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  • Paulo Roberto de Almeida

    (ilustrao)

    PRATA DA CASA OS LIVROS DOS DIPLOMATAS

    Braslia FUNAG

    2013

  • Prata da Casa Os Livros dos Diplomatas

  • ...................................

    Prata da Casa Os Livros dos Diplomatas

    Paulo Roberto de Almeida Doutor em cincias sociais.

    Mestre em economia internacional. Diplomata.

    FUNAG - 2013

  • 6

    Direitos de publicao reservados Fundao Alexandre de Gusmo Ministrio das Relaes Exteriores Esplanada dos Ministrios, Bloco H Anexo II, Trreo 70170-900 Braslia DF Telefones: (61) 2030-6033/6034 Fax: (61) 2030-9125 Site: www.funag.gov.br E-mail: [email protected] Equipe Tcnica: Eliane Miranda Paiva Fernanda Antunes Siqueira Guilherme Lucas Rodrigues Monteiro Jess Nbrega Cardoso Vanusa dos Santos Silva Projeto Grfico: Daniela Barbosa Programao Visual e Diagramao: Grfica. Impresso no Brasil _______________________________________________________ Sxxx ALMEIDA, Paulo Roberto. Prata da Casa: os livros dos diplomatas

    Braslia: Funag, 2013. 726 p. ISBN: 978-85-7631-xxx-x

    1. Relaes internacionais. 2. Poltica Externa. 3. Histria. 4. Diplomacia brasileira. 5. Brasil. 6. Resenhas de livros. 7. Ttulo.

    CDD _______________________________________________________

    Bibliotecria responsvel: Ledir dos Santos Pereira, CRB-1/776 Depsito Legal na Fundao Biblioteca Nacional conforme Lei n 10.994, de 14/12/2004

    Informao sobre a capa: ?

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    George Orwell created newspeak, a language

    whose vocabulary gets smaller every year...

    O ofcio da escrita a arte de cortar palavras. Graciliano Ramos, Ernest Hemingway, John Steinbeck,

    e muitos outros mais...

    Dedicado a todos os colegas que no contando telegramas, ofcios e demais expedientes da carreira diplomtica fazem das leituras, dos livros e da escrita atividades relevantes em suas vidas.

    Paulo Roberto de Almeida

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    ........................................... Sumrio

    Prefcio Embaixador Jos Vicente Pimentel

    pg. 11

    ndice Geral pg. 13

    Introduo Paulo Roberto de Almeida

    pg. 21

    Primeira Parte Prata da Casa Boletim da ADB

    Mini-resenhas dos livros de diplomatas pg. 29

    Segunda Parte Artigos-resenhas de livros de diplomatas

    pg. 105

    Terceira Parte Livros de relaes internacionais e de poltica externa do Brasil

    Resenhas de livros interessando diplomatas e acadmicos pg. 327

    ndice alfabtico de autores e livros pg. 675

    Livros de Paulo Roberto de Almeida pg. 687

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    .............................................................. Prefcio

    A julgar pelas resenhas aqui reunidas, o diplomata e acadmico Paulo Roberto de

    Almeida parece ser algum que vive com livros e para os livros. De fato, ele no hesita em

    confessar a sua loucura gentil pelos livros, uma espcie de enfermidade espiritual que

    beneficiaria muito a humanidade se ela por acaso se tornasse irremediavelmente contagiosa.

    Tal atrao do Paulo Roberto por esses simpticos objetos de prazer intelectual, alm de

    demonstrar sua forte propenso aquisio de novos conhecimentos, tem a vantagem de

    resultar em inmeras resenhas, que ele tem o dom de compartilhar conosco por meio desta

    coletnea.

    Meus colegas diplomatas descobriro que boa parte dos livros aqui resenhados, em

    formato maior ou menor, foi escrita pelos prprios diplomatas. Para minha satisfao

    especial, constato que metade das mini-resenhas da seo Prata da Casa de livros publicados

    pela Fundao Alexandre de Gusmo, entidade que tive a honra de presidir entre 2010 e 2013.

    Os professores e estudantes de relaes internacionais, bem como os pesquisadores de temas

    da diplomacia brasileira e os prprios diplomatas tambm encontraro aqui resenhas mais

    longas de livros de no diplomatas, interessando a todos os pblicos, vrios deles escritos por

    colaboradores habituais de atividades acadmicas do Ministrio das Relaes Exteriores.

    Como entidade autnoma, mas vinculada ao Itamaraty, a Associao dos Diplomatas

    Brasileiros comeou a publicar, pouco depois de sua fundao, mais de duas dcadas atrs,

    um pequeno boletim trimestral veiculando matrias de interesse geral e corporativo. Nele

    constam aspectos diversos da atividade diplomtica e internacional do Brasil, bem como

    pequenos registros dos livros que os diplomatas escrevem e publicam. Prata da Casa o nome

    dessa seo do Boletim da ADB que se dedica, por meio de mini-resenhas, apresentao

    (inclusive visual, mediante reproduo reduzida da capa) de livros publicados por diplomatas.

    Nos dez anos ltimos anos, Paulo Roberto de Almeida assumiu a responsabilidade por essa

    seo do Boletim alis, no assinada e nela tem se dedicado, sistematicamente, a

    apresentar aos colegas e, de maneira geral, ao pblico leitor do Boletim, os livros escritos

    pelos diplomatas, em todos os gneros, e no apenas aqueles dotados de afinidades eletivas

    com a carreira.

    Nesse perodo, a Funag publicou centenas de livros, entre teses do Curso de Altos

    Estudos, trabalhos do Instituto Rio Branco, transcries de seminrios por ela organizados,

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    obras diversas realizadas pelos diplomatas num ambiente acadmico ou profissional, bem

    como muitos outros trabalhos de acadmicos voltados para o estudo de temas que pertencem

    ao universo intelectual das relaes internacionais e da poltica externa do Brasil. Ou seja, a

    amostra aqui reunida representativa do que melhor se publicou dentro e fora do Itamaraty,

    nas ltimas dcadas, podendo, assim, servir como uma espcie de diretrio da produo

    especializada nessa rea. Mas no s isso: a Funag tambm publicou obras no gnero literrio

    (poesias, contos, romances), que resultaram de concursos patrocinados por ela e pelo

    Itamaraty, dentro e fora do Brasil. Convido os interessados a visitar a pgina da Funag, para

    conhecer a riqueza de seu acervo.

    Este livro uma pequena amostra dessa produo, intra e fora muros, e tem a

    vantagem de relembrar aos pesquisadores e aos jovens estudantes da rea quanto coisa ainda

    precisa ser lida para se obter, ao menos pela smula do que se publicou de mais relevante,

    uma espcie de curso ex-ctedra de diplomacia prtica, como tambm de memria histrica,

    alm de oferecer alguns poucos exemplos da boa literatura produzida pelos diplomatas. Nesse

    sentido, ele uma obra de referncia sobre a produo acumulada nas ltimas dcadas que

    deve interessar a todos ns, profissionais, pesquisadores e aspirantes carreira.

    Tenham bom proveito e, podendo, recorram s fontes originais, agora novamente

    registradas graas ao amor pelos livros do Paulo Roberto de Almeida.

    Embaixador Jos Vicente Pimentel Presidente da Fundao Alexandre de Gusmo

    Braslia, 15 de novembro de 2013

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    .............................................................. ndice Geral

    Introduo Paulo Roberto de Almeida, 21

    Primeira Parte Prata da Casa Boletim da ADB

    Mini-resenhas dos livros de diplomatas, 29 Paulo Roberto de Almeida: Formao da Diplomacia Econmica no Brasil Flvio Saraiva e Amado Cervo (orgs.): O crescimento das relaes internacionais no Brasil Felipe Fortuna: Em Seu Lugar: poemas reunidos Jos Vicente Lessa: O autoengano coletivo: uma crtica do iderio nacional brasileiro Alberto da Costa e Silva: Das mos do oleiro: aproximaes CHDD: A Misso Varnhagen nas Repblicas do Pacfico: 1863 a 1867 Andr Herclio do Rgo: Famille et Pouvoir Regional au Brsil Murilo Vieira Komniski: Buritizal Raul de Taunay: Rosas da infncia ou da estrela Jos Augusto Lindgren Alves: Os direitos humanos na ps-modernidade Paulo Antonio Pereira Pinto: Taiwan um futuro formoso para a ilha? Agenor Soares dos Santos: Dicionrio de anglicismos e de palavras inglesas em portugus Alexandre Vidal Porto: Matias na cidade Paulo Antonio Pereira Pinto: Iruan nas reinaes asiticas Milton Torres: O Maranho e o Piau no Espao Colonial Samuel Pinheiro Guimares: Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes Joo Clemente Baena Soares: Sem medo da diplomacia: depoimento ao Cpdoc Fernando de Mello Barreto: Os Sucessores do Baro, 2: relaes exteriores, 1964-1985 Paulo Roberto de Almeida: O estudo das relaes internacionais do Brasil Vasco Mariz (org.): Brasil-Frana: relaes histricas no perodo colonial Armindo Branco Mendes Cadaxa: No Jardim de Inverno Marcelo Raffaelli: A Monarquia e a Repblica: relaes Brasil-Estados Unidos no Imprio Rubem Mendes de Oliveira: A Questo da Tcnica em Spengler e Heidegger Lus Fernando Corra da Silva Machado: Brasil e investimentos internacionais Otvio Augusto Drummond Canado Trindade: O Mercosul no Direito Brasileiro Lus C. Villafae G. Santos: El Imperio del Brasil y las Repblicas del Pacfico, 1822-1889 Teresa Dias Carneiro: Otvio Augusto Dias Carneiro, um pioneiro da diplomacia econmica

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    Alfredo Jos Cavalcanti Jordo de Camargo: Bolvia: a criao de um novo pas Jorge S Earp: O olmo e a palmeira Carlos Alberto Leite Barbosa: Desafio Inacabado: a poltica externa de Jnio Quadros Secretaria dos Estrangeiros: O Conselho de Estado e a poltica externa do Imprio, 1863-67 Luiz Felipe de Seixas Corra (org.): O Brasil nas Naes Unidas, 1946-2006 Milton Torres: No Fim das Terras e Andaimes Fernando Reis: Falta um co na vida de Kant Flvio de Oliveira Castro: Caleidoscpio: cenas da vida de um diplomata Carlos Henrique Cardim: A Raiz das Coisas: Rui Barbosa, o Brasil no Mundo Geraldo Holanda Cavalcanti: Encontro em Ouro Preto: contos fantsticos Lus Valente de Oliveira e Rubens Ricupero (orgs.): A Abertura dos Portos Antonio Cachapuz de Medeiros (org.): Desafios do Direito Internacional Contemporneo Evaldo Cabral de Mello: Nassau: governador do Brasil holands Everton Vargas: O Legado do Discurso: Brasilidade e Hispanidade no Pensamento Social Marcelo Bhlke: Integrao Regional e Autonomia do seu Ordenamento Jurdico Maria Nazareth Farani de Azevedo: A OMC e a Reforma Agrcola Fernando Cacciatore de Garcia: O Prncipe Irreal e o Poeta Errante Carlos Kessel: Tesouros do Morro do Castelo: Mistrio nos subterrneos do Rio de Janeiro Roberto Campos: A Lanterna na Popa: Memrias Alexandre Guido Lopes Parola: A Ordem Injusta Srgio Eduardo Moreira Lima: A Time for Change Oswaldo Munteal Filho et alii (orgs.): Estado e Sociedade no Brasil do AI-5 Omar L. de Barros e Sylvia Bojunga (eds.), Potncia Brasil: Gs natural, energia limpa Andr Herclio do Rgo: Famlia e Coronelismo no Brasil: uma histria de poder Jos Roberto de Almeida Pinto: O Conceito de Poder nas Relaes Sociais Eugnio Garcia (org.): Diplomacia Brasileira: Documentos Histricos, 1493-2008 Joo Alfredo dos Anjos: Jos Bonifcio, o primeiro Chanceler do Brasil Adriano Silva Pucci: O Avesso dos Sonhos Joo Almino: Escrita em contraponto: ensaios literrios Vasco Mariz: Temas da poltica internacional: ensaios, palestras e recordaes diplomticas Vera Cntia Alvarez: Diversidade cultural e livre-comrcio: antagonismo ou oportunidade? Jorge S Earp: O Legado Alberto da Costa e Silva: Castro Alves: um poeta sempre jovem Srgio Corra da Costa: Le nazisme en Amrique du Sud: Chronique dune guerre secrete Paulo Roberto Palm: A Abertura do Amazonas Navegao e o Parlamento Brasileiro

