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Disciplina
METODOLOGIA DA PESQUISA
Disciplina METODOLOGIA DA PESQUISA
Vilson CARVALHO Revisada por Fabiane Muniz
www.avm.edu.br
Su
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05 Apresentação
07 Aula 1 Reflexões sobre o conhecimento
23 Aula 2 O valor do estudo
38 Aula 3 Afinal, o que é pesquisa?
61 Aula 4 O delineamento da pesquisa científica
94 Aula 5 A opção pela pesquisa de campo
114 Aula 6 O plano de pesquisa
137 Aula 7 Ética e pesquisa universitária
150 Plano de Pesquisa
152 Referências bibliográficas
Metodologia da Pesquisa
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Metodologia da Pesquisa é uma disciplina construída a partir do princípio de que não existe produção de conhecimento científico, senão através da pesquisa. Daí a necessidade de conhecermos os fundamentos e práticas metodológicas voltadas para a formação de um pesquisador de qualquer área. Ela pretende dar a você a chance de estudar diferentes estratégias e táticas indicadas nas diferentes fases do método científico: da problematização e coleta de dados até a possível comprovação ou não das hipóteses formuladas. No decorrer das aulas iremos analisar a produção científica em seus dois níveis: no âmbito da subjetividade do produtor do conhecimento e no âmbito da objetividade, ou seja, da ciência como instituição e prática social de um saber construído sob determinados moldes. Tenha a certeza de que sua pós-graduação seria incompleta se não tivéssemos oportunidade de caminhar nas veredas da investigação e da pesquisa. Por isso mesmo, desejamos a você uma excelente caminhada! Lembre-se de que você não está sozinho. Que a trilha comece...
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Este caderno de estudos tem como objetivos: � Conhecer o que seja pesquisa, sua importância para o
desenvolvimento científico bem como para responder a várias demandas sociais;
� Refletir sobre diferentes técnicas de estudo e coleta de dados com dicas práticas para vencer os desafios impostos pelo exercício da pesquisa;
� Analisar alguns dos principais tipos de pesquisa de modo a auxiliá-lo no processo de elaboração de trabalhos científicos e avaliação de pesquisas já efetivadas;
� E, por fim, auxiliá-lo na elaboração de seu plano de pesquisa e, consequentemente, na construção de sua monografia.
Reflexões sobre o Conhecimento
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Nesta primeira aula aprenderemos mais sobre o que seja conhecimento e as diferentes formas de conhecer. Além disso, teremos a chance de estudar a ciência como um conjunto de conhecimentos racionais, provisórios, obtidos metodicamente, sistematizados, verificáveis, expressos lógica e dedutivamente justificados por outros enunciados, para explicar, descrever e prever a realidade dos fenômenos. No decorrer desta aula, destacar-se-á a ideia de que a ciência não é um saber absoluto e sim um saber relativo às circunstâncias em que foi produzido a partir de um determinado objeto de estudo. Atente a esses pontos e bom estudo!
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: � Compreender melhor o que significa conhecer e analisar os
diferentes tipos de conhecimento existentes; � Distinguir com clareza as diferenças entre o conhecimento
científico e o chamado senso comum; � Ajudá-lo a refletir sobre até que ponto você tem adotado o
espírito científico em suas posturas e práticas como estudantes e pesquisador.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 8
O conhecimento
Comecemos nosso caderno com uma reflexão
sobre conhecimento. É possível entender o
conhecimento como o pensamento resultante da
relação que se estabelece entre o sujeito que conhece
(cognoscente) e o objeto a ser conhecido (cognoscível).
O sujeito é o ser humano e o objeto parte da realidade
com a qual convivemos ou do próprio homem. Assim é
possível afirmar que o conhecimento não nasce do
vazio e sim das experiências que acumulamos em
nossa vida cotidiana, através de experiências, dos
relacionamentos interpessoais, das leituras de livros e
artigos diversos. O conhecimento é diferente de uma
informação (dado bruto), ele é uma reflexão sobre a
informação e sua riqueza. É sabido que as nações que
conseguem se desenvolver mais e melhor são também
as que valorizam a produção e a disseminação de
conhecimento.
Vale ressaltar que o homem se distingue dos
demais seres vivos, de forma particular, pela
possibilidade de conhecer. Diferentemente de outros
animais, o homem é o único ser que possui razão, ou
seja, o homem tem a faculdade de avaliar, julgar,
ponderar ideias universais, estabelecer relações lógicas
de conhecer, de compreender, de raciocinar, sendo
também a capacidade de relacionar e ir além da
realidade imediata. De fato, os seres humanos são os
únicos capazes de criar e transformar o conhecimento;
de aplicar o que aprendem por diversos meios; os
únicos capazes de criar um sistema de símbolos, como
a linguagem, e com ele registrar nossas próprias
experiências dividindo-as com outros seres humanos.
De modo geral o desejo de conhecer as coisas é
inato se manifestando desde os primeiros anos de vida.
Ao entrar em contato com a realidade, o ser humano
Dica de leitura
Para um aprofundamento ainda maior sobre o conceito de conhecimento seria válido consultar outras obras sobre o tema, especialmente de Filosofia e de Metodologia da Pesquisa. Veja abaixo alguns bons exemplos: ABBAGNANO, N. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Mestre Jou, 1982; CERVO, A.e Bervian, P. Metodologia Científica. São Paulo: Prentice Hall, 2002. LAKATOS, E. & Marconi, M. Metodologia da Pesquisa. São Paulo: Atlas, 1983.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 9
imediatamente apreende essa realidade em relação ao
seu “EU”, à cultura e à história. O processo de conhecer
se manifesta de maneira tão natural que em alguns
momentos nem sequer nos damos conta de sua
complexidade. Desde cedo, nossos pais e professores nos
mostram a necessidade de aprender e conhecer o mundo,
e mais tarde, da necessidade de autoconhecimento. Neste
complexo processo, somos inseridos na “engrenagem” do
conhecimento do mundo considerado real, sem então
entendermos claramente o real significado de CONHECER.
Valendo-se de suas capacidades cognitivas, o ser humano
manifesta o desejo de conhecer o mundo em que se
encontra inserido.
Por ser fruto de uma relação entre sujeito e
objeto, o conhecimento é sempre relativo. Supõe um
ponto de vista, certos instrumentos e também limites
do sujeito que conhece. O conhecimento absoluto é
impossível, pois sua possibilidade implicaria num sujeito
sem limites – nem mesmo pessoais ou sócio-históricos
(Aranha e Martins, 2005). Isso fica ainda mais claro
quando nos deparamos com pessoas que privilegiam
suas crenças religiosas em relação a qualquer outro
conhecimento. Ou quando privilegiam o conhecimento a
partir da autoridade dos pais, professores, governantes,
líderes entre outros, lhes conferindo credibilidade.
Também os educadores e filósofos proporcionam
importantes elementos para o entendimento do mundo.
Porém, à medida que interagimos na relação com o
mundo, com os inúmeros campos e formas de
conhecimento, entramos num emaranhado de conceitos
e muitas vezes questionamos a validade daquilo que
anteriormente aceitamos como verdade.
Segundo Hessem (1999) pode-se afirmar que
existem cinco grandes formas de entender a relação
entre o sujeito e o objeto, visando à construção de
conhecimento:
Para refletir
É bem provável que você também tenha suas crenças de ordem religiosa ou não. Você já parou para pensar o quanto elas influenciam em sua percepção das coisas?
Para pensar
Uma das grandes funções da educação seria a de permitir ao educando, através do trabalho de formação de uma consciência critica um novo olhar sobre a realidade. O que você pensa sobre isso?
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 10
� O objetivismo defende que o objeto
determina o sujeito e influencia na construção
de conhecimento do sujeito.
� O subjetivismo, contrário ao objetivismo,
defende que a construção de conhecimento se
dá no próprio sujeito (consciência em geral),
pois é o próprio sujeito que produz e dá
forma ao objeto.
� O realismo sustenta a tese de que o objeto
existe independentemente do sujeito. O
objeto é o ponto de partida do ato do
conhecimento. A independência dos objetos,
em relação à consciência do homem é real,
uma vez que o objeto pode modificar-se
independentemente da ação do homem.
� O idealismo, contrário ao realismo, defende
que não existem objetos reais, independentes
da consciência do homem, mas sim como um
produto do pensamento do homem. Vai-se do
pensamento para a análise do objeto;
� O fenomenalismo, por sua vez, estabelece
uma relação entre o realismo e o idealismo,
pois considera que os objetos existem por
meio da nossa consciência, mais do que isso,
é moldado pela própria consciência do sujeito.
Existem diferentes tipos de conhecimento.
Vejamos aqui alguns dos mais conhecidos:
CONHECIMENTO INTUITIVO
O termo “intuição” tem sua origem no latim in
tueri e significa “ver em”, “contemplar”. Na verdade a
intuição é uma modalidade de conhecimento que, pela
característica de tentar entender o objeto sem “meio”
ou intermediários das comparações, assemelha-se ao
Você sabia?
No decorrer da história muitos filósofos deram primazia a um dos dois pólos na relação de conhecimento ao sujeito ou ao objeto. Isso fica claro ao estudarmos essas cinco formas de conhecimento relatadas por Hessem (1999) destacadas nessa página.
Dica do professor
Dedique especial atenção aos diferentes tipos de conhecimento assinalados, pois este assunto será essencial para compreender de uma forma mais ampla o que seja ciência.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 11
fenômeno do conhecimento sensorial, especialmente da
visão. Contudo o conhecimento intuitivo é de ordem
subjetiva e não empírica.
Para Aristóteles o ser humano pode e consegue
conhecer as coisas que o cerca justamente porque tem
uma capacidade para enxergar e intuir os princípios
que regem os fenômenos. É dotado de uma visão
interior, que se traduz por uma capacidade de ver o
que é essencial dentro dos dados da experiência
sensorial. Essa visão poderia ser definida como
intuição.
É fácil entender uma intuição sensorial. Quando
pensamos que os sentidos não analisam, não
comparam e não julgam, por exemplo, o conhecimento
que se tem da temperatura da água de uma vasilha em
temperatura ambiente. Contudo, através da intuição
temos uma ideia da temperatura no instante em que se
a toca com a mão; outro exemplo é a emoção do
prazer que se experimenta em uma determinada
situação. Trata-se de um dado de experiência interna
apreendido imediatamente e que associamos a outras
experiências de modo intuitivo.
A percepção, cujo objeto passa para a mente
sem necessidade de um conhecimento prévio, tem sua
origem na experimentação e no sentir mediante as
sensações transmitidas pelos órgãos dos sentidos:
visão, audição, tato, gustação e olfato; a este processo
denominado conhecimento intuitivo sensorial.
Entretanto, o conhecimento intuitivo sensorial
não se realiza exclusivamente pela experiência de
fenômenos externos, visto que existe outra experiência
interna, a qual denominamos de reflexão, que pode ser
entendida como a ação de examinar o conteúdo por
meio do entendimento, da razão.
Você sabia?
A palavra saber vem do latim “sapere” que também significa sabor. Portanto, aprender algo pode muito bem ser comparado como saborear algo como destaca Rubem Alves.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 12
A experiência externa utiliza os órgãos dos
sentidos para a apreensão do objeto e a experiência
interna limita-se a comparar os diferentes dados da
experiência externa. Contudo é possível através da
reflexão intuir (ter uma ideia) se fará sol ou chuva ou
ainda se alguém concordará conosco ou não.
Evidentemente, como qualquer tipo de conhecimento,
ele poderá ser verídico ou não. Só o tempo e a
experiência dirão se a intuição foi verdadeira ou falsa.
Dentre as vantagens desse tipo de conhecimento
poderíamos destacar:
� A possibilidade de formular juízos e ideias
rápidas diante de situações que exigem
agilidade independente das experiências
sensoriais;
� Permitir que o homem vá além das
experiências sensíveis formulando juízos com
base em experiências anteriores ou no bom
senso;
� Favorecer o pensamento através de uma
reflexão interior.
CONHECIMENTO EMPÍRICO OU DE SENSO COMUM
Também conhecido como conhecimento sensório
ou vulgar, o conhecimento empírico é o conhecimento
popular. Nesse caso o universo dos objetos físicos é
conhecido pela sensação de suas características. Trata-
se de um conhecimento que se obtêm ao acaso, ele não
é metódico ou sistemático, resultando muitas vezes em
diversas tentativas de ensaio e erro. Todo ser humano,
no transcurso de sua existência, vai acumulando
conhecimentos daquilo que viu, ouviu, provou, cheirou
Importante
Para os empiristas não existe conhecimento a priori, sendo a única fonte de conhecimento a experiência sensorial.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 13
e pegou; vai acumulando vivências,vai interiorizando as
tradições da cultura da comunidade.
Na verdade, estas experiências que não
atendem critérios e sistemas são ingênuas por sua
visão global e, sobretudo, desprovidas de críticas e
demonstrações, porém oferecem informações de
tradições dispensando as análises de credenciais de
testemunhos, embasando-se nos fundamentos das
crenças tradicionais de uma comunidade.
É óbvio que todo ser humano bem informado
traz consigo “conhecimentos” de “psicologia”,
“farmacologia”, especialmente algumas mulheres que
já tiveram filhos, se vêem “habilitadas” para dar
gratuitamente “consultas” e “receitas infalíveis” para as
cólicas do recém-nascido e para qualquer dor de
cabeça, tem conhecimento de um comprimido ou chá
eficaz para o alívio; entretanto, ignoram a composição
do comprimido, a natureza da dor de cabeça e a ação
do medicamento. E é isto que caracteriza o
conhecimento vulgar ou empírico, pois o conhecimento
das coisas ocorre superficialmente, seja por informação
ou experiência casual (ações não planejadas).
Cabe ressaltar que, para qualquer homem, a
porção maior de seus conhecimentos pertence à classe
do conhecimento vulgar. Ninguém precisa estudar
lógica e aprofundar-se em teorias sobre validação
científica da indução ou nas leis mais formais do
raciocínio dedutivo para ser natural e vulgarmente
lógico; ninguém precisa devotar-se aos estudos mais
avançados da psicologia e qualquer outra ciência de
saúde para integrar-se na família, no trabalho, na
sociedade; ninguém precisa ser teólogo para adotar
uma religião e ter suas convicções mais profundas da
ciência, uma vez que as convicções são subjetivas e se
Você sabia?
Durante um longo período de tempo a ciência priorizou o conhecimento científico em detrimento do conhecimento dito vulgar. Contudo, hoje sabe-se que sérias pesquisas no campo científico só foram possíveis graças a constatações do senso comum.
:: Teorias:
Nome dado ao sistema organizado de leis, hipóteses, conceitos, definições interligadas e coerentes. A teoria especifica a causa ou mecanismo subjacente responsável pela regularidade descrita na lei. Ex: Teoria Geocêntrica sustentada por Aristóteles, Euclides e Ptolomeu, que foi substituída pela Teoria Heliocêntrica sustentada por Copérnico e Galileu.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 14
traduzem por uma absoluta fixação de enunciados
evidentes ou não, verdadeiros ou não.
Vejamos alguns exemplos de aplicações
resultantes do conhecimento Empírico:
� A invenção da roda;
� A descoberta do fogo;
� A medicina popular.
CONHECIMENTO FILOSÓFICO
A palavra “filosofia” tem sido empregada com
significados muito diferentes entre si. O significado
etimológico rigoroso da palavra de origem grega; quer
dizer “amor ao conhecimento”. A tarefa básica do
conhecimento filosófico é a reflexão continuada. Os
antigos gregos chamavam de “filósofos” aqueles
homens mais sábios, que apresentavam as explicações
mais razoáveis na sua época para os mistérios da
natureza, do pensamento, do universo.
O conhecimento filosófico é caracterizado pela
coerência lógica da argumentação, isto é, da trama dos
conceitos articulados em determinada formulação de
ideias. Na construção desse tipo de conhecimento não
há necessidade de uma confirmação experimental. Ele
se distingue do conhecimento científico pelo objeto de
investigação – constituído por realidades que muitas
vezes escapam aos sentidos e a experiência – e pelo
método que se baseia basicamente na interrogação
continuada.
A Filosofia procura compreender a realidade em
seu contexto mais universal. Não traz soluções
definitivas para o grande número de questões, contudo
leva o ser humano a fazer uso de suas faculdades para
ver melhor o sentido da vida (Cervo e Berviam, 2002).
Dica do professor
Um exemplo muito simples desse tipo conhecimento seria o seguinte: A chave está emperrando na fechadura e, de tanto experimentarmos formas de abrir a porta, acabamos por descobrir (conhecer) um jeitinho de girar a chave sem emperrar.
:: Método:
A palavra método originou-se do grego “methodos”, que significa caminho.
Dica de leitura
Para ter acesso a uma leitura facilitada sobre o tema leia a obra: CORDI, C. et al. Para Filosofar. São Paulo: Scipione, 1996.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 15
O campo da filosofia ultrapassa o campo de todas as
ciências. Sua dimensão totalizadora abarca todas as
ciências sem, contudo, pretender substituí-las no
estudo particular de seus objetos específicos.
Veja alguns exemplos de aplicações decorrentes
do conhecimento Filosófico:
� A Matemática;
� A Teoria do Conhecimento;
� A Lógica.
CONHECIMENTO TEOLÓGICO OU DE FÉ
O conhecimento teológico ou de fé se detém na
opinião de terceiros, de modo especial através da
chamada “revelação”. Existem objetos da realidade a
nossa volta que escapam tanto aos nossos sentidos
quanto ao nosso raciocínio, impedindo assim, que deles
tenhamos dados empíricos ou lógicos. Por exemplo:
não sabemos ao certo o que alguém está pensando ou
sentindo, assim como não sabemos o que acontecerá
conosco depois de nossa morte biológica. Nesses casos
lidamos com essa realidade através da opinião de
terceiros (revelação) aceita como verdade.
O conhecimento revelado ocorre quando há algo
oculto ou um mistério. Aquele que manifesta o oculto é
o revelador – que pode ser o homem ou o próprio
Deus. Em geral a fé teológica está ligada a alguém que
testemunha Deus diante de outras pessoas, isto é,
alguém que vive o mistério divino, que tem
conhecimento dele e o revele a outra pessoa. Uma
igreja seria constituída por um conjunto de pessoas
que vive esse milagre, acredita no mesmo e dá
testemunho deste a outros.
Importante
Ao contrário dos empiristas, os racionalistas defendem que o verdadeiro conhecimento não é fruto de uma experiência sensorial, mas se dá através de uma argumentação racional baseada em axiomas.
Importante
Este tipo de conhecimento é adquirido a partir dos axiomas da fé teológica. É fruto da revelação com uma divindade diretamente ou através de indivíduos inspirados.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 16
As verdades do conhecimento teológico estão
dispostas em textos como a Bíblia e o Alcorão, ou
ainda na tradição que nos é transmitida por terceiros.
Não adianta queremos buscar evidências para a
Eucaristia ou a realização de um milagre. Ou se
acredita naquilo, através dos textos sagrados, como
dogma, isto é uma verdade inquestionável, ou não.
Como afirma Ruiz (1980):
Se tudo o que está na Bíblia encerra a própria ciência divina comunicada por Deus aos homens; se Deus merece todo crédito e exige que os homens revelem sua palavra, que não se procure a evidência dos conteúdos da revelação divina, mas que se aceite o dogma porque assim foi divinamente revelado.
(p. 33)
O conhecimento teológico supõe uma autoridade
e uma lógica acima da compreensão humana, isto é,
uma lógica e uma compreensão divinas. A teologia não
demonstra o dogma, clama para a autoridade divina
que o revelou e exige um voto de confiança (fé). A
teologia mostra a existência e a necessidade de uma
especial iluminação divina para que o fiel consiga
conhecer a verdade divina da revelação. A fonte e o
objeto de estudos da teologia são os livros sagrados.
A ciência, nascida da razão, só admite o que foi
provado, na exata medida em que se podem comprovar
experimentalmente, promovendo desta forma, o
conhecimento, a partir da evidência dos fatos. A
Filosofia por sua vez também valoriza a lógica e os
dados racionais. Já o conhecimento teológico exige a fé
que brota do desejo e da submissão, a partir da
autoridade divina. Por isso tanto a ciência quanto a
Filosofia, não se baseiam no conhecimento de fé.
Como contribuições advindas do conhecimento
teológico ou religioso poderíamos citar:
:: Ciência:
Segundo Ander-Egg (1991): “A ciência é um conjunto de conhecimentos racionais, certos ou prováveis, obtidos metodicamente, sistematizados e verificáveis, que fazem referência a objetos de uma mesma natureza”. (Ander-Egg apud Lakatos, p. 15) Para Trujillo (1982): “A ciência é todo um conjunto de atitudes e atividades racionais, dirigidas ao sistemático conhecimento com objeto limitado capaz de ser submetido à verificação”. (p. 8).
:: Alcorão:
O Alcorão é o livro sagrado dos muçulmanos e a Bíblia o livro sagrado dos cristãos.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 17
� O desenvolvimento dos valores morais;
� A criação de princípios e teses sobre o sentido
da vida;
� O cultivo da caridade e da esperança.
CONHECIMENTO CIENTÍFICO
O conhecimento científico vai além do fenômeno
em si, se voltando para suas leis, causas e
consequências, através capacidade de analisar, de
explicar, de desdobrar, de justificar; de induzir ou
aplicar leis, de predizer com significativa e em alguns
fenômenos com absoluta margem de segurança,
eventos futuros.
Para Cervo e Berviam (2002), até a Renascença
o conhecimento científico era tido como o
conhecimento obtido a partir de um rígido sistema de
proposições rigorosamente demonstradas, constantes e
gerais que expressavam as relações existentes entre os
seres vivos. Trata-se de um conhecimento resultante
da demonstração e da experimentação que só aceitava
como verdadeiro aquilo que fosse comprovado. Hoje a
concepção de ciência mudou. É óbvio que ela contínua
valorizando a razão, a sistematização e a comprovação
através da pesquisa, contudo sabe-se que a ciência não
é algo acabado, definitivo e infalível. Não sendo de
forma nenhuma “a posse de verdades imutáveis” (p.
9).
Atualmente a ciência é entendida como:
uma busca constante de explicações e de soluções, de revisão e de reavaliação de seus resultados, apesar de sua falibilidade e de seus limites.
(Id., p. 10)
Citaremos algumas características do
conhecimento científico:
Dica do professor
Atente para cada uma dessas características citadas nessa página. Certamente você as utilizará no desenvolvimento de seus trabalhos acadêmicos, como a monografia que irá elaborar.
:: Leis:
Regras de como a natureza se comporta. Enunciados generalizadores que descrevem relações constantes entre os fenômenos. Ex: Lei da queda livre, Leis de Newton, Lei da Conservação da Matéria
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 18
� Explica os fenômenos;
� É sistemático e metódico;
� É crítico, rigoroso e objetivo;
� Se consolida na certeza das leis
demonstradas;
� Procura as relações entre os componentes do
fenômeno para enunciar as leis gerais e
constantes que regem estas relações;
� Justifica e demonstra os motivos e
fundamentos de sua certeza;
� Estabelece leis válidas para todos os casos da
mesma espécie que venham a ocorrer nas
mesmas condições;
� Resulta de um processo complexo de análise
e de síntese;
� Fundamenta-se na objetividade e evidência
dos fatos.
SOBRE O ESPÍRITO CIENTÍFICO
O tão falado “espírito científico” pode ser
entendido como uma atitude ou disposição subjetiva
que busca constantemente novas soluções, com
métodos adequados, para problemas e interrogações
que caracterizam a pesquisa.
ALGUMAS APLICAÇÕES RESULTANTES DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO
Nos últimos 350 anos de história da humanidade constatamos que a Terra é um planeta; que o Sol é uma estrela de quinta grandeza, que as órbitas dos planetas são elípticas, que os corpos biológicos são compostos de células, que os corpos físicos se formam e se sustentam em várias cadeias de átomos, que a luz é um fenômeno físico, dentre outras inúmeras descobertas, estimamos que o homem teria de 20 a 25 mil genes dentre outras inúmeras descobertas. Entendemos certas leis do universo e criamos instrumentos e ferramentas que ampliaram nossos sentidos e elevaram nossa qualidade de vida. Todas essas descobertas e invenções servem para exemplificar a importância do chamado ESPÍRITO CIENTÍFICO.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 19
De um modo geral o espírito científico, na
prática, traduz-se por uma mente crítica, objetiva e
racional;
A objetividade é uma característica básica do
espírito científico. O que vale não é o que o cientista
imagina ou pensa, mas sim o que realmente existe. A
objetividade do espírito científico não aceita soluções
parciais ou pessoais – o “eu acho...”, ou “penso ser
assim...”; não satisfazem à objetividade do saber
científico.
Para o pesquisado português Lobo Vilella
(1959):
O que caracteriza o espírito científico é a meticulosidade que põe na observação dos factos, a argúcia com que descobre analogias e relações pouco aparentes, a disciplina com que submete as suas interpretações à verificação experimental, o sentido estético da harmonia interna do mundo, o amor desinteressado da verdade.
(p.15-16)
QUALIDADES DO ESPÍRITO CIENTÍFICO
A partir do que aprendemos sobre o espírito
científico podemos apontar algumas de suas principais
qualidades:
� Virtude Intelectual:
Senso de observação, gosto pela precisão e
pelas ideias claras. Imaginação ousada, mas regida
pela necessidade da prova.
� Curiosidade:
Leva o sujeito a aprofundar os problemas na
sagacidade e poder de discernimento.
Importante
Por isso no que se refere à escrita de qualquer trabalho acadêmico não se deve usar termos como “eu acho”, “penso”, “acredito”, “deve ser isso”, pois os mesmos fogem a objetividade científica fazendo com que o trabalho se assemelhe a opiniões de senso comum ou crenças pessoais.
Dica do professor
Tais qualidades podem ser traduzidas como ferramentas que deverão ser empregadas por você na elaboração de seu trabalho monográfico ou qualquer outro tipo de trabalho científico que pretenda desenvolver. Esperamos que nossa disciplina apenas reforce em você estas qualidades, de modo a fortalecê-las ainda mais.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 20
� Humildade:
Moralmente o espírito científico assume a atitude
de humildade e de reconhecimento de suas limitações, das
possibilidades de certos erros e acertos e enganos.
� Imparcialidade:
O espírito científico é imparcial. Não torce os
fatos. Respeita escrupulosamente os fatos.
� Não é acomodado:
Procura manter sempre em constante estado de
vigília a curiosidade e a postura investigativa necessário
ao desenvolvimento de uma pesquisa.
� Honestidade:
Não admite como seu o que os outros já fizeram
(Plágio); busca se comprometer com a verdade dos
fatos que investiga.
� Coragem:
Enfrenta os obstáculos e perigos que uma
pesquisa possa oferecer.
� Ética:
Assume a atitude de humildade e de
reconhecimento de suas limitações, da possibilidade de
cometer erros e enganos e de reconhecer outros
trabalhos científicos tão ou mais importantes do que o
seu.
RESUMO
Vimos até agora:
� Estudamos o significado de conhecimento
enquanto uma relação entre sujeito e objeto
através da análise de cinco de suas
expressões: conhecimento intuitivo, empírico,
filosófico, de fé e científico;
Para refletir
Quais dentre as qualidades citadas você considera mais desafiadoras? Que outra qualidade você julga ser importante para os que desejam cultivar um espírito científico? Não deixe de ir registrando suas reflexões. Busque resolver os exercícios abaixo e até nossa próxima aula.
Aula 1 |Reflexões sobre o conhecimento 21
� Aprendemos a diferenciar e reconhecer
propriedades comuns entre os cinco tipos
mais conhecidos de conhecimento;
� Destacamos o papel do conhecimento
científico como um tipo de conhecimento
diferenciado que se pauta em uma
metodologia própria e foi fundamental para o
desenvolvimento da sociedade;
� Por fim, refletimos juntos sobre o que seja
espírito científico, suas características e a
importância de seu cultivo por parte daqueles
que desejam ingressar no terreno da pesquisa
e contribuir para o desenvolvimento da
ciência.
22
O Valor do Estudo
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Nesta segunda aula iremos aprender sobre diferentes estratégias de acesso a informação e produção do conhecimento através do estudo. A chave para a elaboração de uma monografia de qualidade é o estudo prévio que fundamenta o trabalho, fornece novas ideias ao pesquisador e o auxilia no sentido de perceber a relevância e a originalidade do trabalho a ser desenvolvido. No decorrer da aula, serão destacados pontos importantes para que você possa estudar melhor trazendo uma série de dicas que irão auxiliá-lo desde a preparação exterior do local de estudo até a preparação interior do aluno no sentido de estimular funções mentais superiores como atenção, memória e criatividade. Aproveite as dicas fornecidas nesta aula não apenas para a preparação de sua monografia, mas em seu curso como um todo visando o aperfeiçoamento de seus estudos.
