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A teologia da comunhão Um estudo exegético do Salmo 133 1

67338742 Exegese Teologia Da Comunhao No Salmo 133

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A teologia da comunhão

Um estudo exegético do Salmo 133

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SEMINÁRIO PRESBITERIANO RENOVADO BRASIL

CENTRAL

Por

Caleb Araújo de Oliveira

Teologia da Comunhão no Salmo 133

Uma análise do Salmo 133

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setembro 2011

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................4

TEXTO.......................................................................................................................................5

ANÁLISE MORFOLÓGICA..................................................................................................6

ESTRUTURAS LITERÁRIAS................................................................................................7

ESTRUTURAS POÉTICAS....................................................................................................8

ESBOÇO DO TEXTO..............................................................................................................9

PALAVRAS CHAVE.............................................................................................................10

COMENTÁRIO EXEGÉTICO.............................................................................................13

COMENTÁRIO TEOLÓGICO............................................................................................18

SERMÃO.................................................................................................................................22

CONCLUSÃO.........................................................................................................................25

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................................26

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INTRODUÇÃO

O Antigo Testamento esta repleto de lições para uma boa convivência em comunidade.

Porém o salmo 133 é mais específico em sua abordagem e pode trazer profundidade e

durabilidade em nossos relacionamentos. Esse salmo fazia parte do cotidiano israelita, é

integrante das canções litúrgicas e dos festivais do povo judeu (120-134). Atualmente vemos

grandes problemas na interpretação deste texto. Nossa missão é analisar todos os elementos

que está contido na composição deste poema. Este salmo pode responder nossas dúvidas

sobre os aspectos que englobam uma relação saudável nos âmbitos mais diversos de nossa

vida. Sua teologia torna-se relevante num contexto pós-moderno de grandes rompimentos nos

vínculos das pessoas, tanto na igreja como fora dela.

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TEXTO

~y[i_N"-hm;W bAJâ-hm; hNEåhi dwIïd"ñl. tAlª[]M;h;( ryviî WTT Psalm 133:1

`dx;y")-~G: ~yxiäa; tb,v,ÞBGT Salmos 133:1 wv|dh. tw/n avnabaqmw/n tw/| Dauid ivdou. dh. ti, kalo.n h' ti, terpno.n avllV h' to. katoikei/n avdelfou.j evpi. to. auvto,VUL Salmos 133:1 canticum graduum David ecce quam bonum et quam iucundum habitare fratres in unumARA Salmos 133:1 Cântico de romagem. De Davi Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!ARC Salmos 133:1 Cântico dos degraus, de Davi Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!NVI Salmos 133:1 [cântico dos degraus, de Davi] Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união.

drEªYOv,÷ !ro+h]a;-!q:)z> !q"ïZ"h;-l[;( drEªyO varoªh'-l[; ŸbAJ’h; !m,V,ÛK; 2

`wyt'(ADmi yPiî-l[;BGT Salmos 133:2 w`j mu,ron evpi. kefalh/j to. katabai/non evpi. pw,gwna to.n pw,gwna to.n Aarwn to. katabai/non evpi. th.n w;|an tou/ evndu,matoj auvtou/VUL Salmos 133:2 sicut unguentum in capite quod descendit in barbam barbam Aaron quod descendit in ora vestimenti eiusARA Salmos 133:2 É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão, e desce para a gola de suas vestes.ARC Salmos 133:2 É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.NVI Salmos 133:2 É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desce sobre a barba, a barba de Arão, e que desce à orla das suas vestes.

hw"hy>â hW"åci Ÿ~v'’ yKiÛ !AYðciñ yrEár>h;-l[; édrEYOv, !Amªr>x,-lj;K. 3

`~l'(A[h'-d[; ~yYI©x;÷ hk'_r"B.h;-ta,BGT Salmos 133:3 w`j dro,soj Aermwn h` katabai,nousa evpi. ta. o;rh Siwn o[ti evkei/ evnetei,lato ku,rioj th.n euvlogi,an kai. zwh.n e[wj tou/ aivw/nojVUL Salmos 133:3 sicut ros Hermon qui descendit in montes Sion quoniam illic mandavit Dominus benedictionem et vitam usque in saeculum ARA Salmos 133:3 É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião. Ali, ordena o SENHOR a sua bênção e a vida para sempre.ARC Salmos 133:3 Como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre.

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NVI Salmos 133:3 Como o orvalho de Hermom, e como o que desce sobre os montes de Sião, porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre.

ANÁLISE MORFOLÓGICA

WTT Salmos 133:1

Ryviî Subst. MSC = Canção

tAlª[]M;h

Artigo + Subst. FPA = de degraus

dwIïd"ñl.