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    Tarcsio Costa: As duas Espanhas e o Brasil Luiz Felipe de Seixas Corra: O Baro do Rio Branco: Misso em Berlim 1901/1902 Flavio Mendes de Oliveira Castro: Dois sculos de histria da organizao do Itamaraty Gonalo de Barros Carvalho e Mello Mouro: A Revoluo de 1817 e a Histria do Brasil Ovdio de Andrade Melo: Recordaes de um Removedor de mofo no Itamaraty Jorge S Earp: O novelo Geraldo Holanda Cavalcanti: As desventuras da graa Paulo Nogueira Batista Jr. (org.): Paulo Nogueira Batista: Pensando o Brasil Antonio de Aguiar Patriota: O Conselho de Segurana aps a Guerra do Golfo Lus Gurgel do Amaral: O Meu Velho Itamarati Ciro Leal M. da Cunha: Terrorismo e Poltica Externa Brasileira Aps o 11 de Setembro Rmulo Figueira Neves: Cultura Poltica e Elementos de Anlise da Poltica Venezuelana Marcelo Cid: Os Unicrnios Fernando Cacciatore de Garcia: Fronteira Iluminada Paulo Roberto de Almeida: O Moderno Prncipe: Maquiavel Revisitado Oscar S. Lorenzo Fernandez: Trs Sculos e uma Gerao Carlos Augusto de Proena Rosa: Histria da Cincia Nelson A. Jobim, Sergio W. Etchegoyen, Joo Paulo Alsina (orgs.): Segurana Internacional Jos Augusto Lindgren Alves: Viagens no Multiculturalismo Paulo R. de Almeida, Rubens Barbosa (orgs.): Guia dos Arquivos Americanos sobre o Brasil Denis Rolland; Antonio Carlos Lessa (coords.): Relations Internationales du Brsil Michel Arslanian Neto: A Liberalizao do Comrcio de Servios no Mercosul Fernando Cacciatore de Garcia: Memrias de um homossexual na infncia Marcelo Cid (org.): Priapeia: Poesia ertica latina Celso Amorim: Conversas com Jovens Diplomatas L. F. Lampreia, M. Azambuja, R. Abdenur, R. Ricupero: A Poltica Externa Brasileira Edgard Telles Ribeiro: Diplomacia Cultural: seu papel na diplomacia brasileira Fernando Guimares Reis: Caadores de Nuvens: Em busca da Diplomacia Rubens Barbosa: O Dissenso de Washington Daniel Costa Fernandes: A Poltica Externa da Inglaterra Sidnei J. Munhoz e F. C. T. Silva (orgs.), Relaes Brasil-Estados Unidos: sculos XX e XXI Paulo Roberto de Almeida: Relaes internacionais e poltica externa do Brasil Renato L. R. Marques: Duas Dcadas de Mercosul Fernando Pimentel: Fim da era do petrleo e a mudana do paradigma energtico mundial Alberto da Costa e Silva (coord.): Histria do Brasil Nao: 1808-1830

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    Eugenio Vargas Garcia: O Sexto Membro Permanente: o Brasil e a criao da ONU Gelson Fonseca: Diplomacia e Academia Maria Theresa Diniz Forster: Oliveira Lima e as Relaes Exteriores do Brasil Sarquis Jos Buainain Sarquis: Comrcio Internacional e Crescimento Econmico no Brasil Ademar Seabra da Cruz: Diplomacia, sistemas nacionais de inovao: estudo comparado Miguel Gustavo de Paiva Torres: O Visconde do Uruguai e sua atuao diplomtica Jos Estanislau do Amaral: A diplomacia contempornea dos Estados Blticos Luiz Fernando Ligiro: A Poltica Externa Independente e o Pragmatismo Responsvel San Tiago Dantas: Poltica Externa Independente Letcia Frazo Alexandre: O Tratamento Especial e Diferenciado: do GATT OMC Fernando de Mello Barreto: A Politica Externa Aps a Redemocratizao Lus C. Villafae G. Santos: O evangelho do Baro: Rio Branco e a identidade brasileira Antonio A. Canado Trindade: Repertrio da Prtica Brasileira do Direito Internacional Felipe Hees e Marlia Castaon Penha Valle (orgs.): Dumping, Subsdios e Salvaguardas Andr Herclio do Rgo: Os Sertes e os Desertos: o combate desertificao Maria Feliciana N. Ortigo: O Tratado de Proibio Completa dos Testes Nucleares (CTBT) Renato Mendona: A Influncia Africana no Portugus do Brasil Renato L. R. Marques: Duas Dcadas de Mercosul Adolpho Justo Bezerra de Menezes: O Brasil e o mundo sio-africano Vasco Mariz: Depois da Glria: ensaios histricos sobre histria do Brasil e de Portugal Gustavo Henrique M. Bezerra: A Poltica Externa Brasileira e a Questo Cubana, 1959-1986 Rubens Antonio Barbosa: Interesse Nacional & Viso de Futuro Luiz Felipe de Seixas Corra (org.): O Brasil nas Naes Unidas, 1946-2011 Francisco Doratioto: Relaes Brasil - Paraguai: afastamento, reaproximao, 1889-1954 Lus Cludio Villafae G. Santos: Duarte da Ponte Ribeiro: pionero de amistad Brasil-Per Emerson Coraiola Kloss: Transformao do Etanol em Commodity Clvis Brigago e Fernanda Fernandes (orgs.): Diplomacia brasileira para a paz Joaquim Nabuco: My Formative Years Paulo Roberto de Almeida: Integrao Regional: uma introduo Andr Amado: Por Dentro do Itamaraty: impresses de um diplomata Manoel Gomes Pereira (org.): Baro do Rio Branco: 100 anos de memria Augusto Csar B. de Castro: Os bancos de desenvolvimento e a integrao da Amrica do Sul Ricardo Lus Pires: A Nova Rota da Seda: caminhos para a presena brasileira na sia Geraldo Holanda Cavalcanti: A herana de Apolo: Poesia, Poeta, Poema Luiza Lopes da Silva: A questo das drogas nas relaes internacionais

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    Elias Luna A. Santos: Investidores soberanos, poltica internacional e interesses brasileiros Celso Amorim: Breves Narrativas Diplomticas Douglas Wanderley de Vasconcellos: Esporte, poder e relaes internacionais Jos Vicente S Pimentel (org.): O Brasil, os BRICS e a agenda internacional Jos Guilherme Merquior: Liberalism, Old and New Silvio Jos Albuquerque e Silva: As Naes Unidas e a luta internacional contra o racismo Elisa de Sousa Ribeiro (coord.), Direito do Mercosul Antnio Augusto Canado Trindade: Os tribunais internacionais contemporneos Ronaldo Mota Sardenberg: O Brasil e as Naes Unidas Synesio Sampaio Goes Filho: As Fronteiras do Brasil Andr Aranha Corra do Lago: Conferncias de desenvolvimento sustentvel Jos Vicente Pimentel (org.), Pensamento Diplomtico Brasileiro, 1750-1964

    Segunda Parte Artigos-resenhas de livros de diplomatas, 105

    Valdemar Carneiro Leo: A Crise da Imigrao Japonesa no Brasil (1930 - 1934) Rubens Antonio Barbosa: Amrica Latina em Perspectiva: a integrao regional Srgio Bath: Maquiavelismo: A prtica poltica segundo Nicolau Maquiavel Paulo Roberto de Almeida: O Mercosul no contexto regional e internacional Luiz Felipe de Seixas Corra: A Palavra do Brasil nas Naes Unidas: 1946-1995 R. Ricupero; Joo H. P. de Arajo (org.): Rio Branco: Biografia Fotogrfica,1845-1995 Srgio Abreu e Lima Florncio e Ernesto Henrique Fraga Arajo: Mercosul Hoje Jos Manoel Cardoso de Oliveira: Actos Diplomaticos do Brasil, 1492-1912 Paulo R. de Almeida: Relaes internacionais e poltica externa do Brasil; Mercosul Paulo Roberto de Almeida: Velhos e novos manifestos: o socialismo na era da globalizao Paulo R. de Almeida: O Brasil e o multilateralismo; O estudo das relaes internacionais Paulo Roberto de Almeida: Le Mercosud: un march commun pour lAmrique du Sud Fernando P. de Mello Barreto Filho: Sucessores do Baro: relaes exteriores, 1912-1964 Paulo Roberto de Almeida: Formao da diplomacia econmica no Brasil Rubens A. Barbosa, Marshall C. Eakin, Paulo R. Almeida (orgs.): O Brasil dos brasilianistas Paulo R. de Almeida: Os primeiros anos do sculo XXI: o Brasil e as relaes internacionais Lus Cludio Villafae Gomes Santos, O Imprio e as repblicas do Pacfico Paulo Roberto de Almeida, Katia de Queiroz Mattoso: Une Histoire du Brsil Paulo R. de Almeida: A Grande Mudana: consequncias econmicas da transio poltica Evaldo Cabral de Mello: A outra Independncia

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    Paulo Roberto de Almeida: Relaes internacionais e poltica externa do Brasil (2a. edio) Paulo Roberto de Almeida: Formao da diplomacia econmica no Brasil (2a. edio) Marshall C. Eakin, Paulo R. Almeida (eds.): Guide to Brazilian Studies in the United States Paulo Roberto de Almeida; Rubens Antonio Barbosa (eds.): Relaes Brasil-Estados Unidos Leonardo de Almeida Carneiro Enge: A Convergncia Macroeconmica Brasil-Argentina Eugnio Vargas Garcia: Entre Amrica e Europa: a poltica externa na dcada de 1920 Paulo Roberto de Almeida: O estudo das relaes internacionais do Brasil Fernando de Mello Barreto: Sucessores do Baro, 2: relaes exteriores, 1964-1985 lvaro da Costa Franco (org.): Visconde do Rio Branco: A poltica exterior no Parlamento Secretaria dos Estrangeiros: O Conselho de Estado e a poltica externa do Imprio, 1858-62 J. A. Pimenta Bueno: Consultores do Ministrio dos Negcios Estrangeiros, 1859-1864 Suely Braga da Silva: Paulo Nogueira Batista: o diplomata atravs de seu arquivo Marcelo Raffaelli: As relaes entre Brasil e Estados Unidos durante o Imprio Otvio Augusto Drummond Canado Trindade: O Mercosul no Direito Brasileiro Demtrio Magnoli e Carlos Serapio Jr.: Comrcio Exterior e negociaes internacionais Rubens Antnio Barbosa (org.). Mercosul quinze anos Brazlio Itiber da Cunha, Expanso Econmica Mundial Carlos Alberto Leite Barbosa: Desafio Inacabado: a poltica externa de Jnio Quadros Carlos Henrique Cardim: A Raiz das Coisas: Rui Barbosa, o Brasil no Mundo Lus Valente de Oliveira e Rubens Ricupero (orgs.): A Abertura dos Portos Geraldo Holanda Cavalcanti: Encontro em Ouro Preto: contos fantsticos Rubens Antonio Barbosa: revista Interesse Nacional Manoel de Oliveira Lima: Nos Estados Unidos, Impresses polticas e sociais Renato L. R. Marques: Mercosul 1989-1999: depoimentos de um negociador (1974) Paulo Almeida, Rubens Barbosa e Francisco Rogido (orgs.): Guia dos Arquivos Americanos Paulo Roberto de Almeida: O Moderno Prncipe (Maquiavel revisitado) Edgard Telles Ribeiro: O Punho e a Renda Paulo Roberto de Almeida: Globalizando, ensaios sobre a globalizao e a antiglobalizao Paulo Roberto de Almeida: Relaes Internacionais e Poltica Externa do Brasil Jos Maria Paranhos da Silva Jr.; Manoel G. Pereira (ed.): Obras do Baro do Rio Branco Manoel Gomes Pereira (org.). Baro do Rio Branco: 100 Anos de Memria Lus Cludio Villafae Gomes Santos (curador): Rio Branco: 100 anos de memria ngela Porto (organizadora): Baro do Rio Branco e a caricatura Paulo Roberto de Almeida: Integrao Regional: uma introduo Jos Vicente Pimentel (org.): Pensamento Diplomtico Brasileiro, 1750-1964

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    Terceira Parte Livros de relaes internacionais e de poltica externa do Brasil, 327

    Pierre Renouvin (ed.): Histoire des Relations Internationales

    Francis Fukuyama: The End of History?