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: � Reconhecer a importância do estudo e adquirir dicas sobre
como torná-lo mais eficiente aplicado à produção de um trabalho monográfico;
� Conhecer técnicas voltadas a práticas de estudo como produção de fichas, esquemas, resumos e outros;
� Ajudá-lo a aperfeiçoar seus estudos e aprimorar seu senso científico.
Aula 2 |O valor do estudo 24
O hábito de estudar
Um dos principais objetivos dos cursos
universitários é o de desenvolver nos estudantes o
espírito científico coletivo marcado pela produção
acadêmica. Entretanto, nada se conseguirá neste
sentido se os iniciantes em trabalhos científicos não
tiverem adquirido hábitos de estudo sistemáticos
através da utilização de métodos e técnicas adequadas
e previamente estipuladas.
Desse modo, a primeira etapa que o aluno
precisa vencer para se tornar um estudioso é conhecer
e utilizar procedimentos que facilitem os seus estudos.
Pesquisas realizadas comprovam a validade de tal
afirmativa. Completando tal observação, Severino
(1994) adverte que o ensino superior exige dos
universitários:
� Autonomia no processo de aprendizagem e
postura de autoatividade didática rigorosa,
crítica e criativa;
� Projeto de trabalho intelectual individualizado,
apoiado em material didático e científico que
se constitui, basicamente, na bibliografia
especializada.
Sobre a pesquisa bibliográfica e formação de um
acervo pessoal, vale aqui algumas dicas:
Existem livros fundamentais (às vezes clássicos)
nas diferentes áreas do conhecimento que devem ser
adquiridos ou pelo menos pesquisados;
A assinatura de revistas especializadas é um
hábito a ser cultivado, uma vez que os relatórios de
pesquisa e as descobertas nas diferentes áreas do
Dica do professor
Repare que mesmo nos cursos a distância, como é o caso deste que você está fazendo, estas exigências permanecem. Por isso se você quer ser bem sucedido em nossa graduação atenção as mesmas, OK?
Dica do professor
É interessante cultivar o hábito de tirar uma cópia de matérias de jornais ou revistas, uma vez que estas também podem ser aproveitadas futuramente em seus estudos e quem sabe até no seu trabalho monográfico. Procure arquivar as mesmas por assunto de modo a facilitar sua consulta e aproveitamento posterior. Esta é, portanto, uma dica barata e eficiente.
Aula 2 |O valor do estudo 25
conhecimento, antes de aparecerem em livros, são
publicadas em revistas e jornais. As revistas também
oferecem a oportunidade de se ampliar a bibliografia
sobre determinado assunto com novas e atualizadas
referências.
É importante que o estudante universitário
acostume-se com o ambiente das bibliotecas, embora
em algumas delas o acervo seja limitado e pouco
renovado. De qualquer maneira, o estudante deve
frequentá-las, explorá-las. No caso das bibliotecas
universitárias, é lá se encontram obras de referência
geral, periódicos, livros, dissertações de mestrado,
teses de doutorado etc.
As bibliotecas são organizadas no sentido de
auxiliar os leitores e pesquisadores. Assim, seu acervo
se apresenta classificado por assunto, título e autor,
em fichas individuais reunidas em fichários por ordem
alfabética. Nas fichas, além de dados sobre a obra e o
autor, está registrada a referência da obra (código da
biblioteca), através da qual ela é localizada nas
prateleiras. Muitas bibliotecas são informatizadas
oferecendo uma alternativa de organização mais
moderna.
Atualmente existem uma série de revistas e
artigos eletrônicos que vale a pena consultar e
conhecer melhor de forma rápida, prática e dinâmica.
As chamadas bibliotecas virtuais, por exemplo, são
uma forma bastante otimizada e eficiente de ter acesso
a uma bibliografia atualizada sobre aquilo que o
estudante pesquisa. Mesmo tendo o devido cuidado de
citar apenas sites confiáveis, é impossível deixar de
considerar a grande quantidade de material disponível
na internet que ainda sequer foi publicado. É possível
ainda ter acesso a várias obras disponibilizadas na íntegra
na internet por um preço bem mais acessível do que se
estas fossem adquiridas.
Aula 2 |O valor do estudo 26
Além do estudo, através de fontes bibliográficas
e webgráficas, outras modalidades de aprendizagem e
estudo são os encontros, seminários, congressos,
palestras, mesas redondas etc., que devem
acompanhar o estudo pela vida toda. A princípio como
participante, em seguida fazendo pequenas
comunicações e, no decorrer da vida profissional,
integrando mesas-redondas, fazendo palestras etc.
Outro aspecto a considerar, principalmente por
todos aqueles que não têm muito tempo, uma vez que
precisam trabalhar e estudar, é o planejamento das
atividades de estudo e a divisão adequada do tempo
através de uma programação. Não se pode fazer um
curso se não houver tempo disponível para estudar e
refletir.
De fato, o pesquisador não pode deixar de
programar “seu tempo”, pois sem essa administração
do mesmo é difícil cumprir prazos de trabalho e fazer
um estudo sério e aprofundado. Além disso, o contato
com outros ambientes e culturas pode, sem dúvida,
enriquecer sua criatividade e estimular seu senso
crítico.
Observem as recomendações de Galliano (p.61)
sobre a utilização do tempo:
Para quem quiser tirar a prova do quanto a internet pode auxiliar o trabalho do pesquisador vale consultar o Scielo (http://www.scielo.br). A Scientific Electronic Library Online - SciELO é uma biblioteca eletrônica que abrange uma coleção selecionada de periódicos científicos brasileiros. A SciELO é o resultado de um projeto de pesquisa da FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, em parceria com a BIREME - Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde. A partir de 2002, o Projeto conta com o apoio do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Dica do professor
Olha o tempo! Você já pensou em planejar melhor seu tempo na realização deste curso? Esse é um bom questionamento. Lembre-se de que num curso a distância a dedicação aos módulos de estudo são fundamentais e, evidentemente, exigem certo tempo
Aula 2 |O valor do estudo 27
� Planeje seu tempo – essa é a forma correta
de “ganhar” tempo para o estudo;
� Procure utilizar melhor de períodos vagos em
sua atividade;
� Substitua o horário de uma ou mais
atividades não-essenciais para obter mais
tempo de estudo;
� Não estabeleça períodos muito longos de
estudo sem pausa para descanso (...).
TÉCNICAS DE LEITURA
Vejamos agora algumas técnicas de leitura que
podem tornar nosso estudo mais proveitoso e eficaz,
especialmente se você não dispõe de tempo.
Galliano (1986) nos lembra que toda leitura é
feita com um propósito que pode ser a investigação, a
crítica, a comparação, a verificação, a ampliação ou
integração do conhecimento. Para atingir esse
propósito devemos identificar as ideias principais
doautor. Ocorre que poderemos estar lendo um artigo,
um livro, um capítulo de livro, ou mesmo um simples
parágrafo. Mandam os especialistas que se proceda,
inicialmente, a uma leitura integral do texto visando
identificar as ideias centrais do mesmo.
Cada capítulo ou unidade pode conter uma ou
mais ideias-chaves que se articulam com o objetivo
central da obra estudada. Trabalhar a leitura a partir
da identificação de tais ideias facilita a sua
compreensão, na medida em que o texto fica, assim,
dividido em blocos que vão sendo sucessivamente
estudados a partir de suas ideias centrais.
Em algumas ocasiões, a ideia principal está
explícita e é facilmente identificada. Em outras, ela se
confunde com as ideias secundárias. Quando se
:: Leitura Integral:
Essa leitura integral inicial é chamada muitas vezes de leitura transversal. Não se trata de ler o livro da primeira página a última e sim dar uma folheada no seu estilo, estruturação de capítulos, bibliografia, autores citados etc.
Aula 2 |O valor do estudo 28
procura a ideia principal do autor em uma obra, usam-
se técnicas facilitadoras como a leitura do índice, dos
títulos e subtítulos, prefácio, introdução etc. (Salomon,
1994).
A TÉCNICA DE ESQUEMATIZAR
O esquema é UMA REPRESENTAÇÃO SINTÉTICA
DO TEXTO ATRAVÉS DE GRÁFICOS, CÓDIGOS E
PALAVRAS. Por isso, é importante que este seja
organizado segundo uma sequência lógica onde se
destaquem em primeiro lugar as ideias principais,
seguidas por aquelas a elas subordinadas de maneira
que seja esclarecido o inter-relacionamento de fatos e
ideias a estas relacionadas.
A elaboração de esquema exige a participação
ativa do leitor na assimilação do conteúdo, levando-o,
também, a uma avaliação sobre a lógica do texto. Para
Salomon (1994), as principais características de um
bom esquema são:
� Fidelidade ao texto;
� Estrutura lógica;
� Adequação ao assunto estudado;
� Utilidade;
� Cunho pessoal.
Algumas pessoas têm grande facilidade de
trabalhar com esquemas criando vários ao longo de
cada parágrafo lido, criando um esquema maior por
capítulo ou unidade, ou ainda elaborando um grande
esquema como síntese de toda a obra (livro, artigo,
pesquisa etc.).
Dica do professor
Experimente esquematizar um pequeno texto e depois analise o mesmo com relação às características assinaladas por Salomon.
Dica do professor
Experimente esta técnica com um texto qualquer. Assim como as demais apresentadas ela pode ser bastante útil. Um esquema bem feito por vezes traduz com clareza o raciocínio de um autor.
Dica do professor
Durante a leitura é pertinente escrever um resumo do texto que estamos lendo. Assim fixamos melhor seu conteúdo e juntamos um material interessante que pode servir para um aproveitamento posterior.
Aula 2 |O valor do estudo 29
A TÉCNICA DE RESUMIR
O resumo nada mais é do que uma
CONDENSAÇÃO DO TEXTO REUNINDO SUAS IDEIAS
CENTRAIS. O mesmo pode também trazer a
interpretação do leitor, desde que este o faça
separadamente a fim de que não se confunda as ideias
do autor com as ideias do leitor.
Um dos objetivos do resumo é o de abreviar as
ideias do autor, sem, contudo, a concisão de um
esquema. Quando você considerar relevante, faça
transcrições de palavras do próprio autor, colocando-as
entre aspas e o número da página entre parênteses. As
observações e interpretações pessoais, bem como as
referências bibliográficas, acompanham o resumo, sem
prejudicar a fidelidade ao texto. Essa técnica pode ser
extremamente útil durante a construção de sua
monografia no momento em que você tiver de fazer
citações importantes sem ter que voltar a leitura de
toda obra para achar a ideia que você pretende
enfatizar.
DICAS GERAIS
� Leia cada página das obras fazendo anotações
e registrando suas dúvidas e colocações
pessoais;
� Construa uma espécie de resumo pessoal do
material que você colocou, pode ser uma
espécie de fichamento com observações e
pontos que você destacaria em relação ao
mesmo ou ainda registros em um caderno
com resumos esquemáticos. Escolha a técnica
com a qual você melhor se identifica;
Importante
Provavelmente nem todas as dicas sugeridas se aplicam a você. Procure identificar nos diferentes itens as dicas que lhe dizem mais respeito procurando colocá-las em prática levando em consideração as suas dificuldades.
Dica de leitura
Você terá oportunidade de aprofundar melhor esta e outras técnicas através da leitura do livro: LAROSA, M. e ARDUINI, F. Como elaborar uma monografia? Rio de Janeiro: WAK , 2002.
Aula 2 |O valor do estudo 30
� Elabore mapas, desenhos, gráficos e
diagramas. Estes também podem auxiliá-lo em
seus estudos, especialmente quando se trata
da análise de um conteúdo mais extenso e
complexo;
� Aproprie-se das obras consultadas. Se você
tire xérox para que você possa: sublinhar,
rabiscar, fazer anotações, enfim aproveitá-la
ao máximo; pois na hora de uma consulta
rápida isso poderá lhe facilitar bastante;
� Siga as dicas das caixinhas laterais. A função
das mesmas é contribuir e facilitar o seu
processo de aprendizagem;
� Reveja a bibliografia, se possível busque ter
acesso a, pelo menos, algumas das obras
citadas, através de empréstimos em
bibliotecas, por exemplo;
� Faça a si próprio a pergunta: "que significa
isso?". Se houver dúvida, volte a estudar
objetivando esclarecer o porquê das mesmas;
� Ao estudar procure se concentrar de fato no
que está lendo, procurando compreender e
memorizar o conteúdo das leituras;
� Não tente estudar tudo ao mesmo tempo,
estabeleça algumas metas como três páginas
por dia ou algo semelhante de acordo com
sua disponibilidade;
� Lembre-se de que a aprendizagem é como
uma corrente: cada elo seguinte depende do
elo anterior. Quando encontrar uma dificuldade,
procure o elo que está faltando. Se você não
consegue aprender alguma coisa, não é por fal-
Importante
Essa página resume os principais pontos sobre o que conversamos até agora. Leia com atenção cada item e lembre-se de que queremos apenas auxiliá-lo em seus estudos. Cada pessoa tem um jeito de estudar e respeitamos isso. Queremos oferecer a você a oportunidade de tornar seus momentos de estudo ainda mais eficientes e enriquecedores. Esperamos que todas as dicas dadas contribuam nessa direção. Sucesso!
Aula 2 |O valor do estudo 31
ta de inteligência: Muitas vezes falta aprender
algo que serve de base à novas
aprendizagens;
� Caso as dúvidas persistam não hesite em
entrar em contato com a Tutoria;
� Certa rotina de trabalho é fundamental. É
fácil se deixar levar pelo comodismo de
sempre e adiar o começo da tarefa. Evite
atrasos e procure trabalhar sempre no
mesmo lugar. Isso facilita a concentração e
cria hábitos produtivos. Acostume-se a
estudar num mesmo local e num mesmo
horário. Ao contrário do que possa parecer,
isso poderá ajudá-lo bastante;
� Disponibilize um canto de estudo que seja
sossegado, arejado e bem iluminado;
� Não tenha fontes de distração que poderão
atrapalhá-lo como, por exemplo, o celular, o
rádio e a TV;
� Ao interromper o estudo, deixe um sinal
específico para retomar a aprendizagem
exatamente de onde parou, sem perda de
esforço ou de tempo;
� Mantenha sempre acesa sua motivação e
você terá muito mais chances de alcançar
seus objetivos.
A DOCUMENTAÇÃO PESSOAL
Tendo conversado sobre técnicas para que você
possa aperfeiçoar suas habilidades de estudo e leitura
chegou então o momento de tratarmos especificamente
da documentação pessoal, em especial as fichas e sua
organização em fichários.
Importante
Esteja atento aquilo que o autor está chamando atenção nesse trecho, pois entendemos que a prática da leitura analítica lhe será bastante útil no processo de coleta de dados para a sua monografia.
Dica do professor
Hoje existem vários programas organizadores que facilitam esse trabalho com o uso de ícones, pastas coloridas e até sons. Procure se informar sobre estas facilidades.
Aula 2 |O valor do estudo 32
Tudo que for do interesse e oferecer importância
e utilidade na área acadêmica ou profissional do
estudante pode ser documentado: leituras, ideias
pessoais, debates, palestras etc. pode ser
documentado. A maneira mais indicada é fazer
registros em fichas e organizá-las em fichários.
Atualmente, a informática está introduzindo novos
procedimentos; estes procedimentos variam de pessoa
a pessoa.
As fichas permitem aos estudantes guardar com
exatidão dados coletados em diferentes fontes e que
servirão para o seu estudo. É preferível o uso de fichas
do que o de cadernos, devido às facilidades que elas
oferecem para manipulação e arquivamento. Existem
diferentes tipos de fichas segundo os objetivos a que se
destinam e que recebem diferentes denominações. Em
nosso caderno, adotamos a nomenclatura usada por
Lakatos (1987): ficha bibliográfica, ficha de citações,
ficha de resumo e ficha analítica.
A utilização de fichas e sua organização em
fichários pode ajudar significativamente o aluno
fornecendo-lhe de forma rápida e prática subsídios
valiosos. Lakatos (1987) é um dos autores que aborda
a questão do aspecto físico, da composição, dos
respectivos conteúdos, tipos de fichas (com exemplos
concretos dos mesmos) etc.
Aula 2 |O valor do estudo 33
FICHA BIBLIOGRÁFICA
Vale enfatizar que uma ficha bibliográfica pode
incluir a obra inteira ou parte dela.
Ao elaborar a ficha deve-se:
� Ser breve – quando houver necessidade de
pormenores, deve-se fazer ficha resumo e
não a bibliográfica;
� Empregar verbos ativos – exemplo: autor
analisa, define, conclui, apresenta etc.;
FICHA DE CITAÇÃO
Aula 2 |O valor do estudo 34
Neste tipo de ficha são reproduzidas frases e
parágrafos inteiros ou parte deles. O sinal (...) indica a
supressão de partes do texto.
Ao elaborar a ficha deve-se tomar alguns
cuidados:
� Colocar aspas no início e término das
citações;
� Indicar, após cada citação, o número da
página;
Veja o exemplo:
FICHA DE RESUMO (DE CONTEÚDO)
Aula 2 |O valor do estudo 35
Como é possível notar, a Ficha de Resumo, por
sua vez, apresenta a essência do texto numa síntese
elaborada pelo leitor. Embora seja mais detalhada do
que a ficha bibliográfica, ela não é tão longa quanto
esta.
Vejamos agora então um exemplo de uma ficha
analítica também elaborada a partir do mesmo artigo
trabalhado nos dois artigos anteriores:
FICHA ANALÍTICA
A Ficha Analítica traz os seus comentários
pessoais sobre aquilo que o autor defende em sua
obra. Neste tipo de ficha em particular, é possível tecer
comparações entre diferentes teorias e obras já lidas
anteriormente, bem como fazer classificações, críticas
e observações particulares, tomar posição diante das
ideias, fatos e teorias lidos dentre outras
possibilidades.
Importante
As fichas aparecem com letras em itálico, porém o itálico só deve ser usado em palavras estrangeiras.
Aula 2 |O valor do estudo 36
RESUMO
Vimos até agora:
� Analisamos algumas técnicas que poderão lhe
auxiliar em sua pesquisa como aquelas
voltadas para a leitura e a elaboração de
esquemas, resumos e fichamentos;
� Conferimos, através de análise de alguns
exemplos, como tais técnicas são práticas e
fáceis de serem efetivadas podendo servir de
auxiliar durante seus estudos;
� Refletimos sobre a importância de um estudo
organizado e metódico que favoreça o
pesquisador em seu trabalho de coleta de
dados, construção de hipóteses e
aprofundamento em sua temática de estudo.
Afinal, o que é Pesquisa?
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LA3
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Nesta terceira aula iremos estudar a pesquisa e sua importância para a continuidade do desenvolvimento científico. Do mesmo modo terá a chance de conhecer e aprender diferentes técnicas de estudo que servem tanto a coleta de dados como também a uma análise mais depurada dos mesmos no ato de elaboração de uma pesquisa científica. De uma forma prática e direta você terá acesso a uma série de dicas que poderá aplicar de forma imediata em seus estudos até mesmo desse caderno em análise auxiliando-o a destacar ideias chaves, fazer fichas resumo e assinalar pontos de um determinado trecho de uma obra de forma organizada para que você possa utilizá-la futuramente. Finalizando esta aula iremos refletir um pouco sobre alguns dos principais paradigmas da pesquisa científica tentando entender o reflexo destes em diferentes momentos da história da ciência.
Obj
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: � Refletir melhor sobre o que seja pesquisa e sua importância
para o desenvolvimento da pesquisa científica; � Conhecer as diferenças e semelhanças entre as metodologias
do tipo quantitativa e qualitativa e seu emprego de acordo com o tipo de pesquisa desenvolvida e o objeto de estudo em análise;
� Ter acesso a diferentes formas de análise de materiais de modo a permitir uma leitura mais organizada e crítica dos mesmos e favorecer a elaboração de pesquisas nos mais diferentes campos.
� Conhecer de forma sucinta alguns dos principais paradigmas da pesquisa científica tais como: o Positivismo, a Fenomenologia e o Materialismo Dialético.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 39
Pesquisa: a origem do termo
Não há dúvidas de que a pesquisa faz parte de
nosso cotidiano enquanto uma atividade intelectual que
resulta da relação do homem com o mundo a sua volta.
Mesmo sem ter muita clareza do que esta seja, todos
nós, em algum momento já efetivamos algum tipo de
pesquisa. Quando nos informamos sobre a forma de
chegar a algum lugar, ou quando procuramos por um
determinado endereço numa lista telefônica, quando
queremos saber como estará o clima em determinado
local antes de viajarmos até o mesmo, ou ainda
quando investigamos melhor uma determinada
questão, em todos estas situações estamos fazendo um
tipo de pesquisa. Em uma primeira concepção podemos
dizer que a pesquisa é:
O termo “pesquisa” possui uma dupla origem:
espanhola e latina. Segundo o pesquisador Marcos
Bagno (2000) já existia em latim o verbo perquiro, que
significava “procurar; buscar com cuidado; informar-
se; inquirir; perguntar; indagar bem”. O particípio
passado desse verbo latino era perquisitum. Com o
tempo o primeiro R se transformou em S na passagem
do latim para o espanhol, originando o verbo pesquisar
que conhecemos hoje.
De maneira geral, a pesquisa faz parte do nosso
cotidiano sendo difícil imaginar qualquer ação humana
que não seja precedida por algum tipo de investigação.
Uma investigação, por sua vez, tem como base a
informação que nos chega através dos programas de
TV, rádio, jornais, revistas e até nos comunicados
gerais de instituições escolares e empresariais como
boletins e circulares. Assim sendo, podemos afirmar
Uma investigação, busca ou estudo metódico com a finalidade de descobrir ou estabelecer princípios relativos a um campo qualquer do conhecimento.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 40
que a troca de informações ajuda a formar o
conhecimento cotidiano, ou seja, a estarmos
“informados” sobre os fatos. Contudo, tudo isso não
passa de um conjunto de informações superficiais, se
sobre os mesmos não houver um trabalho de reflexão e
análise. Em outras palavras, o conhecimento virá a
partir do momento em que o indivíduo se interessar por
determinado assunto e refletir sobre este, sem se
contentar com o óbvio, através de um trabalho mais
sério de aprofundamento e “pesquisa”.
Poderíamos reproduzir o que acabamos de
estudar através do esquema abaixo, apresentando a
pesquisa como um caminho para a produção do
conhecimento.
A aplicação do conhecimento no dia-a-dia, isto
é, o caminho da valorização e da prática daquilo que foi
fruto de uma reflexão e uma pesquisa mais apurada
corresponde ao que nós chamamos de sabedoria. De
nada adiantaria pesquisarmos meses sobre a melhor
compra de um imóvel se na hora de fecharmos o
negócio, ignorássemos esse trabalho de pesquisa.
A PESQUISA LEVADA A SÉRIO
É preciso deixar claro, contudo, que não é desse
tipo de pesquisa que vamos nos ocupar aqui. A
pesquisa que nos interessa nesse caderno é um tipo
Para refletir
Você já tinha parado para refletir sobre isto? O quanto nós fazemos pesquisa sem ter consciência de que o fazemos? Será que em nossas salas de aula temos realmente estimulado os nossos alunos a simplesmente trocar informações ou serem verdadeiros produtores de conhecimento? Reflita e se possível não deixe de anotar suas reflexões, pois elas podem ser muito úteis.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 41
especial de pesquisa, ou seja, a pesquisa científica, que
pode ser entendida como:
A pesquisa pode ser pensada como o caminho
para se chegar ao conhecimento e a ciência, devendo
esta última ser igualmente entendida como um tipo de
conhecimento fruto de um estudo formal, metódico e
sistematizado de forma científica. De fato, a pesquisa é
o fundamento de toda e qualquer ciência seguindo uma
metodologia específica, o chamado método científico:
Quando falamos em metodologia da pesquisa
estamos nos referindo, portanto, aos estudos desses
procedimentos diferentes voltados para o
desenvolvimento de uma pesquisa. Os métodos de
estudo e pesquisa tornam mais eficaz e rápida a busca
de respostas a um dado problema, o saneamento da
inquietação e a resolução da dúvida.
Já vimos o significado do termo pesquisa, agora
vejamos o que significa a palavra método. Esta palavra
origina-se do grego meta (ao longo de) e hodós
(caminho), portanto, significa caminho para se chegar
a um objetivo ou a um determinado resultado. Assim, a
metodologia do estudo é um caminho que o estudante
trilha, adquirindo durante o percurso os instrumentos
exigidos para obter êxito no seu trabalho intelectual.
A escolha de que meio, instrumento, ou
procedimento deverá ser adotado para o
desenvolvimento de uma pesquisa deverá ser realizada
pelo pesquisador em função dos resultados que
Uma investigação feita com o objetivo expresso de obter conhecimento específico e estruturado sobre um assunto preciso.
Método científico é o conjunto de princípios e procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento de forma eficiente através da pesquisa.
Para pensar
A pesquisa faz parte de nosso cotidiano. Pesquisamos em diferentes situações. Quando compramos algo, quando queremos saber sobre o tempo ou conhecer mais sobre alguma coisa. Logo não se preocupe, pois pesquisar é uma atividade bem simples.
Dica de leitura
Consulte também sobre Método Científico a obra de CHIZOTTI, Antonio. Pesquisa em Ciências Humanas e Sociais (1995), São Paulo: Cortez, 1995.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 42
pretende obter. A grosso modo poderíamos tecer a
seguinte comparação: uma pá é mais eficiente do que
uma picareta para cavar, assim como esta última é
mais eficiente do que a primeira para fazer um buraco
no cimento. Por isso a importância de se definir o tipo
de pesquisa e da escolha do instrumental ideal a ser
utilizado. A escolha de instrumentos inadequados ou na
ignorância de determinados procedimentos pode
comprometer de forma parcial ou total os resultados de
uma investigação científica.
Não existem regras fixas que possam, se
adotadas, gerar resultados completamente livres de
erros e/ou desvios, bem como também, não existe
nenhuma área do conhecimento limitada a um conjunto
fixo de métodos. A ciência é dinâmica e, por
conseguinte, novos métodos podem ser
desenvolvimentos e aprimorados em qualquer tempo e
lugar. O fato é que o conhecimento do método é de
extrema importância para uma boa condução de um
processo de pesquisa bem como de sua avaliação.
IMPORTÂNCIA DA PESQUISA
Para Deslandes (1994) a pesquisa é a atividade
básica da ciência na sua indagação e construção da
realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de
ensino. Não se trata de um ato isolado como afirma
Demo (2000), mas sim uma “atividade processual de
investigação diante do desconhecido e dos limites que a
natureza e a sociedade nos impõem” (p.16). Assim
sendo, fica claro entender porque sem pesquisa não há
ciência e, se não há ciência, elementos como tecnologia
e mesmo o progresso também ficam comprometidos.
Devido a sua importância, não apenas as
universidades, mas quase todas as grandes empresas
do mundo de hoje possuem departamentos voltados
para as áreas de pesquisa e desenvolvimento sempre
Importante
De maneira geral o objetivo da pesquisa é o homem, seu bem estar e a atenção de suas necessidades. A pesquisa pode ser direcionada a produtos e serviços, mas o ser humano será sempre o principal beneficiário.
Importante
A pesquisa é um labor porque demanda esforço pessoal na busca de informações sobre o fenômeno observado que toma certo tempo e exige esforço dos que a ela se dedicam.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 43
tentando dar um passo à frente para a obtenção de
novos produtos que respondam melhor às exigências
cada vez maiores dos consumidores ou, simplesmente,
que permitam vencer a concorrência das outras
empresas.
As indústrias farmacêuticas vivem à procura de
novos medicamentos mais eficazes contra velhas e
novas doenças. As montadoras de automóveis querem
produzir carros mais econômicos, menos poluentes,
mais seguros. A informática não pára de nos assustar
com seus computadores mais rápidos a cada dia, com
maior capacidade de memória e programas mais
eficientes.
Se não houvesse pesquisa, todas as grandes
invenções e descobertas científicas não teriam
acontecido. Nas universidades a pesquisa ocupa um
lugar fundamental renovando o conhecimento e
promovendo novos questionamentos e descobertas nas
mais diferentes áreas. O professor universitário deve,
na medida do possível, evitar se limitar a dar suas
aulas buscando estar engajado em algum projeto de
pesquisa. Afinal, a Universidade não pode ser apenas
um “depósito” do conhecimento acumulado ao longo
dos séculos. Ela deve ser também um lócus de
produção de novos conhecimentos o que só é possível
através da pesquisa.