Prep. + Subst. Prop. = Davi

hNEåh Interjeição = ver

bAJâ-hm

Pron. Interrog. + Adj. MAS = Que coisa boa

~y[i_N"-hm;W

Conj. + Pron. Interrog. + Adj. MAS = E como soa docemente

tb,v,Þ Qal Inf. Const. = habitar

~yxiäa;

Subst. MPA homony. = os irmãos

dx;y")-~G:

Conj. + Adv. = juntamente em união

WTT Salmos 133:2

!m,V,ÛK;

Prep. + Artigo + Subst. MAS = como o óleo

bAJ’h; Artigo + Adj. MAS hom. = o bom

varoªh'-l[;

Prep. Homo. + Artigo + Sub. MAS hom. = sobre a cabeça

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drEªyO Qal Partic. MAS = desce

!q"ïZ"h;-l[;(

Prep. Hom. + Artigo + Subs. SA = sobre a barba

!ro+h]a;-!q:)z>

Subs. SC + Sub. Prop. = barba Arão

drEªYOv,÷

Part. Relat. + Qal Part. MAS = desce

yPiî-l[; Prep. Hom. + Sub. MSC = sobre a boca

wyt'(ADmi

Sub. MPC Sufixo 3rd MS hom. = da sua roupa

WTT Salmos 133:3

!Amªr>x,-lj;K.

Prep. + Sub. MSC + Sub. Prop. = como o orvalho do Hermon

édrEYOv,

Part. Rel. + Qal Part. MAS = desce

yrEár>h;-l[;

Prep. Hom. + Sub MSC = sobre a montanha

!AYðciñ

Sub. Prop. = Sião

yKiÛ Conj. Hom. = porque

Ÿ~v'’ Adv. = ali

hW"åci Piel Perf. 3MS = ordena

hw"hy>â

Sub. Prop = o SENHOR

hk'_r"B.h;-ta,

Obj. Dire. Hom. + Artigo + Sub. FSA Hom. = a benção

~yYI©x;÷

Sub. MPA Hom. = e a vida

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`~l'(A[h'-d[;

Prep. Hom. + Artigo + Sub. MSA = por muito tempo

ESTRUTURAS LITERÁRIAS

a. Repetição:

É como... v.2, 3

Que desce...v.2b, 2c, 2d, 3a

Sobre...v.2b, 3b

b. Comparação:

Oh! Quão bom e quão suave é que os irmãos

vivam em união!

v.1

É como o óleo... v.2

Como o orvalho do Hermon... v.3

c. Causação:

Causa ------------------------------------------------------------- Efeito

v.1b v.3c

Viver em união é a causa que promove o efeito de se ter a benção e a vida de

hw"hy>â para sempre.

d. Climax:

`~l'(A[h'-d[; ~yYI©x;÷ hk'_r"B.h;-ta, hw"hy>â

hW"åci Ÿ~v'’v.3c - ...porque ali o SENHOR ordena a bênção e a vida para sempre.

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ESTRUTURAS POÉTICAS

e. Paralelismos

A repetição é uma das características da poesia hebraica, sendo que o paralelismo de

pensamentos sinônimos, antitéticos e sintéticos é uma dessas formas de repetição que são

colocadas em linhas sucessivas. O paralelismo sinônimo ocorre quando a segunda linha repete

ou parafraseia a primeira.1 O antitético ocorre quando a segunda linha expressa um

pensamento contrastante em relação à primeira.2 E o sintético, quando a segunda linha

expande a idéia expressada na primeira.3

A função dos paralelismos é enfatizar a mensagem proposta com propósito definido. É

importante ressaltar que o paralelismo hebraico aparece nos textos bíblicos com diversas

variações e ênfases diferentes.4

a. Paralelismos sinonímico

1b dx;y")-~G: X bAJ’h; 2a

1 Cf. Salmo 103. 3,9,10; 24.1-3; 15.1;2 Cf. Pv 10.1; 14.20; 14.28; Sl 1.6; 20.7-8; Is 54.7; 3 Esse tipo paralelismo ocorre diversas vezes nos salmos de degraus Sl 120-134. 4 Cf. ROSS, Allen P. Gramática do Hebraico Bíblico. São Paulo: Vida, 2005. p.355.

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ESBOÇO DO TEXTO

Introdução: v.1

1.1 Geral: 1b

1.2 Comparação 2a – 3a

1.3 Detalhes 2b – 3b

2. Aplicação. 3c

2.1 Comunhão é lugar da benção de Deus. 3c

2.2 Comunhão é o lugar aonde a abundância de vida. 3c

2.3 O SENHOR tem prazer em manifestar-se neste lugar. 3c

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PALAVRAS CHAVE

~l'(A[ Sub. MSA = por muito tempo

1. Continuidade, duração, tempo contínuo / longo, tempo /época vindoura, futuro,

eternidade, para todos os tempos, para sempre; tempo / época passada, tempos remotos,

passado, antiguidade.

2. Para sempre, sempre, eterno, para todo o sempre, perpétuo, antigo, mundo, etc.

3. Palavra provavelmente derivada de alam I, “ocultar”, apontando assim para aquilo que se

encontra oculto no futuro distante ou no passado distante. O Cognato ugarítico de ‘lm,

“eternidade”.

4. Conquanto ~l'(A[ seja usado mais de 300 vezes para indicar um prosseguimento

indefinido até o futuro distante, o significado da palavra não se restringe no futuro.

