1
Petroianu Petroianu Petroianu Petroianu Petroianu A arte de ser professor 1 Rev. Col. Bras. Cir. 2014; 41(1): 001 Editorial Editorial Editorial Editorial Editorial A arte de ser professor A arte de ser professor A arte de ser professor A arte de ser professor A arte de ser professor The art of being a teacher The art of being a teacher The art of being a teacher The art of being a teacher The art of being a teacher TCBC-MG ANDY PETROIANU A o escreverem que Deus fez o homem à própria ima- gem, os autores da Bíblia equivocaram-se. Em Sua grande sabedoria, Deus não iria descaracterizar a perfei- ção da obra, criando uma cópia, pois ninguém e nada no Universo se parece com a energia inicial do Big Bang. Da mesma maneira, quando os antigos hindus, egípcios, maias e gregos, estes plagiados pelos romanos, criaram seus deu- ses à semelhança humana, fizeram apenas imitações de si, por vezes grotescas, tanto em seu aspecto físico quanto no caráter. O mesmo efeito constata-se nas artes plásticas. São nítidos os traços físicos dos próprios artistas reproduzi- dos nas pinturas e esculturas. Essa tendência natural, ge- ralmente involuntária e imperceptível ao autor, indica a vontade de padronizar parte de si como modelo de sua criação. Não há diferença entre o mestre da arte e o da ciência. O discípulo pode também ser esculpido à seme- lhança de um mármore, se assim ele o permitir. Entretan- to, quando o artista do magistério agir dessa maneira, ele se desmerecerá como professor, pois a criatura moldada perde as suas características, para tornar-se uma caricatu- ra do criador. Fazendo analogia com o Universo, verifica-se que, em torno de uma estrela, em geral, não há outras estrelas, mas apenas planetas, inferiores em tamanho, sem brilho próprio e, quando esses planetas possuem astros em sua órbita, eles são apenas satélites, de dimensões ainda menores e menos iluminados. O mais triste é quando a estrela perde o brilho e insiste em manter outros astros ao seu redor e em seu domínio. É assim que se formam os buracos negros, impro- dutivos e sem utilidade para o desenvolvimento do Univer- so, aniquilando o que entra em sua órbita, planetas, asteroides e até outras estrelas, transformando tudo em nada. Como resolver este dilema do ser professor? Sendo preferível ele não revelar seu intenso fulgor de es- trela, para não ofuscar o brilho de quem o circunda, e se é inaceitável tornar-se buraco negro, para não destruir o seu ambiente, qual deve ser o seu papel no universo em que se encontra? Cabe-lhe o poder do berço de estrelas. Descobrir os valores intrínsecos de cada discípulo, revelar os seus talentos e encaminhá-lo dentro dos próprios limi- tes. Sua missão é descobrir os sonhos de quem procura a sua orientação e contribuir para transformá-los em reali- dade. Cada ser possui qualidades únicas, nas quais é superior aos demais. O maior atributo do professor é per- ceber a essência de seus alunos e lapidá-los para brilha- rem em sua grandeza individual. A retirada das lascas im- puras das melhores gemas é dolorosa tanto para a joia quanto para o ourives, mas o resultado final é definitivo e supera todo o sofrimento. A gratidão e a satisfação do dever cumprido são as recompensas de quem fez valer a pena. Em sua minús- cula dimensão, a arte do professor certamente desempe- nha o papel da energia do Big Bang.

A arte de ser professor - scielo.br · A arte de ser professor ... TCBC-MG A NDY PETROIANU Ao escreverem que Deus fez o homem à própria ima-gem, os autores da Bíblia equivocaram-se

Embed Size (px)

Citation preview

Pet ro ianuPet ro ianuPet ro ianuPet ro ianuPet ro ianuA arte de ser professor 1

Rev. Col. Bras. Cir. 2014; 41(1): 001

EditorialEditorialEditorialEditorialEditorial

A arte de ser professorA arte de ser professorA arte de ser professorA arte de ser professorA arte de ser professor

The art of being a teacherThe art of being a teacherThe art of being a teacherThe art of being a teacherThe art of being a teacher

TCBC-MG ANDY PETROIANU

Ao escreverem que Deus fez o homem à própria ima- gem, os autores da Bíblia equivocaram-se. Em Sua

grande sabedoria, Deus não iria descaracterizar a perfei-ção da obra, criando uma cópia, pois ninguém e nada noUniverso se parece com a energia inicial do Big Bang. Damesma maneira, quando os antigos hindus, egípcios, maiase gregos, estes plagiados pelos romanos, criaram seus deu-ses à semelhança humana, fizeram apenas imitações desi, por vezes grotescas, tanto em seu aspecto físico quantono caráter.

O mesmo efeito constata-se nas artes plásticas.São nítidos os traços físicos dos próprios artistas reproduzi-dos nas pinturas e esculturas. Essa tendência natural, ge-ralmente involuntária e imperceptível ao autor, indica avontade de padronizar parte de si como modelo de suacriação.

Não há diferença entre o mestre da arte e o daciência. O discípulo pode também ser esculpido à seme-lhança de um mármore, se assim ele o permitir. Entretan-to, quando o artista do magistério agir dessa maneira, elese desmerecerá como professor, pois a criatura moldadaperde as suas características, para tornar-se uma caricatu-ra do criador.

Fazendo analogia com o Universo, verifica-seque, em torno de uma estrela, em geral, não há outrasestrelas, mas apenas planetas, inferiores em tamanho, sembrilho próprio e, quando esses planetas possuem astros emsua órbita, eles são apenas satélites, de dimensões aindamenores e menos iluminados.

O mais triste é quando a estrela perde o brilho einsiste em manter outros astros ao seu redor e em seudomínio. É assim que se formam os buracos negros, impro-dutivos e sem utilidade para o desenvolvimento do Univer-so, aniquilando o que entra em sua órbita, planetas,asteroides e até outras estrelas, transformando tudo emnada.

Como resolver este dilema do ser professor?Sendo preferível ele não revelar seu intenso fulgor de es-trela, para não ofuscar o brilho de quem o circunda, e seé inaceitável tornar-se buraco negro, para não destruir oseu ambiente, qual deve ser o seu papel no universo emque se encontra? Cabe-lhe o poder do berço de estrelas.Descobrir os valores intrínsecos de cada discípulo, revelaros seus talentos e encaminhá-lo dentro dos próprios limi-tes. Sua missão é descobrir os sonhos de quem procura asua orientação e contribuir para transformá-los em reali-dade.

Cada ser possui qualidades únicas, nas quais ésuperior aos demais. O maior atributo do professor é per-ceber a essência de seus alunos e lapidá-los para brilha-rem em sua grandeza individual. A retirada das lascas im-puras das melhores gemas é dolorosa tanto para a joiaquanto para o ourives, mas o resultado final é definitivo esupera todo o sofrimento.

A gratidão e a satisfação do dever cumprido sãoas recompensas de quem fez valer a pena. Em sua minús-cula dimensão, a arte do professor certamente desempe-nha o papel da energia do Big Bang.

Gisele Higa
Texto digitado
Gisele Higa
Texto digitado
Gisele Higa
Texto digitado
10.1590/S0100-69912014000100001
Gisele Higa
Texto digitado
Gisele Higa
Texto digitado