esse sentido: o do equilíbrio entre os sistemas envolvidos,

simbolizados de maneira resumida nos termos “social”, “ambiental” e “econômico”,

de modo que haja sempre um balanço, ou a constante busca dele, entre a energia

consumida e a gerada, entre o que se retira e o que se devolve.

“Todas as formas de vida possuem energia, e quando morrem ocorre a desorganização e liberação desta energia em outras formas mais simples, eventualmente não vivas como os minerais. Poderíamos dizer que a vida é um processo complementar a entropia, organizando os resíduos dessa entropia (gases, cinzas vulcânicas, minerais solubilizados das rochas) em formas complexas altamente organizadas e conservadoras de energia. Desta forma, a vida usando como combustível um pequeno espectro de radiação solar e unidades simples sintetiza e cria seu próprio e complexo tecido vivo”. Se considerarmos que o universo está (aparentemente) em franca entropia, os processos vivos parecem atuar conforme a primeira lei da termodinâmica, transferindo energia sem perdas. Se não incluíssemos em nossa equação a energia solar, teríamos um balanço positivo, chamado pela física como sintropia. Portanto, enquanto uma floresta organiza elementos simples e complexos (e promove sintropia planetária), sua queima para a instalação de um pasto é um ato desorganizador, que produz alta entropia. (...) Um processo contrário é a sucessão de espécies. Podemos conceituá-lo como o canal da vida para moderar, conservar e acumular energia. Esse processo é crescente e dinâmico, onde a transferência de energia dá-se das formas mais simples para outras sucessivamente mais complexas. As irregularidades e distúrbios ocorrem, e há um retorno às formas mais simples. Porém, se o dano não afetar o sistema de auto-regulação, será mantida a biomassa total, de modo a manter a energia potencial total (resiliência)” (PIOVEZAN, 2004: p. 23).

Sobre a importância de se considerar as partes em suas relações entre si e com

o Todo, também fala Rudolf Steiner em 1924, e seus estudos levaram à criação da

Antroposofia e da Agricultura Biodinâmica. Por meio do resgate dos conhecimentos

tradicionais, já então esquecidos e sufocados pelo reducionismo que imperava,

Steiner (op. cit.) e um grupo de agricultores recuperam a compreensão e a prática

de uma agricultura pensada em sua relação com o Cosmos: o sol, a lua, a Terra e os

demais planetas, a água e o fogo, as estações do ano, a interação dos elementos no

campo (plantas, pragas, dejetos animais, minerais), tudo tende a um auto-equilíbrio

e mantêm entre si relações muito específicas para o fluxo de energia e para uma

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convivência saudável e positiva entre o ser humano, o meio ambiente terrestre e o

universo.

Já naquela época era visível, segundo estudos de Steiner (op. cit.) e seu grupo,

a perda de nutrientes e energia dos produtos agrícolas, o que se intensificou ao

longo das décadas seguintes com o advento dos agrotóxicos, das monoculturas (de

caráter extensivo) e dos OGMs (organismos geneticamente modificados),

comprometendo toda a relação sistêmica da região cultivada e arredores. As

influências dos elementos planetários dificilmente são levadas em consideração hoje

em dia e, a não ser pela mudança de estações e pela indiscutível influência da Lua

nas marés e em algumas práticas agrícolas, desapareceu por completo do dia-a-dia

das pessoas, mesmo as do campo.

(...) Exatamente da mesma maneira como precisamos recorrer à Terra inteira pra explicar as propriedades da agulha magnética, ao tratar de plantas precisamos, portanto, não somente erguer os olhos para os elementos vegetais, animal e humano: precisamos consultar o Universo inteiro. Porquanto toda a vida provém do Universo inteiro, e não apenas daquilo que a Terra nos entrega. A Natureza é um conjunto, e de todos os lados atuam forças. Quem tiver um sentido aberto para a evidente atuação das forças, esse compreenderá a Natureza. Entretanto, o que faz a ciência hoje? Faz uma pequena lâmina, coloca sobre ela um preparado, isolando tudo cuidadosamente e depois olha lá para dentro. (...) No entanto, quando vierem a encontrar o caminho do macrocosmo, as pessoas voltarão a compreender algo da Natureza e muitas coisas mais” (STEINER, 1924; p. 158).

A filosofia de Steiner teve como fonte principal o trabalho científico de Goethe.

Embora este seja popularmente mais conhecido como um grande artista, poeta e

escritor alemão, assim como outros de seu tempo, Goethe também era um grande

cientista. Entretanto, sua metodologia científica – chamada de “consciência

científica” por Henri Bortoft (1986) - diferia muito daquela aceita nos meios

científicos de então, como mencionado anteriormente, o que rendeu a Goethe muitos

problemas e atritos. Ele pôs em cheque não os descobrimentos de Newton sobre a

luz, mas suas conclusões sobre o fenômeno, e apresentou uma diferente teoria das

cores; também investigou e produziu trabalhos em botânica, como seu famoso livro

“A Metamorfose das Plantas” assim como estudos inovadores sobre a morfologia

animal e terrestre. Suas investigações iam além da análise, comum até hoje, de

finalidade e propósito, ou causalidade e mecanismo: elas tinham como premissa

toda uma nova abordagem científica, uma abordagem holística.

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“What is urgently needed today is a further step in the evolution o science, leading beyond material analysis to a deeper, holistic understanding of nature. In The Wholeness of Nature, Henri Bortoft describes how already 200 years ago Goethe, the great German poet and scientist, began to lay the groundwork for this new development in science. I know of no other book written in the English language that articulates the principles of Goethe’s scientific approach as clearly as this work. And I take particular pleasure in reviewing it for those involved in Waldorf education, for I know from my own experience as a teacher that Goethe’s way of knowing is fundamental to Waldorf education itself. Henri Bortoft was introduced to the problem of wholeness by David Bohm, who guided him as a graduate student working toward his doctorate in quantum physics. His subsequent research under J. Bennett into perception visualization further prepared him for his discovery of Goethe’s science. Bortoft’s life-long interest in Goethe’s scientific method led to penetrating studies of the process of cognition and of the history of science, the results of which are found in this, his major work” (BARNES, sem data, após 1996).

O trabalho de Goethe é impressionante e o livro de Bortoft (1986) sobre a

metodologia cientifica de Goethe, extremamente esclarecedor e inspirador. Não é

possível aqui um aprofundamento de todo o processo de conhecimento exposto lá,

mas, em resumo, Goethe afirma que não é possível conhecer um fenômeno apenas

por meio de nossa consciência analítica (analytical mode of consciousness), é

necessária também a consciência holística ou cognitiva (holistic mode of

conciousness), pois a primeira se atém às partes, enquanto a segunda se atém às

relações entre as partes. É preciso mais que reconhecer os elementos (modo

analítico), é preciso “um mergulho” em suas essências, é preciso tornar-se uno com

o fenômeno para compreendê-lo por completo (modo cognitivo).

“This is the meaning of Goethe’s remark that the aim of Science should be that ‘through the contemplation of an ever creative nature, we should make ourselves worthy of spiritual participation in her production’ (BORTOFT, 1986).

O caminho até aqui se fez necessário para demonstrar que o rumo tomado pela

sociedade ocidental nos últimos séculos, tratando a Natureza como uma “coisa”,

exterior ao ser humano, e priorizando o pensamento mecanicista, analítico,

cartesiano, em detrimento da percepção holística, sistêmica, cognitiva, vem

finalmente apresentando seus resultados e conseqüências mais nefastos: a

degradação ambiental, a degradação das relações humanas e o colapso da

economia. O resgate de uma abordagem orgânica, que considere o valor dos dois

tipos de pensamento e os integre, faz-se urgente. Os descobrimentos de Einstein na

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física quântica, na primeira metade do Século XX, foram um marco nessa mudança

necessária de paradigma.

Sem dúvida, muitas vozes se manifestaram durante esses mesmos séculos,

como foi mostrado anteriormente, mas foram pouco ouvidas então. Nas últimas

quatro décadas, grupos pontuais da sociedade retomaram esse despertar. A

Permacultura é fruto desse insight, propondo uma construção do espaço geográfico

integradora, onde ambas as capacidades, analítica e cognitiva, do ser humano são

necessárias para a compreensão e a construção do Todo, em parceria e harmonia

com a Natureza e com a Vida, e não em detrimento delas.

6. PERMACULTURA

A Permacultura é um conjunto de concepções sistêmicas para planejar, criar e

manter sistemas de escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades)

ambientalmente sustentáveis, socialmente justas e financeiramente viáveis. Ou seja, é

uma maneira de pensar, planejar e construir o espaço geográfico, mas sempre aberta

aos elementos espontâneos que possam surgir. Conforme palavras de Bill Mollison

(1991), ilustradas a seguir:

“A Permacultura é um sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentáveis. A palavra em si não é somente uma contração das palavras permanente e agricultura, mas também de cultura permanente, pois culturas não podem sobreviver muito sem uma base agricultural sustentável e uma ética do uso da terra. Em um primeiro nível, a Permacultura lida com as plantas, animais, edificações e infra-estruturas (água, energia, comunicações). Todavia, a Permacultura não trata somente desses elementos, mas, principalmente, dos relacionamentos que podemos criar entre eles por meio da forma em que os colocamos no terreno”. O objetivo é a criação de sistemas que sejam ecologicamente corretos e economicamente viáveis; que supram suas próprias necessidades, não explorem ou poluam e que, assim, sejam sustentáveis a longo prazo. A Permacultura utiliza as qualidades inerentes das plantas e animais, combinadas com as características naturais dos terrenos e edificações, para produzir um sistema de apoio à vida para a cidade ou a zona rural, utilizando a menor área praticamente possível. A Permacultura é baseada na observação de sistemas naturais, na sabedoria contida em sistemas produtivos tradicionais e no conhecimento moderno, científico e tecnológico. Embora baseada em modelos ecológicos positivos, a Permacultura cria uma ecologia cultivada, que é projetada para

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produzir mais alimentação humana e animal do que seria encontrado naturalmente” (MOLLISON, 1991).

Portanto, pode-se dizer que a Permacultura promove uma construção sustentável do

espaço geográfico, agregando conhecimentos tradicionais e tecnologia moderna, sendo

capaz de suprir as necessidades básicas dos seres humanos sem degradação ambiental –

muito pelo contrário – pois vê a natureza e o ser humano como aliados e como parte da

mesma teia da vida (Anexos III e IV). Promove também o resgate das relações sociais

saudáveis e de qualidade, por meio da cooperação e da solidariedade em detrimento do

individualismo e da competição. Os sete domínios (Figura 6) norteadores do conceito

permacultural, segundo Holmgren (2002), dão uma visão mais clara de como o espaço

geográfico se constrói e evolui, sempre apoiado no pilar da Ética e dos Princípios da

Permacultura, explicitados mais adiante.

Figura 6: A Flor da Permacultura

“The permaculture journey begins with the Ethics and Design Principles and moves through the key domains required to create a sustainable culture. The evolutionary spiral path connects these domains, initially at a personal and local level, and then proceeding to the collective and global level.” David Holmgren (Acesso: http://www.permacultureprinciples.com/flower.php, em 09/fev/2009)

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Como dizem muitos, a Permacultura é a “ciência do óbvio”, e só não salta aos olhos

da maioria porque o ser humano parece ter perdido a capacidade de realmente observar

e perceber as coisas simples. Em vez de sistemas fechados e fragmentados, ela oferece o

paradigma holístico contemporâneo, que tudo articula e relaciona. Vem conquistando

cada vez mais admiradores e praticantes em todas as faixas etárias, em todos os meios e

em todos os continentes. Embora no Brasil ela ainda seja incipiente, nos Estados Unidos,

Europa, Austrália e Nova Zelândia, a Permacultura já é bastante aplicada e conhecida,

inclusive dos que não confraternizam com ela, ou seja, fora de seu meio.