5. Pode expressar por si mesmo toda a gama de significados denotados por todas as

preposições, “desde os tempos mais longínquos até os tempos mais distantes”, i.e.,

assume o sentido de “tempo contínuo (ilimitado incalculável)”, “eternidade”.

6. Poderíamos, portanto, expressar melhor o “sentido básico” como uma espécie de varição

entre “tempo remoto” e “perpetuidade”.

bAJ’h; Artigo + Adj. MAS hom. = o bom

1. Bom (nos mais variados sentidos), agradável, desejável, em ordem, útil, adequado,

amável, bondoso.

2. Esta raiz refere-se ao “bem” ou à “bondade” em seus sentidos mais amplos. Podem-se

assinalar cinco áreas gerais de significado.

3. O bem prático econômico ou material.

4. A bondade abstrata, tal como a vontade de possuir, o prazer e a beleza.

5. Valor qualitativo ou preço elevado.

6. A bondade moral.11

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7. O bem filosófico.

8. Belo, que dá prazer, alegre, jubilante, precioso, correto, justo.

tb,v,Þ Qal Inf. Const. = habitar

1. Sentar-se, agachar, habitar, viver, ser habitado, estabelecer-se.

2. Sentar-se sobre algo.

3. Permanecer, ficar, demorar-se.

4. Morar numa casa, cidade ou território.

5. Ser habitado um local, cidade ou país.

drEªyO Qal Partic. MAS = desce

1. Maioria das vezes descer, ocasionalmente subir, precipitar, trazer / lançar para baixo,

fazer cair, ser levado para baixo, derrubar.

2. Descer, ir para baixo, baixar, marchar abaixo, pôr-se.

3. Em Teofania a descrição é de Deus descendo. Ele deixa sua morada e vem para

comunicar-se com o homem, quer diretamente através da palavra quer indiretamente

através de algum instrumento.

hW"åci Piel Perf. 3MS = ordena

1. Ordenar, mandar, dirigir, nomear, proibir, dar ordens, encarregar, colocar em ordens.

2. Provisão, alimento, suprir-se de provisões, ordenar, incubir.

3. A raiz designa a instrução de um pai para o filho (1 Sm 17.20), de um fazendeiro a seus

lavradores (Rt 2.9), de um rei a seus servos (2 Sm 21.14). Isso reflete uma sociedade

firmemente estruturada em que as pessoas tinham de prestar contas a Deus pelo direito e

de esperar sua obediência (Js 1.9, 16).

4. Deus ordenou que o mundo viesse a existir (Sl 33.9). Por essa razão todas as criaturas e

elementos obedecem às suas ordens. Deus também dirige o curso da História ao decretar

acontecimentos cruciais; na verdade, nenhum evento decisivo acontece sem que Deus o

ordene (Lm 3.37).

dx;y"): Adv. = juntamente em união

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1. União, comunidade, com cada um, juntos, ao mesmo tempo, completamente.

2. Tornar-se judeu.

3. Em união, junto, completamente.

4. Junto, igualmente.

5. (A LXX traduz basicamente por homothumadon, “de uma só mente, unanimamente”.

hw"hy>â Sub. Prop = o SENHOR

1. O tetagrama YHWH, o SENHOR JAVÉ, o nome pessoal de Deus e sua mais frequente

designação nas escrituras, 5321.

2. Caráter de Deus em suas obras e em suas descrições nas Escrituras.

3. O nome de Deus identifica sua natureza, de modo que um pedido para conhecer seu

“nome” equivale a uma pergunta sobre seu caráter.

4. Ele estava (aliança) no início e no fim.

5. As escrituras falam do tetragrama como o “nome glorioso e terrível”.

6. Um conceito escatológico.

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COMENTÁRIO EXEGÉTICO

a. Estrutura composicional

O segundo passo da tarefa exegética é determinar a estrutura composicional da

unidade literária, delimitando as cláusulas, analisando o relacionamento das cláusulas e

detectando a segmentação do parágrafo.5

b. Delimitando as cláusulas

1a Canção de degraus de DavidwIïd"ñl. tAlª[]M;h;

( ryviî

1b Vejam! Que coisa boa e como é agradável habitar os irmãos juntamente em união.

~y[i_N"-hm;W bAJâ-hm; hNEåhi

`dx;y")-~G ~yxiäa tb,v,Þ

2a Como o óleo o bom sobre a cabeçavaroªh'-l[;; bAJ’h; !

m,V,ÛK2b Desce sobre a barba !q"ïZ"h;-l[;( drEªyO

2c Barba Arão !ro+h]a;-!q:)z

2d Desce sobre a boca da sua roupa`wyt'(ADmi yPiî-l[;

drEªYOv,÷3a Como o orvalho do Hermon !Amªr>x,-lj;K.

3b Desce sobre a montanha Sião !AYðciñ yrEár>h;-l[;

édrEYOv3c Porque ali Ordena o SENHOR hk'_r"B.h;-ta ,hw"hy>â 5 BOSMA, J. Carl. Creation in Jeopardy: A Warning to Priests(Hosea 4.1-3). CTJ 34 (1999). p. 71.