A importância da pesquisa é reconhecida
também pelos órgãos governamentais. No Brasil, por
exemplo, em nível nacional, existem entidades como a
CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior) e o CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico e Técnológico) que
financiam projetos de pesquisa. Existem também
fundações privadas como a FUNDAÇÃO FORD, por
Para navegar
Para conhecer estas instituições virtualmente consulte: CNPQ ttp://www.cnpq.br/ CAPES http://www.capes. gov.br/ FUNDAÇÃO FORD: http://www.ford found.org/
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 44
exemplo, que apóiam pesquisadores, dando-lhes
condições de levar adiante seus projetos.
Além disso, no campo da Pós-Graduação
existem também as Associações Nacionais e
Internacionais de Pesquisa como, por exemplo, a
ANPEP – Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
Graduação em Psicologia (site: www.anpepp.org.br) e a
ANPOCS - Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
Graduação em Ciências Sociais (site:
www.anpocs.org.br).
Para a vida acadêmica vale destacar que a
pesquisa permite a construção de um corpo de
conhecimentos específicos, propiciando uma melhoria
das práticas educativas e uma renovação do conteúdo
ensinado em aula. Em sua busca, através de caminhos
metodológicos coerentes, a pesquisa contribui para o
favorecimento de melhores condições de existência
para o homem e os demais seres vivos, o que vai ao
encontro, inclusive, da responsabilidade social que a
universidade deve responder e cultivar.
O objetivo fundamental da pesquisa é descobrir
respostas para problemas mediante o emprego de
procedimentos científicos. Assim sendo, podemos
entender pesquisa como sendo um processo que,
utilizando a metodologia científica, permite a obtenção
de novos conhecimentos no campo da realidade social a
partir de uma problematização. Os produtos de uma
pesquisa são vários: artigos, livros, ensaios, estudos,
dissertações e teses. Contudo, é bem provável que um
dos produtos mais importantes de uma pesquisa seja
justamente a formulação de novas questões e
problemas decorrentes de seus resultados. Em outras
palavras, a respostas encontrada por um pesquisador
pode ser encarada como um problema para outro e
assim a pesquisa nunca se esgota.
:: Problematização
Este termo se refere aos possíveis questionamentos e críticas voltados a um determinado postulado teórico, técnica ou até mesmo uma situação qualquer.
Você sabia?
Escola de Chicago: Foi no campo da Sociologia, através dos estudos da chamada Escola de Chicago nos anos 20 e 30 que a metodologia do tipo qualitativa teve um impulso considerável passando-se a entender melhor a importância desta metodologia para o estudo do homem na sociedade como foi o caso dos estudos de Ecologia Urbana promovidos por Robert Park, um dos mais influentes pesquisadores desta Escola.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 45
NÍVEIS DE INVESTIGAÇÃO
Os termos pesquisa qualitativa e pesquisa
quantitativa são utilizados para classificar o tratamento
metodológico empregado em trabalhos científicos.
Entende-se por qualitativa a pesquisa cuja finalidade é
a de buscar entendimentos, extrapolações para
situações similares e bases que irão fundamentar a
criação de hipóteses. De modo geral ela lida com o
indivíduo em seu dia-a-dia de trabalho, em suas
relações e atividades sem se preocupar em pesquisar a
partir de um ambiente controlado.
A pesquisa qualitativa parece ter vocação para
mergulhar na profundidade dos fenômenos levando em
conta toda a sua complexidade e PARTICULARIDADE.
Não almeja alcançar a generalização, mas sim o
entendimento das singularidades.
Como apontam alguns autores, este tipo de
pesquisa privilegiam a compreensão como princípio do
conhecimento, que prefere estudar relações complexas
ao invés de explicá-las por meio do isolamento de
variáveis. Nota-se certa ênfase na totalidade do
indivíduo como objeto de estudo é essencial para a
pesquisa qualitativa. Além do mais, a concepção do
objeto de estudo qualitativo sempre é visto na sua
historicidade, no que diz respeito ao processo
desenvolvimental do indivíduo e no contexto dentro do
qual o indivíduo se formou (Gunther, 2006).
:: Hipótese:
São conjecturas, palpites, explicações provisórias, proposições admissíveis acerca de um fato ou fenômeno. Exemplo: - Hipótese 0 O uso de vídeos em aula influi positivamente aprendizado de Português. - Hipótese 1 O uso de vídeos em aula influi negativamente no aprendizado de Português. - Hipótese 2 O uso de vídeos em aula não influi no aprendizado de Português.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 46
Por QUANTITATIVA entende-se a pesquisa que
lida com hipóteses pré-estabelecidas, amostras e
probabilidades. Trata-se da pesquisa que se aplica a
dimensão mensurável da realidade e que busca
estabelecer relações de causa e efeito entre as
variáveis de tal modo que perguntas do tipo: “quanto?”
“Como?” “Porque? ” e “em que medida? ” possam ser
respondidas com razoável rigor. Em uma pesquisa
quantitativa são utilizados métodos estatísticos cuja
finalidade é a de buscar determinações causais,
predições e generalizações dos resultados.
É importante entender que os métodos
qualitativos e quantitativos não são excludentes entres
si. Tanto a pesquisa qualitativa pode lidar com medidas
estatísticas como a pesquisa quantitativa pode buscar
resultados menos pontuais. Recentemente, a situação
da pesquisa qualitativa, mudou consideravelmente,
adquiriu mais respeitabilidade. Mas, esta aceitação foi
EXEMPLIFICANDO A Qualidade de Vida é um conceito que se manteve impreciso e imensurável até recentemente. A medida em que o fenômeno passou a ser investigado por meio de Questionários e Grupos Focais, numa abordagem Qualitativa, foi progressivamente possível compreender sua intimidade a ponto de se desenvolver instrumentos capazes de mensurar a subjetividade envolvida no sentido da Qualidade de Vida. Dessa forma foram obtidos o WHOQOL (World Health Organization Quality of Life instrument), instrumento construído em âmbito mundial, pela Organização Mundial de Saúde; e o SF 36 (Short Form com 36 itens) concebido nos EUA, que foi adaptado e validado para outras línguas. Este último instrumento evidencia o impacto da Saúde nas atividades diárias e no Bem Estar. Foi desenvolvido a partir de um Questionário com mais de 200 itens que foram sendo selecionados segundo sua capacidade de discernimento e mensuração. Fonte: Reflexões sobre a PESQUISA QUALITATIVA & QUANTITATIVA:Maneiras complementares de apreender a RealidadeFernando A C Bignardi http://www.comitepaz.org.br/download//PESQUISA%20QUALITATIVA.pdf
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 47
alcançada a um custo que requereu, senão a
capitulação completa para critérios quantitativos de
confiabilidade e validade, pelo menos uma tendência
para aplicá-los. Não deve haver dúvidas de que a
finalidade dos dois caminhos metodológicos deve ser a
contribuição destes para o estudo e análise de
determinada realidade ou fenômeno estudado e
consequentemente sua contribuição para o
desenvolvimento de determinada área do conhecimento
humano.
Críticas são feitas a ambos os métodos
chegando mesmo a existir o que alguns autores
chamam de RADICALISMOS METODOLÓGICOS.
Criticam os métodos qualitativos por gerarem análises
superficiais, por trabalharem com procedimentos não
explicitamente detalhados, pela dificuldade destes em
reconhecer a necessidade de um afastamento entre o
pesquisador (subjetividade) e seu objeto de estudo,
por tecerem generalizações apressadas quanto aos
seus resultados e pela confiabilidade excessiva em
julgamentos e impressões pessoais. Por outro lado,
criticam os métodos quantitativos também por gerarem
análises incompletas, por defenderem a neutralidade
do pesquisador em suas análises (o que seria uma
utopia), por simplificarem demais a complexidade de
seus objetos de estudo e por selecionarem apenas
problemas que possam ser manipulados
quantitativamente e pelo rigor metodológico excessivo.
O fato é que existem uma infinidade de
procedimentos metodológicos que variam conforme a
disciplina na qual o estudo se insere podendo assim
englobar a Economia, a Sociologia, a Psicologia, a
Geografia, a História dentre outras áreas (Carvalho,
1995). Isso pode ser explicado inclusive pela própria
natureza diferenciada dos fenômenos físicos,
biológicos, sociais e psicológicos uma vez que os
mesmos não são homogêneos.
Importante
Homogeneização metodológica
Às vezes escutamos algo do tipo se a pesquisa for do tipo x então só cabe tal metodologia, se for do tipo y então só cabe tal metodologia. O fato é que diante da complexidade de nosso objeto de estudo os radicalismos metodológicos devem ser abandonados. De modo geral, tentativas de realizar algum tipo de homogeneização metodológica, em diferentes áreas, pouco ou nada contribuiu para o avanço da pesquisa nas mesmas, gerando, muito ao contrário, resultados desastrosos.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 48
A realidade científica atual se caracteriza pela
busca de novos meios de se fazer ciência pautados na
liberdade científica pelo uso da intuição, pela
subjetividade e pela interdisciplinaridade de modo a
permitir uma maior aproximação da complexidade do
real. Não existe método ideal e sim o método que
melhor se adequa ao estudo que estamos querendo
efetivar (Id.,1995). Devemos pensar essas duas
metodologias de pesquisa como as duas faces de uma
mesma moeda metodológica que apesar das
divergências se complementam e oferecendo ao
pesquisador um referencial metodológico e
instrumental bem mais amplo de análise do objeto
estudado do que radicalismos em uma outra direção
metodológica.
A pesquisa pode decorrer de razões de ordem
intelectual, quando baseada no desejo de conhecer pela
simples satisfação para agir. Daí porque se pode falar
em PESQUISA PURA e em PESQUISA APLICADA.
PESQUISA PURA
Pesquisa que busca o progresso da ciência,
procura desenvolver os conhecimentos científicos, sem
a preocupação direta com suas aplicações e
consequências práticas. Seu desenvolvimento tende a
ser bastante formalizado e objetiva a generalização,
com vistas à construção de teorias e leis.
PESQUISA APLICADA
Esta pesquisa, por sua vez, apresenta muitos
pontos de contato com a pesquisa pura, pois depende
de suas descobertas e se enriquece com o seu
desenvolvimento; todavia, tem como característica
fundamental o interesse na aplicação, utilização e
consequências práticas dos conhecimentos. Sua
Importante
Toda pesquisa é importante, independente de sua classificação ou objeto de estudo. Tanto uma pesquisa sobre a cura da AIDS como uma pesquisa sobre o estilo rococó de uma igreja em Minas Gerais são importantes, a primeira, entretanto, possui uma maior relevância social em relação à segunda.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 49
preocupação está menos voltada para o
desenvolvimento de teorias de valor universal do que
para a aplicação imediata numa realidade
circunstancial. De modo geral é este o tipo de pesquisa
a que mais se dedicam os psicólogos, sociólogos,
economistas, assistentes sociais e outros pesquisadores
sociais.
A partir dessa diferenciação básica é possível
pensar uma série de tipos de pesquisa.
PESQUISA EXPERIMENTAL
É toda pesquisa que envolve algum tipo de
experimento. Por exemplo, pinga-se uma gota de ácido
numa placa de isopor por um determinado período de
tempo para observar o resultado de tal aplicação. Ou
ainda, analisa-se uma aula ministrada com o uso de
retroprojetor e outra com o uso de datashow em uma
mesma turma e depois avalia-se os resultados.
PESQUISA EXPLORATÓRIA
É toda pesquisa que busca constatar algo num
organismo ou num fenômeno. Por exemplo, conhecer
como se dá a reprodução de um molusco marinho ou
entender como o videogame pode interferir no
aumento da violência escolar.
PESQUISA SOCIAL
É toda pesquisa que busca respostas de um
grupo social. Por exemplo, saber quais os hábitos
alimentares de uma comunidade específica? Entender
como um trabalho de Educação Ambiental pode
promover o desenvolvimento de uma comunidade
carente do Rio de Janeiro.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 50
PESQUISA HISTÓRICA
É toda pesquisa que estuda o passado ou algo
que faça referência a este, ou seja, um fato, ou
situação já ocorrida, bem como um objeto da
antiguidade. Por exemplo, saber de que forma se deu
a Proclamação da República brasileira. Estudar a
origem de um colar pré-histórico.
PESQUISA TEÓRICA
É toda pesquisa que analisa uma determinada
teoria. Por exemplo, saber o que é a Neutralidade
Científica. Compreender melhor a influência da
psicanálise na educação.
Nas aulas seguintes iremos analisar estes e
outros tipos de pesquisa com maior profundidade. Por
ora pretende-se apenas demonstrar como a temática
da pesquisa é ampla, rica e de fundamental
importância, de modo especial para a produção de
conhecimento científico. Vale ressaltar que,
independente do tipo de pesquisa a considerar, o valor
de uma pesquisa, no sentido da continuidade e avanço
de uma área de conhecimento, é inestimável. Não
podemos tratá-la com indiferença, menosprezo ou
pouco caso. Se pretendermos entender uma pesquisa
em sua complexidade e importância, devemos analisar
não apenas a abordagem ou a técnica em si, mas
também a postura filosófica e político-ideológica do
pesquisador diante da realidade estudada.
PARADIGMAS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
CIENTÍFICA
Para compreender os principais paradigmas
metodológicos da pesquisa científica examinaremos de
forma resumida as ideias básicas das principais
correntes de pensamento contemporâneo que mais têm
orientado, em nossa época, a educação e a pesquisa
Importante
Vale lembrar que a pesquisa histórica faz-se necessária em diferentes momentos toda vez que queremos contextualizar o objeto estudado. Ex: Queremos estudar como a violência tem aumentado num determinado bairro. Para compreender essa questão é imprescindível estudar a história do bairro, bem como a história de violência do mesmo ao longo dos anos.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 51
em ciências sociais, destacando seus princípios e
situação atual. As correntes analisadas são:
� O Positivismo;
� A Fenomenologia;
� Materialismo Dialético e Materialismo
Histórico.
O POSITIVISMO caracteriza-se, segundo o
filósofo francês Augusto Comte (1798-1857), pela
subordinação da imaginação e da análise à observação.
Na ótica de Comte a visão positiva dos fatos abandona
a ideia das causas dos fenômenos (procedimento
teológico ou metafísico) e torna-se pesquisa de suas
leis, entendidos como relações constantes entre
fenômenos observáveis. Seus princípios são: a busca
da explicação dos fenômenos através das relações dos
mesmos e a exaltação da observação dos fatos, com
base em uma teoria visando a formulação de leis
causais favorecendo assim o controle de fenômenos e
previsão do futuro. A partir de Comte estabeleceu-se o
mito da objetividade absoluta que vai encontrar sua
expressão na experimentação.
Seu predomínio foi incontestável até os anos
oitenta quando então começa a perder terreno devido a
diferentes tipos de fatores como as críticas do
neomarxismo representado pela Escola de Frankfurt
AUGUSTE COMTE As idéias de Auguste Comte, o criador do positivismo, influenciaram grandemente a formação da república no Brasil. Tanto, que o lema da bandeira brasileira, "Ordem e progresso", foi inspirado na doutrina desse filósofo francês. No Brasil a influência do positivismo de Comte traduziu-se não só no ideário de nossos republicanos, mas nas ações políticas que acompanharam a proclamação da República. Entre elas, a separação entre igreja e Estado, o estabelecimento do casamento civil, o fim do anonimato na imprensa e a reforma educacional proposta por Benjamin Constant, um dos mais influentes positivistas brasileiros.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 52
de Horkheimer, Adorno, Walter Benjamim e Erich
Fromm e da fenomenologia, com raízes em Husserl,
Merleau-Ponty e Heidegger. Muitas oposições ao
positivismo já eram conhecidas pelos pesquisadores da
América Latina desde a década de sessenta, porém as
condições históricas que vivíamos, geralmente
caracterizadas pelo autoritarismo, pela ditadura
impediram o avanço de ideias que pretendessem mudar
o status quo existente.
A abertura política que peculiarizava o começo
da década de oitenta permitiu uma discussão mais
ampla das diversas tendências do pensamento. Por
outro lado, o positivismo perdeu a importância na
pesquisa das ciências sociais, especialmente, nos
cursos de Pós Graduação das Universidades, porque a
prática da investigação seguindo os seus parâmetros,
se transformou numa atividade mecânica, muitas vezes
alheia às necessidades dos países.
Os enfoques fenomenológicos na pesquisa das
ciências sociais, por sua vez, começaram, nos últimos
anos da década de setenta, aumentando sua
ESCOLA DE FRANKFURT A Escola de Frankfurt foi fundada em 1924 por iniciativa de Félix Weil. Antes dessa denominação tardia (só viria a ser adotada, e com reservas, por Horkheimer na década de 1950), cogitou-se o nome Instituto para o Marxismo, mas optou-se por Instituto para a Pesquisa Social. Seja pelo anticomunismo reinante nos meios acadêmicos alemães nos anos 1920-1939, seja pelo fato de seus colaboradores não adotarem o espírito e a letra do pensamento de Marx e do marxismo da época, o Instituto recém-fundado preenchia uma lacuna existente na universidade alemã quanto à história do movimento trabalhista e do socialismo. Seguindo a tradição romântica de contestação ao racionalismo, seus integrantes afirmaram que a sociedade moderna, ao conquistar a natureza por meio da tecnologia, provocara um empobrecimento geral dos seres humanos, submetendo-os ao que Goethe denominara de o domínio da "cinzenta teoria".
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 53
importância, na medida em que diminuía a tradição
imperativa do positivismo. Nascida na segunda metade
do século XIX, a FENOMENOLOGIA se desenvolveu a
partir das análises de Franz Brentano sobre a
intencionalidade da consciência humana. Ela trata de
descrever, compreender e interpretar os fenômenos
que se apresentam à percepção. O método
fenomenológico se define como uma “volta as coisas
mesmas”, isto é, aos fenômenos, aquilo que aparece à
consciência, que se dá como objeto intencional.
Seu objetivo é chegar a intuição das essências,
isto é, ao conteúdo inteligível e ideal dos fenômenos,
captado de forma imediata. Toda consciência é
“consciência de alguma coisa”. Assim sendo, a
consciência não é uma substância, mas uma atividade
constituída por atos (percepção, imaginação,
especulação, volição, paixão, etc.), com os quais visa
algo. Seu método mais usual era o da REDUÇÃO
FENOMENOLÓGICA. processo pelo qual tudo que é
informado pelos sentidos é mudado em uma
experiência de consciência, em um fenômeno que
consiste em se estar consciente de algo. Coisas,
imagens, fantasias, atos, relações, pensamentos,
eventos, memórias, sentimentos etc constituem nossas
experiências de consciência. O interesse para a
fenomenologia não é o mundo que existe, mas sim o
modo como o conhecimento do mundo se dá, tem
lugar, se realiza para cada pessoa. A redução
fenomenológica requer a suspensão das atitudes,
crenças, teorias, e colocar em suspenso o
conhecimento das coisas do mundo exterior a fim de
concentrar-se a pessoa exclusivamente na experiência
em foco, porque esta é a realidade para ela.
A Fenomenologia pode ser resumida como
sendo o estudo das essências: a essência da
:: Fenômeno:
A palavra Fenômeno é originária do termo grego phainomenon que significa "observável"). O termo possui um significado específico na filosofia de Immanuel Kant que contrastou o termo 'Fenómeno' com 'Nómeno' na "Crítica da Razão Pura". Os fenómenos constituem o mundo como nós o experimentamos, ao contrário do mundo como existe independentemente de nossas experiências (thing-in-themselves, 'das Ding an sich', 'das coisas-em-sí').
Você sabia?
Sob a ótica da fenomenologia o objetivo de sua futura monografia seria o de captar a essência do seu objeto de estudo, seja ele uma sala de aula, um método de trabalho ou um problema qualquer como o fracasso escolar, a baixa qualidade do ensino universitário ou a hiperatividade dos alunos.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 54
percepção, a essência da consciência (para citar alguns
exemplos).
Por isso mesmo, uma das ideias chaves da
fenomenologia é a noção de intencionalidade. Esta
intencionalidade é da consciência (de um sujeito) que
sempre está dirigida a um objeto. Tende a reconhecer o
princípio de que não existe objeto sem sujeito. Logo é
possível afirmar que a Fenomenologia é uma tendência
filosófica que, entre outros méritos, parece, tem o de
haver questionado os conhecimentos do Positivismo,
elevando a importância do sujeito no processo da
percepção da realidade.
Na Educação como um todo, ocorreu grande
entusiasmo em relação à uma nova visão que se tem
da pesquisa, que procura contextualizar historicamente
os dados levantados, levando-se em consideração a
subjetividade humana. O hábito da pesquisa positivista
de trabalhar, amarrado ao dado e à sua relação
fundamentalmente quantitativa com outra informação,
não permitia a possibilidade de interpretações mais
ricas e aprofundadas das realidades estudadas.
Muitos pesquisadores desenvolveram
preconceitos em torno da dimensão objetiva da
pesquisa, exaltando o lado subjetivo e a interpretação
qualitativa das informações. A busca de significado dos
fenômenos e das suas bases culturais privilegiou o
enfoque antropológico, especialmente na pesquisa
participante e no campo da educação popular e de
adultos.
Nos anos setenta, na Inglaterra, iniciou-se uma
corrente fenomenológica fundamentalmente de
natureza sociológica, que, em seguida, avançou com
seus princípios no campo da Educação, determinando
ações e maneiras de encarar o desenvolvimento do
Para navegar
Um site bastante interessante por abordar não apenas o tema do materialismo dialético, como também outros conceitos marxistas é o de: http://www.pcb.org.br/biblioteca/ introducao.rtf
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 55
currículo na escola e, de maneira singular, a pesquisa
no ensino.
Se a pesquisa de natureza fenomenológica ainda
esbarrava na dificuldade de superar o hábito
positivista, os embaraços aumentam, notadamente,
quando se realiza a tentativa de investigar usando a
conceitualização básica do materialismo dialético. A
falta de tradição no emprego da análise marxista da
realidade, no meio acadêmico latino-americano,
levanta sólidas barreiras aos pesquisadores que
desejam percorrer este caminho.
Para compreender melhor essa nova visão é
necessário conhecer um pouco mais sobre o
MATERIALISMO DIALÉTICO e o MATERIALISMO
HISTÓRICO. A ideia materialista do mundo reconhece
que a realidade existe independentemente da
consciência. Esta ideia-chave é fundamental para
compreender os dois tipos de materialismo citados.
O MATERIALISMO DIALÉTICO é a base filosófica
do marxismo e como tal realiza a tentativa de buscar
explicações coerentes e lógicas para os fenômenos da
natureza, da sociedade e do pensamento. Por um lado,
o materialismo dialético é herança de uma longa
tradição na Filosofia Materialista. Por outro, é também
antiga concepção na evolução das ideias e baseia-se
numa interpretação dialética do mundo. Estas raízes se
unem para formar, no materialismo dialético, uma
concepção da realidade, enriquecida com a prática
social da humanidade. Esta concepção não somente
tem como base de seus princípios a matéria, a dialética
e a prática social, mas também ambiciona ser a teoria
orientadora da revolução do operariado. Seu propósito
maior é o estudo das leis mais gerais que regem a
natureza, a sociedade e o pensamento e, como a
realidade objetiva se reflete na consciência.
Dica de leitura
Um livro que pode auxiliar a entender a importância do materialismo histórico é foi escrito por HABERMAS, J. Para a reconstrução do materialismo histórico. 2ª. ed., São Paulo: Brasiliense, 1990.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 56
A dialética do materialismo é posição filosófica
que considera a matéria como a única realidade e que
nega a existência da alma, de outra vida e de Deus.
Nesta ótica as leis do pensamento correspondem às leis
da realidade. A dialética não é só pensamento: é
pensamento e realidade a um só tempo.
O MATERIALISMO HISTÓRICO por sua vez
significou uma mudança fundamental na interpretação
dos fenômenos sociais que, até o surgimento do Marxismo,
se apoiava em concepções idealistas da sociedade
humana. Na teoria marxista, o materialismo histórico
pretende a explicação da história das sociedades
humanas, em todas as épocas, através dos fatos
materiais, essencialmente econômicos e técnicos. A
sociedade é comparada a um edifício no qual as
fundações, a infra-estrutura, seriam representadas
pelas forças econômicas, enquanto o edifício em si, a
superestrutura, representaria as ideias, costumes,
instituições (políticas, religiosas, jurídicas etc.).
RESUMINDO O Materialismo Histórico Dialético surgiu a partir da publicação do Manifesto Comunista de 1848, por Karl Marx e Friedrich Engels (porém, Marx já apresentara seus traços em 1847, em sua obra “A Miséria da Filosofia”). O materialismo designa um conjunto de doutrinas filosóficas que, ao rejeitar a existência de um princípio espiritual liga toda a realidade à matéria e a suas modificações. O materialismo histórico é uma tese do marxismo, segundo a qual o modo de produção da vida material condiciona o conjunto da vida social, política e espiritual. É um método de compreensão e análise da história, das lutas e das evoluções econômicas e políticas. Trata-se de uma abordagem metodológica ao estudo da sociedade, da economia e da história. A análise materialista histórica parte da questão de que a produção, e a troca dos produtos, é pilar de toda a ordem social; existente em todas as sociedades que desfilam pela história. Sendo assim, a repartição destes produtos, aliada com ela à divisão dos homens em classes ou camadas, é determinada pelo o que e como a sociedade produz e pelo modo de trocar as suas mercadorias.
Importante
O resgate do sujeito é sem dúvida alguma a grande contribuição dessa escola de pensamento.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 57
Na obra A Miséria da filosofia (1847) Marx
esclarece tal ideal ao afirmar que:
As relações sociais são inteiramente interligadas às forças produtivas. Adquirindo novas forças produtivas, os homens modificam o seu modo de produção, a maneira de ganhar a vida, modificam todas as relações sociais. O moinho a braço vos dará a sociedade com o suserano; o moinho a vapor, a sociedade com o capitalismo industrial.
(http://www.coladaweb.com/ filosofia/mat_historico.htm)
Nota-se assim a defesa de um rigoroso
determinismo econômico em todas as sociedades
humanas o que acabou gerando um clima de polêmica
que Marx e Engels mantiveram com seus opositores.
Tal ideia só era atenuada com a afirmativa de que
existe constante interação e interdependência entre os
dois níveis que compõe a estrutura social.
Sob o paradigma marxista, calcado nesses dois
tipos de materialismos citados, o pesquisador deve ter
presente em seu estudo uma concepção dialética da
realidade natural e social do pensamento, a
materialidade dos fenômenos e que estes são possíveis
de serem conhecidos. Tais princípios básicos do
marxismo devem ser complementados com a ideia de
que existe uma realidade objetiva fora da consciência e
que esta é um produto, resultado da evolução do
material, o que significa que, para o marxismo, a
matéria é o princípio primeiro e a consciência é o
aspecto secundário, o derivado.
A discussão e a prática da pesquisa em
Educação, dentro desta linha de pensamento ainda é
considerada por muitos como incipiente. A realidade
dos países periféricos da América Latina requer seus
próprios métodos de investigação e de explicação da
nossa realidade. Ao importarmos esquemas teóricos de
países centrais, com alto padrão de desenvolvimento
Importante
Atualmente este tem sido um dos grandes desafios para a pesquisa no mundo todo. Deixar de importar modelos que nada tem a acrescentar a sua realidade local. É fundamental no caso do Brasil que possamos vir a desenvolver pesquisas que respondam as nossas demandas nas mais diferentes ordens: culturais, econômicas, políticas etc.
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 58
tecnológico, econômico e social, com a realidade
totalmente diferenciada, corremos o risco grave para o
desenvolvimento das pesquisas sobre os nossos
problemas sociais, políticos e econômicos.
É importante ressaltar que não buscamos com
esse pequeno resumo das três correntes analisadas,
que correspondem aos principais paradigmas
metodológicos de se fazer e pensar pesquisa, esgotar o
assunto a respeito destas, mesmo porque este não é
nosso objetivo dessa aula. Nossa intenção foi a de
apresentar os métodos clássicos utilizados pelos
pesquisadores para interpretação da realidade que
estamos mergulhados, para facilitar o entendimento
dos que estão principiando na área de pesquisa sobre a
importância do estudo destes métodos.
RESUMO
Vimos até agora:
� Vimos aqui resumidamente os conceitos de
pesquisa, pesquisa científica e metodologia da
pesquisa;
� Refletimos sobre o papel e a importância da
pesquisa científica para o desenvolvimento da
ciência, da tecnologia e da sociedade como um
todo;
� Vimos as diferenças e os pontos de interseção
entre as metodologias do tipo quantitativas e
qualitativas;
� Conhecemos de forma sucinta alguns dos
principais paradigmas metodológicos que norteiam
a pesquisa científica;
� Refletimos sobre a necessidade de como docentes
nunca abandonarmos a pesquisa, uma vez que é
Aula 3 |Afinal, o que é pesquisa? 59
preciso estar sempre atualizados sobre aquilo
que estamos selecionando em termos de
conteúdo, métodos e instrumentos de trabalho.