6.1. Como surgiu a Permacultura

“Se planejamos para um ano, plantamos arroz.

Se planejamos para dez anos, plantamos árvores.

Se planejamos para cem anos, preparamos pessoas” (antigo ditado chinês)

A Permacultura foi idealizada em meados dos anos 70, pelos australianos Bill

Mollison e David Holmgren (Figuras 7 e 8, respectivamente), como uma síntese das

culturas ancestrais sobreviventes

e dos conhecimentos da ciência

moderna. A partir de então,

passou a ser difundida na

Austrália, considerando que,

naquele país (mas não somente),

a agricultura convencional já

estava em decadência adiantada

e os sinais de degradação

ambiental e perda de recursos

naturais eram evidentes. Na verdade, em situação muito similar à do Brasil, já na

década de 80. Desde então, os inúmeros casos de sucesso na aplicação da

Permacultura têm provado ser, ela, uma solução viável não somente para a

Figura 7: Bill Mollison15 Figura 8: David Holmgren16

15 Acesso http://www.lemonbalmpermaculture.com/Permaculture.htm, em 07/fev/2009. 16 Fonte: Paula Alvarado, The Tree Hugger.

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Austrália, mas para todo o Planeta. Os conceitos de agricultura permanente foram

aos poucos se transformando em cultura permanente, envolvendo aspectos sociais,

ambientais e econômicos, desenvolvendo assim uma verdadeira disciplina holística

de organização de sistemas. Hoje, existem institutos de Permacultura em todos os

continentes, em mais de 100 nações. Diversos países, como o Brasil, vêm adotando

a Permacultura como modelo agrícola e, até mesmo, escolas de todos os níveis

planejam incluir a Permacultura no seu currículo básico.

Logo depois, o conceito evoluiu para “um sistema de planejamento para a

criação de ambientes humanos sustentáveis”, como resultado de um salto na busca

de uma Cultura Permanente, envolvendo aspectos éticos, socioeconômicos e

ambientais.

Para tornar o conceito mais claro, pode-se acrescentar que a Permacultura

oferece as ferramentas para o planejamento, a implantação e a manutenção de

ecossistemas cultivados no campo e nas cidades, de modo que eles tenham a

diversidade, a estabilidade e a resistência dos ecossistemas naturais. Alimento

saudável, habitação e energia devem ser providos de forma sustentável para criar

culturas permanentes.

A Permacultura exige, acima de tudo, uma mudança de atitude que consiste

basicamente em fazer os seres humanos assumirem sua responsabilidade pelos

impactos causados por sua presença no planeta e viverem de forma integrada ao

meio ambiente, compreendendo que dele dependem e também fazem parte. Como

ciência ambiental, reconhece os próprios limites e por isso nasceu amparada por

uma ética fundadora de ações comuns e também com a capacidade de se renovar

constantemente, incorporando novas técnica e modos de organização.

6.2. A história da Permacultura no Brasil e seus institutos

Em 1992, Bill Mollison (op. cit) ministrou um curso de Permacultura no Rio

Grande do Sul e estabeleceu um marco inaugural no desenvolvimento da

Permacultura no Brasil, conquistando, dia após dia, um número crescente de

interessados e praticantes.

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São 12 institutos (Quadro A) no território nacional que atuam das mais

diversas formas, sempre respeitando e levando em consideração os domínios

morfoclimáticos (ou ecossistemas) nos quais estão inseridos e as características

culturais locais, uma vez que os mesmos definirão a estratégia a ser delineada para

o desenvolvimento de um projeto permacultural de sucesso.

Instituição Localidade Bioma

EcoOca Alfredo Chaves, ES Mata Atlântica,

IPA – Instituto de Permacultura da Amazônia

Manaus, AM Amazônia

IPAB – Instituto de Permacultura Austro Brasileiro

Florianópolis, SC Mata Atlântica, Araucárias

IPB – Instituto de Permacultura da Bahia Lauro de Freitas, BA Caatinga, Semi-árido

IPCP - Instituto de Permacultura Cerrado-Pantanal

Campo Grande, MS Cerrado, Pantanal

IPEC – Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado

Pirenópolis, GO Cerrado

IPEMA - Instituto de Permacultura da Mata Atlântica

Ubatuba, SP Mata Atlântica

IPEP – Instituto de Permacultura dos Pampas

Bagé, RS Campos Sulinos ou Pradarias

IPERS – Instituto de Permacultura do Rio Grande do Sul

Porto Alegre, RS Mata Atlântica, Sistemas Costeiros

IPETERRAS – Instituto de Permacultura em Terras Secas

Irecê, BA Caatinga

IPOEMA - Instituto de Permacultura: Organização, Ecovilas e Meio Ambiente

Brasília, DF Cerrado

OPA - Organização de Permacultura e Arte

Salvador, BA Sistemas Costeiros, Mata Atlântica

Quadro A: Síntese dos Institutos de Permacultura no Brasil. (Fonte: Cláudia Chaves, com base em informações da Rede Permear e da PAL, 2008)

O IPAB, IPA, IPEC e IPEP fundaram a RBP - Rede Brasileira de Permacultura, e

funcionam como centros de pesquisa, formação e demonstração de tecnologias, com

apoio financeiro da PAL – Permacultura América Latina, instituição comandada por

Ali Sharif (já citado), com sede em Santa Fé, Estados Unidos - à exceção do IPAB,

que não possui centro demonstrativo e, por isso, atua de forma independente,

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dispensando financiamentos vindos do exterior por meio da PAL. Posteriormente, a

OPA passou a integrar a rede da PAL.

A ação institucional do IPAB esteve voltada, desde seu início em 1998, para

pequenos agricultores e tem a parceria de sindicatos, prefeituras, ONGs e

movimentos sociais. Os sistemas permaculturais fomentados pelo IPAB têm seu foco

nas Unidades de Produção Familiar. Em 2004, o IPAB deixou de existir e se

transformou na Rede Permear de Permacultores, que espelha o amadurecimento da

organização na direção de formar uma rede de permacultores, conhecedores da

realidade das comunidades de seu entorno:

"Acreditamos, que só em espaços com situações reais, como uma casa, sítio, escola, ou uma vila, as experiências seriam verdadeiras e poderiam atestar sua repetibilidade e eficácia. Além do que seriam úteis em tempo integral às pessoas. Então as nossas experiências aconteciam nos espaços onde vivíamos ou em espaços cedidos pelas comunidades que tinham demandas que poderíamos atender com a permacultura. A esses espaços hoje damos o carinhoso nome de Estações de Permacultura" (IPAB, 2004).

A exemplo do IPAB, o Instituto de Permacultura da Bahia (IPB), o Instituto de

Permacultura Cerrado Pantanal e o Instituto de Permacultura da Mata Atlântica

(IPEMA), possuem projetos sociais e muitos parceiros, mas não fazem parte da RBP.

Pode-se citar como exemplo o Projeto Policultura no Semi-Árido, implantado no

sertão da Bahia, atendendo, em 2007, 700 famílias de pequenos agricultores. Com o

apoio do IPB, as famílias desenvolveram sistemas agroflorestais, recuperando áreas

degradadas e garantindo para si segurança alimentar, trabalho e renda. O projeto

ajuda os sertanejos a combater a desertificação e conviver harmoniosamente com a

caatinga. (informação verbal, 2007)

O IPOEMA - Instituto de Permacultura: Organização, Ecovilas e Meio Ambiente,

no Distrito Federal, é o mais novo entre os institutos brasileiros e atua fortemente no

atendimento a comunidades locais e tradicionais, rurais e periurbanas, além de

trabalhar com pesquisa e formação de novos permacultores, que, aliás, é uma

característica de todos os institutos: a multiplicação do conhecimento e da

capacitação.

Além dos institutos, atualmente há cerca de 16 Estações de Permacultura e 50

permacultores espalhados pelo Brasil, que atuam na divulgação e implementação

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dos conceitos permaculturais junto às comunidades de seu entorno e que fazem

parte da rede Permear de Permacultores (Anexo V).

Hoje em dia, a Permacultura encontra-se nas esferas governamentais e surge

como projeto alternativo cada vez mais utilizado em assentamentos da reforma

agrária (Figura 9) e em outros projetos. Os institutos e estações permaculturais têm

desenvolvido fortes parcerias com o poder público local, em todo o território

brasileiro, promovendo soluções para problemas urbanos, periurbanos e rurais,

assim como com o INCRA, a EMBRAPA, a DATER/SAF (Departamento de Assistência

Técnica e Extensão Rural da Secretaria de Agricultura Familiar) o Ministério do

Desenvolvimento Agrário em geral, promovendo práticas mais sustentáveis de

manejo dos recursos naturais e dos impactos da presença humana.

“Com objetivo de buscar equilíbrio entre a necessidade e o uso racional dos recursos naturais, assentados de Piratini (RS) trocaram o sistema convencional de saneamento básico pela rede de esgoto ecológico. O esgoto doméstico de 27 casas e de quatro edificações coletivas da agrovila do assentamento Conquista da Liberdade será utilizado na irrigação da lavoura. (...) O valor total da obra foi de aproximadamente R$ 22 mil, sendo R$ 16 mil liberados pelo PAC-Incra e cerca de R$ 6 mil de mão-de-obra custeada pelos próprios assentados.” (Incra/RS, 16/06/2008)

Figura 9: Esgoto permacultural utiliza duas fossas sépticas distintas e filtros anaeróbicos para tratamento da água. (Fonte: Incra/RS)

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6.3. A ética da Permacultura

A ética básica da permacultura é o cuidado com a terra, cuidado com as

pessoas, distribuição de excedentes e redução do consumo (MORROW, 1993). Nas

palavras de André Soares (1998, p. 6-7), Diretor do Ecocentro IPEC:

• 0 cuidado com o planeta Terra - Esta é uma afirmação simples e profunda,

com o intuito de guiar nossas ações para a preservação de todos os

sistemas vivos, de forma a continuarem indefinidamente no futuro. Isso

pressupõe uma valorização de tudo o que é vivo e de todos os processos

naturais. A árvore tem valor intrínseco, é valiosa para nós, não somente

pela madeira ou pelos frutos. porque é viva e realiza um trabalho que

proporciona a continuidade da vida no Planeta. Assim, também têm valor a

água, os animais, o solo e toda a complexidade de relações entre

organismos vivos e minerais existentes na Terra.

• 0 cuidado com as pessoas - 0 impacto do ser humano no Planeta Terra é,

sem dúvida, o mais marcante. Portanto, a qualidade da vida humana é um

fator essencial no desenvolvimento de estratégias de sobrevivência. Somos

mais de cinco bilhões habitando a superfície terrestre. Assim, se pudermos

garantir o acesso aos recursos básicos necessários à existência,

reduziremos a necessidade de consumir recursos não-renováveis. Portanto,

os sistemas que planejarmos devem prover suas necessidades de materiais

e energia, como, também, as necessidades daquelas pessoas que neles

habitam.

• Distribuição dos excedentes - Sabemos que um sistema bem planejado tem

condições de alcançar uma produtividade altíssima, produzindo assim um

excesso de recursos. Portanto, devemos criar métodos de distribuição

equitativos, garantindo o acesso aos recursos a todos que deles necessitam,

sem a intervenção de sistemas desiguais de comércio ou acumulação de

riqueza de forma imoral. Qualquer pessoa, instituição ou nação que

acumule riqueza ao custo do empobrecimento de outras está diminuindo a

expectativa de sustentabilidade da sociedade humana.