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hW"åci Ÿ~v'’ yKiÛ,3d A benção e a vida por muito tempo `~l'(A[h'-d[; ~yYI©x;÷

c. Diagramando as cláusulas

E para esta análise devem ser focalizadas as conjunções e partículas que marcam o

início das cláusulas dando uma harmonia para toda a perícope, possibilitando o que Bosma

chama de “estabelecer e diagramar o arranjo hierárquico das principais cláusulas

coordenativas e subordinativas”.6

Quando à importância dessa diagramação das cláusulas Bosma diz: “que isto

providencia o molde para um esboço de sermão preliminar, ajudando o pregador a visualizar o

fluxo lógico e a idéia modelada do texto”.7

No Salmo 133, podem ser observados o uso da interjeição hNEåh, a partícula

preposicional K; e K., e o uso da partícula yKi “porque” marcando o final da perícope.

Primeiro a interjeição hNEåh, traduzidas normalmente por “eis” ou “olhe”, mas

podem fazer mais do que simplesmente ressaltar as coisas. Elas possuem outras nuanças.8

Demanda atenção de quem a ouve – “Veja!”. Ocorre mais de mil vezes.9

Em segundo lugar a partícula preposicional K; e K., elas são usadas da mesma

forma no início das cláusulas 2a e 3a, seu papel é dar sentido comparativo no texto, engloba

forma, quantidade, qualidade e grau. O salmista ilustra a comunhão com figuras distintas

porém maravilhosas quando contempladas.

Finalmente, a partícula yKi merece muita atenção, e ao descobrir a sua verdadeira

função dentro do referido texto dará grande esclarecimento no relacionamento das cláusulas.

A partícula é usada com várias funções sintáticas no hebraico bíblico,10 e devido à estas

6 Cf. Op. cit. p. 76.7 Cf. Op. cit. 76.8 ROSS, Allen P. Gramática hebraica. p.2099 HARRIS & ARCHER & WALTKE. Dicionário internacional de teologia do AT. pp. 363.10 Carlos Osvaldo propõe algumas funções da partícula: uso integrante, temporal, causal, concessivo, condicional, consecutivo e o uso adverbial ou enfático. Op. cit. pp. 144-45. Enquanto que William acrescenta outras funções exercidas pela partícula como: uso adversativo, asseverativo e recitativo. Op. cit. §§444-452. pp.

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variadas funções, Aejmelaeus denomina a partícula yKi como “partícula multipropósito”.11

Portanto, é importante definir qual função que essa partícula exerce neste verso

particularmente.

A função sintática de yKi em 3b, não é fácil de ser detectada com precisão, mas, o

que parece mais provável é que ela indique o uso consecutivo, ou causal explicativo.12 O uso

consecutivo pode ser percebido se julgarmos que o yKi está subentendido em 3c.

d. Segmentação e estrutura composicional

Com base na análise sintática e retórica, o próximo passo é descobrir a estrutura que

compõe a perícope estudada.

A cláusula 1a trata-se apenas do tipo de salmo e do autor, as cláusulas começam ser

analisadas pelo 1b. A cláusula 1b é marcada pelo pronome interrogativo hm essa partícula

expressa a intensidade do deslumbre do salmista ao ver os irmão unidos. A cláusula 2a indica

a descrição narrativa dos eventos e ações seqüenciais do Senhor com o seu povo. A

preposição K. marca o início das cláusulas 2a e 3a transmitindo um sentido de comparação,

a união dos irmãos é comparada pelo salmista a eventos extraordinários que ocorre na vida do

israelita.

A claúsula 3a marcada pela conjunção yK da sentido e inicia a conclusão de toda a

admiração do autor, as comparações anteriores servem apenas de ilustrações e mesmo assim

não conseguem explicar o quanto hw"hy>â se interessa por essa união. Essa cláusula

interpreta todo o salmo.

72-73. Muilenberg em seu artigo “The linguistic and rhetorical usages of the particle yKi in the old

Testament”, traz outras diferentes funções da partícula yKi no AT. Veja também no BDB 04474 yKi . Tanto Bromckelman como Pederson fala do o uso original dessa partícula como interjeição demonstrativa, mas Muilengerg acrescenta que ela é mais do que uma partícula demonstrativa. Cf. p. 136 em “The linguistic and rhetorical ......”.

11 Cf. AEJMELAEUS, ANNELI. Function and interpretation of yKi in biblical Hebrew. JBL 105/2 (1986) p. 193.

12 Veja BDB 04474 yKi16

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Com base nessa segmentação, a perícope do salmo 133 pode ser esboçada e

estruturada como segue:

1a Introdução

1b-3b Comparação (ilustração)

3cd Interpretação aplicativa (explicação)

e. Gênero literário

A busca do gênero literário é um aspecto indispensável para melhor compreensão do

texto.13

No primeiro verso do Salmo 133 o salmista intitula como um “cântico de degraus”.