60
O Delineamento da Pesquisa Científica
AU
LA4
Apr
esen
taçã
o
A pesquisa científica que se traduz a partir de uma metodologia que busca alcançar conhecimentos sistematizados e seguros necessita de um planejamento específico onde são consideradas as suas diferentes fases desde a sua concepção até a conclusão. Dentre as diversas formas de classificar e agrupar os tipos de pesquisas, a partir de metodologias diferenciadas de pesquisa, esta aula destaca o estudo de alguns dos principais tipos de pesquisa. São eles: pesquisa bibliográfica, pesquisa documental, pesquisa experimental, pesquisa de descritiva e estudo de caso. Através da leitura das páginas seguintes você terá a chance de estudar cada uma delas, diferenciando-as e entendendo o uso específico de cada uma delas. Além disto, veremos também algumas dicas que certamente lhe auxiliarão de forma significativa na realização de pesquisas e estudos acadêmicos.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: � Compreender melhor o delineamento das diferentes etapas
necessárias para a produção de uma pesquisa e refletir sobre a metodologia adequada para o alcance de seus objetivos;
� Refletir sobre alguns dos principais tipos de pesquisa, seus objetivos, ferramentas e aplicabilidade de acordo com o tipo de estudo a ser efetivado;
� Aprender e utilizar determinadas técnicas de pesquisa e dicas de planejamento que favorecerão de forma significativa o desenvolvimento de seus estudos.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 62
Delineamento da pesquisa
Como já vimos, para que uma pesquisa possa
ser qualificada como científica esta precisa ser
conduzida de maneira sistematizada com rigor a partir
de um conhecimento que se refira à realidade. Para
isso, utiliza-se um método próprio e técnicas
específicas. De um modo geral o método da pesquisa
científica consiste na elaboração de procedimentos
organizados que conduzam a compreensão e encontro
da solução do problema em estudo.
Toda pesquisa começa com algum tipo de
problema ou indagação, ou seja, uma questão ou
dúvida em discussão ainda não resolvida em qualquer
domínio de conhecimento (Gil, 2002). Em geral, esse
problema acompanhará a pesquisa em todas as suas
fases até a conclusão onde finalmente serão fornecidas
algumas respostas ao mesmo. É o que nos aponta
Köche (1997) ao afirmar que:
Pesquisar significa identificar uma dúvida que necessita ser esclarecida e construir e executar o processo que apresenta a sua solução, quando não há teorias que a expliquem, ou quando as teorias que existem não estejam aptas para fazê-lo.
(p. 121)
Além do problema a ser estudado, sua natureza
e a situação espaço-temporal em que se depara,
convém ressaltar que o DELINEAMENTO de uma
pesquisa científica, isto é, o encadeamento de suas
etapas, é marcado também pela natureza e nível de
conhecimento do pesquisador. Assim sendo é preciso
considerar tanto variáveis próprias do objeto estudado
quanto variáveis relativas ao pesquisador a partir de
suas motivações (intenções), condições de pesquisa,
capacidade e seu contexto histórico.
Importante
Aí está o desafio de se fazer pesquisa. Por isso mesmo não é qualquer trabalho acadêmico que pode se intitular como pesquisa.
Importante
Vale lembrar que qualquer trabalho qualificado como científico deverá possuir estas características, inclusive sua futura monografia.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 63
Sérgio Luna (1998) pontua alguns requisitos
fundamentais para a realização de qualquer pesquisa,
independentemente, do referencial teórico ou da
metodologia empregada que servem bem ao
entendimento do que estamos chamando aqui de
delineamento de uma pesquisa. Dentre eles destacam-
se:
� A formulação de um problema de pesquisa,
isto é, uma ou mais questões que se
pretende(m) responder, e cujas respostas
mostrem-se novas e relevantes teórica ou
socialmente;
� A determinação das informações necessárias
para encaminhar as respostas a este;
� A seleção das melhores fontes dessas
informações em função de critérios;
� A definição de um conjunto de ações que
produzam essas informações;
� A seleção de um sistema de tratamento
dessas informações e de um sistema teórico
para sua interpretação;
� A produção de respostas às perguntas
formuladas pelo problema;
� A indicação do grau de confiabilidade das
respostas obtidas (observando se as
condições da pesquisa seriam as melhores
respostas possíveis);
� Finalmente, a indicação da generalidade dos
resultados, isto é, a extensão dos resultados
obtidos;
Gostaria de convidá-lo a pensarmos juntos
sobre o delineamento geral de uma pesquisa tal como
apresentado por Luna (1998), a partir da análise de
algumas questões bem práticas como se estivéssemos
de fato construindo uma monografia. Inicialmente é
preciso escolher o que pesquisar, isto é, o assunto a
Para pensar
Você já pensou no tipo de pesquisa que irá desenvolver em seu trabalho monográfico? Em caso positivo em que grupo você catalogaria seu trabalho?
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 64
ser pesquisado. Ao definir o assunto que se pretende
estudar, é necessário uma leitura preliminar para que
se possa identificar, com um maior conhecimento de
causa, o tema que se pretende pesquisar. Esta é a
etapa inicial onde se forma a ideia sobre o conteúdo
geral a ser estudado.
No momento que se escolhe um tema
generalizado, busca-se contato com autores
(bibliografias) que permitam que você passe a conhecer
melhor o assunto. Nesta fase não se deve buscar
autores preferenciais, leia tudo o que puder sobre o
tema, afinal, cada autor tenha a sua visão ou versão
sobre o mesmo e na busca pela verdade científica não
se pode deixar influenciar ou Ter uma opinião formada
sobre o fato.
As LEITURAS SUCESSIVAS permitem uma
entrada segura no conhecimento específico que lhe
dará base em direção da pesquisa por um tema mais
específico. Neste momento as leituras lhe darão uma
ideia concreta sobre as dificuldades, questionamentos,
discordâncias e opiniões assumidas que vão esclarecer
o assunto e possibilitar ao pesquisador algumas pistas
sobre o tema principal a ser pesquisado na monografia.
Dica do professor
Ao escolher um tema para pesquisar, procure levar alguns critérios em consideração como número de publicações existentes sobre o mesmo e a possibilidade de tecer análises neutras sem comprometimento dos dados. Temas que odiamos ou amamos demais dificultam uma postura mais neutra em relação à análise confiável dos dados.
Dica de leitura
Existem outras obras voltadas para metodologia de pesquisa que poderão lhe auxiliar no entendimento das questões citadas como: BAGNO, M. Pesquisa na escola. 4ª ed., São Paulo: Loyola, 2000. SOARES, E. Metodologia científica. São Paulo: Atlas, 2003.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 65
APROFUNDAMENTO DO TEMA E APROFUNDAMENTO
DAS QUESTÕES A ELE ASSOCIADAS
O pesquisador deve ter PACIÊNCIA, pois a meta
é adquirir conhecimento sobre o tema para então
produzir ações interiorizadas (conscientização do fato)
em direção a novas ações exteriorizadas (opinião que
possibilite discussão dialética sobre o tema).
É importante lembrar que o pesquisador deve
ter consciência que o tema não pode ultrapassar as
fronteiras de seu curso (direcionamento) sob pena de
proporcionar um aprofundamento em várias direções
distanciando-o cada vez mais da situação problemática
prevista. Se isto ocorrer, corre-se um sério risco do
estudo não conduzir a lugar algum no que se refere ao
problema a ser respondido. Mantenha-se FIEL AO TEMA
e direcione sua pesquisa bibliográfica neste sentido
com vistas a se aprofundar mais e mais no assunto o
que demanda tempo e dedicação.
PROCEDIMENTOS DE PESQUISA
Toda pesquisa precisa em algum momento, de
modo geral no item metodologia, esclarecer os
procedimentos técnicos e práticos que viabilizaram sua
elaboração. Estes devem ser entendidos como as ações
que serão implementadas para a realização da mesma,
assim como também as etapas para o desenvolvimento
da investigação, das fontes básicas e dos sujeitos da
pesquisa.
É importante que tais procedimentos respondam
a um plano detalhado de como alcançar o(s)
objetivo(s), respondendo às questões propostas e/ou
testando as hipóteses formuladas (caso elas existam).
A metodologia ideal é aquela que melhor se adequa à
solução do problema e aos objetivos do estudo em
Importante
Especificamente no caso da monografia a ser desenvolvida em nosso curso. Vale lembrar que o tema escolhido deve estar relacionado, ainda que indiretamente, ao mesmo. Assim, não adianta, por exemplo, falar de viagens espaciais se o aluno estiver fazendo um curso de supervisão escolar. O tema é interessante, mas inadequado ao curso.
Dica do professor
Essa é uma dentre várias outras possibilidades de se definir o que seja pesquisa. Procure buscar também outras definições para complementar a sua própria definição do tema.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 66
função da população (sujeito(s), grupo(s),
instituição(ões) investigadas) e da amostra
(quantitativo da população que por sua vez obedece a
determinados critérios).
Do mesmo modo é fundamental esclarecer quais
foram os instrumentos de coleta de dados (entrevistas,
estruturadas ou não; questionários; testes; escalas;
observação, participante ou não; instrumentos de
laboratório e outros) e, posteriormente, de análise e
tratamento dos mesmos. É fundamental que estes
últimos levem em consideração fatores como:
� O referencial teórico ou conceitual adotado na
pesquisa, caso tenha sido definido;
� Os resultados de estudos e pesquisas
anteriores. Isto permitirá ao pesquisador ter
indicações precisas sobre as dimensões e
categorias de análise ou as relações
esperadas entre as variáveis estudadas, a
partir das quais os dados devem ser
interpretados.
No caso de pesquisas de base quantitativa, que
impliquem dados quantitativos, deve-se especificar
ainda o tratamento estatístico dos dados (inclusive se
foi ou não utilizado algum tipo de programa de
tratamento estatístico como o SPSS).
MODALIDADES DA PESQUISA
Enquanto um conjunto de atividades propostas
por um estímulo em busca de conhecimento, uma
pesquisa pode investigar a realidade sob os mais
diversos aspectos, com distintos objetivos e níveis de
profundidade. Vimos que, partindo sempre de uma
dúvida ou problema, a pesquisa visa encontrar uma
Quer saber mais?
Sobre o tratamento estatístico vale lembrar que existem hoje disponíveis no mercado uma série de softwares voltados apenas para esse tipo de trabalho como é o caso do SPSS.
Dica do professor
Essa é uma dentre várias outras possibilidades de se definir o que seja pesquisa. Procure buscar também outras definições para complementar a sua própria definição do tema.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 67
resposta ou solução para o mesmo. Para tal necessita
seguir um caminho adequado, utilizar um método
científico. Assim, em toda a pesquisa, teremos três
elementos básicos: o problema que se deseja resolver,
a metodologia empregada, que deverá ser adequada ao
tipo de problema, e a solução.
A curiosidade, assim como a necessidade,
conduzem o ser humano a investigar a realidade sob
diversos aspectos e de diversas formas. O investigador,
por exemplo, poderá pretender satisfazer um anseio
intelectual pelo conhecimento. Neste caso, fará uma
pesquisa pura ou básica, visando a atualização de
conhecimentos. No entanto, poderá, estar em busca de
soluções para problemas concretos, necessitando de
pesquisa aplicada, com fins práticos em seu trabalho.
Vemos, assim, que existem diferentes tipos de
pesquisa, que são classificados pelos autores de acordo
com vários critérios. Optou-se, na presente aposta,
pela classificação feita nas obras de Cervo (2002) e
Kösche (1997), em virtude de seu alcance e
generalidade, muito embora alguns dos tipos de
pesquisa citados por estes autores também estejam
nas obras de Gil (1993), Santos (1999) e vários outros.
O pesquisador pode estudar a realidade sob os
mais variados aspectos, com distintos objetivos e
diversos níveis de profundidade. Dessa maneira, os
autores citados classificam os TIPOS DE PESQUISA de
acordo com diferentes critérios. Para cada obra que
trata desta temática parece existir uma classificação
diferente. Veja no quadro resumo abaixo como as
pesquisas podem ser agrupadas, de acordo com:
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 68
TIPOS DE PESQUISAS
A área de conhecimento Pesquisas educacionais,
acadêmicas, históricas, dentre outras
O lugar onde se desenvolvem Pesquisa de campo; pesquisa de laboratório
A utilização Pesquisa pura e pesquisa
aplicada
O caráter dos dados coletados Pesquisa qualitativa e pesquisa
quantitativa
A forma de raciocínio Pesquisa dedutiva e pesquisa
indutiva.
TIPOS DE PESQUISA
Segundo tais autores existem quatro principais
tipos de pesquisa a considerar:
� Exploratória;
� Bibliográfica;
� Descritiva;
� Experimental.
Já tínhamos conversado superficialmente sobre
algumas delas na primeira aula, agora, todavia, vamos
nos aprofundar um pouco mais nas mesmas.
PESQUISA EXPLORATÓRIA A pesquisa exploratória deve ser encarada como
o primeiro passo do trabalho científico. Este tipo de
pesquisa tem por finalidade proporcionar maiores
informações sobre determinado assunto; facilitar a
delimitação de uma temática de estudo; definir os
objetivos ou formular as hipóteses de uma pesquisa ou,
ainda, descobrir um novo enfoque para o estudo que se
pretende realizar diferente dos já existentes. Pode-se
dizer que a pesquisa exploratória tem como objetivo
Dica do professor
A partir de agora vamos estudar todos os diferentes tipos de pesquisa. Não deixe de ir se questionando sobre qual você pretende desenvolver futuramente em sua monografia.
Dica do professor
Esclarecendo: Nesse sentido é possível dizer claramente que não existe metodologia pior ou melhor, o que é existe é uma metodologia mais ou menos adequada a um determinado tipo de estudo.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 69
central o aprimoramento ou descoberta de ideias para
serem pesquisadas.
Na maior parte dos casos, a pesquisa
exploratória envolve:
� Levantamento bibliográfico;
� Entrevistas com pessoas que tiveram
experiências práticas com o problema
pesquisado;
� Análise de exemplos que estimulem a
compreensão do fato estudado.
Através da pesquisa exploratória avalia-se a
possibilidade de se desenvolver um estudo inédito e
interessante, sobre uma determinada temática. Sendo
assim, este tipo de pesquisa tem como objetivo
proporcionar maior familiaridade com o problema, com
vistas a torná-lo mais explícito. De um modo geral,
esta pesquisa constitui um estudo preliminar ou
preparatório para outro tipo de pesquisa.
Quanto mais geral for o problema da pesquisa, maiores são as chances da pesquisa ser considerada exploratória. Veja alguns exemplos: � Qual é a importância da supervisão escolar na
Educação Atual? � Qual é o papel do psicopedagogo junto ao processo
de aprendizado? � O que é Educação On Line? Note que esses problemas (questões-chave) caracterizam pesquisas que claramente ainda estão tentando entender melhor seu objeto de estudo antes de construir hipóteses sobre os mesmos. Note como tais problemas seriam mais centrados caso fossem formulados da seguinte forma favorecendo a construção de hipóteses � Qual é a importância da supervisão escolar junto a
crianças desmotivadas? � Qual é o papel do psicopedagogo com crianças
hiperativas? � Como a Educação On Line pode contribuir para a
Educação Inclusiva?
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 70
PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
A pesquisa bibliográfica investiga o Problema a
partir do referencial teórico existente nas fontes de
pesquisa. Para Cervo (2002), na área das ciências
humanas, a pesquisa bibliográfica é a pesquisa por
excelência se constituindo no requisito básico para a
pesquisa científica, a fim de se ter um conhecimento
prévio do estágio em que se encontra o assunto.
A maioria dos pesquisadores trabalha com
fontes bibliográficas, isto é, com informações contidas
em livros, publicações, revistas, jornais e outros.
Mesmo aqueles que fazem pesquisas experimentais em
laboratórios, delimitam as suas pesquisas com base nas
informações existentes, mediante um exame
bibliográfico sobre tudo que já foi escrito sobre o tema,
fora, aqueles que se encontram realizando pesquisas e
necessitam tomar ciência dos avanços que estão sendo
alcançados por outros pesquisadores.
A pesquisa bibliográfica tem como objetivo o
levantamento das contribuições científicas e culturais
existentes sobre certo tema. Assim, oferece meios para
definir, resolver problemas conhecidos ou, até mesmo,
explorar novas áreas de conhecimento. Para Malheiros
(2007) sua importância reside no fato de que:
A PESQUISA BIBLIOGRÁFICA levanta o conhecimento disponível na área, identificando as teorias produzidas, analisando-as e avaliando sua contribuição para compreender ou explicar o problema objeto da investigação. É fundamental a todos os demais tipos de investigação, já que não se pode proceder o estudo de algo, sem identificar o que já foi produzido sobre o assunto.
(http://www.profwillian.com/_diversos/download/prof/marciarita/Pesquisa_n
a_Graduacao.pdf)
Dica do professor
Uma boa dica para o desenvolvimento de sua monografia, mesmo que você ainda não tenha estabelecido os detalhes da abordagem desta é buscar fazer uma pesquisa bibliográfica sobre o(s) tema(s) que pretende desenvolver em seu trabalho.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 71
Vale destacar na citação de Malheiros (2007) o
fato da pesquisa bibliográfica se constituir tanto em
uma pesquisa independente, como também em um
pré-requisito para todas as pesquisas científicas. Assim
sendo, torna-se essencial o aprendizado da pesquisa
bibliográfica, pois o pesquisador necessitará aplicá-la
em toda a sua vida acadêmica e/ou profissional, na
busca do conhecimento científico que enseja uma visão
da realidade livre das amarras das opiniões pessoais,
estigmatizadas ou preconceituosas.
De modo geral esta pesquisa utiliza-se de
material, em geral pertencentes a bibliotecas,
preparado, analisado e publicado em forma de livros,
artigos diversos e impressos. Assumindo a finalidade
de levantar as contribuições científicas e culturais
correntes sobre um determinado assunto ou tema.
Soma-se hoje a esta gama de materiais, os artigos e
revistas eletrônicas provenientes de sites da internet.
Através desse tipo de pesquisa, é possível obter
meios para definir e solucionar problemas conhecidos.
Por outro lado, pela pesquisa bibliográfica o
pesquisador encontra possibilidade para explorar novas
áreas, onde os problemas ainda não se solidificaram
suficientemente. Por isso Galliano (1986) a define
como sendo a pesquisa que
(...) se efetua tentando resolver um problema ou adquirir novos conhecimentos a partir de informações publicadas em livros ou documentos similares (catálogos, folhetos, artigos, etc.). Seu objetivo é desvendar, recolher e analisar as principais contribuições teóricas sobre um determinado fato, assunto ou ideia.
(p. 109)
O trabalho de pesquisa transpassa por três fases
de amadurecimento. No entender de Severino, essas
fases são as seguintes:
Importante
A validade do desenvolvimento científico se estabelece justamente nessa possibilidade destacada, onde cada pesquisador pode, mesmo num outro momento histórico, dar continuidade ao trabalho de outro.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 72
1ª FASE: Momento de invenção
Quando prevalece a intuição. O momento da
descoberta, da formulação de hipóteses. É uma fase,
eminentemente lógica, em que “o pensamento é mais
provocador e o espírito mais atuante”;
2ª FASE: Pesquisa positiva
Seja experimental, de campo ou bibliográfica.
Como afirma Severino (1983):
Nesta etapa, o espírito será posto frente aos fatos, a outras ideias, tendo a oportunidade de cotejar suas primeiras intuições com as intuições alheias ou com os fatos objetivos.Deste confronto nascerá uma posição amadurecida. Talvez seja preciso abandonar ideias anteriores, acrescentar outras novas, reformular outras. Isto quer dizer que nossa primeira formulação não será necessa riamente definitiva: inicialmente e do ponto de vista lógico, será tão somente provisória.
(p. 112)
3ª FASE: Composição do trabalho
Com uma posição amadurecida, investe-se para
a composição do trabalho. Torna-se preciso ter em
mãos uma formulação definitiva do problema, que
poderá confirmar ou não a hipótese formulada na
primeira fase.
No presente tópico iremos nos voltar para a
segunda fase, quando entra em ação a pesquisa
bibliográfica. Em todas as atividades a serem efetuadas
durante o planejamento da pesquisa, ocorre uma
necessidade de muita consulta a obras publicadas,
momentos de reflexão e registros de anotações em
fichas e rascunhos.
Dica do professor
É muito interessante verificar como realmente passamos por essas fases no decorrer da produção de um trabalho acadêmico. Experimente pensar em suas experiências.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 73
A fim de facilitar o seu estudo, dividimos o texto
em duas partes. Na primeira parte enfocaremos o
planejamento da pesquisa bibliográfica e na segunda
parte, a execução da pesquisa bibliográfica.
O PLANEJAMENTO DA PESQUISA BIBLIOGRÁFICA
EM RELAÇÃO À SELEÇÃO DO TEMA
O pesquisador considerando a sua experiência,
formação, tendências, inclinações pessoais e interesse
por um assunto, escolherá um Tema, tomando por
base sua disponibilidade de tempo e de recursos
destinados para a pesquisa a ser desenvolvida, ora em
fase de planejamento.
De modo a encontrar facilidades na seleção do
Tema, o pesquisador precisa recorrer a leituras,
observações e análises de situações divergentes. Por
outro lado, quanto a escolha do tema, não deverá
ignorar aspectos como importância, originalidade e
viabilidade.
Decerto, o “uso da biblioteca” se apresentará
como imprescindível, tanto porque nela se encontram
as experiências, observações e bases conceituais já
realizadas, sem as quais é impraticável haver
verdadeira observação científica. Como sustenta Rudio
(2001)
a revisão da literatura ajuda ao pesquisador delimitar e definir o problema, fazendo com que se evite o manejo de ideias confusas e pouco definidas. Além disto, faz o pesquisador evitar os setores estéreis do problema, considerando as tentativas anteriores, que já foram feitas neste âmbito, e evitando a duplicação de dados, já estabelecidos por outros. A revisão da literatura pode, ainda, ajudar o pesquisador na revisão da metodologia que pretende usar pelas
Importante
Esses são aspectos fundamentais para quem ainda está escolhendo seu tema. Esteja atento as dicas ok!
Dica do professor
Se próximo a sua residência não existirem bibliotecas isso não deve ser um empecilho ao desenvolvimento do seu trabalho. Use os recursos que estiverem ao seu alcance.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 74
sugestões e oportunidades de deduções,recomendadas por pesquisas anteriores para que fossem feitas depois.
(p. 49)
Isso sem mencionar, como ressalta Rudio
(2001), que a pesquisa bibliográfica pode servir
também:
� A formulação de hipóteses garantindo-lhes
validade e consistência através da busca de
uma maior sintonia entre estas e o
conhecimento global da ciência tanto na área
específica que se está estudando quanto em
outras áreas através de um olhar
interdisciplinar.
� A escolha da metodologia de pesquisa a ser
adotada de forma mais apropriada ao
trabalho em andamento, bem como;
� A escolha ou elaboração dos instrumentos de
pesquisa voltado para a coleta e análise dos
dados de acordos com os procedimentos
científicos que balizarão o trabalho.
EM RELAÇÃO À COLETA DE DADOS
As informações necessárias, visando à pesquisa
a ser realizada, podem ser obtidas das mais variadas
maneiras, de acordo com o critério ideal definido pelo
pesquisador. Todo trabalho científico envolve um amplo
leque de ELEMENTOS UTILIZADOS NA BUSCA DO
OBJETIVO DA PESQUISA.
Essas informações bibliográficas permitirão a
confirmação das informações, aprofundamento do
estudo mediante a utilização das obras citadas, a
avaliação da profundidade do trabalho e, também, o
tempo de existência das informações e ideias que
sustentam a argumentação do pesquisador. Podemos
Dica do professor
Como você pode perceber existem muitas formas de coleta de dados. Como já dissemos você deve escolher as que melhor respondem a sua realidade ou a necessidade do tema em estudo.
Dica do professor
O cuidado com a bibliografia na elaboração de um trabalho acadêmico é de fundamental importância. Assim cuide de anotar todos os detalhes da obra onde você fez determinada citação: nome completo do autor, nome da obra, volume, ano, edição, editora, local e ano da publicação e a página de onde retirou o texto.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 75
buscar informações em: enciclopédias, dicionários,
livros especializados, revistas, jornais, notas de aulas,
arquivos, catálogos, bibliografia e internet entre outros.
Nas fontes da biblioteca, encontramos:
� Nas enciclopédias: informações que permitem
uma visão panorâmica sobre determinado
assunto;
� Nos dicionários: informações de ordens geral
e /ou especializada; definições amplas,
sentido das palavras ou informações de ordem
geral no setor especializado;
� Nos livros especializados: informações
detalhadas sobre determinado assunto,
considerando-se um conhecimento mais
profundo;
� Nas revistas e jornais: informações atuais e
abordagem dinâmica da temática;
� Nos arquivos e catálogos: bibliografias,
relação de livros, resumos informativos
(abstracts);
� Nas bibliografias: relações de livros, teses,
dissertações, monografias, folhetos, relatórios
e comentários sobre determinado assunto.
A Bibliografia é o conjunto de obras derivadas
sobre certo assunto ou tema, escritas por diversos
autores, em distintas épocas. Utiliza-se todas ou partes
das fontes bibliográficas, para haurir diretamente o que
interessará à elaboração de nossa pesquisa. Como
vimos, em síntese, após o estabelecimento e
delimitação do tema de trabalho e formulados o
problema e a hipótese, cabe realizar o levantamento.
Sobre o levantamento da documentação existente, no
dizer de Severino:
Dica do professor
Com um pouco de experiência a leitura da bibliografia de um trabalho pode fornecer uma série de dados sobre a proposta do mesmo, sua base ideológica norteadora, seus pressupostos e até mesmo as alternativas que o mesmo pode vir a propor.
Importante
É bom lembrar que os recortes de jornais e revistas, além das informações da Internet, podem ser anexadas a monografia, como forma de comprovação.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 76
Esta é a fase da HEURÍSTICA, ciência, técnica e arte de pesquisa de documentos. Trata-se de desencadear uma série de procedimentos para a localização dos documentos que possam interessar ao tema discutido. Trata-se de uma busca metódica destes documentos. (...) A Bibliografia como técnica tem por objetivo a descrição e a classificação dos livros e documentos similares, segundo critérios tais como autor, gênero literário, conteúdo temático, data, etc. Esta técnica resulta em Repertórios, Boletins, Catálogos Bibliográficos. E é a eles que se deve recorrer quando se visa elaborar a Bibliografia Especial porque a escolha das obras deve ser criteriosa, retendo apenas aquelas que interessem especificadamente ao assunto tratado.
(Severino, p. 113)
Assim, concluído o levantamento bibliográfico,
tem partida o momento do trabalho da pesquisa
propriamente dita, o momento da execução da
pesquisa bibliográfica.
PESQUISA DESCRITIVA E DOCUMENTAL
A PESQUISA DOCUMENTAL CORRESPONDE A
UMA SUBDIVISÃO DA PESQUISA DESCRITIVA. Aquela
que se caracteriza pelo estudo dos fatos e fenômenos
físicos e humanos. De acordo com Cervo (2002), a
pesquisa descritiva procura descobrir, com a maior
precisão possível, a frequência com que um fenômeno
ocorre, sua relação e conexão com outros, sua natureza
e características. Busca detalhar a exposição de todos
os passos da coleta e registros de dados. Expõe:
Quem? Quando? Onde? Como?
A Pesquisa Documental investiga a realidade
presente, diferentemente da pesquisa histórica, porque
esta se volta para o passado. Estuda documentos com
o fim de descrever e comparar tendências, usos e
Dica de leitura
Recentemente Eduardo Vasconcelos foi o autor de um excelente livro que aborda a pesquisa experimental através do viés da interdisciplinaridade. Complexidade e pesquisa interdisciplinar: epistemologia e metodologia operativa. Rio de Janeiro (Petrópolis): Vozes, 2002. Vale a pena consultá-lo.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 77
costumes. Ademais, Cervo alerta, ainda, que toda
pesquisa requer coleta de dados de variadas fontes,
que se desenvolve por meio de documentação direta ou
indireta.
A documentação direta é aquela utilizada pelo
processo de recolhimento de dados através de
entrevistas, observações e questionários locais da
ocorrência dos fenômenos. São os casos das pesquisas
de laboratório e de campo. Quando o levantamento de
dados é efetuado por outras pessoas, acontece o
processo de documentação indireta.