    Franois Furet: Le Pass dune Illusion: essai sur lide communiste

    Daniel Yergin: The Prize: The Quest for Oil, Money and Power

    Jean-Christophe Rufin: LEmpire et les Nouveaux Barbares

    Francis Fukuyama: Construo de Estados

    Ricardo Seitenfus: Manual das organizaes internacionais

    Henrique Altemani e A. C. Lessa (orgs.): Poltica Internacional Contempornea

    Eduardo Felipe P. Matias: A Humanidade e suas Fronteiras

    Fernando Barros: A tendncia concentradora da produo de conhecimento

    Herv Couteau-Bgarie: Gostratgie de lAtlantique Sud

    Vrios autores: A economia mundial em perspectiva histrica

    Jagdish Bhagwati: Em Defesa da Globalizao

    John Williamson (org.): Latin American Adjustment: How Much Has Happened?

    P.-P. Kuczynski e John Williamson (orgs.): After the Washington Consensus

    Ha-Joon Chang: Kicking Away the Ladder; Bad Samarithans

    Paul Krugman: Rethinking International Trade

    Celso Lafer: Comrcio, Desarmamento, Direitos Humanos

    Mnica Cherem e R. Sena Jr. (eds.): Comrcio Internacional e Desenvolvimento

    Rabih Ali Nasser: A OMC e os pases em desenvolvimento

    Henrique Altemani e A. C. Lessa (orgs.): Relaes internacionais do Brasil

    Amado Luiz Cervo e Clodoaldo Bueno: Histria da Poltica Exterior do Brasil

    A. A. C. Trindade: Repertrio da Prtica Brasileira do Direito Internacional

    Jos Honrio Rodrigues e R. Seitenfus: Uma Histria Diplomtica do Brasil

    Joo Pandi Calgeras: A Poltica Exterior do Imprio

    Carlos Delgado de Carvalho: Histria Diplomtica do Brasil

    Hlio Vianna: Histria Diplomtica do Brasil

    Sandra Brancato (coord.): Arquivo Diplomtico do Reconhecimento da Repblica

    Henrique Altemani de Oliveira: Politica Externa Brasileira

    Clvis Brigago: Diretrio de Relaes Internacionais no Brasil, 1950-2004

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    Moniz Bandeira: Estado Nacional e Poltica Internacional na Amrica Latina

    Moniz Bandeira: O Expansionismo Brasileiro e a formao dos Estados no Prata

    Jos Luis Fiori (org.): O Poder Americano

    Boris Fausto e Fernando J. Devoto: Brasil e Argentina: histria comparada

    Eduardo Viola e Hctor Ricardo Leis: Desafios de Brasil e Argentina

    Lincoln Gordon: Brazils Second Chance; A Segunda Chance do Brasil

    Vrios autores: A marcha da integrao no Mercosul

    Helder Gordim da Silveira: Integrao latino-americana: projetos e realidades

    Jos A. E. Faria: Princpios, Finalidade do Tratado de Assuno

    Pedro da Motta Veiga: A Evoluo do Mercosul: cenrios

    Jos Maria Arago: Harmonizao de Polticas no Mercosul

    Gary Clyde Hufbauer e Jeffrey J. Schott: North American Free Trade

    Tullo Vigevani e Marcelo Passini Mariano: Alca: o gigante e os anes

    Tullo Vigevani; Marcelo Dias Varella: Propriedade intelectual e poltica externa

    Maria Helena Tacchinardi, A Guerra das Patentes: o conflito Brasil x EUA

    Santiago Fernandes: A Ilegitimidade da Dvida Externa

    Joo P. Reis Velloso e Roberto Cavalcanti (coords.): Brasil, um pas do futuro?

    ndice alfabtico de autores e livros, 675

    Livros de Paulo Roberto de Almeida, 687

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    .............................................................. Introduo

    Es, pues, de saber, que este sobredicho hidalgo, los ratos que estaba ocioso... se daba a leer...; y lleg a tanto su curiosidad y desatino en esto, que vendi muchas

    hanegas de tierra... para comprar libros... y as llev a su casa cuantos pudo haber de ellos. (...)

    En resolucin, l se enfrasc tanto en su lectura, que se le pasaban las noches leyendo de claro en claro, y los das de turbio en turbio; y as, del poco dormir y del

    mucho leer se le sec el celebro, de manera que vino a perder el juicio. Miguel de Cervantes Saavedra

    No, a despeito do excesso de leituras, ainda no me ocorreu a fatalidade que se

    abateu sobre o cavaleiro da Mancha. Em todo caso, meu crebro no parece ter secado pelo

    fato de tambm passar muitas noites na companhia dos livros ou escrevendo sobre eles. Este

    livro, que fala exclusivamente de outros livros, pode ser considerado como o resultado de

    algumas, na verdade de muitas noites de leitura. No creio ter perdido o juzo com isso,

    embora possa ter perdido vrias noites de sono.

    Mas poucos lazeres alternativos poderiam ter sido mais absorventes e mais ricos,

    intelectualmente falando, do que esse ato de penetrar em outros mundos, em outras vidas, de

    poder estar em dois lugares ao mesmo tempo, simplesmente ficando na companhia dos bons

    livros. A eles devo tudo o que sou, e por isso tento retribuir o que ganhei de bom, minha

    maneira, fazendo resenhas de modo totalmente voluntrio, sem que, jamais, algum me

    pedisse tal esforo extra.

    Algumas resenhas de livros, como se sabe, tm geralmente o estranho hbito de

    revelar, no exatamente o contedo do livro examinado ou o que diz o autor em causa, mas

    mais frequentemente o que pensa deles o prprio resenhista. Este volume no pretende ser

    uma exceo a essa regra no-escrita da prtica do book-review, mesmo se ele a implementa

    de uma maneira muita peculiar.

    Com efeito, resenhistas profissionais costumam ostentar um certo air blas ou de

    dtachement vis--vis da obra resenhada, tpicos de quem se julga no direito de falar bem (ou

    mal) do autor, sem outros objetivos do que os de parecer erudito ou de simplesmente

    impressionar o leitor. No tenho certeza de ter escapado a esta maldio, mas a grande

    vantagem desta coletnea, em relao s antologias de resenhistas que so supostamente do

    ramo, seja talvez o fato de que ela no foi concebida e elaborada por um resenhista

  • 22

    profissional, por dever de ofcio ou contra remunerao, mas sim por um mero apreciador de

    livros.

    Estou sendo, obviamente, comedido ao usar o termo apreciador. Meu caso,

    provavelmente, bem mais grave, pois creio exibir aquela mesma loucura gentil pelos

    livros, que j atingiu muitos outros leitores compulsivos. No se trata da mesma loucura que

    atingiu D. Quixote, pois o personagem de Cervantes estava direcionado unicamente a um

    gnero literrio, e meus interesses so um pouco mais vastos, talvez omnvoros, se a palavra

    de aplica em matria de livros.

    As resenhas includas nesta coletnea, acolhidas pela Fundao Alexandre de Gusmo

    pelo que agradeo na pessoa de seu presidente no foram feitas por encomenda de algum

    editor ou diretor de folha literria, mas como resultado de minha livre escolha, motivado

    nica e exclusivamente pelo desejo de realizar eu mesmo uma espcie de homenagem

    voluntria aos livros ou aos autores selecionados. Essa postura tanto mais defensvel e

    legtima que muitas das resenhas aqui includas no foram escritas para serem publicadas e

    nem mesmo se referiam a obras do momento ou a autores vivos. Motivou-me o simples gosto

    da palavra escrita, que responde, neste caso, a meu incontrolvel, constante e no to secreto

    vcio da leitura.

    Se a maior parte de obras de diplomatas s quais se agregaram vrias outras obras

    de no diplomatas, mas interessando a estes, assim como aos acadmicos e ao pblico em

    geral porque tenho vivido com diplomatas pelas ltimas trs dcadas. Mas, assim como

    essa convivncia menor do que aquela que mantenho com os livros, estas resenhas tambm

    constituem apenas uma pequena parte de todos os livros que j resenhei numa vida inteira (ou

    quase) dedicada a esses pouco obscuros objetos de desejo.

    De fato, tenho vivido com livros, pelos livros e para os livros uma boa parte de minha

    vida, provavelmente mais de dois teros de uma existncia inteira passada na atenta fixao

    do papel impresso (e, agora, nas telas de computadores e em vrios dispositivos de leituras

    digitais). Entretanto, at onde alcanam minhas lembranas da primeira infncia, no se pode

    dizer que o gosto da leitura constitusse uma espcie de kismet pessoal ou que ele estivesse

    entranhado num certo ambiente familiar.

    No me lembro, por exemplo, que meu lar de infncia contivesse muitos livros, pelo

    contrrio, provavelmente muito poucos. Meus pais, tpicos filhos de imigrantes pobres, de

    extrao camponesa portuguesa e italiana, tinham sido criados entre o trabalho e a escola,

    processo que conduziu, nos dois casos, a uma educao primria incompleta. Mas, como

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    todos os imigrantes, ambos davam uma importncia muito grande educao formal dos

    filhos, o que, dadas as condies de penria material em que vivamos, no necessariamente

    se traduziu em aquisio voluntria de outros livros que no, chegada a hora, os didticos.

    Lembro-me tambm de minha av Nicolina, chegada ao Brasil no comeo da Repblica, para

    trabalhar nas fazendas de caf de Minas Gerais, e que continuava a contar em mil-ris, a

    despeito de todas as reformas monetrias ao longo do sculo XX, permanecendo, alis,

    completamente analfabeta at o final de sua vida. Mas ela tinha um imenso orgulho de meus

    estudos e de minhas leituras juvenis, assim como meus pais, que de certa forma me

    obrigavam a tirar boas notas na escola, sob promessa de castigo se no o fizesse.

    Foram circunstncias fortuitas que me fizeram chegar aos livros e com eles passar boa

    parte de minha vida. Minha casa, na ento Chcara Itaim, bairro paulistano do Jardim

    Paulista, ficava muito prxima de uma biblioteca infantil, que eu passei a frequentar antes

    mesmo de estar formalmente alfabetizado. Na Biblioteca Anne Frank passei todos os anos

    de minha infncia e os primeiros da adolescncia. Uma vez treinado nas primeiras letras, na

    atrasada idade dos sete anos, passei a ler furiosamente: lia com avidez, no s na prpria

    biblioteca, como todos os dias retirava sistematicamente um ou dois livros para ler em casa,

    noite. Se no li todos os livros da biblioteca, devo ter chegado muito perto disso.