• Limites ao consumo - Isso requer um repensar de valores, um re-

planejamento dos nossos hábitos e uma redefinição dos conceitos de

qualidade de vida. Alimento saudável, água limpa e abrigo existem em

abundância na natureza; basta que com ela cooperemos.

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Percebe-se que essa ética permeia todos os aspectos dos sistemas ambientais,

sociais, culturais e econômicos. Mas há também uma ética maior: é a Ética da Vida

(MOLLISON E SLAY, 1994), que reconhece o valor intrínseco de tudo o que vive.

Toda ética tem a ver com práticas que querem ser eficazes. “A ética da

Permacultura serve bem para iluminar nossos esforços diários de trabalho com a

natureza a partir de observações prolongadas e cuidadosas, com base nos saberes

tradicionais e na ciência moderna, substituindo ações impensadas e imaturas por

planejamento consciente”, diz Bill Mollison (1994). A chave é estabelecer relações

harmoniosas entre as pessoas e os elementos da paisagem, construindo assim, um

espaço geográfico auto-regulador, em equilíbrio com as leis da Vida.

6.4. Os princípios da Permacultura

Os princípios da Permacultura não são de modo algum afirmações rígidas, mas

sim diretrizes universais, colocadas quase que como sugestões, que norteiam o

planejamento permacultural. De maneira extremamente concisa, o Quadro B

apresenta esses princípios de acordo com Holmgren:

# Princípios Ícone

1

Observe e interaja: ‘a beleza está nos olhos do observador’ By taking the time to engage with nature we can design solutions that suit our particular situation. The icon represents a person ‘becoming’ a tree. In observing nature it is important to take different perspectives to help understand what is going on with the various elements in the system. The proverb “Beauty is in the eye of the beholder” reminds us that we place our own values on what we observe, yet in nature, there is no right or wrong, only different.

2

Capte e armazene energia: ‘produza feno enquanto faz sol’ By developing systems that collect resources when they are abundant, we can use them in time of need. The icon represents energy being stored in a container for use later on, while the proverb “make hay while the sun shines” reminds us that we have a limited time to catch and store energy.

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3

Obtenha rendimento: ‘você não pode trabalhar de estômago vazio’ Ensure that you are getting truly useful rewards as part of the work that you are doing. The icon of the vegetable with a bite out of it shows us that there is an element of competition in obtaining a yield, whilst the proverb “You can’t work on an empty stomach” reminds us that we must get immediate rewards to sustain us.

4

Pratique a auto-regulação e aceite feedback: ‘os pecados dos pais recaem sobre os filhos na sétima geração’ We need to discourage inappropriate activity to ensure that systems can continue to function well. The icon of the whole earth is the largest scale example we have of a self-regulating ‘organism’, which is subject to feedback controls, like global warming. The proverb “the sins of the fathers are visited on the children of the seventh generation” reminds us that negative feedback is often slow to emerge.

5

Use e valorize os serviços e recursos renováveis: ‘deixe a natureza seguir seu curso’ Make the best use of natures abundance to reduce our consumptive behavior and dependence on non-renewable resources The horse icon represents both a renewable resource (it can be consumed) and a renewable service - pulling a cart, plough or log (a non consuming use). The proverb “let nature take it’s course” reminds us that control over nature through excessive resource use and high technology is not only expensive, but can have a negative effect on our environment.

6

Não produza desperdícios ‘não desperdice para que não lhe falte’ e ‘um ponto na hora certa economiza nove’ By valuing and making use of all the resources that are available to us, nothing goes to waste. The icon of the worm represents one of the most effective recyclers of organic materials, consuming plant and animal ‘waste’ into valuable plant food. The proverb “a stitch in time saves nine” reminds us that timely maintenance prevents waste, while “waste not, want not” reminds us that it’s easy to be wasteful in times of abundance, but this waste can be a cause of hardship later.

7

Design partindo de padrões para chegar aos detalhes: ‘não se pode conhecer uma floresta só pelas árvores’ By stepping back, we can observe patterns in nature and society. These can form the backbone of our designs, with the details filled in as we go. Every spider’s web is unique to its situation, yet the general pattern of radial spokes and spiral rings is universal. The proverb “can’t see the forest for the trees” reminds us that the closer we get to something, the more we are distracted from the big picture.

8

Integrar ao invés de segregar: ‘muitos braços tornam o fardo mais leve’ By putting the right things in the right place, relationships develop between those things and they work together to support each other. The icon represents a group of people from a bird’s-eye view, holding hands in a circle together. The space in the centre could represent “the whole being greater than the sum of the parts”. The proverb “many hands make light work” suggests that when we work together the job becomes easier.

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9

Use soluções pequenas e lentas: ‘quanto maior, pior a queda’ ‘devagar e sempre ganha a corrida’ Small and slow systems are easier to maintain than big ones, making better use of local resources and procured more sustainable outcomes. The snail is both small and slow, it carries its home on its back and can withdraw to defend itself when threatened. The proverb “the bigger they are, the harder they fall” reminds us of the disadvantages of excessive size and growth while “slow and steady wins the race” encourages patience while reflecting on a common truth in nature and society.

10

Use e valorize a diversidade: ‘não coloque todos seus ovos numa única cesta’ Diversity reduces vulnerability to a variety of threats and takes advantage of the unique nature of the environment in which it resides The remarkable adaptation of the spinebill and hummingbird to hover and sip nectar from long, narrow flowers with their spine-like beak symbolises the specialisation of form and function in nature. The proverb “don’t put all your eggs in one basket” reminds us that diversity offers insurance against the variations of our environment.

11

Use as bordas e valorize os elementos marginais: ‘Não pense que está no caminho certo somente porque ele é o mais batido’ The interface between things is where the most interesting events take place, these are often the most valuable, diverse and productive elements in the system. The landscape catchment feeding a river at sunrise or sunset evokes a world defined by edges. The proverb “don’t think you are on the right track just because it’s a well-beaten path” reminds us that the most common, obvious and popular is not necessarily the most significant or influential.

12

Use e responda a mudanças criativamente: ‘A verdadeira visão não é enxergar as coisas como elas são hoje, mas como serão no futuro’ We can have a positive impact on inevitable change by carefully observing and then intervening at the right time. The butterfly is a positive symbol of transformative change in nature, from its previous life as a caterpillar. The proverb “vision is not seeing things as they are but as they will be” reminds us that understanding change is much more than a linear projection.

Quadro B: Os princípios da Permacultura, por David Holmgren (Acesso http://www.permacultureprinciples.com/, em 11/fev/2009

- Tradução parcial: Cláudia Chaves)

6.5. As ferramentas de planejamento da Permacultura

A base do planejamento permacultural é o design17. Mas o que significa isso?

Em linhas gerais, significa primeiramente reconhecer todos os elementos daquele

dado ambiente, desde relevo, clima, ventos, insolação, solo, recursos hídricos e

17 O termo inglês design, cuja tradução literal para o português é “desenho”, será mantido aqui em inglês por ser, neste idioma, mais que um simples desenho: é um planejamento minuciosamente pensado, envolvendo os planos social, econômico e ambiental, como descrito nos parágrafos anteriores.

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florestais, fauna e flora, até comunidades vizinhas, a cultura local, necessidades

locais e do entorno, vias de acesso, distâncias e outros. Em segundo lugar, levando

em consideração os elementos mencionados, conseguir planejar territorialmente

uma propriedade ou comunidade, urbana ou rural, de maneira eficiente nas suas

redes e fluxos, com o melhor aproveitamento possível dos recursos disponíveis e

com a menor geração possível de impactos, resíduos e desperdícios (perdas) e, em

terceiro, um design que promova também a sociabilidade e a cultura, o trabalho

cooperativo e funcional, e que traga bem-estar e crescimento à comunidade.

Enfim, é “um planejamento inteligente e racional que torne possível, entre

outras coisas, a utilização da terra sem contaminá-la, a restauração de paisagens

degradadas e o consumo mínimo de energia” (Rede Permear, 2008). Esse processo,

segundo André Soares, “deve ser dinâmico, contínuo e orientado segundo os

padrões naturais” (informação verbal, 2007). Esse dinamismo na Permacultura é

bastante facilitado pelo fato de ela ser flexível e estar aberta a mudanças, sempre

inovando na resolução de problemas e enfrentamento de desafios, constantemente

incorporando novos conhecimentos e tecnologias e agregando-os aos tradicionais,

maximizando as conexões funcionais: os elementos são pensados sempre nas suas

múltiplas funções, como por exemplo, uma galinha que fornece ovos, (para os não-

vegetarianos, carne), atua também na adubação e controle de pragas na horta.

Em linhas básicas, o design segue as etapas relacionadas a seguir, mas

primeiramente, é imprescindível já ter um mapa do local e feito os levantamentos

básicos de relevo, clima, vegetação, cursos d’água, inclusive legislação.

6.5.1. Setores

Após a observação e levantamento dos elementos externos (pluviosidade,

ventos, insolação, ruídos, etc.), faz-se um mapa da propriedade (ou do entorno)

preferencialmente com a casa no centro, o centro de um círculo, e detalhes como

vias de acesso e cursos d’água. Essa borda da circunferência representa os 360º de

possível influência externa e é onde são marcados os setores de sol no inverno e no

verão, o setor de vento, setor de fonte de ruídos, setor de possível avanço do fogo,

etc (Figura 10). Visualizar essas influências em um desenho facilita perceber o todo,

da propriedade ou do bairro onde se pretende trabalhar com os conceitos

permaculturais, e suas conexões.

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É claro que nem sempre a casa está no centro do mapa, como no caso do

Sítio Sustentável18 (Anexo II) ou em locais onde já há construções, mas a

identificação desses setores é de fundamental importância para, posteriormente,

determinar-se a posição da casa (janelas, portas, telhado), dos cultivos e abrigos de

animais, dos quebra-ventos e outras construções.

Figura 10: Identificação dos setores no planejamento permacultural. (SOARES, 1998)

6.5.2. Zonas

A circunferência imaginária mencionada no item anterior, nesta etapa, é

dividida internamente em seis círculos concêntricos, ou seis zonas básicas (Figura

11). A partir da casa, identificam-se as atividades que serão desenvolvidas, recursos

disponíveis, relações entre os elementos do sistema e os fluxos (o que é resíduo em

um lugar torna-se insumo em outro, ou seja, múltiplas funções de um elemento) e

outros. Dentro da concepção de economia de energia e otimização do trabalho,

procura-se posicionar a atividade o mais próximo possível da fonte dos recursos que

ela utiliza e, ao mesmo tempo, o mais próximo da casa quanto maior for a

freqüência de deslocamento necessária para sua manutenção, ou seja, uma horta

18 No caso do Sítio Sustentável, ele já está inserido em uma área maior, que é a área do Ecocentro IPEC.

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(ou jardim comestível), que deve ser cuidada diariamente, estará perto da casa. Já

um pomar, que necessita pouco manejo, estará mais longe.