Enquanto a pesquisa bibliográfica utiliza-se
fundamentalmente das contribuições dos diversos
autores sobre determinado assunto, enquanto a
pesquisa documental utiliza-se de materiais que não
receberam tratamento analítico. As fontes de pesquisa
documental são mais diversificadas e dispersas do que
as da pesquisa bibliográfica. Conforme Gil (1991)
aponta, na pesquisa documental existem os
documentos de primeira mão, ou seja, aqueles que não
receberam nenhum tratamento analítico tais como os
documentos conservados em órgãos públicos e
instituições privadas, e os documentos de segunda mão
que de alguma forma já foram analisados tais como:
relatórios de pesquisa; relatórios de empresas; tabelas
estatísticas e outros.
Vale lembrar que consultas a cartas, circulares,
certidões, declarações, projetos, planos de ensino,
planos de aula, projeto político-pedagógico, projeções,
mapas, diplomas, anotações, enfim todo material
impresso diferente de livro ou material de internet,
independente de sua data, pode ser entendido como
documento. E se a análise destes materiais for
importante para sua pesquisa, você fará sim uma
pesquisa documental.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 78
PESQUISA EXPERIMENTAL
A PESQUISA EXPERIMENTAL, por sua vez,
pretende explicar as razões e a maneira pela qual o
fenômeno estudado é produzido. Graças às inovações
tecnológicas existem meios, através de aparelhos e
equipamentos, que possibilitam alcançar os objetivos
da pesquisa, permitindo perceber as relações existentes
entre as variáveis estudadas.
Dessa maneira, por meio da pesquisa
experimental, realiza-se a manipulação direta das
variáveis relacionadas com o objeto da investigação.
Cervo expõe que o manuseio das variáveis implica em
certos conhecimentos.
Através da criação de situações de controle, procura-se evitar a interferência de variáveis intervenientes. Interfere-se diretamente na realidade, manipulando-se a variável independente a fim de observar o que acontece com a dependente.
(Cervo, 2002, p.69)
Cabe observar que a pesquisa experimental não
se resume apenas as pesquisas de laboratório. Os
termos da ‘pesquisa de laboratório’, assim como a de
‘Campo’, apontam tão somente o contexto de
localização realização, isto é, onde ela se realizam.
Podem ser experimental que se desenrola tanto em
laboratório quanto no campo. Segundo Claude Bernard
considerado o pai do método experimental, este se
distingue através de três etapas: a OBSERVAÇÃO, a
HIPÓTESE e a EXPERIÊNCIA.
1ª ETAPA
Os fatos estabelecidos através da OBSERVAÇÃO
devem servir de ponto de partida para o pensamento;
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 79
2ª ETAPA
Pensamento deve imaginar uma tentativa de
explicação (a HIPÓTESE); e
3ª ETAPA
Esta explicação precisa ser controlada e
confirmada por outros fatos que não forma
considerados inicialmente (EXPERIÊNCIA).
Fourastié (1967) a partir de Bernard considera,
então que a atividade científica se resume em três
grandes fases:
� A exploração da realidade;
� A elaboração da Hipótese;
� O controle e a exploração da hipótese que
pode ou não gerar.
O "método experimental" consiste, portanto, no
processo de passagem da observação à hipótese, da
hipótese à experimentação e finalmente desta à tese
(ou, na formulação mais moderna de Popper e outros:
"hipótese"-observação-experimentação-tese, em que a
primeira etapa é, mais do que uma "hipótese", um
"modelo hipotético-dedutivo”, formulação racionalista
que não deixa de poder ser considerada como fazendo
parte integrante do "método experimental") (Fourastié,
1967).
A OBSERVAÇÃO corresponde à exploração do
real, ao armazenamento dos dados. Condição sine qua
non do trabalho científico. Uma coleção de fatos não
pode, por si só, constituir uma teoria científica,
todavia, ela fornece uma base fundamental para o
estudo em andamento além de estudos posteriores. A
HIPÓTESE esboça a trama explicativa e tenta revelar as
relações não diretamente percebidas entre os
fenômenos. Sem hipótese não há atividade científica.
Importante
Vale esclarecer, entretanto, que nem toda pesquisa busca essa relação causal. Ela é mais comum no tipo de pesquisa experimental. Em Alguns casos trata-se de um estudo de caráter exploratório sem hipóteses prévias. Essas provavelmente só seriam elaboradas após esse estudo inicial do objeto de estudo analisado.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 80
A EXPERIMENTAÇÃO, por sua vez, controla a
explicação sugerida pela hipótese. Mais difícil ainda do
que a etapa precedente, ao contrário do que por vezes
se julga, a experimentação deve proceder não somente
à dosagem dos fatos destinados a confirmar a hipótese,
mas confrontar-se a cada instante com a teoria. Porque
se a teoria precisa de verificação experimental, não é
menos verdade que os fatos, para serem
verdadeiramente "fatos científicos" devem ser
verificados teoricamente. Em suma nesta perspectiva, a
observação sugere a ideia, a hipótese dirige a
experiência e a experimentação julga a ideia (Fourastié,
1967).
De modo geral a pesquisa experimental
investiga, portanto, a relação existente entre
fenômenos buscando conhecer se um é causa do outro.
Como afirma Rudio (2001), “a pesquisa experimental
está interessada em verificar a relação de causalidade
que se estabelece entre variáveis, isto é, em saber se a
variável X (independente) determina a variável Y
(dependente)”.
Para tal, estabelece uma situação de controle
efetivo, empenhando impedir que, na pesquisa
desenvolvida, estejam presentes influências estranhas
ao processo de verificação que se pretende conduzir.
Posteriormente, interfere-se, diretamente, na realidade,
de acordo com as condições que foram determinadas,
manuseando a variável independente a fim de observar
o que ocorre com a variável dependente. Assim, a
variável independente (X) será a causa da variável
dependente (Y), nos seguintes casos:
� Y não apareceu antes de X.
� Y varia quando há também variação em X.
� Outras influências não se fizeram X aparecer
ou variar.
Dica de leitura
Esperamos que o exemplo tenha sido claro. Para ter acesso a outros exemplos recomendamos a leitura da obra de: ALVES-MAZZOTTI, A. & GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências naturais e sociais - pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira, 1998.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 81
Por exemplo, é instituída uma pesquisa para se
verificar se num determinado grupo de pessoas a
prática da meditação (variável independente) evita
doenças coronárias (variável dependente). Para que a
nossa resposta seja positiva (meditação reduz as
doenças coronárias) é preciso observar que:
� As doenças coronárias reduziram, após o
início da prática de meditação;
� As doenças coronárias sumiram depois da
prática da meditação;
� Existe uma correlação negativa entre a
efetividade da prática meditativa e
quantidade de doenças coronárias;
� Existem fatores determinantes para mostrar a
ocorrências de doenças coronárias naqueles
que não praticam meditação.
Em síntese, como diz Rudio (2001):
Na pesquisa experimental, o pesquisador manipula deliberadamente algum aspecto da realidade, dentro de condições anteriormente definidas, a fim de observar se produz certos efeitos. A este procedimento denomina-se experimento: não existe pesquisa experimental sem experimento.
(Rudio, 2001, p. 69)
EXEMPLIFICANDO
Como havíamos dito nesse tipo de pesquisa não existe preocupação com a testagem de hipóteses e sim com o estudo da relação entre as diferentes variáveis de um fenômeno. Exemplo: "Os efeitos da alta temperatura na dificuldade de concentração em sala de aula em Manaus". Considerando que o calor não será produzido, mas já existe na localidade. Esse tipo de estudo pretende entender melhor como a variável "calor" afeta a variável "concentração" de uma forma descritiva.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 82
PESQUISA DESCRITIVA OU EX-POST-FACTO
A PESQUISA EX-POST-FACTO, NÃO-
EXPERIMENTAL, OU PESQUISA DESCRITIVA, constata e
avalia as relações entre as variáveis, que se
manifestam espontaneamente em fatos, situações e
nas condições existentes. Nesse tipo de pesquisa não
ocorre manipulação a priori das variáveis. A
constatação de sua manifestação acontece a posteriori,
por isso o uso da nomenclatura em latim de “ex-post-
facto”. A pesquisa descritiva se distingue da
experimental, anteriormente estudada, no que diz
respeito à manipulação das variáveis.
Na pesquisa experimental há criação e produção
de condições específicas, normalmente de forma
aleatória, quanto a amostra, e com elevado poder de
manipulação das variáveis independentes e controle
das não conhecidas. Essa pesquisa pretende dizer e
explicar de que modo ou por que causas o fenômeno é
produzido.
A pesquisa descritiva, ex-post-facto, investiga as
relações entre diversas variáveis de um certo fenômeno
sem manipulá-las. Procura-se a constatação da
frequência com que um fenômeno ocorre, sua relação e
ligação com outros, além de suas características e
natureza.
Nesta pesquisa, o pesquisador busca conhecer e
interpretar a realidade, sem nela imprimir nenhuma
interferência para criar modificações. A palavra chave
é: descrever. Narrar, descobrir e interpretar os
fenômenos que acontecem.
Para isso, a pesquisa precisa ser submetida
constantemente às exigências metodológicas.
Poderemos enumerar os PASSOS METODOLÓGICOS, da
seguinte maneira:
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 83
1º PASSO
Enunciar o problema em termos de indagar se
um certo fenômeno ocorre ou não;
2º PASSO
Que variáveis constituem o problema;
3º PASSO
Como classificar e que semelhanças ou
diferenças existem entre determinados fenômenos;
4º PASSO
Analisar e interpretar os dados obtidos, podendo
ser estes qualitativos ou quantitativos.
A pesquisa ex-post-facto (descritiva) pode
assumir variadas formas. Dentre essas, exceto a
Documental (estudada anteriormente) e o Estudo de
Caso, que veremos detalhadamente mais adiante,
destacamos as seguintes formas a seguir:
ESTUDOS EXPLORATÓRIOS
Chamados por alguns de pesquisa quase
científica ou não científica. Não elaboram hipóteses e
se restringem a definir objetivos e buscar informações
mais aprofundadas sobre certo assunto. Esses estudos
são recomendados para a ampliação de conhecimentos
sobre o problema estudado.
PESQUISA DE OPINIÃO
Busca conhecer tendências, atitudes, pontos-de-
vista, comportamentos e preferências sobre algum
assunto. Serve para subsidiar a tomada de decisão.
Abrange uma ampla faixa de investigação, que objetiva
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 84
a identificação de falhas ou erros, descrever
procedimentos, reconhecer tendências, descobrir
interesses e valores.
PESQUISA DE MOTIVAÇÃO
Procura saber as razões inconscientes ou ocultas
que levam a determinar a preferência por algum
produto ou comportamento/ atitudes. Enfim, as
Pesquisas Descritivas (Ex-post-facto) visam estudar e
descrever as características, propriedades ou relações
correntes na realidade objeto da pesquisa. Da mesma
forma que os exploratórios, os estudos descritivos
contribuem para uma pesquisa mais ampla e completa
do problema e da hipótese.
ESTUDO DE CAMPO
O Estudo de Campo consiste na observação dos
fatos da forma que ocorrem espontaneamente, na
coleta de dados e no registro de variáveis consideradas
significativas para posteriores análises. Esse tipo de
pesquisa, não corresponde à pesquisa experimental,
por deixar de produzir ou de não reproduzir os fatos
investigados. O estudo de campo impede o isolamento
e o controle das variáveis relevantes, porém permite o
estabelecimento de relações constantes entre
determinadas condições (variáveis independentes) e
certos eventos (variáveis dependentes), que são
observadas e comprovadas.
Convém sinalizar que pesquisas de observação dependem de tempo afinal é necessário ir até a situação a ser observada, em grande parte das vezes através de uma permissão anterior de uma autoridade qualquer como a diretora da instituição, ou o gerente do setor da empresa. Os dados são transcritos e/ou gravados e trabalhados posteriormente pelo pesquisador. Além disso, o número de visitas até a situação observada é difícil de deduzir a priori. Tudo isso permite um material excelente para análise, mas, contudo, demanda um tempo considerável. Salvo se você já faz parte da instituição a ser estudada, conhece bem o contexto a ser analisado ou algo do tipo.
Dica do professor
Lembre-se de que não existe pesquisa melhor ou pior e sim a mais adequada ao tipo de estudo ou pesquisa a ser realizada. Analise com calma cada um dos tipos e veja qual seria aquele que responde melhor ao desafio do tipo de trabalho científico que você pretende realizar.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 85
Após a delimitação do problema e de acordo
com a natureza da pesquisa (sociológica, psicológica,
antropológica, mercadológica, política, econômica etc.),
torna-se necessário determinar as técnicas que serão
aplicadas na coleta de dados, as fontes de amostragem
e as técnicas de registros dos dados coletados.
Existem diversas técnicas para a coleta de
dados, dentre as quais enumeramos a ENTREVISTA, o
QUESTIONÁRIO e o FORMULÁRIO.
ENTREVISTA
Funda-se no diálogo com o propósito de colher
dados relevantes para a pesquisa conduzida, a partir
de certa pessoa entrevistada, determinada fonte.
Deve o pesquisador, para a aplicação dessa
técnica, observar os seguintes passos, enumerados por
Cervo (2002):
� Identificar os dados ou as variáveis sobre as
quais serão feitas as questões.
� Selecionar o tipo de pergunta a ser utilizada
em face das vantagens e desvantagens de
cada tipo, com vistas ao tempo a ser
consumido, para obter os dados e a maneira
de tabulá-los e analisá-los.
� Elaborar uma ou mais perguntas referentes a
cada dado a ser levantado.
� Analisar as questões elaboradas quanto a
clareza da redação, classificação e sua real
necessidade.
� Codificar as questões para a posterior
tabulação e análise com a inclusão dos
códigos no próprio instrumento.
� Elaborar instruções claras e precisas para o
preenchimento do instrumento.
Dica de leitura
No já citado livro, “Como produzir uma monografia: passo a passo”, você terá exemplos em anexo de entrevista e questionários.
Dica do professor
Você que pretende utilizar a entrevista como um instrumento de coleta de dados em seu futuro trabalho monográfico, deve dar uma atenção especial as observações de Cervo ao lado bem como as dicas da página seguinte.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 86
� Submeter as questões a outros técnicos para
sanar possíveis deficiências.
� Revisar o instrumento para dar ordem e
sequência às questões.
� Submeter o instrumento a um pré-teste para
detectar possíveis reformulações ou correções,
antes de sua aplicação.
(Cervo, p. 135)
Cabe algumas recomendações ao entrevistador,
para a realização da Entrevista:
� Ser discreto, evitando ser importuno;
� Deixar muito à vontade o entrevistado;
� Ser habilidoso e elegante ao evitar que a
conversa se desvie dos propósitos da
pesquisa;
� Apenas coletar dados e não discuti-los com o
entrevistado;
� Falar pouco e ouvir muito;
� Não confiar excessivamente na memória,
anotando cuidadosamente as informações
obtidas ou gravando as mesmas com o uso
de gravador ou filmadora após consulta ao
entrevistado e sua devida permissão. As
anotações devem ser feitas de modo sucinto
no momento da entrevista e de maneira
ampliada - com mais detalhes - após a
mesma.
QUESTIONÁRIO
Nessa técnica a pessoa fonte das informações
escreve ou responde por escrito as questões elencadas.
Difere da entrevista, quando o entrevistado fala.
O questionário oferece a vantagem da aplicação
simultânea a um elevado número de entrevistados.
Afora a manutenção do anonimato das fontes. Por outro
Dica do professor
Na hora de optar pelo instrumento de coleta de dados, leve em conta a disponibilidade de tempo, acesso as instituições, facilidade de contato, enfim os elementos que você dispõe a seu favor para elaboração do trabalho. Por isso não se apresse, escolha com calma, Se precisar de nossa ajuda é só entrar em contato com nossa equipe. De qualquer forma sua matriz de pesquisa enviada previamente a elaboração da monografia já irá auxiliar bastante nosso diálogo nesse sentido.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 87
lado, essa técnica exige certos cuidados, como por
exemplo:
� Apresentar todos os seus itens de modo bem
claro, para que a pessoa inquirida possa
responder com precisão, sem criar
ambiguidade;
� As questões precisam ser bem articuladas;
� Apresentação de explicações iniciais para o
correto preenchimento do questionário.
FORMULÁRIO
Corresponde a um tipo de questionário, a ser
preenchido pelo próprio pesquisador, conforme as
respostas do entrevistado. Possui a vantagem de se
poder esclarecer verbalmente, qualquer dúvida que
surgir.
Em síntese, o Estudo de Campo requer um
planejamento para a coleta de dados, assim como para
os registros das informações colhidas. Essa forma de
consulta pode se realizar por intermédio de entrevistas,
questionários e formulários. De modo permitir a coleta
de dados que possibilitará a análise e conclusões,
segundo os objetivos previamente definidos.
ESTUDO DE CASO
A pesquisa descritiva apresenta como uma das
suas formas ou subdivisões o ESTUDO DE CASO. De
acordo com o que já estudamos, a característica da
pesquisa descritiva é a investigação de fatos e
fenômenos humanos e físicos sem a interferência do
pesquisador.
De modo geral, o Estudo de Caso realiza uma
pesquisa sobre algum indivíduo, grupo ou comunidade,
Dica de leitura
Para entender melhor esse tipo de pesquisa através de outros exemplos. Aconselhamos a leitura da obra de RICHARDSON, Roberto. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.
Dica de leitura
Veja também a obra de Becker sobre a forma das Ciências Sociais fazerem pesquisa: BECKER, H. Métodos de pesquisa em ciências sociais. São Paulo: HUCITEC, 1992.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 88
visando estudar diversos aspectos da vida ou o seu
ciclo. Consiste, assim, em verificar uma situação real,
para que seja elaborada uma análise ou PROPOSTAS
alternativas de solução.
Não obstante o estudo de caso caracterizar-se
pelo fato de as situações serem reais ou com base no
real, o pesquisador pode aplicar hipóteses, sem deixar
de ter como parâmetro a realidade. Dessa maneira, a
técnica de estudo de casos apresenta os seguintes
objetivos:
� Oferecer oportunidades para aplicação de
conhecimentos assimilados em situações da
realidade;
� Promover condições para o exercício da
análise e da prática da tomada de decisões.
Como podemos perceber, o estudo de caso
torna-se recomendável para a compreensão de uma
determinada situação e para a interpretação de fatos,
como alicerce para uma ação posterior. Quando a
coleta de dados da realidade também se faz presente
como a técnica por excelência, de igual forma quanto
as demais subdivisões da pesquisa descritiva. De
acordo com o objetivo da pesquisa, existem dois tipos
de estudo de caso: Estudo de Caso - Análise e Estudo
de Caso – Problema.
No primeiro caso, anteriormente citado, a
pesquisa visa desenvolver um trabalho analítico sobre o
objeto de estudo. A intenção é DISCUTIR, ESMIUÇAR,
embora possa não contemplar uma solução, no
universo das diversas soluções alternativas possíveis,
dentro da delimitação do problema determinado.
Quanto ao ESTUDO DE CASO – PROBLEMA, a
pesquisa objetiva ALCANÇAR UMA SOLUÇÃO. Uma
Dica do professor
Na conclusão desta aula você encontrará um resumo de boa parte do que vimos sobre pesquisa. Acompanhe cada parágrafo e se tiver alguma questão. Não deixe de anotar. Se não conseguir obter respostas por outros meios é só entrar em contato conosco.
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 89
solução QUE SEJA A MELHOR POSSÍVEL, dentro da
delimitação do objeto de estudo e da sua
problematização. Caracteriza-se por um esforço de
síntese. Essa técnica contribui para a capacidade de
tomar decisões, de assumir uma linha de ação após a
análise de várias alternativas.
Cabe ao pesquisador manter o cuidado de não
se deixar influenciar pelo risco de considerar que o
Estudo de Caso visa chegar a conclusões dogmáticas,
únicas ou ao consenso geral. Para isso necessita adotar
certos procedimentos:
� Definir os objetivos a serem alcançados com
o estudo de caso;
� Firmar os conhecimentos que serão aplicados
na análise de caso e as formas de coletas de
dados;
� Selecionar o fato real, objeto de estudo, ou,
então ter bem claro a Hipótese de trabalho;
� Manter como base de todo o estudo os dados
da realidade;
� Não descurar do tempo disponível para a
pesquisa, considerando o tempo de
elaboração de suas conclusões.
Para se compreender o sentido da pesquisa com
estudo de caso, imaginemos o exemplo de uma
determinada classe de aula de uma Escola Pública.
A pesquisa desejará conhecer a sua natureza,
sua composição, processos que a constituem ou nela se
realizam. O estudo de caso poderá se voltar para
algum aspecto particular daquela classe de aula,
naquela escola específica.
A pesquisa que busca alcançar conhecimentos
sistematizados e seguros necessita de um
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 90
planejamento do processo de investigação. O trabalho
de pesquisa necessita de uma delimitação que depende
das características do objeto de estudo e do nível de
conhecimento do pesquisador. O estudo realizado
mostra que cada tipo de Pesquisa possui, além do seu
núcleo de procedimentos, suas peculiaridades próprias.
A pesquisa bibliográfica investiga o Problema
a partir do referencial teórico existente nas fontes de
pesquisa. Trabalha com fontes bibliográficas, isto é,
com informações contidas em livros, publicações,
revistas, jornais e outros. Mesmo as pesquisas
experimentais em laboratórios, delimitam as suas
pesquisas com base nas informações existentes,
mediante um exame bibliográfico sobre tudo que já foi
escrito sobre o tema.
Este tipo de pesquisa tem como objetivo o
levantamento das contribuições científicas e culturais
existentes sobre certo tema. Desse modo, o “uso da
biblioteca” oferece meios para definir, resolver
problemas conhecidos ou, até mesmo, explorar novas
áreas de conhecimento. A Pesquisa Documental
investiga a realidade presente. Estuda documentos com
o fim de descrever e comparar tendências, usos e
costumes.
A Pesquisa Experimental pretende explicar as
razões e a maneira pela qual o fenômeno estudado é
produzido. Poderá utilizar aparelhos e equipamentos
que possibilitam alcançar os objetivos da pesquisa,
permitindo perceber as relações existentes entre as
variáveis. Por meio da pesquisa experimental, realiza-
se a manipulação direta das variáveis relacionadas com
o objeto da investigação. A pesquisa experimental
investiga, portanto, a relação existente entre
fenômenos. Busca conhecer se um é causa do outro.
:: Pesquisa bibliográfica:
É costume associar a pesquisa bibliográfica com a fundamentação teórica, ou seja, a base teórica que fundamenta seu estudo. Uma pesquisa bibliográfica cuidada mostra que você não está inventando as informações do seu trabalho, mas trabalhando a partir de estudos e pesquisas de outros autores.
Dica do professor
Chegamos ao final de mais uma aula. Parabéns por ter vencido mais uma etapa de trabalho. Entendemos que a leitura e estudo da mesma poderá auxiliá-lo de forma significativa na elaboração de sua monografia e de qualquer outro trabalho de caráter científico que pretenda desenvolver. Assim sendo, aconselhamos você, caso tenha chance, de fazer uma nova leitura cuidadosa das informações contidas nesse caderno, atentando para as sugestões, indicações e obras a que ele se refere. Sucesso!
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 91
A Pesquisa Ex-post-facto, não-experimental, ou
Pesquisa Descritiva, verifica as relações entre as
variáveis, que se manifestam espontaneamente em
fatos, situações e nas condições existentes. Não
manipula a priori as variáveis. A constatação de sua
manifestação acontece a posteriori.
No Estudo de Campo as observações ocorrem
espontaneamente, na coleta de dados e no registro de
variáveis consideradas significativas para posteriores
análises. Existem diversas técnicas para a coleta de
dados, dentre as quais enumeramos a Entrevista, o
Questionário e o Formulário.
O Estudo de Caso realiza uma pesquisa sobre
algum indivíduo, grupo ou comunidade, visando
estudar diversos aspectos da vida ou o seu ciclo.
Consiste, assim, em verificar uma situação real, para
que seja elaborada uma análise ou propostas
alternativas de solução. Poderá ser aplicado com o fim
de uma análise ou para a procura de uma solução do
problema, dentro da delimitação do objeto de estudo.
RESUMO
Vimos até agora:
� Analisamos o que vem sendo chamado de
delineamento de uma pesquisa desde a sua
indagação inicial geradora até a escolha do
tipo de metodologia de pesquisa empregada
em uma análise científica;
� Estudamos e analisamos as diferenças entre
diferentes tipos de pesquisa a partir de
critérios definidos por estudiosos na área
como a área de conhecimento, lugar onde se
desenvolvem, utilização, tipo de dados
Aula 4 |O Delineamento da pesquisa científica 92
coletados e forma de raciocínio adotada em
sua realização;
� Conhecemos de forma sucinta algumas das
principais formas de coleta de dados e a
importância destas em função do tipo de
pesquisa desenvolvido.
93
A Opção pela Pesquisa de Campo
AU
LA5
Apr
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Essa aula será bastante interessante a todos os que se propõem a estudar e desenvolver uma pesquisa não apenas teórica, mas de campo, isto é, num contato mais direto com o objeto de pesquisa efetivado através de estratégias como observação sistemática, aplicação de questionários e entrevistas e outros. A pesquisa de campo permite o acesso a uma série de dados e variáveis difíceis de ser coletados apenas através da pesquisa bibliográfica. Nessa aula iremos conversar sobre os desafios dessa modalidade de pesquisa, a interferência da subjetividade do pesquisador e alguns instrumentos relativos à mesma, com destaque especial para a realização de entrevistas. Aproveite bastante!
Obj
etiv
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Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
� Entender o que seja uma pesquisa de campo, suas
características, desenvolvimento, estratégias e instrumentos mais utilizados;
� Analisar diferentes tipos de entrevistas e seus usos na coleta de dados e informações pertinentes à pesquisa em andamento;
� Ser capaz de formular um roteiro de entrevista, planejar os detalhes referentes a sua realização e analisar tomando por base o objeto de estudo analisado e seu contexto sócio-histórico.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 95
Pesquisa de campo
A pesquisa de campo busca a explicação dos
fenômenos através das relações dos mesmos e a
exaltação da observação dos fatos, com base em uma
teoria ou conceito. É importante explicar, fundamentar
o observado, assim, conclui-se mais próximo do real,
diminuindo a margem de erro.
Este é o procedimento fundamental para se
constituir a hipóteses (verdadeira o dependente). Se
estabelece relações entre os fatos no dia a dia, que
fornece os indícios para a solução dos problemas
propostos pela ciência. Alguns estudos valem-se
exclusivamente de hipóteses desta origem. Estas
hipóteses têm pouca probabilidade de conduzir a um
conhecimento suficientemente geral e explicativo.
O termo ''pesquisa de campo'' é normalmente
empregado para descrever UM TIPO DE PESQUISA
FEITO NOS LUGARES DA VIDA COTIDIANA E FORA DO
LABORATÓRIO OU DA SALA DE ENTREVISTA. Nesta
ótica, o pesquisador, ou pesquisadora, vai ao campo
para coletar dados que serão depois analisados
utilizando uma variedade de métodos tanto para a
coleta quanto para a análise. Neste texto, relatamos as
conclusões iniciais de uma série de discussões sobre
pesquisas de campo feita numa perspectiva pós-
construcionista. Partindo das dificuldades provocadas
por uma noção de campo fisicamente determinada, a
discussão retoma a perspectiva de Kurt Lewin sobre o
campo como totalidade de fatos psicológicos, para
depois se aproximar das propostas de Ian Hacking
sobre ''matriz'' e a discussão mais ampla sobre
materialidades.
A consequência desta reflexão foi a proposição
de um ''campo-tema'' onde o campo não é mais um
lugar específico, mas se refere à processualidade de
Dica de leitura
No livro “Como produzir uma monografia passo a passo”, mais informações saber como trabalhar o tema e o problema (p.13). Lá você vai encontrar outros detalhes sobre modalidades de pesquisa para mais tarde buscar o aprofundamento na questão das pesquisas empírica e de Campo.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 96
temas situados. O texto conclui com uma discussão
sobre algumas implicações desta proposta para o
processo de pesquisa e para as práticas narrativas
usadas para relatar as suas conclusões.
A PESQUISA DE CAMPO PASSO A PASSO
A origem
A ESCOLHA DO TEMA se torna o ponto mais
difícil da pesquisa, pois se muito complexo pode ocorrer
que fatores como bibliografia, amplitude e tempo
disponível interfiram diretamente na difícil tarefa de
iniciar o desenvolvimento do aprofundamento do tema.