    Muitos anos mais tarde, j adulto, visitei novamente a biblioteca Anne Frank, e anotei

    detalhadamente todos os livros que frequentaram meus anos inocentes: infelizmente, tendo

    feito essas notas num dos primeiros laptops surgidos na primeira fase das novas tecnologias, a

    lista se perdeu numa dessas famosas quebras de sistemas operacionais que frequentemente

    ocorriam nos primeiros anos dos novos softwares de processamento de textos. No difcil

    lembrar alguns dos grandes autores: todo Monteiro Lobato para crianas (e alguns de adultos

    tambm), muitas aventuras de Jules Verne e Emilio Salgari, todo Karl May e dezenas de

    outros escritores juvenis, alm de alguns livros srios de histria, arqueologia (consegui

    decorar vrias dinastias de faras), Malba Tahan, Francisco de Barros Jnior (da srie Trs

    Escoteiros em Frias) e muitos outros.

    Alguns anos depois, trabalhando durante o dia e estudando noite, passei a frequentar

    as bibliotecas do centro de So Paulo: a pblica Mrio de Andrade, a liberal e circunspecta

    da Faculdade de Direito do Largo de So Francisco, a especializada em economia do Centro

    das Indstrias, a da USIS, junto ao Consulado dos Estados Unidos, a da Unio Cultural

    Brasil-Estados Unidos e vrias outras mais. Tambm comecei a percorrer incessantemente as

    livrarias do centro da cidade, em especial a velha Brasiliense, na Baro de Itapetininga, e a

    Zahar, na Praa da Repblica. Tambm tentei escrever meu prprio livro de aventuras

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    juvenis, um empreendimento que no deve ter passado das primeiras duas pginas, mas cujo

    roteiro j estava completo em minha mente.

    Enfim, foram anos e anos de contato com os livros, lendo em toda e qualquer

    circunstncia, em casa ou no trabalho, na escola e nos transportes pblicos, sob chuva ou sol

    quase se poderia dizer. Raramente, ou quase nunca, saa de casa sem um livro na mo ou na

    pasta: qualquer oportunidade era boa para se avanar na leitura, mesmo na fila do

    recrutamento militar (quando estava acompanhado de Gustavo Coro, uma leitura insuspeita

    para os anos do regime militar). Ao deixar o Brasil pela Europa, no comeo dos anos 70,

    arrastei comigo uma biblioteca que certamente deve ter intrigado diversos agentes

    alfandegrios. No velho continente, como no podia deixar de ser, passei boa parte de uma

    longa estada de sete anos voluntariamente encerrado em bibliotecas universitrias, sobretudo

    a do Instituto de Sociologia da Universidade de Bruxelas. Continuei depois esse hbito nas

    demais cidades a que fui levado por fora de uma vida profissional sempre nmade. Livrarias

    e bibliotecas foram minhas segundas casas, e se ouso dizer, talvez as primeiras, j que

    certamente teria gostado de viver em algumas delas, cercado de livros, com apenas uma boa

    ducha como acessrio.

    Desde muito cedo, habituei-me tambm a fazer fichas de livros, sob a forma de notas

    sintticas, algumas compilaes mais ou menos longas ou mesmo resenhas crticas, em

    cadernos ou folhas esparsas. Infelizmente, algumas dessas resenhas pioneiras foram perdidas

    com os papis da juventude, entre a partida e a volta da Europa. Minha primeira resenha

    publicada parece ter sido a de uma obra de Erich Fromm, A Sobrevivncia da Humanidade

    (traduo brasileira de Waltensir Dutra, para a Zahar, em 1964, de May Man Prevail?, de

    1961), que saiu no jornal do centro acadmico do Colgio Costa Manso, onde eu cursava o

    Clssico (em torno dos 16 anos, portanto). Muitos outros trabalhos dessa poca, que precedeu

    minha sada do Brasil, se perderam: lembro-me de extensos resumos de obras polticas, de

    leituras anotadas de Sartre, Celso Furtado, Caio Prado, Florestan Fernandes e muitos outros

    autores brasileiros ou estrangeiros. Tambm se perdeu um resumo meu de uma verso

    abreviada do Capital, de Marx, numa edio francesa, traduzida e publicada no Brasil: mais

    de 70 pginas que, nos intervalos do trabalho, eu pacientemente datilografei, com duas cpias

    carbono.

    Mais tarde, durante minha estada universitria na Europa feita bem mais de longas

    jornadas em bibliotecas do que de comparecimento s aulas , preenchi diversos cadernos

    quadriculados, organizando-os por temas, ali compilando apreciaes crticas e resumos de

    dezenas de livros, sem considerar as simples notas bibliogrficas, que tinham seus cadernos

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    especiais. Tais cadernos, divididos em reas de estudo sociologia, antropologia, histria,

    poltica, marxismo (alis, dois inteiros), problemas brasileiros (trs cadernos), etc. muito me

    ajudaram quando tive de escrever meus trabalhos de concluso de curso: a monografia sobre a

    ideologia do desenvolvimento brasileiro, para a licena em Cincias Sociais; a dissertao

    sobre o comrcio exterior brasileiro para o mestrado em planejamento econmico; e a tese de

    doutorado sobre as revolues burguesas, anos mais tarde.

    Mas, essas anotaes no cobrem seno uma parte de minhas leituras, aquelas ligadas

    diretamente ao estudo acadmico ou s preocupaes polticas. Dezenas de outros livros,

    cujos ttulos se perderam em agendas extraviadas, permaneceram sem registro, sem falar dos

    muitos romances, policiais ou de literatura geral, que nunca foram objeto de qualquer

    tentativa de crtica literria. Se fosse possvel fazer uma lista mais ou menos abrangente de

    minhas leituras, ela certamente ocuparia dezenas de pginas e nunca estaria completa; em

    todo caso, disponho de pelo menos uma enorme lista organizada que, na verdade, se referia a

    um ambicioso programa de leituras, jamais cumprido integralmente.

    A presente seleo de livros resenhados, portanto, no cobre seno uma nfima parte

    de minhas leituras, compreendendo as obras efetivamente objeto de avaliao crtica. Alguns

    dos trabalhos aqui reunidos foram parcial ou integralmente publicados em revistas

    acadmicas ou peridicos brasileiros, muito embora diversas outras resenhas permaneam

    inditas at aqui. E elas o so por uma razo muito simples: escrevo demais, e resenhas longas

    so impublicveis nas revistas normais, ou na imprensa diria. Durante muitos anos, quase

    duas dcadas, fui leitor regular, assinante, da The New York Review of Books no confundir

    com o semanrio dominical de livros do New York Times o que justamente me fez adquirir

    esse pssimo hbito de fazer Review-articles, e no simples resenhas de livros, o que na

    verdade significa aproveitar a oportunidade da publicao de algum novo livro (no meu caso,

    alguns antigos tambm) para falar sobre os mais diversos problemas de atualidade ou de

    histria. O livro-objeto , assim, uma simples escusa para uma digresso sobre temas

    diversos, em outros casos quase que um exerccio de estilo ou um divertissement intelectual.

    Mas, ao me tornar, dez anos atrs, um colaborador do Boletim da Associao dos

    Diplomatas Brasileiros, adquiri este hbito mais prosaico de fazer mini-resenhas dos livros

    publicados pelos colegas, simples notas de leituras que por vezes demandam mais trabalho de

    sntese do as resenhas-artigos a que estou habituado. Esta tambm a razo de porque este

    livro assumiu o nome da seo Prata da Casa, que encontrei mais ou menos parada quando

    comecei a colaborar anonimamente com o Boletim. No deixei de fazer, nesse perodo,

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    resenhas mais longas de livros de diplomatas, e sobretudo de no diplomatas, mas muito

    poucas das primeiras foram publicadas no Boletim, sendo normalmente reservadas a revistas

    acadmicas ou at peridicos de interesse geral.

    Aqui figuram, portanto, plulas em torno das obras de diplomatas, sendo que a maior

    parte foi publicada institucionalmente, pela Fundao Alexandre de Gusmo: trata-se

    geralmente de teses do Curso de Altos Estudos e de monografias do Instituto Rio Branco, sem

    que essas publicaes tenham tido continuidade em alguma carreira acadmica ou literria.

    Mas vrias obras resenhadas pertencem a essa ltima categoria, pois so muitos os colegas

    que, por prazer ou algum vcio secreto, se dedicam s infernais artes da escrita, geralmente na

    prosa, na poesia, embora alguns pratiquem tambm o ensaio erudito, na histria ou na

    sociologia.

    Infelizmente no figuram aqui todas as obras publicadas pelos diplomatas ou em seu

    nome, pela instituio a que pertencem inclusive alguns livros at relevantes, na sua rea de

    especializao, mas por uma razo muito simples: a prpria importncia de certas obras me

    sugeria a alternativa de uma resenha mais longa, em lugar de uma mini-resenha, como tal

    colocada no pipeline de trabalhos a fazer. Se isso nunca ocorreu, deveu-se a essa outra

    maldio dos leitores compulsivos e dos escritores desesperados: a falta de tempo e de

    oportunidade para interromper tarefas urgentes da agenda corrente, e dedicar uma semana ou

    duas a um livro realmente importante. Aos colegas preteridos, aos quais eu posso

    eventualmente ter prometido uma resenha en bonne et due forme, minhas humildes desculpas,

    portanto, com todo o remorso declarado em virtude da no opo pela mini-resenha imediata.

    Fico devendo e anoto no pipeline...

    A esse propsito, verifiquei desde sempre, e constato mais uma vez agora, que a longa

    lista dos livros separados para ler e resenhar, ou seja, que ainda pretendo ler de maneira

    anotada, supera amplamente, em quantidade pelo menos, a lista dos que eu j li, e

    exponencialmente a dos resenhados efetivamente. Isso evidente, e creio que todos os

    leitores vorazes enfrentamos os mesmos dilemas. Estimo, por alto, que o tempo requerido

    para liquidar apenas os livros em estoque nas minhas estantes, ou localizado em

    bibliotecas deve aproximar os 150 anos suplementares (isso sem contar todos aqueles que

    sero publicados nesses prximos 150 anos). Se eu no contar com alguma graa misteriosa e

    a ajuda de alguma providncia indefinida, vou ter de adotar solues mais drsticas. Penso,

    por exemplo, em acelerar a produo de novas mini-resenhas, numa srie que talvez possa ser

    chamada de Leituras at o Fim dos Dias (sem qualquer inteno macabra). Enquanto no

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    comeo, permito-me, ento, oferecer ao pblico leitor, estas mini-resenhas j preparadas, e

    diversas outras de livros de diplomatas e de no diplomatas que interessem aos primeiros e a

    todos os demais dessa rea.

    Existiam vrias opes para organizar o material compilado, inclusive em funo dos

    grandes temas da diplomacia brasileira multilateral, bilateral, econmico, poltico, meio

    ambiente, etc. ou ainda cronologicamente, seguindo as periodizaes costumeiras em nossa

    historiografia. Depois de bem refletir, decidi observar, para as mini-resenhas da primeira

    parte, a ordem original na qual elas foram escritas, sem qualquer alterao, uma vez que elas

    correspondem, digamos assim, ao esprito de cada poca, sobretudo as teses de CAE. Nas

    outras duas partes, tentei agrupar os livros resenhados em funo de grandes blocos de

    interesse, tanto cronologicamente, quanto tematicamente, embora todo o conjunto possa

    aparecer mais como um gabinete de curiosidades do que como um ordenamento

    bibliogrfico profissional.

    Para facilitar a busca por algum autor, acrescentei um ndice em ordem alfabtica de

    autores e seus respectivos livros, o que permite constatar algumas constncias, justamente,

    entre elas a deste prprio autor. Neste caso, abri uma nica exceo ao critrio de autoria: a

    incluso do resumo geralmente trechos do prefcio ou da apresentao de minhas prprias

    obras, deixando de lado resenhas que terceiros fizeram de meus prprios livros (que

    obedecem, em todo caso, ao critrio aqui retido da inclusividade, o fato de serem livros de

    diplomatas ou interessando aos diplomatas e estudantes e pesquisadores da rea).