Figura 11: O planejamento permacultural por zonas

(Acesso: http://www.pinyondesign.com/permaculture/p4-energy%20efficiency.html - 11/fev/2009)

Zona 0 – É onde fica a casa, que é o núcleo de todo o sistema. No caso do

kibutz, o restaurante em geral é que ocupa esse lugar, chamado também de “o

coração do kibutz”, por ser o ponto mais importante em termos de manutenção dos

laços sociais: encontro, lazer, alimentação, reuniões, votações, quadro de avisos

locais e regionais diversos, abrigo e facilidades como correio, central telefônica e de

automóveis de passeio. Na imagem de satélite (Figura 12) vê-se a localização do

restaurante no kibutz (ponto amarelo) em relação ao todo e, embora não seja um

ambiente permaculturado, percebe-se o padrão de organização circular, que, aliás, é

um padrão antigo e inteligente de organização do espaço. Em outros tipos de

comunidade, como nas agrovilas19 e nas ecovilas20, esse ponto central é em geral

19 Núcleos rurais, em geral de produção agropecuária, como vários assentamentos da reforma agrária. Como exemplo, os assentamentos na região de Itapeva, no sul do Estado de São Paulo (informação verbal, 2007) 20 Um tipo de condomínio ecológico, que pode ser rural ou periurbano, não voltado para a produção e comercialização de produtos, e que em geral é formado por pessoas da classe média ou classe média alta e que optaram por um estilo de vida mais em harmonia com a natureza. A população das ecovilas compartilha de vários ideais e também de construções comunitárias e têm princípios e diretrizes permaculturais no que diz

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ocupado pela Associação de Moradores, Administração Geral ou espaço para

reuniões, palestras, encontros e festividades;

Figura 12: Imagem de satélite do Kibutz Ramot Menashe, com localização do restaurante marcada em amarelo. (Google Earth, 2008).

Zona 1 - É a área mais adjacente à casa e é para onde os membros se

deslocam com freqüência, portanto, é onde ficam a horta (que garante a segurança

alimentar), o canteiro de ervas aromáticas e medicinais, o viveiro de mudas (que

garantirá a diversificação da produção e independência de fornecimento externo), o

reservatório de água potável (coletada de fontes, poços, chuva e outros), a produção

de composto (restos de alimentos e outros tipos de matéria orgânica), tratamento

de águas cinzas (do banho e da cozinha), algumas frutíferas e outros elementos de

uso diário;

Zona 2 – Um pouco mais distante, ela oferece proteção à Zona 1. Aí ficam as

atividades também de trato freqüente, mas não tão freqüente quanto os da zona

anterior, como galinhas e outros pequenos animais (coelhos, patos, codornas),

respeito a construções sustentável, alimentação orgânica, tratamento de resíduos, geração de energia e outros. (informação verbal, 2007)

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pequenos tanques de aqüicultura e frutíferas de médio porte. Embora se possa

considerar que a coleta de ovos, por exemplo, causa um deslocamento relativamente

freqüente, um galinheiro faz barulho e tem odor e, portanto, não deve ficar muito

próximo à casa;

Zona 3 – Em seguida vem a Zona 3, onde ficam a floresta de alimentos,

culturas com fins comerciais (que são maiores e não exigem trato diário), animais de

médio e grande porte (abrigo, área de pastagem no sistema de rodízio, etc.);

Zona 4 – Pouco visitada, nela podem ficar os açudes, o extrativismo e o

manejo sustentável, a recriação de florestas nas áreas degradadas; e

Zona 5 – Essa é a zona de aprendizado, onde só se entra para uma coleta

ocasional de sementes ou para aprender e compreender os processos da natureza

para reprodução dos mesmos nas outras zonas. Em geral, é também a área de

Reserva Legal nas propriedades rurais.

A divisão em zonas é uma orientação e facilita um planejamento bem-sucedido,

mas, como dito antes, a Permacultura é um sistema inteligente e flexível e o design

deve levar em consideração as condições locais de clima, relevo, recursos,

produção, finalidade, família ou comunidade em questão, sendo sempre adaptado à

realidade local. O exemplo dos círculos concêntricos tem fins didáticos e não se

aplica à grande maioria dos casos (ver Anexos VI e VII). Cada design é único no seu

resultado final, embora siga as mesmas premissas. Como na natureza, onde não há

uma floresta igual a outra, não há, também na Permacultura, um sistema igual ao

outro.

6.6. Criatividade, conhecimento e tecnologias

Mollison e Holmgren (Rede Permear, 2008) buscaram princípios éticos

universais surgidos no seio de sociedades indígenas e de tradições espirituais, que

estão orientados na lógica básica do universo de interação, cooperação e

solidariedade. Não é possível praticar a Permacultura sem observá-los. Além disso,

os conhecimentos produzidos nessas sociedades ao longo dos séculos, aliados às

tecnologias modernas e à criatividade no uso de materiais disponíveis localmente e

de resíduos (estes, fruto de uma sociedade de consumo e que hoje são um sério

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problema ambiental), mais a experimentação e a experiência, geraram soluções

inteligentes e de baixo custo para problemas atuais, no âmbito das construções

físicas e da produção. O resgate da solidariedade e a organização do espaço social se

dão por meio da criação de associações e cooperativas, trabalhos coletivos (mutirões

nas construções de casas e nas colheitas, entre outros), no compartilhamento de

excedentes, feiras de troca, e dos espaços comuns.

Alguns domínios, mas não todos, da construção do espaço geográfico na

Permacultura, e como eles são abordados, são apresentados a seguir a título de

exemplos.

6.6.1. Água doce

A Permacultura preza o uso racional da água e a sua não contaminação. As

florestas e matas ciliares são preservadas ou recuperadas; espécies apropriadas que

se fixam fortemente ao solo são plantadas na borda de lagos e margens de rios para

que não haja escorregamentos e consequente assoreamento dos mesmos. A água da

chuva é coletada por meio de telhados e pátios para ser utilizada em: banhos; na

cozinha, na lavagem de alimentos e utensílios; na limpeza de pisos, janelas,

alojamento de animais, lavagem de roupa, veículos e ferramentas de trabalho; para

regar a horta e o jardim e, freqüentemente, as culturas maiores, por meio de

irrigação. Valas para infiltração também são muito usadas para captar ou reter a

água da chuva com fins agrícolas ou de proteção de encostas com declives suaves21.

Entretanto, ela preferencialmente não deve ser utilizada para consumo humano ou

animal por não possuir os sais minerais necessários e que estão presentes nas águas

superficiais e algumas subterrâneas – exceção feita às regiões onde não há outra, ou

há pouca, fonte hídrica não poluída a não ser a água da chuva, e a falta de sais

minerais deve ser suprida por meio da alimentação. Também não é usada para

descargas em banheiros quando estes são sanitários secos (mais adiante se verá

como funcionam).

Dentre as tecnologias relacionadas à água estão: a adequação dos telhados das

construções diversas com calhas para a coleta de água da chuva, a construção de

cisternas para seu armazenamento, o bombeamento das águas superficiais ou

21 Dentre outros, o livreto “Uso da Água na Permacultura” de Lucia Legan (2007), da coleção Soluções Sustentáveis, apresenta várias considerações sobre o tema e tecnologias criativas e de fácil implantação.

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subterrâneas para caixas d´água e outros reservatórios, a criação de valas,

construção de açudes e a irrigação por gotejamento.

6.6.2. Energia (elétrica, térmica e mecânica)

Um projeto permacultural sempre busca a auto-suficiência e a maior

independência possível dos recursos externos. A energia utilizada em uma

propriedade com planejamento permacultural será provavelmente de um dos

seguintes tipos, ou da combinação deles: solar, térmica, eólica, hidráulica ou a gás22.

Tecnologias relacionadas: painéis

solares de baixo custo para aquecimento de

água, que podem ser feitos com garrafas

pet, embalagens tetrapak23 (Figura 13) ou

divisórias de PVC descartadas24; geradores

eólicos; rodas em quedas d’água;

biodigestores, cujo gás gerado pode ser

utilizado no fogão, na iluminação e no

aquecimento do interior das construções

(casa, estábulo, estufa); fogão e forno solar

para cozimento ou desidratação de

alimentos, que evitam o uso de madeira ou

carvão, não poluem e não apresentam riscos

de incêndios; fogão à lenha que aquece a

água por meio de dutos, gerando calor ou

vapor e até energia. Os exemplos são vários

e a criatividade parece não ter limites.

Figura 13: uma das etapas da construção de um aquecedor solar com garrafas pet e embalagens tetrapak. (Fonte: Kit Resíduos no. 17 – Aquecedor Solar de Recicláveis, 2008)

6.6.3. Alimentação e nutrientes

Um projeto Permacultural também deve prever meios para a segurança

alimentar de qualidade, por isso a horta, o jardim comestível, o canteiro de ervas 22 Um outro tipo de energia possível é a cinética, gerada por meio das ondas do mar ou de rios, mas não é citado aqui por exigir recursos naturais muito específicos e raramente disponíveis na grande maioria dos lugares de implantação de projetos de pequeno e médio porte, permaculturais ou não. A energia magnética também não é citada mas tem sido objeto de estudo para utilização em veículos, dispensando assim o uso de combustíveis. 23 Uma das possíveis tecnologias neste caso, pode ser encontrada no site da SEMA - Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Paraná, sob o título de “Kit Resíduos no. 17 – Aquecedor Solar de Recicláveis”: http://www.meioambiente.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=21. 24 Projeto da Sociedade do Sol, que pode ser acessado no site: http://www.sociedadedosol.org.br/home.htm.

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medicinais, aromáticas e de temperos, são de fundamental importância e devem

conter espécies as mais variadas possível. As frutíferas e as pequenas criações de

animais complementam a alimentação da família. É importante lembrar que na

Permacultura tudo é orgânico e nenhum tipo de insumo químico é utilizado: a

própria natureza fornece os meios para o controle de pragas e a manutenção da

saúde dos animais e das pessoas25: é só observá-la e aprender com ela.

Muitos permacultores optaram pelo vegetarianismo e a criação de animais se

destina apenas ao fornecimento de leite e ovos, por exemplo. Outros, os vegans,

não consomem nenhum produto de origem animal. Essas são opções pessoais ou do

grupo, em geral motivadas por caminhos espirituais ou pela conscientização de que

o consumo de carne incentiva a pecuária e a consequente degradação ambiental, e

freqüentemente promove o maltrato de animais, mas elas não constituem uma

premissa da Permacultura.

6.6.4. Construções

As construções na Permacultura são o mais orgânicas e otimizadas possível,

priorizando materiais disponíveis na região, como terra e bambu, o que diminui os

custos, inclusive com transporte, e são projetadas para utilizar a natureza a seu

favor, com janelas, portas, telhados e outros detalhes inteligentemente dispostos de

modo a aproveitar as condições climáticas locais26 e, se possível, exercer mais de

uma função. As construções desse tipo diminuem a amplitude térmica no interior da

casa pela própria natureza do material utilizado, por um melhor aproveitamento das

condições climáticas locais (potencializando ou diminuindo o impacto de ventos e de

insolação), pela construção de telhados verdes, cercas vivas que protegem ou

desviam os ventos, plantio de árvores no entorno que dão sombra e favorecem o

microclima, enfim, uma série de elementos que contribuem para o conforto térmico

na habitação e no entorno, além de economizar energia para iluminação,

aquecimento ou resfriamento do ambiente.

25 Um ambiente equilibrado, em harmonia com a natureza, promove sozinho a saúde do sistema e de seus elementos. As doenças são fruto de um desequilíbrio e várias destas, físicas ou psíquicas, nos dias de hoje, são causadas por alimento, terra, água e ar contaminados, falta de higiene e por um estilo de vida sedentário e/ou estressante. (http://vidabahai.org/saude+, acesso em 14/fev/2009) 26 Informações detalhadas podem ser encontradas no prático livreto “Construção Natural” de André Soares (2007), e no livro “Manual do arquiteto descalço”, de Johan van Legen (2008), onde o tema é bastante aprofundado.

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Materiais mais utilizados: terra, bambu, feno, palha, madeira, rochas, resíduos

da construção civil (divisórias, placas de metal, azulejos, etc.), garrafas pet e de

vidro. Tecnologias mais utilizadas: fardos de palha ou feno (Figura 14), adobe

(Figura 15), super adobe, cob, bambu, tijolos de solocimento, ferrocimento, taipa

leve (pau-a-pique) e de pilão.