É interessante buscar as relevâncias sociais,
mercadológicas, corporativas, entre outros, do assunto
que você pretende abordar. Depois, leia um jornal ou
uma revista, pois as reportagens costumam ser bem
esclarecedoras, sobre os atos citados. Vejamos o
exemplo da reportagem publicada no Jornal do Brasil:
LEITURA
Obesidade não tem hora para atacar:
Excesso de peso em crianças e adolescentes deve
ser combatido
Renata Leal
Escola, cursos, brincadeiras... A correria da vida moderna causa problemas não só aos adultos. Longe dos pais durante boa parte do dia, crianças e adolescentes apelam para as comidas congeladas, de rápido preparo, ou então para os calóricos e pouco saudáveis alimentos fast-food, que podem levar à obesidade, um fantasma que assombra pais e mães. Comidinhas e biscoitos ingeridos entre os intervalos das refeições são grandes vilões da garotada. Responsáveis, entre outras coisas, pelo aumento do peso, carboidratos, doces e frituras acabam entrando na lista
Dica do professor
Atente as dicas e informações que o autor sugere caso pretende efetivar um estudo dessa natureza.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 97
negra de jovens que, por questões de saúde ou por vaidade, acabam (na melhor das hipóteses) procurando o auxílio de especialistas. Bernardo Santos Soares, de 14 anos, começou a engordar aos 10 e acabou buscando o auxílio do nutrólogo Alexandre Merheb. - Estava ficando gordinho, já tinha vergonha de tirar a camisa na frente dos outros. Em três meses de tratamento, perdi oito quilos - comemora Bernardo. Merheb conta que nos últimos dez anos a obesidade infantil tem sido a cada dia um problema mais comum. - É preciso que se faça uma reeducação alimentar e que se pratique, com frequência, uma atividade física. A obesidade é consequência de um desequilíbrio. Não se pode ingerir mais gordura do que o corpo consome - explica Merheb.
(Jornal do Brasil (2004). Disponível em:http://jbonline.terra.com.br/jb/papel/cadernos/barr
a/2004/04/27/jorbar20040427005.html)
O exemplo acima pode gerar o primeiro
contato com o tema a ser escolhido, pois a
obesidade pode ser enfoque no público alvo:
� CRIANÇAS: alunos entre 6 e 10 anos;
� PRAÇA OU LOGRADOURO: escola municipal
tal;
� APELO: frequentam a cantina da escola com
frequência;
Bem, o passo seguinte é o questionamento para
que se possa viabilizar o tema e a futura proposta de
projeto de pesquisa.
� “Que tipo de alimentos essas crianças estão
consumindo?”
� “Com que frequência?”
� “Será que os pais incentivam ou não?”
Importante
Atente para o tipo de perguntas que foram sendo efetivados no decorrer da análise do autor assim que este se decide pela escolha de um tema.
Dica de leitura
Para um aprofundamento nessa técnica consulte a obra de Antonio Carlos Gil: GIL, A. Como elaborar um projeto de pesquisa. 6ª ed., São Paulo: Atlas, 1996.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 98
E assim, você vai respondendo cada questão.
Mas as respostas virão após a observação do objeto de
estudo, ou seja, o habito alimentar das crianças. De
posse da reportagem você ainda pode buscar
elementos para o desenvolvimento do tema, como o
que os profissionais, nutricionistas, médicos, diretores
de escola pensam e se posicionam frente ao problema.
Caso não exista essa referência na matéria jornalística,
cabe a você ir a campo e entrevistar esses profissionais
ou buscar outras bibliografias a respeito.
Em resumo, tal pesquisa já determinou que
algumas escolas particulares promovessem uma
reestruturação de suas cantinas. Em alguns municípios
pelo Brasil, é proibida a venda de alimentos que não
tenham valor nutricional, ou seja, as velhas balas,
salgadinhos industrializados entre outros. Foi a partir
de uma observação anterior, ou, conhecimento pré-
concebido, somado a leitura de uma mídia impressa,
que se despertou a curiosidade e o resultado... bem, o
resultado pode não ter agradado crianças e locatários
de cantina, mas no futuro esses alunos serão mais
saudáveis.
Um SEGUNDO MOMENTO se preocupa com a
relação entre ''pesquisado'' e ''pesquisador'' e engloba a
pesquisa colaborativa, a pesquisa-ação, a pesquisa
participativa e a ética que orienta a pesquisa.
RAZÕES PARA PESQUISAR
O que determina a realização de uma pesquisa?
As Razões de ordem intelectual e as razões de ordem
prática (puras e aplicadas). As primeiras decorrem do
desejo de conhecer pela própria satisfação de conhecer.
As últimas decorrem do desejo de conhecer com vistas
a fazer algo de maneira mais eficiente. Uma pesquisa
sobre problemas práticos pode conduzir à descoberta
de princípios científicos. Da mesma forma, uma
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 99
pesquisa pura pode fornecer conhecimentos passíveis
de aplicação prática imediata.
O PESQUISADOR
Os argumentos acima são importantes para
compreendermos os motivos que levam uma pessoa a
pesquisar e sua importância para a sociedade. Na
verdade, esse conhecimento deve ser associado a um
lado interessado, ou seja, o sucesso da pesquisa e suas
descobertas para o mundo dependem de suas
habilidades. O perfil dos pesquisadores:
� Conhecimento do assunto a ser pesquisado;
� Curiosidade;
� Criatividade e imaginação disciplinada;
� Autoavaliação;
� Sensibilidade social;
� Confiança na experiência.
A REALIDADE DO PESQUISADOR
A ideia do cientista reconhecido como gênio é
coisa do passado. Hoje, o pesquisador depende de suas
habilidades pessoais para desenvolver o processo de
criação científica, mas também é muito importante o
papel desempenhado pelos recursos de que dispões
para o resultado final da pesquisa.
O CAPITAL
Possui um papel fundamental no processo, afinal
não se pode duvidar da interferência do poder
econômico no resultado, ou seja, amplos recursos têm
maior probabilidade de ser bem sucedida em um
empreendimento de pesquisa que outra cujos recursos
sejam deficientes.
Qualquer pesquisa deverá levar em
consideração o problema dos recursos disponíveis. Para
Dica do professor
Uma resposta segura a pergunta “Por que pesquisar tal coisa?” Será de grande importância na elaboração da justificativa e outras partes de sua monografia. Em relação ao objeto que você pretende estudar, pergunte-se sobre quais seriam suas motivações, levando em consideração as destacadas ao lado.
Importante
Nesta página o autor fala de questões relativas a tarefa de pesquisar e seus desafios no que diz respeito ao status atual do pesquisador; necessidade de elaborar um orçamento possível de ser concretizado em termos financeiros e as interrelações que devem existir entre pesquisa e demandas sociais.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 100
isso, deve estar atento aos gastos decorrentes da
aquisição de material e equipamento necessário,
evitando assim economia de tempo em busca da
agilidade necessária para a confecção do trabalho.
O pesquisador precisa elaborar um orçamento
adequado, ou seja, administrar seu trabalho de
pesquisa. Alguns pesquisadores se sentem
constrangidos com esta imposição extra-científica, mas
é fundamental para que o trabalho não sofra
interrupções.
Não é mais possível dissociar a pesquisa
científica das práticas sociais que as sustentam, a
saber, interesses sócio-econômicos e políticos,
prioridades institucionais, estrutura de poder das
agências financiadoras, ideologia entre outros. Só pelo
desenvolvimento do ensino e da pesquisa será possível
compreender exatamente o significado do papel crítico
que as instituições de ensino devem desenvolver.
PLANEJAMENTO
É uma antecipação da investigação, passo mais
importante em direção à monografia. Neste momento o
educando busca um assunto ou problema a ser
investigado e através de ações internas, procura
antever em qual direção deve seguir para resolver o
problema, se há bibliografias sobre o assunto, se o fato
que pretende dissertar é atual ou antigo, se o tema
pode ser investigado em seu habitar ou distante, o
custo operacional para o desenvolvimento e se há
tempo hábil para buscar a solução.
É importante lembrar que o pesquisador deve
ter noção do tempo a ser utilizado na finalização
pesquisa, calcular o custo estimado para concluí-la no
prazo e definir se o tema é atual ou não. A produção
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 101
do organograma e cumprir as etapas propostas, tudo
correrá bem.
Manter o tema atualizado requer tempo e
dedicação, afinal não existem muitas bibliografias
disponíveis e não se surpreenda se ao término do
trabalho você conclua que deve publicá-lo, já que não
há quase nada no mercado e seu livro seria uma
excelente fonte de futuras pesquisas.
Por tanto, o trabalho e dedicação do
pesquisador como parte integrante da pesquisa de
campo, revela as possibilidades as restrições do
assunto e do futuro argumento a ser defendido. A
Pesquisa de Campo, ou campo tema, como alguns
autores se referem não é algo tão difícil de se
mensurar, ele é um fato empírico ou um lugar para
fazer observações.
Os pesquisadores não podem se distanciar das
questões do dia a dia. Para tal faz-se necessário perder
o vício de partir sempre para o teórico e só depois, se
consideramos necessário, buscar a pesquisa de campo
para melhor embasar o trabalho acadêmico. Esse até
pode ser um caminho viável, entretanto, é importante
estimular nossos alunos e colegas a partir de fatos do
cotidiano, observá-los, mensurá-los e aí sim, buscar
bibliografias que nos permita ter um suporte verídico
ou conceitual de cada fato, como e por que eles
ocorrem.
PESQUISA DE OPINIÃO
O estudo da opinião esta situada entre a
psicologia social e a ciência política. Ele investiga as
origens e características dessas forças, que nenhuma
constituição prevê, mas cuja expressão constitui o
fundamento implícito de todas as democracias. A
Importante
De nada adianta pensar uma proposta se tempo de realização da mesma for inviável. No nosso caso, por exemplo, é preciso fazer um recorte do tema de tal forma que sua concretização não ultrapasse o prazo de alguns meses.
Para refletir
Procure refletir de forma o tema que você escolheu para pesquisar e verifique se relaciona com as questões do seu cotidiano?
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 102
pesquisa de opinião estabelece uma relação com a
psiquê individual e com o comportamento de grupo.
No nível individual, opinião confunde-se com
atitude. No nível coletivo, aparece como entidade
mítica. A opinião é o sentimento do indivíduo. Em
pesquisa de campo, esse posicionamento retrata a
realidade do ambiente onde ele interage, vivencia, por
tanto, não pode ser desprezada independentemente de
grau de escolaridade, credo, cor... entre tantas outras
barreiras sociais que a própria sociedade cria. Ou seja,
o fato de o indivíduo questionado, não possuir estudo,
não faz dele uma pessoa desqualificada para opinar
sobre o fato pesquisado.
A PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA
O que as pessoas pensam sobre um produto,
serviço, celebridades, pessoas públicas, dirigentes,
governantes. Em Marketing se chama
“Posicionamento”, como você público me enxerga. Você
possui uma boa imagem sobre minha pessoa? São
pesquisas que ajudam a vender produtos, assim como
esse que você tem aí na sua mesa. Então por que não
utilizar algumas de suas técnicas para que a pesquisa
científica seja mais eficaz?
Vamos entender um pouco o que significa
opinião pública. A expressão da opinião pública está
ligada a uma atividade política. São as deliberações dos
cidadãos da “polis” grega, realizada no local do
mercado, que orientam a tomada das decisões pelo
governo ateniense. Em fins do século V a.C. aparece
uma classe de homens políticos, que cortejam a
opinião, para conduzir o povo no sentido que desejam,
conhecidos como “DEMAGOGOS”.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 103
A opinião na Polis expressa os sentimentos de
uma faixa restrita da população, somente os cidadãos
adultos. As mulheres não participam, os escravos
tampouco. A democracia ateniense apoiava-se num
conceito de povo muito específico. A mesma coisa
ocorre com a Vox Populi dos Romanos. O fórum
substituiu-se ao agora, mas apenas os cidadãos de
Roma têm direito a expressar sua opinião.
Na Idade Média européia, hegemonia dos
sistemas de valores e crença, encontramos o conceito
de Consensus Omminium (acordo de todos) que
expressa a voz de uma opinião coesa em torno da fé
cristã. Nesta época surgia a Propaganda, que visava a
angariar fundos e recrutar homens para as cruzadas
(guerras contra os hereges).
O Renascimento marca o advento do indivíduo e
com ele o direito à diversidade das opiniões. Na
Reforma, após a queda do poder da Igreja Católica,
consagra a vitória da opinião crítica e passa a ser
cortejada por políticos para se obter e manter um
poder que não foi recebido por direito de nascença. A
Revolução Francesa prezava a voz do povo, a opinião
expressava a voz do grupo que estava no poder.
Quem tomar por tarefa dar leis a um povo deve saber como dirigir as opiniões e, através delas, governar as paixões dos homens.
(Jean Jacques Rousseau)
O século XIX assiste ao estabelecimento da
primeira revolução industrial, a classe média triunfa, a
imprensa desenvolve-se. As reivindicações, antes
predominantemente políticas, apoiam-se mais em
problemas sociais e econômicos.
As diversas etapas da história da opinião como:
do mercado grego, do teatro romano, dos sermões, das
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 104
cartas e das baladas na Idade Média, dos panfletos e
livros, dos jornais e até as modernas técnicas (até
virtuais) dos meios de comunicação de massa, pode-se
definir “Opinião Pública sobre assuntos que dizem
respeito à nação, expressa livre e publicamente por
homens fora do governo, que reclamam o direito de
que suas opiniões possam influenciar ou determinar as
ações, o pessoal, a estrutura do governo.
FORMAÇÃO DA OPINIÃO
As técnicas de aproximação para o estudo
objetivo da opinião podem ser agrupadas em dois tipos
principais: EXPERIMENTAÇÃO e OBSERVAÇÃO.
� Observação: inclui desde a análise histórica e
sociológica até a pesquisa armada, que utiliza
questionários, entrevistas.
� Experimentação: geralmente a nível
interpessoal, em pequenos grupos, pelo motivo
óbvio da relativa facilidade de manipulação.
O BOATO
Proposição específica para acreditar, que passa
de pessoa a pessoa, em geral oralmente, sem meios
probatórios seguros para demonstrá-la. Sua principal
característica é a TRANSITORIEDADE. Quase sempre
diz respeito a personalidades famosas, ou
acontecimentos fora do comum, como também serve
ao interesse pessoal ou de um determinado grupo,
elite, pessoa... É importante lembrar que a informação
pode ser “plantada” para prejudicar uma imagem,
produto ou serviço, não apenas de um produto, mas de
toda uma empresa e das pessoas que a formam com
graves consequências.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 105
AMOSTRAGEM E QUESTIONÁRIO
A forma mais usual da observação extensiva
utilizada pelos meios de Comunicação (Rádio e TV) é a
realização de INQUÉRITOS DE OPINIÃO, junto à
população em geral. Para ser válido esse tipo de
pesquisa exige o máximo de rigor em seus dois
aspectos essenciais: a escolha da população a ser
inquirida (amostragem) e a construção do instrumento
de investigação (o questionário).
A pesquisa social visa populações geralmente
amplas, que não podem ser alcançadas na sua
totalidade. Como realizar uma sondagem junto a toda
população do Brasil num curto espaço de tempo sem
que a mesma perca a veracidade? Os institutos de
pesquisa investigam somente parte dessa população,
de forma que a amostragens (população) seja mais
representativa possível, isto é, que a partir dos
resultados dessa pequena parte se possa inferir,
legitimamente, os resultados que seriam obtidos
ouvindo a população global.
Observe que o fenômeno humano chamado de
“opinião pública” deve ser investigada mediante
rigorosas técnicas de observação e experimentação e a
avaliação dos resultados está além da simples lista de
nomes ou números apresentados pelos institutos de
pesquisa, participação de ouvintes e telespectadores.
Sem cultura sociológica e sem sensibilidade para o
fenômeno, o pesquisador terá dificuldade de extrair o
essencial. Em todos os ramos das ciências humanas, a
interpretação dos fatos é tão importante quanto à
análise.
Dica do professor
Eis aqui de forma resumida algumas regras básicas de como produzir um questionário simples: a) Inicie-o breve explicação para que serve o questionário (sou aluno do curso de graduação.... b) Elabore perguntas objetivas e claras c) Deixe espaço para resposta do tipo, SIM, NÃO e POR QUE. d) Procure não exceder o limite de dez questões.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 106
TIPOS DE ENTREVISTAS DE OPINIÃO
MOTIVACIONAL
Neste tipo de entrevista o entrevistado goza de
ampla liberdade. O entrevistador manterá uma atitude
de grande compreensão, permitindo uma contínua
exploração do entrevistado em relação aos seus
julgamentos, opiniões, sentimentos e tendências,
quanto ao assunto proposto. A exploração será feita
pelo próprio entrevistado e nunca por provocações do
entrevistador. Nesse tipo de entrevista o entrevistador
será sempre um ouvinte cordial e atencioso não
devendo nunca assumir uma posição autoritária. Isso
significa explorar as opiniões do entrevistado, sem,
contudo, evitar discussões com este.
COMO MONTAR UMA ENTREVISTA
Os jornais diários e as pesquisas de intenção
vivem economicamente do seu grande produto, a
informação, que é obtido pelos repórteres ou por outras
fontes, como também por pesquisadores. Precisa se
aprofundar os fatos, colher informações, ouvindo
pessoas importantes ou anônimas, pois todas elas,
conforme a natureza do fato, têm elementos
valiosíssimos para fornecer.
Nem sempre os nomes dos entrevistados é
divulgado na reportagem ou pesquisa como o fito de
preservar sua identidade. O pesquisador não consegue
estar nos locais de todas as ocorrências nem próximo
delas, e por isso precisa ouvir quem presenciou algo
que mereça ser divulgado ou pesquisado
cientificamente.
O pesquisador não deve se acomodar nos
domínios dos conteúdos dos livros, ele deve sair as
ruas, fazer amizades e aproximar-se de pessoas, que
Dica do professor
Exemplo de entrevista Ping Pong. AVM: As apostilas são de fácil leitura e compreensão?
ALUNO: Sim, no momento em que estou lendo, associo imediatamente a um fato que ocorreu na escola.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 107
hoje ou amanhã, venha a saber de alguma coisa que
possa ser aproveitada como informação de interesse
científico.
O CONCEITO
A entrevista é um dos instrumentos mais
eficazes para coleta de dados sendo utilizada por
diferentes profissionais (jornalistas, pesquisadores,
psicólogos, e outros). Diante de uma pessoa capaz de
informá-lo sobre elementos fundamentais para o
desenvolvimento da pesquisa, o pesquisador perderá o
seu tempo e nada oferecerá de bom para a conclusão
da informação se não possuir habilidade em sua
condução, e por consequência, escreverá uma
informação truncada e de difícil compreensão para o
público leitor. Ou seja, quesito nº 1, ter domínio do
assunto.
A entrevista deve ser produzida com calma e
ordenadamente a ponto de se tornar um bate papo,
uma comunicação pessoal.
O PRIMEIRO REQUISITO
Antes de mais nada é preciso se ter claro o
objetivo da entrevista, ou seja, o que pretendemos
com ela. Esse ponto é fundamental se quisermos que a
mesma possa atingir seus objetivos. Depois é
importante elaborar um ROTEIRO DE ENTREVISTA com
perguntas que atendam a esse objetivo. Como já foi
dito esse roteiro não é uma regra a ser seguida, mas
um caminho possível de responder aos objetivos
traçados.
No que se refere a suas características, a
autenticidade é uma das principais características da
entrevista, ou seja, que as declarações atribuídas ao
Importante
Muitos trabalham o roteiro de entrevista a partir de um teste inicial onde o primeiro roteiro elaborado é aperfeiçoado até que se tenha o modelo de roteiro padrão. Ex.: Realizando a primeira entrevista percebeu-se a necessidade de se incluir uma nova pergunta que não tinha sido pensada e retirar duas que ficaram confusas substituindo-as por outras mais claras. Essa primeira entrevista, portanto, serviu para aperfeiçoar o roteiro já existente tornando-o mais eficiente em relação aos objetivos da entrevista.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 108
entrevistado possam ser comprovadas facilmente. O
interesse também é um importante requisito para a boa
entrevista, e aqui a técnica depende mais do
entrevistador. Por fim outra exigência a considerar é a
identificação do entrevistado na entrevista. O texto final
deve ser fluente, equilibrado e acessível.
CLASSIFICAÇÃO DAS ENTREVISTAS
As entrevistas podem ser classificadas sob dois
aspectos importantes quanto:
AO ENTREVISTADO:
� Individual;
� De grupo: subdivididas em ENQUETE e de
PESQUISA.
AOS ENTREVISTADORES:
� Pessoal ou exclusiva;
ENTREVISTA INDIVIDUAL
Marcada com antecedência com determinada
pessoa e será estabelecido um diálogo capaz de
fornecer dados básicos para a matéria a ser publicada.
A entrevista geralmente é exclusiva, mais pode
acontecer que horas depois ela seja procurada por
outro repórter concorrente.
ENTREVISTA DE GRUPO
Ocorre quando várias pessoas falam a um ou a
vários entrevistadores. Outra forma é o questionário,
que pode ser passado em uma sala de aula, na
empresa ou para um grupo de moradores. Assim, é
possível aferir as informações de forma rápida e
coletiva.
Dica do professor
Procure analisar os diferentes tipos de entrevistas apresentadas buscando identificar qual aquela que melhor responderia aos anseios do trabalho monográfico que pretende realizar, caso opte pelo trabalho de campo com este tipo de instrumento de pesquisa.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 109
ENQUETE
É aquela em que um ou diversos entrevistadores
perguntam sobre o mesmo assunto a muitas pessoas.
Ex: sobre aumento de passagens no Rio, horários
noturnos nas faculdades. Assuntos de grande interesse
público. Reunindo perguntas simples e objetivas, esse
tipo de entrevista serve para favorecer uma
amostragem das opiniões sobre um tema qualquer,
sendo, portanto, utilizadas com frequência.
ENTREVISTA DE PESQUISA
É aquela que se destina a colher informações
que sirvam para a produção da informação de caráter
interpelativo, de maneira a esclarecer o leitor sobre o
fato. Neste caso, determinados assuntos são
investigados com o objetivo de esclarecê-los perante a
opinião pública. O entrevistador deve PROCURAR
SEMPRE OS ESPECIALISTAS no assunto, a fim de que a
opinião deles, citada ou não nominalmente,
fundamente a matéria.
ENTREVISTA PESSOAL OU EXCLUSIVA
Quando a pessoa ouvida fala a um só jornal ou
jornalista (por envolvimento pessoal ou credibilidade).
Quando se tratar de profissional de notoriedade,
poderá fornecer sua entrevista por escrito,
respondendo a perguntas previamente elaboradas,
junto a sua Assessoria. No caso de uma pesquisa
científica, se apenas uma pessoa é entrevistada é
provável a mesma sirva a produção de uma biografia
ou refira ao estudo de um fato cuja pessoa
entrevistada esteja diretamente envolvida.
Importante
É comum que a amostra selecionada para as entrevistas seja constituída de pessoas que dominam o assunto que queremos investigar. Contudo é preciso tomar certos cuidados para identificar tais especialistas. Muitas vezes um morador antigo de uma rua sabe muito mais de sua história e das mudanças que esta sofreu do que uma autoridade da prefeitura ou um especialista em desenvolvimento urbano.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 110
Faça o entrevistado sentar-se, in off bata um
papo sobre o tema da entrevista de forma
descontraída. Deixe o entrevistado a vontade. Ouça
atentamente e guarde mentalmente os pontos mais
importantes que podem vir a ser perguntados durante
a entrevista. Ao iniciar a entrevista anote pontos
chaves que se tornarão novas perguntas.
Aqui estão algumas das perguntas mais comuns
em entrevistas levando em consideração alguns temas
como "profissão", "situação financeira", "interesses" e
outros.
� Qual é o seu nome completo?
� Onde você nasceu? Qual sua idade?
� Veio para ficar ou está só de passagem? Mora
com parentes ou amigos?
� Em que bairro mora?
� Qual a sua profissão atualmente?
� Gosta dela ou esta lhe foi imposta?
� Como explica o fato de sua empresa?
� O excesso de profissionais neste segmento
não dificulta sua atividade?
� Se você tivesse que escolher uma profissão,
qual escolheria? Por que?
� Como andam suas finanças? Por que?
� Você compraria este produto? Por que?
� Qual o seu grau de escolaridade?
� Por que não concluiu? Por que não ingressou
em uma universidade?
� Não acredita no diploma ou ele não interfere
no desempenho da sua profissão?
� Mesmo sem ter concluído cursos escolares
possui alguma cultura?
� Você não passou por uma universidade, logo,
como chegou até aqui?
� Tem religião? Qual?
� Como é o seu temperamento? Por que?
� Como foi sua infância e juventude?
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 111
� Já viveu um grande amor?
� Pratica esportes? Quais?
� Do que mais gosta ou que mais odeia?
Note como as perguntas iniciais são sempre
relativas a identificação geral do entrevistado. Esse é
um dado importante, em alguns casos a perda desse
tipo de registro não apenas dificulta a interpretação dos
dados, pois pode até invalidá-los.
As entrevistas podem ser registradas de
diferentes maneiras: anotações, gravações em vídeo
ou fita cassete, e outros. Sobre os instrumentos
utilizados para o registro das entrevistas e sua correta
utilização conversaremos mais a frente.
Chegamos assim ao final de nosso caderno. O
tema da metodologia da pesquisa é muito rico e é
evidente que neste caderno não esgotamos nem o
assunto, nem muito menos as suas implicações.
Aproveite as dicas bibliográficas das caixinhas laterais
para se aprofundar mais no assunto tratado.
Tenha certeza que no decorrer do estágio e
demais atividades de pesquisa do curso teremos a
oportunidade de nos aprofundarmos melhor, através de
situações oportunas para a prática de pesquisa, nas
temáticas abordadas em nossa disciplina. Até lá
consulte esta aula sempre que dúvidas se fizerem
presente. Sucesso!
RESUMO
Vimos até agora:
� Analisamos diferentes tipos de pesquisa de
campo procurando conhecer melhor suas
aplicações e importância para coleta de
dados;
Dica do professor
Você chegou ao final desta aula Congratulações por mais essa vitória. Se tiver dúvidas sobre alguns pontos mesmo após a leitura do módulo e as sugestões bibliográficas citadas é só entrar em contato conosco, pois teremos prazer em atendê-lo. Lembre-se sempre que a dedicação em seus estudos é a chave do sucesso.
Aula 5 |A opção pela pesquisa de campo 112
� Estudamos alguns dos principais instrumentos
utilizados em pesquisa de campo tais como os
questionários e as entrevistas desde sua
concepção inicial até sua aplicação;
� Refletimos sobre os prós e contra no que diz
respeito a possibilidade da realização de uma
pesquisa de campo em nossa futura produção
bibliográfica.
O Plano de Pesquisa
AU
LA6
Apr
esen
taçã
o
Nessa aula iremos nos dedicar a construção detalhada do PLANO DE PESQUISA. Podemos dizer que essa aula nos faz um interessante convite: Colocar em prática boa parte daquilo que até agora só tínhamos trabalho do ponto de vista teórico. Eminentemente prático, seu objetivo é bastante claro: auxiliá-lo a elaborar passo a passo seu Plano de Pesquisa. Considerando suas diferentes etapas e elementos. Para a execução de tal tarefa estaremos nos reportando muitas vezes a conceitos e argumentações já vislumbradas nos módulos anteriores. Assim sendo, se você sentir dificuldade com algum termo em particular, não hesite em voltar aos mesmos para sanar dúvidas e seguir em frente com maior segurança.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
� Saber o que seja um plano de pesquisa e reconhecer seus
elementos principais; � Ser capaz de construir um plano de pesquisa referente ao
trabalho que você irá desenvolver no final de seu curso; � Analisar um plano de pesquisa avaliando se o mesmo está
construído de forma a auxiliar o desenvolvimento de um trabalho de pesquisa ou não.
Aula 6 |O Plano de Pesquisa 115
Para início de conversa
No decorrer das aulas que se seguiram temos
conversado sobre vários assuntos relacionados à
temática da metodologia da pesquisa, ou seja, sobre o
estudo dos métodos e técnicas de se pensar e fazer
pesquisa científica em nossa realidade atual. Ao longo
dessa caminhada já percorrida é possível destacar.
dentre estes assuntos, por exemplo, os diferentes tipos
de conhecimento e pesquisa existentes; as variadas
técnicas de se pesquisar através de uma metodologia
qualitativa e/ou quantitativa de trabalho; os cuidados e
desafios que a arte da pesquisa exige e, de modo
particular, o lugar da pesquisa na universidade e a
postura ética do pesquisar frente ao seu objeto de
pesquisa e divulgação dos resultados obtidos.
Resumidamente: aprendemos juntos que a pesquisa é
o fundamento da ciência, razão de seu
desenvolvimento e continuidade.