    O material aqui compilado no representa, volto a dizer, todas as resenhas ou

    avaliaes crticas que fiz a respeito da literatura pertinente, uma vez que, em alguns dos

    meus livros, efetuei um exame cuidadoso da produo de diplomatas e no diplomatas no

    campo das relaes internacionais e da diplomacia brasileira. Refiro-me, por exemplo, aos

    livros Relaes Internacionais e Poltica Externa do Brasil (1998, 2004 e 2012) e O Estudo

    das Relaes Internacionais do Brasil (1999 e 2006), aos quais se acrescentam alguns artigos

    esparsos em revistas especializadas. Finalmente, algumas das resenhas longas aqui

    reproduzidas j foram por mim includas numa edio de autor Vivendo com Livros, 406 p.

    que elaborei em Paris, em dezembro de 1994, da qual pelo menos uma cpia deve ainda

    existir na Biblioteca Azeredo da Silveira, do Itamaraty.

    Ainda tenho muitos livros pela frente, para resenhar, de diplomatas e de no

    diplomatas, e por isso volto imediatamente ao trabalho, sob o olhar complacente de Carmen

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    Lcia, que l ainda mais do que eu, em todo caso de forma mais rpida. Eu tenho essa mania

    de anotar, o que pode representar alguma lentido no estoque acumulado de leituras at o fim

    dos tempos. Em todo caso, o prazer da leitura e o da escrita estaro sempre presentes, como j

    estiveram na confeco de todas as resenhas aqui includas.

    Esperando que a desgraa do cavaleiro da Mancha no se abata sobre mim, despeo-

    me aqui, como se fazia nos tempos do valeroso hidalgo: Vale!

    Paulo Roberto de Almeida Hartford, 10 de novembro de 2013.

  • Primeira Parte Prata da Casa Boletim ADB

    Mini-resenhas dos livros de diplomatas

    (Boletim da ADB; ISSN: 0104-8503)

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    Paulo Roberto de Almeida: Formao da Diplomacia Econmica no Brasil: as relaes econmicas internacionais no

    Imprio (2 edio; So Paulo: Editora Senac; Braslia: Funag, 2005, 680 p.; ISBN: 85-7359-210-9) Parcialmente apresentada como tese de CAE em 1997, publicada originalmente em 2001, sai agora em edio revista e ligeiramente ampliada uma obra fundadora sobre os fundamentos e a evoluo da primeira diplomacia econmica brasileira, cobrindo as etapas iniciais e o desenvolvimento das relaes econmicas internacionais do Brasil no decorrer do sculo XIX. Prefaciada pelo Embaixador Alberto da Costa e Silva, esta obra aborda, em oito densas partes, as diversas vertentes da diplomacia econmica durante o Imprio comercial, financeira, investimentos, mo-de-obra, regional, multilateral, a amplitude geogrfica, a organizao poltica, a estrutura funcional e o quadro institucional , ademais de acompanhar a mudana de hegemonias, da libra ao dlar, j em pleno sculo XX. O volume compila ainda, do ponto de vista quantitativo, a mais extensa srie de estatsticas histricas disponveis, alm de quadros analticos que completam a informao qualitativa sobre essa diplomacia em perspectiva histrica. Uma cronologia do processo econmico colonial (de 1415 a 1822) completa o volume. Jos Flvio Sombra Saraiva e Amado Lus Cervo (orgs.): O crescimento das relaes internacionais no Brasil (Braslia: Instituto Brasileiro de Relaes Internacionais, 2005, 308 p.; ISBN: 85-88270-15-3) Trata-se de obra comemorativa dos cinquenta anos do Instituto Brasileiro de Relaes Internacionais, fundado no velho Palcio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, em 1954, e que a partir de 1958 passou a editar a, hoje decana na rea, Revista Brasileira de Poltica Internacional (transferidos, instituto e revista, para Braslia em 1993). O volume compe-se de dez captulos, divididos em quatro partes, cobrindo respectivamente os problemas do conhecimento e ensino de relaes internacionais no Brasil, poder nacional e segurana, os fluxos humanos e de conhecimento entre o Brasil e o mundo e, finalmente, as estruturas econmicas internacionais. Seus autores so quase exclusivamente acadmicos, mas a prata da Casa representada pelo diplomata Paulo Roberto de Almeida, que comparece com um extenso captulo sobre as finanas internacionais do Brasil, uma perspectiva de meio sculo (1954-2004).

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    Felipe Fortuna: Em Seu Lugar: Poemas Reunidos (Rio de Janeiro: Barlu Edies, 2005, 248 p.)

    Alguns poderiam dizer que muito cedo para que um poeta de 40 anos publique uma obra reunida. No me lembro que idade tinha Drummond quando publicou uma coletnea chamada Fazendeiro do ar & Poesia at agora, mas a ideia de juntar num livro coisas pensadas e escritas ao longo da vida s costuma ocorrer quando se chega idade, seno da sntese, pelo menos do balano, naquela fase j quase pstuma em que avaliamos, maneira de Brs Cubas, se somadas umas coisas e outras, samos ou no quites com a vida. Esse olhar retrospectivo supe que a obra para a qual se olha j algo de definitivo. No caso de Felipe Fortuna, sentimos que o objetivo da obra reunida outro. O autor no est olhando para trs, mas para frente, acumulando foras, pela viso do caminho percorrido, para novos voos lricos, cujo carter sempre incompleto dificulta qualquer balano. (do Prefcio de Sergio Paulo Rouanet). Jos Vicente Lessa: O autoengano coletivo: uma crtica do iderio nacional brasileiro (So Paulo: Edies Inteligentes, 2005, 238 p.)

    Jos Vicente Lessa se apresenta como socilogo e diplomata, nessa ordem, o que denota seu comprometimento intelectual com, antes de mais nada, uma anlise isenta da realidade e dos problemas brasileiros. A dificuldade em diagnosticar corretamente grande parte desses problemas pode derivar daquilo que o autor diz ser um autoengano coletivo, ou seja, vises do mundo, eventualmente identificadas com o chamado senso comum, que traduzem iluses de fundo psicolgico, paradigmas convencionais no terreno econmico ou ainda teses maniquestas sobre a insero internacional do Brasil. Algumas das verdades aceitas nessas reas podem ser confrontadas realidade e so por ele submetidas ao bisturi frio da Lgica. O Brasil um pas frtil para esse tipo de experimentao sociolgica, como revelado nos diversos captulos desta obra que explora alguns dos saberes coletivos deste pas, to propenso a triunfalismos ingnuos quanto assaltado de forma recorrente pelo sentimento de que tudo aqui vai mal, da pior forma possvel. Trata-se de uma sadia reflexo sobre alguns dos nossos problemas bsicos, por um esprito ctico, mas antes de mais nada racionalista.

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    Alberto da Costa e Silva: Das mos do oleiro: aproximaes (Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2005, 240) Nosso maior (talvez nico, verdadeiramente grande) africanista em plena atividade, o historiador e acadmico Alberto da Costa e Silva navega neste livro no apenas em guas atlnticas, mas por todos os rios, ribeires, mares, lagoas, charcos e enseadas aos quais sua insacivel curiosidade intelectual o levou, ao longo de uma vida prolfica de scholar-nmade em continentes vrios, nos quais sua viso de diplomata se enriqueceu na poeira das estradas, ao mesmo tempo em que sua mo se cobria do p dos arquivos. Os textos so dos ltimos quinze anos, mas o perodo coberto vai do sculo XV aos dias atuais (de Colombo a Castro), tomando formas diversas, prefaciando livros, discutindo idias, explorando paisagens. Ele segue os passos de Rio Branco, outro historiador-diplomata, mas tambm emula o itinerrio de outros colegas que o precederam no Itamaraty e na Academia Brasileira de Letras, cultivando poesia, ensastica, crnica e tantas artes da escrita que s uma mente inquieta como a dele saberia definir. Esse oleiro um artista, ou um verdadeiro ourives da pluma, e de seu ateli saram estas aproximaes que constituem de fato finas especiarias que s um esprito enciclopdico como o dele conseguiria produzir. Centro de Histria e Documentao Diplomtica: A Misso Varnhagen nas Repblicas do Pacfico: 1863 a 1867 (Rio de Janeiro: CHDD; Braslia: FUNAG, 2005; vol. 1: 1863 a 1865, 592 p.; vol. 2: 1866 a

    1867, 508 p.) O CHDD, dirigido de forma competente pelo Embaixador lvaro da Costa Franco, vem empreendendo, desde 2002, um importante trabalho de recuperao de nossa histria diplomtica. Data desse ano o lanamento dos Cadernos do CHDD, cujo primeiro nmero trouxe artigos annimos do Baro do Rio Branco e os testamentos do diplomata historiador Francisco Adolpho de Varnhagen, possivelmente feitos em Caracas em 1861 ou 1862. O mesmo nmero inaugural traz ainda artigo de Lus Cludio Villafae Gomes Santos sobre uma memria de Duarte da Ponte Ribeiro, de 1832, sobre algumas repblicas do Pacfico com as quais o Brasil monrquico buscava manter relaes diplomticas. Agora, o CHDD publica, justamente, a correspondncia ativa e passiva do mesmo Varnhagen sobre sua misso em vrias dessas repblicas, designado que foi ministro residente no Chile, Peru e Equador. Essa poca foi marcada pela guerra do Pacfico, entre a Espanha e o Chile e o Peru, e pela guerra da Trplice Aliana, que alis motivou divergncias entre o Brasil e o Peru, resultando na interrupo das relaes diplomticas. Figuram com destaque nas correspondncias (ofcios da misso e despachos da Secretaria de Estado) os problemas de fronteiras do Brasil com o Peru.

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    Andr Herclio do Rgo: Famille et Pouvoir Regional au Brsil: Le coronelismo dans le Nordeste 1850-2000 (Paris: LHarmattan, 2005, 320 p.)

    Desde Gilberto Freyre, a famlia entrou no campo das cincias sociais no Brasil, como explica a historiadora greco-baiana Katia de Queirs Mattoso, no prefcio a esta tese defendida na Sorbonne. O autor estava bem colocado para refazer a trajetria de vida e lutas polticas dos principais chefes polticos do cl dos Herclio do Rego, et pour cause: dinastie oblige. Eles dominaram a poltica local e regional em boa parte do Nordeste, em especial em Pernambuco e na Paraba. Trata-se de uma saga familiar que cobre um vasto perodo histrico, ao longo de transformaes sociais, polticas e econmicas importantes na regio e no pas. Um estudo baseado em vasta literatura secundria, sem descurar at mesmo obras de cordel, mas sobretudo no conhecimento direto, inclusive fotogrfico, dos meandros da poltica dos coronis do seu cl de origem. Aparentemente o coronelismo no morreu, mas assumiu novas formas. Murilo Vieira Komniski: Buritizal (Rio de Janeiro: 7 Letras, 2005, 108 p.)

    Livro de estreia, no terreno da poesia, sempre uma incgnita. Mas, mesmo se o livro o primeiro de uma carreira que se anuncia prometedora, vrios poemas j foram publicados em revistas do Brasil e do exterior. Murilo tem poemas em ingls e em espanhol, alm de um e outro verso em francs, alguns deles dedicados a amigas de outros continentes, mas a maior parte tocando mesmo em realidades universais, a partir de um olhar brasileiro. Da o nome, inspirado nos coqueiros das gerais de Guimares Rosa. O que em primeiro lugar distingue sua poesia a combinao sonora e visual, antes mesmo dos conceitos, todos eles alusivos a uma realidade fugidia, quase surreal. Jabuticaba, por exemplo, se refere aos olhos de uma amada/amante, no ao fruto bem brasileiro. Ou O Samba da minha Terra, que propriamente universal. Murilo tem abundante poesia na veia: ainda bem que ele distila bem, para nosso deleite literal...