Esse tipo de poesia era cantado enquanto o judeu subia em peregrinação para adorar a Deus

no templo. Lasor resume da seguinte forma os cânticos de degraus ou romagem:

Hinos de romagem descrevem os anseios e expectativas de peregrinos e adoradores à medida que se aproximam do templo. Alguns refletem os ardores da jornada, bem como o antegozo da benção (Sl 84; 122). Outros preservam uma “liturgia de entrada”, parte de uma cerimônia pela qual os peregrinos passavam por um teste de lealdade a Deus antes de serem admitidos no átrio do templo (15; 24). Cânticos como os salmos 132; 68.24-27 captam as procissões de adoradores em movimento, talvez acompanhados pela arca da aliança. (LASOR, 1999, p.470).

Os Salmos dos Degraus (120-134). São classificados da seguinte forma: a) Cânticos

cantados numa tonalidade mais alta; b) Cânticos cantados na subida da Arca da Aliança ao

Monte Sião. I Crônicas 13; c) Cânticos cantados no lugar mais alto do Templo; d) Um deles

foi cantado em cada degrau subindo ao Templo para adorar Deus; e) Fala da volta do relógio

do sol nos dias de Ezequias indicando que Deus deu mais 15 anos de vida a ele; f) Cânticos

cantados pelos judeus nas suas viagens ao Templo em Jerusalém. É esta que faz mais sentido.

Porque? Observe: A cidade de Jerusalém ficou nas montanhas da Judéia. Jerusalém por isso

ficou mais alto do que a terra ao seu redor. Êxodo 34:24. I Reis 12:27. Observe também o

Salmo 122 todo, mas em particular o v. 4. Então, quando o povo de Israel viajou a Jerusalém

para observar as festas eles cantaram estes salmos subindo ao templo em Jerusalém.

O Salmo 133 enquadra-se como um cântico de degraus. Em sua leitura fica evidente

que existe um movimento pelas declarações do salmista, óleo, orvalho, juntos os irmãos e

Sião evidenciam isso no texto. Além disso, este é um hino comunitário, essa característica

esta presente na maioria dos salmos. O semita era menos individualista do que o ocidental.

Ele era homem da estirpe e da comunidade diante de Deus no templo e na sinagoga do que na 13 Cf. BOSMA, Carl J. op. cit. p. 82.

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piedade pessoal. Principalmente as grandes festas, nas quais se celebrava a memória de

importantes intervenções de Deus na história da salvação e as peripécies do povo na guerra e

nas angústias, como também as necessidades e as experiências de salvação de cada um eram

ocasião e estímulo para compor e cantar salmos. Assim nos gêneros literários dos salmos se

encontram composições coletivas e individuais.

Como é natural, influíram de modo muito forte sobre as expressões de um salmo

também temas particulares, uma ocasião determinada ou uma situação extraordinária.

Determinadas intenções e elementos formais (motivos) podiam conferir-lhe um tom

característico. Cânticos semelhantes por esta ou aquela particularidade podem ser reunidos em

grupos.14

14 J.Shreiner, Palavra e Mensagem do A.T. pp.360.18

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COMENTÁRIO TEOLÓGICO

Introdução v.1

O primeiro verso trata-se de uma pequena introdução que o salmista faz certamente

observando os peregrinos que subiam para Jerusalém. A primeira partícula hNEåh expressa uma fascinação do autor ao contemplar um evento pouco comum e ele chama a

atenção do cultuante para apreciar esse momento. Na época em que este salmo foi escrito,

estava havendo uma desunião entre o povo de Israel para com os outros povos. Davi tinha

visto bastante desunião em seu tempo de modo que, quando a nação foi reunida, que gloriosa

era!

As próximas partículas dão sentido a expressão de admiração anterior. Os duplos

adjetivos que se seguem é o rompimento da fala do salmista enquanto aponta para este evento

bAJâ-hm e ~y[i_N"-hm;W ambos são sinônimos porém, com ênfases

diferente. Algo pode ser bom porém pouco agradável, mas a estrutura como se segue

demonstra uma harmonia a vista do salmista, nada é tão puro quanto essa união. A palavra

hebraica para agradável é usada de vários modos para a harmonia da música, para um campo

coberto de trigo e para a doçura do mel. A unidade é tão doce como o mel ou tão harmoniosa

como um cântico bem cantado. Confirmando este argumento aparece a expressão

dx;y")-~G: ~yxiäa; tb,v,Þ (viverem juntos os irmãos). O autor não se

contenta com a relação de irmão que existe entre o povo e salienta que essa ligação só tem

sentido se estes viverem unidos. Derek Kidner entende que essa cláusula tem um paralelo

quase idêntico em Dt 25.5, onde meramente se refere a uma família extensa que habita perto.

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Alguns, portanto, viram neste salmo uma exortação no sentido de restaurar ou preservar este

padrão social, ou como louvor pelas reuniões da famílias que as festas peregrinas

possibilitaram (nota-se a ênfase que se dá a Sião, 3). Este conceito é demasiadamente estreito.