Figura 14: Na foto, a parede de fardos de palha está sendo aparada para facilitar a aplicação do

reboco natural. (Ecocentro IPEC, 2007)

Figura 15: Construção em adobe.. (Ecocentro IPEC, 2007)

Agregando a tudo isso a criatividade e o capricho, é possível ter casas

extremamente harmoniosas, charmosas e funcionais, que em nada justificam o

preconceito contra o resultado dessas técnicas de construção, ainda considerado por

muitos de aspecto rústico ou pobre, resultado que na verdade só depende do

acabamento que se dá. Sem dúvida há vantagens e desvantagens em todas as

técnicas e tudo deve ser levado em conta na hora de escolher como construir. Um

ramo da arquitetura se dedica totalmente a esse tipo de construção, que é a

bioarquitetura, e vem crescendo exponencialmente nos últimos anos.

6.6.5. Resíduos e saneamento

Os resíduos orgânicos e secos, ou o que se chama de lixo, são um grande

problema ambiental, tanto no campo quanto na cidade, porque não são, na grande

maioria, reaproveitados ou corretamente tratados antes de sua devolução ao meio

ambiente. O acesso ao saneamento básico ainda é muito pequeno ou inexistente

para as camadas mais carentes da população. Além disso, em alguns casos há uma

certa ignorância, e até preconceito, sobre como ele pode ser transformado e

reutilizado. A Permacultura procura gerar a menor quantidade possível de resíduos

secos, utilizando materiais biodegradáveis e evitando o uso de plástico, por exemplo,

ou então transformado-os em material para a construção, decoração, encontrando

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outros usos ou o que a criatividade permitir, dentro do conceito de que nada se

perde, tudo se transforma. E o resíduo orgânico se transforma, torna-se composto

ou energia (gás, combustível, etc.).

Tecnologias utilizadas: restos de alimentos,

resíduos de poda e afins, vão para uma

composteira e, mais tarde, serão utilizados como

adubo orgânico. Os resíduos orgânicos de animais

podem, por exemplo, ser tratados por um

biodigestor onde será coletado o gás metano para

uso energético e a parte sólida para adubo

orgânico de excelente qualidade.

As chamadas águas cinzas, que são as

provenientes das atividades de limpeza na cozinha

e no banho, por exemplo, são processadas e

limpas pela própria natureza em um sistema

chamado Círculo de Bananeiras (Figura 16).

Figura 16: Carlos Miller, do IPA, explica o funcionamento do sistema conhecido como Círculo de Bananeiras. (Foto: Cláudia Chaves, 2006)

De mais difícil aceitação por questões culturais, é o banheiro seco ou

compostado (Anexo VIII). Nos meios permaculturais, ele vem sendo cada vez mais

implantado, pois elimina a questão das águas negras (de vasos sanitários) por não

usar água em seu sistema, e por isso também é conhecido como banheiro seco. Os

resíduos humanos se transformam aí em composto orgânico, e posteriormente, em

húmus, que será utilizado na agricultura. É, sem dúvida, uma solução muito bem

pensada, simples e eficiente, e que resolveria vários problemas de saneamento

básico e contaminação em várias regiões carentes do país, rurais ou urbanas.

Quando não há a possibilidade ou

disposição das pessoas ou da

comunidade em implantar um banheiro

seco, utiliza-se então um sistema

integrado de tanques para o tratamento

das águas negras, com filtros naturais

como rochas e algas (Figura 17). Esse

sistema tem se mostrado muito eficiente

e o resultado é uma água limpa, de

Figura 17: Sistema de tratamento de águas negras, com brita e plantas. (IPEMA, 2008)

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qualidade, e que pode ser devolvida ao meio ambiente sem problema, mas que

também é freqüentemente é usada na piscicultura.

6.6.6. Sistemas Produtivos e Economia

Os sistemas produtivos na Permacultura não visam lucro e acumulação, mas

sim uma renda que permita a auto-suficiência da propriedade ou da comunidade,

para sua manutenção e para a aquisição de produtos ou bens que não são

produzidos in loco: melhorias e reparos nas instalações, ferramentas e utensílios,

atualização tecnológica, educação, lazer, vestuário, transporte e outros.

Tecnologias e conceitos usados: os cultivos são orgânicos, intensivos e não

extensivos, e buscam seguir os padrões da natureza, como por exemplo o plantio no

formato de mandala (Figura 18 e Anexo I), ou em curvas em detrimento de linhas

retas, a agrofloresta, etc. Também são incorporados princípios da agricultura

biodinâmica em vários casos. Há viveiros de mudas para garantir a independência e

a qualidade da produção. Na pecuária, os animais de médio e grande porte são

criados normalmente em sistemas abertos ou semi-confinados e são, em geral,

alimentados com produção local de ração e tratados com fitoterápicos. A criação de

animais de pequeno porte também segue a linha da produção orgânica. Tudo é livre

de OGMs, antibióticos e hormônios.

Figura 18: Plantio em forma de mandala, espelhado no padrão do universo. (http://agriculturacomunitaria.blogspot.com/, acesso em

15/fev/2009)

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Com a produção de hortifrutigranjeiros, cereais, compotas, mel, leite, queijos,

manteiga, artesanato, flores, castanhas e outros, é possível gerar renda suficiente

para a manutenção da propriedade e para uma melhoria na qualidade de vida da

família e da comunidade, investindo o rendimento extra em benfeitorias, estudo,

lazer e outros. A preferência de comércio é o local, que permite que os produtos

estejam mais frescos, utiliza pouco transporte e promove a aproximação das

pessoas da região e o desenvolvimento local. A troca de produtos em Feiras de Troca

e o compartilhamento de excedentes também são práticas muito usadas.

6.6.7. Educação

A educação na Permacultura pretende ir além da educação formal dos dias de

hoje. É comum se encontrar escolas Waldorf no meio permacultural, pois ela se

utiliza de uma pedagogia mais holística e orgânica. Também não é incomum a

educação em casa, promovida pelos próprios pais. Os ensinamentos vão além dos

das escolas convencionais: eles valorizam mais o ser humano, a natureza, a

comunidade, o respeito e as relações entre eles, sempre buscando uma abordagem

sistêmica, cooperativa e não competitiva. Por outro lado, o ensino formal e técnico

também está presente, principalmente em assentamentos que conseguiram,

normalmente por meio de mobilização e organização da comunidade, que o poder

público local construísse ou lhes desse acesso a escolas, mas à este aprendizado

sempre se agregam outros, com palestras, atividades, convivência e experiência

prática.

6.6.8. Comunidade

As relações sociais ou comunitárias são bastante facilitadas e extremamente

valorizadas no sistema permacultural. O consenso é o método decisório de

preferência, promovendo a discussão e o acordo entre os integrantes com o objetivo

de chegar a um resultado de comprometimento de todos. É um processo difícil no

início, uma vez que não faz parte da cultura ocidental e “moderna” o exercício do

“ouvir” e do “empatizar”, mas que traz inúmeros benefícios (MARIOTTI, 2000). A

construção de casas é normalmente feita por meio de mutirões, o que fortalece os

laços comunitários, facilita o trabalho e economiza tempo. Como diz o ditado, “várias

mãos tornam o trabalho mais leve”. O mesmo se dá no trato com os animais e com

os cultivos. No caso das ecovilas, os pontos de encontro promovem essa

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sociabilidade. Assim como no passado a praça central era o ponto das festividades e

de encontro da cidade e. muitas vezes, de troca e comércio.

Nem todos os domínios foram cobertos aqui, pois esse não é o objetivo deste

trabalho. Embora a bibliografia a respeito da Permacultura seja relativamente pouca,

esse pouco é bastante completo e profundo, permitindo um mergulho nesse rico

universo. As tecnologias ecológicas, utilizadas pela permacultura, podem ser

encontradas nas publicações, da área ou não, e em inúmeros sites. Por ser um

sistema em constante transformação, está sempre incorporando idéias e buscando

soluções criativas para novas e antigas necessidades, sem perder de vista as

inovações tecnológicas. A postura aberta e receptiva que a Permacultura promove,

permite que haja institutos, centros, iniciativas pontuais, estações e comunidades

permaculturais com as mais diferentes características, como os que focam nos

movimentos sociais ou que promovem a comunhão do ser humano com a natureza

de maneira mística.

Mas o que é comum a todos é a certeza de que será preciso assumir a ética do

cuidado com a Mãe-Terra para garantir a manutenção e a multiplicação dos sistemas

vivos, inclusive do ser humano. Depois, o cuidado com as pessoas para a promoção

da autoconfiança e da responsabilidade comunitária. E por fim, aprender a governar

nossas próprias necessidades, impor limites ao consumo e repartir o excedente para

facilitar o acesso de todos aos recursos necessários à sobrevivência, preservando-os

para as gerações futuras.

7. ANÁLISE CRÍTICA DE ALGUNS CASOS EXISTENTES

Embora pouco divulgadas, há várias iniciativas permaculturais acontecendo em todo

o Brasil, nos mais distintos formatos. Os Institutos de Permacultura, além de

funcionarem freqüentemente como incubadores de novas tecnologias, têm procurado

fazer parcerias com o poder público para a implantação de projetos e para a capacitação

de comunidades, em geral em áreas mais carentes. Além disso, a maioria dos

permacultores também desenvolve ações pontuais de pequena escala, disseminando se

não a Permacultura como um todo, ao menos alguns de seus princípios e tecnologias,

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resolvendo problemas específicos locais ou atuando de maneira preventiva.

Freqüentemente, ela agrega conceitos da agricultura biodinâmica e da pedagogia

Waldorf, assim como também se mistura com a Agroecologia, que partiu de conceitos

agrônomos para uma abordagem sistêmica e ecológica, que inclui todas as relações e

fluxos presentes em um determinado espaço. Há também várias ações que usam

especificamente algumas tecnologias desenvolvidas na ou incorporadas pela

Permacultura, transformando seu próprio pequeno espaço (casa, apartamento) e estilo

de vida ou, principalmente, buscando solucionar problemas críticos nas comunidades

mais carentes, em parceria com seus membros.

7.1. Jardim Vera Cruz, São Paulo/SP

Um desses exemplos de parceria com a comunidade é o trabalho do Prof.

Eduardo Bonzatto com a Favela do Jardim Vera Cruz, extremo da zona sul do

município de São Paulo, que teve início em princípios de 2004. Como acontece na

natureza, alguns processos são lentos e tem de ter seu tempo de maturação

respeitado. Mais ainda nas comunidades humanas, onde o caminho para uma

mudança de postura frente a seus próprios problemas e para o convencimento da

capacidade de inovação e transformação inerentes à própria comunidade, tem de ser

construído com muito envolvimento, paciência e cuidado, a partir de relações de

confiança e igualdade.

Após alguns anos construindo esse caminho, “a construção de um esgoto

ecológico foi entendida como base para a implantação de uma unidade autônoma de

sobrevivência (casa feita com técnicas da permacultura – taipa, bambu, etc – coleta

e distribuição de água de chuva, captação de energia limpa – energia solar com

variadas técnicas, plantio de hortas – inclusive verticais – frutas, etc.)” (BONZATTO,

2006). O esgoto ecológico foi construído com uma técnica resgatada de um padre

francês do século XIX e bastante utilizada na permacultura: consiste num princípio

simples e surpreendente, utilizando bambus, galões (neste caso, de plástico), e o

plantio de frutíferas cítricas e o círculo de bananeiras.