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    Raul de Taunay: Rosas da infncia ou da estrela [poemas escolhidos] (Rio de Janeiro: 7 Letras, 2005, 136 p.) Poeta errante, segundo seu prefaciador e amigo acadmico, Carlos Nejar, Raul de Taunay tambm romancista, mas estas oito dezenas de poemas esparsos nos levam a um garimpeiro das palavras e das imagens. Outro amigo, de outras eras, Vincius de Moraes, escreveu em tempos remotos que Raul era mesmo um poetinha promissor. Dinah Silveira de Queiroz, tambm longe no tempo, relembra que ele vem de cepa ilustre, dela trazendo o dom das letras, mostrando no verso a marca profunda de sua personalidade. Pena que os poemas no estejam datados, ou localizados na sua imensa geografia de remoes, de postos e de turismo pouco acidental. Por vezes uma homenagem involuntria (Soneto ao inverno de Praga, Domingo em Roma ou frica mame ptria) nos remete ao trajeto errante do poeta, que de outra forma expressa seus sonhos e angstias (Pobre poetinha, solitrio e tolo, que na madrugada transforma-se em lobo...). Mas, qual ser o [s]eu poema derradeiro, o ltimo, o sem erro, o perfeito refro?. Vale conferir... Jos Augusto Lindgren Alves: Os direitos humanos na ps-modernidade (So Paulo: Perspectiva, 2005, 254 p.) Depois de Os Direitos Humanos como Tema Global, publicado em 1994 e reeditado em 2003, Lindgren Alves comparece com sua continuidade natural, neste livro que resgata uma dezenas de ensaios escritos e publicados ao longo de sete anos. Trata-se, no apenas de direitos humanos, estrito senso, mas tambm de problemas como o da discriminao racial e o do multiculturalismo, no qual so evidenciadas as diferenas entre as situaes nos EUA e no Brasil. O captulo conclusivo, razoavelmente pessimista, indica que os valores universais associados aos direitos humanos vm sendo atacados sub-repticiamente por vrios tipos de violadores de diversas tradies, sob argumentos de tipo culturalista ou supostamente para evitar sua politizao nos rgos da ONU. Mais pattica a recusa pelos EUA do Tribunal Penal Internacional, o que pode comprometer gravemente o seu funcionamento. Ser que a histria est andando para trs?

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    Paulo Antonio Pereira Pinto: Taiwan um futuro formoso para a ilha? (Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2005, 144 p.)

    O autor seguramente um dos maiores sinlogos brasileiros e certamente o melhor do Itamaraty, com um conhecimento detalhado do contexto asitico, em seu conjunto, e da situao da ilha de Formosa, em particular. O livro sinttico, mas completo, cobrindo a delicada situao geopoltica e at de sobrevivncia enquanto Estado da ilha que serviu de refgio para a Repblica da China de Chiang Kai-shek depois que Mao Ts-tung tomou o poder no continente. Papepinto, como conhecido, analisa no apenas as vrias dimenses envolvidas na situao da ilha segurana, poltica, econmica e cultural mas tambm o interesse de Taiwan para o Brasil. A obra plenamente didtica, apresentando ainda uma cronologia e interessantes anexos informativos sobre a histria e a situao atual da provncia rebelde, que um dia vai voltar para o bero continental ou ser reunificada fora pelo gigante chins. O autor serviu por mais de sete anos na ilha batizada pelos portugueses do sculo XVI. Agenor Soares dos Santos: Dicionrio de anglicismos e de palavras inglesas correntes em portugus (Rio de Janeiro: Elsevier, 2006, 390 p.)

    J autor, um quarto de sculo atrs, de um Guia Prtico de Traduo Inglesa, Agenor Soares est plenamente qualificado para fazer uma apresentao completa da mais abundante fonte hoje em dia dos estrangeirismos importados em lngua portuguesa (ou j seria brasileira?). Suplantando o francs, que durante muitas dcadas reinou imperial, o ingls fornece hoje o essencial do vocabulrio em economia, informtica, comunicaes, cincia, tecnologia, modismos em geral, para desespero dos chauvinistas (outra palavra importada) e dos introvertidos. Nenhuma lngua dispensa emprstimos, mas um fato que o ingls hoje uma espcie de doador universal. Adaptamos os vocbulos em poucos anos, como demonstra, exemplarmente, Agenor. Ou seja, ningum precisa ser um Sherloque para descobrir que em matria de anglicismos, tudo termina em happy end...

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    Alexandre Vidal Porto: Matias na cidade - romance (Rio de Janeiro: Record, 2005, 160 p.) Que diplomatas sejam homens (ou mulheres) de letras, prosadores, poetas e romancistas, isto j se sabia h muito. Que eles tambm sejam capazes de assinar novelas picantes, um pouco menos. Esta histria no especialmente pornogrfica, longe disso. Trata-se de um relato de vida, muito comum, como deve haver milhares iguais, numa cidade como So Paulo, mas uma histria bem contada, com uma prosa fluda, leve, que literalmente sequestra nossa ateno. Matias um homem casado, mas no satisfeito com as simples cenas de um casamento. Prefere outras emoes, com mulheres vulgares, geralmente. , literalmente, um obcecado por sexo. A novela apenas um recorte dessa vida, com retrospectos e introspeces, apenas dele. Os demais personagens se expressam apenas por palavras e gestos, descritos com economia de termos, em linguagem direta. D para ler o romance de uma vez s, sem parar. Mais do que ateno, ele convida reflexo... Paulo Antonio Pereira Pinto: Iruan nas reinaes asiticas (Porto Alegre: AGE, 2004, 132 p.) A histria integralmente verdadeira, mas se l como uma estria, um bom romance, com final feliz. Foram mil e um episdios, marchas e contramarchas, at que nosso homem em Taip, Papepinto, conseguisse trazer de volta s terras gachas o garoto Iruan, que quase vira um taiwans, malgr lui. O livro, ademais das peripcias diplomticas, um bom case-study de Direito Internacional Privado, recomendvel para alunos de direito e candidatos ao Rio Branco. tambm uma histria de amor, da av, e do prprio autor, pelo garoto, por seu trabalho, pelas suas origens gachas, a despeito da naturalidade nordestina. Fotos, desenhos de Iruan, reprodues de documentos notariais, decises de justia, dmarches diplomticas, o livro tem de tudo, sobretudo um estilo saboroso que nos prende a cada pgina. A Copa de 2002, Iruan assistiu em chins de Taiwan. A camiseta assinada por Ronaldinho deve estar pequena, agora que ele tem onze anos, mas ele deve estar com ela, assistindo Copa de 2006 em Canoas. Grande, Papepinto!

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    Milton Torres: O Maranho e o Piau no Espao Colonial: a memria de Joaquim Jos Sabino de Rezende Faria e Silva (So Luis: Instituto Geia, 2006, 246 p.) O diplomata gacho resgatou, da poeira dos arquivos histricos portugueses, as memrias de um magistrado lusitano que, no final do sculo XVIII veio ao Maranho para ajudar a administrar aquela provncia do Imprio que tambm inclua o Piau segundo os (ento) bons princpios colbertistas, em sua verso pombalina. Tese doutoral apresentada na USP em 1997, o trabalho apresenta elementos conceituais e histricos para se avaliar a passagem do mercantilismo fisiocracia e ao nascente liberalismo. Essas memrias podem ser lidas, graas sua transcrio no livro, em confronto com as ideias de outro luminar da poca, Silva Lisboa, introdutor de Adam Smith no circuito lusitano. Ambos foram contemporneos, escreveram ao mesmo tempo, defendendo receitas antpodas sobre como administrar o Brasil: Joaquim Sabino estava preso, pelas ideias, ao mundo de Pombal, mas contemplava o nascimento da nova economia, sem contudo a ela aderir. Parece que a dicotomia continua ainda hoje... Samuel Pinheiro Guimares: Desafios Brasileiros na Era dos Gigantes (Rio de Janeiro: Contraponto, 2006, 455 p.) Depois do sucesso (quatro edies, ao que consta) do seu Quinhentos Anos de Periferia (lanado em 1999), o SG-MRE volta a expor suas ideias neste livro composto j no cargo atual. Doze grandes ensaios tratando de poltica internacional, de problemas do desenvolvimento econmico, social e tecnolgico do Brasil, de questes regionais e da integrao, de ameaas vindas da grande potncia hegemnica e de aspectos culturais, com ttulos bizarros como O Alquimista, Macunama, A Ona e o Gato e outros inspirados na literatura. O Brasil tem, ao que parece, grandes vulnerabilidades externas mas precisa construir seu potencial num cenrio mundial violento, imprevisvel e instvel. O autor no esconde sua oposio poltica econmica do governo ao qual serve e pretende fortalecer o Estado ainda mais. Um programa completo para fazer o Brasil recuperar sua agenda prpria de desenvolvimento, na linha de pensadores como Celso Furtado e outros representantes da corrente nacionalista.

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    Joo Clemente Baena Soares: Sem medo da diplomacia: depoimento ao Cpdoc (organizadores Maria Celina DAraujo et alii; Rio de Janeiro: FGV, 2006, 126 p.) Depois de vrios outros diplomatas, o ex-SG-MRE e ex-SG-OEA d seu depoimento ao Cpdoc, retraando os episdios de meio sculo de vida dedicados ao Itamaraty, com destaque para os seus dez anos de OEA, num perodo de retorno geral democracia no hemisfrio. Em tom leve, prprio s boas conversas, Baena relata causos interessantes da diplomacia brasileira, como o asilo concedido em 1959 ao opositor de Salazar, general Delgado, os anos da poltica externa independente, as dificuldades polticas do perodo militar (quando o Itamaraty, paradoxalmente, desfrutou de muita autonomia), quando ele foi SG-MRE (gesto Figueiredo), e a longa direo da OEA. Baena foi muito sincero e direto: ele acha, por exemplo, que poltica externa dispensa slogans, como aqueles que recorrentemente se usam para classificar uma determinada gesto diplomtica ou estilo de relaes exteriores. Todo o seu depoimento representa uma homenagem profissionalizao do Itamaraty e continuidade da poltica externa brasileira. Fernando de Mello Barreto: Os Sucessores do Baro, 2: relaes exteriores do Brasil, 1964-1985 So Paulo: Paz e Terra, 2006, 519 p.

    A exemplo do primeiro volume desta obra, que cobria de fato o perodo ps-Baro, ainda que de modo lato (1912-1964), Fernando Barreto oferece, no presente livro, uma histria das relaes internacionais e da poltica externa do Brasil em seu sentido amplo, cobrindo tanto os episdios diplomticos, estrito sensu, como o quadro mais amplo da economia e da poltica mundiais. A perspectiva linear, como j tinha sido o caso no volume precedente: so seis chanceleres, de 1964 a 1985, ou seja, durante todo o perodo militar, quando cinco generais do Exrcito e uma junta militar ocuparam o poder no Brasil. Da interveno na Repblica Dominicana Guerra das Malvinas, do TNP ao Acordo Nuclear com a Alemanha, passando pelos tratado de cooperao com os vizinhos (bacia do Prata, Amaznia, Itaipu), os principais episdios da diplomacia brasileira so tratados de forma por vezes minuciosa. Indispensvel como referncia para esses anos.