Todos os israelita, inclusive até os endividados, os escravos e malfeitores (cf. e.g., Dt 15.3,

12; 25.3) eram irmão diante de Deus. Decerto, o salmo esta cantando, conforme o modo da

maioria das versões entendê-lo, o viver à altura deste ideal, dando profundidade e realidade à

palavra que se enfatiza “unidos”.15 Entendemos então que, essa declaração dx;y")-

~G: ~yxiäa; tb,v,Þ nos da uma direção natural para interpretar o texto: o

verso se refere à unidade do território de Israel. O salmo é uma expressão da benção da

unidade no reino davídico, prefigurando a benção do reinado de Cristo. A benção da unidade

é relatada na expressão “bom e agradável”.16

Logo, neste primeiro verso o salmista esta enfatizando a união a beleza da união nação

de Israel como todo (doze tribos) vivendo harmoniosamente. Ele não se refere somente ao

momento do culto como sendo o ápice dessa união, mas ressalta que a doçura estar em

preservar esse vínculo em toda esfera social, no cotidiano do judeu.

Comparações v. 2b – 3b

A partir do verso 2 temos as ilustrações que exemplificam o verso 1. Esse verso

compara a unidade de Israel com a unção sacerdotal. É comum acharmos comentários

alegóricos dos elementos individuais do texto como o óleo, a barba ou mesmo no verso 3 que

compara a comunidade israelita com o orvalho sobre o Hermon. Porém a intenção do autor é

comparar a relação do povo de Deus com os eventos como todo e não as partículas que a

envolve. Agostinho faz uma interpretação deste mesmo versículo detalhes do texto como “a

barba” como sendo um sinal de maturidade e coragem e a unção como sendo a mesma que

capacitou os apóstolos para o ministério.17 Jerônimo segue uma linha semelhante a de

Agostinho. Comentando o verso dois ele afirma: “Habilmente dito: “sobre a cabeça”. E “o

qual desce para a barba”. A barba é o sinal de hombridade porque por este sinal a natureza

distingue o homem da mulher. A cabeça simboliza a divindade, ou seja, Deus Pai; a barba

15 Derek Kidner, Salmos 73-150 introdução e comentário, pp. 462.16 Berlin em “A interpretação do Salmo 133”, considera este Salmo uma expressão escatológica. Ela diz: “o Salmo expressa a esperança da unificação do norte e do sul, com Jerusalém sendo a capital de um reino unido” (p.145). Dois fatores levaram Berlin a esta conclusão: seus pressupostos judaicos e a data avançada que ela crê que o Salmo foi composto.17 Santo Agostinho, Comentário dos Salmos, pp. 772.

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designa o homem. “Até” dizem as Escrituras “que cheguemos … à perfeita varonilidade”,

isto é, Cristo. Agora vejam o que o profeta quer dizer com: “É como o óleo precioso”. Assim

como as bênçãos do precioso óleo da cabeça – ou seja, do Hermon da divindade – desce

sobre a barba, desce sobre o homem perfeito que é Cristo, daquela mesma barba o mesmo

precioso bálsamo desce para a gola de suas vestes … Qual é o benefício para nós desta barba

que foi ungida e deste perfeito homem? … Se nós somos a veste de Cristo, nós vestimos a

sua nudez com nossa fé... 18 Porém, como já enfatizamos não é esse o propósito do autor.

Quando menciona a partícula !m,V,ÛK; (como o óleo) ele esta se referindo ao

momento da consagração do sacerdote. A unção de Arão particularmente foi um dos

episódios mais importantes que aconteceu em Israel, foi a partir desse evento que o povo teve

um representante que intercedia a Deus em seu favor. A função do sumo sacerdote era

oferecer aquilo para o qual foi divinamente designado por Deus, para executar os diferentes

ritos e cerimônias referentes à adoração a Deus, e ser um mediador entre Deus e homem.

O verso 3 complementa o 2 com mais uma evento fascinante em Israel, o orvalho que

cai no monte Hermon. Trata-se de um maciço rochoso situado ao sul-sudeste do antilíbano do

qual se separa um vale profundo e extenso, apresenta-se de forma de um circulo, que vai de

nordeste à sudeste. Explicando um pouco mais, para entender a geografia dessa região que

viram nascer a história do mundo bíblico: O Antilíbano é a cordilheira que se estende

paralelamente ao Líbano, separando das planícies de Bekaa. De todas as cadeias

montanhosas, é a que se posta mais ao oriente, pois desenvolve-se no nordeste ao sul-sudeste,

por quase 163 quilômetros, suas extensões e alturas são visíveis à partir do mediterrâneo; Seu

ponto culminante é o monte Hermon, com mais de 2.800 metros de altitude, possui neve em

seu cume e de lá o vento traz o orvalho. O Hermon é responsável pela fertilidade das terras

em sua volta. O gelo que cobre seu cume mantém as cheias dos ribeiros nas terras de Israel,

um deles chamado Banias, deságua no rio Jordão que é a fonte de água do sul ao norte das

terras israelitas. Ao contrário norte de Israel, o sul não possui um aquífero permanente e suas

terras são mais áridas, é o monte Hermon que possibilita irrigação das plantações também

nessas áreas. De certa forma, a riqueza de vida do Hermon se faz presente em toda a extensão

de Israel até as proximidades de Sião. Aquele “que desce” (como o óleo descendo … que

desce … que desce) traz bênção sobre todo Israel.