Depois de feito esse esgoto ecológico em meados de 2006, mais ao fundo da

comunidade ocorreu uma ocupação às margens da represa de Guarapiranga. O

grupo se dirigiu para lá “com o propósito de expandir nossas conexões. A

emergência ali era de tal natureza que a imediata construção do esgoto (Figura 19)

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estabeleceu a empatia necessária, já que a ocupação estava ameaçada justamente

devido à repercussão dos danos que tal ocupação causariam à represa.”

(BONZATTO, 2006).

Figura 19: Bonzatto e membros da comunidade, na segunda etapa da construção do esgoto (colocação do feixe de bambus na vala). (BONZATTO, 2006)

Acreditava-se que com tal dispositivo a comunidade teria argumentos para

convencer as autoridades da possibilidade de ocupação sem danos do espaço, mas,

no entanto, uma semana depois, um grupo não identificado destruiu todos os

barracos e expulsou todos do terreno, que pelo que se sabia era público. Apesar da

baixa, o trabalho continuou em outras comunidades e, segundo Bonzatto, “não há

dúvidas de que ele transforma todos os atores envolvidos, pois relações não

hierárquicas constituem o modo verdadeiramente transformador em que a liberdade

de escolher um outro mundo se apresenta em sua plenitude (...)” (2006).

O trabalho que Bonzatto desenvolve há anos com comunidades carentes da

Região Metropolitana de São Paulo é um trabalho inglório, mas gratificante pela

transformação que ele engendra: nas pessoas, na recuperação ambiental, na

qualidade de vida dos envolvidos e, inclusive, do entorno. Entretanto, as iniciativas

de intervenção nesses espaços sempre encontram muitos obstáculos além do da

mudança cultural e comportamental, que já é extremamente difícil de ser alcançada,

mas de modo algum impossível. Alguns deles são: a própria disputa de poder dentro

das comunidades, que impede, dificulta ou destrói os avanços de um grupo oposto;

o poder político local, que em muitos casos vê a independência da comunidade como

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uma ameaça à sua dominação; e a legislação existente (ou inexistente) e a

burocracia, que dificultam ações e uso de técnicas não institucionalizadas. Houve

casos em que, segundo informação verbal de Bonzatto, foi feita uma intervenção da

CETESB proibindo a construção dos esgotos por motivos técnicos, embora o sistema

ecológico fosse comprovadamente eficiente no tratamento de águas negras,

evitando a contaminação do solo, lençol freático e córregos adjacentes.

7.2. Instituto de Permacultura da Amazônia, Manaus/AM

Localizado no coração de Manaus, o IPA possui uma Unidade Demonstrativa de

Permacultura (UDP) em uma área da Escola Agrotécnica Federal de Manaus, onde

desenvolve e testa tecnologias ecológicas e sociais, ministra cursos e provê

treinamento e capacitação a jovens líderes comunitários, indígenas, ribeirinhos,

estudantes, agricultores familiares e outros interessados. Além disso, também

desenvolve projetos no município de Boa Vista dos Ramos, no interior da Amazônia.

Em visita ao IPA, a autora pode comprovar a eficácia do sistema cuidadoso de

recuperação das matas locais (Figuras 20 e 21), as atividades de desenvolvimento

de novas tecnologias e de geração de renda. Todos os sistemas que envolvem a

sustentabilidade local estão interligados e funcionam em harmonia, provendo as

bases sociais, ambientais e econômicas para um desenvolvimento saudável do ser

humano em parceria com o meio ambiente.

Figura 20: Situação da região antes da intervenção. (Carlos Miller, 1998)

Figura 21: Situação da região 8 anos após a intervenção. (Cláudia Chaves, 2006)

Entre as atividades que geram renda está o codornário, de aproximadamente

8m2, com o objetivo de comercializar os ovos de codorna: com duas horas de

trabalho diário, proporciona um retorno líquido de R$ 400,00 por mês. Há também o

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meliponário (Figura 22), localizado no meio da mata. As abelhas são fundamentais

para a manutenção dos ecossistemas, como alerta a famosa frase atribuída a

Einstein: "Se as abelhas desaparecerem da face da Terra, ao homem apenas restam

quatro anos de vida. Não há abelhas, não há polinização, não há plantas, não há

animais, não há homem". Além disso, produzem o mel para consumo local ou

comercialização: neste caso, cerca de 3kg de mel por colméia por ano, com apenas

duas horas por semana de cuidados.

Figura 22: Meliponário no meio da mata recuperada. (Carlos Miller, 2006)

Vários outros sistemas produtivos podem ser encontrados na UDP, como

criação de galinhas com aproveitamento do telhado como telhado verde (Figura 23),

patos, coelhos, suínos e gado – tudo de maneira orgânica e integrada, com sistemas

de tratamento e aproveitamento de resíduos para adubo orgânico, pois o que é

resíduo de um sub-sistema, é insumo para outro. Nem o óleo de cozinha escapa

dessa lógica: ele é filtrado e utilizado como combustível (após um simples ajuste

mecânico no motor) na caminhonete da UDP (Anexo IX), que já estava com 50 mil

km rodados em 2006, trazendo uma economia de cerca de R$ 14 mil por ano. Suas

emissões são 90% reabsorvidas pelas plantas.

O IPA tem focado ultimamente na criação de peixes ornamentais para

comercialização. O custo maior desse tipo de criação, é com a ração, que é muito

específica em seus componentes e densidade para cada espécie de peixe. Uma das

tecnologias inovadoras sendo desenvolvidas na UDP é justamente a produção de

rações para a piscicultura. Com insumos locais e produzida artesanalmente, por

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exemplo com equipamentos de segunda mão, como um moedor de café industrial, o

custo é de 10% do da ração comercial.

Embora a produção de ração

pudesse se tornar uma tecnologia

sendo disseminada e mais uma fonte de

geração de renda, os rigores da

legislação (necessários para o controle

sanitário da produção em larga escala,

que visa a acumulação de capital) e a

questão das patentes e seus custos,

que tiram das invenções, criações e

descobrimentos a sua possibilidade de

uso público, dificultam e até mesmo

tornam proibitivas a comercialização

formal em pequena escala, que visa

apenas a sustentabilidade do sistema

como um todo.

A UDP do IPA, tem inúmeras

outras estruturas de apoio, como

açudes, laboratório, alojamentos,

restaurante, auditório, e, é claro,

banheiros secos.

Figura 23: Galinheiro com telhado verde, que produz ervas e diminui os efeitos da insolação.

(Cláudia Chaves, 2006)

7.3. Centro Sabiá e as comunidades no entorno de Bom Jardim/PE

O Centro Sabiá é uma organização não-governamental que atua em parceria

com outras organizações e fundações internacionais para a:

construção coletiva do conhecimento agroecológico – incorpora o apoio ao

desenvolvimento da agricultura familiar agroflorestal, por intermédio de

processos de formação e capacitação de técnicos(as) e agricultores(as), na

produção de materiais educativos e campanhas de sensibilização;

educação para convivência com o Semi-Árido – tem uma abordagem de

mobilização das famílias agricultoras para que as mesmas se envolvam nos

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debates e construções de estratégias que as permitam produzir para se

alimentarem e gerar renda;

fortalecimento das organizações dos(as) agricultores(as) – inclui as ações

de assessoria às organizações de agricultores(as) familiares, as relações

com as organizações sociais e sindicais, mobilizando e estimulando a

participação popular nas políticas públicas;

fortalecimento das articulações e parcerias – inclui a ampliação dos

processos de parcerias e cooperação. Assim como a participação em

espaços de articulação interinstitucional;

desenvolvimento da economia popular e solidária e garantia da soberania

alimentar e nutricional com ênfase em gênero e juventude – incorpora as

ações das diversas formas de comercialização como os espaços

agroecológicos ou feiras, beneficiamento e auto-consumo da produção.

Como dito anteriormente, a Permacultura e a Agroecologia atuam de maneira

muito semelhante e freqüentemente se confundem e se misturam. Ambas têm uma

abordagem holística e emprestam tecnologias umas das outras, ou seja, não são

campos restritos do conhecimento que buscam proteger a si mesmos e seu nicho,

muito pelo contrário, são parceiras no esforço e no trabalho de melhorar as

condições de vida da população (no caso da agroecologia, especificamente no

campo), gerar renda, igualdade e oportunidades, além da preservação e recuperação

ambiental.

Em outubro de 2003, a autora teve oportunidade de conhecer a atuação do

Centro Sabiá, cuja sede fica em Recife/PE, por meio de seus integrantes alocados no

município de Bom Jardim. O trabalho desenvolvido pelo Técnico Agrônomo, Adeildo

Fernandes, e sua equipe com as comunidades da região, já haviam modificado

positivamente a paisagem, as relações sociais e a qualidade de vida e geração de

renda.

A parceria com a ASA no projeto “Um milhão de Cisternas” (ainda em

andamento e que tem o apoio do Ministério do Meio Ambiente e da FEBRABAN –

Federação Brasileira de Bancos), possibilitou a construção de cisternas (Figura 24),

em regime de mutirão, para captação de água da chuva, o que melhorou

sobremaneira as condições de vida das famílias, provendo acesso a água potável.

Antes, as famílias tinham de caminhar por vezes quilômetros para coletar água em

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barreiros freqüentemente contaminados, pois são também utilizados por animais

para matar a sede.

Figura 24: Adeildo Fernandes faz uma explanação a Claudia Chaves e ao grupo

sobre as cisternas construídas na comunidade (Cláudia Chaves, 2003).

A água coletada, além de consumida pela família, também possibilita a

pequena agricultura e a criação de animais. O trabalho do Centro Sabiá também

envolve a conscientização sobre o uso da água, o desenvolvimento de lideranças

locais, articulação comunitária, implantação de agroflorestas, capacitação, promoção

da igualdade de gênero, criação de feiras agroecológicas, valorização dos

agricultores e agricultoras, geração de renda e melhoria das condições de vida. Os

jovens estão finalmente vislumbrando um novo futuro para suas vidas no campo e

cada vez mais pensam em dar continuidade à agricultura familiar:

“O jovem agricultor Ivan, da comunidade de Bom Sucesso, em São José do Egito/PE, diz que antes tinha vergonha de ser agricultor e que pensava no futuro mudar para São Paulo. ‘Hoje, penso em ser um técnico agrícola e trabalhar com a agroecologia’, afirma Ivan. Nessa mesma comunidade, há um caso de um outro jovem agricultor que deixou de ser dependente químico a partir do envolvimento na agricultura agroecológica.” (Acesso http://www.centrosabia.org.br/Site/php/interna.php?CodPagina=8, em 16/fev/2009)

Operar uma mudança cultural não é fácil e demanda anos de aproximação com

a comunidade, convivência para entender sua dinâmica, respeito pela experiência

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dos agricultores e pelos conhecimentos que são passados de geração em geração27.

O agricultor Rafael trocou o veneno e as queimadas pela agrofloresta, mas foi

preciso muito tempo e paciência de Adeildo para convencê-lo: “Aqui a gente sempre

usou a queimada para limpar a terra e sempre plantamos um ou dois tipos de

cultura. É verdade que as colheitas estavam ficando pior a cada ano, mas ninguém

nunca pensou que recuperar a floresta e plantar tudo misturado podia dar certo.

Quando o Adeildo chegou aqui, a gente achava que ele tava doido e que era um

chato. Eu não quis nem saber, já plantava do meu jeito que era o jeito do meu pai

antes de mim. O Adeildo me venceu pelo cansaço. Foi cinco anos ele no meu ouvido

e aí uma hora eu pensei, ‘se eu fizer como ele quer, talvez ele me deixe em paz’.