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    Paulo Roberto de Almeida: O estudo das relaes internacionais do Brasil: um dilogo entre a diplomacia e a academia (Braslia: LGE Editora, 2006, 388 p.; ISBN: 85-7238-271-2)

    Dotado de uma perspectiva essencialmente didtica, voltado para a pesquisa e o ensino das relaes internacionais do Brasil e especialmente focado na histria das relaes econmicas internacionais, o livro oferece um panorama abrangente do itinerrio seguido pelo Brasil no contexto mundial. Instrumento de pesquisa, tanto quanto de referncia cronolgica e de informao sobre a literatura disponvel na rea, a obra acompanha, de modo ecltico, diversas disciplinas dos cursos de relaes internacionais. O livro possui captulos sobre a produo em relaes internacionais do Brasil, com uma avaliao das obras relevantes de 1945 a 2006, bem como das tendncias e perspectivas nesse campo, um estudo sobre o desempenho econmico do Brasil no contexto mundial, de 1820 at os dias atuais, uma anlise da estrutura constitucional das relaes internacionais no Brasil e textos sobre as periodizao e a cronologia das relaes internacionais, alis desde antes da constituio do territrio e da nao, a partir de 1415. Completam o livro um guia da produo em relaes internacionais e dos peridicos mais importantes da rea, no Brasil e no mundo. Vasco Mariz (org.): Brasil-Frana: relaes histricas no perodo colonial (Rio de Janeiro: Biblioteca do Exrcito Editora, 2006, 196 p.) Cinco autores, incluindo o organizador, traam um panorama abrangente das relaes franco-brasileiras, desde os primrdios, com os primeiros exploradores da ento Amrica portuguesa, at a independncia, com as misses culturais e cientficas francesas que comeam em 1816 e se estendem plena autonomia. Os invasores foram menos bem sucedidos do que os artistas e cientistas: se os primeiros no conseguiram se apossar de territrios, os segundos deixaram riquezas at hoje visveis, na arquitetura, nas artes e na memria coletiva. Vasco Mariz relata que, na revoluo pernambucana de 1817, exilados franceses tentaram resgatar Napoleo de Santa Helena. O livro de leitura agradvel, de estilo literrio, contendo uma seleta bibliografia ao final de cada um dos doze captulos histricos. Um ensaio historiogrfico final compila as mais importantes fontes histricas primrias para a pesquisa em torno da presena francesa no Brasil.

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    Armindo Branco Mendes Cadaxa: No Jardim de Inverno (Nova Friburgo: Ars Fluminensis, 2006, 74 p.) Um pequeno volume de puro deleite literrio, com pelo menos quatro jardins de inverno em forma potica e os girassis de Matisse na capa. As marcas da diplomacia esto em vrios poemas, quando o autor confessa que cansou de cruzar mares e continentes, quando ele contempla as colunas do Peloponeso, percorre trilhas, visita catedrais e as muralhas do Alccer. O jardim de inverno tem orqudeas e muitas formiguinhas. Uma guilhotina contempla a sua obra, os olhos semicerrados de espanto. Um grito atravessa portes blindados e os deuses tentam dar vida aos mrmores. As imagens so cristalinas, como a gua que escorre de uma fonte em direo de pequenas grutas. Cadaxa um poeta, dramaturgo e romancista premiado. Esta coletnea demonstra porque Marcelo Raffaelli: A Monarquia e a Repblica: Aspectos das relaes entre Brasil e Estados Unidos durante o Imprio (Rio de Janeiro: Centro de Histria e Documentao Diplomtica; Braslia: Funag, 2006, 290 p.) Exemplo de sntese histrica, em sua objetividade e conciso, a compilao feita dos despachos e ofcios trocados pelos diplomatas dos dois pases com suas respectivas secretarias de Estado compe um relato saboroso das relaes bilaterais entre os dois grandes pases do hemisfrio. Organizado tematicamente, antes que cronologicamente, o livro cobre desde o reconhecimento da independncia brasileira at o fim do regime monrquico e a inaugurao da Repblica no Brasil. A obra faz a descrio sinttica dos chefes de misso e suas respectivas instrues diplomticas, analisa os problemas do trfico escravo, da guerra de Secesso e da abertura do rio Amazonas navegao internacional, bem como as questes polticas e jurdicas do relacionamento bilateral (arbitragens), ademais da prpria viso que os enviados mantinham sobre o povo e o pas no qual residiam. Excelente resumo das fontes primrias, com intenso apoio nos arquivos oficiais e em bibliografia equilibrada sobre essas relaes.

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    Rubem Mendes de Oliveira: A Questo da Tcnica em Spengler e Heidegger (Belo Horizonte: Argumentum-Tessitura, 2006, 132 p.) O Itamaraty abriga alguns filsofos, mais empricos do que profissionais, ainda que vrios diplomatas tenham feito estudos e at obtido titulao ps-graduada nessa rea. Mas, certamente ele ainda no contava, entre seus quadros, com um filsofo da tcnica (e no apenas da cincia), com a competncia e a amplido de conhecimentos demonstrados por Rubem Oliveira neste seu livro de estreia, que reproduz sua dissertao na UFRJ (1991). O estatuto de Spengler e de Heidegger diferenciado na histria e na filosofia do sculo XX, mas o autor soube dialogar com ambos naquilo que eles apresentaram de mais relevante para o estudo e a discusso da modernidade e da cincia no contexto do pensamento ocidental, remontando inclusive a clssicos (Kant). Trata-se de uma leitura comparativa que vai essncia do problema da tcnica na obra dos dois autores, amparada em slida bibliografia de apoio. Um livro que coloca seu autor na lista seleta dos pensadores profissionais da filosofia da tcnica no Brasil. Ele representa um subsdio relevante para os mtodos de trabalho e para um novo foco de ateno do Itamaraty. Lus Fernando Corra da Silva Machado: Brasil e investimentos internacionais: os acordos sobre IED firmados pelo Pas (Pelotas: Editora da UFPel, 2005, 222 p.) A obra resulta do mestrado em relaes internacionais na UnB e cobre de maneira quase completa faltando referncia ao MAI-OCDE os instrumentos multilaterais, regionais e bilaterais existentes no campo do investimento direto estrangeiro e sua aplicao ao Brasil. Depois de breve histrico e do exame das teorias e medidas prticas relativas ao IED, no plano internacional, a obra cobre os fluxos de IED vindos para o Brasil na dcada de 1990 e a normativa a eles aplicada. Um captulo trata dos protocolos aprovados no mbito do Mercosul, bem como dos acordos bilaterais contrados pelo Brasil, nenhum deles aprovados ou em vigor na atualidade. O Brasil continua relutante a esse respeito, confirmando que gosta de capitais estrangeiros, mas detesta capitalistas estrangeiros, como ocorre em diversas outras reas tambm. A despeito do grande mercado interno, o Brasil continua recuando na atratividade do IED. Esta dissertao mostra algumas das razes da baixa captao.

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    Otvio Augusto Drummond Canado Trindade: O Mercosul no Direito Brasileiro: incorporao de normas e segurana jurdica (Belo Horizonte: Del Rey, 2007, 180 p.) Uma monografia agraciada com o prmio Hildebrando Accioly do Mestrado em Diplomacia do Instituto Rio Branco, o trabalho deste jovem diplomata tem tudo para consagrar-se como uma das melhores anlises acadmicas sobre a insegurana jurdica do Mercosul, a despeito de todos os instrumentos aprovados no plano formal da soluo de controvrsias. A razo disso que os Estados membros pouco fizeram para internalizar grande parte das normas (decises e resolues dos rgos decisores) aprovadas consensualmente (outra dificuldade). O autor no se contenta em examinar o conceito de segurana e a natureza jurdica das normas do Mercosul, mas examina sua incorporao (limitada) ao direito interno dos pases membro e formula sugestes para o aperfeioamento desse processo. A maior parte das sugestes so de procedimento, mas o autor reconhece a necessidade de uma reforma constitucional, tarefa que se choca com a velha defesa da soberania nacional. Assim, a integrao continua a patinar... Lus Cludio Villafae Gomes Santos: El Imperio del Brasil y las Repblicas del Pacfico, 1822-1889 (Quito: Corporacin Editora Nacional-UASB-Funag, 2007, 168 p.) Trata-se da verso em espanhol do livro que resultou de sua dissertao de mestrado, j publicada no Brasil em 2002 pela Editora da UFPR (O Imprio e as repblicas do Pacfico: as relaes do Brasil com o Chile, Bolvia, Peru, Equador e Colmbia, 1822-1889), nesta edio com prefcio do reitor da Universidad Andina Simn Bolvar, de Quito, Enrique Ayala Mora. O autor j tinha publicado, tambm, sua tese de doutoramento, um estudo sobre o Imprio e o interamericanismo, cobrindo o perodo que se estende do congresso do Panam, em 1826, at a primeira conferncia americana de Washington, em 1889-1890: O Brasil entre a Amrica e a Europa (Unesp, 2004). Num momento em que o Brasil comea a criar um novo sistema de relaes regionais que se articula em torno do conceito de Amrica do Sul, Villafae se consagra, no apenas no Brasil, como o grande historiador de uma vasta regio que constituiu nossa circunstncia geogrfica incontornvel. Ele participa, atualmente, da Histria Geral da Amrica Latina, imenso projeto sob coordenao da Unesco, com um estudo sobre As Relaes Interamericanas (1870-1930). Ele est na linhagem direta de Varnhagen, Rio Branco, Oliveira Lima e Evaldo Cabral de Mello.

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    Teresa Dias Carneiro: Otvio Augusto Dias Carneiro, um pioneiro da diplomacia econmica (Braslia: Funag, 2005, 134 p.) Este livro inaugura a coleo Personalidades da Poltica Externa da Repblica, que trar desde Rio Branco (a rigor um monarquista) e Rui Barbosa at San Tiago Dantas e Renato Archer (ou seja, personagens da poltica externa, no necessariamente diplomatas). Dias Carneiro foi, com Roberto Campos, um dos grandes economistas do Itamaraty, homem de mltiplos talentos, vontade em temas de comrcio internacional, energia nuclear, cooperao para o desenvolvimento, produtos de base e questes financeiras. Primeiro brasileiro a obter o ttulo de doutor em economia pelo MIT, em 1951, soba a dupla orientao de Charles Kindleberger e de Paul Samuelson, deixou obra acadmica de peso, na qual ressaltam um estudo de 1965 sobre a reforma monetria internacional do ponto de vista dos pases em desenvolvimento um uma reviso da histria econmica do Brasil, de 1920 a 1965, ambos em ingls. Vrios de seus trabalhos acadmicos permanecem inditos. Mais conhecida a sua atividade diplomtica, em dezenas de foros multilaterais e tambm na frente interna, do governo brasileiro. Sua filha caula retraa seu itinerrio de vida e diplomtico, ambos constrangidos pelo golpe militar de 1964. Poucos sabem que foi ele o desenhista da bandeira da Coria do Sul, solicitado por um diplomata desse pas. Sua obra ainda precisa ser divulgada mais amplamente. Alfredo Jos Cavalcanti Jordo de Camargo: Bolvia: a criao de um novo pas (Braslia: Funag, 2006, 404 p.) Este livro difere das histrias tradicionais da Bolvia em duas maneiras: foi escrito por um diplomata brasileiro e est centrado na histria dos povos indgenas, os mesmos que sofreram sob o jugo colonial e depois sob as elites brancas e que deram, recentemente, a vitria a Evo Morales. Um longo subttulo indica que ele pretende descrever a ascenso do poder poltico autctone das civilizaes pr-colombianas. Uma bibliografia extensa e variada revela que o autor, a despeito de ter estudado matemtica e cincia da computao, tem gosto pela histria e habilidade no trato das fontes. Depois de um longo priplo pelo passado do altiplano e de todos os povos indgenas que por ali passaram, ele retoma os desafios do presente. Constata que a revoluo de 1952 permaneceu inconclusa: ps fim ordem oligrquica, mas no industrializou o pas e conservou a mesma estrutura social. A ascenso social do ndio, o fim dos partidos tradicionais e o refluxo do neoliberalismo podero criar uma nova Bolvia. Ou, ento, faz-la retornar ao seu estado habitual de crise e estagnao. A conferir.