18 The Homilies of Saint Jerome in The Fathers of the Church, A New Translation by Sister Marie Ewald Washington D.C.:The Catholic University of America Press, 1963) 334-336.

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A segunda parte do verso 3 traz a conclusão de todo o argumento comparativo da

poesia começando com a partícula yKiÛ,. É do norte que emana todos os elementos de

benção e prosperidade para a vida da comunidade de Israel, porém vem de Sião a

organização espiritual do povo, ali Deus instituiu o sacerdócio e a monarquia, dois

ministérios que são as bases da unidade dos israelitas. Ambos servem como verdadeiros

mediadores, escolhidos de Iahweh. Qual é a bênção prometida? “Vida para sempre.” Berlin

conclui sua interpretação da seguinte forma: O país inteiro é retratado com um rosto

sacerdotal: do Hermon a Sião, da cabeça ao corpo. E para voltar à equação dos versos 2 e 3, a

terra é ungida com o orvalho assim como Aarão é ungido com o óleo da consagração. O país

não é somente unido, é também abençoado. O ponto focal da santidade e bênção é Sião,

porque lá o Senhor ordenou a sua bênção para sempre.19

Interpretação aplicativa (explicação) v. 3cd

Toda a estrutura do salmo culmina na última parte do verso 3. A união enfatizada pelo

poeta israelita nesse salmo possui algumas características marcantes que devem ser

mencionados.

Em primeiro lugar A unidade do povo de Deus cheira como um bom perfume não

somente as narinas do salmista, mas também para YHWH. Em segundo lugar Deus tem

prazer na união, a benção de Deus era condicionada a unidade e prejudicada sem ela.20 Em

terceiro lugar a benção de Israel não é temporária, não tem prazo de validade. Assim como o

sacerdócio é um ofício vitalício, e como o monte Hermon mantém os ribeiros de Sião

irrigados para sempre, é dessa forma também que Deus ordena a sua benção em Israel. Como

o orvalho que possibilita a boa colheita e traz vida sobre uma terra árida e desértica, Deus do

mesmo modo ordena a vida para sempre no lugar da comunhão. Em quarto lugar, a benção e

a vida mandada por Deus segue o mesmo movimento do óleo e do orvalho. O óleo não para

de ser derramado até que chegue a orla do manto e envolva todo o sacerdote. Dessa mesma

forma o orvalho do monte não para de ser derramado sobre a terra seca possibilitando as

cheias dos ribeiros e a irrigação de todo o plantio. É assim que desce a benção e a vida

ordenada por Deus de forma ininterrupta, elas mantêm a provisão de Deus e a capacidade de

19 Adele Berlin “On the Interpretation of Psalm 133,” 145.20 Mauro Meister, “ Salmo 133 - Interpretando o Texto Numa perspectiva Bíblico Teológica”, em Fides Reformata 2/1 (1997).

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longevidade para os irmãos, estes só serão completos e totalmente satisfeitos quando

estiverem unidos como um só corpo.

SERMÃO

Introdução:

Uma das maiores preocupações da sociedade hoje é como aumentar o relacionamento

entre as pessoas. Em uma era de globalização e franco desenvolvimento tecnológico as redes

sociais é que tomam contam do cyber espaço atraindo cada vez mais pessoas que querem se

comunicar e conhecer mais pessoas de forma rápida e dinâmica.

Essa modernização afeta também o povo de Deus de diversas formas, esfriando as

relações entre os irmãos e tornando cada vez mais subjetivo a maneira de congregar. Porém

não é dessa forma que Cristo pensou sua igreja e nem foi assim que nossos antepassados

esperavam que construíssemos vínculos saudáveis e duradouros.

Transição:

O salmo 133 é a resposta para a igreja que busca um crescimento nas relações entre as

pessoas. Foi escrito possivelmente por Davi e era sempre cantando nas romarias do povo de

Israel para o templo. O título, usualmente traduzido como “Cântico das Subidas”, é

relacionado a um grupo de cânticos usado por peregrinos nas procissões festivais.21 É nele

que encontramos a indicação mais lógica do provável contexto histórico do nosso texto. O

texto Massorético traz este título para o grupo de Salmos 120 a 134. Alguns acreditam que o

título pertencia primeiramente ao grupo como um todo e depois foi aplicado aos textos

individuais. Interessantemente, os Salmos 122, 124, 131 e 133 são associados ao nome de

Davi enquanto que o 127 é associado ao nome de Salomão.

21 Esta posição é comum e defendida por Calvino, Leupold, Delitzsch, Allen e Kirkpatrick.23

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Tema: Comunhão, lugar da benção de Deus

1. Ela atrai atenção v.1

a) Por ser agradável.