Mas não é que deu certo?! Hoje eu tenho de tudo no meu sítio, fartura pra minha

família e ainda vendo no mercado [Figuras 25 e 26]. O Adeildo é hoje um grande

amigo nosso!”.

Figura 25: Pé de abacaxi na

propriedade de Rafael. (Eric Hendriks, 2003)

Figura 26: Bananeira na propriedade de Rafael. (Eric Hendriks, 2003)

Trecho do relatório do projeto (Programme EYE) do qual a autora fez parte:

“Semi-árido - Projeto das Cisternas e Agrofloresta (23/out): Viagem ao Centro Sabiá em Bom Jardim. O Técnico Agrícola, Adeildo Fernandes, nos apresentou a algumas famílias em comunidade distante 40 minutos de Bom Jardim, onde o projeto das cisternas está sendo implantado. O Presidente da Associação local, Luciano, um jovem de 21 anos,

27 Um interessante trabalho para a construção desse caminho com a comunidade, inclusive com as de população analfabeta ou semi-analfabeta, é o livro “80 Herramientas para el Desarrollo Participativo”, de Frans Geilfus (1997).

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acompanhou o grupo e encantou pelo seu entusiasmo, dedicação e orgulho. Ficaram claros os benefícios de tal projeto embora o grupo tenha demonstrado seu inconformismo com o fato de ter levado 10 anos pra ser iniciado, principalmente por causa de discussões políticas. Á tarde conhecemos uma iniciativa de agrofloresta com o agricultor local Rafael. Com a ajuda do engenheiro agrônomo belga, Peter, e do entusiasmo e dedicação de Adeildo, o grupo compreendeu a importância de tal projeto na reconstituição e preservação da fauna e flora locais – destruída ao longo do tempo – e como meio de renda familiar sustentável para a comunidade local. O projeto visa uma convivência digna e sustentável com o semi-árido”. (CHAVES, 2003)

A oportunidade que a autora teve de conhecer pessoalmente essas iniciativas e

seus resultados, foi decisiva na sua escolha pelo caminho da Geografia. Embora o

projeto não seja permacultural e sim agroecológico, ele apresenta um grande espaço

para a inclusão de tecnologias e abordagens dentro da Permacultura, como por

exemplo, a implantação de banheiros compostáveis (que não dependem de água,

que é escassa na região, e por isso também não geram águas negras), a utilização

de energia solar para cozimento e desidratação de alimentos, a construção de

telhados verdes, que podem fornecer ervas e alimentos e refrescam o interior das

casas e o trator de galinhas (galinheiro móvel) que permite adubação de hortas ao

mesmo tempo em que as aves se alimentam das larvas ou pragas, eliminando-as.

Como relatado, o trabalho é lento e demanda muita dedicação e paciência.

Embora com apoio de órgãos públicos (MMA) e bem articulado, sempre há

resistência, nessas regiões, a iniciativas de emancipação da comunidade, inclusive

ameaças anônimas de morte (informação verbal, 2003) ao envolvidos no projeto.

Mas o resultado, não há dúvidas, vale a pena.

7.4. Casa dos Hólons e Morada da Floresta, São Paulo/SP

A Casa dos Hólons, localizada no bairro de Campo Belo na cidade de São

Paulo, é um laboratório de Permacultura urbana. Essa experiência bem sucedida,

desenvolvida em uma casa como tantas outras na cidade (Figura 27), reforça a idéia

de que: a Permacultura pode ser implantada em praticamente qualquer lugar;

diminui a dependência de recursos externos, principalmente de energia e alimentos;

recupera e embeleza áreas, freqüentemente utilizando resíduos que seriam

despejados no meio ambiente; e promove a qualidade de vida das pessoas. E tudo

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isso no meio urbano, em uma área relativamente pequena, no meio da turbulência

de São Paulo, mas extremamente bem planejada.

Figura 27: Casa dos Hólons, no bairro de Campo Belo, São Paulo-SP. (acesso http://www.13luas.art.br/casadosholons/xps/modules/tinycontent/index.php?id=8 em

16/fev/2009)

A fachada foi feita utilizando-se a técnica de ferrocimento, potes e garrafas de

vidro e cacos de azulejo formando mosaicos. Logo na entrada é possível sentir, em

dias quentes, que o microclima é mais agradável que o da rua, além de se perceber

a beleza dos muros internos que, criativamente, foram esculpidos no cimento e

decorados com vidro (Figura 28). A casa possui sistema de coleta de água da chuva

nos telhados, tratamento de águas cinzas e negras no quintal (Figura 29) com

tanques e o Círculo de Bananeiras, composteiras, hortas (que garantem segurança

alimentar), telhado verde, banheiro seco, aquecimento solar, criação de galinhas,

espaço para palestras e cursos, habitações extras (Figura 30) para moradores

ocasionais e salas para trabalho ou meditação, etc. À exceção da própria casa

principal, todo o restante foi construído pelos próprios moradores (cerca de 10

pessoas, em dezembro de 2007) e trabalho voluntário de amigos, utilizando

materiais locais, resíduos da construção civil e outros, descartados – freqüentemente

de maneira inadequada - como lixo e que estão disponíveis em abundância pela

cidade.

Com os conceitos da Permacultura, de tudo integrar, buscar a auto-suficiência,

a não geração de resíduos, a solidariedade, a alimentação orgânica, o

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reaproveitamento dentro do sistema, um bom planejamento, a tecnologia e a

criatividade, é possível ter uma vida de qualidade mesmo na cidade.

Figura 28: Muro da Casa dos Hólons. (Cláudia Chaves, 2007)

Figura 29: Sistema para tratamento de águas negras. (Fonte: idem Figura 27)

É um estilo de vida com todas as facilidades modernas (ninguém abre mão dos

notebooks, celulares, e outros), e onde as pessoas continuam exercendo suas

profissões e atividades externas, mas que tem um impacto muito menor no meio

ambiente, pois tudo é planejado para o melhor aproveitamento da água, do sol, do

vento e da terra, além de não devolver resíduos à natureza, lixões ou rede de

esgoto. A casa dos Hólons também tem algumas fontes extras de renda, como a

disponibilidade para visitas turísticas, palestras e cursos (Figura 31), e a

comercialização de produtos orgânicos e artesanais, como pães e conservas.

Figura 30: Habitações na parte dos fundos do terreno. (Cláudia Chaves, 2007)

Figura 31: Palestra no espaço de convivência, na parte de trás da casa principal.

(Fonte: idem Figura 27)

As iniciativas de permacultura urbana, como é também o caso da Morada da

Floresta, no Jardim Bonfiglioli em São Paulo, onde a autora esteve durante 10 dias

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participando do PDC e ajudando a planejar (Figuras 32 e 33) de maneira mais eficiente a

casa e a utilização do terreno para os moradores, encontram muitas vezes pouco ou

nenhum incentivo ou apoio por parte dos órgãos públicos, que, por exemplo, não

consideram os esforços e sucesso dessas comunidades em não gerar resíduos por meio

da sua reutilização dentro do sistema, com a compostagem e o tratamento de águas

cinzas e negras. Se houvesse políticas públicas de investimento ou incentivo a essas

intervenções, desde a redução ou isenção de impostos, disseminação das técnicas e

abordagem da Permacultura, capacitação de permacultores, educação ambiental e

conscientização da responsabilidade de cada um com seu bairro e sua cidade, certamente

haveria mais Casas dos Hólons e Moradas da Floresta e os custos com coleta de lixo,

tratamento de água e esgoto, seriam enormemente reduzidos.

Figura 32: Grupo, do qual fazia parte Cláudia Chaves, apresenta o planejamento desenvolvido

para a melhoria e otimização de recursos da Morada da Floresta. (Cláudia Chaves, 2007)

Figura 33: Equipe encarregada do isolamento térmico, com isopor e plástico bolha, da caixa d’água que será o reservatório de água quente

(energia solar) da Morada da Floresta. (Cláudia Chaves, 2007)

As estratégias de design da Permacultura não existem apenas para o planejamento

de propriedades abundantes em energia – este é apenas o primeiro nível de ação do

permacultor. É possível desenhar também sistemas de transporte, educação, saúde,

industrialização, comércio e finanças, distribuição de terras, comunicação e governança,

entre outros, para criar sociedades prósperas, cooperativas, justas e responsáveis. O

sonho é possível: a ética cria possibilidades de consensos, coordena ações, coíbe práticas

nefastas, oferece os valores imprescindíveis para podermos viver bem.

“O desenvolvimento sustentável para atender as necessidades humanas, dentro de limites ecológicos, exige uma revolução cultural maior que qualquer uma das mudanças profundas ocorridas no último século. O design e as ações da permacultura no último quarto de século mostraram que essa revolução é complexa e multifacetada. Embora ainda continuemos a nos debater com as lições de sucesso e fracasso do passado, o mundo de energia em declínio que está surgindo vai adotar muitas das estratégias e técnicas da permacultura, como meios óbvios e

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naturais de se viver dentro de limites ecológicos, quando as riquezas reais diminuírem”. Por outro lado, o declínio de energia vai demandar respostas em tempo real para situações novas e adaptações incrementais de sistemas inadequados existentes, bem como as melhores inovações criativas aplicadas a problemas de design menores e mais corriqueiros. Tudo isso deve ser feito sem os orçamentos milionários e o “oba-oba” normalmente associados às inovações atuais do desenho industrial. Os princípios de design da permacultura jamais poderão substituir o conhecimento técnico e as experiências práticas de sucesso. Contudo, esses princípios podem oferecer uma estrutura conceitual para a geração contínua de soluções para situações e locais específicos, que são necessárias para se avançar além dos êxitos limitados do desenvolvimento sustentável até um reencontro entre cultura e natureza” (HOLMGREN, 2007).

Um tímido avanço na direção da disseminação desse conhecimento, pelo menos no

que diz respeito à conscientização e capacitação, foi a criação, pela Prefeitura de São

Paulo, da Universidade Livre do Meio Ambiente e da Cultura da Paz – UMAPAZ, localizada

no Parque do Ibirapuera. Entretanto, a divulgação dos cursos, que são excelentes e

gratuitos, tem seu alcance ainda muito pequeno, circulando principalmente nos meios e

nichos já conhecedores da Permacultura e da Educação Socioambiental em geral. Além

disso, o acesso ao Parque via transporte público é bastante difícil e demorado,

dificultando a participação da população mais periférica, em especial das zonas Oeste,

Norte e Leste. A criação de linhas especiais que partam de estações de metrô e de trem,

facilitaria muito o acesso. Outra dificuldade é que os cursos em geral são ministrados

durante a semana e durante o dia. Uma política de parceria entre a UMAPAZ e as

universidades, escolas públicas e outros parques, muito ajudaria na divulgação dos

conceitos holísticos e sistêmicos desenvolvidos lá e no acesso da população a esse

conhecimento e a essa vivência.

A Permacultura também possui uma grande e natural afinidade com a Geografia,

pois trabalha, como esta, de maneira multidisciplinar e holística, integrando todos os

aspectos possíveis da construção do espaço: físicos, vivos (ser humano, fauna e flora),

energéticos, espaço-temporais, redes, conexões e fluxos. Portanto, é surpreendente que

ainda não se tenha uma disciplina de Permacultura nos meios acadêmicos da Geografia e

que a participação das universidades ainda seja quase inexistente no estudo e na

aplicação de seus conceitos no desenvolvimento de projetos, principalmente junto a

comunidades carentes.

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8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Frente aos dilemas ecológicos atuais, de degradação das condições sociais da grande

maioria da população global, aumento da miséria e da fome, concentração das riquezas

nas mãos de poucos, destruição dos recursos naturais, aquecimento global e mudanças

climáticas, é premente uma mudança radical no modo como o ser humano constrói o seu

espaço geográfico. O atual modo de produção é um caminho suicida, pois exaure os

ecossistemas que justamente sustentam a vida e permitem sua reprodução e

sobrevivência.