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    Jorge S Earp: O olmo e a palmeira (Rio de Janeiro: 7Letras, 2006, 256 p.) Autor de vasta obra literria, desde antes de ingressar na carreira diplomtica, em 1981, incluindo um romance de 1995, Ponto de Fuga, que foi Prmio Nestl de Literatura, Jorge S Earp apresenta em sua mais recente obra uma histria passada no perodo colonial portugus no Brasil, envolvendo estrangeiros e brasileiros. No caso um ingls, que se encanta com a Bahia e uma bela herdeira da famlia tradicional Delasalle-Castro, em meio aos conflitos com escravos, com os ndios e entre os prprios coloniais, divididos entre as tradies e as vontades individuais. O olmo o prprio ingls, que encontra a sua palmeira, na figura de Ana Delasalle. Goethe, nas Afinidades Eletivas, teria dito que ningum passeia impunemente sob as palmeiras. maneira das promenades de Goethe, o livro um passeio erudito pelo Brasil do final do perodo colonial e incio da independncia, com os sabores, as cores e os modos daqueles tempos: veleiros, cavalos, escravos descendo da boleia, igrejas com ouro, enfim, um retrato quase atual... Carlos Alberto Leite Barbosa: Desafio Inacabado: a poltica externa de Jnio Quadros (So Paulo: Atheneu, 2007, 352 p.) O governo do imprevisvel (e inescrutvel) Jnio Quadros durou exatos 205 dias, de janeiro a agosto de 1961, mas foi provavelmente um dos mais empolgantes qualquer que seja o sentido que se d a essa palavra que a histria poltica do Brasil conheceu. O jovem diplomata Leite Barbosa, formado em 1959, acompanhou-o enquanto espectador privilegiado, lotado que esteve no gabinete do presidente do comeo ao fim, ou melhor, antes mesmo, pois que participou de sua campanha eleitoral. O livro, muito bem pesquisado e recuperando no ba da memria fatos e pessoas que a histria documentada no registrou, oferece uma contribuio excepcional ao estudo da poltica externa do sisudo chefe de Estado, contraditrio nas aes e surpreendente nas palavras. So reproduzidos alguns dos seus famosos bilhetinhos, to difceis de cumprir quanto, na verdade, entender. Um livro de um verdadeiro insider, indispensvel, doravante, aos pesquisadores do perodo.

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    Brasil. Secretaria de Estado dos Negcios do Imprio e Estrangeiros: O Conselho de Estado e a poltica externa do Imprio: Consultas da Seo dos Negcios Estrangeiros, 1863-1867 (Rio de Janeiro: Centro de Histria e Documentao Diplomtica; Braslia: Funag, 2007, xxviii + 444 p.) Este volume se coloca no imediato seguimento de seu irmo mais velho, que cobria o perodo 1858-1862 (publicado pelo CHDD em 2005) e retoma, como aquele, casos relevantes que interessavam poltica externa do Imprio levados ao aviso do douto Conselho. Includos os temas consulares, todos eles informam sobre o exame cuidadoso e o tratamento srio que os rgos do Estado concediam s questes diplomticas. Muitos se referem s relaes com os vizinhos, inclusive em nossa posio de credor da Argentina e do Uruguai. As restries de ento internacionalizao da Amaznia parecem inteiramente atuais. Curioso registrar que, em 1864, Brasil e Argentina ainda discutiam os termos de um tratado definitivo de paz, depois da conveno preliminar de 1828. Naquele mesmo ano, a Gr-Bretanha continuava a reclamar reparaes por danos sofridos na revolta da Bahia de 1837. Bastante meticuloso, sem dvida, mas talvez um pouco lento, o nosso servio exterior do sculo XIX... Luiz Felipe de Seixas Corra (organizador): O Brasil nas Naes Unidas, 1946-2006 (Braslia: Funag, 2007, 768 p.) Trata-se de reedio, revista e sensivelmente ampliada, da coleo de pronunciamentos feitos na abertura de cada Assembleia Geral, j coletados previamente at o ano de 1995, no livro A Palavra do Brasil nas Naes Unidas, comemorando ento o primeiro meio sculo da ONU. Seixas Corra teve o cuidado de recolocar no contexto histrico essas exposies gerais sobre a postura do Brasil no cenrio internacional, examinando tambm as circunstncias que presidiram tomada de certas posies. De uma forma geral, esses discursos expressam tambm os valores da diplomacia brasileira e permitem ao pesquisador acompanhar a evoluo do pensamento oficial em temas de grande relevncia na agenda mundial. Muitos temas so previsveis: reforma da Carta, ingresso do Brasil no CSNU, prioridade latino-americana seguida da opo preferencial pela Amrica do Sul, integrao regional e apego ao multilateralismo e soluo pacfica de controvrsias. Algumas diferenas transparecem no perodo recente, como as menes s crises financeiras e globalizao, nos governos FHC, e a nfase na justia social e na correo das desigualdades, no primeiro mandato de Lula. Um excelente instrumento de consulta e uma boa ferramenta de trabalho para seguir a longa durao da viso do mundo do Brasil oficial.

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    Milton Torres: No Fim das Terras e Andaimes (Cotia, SP: Ateli Editorial, 2004 e 2006; 223 e 200 p.) Dois volumes, belssimos em sua composio grfica e ainda mais esplendorosos em seus respectivos contedos, da mais pura poesia douta, como classificou o prefaciador do primeiro. Este um passeio pela histria do Brasil e pelas relaes com nossos vizinhos ibricos e o grande irmo do norte. Poemas em espanhol, em ingls ou em portugus dantanho, evidenciando um domnio completo no s da lngua como dos itinerrios respectivos desses povos. O segundo uma verdadeira construo potica da histria do mundo, desde a mais remota antiguidade at um presente indefinido e indefinvel. O autor possui uma capacidade de viajar pelos sons, imagens e palavras raramente vista nos anais da poesia. Recomenda-se sorver com lentido cada um dos conceitos, meditando sobre seu significado no aparente, tentando descobrir o que est por detrs daquelas ideias sofisticadas, aparentemente barrocas, mas na verdade revolucionrias. xtase! Fernando Reis: Falta um co na vida de Kant (Rio de Janeiro: Objetiva, 2007, 251 p.)

    H quedas que valem por uma ascenso. Kant, para ser Kant, teve que esperar muito. O livro pleno de frases de efeito, aparentemente andinas, mas que revelam uma profunda reflexo sobre o sentido da existncia e das aes humanas. Pode-se at dizer que, antes de ser kantiano, este roman philosophique (stricto et lato sensi) propriamente kirkegaardiano, filsofo que tambm aparece nessa busca angustiante de um co para o professor de Koenigsberg. O cachorro uma espcie de metfora, para um dos romances mais saborosos j produzidos na linhagem de Machado de Assis, outra referncia filosfica e literria constante, alm de um monge chins. So 56 captulos curtos (mais um em branco), divididos em quatro volumes, um meio-tempo, uma prorrogao (para leitores insatisfeitos) e um alm-texto, que se chama assim mesmo. Enfim, Kant achou o co que lhe faltava na sua vida pacata? No meio do livro aparece um basset hound, mas o seu papel na formulao da crtica da razo pura fica para o leitor descobrir...

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    Flvio de Oliveira Castro: Caleidoscpio: cenas da vida de um diplomata (Rio de Janeiro: Contraponto, 2007, 516 p.) Raras vezes, nos anais do Itamaraty, memrias diplomticas tero sido escritas com tanta sinceridade, tamanha franqueza e total liberdade de pensamento como estes souvenirs de Flvio Castro. Ele relata, com perfeita clareza e sem as conhecidas sutilezas da linguagem profissional para no dizer as travas do politicamente correto , os bons e os maus momentos de uma longa carreira, de mais de 35 anos de vida ativa no servio diplomtico e consular, com passagens pela Presidncia da Repblica (Jango) e por uma infinidade de postos, em todos os continentes. No so apenas lembranas de festas e recepes, mas tambm passagens perigosas, implicando risco de vida, vrios desastres e furaces, vencidos com bom humor e uma excelente disposio para enfrentar mais de duas dezenas de postos, sempre acompanhado da famlia. Os episdios mais marcantes talvez tenham sido seus entreveros nas duas capitais: Rio de Janeiro e Braslia. Um diplomata 4x4, para todos os terrenos... Carlos Henrique Cardim: A Raiz das Coisas: Rui Barbosa, o Brasil no Mundo (Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 2007, 350 p.) Rui no foi um diplomata profissional, mas ele poderia, tranquilamente, ser considerado o pai intelectual da moderna diplomacia brasileira: ele nos legou um conjunto de posies que fazem parte do nosso corpo jurdico e que integram nossa tradio de poltica internacional. Esta monografia comprova que Rui foi muito maior do que o registrado na literatura da nossa poltica externa, mesmo sem ter deixado uma obra centrada nas relaes internacionais. Sua obra de ativo internacionalista est dispersa em centenas de artigos, pareceres, discursos, oraes e prelees jurdicas, mas sobretudo nas declaraes que fez, muitas vezes de improviso, na II Conferncia da Paz da Haia (1907). Cardim selecionou os expedientes e organizou um dossi abrangente sobre a atividade e o pensamento de Rui em temas internacionais; ele nos traz o defensor da igualdade soberana das naes, que ocupa lugar de destaque na atual diplomacia brasileira. O livro tem uma saborosa iconografia com charges dos mais famosos humoristas brasileiros de um sculo atrs.

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    Geraldo Holanda Cavalcanti: Encontro em Ouro Preto: contos fantsticos (Rio de Janeiro: Record, 2007, 188 p.) A maior surpresa destes contos do escritor, poeta, tradutor laureado e diplomata Geraldo Holanda Cavalcanti a de que eles so, efetivamente, fantsticos, mas... assustadoramente normais. As situaes inverossmeis, inexplicveis, surpreendentes, que povoam estes contos so absolutamente corriqueiras, at banais, na vida de cada um de ns, mas o resultado sempre uma surpresa, sem que se consiga, no comeo de cada conto, prever o seu final. O mais atraente, na escrita de Geraldo Holanda Cavalcanti, a fluidez do texto, a palavra atraente e certeira, mesmo quando ela reflete a ambiguidade de uma situao, e suas palavras geralmente o fazem, transmitindo essa situao de desconforto e de incerteza com o que pode vir a ocorrer com o personagem principal, nisso atiando nossa curiosidade para que logo cheguemos ao final do conto. Eles se leem, assim, rapidamente, mas a impresso que nos fica permanente. Com tudo isso fica a sensao de quero mais. A vontade que d, ao encerrar o livro, a de pedir ao autor que continue a nos enfeitiar com os seus, novos, contos fantsticos, assustadoramente normais... Lus Valente de Oliveira e Rubens Ricupero (organizadores): A Abertura dos Portos (So Paulo: Editora Senac So Paulo, 2007, 352 p.) Este livro coletivo seis autores portugueses e seis brasileiros, entre os quais dois diplomatas vai muito alm do ttulo reducionista, abordando todo o contexto poltico e econmico do sistema colonial, a disputa entre as potncias europeias, a transferncia da corte, em 1808, e suas consequncias, tanto para o Brasil, como para Portugal. Ricupero evidencia inclusive o que ele considera serem os pontos de contato entre, de um lado, o decreto de abertura dos portos e os tratados de 1810, e, de outro, o projeto da Alca, proposto pelos Estados Unidos em 1994. Paulo Roberto de Almeida faz uma anlise do contexto econmico colonial e da gradual emergncia de uma economia voltada para a acumulao interna, no contexto das relaes econmicas internacionais e dos processos de transformao do sistema econmico no incio do sculo XIX. Uma rica iconografia ilustra este livro, que fica como um marco comemorativo destes dois sculos desde o alvar libertador do comrcio.

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    Antnio Paulo Cachapuz de Medeiros (organizador): Desafios do Direito Internaciona