O salmista chama nossa atenção para cena que ele esta vendo. Para ele não é um evento

qualquer apesar de fazer parte do cotidiano israelita essa união tem um valor muito maior e

provoca um sentimento forte no coração do poeta. É agradável, isso por que existe uma

unidade na diversidade, são todos judeus, porém cada um com suas particularidades, seus

problemas, sonhos e anseios. Existe uma multiplicidade nessa relação, isso que torna mais

doce e atraente, contudo o implícito dessa agradabilidade não é o ajuntamento de diversas

pessoas e sim a qualidade e aquilo que os une.

b) Por gerar vínculos.

O que torna a comunhão mais doce é saber que o vínculo dessas pessoas é de uma

dimensão familiar. O salmista chama de irmão esses que estão unidos. Mesmo não sendo de

mesma filiação, eles são irmãos por pertencerem a mesma prole e essa gerada por Deus, a

vista do autor não basta somente fazer parte dessa família, eles devem estar unidos de forma

harmoniosa. Ser irmão é participar da vida do outro, comer junto, subir reunidos para casa de

Deus, se alegrando pelos seus grandes feitos ou lamentando pelas derrotas. Cada um

compartilhando suas dores e também suas felicidades.

Aplicação:

O que torna a igreja bonita e atraente, não são seus belos templos ou o conforto dos seus

prédios e sim as pessoas que fazem parte dela. São todos remidos pelo sangue de Cristo,

unidos nEle isso tudo por que foram adotados por Deus. Logo nossa relação não é mais de

amigos ou de conhecidos, não somos primos ou parentes, somos irmãos, pois temos o mesmo

Pai. Nessa família existem problemas diversos, quando um está chorando, todos devem chorar

e quando a festa todos devem festejar. É dessa forma que deveríamos chamar atenção

daqueles que não conhecem a Cristo. Essa é a maior propaganda da igreja.

2. Ela produz vida v.2-3

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a) Constante.

O salmista encontra em eventos distintos a forma de descrever por comparação essa

unidade. A unção sacerdotal como uma instituição de Deus para a relação com o seu povo e o

orvalho do Hermon que é a benção de Deus para sobrevivência do pasto de das lavouras.

Esses dois fatos possuem uma simples semelhança, todos eles estão em movimento, descem

constantemente, isso reflete o favor do Senhor para o seu povo. Tanto a unção desce sobre o

sacerdote e lhe da a consagração para representar todo o povo (irmãos) diante de Deus

assegurando dessa forma a saúde espiritual, como também o orvalho que desce sobre o

Hermon e garante a vitalidade de toda a nação.

b) Eterna.

A vida e a benção de Deus sobre a comunhão além de ser constante é eterna. A distinção

esta no fato de que aquilo que é eterno pode ter movimento ou não. Essas duas manifestações

de Deus são para sempre por que Ele tem prazer nessa união. Benção e vida para quem

conhece a Deus são essenciais para a existência do indivíduo e somente a comunhão pode

prover isso. Para o salmista vive mais aquele que vive em comunhão que está ligado a

alguém, Deus esta nesse lugar.

Aplicação:

A comunhão é fundamental para o povo de Deus, ela promove vida e o favor dEle. Deve

também ter um movimento constante, não pode ser parada e enfadonha, ao contrário, deve-se

estar em constante dinâmica. Essa união fica mais interessante quando se há uma convivência

no dia-a-dia do crente. Com uma família procura promover o bem-estar de cada integrante a

partir de ações conjuntas, assim também é necessário que os filhos de Deus relacionem-se o

tempo todo. Essas atitudes edificam cada membro e esses podem contar com a graça de Deus

para sempre. Deus esta interessado nesse povo que cultiva relacionamentos saudáveis e faz

com que sejam duradouros.

Conclusão:

A união dos irmãos (igreja) é essencial para que haja um crescimento saudável para toda

vida. A atratividade do corpo de Cristo está em como se comporta em seus relacionamentos.

Hoje existem muitas igrejas feridas e falidas por falta de um verdadeiro amor entre os irmãos.

Que possamos entender a partir desse salmo de uma vez por todas, somos uma família, temos

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um Pai estamos unidos em um só corpo e um só Espírito e devemos lutar para que essa

comunhão nunca se acabe, pelo contrário vamos adicionar mais dinamismo e amor para

experimentarmos todas as bênçãos de Deus reservada para sempre a nós.

CONCLUSÃO

Após o estudo desse salmo entendemos o quanto é importante advertir o povo de Deus

sobre manter a comunhão. Ainda mais em uma era de grandes mudanças e relativização dos

valores Bíblicos na sociedade.

Somos advertidos a não mais negociarmos com as influências de uma falsa relação de

um mundo pós-moderno, mas voltarmos a apreciar como os israelitas primavam e se

extasiavam com o ajuntamento de Israel. Isso provocava neles e também em Deus uma

afeição estritamente agradável.

É na comunhão que encontramos o favor Divino da benção e da vida, nela esta

eternamente o coração de Deus e a sua total atenção, bem como declina-se sobre ela todo o

dinamismo e amabilidade indispensáveis para a saúde tanto espiritual como física daqueles

que são filhos de Deus.

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