“Como parte dos sistemas vivos da Terra e tendo desenvolvido o potencial para desfazer a sustentabilidade do planeta, o ser humano tem como missão criar agora uma sociedade de justiça, igualdade e fraternidade, a começar pelos marginalizados e excluídos, com relações mais benevolentes e sinergéticas com a natureza e de maior colaboração entre os vários povos, culturas e religiões” (Rede Permear, 2008).

Sem pretender entrar no debate dos efeitos do modelo econômico atual, que

aumenta cada vez mais a distância entre os mais ricos e os mais miseráveis e esgota os

recursos naturais, os problemas gerados por esse sistema de produção do espaço podem

ser observados e sentidos em praticamente todos os lugares do mundo. Qualquer leigo

dos conceitos e discussões teóricas sobre o assunto no âmbito de qualquer ciência, tem

acesso a algum tipo de informação ou percepção: meios de comunicação, conversas

informais ou até mesmo por vivência própria ou próxima.

A Permacultura, por espelhar-se nas relações da natureza, que são processos

sistêmicos e holísticos e que respeitam os ciclos e as relações entre os ecossistemas, é

um caminho viável para uma mudança de paradigma, tão necessária no momento atual,

para que de fato se possa [re]construir o espaço geográfico com mais equidade social e

sem prejudicar a capacidade de reprodução e recuperação do meio ambiente e,

consequentemente, de sobrevivência das próximas gerações. Embora este trabalho tenha

sido de cunho bastante teórico, a Permacultura é, na verdade, ação. Não há

Permacultura teórica: ela foi pensada, elaborada e construída por meio da vivência

prática e para fins práticos. Ela é uma escolha possível. Uma maneira de se estar no

mundo de modo responsável e consciente dos impactos que isso causa, nunca perdendo

de vista seus valores éticos.

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Nas palavras de Deepak Chopra, “se compreendermos a nossa verdadeira natureza e

soubermos viver em harmonia com as leis naturais, a sensação de bem-estar, de

entusiasmo pela vida e a abundância material surgirão facilmente" (CHOPRA, 2006).

“Como Josué de Castro apontou em 'Geografia da Fome' [1946], uma das grandes problemáticas para o planejamento de soluções para a fome é a própria abordagem do planejamento, que não considera o problema de forma conjunta e sistêmica, como um complexo de manifestações simultaneamente biológicas, econômicas e sociais. O Plano Diretor pode e deve tornar-se uma grande ferramenta de planejamento, evidenciando de forma ampla as funções socioambientais do território, levando em conta a democratização e o direito humano ao alimento, à terra produtiva, à água e ao meio ambiente saudável” (in Caderno Polis 8, 2004: p.10).

A Permacultura é um tema bastante amplo e que envolve a multidisciplinaridade,

característica de todos os sistemas holísticos. Este trabalho não pretendeu se aprofundar

em suas técnicas, o que geraria, para cada uma, pelo menos um livro em si. O objetivo

desta pesquisa foi mostrar um modelo alternativo, sistêmico e orgânico de construção de

um espaço geográfico mais sustentável. A Permacultura tem suas próprias limitações,

como a de escala, por exemplo, e muitas vezes a dependência de insumos financeiros

pelo menos para o início de sua implantação, e também é aplicável em situações, regiões

e comunidades específicas, com vocação e disposição para vivê-la. E o Brasil está repleto

de lugares assim, onde a Permacultura poderia fazer uma grande diferença, para melhor.

Por fim, a análise, no presente estudo, da aplicação do conceito permacultural na

construção do espaço geográfico materializa os seguintes ganhos:

a) recuperação de áreas naturais degradadas (florestas, recursos hídricos, etc.);

b) promoção da biodiversidade local com o retorno da fauna e corredores

ecológicos;

c) reativação orgânica da vida do solo, por meio de sua descompactação, proteção,

acréscimo de valores nutricionais e retorno de micro-organismos;

d) produção de alimentos em sistemas agroflorestais, mandalas, lajes de casas,

sacadas e outros;

e) criação de animais em regime não-confinado e desprovido de crueldade, isenta

de insumos industrializados e químicos;

f) utilização eficiente dos recursos energéticos, tais como: insolação, ventos, água,

biogás (gás metano e outros);

g) geração mínima ou zero de resíduos, com o tratamento adequado e

reaproveitamento no próprio sistema;

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h) adubação natural aproveitando os resíduos orgânicos gerados, como dejetos de

animais, restos de comida, folhas e gravetos, para a produção de composto;

i) segurança alimentar;

j) geração de excedente para comercialização ou regime de troca;

k) aumento do valor agregado do produto (orgânico, animais não-estressados,

comércio justo);

l) promoção de mercados locais e regionais, que valorizam o produto, reduzem

necessidade de transporte e de perdas e fomentam o desenvolvimento da região;

m) menor esforço ou tempo despendido no trato da propriedade devido a um bom

design do conjunto, integrando de maneira inteligente os vários sistemas

envolvidos;

n) redução no custo das construções devido à utilização racional e criativa de

material local e resíduos de pedreiras e da construção civil, por exemplo;

o) aumento do conforto térmico nas moradias pela atenta observação e

aproveitamento dos ventos, insolação, luz e sombra, e materiais utilizados na

construção, que também melhoram o isolamento acústico;

p) microclima mais ameno, principalmente no centro urbanos;

q) melhoria da saúde da família devido ao acesso a uma alimentação saudável

(isenta de agrotóxicos e rica em nutrientes) e fresca, a fitoterápicos e a melhoria

da qualidade de vida em geral na propriedade;

r) promoção das relações sociais e de solidariedade por meio do fomento do

envolvimento das comunidades do entorno, do diálogo e do consenso, criando

associações locais e equipamentos comunitários;

s) promoção da educação, baseada nos princípios éticos da Permacultura, e da

formação técnica, com a construção de escolas e centros de divulgação do

conhecimento;

t) resgate da auto-estima do trabalhador ou trabalhadora do campo (no caso de

propriedade rural) e valorização de sua condição;

u) conscientização do ser humano de sua responsabilidade pelas conseqüências de

seu estilo de vida; e

v) mudança no modo de olhar, de ver, de se sentir e de se relacionar com o mundo

e a Natureza.

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Documentários e Filmes

ARNTZ, William; CHASSE, Betsy; VICENTE, Mark. Documentários. EUA.

_____What the Bleep do We Know?. 2004.

_____What the Bleep: Down the Rabbit Hole. 2006.

CAPRA, Bernt. O Ponto de Mutação. Título original: Mindwalk. 110 min. EUA: 1990.

LEONARD, Annie. The Story of Stuff. Documentário. 20 min. EUA: 2007.

ROTHEROE, Dom. A Guerra dos Cocos. Título original: The Coconut Revolution. 52 min.

Grâ-Bretanha: 2001.

Sites pesquisados

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ANEXO I - AGRONEGÓCIOS SUSTENTÁVEIS AGRICULTURA Sistema Mandalla de Produção Organização: Agência Mandalla DHSA Contato: [email protected]

(...) O Sistema Mandalla de Produção é uma forma inovadora de produção agropecuária, que integra cerca de 30 tecnologias sociais, que possibilitam plantar, em pequenas áreas rurais ou urbanas, frutas, verduras, hortaliças, entre outras, e ainda criar pequenos animais, como galinhas, cabras e coelhos.

Esta tecnologia, cujo maior sucesso é justamente promover uma alta capacidade produtiva em pequenos espaços, com baixa utilização de água, pode alimentar famílias inteiras e ainda gerar uma renda mensal de R$ 2 mil com a venda da produção excedente.

Nos últimos quatro anos, foram implantadas mais de 800 Mandallas em 12 estados do Brasil, beneficiando 2050 famílias.

Sítio Sustentável Organização: Ecocentro IPEC Contato: [email protected]

Criado com o objetivo de ser um laboratório de integração de tecnologias sustentáveis e demonstrar que 1 hectare de terra é suficiente para garantir a qualidade de vida de uma família de cinco pessoas, o Sitio Sustentável inclui todos os ciclos (água, energia e minerais), fechados dentro dele próprio.

Todas as tecnologias implantadas no Sitio Sustentável são simples, baratas, eco-eficientes e de fácil assimilação. Um bom exemplo é a suinocultura integrada: os dejetos dos suínos são processados em um biodigestor, no qual bactérias anaeróbicas convertem o material em biogás, que é convertido em energia elétrica.

A unidade piloto do Sítio Sustentável, implantada na sede do Ecocentro, em Pirenópolis – MG completou em fevereiro de 2008 seu primeiro aniversário, com resultados animadores. Entre eles, a recuperação do ecossistema, com o retorno de várias espécies de animais, que estavam em extinção na região.

O Sitio Sustentável foi desenvolvido pelo Ecocentro IPEC, Amanco e Fundação Avina e leva em consideração as visões e estratégias de cada uma dessas organizações.

Fonte: Mostra de Tecnologias Sustentáveis 2008, Instituto Ethos, São Paulo/SP. http://www.ethos.org.br/ci2008Dinamico/mostra/site/con_noticias.asp?id_noticia=319

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ANEXO II – Planta do Sítio Sustentável, Ecocentro IPEC, em

Pirenópolis, GO

Uma área de 1 hectare é suficiente para a atender uma família de 4 pessoas em suas

necessidades básicas e gerando renda.

(Fonte: Ecocentro IPEC, 2006)

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Anexo III – O Símbolo da Permacultura

“O Desenho oval representa o ovo da vida; aquela quantidade de vida que não pode ser

criada ou destruída, mas que é expressada e emana de todas as coisas vivas. Dentro do

ovo está enrolada a serpente do arco-íris, a formadora da terra dos povos aborígines

americanos e australianos. Dentro do corpo da serpente está contida a árvore da vida, a

qual expressa os padrões gerais das formas de vida. Suas raízes estão na terra e sua

copa na chuva, na luz do sol e do vento. O símbolo inteiro, e o ciclo que representa, é

dedicado à complexidade da vida no planeta Terra.” Bill Mollison.

(Fonte: http://sitiocurupira.wordpress.com/permacultura/)

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Anexo IV – A Flor da Permacultura, de David Holmgren

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Anexo V – Permacultura no Brasil

(Fonte: http://www.permacultura.org.br/)

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Anexo VI – Design do Sítio Curupira (Santo Amaro da Imperatriz,

SC)

(Fonte: http://sitiocurupira.files.wordpress.com/2008/09/design-novo21.jpg - 11/fev/2009)

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Anexo VII – Sítio Tir Penrhos Isaf, Inglaterra

Fonte: http://www.konsk.co.uk/design/des91.htm - 11/fev/2006)

I: home garden. Here, closest to the (proposed) dwelling, our design is strongest. II: orchards of hard and soft fruits and berry crops. III: main crop. In our case, mainly livestock systems. Some of these areas were left blank at first

and became taken up in later years with our horse training enterprise (the two small paddocks to the right of the dwelling area).

IV: fuel and fodder systems. Specifically, the green represents largely tree based resources, the purple shows what I called perennial graze/browse systems made up of scrub and in particular gorse.

V: wilderness or the university. This is where nature's design is strongest. This is where we learn.

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Anexo VIII – Quadro esquemático de um banheiro compostável

(UFSC: http://www.banheirosecoufsc.blogspot.com/, acesso em 14/fev/2009)

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Anexo IX – Permacharge - Biocombustível

(Fonte: Revista Permacultura Latina, no. 1, 2006)

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