O Plano de Pesquisa pode ser entendido como
um PROCESSO SUCINTO DE PLANEJAMENTO DE UMA
PESQUISA VOLTADA PARA A ELABORAÇÃO DE UMA
MONOGRAFIA. Sua estrutura é simples e não considera
alguns elementos típicos de um grande projeto de
pesquisa como organogramas, cronograma de trabalho
ou projeção de custos; uma vez que tais elementos,
mesmo importantes num determinado contexto, fogem
ao delineamento de um trabalho monográfico. A
grande contribuição do Plano é a de oferecer ao aluno
uma oportunidade de planejar a realização de seu
trabalho melhorando suas chances de viabilização e
evitando, de forma preventiva, riscos desnecessários
relativos a questões diversas como a não pertinência
do tema ao curso preterido ou a necessidade de um
tempo hábil para a exequibilidade da proposta elevada
e fora dos padrões sugeridos em nosso curso.
Dica do professor
Essa é uma das aulas mais importantes de nosso curso uma vez que ela sintetiza muito do que já conversamos até agora. Leia com atenção cada um dos pontos discutidos e se possível faça suas anotações ao lado do texto para facilitar seu entendimento. LEMBRE-SE: O envio do plano de pesquisa deve ser realizado no próximo módulo. Veja o modelo do Plano ao final deste Caderno de Estudos. Preencha com as informações de sua proposta de pesquisa e envie para o Núcleo Central após o pagamento do Módulo 10.
Aula 6 |O plano de pesquisa 116
A aprovação de um plano de pesquisa por parte
do professor orientador significa, em outras palavras, a
aprovação de uma proposta de trabalho monográfico,
cuja pesquisa envolvida, seja ela de caráter teórico ou
prático, atende aos requisitos básicos de uma
metodologia científica ou do próprio curso em questão.
Por outro lado sua reprovação em algum item, ou no
plano como todo, sinaliza que algo precisa ser
modificado antes que esse trabalho maior de pesquisa
seja realizado. O plano pode ser comparado, nesse
caso, a um fusível que se queima primeiro, evitando
que as peças mais importantes e caras de um aparelho
venham a serem danificadas. Pense bem: por mais
trabalho que você tenha dedicado ao seu plano de
pesquisa, que poderá ser refeito por algum motivo,
este não se compara a decepção de ter de refazer do
zero todo um trabalho monográfico de meses porque o
mesmo não atendia aos requisitos básicos do curso.
Vale ressaltar que embora o plano seja a base
da construção do trabalho da monografia, isso não
significa que ele não possa sofrer pequenas
modificações em relação ao que se pretende
desenvolver na monografia. Muitas vezes construímos
um plano, mas no decorrer da produção do trabalho
monográfico nos deparamos com situações adversas
que nos levam a fazer pequenas mudanças no plano
original ou mesmo construir um novo plano de
pesquisa.
Convém destacar que a não aprovação do plano
de pesquisa não significa necessária que a proposta de
pesquisa é ruim. Muitas vezes seu problema é tão
somente a inadequação da temática de estudo em
relação ao curso. É fundamental que o objeto de estudo
tenha relação com a temática do curso em andamento.
Importante
Esse aspecto é muito importante: o Plano de Pesquisa é uma etapa fundamental na preparação da monografia. Ele é sua sugestão de temática, que deve ser aprovada pelo Curso (em função de sua pertinência e relevância) a fim de que sua monografia tenha desenvolvimento.
Aula 6 |O plano de pesquisa 117
A ESTRUTURA DO PLANO DE PESQUISA
O desenvolvimento de trabalho monográfico tem
o planejamento como uma de suas etapas mais
importantes. Sua elaboração, como já prevenimos, é
essencial e evita perdas desnecessárias de
investimento de tempo, esforço e dinheiro. Em geral
sua elaboração já implica num conhecimento mínimo
da realidade estudada, fazendo com que o pesquisador
se interesse por se aprofundar no mesmo estudando
pontos lhe despertar curiosidade, dúvida ou mesmo
estranhamento. Além disso, é possível ainda fazer
emergir novas questões da realidade em foco
dependendo do senso crítico e da criatividade do
pesquisador ao propor novos ângulos de visão e/ou
novas alternativas metodológicas (Vasconcelos, 2002).
A estrutura básica de nosso plano de pesquisa é
formada pelos seguintes componentes: Tema, Título,
Problema, Justificativa, Objetivo (geral e específicos),
Hipótese (ou Questões Secundárias), Delimitação e
Procedimento Metodológico. A partir desse momento
vamos analisar cada um desses itens considerando
suas particularidades e importância para o
desenvolvimento da pesquisa monográfica.
O TEMA
O tema se refere basicamente ao fato ou
fenômeno que o pesquisador pretende estudar. Trata-
se de um assunto de caráter geral do qual emergirá o
problema a ser enfocado.
EXEMPLO TEMA: Educação a Distância PROBLEMA: Quais seriam as Alternativas oferecidas pelo Ensino a Distância para o Aprendizado de Física no Ensino Médio?
Importante
“Tenho boas idéias, mas não sei como escrever”. Ouvida com bastante freqüência, essa frase pode indicar falta de clareza no conteúdo ou pouco domínio da estrutura do texto. Também pode ser uma indicação de dificuldades de linguagem. Geralmente, ela revela problemas de estrutura de idéias, que o exercício sistemático do plano ajuda a resolver. Se esse for o seu caso, não pense que você é a única pessoa a ter dificuldades para escrever. Até escritores renomados têm momentos de incerteza e dúvida sobre como colocar suas idéias e histórias no papel.
Aula 6 |O plano de pesquisa 118
Note que o problema em si já oferece uma
primeira especificação (recorte) do tema escolhido. Já
não se trata do estudo da Educação a Distância de
maneira ampla, mas de uma modalidade própria de
ensino a distância voltada para o aprendizado de Física.
Uma segunda especificação diz respeito ao público
específico a que o estudo se refere, isto é, o Ensino
Médio e não qualquer ciclo de ensino.
A escolha do tema ao contrário do que se pode
pensar é uma das etapas mais importantes e difíceis na
prática de pesquisa. Ele nasce de reflexões oriundas do
interesse ou curiosidade despertada pelo estudo de um
autor, teoria, escola de pensamento, técnica, etc. – ou
mesmo de reflexões surgidas na prática profissional. É
importante que ao escolher um tema, você tenha
condições de estudá-lo a partir de certa “neutralidade”.
Se você optar pelo estudo de um tema que você odeie
ou ame demais será difícil, ao longo do estudo,
independente do recorte que você fizer, assumir uma
postura mais neutra diante de seus resultados. Por
outro lado, Trabalhar um assunto que não seja do seu
agrado pode tornar a pesquisa num exercício de tortura
extremamente desgastante.
Segundo autores como Estrela (2001) e Gil
(1993) na hora de se decidir por um tema qualquer
procure levar em consideração os seguintes itens:
� Pertinência do tema em relação curso em
exercício;
� Seu interesse pelo mesmo (sem exageros);
� A atualidade do tema (cuidado com questões
já superadas ou exaustivamente tratadas por
outros autores);
� A produção bibliográfica existente sobre o
mesmo (revisão bibliográfica);
Importante
Porque é tão difícil escolher um tema? O tema é assunto principal sobre o qual versará nossa monografia. Ele implica numa seleção e como toda seleção traz uma renúncia implícita nem sempre é fácil escolher. Escolha antes de mais nada um assunto do qual você goste e tenha interesse em investigar e depois um tema que tenha uma bibliografia razoável que possa ser analisada.
Aula 6 |O plano de pesquisa 119
� As exigências do tema em relação ao tempo e
o esforço a ser dispensado para seu
desenvolvimento.
Sobre este último item em particular deve-se
levar em consideração a quantidade de atividades a
cumprir para executar o trabalho de pesquisa (coleta
de dados, pesquisa bibliográfica, escrita, revisão, etc.)
comparando o tempo necessário para esta execução
com o tempo das demais atividades realizadas em
nosso cotidiano não relacionadas à pesquisa. Além
disso, quando lidamos com prazos relativamente curtos
para finalização da pesquisa, não podemos nos
enveredar por assuntos que não nos permitirão cumpri-
los. O tema escolhido deve sempre estar delimitado
dentro do tempo possível para a conclusão do trabalho.
OUTRAS QUESTÕES QUE DEVEM SER LEVADAS EM
CONSIDERAÇÃO NA ESCOLHA DO TEMA DE
PESQUISA:
FATORES INTERNOS
a) Afetividade em relação a um tema ou alto
grau de interesse pessoal:
Para se trabalhar uma pesquisa é preciso ter um
mínimo de prazer nesta atividade. A escolha do tema
está vinculada, portanto, ao gosto pelo assunto a ser
trabalhado. Trabalhar um assunto que não seja do seu
agrado tornará a pesquisa num exercício de tortura e
sofrimento.
b) O limite das capacidades do pesquisador em
relação ao tema pretendido.
É preciso que o pesquisador tenha consciência
de sua limitação de conhecimentos para não entrar
num assunto fora de sua área. Se minha área é a de
Aula 6 |O Plano de Pesquisa 120
ciências humanas, devo me ater aos temas
relacionados a esta área.
FATORES EXTERNOS
a) O limite de tempo disponível para a conclusão
do trabalho.
Quando a instituição determina um prazo para a
entrega do relatório final da pesquisa, não podemos
nos enveredar por assuntos que não nos permitirão
cumprir este prazo. O tema escolhido deve estar
delimitado dentro do tempo possível para a conclusão
do trabalho.
b) Material de consulta e dados necessários ao
pesquisador.
Outro problema na escolha do tema é a disponibilidade
de material para consulta. Muitos alunos depois de
fazerem sua proposta nos procuram dizendo não
encontrar bibliografia sobre o assunto.
Antes de escolher seu tema certifique-se que
terá acesso a uma bibliografia básica sobre ele.
O TÍTULO
O título nada mais é do que à denominação de
seu estudo. Como ele é, normalmente, o primeiro item
a ser considerado por aqueles que irão consultar o seu
trabalho, é interessante que o título não seja longo ou
vago demais. Ao contrário, ao elaborar o mesmo,
procure fazer com que este seja sintético e se refira à
temática em estudo.
O titulo que você adotará em seu Plano pode
ainda ter um caráter provisório podendo ser
Aula 6 |O Plano de Pesquisa 121
MODIFICADO se ao longo da pesquisa você se deparar
com um nome mais interessante ou apropriado para
este.
Podendo ser escrito em estilos diferentes é
importante atentar para as exigências de cada situação
ou mesmo da instituição onde seu projeto será enviado
ou está sendo gestado.
No caso de nosso curso, no título do plano de
pesquisa, não é exigido um maior formalismo em sua
elaboração desde que o leitor do mesmo tenha clareza
com relação a que o trabalho se refere (o que você
pretende com o estudo). Vejamos um exemplo
relacionado ao estudo de motivação de gerente de
vendas cujo título é apresentado nos estilos formal e
informal:
ESTILO FORMAL:
� O Estudo de Práticas Motivacionais aplicadas
à Gerência de Vendas.
� O Problema da Desmotivação do Gerente de
Vendas: Caminhos e Alternativas Práticas.
� Motivação na Gerência de Vendas: Refletindo
sobre a Aplicação de Práticas Motivacionais.
ESTILO INFORMAL:
� Motivando o Gerente de Vendas: Desafios e
Propostas
� Como Motivar seu Gerente de Vendas?
� Lidando com a Desmotivação do Gerente de
Vendas.
� O que Podemos Fazer para Manter nosso
Gerente de Vendas Motivado?
Note bem no exemplo, como a mesma questão
pode ser trabalhada de diferentes ângulos e estilos
Importante
SOBRE O MÓDULO 10: Os módulos 10, 11 e 12 são voltados para a Orientação do Trabalho Monográfico. O próximo módulo (10) será dedicado exclusivamente à análise e orientação de seu PLANO DE PESQUISA. Logo que concluir o estudo desta disciplina, preencha o modelo do plano apresentado ao final deste Caderno de Estudos e envie-o ao Núcleo Central após o pagamento do Módulo 10.
Aula 6 |O Plano de Pesquisa 122
mantendo a clareza daquilo que se pretende estudar no
trabalho. Vale destacar também o uso de subtítulos
antes de emprego de dois pontos a fim de clarificar
ainda mais o recorte que será feito no tema. Essa
variedade de estilos permite torna possível ao
pesquisador mudar o mesmo sem prejuízo de seu
entendimento de acordo com a situação onde o
trabalho será apresentado ou mesmo no caso de uma
publicação do mesmo tentando torná-lo mais comercial.
Algo do tipo: “Motivação em Gerência de Vendas sem
Mistérios”.
O PROBLEMA
No cotidiano costumamos dizer que o problema
é o "X" da questão. Isto é, a raiz, a chave da questão.
Trazendo tal interpretação para o nosso Plano de
pesquisa, é possível afirmar que o problema se refere à
questão central de seu estudo, a mola mestra deste.
Aquilo que o pesquisador deseja realmente saber
movido por um motivo qualquer, seja por não existir
uma resposta conhecida, seja por querer se posicionar
diante das muitas respostas existentes.
Vale ressaltar também que de um único tema
vários problemas podem ser formulados. No entanto,
como o Plano se refere ao planejamento de uma
monografia, estudo de caráter focal, é bom não se
prender a mais de uma questão, mas formular uma
única questão-chave que norteará seu trabalho
monográfico. Outros questionamentos interessantes
desse mesmo estudo, poderão ser efetivados por você
em futuros trabalhos, afinal sua monografia pode ser
É importante que o problema seja sempre escrito sob a forma de pergunta, afinal ele é, acima de tudo, um questionamento sobre um determinado objeto, fato ou situação.
Dica do professor
Faça o problema como uma pergunta! Com direito a uma Interrogação no final! Isso ajuda muito a definir sua QUESTÃO de pesquisa.
Aula 6 |O Plano de Pesquisa 123
apenas um primeiro de uma sequência de muitos outros
estudos que poderão até, quem sabe, fundamentar sua fu-
tura dissertação de mestrado ou até sua tese de
doutorado se esse for seu objetivo.
O pesquisador deve evitar ainda que seu
problema se torne geral e abrangente a ponto de não
ser pesquisado. Este é o momento da apresentação de
um problema específico, previamente definido e
delimitado em termos de tempo e de espaço (quando e
onde) que vai se constituir, como já observado
anteriormente, na questão central da pesquisa.
Na opinião de Humberto Eco “o estudo deve
dizer do objeto algo que ainda não foi dito ou rever sob
uma ótica diferente” (Eco, 1977, p.22). Nesse sentido,
o problema formulado deve fazer referência a algo
novo, ou seja, a sua contribuição para compreensão do
estudo, o seu olhar sobre o tema e sua(s) interrogação
(ões) sobre o mesmo.
Vejamos mais um exemplo com o objetivo de
clarificar o que estamos falando. Consideremos o
seguinte tema:
Este tema nos remete à questões de gênero e
sua especificidade no que se refere a situação da
mulher no mercado de trabalho. Sobre o mesmo você
deverá criar um problema, isto é, uma pergunta que
funcionará como um recorte do seu estudo. Vejamos
aqui algumas sugestões:
� Qual é a situação da mulher no mercado de
trabalho no século XXI?
EXEMPLO TEMA: A Situação da Mulher no Mercado de Trabalho.
Aula 6 |O plano de pesquisa 124
� Quais foram as maiores vitórias e derrotas da
Mulher no Mercado de Trabalho nas últimas
décadas?
� Que desafios as mulheres precisam superar
para conseguirem uma melhor colocação no
mercado de trabalho?
� O que mudou no mercado de trabalho com a
ascensão feminina a partir dos anos 80?
Note como a formulação dos problemas citados
permitiram o surgimento de dois resultados concretos:
a) um questionamento e b) um limite da abrangência
do estudo (recorte). Através desses dois elementos o
pesquisador pode iniciar sua pesquisa evitando riscos
de se desviar do tema em questão se perdendo na teia
da complexidade que qualquer temática abrange.
A JUSTIFICATIVA
É uma das partes mais importantes do Plano de
Pesquisa já que é nesta parte que se formularão todas
as intenções do autor do estudo ao realizá-lo. A
justificativa, como o próprio nome indica, trata do
convencimento da necessidade da realização do
trabalho de pesquisa. É através dela que elementos
como: o tema escolhido pelo pesquisador assim como o
problema formulado, e as hipóteses levantadas serão
justificados como merecedores de serem melhor
estudados a fim de serem comprovados ou não.
Segundo Bagno (2000), justificativa é a defesa
que você faz de sua ideia de pesquisa. Nela você
apresentará uma série de argumentos pautados não
apenas na sua experiência, mas nas proposições
teóricas de diferentes autores, de que seu trabalho é
digno de interesse e financiamento. Enfim é nela que
você irá "vender seu peixe", assim sendo, procure
caprichar em sua elaboração, fazendo com que a
Aula 6 |O Plano de Pesquisa 125
mesma convence seus leitores da importância de seu
estudo.
Uma dica importante na elaboração da
justificativa diz respeito à necessidade de se tomar um
certo cuidado para não se tentar justificar a hipótese
levantada, ou seja: tentar responder ou concluir o que
ainda vai ser buscado no trabalho de pesquisa. A
justificativa apenas exalta a importância do problema a
ser investigado, fundamentando-o através de uma
revisão teórica. Seu objetivo é de ressaltar a
importância da pesquisa e não de respondê-la
previamente. Em outras palavras: Se você já sabe a
resposta para seu problema antes de fazer a pesquisa
não há necessidade de realizá-la. Se a justifica já traz
consigo a resposta do problema, ao invés de favorecer
sua realização irá justificar a não necessidade de
efetivação da mesma.
No caso do plano de pesquisa enfocado neste
módulo, a justificativa é restrita a poucos parágrafos.
Seu objetivo é conseguir reunir de forma unificada os
motivos que justificam a necessidade do estudo e a
base teórica sobre a qual o mesmo se sustentará. Mais
tarde, no processo de elaboração monográfica, ela
poderá ser desmembrada servindo a elaboração de boa
parte da introdução bem como de alguns capítulos.
Consideremos aqui um exemplo que Bagno
(2000) dá ao justificar sua pesquisa sobre a vida e obra
de Monteiro Lobato de uma forma bem sintética.
Tornar mais bem conhecida dos alunos e da comunidade a importância de Monteiro Lobato na literatura em outros aspectos do Brasil é de fundamental importância (...). Monteiro Lobato é considerado até hoje o nosso mais importante autor de literatura infantil, gênero em que foi pioneiro no Brasil. Além disso, teve atua-
Aula 6 |O Plano de Pesquisa 126
ção fundamental na criação da indústria editorial brasileira, tendo sido o fundador de algumas das primeiras editoras do país, que existes até hoje. Por isso, a data de seu nascimento foi escolhida para se comemorar o Dia do Livro.
(Bagno, 2000: 29-30)
No caso de nosso Plano procure fundamentar
melhor a defesa do seu tema incluindo na sua
justificativa a orientação teórica que você pretenderá
seguir. No exemplo citado por Bagno o autor assinala
que sua pesquisa seria desenvolvida a partir da
consulta de sites, cd-rom’s, revistas, enciclopédias e
algumas principais obras do autor.
OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS
Os objetivos dizem respeito à meta final do
estudo. O que o mesmo pretende de forma geral. Os
objetivos de um estudo monográfico qualquer
caracterizam de forma resumida a finalidade de sua
proposta. Não existe pesquisa alguma sem um objetivo
(Carvalho et al., 2000).
Ele deve ser elaborado de forma clara e sucinta
de modo a destacar ao leitor a pretensão do
pesquisador ao desenvolver sua pesquisa.
Provavelmente, com outras palavras, você já falou do
objetivo ao elaborar sua justificativa, contudo, esse
item sugere algo mais preciso e sintético. Como é
possível perceber através dos exemplos o mesmo pode
ser geral ou específico (explicitando objetivos
secundários):
Aula 6 |O plano de pesquisa 127
CUIDADO NA FORMULAÇÃO DOS OBJETIVOS
Este seu planejamento é para uma pesquisa, um
estudo, e não para a ação. Portanto seus objetivos
devem ser os alvos de sua pesquisa, ou seja, o que
você pretende ANALISAR, OBSERVAR, COMPARAR,
todas estas atividades INTELECTUAIS envolvidas em
uma pesquisa.
Não faça objetivos de INTERVENÇÃO, pois este
não é um projeto de AÇÃO, e por isso seus objetivos
(na pesquisa).
EXEMPLO 1 TÍTULO: O Papel da Gestão Democrática na Empresa de Hoje OBJETIVO GERAL: Conhecer a importância da Gestão Democrática para o Sucesso das Empresas nos dias de Hoje. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: a) Desvelar como os processos de gestão
democrática favorecem uma maior sintonia da equipe de trabalho;
b) Discriminar as principais características de uma gestão democrática;
Examinar as possíveis conseqüências em uma empresa através da implementação de processos de gestão democrática.
EXEMPLO 2 TÍTULO: A Avaliação Psicopedagógica da Aprendizagem OBJETIVO GERAL: Identificar os critérios utilizados por docentes e psicopedagogos na avaliação psicopedagógica de problemas de aprendizagem. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: a) Identificar os meios utilizados por educadores e
psicopedagogos para identificar problemas de aprendizagem;
b) Analisar as concepções de educadores da escola investigada a respeito de problemas de aprendizagem;
c) Propor alternativas de avaliação a educadores e psicopedagogos a partir das contribuições da psicopedagogia.
Aula 6 |O Plano de Pesquisa 128
NÃO SÃO:
� Conscientizar...
� Mudar a atitude de profissionais da área...
� Promover mudanças na prática...
� Etc.
Pode parecer estranho, pois muitas vezes estes
são nossos desejos maiores, mas não são objetivos no
âmbito da pesquisa. Na prática, os resultados da sua
pesquisa podem embasar a formulação de um projeto
de ação, e aí sim estes serão os seus objetivos.
Não sei se você percebeu, mas um macete para
se definir os objetivos é iniciá-los pelo verbo no
infinitivo: ESTRUTURAR tal objeto, ESCLARECER tal
coisa; DEFINIR tal assunto; PROCURAR aquilo;
PERMITIR isto, DEMONSTRAR algo etc.
A HIPÓTESE OU AS QUESTÕES SECUNDÁRIAS
Hipótese (hipo = baixo + Thesis= proposição) é
uma palavra de origem grega que significa princípio
base ou simplesmente uma proposição. De modo geral
podemos concebê-la como uma possível resposta ao
problema formulado independente desta ser verdadeira
ou falsa. Trata-se, portanto, de uma suposição
provisória sobre um determinado problema que ao final
da pesquisa realizada será comprovada ou não
(Salomon, 1994). Um dos exemplos clássicos de
hipótese é a seguinte. Se eu jogo uma moeda para
cima tenho duas hipóteses possíveis: pode dar cara ou
coroa. Quando eu enfim resolver jogar a moeda é que
eu saberia em qual dois lados ela irá cair. Assim como o
problema, ela tem a função de orientar o pesquisador
na direção daquilo que pretende explicitar o
demonstrar. Se comprovada, após realização da
pesquisa, a hipótese pode adquirir o status de tese.
Aula 6 |O plano de pesquisa 129
A hipótese não deve ser confundida com uma
mera opinião sobre um assunto. Ela se refere ao
resultado que você espera encontrar ao final de sua
pesquisa, baseado em estudos prévios sobre o que está
sendo pesquisado (Andrade, 1998; Ruiz, 1993). Na
medida em que ela se trata de uma resposta a uma
questão, a mesma deve ser expressa na forma
afirmativa. No decorrer da pesquisa, assim como após
seu término, novas hipóteses poderão ser formuladas,
o que nos leva a entender que podem existir hipóteses
antes, durante e depois de uma pesquisa qualquer.
Que tal conferir alguns exemplos:
A observação científica não é simples observação de fatos: a ciência não parte da observação dos fenômenos, mas da formulação de problemas sobre esses fenômenos (a descoberta de "fatos polêmicos"). Como nota François Jacob, pode examinar-se um objeto durante anos sem daí tirar a menor observação com interesse científico; nas palavras de Gérard Fourez, observar é fornecer um modelo teórico daquilo que se vê. Observado/analisado o fenômeno, o cientista passa à formulação de uma hipótese que o explique -- uma explicação provisória. A hipótese, embora se relacione com os dados da observação, não deriva diretamente deles, sendo antes uma criação do cientista. No entanto, a indução está na base de muitas hipóteses: a partir dos casos observados pode formular-se uma hipótese que explique não apenas esses casos, mas todos os da mesma espécie; Hume criticou esse salto no desconhecido (a passagem da análise de casos particulares para o caráter geral da hipótese) -- as teorias de Popper podem constituir uma alternativa e de certo modo uma "solução" para esse problema. Fonte: Ciência e Hipótese, disponível em <http://afilosofia.no.sapo.pt/11.verificabilidade.htm>
EXEMPLO 1 PROBLEMA: Como a Educação Ambiental pode promover um processo de Desenvolvimento Comunitário?
Aula 6 |O plano de pesquisa 130
Considerando o problema da página anterior é
possível a construção de várias hipóteses como, por
exemplo:
� A Educação Ambiental pode promover o
Desenvolvimento Comunitário através do
estímulo a organização da comunidade em
prol da resolução de problemas essenciais
relacionados à Qualidade de Vida;
� A Educação Ambiental pode promover o
Desenvolvimento Comunitário na medida em
que consegue estimular potenciais
comunitários latentes de organização e
participação política;
� O Desenvolvimento Comunitário só será
possível se as questões socioambientais da
comunidade, preocupação central da
Educação Ambiental, forem consideradas e
tratadas de forma consciente e crítica.
É a pesquisa sobre o tema, seja ela bibliográfica
ou de campo (questionários, entrevistas etc.) que irá
dizer se as hipóteses acima serão refutadas ou
confirmadas. O pesquisador não tem como saber isso
previamente.
Vale ressalvar que nem toda pesquisa parte
necessariamente de hipóteses a serem testadas. No
caso de um estudo de caráter exploratório, onde o
objetivo do pesquisador é conhecer algo do qual possui
pouca ou nenhuma informação, fica difícil inclusive
formular algum tipo de hipótese. Nesse caso em
particular, o aluno poderá apenas formular algumas
questões secundárias.
EXEMPLO 2 PROBLEMA: Quais as dificuldades mais encontradas na elaboração de um plano de negócios?
Importante
De forma alguma! Quando uma pesquisa não chega à sua hipótese inicial ela certamente encontra outra resposta. Esse é o objetivo de uma pesquisa: encontrar uma formulação que responda à problemática proposta, sendo esta resposta convergente ou não com a hipótese inicial. Por isso, não se preocupe! A hipótese é uma forma de organizar o pensamento, mas o sucesso de seu trabalho não depende de sua confirmação.
Aula 6 |O plano de pesquisa 131
Nesse caso, o estudo em questão será uma
EXPLORAÇÃO das principais dificuldades que
profissionais de diferentes áreas encontram para
elaborar um plano de negócios. Não há hipóteses a
serem testadas, mas sim, apenas um problema a ser
investigado que não deixa de oferecer questionamentos
ao pesquisador.
A DELIMITAÇÃO
A delimitação pode ser definida com uma
especificação mais concreta do seu problema em
relação à área de abrangência, local, tempo e amostra
que servirá ao estudo. Por mais que tenhamos tentado
aclarar através dos objetivos e hipóteses o que
queremos com nosso estudo, algumas perguntas ainda
podem ficar sem respostas. São questões como: onde
o estudo será desenvolvido? Quantas pessoas serão
entrevistadas? Quantos questionários serão aplicados?
Quantas escolas estarão envolvidas na pesquisa?
Quando a observação foi feita e etc.
Vejamos aqui também alguns exemplos de
delimitação:
EXEMPLO 1 TÍTULO: Seleção de Pessoal: Desafios e Propostas DELIMITAÇÃO: Este estudo será desenvolvido em uma empresa privada de Salvador (BA), onde serão entrevistados 6 (seis) profissionais, de diferentes idades e sexos, que atuam na área de seleção da mesma em 2004.
EXEMPLO 2 TÍTULO: Enfrentando o Desafio da Inclusão DELIMITAÇÃO: A presente pesquisa delimita-se a duas escolas da rede pública localizadas em Vitória (ES), onde 50 questionários serão distribuídos, sendo 30 destinados a professores e 10 destinados a psicopedagogos que atuam na área da inclusão. O estudo deverá ser efetivado no período de março a abril de 2000.
Aula 6 |O plano de pesquisa 132
OS PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O último, mas não menos importante item de
seu Plano de pesquisa se refere aos procedimentos
metodológicos a serem utilizados na realização de seu
estudo monográfico. Trata-se de uma explicação
detalhada dos métodos (meios) de pesquisa e a
maneira de como estes deverão ser empregados em
seu estudo.
Neste item você deve incluir as técnicas, os
procedimentos, os equipamentos e materiais
necessários, as variáveis consideradas e do tipo de
coleta e INTERPRETAÇÃO DE DADOS a ser empregado.
Os aspectos estatísticos, quando for o caso, tanto no
que diz respeito a TÉCNICAS DESCRITIVAS quanto aos
TESTES a serem utilizados devem também ser
discriminados.
O enfoque metodológico de uma pesquisa - no
que se refere a clareza, pertinência e domínio - é de
vital importância para o desenvolvimento da mesma e o
alcance dos resultados perseguidos. Em outras palavras
para o emprego de um determinado método, faz-se
necessário compreender bem suas especificidades
teóricas - sobretudo em seus princípios, que devem
estar vinculados ao objeto de estudo - e práticas
(particularmente no caso do manuseio de um
instrumento de pesquisa qualquer).
É sempre bom destacar que A NATUREZA DO
PROBLEMA É QUE DETERMINA O MÉTODO, ou seja, a
escolha do método é feita em função do problema
estudado. Lembre-se de que o sucesso na realização de
uma pesquisa depende do domínio em três pontos
essenciais aqui desenvolvidos: o conhecimento teórico
e conceitual; a metodologia a ser seguida e a aplicação
das técnicas e instrumentos (Rampazzo, 2002). Assim
Importante
Toda monografia tem como procedimento metodológico obrigatório a pesquisa bibliográfica. Além desta, o aluno pode aí sim optar por fazer ou não a pesquisa de campo.
Aula 6 |O Plano de Pesquisa 133
procure estar bem informado sobre o caminho teórico-
metodológico a seguir e as técnicas que pretende
aplicar no caso de uma pesquisa empírica.
Uma última observação importante:
Se você pretende fazer em seu estudo
monográfico uma abordagem apenas teórica, a
metodologia será reduzida fundamentalmente à
pesquisa bibliográfica (envolvendo aí não apenas livros,
mas também sites da Internet, artigos eletrônicos,
CD´s, revistas, artigos de jornais e etc.) para
fundamentação conceitual desta. Neste caso é
importante sinalizar a fundamentação bibliográfica
sobre a qual seu estudo será efetivado. Sobre esse
ponto lembre-se de considerar em suas referências os
itens:
� Autor (ou coordenador, ou organizador, ou
editor) - Escreve-se primeiro o sobrenome
paterno do autor, em caixa alta, e, a seguir, o
restante do nome, após uma separação por
vírgulas.
� Título e subtítulo - O título deve ser realçado
por negrito ou sublinhado.
� Local da publicação - É o nome da CIDADE
onde a obra foi editada e, após a referência de
EXEMPLO PROCEDIMENTO METODOLÓGICO: O instrumento utilizado para realização da pesquisa será um questionário. Este é composto de cinco questões do tipo descritivo a serem respondidas por alunos de idades entre 13 e 16 anos e diferentes ciclos de estudo. Deverão ser aplicados 44 questionários em duas escolas sendo22 em uma escola da rede pública e 22 em uma escola da rede privada. A aplicação dos mesmos será feita pelo próprio autor em dia e horário a ser combinado nas instituições escolares. Ao final da coleta desses dados os mesmos serão avaliados a partir de alguns critérios específicos tais como: pontualidade, participação, empenho e interesse.
Dica de leitura
Como já dissemos você encontrará mais detalhes sobre formas de citação bibliográfica no livro de autoria dos professores ARDUINI, Fernando e LAROSA, Marcos. Como produzir uma monografia passo a passo: siga o mapa da mina.
Aula 6 |O Plano de Pesquisa 134
local deve, ser grafado dois pontos (:)
seguido da editora.
� Editora - Só se coloca o nome da editora. Não
se coloca a palavra Editora, Ltda, ou S.A. etc.
bastando apenas por Ática.
� Ano da publicação - ano em que a obra foi
editada.
� Número de volumes (se houver)
� Número da edição (a partir da segunda
edição) - Não se usa o sinal de decimal (a).
� Paginação - Quantidade de páginas da obra
ou paginas referentes ao artigo citado (ex.:
pp. 10-15).
EXEMPLO No caso de um único autor – livro: Japiassu, hilton f. O mito da neutralidade científica. Rio de janeiro: imago, 1975. No caso de vários autores – livro: Carvalho, a. Et al. Aprendendo metodologia científica. São paulo: nome da rosa, 2000. No caso de um autor – revista: Carvalho, v. A ética da educação ambiental. In: revista veja nº 123 ano xx. São paulo: abril cultural, 2002. Pp. 33-45.
PALAVRAS FINAIS O Projeto é uma PROPOSTA ESPECÍFICA E DETALHADA DA PESQUISA, visa definir e delimitar o objeto a ser investigado com o objetivo de definir uma questão e a forma pela qual ela será investigada. É importante ressaltar que o mesmo está sujeito a modificações durante o seu desenvolvimento, uma vez que esta será a base da construção do trabalho da monografia que ainda será efetivada. Através da análise de cada um desses itens conseguimos então dar conta da estruturação básica de nosso modelo de Plano de pesquisa. Lembremos resumidamente seus pontos:
� Tema � Título � Problema � Justificativa � Objetivo geral � Objetivos específicos � Hipóteses ou Questões Secundárias � Delimitação � Procedimentos Metodológicos.
135
RESUMO
Vimos até agora:
� Nessa última aula vimos essencialmente como
construir nosso plano de pesquisa considerando
cada um de seus itens;
� Refletimos sobre critérios a serem observados
na elaboração do plano de pesquisa desde a
escolha do tema, passando pelo problema-chave
que o mesmo encerra, sua justificativa,
objetivos até o seu referencial teórico e
metodológico.
Esperamos esta aula possa ter lhe ajudado a compreender cada um desses itens possibilitando-lhe construir seu plano de pesquisa de forma descomplicada. De qualquer modo, procure estudar cada item com calma, procurando elaborar pelo menos um exemplo para cada ponto antes de tentar elaborar o Plano de seu estudo. Finalmente, não esqueça que o Plano é um planejamento e como qualquer tipo de planejamento ela pode sofrer alterações e adaptações de acordo com a realidade encontrada. Ela deve servir como um norte para sua pesquisa e não como uma “camisa de força” que deve ser seguida de forma rígida. Sem mais, Mãos a obra...
Importante
HORA DE ENVIAR O PLANO DE PESQUISA! Lembre-se: ao concluir esta disciplina você deve preencher o modelo de Plano de Pesquisa disponível na plataforma de Estudos e enviá-lo para a Tutoria. Pense com calma, elabore sua proposta de monografia, e encaminhe sua proposta. Bom trabalho!
136
Ensino, Pesquisa e Extensão: Considerações Éticas
AU
LA7
Apr
esen
taçã
o
Nessa aula final teceremos considerações sobre duas questões fundamentais no campo da pesquisa universitária: a indissociabilidade entre os três pilares universitários - ensino, pesquisa e extensão - que deve ser cultivada no âmbito universitário e as questões éticas relacionadas às práticas de pesquisa e seus limites. No decorrer dessa análise você terá oportunidade de tomar ciência de algumas das principais temáticas que tangenciam a indissociabilidade referida tais como: parcerias entre universidades e empresas, fomento para pesquisa, ações governamentais em prol da pesquisa, política de bolsas e outros temas discutidos que servem para nos ajudar a entender melhor a complexidade e a riqueza de se pensar e fazer pesquisa no país.
Obj
etiv
os
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: � Saber mais sobre a situação da pesquisa científica no país e
seus desafios atuais; � Ser capaz de entender a importância da indissociabilidade dos
pilares universitários: ensino, pesquisa e extensão; � Se posicionar diante de algumas discussões importantes no
campo da produção de conhecimento científico do ponto de vista ético.
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas
138
Ensino, pesquisa e extensão: o desafio da
indissociabilidade
Comecemos nossa aula enfocando uma relação
fundamental que precisa ser cultivada e preservada nas
instituições de ensino superior. A análise dessa relação
pode, sem dúvida, nos auxiliar, a entender a
importância da pesquisa no âmbito universitário.
Estamos nos referindo a relação indissociável que deve
sempre existir entre ensino, pesquisa e extensão, os
três pilares centrais de uma instituição de ensino
superior. Durante o estudo desse tipo de análise iremos
também tecer considerações sobre cada um desses
pilares e os desafios de mantê-los juntos em prol da
qualidade da formação de novos profissionais e do
próprio desenvolvimento da nação como um todo.
O artigo 52 da LDB deixa claro que as
universidades devem ser concebidas como:
“instituições pluridisciplinares de formação dos quadros
profissionais de nível superior, de pesquisa, de
extensão e de domínio e cultivo do saber humano”. Em
outras palavras a universidade está fundamentada em
três pilares indissociáveis: Ensino, pesquisa e extensão.
Do ponto de vista histórico, as funções de ensino,
pesquisa e extensão foram contempladas pelo Estatuto
das Universidades Brasileiras de 1931, considerado por
Fávero (1980) o marco estrutural da concepção de
universidade em nosso país. Vamos conhecer melhor a
importância de cada um desses pilares:
O ensino é da ordem do que já se sabe e está
diretamente relacionado a formação sócio-cultural e
específica do futuro profissional a ser diplomado nas
mais diferentes áreas do conhecimento através de
atividades planejadas e didaticamente estruturadas.
:: LDB:
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas
139
A pesquisa, ao contrário, é da ordem do que
não se sabe. Ela se foca nos pontos de interrogação,
das dúvidas, dos questionamentos, das novas
demandas dentro e fora da universidade, permitindo
a expansão do conhecimento científico, a melhoria da
qualidade de vida e em última instância a satisfação
da curiosidade humana. Através da pesquisa é
possível renovar o ensino, favorecendo a
“oxigenação” do mesmo e evitando que este, depois
de certo tempo, caia numa espécie de “ mesmice”.
Um dos sinais mais característicos de diferenciação de
uma faculdade para uma universidade é o justamente
o envolvimento e compromisso desta última com a
pesquisa.
A extensão, por sua vez, diz respeito ao
compromisso social e político da universidade com a
sociedade no sentido de partilhar, de divulgar e de
aplicar na mesma os conhecimentos culturais,
científicos e técnicos produzidos na universidade.
Faria (2001) entende que a extensão universitária
como um processo educativo, cultural e científico que
articula ensino e pesquisa viabilizando a relação
transformadora entre a universidade e a sociedade.
Trata-se de uma via de mão dupla que por um lado
favorece a sociedade que passa a ter acesso aos
benefícios dos conhecimentos práticos e teóricos
produzidos no âmbito universitário e da comunidade
acadêmica que encontra na sociedade uma
oportunidade singular de colocar em prática os
conhecimentos aprendidos em sala de aula.
Esses três pilares devem estar associados
visando além da excelência na formação de
profissionais, o cultivo nos mesmos de um desejo
permanente de aperfeiçoamento cultural e
profissional do comprometimento com a busca de
soluções e alternativas para os problemas do mundo
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas
140
presente, de modo particular, os nacionais e regionais
de forma cidadã (como sugere o artigo 43 da LDB).
É importante dizer, e existem muitas
discussões nesse sentido, que, muito embora a
universidade tenha sido, já há alguns séculos, o lugar
que a sociedade construiu para trabalhar com o
conhecimento da maneira mais estruturada em termos
de sua produção científica e divulgação, isso não
significa que ela seja o único lugar onde o
conhecimento é produzido cientificamente, uma vez
que existem outras instituições favorecedoras deste
tipo de conhecimento como empresas dos mais
diferentes ramos de negócios que investem em
pesquisa, sendo algumas até mesmo parceiras das
universidades oferecendo a estas através de diversos
tipos de convênios e associações uma intercâmbio de
ideias, recursos materiais, financeiros e principalmente
recursos humanos (sendo a COPPE na UFRJ – hoje
considerada o maior centro de ensino e pesquisa em
engenharia da América Latina - um ótimo exemplo
desse tipo de cooperação). As discussões, que não são
poucas, referem-se desde a perda de um determinado
monopólio do conhecimento por parte da universidade
a interesses político-econômicos envolvidos na
produção de pesquisas e até questões de cunho ético
sobre o limite das mesmas e as pressões comerciais.
Tais discussões envolvem diferentes interesses
e ideologias que afetam direta e indiretamente a
produção científica no país e seu desenvolvimento de
modo geral. Na área da Ciência e Tecnologia (C&T), por
exemplo, Cruz (2008) denuncia como o utilitarismo
que tem pautado inúmeras discussões de direita e de
esquerda. Uma face, a do utilitarismo de direita, define
como principal função das universidades o apoio às
empresas, para que elas se tornem mais competitivas,
mantenham o ritmo das exportações, o crescimento da
:: COPPE:
Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia – UFRJ.
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas
141
economia do país etc.; a outra face, o utilitarismo de
esquerda, define essa função principal como sendo a de
ajudar a sociedade brasileira através de ações
imediatas a elevar a qualidade de vida da população
reduzindo as desigualdades e aprimorando serviços
básicos como educação, saúde, segurança e transporte.
Discussões a parte o fato é que ambos os
lados possuem relevância uma vez que nosso país
precisa tanto de indústrias competitivas usuárias do
conhecimento quanto de políticas e meios para
favorecer um incremento de sua qualidade de vida.
Cruz (2001) deixa claro que a força da Universidade
não está no pretenso monopólio sobre o
conhecimento e sim, na capacidade de gerar um tipo
especial de conhecimento, na habilidade em trabalhar
com ele e, principalmente, na competência em formar
e educar pessoas para continuarem a executar ambas
as tarefas.
Outro problema levantado por este autor
associado a discussão na área de Ciência e Tecnologia
(C&T) é que ao longo da história das Universidades, se
favoreceu no ambiente acadêmico muito mais as
atividades de pesquisa básica do que as atividades de
pesquisa aplicada que objetivavam o desenvolvimento
tecnológico. Isso estaria explicado na própria natureza
das instituições que sempre valorizou mais a pesquisa
básica na medida em que esta era fundamental na
formação de estudantes, favorecendo o espírito
científico através do incentivando ao prazer da
descoberta, sem outra cobrança senão a do
compromisso com o método científico. Segundo Cruz
(2001) em geral, há também nas Universidades um
pouco de pesquisa aplicada e bem pouco
desenvolvimento tecnológico - pois, nesse caso, esta
teria de lidar com dificuldades relacionadas com a
propriedade intelectual do conhecimento produzido que
:: Utilitarismo:
Tipo de ética normativa -- com origem nas obras dos filósofos e economistas ingleses do século XVIII e XIX. Jeremy Bentham e John Stuart Mill, -- segundo a qual uma ação é moralmente correta se tende a promover a felicidade e condenável se tende a produzir a infelicidade, considerada não apenas a felicidade do agente da ação mas também a de todos afetados por ela. Fonte: http://www.cobra.pages.nom.br/ft-utilitarismo.html
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas
142
não se coadunariam muito com a prática acadêmica,
como o sigilo de determinados projetos, obrigatório no
âmbito empresarial.
De maneira geral toda pesquisa é importante,
independente de ser básica ou aplicada, uma vez que o
importante é o compromisso com a expansão do
conhecimento científico. Entretanto, parece ser
inegável, que um maior equilíbrio entre esses
diferentes tipos de pesquisa, em relação à
determinação de prioridades no âmbito universitário,
favoreceria tanto a universidade quanto a ao
desenvolvimento local. Assim o ideal seria que num
primeiro momento, os estudos fossem efetivados
teoricamente dentro da universidade e num segundo
houvesse a chance de novas pesquisas aplicadas - a
partir das conclusões extraídas dos estudos no
ambiente acadêmico - na realidade local, respeitando
suas especificidades regionais.
O financiamento à pesquisa é outro tema
importante. A experiência mundial nos mostra que a
parcela do governo no financiamento à pesquisa na
Universidade deve ser majoritária e insubstituível
independente da participação de empresas privadas em
projetos conjuntos com a universidade. As funções da
universidade em termos de educação, formação de
profissionais e favorecimento do avanço do
conhecimento trazem uma série considerável de
benefícios sociais dificilmente apreendidos no âmbito
privado (Id, 2001).
Uma recente avaliação feita pela ONU aponta
que o Brasil está em 43º lugar, num grupo de 70
países, no índice de avanço tecnológico. Isto indica que
o Brasil está abaixo de países como Argentina, Chile,
México, Costa Rica, entre outros, em termos de
aplicação do conhecimento científico (Pelegrino, 2001).
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas
143
Bernardo (2001) ratifica estes dados justificando que
atualmente, o Brasil está defasado tecnologicamente
porque o investimento nesse sentido está muito aquém
do desejável. Apenas tardiamente os Estados
procuraram valorizar as atividades de pesquisa, através
de suas secretarias de Ciência e Tecnologia.
Sublinhando que o MEC tem investido pouco em
pesquisa ele esclarece que:
Do orçamento das universidades federais, a maior parte dos recursos se destina à manutenção e pagamento de pessoal. O dinheiro da pesquisa vem mesmo dos órgãos fomentadores como Finep, CNPq, Faperj. É através deles que os pesquisadores conseguem desenvolver seus trabalhos.
(Id., 2001)
Não podemos ter dúvidas quanto ao papel
imprescindível da pesquisa na formação do
profissional, no aprimoramento qualitativo da
universidade e no desenvolvimento do próprio país. O
Brasil tem dado mostras do quanto vale a pena
investir em pesquisa no que se refere a conquista de
determinadas posições frente a comunidade
internacional especialmente no que diz respeito a
pesquisas bem sucedidas nas áreas da genética
(projeto genoma), da aeronáutica (aviões projetados
pela EMBRAER), petróleo (PETROBRÁS) e de
biocombustíveis (pesquisas da EMBRAPA). Conquistas
que só foram possíveis graças a um esforço contínuo
e cumulativo de educação com padrões elevados de
excelência durante décadas e décadas (Cruz, 2000).
Não é à toa ciência brasileira tem cada vez
mais, ela tem obtido destaque em termos de
visibilidade internacional. Isso é fruto de um esforço
concentrado de profissionais que priorizado a
pesquisa dentre suas atividades acadêmicas. Um
exemplo disso é que tem sido cada vez mais comum
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas
144
encontrarmos citações de artigos publicados por
pesquisadores brasileiros em revistas internacionais.
Além disso, segundo Cruz (2000) a produção científica
brasileira quintuplicou em relação à média da década
de 80 e a presença da ciência feita no Brasil cresceu
internacionalmente. Podemos contar hoje com uma
comunidade científica capacitada e motivada a
contribuir para o avanço do conhecimento humano.
A pós-graduação evoluiu qualitativamente,
devido ao aumento na quantidade de docentes
doutores e ao sistema de avaliação implementado pela
Capes.
Mas para isso é preciso que se continue e se
incremente o incentivo à pesquisa no país através da
realização de programas de iniciação científica dentro
das universidades pois estes projetos têm o mérito de
despertar no jovem formando o cultivo do espírito
científico e o aprimoramento de sua capacidade de
produção de conhecimento. Segundo Maria Lúcia
Guimarães, da Coordenadoria do Programa de
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do CNPq
(2001) que defende que a função do MEC seria a de
formar mestres e doutores e não a de conceder
recursos para investimentos em pesquisa e extensão:
O Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC) já concedeu 14,5 mil bolsas. Há ainda outras 4,5 mil de iniciação através do Projeto Integrado à Pesquisa, também financiadas pelo CNPq, totalizando 19 mil. São 121 instituições de ensino e pesquisa contempladas com as quotas do PIBIC, entre universidades e institutos de pesquisa (Instituto de Pesquisa do Paraná - IAPAR, Instituto de Pesquisa da Amazônia-IMPA, entre outros). O Sudeste brasileiro, pela maior concentração de instituições de ensino superior e atividade científica mais intensa, já recebeu 6.865 bolsas distribuídas por 55 instituições. (...) Ao
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas
145
todo, cerca de R$42 milhões são gastos por ano no financiamento dos programas.
(s/p)
Todos esses dados significativos revelam o
quanto a pesquisa tem sido, e precisa continuar sendo,
levada a sério nas universidades em nosso país se
quisermos sonhar com profissionais mais capacitados e
um Brasil melhor. É preciso ir vencendo aos poucos os
desafios de se fazer pesquisa e através dela incentivar
a produção de respostas, alternativas, estratégias e
soluções que respondam de forma simultânea as
interrogações acadêmicas e as dificuldades de nossa
população.
Considerações sobre ética e pesquisa
Sabemos que o conhecimento científico não é
neutro, mas historicamente determinado tanto em sua
criação - em função de teorias e experiências prévias -
quanto em seu uso nem sempre vinculados ao
interesse social e sim a determinados grupos que a
utilizam como forma de poder e exclusão. Como
explica Japiassu (1975), a ciência não pode ser neutra
nem pura uma vez que não se pode negar sua
dimensão social crescente no desenvolvimento da
sociedade e avanço tecnológico. Uma ciência que se
pretenda neutra certamente irá se esbarrar com
desafios como: a utilização das pesquisas científicas
para fins destruidores, a possibilidade de manipulação
crescente dos indivíduos, a utilização da ciência para
fins repressivos e recessivos e outros.
Por isso mesmo a universidade, enquanto
instituição produtora e promotora do conhecimento
científico, deve no processo de formação oferecido aos
futuros profissionais - que certamente irão adotar
procedimentos científicos em sua práxis de trabalho -
Dica de leitura
JAPIASSU, Hilton. A Revolução Científica. Rio de Janeiro: Imago, 1985. JAPIASSU, Hilton. As Paixões da Ciência. São Paulo: Letras & Letras, 1991. JAPIASSU, Hilton. Nem tudo é relativo: a questão da verdade. São Paulo: Letras & Letras, 2000.
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas
146
um amplo e profundo questionamento sobre ciência e
ética bem como de alguns questionamentos
epistemológicos aqui levantados no que se refere aos
limites e alcances do método científico. Até que ponto
tudo é justificável em nome da ciência? Até onde vai a
ânsia do ser humano por conhecimento? Estariam os
valores científicos acima de todos os outros, inclusive
os valores morais.
Ciente de que a ciência se torna muitas vezes
um instrumento nas mãos do poder dominante não se
pode, como bem aponta Ladrière (1979):
falar da ciência como se fazia outrora, como um domínio de conhecimento objetivo, desinteressado, neutro com relação as suas aplicações e independente com relação as finalidades da ação.
(Ladrière, 1979: 139)
Insistir nessa argumentação sobre a ciência
seria manter uma ilusão ideologicamente
comprometida. Atualmente a epistemologia, seja,
enquanto disciplina oferecida na graduação, seja
enquanto filosofia norteadora da próprio curso sob o
qual o aluno encontra-se em processo de formação
deve assumir uma postura crítica possibilitando aos
alunos pensar sobre a responsabilidade social intrínseca
a uma pesquisa, a responsabilidade daqueles que
promovem a ciência e a responsabilidade do seu uso na
sociedade globalizada atual. O diálogo interdisciplinar e
o reconhecimento da ciência como um conhecimento
historicamente determinado e complexo - como
defende Edgar Morin (1998) - são caminhos
importantes a serem encarados como desafios na
formação universitária. Cada professor deve buscar
alternativas pedagógicas que fortaleçam esta
compreensão sem que tal estratégia comprometa seu
programa ou conduza a uma visão cética com relação a
ciência que em nada contribui para seu avanço. Trata-
EDGAR MORIN
Quer
saber mais?
Pesquisador emérito do CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique). Formado em Direito, História e Geografia se adentrou na Filosofia, na Sociologia e na Epistemologia. Um dos principais pensadores sobre complexidade. Autor de mais de trinta livros, entre eles: O método, Introdução ao pensamento complexo, Ciência com consciência e Os sete saberes necessários para a educação do futuro. Durante a Segunda Guerra Mundial, participou da Resistência Francesa. É considerado um dos pensadores mais importantes do século XX.
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas
147
se aqui de estimular uma prática reflexiva e crítica,
típica da atitude filosófica, no que se refere ao fazer e
pensar ciência em pleno século XXI e não a um
descrédito generalizado com relação ao pensamento
científico.
Se hoje existe um chamado movimento de
"anticiência", este se justifica precisamente na medida
em que o fazer ciência hoje tem ignorado certos
questionamentos básicos da epistemologia no que se
refere ao limites do que chamamos de "verdade
científica", assim como dos desafios éticos e políticos
que os cientistas parecem não querer enxergar. O
pensamento científico precisa ser constantemente
questionado não apenas enquanto atividade intelectual,
mas principalmente enquanto atividade social
estritamente relacionada ao contexto político-cultural e
sócio-econômico.
Para isso podemos contar também com
instrumentos legais baseados em princípios éticos que
possam coibir abusos. A Declaração de Helsinki I,
adotada na 18a Assembléia Médica Mundial, em
Helsinki, Finlândia (1964) é um exemplo disso ao
defender que a pesquisa clínica deve adaptar-se aos
princípios morais e científicos que justificam a pesquisa
clínica e deve ser baseada em experiências de
laboratório e com animais. Também referente a
pesquisa com animais vale citar, no caso brasileiro, A
Lei 9.605 de 12/02/1998 (Lei de Crimes Ambientais)
dispõe sobre sansões penais e administrativas lesivas
ao meio ambiente, incluindo maus tratos de animais,
estabelecendo penalidades para experiências dolorosas
ou cruéis em animais, mesmo com fins didático-
científicos.
Mais recentemente, em discussões bastante
acirradas, o Supremo Tribunal Federal liberar o uso de
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas
148
células-tronco embrionárias em pesquisas científicas
tendo como base a Lei de Biossegurança – já aprovada
pelo Congresso Nacional em 2005.
Contudo muitos concordam que o artigo 5º da
lei, que permite as pesquisas com células-tronco
embrionárias congeladas por mais de três anos, e com
autorização dos doadores dos embriões, fere a proteção
constitucional do direito à vida e a dignidade da pessoa
humana, uma vez que a vida humana começaria a
existir, de fato, com a fecundação. Assim de um lado
posicionam-se os que pensam as pesquisas com
células-tronco embrionárias violam o direito à vida e de
outro os que pensam que ela contribuiria para dignificar
a vida humana tendo em vista suas aplicações futuras
para elevar a qualidade de vida de muitos. O que fazer?
Este é apenas um exemplo de como as questões
relativas à dimensão ética da pesquisa são complexas e
exigem uma reflexão apurada.
Quem sabe a partir desse questionamento
constante - estimulado não apenas na universidade,
mas em todas as organizações e/ou instituições que se
autointitulam cientificas - sobre o que seja ciência, um
questionamento crítico e consciente, seja possível um
dia responder a questionamentos mais profundos
como: O que é a vida? Ou ainda: O que significa ser
humano?
RESUMO
Vimos até agora:
� Foi possível aprender mais sobre os três
pilares centrais de uma universidade
(Ensino, Pesquisa e Extensão) e a
indissociabilidade que deve ser cultivada
entre os mesmos;
Aula 7 | Ensino, pesquisa e extensão: considerações éticas
149
� Entendemos que um dos sinais mais
característicos de diferenciação de uma
faculdade para uma universidade é o
justamente o envolvimento e compromisso
desta última com a pesquisa e que a
monografia é, antes de mais nada, uma
pesquisa e como tal deve assumir um lugar
de destaque no âmbito universitário;
� Refletimos sobre diversos temas que fazem
referência a riqueza e ao desafio de se fazer
pesquisa no Brasil, com particular atenção ao
estudo de questões éticas, políticas e
econômicas associadas a sua produção no
âmbito universitário;
PLANO DE PESQUISA CURSO: DISCIPLINA: Metodologia da Pesquisa ALUNO(A): MATRÍCULA:
NÚCLEO REGIONAL: DATA: _____/_____/___________
TEMA
(Fato ou fenômeno a ser estudado)
TÍTULO (Nome do estudo de acordo
com o conteúdo)
PROBLEMA
(Uma única questão central a ser enfocada em seu
estudo escrita sob a forma de pergunta)
JUSTIFICATIVA (Razão ou motivo do
trabalho)
OBJETIVO GERAL (Propósito central de seu
estudo)
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS (Outros objetivos que seu
trabalho pretenda)
HIPÓTESE (Possível resposta ao
problema acima formulado)
Ou
QUESTÕES SECUNDÁRIAS (Em caso de estudo
exploratório)
DELIMITAÇÃO (Especificação do objeto de
estudo e onde o mesmo será estudado, bem como do alvo dos instrumentos metodológico adotados)
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
(Como pretende desenvolver o trabalho?
Enfocar detalhes da amostra, metodologia
empregada)
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